hobbes leviatã

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THOMAS HOBBES DE MALMESBURY LEVIATÃ ou MATÉRIA, FORMA E PODER DE UM ESTADO ECLESIÁSTICO E CIVIL Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva ÍNDICE PRIMEIRA PARTE DO HOMEM Introdução CAP. I - Da sensação CAP. II - Da imaginação - Memória - Sonhos - Aparições ou visões - Entendimento . .15 C AP. III - Da conseqüência ou cadeia das imaginações - Cadeia dos pensamentos não orientados - Cadeia dos pensamentos regulados - Lembrança - Prudência - Sinais Conjetura do tempo passado CAP. IV - Da linguagem - Origem da linguagem - 0 uso da linguagem - Abusos da linguagem - Nomes próprios e comuns - Universais - Necessidade das definições - Objeto dos nomes - Uso dos nomes positivos - Nomes negativos e seus usos - Palavras insignificantes - Entendimento - Nomes inconstantes CAP. V - Da razão e da ciência - 0 que é a razão - Definição de razão - Onde está a reta razão - 0 uso da razão - Do erro e do absurdo - Causas do absurdo - Ciência Prudência e sapiência, e diferença entre ambas - Sinais da ciência CAP. VI - Da origem interna dos movimentos voluntários vulgarmente chamados paixões; e da linguagem que os exprime - Movimento vital e animal - 0 esforço - 0 apetite - 0 desejo - A fome - A sede - A aversão - 0 amor - 0 ódio - 0 desprezo - 0 bem - 0 mal - 0 pulchrum - 0 turpe - 0 delicioso - 0 proveitoso - 0 desagradável 0 inaproveitável - 0 deleite - 0 desprazer - 0 prazer - A ofensa - Os prazeres dos sentidos - Os prazeres do espírito - A alegria - A dor - A tristeza - A esperança - 0 desespero - 0 medo - A coragem - A cólera - A confiança - A desconfiança - A indignação - A

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O Leviatã de Thomas Hobbes

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  • 1. THOMAS HOBBES DE MALMESBURYLEVIATou MATRIA, FORMA E PODER DE UMESTADO ECLESISTICO E CIVIL Traduo de Joo Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da SilvaNDICEPRIMEIRA PARTE DO HOMEMIntroduoCAP. I - Da sensaoCAP. II - Da imaginao - Memria - Sonhos - Aparies ou vises - Entendimento . .15C AP. III - Da conseqncia ou cadeia das imaginaes - Cadeia dos pensamentos no orientados - Cadeiados pensamentos regulados - Lembrana - Prudncia - Sinais Conjetura do tempo passadoCAP. IV - Da linguagem - Origem da linguagem - 0 uso da linguagem - Abusos da linguagem - Nomesprprios e comuns - Universais - Necessidade das definies - Objeto dos nomes - Uso dos nomespositivos - Nomes negativos e seus usos - Palavras insignificantes - Entendimento - NomesinconstantesCAP. V - Da razo e da cincia - 0 que a razo - Definio de razo - Onde est a reta razo - 0 uso darazo - Do erro e do absurdo - Causas do absurdo - Cincia Prudncia e sapincia, e diferena entreambas - Sinais da cinciaCAP. VI - Da origem interna dos movimentos voluntrios vulgarmente chamados paixes; e da linguagemque os exprime - Movimento vital e animal - 0 esforo - 0 apetite - 0 desejo - A fome - A sede - Aaverso - 0 amor - 0 dio - 0 desprezo - 0 bem - 0 mal - 0 pulchrum - 0 turpe - 0 delicioso - 0proveitoso - 0 desagradvel 0 inaproveitvel - 0 deleite - 0 desprazer - 0 prazer - A ofensa - Osprazeres dos sentidos - Os prazeres do esprito - A alegria - A dor - A tristeza - A esperana - 0desespero - 0 medo - A coragem - A clera - A confiana - A desconfiana - A indignao - A

