hjelmslev (1975) prolegômenos a uma teoria da linguagem

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Cole!rffo Estudos

Dirigida por J. GUinsburgConseIho Editorial: Anatol Rosenfeld (1912-1973). Anita Novinsky.Ar<lCY Amaral, Augusto de Campos, Boris Schnaiderman, CarIos Qui­Iherme Mota, Celso Later,Dante Moreira Leite, Gita K. Guinsburg.Haroldo de Camp.OS, Leyla Perrone-Moises, Lucio Games Machado.Maria de Lourdes Santos Machado, Modesto Carone Netto, PauIoEmHio Salles Gomes, Regina Schnaiderman, Robert N.V.C. Nicol,Rosa R. Krausz, SilbatoMagaldi, Sergia Miceli, Willi Bolle e ZulmiraRibeiro Tavares.

Equipe de realiza!rRo - Tradu~ao: J. Teixeira Coelho Netto; Revisao:Mary Amazonas Leite de Barros; Produ!rao: Llicio GomesMachado;Capa: Moyses Baumstem.

Louis Hjel~slev

PROLEGOMENOS A UMATEORIA DALINGUAGEM

~\l~~ ~ EDITORA PERSPECTIVA

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Titulo do original ingl&:Prolegomena to a TheQry of r -

UFC BIBlIOTECA CENTR~l

M 9 73111 / iI / 71 L.

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© 1961 by the Regents of the University of WISCOnsin

Direitos em lingua portuguesa reservados aEDITORA PERSPECITVA SA.

Av. Brigadeiro Luis AnWnio, 3025Telefone: 288-8388

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1975

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Sincretismo: .. .. .- .. .. .-~- .. ~ .. -.. .. .. e,. -. '. ... .. .. .. ...... eo .. .. .. .. .. .. ..

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1113 .151923252733394753657985899399. ..

Estudo da Linguagem e Teoria da LinguagemTeoria da Linguagem e Humanismo .Teoria da Linguagem e Empirismo .Teoria da Linguagem e Indu~ao 0 0 • 0 • 0 •

Teoria da Linguagem e Realidade 0 •

Objetivo da Teoria da Linguagem .Perspectivas d-a Teoria da Linguagem .. 0 •••••

o Sistema de Defini~es . 0 • • • 0 • 0 • 0 0 0 0 • 0 • 0 ••

Principio da Ananse . 0 0 0 0 • .0 '0 • • • • 0 0 • • .0 o· 0 •

Forma da AD.8lise 0 0 • 0 •• 0 •• 0 •• 0 0 ••••• 0 00 ••

CataIise

Signos e Figuras ...0 0 • • • 0 • • • • 0 0 0 • • 0 0 • 0 • 0 •

Expressao e Conteudo .. 0 0 0 0 • 00 • 0 • • • • • 0 0 • •

Invariantes e Variantes ... 0 0 0 00 0 0 •• 0 0 0 0 0 • • •

Es U L o .. ., tie. quema e 0 so . tngmscos o' 0 .. 0 • • • 0 • 0 0 • • • •

Variantes no Esquema Lingiiistico .....•. 0 • 0

l.2.3.4.5.6.7.8.9.

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20.21.22.23.

Grandezas da Amilise .Linguagem e Nao-Linguagem .Semi6ticas Conotativas de Metassemi6ticas .Perspectiva Final .Registro Alfabetico dos Termos Definidos .Defini~oes . 11 ... ... • • .. • • fI 11 11 • .. 11 • • .. 11 11 .. • • Ill: _0 • .. ..

Indice Geral .

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II.1

Prefacio

A edi~ao brasileira dos Prolegomenos a uma teoria dalinguagem representa, no campo da Ciencia em geral e nodos estudos lingUfsticos, em particular, urn empreendimentode alta relevancia. Alem do carater revolucionario contidono seu corpo de doutrina, essa obra e, talvez, 0 melhoIexemplo de que possamos dispor, a esta altura do seculo:XX,de uma sistematiza~ao cientlfica cujo rigor atinge as raizesdo poetico. Dai a oportunidade da presente tradu~ao, nomomento em que come~am a surgir - nem sempre muitobem orientados - trabalhos de maior folego dentro dessedomfniono pais. Nao importa que, na opiniao de muitos,a tradu~ao venha corn atraso; 0 que inlporta e que ela sepublica neste momento em que se faz mais necessaria.

Jamais sera suficientemente salientada a complexidadedos Prolegomenos. A presente tradu~ao nao implica,pois,uma vulgariza~ao das id6ias de Hjelmslev junto a umgrande publico, roas possibilita aos· especialistas e aosestudantes universitarios da area de Ciencias Humanasestabelecer urn.debate roais amplo. em tomo dos princfpiosfundamentaisda Glossematica. .

o criador dessa teoria lingilistica, Louis Hjelmslev,nasceu em 1899 na cidade de Copenhague em cujauniversidade realizou estudos de Filologia Comparativa,vindo, posteriormente, a aperfei~arseus conhecimentoslingiifsticosem diversas universidades europeias. Em 1931fundou0 Cfrculo LingUlstico de Copenhague e em 1939,

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VIII PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

com a colabora~o de Viggo Bq6ndal, criOll as ActaLinguistica (AL ) , orgao em que publicou vanos· artigos eeditoriais. Nos seus primeiros trabalhos e marcante ainfluencia dos formalistas russos, de Sapir e, sobretudo, deSaussure, inspirador primeiro de algumas das ideias centraisda Glossematica, teoria que, junto corn Uldall, ja vinhadesenvolvendo desde 1931. Os resultados desse trabalhoaparecem em 1943 na obra Omkring sprogteoriens grund­laeggelse, que agora surge em portugues .corn 0 titulo deProlegomenos a uma teoria da linguagem. Em 1937,Hjelmslev assume as fun~oes de titular da Cadeira deLingiiistica Comparada da Universidade de Copenhague enessa mesma cidade veio a falecer em 1965.

A bibliografia das publica~oes de HjeImslev pode· serdatada a partir de 1922. Ela demonstra que seu Autorpossuia uma gama de preocupa~5es extremamente variada,cornose comprova em numerosos· amgos e ensaios publica­dos no decorrer de tOOta e seis anos.· Mas a sua contribui~ao

principal para a constitui~ao da modema ciencia semi6ticase deve aos Prolegomenos, cuja Ieitura convem seja com­pleIrientada corn a coletanea de ensaios que. 0 . proprioHjelmslev organizou, dando-lhe 0 titulo de Ensaios. Lin­gilisticos.

A Glossematica, na.medida em que a lingua e concebidacomo uma combinatoria, atribui, como acertadamente re­conhece Oswald Ducrot, urn valO! central a certas proprie..dades fonnais das rela~6es que constituem essa combinat6ria.Tal pressuposto levou Hjelmslev ao entendimento da Lin..·giiistica coma uma. especie de algebra, dentro da qual contam,para a defini~ao de estrutura, as rela~es formais entre oselementos enao a materialidade dos elementos relacionados.A concordancia desse postulado corn a afirma~ao saussu­riana de que "a lingua e uma forma, nao uma substancia",nao e casual; pode-se mesmo defmir a Glossematica, demodo generalizante, como uma reformula~o coerentizadoradas principais dicotomias da teoria lingiifstica elaborada porSaussure. Um exemplo frisante disso e dado pela reelabo­ra~ao .que Hjelmslev faz do modelo do signa proposto porSaussure, ao explicitar os pIanos do significante e do signi­ficado em quatro estratos, dois. de substancia e dois deforma. Na Glossematica, 0 signa se instituicomo umafun~o contraida entre dois funtivos fonnais, 0 do plana daexpressao e 0 do pIano do conteudo. Desse POnta de vista,as unidades da lingua nao sac nem os sons nem os signi- .ficados, que sao em si meras substancias extralingiiisticas,·mas, sim, os relata que os fonnalizam semioticamente. Talconcep~aoe a melhor dernonstra~o do acerto da intuil;ao

PREFACIO IX

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saussuriana aeerea da natureza da lingua como uma forma,nao uma substancia; HjeImslev se enearregou de levar ateas Ultimas conseqiiencias esse postulado basico, responsaveI,sem duvida, pela rigorosa organicidade da sua doutrina. Areformula~ao glossematiea, porem, nao se· fez sem conse­qiiencias ja que eIa culminou num modelo de lingua quese afasta num ponto crucial do modelo saussuriano. Assim.,enquanto para Saussure, a langue era urn. sistema de signos.para HjelmsIev, a lingua e urn sistema de figuras (nao­signos), que, ao se combinarem, produzem signos.

Disso tude deeorrem duas conseqiiencias basicas: deum lado, ° estudo das rela~6es que instauram essa combi­"nat6ria se transfonna no proprio objeto imediato da Lin­giifstica; de outro, essa visao funcional inclui a existencia demecanismos subjacentes dinanncos. No estruturalismo chls­sico, cujo mentor cS 0 autor do Curso de Linguistica Geral,o modelo do signa pode gerar, como de fato tem gerado,a no~ao erronea do signo como uma entidade fechada,pre-construlda, e estatica. 0 modelo glossematico, em con­traposi~ao, concebe essa entidade como uma unidade deconfigura9iio; em virtude disso, a forma do conteudo deum signo e indiferente as dimensoes do pIano da expressaoque 0 manifesta. :£ verdade que esse mesmo entendimentobasico do signa era 0 de Saussure tal .coma se pode" ver nospapeis ultimamente publicados, principalmente os qnegiramem tome do problema dos anagramas; mas cS verdade,· tam­bern, que, ao que· saibamos; semeIhantes ideias sac 0 frutode uma medita~aosobre textos, sintomaticamente" poeticos,Ievada a· cabo no espa~o de varios anos, nao se podendoafinnar com exatidao que elas estivessem suficientementeamadurecidas a epoca· da gesta~ao do Curso de LingUIsticaGeral. A medida que se tomem melhor conhecidos os me­ditos dispersos de Saussure, estarnos firmementeconvencidosde que acabara por se impor a necessidade derevisao daimagemde urn Saussure pioneiro da lingiifstica frasal paraque se reconhe~" nele, ao lado e alem: disso, a imagem deurn. Saussure pioneiro da lingllistica transfrasal _. essa mofalada quao mal com,preendida lingilistica textual de nossosdias, cujos fundamentos repousam precisamente nessa dinami­cidade inerente a n~6 das rela~es funcionais assentadaspela Glossematica.

o particular interesse que 0 estudo do texto, como nive]lingilistico superior a frase, suscita em nossos dias estribano modelo relacional do signa fotmulado pela Glossematica,mas nio na dire~ao do modelo do signo semdntico ~ jaintufdo pelos fonnalistas russos aa estudar a linguagem lite­raria e a linguagem einematograflca. Ao conceber 0 sentidocoma substAncia semantica, a Glossematica descartava, na

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X PROLEGOMENOS AUMA TEORIA DA LINGUAGEM

primeira etapa da suaformaliza~ao, representada pelosProlegomenos, a possibilidade da eonstru~ao de urn modelodo signo semantico, que so se insinuani em estudos poste­riores do mesmo Hjelmslev, numa etapa em que ele se daconta de que a substancia pode ser incluida no ambito daLingiiistiea como algo semiotieamente formaIizavel. Nesseinstante, precisamente, nasce a reivindica~ao de uma seman­tiea estrutural, reivindica9ao essa que eonstitui 0 .titulo deurn. de seus mais notaveis ensaios "Pour une semantiquestructurale", de 1957.

A esta altura do seculo pode-se aquilatar melhor daimportancia dos Prolegomenos, de Hjelmslev, quando 0 foca­Iizamos, assim, na sua eondi~ao de mediador entre 0 pio­neirismo genial de Saussure e 0 estruturalismo vanguardistade Greimas; os tres formam como que uma tradi9ao pautadaem referencias mutuas.

Sao Paulo, maio de 1975, ana do d6cimoaniversario da morte de Louis Hjelmslev.

Eduardo Peiiuela CafiizalEdward Lopes

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1. Estudo da Linguageme Teoria daLinguagem

A linguagem - a fala humana - e uma inesgotavelriqueza de mUltiplos valores. A linguagem e inseparaveldohomem e segue-o em todos os seus atos. A linguageme <> instrumento gra~as ao qual 0 homem modela seu pen­samento, seus sentimentos, suas emo~5es, seus esfor~os, suavontade e seus at08, 0 instrumento gra~as ao qual ele in­flueneia e e influeneiado, a base Ultima e mais profunda dasociedade humana. Mas e tambem 0 reeurso Ultimo eindispensavel do homem, seu rerugio nas horas solitliriasem que 0 esp1rlto luta corn a existencia, e quando 0 con­flito se resolve no monologo do poeta e na medita~ao dopensador. Antes mesmo doprimeiro despertar denossaconsciencia, as palavras ja ressoavam a nossa volta, pronraspara envolver os primeiros germes fnigeis de nosso pensa­menta e a nos aeompanhar inseparavelmente atraves davida; desde as mais humildes ocupa~6es da vida quotidianaaos momentosmais sublimes e mais intimas dos quais avida de todos os .dias retira, gra~as as lembran~as enear­nadas pela linguagem, for~ e calor. A linguagem nao eurn simples acompanhante, mas sim urn fio profundamentetecido oa trama do pensamento; para 0 individuo, ela eo tesouro damemoria e a consciencia.vigilante· transmitidade pai para fI1ho. Para 0 bem e para 0 mal, a fala e amarea da persanalidade, da terra natal e da na~aa, a titulode nobreza da humanidade. 0 desenvolvimento da lingua­gem esta tan inextricavelmente ligadoaa dapersonalidadede cadaindividuo, da terra natal,da iJ.a~ao, da humanidade,da propria vida, que e passivel indagar-se se ela nao passa

2 PROLEGOMENOS A UMA TEORIADA LINGUAGEM

de urn simples refLexo ou se ela nao e tudo isso: a propriafontedo desenvolvimento dessas coisas.

:B por isso que a linguagem cativou 0 homem enquantoobjeto de deslumbramento e de descri~ao, na poesia e naciencia. A ciencia foi levada aver na linguagem seqiien­cias de sons e de movimentos expressivos, suscetiveis deuma descri~ao exata, ffsica e fisio16gica, e cuja disposi~ao

forma signos que traduzem os fatos da consciencia. Pro­curou-se, atraves de interpreta~6es psicologicase logicas,reconhecer nesses. signos as flutua~6es da psique e a cons­tfulcia do pensamento: as primeiras na evolu~ao e na vidacaprichosa da Ilngua; a segunda, em seus pr6prios signos,

,dentre os quais distinguiu-se a palavra e a frase, imagens con­cretas do conceito e do juizo. A linguagem, como sistema designos, devia fornecer a chave do sistema conceitual e a danatureza psfquica do homem. A linguagem, coma institui9aosocial supra-individual, devia contribuir para a caracteriza~o

da na~ao; a linguagem, corn suas flutua~oes e sua evolu~ao,

,devia abrir caminho ao conhecimento do estilo da persona­Iidade e ao conhecimento das longfnquas vicissitudes dasgera90es desaparecidas. A Iinguagem ganhava assim umaposi~ao-chave que iria abrir perspectivas em muitas dire­90es.

Assim considerada, e mesmo quando e objeto da cien­cia, a linguagem deixa de ser urn fim em si mesma e toma-seurn meio: meio de urn conhecimento cujo objeto principalreside fora da propria linguagem, ainda que seja o· Unicocaminho para chegar ate esse conhecimento, e que se ins­pira em fatos estranhos a este. Ela se toma, entao, 0 meiode urn. conhecimento transcendental - no sentido pr6prio,etimo16gico do termo - e DaD 0 fim de urn conhecimentoimanente. :B assim que a descri~ao ffsica e fisiologica dossons da Iinguagem corre 0 risco de cair no ffsico e nofisio16gico puros,e que a descri~ao psico16gica e 16gica dossignos .- isto e, das paIavras e das frases - reduz-se facil­mente a uma psicologia~ uma J6gica e uma 6ntologia'puras~

perdendo de vista, corn jsso, seu ponto de partida lingiHstico.A hist6ria 0 confirma. E ainda quenao fosse esse 0 caso,os fenomenos ffsicos, fisio16gicos, psico16gicos e 16gicos. en­quanto tais nao constituem a propria linguagem, mas .sim _apenas aspectos aela exteriores, fragmentarios, .escolhidoscomo objetos de estudo nao tanto porque interessam alinguagem quanta porque abrern dominios aos quaisestapermite chegar. Encontra-se a mesma atitude quando, ba- .seando-se em tais descri95es, a pesquisa lingii~sticaatribui-se

como objeto a compreensao da sociedade humana e a re­constitui~ao das rela~oes pr6-hist6ricas entre pavos e na~pes.

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ESTUDO DA LINGUAGEM E TEORIA DA LlNGUAGEM 3

Isto e dito nao para diminuir 0 valor de tais pontosde, vista nern de tais ernpreendimentos, rnas sim corn Q obje­tivo de chamar a aten9ao para urn perigo, 0 perigo queconsiste em apressar-se demasiado na dire9ao do objetivofixado pela pesquisa e, corn isso, negligenciar a proprialinguagem, que e 0 meio de atingir esse objetivo. Na rea­lidade, 0 perigo reside no fato de que a .linguagem querser ignorada: e seu destino natural 0 de ser um meio enao urn fim, e e s6 artificiaImente que a pesquisa pede serdirigida para 0 pr6prio meio do conhecimento.- Isso evaIido na vida quotidiana, onde normalmente a linguagemnao atravessa -0 umbra! da consciencia; mas isto e iguaI­mente verdadeiro na pesquisa cientffica. Ha ja algum tempose compreendeu que, ao Iado da filologia, que deseja en­contrar no estudo da lingua e dos textos 0 meio de atingiruma consciencia literaria e historica, ha Iugar para umaIingiifstica que se constitua no proprio objetivo desse estudo.Mas, do projeto a sua realiza9ao 0 caminho era bem longo.Mais' uma vez, a linguagem deveria desapontar seus admira­dores cientfficos, pais a historia e a compara9ao geneticadas lfnguas, que se tomaram 0 objeto essencial da lingiiisticatradicional, nao se atribuiam nem par objetivo nem porresuItado 0 conhecimento da natureza da linguagem, a qualnaopassava de urn meio para chegar-se ao estudo dassociedades e aD estudo dos contatos entre os povos nasepocas hist6rica e pre-historica. Mas, aqui tambem 0 quese tem e filologia. Sem duvida acredita-se, quando se tratada tecnica intema de compara9ao das Iinguas, estar lidandocorn a propria lingua, mas isto e ilusao. Nao e a pr6prialingua, mas seus disiecta membra, que nao permitem apreen­der a totalidade que e a Ifngua; urn tal metodo alcan9'a ascontribui90eS fisicas e fisio16gicas, psico16gicas e 16gicas, so­cio16gicas e hist6ricas da lingua, mas nao a pr6pria lingua.

A fim de construir uma' lingiiistica deve-se procederde outro modo. Esta nao deve ser nem uma simples cien­cia auxiliar, nem uma ciencia derivada. Essa lingilisticadeve procurar apreender a linguagem nao como um conglo­merado 'de fatos nao lingiifsticos (fisicos, fisio16gicos, psico­16gicos, 16gicos, socioI6gicos) ,mas sim como urn todo quese basta a si mesmo, uma estrutura sui generis. :a s6 destemodo que a linguaenqllanto tal podera ser submetida a urntratamento cientfficoe deixar de nos mistificar ac escapara nossa observa9ao.

A importancia deste modo deproceder sera avaliadaa longo praza nas repercussoes que obtiver sobre os diversospontos de vista transcendentais, sabre as ftlologias e sobrea assim chamada lingillstica tradicional. Os resultadosdesta nova lingiHstica permitiriam, entre outros, estabelecer.

4 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

uma base homogenea de comparac;ao das linguas ao fazerdesaparecer 0 particularismo na criagao dos conceitos (par­ticularismo este que e 0 principal escolho da filologia) e

. apenas esta base e que tomara passivel uma lingliisticagenetica racional. Quer se identifique a estrutura da lin­guagem corn a da existencia ou que se veja nela apenasurn reflexo desta, mais ou rnenos deformado, a curtoprazoe atraves de sua contribuigao a epistemologia geral que alingiiistica revelara, de modo inconteste, sua importancia.

o trabalho preliminar de uma tal lingiiistica consisteem construir uma teoria da linguagern que formule e des­cubra as prernissas dessa Iinguagem, que indique seusmetodos e fixe seus caminhos.

o presente estudo constitui os prolegomenos de umatal teoria.

o estudo da Iinguagem, corn seus objetivos multiplose essencialmente transcendentais, tern muitos adeptos. Ateoria dalinguagem que se quer exclusivamente imanente,pe10 contrmo, quase nao os tern. A respeito desta colo­cagao, nao se deve confundir teoria da linguagem cornfilosofia da linguagem. Como qualquer outra discipIinacientffica, 0 estudo da linguagem conheceu, no decorrer desua hist6ria, tentativas fiIos6ficas que procuravam justificarseus metodos de pesquisa; 0 interesse atribuido, nestes ulti­mos anos, aos fundamentos da ciencia e tal que certasescolas de lingiiistica transcendental acreditam mesrno terencontrado os sistemas de axiomas sabre os quais se baseiaesse estudo 1• Todavia, e extremarnente raro que essas es­pecula<;oes da filosofia da linguagem atinjam uma tal precisaoe que sejamefetuadas· numa esca]a arnpla, de modo siste­matico, por pesquisadores que tenham urn conhecimentosuficiente da lingliistica eda epistemologia. Na maiorparte do tempo,tais especu]agoes sac subjetivas, e e porisso que nenhuma delas, salvo talvez quando de uma modapassageira, cODseguiu reunir a s"Ua volta urn grande Dlimerode defensores. Portanto, e impossivel tra~ar 0 desenvol­vimento da teoria da linguagern e escrever suahist6ria:falta...Jhe acontinuidade. Por causadisso, todo esforc;o nosenlido deAormularnmateoriada linguagem viu-se desa-.creditadoe·.cOnsiderado como uma _va filosofia, um diletan­tismo matizado de apriorismo. Essa condena~ao, _alias,parece justificada .pois, nesse dominio, diletahtismoeaprio­rismotem prevalecido a tal ponto que e muitas vezes dificil,do exterior, distinguir 0 verdadeiro do falso. 0 presente

1. BLOOMFIELD, Leonard. "A set of postulates for the science of langua­ge" (Language n, 1926, pp. 153-164). BWLER, Karl. Sprachtheorie, Iena,1934. Idem, "Die Axiomatik der Sprachwissenchaften" (Kantatudien XXXVIII,1933, pp. 19-90).

ESTUDO DA LINGUAGEM E TEORIA DA LINGUAGEM 5

estudo gostaria de contribuir para que se reconhecesse quetais caracteristicas DaO sac necessariamente inerentes a todatentativa de lan9ar as bases de uma teoria da linguagem.Sera mais facil chegar a ela se houver urn esfor90 por esque-"cer 0 passado e de fazer tabula Tasa de tudo aquilo que nadafomeceu de positivo e que pudesse ser utilizado. Emgrande parte nos apoiaremos no material recolhido pela pes­quisa IingiHstica anterior, material este que, reinterpretado,constituini 0 essencial da teoria da linguagem. Aderimosexplicitamente ao passado em certos pontos a respeito dosquais sabemos que outros conseguiram resultados positivosantes de nos.. Urn timeo te6rico merece ser citado comopioneiro indiseutfvel: 0 sui~o Ferdinand de Saussure 2.

Urn trabalho muito importante, preparatorio da teoriada linguagern aqui exposta, foi realizado em colabora~ao

eom alguns rnembros do Circulo Lingtiistieo de Copenhague,particularmente corn H. J. Uldall, entre 1934 e 1939.Algumas diseussoes na Sociedade de Filosofia e de Psicolo­gia de Copenhague, hem como muitas trocas de pontos devista eom J~rgen J~rgensen e Edgar Tranekjaer Rasrnussen,foram-nos extremamente preciosas no desenvolvimento denossa teoria. No entanto, 0 autor declara-se 0 tinieo res­ponsavel poresta obra.

2. SAUSSURE, Ferdinarid de. Cout's de linguistique generale. Paris, Ch.Bally le AIb. Sechehaye, 1916; 2. ed. 1922, 3. ed. 1931, 1949.

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2. Teoria daLinguagem e Humanismo

Uma teoria que proeUIa a estrutura espeeffiea da lin­guagem eom a ajuda de urn sistema de premissas exc1usiva­mente formais deve necessariamente, ao mesmo tempo emque leva em eonta asflutua~6es e as mudan~as da fala,recusar atribuir a .tais mudan~s um papel preponderante;deve procurar uma constancia que nao esteja enraizadanuma "realidade" extralingUfstica; uma constancia que fa~a

com que toda lingua seja linguagem, seja qual for a lfngua,e que uma determinada lingua permane~a identica a si mesmaatraves de suas manifesta~6es mais diversas; uma constanciaque, uma vez encontrada e descrita, se deixe projetar sobrea "realidade" ambiente seja qual for a natureza desta (flsica,fisio16gica, psico16gi:ca, 16gica, ontol6gica) de modo que esta

. l'realidade" se ordene aD redor do centrode referencia quee a linguagem, nao mais como um conglomerado, mas soo,como urn todo organizado que tern a estrutura lingilisticacomo princfpio dominante.

A proeura de uma tal constanciaconcentrica e globalsechocara inevitavelmente corn uma certa tradi~ao huma­nista que, sob diversas formas, ate agora predominou nalingilistica. Em sua forma extremada, esta tradi9ao negaa priori a existencia da constancia ea legitimidade e suaproeura. Esta .. tradi9ao quer que os fenomenos· humanos,

.contrariamente aDs fenomenos da natureza, sejam singulares,individuais, nao podendo portanto nem ser submetidos, comaos danatureza, a metodosexatos, nem ser generalizados.Por conseguinte, urn outra metodo. deveria ser aplicado ao

..8 PROLEGOMENOS A UMA TEORIADA LINGUAGEM

domfnio das disciplinas humanas ; SO se poderia utilizar adescri~ao, 0 que seria aproximar-se mais da poesia do queda ciencia, e, de qualquer forma, seria necessario Iimitar-sea uma apresenta~ao discursiva dos fenomenos sem· nuncaos interpretar de modo sistematico. Esta tese foi erigidaem doutrina no domfnio da historia, e parece ser a base dahist6rla em sua forma tradicional. Do mesmo modo aIiteratura e as artes, domfnios eminentemente humanistas,so produziram descri~es diacronicas e na maior parte dotempo subtrafram-se a amilise sistematica. Em certos do­minios, e verdade, pode-se distinguir uma tendencia paraa sistematiza~ao; mas tanto a hist6ria quanto as cienciashumanas em seu conjunto parecem estar ainda longe dereconhecer a Iegitimidade e a possibilidade de urn metodocientifico.

Em todo caso, parece legitimo propor a priori a hip6­tese de que a todo processo corresponde urn sistema quepermite analisa-Io e descreve-Io atraves de um numero res­trito de premissas. Deve ser possiveI considerar todoprocesso como composto por um numero Iimitado de ele­mentos que constantemente reaparecem em novas combina­c;5es. Baseando-se na an31ise do processo, deveria serpossivel reagrupar esses elementos em classes, sendo cadacIasse definida pela homogeneidade de suas possibiIidadescombinatorias, e a partir dessa cIassificac;ao preliminar de­veria ser igualmente possfvelestabeIecer urn c8.lculo geraIexaustivo das combinac;6es possfveis. Assim entendida, a ­hist6ria superaria o. estadio primitivo da simples descric;aoe se constituiria em ciencia sistematica, exata, generaliza­dora: sua teoria permitiria predizer todos os eventos pos­sfveis (isto e, todas as combina<;6es posslveis de elementos)e as condic;5es de realizac;ao de tais eventos.

Parece inconteshivel que enquanto as ciencias humanas.nao assumirem uma tal teoria como hip6tese de trabalhonegligenciaraoa mais importante de suas tarefas, que e ade procurar constituir 0 humanismo em objeto de ciencia.Deveriaser compreendido que se deve, na descri~ao dosfenomenos humanos,· escolher entre poetica e ciencia; ou,melhor, entre apenas 0 tratamento poetico de urn lado e,do outro, a atitude poetica e a atitude cientffica compreendi­das como duas formas coordenadas de descri~ao; deveriaser entendido tambem que, nesse ponto, a escolha dependede uma verificac;ao da tese sobre a existencia do sistema quesubentende 0 processo.

A priori, a linguagem parece ser urn domfnio no quala verifica~ao dessa tese poderia dar resultados positivos.Uma descri~ao puramente discursiva dos eventos lingiilsticos

TEORIA DA LINGUAGEM E HUMANISMO 9

tern poucas possibilidades de despertar grande interesse; edeste modo sempre se sentiu a necessidade de urn ponto devista suplementar e sistematizador: corn efeito, atraves doprocesso tal como ele se realiza no texto, procura-se urn.sistema fonoI6gico, urn sistema semantico e um sistema gra­matical. Mas a lingilistica, cultivada ate agora pelos fil61o­gos hurnanistas que se determinarn objetivos transcendentaise que repudiarn qualquer sistematica, nern. expIicitou a.spremissas nem procurou urn princfpio homogeneo de ami­Iise, e corn isto a lingilistica permaneceu irnprecisa e subje­tiva, sub~e~da pela estetica e peIa rnetaffsica, para naomencionar os inumeros casos em que eIa se entrincheirounuma simples descri~ao aned6tica.

o objetivo da teoria da Iinguagern e verificar a teseda existencia de urn sistema subjacente ao processo, e atese de uma constancia que subentende as f1utua~es, eaplicar esse sistema a urn objeto que parece prestar-se a issode modo particular. Os argumentos que se poderiamadiantar contra semelhante tentativa do dominio do humano,invocando que a vida espiritual do homem e os fenomenosque a constituem nao poderiam ser objeto de uma anaIisecientffica sem que se mate· essa vida e que, por conseguinte,o proprio objeto da anaIise se subtraia a observa~ao, sacapenas argumentos aprioristicos que .nao podem desviar aciencia de seu empreendimento. Se este fracassar -.- naono detalhe de sua execu~ao, mas em seu proprio priricfpio- asobj~es humanistas serao entao legitimas, e osobjetos humanos. daf por diante so poderao ser submetidosa urn. tratamento subjetivo e estetico. Em compensa~ao,

se essa experiencia for bem sucedida, de modo que seuprincfpio se mostre aplicaveI, as obje~oes cairao por siniesmas, e tentativas al13.logas deverao ser entaD efetuadasem outras ciencias· humanas.

3. Teoria daLinguagem e Empirismo

Uma teoria, para ser a mais simples possfvel, s6 deveelaborar a partir das premissas que sejam necessariamenteexigidas por seu objeto. Alem do mais, para permanecerfiel a seu objetivo, ela deve, em suas aplica~es, conduzira resultados· conformes aos "dados da experiencia", reais ouque assim se presumam.

Essa e uma exigencia metodo16gica com a qual todateoria se ve confrontada, e cujo sentido cabe aepistemologiapesquisar. Nao pretendemos, aqui, abordar esse problema.Cremos satisfazer as exigencias acima esbo~adas a respeitodo assbn chamado empirismo ao adotar esse princfpio, queprima sobre todos os outros e pelo qual a teoria da lingua­gem ja se distingue nitidamente de todos os empreendimentosda filosofia da Iinguagem:

Adescri~ao deve ser MO cantraditoria~ e~iva efao simples quanta possivel. Aexigencia da Mo contradi­~iio· prevalece sobre a da ·descrifao exaustiva~ e· a exig2nciado descrifao exaustiva prevalece sabre:a, exig2ncia de sim-

. plicidade.

Assumimos 0 risco ·de denominar esseprincfpio deprinctpio do empirismo, mas estamos preparadospara aban­donar esse termo se a epistemologia, examinando-o, consi­dera.-Io impr6prio. Trata-se apenas de uma .questio determinologia que nao afeta em nada a manuten~o do prin­cipio..

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4. Teoria daLinguagem e Indut;ao

A assen;ao de nossoprincfpio do empmsmo nao nostoma, de modo algum, escravos do metodo· indutivo, se seentender por isso a exigencia de uma passagem gradual doparticular para 0 geral, ou de urn objeto limitado para outroque 0 seja menos. Encontramo-nos novamente diante determos cuja anilise e detenninac;ao cabem a epistemologia,mas que, mais tarde, teremos ocasiao de utilizarnum sen­tido mais precise do queaquele que aqui Ihes podemosatiibuir. Ha, ainda aqui, urn. problema termino16gi.co queteremos de resolver corn a colaborac;ao daepistemologia.Mas, porenquanto, trata-se apenasde detenninar nossaposic;aofrente a lingilistica anterior. Esta se caracterizatipicamente pela elaborac;ao de uma hierarquia de conceitosque vai dos sons- particularesao fonema (c1asse de sons),dos fonemas particularesas eategorias de fonemas, dos di­versosseniidosa significac;iio geral ou fundamental e, enfim,as categorias deSignifica~es. Tern-se ohabito, na lingiils­tiea, de nestecaso falarem indUfiio. :£posslvel defini-la .em poueas palavras eomo a passagem do componente paraa classe e nao da classe para 0 eomponente: :a urn movi­mento que sintetiza ao inves de analisar, que generaliza aoinves de especificar.

A experienc1a poe em evidencia os inconvenientes deurn tal metodo. Este eonduz inevitavelmente a extrac;ao deconeeitos hipostasiados como sendo reais. Esse realismo(no sentido medieval do termo) nao fomeee uma baseutilizavel para a compara~ao, dadoque os eonceitos assim

14 PROLEGOMENOS· A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

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obtidos nao tern valor geral eso se aplicam a urn determi­nado estagio de uma dada lingua. .A terminologia tradi­cional cornpleta mostra 0 fracasso desse realisrno: asclassifica~6es da gramatica indutiva, tais coma "genitivo","perfeito", "subjuntivo", "passivo" etc., sac exernplos nota­veis desse fato. Nenhum desses termos, em sua acep~ao

corrente, e suscetivel de uma defini9ao geral. Genitivo,perfeito, subjuntivo e passivo abarcam fenomenos inteira­mente diferentes em duas linguas como, por exemplo, °latim e 0 grego. Todos os conceitos da lingiiistiea tradicio­nal, sem exce~ao alguma, estao neste mesmo easo. Aindu~ao, neste campo, nao leva das flutua96es aeonstaneia,mas apenas das flutua~6es ao acidental. Em Ultima anaIise,o metodo indutivo entra em conflito eom ° principio deempirisrno que formulamos: ele nao permite que se realizeuma descri~ao nao contraditoria e simples.

Se se pretende partir dos dados supostos da experien­cia, e exatamente 0 procedimento inverso que se imp5e.Se e possive! falar em dados (colocamos essa frase nocondicional por raz6es epistemo16gicas) , esses dados sao,para 0 ·lingilista, 0 texto em sua totalidade absoluta e naoanalisada. 0 unico procedimento possivel para isolar 0

sistema que esse texto subentende e urna amilise que con­sidera 0 texto coma uma classe analisavel em componentes;estes componentes sao, par sua vez, considerados comaclasses analisaveis em componentes, e assim por diante atea exaustao das possibiIidades de ancilise. :e possivel defi­nir rapidamente esse procedimento como sendo uma passa­gem da classe ao cornponente, e nao como no procedimentocontrmo. E urn movimento que analisa e espec~ica e naourn movirnento que sintetiza e generaliza, 0 contrano doempreendimento indutivo tal como 0 conhece a lingiiisticatradicional. A lingilistica contemporanea, que ilustra essaoposi93.0, designou esse procedimento, e outros que lhe sac,mais ou menos anaIogos, com 0 termo dedu9iio. Sabe-se,por experiencia, .que· esse termo choea os epistem6logos,mas mesmo assim 0 conservamos na esperancra de provar,posteriormente, que esta contradi~ao terminol6gica nadatern de insuperavel.

5. Teoria daLinguagem e Realidade

Corn a terminologia que escolhemos pudemos caracte­rizar 0 metodo da teoria da linguagem como sendo neces­sariamente empfrico e dedutivo, e desse modo pudemoslan~ar luz sobrea questao fundamental das rela~6es entrea teoria da Iinguagem e aquilo a que se denomina "os dadosda experiencia". No entanto, resta ainda esc1arecer estamesma questao a partir de urn outro ponto de vista, isto e,resta procurar 0 sentido unilateral ou recfproco das influen­cias pOsslveis entre a teoria e seu objeto (ou seus objetos).Formulando 0 problema de urn modo simplista, tendenciosoe voluntariamente ingenuo: cS 0 objeto que determina e afetaa teoria ou e a teoria que determina e afeta seu objeto?

Mais uma vez temos de recusar 0 problemapuramenteepistemol6gico em seu conjunto; ater-nos-ernos aqui aounico aspecto sob 0 qual ele se nos coloca. Sabemosmuito bem que 0 termo teona, mal empregado e desacredi­tado, pode ser compreendido de· diversas maneiras. Entreoutras coisas, pode designar um sistema de hip6teses. Nestesentido, freqiientemente utilizado. em nossos dias, e fora deduvida que a rela~ao de influencia entre a teoria e seuobjeto cS unilateral: cS 0 objeto que afeta e determin,a ateoria, e nao 0 inverso. A hip6tese, depois de confrontadacom 0 objeto, Pede revelar-se verdadeira ou ·falsa.. Jadeveria ser evidente que,de n08s,1 parte, empregamos atermo teorm num sentida diferente. Dais fatores tern, aqui,igual· importancia:

16 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

1. A teoria, em si mesma, nao d~pende da experien­cia. Em si mesma, nada ha que indica que tera ou naoapliea~oes relaeionadas corn os dados da experieneia. Emsi mesma, ela nao impliea nenhum postulado de existencia.Ela eonstitui aquilo que se denominou de sistema dedutivopuro, no sentido em que e a teoria, e ela apenas, que, apartir das premissas por ela enunciadas, permite 0 ealculodas possibilidades que resultam destas premissas.

2. 0 tearieo sabe, por experiencia, que eertas pre­missas enunciadas na teoria preenchem as eondi90es neees­sarias para que esta se aplique a certos dados da experiencia.Estas premissas sac tao gerais quanto possivel e podem ser,assim, aplicaveis a urn grande numero de dados da

." .expenencIa.

A fim de caraeterizar estes dois fatores, diremos quea teoria, no primeiro easo, e arbitraria, e no segundo, ade­qUada (ou conforme a seu objetivo). Pareee necessario

. ineorporar estes dois fatores na elabora~ao de toda teoria.Todavia, daquilo que foi exposto decorre que os dados daexperieneia TIunea podem confirmar ou contrariar a validadeda propria teoria, mas sim, apenas, sua aplicabilidade.

A teoria permite que se deduzam teoremas que devemter todos a forma da implicaC;ao (no sentido 16gico desse.termo) ou poder serem transpostos para uma forma con­dicional dessa relaC;ao. Urn tal teorema enuncia simples­mente que, se uma. condic;ao for preenchida, pode-seconcluir pela verdade da proposiC;ao. A aplicaC;ao·da· teoriamostrara se a condiC;ao e preenchida no easo considerado.

A teoriae os teoremas que dela sac deduzidos per­mitem, por sua vez, .el~borar hip6teses (entre as quais, asleis) cuja validade, eontrariamente a da teoria, dependeexclusivamente de sua verifica~ao.

Os termos axioma e postulado. nao foram aqui men­cionados. Deixamos para a epistemologia 0 trabalho dedecidirse nossa teoriaexige que proposi~oes desse tipoestejam na base das premissas que explicitamente enuncia­mos. As premissas da teoria da linguagem remontam tanlonge que tais axiomas pressupostos teriamuma tal gene­raUdade que nenhum deles poderia ser especffico a teoria dalinguagem . em oposiyao a outras teorias. :e que nossoobjetivo e justamenteo de remontar tan longe quantopossiveI na dire9ao dos principios fundamentais, sem corniS80 ultrapassar aquilo que nos pareee diretamente utilizavelpara a teoria da linguagem. Esta atitude nos obriga a in­vadir 0 dominio da epistemologia, tal como 0 fizemos nos

TEORIA DA LINGUAGEM E REALIDADE 17

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panigrafos anteriores. Isto na convicC;ao de que nenhumateoria cientffica pode ser elaborada sem uma colaborac;aoativa com a epistemologia.

A teoria da linguagem, portanto, define assim sobera­namente seu objeto ao estabelecer suas premissas atravesde urn procedimento simultaneamente arbitnirio e adequado.A teoria consiste num caIculo cujas premissas sac em numerotan restrito e sac Hio gerais quanto possivel e que, namedida em que tais premissas sao espedficas a tal teoria,nao parecem ser de natureza axiomatica. Este caIculopermite prever possibilidades, mas de modo algum sepronuncia a respeito da realizaC;ao destas. Deste pontode vista, se relacionarmos a teoria da linguagem com a rea­lidade, a resposta a questao que consiste em saber se 0

objeto determina e afeta a teoria, ou se e ° contrano, edupla: em virtude de seu can~.ter arbitr3rio, a teoria ea-rea­lista; em virtude de seu caniter adequado, ela e realista(atribuindo a este termo seu sentido modemo e nao, comamais acima, seu sentido medieval).

