guia 01 literatura hora certa

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  • 5 ApresentAo

    9 Introduo Ao guIA

    17 A poesIA no prIMeIro Ano do ensIno FundAMentAL

    35 prosA pArA o pequeno LeItor

    53 CoMpArtILhAndo experInCIAs CoM LIvros de IMAgeM

    69 quAdrInhos e ALFAbetIzAo: o CAso do MenIno MALuquInho

    85 obrAs seLeCIonAdAs

    Presidncia da rePblica

    Ministrio da educao

    secretaria executiva

    secretaria de educao bsica

    diretoria de ForMulao de contedos educacionais

    coordenao Geral de Materiais didticos

    equipe tcnico-Pedaggica coGeaM/seb

    Carlos Francisco da Silva

    Crist ina Thomas de Ross

    Edivar Ferreira de Noronha Jnior

    Francisco Roberto Vasconcelos Lima

    Gislenilson Silva de Matos

    Jos Ricardo Alberns Lima

    Jnia Sales Pereira

    Paulo Roberto Gonalves da Cunha

    Samara Daniel le dos Santos Zacarias

    equipe tcnico-Pedaggica daGe/seb

    Contribuio Diretoria de Apoio Gesto Educacional DAGE/SEB

    Assessora: Mirna Frana da Silva de Arajo

    seleo de originais e coordenao da edio

    Magda Becker Soares

    Aparecida Paiva

    Planejamento editorial e preparao de textos

    Ana Paiva

    Rogerio Mol

    Projeto grfico, ilustraes e diagramao

    Christ iane Costa

    tiragem Guia 1 PNLD/PNAIC: Literatura na hora certa 1 ano do ensino fundamental

    136.924 exemplares

    L775Literatura na hora certa : guia 1 : 1 ano do ensino fundamental : PNLD/PNAIC : alfabetizao na idade certa 2015 / Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Bsica. Bras l ia: MEC/SEB, 2015.104 p. : i l.

    ISBN: 978-85-7783-177-7

    1. Ensino Fundamental. 2. Obras Literrias. 3. Literatura Infanti l. 4. Interao Leitu-ra-Escrita. 5. Sala de Aula. 6. Alfabetizao da Criana. 7. Letramento. I. Ministrio da Educao. I I. Secretaria de Educao Bsica. CDU 087.5

  • 54 ApresentAoLiterAturA nA horA certA

    O Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa PNAIC - um compromisso formal do Ministrio da Educao (MEC) que conta com a participao articulada entre Governo Federal, governos estaduais e municipais e do Distrito Federal, dispostos a mobilizar esforos e recursos na valorizao dos professores e das escolas; no apoio pedaggico com materiais didticos de qualidade para todas as crianas do ciclo de alfabetizao e na im-plementao de sistemas adequados de avaliao, gesto e monitoramento, objetivando alfabetizar todas as crianas at oito anos de idade, apresentando como referncia o Decreto n 6.094, de 24 de abril de 2007, a Portaria n 867, de 4 de julho de 2012 e a Meta 5 do Plano Nacional de Educao (PNE Lei n 13.005/2014).

    MInIstrIo dA eduCAo

    5

  • 76 ApresentAoLiterAturA nA horA certA

    No perodo de trs anos, o ciclo de alfabe-tizao proposto visa insero da criana na cultura escolar assegurando a alfabetizao e o letramento, e, assim, aprendizagem da leitura e da escrita, ampliao das capacidades de produo e compreenso de textos em situaes familiares e no familiares e ampliao do seu universo de referncias culturais nas diferentes reas do conhecimento.

    Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 Anos (Resoluo CNE n 7/2010), encontra-se estabelecido que os trs anos iniciais do ensino fundamental de-vem assegurar a alfabetizao e o letramento e tambm o desenvolvimento das diversas formas de expresso, incluindo o aprendizado da Lngua Portuguesa, da Literatura, da Msica e demais Artes e da Educao Fsica, assim como o apren-dizado da Matemtica, da Cincia, da Histria e da Geografia. Conforme o Parecer da referida Resoluo so os componentes curriculares que, ao descortinarem s crianas o conhecimento do mundo por meio de novos olhares, lhes ofe-recem oportunidades de exercitar a leitura e a escrita de um modo mais significativo

    O PNAICtem sido desenvolvido por meio de aes que estimulam a ao reflexiva docente sobre o tempo e o espao escolares. Para tanto, cinco princpios centrais orientam a proposta:

    1) Currculo inclusivo; 2) Integrao entre os componentes cur-

    riculares;3) Foco na organizao do trabalho pe-

    daggico;4) Seleo e discusso de temticas fun-

    dantes; e5) nfase na alfabetizao e letramento

    das crianas. O processo formativo do PNAIC objetiva

    ampliar as discusses sobre a alfabetizao na perspectiva do letramento numa abordagem interdisciplinar que privilegie um dilogo per-manente e sistemtico com a prtica docente e com a equipe pedaggica da escola, para a

    garantia dos direitos de aprendizagem e desen-volvimento dos estudantes e para a melhoria da qualidade do ensino pblico brasileiro.

    Alm disso, as aes colaboram para a me-lhoria na qualidade do processo de formao continuada dos/as professores/as alfabetizado-res/as ao promoverem seu desenvolvimento crtico e reflexivo.

    As aes do PNAIC apoiam-se, portanto, em quatro eixos de atuao:

    1) Formao continuada presencial para professores/as alfabetizadores/as e para orientadores/as de estudo, que objetiva ampliar as discusses sobre a alfabetiza-o, na perspectiva do letramento, no que tange a questes pedaggicas das diversas reas do conhecimento em uma perspectiva interdisciplinar, bem como sobre princpios de gesto e organizao do ciclo de alfabetizao;

    2) Avaliaes sistemticas que contemplam as avaliaes processuais, debatidas du-rante os cursos de formao oferecidos no mbito do PNAIC, que podem ser desenvolvidas e realizadas continuamen-te pelo/a professor/a junto aos edu-candos e a aplicao, junto aos alunos concluintes do 3 ano, de uma avaliao externa universal, pelo Instituto Nacio-nal de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP);

    3) A gesto, o controle social e a mobili-zao, formado por quatro instncias: o Comit Gestor Nacional, a coordenao institucional em cada Estado, a Coordena-o Estadual e a Coordenao Municipal, fortalecendo a articulao entre o Minis-trio da Educao, as redes estaduais, as municipais e as Instituies formadoras; e

    4) Distribuio de materiais didticos, tanto para salas de aula quanto para bibliotecas entregues por meio do Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD) e do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE)

    O Pacto Nacional da Alfabetizao na Ida-de Certa conseguiu, at ento, mobilizar os 26 Estados e o Distrito Federal, o que inclui 5497 municpios do pas, gerando a participao de um total de 313 mil professores alfabetizadores e mais de 15 mil orientadores de estudo, com o apoio de uma rede de Universidades respon-sveis pelo processo de formao continuada e elaborao de material didtico especfico, alm daqueles distribudos no mbito do PNLD e do PNBE.

    O Programa ainda possibilitou a articulao entre as instituies pblicas de Educao Su-perior e as escolas de Educao Bsica quando fomentou o debate sobre as licenciaturas bem como uma melhor compreenso da prtica pe-daggica do/a professor/a e das metodologias de trabalho nas unidades escolares. Isso demons-tra o comprometimento do MEC com a articu-lao entre as diferentes polticas educacionais e, mais especialmente, com a formao inicial e continuada dos profissionais da Educao Bsica (Meta 15 do PNE).

    O PNLD/PNAIC uma ao desenvol-vida em parceria entre o FNDE e a Secretaria de Educao Bsica (SEB/MEC) por meio de Edital pblico de convocao de detentores de direitos autorais no pas com vistas inscrio de obras literrias que possam efetivamente contribuir com os processos de alfabetizao e letramento no mbito do PNAIC. O Guia Literatura na Hora Certa, do PNLD/PNAIC, composto por trs (03) volumes, acompanha os acervos de obras literrias selecionadas por meio de processo de Avaliao Pedaggica desenvol-vido pela Secretaria de Educao Bsica atravs de cooperao, nessa edio, com a qualificada equipe de especialistas do Centro de Alfabeti-zao, Leitura e Escrita Ceale Universidade Federal de Minas Gerais.

    No mbito desta edio do PNLD/PNAIC est prevista a distribuio de at 06 (seis) acer-vos, formados, cada um, por 35 (trinta e cin-co) ttulos, sendo que 02 (dois) acervos so

    destinados aos alunos matriculados no 1 ano do ensino fundamental, 02 (dois) queles matri-culados no 2 ano e 02 (dois) aos que esto matriculados no 3 ano do Ensino Fundamental. Foram formados 02 (dois) acervos com 35 (trin-ta e cinco) ttulos para cada categoria, a saber:

    Categoria 1 - Textos em verso tais como quadra, parlenda, cantiga, trava-lngua, poema, adivinha;

    Categoria 2 - Textos em prosa tais como clssicos da literatura infantil, pequenas narrativas, textos de tradio popular, fbulas, lendas e mitos;

    Categoria 3 - Livros ilustrados e/ou livros de imagens.

    Trata-se, portanto, de um total de 210 (du-zentos e dez) ttulos, a serem distribudos s salas de aula das turmas de 1, 2 e 3 anos do Ensino Fundamental da rede pblica, para utilizao por estudantes e docentes do ciclo de alfabetizao e letramento.

    Os acervos so acompanhados dos Guias Literatura na Idade Certa: 1, 2 e 3, destinados apresentao do processo de avaliao e sele-o das obras e ao apoio pedaggico no uso criativo das obras distribudas no mbito das aes do PNAIC.

    Trata-se, portanto, de acervos que so resul-tantes de criteriosa seleo e avaliao pedag-gica levada a cabo pelo Ministrio da Educao, reafirmando o seu compromisso com a melho-ria da Educao Bsica, com o trabalho docente desde a alfabetizao/letramento e com a prtica pedaggica pluralista, reflexiva e criativa.

    O Ministrio da Educao, por meio da Secretaria de Educao Bsica, deseja aos edu-cadores dedicados aos processos de alfabetizao e letramento que usufruam, com as crianas, das excelentes obras criteriosamente selecionadas com vistas ao incentivo ao gosto literrio, imaginao, ampliao das referncias culturais e s formas plurais e diversas de leitura das palavras, das imagens e dos smbolos, por meio da leitura do mundo.

  • 8 L iteratura na hora certa

    que L Ivros so estes?

    Voc, professora, professor, est recebendo caixas com livros de literatura infantil: so acervos de obras li-terrias destinados ao Ensino Fundamental, enviados s salas de aula das escolas pblicas brasileiras como uma das aes do Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa (PNAIC).

    9

    MAgdA soAres 1

    1 Professora Titular Emrita da Faculdade de Educao da UFMG; autora de artigos e livros na rea do ensino de portugus: alfabetizao, letramento, leitura, produo de texto.

