historiografia brasileira contemporânea

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Histria Unisinos 13(1):66-77, Janeiro/Abril 2009

2009 by Unisinos doi: 10.4013/htu.2009.131.06

Formas e problemas da historiograa brasileiraForms and problems of Brazilian historiography

Joo Miguel Teixeira de [email protected]

Resumo. Em sintonia com tendncias de estudos desenvolvidos na Europa e nos Estados Unidos, observam-se, no Brasil, uma ampliao e uma diversicao dos estudos e das reexes sobre a trajetria e as caractersticas da produo dos historiadores. L, bem como aqui, as reexes tericas aceleram-se em descompasso com a prtica cientca. Nesse sentido, o presente artigo prope uma anlise de dois estudos abrangentes a respeito da histria dos estudos histricos brasileiros, com o objetivo de identicar os parmetros e as diretrizes a partir dos quais concretamente so elaboradas as investigaes no campo da histria da histria. Prope tambm uma reexo sobre procedimentos com o objetivo de aperfeio-los e adequ-los s especicidades das fontes centrais dos estudos de historiograa, ou seja, as prprias obras dos historiadores. Palavras-chave: historiograa brasileira, metodologia, teoria da histria. Abstract. In tune with research trends in Europe and the US, in Brazil too there is a broadening and diversication of the studies and reections on the history and characteristics of the historians production. In both contexts the theoretical reections are ahead of the scientic practice. In this sense, the article analyzes two comprehensive studies on the history of Brazilian historical studies, with the goal of identifying the parameters and guidelines on the basis of which the investigations in the eld of historiography are concretely conducted. It also reects on procedures in order to improve and adjust them to the specicities of the major sources of historical studies, viz. the works of the historians themselves. Key words: Brazilian historiography, methodology, theory of history.

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Doutor em Histria Econmica pela Universidade de So Paulo. Professor Titular da Pontifcia Universidade Catlica de Campinas.

Comentando as vrias possibilidades daquilo que chama de mtodo dos estudos de histria da historiograa, Massimo Mastrogregori, historiador italiano, sugere uma tipologia que visa abarcar o conjunto da produo dessa linha de estudos. So identicados, ao todo, seis tipos: o bibliogrco-enciclopdico, o losco-pragmtico, o cientco, o retrico, o sociolgico e o sinttico (Mastrogregori, 2006, p. 65-66). Sem entrar em detalhes sobre as caractersticas de cada tipo sugerido, o critrio subjacente a essa proposta de classicao diz respeito aos modos como, em tais estudos, as obras dos historiadores so escolhidas e exa-

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minadas. A constatao da existncia de um leque amplo de possibilidades deve conduzir-nos a uma reexo sobre essa dimenso dos estudos de histria da historiograa, ou seja, sobre o que dene o mtodo nesse caso. Ou, mais precisamente, sobre quais so os elementos que compem o mtodo nesse campo de estudos que prope examinar a produo do conhecimento histrico na dimenso da temporalidade. Devemos chamar a ateno para o fato de que, embora os estudos sobre historiograa atravessem uma fase de ampliao nos ltimos tempos, a preocupao mais especca com os problemas metodolgicos desse campo no tem sido to frequente quanto o desejvel, ainda que seja possvel identicar esforos nesse sentido. Reexes como as propostas por Diehl, com uma obra j consolidada com questionamentos a respeito dos rumos e impasses da historiograa em geral e brasileira especicamente (Diehl, 1998, 2002, 2008), so exemplos disso. O mesmo ocorre com os textos e coletneas organizados por Malerba, preocupado em discutir o problema do estatuto do texto histrico e do lugar da crtica historiogrca como um dos fundamentos do prprio conhecimento histrico (Malerba, 2006, p. 11-26). A mesma preocupao percebemos na recepo atual de autores como Paul Ricoeur (1994), Koselleck (2006), entre outros. Autores cujas ideias e propostas de anlise do conhecimento histrico tm dado contribuies valiosas para um aperfeioamento dos parmetros e critrios a partir dos quais as obras dos historiadores so avaliadas, compreendidas e explicadas. Sobre essas contribuies voltaremos mais adiante. Mas h o risco, comum em outras linhas de pesquisa, do descompasso relativo, que muitas vezes percebemos entre as reexes tericas e os trabalhos de investigao mais concretos que caracterizam a prtica cientca. Nem sempre esse nvel reete a evoluo daquele, pois em muitos estudos sobre a historiograa persistem direcionamentos quase intuitivos no momento em que os autores partem para a escolha das obras, sua organizao e mesmo a crtica, muitas vezes expressando uma viso simplicadora das relaes entre autor, obra e meio. Diante desse quadro geral, propomo-nos a apresentar alguns pontos pertinentes sobre os problemas apontados. O esforo tem como objetivo corrigir o descompasso apontado, buscando incorporar as contribuies da reexo terica para a denio de orientaes mais pragmticas na realizao dos estudos de historiograa. A polissemia frequentemente apontada para o termo histria transfere-se, de certa forma, para historiograa. Alm do meramente literal escrita da histria , dois outros sentidos acabaram por se impor: reunio dos escritos de histria, inicialmente, mas tambm ramo do conhecimento histrico dedicado a recompor e a analisar a trajetria e as condies de possibilidades do prprio

conhecimento histrico atravs de suas obras. Recompor ou reconstituir a trajetria de uma forma de conhecimento exige uma abordagem que leve em conta sua dimenso temporal. Sendo assim, o foco deve ser direcionado para os movimentos de rupturas e continuidades, retomadas, superaes, incorporaes e rejeies. A anlise exige a reexo sobre as condies de surgimento e a determinao de suas possibilidades. O objetivo alcanar uma recomposio analtica. Trata-se da tentativa de vericar seriamente a hiptese segundo a qual algum tipo de nexo explicativo pode ser estabelecido entre a produo cultural e o contexto mais amplo que a envolve, j que a busca das evidncias de tal relao, entre as ideias e os lugares, como sugere Certeau (1982), foi incorporada como ferramenta constitutiva do ofcio do historiador. O surgimento da historiograa, no segundo sentido apontado, ou seja, histria da histria e como campo autnomo no interior do conhecimento histrico, costuma ser datado do incio do sculo XX, a partir da obra do historiador suo Eduard Fueter. Mas sua trajetria nas historiograas nacionais europias foi, pelo menos aparentemente, incerta. Carbonell, especialista francs em estudos de historiograa, aponta no incio dos anos oitentas certo desprestgio ou baixo interesse desses estudos entre os historiadores de seu pas, alm de considerar inadmissvel a ausncia de um trabalho de flego nessa rea, at aquele momento, na Frana. O alerta e os apelos de Carbonell tiveram, ao que tudo indica, boa acolhida desde ento. A partir desse momento, os estudos de historiograa ingressaram numa rota de ampliao quantitativa e qualitativa. Podemos indicar, sucintamente, alguns fatores decisivos que certamente contriburam para esse novo momento. Antes uma breve observao. Armamos acima o carter recente dos estudos historiogrcos. Na realidade, a prtica de tecer comentrios sobre as obras dos pares no constitui propriamente uma atividade nova no campo do ofcio do historiador. Vem sendo cultivada, pelo menos, desde a antiguidade clssica, como demonstra Silva (2001). Como linha de trabalho e investigao especca, com a preocupao correlata de desenvolvimento e apuro de conceitos e mtodos adequados, data certamente do incio do sculo XX, a partir de Eduard Fueter, citado acima. Forastieri prope, nesse sentido, uma diferena entre empenhos historiogrcos e estudos propriamente de historiograa. Mais recente ainda sua expanso ou modismo, fora e dentro do Brasil, facilmente constatado nos catlogos das publicaes atuais na rea de histria. Voltando ento aos fatores. Sem a pretenso de estender demais esse ponto, o fato que o surgimento e a preocupao mais sistemtica dos historiadores, no sculo XX, com a trajetria de sua disciplina, traduziamHistria Unisinos