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6.0bjetivo daTeoria da Linguagem

:£ passivel dizer, portanto, que um]l teoria - nosentidoem que entendemos esse termo - tem por objetivoelaborar urn procedimento por meio do qual se possa des­crever, nio contraditoriamente e exaustivamente, objetosdados de uma suposta natureza. Uma tal descri~io permite

:" aquilo que se tem por habito denominar reconhecimentoouj compreensio do objeto em questao; do mesmo modo po-l demos dizer, sem corrermos 0 risco de errar ou de sermosI obscuros, que a teoria tem por objetivo indicar urn metodo

de reconhecimento ou de compreensio de urn. dado objeto.Deste modo, a teoria nao pode limitar-se a dar-nos meiosde reconbecer urn determinado objeto; eIa deve, alem dis~o,

ser concebida de modo a permitir a identifica~o de todosos objetosconcebfveis da mesma suposta" natureza que 0

objeto dado.Uma teoria deve ser geraI, no sentido emqueela deve pOr a nossa disposi~ao urn. instrumental quenos permita reconhecer nao apenas urn dado objeto ouobjetos ja submetidos a nossa experiencia como tambemtOO0808 objeto8 posslveis da mesma natureza supo8ta.Armamo-nos corn a teoriapara nos: depararmosnaoapenascorn todas as eventualidades jaconhecidas, ma8 corn qual­quereventualidade.

A" tepria da linguagem se interessa peIo texto, e seuobjetivo ~.". indicar umprocedimento que" permita 0 reco­nhecimento .de urn" dado texto por meio de uma descri~ao

nao contradit6ria" e exaustiva do mesmo. Masela devetambem mostrar como e posslveI, do mesmo modo, reco-

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20 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

nhecer qualquer outro texto da mesma natureza suposta,fomecendo-nos instrumentos utiIizaveis para tais textos.

Exigimos da teoria da linguagem, por exemplo, queela pennita descrever nao contraditoriamente e exaustiva-

. mente nao apenas todos os textos dinamarqueses existentescome tambem todos os textos dinamarqueses possiveis econcebiveis - mesmo os textos de amanha, mesmo aqueIesque pertencem a urn futuro nao definido - na medidaem que forem da mesma suposta natureza dos textos ateaqui considerados. A teoria da linguagem satisfaz estaexigencia ao basear-se nos textos dinamarqueses que existem;a extensao e a quantidade destes sao tais que esta teoria,de fato, tern de contentar-se com uma sele¥Ro desses textos.Ora, gral;as a nossos instrumentos te6ricos, essa simples se­lel;ao de textos permite constituir urn fundo de conheci­mentas que por sua vez podeni ser aplicado a outros textos.Estes conhecimentos dizem respeito, naturalmente, aos pro­cessos ou textos de que foram extraidos; mas nao reside

.nesse panto. seu interesse unico e essencial: tais conheci­mentos dizem respeito tambem ao sistema ou lingua a partirda qual se elabora a estrutura de todos os textos de umamesma suposta natureza, e que nos permite construir novastextos. Gra~as aos conhecimentos lingliisticos assim obti­dos, poderemos elaborar, para uma mesma lingua, todos ostextos concebiveis ou teoricamente posslveis.

Todavia, nao basta que a teoria da linguagem permitadescrever e elaborar todos os textos possiveis de uma dadalingua; e necessario ainda que, sabre a base" dos conheci­mentos que a teoria da Iinguagem em geral contem, .essateoria possa fazer a mesma coisaem relal;ao a.todos ostextos de quaIquer outra Hngua. Ainda uma vez 0 te6rieo.da Iinguagem s6 pode satisfazer essa exigencia se tomarpor ponto de partida uma sele~ao restrita de textos quepertellcem a diferentes Ifnguas. Percorrer todos os textosexistentese, naturaImente, humanamente impossiveI, e senaderesto inutil uma vez que a teoria tambem deve ser vaIidapara textos que ainda· nao estao reaIizados. 0 lingilista,como quaIquer outro· te6rieo, deve portanto ter a preeaul;aode prever todas as possibilidades· concebfveis, incIuindo-seaqui aqueles .que· san ainda deseonhecidas e as que naoestao realizadas. Deve admiti-Ias na teoria de tal modo

. que esta se apIique a textos e a Iinguas que ele ainda naoeneontrou, e dos quais talvezalguns nunta- se realizem.Somente deste modo e que ele pode estabelecer uma teoriada Iinguagem cuja aplicabilidade sejacerta.

Essa ea razao pela quale necessario -assegurar a apli­eabilidade da teoria, e cada aplica~ao necessariamente apressup6e. Mas e da maior importancia nao eonfundir a

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OBJETIVO DA TEORIA DA LINGUAGEM 21

teoria corn suas aplica~5es ou corn 0 metodo pnitico deapIica~ao. A teoria conduzira a urn. procedimento, masurn "procedirnento de descoberta" (pratico) DaO sera ex­poste nesta obra que, em termos estritos, nao apresentaa teoria sob uma forma sistematiea, mas apenas seus pro­legomenos.

Em virtude de sua adequa9ao, a teoria da linguagemrealiza urn trabalho empmco; em virtude de seu caraterarbitnirio, realiza urn trabalho de caIculo. Baseando-se emcertos fatos da experiencia - necessariamente limitados,embora seja uti! que sejam taG variados quanto possiveI ­o tearico empreende, num campo preciso, 0 caIeulo detodas as possibilidades. Ele baliza arbitrariamente essecampo isolando propriedades comuns a todos os objetos arespeito dos quais se esta de acordo em denomina-Ios delfnguas, a fim de, em seguida, generalizar essas propriedadese estabelece-Ias par defini~ao. A partir desse momentoele decidiu - de urn modo arbitnirio mas adequado ­quais sao os objetos aos quais a teoria pode ser aplicada equais aqueles aos quais ele nao 0 pode ser. Todos osobjetos assim definidos sac entao submetidos a urn caIculogeraI que preve todos os casos conceblveis. Esse caIculo,deduzido a partir da defini9aO apresentada._ e independente­mente de qualquer referencia a experiencia, fomeee ° ins­trumental que permite descrever ou reconhecer urn dadotexto e a lingua sobre a qual ele esta elaborado. A teoriada linguagern nao pode ser nem verificada, nern confirmada,nem invalidada atraves do recurso aos textos e as Hnguasde que trata. Ela so admite urn controle: a nao-contradi­9ao e a exaustividade do caIculo.

Se 0 caleulo permite estabelecer diversos procedimentospossiveis que conduzem todos a uma descri9ao nao contra­dit6ria e exaustiva de urn texto e de uma lingua quaisquer,deve-se escolher entre esses procedimentosaquele que per­mitir a descri~ao mais simples. Se varios procedimentospermitem descri90es cujosresultados tern. 0 mesmo graude simpIicidade, deve-se escolher aquele que toma 0 caminhomais simples. Chamaremos esse principio, que.e deduzidode nosso princfpio de empirismo, de principio de simplici-

. dade.

Eo unico principio que permite afirmar que tal solu­9ao nao contradit6riae exaustiva e correta e que tal outranao 0 e. };: considerada correta aquela que melhor satisfazo principio de simplicidade.

Portanto, e passivel decidir sabre 0 valor da teoria dalinguagem e de suas aplica~oes verificando se 0 resultadoobtido, na medida em que responde as exigencias da

22 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

nao-contradi~ao e da exaustividade, e ao mesmo tempo 0

mais simples possIve!.Assim, e apenas em rela~ao ao "principio de empiris­

mo" que eIa enunciou que a teoria da linguagem deve serjulgada. Segue-se que e possIveI imaginar vanas teoriasda linguagem que se aproximam do ideal formulado nesseprincipio. Apenas uma deIas deve ser a teoria definitiva,e toda teoria da Iinguagem apresentada sob uma forma con­creta aspira a ser exatamente isso. Ora, a teoria da lingua­gem, coma disciplina, nao se define par sua realiza~ao· con­creta; deste modo, e igualmente possivel e desejaveI Ye-laprogredir atraves da elaboracao de novas reaIizac6es con­cretas que se aproximam cada vez mais de seu principiofundamental.

Nos prolegomenos a teoria, 0 que nos interessa e 0

lado realista desta teoria, a melhor maneira de satisfazera exigencia da apIicabilidade. Para isso, sera necessariaisolar os tra~os constitutivos de toda estrutura lingillstica eexaminar as conseqUencias 16gicas do estabelecimento destesem d~fini~es.

7. Perspectivasda Teoria da Linguagem

Evitando a atitude transcendental que prevaleceu ateaqui, a teoria da Iinguagern procura urn conhecimentoimanente da lingua enquanto estrutura especffica que sebaseia apenas em si mesmo (cf. Cap. 1). Procurando umaconstancia no proprio interior da lingua e DaO fora dela(cf. Cap. 2), a teoria precede inicialmente a uma limita~o

necessaria, mas apenas· nas provisorias, de seu objeto.Limitac;ao que nao consiste nunca em suprimir nem mesmoum Unico dos fatores essenciais desta totaIidade global quee a linguagem. Trata-se apenas de dividir os problemase de partir do simples para chegar ao complexo, como 0

exigem a segunda e a terceira regras de Descartes. NossaIimitac;ao resulta simplesmente da necessidade de separarantes de comparar e do princfpio inevitavel da amllise (cf.Cap. 4).

A limitac;ao pode ser considerada justificada se maistarde permitir uma ampliaC;ao da perspectiva atraves de umaprojec;ao da estrutura descoberta sobre os fenomenos quelhe sac vizinhos,' de modo tal que sejam explicados de ma­neira satisfatoria a luz da propria estrutura; e se, apos aanaIise, a totalidade global da linguagem, sua vida e suarealidade, podem de novo ser consideradas sinteticarnente,nao mais como urn· conglomerado acidental de fata rnascoma urn todo organizado ao redor de urn principio diretor,e na medida em que se chega a esse ponto que a teoriapode ser considerada satisfat6ria. A prova disso consiste eminvestigar em que medida a teoria corresponde a exigencia

24 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

da descri~ao exaustiva, conforme nosso princfpio de empi­rismo. Essa prova deve ser feita extraindo-se todas as con­sequencias gerais do principio estrutural que se escolheu.

E segundo esse principio que a teoria permite a amplia­~ao das perspectivas. A forma que isto assumini in con­creto dependera do tipo de objetos que de infcio decidirmosconsiderar. Escolheremos partir das premissas da lingiiisticatradicional, e construiremos inicialmente nossa teoria apartir da llngua falada dita natural, e apenas dela. A partirdesta primeira perspectiva, os clrculos irao se ampliandoate que as ultimas consequencias sejam extraldas. A pers­pectiva sera ampliada vanas vezes, atraves do que aquelesaspectos excluidos da primeira considera~ao sac novamenteintroduzidos e assumem seu lugar num novo conjunto.

8.0 Sistema de Definicoes. .

A teoria da linguagem, cuja tarefa principal eexpIicitar- remontando 0 mais longe possivel - as premissas cien­tificas da lingiiistica, estabelece, corn essa finalidade, umsistema de defini~6es. :£ necessaria exigir da teoria queela evite tanto quanto passIvel toda metafisica, isto e, queo numero dessas premissas implicitas deve ser reduzido aominima. Portanto, os conceitos que ela emprega devemser definidos, e as defini~6es propostas devem, por sua vez,tanto quanto possivel, repousar sobre conceitos definidos.Na pratica, isso equivale a dizer que e preciso levar asdefini~6es Hio longe quanto possivel, e introduzir por todaparte definicr6es preliminares antes das que as pressup6em.

~ uti! atribuir as defini~oes que pressupoem outrasdefini~oes, e a partir das quais outras defini~oes sac pres­supostas, urn carater ao mesmo tempo exp]fcito e rigorosa­mente formal. Elas se distinguem das definicroes realistasque a lingillstica ate agora procurou formular· na medidaem que ela se interessou por esse empreendiniento. Naose trata, de modo algum, nas definir;oes formais da teoria,de esgotar a compreensao da natureza dos objetos, nemmesrno de precisar sua extensao, mas apenas .dedetermi­na-los corn relar;ao· a outros objetos igualmente:.definidos oupressupostos enquanto conceitos fundamentais.

Alem das definir;oes formais, as vezes e necessario,em razao do procedimento de descrir;ao, introduzir, nodecorrer da descri~ao, defini~oes operacionais que represen­tarn urn papel apenas provis6rio. .Trata-se, de·Urn Jado, de

26 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

definigao que, num eshldio mais avangado, se transformadioem definig6es formais e, de outro lado, de defini~6es pu­ramente operacionais cujos conceitos definidos nao estaraono sistema de definic;6es formais.

Este modo de proceder atraves de definic;6es extensivasparece dever contribuir para libertar a teoria da linguagemde axiomas especfficos (cf. Cap. 5). Parece-nos que, emtoda ciencia, a introduc;ao de uma estrategia apropriada dedefinic;oes permite restringir 0 numero de axiomas e as vezesmesmo reduzi-Io a zero. Uma tendencia seria para elimi­nar as premissas Imp1.fcitas conduz a substituir os postuladosseja par definic;6es, seja por proposic;6es condicionais colo­cadas teoricamente que fazem desaparecer os postuladosenquanta tais. Parece que, na maioria dos casos, os pos­tulados puramente existenciais podem ser substitufdos parteoremas na forma de condic;6es.

9. Principio da Analise

Partindo do texto como dado e procurando indicar 0

caminho para uma descri~ao nao contradit6ria e exaustivadeste texto atraves de uma ananse - uma passagem dedutivade classe para componente e componente de componente(cf. Caps. 4 e 6) - e necessario que os niveis mais pro­fundos do sistema de defini~es da teoria da linguagem(cf. Cap. 8) tratem do principio desta amilise, determinandosua natureza e os conceitos que dela participam. :a exata­mente esses primeiros niveis do sistema de defini~6es queabordaremos quando come~armos a refletir sabre a pracedi­mento que a teoria da linguagem devera escalher para levara cabo sua tarefa.

Como a escolha de uma base de amilise depende desua adequa~ao (em rela~ao as tres exigencias contidas noprincipio de empirismo), esta esealha variara .conforme ostextos. Portanto, nao pode ser fixada como universal, masapenas por urn calculo geral que leva em considera~ao todasas possibiIidades concebiveis. 0 pr6prio principio da

. amilise, no qual e apenas no qualestamos interessados nomomento, apresenta, pelo contnlrio, aquilo que e universal.

Mas este deve ser conforme .as exigencias .do principiodeempirismo, e no easo e a exigencia de exaustividade queapresenta 0 maior interessepratico. Deve-se proceder demodo tal que 0 resultado da amilise seja exaustivo (no sen­tido mais ample do termo) , e que nao "introduzamos de

"inicio ummetodo que nos impe~a de registrar osfatores que,atraves de uma ontra anaIise, seriam postos em evidencia

28 PROLEG~MENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

coma pertencentes ao objeto~ que constitui a materia dalingilistica. Em suma, 0 princfpio da anaIise deve ser ade­quado.

Segundo 0 reaIismo ingenuo, a anaIise provavelmentedeveria reduzir-se a decupagem de urn dado objeto empartes, portanto em novos objetos, a seguir divididos estesem partes, portanto ainda em novos objetos,e assim pordiante. Mas, mesmo neste caso, 0 realismo ingenuo teriade eseolher entre varias decupagens posslveis. Sera reeo­nhecido, portanto, sem dificuldades, que no fundo 0 essen­cial nao e dividfr um objeto em partes, mas sim adaptara anaIise de modo que ela seja eonforme as dependeneiasmutuas que existem entre essas partes, permitindo-nosprestar eontas dessas dependeneias de modo satisfat6rio.Esse e 0 unico modo de assegurar a adequac;ao desta analisee dela fazer, segundo a teoria metaffsica do conhecimento,um reflexo da "natureza" do objeto e de suas partes.

As conseqiiencias dessa constatac;3.o sac essenciais paraque se compreenda 0 principio de anaIise: tanto quantosuas partes, 0 objeto examinado so existe em virtude dessesrelacionamentos ou dessas dependencias; a totalidade doobjeto examinado e apenas a soma dessas dependeneias, ecada uma· de suas partes define-se apenas pelos relaciona­mentos que existem 1) entre ela e outras partes coorde­nadas, 2) entre a totalidaqe e as partes do grau seguinte,3) entre 0 eonjunto dos relacionamentos e das dependenciase essas partes. Os "objetos" do realismo ingenuo redu­zem-se, enUio, a pontos de intersecgao desses feixes de rela­cionamentos; issosignifica que apenas eles permitem umadescric;ao dos objetos que nao podem ser cientificamentedefinidos eeompreendidos a nao ser desse modo. Osrelacionamentos ou as dependencias que 0 realismo ingenueconsidera secundarios e como pressupostos dos objetos tor­.Q.am-se, para nos, esseneiais: sac a condi~ao necessaria paraque existam pontos de intersecc;3.o.

o reconhecimento de fato de que uma totalidade naoseeompoe de objetos,mas sim de dependencias, e que naoe sua substancia mas sim os relacionamentos intemos e ex­temosque tern. umaexistenciacientffica nao e novo, parcerto. No entanto, em lingiilstica parece ser. Postularobjetos como sendo outra cois~ que nao termosde relacio­namentos e introduzir um axioma superfIuo e umahiptStesemetafisica do qual a lingiilstica tenl de se libertar.

E fato que pesquisas lingliisticas recentes estao a pontode reconhecer certos fatas que com a eondi~ao de seremestudados a fundo, deveriam eonduzir logicamente a estaconcep~ao. Desde Ferdinand deSaussure, freqiientemente

PRINCIPIO DA ANALYSE 29

tern-se sustentado que existia entre certos fatos de umalingua uma interdependencia tal que uma lingua dada naopode apresentarum desses fatos sem apresentar tamb6mo outro. Esta id6ia e justa, sem dtivida nenhuma, aindaque frequentemente tenha sido levada longe demais e explo­rada de modo abusivo. Tudo parece indicar que Saussurereconhece a prioridade das dependencias na lingua. Portoda parte ele procura relacionamentos, e afirma que alingua e forma, e nao substancia.

Neste ponto de nosso estudo devemos evitar cair DumdrcUIo vicioso.. Se se pretende, por exempIo, que 0 subs­tantivoe 0 adjetivo, ou a vogal e a consoante, pressupoem-semutuamente, de modo que uma lingua nao pode ter subs­tantivos sem ter tambem adjetivos e reciprocamente, e queela nao pode ter .vogais .sem ter tambem consoantes e reci­procamente - proposic;5es que, de nossa parte, acreditamospoder afirmar coma teoremas - essas proposic;6es poderaoser verdadeiras ou falsas segundo as defmic;oes adotadas paraos conceitos de substantivo, adjetivo, vogal e consoante.

Assim, encontramO-nos aqui num terreno diffcil; ma~.

estas dificuIdades sac agravadas peIo fato de que os casos'de dependencias mutuas,ou interdependencias, aos quais nosativemos ate aqui, extraem sua existencia do sistema dalingua e nao de seu processo (cf. Cap. 2), e eexatamenteesse tipo de dependencias e nao outros que procuramos.Alem das interdependencias, e necessario prever dependen­cias unilaterais em que urn dos termos pressupoe 0 outra,mas nao 0 contfClrio, e ainda dependencias mais frouxasonde os dais termos naa se pressupoem mutuamente, PO­dendo nao obstante figurar juntos (no processo ou no sis­tema) por oposiC;ao a termosque sac incompativeis e quese excluem mutuamente.

A partir do momento em que se admite a existenciadessas diversas possibilidades, impoe-se a exigencia de uma!terminologia adequada. Adotaremos provisoriamente ter­mos operacionais para as possibilidades aqui consideradas.As dependencias recfprocas,em que os dois termos sepressupoem mutuamente,serao, para.no's, interdependencias.As dependencias unilaterais, em que urn dos termos pres­supoe ooutro, mas nao 0 contrario, serao chamadas deter­miMfoes. Finalmente, as dependencias mais frouxas, emque os dois termos estao num reIacionamento reciprocosem que urn pressuponha 0 outro, serao chamadas conste­la~oes.

A partirdaqui, podemos distinguir as tres especiesde dependenciasconforme entrem num processo ou?~

sistema.Denominaremos solidariedade a interdependencla

r -.---- ..

30 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

entre termos num processo, e complementaridade 1 a depen­dencia entre termos num sistema. A determina~ao entretermos num processo sera chamada selet;iio, e entre termosnum sistema, especificat;iio. As constela~6es serao deno­minadas combinat;oes num processo e autonomias numsistema.

E uti! dispor assim de tres jogos de termos, 0 primeiropara 0 processo, 0 segundo para 0 sistema e 0 terceirovalendo indiferentemente para 0 processo e 0 sistema. Cornefeito, ha casos em que urn mesmo conjunto de termospode ser considerado tanto coma processo quanto comosistema unicamente em virtude do ponto de vista que seadotar. A teoria e urn exemplo: pode-se· considerar ahierarquia das defini96es coma urn processo em que eenunciada, escrita ou lida uma defini9ao, depois uma outrae assim· par diante, ou entao como UID sistema que poten­cialmente subentende urn processo possivel. Ha determi­na~ao entre as defini~5es uma vez que aquelas que devempreceder outras sao pressupostas pelas que as seguem, rnasque a recfproca nao e verdadeira. Se a hierarquia dasdefini~6es e vista como urn processo, ha selec;ao entre asdefini~5es; se, pelo contrario, econsiderada como um 8i8­

tema, entre elas ha especifica9ao.

. Vma vez que aquilo por que nos interessamos nomomento e aamilise de urn texto, e 0 processo queretera

~ nossa aten~ao, e nao 0 sistema. E faci1 encontrar solida­riedades nos textos de uma dada lingua. Deste modo, nas

~ Iinguas que melhor conhecemos, muito freqiientemente hasolidaiiedade entre .os morfemas de diversas categorias no

~. interior de uma mesma"forma gramatical" 2, de modo que~ urn morfema de uma categoria se ve all sempre acompa­

nhado por urn morfema da outra categoria, e reciproca-• mente. 0 substantivo Iatino semprecomporta urn. morfema

de. caso e um morfema· de nUmero, e urn nunca. e encon­~ trado semooutro. Os .casos de sele~ao, entretanto, sao~ mais notaveis. Alguns SaD conhecidos, ha rnuito tempo,

sob 0 nome de recc;ao, ainda que este conceito continue~ mal definido. Pode haver selec;ao entre uma preposi~ao~ e seu objeto: assim, entre sine e 0 ablativo, corn sine pres­

supondo a existencia de urn ablativo no texto, enquanto~ que 0 inverso nao e verdadeiro. Em outros casos ha com- ...

binac;ao, tal como, em latim, entre ab e 0 ablativo, que tern~ uma coexistencia possIvel rnas nao necessaria. Esta possi-t bilidade de coexistencia os distingue, por exemplo, de ad

1. Os _ relacionamentos entre substantivo e. adjetivo e entre vogal econsoante sao, portanto, exemplos de complementaridade.

2. 0 termo morfema restringe"se nesteJivro aQ uso no sentido deelemento~ inflexionais considerados como elementcS" do conteudo.

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PRINctPIO DA ANA-USE 31

e do ablativo, que se excluem mutuamente. Se a coexisten­cia de ab e do ablativo nao e necessaria, e porque ab podetambem funcionar como prefixo de verba. De urn pontode vista diferente, que tem urn carater universal e flaO

particular a urna dada lingua, pode haver uma solidariedadeentre uma preposi~ao e seu objeto no sentido de que 0

objeto de uma preposi~ao nao pode existir sem a preposi~ao,

nem esta (como sine) sem 0 objeto.A lingilistica tradicional so tratou tais dependencias de

modo sistematico na medida em que elas existiam entreduas ou mais palavras e nao no interior de urna unicapalavra. Esta atitude esta relacionada corn a divisao dagramatica em morfologia e em sintaxe, divisao esta cujanecessidade a lingiiIstica sustenton desde a Antiguidade.Concordando, em rela~ao a este ponto, corn certas tenden­cias recentes, logo nos veremos levados a abandonar essatese por ser inadequada. Se se levar esta tese a seu pontolimite - 0 que foi feito algumas vezes - a morfologia sose prestaria a uma descri~aa do sistema e a sintaxe apenas adescri~ao do processo. Nao e inuti1levar esta distin~ao atesua conseqiiencia logica, pois isto poe em evidencia 0 para­doxo: se esse fosse 0 caso, logicamente so se poderia registraras dependencias que dependem do processo na sintaxe, eDaO logologia, isto e, entre as palavras de urna mesma frase,mas nao no interior de uma unica palavra e nem entre suaspartes. Ye-se de oode provem 0 interesse exclusivo atribuidoaos fenomenos de rec~ao.

No entanto, nao ha necessidade de renunciar a todasas concep~oes tradicionais para ver que existr., no interiorda palavra, dependencias anaIogas as que as paIavras con­traem entre si na frase, dependencias suscetfveis de urnaanaIise e de uma descri~ao da mesma natureza. A estruturade urna lingua pode ser tal que urn mesino radical pedeaparecer corn e sem sufixo de deriva~ao. Ha, entao, sele­~ao entre 0 sufixo e 0 radical. Deum ponto de vista maisuniversal ou mais geral, ha sem.pre sele~o neste caso, umavez que urn sufixo pressupoe necessariamente urn radical e .nao 0 contrano.Mesmo osconceitos· da Iingiifstica tra­dicionalexigem em Ultima ~n;llise. urna defini~ao baseadana sele~ao, defini~ao do mesmo tipo daquela que pennitedistinguir· entre proposi~aoprincipal e ptoposi~ao subordi­nada. Ja demos urn exemplo disso ao mostrar· que nointerior da desinencia da palavra e entre seus componentesencontram;'se igualmente dependenciasda mesma natureza.:B evidente que, nas condi~6es estruturais dadas, a solidarie­dade entre os motfemas nominais pode ser substituida porurna sele~ao ou por uma combina~o. Urn substantivo, porexemplo, pede apresentar ou nao um morfema de_ compara-

32 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

<;ao, 0 que significa que os morfemas de compara~o naosao solidarios dos rnorfemas casuais como 0 sao osmorfemas de numero, mas pressup6em unilateralmente suacoexistencia. Ai ha, portanto, sele~ao. Vma combina~ao

aparece quando, ao inves de considerar, como no exemploanterior, cada paradigma de morfema (0 dos casos e 0

dos numeros) como uma totalidade, considera-se cada casoe cada numero separadamente: entre urn caso particular,por exemplo 0 acusativo, e urn numero particular, por exem­plo 0 plural, existe combina~ao. S6 ha solidariedade entreos paradigmas tomados em seu conjunto. Pade-se de­compor a silaba segundo 0 rnesrno principio. Em certascondi90es estruturais (realizadas em inurneras linguas co­nhecidas), pode-se dividir a sllaba em uma parte central(vogal ou consoante sonora), e uma parte marginal (con­soante ou consoante nao-sonora) gra~as ao fato de que umaparte marginal pressup6e a coexistencia textual de uma partecentral, e nao 0 contrario. Esse ainda eurn caso de sele9ao.Esse principio esta de fato presente na defini9ao das vogais e

. das consoantes que, ja caida em desuso nos tratados erudi­tos, sobrevive ainda mais ou menos no ensino primano eremonta, sem duvida, a Antiguidade.

Dever-se-ia, portanto, considerar coma certo que umtexto e uma qualquer de suas partes sao analisaveis empartes definidas par dependencias desta natureza. O. prin­cipio daanaIise consistira, por conseguinte, no reconheci­mento dessas dependencias: as partes definidas pela anaIiseso .devem serconsideradas coma pontos de intersec~ao dosfeixes dos relacionamentos. Portanto, nao se pode em­preender a analise antes que essas dependencias sejamdescritasem seus tipos principais, uma vez que a base daanalise deve serescolhida, em cada caso particular, conformeos relacionamentospertinentes, e s6 se pode c proceder aesta decisaocom a condi~ao de saber quais sac os relacio­namentos a serem descritos a fim de que a descri9iio sejaexaustiva. .

)

\

II.

10. Forma daAnalise

A amUise consiste, portanto, efetivamente, no registrode certas dependencias ou· certos relacionamentos entretermos que, conforme 0 usa consagrado, chamaremos departes·do texto, e que existem exatameilte em virtude dessesrelacionamentos e unicamente em virtude deles. 0 fate deserem esses termos denominados partes, e de 0 procedi­mento todo ser chamado de amilise se deve ao fato deque tambem ha relacionamentos entreesses termos e atotalidade {isto e, 0 texto} na qual se diz que eles entram,relacionamentos estes que a anilise deve igualm.~nteregis­

trar. 0 fator particular que caracteriza a dependencia entrea· totalidade e· as partes, que a diferencia de umadependen­cia entre a totalidade e outras totalidades e que faz corn

.que os objetosdescobertos (as partes) possam ser conside­radoscomo interiores e nao exteriores a totalidade (isto e,o texto) parece ser a. homogeneidade da dependencia: tadasas partes coordenadas resultam apenas da .anaIise de umatotalidade que depende dessa totalidade de urn modo homo­geneo. Esta homogeneidade caracteriza tambem a depen­dencia entre as partes; analisando, por exemplo, urn textoemproposi90es, das quais se distinguem duas especies(definidas por uma dependencia especffica recfproca), aprincipal e a subordinada, sempre nos veremos - corn acondi9aO de nao levar adiante a anaIise - na presenc;a damesma dependencia entre aprincipale a subordinada, sejamquais forem as proposi90es consideradas; 0 mesmo acontecequanto ao relacionamento entre urn tema e seu sufixo de

I

34 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

deriva<;ao, entre a parte central e a parte marginal de umasflaba, e quanto a todos os outros casos.

Utilizaremos este criterio a fim de estabelecer e con­servar uma defini<;ao metodologica unlvoca da anaIise. Aana!ise, em sua defini<;ao formal, sera portanto a descric;aode urn objeto atraves das dependencias homogeneas deoutros objetos em rela<;ao ao primeiro e das dependenciasentre eles reciprocamente. Denominar-se-a classe 0 objetosubmetido a anaIise, e componentes dessa classe os objetosque sac registrados por uma unica analise como dependendouns dos· outros e da classe de modo homogeneo.

Nesta primeira amostra restrita do sistema de defini<;5esadotado pela teoria, a defini<;ao do cornponente pressup6ea da classe, e a defini<;ao da cIasse pressupoe a da anaIise.A definic;ao da analise pressupoe apenas termos ou concei­tos que nao sao, eles, definidos no sistema de definic;6esespecffico da teoria, e que colocamos como indefiniveis:descrirQo, objeto, dependencia, homogeneidade.

Denominar-se-a de hierarquia uma classe de classes, esabemos que teremos de distinguir entre duas especies dehierarquias: os processos e os sistemas. Poderernos nosaproximar do usa habitual adotando designac;6es especiaispara cIasse ecompanente, conforme forem extraidos de umprocesso ou de urn sistema. Num. processo Iingilistico 1,

as classes serao_denominadas cadeias e os cornponentespartes 2. Num sistema IingiHstico, as classes sedio deno­minadas paradigmas e os componentes membros. Corres­pondendo. a distin<;ao entre partes .e membros, e quandofor litilespecificar, poderemos chamar de divisao a amilisede .um processo de articulariio aamilise de urn sistema.

A primeira tarefa da anaIise, portanto, consiste emefetuar uma divisao do processo. 0 texto e uma cadeiae todas as partes (proposic;5es, palavras, sllabas etc.) tam­bem sao cadeias, corn exce~ao das· partes irredutiveis quenao podem ser submetidas a anaIise.

A exigencia de exaustividade impede que se fiqueapenas numa simples divisao do texto; rnas as partes queela disceme deverao ser, por sua vez, divididas, e assimpar diante ate 0 esgotamento da divisao. Definimosa anaIise de tal modo que nada indica, na definiC;ao, se elae simples ou continuada; uma amilise (e, portanto, tambemuma divisao) assim definida pode conter uma, duas, ouvarias anaIises; 0 conceito de anaIise (ou de divisao) eurn "conceito-sanfona". Alem do mais, pode-se agora con-

1., Na forma Ultima. e mais geral, dessas duas defini9i5es. a palavralingUfS'Uca sera substituida por semiDtica. Para a distin~ao entre uma linguae uma semi6tica, ver. Cap. 21.

2. On elos.

I

FORMA DA ANALISE 35

siderar que a descri~ao do objeto dado (i8to e, 0 texto)nao se esgota corn uma divisao continuada mesmo qUElevada a cabo, a partir de uma tinica base de amilise, masque se pode ampliar a descri~ao, isto e, registrar novasdependencias atraves de novas divisoes efetuadas a partirde outras bases de anaIise. Falaremos entao em complexode analises~ ou complexo de divisaes~ isto e, de classe deanalises (ou divisoes) de uma unica e mesma classe (oucadeia) .

A amilise exaustiva do texto teni entao a forma deurn procedimento que se compoe de uma divisao continuadaou de urn complexo de divisoes no qual cada opera~ao

consistini em uma simples divisao minima. Cada opera~ao

que este procedimento comporta pressuponi as opera<;oesanteriores e sera pressuposta pelas opera<;6es seguintes. 0mesmo acontecera se 0 procedimento adotado for urn com­plexo de divis5es: cada divisao levada ate 0 fim epressuposta por outras divisoes, e/ou pressup6e, por suavez, outras divisoes. Entre os cornponentes do procedi­mento ha detenninac;ao, de tal modo que os componentesseguintes sempre pressupoem os anteriores, mas nao 0

inverso. Tal como a detennina~o entre as definic;6es(cf. Cap. 9), a determina~ao entre as operag6es pode serconsiderada seja como uma selegao, seja como uma especi­fica~ao. Chamaremos de deduriio uma tal totalidade deprocedimento, e definiremos fonnalmente a dedu~ao com!Juma amilise continuada ou urn complexo de amilises corndetennina<;aoentre as anaIises quedela participam.

Vma dedu<;ao e, portanto, urn certo tipo de procedi­mento diferente do da indu~o. Definiremos urna oper{lfiiocoma uma descriC;ao que esta de acordo corn 0 prindpiode empirismo, e urn procedimento coma uma classe de ope­rac;6es de mutua detenninac;ao. (Tais defini<;6es fazem daoperarao e do procedimento "conceitos-sanfona",talcomoa analise acima mencionada.) A partir. da!, urn procedi­mento pode entaD consistir ou em anaIises e ser uma dedu­gao ou entao, pelo contrario, consistir em sfnteses e ser ulnainduriio~ Por sintese, entendemos a descrigao de objetosenquanto componentes de uma cIasse (a sfntese, como aanaIise, toma-se entaD urn "conceito-sanfona") e por in­dUfiio, uma sfntese continuada corn determinac;ao entre assfnteses que dela participam. Se 0 procedimento adotadocornporta tanto a anaIise quanto a sfnteset 0 relacionamentode pressuposic;ao existente entre· elas aparecera semprecomo uma detenninagao onde a sintese pressupoe a amlIise,e nao 0 contnlrio. Isto resulta naturalmente do fato deque 0 dado imediato e uma totalidade nao analisada (0

texto, cf. Cap. 4). Segue-se que urn procedimento pura-

36 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

mente indutivo (mas que comportaria necessariamente de­du~oes implicitas) nao poderia satisfazer a exigencia deexaustividade que participa do principio de empirisma.Portanto, ha uma justifica~ao formal do metodo dedutivodefendido no Cap. 4. De resto, nada disto impede que ahierarquia seja a seguir percorrida na dire~ao oposta, 0

que nao produzira novas resultados mas que pode fomecerurn angulo novo que as vezes sera util adotar para osmesmos resultantes.

Pareceu-nos nao haver aqui razao suficiente para mo­dificar a terminologia que esta agora a ponto de ser aceitaem Iingtiistica. Os fundamentos formais de nossa termino­logia e dos conceitos que propusemos poderiam muitobem se Iigar ao uso cansagrado pela epistemologia. Nossasdefini~6es nada tern que contradiga ou impe~a 0 usa dapalavra dedufQO no sentido de "conc1usao 16gica". Pare­ce-nos possive! dizer que proposi~6es que decorrem deoutras proposic;6es resultarn destas por anaIise 3: em cadanivel do procedimento, asproposic;oes deduzidas sao objetosque dependem uns dos outros de modo homogeneo, talcomo eles dependem da proposi~ao pressuposta. ~ certoque isto e muito diferente das concepc;6es habituais dano~ao deanaIise. Mas 0 que justamente pretendemos foi,utiIizando defini~6es formais, evitar formular postuladossobre a natureza dos objetos; portanto, nada postuIarnossabre a natureza ou a essencia da anaIise fora daquilo queesta contido em sua defini~ao. Se ° termo indu9ao e em­pregado para designar urn tipo particular de conclusao 16gicaque permite a passagem de certas proposic;6es para outras- ° que faz da indu~ao, segundo a terminologia 16gica,uma especie de dedu~ao - 0 termo ambiguo indufiio eentaD 'empregado numa acep~ao inteiramente diferentedaquela que visamos. Levadoa cabo, 0 rnetodo de defi­ni~aopoderia suprimir 0 incomodo causado por esta ambi­giiidade.

Ate aqui, empregamos os termos componente, parte emembro opondo-os, respectivamente, a classe, cadeia e pa­radigma. Mas utilizaremos componente, parte e membroapenas para designar as resultantes de uma anaIise simples(cf., acima, a defini~ao do termo componente).. NumaanaIisecontinuada, falarernos em· derivados. Portanto, umahierarquia e uma classe corn seus derivados. Se admitimosque, num determinado momento, urn texto e anaIisado emgropos de silabas, que sao entaD analisados em sflabas, quepor sua vez sao analisadas em partes de silabas, num talcasoas silabas serao derivados dos gropos de silabas, e as

3. Voltaremos a este ponto no Cap. 18.

FORMA DA ANA.LISE 37

partes de silabas sedio derivados dos grupos de silabas edas silabas. Por outro lado, as partes de silabas seraocomponentes (partes) de sfiabas porem nao gropos desfiabas, e as silabas serao componentes (partes) dos groposde silabas mas de nenhuma outra resultante da amilise.Traduzindo isto em defini~5es: por derivados de uma classeentenderemos seus componentes e os componentes-de-com­ponentes no interior de uma unica e mesma deduC;ao.Acrescentemos de imediato que nos propomos a dizer quea classe compreende seus derivados e que os derivadosentram na classe. Por grau dos derivados entenderemos 0

numero de classes atraves das quais eles dependem de suaclasse comum mais baixa; se este numero for zero, seraoderivados de primeiro grau; se 0 numero for 1, seraoderivados de segundo grau, e assim por diante. No exemploja utilizado onde gropos de silabas sac pensados como ana­Iisados em silabas, e estas em partes de sfiabas, as silabasserao portanto derivados de primeiro grau dos gropos desilabas, enquanto que as partes de silabas serao derivadosde primeiro grau das sflabas e derivados de segundo graudos gropos de silabas. Derivado de primeiro grau e com­ponente sao, portanto, termos equivalentes.

11. Funcoes.

Uma dependencia que preenche as condi~5es de umaamiIise sera denominada funfiio. Deste modo, diremos queha fun9ao entre uma classe e seus componentes (entre umacadeia e suaspartes, entre uma paradigma e seus membros),do mesmo modo como ha fun~ao mutua entre os compo­nentes (partes e membros). Serao denominados funtivosde urna funeao os termos entre os quais esta existe, enten­dendo-se por funtivo urn objeto que tern uma fun9aO emrela9ao a outros objetos. Diz-se que um funtivo contrai suafun~ao. Das defini~oes resulta que tambem funeoes podemser funtivos, uma vez que pode haver funeao entre fun90es.Deste modo, existe uma funeao entre a funeao que as partescontraem entre si e a funeao contraida entre a cadeia e suaspartes. Urn funtivo que nao for tambem uma fun~ao seradenominado grandeza. No caso que ja consideramos, osgroPQs de silabas, as silabas e as partes das silabas seraograndezas.

Adotamos aqui 0 termo funfiio num sentido que se situaa meio caminho entre seu sentido 16gico,..matematico e seusentido etimol6gico, tendoeste Ultimo representadoum papelconsideravel em todas as ciencias, incluindo-se aqui a lin­giiistica. 0 sentido em que 0 t6mamos esta formalmentemais proximo do primeiro, sem corn isso ser-lhe identico.E exatamente de urn ripo assim de conceito intermedhirioquenecessitamos na lingilistica. Poderemos dizer que uma gran­deza no interior de urn texto ou de urn sistema tern determi­nadas fun~es e,com isso, aproXimarmo-nos~o emprego

,

40 PROLEG6MENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

logico-matematico desse termo, comele exprimindo: pri­rneiramente, que a grandeza considerada mantem dependen­cias ou rela~6es corn outras grandezas, de modo que certasgrandezas pressupoern outras e, segundo, que pando emcausa 0 sentido etimologico do termo, esta grandeza funcio­na de uma determinada maneira, representa urn papel parti­cular, ocupa urn "lugar" precise na cadeia. Num sentido,pode-se dizer que a acepyao etimologica da palavra funfiioe sua definiyao realista, que evitamos explicitar e incluir nosistema de defini~oes porque eIa sup5e premissas mais llU­

rnerosas .que as da definiyao formal a qual e redutiveI.

