harlequin - esposa perdida

451

Upload: ludover

Post on 24-Jul-2016

264 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Harlequin - esposa perdida
Page 2: Harlequin - esposa perdida

Era bom saber que eleainda conseguia reacendera paixão em sua ex-esposa!Ailsa sentiu o coração batendo forte. Alémde despreparada para reencontrar JakeLarsen, olhar o rosto inesquecível de seuex-marido seria difícil – e impactante. Acicatriz que agora marcava a face deleparecia acentuar sua beleza. Por outrolado, também lembrava o motivo que osseparou. Jake achava que o dolorosoreencontro seria rápido, mas uma nevascaatrapalhou seus planos. A cada minuto aolado de Ailsa, Jake ficava mais decidido a

Page 3: Harlequin - esposa perdida

tê-la de novo em seus braços… e em suacama.

Page 4: Harlequin - esposa perdida

Ele sentiu o músculo do queixolatejar, ao lado da cicatriz.

– Eu sou apenas humano e as minhasnecessidades não diferem das deninguém.

Ailsa levou algum tempo paraconseguir falar porque estava tentandosuperar a onda de mágoa causada pelaideia de que outra mulher pudesse estarsuprindo as necessidades sexuais deJake. Afinal, eles estavam divorciadoshá quatro anos e aquela possibilidade jálhe ocorrera. Na maioria das vezes,tentara ignorar, mas conhecia bem asnecessidades do marido naquele

Page 5: Harlequin - esposa perdida

departamento. Jake sempre fora umamante incrível. Aquela parte docasamento ultrapassara todos os seussonhos de amor e de paixão.

– E quanto às minhas necessidades?– perguntou ela, tentando manter a vozfirme. – Eu tenho a mesma liberdadeque você tem, Jake? Ou você acha queeu não tenho mais necessidades, já queo acidente me tornou incapaz deengravidar? Talvez você pense que issome tornou menos mulher?

Page 6: Harlequin - esposa perdida

Querida leitora,

Amargurados desde um trágicoacidente, Jake e Ailsa construíram umaparede de frieza ao redor de seuscorações. A dor que carregavam acabouafastando-os e destruindo o casamentoperfeito que tinham. Mas, durante umanevasca, o destino dará uma segundachance para esse amor. E caberá aocasal derreter essa barreira de gelo parase entregar de corpo e alma.

Boa leitura!Equipe Editorial Harlequin Books

Page 7: Harlequin - esposa perdida

Maggie Cox

ESPOSA PERDIDA

TraduçãoMaria Vianna

2014

Page 8: Harlequin - esposa perdida

CAPÍTULO 1

AO OUVIR o ruído abafado do carroque se aproximava, Ailsa correu até ajanela e viu o SUV do ex-marido parardiante do chalé. O carro estava cobertopor diversas camadas de neve, e osflocos cristalinos não paravam de cairdo céu como se fossem espalhados poralguma peneira divina.

O belo espetáculo durara o diainteiro. Ailsa teria sucumbido à sua

Page 9: Harlequin - esposa perdida

magia se não estivesse tão preocupadacom a segurança da filha, que Jakedeveria mandar de volta para casa.Morar em uma zona rural idílica daInglaterra tinha suas vantagens, mas,quando o inverno castigava as estradas,elas se tornavam traiçoeiras.

Ela abriu a porta e esperou que omotorista percorresse o caminhocoberto de neve que levava à sua casa.

Geralmente, era Alain, o motoristafrancês magrinho e uniformizado,quem trazia Saskia de volta de Londres,depois das visitas quinzenais que elafazia ao pai, ou do aeroporto, quandoela voltava de Copenhagen, onde Jakemorava. Mas, quando Ailsa viu os

Page 10: Harlequin - esposa perdida

brilhantes olhos azuis que a fitavamatravés dos flocos de neve, sentiu ocoração fraquejar.

– Olá – disse ele.Há muito tempo ela não via o ex-

marido pessoalmente, e sentiu o mesmoimpacto que sempre sentia ao ver ostraços inesquecíveis do seu rosto. Jakesempre tivera o tipo de aparência queatraía as mulheres. A cruel cicatriz queagora lhe descia pelo queixo tornava-oainda mais memorável. Ao ver a marca,o coração de Ailsa se contraiu e ela serecordou, com tristeza, de como foracausada, e se perdeu em lembranças atéperceber que ele estava esperando queela o cumprimentasse.

Page 11: Harlequin - esposa perdida

– Olá... Há quanto tempo, Jake. – Elapensou que ele deveria ter lhe avisadoque haveria uma mudança de planos. –Onde está Saskia?

– Tentei lhe telefonar o dia inteiro,mas não havia sinal! Não entendo porque você resolveu morar no meio donada.

Ignorando a irritação na voz dele,Ailsa jogou o cabelo para trás e cruzouos braços. Só de ficar parada debaixo dotelhado em cima da porta, sentia-secongelar.

– Aconteceu alguma coisa? Por queSaskia não veio com você? – Ela olhoupor cima do ombro dele, esperando vero lindo rostinho da filha atrás do vidro

Page 12: Harlequin - esposa perdida

da janela do carro. Quando percebeuque o carro estava vazio, sentiu aspernas fraquejarem.

– Foi por isso que eu tentei lhetelefonar. Ela quis ficar mais tempo coma avó, em Copenhagen. Implorou paraque eu a deixasse ficar lá até a vésperade Natal. Eu deixei. Como ela achouque você ficaria muito preocupada, euvim até aqui para lhe dar a notícia. Eusabia que o tempo não estaria bom, masnão pensei que estivesse tão terrível.

Ele passou a mão no cabelo louro esacudiu a neve, mas o gesto era inútil,porque os flocos continuavam a cair.Ailsa não sabia o que dizer. Sentia-seextremamente desapontada ao pensar

Page 13: Harlequin - esposa perdida

nos preparativos para o dia de Natal,que ela e Saskia fariam juntas.

Iriam até Londres para fazercompras, se hospedariam em um bomhotel, iriam ao teatro e sairiam parajantar fora. O pinheiro que elaencomendara chegara no dia anterior eestava na sala de estar, esperando paraser decorado e enfeitado com luzinhascoloridas que o transformariam nosímbolo da época de celebração. Mãe efilha iriam enfeitá-lo juntas, ouvindocanções natalinas. Era inconcebível quea sua querida filha ficasse longe de casaaté a véspera de Natal.

Para Ailsa, aqueles dias serviriamapenas para lembrá-la do quanto se

Page 14: Harlequin - esposa perdida

sentia sozinha sem a família com queantes contara... Jake e Saskia... Passar asemana anterior sem Saskia já forainsuportável!

– Como pôde fazer isso comigo?Você e sua mãe já tinham passado umasemana com ela! Eu esperava que vocêa trouxesse de volta hoje.

Ele sacudiu os ombros largos cobertospelo elegante casaco preto, agorasalpicado de neve.

– Você negaria à nossa filha a chancede passar algum tempo com a avó,depois da perda recente do meu pai?Saskia consegue animá-la comoninguém mais.

Conhecendo o temperamento

Page 15: Harlequin - esposa perdida

Conhecendo o temperamentocarinhoso da filha, Ailsa não duvidavadisso, mas tal fato não tornava aausência de Saskia mais fácil de tolerar.Além da própria frustração, Ailsa sentiao coração se apertar ao pensar na mortedo pai de Jake. Jacob Larsen era umafigura imponente e um tantointimidadora, mas sempre a tratara commuito respeito. Quando Saskia nascera,ele não contivera a sua admiração eproclamara que sua neta era o bebêmais lindo do mundo. Jake deveriaestar sofrendo com a sua perda. Orelacionamento dos dois nem semprefora fácil, mas ela sabia que ele amava opai.

Page 16: Harlequin - esposa perdida

A neve que caía estava setransformando rapidamente em umatempestade e acentuava a tristeza e odesgosto de Ailsa.

– Sinto muito pela perda do seu pai...Ele era um bom homem. Mas eu jásuportei a ausência de Saskia por muitotempo. Você é capaz de entender porque eu a queria aqui antes do Natal? Eutinha feito planos...

– Sinto muito, mas, quer gostemos ounão, os planos sempre estão sujeitos amudanças. O fato é que nossa filha estáem segurança com a minha mãe, emCopenhagen. Não precisa se preocupar.– Jake inspirou profundamente e soltouum suspiro. – A caminho daqui havia

Page 17: Harlequin - esposa perdida

um bloqueio policial, alertando osmotoristas para não prosseguirem a nãoser que fosse absolutamente necessário.Só me deixaram passar porque eu dissea eles que você ficaria louca se nãotivesse notícias de Saskia. Mal conseguichegar aqui. Eu seria maluco se tentassevoltar ao aeroporto nessas condições.

Como se despertasse de um sonho,Ailsa reparou que ele parecia estarcongelando. Mais alguns minutos, eseus lábios sensuais estariamarroxeados. Por mais difícil que fossepensar em passar algum tempo com oex-marido, só lhe restava convidá-lopara entrar, oferecer-lhe uma bebidaquente e uma cama para passar a noite.

Page 18: Harlequin - esposa perdida

– Então, é melhor você entrar.– Obrigado por fazer com que eu me

sinta tão bem-vindo – respondeu elecom ironia.

O comentário áspero atingiu-aprofundamente. O divórcio não foraexatamente hostil e acontecera menosde um ano depois do terrível acidentede carro que lhes roubara o tãodesejado segundo filho, mas tambémnão fora amigável. Os dois tinhamtrocado palavras amargas e corrosivas,ferindo-se mutuamente. Ainda agora,quando ela pensava naquele momentoterrível e em como o casamento sedesmanchara, tudo lhe parecianebuloso, porque estivera paralisada de

Page 19: Harlequin - esposa perdida

dor e de tristeza... Isolada dentro daprópria concha.

Ela passara quatro anos longos edifíceis sem Jake. Quando sesepararam, Saskia tinha apenas 5 anos.Quase todas as noites, relembrava apergunta que a filha lhe fizera e queainda a perseguia em sonhos,impedindo-a de dormir:

– Por que o papai foi embora,mamãe?

– Eu não pretendia ser grosseira. –Ailsa sorriu, desculpando-se. – Só estoudecepcionada. Entre, eu vou lhepreparar uma bebida.

Ele passou por ela, espalhando o seuperfume. Ailsa se arrepiou, respirou

Page 20: Harlequin - esposa perdida

profundamente, controlou-se e fechoua porta.

Jake nunca entrara no chalé quedava a impressão de pertencer ao séculoXVI, mas o achou muito charmoso eacolhedor. As paredes do hall deentrada estavam cobertas de quadroscom temática floral, de fotografias deSaskia quando bebê e de algumas maisrecentes, aos 9 anos, já mostrandosinais da beleza que ela estavadesenvolvendo. Na parede ao lado daescada de carvalho, havia o relógio decarrilhão cujo tiquetaquear do pêndulopontuava o sossego. O sossego quesempre lhe escapava.

O pequeno chalé parecia ser muito

Page 21: Harlequin - esposa perdida

O pequeno chalé parecia ser muitomais um lar que o luxuoso apartamentode cobertura em Westminster, onde eleperambulava sozinho, quando estavaem Londres, e que a elegante casa emque ele morava em Copenhagen. Só acasa antiga pintada de branco de suamãe, nos arredores da cidade, perto deum bosque, se comparava à casaacolhedora de Ailsa.

Quando Ailsa comprara o chalé, logodepois da separação, Jake ficaraseriamente aborrecido por ela não tê-lodeixado comprar algo mais espaçoso eelegante para ela e Saskia.

– Eu não quero nada suntuoso –dissera ela, com os olhos cor de âmbar

Page 22: Harlequin - esposa perdida

brilhando com impaciência. – Queroalgo que seja um lar...

A casa que haviam comprado ao secasar, em Primrose, não lhes pareciamais um lar, Jake se recordou,entristecido. Não quando o amor quehaviam compartilhado fora destruídopor um acidente cruel e sem sentido...

– Dê-me o seu casaco.Ele fez o que ela pedia e lhe entregou

o casaco molhado, sem conseguirdesviar o olhar dos lindos olhosbrilhantes de Ailsa. Sempre forafascinado por eles, e agora não eradiferente.

– Eu vou tirar os sapatos. – Ele tirouos sapatos e deixou-os ao lado da porta.

Page 23: Harlequin - esposa perdida

Já percebera que ela estava usandochinelinhos de veludo preto comlacinhos dourados.

– Vamos para a sala de estar, ondehá um aquecedor a lenha. Logo vocêterá se aquecido.

Controlando suas emoções, Jake foiatrás dela. Seus dedos comichavam devontade de tocar as tranças que lhecaíam pelas costas. Ele enfiou as mãosnos bolsos para se conter.

A sala de estar era um paraíso decalor e de conforto, com um aquecedorde ferro no centro, a chaminéatravessando o teto de carvalho, doissofás forrados de veludo vermelho commantas de lã e almofadas. Um lindo

Page 24: Harlequin - esposa perdida

tapete de lã vermelha cobria o piso depinho. Diante do fogo estava umapoltrona em estilo vitoriano. De cadalado do aquecedor havia estantesrepletas de livros e, em um canto,plantada em um vaso de metal, estavauma verdejante árvore de Natal,esperando ser enfeitada. Jake sentiu-seculpado.

– Sente-se. Eu vou fazer algo quentepara bebermos... Ou você prefere umbrandy?

– Eu não bebo mais álcool. Pode serum café... Obrigado. – Ele a viu franzira testa, admirada.

– Então, um café. – Ela saiu da sala.

Jake sentou em um sofá e, por fim,

Page 25: Harlequin - esposa perdida

Jake sentou em um sofá e, por fim,respirou. Por algum tempo, ficouolhando a nevasca pela janela, masdepois começou a imaginar a filhanaquele tapete vermelho, brincandocom suas bonecas, falando com elassem parar, deixando que a suaimaginação a levasse para um mundodiferente. Um mundo que, até que elativesse 5 anos, lhe garantira uma vidasegura e feliz e lhe proporcionaraconforto, mas que mudara radicalmentecom a separação de seus pais.

Ele não viu que Ailsa retornara, atéque ela parasse diante dele, segurandouma caneca fumegante de café.

– Exatamente o que o médico

Page 26: Harlequin - esposa perdida

– Exatamente o que o médicorecomendou. – Ele tentou sorrir, massabia que não tinha conseguido.

– Como a sua mãe está enfrentandoa perda do seu pai?

Ele observou sua linda ex-esposaatravessar a sala com um andar graciosoe fascinante, que fazia com que elaparecesse deslizar. Ailsa sempreparecera uma bailarina, e o jeans queestava usando realçava suas coxas e suacintura fina, principalmente por causado cinto colocado por cima do suéter.Jake ficou decepcionado ao ver que elasentava no outro sofá e agarrava acaneca de chá com as duas mãos, eficou abalado ao notar a falta da aliança

Page 27: Harlequin - esposa perdida

em seu dedo, mais uma prova de que ocasamento realmente terminara.

Ele pigarreou e recorreu às defesasque construíra durante aqueles quatroanos.

– Aparentemente, ela está encarandobem, mas, por dentro, é diferente –respondeu ele, sabendo que poderiaestar falando dele mesmo.

– Então, talvez tenha sido melhorque Saskia ficasse com ela. Faz... o quê?Seis meses que o seu pai faleceu?

– Mais ou menos. – Ele bebeu umgole de café e queimou a língua. SeAilsa resolvera não fazer uma cena porele ter deixado a filha com a avó eestragado seus planos natalinos, não

Page 28: Harlequin - esposa perdida

seria ele quem iria discutir, mas nãopodia deixar de se ressentir com o fatode que ela tocara a vida sem ele.

– E quanto a você? – perguntou elabaixinho, inclinando-se para frente comum olhar preocupado.

– Quanto a mim, o quê?– Como você está lidando com a

morte do seu pai?– Eu sou um homem ocupado, que

administra uma empresainternacional... Não tenho tempo parame preocupar com nada além dotrabalho e de minha filha.

– Está me dizendo que não temtempo para viver o luto pelo seu pai?Isso não é nada bom.

Page 29: Harlequin - esposa perdida

– Algumas vezes precisamos serpráticos. – Jake se empertigou, colocoua caneca sobre uma mesa e apoiou asmãos nos joelhos. Ailsa sempre queriachegar ao fundo das coisas e nãomudara. Mas ele não pretendia maislhe expor seus sentimentos... Já passarapor isso e tinha as feridas no coraçãopara provar.

– Eu me lembro de que vocês tinhamsuas diferenças. Só pensei que a mortedele seria uma oportunidade para vocêretomar as coisas boas dorelacionamento que tinham.

– Como eu disse... Tenho estadomuito ocupado. Ele se foi. É triste, masuma das coisas que ele me ensinou foi a

Page 30: Harlequin - esposa perdida

não me deixar levar pelas emoções eseguir em frente. Isso me ajudou a lidarcom as agruras da vida, muito mais queficar me lamentado. Se você nãoconcorda com essa estratégia, sintomuito, mas é assim.

A irritação de Jake aumentou.Intimamente, ele desprezava aquelaatitude. Deixando de lado a morte dopai e o arrependimento por não teremse comunicado mais saudavelmente, eleprecisava se lembrar de que não fora oúnico, no seu casamento, a descer até oinferno e voltar. Naqueles quatro anosdepois do divórcio, Ailsa claramenteemagrecera e algumas rugas tinham seformado em torno da sua boca. Talvez

Page 31: Harlequin - esposa perdida

ela não estivesse indo tão bem. Eleansiava por saber como ela realmenteestava. Saskia lhe dissera que a mãetrabalhava demais na sua empresa deartesanato. Às vezes, até durante os finsde semana. Ela não precisava trabalhar.O acordo de divórcio que ele fizera forasubstancial, como ele queria.

– Por que você trabalha tanto? –perguntou ele de repente. – Saskia medisse que você trabalha dia e noitenessas coisas de decoração.

– Coisas de decoração? – Ela ficouofendida. – Eu trabalho em um negóciolocal próspero que adoro e que memantém ocupada quando não estoucuidando de Saskia ou levando-a à

Page 32: Harlequin - esposa perdida

escola. O que você esperava que eufizesse quando nos separamos? Queficasse sentada, chupando o dedo? Ouque eu gastasse o dinheiro que recebicom o divórcio comprando roupas, umcarro esporte, redecorando a casaconstantemente?

Cansado, Jake coçou o queixo e seempertigou. Quando conhecera e secasara com Ailsa, nunca a imaginaracomo uma futura mulher de negócios.

– É bom saber que o seu negócio estáindo bem. Quanto ao dinheiro dodivórcio, você pode fazer o que quisercom ele, desde que cuide bem deSaskia... É só isso que me importa. Eureparei que você parece cansada e que

Page 33: Harlequin - esposa perdida

perdeu peso... Foi por isso queperguntei. Não quero que você seconsuma sem necessidade.

– Eu não estou me consumindo.Pareço cansada porque não costumodormir muito bem. Creio que é umaconsequência do acidente... Eu tentocompensar, descansando sempre quepossível.

Jake se sentiu como se tivessem lhedado um forte soco no peito e demoroualgum tempo para conseguir falar.

– Há anos, eu lhe disse paraconsultar um médico que a ajudasse adormir melhor. Por que você nãoconsultou?

Ela sacudiu a cabeça e seu cabelo

Page 34: Harlequin - esposa perdida

Ela sacudiu a cabeça e seu cabelocaiu ao lado do rosto.

– Eu já me cansei dos médicos e nãopretendo procurar mais nenhum. Alémdisso... Eu não quero tomar remédiosque me deixem andando por aí comoum zumbi. A não ser que a medicinatenha encontrado um meio infalível deapagar as lembranças dolorosas que nãome deixam dormir, eu preciso meacostumar. Não é isso que você tambémfaz?

– Santo Deus! – Jake levantou. Comopoderia suportar a dor que ouvia na vozdela? A dor pela qual ele se culpava?

Sim, eles tinham sido atingidos porum motorista bêbado, naquela noite

Page 35: Harlequin - esposa perdida

chuvosa em que o mundo dos doisacabara, mas ele deveria ter feitoalguma coisa para evitar o acidente.Algumas noites, durante um sonoagitado, ele ainda ouvia os gemidostorturantes de dor da esposa, dentro docarro, ao lado dele... Durante acerimônia de casamento, ele prometeraamá-la e protegê-la, mas não o fizeranaquela terrível noite de dezembro.Agradecera a Deus por Saskia ter ficadocom seus pais e não estar no carro. Nãosuportava pensar que sua filha poderiater ficado tão seriamente ferida quantoa mãe.

Jake pensou que deveria sermasoquista. Por que fora pessoalmente

Page 36: Harlequin - esposa perdida

dizer a Ailsa que Saskia prolongaria avisita à avó? Poderia ter mandado omotorista. Não fora isso que fizeradurante quatro anos, para não precisarencarar a mulher que amara muitoalém do imaginável? Aquela não fora asolução que ele encontrara para não serobrigado a discutir os profundosproblemas que os haviam separado atémais que o acidente?

Jake passou a mão no cabelo esuspirou. Ficaria ali porque estava presopor causa da nevasca. Assim que asestradas voltassem a ser transitáveis, eleiria até o aeroporto e voltaria paraCopenhagen. Depois de passar doispreciosos dias com sua filha e sua mãe,

Page 37: Harlequin - esposa perdida

voltaria aos imponentes escritórios daLarsen and Son ConstruçõesInternacionais e retomaria o trabalho.

– Eu tenho uma mala de mão nocarro. Trouxe-a como precaução. Voubuscá-la. – Quando ele chegou à porta,voltou-se e deu uma olhada para amulher frágil e silenciosa sentada nosofá. – Não se preocupe. Não pretendoprolongar a minha estada. Assim que asestradas estiverem livres, eu vouembora.

Por mais que mordesse o lábio, Ailsanão conseguiu impedir que seus olhosse enchessem de lágrimas.

– Por quê? – murmurou ela,desesperada. – Por que vir aqui agora e

Page 38: Harlequin - esposa perdida

revolver tudo de novo? Eu estou indobem sem você... Estou!

Frustrada pela dor que recrudesciatoda vez que mencionavam Jake ou oacidente, e muito mais por ele estarperto, ela afastou as lembranças e subiupara arrumar a cama do quarto dehóspedes. No caminho, Ailsa abriu aporta e deu uma olhada no quarto deSaskia. As paredes cor-de-rosa cheias decartazes de bonecas, de personagens deprogramas infantis e de fotos do maisrecente ídolo adolescente do cinemafizeram com que ela sacudisse a cabeça,mal acreditando que a filha estivessecrescendo tão rapidamente. As coisas

Page 39: Harlequin - esposa perdida

seriam mais fáceis se Saskia tivesse osdois pais cuidando dela?

Ela se perguntou se estaria sendouma boa mãe ou se involuntariamenteestaria decepcionando Saskia. Teriacometido um erro ao insistir emtrabalhar? Ao querer se firmar sozinhae não ser dependente do ex-marido?Ao pensar em Jake, ela se perguntou senão teria sido profundamente egoístaao afastá-lo emocional e fisicamente,levando-o a pedir o divórcio. Deveriater conversado mais com ele naquelaépoca, mas o relacionamento dos doisdeteriorara tanto que eles mal seolhavam, ela pensou com tristeza.

Ela ouviu a porta de entrada se

Page 40: Harlequin - esposa perdida

Ela ouviu a porta de entrada sefechando e correu para o quarto dehóspedes. A bela cama de casal com aantiga cabeceira de ferro estava cobertacom amostras de tricô e outros artigosde artesanato. Sabendo que não teriatempo de levar seu material para oateliê que mandara construir no jardim,ela juntou tudo e colocou em cima deuma escrivaninha.

Enquanto desdobrava os lençóis quepegara no armário, Ailsa reparou quesuas mãos tremiam. Fazia muito tempoque ela e o ex-marido não dormiam sobo mesmo teto. No passado, tinham sidotão unidos que nada parecia podersepará-los. Ela costumava dormir nos

Page 41: Harlequin - esposa perdida

braços de Jake, depois de fazeremamor, e acordar na mesma posição...Ailsa sentiu o coração arder de dor e desaudade pelo que tinham perdido. Aslembranças que a presença de Jakedespertara eram tão intensas queameaçavam afogá-la.

– Tudo bem – disse a si mesma. – Éapenas por uma noite. Amanhã, ele vaiembora.

Mas, quando ela olhou pela janela eviu a cascata de flocos brancos caindopesadamente, ficou angustiada. Poderiaestar enganada...

JAKE SUBIRA para tomar um banho e setrocar. Ailsa foi para a cozinha,

Page 42: Harlequin - esposa perdida

pensando no que iria fazer para ojantar. Planejara fazer umamacarronada para ela e Saskia, masimaginava que isso não seria suficientepara satisfazer o apetite de um homemforte como Jake. Ele apreciava as boascoisas da vida, gostava de comer bem etambém era um bom cozinheiro. Só depensar em cozinhar para ele, ela ficavanervosa porque nunca fora um exemplode mulher doméstica. Quando estavamcasados, Jake se submetera às suasexperiências culinárias com bomhumor, apesar de sempre acabarsugerindo que saíssem para jantar emum de seus restaurantes preferidos.Muitas vezes, ele insistira para que

Page 43: Harlequin - esposa perdida

contratassem uma cozinheira, mas elaargumentara que gostava de cozinharpara a família porque, no fundo, se nãofizesse isso, se acharia um fracasso.Como crescera em um orfanato, erainevitável que ela sempre tivesseansiado por ter sua própria família.

Um bloco de neve rolou do telhado ebateu no solo com um barulho surdo,despertando Ailsa do seu devaneio. Elapegou o telefone da cozinha, mas elenão dava sinal. Evidentemente, aslinhas estavam interrompidas. Estavaansiosa para ouvir a voz doce de Saskia.Sabendo como Tilda Larsen eracarinhosa, ela não tinha dúvida de que

Page 44: Harlequin - esposa perdida

a filha estaria bem na casa da avó, masdesejava ouvir isso pessoalmente.

Mordendo o lábio, Ailsa vestiu oavental e ligou o forno. Lavou duasgrandes batatas, furou as cascas comum garfo e colocou-as para assar.Depois, tirou um pouco de carne moídada geladeira, cebolas e alho, e pegouuma tábua. Juntaria o molho quepreparara àqueles ingredientes, em umafrigideira, acrescentaria uma lata defeijão e faria um chili. Pelo menos, erauma receita que conhecia bem e haveriamenos chance de resultar em desastre.

– Você parece estar ocupada.Sobressaltada, Ailsa se virou e se

sentiu envolvida pelo mar azul

Page 45: Harlequin - esposa perdida

cintilante do olhar de Jake.– Eu... Eu só estou preparando o

jantar.– Não se incomode por minha causa.– Não é incômodo. Nós dois

precisamos comer, não é?Jake deu uma olhada nos

ingredientes sobre a bancada e deu deombros.

– Precisa de ajuda?– Não, obrigada. – Ela voltou ao

trabalho e pegou a faca para picar ascebolas, mas suas mãos tremiamquando ela se lembrava da imagem deJake vestindo um suéter cor de vinho euma calça preta, com os cabelos aindaúmidos. – Eu sei que, quando éramos

Page 46: Harlequin - esposa perdida

casados, eu não cozinhava muito bem,mas com o tempo eu fui melhorando eposso até surpreendê-lo.

Ele soltou um suspiro, e ela ficounervosa.

– Por que você achava que nãocozinhava bem?

– Toda vez que eu ia cozinhar, vocêsugeria que fôssemos a um restaurante.Isso não era um sinal?

Jake não disse nada. Aproximou-se,tirou gentilmente a faca da mão dela ecolocou-a sobre a tábua. Pegou no rostodela e fez com que ela o fitasse.

– Eu não me lembro de alguma vezter sugerido que fôssemos jantar foradepois de você ter passado horas na

Page 47: Harlequin - esposa perdida

cozinha. Eu sugeria que jantássemosfora para lhe dar um descanso. Quandoestávamos juntos, você fez algumasreceitas muito saborosas, Ailsa. Deve terfeito, porque eu ainda estou aqui...Certo?

Qual seria o ingrediente especial queele usava para fazer com que o seusorriso fosse tão fascinante? Seriam oslímpidos e penetrantes olhos azuis?Ailsa sentiu o coração acelerar e perdeuo fôlego...

Page 48: Harlequin - esposa perdida

CAPÍTULO 2

JAKE ESTAVA aborrecido por Ailsa teralimentado a crença de que ele achavaa sua comida intragável. Sim, algumasvezes ele achara graça do seu esforçopara fazer algo que dera errado. Masesperava também ter demonstrado oseu agrado. Se ele pudesse voltar aotempo em que estavam juntos, antesdos terríveis eventos que os haviam

Page 49: Harlequin - esposa perdida

separado, comeria coisas queimadas debom grado.

Enquanto ele observava o olharpensativo de Ailsa, uma ondaeletrizante vibrou entre os dois.

– Sim, você ainda está aqui – disseela, com um sorriso reticente.

– Cheio de cicatrizes, mas ainda vivoe batalhando – brincou ele.

O sorriso de Ailsa se apagou, assimcomo o seu olhar.

– Não brinque com isso – falou elaasperamente, mas amenizou o tom. – Acicatriz ainda o incomoda?

Com o coração pesado, comoacontecia toda vez que a cicatriz eramencionada, Jake se fechou.

Page 50: Harlequin - esposa perdida

– Você está perguntando se eu mepreocupo que ela tenha estragado aminha boa aparência? – perguntou elecom ironia, afastando-se e colocando asmãos nos bolsos. Mas logo voltou, antesque ela pudesse fazer algumcomentário. – Eu a tenho há mais decinco anos. Já me acostumei com ela.Acho que ela me dá um ar de pirata,você não acha? Pelo menos, é isso queas mulheres me dizem.

– Mulheres?– Estamos divorciados há quatro

anos, Ailsa. Você pensou que eu metornaria celibatário?

– Não faça isso!– Fazer o quê?

Page 51: Harlequin - esposa perdida

– Não seja cruel. Eu não mereço.Quando perguntei se a cicatriz oincomodava, eu queria saber se elaainda doía.

– A única dor que ela me causa équando eu me lembro do que aprovocou... E do que nós perdemosnaquele dia.

Ela ficou calada, mas Jake viu aangústia nos seus olhos.

– Bem... – disse ela, depois de algumtempo. – É melhor eu continuar, ou nósnão vamos jantar hoje. – Claramenteabalada com a confissão que ele fizera,Ailsa recomeçou a cortar as cebolas. –Por que você não vai para a sala erelaxa?

Page 52: Harlequin - esposa perdida

– Talvez eu faça isso – murmurouele, saindo da cozinha, feliz por ter achance de controlar seus sentimentos enão dizer mais nada que a magoasse.

A SALA de jantar tinha paredes deterracota, vigas aparentes no teto e pisode carvalho. No centro da pesada mesahavia velas brancas e vermelhas devários tamanhos, cujas chamas davamum ar acolhedor ao ambiente, uma vezque o dia escurecera. Através dos vidrosda janela se via a neve que continuava acair. No passado, quando aindaestavam casados e se amavam, Jaketeria considerado aquela atmosferamuito íntima. Mas, agora, algo lhe dizia

Page 53: Harlequin - esposa perdida

que sua ex-mulher não pretenderacausar aquela estranha impressão depropósito. Ailsa sempre acendera velasno jantar em qualquer estação porqueadorava o formato das chamas.

Uma vez, ela lhe dissera que oorfanato onde crescera era totalmentedestituído de beleza e que ansiava porver coisas belas. Jake afastourapidamente a lembrança dolorosa, masnão antes de se censurar por não tê-laencorajado a falar mais sobre a suainfância.

Ele puxou uma cadeira, sentou erelaxou, enquanto Ailsa ia pegar acomida. Quando ela voltou, eleobservou atentamente o prato que ela

Page 54: Harlequin - esposa perdida

colocava na sua frente e notou que elase esmerara para lhe dar um arapetitoso. Não percebera que estavafaminto até sentir o aroma do chili, eprovou-o com gosto.

– Vamos, coma... Não espere pormim. O que você achou?

Jake percebeu que ela estava ansiosa,ficou comovido e limpou a boca com oguardanapo para disfarçar. Sentada dooutro lado da mesa, com os longoscabelos acobreados pela luz das velas,ela estava extremamente encantadora.Ele sentiu uma pontada de excitação.

– Está delicioso. Você não tem ideiade como isso caiu bem depois de umlongo dia de viagem.

Page 55: Harlequin - esposa perdida

– Então, que bom. Você preferebeber água ou suco? – Ela estava prontapara pegar uma das jarras colocadassobre um descanso de ráfia.

– Água, por favor... Obrigado.Eles pareciam ter feito um acordo

implícito de não se falarem durante arefeição, mas, assim que ele acabou decomer, Ailsa respirou fundo einterrompeu o silêncio.

– Estava nevando em Copenhagen?– Nos últimos dias tivemos algumas

nevascas, mas nada que se compare àsdaqui.

– Então, Saskia deve estar contente.Ela adora neve e estava rezando paranevar no Natal.

Page 56: Harlequin - esposa perdida

Jake se recostou na cadeira e lhelançou um olhar constrangido.

– Sinto muito por não tê-la trazidopara casa.

Ailsa garantiu que estava tudo bem,mas, no fundo do seu olhar cor deâmbar, ele via a decepção e, talvez, umpouco de raiva. Jake suspirou paraaliviar a tensão que começava a seformar dentro dele.

– Eu sei que você não quer saber,mas eu tinha feito vários planos para oNatal. Eu pedi aos meus fregueses quefizessem seus pedidos comantecedência, porque eu iria tirar umasemana de folga antes do Natal paraficar com a minha filha. Sinto muito se

Page 57: Harlequin - esposa perdida

a sua mãe perdeu o seu pai, Jake, masela não é a única que está lamentando amorte de alguém. – Ela estava seesforçando para controlar as emoções,mas seus olhos estavam cheios delágrimas.

– Lamentando a morte de alguém? –repetiu ele, sem entender.

– Você esqueceu que dia é hoje? –Com um olhar corajoso, ela crispou osdedos em torno do guardanapo brancoque jogara ao lado do prato. – É oaniversário da morte do nosso bebê...Do dia do acidente. Era por isso que euprecisava que Saskia estivesse em casa.Se ela estivesse aqui, eu lhe daria toda a

Page 58: Harlequin - esposa perdida

minha atenção e não pensaria tantonisso.

Pela segunda vez depois de tantotempo sem ver Ailsa, Jake sentia faltade ar. E então uma avalanche desentimentos o atingiu impiedosamente,fazendo com que ele sentisse vontadede sair da própria pele. Começou asentir claustrofobia, como se tivesse sidojogado em uma cela escura sem janelas.

– Eu nunca me dei conta desta data –admitiu ele, sentindo a gargantaqueimar. – Provavelmente, porque eunão preciso de uma data para melembrar do que perdemos naquele dia!– Ele se levantou, foi até a janela eolhou a neve que caía incessantemente.

Page 59: Harlequin - esposa perdida

Escutou vagamente o barulho dacadeira de Ailsa sendo arrastada.

– Nós não falamos sobre o queaconteceu há anos... Não, desde odivórcio – disse ela calmamente.

