hermenÊutica bÍblica elementar

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JETHRO INTERNACIONAL THEOLOGICAL SEMINARY 320 Revere Beach Pkwy, Chelsea, MA. 02150 HERMENÊUTICA BÍBLICA ELEMENTAR Princípios de Interpretação Bíblica 617-594-7791 www.jitseminary.com [email protected]

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Page 1: HERMENÊUTICA BÍBLICA ELEMENTAR

JETHRO INTERNACIONAL

THEOLOGICAL SEMINARY

320 Revere Beach Pkwy, Chelsea, MA. 02150

HERMENÊUTICA BÍBLICA

ELEMENTAR

Princípios de Interpretação Bíblica

[email protected]

Page 2: HERMENÊUTICA BÍBLICA ELEMENTAR

ATENÇÃO

Esta apostila de Hermenêutica Bíblica Elementar é de autoria do professor Alfredo Lima. Este material

não deve distribuído sem a prévia autorização do autor. Uso autorizado ao SETEJI - Seminário

Teológico Jetro Internacional.

"UM TEXTO NÃO PODE SIGNIFAR AQUILO QUE NUNCA SIGNIFICOU" Gordon Fee (Entendes o que lês - Pg 26)

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POR QUE PRECISAMOS INTERPRETAR A BÍBLIA1?

Introdução

Nem todos se apercebem do fato de que toda leitura de um texto envolve um

processo de interpretação do mesmo. Não existe compreensão de um texto sem que haja

interpretação, mesmo que esta leitura seja do jornal e o processo de interpretação

aconteça inconscientemente. Sendo um texto, a Bíblia não foge a esta regra. Cada vez

que a abrimos e lemos, buscando entender a mensagem de Deus para nós, engajamo-nos

num processo de interpretação. Como Palavra de Deus, a Bíblia deve ser lida como

nenhum outro livro. Mas, tendo sido escrita por homens, ela deve ser interpretada como

qualquer outro livro. Além disto, a Bíblia está distante de nós em diversos aspectos,

como veremos adiante, o que faz com que nossa leitura dela exija um esforço consciente

de interpretação.

Há muitas pessoas que ficam desanimadas com as controvérsias e as polêmicas

que existem nos meios intelectuais onde se estuda a Bíblia. Elas consideram

desnecessário o estudo mais sério da Bíblia. Alguns até pensam que estudos acadêmicos

da Bíblia são uma barreira à espiritualidade e ao crescimento da Igreja. Podemos

entender a atitude de pessoas assim, pois realmente existe muito academicismo e

intelectualismo árido e infrutífero em muitos círculos evangélicos. Por outro lado,

rejeitar o estudo da Bíblia não vai resolver o problema, pois continuamos diante de um

texto antigo, distanciado de nós, escrito em outras línguas e que precisa ser interpretado

para poder ser entendido. Alguns dizem: "Vamos deixar de lado estas questões e

simplesmente ler a Bíblia como ela é". Infelizmente, uma leitura assim não é possível.

Não existe leitura e entendimento de um texto sem que haja interpretação, mesmo que

esta interpretação se processe de forma inconsciente. O objetivo desta aula é levantar

alguns aspectos da natureza da Bíblia que tornam indispensável um esforço consciente

para interpretá-la.

1 Disponível: Artigo Augustus Nicodemos Lopes http://www.monergismo.com/textos/hermeneuticas: Acesso 10 de outubro de 09

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A BÍBLIA COMO LIVRO HUMANO

O fato de que a Bíblia não caiu pronta do céu, mas que foi escrita por diferentes

pessoas em diferentes épocas, línguas e lugares, alerta-nos para o que alguns estudiosos

têm chamado de distanciamento. O fenômeno do distanciamento aparece em diversas

áreas:

• Distanciamento temporal -- A Bíblia está séculos distante de nós. Seu último

livro foi escrito pelo final do século I da Era Cristã, o que nos separa temporalmente em

cerca de dois milênios. A distância temporal, num mundo em constantes mudanças, faz

com que a maneira de encarar o mundo, os aspectos culturais e lingüísticos dos

escritores da Bíblia se percam no passado distante. Portanto, como qualquer documento

antigo, a Bíblia precisa ser lida levando-se isto em conta. Os princípios de interpretação

da Bíblia procuram condições de transpor este abismo temporal.

• Distanciamento contextual -- Os livros da Bíblia foram escritos para atender

a determinadas situações, que já se perderam no passado distante. É verdade que ao

serem incluídos no cânon bíblico, eles passaram a ser relevantes para a Igreja universal.

Por outro lado, recuperar o contexto em que estes livros foram escritos é essencial para

entendermos melhor a sua mensagem. As cartas de Paulo foram escritas visando atender

às necessidades de igrejas locais. Não posso entender corretamente o ensinamento do

apóstolo sobre o uso do véu pelas mulheres (1 Coríntios 11) se não estiver consciente do

problema que estava acontecendo na Igreja relacionado com a participação das

mulheres no culto. Igualmente, 1 João toma outra relevância quando fico consciente de

que João estava escrevendo contra a influência de uma forma incipiente de gnosticismo

nas igrejas da Ásia Menor. Ou ainda, que o livro de Habacuque foi escrito num contexto

de iminente invasão por potências estrangeiras. A mensagem do evangelho de Marcos

fica mais clara quando descobrimos que Marcos escreveu provavelmente para ajudar os

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crentes romanos a enfrentar as provações que sofriam por causa de Cristo. E o livro de

Jonas -- especialmente a atitude de Jonas contra os Ninivitas – ganha maior clareza

quando descubro que havia uma antipatia natural dos judeus contra os Ninivitas por

causa dos seus grandes pecados. Os princípios de interpretação da Bíblia procuram

transpor as dificuldades criadas pela distância contextual.

• Distanciamento cultural -- O mundo em que os escritores da Bíblia viveram

já não existe. Está no passado distante, com suas características, costumes, tradições e

crenças. Muito embora a inspiração das Escrituras garanta que sua mensagem seja

relevante para todas as épocas, devemos lembrar que esta mensagem foi registrada

numa determinada cultura, da qual traços foram preservados na Bíblia. Os princípios de

interpretação da Bíblia devem levar em conta o jeito de escrever daquela época, a

maneira de expressar conceitos e ilustrar as verdades, para poder transpor a distância

cultural.

• Distanciamento lingüístico -- As línguas em que a Bíblia foi escrita também

já não existem. Não se fala mais o hebraico, o grego e o aramaico bíblicos nos dias de

hoje, mesmo nos países onde a Bíblia foi escrita. Como cada língua tem seu jeito

próprio de comunicar conceitos (apesar de uma estrutura comum a todas), princípios de

interpretação da Bíblia devem levar em conta estas peculiaridades. O conhecimento do

paralelismo hebraico certamente nos ajuda a entender os Salmos melhor, bem como os

profetas.

•  Distanciamento Autorial -- Devemos ainda reconhecer que teríamos uma

compreensão mais exata da mensagem de alguns textos bíblicos reconhecidamente

obscuros se os seus autores estivessem vivos. Poderíamos perguntar a eles acerca destas

passagens complicadas que escreveram e que continuam até hoje dividindo os melhores

intérpretes quanto ao seu significado. Por exemplo, Pedro poderia nos esclarecer o que

ele quis dizer com "Cristo foi e pregou aos espíritos em prisão". Ou ainda, Paulo

poderia nos dizer o que ele quis dizer com "o que farão os que se batizam pelos

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mortos?". Mateus poderia finalmente tirar a dúvida sobre o sentido da frase de Jesus

"não terminarão de percorrer as cidades de Israel até que venha o Filho do Homem".

A razão é que a intenção deles sobrevive no que escreveram. Mas certamente a

ausência do autor faz com que a interpretação de textos obscuros seja necessária.

Princípios de interpretação devem levar em conta o distanciamento autorial, e buscar

meios de recuperar a intenção deles nos próprios textos que escreveram. O

distanciamento, portanto, exige de nós a tarefa de interpretar. Interpretar é exatamente

tentar transpor o distanciamento em suas várias formas, como mencionadas acima, e

chegar ao sentido exato do texto. De forma geral, o ponto central da mensagem da

Bíblia é tão claro que pode ser entendido por todos, mesmo os que não estão

conscientes do distanciamento. A prova disto é que a Igreja vem se mantendo viva e

ativa através dos séculos, sendo composta em sua quase absoluta maioria de pessoas

que não têm treinamento teológico, histórico e lingüístico que permitiriam uma leitura

mais informada das Escrituras. Por outro lado, uma maior exatidão e clareza acerca de

todos os aspectos da mensagem bíblica não poderá ser alcançada sem interpretação

consciente. Seria importante perguntar até que ponto o lado humano das Escrituras

possibilitaram a entrada de erros na mesma. Esta é uma questão bastante controversa e

certamente não poderemos abordá-la de forma exaustiva aqui.

A BÍBLIA COMO LIVRO DIVINO

Por outro lado, o fato de que a Bíblia foi inspirada por Deus, sendo assim a Sua

Palavra, deve ser levado em conta por aqueles que desejam interpretá-la corretamente.