Ao mesmo tempo que adotamos 0 termo tecnico jUnfiio,desejamos evitar a ambigiiidade do uso tradicional no qualele designa tanto a relayao entre dois termos e urn ou mes­mo .ambos esses termos no caso em que se diz que urn termoe "funyao" do outro. E para eliminar essa ambigiiidade quepropusemos 0 termo tecnico juntivo e que tentamos evitardizer, como normalmente se faz, que urn funtivo e "funyao"

.do outro, preferindo a seguinte formulayao: urn funtivo ternuma fun~ii.o com 0 outro. A ambigiiidade que censuramosno emprego tradicional da palavra junriio e encontrada cornmais freqiiencia nos termos que, na terminologia tradicional,designam especies particulares de fun~oes, coma por exemplo.quando regime significa tanto rectio como regimen. A mes­ma ambigliidade ocorre corn a paIavra pressuposi~iio, quepode ser empregada 'para designar uma funyao e urn funtivo.Esta ambigiiidade dos conceitos oculta-se· atnis da defini~ao

reaIista das especies de fun~oes (cf. Cap. 9) que, por issomesmo, deve ser excluida das definiyoes formais. A palavrasigni/icariio e urn outro exernplo disso: e ernpregada tantopara a designa~ao quanto para 0 proprio designado; e ne­cessario dizer, alias, que esse termo e obscuro tambem emrela9ao a muitos outros aspectos.

Podemos agora oferecer uma visao sistematica das di­ferentes especies de funcoes de que, prevemos, necessitare­mos na teoria da Iinguagem, e ao mesrno tempo apresentaras definicoes fonnais das funyoes que ate aqui introduzimosapenas a titulo operacional.

Por constante entendemos urn funtivocuja presen9a e. uma condi~ao necessaria para a presen~a do funtivo corn 0

qual tern funyao. Par variavel, pelo contrario, entendere­roos urn funtivo cuja presen~a nao euma condi9ao necessaria .para a presen~a do funtivo corn 0 qual tern funyao. Estasdefiniyoes baseiam-seem conceitos nao especificos e indefi­niveis: presen9a, necessidade, condi~ao, bem coma nas defi­ni~5es de funyao e funtivo.

IIi

FUNCOES 41

A partir daf, podemos definir a interdependencia comouma fungao entre duas constantes; a determina~iio, comauma fun~ao entre uma constante e uma vari::lvel, e a cons­telarao coma uma fun~ao entre duas variaveis.

Em certos casos, teremos necessidade de uma designa­c;ao comum para a interdependencia e a determina~ao, quesaQ as duas especies de fun~oes das quais pelo menos urndos funtivos e uma constante: nos as denominaremos decoesoes. Poderemos do mesmo modo ter necessidade deuma designa~ao comum para a interdependencia e a conste­la~ao, que possuem ambas apenas urn tipo de funtivo, corna interdependenda ligando apenas constantes e a conste1a­c;ao ligando apenas varhiveis: serao denominadas recipro­cidades, termo que indica bem que, contrariamente adeterminac;ao, estas duas fUDc;oes nao sao "orientadas".

Em virtude desta "orientac;ao" (devida a natureza di­versa dos funtivos), deve-se distinguir entre os funtivos deuma determinac;ao (selec;ao ou especificac;ao). Denominar­-se-a determinada (selecionada ou especijicada) a constan­te, e determinante (selecionante ou especijicante) a variavelde uma determinac;ao; do funtivo cuja presenc;a e condic;aonecessaria para a presen~a do outro funtivo da determina~ao

diz-se ser determinado (selecionado ou especijicado) poreIe, e do funtivo cuja presenc;a nao euma condic;ao necessa­ria a presenc;a do outro funtivo diz-se "determinar (selecio­nar, especificar) este ultimo. Em· compensaC;ao, os funtivosque contraem uma reciprocidade podem ostentar ° mesmo­nome: chamaremos interdependentes (solidarios, comple­mentares) os funtivos que contraem uma interdependencia(solidariedade, compIementaridade) e constelares (combi­nados, autonomos) os funtivos que contraem uma constela­~ao (combina~ao, autonomia). Dos funtivos que contraemuma reciprocidade diz-se que sac reciprocos e dos que con­traem uma coesao~ coesivos.

Ao formularas defini~5es de nossas tres especies defunc;6es, previmos apenas oscasos em que ha dois funtivosque as contraem, e apenas dois. :E possivel prever que asfum;6es poderao ser contraidas por mais de dois funtivos,mas sempre se podenl considerar essas funC;oes multilateraiscoma sendo fun~5es entre func;5es bilaterais.

Vma .autra distin~ao, essenciaI para a teoria da lingua­bern, ea que existe entre a fun~ao He ... e", ou "conjun~ao",

e a fun~ao "ou ... ou" ou "disjunc;ao". E sobre esta dis­tin~ao que se baseia a distin~aoentre processo e sistema:no processo, no texto, encontra-se urn e. .. e, uma conjun­~ao, ou uma coexistencia entre os funtivos que dela parti­cipam. No sistema, pelo contrario, existe urn ou... DU,

42 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

urna disjun~ao ou urna alternancia entre os funtivos quedele participam. Consideremos, por exemplo:

toavim

Intercambiando t e v, 0 e a, a e m, respectivamente,obtem-se as palavras toa, tom, tia, vim, voa, via, todasdiferentes. Estas grandezas sac cadeias que entram no pro­cesse da lingua (0 texto); t e v, 0 e i, a e m, tornados doisa dois, constituem, pelo contnlrio, paradigmas que entrampara 0 sistema da lingua. Em toa ha conjun~ao, coexisten­cia, entre t e 0 e a; existe "realmente" para n6s, ao mesmotempo, t e 0 e a. Do mesmo modo, ha coexistencia ou con­jun~ao de v e i e m em vim. Mas entre t e v ha disjun<;ao,altemancia, e aquilo que "de fato" temos diante de nossosoIhos ou e t ou e m. Do mesmo modo, ha disjungao, oualtemancia, entre 0 e i, e entre a e m.

Num sentido, pode-se admitir que sao as mesmas gran­dezas que entram no processo (texto) e no sistema lingliis­ticos: considerado como uma parte (derivada) da palavratoa, t entra num processo e, por conseguinte, numa con­jun<;ao, enquanto que, considerado como urn membro (de­rivado) do paradigma

tv

ele entra num sistema e, portanto, numa disjun9ao. Doponto de vista do processo, t euma parte; do ponto de vistado sistema, eummembro. Estes dois pontos de vista distintospermitem· reconhecer a existencia·-de dois objetos diferentes,

-pois a defini~ao funcional varia de urn para outro. Mas,-unindo ou multiplicando as -duas defini~5es funcionais dis-tintas, poderemosnos ver autbrizados a dizer queestamoslidando corn 0 "IIlesmo" t. :E nesta medida que se podedizer que todos os funtivos da lingua entram ao mesmotempo num processo e num sistema, que eles contraem aomesmo tempo a relal;ao de conjunl;ao (DU de coexistencia) ea de disjun~ao (ou de altemancia). A interpreta~ao dess~s

funtivos, em cada caso particular, comosendo conjuntosoudisjuntos, coexistentes DU alternantes, dependerado pontode vista que se adotar, por escolha.

Em nossa teoria da linguagem - diversamente da lin­gtiistica tradicional, e em rea~ao consciente contra ela ­procuraremos utilizar uma terminologia que evite qualquerambigiiidade. Entretanto, 0 te6rieo da linguagem se ve asvezes ernbaral;ado em materia de terminologia; e 0 queacontece aqui. Denominamos provisoriamente de conjun~ao

a fun<;ao e. .. e, de acordo corn a terminologia 16gica do

FUNCOES 43

termo, OU coexistencia, e denominamos de disjun~ao (sem­pre de acordo com a terminologia 16gica) ou de alternanciaa fun~ao ou. .. ou. Mas sena totalmente inoportuno man­ter essas designa~oes. Com efeito, os lingiiistas entendempar conjun~iio algo inteiramente diferente,. e deveremos (nis­to, seguindo a tradi~o) utilizar 0 termo da mesma maneira(para designar uma "parte do discurso", embora nao este­jamos pensando em defini-la como tal). 0 emprego dotermo disjun~iio teve uma ampla difusao na lingiiistica, masapenas para designar urn tipe particular da fun~ao ou. . . OU,

e adotar esse termo para todas as funl;oes ou... ou seriafavorecer confus5es e enganos. Alternancia, enfim, e urntermo lingiifstico profundamente ancorado, sem duvidanenhuma impossivel de ser desenraizado e, alem do mais,e comodo para designar uma fun~ao especffica - principal­mente os fenomenos chamados ablaut e umlaut - que, alias,mantem estreitas rela90es com a fun9ao ou... ou, e da qualnao passa, na verdade, de uma forma particularmente com­plexa. Portanto, nao convem adotar alternancia para desig­nar a fun~ao ou. . . ou em geral. Coexistencia nao e, eviden­temente, urn termo ja utilizado, mas nao 0 recomendamosparque, entre outras razoes, um usa ja bem difundido Dalingilistica relaciona-o num certo sentido com a coexistenciaentre membros de urn paradigma.

Devemos, portanto, procurar outros termos e procura­remos sempre, desde que possivel, estabelecer contato corna terminologia lingiiistica ja existente. Tomou-se pniticabastante difundida na lingiiistica chamar de correla~iio afun9ao que existe entre os membros de urn paradigma. Pa­reee, portanto, que convem adotar esse termo para a fun9aoou. .. ou. E entre as designa90es possiveis da fun~ao e ...e, ficaremos com a palavra rela~iio, atribuindo-lhe urn. sen-.tido mais limitado do que ela tern na l6gica, onde.rel~ao .eempregada essencialmente no sentido que atribuimos a pala­vra fun~iio. Estefato parece-me que provoca dificuldadesapenasiniciais, faceis de serem superadas.

Por correl(lfiio 1, entenderemos portanto, a fun~ao

ou. . . OU, e por rel~iio'2 a fun~ao e. . . e. Denominaremosos funtivos que contraem essas fun~oes, respectivamente, decorrelatos e relatos. A partirdesta coloca~ao, podemosde­finir urn sistema· como uma hierarquia correlacional, e umprocesso como uma hierarquia relacional.

Ora, como ja vimos (Cap. 2), processo e sistema SaDconceitos de uma grande generalidade, e que DaO poderiamter seu usa restrito exc1usivamente a objetos semi6ticos.

1. Du equi'VaUncia (cf. H. J. ULDALL, "on Equivalent Relations".Traoaux du Cercle LingUistique de Copenhague V. pp. 71-76).

2. Du cone:dW.

,

,

44 PROLEGOMENOS A UMA TEOR!A DA LINGUAGEM

Encontramos designa~5es comodas e tradicionais para urnprocesso e urn sistema semi6ticos nos termos sintagmatica eparadigmatica. Quando se trata da lingua natural falada,que e a unica a nos interessar no momento, podemos tam­bemutilizar termos mais simples: chamaremos aqui 0 pro­cesse de texta, e 0 sistema de llngua.

-Urn processo e 0 sistema subentendido contraem umafUD9ao mutua que, conforme 0 ponto de vista adotado, podeser considerada COmo uma rela~ao ou como uma correla9ao.Urn exame aprofundado dessa fun9ao mostra facilmente quee uma determina~ao cujo sistema e a constante: 0 processodetermina 0 sistema. Nao e essencial que, visto do exterior,o processo seja mais imediatamente perceptiveI a observa~ao,

enquantoque 0 sistema deve ser antes "relacionado" corn 0

processo "descoberto" atnis dele mediante um procedimento~

e apenas por isso que 0 unico modo de conhece-Io e 0 modoindireto, a menos que eIe se apresente de imediato a partirde urn procedimento preliminar. Esta situa~ao poderia levara pensar que 0 processo pode existir sem 0 sistema, e naoo contnirio. Mas 0 importante e que a existencia de urnsistema seja uma condi~ao necessaria para a existencia deurn processo. 0 processo so existe em virtude do sistemasubjacente que 0 govem<i. e que determina sua forma~ao I et.possive!. Nao seria possivel imaginar urn processo sem urnsistema por tras dele porque neste caso tal processo senainexplicavel, no sentido absoluto da palavra. Um sistema,pelo contrano, nao e inconcebiveI sem urn processo. Aexistencia de urn sistema nao pressupoe a existencia de urnprocesso.O sistema nao existe em virtude de um processo.

Portanto, e impossivel ter um texto sem uma linguaque .esteja por tras dele. Pelo contrano, uma lingua podeexistir sem que se encontre urn texto construido nessa lingua.Isso quer dizer que essalingua e prevista pela teoria da lin­guagem como um sistema p~ssivel, sem que nenhum processocorrespondente tenha sido realizado. 0 processo textual evirtual. Esta observa~ao obriga-nos a definir a Tealiz~ao.

Chamaremos de universal uma opera~ao com um re­sultado dado se se afirmar que ela. pede ser efetuada sobrenao importa qual objeto, e chamaremossuas resultantes deuniversais. Pelo contrario, se se afirma que uma opera~ao

-pode ser efemada sobre urn dado objeto, mas nao sobreurn outro objeto qualquer, dizemos que ela 6 particular, esnas resultantes serao particulares. Diremos entaD de umaclasse que ela IS realizada se ela puder tornar-se 0 objetode uma analise particular, e que e virtual DO caso· contrario.Pensamos, corn isso, ter obtido uma defini~ao formal quenos Iibertara das obriga~oes metafisicas, e que fixani, de •

\

FUNCOES 45

modo necessaria e suficiente, aquilo que entendemos parrealiza~ao.

Se existir apenas uma lingua (sisterna), prevista comapassIvel pela teoria, mas nenhum texto (processo) corres­pondente, natural ou elaborado pelo te6rico a partir de urntal sistema, pode-se afirmar a possibilidade da existencia detais textos, mas nao se pode fazer deles 0 qbjeto de umaanilise particular. Dirernos, neste caso, que 0 texto e vir­tual. Mas urn texto, ainda que purarnente virtual, pressup5eurn sistema lingiHstico realizado, no sentido da defini~ao. Deurn ponto de vista realista, esta situa~aa provem do fato deque urn processo tern urn carater rnais "concreto" do queurn sisterna, e urn sisterna urn carater mais "fechado" doque urn processo.

Corn base na anaJ.ise detalhada das fun~5es introduzidasno Cap. 9, conc1uiremos apresentando urn quadro esque­matico das especies de fun~5es que previmos 3:

fun~o rela!rao correlacao(conexao) (equivalencia)idetermin.~o sele!rao especifica!rao

coesiointerdepen- solidariedade complementaridade

reciprocidadet dencia

constela~ao combina~ autonomia

3. 0 emprego do! sfmbolos glOlsemA.ticos para as diferentes funtl<SesIJ ilustrado petos seguintes exem.plos, nos quais a e b representam um termoqualquer, " uma variavel e c uma constante: FUNCXO: a f bj RELACAO:a R b; CORRELACA,O: a. : b; DETERMINACA,O:· 1)' .........0 ou c ~ 1:';SELECA,O: v ~ c ou c .:. "j ESPECIFICACXO: v I,;".. C ou c -I V; INTER­DEPEND1tNCIA: c ~ c; SOLIDARIEDADE: C N Cj COMPLEMENTA-

RIDADE: c "" c; CONSTELACXO: V I V; COMBINACXO: v - v; AUTO­NOMIA: V t v. Naturalmentet 0 niunero de termo& nio se limita.a dois.

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12. Signos e Figuras

Ha uma particularidade a ser observada a respeito dasgrandezas que resultam de uma dedu~ao; diremos, proviso­riamente, que uma frase pode ser composta por uma unicaproposi~ao e uma proposi~ao por uma unica palavra. Estacaractenstica encontra-se nos textos mais variados. Corno imperativo latino t, "vel !", ou a interjei~ao portuguesa ahtemos uma grandeza que se pode considerar ao mesmo tem­po como uma £rase, uma p(oposi~ao e uma palavra. Nestecaso,encontramos tambem uma silaba que compreende umaunica parte de sflaba (uma' parte central, cf. Cap. 9). De­vemos levar em conta essa possibilidade ao preparar a aml­lise. Para tanto, convem introduzir uma"regra de trans­missao" que impedira a amilise ulterior de uma dada grandezanum estagio prematuro do procedimento e quepermitiraque certas grandezas passem intatas de urn estagio paraoutro em dadas 'condi~s, enquanto que grandezas de mes­mo grau serao submetidas a amllise.

Em cada divisao particular poderemos fazer 0 inventariodas grandezas que contraem as mesmas relagoes, isto e, quepodem ocupar um u.nico e mesmo "lugar" na cadeia. Pode"':IDOS, por exemplo, fazer 0 inventario de todas as proposigoesque poderiam ser intercaladas no lugar de uma dada propo­si~ao. Em certas condi90es, isso poderia conduzir ao inven­tario de todas as proposi~es principais e de todas as pro­posi90es subordinadas. :B possivel, do mesmo modo,proceder ao inventano de todas as palavras, de todas assllabas e de todas as partes de sflabas que tenham determi-

48 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

nadas fun~6es. Em certas condi~6es, isso poderia conduzirao inventario de tadas as partes de silabas centrais. Aexigencia da exaustividade toma necessaria levantar taisinventarios; isso permitini registrar uma fun~ao de urn tipoparticular entre as grandezas que podem ocupar urn uni<:1Oe mesmo lugar na cadeia.

Quando sac comparados os inventanos assim obtidosnos diferentes estagios da dedu9ao, e nohlvel ver que 0 DU­mere deles diminui a medida que 0 procedimento de amlliseavan9a. Se 0 texto e ilimitado, isto e, se for possivel acres­centar-Ihe algo constantemente, como e 0 que acontece comuma lingua viva, pode-se registrar urn numero ilimitado defrases, de proposi90es e de palavras. Cedo ou tarde, nocurso da dedu9ao, encontra-se no entanto um ponto em queo numero das grandezas inventariadas e limitado, e a partirdai, em termos gerais, ele diminui. No entanto, parece certoque uma lingua tern urn nurnero limitado de sfiabas, aindaque esse numero seja relativamente elevado. Se podemosdividir as siIabas em partes centrais e rnarginais, 0 numerodos membros dessas classes sera inferior ao DUmero de sila­bas da lingua. Continuando a dividir as partes das silabas,chega-se as grandezas que, na terminologia atual, denomi­Dam-se fonemas. Em todas as llnguas, 0 nurnero destes etao pequeno que pode ser escrito com dois algarismos; ernmuitas llnguas, esse numero chega rnesmo a baixar it casados 20.

Este· fato, constatado indutivamente em todas as linguasobservadas ate aqui, esta na base da inven9ao. do alfabeto.De fato, se nao houvesse inventarios limitados, a teoria dalinguagem nao poderia esperar alcanc;ar seu objetivo: tomarpossivel uma descri93.0 simples e exaustiva do sistema queesta par tras do processo textual. Se no decorrer da anaIi­se nao fosse possivel a existencia de inventano limitadoalgurn, nao poderia haver descri~ao exaustiva. Do mesmomodo, quanto mais 0 inventario e· restrito no ultimo estagioda amilise, melhor se atended. a exigencia de uma descri~ao

simples feita pelo principio do empirismo. ~ por isso quea teoria da linguagem atribui uma importancia tao grandeapossibilidade de uma execu~ao apurada da id6ia que, desdeos tempos pre-hist6ricos, presidiu a inven~ao da escrita: a

. id6ia de fazer uma amilise que cenduza as grandezas de ex-tensae minima e em menor numero possive!. .

As duas observa90es precedentes, que querem, de urnlado, que uma grandeza .possa as vezes ter a mesma extensaode umagrandeza de urn outro grau (e 0 caso de n e, poroutro lado, que os inventarios se tomem cada vez rnais limi­tados no decorrer do procedimento e que, de ilimitados no

j

~.

SIGNOS E FIGURAS 49

infcio se tornern Iirnitados, assumidio sua importfmcia quandopassarmos a considerar a linguagem como urn sistema deslgnas.

o fato de que uma Iinguagem e urn sisterna de signosparece ser uma propusicao evidente e fundamental que ateoria deve levar ern consideragao desde 0 inicio. Quantoao sentido que se deve atribuir a esta proposicao e, sobre­tudo, a palavra signa, e a teoria da linguagem que cabedecidir. Provisariarnente, devemos nos ater a definicao tra­dicional, realista e imprecisa. Ela nos diz que urn "signo"(ou, como diremos a fim de antecipar uma distin~ao termi­nol6gica que sera introduzida mais· tarde (Cap. 13) , aexpressao de um signa) e, de infcia e acima de tudo, signade aIguma outra coisa, particularidade que nos interessadesde logo pois parece indicar que urn "signo" se define poruma funeae. Urn "signo" funciona, designa, significa.Opondo-se a urn nao-signo, urn 4'signo" eportador de umasignifica~ao.

Contentar-nos-emos corn esta colocacae inicial e ten­taremos, sobre esta fragil base, decidir em que medida cSverdadeira a proposieao segundo a qual uma linguagem eurn sistema de "signos".

Em seus estagios iniciais, a tentativa de anaIise de urntexto parece confirmar plenamente esta· proposi~ao. Gran­dezas como as frases, as proposi~5es e as palavras parecempreencher a condi~ao imposta: elas veiculam urna significa­~ao e, portanto, sac "signos"; os inventarios que faremos. nodecorrer da anaIise nos conduzirao a urn sistema de signosque esta por tras do processo de signos. Aqui, mais umavez, sera interessante levar a anaIise t3..o longe quanto pos­sIvel a fim de asseguraruma descri~ao ao rnesrno tempoexaustiva e taosimples quanto passIve!. As palavras naosac os signos ultimos, irredutlveis, da linguagem, tal comopodia deixa-Io supor 0 .imenso interesse que a lingiifsticatradicional dedica a palavra. As palavras deixam-se anali­sar em partes que sac igualmente portadoras de significa~5es:radicais, sufixos de· deriva~ao e desinencias flexionais. Emrela~ao a este· ponto, certas linguas vao mais longe que outras.A termina~ao latina -ibus nao edecomponivel em signos deextensao mais limitada,e umsigno unico que veicula aomesmo tempo· a significaeao do caso e ado nUmero. A

. terminacao hungara do dativo plural numa palavra comamagyaroknak (de mayar, hungaro) e urn signa compostoformado por urn signa -ok, que veicula a indica~ao do plural,e por um outro signo, -nak, que veicula a indica~ao do dati­vo. Esta anaIise nao se ve afetada de modo algum pelofato de existirem linguas desprovidas de sufixos de deriva~ao

,

50 PROLEG(')MENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

e de desinencias flexionais e pelo fate de que, mesrno nasHnguas que os possuern, possam existir palavras que corn­partern apenas urn radical. Vma vez que observamos queuma grandeza pode as vezes ser da mesma extensao de uma

. grandeza de grau superior, e deve entao ser transmitida inta­ta de opera~ao para opera~ao, este fato nao mais nos deveriaincomodar. Par esta razao, a amilise tem 0 mesmo caraterneste caso e nos outros; ainda aqui, ela deve ser conduzidaate 0 ponto em que se pode dizer que eIa se esgotou. Destemodo, pode-se constatar que uma palavra inglesa como in­-act-iv-ate-s podem-se distinguir cinco grandezas diferencia­das, cada uma veiculando uma significa~ao, isto e, cincosignos.

No momento da apresenta~ao de uma amllise assimreaIizada, anaIise que alias repousa em bases tradicionais,talvez nao seja superfluo observar que a "significa~ao" atri­bufda a cada uma dessas grandezas mfnimas deve ser com­preendida como sendo puramente contextual. Nenhuma das

.grandezas mfnimas, nem mesmo 0 radical, tern existencia"independente" tal que se lhe possa atribuir significa~5es

lexicais. E, segundo 0 panto de vista fundamental que ado­tamos de uma anaIise continua abase das fun90es no texto,nao existemsignifica~5es reconheciveis outras que nao assignifica~5es contextu~is. Toda grandeza,e par conseguin­te todo signo, se define de modo relativo e nao absoluto,isto e, unicamente pelo lugar que ocupa' no contexto.· Por­tanto, toma-se absurdo distinguir entre as significa95espuramente contextuais e as que poderiam existir fora detodo contexto ou - no dizer dos velhos gramaticos chineses- entre palavras "vazias" e palavras "cheias". As signifi­ca~5es ditas lexicaisde certos signos sao sempre apenassignifica95es contextuais artificialmente isoladas ou para­fraseadas. Considerados isoladamente, signo algum ternsignifica~o. Toda significacao designo nasce de urn con­texto, quer entendamos par isso urn contexto de situa~ao

on urn contexto explicito, 0 que vem a dar no mesmo; cornefeito, Dum texto ilimitado.ou produtivo (uma lingua viva,por exemplo) , urn· contexto situacional pode sempre sertornado expllcito. ];: necessario, assim, abster-se de acreditarque umsubstantivo esta mais carregadode sentido do queuma preposi~ao, ou que uma palavra esta mais carregadade .significa~ao do que urn sufixo de deriva~ao ou uma ter-

, . minacao fIexional. Conforme 0 caso, pode tratar-se naoapenas de significa9ao diferente como tambem de diferentestipos de significa~ao; em todos os casos pode-se falar designificayao corn exatamente a mesma legitimidade relativa:o fato de que a significa~ao, em seu sentido tradicional, cS

SIGNOS E FIGURAS 51

uma no~ao imprecisa que teremos de analisar mais de pertoem nada muda esta situa~ao.

Ainda que se leve a analise das expressoes de signosate 0 ponto em que e possive! consideni-Ia coma esgotada,a experiencia indutiva mostra que, em todas as linguas co­nhecidas, chega-se a urn estagio na anaIise da expressao emque as grandezas que surgem nao mais veiculam significa!raoe, portanto, nao mais sac expressoes de signos. As silabase os fonemas nao sac expressoes de signos, mas apenas partesdas expressoes de signos. 0 fate de que uma expressao designa, paIavra ou sufixo, pode consistir de uma {mica silabaou urn unico fonema nao quer dizer que a silaba e 0 fonemasejam expressoes de signos. De urn certo ponto de vista, 0

s de in-act-iv-ate-s e a expressao de urn signo; de urn outroponto de vista, e urn fonema. Os dois pontos de vista con­duzern ao reconhecimento de dois objetos diferentes. Pode-semuito bem conservar a formula!rao segundo a qual a expres­sac de signa s compreende apenas urn unico {onema, masisso seria coisa bem diferente do que 0 ato de identificar aexpressao de signa corn 0 fonema; corn efeito, 0 fonemaentra em outras combina~oes oode nao aparece como ex­pressao de signo (por exemplo, na palavra sell).

Tais considera!roes levam-nos ao abandono de umatentativa de anilise em "signos", e somos levados a reconhe­cer que uma descricao que esteja de acordo como. DOSSOS

principios deve analisar conteudo e expressao separadamente,cada uma destas anaIises isolando finalmente urn numerolimitado de grandezas que nao sao necessariamentesusceti­veis de serem comparadas corn as grandezas do pIano oposto.

A economia relativa entre os inventarios de signos edenao-signos responde inteiramente aquilo que e provavel­mente a finalidade da Iinguagem. Segundo sua finalidade,uma linguagem e~ antes de mais nada, urn sistema de signos;a fim de preencher plenamente esta finalidade, ela deve sersempre capaz de produzir novos signos, novas palavras enovas rafzes. Contudo, alem disso, e apesar dessa riquezailimitada, deve ser facil dernanejar, pratica de aprender ede ser utilizada,· 0 que, dada a exigencia de uma quantidadeilimitada de signos, so e realizavel se todos os signos foremformados corn a ajuda de nao-signos cujo numero e limitadoe, mesmo~ extremamente reduzido. Tais nao-signos queentram comopartes de signos num sistema de signos seraodenominados jiguras, denornina!rao purarnente operacionalque e cOmodo introduzir. A linguagem, portanto, e tal quea partir de urn numero limitado de figuras, que podemsempre formar novos arranjos, pode construir urn nurneroilimitado de signos. Uma lingua que nao fosse assim cons-

,.

52 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

titufda nao poderia preencher sua finalidade. Portanto,temos inteira razao de pensar que encontramos na constru­~ao de signos a partir de urn nurnero bem restrito de figurasurn tra~o essencial e fundamental da estrutura da linguagem.

As Ifnguas naopoderiam ser descritas como simplessistemas de signos. A finalidade que Ihes atribuimos porsuposi~ao faz delas, antes de mais nada, sistemas de signos;mas, conforme sua estrutura intema, elas sac sobretudo algode diferente: sistemas de figuras que podem semr paraformar signos. A definiCao da linguagem coma sistema designos nao resiste, portanto, a uma observa~ao mais pro­funda. Esta defini~ao so presta contas das fun~5es extemasda linguagem, das rela~5es da lingua corn seus fatores extra­lingiifsticos, e nao de snas fun~es intemas.

13. Expressao e Conteudo

Ate aqui, mantivemo-nos apegados a antiga tradi9aosegundo a qual urn signa e, antes de mais nada, signa dealguma coisa. Essa e a concep9ao corrente a qual nosconformamos, e e tambem uma concep~ao amplamente di­fundida em epistemologia e 16gica. No entanto, queremosdemonstrar agora que, do ponto de vista lingliistico, ela einsustentavel; alias, sob este aspecto estamos de acordo cornas teorias lingiifsticas modemas.

Segundo a teoria tradidonal, 0 signa e a expressiiode urn conteudo exterior ao'pr6prio signa; pelo contnirio, ateoria modema (formulada em particular por F. de Saussuree, a seguir, por Leo Weisberger 1) concebe a signa cornuum todo formado por uma expressao e urn conteudo.

:e. 0·· criteria de adeq1ia~aO que deve decidir sabre aescolha entre as duas concepCOes. Para tanto, deixaremos,por ora, defalar em signos pois, nao sabendo 0 que sao,procuramos defini-Ios, afim de falar daquilo cuja existenciaconstatamos, isto e, a funfiio semi6tica, situada entre duasgrandezas: expressiio e conteudo. :£ partindo dessa consi­dera~ao fundamental quepoderemos decidir se· e adequadoconsiderar afun!rao semi6tica como uma fun~ao externa ouintema da grandeza que chamamos de. signo.

Adotamos os termos expressiio e conteUdo para desig­nar os funtivos que contraem a fun~ao em questao, a fun~ao

1. WSISBERGER, Leo. Getman.ish-ro.ma~heMonat88Chrift, 1927, XV,p. 161 e s. idem, IndogeN1Ulnishe Forschungen, 1928. XXXVI. p.31O e s.;idem Mllttersprache undl Gei.stesbildung, GOttingen, 1929.

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54 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

serni6tica; esta e uma concep~ao puramente operacional eformal e, nesta ordern de ideias, nenhum outro significadoe atribuido aos termos expressllo e conteudo.

Sempre havera soIidariedade entre urna fun9aO e (aclasse de) seus funtivos: nao se pode conceber uma fun9aosem seus termos que nao passam, estes, de pontos extremosdessa fun~ao e, por conseguinte, inconcebfveis sem eIa. Seuma Unica e mesma grandeza contrai altemativamente di­versas fun96es diferentes, e parece poder ser concebida co­ma selecionada por essas fun~oes,mesmo assim nao se ternai urn uIiico funtivo mas siro varios, que se transformam emobjetos diferentes segundo a fun~ao a partir da qual sacconsiderados. De urn outro panto de vista, isso nao impedeque se possa falar de "mesma" grandeza, por exemploquando se consideram as fun90es que dela participam (quesao contraidas por suas partes) e a estabeIecem. Se variasseries de funtivos contraem uma unica e mesma fun~ao, issoquer dizer que ha soIidariedade entre a fun~ao e 0 conjuntodesses funtivos; consequentemente, cada funtivo se1eciona afun~ao.

Tambem ha solidariedade entre a fun~ao semi6tica eseus dois funtivos: expressao e conteudo. Nao poderahaver fun~ao semi6tica sem a presen~a simultanea dessesdais funtivos, do mesmo modo como nem uma expressao eseu conteudo e nem urn conteudo e sua expressao poderaoexistir sem a fun~ao semi6tica que os une.

A fun~ao semi6tica e, em si mesma, uma solidariedade:expressao e conteu~o sac solidarios e um pressupoe necessa­riamente 0 outro. Vma expressao s6 e expressao porquee a expressao de urn conteudo, e urn conteudo s6 e conteudoporque e conteudo de uma expressao. Do mesmo modo,e impossivel existir (a menos que sejam isolados artificial­mente) urn conteudo sem expressao e uma expressao semconteudo. Se se pensa sem falar, 0 pensamento nao e urnconteudo lingliistico e nao e 0 funtivo de uma fun~ao semio­tica. Se se fala sem pensar, produzindo series de sons semque aquele que os ouve possa atribuir-Ihes um conteudo,isso sera urn abracadabra e nao uma expressao lingliistica,e tampouco sera 0 funtivo de uma fun~ao semi6tica. Evi­dentemente, nao se deve confundir ausencia de conteudo cornausencia de sentido: 0 conteudo de uma expressao podeperfeitamente ser caracterizado coma desprovido de sentidode urn ponto de vista qualquer (por exemplo, 0 da 16gicanormativa Oll do fisicaIismo) sem corn isso deixar de ser urnconteudo.

Se se deixasse na anaIise do texto, de considerar a fun­9ao semi6tica, nao se poderia delimitar os signos, e nao se

.-- "-

EXPRESSA.O E CONTEO'DO

• \. .... _' _~ • L'IL.._ ~ .~., \,' •

55

poderia de modo algum proceder a uma descrigao exaustivado texto - e, por conseguinte, tampouco uma descrigaoempirica no sentido que aqui Ihe atribuimos - respeitandoas fungoes que 0 estabelecem (cf. Cap. 9). Em suma, naoteriamos urn criterio objetivo que pudesse ser utilizado comobase para a amilise.

Corn 0 objetivo de precisar a natureza da fun~ao semio­tica, Saussure aventurou-se a considerar a expressao e 0

conteudo, tornados separadamente, sem se ocupar corn afune.rao semiotica. Eis ao que ele chegou:

- Considerado em si mesmo, 0 pensamento e como uma nebulosaonde nada esta necessariamente delimitado. Nao ha ideias preesta­belecidas, e nada se distingue antes do aparecimento cia lingua ...A substancia fonica nao e nem mais fixa nern mais rigida; nao eurn molde cujas tormas 0 pensamento deva necessariamente tomar,mas siin uma materia plastica que se divide, por sua vez, em partesdistintas a fim de fornecer os significantes de que 0 pensamentonecessita. Portanto, podemos representar ( ... ) a llngua ( .•. )como uma serie de subdivis6es contiguas desenhadas simultaneamenteno pIano indefinido dasl ideias confusas ( ... ) e no pIano nao menosindeterminado dos sons ( ... ); a lingua elabora suas unidades aoconstituir-se entre duas' massas amorfas ( ... ) esta combinariioproduz uma fornw, nao Ulna substancia 2.

Mas esta experiencia pedag6gica, .por mais feliz queseja sua formula~ao, na realidade nao tern sentido, e 0 pro­prio Saussure deve te-lo imaginado. Numa ciencia qu.eevita qualquer postulado nao necessario, nada autoriza quese fa9a preceder a lingua pela "substancia do conteudo"(pensamento) DU pela "substancia da expressao" (cadeiafonica) ou 0 contnirio, quer..seja numaordem temporal OU

nu~.a ordem hierarquica. Se conservamos a terminologiade Saussure, temos entaD de nos dar conta - e justamentea partir de seus dados - de que a substancia depende exc1u­sivamente da forma e que nao se pode, em sentido algum,atribuir-Ihe uma existencia independente.

Urnaexperiencia que, contrariarnente, parece justificada,.consiste em comparardiferentes linguas e dai extrair, a se~ .guir, aquiloque ha de comum em todas elas, seja qual foro numero delinguas que se esteja considerando. Se seprocede a uma abstragao do princfpio de estrutura propria­rnente dito, que cornporta a fun9ao semi6tica .e todas asfungoes que deja se pode deduzir - principio que, enquantotal, e naturalmente comum a todas as linguas, mas cuja exe­cugao ediferente em cada uma delas - descobre-se que essefator c.omum e uma grandeza que so se define pela fun9aoque a une aa princfpio de estrutura da lingua e a todos os

2. SAUSSURE, F. de. COUTS. 2. ed.• pp. 155-157.

PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM56

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fatores que fazem corn que as linguas se distingam umasdas outras. A este fator comum chamaremos sentido.

Podemos ver assim que, em diferentes linguas, as ca­deias,

jeg ved det ikkeI do not knowje ne sais pasen tiediinaluvara

(dinamarques)(ingles)(frances)(filandes)(esquim6)

apesar de todas as diferen~as) tern urn. fator comum: 0

sentido, 0 mesmo pensamento que, assim considerado,apresenta-se provisoriarnente como uma massa amorfa,uma grandeza nao analisada, definida apenas por suas fun­goes externas, istoe, por sua fun~ao contraida corn cadauma dasproposi~6es citadas. Seria possivel pensar que 0

sentido eanalisaveI a partir de varios pantos de vista, eque amilises diferentes podem faze-Io surgir como outrostantos objetos diferentes. Seria possive!, por exemplo,analisa-Io de urn ponto de vista 16gico quaIquer ou de urnpanto de vista psico16gico qualquer. Percebe-se que eledeve ser analisado de urn modo particular em cada umadessas linguas, coisa que s6 podemos compreender do se­guinte modo: 0 sentido e ordenado, articulado, formado demodo diferente segundo as diferentes Iinguas:

emdinamarques, tern-se inicialmente jeg (eu) , a se­guir ved (sei - presente do indicativo), a seguir urn objeto,det (0) eenfim a nega~ao, ikke;

em ingles, tern-se de inicio "'eu", a seguir urn conceitoverbal que nao tern existencia autonoroa na proposi~ao

dinamarquesa, a seguir a .nega~ao e finalrnente 0 conceito','saber" (roas nada que corresponda a "sei", e nenhurnobjeto); . .

em frances, tern-se de inicio eu seguido par uma es­pecie de nega~ao (que, no entanto, e algo bem diferentedas nega~oes dinarnarquesa e inglesa, pois nern sempre elatern 0 sentido de nega~ao), a seguir sei e urn outro signocuriosoque e as veZeS chamado denega~ao mas que tam­bem pode significar "urn passo"; tal como em ingles, naoha objeto;

em finlandes, vem de inicio urn verba que significa·'eu-nao" (ou,mais exatarnente, "nao~eu", corn 0 signopara "en" vindoern segundo lugar; nesta lingua, a nega~ao

cS. urn verboque assume as marcas da pessoa e do numero:en "eu-nao", et "tu..nao", ei "ele-nao", emme "nos-nao"

EXPRESS!.O E CONTEOnO 57

etc.), a seguir 0 conceito "saber" sob uma forma que podesignificar 0 imperativo em outras combina~oes; aqui aindanao ha objeto;

em esquim6, tern-se "nao-sabendo-sou-eu-isso", isto e,urn verba derivado de nalo "ignorancia" com sufixos deprimeira pessoa, sujeito, e de terceira pessoa, objeto 3.

Vernos, portanto, que 0 sentido "nao-formado" que sepode ext~air dessas cadeias lingtiisticas assume uma formade modo diferente em cada lingua. Cada uma dessas 11n­guas estabelece suas fronteiras na "massa amorfa do pen­samento" ao enfatizar valores diferentes· numa ordemdiferente, coloca 0 centro de gravidade difertmtemente e deiaos centros de gravidade urn destaque diferente. £ comoos graos de areia que provem de uma mesma mao e queformam desenhos diferentes, ou ainda como a nuvem noceu que, aos olhos de Hamlet, muda de forma de minutoa minuto. Assim coma os mesmos graos de areia podemformar desenhos dessemeIhantes e a mesma nuvem podeassumir constantemente fOI'Dlas novas, do mesmo modo eo mesmo sentido que se forma ou se estrutura diferente­mente em diferentes linguas. Sao apenas as fun~es dalingua, a fun~ao semi6tica e aquelas que dela decorrem,que determinam sua forma. 0 sentido se toma, a cadavez, substancia de uma nova forma e nao tern outra exis­tencia possivel alem da de ser substancia de uma formaqualquer. .

Portanto, constatamos no conteudo lingiiistico, em seuprocesso, uma forma especffica, a forma do conteudo, quee independente do sentido corn 0 qual ela se mantem numarelacao arbitraria e que ela transforma em substancia doconteUdo.

Ve-se, semdificuldade, que isso e igualmente vaJidopara 0 sistema do conteudo. Pade-se dizer que urn para­digma numa lingua e urn paradigma correspondente nurnaontra lfngua podem abranger uma mesma zona de sentidoque, destacada dessas llnguas, constitui urn continuo amorfoe nan' analisavel no qual as fronteiras se colocam apenasatraves da' formacao das lil1guas.

Por tra.s dosparadigmas que, nas diferentes Iinguas, sacfarmados pelas designa<;oes de cores, podernos, por subtra­~ao das diferen~s, isolar urn tal continuo amorfo: 0 espec­tro das cores no qual cada lingua estabelece arbitrariamentesuas fronteiras. Enquanto que essa zona de sentido se

3. Fizemos absb'a~o do fato de que 0 mesmo sentido tambem pode,em algumas dessas linguas, assumir a forma de cadeias Hngiiisticas bastantediferentes: em franc&s je Z'ignore, emesquim6 asuk ou asukiak (derivado deaso que signifiea roais ou menos "basta!").

