historia nelore mocho

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http://www.guaporepecuaria.com.br/pecuaria/historia_nelore_mocho.html O Nelore Mocho Na literatura sobre o gado indiano, relativamente extensa, não são encontradas referências sobre raças ou variedades desprovidas de chifres. Não há, na Índia ou no Paquistão, qualquer raça geneticamente mocha; os livros não mencionam e os relatórios de zootecnistas não falam em Zebuínos naturalmente sem chifres, mas apenas em animais descornados artificialmente. É conhecida apenas a citação do zootecnista inglês R. W. LITTLEWOOD, Autor de famoso compêndio sobre o gado da Índia Meridional, referente ao costume de criadores do sul da península, na região de Tanjore, de descornar e aparar as orelhas, dando à cabeça de seus bovinos semelhança com as dos bovinos "polled" da Inglaterra. Também os norte- americanos têm o hábito de descornar as fêmeas de seu Zebu ou Brahman. Em um e outro caso, portanto, trata-se de animais descornados e não mochos naturais. Dentro da espécie Taurina são encontrados alguns agrupamentos étnicos possuidores de chifres e outros, em menor número, desprovido desses apêndices. A grande maioria das raças européias, como a Holandesa, a Parda Suíça, a Jersey, a Charolesa, a Chianina, e muitas outras apresentam-se normalmente chifrudas; algumas, pelo contrário, caracterizam-se pela ausência de chifres, como a Aberdeen Angus, a Red Polled e a Galloway. Há, ainda, um terceiro grupo, constituído de raças originariamente chifrudas, nas quais existem variedades mochas, de formação recente, a partir de indivíduos que nasceram desprovidos de chifres. Podem ser citadas Hereford, a Shorthorn e a Holstein Frisian. Atualmente, nas grandes raças de corte, estão sendo desenvolvidas linhagens mochas, normalmente aceitas pelos serviços genealógicos para efeito de registro, em livros próprios. Os Geneticistas até hoje não chegaram a perfeito acordo quanto ao caráter mocho. Para alguns, os ruminantes primitivos eram todos desprovidos de chifres, e só posteriormente, por processo de mutação genética, apareceram esses apêndices. Outra corrente, predominante, sustenta a hipótese de que os bovinos sempre possuíram chifres e o caráter mocho surgiu posteriormente. Parece certo que a razão esteja com os últimos, tendo o desaparecimento dos chifres ocorrido em eras recentes.

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Page 1: Historia Nelore Mocho

http://www.guaporepecuaria.com.br/pecuaria/historia_nelore_mocho.html

O Nelore Mocho

Na literatura sobre o gado indiano, relativamente extensa, não são encontradas referências sobre raças ou variedades desprovidas de chifres. Não há, na Índia ou no Paquistão, qualquer raça geneticamente mocha; os livros não mencionam e os relatórios de zootecnistas não falam em Zebuínos naturalmente sem chifres, mas apenas em animais descornados artificialmente. 

É conhecida apenas a citação do zootecnista inglês R. W. LITTLEWOOD, Autor de famoso compêndio sobre o gado da Índia Meridional, referente ao costume de criadores do sul da península, na região de Tanjore, de descornar e aparar as orelhas, dando à cabeça de seus bovinos semelhança com as dos bovinos "polled" da Inglaterra. Também os norte-americanos têm o hábito de descornar as fêmeas de seu Zebu ou Brahman. Em um e outro caso, portanto, trata-se de animais descornados e não mochos naturais. 

Dentro da espécie Taurina são encontrados alguns agrupamentos étnicos possuidores de chifres e outros, em menor número, desprovido desses apêndices. A grande maioria das raças européias, como a Holandesa, a Parda Suíça, a Jersey, a Charolesa, a Chianina, e muitas outras apresentam-se normalmente chifrudas; algumas, pelo contrário, caracterizam-se pela ausência de chifres, como a Aberdeen Angus, a Red Polled e a Galloway. 

Há, ainda, um terceiro grupo, constituído de raças originariamente chifrudas, nas quais existem variedades mochas, de formação recente, a partir de indivíduos que nasceram desprovidos de chifres. Podem ser citadas Hereford, a Shorthorn e a Holstein Frisian. 

