história, educação e cultura escolar

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A cultura escolar vem sendo abordada por muitos autores, que têm procurado definir, caracterizar e expressar essa perspectiva de entendimento relativa às questões do universo da escola e dos sujeitos que nela convivem. Procuram-se as temáticas da escola partindo do interior dela, ou seja, do diálogo com o que efetivamente acontece, e não apenas com as determinações estruturais, governamentais, legais.

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Page 1: História, Educação e Cultura Escolar

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Page 2: História, Educação e Cultura Escolar

Chapecó, 2012

Elison Antonio Paim Giani Rabelo

Marli de Oliveira Costa (Orgs.)

HISTÓRIA, EDUCAÇÃO E CULTURA ESCOLAR

Page 3: História, Educação e Cultura Escolar

Reitor: Odilon Luiz Poli Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão: Maria Luiza de Souza LajúsVice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Claudio Alcides Jacoski

Vice-Reitor de Administração: Sady Mazzioni

Diretor de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu: Ricardo Rezer

Todos os direitos reservados àArgos Editora da Unochapecó

Av. Atílio Fontana, 591-E – Bairro Efapi – Chapecó (SC) – 89809-000 – Caixa Postal 1141(49) 3321 8218 – [email protected] – www.unochapeco.edu.br/argos

Conselho Editorial: Rosana Maria Badalotti (presidente), Carla Rosane Paz Arruda Teo (vice-presidente),

César da Silva Camargo, Érico Gonçalves de Assis, Maria Assunta Busato, Maria Luiza de Souza Lajús, Murilo Cesar Costelli, Ricardo Rezer,

Tania Mara Zancanaro Pieczkowski

Coordenadora: Maria Assunta Busato

Catalogação elaborada por Caroline Miotto CRB 14/1178Biblioteca Central da Unochapecó

Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.

  370.98164 História, educação e cultura escolar / Elison Antonio Paim, H673h Giani Rabelo, Marli de Oliveira Costa (Orgs.). – Chapecó : Argos, 2012. 300 p. : 23 cm. – (Regionais ; 6) Inclui bibliografias. ISBN: 978-85-7897-035-2 1. Educação – História – Santa Catarina. 2. Escolas – religiosas – Santa Catarina. 3. Índios – Educação – História – Santa Catarina. 4. Professores – Formação – Santa Catarina. I. Paim, Elison Antonio. II. Rabelo, Giani. III. Costa, Marli de Oliveira. IV. Encontro Estadual de História – (12. Criciúma, SC). CDD 370.98164

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Sumário

ApresentaçãoElison Antonio Paim, Giani Rabelo e Marli de Oliveira Costa

PARTE IMemórias e histórias de escolas religiosas

Congregações religiosas femininas e a Sociedade de Assistência aos Trabalhadores do Carvão (SATC):

dando as mãos aos operários mineiros (Criciúma/SC, 1964-1981)

Giani Rabelo

Colonizar, rezar e educar: atuação de educadores religiosos católicos em São Lourenço do Oeste (SC), 1956 a 1966

Elison Antonio Paim e Nanci Laufer Krindges

Irmãs de São José (1953-1969): a escola feminina de Xanxerê (SC)

Vanessa Picolli

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Produzindo fontes para uma história carnavalizada: as instituições e culturas escolares

Fabiana Nicolau

PARTE IIMemórias e histórias: reminiscências escolares

O livro de leitura e a construção da civilidade em Santa Catarina

Marli de Oliveira Costa

História, Memória, Educação e inclusão: a Escola Municipal Professor Moacyr Jardim de Menezes

na vida de crianças com necessidades especiaisCinara Lino Colonetti Bergmann

Cuidando dos bem-nascidos: a memória do Curso Particular Póvoas Carneiro em Criciúma (SC), 1940 a 1962

Paulo Sérgio Osório

Reminiscências da cultura escolar: vestígios das práticas escolares no sul catarinense (1905-1930)

Tatiane dos Santos Virtuoso

PARTE IIIEducação indígena

A educação Guarani e a presença da escola nas comunidades Guarani do Morro dos Cavalos e de

Massiambu, Palhoça (SC): elementos de embate culturalHelena Alpini Rosa e Ana Lúcia Vulfe Nötzold

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Espaço, poder, educação e cultura nos territórios indígenas