A divindade e a humanidade das Escrituras devem ser mantidas em equilíbrio. Quando

enfatizamos uma em detrimento da outra, acabamos por cair em algum dos erros

hermenêuticos que caracterizam a história da interpretação cristã das escrituras. Este foi

o grande problema do método histórico-crítico de interpretação, que surgiu com o

Iluminismo, adotando os pressupostos racionalistas quanto às Escrituras, contrários à

sua origem divina. Ao tratar a Bíblia exatamente como qualquer outro livro de religião,

deixando de levar em conta sua inspiração e divina autoridade, os estudiosos e

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professores cristãos influenciados pelo racionalismo acabaram por desenvolver um

método de interpretação que não aceitava o conceito de revelação, inspiração e

providência de Deus. Como resultado, a Bíblia passou a ser vista, não como Palavra de

Deus em sua inteireza, mas como o registro da fé de comunidades religiosas, primeiro a

judaica e depois a cristã. Continha erros crassos, e seus livros individuais eram trabalhos

compostos de retalhos de fontes contraditórias e refletiam mais o pensamento dos que a

escreveram do que as realidades históricas e espirituais que pretendiam transmitir. Mas,

uma atitude oposta é igualmente perigosa. Muitos movimentos e grupos religiosos

esquecem o fenômeno do distanciamento e encaram a Bíblia como se fosse um livro

caído do céu, e cuja interpretação depende somente de oração, jejum e plenitude do

Espírito Santo. Evidentemente, sendo a Palavra de Deus, precisamos de comunhão com

Deus e da iluminação do Espírito para o conhecimento salvador das Escrituras. Porém, a

utilização consciente de princípios de interpretação compatíveis com a natureza da

Bíblia fará com que este conhecimento nos chegue de forma mais exata e completa.

Precisamos ter cuidado, porém, para não cairmos no erro de pensar que somente aqueles

que têm treinamento profissional em princípios de interpretação poderão chegar ao

conhecimento da mensagem das Escrituras. Muitos dos princípios de interpretação

bíblicos, praticados diariamente por todos os leitores da Bíblia, são simples, lógicos e

evidentes, como por exemplo, a interpretação de uma palavra à luz do seu contexto. Isto

fazemos diariamente, na leitura do jornal, de notícias pela Internet e lendo um email.

Num certo sentido, ler a Bíblia envolve as mesmas regras que ler estas coisas. A

natureza divina da Bíblia, por sua vez, provoca outro tipo de distanciamento, que

expressa-se nestas áreas:

•  Distanciamento natural -- a distância entre Deus e nós é imensa. Ele é o

Senhor, criador de todas as coisas, do céu e da terra. Somos suas criaturas, limitadas,

finitas. Nossa condição de seres humanos impõe limites à nossa capacidade de entender

e compreender as coisas de Deus. Não impede a possibilidade deste conhecimento, com

certeza, mas o limita. O fato de sermos seres humanos tentando entender a mensagem

enviada pelo Deus criador em si só representa um distanciamento. A distância entre a

criatura e o Criador, tão freqüentemente mencionada nas Escrituras, tem seus efeitos

também na nossa hermenêutica. Princípios de interpretação não podem ignorar isto e

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pensar que bastam ferramentas hermenêuticas corretas para que possamos entender a

Deus. O distanciamento provocado pela nossa humanidade deve procurar ser transposto

por princípios de interpretação que reconheçam a necessidade da iluminação do

Espírito.

• Distanciamento espiritual -- o fato de que somos pecadores impõe ainda mais

limites à nossa capacidade de interpretação da Bíblia. Somos seres afetados pelo pecado

tentando entender os desígnios do Deus puro e santo. A Queda é um conceito espiritual,

mas com certeza não pode ser deixado de lado em qualquer sistema interpretativo das

Escrituras. Transpor o abismo epistemológico causado pela Queda é certamente o ponto

de partida. A regeneração e a conversão são a resposta de Deus a esta condição.

• Distanciamento moral -- é a distância que existe entre seres pecadores e

egoístas e a pura e santa Palavra que pretendem esclarecer. A corrupção de nossos

corações acaba por introduzir na interpretação das Escrituras motivações incompatível

com o Autor das mesmas. Infelizmente a história da Igreja mostra como diferentes

grupos manipulam as Escrituras para defender, provar e dar autoridade a seus pontos de

vista. Certamente existem pessoas sinceras, embora equivocadas. Mas não podemos

negar que o distanciamento moral acaba nos levando a torcer o sentido das Escrituras,

procurando usá-la para nossos fins nem sempre louváveis. No parágrafo seguinte

mencionamos alguns exemplos. A Bíblia tem sido usada como prova das mais

conflitantes teorias e idéias, o que mostra que ler e entender imparcialmente a sua

mensagem não é tão fácil e costumeiro assim. A Bíblia foi usada pelos protestantes de

países colonizadores para justificar a escravidão, usando textos do Antigo e Novo

Testamentos que falam da escravidão sem, contudo aboli-la (Ex. 21.2-6). Os seus

opositores usaram também a Bíblia para defender as idéias abolicionistas, usando a

parábola do bom samaritano e "amarás o teu próximo como a ti mesmo".

A Bíblia também foi usada para provar que os judeus deveriam ser perseguidos,

que a guerra santa contra os muçulmanos era a vontade de Deus, que os protestantes

brancos são uma raça superior, para executar as bruxas, para impedir o casamento dos

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padres, para defender a masturbação, para justificar o aborto e a eutanásia, para regular

o tamanho das saias e do cabelo das mulheres cristãs, para prover aceitação e

fortalecimento dos homossexuais, para proibir ingerência de qualquer tipo de bebida

alcoólica, para proibir transfusão de sangue, para proibir o serviço militar, para defender

a poligamia nos dias de hoje, para defender o suicídio religioso em massa, etc. O

catálogo é imenso.

Tudo isto mostra que não é tão fácil "simplesmente ler a Bíblia e fazer o que ela

diz". Nunca desanimemos da possibilidade (muito real!) de entendermos com clareza o

ensinamento das Escrituras, mas reconheçamos humildemente que nunca poderemos ter

uma compreensão unânime de todas as suas passagens complicadas. Sabendo que a

Bíblia vem de Deus, temos ânimo para buscá-lo em oração, suplicando a Sua graça e

Sua iluminação em nossa tarefa como intérpretes.

Muitos estudiosos modernos, cansados do método histórico-crítico, têm proposto

novos métodos de interpretação que levem em conta o caráter divino das Escrituras.

Defendem princípios de interpretação que estejam atentos não somente aos aspectos

humanos da Bíblia como literatura religiosa, mas especialmente às implicações da sua

divina origem e natureza, bem como da nossa dupla condição de humanos e pecadores.

Conclusão

Conforme vimos acima, a dupla natureza da Bíblia provoca um distanciamento

temporal e espiritual que precisa ser transposto, para que possamos chegar à sua

mensagem. Pela Sua misericórdia, Deus tem guiado e abençoado a Igreja através dos

séculos, mesmo quando ela esqueceu-se de levar em conta estes aspectos. Porém, isto

não nos isenta de buscarmos compreender de forma mais exata e completa a revelação

que Deus fez de si mesmo. E nisto, o uso consciente de princípios de interpretação

compatíveis com a natureza das Escrituras é de inestimável valor.

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1. Introdução á Hermenêutica

De muitas maneiras os homens se diferem entre si e esse fato, naturalmente, faz

com que eles distanciem mentalmente uns dos outros na capacidade intelectual, no

gosto estético, na qualidade moral e etc. Alguns foram instruídos em conhecimentos

intelectuais e outros não tiveram estas oportunidades e isto provoca divergências de

interpretação. Apesar destas divergências entre os homens, Deus tem um plano para os

mesmos e este está revelado na Bíblia Sagrada. Este plano de Deus traça um mesmo

caminho para reunir uma grande família em Cristo Jesus, com a unificação dos povos

sem distinção de cor, raça, sexo, nacionalidades, condições sociais e econômicas. (Gl

3.28; Cl 3.11). Diante deste quadro a aplicação da hermenêutica será imprescindível a

unificação do conhecimento do Plano da Salvação para com todos os homens da terra.

1.1 Origem

A palavra HERMENÊUTICA é derivada do termo grego HERMENEUTIKE e o

primeiro homem a empregá-la como termo técnico foi o filósofo Platão.

1.2 Definição

É a ciência e arte de interpretar, é ciência porque postula princípios seguros e

imutáveis; é arte porque estabelece regras práticas.

A hermenêutica bíblica ou sagrada é o estudo metódico dos princípios e regras de

interpretação das Sagradas Escrituras.

Ela se distingue da critica textual em que esta procura determinar quais as

palavras exatas do texto original, ao passo que aquela procura descobrir qual o sentido

dessas palavras no citado texto.

Em outros termos, a critica tem em vista a pergunta: Que é, e o que está escrito? E

a hermenêutica ocupa-se de outra coisa: O que queria dizer o autor?

A hermenêutica é a ciência que estabelece os princípios, leis e métodos de

interpretação. Em sua abrangência trata da teoria da interpretação de sinais, símbolos de

uma cultura e leis.

Assim, a Hermenêutica é tanto ciência como arte. Na qualidade de Ciência, enuncia princípios, investiga as leis do pensamento e

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da linguagem e classifica seus fatos e resultados. Como arte, ensina como esses princípios devem ser aplicados e comprova a validade deles, mostrando o valor prático que têm na elucidação das passagens, mais difíceis. Portanto a arte da hermenêutica desenvolve e constitui um método exegético válido (TERRY Apud. Zuck (1994 p.21)

1.3 Divisão

A divisão da hermenêutica é reconhecida como geral e específica. A geral é

aquela que se aplica à interpretação de qualquer obra escrita. A específica é aquela que

se aplica a determinados tipos de produção literais tais como: Leis, histórias, profecias,

poesias, etc e que será tratada neste estudo por estar dentro do campo de aplicação a

literatura sacra – A BÍBLIA como inspirada Palavra de Deus. (II Tm 3.16)

2. A NECESSIDADE DA HERMENÊUTICA

O pecado obscureceu o entendimento do homem e exerce influência perniciosa

em sua mente e torna necessário o esforço especial para evitar erros. (II Pd 3.16 e De

7.10). A aplicação e a conservação do caráter teológico da hermenêutica estão

vinculadas ao recolhimento do princípio da inspiração divina da Bíblia Sagrada.

