hermenutica bíblica

Upload: ederaldo-rodrigues

Post on 06-Jul-2018

277 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    1/52

    Hermenêutica Bíblica

    Que exatamente vem a ser hermenêutica? E

    em que difere de exegese e exposição? A

    palavra “hermenêutica” deriva do verbo grego

    hermeneuo e do substantivo hermeneia

    “explicar, interpretar, traduzir, falar  com clareza”

    (Mc 5.41; 15.22; Lc 24.27; Jo 1.38,42; At 9.36; 1

    Co 12.10). Esses termos estão relacionados a

    Hermes —  o deus-mensageiro de pés alados

    da mitologia grega. Cabia a ele transformar o que estava além do entendimento

    humano em algo que a inteligência humana pudesse assimilar. Afirma-se que

    foi ele quem descobriu a linguagem verbal e a escrita, tendo sido o deus da

    literatura e da eloqüência, dentre outras coisas. Ele era o mensageiro ou

    intérprete dos deuses e principalmente do pai, Zeus. Assim, o verbo

    hermeneuo passou a significar o ato de levar alguém a compreender algo em

    seu próprio idioma (“explicar”) ou em outra língua (“traduzir”). Em nossa língua,

    o verbo “interpretar” às vezes é empregado com o sentido de “explicação”;

    outras, com o sentido de “tradução”. Nas 19 vezes em que os termos

    hermeneuo e hermeneia aparecem no Novo Testamento, o sentido quase

    sempre é de tradução. O verbo diermeneuo é empregado em Lucas 24.27: “E,

    começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que

    a seu respeito constava em todas as Escrituras”. Quando Jesus falou com

    Simão, disse: “... tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro)” (Jo 1.42). A

    locução verbal “quer dizer” é tradução do grego hermeneuo. Em certo sentido,uma tradução é uma explicação; é explicar numa língua o que foi expresso em

    outra. Portanto, interpretar inclui esclarecer e tomar inteligível o que era

    obscuro ou desconhecido.

     A hermenêutica, como já foi dito, é a ciência e a arte de interpretar a

    Bíblia. Outra definição de hermenêutica seria: ciência (princípios) e arte (tarefa)

    de apurar o sentido do texto bíblico. 

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    2/52

    Imagem da versão em inglês King James, aberta em João 3.16. Imagem disponível

    em http://www.publicdomainpictures.net  22/11/2011. A Bíblia é o único livro sagrado

    para o cristão, por isso devemos saber interpretar e aplicá-lo na nossa vida.

    I. PORQUE A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA É IMPORTANTE?

    É essencial para a compreensão e para o ensino correto da Bíblia

    Precisamos conhecer o significado da Bíblia a fim de podermos descobrir

    sua mensagem para nossos dias. Devemos compreender seu sentido para a

    época antes de percebermos seu significado para hoje. Se descartarmos a

    hermenêutica (ciência e arte de interpretar a Bíblia), estaremos passando por

    cima de uma etapa indispensável do estudo bíblico e deixando de nos

    beneficiar dela. A primeira etapa, que é a observação, consiste na pergunta:

    “Que diz o texto?”. A segunda etapa, a interpretação, indaga: “Que quer

    dizer?”. A terceira, a aplicação, questiona: “Como se aplica a mim?”. Talvez a interpretação seja, das três etapas, a mais difícil e a que mais

    tempo consome. E, no entanto, quando o estudo bíblico é reduzido neste

    aspecto, pode-se incorrer em erros graves e em resultados distorcidos. Certas

    pessoas “adulteram a Palavra de Deus” intencionalmente (2 Co 4.2). Outras há

    que até mesmo “deturpam” as Escrituras “para a própria destruição deles” (2

    Pe 3.16). Outros, por sua vez, interpretam a Bíblia erroneamente sem o saber.

    Por quê? Por não darem a devida atenção aos princípios em causa nacompreensão das Escrituras. Nos últimos anos, vemos um interesse crescente

    pelo estudo bíblico informal. Muitos grupos pequenos reúnem-se em casas ou

    nas igrejas para debater a Bíblia —  o que quer dizer e como aplicar sua

    mensagem. Será que os integrantes desses grupos sempre chegam ao mesmo

    entendimento da passagem estudada? Não necessariamente. Alguém pode

    afirmar: “Para mim, este versículo quer dizer isto”;  já outro pode retrucar: “Para

    mim, o sentido não é esse; é este aqui”. Estudar a Bíblia dessa forma, sem as

    http://www.publicdomainpictures.net/http://www.publicdomainpictures.net/http://www.publicdomainpictures.net/

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    3/52

    diretrizes apropriadas da hermenêutica, pode gerar confusão e interpretações

    que se encontram até em inequívoco desacordo.

    Será que Deus pretendia que a Bíblia fosse tratada dessa forma? Se

    conseguirmos manipulá-la para extrairmos o sentido que desejamos, como

    pode ser um guia confiável? O que não falta são interpretações divergentes de

    inúmeras passagens. Por exemplo, uma pessoa lê João 10.28 — “Eu lhes dou

    a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da

    minha mão” —  e entende que esse versículo está ensinando a segurança

    eterna. Já a explicação que outros oferecem sobre o mesmo versículo é que,

    apesar de não se poder retirar um cristão das mãos de Deus, o próprio crente

    pode fazê-lo se persistir no pecado. Alguns são de opinião que a declaração de

    Paulo, em Colossenses 1.15, de que Cristo é “o primogênito de toda a criação”,

    significa que ele foi criado. Outros, por sua vez, entendem por esse versículo

    que, como acontece com o primogênito de toda família, ele é o Herdeiro.

     Alguns cristãos praticam o chamado “falar em línguas” com base em 1

    Coríntios de 12 a 14. Já outros lêem os mesmos capítulos e entendem que tal

    prática limitava-se à era apostólica sem aplicar-se à atualidade. Naum 2.4 —

    “Os carros passam furiosamente pelas ruas, e se cruzam velozes pelas

    praças...” —  já levou à conclusão de que se trata de uma profecia sobre o

    trânsito intenso de automóveis em nossas cidades modernas. Agostinho de

    Hipona, por exemplo, atribuiu um sentido “espiritual” à parábola do bom

    samaritano (Luc 10.25-37), explicando que a hospedaria para onde o

    samaritano levou o ferido simboliza a igreja e que as duas moedas de prata

    dadas ao hospedeiro representam a ceia do Senhor e o batismo nas águas.

    O líder mórmon Brigham Young quis dar razão ao fato de ter mais de 30

    esposas lembrando que Abraão possuía mais de uma: Sara e Hagar. A práticamórmon de batizar por causa de parentes mortos e de outras pessoas

    fundamenta-se, afirmam eles, em 1 Coríntios 15.29. Há quem segure cobras

    venenosas porque leu Marcos 16.18. A questão de as mulheres ensinarem ou

    não os homens depende de como se interpretam 1 Coríntios 11.5; 14.34, 35 e

    1 Timóteo 2.12. Alguns pregam que o reinado atual de Cristo nos céus indica

    que ele não vai estabelecer um reinado de mil anos na terra após sua volta.

    Para outros, a Bíblia ensina que Cristo, apesar de governar o universo

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    4/52

    atualmente, haverá de manifestar seu reino no plano físico quando vier para

    reinar como o Messias sobre a nação de Israel, no Milênio.

    Todas essas —  como tantas outras —  são questões de interpretação.

    Evidentemente, essa discrepância de concepções ressalta que nem todos os

    leitores seguem os mesmos princípios para compreender a Bíblia.

     A ausência de uma hermenêutica correta também é a causa dos enormes

    desmandos e da difamação que sofre a Bíblia. Até mesmo alguns ateus tentam

    defender seu posicionamento com Salmos 14.1: “Não há Deus”. E claro que

    eles pularam a introdução de tais palavras: “Diz o insensato no seu coração:

    Não há Deus”. Certas pessoas afirmam que é possível fazer a Bíblia dizer o

    que se queira. No entanto, quantos desses mesmos indivíduos afirmam que é

    possível fazer Shakespeare dizer o que se queira? Não resta dúvida de que as

    pessoas podem fazer a Bíblia dizer o que querem ouvir, desde que descartem

    os métodos normais para a compreensão de documentos escritos.

    A interpretação bíblica é uma etapa essencial que sucede à observação

     Ao ler a Bíblia, muitos saltam diretamente da observação para a aplicação,

    passando por cima da etapa essencial da interpretação. Isto é um erro, pois a

    interpretação é a seqüência lógica da observação. Ao observar o que a Bíblia

    diz você está fazendo uma sondagem; ao interpretá-la, está fazendo uma

    reflexão. Observar significa descobrir; interpretar significa digerir. A obser vação

    consiste em descrever; a interpretação, em determinar o sentido. A primeira é

    exploração; a segunda, explicação.

     A observação é como um cirurgião abrindo uma região afetada. Ele verifica

    um tumor, ou talvez uma hemorragia, um tecido com pigmentação anormal ouuma obstrução. A averiguação suscita as perguntas: “Que significa isso? Como

    pode ser explicado? Que tipo de tumor deve ser? Qual a causa da hemorragia?

    Por que o tecido está com essa coloração? Por que está havendo esta

    obstrução aqui?”. 

    Notando o que vemos no texto bíblico, devemos então manejá-lo corretamente

    (2 Tm 2.15). A oração adjetiva “que maneja bem” é a tradução da palavra

    grega orthotomounta, que é a combinação de “reto” (orho) com “cortar”(tomeõ). Roy Zuck em seu livro Interpretação Bíblica explica:

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    5/52

    Como Paulo fabricava tendas, é possível que estivesse empregando um termo

    relacionado a seu oficio. Quando fazia as tendas, usava determinados moldes.

    Naquela época, as tendas eram feitas de retalhos de peles de animais costurados

    uns aos outros. Cada pedaço teria de ser cortado de tal forma que se encaixasse

    bem com os outros. Paulo estava simplesmente dizendo: “Se os pedaços não forem

    bem cortados, o todo ficará desconjuntado”. O mesmo ocorre com as Escrituras. Se

    as diferentes partes não forem interpretadas corretamente, a mensagem como um

    todo, resultará errônea. Tanto no estudo da Bíblia quanto na interpretação, o cristão

    deve ser preciso. Deve ser minucioso e exato.

    A interpretação da Bíblia é essencial para sua aplicação correta

     A interpretação deve apoiar-se primeiramente na observação e, depois,

    conduzir à aplicação. Ela é um meio que visa a um fim, não tem um fim em si

    mesma. O objetivo do estudo da Bíblia não se limita a apurar o que ela diz e o

    seu significado; inclui a aplicação dela à vida. Se não aplicarmos as Escrituras,

    estaremos encurtando o processo como um todo e deixando incompleto o que

    Deus deseja que façamos.