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uma estratgia de aproximao e distanciamento diante de uma tradio de pensamento que, rejeitando as bases racionalistas do conhecimento histrico, acabou por desenvolver uma viso essencialmente pessimista a respeito das pretenses de formular os parmetros tericos fundadores da cincia histrica (Fontana, 1998). Os antecedentes dessa postura podem ser buscados tanto em pensadores como Benedetto Croce, para quem toda histria histria contempornea, ou mesmo em Nietzsche de Da utilidade e dos inconvenientes da histria para a vida (Nietzsche, 1976, p. 101-206). De qualquer maneira, essa linha de pensamento foi se consolidando a partir dos anos trintas e quarentas com Raymond Aron, passando por Henri-Irne Marrou e Paul Ricoeur nos anos cinquenta; Michel Foucault, Paul Veyne e Michel de Certeau nos anos sessentas e setentas; Hayden White, nos anos setentas e oitentas, entre outros (Boutry, 1998, p. 65-78). Os historiadores convergiram para esse pensamento e dele divergiram. A aproximao forneceu parte do equipamento blico utilizado pelos historiadores empenhados na crtica da historiograa acadmica dominante no sculo XIX. Fosse ela chamada de positivista, historicizante, metdica, liberal, romntica: no importa. O distanciamento ocorreu medida que esses mesmos historiadores nutriam a crena na possibilidade de fundar a cincia histrica em outras bases, aproximando-a do conjunto das cincias sociais. Penso que a coletnea de textos que melhor exemplica o que acabamos de armar Combates pela histria de Lucien Febvre (1985). A crtica historiogrca estava profundamente orientada pela necessidade e pelo projeto de armao de uma ruptura seguida de refundao e defesa das concepes do grupo ascendente na historiograa francesa. Pode-se reconstituir a partir desses textos todo processo de construo de um projeto historiogrco assentado numa relao de divergncia e convergncia com as cincias sociais, com o marxismo, com a crtica da losoa, com a Escola Metdica e outras tradies tericas. Outra fonte de inspirao que certamente fez diferena na renovao dos estudos de historiograa vem da tradio marxista. Por um lado, pela nfase nas articulaes entre realidade objetiva e formas de pensamento, entre as aes humanas e o conhecimento. Por outro lado, pelo prprio percurso intelectual de Marx e seus debates permanentes com as escolas de pensamento coevas. A compreenso tradicional segundo a qual o pensamento de Marx constri-se a partir da fuso de elementos originrios da losoa alem, da economia poltica clssica inglesa e do socialismo francs foi criticada por autores como Josep Fontana, por exemplo, que sugere, emVol. 13 N 1 - janeiro/abril de 2009

substituio, uma viso de que Marx no realizou apenas uma mera fuso de contribuies esparsas, mas construiu um marco interpretativo novo. Realizou um trabalho sistemtico de crtica, sntese e superao das tradies de pensamento existentes sem deixar, entretanto, de incorporar suas contribuies, situando-as dentro de uma nova arquitetura terica global (Fontana, 1998). Por fim, mas no menos importante, os anos noventas foram marcados por um conjunto de debates reunidos sobre a expresso geral de crise da histria, uma crise dos paradigmas, das grandes racionalizaes e dos princpios culturais gerais sobre os quais nossa sociedade se constituiu, a partir do triunfo do racionalismo moderno (Touraine, 1994). Muitos trabalhos de anlises das obras histricas, balanos crticos, revises de rumos e tendncias surgiram nesse perodo imbudos do propsito de Em defesa da Histria (Wood e Foster, 1999), de rearmao da identidade ameaada dos historiadores (Boutier e Julia, 1998), combates e rearmaes de posicionamentos e propostas (Chartier, 1994). No caso do Brasil, penso que podemos distinguir trs momentos gerais, com signicados distintos, de surgimento e expanso dos estudos de historiograa. O primeiro destaca-se pela presena importante, mas isolada, da obra de Jos Honrio Rodrigues. Tal isolamento deveuse, poderamos sugerir, por um lado, ao carter incipiente da produo de obras histricas entre ns, e, por outro lado, ao fato de o nascimento da produo acadmica entre ns no ter dependido de um trabalho prvio de crtica sistemtica e superao das obras e interpretaes gestadas no interior dos Institutos Histricos e Geogrcos. No dependeu exclusivamente disso, pelo menos no tanto quanto dependeu das inuncias e orientaes externas das Escolas Europias. Num certo sentido, a crtica da chamada histria tradicional foi importada na ntegra da Europa, necessitando de pequenos retoques de aclimatao local. Um segundo momento pode ser situado no nal dos anos setentas. Trata-se de um momento em que vrios estudos de historiograa surgiram elaborados por prossionais universitrios: o de Pedro de Alcntara Figueira (1973), de Maria Odila da Silva Dias (1974) sobre Southey; o de Jos Roberto do Amaral Lapa (1981) A histria em questo; Maria de Lourdes Mnaco Janotti (1977) sobre Joo Francisco Lisboa; o de Raquel Glezer (1977) sobre Jos Honrio Rodrigues; o de Carlos Guilherme Mota (1977), Ideologia da cultura brasileira; o de Sergio Miceli (1979), Intelectuais e classe dirigente no Brasil (1920-1945), entre outros. Apesar de alguns desses estudos trazerem uma preocupao de carter mais acadmico, contendo reexes metodolgicas, por exemplo, predomina certa inteno de pensar o papel e a insero dos intelectuais na ordem pol-