3. DISPOSIÇÕES NECESSÁRIAS PARA O ESTUDO DAS ESCRITURAS

Assim como para apreciar devidamente a poesia se necessita possuir um sentido

especial para o belo e poético, e para o estudo da filosofia é necessário um espírito

filosófico, assim é da maior importância uma disposição especial para o estudo

proveitoso da Sagrada Escritura.

3.1. Necessita-se de um espírito respeitoso.

Um filho que não respeita que caso fará dos conselhos, avisos e palavras de seu

pai? A Bíblia é a revelação do Onipotente. "O homem para quem olharei é este: o aflito

e abatido de espírito, e que treme da minha palavra." (Is 66.2)

3.2. Necessita-se de um espírito dócil.

Isto significa ausência de obstinação e teimosia diante da revelação divina. É

preciso receber a Palavra de Deus com mansidão. (Tg 1.21)

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3.3. Necessita-se de um espírito amante da verdade.

Um coração desejoso de conhecer a verdade (Jo 3.19-21)

3.4. Necessita-se de um espírito paciente.

Como o garimpeiro que cava e revolve a terra, buscando com diligência o metal

precioso, da mesma maneira o estudioso das Escrituras deve pacientemente, buscar as

revelações que Deus propôs e que em algumas partes são bastantes profundas e de

difícil interpretação.

3.5. Necessita-se de um espírito prudente.

Iniciando a leitura pelo mais simples e prosseguir para o mais difícil. "Se,

porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus... e ser-lhe-á concedida."

(Tg 1.5)

4 IMPORTÂNCIA DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA (VALOR DA

HERMENÊUTICA)

x Aproxima-nos do texto e do seu sentido e significados corretos

x Fortalece a nossa convicção na pessoa de Deus- Deus revelou a eternidade

x Enaltece a Soberania de Deus que preservou a escrita até hoje

x Coloca-nos na linha da história da igreja

x Traz equilíbrio entre o conteúdo (revelação) e comportamento (ética, exigência)

x Confirmação da credibilidade da revelação. Homens falaram à tantos e tão distante de nós

x Auxilia-nos para determinar o permanente e o temporário

x Base “cientifica” a vida devocional. 

x Válida a encarnação do Filho de Deus. O texto inserido na história e cultura de um povo. “teologia da terra” 

x Evita o desvio (sensus plenior)

x Descobre-se a unidade da revelação

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5. RELAÇÃO COM AS OUTRAS MATÉRIAS

De acordo com Virkler (1987:10) a Hermenêutica não se encontra isolada do

outros campos de estudo Bíblico.

DEFINIÇÕES DE HERMENÊUTICA E DE TERMOS CORRELATOS2

HERMENÊUTICA

Ciência (princípios) e arte (tarefa) de apurar o sentido do texto Bíblico.

EXEGESE

Verificação do sentido do texto Bíblico dentro de seus contextos históricos e literários.

EXPOSIÇÃO

Transmissão do significado do texto e de sua aplicabilidade ao ouvinte moderno.

HOMILÉTICA

Ciência (princípios) e arte (tarefa) de transmitir o significado e a importância do texto Bíblico sob forma de pregação

PEDAGOGIA

Ciência (princípios) e arte de transmitir o significado e a aplicação do texto Bíblico sob forma de ensino.

6. A HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA

Por que uma visão panorâmica da História?

No transcurso dos séculos, desde que Deus revelou as Escrituras, tem havido

diversos métodos de estudar a palavra de Deus. Os intérpretes mais ortodoxos Têm

encarecido a importância de uma interpretação literal, pretendendo com isso interpretar

a palavra de Deus da maneira como se interpreta a comunicação humana normal. Outros

têm empregado um método alegórico, e ainda outros têm examinado letras e palavras

tomadas individualmente como possuindo significado secreto que precisa ser decifrado.

2 Zuck. Roy B. A interpretação Bíblica. São Paulo: Ed. Vida Nova, 1994

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Uma visão geral histórica dessas capacitar-nos-á a vencer a tentação de crer que

nosso sistema de interpretação é o único que já existe.

6.1. EXEGESE JUDAICA ANTIGA

Um estudo da história da interpretação Bíblica começa, em geral com a obra de

Esdras. Visto que, durante o período do exilo, os israelitas provavelmente tenham

perdido sua compreensão do hebraico, a maioria dos estudos Bíblicos supõe que Esdras

e seus ajudantes traduziam o texto hebraico e o liam em voz alta em aramaico,

acrescentando explicações e arte da interpretação Bíblica. Os escribas que vieram a

seguir tiveram grande cuidado em copiar as escrituras, crendo que cada letra do texto

era a palavra de Deus inspirada. Uma grande vantagem é que os textos foram

cuidadosamente preservados através dos séculos. Uma grande desvantagem foi que os

rabinos logo começaram a interpretar a Escritura por outros métodos.

Os rabinos pressupunham que sendo Deus o autor da Escritura, (1) o intérprete

poderá esperar numerosos significados em determinado texto, (2) cada detalhe

incidental do texto possuía significado.

No tempo de Cristo, a exegese judaica podia classificar-se em quaro tipos

principais: Literal, Midráshica, pesher e alegórica. O método literal de interpretação

referido como peshat, servia de base para outros tipos de interpretações.

A interpretação midráshicca incluía uma variedade de dispositivos

hermenêuticos que se haviam desenvolvido de maneira considerável no tempo de Cristo

e continuaram a desenvolver-se ainda por diversos séculos. O rabino Hillel, é

considerado como o elaborador das normas básicas da exegese rabínica que acentuava a

comparação de idéias, palavras ou frases encontradas em mais de um texto, a relação de

princípios gerais com situações particulares, e a importância do contexto na

interpretação.

Contudo, teve continuidade a tendência no sentido de uma exposição mais

fantasiosa em vez da conservadora. Isto resultou numa exegese que (1) dava significado

a textos, frases e palavras sem levar em conta o contexto no qual se tencionava fossem

aplicados, (2) combinava textos que continham palavras ou frases semelhantes, sem

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considerar se tais textos referiam-se á mesma idéia, e (3) tomava aspectos incidentais de

gramática e lhes dava significação interpretativa.

A interpretação Pesher – Existia particularmente entre a comunidade de

Qumram. A comunidade acreditava que tudo quanto os antigos profetas escreveram

tinha significado profético velado que devia ser iminentemente cumprido por intermédio

da comunidade do pacto. É uma interpretação apocalíptica. Muitas vezes a interpretação

pesher era denotada pela frase “este é aquela”, indicando que “este presente fenômeno é

o cumprimento daquela antiga profecia”.

A exegese alegórica baseava-se na idéia que o verdadeiro sentido jaz sob o

significado literal da Escritura. Historicamente alegorismo foi desenvolvido pelos

gregos para reduzir a tensão entre a sua tradição de mito religioso e sua herança

filosófica. Desta feita, Filão acreditava que o significado literal da Escritura

representava um nível imaturo de compreensão; o significado alegórico era para os

maduros. Devia usar a interpretação alegórica nos seguintes casos: (1) se o significado

literal diz algo indigno de Deus, (2) se a declaração parece ser contraditória a outra

declaração da Escritura, (3) se o registro alega tratar-se de uma alegoria, (4) se as

expressões são duplas ou se há emprego de palavras supérfluas, (5) se há repetição de

algo já conhecido, (6) se uma expressão é variada, (7) se empregam sinônimos, (8) se

for possível um jogo de palavras, (9) se houver algo normal em número ou tempo

verbal, ou (10) se há presença de símbolos.

Como se poder ver, os critérios (3) e (10) são indicações válidas de que o autor

tencionava que seu escrito fosse entendido como alegoria. Contudo, o alegorizar de

Filão e seus contemporâneos foram muitos, além disto, amiúde atingindo proporções

fantásticas. Citamos apenas um exemplo:

“A Viagem  de Abraão  para  a  palestina  é  realmente  a  história  de  um  filósofo 

estóico que deixa a caldeia (entendimento sensual) e se detém em Harã, que quer dizer

buracos, e significa o vazio de conhecer as coisas pelos buracos, isto é, os sentidos. Ao

tornar-se Abraão, ele se torna um filósofo verdadeiramente esclarecido. Casar-se com

Sara é casar-se com a sabedoria abstrata”

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Resumindo: Durante o primeiro século da era cristã os intérpretes judaicos

concordaram em que a Escritura representa as palavras de Deus, e que essas palavras

estão cheias de significados para crentes. Empregou-se a interpretação literal nas áreas

de interesses judiciais e práticos. Em sua maioria, os interpretes empregaram práticas

midráshicas, especialmente as regras desenvolvidas por Hillel, e a maior parte deles

usou suavemente a exegese alegórica.

Os fariseus continuaram a desenvolver a exegese midráshica a fim de vincular

sua tradição oral mais intimamente com a Escritura.