    É bem verdade que a Bíblia nos fornece muitos fatos acerca de Deus, de

    nós mesmos, do pecado, da salvação e do futuro, os quais precisamos

    conhecer. Nela buscamos informação e entendimento, e é assim que deve ser.

    Mas a questão é o que fazer com essa informação e esse entendimento. A

    interpretação é a etapa que nos transporta da leitura e da observação do texto

    para a aplicação e a prática. O estudo bíblico é uma atividade intelectual por

    meio da qual procuramos compreender o que Deus diz. Contudo, deve ir, além

    disso, e incluir a disciplina espiritual, por meio da qual procuramos colocar em

    prática o que lemos e compreendemos.

    O verdadeiro objetivo do estudo da Bíblia é a assimilação íntima, não a

    simples percepção mental. Somente assim o crente pode crescer

    espiritualmente. A maturidade espiritual, que nos torna mais semelhantes a

    Cristo, não decorre apenas de um conhecimento mais amplo da Bíblia. Resulta

    de um conhecimento mais amplo da Bíblia e de sua aplicação às nossas

    necessidades espirituais. Paulo visava a esse objetivo para que pudesse

    incentivar e ensinar outros a se tornarem maduros em Cristo (Cl 1.28). Pedro

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    6/52

    também escreveu que devemos desejar “ardentemente [...] o genuíno leite

    espiritual, para que por ele [nos] seja dado crescimento para [nossa] salvação”

    (1 Pe 2.2). Paulo escreveu que “o saber ensoberbece” (1 Co 8.1). Jesus disse

    aos líderes judeus de sua época: “Examinais as Escrituras...” (Jo 5.39); mas

    logo acrescentou que todo aquele estudo era inútil, porque eles se recusavam

    a chegar a ele para terem vida (v. 40).

    Uma passagem clássica sobre a inspiração das Escrituras é 2 Timóteo

    3.16. Entretanto, quase todo esse versículo e o seguinte falam da utilidade das

    Escrituras. Elas devem ser usadas “para o ensino, para a repreensão, para a

    correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja

    perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. 

    Uma coisa é lermos 2 Timóteo 1.9, prestando atenção ao fato de que Deus

    “nos chamou com santa vocação”, e compreendermos que santidade é uma

    vida de pureza e piedade, concretizada pela obra santificadora do Espírito

    Santo. Outra coisa, no entanto, é lidarmos com o pecado em nossas vidas a

    ponto de realmente levarmos uma vida santa. Uma coisa é estudarmos o que

    as Escrituras asseveram sobre a volta de Cristo, em passagens tais como 1

    Tessalonicenses 4.13-18 e 1 Coríntios 15.51-56. Mas outra é nos apoiarmos

    nesses fatos e transcendê-los a ponto de amar sua aparição (2 Tm 4.8), ou

    seja, ansiar e aguardar com expectativa por sua vinda, continuando firmes na

    obra do Senhor (1 Co 15.58).

     Assim sendo, a interpretação bíblica, como a segunda etapa do estudo da

    Bíblia, é absolutamente essencial. A interpretação é fundamental à aplicação.

    Se nossa interpretação não for correta, podemos acabar aplicando a Bíblia da

    forma errada. A forma como você interpreta diversas passagens afeta

    diretamente seu comportamento e também o de outras pessoas. Por exemplo,se um pastor entende em determinadas passagens ser permitido que uma

    pessoa divorciada se case novamente, então isso influenciará sua orientação

    sobre o assunto aos divorciados. Se um pastor entende que 1 Coríntios 11.3-

    15 ensina que as mulheres devem usar chapéu na igreja, então sua

    interpretação influenciará os ensinamentos que ele passa à congregação.

     As questões de ser o aborto correto ou errado, de como descobrir a

    vontade de Deus, de como levar uma vida dotada de sentido, de como ser ummarido, uma esposa, um pai ou uma mãe eficiente, de como reagir ao

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    7/52

    sofrimento —  tudo isso depende da hermenêutica e da forma como se

    interpretam diversas passagens, estando-lhes intimamente ligado. Segundo

    disse determinado autor: “A interpretação da Bíblia é uma das questões mais

    importantes que os cristãos enfrentam hoje. Dela resulta o que cremos, como

    vivemos como nos relacionamos e o que temos a oferecer ao mundo”. 

    O Desafio da Interpretação Bíblica

    Temos, portanto, a responsabilidade de procurar conhecer a verdade

    conforme exposta na Palavra de Deus, isto é imprescindível para nossa própria

    vida espiritual e para ajudarmos eficazmente os outros. Quando transmitimos a

    Palavra de Deus, seja em aconselhamentos individuais, seja ensinando na

    escola dominical ou num grupo de estudo bíblico, seja pregando, o

    conhecimento que passamos, com base no nosso entendimento das

    Escrituras, sem dúvida alguma influenciará outras pessoas. Suas vidas estão

    em nossas mãos.

    Quando a Bíblia não é interpretada corretamente, a teologia de um

    indivíduo ou de toda uma igreja pode ser desorientada ou superficial, e seu

    ministério, desequilibrado.

    O processo de entendimento da Bíblia dura a vida toda. Ao estudar a Palavra,

    você se pergunta: “Que quer dizer isso? Esse conceito está certo? Por que

    está ou por que não está? E essa interpretação? É válida?”. Ao ouvir sermões

    e mestres, você sempre esbarra na seguinte indagação: “O que ele está

    dizendo sobre a Bíblia é certo?”. Quando discute a Bíblia com outras

    pessoas, você enfrenta a dúvida sobre qual dentre várias concepções melhor

    reflete o significado do texto em questão. A tentativa de descobrir o verdadeirosentido de uma passagem é um desafio intelectual e espiritual fascinante. E,

    quando você compartilhar a Palavra de Deus, as pessoas vão perguntar-lhe:

    “Que quer dizer esse versículo? Como devemos entender essa passagem?”.

    Em virtude do vasto conteúdo da Bíblia e da diversidade literária que nela se

    contém, a hermenêutica é um campo de estudos que encerra inúmeros

    problemas e questões.

    Por exemplo, como saber se uma passagem foi escrita apenas para opúblico-alvo original ou se também se destina às gerações subseqüentes?

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    8/52

    Uma passagem pode ter mais de um significado? Nesse caso, como descobri-

    los? Será que alguns dos autores da Bíblia escreveram coisas acima de seu

    entendimento? A Bíblia é mais do que um livro humano? Se for também um

    livro divino, como isso influencia nossa interpretação de passagens diversas?

    De que forma devemos interpretar os diferentes provérbios das Escrituras?

    Eles têm aplicação universal? Se acreditarmos em interpretação literal, como

    ela influi em nossa compreensão das figuras de linguagem? Se a Bíblia contém

    figuras de linguagem, então toda ela deve ser interpretada num sentido

    “espiritual” ou místico? Como entender as profecias? Visto que existem

    interpretações divergentes das profecias bíblicas, como vamos saber qual mais

    provavelmente é a correta? Por que o Novo Testamento faz citações do Antigo

    que aparentemente revelam um sentido diferente do que se lê neste? Como

    passar da interpretação à aplicação?

    Os problemas da interpretação bíblica

    Um dos maiores motivos por que a Bíblia é um livro difícil de entender é o

    fato de ser antigo. Os cinco primeiros livros do Antigo Testamento foram

    escritos por Moisés em 1400 a.C., aproximadamente. Apocalipse —  o último

    livro da Bíblia —  foi escrito pelo apóstolo João por volta de 90 d.C. Portanto,

    alguns dos livros foram escritos há mais ou menos 3400 anos, sendo que o

    último deles há cerca de 1900 anos. Isto mostra que, na hermenêutica,

    precisamos tentar transpor vários abismos que se apresentam pelo fato de

    termos em mãos um livro tão antigo.

    O abismo do tempo (Cronológico)

    Devido à gigantesca lacuna temporal, um abismo enorme separa-nos dos

    autores e dos primeiros leitores da Bíblia. Como não estávamos lá, não

    podemos conversar com os autores e com os primeiros ouvintes e leitores para

    descobrir de primeira mão o significado do que escreveram.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    9/52

    O abismo do espaço (geográfico)

     Atualmente, a maior parte dos leitores da Bíblia vive a milhares de quilômetros

    de distância dos países onde se deram os fatos bíblicos. Foi no Oriente Médio,

    no Egito e nas nações mediterrâneas meridionais da Europa de hoje que as

    personagens bíblicas viveram e peregrinaram. A área estende-se desde a

    Babilônia, no que é hoje o Iraque, até Roma (e talvez a Espanha, se é que

    Paulo foi até lá). Essa distância geográfica deixa-nos em desvantagem.

    O abismo dos costumes (cultural)

    Existem grandes diferenças entre a maneira de agir e de pensar dos ocidentais

    e a das personagens das terras bíblicas. Portanto, é importante conhecer as

    culturas e os costumes dos povos dos tempos bíblicos. Muitas vezes, a falta de

    conhecimento de tais costumes gera interpretações errôneas. Por essa razão,

    dedicamos um capítulo inteiro deste livro a essa questão.

    O abismo do idioma (lingüístico)

     Além dos abismos temporal, espacial e cultural existe ainda enorme lacuna

    entre nossa forma de falar e de escrever e a dos povos bíblicos. Os idiomas em

    que a Bíblia foi escrita - hebraico, aramaico e grego - têm singularidades

    estranhas à nossa língua. Por exemplo, no hebraico e no aramaico dos

    manuscritos originais do Antigo Testamento só havia consoantes. As vogais

    estavam subentendidas e, portanto, não eram escritas (embora os massoretas

    as tenham acrescentado séculos mais tarde, por volta de 900 d.C.). Alémdisso, tanto o hebraico quanto o aramaico são lidos da direita para a esquerda,

    e não da esquerda para a direita. Ademais, não havia separação entre as

    palavras. As palavras escritas nessas três línguas bíblicas emendavam-se

    umas às outras.

    Poderíamos exemplificar isso em português da seguinte forma:

    HCTMDVSCRP. Lendo da direita para a esquerda, o hebreu logo perceberia

    quatro palavras, que em português seriam: PRCSV D M TCH. Não é muitodifícil deduzir o significado da frase: “Precisava de um tacho”. Por outro lado, as

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    10/52

    letras TCH também poderiam ser interpretadas como tocha ou tacha, além de

    tacho. Então, como é que um leitor saberia qual a palavra pretendida?