Leonel Piovezana

Palco de mudanças: a escola sede da Terra Indígena Xapecó Talita Daniel Salvaro e Ana Lúcia Vulfe Nötzold

PARTE IVFormação de professores

Formação de professores: projetos em con!itoMaria de Fátima Rodrigues Pereira e

Elza Margarida de Mendonça Peixoto

Rememorando o fazer-se professor(a) em escolas multisseriadas na região oeste de Santa Catarina

Elison Antonio Paim

Formação de professores de Educação Moral e CívicaAndré Luiz Onghero

Sobre os autores

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Apresentação

Educação e cultura escolar

A maior parte dos artigos que compõem este livro foi apresen-tada no XII Encontro Estadual de História – História, Ensino e Pesquisa, promovido pela Associação Nacional de História

(Anpuh) – Seção Santa Catarina. O evento foi realizado na Universida-de do Extremo Sul Catarinense (Unesc), de 21 a 25 de julho de 2008, e os artigos foram apresentados no simpósio “A cultura escolar nas pes-quisas em História da Educação”, que integrou trabalhos com foco na cultura escolar, em sentido amplo. Assim, esta obra apresenta alguns fragmentos que compõem a História da Educação de Santa Catarina.

Os artigos foram construídos a partir de uma diversidade de documentos que abrangem fotogra!as, atas, história oral e muitos outros, apresentando livros de leitura,1 resultados de pesquisas que tiveram como objeto a cultura escolar.

1 Utilizamos “livros de leitura” porque assim eram denominados os exemplares encaminhados para as escolas, para completar a alfabetização dos alunos na pri-meira metade do século XX.

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A cultura escolar vem sendo abordada por muitos autores que têm procurado de!nir, caracterizar, expressar essa perspectiva de en-tendimento relativa às questões do universo da escola e dos sujeitos que nela convivem. Procuram-se as temáticas da escola partindo do interior dela, ou seja, do diálogo com o que efetivamente acontece e não apenas com as determinações estruturais, governamentais, legais...

Dessa forma, a perspectiva dos estudos a partir da cultura es-colar alcança os sujeitos que constituem a comunidade escolar ao longo da história, qual seja: alunos, professores, funcionários e co-munidade de pais no cotidiano.

Para Dominique Julia,2

[...] poder-se-ia descrever a cultura escolar como um con-junto de normas que de!nem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que per-mitem a transmissão desses conhecimentos e a incorpo-ração desses comportamentos; normas e práticas coorde-nadas a !nalidades que podem variar segundo as épocas [...] (2001, p. 10).

Ou ainda, como trabalha com o “remodelamento dos com-portamentos, na profunda formação do caráter e das almas” (p. 22), a cultura escolar estaria entranhada nos sujeitos, após sua passagem pela escola.

Outro autor que trabalha com o conceito de cultura escolar é Frago.3 Ele a!rma que a cultura escolar

2 Julia, Dominique. A Cultura Escolar como Objeto Histórico. Revista Brasileira de História da Educação, Campinas: Autores Associados, p. 9-43, 2001.

3 Frago, Antonio Viñao. História da Educação e História Cultural: possibilidades, problemas e questões. Tradução de Sérgio Castanho. [199-]. (Digitado).

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Inclui práticas e condutas, modos de vida, hábitos e ritos – a história cotidiana do fazer escolar – objetos materiais – função, uso, distribuição no espaço, materialidade física, simbologia, introdução, transformação, desaparição – e modos de pensar, assim como signi!cados e idéias com-partilhadas, [...] é toda vida escolar: fatos e idéias, mentes e corpos, objetos e condutas, modos de pensar, dizer e fazer. ([199-], p. 7).

Também Pintado (2000, p. 224),4 numa perspectiva de de!ni-ção e delimitação do campo de estudos, nos diz que

Se incluyen, inicialmente, aspectos relacionados con la ins-trucción, esto es, lo que la escuela enseña y que es objeto de cuanti!cación por su relación inmediata con los proce-sos de aprendizaje, pero también otros mucho más íntimos que afectan a la personalidad global del sujeto, como la ge-neración de actitudes y la jerarquización de los valores5.