Atualmente, nas grandes raças de corte, estão sendo desenvolvidas linhagens mochas, normalmente aceitas pelos serviços genealógicos para efeito de registro, em livros próprios. 

Os Geneticistas até hoje não chegaram a perfeito acordo quanto ao caráter mocho. Para alguns, os ruminantes primitivos eram todos desprovidos de chifres, e só posteriormente, por processo de mutação genética, apareceram esses apêndices. Outra corrente, predominante, sustenta a hipótese de que os bovinos sempre possuíram chifres e o caráter mocho surgiu posteriormente. Parece certo que a razão esteja com os últimos, tendo o desaparecimento dos chifres ocorrido em eras recentes. 

H1 Caburey

Dentre as iniciativas do pioneiro Ovídio Miranda Brito, destaca-se a fazenda Santa Marina, no município paulista de Araçatuba. Situada na principal região pecuária do Estado bandeirante tornou-se um grande centro de criação e seleção de gado Nelore. A preferência pela raça resultou de seu desempenho nas grandes pastagens de Colonião e das qualidades desenvolvidas pelos seus dedicados selecionadores. 

Em certa fase de sua vida, Miranda Brito principiando o seu trabalho seletivo, viu o touro Tic se sagrar Campeão da raça na XIII Exposição Nacional de Animais, em

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Belo Horizonte, em 1947. Foi um grande estímulo e o início de uma intensa participação nos certames pecuários, que teria o seu coroamento no grandioso Parque de Uberaba. A raça Nelore começava sua expansão, e na década seguinte passaria a ocupar o primeiro lugar na pecuária brasileira, suplantando a sua rival, a raça Gir. 

A seleção do gado Nelore visou primeiramente alcançar a pureza racial, seguida do desenvolvimento de suas qualidades econômicas: a fertilidade, a rusticidade, a capacidade de ganho de peso e a conformação como gado de corte. E o Nelore respondeu rapidamente aos estímulos recebidos de seus criadores, em sua grande parte dotados de mentalidade empresarial. 

Em 1957 ocorreu um fato que viria ter profunda influência na evolução do Nelore. Na primavera daquele ano nasceu na Fazenda Santa Marina um bezerro, filhos de pais Nelore, ambos puros e registrados, mas com uma peculiaridade: era mocho de nascença. No estudo da variedade desprovida de chifres, procuramos verificar a sua origem e uma explicação para o fato. O bezerro, que recebeu o nome de Caburey, era filho do touro Kong O.M., que vinha de Índio eNeblina, da criação de Otávio Machado; a mãe era a vacaCapanga, portadora da marca "triângulo", indicando sua origem na fazenda de Neca Andrade, um dos pioneiros e preservadores do Nelore em Uberaba. Capanga tinha uma particularidade interessante: pouco tempo depois ela pariu outro bezerro mocho, que foi Netinho de Novo Horizonte, filho do touro Netinho, nascido na Fazenda Experimental de Criação, de Sertãozinho, com a vaca Walquíria da Indiana. O reprodutor Netinho, era filho de Amendoim VR, com a vaca Garapa, originária do rebanho de Pedro Marques Nunes. O caráter mocho, sem dúvida, veio através de Amendoim, pois este era filho do famoso reprodutorCacique II, nº 93, que pertenceu a Otávio Machado, com a vaca Capanga, de Neca Andrade. 

Examinando o pedrigri completo de Caburey e o deNetinho, verificamos que ambos, nascidos em diferentes propriedades, bem distantes, tinham em comum o fato de serem descendentes da vaca de Neca Andrade. Portanto, essa reprodutora tinha em seu patrimônio hereditário o fator responsável pelo caráter mocho. Todos os animais que figuram nos dois pedrigris podem ser considerados puros de origem, por serem criações muito antigas e muito puras, como eram os rebanhos de Otávio Machado, Pedro Nunes e Manoel Andrade. Parece ter havido alguma mutação, já que não se tem outra explicação para o fato. 

Ovídio Miranda Brito teve a feliz iniciativa de reservarCaburey para a reprodução e quando chegou essa hora, tratou de fazê-lo padrear um lote de vacas de muito boa caracterização racial e de grande tamanho. Os filhos nasceram todos mochos perfeitos, sem rudimentos de chifres ou "botões", dando origem a uma família geneticamente desprovida de chifres, porquanto o caráter mocho é sabidamente dominante. 