2. benevolncia - A bondade natural - A cobia - A ambio - A pusilanimidade A .magnanimidade - Avalentia - A liberalidade - A mesquinhez - A amabilidade - A concupiscncia natural - A luxria - Apaixo do amor - 0 cime -A vingana - A curiosidade - A religio - A superstio - A verdadeirareligio - 0 terror pnico - A admirao - A glorificao - A vanglria - 0 desalento - 0 entusiasmosbito - 0 riso - 0 desalento sbito - 0 choro - A vergonha - 0 rubor - A imprudncia - A piedade - Acrueldade - A emulao - A inveja - A deliberao - A vontade - As formas de linguagem na paixo - 0bem e o mal aparentes - A felicidade - 0 louvor - A exaltaoCAP. VII - Dos fins ou resolues do discurso- 0 juzo ou sentena final - A dvida A cincia - A opinio - Aconscincia - A crena - A fCAP. VIII - Das virtudes vulgarmente chamadas intelectuais, e dos defeitos contrrios a estas - Definio davirtude intelectual - 0 talento, natural ou adquirido - 0 talento natural - 0 bom .talento, ou imaginao -0 bom juzo - A discrio - A prudncia A habilidade - 0 talento adquirido - A leviandade - A loucura -A raiva - A melancolia - A linguagem insignificanteCAP, IX - Dos diferentes objetos do conhecimentoCAP. X - Do poder, valor, dignidade, honra e merecimento - 0 poder - 0 valor - A dignidade - Honrar edesonrar - Honroso - Desonroso - Os escudos - Os ttulos de honra - 0 merecimento - A aptidoCAP. XI - Das diferenas de costumes - 0 que aqui se entende por costumes -.Um Irrequieto desejo de poder,em todos os homens - 0 gosto pela disputa derivado do gosto pela competio - A obedincia civilderivada do gosto pelo copo farto - Derivado do medo da morte ou dos ferimentos - E do amor dosartes - 0 amor virtude derivado do amor lisoqja - 0 dio derivado da dificuldade de obter grandesbengilcios - E da conscincia de merecer ser odiado - A tendncia para ferir derivada do medo - E dadesconfiana no prprio talento - Os empreendimentos vos derivados da vanglria - A ambio derivada daopinio de suficincia - A irresoluo derivada do exagero da importncia das pequenas coisas - Aconfiana nos outros derivada da ignorncia dos sinais da sabedoria e da bondade - E da ignorncia dascausas naturais - E da falta de entendimento - A aceitao dos costumes derivada da ignorncia danatureza do bem e do mal - A aceitao dos indivduos derivada da Ignorncia das causas da paz - Acredulidade derivada da ignorncia da natureza - A curiosidade de saber derivada da preocupao como tempo futuro - A religio natural da mesmaCAP. XII - Da religio - A religio, s no homem - Primeiro, a partir de seu desejo de conhecer as causas - Apartir da considerao do Incio das coisas - A partir de sua observao das seqelas das coisas - Acausa natural da religio: a ansiedade quanto aos tempos vindouros - 0 que os faz temer o poder dascoisas invisveis - E sapo ias incorpreas - Mas sem conhecer a maneira como elas gretam algumacoisa Mas vener-las tal como veneram os homens - E atribuir-lhes toda espcie de acontecimentosextraordinrios - Quatro corsas, as sementes naturais da religio Tornadas diferentes pelo cultivo - Aabsurda opinio do gentilismo - Os desgnios dos autores da religio dos pagos - A verdadeirareligio, o mesmo que as leis do reino de Deus - As causas de mudana na religio - A imposio decrenas impossveis Agir contrariamente d religio que estabelecem - Falta de testemunhos dosmilagresCAP. XIII - Da condio natural da humanidade relativamente a sua felicidade e misria - Os homens iguaispor natureza - Da igualdade deriva a desconfiana - Da desconfiana, a geena - Fora dos estados civis,h sempre guerra de todos contra todos Os inconvenientes de uma tal geena - Numa tal guerra, nada injusto - As paixes que levam os homens a tender para a pazCAP. XIV - Da primeira e segunda leis naturais, e dos contratos - 0 que o direito de natureza - 0 que aLiberdade - 0 que uma