A comunidade de qumran, crendo que eles próprios eram o remanescente fiel e

beneficiário dos mistérios proféticos, continuou a usar os métodos midráshico e pesher

para interpretar a Escritura. E Filão e os que desejavam conciliar a Escritura Judaica

com a Filosofia grega continuaram a desenvolver métodos exegéticos alegóricos.

6.2 O USO QUE JESUS FAZ DO ANTIGO TESTAMENTO

Jesus sempre Foi uniforme no tratar as narrativas históricas como registros fiéis

do fato. As alusões a Abel, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, e Davi, por exemplo, parecem

todas intencionais e foram entendidas como referências a pessoas de carne e osso e a

eventos históricos.

Outro elemento importância é que quando Jesus fazia aplicação do registro

histórico, ele o extraía do significado normal do texto, contrário ao sentido alegórico.

Jesus denunciou o modo como os dirigentes religiosos haviam desenvolvido

métodos casuísticos que punham á parte a própria palavra de Deus que eles alegavam

estar interpretando, e no lugar dela colocavam suas próprias tradições (Marcos 7.6-13;

Mat 15.1-9).

Os escribas e fariseus, por mais que quisessem acusar a Cristo do erro, nunca o

acusaram de usar qualquer Escritura de modo antinatural ou ilegítimo.

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6.3 A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NO PERÍODO PÓS-

APOSTÓLICO

Após a morte dos apóstolos, inicia-se a chamada era pós-apostólica, que vai do

século II até IV, época dos grandes concílios ecumênicos na Igreja. No período pós-

apostólico, a igreja de Cristo era liderada por pastores e bispos que vieram a exercer

considerável influência sobre a cristandade daquela época.  São  os  chamados  “pais  a 

Igreja”. É uma época de  intensos debates  teológicos sobre questões doutrinárias vitais 

para a sobrevivência da Igreja. Os pais da Igreja procuravam entender qual a verdade de

Deus examinando as Escrituras. Debates vigorosos acontecem quanto ao sentido exato

das palavras dos apóstolos e profetas. Uma as questões hermenêuticas centrais era como

a igreja cristã poderia interpretar as profecias, instituições, personagens e eventos do

Antigo Testamento de forma a refletir a Cristo.

Duas linhas nítidas e diferentes de interpretação surgem nessa época. A primeira,

mais alegórica, está relacionada com a cidade de Alexandria. A outra, que surge depois

em Antioquia em reação á primeira, é mais voltada para o sentido literal do texto

Bíblico. Os problemas que enfrentaram de certa forma anteciparam as questões de

interpretação que a Igreja iria encarar através da sua história, até o dia de hoje.

6.3.1 A ESCOLA DE ALEXANDRIA (EGITO)

6.3.1.1 Raízes históricas

O sistema interpretativo que veio a associar-se com a cidade de Alexandria tem

suas raízes históricas nas idéias de dois importantes filósofos gregos.

O primeiro é Heráclito (Éfeso, 540?- 475?). Ele estabeleceu o conceito de

huponóia, ou sentido mais profundo, como uma nova abordagem ás obras de Homero.

Nessas obras, os deuses gregos são descritos cometendo traição, imoralidades, vigança,

mentindo e praticando outros vícios. Para fugir das implicações obvias de se interpretar

literalmente o que Homero escreveu acerca dos deuses, Heráclito sugeriu que o

verdadeiro sentido estava além das palavras (Huponóia). Os escritos de Homero não

eram para ser entendidos literalmente, como estavam escritos, mas como apontando

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para conceitos mais profundos, além da letra. Assim ele salvou os deuses da acusação

de “imorais”...

O segundo é Platão (Atenas, 427-347). Ele formou o conceito de que o mundo

em que vivemos é apenas uma representação do que existe no mundo perfeito das

realidades  imateriais,  o  “mundo  das  idéias”.  Uma  cadeira,  por  exemplo,  é  apenas o

reflexo da cadeira perfeita que existe nesse mundo ideal. Conceitos e verdade

espirituais, próprios do “mundo das ideais”, são representados por alegoria.

O conceito de que a verdade se encontra alegoricamente oculta além da letra e

da realidade visível, como haviam ensinado Heráclito e Platão, influenciou mais tarde

um Judeu de Alexandria, chamado Filo (também chamado de Filo Judeu, viveu entre 20

AC e 50 DC). Filo tinha uma formação judaica e era leal ás instituições e costumes de

seu povo. Era um estudioso das Escrituras do Antigo Testamento traduzidas para o

grego (A Septuaginta). Tinha também uma formação filosófica, especialmente no

platonismo.

Moisés e Platão eram os dois heróis de Filo. Ele dedicou sua vida a reconciliar o

ensino de Moisés nas Escrituras com as idéias de Platão. O método que ele empregou

para isso foi alegorese. Esse termo vem da palavra grega “alegoria”, que significa dizer 

uma coisa em termos de outra. Filo escreveu diversas obras e comentários sobre a lei de

Moisés interpretando as Escrituras alegoricamente, em termos das idéias, virtudes e

moralidade do platonismo.

Eis alguns exemplos da interpretação de Filo em seus comentários sobre

Gênesis:

A criação do jardim do Éden (Gn 2.8-14)- O rio Gion (2.13) significa “coragem” 

e circunda  a  terra  de  Cuxe,  que  significa  “humilhação”,  o  sentido  alegórico  é  que  a 

coragem dá demonstrações de bravura diante da cobardia. Já o rio tigre (2.14) significa

temperança, pois como um tigre, resiste resolutamente ao desejo. Eufrates (2.14) não se

refere ao  rio. O sentido alegórico é  justiça. O  rio pisom (2.11) significa “mudança na 

boca”  e  Havilá  “tagarelar”,  que  Filo  interpreta  como  significando  insensatez.  A 

interpretação alegórica da passagem é que a insensatez é destruída pela mudança na

boca, que é o falar com prudência.

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A criação e queda do homem (G 2-3)- Filo considera fábula a narrativa da

criação da mulher da costela de Adão, após o mesmo haver adormecido. Ele rejeita a

interpretação literal da passagem. O sentido verdadeiro é que Deus tomou o poder dos

sentidos externos (Eva) e o conduziu á mente (Adão). Esse poder é sempre ameaçado

pelo prazer (a serpente). A promessa messiânica, “ este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás 

o calcanhar” (3.15) é interpretada como Deus dizendo ao prazer (serpente) que a mente

(o homem) vai vigiá-la e que em troca , prazer (serpente) vai atacar a mente (homem)

oferecendo os prazeres mais básicos (morder o calcanhar)!

6.3.1.2 Surgimento da Escola Catequética de Alexandria

Quando o Evangelho alcançou Alexandria, muitos se tornaram cristãos. Uma

forte comunidade floresceu rapidamente naquela cidade. Um dos líderes foi Barnabé

que ficou conhecido por ter escrito carta de Barnabé, onde interpreta alegoricamente o

Antigo Testamento seguindo os métodos de Filo. O exemplo mais famoso da carta PE a

interpretação que ele faz de Gênesis 14.14 (onde se mencionam os 318 homens de

Abraão) para provar que Abraão sabia não somente o nome de Cristo, mas até que ele

haveria de morrer na Cruz.

Barnabé 9.6- portanto, filhos do amor, aprendam abundantemente a respeito de

Abraão. Ele, que primeiro estabeleceu a circuncisão, olhava em espírito para Jesus

quando circuncidou a sua casa. Pois a Escritura diz “Abraão circuncidou 318 homens da

sua casa” (ouvindo Abraão que seu sobrinho estava preso, Fez sair trezentos e dezoito

homens dos mais capazes, nascidos em sua casa, e os perseguiu até Dã, Gn 14.14). Que

conhecimento lhe foi dado naquela ocasião? Compreendam: Ele (Deus) disse primeiro

18 e depois do intervalo, 300. No 18, o numero 10 equivale a “I” (no alfabeto grego) e 8 

a “H”. Aqui tu tens JESUS (IHSOYS). 300 equivale a “T” e aqui tens a cruz. Então, Ele

(Deus) revelou Jesus nas duas letras e a cruz na ultima. Barnabé entendia  que  “318” 

dizia outra coisa que não um numero fixo. Para ele, era uma referencia proposital que

Deus havia feito a Abraão acerca de Jesus, e que só poderia ter sido decifrada

“espiritualmente”, interpretando-se a passagem alegoricamente.

Outro líder foi Pantenus. Inicialmente um filósofo estóico, Pantenus converteu-

se e fundou uma escola crista catequética em Alexandria no século II. O sistema

utilizado na escola para interpretar a Bíblia era alegórico.

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6.3.1.3 Principais representantes da escola de Alexandria

Um dos convertidos de Pantenus foi Clemente de Alexandria (150-215 AD), de

quem alguns escritos foram preservados. Clemente substituiu Pantenus na direção da

escola em 180 AD. Ele foi um dos primeiros a lidar seriamente com questões de

interpretação bíblica. Usava a interpretação alegórica característica da escola para

descobrir o sentido oculto das passagens bíblicas e para harmonizar os dois

Testamentos. Para ele, a alegoria revelava a verdade ao verdadeiro discípulo mas a

escondia dos outros.Ele insistia especialmente que o objetivo de Deus em revelar-se

alegoricamente era ocultar a verdade dos incrédulos em geral e descortiná-la apenas

para os espirituais.Clemente interpretava a parábola do filho prodigo alegoricamente,

atribuindo a cada detalhe da parábola ( por exemplo, o anel, o manto, as sandálias, etc.)

um significado espiritual.