Outra dimensão, focalizada por Gómez (2001), é a da cultura experiencial, por meio da qual são abordados aspectos da experiência dos sujeitos – professores – nos quais cada um desenvolve, individu-almente, suas singularidades, mas numa dimensão de coletividade:

4 Pintado, Antonio Molero. Em Torno A La Cultura Escolar Como Objeto Histó-rico. In: Berrio, Julio Ruiz (Ed.). La Cultura Escolar de Europa: tendências his-tóricas emergentes. Madrid: Editorial Biblioteca Nueva, 2000. p. 223-228.

5 “Incluem-se, inicialmente, aspectos relacionados com a instrução, isto é, o que a escola ensina e que é objeto de quanti!cação por sua relação imediata com os processos de aprendizagem, porém também muitos outros mais íntimos que afetam a personalidade global do sujeito, como a geração de atitudes e a hierar-quização dos valores.”

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[...] o desenvolvimento da cultura experiencial de cada in-divíduo é um compêndio singular de conteúdos e formas, de capacidades e sentimentos, atitudes e conhecimentos que se geram na concreta e peculiar interação evolutiva de cada sujeito com as peculiaridades, as pressões e as possi-bilidades, bem diferentes de cada cenário vital. (Gómez, 2001, p. 256)6.

No diálogo com os autores citados e diversos outros, conclui--se que não existe “a cultura escolar” e, sim, existem “as culturas es-colares”, com uma multiplicidade de formas de fazer e viver escola tantas quantas forem as unidades escolares e os sujeitos que nelas vi-vem, estudam, relacionam-se. Por outro lado, o viver escola não está isolado dos demais aspectos da vida, a qual se constitui na relação com outras culturas para além do espaço escolar.

Porém, poderão os leitores questionar se não estaríamos relati-vizando tal conceito em demasia? Dizemo-lhes que não. Isso porque partimos da concepção de cultura defendida por Raymond Williams (1969, 1979)7 e Edward Palmer "ompson (1981, 1998)8 quando a!r-maram que culturas são modos de vida. Williams, em diálogo com Herder, a!rma:

6 Gómez, Angel Pérez. A Cultura Escolar na Sociedade Neoliberal. Porto Alegre: Artmed, 2001.

7 Williams, Raymond. Cultura e Sociedade: 1780-1950. São Paulo: Editora Nacional, 1969.

Willians, Raymond. Marxismo e Literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.8 "ompson, E. P. A miséria da teoria: ou um planetário de erros. Rio de Janeiro:

Zahar, 1981. "ompson, E. P. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicio-

nal. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

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Era necessário, argumentou ele, falar de ‘culturas’, e não de ‘cultura’, levando-se em conta a variabilidade, e dentro de qualquer cultura reconhecer a complexidade e varia-bilidade das formas que lhe davam forma. As interpreta-ções especí!cas que então ofereceu, em termos de povos e nações ‘orgânicos’ e contra o ‘universalismo externo’ do Iluminismo, são elementos do movimento romântico, que hoje tem pouco interesse ativo. Mas a idéia de um proces-so social que modela ‘modos de vida’ especí!co e distinto é a origem efetiva do sentido social comparativo de ‘cul-tura’ e de seu plural, já era agora necessário, de ‘culturas’. (Williams, 1979, p. 23).

Em outro momento do mesmo texto, o autor a!rma que “[...] o conceito de cultura é um processo social constitutivo que cria ‘mo-dos de vida’ especí!cos e diferentes.” (1979, p. 25).

"ompson, por sua vez, ao referir-se à cultura, aproxima-a da noção de experiência, a!rmando que as pessoas

[...] também experimentam sua experiência como senti-mento e lidam com esses sentimentos na cultura, como normas, obrigações familiares de parentesco, e reciprocida-des, como valores [...] na arte ou nas convicções religiosas. Essa metade da cultura (e é uma metade completa) pode ser descrita como consciência afetiva e moral. (1981, p. 189).