  • 1 11 0 introduo ao guiaLiteratura na hora certa

    O PNAIC um compromisso formal do Ministrio da Educao (MEC) de apoio s redes pblicas para o cumprimento da Meta 5 do Plano Nacional de Educao (PNE) 2014-2024:

    Assim, poemas vo encantar as crianas e, ao mesmo tempo, vo ajud-las a voltar a ateno para os sons das palavras, para as rimas, para o ritmo das frases, para aliteraes, o que essencial para que elas faam a descoberta fundamental para a compreenso do sistema alfabtico: representamos na escrita os sons das palavras, no o significado das pa-lavras. Narrativas em prosa, em belos livros ilustrados, ou em histrias em quadrinhos, vo cativ-las, diverti-las, emocion-las, e, ao mesmo tempo, vo lev-las a reconhecer frases e palavras, a ampliar o vocabulrio, a relacionar texto verbal com texto no verbal, a desenvolver habilidades de compreenso, de interpretao, de inferncia, de avaliao. Livros de imagens, s de imagens ou de imagens com pouco texto, cativam as crianas, que se deixam seduzir pelas ilustraes, descobrem nelas uma narrativa, e, ao mesmo tempo, buscam as relaes entre imagens e os pequenos textos que as acompanham, tentam ler o ttulo do livro para nele encontrar o sentido da histria. Letramento e alfabetizao.

    Nos acervos enviados sua escola, destinados s salas de aula dos trs anos iniciais do ensino fundamental, encontram-se livros desses diferentes tipos e gneros, como mostra o tpico seguinte.

    que L Ivros esto ChegAndo pArA As sALAs de AuLA? So dois acervos para cada ano, com 35 livros cada um:

    Ano n o de ACervos n o de L Ivros por ACervo totAL de L Ivros

    1 2 35 70

    2 2 35 70

    3 2 35 70

    totA I s 6 - 210

    Alfabetizar todas as crianas no mximo at o final do 3(terceiro) ano do ensino fundamental.

    PNEMETA 5

    A disponibilizao pelo MEC de obras literrias para apoio peda-ggico ao processo de introduo das crianas cultura do escrito um dos eixos de atuao do PNAIC, que se concretiza pela distribuio de acervos especificamente para as salas de aula dos trs anos iniciais do ensino fundamental o PNLD/PNAIC.

    por que obrAs L IterrIAs no proCesso de ALFAbetIzAo?

    Alfabetizao e letramento devem desenvolver-se ao mesmo tempo: a criana aprende o sistema alfabtico de escrita a alfabetizao propria-mente dita e, simultaneamente, aprende os usos sociais e pessoais da escrita letramento; entre esses usos, deve-se propiciar criana a desco-berta do prazer de ler obras literrias e o desenvolvimento de habilidades de leitura de textos literrios o letramento literrio.

    Muitas das crianas que chegam s escolas pblicas tiveram pouco con-tato com a literatura infantil: as condies socioculturais e econmicas em que vivem em geral lhes proporcionam poucas experincias com a leitura literria. Da a importncia de lhes possibilitar um rico e intenso contato com livros literrios desde a fase da alfabetizao, fase em que a maioria das crianas tem seu primeiro contato com o mundo da escrita e do livro.

    por que L Ivros de L IterAturA nAs sALAs de AuLA?Se, em princpio, as escolas tm bibliotecas, e para elas recebem

    anualmente acervos de livros literrios, por meio do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), por que acervos de livros literrios para cada uma das salas de aula dos trs anos iniciais do ensino fundamental?

    Respondendo: porque importante que os livros estejam cotidiana-mente ali, vista e mo, disponveis para professores(as) e crianas, nos trs anos em que se introduz, se desenvolve e se consolida a alfabetizao, de modo que esta se faa sempre a partir da leitura e para chegar leitura; a criana aprende a ler para ler, e l para aprender a ler alfabetizao e letramento, particularmente letramento literrio.

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  • 1 31 2 introduo ao guiaLiteratura na hora certa

    Assim, os trs anos iniciais da escola recebero um nmero signifi-cativo de livros de literatura, nmero tanto maior quanto mais turmas de cada ano existirem. Em cada acervo, h livros de diferentes tipos e gneros, como mostra a tabela:

    t Ipos/gnerosn o de obrAs

    1 o Ano 2 o Ano 3 o Ano

    Verso 15 19 17

    Prosa 32 42 37

    Imagem 21 9 12

    Quadrinhos 2 - 4

    totA I s 70 70 70

    Entre os livros classificados como de VERSO h poemas, parlendas, trava-lngua, quadras, adivinhas; entre os classificados como PROSA, h clssicos da literatura infantil, histrias, textos de tradio popular, fbulas, lendas; os livros de IMAGEM incluem livros s de imagens e livros de imagens com pequenos textos; os QUADRINHOS so histrias ou so tiras, com palavras ou sem palavras em bales.

    Como mostra a tabela, a quantidade de livros varia nos diferentes tipos/gneros; que os acervos so compostos por meio de seleo no conjunto de livros inscritos no MEC pelas editoras, e estas inscrevem sobretudo livros nas categorias PROSA, predominante, e POESIA, havendo assim mais alternativas de escolha de livros em prosa e de po-esia isso explica o motivo destes gneros serem mais numerosos nos acervos; por outro lado, a inscrio, pelas editoras, de livros de IMAGEM e de QUADRINHOS ainda pequena, levando pouca representao desses gneros nos acervos, embora sejam gneros de grande interesse das crianas e de muita potencialidade para o desenvolvimento da alfa-betizao e do letramento.

    Uma alternativa para suprir essa distribuio pouco equilibrada dos tipos e gneros de livros nos acervos pode, porm, ser explorada na escola: como tnue a distino entre livros para 1, 2 ou 3 ano, uma vez que, nas salas de aula de diferentes anos, ou mesmo de um mesmo ano, esto crianas diferentes entre si, em diferentes nveis de apropriao da leitura, os livros dos acervos podem transitar de uma sala a outra por troca, entre professores(as). O importante e fundamental que em cada sala de aula haja livros de literatura sempre disponveis para atividades de alfabetizao e de letramento literrio.

    CoM que CrItrIos ForAM esCoLhIdos os L Ivros pArA CoMpor os ACervos?

    Alm de constituir cada acervo com dife-rentes categorias de livros e diferentes tipos e gneros, os livros foram selecionados pelo crit-rio de sua qualidade: qualidade textual, que se revela nos aspectos ticos, estticos e literrios, na estruturao narrativa, potica ou imagtica, numa escolha vocabular que no s respeite, mas tambm amplie o repertrio lingustico de crianas em fase inicial de alfabetizao e letramento; qualidade temtica, que se ma-nifesta na diversidade e adequao dos temas e no atendimento aos interesses das crianas, aos diferentes contextos sociais e culturais em que vivem e ao nvel dos conhecimentos prvios que possuem; qualidade grfica, que se tra-duz na excelncia de um projeto grfico capaz de motivar e enriquecer a interao do leitor com o livro: qualidade esttica das ilustraes, articulao entre texto e ilustraes, uso de recursos grficos adequados criana na etapa inicial de insero no mundo da escrita.

    Foi ainda critrio para constituio dos acer-vos a seleo, entre as obras consideradas de qua-lidade, dentre as categorias prosa, verso, imagem, histria em quadrinhos, daquelas que represen-tassem diferentes nveis de dificuldade, de modo a atender a crianas em variados nveis tanto de aprendizagem da lngua escrita quanto de com-preenso dos usos e funes da escrita, possibili-tando assim formas diferentes de interao com o livro, seja pela via da leitura autnoma pela criana, seja pela leitura mediada pelo professor.

    e L IterAturA nA sALA de AuLA e tAMbM nA bIbL IoteCA: quAL A dIFerenA?

    A biblioteca , na escola, a casa dos livros: eles habitam ali, e ali esto organizados em es-tantes por certos critrios, esto classificados,

    fichados. biblioteca as crianas vo para inte-ragir com livros, isoladamente, em um dilogo pessoal com eles, ou socialmente, por meio de atividades desenvolvidas pela pessoa responsvel pela biblioteca ou pelo(a) professor(a) que, em dias em geral pr-determinados, desenvolvem atividades no ambiente peculiar da biblioteca.

    biblioteca as crianas vo tambm para buscar livros por emprstimo, ou para devol-ver livros que levaram para ler em casa. Na biblioteca aprendem as regras que regem os emprstimos e desenvolvem comportamentos de convvio adequado em bibliotecas; na biblio-teca, se ela atraente e estimulante, constroem o conceito de bibliotecas como locais de cultura e de conhecimento, o que pode levar ao hbito de frequncia a bibliotecas ao longo da vida.

    J a sala de aula no casa dos livros ape-nas, lugar onde muitas e variadas atividades se realizam. Entre elas, atividades com livros

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  • 1 51 4 introduo ao guiaLiteratura na hora certa

    literrios, desenvolvidas com objetivos espec-ficos que contribuam para a alfabetizao e o letramento das crianas.

    Nas salas de aula os livros ficam no canti-nho de leitura, ou em bolses, ou em pequenas estantes, ou em bas... em inmeras e variadas formas que a criatividade de professores e profes-soras inventam para que os livros estejam sempre vista e mo, de forma atraente e estimulante.

    Nas salas de aula os livros no precisam, at no devem, ser organizados, fichados, para que as crianas tenham liberdade para mani-pul-los, folhe-los, confrontar temas, gneros, dimenses, nmero de pginas; para que o(a) professor(a) possa ter ali, em sua sala, o livro que quer ler para as crianas, que quer discutir com as crianas, que quer usar para atividades de alfabetizao e letramento.

    Entretanto, quer na biblioteca, quer na sala de aula, mediadores de leitura profissionais da biblioteca ou professores(as) nas salas de aula devem reconhecer-se como responsveis por aproximar dos livros as crianas e por fazer delas leitores de literatura por toda a vida.

    o que h neste guIA?Foram produzidos trs guias de orientao

    para o uso das obras literrias includas nos acer-vos: um guia para cada ano (1ano, 2 ano, 3 ano).

    Esta Introduo a mesma nos trs guias, mas os textos que se seguem a ela so diferentes em cada guia, porque so textos que se referem especificamente aos livros dos acervos destina-dos a cada um dos trs anos.

    Cada um dos guias apresenta um conjunto de textos que representam os gneros selecio-nados para o acervo destinado ao ano: prosa, verso, imagem e histria em quadrinhos.

    So textos em que as autoras, sempre com o foco voltado para as prticas de leitura literria na sala de aula e as possibilidades de seu apoio ao processo de alfabetizao, procuram discutir as caractersticas de cada gnero, indicando as

    sugestes do guia para o livro provocarem grande interesse e indicarem as possibilidade de uso com crianas de outro ano.

    Alm desses textos sobre os livros dos acervos, por gnero, h, ao final de cada guia, a relao de todos os ttulos selecionados no PNLD/PNAIC, separados por ano e por acervo. Assim, possvel saber quais os livros que compem o acervo de cada ano, facilitando escolhas, trocas, busca de relaes de tema ou gnero entre os livros.

    ConCLuIndoO PNAIC tem procurado colaborar com as redes pblicas para a

    alfabetizao das crianas na idade certa; faz parte desta colaborao fazer chegar s salas de aula dos trs primeiros anos do ensino fundamental das escolas pblicas brasileiras livros de literatura, o que se faz por meio dos acervos selecionados pelo PNLD/PNAIC.

    Na fase em que as crianas so introduzidas ao mundo do escrito, alfabetizao e letramento devem desenvolver-se em harmonia e si-multaneamente, para que elas, ao mesmo tempo que aprendam a ler e a escrever, vivenciem os usos sociais da leitura e da escrita, sobretudo vivenciem a leitura literria, pois talvez o que de mais importante elas esperem da escola que esta lhes possibilite o acesso leitura de his-trias, poemas, livros de imagem, histrias em quadrinhos, que tanto as atraem e encantam.

