guião do percurso de vale fuzeiros
DESCRIPTION
Guião do Percurso de Vale FuzeirosTRANSCRIPT
Mapa Geológico da região da Barragem do Funcho – Vale Fuzeiros, com representação das várias paragens.
Percurso Geológico de Vale Fuzeiros – Prof. João Paulo Alves 1
AGRUPAMENTO VERTICAL DE ESCOLAS GARCIA DOMINGUESESCOLA BÁSICA 2,3 DR. GARCIA DOMINGUES
PREAA - Programa Regional de Educação Ambiental pela Arte
Percurso Geológico de Vale Fuzeiros
Era PeríodoCenozóico
(65M.a. – Actualidade) Quaternário
(2M.a. – Actualidade)Terciário
(65M.a. – 2M.a.)
Mesozóico
(245M.a. – 65M.a.)
Cretácico(145M.a. – 65M.a.)
Jurássico(208M.a. – 145M.a.)
Triássico(245M.a. – 208M.a.)
Paleozóico(544M.a. – 245M.a.)
Pérmico(290M.a. – 245M.a.)
Carbonífero(363M.a. – 290M.a.)
Devónico(409M.a. – 363M.a.)
Silúrico(439M.a. – 409M.a.)
Ordovício(510M.a. – 439M.a.)
Câmbrico (544M.a. – 510M.a.)
Pré-Câmbrico (4600M.a. - 544M.a.)
Tabela cronológica
1º Paragem
Ao contrário da Barragem do Arade (e da maioria) que são do tipo de “terra” a Barragem do Funcho é do
tipo de “betão armado”. Isto quer dizer que a barragem está ancorada nas margens, e como tal tem que
ter fundações na sua margem, já que a água exerce uma enorme pressão sobre a barragem. Esta é de arco
para aliviar a pressão e para isso tem que ter rochas suficientemente duras para aguentar essa mesma
pressão. Esta é a razão pela
qual a barragem do Funcho
foi construída neste local,
onde existe principalmente
grauvaques.
Estamos na Serra Algarvia,
onde se observam camadas
de Grauvaques intercalados
com Xistos argilosos
(rochas sedimentares) no
sentido NW-SE.
Percurso Geológico de Vale Fuzeiros – Prof. João Paulo Alves 2
1ºParagem – camadas inclinadas de xisto argiloso intercalado com grauvaques, onde predomina o xisto
Pode-se observar no mapa que a Oeste predomina o gravaque (faixa escura), enquanto que a Este domina
o xisto argiloso (faixa branca). Nesta paragem estamos precisamente na zona de transição entre uma e
outra zona. Podemos observar o vale que constitui a zona do limite geológico entre a zona mais xistosa da
zona com mais grauvaque.
Na zona mais rica em xistos argilosos podemos ver
camadas finas de xisto com vários centímetros e
inclinados, enquanto na zona rica em grauvaques
observa-se grauvaques até 1 metro de espessura e as
camadas de xisto com cerca de 3 a 5 cm de espessura.
Nesta área é igualmente possível observar uma dobra
em que o topo das camadas está em baixo,
precisamente devido a essa dobra, sendo camadas mais espessas.
Em alguns pontos é possível observar uma faixa branca, que é quartzo. Este quartzo formou-se a partir de
sílica em solução, que se instalou em diáclases das rochas (pequenas aberturas nas rochas) e se precipitou.
Este complexo grauváquico intercalado com xisto argiloso existente na serra algarvia pode ter em alguns
locais uma espessura de mais de 2000 metros e está presente desde o Cabo de S. Vicente até Castro
Marim.
O grauvaque é uma rocha mais escura que pode ter uma espessura até 2 a 3 metros. É um arenito
misturado com alguma argila consolidado (a argila ajudou a cimentar as areias).
Percurso Geológico de Vale Fuzeiros – Prof. João Paulo Alves 3
Vale que delimita o limite geológico
1ºParagem – camadas inclinadas de xisto argiloso intercalado com grauvaques, onde predomina o grauvaque
O xisto argiloso é uma rocha mais clara podendo ter uma espessura até 10 a 15 metros no entanto este
local tem de espessura alguns centímetros até cerca de 1 metro. Este xisto são argilas endurecidas, já que
foram soterradas, ficando sujeitas a um aumento de temperatura. Os xistos mais escuros significa que
formaram-se num local rico em matéria orgânica mas pobre em O2, ou seja, não houve degradação dessa
matéria orgânica ficando escura. Este xisto dado que está muito alterado (está muito mais claro), se
partirmos uma amostra é possível ver a cor original (escura). Estas rochas podem apresentar-se por vezes
cinzentas devido ao facto de terem sido alteradas. Este tipo de xisto é muito pobre em fósseis, no entanto
é possível encontrar fósseis por exemplo de goniatites (da classe dos amonóides; são considerados os
“avós” das amonites); microlagas (do tipo do fitoplancton);esporos de antigas plantas.