    Normalmente, podia-se depreender o significado pelo contexto. Se nas frases

    anteriores ou posteriores houvesse uma referência a tacho, tudo indica que a

    frase em questão também se referisse a um tacho. Mas às vezes o contexto

    não dá nenhuma indicação, e, assim, torna-se um problema de interpretação

    saber qual era realmente a palavra em questão.

    Outra dificuldade imposta pelo abismo lingüístico é o fato de que as

    línguas bíblicas originais continham expressões incomuns ou de sentido

    obscuro, difíceis de compreender em nosso idioma. Além do mais, certas

    palavras só aparecem uma vez na Bíblia inteira, tornando impossível qualquer

    comparação com seu uso em outro contexto, o que nos ajudaria a entender

    seu significado.

    Outro problema que agrava esse abismo lingüístico é a transmissão dos

    manuscritos originais até a atualidade. Quando os escribas os copiavam, vez

    por outra cometiam erros. Às vezes um escriba lia um manuscrito para outro

    escriba. O copista anotava a palavra correspondente ao som que lhe chegava

    aos ouvidos. A frase “A sessão será aqui” pode ser escrita “A seção será aqui”.

    Podia acontecer de um copista trocar uma letra por outra de escrita muito

    semelhante. As letras d e r do alfabeto hebraico são parecidas (embora não

    idênticas), assim como o w e o y. Às vezes uma palavra era repetida; outras

    vezes, saltada. Se um manuscrito contivesse alguns erros dessa natureza, eles

    poderiam ser reproduzidos pelo próximo copista, que estaria, assim, passando

    aquele texto talvez a várias “gerações” de manuscritos. Em outras ocasiões,

    porém, o escriba, corrigia a palavra, ou letra que lhe parecia estar errada. O

    processo de tentar descobrir quais textos são os originais, é chamado de críticatextual. Entretanto, essas variações não afetam as principais doutrinas das

    Escrituras, tampouco influenciam a doutrina da inerrância dos textos bíblicos,

    relativa aos manuscritos originais, não às cópias.

    O abismo da escrita (literário)

    Existem diferenças entre os estilos e as formas de escrita dos temposbíblicos e os do mundo ocidental moderno. Dificilmente nos expressamos com

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    11/52

    provérbios ou parábolas, no entanto grande parte da Bíblia foi escrita em

    linguagem proverbial ou parabólica. Além disso, o fato de os livros bíblicos

    terem sido escritos por cerca de 40 autores humanos pode representar um

    problema para os intérpretes da Bíblia. Por exemplo: o autor de um dos

    evangelhos afirmou que havia um anjo no túmulo vazio de Jesus, ao passo que

    outro fez menção de dois anjos. A linguagem figurada, que era usada com

    freqüência, às vezes dificulta nossa compreensão. Vejamos por essas

    declarações de Jesus: “Eu sou a porta” e “Eu sou o Pastor”. Evidentemente, ele

    não quis dizer que era literalmente feito de madeira com dobradiças, nem que

    possuía ovelhas de verdade e as apascentava no campo. Cabe ao intérprete

    tentar apurar o que Jesus de fato quis dizer com tais afirmações.

    O abismo espiritual (sobrenatural)

    É importante ressaltar também que existe um abismo entre a maneira de

    Deus agir e a nossa. O fato de a Bíblia ser um livro sobre Deus coloca-a numa

    posição sem-par. Deus, que é infinito, não pode ser plenamente compreendido

    pelo que é finito. A Bíblia relata os milagres de Deus e suas predições sobre o

    futuro. Ela também fala de verdades difíceis de ser assimiladas, tais como a

    Trindade, as duas naturezas de Cristo, a soberania de Deus e a vontade

    humana. Todos estes fatores, somados a outros, agravam a dificuldade que

    temos de entender plenamente todo o conteúdo das Escrituras.

    Visto que Deus é o Autor divino da Bíblia, ela é um documento

    absolutamente singular. É única no gênero. Não constitui simplesmente um

    livro que retrata os pensamentos do homem acerca de Deus, embora os

    exponha. Ela expõe também os pensamentos de Deus acerca de si mesmo edo homem. A Bíblia relata o que Deus fez e informa o que ele é e deseja.

    Também um livro raro no sentido de que foi escrito por Deus e pelo homem.

     Autores humanos escreveram-na sob a orientação do Espírito Santo (2 Pe

    1.21). Esta dupla autoria gera dificuldades. Como Deus pôde usar pessoas

    com personalidades diferentes para registrar as Escrituras e, ao mesmo tempo,

    o resultado final ser obra do Espírito Santo? Como esse fato influía na

    personalidade e no estilo literário de cada autor?

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    12/52

      Esses seis abismos representam problemas graves quando se tenta

    compreender a Bíblia. Até mesmo o etíope de Atos 8 deparou com várias

    delas, incluindo a cronológica, a geográfica, a lingüística e a sobrenatural. Se

    por um lado a maior parte da Bíblia é simples e fácil de entender, por outro é

    inegável que existem trechos mais difíceis. O próprio Pedro relatou: “... como

    igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu [...] há certas cousas

    dificeis de entender...” (2 Pe 3.15, 16). Existem versículos da Bíblia que

    continuam sendo um mistério até para os mais hábeis intérpretes.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    13/52

    II. PRINCIPIOS DE INTERPRETAÇÃO

    Platão foi o primeiro filósofo a usar o termo “Hermenêutica” mais

    abrangente, estendendo para além dos escritos sagrados. É também uma

    ciência porque tem normas ou regras, que podem ser classificadas num

    sistema ordenado.

    Arte porque é flexível. Divide-se em:

    Hermenêutica Geral e Hermenêutica Especial.

    Hermenêutica Geral - é o estudo das regras que regem a interpretação do

    texto bíblico inteiro. Inclui as análises histórico-cultural, léxico-sintética,

    contextual e teológico.

    Hermenêutica Especial  - é o estudo das regras que se aplicam a gêneros

    específicos, como parábolas, alegorias, tipos e profecia.

    Em síntese, Hermenêutica teológica é um estudo onde o homem procura

    entender o pensamento divino através dos seus escritos.

     A Hermenêutica determina as diferenças entre autor e o leitor; é a arte de

    transpor o leitor para dentro do tempo do autor.

    A razão da Necessidade da Hermenêutica.

    1- Em decorrência da queda do homem, o pecado apagou a luz divina que nele

    havia, bloqueando a capacidade original que ele possuía de reter a revelação

    divina consigo.

    2- Apesar das diferenças sociais, culturais, políticas e idiomáticas entre

    os homens, fatos que os distinguem e distanciam uns dos outros, a Bíblia

    Sagrada não pode e não deve ser interpretada ao bel-prazer de quem quer queseja, tenha a pessoa a desculpa que tiver.

    Exegese - é a aplicação dos princípios da Hermenêutica para

    chegar-se a um entendimento correto do texto.

    O prefixo “ex” = “fora de”, “para fora”, ou “de”, refere-se à idéia de que o

    intérprete está tentando derivar seu entendimento do texto, em vez de ler o seu

    significado “no” texto.

    Teologia Bíblica - é o estudo da revelação divina no Antigo e no NovoTestamento.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    14/52

      Teologia Sistemática- organiza os dados bíblicos de uma maneira lógica

    antes que histórica; dá respostas para as perguntas profundas (vida no além,

    ministério dos anjos...). Ambas se completam.

    O estudo da Hermenêutica é de suma importância para todos os que lidam

    com a palavra de Deus.

    Importância desse Estudo.

    1 - Somente o estudo inteligente das Escrituras Sagradas suprirá o material

    indispensável à base e alimentação da sua fé e conteúdo da sua teologia e

    mensagens.

    2 - Cada sermão pregado deve ter a sadia exegese bíblica como fundamento.

    3 - Instruindo os jovens da Igreja, ou quando em visitas aos membros, os

    ministros são solicitados a interpretar passagens das Escrituras. Em tais casos

    um razoável conhecimento das leis de interpretação do texto sagrado é

    importante.

    4 - Constituiu-se de responsabilidade do ministro cristão não apenas crer na

    verdade, mas também defendê-la da alta crítica e do ataque das seitas

    heréticas.

    A importância desse estudo no contexto local.

    Crer, somente, na Bíblia Sagrada, não é suficiente, Deus exige que a

    conheçamos adequadamente. Na busca desse conhecimento, há primeiro o

    auxílio do Espírito Santo, e depois, da Hermenêutica.

    Não devemos nos mostrar indiferentes diante do fato do Brasil, até a bempouco tempo aparentemente fora do liberalismo teológico, está hoje às voltas

    com os mais estranhos tipos de teologia, interpretando a Bíblia como bem

    interessa aos interesses do grupo.

    Deve pesar sobre os nossos ombros, além do cultivo da vida cheia do

    Espírito Santo, a responsabilidade de nos apossarmos de todos os meios

    legítimos que nos propiciem melhor e maior conhecimento da palavra de Deus.

    Só assim estamos preparados para responder os ataques das heresias dotempo presente, e habilitados a construir para que os filhos de Deus sejam

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    15/52

    conservados, sadios na fé e a prosseguirem na promoção dos interesses do

    reino de Deus.

     A Bíblia torna-se a Palavra de Deus quando os indivíduos a lêem e as

    palavras adquirem para eles significado pessoal, existencial.

    No Estudo da Bíblia a tarefa do interprete é determinar tão intimamente

    quanto possível o que Deus queria dizer em determinada passagem, e não o

    que ela significa para mim.

    É útil distinguir entre interpretação e aplicação. Dizer que um texto tem

    uma interpretação válida, não quer dizer que o que está escrito tem uma só

    aplicação.

    Por ex.: Romanos 8 “Nada poderá nos separar do amor de Deus” têm um

    significado, mas terá diferentes aplicações, dependendo da situação que a

    pessoa está enfrentando. A exegese aí é um problema decisivo para o estudo

    da Hermenêutica.

     A segunda controvérsia é a questão do duplo autor. Os autores humanos

    trabalharam juntos. Donald Hagner analisa: “A natureza da inspiração divina é

    tal que os próprios autores das Escrituras muitas vezes não estiveram

    conscientes do mais pleno signif icado e da aplicação final do que escreveram.” 

    A interpretação pode ser Literal, Figurativa e simbólica.

     As expressões Literais e Figurativas, de modo geral se referem a

    acontecimentos históricos reais.

    Se todas as palavras são, em algum sentido, símbolos, como determinar

    quando devem ser entendidas literalmente, ou simbolicamente?