No livro Costumes em comum, "ompson retoma o conceito de cultura, a!rmando que uma cultura é “[...] também um conjunto de diferentes recursos, em que há sempre uma troca entre o escrito e o oral, o dominante e o subordinado, a aldeia e a metrópole; é uma arena de elementos con#itivos.” (1998, p. 17). Em outra sequência do mesmo livro, ainda na introdução, o autor nos faz uma recomenda-ção, relativa ao conceito de cultura:

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Esquecer que ‘cultura’ é um termo emaranhado, que, ao reunir tantas atividades e atributos em um só feixe, pode na verdade confundir ou ocultar distinções que precisam ser feitas. Será necessário desfazer o feixe e examinar com mais cuidado o componente; os ritos, modos simbólicos, os atributos culturais da hegemonia, a transmissão do cos-tume de geração para geração e o desenvolvimento do cos-tume sob formas historicamente especí!cas das relações sociais e de trabalho. ("ompson, 1998, p. 22).

A cultura não é pensada apenas como expressão da sociedade. É também instituinte desta. Assim, a cultura dos trabalhadores não é apenas resultante do que produzem, mas também das lutas das re-sistências. No texto “Tempo, disciplina de trabalho e o capitalismo”, "ompson nos deu um belo exemplo de como se constituem as re-lações entre os trabalhadores das minas de carvão inglesas do século XVIII e os patrões. Com a institucionalização da máxima “Tempo é Dinheiro” – e o trabalho pago por hora ou produtividade –, os pa-trões passaram a exigir mais e mais dos trabalhadores; estes, por sua vez, reagiram criando diversos mecanismos de defesa, como a “San-ta Segunda-Feira”, quando em nome de Santa Bárbara, a padroeira dos mineiros, recusavam-se a comparecer ao trabalho. Percebemos, assim, que as relações de dominação e resistência não são dicotômi-cas e fazem parte do mesmo jogo.

Entendemos a existência de tantas culturas quantos forem os grupos humanos, quantos forem os modos de vida. Assim, a “cultura escolar” é percebida como “culturas escolares”, como multiplicidade de experiências e signi!cados, em oposição à unicidade e à homo-geneidade. Embora existam elementos comuns nos ordenamentos o!ciais para as escolas, cada uma cria ou recria sentidos próprios, para cada local especí!co.

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Para agrupar os artigos e dar conta da amplitude do tema, o livro é composto por quatro partes. A primeira, “Memórias e histó-rias de escolas religiosas”, procura olhar para instituições escolares de caráter religioso, enfocando suas especi!cidades.

“Congregações religiosas femininas e a Sociedade de Assistên-cia aos Trabalhadores do Carvão (SATC): dando as mãos aos operá-rios mineiros (Criciúma/SC, 1964-1981)”, de Giani Rabelo, promove uma aproximação às práticas assistenciais e educativas, protagoniza-das pelas Pequenas Irmãs da Divina Providência em obras missio-nárias junto às esposas e crianças !lhas de operários das minas de carvão do complexo carbonífero do sul de Santa Catarina. A autora tece considerações em relação ao trabalho desenvolvido pelas Pe-quenas Irmãs da Divina Providência junto à Sociedade de Assistên-cia aos Trabalhadores do Carvão (SATC) e analisa um conjunto de relatórios anuais de quase duas décadas (1964 a 1981), apresentados pela Diretoria Executiva aos seus conselheiros.

“Colonizar, rezar e educar: atuação de educadores religiosos católicos em São Lourenço do Oeste (SC), 1956 a 1966”, de Elison Antonio Paim e Nanci Laufer Krindges, dá visibilidade à educação escolar desenvolvida por educadores da Igreja Católica no proces-so colonizador de São Lourenço do Oeste. Ao trabalhar com fontes documentais escritas e depoimentos orais de professores e alunos, busca perceber relações sociais, culturais voltadas à construção de um ideal de homem e mulher para a região oeste catarinense. Des-tacam-se a atuação das empresas colonizadoras e suas relações com a Igreja Católica e o Estado na criação da escola como incentivo à vinda de migrantes.

“Irmãs de São José (1953-1969): a escola feminina de Xanxe-rê (SC)”, de Vanessa Picolli, busca registrar como a escola feminina pretendia desenvolver a formação moral, religiosa e doméstica das

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!lhas de famílias abastadas de Xanxerê e região. Era uma instituição particular construída pelos moradores do município, juntamente com a Sociedade Brasileira Cultural e Caritativa São José, que arre-cadaram fundos para a construção e manutenção desta instituição escolar, a qual contava também com o auxílio !nanceiro das men-salidades pagas pelas famílias das alunas.