    Para que isso acontea, fundamental a mediao dos professores e das professoras que tm o grande privilgio de introduzir no mundo do escrito as crianas brasileiras. Para colaborar com essa mediao que foram elaborados estes guias que acompanham os acervos que eles possam atingir esse objetivo de apoio e colaborao.

    obras do acervo que o representam, e apresen-tam vrias e ricas sugestes de como trabalhar com os livros em sala de aula:

    como levar os alunos a conhecer o livro como objeto a capa, a quarta capa, a lombada, autores, ilustradores, editora etc.;

    como identificar os usos convencionais de livros a direo da leitura das pginas, a nu-merao das pginas (que s vezes no aparece), diferentes tamanhos e espessuras dos livros etc.;

    como dever ser feita a leitura autno-ma, pelo aluno? mediada, pelo(a) professor(a)? silenciosa? em voz alta?;

    que atividades desenvolver antes da leitura, durante a leitura, aps a leitura;

    como explorar as relaes entre ilustra-es e texto;

    como enriquecer o vocabulrio dos alu-nos a partir da leitura;

    como desenvolver habilidades de inter-pretao, inferncia, avaliao de comportamen-tos e personagens;

    em que partes do texto convm inter-romper a leitura em uma pausa para prever o que vir em seguida;

    como ampliar as referncias das crianas sua viso de mundo, suas experincias pr-vias por meio da leitura literria, levando-as a conhecer outros espaos, outros tempos, outros modos de vida etc.

    So muitas as sugestes presentes em cada um dos textos que compem cada guia, su-gestes de anlise e interpretao dos livros dos acervos e, em princpio, adequadas ao ano a que se destina o guia. Mas nada impede, ao contrrio, ser muito enriquecedor, que pro-fessores(as) dos trs anos leiam e discutam em grupo os trs guias, leiam e discutam os textos sobre determinado gnero, as sugestes para tra-balhar determinado livro, troquem experincias de uso dos livros na sala de aula, experimentem em outro ano o trabalho de um livro destina-do a ano anterior ou posterior, no caso de as

  • 1 7

    MArIA zeL IA versIAnI MAChAdo1

    pAtrCIA bArros soAres bAtIstA2

    vAMos brInCAr de poesIA?

    Concordando com o poeta Jos Paulo Paes, para quem a poesia na infncia se aproxima das brincadeiras, este texto privilegiou textos em verso do acervo de poemas para crianas do primeiro ano, do Programa Nacional do Livro Didtico, do Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa, PNLD/PNAIC. Destacam-se, nessa escolha, a brincadeira, o jogo, a ludicidade na produo de sentidos da poesia infantil (BORDINI, 1986), em propostas para

    1 Professora da Faculdade de Educao/UFMG, pesquisadora do Grupo de Pesquisa do Letramento Literrio e, atualmente, vice-diretora do Centro de Alfabetizao, Leitura e Escrita - Ceale/FaE/UFMG. Organizou vrios livros sobre a formao de leitores literrios, entre eles Livros e telas e A criana e a leitura literria - livros, espaos, mediaes.

    2 Professora formadora do Ceale/FaE/UFMG, do Centro Pedaggico da Escola de Educao Bsica e Profissional da UFMG, pesquisadora do Grupo de Pesquisa In-fncia e Educao: concepes e prticas no Ensino Fundamental de Tempo Integral e, atualmente, coordenadora do 1 Ciclo de Formao Humana- CP/UFMG.

  • 1 91 8 a POESIa NO PRIMEIRO aNO DO ENSINO FUNDaMENTaLLITERaTURa Na hORa cERTa

    serem vivenciadas por crianas que iniciam o seu pro-cesso de alfabetizao. Considerando ser a infncia uma fase da vida caracterizada pela forte presena do brincar, a convivncia com textos literrios poticos que exploram elementos ldicos tais como repeties e jogos de palavras, com forte apelo sonoro, pode favorecer o desenvolvimento do letramento literrio das crianas que, nessa fase, en-contram-se com a curiosidade aguada pelas novidades apresentadas pelas linguagens escrita e oral.

    das experincias mais prazerosas para que as crianas efetivamente se apropriem da cultura escrita na escola.

    Letramento literrio o processo de apropriao da literatura

    enquanto linguagem. Para entendermos melhor esta definio

    sinttica preciso que tenhamos bem claro alguns termos. Pri-

    meiro, o processo, que a ideia de ato contnuo, de algo que est

    em movimento, que no se fecha. [...] O letramento comea

    com as cantigas de ninar e continua por toda a nossa vida [...].

    No se trata simplesmente de um conjunto de obras consideradas

    relevantes, nem do conhecimento de uma rea especfica, mas

    sim de um modo muito singular de construir sentidos que a

    linguagem literria [...]. Rildo Cosson, Glossrio Ceale, Termos de

    Alfabetizao, Leitura e Escrita para Educadores (2014).

    Cultura escrita o lugar simblico e material que o escrito

    ocupa em/para determinado grupo social, comunidade ou socie-

    dade. Ana Maria Galvo, Glossrio Ceale, Termos de Alfabetizao,

    Leitura e Escrita para Educadores (2014).

    Entre vrias dimenses metalingusticas, uma, que fundamen-

    tal para um aprendiz que se alfabetize, a capacidade de refletir

    sobre os segmentos sonoros das palavras que pronunciamos, isto

    , a conscincia fonolgica. Tal conscincia um conjunto de

    habilidades variadas. Estas variam quanto operao mental

    que o aprendiz realiza: pronunciar um a um os segmentos que

    compem a palavra, contar, identificar ou produzir partes sono-

    ras parecidas, adicionar ou subtrair segmentos sonoros. Variam

    quanto ao tamanho do segmento sonoro, que pode ser uma rima

    (mato/gato), uma slaba (cavalo/casaco) ou um fonema (sapo, c).

    E variam, ainda, quanto posio (incio, meio, final) em que

    aparecem nas palavras. Artur Gomes de Morais, Glossrio Ceale,

    Termos de Alfabetizao, Leitura e Escrita para Educadores (2014).

    Tal como o poeta que convida a brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio e pio, as propostas de atividade que sero neste guia desenvolvidas consideram o gnero poema para crianas uma espcie de diverso, embora diferente de outros brinquedos, porque inesgotvel. Esse carter ldico do texto potico propicia experincias com a linguagem em que a matria-prima a palavra oral e a palavra escrita seja explorada, tambm ela, de modo criativo. Desta forma, sero apresentadas ideias que podem ser colocadas em prtica no 1 ano do Ensino Fundamental, sempre tomando como base as especificidades da criana de seis anos, com o objetivo de sensibiliz-la a vivenciar textos poticos de alguns livros selecionados.

    O trabalho pedaggico com livros de literatura favorece que a escrita e a leitura sejam algo relevante e significativo para a criana, e, assim, o ensino seguramente no se reduzir a atividades puramente motoras e mecnicas. Desta forma, quando se propem atividades didticas com livros de poemas, a explorao ldica dos textos pode se tornar uma

    Ressalta-se ainda o fato de que a literatura proporciona criana a vivncia de outros espaos e outros tempos, bem como a participao imaginria em contextos culturais e sociais que desconhece. Esse exer-ccio de alteridade que a literatura promove amplia a viso de mundo dos leitores, contribuindo para seu amadurecimento social e emocional.

    As quadras, parlendas, cantigas, adivinhas, trava-lnguas, e histrias em versos so exemplos de textos poticos que jogam com as palavras, provocam associaes, exploram a sonoridade, o ritmo e as repeties, mobilizando uma srie de recursos que agradam a criana. No caso do aluno no 1 ano do Ensino Fundamental cabe assinalar ainda que, pelo texto potico, a ateno da criana se volta para o plano sonoro da lngua, o que contribui para o estabelecimento de relaes e distines entre escrita e oralidade, importante etapa para o sucesso da alfabetizao. Os recursos sonoros dos textos em verso so, portanto, atraentes para as crianas em processo inicial de alfabetizao e fundamentais para o desenvolvimento da conscincia fonolgica.

  • 2 120 a POESIa NO PRIMEIRO aNO DO ENSINO FUNDaMENTaLLITERaTURa Na hORa cERTa

    A presena da poesia na sala de aula e o desenvolvimento de propos-tas de mediao de textos poticos sensveis s descobertas das crianas devem ter sempre em vista que:

    [...] um poema um jogo com a linguagem. Compe-se de palavras: palavras soltas, palavras empilhadas, palavras em fila, palavras desenhadas, palavras em ritmo diferente da fala do dia a dia. Alm de diferentes pela sonoridade e pela disposio na pgina, os poemas representam uma maneira original de ver o mundo, de dizer coisas [...] (LAJOLO, 2001).

    Dessa maneira, a inteno deste guia, que tem como foco a leitura literria na sala de aula, dialogar com voc, professor, sobre possibi-lidades de se garantir o trabalho com os livros de poemas que passam a compor os acervos da sala de aula, considerando as especificidades dos textos e da fase em que se encontra a criana nessa etapa escolar. Sendo assim, atribui-se grande importncia nesse momento da escolaridade (1 ano) leitura compartilhada.

    vivencie uma forma brincante de contato com as palavras, reinventando os sentidos do texto medida que l ou ouve um poema.

    L IterAturA nA ALFAbetIzAoAs atividades a seguir foram elaboradas

    tendo em vista as especificidades das crianas no processo inicial da alfabetizao, assim, as propostas didticas priorizam aspectos impor-tantes para esse momento da escolaridade: a promoo da literatura, a formao leitora, o acesso a novos usos da linguagem oral e escrita, a reflexo lingustica na explorao de efeitos que a lngua oferece.

    Parte-se do pressuposto de que esco-larizar a literatura (SOARES, 2000) no apart-la das funes sociais que ela apresenta

    transformando-a em pretexto para o ensino de contedos. Deve-se considerar a mediao li-terria que se faz por meio de livros de poemas que vo para a sala de aula como uma descoberta coletiva que produz conhecimentos, desenvolve habilidades de leitura, de acordo com a condi-o esttica do texto literrio que lhe pecu-liar. Nosso pressuposto o de que brincar de poesia exercitar a percepo sobre os sentidos das palavras que promovem a ampliao dos significados do aprendizado da escrita.

    expLorAndo L Ivros de poesIAPara as sugestes didticas elaboradas com

    a finalidade de indicar mediaes literrias em sala de aula que podero ser aprimoradas pelos professores, foram selecionados os seguintes

    Leitura compartilhada ou colaborativa [...] uma atividade de

    leitura cuja finalidade estudar um determinado texto em co-

    laborao com outros leitores e com a mediao do professor.

    Ktia Lomba Brkling, Glossrio Ceale, Termos de Alfabetizao,

    Leitura e Escrita para Educadores (2014).

    Professor, uma boa prtica literria no ocorre por acaso. preciso preparar com

    antecedncia as atividades a serem exploradas: conhecer o livro a ser trabalhado,

    refletir sobre as possveis intervenes didticas a serem realizadas, considerando

    tanto o que o livro oferece como a realidade sociocultural dos alunos.