"\

\

58 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

forma, no todo, mais ou menos do mesmo modo nas prin­cipais linguas da Europa moderna, nao e dificil encontrarem outros Iugares forma~6es diferente. Em gales, "verde'~

e em parte gwyrdd e em parte gIas, "azul" corresponde aglas, "cinza" e ora glas, ora llwyd, "marrom" correspondea llwyd; 0 que significa que 0 domfnio do espectro reco­berto peIa paIavra portuguesa verde e, em gales, atravessadopor uma linha que Ieva uma parte desse mesmo dominiopara 0 dominio coberto peIo portugues azul, e que a fronteiraque a lingua poI1uguesa tra~a entre verde e azul nao existe emgales; a fronteira que separa azul e cinza tambem Ihe falta,assim como aquela que, em portugues, opae cinza e marrom;em compensa<;ao, 0 dominio representado em portugues porcinza e, em gales, dividido em dois, de tal modo que ametade se relaciona corn a zona· do portugues azul e aoutra metade a do marrOID. Urn quadro esquematico per­mite perceber de imediato a nao concordancia entre asfronteiras :

gwyrddverde

azulglas

cinzallwyd

marrom

Tambem 0 Iatim e 0 grego sao, neste dominio, dife­rentes das principais linguas europeias modemas. A gamade "dara" para "escuro" que, em varias Hnguas, se divideem tres regi6es: branco, cinza, preto, e dividida, em outrasHnguas, num numero diferente de regioes, seja pela supres­sac da regiao media cinza, seja, pelo contrario, por umasubdivisaa mais detalhada dessa mesma zona.

Os paradigrnas dos morfernas fazem surgir uma situa­~ao semelhante. A zona do numero e analisada de diferen­tes maneiras, conforme as linguas distingam apenas urnsingular e urn plural ou conforme acrescentam a estes umdual (coma 0 grego antigo e 0 lituano) ou mesrno urnpaucal, quer se trate apenas de urn trial (camo na maioriadas linguas da Melanesia, em Sa1]ir, Hngua indonesiaocidental falada nas ilhas entre Mindanao e Celebes, e emcertos dialetos do kuIin, lingua do suI da Australia) ou urnquadral (como na lingua micronesia das ilhas Gilbert). Azona temporal e analisada de modo diferente, de urn Jadonas linguas que (corn eXCe9aO das perifrases) tern apenasurn preterito e urn presente (coma 0 dinarnarques) e ondeo presente cobre 0 dominio daquilo que e futuro em outraslinguas e, de outro lado, nas linguas que estabelecem uma

EXPRESSAO E CONTE'ODO

.. " ~ . -- -' ,_ ...

59

fronteira entre 0 presente e 0 futuro; a forma9ao e aindadiferente nas linguas que, (como 0 latim, grego antigo eportugues) distinguem varias formas de preterito.

Esta ausencia de concordancia no interior de umamesma zona de sentido encontra-se em toda parte. Com­pare-se, por exemplo, as seguintes correspondencias entre 0

.dinamarques, 0 alemao e 0 frances:

trae

skov

Baum

Holz

Wald

arbre

bois

jor&

Podemos disto concluir que a fun~ao semi6tica instituiuma forma em urn de seus funtivos, a saber 0 conteudo, aforma do conteUdo que, do ponto de vista do sentido,earbitraria, e explicavel apenas pela fun9Ro semi6tica de queela e manifestamente soIidana. E neste sentido que Saus­sure tern razao, evidentemente, ao distinguir entre forma esubstancia.

Pode-se fazer a rnesma observacao a respeito do se­gundo funtivo da funyao semi6tica, a expressao. Tal comoa zona das cores e as zonas dos morfemas se subdividemdiferentemente' nas linguas uma vez que cada lingua temseu numero de palavras para exprimir as cores, seu numerode numeros, seu numero de tempos etc., de tal modo queuma comparayao das llnguas faz surgir zonas no campofanico, zonas que se subdividem diferentemente conformeas linguas. Pode-se pensar, par exemplo, num dominiofonetico-fisio16gico da qual se pade dar uma representa~o

especial de varias dimensoes, e que se apresenta coma umconnnua nao analisado mas analisavel coma, par exemplo,na base de sistema de formula '''antalfab6ticas'' de Jespersen.Numa tal zona amorfa encaixam-se arbitrariamente figuras(fenemas) em numero variavel segunda as Ifnguas, uma vezque as fronteiras se estabelecem em diferentes lugares docontInuo. E 0 que acontece como 0 continua definido peloperfil mediano da parte superior daboca, da faringe aoshlbios; nas lfnguas que nos sao familiares, esta zona se sub­divide em tres regioes: uma regHioposterior k, uma regiaomedia: t e uma regHio anterior p; se nos atemos as oc1usivas,vemos no entanto que 0 esquim6 e 0 Ietao distinguem duasregi6es dek cuja fronteira e diferente nessas duas linguas.o esquim6 situa-a entre uma regiiio uvular e uma regUiovelar, 0 letao entre uma regiao velar e uma regiao pa-

60 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

lato-velar; inumeras Hnguas hindus distinguem duas reglOesde t, uma retraflexa e uma dental etc. Urn outra continuoevidente e fomecido pela zona vocaIica. 0 numero devogais varia de uma lingua para autra; pois suas fronteiras saoestabelecidas de modo diverso. 0 esquimo distingue ape­nas uma regiao i, uma regHio u e uma regiao a; na maioriadas linguas, a primeira se decompoe em uma regiao i maisestreita e uma regiao e;. a segunda em uma regiao u maisestreita e uma regiao 0; em varias linguas, cada uma dessasregi6es pede ser abrangida por uma linha que separa asvogais arredondadas (y, 0,. u, 0) das que nao 0 sac( i, e; w, ~; estas ultimas - curiosas vogais "opacas" quesao raras na Europa - podem ser encontradas por exemplono tamul, em va.rias linguas do Ural oriental e no rumeno);corn a mesma abertura que i e u, pode-se formar vogaismedioIinguais arredondadas, coma no noruegues e em sueco( ti) ou nao arredondadas, coma em russo (i). Gra9asa extraordinana mobilidade da lingua, as possibilidades que

. a linguagem pode utilizar sao infinitamente grandes, maspermanece 0 fato caracteristico de que cada lingua colocasuas proprias fronteiras no interior dessa infinidade de pos­sibilidades.

Sendo manifestamente a mesma a situa9ao para aexpressao e seu conteudo, convem ressaltar este paraleIismopelo uso de uma mesma terminologia para a expressao epara 0 conteudo. Seria passivel assim falar de urn sentidoda expressiio, e nada impede de faze-Io, embora isso sejaalgo contrario ao habitual. Os exemplos citados, 0 perfilmediano da parte superior da boca e 0 continua das vogais,sao assim zonas foneticas de sentido que se formam diferen­temente nas linguas conforme suas fun90es especfficas, e que,enquantosubstancia da expressao, ligam-se, atraves dessefato, a sua forma da expressao.

Constatamos esse fenomeno em rela~ao ao sistema deexpressao, mas podemos, coma fizemos emrela9ao ao con­teudo, demonstrar que 0 mesmo acontece corn 0 processo.A forma9ao especffica do sistema de uma dada lingua pro--

.. duz naturaImente efeitds sobre 0 processo, em virtude dasimples coesao que existeentre 0 sistema e 0 processo.Por urn lado as fronteiras intemas do sistema que naocoin­cidem de uma lingua a· outra; por outro lado, nacadeia, asrela90es possiveis·· entre os fonemas (certas lfnguas, porexemplo as da Oceania e as africanas, nao admitem groposconsonantais; oatras linguas so conhecem certos groposconsonantais definidos, variaveis de uma lingua para outra;a posi9aodo acento e regida por leis diferentes conforme asHnguas etc.) que fazem corn que urn sentido da expressiionao assuma a mesma forma nas diferentes Hnguas 0 ingles

EXPRESSA.O E CONTE'ODO

-- .... -.,- ,...._<~... - ..~.~_.~--~-'~

61

[ba: 11In], 0 alemao [QEr1li:n], 0 dinamarques [l{1eH 1li?n],o japones [bElulinu] representam diversas formas de urnmesmo e unico sentido de expressao (0 nome da cidade deBerlim) . Evidentemente, e indiferente que 0 sentido doconteudo seja tambem 0 mesmo, como acontece aqui. Po­derfamos dizer, do mesmo modo, que a pronuncia do inglesgot, do alemao Gott e do dinamarques godt representamforma~es diferentes de urn mesrno sentido de expressao.Neste exemplo; 0 sentido da expressao e 0 rnesmo, mas 0

sentido do conteudo e diferente, tal coma em je ne sais pase 1 do not know 0 sentido do conteudo e 0 mesrno, enquantoque 0 sentido da expressao e diferente.

Aquele para quem 0 sistema de func;5es de uma linguadada (sua lingua materna, por exemplo) e familiar formanessa lingua urn sentido de conteudo ou urn sentido deexpressao que ele percebeu. ~'Falar corn urn sotaque" eessencialmente formar urn sentido de expressao conformeas condi~6es funcionais sugeridas pela lingua materna doelocutor.

Isto nos mostra que as duas grandezas que contraema func;ao semiotica, a expressao e 0 conteudo, comportam-sede modo homogeneo em rela~ao a ela: e em virtude dafun~ao semi6tica, e apena~ em virtude dela, que existemesses seus dois funtivos que se pode agora designar cornprecisao como sendo a forma do conteudo e a forma daexpressao. Do rnesmo modo, e em razao da forma do con­teudo' e da forma da expressao, e apenas em razao delas,que existem' a substancia do conteudo e a substancia daexpressao, que surgem quando se projeta a forma sobre 0

sentido, tal como urn fio esticado projeta sua sombra sobreuma superffcie continua.

Podemos agora voltar a nosso ponto de partida, a sig­nifica~ao mais adequada da palavra signo, a fim de verclaro na controversia que opee a lingiiistica tradicional amodema. Parece justo que um signo seja signa de algurnacoisa e que essa alguma coisa resida de algum rno,do forado proprio signo; eassim que a palavra bois (madeira,lenha, bosque) e signode urn tal objeto determinado napaisagem e, no sentido tradicional, esse objeto nao fazparte do signo. Ora, esse objeto da paisagem e uma gran­deza relevante da substancia do conteudo,grandeza que,por sua denomina~ao, liga-se a uma forma do conteudo soba qual ela se alinha corn outras grandezas da substanciado conteudo,por exernplo a materia de que e feita umaporta. 0 fato de que urn signo e signo de algurna coisasignifica, portanto, que a forma do conteudo de urn signapode compreender essa alguma coisa como substancia do

62 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

contetido. Tal como antes sentiamos a necessidade deempregar a palavra sentido para a expressao tanto quantopara 0 contetido, tambem agora devemos, no desejo deesclarecer as coisas e a despeito da atitude consagrada cujaestreiteza de visao se toma evidente, inverter a orienta~ao

do signo. Dever-se-ia assim dizer que urn signa e 0 signode urila substancia de expressao: a seqilencia de sons [bwa]enquanto fato timco pronunciado hie et nunc, e uma gran..deza que pertence asubstancia da expressao que, em virtudeapenas do signo, se liga a uma forma da expressao sob aqual e possivel reunir outras grandezas de substancia daexpressao (outras pronUncias possiveis, par outrcs elocuto­res DU em outras ocasi6es, do mesmo signo).

Por mais paradoxal que possa parecer, 0 signo e,portanto, ao mesmo tempo, signo de uma substancia deconteudo e de uma s.ubstancia da expressao. :e neste sen..tido que se pode dizer que 0 signo e signo de alguma coisa.Por outro lado, nao ha razao alguma para decidir que 0

signa e apenas 0 signo da substancia de conteudo ou (coisa.que certamente ninguem ainda imaginou) apenas signa dasubstancia da expressao. 0 signa 6 uma grandeza de duasfaces, uma cabe9a de Janus corn perspectiva dos dois lados,corn efeito nas duas dire~6es: ."para 0 exterior", na dire9aoda substancia da expressao, "para 0 interior", na dire~ao

da substancia do conteudo.Toda terminologia e arbitrana e, portanto, nada pode

impedir 0 emprego ~a palavra signa para designar mais par­ticularmente a forma daexpressao (ou mesmo, se se quiser,a substancia da express~o, 0 que entretanto seria taG absurdoquanto inutil). Contudo, parece mais adequado utilizar apalavra signa para designar a unidadeconstituida pelaforma do.conteudo e pela forma da expressao e estabelecidapela solidariedade que etenominamos de fun~ao semi6tica. Seo termo e empregado para designar .apenas a expressao ouqn.alquer uma de suas partes, a terminologia, ainda que prote­gida por defini~oes formais, corre 0 riseo de provocar ou defavorecer, conscientemente ou nao, 0 engano bastante difnn­dido segundo 0 qual urna lingua nao passa de uma nomencla­tura pura e. simples,· uma reserva de etiquetas destinadasa serem atribufdas a objetos preexistentes.. Por sua natureza,a palavra signa sera sempre ligada· a id6ia de urn termodesignado; e por isso que deve ser utilizada de tal maneiraque a rela~ao entre 0 signa e aquilo que ele designa seja

.posta em evidencia do modo mais. claro passivel e naopossa constituir-se em· objeto de simplifica~6es que a defor­memo

A distin9B.o· entre a expressao e 0 conteudo, e sua in­tera~ao na fun~ao semi6tica, sao fundamentais na estrutura

EXPRESS.xO E CONTE'O'DO

.----~_.-II

63 1!;

da linguagem. Todo signo, todo sistema de signo, tedalingua enfim, abriga em si uma forma da expressao e umaforma do conteudo. :E por isso que a amilise do textodeve conduzir, desde seu primeiro estagio, a uma divisaonessas duas grandezas. A fim de ser exaustiva, a amllisedeve ser realizada de tal modo que em cada estagio a divisaose fa~a em partes as mais extensas possfveis, isto 6, partesem menor nilmero possivel, quer seja no interior da cadeiaem sua totalidade ou no interior de qualquer uma de suasse~6es. Se um texto compreende, por exemplo, frases eproposi~6es, pode-se mostrar que 0 numero das proposic;5ese mais elevado que ° de frases. Portanto, nao nos devemosaventurar de infcio a dividir 0 texto em proposic;6es, massim dividi-Io em frases, e a seguir passar para a divisao emproposi~6es. Se nos ativermos a esse principio, descobrire­mos que no primeiro estagio urn texto e sempre divisivel emduas partes; este numero extremamente pequeno garante-Iheuma extensao maxima, e sao a linha da expressiio e alinha do conteudo que, atraves da fun~ao semi6tica, saosolidarias uma em relac;ao a outra. Divide-se a seguir alinha da expressao e a linha do conteudo, tomadas separa­damente, levando-se necessariamente em conta sua interac;aono interior dos signos. Do mesmo modo, a primeiraarticulac;ao do sistema da lingua levara a que se estabelec;amseus dois paradigmas mais amplos: a face da expressao ea face do conteudo. A fim de designar par urn mesmotermo de um lado a linha da expressao e a face da expressaoe, do outro lado, a linha do conteudo e a face do conteudo,escoIhemos respectivamente os termos plana da expressaoe pIano do conteUdo (escolhemos esses tennos conformea fonnula9ao de Saussure que citamos anteriormente: "0

pIano (. .. ) das id6ias ( ... ) e ( ... ) 0 (. •. ) dos sons").No decorrer da anaIise, este modo de proceder traz

simultaneamente clareza e simplifica~ao, ao mesmo tempoem que ilumina corn uma luz ate aqui desconhecida todo 0

mecanismo da Hngua. Partindo desse ponto de vista, serafacil organizar os dommios secundarios da lingiiistica se­gundo urn esquema judicioso e superar de uma vez portodas a subdivisao atual da gramatica em fonetica, morfo­logia, sintaxe,lexicografia e semantica, subdivisao poueosatisfat6ria, c1audicante sob varios aspectos e cujos dominiosem parte se sobrepaem. Vma vez realizada, a amllisemostra alem do mais que 0 pIano da expressao e 0 doconteudo podem set' descritos, exaustivamente e nao contra­ditoriamente, coma construidos de modo inteiramente ana­logo, de modo que se pode prever nos dais pIanos categoriasdefinidas de modo inteiramente identico. 1sso s6 fara con­firmar novamente a correc;ao da concep~ao segundo a.qual

64 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

expressao e conteudo sao grandezas da mesma ordem, iguaissob todos os aspectos.

Os proprios termos pIano da expressiio e plana doconteudo e, de modo mais geral, expressiio e conteudo,

. foram escolhidos conforme 0 usa corrente e sac inteiramentearbitratios. Atraves de sua definic;ao funcional e impossivelsustentar que seja legitimo chamar uma dessas grandezasde expressiio ea outra de conteudo, e nao 0 contnirio. EIasso se definem como solidarias .uma em relac;ao a outra, enem uma nem outra podem ser definidas de modo maisexato. Considenidas em separado, so e possivel defini-laspar oposic;ao· e de modo relativo, coma funtivos de umamesma func;ao que se op6em urn ao autra.

,

14. Invariantes e Variantes

Estas considera90es sobre a estrutura do signa sac indis­pensaveis a uma elabora~ao mais detalhada da anilise, e maisparticularmente ao reconhecimento das figuras de que secompoe um signo lingiiistico (cf. Cap. 12). Em cada esta­dio da amllise e necessario inventariar as grandezas que con­traem as rela~oes homogeneas (cf. Cap. 12). A fim deatender ao princfpio de empirismo (cf. Cap. 3), este registrodo inventario deve ser exaustivo e 0 mais simples possivel;e necessaria atender a esta exigencia em cada fase, entreoutras razoes porque nao se pode saber antecipadamente seuma dada fase e a ultima. Mas esta exigencia tem uma duplaimportfmcia na ultima fase da amilise, pois ai se reconhecemas grandezas Ultimas que· constituem a base do sistema, e apartir das quais deve-se poder demonstrar que todas as outrasgrandezas da lingua sao construidas. .E: importante, naoapenas para a simplicidade do resultado da ultima opera~ao

como tambem para a simplicidade dos resultados de todaaanalise,que essas grandezas basicas sejam em menor nume­ro possive!.

Formularemos esta exigencia em dois principios: 0 prin­dpto de economia e 0 prinC£pio de redurao, ambos deduzidosdo princfpio de simplicidade (d. Cap. 6).

Prindpio de economia: A descrirao e tetta contormeurn procedimento que deve ser organizado de modo tal queo resultado seja 0 mais stmples possivel, devendo deter-se adescrirao quando ela nao mats conduz a uma ulterior simpliji­carao.

66 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

Principio de redu{:iio: Cada operGfiio do procedimentodeve ser continuada ou repetida ate que a descrifiio se esgote}e deve cada fase, conduzir ao registro dos objetos cujo numeroe 0 menor possivel.

As grandezas inventariadas em cada fase da amilisesedio denominadas elementos. No que diz respeito apropriaanMise, podemos dar uma formulafiio mais precisa do princi­pio de reduriio:

Toda analise (ou todo complexo de anaUses) na qual seregistram funtivos eom uma dada fum;iio como base da analisedeve ser organizada de modo tal que conduza aD registro deelementos em menor numero possivel.

A fim de satisfazer a esta exigencia, deve-se dispor deurn metodo que permita, em condi90es fixadas corn exatidao,reduzir duas grandezas a uma unica grandeza Oll, como se dizmais freqiientemente, que permita identificar duas grandezasuma corn a ontra 1. Seja urn texto dividido em frases que saodivididas em proposi~oes, divididas estas, por sua vez, empalavras; se se Ievantar urn inventario em cada divisao,sempre se podera constatar que em varias partes do textoha a "mesma" frase, a "mesma" proposi~ao, a "mesma" pa­lavra: pode-se portanto dizer que cada frase, cada proposi~ao

e cada palavra surgem em varios exemplares. Diremos quesao variantes de grandezas que sao, estas, fnvariantes. Deresto, ye-Se imediatamente que as fun~6es, assim como asgrandezas, tambem tern variantes, de modo que a distin~ao

entre variantes e invariantes e vaIida para os funtivos emgeral. Em cada faseda anaIise devemos poder inferir dasvariantes para as invariantes por meio de urn metodo especial­mente concebido que fixe os criterios necessarios para umatalredu~ao.

Quando se trata de invariantes do grau superior dopIano da expressao, ou seja,daquilo que se denomina defonemas da Hngua falada nas teorias ate aqui "admitidas, alingiifstica m()derna" prestou uma certa aten~ao a esta questaoe tentouelaborar urn tal metodo de redu~ao. Na maioriados casos, ficdu-se no entanto nnma definic;ao realista emais ou menos vaga do fonema que nao fomece criterioobjetivo algum aplicclvel emcaso de duvida. Esfor~ospre-

1. Sob sua ultima forma, a teoria pressupOe, a respeito, uma amiliseaprofundada do conceito de iilentidade lingiUstica. Isto foi tratado a: partirde vanos pontos de vista em textos recentes (por exemplo, por F. DgSAUSSURE,Coats, 2. ed., p. 150 e s., e na base da hierarquia dos tipos de Russell, porA. PENTTILA (.A.ctes du IV Congres international de linguistes, Copenhagne,1938, p. 160 e s.) de acordo corn U. SAARNIO, Untersuchungen zur symbol­ischen Logik (Acta philosofica Fennica I, Helsinfors, 1935); e por PENTTILA eSAARNIO em Erkenntnis IV, 1934, p. 28 e s.). Os resultados provis6rios' queforam obtidos bastam para mostrar como e dificil chegar ao metodo atravesde definici5es fonnais, e que e mais simples consegui-Io par meio do conceitode red~iio. Portanto, epossivel aqui deixar de lado 0 problema da identidadecomo uma compIica!;§o supthflua.

r~- "--

INVARlANTES E VARIANTES

'-'-- . .~ - ~

67

cisos foram feitos por duas escolas para tentar elaborar urn.metodo objetivo de redu~ao: a escola de Londres, ao redorde Daniel Jones, e a escola de fonologia oriunda do Circulode Praga, animada pelo pranteado N. S. Trubetzkoy. Osmetodos de redu~ao que elas elaboraram demonstram aomesmo tempo uma semelhan~acaracteristica e uma diferen~a

interessante.A semelhan~a consiste no fato de que nenhuma das

duas escolas reconhece que a condi~ao necessaria para °estabelecimento de urn inventario e uma amilise funcionaldo texto. 0 metodo e indutivo (cf. Cap. 4), ele consideraque 0 dado e uma massa de sons que se trata de agruparem classes de sons denominados fonemas. Em prindpio,este agrupamento deve portanto ser feito sem levar em contaos paradigmas que comp6em os sons. Por uma curiosainconseqiiencia, as duas escolas partem, DaO obstante, deuma anaIise sumaria do inventario dos sons da lingua emcategorias ao tnitar das vogais e das consoantes cada umade urn ladomas, uma vez que vogais e consoantes naoconstituem categorias definidas por fun~6es lingiiisticas, pro­cura-se defini-las por meio de prernissas naD lingiiisticas(fisiol6gicas e fisicas). Pelo contrario, antes do come~o

da opera~ao, nem a categoria das vogais nem a das con­soantes e analisada ern subcategorias na base de rela~5es

(ou seja, segundo seu "lugar" na silaba).Esta seme1han~a entre as duas escolas nada tern de

surpreendente~ pois 0 metodo dedutivo que esbo~amos (cf.Cap. 4) ate 0 momento DaO foi praticado em lingliistica.

Pelo contrario, nao e pequeno 0 interesse metodologicoque provoca a diferen~a entre os procedirnentos das duasescolas.. Arnbas estao de acordo quanto aver algo decaracteristico no fato de que os fonemas, contrariamenteas variantes, tern uma fun~ao distintiva: a troca de urnfonema· por outro fonema ·pode provocar uma diferen~a

de conteudo (por exernplo, tal -. til), enquanto que 0

mesmo nao acontece se se troca uma variante por umaoutra variante do mesmo fonema (por exernplo, duaspro­nuncias diferentes, uma aberta e a outra fechada, do a detal) .. Os fonologos dePraga baseiam sua defini<;ao nestecriterio, dizendo que uma oposi~ao entre fonemas e umaoposi<;ao distintiva 2. A escola de Londres segue urn outrocarninho.· D. Jones ressalta,.e verdade, que os fonemas saodistintivos, roas recusa-se a!ncluireste tra~o na defini<;aodo fonema porque existem oposi<;6es de fonemas quesao

2. Actes du. 1 Congres intemational de linguistes. Leiden, p. 33. Travauxdu Cercle linguistiqu.e de Prague IV. 1931. p. 311.TRuBETZKOY, N. S.Gnmdziige del" Phonologie (Truvaux du· Cercle linguistique tU prague VII,1939, p. 30).

68 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DALINGUAGEM

suscetiveis de provocar uma diferenc;a de conteudo, cornos fonemas em questao nao podendo em caso algum sertrocados numa mesma palavra, isto e. num mesmo "lugar"da cadeia; e 0 que acontece. corn h e V em ingles 3. Estadificuldade provem do fato de que a teoria de Jones naoreconhece que os fonemas podem-se opor pelo simples fatode pertencerem a categorias diferentes (excec;ao feita a·· dife­ren~a entre vogais e consoantes).. Nao se considera comocriterio distintivo suficiente 0 fato de que h e t/,que s6podem ser respectivamente inicial e final numa sflaba, en­contram-se, cada urn par seu lado, em oposi~ao distintivacorn outros fonemas que podem ocupar 0 mesmo "lugar"(hat - cat, sing - sit). f: par esta razao que a escolade Londres procura abstrair 0 caniter pertinente da func;aodistintiva para basear-se - pelo menos em teoria - no"Jugar" do fonema, de modo que dois sons que podemocupar 0 mesmo "Iugar" pertencem sempre a dois fonemasdiferentes 4. No entanto, e evidente que este procedimentocria novas dificuldades, uma vez que as variantes tambempodem aparecer no mesmo "Jugar" (como em tal, a fechadoe a aberto). A fim de eliminar esta dificuldade, e neces­sario entaD introduzir ao lado do fonema 0 conceito devarifone, cujos relacionamentos corn 0 fonema nao saomnito elaros. Como todo novo exemplar de urn fonemae necessariamente uma nova variante, cada fonema tenivariantes num mesmo "lugar" : segue-se que todo fonemadeve ser urn varifone. Todavia, parece que, embora issonao esteja explicitamente expresso, nao se pode conceberque os vanfones diferem entre si a nao ser atraves de suaoposi~ao distintiva 5.

A tentativa da escola de Londres de Iibertar-se da noc;aode oposi~ao distintiva e instrutiva. Ela foi sem duvida rea­lizada na esperanc;a de encontrar urn fundamento maisseguro na fonetica pura e a fim de evitar que corn isso serecorresse a uma analise de conteudo onde a distinc;ao entrediferenc;as e semelhan9as corre 0 risco de ser perigosaporque 0 metodo de analise esta, nesse panto, menos desen­volvido e uma vez que os criterios objetivos parecem, ai,ser mais diffceis de alcanc;ar. Visivelmente se teve a mesmasensaC;ao no Circulo de Praga, uma. vez que se pretendeuater-se aquilo que se denominade "diferenciac;ao das sig­nificac;6es intelectuais". Mas 0 Cfrculo de Praga indubita-

3. }ONES, D. Travaux du Cercle linguistique de Prague IV. 1931­p. 77 e s.

4. lONES, D. Le maitre phonetique. Hl29. p. 43 e s. Travaux duCef'cle linguistique de Prague IV. p. 74 e s.

5. lONES, D. Proceedings of the International Congress of PhoneticSciences. (Archives neef'landaises de phontftique experimentale VIII-IX, 1933).p. 23.

r

INVARIANTES E VARIANTES 69

velmente teve razao ao canservar a criteria distintivo comotra~o pertinente. A tentativa da Escola de Londres ilustraas dificuldades insupeniveis que nao deixam de surgir seesse tra~o e negligenciado. A afirma<;ao desse principioe 0 merito principal do Circulo de Praga ainda que, paroutro lado, se deva fazer serias reservas a respeito de todosos pontos da teoria e da pra.tica daquilo que se chama defonologia.

A experiencia que se tern dos metodos de reduC;ao jatentados parece mostrar que e necessario considerar ° fatordistintivo como pertinente para 0 registro das invariantese para a distinc;ao entre invariantes e variantes. Encontra-seuma diferen9'l entre invariantes no pIano da expressao quan­do al se encontra uma correlac;ao (por exemplo, entre a e iem tal - tU) a qual corresponde ·uma correlac;ao no pIanodo conteudo. Esta rela~ao e a eonseqUencia imediata dafunc;ao semiotica, da solidariedade entre a forma da ex­pressao e a forma do eonteudo.

Portanto, eertas pesquisas da lingiHstica tradicional seaproximaram, nestes ultimos tempos, do reconhecimentodeste fato; mas isto so foi feito em termos serios no quediz respeito as figuras do pIano da expressao. Entretanto,para a compreensao da estrutura da lingua assim como paraa elaborac;ao da amllise, e extremamente importante verque esse principio deve ser igualmente estendido a todas asoutras invariantes da lingua, seja qual for 0 grau ou 0 lugarque ocupam no sistema. E v:ilido para todas as grandezasda expressao, seja qual for sua extensao, e nao apenas paraas grandezas minimas; e tambem e v:ilido tanto para 0 pIanodo conteudo quanto para 0 pIano da expressao. Na reali­dade, isto e apenas a conseqUencia logica do reconhecimentodo princfpio para as figuras da expressao.

Se, em vez de considerar as figuras, se consideramagora os signos - nao urn signa isolado, mas dais ou maissignos em correla~ao mutua - ver-se-a que sempre ha umarela<;ao entre uma correla~ao da expressao e uma correla9aodo conteudo. A ausencia de urila tal rela~ao e exatamentea prova c do fato de que se esta na presenc;a DaO de daissignos diferentes mas, sim, de duas variantes do mesmo'signa. Se,trocandoduas expressoes de proposi~oes, seprovoca corn isso uma troea correspondenteentre dois con­teudos de· proposi<;aodiferentes, tern-se duas proposic;5esdiferentes na expressiio e, nO easo contrario, em que se

r obtem duas variantesde proposic;5es na expressao, daisI exemplares diferentesde uma e mesma expressao de umaI proposi9ao; 0 mesmo acontece corn as express5es de pa-I lavras e as express5es de todos os signos, e igualmente corn

70 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

as figuras, seja qual for sua extensao, por exemplo: as siIa­bas. A diferen~a entre os signos e as figuras reside, apenas,sob este ponto de vista, no fato de que quando se tratar designos sera sempre a mesma diferen~a de conteudo que seraprovocada por uma mesma diferenga de expressaa, enquantoque, para as figuras, uma mesma diferen~a de expressaopodera provocar, conforme 0 caso, substitui~6es diferentesentre as grandezas do conteudo (coma por exemplo tal ­til, bom - bern, mU - mel).

Alem do mais, a relagao constada e revers£vel, no sen­tido em que a "distingao entre invariantes e variantes, nopIano do eonteudo, deve ser efetuada segundo 0 mesmocriterio: s6 existem duas variantes diferentes de conteudose a correla~ao entre elas tern uma relayao corn uma eorrela­gao da expressao. Na pratica, ha portanto duas invariantesdistintas de conteudo se sua troea pode acarretar urna trocacorrespondente no pIano da expressao. Este fate e par­ticularmente evidente quando se trata de signos: quando, porexernplo, a troca de duas express6es de proposi<;6es acarretauma troca de dois conteudos de proposiy6es, a troca dedois conteudos acarretara. tambern uma troca das. duas ex­press6es de proposic;6es; e 0 mesmo fenomeno, visto sim­plesmente do lado oposto.

Segue-se inevitavelmente que, grac;as. a esta prova datroca deve-se poder, tanto no pIano do conteudo quantano da expressao, registrar figuras que comp6em os «:on­telidos de signos. Tal como no pIano da expressao, a exis­teneia de figuras .sera a£ apenas uma conseqiiencia·· 16gicada existencia dos signos. :E: por isso que se pode prevercorn certeza que uma tal anaIise e possive!. Alias, e neces­sarioacrescentar de iinediato que e extremamente irnpor­tante leva-Ia a cabo, pois e essa a condi~ao necessaria deuma descri<;ao exaustiva do conteudo. Vma tal descri~ao

pressup6e que os signos - que sac ern numero ilimitado-' tambem sao suscetiveis, no que diz respeito ao seu con­teudo, de serem explicados e deseritos corn a ajuda de urnnumero lirnitado de figuras. A exigencia de redu~ao e aquia rnesma que se aplicaao pIano da expressao: quando maisreduzido for '0 numero de figuras do conteudo, mais e pos­sivel satisfazer aexigencia da descri~ao mais sirnples possiveldo principio de empirismo.

Vma tal anaIise do eonteudo em figuras nao foi reali­zada e nem mesmo· tentada na lingiHstica ate hoje, emboraa anaIise correspondente em figuras da expressao seja tanantiga quanto a inven~ao da escrita alfabetica (para nacdizer mais antiga: a invenc;ao do alfabeto pressup6e, cornefeito, urna tal anaIise da expressao). Esta inconseqiiencia

INVARIANTES E VARIANTES 71

teve os resultados mais funestos: confrontado corn 0 numeroilimitado de signos, viu-se na anilise do conteudo urnatarefa insollivel, urn trabalho de Sisifo, urn cume que nuncapoderia ser atingido.

No entanto, a maneira de proceder sera exatamentea mesma tanto para 0 plana do conteudo quanta para 0

pIano da expressao. Assim como realizando a anaUse fun­cional se pode resolver 0 pIano da expressao em compo­nentes que contraem rela<;oes mutuas (tal coma isso seproduziu experimentalmente tanto na inven<;ao do alfabetoquanto nas teorias modemas do fonema), deve-se tambem,atraves de uma amilise semelhante, resolver 0 pIano do con­teudo em componentes que contraem rela<;oes mutuas quesao menores que os conteudos mfnimos de signos.

Imaginemos que, na fase da anaIise do texto em quecertas cadeias (como, por exemplo, expressoes de palavrasnuma lingua de estrutura corrente) sao divididas em sflabas,se registrem as seguintes sflabas: sla, sli, siai, sa, si, sai, la,li, lai. Na fase seguinte, em que as silabas se dividem empartes silabicas centrais (selecionadas) e marginais (selecio­nantes) (cf. Cap. 9), ° estabelecimento mecanico do inven­tario das duas categorias levaria a registrar a, i, ai nacategoria das partes centrais e sI, S, 1na categoria das partesmarginais. Dado que se pode interpretar ai como a uni­dade estabelecida pela rela<;ao entre a e i, e sI como aunidade estabelecida pela rela<;ao entre s e 1, ai e sI sacexcluidas do inventario dos elementos, onde restam apenasa e i, s e I de modo que estes tambem sac definidos porsua faculdade de entrar nos "gropos" mencionados (0 gropode consoantes sl e 0 ditongo aO. E importante ressaltarque esta redu9ao deve ocorrer quando da propria opera<;aono curso da qual as partes sihlbicas centrais e marginaissao registradas e nao deve ser retardada para a Opera9aOseguinte no curso da qual essas partes serao divididas empartes ainda menores; agir de outro modo seria faltar aexigencia do procedimento mais simples possive! e do re­sultado mais sirnples passivel em cada urna das operac;5es (cf.Cap. 6 e 0 princfpio de redu9iio). Se, pelo contrario, esti­vessemas na presen~a de urna situa<;ao diferente na qual, parexemplo, a resolU9aO dessas cadeias em suabas nos desse ape­nas slai, e nao mais sla, sli,~a, si, sai, la, li, lai, neste caso aredu~ao de sfiabas por resolu~ao em partes silabicas naopoderia ser realizada, e a seqiiencia da reduc;ao deveria seradiada para a opera~ao seguinte, no decorrer da qual aspartes silabicas seriarn objeto de urna divisao ulterior. Setivessernos obtido slai, sla e sU, e nao sai, sa, si, lai, la, lina fase doprocedimento que considerarnos, poderfamos terresolvido ai masnao sI. .(Se tivessernos obtidoslaie sla,

72 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

mas nao sli, a resolu~ao nao poderia ter acontecido,e aie a teriam de ser registradas como duas invariantes distintas.Infringir esta regra levaria, entre outras coisas, ao absurdode que, numa lingua que possua as silabas a e sa} mas

.nenhuma silaba s, nao apenas a como tambem s seriamregistradas como invariantes distintas no inventano dassilabas.)

Em principio, nesta maneira de proceder existe urnelemento de generaIiza~ao. A redUl;ao so pode ser realizadase se generalizar, de urn caso para outro, sem risco de con­tradi~ao. Poder.:.se-ia fazer em nosso exemplo-tipo a modi­fica9ao segundo a qual uma reducao de sI em grupo so epossIvel em certos casos, dado que urn conteudo diferenteesta ligado a silaba sla sem resolu~ao de sI ea'mesma silabaem que si e resolvido; disso resultaria que sI e urn elementoda mesrna especie que s e 1. Em varias lfnguas bem conhe­cidas (em ingles, por exemplo) a grandeza tf pode serresolvida em t e f, de modo que esta resolu~ao seja gene­ralizada sem contradi~ao em todos os casos. Em polones,pelo contrario, tf e uma grandeza independente da mesrnaespecie que t e f, e estas duas ultimas tambem podemparticipar de urn grupo de tf (funcionalmente diferentes detf): as duas palavras trzY, "tres", e CzY, "OU", "se", sodiferem na pronuncia porque 0 primeiro tern tf e 0 segun­do tf 6.

:s por esta razao que e importante, no plana pratico,recorrer a urn prindpio de generaliZGfiio particular. Suaimportancia pratica se manifesta alias em varios outrospontos da teoria, e portanto deve ser considerado como urnde seus princfpios gerais. Pensamos ser possIvel provarque esse .principio sernpre representou implicitamente urnpapel na pesquisa cientffica, embora, ao que saibamos, nuncatenha sido formulado. 0 principio e 0 seguinte:

Se um objeto admire univocamente uma solUfiio, e seurn outro objeto admite equivocamente a mesma solUfiio,neste caso a solUfiio e generalizada e aplicada ao objetoequivoco.

Pode-se formular do seguinte modo a regra das dedu­90es que foram acirna discutidas:

Grandezas que, na aplicGfQo do princfpio de generali­zafiio, podem ser registradas de modo unzvoco coma uni­dades complexas que compreendem exclusivamente elemen-

6. BLOOMFIELD, L. Language. Nova York, 1933. p. 119. 'IUGER, GeorgeL. Acta linguirtica, I, 1939. p. 179. Analisando a fundo 0 sistema deexpressao do polo~s segundo nosso panto de vista, provavelmente se observa~

riam outras diferen9as entre os dois casos; no entanto, isso em nada invalidao principio, nem sua RPlicacao numa dadal fase da analise. 0 mesmo acontececorn. 0 exemplo-tipo de D. Jones: 11 e g.

INVARIANTES E VARIANTES 73

tos registrados no decorrer da mesma operGfiio nao devernser registradas como elementos.

No pIano do conteudo, esta regra devera ser aplicadaexatamente da mesma maneira coma e aplicada no planada expressao. Se, por exemplo, ° inventario estabelecidomecanicamente numa dada fase do procedimento conduz aoregistro das grandezas de conteudo: "touro", "vaca","homem", "mulher", "menino" "menina", "garanhao","egua", "ser humano", "crianc;a", "cavalo", "ele" e "ela" asgrandezas "toure", "vaca", ~'homem", "mulher", "menino","menina", "garanhao" e "egua" devem ser eliminadas doinventario dos elementos, uma vez que podem ser interpre­tadas univocamente como unidades de relac;ao que com­preendem exclusivamente "ele" ou "ela" de urn lado e, deoutro lado, respectivamente, "boi", "ser humano", "crian9a","cavalo". Aqui, coma no pIano da expressao, 0 criterioe a prova da troca pela qual se constata uma rela9ao entreuma correlac;ao de urn. pIano e uma correlac;ao de urn outropIano. Asslm como uma troca entre sai, sa e si podeacarretar uma troca de tres conteudos diferentes, a troca dasgrandezas de conteudo "touro", "ele" e "boi" pode acarretara troca de tres expressoes diferentes. "Touro" == "ele-boi"sera diferente de "vaca" = "ela-boi", assim como sI 0 ede fl, por exemplo; "touro" = "ele-boi" tambem sera taodiferente de "garanhao" = "ele-cavalo" quanto sI 0 serade sn: basta que urn unico elemento seja trocado par umoutro para provocar num caso coma no ourto uma trocano outro pIano da lingua.