Origines (185-253 AD) e a mais importante figura nesse período. Era um

estudioso muito respeitoso, muito capaz e provavelmente o mais erudito de sua época.

Sua abordagem da escritura pode se resumir em alguns pontos essenciais:

A melhor maneira de se entender a Bíblia e através da perspectiva platônica.

Nesse sentido, Origines e um verdadeiro discípulo de Filo de Alexandria. A

Bíblia contém segredos que somente a mente espiritual pode compreender. O sentido

literal e valioso, mas algumas o espiritual e para os maduros na fé. Se Deus e o autor da

Bíblia, ela deve ter um sentido mais profundo. A interpretação literal e própria dos

judeus e não dos cristãos. A esses foi revelado o sentido mais profundo das Escrituras,

que havia sido ocultado dos judeus incrédulos.

Há três níveis de sentido nas Escrituras correspondentes as três dimensões da

personalidade humana:

1) Carne – a interpretação literal e obvia corresponde a carne ou ao corpo

humano, que e visível e evidente a todos que o vêem. Esse tipo de interpretação e para

os indoutos.

2) Alma – aquelas que já fizeram algum progresso na vida cristã começam a

discernir sentidos mais alem do obvio.

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3) Espírito – a interpretação alegórica, própria dos que são espirituais.

Alguns exemplos de sua interpretação das Escrituras:

Rebeca vem tirar água do poço e encontra os servos de Abraão (Gn 24.15-17)

– significa que diariamente devemos vir aos poços da Escritura para ali nos

encontrarmos com Cristo.

Farao mandando matar os meninos e preservando as meninas hebréias (Ex

1.15-16) – os meninos significam paixões carnais.

As seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações (Jô 2.6),

significam os sentidos moral e literal das Escrituras e as vezes, o espiritual.

O sentido verdadeiro ( alegórico) da passagem sobre o divorcio (Mt 19.9) e a

separação da alma do seu anjo da guarda.

Conclusão

Origines influenciou muitos pais da Igreja como Dionísio o Grande, Eusébio de

Cesárea, Didimo, o Cego, e Cego, Cirilo de Alexandria, que seguiram sua interpretação

alegórica. Embora Originess tivesse um alto apreço pelas Escrituras (que ele como

Palavra de Deus inspirada) e reconhecesse a presença de Cristo nas Escrituras do

Antigo Testamento, defendeu, sistematizou e promoveu um sistema de interpretação

que ao fim diminuía o caráter histórico de algumas passagens e que não dispunha de

controles adequados contra o subjetivismo. Entretanto, a reação viria alguns séculos

depois, em Antioquia.

Implicações práticas

Podemos nos perguntar em que conhecer a historia das interpretações de

Alexandria nos afeta hoje. No mínimo, nos faz entender que o tipo de interpretação que

prevalece na igreja evangélica brasileira de hoje segue o mesmo caminho de

Alexandria, mesmo sem ter a sofistificaçao e a erudição de um Origines, por exemplo. E

somente  atravez  de  uma  interpretação  altamente  “espiritualizante” das Escrituras que

muitos mestres, pastores e lideres evangélicos conseguem convencer seus rebanhos de

que estão ensinando a verdade da Palavra de Deus. Em termos práticos, Alexandria nos

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ensina a ter cautela com a idéia de que a verdade da Bíblia só pode alcançada por

“espirituais”  que  tenham  acesso  privilegiado  a  um  conhecimento  que  esta  alem  do 

sentido simples, claro e evidente das Escrituras.

6.4 A ESCOLA DE ANTIOQUIA

6.4.1 INTRODUÇÃO

Como vimos anteriormente, a interpretação dos pais da Igreja seguia duas linhas

distintas. A primeira, maus alegórica, relacionada com a cidade de Alexandria. A outra,

que surgiu depois em Antioquia em reação á primeira, mais voltada para o sentido

literal do texto Bíblico.

6.4.1.1 A escola de Antioquia (Síria )– surgimento

A escola de Alexandria foi fundada por Luciano de Samosata (240-312 AD),

Teólogo cristão que deu origem a uma tradição de estudos bíblicos que ficou conhecida

pela erudição e conhecimento das línguas originais. Atribui-se a Luciano (embora sem

evidências concretas) uma recensão e uniformização dos textos gregos da sua época,

dando origem ao texto Bizantino ou sírio, que foi o texto grego do Novo Testamento

adotado pela igreja até meados do século passado. Luciano era um cristão de profundas

convicções. Morreu martirizado por torturas e fome, por se negar a comer carnes

sacrificadas aos deuses romanos.

Luciano fundou em Antioquia da Síria uma escola de estudos Bíblicos em

oposição consciente ao método alegórico ligado a Alexandria, particularmente ao

método de Orígenes. Essa escola tornou-se famosa por sua abordagem literal das

Escrituras. Foi formada no início do século IV, embora já no século Ii houvesse em

Antioquia estudioso como Teófolo, com uma interpretação mais sóbria das Escrituras.

6.4.1.2 Principais representantes

O sistema de interpretação adotada por Antioquia teve muitos ilustres defensores

entre os pais da Igreja. Alguns dos mais conhecidos e importantes foram:

x Deodoro de Tarso

x Teodoro de Mopsuéstia

x João Crisóstomo

Os grandes Antioquianos não forma contemporâneos de Orígenes mas dos

Alexandrinos posteriores como Atanásio e Dídimo. De muitas formas, o próprio Cirilo

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de Alexandria demonstrou perceptividade para com a exegese literal, o que o coloca

talvez entre duas escolas.

6.4.1.3 Princípios de Interpretação

Podemos resumir os princípios de interpretação desenvolvidos e utilizados pela

escola de Antioquia e por seus representantes da seguinte forma:

1. Sensibilidade e atenção ao sentido literal do texto. Era uma abordagem que

poderia ser chamada de “Gramático-Histórica”. Esse termo só apareceu após 

a reforma, mas os princípios que caracterizavam esse tipo de interpretação já

estavam presentes em Antioquia: procurar alcançar o sentido do texto através

da busca da intenção do seu autor (daí estudar-se o sentido óbvio das

palavras considerando o contexto histórico em que foi escrito.

2. Desenvolvimento do conceito de Theoria. Esse termo designava o estado

mental dos profetas em que recebiam as visões, em oposição á alegoria. Era

uma intuição ou visão pela qual o profeta podia ver o futuro através das

circunstâncias presentes. Depois da visão, era possível para ele descrever em

seus escritos tanto o significado contemporâneo dos eventos bem como seu

cumprimento futuro. A theoria era o principio usado pelos antioquianos para

se descobrir um sentido mais literal nas palavras dos profetas do Antigo

Testamento, permanecendo0se fiel ao seu sentido literal. Entretanto, embora

reconhecessem que havia um sentido mais profundo e completo nas palavras

dos profetas, estavam bem distantes da alegorese alexandrina.

3. Não negavam o caráter metafórico de algumas passagens: reconheciam que

havia tipologias, como a que Paulo fez em Gálatas 4.21-31. Entretanto,

afirmavam a historicidade da narrativa vétero-testamentária e procuravam

em seguida descobrir o sentido Teológico da mesma.

4. Buscavam determinar a intenção do autor, pela atenção cuidadosa ao sentido

histórico das palavras em seu contexto original.

5. Os antiquianos eram contra descobertas arbitrárias de Cristo no Antigo

Testamento, como as feitas pela alegorese alexandrina. Concordavam que

Cristo esta presente nas Escrituras do Antigo Testamento, mas reagiam

contra a idéia de que cada palavra, evento, número, personagem ou

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instituição das mesmas poderia ser interpretada de forma alegórica de modo

a sempre encontrar-se a Cristo nelas.

6.4.1.4 Exemplos de Interpretação

x Teólofo de Antioquia, um dos precursores da escola de Antioquia, numa

obra intitulado “ A Autólico”,  enfatiza  que  o Antigo Testamento  é  um 

livro histórico contendo a história autêntica dos atos de Deus para co

Israel. Ele esforça-se para traçar uma cronologia Bíblia, da criação até

seus dias. A mensagem do Antigo Testamento é que o Deus de quem ele

dá testemunho é o criador dos céus e da terra. Isso é possível porque os

autores humanos forma inspirados por Deus e podiam portanto escrever

sobre coisas que aconteceram antes e depois de sua época. Lembramos

que muitos intérpretes alexandrinos tendiam a rejeitar a importância da

historicidade do relato da criação (Gn 1 e 2), valorizando o sentido

profundo ou espiritual do mesmo.

x Deodoro de Tarso, que viveu 200 anos após Teófilo, deixou-nos um

comentário dos Salmos onde a interpretação Cristológica moderada de

Antioquia reflete-se claramente. Ali vemos em ação o princípio

Antioquiano de não atribuir a um texto do Antigo Testamento uma

interpretação Cristológica que não possa ser provada e demonstrada

pelo Novo Testamento (grifo meu). Comentando o salmo 22, Deodoro

nega que o mesmo seja messiânico, pois a descrição literal dos

sofrimentos do autor do salmo não combina com os sofrimentos de

Cristo. O salmo 24 também não é messiânico, mas refere-se aos judeus

que voltaram do cativeiro.

x Teodoro de Mopsuétia é provavelmente o intérprete que seguiu mais

rigidamente os princípios de interpretação da escola de Antioquia quanto

á abordagem Cristológica do Antigo Testamento. Para ele, uma

passagem no Antigo Testamento só pode ser considerada messiânica se

for usada como tal no Novo Testamento. Meras alusões não são

suficientes. Assim passagens como o sacrifício de Isaque, que nunca são

referidas no Novo Testamento como se referindo a Cristo, não são

consideradas messiânicas.