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tica, dadas as circunstncias histricas pelas quais passava a sociedade brasileira. Como trabalhos representativos de um terceiro momento, a partir dos anos noventas, pode-se mencionar obras coletivas como Domnios da histria, organizada por Cardoso e Vainfas (1997); Historiograa brasileira em perspectiva, organizada por Freitas (2000); o trabalho de Fico e Polito (1992), A Histria no Brasil (19801989); o de Arruda e Tengarrinha (1999), Historiograa luso-brasileira contempornea; o de Iglsias (2000), Os historiadores do Brasil: captulos de historiograa brasileira, entre inmeros outros trabalhos, desde artigos publicados em peridicos at a produo estrangeira publicada em volume crescente no Brasil nestes ltimos anos. Nesse momento, diferentemente dos anteriores, percebem-se um debate e uma tentativa de dilogo entre matrizes tericas e interpretativas distintas que dividem, nem sempre de maneira discreta, a comunidade dos historiadores a respeito do conhecimento histrico e do sentido da trajetria da sociedade brasileira. Gostaria de chamar a ateno para apenas dois problemas suscitados pela leitura da produo mencionada acima. Cristalizou-se certa periodizao organizadora dos movimentos, ritmos e mudanas desse universo de obras que denominamos, de maneira geral, historiograa brasileira. Fala-se de uma fase marcada pelos escritos dos cronistas coloniais, sucedidos pela produo ligada ao Instituto Histrico e Geogrco, criado em 1838, e um terceiro momento, com incio na dcada de 1930, com a produo universitria. O segundo problema relaciona-se com o modo como tais estudos esto estruturados. possvel identicar, nesse conjunto muito variado em termos de recortes e abordagens, elementos que se repetem, exigncias comuns, procedimentos similares, balizamentos tpicos, porm nem sempre explicitados, mas a partir dos quais poderamos arriscar uma reexo de carter mais metodolgico. As duas dimenses ou problemas, como chamamos aqui surgem de formas distintas nos vrios trabalhos acima mencionados. Selecionamos apenas dois como exemplos das diculdades e impasses gerados muitas vezes pela ausncia de uma reexo mais especca sobre elas. O objetivo desse artigo, nesse sentido, realizar uma anlise das obras selecionadas luz desses problemas. As obras foram escolhidas em funo da proposta de sntese geral da trajetria da historiograa brasileira que elas contm. Trata-se de Historiadores do Brasil: captulos de historiograa brasileira de Iglsias (2000); e Historiograa luso-brasileira contempornea de Arruda e Tengarrinha (1999). Francisco Iglsias, logo na introduo de seu trabalho, expe o que entende por histria e historiograa. Histria uma cincia e uma prosso. uma cincia

porque reete um conhecimento construdo com rigor a partir do emprego racional de tcnicas e mtodos especcos. uma prosso porque seu exerccio depende de formao universitria. Tal estatuto, entretanto, recente. O conhecimento histrico no nasceu nem como cincia nem como prosso, tornou-se ambas as coisas a partir de uma trajetria especca, mas cujo desfecho no pode servir de critrio de reconstituio do processo. J os estudos de historiograa traduzem um esforo de mapeamento de produo histrica, permitindo a apreenso do quanto foi feito e o muito que h para ser feito (Iglsias, 2000, p. 19), das conquistas e das insucincias (Iglsias, 2000, p. 22). Nesse sentido, os estudos historiogrcos integram o conjunto maior das chamadas obras de referncia, acompanhando os dicionrios, guias, repertrios bibliogrcos etc. Sua utilidade decorre do modo como se insere no processo de construo da cincia histrica: ao mesmo tempo reexo desse processo, j que sua existncia depende da presena de uma massa crtica ou volume expressivo de obras, mas igualmente fator de aprofundamento e acelerao dele. Historiograa possui um valor instrumental para o conhecimento histrico e como tal no poderia tornar-se um campo de especializao, mas ferramenta inerente ao ofcio do historiador. Historiograa impese como fator de prossionalizao e aprofundamento da cienticidade do conhecimento histrico. Possibilita saltos qualitativos no processo de construo da cincia. Seria essa uma concluso possvel da leitura da primeira parte da Introduo de Iglsias. Duas outras informaes encontramos na Introduo. Em primeiro lugar, um comentrio geral e sucinto sobre outros trabalhos voltados para o balano e a anlise da produo histrica, que menciona a importncia de vrias obras e autores, entre eles Jos Honrio Rodrigues, mas no faz uma avaliao crtica desse autor. Distingue os trabalhos que se limitaram a um simples levantamento do material existente de outros que buscaram uma anlise crtica. Aponta, por m, equvocos cometidos em algumas tentativas de periodizao, como a de Slvio Romero. Em segundo lugar, prope ele mesmo uma periodizao para a historiograa brasileira dividida em trs momentos: dos primeiros dias at a criao do Instituto Histrico e Geogrco Brasileiro, ou seja, 1500 a 1838; de 1838 a 1931, ano da reforma do ensino de Francisco Campos, criando as faculdades de educao, cincias e letras; e de 1931 a nossos dias. O esquema pressupe uma classicao da produo: crnicas e fontes para o primeiro perodo; obras de histria feitas por amadores ou autodidatas para o segundo momento; e produto cientco de prossionais formados para o terceiro. Gostaria de propor uma forma possvel de avaliao da obra de Iglsias a partir de um confronto entreHistria Unisinos

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o proposto na Introduo e o efetivamente realizado no corpo da obra. A Introduo contm concepes, promessas, mas tambm ausncias que suscitam dvidas. O modo, por exemplo, a partir do qual selecionou do conjunto dos escritos existentes aqueles que julgou mais representativos e que melhor retratariam as caractersticas e tendncias da historiograa brasileira no cou explicitado. Quais os critrios orientadores desse julgamento e da seleo da amostragem? Oitenta nomes de autores aproximadamente. A ausncia de clareza na exposio dos critrios no signica dizer ausncia de critrios. Embora no texto da Introduo o autor no discuta o assunto, ele o faz no incio do terceiro momento: mesmo sem ser exaustiva, procurou-se xar a sua imagem, com evidncia de alguns nomes e obras notveis e uma produo mdia de relativo ou pequeno valor (Iglsias, 2000, p. 183). A apresentao desses critrios ocorre exatamente no momento em que sero abandonados, cedendo todo espao apenas para as guras excepcionais. Independentemente disso, a pergunta sobre os motivos que teriam levado o autor a realizar suas escolhas das obras mais representativas, mdias ou excepcionais permanece sem resposta. Podemos, nesse caso, refazer a pergunta: qual o critrio de montagem do elenco de autores e obras nos trabalhos que no explicitam esses critrios? No momento consigo imaginar dois: preferncia pessoal e incorporao do cnone, ou seja, daquilo que se estabeleceu tradicionalmente como representativo. Mas, sendo assim, uma dimenso fundamental dos estudos de historiograa no escaparia de um controle mais racional, de uma regulao metdica, como diria Rsen (2001), comprometendo a prpria cienticidade do trabalho? Nesse ponto se fazem sentir os efeitos da relativa ausncia de um aprofundamento conceitual. Denir histria como cincia e prosso o famoso caso do necessrio, porm no suciente. A questo justamente demarcar aquilo que seria especco do conhecimento histrico no conjunto das cincias humanas. No teramos aqui, pergunto, uma referncia inicial no trabalho de seleo e mesmo classicao do elenco de obras e autores? Isso certamente facilitaria de maneira signicativa a elaborao do trabalho na hora de distinguirmos os textos entre fontes, crnicas e histria, bem como a relao desta com as outras reas do conhecimento. Outra diculdade ainda relativa denio do universo de obras e autores que se pretende estudar advm da falta de uma denio precisa do que se entende por historiograa brasileira. Brasil aqui signica um lugar ou um tema? Compe a historiograa brasileira aquele conjunto de obras e autores cujas pesquisas e estudos se dedicam a decifrar aspectos e problemas da realidade brasileira, independentemente do seu lugar de origem; ou aquele conjunto de autores de nacionalidade brasileira, masVol. 13 N 1 - janeiro/abril de 2009