     A princípio é mais fácil formular do que aplicar; contudo, comodemonstraremos em capítulos posteriores, o contexto e a sintaxe

    proporcionaram importantes pistas para a intenção e, portanto, para o

    significado.

    Fatores espirituais no processo perceptivo

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    16/52

      Uma escola de pensamentos sustenta que se duas pessoas de igual

    preparo intelectual (pessoas instruídas nas línguas originais, história e cultura)

    fazem hermenêutica, ambas serão de igual modo bons intérpretes.

     A posição da segunda escola de pensamentos é de que a própria Bíblia

    ensina que o compromisso espiritual, ou sua ausência, influencia a capacidade

    de perceber a verdade espiritual.

    O estado emocional também tem influência no uso da hermenêutica; a

    cegueira espiritual e o entendimento aborrecido obstem a capacidade do

    individuo de discernir a verdade, e isso independe do conhecimento que se

    tenha e da aplicação dos princípios hermenêuticos. Esse problema é muito

    importante e deve ser encarado, e para tanto, tem que conhecer o significado

    pleno do ensino bíblico.

    Questão da Inerrância

    Debatido por dois grupos de Evangélicos: os conservadores e os liberais.

    Conservadores- Crêem que a Bíblia é sem erro.

    Liberais- Não tem erro quando fala das questões de salvação e da fé cristã,

    mas pode ter erro nos fatos históricos e outros.

    Considerar a Bíblia sem erro é importante para a Hermenêutica.

    Jesus e a Bíblia

    Cristo foi uniforme no trato das narrativas históricas do VT como registros

    fiéis do fato. Ex: Abel, Noé, Abraão... Sodoma e Gomorra, o maná, Jonas e o

    peixe...Muitas vezes Jesus escolheu como base do seu ensino as mesmas histórias

    que a maioria dos críticos modernos considera inaceitáveis.

    Jesus usou com regularidade as Escrituras Hebraicas (VT), como competente

    tribunal de apelação das suas controvérsias com os escribas e fariseus.

    Jesus ensinou que nada passaria da Lei até que tudo se cumprisse e que as

    Escrituras não podem falhar. Finalmente, Jesus usou as Escrituras para refutar

    cada uma das tentações de Satanás

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    17/52

    III. HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

     Ao desenvolvermos todos esses tópicos, vamos estudar a história

    através de uma visão panorâmica para compreendermos a maneira como os

    estudiosos pretenderam interpretar a Bíblia, usando do método alegórico ou

    literal.

    Exegese judaica

    Os judeus palestinos (escribas) devotam o mais profundo respeito à Bíblia

    de sua época, (o VT) como a infalível palavra de Deus. Consideram sagradas

    até as letras, e os seus copistas tinham o hábito de contá-las a fim de evitar

    qualquer omissão no ato de transcrição.

    Dividia-se em: Lei, Profetas e Historia. A lei era tida na mais alta estima. O

    ponto negativo da hermenêutica dos judeus palestinos é que ela exaltava a Lei

    Oral.

    Era classificada em: Literal, Midráshica, pesher e alegórica.

    Havia certa diferenciação entre judeus, segundo a região onde se

    radicavam: Judeus palestinos; Judeus caraítas; Judeus espanhóis; Judeus

    alexandrinos; Judeus cabalistas.

    Judeus palestinos- Exaltavam a Lei Oral.

    Judeus caraítas- Seita fundada por Amanben-David, 800 a . C.

    Historicamente, são descendentes espirituais dos saduceus. É um protesto

    contra o rabinismo. “Caraítas” significa “filhos da leitura”, desprezavam a

    tradição oral e o resultado foi o texto Massorético. Sua exegese era maiscompleta do que a dos judeus palestinos e alexandrinos.

    Judeus Alexandrinos  - interpretavam a Bíblia pela filosofia Alexandrina,

    no Egito. Quando encontravam alguma coisa que discordava de sua filosofia,

    no VT, recorriam às alegorias. Filo explicava que quando havia ambigüidade,

    ou palavras supérfluas, e outras, se recorriam ao método alegórico.

    Judeus cabalistas - admitiam que mesmo os versículos, as palavras, as

    letras, as vogais, e até mesmo os acentos das Palavras da Lei, foram

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    18/52

    entregues a Moisés, e que “o número de letras, cada letra, a transposição e

    substituição, tinham poder especial e sobrenatural.

    Judeus espanhóis- quando a exegese da Igreja Cristã estava decadente,

    e o conhecimento do hebraico estava quase nulo, alguns judeus instruídos da

    Península Perinaica, restauraram o interesse por uma hermenêutica bíblica

    sadia.

    Interpretação Literal - referida como Peshat, servia de base para outras

    interpretações, e não era registrada.

    Interpretação Midráshica- pelo Rabino Hilel, a.C. é o elaborador que

    acentuava a comparação de idéias, palavras ou frases, em situações

    particulares ou no contexto.

    Interpretação Pesher - copiou as práticas midráshicas, mas incluía a

    escatologia; usavam a frase “este é aquela”, explicando que o acontecimento

    “daquela profecia”.

    Exegese Alegórica- o verdadeiro sentido faz sob o significado literal da

    Escritura.

    É um estudo desenvolvido para reduzir a tensão entre o muito religioso e

    sua herança filosófica.

    O uso que os apóstolos fizeram do VT

    Os apóstolos seguiram Cristo também nisso, sempre o citavam ao

    pregarem, a fim de darem ênfase à verdade que estavam evidenciando. Ao

    citarem o VT quando pregavam, os apóstolos mostravam o cumprimento das

    Escrituras.

    Exegese Patrística (100-600 d.C.)

     A despeito da prática apostólica, uma escola de Interpretação Alegórica

    dominou a Igreja nos séculos que se sucederam, mas com um propósito bom:

    o desejo de entender o VT como documento cristão. Contudo, o método

    alegórico praticado pelos pais da Igreja, muitas vezes negligenciou por

    completo o entendimento de um texto, e desenvolveu especulações que opróprio autor tinha em mente, conforme expresso por suas próprias palavras e

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    19/52

    sintaxe, não permaneceu nenhum princípio regulador que governasse a

    exegese.

    Clemente de Alexandria- (Escola de Alexandria  –  150-215). Em sua

    opinião, o sentido literal da Escritura, poderia originar apenas uma fé

    elementar, enquanto o sentido alegórico conduziria ao verdadeiro

    conhecimento. Ele desenvolveu a teoria de que cinco sentidos estão ligados à

    Escritura: histórico, doutrinal, profético, filosófico e místico.

    Orígenes - sucessor de Clemente pormenorizou a teoria da Interpretação

     Alegórica pontificada por seu mestre. Achava ele que assim como homem se

    constitui de três partes: corpo, alma e espírito, da mesma forma a Escritura

    possui três sentidos:

    O corpo é o sentido literal, a alma é o sentido moral e o espírito é o sentido

    alegórico ou místico, só que desprezou o sentido literal, raramente se referia ao

    sentido moral e empregou constantemente a alegoria.

    Agostinho- (Escola de Antioquia- 350-430) Foi um alegórico em excesso,

    cria que a Escritura tinha um sentido quádruplo: histórico, etiológico, analógico

    e alegórico.

     A escola de Antioquia foi fundada por Doroteu e Lúcio; alguns acham que foi

    Diódoro, bispo de Tarso. Dessa escola foram Teodoro e Crisóstomo, que

    divergiam grandemente do seu mestre; a exegese de Teodoro era intelectual e

    dogmática; a de Crisóstomo, espiritual e prática.

    Escola Ocidental - Hilário, Ambrosio, Jerônimo e Agostinho.

    Exegese medieval

    Interpretação totalmente amarrada à tradição e tudo devia adaptar-se à

    Doutrina da igreja. Levaram o “letrismo” ao ridículo, com o misticismo judaico

    dando sentido sobrenatural a cada letra. A interpretação voltou com Nicolau de

    Lyra, e muito influenciou a Lutero e sem ela não teria começado a reforma.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    20/52

    Exegeses da reforma

    No séc.XVI predominava profunda ignorância, alguns doutores em teologia

    nunca haviam lido a Bíblia toda.

    Lutero- (1483-1546) Rejeitou o método alegórico (escória, sujeira) e

    acreditava na fé e na iluminação do Espírito para interpretar a Bíblia. Seu

    princípio cristológico capacitou-o, de fato, a demonstrar a unidade da Escritura

    sem apelação para a interpretação mística do texto do VT. Na sua exegese,

    Lutero mostrou a diferença entre a Lei e o Evangelho.

    Calvino- (1509-15) O maior exegeta da Reforma, e também acreditou na

    iluminação espiritual para uma interpretação certa da Bíblia, mas superou a

    Lutero em harmonizar sua exegese com sua teoria.

    Exegese de Pós Reforma (1550-1800)

    Confessionalismo -  o período das grandes controvérsias doutrinárias. O

    protestantismo até aqui coeso, começou a se dividir em varias facções,

    enquanto que a exegese se tornou serva da dogmática, se degenerando em

    menor busca de textos-provas. Estudava-se a Escritura apenas buscando

    apoio às declarações de fé das confissões da época.

     A maior contribuição para a Hermenêutica da época, não é encontrada nas

    tendências da Igreja, mas na literatura dos movimentos contra a mesma, dentre

    as quais se destacam a literatura dos Soncinianos, de Concejus e dos

    Pietistas.

    Pietismo - surgiu como reação à exegese dogmática, mas não ficou imune

    às criticas.

    Racionalismo - filosofia que aceita a Razão como única autoridade que

    determina as opções ao curso de ação de alguém. Surgiu empirismo, crença

    de que só podemos possuir entendimento através dos cinco sentidos.

    Hermenêutica Moderna (1800 até o presente)

    Literalismo - negava-se o caráter sobrenatural da inspiração, aplicando-seà Bíblia um naturalismo consumado.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    21/52

    Neo-ortodoxia- posição intermediária entre o liberalismo e a ortodoxia. Deus

    se revela através da Palavra quando se consegue sentir a presença de Deus, e

    se torna uma experiência existencial pessoal.

    A nova Hermenêutica - criação européia a partir da Segunda Guerra

    Mundial; segundo esta exegese, a linguagem não é realidade, mas apenas

    uma interpretação pessoal da realidade.

     A Hermenêutica no Cristianismo Ortodoxo.

     A Hermenêutica no Período Histórico - Critico.

     A mútua relação entre o humano e o divino.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    22/52

    IV. A ESCOLA HISTÓRICA DE INTERPRETAÇÃO

     A interpretação histórica da Bíblia alcançou seu apogeu na pessoa de

    Semler . Ele salientou o fato de que os vários livros da Bíblia e o seu Cânon em

    geral se originaram de modo histórico, e eram, portanto, historicamente

    condicionados.