– E você acha que agora é hora? – Elese virou, sentindo-se como uma panelade pressão prestes a explodir. Ailsaestava diante dele, com os braçoscruzados e uma expressão resoluta. Masele podia facilmente ver que seus lábiostremiam, revelando que ela tambémestava nervosa.

– Eu não estou dizendo que querofalar sobre o que aconteceu só porque éaniversário da morte de Thomas, mas...

– Não o chame desse jeito... O nosso

Page 60: Harlequin - esposa perdida

– Não o chame desse jeito... O nossofilho morreu antes de nascer!

A lembrança de que tinham dadoum nome ao bebê quase fizera Jake cairde joelhos. Enquanto o bebê não tivessenome, não poderia ser real, podia? Seriaapenas um feto sem identidade, dentrodo útero. Essa fora a única maneira queele encontrara para lidar com aquelatragédia, durante todos aqueles anos.

O delicado rosto oval de Ailsa exibiuuma expressão horrorizada.

– Mas nós lhe demos um nome,Jake... Um nome e uma lápide, você selembra? Ontem, antes de a nevascapiorar, eu levei um ramo de lilases e de

Page 61: Harlequin - esposa perdida

anêmonas brancas para colocar sobre otúmulo. Faço isso todos os anos.

O túmulo que abrigava os restosmortais de seu filho estava situado nocemitério de uma pitoresca igrejanormanda escondida em uma ruaestreita, não muito longe dos escritóriosda Larsen and Son, em Westminster,mas ele não o visitava desde o funeral,que fora em um dia cinzento deinverno. O vento gélido atingira asferidas do seu rosto como se fossemlâminas. Aquele fora um dia que eledesejava poder ter apagado damemória. Jake massageou as têmporasque latejavam e enfiou os dedos nocabelo, irritado.

Page 62: Harlequin - esposa perdida

– E isso adianta muito, não é?– Sim, na verdade, ajuda. Quando

ele morreu, eu estava apenas com setemeses de gravidez, mas ele merece serlembrado, você não acha? Por que ficoutão zangado por eu ter tocado noassunto? Você realmente esperava queeu não falasse dele?

Sentindo-se exaurido eextremamente longe de encontraralgum remédio para o seu sofrimento,Jake atravessou a sala de jantar e foi atéa porta.

– Desculpe, mas eu realmente achoque não adianta falar nisso. Aonde noslevaria? Você precisa esquecer, Ailsa. Opassado acabou... Passou. Nós nos

Page 63: Harlequin - esposa perdida

divorciamos, lembra-se? Construímosvidas novas. Quem pensaria que amenina tímida com quem eu me caseiiria ter sua própria empresa? Depois detudo que aconteceu, isso foi umafaçanha. Nem tudo entre nós acabouem desastre. Ainda temos queagradecer por ter uma filhamaravilhosa. Vamos parar por aqui, estábem?

– Sim, nós temos Saskia... Agradeçoisso todos os dias. E sim, eu tenhominha própria empresa e me orgulhodela. Mas, você acha que, se nãoconversarmos, a sombra daquela faseterrível por que passamos vaidesaparecer miraculosamente? Se fosse

Page 64: Harlequin - esposa perdida

tão fácil esquecer, você acha que eu nãoteria esquecido? Eu pensei que, depoisda morte no nosso bebê, o divórcioseria uma espécie de fechamento quenos ajudaria a superar. Mas parece queisso não aconteceu. Como eu poderiasuperar, se perdi metade da minhafamília e não posso mais ter filhos? Oacidente me tirou essa possibilidade.Como não estamos juntos, talvez sejamais fácil fingir que nada aconteceu,Jake. Longe dos olhos, longe docoração, não é o que dizem?

Ailsa estava tão perto da verdade queJake ficou paralisado. Ele não queria odivórcio, mas acabara por pedi-loquando a agonia e a acusação que ele

Page 65: Harlequin - esposa perdida

imaginava ver nos olhos da esposatinham se tornado insuportáveis.

– Como posso fingir que nãoaconteceu? Só preciso olhar no espelhoe ver essa maldita cicatriz para melembrar! De qualquer maneira... – Elerespirou profundamente e o seucoração se acalmou, dando-lhe achance de pensar no que deveria fazer:tentar bloquear a lembrança torturantede Ailsa tão seriamente ferida quedesmaiara antes do cirurgião fazer acesariana para tentar salvá-la e ao bebê.Mais tarde, o médico lhe dissera que odano que ela tivera no útero fora muitograve e que o filho dos dois nãosobrevivera. Não era provável que ela

Page 66: Harlequin - esposa perdida

pudesse engravidar novamente. – Eutrouxe alguns documentos que precisoler antes de voltar. Com a morte domeu pai, eu me tornei presidente daempresa e tenho vários problemas aresolver. Obrigado pelo jantar e pelahospedagem. A comida estava ótima.Vejo você amanhã.

Apesar da desculpa ser razoável, Jakese sentiu um covarde.

– Se você precisar de um cobertorextra, há uma pilha deles dentro do baúao pé da cama. – Ailsa parecia estardeterminada a superar sua decepçãodiante da relutância que ele mostravaem falar sobre o passado. Jake admiroua força que ela adquirira e ficou

Page 67: Harlequin - esposa perdida

comovido ao perceber a compaixão nasua voz. Compaixão que eleprovavelmente não merecia. – Durmabem – acrescentou ela, esboçando umsorriso. – Não trabalhe até muito tarde.Você teve um longo dia de viagem edeve estar cansado.

Ela começou a tirar a mesa. Sabendoque o seu aparecimento inesperado aperturbara e aborrecera, Jake pensouque nunca deveria ter ido até ali. Sentiua garganta se contrair de culpa earrependimento e saiu abruptamenteda sala.

Ao entrar no quarto, olhoudistraidamente para a pasta de trabalho

Page 68: Harlequin - esposa perdida

que deixara sobre a cama e bateu nopeito, soltando um gemido.

SENTADA AO lado da lareira, tricotandocomo sempre fazia antes de deitar, Ailsase acalmava ao ouvir o clique dasagulhas e o crepitar da lenha. Depois dabriga que tivera com Jake, sentia-se emcarne viva, como se a tivessem raspadopor dentro com uma lâmina. Já seresignara a passar mais uma noiteinsone. Algumas vezes, só abandonavaa poltrona ao amanhecer. De queadiantava deitar cedo, quando sabiaque passaria horas se revirando nacama? Para ela, o sono era um visitantearredio, e ela só costumava dormir às

Page 69: Harlequin - esposa perdida

5h da manhã, quando já estava exausta,e acordava duas horas mais tarde,sentindo-se atordoada. Ela seperguntava como sobrevivia à falta desono e conseguia cuidar de Saskia etrabalhar. A capacidade de adaptaçãodo ser humano a admirava.

Naquela noite, ela estava ainda maisinquieta pelo fato de Jake estarocupando o quarto de hóspedes. Vê-lode novo fora maravilhoso e assustador,mas ela sempre reagira daquele jeitoquando o via. A profunda cicatriz emum dos lados do seu rosto nãodiminuíra a sua beleza e o seu carisma.Ela se entristecia por ele achar que sim.E, realmente, a marca lhe dera um ar

Page 70: Harlequin - esposa perdida

de pirata, apesar de ela não quererpensar que outra mulher achara omesmo.

Ailsa sentia vontade de morrer porele aparentemente ter esquecido ointenso amor que havia entre os dois eter seguindo em frente. Ela nãorecuperara um padrão de vida“normal”. Como conseguiria olhar paraoutro homem e pensar em ter umrelacionamento, depois de ter alguémcomo Jake?

Quando o conhecera, Ailsa estavafazendo estágio como recepcionista noescritório da Larsen. Com apenas 19anos, estava determinada a melhorarsua vida depois de uma infância difícil,

Page 71: Harlequin - esposa perdida

e agradecida pela chance de ter umtrabalho tão “glamouroso”, apesar denão ter nenhuma qualificação. Mas elaestudava muito para remediar essafalha. Um dia, quando Jake entrarapela porta giratória, usando um casacode cashmere por cima do terno, com apele levemente bronzeada e o cabelolouro fazendo com que ele parecesseum daqueles heróis mitológicos queenfrentavam todos os desafios e quesuperava todas as dificuldades juntocom a bela heroína, ela perdera ofôlego.

Enquanto ele caminhava na direçãoda recepção, a colega, muito maisconfiante que ela, murmurara:

Page 72: Harlequin - esposa perdida

– É o filho do patrão... Jake Larsen.Ele veio de Copenhagen.

Antes mesmo de saber quem ele era,Ailsa sentira o coração se agitar com abeleza daquele viking e com o seucarisma. Nunca ficara fascinada por umhomem, principalmente por um queestivesse tão longe do seu alcance, queirradiasse poder e autoridade. Mas elese apresentara a ela gentilmente, comose ela fosse tão importante quanto umdos diretores da empresa. E, quando elelhe oferecera um sorriso quaseincandescente, ela ficara totalmentefascinada por ele.

– Droga! – Ela perdera um ponto.Desmanchou pacientemente a carreira

Page 73: Harlequin - esposa perdida

do tricô e recuperou-o. A lenha dalareira estalou. Ela olhou para o belopinheiro que estava no canto da salacomo se fosse uma garota tímida àespera que alguém a tirasse paradançar... Antigamente, Jake teria seoferecido para ajudá-la a enfeitar aárvore, enquanto cantarolavaalegremente, acompanhando a cançãode Natal que estaria soando ao fundo, ecantaria mais alto quando elareclamasse por ele ser desafinado.

Era doloroso que ele não quisesseconversar com ela a respeito da mortedo filho. Ailsa esperava que issoajudasse a deixá-los mais à vontadequando estivessem juntos e que lhes

Page 74: Harlequin - esposa perdida

permitisse seguir em frente. Eles nãotinham conversado depois do acidentee durante o período que os levara aodivórcio porque estavam arrasados,feridos, zangados, e se culpavammutuamente. Ela esperava que umaconversa franca lhe devolvesse um sonomais sossegado.

– Ah, tudo bem... – Ailsa suspirou. –Amanhã, quando ele for embora, euvou continuar como sempre. Não é tãoruim... Eu tenho Saskia. E os negóciosestão indo bem... Melhor do quenunca...

Ela mordeu o lábio, tentando nãochorar, e olhou novamente para opinheiro. A filha podia não estar ali

Page 75: Harlequin - esposa perdida

para compartilhar o prazer de decorar aárvore, mas isso não a impediria defazer algo em que era excelente.Administrava um negócio de sucesso efazia belas coisas, desde objetos dedecoração a suéteres de tricô e colchasde retalhos. Além disso, ela e Saskiatinham passado o ano guardandoenfeites para o Natal.

Sentindo-se mais animada, Ailsacolocou o tricô de lado e, em vez dedormir na cadeira como costumavafazer, foi para a cama.

JAKE ESTENDEU a mão para pegar orelógio e, ao ver a hora, gemeu.Percebeu que dormira profundamente

Page 76: Harlequin - esposa perdida

e tentou descobrir o motivo. ComoAilsa, depois do acidente ele se tornarainsone. Ele apoiou os travesseiros nacabeceira da cama e sentou. Ouviu oruído do timer do aquecedor, querecomeçava a funcionar, e não seespantou ao ver o vapor produzido pelaprópria respiração ao atingir o ar frio.

A casa sempre seria gelada daquelejeito de manhã? Jake ficou aborrecidoao pensar que Ailsa poderia terescolhido morar em um lugar maissofisticado, mais confortável e comaquecimento ambiente. Mas ela forateimosa e preferira aquele chalé isolado,que podia ser charmoso, mas que não

Page 77: Harlequin - esposa perdida

era a casa onde ele gostaria que suafilha crescesse.

Ele esfregou as mãos para aquecê-lase imaginou quando poderia voar devolta para Copenhagen. Ergueu ascobertas, levantou-se e foi até a janela.Levantou a ponta da cortina e sentiuum misto de frustração e deperplexidade. Até onde a vistaalcançava, tudo estava coberto por umabrilhante camada de branco. Fortesrajadas de vento faziam com que osflocos de neve girassem loucamente noar. A não ser que ele criasse asas, nãosairia dali naquele dia. Com aqueleclima siberiano, todos os voos deveriamter sido cancelados.

Page 78: Harlequin - esposa perdida

– Droga! – Ele ficou parado, vestindoapenas a calça preta do pijama de seda,com o peito nu, tentando encontraruma saída. Pensou em telefonar para opiloto do seu helicóptero emCopenhagen, mas se lembrou de que oscelulares e os telefones nãofuncionavam. Enquanto tentavacontrolar a frustração, ouviu umabatida na porta.

– Jake, você já acordou e levantou?Eu estava pensando se você gostaria debeber uma xícara de café...?

Ele abriu a porta. Com o cabeloescuro caindo desordenadamente sobreos ombros, como se tivesse passado anoite agitada, Ailsa estava parada

Page 79: Harlequin - esposa perdida

diante dele com um olhar ingênuo,vestindo um roupão vermelho em feitiode quimono. Parecia uma adolescente.Desconcertado, Jake sentiu o seuinstinto de proteção despertar.

– Não se incomode comigo. Vocêestá com a aparência de quem precisabeber algo quente para se aquecer –resmungou ele. – Por que o aquecedornão liga mais cedo? Já viu o tempo láfora? Aqui dentro está gelado.

– O aquecedor é acionado pelo timer.Sim, já vi o tempo. Acho que não paroude nevar a noite inteira. Mas nãoadmira que você esteja com frio: estávestindo apenas um pedaço de pano!

Jake não conseguiu deixar de rir.

Page 80: Harlequin - esposa perdida

– Você sabe que eu não uso muitacoisa para dormir. Ou será que seesqueceu?

– Você não disse se quer café ou chá– insistiu ela teimosamente, fechandomais o roupão e deixando o cabelo cairsobre o rosto para escondê-lo.

Mas Jake percebeu que ela corara esentiu-se satisfeito. Apesar de toda aágua suja que passara por baixo daponte que ligava os dois, era bom saberque ainda provocava alguma reação emAilsa.

– Eu não iria recusar uma bebidaquente, mas deixe-me tomar um banhoe me vestir, antes de ir encontrá-la nacozinha.

Page 81: Harlequin - esposa perdida

Ela concordou e deu de ombros.Quando ele já estava fechando a porta,ela se voltou.

– Devo lhe preparar um café damanhã?

Jake hesitou: vira as olheiras escurassob os seus olhos, confirmando que elanão dormira.

– Eu não quero lhe dar trabalho.Um sorriso se formou nos lindos

lábios que ele adorara beijar. E queainda sonhava beijar quando setorturava pensando no quanto tinhamse amado.

– Não é trabalho.Ela se afastou pelo corredor, e o

suave bamboleio de seus quadris

Page 82: Harlequin - esposa perdida

provocou um aperto no coração deJake.

Page 83: Harlequin - esposa perdida

CAPÍTULO 3

AO SAIR da sala de estar, depois dealimentar o fogo com algumas achas delenha, Ailsa limpou as mãos no jeans eolhou para a escada no exato momentoem que Jake a descia. Não importavaquantas vezes o tivesse visto, que tivessemorado com ele e o amado, a simplespresença de Jake fazia com que o seucoração acelerasse. Naquela manhã, elevestia uma calça de brim azul, uma

Page 84: Harlequin - esposa perdida

camiseta branca e um suéter preto delã. Parecia ter penteado os cabelosdourados com os dedos, e não comuma escova. E, quando ele sorriu paraela, os seus límpidos olhos azuis aatraíram como um ímã, e Ailsa nemreparou na sua cicatriz.

– Eu vou recolocar a chaleira no fogoe preparar um chá. Sinto muito teratrasado o café, mas precisei colocarlenha na lareira. Você dormiu bem?

– Como um bebê. Aquela cama émuito confortável – declarou ele.

– Quando se pensa que as pessoaspassam metade da vida na cama, éfundamental que ela seja confortável,não acha? – Droga, ela estava

Page 85: Harlequin - esposa perdida

tagarelando porque ele a deixavanervosa. E, por mais inocente que fosseo assunto, a última coisa que lheinteressava era falar sobre camas com oex-marido.

Jake sorriu como se tivesseadivinhado o seu constrangimento.Ailsa se voltou e foi para a cozinha. Elefoi atrás dela. Enquanto ela lavava asmãos, acendia o fogo e pegava ascanecas, ele puxou uma cadeira esentou. Ela sabia que ele acompanhavatodos os seus movimentos, e ficava cadavez mais constrangida. Suspirou eresolveu abordar o assunto que aatormentara desde que acordara e vira

Page 86: Harlequin - esposa perdida

o resultado da nevasca que caíradurante a noite.

– Eu não vejo muita chance de vocêir até o aeroporto.

– Nem eu – concordou ele, franzindoas sobrancelhas. – Você já checou se otelefone está funcionando?

– Já. Ele ainda não dá sinal.– Droga!A expressão áspera não melhorou a

confiança de Ailsa. Ele gostaria tãopouco dela a ponto de odiar a ideia depassarem mais algum tempo juntos?

– Eu também estou frustrada por nãopoder falar com Saskia – murmurou ela.Percebendo que a água fervera, elaengoliu a tristeza, fez o chá e levou-o

Page 87: Harlequin - esposa perdida

até a mesa. – Sirva-se de açúcar. Voufazer o seu café da manhã.

– Você vai comer comigo?– Eu não como muita coisa de

manhã. Vou fazer apenas uma torradapara mim.

– Uma torrada? É isso que você comeno café da manhã?

– Geralmente, sim.– Não admira que você tenha

emagrecido.– Algo mais que você tenha notado?

– Ela ficou aborrecida. A ideia de queele pudesse achá-la magra e sematrativos a atingia. Sempre fora esguia,mas, antes do acidente, também possuíabelas curvas que ele dizia adorar. E,

Page 88: Harlequin - esposa perdida

quando engravidara de Saskia e dofilho, ele apreciara ainda mais a suasilhueta feminina. Teria ele passadoaquele tempo apreciando curvas deoutras mulheres?

– Sim. Você está mais bonita quenunca.

– Não, não estou. – Ela cruzou osbraços defensivamente. –Inevitavelmente, os acontecimentos memoldaram. Eu sei que estou magrademais e pareço cansada. Tenho 28anos, mas, às vezes, eu me sinto comose tivesse cem.

– Isso é bobagem.– Eu realmente não me importo. –

Ela deu de ombros. – Enquanto eu tiver

Page 89: Harlequin - esposa perdida

forças para trabalhar e cuidar de Saskia,isso é tudo que importa.

Ailsa só percebeu que ele levantaraquando ele parou diante dela esegurou-a pelo queixo. Os olhos azuisde Jake brilhavam tanto que ela quasese desmanchava.

– Você pode estar cansada, mas nãoestá muito magra e certamente nãoparece mais velha. Quando eu a viontem, pensei em como parecia jovem.Talvez você fosse muito moça quandonos casamos...

Ele afastou um cacho de cabelo dorosto dela. A palma da sua mão eralevemente áspera e, ao mesmo tempo,macia. Isso, adicionado ao som grave da

Page 90: Harlequin - esposa perdida

sua voz, quase a levou a acreditar que oque havia de errado entre os doispoderia ser consertado.

De onde viera essa ideia? Era tãoautodestrutiva quanto procurar abrigoem uma casa pegando fogo... Como sesaísse de um transe, Ailsa recuou.

– Você está dizendo que searrepende do nosso casamento?

Jake ergueu a sobrancelha.– Eu não estou dizendo isso. Por que

você sempre se coloca na defensiva epensa o pior?

Ela o fitou com firmeza.– Porque, às vezes, é difícil acreditar

que exista algo bom – confessou Ailsa.

– Fico entristecido por você pensar

Page 91: Harlequin - esposa perdida

– Fico entristecido por você pensarassim. Quando estávamos juntos,tivemos ótimos momentos, você não selembra?

– Tivemos... Mas cometemos otremendo erro de acreditar queteríamos um futuro maravilhoso...Você, nossos filhos e eu. Veja o queaconteceu com a nossa fantasia.

Por que ela fazia isso e atacavasempre na jugular? O desespero da vozdela fazia com que ele voltasse a sentiro coração dilacerado... Assim comoacontecera com suas mãos durante oacidente, quando ele tentara protegê-lados cacos de vidro e do metal retorcidoa que o motorista embriagado reduzira

Page 92: Harlequin - esposa perdida

seu carro, matando o adorado filho dosdois. Ele já suportara o insuportável...Quanto mais o destino o faria sofrer?

Atormentado pela agonia e pelafrustração, Jake fechou os olhos.Quando voltou a abri-los, Ailsa voltarapara o fogão. Fitando a cascata decabelos negros que lhe caía pelas costas,ele sentiu vontade de abraçá-la por tráse nunca mais soltá-la. Em vez disso,olhou pela janela e percebeu que acortina de neve que caía se tornara maispesada.

– Esse tempo horrível não vai mudarhoje?

Ele não escondera a sua raiva e o seudesânimo. Ailsa se voltou.

Page 93: Harlequin - esposa perdida

– Eu sei que você está ansioso paravoltar para Copenhagen... Mas só vai sesentir mal se não aceitar o fato de queestará preso aqui por algum tempo.Assim como eu preciso aceitar queSaskia não estará comigo por mais umasemana.

– Você quer fazer com que eu mesinta pior do que já estou? Não achaque me arrependo de ter aparecido aquisem ela? A minha mãe e ela insistiramtanto que queriam ficar juntas mais umpouco que eu pensei: por que não?Qual seria o dano? Pensei que, pelomenos por uma vez, você iria entender.Em vez disso, você está agindo como seeu tivesse cometido um crime!

Page 94: Harlequin - esposa perdida

– Jake, eu...Ouviu-se uma batida forte na porta.

Os dois se calaram.– Quem poderia ser?Com aquele tempo, só poderia ser

uma pessoa, Ailsa pensou, sabendo quea visita não iria colaborar para aliviar oclima entre ela e Jake. Ela secou asmãos no avental e correu para abrir aporta.

Batendo os pés no chão e tentandosacudir o gelo e a neve das botas e docasaco forrado de pele, estava o belo esimpático filho do fazendeiro vizinho.

– Bom dia, Ailsa.– Linus, o que está fazendo aqui?

– Eu trouxe alguns ovos, leite e pão

Page 95: Harlequin - esposa perdida

– Eu trouxe alguns ovos, leite e pãopara abastecê-la, até que você possavoltar a fazer compras. Nada consegueatravessar a neve, a não ser o trator.Vocês estão bem? Eu estava preocupadopor você e Saskia estarem aqui sozinhas.

– Eu estou muito bem... Saskia aindaestá com a avó em Copenhagen. Foimuita gentileza você vir até aqui parasaber como estávamos.

– Para que servem os vizinhos? – Elesorriu amavelmente, revelando dentesmuito brancos. – Eu vou pegar as coisasno trator.

Enquanto esperava que ele fosse atéo trator vermelho, que estava cobertopor várias camadas de neve, Ailsa batia

Page 96: Harlequin - esposa perdida

as mãos, uma na outra, para aquecê-las.O ar estava gélido.

– Posso deixar isso na cozinha? –sugeriu Linus ao voltar carregando umacaixa de papelão.

– Sim, por favor. – Ailsa sentiu umapontada de apreensão ao pensar que eleiria dar de cara com seu ex-marido. Elae Linus eram apenas amigos, mas,apesar de estarem separados há muitotempo, Jake imediatamente tirariaconclusões erradas, pois sempre foraciumento. Apesar de ele termencionado a possibilidade de teremnovos relacionamentos quando disseraque as mulheres achavam que elelembrava um pirata, Ailsa não pensara

Page 97: Harlequin - esposa perdida

nisso. Como poderia não receber bemum amigo e vizinho que fora tãosolidário? Era uma questão de boasmaneiras. O mínimo que poderia fazerseria oferecer a Linus uma xícara de chápara aquecê-lo, antes que ele voltassepara casa.

Mas, assim que eles entraram nacozinha, a expressão distante edesconfiada de Jake demonstrava o seuaborrecimento com a presença deLinus.

– Jake, este é o meu vizinho, Linus.Ele teve a gentileza de me trazerprovisões da sua fazenda. Linus, este éJake Larsen... O pai de Saskia. Ele veiome avisar que ela iria ficar mais tempo

Page 98: Harlequin - esposa perdida

com a avó e ficou preso aqui. – Elapercebeu que estava fornecendoinformações demais e que Jake poderianão gostar disso.

– Já ouvi falarem muito sobre você –disse Linus, colocando a caixa sobre amesa. Ele olhou para Ailsa de relance,antes de se recobrar da surpresa eestender a mão para Jake. – Querodizer, Saskia fala o tempo todo sobrevocê.

– É mesmo? – Apesar de Jake estarsendo educado, estava claramenteirritado.

Ailsa tocou o braço de Linus e sorriu,como se tudo estivesse perfeitamentebem e seu ex-marido não estivesse com

Page 99: Harlequin - esposa perdida

uma cara que espantaria qualquervisitante.

– É mesmo – respondeu Linus, comum sorriso sem graça.

– Por que você não se senta e eu lhefaço uma xícara de chá, Linus?

Linus estremeceu, claramenteconstrangido.

– É muita gentileza sua, mas émelhor eu ir embora... Ainda há muitacoisa a fazer na fazenda antes do fim dodia, mas obrigado por ter oferecido.Talvez eu volte para ver como você está,daqui a um ou dois dias.

Ailsa olhou para Jake e mordeu olábio.

– Muito obrigada por ter me trazido

Page 100: Harlequin - esposa perdida

– Muito obrigada por ter me trazidoprovisões. Foi muita gentileza. Fico lhedevendo.

– Não seja tola. Foi um prazer. Paradizer a verdade, foi bom ter umadesculpa para vir vê-la. Algumas vezes otrabalho é tão incessante que eu nãotenho tempo para vê-las como gostaria.– Linus perdera o constrangimento eabrira um grande sorriso. Ailsa ficouperturbada, principalmente por estaremdiante de Jake, mas também se sentiasatisfeita por receber tamanha atenção.Linus se voltou para Jake. – Foi umprazer conhecê-lo.

– Eu digo o mesmo – respondeu Jakesem entonação. Ailsa pensou que era

Page 101: Harlequin - esposa perdida

bom que Linus não se demorasse mais,porque pressentia que seu ex-maridonão gostaria da ideia.

– Para o caso de não nosencontrarmos mais, desejo que façauma boa viagem.

Desta vez, Jake não disse nada.Olhou para Linus como se desejasseque ele desaparecesse.

Linus sorriu levemente para Ailsa,que foi levá-lo até a porta. Quando elavoltou à cozinha, estava furiosa. Jakenão demonstrava um pingo devergonha pela frieza com que tratara ovisitante.

– Você tinha que ser tão antipático?Linus é um bom homem. Ele só veio

Page 102: Harlequin - esposa perdida

ver se eu e Saskia estávamos bem etrouxe suprimentos porque sabe que eunão posso fazer compras.

– Você está me dizendo que precisade outro homem para cuidar de você eda minha filha?

Ailsa ficou chocada com o que eleinsinuava.

– Ele não é outro homem da maneiraque você insinuou. Para suainformação, Jake, eu não preciso deoutro homem para nada! Posso mecuidar sozinha. Linus é só um vizinhoamigo.

Jake esfregou a testa e fitou o chão.Quando voltou a olhar para ela, seusolhos brilhavam perigosamente.

Page 103: Harlequin - esposa perdida

– Está dizendo que não percebeu queele quer ser muito mais que um simplesamigo?

– O quê?– Talvez as coisas já tenham ido além

da vizinhança e da amizade...– De vez em quando, nós tomamos

chá e conversamos: isso é tudo. Eununca encorajei nada mais pessoalentre nós. E, se tivesse, com quem eupasso meu tempo não é da sua conta...Não mais. Esqueceu que somosdivorciados?

– Não. – Por um instante, aexpressão dele beirou o sofrimento. –Não esqueci.

A indignação e o aborrecimento de

Page 104: Harlequin - esposa perdida

A indignação e o aborrecimento deAilsa murcharam como um balãofurado. Ela passou a sentir compaixão.Os dois tinham sido feridos no acidenteque matara o tão desejado filho e, comose isso não bastasse, haviam enfrentadoo terrível fim do casamento. Alémdisso, Jake recentemente perdera o paie deveria estar sofrendo por isso.

A raiva que ele demonstrara aopensar que ela arranjara outra pessoateria servido para encobrir sua dor?Mais que nunca, Ailsa percebia queprecisavam conversar. Durante a estadaforçada de Jake no chalé, precisavamcomeçar a procurar um jeito de lidar

Page 105: Harlequin - esposa perdida

com a agonia que tinhamcompartilhado.

Ela olhou para a panela que estavasobre o fogão.

– Eu vou fazer o seu café da manhã.Quer outra xícara de chá? O seuprovavelmente já está frio.

Jake sentou-se à mesa, pegou a xícarae tomou um gole.

– Está ótimo.No mesmo instante, Ailsa tirou a

xícara da mão dele e percebeu que ochá estava frio.

– Está quase gelado. Farei outro paravocê. Não há problema.

– Por que está sendo gentil comigo,considerando que eu a aborreci tanto

Page 106: Harlequin - esposa perdida

por ter tratado o seu amigo com frieza?– Ser desagradável iria nos ajudar?– Acho que não – falou ele, sorrindo.Ailsa abriu a caixa que Linus

trouxera e pegou uma embalagem comovos.

– Os ovos da fazenda são frescos emuito melhores do que os dosupermercado.

– Que sorte você ter Linus para trazê-los.

O comentário foi feito em tomsarcástico. Ela sentiu que o terreno quetinham conquistado se tornavaescorregadio.

– Ele é apenas um amigo. Eu nãomentiria para você com relação a isso.

Page 107: Harlequin - esposa perdida

Preciso pensar na felicidade de Saskia ena minha. Enquanto ela for pequena,eu não quero me relacionar comninguém. – Ela franziu as sobrancelhas,sem deixar de olhar para ele. – Equanto a você? Existe algumrelacionamento importante na sua vidasobre o qual eu deva saber? – Antes deacabar de falar, Ailsa sabia que ficariadoente se ele dissesse que sim, mas Jakesacudiu a cabeça.

– Como você, eu não pretendo meenvolver seriamente com ninguém, atéSaskia crescer o suficiente. Mas tambémnão me limitei a ter uma vidamonástica. – Ele sentiu o músculo doqueixo latejar, ao lado da cicatriz. – Eu

Page 108: Harlequin - esposa perdida

sou apenas humano e as minhasnecessidades não diferem das deninguém.

Ailsa levou algum tempo paraconseguir falar porque estava tentandosuperar a onda de mágoa causada pelaideia de que outra mulher pudesse estarsuprindo as necessidades sexuais deJake. Afinal, eles estavam divorciadoshá quatro anos e aquela possibilidade jálhe ocorrera. Na maioria das vezes, elatentara ignorar, mas conhecia bem asnecessidades do marido naqueledepartamento. Jake sempre fora umamante incrível. Aquela parte docasamento ultrapassara todos os seussonhos de amor e de paixão.

Page 109: Harlequin - esposa perdida

– E quanto às minhas necessidades?– perguntou ela, tentando manter a vozfirme. – Eu tenho a mesma liberdadeque você tem, Jake? Ou você acha queeu não tenho mais necessidades, já queo acidente me tornou incapaz deengravidar? Talvez você pense que issome tornou menos mulher?

– Não diga isso! – O choque e odesespero que havia nos seus olhosassustaram Ailsa. – Não pense e muitomenos diga isso! Você é mais mulherdo que qualquer outra que eu conheço.Mesmo que não estejamos mais juntos,nada mudará isso. – Ele arrastou acadeira e levantou. Sua respiração setornara pesada. Sem dizer uma palavra,

Page 110: Harlequin - esposa perdida

ele tirou a caixa de ovos da mão dela,colocou-a sobre a mesa e segurou-apelo queixo. – Saskia sempre diz quetem a mãe mais bonita do mundo, e elatem razão.

– Claro que diz. Ela é minha filha.– Você não me ouviu? – Ele segurou

o queixo dela com mais força. – Eudisse que ela tem razão.

Ailsa queria que ele falasse mais, sópara ouvir mais de perto aquela vozcapaz de confortá-la e seduzi-la. Etambém queria saber como seria serbeijada por ele novamente. Mas sabiaque não era sensato querer essas coisas.Levara muito tempo para se recuperar

Page 111: Harlequin - esposa perdida

da dor e da rejeição. Perdera o filho e,depois, perdera Jake.

Ele podia ter pedido o divórcio emum momento de desespero para fugirdo poço de desalento em que tinham seafundado, mas ela também contribuírapara isso. A situação entre os dois setornara intolerável e ambos precisavamde espaço para respirar. Ao mesmotempo em que ela concordara com odivórcio, ficara de coração partido. Nãoqueria desejá-lo tanto outra vez edissera a si mesma que Jake estaria livrepara amar outra pessoa e ter um filhocom ela. Por que ele não fizera isso?

À beira das lágrimas, ela afastou amão dele do seu rosto e se voltou para

Page 112: Harlequin - esposa perdida

pegar os ovos sobre a mesa.– Você quer um ou dois ovos com

bacon?– Quer saber? Acho que perdi o

apetite. – A sombra nos olhos deleatingiu-a como uma facada.

– Eu não estou afastando você, Jake.Só estou... – Ela tentou controlar suasemoções. – Eu só não quero sermagoada de novo e não quero magoarvocê. No momento, não temos escolhaa não ser ficarmos juntos. Não vamosestragar tudo, concorda? Eu estoudisposta a conversar. Quando você forembora, talvez tenhamos resolvidoalguns problemas que nos perturbam e

Page 113: Harlequin - esposa perdida

possamos ficar em paz com as escolhasque fizemos. O que acha?

– Você tem uma pá? A entradaprecisa ser limpa. Eu vou fazer issoagora... Para abrir o apetite e podercomer o café da manhã que você estáme prometendo.

O seu tom bem-humorado deuesperanças a Ailsa de que elespudessem, mais tarde, falar do passadosem se culpar mutuamente.

– Você acha que vale a pena fazerisso agora? Se continuar nevando, otrabalho será inútil. Você terá de limpartudo outra vez.

– Se você saísse por algum motivo esofresse uma queda, eu não iria querer

Page 114: Harlequin - esposa perdida

ter isso na minha consciência. Ondeestá a pá?

Ela engoliu um “Deus me livre quevocê me tenha na sua consciência” e selembrou de que realmente queriadeixar de culpá-lo.

– Tudo bem. Saia pela porta dosfundos e vá até o jardim. A pá está nogalpão de ferramentas.

– Ótimo. Posso fazer meu pedidopara o café? Quero dois ovos combacon. O trabalho vai me dar fome –disse ele com ironia, saindo da cozinha.

Page 115: Harlequin - esposa perdida

CAPÍTULO 4

JAKE FICOU feliz com o esforço físico queprecisou fazer para tirar a neve daentrada. O vento frio lhe fustigava orosto e fazia seus olhos lacrimejarem,distraindo-o da conversa que tivera comAilsa.

Ele levara um choque ao ver Linus.Se já vira um homem com um olharesperançoso em relação a uma mulher,o do fazendeiro era o melhor exemplo.