cujos temas e campos de trabalho dizem pouco respeito histria do Brasil? A resposta questo torna-se decisiva na incluso ou excluso da historiograa brasileira do conjunto de escritos que hoje denominamos cronistas coloniais ou os chamados brasilianistas, por exemplo. Francisco Iglsias incluiu na sua lista alguns estrangeiros que escreveram sobre o Brasil, mas no os brasilianistas tal como os identicamos a partir da dcada de 1960. Incluiu, porm, os cronistas coloniais. Entretanto, como sabemos, a colnia portuguesa no era o Brasil, e os chamados cronistas no eram brasileiros. Penso que as motivaes presentes nessas escolhas no poderiam ser consideradas evidentes por si mesmas, de modo que os processos de montagem, de denio e de composio do elenco de obras nos estudos historiogrcos, primeiro passo nesse tipo de trabalho, exigem preciso e clareza de critrios. Do ponto de vista do esquema classicatrio e que se desdobra numa proposta de periodizao, alguns comentrios poderiam ser feitos. Os marcos temporais escolhidos apontam para mudanas ocorridas no mbito institucional (1838 e 1931), porm o mesmo no ocorre com 1500, marco poltico sobretudo. Mas como denir marcos institucionais para uma produo assistemtica como a produo dos cronistas coloniais? Talvez a soluo estivesse em no os considerar como um perodo especco e sim como um problema a ser discutido. No podemos consider-los como o nascimento da historiograa brasileira, primeiro porque no escreviam textos de histria e segundo porque no eram brasileiros. Entretanto, no se pode simplesmente ignorar o fato de o Brasil ser uma nao que se constituiu a partir dessa base colonial. No podemos inclu-los e tampouco exclu-los. Mas podemos discutir o assunto e explicitar a questo. No se pode, na verdade, ignorar que existe a um problema. Em certo sentido, o mesmo ocorre com os brasilianistas. Mas a questo fundamental que o plano proposto e declarado por Iglsias no corresponde exatamente ao plano executado no corpo do trabalho. A leitura do texto com o objetivo de explicitar a estrutura da argumentao nos revela um sentido diferente daquele exposto na introduo. Nesse plano, a presena de Varnhagen assume uma posio central. Os temas tratados antes do surgimento da obra de Varnhagen parecem concorrer para seu surgimento. De um lado, temos a produo de escritos do perodo colonial, sados das observaes e relatrios de membros da igreja ou da burocracia estatal, bem como de viajantes. Mais fontes e crnicas do que historiograa propriamente dita; produo assistemtica, episdica, dispersa e de valor e qualidade variada, segundo Iglsias. Conjunto de escritos encontrados, preservados e publicados sobre o patrocnio do Instituto Histrico e Geogrco Brasileiro, criado em 1838 num contexto de formao do estado

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nacional aps o processo de Independncia de 1822, e que teria possibilitado um passo importante no processo de institucionalizao da pesquisa histrica no Brasil. O projeto de organizao racional dessa massa documental e a proposta de uma sntese interpretativa de seu sentido e arranjo numa histria nacional coerente formularam-se originalmente a partir da proposta do naturalista alemo Karl Friedrich P. von Martius, que vencera concurso proposto pelo IHGB em 1840. De modo que teramos todos os ingredientes necessrios confeco da histria da nao: um contexto poltico e ideologicamente favorvel, a existncia de fontes preservadas, minimamente organizadas e com uma articulao institucional prvia, e um plano de trabalho e sntese. O passo seguinte consistiria na elaborao da obra, e esse passo foi dado por Varnhagen. Concluso de tendncias que a antecederam, a obra de Varnhagen teria se tornado tambm referncia obrigatria para as tendncias que a sucederam. Depois de Varnhagen, teramos o seguinte esquema classicatrio: crnicas histricas; eruditismo; obras modernas; historiadores episdicos; e a obra de Manuel Bonm, que no se encaixaria em nenhum dos grupos acima. Portanto, na estrutura argumentativa de Iglsias, esse o marco periodizador da historiograa brasileira e como tal possuiria a capacidade de atribuir sentido a um conjunto de eventos e movimentos anteriores e posteriores, antecedentes e consequentes. O contedo, portanto, dos dois primeiros perodos da historiograa brasileira poderia ser traduzido nesse processo de identicao das condies necessrias ao surgimento da obra de Varnhagen, seu surgimento efetivo e as tentativas de prosseguimento ou superao dessa matriz interpretativa. O problema maior desse esquema classicatrio a mistura de critrios: ideolgicos, caractersticas internas do discurso, regularidade da produo etc. Percebe-se igualmente uma proposta de avaliao essencialmente evolucionista. Do ponto de vista de sua estrutura, os estudos de historiograa reetem um processo de delimitao de uma amostragem de obras signicativas, a organizao dessas obras em grupos e subgrupos a partir dos quais um dos desdobramentos uma proposta de periodizao e, por m, certa maneira de avaliao crtica desses trabalhos. O modo de avaliao o aspecto a partir do qual se podem propor diferentes modalidades de trabalho dentro dos estudos de historiograa; o que diferencia o simples repertrio bibliogrco, do balano crtico e da histria da histria. Nesse aspecto, a obra de Iglsias vai alm do balano crtico, ou seja, no se limita elaborao de resenhas das obras, apontando suas dimenses metodolgicas e linhas interpretativas, mas procura restabelecer os nexos complexos entre obra, autor e sociedade, embora algumas diculdades estejam presentes. Apenas brevemente pode-