Nos exemplos a que recorremos anteriormente (divisaode frases em proposi~es, e de proposic;oes em palavras~

divisao do grupo de silabas em silabas, e estas em partesde silabas e, partindo dai, em figuras ainda menores) agimosprovisoriamente segundo as concepc;oes tradicionais comase 0 texto consistisse apenas numa linha da expressao; fomoslevados a compreender (cf. Cap. 13) que, apos a divisaodo texto em linha da expressao e linha do conteudo, estasduas linhas devem dividir-se cada uma segundo urn princfpiacomum. Disso resulta que esta divisao deve ser efetuadacorn a mesma extensao nestas duas Iinhas, isto e, deve serlevada 0 mais longe possive!. Assim como atraves de umadivisao continua da linha da expressao se chega mais cedoou mais tarde a uma fronteira a partir da qual inventarioslimitados sucedem inventarios ilimitadas, inventarios quesac ainda constantemente reduzidos por operac;oes ulte­riores (cf. Cap. 12), 0 mesmo acontecera corn a linha doconteudo quando se fizer sua analise. Pade-se dizer que,na pratica, a amilise das figuras do pIano da expressao efeita pela resolu~ao das grandezas que entram em inventa-

74 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

rios ilimitados (express6es de palavras, por exemplo) emgrandezas que entram em inventarios limitados, resolu~o

que e continuada ate que se obtenham os inventanos maislimitados. 0 mesmo sucedera corn a anilise das figurasdo pIano do conteudo. Enquanto que 0 inventano dosconteudos de palavras nao e limitado, os signos mfnimos,nas linguas de estmtura conhecida, dividem-se (a base dediferen~as relacionais) em alguns inventarios ilimitados (se­lecionados) (como os inventarios dos conteudos de raizes)e em outros inventarlos (selecionantes) limitados (taiscoma os que compreendem conteudos de sufixos de deriva­~ao e de desinencias flexionais, isto e, derivativos e morfe­mas. Praticamente, portanto, 0 procedimento consiste emanalisar grandezas que entram em inventanos ilimitados emgrandezas que entram em inventarios Iimitados. Ye-se queesse principio ja foi parcialmente aplicado no exemplo acimaproposto: enquanto que "boi", "ser humano", "crian~a" e"cavalo" permanecem provisoriamente em inventanos ilimi­tados, "ele" e "ela", na sua qualidade de pronomes, parti­cipam de uma categoria especial definida relacionalmentee que tern um numero limitado de elementos. Nossa tarefaconsistini, portanto, em levar adiante a anaIise ate que todosos inventarios sejam Hio restritos quanto possIve!.

Atraves desta redu~ao de grandezas do conteudo em"grupos" 0 conteudo de urn signa simples revela-se identicoao de uma cadeia de conteudos de signos que contraemdeterminadas rela~es mutuas. As defini~6es corn as quaisas palavras sao traduzidas em urn dicionario unilingiie sao,a principio, desta natureza, embora os diciomirios ate aquinao se tenham atribuido por finalidade a redu~ao; e porisso que nao oferecem defini~oes que possam ser retomadasnuma analise sistematica. Mas aquiIo que e estabelecidocomo equivalente de uma dada grandeza assim reduzida e,na verdade, a de/ini9iio dessa grandeza, formulada na lin­gua e no proprio pIano dessa grandeza. Tambem a respeitodeste panto nao vemos nenhum obstaculo em nos servirmosda mesma terminologia para os dois pIanos, e tambem paraempregar 0 tenno defini9iio quando a expressao da palavratal e analisada como camposta pela consoante t, pela vogala e pela consoante t. 0 que nos Ieva a defini~ao da defi­ni~ao: por defini9iio entendemos urna divisao seja do con­teudo de urn signo, seja da expressao de urn signo.

E freqiienternente passiveI aumentar a eficacia daredu~ao das grandezas para grupos de elementos registrandoos conetivos considerados enquanto tais. Por conetivoentendemos urn funtivo que em certas condi90es e solidariode unidades complexas de urn determinado grau. Na pra­tica, os conetivos sao freqiientemente (mas nao sempre) iden-

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INVARIANTES E VARlANTES

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75

ticos no pIano da expressao aquilo que estavamos habituados,em lingiiistica, a chamar de vogais de liga~ao; diferem desta,no entanto, pela exatidao de sua defini<;ao. A vogal que seencontra em ingles diante da desinencia de flexao em fishespode ser registrada coma urn conetivo. No plana do con­teudo, as conjun~6es freqiientemente serao conetivos, ° que,em Hnguas de estrutura determinada, pode tomar-se de umaimportancia decisiva para a anilise e para 0 registro dosinventarios de frases e de proposi<;6es. Em virtude destefato, na maioria das vezes sera possivel, desde a divisaodas frases, chegar nao apenas a resolu~ao de frases comple­xas em proposi~5es simples coma tambem a redu~ao, atravesde todo 0 inventario, de uma proposi~ao principal e deuma proposi~ao subordinada dadas em uma unica proposi<;aoque tenha as duas possibilidades funcionais. A proposi<;aoprincipal (ou selecionada) e a proposi<;ao subordinada (ouselecionante) nao constituirao, entao, duas especies de pro­posi<;5es, mas duas especies de "fun<;6es de proposi<;ao" ouduas variantes proposicionais. Acrescentemos que umaordem especffica de palavras, em certas especies de subor­dinadas, pode ser registrada coma 0 sinal dessas variantesde proposi~ao que, desse modo, nao eonstituem ohstaculoalgum a opera<;Ro de redm;ao. - A sorte que atinge aquidois dos principais pilares da sintaxe classica, a proposi~ao

principal e a proposi<;ao subordinada, que sao assim redu­zidas a simples variantes, atingira igualmente alguns deseus outros pilares. Nas estruturas lingiiisticas mais fami­liares, 0 sujeito e 0 atributo tomam-se variantes de urnumco substantivo (de uma unica jun~ao etc.); nas linguassem caso objeto, 0 objeto tomar-se-a uma variante quelhes sera identica, e nas lingrias que possuem urn casoobjeto e onde ha tambem outras fun<;5es 0 objeto tomar-se-auma simples variante desse easo. Em outras palavras, ac1assifica<;ao dos funtivos em invariantes e variantes queestamos estabelecendo abalara a base da bifurea~ao tradi­cional da lingiiistica em morfologia e sintaxe.

o registro da rela~ao entre a correla<;ao da expressao ea do conteudo, portanto, deve ser efetuada nos dois pIanospara todas as grandezas do texto. A pertinencia do valordistintivo sera vaIido para todo estabelecimento de inven­tario. A correla<;ao de urn pIano que contrai uma rela<;aocorn uma correla<;ao do outro pIano da lingua sera chamadade comutllfiio. Esta e, apenas, uma defini<;ao pnltica; nateoria, esfor~amo-nos por obter uma formula<;ao maisabstrata e mais geral. Assim como e possIvel imaginar umacorrela~ao - e uma troca no interior de urn paradigma ­contraindo uma rela<;ao corn uma correla~ao correspondente- e a uma troca correspondente ao interior de urn para-

76 PROLEGOMENOS A UMA TEORlA DA LINGUAGEM

digma - no outro pIano da lingua, e tambeI11· possIveIimaginar uma rela~ao _. e uma tr~lllsposi~ao no interior deuma cadeia - contraindo uma rela~ao corn uma rela~ao

correspondente - e a uma transposi~ao correspondente nointerior de uma cadeia - no outro pIano da lingua. Nestecaso, falaremos em permutGfiio. Frequentemente ha per­muta~ao entre signos de extensao relativamente grande. Aspalavras podem ser definidas simplesmente coma os signosminimos entre os quais ha permuta9ao tanto na expressaoquanta no conteudo. Escolhemos designar a comuta~o ea permuta~ao sob 0 termo cornum de mutClfiio. A partirdo momento em que se diz que os derivados de mesmograu pertencentes a urn rnesmo processo ou a urn mesmosistema constituem uma serie, definimos a muta9ao comoa fun~ao existente entre os derivados de primeiro grau deuma mesma classe e que contraem uma rela<;ao corn umafuneao entre outros derivados de primeiro grau de umamesma classe e que pertencem amesmaserie. A comuta9iiosera portanto uma muta<;ao entre os mernbros de urn para­digma e a permuta9ao uma muta<;ao entre as partes de umacadeia.

Par substitui9iio designaremos a ausencia de muta<;aoentre os membros de urn paradigma. Para n6s, portanto,a substitui~ao e 0 contnlrio da comuta<;ao. Das defini<;6esresulta que certas grandezas nao tern nem comuta~ao nemsubstitui9ao mutuas = sac as grandezas que nao entram nummesmo paradigma, como por exemplo uma vogal e umaconsoante, ou h e 11, no exemplo de Jones mencionado acima.

As invariantes sao, assim, correlatos de comuta~ao

mutua, e as variantes, correlatos de substitui~ao mutua.A estrutura especffica de urna lingua, os tra~s que

a caracterizam em oposi<;ao a outras lfnguas, que a diferen­ciam destas, que fazem corn que se assemelhem, determi­nando corn isso seu lugar na tipologia das linguas, essestra~os sac portanto estabelecidos quando se especificaquais sao as categorias relacionalmente definidas que alingua comporta e que numero de invariantes participa decada uma delas. 0 numero de invariantes no interior decada categoria e fixado pela prova de comuta~ao. Aquiloque, de acordo corn Saussure, chamamos de forma lingiiis­tica e que, de modo diferente de uma lingua para outra,coIoca suas fronteiras arbitrarias num continuo de sentidoem si mesmo amorfo, repousa exclusivamente sobre estaestrutura. Todos os casos que citamos (cf. Cap. 13) sacoutros tantos exemplos da pertinencia da prova de co­muta~ao: 0 numero das designa~6es de cores, de numeros,de tempo, o. numero de oclusivas e de vogais, tudo isso e

INVARIANTES E VARIANTES 77

muitas outras coisas ainda e fixado deste modo. As gran­dezas de conteudo arbre (arvore) e bais (madeira)sao variantes em dinamarques, sao invariantes em francese alemao; as grandezas de conteudo bois (material) e bois(pequena floresta) que sac invariantes em dinamarques, emfrances sao variantes. As grandezas de conteudo "florestagrande" e "floresta nao grande" ou "floresta independente­mente do tamanho" SaD invariantes em frances mas variantesem dinamarques e alemao. 0 unico criterio que permiteestabelecer esse dado e a prova de comuta~ao.

Se a gramatica tradicional freqiientemente transferiuas cegas as categorias latinas e os membros das categoriaspara as Hnguas europeias mo~emas, coma foi feito emrela~ao ao dinamarques 7, eporque nao se tinha compreendi­do que a prova de comuta~ao e pertinente para a anaIise doconteudo lingiiistico. Se abordarmos a este sem levar emconta a comutac;ao, na pnitica isso equivale a consideni-Iosem levar em conta sua rela~ao corn a expressao lingiifstica,relaC;ao dada pela funC;ao semi6tica. Por reaCao contraeste estado de coisa, fomos levados recentemente a exigirurn metodo gramatical que tomaria a expressao como pontode partida para, a seguir, chegar ao conteudo 8. Depoisde verificado 0 alcance da comuta~ao, parece que essaexigencia foi formulada de modo impreciso. Deve-se exigir,corn 0 mesmo direito, que ° pIano do conteudo seja 0 pontode partida para uma anaIise do plana da expressao. Ouernos interessemos mais especialmente pela expressao ou peloconteudo, nada compreenderemos da estrutura da lingua senao levarmos em conta, antes de mais nada, a interac;aoentre os dois pIanos. 0 estudo da expressao e () do con­teudo sao, ambos, estudos da relac;ao entre expressao econteudo; estas duas disciplinas se pressup6em mutuamente,SaD interdependentes, e separa-Ias seria urn grave erro.Como ja ressaltamos (cf. Caps. 9 a 11), a amilise devebasear-se nas fu0ti0es.

7. A respeito, pode-se consultar. entre outros, H. G. WIWEL, Synspunktef'for dansk sproglaere. Copenhague, 1901, p. 4.

8. Dessa fonna, 0 autor do presente trabalho (L. HJELMSLEV, ~nc~pesde grammaire gererale, Vet Kgl. Danske Videnskabernes Selskab Hm-filol.Medcl. XVI, 1, Copenhague, 1928, sobretudo p. 89).

15. Esquema eUsa lingliisticos

o lingilista deve interessar-se tanto pelas semelhangascomo pelas diferengas das Iinguas; esses sac dois aspectoscomplementares do mesmo fenomeno. A semelhanga entreas Hnguas reside no proprio prindpio de suas estruturas; adiferen<;a entre elas provem da execu<;ao in concreto desseprindpio. Portanto, e na linguagem e na estrutura intemadas linguas que se encontram simultaneamente as seme­Ihangas e as diferen<;as entre elas: nem estas, nem aquelasrepousam sobre qualquer fator estranho a linguagem. Naslinguas, semelhangas e diferengas pertencem aquilo que, cornSaussure, denominamos de forma, e nao a substancia que eformada. A priori, talvez se poderia supor que 0 sentido quese organiza pertence aquilo que e comum a todas as lfnguase, portanto, as suas semelhangas; mas isto e ilusao, pois eleassume sua forma de maneira especifica em cada lingua; naoexiste forma9ao universal, mas apenas urn prindpio universalde forma9ao. 0 sentido, em si mesmo, e informe, isto e,nao esta submetido, em si mesmo, a uma forma9ao, mas esuscetivel de uma forma<;ao qualquer. Se ha Iimites aqui,eles esmo na forma9ao e nao no sentido. E por isso queo sentido e, em si mesmo, inacessivel ao conhecimento, umavez que a condi9ao de todo conhecimento e uma amilise,seja qual for sua natureza. Portanto, ° sentido so pode serreconhecido atraves de uma forma9aO, sem a qual ele naotern existencia cientffica.

::B por esta razao que eimpossive! tomar 0 sentido, seja° da expressao ou 0 do conteudo, como base da descrigao

80 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

lingiHstica. Vma tal tentativa 56 seria possivel na base deuma formac;ao do sentido e estabeIecida a priori de umavez para sempre e que, fosse qual fosse sua estrutura, seriaincongruente corn a maioria das linguas. :£ por isso que aconstru~ao de uma gramatica sobre sistemas ontoI6gicosespecuIativos esta tao destinada ao fracasso quanto a cons­tru~ao da gramatica de uma determinada lingua sobre umaoutra lingua.

Nao se pode tampouco introduzir antecipadamente umadescri~ao da substancia como base da descriC;ao lingiiistica;rnas a descric;ao da substancia pressup5e, ao contrano, adescri~ao da forma lingiiistica. 0 velho sonho de urn sistemauniversal de sons e de urn sistema universal de conteudo(sistema de conceitos) e, corn isso irrealizavel e, de qualquermodo, nao exerceria nenhum dominio sobre a realidade lin­giHstica. Sem duvida nao e superfIuo, diante de certas sobrevi­vencias da filosofia medieval que reapareceram recentemente,especificar que tipos universais de sons ou urn esquema eternode conceitos nao podem ser estabelecidos corn metodos em­piricos. As diferen<;as entre as lfnguas nao provem das reali­za<;5es diferentes de urn tipo de substancia, mas das realiza­c;5es diferentes de urn prindpio de forma<;ao ou, em outrostermos, de diferentes formas em rela<;ao a urn sentido identicoporem amono.

As considerac;5es que fomos levados a fa~er como con­seqiiencia da distin~ao estabelecida por Saussure entre formae substancia levarn a que se reconhec;a que a lingua e umaforma e que existe fora dessa forma uma materia nao lingUfs­tica, a Hsubstancia" saussuriana - 0 sentido, que contraiuma funC;ao corn essa forma. Embora caiba a lingUisticaabalizar a forma das linguas, sera inteiramente natural queas outras ciencias analisem 0 sentido das lInguas; projetandoos resultados da lingiHstica sobre os resultados dessas outrasciencias, se tera a proje9ao da forma lingtiistica sobre 0 sen­tido numa determinada llngua. Dado que a formac;ao lingilis­tica do sentido e arbitraria, isto e, que eIa se baseia nao nosentido mas no pr6prio principio da forma e nas possibili­dades que decorrem de sua realizac;ao, estas duas descri~oes,

lingiHstica e nao lingtifstica, devem ser feitas independente­mente uma da ontra.

A fim de especificar esta atitude de modo concreto, seratalvez desejavel indicar quais sao as disciplinas cientfficas asquais cabe a descri~ao do sentido, tanto mais que a lingufs­tica atual manifesta, corn relaC;ao a este aspecto, uma impre­cisao que tern profundas rafzes numa certa tradic;ao. Cha­rnaremos a aten9aO para dois fatores:

ESQUEMA E usa UNGOlSTICOS 81

a) Conforme 0 primeiro deles (que indicamos obser­vando de propOsito uma atitude agnostica em face a certospontos Iitigiosos da filosofia modema), a descri~ao do sentidodeve ser concebida, tanto para a expressao quanto para 0

conteudo lingiiistico, como cabendo essencialmente a jisica eaantropologia (social). Enunciamos isto sem tomar uma po­si~iio especial em rela~ao a certos pontos de contesta~ao nafilosofia modema. A substancia dos dois pIanos pode serconsiderada em parte como constitufda por objetos fisicos(os sons no pIano da expressao e as coisas no pIano doconteudo) e em parte como a concep~o que 0 sujeito falantetern desses objetos; portanto, seria necessaria efetuar, para ­os dois pIanos, uma descri~8.o fisica e uma descri~ao feno­menoI6gica do sentido.

b) Uma descri98.0 exaustiva do sentido lingilistico deveser reaIizada, gra~as a uma -colabora~ao de todas as cienciasnao lingiiisticas; de nosso ponto de vista, elas tratam todas,sem excec;ao, de urn conteudo lingiiistico.

Corn a justificac;ao relativa fomecida por urn ponto devista particular, somos Ievados aver 0 conjunto das disci­plinas cientificas centradas ao redor da Iingiiistica. Encon"tramo-nos diante de uma simpIificac;ao que consiste em re­duzir os objetos cientfficos a duas especies fundamentais:linguagem e nao-linguagem, e aver uma dependencia, umafun~ao entre elas.

Mais tarde teremos a ocasiao de discutir a naturezadesta func;ao entre linguagem e nao-linguagens e seus rela­cionamentos de implicac;ao e de pressuposic;ao; nessa ocasiao,seremos levados a ampliar e modificar a perspectiva aquiesbo~ada. Aquilo que dissermos a respeito deste ponto, eprincipalmente sobre a forma e a substancia saussuriana, cSapenas provis6rio.

Desse ponto de vista, deve-se portanto concIuir que,assim como as outras disciplinas cientfficas podem e devemanalisar 0 sentido lingiifstico sem levar em considera~ao aforma lingiiistica, a lingiiistica pode e deve analisar a formalingiifstica sem se preocupar com 0 'sentido que se apegaa essa forma nos dois pIanos. Enquanto que 0 sentido doconteudo e 0 da expressao devem ser considerados comodescritos de modo adequado e suficiente pelas ciencias naolingiifsticas, e a lingiiistica que cabe especificamente des­crever a forma lingilistica e tamar possiveI sua projeyao sobreos objetos extralingiiisticos que, para 0 lingiiista, sao a subs·tancia dessa forma. A tarefa principal da lingilista, portanto,cS construir uma ciencia da expressao e uma ciencia do con­teudo sabre bases intemas e funcionais, sem admitir dadosfoneticos ou fenomenologicos na ciencia da expressao, nemdados onto16gicos ou fenomeno16gicos na ciencia do con·

\ 82 PROLEGOMENOS A UMA TEORM DA ~1NGUAGEM

tendo (0 que nao significa, evidentemente, que se ira negli­genciar as premissas epistemo16gicas sobre as quais todaciencia se baseia). Desse modo se constituiria, em rea~ao

a lingiiistica tradicional, uma lingiiistica cuja ciencia da ex­pressao nao seria uma fonetica e cuja ciencia do conteudo naoseria uma semantica. Uma tal ciencia seria, nesse caso,uma algebra da lfngua que operaria sobre grandezas naodenominadas - isto e, denominadas arbitrariamente, semque para eIas existam designa~5es naturais - e que so adqui­ririam designa~5es motivadas atraves de sua Iig~ao corn asubstancia.

Confrontada corn esta tarefa essencial, cnja solu~ao foiate aqui quase compIetamente negligenciada no estudo daslinguas, a lingiifstica vera abrir-se a sua frente urn vastodomfnio de reflexao e de pesquisa. No que diz respeito itexpressao lingiifstica, este trabalho ja come~ou em nossaepoca em dominios Iimitados" 1.

Nossa teoria da linguagem, desde 0 come~o, inspirou-senesta concep~ao, e eIa se prop5e a constituir esta algebraimanente da Hngua. A fim de marcar seu desacordo cornos estudos lingiiisticos anteriores e sua independencia deprindpio em rela9ao a substancia extralingtifstica, demos-Iheurn nome particular que, alias, foi utilizado nos trabalhopreparatorios dessa teoria desde 1936: a denomina~ao quedamos e glossematica (de '·y"A&Juuo. ,"lingua"), e porglossemas entendemos as formas minimas que a teoria isolacomo bases de expIicacao, isto e, invariantes irredutiveis.Vma tal denomina9ao nao teria sido necessaria se 0 termolinguistica nao tivesse sido empregado abusivamente para de­signar urn estudo erroneo da linguagem a partir de pontosde vista transcendentais que nao sac pertinentes.

A distin~ao estabelecida por Saussure entre "forma" e"substancia", no entanto, tern uma justifica~ao apenas reIa­tiva, isto e, eIa so e legitima do ponto de vista da linguagem."Forma" significa aqui forma lingilistica e "substancia", como

1. Uma descriciio de categorias da expressao sobre urna base puramentenao fonetica foi feita sobretudo par L. Bloomfield para 0 ingl~ e em partepara outras hnguas (Language, Nova York, 1933, p. 130 e s.), por GEORGEL. TRACER para 0 polon~s (Acta lingui8tica I, 1939, p. 179), par HANS VOGTpara 0 noruegu~ (Norsk tidsskrift for sprogvidemkap XII, 1942, p. 5 e s.),.por H. J. ULDALI.. para. 0 dinamarques (Proceeding.r of the Second InternationalCongress of Phonetic Sciences, Cambridge, 1936, p. 54 e s.) e para 0 botentote(Africa XII, 1939, p. 369 e s.), par A. BJERRUM para 0 dialeto dinamarqu~s

em Fjolde (Fioldemalet8 Lyckystem, 1944), por J. KURYLQWICZ para 0 gregoantigo (Travaux du Cercle Zinguistique de Copenhague V, 1949, p. 56 e s.)par KNUD TOGEBY para ohances: (Structure immanente de la langue fraTlfaise,1951) e por L. HJELMSLEV para 0 lituano (Studi baZtici lVI, 1936...037, p. 1 es.) e para 0 dinamarques ( Seskab for nordisk filologi. Arsbereming for1948-49-50, pp. 12-23). Este ponto de vista aparece clara e deliberadamenteem Mbnoire SUT le systinne primitif des vvyelles, Leipzig, 1879, de F. deSAUSSURE; 0 metodo foi explicitamente fOrnlulado por seu aluno A. SECHEHAYE(Programme et methodes de la linguistique tMorique, Paris, 1908, pp. 111,133, 151).

L!

ESQUEMA E usa LINGUlSTICOS 83

vimos, substancia lingiHstica ou sentido. Numa acep~ao

mais absoluta, os conceitos de "forma" e de "substa.ncia"tern urn alcance mais geral mas nao podem ser generalizadossem 0 risco de tomar obscura a terminologia. Natural­mente, deve-se insistir particularmente DO fato de que 0 con­ceito de '~substaDcia" nao se opoe ao conceito de fun~ao, eque ele s6 pode designar uma totalidade funcional em simesma, que se comporta de uma maneira definida face auma "forma" dada, comportamento semelhante ao do sentidofrente a forma lingtifstica. Mas a anilise nao lingiifstica dosentido realizada pelas outras ciencias conduz tambem, pelanatureza das coisas, ao reconhecimento de uma "forma", com­paravel em principio a "formaH lingilistica, ainda que denatureza extralingiiistica. Pensamos que e possivel supor quevanos dos princ:ipios gerais que fornos Ievados a adotar nafase inicial da teoria da linguagem sao vaIidos DaO apenas paraE lingilistica mas tambem para todas as ciencias, em particularo prindpio da pertin~ncia excIusiva das fun~5es em toda ami­lise (cf. Cap. 9). AquiIo que, de urn panto de vista, e"subs­tanciaH toma-se "forma" de urn outro panto de vista; istoesta relacionado corn 0 fate de que os funtivos denotam ape­nas terminais ou pontos de intersec9aO das fun~oes, e queapenas a malha funcional de dependencias e acesslvel aoconhecimento e possui uma existencia cientffica, enquantoque a "substancia", no sentido ontol6gico, continua a serurn conceito metaffsico.

A anaIise nao Iingtiistica do sentido deve portanto levar,par dedu9ao (no sentido que atribuimos a esse termo) aoreconhecimento de uma hierarquia extralingtiistica que con­trai uma fun~ao corn a hierarquia lingiifstica obtida peladedu~ao lingiifstica.

Chamaremos a hierarquia lingiiistica de esquema linguis­tiea, e as resultantes da hierarquia extralingiifstica de usaUnguistiea quando estao subordinadas ao esquema lingUfstico.Diremos, ainda, que 0 usa lingiifstico manifesta 0 esquemalingiifstico, e chamaremos de manifestafiio a fun~ao contrafdapelo esquema e pelo uso. Provisoriamente, estes termos ternapenas urn carater operacional.

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16. Variantes noEsquema Lingliistico

Tanto no esquema lingiiistico quanto no uso lingiiistico epossivel reduzir certas grandezas a especimes de certas outrasgrandezas (cf. Cap. 14). Um funtivo qualquer do esquemalingiiistico pode, no interior deste e sem por em causa a ma­nifesta~ao, articula-se em variantes. Isto decorre da propriadefini~ao das variantes (cf. Cap. 14). De resto, a articula­~ao e universal, e nao particular (cf. Cap. 11) uma vez queum funtivo qualquer sempre pode ser articulado urn nilmeroilimitado de vezes num numero arbitrariamente fixe devariantes. S por isso que as variantes, como as invariantesirredutiveis, sac em geral virtuais, no sentido que definimos(cf. Cap. 11), enquanto que as invariantes redutiveis sao asunicas a serem realizadas.

Na ciencia modema da expressao, orientada para a fo­netica, tem-se 0 costume de distinguir entre duas especies devariantes: as variantes ditas "!ivres", que sac independentesdaquilo que a rodeia, e as variantes ditas "ligadas" ou "con­dicionadas" (ou ainda "combinat6rias", termo que nao reco­mendamos), que 56 aparecem na cadeia em certos ambientes.Quando a anaIise e exaustiva, pode-se dizer que uma gran­deza qualquer do pIano da expressao tern tantas variantesligadas quantas rela~6es posslveis tiver na cadeia. Pode-sedizer tarnbem que, nas mesmas condi~oes, uma grandezaqualquer tern tantas variantes livres quantos especimes pos­sfveis dver, dado que, para urn registro fonetico de sensibi­lidade suficiente, dois especimes do mesmo fonema nuncasac exatamente identicos. Chamaremos de variaroes as va­riantes "livres" e variedades as variantes "ligadas". As va-

)

86 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

riaroes sac definidas como variantes combinadas, pois naosao pressupostas por, e nao pressupaem, grandezas definidase caexistentes na cadeia: as varia96es contraem uma cambi­na9aO. As variedades sao definidas coma variantes soli­danas, pQis uma dada variedade sernpre e suposta par umadada variedade de uma outra invariante na cadeia (ou de urnoutra especime de uma invariante) e a pressupoe, ela mesma.Na sllaba ta entram duas variedades de duas invariantes:uma variedade de t que s6 pode aparecer corn a, e uma va­riedade de a que. s6 pode aparecer corn t; entre elas ha soli­dariedade.

A distribui9ao das variantes em duas categorias, suge­rida peIa ciencia moderna da expressao, e, como se ve, extre­mamente importante do ponto de vista funcional, e e porisso que deve ser feita por toda parte. Dada a situa9aoatual da lingiHstica, e importante ressaltar, a prop6sito, queuma articula9aO em variantes e tao possiveI e necessaria naciencia do conteudo quando na da expressao. Todas as signi­fica~6es ditas contextuais manifestam variedades e todas assignifica90es especiais manifestam varia90es. Alem disso, eimportante, a fim de satisfazer a exigencia de simplicidade,insistir no fate de que, nos dois pIanos da lingua, a articula­9aO em varia90es pressup6e a articuIac;ao em variedades umavez que uma invariante deve inicialmente ser articulada emvariedades e as variedades articuladas, a seguir, em variac;6es:as varia96es especificam as variedades. No entanto, parecepossivel que uma articulac;ao exaustiva em variac;oes se possaligar uma articuIa9ao em variedades, e assim por diante. Namedida em que isto for possive!, a especifica9ao e transitiva.

Se a articula~ao de uma invariante em variedades erealizada ate cada Hposi~ao" considerada individualmente,atinge-se uma variedade irreduuvel e a articula~ao em varie­dades e esgotada. Diremos que uma variedade e localizadaquanQO ela nao mais pode ser articulada em variedades. Sese continua com a articula~ao de uma variedade localizadaem varia90es ate atingir urn. especime unico, atinge-se umavaria9ao irredutivel e a articuIa~ao em varia~5es e esgotada.Chamaremos de indivfduo uma varia9ao que nao pode maisser articulada em varia96es. Eventualmente se pode articularurn indivfduo em variedades conforme as "posi~6es" dife­rentes nas quais esse mesmo indivlduo pode aparecer; nestecaso, a especifica9ao e transitiva.

o fato de que uma articula~ao em variantes pode seresgotada numa dada fase nao contradiz a natureza virtualdas variantes. Se se admite a transitividade da especifica9ao,a articula~ao em variantes e, em principio, ilimitada. Con­tudo, alem do mais, a articulac;aa em variantes e, emboraesgotavel, ilimitada em cada fase particular, pois 0 numero

·-: .. ":.,~ ... -

VARIANTES NO ESQUEMA LING'O"lSTICO 87

de variantes sempre sera ilimitado num texto iIimitado, e 0

numero de articula~oes possiveis gra!ras as quais a articula!raodas variantes pode ser esgotada sera tambem, portanto, ili­mitado, mesmo em rela9aO a uma fase particular.

Se nao ha especifica~ao transitiva continua e se ahierarquia se encontra esgotada numa articula!rao das varie­dades em varia~ao que nao podem ser novamente variedades,se podenl dizer, conforme uma certa interpreta!rao epistemo­logica, que 0 objeto dado nao e suscetiveI de uma descri~ao

cientifica ulterior. Sendo 0 objetivo do empreendimentocientffico, sempre, 0 de registrar coesoes, a possibilidade deurn tratamento exato deixa de existir se urn objeto ofereceapenas a possibilidade de registrar constela~oes ou ausenciasde fun90es. Dizer que 0 objetivo da ciencia e registrarcoesoes significa que, nao levando em considera!rao nossaterminologia, uma ciencia sempre se esfon;a por apreender osobjetos como as conseqiiencias de uma razao ou como osefeitos de uma causa. Se 0 objeto se resolve apenas emobjetos que sac indiferentemente conseqilencias ou efeitos detodos ou de nenhum, a anaIise cientffiea continua serainfrutffera.

A priori nao parece inimaginaveI que toda ciencia queprocurasse realizar os objetivos de que nos fizemos defensorem rela~ao a lingiiistica, chegue, ao fim da dedu9ao, a en­contrar-se diante de uma situa9ao final onde nao se pode maisdistinguir relacionamentos de causa e efeito, e onde nao maisse veem as conseqtiencias das razoes. SO restara entaD apossibilidade unica de urn tratamento estatistico das varia­~oes, semelhante aquele que Eberhard Zwirner procurou es­tabelecer sistematicamente no que diz respeito a expressao·fonetica das linguas 1. A condi9ao para que esta experienciaseja levada a cabo e que 0 objeto desse tratamento "fonome­trieo" nao seja uma classe de sons obtida indutivamente, massim uma variedade localizada do mais alto grau obtida de-

. dutivamente.Tivemos, antenormente, a ocasHio de constatar que as

grandezas habitualmente registradas pela sintaxe tradicional- proposi!roes principais e subordinadas, membros de fra­ses tais coma 0 sujeito, 0 atributo, 0 objeto etc. _. sac va­riantes (cf. Cap. 14). Segundo a terminologia que introdu­zimos, podemos acrescentar que sac variedades. A sintaxetradicional (entendida como 0 estudo das conexoes entre aspalavras) e, no essencial, urn estudo das variedades do pIanodo conteudo da lfngua, mas como tal nao eexaustiva. Dadoque toda articula9ao em variantes pressupoe 0 inventariodas invariantes, a sintaxe nao se pode sustentar como umadisciplina autonoma.

1. Ver, do autor, NQ.1'disk tidsskri/t for tale og 8temme 11, 1938, sobre­tudo p. 179 e s.

.-_- _. _._.-- _._-- ..-_----

25

17. Funcao e Soma•

Uma classe -que contrai uma fun~ao corn uma ou variasclasses no interior de uma mesma serie sera chamada desoma. Vma soma sintagmatica sera uma unidade, uma somaparadigmatica sera uma categoria. Vma unidade sera portantouma cadeia que contrai uma rela~ao corn uma DU variascadeias no interior de uma mesma serie e uma categoria seraurn paradigma que contrai uma correla~ao corn urn DU variosparadigmas no interior da mesma serie. Por estabelecimentoentendemos uma rela~ao que existe entre uma soma e umafun~ao que dela participa; dizemos que a fun9ao estabelecea soma e que a soma e estabelecida pela fun~ao. Porexemplo~ na paradigmatica (ou sistema Iingiiistico), podemosconstatar a existencia de diversas categorias de correla9iiomutua que~ tomadas separadamente~ sao estabelecidas pelacorrela~ao que existe entre seus membros. Para as categoriasde invariantes, esta correla~ao e uma comuta~ao; para acategoria de variantes, e uma substitui9ao. Do mesmo modo,podemos constatar na sintagmatica (ou texto, processo lin­gilistico) a existencia de diversas unidades de rela~ao mutuae que sao, cada uma, estabelecidas pela rela~ao entre suaspartes.

Das defini~6es resulta que sempre existem fun~6es entresomas ou entre fun~6es; por outras palavras, que toda grande­za euma soma. 0 fator que tomou possIvel estamaneira dever reside naturalmente no fato de que 0 numero das varianteseilimitado e que a articula~ao em variantes pode ser realizadaindefinidamente, de tal modo que teda grandeza pode serconsiderada coma uma soma ou, pelo menos, coma uma

90 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

soma de variantes. f: a exigencia da descri<;ao exaustiva quetoma necessario este ponto de vista.

Em teoria, isso equivale a dizer que uma grandeza nao eontra coisa senao duas on varias grandezas de fun<;ao mutua,resuItado que ressalta mais uma vez a existencia cientfficaapenas das fun~oes (cf. Cap. 9).

Na pratica, eparticularmente importante na amilise levarem considera<;ao que entre categorias existe uma rela~a.o.

A amilise qeve ser de tal modo que, tendo-se em contao principio de empirismo e todos os outros principios quedaf decorrem, se escolha a base de anaIise adequada. Supo­nhamos que se escolha a sele<;ao coma base de anaIise.Trata-se entao, na primeira opera9ao, de dividir a cadeiaproposta em unidades de sele9ao de primeiro grau; a cate­goria constituida por essas unidades sera denominada cate­goria funcional, e com esse termo nos referimos a categoriados funtivos registrados par uma u.nica anilise corn llma dadafun~o tomada como base de anaIise. Numa tal categoriafuncional sera possIvel imaginar quatro especies de funtivos:

1. funtivos que so podem aparecer como selecionados;2. funtivos que so podem aparecer como selecionantes;3. funtivos que podem aparecer como selecionados e como

selecionantes;4. funtivos que nao podem aparecer nem coma seleciona­

dos, nem coma selecionantes (ou seja, funtivos que socontraem solidariedades ejou combina<;oes, ou que naocontraem rela~ao alguma).

Chamaremos cada uma dessas categorias de categoriade funtivos; entenderemos, por essa designa<;ao, categoriasque a articula~ao de uma categoria funcional registra segundoas possibilidades dos funtivos. A opera<;ao consiste em pro­curar, anaIisando cada uma destas categorias de funtivos emmembros na base da prova de comuta<;ao, quais dessas quatrocategorias de funtivos a priori posslveis sao reaIizadas,e quais sao virtuais; chamamos esses membros de elementos.Quando a amllise e divisao em unidades de sele<;ao de pri­meiro grau, os elementos sac portanto unidades particularesde sele<;3.o de primeiro gran que a divisaa leva a registrar.

Tomemos novamente como exemplo concreto a divisaoda cadeia em proposi<;oes principais e subordinadas. Asproposi<;oes principais pertencerao a primeira categoria defuntivos, as subordinadas a segunda. Para simplificar, su­ponhamos que a terceira e a quarta categoria de funtivosdemonstrem serem, ambas, virtuais. Nesse caso, e evidenteque este registro nao pode significar que cada subordinadatomada isoladamente seleciona cada principal tomada iso-

--- '4'- '--~-

~ ..... -' . .... -

FUNCXO E SOMA 91

ladamente. Vma subordinada isolada nao pressup5e a pre­sen~a de uma dada principal, mas apenas de uma principalqualquer. Portanto, e a categoria das proposi~5es principaisque eselecionada pela categoria das subordinadas. A sele~ao

mutua existe entre as categorias de funtivos, enquanto quea relac;ao que a seguir existe entre urn membra de umacategoria de funtivos e um membro de uma autra pode serbem diferente: por exemplo, uma combinac;ao. Vma dastarefas da teoria da linguagem eestabelecer um caIculo geralsobre as relac;6es entre os elementos que correspondem asrelac;5es dadas entre as categorias de funtivos.

Se a base da amllise e uma solidariedade ou uma com­bina~ao, ou seja, uma reciprocidade sintagmatica, as catego­rias de funtivos serao, nesse caso:

1. funtivos que so podem aparecer como solidarios;2. funtivos que so podem aparecer como combinados;3. funtivos que podem aparecer como solidanos e coma

combinados;4. funtivos que nao podem aparecer coma solidarios nem

como combinados (ou seja, funtivos que so contraemselec;6es ou que nao contraem relaC;ao alguma).

A solidariedade ou a combinac;ao estarao presentes, aquitambem, entre as categorias de funtivos, enquanto que oselementos podem contrair O1itras relac;6es. Vimos urn exem­plo disso mais acima, quando mencionamas os morfemasnominais latinos (cf. Cap. 9): a categoria dos numeros e ados casos sac solidanas, mas ha combinac;ao entre urn deter­minado numero e urn determinado caso.

o --'.~ •• ~-.. ,

II

18. Sincretismo

Podemos agora abordar 0 fenomeno conbecido na gra­matica tradicional sob 0 nome de sincretismo e na fonologiamodema sob 0 nome de neutraliZtlfao, que consiste no fatede que, em certas cond.i~oes, a comuta~ao entre duas inva­riantes pode ser suspensa. Limitar-nos-emos aqui aexemplosbem conbecidos, coma 0 do nominativo e do acusativo neutro(e certos outros casos) em latim e a neutraliza9ao entrep e b em dinamarques na posi~ao final na silaba (ou seja,no caso em que, numa palavra como top, se pode pronunciarindiferentemente p ou b).

Para casos assim utilizaremos 0 termo suspensO-o, eintroduziremos a seguinte defini~ao geral: quando urn deter­minado funtivo esta presente em certas condi~oes e ausenteem outras, diremos que, nas condi~oes em que 0 funtivo estapresente, ha aplic(lfao desse funtivo - e deste diz-se queele se aplica - e, nas condic6es em que ele esta ausente, hasuspensiio DU ausencia desse funtivo, do qual se diz entaoque esta suspelUO ou ausente.

Chamaremos de superposifiiO uma mutac;ao suspensaentre dois funtivos, e a categoria estabelecida por uma su­perposi~ao sera (nos· dois pIanos da lingua) urn sincretismo.Diremos por exemplo que 0 nominativo e 0 acusativo emlatim, coma p e b em dinamarques, superpoem-~e mutua­mente, ou contraem uma superposiC;ao e constituem juntosurn sincretismo, DU ainda que cada um deles entra numsincretismo.

Das defini~oes segue-se que quando duas grandezas emdeterminadas condic;oes sao registradas como invariantes na

94 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

base da prova de comuta~o, e quando elas contraem, emcondi~6es modificadas, uma superposi~ao, nesse caso elasserao, nessas condi~5es modificadas, variantes, e somente seusincretismo sera uma invariante. Nos dois casos, as condi~5es

dependem das rela~5es que contraem as grandezas em quesHiona cadeia: em latim, a comuta~ao entre 0 nominativo e 0

acusativo (que se aplica, por exempl0, na primeira declina­~ao) e suspensa quando 0 nominativo e/ou 0 acusativo con­traem uma rela<;ao com 0 neutro; em dinamarques, a comu­ta<;ao entre p e b (que se aplica, por exempl0, em posi~ao

inicial: ptere - btere) esuspensa quando p e/ou b contraemuma rela9ao corn a parte sihibica central que os precede.

E necessario entender que a relaC;ao que e pertinentenestes casos e uma rela9ao com variantes. A grandeza cujapresen~a e uma condic;ao necessaria para a superposi~o

entre 0 nominativo e 0 acusativo e a variedade de neutrosolidario do nominativo-acusativo. Do mesmo modo, a gran­deza cuja presen~a e uma condi~ao necessaria para a super­posi<;ao entre p e b e a variedade da parte silabica centralsolidaria de um elemento p/b na posi<;ao seguinte.

Chamaremos de dominancia uma solidariedade entreuma variante e uma superposi<;ao, e diremos que a variantedomina a superposi<;ao que, portanto, e dominada pela va­riante 1.