“Produzindo fontes para uma história carnavalizada: as insti-tuições e culturas escolares”, de Fabiana Nicolau, propõe uma re#e-xão teórico-metodológica sobre as fontes documentais produzidas ao longo da pesquisa em andamento “De menino a estudante salesiano – as práticas discursivas e a produção de sujeitos masculinos no Co-légio Salesiano Itajaí – 1956-1969”. Nesse texto, são problematizadas a emergência e utilização de documentos fabricados no interior da instituição escolar e a possibilidade de utilizá-los para análise e com-preensão das culturas escolares e a consequente produção de sujeitos.

Na segunda parte, “Memórias e histórias: reminiscências esco-lares”, as memórias de alunos expressam elementos da cultura escolar.

Em “O livro de leitura e a construção da civilidade em Santa Catarina”, Marli de Oliveira Costa analisa os textos da Série Fontes, que alcançaram as cidades de Santa Catarina entre os anos de 1920 e 1950. A série, idealizada pelo inspetor da Instrução Pública do Es-tado, Henrique Fontes, marcou “durante décadas o projeto educacio-nal das escolas públicas do Estado”. Era composta por uma cartilha, chamada Cartilha Popular e mais quatro livros de leitura. O conjunto da obra permite perceber tentativas de disseminação de um per!l de criança considerado ideal para o período e visualizar estratégias de construção de hábitos de civilidade nas crianças. As noções de civi-lidade aparecem associadas a práticas de higiene, à postura do cor-po, ao amor à pátria e à família.

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“História, Memória, Educação e inclusão: a Escola Municipal Professor Moacyr Jardim de Menezes na vida de crianças com neces-sidades especiais”, de Cinara Lino Colonetti Bergmann, é resultado de um projeto de pesquisa que trabalhou com as lembranças de jo-vens com necessidades especiais que frequentaram a referida escola, do município de Criciúma, entre os anos de 1990 e 2000.

“Cuidando dos bem-nascidos: a memória do Curso Particular Póvoas Carneiro em Criciúma (SC), 1940 a 1962”, de Paulo Sérgio Osório, é resultado de um estudo sobre a gênese e o desenvolvimento da escola primária Curso Particular Póvoas Carneiro no contexto de urbanização e modernização da cidade. Enfatiza sua importância no processo de escolarização de um grupo formado por !lhos de indus-triais, de comerciantes, de proprietários de terras e daqueles pro!s-sionais que compunham a emergente classe média urbana da cidade.

“Reminiscências da cultura escolar: vestígios das práticas esco-lares no sul catarinense (1905-1930)”, de Tatiane dos Santos Virtuo-so, promove um encontro com experiências de ex-alunos de escolas italianas no sul catarinense e leva à percepção de diferentes vozes. Estas se apresentam intrigantes perante os documentos o!ciais. As-sim, em meio a memórias, bem como por meio do currículo das es-colas, procurou-se entender o imaginário cultural que predominava entre os ítalo-brasileiros, especialmente na escola. Nas representa-ções construídas entre Itália e Brasil, percebe-se a contínua dispu-ta de poder e a constante imposição da língua vernácula brasileira.

Na terceira parte, “Educação indígena”, os autores abordam como a educação formal escolar está presente em algumas comuni-dades indígenas do estado de Santa Catarina.

Em “A educação Guarani e a presença da escola nas comuni-dades Guarani do Morro dos Cavalos e de Massiambu, Palhoça (SC): elementos de embate cultural”, Helena Alpini Rosa e Ana Lúcia Vulfe

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Nötzold apresentam o embate cultural entre a educação tradicional Guarani e os elementos educacionais propostos pela escola presente nas comunidades Guarani do Morro dos Cavalos e Massiambu, lo-calizadas no município de Palhoça (SC), na década de 1990.

“Espaço, poder, educação e cultura nos territórios indígenas”, de Leonel Piovezana, propõe perceber como as mudanças culturais e ecológicas nas áreas indígenas impõem uma re#exão sobre as for-mas de propriedade e o uso da terra. Também instiga a re#exão sobre como a presença de não índios nas “reservas”, o crescimento popu-lacional e pressões comerciais !zeram com que os índios se vissem obrigados a depender cada vez mais das relações de mercado e dos processos de educação formal e não formal, criando, assim, novas necessidades. Elas vão interferindo nas mudanças comportamentais e nas formas de vida, nos aspectos socioambiental, político, econô-mico, educacional e nos tratos para com a terra.