Page 116: Harlequin - esposa perdida

Jake não estava chocado por ele quererAilsa. Que homem não iria querê-la? Oque mais o chocara era o fato de ela nãoter percebido e, portanto, estarvulnerável. Às vezes, Ailsa era ingênuademais para o seu próprio bem.

Era curioso que Saskia nunca tivessemencionado Linus, principalmenteporque Jake sempre lhe perguntava se amãe fizera novas amizades. Comcerteza, a filha não considerava ofazendeiro um amigo que merecesse sercitado. Ainda assim, o homem nãotinha o direito de aparecer, tentandoamolecer Ailsa com presentes.

Jake parou de tirar a neve por algunsminutos e observou a casa. Era um

Page 117: Harlequin - esposa perdida

chalé charmoso, atraente,principalmente agora, que estavacoberto de neve. Estava muito longe deser luxuoso como os apartamentos ecasas que a sua empresa vendia pararicos e famosos espalhados pelo mundo.Mas, se Ailsa estava feliz ali, o que elepodia fazer? Durante aqueles anos, elalhe mostrara que não queria a suaajuda. Ele não gostava disso, mas nãopodia culpá-la.

Quando aquele carro sem controlebatera no deles, ele deveria terprotegido o que tinha de mais preciosoa qualquer custo, ainda que isso tivessesignificado sacrificar sua própria vida.

Uma pontada de desespero saiu do

Page 118: Harlequin - esposa perdida

Uma pontada de desespero saiu dofundo do seu coração e o atingiu tãoprofundamente que ele quase sedobrou de dor. Por que Ailsa lhecontara que visitava o túmulo do filho?Ele não precisava que lhe recordassemque o menino não sobrevivera. Elaconseguira chorar a sua dorabertamente, bradar aos céus, protestare se contorcer. Enquanto ele precisarachorar a sua perda em silêncio, mostrarque estava agindo “como um homem”.Quando se tratava de ser um grandeempresário, um bom provedor e ummarido fiel, seu pai Jacob fora umsucesso, mas quando se tratava deexpressar carinho e emoções, ele se

Page 119: Harlequin - esposa perdida

fechara e nunca deixara que o filho seaproximasse demais. O resultado foique Jake nunca se sentira realmenteamado pelo pai.

Algumas vezes, Jake amaldiçoava omodelo que inconscientemente copiarade Jacob. Manter suas emoçõestrancadas... Nunca demonstrar suamágoa e fingir que tudo estava bem.Ailsa e ele haviam perdido muito. Elaachava que eles deveriam conversar.Pensaria realmente que poderiamsuperar as tragédias pelas quais tinhampassado apenas conversando? Acapacidade de esconder seussentimentos estava tão entranhada nele

Page 120: Harlequin - esposa perdida

que Jake achava que era tarde paratentar superá-la.

Ele sentiu um gosto de sal e percebeuque estava chorando. Enxugouimediatamente as lágrimas, rebelando-se contra a manifestação emocional queninguém testemunhara. E recomeçou atirar a neve com zelo redobrado.

– QUER MAIS um pedaço de bacon?– Está brincando? Se eu comer mais

um pedaço, não farei mais nada. Porque você não senta um pouco?

O convite de Jake era tentador. Ailsaficou na dúvida, mas suas defesas foramdestruídas quando ele olhou para ela.

– Só por um minuto. – Ela levou o

Page 121: Harlequin - esposa perdida

– Só por um minuto. – Ela levou ochá e a torrada para a mesa e sentoudiante dele. Lá fora a neve caíapesadamente, mas a casa estava quentee acolhedora.

– Eu me sinto honrado – zombou elegentilmente.

– Obrigada por você ter limpado aentrada, mas receio que logo sejapreciso fazer isso de novo. Não que euesteja lhe pedindo – acrescentou eladepressa.

– Fazer exercício é muito melhor queficar trabalhando em uma mesa oudiante do computador.

Resolvendo afastar as imagens que avoz dele provocava em sua cabeça, Ailsa

Page 122: Harlequin - esposa perdida

deu um sorriso constrangido e mordeua torrada.

– Você ainda gosta de fazerartesanato? – Jake pegou a xícara decafé e deu o sorriso levemente torto echarmoso que ela tanto achavaatraente. – Que pergunta idiota... Vocêtransformou isso num negócio.

– Eu gosto muito. É apenas umapequena empresa, mas está crescendogradualmente. Os elogios dos clientes seespalharam e me ajudaram. Apropaganda online também despertouinteresse. Recentemente, fui convidadapara dar uma entrevista em uma dasmaiores revistas de decoração.

– Que bom. Isso deve significar

Page 123: Harlequin - esposa perdida

– Que bom. Isso deve significarmuito para você.

– Significa. Quando eu penso nolugar de onde vim, me parece ummilagre. Nunca pensei que conseguiriafazer algo que valesse a pena... Pelomenos, não em termos produtivos.

– Por que não?– Pelas condições da minha infância.

Saber que fui abandonada quando bebênão me ajudou. Nunca consegui melivrar da sensação de que não eradesejada, ou seja, de que eu não eraboa o suficiente.

– Você nunca me disse isso.Sentindo-se pouco à vontade por ter

involuntariamente provocado o

Page 124: Harlequin - esposa perdida

assunto, Ailsa se forçou a encarar oolhar subitamente intenso de Jake.

– Você nunca me perguntou. Percebique a minha infância o constrangia,quer dizer, o fato de eu ter vindo de ummundo tão diferente do seu. Foi porisso que eu nunca falei no assunto.

Jake sacudiu a cabeça, perplexo.– Desculpe... Sinto muito por não

termos conversado sobre algo tãoimportante e por eu tê-la levado aacreditar que o seu passado meconstrangia. Acima de tudo, ficoaborrecido com o fato de você pensarque não era boa o suficiente. Eu sempresoube que você era competente, Ailsa...

Page 125: Harlequin - esposa perdida

Que era muito habilidosa... Deveria terlhe dito isso.

Ela se animou por dentro. Nãoapenas pelo que ele dissera, mas porqueestavam finalmente conversando, secomunicando.

– Eu estou fazendo o possível paradeixar de me sentir desse jeito.Começar um negócio realmente meajudou. Saber que eu posso ter umarenda razoável com o meu própriotrabalho me impulsionou.

Ele demonstrou não ter gostado daresposta.

– Você não precisa de dinheiro e dedepender somente do que possa ganharsozinha.

Page 126: Harlequin - esposa perdida

Ailsa ficou triste por ele não entendere perdeu a vontade de comer a torrada.

– Eu sei que você me deixoueconomicamente bem, Jake, e euaprecio isso. Mas é importante que eusaiba que posso me sustentar. Eu uso odinheiro que você me deu com Saskia,mas gosto de poder contar com a minhaprópria renda. É tão difícil para vocêentender que eu quero serindependente?

– Você foi casada comigo e temdireito à quantia que lhe foi destinadano divórcio. O que a maioria daspessoas consideraria uma fortuna não adeixa independente?

– Eu... – Ailsa se sentiu sufocar. Jake

Page 127: Harlequin - esposa perdida

– Eu... – Ailsa se sentiu sufocar. Jakenão percebia que o importante não erao dinheiro ou a quantia. Era o que elerepresentava para ela... A morte do seuprecioso bebê e o fim do casamento. Odinheiro que ela ganhava sozinha vinhasem aquele peso, sem aquelesofrimento.

– O seu amigo fazendeiro sabe quevocê é uma mulher rica?

Ailsa arregalou os olhos.– O que você está insinuando? Você

acha que ele me procura porque eutenho dinheiro? Obrigada, Jake. Vocêrealmente sabe como fazer com queuma mulher se sinta especial!

Ela pegou o prato, empurrou a

Page 128: Harlequin - esposa perdida

Ela pegou o prato, empurrou acadeira e se afastou. Apoiou-se nabancada de granito e tentou se acalmar.Jake soltou a xícara e foi atrás dela.

– Eu não queria sugerir que ele gostade você por causa do dinheiro. Sóqueria alertá-la para tomar maiscuidado. Não quero que ninguém seaproveite de você, Ailsa. Algumas vezesvocê é confiante demais para o seupróprio bem.

– O que lhe importa?– E precisa perguntar?– É porque sou mãe da sua filha?

Esse é o único motivo que você pode terpara se importar comigo.

Jake se encolheu como se ela o

Page 129: Harlequin - esposa perdida

Jake se encolheu como se ela otivesse atacado fisicamente. Por que,naquele exato momento, a cicatriz noseu rosto a comovia maisprofundamente do que nunca? Antesque percebesse, Ailsa ergueu a mão epassou os dedos sobre a marca áspera.

– Não faça isso!Ela ignorou o protesto e encostou a

mão no seu rosto. Os pelos da barbaque despontava no seu queixolembravam veludo.

– Sinto muito se disse algo que omagoou – falou ela docemente. Jakesegurou-a pelo pulso e afastou sua mão.

– E eu sinto muito que você penseque eu não me importo com você. Não

Page 130: Harlequin - esposa perdida

é verdade...Enquanto o coração de Ailsa batia

pelos cruéis eventos que tinham lhescausado tanto sofrimento e os separado,o seu corpo parecia ser atraído pelodele, e ela se deixava levar pelo seucalor e pelas lembranças, pela dor e pelodesejo.

O desejo prevalecia. Incendiava o seusangue e corria impiedosamente porsuas veias, enquanto Jake, semnenhuma sutileza, se apossavaavidamente de seus lábios. O maischocante é que ela não tentava afastá-lo. Sentir o gosto dele era suficientepara que ela se lembrasse do queperdera... Do que tanto desejara

Page 131: Harlequin - esposa perdida

quando ele fora embora. Apesar desaber que aquele vício era um caminhoque só a levaria a um maior desespero,Jake era como uma droga da qual elasentisse falta. Enquanto ele alimentavaa paixão que já a consumia, ele passavaas mãos por seu cabelo, descia-as porsuas costas e puxava-a pelos quadris.Ailsa sentiu a evidência do desejo deJake pressionada contra a sua barriga.Apesar de se sentir derreter e de seusmamilos despontarem sob o suéter, elaficou chocada. Sabia exatamente o queestava provocando... A loucura e aautodestruição daquele ato. Achariarealmente que aquele comportamento

Page 132: Harlequin - esposa perdida

irracional consertaria tudo? Se achasse,estava delirando.

Ela interrompeu o beijo e passou osdedos sobre os lábios trêmulos.

– Esta não é uma boa ideia, Jake.– Para mim, parece ótima. – O

sorriso que ele deu deixou-a de pernasbambas.

– Mas não é. Você realmente achaque uma transa quente na cozinha vaiajudar a resolver nossos problemas?

Ele ficou chocado e, depois, zangado.– Isso soa incrivelmente frio. Pode

ser que você não precise de calorhumano de vez em quando, mas eupreciso. E não tenho vergonha disso. Eunão pensei que o que estava

Page 133: Harlequin - esposa perdida

acontecendo fosse nos ajudar. Só medeixei levar pelo momento.Antigamente, você apreciava a minhaespontaneidade... Eu vou subir paratrabalhar. Eu lhe diria para me chamarse precisar, mas, como duvido que vocêprecise de alguma coisa, esqueça. – Elefoi até a porta e se voltou com um olhardebochado. – Pensando bem, talvezvocê prefira chamar o seu amigofazendeiro. Você parece não seincomodar por ele lhe oferecer ajuda epresentes!

ABALADA COM o comentário sarcásticode Jake, Ailsa foi para a sala e paroudiante do pinheiro, imaginando de

Page 134: Harlequin - esposa perdida

onde tiraria ânimo para enfeitar aárvore de Natal. Sentia-se arrasada porJake acreditar que ela não precisava decontato humano. Se ele soubesse oquanto ela gostara de se sentirabraçada... Se soubesse que serabraçada e beijada por ele lhe dera asensação de voltar para casa...

Ela conteve as lágrimas e foi reavivaro fogo da lareira com algumas achas demacieira, pensando que o Natal erauma festa centrada na família e quesentia falta de Saskia. O que sua filhadiria se a visse tão hesitante paradecorar o pinheiro com as bolas eenfeites que haviam preparado juntas?

– Vamos, mãe – diria Saskia. – É

Page 135: Harlequin - esposa perdida

– Vamos, mãe – diria Saskia. – Équase Natal! Não fique triste...

Não querendo desapontar a filha,Ailsa esqueceu a hesitação. QuandoSaskia voltasse, encontraria uma árvorede Natal maravilhosa. Ela foi até a portados fundos e se preparou para enfrentara neve: calçou as botas, vestiu o casaco ecolocou um chapéu. Saiu e abriucaminho através da neve, até chegar aoateliê, no jardim. Pegou uma grandecaixa de enfeites e dois longos fios comlâmpadas brancas. Voltou para casa,tirou as botas, o casaco e o chapéu, elevou a caixa para a sala. Assim queentrou, sentiu imediatamente o calordo fogo e o cheiro de maçã. Aquilo

Page 136: Harlequin - esposa perdida

fazia com que a atmosfera se tornassenatalina.

Ela colocou a caixa ao lado da árvore,foi até o outro lado da sala e ligou o CDplayer. Um arranjo orquestral de SilentNight, acompanhado de um coral, soouno ambiente. Ela soltou um suspiro desatisfação e começou a decorar opinheiro.

SENTADO NA cama, abraçando osjoelhos, Jake não conseguia seconcentrar em trabalhar. O e-mail quea secretária lhe entregara antes de elesair de Copenhagen teria que esperar,fossem quais fossem as consequências.

Ele ouviu as notas da sua canção

Page 137: Harlequin - esposa perdida

Ele ouviu as notas da sua cançãopreferida de Natal. Apoiou-se nostravesseiros e colocou as mãos sob acabeça. A música parecia querermergulhá-lo em um estado de puracontemplação, mas seria difícil. Ficaratão furioso com Ailsa por ela quase tê-loempurrado e rejeitado que deixara quea sua mágoa o consumisse. Realmenteseria uma transa quente! Ele nãopretendia beijá-la, mas o que estiverasentindo desde que a vira novamentefora se acumulando e se tornara difícilde conter. Como uma represa prestes aexplodir.

O beijo que ele lhe roubara forainevitável e espontâneo... E

Page 138: Harlequin - esposa perdida

maravilhoso. Ele ainda sentia o corpolatejar de desejo por ela. Durante muitotempo, depois que tinham se separado,suas roupas ainda tinham o perfume deAilsa. Fora uma tortura sentir o seucheiro e não poder tocá-la. Passava osdias em agonia por ela não estar ao seulado. Nenhuma outra mulher fazia comque ele sentisse o que sentia por ela...Adeus, contemplação...

Jake resmungou, deitou de lado eficou olhando a neve cair do lado defora da janela. Por fim, esgotado física eemocionalmente, caiu no sono.

O TERCEIRO CD com canções de Natalestava quase no fim quando Ailsa se

Page 139: Harlequin - esposa perdida

afastou e apreciou o seu trabalho. Osenfeites feitos a mão, que ela e Saskiatinham criado durante o ano, estavamlindos. As bolas coloridas, os sinos e opiscar das lâmpadas brancasacrescentavam uma aura de magia àdecoração. Assim que o dia começasse aescurecer, o efeito se tornaria aindamais encantador. Satisfeita com o seutrabalho, ela cantarolou a música quetocava. Era In the Bleak Winter. Nãoera uma canção muito alegre, mas elaadorava. A dirigente do orfanato ondeela crescera costumava dizer que elaherdara a tendência irlandesa para astragédias.

A única coisa que Ailsa sabia sobre

Page 140: Harlequin - esposa perdida

A única coisa que Ailsa sabia sobresua mãe era que ela era irlandesa e quea tivera aos 16 anos. Anos mais tarde,procurara localizá-la, mas não obtiverasucesso. Quando estava casada comJake, ele sugerira que eles contratassemum detetive para procurá-la, mas elarecusara. Depois de tanto tentarlocalizar sua mãe, resolvera que nãovalia a pena. Era suficiente saber quefora abandonada e, portanto,indesejada. Se sua mãe quisesseencontrá-la, teria tentado procurá-la háanos. Na verdade, ela tivera medo denão suportar uma nova rejeição.

Ailsa afastou as lembranças ecomeçou a recolher os enfeites que não

Page 141: Harlequin - esposa perdida

usara.– Pessoalmente, eu prefiro The Holly

and the Ivy ou Silent Night. Esta, comodiz o título, é sombria.

De costas para ele, carregando acaixa, Ailsa levou um susto e se virou. Aprimeira coisa que notou foi que eleestava despenteado. A segunda, que elefalara em um tom amigável, como sequisesse se desculpar por ter ficadoirritado.

– Eu já toquei Silent Night.– Eu ouvi. Ela me fez dormir.– Você deveria estar precisando de

descanso. Gostou da árvore?Ele observou a árvore e deu um

sorriso caloroso.

Page 142: Harlequin - esposa perdida

– Está magnífica. Gostaria que Saskiaestivesse aqui para ver. – Assim que eleacabou de falar, pareceu se arrepender.Ailsa se perguntou se seria por eletemer uma resposta e, em vez de sedeixar levar pelas emoções, ela lheofereceu um sorriso.

– Ela vai ver quando voltar para casana véspera do Natal. Além disso, tenhocerteza de que a sua mãe montou umaárvore igual ou mais bela.

– Tem razão... Nem que seja porquea neta está com ela.

– Vai ser difícil para ela... O primeiroNatal sem o seu pai.

– Claro – disse ele, com um olhardistante. – O fato de Saskia ficar com

Page 143: Harlequin - esposa perdida

ela até o dia anterior fará toda adiferença.

O ressentimento que Ailsa sentia porJake não ter trazido a filha de volta sedissipou. Ela não suportava a ideia dacarinhosa e delicada Tilda Larsen passaro Natal sozinha, sem o homem queamara desde a infância. De repente, elase sentiu feliz por Saskia ter ficado coma avó.

– Você vai passar o dia de Natal coma sua mãe?

– Esse era o plano... Se a era glacialpermitir.

Ailsa sentiu a caixa pesar e colocou-ano chão. Quando ia levantar, viu umbrilho dourado entre os enfeites.

Page 144: Harlequin - esposa perdida

Acabara de encontrar o anjo para oqual Saskia fizera uma linda bata. Ela secomoveu e o mostrou a Jake.

– O querubim que fica no topo daárvore. Na Dinamarca, vocês costumamcolocar uma estrela, mas aqui semprecolocamos um anjo. Saskia passou horasescolhendo o tecido da sua roupa. É umpouco extravagante, eu sei... Mas éNatal.

– Você acha que a nossa menina éextravagante? – perguntou Jake comironia. Ela sorriu e deu de ombros.

– Ela é muito feminina... Adora searrumar e gosta de coisas bonitas. Nãose parece comigo quando criança. Euera um verdadeiro moleque. Só ficava

Page 145: Harlequin - esposa perdida

feliz vestindo jeans e camiseta, cobertade lama do jardim, onde geralmente euestava estudando a população deminhocas.

– E depois de estudá-las, o que vocêfazia?

– Eu as levava para casa, para mostrara todos, claro!

– Você devia dar muito trabalho aquem cuidava de você.

– Aos dirigentes do orfanato, vocêquer dizer? Eu não devo ter sido fácilpara eles. Nunca fui do tipo de ficarsentada no canto. Estava sempreaprontando alguma coisa que nãodevia... Uma verdadeira rebelde. Umavez, me escolheram para adoção, mas

Page 146: Harlequin - esposa perdida

eu sempre fugia. As pessoas que meadotaram eram boas e carinhosas, maseu já estava tão acostumada com oorfanato que continuava tentando fugirde casa. No fim, eles decidiram que nãosabiam como lidar com uma garota querejeitava todo o amor que tinham paralhe dar.

Jake ficou calado e colocou a mão nopeito. Ailsa enrolou o dedo em umcacho de cabelos e o encarou. Era comomergulhar em um profundo lago azul.

– Com isso, foi difícil encontrar maisalguém que quisesse me adotar. Eu eraindomável, não a garota doce emaleável que todos queriam que eufosse.

Page 147: Harlequin - esposa perdida

– Você parece ter muita raivacontida... De acordo com ascircunstâncias, é compreensível.

– Quem sabe? Isso é passado, não é?– Sim. É passado. Você quer que eu

coloque o querubim no topo da árvore?– perguntou ele.

– Sim, por favor.Ele era alto o bastante para não

precisar de uma cadeira em que subir.Quando se esticou, o suéter e acamiseta se colaram ao seu tronco. Ailsaengoliu em seco. Jake sempre secuidara, mas estava mais firme e forteque nunca. Ela sufocou um gemido.Ainda sentia o seu gosto nos lábios, naboca... A lembrança do beijo a

Page 148: Harlequin - esposa perdida

perseguia. De repente, todo o seu corpoficara em alerta. Quando Jake se voltou,ela disfarçou.

– Está ótimo. Perfeito. Saskia vaiadorar.

– Há algo mais em que eu possaajudá-la?

– Não. Acho que não.– Que tal pendurar algumas luzes na

frente da casa? Nós sempre fazíamosisso. Lembra?

A lembrança foi tão doce que osolhos dela se encheram de lágrimas.Para disfarçar, Ailsa pegou a caixa deenfeites e se dirigiu à porta, mas,percebendo que se afastava delenovamente, ela se voltou.

Page 149: Harlequin - esposa perdida

– Eu me lembro. Mas lá fora estágelado. Você realmente está querendofazer isso?

– Acho que seria uma bela surpresapara Saskia, você não acha?

Isso foi o bastante para Ailsa aprovara ideia. Jake sempre fizera questão deenfeitar a casa pessoalmente.

– Eu vou até o atelier para pegar maislâmpadas.

– Não, fique aqui. Diga-me onde elasestão, e eu vou pegá-las.

Ailsa ainda estava segurando a caixade papelão. Quando Jake parou diantedela e sorriu, ela ficou tão perturbadaque soltou a caixa e o seu conteúdo se

Page 150: Harlequin - esposa perdida

espalhou pelo chão, formando umcaleidoscópio de cores.

– Como sou desajeitada! – exclamou,abaixando-se para recolher os enfeites.

– Não diga isso. – Ele a ajudou alevantar. As mãos de Jake pareciamqueimar seus braços, mas Ailsa estavatão fascinada com a sua proximidade ecom o que via em seus brilhantes olhosazuis que não conseguiu se soltar...

Page 151: Harlequin - esposa perdida

CAPÍTULO 5

– VOCÊ É linda e graciosa.Como os dois estavam em guerra há

tanto tempo, foi difícil para ela aceitar oelogio.

– Não me diga palavras amáveis.– Por que não? – Ele ficou

perturbado ao ver que ela estava com osolhos úmidos.

– Porque, se você for amável comigo,eu não posso ficar zangada – sussurrou

Page 152: Harlequin - esposa perdida

ela, desesperada.Quase sem perceber, ela se

aproximara de Jake. E jamais iria saberquem fez o primeiro movimentoporque, assim que seus lábios seencontraram, Ailsa se sentiu perdida...Envolvida em um turbilhão do qual nãotinha vontade de sair. Não tinha dúvidasobre se deixar levar pelo desejo.Beijou-o com o mesmo ardor com queele a beijava. Abraçou-o pela cintura eficou intimamente deliciada ao sentirsua poderosa ereção, o seu calor. Talvezfosse disso que ela mais sentira falta.

Jake recuperou a sanidade antesdela.

– Se não pararmos agora, você sabe

Page 153: Harlequin - esposa perdida

– Se não pararmos agora, você sabecomo isso vai terminar, não sabe? Estápronta para isso, Ailsa? É isso que vocêquer?

Ela não queria que ele tivesse lheperguntado. Se tivesse continuado abeijá-la, ela estaria muito fraca dedesejo para dizer alguma coisa e sedeixaria ser seduzida por ele. Mas Jakelhe dera uma escolha e, agora, teria queagir de acordo com a razão.

– Sinto muito – murmurou elaenvergonhada, afastando-se dos braçosdele. – Foi um momento de fraqueza.

– O que existe entre nós nunca foifraco ou desapaixonado. Sempre foiuma tempestade elétrica. Pelo visto, as

Page 154: Harlequin - esposa perdida

coisas não mudaram tanto comopensávamos.

– Não posso negar. – Ela estava tristepor Jake ter parado de beijá-la e peloacidente que destruíra as esperançasdos dois e os separara. Queria encontrarum jeito de se livrar da tristeza, masnão conseguia. – Mas eu sei que, secedermos, vamos satisfazer um impulsomomentâneo que não irá consertar asituação. Nós construímos vidasseparadas que podem não ser perfeitas,mas que impedem que nos acusemosmutuamente pelo que aconteceu e queestejamos sempre ressentidos. No final,nós éramos tão cruéis um com o outroque era triste. Aumentamos o nosso

Page 155: Harlequin - esposa perdida

sofrimento fazendo com que ambos nossentíssemos culpados. Pelo menos,agora, nós e Saskia temos paz.

– Paz? É assim que você chama? –perguntou ele com desdém. – Alembrança do acidente me persegue diae noite como um bando de lobosraivosos. O que quer que eu faça, aondequer que eu vá, nunca me livro daagonia. Fico feliz por você algumasvezes se sentir em paz, Ailsa, mas eununca me sinto... Eu ia colocar asluzes... Vou pegar as lâmpadas.

Ele saiu antes que ela pudesse dizeralgo.

AILSA COLOCOU mais uma acha de

Page 156: Harlequin - esposa perdida

AILSA COLOCOU mais uma acha demacieira no aquecedor a lenha epercebeu que fazia muito tempo queJake estava lá fora. Mais cedo,lembrando-se de que ele não bebiamais álcool, ela lhe levara uma canecade vinho quente sem álcool. Ainda emcima da escada, ele pegara a caneca,agradecera, bebera e recomeçara atrabalhar. O abismo de tensão e demágoa entre eles era como uma lasca degelo encravada em seu coração.Quando o tempo permitisse que elevoltasse para casa, esse abismo estariamais aprofundado? Preocupada com osefeitos que isso poderia causar na filha,ela concluiu que eles precisavam dar

Page 157: Harlequin - esposa perdida

um jeito de fazer as pazes e foi para acozinha. Quando chegou, Jake estavaentrando pela porta dos fundos.

– Terminei. Você gostaria de daruma olhada?

O brilho nos olhos dele deixou-a semfala. Era muito fácil entrar em transe aoolhar para ele.

– Espere um minuto. Vou pegar omeu casaco.

Na frente da casa, as luzes brancasformavam arcos concêntricos como umcolar de diamantes. Ainda que ela fosseboa em artesanato e tivesse olho para aarte, nunca teria feito algo tão bonito.Estava comovida por Jake ter se dadotanto trabalho em um tempo frio como

Page 158: Harlequin - esposa perdida

aquele, mas reparou como o ventodeixara o seu rosto vermelho e ficoupreocupada.

– Você fez um excelente trabalho.Saskia vai ficar encantada.

– Vai ficar ainda mais bonito quandoestiver aceso.

– Sim, mas agora você precisa entrare se aquecer. Parece estar congelado.Está com fome? Eu vou fazersanduíches e café.

– Isso me parece ótimo.Jake tirou as botas e o casaco e

esfregou as mãos geladas para reativar acirculação. Não se lembrava de já tersentido tanto frio, mas o trabalho valeraa pena, quando percebera o entusiasmo

Page 159: Harlequin - esposa perdida

na voz de Ailsa ao imaginar a alegria dafilha.

Ele sentia falta da sua garotinha...Tudo que queria era vê-la abrir ospresentes de Natal e abraçá-la.Infelizmente, isso seria impossívelporque ela estaria na Inglaterra, e ele,em Copenhagen. Durante os últimosquatro anos, passara o Natal sozinho,recusando até os convites da mãe paraque passasse as festas com ela e seu pai.A relação entre pai e filho se tornaracada vez mais tensa desde que Jakequisera introduzir inovações naempresa. Em vez de ficar satisfeito comas ideias do filho, seu pai as encararacomo uma tentativa de usurpá-lo. Não

Page 160: Harlequin - esposa perdida

importava o que fizesse, Jake nuncaconseguia a sua aprovação.

Jake suspirou. Saskia passar o Natalcom Ailsa já virara tradição, e ele nãoreclamava disso por causa da culpa quesentia dos seus erros do passado. Se nãopodia estar com a filha, preferia ficarsozinho.

Ele entrou na cozinha e encontrouAilsa cantarolando uma canção deNatal, enquanto cortava o pão. Derepente, percebeu que não era só com afilha que gostaria de passar o dia deNatal. Sabendo que a ideia aumentariaa dor de cabeça que sempre sentia, Jakepreferiu esquecê-la.

– Eu faço o café, tudo bem?

Page 161: Harlequin - esposa perdida

– Você faz?Ela deu um sorriso que quase o

derrubou. Apesar de ter passado horasno frio, o corpo de Jake sentiu um calorque seria capaz de incendiar umafloresta... Abraçá-la e fazer amor comela uma última vez...

– Jake? Você está bem?– Pergunta capciosa... – Ele riu e foi

acender o fogo da chaleira. – Ondevocê guarda o café?

– Eu comprei café colombiano.Gostaria de experimentar? Está norecipiente de porcelana que a sua mãeme deu no nosso primeiro Natal juntos.

Ele abriu o recipiente e apreciou ocheiro do café.

Page 162: Harlequin - esposa perdida

– Você me acompanha ou preferetomar o costumeiro chá?

– Vou tomar uma xícara de café comvocê. Use o bule maior se quiser.

– Vai romper sua rotina?Ela parou de passar a manteiga no

pão.– Gosto de tomar café, de vez em

quando. Você faz com que eu pareçaser totalmente previsível.

Jake sorriu.– Eu jamais poderia acusá-la de ser

previsível. Na verdade, a suaimprevisibilidade me manteve semprealerta durante o nosso casamento.

– Isso faz com que eu não pareça serconfiável. Por que eu o deixava alerta?

Page 163: Harlequin - esposa perdida

– perguntou ela, irritada.– Não que você não fosse confiável,

mas dizia que iria fazer uma coisa e,logo em seguida, mudava de ideia.Precisamos entrar em detalhes? – Elemediu cuidadosamente duas colheresde café. – Não é suficiente que eu tenhaficado fascinado com a suapersonalidade aventureira? Eu nãoestava reclamando.

– Então, tudo bem. – Ela voltou aossanduíches.

Jake não sabia por que, mas ficaraanimado por Ailsa se importar com oque ele achava dela. Poderia estar seagarrando a fiapos, mas não importava.

Enquanto ele preparava o café, ela

Page 164: Harlequin - esposa perdida

Enquanto ele preparava o café, elaacabou de fazer os sanduíches e sentou-se à mesa.

– Venha comer.Quando ele por fim se sentou diante

dela, apoiou os cotovelos na mesa ecruzou as mãos, sem tocar no café ouna comida. Preferia contemplar aslindas feições de Ailsa. E, toda vez queela olhava para ele, Jake sentia ocoração dar um salto dentro do peito.

– Você está a quilômetros dedistância. Em que está pensando? –perguntou ela.

Jake se lembrou de que ela semprelhe fazia aquela pergunta. Geralmente,ele estava pensando nela. Em como ela

Page 165: Harlequin - esposa perdida

era adorável e ele tinha sorte por tê-laconhecido e casado com ela. Era umapena que nunca tivesse dito isso em vozalta. Principalmente porque agora elesabia que Ailsa nunca se sentira boa obastante.

– Eu estava pensando no quantoSaskia se parece com você – Jake ele.Não era totalmente mentira, porque eleàs vezes ficava comovido ao ver a filhasorrir, lembrando-o de Ailsa...

– Ela tem os seus incríveis olhos –comentou ela, estremecendo.

A temperatura de Jake subiurapidamente.

– De onde eu venho, olhos azuis sãomuito comuns.

Page 166: Harlequin - esposa perdida

– Mas existem vários tons de azul...O azul dos seus é particularmenteincomum. O tom é igual ao do céu aoanoitecer.

Os olhares dos dois se cruzaram e seprenderam com uma ânsia quemiraculosamente não fora enterradasob as cinzas do passado. Jake tinhamedo de respirar e de romper aquelaconexão.

– Posso servir o café? – Ailsa colocouum pouco de café nas canecas que Jaketrouxera para a mesa. Ele notou que elatremia levemente. – Eu preciso de umpouco de leite e açúcar. Não consigobeber café puro. – Ela levantourapidamente da cadeira e se afastou,

Page 167: Harlequin - esposa perdida

deixando o aroma do seu perfume noar.

Jake sentiu o coração se contrair comtanta força que precisou colocar a mãono peito para amenizar a dor.

– Saskia lhe disse o que gostaria deganhar do Papai Noel? Precisamosconversar para não darmos presentesiguais. – Ela voltou à mesa, colocou umpouco de leite e de açúcar no café,tomou um gole e sorriu. – Hum... Estádelicioso.

Jake sentiu uma pontada de culpa aose lembrar do envelope que a filha lheentregara, antes de ele sair, e que elejogara dentro da mala.

– Eu pensei em algumas coisas que

Page 168: Harlequin - esposa perdida

– Eu pensei em algumas coisas queela poderia gostar, mas, antes que eusaísse, ela anotou alguns pedidos ecolocou dentro de um envelopeendereçado a nós dois. Mais tardepodemos dar uma olhada, se vocêquiser.

– Ótima ideia... Mas ela nunca pedemuita coisa. – Ailsa pareceu ficarpreocupada. – Eu sei que as crianças seadaptam facilmente... Deus sabe que, àsvezes, com as coisas que elas precisamenfrentar, isso é necessário... Perdas,doenças, divórcios... Eu tenho asensação de que Saskia não diz nadaquando algo a aborrece. Você já teveessa impressão?

Page 169: Harlequin - esposa perdida

Ela tinha acabado de dizer algo queele sentia algumas vezes com relação àfilha.

– Já. Foi por isso que eu achei umaboa ideia deixar que ela passasse maistempo com a minha mãe. Pensei que, seela estivesse aborrecida com algumacoisa, seria mais fácil dizer à avó do quea nós.

– Criar um filho pode sereventualmente difícil. Quer dizer, émaravilhoso, mas às vezes a gente perdeo sono pensando se não está fazendotudo errado... Você tem medo de terdeixado passar algo muito importante,que mais tarde vai refletir na vida dele.Entende o que eu quero dizer?

Page 170: Harlequin - esposa perdida

Apesar de os dois dividirem acustódia da filha, a pergunta não erafácil de responder, porque a maior parteda responsabilidade por Saskia recaíasobre Ailsa. Jake desejava que fossediferente. Se eles tivessem escapado daterrível tormenta que se formara depoisdo acidente... Se eles... Ele interrompeuseus pensamentos, irritado e impacienteconsigo mesmo por ter se deixado levarnaquela direção.

– Entendo. Mas creio que todos ospais fazem o melhor que podem e, seamam seus filhos incondicionalmente,não importa o que aconteça, tudo darácerto.

– Estou certa de que você tem razão.

Page 171: Harlequin - esposa perdida

– Estou certa de que você tem razão.– Ailsa entregou um prato para ele edeu um sorriso hesitante. – Coma o seusanduíche. É só presunto commostarda. Nada de extravagante. Vocêdeve estar com fome.