lei de natureza - Diferena entre direito e !et - Naturalmente, todo homem temdireito a tudo - A lei fundamental de natureza - A segunda lei de natureza - 0 que abandonar umdireito - 0 que renunciar a um direito - 0 que transferir o direito - A obrigao - 0 dever - Ainjustia - todos os direitos so alienveis - 0 que um contrato - 0 que um pacto - A doao - Sinaisexpressos de contrato - Sinais de contrato por referncia - A doao feita atravs de palavras dopresente ou do passado - Os sinais do contrato so palavras tanto do passado e do presente como dofuturo - 0 que o mrito - Os pactos de confiana mtua: quando so invlidos - 0 direito aos finscontm o direito aos meios - No h pactos com os animais - Nem com Deus sem revelao especial -S6 h pacto a respeito do possvel e do futuro - Como os pactos se tornam nulos - Os pactosextorquidos pelo medo so vlidos - 0 pacto anterior torna nulo o pacto posterior feito com outros - 0pacto no sentido de algum no se defender nulo - Ningum pode ser obrigado a acusar-se a stmesmo - A finalidade do juramento - A forma do juramento - S a Deus se faz juramento - Ojuramento nada acrescenta obrigao 3. CAP. XV - De outras leis de natureza - A terceira lei de natureza: a justia - 0 que so a justia e a injustia -A justia e a propriedade tm incio com a constituio do Estado - A justia no contrria razo -Os pactos no so anulados pelo vcio da pessoa com quem so celebrados - 0 que a justia doshomens, e a justia das aes - A justia dos costumes e a justia das aes - 0 que feito a algumcom seu prprio consentimento no injria - A justia comutativa e a distributiva - A quarta lei denatureza: a gratido - A quinta: a acomodao mtua, ou complacncia - A sexta: facilidade emperdoar - A stima: que nas vinganas se considere apenas o bem futuro - A oitava, contra a insolncia- A nona, contra o orgulho - A dcima, contra a arrogncia - A dcima primeira: a eqidade - A dcimasegunda: uso igual das corsas comuns - A dcima terceira: da diviso - A dcima quarta: da primogenitura e da primeira posse - A dcima quinta: dos mediadores - A dcima sexta: da submisso arbitragem - A dcima stima: ningum pode ser seu prprio juiz - A dcima oitava: ningum pode serjuiz quando tem alguma causa natural de parcialidade - A dcima nona: do testemunho - Uma regraatravs da qual fcil examinar as leis de natureza - As leis de natureza so sempre obrigatrias emconscincia, mas s o so com efeito quando h segurana - As leis de natureza so eternas, mas soacessveis - A cincia destas leis a verdadeira filosofo ia moralCAP. XVI - Das pessoas, autores e coisas personificadas - 0 que uma pessoa - Pessoa natural e artificial -De onde vem a palavra pessoa - Ator, autor, autoridade - Os pactos por autoridade obrigam o autor -Mas no o ator - A autoridade deve ser mostrada - As coisas personificadas, inanimadas - Irracionais;falsos deuses; o verdadeiro Deus - Como uma multido de homem uma pessoa - Cada um autor -Um ator podem ser muitos homens feitos um s por pluralidade de votos - Os representantes soimprofcuos quando em nmero par - 0 voto negativo SEGUNDA PARTE DO ESTADOCAP. XVII - Das causas, gerao e definio de um Estado - Da finalidade do Estado, a segurana pessoal;que no pode vir da lei de natureza; nem da conjuno de uns poucos homens ou famlias; nem de umagrande multido, se no for dirigida por um s6 julgamento; e assim sucessivamente - Por que certascriaturas destitudas de razo apesar disso vivem em sociedade, sem qualquer poder coercitivo - Agerao de um Estado - A definio de um Estado - 0 que so o soberano e o sditoCAP. XVIII - Dos direitos dos soberanos por instituio - 0 que o ato de instituio de um Estado - Asconseqncias dessa instituio: 1. Os sditos no podem mudar a forma de governo - 7. 