Relativamente à matéria orgânica presente nestas rochas, no máximo pode atingir os 10%, no entanto nas
rochas desta região não é mais de 2% , podendo ser inclusivamente muito menor. Este valor diminui
porque ao longo do tempo, essa matéria foi sendo transformada em hidrocarbonetos.
Este complexo de grauvaque intercalado com xisto, formou-se há cerca de 330 – 300 M.a. (Período
Carbonífero – Era Paleozóica), em que as grandes cadeias montanhosas existentes sofriam grandes
episódios de erosão, onde os sedimentos eram transportados pelos rios. Nesta altura os rios seriam muito
potentes (semelhantes por exemplo a alguns rios que existem actualmente na Índia e que estão a
desgastar os Himalaias), rios com grande capacidade de transporte. Estes sedimentos foram transportados
até aos mares, chegando até aos taludes continentais, onde devido à forte inclinação destes, acrescido de
canhões submarinos existia uma “avalanche” de areias a escorregar (turbilhão submarino) ao longo do
talude. Estas areias sedimentaram-se (depositaram-se) nos fundos nos mares (planícies abissais),
originando mais tarde os grauvaques. Estes sedimentos que são transportados muito rapidamente ao
longo dos canhões submarinos denominam-se de turbiditos Em zonas mais calmas, as argilas (sedimentos
mais finos que as areias) que estavam em suspensão são depositadas igualmente nas planícies abissais,
formado mais tarde o xisto argiloso. Portanto o processo de deposição das argilas foram muito lentas,
enquanto que das areias foram muito rápidas. Estes sedimentos depositados no fundo do mar (a cerca de
2000 metros de profundidade) foram tipo “cozidos” essencialmente devido ao aumento de calor e
pressão das camadas supra jacentes. Chegaram à superfície devido ao choque entre os super-continentes
Laurasia e Gondwania, ficando igualmente em muitos casos enrugados
Percurso Geológico de Vale Fuzeiros – Prof. João Paulo Alves 4
Imagem ilustrativa dos fundos dos mares
Ilustração da deposição das areias, originado o grauvaque e da deposição das argilas, originando o xisto argiloso.
2º Paragem
Na recta, numa descida antes de chegar a Vale Fuzeiros, consegue-se ver uma topografia diferente da
anterior, isto é, mais plana.
Esta zona marca a fronteira
entre a Serra Algarvia e o
Barrocal. Neste local os
grauvaques são menos
espessos, predominando o
xisto argiloso. As camadas
continuam inclinadas.
Na base de algumas
camadas do grauvaque,
Percurso Geológico de Vale Fuzeiros – Prof. João Paulo Alves 5
2ºParagem – camadas inclinadas de xisto argiloso intercalado com grauvaques, com clara predominância do xisto
pode-se ver uma superfície ondulada, a qual representa o turbilhão que erodiu a camada inferior. Neste
local as camadas superiores são as mais recentes.
Se passarmos o dedo ao longo de uma camada de grauvaque, sentimos que a base é mais grosseira,
enquanto que o topo é mais fino (areia mais fina).
Uns metros mais à frente da descida, os grauvaques e os xistos são de cor avermelhada, no entanto esta
não é a sua verdadeira cor, elas foram tingidas (banho de óxidos de ferro) por rochas que tiveram no topo
(provavelmente argilas de S. Bart. Messines) e que entretanto que foram erodidas. Estas marcam a
transição entre os gravaques/xistos e as argilas de Messines/Grés de Silves.
3º Paragem
No final da descida, depois da curva, temos as Argilas de S. Bartolomeu de Messines, dado que é uma
argila, o terreno está empapado sendo praticamente impermeável. Estas argilas (que só existem nesta
zona) marcam a transição entre a Serra e o Barrocal, sendo já da era Mesozóica.
Estas argilas do Triássico superior (220 M.a.) foram formadas em lagos pouco profundos que depois
secavam, ficando as argilas depositadas, argila com óxidos de ferro.
4º Paragem
Percurso Geológico de Vale Fuzeiros – Prof. João Paulo Alves 6
As camadas de xisto e de grauvaque que foram tingidas pelas argilas de S.Bart. Messines
No início da ultima descida antes de chegar ao cruzamento de Vale Fuzeiros, observa-se Grés de Silves.
Esta rocha está datada do triássico superior (230M.a.)
O Grés (arenito em francês) depositou-se por cima das argilas de São Bartolomeu de Messines e resultam
da erosão da cadeia Hercínica, formados por grãos finos de areia (de quartzo rolado), cimentados por
óxidos de ferro (hematite e goetite). Estes sedimentos depositaram-se em continente por acção
principalmente de rios (algumas, mas poucas, podem ter sido por acção do vento).
O supercontinente Pangea começou a ser erodido por rios efémeros, de zonas climáticas, áridas, desérticas
(semelhante ao do deserto do Sara actualmente), pois onde hoje se situa Portugal, na altura da formação
da Pangea (230 M.a.), seria no interior desse megacontinente.
