histórias para serem contadas

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Público da Praça, boa noite! Somos os novos comediantes, cinco atores que vão de cidade em cidade, que vão de praça em praça, mas, sempre adiante! Se é certo que a vida do homem é uma estrela que dura apenas um minuto nesta infinita trajetória que é um dia do mundo, convenhamos que é também uma historia, uma pequena historia irrealizada que termina, às vezes, antes de começada. Uma pequena Historia para ser contada. A Comédia Italiana era outra coisa. Talvez fosse aquela época de rosas. Hoje, a flor se esfola contra o vento e o espinho se finca em nossas mãos, às vezes calejadas... E então o arrancamos! Às vezes por impulso, e naufragamos! A singela rota do Arlequim é hoje um bonde furioso, e o sorriso azul de Catarina, a esperança rosada de uma nova heroína: mãe, mulher, irmã, que, com um ponto de interrogação riscam o dia de manhã no nosso calendário. Mas nós sabemos, já que como atores sábios somos, sempre chega o sol até o cume de uma singela semente. Um pequeno homem não é mais que uma semente, e sua historia, uma historia singela. Nós existimos porque existem vocês. Suas historias nos pesam na alma e nossas mãos as choram. Lágrimas de muito além trazemos, e também um sorriso. E se algum de vocês, pais nossos, tem um sorriso para ser sorrido ou alguma lagrima que deva ser chorada, que se aproxime no final da jornada e nós, atores, cantores, chorões, palhaços, caçadores de estrelas. Sua historia contaremos lá, nas longínquas praças, sob o sol ou sob a lua, para ninguém ou para muitos. O importante é contá-la, e sua pequena historia tão guardada será outra Historia para ser contada. INDÚSTRIAS CRESCEM E A

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Programa do espetáculo "Histórias para Serem COntadas" no formato de um Jornal. 2007.

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Público da Praça, boa noite! Somos os novos comediantes, cinco atores que vão de cidade em cidade, que vão de praça em praça, mas, sempre adiante! Se é certo que a vida do homem é uma estrela que dura apenas um minuto nesta infinita trajetória que é um dia do mundo, convenhamos que é também uma historia, uma pequena historia irrealizada que termina, às vezes, antes de começada. Uma pequena Historia para ser contada. A Comédia Italiana era outra coisa. Talvez fosse aquela época de rosas. Hoje, a flor se esfola contra o vento e o espinho se finca em nossas mãos, às vezes cale jadas. . . E então o arrancamos! Às vezes por impulso, e naufragamos! A singela rota do Arlequim é hoje um bonde furioso, e o sorriso azul de Catarina, a esperança rosada de uma nova heroína: mãe, mulher, irmã, que, com um ponto de

interrogação riscam o dia de manhã no nosso calendário. Mas nós sabemos, já que como atores sábios somos, sempre chega o sol até o cume de uma singela semente. Um pequeno homem não é mais que uma semente, e sua historia, uma historia singela. Nós existimos porque existem vocês. Suas historias nos pesam na alma e nossas mãos as choram. Lágrimas de muito além trazemos, e também um sorriso. E se algum de vocês, pais nossos, tem um sorriso para ser sorrido ou alguma lagrima que deva ser chorada, que se aproxime no final da jornada e nós, atores, cantores, chorões, palhaços, caçadores de estrelas. Sua historia contaremos lá, nas longínquas praças, sob o sol ou sob a lua, para ninguém ou para muitos. O importante é contá-la, e sua pequena historia tão guardada será outra Historia para ser contada.

INDÚSTRIAS CRESCEM E A

a vida no grito e morria de dor de dente e até a do Chiquinho da Silva, que queria tanto se dar bem que acabou sendo cúmplice - “laranja” de um genocídio internacional. São eles culpados ou inocentes de seus destinos? Seja por um pão, ou por nosso próximo sonho, nosso sangue se derrama neste ringue.

Mesmo que essas historias

contadas pareçam estar

distante de nós ou sejam

pura invenção... São histórias, mas não ficções.