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6.4.1.5 Influência e fracasso

Podemos perceber vários aspectos positivos na obra dos antioquianos. A

escola de Antioquia adotou uma leitura das Escrituras que pode ser chamada

de Gramático-histórica (esse termo, na verdade, só surgiu após a reforma,

mas os seus princípios estavam presentes em Antioquia, em grande medida),

pois buscava descobrir intenção do autor humano (que seria idêntica á do

autor divino) como meio de determinar-se o sentido de uma passagem

Bíblica. Os antioquianos procuravam fazer justiça ao caráter da escritura.

RESUMO:

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7. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO

Introdução: O cristianismo é peculiarmente religião de um só livro. Elimine a Bíblia, e

você terá destruído o meio pelo qual Deus decidiu apresentar Sua relevação ao homem

através de sucessivas eras. “Segue-se, pois, que o conhecimento da Bíblia é requisito

indispensável para o crescimento da vida cristã”. (Frank E. Gaebelein) Uma vez que a Hermenêutica Bíblica é a ciência que procura descobrir qual é o verdadeiro significado de um texto bíblico, torna-se necessário fornecer alguns princípios por meio dos quais a interpretação de um texto deve ser feita. Abaixo, cito resumidamente 4 princípios de interpretação com os seus respectivos subitens (24, ao todo): 7.1 PRINCÍPIOS GERAIS DE INTERPRETAÇÃO 1. Trabalhe partindo da pressuposição de que a Bíblia tem autoridade; A primeira lei da interpretação diz que a Bíblia é o supremo tribunal de recursos. Textos Mt 7.29; João 7.17 2. A Bíblia é seu intérprete; a Escritura explica melhor a Escritura; Textos: Gn 3.1-5; Gn 2.16-17; 2.17; 3.4; Is 7.14; Mt 1.23; Gl 5.3. Deixe a Escritura explicar a Escritura. A Bíblia se interpretará a si mesma, se for estudada apropriadamente. 3. A fé salvadora e o Espírito Santo são-nos necessários para compreendermos e interpretarmos bem as Escrituras; Textos: Mt 13.9; 2 Cor 4.4; ICor 2.14; 2.12; João 16.13 4. Interprete a experiência pessoal à luz da Bíblia, e não a Escritura à luz da experiência pessoal; Textos: Atos 2.7,8; 8.17; 9.17-19; 19.6; I Cor 14; 12.14. A experiência pessoal é parte da vida Cristã, mas você deve ter o cuidado de mantê-la em seu lugar o próprio. Permite que a palavra de Deus interprete e molde as suas experiências, em vez de você interpretar a Escritura a partir das suas experiências. 5. Os exemplos bíblicos só têm autoridade quando amparados por uma ordem; Textos: Mc 1.35; 1Ts 5.17; Col 3.16. A Bíblia estabelece limites sobre o que não se pode fazer, não sobre o que se pode. Todas as coisas são lícitas, a menos que especificamente proibidas.

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6. O propósito primário da Bíblia é mudar nossas vidas, não aumentar o nosso conhecimento; Textos: I Co 10.6; Salmos 91.11-12; Mat 4.1-11. Satanás conhece a Bíblia, poderia passar em um exame de Teologia, porém reprovada na aplicação da mesma. Chamamos atenção na aplicação da passagem, pois deve estar em conformidade com o ensino geral das Escrituras. 7. Cada cristão tem o direito e a responsabilidade de investigar e interpretar pessoalmente a Palavra de Deus; Textos: João 5.39; João 8.31; 2 Tm 2.15 8. A história da igreja é importante, mas não decisiva na interpretação da Escritura; Textos: João 1.1,14. Devemos à história da Igreja o fato em que essa doutrina foi resolvida. A igreja não determina o que a Bíblia ensina; a Bíblia determina o que a igreja ensina. Aprenda da História e reconheça a sua importante contribuição, lembrando-se no entanto de que a Bíblia é o árbitro final em todas as questões pertencentes á fé e á prática. 9. As promessas de Deus na Bíblia toda estão disponíveis ao Espírito Santo a favor dos crentes de todas as gerações. Textos: Is 30.21; Ex 14.14; 2 Pe 1.3,4. Vale considerar dois tipos de promessas que se acham na Bíblia. 1. Promessas gerais (I João 1.9); 2. Promessas específicas Is 60.11; At 13.47; 42.6,7. ANOTAÇÕES:________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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7.2 PRINCÍPIOS GRAMATICAIS DE INTERPRETAÇÃO Os princípios gramaticais tratam das palavras do texto propriamente ditas. Como você deverá entender as palavras e frases das passagens em estudo? Que regras devem ser lembradas no trato do texto? Estes princípios respondem a essas questões. 1. A Escritura tem somente um sentido, e deve ser tomada literalmente (exceto se o contexto indicar o contrário); Textos: 2 Reis 2.23,24. (...) A sua reação imediata talvez seja que jamais Deus poderia permitir que ocorresse um incidente dessa espécie. 2. Interprete as palavras no sentido que tinham no tempo do autor; Determine o correto sentido das palavras da bíblia não e particularmente difícil hoje em dia. Muitas excelentes traduções está há disposição, e quando o sentido de uma palavra não ficar claro com elas, um bom dicionário bíblico será proveitoso. Textos: Mateus 25.1-13; João 2.14; João 2.19-21; Romanos 7.18 Quando estudar uma passagem, nunca pule palavras que não compreende. Quando você estudar uma palavra particular, devera determinar quatro coisas:

1.O uso que o autor fez dela; 2. Sua relação com o seu contexto imediato; 3. Seu uso corrente na época em que foi escrita; 4. Seu sentido etimológico.

3. Interprete a palavra em relação à sua sentença e ao seu contexto; Textos: Gálatas 1.23; Romanos 14.23; 1 Timóteo 5.11,12; Atos 17.24-26; Efésios 1.7; Hebreus 9.6,7; 1 Coríntios 7.1 Os manuscritos antigos dos quais fazemos nossas traduções da bíblia, não tem sinais de pontuação. Não há pontos, vírgula, parágrafos, versículos e capítulos. Estes foram introduzidos depois pelos tradutores, para clareza e facilidade do estudo. 4. Interprete a passagem em harmonia com o seu contexto; Textos: 1 João 3.6-10; João 1.2. Você precisa encontrar o propósito global do livro a fim de determinar o sentido de palavras ou passagens particulares no livro. Estas quatro perguntas o ajudarão:

1. Como a passagem se relaciona com o material circunvizinho? 2. Como se relaciona com restante do livro? 3. Como se relaciona com o livro com o todo? 4. Como se relaciona com a cultura e o quadro de fundo em que foi escrita?

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5. Quando um objeto inanimado é usado para descrever um ser vivo, a proposição pode ser considerada figurada; Textos: João 6.35; Salmo 92.12; Salmo 51.7; Mateus 26.26-28; 1 Coríntios 11.23-26. Quando se atribuem vida e ação a objetos inanimados, a proposição pode ser considerada figurada. 6. Quando uma expressão não caracteriza a coisa descrita, a proposição pode ser considerada figurada; Textos: Fl 3.2,3; Lc 13.32; João 1.36; Is 53.7; Ap 5.5. Para Deus falar conosco, precisa usar figuras e imagens humanas a fim de comunicar a verdade divina (HENRICHSEN 1980 P.49) Em conclusão, observe duas coisas importantes:

1. Uma palavra não pode significar mais de que uma coisa de cada vez. Não pode ter sentido figurado e literal ao mesmo tempo. Quando dá um sentido figurado, cancela-se o sentido literal e vice-versa.

2. Sempre que possível, a passagem deve ser interpretada literalmente. Só se o sentido literal da palavra não se enquadrar é que deverá ser interpretada figuradamente. É sempre preferível o sentido literal da palavra, a menos que o contexto o impossibilite.

7. As principais partes e figuras de uma parábola representam certas realidades. Considere somente essas principais partes e figuras quando estiver tirando conclusões; Textos: Lc 8.4-15. Divisão da passagem: 1. Parábola propriamente dita (VV 4-9); 2, Interpretação dada por Jesus (VV 10-15). O propósito da parábola é ilustrar os diferentes tipos de respostas que a palavra recebe quando é proclamada. Vide o sermão do professor Lima3: Introdução: A parábola mostra quatro Corações: O Messias objetivava classificar o

coração pela receptividade, desprendimento e disposição para aprender.

Tema: OBTENDO ÁGUA NO TEMPO DA SEQUIDÃO

1. Primeiro solo: Ouvinte com a mente fechada

As sementes que foram lançadas não penetraram nele, e, portanto, não

encontram as condições mínimas para germinar. Representam as pessoas que têm o seu

próprio caminho, as que não estão dispostas para as novas experiências. Elas se

fecham no seu mundo. Elas são vulneráveis no que refere as coisas de Deus. Nenhuma

pregação encontra espaço para penetrar e transformar - levar essas pessoas a serem o

3 Sermão pregado na Igreja Evangélica de Araçariguama –Setembro 2009

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que deveriam ser. São alienados, faltos o comprometimento e a coragem de dizer que

precisam de Deus. Infelizmente a boa semente lançada não pode germinar.