Esses rios efémeros corriam à superfície do continente Pangea, sulcando os desertos áridos, depositaram
os grãos finos de areia em zonas continentais e portanto em contacto com o O 2 (do ar atmosférico),
oxidando desta forma, ou seja, a cor avermelhada formou-se na altura da deposição. Ou seja, O2 alterou
os minerais que tinham óxidos de ferro e a “ferrugem” funcionou como cimento, que colou as areias finas.
Na formação do grés de Silves, consegue-se observar camadas ligeiramente inclinadas, bem como algumas
riscas, estas riscas estão relacionadas com o modo de sedimentação (estratificação intercruzada). É
possível observar também umas partes mais escuras que constitui matéria orgânica (possivelmente de
algas ou mesmo de anfíbios primitivos). Ligeiras manchas brancas que podem ser observadas, resultaram
da redução dos óxidos de ferro na areia. Com uma lupa é possível observar mais em pormenor os grãos de
areia.
5º Paragem
Percurso Geológico de Vale Fuzeiros – Prof. João Paulo Alves 7
Estratificação cruzada no grés de Silves
Nesta paragem, depois de subir o Monte da Vilarinha, se nos virarmos para Nordeste podemos no monte
situado à nossa frente observar argilas vermelhas, cinzentas e dolomitos. Estas rochas depositaram-se em
lagos continentais, muito pouco profundos. As argilas vermelhas depositavam-se num fundo oxigenado
(em que no Inverno eram mais profundos e com mais 02). As argilas cinzentas depositavam-se num fundo
pouco oxigenado (no Verão eram pouco profundos). Às vezes esses lagos podiam secar completamente,
ficando alcalinos (básicos), formando minerais com magnésio, formando desta forma os dolomitos.
Os dolomitos distinguem-se das argilas cinzentas porque são rochas mais duras e compactas. São rochas
sedimentares, calcários com magnésio que resultou da precipitação do calcário com magnésio no fundo
desses lagos alcalinos. Esses lagos eram agrestes, com pouco seres vivos, existindo principalmente uns
vermes, os quais remexiam-se dentro dos sedimentos. Fazendo com que às vezes existam vestígios dessa
actividade no interior dos dolomites (bioturbação).
Por vezes no topo dos dolomitos pode existir marcas da ondulação dos lagos, bem como fósseis de
bivalves.
No topo existem duas estruturas de rochas calcárias, formações mais recentes, datadas do final do
Jurássico inferior, formadas pela precipitação de carbonato de cálcio existente na água do mar.
6º Paragem
Percurso Geológico de Vale Fuzeiros – Prof. João Paulo Alves 8
Argilas cinzentas e dolomitos
Esta ultima paragem (que por falta de tempo não foi feita), na subida na estrada que vai para os Gregórios,
do lado direito da estrada, podemos encontrar rochas vulcânicas, que resultaram do primeiro pulso da
fragmentação do Pangea (Jurássico). Não existem os cones vulcânicos habituais, vê-se sim fragmentos de
pequenos cones vulcânicos, pois foram erupções submarinhas pouco profundas. Resultou de um
vulcanismo fissural (ao longo de várias fissuras, onde pode existir pequenos vulcões ao longo de várias
fracturas).
As rochas que se observam são muito alteradas, onde na parte de baixo da encosta estão escoadas de
lavas (basalto) – vulcanismo efusivo. Neste basalto se o partirmos podemos observar uns
espaços/vesículas. Estas vesículas resultaram dos gases que existem na lava que inicialmente não se
libertaram. As vesículas foram mais tarde preenchidas por minerais que deviam estar em solução aquosa e
que se precipitaram.
Na parte superior da encosta estão piroclastos que resultaram de uma erupção mais explosiva, foi um
vulcanismo hidrodinâmico, em que a erupção vulcânica originou grande quantidade de piroclastos.
No outro lado da estrada observa-se mais piroclastos, são blocos marmorizadas, mais concretamente
dolomitos marmorizados, ou seja, como os dolomitos são calcários e como qualquer calcário que é sujeito
a altas temperaturas e pressões sofre metamorfismo transforma-se em mármore. Neste caso o dolomite
(calcário) aqueceu sofrendo um ligeiro metamorfismo, daí a designação de dolomitos marmorizados.
Percurso Geológico de Vale Fuzeiros – Prof. João Paulo Alves 9
Basalto (muito alterado)
Em frente no outro lado da estrada pode-se observar vários
episódios de libertação de piroclastos, os quais formaram camadas.
Na base pode-se observar igualmente mais dolomitos marmorizados.
No meio vê-se cinzas vulcânicas.
Percurso Geológico de Vale Fuzeiros – Prof. João Paulo Alves 10
Dolomitos marmorizados
Coluna estratigráfica da região
Prof. João Paulo Alves
Percurso Geológico de Vale Fuzeiros – Prof. João Paulo Alves 11
Percurso Geológico de Vale Fuzeiros – Prof. João Paulo Alves 12
Percurso Geológico de Vale Fuzeiros – Prof. João Paulo Alves 13