– Você também deve comer o seu.Hoje de manhã você comeu muitopouco.

– Está querendo me engordar? –brincou ela.

– Contanto que você esteja feliz ebem, eu não me importo com o seutamanho – disse ele em voz baixa.

Ailsa suspirou e desviou os olhos.– Eu estou bem e estou feliz... Só

que... Deixe para lá.

Page 172: Harlequin - esposa perdida

– O quê é? Fale.– Eu gostaria que tivéssemos

conversado mais, quando estávamosjuntos. Você sempre parecia estar tãoocupado com os negócios da famíliaque não sobrava tempo para outra coisana sua vida. Seja lá como for... Eu nãoquero brigar novamente. Vamosesquecer esse assunto. Vamos apenascomer e beber o nosso café. – Ela olhoupela janela e estremeceu. – Vamos ficarsentados aqui no calor e olhar para aneve, sabendo que não precisamos ir aqualquer lugar ou fazer qualquer coisa.

Ao ouvi-la admitir o que ele semprepensara, Jake se perturbou erelutantemente concordou.

Page 173: Harlequin - esposa perdida

– Tudo bem. Se é isso que vocêquer...

– Você nunca foi muito bom pararelaxar.

– Ah! E você era?– Pelo menos, eu sentava e fazia

tricô... Fazia algo produtivo e relaxavaao mesmo tempo.

– Você vai sugerir que eu comece atricotar?

Ailsa soltou a caneca que levava àboca e colocou a mão no peito,tentando controlar uma gargalhada.Mas não conseguiu.

– Seria a coisa mais engraçada domundo.

– Que bom que você pense assim. –

Page 174: Harlequin - esposa perdida

– Que bom que você pense assim. –Ele retorceu os lábios para esconder oriso, mas não foi fácil. Testemunhar aalegria daquela linda mulher era maisperigoso para suas defesas que qualquercoisa que ele pudesse imaginar. Aquiloo lembrava de quantas vezes a suairritação fora abafada pelo bom humorde Ailsa. Era mais uma coisa de que elesentia saudade. No momento, a não serquando ele estava com a filha, o seumau humor prevalecia.

– Não seja tão rígido – debochou ela.– O número de homens que fazem tricôestá crescendo.

– Você está exagerando. – Desta vez,Jake não conteve um sorriso. – Além

Page 175: Harlequin - esposa perdida

disso, eu não tenho os dedos finos eelegantes como os seus. As minhasmãos são muito grandes para manejaras agulhas!

– Deixe-me ver.Antes que ele pudesse impedir, Ailsa

pegou nas mãos dele. Quando elaconteve a respiração, Jake sentiu ocoração se encolher. Ela estavaexaminando o emaranhado decicatrizes na sua pele, algumas,profundas e retorcidas, outras, claras efinas.

– Eu tinha me esquecido delas –murmurou ela em voz baixa.

Ele queria puxar as mãos e mantê-lasfora de vista para que ela não se

Page 176: Harlequin - esposa perdida

lembrasse do que tinha acontecido comos dois e para que ele não se recordassede que falhara na missão de protegê-lae ao bebê, mas Ailsa não as soltava.Pelo contrário: passava os dedoslevemente sobre as cicatrizes, e o toquede seus dedos era macio e carinhosodemais para que ele quisesse evitá-lo.

– Eu sempre adorei as suas mãos,sabia? – Ela fitou os olhos dele. – Nãoimporta que tenham cicatrizes. Elas nãoo diminuem nem um pouco, Jake. Vocêtem essas cicatrizes porque estava meprotegendo... Elas são heroicas.

O coração de Jake bateu mais forte.Por um momento, a sensação de sufocoo impediu de raciocinar. Quando ele

Page 177: Harlequin - esposa perdida

voltou a pensar, puxou as mãos eesfregou-as, desgostoso.

– Elas não são heroicas – murmurouele, zangado. – Na verdade, eu nãoprotegi você, protegi?

Ailsa ficou chocada.– Tudo aconteceu muito rápido... Foi

como um sonho terrível, um pesadelo.O que mais você poderia ter feito? Vocêfez tudo que podia para me proteger eao bebê. Você arriscou a sua vida pornós e ficou seriamente ferido.

Jake pegou um sanduíche e deu umamordida, mas só conseguiu sentir gostode papelão porque o seu sabor foratemperado com a angústia e osofrimento.

Page 178: Harlequin - esposa perdida

Ele recolocou o sanduíche no prato,afastou a cadeira e levantou. Quandochegou à porta, ergueu as mãos em umgesto de desculpa.

– Eu não posso fazer isso. Não possocontinuar revivendo o que aconteceu.Acabo sentindo que a minha vidainteira foi um desperdício.

– Isso é terrível. Como pode acharisso, nem que seja por um instante? Equanto à nossa filha? Como acha queela se sentiria, se o ouvisse falandodesse jeito? Como se você tivessedesistido de tudo? Talvez ela achasseque nunca teria uma chance de fazê-lofeliz?

Sabendo que odiaria que Saskia o

Page 179: Harlequin - esposa perdida

Sabendo que odiaria que Saskia oouvisse falando daquele jeito ou que elaachasse que sua existência não tinhanenhum significado para ele, Jaketentou se acalmar e olhou para o rostocada vez mais preocupado de Ailsa.

– Que grande herói, hein? – Ele fezuma careta, voltou-se e subiu para o seuquarto.

Page 180: Harlequin - esposa perdida

CAPÍTULO 6

O COMENTÁRIO autodepreciativo deJake soava no ar, deixando Ailsa comvontade de chorar.

Ele era um herói! Ela entrara empânico por ter sido muito dura com elena época do acidente e durante o longotempo de recuperação que se seguiu.Toda a sua dor e a sua raiva pela perdado bebê e pelo fato de saber que nãopoderia mais engravidar tinham sido

Page 181: Harlequin - esposa perdida

dirigidas contra Jake. Não admira queele tivesse pedido o divórcio!

Ela sentiu o coração bater mais fortequando se lembrou de que, antes doacidente, eles já estavam comproblemas. Nunca conversavam porqueele estava sempre trabalhando. Nuncadiscutiam sobre o que era importantepara cada um, nunca descobriramquem realmente eram, o que os levara aser as pessoas que tinham se tornado.Simplesmente viviam como se osproblemas fossem se resolver sozinhos etudo fosse ficar bem novamente.

O único lugar onde Jake revelavaseus sentimentos era na cama. Por maismaravilhosos que isso fosse, não fora

Page 182: Harlequin - esposa perdida

suficiente para que o relacionamentodos dois fosse duradouro. Elesdeveriam ter construído uma base parao relacionamento formada pelafranqueza, pelo respeito e pela verdade,que os tivesse sustentado durantetempos difíceis, mas não tinham feitoisso. Bastava dar uma olhada para ovazio dos olhos de Jake para que Ailsapercebesse o quanto ele sofrera... Talvezde maneira insuportável. Ela não tinhadúvida de que a morte do pai agravarao seu sofrimento.

Ailsa percebeu que precisava fazeralguma coisa. Quando Jake fosseembora, deveria ir sabendo que ela nãoqueria colaborar para o seu sofrimento.

Page 183: Harlequin - esposa perdida

Se o convencesse de que só queria omelhor para ele, que o perdoava pelamaneira como as coisas tinham acabadoentre os dois, que ela se arrependia deter dito e feito coisas que o tinhammagoado, talvez... Talvez, desta vez,eles pudessem se separar como amigos?

Agitada, ela embrulhou os restos desanduíche e colocou-os na geladeira.Naquela noite, faria um delicioso jantarque pudesse simbolizar uma oferta depaz, um novo começo para os doiscomo amigos. Mas ela não queria Jakeapenas como amigo... Queria...Queria...

Com um suspiro triste, ela serecordou do delicioso calor dos lábios

Page 184: Harlequin - esposa perdida

sedutores de Jake, de como o seu corpose encaixava perfeitamente no dele,como se tivessem sido feitos um para ooutro. E, de repente, como um golperápido que ela não pudesse evitar, alembrança do filho crescendo dentro doseu ventre que Jake beijava todas asnoites, antes de dormir, ressurgiu edeixou-a arrasada.

Ailsa abafou um soluço e dirigiu oolhar angustiado para a neve que caíado outro lado da janela, abraçou osombros e pensou na filha, a queridaSaskia. O seu coração acalmou, pois,dentro de alguns dias, Saskia voltariapara casa.

Ela rezou para que ela e Jake

Page 185: Harlequin - esposa perdida

Ela rezou para que ela e Jakeencontrassem um jeito menostraumático e doloroso de passar otempo que lhes restava juntos. Pegou olivro de receitas. Já resolvera o que iriafazer para o jantar...

JAKE ABRIU os olhos no escuro epercebeu que havia dormido. Em umminuto, estava deitado, olhando o teto,com o coração apertado e ospensamentos confusos e, no minutoseguinte... Apagara como uma lâmpada.O cansaço emocional que sentia desdeo acidente o atingira como vingança e oderrubara com um soco digno de umcampeão de boxe.

Page 186: Harlequin - esposa perdida

Ele sentou, passou os dedos por entreos cabelos e esfregou o peito, porque ocoração parecia doer. Às vezes, quandodespertava, a sombria sensação deperda o aprisionava.

– Santo Deus...O tom áspero da própria voz pareceu

desolado até mesmo para seus ouvidos.Recobrar a consciência foi outroproblema. Ele dormira profundamente,mas sonhara. Sua cabeça ainda estavacheia de imagens de Ailsa... Do seuolhar cor de âmbar ardente, do seulongo cabelo sedoso, da sua silhuetadelicada e da sua pele de veludo. Omais perturbador é que as imagenseram extremamente eróticas. Jake

Page 187: Harlequin - esposa perdida

percebeu que, se as estradas não fossemlogo liberadas, ele estaria comproblemas. Sentir desejo pela ex-mulhernão fora uma das dificuldades que eleesperava enfrentar ao resolver fazeraquela viagem. Por que ela lhe disseraaquelas coisas, como se ainda sentissealgo por ele?

Eu sempre adorei as suas mãos...Ela admitira, tocando gentilmente as

suas cicatrizes, como se estivesse longede sentir repulsa por elas... Como seelas significassem algo precioso...

Jake sacudiu a cabeça, gemeu, sentouna cama e acendeu a luz. O diaescurecera. Se a temperatura do quartonão fosse tão baixa, ele tomaria um

Page 188: Harlequin - esposa perdida

banho frio para dominar o desejodespertado pelos sonhos eróticos quetivera com Ailsa. Agora que despertaratotalmente, preocupava-se por ela nãoter um sistema melhor de aquecimento.

Por um instante, o seu desejo sexualfoi ultrapassado pela irritação e pelafrustração de que ela não quisesse usaro dinheiro que ele lhe dera para vivermais confortavelmente. Afinal, nãohavia apenas ela a considerar. A filhados dois não merecia se beneficiar dafortuna do pai?

QUANDO JAKE desceu, o cheiro que saíada cozinha era delicioso. Ailsa estavacozinhando novamente. Ele se lembrou

Page 189: Harlequin - esposa perdida

de que não comera os sanduíches queela fizera mais cedo, e o seu estômagoroncou. Quando ele chegou à cozinha,ela estava mexendo algo em umaenorme panela de ferro sobre o fogão,de costas para ele, e o ambiente estavamuito mais quente.

– Você checou os telefones para verse eles voltaram a funcionar? –perguntou Jake.

Ailsa soltou a colher de pau, enxugouas mãos no avental e se voltou.

– Chequei. Não funcionam.– Lamentável – disse ele com mais

ênfase do que pretendia.– Sinto muito por lhe dar más

notícias. Você estava descansando? –

Page 190: Harlequin - esposa perdida

perguntou ela sorrindo, como seestivesse disposta a dissipar o mauhumor de Jake. O seu sorriso era tãoangelical que ele se sentiu grosseiro. –Você me parece menos cansado do queestava.

– O que você fez comigo? Drogou omeu café? Fez algum tipo de feitiço?Acho que nunca dormi tanto na minhavida!

Ela parou de sorrir, deu de ombros elhe lançou um olhar de pena.

– Então, deve ter sido exatamente doque você precisava. Eu estou cominveja. Não reclame. Eu estou fazendocoq au vin para o jantar. Achei que

Page 191: Harlequin - esposa perdida

seria bom fazer algo mais substancial esofisticado.

– Eu não quero que você passe o seutempo cozinhando para mim. Não souum inútil. Posso perfeitamente cozinharpara mim.

– Claro que sim. – Ela parecia terficado ofendida. Jake amaldiçoou aprópria falta de tato. – Eu estou fazendoalgo especial como oferta de trégua.Quando chegar a hora de ir embora,quero que você saiba que será bem-vindo toda vez que quiser nos visitar.

– Não me parece que a hora de irembora vá chegar tão cedo... –Perturbado por ela ter dito que elesempre seria bem-vindo, Jake foi até a

Page 192: Harlequin - esposa perdida

janela e olhou para fora. Gostaria depoder voltar para Copenhagen, adiantarseu trabalho e passar mais alguns diascom sua mãe e Saskia. Mas sua maiorfrustração era não dominar o desejotoda vez que chegava perto de Ailsa.

– O jantar estará pronto daqui a meiahora. A galinha está no forno e eu estoufazendo uma sopa de legumes comoentrada. Você se importaria de acenderas velas na sala de jantar? Há fósforos evelas na gaveta do aparador.

Jake imaginou o que estaria dispostoa fazer para vê-la dar mais um sorrisoangelical, até subir no telhado e uivarcomo um lobo. A ideia o fez sorrir.

– Claro.

Page 193: Harlequin - esposa perdida

– Qual é a graça? Eu estou com orosto sujo?

– Não. O seu rosto está perfeito. Euachei graça do que estaria disposto afazer para receber mais um sorriso seu.– Ela ficou olhando para ele, e Jakesentiu o sangue ferver e descer pelocorpo – É melhor eu ir acender as velas.

Ele acendeu a luz da sala de jantar,viu dois lindos candelabros de pratasobre o aparador e suspirou. Ailsaacabara de lhe lembrar do poder queexercia sobre ele com apenas um olhar.Ele abriu a gaveta, pegou os fósforos eacendeu um deles. Subitamente a salamergulhou na escuridão. Recuperando-se da surpresa, Jake acendeu as velas de

Page 194: Harlequin - esposa perdida

um dos candelabros e levou-o para ohall, onde quase esbarrou com Ailsa,que vinha correndo da cozinha.

À luz das chamas das velas, os seuslindos olhos amendoados brilhavamcomo os de um gato.

– Deve ter sido um “apagão”. Àsvezes isso acontece por aqui, mas faziamuito tempo que não tínhamos um.

– Por que isso não me espanta? –Pelo fato de não conseguir conter seudesejo por ela, Jake falava com irritação.– Você já checou a caixa de luz?

– Foi a primeira coisa que eu fiz.Nenhum disjuntor desligou. Estáfaltando luz.

Ele entregou o candelabro a Ailsa, foi

Page 195: Harlequin - esposa perdida

Ele entregou o candelabro a Ailsa, foibuscar o seu par e voltou.

– Vamos voltar para a cozinha.– Ainda bem que o fogão é a gás. –

Ailsa foi até o fogão e mexeu a sopa queestava na panela. – Pelo menospodemos jantar.

– O aquecimento central também é agás? – perguntou Jake, aproximando-se.Ela se voltou.

– Não... Mas temos a lareira da salade estar. Se você quiser, podemos jantarlá.

– Das outras vezes em que faltou luz,ela demorou muito para voltar?

– Da última vez demorou um diainteiro. Foi uma amolação, porque eu

Page 196: Harlequin - esposa perdida

perdi tudo que estava no congelador.Tirando isso... Nós nos ajeitamos.

Jake engoliu uma respostaatravessada. Não tinha nada a ver comonde Ailsa escolhera morar, mas oassunto era diferente quando se tratavade Saskia.

– Eu não gostei da ideia de você enossa filha se ajeitarem. Você não achaloucura morar em um lugar distante,onde se pode ficar isolado do resto domundo durante dias e sujeito à falta deluz Deus sabe por quanto tempo?

– Isso é um tanto dramático. Nacidade também falta luz. Além disso,faz muito tempo que eu moro aqui. Jáme acostumei.

Page 197: Harlequin - esposa perdida

– Pelo menos, você deveria ter umgerador. Quando acontecessenovamente, você evitaria ficar semenergia. Olhe... Provavelmente este nãoé o momento mais adequado paraconvencê-la a se mudar. Mas, desdeque vi pessoalmente o que vocês têmque enfrentar, não posso prometer quevou esquecer esse assunto.

Ailsa se abaixou para pegar os pratosno armário e colocá-los no forno paraaquecer. Quando ela se levantou, estavacorada. Jake reparou e se perguntou seela teria ficado zangada. Se ficara,parecia ter decidido não dizer nada. Porquê? A Ailsa que ele conhecera depois

Page 198: Harlequin - esposa perdida

do acidente teria explodido porqualquer motivo.

– Vamos jantar aqui, está bem? Ocalor do forno vai nos manter aquecidospor algum tempo – disse ela.

DEPOIS QUE eles sentaram, Ailsa olhoufurtivamente para o belo rosto marcadopela cicatriz, do outro lado da mesa.Estava feliz por não ter dado umaresposta irritada a Jake, quando eledissera que ela e Saskia deveriam semudar para um lugar menos distante.Ela prometera a si mesma que nadaacrescentaria ao seu sofrimento epretendia manter sua palavra. Quandoele se fosse, iria sabendo que viver “no

Page 199: Harlequin - esposa perdida

mato” não era tão inconvenientequanto imaginara. Ailsa também queriaque ele soubesse que ela estava maiscalma do que costumava ser e que foracapaz de construir uma boa vida para sie para a filha, depois da terrível tragédiaque atingira os dois e arrasara a todos.

– Eu não sei o que você viu em mimao me conhecer – disse ela sem querer.

Jake soltou o garfo e olhou para elaatravés das chamas das velas. Os olhosazul-escuros que a fitaram eram tãoatraentes que o coração de Ailsa quaseexplodiu dentro do peito.

– Isso é fácil. Eu vi uma bela mulhertímida e insegura em um ambiente como qual ela não estava acostumada, mas

Page 200: Harlequin - esposa perdida

que estava tão decidida a se sair bem notrabalho que era comovente. – Elefalara tão baixo que ela tivera que seinclinar para ouvi-lo.

– Tímida e insegura me definiamnaquela época. Eu tinha tanto medo decometer um erro que praticamente meapavorava quando o telefone tocava.

– Você era linda.– Nunca me achei bonita. Eu não

estou querendo que você me elogie. Naverdade, fiquei admirada por alguémcomo você ter olhado para uma garotacomo eu.

– Alguém como eu?– Sim... Alguém que tinha tudo: bela

aparência, dinheiro, status. Foi difícil

Page 201: Harlequin - esposa perdida

entender o interesse que você sentia pormim.

– Você não notava como os homensolhavam para você quando você entravanuma sala?

– Não, não notava. – Eu só via osseus olhos, Ailsa admitiusilenciosamente. Desde a primeira vezque o vira, ficara totalmente fascinadapor ele. A partir daquele momento,todos os outros homens que passavampor ela tinham sido relegados àcondição de sombras.

– Por que não levamos as bebidaspara a sala de estar? Aqui está ficandofrio. Podemos colocar mais lenha nofogo – sugeriu Jake, levantando-se.

Page 202: Harlequin - esposa perdida

Ailsa olhou distraidamente para ovinho em que mal tocara. Todos os seussentidos tinham despertado à ideia depassar a noite sentada diante da lareiraao lado de Jake, à luz das velas e daschamas da lareira. As mãos delatremiam levemente ao pegar o copo.

– Tem certeza de que só quer bebersuco de laranja? Não prefere uma taçade vinho? – perguntou ela.

Ele esboçou um sorriso que logo seapagou.

– Tenho.– Posso perguntar por que você não

bebe mais?– Eu não toco em álcool porque não

encontro prazer em algo

Page 203: Harlequin - esposa perdida

potencialmente tão destrutivo.O calor que Ailsa sentia por dentro

deu lugar a um arrepio gelado. Elasoltou o copo de vinho como se eletivesse se quebrado e lhe cortado amão.

– Você está se referindo ao fato deque o motorista que bateu no nossocarro estava bêbado.

Jake contraiu o queixo.– Sim, mas isso não quer dizer que

você não possa beber. Desculpe se eufui grosseiro.

– Você não foi grosseiro. Por maisdolorosa que seja, eu prefiro ouvir averdade. Acho que há muitosressentimentos entre nós dois... Nós nos

Page 204: Harlequin - esposa perdida

culpamos mutuamente por muitascoisas, Jake.

Ele ficou pensativo por algum tempoe, depois, respirou fundo e soltou umsuspiro.

– Vamos para a sala. Você leva umcandelabro e eu levo o outro. Traga oseu vinho.

– Perdi a vontade de beber.– Traga-o.Assim que arranjaram o melhor lugar

para os candelabros iluminarem toda asala, Jake sentou em um sofá, e Ailsa,no outro. O fato de teremautomaticamente se distanciadoentristeceu-a. Ela se agarrou ao copo devinho – que não pretendia beber – e

Page 205: Harlequin - esposa perdida

olhou para o fogo, apesar de suavontade ser ficar olhando para ocarismático ex-marido. E, de repente,uma ideia lhe ocorreu: e se, quandoeles acordassem, na manhã seguinte, aneve tivesse derretido durante a noite?Ele não precisaria mais ficar ali...

– Volte para mim, Ailsa.– O quê? – Ela se assustou tanto com

a voz dele que quase derrubou o vinho.No fundo, uma esperança se misturou àvontade de ser mais pragmática esensata.

– Você se retirou para algum lugaronde eu não posso alcançá-la. Eu nãogosto quando isso acontece. Ficopreocupado.

Page 206: Harlequin - esposa perdida

– Eu estava pensando que é umapena não podermos acender as luzes deNatal – mentiu ela. – Você trabalhoutanto para colocá-las.

– Faremos isso amanhã. Não poderacendê-las hoje não é o fim do mundo.

– Não, não é. Nós já vimos o fim domundo, não vimos? – A voz dela setornou um murmúrio. O galho demacieira que Jake colocara no fogoestalou e assobiou. De repente, Jakeestava diante dela e tirava o copo de suamão.

– Venha cá.Ela não discutiu. Não teve coragem.

Além disso, como poderia discutir como homem em torno de quem construíra

Page 207: Harlequin - esposa perdida

seus sonhos de felicidade e deesperança? Estar perto dele, sentir o seuhálito sobre a pele e olhá-lo nos olhosera um paraíso.

Ele olhava para ela com o olhar maisintenso que Ailsa já vira. Quando ele asegurou pelos quadris, ela sentiu o calorde suas mãos através do brim do jeans.

– Eu queria que você não sofressetanto. Pensar na sua dor quase me mata– disse Jake.

– A culpa não é sua. Às vezes... Àsvezes eu sou acometida por sentimentosterríveis... Emoções causadas pelalembrança daquele carro batendo nonosso. Ainda ouço o barulhoensurdecedor dos pneus derrapando na

Page 208: Harlequin - esposa perdida

água da chuva. Por mais que eu diga amim mesma que um dia essaslembranças e emoções irão se apagarporque essa dor não pode durar parasempre, eu realmente não acredito. Namaior parte do tempo, eu tento serpositiva e não me deixar abater,principalmente pelo bem de Saskia. Masaí alguma coisa me faz lembrar e osofrimento volta e me torna umamentirosa.

Jake segurou-a com mais firmeza, eAilsa engoliu em seco.

– Gostaria que já fosse primavera eque eu pudesse abrir as janelas pararespirar mais livremente. Algumas vezeseu me sinto tão presa que tenho a

Page 209: Harlequin - esposa perdida

sensação de não poder fugir para longeo suficiente. – Ela fungou, sabendo quesuas emoções estavam se desatando. –Mas é claro que estou tentando fugir demim mesma.

Jake não respondeu. Não precisava.Era suficiente que ela soubesse que eleestava ouvindo e compreendia. Ailsasoltou um suspiro trêmulo, e ele abeijou como se o desejo tivesse jorradoda sua alma, puro e concentrado. Se elatinha qualquer pretensão de resistir,podia esquecê-la. Rendeu-seincondicionalmente. Sob o efeito daemoção devastadora e da ânsiaselvagem que o seu coração e o seucorpo atingiam, ela se sentia um frágil

Page 210: Harlequin - esposa perdida

galho de salgueiro levado pela ventaniae mergulhado nas águas de umacorredeira.

Page 211: Harlequin - esposa perdida

CAPÍTULO 7

SEM DESCOLAR a boca dos lábios deAilsa nem por um segundo, Jakedeitou-a sobre o sofá. A ânsia e o desejolongamente contidos não podiam maisser controlados. Os dois se agarravamcomo se temessem que uma novatempestade os atingisse e separasse.Dessa vez, para sempre...

Com o corpo firme e pesado de Jakesobre o seu, Ailsa sentia o cheiro dele e

Page 212: Harlequin - esposa perdida

o perfume da colônia que ele usava.Estendeu a mão e acariciou-lhe ocabelo. Ele afastou o rosto e olhou paraela. Dessa vez, não perguntou o que elaqueria; não precisava.

Ela ficou fascinada com o rosto dele àluz das velas. Até a cicatriz lhe pareciabonita, porque agora fazia parte deJake. E, apesar de tudo que acontecera,ela sabia que ele se mostrara forte etenaz. Como uma marca cruel poderiadiminuir ou macular o seu espíritoindomável? Ailsa acariciou o rosto dele.

– Jake... Eu desejo isso tanto quantovocê... Desejo mesmo. Mas... Faz muitotempo que... E se eu não conseguir?

Ela desceu a mão e segurou-o pelo

Page 213: Harlequin - esposa perdida

Ela desceu a mão e segurou-o pelobraço. A intensidade com que odesejava a assustava. O seu sanguefervia apenas com a expectativa de queele fizesse amor com ela comocostumava fazer. Mas estava apavorada.Com medo da dor e do desconforto quepoderia sentir. Levara muito tempopara se recuperar depois do acidente eda perda do bebê. Durante semanas,ela não tivera forças para retomar a suavida cotidiana. Se agora descobrisse serfisicamente incapaz de desempenhar oato mais íntimo que havia entre umhomem e uma mulher, ficariadesalentada, e os dois ficariamarrasados.

Page 214: Harlequin - esposa perdida

Com o coração batendopesadamente, Ailsa esperava que elerespondesse. Quando viu que aexpressão de Jake era o protótipo daternura, o seu coração se encheu dealívio.

Ao ver a ternura refletida nos olhosdela, Jake relaxou o rosto e seus olhosse tornaram prateados.

– Nós iremos devagar – prometeuele. – A última coisa que eu quero nomundo é machucá-la. Se a qualquermomento você quiser mudar de ideia,para mim está tudo bem.

Ailsa simplesmente suspirou e serendeu às sensações que seintensificavam deliciosamente.

Page 215: Harlequin - esposa perdida

Jake despiu-a com cuidado. Entreuma peça e outra, ele beijava cadacentímetro que desnudava do seucorpo, e ela estremecia de prazer.Quando ele tirou o suéter e a camiseta,ela admirou o seu belo físico, que nadaperdera com a passagem do tempo. Sim,ele tinha pequenas marcas e cicatrizesque não existiam antes do acidente,mas, assim como a cicatriz que lhemarcava o rosto, elas em nadadiminuíam o seu poder de atração.

Os seus ombros e o seu torso eramfirmes e musculosos como o de umatleta. Apesar de Jake ser umempresário e trabalhar a maior parte do

Page 216: Harlequin - esposa perdida

tempo dentro de um escritório, ele semantinha em boa forma.

Ailsa se esqueceu de tudo nomomento em que ele beijou o seu seio esorveu seu mamilo. Ela sentiu umacontração imediata no ventre quandoJake desceu a mão pela sua barriga e,percorrendo um caminho que levavadiretamente até o vértice de suas coxas,afastou-as gentil, mas firmemente.Quando ele começou a tocá-laintimamente, Ailsa ficou tensa esegurou na mão dele.

– Eu estou indo depressa demais?Estou machucando você? – perguntouele, olhando para ela com preocupação.

Apesar de, por dentro, estar se

Page 217: Harlequin - esposa perdida

Apesar de, por dentro, estar sesentindo explodir de excitação, Ailsasentiu que não conseguiria relaxar e seentregar a algo com que tanto sonhara.Mordeu o lábio e sacudiu a cabeça.

– Não, eu só estou um pouco tensa...Esperando que doa – confessou elaansiosamente.

– O médico disse que poderia doer?– Disse sim, mas isso foi apenas três

meses depois do acidente. Naquelaaltura, já não dormíamos mais juntos,então, eu nunca... Eu nunca descobri seiria doer ou não.

– Desde então já se passaram mais dequatro anos.

Ela viu o sofrimento nas profundezas

Page 218: Harlequin - esposa perdida

Ela viu o sofrimento nas profundezasdos olhos azuis de Jake e tomou umadecisão.

– Eu sei – sussurrou ela, puxando-opela nuca. – Tente de novo – falouAilsa docemente. – Tudo vai dar certo.

– Tem certeza? – perguntou ele,hesitante.

– Tenho. – Como que para confirmara sua afirmativa, seus quadrisrelaxaram. Desta vez, quando Jake aacariciou, ela se sentiu imediatamentetomada pelo desejo e pela excitação, poruma onda incrível de calor erótico quecrescia gradualmente, até se tornarincrível demais para suportar. Quandoas sensações atingiram o auge, Ailsa

Page 219: Harlequin - esposa perdida

mordeu o lábio e deixou escapar umgemido alto.

Antes que ela se recobrasse, Jakebeijou-a outra vez, enfiando a línguaem sua boca avidamente para saboreara mesma satisfação que ela acabara deter. Ela se entregou ao beijo sem reservae sentiu-o entrar no seu corpo delicadae profundamente. Mais uma vez, ela sósentiu o prazer do qual se lembrava ede que tanto sentira falta. Abraçou-ocom as pernas para acolhê-lo maisprofundamente. Enquanto ele semovimentava ritmicamente, ela osegurou pelos ombros e cravou as unhasem suas costas, tendo o segundoorgasmo. Momentos depois, Jake

Page 220: Harlequin - esposa perdida

segurava-a pela cabeça e a prendia nolugar e, com um gemido rouco edesesperado, juntava-se a ela...

Assim que Jake voltou à terra, arealidade do que fizera o atingiu. Nãopelo fato de não ter usado preservativoe derramado seu sêmen dentro docorpo de Ailsa, porque, por causa dele,ela não podia mais engravidar. O que opreocupava era se ele teria sidoimpetuoso a ponto de machucá-la. Mas,quando ele viu o sorriso de docecontentamento no rosto de Ailsa,agradeceu aos céus, aliviado.

Com crescente encantamento, eleacariciou o rosto dela, que estavaescondido sob a cascata de cabelos.

Page 221: Harlequin - esposa perdida

– Você parece estar feliz – disse ele.– É porque me sinto bem... Muito

bem.– Eu não a machuquei?– Não, não machucou. O meu corpo

parece ter sarado completamente.Descobrir que tudo voltou ao normalfoi maravilhoso. A preocupação de quenão tivesse me recuperado sempreestava na minha mente.

– Talvez você devesse ter consultadoum médico para verificar.

– Você sabe como eu me sinto comrelação aos médicos.

– Ainda assim, uma consulta poderiatê-la livrado de muitas dores de cabeça.

– Anotado.

Page 222: Harlequin - esposa perdida

– Tudo bem, não tocarei mais nesseassunto.

Na parede atrás deles, as sombrasprovocadas pelas velas continuavam adançar e a tremular. O fogo doaquecedor a lenha parecia brilhar commaior intensidade. Jake rezousilenciosamente e agradeceu pela faltade luz inesperada. E se afastoucuidadosamente do delicioso corpo deAilsa para puxar a grossa manta de lãjogada sobre as costas do sofá e cobri-los.

– Agradável, não? – disse ele,sorrindo e puxando-a contra o corpo.

– Parece extremamente decadente –disse ela, empinando o nariz. Os seus

Page 223: Harlequin - esposa perdida

olhos cor de âmbar tinham um brilhomalicioso. Fazia muito tempo que Jakenão a via tão relaxada... Como a Ailsaque ele conhecera e por quem seapaixonara há tanto tempo...

– Quando foi a última vez que vocêse sentiu tão decadente?

– Acho que foi quando você mepegou no trabalho, na hora do almoço,e me levou para um quarto que tinhareservado em um hotel. – Ela piscoutimidamente. – Foi o maior tempo quepassamos fazendo amor. Normalmenteeu teria ficado com medo de serapanhada voltando para o trabalho tãotarde, mas como eu estava com o filhodo patrão...

Page 224: Harlequin - esposa perdida

– Depois disso eu não a promovi? –brincou ele. Ela o empurrou peloombro.

– Não, você não promoveu! Se tivessepromovido, eu teria protestadoveementemente.

– Provavelmente, teria. Você semprefoi consciente demais para o seu própriobem. – Ele a beijou carinhosamente, eela ficou quieta. – Nós já nos divertimosmuito juntos, não foi? – falou elepensativamente.

– Você era muito apaixonado.– Ainda sou. – Ele percebeu que ela

ficava surpresa, mas o brilho nos seusolhos logo passou.

– Jake...? Por que você esperou tanto

Page 225: Harlequin - esposa perdida

– Jake...? Por que você esperou tantotempo para me ver novamente? Querdizer... Quatro anos de telefonemascombinando os fins de semana queSaskia iria passar com você, mandandoAlain buscá-la e trazê-la para casa. Eusei que você precisava trabalhar, masteria sido tão inconveniente você buscá-la e trazê-la de volta?

– Não que fosse inconveniente. Éque... Olhe, precisamos falar sobre issoagora?

Temendo quebrar o encanto daqueleprecioso momento de intimidade, Jaketinha medo de acabarem tendo maisuma briga. Não queria demonstrar asua culpa e a sua decepção por não tê-la

Page 226: Harlequin - esposa perdida

protegido e ao bebê naquela noiteterrível. Também não queria confessarque o seu castigo fora ficar longe dela.Por isso, ele contratara Alain comointermediário, e não porque fosseinconveniente deixar o trabalho.

Ele e Ailsa tinham acabado de fazeramor e fora maravilhoso, mas ele sabiaque isso não iria consertar as coisas.Como seria possível, se sua cabeça, seucorpo e sua alma carregavam uma culpacom peso suficiente para afundar umnavio de guerra?

Com um sorriso sonolento, Ailsaacariciou o braço dele.

– Não. Não precisamos conversarsobre isso agora. Mas eu gostaria que,

Page 227: Harlequin - esposa perdida

amanhã, nós tivéssemos uma conversa eesclarecêssemos algumas coisas...

– Combinado. – Jake combateu arelutância que a proposta lhe causava,contendo o impulso de se proteger eadmitindo que talvez estivesse na horade lhe contar um pouco a respeito de simesmo e de por que tinha dificuldadesem expressar suas emoções. Ele beijou amão dela. – Por que não fecha os olhos?Você parece meio cansada.