“Palco de mudanças: a escola sede da Terra Indígena Xapecó”, das autoras Talita Daniel Salvaro e Ana Lúcia Vulfe Nötzold, trata da Escola Indígena de Educação Básica Cacique Vanhkrê, considerada modelo para a educação escolar indígena. Explicita como objetivo perceber essa escola como um palco de mudanças, desde sua estru-tura, sua denominação, além da relação com a história da comuni-dade. Destaca-se, também, a presença da escola como um mecanis-mo pelo qual se a!rma e valoriza a identidade étnica, trabalhada por meio do currículo diferenciado.

Na quarta parte, “Formação de professores”, os autores apresen-tam três abordagens que explicitam diferentes aspectos da formação de professores em tempos e espaços diversos.

“Formação de professores: projetos em con#ito”, de Maria de Fátima Rodrigues Pereira e Elza Margarida de Mendonça Peixoto, apresenta um mapeamento dos estudos sobre a formação de profes-

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sores entre as décadas de 1980 e 2000. Aponta que o tema ganhou destaque no conjunto das Reformas de Educação, evidenciando, por outro lado, como os problemas se mantêm e se misturam com vários outros. Defende que o debate continua já que a formação de profes-sores e seu trabalho têm de ser pensados para além do projeto liga-do aos interesses do mercado.

“Rememorando o fazer-se professor(a) em escolas multisse-riadas na região oeste de Santa Catarina”, de Elison Antonio Paim, pauta-se nos conceitos de experiência vivida e rememoração de Wal-ter Benjamin. Por meio de entrevistas com professores que trabalha-ram em escolas multisseriadas, evidenciam-se as experiências, os di-ferentes saberes e fazeres. Destaca-se a valorização daqueles que se dispuseram a ensinar o pouco que sabiam para crianças e jovens de comunidades agrícolas, assumindo muitas atividades para além do ensinar a ler, escrever e contar.

“Formação de professores de Educação Moral e Cívica”, de André Luiz Onghero, tem a intenção de possibilitar a análise e o de-bate sobre a formação dos professores de Educação Moral e Cívica (EMC). O artigo foi elaborado com base em fontes escritas, constituí-das por leis e decretos do governo federal, e fontes orais, constituídas por entrevistas com professores que lecionaram EMC em escolas da região oeste de Santa Catarina, durante as décadas de 1970 e 1980, subordinadas à 11ª Coordenadoria Regional de Educação, sediada em Chapecó (SC). O ensino de EMC não exigia apenas o compro-metimento pedagógico ou o conhecimento acerca do conteúdo a ser ministrado. O professor deveria ser um exemplo de moral e civismo para os estudantes, possuir uma “!loso!a de vida”, “cultura huma-nística satisfatória” e “hierarquia de valores culturais”.

Com esta publicação, os(as) pesquisadores(as) envolvidos(as) disponibilizam a todos(as) os(as) leitores(as) contato com as discus-

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sões que atravessam ou são atravessadas pela cultura escolar, contri-buindo, assim, para demarcar um tempo de valorização de diferentes “lugares de memória”, oferecendo visibilidade a todos os sujeitos que construíram e constroem a História da Educação em Santa Catarina.

Boa leitura!Elison Antonio Paim, Giani Rabelo

e Marli de Oliveira Costa (Orgs.)

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Sobre os autores

André Luiz Onghero: graduado em História pela Unoesc, campus Chapecó, especialista em História pela Unochapecó, mestre em Edu-cação pela Faculdade de Educação/Unicamp. Desenvolveu pesquisas na área de História da Educação na região oeste de Santa Catarina: “Disciplina e Civismo: a educação durante os governos militares em Pinhalzinho (1964-74)” e “Moral e Civismo nos currículos das esco-las do Oeste catarinense: memórias de professores”, além de uma pes-quisa sobre a legislação que implantou a Educação Moral e Cívica: “A Educação Moral e Cívica na Ditadura Militar: uma análise do discur-so o!cial”. Desde 2007, tem trabalhado como técnico em pesquisa no Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina (CEOM/Unochapecó), desenvolvendo pesquisas relacionadas com as histórias e memórias dos diferentes grupos que constituem a população regional. Profes-sor no curso de História da Unochapecó e do curso de História da Unoesc, campus Xanxerê.