    Partindo dos fatos de que os livros da Bíblia foram escritos por homens

    provenientes dos mais variados e dos mais diferentes níveis da nação judaica,

    concluiu que as Escrituras têm erros, cabendo ao estudante e intérprete

    detectá-los.

    Pela maneira com que Semler se deu a este tipo de estudo, dando a ele

    exclusividade em detrimento de outros, em certo sentido tornou-se o pai do

    chamado “Racionalismo Cristão”. 

    O porquê das Escrituras

    É o único livro que transforma uma pessoa. Deus se tem revelado

    através dos tempos por meio de suas obras, porém, na Palavra de Deus temos

    uma revelação especial. É dupla esta revelação: Na Bíblia (a Palavra escrita);

    Em Cristo (a Palavra viva).

    A Necessidade do Estudo das Escrituras.

    (1 Pe. 3:15; II Tm. 2:15; Is. 34:16 Sl. 119:130)

    Por que devemos estudar as Escrituras?

    -A Bíblia é o manual do crente na vida cristã e no trabalho do senhor;-A Bíblia alimenta nossas almas;

    -A é Bíblia é o instrumento que o Espírito Santo usa nas suas batalhas.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    23/52

    V. ANÁLISE HISTÓRICO-CULTURAL E CONTEXTUAL

     A completa técnica de interpretação de textos bíblicos e sua aplicação

    dividem se em: Análise histórico-cultural; Análise léxico-sintática; Análise

    teológica; Análise literária; Comparação com outros intérpretes; Aplicação.

     Análise histórico-cultural - é o que considera o ambiente histórico-cultural

    do autor, a fim de entender suas alusões, referências e propósitos.

    A “análise contextual” 

    Compara uma parte com o todo: “... para que o valor de vossa fé, uma

    vez confirmado, muito mais precioso do que o ouro perecível, mesmo apurado

    no fogo, redunde em louvor, gloria e honra na revelação de Jesus Cristo” (1Pe.

    1:7).

    Pedro dá muito valor ao ouro, que para ele era a coisa mais preciosa, se

    fosse Paulo, rico e abastado, desde que nasceu não o levaria em tão alto valor.

    Para determinar o Contexto Geral Histórico Cultural, são necessárias três

    perguntas:

    1ª) Qual é a situação histórico-geral com a qual se defrontam o autor e seus

    leitores? Quais eram as situações políticas, econômicas e sociais? Quais eram

    as principais ameaças e preocupações? Ex.: o que está acontecendo ao auto

    de Lamentações? Está sofrendo de um colapso de nervos ou de uma reação

    de angústia normal? Quais as implicações de Cantares de Salomão para uma

    teologia de expressão sexual cristã?

    2ª) Quais os costumes cujo conhecimento esclarecerá o significado de

    determinadas ações? Por que Jesus deu ordens para preparar a páscoa à

    noite? b) Por que mandou seguir o homem com o cântaro?

    3ª) Qual era o nível de comportamento espiritual da audiência? (Oséias).

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    24/52

    Para determinar o Contexto Histórico-Cultural específico e a finalidade de um

    livro, fazem-se, também, três perguntas:

    1ª) Quem foi o autor? Qual era seu ambiente e sua experiência espiritual?

    2ª) Para quem ele estava escrevendo? (crentes, incrédulos, apóstatas?)

    3ª)Qual foi a finalidade do autor ao escrever este livro especial?

    Ex.: Se o livro “Epístola aos Hebreus” não cita o destinatário, como foi

    denominado? Pelos dados internos (textuais) e externos (históricos). Dados

    internos: a epístola cita o VT de maneira que não teria nenhum sentido para o

    povo pagão comum; mostra, ainda, o contraste da aliança mosaica com a

    cristã, só podendo ser entendida por quem conhecesse a fé mosaica, ou

    hebraica. Também quem o escreveu tinha pleno conhecimento da Lei e da

    Escritura.

    Depois de encontrarmos o contexto específico histórico-cultural em que

    o livro foi escrito, devemos determinar a finalidade dele. O que fazemos de três

    formas:

    1ª) Observar a declaração explícita do autor na repetição de certas frases;

    2ª) Observa a parte parentética (rotativa) de seu escrito (se o significado do

    fato é incerto, a natureza da exortação muitas vezes será valiosa para a

    compreensão de seu significado);

    3ª) Observar os pontos omitidos ou os problemas enfocados, ex.: “fez o que

    era mau (ou reto) perante o senhor”. O que fica subentendido que houve uma

    história que não foi contada ou registrada.É preciso que estejamos atentos para não interpretar nenhuma

    passagem sem primeiro entender a intenção do autor ao escrever o livro que a

    contém.

    Desenvolver uma compreensão de Contexto Imediato

    Como método de estudo bíblico, tomar texto para efeito de prova érelegado a plano secundário porque erra neste passo importante: interpreta os

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    25/52

    versículos sem dar a devida atenção ao contexto. Algumas perguntas ajudam a

    entender:

    a)- Quais os principais blocos de material e de que forma se encaixam no topo?

    b)- Como a passagem que estamos considerando contribui para a corrente de

    argumentação do autor?

    c)- Qual era a perspectiva do autor? (qual a visão do futuro? As figuras de

    linguagem?)

    d)- está a passagem declarando verdade descritiva ou prescritiva?

    e)- O que constitui o núcleo de ensino da passagem e o que representa

    apenas detalhe incidental? Finalmente, a quem se destina a passagem?

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    26/52

    VI. ANÁLISE LÉXICO-SINTÁTICA

    Definições e Pressuposição

     Análise léxico-sintática é o estudo do significado das palavras tomadas

    isoladamente (lexicologia) e o modo como essas palavras se combinam

    (sintaxe) a fim determinar com maior precisão e significado que o autor

    pretendia lhes dar. A análise léxico-sintática reconhece quando um autor

    tenciona que suas palavras sejam compreendidas de modo literal, quando de

    modo figurativo e quando de modo simbólico. Está análise fundamenta-se na

    premissa de que, embora as palavras possam assumir uma variedade de

    significados diferentes, elas têm apenas um significado intencional em qualquer

    texto dado.

    Passos na Análise Léxico-Sintática

    Para que este complexo se torne mais fácil de entender, foi subdividido

    num processo de sete passos:

    1º) Apontar a forma literária geral (poesia, prosa, história...)

    2º) Investigar o desenvolvimento do tema do autor e mostrar como a passagem

    em considerações se encaixa no texto (análise contextual).

    3º) Apontar as divisões naturais do texto.

    4º) Identificar os conectivos dentro dos parágrafos e sentenças (conjugações,

    preposições, prenomes-relativos), evidenciar a relação entre dois ou mais

    pensamentos.5º) Determinar o significado isolado das palavras.

    6º) Analisar a sintaxe.

    7º) Colocar os resultados de sua análise-sintática em palavras que não tenham

    conteúdo técnico, fáceis de ser entendidas, que transmitam claramente

    o significado que o autor tinha em mente.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    27/52

    Forma literária geral

    São três as formas literárias gerais: prosa, poesia e literatura

    apocalíptica.

    Na  prosa  predomina o uso literal ; Na Poesia usa-se a linguagem

    figurativa; Nos escritos apocalípticos as palavras têm sentido simbólico.

    Desenvolvimento do tema - é importante porque o contexto é a melhor fonte

    de dados.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    28/52

    VII. RECURSOS LITERÁRIOS

    Comparação e Contraste

    Comparação- envolve a associação de duas  ou mais coisas iguais ou

    parecidas; ex.: como, tal como, igual a (I Sm. 13:5)

    Contraste  - Não consiste na palavra que o indica, mas na diferença das

    qualidades acentuadas; ex.: Sl 1 = Mas, ou, de outra forma, entretanto...)

    Repetição e Intercâmbio

    Repetição - uso repetido de palavras, frases ou orações idênticas para dar

    ênfase ao que se quer dizer (=ai daquele que...)

    Intercâmbio  - é um tipo especial de repetição no qual um padrão que se

    alterna é repetido; ex.: 1 e 2 de Lucas encontramos o intercâmbio e a alteração

    entre os anúncios do nascimento de João Batista e o de Jesus. O uso de

    intercâmbio reforça o contraste ou comparação.

    Gradação e Continuação

    Gradação- o uso de termos mais ou menos iguais; ex.: Amós, 1:6 e 2:6.

    Continuação- uma prolongada apresentação de um tema particular (vários

    versículos com o mesmo pensamento); ex.: Jonas ele decidiu sair da presença

    do senhor, foi a Jope, encontrou um navio que o conduziria à Espanha, pagou

    sua passagem e subiu a bordo do atado navio.

    Clímax e Ponto decisivo

    Clímax - ponto critico de uma narrativa, o ponto de interesse máximo. Ex.:

    Êxodo: depois da narrativa da saída do Egito, do recebimento da Lei, das

    instruções, dos detalhes do tabernáculo, finalmente a nuvem de glória cobre a

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    29/52

    congregação e a luz deslumbrante da presença do senhor enche o

    tabernáculo. Este é o clímax do livro.

    Ponto decisivo- está relacionado com o clímax, é o centro da discussão, o eixo

    em torno do qual gira o assunto em pauta. O ponto decisivo de Gálatas é:

    “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou.”

    Particularização- é a marcha do pensamento indo do geral para o particular.

    Vai do todo para as suas partes; do geral para o específico; ex.: “Todos

    pecaram, e destituídos estão da glória de Deus.” “Se fulano pecou, eu pequei”,

    tudo volta ao específico.

    Generalização- é o mandamento do pensamento indutivo, indo do exemplo

    específico para o principal geral.

    Causa e Substância

    Da causa para o efeito-

    Causa → pecado; efeito → morte. 

    Causa → ganância; efeito → guerra. 

    Substância  –  é o inverso da causa. A palavra deste recurso é “porque” Se

    digo: “meu corpo todo dói” alguém pergunta: por quê? 

    Respondo: porque andei muito a pé.

    Instrumentação e Explanação

    Instrumentação- envolve os meios, artifícios, ou instrumentos utilizados para

    que algo aconteça; palavra-chave: “através de”; ex.: “ninguém vem ao Pai

    senão por  mim.” Explanação- esclarece, analisa, explica; ex.: José foi para Nazaré porque era

    descendente de Davi.