Ailsa encostou a cabeça no ombrodele e concordou.

– Estou... Só Deus sabe por quê. Euhoje não fiz quase nada. Não deixe ofogo apagar, está bem? – murmurouela, antes de cair no sono.

Page 228: Harlequin - esposa perdida

Jake engoliu o nó que se formara emsua garganta e abraçou-a. Olhou para aslabaredas e cedeu à dança hipnótica daschamas...

– O QUE foi isso? – Ailsa levantouabruptamente e olhou em volta. O sompungente que lhe interrompera o sonoainda ecoava dentro de sua cabeça. –Parecia um bebê chorando.

– Não era um bebê. – Sem camisa,agachado diante do fogo queevidentemente estivera alimentando,Jake esclareceu, levantando-se. – Achoque era uma raposa.

Com o jeans puxado até o meio dosquadris acentuando os músculos rígidos

Page 229: Harlequin - esposa perdida

do seu abdome e uma voz de quemacabara de acordar, ele pareciaperigosamente sexy. Perturbada, Ailsase lembrou do motivo pelo qual aindaestavam na sala de visitas, sentiu ocorpo todo dolorido e se deu conta deque estava nua sob a manta.Envergonhada, puxou a coberta até aaltura dos ombros.

– Uma raposa? – Ela esfregou osolhos e pestanejou.

– Estamos no meio do campo. Issonão é incomum.

– É por isso que eu não crio galinhas.– Mesmo? Você queria criar

galinhas?

Ele riu, talvez debochando da ideia

Page 230: Harlequin - esposa perdida

Ele riu, talvez debochando da ideiade que ela tivesse ambições tãoprosaicas, depois de ter tido um estilode vida tão luxuoso.

– Queria. O que há de errado nisso?Jake deu de ombros e ficou sério.– Eu não disse que havia algo de

errado. Você realmente se tornou umacaipira, não foi?

Ela ficou corada.– O campo é mais sossegado que a

cidade e me deixa menos estressada.– Falando em diminuir o estresse...

Você deveria tentar dormir mais umpouco. São apenas 3h da manhã.

– A luz ainda não voltou?

– Eu não chequei porque estava

Page 231: Harlequin - esposa perdida

– Eu não chequei porque estavagostando da luz do fogo e das velas.

O olhar sonolento de Jake fez comque Ailsa se arrepiasse toda.

– Eu também gosto mais dela –respondeu ela, enfiando-se debaixo dacoberta.

Jake foi até o interruptor, verificouque a luz não voltara e voltou paraperto do fogo.

– Se as linhas voltarem a funcionaramanhã de manhã, eu vou dar algunstelefonemas e providenciar um gerador.

– Você não precisa fazer isso.– Não preciso, mas quero. É

diferente.

Sonolenta, Ailsa concordou,

Page 232: Harlequin - esposa perdida

Sonolenta, Ailsa concordou,imaginando quando ele voltaria a sedeitar ao lado dela na camaimprovisada. Ela ficaria feliz se elevoltasse.

– Tem razão – murmurou ela. Comose adivinhasse o que ela queria, ele seagachou ao lado dela e enfiou os dedosem seu cabelo. – Eu gosto desse olharde “acabei de sair da cama” – brincouela.

Ao ver o rosto feliz e sorridente deAilsa, Jake não sabia por que, massentia ressurgir a dor por tudo queperdera. Às vezes ele se perguntava se osofrimento era o preço que precisavapagar por breves momentos de

Page 233: Harlequin - esposa perdida

felicidade. Se fosse isso, tal preço eracruel demais. Para ele, a morte do filhoe o divórcio tinham marcado o fim doamor...

Ele enrolou o dedo em um cacho decabelos de Ailsa e, sabe Deus como,conseguiu dar um sorriso. Ficou ondeestava, sabendo que não passaria o restoda noite no sofá, com ela. Nãorenegaria a promessa de revelar a elapor que achava tão difícil expressar suasemoções, mas, naquele momento, eleprecisava de espaço para pensar.

– Várias pessoas dariam um braçopara saber como eu faço isso tãofacilmente – comentou ele em tombrincalhão.

Page 234: Harlequin - esposa perdida

– Você está bem? Por que levantou?A raposa também o acordou?

– Não. Eu acordei naturalmente e vique o fogo estava apagando.

– Você parece cansado, Jake. Por quenão entra debaixo da coberta edescansa um pouco?

Ele sentiu um peso no coração,sacudiu a cabeça e levantou.

– Acho que devo voltar para a minhacama, lá em cima... Nós doisdormiremos melhor. Eu reavivei o fogo.Isso vai mantê-la aquecida por algumtempo. Boa noite, Ailsa... Tente dormirmais um pouco.

Ele catou o resto das roupas caídassobre o tapete e saiu da sala sem olhar

Page 235: Harlequin - esposa perdida

para trás. Mas a lembrança da carasurpresa e triste de Ailsa o acompanhouenquanto subia a escada e voltava parao quarto.

UM RAIO de sol entrava pela janela. Láfora, a neve cobria tudo, e os raios desol refletiam em sua brancuraimaculada, brilhando como diamantes.Parada diante da janela da cozinha,Ailsa ouviu o som surdo da neve caindodo telhado. Começava o degelo.

Ela deveria ficar alegre, mas nãoestava. A mudança do tempo paramelhor lhe causava a sensação de estarvazia. Depois que ele fosse embora,levaria mais quatro anos para ver Jake

Page 236: Harlequin - esposa perdida

novamente? Ele lhe deixara um bilhetesobre a mesa da cozinha. Dizia que aeletricidade voltara e, também, otelefone, que ele fora dar um passeio,mas que logo voltaria para providenciaro gerador e fazer algumas ligações paraCopenhagen.

Ailsa percebeu que ele deveria teracordado muito cedo porque, quandoela entrara na cozinha para arrumar abagunça da noite anterior, a lava-louçasiniciava o último ciclo da programação.Para ela, tinha sido um prazerencontrar tudo arrumado.

Ela começou a botar a mesa para ocafé, fez uma careta e massageou ascostas. Sentia-se dolorida, mas não por

Page 237: Harlequin - esposa perdida

causa das irregularidades do estofadodo sofá! O que lhe doía mais era ocoração, porque Jake deixara-a sozinha.Por que não ficara com ela? Teria tidomedo de que, depois do queacontecera, ela fizesse alguma exigênciairracional?

Na tentativa de acabar com a suaapreensão, ela foi direto até o telefone.Menos de um minuto depois, a vozacolhedora de Tilda Larsen soava emseu ouvido. Constrangida peloentusiasmo que a mãe de Jakedemonstrava ao falar com ela, Ailsamais uma vez lhe apresentoucondolências pela morte do marido eperguntou como ela estava indo. Tilda

Page 238: Harlequin - esposa perdida

respondeu que estava vivendo um diade cada vez e que não poderia fazermais nada além disso. Ailsa pediu parafalar com a filha.

– Ela está aqui ao meu lado – disseTilda afetuosamente. – A queridinhaestava ansiosa para falar com você.

– Olá, mamãe... Estou com saudade!– Olá, querida. Eu também estou

com saudade. Mas a neve foi tão pesadaque os telefones pararam de funcionar enão pudemos ligar para você. Você estábem?

– Ótima. Eu estou adorando ficarcom a vovó. Você se importa se eu ficarmais um pouco?

Ailsa sentiu a garganta fechar.

Page 239: Harlequin - esposa perdida

– Claro que não me importo. Tenhocerteza de que ela está feliz por vocêestar aí.

– O papai ainda está com você? –perguntou Saskia. Percebendo aansiedade na voz da filha, Ailsa sentiu ocoração se apertar.

– Sim, ele ainda está aqui, querida.Ele teve que ficar porque a neve nãopermitia que ele fosse até o aeroporto. Épor isso que ele ainda não voltou paraCopenhagen.

– Vocês não brigaram?A pergunta caiu como um raio.– Por que você está perguntando

isso? – Ela percebeu a hesitação dooutro lado da linha e ouviu um suspiro.

Page 240: Harlequin - esposa perdida

– Toda vez que fala do papai, vocêfica triste. Quando ele fala de você,parece ficar zangado. Espero que vocêsnão briguem. O Natal está chegando, eeu quero que vocês sejam felizes.

– Querida... Nenhum de nós dois éinfeliz, eu juro. E nós não vamos brigar.– Ailsa controlou a vontade de chorar eficou surpresa ao ver Jake entrar nacozinha. Ele já tirara as botas e o casaco,sorria e batia as mãos para aquecê-las.O vento frio de inverno deixara-ocorado e seus olhos espelhavam o azuldo céu sem nuvens. Ela sentiu mais umabalo.

– Mamãe, você ainda está aí?

– Claro que sim, querida. O papai

Page 241: Harlequin - esposa perdida

– Claro que sim, querida. O papaivoltou da caminhada. Você quer falarcom ele?

– Por favor.– É Saskia – disse Ailsa calmamente.Ele correu para o lado dela e quase

lhe arrancou o telefone da mão.– É você, gatinha? – perguntou Jake

com a voz rouca.Ela percebeu que o tom emocionado

da voz dele não era resultado da suaimaginação.

Page 242: Harlequin - esposa perdida

CAPÍTULO 8

DEPOIS QUE os dois tinham acabado defalar com Saskia, Ailsa percebeu quenão seria capaz de esconder sua mágoae sua ansiedade, ao questioná-lo sobre apergunta que a filha lhe fizera,expressando seu receio de que elesfossem brigar.

– Por que ela diria isso? – perguntouAilsa, cruzando os braços sobre o suéterangorá que combinava com a calça

Page 243: Harlequin - esposa perdida

legging. – Ela disse que, quando vocêfala sobre mim, fica zangado.

– Ela nunca me disse isso. – Ele secolocou na defensiva, como se issotivesse sido adicionado aos assuntos quenão queria discutir. – Se eu pareciazangado, provavelmente era por estarcansado ou estressado com o trabalho.Nunca percebi ter dado a impressão deestar zangado com você na presença deSaskia.

– Bem, Saskia é uma menina muitoperceptiva. Tenho certeza de que elanão deve ter imaginado. – Ela sentia ocoração galopar dentro do peito. Suasmãos tremiam. – Ela também disse queeu fico triste toda vez que falo de você.

Page 244: Harlequin - esposa perdida

Ele retorceu os lábios com ironia.– Que novidade!– O que você quer dizer?– Tenho certeza de que pensar em

mim não deixa você feliz. Você deve seressentir por tudo que aconteceu. A nãoser pelo fato de ter lhe dado Saskia, eudevo ter sido o maior erro que você jácometeu! Você sempre quis ter umafamília, mas eu dei um jeito de estragaro seu sonho.

O tom de Jake soava selvagem, suaexpressão estava vazia. Ailsa ficouapavorada. Tinha medo de que asituação se deteriorasse. Precisavaencontrar um jeito de salvá-la. A

Page 245: Harlequin - esposa perdida

necessidade de dizer as coisas em vozalta nunca fora tão premente.

– Eu nunca achei que casar com vocêtinha sido um erro... Jamais. Comopode pensar isso? Você não estragounada para mim. Foi culpa sua queaquele homem estivesse acima do limitede velocidade, naquela noite? Claro quenão! Olhe, Jake... Sejam quais forem asmágoas ou ideias distorcidas queestejamos descarregando um sobre ooutro, você não acha que já está nahora de colocá-las para fora, esquecê-lase seguirmos em frente? Foi terrívelperder o nosso filho, mas isso significaque devemos parar de viver e ficarmosimobilizados pelo resto da vida? Nunca

Page 246: Harlequin - esposa perdida

mais sermos felizes? Eu não acho. Alémdisso... Precisamos também pensar nanossa filha. Eu não sei quanto a você,mas eu já tive a minha cota de dor e detristeza. Quero ter uma vida melhor.Não quero que nossa filha cresçaachando que tudo que nós fazemosdepois do acidente é nos culparmosmutuamente pelo que deu errado. Esseseria um legado terrível para lhe deixar.

– Eu não a culpo por nada.– Não? Então, por que ficaria

zangado comigo? Por que você voltoupara a sua cama no meio da noite? Paramim, isso indicou que você não estavafeliz com alguma coisa. Foi algo que eu

Page 247: Harlequin - esposa perdida

disse? Primeiro, você faz amor comigo...Depois, foge de mim.

– Eu não fugi de você. – Jake pareciaclaramente constrangido, como se fossesair correndo a qualquer momento.Ailsa rezava para que ele ficasse, mas,de repente, a tensão em que ele estavase dissipou, como se ele tivesse desistidode resistir e se resignado a ter aconversa que ela tanto desejava. – Nãofoi nada que você tenha dito ou feito,Ailsa. A única pessoa a quem eu culpopela nossa situação sou eu. Se Saskiaestá triste por ter captado as vibraçõesde raiva que eu tento conter,precisamos fazer alguma coisa... Eupreciso fazer...

Page 248: Harlequin - esposa perdida

O silêncio que se seguiu à admissãode Jake estava repleto de tensão. Elepodia ter concordado que precisava sereconciliar com o passado, mas Ailsapressentia o sofrimento por trás de suaspalavras e via que ele estava lutandopara se segurar. Ela precisaria orientar onavio.

– Jake? Nós já tínhamos problemasno casamento antes do acidente. Vamosser sinceros. Provavelmente é por issoque você ainda sente raiva. Nuncafomos até o fundo da nossa infelicidadee ainda estamos evitando o assunto. Oacidente só trouxe as coisas à tona.

– Você tem razão. – Ele olhou paraela fixamente durante algum tempo, e

Page 249: Harlequin - esposa perdida

Ailsa quase parou de respirar. – Sabe oque eu acho ter sido parte doproblema?

– Diga.– Eu coloquei o trabalho acima da

família. Eu trabalhava duro, não pelodinheiro ou pelo sucesso, mas porqueprecisava obter a aprovação e o amor domeu pai. Isso foi algo que eu nuncative... Nem quando criança. Ele era umhomem difícil de atingir. Você nãoacreditaria nas coisas que eu me forçavaa fazer para ganhar um sorriso dele!Acho que fiquei tão cego pela ânsia deser reconhecido que pensei que, se eutrabalhasse com mais afinco e metornasse mais importante para o sucesso

Page 250: Harlequin - esposa perdida

dos negócios, isso iria me ajudar aatingir o meu objetivo. Quando vocêtentava me levar a falar sobre as coisas,a lhe dizer o que estava sentindo... Euresistia. Apesar de sentir que a tensãoentre nós dois crescia, eu me convencide que a situação não era tão ruimcomo eu imaginava... Que eu podiacontinuar me comportando como umrobô porque tudo daria certo. O meupai era maníaco por trabalho, e euadotei o mesmo modelo destrutivo. Porque eu não percebi que a minhaobsessão estava magoando a minhafamília? Eu a amava tanto, mas nuncademonstrava, não é? Mesmo quandovocê engravidou do nosso filho, eu não

Page 251: Harlequin - esposa perdida

me aproximei de você... A não ser nacama. Sinto muito. Eu me portei comoo proverbial machão sem sentimentos.Quero que você saiba que eu não meorgulho disso.

Ailsa estava tão impressionada com oque ele dizia que não sabia o queresponder. Mas o seu corpo não tinha omesmo problema, tendo sido invadidopor um desejo primitivo de que ele alevasse para a cama e apagara todos osseus pensamentos. Durante todosaqueles anos, Jake nunca lhe falara comtamanha franqueza sobre seussentimentos. De repente, ela passara aentender o comportamento que eleexibira nos últimos dias do casamento,

Page 252: Harlequin - esposa perdida

ainda antes do acidente. Como elatambém crescera sem o amor e aaprovação de pai e mãe, não lhe eradifícil entender por que Jake procuravaa atenção do pai. Ele tinha razão: JacobLarsen fora um bom homem, massempre escondera suas emoções pordetrás de um escudo.

Como ela gostaria que Jake tivessesido capaz de perceber a profundidadedo seu amor... E de como isso poderiatê-lo ajudado. Não o teria curado damágoa que sentia, mas poderia tê-loajudado a aceitar e, com isso, elepoderia se dedicar às pessoas querealmente se importavam com ele.

Ailsa sentiu uma onda de calor ao se

Page 253: Harlequin - esposa perdida

Ailsa sentiu uma onda de calor ao serecordar da paixão à luz de velas, nanoite anterior. Mas, por mais atraenteque fosse a ideia de fazerem amor, elanão queria que a conversa acabasse.

– Eu também sinto muito, Jake. Sevocê tivesse me dito isso naquela época,talvez pudéssemos ter lidado comnossos problemas mais facilmente. Dequalquer maneira, eu não souexatamente a parte inocente. Você disseque eu talvez fosse muito jovemquando nos casamos. Provavelmente,você estava certo. Não porque eu não oamasse verdadeiramente ou nãoquisesse estar com você, mas porque eutambém estava procurando o amor e a

Page 254: Harlequin - esposa perdida

sensação de pertencer a um lugar. Achoque eu projetei toda a minha carênciaem você. Certamente foi um fardomuito pesado. A sua função não era medeixar feliz ou me dar a sensação de tervalor, mas, quando você ficavatrabalhando até tarde, semana apóssemana, eu dizia a mim mesma que erapor eu não ser mulher o suficiente paravocê... Por eu não ter as qualidades queum homem desejava em uma esposa,porque, se eu tivesse, você ficaria maistempo em casa. O problema é que eunão sabia quem eu realmente era, omeu valor como pessoa. O fato de vocêtrabalhar o tempo todo não contribuíapara apagar a ideia de que eu tinha

Page 255: Harlequin - esposa perdida

considerado o casamento uma soluçãopara o meu medo de ficar sozinha. E atéconhecer você, eu tinha passadometade da minha vida sozinha! Euaprendi que sou mais flexível do quepensava. Abrir o negócio de artesanatoe cuidar de Saskia me mostrou isso. –Ela deu um sorriso tímido. – Eu nãolamento o tempo que passei com você,Jake... Mesmo com todas asdificuldades e tristezas. Eu não mearrependo nem um pouco. Quero quevocê saiba disso.

A afirmação não pareceu deixá-lomais seguro. Ele ainda pareciaperturbado.

– E onde isso tudo nos deixa? –

Page 256: Harlequin - esposa perdida

– E onde isso tudo nos deixa? –perguntou ele.

– Pelo menos, agora, estamos sendosinceros, não acha? Você vai sair daquisabendo que nós fomos honestos, umcom o outro. Que nós dois estamosresolvidos a construir um futurodiferente e melhor.

Ela deu um sorriso trêmulo e sevoltou para encher a chaleira e fazerchá para ela e café para Jake...Qualquer coisa serviria para distraí-lada vontade de chegar perto dele.

Mas Ailsa não estava preparada paraque Jake se aproximasse por trás dela ea puxasse contra o corpo. Teria ele lidoa sua mente? Jake levantou os cabelos

Page 257: Harlequin - esposa perdida

dela e deu-lhe um beijo na nuca,incendiando-a como se fosse umvulcão.

– O que você...? – O resto dapergunta de Ailsa se perdeu quando elelhe tocou o seio.

– Isso pode não adiantar nada nemconsertar coisa alguma, mas eu nãoposso deixar de admitir que agora o queeu quero é você – sussurrou ele em umtom rouco, colocando a mão dentro dacalça legging que ela vestia. – Eu adesejo tanto que mal consigo pensar emoutra coisa.

A resposta de Ailsa foi um suspiroque se transformou em um gemido.Com o corpo todo tremendo, ela se

Page 258: Harlequin - esposa perdida

virou dentro dos braços dele e suasbocas e línguas se tocaram avidamente,fazendo com que ela sentisse as pernasamolecerem.

– O que nós precisamos é de umaboa cama... Não acha? – murmurou ele.

– Aham... – Ela mal teve tempo debalbuciar, antes que ele a levantasse dochão como se fosse uma pluma e alevasse para fora da cozinha.

Enquanto eles caminhavam, Ailsa lhedava beijinhos no rosto, na boca, nacicatriz do queixo. Enquanto subiam aescada, Jake não desgrudava os olhosdos olhos dela. Quando ele a colocouem cima do edredom que ela levarameses tecendo, Ailsa estava tão

Page 259: Harlequin - esposa perdida

consumida pelo desejo que não seimportava com mais nada.

Quando ele se colocou sobre ela,Ailsa se concentrou em olhar para ele.Poder olhá-lo tão de perto avivava alembrança dos traços do rosto pelo qualse apaixonara no passado. Nãoimportava que o tempo e a tragédia otivessem marcado. Nada poderiadiminuir a beleza do rostoperfeitamente esculpido e dos olhosazuis que se iluminavam em um minutoe que, no outro, se tornavam sombrios;do nariz bem definido, que em outrohomem não seria considerado umatributo, mas que em Jake ficavasimplesmente bem. Mas era a boca que

Page 260: Harlequin - esposa perdida

mais lhe chamava a atenção porque,com um delicioso arrepio deantecipação, Ailsa sabia o prazer incrívelque ela podia lhe proporcionar...

Subitamente, Ailsa passou a ouvir aprópria respiração ofegante soar nosilêncio do quarto. Os dois não diziamnada. As palavras viriam depois.Naquele momento, eram seus corposque falavam.

Jake tirou o suéter e a camisetarapidamente. Depois, retirou o suéterdela pela cabeça. Assim que se livroudele, inclinou-se na direção do seumamilo enrijecido e sorveu-o pelo sutiã.O prazer que ela sentiu foi tão intensoque não havia palavras para descrever e

Page 261: Harlequin - esposa perdida

seus olhos se encheram de lágrimas. Elajamais conseguiria expressar o quantosentira falta dele. Durante os anos quetinham se passado depois da separação,toda vez que a lembrança de Jake aapanhava desprevenida, fazendocompras, criando obras de artesanato,limpando a casa, ela sentia uma dor nopeito e tinha vontade de chorar. Agora,Ailsa se sentia queimar por dentro,ansiando para que ele a possuísse.

Depois de tirar o sutiã dela, Jake seocupou em lhe tirar o resto das roupas.Ailsa adorou sentir as mãos dele semovendo impacientemente sobre suapele. Assim que se viu completamentenua, ela abraçou-o pelo pescoço, os

Page 262: Harlequin - esposa perdida

lábios dos dois se encontraramnovamente, e eles trocaram um beijoescaldante.

Os sentidos de Jake se consumiam napercepção de tudo que amava nela e deque sentira tanta falta... O perfumeúnico do seu corpo, que era o maior dosafrodisíacos; os longos cabeloscastanhos que se espalhavam em ondassobre o travesseiro; os olhos cor deâmbar, amendoados, que nãoprecisavam de maquiagem para setornar atraentes e sensuais porquepossuíam esses atributos naturalmente.Até o pequeno sinal atrás do lóbulo dasua orelha despertava paixão. Jakenunca fantasiara a respeito do seu tipo

Page 263: Harlequin - esposa perdida

ideal de mulher. Nunca preferira lourasou morenas, altas ou baixas, gordas oumagras. Nunca se deixara impressionarpor embalagens atraentes. Mas, se aimagem da mulher perfeita tivesse lheaparecido em sonhos, com certeza teriasido a de Ailsa.

O calor que ele sentia na virilhaatingira a temperatura máxima dodesejo. Ele entrou no corpo dela, semconseguir mais controlar a ânsia de seunirem, fazendo pressão para ir cadavez mais fundo. Era como se todo o seucorpo ecoasse as batidas apaixonadas doseu coração. Os gemidos excitantes deAilsa se espalhavam pelo ar. Ele colocoua mão sobre seus pequenos seios

Page 264: Harlequin - esposa perdida

empinados, antes de passar a línguasobre seus mamilos aveludados. Lá fora,o inverno poderia estar gélido, mas ali,na cama macia, havia um calor deverão.

De repente, Jake sentiu-a estremecere enrijecer o corpo, viu o brilhoincandescente dos olhos cor de âmbarde Ailsa escurecer e sentiu os músculosquentes e macios que envolviam a suaereção se contraírem forte eseguidamente...

– Jake... – Ela sussurrou o nome delecomo se estivesse em transe e puxou-o,escondendo o rosto na curva do seupescoço.

Ele sentiu novamente a sensação de

Page 265: Harlequin - esposa perdida

Ele sentiu novamente a sensação deque, sem saber, deveria ter feito algo debom para ser recompensado com oprazer de amar aquela mulher incrível.A ideia de que ela era a mãe de suapreciosa filha o atingiu de repente,despertando-lhe um impulso primitivode proteção e orgulho. Aquela eraAilsa... A mulher que lhe despertarauma riqueza de emoções exaltadas queele nunca soubera ter... A mulher queteria lhe dado um filho, se ele...

Jake não foi rápido o suficiente paraevitar a onda de dor e de revolta queacompanhava a lembrança torturante eque o atingiu com tamanha força queele mergulhou profundamente dentro

Page 266: Harlequin - esposa perdida

do corpo dela e deixou seussentimentos voláteis se misturarem àpaixão. Sentiu o corpo sacudirimpiedosamente, como se tivesse sidojogado em uma corredeira e, quandoele afundou, desistiu de toda a suapretensão de ter algum controle edeixou que a corrente o levasse diretoaté o fundo. O urro feroz que saiu doseu peito quando ele chegou lá era umgrito selvagem de dor. Ele ficouchocado ao perceber que, enquantogritava, os seus olhos se enchiam delágrimas ardentes.

Respirando pesadamente, ele abaixoua cabeça, tentando readquirir algumacompostura, escondendo o rosto de

Page 267: Harlequin - esposa perdida

Ailsa para evitar que ela visse o seudesespero. Mas a mão carinhosa quelhe tocou o braço e o suspiro profundoque o deixou arrepiado lhe diziam queela vira.

– O que foi? Jake, por favor, me diga.Ele não respondeu de imediato.

Ainda respirando pesadamente, saiu decima dela, foi para o outro lado dacama e pegou o jeans que estava jogadono chão. Enfiou a mão em um dosbolsos e pegou a carteira de couro.Hesitou por um instante, abriu acarteira, pegou uma fotografia em pretoe branco e entregou-a a ela.

– Eu estava pensando no nossofilho... Thomas. Nós o concebemos em

Page 268: Harlequin - esposa perdida

um dia de verão, em Copenhagen...Lembra-se? Pouco depois, vocêdescobriu que estava grávida. Euguardei o ultrassom que você meentregou quando saímos da clínica.Viu? Eu não me esqueci dele. Comopoderia? Ele era... O meu menino... Ofilho que eu não pude ver crescer...

– Ah, Jake... Jake...– Você se lembra de como nós

ficamos extasiados ao saber qual era osexo do bebê? Não podíamos acreditarna sorte de termos um menino e umamenina... Uma família perfeita.

– Eu sei que você não o esqueceu. –Ela ajoelhou-se sobre a cama, com oscabelos caindo sobre o rosto.

Page 269: Harlequin - esposa perdida

Ailsa parecia estar seriamenteabalada, e ele podia ver seus olhoscheios de lágrimas.

– Eu não sabia que você tinhaguardado isso. Sinto muito ter lhe dadoa impressão de que achava que vocênão se importava tanto com o nossobebê quanto eu.

– Talvez a culpa tenha sido minha,porque eu nunca falava no assunto. Foiassim que me ensinaram. Não a minhamãe, mas o meu pai. Ele acreditava que,escondendo seus sentimentos, umhomem revelava a força do seu caráter.A minha mãe era a única pessoa comquem ele se abria, mas não era sempre.O fato é que ele se foi e não vai voltar,

Page 270: Harlequin - esposa perdida

assim como o nosso filho. Eu não possocontinuar voltando ao momento terrívelem que perdemos Thomas. É muitoduro. Posso guardar isso? – Ele engoliuo nó na garganta, pegou a fotografia eguardou-a na carteira, que colocoudentro do bolso, e ergueu a cabeça. –Outra coisa que eu não consigoesquecer é a maneira como você ficouferida. Ainda consigo ouvir os seusgritos.

– Você também ficou ferido.Com medo de ver o brilho de

compaixão nos olhos dela, Jake estavapronto para ignorá-la. Como iriamerecer compaixão e cuidado, depoisdo que fizera? Durante os últimos seis

Page 271: Harlequin - esposa perdida

meses, depois de ter se tornadopresidente da empresa, ele trabalharacom dedicação e afinco, e os lucrostinham subido às alturas, mas não sesentira tão orgulhoso como teria sesentido no passado. O sacrifício foratamanho que não lhe dera nenhumprazer. E o peso da culpa por não terprotegido Ailsa e o bebê, ao invés dediminuir, parecia aumentar a cada anoque passava. Ele precisava encontraralgum modo de começar a se livrardaquele fardo. Não sabia como, mas,por fim, aceitara a ideia de se libertar.

– Foi um período muito duro paranós dois – comentou Jake calmamente.– Mas, como você disse antes, quando

Page 272: Harlequin - esposa perdida

estávamos conversando a respeito dolegado que deixaríamos para Saskia, nósprecisamos encontrar um jeito de seguirem frente... Combinado?

– Combinado. – O sorriso de Ailsatinha um traço de tristeza, mas nobrilho dos seus olhos também haviaesperança.

Jake voltou para a cama, deitou aolado dela e abraçou-a.

– Vamos ficar assim um pouquinho,está bem? – sugeriu ele, beijando a testade Ailsa. – Quando estivermos prontos,continuamos a conversar.

A oportunidade de continuarem aconversa não se apresentou. Algunsminutos depois de Jake ter abraçado

Page 273: Harlequin - esposa perdida

Ailsa, alguém bateu na porta da frente,e os dois se afastaram, assustados.

– Quem poderia ser?– Sinto muito, querida, mas eu não

sou adivinho. Por que não vai ver quemé? Seja lá quem for, diga que você estáocupada.

O coração de Ailsa acelerara, nãoapenas pelo susto de ouvir a inesperadabatida na porta, que perturbara a pazentre os dois, mas também porquenotara um tom claramente possessivona voz de Jake.

– Quando você saiu de manhã, asestradas já estavam mais limpas? –perguntou ela enquanto recolhia asroupas e se vestia rapidamente. Tal

Page 274: Harlequin - esposa perdida

tarefa não era nada fácil porque eleseguia o seu corpo nu com um olharlascivo. – Quer dizer... Havia algumsinal de que seria possível transitar porelas?

– O gelo estava derretendo umpouco, mas eu não vi nenhum sinal demovimento. Se o gelo derreter estanoite, amanhã talvez eu consiga ir até oaeroporto e pegar um voo para casa.Quem você acha que está na porta?Espero que não seja o seu solícitovizinho de novo...

Arrepiando-se diante da ideia deJake ir embora no dia seguinte, Ailsalevou um minuto para se recompor.

– Se for Linus, eu não quero que

Page 275: Harlequin - esposa perdida

– Se for Linus, eu não quero quevocê seja grosseiro com ele. Por que nãoespera aqui? Eu volto dentro de umminuto.

Enquanto empurrava os cabelos paratrás das orelhas e percebia que Jakecontinuava a admirá-la com interesse,Ailsa rezava para que o visitante nãofosse Linus. Se fosse, ela esperavaconseguir se livrar dele rapidamente,principalmente se Jake resolvessedescer...

Com o cabelo colado à cabeça, comose seus cachos tivessem sido domadospor uma escova especialmente paraaquela visita, Linus olhoucalorosamente para Ailsa quando ela

Page 276: Harlequin - esposa perdida

abriu a porta. Ela não tinha comocontrolar o tom avermelhado devergonha que lhe coloria o rosto. Comopoderia, se acabara de deixar a camaonde estivera com Jake?

– Linus... Está tudo bem?– Eu ia lhe fazer a mesma pergunta –

respondeu ele, dando uma olhada paratrás. – Vejo que o SUV ainda está aqui.O seu “ex” ainda não voltou paraCopenhagen?

Ailsa franziu as sobrancelhas ecruzou os braços, ciente de que, napressa para se vestir e atender a porta,ficara sem o sutiã.

– Não, ele ainda não voltou. Com aquantidade de neve que cobriu as

Page 277: Harlequin - esposa perdida

estradas, não foi possível. Você veio atéaqui por algum motivo específico?

– Na verdade, sim. Eu poderia entrarpor um instante?

– Eu... Eu estou muito ocupada nomomento.

– Ah... – Decepcionado por seusplanos terem ido por água abaixo, Linuslevou alguns minutos para se recuperar.– Então, penso que devo lhe dizer o quequero aqui mesmo.

Ailsa deu uma olhada furtiva para ofundo do hall, esperando ver, aqualquer minuto, Jake descendo aescada. Como não viu nada, sentiu-sealiviada e voltou a sua atenção para ofilho do fazendeiro. Percebeu a nuvem

Page 278: Harlequin - esposa perdida

de vapor que se formava quando elerespirava e se sentiu culpada por deixá-lo do lado de fora com tanto frio.

– Pensando bem, por que você nãoentra por um minuto? – perguntou ela,abrindo a porta totalmente e sorrindo. –Vá para a cozinha. Eu preciso dar umpulo lá em cima e volto já.

Assim que Linus passou por ela, todosorridente, Ailsa fechou a porta ecorreu para a escada. Ao chegar aoquarto, Jake estava completamentevestido e afivelava o cinto. Ele olhoupara ela com um ar de acusação.

– Por que você o convidou paraentrar? Pensei que você iria dizer que

Page 279: Harlequin - esposa perdida

estava ocupada... Principalmente paraele.

– Ele veio me pedir alguma coisa. Eunão podia deixá-lo congelando do ladode fora!

– Ele é sempre tão inconveniente?Odiando a ideia de tê-lo

decepcionado por não ter se livrado deLinus e voltado para a cama, Ailsa ficouirritada ao notar que Jake presumia tero direito de escolher quem ou não elapodia receber.

– Ele não está sendo inconveniente.Eu já lhe disse que ele é um amigo eum bom vizinho. Quanto mais depressaeu descer e falar com ele, mais depressa

Page 280: Harlequin - esposa perdida

ele vai embora. Não vai demorar muitotempo. Você espera aqui, se preferir.

Sem esperar que Jake respondesse,ela procurou o sutiã debaixo doedredom, virou-se de costas para ele,levantou o suéter e o vestiu. Mas, antesque ela tivesse tempo de fechá-lo nafrente, Jake se aproximou por trás dela,abaixou as alças do sutiã e segurou-lheos seios. Ela se derreteu de excitação edesejo.

– Jake... Não faça isso! – Apesar doprotesto, ela sabia que o seu corpo etodos os seus sentidos imploravamsilenciosamente para que elecontinuasse. Foi preciso uma força devontade hercúlea para contê-lo. – Você

Page 281: Harlequin - esposa perdida

não devia... Nós não podemos... Peloamor de Deus, Linus está lá embaixo,na cozinha.

– Ele que espere – falou Jake numtom rouco e peremptório, acariciando-lhe o mamilo.

Ailsa engoliu um gemido e seagarrou às forças que lhe restavam.Virou-se de frente para ele, paraencará-lo. E, assim que ela fez isso, suaboca foi esmagada apaixonada eavidamente pelos lábios de Jake, queenfiou a língua em sua boca de umamaneira que deixou os dois semrespiração. Com um tremendo esforço,Ailsa afastou os lábios e se agarrou aosombros dele porque, se não se

Page 282: Harlequin - esposa perdida

segurasse, seus joelhos se dobrariam eela cairia no chão. O perfume deliciosodo corpo de Jake e o brilho sorridentedos seus olhos atingiamdevastadoramente seus sentidos, que jáestavam aguçados.