    A leitura frequente de livros literrios para as crianas ajuda os aprendizes a compreenderem os modos como o texto escrito funciona, reconhecendo as formas prprias da linguagem e suas funes, pois durante as atividades que envolvem a leitura e a escrita de textos eles comentam e refletem sobre o mundo e tambm sobre a prpria lingua-gem. Considera-se, assim, a atividade de leitura de livros para crianas na alfabetizao inicial de suma importncia, pois gera oportunidades para os alunos falarem sobre os textos a partir de uma experincia que mobiliza a sensibilidade e a afetividade.

    Aprender a ler pelo contato com diferentes gneros, incluindo o potico, oferece uma grande variedade de experincias com a linguagem, dada a sua inventividade. Assim, os elementos sonoros e rtmicos e o posicionamento estratgico de palavras ou expresses no texto possibi-litam outras formas de leitura alm da linear. O poema convida [...] o leitor/espectador/ouvinte a retornar obra mais de uma vez, desven-dando as pistas que ela apresenta para a interpretao de seus sentidos (GOLDSTEIN, 2006). Alm disso, a poesia d abertura para que o aluno

  • 2322 a POESIa NO PRIMEIRO aNO DO ENSINO FUNDaMENTaLLITERaTURa Na hORa cERTa

    livros: A velha a fiar, histria e cano po-pular adaptada por Sandra Regina Flix, com ilustraes de Jefferson Galdino; ABC do trava-lngua, escrito e ilustrado por Rosinha; e Meu bicho de estimao, narrativa contada em versos por Yolanda Reyes e ilustrada por Mariana Massarani.

    Para a melhor compreenso das atividades literrias na alfabetizao, este guia adotar a seguinte organizao: 1) Breve resenha sobre a obra, com a descrio e o levantamento de aspectos passveis de serem focalizados nas ati-vidades; 2) Sugestes de atividades, parte que se subdivide em: 2.1) Antes da leitura; 2.2) Durante a leitura; 2.3) Aps a leitura. Convm esclarecer aqui que no h uma rigidez que impea que determinados aspectos assinalados em um tpico sejam realizados em outros mo-mentos. Alm disso, as possibilidades de traba-lho com o livro no se esgotam nas propostas sugeridas, que so apenas ideias que indicam um dos caminhos que podem ser trilhados a partir destes e de tantos outros livros.

    As trs obras do acervo PNAIC foram esco-lhidas pela qualidade dos elementos literrios que oferecem, pela explorao de rimas, pelo ritmo marcado que favorece a leitura dos versos pelas prprias crianas, pelos recursos expressivos que estimulam a inteligncia, a fantasia e a imaginao.

    L Ivros de poesIA nA sALA de AuLA de ALFAbetIzAo

    Os livros do acervo de textos em verso devem ser vistos como um conjunto hetero-gneo de obras, pois cada livro pode propi-ciar atividades diversificadas. Reconhecer essa heterogeneidade leva a uma relao com o acervo sempre renovada, que no se esgota em um nico planejamento de atividades para a explorao das obras em verso com os alunos.

    uMA hIstrIA CuMuLAtIvA ou ACuMuLAtIvA eM versos: A veLhA A F IAr

    Estava a velha a fiar.Veio uma mosca lhe incomodar.

    A mosca na velha e a velha a fiar [...]

    Assim comea a histria contada em versos que, paulatinamente, repetem cenas com perso-nagens e acumulam aes. O livro escrito por Sandra Regina Flix e ilustrado por Jefferson Galdino uma adaptao de cano popular muito conhecida no Brasil. Ele traz uma srie de ocorrncias em sequncia que se passam em torno de uma velhinha que no se abala no seu trabalho de fiar na roca manual.

    leitor, surge um personagem que desencadeia uma instabilidade, e na sequncia vo surgindo um a um outros personagens e elementos que interferem na cena anterior. Esse tipo de estrutu-ra facilita a antecipao do que vir, tornando a leitura mais fcil em funo da previsibilidade, e propicia a reteno da histria em funo da re-petio. Com a utilizao de fontes em caixa alta de boa legibilidade para crianas que aprendem a ler, a programao visual conta com ilustraes divertidas em sintonia com o texto verbal. A brincadeira gira em torno do acmulo de seres e elementos que tentam tirar o sossego da velha a fiar. O desafio lembrar de todos os elementos que se acrescentam a cada reincio da contnua repetio das estruturas verbais, caracterstica das histrias cumulativas. Cada pgina do livro sempre se inicia pela frase Estava a velha no seu lugar, e termina com a frase a velha a fiar... A estabilidade que se cria pelo emprego dessas repeties pode promover uma grande interao das crianas com a histria, podendo elas at mesmo participar da leitura com a professora.

    Livros desse tipo, assim como o livro que tambm faz parte do acervo PNAIC do primeiro ano e sugerido no box a seguir, normalmente agradam muito os alunos em processo de alfabeti-zao, pois encorajam a leitura, ao oferecerem um grau de previsibilidade quanto ao texto verbal e ao visual, o que instiga a participao. A repetio, no livro A velha a fiar, reforada pelas imagens que antecipam contedos e levam a criana a prosseguir a aventura da leitura autnoma.

    Rima: repetio regular dos mesmos sons ou de sons que se aproximam. Existem vrios esquemas de rimas de acordo com os versos que rimam entre si. Muito popular entre ns so as quadrinhas, poemas de quatro versos, que podem apresentar vrios tipos de rima.

    Ritmo: O nmero de slabas determina a mtrica do verso do poema e no verso o jogo entre slabas tonas e tnicas lhe confere um ritmo. Poemas com versos livres tambm tm um ritmo prprio.

    Segundo Lus da Cmara Cascudo

    (1962), os contos acumulativos so

    aqueles em que os episdios so su-

    cessivamente encadeados, com fases

    temticas consecutivamente articu-

    ladas. Tambm conhecidos como

    contos de nunca acabar.

    Vamos brincar? Estava a velha no seu lugar e veio a mosca lhe fazer mal. A mosca na velha, a velha a fiar [...]

    Assim como no livro A velha a fiar, as demais histrias cumulativas ou acumulativas apresentam um evento desencadeador da narrativa, que a partir da passa a se repetir ao longo do enredo, ou seja, h um jogo entre o j conhecido e o novo: na cena conhecida e j apresentada ao

  • 2524 a POESIa NO PRIMEIRO aNO DO ENSINO FUNDaMENTaLLITERaTURa Na hORa cERTa

    ALguMAs sugestes que o L Ivro-CAno oFereCe

    Antes dA LeIturA

    As sugestes apresentadas neste tpico possi-bilitam ao professor levantar as hipteses e os co-nhecimentos prvios dos alunos sobre a histria e explorar importantes elementos paratextuais.

    Professor, antes de realizar a leitura para os alunos, leia o livro, preste ateno nas ilustraes e exercite a leitura em voz alta. Esse ensaio auxiliar voc a ficar mais preparado e seguro no momento da leitura na sala de aula, com seus alunos.

    Organize o espao onde a leitura ser realizada, de modo a favorecer que todas as crianas consigam ver o livro. Sabemos que o tamanho das letras no viabiliza s crianas acompanharem a leitura do texto verbal, mas o foco nesse momento o texto visual.

    Explore a capa: ela a porta de entrada para que a criana se interesse pelo livro: per-gunte aos alunos o que eles acham que est escrito na capa em letras grandes e coloridas, em uma espcie de bordado (alguns alunos que j leem certamente respondero esta pergunta lendo o ttulo; outros que ainda no leem po-dero levantar hipteses a partir da ilustrao);

    pedir a sua releitura vrias vezes. Assim, a cada nova leitura importante diversificar a explorao de determinados aspectos do livro.

    A cano de tradio popular foi adaptada de modo que os episdios fossem encadeados com aes e gestos que se relacionam sempre por um verbo que rima. Assim, todos os versos sem-pre se iniciam com a frase Estava a velha no seu lugar, e os verbos que se seguem possuem a terminao AR: incomodar, perturbar, encurralar etc. Quando o poema lido com ex-pressividade, o aluno reconhece essas correspondncias sonoras e brinca com essa descoberta.

    Explore os demais paratextos (orelhas e contracapa): indague as crianas sobre o que elas acham que acontecer, quem/o qu participar da histria. Neste momento voc poder utili-zar as orelhas do livro abra a primeira orelha e a surpresa certamente ser geral: um cachorro aparece; apresente a contracapa e abra a segun-da orelha; a essa altura o leitor j ter algumas pistas de que se trata de uma histria em que, alm da velha, diferentes bichos participam. Pode-se tambm instig-las a criar hipteses, perguntando quem mais participar da histria.

    Esse momento de explorao inicial uma boa oportunidade de verificar se as crianas sabem o significado da palavra fiar, essencial para a compreenso da histria. Pergunte aos alunos se eles sabem o que a velha que aparece na capa est fazendo, qual o nome do objeto que ela est utilizando, e qual a matria-pri-ma que utilizada para fiar. A inteno aqui levar os alunos a verificarem a ligao entre a imagem e o ttulo. Esse pode ser um momento interessante para apresentar usos do dicionrio na sala de aula.

    Busque saber se alguma criana j co-nhece uma histria ou a cano que tem uma velha a fiar. Caso alguma criana diga que j conhece a msica, pode-se explicar o motivo de estar escrito junto ao nome da autora o termo adaptao de, informando aos alunos que adaptar fazer um arranjo, uma espcie de modificao do texto original. Nesse caso, explique s crianas que a autora adaptou a histria, que originariamente era uma cano, para ser contada no livro.

    Retome a apresentao do livro destacando outras informaes presentes na capa, como, por exemplo, o nome da editora (que vem acompa-nhado de um desenho ou logotipo), os nomes do autor e do ilustrador (e tambm a pequena bio-grafia de ambos, apresentada ao final da obra) e as demais informaes da contracapa. As crianas quando gostam muito de uma histria costumam

    durAnte A LeIturA

    A leitura compartilhada o momento em que os alunos podem acompanhar a histria contada pelo texto e pelas imagens, expressando suas impresses e tendo a mediao do professor no processo de pro-duo de sentidos do texto.

    Sugira aos alunos, antes de iniciar a leitura, que prestem bastante ateno nas ilustraes, mostrando que o livro composto por pginas duplas sendo que alguns personagens aparecem na pgina da direita e outros na pgina da esquerda. Com certeza, essa programao visual tem uma razo de ser para a histria que ser contada. Exemplo: Estava o galho no seu lugar. Estava o rato no seu lugar./ Veio um gato lhe encurralar./ O gato no rato, o rato na aranha, a aranha na mosca, a mosca na velha e a velha a fiar. Nesta passagem, o gato aparece na pgina da esquerda e o rato e a aranha na pgina seguinte.

    No incio da leitura os alunos podem se mostrar um pouco dis-persos, mas certamente prestaro ateno na histria medida que perceberem que, a cada pgina, um novo bicho aparece para perturbar o outro apresentado anteriormente e que a histria vai se complicando com tantos personagens.

    muito comum durante a leitura de histrias acumulativas as crianas tentarem repetir a histria junto com o professor. Isso no ruim, pelo contrrio, uma ao muito importante, pois demonstra a compreenso dos alunos sobre o gnero: a repetio e a acumulao. preciso, assim, dar vez participao das crianas, mesmo que, para isso, a leitura pelo professor tenha de ser interrompida.