Um grupo de atores vai

de cidade em cidade, de

p r a ç a e m p r a ç a, representando histórias de pessoas comuns que conheceram. Desde a chegada da trupe com cenário, roupas e objetos coloridos, a praça vai v i r a n d o p a l c o d e tragédias, comédias e dramas mal percebidos do cotidiano. O jogo cênico revela um prisma absurdo do jogo da vida. Histórias como a do homem que virou cachorro, a do camelô que ganhava

Foi aberto inquérito internacional para apurar as origens da epidemia que atinge a maior população negra do planeta. Há fortes indicativos de que um produto alimentício exportado pela Intercontinental Corporation, seja carne de rato condimentada.

Shirley Amadeu, sobrinha de Onofre Calheiros, o milionário dos bingos, casou neste fim de semana com Chiquinho da Silva (emergente). Lua de mel? Buenos Aires, queridos!

A surrealista Geisa Gris Green vence concurso e parte hoje para Nova York.

A Companhia Inter-cont inenta l Bussnes & Manjare faz evento de l a n ç a m e n t o d e s u a campanha de desratização, mobi l izando ar t is tas e sociedade em prol de uma “Cidade Limpa”.

Em 2.004, o grupo Pombas Urbanas pousa em Cidade Tiradentes iniciando um convívio diário com uma comunidade distante duas horas do centro, habitada por mais de 350 mi l pessoas. Descobrimos uma população totalmente desamparada de seus direitos à saúde, ao trabalho, ao lazer e o acesso a Arte, porém, um território humano extre-mamente expressivo. Conhecemos muitas histórias do bairro, repre-sentativas da cidade e seus moradores e começamos a buscar os temas de nossa nova montagem, até nos depararmos com o dramaturgo argentino Oswaldo Dragún. O próprio Lino nos sugeriu o texto “Histórias Para Serem Contadas”para montá-lo futuramente, pois a decisão do grupo era de, nos primeiros anos, dedicar-se plenamente a estruturação do Centro Cultural. Em 2005, o grupo sofreu a perda de Lino e passou pelo momento mais difícil de sua história. Em 2006, o Movimento de Teatro de Rua de São Paulo conquista o apoio da Secretaria Municipal de Cultura para a realização de uma mostra de Teatro de Rua e decide homenagear Lino. O encerramento da “1ª Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas” feito em Cidade Tiradentes com mais de 200 atores desfilando ao som do Maracatu pelas ruas do bairro despertou no grupo uma

necessidade “em estado de emergência”de fazer teatro.Pensamos em muitos projetos, idéias que sempre cultivamos, mas a identificação com o texto de Dragún e a proximidade das histórias com o bairro Cidade Tiradentes não nos deixou dúvidas. Este seria o caminho a seguir! Em 2007, o texto completa 50 anos de existência mantendo profunda atualidade. A p a r t i r d e l e i t u r a s , d i s c u s s õ e s e improvisações, com a direção de Hugo Villavicenzio o grupo começou o trabalho de criação. Neste ponto encontramos o primeiro desafio:criar a partir de um texto pronto. Nos seus 15 anos junto a Lino, a criação do grupo teve por base a constante pesquisa sobre o ator, linguagem e dramaturgia que buscava encontrar a poética do ator para expressar a cidade. Agora, o ator deveria buscar a poética do autor, decifrar uma complexa linha narrativa que a todo instante alterna-se entre o tempo épico e dramático e ainda adaptar o texto criado para os palcos para a linguagem de teatro de rua. Foram nove meses de ensaios até a estréia. Dia 22 de setembro o bebê nasce tendo pai argentino, mãe brasileira, antepassados no Peru, Chile, Espanha e exames pré-natal feitos nas praças da Cidade Tiradentes. Diz que a parteira é uma índia que está vindo do Paraguai. Seja o que Deus ou Dionísio quiser. Sabemos que o melhor leite para esta criança será suas brincadeiras com o público na rua. Viva o Teatro!

lha em Cuba, México, V e n e z u e l a , P e r u , C o l ô m b i a , E s t a d o s Unidos, entre outros países. Em 1962 ganha o prêmio da Casa Das Américas pela obra “Milagre no mercado velho” e em 1966 ganha novamente o prêmio com “Heróica de Buenos Aires”. Resgata o Teatro Del Pueblo e funda o Teatro de La Campana. A partir de 1981 foi um dos p r o t a g o n i s t a s d o Movimento do Teatro Abierto, uma reação cultural contra a ditadura militar. Em 1988 criou e d i r i g i u a E s c o l a Internacional de Teatro da América Latina e do Caribe, em Havana - Cuba. Em 1996 volta para Buenos Aires para aceitar a direção do Teatro Nacional Cervantes onde organizou o Encontro Ibe ro -amer icano de Teatro.