A principal vantagem das defini90es formais cS que elaspermitem distinguir facilmente a dominancia obrigatoria daopcional sem precisar recorrer aos dados sociol6gicos que asdefini90es realistas desses termos necessariamente implica­riam. Dados estes que significariam, na melhor das hip6teses,uma complicaC;ao do instrumentaldas premissas na teoriae que corn isso estariam em conflito corn 0 princfpio desimplicidade, e na pior das hipoteses, envolveria talvez atemesmo premissas metaffsicas, tendo par conseqiiencia, ~umsentido mais amplo, um conflito com 0 princfpio de empirismoe mais especialmente urn confIito corn a exigencia de umaperfeita explicac;ao das defini90es. Conceitos como obriga­t6ria e opmonal, conforme sua definic;ao realista atual, querela seja explicita ou nao, sup5em necessariamente urn con:'ceito de norma sociologica que se demonstra inteiramente .superfluo na teoTia da linguagem. Portanto, podemos definirsimplesmente uma dominancia obrigat6ria como' uma domi­nancia na qual, em rela~ao ao sincretismo, a dominante eu~a variedade} e uma dominancia opcional com uma domi­nancia na qual, em relac;ao ao sincretismo, a dominante euma vari(lfiio; quando a superposic;ao eobrigat6ria em deter­minadas condi~6es, ha solidariedade entre a dominante e 0

sincretismo, ou seja, a categoria das grandezas quepodem1. Em vez de domindncta pode-ee. em tela~o 801 exemplOl eltadoe,

preferit 0 tenno mais particular Iincreti~60. conservando 0 tenno domincinciapara urn uso maie geral onde ele se ap1icata igualmsnte As· de£ectividad8l.

SINCRETISMO 95

contrair a superposi~ao; quando a superposic;ao e opcionalem determinadas condic;oes, ha combinac;ao entre a domi­nante e 0 sincretismo.

Os sincretismos podem manifestar-se de duas maneirasdiferentes: a fusiio e a implicllfiio. Par fusiio entendemos amanifestac;ao de urn. sincretismo que, do ponto de vista dahierarquia da substancia, e identico a manifestac;ao de todosou de nenhum dos funtivos que entram num sincretismo.Os· sincretismos que dtamos como exemplo manifestam-secomo fusoes nas quais a manifestac;ao do sincretismo e iden­tica a manifestac;ao de todos os funtivos (isto e, dois)que entram num sincretismo. Deste modo, 0 sincretismodo nominativo e do acusativo tern a significac;ao "ne­minativo-acusativo" (em diferentes contextos, esta signi­ficac;ao produz as manifestac;oes de variedades que 0

nominativo e 0 acusativo, alias, tern). Igualmente, a sin­cretismo plb pronuncia-se como p e b e sao alias pronuncia­dos (em diversas combinac;6es corn as mesmas manifestac;6esde variedades). Urn exemplo de urn sincretismo onde amanifestac;ao nao e identica a de nenhum dos funtivos queentram no sincretismo encontra-se na superposic;ao de dife­rentes vogais em determinadas condic;oes de acentuac;ao emrusso e em ingles onde 0 sincretismo se pronuncia [~].

Por implicllfiio, ente,ndemos a manifestac;ao de urn sincretismoque, do panto de vista da hierarquia da substancia, eidenticoamanifestac;ao de urn ou varios funtivos que entrarn no sin­cretismo, mas nao de todos. Se, numa lingua, as consoantessurdas e sonoras contraem uma comutac;ao mutua, mas se,diante de uma outra consoante, esta comutac;ao e suspensade tal modo que uma surda toma-se sonora diante de umaantra sonora, ha implicac;ao. Entre os funtivos que contraemuma implicayao, 0 ou os funtivos cuja manifestaC;80 e iden­tica a do sincretismo dizem-se estarem implicados pelo outroou autros funtivos que, estes, implicam 0 ou os funtivos cujamanifestac;ao e identica a do sincretismo. No exemplo esco­lhido, diremos portanto que, em determinadas condic;oes, umaconsoante surda impIica uma consoante sonora, e uma con­soante sonora e implicada por uma consoante surda. Se 0

sincretismo entre surdas e sonoras (coma castuma acontecer,por exemplo, nas linguas eslavas) produz-se de modo talque nao apenas a consoante surda se torna sonora diante deuma consoante sonora, mas tambern que a consoante sonorase torna surda diante de uma surda, a implicac;ao nao e maisunilateral mas sim multilateral ou, como neste caso, bilateral:a sonora implica a surda e a surda impIica a sonora emcondi~6es mutuamente exclusivas.. a poss(vel destacar que 0 emprego que fazemos do

termo implica~lio concorda exatamente corn oemprego feitopela logfstica, nao passando de uma apIica9ao particular da

96 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

utilizac;ao feita por esfa disciplina. A implica~ao e umafunc;ao se-entao que, nos exemplos, aplica-se nao a propo­sic;6es mas a grandezas de menor extensao: se tivermos agrandeza de expressao glossematica p numa determinadarelac;ao corn uma ontra, entiio teremos q. A implica~ao 16gicaentre proposiC;oes nao nos parece constituir mais do que urnoutro caso particular da implicac;ao lingliistica 2.

Urn sincretismo pode ser resoluvel ou irresoluvel. Re­solver urn sincretismo e introduzir a variedade de sincretisrnoque nao contrai a superposiC;ao que estabelece 0 sincretismo.Se, a despeito do 'sincretismo, e possivel interpretar templumcomo nma forma de nominativo num certo contexto, e comauma forma do acusativo em outro, eque 0 sincretismo latinodo nominativo e do acusativo e resoluvel nos casos que esta­roos considerando. Para resolve-Io, e preciso escolher, nacategoria do nominativo e do acusativo, isto e, no interiordo sincretismo, uma variedade que nao contrai a superposic;ao(por exemplo, a variedade nominativa de domus e a variedadeacusativa de domum) e introduzir artificialmente essa gran­deza de canteudo em templumj em vez da grandeza casualque dele participa. Isto epossivel em virtude de uma infe­rencia anal6gica que repousa sobre 0 principio de generaliza­c;ao. Urn sincretismo so e resoluvel quando tais inferenciassao possiveis na base dos resultados da amllise do esquemalingiHstico. Vma tal analogia generalizante nao e possivelno caso de top, e neste caso devemos declarar irresoluveI 0

sincretisrno p/b.De uma cadeia que comporta sincretismos resoluveis,

mas nao resolvidos, pode-se dizer atualizada, enquanto quede uma cadeia que comporta sincretismos resoluveis resolvidospode-se dizer que ela e ideal. Esta distin<;ao e aplicavel adistin<;ao entre as nota<;6es finas e grosseiras da expressao,nota90es que portanto sao posslveis na base da amilise doesquema IingiHstico.

, Quando se resolve urn sincretismo, efetuando-se umanOta9aO ideal, esta nota<;5.o (escrita ou pronuncia) - repre­sentando 0 sincretismo par urn de seus rnembros - seraela mesma uma implica<;ao onde 0 sincretismo implicani 0

membro em questao. Parece-nos que assim descrita essasitua<;ao sera pertinente para a amllise da conclusao logicaque, segundo as logicas modemas, euma opera9aO puramentelingiHstica e que, portanto, deve ser elucidada a partir dedados lingiHsticos. Dissemos mais acima (cf. Cap. 10) queera possivel defip.ir a conclusao 16gica coma a amuise deuma proposi<;ao' pressuposta. Estamos agora capacitados a

2. A semelhan!(a e tanto mais notavel quando se consideram as proposi­QOes como nomes compostos, cf. J. J~RGENSEN, Reflexions on logic and language,The Journal of Unified Science, 8, Haia, 1939-1940, p. '223 e s. e Empiricismand unity of science, The Journal of Unified Science. 9, Haia, 1941. p. 185 e s.

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SINCRETISMO 97

precisar nosso pensamento: deve-se, manifestamente, com­preender a proposi9ao pressuposta como 0 sincretismo re­soluvel de suas conseqiiencias; a conc1usao 16gica e, portanto,uma articula9ao da proposi9ao pressuposta que consiste emuma resolU9aO, sob a forma de impIica9ao, desse sincretismo.

Em suma, parece-nos que 0 conceito de sincretismooriundo de dados internos da Iingiiistica poderia ser vanta­josamente explorado para elucidar, de modo generalizante,fatos que se tern 0 costume de considerar como nao sendolingiHsticos. Certamente se podeni corn isso trazer urn poucode luz para 0 problema geraI dos relacionamentos entreclasse e componente. Na medida em que urn paradigma naoe considerado como a simples soma de seus membros (classas many, na terminologia de Russell), mas como algo diferente(class as one), ele sera urn sincretismo resoIuvel. Pela reso­IU9aO do sincretismo, uma class as one transforma-se numaclos.9 as many. Conseqiientemente, deveria ser evidente quese se tenta emprestar uma significa9ao cientffica ao termoconceito, deve-se entender por isso urn sincretisrno entreobjetos (ou seja, entre objetos compreendidos peIo conceito).

Num sincretismo, alem das grandezas explicitas, tambempode entrar a grandeza zero, que ede uma particular impor­tancia para a amlIise lingiHstica. Muitas vezes ja se insistiusobre a necessidade de reconhecer a existencia de grandezaslingiifsticas latentes e jacultativas, e sobretudo dos "fonemas"3.Deste modo IS possivel, a partir dos dados de uma certaamilise, sustentar a existencia de urn dft latente nas palavrasfrancesas grand e sourd, porque d ou t aparece nessas ex­pressoes quando as condi90es sac diferentes: grande, sourde.Pode-se igualmente conduir pela facultatividade de y emdinamarques depois de i e u (yndig, kugle). Basta uma brevereflexao para mostrar que a latencia e a facultatividade naopodern ser definidas como manifesta90es suspensas; as fun90esconsideradas tem sua razao de ser no esquema Iingilisticouma vez que as condi90es nas quais aparecem a latencia e afacultatividade sac fixadas por rela~6es' na cadeia e repousamsobre a dominancia. Portanto, latencia e facultatividade de­vem ser compreendidas como superposi90es corn zero. Alatencia e uma superposi~ao corn zero cuja dominancia eobrigat6ria (porque a dominante em relacionamento corn 0

sincretismo IS uma variedade) e do funtivo que contrai umalatencia se diz que e latente. A facultatividade euma super-

. posi9ao corn zero cuja dominancia e opcional (uma vez quea dominante em relacionamento corn 0 sincretismo €1 urnavaria~ao) e do funtivo que contrai uma facultatividade sediz que e facultativo.

3. J. BAUDOUIN DE COUl\TENAY, Fakultative Sprachlaute(Donum nata­licium Schriinen, 1929, p. 38 e s.). A. MARTINET operou corn urn laten~eem sua anSlise do fran~s (Bulletin' de la S'OtCiBt~ de linguistique de PaNS,XXXIV, 1933, p. 201 e s.).

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19. Catalise

Como vimos (cf. Caps. 9 a 11), a amili.se consiste numregistro de fun~5es. Adotando esse ponto de vista, deve-seprever a possibilidade de que 0 registro de certas fun~es

obrigue, em virtude da solidariedade que existe entre fun~ao

e funtivo, a interpolar certos funtivos inacessfveis ao conhe­cimento por outras vias. Diremos que essa interpola~ao euma catdlise.

Na pnitica, a cataIise e uma condi~3.o necessaria a efe­tua~ao da anaIise. A anaIise do latim deve, por exemplo,levar ao reconhecimento de que a proposi~ao sine seleciona(rege) 0 ablativo (cf. Cap. 9) 0 que significa, conforme nos­sas defini~es, que a presen9a de urn ablativo no texto e umaCOndi9aO necessaria a presen9a de sine (e nao 0 contrario).:£ evidente que nao se pode chegar a tal constata~ao apenasa base de uma observa~ao mecanica das grandezas de fatoencontradas nos textos. Pode-se muito bem imaginar queexiste um texto onde sine se encontra sem ablativo, especial­mente se, por uma razao qualquer, 0 texto encontra-se inter­rompido ou inacabado (inscri~ao amputada, fragmento,enunciado ox:al ou escrito incompleto). 0 registro de todacoesao pressup5e necessariamente, de infcio, a elimina93.0dessa especie de acidentes da faIa. Ora, os fatos suscetfveisde constituir urn obstaculo ao registro mecanico das coes5esnos textos nao se limitam a essas perturba95es acidentais.Sabe-se que a aposiopese e a abrevia98.o participam igual­mente, corn uma parte consideravel, na economia da praticade toda lfngua (por exemplo, express6es coma: Que bom!Se voce soubes~e! Porque sim!). Se, na amllise, houvesse a

100 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

obriga9ao de registrar rela90es nessa base, s6 se chegaria,corn toda plausibilidade (e contra 0 objetivo da ciencia, cf.Cap. 16) a registrar puras combina90es.

No entanto, a exigencia de exaustividade tern por efeitoregistrar 0 reconhecimento dessas aposiopeses etc., comotais no momento em que sao registradas; corn efeito, a anaIisedeve registrar ao mesmo tempo as rela90es que as grandezasobservadas apresentam e as coesoes que superam uma dadagrandeza ou se remetem a alga fora dela. Na presen9a deurn texto latino que se interrompe num sine, pode-se aindaregistrar urna coesao (sele9aO) corn urn ablativo, 0 quesignifica que a condi9ao da existencia de sine se deixa inter-.polar; 0 mesmo acontece em todos os casos semelhantes.Esta interpoIa9iio de uma causa a partir de sua conseqiienciae possivel de acordo corn 0 principio de generaliza9aO.

Por outro Iado, deve-se cuidar para que, efetuando umacatalise, nao se introduza no texto outra coisa que nao aquilocuja justifica93.0 possa ser feita em termos estritos. No casode sine, sabe-se corn certeza que se supoe um ablativo; alemdo mais, tambem sac conhecidas as condi95es necessariaspara a presen9a de um ablativo latino; ele pressupoe a exis­tencia de certos outros morfemas na cadeia, e sabemos queuma cadeia de morfemas assirn formada pressupoe a coexis­tencia de um tema. Todavia, como 0 ablativo nao e solidariode urn morfema definido em cada categoria, mas apenas decertas categorias de morfernas (cf. Cap. 17), e como urnacadeia de morfemas que cornpreendem urn caso, um numero,um genero e eventualmente urn rnorfema de cOmpara9aO naocontrai coesoes corn urn tema nominal dado, mas sim com acategoria de todos os temas nominais, a presen9a de sinenao nos autoriza a introduzir por cataIise urn substantivoparticular no ablativo. Na maioria dos casos, 0 que eintro­duzido par cataIise nao e, portanto, uma grandeza particularmas urn sincretismo irresoluvel de todas as grandezas que sepoderia conceber para a "posic;ao" considerada .na cadeia.No caso de sine, temos a sorte de saber que a unica coisaque pode estar em quesUio coma condic;ao eum ablativo; masquanto as grandezas que por sua vez 0 ablativo pressupoe,sabemos apenas que e urn numero qualquer, urn generoqualquer e urn morfema de compara9ao qualquer (naturaI­mente, conforme as possibilidades do invenblrio Iatino) e urntema qualquer. De fato, ele pressupoe indiferentemente naoimporta qual dessas grandezas, e tampouco a cataIise deveuItrapassar essa constatac;ao.

Definiremos a catalise coma 0 registro de coesoes atravesdo c{imbio de urna grandeza por outra corn a qual ela contraiuma sUbstituic;ao. Em nosso exemplo, a grandeza sine e agrandeza cambiada e sine + ablativo (+ os sincretismos quelhe sao coesivos) e a grandeza cambiante. A grandeza cam-

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CATALISE 101

biante, portanto, sempre e igual a grandeza cambiada (cata­lisada) '+ uma grandeza interpolada (introduzida por catd-­Use). Quanto agrandeza introduzida por cataIise, everdade,como vimos, que na maioria das vezes, mas nao obrigatoria­mente, se trata de um sincretismo que freqiientemente, masnao necessariamente, e latente (as grandezas latentes, deresto, so podem ser registradas por cataIise abase do principiode generalizac;ao) e que, finalmente, sempre e necessaria­mente, se for uma grandeza de conteudo, ela tern a expressaozero e, se for uma grandeza de expressao, tem ° conteudozero. Essa e uma conseqiiencia da exigencia contida nadefinic;ao de uma substituic;ao entre grandeza cambiada egrandeza cambiante.

20. Grandezas da Analise

:E; essencialmente a base das considera~5es e das defi­ni~oes expostas nos capitulos anteriores, defini<;5es especifi­cadas e completadas a seguir pelo numero necessario deregras de carater mais tecnico, que a teoria da Iinguagemprescreve uma analise do texto; esta analise leva a que sereconhe<;a uma forma lingiilstica por tras da "substanciaU

imediatamente perceptivel e urna lingua (urn sisterna) atrasdo texto; 0 sistema consiste em categorias cujas defini<;oespermitem deduzir as unidades posslveis da llngua. 0 nucIeodesse procedirnento e uma cataIise atraves da qual a formae catalisada na substancia, e a lingua no texto. 0 procedi­mento e puramente formal, no sentido em que considera asunidades da lingua como compostas por urn certo numero defiguras as quais se apIicam certas regras precisas de transfor­.mac;ao. Estas regras sao estabelecidas sem considerar asubstancia na qual as figuras e as unidades se manifestam.A hierarquia lingiHstica e, por conseguinte, a dedu~o lin­gWstica tambem, e independente das hierarquias fisica efisiol6gica e, em geral, das hierarquias e dedu<;oes nao lin­giiisticas que poderiam conduzir a uma descri<;ao da "subs­tancia". Portanto, nao se deve esperar desse procedimentodedutivo nem uma semantica, nem uma fonetica, mas, tantopara a expressao da lingua quanto para seu conteudo, uma"algebra Iingiiistica" que constitui a base formal para umaordena<;ao das dedu<;5es de substancia nao lingiiistica. Asgrandezas "algebricas" de que se utiliza 0 procedimento naotern nenhuma denomina<;ao natural, mas, no entanto, devemser designadas de um modo qualquer. De acordo corn 0

104 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

canlter do conjunto da teoria da linguagern, esta denomina<;aosera arbitniria e adequada. Gra<;as a seu carater arbitrario,essas denomina~6es nao comportam nada que implique namanifesta<;ao, e gra<;as a sua adequa<;ao, sao escolhidas demodo tal que se passa, do modo mais simples possivel, orde­nar as informa<;6es sobre a manifesta<;ao. Em virtude doreIacionamento arbitnirio entre forma e substancia, umaunica grandeza da forma lingiiistica podeni ser manifestadapor formas de substancia inteiramente diferentes de umalingua para outra. A proje<;ao da hierarquia da forrn~ sobrea da substancia pode ser essencialmente diferente segundoas linguas.

o procedimento se rege pelos prindpios fundamentais(cf. Caps. 3, 6 e 14) a partir dos quais e passiveI, aIem domais, especialmente em rela<;ao a amilise do texto, deduziro principio de descri9ao exaustiva:

Toda analise (ou todo complexo de analise) na qual osfuntivos SliD registrados com uma determinada fUn9QO comobase da analise deve ser feita de modo a conduzir nao contra­ditoriamente ao maior numero possfvel de categorias defuntivos reaUzadas, no interior do maior numero possivel decategorias fundonais.

Na pnltica, resulta desse principio que, na anaIise dotexto, nao se deve omitir nenhuma fase da anaIise eventual­mente suscetivel de dar urn resuItado funcional (cf. Cap. 13)e que a an31ise deve proceder das invariantes qne tern amaior extensao possivel as que tern a menor extensao con­cebivel, de modo que entre esses dais pantos extremos se·atravesse 0 maior numero possivel de graus de derivados.

56 nisso nossa amilise ja difere radicalmente da analisetradicional. Corn efeito, esta ultima nao leva em conta nemas partes do texto de grande extensao, nem as de extensaoreduzida. Vma tradi<;ao explicita ou irnplfcita quer que aanalise lingiiistica comece pela divisao de uma frase em pro­posi~6es, enquanto que 0 tratamento das partes do textomais consideniveis, tais coma os grupos de frases, e deixadopara outras ciendas, principalmente para a 16gica e para apsicologia. Confrontado corn urn texto nao anaIisado, com­posto por exempIo por tudo aquilo que foi escrito e dito emfrances, 0 lingiiista ou 0 gramatico estava portanto autorizadoa se lan<;ar desde logo numa fase onde esse texto se resolveem proposi~6es. Teoricamente, ele deve entaD provavel­mente supor que uma analise 16gico-psicol6gica das partesmaiores do texto ja foi efetuada, mas conforme 0 espirito datradi<;ao, nao e nem mesmo necessario inquietar-se corn saberse uma tal anaIise ja ocorreu ou nao, nem se ela fei feita .de modo satisfat6rio do ponto de vista lingiiistico.

GRANDEZAS DA ANALISE 105

A questao que levantamos aqui nao e 0 problema dadivisao do trabalho mas sim 0 de posicionar os objetos se­gundo suas defini~5es. Deste panto de vista, e certo que aanaIise do texto - assim como a amllise das partes do textode maior extensao - cabe ao lingiiista coma uma obrigac;aoineludiveI. 0 texto deve ser dividido corn seIec;ao e cornreciprocidade coma bases de amlIise e 0 lingiiista deve, emcada analise distinta, procurar obter partes que tenham amaior extensao possive!. £ facil ver que urn texto de umaextensilo rnuito grande ou mesmo ilimitada apresenta possi­bilidades de divisao em partes de grande extensao, definidaspor selec;ao, soIidariedade ou combina9ao mutuas. Da pri­meira dessas divis5es resultam a linha da expressao e a doconteudo, que contraem uma solidariedade mutua. Dividindocada uma destas separadamente, sera possivel e mesmo ne­cessario analisar a linha do conteudo, entre outros, em ge­neros litenlrios, e a seguir analisar as ciencias em pressu­ponentes (selecionantes) e pressupostas (selecionadas). Assistematicas da crftica literaria e das ciencias em geral tambemencontram seu lugar natural no quadro da teoria da lingua­gem e, no interior da amllise das ciencias, a teoria da lin­giiistica deve chegar a compreender sua propria defini9ao.Numa fase mais avan9ada do procedimento, as partes maioresdo texto serao novamente divididas em obras, tomos, capf­tuIos, paragrafos etc., a base de seus relacionarnentos depressuposi9ao; a seguir, da mesma maneira, em frases eproposic;oes, divisao que levara, entre outras, a anaJise dossilogismos em premissas e conclusoes, fase da analise lin­giiistica em que a logica formal deve manifestarnente situarurna parte essencial de seus problemas. Em tudo isto sepercebe uma consideraveI arnplia9ao das perspectivas da teo­ria da linguagem, de seu quadro e de sua capacidade, e abase de uma colabora9ao motivada e organizada entre alingiiistica, no sentido estrito, e uma quantidade de outrasdisciplinas ate aqui consideradas geralmente, mais ou menos,erroneamente, como situadas fora do dominio da lingiHstica.

Nas opera90es finais da anaIise, a teoria da linguagemIevara a uma divisao que atinge grandezas menores que asate enHio consideradas como invariantes irredutiveis. Istose aplica nao apenas ao pIano do conteudo, em rela9ao aoqual vimos que a lingiilstica tradicional esta longe de terlevado a fundo a analise, mas tambem ao pIano da expressao.Nos dois pIanos, a divisao baseada na relac;ao atingira umafase onde a selec;ao e utilizada pela ultima vez coma basede analise. Nesta fase, a anaIise levara ao registro de urninventario de taxemas que serao elementos virtuais; no planada expressao, os taxemas serao, grosso modo, as formas lin-.giilsticas que se manifestam pelos fonemas, ressalvando-se noentanto que uma analise rigorosa efetuada segundo 0 princfpio

106 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

de simplicidade freqiientemente conduz a resultados essen­cIalmente diferentes dos produzidos pelas anilises fonematicasate aqui tentadas. Sabe-se, no entanto, que esses taxemaspodem ser, por sua vez, divididos por uma anaIise universalque os c1assifica segundo regras especfficas em sistemas cornduas, tres ou varias dimens5es 1. Nao podemos aqui entrarem detalhes quanto a essas regras que repousam sobre 0 fatode que, no interior de uma mesma categoria, os elementoslingiiisticos nao diferem apenas quantitativamente mas tam­bem qualitativamente 2. Limitar-nos-emos a assinalar emprincfpio este fato ate agora negligenciado pelos lingiiistas,fata segundo 0 qual quando urn inventario de taxemas e"organizado em urn sistema", a conseqiiencia 16gica disso euma divisao ulterior de cada taxema. Suponhamos, parexemplo, que uma categoria tenha urn inventarlo de 9 taxemase que estes sejam c1assificados, conforme as regras especiaisde distribui<;ao qualitativa, num sistema de duas dimens5esque comporta tres membros par dimensao de modo que os9 taxemas sejam descritos como urn produto de 3 x 3; osmembros das dimens5es sedio partes de taxema, uma vezque cada urn dos 9 taxemas aparece agora coma uma unidadeque compreende urn membro de uma dimensao e urn membroda outra; os 9 taxemas serao a seguir descritos como produtosde 3 + 3 =.6 invariantes, ou seja, os membros das dimen­soes; obtem-se corn essa opera<;ao uma descri<;ao mais simplesque satisfaz de modo mais completo ao principio de redu<;3.o,sob a forma especificada (cl. Cap. 14). As duas dimens5escontraem, enquanto categorias, uma solidariedade mutua ecada membro de uma dimensao contrai uma combina<;aocorn cada membro da outra dimensao. Os membros dasdimensoes surgern assirn como partes de taxema e como inva­riantes irredutiveis. £ da extensao do inventano que dependeessencialmente a possibilidade de uma tal "organiza9ao emsistema" de urn inventario de taxernas. Quando a coisa epossivel, sao entaD os membros das dimensoes e nao ostaxemas que se .tornarn os pontos tenninais da anaIise; cha­maremos de glossemas esses pontos terminais e se admitirnosque urn taxema de expressao se manifesta em geral por urnfonema, urn glossema de expressao se manifestara, ordinaria­mente, atraves de uma parte de fonema.

Quando a dedu<;ao sintagrnaticada amilise do texto estaterminada, come<;a uma dedu93.0 paradigmatica por meio daqual a Hngua se articula em categorias nas quais as categorias

1. Ver, por exemplo, os sistemas estabelecidos pelo autor: La cati:goriedes cas I-II (Acfla Jutlandica VII, I e IX, 2, 1935-37). Sistemas analogo!podem ser estabelecidos para 0 pIano da expressio.

2. VeI' La Catt~gorie des Cas, I, P. 112. e s. e JENS HOLT, Etudes d"aspect(Acta Jutlandloa XV, 2, 1943), p. 26 e s. Uma apresenta~lio completa desteaspecto da teoria da linguagem ( apresentada ao Circulo Lingiiistico a27/4/1933) sera. publicada sob 0 titulo de Structure generale des comHationslinguistiques em Tmvaux du Cercle lingui8Uque de CopenhagueXIV.

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GRANDEZAS DA ANALISE 107

de'taxemas de grau mais alto na anaIise do texto sao repar­tidas e de onde, a seguir, por slntese, as unidades possiveisda lingua podem ser deduzidas. Percebe-se assim que asduas faces da lingua (os pIanos) tem uma estrutura categoriale perfeitamente anaIoga, descoberta que nos parece ser deconsidenlvel alcance para a compreensao do principio estru­tural da lingua e mesmo da natureza da semi6tica. 'Ve-setambem que uma tal descric;ao sistematica da lingua efetuadaa base do princfpio de empirismo flaO permite nenhurriasintaxe e nenhuma ciencia das partes do discurso. Comovimos, as grandezas da sintaxe sao, na maioria, variedades,e as "partes do discurso" da gramatica tradicional sao gran­dezas que se reencontrarao, sob uma forma redefinida, emposic;6es bastante diferentes no interior da hierarquia dasunidades.

A ciencia das categorias pressup6e, no entanto, urnaparelhamento tan vasto e tao coerente de termos e de defi­nic;6es que seus detalhes nao podem ser expostos corn proveitosem que essa ciencia seja apresentada em toda sua extensao;por outro lado, tal como a ciencia das unidades que a deter­mina, ela nao pede ser tratada nos prolegomenos da teoria.

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21. Linguagem eNao-Linguagem

Em rela~ao a escolha e delimita~ao de nosso objeto,seguimos ate aqui (cf. Cap. 7) a conCep9ao tradicional dalingiiistica ao considerar a lingua H natura/,1 coma 0 unicoobjeto da teoria da linguagem. Mas, ao mesmo tempo, (cf.Cap. 7), anunciamos uma amplia~ao do campo visual; echegado 0 momento de proceder a essa amplia~ao, e estesera 0 objeto dos capftulos seguintes (Caps. 21 a 23). Insis­timos em ressaltar que estas novas perspectivas esHio longede constituir apendices arbitrariamente acrescentados, e nofundo superfluos, mas que, pelo contrario, a partir apenas daconsidera9ao da linguagem «natural", elas aparecem comonecessarias e imp6em-se como uma conseqiiencia logica ine­lutaveI daquilo que foi exposto. Quando quer definir 0 objetode sua ciencia, 0 lingilista ve-se obrigado a penetrar em domi­nios que, segundo a concep~ao tradicional, Ihe sac estranhos.Este fato, alias, ja marcou nossa exposic;ao, uma vez que,partindo de premissas tecnicas e colocando os problemas emtermos tecnicos, fomos levados a fazer coloca~6es epistemo­16gicas de canlter mais geraI.

De fato, esta claro que nao apenas as considerac;oesinteiramente gerais que famos levados a apresentar comatambem os termos aparentemente mais especfficos que intro­duzimos aplicam-se nao apenas a linguagem "natural" comatambem a linguagem num sentido muito mais amplo. :E:justamente porque a teoria esta estahelecida de modo talque a forma lingiiistica e nela estudada sem Ievar em consi­dera~ao a "substancia" (sentido), que 0 instrumental intro­duzido podera ser aplicado a toda estrutura Guja forma e

,110 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

amlloga a da linguagem "natural". Nossos exemplos foramextraidos da linguagem "natural", e este foi nosso pr6prioponto de partida, mas aquilo que a seguir estabelecemos eilustramos corn esses exempIos nao e manifestamente espe­cffico da linguagem "natural", tendo, pelo centrmo, urnalcance mais amplo. Assim, 0 estudo das fun~5es e suaanaJise (cf. Caps. 9 a 11 e 17),0 do signo (cf. Cap. 12),da expressao e do conteudo, 0 da forma, da substancia e dosentido (cf. Caps. 13 e 14), 0 da comutacao e da substi­tui9aO, 0 das variantes, das invariantes e da amilise dasvariantes (cf. Caps. 14 e 16), 0 da classe e do componente(cf. Caps. 10 e 18) e finalmente 0 da cat{ilise (cf. Cap. 19)tem um carater unilateral e sac vcilidos para 0 sistema designos em geral (ou para os sistemas de figuras que servempara formar signos). Em outras palavras, a linguagem "na­tural" pode ser descrita it. base de uma teoria extremamentepoueo espedfica que implica necessariamente conseqiienciasulteriores.

Ja fomos obrigados a falar disso em certas ocasi6es.Pensamos poder afirmar 0 carater universal dos conceitos deprocesso, de sistema e da interac;ao entre eles (cf. Cap. 2);DOSSOS pontos de vista sobre a linguagem "natural" levaram­no a incluir em sua teoria alguns aspectos essenciais da"ciencia literaria, da filosofia das ciencias e da 16gica formal(cf. Cap. 20), e finalmente nao pudemos evitar fazer obser­va90es quase inevitaveis sobre a natureza da conclusao 16gica(cf. Caps. 10 e 18).

Ao mesmo tempo, fomos levados a considerar comoconstituindo 0 estudo do sentido do conteudo lingilistico urngrande nurnero de disciplinas cientificas estranhas a lingiiis­tica, e em relac;ao a esse ponto trac;amos, de algum modo,uma fronteira entre linguagem e nao-Iinguagem (cf. Cap. 15),fronteira cujo carater provisorio, no entanto, ja ressaltamos.

A teoria da Iinguagem tal como esta estabelecida sesustenta ou cai corn aquilo que denominamos de principiode empirismo (cf. Cap. 3). Este nos Ieva (corn as reservasnecessarias quanto apropria terminologia, cf. Caps. 13 e 15)a aceitar coma uma necessidade 16gica a distin~ao saussurianaentre forma e "substancia" (sentido), da qual resulta quea Usubstcmcia" nao pode em si me$ma definir uma lingua.Deve ser possiveI imaginar substfmcias radicalmente diferentesdo ponto de vista da hierarquia da substancia que estejamligadas a uma e mesma forma lingiiistica; a relaC;ao arbitrariaentre a forma Iinglifstica e 0 sentido faz disto uma neeessi­dade 16gica.

o longo imperio da fonetica tradicional, alias, teve parefeito limitar a COnCeP9aO que os Iingilistas tern da n09ao delinguagem "natural" de uma maneira manifestamente naoempirica, isto 6, inadequada porque DaO exaustiva. Acredi-

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UNGUAGEM E NAO-LINGUAGEM 111

tau-se que a substtmcia da expressao da linguagcm faladadevia consistir exclusivamente de "sons". Tal como osZwirner ressaltaram recentemente, corn isso se negligenciouo fato de que a fala eacompanhada pelo gesto e pela IDimica,corn algumas de suas partes podendo mesmo ser substitufdaspor estes e, como dizem os Zwimer, que na realidade naoapenas os 6rgaos da fala (garganta, boca e nariz) comotambem a musculatura de fibras estriadas contribui para 0

exercicio da linguagem "natural" 1.

Pede-se, alias, trocar a substfmcia sonoro-gesticulat6ria egestual habitual por qualquer outra subsHlncia apropriada,quando as circunstancias modificadas se prestarem a isso. Amesma forma lingilistica pode assim manifestar-se por escrito,coma acontece na nota9ao fonetica ou fonematica e nas orta­grafias ditas "foneticas", como a do finlandes. Trata-se, aqui,de uma "substancia" grMica que se dirige apenas ao olbo eque nao precisa ser transposta em "substancia" sonora afim de ser percebida ou compreendida. Do ponto de vist~

da substancia, justamente, esta "substancia" grMica pode serde natureza diversa. Pode haver tambem outras "substan­cias": basta pensar nos c6digos de bandeirolas das frotas deguerra que podem muito bem ser empregados como mani­festa~ao de uma lfngua "natural", como 0 ingles por exemplo,ou no alfabeto dos surdos-mudos.

Freqiientemente op5em-se duas objec;6es a este enfoque.Conforme a primeira delas, todas essas substancias sao "de­rivadas" em rela~ao a substancia sonoro-gesticulat6ria egestual, e "artificiais" em oposi~ao ao carater "natural" destaultima. ~ possivel mesmo, neste caso, produzirem-se "deri­vac;5es" de varios graus; seria 0 caso de um c6digo de ban­deiras ou de urn alfabeto de surdos-mudos derivados daescrita que, ela, derivaria da linguagern "natural". A segundaobje~ao ressalta que, num certo nurnero de casos, uma mu­dan~a de "substancia" e acornpanhada por uma mudan~a

de fonna lingUistica; deste modo, nem todas as ortografiassao "foneticas" e levariam a amllise a estabelecer urn inven­tario de taxemas diferentes, e talvez a reconhecer categoriasdiferentes das da lingua falada.

A prirneira dessas obje~5es nao tern valor, pais 0 fatede que uma manifestac;ao seja "derivada" de uma outra emnada muda 0 fato de que se trata de uma manifesta9ao daforma Iingilistica considerada. Alem do mais, nao e semprepossIvel decidir entre aquilo que e derivado e 0 que DaO e;

. nao se deve esquecer que a invenc;ao do alfabeto remontaa pre-hist6ria 2, de modo que sustentar que ele repousa numa

1. ZwmNER, Eberhard &: ZWIRNER. Kurt. Archives nie1'landaisea dephonhique experimentale, XIII, 1937. p. 112. .

. 2. :ll: corn justa razlio que B. RusseU insfste sobre a aus&tcia de qualquercriterio para deeidJr qual e 0 mais antign meio de' ~resslo do homem, se aescrita ou a fala (An outline of phflo6Ophy, LoDdres, 1947, p. 47).

112 PROLEGOMEl"OS .A U~IA TEORIA DA LINGUAGE~[

amilise fonetica nunca sera mais do que adiantar uma daship6teses diacronicas possiveis~ pode-se pensar tambem queele esta baseado numa anaIise formal da estrutura da lingua 3.

A lingiiistica modema, alias, sabe muito bem que as consi­derac;5es diacronicas nao sac pertinentes para a descriC;aosincronica.

A segunda objec;ao nao e mais pertinente que a pri­meira, pois ela em nada altera a constatac;ao do fato geralsegundo ·0 qual uma forma lingiifstica e manifestada nasubstancia dada. Nao obstante, essa objec;ao tern 0 interessede mostrar que a urn mesmo sistema de conteudo podemcorresponder sistemas de expressao diferentes. A tarefa dolingiiista e, a partir dai, nao apenas descrever 0 sistema deexpressao efetivamente constatado, coma tambern calcularquais sac os sistemas de expressao possiveis de urn deter­minado sistema de conteudo, e vice-versa. :E: fato que se podecorn facilidade demonstrar experimentalrnente que urn sistemaqualguer de expressao linglifstica pode manifestar-se atravesde substancias de expressao extremamente diferentes 4.

Deste modo, varios usos foneticos e varios usos escritospodem ser relacionados corn· um tinico sistema de expressaode -urn mesmo esquema linglilstico. Vma lingua pode sofreruma mudanc;a de natureza puramente fonetica st'm que 0

sistema de expressao de seu esquema lingiiistico seja corn issoafetado, assim como ela pode sofrer uma mudan.;a de natu­reza semantiea sem que 0 sisterna de contetido de seu esquemalingliistico seja de modo algum afetado. E somente assimque e passivel distinguir entre as mudanras joneticas e asmudanrQS semanticas de urn lado, e as mudanras formaisdo outro.

Partindo das considerac;5es fundamentais que expusemos,nao ha nada de surpreendente em tudo isto. As grandezasda forma lingiiistica sac de natureza "a1gebrica" e nao terndenominac;oes naturais, podendo ser designadas arbitraria­mente de diferentes maneiras.

Essas diferentes denominac;6es da substancia em nadadizem respeito a teoria do esquema lingiiistico, que delas naodepende. A tarefa principal do te6rieo e a de fixar pordefinic;5es 0 princfpio estrutural da lingua para dai deduzir .'

3. A respeito, consultar 0 autor em Archiv fUr vf!1'gleichende Phonetik11, 1938, p. 211 e s.

4. A respeito do relacionarnentQ entre escrita e fala, ver A. PENTTlLA &U. SAARNIO em Erkenntn-is IV, 1934, p. 28 e s. e H. J. ULDALL em CongTesInternational des Sciences Anthropotogiques et Ethrwwgiques, Compte rendu dela deuxieme .~ession, Copenhague, 1939, p. 374. Entre as considera~oes e asanalises mais antigas da escrita feitas de urn ponto de vista estrutural, J.BAUDQUIN DE COURTENAY, Ob otrwsenii russkogo pis'ma k russkomu jazyku,S. Petersburgo, 1912, e Vvedenie v jazykovedenie, 4. ed., 1912, p. 15 e s.,e F. de SAUSSURE, Cours, 2. ed., prineipaImente p'. 165. Finalmente, umestudo poueo claro de JOSEF V ACHEK, Zum Problem der geschriebenen Spracbe(Travaux du CercLe Linguistique de Prague VIII, 1939, p. 94 e s.). Aindanao foi feita uma analise da escrita que faga abstracao dos sons.

LINGUAGEM E NAO-LINGUAGEM 113

urn caIculo geral sob a forma de uma tipologia cujas catego­nas SaD Hnguas, ou antes, tipos de Hnguas. Todas as possi­bilidades devem ser aqui antecipadamente previstas, mesmoaquelas que, no domfnio da experiencia, sao virtuais ou per­manecem sem manifesta~ao "natural" ou "constatada".

Nesse caIculo geral, nao se trata de se urn tipo estmturaIparticular e manifestado, mas apenas se e manifestaveI e,bem entendido, manifestavel em qualquer substancia. Por­tanto, a substancia nao condiciona necessariamente a formaIingiiistica, enquanto que a forma lingiifstica condiciona obri­gatoriamente a substfmcia. Em outras palavras, a manifes­ta9Qo euma sele~ao na qual a forma lingiifstica e a constantee a substancia, a variavel. Do panto de vista formal, defini­roos a manifesta9ao como uma sele9aO entre hierarquias ederivadas de hierarquias diferentes. Concordando corn Saus­sure, PQde-se chamar de forma a constante (a manifestada)de uma manifesta9aO. Se a forma e uma lingua, nos a cha­mamos de esquema Unguistico 5. Sempre concordando cornSaussure, pode-se chamar de substancia a variavel (a ma­nijestante) de uma manifesta~ao; chamaremos de usa lin­giiistico uma substancia que manifesta urn esquema lingiifs­tico.

A partir dessas premissas, podemos definir formalmenteuma semiOtica coma uma hierarquia da qual qualquer umdos componentes admite uma analise ulterior em classes defi­nidas por rela~iio mutua, de tal modo que qualquer dessasclasses admite uma anaUse em derivados definidos por muta­9iio mutua.