    Obs.: Quando Maria foi saudada pelo anjo que anunciou o nascimento de

    Jesus através dela, falou de sua prima Isabel que já estava no sexto mês de

    gravidez Maria foi visitá-la e lá passou quase três meses, tempo suficiente para

    uma gravidez começar a transparecer no corpo de uma mulher. Maria só voltou

    depois que João nasceu.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    30/52

    Pontos a serem explicados: Quando Maria saudou a Isabel, estava no princípio

    da gravidez, talvez três ou quatro dias, apenas, mas o bebê de Isabel “sentiu”

    Jesus no ventre de Maria; Embora no princípio da gestação, um coágulo

    sanguíneo, com poucas células, já existia Jesus, um ser completo.

    Preparação e Sumarização

    Harmonia- envolve unidade por acordo ou coerência. Numa passagem um

    ponto deve concordar com os demais. As escrituras todas são um exemplo!

    Principalmente- envolve uma idéia principal apoiada por idéias subordinadas.

    Ex.: as parábolas de Jesus:

    “O reino do céu é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, recolhe peixes

    de toda espécie. E, quando já cheia, os pescadores arrastaram-na para a praia

    e, assentados, escolhem os bons para os cestos e os maus deitam fora”.

    “Assim será a consumação dos séculos: sairão os anjos e separarão os maus

    dentre os justos, e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de

    dentes”. 

    O ponto principal:  a separação dos bons e dos ímpios na consumação dos

    séculos.

    Radiação - Todas as coisas se dirigem para um ponto ou parte dele. Ex.: Sl

    119- todos os versículos têm o mesmo ponto: a excelência da Lei de Deus.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    31/52

    VIII. FIGURAS DO TEXTO BÍBLICO

    Metáforas

    É a figura em que se afirma que alguma coisa é  que ela representa ou

    simboliza, ou com que se compara. A metáfora só se distingue da símile por

    lhe faltar o elemento de comparação que há neste.

    Ex.: “Porque foi subindo “como” renovo, é uma símile, uma comparação em

    que não há figura; “Eis que eu farei vir o meu “servo”, o “Renovo”, é metáfora. 

    Metonímia

    É o emprego do nome de uma coisa pelo de outra com quem tem certa

    relação:

    Do efeito pela causa: “Duas nações há no teu ventre”, os progenitores por sua

    descendência.

    Da causa pelo efeito: “Eles têm Moisés e os profetas”. Os autores por seus

    escritos.

    Do sujeito pelo atributo ou adjunto:  “É como nos interpretou”. Os sonhadores

    por seus sonhos.

    Do atributo ou adjunto pelo sujeito: “Falem os dias, e a multidão dos anos

    ensinam a sabedoria”. A idade por aqueles que o têm. 

    Sinédoque

    È a substituição de uma idéia por outra que lhe é associada:

    Do gênero pela espécie, do geral pelo particular  – “Então saíam a ter com ele

    Jerusalém, toda a Judéia e toda circunvizinhança do Jordão”.

    Da espécie pelo gênero, o particular pelo geral- “O pão nosso de cada dia dá-

    nos hoje”. 

    Do todo pela parte: “És pó e ao pó tornarás”. 

    Da parte para o todo: “no suor do rosto comerás o teu pão”. 

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    32/52

    Hipérbole

    É a afirmação em que as palavras vão além da verdade literal das coisas,

    exageros, ex.: “As cidades são grandes e fortificadas até aos céus.” 

    Ironia

    É a expressão de um pensamento em palavras que, literalmente entendidas,

    exprimiriam o pensamento oposto.

    Usada por Deus: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecendo o

    bem e o mal”. “Clamai aos deuses que escolhestes, eles que vos livrem no

    tempo do vosso aperto”. 

    Usada pelos homens ”Na verdade vós sois o povo, e convosco morrerá a

    sabedoria”. 

    Prosopopéia

    É a personificação de coisas ou de seres irracionais. Ex.: “Todos os meus

    ossos dirão: Senhor, quem contigo se assemelha?” 

    Antropoformismo

     Atribuem a Deus ações e faculdades humanas, e até órgãos e membros do

    corpo humano. Ex.: “E o Senhor aspirou o suave cheiro, e disse consigo

    mesmo...” 

    Enigma

    É a enunciação de uma idéia em linguagem difícil de entender; não é do

    domínio geral das Escrituras, só se tem conhecimento do de Sansão.

    Alegoria

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    33/52

    È a narrativa em que as pessoas representam idéias ou princípios. As

    narrativas bíblicas são histórias verídicas e não alegóricas; temos, no entanto,

    uma interessante aplicação alegórica, feita por Paulo, do incidente de Agar e

    Sara e seus respectivos filhos.

    Símbolo

    É o emprego de algum objeto material para evocar idéia ou coisa espiritual ou

    moral.

    Tipo

    É a representação de pessoa ou transação futura na esfera espiritual ou

    religiosa, por meio de transação, pessoas ou coisas do mundo material que

    tenham com elas certa correlação de analogia ou mesmo de contraste.

    Parábola

    É uma narrativa de acontecimento, real ou imaginário, em que tanto aspessoas como as coisas e as ações, correspondem a verdades de ordem

    espiritual e moral.

     Agora estudaremos os cinco importantes elementos que compõem o texto

    bíblico: Parábolas; profecías; tipos; símbolos e poesía.

    Parábolas- Jesus para ensinar a seus discípulos e outros ouvintes; para

    encobrir a verdade aos não receptivos à revelação de Cristo como Messias;

    revelam verdades desconhecidas com base em verdades e fatos conhecidos.Compreensão das parábolas- As parábolas nos Evangelhos estão relacionadas

    com Cristo e o Seu Reino.

     As parábolas devem ser estudadas à luz do lugar e da época a que se

    relacionam;

    Observe as explicações das parábolas dadas por Jesus; Compare os

    ensinamentos apresentados na parábola, com todo o contexto da Escritura.

    Profecias- inspirada declaração da vontade de Deus e os propósitos divinos.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    34/52

    Interpretação da profecia -  As  passagens proféticas podem ser interpretadas

    literalmente como o são conhecidas passagens didáticas da Bíblia? Ezequiel é

    muito mais difícil de interpretar do que Jesus, no seu Sermão da Montanha, por

    causa da linguagem figurada. Quando uma profecia já se cumpriu, sua

    interpretação está na própria Bíblia; p. ex.: Pedro no dia do pentecostes citou

    um salmo profético (16.8-11) que se havia cumprido em Jesus.

    Quando as profecias são interpretadas pela Bíblia:

    Os profetas, muitas vezes, tinham de Deus a imagem mental dessas visões

    futuras. Eles escreviam o que viam pelo Espírito, entretanto, é difícil entender-

    se nessas circunstâncias. O livro do Apocalipse é um exemplo, João teve a

    visão e escreveu o que viu. Mas para nós é difícil formar um quadro exato das

    coisas que ele viu. Podemos entender a mensagem geral do livro: o Senhor

    está operando algo espantoso na terra, só os ímpios serão julgados, os justos

    herdarão o reino, Jesus será o Rei dos reis e Senhor dos senhores.

    O volume de material profético nas Escrituras requer anos de estudo

    específicos para ser levantado. As profecias estão, também, nos Salmos, no

     Apocalipse, nos Evangelhos e epístolas.

    O elemento tempo, na profecia, geralmente é indefinido. A seqüência de

    acontecimentos pode ser dada, mas o tempo do cumprimento e a duração de

    tempo entre os acontecimentos, geralmente estão ocultos. Algumas profecias

    têm a ver com o futuro próximo, outras com o futuro remoto.

    Tipos- é uma classe de metáforas que não consiste meramente em palavras,

    mas em fatos, pessoas ou objetos que designam fatos semelhantes, pessoas

    ou objetos no povir.

    Exemplos abusivos - muitos abusos têm sido cometidos na interpretação de

    muitas coisas que parecem típicas no NT Como forma de ajuda para que seevitem tais abusos, aconselhamos a fazer o seguinte:

     Aceite como tipo, o que como tal, é aceito no Novo Testamento;

    Recorde-se que o tipo é inferior ao seu correspondente real e que, por

    conseguinte, todos os detalhes do tipo não têm à dita realidade;

    Tenha presente que às vezes um tipo pode prefigurar coisas diferentes.

    Lembre-se que os tipos, como as demais figuras, não foram dados para servir

    de base e fundamento das doutrinas cristãs.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    35/52

    Exemplos de Tipos - são lições concretas de Deus; a maior parte dos tipos do

     AT. Acha-se no Tabernáculo e nas peregrinações dos filhos de Israel no

    deserto. Várias deles são explicadas na epístola dos hebreus. Jesus faz

    menção à serpente de metal e a Jonas.

    Símbolo s - símbolo é uma espécie de tipo pelo qual se representa alguma

    coisa ou algum ato, por meio de outra coisa ou fato conhecido, para servir de

    semelhante ou representação. É muitas vezes diferente do tipo por não

    prefigurar a coisa que representa. Ele simplesmente representa o objetivo.

     Às vezes pode ter mais de um significado Ex.: Jesus é chamado de “Leão da

    tribo de Judá”, enquanto que Pedro compara o Diabo, em sua fúria devoradora,

    a um leão que ruge procurando a quem possa tragar. Note bem: o aspecto leão

    que figura o Senhor Jesus Cristo, é apenas a natureza forte e real  do animal.

    Cristo é chamado de o “Leão da tribo de Judá”, a passo que o diabo vem

    “como” leão. 

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    36/52

    IX. CLASSES DE SÍMBOLOS

    Objetos reais

    O sangue – vida ou alma.

    Vestido - mérito ou justiça real.

    Linho fino - (justiça real)

    Cobre - resistência ao fogo.

    Ouro - Glória de Deus.

    Óleo ou azeite - Espírito Santo

    Incenso - orações.

    Sal - influência preservadora.

    Fermento- tendência corruptora.

    Nomes

    - Abrão - pai das alturas.

    - Abraão - pai de multidões.

    - Sarai - princesa minha

    - Sara - princesa.

    - Jacó - suplantador.

    - Israel - príncipe de Deus.

    - Egito - Mundo

    - Belém - casa de pão.

    - Calvário - sofrimento.- Babel e Babilônia - confissão.

    Números

    Um - unidade, primazia.

    Dois - relação, diferença, divisão.Três- solidez.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    37/52

    Quatro- cessação, fraqueza, fracasso, provação, experiência, modificação,

    criatura, terra, mundo.

    Cinco - o fraco com o forte, Emanuel, Deus governando, capacidade...

    Seis - limitação, domínio humano, manifestação do mal, disciplina.

    Sete - plenitude, perfeição, repouso.