    Manusear e explorar o livro durante a leitura essencial: pode-se perguntar s crianas se somente pelas ilustraes possvel recontar a histria e fazer esse exerccio coletivamente esta uma boa oportu-nidade para enfatizar a entrada de um personagem a cada pgina, por exemplo. Pode-se tambm indagar: Por que no incio da histria o texto pequeno (apenas 3 linhas)? E por que ao final da histria o texto

    Pipoca, um carneirinho e um

    tambor, conto cumulativo

    de Graziela Bozano Hetzel,

    ilustrado por Elma.

  • 272 6 a POESIa NO PRIMEIRO aNO DO ENSINO FUNDaMENTaLLITERaTURa Na hORa cERTa

    bem maior (9 linhas)? Neste ponto, o mediador pode procurar auxiliar na compreenso de que o texto vai aumentando na medida em que as personagens vo aparecendo na histria.

    Ao final da leitura o professor poder colher as impresses do grupo fazendo per-guntas direcionadas do tipo: vocs acham que teve algum personagem que mais incomodou o outro na histria? Qual foi a parte de que vocs mais gostaram? Por qu? E a velha, o que ela fez ao final da histria? O que tosquiar?

    A ltima pgina do livro se desdobra e resume de modo invertido o enredo da histria que culmina com o ttulo do livro na pgina seguinte: A velha a fiar. O recurso de dobrar/desdobrar a pgina final confere ao objeto livro uma condio ldica, oferecendo outro tipo de manuseio da obra que agrada muito os lei-tores desse segmento. Alm disso, permite ao professor retomar oralmente com os alunos a sequncia das aes das personagens da histria.

    O professor pode perguntar tambm se os alunos acham que se trata de uma histria que aconteceu de verdade ou se uma histria inventada, e sondar a partir de que elementos eles a consideram real ou ficcional. A ideia explorar o contedo fantstico da narrativa contada por meio de versos, mostrando que, embora as pequenas aes dos personagens pos-sam ser tomadas como reais (a mosca que inco-moda, a aranha que ataca, o rato que perturba etc.), a acumulao dos fatos d histria uma

    personagem seguinte. Ao final, ser construda uma espcie de linha do tempo da narrativa, formada apenas por personagens. Nesse mo-mento o professor pode pedir s crianas que recontem a histria, no se esquecendo da ordem das aes. Se a atividade for muito complexa para os alunos, pode-se levantar apenas os per-sonagens e suas aes: estava velha a fiar/ veio a mosca lhe incomodar/ veio uma aranha lhe atacar/ veio um rato lhe perturbar etc.) ver sequncia de fotos acima. Essa atividade contribui para que os alunos relacionem os personagens com o texto e, ao retomar o livro para o reconto da histria, deve-se propor a eles que observem detalhes da ilustrao e os conectem com o texto.

    dimenso fantstica: o pato que nada na gua, que apaga o fogo, que incendeia o galho, que balana perto do cachorro, que assusta o gato, que encurrala o rato... sem que se perturbe a tranquilidade da velha que continua a fiar.

    depoIs dA LeIturA

    Para desenvolver atividades relacionadas ao livro lido, primeiramente o professor pode per-guntar aos alunos se conhecem histrias cumu-lativas parecidas com a que foi contada. Em caso positivo, o professor deve explorar as semelhanas entre as pequenas histrias cumulativas.

    Em seguida, o professor pode pedir que os alunos desenhem um personagem que apa-rece na histria. Para organizar essa atividade sugerimos que o professor chame um aluno para folhear o livro, para propiciar um contato maior com o personagem que aparece a cada pgina. medida que os alunos vo apontando os per-sonagens, o professor pode list-los no quadro e, em seguida, escrever o nome das crianas que faro os desenhos. A diviso depender do nmero de alunos da turma. Se a turma tiver 24 alunos, por exemplo, o mesmo personagem dever ser desenhado por duas crianas.

    Aps a realizao dos desenhos, as crianas devero orden-los (pode-se utilizar o prprio quadro ou um varal da sala) a partir da retoma-da da histria feita pelo professor. A cada novo personagem as crianas devero apresentar o

    Produo escrita: nome dos personagens a partir do uso de letras mveis. A atividade pode ser organizada em duplas. Cada dupla recebe uma folha correspondente a uma pgina do livro. As duplas devero ser formadas a partir do nvel em que se encontram. Assim, o professor pode selecionar a formao de palavras simples, como gato/rato/pato, para alunos que estejam na fase inicial de alfabetizao, e palavras mais complexas, como mulher/galho/ovelha, para alunos que estejam um pouco mais avanados. Essa atividade favorece a reflexo sobre a escrita, as letras utilizadas, sua ordem etc. Por meio desse exerccio, o aluno analisa oralmente a palavra e busca fazer associaes entre o que se fala e as unidades grficas disponveis.

    Trabalhando a identificao de rimas: com a mesma matriz da atividade o professor pode pedir que os alunos coloram as palavras que ri-mam da mesma cor. Aps o trmino desta etapa, ler com as crianas todas as palavras sublinhadas e perguntar o que todas tm em comum. Es-pera-se com esta a atividade que os aprendizes comparem a terminao silbica de todas as palavras grifadas e identifiquem as semelhanas sonoras das terminaes silbicas AR.

    Percebendo o tempo da narrativa: explicar aos alunos que, juntos, todos faro a leitura do livro novamente, mas que devem prestar ateno para descobrir se a histria j aconteceu, est acontecendo ou ainda vai acontecer. Durante a leitura, enfatizar, registrando no quadro, os

    Criar situaes de leitura participativa, em que as crianas so convidadas a lerem o texto com o apoio da memorizao. Pode-se pedir aos alunos que leiam o livro, sozinhos. Assim, eles experimentam uma maneira diferente de ler, antes mesmo de dominar a leitura.

  • 2 928 a POESIa NO PRIMEIRO aNO DO ENSINO FUNDaMENTaLLITERaTURa Na hORa cERTa

    O levantamento do repertrio de textos dos alunos um importante instrumento para que o educador se familiarize com os conhecimentos que os alunos possuem e priorize determinados aspectos do trabalho. Dessa forma, se ocorrer de os alunos no conhecerem ou conhecerem poucos trava-lnguas, nesse momento que o professor vai apresentar e explorar as caractersticas do texto com diferentes exem-plos. Caso contrrio, se as crianas j dominam bem uma diversidade de textos, o professor poder retomar algumas caractersticas do gnero, a partir da explorao de alguns trava-lnguas, para que os alunos possam compreender e apreciar mais essa forma potica popular.

    verbos no passado repetidos na histria: estava e veio. Aps a leitura fazer perguntas do tipo: A histria est acontecendo hoje? ou Aconteceu h algum tempo?, Como possvel saber?.

    O vocabulrio utilizado no texto simples, mas alguns vocbulos como fiar e tosquiar podem ser desconhecidos por muitos alunos. As hipteses sobre o significado da palavra tos-quiar, por exemplo, podem ser registradas e, aps a consulta mediada ao dicionrio (neste caso, deve-se disponibilizar dicionrios adequados faixa etria), o professor pode instigar a turma a refletir sobre a definio que mais se assemelha da histria. Atividades desse tipo contribuem para a ampliao do vocabulrio pelos alunos.

    trAvA-LnguAs: uM desAFIo potICo de sons, que exIge ConCentrAo e MeMrIA

    Os trava-lnguas so especialmente eficazes nas atividades que ajudam as crianas a refletir sobre a relao fonema-grafema (relao entre o que se fala e o que se escreve) de forma l-dica. A proximidade sonora entre as palavras que compem esses textos favorece a reflexo acerca do sistema de escrita, pois fornece pistas importantes s crianas sobre as possveis letras a serem usadas em cada palavra, cujas escolhas so decisivas para o processo de significao.

    Os trava-lnguas so gneros que fazem parte da tradio oral. Neles a intencionalidade esttica da linguagem se destaca por colocarem em primeiro plano a materialidade sonora das palavras, explorando ao mximo a sonoridade, as oposies entre os fonemas, os significados inusitados produzidos pela juno de palavras que se aproximam pela forma em composies que beiram o nonsense. So considerados desa-fios verbais, devido grande concentrao que exigem para que o texto, de difcil articulao, quando oralizado, seja pronunciado de forma rpida e correta.

    AbC do trAvA-LnguAHistoricamente os abecedrios so livros

    usados na alfabetizao, que auxiliam no apren-dizado das letras e da ordem alfabtica. Tal como muitos textos da tradio oral, o livro ABC do trava-lngua brinca com as letras, as pa-lavras, seguindo a ordem alfabtica socialmente convencionada, mas faz isso estabelecendo um dilogo com outro gnero da tradio oral, o trava-lngua.

    Assim a maior contribuio da obra favo-recer a brincadeira com a sonoridade das pala-vras, assumindo funes ldicas e poticas, para alm do trabalho convencional com a ordem alfabtica. Para cada uma das letras do alfabeto, h um trava-lngua diferente.

    essencial destacar que, mais do que se apegar simplesmente ao abecedrio pela funo pedaggica no trato com as letras, fundamen-tal ater-se a elementos literrios que qualificam a obra. Assim, nesta obra, os 26 textos evocam sons a sua matria-prima dando-lhes um tratamento potico. Para a criana que est sendo alfabetizada, conhecer a gama variada de sons que a nossa lngua oferece estimu-lante para o seu aprendizado. As ilustraes fortemente coloridas em ABC do trava-lngua ocupam um grande espao nas pginas e des-tacam elementos do texto verbal, dando-lhes uma dinamicidade e valorizando esteticamente a obra. As imagens instigam a ampliao de sentidos do texto verbal.

    O contato com esse tipo de texto enriquece muito o processo da alfabetizao. Para cada letra, h pequenos versos que remetem a trava-lnguas populares, um para cada letra. O texto explora, assim, aliteraes (repetio de sons consonantais) e assonncias (sons semelhantes das vogais), provocando travas na lngua e desafiando o leitor.

    Na obra, muitos desses textos se apresen-tam em forma de quadrinhas outro gnero potico, de forma fixa. Mas nem todos so

    construdos dessa forma (as letras A, C, D, G, S, T, por exemplo, compem-se de cinco ou seis versos).

    As sugestes de atividade que apresentare-mos agora buscam criar situaes que possibi-litem ao aluno construir conhecimento sobre o gnero trava-lngua, desafiando a pronncia e a memria de maneira ldica, contribuindo tambm para o aprendizado de novas palavras.

    Antes dA LeIturA

    Apresentar o livro ABC do trava-lngua s crianas e fazer um levantamento junto turma sobre trava-lnguas que eles conhecem.

    Organizar o espao onde a leitura ser realizada, de modo que todas as crianas sin-tam-se vontade e com boa disposio para a recepo do livro.

    Explorar a capa: ela abre as portas para o interesse leitura: pergunte aos alunos quais letras aparecem no alto da capa, o nome do ttulo da obra e que relao pode haver entre o ttulo e a imagem apresentada (de uma Gali-nha de Angola estilizada que ilustra a capa e as pginas referentes s letras G e H).

    Levantar o conhecimento da turma sobre o que um trava-lngua a partir da imagem de um personagem com um n na lngua. Para amarrar a discusso, explique aos alunos que o trava-lngua um conjunto de palavras

  • 3 130 a POESIa NO PRIMEIRO aNO DO ENSINO FUNDaMENTaLLITERaTURa Na hORa cERTa

    que brincam com os sons e o significado das palavras, exigindo muitos movimentos da lngua, devido presena de palavras com sonoridade semelhante ou de difcil pronncia, que levam o falante a confundir os fonemas e pronunci-los de forma errada, travando a lngua, da o nome do gnero.