– Você não está jogando limpo.– E eu disse que estava? Às vezes um

homem precisa usar qualquer vantagemque esteja ao seu alcance.

– Você precisa deixar eu me vestir.Quanto mais cedo eu falar com ele,mais depressa ele vai embora. Depoispodemos continuar a conversar. Vocêse lembra de que nós íamos conversar?

Jake deu um suspiro resignado eacariciou os cabelos dela.

Page 283: Harlequin - esposa perdida

– Como posso lhe negar algo comvocê me olhando desse jeito e meionua?

– Não são só os homens que sabemusar as vantagens à sua disposição. – Elasorriu, se colocou na ponta dos pés elhe deu um beijo rápido. – Eu não voudemorar –prometeu, conseguindo, porfim, vestir o sutiã e abaixar o suéter.

– É melhor que seja verdade.

Page 284: Harlequin - esposa perdida

CAPÍTULO 9

– DESCULPE POR tê-lo feito esperar,Linus. Posso lhe fazer um chá ou umcafé?

– Não, obrigado. Eu não posso medemorar.

Ela ficou contente ao ouvir isso, masao mesmo tempo se sentiu culpada.Linus estava parado no meio dacozinha, com os ombros caídosdefensivamente, como se fosse um

Page 285: Harlequin - esposa perdida

garoto que tivesse acabado de confessarter feito uma travessura. Ela nunca ovira tão pouco à vontade.

– Então, tudo bem. Gostaria desentar enquanto conversamos?

Ela afastou duas cadeiras da mesa.Depois disso, a não ser pelo barulho doaquecedor e o tique-taque do relógio, osilêncio entre os dois se prolongou porum tempo constrangedor. QuandoAilsa já imaginava se ele iria sentar oudizer alguma coisa, Linus desabou sobreuma das cadeiras e se inclinou sobre amesa.

– Eu estava pensando se você fezalgum plano para o dia de Natal – disseele, com um olhar ansioso. – Se você

Page 286: Harlequin - esposa perdida

estiver livre, gostaria de convidá-la e aSaskia para almoçarem comigo. Querdizer... Infelizmente não serei só eu. Omeu pai e o meu tio também estarão lá.Para dizer a verdade, nós iríamosadorar ter companhia feminina. Umacasa só de homens às vezes se tornachata. – Ele corou intensamente.

Ailsa se surpreendeu e ficou calada.Nunca lhe ocorrera que ele pudesseconvidá-la para almoçar no dia deNatal. Ela ficou olhando para Linuscom um ar sem expressão e percebeuque precisava dizer alguma coisa.

– É muita gentileza sua nosconvidar... Mas eu estava planejandoficar em casa com Saskia. Nós duas

Page 287: Harlequin - esposa perdida

vemos esse dia como uma data especialentre mãe e filha. Nós estamosesperando por ele há meses.

– Ah...– Olá, Linus.Ailsa se assustou ao ouvir a voz

conhecida soar atrás dela. Linustambém ficara abalado, como se apresença repentina de Jake fosseirritante.

– Olá.Desejando que Jake tivesse ficado lá

em cima, Ailsa não conseguiu deixar deseguir seus movimentos como seestivesse hipnotizada. Ele se aproximou,parou ao seu lado, sorriu, pegou-lhe amão e beijou-a. O beijo foi dado

Page 288: Harlequin - esposa perdida

deliberadamente na palma da sua mão,em um gesto que ela sabia ser destinadoa proclamar a sua posse diante de outrohomem.

– Eu estou interrompendo algo? –perguntou Jake.

Linus sacudiu a cabeça, com umaexpressão de quem acabara de seresmagado.

– Eu estava convidando Ailsa e afilha para almoçarem conosco no dia deNatal, mas ela me disse que geralmenteas duas passam essa data juntas esozinhas. – Linus levantou, muitocorado. Olhou para Ailsa, para Jake, evoltou a olhar para Ailsa. – Eu nãosabia que você e...

Page 289: Harlequin - esposa perdida

– Jake.Ela percebeu a polidez contida da voz

ex-marido, mas sabia que o seu tom iriamudar, se Linus fizesse a tolice dedesafiá-lo. Felizmente, Linus não fezisso.

– Você não sabia o quê? – insistiuJake.

– Deixe para lá. – Linus já seencaminhava para a porta. – Se não seimporta que eu lhe diga, você é umhomem de sorte. Ailsa é uma dasmelhores pessoas que se pode ter comovizinha, e a filha de vocês éencantadora.

– Eu concordo com você nos doiscasos – disse Jake.

Page 290: Harlequin - esposa perdida

– Você deve estar aliviado porque aneve está degelando. Assim, você vaipoder voltar para casa a tempo para oNatal. Copenhagen deve ser muitobonita nessa época do ano.

– É.– Bem... Espero que você aproveite

quando chegar lá.– Obrigado. – Jake deu uma olhada

para Ailsa.– Eu o levo até a porta. – Ela se

adiantou e conteve a respiração,enquanto levava Linus até a porta. Nãoconseguia deixar de se sentir apanhadano meio de uma tremenda tempestade.Quando os trovões silenciassem, comocomeçava a acontecer, o seu corpo

Page 291: Harlequin - esposa perdida

relaxaria com alívio. Ela abriu a porta,sentiu o vento gelado e deu um sorriso.– Eu agradeço muito o seu convite.

Linus parou debaixo do pórtico e sevoltou.

– É mesmo? Eu espero que você nãopense que eu fui muito presunçoso. Eunão sabia que você e o seu maridoestavam juntos novamente, ou não ateria convidado.

Ailsa pensou que, depois do beijoque Jake dera na mão dela, era naturalque Linus pensasse que os dois estavamjuntos novamente. Ela ficou sem jeito efitou o chão. Nunca encorajara Linusde forma alguma, mas se sentia como seo estivesse traindo.

Page 292: Harlequin - esposa perdida

– Sinto muito não ter aceitado, masespero que você passe um bom Natalcom a sua família.

Um bloco de neve caiu do telhadodiretamente sobre a cabeça de Linus,soltando os cachos esticados do seucabelo.

– Creio que será como sempre. Eulevantarei cedo para alimentar osanimais e limpar os cercados. O meu tiofará o jantar e, como sempre,comeremos ganso. O meu pai vai bebermais uísque do que deveria. Depoisdisso, veremos alguma reprise natelevisão. Seja lá o que você for fazer,desejo que você tenha um dia feliz.

Page 293: Harlequin - esposa perdida

Espero que voltemos a nos ver depoisdas festas.

– Cuide-se, Linus, e obrigada portudo que você fez por mim e Saskiadurante o ano.

– Foi um prazer. Até logo.Ailsa se comoveu ao vê-lo percorrer

com dificuldade o caminho coberto poruma neve já não tão imaculadamentebranca, que o conduzia para longe dacasa. Esperou que Linus subisse notrator, acenou para ele, fechou a porta efoi ao encontro de Jake.

– Eu lhe disse que ele pretendia sermais que um vizinho atencioso. –Parado diante da janela, Jake se voltou

Page 294: Harlequin - esposa perdida

para ela com uma expressão muito sériae... irritada.

– Isso não é verdade, e você sabedisso! – Irritado ou não, ela não iriatolerar aquilo. – Por que você nãoesperou lá em cima, até que ele fosseembora, como eu sugeri?

Jake ergueu a sobrancelha comreprovação.

– Está querendo me dizer que teriaaceitado o convite para almoçar?

– Você o ouvir dizer que eu tinharecusado porque pretendo passar o diade Natal com Saskia.

Ele soltou um suspiro.– É isso que você realmente quer

fazer? Passar o Natal sozinha com

Page 295: Harlequin - esposa perdida

Saskia?– É o que eu costumo fazer. Por quê?– Eu sei que ainda não lhe perguntei,

mas, desde que acordei hoje de manhã,estive pensando se você não gostaria devoltar comigo e passar o Natal comSaskia em Copenhagen. Foi por isso quelevantei cedo e fui dar uma caminhada.Eu precisava pensar. Além disso, euqueria verificar as condições dasestradas e ver se, hoje ou amanhã,conseguiríamos ir até o aeroporto. Depreferência, hoje... Se você pensar umpouco, é uma ótima ideia. Vocêconseguiria ver sua filha mais cedo enão ficaria sozinha durante as festas.

– Então agora você tem pena de

Page 296: Harlequin - esposa perdida

– Então agora você tem pena demim? – retrucou ela, sentindo-seinexplicavelmente irritada.

– Pena de você? Se você acha que foipor isso que eu a convidei...Principalmente depois da noitepassada... Eu vou ficar sinceramentechocado.

Ailsa ficara seriamente aborrecida,quando Jake aparecera para lhe dizerque Saskia prolongaria a sua estada emCopenhagen. Como poderia adivinharque a situação mudaria drasticamenteem tão pouco tempo? Como ela poderiaprever que aquela convivência forçadairia lhe despertar sentimentos difíceisde reprimir novamente, e que se

Page 297: Harlequin - esposa perdida

deixaria levar por lembranças boas arespeito do que tinham vivido antes?Agora, só porque ele falara em irembora, ela estava subindo pelasparedes diante da perspectiva de nãotê-lo mais por perto. A ideia de ir para aDinamarca era mais que tentadora.Mas, por mais que ela ansiasse por estarcom ele e rever sua preciosa filha maiscedo do que esperava, como poderiaconcordar? Como iria para lá como setudo entre os dois tivesse sidoconsertado e não tivessem maisproblemas? Ainda havia muito aconversar, e ela não sabia aonde essaconversa iria dar. Ailsa poderia terpiorado a situação porque, agora que

Page 298: Harlequin - esposa perdida

eles haviam retomado a intimidade, oseu coração estava mais exposto, epoderia ser magoado novamente.

Jake negara ter outra pessoa, mas elanão tinha certeza de que não houvessealguma mulher esperando por ele,quando ele voltasse para casa. Se eletivesse outra, com certeza seria muitomais sofisticada que ela. Talvez fosseuma daquelas mulheres que, como eledissera, achavam que a sua cicatriz lhedava um ar de pirata.

– Apesar do que você pensa, asminhas intenções são boas – disse Jake.– Saber que Linus convidou você eSaskia para o almoço de Natal deixou ascoisas mais claras para mim. Tenho

Page 299: Harlequin - esposa perdida

certeza de que ele é um cara decente,Ailsa, mas eu não vou abrir mão dachance de vocês passarem o Natalcomigo por causa dele. Vamos paraCopenhagen. Saskia iria adorar, e aminha mãe também. Ela semprepergunta por você. Infelizmente, atéagora eu não tinha notícias suas paralhe dar. Sinto muito por não termos nosfalado desde... O que aconteceu.

Ailsa o viu agarrar a beirada dobalcão da cozinha, onde ele se apoiava,e sentiu um arrepio. Instintivamente,ela se aproximou, tremendo com a forçados sentimentos que ele lhe despertara.

– Nós nos tornamos ótimos em nãodizer as palavras que deveríamos, não é

Page 300: Harlequin - esposa perdida

mesmo? Em não dar o devido nome àscoisas. Eu sei que finalmente falamossobre coisas importantes, mascontornamos os problemas querealmente são essenciais. Bem, eu tenhonovidades para você, Jake. As coisas jáexplodiram e nos atingiram total eprofundamente. Quando você diz desdeo que aconteceu, deveria dizer desde queo nosso filho foi morto e que o amor quesentíamos, um pelo outro, tambémmorreu. Não era isso que você queriadizer?

Ele lhe lançou um olhar tão desoladocomo as noites brancas de inverno.

– E isso melhora as coisas, não é?Chamar as coisas pelo nome?

Page 301: Harlequin - esposa perdida

Ailsa ergueu as mãos em desespero.– Pelo menos é ser verdadeiro.

Enfim, é a verdade. Eu não estoudizendo que quero me agarrar a essessentimentos para sempre. Eles jádilaceraram o meu coração. Eu nãoquero aumentar o meu sofrimento.Quero realmente seguir em frente.Durante os últimos quatro anos, euestive presa, atolada naqueleacontecimento terrível. Tão atoladaque, às vezes, eu me sentia paralisada.Nem ouso pensar no que isso pode terfeito com Saskia. Ela é tão alegre evigorosa, e eu não tenho sido a mãe quegostaria de ser para ela por tanto tempoque sei que isso precisa mudar. As

Page 302: Harlequin - esposa perdida

coisas precisam mudar. O que estou lhedizendo, Jake, é que eu quero lheconfessar a minha verdade e quero quevocê me conte a sua... Que me digarealmente como você se sentiu e comose sente agora. Depois disso... Nósvamos ver.

– Então me diga, Ailsa. Conte-me asua verdade, e eu vou ouvir. Depois eulhe conto a minha.

Jake pegou na mão dela e fixou osolhos nos seus finos dedos sem anéis.Como se tivesse ficado desapontadocom o que via, soltou-a. Ailsa seperguntou se, como ela, ele podia ouviras batidas do seu coração.

– Muito bem, então... Quando eu

Page 303: Harlequin - esposa perdida

– Muito bem, então... Quando eurecobrei a consciência, depois dacirurgia, e me disseram que eu tinhaperdido o bebê, pensei estar vivendoum pesadelo. Achei que acordaria aqualquer minuto e que estaria naminha cama, com você. Pensei que irialhe contar o terrível pesadelo que tivera,que você iria me sossegar... Colocar amão na minha barriga, onde o nossofilho estava crescendo... Aindaamadurecendo... E dizer: Viu? Foiapenas um sonho, Ailsa. Está tudo bem.

Com a sensação de que sua gargantase fechava, ela passou os dedostrêmulos pelo cabelo. Não tinha

Page 304: Harlequin - esposa perdida

coragem de olhar para Jake, com medode desmoronar completamente.

– Mas não era um sonho – continuouela em voz rouca. – Apesar de elesterem me dado morfina, eu aindasentia dor. Uma dor que ultrapassavatodas as dores que eu já sentira antes.Eu não estou falando de desconfortofísico. Eu me sentia vazia... Vazia einútil, já que o bebê morrera. Umasimples casca da mulher que eucostumava ser. Dizem que algumasvezes as pessoas consternadas ficamanestesiadas pela dor, mas eu sentiatudo... Como se eu estivesse em carneviva. Eu chorei pelo nosso filho e,depois, chorei por nós, Jake. Chorei por

Page 305: Harlequin - esposa perdida

nós porque já sabia que era o fim. Eusabia que as coisas estavam difíceis, mascomo iríamos superar aquela perda?Demorou para que percebêssemos quenão conseguiríamos. Nossas vidasjamais voltariam ao normal, e nósderramamos, um no outro, toda a nossador e a nossa revolta. Eu fiquei satisfeitaquando você pediu o divórcio. Fiqueicontente por você ter uma chance dereconstruir a sua vida com outra pessoa,ter outro filho. Mas, quando você foiembora... – Ela ergueu a cabeça e oencarou pela primeira vez, desde quecomeçara a falar, e achou que nãoconseguiria continuar. – Quando vocêfoi embora... – Ela sacudiu a cabeça,

Page 306: Harlequin - esposa perdida

indicando que não conseguiaprosseguir.

O impulso imediato de Jake foiabraçá-la por um longo tempo. Elaparecia extremamente jovem evulnerável, com o cabelo cor deamêndoa emoldurando o rosto pálido...Parecia uma criança. Mas o fato de elater confessado como se sentira depoisque perdera o bebê e como acreditaraque o amor dos dois também morrera oatingira como um tsunami.

Quando a poeira começou a assentar,Jake teve a sensação de que deixarapassar algo importante... Algo vital.Subitamente, ele percebeu que, quandoestavam casados, ele não se dera conta

Page 307: Harlequin - esposa perdida

da sua sorte. Em vez disso, viviaalegremente, imaginando que a vidasossegada que levavam duraria parasempre, sem que nada pudesse ameaçá-la. Até o fato de ele ter se tornadomaníaco por trabalho, como seu pai.Tola, e talvez arrogantemente, ele seprotegera da distante e terrívelpossibilidade de que pudesse perdertudo que mais amava em um piscar deolhos... Nunca pensara nisso.

E por que deveria pensar? Seusamigos e colegas sempre lhe diziam queele tinha o toque de Midas... Que tudoem que ele tocava se transformava emouro. Diziam que ele tinha tudo: paisque o apoiavam, uma carreira fabulosa,

Page 308: Harlequin - esposa perdida

uma fortuna que ultrapassava os sonhosmais loucos e, como se isso não fossesuficiente, uma linda esposa e uma filhaencantadora. Até o dia do terrívelacidente em que um motoristaembriagado batera no seu carro, Jakenão vira motivo para discutir sobreaquela crença. A simples ideia de queaquela desgraça realmente aconteceraalimentara seus pesadelos...

Ele fixou o seu olhar atormentadonos olhos cor de bronze de Ailsa.

– Eu vivia como um sonâmbulo. Nãoapenas depois do acidente, mastambém antes. Nunca reparei nas coisasque eram importantes para mim. Estavatão concentrado no trabalho que não

Page 309: Harlequin - esposa perdida

percebia a sorte de ter você na minhavida. Isso é algo terrível de admitir, mastalvez eu encarasse tudo como natural.O meu foco estava no trabalho... Emquerer provar ao meu pai que eu podiaser tudo que ele queria e, talvez, mais.O meu grande desejo era mostrar a eleque, quando chegasse a hora deassumir os negócios, eu me sairia aindamelhor do que ele. Eu me concentreitanto nesse objetivo que não presteiatenção na minha própria vida... Nanossa vida juntos. No segundo queantecedeu a batida, eu não vi a minhapassar diante dos olhos, como aspessoas dizem que acontece. O que eu

Page 310: Harlequin - esposa perdida

vi foi que iria perder tudo que amavamais que a minha própria vida.

Jake fez uma pausa para respirar edistraidamente tocou na cicatriz doqueixo. Percebendo que as lágrimasescorriam pelo rosto de Ailsa, ele lheacariciou os cabelos. Ele estava fazendoa coisa mais difícil que já fizera: falarsinceramente. O instinto lhe dizia paraparar e se esconder atrás de suasdefesas como sempre fizera, mas ele seforçava a ser forte como Ailsa lhe pedirae a falar a verdade.

– A perda do nosso filho me deixouarrasado. Eu não acreditava que issotivesse acontecido comigo... Conosco.Eu descarreguei o meu sofrimento em

Page 311: Harlequin - esposa perdida

você, Ailsa. Eu deveria ter lhe dadoapoio, consolo, mas acabei poraumentar a distância que havia entrenós. Isso foi mais cruel que qualquercoisa amarga que eu possa tereventualmente lhe dito. Você tambémse mostrava amarga comigo. A verdadeé que a nossa negligência emocional noslevou à separação. Quando o nossorelacionamento se tornou insuportável,eu sabia que deveria ser aquele queacabaria com o nosso tormento. Adecisão foi uma faca de dois gumesporque nos libertou do sofrimentocomo casal, mas individualmente...Passamos a sofrer sozinhos. Isso foimelhor? Para mim, não parece ter sido.

Page 312: Harlequin - esposa perdida

Você me pediu para dizer como mesinto agora? Para ser sincero, eu aindaestou tentando saber. Enquanto isso, euestou satisfeito por estarmos nosfalando novamente.

– Obrigada.Ela agradeceu em um tom mais suave

que a brisa de verão agitando umacortina de voile. Jake pensou se teriaimaginado ouvi-la falar. Mas, quandoolhou para ela, viu-a enxugando aslágrimas e sorrindo. Sem compreender,ele ficou olhando para ela.

– Por quê?– Por ter me dito a verdade.Ele relaxou um pouco.

– De nada. – Ele desviou os olhos e

Page 313: Harlequin - esposa perdida

– De nada. – Ele desviou os olhos efitou o balcão. – Acabamos?

– Se você está querendo saber se euvou tocar no assunto novamenteenquanto estivermos juntos, não, nãovou. Percebi que revolver a dor dopassado pode nos levar a ter umaexistência muito triste. Eu não queroapenas existir, Jake. Quero viver...Adequada e plenamente. Hoje é umnovo dia, uma página em branco queainda deve ser escrita. A partir deagora, quero viver todos os dias dessaforma. Quero acreditar na possibilidadede ser feliz novamente.

– Então... Esse novo enfoque temalgo a ver com a sua decisão de ir para

Page 314: Harlequin - esposa perdida

Copenhagen comigo? – perguntou ele,contraindo os lábios, surpreso por tervontade de sorrir.

– Acho que tem. – Ela se abraçou aosuéter angorá.

– E qual é a sua decisão?– Acho que vou aproveitar a

oportunidade de ir com você... Para verSaskia e rever sua mãe. Gostaria dedizer pessoalmente a ela o quanto sentisaber da morte do seu pai, e quesempre vou me lembrar dele. Mas...Jake? Só porque fomos honestos, umcom outro, não significa que estejamosfazendo alguma promessa para ofuturo, não é?

Ele sentiu o coração falhar uma

Page 315: Harlequin - esposa perdida

Ele sentiu o coração falhar umabatida, como um corredor quecalculasse mal a distância para opróximo obstáculo e soubesse que iriaperder a corrida, mas se esforçou parasorrir.

– Não. Não estamos. Como você, euquero viver um dia de cada vez.

– Tudo bem. Acho melhor eupreparar algo para o nosso café damanhã e depois dar um jeito na casa,para o caso de podermos viajar logo.

– Seria bom que você tambémpreparasse as malas.

– Eu estava chegando lá, mas... Ah,acabo de pensar em outra coisa.

Ele viu que ela tamborilava os dedos

Page 316: Harlequin - esposa perdida

Ele viu que ela tamborilava os dedosno queixo.

– Em quê?– Nos presentes de Saskia. Eu ainda

preciso comprar algumas coisas, mas játenho alguns embrulhados. Posso levá-los conosco?

– Talvez os menores... Mas você vaiter a chance de fazer compras de Natalem Copenhagen. De qualquer maneira,Saskia não sentirá falta de presentes nodia de Natal... Não se depender da avó!

A expressão animada de Ailsa dizia aJake que ela se lembrara de mais umacoisa.

– Você não disse que ela lheentregou um envelope com a lista do

Page 317: Harlequin - esposa perdida

que gostaria de ganhar?Jake se sentiu culpado ao pensar no

envelope que jogara dentro da mala.– Entregou. Por que não o abrimos

quando chegarmos em casa? Sequisermos partir hoje, você não terátempo de fazer compras aqui.

– Tem razão. Acho melhor eu fazeras malas antes de qualquer outra coisa.Você acha que conseguiremos viajarhoje?

– Se os aviões estiverem decolandode Heathrow, não duvido. Basta daralguns telefonemas.

– E quanto às estradas? Você achaque elas estarão em condições depodermos ir até o aeroporto?

Page 318: Harlequin - esposa perdida

– Eu me esqueci de como você épreocupada. Creia em mim, querida, seeu digo que chegaremos lá e que tudovai dar certo, dará.

– Eu acredito. Mais uma coisa. Ondenós vamos ficar? Na casa da sua mãe,com Saskia, ou...? – Ela ficou muitocorada.

– Você poderia ficar comigo. – Jaketentou endurecer o tom. – Eu precisotrabalhar até a véspera de Natal, masAlain estará à disposição para levá-lapara onde você quiser. Imagino quepassaremos o dia de Natal na casa daminha mãe. O que você acha? – Eleesperou pela resposta com apreensão.

– Isso me parece ótimo. Pode

Page 319: Harlequin - esposa perdida

– Isso me parece ótimo. Podetelefonar para Saskia e avisar queestamos indo?

– Eu telefono assim que reservar onosso voo.

Quando ela o deixou sozinho, Jakeficou parado diante da janela por algumtempo, olhando a neve, sentindo operfume que Ailsa deixara no ar etentando controlar suas emoçõestumultuadas.

Page 320: Harlequin - esposa perdida

CAPÍTULO 10

COM A mesma facilidade com quecostumava fazer as coisas acontecerem,Jake conseguiu lugares para os dois emum voo que sairia de Heathrow naquelatarde. Quando Alain foi buscá-los noaeroporto Kastrup, em Copenhagen, eos levou até a casa de cinco andares deJake, localizada em um dos bairros maisluxuosos da cidade, eram quase 23horas.

Page 321: Harlequin - esposa perdida

Depois de ter falado com a filha duasvezes, antes e depois do voo, Ailsa malpodia esperar para vê-la. Mesmo quetivesse que esperar para encontrá-la nodia seguinte, porque haviam chegadotarde, não poderia deixar de agradecerao ex-marido por poder ver Saskia maiscedo do que o previsto. Fora umpresente precioso e inesperado.

Durante a longa viagem, Jake semantivera muito calado. Ailsa nãoachara isso estranho, ao se lembrar daprofundidade e da franqueza dasrevelações que ele fizera a respeito datragédia que os separara. Isso teria sidosuficiente para deixar qualquer pessoaemocionalmente extenuada. E, porque

Page 322: Harlequin - esposa perdida

ela se importava com os profundosrecantos emocionais que tinhamvisitado durante os últimos dias,escolhera não perturbá-lo. A não serpelo almoço, ela dormira durante amaior parte da viagem. Quandoacordara, não contara a Jake queestivera sonhando com ele... Sonhandocom a lua de mel extravagante quetinham passado na ilha St. Kitts, noCaribe. Apesar de estarem em um doslugares mais lindos do mundo, cercadosde florestas e à beira do mar azul, elesmal tinham saído da luxuosa villa. Anão ser para dar alguns mergulhos naágua morna e para se alimentar com acomida maravilhosa servida pelo chef

Page 323: Harlequin - esposa perdida

no pátio, os dois não saíam da cama. Aslembranças excitantes daquela épocaainda lhe aqueciam o corpo e aarrepiavam.

– Lar, doce lar – disse Jake, trazendoAilsa de volta ao presente.

Assim como ele analisara o clássicochalé onde ela morava na Inglaterra,quando o vira pela primeira vez, Ailsaobservou a luxuosa casa moderna deJake. Para uma mulher que crescera emum orfanato parcamente mobiliado elimitado aos confortos básicos, aimpressão de riqueza e de exclusividadeestava simbolizada no saguão demármore branco, lembrando-a dasdiferenças que existiam entre os dois.

Page 324: Harlequin - esposa perdida

Apesar de Ailsa conhecer muito bem ossinais de riqueza da família Larsen,ficou impressionada ao ver a casa. Oseu olhar passava da mobília em estilo“palácio de gelo” às obras de artecontemporânea, que Jake sempregostara de pendurar nas paredes. Ela derepente se sentiu extremamentedeslocada e inadequada no meiodaquele ambiente.

– É muito bonito – disse ela, tirandoas luvas de couro.

– Eu chamo de casa, mas uso o termoem sentido amplo. – Jake se aproximou.– Está com fome?

– Eu comi durante o voo.– Isso foi há horas.

Page 325: Harlequin - esposa perdida

– Você está com fome, Jake? – Elarepetiu a pergunta, mas só percebeu oseu efeito ao ver que os olhos deleescureciam.

– De comida? Não. Mas, sim, devocê. Sempre. – Ele deu um sorrisomais terno que apaixonado, mas que,ainda assim, fez com que ela sentisse ocoração acelerar.

– Eu preciso me refrescar. Você sabecomo é fazer uma longa viagem, mesmoque seja de primeira classe... – Semsaber se as palavras que dizia faziamsentido, porque a proximidade de Jakeera perturbadora, Ailsa ajeitou a lapelado longo casaco e pegou a sua parte da

Page 326: Harlequin - esposa perdida

bagagem, que Alain deixara no halll deentrada.

– Eu pedi à minha governanta,Magdalena, para preparar um quartopara você – disse Jake. – Vou lhemostrar onde fica.

Por que ele parecia estar evitandoolhar para ela? Ailsa sentiu umapontada de inquietação.

Como se percebesse que a deixaraconfusa, Jake soltou um suspiro.

– Eu supus que você não fosse quererficar no meu quarto... Achei que vocêgostaria de ter um pouco de privacidadepara pensar. Deixe que eu leve isso paravocê.

Jake fez com que ela subisse uma

Page 327: Harlequin - esposa perdida

Jake fez com que ela subisse umagraciosa escada curva. Enquanto oseguia, admirando a largura dos seusombros e seus cabelos em tom de ourovelho, Ailsa rezava para que ele tivessesido sincero ao explicar por que lhereservara um quarto separado. Elasentia as entranhas se retorcerem aopensar que poderia ser pelo fato deoutra mulher ter dormidorecentemente na cama de Jake edeixado sinais da sua presença. Depoisda intimidade que tinhamcompartilhado no chalé, só de pensarnessa possibilidade, Ailsa se sentiadoente.

Como ela já esperava, o quarto para

Page 328: Harlequin - esposa perdida

Como ela já esperava, o quarto paraonde ele a levou tinha a elegânciadespojada do estilo escandinavo. Osmóveis eram pintados em um tom debranco envelhecido e tinham muitocharme. Ailsa imediatamente gostou doambiente acolhedor e tranquilo, mas oseu coração falhou quando ela viu acama de casal com cabeceira demadeira trabalhada. Sim, tudo pareciaacolhedor e tranquilo, mas, sem Jake,ela se sentiria sozinha.

– O banheiro é aqui – disse Jake,abrindo uma porta e mostrando umlindo banheiro com bancadas de pinhoe acessórios de aço inoxidável.

Ela sorriu, desejando não estar tão

Page 329: Harlequin - esposa perdida

Ela sorriu, desejando não estar tãodecepcionada por não ter sidoconvidada para ficar no quarto dele. Seele sempre sentia desejo por ela, porque não a convidara?

Jake voltou para a porta do quarto econsultou o relógio.

– É tarde. Acho que também vou medeitar. Amanhã, enquanto tomamos ocafé, nós podemos combinar a hora emque iremos ver Saskia.

– Eu gostaria de ir o mais cedopossível.

– Tudo bem.– Jake? Nós não lemos a lista que ela

lhe deu... A lista de presentes de Natal.

Page 330: Harlequin - esposa perdida

Gostaria que déssemos uma olhada nelaantes de irmos até a casa da sua mãe.

– Sem problemas. – Ele deu umsorriso rápido e desapareceu ainda maisrapidamente, como um raio de solfugidio que ela desejasse sentir por maistempo, durante um dia cinzento etriste. Em um momento, iluminava omundo e lhe dava esperanças de quetudo iria melhorar; no outro,desaparecia, e as nuvens ressurgiam edeixavam o céu tão sombrio quanto oseu ânimo. – Boa noite, Ailsa. Durmabem.

– Boa noite. Espero que você tambémdurma bem – murmurou ela, enquantoele fechava a porta.

Page 331: Harlequin - esposa perdida

NA MANHÃ seguinte, Ailsa desceu e foipara a cozinha, onde foi recebida pelagovernanta de Jake, Magdalena, umamulher de cerca de 40 anos, com cabelomuito louro, alta e magra. Seus olhoseram escuros como um lago congelado,mas conseguiam refletir calor. Ela erabem diferente de Rose, a empregadaque trabalhava para eles quandomoravam em Londres, com a suasilhueta rechonchuda e o seu jeitomaternal.

– God morgen. Você deve ser Ailsa. Éum prazer conhecê-la – disseMagdalena, como se estivesserealmente satisfeita, apertando a mãode Ailsa.

Page 332: Harlequin - esposa perdida

– E você dever ser Magdalena.Também tenho muito prazer emconhecê-la – disse Ailsa, sorrindo.

– Agora eu sei de onde a sua filhatirou a beleza. Espero que não seimporte que eu diga, mas você tem umlindo cabelo...

Naquela manhã, Ailsa sentara diantedo espelho, desembaraçara os nós quetinham se formado durante a viagem eescovara os cabelos como se precisasseelevar o ânimo para enfrentar o dia. Setambém queria se embelezar para ohomem que já fora seu marido, teve ocuidado de manter esse motivoescondido. Apesar de ter dormidosurpreendentemente bem, ainda se

Page 333: Harlequin - esposa perdida

aborrecia por Jake ter lhe dado seupróprio quarto, em vez de levá-la para odele.

– Obrigada – murmurou Ailsa.– Por que não senta à mesa e eu lhe

sirvo algo quente? – sugeriuMagdalena.

– Uma xícara de chá seria ótimo...Obrigada. – Ailsa sentou-se à mesaretangular de pinho, que ficava pertodas janelas que davam para umpequeno jardim. Ela sacudiu a cabeçaao ver os flocos de neve caindo do céu ejá encobrindo os imaculados canteirosde branco.

Seguindo a direção do seu olhar,Magdalena deu de ombros e sorriu.

Page 334: Harlequin - esposa perdida

– A maior parte da neve que caiudurante os últimos dias derreteuontem. Hoje, quando você e o sr.Larsen estão em casa, ela voltou! Apequena Saskia vai ficar muito feliz, nãoé?

– Ficará encantada. Ela estavarezando para termos um Natal todobranco, este ano. A propósito, você sabese Jake... Se o sr. Larsen já levantou?

– Santo Deus, faz horas que elelevantou! Eu lhe servi um bom café damanhã e ele foi trabalhar no escritório.O seu marido acorda muito cedo etrabalha demais... Ele nos faz ficarenvergonhados.

– Ele não é meu ma... – A admissão

Page 335: Harlequin - esposa perdida

– Ele não é meu ma... – A admissãodolorosa de que ela e Jake não erammais casados foi interrompida pelatagarelice de Magdalena.

– O meu marido, Kaleb, o admiramuito. Apesar de Kaleb não ser tãoexperiente como outros empregadosdos Larsen, ele trabalharia dia e noitepara o seu marido... Eu sei disso. – Osorriso alegre de Magdalenadesapareceu e foi substituído por umerguer de sobrancelhas. – O sr. Larsenlhe deu uma chance, quando ninguémmais o faria. Sabe, Kaleb era alcoólatra– explicou Magdalena. – Ele perdeu oirmão depois de ter passado longotempo cuidando dele durante uma

Page 336: Harlequin - esposa perdida

doença debilitante e, a partir daí, ascoisas pioraram. Ele perdeu a crença deque algo valia a pena e começou abeber. Nós nos separamos e ele foimorar na rua. Um dia, ao sair de umcentro de conferências onde tivera umareunião da empresa, o sr. Larsen paroupara conversar com ele. Sim, o sr.Larsen o ajudou a voltar a acreditar emsi mesmo. Quando eu e Kaleb voltamosa ficar juntos, ele me ofereceu empregocomo sua governanta. Até então, euestivera trabalhando para uma cadeiade hotéis, mas não estava gostando.Desculpe... Eu estou falando demais, evocê provavelmente está esperando que

Page 337: Harlequin - esposa perdida

eu lhe sirva o seu chá e alguma coisapara comer.

– Por favor, não se desculpe. –Comovida por Magdalena estar lheconfiando sua história triste, Ailsa sesentia mais animada ao saber que Jakefora bom com ela e com seu marido. –Fico contente por você ter me contadoisso, Magdalena. Obrigada.

– E eu fico feliz por você não ter seimportado que eu contasse. Agora voupegar o seu chá. O que gostaria decomer no café da manhã? – Ela jáestava na frente do fogão, colocando achaleira no fogo.