    Oito - Novo começo, o novo em contraste com o velho.

    Cores

    Azul - perfeição celeste que sob a dispensação antiga, só podia ser

    contemplada de longe.

    Púrpura - cor dos mantos reais entre os gentios, e a do manto que por

    escárnio, puseram sobre Jesus. É a cor da realeza.

    Carmesim ou escarlate - Foi à cor distintiva do povo de Israel, pela qual Raab

    se identificou com esse povo. Compara-se com o pecado mais tenaz, mas que

    pode ser lavado com o sangue de Jesus.

    Poesia

     Aspectos da poesia hebraica:

    Não possui rima, seu tamanho não é levado em conta, e pelo fato de estar

    constituído em torno de um padrão de pensamento básico, o escritor tem

    grande liberdade na estruturação de cada verso. Tem estilo de Paralelismoliterário de três tipos:

    Paralelismo sinonímico- indica que a segunda linha do poema repete a

    verdade da primeira, com palavras parecidas; p.ex.: “Ao senhor a terra... e o

    Mundo e os que nele habitam”. 

    Paralelismo antitético- sugere contraste. A segunda linha do verso contrasta

    com a primeira, p.ex.: “Pois o senhor conhece o caminho dos justos,mas o

    caminho dos ímpios perecerá”. 

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    38/52

    Paralelismo sintético- a segunda linha acrescenta alguma coisa à primeira;

    p.ex.: “A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma”. 

    Na poesia hebraica predominam sentimentos, pensamentos e emoções.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    39/52

    X. A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO POR MÉTODO

    Método- é a maneira ordenada de fazer alguma coisa. É um procedimento

    seguindo passo a passo, destinado a levar o estudante a uma conclusão.

    Perigo do mau uso da Bíblia- isto se dá quando se despreza o estudo

    sistemático e metódico. Não se deve ignorar o que a Bíblia diz sobre

    determinado assunto para não se aplicar mal; não se deve ignorar o contexto

    onde está o versículo; não se deve ler uma passagem e tentar dizer o que ela

    não diz.

    Princípios de estudo da Bíblia

    Vá você mesmo diretamente ao texto (confira- confronte)

    Faça anotações das conclusões dos seus estudos - não se deve confiar só na

    Memória.

    Estude constante e sistematicamente - Num mundo de obras inacabadas, onde

    vamos situar aqueles que somente começam a estudar a Bíblia e não

    prosseguem?

    Transmita aos outros os resultados dos seus estudos.

     Aplique o seu estudo à sua própria vida.

    Estude pelo método sintético

    O estudo bíblico pelo método sintético, aborda cada livro como uma unidade

    inteira e procura entender o seu sentido como um todo. Você fará perguntas eprocurará responde-las seguindo os passos:

    Ler  - observar  - tomar notas.

    Descubra o tema central do livro lendo-o mais de uma vez; Desenvolva o tema

    central do livro lendo-o mais de uma vez; Indique os temas, atmosfera e forma

    literária do livro.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    40/52

    Estudo pelo Método temático

    O estudo feito pelo método temático lida com um assunto específico; p .ex.: “O

    tema principal da Bíblia é a redenção através do sangue de Cristo”. 

    Podemos usar como temas o que vemos e o que não vemos, ou seja, coisas

    invisíveis quanto qualidades invisíveis (chuva, pedra, ar...). Encontramos o

    tema à medida que vamos estudando a Palavra e vendo quantas vezes o

    lemos no texto. Deve-se ter, também, às mãos, bons livros, Dicionários Bíblico,

    Concordância Bíblica, e outras fontes.

     A maturidade da pessoa, a espiritualidade, o equilíbrio, boa saúde, calma,

    sossego interior, o discernimento interior, a ausência de preconceitos, a cultura

    bíblica e a cultura acadêmica, são muito importantes neste estudo.

    Estudos pelo método Biográfico

     A Bíblia é cem por cento um livro especial e “sui-gêneris”, até a biografia de

    santos homens, nela contida, não tem fim. A vida dos seus heróis não termina

    com a morte, continua no céu. Os tipos biográficos:

    Narrativa Simples- Toda Escritura contém utilidade para o ensino, e as

    genealogias acrescentadas de biografias, encerram histórias verdadeiras e

    edificantes; na narrativa se dá uma lista de fatos, para fins de registros.

    Exposição Narrativa- a segunda razão pela qual o escritor da Bíblia inclui

    informações biográficas, é para usar a narrativa como meio de ensinar umalição histórica; ex.: José do Egito, Isaque, Daniel...

    Exposição de caráter - a terceira razão é poder ensinar a respeito do caráter

    da pessoa.

    Argumentação- para provar um ponto de vista.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    41/52

    XI. PRINCÍPIOS DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

    Pressuposto ESSENCIAL

     A Bíblia não pode ser interpretada de qualquer maneira. Estudem a Bíblia

    partindo do pressuposto de que ela é a autoridade suprema em questões da

    religião, fé e doutrina. Em assunto de religião, fé e doutrina; consciente ou

    inconscientemente, o crente se submete à tradição, à razão, ou às Escrituras.

    A autoridade de tradição- Sobre Maria, só se aceita o que a Bíblia

    ensina, à medida que este ensino satisfaça o que tradicionalmente é aceito

    pela Igreja católica; desse modo, a tradição e não a Bíblia, é o guia e juiz.

    A autoridade da Razão - o racionalismo ocupou o centro das atenções.

    Para o liberalismo e modernismo teológico; em tais casos a mente humana é

    que é o guia supremo e juiz. Para o racionalismo teológico, o mais importante

    não é que a Escritura diz sobre este ou aquele assunto, mas até que ponto a

    mente humana aceita ou rejeita o que é dito.

    A autoridade da Escritura  - Independentemente do testemunho da

    tradição ou da Razão, o crente verdadeiro tem na Bíblia e seu guia e juiz

    infalível. Devemos dar prioridade a nossa fé na Bíblia, como única inspiração

    divina e Palavra de Deus.

    Regra Fundamental

    Não se esqueça de que a Bíblia é a melhor intérprete de si mesma; a

    Bíblia interpreta a Bíblia.Os maiores inimigos da Bíblia não são os seus opositores que em épocas

    de grandes perseguições rasgaram-na, mas grande número de seus

    expositores sempre prontos a acharem na Bíblia, apoio para as suas idéias

    absurdas. A má interpretação da Bíblia traz maldiçoes, doenças e mortes. O

    diálogo da serpente com a mulher, no Éden, é um exemplo. O diabo é

    oportunista.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    42/52

     

    Princípio da Iluminação

    Dependa da fé salvadora e do Espírito Santo para a compreensão

    interpretação da Escritura. O Espírito Santo ilumina o Cristão para interpretar

    as escrituras. O testemunho que o Espírito Santo dá, é muito mais excelente do

    que qualquer outra razão. 

    “Por que o pecador sujeita a vontade de Deus, tão claramente expressa

    através da Escritura?” “Porque o coração deste povo está endurecido, de mau

    grado ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os olhos; para não suceder

    que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se

    convertam e sejam por mim curados.” MT 13:15 

    A Revelação Escriturística tem a primazia sobre a experiência

    Interprete a experiência pessoal à luz da Escritura e não a Escritura à luz

    da Experiência pessoal. A experiência pessoal não se transfere se constitui na

    prova clara de que Deus faz em nós; ao contarmos nossas experiências

    pessoais, estamos dando testemunho do poder de Deus em nossa vida.

    Mesmo assim, as experiências pessoais não devem ser vir de tema para

    sermões, devem ficar no lugar delas, questionáveis que são, e não podem se

    comparar às Escrituras que permanecem para sempre.

    Distingua entre exemplo e ordenanças nas Escrituras

    Os exemplos bíblicos só têm autoridade prática quando comparadas por uma

    ordem que as faça mandamento universal.

    Não podemos tomar a vida dos personagens bíblicos como padrão; há os que

    são mencionados como advertência e os que servem de exemplos a serem

    seguidos.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    43/52

    Almeje o Alvo Principal do Conhecimento Bíblico

    O principal propósito da Escritura é mudar nossas vidas, não multiplicar nossos

    conhecimentos. Primeiro vem a transformação, depois o conhecimento.

     Aprendemos com a experiência dos outros: “Ora, estas coisas se tornaram

    exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles

    cobiçaram.” (1 Co. 10:6).

     Aprendemos uma lição de duas maneiras: Através das experiências

    pessoais; Através das experiências alheias.

    Uma lição tem que ser entendida para depois aplicada, mas o

    entendimento sem a prática é sem nenhum valor. O que é mesmo essencial

    num teólogo é que o seu ensino seja um aspecto de sua vida, como membro

    do corpo de cristo.

    O Princípio do Sacerdócio Cristão

    Todo cristão tem o direito e a responsabilidade, interpretar pessoalmente a

    Escritura, seguindo princípios universalmente aceitos pela ortodoxia bíblica.

    A Revelação Escriturística tem a Primazia sobre as Tradições

     Apesar da importância da História da Igreja, ela não chega a ser decisiva

    na fiel interpretação da Escritura. Muitas das doutrinas consideradas essenciais

    pelos evangélicos são apenas implícitas nas Escrituras. Devemos à história da

    Igreja sabermos que: No século II A Igreja liderou especialmente comapologética e as idéias fundamentais do cotidiano; Nos séculos III e IV, com a

    doutrina de Deus; No começo do século V, com o homem e o pecado; Desde o

    século V até o século VII, com a pessoa de Cristo; Nos séculos XI e XVI, com a

    expiação; E no século XVI, com a aplicação a redenção.

     Ainda assim, a Igreja não determina o que a Bíblia ensina, antes é a Bíblia

    quem determina o que a Igreja ensina.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    44/52

    XII. PRINCÍPIOS GRAMATICAIS

      Regra Um: “A Escritura tem somente um sentido, e deve ser tomado

    literalmente”. Nos nossos tempos estão havendo novas tendências na

    interpretação bíblica, usam a forma de “contextualizar” adaptando as

    palavras à realidade moderna.

      Regra Dois: “As palavras do texto bíblico devem ser interpretadas no

    sentido que tenham no tempo do autor.” 

    Ex.: A parábola das dez virgens.

    Deve-se, também, conhecer o sentido correto da palavra. ex.:“chegando-se, tocou o esquife e...” Há, ainda, quatro regras a observar, sobre

    as palavras: O uso que faz dela o autor ; Sua relação com o conteúdo imediato;

    ex.: a conversão do carcereiro sobre a palavra “salvo”: da situação em que se

    encontrava, ou da própria alma? Segundo Russel Norman Chaplin, NT

    interpretado, o carcereiro perguntava o que devia fazer para sair da situação

    em que se encontrava e Paulo atende-o fazendo-o acreditar que o Senhor

    Jesus resolveria o seu problema e assim entrou no tema da salvação de suaalma. Em outras palavras em relação à palavra deve ser observado: Seu uso

    correto na época em que foi escrita; Seu sentido etimológico.