    Ler o texto da quarta capa, recitando e instigando os alunos a re-citarem o trava-lngua Trs pratos de trigo. Em seguida, diga algumas letras do alfabeto aleatoriamente (uma por vez) e pergunte se alguma criana conhece trava-lnguas com essa letra.

    durAnte A LeIturA

    Ler os trava-lnguas do livro seguindo a ordem alfabtica. Nesse momento pode-se instigar os alunos dizendo, por exemplo, que o livro comea com a mesma letra do nome de determinada criana. Seguir a ordem nesse primeiro momento muito importante, pois os alunos podem acompanhar a sequncia alfabtica apoiando-se no alfabeto ex-posto na sala de aula.

    Para dinamizar a leitura, escolha alguns trava-lnguas para recitar durante a semana, sempre convidando os alunos a recitarem junto.

    Deixar os alunos escolherem um trava-lngua para memorizar e recitar. Essa atividade pode ser organizada de acordo com as iniciais dos nomes e dos sobrenomes dos alunos (no caso de repetio).

    depoIs dA LeIturA

    Distribuir um trava-lngua do livro, digi-tado, para cada aluno (conforme as sugestes do tpico anterior) e instigar as crianas a recit-lo algumas vezes. Essa atividade pode (e deve) ser levada para casa, de modo que a famlia cola-bore com a memorizao do aluno. Caso voc perceba que no ser vivel o exerccio fora da sala de aula, selecione alguns minutos do dia para exercitar a dico dos alunos.

    Organizar a turma para um campeonato de Trava-lngua, trava e brinca. Dependendo da infraestrutura da escola, os alunos podero realizar essa atividade em um ambiente externo sala de aula. A disputa ter como vencedor aquele(s) que recitar(em) o texto mais rpido e sem errar. O vencedor deve ser eleito por toda a sala de forma democrtica e divertida.

    Os textos que foram entregues para cada aluno por escrito podero ser utilizados para essa prxima atividade. Com o intuito de explorar as rimas presentes em todos os trava-lnguas da obra, pea aos alunos que coloram somente as palavras que rimam. Na hora de socializar a atividade cada aluno recitar novamente o texto e, em seguida, ler apenas as palavras marcadas.

    Pode-se trabalhar a memorizao coletiva de um trava-lngua escolhido pela turma e, posteriormente, o professor poder distribuir o texto com lacunas a serem preenchidas pelos alunos. Segue um exemplo, com o trava-lngua da letra K: Kika caiu ________ / Kakito caiu de ___ / Coitada da Kika ______ / Kakito correu ____

    Outro exemplo de atividade que se utiliza da memorizao o registro de um trava-ln-gua j memorizado pela turma em um cartaz decorado. O(a) professor(a) explica s crianas que elas devero prestar bastante ateno, pois em determinadas palavras far uma pausa para que elas as leiam sozinhas.

    Localizar e identificar palavras. O profes-sor entrega um trava-lngua digitado/escrito e

    xerocado para cada aluno e em seguida pede que eles circulem determinadas palavras. Po-de-se, por exemplo, explorar as terminaes silbicas que rimam no texto, na pgina 23 (como praa, traa e graa); ou palavras que possuem uma consoante antes do R (como trufa, truta, trancou, tramou etc.); ou ainda encontrar determinada palavra.

    Dependendo do nvel da turma poss-vel tambm ditar diferentes trava-lnguas para serem escritos em um carto ilustrado. Pos-teriomente, o professor poder reproduzir os cartes em outro formato e organizar um jogo da memria.

    Pode-se tambm propor a criao de no-vos trava-lnguas a partir das iniciais dos nomes de cada aluno. Sugerimos a organizao dos alunos em duplas: um aluno cria o trava-lngua a partir da letra do nome do seu par. (Aqui o professor assume o papel de escriba quando necessrio. Caso a atividade seja difcil para a maioria da turma, realize-a coletivamente. Neste caso, a escolha das letras com as quais novos textos sero criados de acordo com a inteno do professor).

    Aps a criao dos trava-lnguas as duplas devero recit-los no momento Trava-turma, trava-dupla; em seguida, as produes podem ser ilustradas pelas crianas e expostas no mural/varal da sala.

    Atividade de produo do ABC dos trava-lnguas da turma.

    hIstrIA sobre bIChos ContAdA eM versos

    O terceiro livro dessa seleo Meu bicho de estimao, de Yolanda Reyes, com ilustra-es de Mariana Massarani. Como num jogo de adivinhao, passam pelas pginas diver-sos bichos e seus donos, mas nenhum deles o bicho do menino, narrador dessa pequena

  • 3332 a POESIa NO PRIMEIRO aNO DO ENSINO FUNDaMENTaLLITERaTURa Na hORa cERTa

    histria, de ritmo forte e cadenciado, conta-da em versos. O nosso personagem apresenta ao leitor vrios bichos e anuncia que nenhum deles igual ao seu: ...o meu diferente, no existe outro igual... A sua mascote faz tudo que os outros bichos fazem e muito mais. Ao final da histria, descobrimos que a mascote ou bicho de estimao o pai do menino, que, na sua imaginao, se metamorfoseia em vrios bichos em brincadeiras que inventam juntos. As ilustraes que dialogam com o texto verbal so ricas em detalhes que reforam o clima de suspense sobre qual seria o bicho de estimao que rene tantas caractersticas comuns aos outros bichos e muito mais. A brincadeira de adivinhar se mostra desde as folhas de guarda, que estampam vrios bichos, entre os quais se destaca um estranho pinguim. A criana assim provocada a descobrir que bicho to querido esse, afinal, seguindo as pistas, muitas delas pro-positalmente falsas e por isso muito divertidas.

    Antes dA LeIturA

    Apresentar aos alunos, sentados em cr-culo, o livro: seus elementos de capa, da con-tracapa, das folhas de guarda.

    Na capa, explorar as imagens buscando relacion-las com o ttulo do livro. Quem so os personagens que aparecem na capa do livro? O que eles fazem? Qual o ttulo do livro?

    Se as crianas ainda no conseguirem ler o ttulo, este pode ser lido pelo professor, para que, em seguida, se explorem os elementos visuais em relao a ele. Se o nome da histria Meu bicho de estimao, qual desses bichos o bicho de estimao do menino? Por qu?

    A quarta capa d continuidade conversa iniciada na explorao da 1 capa, trazendo ou-tros bichos e aumentando a dvida que s ser resolvida no final da histria com as imagens de outros bichos e o pequeno texto em verso que anuncia: Esses bichinhos que amamos po-dem ser encantadores,/detestveis, rabugentos,

    que compartilham. Como de se esperar, o forte apelo afetivo do texto literrio pode fazer emergir na sala de aula as mais diferentes reaes dos alunos, que devem ser acolhidas por quem conta a histria.

    depoIs dA LeIturA

    Terminada a leitura, as crianas podem desenhar o seu bicho de estimao, e se j sou-berem escrever, podem dar-lhe um nome, es-crevendo-o abaixo do desenho. Os desenhos e nomes vo compor o painel do Zoo de estimao da turma.

    Para explorar a linguagem oral, cada criana tira de um saco o nome de um animal que vem acompanhado de sua imagem, para, sem dizer qual o bicho, falar o que ele gosta de fazer ou de comer, como ele e como ele

    vive, dando pistas para os colegas. O interessan-te da brincadeira propor adivinhaes como na narrativa lida.

    Bichos de A a Z. Nesta atividade, os alunos podem pesquisar em casa com a ajuda dos pais alguns bichos cujos nomes se iniciam por uma letra do alfabeto. Nas aulas seguintes, eles levaro uma foto ou desenho do animal e construiro coletivamente uma quadrinha sobre o bicho, tendo a professora como escriba.

    So muitos os livros de poemas e de narrativas que exploram a temtica bichos de estimao e outros animais. Os poemas de Vi-ncius de Moraes, do livro A arca de No, por exemplo, podem ser lidos e declamados no decorrer das atividades sobre a temtica, am-pliando o repertrio dos alunos e propiciando o envolvimento com ritmos e rimas, bem-vin-dos na fase de descobertas em que as crianas comeam a refletir sobre o que aproxima ou distingue os sons da lngua.

    reFernCIAs bIbL IogrFICAsBORDINI, Maria da Glria. Poesia infantil. So Paulo: tica, 1986. (Srie Princpios).

    CASCUDO, Lus da Cmara. Dicionrio do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro/Ministrio da Educao e Cultura, 1962.

    FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva; et al. Glossrio Ceale: termos de alfabetizao, leitura e escrita para educa-dores. Belo Horizonte UFMG/Faculdade de Edu-cao, 2014.

    GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 14.ed. So Paulo: tica, 2006. (Srie Princpios).

    LAJOLO, Marisa. Palavras de encantamento: antologia de poetas brasileiros. v.1. So Paulo: Moderna, 2001.

    SOARES, Magda. A escolarizao da leitura literria. In: EVANGELISTA, Aracy; et al. (orgs.). A escolari-zao da literatura. Belo Horizonte: Autntica, 2000.

    companheiros, traidores,/Mas o meu diferen-te, no existe outro igual.

    Ao final dessa explorao, seria muito interessante deixar os alunos falarem sobre seus bichos de estimao, antes de se iniciar a leitura da histria.

    durAnte A LeIturA

    Ao ler as quadrinhas de cada par de p-ginas (elas aparecem ora na pgina da esquer-da ora na da direita), importante mostrar as imagens, as quais oferecem muitos elementos que, com certeza, mobilizaro as crianas com os conhecimentos que tm sobre os bichos.

    Algumas perguntas podem contribuir para a construo dos sentidos na relao que se estabelece entre texto e imagem, logo no incio da histria: que bichos so da terra, do ar e do mar? Possivelmente os alunos tero mais dificuldade de encontrar resposta para os mencionados bichos do fogo, e a resposta pode vir das ilustraes: os bichos que queimam. Que bichos so da roa e quais so os que temos em casa, nas cidades?

    Na continuidade da narrativa em versos, a segunda quadrinha brinca com dimenses bichos grandes e pequenos e com caracte-rsticas dos animais. Que outros bichinhos so pequeninos como as pulgas ou enormes como os cavalos?

    medida que se conta a histria, inicial-mente mais descritiva na apresentao de vrios bichos, a leitura vai ganhando um novo interes-se em torno do misterioso bicho de estimao. Esse fluxo, com certeza, deve ser considerado na leitura e na explorao das imagens para que as crianas se envolvam mais e mais na tentativa de descobrir qual , afinal, o bicho de estimao do menino.

    A cena final, composta por imagens e com apenas uma palavra, surpreende ao mostrar que o bicho de estimao o pai do menino, que incorpora todos os bichos nas brincadeiras

  • 3 5

    Ao escrever, preciso que tenhamos certo propsito e leitores em mente, no mesmo? Pois bem, comea-mos por a. Escrevemos este captulo tendo como interlo-cutores projetados um grupo de professores alfabetizadores que, empenhados em garantir s crianas, seus alunos, as aprendizagens de que tm direito, pensam tambm, como ns, que a escola tem um compromisso com a formao do leitor de literatura. Nesse sentido, este captulo um convite: vamos pensar em literatura e em seu lugar na educao escolar, em seu mais impactante incio?