2. O segundo solo: Ouvinte com a mente Emocional

Era um solo melhor do que o que estava á beira do caminho. As sementes nele

lançadas encontraram condições mínimas para germinar. Elas logo nasceram, visto

que a terra era boa. Porém, logo veio o calor do sol e elas não suportaram, já que suas

raízes eram superficiais. As raízes dão sustentabilidade ás plantas, suprem-nas com

nutrientes e água. Mostra a superficialidade da vida Cristã. Se não preocuparmos em

cultivar raízes internas, não espere encontrar águas profundas nos dias de aridez. Se

uma planta não alongar as suas raízes, ela não pode esperar os nutrientes de

qualidade. As plantas que suportam a angústia do sol e os períodos de sequidão não

são as mais belas, mas as que têm raízes mais profundas. Elas atingem o lençol. A

Bíblia traz um relato interessante: O discurso de Jesus após a multiplicação de pães,

não agradou a muitos quando o Mestre disse que deveriam comer a sua carne e beber o

seu sangue- querendo dizer que a suas palavras eram um verdadeiro alimento para

nutrir os solos do espírito e da alma humana. Pedro entendeu a lição e disse: Para

onde iremos se só tu que tens a palavra da vida eterna.

3. Segundo solo: Ouvinte com a mente inconstante

O solo era adequado. Não era compactado, não havia pedras no seu interior.

As sementes encontraram um excelente clima para crescer. Lançaram raízes profundas,

conseguiram águas submersas, suportaram o calor do sol. Os problemas exteriores não

conseguiram destruí-las. Nesse crescimento, sutilmente cresceram espinhos. No início

os espinhos eram insignificantes, mas a medida que vai passando o tempo, a história

vem se mudando. São os espinhos que agora comanda e sufoca o coração. Os espinhos

começaram a competir com as plantas pelos nutrientes, oxigênio, água e raios solares.

Como eram mais adaptados, deram um grande salto. Cresceram rapidamente e

começaram a sufocar as plantas. As plantas clamavam pelos nutrientes e pelos raios

solares para fazer a fotossíntese, mas os espinhos controlavam seu desejo de viver. As

plantas não frutificaram, não sobreviveram. Os espinhos são a preocupação

existencial, os cuidados do mundo, as ambições a fascinação pelas riquezas. Eu não

disse que não devemos nos preocupar, mas o mal é deixar que essas preocupações nos

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controlem, roubando a nossa tranqüilidade. Eu disse que houve a competição entre

espinho e as plantas: No nosso coração a arrogância compete com o perdão, à

intolerância com a compreensão, a necessidade de poder compete com o

desprendimento, o ódio com a maior. Eu diria ainda se o sucesso espiritual,

profissional, intelectual se não forem bem administrados, vão competindo com a

simplicidade da vida.

4. Terceiro Solo: Ouvinte com a mente firme e compreensiva

Finalmente chegamos ao último coração representado da semente que caiu em

boa tarde. Este coração removeu as pedras, suportou as dificuldades da vida, laçou

raízes profundas nos tempos de aridez, assim criou um clima favorável para frutificar

com abundância. Jesus disse são todos aqueles que compreenderam a sua palavra,

refletiram sobre e permitiram que ela habitasse no seu ser. Comportou-se como sedento

e ansioso pela água. Não era movido apenas pelo entusiasmo das boas novas, mas pela

disposição desesperada para aprender

8. Interprete as palavras dos profetas no seu sentido comum, literal e histórico, a não ser que o contexto ou a maneira como se cumpriram indiquem claramente que têm sentido simbólico. O cumprimento delas pode ser por etapas, cada cumprimento sendo uma garantia daquilo que há de seguir-se. Textos: Malequias 4.5,6; Mateus 11.13,14; 17.10-13; Joel 2.28-32; Atos 2.15-21. A profecia deve ser interpretada literalmente, a menos que o contexto ou alguma referência posterior na Escritura indique outra coisa. O texto abaixo não pode ser tomado literalmente. Malequias 4.5,6 (“ Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do SENHOR; E ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição)”.  Diz  Malequias  que  Deus  enviará  “o  profeta  Elias”.  Quando  apareceu  João  Batista como o precursor de Jesus Cristo, gerou-se muita confusão, o que mostra que o povo daquele tempo esperava que a profecia fosse cumprir-se literalmente.

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7.3 PRINCÍPIOS HISTÓRICOS DE INTERPRETAÇÃO Os princípios históricos tratam do cenário histórico do texto. Para quem e por quem foi escrito o livro? Por que foi escrito e que papel desempenhou o cenário histórico na formação da mensagem do livro? São desse tipo as perguntas que você procura responder quando considera o aspecto histórico do seu estudo. 1. Desde que a Escritura originou-se num contexto histórico, só pode ser compreendida à luz da história bíblica; Textos: Atos 15 2. Embora a revelação de Deus nas Escrituras seja progressiva, tanto o Velho como o Novo Testamento são partes essenciais desta revelação e formam uma unidade; Textos: João 14.6; Hb 10.4. A revelação que Deus faz de si é progressiva, à medida que você vai lendo a Bíblia, mas o seu caráter é imutável. O grandioso plano divino de redenção é o mesmo em ambos os testamentos. Ao estudar a Bíblia, você pode considerá-los duas partes do mesmo livro, não dois livros separados. 3. Os fatos ou acontecimentos históricos se tornam símbolos de verdades espirituais, somente se as Escrituras assim o designarem; Textos: 1 Coríntios 10.1-4; Números 20.11; Gálatas 4.22-24. Estudo de caso: O livro de Filemom- sem nenhuma razão aparente, muitos alegorizam esse livro, identificando Filemom com Deus, Onésimo com a Humanidade e Paulo com Cristo. Cristo (Paulo) intercede junto ao Pai (Filemom) em favor do fugitivo que se converteu (Onésimo). Paulo não estabelece esta analogia, nem aqui, nem em nenhuma outra passagem. Tampouco você deve fazê-lo. Esta espécie de alegorização é diferente de fazer aplicação. Por exemplo, podemos dizer que Paulo pediu a Filemom em favor de Onésimo é o que Cristo nos pede. Da mesma maneira devemos perdoar os que nos tenham lesado. Nossa aplicação é extraída do acontecimento ou fato histórico, sem alterar o sentido visado no referido fato.

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7.4 PRINCÍPIOS TEOLÓGICOS DE INTERPRETAÇÃO Teologia é o discurso acerca de Deus e de sua relação com o mundo. O livro-fonte deste estudo é a Bíblia. A Teologia procura tirar conclusões sobre vários tópicos, amplas e importantes na Bíblia. A que se semelha Deus? Qual é a natureza do homem? Qual é a doutrina da salvação realmente válida? São estes tipos de assuntos de que trata a teologia. Os princípios teológicos são aquelas regras que tratam da formulação da doutrina. 1. Você precisa compreender gramaticalmente a Bíblia, antes de compreendê-la teologicamente; Textos: Romanos 5.15-21; Hebreus 10.26 Com base em Romanos podemos tirar algumas conclusões: A imputação não afeta o seu caráter moral, mas sim, a sua posição legal. Quando você considerado justo graças à obra de Cristo, o seu caráter moral não foi alterado; você não se tornou moralmente justo e perfeito, só legalmente justo e perfeito à vista de Deus. Após a leitura do texto de Hebreus 10.26, deve estar a pensar, o crente pode perder a salvação. Definitivamente está passagem não serve como base. Ouviu o que eu disse: Não é intenção do autor falar sobre esse assunto. Porém, o escritor expõe o fato do sacrifício de Jesus. Esta sua afirmação diz que, uma vez que esses judeus compreenderam a razão da morte de Jesus e deliberadamente a ignoraram, se retornassem aos seus sacrifícios, não haveria nenhum sacrifício futuro provido por Deus. Você terá de compreender o que uma passagem diz, antes de extrair dela quaisquer conclusões doutrinárias. 2. Uma doutrina não pode ser considerada bíblica, a não ser que resuma e inclua tudo o que a Escritura diz sobre ela; Textos: Romanos 3.28; 6.1-6; Gálatas 5.18. Ao ler tais declarações, pode concluir que a graça de Deus o livra de qualquer obrigação de viver uma vida disciplinada, santa? 3. Quando parecer que duas doutrinas ensinadas na Bíblia são contraditórias, aceite ambas como Escrituristicas, crendo confiantemente que elas se explicarão dentro de uma unidade mais elevada; Existem nas escrituras certo número de aparentes contradições ou paradoxos. “aparentes”  porque na realidade não o são. Parecem contraditoras porque a mente finita do homem não pode compreender a mente infinita de Deus. Eis alguns dos conhecidos paradoxos para a mente humana:

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1. A Trindade. Não servimos a três deuses, mas sim, a um só Deus; contudo, cada pessoa da divindade é plena e completamente Deus, e não apenas um terço Deus.

2. A dual natureza de Cristo. Jesus Cristo é Deus completo e homem completo. Não é meio Deus e meio homem; todavia, Ele não é duas pessoas, mas somente uma.

3. A origem e existência do mal. Em termos lógicos, a mente humana deduz que de duas coisas, uma deve ser verdadeira. Ou Deus criou o mal, ou este lhe é coeterno. A Bíblia nos induz a crer que nenhuma destas é verdadeira. É um mistério.

