história a revolta das letras

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Escola Superior de Educação de Setúbal Licenciatura em Educação Básica Língua Portuguesa e Tecnologias de Informação e Comunicação 2009/2010 A Revolta das Letras Era uma vez um conjunto de 26 letras que formavam uma grande família a que toda a gente chamava alfabeto. Esta família tinha um trabalho muito importante, e eram muito boas a realizá-lo. Quando alguém precisava das letras, lá vinham elas, umas vezes devagar outras vezes depressa, umas vezes pequeninas, outras vezes grandes, umas vezes atrapalhadas outras vezes ligeirinhas, mas estavam sempre prontas a ajudar quem queria escrever. Começavam por se juntar em palavras, depois frases e eram capazes de construir grandes textos e até livros de histórias que as crianças gostavam tanto de ouvir e ler. Durante muito tempo tudo correu bem e as letras eram felizes, porém, certo dia, os meninos e meninas de Portugal começaram a cansar-se de escrever, achavam que levava muito tempo e que era cansativo demais, por isso tiveram a ideia de deixar de escrever as palavras como elas são, faziam abreviaturas, excluíam letras, inventavam palavras mais pequenas a que davam significados que só elas entendiam, e as amigas letras começaram a ficar desanimadas. Assim, resolveram reunir-se e discutir a situação. - Não percebo o que se passa, agora raramente me usam para escrever disse o S tristemente - Será que já não gostam de mim? - São é ingratos! Nós sempre fomos tão prestáveis e é assim que nos agradecem. Exclamam o C e o H. - Não sei porque se queixam tanto, eu até estou muito satisfeito disse o X Tenho imenso trabalho e toda a gente gosta de mim! - É, eu concordo responde o K muito envaidecido cada vez que uma criança escreve uma mensagem no telemóvel ou conversa com outros na internet utilizam-me sempre. Eu estou na moda, sou fixe! - Olhem os gabarolas! Então não vêm que a continuar assim as nossas crianças nunca aprenderão a escrever correctamente? O problema não é elas escreverem desta maneira entre elas, é fazerem-no até nas aulas, nos testes e nos trabalhos disse o Q - Amigos tenham calma, parem de discutir, temos de encontrar uma solução para este nosso problema disse o A pensativamente. - Podia-mos tentar conversar com as crianças acrescenta o E com ar tímido. - Boa ideia E! Vamos a isso! Exclama entusiasticamente o O.

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Page 1: HistóRia A Revolta Das Letras

Escola Superior de Educação de Setúbal

Licenciatura em Educação Básica

Língua Portuguesa e Tecnologias de Informação e Comunicação

2009/2010

A Revolta das Letras

Era uma vez um conjunto de 26 letras que formavam uma grande família a que

toda a gente chamava alfabeto. Esta família tinha um trabalho muito importante, e eram

muito boas a realizá-lo. Quando alguém precisava das letras, lá vinham elas, umas vezes

devagar outras vezes depressa, umas vezes pequeninas, outras vezes grandes, umas

vezes atrapalhadas outras vezes ligeirinhas, mas estavam sempre prontas a ajudar quem

queria escrever. Começavam por se juntar em palavras, depois frases e eram capazes de

construir grandes textos e até livros de histórias que as crianças gostavam tanto de ouvir

e ler.

Durante muito tempo tudo correu bem e as letras eram felizes, porém, certo dia,

os meninos e meninas de Portugal começaram a cansar-se de escrever, achavam que

levava muito tempo e que era cansativo demais, por isso tiveram a ideia de deixar de

escrever as palavras como elas são, faziam abreviaturas, excluíam letras, inventavam

palavras mais pequenas a que davam significados que só elas entendiam, e as amigas

letras começaram a ficar desanimadas. Assim, resolveram reunir-se e discutir a situação.

- Não percebo o que se passa, agora raramente me usam para escrever – disse o

S tristemente - Será que já não gostam de mim?

- São é ingratos! Nós sempre fomos tão prestáveis e é assim que nos agradecem.

– Exclamam o C e o H.

- Não sei porque se queixam tanto, eu até estou muito satisfeito – disse o X –

Tenho imenso trabalho e toda a gente gosta de mim!

- É, eu concordo – responde o K muito envaidecido – cada vez que uma criança

escreve uma mensagem no telemóvel ou conversa com outros na internet utilizam-me

sempre. Eu estou na moda, sou fixe!

- Olhem os gabarolas! Então não vêm que a continuar assim as nossas crianças

nunca aprenderão a escrever correctamente? O problema não é elas escreverem desta

maneira entre elas, é fazerem-no até nas aulas, nos testes e nos trabalhos – disse o Q

- Amigos tenham calma, parem de discutir, temos de encontrar uma solução para

este nosso problema – disse o A pensativamente.

- Podia-mos tentar conversar com as crianças – acrescenta o E com ar tímido.

- Boa ideia E! Vamos a isso! – Exclama entusiasticamente o O.

Page 2: HistóRia A Revolta Das Letras

Escola Superior de Educação de Setúbal

Licenciatura em Educação Básica

Língua Portuguesa e Tecnologias de Informação e Comunicação

2009/2010

Todas as letras se juntaram para irem conversar com as crianças, mas estas nem

ligaram, bem podiam as letras fazer trinta por uma linha que era o mesmo que nada.

Então, zangadas, as letras convocaram uma greve geral, não iam mais aparecer

quando precisassem delas, tinham ficado muito ofendidas pela maneira como tinham

sido tratadas. Apenas o X e o K continuaram a trabalhar: “Mais vale duas letras boas,

que muitas que não servem para nada”, diziam eles convencidos.

No princípio as crianças não ligaram à greve, não tinham mesmo dado conta que

algo fora do normal se passava, mas depois começaram a receber testes e trabalhos

negativos porque os professores não gostavam que escrevessem apenas com duas letras,

não se percebia nada, nem ao escreverem umas para as outras se entendiam.

Finalmente, dando conta da ofensa que fizeram às letras, as crianças foram falar

com elas e pediram-lhes que reconsiderassem e pusessem fim à greve, pois iriam

esforçar-se por não as desrespeitar. Mas as letras ofendidas não as queriam escutar, e

foram o X e o K que intercederam por elas.

- Amigas, ouçam as crianças, elas estão a ser sinceras. Nós também queremos

que voltem, já não aguentamos tanto trabalho, e não gostamos de estar sempre cobertos

de riscos vermelhos de erros ortográficos. Desculpem por termos sido tão desleais para

com vocês, agora percebemos que separadas não valemos muito, mas juntas fazemos a

diferença.

- É isso mesmo. A união faz a força! – Disse alegremente o B.

- Nós perdoamos-vos meninos, a greve acabou. E também prometemos ser mais

tolerantes no futuro – finalizou o A.

E foi assim que as crianças e as letras se voltaram a entender e até hoje

continuam grandes amigas.

Ana Santos