Ailsa olhou para ela e imaginoucomo alguém tão obviamente eficiente

Page 338: Harlequin - esposa perdida

e que sentia tamanha admiração pelaética de trabalho e pela bondade dopatrão iria encarar o pedido de apenasuma torrada. Ela desconfiava que, porali, um bom café da manhã deveria seralgo mais substancial. Uma ideiaatraente, mas arriscada, lhe ocorreu.Depois de localizar a cafeteira top delinha, ela foi até a prateleira de pinhoonde estavam as louças e pegou umaxícara e um pires.

– Gostaria de levar uma xícara decafé para o sr. Larsen. Pode me mostrarcomo essa cafeteira funciona,Magdalena?

– Claro, será um prazer – disseMagdalena, sorrindo.

Page 339: Harlequin - esposa perdida

AO TERMINAR o último dos inúmerostelefonemas que dera para o escritórioda empresa naquela manhã, Jake jogouo celular em cima da mesa. Váriosassuntos disputavam a primazia na suamente, mas de uma coisa ele estavacerto: precisava de ar para clarear acabeça.

Ele olhou pela janela, viu os flocosque caíam e torceu para que a neve nãose tornasse muito espessa. Não até queeles tivessem chegado à casa de campode sua mãe. Ailsa já teria levantado?Conseguira dormir bem? Ele não tinhadormido! Podia jurar que mal fecharaos olhos. Como poderia ter dormido,quando o seu corpo ardia de desejo de

Page 340: Harlequin - esposa perdida

abraçá-la, de fazer amor com ela, deouvi-la gemer e sussurrar seu nomequando atingisse o êxtase?

Ele praguejou baixinho. Imaginarater visto decepção nos belos olhos corde âmbar, quando lhe mostrara oquarto na noite anterior? Um quartoonde ela dormiria sozinha? Aindaadmirado por ela ter aceitado ir paraCopenhagen junto com ele, Jake nãoquisera forçar a sua sorte, presumindoque ela iria continuar querendo dormircom ele. O bom senso lhe dizia para irdevagar, enquanto o seu coraçãoimplorava para que ele arriscasse tudo.Se ele fosse muito ansioso edesesperado, Ailsa talvez o afastasse. E

Page 341: Harlequin - esposa perdida

a última coisa que ele queria é que elase sentisse pressionada.

Colocando as mãos na cabeça, elesoltou um gemido. Fora uma espada dedois gumes, ele sabia.

Pensou que seria bom tomar maisum pouco de café para acalmar o latejarna cabeça e ajudá-lo a raciocinar!Então, exatamente nesse momento, eleouviu uma batida na porta.

– Você deve ter lido a minha mente,Magdalena. – Ele virou a cadeira e ficousurpreso ao ver a ex-esposa, vestindouma calça preta de tecido canelado eum suéter rosa, com os belos cabeloscaindo até a cintura. Ela trazia umabandeja com uma xícara de café.

Page 342: Harlequin - esposa perdida

– Sou eu... Não Magdalena. – Eladeu um sorriso doce.

– Estou vendo – disse ele, sentindo osangue ferver.

– Pensei que gostaria de tomar umcafé.

– Um café é sempre bem-vindo.Obrigado.

Ela colocou a bandeja em cima damesa, ao lado de Jake, cujos sentidosdespertarem com o seu perfumefeminino.

– Aí está – disse ela, olhando paraele.

– E aí está você – disse Jake,segurando-a pelos quadris e puxando-apara o seu colo.

Page 343: Harlequin - esposa perdida

Ela arregalou os olhos e, enquantoele a beijava, a sua necessidade declarear a cabeça saiu pela janela.Quando estava com ela, não precisavapensar. Só queria sentir, apreciar assensações que cada toque do seu corposedutor irradiava até o fundo do seuser, como o mais puro oxigênio que elepoderia inalar.

Ele a segurou pelo pescoço parapoder continuar a beijá-la mais longa eavidamente, e os cabelos de Ailsa seespalharam, formando uma cortina queparecia isolá-los do mundo. Colocar alíngua dentro da boca de Ailsa eracomo mergulhar no mel. Quando elatentou afastar os lábios, Jake sentiu a

Page 344: Harlequin - esposa perdida

pressão das nádegas contra a sua ereçãoe se incendiou. Segurou o rosto dela eemitiu um misto de gemido e deprotesto por ela tentar interromper obeijo.

– Você tem ideia do que faz comigo?Nós não conseguimos resistir. Em vezde me mandar para outro quarto, porque não me convidou para dormir comvocê, ontem à noite? – Ela corou aofazer a pergunta, como se sentissevergonha do próprio desejo. Jake sentiuo coração bater mais forte e colocou odedo sobre os lábios dela.

– Você queria que eu tivesseconvidado você para dormir comigo,Ailsa?

Page 345: Harlequin - esposa perdida

– Como espera que eu saiba de algoquando você me olha desse jeito? – Elalevantou do colo dele e se afastoualguns passos. Jake levantou da cadeirae soltou um suspiro frustrado.

– De que jeito? De que jeito eu estouolhando para você? Por que não mediz?

– Como... Como... – Ela prendeu oscabelos atrás da orelha. Mesmo adistância, ele podia ver que ela tremia.– Como se quisesse me devorar! –exclamou ela, dando as costas a elecomo se não conseguisse encará-lo.

Jake riu.– E se eu quiser? Se eu quiser tocá-la,

beijá-la toda, fazer o seu sangue ferver?

Page 346: Harlequin - esposa perdida

Você deixaria, Ailsa?Ela se voltou lentamente, como que

fascinada.– Isso é absurdo. Eu só vim até aqui

para lhe trazer um café.– Por que não deixou que Magdalena

o trouxesse?– Porque eu... – Ela mordiscou o

lábio, como que para se castigar. –Porque eu queria saber se você não meconvidou para dormir com você nanoite passada porque outra mulhertinha dormido na sua camarecentemente!

Jake caminhou até ela e parou na suafrente.

– Você realmente acha isso? O único

Page 347: Harlequin - esposa perdida

– Você realmente acha isso? O únicomotivo para eu não tê-la convidado foiter pensado em como você estaria sesentindo. Nós tivemos um longo dia deviagem, e você parecia cansada. Acheique você iria dormir melhor sozinha.Isso é tudo, Ailsa.

– Mesmo assim... Você me disse quenão vivia como um monge. Claro quevocê tem todo direito de dormir comoutra mulher... Eu não esqueci queestamos divorciados há muito tempo.Ainda assim, eu tinha esperança... Ah,deixe para lá. Eu não sei o que estoudizendo. A situação é absurda demaispara falar. – Ela abaixou a cabeça e fitouo chão.

Page 348: Harlequin - esposa perdida

Jake segurou-a pelo queixo, fez comque ela erguesse a cabeça e reparou queos seus olhos estavam úmidos.

– Só para você saber... Eu nuncatrouxe uma mulher para a minha casa.Se eu estive com alguém, e sempre foiapenas sexo, eu a levei para algum hoteldiscreto. A última vez que eu estivecom uma mulher faz seis meses...Certo?

Não, não estava certo. Ailsa sentiuvontade de gritar e de lhe socar o peito.A sua reação era louca, possessiva eciumenta, e ela não sabia o que fazercom a dor causada por seussentimentos. Ela o amava. Ele tambémsuportara o sofrimento devastador de

Page 349: Harlequin - esposa perdida

ter perdido o filho e, ainda que nãotivessem ficado juntos naquela época,ela sempre iria amá-lo. Para ela nãohavia outro homem, e nunca haveria.Jake era o pai da sua preciosa filha eisso pesava mais do que ela seria capazde dizer. Em meio à sua mágoa, Ailsasabia que não era justo que elaesperasse que ele tivesse se mantidocelibatário durante quatro anos.

Ela respirou profundamente e evitouque ele a tocasse e realmenteincendiasse o seu sangue.

– Tudo bem. Quando você acabar detrabalhar, acha que podemos conversarsobre quando iremos ver Saskia? A neveestá começando a cair mais forte, e não

Page 350: Harlequin - esposa perdida

poderemos deixar a viagem para muitomais tarde.

Jake sorriu, e seus olhos nuncatinham estado mais azuis.

– Vamos sair assim que eu acabar detomar o meu café... Está contente?

– Sim. – Ailsa cruzou os braços e seencaminhou para a porta. – Eu estoufeliz. Vou até o quarto para mearrumar.

– Ailsa?– Sim?– Hoje à noite, quando voltarmos,

talvez você queira levar a suas coisaspara o meu quarto...?

Ela engoliu o nó que se formara emsua garganta e deu de ombros.

Page 351: Harlequin - esposa perdida

– Certo.

ENQUANTO SAÍAM da cidade e tomavama direção do campo, Jake disse a ela queinfelizmente precisava dar uma olhadaem alguns documentos. Ailsa deu umsorriso, sabendo que ele se sentiaconstrangido por lhe dizer isso enotando que ele realmente estavaaborrecido por não poder lhe daratenção. Alain estava na direção daluxuosa limusine, e os dois tinham seinstalado confortavelmente noambiente aquecido. Jake, paratrabalhar; ela, para apreciar a vista eantecipar a alegria de rever sua filha.

Ao pensar em Saskia, Ailsa se

Page 352: Harlequin - esposa perdida

Ao pensar em Saskia, Ailsa serecordou de algo muito importante.Voltou-se para Jake, preocupada,sabendo que, se não fosse por algo vital,não ousaria perturbá-lo. Ele estavaconcentrado no que lia e uma ruga seformara em sua testa, como se nãoestivesse gostando do que estava escrito.De vez em quando, sublinhava váriaslinhas com uma caneta.

– Jake?– Sim? – Ele não olhou para ela.– Você trouxe a lista de Saskia?

Gostaria de dar uma olhada...– Lista de Saskia? – Como se saísse

de um transe, ele fitou Ailsa. – Ah,claro... Está aqui. – Ele abriu a pasta de

Page 353: Harlequin - esposa perdida

couro, que estivera lhe servindo deapoio para escrever, e dela retirou umenvelope meio amassado. Entregou-o aela com uma careta. – Eu deveria terlido antes, com você, mas receio que otrabalho tenha me impedido de fazerisso hoje de manhã.

– Não se incomode. Eu vou olhar alista e lhe dizer o que ela quer, estábem?

– Ótima ideia. – Ele ia recomeçar atrabalhar, mas hesitou. – Eu estoudando atenção a isto agora para podertirar mais alguns dias de folga do que oprevisto. Provavelmente amanhã tereiacabado... Só para você saber.

Ailsa sentiu uma onda de calor.

Page 354: Harlequin - esposa perdida

– Obrigada por me dizer.Ailsa abriu o envelope e ficou

surpresa ao ver que havia duas folhasde papel cuidadosamente dobradas. Elasorriu ao pensar que a lista de Natal deSaskia era maior do que eles esperavam.Pegou uma folha e seus olhos seencheram de lágrimas ao ver a caligrafiainfantil da filha. Enxugou as lágrimasdiscretamente e leu a pequena lista depresentes que Saskia pedira. Como elajá esperava, os presentes erammodestos.

Ailsa acrescentou mentalmentealguns itens à lista e pegou a outra folhade papel. Quando começou a ler,perdeu o fôlego.

Page 355: Harlequin - esposa perdida

“Queridos mamãe e papai,Eu não me importo se o Papai

Noel não me trouxer nada daminha lista. O presente que eumais desejaria ganhar era quevocês ficassem novamente juntos. Émuito triste que o meu irmãozinhotenha morrido e que eu nunca váconhecê-lo, mas eu realmentequeria que voltássemos a ser umafamília, com vocês dois morandocomigo, na mesma casa.

Com todo o meu amor,Saskia”

Ailsa mordeu o lábio, guardou a listade presentes dentro do envelope

Page 356: Harlequin - esposa perdida

amassado e escondeu disfarçadamentea outra folha dentro do bolso do casaco.

– Posso ver?O pedido de Jake a assustou.– Claro. – Tentando manter a calma

para não trair suas emoçõestumultuadas, ela lhe passou o envelopee se voltou para a janela.

Não era o momento apropriado paracontar a Jake o que estava escrito nasegunda folha de papel. Ainda que oseu coração se enchesse de esperançacom a ideia de satisfazer o pedido dafilha, seria um enorme erro prever algopara o futuro ou pressioná-lo.

Desanimada, ela observou o perfil deJake enquanto ele sorria ao ler a lista de

Page 357: Harlequin - esposa perdida

presentes que a filha pedira, e fixou osolhos sobre a cicatriz no seu rosto. Nãopela primeira vez, Ailsa sentiu umaperto no coração ao pensar em comoele a obtivera. Ela respirouprofundamente e expirou o arlentamente. Jake precisava de tempopara conhecê-la novamente. Não lhemostraria o pedido de Saskia até que eleestivesse pronto. Ele precisava ver queela esquecera os ressentimentos dopassado, que o perdoara por qualquerpecado. Ela fora sincera ao lhe dizerque queria seguir em frente com maiorotimismo e fé. Mas não lhe dissera queesperava que fosse com ele.

Quando Ailsa chegou a essa

Page 358: Harlequin - esposa perdida

Quando Ailsa chegou a essaconclusão, foi tomada pela dúvida.Podia estar disposta a fazer tudo queestivesse ao seu alcance para que orelacionamento dos dois desse certo,mas Jake estaria disposto a se amarrar auma mulher que não pudesse lhe dar ofilho tão desejado? Ela fechou os olhos,rezando para que ele não visse issocomo algo absolutamente desfavorável.Acima de tudo, Ailsa queria que elesoubesse que o seu amor por ele eraforte e verdadeiro, e que, se eleconcordasse em voltar para ela, elanunca mais deixaria que ele duvidassedisso...

Page 359: Harlequin - esposa perdida

CAPÍTULO 11

LOCALIZADA NO centro de uma clareiraem um bosque, no fim de uma pequenaestrada, banhada pela claridade azulcomum naquela parte da Europa, a casatinha um ar de magia que ainda eramais acentuado pela contínua quedados brancos flocos de neve.

Mas, por mais pitoresca que fosse, aatenção de Ailsa não estavaconcentrada em sua beleza porque,

Page 360: Harlequin - esposa perdida

parada no topo da escada de madeiraque descia até o caminho de chegada,ela via a menina de jeans e casaco de lãcor-de-rosa, e botas forradas de pele.

Antes que Alain tivesse tempo deabrir a porta para ela, Ailsa saiu docarro.

– Mamãe! – gritou Saskiaentusiasmada, descendo a escada comos braços abertos.

Ailsa abraçou a filha com força ebeijou-lhe o cabelo, com o coraçãorepleto de alegria.

– Meu Deus, como você cresceu! Oque a sua avó está lhe dando para vocêestar tão alta?

– Eu tenho comido sopa feita em casa

Page 361: Harlequin - esposa perdida

– Eu tenho comido sopa feita em casae batatas. Que bom ver você, mamãe. –Os grandes olhos azuis que lembravamtanto os de Jake brilhavam defelicidade.

– Que bom ver você também! Eusenti muito a sua falta.

– E também está nevando! Eu rezeitanto para ter um Natal com neve... Asminhas preces foram ouvidas. – Saskiaolhou para o céu com um armaravilhado.

– Lá em casa também nevou muito.– Você e o papai fizeram um boneco

de neve?Ailsa corou, quase envergonhada.

– Não, querida, não fizemos. Estava

Page 362: Harlequin - esposa perdida

– Não, querida, não fizemos. Estavatão frio que ficamos ocupados apenasem nos aquecer.

– Olá, malandrinha.Jake chegou quando elas acabavam

de falar, e foi sua vez de abraçar a filhae cobri-la de beijos. Ainda segurando apequena mão de Saskia, ele olhou paraAilsa e sorriu. Uma mecha de cabelolouro caíra sobre a testa dele, e elasentiu vontade de arrumá-la. Afelicidade que havia nos olhos dele eratão evidente que ela ficouimpressionada ao perceber que eleparecia ser outra pessoa quando estavarealmente feliz, sem o peso da culpa edo sofrimento.

Page 363: Harlequin - esposa perdida

– Vamos entrar? – Ele começou asubir a escada com Saskia, mas parou ese voltou para Ailsa. – Vamos,tartaruga... A minha mãe deve estarocupada na cozinha. Ela estava loucapara ver você novamente, Ailsa.

– Estava? – Ela estava na dúvida. Oque Tilda Larsen deveria achar dela,que se afastara de seu filho durantetantos anos? Talvez estivesse zangadapor ela ter cortado Jake da sua vida aponto de mal se falarem por telefone.Ailsa reconhecia que a mãe de Jakepoderia se sentir ressentida.

– Claro que estava. Vamos, aqui foraestá muito frio.

– E quanto a Alain? – Ailsa se voltou

Page 364: Harlequin - esposa perdida

– E quanto a Alain? – Ailsa se voltouno exato momento em que o carro seafastava.

– Ele vai dar um pulo até a cidadepara mim. Não se preocupe... Elevoltará a tempo de nos levar de voltapara casa.

– Vovó, eles chegaram! Mamãe epapai estão aqui!

Saskia soltou a mão de Jake e entroucorrendo em casa para procurar a avó.Assim que eles passaram pela porta,Ailsa se sentiu envolver pelo calor e porum aroma delicioso. Durante o tempoem que estivera casada com Jake, fora àcasa da família Larsen muitas vezes,mas nunca deixara de se impressionar

Page 365: Harlequin - esposa perdida

com os grandes espaços abertos, com amadeira clara dos pisos, com o teto altoe as janelas panorâmicas, queaproveitavam toda a claridade do dia ese tornavam essenciais durante os diascurtos de inverno.

Depois de ela e Jake terem tirado ossapatos e pendurado seus casacos, Jakelevou-a até a enorme cozinha, cujosmóveis de madeira tinham sido feitospor um marceneiro local. A delicadamulher de cabelos claros estava debraços abertos para recebê-los e nãoparecia ter envelhecido nem um diadesde que Ailsa a vira pela última vez,há quatro anos. Sim, havia mais fiosprateados no cabelo que caía até os

Page 366: Harlequin - esposa perdida

ombros, mas o seu belo rosto estavacheio de vida e acolhedor como sempre.

Ela esperou que os dois seaproximassem e abraçou Jake,murmurando carinhosamente:

– Meu lindo, lindo filho... – Oslindos olhos azuis o fitavam comadoração, como se ela nunca secansasse de olhá-lo.

Quando Tilda Larsen se voltou paraela, Ailsa sentiu um nó se formar nagarganta e deu um sorriso constrangido.

– Seja bem-vinda, Ailsa... Minhaquerida filha.

Aquela simples expressão derrubouas barreiras que seguravam Ailsa. Semconseguir mais conter a emoção, ela se

Page 367: Harlequin - esposa perdida

abraçou à senhora com a mesma forçacom que era abraçada. Nunca se sentiratão carente de amor e de aceitaçãocomo naquele momento. Como seintuísse isso, Tilda ficou abraçada a elapor um longo tempo, acariciando-lhe ascostas. Depois, colocou a mão no ombrode Ailsa, afastou-a gentilmente eexaminou o seu rosto com os olhosrepletos de bondade.

– O seu coração se encheu de tristezadurante muito tempo, meu anjo. Omaior sofrimento que uma mãe podeter é perder um filho. Eu senti por vocêe pelo meu filho. Também tenho estadotriste desde que perdi o meu Jacob.Mas, se passarmos o resto da vida

Page 368: Harlequin - esposa perdida

sofrendo, os nossos entes queridos nãopoderão descansar em paz. Eles iriamquerer que continuássemos vivendo,Ailsa... Vivendo, amando eaproveitando o tempo que nos restou...Não acha?

– Tem razão. – Ailsa fungou eenxugou as lágrimas. – Claro que vocêtem razão. Eu senti muito quandosoube da morte de Jacob. Sei comovocês se dedicavam, um ao outro.

– Sem ele tem sido difícil, mas a cadadia ficará um pouco mais fácil se euaceitar em vez de me revoltar com oque aconteceu. A presença da queridaSaskia tem me ajudado mais do que euposso lhe dizer, Ailsa. Eu lhe agradeço

Page 369: Harlequin - esposa perdida

por ter concordado em deixá-la ficarmais um pouco. Jake, por que você eAilsa não vão para a sala e se aquecemum pouco diante da lareira? Saskia e euvamos lhes preparar uma bebidaquente. Mais tarde, teremos steggtflaesk, ou seja, torresmo com batatas emolho, para o almoço.

À luz da tarde e com o brilhoalaranjado do fogo crepitando nalareira, Ailsa reparou que, apesar de aslâmpadas decorativas estarem apagadas,a árvore de Natal ao lado da janelaparecia iluminada. No topo do galhomais alto havia uma estrela dourada e,nos demais, belos enfeites feitos emcasa.

Page 370: Harlequin - esposa perdida

A visão aqueceu o coração de Ailsa.Quando morava no orfanato, elacostumava sonhar com uma casa comoaquela. Uma casa em que toda tradiçãoimportante fosse respeitada e celebrada.Ela viu a clássica grinalda do Advento,que pendia do teto, com suas quatrovelas vermelhas e brancas, uma paracada um dos quatro domingos queantecediam a véspera de Natal.Lembrou-se de que, desde queconhecera aquele ritual, ficarafascinada.

Jake pegou-a pela mão e levou-a atéo confortável sofá ao lado do fogo.

– Você está bem? – perguntou ele,preocupado.

Page 371: Harlequin - esposa perdida

– Estou ótima. Foi muito comoventeque a sua mãe me recebesse com tantocarinho.

– Por quê? O que você esperava?Ailsa sacudiu os ombros.– Ela não me via há quase quatro

anos... Eu mal falava com ela. Penseique ela também estaria zangada por eunão me comunicar devidamente comvocê.

– Se é isso que esperava, você não aconhece bem.

Ailsa ficou calada. O que poderiafalar, se ele dissera a verdade? Elapercebeu que estivera afastando aspessoas que lhe eram mais próximas, e

Page 372: Harlequin - esposa perdida

rezou para que nunca tivesse feito omesmo com sua filha.

– Ei... – Ele passou os dedos no rostodela e sorriu. – É bom tê-la aqui, Ailsa...Realmente ótimo. Fazia muito tempo...

Jake mentalmente acrescentou “quebom vê-la de volta ao seu lugar”. Devolta ao convívio com pessoas querealmente gostavam dela. Durante osanos que tinham passado juntos, ele àsvezes reparara que ela parecia umacriança perdida, com um infeliz olhardistante que dizia que estava vagandopelo mundo de insegurança e incertezada sua infância. Ele percebera quetivera uma mãe e um pai que, à suamaneira, sempre tinham cuidado dele e

Page 373: Harlequin - esposa perdida

lhe dado apoio, e nunca conseguiraimaginar como deveria ter sido, paraela, não ter ninguém além dosresponsáveis pelo orfanato em quecrescera.

Quando ele se apaixonara e jurara secasar com ela o mais rápido possível,prometera a si mesmo que Ailsa nuncamais precisaria duvidar de que fosseamada. Mas, quando ela perdera ofilho, Jake se esquecera da suapromessa. Estivera tão envolvido naprópria dor e sofrimento que deixara deter a esperança de que um dia tudofosse voltar ao normal e de que iriaamá-la até o fim da sua vida. O fato deque Ailsa não pudesse mais ter filhos

Page 374: Harlequin - esposa perdida

não deveria ter afetado a felicidade dosdois. Ele deveria ter lhe garantido queestava perfeitamente feliz com a famíliaque já possuía e que não precisava demais nada. Em vez disso, abandonara ocasamento para fugir da sua dorintolerável.

– Papai, a vovó me ajudou a fazercafé e chá para você e para a mamãe.Nós também fizemos estes biscoitos. Avovó disse que vocês não devem comermuito porque, do contrário, não vãoalmoçar...

– Como eu poderia resistir? Você fazcom que eles pareçam tão tentadores. –Jake riu e pegou um biscoito, junto comuma xícara de café.

Page 375: Harlequin - esposa perdida

Saskia apresentou a bandeja a Ailsa.– Posso pegá-la, querida? – Ailsa se

ofereceu, sorrindo. – Ela parece estarpesada.

– Eu consigo carregar. Eu estou mesaindo muito bem como ajudante noserviço de casa... Não estou, vovó? –Saskia perguntou a Tilda, que entravana sala e parava ao lado dela.

– Você sempre me causa surpresa eadmiração, min skat.

– E, agora que você já nos serviu,meu anjo, deixe-me pegar a bandeja. –Jake pegou a bandeja das mãos deSaskia e colocou-a ao lado dele, nochão.

– Jake? Saskia fez mais alguns

Page 376: Harlequin - esposa perdida

– Jake? Saskia fez mais algunsbiscoitinhos que precisam ser retiradosdo forno. Você poderia ir com ela até acozinha, para ajudá-la. Enquanto vocêsfazem isso, eu fico conversando comAilsa.

Jake sentiu uma pontada deansiedade por sua mãe estar querendofalar sozinha com Ailsa, mas, como nãopodia questioná-la, ele precisava confiarque ela não diria nada de inadequado.

– Tudo bem. Vamos, querida, vamostirar os seus biscoitos do forno antesque eles se tornem carvão!

Saskia ficou indignada.– Eles não vão queimar, papai,

porque eu e a vovó colocamos o forno

Page 377: Harlequin - esposa perdida

na temperatura exata. Além disso, eusou uma boa cozinheira e nuncaqueimo a comida. Não é, vovó?

– Você aprende depressa, pequenina.Jake passou a mão no cabelo da filha,

pegou seu café, e os dois foram para acozinha.

Tilda sentou ao lado de Ailsa, pegouna mão dela e soltou um suspiro.

– O meu filho está feliz, em paz coma vida, em vez de estar lutando com ela.A minha intuição diz que é por suacausa, Ailsa.

Ela poderia acreditar estar ouvindo averdade? Mais uma vez, a suaesperança despertou. Depois de ver queTilda não estava zangada e

Page 378: Harlequin - esposa perdida

decepcionada com ela, Ailsa se permitiurelaxar e abaixar suas defesas.

– Foi muito bom nós termos passadoos últimos dias juntos – admitiu ela. –Nós conversamos... Realmenteconversamos... Pela primeira vez, depoisdo divórcio. Acho que isso ajudou a nósdois.

– Isso é bom... Muito bom. Mas,agora, minha querida, eu vou dizer oque penso. – Tilda olhou-a comfirmeza. – Vocês não deveriam ter sedivorciado. Você parece chocada ao meouvir dizer isso, mas, por favor, poderiame ouvir por apenas um momento?

– Tudo bem – respondeu Ailsa,sentindo o coração acelerado.

Page 379: Harlequin - esposa perdida

– A culpa não foi de ninguém... Nemsua nem do meu filho. Vocês estavamtão arrasados que foi surpreendenteque pudessem resolver alguma coisa.Não era a melhor hora para sedivorciassem. Eu sei que vocês doisestavam passando por dificuldades norelacionamento... Como poderia nãosaber, quando via o meu filhomergulhado no trabalho, e nãovoltando para a sua família? Era omesmo comportamento que o meumarido teve durante todo o nossocasamento. É muito difícil que umamulher aguente isso. Eu sabia que Jacobme amava, mas tinha dificuldade dedemonstrar. Jake tinha dificuldade para

Page 380: Harlequin - esposa perdida

lidar com a maneira de ser do pai. Sabiaque, até em seu leito de morte, Jacobestava preocupado com os negócios, eem como o nosso filho iria se sairadministrando a empresa? Várias vezes,os dois discutiram por causa dasinovações que Jake queria fazer. O meumarido era antiquado... Ele acreditavaque, quando a gente aprendia a fazeralgo de um jeito, deveria fazer assimpelo resto da vida. – Tilda suspirou esacudiu a cabeça. – Depois do acidente,vocês precisavam de muito mais apoiodo que pensaram. Novamente porcausa do sofrimento, nenhum dos doisestava aberto a receber ajuda. Sinto terque lhe dizer, mas, depois que vocês se

Page 381: Harlequin - esposa perdida

separaram, o meu filho se tornou outrapessoa... Uma pessoa que, por mais queeu tente, não consigo alcançar. Não foiapenas a morte trágica do bebê ou aprofunda cicatriz no rosto que o fizerammudar. Sem você, Ailsa, ele é como umnavio sem leme. Ele se tornou cada vezmais isolado e sozinho. Uma vez, eleme disse que a única coisa que omantém vivo é Saskia. Quando ele estácom ela, se torna vivo, animado...Agora, eu vou lhe fazer uma pergunta equero que você me diga a verdade, nãoo que acha que eu quero ouvir...Entendeu?

Ailsa mordeu o lábio e concordou.As lágrimas lhe chegaram aos olhos.

Page 382: Harlequin - esposa perdida

– Você ainda gosta de Jake?Ailsa soltou a mão que Tilda

segurava.– Sim... Eu gosto muito.– Então, eu vou fazer uma sugestão.

– Tilda deu um sorriso terno ecompreensivo. – Gostaria que vocêdeixasse Saskia comigo até a véspera deNatal e passasse algum tempo sozinhacom Jake. Sinto que vocês ainda têmmuito a conversar... Talvez, sobre ascoisas mais importantes... Na véspera deNatal, vocês viriam ficar conosco. Euvou preparar um quarto de hóspedes evocês poderão ficar aqui pelo tempoque quiserem.

– E quanto a levar Saskia para fazer

Page 383: Harlequin - esposa perdida

– E quanto a levar Saskia para fazercompras? Ela queria comprar algunspresentes, e eu preciso comprar ascoisas que ela pediu na lista.

– Eu a levo para fazer compras. Seráaté melhor, porque ela provavelmentevai querer comprar presentes para amamãe e o papai. Você mencionou alista que ela fez?

– O que tem ela?– Havia duas folhas de papel no

envelope que ela entregou a Jake, nãohavia?

Ailsa sentiu o coração acelerarquando pensou no papel que esconderadentro do seu bolso.

– Sim, havia.

Page 384: Harlequin - esposa perdida

– Ele leu os dois? – perguntou Tilda.– Não. Ele me entregou o envelope.– Então, ele não tem ideia do que

estava escrito naquelas páginas?– Eu o deixei ler a lista de presentes,

mas foi tudo.– Ah... – Tilda disse em um tom

compreensivo. Ailsa se sentiuconstrangida.

– Eu vou mostrar a outra carta a ele...Vou sim. Mas... Tem que ser na horacerta.

– Isso é verdade. Aproveite a chancede estarem juntos, e você encontrará ahora certa, querida. Esse é o meuconselho. Almocem comigo e Saskia edepois voltem para casa. Se Jacob ainda

Page 385: Harlequin - esposa perdida

estivesse aqui, tenho certeza de que lhedaria o mesmo conselho. Ele amava onosso filho de todo o coração, Ailsa,ainda que não demonstrasse. Ele tinhatanto orgulho de Jake!

Não cabia a Ailsa dizer a Tilda queJake duvidava do amor do pai. Aquelaera um conversa que eles deveriam terem particular. No momento, ela ansiavapor passar algum tempo com a filha,mas sabia que não deveria desprezar aoportunidade de finalmente expor seussentimentos para Jake. Ela não podiamais dar as costas e fugir de coisas quepoderiam machucá-la ou que nãotinham saído como ela esperava.Passara a vida inteira fugindo. Era

Page 386: Harlequin - esposa perdida

chegada a hora de enfrentar tudo, nemque fosse para ensinar à filha a sercorajosa.

– Muito bem, eu seguirei o seuconselho. Contanto, é claro, que Jakeconcorde.

Tilda levantou e alisou as pregas dovestido.

– Acredite... Ele vai concordar. Ter aoportunidade de passar algum tempocom você, de conversar e retomar aproximidade que vocês tinham, dealiviar as mágoas e construir um futuromais feliz... Por que ele iria recusar?Agora, preciso ir preparar o almoço ouele só ficará pronto na hora do jantar!

Page 387: Harlequin - esposa perdida

JAKE ESTAVA estranhamente calado,enquanto voltavam para casa. Eleshaviam almoçado e, depois, ela e Saskiatinham saído e feito um boneco deneve. A menina ficara toda animadaquando o pai se juntara a elas e adesafiara para uma batalha de bolas deneve.

Fora uma alegria ver pai e filha como rosto corado por causa da brincadeira.Agora, Ailsa se perguntava se Jake tinhase arrependido de ter concordado coma sugestão de Tilda. O medo de que eleestivesse se sentindo pressionado areatar o relacionamento dos doisretornou. A última coisa que ela queria

Page 388: Harlequin - esposa perdida

era que desejasse se reconciliar com elapor se sentir culpado.

– Foi maravilhoso ver Saskianovamente, não foi? Ela está muito felizpor estar com a avó.

– Acho que ficarem juntas éimportante para as duas. – Jakeesfregou o queixo e deu um sorriso quenão a acalmou.

– Tem certeza de que não se importapor voltarmos sozinhos, Jake? Sinto quevocê não está totalmente satisfeito comisso.

– Vamos falar a respeito quandochegarmos em casa, está bem?

Ailsa ficou em silêncio e voltou aapreciar a paisagem, desejando poder

Page 389: Harlequin - esposa perdida

voltar a se sentir feliz.A viagem se tornou interminável.

Quando, por fim, Alain estacionou ocarro diante da casa, ela esperou queele abrisse a porta e se despedisse. Jakeabriu a porta de casa e esperou que elaentrasse.

– Gostaria de tomar uma bebida ou,talvez, um café? – Ele a ajudou a tirar ocasaco e o pendurou no belo cabide aolado da porta, mas não antes que eladiscretamente pegasse o papelamassado que escondera dentro dobolso.

– Um café, por favor.– Então, café para dois. – Jake tirou o

casaco, pendurou-o e foi para a

Page 390: Harlequin - esposa perdida

cozinha. Muito tensa, Ailsa foi atrásdele.

À luz clara da cozinha, Jake mediucuidadosamente a quantidade de café,ligou a cafeteira e separou as xícaras epires, como se estivesse ganhandotempo para organizar seuspensamentos. Sentada à mesa, Ailsa serecordou de que ele sugerira que,quando voltassem, ela levasse abagagem para o seu quarto. Teriamudado de ideia?

– Jake? – Sentindo-se incapaz de ficarcalada ou parada, ela levantou,apertando a folha de papel que estavana sua mão e sabendo que, não

Page 391: Harlequin - esposa perdida

importava o que acontecesse, deveriamostrá-la a ele.

Jake se voltou, com a luz refletindoem seu cabelo dourados e os olhos azuisbrilhando como nunca.

– O que é?– Quanto à... à lista de presentes de

Natal de Saskia...– Você tinha razão. Ela pediu muito

pouco.– Sim, pediu. Mas, Jake... Ela fez

outro pedido.– Eu sei. – Os olhos dele brilharam,

mas Ailsa pensou ver um traço deirritação no seu olhar.

– Sabe? Como você sabe?

– O que você acha? Eu estive com ela

Page 392: Harlequin - esposa perdida

– O que você acha? Eu estive com elaa tarde inteira, e ela me disse. Queriasaber se nós tínhamos lido o pedidojuntos, quando estávamos na Inglaterra.Antes que eu dissesse que iríamos lê-loquando chegássemos aqui, elaperguntou se tínhamos concordado, ese iria acontecer antes do Natal. Percebique tinha alguma coisa a ver com nosreconciliarmos.