ramos citar a avaliao que faz da obra de Frei Vicente de Salvador, de um lado, e Sebastio Rocha Pita, de outro. Apesar de uma srie de observaes interessantes e pertinentes, acaba por apontar a presena num e ausncia em outro de um sentimento nacionalista. Para o sculo XVII e XVIII tais observaes vo se aproximando do anacronismo. Mas nesse ponto possvel perceber o sentido mais geral da historiograa brasileira, tal como prope Iglsias. No primeiro e segundo perodo teramos a montagem de uma matriz interpretativa conservadora, cujo momento fundador se encontra em Varnhagen. O terceiro perodo, a produo universitria, captulo no concludo pelo autor, parece querer esboar a possibilidade de construo de outra matriz interpretativa, mais progressista, mais radical, que retome momentos episdicos de rebeldia intelectual e construa uma tradio de pensamento e elaborao de uma cincia histrica que supere o legado de conservador. No seria um exerccio difcil apontar problemas e ausncias na reconstruo e anlise que Iglsias faz da produo universitria, na qual muito pouco da produo histrica aparece de fato. Mas no faremos isso aqui. Gostaramos de chamar a ateno para um aspecto que justamente a ausncia na reconstituio da trajetria da histria acadmica dos peridicos e necessrios balanos crticos, elementos imprescindveis, como nos alerta na sua Introduo, de avano e progresso da cincia histrica. Do ponto de vista geral, o trabalho de Iglsias reete uma tentativa de avaliao da trajetria da historiograa brasileira a partir de critrios que tm origem na dimenso poltica e ideolgica desse processo. Ou seja, de um lado, trata-se de identicar o processo de construo de uma matriz conservadora presente de maneira dominante na viso do passado que se tem no Brasil. Por outro lado, buscam-se os indcios e as possibilidades de superao dessa matriz. Essa politizao da anlise insere o trabalho de Iglsias muito mais na segunda fase dos estudos de historiograa no Brasil, como apontado no incio, do que na terceira fase. Trata-se de uma reexo que no se orienta a partir dos debates entre paradigmas rivais tpicos do terceiro momento. O contrrio j ocorre com o trabalho de Arruda. O ensaio uma reconstituio da historiograa brasileira a partir dos debates e controvrsias atuais dessa rea de conhecimento. Abre o texto um captulo conceitual, que dene com bastante preciso o conceito de histria e historiograa. Em seguida, buscam-se apreender a trajetria e as etapas dos estudos sobre a historiograa brasileira, desde os trabalhos de Jos Honrio Rodrigues at o nal da dcada de 1990. O exerccio propriamente de histria da histria envolve os captulos trs, quatro e cinco, denominados a pr-histria, o nascimento e aHistria Unisinos

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consolidao da moderna produo histrica no Brasil. O ensaio termina com um balano crtico da produo dos brasilianistas e da produo acadmica dos ltimos trinta anos no Brasil. Uma leitura atenta do ensaio revela os problemas recorrentes dos estudos de historiograa: a escolha das obras, a denio de suas etapas evolutivas e o vis analtico que se pretende adotar. As solues apresentadas por Arruda sobre esses aspectos so interessantes, mas no esto isentas de problemas. Vejamos alguns pontos. No captulo inicial, o conceito de histria denido como um tipo de conhecimento que tem especicidades e que busca a compreenso de mltiplos aspectos do acontecer humana: o das prticas dos sujeitos e suas signicaes e o da realidade objetiva (Arruda e Tengarrinha, 1999, p. 12). Nesse sentido, no h uma identicao estreita com um perl prossional especco. Isso relevante observar porque, no corpo do texto em que o autor reconstitui a trajetria da produo histrica no Brasil, a formao dos autores e do prossional do conhecimento adquire uma posio central nos esquemas de classicao e periodizao da produo. Diz Arruda: Encerrada a fase dos historiadores eruditos/autodidatas, era a vez dos prossionais do saber especco, pesquisadores e professores formados nos quadros universitrios. Convivem ainda nesse perodo (1930-1970) pensadores do velho estilo, mas extremamente inventivos [...] (Arruda e Tengarrinha, 1999, p. 41). Nesse sentido, a chamada pr-histria da produo histrica articula-se com o prossional erudito/ autodidata; o perodo de nascimento com o convvio autodidata e universitrio; o perodo de consolidao com o prossional universitrio. Outro aspecto que chama a ateno o modo como resolve o problema dos chamados cronistas coloniais. Diferentemente de Iglsias , Arruda no inclui esse elenco de obras no seu estudo. Nesse aspecto, a diferena entre os dois autores gritante. Enquanto para Iglsias trata-se da primeira etapa da historiograa brasileira, para Arruda no se trata de historiograa e tampouco pertence ao Brasil: num largo espao de tempo que vai do sculo XVI ao XIX, identicado condio colonial do Brasil, praticamente no h obras de histria que atendem aos requisitos mnimos para merecerem esta catalogao (Arruda e Tengarrinha, 1999, p. 17). Exatamente o contrrio acontece com os chamados brasilianistas. No trabalho de Iglsias constam algumas menes muito pontuais, enquanto em Arruda e Tengarrinha h um captulo especicamente dedicado a esses autores. Do ponto de vista dos comentrios e anlises sobre as obras, h uma preocupao em estabelecer uma articulao com os processos mais abrangentes da vida social e poltica brasileira. Nesse aspecto, apesar da abrangncia doVol. 13 N 1 - janeiro/abril de 2009

perodo estudado e do carter necessariamente introdutrio das avaliaes propostas, percebe-se uma preocupao em evitar reducionismos, mas enfatizar as correlaes entre movimentos da sociedade e mudanas na esfera do pensamento e do trabalho intelectual. Entendo que aqui haja um avano em relao ao texto de Francisco Iglsias, uma vez que a apresentao dos contextos histricos no incio de cada perodo proposto pouca relao tinha com as anlises e comentrios sobre as obras. O texto de Arruda desemboca num ensaio crtico sobre as tendncias e as perspectivas da historiograa brasileira acadmica nessa passagem do sculo XX para o XXI. O modo como v esse momento condicionou de certa forma o captulo anterior de reconstituio histrica, pois o cenrio atual, tal como foi desenhado pelo autor, marcado fundamentalmente por uma diviso e por um debate entre os historiadores prossionais. Cenrio no qual se podem identicar dois grupos com concepes distintas, s vezes antagnicas, a respeito do que o conhecimento histrico, sua funo social e os procedimentos mediante os quais ele produzido. Mas a clivagem no traduz apenas divergncias tericas e polticas, mas tambm possui uma dimenso geracional e desdobra-se, muitas vezes, no terreno de conitos em torno daquilo que chama poder historiogrco, ou seja, a ocupao de lugares institucionais e polticos estratgicos na produo e reproduo de certa concepo terica. Por um lado, uma tradio historiogrca marcada sobretudo pela viso de totalidade, ou seja, a idia de que o trabalho do historiador, naquilo que tem de mais especco, denese pela tentativa de reconstituir, de maneira analtica e interpretativa, as conexes, as relaes, as articulaes que se estabelecem entre o nvel de conscincia dos atores e o sentido objetivo de suas aes, tal como prope Lucien Goldman (1984), e entre as vrias esferas que compem a existncia e seus vrios nveis de realidade. So as relaes entre as coisas, mais do que as prprias coisas, que interessam. A busca da lgica das relaes , portanto, a busca da sntese. Totalidade aqui no traduz a somatria entre as partes, mas sim sua sntese. De outro lado, a jovem guarda da historiograa acadmica marcada principalmente pelo abandono da preocupao com as macroestruturas e nfase nas experincias individualizadas e nas pequenas racionalidades. O ensaio termina com uma proposta de dilogo produtivo entre as duas vertentes, mas que poderia tambm ser visto como uma proposta de conciliao ou rendio, dependendo do ponto de vista. O fato que a posio de Arruda, prxima da primeira vertente, informa diretamente os critrios a partir dos quais se deram a avaliao e a denio das etapas da historiograa brasileira. O nascimento da historiograa acadmica aparece como um desdobramento das grandes