Ana Lúcia Vulfe Nötzold: doutora em História, etno-historiadora, professora do Departamento de História da UFSC e coordenadora do Laboratório de História Indígena. Coordenadora do Projeto MEC/SESu/Depem “Cipó Guambé, Taquaruçu e anilina: a cultura material

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Kaingang como fator de inclusão social”. Autora e organizadora dos livros: Nosso Vizinho Kaingang; Ciclo de vida Kaingang; Jogo de Me-mória Kaingang: uma maneira lúdica de preservar; Ouvir memórias contar histórias: mitos e lendas Kaingang; e Brincando e conhecendo os indígenas em Santa Catarina.

Cinara Lino Colonetti Bergmann: graduada no curso de Pedago-gia em 2008 pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc). Mestre em Educação em 2011 pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Unesc. Membro do Grupo de Pesquisa Grupehme/SC. Professora da Rede Municipal de Criciúma desde 2009.

Elison Antonio Paim: possui graduação em História pela Univer-sidade Federal de Santa Maria (1986), mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1996) e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2005). Pro-fessor titular da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Tem experiência na área de História, com ênfase em Práticas de Ensino Experiências de Ensino, atuando, principalmente, nos seguintes temas: memória-experiência-fazer-se professor, ensino de história-história local e Educação Patrimonial. Publicou os livros Fala professor(a): o ensino de História em Chapecó (1997) e Educação e Industrialização (2003), ambos pela Editora Argos.

Elza Margarida de Mendonça Peixoto: doutora em Filoso!a e His-tória da Educação pela Universidade Estadual de Campinas, faz parte dos Grupos de Estudos e Pesquisas História, Sociedade e Educação no Brasil (Histedbr); Marxismo, História, Tempo Livre e Educação (Mhtle – UEL); Grupo de Estudos e Pesquisas Políticas Educacionais e Movimentos Sociais (UnC). Pesquisa os estudos do lazer no Brasil,

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a partir da crítica à produção do conhecimento contextualizada no modo de produção que a viabiliza. Sua tese de doutorado intitula-se “Estudos do lazer no Brasil: apropriação da obra de Marx e Engels”.

Fabiana Nicolau: é bacharel e licenciada em História pela Universi-dade do Vale do Itajaí (Univali), especialista em História Social pe-la Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e mestre em Educação, cuja área temática é História da Educação e Historiogra-!a, pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Suas áreas de interesse são insti-tuições escolares, produção de sujeitos e subjetividades. As princi-pais publicações se referem ao Sistema Preventivo de Dom Bosco, Oratório São Francisco de Sales, Regulamentos para as Casas Sa-lesianas, entre outros, todas concernentes às práticas discursivas e não discursivas que constituem a Sociedade São Francisco de Sales (congregação salesiana).

Giani Rabelo: graduada em Serviço Social pela Universidade do Sul de Santa Catarina (1986), mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (1997) e doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é professora no curso de Pedagogia e no Programa de Pós-Graduação em Educação no Mestrado em Educação da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc). É líder do Grupo de Pesquisa História e Memória (Grupehme). Tem se dedicado às pesquisas nas áreas de História e Educação, com ênfase nos seguintes tópicos: História, Memória e Educação; Gênero e Educação; Religião e Educação; História das Instituições Escolares; História da escrita e da leitura; e Cultura Escolar. Principais publicações (livros): A escola na Colina: Grupo Escola Núcleo Hercílio Luz (1905-2002) (2003); Escola Casemiro

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Stachurscki: das aulas particulares/comunitárias ao ensino público municipal (2005) Lutas e conquistas: história e memória da escola pública municipal “Honório Dal Toé” (2007).

Helena Alpini Rosa: graduada em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História Cultural da UFSC com a pesquisa “Trajetória históri-ca da presença da escola na aldeia Guarani de Massiambu, Palhoça, SC”, vinculada ao Laboratório de História Indígena (Labhin) com a orientação e coordenação da professora doutora Ana Lúcia Vul-fe Nötzold. Técnica pedagógica na Diretoria de Educação Básica da Secretaria de Estado da Educação, realizando atividades no Núcleo de Educação Indígena com a formação de professores (licenciada).