Esta defini~ao, simples conseqiiencia de tudo que desen­volvemos ate aqui, obriga 0 lingiiista a considerar como seuobjeto nao apenas a lingua "natural" mas tambem toda se­mi6tica - toda estrutura anaJoga que satisfa~a it condi~ao

dada. A lingua (natural) deve ser considerada apenas comourn caso particular desse objeto mais geral; suas propriedades

. especfficas que dizem respeito apenas ao uso em nada afetama defini9ao proposta.

Sera born lembrar que nao se trata simplesmente, aqui,de propor uma divisao pratica do trabalho, mas siro da fixa­<;ao de nosso objeto por meio de defini90es. 0 lingiiista podee deve concentrar toda sua atenc;ao sobre as Hnguas "haturais"e deixar para outros especialistas, principalmente para osl6gicos, a tarefa de estudar as outras estruturas semi6ticas;mas 0 lingiiista nao pode se ligar impunemente ao estudo dasHnguas sem levar em conta as perspectivas mais amplas queasseguram sua orienta~ao na direc;ao dessas estruturas ana­logas; elas the podem ser ate mesmo de interesse imediato,

5. Esquema foi aqui adotado de prefer~ncia a padrlio sugerido em meuartigo "Langue et parole" (CahieTs de FeTdinand Saussure n, 1942, p. 43;E,ssais linguistiques, p. 81).

114 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

pois freqUentemente sac uma construc;ao mais simples queas Hnguas e melhores rnodelos para urn estudo preparat6rio.Alern do mais, mostrarnos que, partindo de prernissas pura­rnente linglifsticas, estreita colabora~ao entre a logfstica e aIingiifstica e necessaria' ao lingliista neste domfnio.

A partir de Saussure, a linglifstica admite que a linguanao poderia ser estudada como urn fenorneno isoladfJ. Saus­sure exigia que a linglifstica, no sentido restrito do termo,se baseasse numa disciplina que ele batizara de serniologia(de t1T1PELoV, "signo"). Esta e a razao pela qual, nos anosanteriores a Segunda GueITa Mundial, alguns circulos lin­giilsticos ou influenciados pela lingiiistica e interessados napesquisa de fundamentos (especialmente na Tcheco-Eslova­quia) tentaram estudar, a partir de uma base semiol6gicamais geraI, sistemas de signos outros que nao as Hnguas e,em particular, os trajes nacionais, a arte e a literatura 6.

~ verdade que e a partir de uma base essencialmentesocio16gica e psicol6gica que e concebida a disciplina geralde que Saussure fala em seu Cours, embora ele esboce aomesmo tempo algo que so pode ser compreendido coma umaciencia da forma pura, uma concepc;ao da linguagem comaestrutura abstrata de transformac;6es, que ele explica a partirde estruturas analogas ao reconhecer que certos trac;os essen­ciais da estrutura semioI6gica, e talvez todos os trac;osessen­ciais, se encontram nas estruturas que chamamos de jogos,como par exemplo 0 jogo de xadrez, ao qual ele dedica umaatenc;ao toda especial. Sao estas considerac;6es que devemospor em primeiro pIano quando se quer tentar construir alingUfstica no sentido mais amplo, a "semiologia", a partir deuma base imanente. :E grac;as a essas considera~6es que sur­gidio, ao mesmo tempo, a possibilidade e a necessidade deuma estrita colabora9ao entre a lingiifstica e a loglstica.Alguns 16gicos modernos escolheram justamente como objetoprincipal de suas pesquisas os sistemas de signos e ,1S sistemasde jogos considerados coma sistemas de transformac;aoa1;lstratos, e corn isso foram levados a desejar, de seu lado,urn estudo da Hngua partindo do mesmo ponto de vista 7.

Portanto, parece frutifero e necessaria estabelecel' numnovo espfrito urn ponto de vista comum a urn grande numerode ciencias que vao da hist6ria e da ciencia literaria, artfstica

6. Ver, entre Qutros, P. BOGATYREV, Pfispevek k st'Iukturaln{ etnografii(Slovenskti Miscellanea, Bratislava, 1931); idem. FunkMo-Strokturcllna metodaa ine metody etnografie i folkloristiky (SlQl)e1l$ke pohrad:y LI, 10, 1935);idem, Funkcie kroja na mcravskom Slovensku ( Spisy narodopisneho odboruMatice slovenskej I, MaticaSlovenska, 1937), (resumo em franc& p. 68 e s.);JAN MoxAi'lovsxY, Estetickd funkce, norma a hodnota iako soci6lnf fakty(Foncticm, norme et valeur estMtiques comme faits sOoWux) , Praga, 1936;idem, L'arl C01'nI7I'l6 fait semiologique (Actes du huitwme Congres- internationalde philosophie d Prague 2-7 septembre 1934, Praga, 1936 pp. 1065-1072. Umatentativa de oonjunto de criat' uma semiologia geral £01 feita recentemente parE. BtTYS8ENIl, Le, langages et lea discour8, Call. Lebegue, Bruxelas, 1943.

7. A obra principal e a de Rl1DOLF CABNAP, Logische Syntax tier Sprache,Viena, 1934. ediOAo ampliada, The logical 6fI1ltax of la.nguage, 1937.

LINGUAGEM E NAO-LINGUAGEM 115

e musical a Iogistica e a matematica, a fim de que a partirdesse ponto de vista comum estas se concentrem ao redorde uma problematica definida em termos Iingtiisticos. Cadauma a sua maneira, estas ciencias poderiam contribuir para~ ciencia geral da semi6tica ao procurar espeeifiear ate queponto e de que modo seus diferentes objetos sac suseetiveisde serem analisados em conformidade corn as exigeneias dateoria da Iinguagem. Deste modo, provavelmente uma novaluz poderia ser projetada sobre essas discipIinas e provocarurn exame entico de seus principios. A colaborac;ao entreeIas, frutifera sob todos os aspeetos, poderia criar assim umaenciclopedia geral das estruturas de signos.

Dentro da esfera extraordinariamente vasta desses pro­blemas, duas quest6es partieulares vao agora reter nossaaten~ao. Primeiramente: na totalidade das estmturas semi6­ticas, qual 0 Jugar que se deve atribuir a lingua? E emsegundo lugar: onde fica a fronteira entre semi6tiea e nao­semiotica?

Vma lingua pode ser definida como uma paradigmaticacujos paradigmas se manifestam por todos os sentidos, e umtexto pode ser definido, de modo semelhante, como umasintagmatiea cujas cadeias sac manifestadas par todos ossentidos. Por sentido entenderemos uma classe de variaveisque manifestam mais de uma cadeia em mais de uma sin­tagmatica, e/ou rnais de urn paradigrna em mais de umaparadigmcitica. Na pnitica, uma lingua euma semi6tica naqual todas as outras semi6ticas podem ser traduzidas, tantotodas as outras linguas como todas as estmturas semi6ticasconcebfveis. Esta tradutibilidade resulta do fato de que asIinguas, e elas apenas, sao capazes de formar nao importaqual sentido g; e apenas urna lingua que e possiveI "'ocupar-secorn 0 inexprimlvel ate que ele seja exprimido" 9. De resto,e esta propriedade que toma a lingua utiIizavel enquanto tal,e que a toma capaz de satisfazer em qualquer situa~ao. Naotemos de nos perguntar aqui em que reside essa propriedad'e

.notavel: eIa sem duvida resuIta de uma particularidade estru­tural que compreenderiamos melhor se estivessemos melhorinfonnados sobre a estrutura especifica das semi6ticas nao­lingiilsticas. Estamos inc1inados a supor que a razao dissoea possibilidade ilimitada de forma~ao de signos e as regrasbastante !ivres que regem a forma~ao de unidades de grandeextensao (como as frases, por exempIo) em todas as Iinguas,o que, par outro lado, tern par efeito 0 fato de permitirformula~6es falsas, i16gieas, irnprecisas, feias e imorais, bemcoma formula~6es verdadeiras, 16gicas, precisas, beIas e

8. Fizemos esta observa~iio independentemente do 16gico polon~s ALFREDTARSKI (Studia philQsophica I, LW6w. 1935); ver J. JlllRGENSEN, Tr4ekafdeduktionsteoriens udvikling i den nyere tid (Festskrift udg. at K~benhat:Jns

Univer8itet, novo 1937), p. 15.9. Kierkegaard.

116 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LlNGUAGEM

morais. As regras gramaticais de uma lingua sao indepen­dentes de toda escala de valores, quer seja 16gica, esteticaou etica e, de modo geraI, a Hngua edesprovida de qualquerfinaIidade especi'fica.

Quando se pretende trac;ar a fronteira entre semi6tica enao~semi6tica, e-se de inicio tentado a acreditar que os jogosestao situados bem perto dessa fronteira, ou talvez sobre apr6pria fronteira. A fim de avaliar a estrutura dos jogoscomparada corn a das semi6ticas que nao sao jogos, naodeixa de ter interesse comparar a maneira pela qual essasestruturas foram' consideradas ate aqui independentementeuma da outra pela lingiilstica e pela loglstica. Os 16gicosinsistiram no fato de que um jogo, 0 jogo de xadrez porexemplo, IS urn sistema de transformaC;oes que obedece aomesmo principio estruturaI de uma semi6tica (uma semi6ticamaternatica, por exemplo) e estao inclinados a considerar 0

jogo como 0 exemplo-tipo simples, como normativo para aconcepC;ao de uma semi6tica. Quanto aDs lingiiistas, estesviram a analogia no fata de que 0 jogo IS urn s!stema devalores amllogos aos valores ecanomicos, e consideraram aslinguas e os outros sistemas de valores como nonnativos paraa concepc;ao dos jogos. A diferenc;a de pontos de vista tern­razoes hist6ricas. A teoria 16gica dos signos tern seu pantode partida na metamatematica de Hitbert, cuja idlSia consistiaem considerar 0 sistema de si'mbolos matematicos coma urnsistema de figuras de expressao independentemente de seuconteudo, e descrever suas regras de transformac;ao tal comose descreveriam as regras de urn jogo, independentemente desuas possiveis interpretac;oes. Esta ideia foi adotada pelos16gicos poloneses em sua "metaI6gica", e a seguir por Carnapnuma teoria dos signos em que, em principio, toda semi6tica Ieconsiderada como urn simples sistema de expressao no qualo conteudo nao intervem. Em toda metassemi6tica, isto IS, Iem toda descric;ao de uma semi6tica, uma inhaltUche Rede-weise deveria, segundo este panto de vista, poder .;er substi-tuida por uma formale Redeweise 10. A teoria dos signosem lingilistica tern, pelo contrario, profundas rai'zes na tradi-c;ao que pretende que urn signa seja definido por sua signi-fica~ao, tradic;ao corn a qual Saussure estava as voltas e queele especificou e justificou atraves da introdu~ao do conceitode valor que permite 0 reconhecimento da forma do conteudoe da bilateralidade do signo conduzindo a uma teoria dossignos que repousa numa interac;ao da forma daexpressaoe da forma do conteudo no principio de comuta~ao.

10. Coma introdur;io ao problema pode~se ler as resenhas introdut6riasde J. JOBGENSXS, op. cif., de L. BLOOMFIELD, Language or Ideas? (LanguageXII, 193~> p. 89 e s.) e por OTTo NEURATH e EINO KAn.A na revista Theorian. 1936, p. 72. e s. e p. 83 a s. Cf. tambem G. H. VON' WRIOHT, Den logukaempiTinn.en, Estoco:hno, 1943.

LINGUAGEM E NAO-LINGUAGEM 117

Na 16gica, onde 0 debate sabre a natureza do signocontinua, parece-se considerar esse problerna, no essencial,como uma quesUio de nominalismo ou realismo 11. Para ateoria lingiHstica da linguagem a qual 0 presente estudo servede introdu~ao, nao se trata disso mas, antes, de decidir see necessaria ou nao integrar 0 sentido do conteudo na pro.:pria teoria dos signos. Coma 0 sentido do conteudo se revelasuperfIuo para a defini~io e descri~ao do esquema semi6tico,uma formula~ao formal e uma atitude nominalista sao simul­taneamente necessarias e suficientes. Par urn lado, a des­cri~ao formal e norninalista preconizada pela teoria da Iin­guagem nao se limita a forma da expressao; pelo contrario,ela tern seu objeto na intera~ao desta corn uma forma doconteudo. A distin~ao feita por Saussure entre forma e subs­tancia parece ser excepcionalmente pertinente a problematicaatuaI da logfstica.

Esta base permite ver mais facilmente as diferen<;as eas analogias entre os jogos e as semi6ticas que nao saojogos. 0 que decide se ha ou nao signa nao e 0 fato de serele interpretado, isto e, de que the seja atribuido urn sentidodo conteudo. Em virtude da sele~ao que existe entre 0

esquema e 0 usa semi6ticas, nao ha, para a calculo da tearia,nenhum sistema interpretado, rnas apenas sistemas interpre­taveis. Portanto, em rela<;ao a esse ponto naa ha nenhumadiferen<;a entre a algebra pura Oll 0 jogo de xadrez de urnIado e, por exemplo. llma lfngua, do outro. A fim de decidirse os jogos, ou outros sistemas de quase-signos tai3 como aalgebra pura, sao ou nao semi6ticas, e necessaria ver se adescri~ao exaustiva deles exige ou nao que se opere corn 0

reconhecimento de dois pIanos, ou se 0 principio de simpIi­cidade pode ser aplicado de tal modo que urn unico pIano sejasuficiente.

A condi~ao que exige que se opere reconhecendo doispIanos deve ser que, quando se tenta Ievantar os 10is pIanos,nao se possa demonstrar que os dois pIanos tern ~ mesmaestrutura corn urna rela<;ao unlvoca entre os funtivos de urnpIano e os do outro pIano. Expressaremos isto dizendo queos dois pIanos nao devern ser conformes urn ao outro. Diz-seque dois funtivos sao conformes se DaO importa qual derivadoparticular de urn dos funtivos contrai exclusivamente asmesmas fun~6es que urn derivado particular do outro funtivo,e vice-versa. A partir disto, podemos enunciar a regra se­gundo a qual dois componentes de uma mesma classe quese esta tentando estabeIecer devem ser reduzidos a uma 56se forem conformes e DaO comutaveis. A prova instituida poresta regra, que chamaremos prova do derivado, 6 exigidapela teoria para cada fase da analise do texto, paralelamente

H. Por exemplo. U. SAARNIO. no trabaIho citado, p. 66.

118 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

a prova de comutac;ao; estas duas provas sao conjuntamentenecessarias para decidir se urn dado objeto e ou nao umasemi6tica. Nao entraremos aqui na aplicac;ao desta provaaos derivados de mais alto grau da semi6tica (0 processo) econsideraremos apenas os derivados de primeiro grau dasemi6tica: os dois pIanos. Estes nao contraem Comuta9aomutua e apenas a conformidade ou nao-conformidade entreeles permite decidir se devem ser identificados ou tratadosseparadamente (observemos, a prop6sito, que no prirneirocaso a teoria da linguagern nao pode ser aplicada ao objetoconsiderado). A experiencia indutiva mostra que a prova dederivado tern urn resultado negativo para todas as linguasobservadas ate aqui, e sem duvida apresentara 0 mesmo re­sultado para varias outras estruturas ja consideradas comasemi6ticas ou que, por essa razao, devem se-Io a partir deentao. Tambem parece fora de duvida que a prova de deri­vado tern urn resultado positivo para varias das estruturasque as teorias modemas se comprazem em considerar comosemi6ticas. Isto se ve facilmente no que diz respeito aosjogos puros onde a interpretac;ao encontra uma grandeza deconteudo c6rrespondente a cada grandeza de expressao (pec;ado xadrez ou coisa semelhante), de modo que as redes fun­cionais dos dois pIanos que se tentara estabelecer serao iden...ticas. Vma tal estrutura, portanto, nao e uma semi6tica nosentido em que se entende a teoria da linguagem. Cabe aosespecialistas dos diversos domfnios decidir se os sistemas desfmbolos matematicos ou 16gicos, ou certas artes coma amusica, podem ou nao ser definidos desse ponto de vistacomo semi6ticas. .Nao parece impossIveI que a concepC;aoIogfstica de uma semi6tica como sendo monoplanar seja 0

resultado de se ter partido de estruturas que, segundo nossadefiniC;ao, nao sac semi6ticas e que diferem portanto, numponto fundamental, das verdadeiras estruturas semi6ticas,procurando-se subseqiientemente uma generaliza9ao prema­tura.

Propornos charnar de sistemas de simbolos essas estrutu­ras que sac interpretaveis, uma vez que epossivel atribuir-Ihesurn sentido de conteudo, mas que nao sao biplanares umavez que, segundo 0 princfpio de simpIicidade, uma forma deconteudo nao pode nelas ser introduzida por cataIise. EmlingiHstica, freqtientemente se hesitou na aplica<;ao do termosimbolo para grandezas que se comportam de modo inteira­mente arbitnirio em rela<;ao a suas interpreta90es 12. Desseponto de vista, a palavra simbolo s6 deveria ser utilizada paragrandezas que sao isomorfas corn sua interpreta9ao, tais comorepresenta90es DU embIemas como 0 Cristo de ThorvaIdsen,simbolo da miseric6rdia, a foice e 0 martelo, sfmbolo do

12. SAUSSURE, Cours, 2. ed., p. 101, por exemplo, define 0 simbolo comonao-arbitrario.

LINGUAGEM E NAO-LINGUAGEM 119

comunisrno, os pratos e a balanc;a, sirnbolo da justic;a, ou asonomatopeias no dornfnio da lingua. Em logfstica, no entanto,existe 0 costume de empregar 0 termo sfmbolo numa acepc;aornuito mais ampla e parece que pode ser interessante apIica-Ioa grandezas nao-semi6ticas interpretaveis. Parece existir urnparentesco essencial entre as pec;as interpretaveis de urn jogoe os sfmbolos isomorfos, pois nenhum deles admite a anaIiseulterior em figuras, que e caracteristica dos signos. Na dig...cussao sobre a natureza do signo que envolveu os lingilistasnestes Ultimos anos, a atenc;aa fai atrafda, corn justa razao,para 0 carater agramatical dos sfmbolos isomorfos 13. Trata-seda mesma ideia, porem formulada em termos tradicionais.

13. BUYSSENS. E. Acta linguistica IT. 1940-1941. p. 85.

22. Semi6ticas Conotativase Metassemi6ticas

Enquanto nos capftulos anteriores, por uma simplifica­<;ao voIuntaria, apresentamos a lingua "natural" coma 0 tini­co objeto da teoria da linguagem, no capitulo -anterior,apesar de uma considenlvel amplia~ao de nossa perspectiva,ainda procedemos como se 0 unico objeto da teoria fosseas semioticas denotativas. Entendemos, por esse termo, se­mi6ticas das quais nenhum dos pIanos e uma semiotica.Resta-nos demonstrar, ampliando mais ainda nossa perspec­tiva, que ha tambem semi6ticas cujo pIano da expressao euma semi6tica e tambem outras cujo pIano do contetido euma semi6tica. Chamaremos as primeiras de semi6ticasconotativas e as segundas de metassemioticas. Como 0

plana da expressao e 0 pIano do conteudo so se definem poroposi~ao urn em rela~ao ao outro, segue-se que as defini<;oesaqui propostas de semiotica conotativa e de metassemi6ticaSaD apenas defini95es "reaIistas" provisorias, as quais naose pode nem mesmo atribuir urn valor operacional.

Quando, no capitula anterior, definimos a semiotica,esta defini9ao nao dizia respeito a semi6tica individual poroposi9ao a outras semi6ticas, mas sim semi6ticas por opo­8i<;ao a nao-semioticas, isto e, a semiotica como urn tipohierarquico superior, a lingua como conceito enquanto classas one. Quando se trata de opor uma semi6tica individuala uma outra scmi6tica, sabemos que 0 teorico a preve emseu caIculo como urn tipo possivel de estrutura. Por outrolado, ainda nao consideramos a maneira como 0 te6rico devecomportar-se na amllise do texto a fim de reconhecer e

122 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

identificar coma tal a semi6tica individual. Quando esta­belecemos 0 procedimento da anaIise, admitimos tacitamenteque 0 objeto proposto era um texto redigido numa dadasemiotica e nao numa mistura de duas ou mais semi6ticas.

Em outras palavras, a fim de estabelecer uma situ~ao­

-tipo simples trabalhamos supondo que 0 texto dado apre­senta uma homogeneidade estrutural e que, legitimamente,so podemos nele introduzir, por catilise, um unico sistemasemiotico. No entanto, esta suposiyao nao resiste a urnexame; pelo contra-rio, todo texto, se nao for reduzido de­mais para constituir uma base suficiente de deduyao do sis­tema generalizavel a outros textos, habitualmente eontemderivados que repousam em sistemas diferentes. Diversaspartes ou partes de partes de urn texto podem apresentar-se:

1. sob diversas formas estilisticas (verso e prosa, misturade ambos);

2. sob diversos estilos (estilo criador e estilo imitativo, ditoestilo normal; estilo ao mesmo tempo eriador e imita­tivo, denominado areaizante);

3. sob diversos estilos de valores (estilo de valor elevadoe estilo de valor mais baixo, dito vulgar; e tambem urnestilo de valor neutro que nao pode ser considerado nemcomo urn, nem como 0 outro desses);

4. sob diversos generos de estilos (fala, escrita, gestos, co­digo de bandeiras' etc. ) ;

5. sob diversos movimentos (c61era, alegria etc.);6. sob diversos idiomas, entre os quais se deve distinguir:

a) diversos tipos vemaculares (linguagem comum auma comunidade, linguagens que pertencem a di­versos grupos sociais e profissionais);

b) diversas linguas nacionais;c) diversas linguagens regionais (linguagem corrente,

dialeto etc.);d) diversas fisionomias (no que diz respeito a expres­

sao, diferentes "6rgaos" ou "voz").

Forma estilistica, estilo, estilo de valoT, genero de estilo,movimento, vemaculo, Hngua nacional, linguagem regionale fisionomia, sac categorias mutuamente solidarias, de modoque todo funtivo de semi6tica denotativa deve ser definido 1simultaneamente em rela9ao a cada uma delas. Combinando ~

urn membro de uma categoria corn urn membro de uma outra.categbria, surgem hibridos que frequentemente ja recebe-ram ou facilmente podem receber designa90es particulares:

SEMIOTICAS CONOTATIVAS E METASSEMIOTICAS 123

estilo literano para urn estilo eriador que e urn estilo devalor elevado; giria para um estilo eriador que e urn. estilode valor ao mesmo tempo elevado e vulgar; jargao e c6digopara estilos criadores que nao sao estilos de valores nemelevados nem vulgares 1; linguagem familiar para um estilonormal que nao e urn estilo de valor nem elevado nem vul­gar; estilo oratorio para urn estilo de valor elevado que efala e linguagem eomum; estilo predicatorio para um estilode valor elevado que e fala e linguagem profissional; estiloadministrativo para urn estilo de valor elevado que e estiloarcaizante, escrita e linguagem profissional, e assim pordiante.

A finalidade desta enumera~ae DaO e esgotar 0 assuDtoe menos ainda dar defini~5es forroais, mas apenas mostrara existencia desses fates e sua multiplicidade.

Os membros individuais de cada uma dessas classes eas unidades que resultam de sua eombinac;ao serao chamadosde conotadores. Entre esses conotadores, alguns podem sersolidarios de certos sistemas de esquemas semi6ticos; outros,de eertos sistemas de usos semi6ticos, e outros ainda, deambos ao mesmo tempo. Nilo se pode sabe-Io antecipada­mente pois isso depende das situa~es. Citando apenaspossibilidades que podem parecer extremas, e impossIvelsaber antecipadamente se uma fisionomia (as falas de umapessoa em oposi~ao ade uma outra) representa apenas urnuso especffico e nao, ao mesmo tempo, urn esquema espe­cifieo (que talvez mal difira do outro, mas que mesmoassim em algo dele difere), ou se uma lingua nacional re­presenta urn esquema lingilistico especffico ou entao, poroposi~ao a uma outra lingua nacional, apenas urn usa espe­dfieo, enquanto que os esquemas das duas linguas sac iden­ticos. E por isso que, a fim de assegurar uma descri~ao

nao-contradit6ria e exaustiva, a teoria deve preserever urnprocedimento de anaIise do texto que permita distinguirentre essas situa~6es. :e curioso constatar que ate aqui, alingilistica atribuiu apenas um interesse menor a esta neces­sidade. Deve-se procurar as razOes para isso nos pontos devista transcendentais que foram adotados, como por exem­plo 0 ponto de vista sociol6gico a partir do qual se acre~

ditou ser legftimo sustentar 0 postulado (falso segundo todaprobabilidade) segundo 0 qual, em virtude da existencia

1. Um ;argllo pode ser definido como urn estilo de valor neutro cornsignos especificos (mais freqiientemente, express6es de signos ) , e um c6digocom.o um estilo de valor neutro com manifesta~s especfficas de expresslio.Aplicando 0 termo utiro de g~ne1'O a urn idioma solidario de determinadosgeneros literanos (certos. dialetos do grego antigo sao um exemplo tipico),podemos definir uma terminologia como sendo, simultanearnente, "urn jargio eurn estilo de genero, e uma semi6tica cient£fica (contanto que nao seja umsistema de simbolo,} como, simultaneamente. urn c6digo e urn estilo de genero.

124 PROLEGO:\1ENOS A U~IA' TEORIA DA LII'\(;UAGEM

de uma norma social, a estrutura interna de uma linguanacionaI seria especffica e homogenea e, inversamente, umafisianomia lingtiistiea enquanto tal seria uma quantidadenegligencitivel que pode ser eonsiderada simplesmente comorepresentante de uma lingua nacional. Apenas a escola deLondres foi conscientemente prudente: a definic;ao do fone­ma dada por D. Jones apliea-se expressamente apenas a"pronunciation of one individual speaking in a definitestyle" 2.

Dada esta extensibilidade ilimitada do texto (sua pro­dutividade), sempre haveni "traduzibilidade", isto e, subs­titui9ao da expressao entre dois signos que pertencern cadauma a sua classe de signos, cada uma das quais e solidflriade seu conotador. Este eriterio e partieularmente aplieflvelaos signos de maior extensao que a anaIise do texto encontraem suas operac;oes iniciais: todo derivado de texto (urncapitulo par exempla) pode ser traduzido de uma formaestilistiea, de urn estilo, de urn estiIo de valor, de urn generode estilo, de urn movimento, de urn vermiculo, de uma lin­gua nacional, de uma lfngua regional, de uma fisionomiapara qualquer autra delas. Vimos que essa traduzibilidadenao e sempre recfproca quando se trata de semi6ticas quenaa sao linguas; mas, neste caso, uma traduzibilidade unila­teral e sempre possive!. Na ana1ise do texto, os eonotadoresaparecerao portanto coma partes que entram em funtivas detal maneira que estes contraem uma substituic;ao mutuaquando essas partes sao deduzidas, e que em determinadaseondi~oes encontram-se em todos os funtivos de urn deter­minado grau. Todavia, isto nao basta para definir urnconotador. Chamaremos de indicador uma grandeza quepossui essas propriedades, e deveremos distinguir entre daistipos de indicadores: os sinais (cf. Cap. 14) e os conota­dores; 0 que os diferencia do panto de vista operacionale que urn sinal se deixa sempre relacionar sem ambigliidadea 'urn tinieo dos pIanos da semi6tica, coisa que nunca epossivel para urn conatadar.

Urn conotador, por conseguinte, e urn indicador que,em determinadas condic;oes, encontra-se nos dois pIanos dasemi6tica.

No decorrer da analise, os conotadores deverao ser iso­ladas da dedugao. Os signos que diferem apenas porquesao salidarios de seus diferentes !conotadores apareeerao,entao, coma variedades. Contrariamente as variantes or­dimirias (cf. Cap. 16), essas variedades sao particulares edevem ser tratadas a parte na amllise ulterior. Procede-se,

2. Ver p. 68. nota 3 e sobretudo D. JONES, Travaux du Cercle Linguistiquede Prague IV, 1931, p. 74.

SEMIOTICAS CONOTATIVAS E METASSE~1l0TICAS 125

assim a uma prote~ao contra a confusao entre esquemas se­mi6ticos diferentes (e usos diferentes); se se constatar maistarde que ha identidade, uma confronta9ao a tomara evi­dente.

Todavia, esta clara agora que os conotadores consti­tuem, eles tambem, um objeto que depende da semi6tica, enao da disciplina que anaIisa as semioticas denotativas ecuja ilnica tarefa e a de extrair os conotadores e conser­va~los em vista de urn tratamento ulterior. Este tratamentopertence a uma disciplina especial que determina 0 estudodas semi6ticas denotativas.

Parece evidente, agora, que a solidariedade que existeentre determinadas classes de signos e de determinados co­notadores a uma funriio semi6tica, uma vez que as classesde signos sao a expressiio desses conotadores consideradoscoma conteudo. Deste modo 0 ou os esquemas e usossemi6ticos que chamamos de lingua portuguesa sac a ex­pressiio do conotador "portugues". Do mesmo modo, 0

DU os esquemas e usos semi6ticos que chamamos a fisiono­mia lingliistica NN sac a expressiio da fisionomia real NN(isto e, de uma tal pessoa). 0 mesmo acontece em todosos outros casos. Nao e sem razao que a lingua nacional e{; "simbolo" da na9ao e que 0 dialeto e 0 "simbolo" deuma regHio.

Parece portanto legitimo considerar 0 conjunto dosconotadores como urn conteudo cujas semi6ticas denotativassac a expressao, e designar 0 todo formado por esse conteu­do e essa expressao pelo nome de semi6tica, ou antes, desemiotica conotativa. Em outros termos, apos 0 terminoda anaIise da semi6tica denotativa, a semi6tica conotativadeve ser submetida a anaIise segundo 0 mesmo procedimen­to, exatamente. Novamente, trata-se aqui de distinguir entreum esquema e urn uso semi6ticos. Os conotadores deveraoser analisados a base de suas fuw;oes miltuas e nao a basedo sentido do conteudo que lhes e atribufdo ou que 0 podeser. 0 estudo do esquema de uma semi6tica conotativa naotrata, portanto, das no~5es de carater social ou religioso quenormalmente se associam aos conceitos de lingua nacional,dialeto, vermiculo, estilo etc., rnas e necessaria atribuir-Iheurn estudo de seu usa tal como acontece corn as semi6ticasdenotativas.

Uma semi6tica conotativa eportanto uina semiotica quenao eo un1a lingua e cujo pIano da expressao e constituidopelos pIanos do conteudo e da expressao de uma semi6ticadenotativa. ~ portanto uma semi6tica da qual urn dos pIa­nos, 0 da expressao, e uma semi6tica.

126 PROLEGOMENOS A UMA TEOmA DA LINGUAGEM

o que podera surpreender aqui e que tenhamos eneon­trado uma semi6tica eujo plana da expressao e uma semi6­tiea. Os reeentes desenvolvimentos da 16giea, tais comoos conheeemos atraves dos trabaIhos dos 16gicos poloneses,nos prepararam corn efeito para reconhecer a existencia desemioticas cujo plana do conteudo e, ele proprio, uma se­mi6tica. Foi a isso que se denominou metalinguagem 3

(diriamos nos, metassemi6tica) , isto e, uma semi6tica quetrata de urna semi6tica; em nossa terminologia, isso devesignificar uma serni6tica cujo conteudo e uma semi6tica. Apropria lingiiistic~ deve seT uma metasse.mi6tica.

Como ja ressaltamos, os eonceitos de expressao e deconteudo nao podem dar Iugar a definig6es formais, poissac designa90es atribuidas arbitrariamente a grandezas queso existem por oposigao uma a outra e que so podem serdefinidas negativamente. Deste modo, definiremos sobreuma outra base, articuIando primeiramente a classe de se­mi6ticas em uma classe de semi6tieas cientfficas, depois emuma classe de semi6ticas nao-cientffieas; isso pressup6e 0

conceito de operarao que definimos acima. _ Chamaremos desemi6tica cientifica 4 uma semi6tica que e uma operagao, esemi6tica nao-cientifica uma semi6tica que nao e. Assim,definiremos uma semi6tica conotativa como sendo uma se­mi6tica nao-cientffica da qual urn ou varios pIanos e (sao)uma semi6tica(s); e uma metassemi6tica como uma semi6­tiea cientffica da qual urn ou varios pIanos e (sao) umasemi6tica(s). De fato, virnos que nos easos mais frequentesurn unico dos dais pIanos e uma se.mi6tiea.

Como ja observaram os 16gieos, epossivel alem do rnaisimaginar uma semi6tica cientffica que trata de uma me­tassemi6tica e, na terminologia· deles, podemos definir umameta-(semi6tica cientifica) coma uma metassemi6tica cujasemi6tica-objeto e uma semi6tica cientffica (uma semi6ticaque entra coma urn pIano numa semi6tica denomina-sese'!ll6tica-objeto desta) . De acordo corn a terminologiade Saussure, podemos definir a semiologia como umametassemi6tica cuja semi6tica-objeto e uma semi6tica nao­-eientffica. Chamaremos assim de metassemiologia urnameta-(semi6tica cientijica) cujas semi6ticas-objetos sac se­miologias.

A fim de explicitar nao apenas os fundamentos da lin­giiistica mas tambem snas conseqiiencias ultimas, a teoria dalinguagem ye-Se obrigada a aerescentar ao estudo das semi6-

3. A respeito. ver a exposi9ao de J. J~RGENSEN (cf. p. 115, nota),p. 9 e s.

4. Se nao dizemos simplesmente ciencia e porque e preciso encarar apossibilidade de que certas ciencias nao sejam semi6ticas no sentido queatribu.imos a esse tenno, mas sim sistemas de simbolos.

•I

.,

SEMIOTICAS CONOTAnVAS E METASSEMIOTICAS 127

ticas denotativas urn estudo das senti6ticas conotativas e dasmetassemiologias. Esta obriga~ao cabe a lingillstica porqueeIa so pode ser resolvida de modo satisfat6rio a partir daspremissas especlfieas a lingiHstica.

Nossa ultima tarefa sera, aqui, considerar a organiza~ao

mais apropriada da metassemiologia do ponto de vista Iin­giifstico.

Normalmente, uma metassemi6tica sera (ou poderaser) inteiramente ou parcialmente identica a sua semi6ti­ca-objeto. A lingiifstica, por exemplo, que descreve umalingua, reeorre a essa mesma lingua em sua descri~ao. Domesmo modo, as semiologias que descrevem semi6tieas quenao sac linguas poderao fazer essa descri~ao numa lingua.Se este nao for 0 caso, a semi6tica de que se servirao semprepodeni ser traduzida numa lingua (cf. a defini~ao de lingua).Disto resulta que se a metassemiologia deve fomeeer umadescri~ao eompleta da semi6tica de semiologia, ela vini a re­petir uma grande parte dos resultados desta. No entanto, 0

principio de simplicidade convida a que se siga um procedi­mento que permita evitar isso. Por considera~es de ade­qua~ao, devemos coneeber a metassemiologia de tal modoque, na pratica, seu objeto seja exclusivo em rela~ao aoobjeto da semiologia; alias, devemos comportanno-nos domesmo modo corn rela~ao a eventuais metassemiologias deuma ordem superior, e evitar criar novas metassemiologiasque nao teriam objetos exclusivos em rela~ao aos objetosja tratados.

A metassemiologia deve portanto concentrar seus es­for~os nao sobre a lingua ja deserita pela semiologia, linguana qual essa semiologia tambem esta elaborada, mas sobre2.S modifica~oes· eventuais dessa lingua ou sobre as adi~oes

que ela The traz a fim de produzir seu jargao especial. Se­gue-se, de modo claro, que a metassemioIogia nao tern ne­cessidade .de fomeeer a descri!rao das proposi!roes queentram na teoria da semiologia se ela puder provar queessas proposi!roes san unidades possiveis que ja podiam serprevistas pelo sistema da lingua. Seu dominio e, por outrolado, a terminologia espeeffiea da semiologia, e veremos queela utiliza tres tipos de tennos:

1. Termos que entram como definlveis no sistema dedefini~oes da semiologia e cujo conteudo portanto ja estadefinido, isto e, analisado (cf. Cap. 14) pela propria semio­logia. Estes tennos nao perteneem ao domfnio especfficoda metassemiologia.

2. Termos que san emprestados da lingua e que comoindefiniveis entram para 0 sistema de defini!roes da semiolo­gia. Contrariamente it situa~ao dos indefiniveis em outras

128 PROLEGOMENOS A U.MA TEORIA DA LINGUAGEM"

clencias, estes tern uma condiqao particular na semiologia:forarn extraidos da semi6tica-objeto da semiologia que ja ostera definido em sua anaIise do pIano do conteudo. Essestermos tampouco pertencem ao dominio especifico da me­tassemiologia.

3. Termos que nao sao tirados da lingua (mas emrela9aO aos quais deve-se supor que tenbam uma estruturade expressao que concorda corn 0 sistema da lingua) e quecntram como indefiniveis nas proposi~6es da semiologia. Eainda necessario distinguir aqui entre dois tipos de tennos:

a) Os tennos que designam varia~oes de ultimo graude invariante de ultimo grau, isto e, varia90es de glossemas(e varia90es de sinais) de ultimo grau, as varia90es ulti­mas "minimas" (individuais e/oll varia90es locaIizadas) dasquais a semiologia veio a tratar em sua anaIise. Essas va­riaqoes sac necessariamente conservadas coma indefiniveispela semiologia, dado que defini~ao para n6s significa ana­lise e que uma amilise no interior da semiologia e aqui,justamente, impossivel. Par outro lado, uma amllise dessas\'aria90es toma-se passIve! no interior da metassemiologia,uma vez que estas devern all ser descritas como signosminimos que entram na semiologia, e serem analisadas en­tao como 0 foram os signos minimos da lingua na semiologia,isto e, atraves de uma resolu9ao em figuras baseada naprova da comutaqao aplicada a semi6tica de semiologia, epor uma articulaqao em variantes. Veremos efetivamenteque as grandezas que entram como variantes nos pIanos doconteudo e da expressao da lingua (ou em qualquer semi6­tica-objeto de primeiro grau) serao invariantes do pIano deconteudo da semiologia.

b) Os termos que designam categorias de variantese de invariantes de todos os graus. Considenidos co·moclass as one, seus conteudos serao sincretismos das grande­zas anteriormente mencionadas em (a) ou sincretismos dossincretismos destas.

Cabe portanto a metassemiologia submeter os signosminimos da semiologia, cujo conteudo e identico as uItimasvariantes do conteudo e da expressao da semi6tica-objeto(a lingua), a uma analise relacional efetuada segundo asmesmas regras prescritas para a amiIise dos textos. Nestecaso, como nessa anaIise dos textos, deve-se procurar regis­trar, tanto quanto possive!, grandezas realizadas, isto e,grandezas suscetfveis de uma amllise particular.

A fim de compreender 0 que pode ocorrer aqui, naoSte deve esquecer que a distin~ao de Saussure entre forma esubstAncia nao pode ser mantida sem modificaqao, e que narealidade eIa se revelou como abrangendo uma distin~ao

1

j. • r

SEMIOTICAS CONOTATIVAS E METASSEMIOTICAS 129

entre duas formas~ cada uma no interior de sua hierarquia.Na lingua, par exemplo, urn funtivo pode ser consideradoseja coma forma lingtifstica seja como forma de sentido.Estas duas maneiras de -ver fazem parecer diferentes daisobjetos que no entanto padern, nurn certo sentido, ser con­siderados como identicos, uma vez que a unica coisa queai ha de diferente e 0 ponto de vista adotado. A distin~ao

de Saussure e a formulaC;ao par ele dada nao devem, por­tanto, levar-nos a acreditar que os funtivos descobertos gra­c;as a amilise de urn esquema lingiiistico nao podem serconsiderados, corn alguma razao, coma sendo de naturezafisica. Pode-se muito bem dizer que sac grandezas fisicas(ou seus sincretismos) que sac definidas por funC;ao mutua.Do mesmo modo,' e legitimo dizer que a anaIise que ametassemiologia faz do conteudo dos signos minimos e umaamilise de grandezas fisicas .que se definem par fum;aomutua. Em que medida e possivel, enfim, considerar todasas grandezas de uma semi6tica qualquer, tanto em seu con­teudo como em sua -expressao, coma grandezas fisicas, ou,pelo menOS, como redutiveis a grandezas fisicas? Esta euma questao puramente epistemol6gica do fisicalismo contrac fenomenalismo. _Esta questao tern sido objeto de urn de­bate 5 ~ respeito do qual nao varnos aqui tomar posi9ao, eem rela~ao ao qual tampouco -0 esquema Iingiiistico tern detomar posi~o. Por outro fado, no debate lingiHstico atualpudemos discemir uma certa tendencia~ tanto entre os adep­tos como entre os adversarios do ponto de vista glossema­tico, a incorrerem em erro a respeito da essencia do problema,coma se 0 objeto que 0 lingilista analisa ao introduzir porcataIise uma forma lingiHstica nao pudesse ser de naturezafisica, como 0 objeto que 0 -Hte6rico da substancia" deveanalisar ao introduzir por cataIise esta ou aquel~ forma desentido nao-lingiiistico. :E: necessario dissipar esse mal-en­tendido a fim de compreender a tarefa da metasserniologia.Gra~as a mudan~a de ponto de vista que implica a passa­gem -de uma semi6tica-objeto para sua metassemi6tica, ametassemiologia adquire, novamente, meios para retomar elevar mais adiante, atraves da aplica~ao dos pr6prios metodossemiol6gicos,a anaIise que, do ponto de vista semiol6gico,estava esgotada. 0 que significa dizer, simplesmente, queas variantes ultimas da Hngua sao submetidas a uma anaIiseparticular ulterior numa base inteiramente fisica. Par ou­tras palavras, na pratica a metassemiologia e identica adescrifoo da subsUincia. A tarefa da metassemiologia e efe...tuar uma analise nao contradit6ria, exaustiva e a mais

5. A Tespeito, veT, entre outros, os traba1hos ja citados de BLooME:'mLDe de NEuRATH (p. 116, nota) e de ADOLF Ross, On the Illusion of Consciousness(Theoria VII, 1941, p. 171 e s~).