    LuCIene JuLIAno s IMes 1

    eL IAnA guIMAres ALMeIdA2

    1 Doutora em Letras, professora titular do Instituto de Letras da UFRGS. Atua como orientadora de estgios de docncia de Lngua Portuguesa no Ensino Fundamental e no Programa de Ps-Graduao em Letras da UFRGS. autora dos Referenciais Curriculares do Estado do Rio Grande do Sul, no componente de Linguagens - Lngua Portuguesa e Literatura. Entre suas publicaes, est o livro Leitura e autoria planejamento em Lngua Portuguesa e Literatura (PNBE/Professor).

    2 Pedagoga e mestre em Educao pela FaE/UFMG. Atua na rede municipal de ensi-no de Belo Horizonte. Formadora no Ceale-FaE/UFMG e Membro do Grupo de Pesquisas do Letramento Literrio GPELL.

  • 373 6 Prosa Para o Pequeno leitorliteratura na hora certa

    Antes de mais nada, quando se trata de um leitor que ainda no sabe decodificar a escri-ta alfabtica, corremos o constante perigo de definir ler como decodificar, como conhecer letras e saber associ-las no reconhecimento de palavras, ou mesmo de definir ler como ser capaz de faz-lo em voz alta, de modo fluente e fiel ao conjunto de sinais grficos registra-dos em determinados materiais impressos. Isso porque de fato essas aprendizagens j so um extraordinrio passo na aproximao entre um leitor-aprendiz e a escrita, passo em si mesmo complexo e, como sabemos, puxado para as crianas e para seus professores. Alm do mais, esse tambm um passo indispensvel para que as crianas venham a desempenhar seu papel de leitores de modo proficiente.

    Contudo, nunca demais lembrar que as-sociar a leitura apenas decodificao uma reduo. Isso porque leitores assduos jamais param na decodificao; apesar da decodificao acompanhar o leitor sempre, nem sempre se verifica que venha antes de outros processos de compreenso e interpretao, tambm atuan-tes na leitura proficiente. Ao contrrio, quando atingimos a maturidade como leitores, pre-ciso encontrar palavras novas e desconhecidas combinaes entre elas, quem sabe estranhas ou inventadas, para que tenhamos conscincia de que estamos decodificando: no mais, lemos de tal modo que nos interessam os sentidos ou mesmo as sonoridades, e no as letras em si, que apa-rentemente no nos ocupam no ato da leitura.

    Ao mesmo tempo, ns, que convivemos com crianas pequenas e prestamos detida aten-o em suas relaes com os escritos que as cercam, notamos que, mesmo antes de decodi-ficar a escrita alfabtica, elas podem estabelecer relaes mltiplas com a leitura: as crianas ocupam-se com gestos leitores e investigam de modo ativo os livros a que tm acesso. Nessa investigao, elas podem apoiar-se em ilustra-es para construir sentidos, podem lanar mo do reconhecimento de nomes, de fragmentos

    prIMeIrAs pALAvrAs: Le Itores e Le IturA no prIMeIro Ano de esCoLA

    O primeiro ano do Ensino Fundamental talvez aquele que se enraizou em nossa memria coletiva como a estreia na escola; afinal, o ano de aprender a ler e escrever. Por mais que saibamos que essa aprendizagem j comea nas experincias cotidianas das crianas fora da escola e nos anos de Educao Infantil, e por mais que desejemos que v se estender por toda a vida, nada tira do primeiro ano a expectativa do encontro direto com as letras e com o mundo da escrita, mundo no qual a literatura um universo importante e mesmo fundamental, sem o qual no se pode pensar em formao do leitor. o momento, ento, de nos perguntarmos: o que significa ler e ler literatura? A resposta a essas duas perguntas fundamental para que realizemos um bom planejamento da nossa atividade como professores e mediadores de leitura. Em nossos ditos e nas entrelinhas, estaremos at o final do captulo tecendo uma resposta a essa pergunta, e gostaramos que ela acompanhasse vocs e seus colegas de escola constantemente. O que voc considera leitura e leitura literria? E mais: como voc pode proceder de modo a mostrar o que so (leitura e leitura literria) para crianas bem pequenas, que apenas comeam a adquirir suas habilidades para ler? Eis nosso grande desafio.

    memorizados de escrita, at mesmo da sucesso de episdios de uma histria que conhecem e que sabem estar escrita em determinado porta-dor de textos. Enfim, as crianas que convivem com a escrita podem ler sua maneira e apoiar-se em mltiplas pistas na tentativa de construir uma compreenso. O reconhecimento desses variados gestos de ler, contudo, novamente no nos coloca diante da leitura, por mais que haja neles um fenmeno de compreenso. Ou-tro perigo, ento, associar ler to somente a reconhecer certo texto em seu sentido geral, dispensando a decifrao e a reflexo: mais uma vez nos deparamos com uma reduo.

    Por fim, sabemos que as prticas de leitura so significativas na vida das pessoas e, portanto, das crianas, por trazerem a elas a possibilidade de um deslocamento, de uma descoberta. En-fim, a leitura revestida de propsitos: lemos em busca de informao, em busca de conheci-mento do mundo e do conhecimento de outros pontos de vista sobre o mundo, em busca de entretenimento, de prazer e de reflexo sobre ns mesmos, sobre nossa histria coletiva, para a compreenso e a superao de nossos con-flitos. Nesse sentido, quando, por exemplo, uma criana escuta uma histria a ela contada oralmente e chamada a expressar seus enten-dimentos, suas reaes, alm de ser chamada a conhecer o modo como outros, adultos ou no, compreenderam e reagiram ao texto, ela est imersa num evento que oportuniza um exerccio de leitura crtica e participativa. No entanto, mais uma vez, se as experincias com os escritos forem sempre mediadas por um porta-voz que ocupa o lugar de decifrador, por mais ricos que sejam esses exerccios interpretativos na leitura coletiva, temos mais uma reduo das prticas de leitura: o leitor que no decodifica com autonomia, que no se vale, ele mesmo, das pistas grficas e lingusticas para a compreenso, e que no pode, assim, estar fisicamente sozinho com o livro no ato de ler. Enfim, esse tampouco um leitor no sentido cheio da palavra.

  • 3 93 8 Prosa Para o Pequeno leitorliteratura na hora certa

    LeIturA L IterrIA nA prosAUma alegria: ao dirigir esta reflexo a voc,

    professor(a), sabemos que o fazemos numa cir-cunstncia fecunda. Isso porque voc acaba de receber um acervo de qualidade para uso por seus alunos na sala de aula de alfabetizao. Quem sabe comeamos por um passeio por esse acervo e, a partir dele, refletimos juntos sobre o que indispensvel na leitura literria e sobre o que h em comum entre os livros includos sob a etiqueta prosa? O convite est feito!

    Vamos pensar juntos sobre Bililico. O livro est no acervo PNAIC que sua escola re-cebeu? Ento, retire o livro da caixa e leia. No uma beleza? Trata-se de um texto encantador, ao mesmo tempo delicado, engraado e aven-turoso e nesse ltimo ponto com certa dose de suspense. Tambm, um texto que atrai, diverte e faz pensar, pois mostra como arris-cado simplesmente viver, para mes amorosas e filhos curiosos e brincalhes, ainda por cima quando estes so pequenos demais para andarem sozinhos e perdidos por a. Trata-se, ainda, de um texto simples do ponto de vista lingustico e do ponto de vista da linguagem visual. Essa simplicidade, contudo, est a servio de uma notvel riqueza simblica, associada no apenas maestria das autoras no manuseio da lingua-gem visual e da lngua portuguesa, mas tambm maestria com que lanam mo dos recursos da narrativa para crianas e criam uma histria

    Considerando, ento, esse panorama, queremos desenvolver com nossos pequenos leitores atividades de sala de aula que deem um teste-munho de leitura incluindo aspectos conjunturais resumidos na figura abaixo, a qual elenca as prticas simultneas, no ordenadas e sempre necessrias para que tenhamos leitores e leitura.

    Pensando em aprendizagem, esse conjunto implicado na leitura aponta para a necessidade, no ensino e na mediao, de darmos ateno alfabetizao vinculada ao letramento, e vice-versa. Se voc quiser ler mais sobre isso, trs bons textos so os de Sol (1998), Soares (2004) e Picolli e Camini (2012).

    Os momentos de leitura na sala de aula, assim pensados, sero, ento, oportunidades para que estejam em jogo tanto as atividades cognitivas de decodificar e de compreender a escrita quanto as prticas sociais que esto ligadas aos textos, permitindo que o leitor conhea as letras e o mundo da escrita. Para isso, importante dosar ao invs de fragmentar. Mas o que queremos dizer com isso? Queremos dizer que, a cada distinta atividade de leitura planejada, importante dosar e dar foco a um ou a alguns dos aspectos da leitura, sem com isso acreditar que possamos ter leitura se no tivermos, de modo algum, qualquer uma de suas prticas constitutivas. Se usarmos os textos para apenas levar a criana a decodificar, estaremos fragmentando. Se mediarmos a leitura sem nunca solicitar que a criana decifre, estaremos fragmentando. Se realizarmos leituras orais com discusso e no dermos espao para o contato com o portador de texto, para dar oportunidade compreenso direta pela criana, estaremos fragmentando. E assim por diante. A ideia ento ter maior ou menor nfase nessas atividades numa determinada aula ou momento de aula, mas jamais, em nossa pedagogia, perder de vista o todo (o conjunto) implicado na leitura. Voc ver que nossas sugestes favorecem essa integrao, e serviro de exemplos do que estamos discutindo aqui.

    Bililico narra um momento de aflio vivido por Bi, a me, e Bililico, seu filho. A aventura narrativa gira em torno do sumio de Bililico dentro de sua prpria casa, para susto dele e de sua me. Carregado por um pssaro, ele cai dentro de uma flor, de onde sai navegando em uma folha. S que as guas so o choro de Bi, que no o encontrava. O mote do livro so os tamanhos incomensurveis de me e filho, alm de muita fantasia. Munidos de apitos, eles esto seguros de que no se perdero mais.

    Decodificar: o que est escrito aqui?

    Participar e compreender: quais os sentidos do texto?

    Atingir finalidades: para que leio?

    Interpretar e criticar: que ponto(s) de vista o(s) texto(s) expressa(m) e como me posiciono diante dele(s)?

    LER

    nica e envolvente. Provavelmente, ao pensar em prosa, pensamos logo nas narrativas, no ? As histrias para crianas so o elo que liga os textos de prosa, com toda a sua diversidade.

    Por que temos aqui uma narrativa, um conto? Temos personagens envolvidos em aes que se do num tempo delimitado e num espao reconhecvel; a partir das aes, resulta uma complicao que se desenrola para um clmax. A esse clmax, segue-se um desfecho no qual o equilbrio inicial recuperado, e o leitor premiado pela soluo de um conflito.