Leonel Piovezana: graduado em Filoso!a no Seminário São Carlos Borromeu de Sorocaba (SP) e em História/Estudos Sociais pela Fa-culdade de Filoso!a, Ciências e Letras de Palmas (1984). Foi profes-sor na rede pública estadual e municipal de Sorocaba (SP), nos anos de 1979 a 1980 e de 1982 a 2006, da rede estadual de Educação do estado de Santa Catarina. Especialista em História e Geogra!a pela UFSC, mestre em Desenvolvimento Regional na Área Sociocultural, pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), em 2000, e doutor em Desenvolvimento Regional pela Unisc. Atualmente é professor titular da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó).

Maria de Fátima Rodrigues Pereira: doutora em Filoso!a e Histó-ria da Educação pela Universidade Estadual de Campinas, faz parte dos Grupos de Estudos e Pesquisas História, Sociedade e Educação no Brasil (Histedbr); Marxismo, História, Tempo Livre e Educação (Mhtle – UEL); Grupo de Estudos e Pesquisas Políticas Educacionais

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e Movimentos Sociais (UnC). Pesquisa formação de professores na perspectiva de História, Trabalho e Educação. Sua tese de doutora-do intitula-se “Formação de professores em nível superior no estado de Santa Catarina (1960-2002): controle e desoneração do Estado”.

Marli de Oliveira Costa: professora dos cursos de Pedagogia e His-tória da Unesc. Mestre em História e doutora pelo Programa de Pós--graduação em Educação da UFRGS.

Nanci Laufer Krindges: graduada e especialista em História pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), campus Chape-có. Assistente técnico-pedagógica da rede pública estadual de San-ta Catarina em São Lourenço do Oeste. Foi membro da equipe pe-dagógica da Secretaria Municipal de Educação de São Lourenço do Oeste. Tutora do curso de História na Unopar – polo de São Lou-renço do Oeste.

Paulo Sérgio Osório: historiador, mestre em Educação, professor do curso de História da Unesc e coordena o Centro de Documentação Regional da Unesc.

Talita Daniel Salvaro: mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História Cultural da UFSC, pesquisadora do Laboratório de História Indígena (Labhin), bolsista CNPq. Sua pesquisa de mestrado é refe-rente ao ensino da língua Kaingang na educação escolar indígena, sob orientação da professora doutora Ana Lúcia Vulfe Nötzold. Subcoor-denadora do Projeto MEC/SESu/Depem “Cipó Guambé, Taquaruçu e anilina: a cultura material Kaingáng como fator de inclusão social”.

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Tatiane dos Santos Virtuoso: graduada em História pela Universi-dade do Extremo Sul Catarinense (2004), mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (2008). Atualmente é profes-sora na rede municipal de educação de Criciúma e tutora em cursos de especialização na área da Educação. Participa do Grupo de Pes-quisa História e Memória (Grupehme). Tem se dedicado às pesquisas nas áreas de História e Educação, com ênfase nos seguintes tópicos: História; Memória e Educação; e Cultura Escolar.

Vanessa Picolli: graduada em História pela Unochapecó, mestre em Educação pelo Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), sob orientação da professora doutora Maria Teresa dos Santos Cunha, bolsista Pro-mop/Udesc – Programa de Monitoria de Pós-Graduação da Udesc.

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História, educação e cultura escolar

Elison Antonio Paim Giani RabeloMarli de Oliveira Costa

Regionais

Maria Assunta Busato

Alexsandro Stumpf

Neli Ferrari

Leonardo Favero

Neli FerrariLuana Paula BiazusRenan Klaus Alves de Souza

Hilario Junior dos Santos

Alexsandro Stumpf

Alexsandro Stumpf Sara Raquel Hef fel

Araceli Pimentel Godinho

Carlos Pace DoriAraceli Pimentel GodinhoMarizete Bortolanza SpessatoRodrigo Junior Ludwig

16 X 23 cm

Minion Pro entre 10 e 14 pontos

Capa: DuraMiolo: Pólen So" 80 g/m2

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2012

Grá!ca e Editora Pallotti – Santa Maria (RS)

Argos Editora da Unochapecó

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