O emprego intenso do touro Caburey no rebanho Nelore da Fazenda Santa Marina, inclusive através da consanguinidade, fixou o caráter e deu origem a um numeroso rebanho, com muito boas características econômicas. Aos poucos, todo o rebanho padrão, isto é, portador de chifres, foi sendo absorvido pelo crescente contingente mocho. Levado às Exposições, embora sem estarem inscritos no Registro Genealógico, os Mochos foram se tornando conhecidos e atraindo outros criadores. Crescendo o rebanho e aumentando o número de selecionadores, surgiu a necessidade de uma representação à ABCZ, no sentido da abertura de um Livro de Registro Genealógico para a nova Variedade. Foi nomeada uma Comissão, que estudou a questão e opinou favoravelmente à sua admissão no Registro Genealógico, a partir do ano de 1969. 

Numa justa homenagem ao fundador da Variedade, a ABCZ iniciou o trabalho de Registro, marcando com o número 1 o touro fundador; a vaca Simpatia, Grande Campeã de Uberaba em 1967, e melhor animal do Tipo Frigorífico, recebeu também

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o número 1 do Registro de fêmeas. 

Com o conveniente manejo do rebanho, a alta fertilidade e baixa mortalidade, o rebanho Mocho multiplicou-se rapidamente. 

Para uma avaliação do potencial do Nelore Mocho, é interessante verificar algumas de suas performances. 

Folguedo, bisneto de Caburey, é o recordista de Controle Ponderal da ABCZ, com um ano de idade, tendo pesado 455 kg, e aos 6 anos alcançou 1.095 kg. Mendigo, filho deFolguedo, é o recordista para os 2 anos de idade, quando pesou 722 kg; isso corresponde a uma carcaça de 26 arrobas. Outro animal de grande peso, nessa mesma idade, foi Burití do Oriente, de Noel de Souza Sampaio, com 686 kg. Esses reprodutores, superando os 1.000 kg na idade adulta, concorreram para o aumento de peso do Gado Mocho, qualidade indispensável numa raça de corte. 

A fertilidade do rebanho está sendo elevada através da seleção rigorosa. A reprodutora Flauta levantou o prêmio destinado à Melhor Eficiência Reprodutiva, em 1982, em Uberaba, por ter tido 13 crias em quatorze anos de vida reprodutiva. 

Outros resultados do trabalho seletivo podem ser apontados: os touros Fulminoso e Egípcio, neto e bisneto do fundador da raça, padreando vacas de chifres, dão somente bezerros mochos, demonstrando a sua prepotência e o grau de homozigose para esse caráter. Assim, os responsáveis pela seleção podem usar matrizes das melhores linhagens existentes, filhas e netas de genearcas indianos famosos, portadoras de qualidades desejáveis, para a obtenção de animais mochos de elite, o que permite multiplicar o rebanho Mocho e desenvolver a sua produtividade. 

Muitos produtos da seleção OB estão sendo levados para Centrais de Inseminação, ficando ao alcance de criadores de outras regiões e Estados que desejam partir para a exploração da Variedade desprovida de chifres. Sêmen desses touros tem sido levados para o Paraguai e para a Argentina, onde esse tipo de gado já tem os seus adeptos. 

Da Fazenda Santa Marina saíram alguns raçadores notáveis, como Monte Branco e Cangaceiro, de Francisco Jacinto da Silveira; Burití, primeiramente de Geraldo Ribeiro de Souza e depois de Joaquim Vicente Prata Cunha; Iran, de Frederico Chateubriand e muitos outros, nos novos plantéis da Variedade Mocha. 

Com uma excelente origem e seleção rigorosa, os Mochos da criação de Ovídio Miranda Brito Agropecuária têm monopolizado os prêmios e levantado campeonatos nas grandes Exposições de Uberaba e em outros centros, como São Paulo, Barretos, Goiânia, Campo Grande e Londrina. No ano de 1986 produtos com a Marca OB foram Grandes Campeões nas categorias de machos e fêmeas em Uberaba e Goiânia. 