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snteses e propostas interpretativas de autores como Caio Prado Jr., Srgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, entre outros. Tais obras teriam apontado veredas e aberto possibilidades que foram objeto de investigaes de carter mais monogrco, tpicos da academia. Verticalizaes que propunham reformulaes muitas vezes das grandes snteses, mas no as negavam. Na avaliao de Arruda, foi justamente esse tipo de articulao no trabalho acadmico que teria sido abandonado, ou colocado sob suspeita, por alguns historiadores da nova gerao. Decorrem da leitura e da discusso do trabalho de Iglsias e de Arruda, alm de outros que poderiam ser objeto de um estudo comparado, algumas concluses que poderiam contribuir para o avano dos debates sobre aspectos metodolgicos dos estudos de historiograa, bem como sobre o modo com que vem sendo estudada a trajetria da historiograa brasileira. Em primeiro lugar, vamos ao problema metodolgico. Grande parte das obras de historiograa, incluindo as duas analisadas acima, problematiza em algum momento e de alguma forma a natureza e as funes dos estudos de historiograa; todos os autores igualmente respondem necessidade de seleo e de escolha de obras a serem lidas e analisadas; todos propem formas mais ou menos coerentes de classicao, organizao e periodizao das obras escolhidas; todos, por m, constroem uma proposta de crtica e de avaliao das obras selecionadas. Essa avaliao j est presente nos critrios de escolha e ordenamento, mas explicita-se no conjunto de comentrios a respeito do valor intrnseco e circunstanciamentos das obras. desnecessrio dizer que os breves comentrios acima no tiveram como objetivo apontar possveis problemas nas obras comentadas, desmerecendo seu valor. A escolha dos dois trabalhos deve-se ao reconhecimento de sua importncia como exemplos relevantes que nos serviram como fontes a partir das quais se procurou detectar dimenses e problemas inerentes aos estudos de historiograa. De qualquer maneira, alguns problemas de carter conceitual e tcnico poderiam ser mencionados e discutidos com o objetivo de contribuir para o aperfeioamento dessa rea de estudos. Alguns historiadores brasileiros vm, com maior frequncia, chamando a ateno para a escassez de uma elaborao metodolgica especca nos estudos de historiograa. Poderamos citar Raquel Glezer, num trabalho sobre a obra de Jos Honrio Rodrigues (Glezer, 1977), Janotti (1977) e Novais (2005), que vm indicando, em textos variados, em entrevistas e cursos, alguns parmetros bsicos no exerccio de avaliao e construo de textos de anlise da historiograa. O fato que muitos desses problemas de carter mais tcnico e metodolgico so compartilhados com as outras reas da historiograa acadmica mais tradicional.

Trata-se dos problemas relativos ao processo de escolha e seleo das fontes de informao, da matria-prima do trabalho do historiador, bem como dos procedimentos analticos a que devem ser submetidas tais fontes. No campo dos estudos de historiograa, aparentemente, o pesquisador encontra-se numa posio vantajosa em relao aos colegas que se dedicam a explorar os outros territrios do conhecimento histrico, uma vez que, supostamente, o material de pesquisa de onde as informaes so extradas e trabalhadas , ou seja, o conjunto dos escritos produzidos pelos historiadores, encontra-se denido previamente e constitui um material pronto e sua inteira disposio. Entretanto, nada mais falso que isso. Ainda que se pretenda estudar a obra de um historiador, ou as obras de histria acerca de um determinado assunto, ou de um determinado lugar ou instituio, a tarefa pressupe clareza e objetividade na denio sobre o que se entende por obra de histria, por conhecimento histrico e por historiador. Sempre resta o recurso ao enquadramento institucional, uma soluo aplicada apenas a partir do sculo XIX. Aps esse perodo, devido ao processo de institucionalizao da prosso de historiador acompanhado da denio de um conjunto de regras e procedimentos de crtica das fontes, o problema da denio sobre o que o conhecimento histrico e o historiador estaria supostamente resolvido. Historiador um prossional formado para o exerccio de uma funo especca, orientado por regras especcas de um ofcio. Histria, por sua vez, um tipo de conhecimento resultante da aplicao desse conjunto de operaes tcnicas. Nessa linha de pensamento, o critrio do autor se sobrepe ao critrio das caractersticas do discurso na denio de conhecimento histrico. A questo mais imediata que surge, a partir desse entendimento, refere-se seleo das obras de histria produzidas antes do sculo XIX, quando ainda no existiam os prossionais. Colocamnas igualmente s obras produzidas na atualidade, classicadas normalmente como obras de histria, porm produzidas por autodidatas ou prossionais de outras reas. Outro foco de problemas refere-se prpria produo dos historiadores, ou seja, como diferenci-la de trabalhos que situam no passado seus recortes temticos, mas abordados a partir da perspectiva sociolgica, antropolgica etc. Em outros termos, como diferenciar a histria social da sociologia histrica; a histria antropolgica da antropologia histrica; ou, ento, a histria econmica da economia sobre o passado, da economia retrospectiva? Uma vez que essas questes esto sujeitas a muitas, variadas e divergentes respostas, o problema da delimitao ou escolha das fontes na rea dos estudos de historiograa no est resolvido previamente.Histria Unisinos

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O problema inicial, portanto, um problema de denio de conceitos, de concepes acerca das caractersticas do conhecimento histrico. O ponto de partida, alis, pode estar nas consideraes sobre a ambiguidade do termo histria. Deve-se avanar nas caractersticas intrnsecas do discurso, bem como nas especicidades das suas formas de abordagens das aes e pensamentos humanos no curso do tempo, distintas, porm articuladas, com o campo das cincias humanas. Sendo assim, os problemas da seleo das fontes, em suma, depende de uma reexo terica prvia. Sobre esse ponto, especicamente, as contribuies das reexes tericas atuais so muito ricas. Desde trabalhos como o de Finley (1992, p. 3-27), que contrape histria e mito, nas suas aproximaes e distanciamentos, at as proposies elaboradas por Koselleck e sua proposta de uma histria dos conceitos (Koselleck, 2006). Mas o leque de autores aqui muito amplo, tanto de historiadores como de lsofos. O segundo problema que se coloca refere-se organizao que se deseja imprimir ao material informativo coletado, no caso o conjunto das obras. Uma vez denido o bloco mais geral, cujos contornos obedecem a escolhas bem denidas, como as obras de um autor, sobre um assunto, de um pas, de uma instituio ou perodo, passa-se denio de sub-blocos, que exige um aprofundamento de anlise das obras. Aqui as possibilidades so igualmente amplas e afetam os esquemas da periodizao. Pode-se pensar no critrio das sucessivas geraes, escolas, linhas interpretativas, posicionamento ideolgico, cronologia, etc. A amplitude das possibilidades, entretanto, abre brechas para os descaminhos da incoerncia. Problema revertido apenas pela clareza e objetividade das opes. Por m, deve ser enfrentado o problema da crtica do material. Crtica entendida aqui como reconstituio e anlise das condies histricas que tornaram possveis aquela obra e aquele pensamento. O termo que poderamos utilizar aqui o de interpretao e que aponta para um conjunto de questes que foram levantadas e discutidas por autores como Lefort (1986). Os comentrios e as observaes de interpretao e avaliao das obras, bem como de sua trajetria, decorrem, pelo menos em parte, daquilo que cada autor elege como o condutor de sua histria da histria. A perspectiva em que tal trajetria pode ser avaliada e analisada , certamente, muito ampla. Alguns estudos privilegiam a evoluo do instrumental tcnico e metodolgico que compe o estatuto cientco atual do conhecimento histrico. Valorizam-se, nesse sentido, as dimenses mais formais do trabalho do historiador. O livro Historiograa, de Carbonell (1987), pode ser um exemplo dessa abordagem, embora a proposta declarada na introduo da obra no seja exatamente essa. Outros estudos orientam-se na busca de um suposto mtodoVol. 13 N 1 - janeiro/abril de 2009