– Ah, meu Deus... – O papel queestava na mão dela parecia queimá-la.Sentindo-se quase desmaiar deansiedade, Ailsa o desamassou eentregou-o a Jake. Ele leu, soltou umsuspiro e colocou-o sobre o balcão.

– É um pedido e tanto!

Page 393: Harlequin - esposa perdida

– Eu sei – concordou Ailsa, sentindodificuldade para respirar.

Ela prometera a si mesma queenfrentaria tudo, mas, agora, estavaapavorada que Jake dissesse que nãoiria acontecer... Que era impossível eque, quanto mais cedo dissessem aSaskia que o seu pedido não seriaatendido, nem a tempo para o Natalnem no futuro, melhor seria para todos.

– Por que não me mostrou issoquando estávamos dentro do carro,indo para a casa da minha mãe? Vocême deu a outra carta.

– Talvez eu devesse ter lhe mostrado,mas fiquei preocupada que vocêpudesse... – Ela passou a mão no cabelo

Page 394: Harlequin - esposa perdida

e o encarou com firmeza, ainda que,por dentro, se sentisse insegura. – Acheique você poderia se sentir pressionado,encurralado...

– Não poderia ter deixado que eujulgasse isso?

Ailsa se encolheu.– Desculpe, mas, apesar de Saskia ser

tudo para nós, eu não queria que vocêsentisse que precisava concordar com opedido dela só para deixá-la satisfeita.Você merece ser feliz, Jake... Quero quevocê faça o que for melhor para você. Seisso significa que você prefere ter aliberdade de ser solteiro, ou que querficar com outra pessoa, eu jamais iria

Page 395: Harlequin - esposa perdida

culpá-lo ou guardar ressentimentos.Juro.

– Está dizendo que me deixariaabandoná-la, como eu fiz antes?

Assim que as palavras ditas em vozgrave foram registradas pelo seucérebro, Ailsa levou um choque,sacudiu a cabeça e engoliu o soluçoangustiado que ameaçava lhe escaparda garganta.

– Eu o deixei ir embora porqueacreditava não ter mais nada para lheoferecer. E porque ver você tão infelizestava quase me matando.

– Foi uma época tenebrosa. Creioque nenhum de nós dois sabia o queestava fazendo.

Page 396: Harlequin - esposa perdida

– Tem razão. Quem saberia, depoisde tamanho abalo? Mas, se por milagre,você resolver que quer ficar comigo...Que quer tentar recuperar o que nóstínhamos antes das coisas se tornaremdifíceis... Você sabe que eu não possomais engravidar? Que eu não posso lhedar o filho que tanto deseja?

O silencio se tornou tão pesado queameaçava quebrar, mas quando Jakevoltou a falar ela sentiu o aperto quelevava no coração diminuir um pouco.

– Você me deu uma filha, Ailsa...Uma menina linda e inteligente, com obrilho do sol no cabelo e alegria nosolhos. E você me deu um filho. Thomaspode não ter sobrevivido, mas ainda é

Page 397: Harlequin - esposa perdida

meu filho, e eu nunca vou esquecê-lo.Você realmente acha que eu só iriaquerer ficar com você para que você medesse filhos, e não simplesmente porqueeu...?

De repente, ele estava diante dela,puxando-a contra o peito. Ela pensouque iria se derreter pelo simples contatode seus corpos, mas era o que ele estavatentando lhe dizer que a deliciava.

– Porque o quê, Jake? – sussurrouela.

Page 398: Harlequin - esposa perdida

CAPÍTULO 12

– VOCÊ NÃO adivinha? Não sabe?Jake tinha certeza de que, se o seu

coração batesse mais forte, sairia dedentro do peito. Não era fácil pensarquando aqueles olhos cor de âmbar lhedespertavam o desejo de abraçá-la ebeijá-la, de saciar a sede que sentia porela e que nunca o deixava.

– Eu amo você, Ailsa. Nunca deixeide amá-la e jamais deixarei. Quando vi

Page 399: Harlequin - esposa perdida

que você tinha escondido a mensagemde Saskia, achei que tinha sido por nãoadmitir a possibilidade de nosreconciliarmos. Que outro motivo vocêteria? Foi por isso que me mantivecalado enquanto vínhamos para casa.

– Jake, eu também nunca deixei deamá-lo. Mesmo quando concordei como divórcio. Desde então, aprendi que oamor é algo que nunca morre, aindaque seja atingido pela tragédia, comoaconteceu conosco. – Ela colocou asmãos em torno do rosto dele. – Eu nãoqueria que nós nos separássemos. Comopoderia querer algo que iria me deixarcomo uma morta-viva? Eu perdi o

Page 400: Harlequin - esposa perdida

nosso filho e depois perdi você, meuamor.

– Quando pedi o divórcio, estavaconfuso e desesperado para aliviar anossa dor. Eu deveria estar louco paraachar que isso tornaria as coisas maisfáceis. Eu não sei quanto a você, mas eufiquei ainda mais atormentado por nãoestarmos juntos.

Ele pegou na mão dela e beijou-a. Asensação não apenas de satisfação, mastambém de esperança ao sentir a peledela sob seus lábios, quase o fez perdera direção.

– Assim que eu vi você de novo,percebi que os meus sentimentos nãotinham diminuído. Na verdade,

Page 401: Harlequin - esposa perdida

estavam mais fortes. Quando o seuamigo fazendeiro apareceu, eu sentivontade de socá-lo por presumir quepoderia ter algo que era meu. Não peçodesculpas por ter parecido possessivo eciumento. Nem agora, nem nunca!Algumas vezes eu acho que seria capazde morrer de amor por você, Ailsa. Nãoé preciso um milagre para que eudecida voltar para você. Case comigo omais rápido que for possível. Quero quevocê seja minha esposa.

– Você acha...? Você pensa que eu...?– O quê? Você tem dúvidas? Diga

quais são para que eu possa eliminá-las.Como resposta, ela o abraçou pela

cintura, ficou na ponta dos pés e

Page 402: Harlequin - esposa perdida

plantou um beijo firme e quaseincendiário na boca de Jake, não apenaspara calá-lo, mas também para fazê-loparar de pensar.

Agora não era mais o receio que obalançava, e sim o desejo. Jake abafouum gemido. Para aumentar o seutormento, Ailsa lhe lançou um olharmalicioso, que iluminou o seu lindorosto.

– Eu só ia perguntar se eu posso levaras minhas coisas para o seu quarto.

– De que coisas você acha que vaiprecisar, querida? – Ele enfiou as mãosem seu cabelo e beijou-a longamente.Quando voltou a erguer a cabeça, ficousatisfeito ao ver o efeito que lhe

Page 403: Harlequin - esposa perdida

causara. Seus lábios estavam úmidos einchados, seus olhos brilhavam comoestrelas. – Você não vai precisar deroupas. Pelo menos, não até a hora doalmoço de amanhã.

– Isso quer dizer que vamos ficar nacama até lá?

– Pode acreditar que vamos.– Nesse caso, podemos esquecer o

café e ir diretamente para a cama? – Elaimpediu que ele respondesse,colocando o dedo sobre seus lábios. –Ah, e quanto à pergunta que você mefez, eu adoraria me casar com você. Nósdois fomos feitos um para o outro, Jake.Você me perguntou se eu tinha

Page 404: Harlequin - esposa perdida

dúvidas. Eu não tenho nenhuma: tenhoesperanças... Muitas.

A LUA cheia aparecia pela janela,iluminando os fascinantes traçosmasculinos do rosto de Jake, que aindatinha o poder de fasciná-la apesar dacicatriz que alguns achariam uma marcacruel. Para Ailsa, a cicatriz sempre seriaheroica e não maculava o homem comquem ela voltaria a se casar. Ela afastouo cabelo que insistia em lhe cair na testae teve a satisfação de ver seus olhosescurecerem. Montada em cima dele,sobre a cama, pensou que seria capaz demorrer de alegria. Estar tão perto delenovamente, desfrutar de uma

Page 405: Harlequin - esposa perdida

intimidade sem barreiras, por saber quepodia confiar em Jake mais que emqualquer outra pessoa, era mais quefelicidade. Ela sentia a boca latejar porcausa dos beijos devoradores, e o seucorpo doía deliciosamente por causa damaneira como ele a acariciara. Nosbraços dele, tivera a sorte de ter voadoduas vezes por mundos desconhecidos,e Jake não parecia ter achado suficiente.Agora, era a sua vez de lhe dar prazer.

Quando ela tentou se afastar, ele asegurou pelo pulso.

– O que você está tentando fazercomigo? Não vê que estou fervendo dedesejo por você?

– Eu não vou longe, prometo. Eu só

Page 406: Harlequin - esposa perdida

– Eu não vou longe, prometo. Eu sóquero...

Ela deslizou pelo corpo dele ecomeçou a beijá-lo, começando pelomamilo rosado, rodeado de peloslouros, seguindo um caminhopredeterminado pelo seu peito, pela suabarriga. Um caminho destinado a lheproporcionar o máximo de prazer eelevar a sua tensão. Ailsa usava a línguapara causar os efeitos mais provacativosem que podia pensar. Ela beijou o seuumbigo e desceu a boca pela trilha depelos dourados que conduzia ao lugarem que unira o corpo com o dele e osdois tinham se tornado um... Assim

Page 407: Harlequin - esposa perdida

como seus corações e suas almas sempretinham se completado.

– Ailsa... Tenha compaixão...Ela parou de beijá-lo e olhou para

ele.– Você não teve compaixão quando

quase me deixou louca há pouco.– Você vai me pagar... Vou deixá-la

ainda mais enlouquecida, quandovocê... – O gemido que ele deu fez comque ela sorrisse e acariciasse a suaereção.

– Isso é uma promessa?Ele a segurou pelo pulso, desta vez

com força suficiente para puxá-la sobreo corpo. Ela deixou que Jake asegurasse pelos quadris e a possuísse

Page 408: Harlequin - esposa perdida

novamente. E, dessa vez, ele não tevecompaixão, e deixou-a tão louca quantouma mulher que desejasse um homempoderia ficar...

Véspera de Natal, na casa de TildaLarsen

Saskia ajudava a mãe a pôr a mesapara o jantar. Alguns amigos e parentesdos Larsen passariam a noite com eles,e a casa estava mais bonita do quenunca. Velas em todas as janelas, lindosvasos de cristal e tigelas de porcelanacheias de flores espalhadas pelas mesas.Tudo estava brilhando e tinha um arfestivo. Voltara a nevar. Não o

Page 409: Harlequin - esposa perdida

suficiente para impedir que osconvidados percorressem as estradas,mas o bastante para fazer com que ojardim parecesse mágico.

O aroma apetitoso de pato assado,que vinha da cozinha, deixou Ailsa comágua na boca, e ela percebeu que estavafaminta. O seu corpo se aqueceuquando ela se lembrou de que nosúltimos dias que passara com Jakequase não tinham cozinhado e comidomuito pouco. Ele dera alguns dias defolga a Magdalena, afirmando quecomeriam fora ou se virariam sozinhosna cozinha.

E mantivera a palavra. Tinham ido aalguns dos restaurantes mais exclusivos

Page 410: Harlequin - esposa perdida

da cidade, mas, na maior parte dotempo, ficavam se olhando com arfaminto, em vez de comer os deliciosospratos que tinham pedido. Quandoacabavam de jantar, corriam para casa,para fazer amor...

Toda vez que se lembrava do motivopara se sentir tão bem, Ailsa soltava umsuspiro de contentamento. E, agora, asensação de que algo maravilhoso iriaacontecer flutuava no ar, e não apenaspor causa da magia daquela época doano. Toda vez que ela olhava para Jakee ele olhava para ela, enquanto remexiaas brasas da lareira, ela sabia que elesentia o mesmo. Os dois tinham

Page 411: Harlequin - esposa perdida

surpresas que só iriam revelar maistarde.

– Você acha que o Papai Noel vai metrazer alguma surpresa, mamãe? Algoque eu não esperava? – perguntouSaskia, fitando Ailsa atentamente.

– Você quer dizer: outro pôster doídolo de cinema por quem você é louca?– Jake se aproximou, parou atrás dafilha, pousou as mãos sobre seusombros e beijou-lhe a cabeça. Saskiaficou corada.

– Eu não sou louca por ele, papai...Só gosto dos filmes em que ele trabalha!

– O seu pai está brincando, querida.– Ailsa acabou de dobrar o últimoguardanapo e sorriu para o marido e

Page 412: Harlequin - esposa perdida

para a filha. – Tenho certeza de quevocê vai ganhar um monte de surpresas.

– Eu quero estar bonita para o jantar.Vou subir e me trocar. A vovó me deuum lindo vestido vermelho que euquero usar.

– Quer que a ajude, anjo?– Não, mãe. Eu estou crescida.

Voltarei em alguns minutos. – Com umsorriso para os pais, Saskia se foi,deixando-os sozinhos.

Ailsa deu uma última olhada namesa para verificar se estava tudoperfeito. Passou a mão na saia, quecombinava com a blusa cor de amora, eafastou os cabelos dos ombros. Naquelemomento, Jake se aproximou, abraçou-

Page 413: Harlequin - esposa perdida

a pela cintura e lhe beijou a nuca. Eleestava usando a colônia de que elatanto gostava e que, junto com operfume naturalmente masculino, faziacom que o seu coração acelerasse.

– Você está extremamente atraente –disse ele, apertando-a contra o corpo.

– Você também está apetitoso –brincou ela, adorando a maneira comoo suéter cor de vinho e o jeans preto lhedavam uma aparência sexy e viril só porestarem no seu corpo forte e perfeito.

– É mesmo? – Os olhos deleescureceram, como sempre aconteciaquando estava perto dela. – Talvez eulhe peça para provar isso mais tarde.

– Não fique me provocando ou eu

Page 414: Harlequin - esposa perdida

– Não fique me provocando ou eunão vou estar em condições de ajudar asua mãe na cozinha.

Jake riu.– Ela vai entender. Ela está nas

nuvens por estarmos novamente juntos.É evidente que ela não vai dizer isso aninguém, até que contemos a Saskia.Você a ouviu cantando, hoje cedo?Agora você sabe de onde vem o meutalento vocal.

Ailsa carinhosamente afastou umcacho de cabelos louros que caíra sobrea testa de Jake.

– Eu adoro a sua voz... Adoromesmo. É como... Como umacombinação de conhaque aquecido

Page 415: Harlequin - esposa perdida

sobre a chama e veludo macio... Pelomenos, quando você fala. Mas,infelizmente, ela perde o seu poder defascinação quando você canta!

– Eu não sabia que você tinha umtraço de crueldade.

– Querido, nunca mais serei cruelcom você... Prometo. – Ela parou de rir,admirou o rosto do marido e beijou-oternamente. Quando se afastou, ele asegurou pelos quadris.

– Eu não espero que você nuncafique zangada ou decepcionada comigo,sabia? Provavelmente haverá dias emque o ressentimento e antigas mágoasirão ressurgir, ocasiões em que vocêficará triste pelo nosso filho. Quando

Page 416: Harlequin - esposa perdida

isso acontecer, quero ter certeza de quevocê vai me dizer, não guardar paravocê. Combinado?

– Combinado, mas você tem quefazer o mesmo – assinalou Ailsa.

– Claro. Eu prometo. Há mais umacoisa sobre a qual precisamos conversar.

– Não é que eu não queira conversar,Jake. Mas estou preocupada por Tildaestar sem ajuda na cozinha.

– A maior ajuda que podemos lhedar é estarmos novamente felizes... Euestive pensando a respeito de ondeiremos morar, depois de casados. Eu seique você adora o chalé, mas estiveconsiderando a ideia de me instalar emLondres novamente. O escritório da

Page 417: Harlequin - esposa perdida

empresa em Copenhagen está indobem, e há duas pessoas que poderiamcuidar dos negócios para mim. Adistância do chalé até Londres é muitogrande, e eu não queria que ficássemosafastados. Gostaria de saber o que vocêacharia de se mudar para a casa deWestminster por algum tempo, atéacharmos algo que nos agrade? Umlugar que tenha um grande jardimonde Saskia possa brincar, talvez umacasa perto do Tâmisa? Eu pedi ao meucorretor que começasse a procurar. Oque você acha?

– Tudo bem. Para mim parece ótimo.– Eu sei que você tem uma empresa,

mas você pode fazer negócios on-line.

Page 418: Harlequin - esposa perdida

Posso lhe arranjar um espaço perto deonde vamos morar, em Londres. Oupodemos procurar uma casa que tenhaespaço suficiente para você trabalhar.

– Sim, eu concordo, Jake. – Ailsasoltou um profundo suspiro.

– Só sim? Você não tem nada a dizersobre a mudança?

Ela pegou na mão dele, examinouseus longos dedos, suas unhas e oemaranhado de cicatrizes sobre a pele.Sentiu o coração se apertar.

– Neste momento, eu iria até o fimdo mundo para estar com você, Jake...Essa é a verdade. Por mais que eu gostedo que faço, a minha empresa deartesanato não é a minha maior

Page 419: Harlequin - esposa perdida

prioridade. A minha prioridade é...Você e Saskia. O mais importante é quenós três fiquemos juntos. Como eu jálhe disse, não tenho dúvidas. Tenhoapenas esperanças.

– Se eu bebesse, faria um brinde –brincou Jake.

– O que há de errado com suco delaranja? – perguntou Ailsa, sorrindo.

O JANTAR chegava ao fim. Sentado àcabeceira da mesa, com Ailsa à suadireita e Saskia à sua esquerda, Jake fezum sinal para a filha. Saskia bateu acolher de sobremesa no copo, parachamar a atenção dos amigos eparentes. Sentada na outra extremidade

Page 420: Harlequin - esposa perdida

da mesa, de frente para o filho, TildaLarsen piscou o olho para a neta, queacabava de levantar.

– Atenção, todos vocês... O meu paitem algo a dizer. – Saskia voltou asentar, com o rosto muito corado.

Jake pegou na mão dela e beijou-a.Levantou e observou os rostos dosconvidados, que olhavam para ele comexpectativa.

– O Natal é uma data muito especialpara todos nós – disse Jake. – Apesar dehá seis meses ter tido a tristeza deperder meu pai, e de minha mãe terpedido um marido devotado, não creioque ele me censurasse por dizer que,este ano, essa data é muito especial. É

Page 421: Harlequin - esposa perdida

muito especial porque a minha queridaAilsa concordou em se casar comigonovamente.

– Vocês me deram a surpresa que eupedi! Ah, obrigada... Obrigada! Émelhor que qualquer presente do PapaiNoel! – Saskia levantou, abraçou o pai efez o mesmo com a mãe.

Todos bateram palmas e levantaram,expressando sua alegria. Tomado deemoção, Jake abraçou Ailsa, quelevantara, com os olhos cheios delágrimas de felicidade. Jake fez o brindeque há tanto queria fazer.

– Ao amor da minha vida, Ailsa.Você me devolveu a vida e me tornoumais feliz do que eu provavelmente

Page 422: Harlequin - esposa perdida

merecia. Espero nunca lhe dar motivospara se arrepender de ter voltado paramim. Vou fazer com que você tenha acerteza de ter tomado a decisão certa.

– Você não precisa fazer nada alémde ser o homem maravilhoso que é,Jake. Você também me devolveu a vida.– Ela falava baixinho, para que só eleouvisse. E ali, diante de toda a família edos amigos, ele a beijouapaixonadamente.

EMBALANDO CUIDADOSAMENTE asfotografias que levaria paraWestminster quando ela e Saskia semudassem para a casa de Jake, Ailsapegou uma delas e suspirou. Era a

Page 423: Harlequin - esposa perdida

fotografia dela e de Jake, tirada no diado casamento, há duas semanas. Aocontrário do primeiro casamento, hádez anos, a cerimônia se realizara nocartório da cidade, mas fora o dia maisfeliz da sua vida. Tilda viera deCopenhagen. Alain e a florista quepreparara o seu buquê tinham servidocomo testemunhas. Saskia fora a damade honra. Depois da cerimônia, elestinham ido jantar em um encantadorhotel.

Ela embrulhou o retrato, colocou-odentro da caixa e olhou, satisfeita, parao belo anel de diamantes no seu dedo.Mal podia acreditar que fossenovamente a sra. Larsen.

Page 424: Harlequin - esposa perdida

Por mais demorada que fosse aviagem até Londres, Jake resolvera ficarno chalé até a mudança paraWetminster, mas também não iriam sedemorar ali, porque o corretorencontrara uma casa para eles emWindsor, perto do rio.

Ailsa olhou a hora, foi até a escada echamou Saskia, que também estavaembalando suas coisas, no quarto.

– Eu vou começar a fazer o jantar.Logo o papai estará em casa.

Ela foi para a cozinha, separou osingredientes do que iria fazer, colocouágua no fogo para fazer um chá, paroudiante da janela e ficou olhando o diaescurecer, com a mão sobre a barriga. A

Page 425: Harlequin - esposa perdida

neve derretera, mas o frio era cortante.Ailsa fez uma careta ao sentir que a suanáusea aumentava. Sem perceber o quefazia, ela desligou o fogo onde estava achaleira. Só de pensar no chá, sentiavontade de vomitar.

Massageando o estômago, ela puxouuma cadeira e sentou. De repente,começou a calcular. Há alguns diassentia náuseas que atribuíra a algumavirose ou ao nervosismo e excitaçãocausados por tantas mudanças na suavida. Agora lhe ocorria que a suamenstruação estava atrasada... Elapulou da cadeira e começou a rodarpela cozinha.

– Ah, meu Deus... Isso não pode

Page 426: Harlequin - esposa perdida

– Ah, meu Deus... Isso não podeestar acontecendo. É impossível. Eu seique é!

A despeito da certeza, ela subiu parao quarto, abriu a última gaveta dacômoda e tirou um envelope que estavacuidadosamente colocado debaixo deum velho xale, onde se via o timbre dohospital onde ela ficara depois doacidente. Sentou na beira da cama ereleu o relatório médico que nuncamais quisera ver. Com o coraçãoacelerado, Ailsa viu uma frase quesobressaía às outras: não é provável quea sra. Larsen possa engravidarnovamente e levar a gravidez até o fim.“Não é provável” não significava

Page 427: Harlequin - esposa perdida

exatamente algo definitivo. Queriadizer que existia uma possibilidade...No seu caso, uma evidentepossibilidade de que ela tivesseengravidado e pudesse levar a gravidezaté o fim.

Por que ela nunca reparara no “não éprovável”? Por que levara anosacreditando que era um caso perdido?Quando Jake dissera que os doistinham enlouquecido depois de teremperdido Thomas no acidente, estiveramais certo do que pensava!

Ailsa correu até o quarto da filha,que estava sentada na cama coberta deroupas coloridas, com a mala cor-de-rosa aberta diante dela.

Page 428: Harlequin - esposa perdida

– Eu preciso ir à cidade e quero quevocê vá comigo, querida. Preciso ir àfarmácia.

– Mas o papai não vai chegar?– Podemos ir e voltar antes que ele

chegue. Vamos, pegue o seu casaco esuas botas.

– Tudo bem... Mas, quando voltar,eu vou continuar a embalar as minhascoisas.

– Claro. Eu posso ajudá-la. – Ela viuo olhar da filha e ergueu as mãos. –Certo... Eu sei que você já é crescida,mas às vezes mesmo as meninascrescidas precisam de ajuda.

UMA HORA mais tarde, Ailsa estava no

Page 429: Harlequin - esposa perdida

UMA HORA mais tarde, Ailsa estava nobanheiro, retocando o batom, quandoouviu Jake abrir a porta. Ela trocara deroupa e escovara os cabelos tantas vezesque eles estalavam. Enquanto descia aescada, estava muito nervosa.Encontrou o marido esperando por elacom um buquê de flores, mas o brilhodos olhos azuis era o que mais lhechamava a atenção.

– Ora, ora, ora... O que temos aqui?Você hoje está particularmente linda,sra. Larsen. Você se vestiu desse jeito sópara mim?

– Sim. Elas são lindas... São paramim? – Ela indicou as flores.

– Claro que são. Coloque-as sobre a

Page 430: Harlequin - esposa perdida

– Claro que são. Coloque-as sobre amesa, por favor. Quero beijá-la.

Segundos depois, ela estava nosbraços de Jake, deliciando-se com asensação de calor, segurança e proteçãoque sempre sentia quando ele aabraçava.

– Hum... Você cheira bem –murmurou ela.

– Um homem precisa fazer de tudopara manter sua mulher satisfeita... Issoinclui usar a sua colônia preferida.

Ela ergueu o rosto e recebeu o beijoardente que ele lhe deu. Soltou umgemido de prazer ao sentir seusmamilos endurecerem e se afastou umpouco para falar.

Page 431: Harlequin - esposa perdida

– As flores foram uma ótimasurpresa. Eu também tenho umasurpresa para você.

– Tem? – Ele sorriu sedutoramente. –Você vai me dizer, ou vai fazer suspensea noite inteira?

Ailsa respirou fundo, querendosaborear cada segundo da revelaçãofantástica que iria fazer ao seu amadomarido, sabendo que iria se lembrarpara sempre daquele momento.

– Eu estou grávida.– O que foi que você disse?– Eu estou grávida. Por mais

inacreditável que pareça, eu estou. Fiz oteste.

– Mas... Como?

Page 432: Harlequin - esposa perdida

– Não é hora para lhe falar a respeitode como são feitos os bebês, Jake –disse ela, rindo.

Ele a segurou pelos braços, com umaexpressão perplexa, como se nãoousasse acreditar.

– Eu reli o relatório que o médico meentregou quando eu saí do hospital. Eledizia que não era provável que eupudesse engravidar e levar a gestaçãoaté o fim. Não dizia que era impossível.Eu não reparei nesse detalhe crucial,Jake. Durante todos esses anos,acreditei que nunca mais poderia terum filho, e não era verdade... Não eraverdade!

– E quanto à parte que diz que você

Page 433: Harlequin - esposa perdida

– E quanto à parte que diz que vocêpode não levar a gestação até o fim? Pormais maravilhoso que seja... Eu nãoquero que você arrisque a sua vida parater outro bebê, Ailsa. Só de pensar emperdê-la, eu fico gelado.

– Eu prometo que não vou arriscar aminha vida. Vou consultar um médicoo mais rápido possível. Vou fazer todosos exames. Farei tudo para aumentar aschances de ter um parto seguro e umbebê saudável. O que você me dizdisso?

Ela conteve a respiração porque elenão respondeu de imediato.

– Você acha que é muito cedo? Achaque deveríamos esperar até termos

Page 434: Harlequin - esposa perdida

passado mais tempo juntos, antes de...Antes de termos outro filho?

Quando ela já achava que era isso,Jake deu um sorriso estonteante ecomovido.

– Tudo bem, isso está realmenteacontecendo, não está? Amanhã eu voutirar o dia de folga e iremos procurar omelhor obstetra que pudermosencontrar. Você receberá o melhortratamento que o dinheiro pode pagar.Eu não acho que devemos esperar parater outro filho. Está louca? Santo Deus,Ailsa... O que eu fiz para merecer ummilagre como esse?

Ele a abraçou como se nunca maisdesejasse soltá-la. Ailsa disse a si mesma

Page 435: Harlequin - esposa perdida

que, não importava o que acontecesse,tudo daria certo. Tudo daria certoporque ela estava com o homem queamava... Dessa vez, para sempre. Osdois enfrentariam bravamente o que odestino lhes reservasse, juntos e unidoscomo se fossem um.

Page 436: Harlequin - esposa perdida

CHAVE PARA O SUCESSOMaisey Yates

– Por que você está arrematando asações da minha empresa?

Vanessa agarrou sua bolsa prateada,tentando ignorar a raiva queembrulhava seu estômago, ao se dirigirao homem alto de preto parado à suafrente. Lazaro Marino. Seu primeiroamor. Seu primeiro beijo. Sua primeiradecepção amorosa. E, aparentemente, o

Page 437: Harlequin - esposa perdida

homem que estava tentando assumir ocontrole acionário da empresa de suafamília de forma hostil.

Lazaro voltou seus olhos escuros paraela e entregou a taça de champanheque segurava para a loura esbeltaparada à sua esquerda. Ficou evidente,pelo desprezo, que ele via a mulherapenas como um suporte de copos emum vestido de grife. Bem, Vanessaachava que ela era um pouco mais paraele, ao menos na cama.

Suas bochechas queimaram enquantoas imagens passavam em sua mente,instantâneas e vívidas. Como ele faziaaquilo? Trinta segundos em sua

Page 438: Harlequin - esposa perdida

presença e o pensamento dela já estavano quarto.

Vanessa olhou através de Lazaro parao quadro na parede, tentando evitaraqueles olhos conhecidos. Ela sentiaque eles a observavam, excitando-a,fazendo seu sangue ferver mesmodepois de tanto tempo, o que a levou devolta ao verão de seus 16 anos, e àsmanhãs que se resumiam na esperançade ele estar lá trabalhando nas terras dapropriedade. Assim, ela poderia sesentar e só apreciar o menino comquem não tinha permissão nem paraconversar e que, em última análise,inspirou-a a quebrar regras sagradas.

Era perturbador que aquele garoto

Page 439: Harlequin - esposa perdida

Era perturbador que aquele garototivesse se tornado um homem com opoder de ainda fazer seu coraçãodisparar mesmo se apenas em uma fotode revista. Ao vivo, então, parecia queela ia explodir.

– Srta. Pickett. – Ele inclinou acabeça, uma mecha do cabelo negrocaindo para frente. Não por acaso, elatinha certeza.

Ele fazia aquele tipo sexy, sem sermuito arrumadinho. Dava a impressãode que acabara de se levantar, passaraos dedos pelo cabelo e se enfiara em umterno caro. Por alguma razão, eradiabolicamente sexy. Talvez porquefosse fácil imaginar o que fizera naquela

Page 440: Harlequin - esposa perdida

cama, atividades que deveriam tê-lodeixado sem tempo para se arrumar...

Ela apertou os olhos, furiosa,redirecionando seus pensamentos. Nãocairia naquela armadilha novamente; jánão era mais a menina inocente de 16anos imaginando que o frio na barrigaera algo mais do que um sinal deluxúria, imaginando que um beijosignificava amor. Não era mais umamenina, e Lazaro Marino não tinhamais nenhum poder sobre ela. Agora,ela era poderosa e demonstraria isso.

– Por favor – disse ela, com sua vozde diretora executiva –, me chame deVanessa. Apesar de tudo, somos velhosamigos.

Page 441: Harlequin - esposa perdida

– Velhos amigos? – Ele sorriu, comum som agradável que fez o sanguedela ferver. – Eu não pensava em nósdesse modo, mas, se você insiste,Vanessa, assim será. – Seu sotaquediminuíra desde a última vez que ovira, doze anos atrás, mas ainda falavaseu nome como sempre, fazendo-o soartremendamente sexy. Os anos fizerambem a ele, e aos 30 estava mais atraentedo que aos 18. O rosto um pouco maisanguloso, os ombros mais largos. Onariz estava diferente, meio torto, aimperfeição dava um certo charme emvez de piorar o rosto antes perfeito. Elase perguntou se o quebrara em algumabriga; não era impossível. O Lazaro que

Page 442: Harlequin - esposa perdida

conhecera era cabeça quente, passionalem todos os sentidos. Muitas vezes seperguntara como seria se toda aquelapaixão fosse direcionada a ela, e namaravilhosa ocasião em que fora,quando ele a fizera se sentir como aúnica e mais importante mulher domundo. Lazaro conseguia mentirmelhor com um beijo do que a maioriados homens com mil palavras.

Vanessa deu um passo atrás, lutandocontra a onda de raiva e calor quequeimava seu estômago, tentandomanter a calma. Pelo menosaparentemente.

Page 443: Harlequin - esposa perdida

418 – CHAVE PARA O SUCESSO –MAISEY YATESLazaro Marino tinha quase tudo. Maspara conseguir entrar para a altasociedade, precisava se casar comVanessa Pickett. Essa relação era paraser um contrato de conveniência, masnenhum dos dois consegue resistir aodesejo.

419 – ENFEITIÇADA PELO DESEJO– CATHY WILLIAMS

Anos depois de um breve caso de amor,

Page 444: Harlequin - esposa perdida

Anos depois de um breve caso de amor,Chase e Alessandro se enfrentarão nostribunais. Porém, ele quer resolver esseimpasse de uma forma diferente: entreos lençóis.

420 – VINGANÇA ARRISCADA –SARA CRAVENTarn Desmond queria se vingar deGaspar Brandon. Mas ao se aproximardesse sensual magnata, acaba caindoem seus encantos. A raiva que sentia dálugar a uma paixão incandescente.

Últimos lançamentos:

414 – ILHA DA PAIXÃO –

Page 445: Harlequin - esposa perdida

414 – ILHA DA PAIXÃO –CHANTELLE SHAW415 – ALTAR DO DESEJO – MAGGIECOX416 – APELO DO DESERTO – ABBYGREEN

Próximos lançamentos:421 – JOIA PRECIOSA – CAROLMARINELLI422 – DESEJO REALIZADO – MAYABLAKE423 – PAIXÃO À PROVA – SHARONKENDRICK

424 – O CALOR DE SEUS BEIJOS –

Page 446: Harlequin - esposa perdida

424 – O CALOR DE SEUS BEIJOS –MAYA BLAKE

Page 447: Harlequin - esposa perdida

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DELIVROS, RJ

C916e

Cox, MaggieEsposa perdida [recurso eletrônico] /

Maggie Cox; tradução Maria Vianna. - 1. ed. -Rio de Janeiro: Harlequin, 2014.

recurso digital

Tradução de: The lost wifeFormato: ePubRequisitos do sistema: Adobe DigitalEditionsModo de acesso: World Wide WebISBN 978-85-398-1668-2 (recursoeletrônico)

1. Romance inglês. I. Vianna, Maria. II.Título.

Page 448: Harlequin - esposa perdida

14-17281 CDD: 823CDU: 821.111-3

PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COMHARLEQUIN BOOKS S.A.

Todos os direitos reservados. Proibidos areprodução, o armazenamento ou atransmissão, no todo ou em parte.

Todos os personagens desta obra são fictícios.Qualquer semelhança com pessoas vivas oumortas é mera coincidência.

Título original: THE LOST WIFECopyright © 2011 by Maggie CoxOriginalmente publicado em 2011 por Mills &Boon Modern Romance

Projeto gráfico de capa:Nucleo i designers associados

Arte-final de capa:

Page 449: Harlequin - esposa perdida

Arte-final de capa:Isabelle Paiva

Produção do arquivo ePub: Ranna Studio

Editora HR Ltda.Rua Argentina, 171, 4º andarSão Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380

Contato:[email protected]

Page 450: Harlequin - esposa perdida

CapaTexto de capaTeaserQuerida leitoraRostoCapítulo 1Capítulo 2Capítulo 3Capítulo 4Capítulo 5Capítulo 6Capítulo 7Capítulo 8Capítulo 9Capítulo 10Capítulo 11

Page 451: Harlequin - esposa perdida

Capítulo 12Próximos lançamentosCréditos