4. A soberana eleição de Deus e a responsabilidade do homem. Vide: (Efésios 1:4) - Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; (II Pedro 3:9) - O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. (Romanos 10:13) - Porque todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo. De todas as dificuldades, nenhuma causa tanta controvérsia emocional como à última. Quando  a  Bíblia  deixa  duas  doutrinas  “conflitantes” sem as conciliar, você deve ter o mesmo. Viver em tensão não é agradável, mas você deve ter cuidado para não perder o equilíbrio Bíblico ao procurar aliviar a tensão. Não arranque partes da Escritura na tentativa de forçar acordo entre as duas doutrinas “conflitantes”

4. Um ensinamento simplesmente implícito na Escritura pode ser considerado bíblico quando uma comparação de passagens correlatas o apóia. Texto: Êxodo 3.5 A comunidade religiosa judaica do tempo de Jesus estava dividida em vários grupos: Herodianos, essênios, zelotes, saduceus, e fariseus. Estes dois últimos grupos divergem sobre certos pontos doutrinários, notadamente a ressurreição dos mortos. Os fariseus criam nisso; os saduceus o negava. Certa ocasião Jesus se viu numa discussão com os saduceus sobre esta questão da vida além  desta.  Será  que  o  Antigo  Testamento  a  ensina  de  fato?  Resposta  de  Jesus:  “ quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido no livro de Moisés, no trecho referente à sarça, como Deus falou: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ora ele não é Deus de mortos, e, sim, de vivos. Esse raciocínio é dedutivo, e pode ser delineado da seguinte forma:

x Primeira premissa- Deus é Deus de vivos x Segunda premissa – Deus é o Deus de Abaão, Isaque e Jacó. x Conclusão – Abraão, Isaque e Jacó estão entre os que vivem.

A doutrina da ressurreição é implícita no Antigo Testamento, arrazoou Cristo. O Antigo Testamento não afirma expressamente que há uma ressurreição dos mortos, mas quando você compara passagens correlatas sobre o assunto, deduz que é verdade.

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Anotações: ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8. APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS AOS DIFERENTES TIPOS DE TEXTOS

Linguagem figurada não quer dizer linguagem sem sentido, nem linguagem

ininteligível. Muito ao contrário, as figuras dão maior realce ao pensamento, tornando a

linguagem enfática; e o sentido de tal linguagem, se bem que menos claro que na literal,

é perfeitamente acessível e certo.

Devemos sempre ler a Bíblia deixando-a significar o que quer dizer. Sua

linguagem figurada é geralmente indicada pelo contexto; seus símbolos e tipos são

explicados por outras passagens, quando não o são no próprio texto ou no contexto

imediato. Fora disso, sua linguagem deve ser entendida literalmente, a não ser que o

sentido requeira interpretação figurada.

Agora vamos fazer um estudo das figuras de linguagem, procurando nos

ocuparmos daquilo que interessa mais diretamente ao texto bíblico e a sua exegese.

Parábolas

É uma narrativa de acontecimento real ou imaginário em que tanto as pessoas

como as coisas e as ações correspondem a verdades de ordem espiritual e moral.

Exemplo: O Semeador (Mt 13.3-8); Ovelha perdida, dracma perdida e filho pródigo

(Lc. 15), etc.

Metáforas

É a figura em que se afirma que alguma coisa é o que ela representa ou

simboliza, ou com que se compara.

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Ela só se distingue do símile por lhe faltar o elemento de comparação que há

neste. Quando Isaías, por exemplo, falando do Messias,  diz:  “Foi  subindo  como 

renovo”, emprega um símile, uma comparação, em que não há figura. Quando, porém, o 

Senhor diz por Zacarias:  “Eis que aqui  farei  vir o meu  servo, o Renovo”,  temos uma 

verdadeira metáfora.

Provérbios Walter C. Kaiser descreveu provérbios  como ditos  “concisos,  breves,  com um 

pouco  de  estimulante,  e  uma  pitadinha  de  sal  também”.  Muitos  consideram  os 

provérbios como bonitos slogans – bons motos pata se pendurar na parede. Poucos

reconhecem a excelente beleza e sabedoria que, muitas vezes, esses ditos contém.

Um dos maiores problemas da religião é a falta de integração prática entre

nossas crenças teológicas e nosso viver diário. Os provérbios podem proporcionar um

importante antídoto, pois demonstram a verdadeira religião em termos específicos

práticos e significativos.

O foco geral do livro de provérbios é o aspecto moral da lei- regulamentos éticos

para a vida diária redigidos em termos universalmente permanentes. Os focos

específicos incluem sabedoria, moralidade, castidade, controle da língua, associações

com outras pessoas, indolência e justiça.

Muitos dos provérbios se relacionam com a sabedoria, um conceito que proporciona o contexto para todos eles. Sabedoria, na escritura, não é sinônimo de conhecimento. Ela começa com o temor do senhor. “O temor do Senhor não é o medo normal, ou mesmo aquele tipo mais profundo conhecido como reverência numerosa”,  mas  é  basicamente  uma  postura,  uma atitude do coração que reconhece nosso relacionamento legítimo com o Deus Criador. A vida de sabedoria e prudência procede desta postura de Deus. Dentro deste contexto, os provérbios já não permanecem como motos piedosos para serem pendurados na parede, mas se tornam meios intensamente práticos, significativos, de inspirar um andar íntimo com o Senhor (VIRKLER 1987 P.125

Alegorias

É uma figura retórica que geralmente consta de várias metáforas unidas,

representando cada uma delas realidades correspondentes.

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Exemplo: "Eu Sou o Pão Vivo que desceu do céu, se alguém dele comer, viverá

eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo, é a minha carne... Quem comer a

minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna", etc. Esta alegoria tem sua

interpretação nesta mesma passagem das Escrituras. (Jo 6.51-65)

Profecias

Segundo Virkler (1987:146-147), a interpretação de profecia é um assunto

sumamente completo, não tanto em virtude da discordância concernentes aos princípios

interpretativos corretos, mas por causa das diferenças de opinião sobre como aplicar

esses princípios. No Antigo Testamento, assim como no Novo Testamento, “profeta é 

um porta-voz de Deus que declara a vontade de Deus ao povo”. Acordo com Autor, a 

profecia refere-se a três coisas: (1) predizer eventos futuros (Ap 1.3; 22.7, 10; João

11.51); (2) revelar fatos ocultos quanto ao presente (Lc 1.67-79; At 13.6-12 e (3)

ministrar instrução, consolo e exortação em linguagem poderosamente arrebatada (At

15.32; I Co 14.3, 4, 31).

Símile: também afirma que alguma coisa é o que ela representa ou simboliza,

sendo que apresenta um elemento comparador. (Is.53.2).

Metonímia: o emprego do nome de uma coisa pelo de outra com que tem certa

relação (Gn.25.26; Lc.16.29; Gn.41.13; Jó.32.7)

Sinédoque: a substituição de uma ideia por outra que lhe é associada (Mt.3.5;

6.11; Gn.3.19; 19.20).

Hipérbole É a afirmação em que as palavras vão além da realidade literal das

coisas (Dt.1.28).

Ironia: É a expressão dum pensamento em palavras que, literalmente

entendidas, exprimem sentido oposto (Gn.3.22;Jz.10.14; Jó.12.2; Mt.27.40).

Prosopopeia: É a personificação de coisas ou de seres irracionais (Sl.35.10;

Jó.12.7; Gn.4.4).

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Antropomorfismo: É a linguagem que atribui a Deus ações e faculdades

humanas, e até órgãos e membros do corpo humano (Gn.8.12; Sl.74.11).

Enigma: É a enunciação duma idéia em linguagem difícil de entender.

(Jz.14.14)

Tipos: É uma classe de metáforas que não consiste meramente em palavras, mas

em fatos, pessoas ou objetos que designam fatos semelhantes, pessoas, ou objetos no

porvir (Hb.9.8,9; Jo.3.14; Mt.12.40).

Símbolos: É uma espécie de tipo pelo qual se representa alguma coisa ou algum

fato, por meio doutra coisa ou fato conhecido, para servir de semelhança ou

representação. É diferente do tipo por não prefigurar a coisa que representa. Ele

simplesmente representa o objeto (Ap.5.5; I Pe.5.8; Js.2.18). Os símbolos podem ser

apresentados na forma de objetos (sangue, ouro, etc.); nomes (Abraão, Israel, Jacó,

etc); números (seis, sete, oito, etc.) e cores (púrpura, escarlate, etc.).

Poesia: é a mensagem de Deus revelada através do lirismo da poesia judaica.

Está presente desde Génesis até o Apocalipse. A poesia hebraica não possui rima.

Composta por paralelismo: sinonímico – o segundo verso repete com sinônimos

(Sl.20.2,3; Pv.23.24,25); antitético – o segundo verso é uma antítese ao primeiro.

(Sl.1.6; 71.7; Pv.12.1,2) e sintético – o Segundo verso

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HENRICHSEN. Walter A. Princípios de Interpretação da Bíblia. São Paulo:

Mundo Cristão, 1980

SCHOLS. Vilson. Princípios de Interpretação Bíblica. RS: Ulbra, 2006

SILVA, Moisés e KAISER, Walter. Introdução à Hermenêutica Bíblica. São Paulo:

Cultura Cristã, 2002.

ZUCK, Roy B. A interpretação bíblica. São Paulo: Edições Vida Nova 2002.

DORDON D. FEE, DOLGLAS STUART. Entendes o que lês.Ed. Nova Vida.

2º edição. 2005.

HENRICHSEN, WALTER A. Métodos de Estudo Bíblicos. Ed. Mundo Cristão. 4º edição. 1989

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APOSTILA DE HERMENÊUTICA BÍBLICA PROF. ALFREDO LIMA

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