histrico que fundamentaria as propostas de transformao da histria numa cincia social. Para os autores de As escolas Histricas, o lugar desse mtodo deveria ser encontrado num lugar intermedirio, distanciando-se das elucubraes das losoas da histria, de um lado, e da falta de imaginao do empirismo, de outro. O estudo de Fontana (1998), por exemplo, est preocupado com as mudanas nos critrios de reconstituio que orientam o historiador no seu trabalho de sntese, em diferentes formaes sociais histricas. Preocupado, no entanto, com o processo de formulao, crise e superao de uma proposta de criao da cincia histrica dentro dos marcos tericos do materialismo histrico. Mas, nesse aspecto, os chamados deslocamentos atuais do conhecimento histrico, para usarmos uma expresso de Chartier (1994), oferecem recursos e um instrumental analtico e avaliativo bastante amplo, mesmo para aqueles que no compartilham dos fundamentos tericos das novas correntes e que muitas vezes rejeitam suas implicaes em termos de construo do conhecimento histrico. o caso, por exemplo, da atual discusso sobre a narrativa, como marca irredutvel do discurso do historiador. Aspecto j apontado por Certeau (1982), mas retomado e aprofundado por autores como Ricoeur (1994) no livro Tempo e narrativa, j citado, onde a contraposio entre uma histria estrutural e analtica e outra narrativa e vnementielle parece se dissolver no nvel do discurso e do texto. Apesar das diferenas aparentes, ambas as formas de pensar o produto do trabalho do historiador estruturam-se a partir das regras e dos procedimentos que orientam a produo de narrativas. Nessa linha situa-se o trabalho de um White (1995) e sua proposta de analisar a conscincia histrica do sculo XIX a partir das estruturas narrativas das principais obras histricas e da losoa da histria do sculo XIX, estruturadas a partir dos quatro tropos clssicos: metfora, sindoque, metonmia e ironia. O mesmo pode ser dito sobre a tendncia conhecida como linguistic turn e suas teses sobre a incapacidade de se pensar a realidade objetiva como uma referncia externa ao discurso (Chartier, 1994, p. 101). Chama a ateno o fato de que, no campo dos estudos de historiograa, assim como no conjunto das temticas que integram o campo de preocupao dos historiadores, a delimitao das fontes, seguida de sua organizao, de denio de tipologias classicatrias e de observaes avaliativas, carece, alm disso, de um esquema, ou de um modelo global de anlise que possibilite pensar o sentido dessa produo no contexto que a gerou, bem como os direcionamentos que foi tomando posteriormente, uma vez que o objetivo do historiador vai alm da organizao do material e da elaborao de um conjunto de comentrios interessantes. A ordem lgica do conjunto das fontes adquire relevncia no interior de

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modelos interpretativos tanto mais adequados na medida em que so capazes de reetir o movimento de constituio de seu objeto. Os contornos dos esquemas analticos, de uma maneira geral, dependem da denio de historiograa e, quanto a isso, as possibilidades so muitas. Vejamos alguns exemplos. Para Carbonell, o estudo que tem como objetivo expor de um ponto de vista histrico isto , situando-a constantemente no seu contexto a diversidade dos modos de representao do passado no espao e no tempo. Mais adiante, especica armando que a historiograa nada mais que a histria do discurso um discurso escrito e que se arma verdadeiro que os homens tm sustentado sobre seu passado (Carbonell, 1987, p. 6). Nesse sentido, aproxima a historiograa do estudo das representaes coletivas, no qual o discurso especializado aparece como testemunho. Para Fontana, trata-se de uma anlise que integra as articulaes de uma economia poltica e seu projeto social decorrente, que oferece os parmetros da concepo de histria num determinado contexto histrico. Para Iglsias, um indcio e um instrumento no processo de superao do amadorismo e avano da prossionalizao do ocio do historiador uma vez que o surgimento e a expanso dos estudos de historiograa reetem a existncia de um acmulo de obras bem como direcionam os rumos da pesquisa posteriores (Iglsias, 2000, p. 19-22). Para Arruda, a historiograa, ou seja, a reexo sobre a produo dos historiadores, visa a compreenso da histria atravs das obras histricas, das vises ou teorias que as orientaram ou circunstanciaram, bem como o estudo das foras de percepo, vale dizer, das perspectivas ou ideologias que subjazem s obras, no interior das quais ganha realce o signicado dos temas e problemticas selecionadas (Arruda e Tengarrinha, 1999, p. 12). Alm disso, fundamental a denio de um modelo de anlise que d conta dos nexos, sempre complexos, que se estabelecem entre as obras, os autores e o contexto, seja esse social, econmico, poltico ou intelectual. necessrio fugir das relaes fceis e mecanicistas. Um exemplo que deve ser estudado com ateno aquele sugerido por Antonio Cndido no ensaio muito conhecido no qual discute os impasses entre as correntes que advogam uma interpretao das obras a partir dos seus condicionamentos sociais e outras que valorizam as operaes formais. Conclui armando: Hoje sabemos que a integridade da obra no permite adotar nenhuma dessas vises dissociadas; e que s a