)

130 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LlNGUAGEM

simpIes possiveI dos objetos que, para a semiologia, sao in- Idividuais irredutiveis (ou grandezas localizadas) do conteudo, ~

e dos sons (011 dos caracteres da escrita) que igualmente sao,para a semiologia, individuais (Oll grandezas localizadas)irredutfveis da expressao. E na base das fun~6es e segundoo procedimento ja indicado, que a amllise metassemioI6gicadeve ser realizada ate que eIa se veja esgotada e que, attarnbem, sejam atingidas as variantes irredutiveis para asquais 0 criterio das coes5es nada mais oferece, se bem quea explica~ao por urn encadeamento de raz6es e de causasdeva ceder diante de uma descri~ao puramente estatistica,que e entaD a unica possivel: a situa~ao final da fisica e dafonetica dedutiva.

Toma-se imediatamente evidente que uma metassemi6­tica pode e deve ser acrescentada a semi6tica conotativa afim de at realizar a analise de seus objetos ultimos. Assimcomo a metassemiologia das semi6ticas denotativas tratarana prMica os objetos da fonetica e da semfmtica sob umaforma reinterpretada, a maior parte da lingiHstica propria­mente sociol6gica e a lingiiistica externa de Saussure encon­trarao na metassemi6tica das semi6ticas conotativas 0 seuIugar sob uma forma, eIa tambem, reinterpretada. Cabe aesta metassemi6tica analisar os multiplos sentidos do con­teudo - geograficos e hist6ricos, politicos e sociais, religio­sos, psico16gicos - que se ligam a na~ao (coma conteudoda lingua nacional), a regHio (como conteudo da linguaregional), as fonnas de aprecia~ao dos estilos, a personali­dade (como conteudo da fisionomia, tarefa essencialmentecaractero16gica), aos movimentos etc. Pode-se prever queinumeras ciencias especiais e antes de mais nada, sem duvida,a sociologia, a etnologia e a psicologia, deverao trazer aquisua contribui~ao.

Seguindo 0 espfrito do prindpio de simplicidade, me­tassemiologias de ordens superiores nao devedio ser estabe­Iecidas pois tal tentativa poderia demonstrar que eIas naotrariam outros resultados alem daqueles obtidos pela me­tassemiologia de primeiro grau.

23. Perspectiva Final

A atitude rigorosamente pnhica e tecnica de que ° es­pecialista frequentemente oecessita em seu trabalho e que,em lingiiistica, leva a formular a exigencia da teoria dalinguagem coma uma simples exigencia de urn metodo se­guro para determinado texto limitado redigido numa deter­minada lingua "natural" definida antecipadarnente, aDspoucos teve de ceder 0 passo, 00 decorrer de nossa exposi­9ao, a uma atitude cientifica e humanista cada vez maisarnpla que terminou por se impor e por nos levar a umaconcep9ao de conjunto que dificilmente pode ser imaginadamais absoluta.

o simples ato de fala obriga 0 pesquisador a introduzirpor cataIise urn sistema que seja coesivo corn esse ate; afisionomia particular e uma totalidade que cabe ao Hngiiistareconhecer atraves da amilise e da sintese; mas nao se tratade uma totalidade fechada; eIa tern coesoes externas queobrigam a introduzir par cataIise outros esquemas e outrosusos lingiifsticos que, so estes, podem esclarecer a particula­ridade individual da fisionomia; eIa tern igualmente coesoestnternas corn. urn sentido conotativo que explica essa totali­dade numa unidade e em sua variedade. Para 0 dialeto eo estilo, a fala e a escrita, a lingua e as outras semi6ticas,este procedimento tra9a drculos cada vez mais amplos.Todo sistema e uma totalidade que se basta a si proprio; noentanto, nenhuma totalidade est8. isolada. CataIise sobrecatalise obrigam a ampliar 0 campo visual ate que se cheguea levar em conta todas as coesoes. Nao e apenas a lingua

, ..

•~ 132~

~ .. ' ---....~ '- ~ 0

PROLEGO~\fEXOS A U~IA TEORIA DA Ll.XGtJAGE~I

" considerada isoladamente que e 0 objeto do lingiiista, massim a classe inteira das lfnguas, cujos membros esHio ligadosuns aos outros, explicam-se e se esc1arecem uns aos outros.Nao se pode tra<;ar uma fronteira entre a teoria de urn tipoparticular de lingua e a tipologia das Hnguas da qual um tipotornado separadamente e apenas umcaso. particular que,como todo funtivo, 56 existe ern virtude"' ea fun9aO que 0

liga aos Dutros. Na tipologia caIculat6ria da teoria da lin­guagem, todos os esquemas lingiiisticos sao previstos; elesconstituem urn sis~ema no qual cada urn deles esta ligado aosdemais por correla<;oes. Constatarn-se tambem uma rela<;ao;e 0 cantata entre as linguas que se revela em parte comarelacionamentos de emprestimo, e e~ parte coma parentescoslingiiisticos geneticos e que, independentemente dos tiposIingliisticos, constitui familias' lingliisticas; estas rela~oes,

como tadas as outras, repousam~ em relacionamentos de. purapressuposi<;ao que - tal como a rela~ao que existe entreas partes do processo - manifestam-se no tempo sem serem,elas, definidas pela sucessao ,temporal:' .

De cataIise em cataIise, -semi6tica conotativa, metasse­mi6tica e metassemiologia SaD obrigatoriamente. ~ntegradas

na teoria. Assim, todas as grandezas que, em primeira ins­tancia e considerando apenas 0 esquema da semi6tica-objeto,deviam provisoriamente ser deixadas de hido como objetosnao-semi6ticos, sac reintegradas e compreendidas coma com­ponentes necessarios das estruturas semi6tiCas de ordem su­perior. A seguir, nao existem nao.:.semi6ticas que nao sejamcomponentes de semi6ticas e,' em Ultima instancia, nao existecbJeto algum que nao possa se! esclarecido a partir da po­si~ao-chave que a teoria da linguagem ocupa. A est~utura

serni6tica se revela como urn ponto de"vista a partir do qualtodos os objetos cientificos podem ser examinados.

Partanto, a teoria da Iinguagell?- desempenha de umamaneira de inicio nao-suspeitada todas as obriga~6es que elase impusera (cf. Caps. 2 e 7). 'Em sell" panto de partida,ela se baseara na imanencia,' atribuindo-se par unico obje­tivo a constancia, 0 sistema e a fun~ao interna; aparente­mente, isso deveria ser feito as custas das flutuat;oes e" dosmatizes, as custas da vida eda realidade concreta, fisica efenomeno16gica. Vma limita~ao provis6ria de nosso campovisual era 0 pre~o que se devia pagar para arrancar da lin­guagem seu segredo. Ora, e gra~as a este ponto de vistaimanente que a linguagem devolve generosamente aquiloque, de inicio, ela exigira. A linguagem, considerada numsentido mais amplo que aquele que The e atribuido pelalingiiistica contemporanea, retomou sua" posi~ao-chave nodomfnio do conhecimento. Em vez de impedir a transcen-

PERSPECTIVA FINAL 133

dencia, a imanencia, pelo contnirio, deu-Ihe uma base novae mais solida. A imanencia e a transcendencia juntam-senuma unidade superior baseada na imanencia. A teorialingtiistica, por necessidade intema, e levada a reconhecernao apenas 0 sistema Iingliistico em seu esquema e seu uso,em sua totalidade assim como em seus detalhes, mas tambemo homem e a sociedade humana presentes na linguagem e,atraves dela, a atingir 0 dominio do saber humane em suatotaIidade. Corn isso, a teoria da linguagem atingiu a fina­lidade que se tinha atribufdo:

humanitas et universitas.

Registro Alfabeticodos Termos Definidos'

(Entre parentese, os termos correspondentes em dinamarques.)

anilise (analyse), 1aplica!(ao (ikraftraeden), 47articula~ao (leddeling) , 30autonomia (autonomi), 40cadeia (kaede) , 55cataJise (katalyse) , 88classe (klasse), 2coesao (kohaesion) , 17combina~ao (kombination), 41complementariedade (komplemen-

taritet), 36complexo de analises (inddel-

ingskomplex). 5componentes (afsnit) , 3comuta~ao (kommutation), 59conceito (begreb) , 86conetivo (konnektiv) , 95conformidade (konformitet), 96conotador (konnotator) , 101constante (konstant) , 12constela(Yao (konstellation) , 16contrair (indgaa) , 10correla~ao (korrelation) , 26dedu~ao (deduktion) , 19defini(Yao (definition), 42derivado (derivater) , 21determina~ao (determination), 15divisao (deling), 31dominfmcia (dominans), 79elemento (element), 93

entrar em (indgaa i), 23especifica(Yao (especifikatfon) , 38esquema lingiifstico (sprogbygn-

ing) , 91esquema semi6tico (semiotisk

sprogbygning), 58estabelecimento (etablering), 46facultatividade (fakultativitet) ,

82forma (form), 51fun~ao (funktion); 8funtivo (funktiv), 9fusao (sammenjald), 83glossemas (glossemer), 65grandeza (stflrrelse) , 11grau (grad) , 24hierarquia (hierarki), 4implica!yao (implikation) , 84incluir (indbefatte), 22indicadores (indikatorer) , 99indivfduo (individ), 72indu(Yao (induktion) , 25interdependencia (interdependens),

14invariantes (invarianter), 63latencia (latens), 87lingua (sprag), 89 .localizada (variedade) (lokalise-

ret), 73

1. Os numeros remetem ao nUmero correspondente das "Defini9Oes".

r

136 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINCUAGEM

manifesta~ao (manifestation), 50membra (led), 56metassemialogia (metasemiologi),

108metassemi6tica (metasemiotik) ,

104meta-(semi6tica cientlfica)

(metavidenskabssemiotik), 106muta9ao (mutation) , 44obrigat6ria (dominancia) (obli­

gatorisk) , 80opcional (dominancia) (valgfrO,

81opera9ao (operation), 6palavra (ord) , 61paradigma (paradigme), 54paradigmatica (paradigmatik), 67parte (del), 57particularidade (partikularitet),

33permuta~ao (permutation), 60procedimento (procedure) , 20processo (forl(Jb), 29realiza~ao (realisation), 34reciprocidade (reciprocitet) , 18rela~ao (relation), 27resolu~ao (opl~sning), 85sele~ao (selektian), 39semiologia (semiologi) , 107semi6tica (semiotik), 53semi6tica cientifica (videnskabs-

se.miotik) , 102

semi6tica conotativa (kannata­tionssemiatik), 103

semi6tica denotativa (denota-tionssemiotik), 98

semi6tica-objeto (objektssemio-tik), 105

sentido (mening), 69sene (raekk), 43sinal (signal), 100sincretismo (synkretisme), 78sintagmatica (syntagmatik) , 68sintese (syntese ) , 7sistema (system), 28sistemas de simbolos (sybolsys-

temer), 97solidariedade (solidaritet), 37soma (sum), 45substancia (substam) , 52substitui~ao (substitution), 62superposi9ao (overlapping), 49suspensao (suspension), 48taxema (taxem), 94texto (text), 90unidade (enhed), 74universaIidade (universalitet), 32usa lingiiistica (sprogbrug) , 92usa semi6tico (um), 66varia~Oes (variationer) , 70variantes (varianter) , 64variavel (variabel) , 13variedades ( varieteter), 71virtualidade (virtualitet) , 35

I

Definicoes#

(Os numeros entre parentese remetem a Qutras defini90esexplicitamente pressapostas.)

1 . An:Hise: de:.;cri~ao de urn objeto atraves das dependenciashomogeneas de outros objetos em rela~ao a ele e entre elasreciprocamente.

2. Classe: objeto que e submetido a anaIise (1).3. Componentes: objetos que sac registrados por uma unica

analise coma sendo homogenearnente dependentes da classee deles mesmos reciprocarnente (1, 2).

4 . Hierarquia: classe de classes (2) .5. Complex0 de anaIises: classe de analises de uma unica e

rnesma classe (1. 2).6. Opera~ao: descri9ao de acordo corn 0 princi'pio de empirisrno.7. Sintese: descri9ao de urn objeto coma componente de uma

classe (2. 3).8 . Fun<;ao: dependencia que preenche as condi90es de uma

analise (1) .9. Funtivo: objeto que tern uma fun9ao em relacionamento a

outros objetos (8) .10. Contrair: diz-se 'de urn funtivo: contrair sua fun<;ao (8, 9).11 . Grandeza: funtivo que nao e uma fun<;ao (8, 9).12. Constante: fnntivo cuja presen9a e uma condi9ao necessaria

para a presen9a do funtivo em relacionamento aD qual ternfun9ao (8, 9).

13. Variavel: funtivo cuja presen<;a nao e uma condi9ao necessa­ria para a presens:a do funtivo em relacionamento ao qualtern fun9ao (8. 9),

14. Interdepender.-:ia: fun<;ao entre duas constantes (8, 12).15. Determina9ik\; fun9ao entre uma constante e uma variaveI

(8, 12, 13).16. Constela9ao: fun~ao entre duas variaveis (8, 13).17. Coesao: fun9ao da qual pelo menos urn dos funtivos e uma

constante (8, 9, 12).

138 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

18 . Reciprocidade: fun~ao que contem apenas constantes OUvariaveis (8, 12, 13).

19 . Dedu~ao: anaIise continuada DU complexo de amilise corndetermina~ao entre as amlIises que dele participam (1, S, 15).

20. Procedimento: classe de opera~5es corn determina~ao mutua(2, 6, 15).

21 . Derivados: componentes e componentes-de-componentes deuma classe no interior de uma unica e mesma dedu!tao(2, 3, 19). '

22. Incluir: diz-se de uma classe que ela indui seus derivados(2, 21).

23 . Entrar em: diz-se dos derivados que eles entram em suasclasses (2, 21).

24. Grau: referencia ao 'niimero de classes atraves das quais osderivados sao dependentes de sua classe comum mais baixa.(Se este numero e 0, diz-se que os derivados sao de 19 grau;se cS 1, diz-se que os derivados sac de 29 grau; e assim: pordiante) (2, 21).

2S. Indu!tao: sintese continuada com determin~ao entre assfnteses que dela participam (7, 15, 23).

26 . Correla~ao: fun~ao ou ... ou (8) .27. Rela~ao: fun~ao e ...e (8).28. Sistema: hierarquia correlacional (4, 26).29. processo: hierarquia relacional (4, 27).30. Articula~ao: analise de urn sistema (1, 28).31 . Divisao: anaIise de um processo (1, 29) .32. Universalidade: urna opera~ao corn urn determinado resultado

e chamada de universal, e suas resultantes universais, se seafirma que a opera~aq pede ser realizada sobre um objetoqualquer (6).

33. ParticuIaridade: uma opera!rao corn um determinado resultadoe chamada de particular, e suas resultantes particulares, se seafirma que a opera!rao pode ser realizada sobre um deter­minado objeto, mas nao sobre um outro objeto qualquer (6).

34. Realiza~ao: diz-se de uma c1asse que eIa esta realizada sepuder ser tomada como objeto de uma anaIise particular(1, 2, 33).

35. Virtualidade: diz-se que uma classe e virtual se ela nao podeser tomada como objeto de uma anaIise particular 0, 2, 33).

36. Complementaridade: interdependencia entre termos num siste­ma (14, 28).

37. Solidariedade: interdependencia entre termos num processo(14, 29).

38. Especifica!rao: determina~ao entre termos num sistema (15,28).

39. SeIe~ao: determina~ao entre termos num processo (15, 29).40. Autonomia: constela~ao no interior de urn sistema (16, 28).41. Combimi!rao: constela!rao no interior de um processo (16, 29).42. Defini~ao: divisao do conteudo de urn signo ou da expres.sao

de um signa (31).43. Serie: dos derivados de um mesmo grau pertencentes a urn

unico e mesmo processo ou a urn Unico e mesmo sistemadiz~se que constituem uma sirie (21, 24, 28, 29).

44. Muta!rao: fUD!rao existente entre derivados de primeiro graude ulila tiniea e mesma classe; fun~ao que tem uma reIa~ao

corn uma fun~ao entre outros derivados de primeiro grau deuma l1nica e mesma cIasse e que pertence a mesma serie(2, 8, 21, 24, 27, 43).

4S. Soma: classe que tern uma fun!tao com uma ou mais outrasclasses no interior de uma mesma serie (2, 28, 43).

,f

DEFINICOES 139

46. EstabeIecimento = reIa~ao que existe entre uma soma e umafun~io que dela participa. Diz-se da fun~o que eIa estabe­Ieee a soma, e que a soma e estabelecida pela fun\tao (8, 23,27~ 45).

47. Ap1ica~ao: dado urn funtivo que esta presente em certascondi~oes e ausente em outras, nas condi~oes em que 0 funtivoesta presente diz-se que ha apliea~ao do funtivo, e nestascondi~Oes diz-se que 0 funtivo' se apliea (9).

48. Suspensao: dado urn funtivo que esta presente em certascondi~Oes e ausente em determinadas outras condi90es, nascondi~Oes em que 0 funtivo est! ausente diz-se que ha sus­pensiio do funtivo, e nestas condi!yOes diz-se que 0 funtivoesta suspenso (9) .

49. Superposi!yao: muta9ao suspensa entre dois funtivos (9, 44~

48).50. Manifesta!yao: seIe\tao entre hierarquias e entre derivados de

diferentes hierarquias (4~ 21, 39).51. Forma: a constincia numa manifesta~ao (12, 50).52. Substancia: a variaveI nurna manifesta!yao (13, 50).53 . Semi6tica: hierarquia da qual urn componente qualquer

admite urna analise ulterior em classes definidas por rela!yaomutua, de tal modo que nao importa qual dessas classes admiteuma anaIise em derivados definidos por muta!yao mutua (l~ 2~

3, 4, 21, 27~ 44).54. Paradigma: c1asse no interior de urn sisterna semi6tico (2, 28~

53).55. Cadeia: classe no interior de urn processo semi6tico (2, 29,

53).56. Membro: componente de urn paradigma (3, 54).51. Parte: componente de urna cadeia (3, 55).58. Esquema semi6tico: forma que e urna semi6tica (51, 53).59. Comuta!yao: muta!yao entre os membros de urn paradigma

(44, 54, 56).60. Permuta~o: muta~ao entre as partes de urna cadeia (44, 55,

51).61. Palavras: signos minimos permutaveis (60).62. Substitui~ao: ausencia de muta~ao entre os membros de urn

paradigma (44, 54, 56).63. Invariantes: correlatos eom comuta~ao mutua (26, 59).64. Variantes: correlatos COrn substitui~o mutua (26, 62).65 ; Glossemas: formas rninimas que a teoria nos leva a estabe­

Ieeer como bases de explica!rao, as invariantes irredutiveis(63).

66. Usa semi6tico: substancia que manifesta urn esquema semi6-tico (SO, 52, 58).

67. Paradigmatica: sistema semi6tico (28, 53).68. Sintagmatica: processo seIili6tico (29, 53).69. Sentido: c1asse de variflveis que manifesta mais de uma cadeia

no interior de mais de uma sintagmatica, e/oll mais de urnparadigma no interior de mais de urna paradigmatica (2, 13~

SO, 54, 55, 67~ 68).70. Varia~5es: variantes eornbinadas (41, 64).71 . Variedades: variantes solidarias (37, 64).12. Individuo: varia~ao que nao pode ser ulteriormente articuIada

em varia(;Oes (30, 70).73. Localizada (variedade): variedade que nao pode ser ulterior­

mente articulada em variedades (30, 71).74. Unidade: soma sintagmatica (45,. 68).

J

140 PltOLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEr..,!

75. Categoria: paradigma que tern uma correla~ao corn urn ouvarios outros paradigmas no bterior da mesma seric (26, 43,54). .

76. Categoria funcional: categoria dos funtivos registrados numatinica amllise corn uma determinada fun~ao tornada comobase de analise (1, 8, 9, 75). ,

77. Categoria de funtivos: categoria que e registrada pela arti­cula~ao de uma categoria funcional segundo as possibilidadesdos funtivos (9, 30, 75, 76).

78. Sincretismo: categoria estabelecida por uma superposi!;ao (46,49, 75).

79. Dominancia: solidariedade entre, de' ,urn lado, uma variantee, do outro, uma superposi9aO (37, 49, 64).

80. Obrigat6ria (dominancia): dominancia na qual a dominantecorn respeito ao sincretismo e uma variedade (71,,78, 79).

81. Opcional (dominancia): dominancia na qual a dominante cornrespeito ao sincretisrno e uma varia~ao (70,' 78, 79).

82. Facultatividade: superposi9ao corn zero na qual a dominanciae opcional (49, 79, 81).

83. Fusao: manifesta~ao de urn sincretismo que, do ponto devista da hierarquia da substfmcia, e identica a manifesta~ao

de todos DU de nenhum dos funtivos que entram no sincre­tisrno (4, 9, 23, 50, 52, 78).

84. Implica~ao: manifesta~ao de urn sincretismo que, do ponto devista da hierarquia da subsmncia, e identica a manifesta~ao

de urn ou varios funtivos que entrarn no sincr-:;:tismo, rnas naoa todos (4, 9, 23, 50, 52,78).

85 . Resolu~ao: resolver urn sincretismo significa introduzir avariedade do sincretisrno que nao contrai a superposi9ao queestabelece 0 sincretisrno (10, 46, 49, 71, 78).

86. Conceito: sincretismo entre objetos (78).87. Latencia: superposis;ao corn zero na qual a dominancia e

obrigat6ria (49, 79, 80).88. Catalise: registro de cocs6es atraves do carnbio de uma gran­

deza por ontra corn respeito a qual ha uma substitui9ao (11,17, 62).

89 . Lingua: paradigmatica cujos paradigrnas sao manifestados portodos os sentidos (50, 54, 67, 69).

90. Texto: sintagmMica cujas cadeias, se forem ampliadas indefi­nidamente, sac manifestadas por todos os sentidos (50, 55,68, 69).

91.. Esquema lingiiistico: forma que e uma lingua (51, 89).92. Uso lingiiistico: substancia que manifesta urn esquerna lin­

giHstico (50, 52, 91).93. Elemento: membro de uma categoria de funtivos (56, 77).94 . Taxema: elemento virtual isolado na fase da analise em que

se emprega a sele9aO pela ultima vez como base de analise(1, 35, 39, 93).

95. Conetivo: funtivo que em certas condi90es e solidario deunidades cornplexas de urn determinado grau (9, 24, 37, 74).

96. Conformidade: diz-se que dois funtivos sao conformes se naoimporta qual derivado particular de urn dos funtivos contraisem exces:ao as mesmas fun~6es que um derivado particulardo outro funtivo, e vice-versa (8, 9, 10, 21, 33).

97. Sistemas de simbolos: 'estruturas as quais se pode atrbiuir urnsentido de conteudo, mas nas quais 0 principio de simplicidadenao permite introduzir por catalise urna forma de conte-udo(51, 69, 88).

98. S'emi6tica denotativa: semi6tica da qual nenhum dos pIanose uma semi6tica (53) .

!!I!

DEFINIQOES 141

99. Indicadores: partes que entrarn em funtivos de modo que asfun~Oes tenham uma substitui~ao mutua quando essas partessac deduzidas (9, 23, 57, 62).

100. Sinal: indicador que sempre se pede univocamente colocarnum pIano distinto da semi6tica (53, 99).

101. Conotador: indicador que se encontra, sob certas condi90es,nos dois pIanos da semi6tica (53, 99).

102. Semi6tica cientifica: semi6tica que euma opera9ao (6, 53).103. Semi6tica cenotativa: semi6tica nao-cientifica da qual urn

(Oll varios) pIanos e(sao)uma semi6tica(s) (53, 102).104. Metassemi6tica: semi6tica cientifica da qual urn (ou varies)

dos pIanos e(sao) uma semi6tica(s) (53, 102).105 . Semi6tica-objeto: semi6tica que entra coma pIano numa

semi6tica (53) .106. Meta-Csemi6tica cientifica): metassemi6tica corn uma semi6­

tiea cientffica coma semi6tica-objeto (l02, 104, 105) .107. Semiologia: metassemi6tiea com uma semi6tica nlio-cientifica

como semi6tica-objeto (l02, 104, 105).108. Metassemiologia: meta-(semi6tica cientffica) da qual as

semi6ticas-objeto sac semiologias (lOS, 106, 107).

indice Geral

abrevi~ao, 99.ablaut, 43.adequa~ao, 16, 17,21, 27, 104.adjetivo, 29, 30n.alfa"beto, 48, 70, 71, 111.altemancia, 42, 43.amilise (Det. 1), 14, 27-37, 63,

103-107.antropologia, 81.aposiopose, 99, 100.aplicabilidade, 16, 22.aplic~ao (Det. 47), 93.arbitnirio, 16, 17, 21, 104.arte, 8, 114, 118.articula~ao (Def. 30), 34.atualizado, 96.ausencia (Ver suspensao).autonomia (Det. 40), 30, 41, 45.axiomas, 6,. 16, 17, 26.Baudouin de Courtenay, J., 98n.,

112n.Bjerrum, A., 82n.Bloomfield, L., 4n., 72n., 82n.,

116n., 129n.Bogatyrev, P., 114n.Blihler, K., 4n.Buyssens, E., 114n., 120n.cadeia (Det. 55), 34-36, 39, 42.cilculo, 17, 21, 27, 91, 113, 132.Camap, P., 114n., 116.caso, 30-32.cataJise (Def. 88), 99-101, 129,

131, 132.categoria de funtivos (Def. 77),

90.

categoria funcional (Def. 76),90.

ciencia, 88, 104, 105, 109, 126n.,131.

Cfrculo de Praga, 67-69.classe (Def. 2), 34, 35-37, 44.c6digo, 122, 123 e n.coexistencia, 41-45.coesao (Det. 17),41, 45, 60, 87,

131.combina~ao (Def. 41), 30-32,

41, 45.comparacao, 31/32.complementaridade (Def. 36),

30, 41, 45.complexo de analises (Def. 5),

35.componentes (Def. 3), 34-37.comutacao (Def. 59), 75·77, 116.conceito (Def. 86), 80, 97.conc1usao 16gica, 36, 96, 97.condi~ao, 40.conetivo (Def. 95), 74, 75.conexao (Ver rela~ao).

conformidade (Def. 96), 117.conjuncao, 41-43, 75.conotador (Def. 101), 123-125.consoante, 29, 30n., 32, 67, 68,

76.constante (Def. 12), 40, 41.constelacao (Def. 16), 29, 41,

45, 87.conteudo, 53-64, 68-71, 76, 77,

86, 112. 126.contrair (Det. 10), 39.

144PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LlNGUAGEM

I,.

I~

,/

j

,r

correla~ao (OU equivalcncia)(Dei. 26), 43, 44, 45, 69, 70,132.

dedu~ao (Def. 19), 14, 35, 36,67.

defectividades, 94n.defini90es formais, 25, 26, 40,

94.defini~oes operacionais, 25, 26.defini90es "realistas", 25, 40, 66,

94.dependencia, 27-34, 39.derivados (Def. 21), 36, 37.Descartes, 23. .descri9ao, 34, 35.descri9ao exaustiva, 14, IS-, 21,

24, 32, 34-36, 48, 49, 55, 90,100, 104, 117.

desinencia flexional, 44, 45.disjunyao, 41-43.determina9ao (Dei. 15), 29, 3D,

35, 41, 44, 45.divisao (Def. 31), 34, 35.dominancia (Def. 79), 94, 95.economia, 65.elemento (Def. 93), 66, 90.do (Ver parte).empirismo, 11, 13, 21, 55.entrar em (Dei. 23), 37.epistemologia, 4, 11-16, 36, 82,

109, 129.equivalencia (Ver correla~ao).especifica;ao (Def. 38), 25, 35,

41, 45, 86, 87.esquema, 79-88, 112, 113, 123,

125, 129, 131-133.esquema lingiHstico (Def. 91),

112, 113.esquema semiotico (Def. 58),

113.estilo, 122-124, 130, 131estilo administrativo, 123estilo de genera, 123n.estilo litenirio, 123.estilo oratorio, 123.estilo predicatorio, 123.estilo de valor, 122-124.estabelecimento (Def. 46), 89.estrutura, 4, 22, 76, 79.etnologia, 130.expressao, 51, 53-64, 77, 85, 86,

112, 125, 126.expressao de urn signo, 49.face da expressao, 63.face do conteudo, 63.facultatividade (Def. 82), 94-95,

97.fenomenalismo, 129.fenomenologia, 81.

fjgura, 47·52, 59, 63, 69, 70, 73,74, 103, 119, 128r

filologia, 3, 4, 9.filosofia da linguagem, 4, 11.fonema, 13, 48, 51, 59, 66-68,

71, 105.fonetica, 63, 68, 80, 82, 103,

130.fonologia, 67, 69.fonometrica, 87.ffsica, 81, 150.fisicalismo, 129.fisionomia, 122-125, 130, 131.forma (Dei.), 22, 55, 59-61, 76

79-83, 104, 109-111, 113, 114,128, 129.

forma da anaUse, 33-37.forma da expressao, 60, 62, 69,

116.forma do conteudo, 57, 59, 61,

62, 69, 116, 117.forma estilfstica, 122-124.fUD9ao (Dei. 8), 39-45, 83, 89-

91.fun9ao, ter uma, 40.fun9ao bilateral, 41, 95.fun9aO distintiva, 67-69, 75.fun~ao e... e, 41-43.fUD9ao multilateral, 41, 95.fUD9ao ou... ou, 41, 43.funyao semi6tica, 53-55, 57, 59,

61, 62, 69, 125.funtivo (Def. 9), 39, 84, 129.fusao (Dei. 83), 95.genero de estilo, 122-124.genero litenlrio, 105.generaliza!tao, 72, 73, 100.gfria, 123.glossemas (Dei. 65), 82, 106,

128.glossematica, 82, 129.grandeza (Def. 11), 39, 89, 90,

103-107.grau (Dei. 24), 37.hierarquia (Def. 4), 34, 36, 43,

129.Hilbert, D., 116.hip6tese, IS, 16.hist6ria, 8, 114.Halt, J., 106n.homogeneidade, 33, 34.humanismo, 7-9, 131-133.ideal, 96.identidade lingiiistica, 66, 67.idioma, 122.imanencia, 2, 23, 114, 132, 133.implicayao (Def. 84), 95, 96.implica9ao unilateral, 95.inc1uir (Def. 22), 37.

...

IXDICE GERAL 145

indicadores (Def. 99), 124.individuo (Def. 72), 86, 128.indu93.0 (Def. 25), 13, 14, 35,

36, 67.imerdependencia (Dei. 14), 29,

41, 45.invariantes (Def. 63) , 65-77,

104, 128.Jespersen, 0., 59.jogos, 114, 116, 117, 119.Jones, D., 67, 68.J~rgensen, J., 5, 96n., 115n.,

116n., 126n.Kaila, Eino, 116n.Kurylowicz, J _, 82n.latencia (Def. 87), 97, 101.lexicografia, 63.lingua (Def. 89), 23, 24, 34n.,

44, 45, 51, 52, 59, 60, 62, 81,109-119.

lingua nacional, 122-124, 130.lingua "natural", 24, 109, 113,

131.lingua regional, 122, 124, 130.linguagem (Def. 89), 19-22,

25, 44, 51, 52, 63, 81, 109­119.

linguagem familiar, 123.linguagem "natural", 109, 110.linguagem regional, 122.linha do conteudo, 63, 73, 105.linha da expressao 63, 73, 105.literatura, 8, 105, 110, 114.logica, 36, 42, 43, 95, 96, 104,

105, 110, 113-118.logologia, 3l.manifesta~3.o (Def. 50), 83, 113.Martinet, A., 97n.matematica, 115, 116, 118.membra (Def. 56), 34, 36.metalinguagem, 126.meta16gica, 116.metamatematica, 116.metassemiologia (Def. 108), 126-

130, 132.metassemi6tica (Def. 104), 121­

130, 132.meta-(semi6tica cientffica) (Def.

106), 126.morfema, 30-32, 58, 59.morfologia, 31, 63, 75.movimento, 122, 124.mudan~a fonetica, 112.mudan~a formal, 112.mudan~a semantica, 112.Mukarovsky, J., 114n.musica, 115, 118.mutac;ao (Def. 44), 76.necessidade, 40, 41.Neurath, 0., 116n., 129n.

neutraliza9ao, 93-97.nominalismo, 117.numero, 32, 58.objeto, 34.objetivo da teoria, 19-22, 132,

133.obrigat6ria (dominancia) (Def.

80), 94.ontologia, 80-81.opcional (dominancia) (Def.

81), 94, 95.operac;ao (Def. 6), 35, 44, 126.palavra (Def. 61), 34, 49, 50,

76.paradigma (Def. 54), 34, 36,

42, 57, 59, 67, 89.paradigmatica (Def. 67), 44,

89, 106.parte (Def. 57), 33, 34, 36, 37.parte central da silaba, 32-34,

48.parte marginal das silabas, 32,

34, 48.partes do discurso, 43, 107.particularidade (Def. 33), 44,

85, 128.pensamento, 54-57.PenttiIa, A., 66n., 112n.permuta~ao (Def. 60), 76.perspectivas da teoria, 23, 24,

105, 131-133.pIano do conteudo, 63, 64, 69-71,

73, 81, 105, 107, 128.pIano da expressao, 63, 64, 66,

69-71, 73, 81, 105, 107, 128.presen<;a, 40, 41.principio da analise, 27-32.principio de descri9ao exaustiva,

104.principio de economia, 65.principio de empirismo, 11, 21,

22, 27, 36, 48, 65, 70, 90, 94,107, 110.

prindpio de generaliz~ao, 72,73, 100, 101.

prindpio de redu9ao, 65, 66, 71.principio de simplicidade, 21, 65,

94, 105/106, 117, 127, 130.procedimento (Def. 20), 35.processo (Def. 29), 8, 20, 29-

31, 34, 41-45, 60, 110.progressao (Cf. processo).proposi!tao, 33, 34.proposi!tao "principal", 32, 33,

75.proposi9ao "subordinada", 31,

33, 75.prova de comuta~ao, 76, 77, ·118,

128.prova de derivado, 117, 118.

t

146 PROLEGOMENOS A UMA TEORIA DA LINGUAGEM

---~--

prova de troca, 70, 73.psicologia, 104, 130.radical, 31, 49.Rasmussen, E. Tranekjaer, 6.realidade, 7, 15-17, 132.realismo, 15-17, 22, 28, 45, 117.realiza~ao (Def. 34), 44, 45, 85.rec9ao, 31reciprocidade (Def. 18), 41, 45,

105.redu!rao, 65-67, 70-72.rela!rao (ou conexao) (Dei. 27),

43, 45, 69, 132..relacionamento (Ver depen-

dencia).resolu!rao (Dei. 85), 96, 97.Ross, A., 129n.Russell, B., 66n., 97, 111n.Saarnio, U., 66n., 112n., 117n.Saussure, F. de,S, 28, 29, 53,

55, 59, 63, 66n., 76, 79-82,110, ll2n., 113, 114, 116,118n. 126, ~28-130.

Sechehaye, A., 82n.sele!tao (Dei. 39), 30-32, 35, 41,

45, 54, 105.semantica, 63, 82, 103.semiologia (Def. 107), 114, -126­

130.semi6tica (Dei. 53), 34n., 43,

44, 113, 115-118, 126, 127,130, 132.

semi6tica cientffica (Dei. 102),123n., 126.

semi6tica conotativa (Def. 103),121-130, 132.

semi6tica denotativa (Def. 98),121, 130.

semi6tica nao-cientifica, 126.semi6tica-objeto (Dei. 105), 126,

129.sentido (Dei. 69), 56-62, 76,

79-81, 83, 109, 115, 129.sentido conotativo, 13l.sentido da expressao, 60, 61, 79,

81.sentido do conteudo, 61, 79, 81,

117, 125, 130. "serie (Dei. 43), 76.signo, 2, 47-52, 54, 61, 62, 69­

71, 72, 116, 117.signiiic3.!tao, 13, 40, 49-51, 55,

86.sfiaba, 32, 34, 36, 37, 39, 51.simbolo, 118, 119, 123n., 125.simbolos glossematicos, 45n.simplicidade, 48, 65, 70, 86.sinal (Dei. 100), 75, 124, 128.sincretismo (Dei. 78), 93-97,

100, 101, 128, 129.

sincret~ao, 94n.sintagmatica (Dei. 68), 44, 89,

106.sintaxe, 31, 63, 75, 87, 107.sintese (Dei. 7), 35.sistema (Dei. 28), 7, 8, 20, 29­

31, 34, 41, 42, 44, 45, 57, 60,61, 110, 131, 132.

sistema de signos, 49-52, 62,110, 114, 115.

sistema de simbolos (Dei. 97),118, 126n.

sociologia, 13O.solidariedade (Dei. 37), 29-31,

41, 45, 54, 106.som, 54, 55, 81, 130.soma (Def. 45), 89, 90.sonora, 32, 95.substancia (Dei. 52), 28, 29, 55,

57, 59, 79-83, 103, 104, 109­113, 128-129.

substancia da expressao, 55, 60­62.

substilncia do conteudo, 55, 57,61, 62~

substantivo, 29, 3On.substitui~ao (Dei. 62), 76, 100,

101. .sufixo de dervia.!tao, 31, 33/34,

49, 50.superposi!rao (Def. 49), 93-95.suspensao (Dei. 48), 93.Tarm, A., "115n.taxema (Dei. 94), 105, 106.tema, 33.tempo, 58, 59.teorema, 16, 26.teoria, 15, 16, 30.termo, 33, 39, 83, 85.terminologia, 123n., 127.texto (Dei. 90), 13, 19-21, 33-

35, 41, 42, 44, 45, 115.tipologia das llnguas, 132.Togeby, K., 82n.Trager, G. L., 72n., 82n.transcendencia, 2, 23, 123, 132/

133.transmissao, regra de, 47, SO.Trubetzkoy, N. S., 67 e n.Uldall, H. l., 5, 82n., 112n.Umlaut, 43.unidade (Dei. 74), 89, 103, 106,

107.universalidade (Def.. 32), 44,

85.use, 79-83, 112, 117, 123, 125.uso lingillstico (Dei. 92), 113.use semi6tico (Dei. 66), 113.

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1NDlCE GERAL 147

Vachek, J., 112n..valor, 116.variante (De£. 64), 65-78, 85­

87,. 128-130.variantes "condicionadas", 8S,

86.variantes "combinat6rias", 85.variantes ''1igadas'', 85.variantes "livres", 85.vari~ao (Def. 70), 8S-87, 128.vari~o localizada, 128.variavel (Def. 13), 40, 41.variedade (Def. 11), 85-87, 124.

variedade localizada (Def. 73) ,86.

varifone, 68.vemaculo, 122, 124.virtualidade (Def. 35), 44, 85.Vogal, 29, 3On., 32, 60, 67, 68,

76.vogal de liga~o, 74, 75.Vogt, H., 82n.Weisgerber, L., 53.Wiwel, H. G., 77n.Wright, G. H., von, 116n.Zwirner, E., 88, 111.Zwirner, K., 111.

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"A tradi~·quer que os fen6menos ·humaDOI,contrari.amente aos fen6menos da nat1lreza, sejamsingulares, indi'riduais, Dio podendo portanto DeDI &er

mbmetidos a metodos exatos, neDI ser generaJirados.":t contra eata tradi~o que Louis Hjelmslev - JingUistadinamarqub, fundador do Cfrculo Lingiifstico deCope:ohague -constr6i sua obta. A posi~o de·solit3rio continuador do pensamento de Ferdinand deSaussureJ fundador da~ e a consci.~ci11 daspossibilidades cientffic~ desse8 estud08J capacitaram.-noa explidtar as intui~ BaU5SUl'ianaa e lhes dar umaformula acabada. Em. Os Pt-oleg~s G tmIG TeOritJdtJ LingtM:lgem - escrito durante a ocup~ alemida Dinamarca - trabalhando COlD um siltema dedefini~ basicas .como fun~ signos e· figuraB,expressio e conte1idoJ sincretismo e cat;UiU; Hje1:msJevatinge um.a teoria da linguagem organiJadade talforma que e levado a reconhecer Dio apenai 0 seu!liarema lingiifstico em sua totaUdade e detalh~ mastambe:m 0 dominio do moo humano em seu conjunto.Lino fundamental da LingUistica ModernBt a qualapontou caminb08J e ta:mbem basico aos que tentamabordar as ci&1cias hum.an~ de forma a estabelecer·uma ~i$tema,tiza~o cientifica. .