O Dramaturgo Osvaldo Dragún nasceu em 1929 na província de Entre R í o s , A r g e n t i n a . Desenvolveu um teatro socialmente compro-metido, organizando o Teatro Independente em Fray Mocho. Em 1956 estreou sua primeira peça, “A peste chega de melos”, sobre a invasão da Guatemala. Em 1961 deixa a Argentina e traba-

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Desde janeiro 2004, o Instituto Pombas Urbanas dedica-se a estruturação do Centro Cultural Arte em Construção no bairro Cidade Tiradentes, onde tem criado oportunidades de desenvolvimento artístico e humano para uma comunidade repleta de jovens e crianças. O galpão que abriga o Centro conta atualmente com uma bi-blioteca comunitária, um cine-teatro, sala de aula, um espaço de inclusão digital, uma

sala de leitura. Semanalmente o Instituto e profissionais parceiros ministram cursos de teatro, música, canto, danças regionais, pintura em tela, graffite, artesanato, circo, informática, além de turmas de letramento e incentivo à leitura com crianças, um núcleo de rádio e de produção de fanzines. Diariamente, o Centro Cultural recebe cerca de duzentas pessoas.

Comunidade de Cidade Tiradentes, Núcleo Jovem de Teatro, Daniel Rojas, a Dona Vera, Cleidionéia de Oliveira Benedito, David Pereira, Toninho e todos os Amigos, Professores, Alunos e Voluntários do Centro Cultural Arte em Construção, Movimento de Teatro de Rua de São Paulo, Teatro União e Olho Vivo, Teatro Commune, Rede Argentores, Ednaldo Freire, Coorporacion Cultural Nuestra Gente, Carlos Celano, Comédia La Campana, Mauro Wrona, Fernando Peixoto, Nina, Tota, Eve 14, Hope, Sow, Credo, Marisa Pinto, Sr. Milton E Dona Vera Assumpção, Evelyn, Fernanda Matuda, Ricardo, Célio

Turino, Iara Gushi, Altemir Antônio de Almeida, Antenor Maschio, NOMADS-USP, Cooperjovem, Visual Design, M&M Contabilidade, Adriano Diogo, Roberto Malta, Edgard Picino, Yoshida, Sebrae-SP, Paulo Teixeira, Subprefeitura De Cidade Tiradentes, Coordenadorias De Educação De Itaquera E Guaianazes, Gerson Fontes, Via Tv Comunicações. Além Dos Queridos Zimbo, Xavier, Zamara E Roucinol, Lady Dá, Chiclete, Perfume, Kelly E As Comadres Nordestinas Efigênia E Quitéria Das Dô.

Um louco subiu no Expresso Tiradentes,

sete e meia da manha, olhou os

passageiros sentados, em pe e amontoados

e comecou a gargalhar. Apesar de ser muito

cedo, o clima no onibus era de desanimo. O

silencio sonolento do onibus lotado foi

cortado por aquela risada de escarnio, e em

seguida, este louco começou a pedir: -

Acorda gente! Ta todo mundo feliz que esta

indo trabalhar?! Acorda! Voces estao indo trabalhar e o filho de vocês vão ficar numa

escola imunda, sem aula, sem professor.

Acorda! Tem gente roubando vocês! Esse

novo no busão lotado, pra ver o filho de vocês dormindo e descansam um pouco

pra depois conseguir levantar. Acorda

gente! Pelo amor de Deus, vamos acordar! Todos desviavam o olhar e ouviam

calados as provocações. Perto do Parque

Dom Pedro, perto da hora de descer, uns

começaram a responder: - E isso ai, irmao!

- enquanto outros: - Cala a boca nóia, voce

que paga minhas contas?

Quando a pequena multidao desceu do

ônibus, o motorista e o cobrador foram

tomar cafe e todos ja se distanciavam