Dentre os reprodutores atuais devem ser destacadosCalmante, da linhagem de Godhavari, Matão, que vem deKarvadi; Rastã, pesou 1.090 kg, filho de Marajá e Pítia, linhagem do Taj Mahal; Berílio, da linhagem de Nagpur;Bibelô, pertencente em partes iguais à Juan Carlos Wasmozy e a Geraldo Ribeiro de Souza. Vários deles estão na Pecplan, de onde vem o sêmen. Percebe-se o interesse em aproveitar descendentes dos principais raçadores importados em 1962, levando o seu sangue para o rebanho Mocho. 

Em sua última visita ao Brasil, o conceituado zootecnista sul-africano Jan Bonsma fez questão de deixar por escrito as suas impressões sobre a fazenda Santa Marina: 

"Os registros mantidos no estabelecimento são os mais completos e úteis que eu já

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vi em um rebanho de seleção. O manejo é absolutamente soberbo. O gado está em muito boas condições. As vacas são altamente férteis, sendo poucas as descartáveis por menor fertilidade e pouca habilidade materna. Para resumir, este é o melhor rebanho que eu já tive oportunidade de ver. O desenvolvimento é muito bom." 

"Eu desejo dizer que nunca vi um rebanho tão grande e tão bem controlado, como o da Fazenda Santa Marina. Em minhas 21 viagens à América do Norte e minhas 11 visitas à América Latina, nunca vi nada igual a este trabalho. Eu fico grato por ter tido a oportunidade de vê-lo." 

Evidentemente, os trabalhos que se desenvolvem na Fazenda de Araçatuba, de Ovídio Miranda Brito Agropecuária; na São Geraldo, em Presidente Prudente; na Maria Teresa, no Paraguai, e em algumas outras propriedades, explicam o extraordinário surto do Nelore Mocho, que tende a superar, numericamente, algumas raças trazidas da Índia. 

Vantagens da Ausência de Chifres

As vantagens de ausência de chifres são perfeitamente conhecidas dos que lidam com o gado. Os chifres são armas e, como tal, oferecem inconvenientes e perigos, seja pela agressão a indivíduos de mesma espécie, seja em relação ao próprio homem. 

O animal "costeado", protegido pelo sistema de criação intensiva, onde está a salvo dos inimigos naturais, não tem necessidade de arma de defesa. 

Os chifres têm o inconveniente de reduzir o número de animais nos vagões da estrada de ferro, nos caminhões ou em outros meios de transportes, especialmente quando eles são desenvolvidos. Nos currais, corredores e estábulos, as chifradas prejudicam o couro e determinam machucaduras que afetam a qualidade da carne. 

Uma das vantagens da descorna é o aspecto de uniformidade que dá ao rebanho, importante para as raças menos evoluídas, onde os animais apresentam maior diferenciação, como se observa em muitos rebanhos da raças Zebuínas, nas quais os indivíduos variam quanto à inserção, direção, forma e dimensões dos chifres. Eliminados estes, o conjunto adquire agradável homogeneidade. 

Em 1938 a Fazenda Indiana, em Piraí, iniciou a descorna sistemática de seu rebanho Nelore, medida logo adotada por alguns criadores em outras regiões do Brasil Central. Entretanto, o serviço de Registro Genealógico, considerando que o formato do crânio, a inserção e a forma dos chifres são elementos de importância fundamental para a classificação e identificação das raças Zebuínas, proibiu o registro de animais descornados e a praxe teve de ser abolida nas criações de gado puro. 

Surgiu, então, o interesse dos criadores em possuir rebanhos mochos, geneticamente, determinando a formação de variedades desprovidas de chifres, dentro da raça Nelore, seguida da Gir e planos para introduzir o fator mocho em gado Guzerá e no Indubrasil. Para essa orientação concorreu, ponderavelmente, a existência da nova raça Tabapuã, em que a ausência de chifres é a característica que primeiramente se destaca. 

Fonte: Alberto Alves Santiago - 100 anos de seleção Gado Nelore 

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 Sr. Ovídio Brito, filhos e amigos no ano de 1969 - marcação da vaca Simpatia OB , 1º registro Nelore Mocho Fêmea do Brasil.