podemos entender fundindo o texto e contexto numa interpretao dialeticamente ntegra, em que tanto o velho ponto de vista que explicava pelos fatores externos, quanto o outro, norteado pela convico de que a estrutura virtualmente independente, se combinam como momentos necessrios do processo interpretativo. Sabemos, ainda, que o externo (no caso, o social) importa, no como causa, nem como signicado, mas como elemento que desempenha um certo papel na constituio da estrutura, tornando-se, portanto, interno (Mello e Souza, 2000, p. 5-6). Tambm nesse aspecto, as reexes tericas que se acumulam atualmente trazem todo um conjunto de elementos para pensarmos a insero do trabalho do historiador e do conhecimento que produz na dimenso da sociedade e da historicidade. Pode-se buscar as contribuies de autores como Croce (1962) e sua preocupao em apontar os vnculos existentes entre a produo histrica e as demandas do presente do historiador. O mesmo pode-se dizer das proposies de Rsen (2001) a respeito de uma matriz terica do conhecimento histrico integrando elementos da vida prtica (funes de orientao existencial e interesses ou carncias de orientao no tempo) e elementos da cincia especializada (idias ou perspectivas orientadoras da experincia do passado, mtodos e regras de pesquisa emprica e formas de apresentao) (Rsen, 2001, p. 35). Por m, possvel buscar tambm contribuies em todo um conjunto de trabalhos nas reas de sociologia do conhecimento e de teoria das ideologias. Entretanto, devemos esclarecer que nosso objetivo aqui no aprofundarmos a anlise da variedade expressiva de possibilidades disponveis no que diz respeito aos parmetros de julgamento, avaliao e crtica dos textos histricos, mas apenas apontar a importncia dessa dimenso nos estudos sobre a historiograa. Nosso segundo problema diz respeito imagem que se vai construindo da trajetria da produo histrica sobre o Brasil. Algumas questes poderiam ser levantadas sobre isso. Primeiro quanto ao estabelecimento de critrios de escolha do universo das obras a serem analisadas. Esse primeiro momento exige uma denio clara das caractersticas e dos fundamentos do discurso histrico, at para podermos identicar as diferenas entre os vrios gneros que habitam o campo da memria e das cincias sociais. Mas exige igualmente uma preciso a respeito desse universo que denominamos historiograa brasileira. Trata-se de um recorte dentro da historiograa geral que deve seguir critrios explcitos e controlados. Segundo, quanto aos critrios de classicao dessas obras. A sequncia consagrada cronistas coloniais, IHGB e produo universitria poderia ser revista. OsHistria Unisinos

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cronistas coloniais, por exemplo, antes de se constiturem num perodo propriamente dito, mais adequado no seria v-los como um problema a ser discutido? Do mesmo modo como discutimos a importncia e o papel do prprio perodo colonial na formao do Brasil. A Colnia no era Brasil, entretanto o Brasil formou-se a partir da Colnia. Como caria aqui a situao dos escritos produzidos no perodo colonial? Alm disso, tais escritos dicilmente poderiam ser vistos como textos historiogrcos, mas antes crnicas, relatos, relatrios, ou seja, aquilo que entendemos por fontes. O caso dos chamados brasilianistas sugere um problema similar. Pertencem historiograa brasileira ou devemos situ-los nas linhas e tendncias da historiograa norte-americana? Como pensar o impacto desses autores e obras entre os historiadores brasileiros? Este seria um outro problema a ser discutido e no uma etapa ou componente natural da nossa historiograa. Ainda nessa linha de raciocnio, devemos pensar as relaes complexas vigentes na nossa historiograa entre aquilo que se considerou e se considera tradicional e moderno em termos de concepo e prticas no campo da produo do conhecimento histrico. O corte nunca foi abrupto. A presena, por exemplo, de membros do IHGB na composio do corpo docente do Curso de Histria da USP nas dcadas de 1930 e de 1940 um exemplo disso. Ou ento o papel representado por essas guras de transio, como Capistrano de Abreu e parte da produo de autores como Caio Prado Jr., Srgio Buarque de Holanda e Gilberto Freire, aponta para essa dinmica de transies sem rupturas. E, terceiro, quanto aos critrios de avaliao desses trabalhos. Alm daqueles usuais, ou seja, vinculados s caractersticas do discurso, sua metodologia, domnio das fontes, linhas terico-interpretativas, bem como seus laos com o contexto scio-histrico mais abrangente, em termos de denio de problemticas e controvrsias, outros aspectos esto presentes naquelas obras que elegem como tema as dimenses da trajetria nacional. A primeira e mais importante a questo do anacronismo (ver Novais, 2005). Uma vez que o processo de construo do imaginrio nacional tem no discurso histrico um dos seus apoios fundamentais, a avaliao de uma obra de histria para vericar em que medida ela enfrentou o problema do anacronismo e tentou super-lo torna-se crucial. Outro problema igualmente importante, principalmente no caso de historiograas de pases perifricos, o das inuncias culturais e intelectuais externas. A ausncia de um processo de crescimento por sedimentao, a presena de trajetrias interrompidas, os modismos e a irregularidade evolutiva so manifestaes que deveriam ser levadas em conta. Elas seriam as principais concluses da leitura daVol. 13 N 1 - janeiro/abril de 2009

obra de Iglsias e que gostaramos de aprofundar a partir de um debate. As obras examinadas acima foram publicadas em 1999/2000 e situam-se nessa terceira fase dos estudos de historiograa no Brasil, como sugerimos. Mais recentemente, surgiu todo um conjunto de novos trabalhos, embora sem a proposta de recorte to abrangente como as obras de Iglsias e Arruda. Alguns se organizam a partir de recortes temticos, como o organizado pelo historiador Jancso (2005) sobre a Independncia do Brasil. Outros propem recortes espao/temporais, como o momento contemporneo combinado com o andamento das historiograas em diferentes pases, como a coletnea organizada por Malerba e Rojas (2007), ou ento recortes por autor, como o estudo sobre Sergio Buarque de Holanda (Nicodemo, 2008). Por m, o Seminrio Nacional de Histria da Historiograa, organizado pelo Ncleo de Estudos em Histria da Historiograa e Modernidade, ligado Universidade Federal de Ouro Preto, desde 2007, vem apresentando um amplo leque de trabalhos a partir das mais variadas possibilidades de estudos de historiograa. Em vrios desses trabalhos ca explcito o esforo de corrigir a defasagem apontada entre reexo terica e prtica cientca. Finalizando, poderamos perguntar a respeito do propsito dos estudos de historiograa. No d para ignorar, num primeiro plano, a utilidade instrumental que representa para o avano e aperfeioamento da pesquisa histrica. A identicao de lacunas no conhecimento; o diagnstico das tendncias e dos rumos das pesquisas; a identicao das reas de concentrao e de preferncia dos historiadores; a iniciativa de explicitar os temas mais controversos, as interpretaes mais polmicas; a discusso sobre o esgotamento ou a renovao de tcnicas e mtodos de investigao; a denio de mecanismos de autoavaliao e crtica permanente pode ampliar o grau de cienticidade dessa rea de conhecimento uma vez que implica uma ampliao do grau de conscincia do prossional sobre as condies de possibilidade de seu prprio ocio. Uma segunda ambio poderia ser a de estudar a histria que se faz a partir da histria que se escreve, ou seja, os estudos de historiograa abrem a possibilidade de aprofundarmos a reexo sobre o estatuto e os mecanismos a partir dos quais uma determinada sociedade dene a relao com seu passado. Nesse processo, podem-se entender as relaes que se estabelecem entre o discurso prossional e esse universo mais amplo e complexo da memria coletiva. E, medida que entendemos como isso funcionou nas sociedades passadas, podemos relativizar algumas indicaes mais presunosas da total independncia da cincia histrica na sociedade do presente.

Formas e problemas da historiograa brasileira

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