    Alm disso, essa histria vale-se dos gestos verbais e motes historicamente presentes na lite-ratura infantil de modo bem exemplar. Temos a recriao ficcional e imaginativa de um mundo reconhecvel: a casa e a famlia. Nesse espao, vivem dois personagens tambm conhecidos, e disponveis para que o pequeno leitor se iden-tifique uma me em seu grande tamanho e o filho em sua evidente pequenez. Note que algo fundamental na relao entre mes e filhos simbolizado aqui pelos tamanhos algo bem con-creto est disponvel para representar sentimentos e conflitos existenciais, que de outro modo se-riam de difcil discusso por crianas pequenas. Na explorao dessa metfora dos tamanhos, tudo colabora para a imaginao simblica: os nomes dos personagens; o modo direto e simples como o texto verbal descreve os personagens e

  • 4 140 Prosa Para o Pequeno leitorliteratura na hora certa

    os acontecimentos; alm da representao visual, que torna me e filho reconhecveis figurativa-mente, por atributos como a chupeta e a touca, mas lhes d certo aspecto onrico e bem-hu-morado: seus rostos so engraados, e o uso da perspectiva (figura da me, de quem s se veem os ps) e da proporo (figura de Bililico, menor do que a loua da casa) conspiram para a enor-midade da me e a pequenez de Bililico.

    Esses tamanhos to distintos so apenas um dos elementos fabulosos que transformam esse conto, at certo ponto comprometido com o real, num conto hbrido, no qual o maravilhoso intervm para auxiliar o leitor mirim a refletir. Outros elementos evidentes dessa imaginao fabulosa so o voo com o pssaro, o rio de lgri-mas e a noite passada dentro de uma flor. Esses episdios da histria lembram bem aventuras como as de Alice no pas das maravilhas, no mesmo? Criam uma atmosfera fantstica numa histria linear, ancorada na vida cotidiana,

    Mas no h apenas contos. Alguns dos tex-tos em prosa nos acervos PNAIC so convites brincadeira seja com a imaginao, a curiosi-dade ou a prpria linguagem, como em Cada casa casa com cada um, seja lanando mo de propostas que colocam o livro em relao com as aes e o corpo do leitor, como na obra Aperte aqui. Nesses casos, temos so-bretudo provocaes, mediadas pelo ludismo. No primeiro livro, trabalha-se a sonoridade da lngua para brincar com conhecimentos acerca do mundo dos animais; no segundo, uma srie de jogos motores e espaciais incentivam o pro-tagonismo infantil, aes e reaes entretidas. Ademais, a capa de Cada casa casa com cada um atrativa de modo ttil e o livro Aperte aqui oportuniza sugestes ao digital, tambm promovendo o ler-brincando.

    Assim, alm de apresentarem diversifica-das exploraes artsticas da prosa ilustrada, os

    acervos PNAIC que chegam s escolas opor-tunizam o cerne da experincia literria: ofe-recem fruio esttica e, por meio dela, pro-blematizaes e oportunidades para imaginar e brincar, na direo do autoconhecimento e do conhecimento de mundo. Sem dar lies, ordens ou conselhos explcitos, sem apelar para moralismos. Alm disso, por meio das relaes intertextuais que se revelam nas histrias, cons-tituem-se em itens pertencentes a uma tradio literria, que aos poucos vir a ser conhecida pelas crianas (ver CADEMARTORI, 2009; ZILBERMAN, 2003; 2005).

    Assegurar, acima de tudo, essa experincia imaginativa e aberta, ainda que esteja associada, no conjunto das atividades, a outros direitos de aprendizagem, nossa principal preocu-pao ao didatizar, nas sugestes que faremos, a leitura literria. claro que queremos dar lugar progressiva conquista das habilidades

    cujo desfecho proporcionado pela deciso bem-humorada, e bem possvel em realidades vividas, em favor do uso de apitos: note que o expediente garante a autonomia de Bililico para seguir brincando livre, mas salvaguarda seu seguro retorno para a superviso da me.

    No entanto, caso voc no tenha recebido o acervo que contm o livro Bililico, leia a hist-ria Mil e uma estrelas, de Marilda Castanha.

    Novamente, uma histria rica em repre-sentaes simblicas que servem elaborao da existncia pelo pequeno leitor, contada por meio da criao de um mundo ficcional reco-nhecvel e de uma sucesso de aes na direo de um novo equilbrio.

    Nos acervos PNAIC de livros em prosa, estamos, portanto, diante de contos cuja nar-rativa pode ser mais ou menos realista e que permitem, pelo contato com um desequilbrio e sua soluo, que as perspectivas de mundo do leitor se alarguem, possibilitando reflexes sobre si mesmo, por meio da diverso com his-trias alheias imaginado em outros mundos o encaminhamento de suas prprias curiosidades e de seus prprios problemas.

    Alm dos contos mais ligados ao fantstico como os descritos, h aqueles mais ligados ao cotidiano das crianas, como Al, mame! Al, papai! ou Na janela do trem. Outros, ainda, so histrias de animais, alegoria bem presente na literatura para crianas, como Dia de pinguim e Gato no telhado.

  • 4342 Prosa Para o Pequeno leitorliteratura na hora certa

    de leitura: decodificar, reconhecer as informaes explcitas no texto, fazer inferncias, antecipaes e confirmaes de hipteses, integrar as partes e os eventos num todo narrativo, entre outras. Essas aprendizagens, contudo, faro parte de nossas preocupaes didticas de tal forma que estejam a servio da leitura literria: o centro da atividade a abertura para sentidos plurais, para a conotao, para a fruio direta, reiteramos, de uma experincia sobretudo esttica e imaginativa.

    Antes de prosseguir, desfrute voc do conjunto de livros.

    marca a leitura literria, vir paulatinamente. Ao permitir que a criana circule pelos livros, estamos dando o recado de que a consideramos capaz de selecionar e de ler.

    Comeamos, ento, com a experincia au-tnoma com a leitura, discutindo sua impor-tncia para a formao do leitor literrio desde pequeno e propondo modos de favorec-la. Mas, antes, uma pergunta. Seus alunos, em sua maioria, ainda no decodificam a escrita alfabtica? Isso no motivo para que no te-nham a oportunidade de manusear os livros livremente e mesmo de compreender, numa atividade de leitura inicial, algumas das narra-tivas, uma vez que estas so apoiadas por uma explorao rica da linguagem visual. Retome o acervo: observe que livros so mais breves. Que histrias organizam seu universo de modo bem recortado e se valem de texto verbal sim-ples e direto? Quais das histrias ilustradas tm

    V para o final deste Guia para obter uma viso do conjunto das

    obras em prosa disponveis. Note que h dois acervos: identifique

    qual deles voc recebeu, usando as obras Bililico e Mil e uma es-

    trelas como pista; cada uma delas pertence a um dos dois acervos

    em prosa do Programa (PNAIC). Talvez sua escola conte com

    ambos. Nesse caso, voc poder trabalhar em conjunto com seus

    colegas, de forma a ampliar a diversidade de ttulos que passaro

    pelas mos dos alunos. D uma boa olhada nas capas, ttulos e

    autores disponveis para consulta.

    Leia integralmente o maior nmero possvel de obras. V sepa-

    rando: Como se agrupam conforme os gneros da prosa? Como

    se agrupam conforme as condies de leitura dos alunos?

    esCoLhA AutnoMA, Le IturA MedIAdANas salas de aula que conhecemos, a heterogeneidade a regra.

    Embora a separao por faixa etria seja fruto de nosso empenho em ter conosco grupos cujos membros tm muito em comum, sabemos que cada criana nica. Suas histrias como leitores no poderiam ser, portanto, idnticas. Assim, fazemos aqui apenas sugestes, a serem pensadas na perspectiva de seus alunos e das condies de trabalho ofe-recidas por sua escola e por seu entorno.

    A heterogeneidade a que nos referimos comea pelas habilidades variadas de leitura de seus alunos e pelo contato mais ou menos intenso com a prosa literria que tiveram na Educao Infantil e fora da escola. Uma vantagem de ter o acervo PNAIC em sala que os livros opor-tunizaro a voc observar as crianas: Como cada um interage com os livros disponveis; como cada um l? Como vo se tornando cada vez-mais autnomos, fluentes e experientes? Um dos objetivos deste acervo assegurar a relao intransfervel de cada criana com seus livros de escolha: a leitura integral, dentro dessa experincia de liberdade que

    um encadeamento que pode ser lido de modo mais independente e contam com um projeto grfico-visual bem adaptado ao leitor iniciante?

    Um exemplo de obra que atende a esses requisitos Bililico, j comentada aqui. Outro exemplo O gato no telhado. Note que, apesar do dinamismo dos elementos visuais desta capa, que se vale de cores e de figuras geomtricas para dar movimento ao todo, o gato com seu instrumento musical representado de modo bem figurativo, piscando seu olho brincalho para o leitor. A criana tem condies de ime-diatamente identific-lo e, se no puder notar que segura um instrumento musical, logo, logo, ao abrir o exemplar, poder reconhec-lo. Isso porque, ao abrir este livro, o leitor se depa-ra com uma nova representao, ainda mais figurativa e sem texto verbal, dos elementos presentes no ttulo: nota-se evidentemente que nosso bicho travesso est em cima do telhado.

  • 4544 Prosa Para o Pequeno leitorliteratura na hora certa

    No decorrer da histria, ainda que alguns animais e instrumentos, como o prprio violi-no e o tatu, no sejam to fceis de identificar, outros, como o porco e seu tambor, so bem familiares. Alm disso, nosso leitor mirim poder perceber ao longo das ilustraes que trata-se de uma histria em que bichos tocam msica e po-der aguar sua curiosidade acerca do contedo do texto verbal que acompanha cada quadro. Note como o texto verbal oferecido criana de modo bem claro: sempre na mesma posio, sobre fundo branco, em fonte grada e letras maisculas. Quem sabe algumas das crianas no possam mesmo reconhecer algumas das palavras, como gato, tatu, bode, msica e assim por diante: palavras comuns cuja estrutura silbica simples, iniciadas por consoantes j conhecidas de muitas crianas. Por fim, ainda que nada disso ocorra, cada quadro da narrativa visual proporciona por si fruio: as cores e as formas so utilizadas com qualidade para, ao mesmo tempo, encenar e ambientar a histria, assim como para abrir os horizontes artsticos da criana, uma vez que as correspondncias entre cores e formas so inusitadas e o conjunto ao mesmo tempo har-mnico e um pouco estranho.

    Ento, ao examinar o acervo PNAIC, se-lecione as obras que tm caractersticas afins s descritas e oferea s crianas. Uma possibili-dade para isso manter um canto de leitura na

    Ento, o que vocs trouxeram para a roda hoje?

    Por que voc escolheu este livro hoje?

    Mostre do que voc gostou: foi do livro todo ou s

    de uma pgina ou parte do livro?

    O que voc captou sobre a histria? mesmo? Como

    voc ficou sabendo disso?

    Assim provocadas, possvel que as crianas principiem uma discusso entre si sobre os livros lidos. Deixe que tomem seu tempo e conversem livremente, manifestando suas hipteses, gostos ou at rechaos. Deste modo podero escutar as histrias e verses coletivas e vo levantar um repertrio ao longo do ano, mais um conhecimento vincular a turma, o conhecimento sobre como cada um se relaciona com as histrias ficcionais. Por fim, nas rodas, elementos importantes para o aprendizado da leitura aparecero: palavras associadas s ilustraes ou decodificadas, prontas para a partilha, assim como hipteses, antecipaes, curiosidades. D corda! Nada como oportunidades emergentes de ensino-aprendizagem.

    Para terminar, contemple a escolha de um aluno e leia uma histria integralmente. Aproveite o momento para, por meio de sua prpria leitura expressiva, oportunizar a plena fruio da obra. Mas no a reconte, dispensando o livro ou adaptando-