      Regra Três  - “As palavras do texto bíblico devem ser interpretadas em

    relação a sua sentença e ao seu contexto.” Ex.: “A Mulher aprenda em  

    silêncio (...) não permito, porém, que a mulher ensine (...) nem use (...)

    sobre o seu marido (...) Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E

     Adão não foi (...) Mas a mulher (...) Salvar-”se-á, porém, dando à luz

    filhos...” (1 Tm. 2:11-15)

    Vemos aqui duas palavras cuja interpretação está relacionada à

    sentença e ao contexto. “Ensine” está relacionado ao marido e “salvar -se-á” ao

    ato de a mulher dar à luz não que isto a salve ou anule o sacrifício de Cristo,

    mas a torna mais sensível, mais dócil e meiga. Às mulheres não era dado o

    direito de ler em voz alta na sinagoga, quando os meninos podiam-no fazer, e

    até escravos; havia, até, rabinos que ensinavam a mulher como um ser sem

    alma; em o Filho de Deus ter nascido de mulher, mudou o pensamento da

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    45/52

    época, principalmente do rabino Paulo, que aceitava o sacrifício de Cristo

    também pela mulher, embora não a liberasse totalmente. Imaginem isso em

    nossos dias! E a Escola Dominical?

    Considerações preliminares  - Os Evangelhos são chamados

    “sinópticos” pelo fato de registrarem eventos comuns sobre a vida, ministério,

    crucificação, morte e ressurreição de Jesus, entretanto, foram escritos sob

    prismas diferentes: em Lucas, como o filho do homem; em Marcos como servo;

    em João é o Filho de Deus, este Evangelho não é sinóptico.

      Regra Quatro  - “Quando um objeto inanimado é usado para descrever

    um ser vivo, a proposição pode ser considerada figurada.” Ex.: Eu Sou o

    pão da vida, a luz do Mundo, a porta, o caminho, a videira, etc,. Seria

    absurdo interpretar literalmente. Ou ainda, “O justo florescerá como

    palmeira, crescerá como o cedro do Líbano”. Salmo 92:12. A nossa

    compreensão do mundo espiritual é analógica. O juízo é descrito como

    fogo porque a dor da queimadura é mais intensa.

      Regra Cinco  - “As principais partes e figuras de uma parábola

    representam certas realidades. Considere essas principais partes e

    figuras somente quando estiver tirando conclusão”. Exemplos de má

    interpretação: dada por Agostinho, doutor da Igreja: Parábola do bom

    samaritano:

    Certo homem descia de Jerusalém para Jericó-(Adão)

    Jerusalém (cidade celestial de Paz da qual Adão caiu)

    Jericó (a lua, assim significa a imortalidade de Adão)

    Salteadores (o diabo e seus amigos)

    Roubaram-lhe, a saber, (sua imortalidade)

    Causaram-lhe ferimentos (ao persuadi-lo a pecar)Deixando-o semimorto (como homem, vivo, mas que morreu espiritualmente

    está semimorto.)

    O samaritano (guardador, logo se refere ao próprio Cristo).

    O sacerdote e o levita (o sacerdócio é o ministério do Antigo Testamento).

    Pensou-lhe os ferimentos (significa restringir o constrangimento do pecado).

    Óleo (o consolo da boa esperança)

    Vinho (a exortação para trabalhar com o espírito fervoroso).Animal (a carne da encarnação de Cristo).

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    46/52

    Hospedaria (a igreja)

    Dia seguinte (dia da ressurreição)

    Dois denários (a promessa desta vida e da do porvir)

    Hospedeiro  – (Paulo) (LOCKIER, TODAS AS PARÁBOLAS DA Bíblia)

    Observe que má interpretação!

    Para se interpretar uma parábola:

    Determine o propósito da parábola;

    Certifique-se de que explica as diferentes partes em harmonia com o fim

    principal contido no ensino da parábola. Na parábola citada: havia uma

    necessidade: Deviam satisfazer a necessidade;

    - Houve satisfação da necessidade,

    - Veio de uma fonte inesperada.

    Use somente as principais fontes da parábola ao explicar a lição.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    47/52

    XIII. PRINCÍPIOS HISTÓRICOS

      Regra Um  - “Uma palavra nunca é compreendida completamente até

    que se possa entendê-la como palavra viva, isto é, originada na alma do

    autor”. Deve-se ir além do conhecimento do nome do autor; deve-se

    conhecer o autor mesmo, seu caráter e temperamento, sua disposição e

    habitual modo de pensar e penetrar no seu mundo estudando os seus

    escritos diligentemente.

      Regra Dois - É impossível entender um autor e interpretar corretamente

    suas palavras sem que ele seja visto à luz de suas circunstâncias

    históricas.” Os escritos bíblicos estiveram sujeitos a circunstâncias

    geográficas, políticas e religiosas.

    Geográficas- O clima, o caráter das estações, os ventos, vales,

    montanhas, produtos da terra...

    Políticas- História nacional, relação com outras nações; suas

    instituições políticas.

    Religiosa- Israel como berço das mais elevadas revelações divinas;

    repreensões religiosas.

      Regra três  - “Uma vez que as Escrituras se originaram de modo

    histórico, elas devem ser interpretadas à luz da história.” 

    Muitos dos primeiros cristãos, por serem judeus, em grande parte

    continuaram a viver segundo os costumes judaicos, freqüentando a sinagoga e

    o templo em Jerusalém, oferecendo holocaustos e obedecendo aos rituais

    dietéticos.

      Regra Quatro  - “Embora a revelação de Deus nas Escrituras sejaprogressiva, tanto no Antigo Testamento como no Novo, são partes

    essenciais dessa revelação e formam uma unidade.” 

    Não se observar esta regra pode levar o estudante a tirar conclusões

    precipitadas quanto a harmonia dos dois testamentos, como aconteceu com

    Marcião, um herege da Igreja no século II, que ensinava que o Deus do Novo

    testamento se opunha ao Deus do Antigo, mas em Cristo destruiu-se a

    autoridade da lei judaica. Ora esse Jesus é o tema central dos doistestamentos, a Bíblia é Cristocêntrica.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    48/52

      Regra Cinco- “Os fatos ou acontecimentos históricos se tornam

    simbólicos de verdades espirituais, somente se assim as Escrituras os

    designarem.” 

    Símbolo é algo que se representa ou lembra alguma coisa por relação,

    associação, convenção ou semelhança ocidental; especialmente um sinal

    visível de uma coisa invisível.

    Características de Símbolos Históricos:

    Um símbolo deve parecer de fato com a coisa que representa; p.ex.:

    Israelitas sem fé e desobedientes não entraram na Terra Prometida, assim

    acontecerá espiritualmente.

    Os símbolos não podem corresponder ao que prefiguram, em todos os

    seus detalhes. Ex.: Muitos homens no Antigo Testamento são tipos de Cristo,

    mas nenhum é igual a Cristo.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    49/52

    XIV. PRINCÍPIOS TEOLÓGICOS

    Regra um -“você precisa compreender gramaticamente a Bíblia, antes de

    compreender teologicamente.” 

    Regra Dois  - “Uma doutrina não pode ser considerada bíblica, a menos que

    resuma e inclua tudo o que a Escritura diz sobre ela.” 

    O propósito desta regra é determinar a verdade doutrinária do texto

    bíblico. É evidente que a Bíblia inteira é a Palavra de Deus, mas é importante

    lembrar que nem tudo na Bíblia tem o mesmo valor, nem é útil da mesma

    maneira.

    Entretanto, a verdade doutrinária, é útil a nós de uma maneira peculiar,

    pelo fato de exigir alguma coisa de nós de forma particular.

    Há determinações na Bíblia que não são como mandamentos diretos,

    mas devem ser considerados. Por exemplo: bebedice é condenada, embora

    não seja um mandamento: 1Co. 5.11; 6.10; Ef.5.18.

      Regra Três  - “Quando parecer que duas doutrinas

    ensinadas na Bíblia são contraditórias, aceite ambas como

    escriturísticas, crendo confiantemente que elas se explicarão dentro de

    uma unidade mais elevada”. Ex.: A  trindade divina. Não temos três

    deuses, mas três pessoas plenas e distintas num só Deus. Um Deus-

    homem, plenamente homem e plenamente Deus. De modo que as

    coisas de Deus não são totalmente compreensíveis pelo limitado

    homem.

      Regra Quatro  - “Um ensinamento  simplesmente implícito na Escritura

    pode ser considerado bíblico quando uma comparação de passagenscorrelatas o apóia.” Ex.: 1- Numa discussão de Jesus com os saduceus

    sobre ressurreição, o mestre encontrou recursos para combater no AT.

    (Mc. 12.26-27). Deus é Deus dos vivos; Deus é Deus de Abraão, de

    Isaque. De Jacó, logo Abraão, Isaque e Jacó estão vivos.

    Ex. 2- Quando Paulo ensina sobre a Ceia do Senhor à igreja, não

    excluiu as mulheres. A igreja de Corinto recebeu instrução sobre a

    comunhão; haviam mulheres que faziam parte da Igreja em Corinto, logoas mulheres podem participar da Ceia.

  • 8/17/2019 Hermenutica Bíblica

    50/52

     

    XV. MÉTODOS INADEQUADOS DE INTERPRETAÇÃO

    1 - Método Supersticioso:- No tempo de Jesus os judeus procuravam

    todos os possíveis sentidos escondidos do texto, como se o sentido óbvio não

    tivesse a máxima importância. Apreciavam a interpretação mais original.

    Também aceitavam a tradição oral, que tinha para eles tanta autoridade quanto

    a Bíblia.

    2 - Método Alegórico:- No tempo de Cristo existia o método alegórico

    para interpretação dos mitos gregos. Diante dos escândalos do comportamento

    indecoroso dos "deuses" nestes mitos, os filósofos achavam uma saída

    honrosa assim evitando a censura pública, dizendo ser claro que tais coisas

    nunca aconteceram, mas que foram relatadas para ensinar lições espirituais.

    Eram alegorias escritas somente para ensinar.

    3 - Método Dogmático:- A Reforma rejeitou a autoridade da tradição e

    instituiu de novo o estudo da Bíblia. A hermenêutica exige que a Bíblia seja

    inte