0 soberanono pode ser privado de seu poder - 3, Ningum pode sem injustia protestar contra a instituio dosoberano declarada pela maioria - 4, As aes do soberano no podem ser justamente acusadas pelosdito - S, Nada do que o soberano faz pode ser punido pelo sdito - 6. 0 soberano o juiz de tudo 0que necessrio para a paz e a defesa de seus sditos - E julga quais as doutrinas prprias para lhesserem ensinadas - 7. 0 direito de elaborar regras pelas quais cada sdito possa saber o que seu, e quenenhum outro sdito pode sem injustia lhe tirar - 8. Tambm a ele pertence o direito de todajudicatura e deciso de controvrsias 9. E de fazer a guerra e a paz, da maneira que melhor lhe parecer-10.E de escolher todos os conselheiros e ministros, tanto na paz como na geena -11.E de recompensare castigar, e (quando nenhuma lei anterior for estabelecido uma medida) o arbitrrio -12,E o da honra eordem - Estes direitos so indivisveis - E por nenhuma outorga podem ser transferidos sem diretarenncia do poder soberano - 0 poder e honra dos sditos se desvanecem na presena do soberanopoder - 0 poder soberano menos prejudicial do que sua ausncia, e o prejuzo deriva em sua maiorparte da falta de uma pronta submisso a um prejuzo menorCAP. XIX - Das diversas espcies de governo por instituio, e da sucesso do poder soberano - As diferentesformas de governo so apenas trs - Tirania e oligarquia no passam de nomes diferentes da monarquiae da aristocracia - Os perigos dos representantes subordinados - Comparao da monarquia com asassemblias soberanas - Do direito de sucesso - 0 monarca atual tem o direito de decidir a sucesso -A sucesso realizada mediante palavras expressas ou pela ausncia de controle de um costume; ou pelasuposio de uma afeio natural - Decidir da sucesso, mesmo em favor do rei de outra nao, no ilegtimoCAP. XX - Do domnio paterno e desptico - 0 Estado por aquisio - Em que difere do Estado por instituio- Os direitos da soberania so em ambos os mesmos Como se chega ao domnio paterno - No porgerao, mas por contrato; ou educao; ou anterior sujeio de um dos pais ao outro - 0 direito desucesso segue-se das regras da posse - Como se chega ao domnio desptico - No pela vitria, mas 4. pelo consentimento dos vencidos - Diferena entre uma famlia e um reino - Os direitos da monarquiatirados das Escrituras - Em todos os Estados o poder soberano deve ser absolutoCAP. XXI - Da liberdade dos sditos - 0 que a liberdade - 0 que ser livre - 0 medo e a liberdade socompatveis - A liberdade e a necessidade so compatveis - Os laos artificiais, ou convenes - Aliberdade dos sditos consiste na liberdade em relao s convenes - A liberdade do sdito compatvel com o poder ilimitado do soberano - A liberdade louvada plos autores a liberdade dossoberanos, no a dos particulares - Como medir-se a liberdade dos sditos - Os sditos tm a liberdadede defender seus prprios corpos, mesmo contra aqueles que legitimamente os atacam; no podem serobrigados a prejudicar-se a si mesmos; no podem ser obrigados a fazer a guerra, a no ser quevoluntariamente o aceitem - A maior liberdade dos sditos depende do silncio da lei - Em que casosos sditos esto dispensados da obedincia a seu soberano - Em caso de cativeiro - Caso o soberanorenuncie ao governo, para si prprio e seus herdeiros - Em caso de banimento - Caso o soberano setorne sdito de um outroCAP. XXII - Dos sistemas sujeitos, polticos e privados - Os diversos tipos de sistemas de pessoas - Em todosos corpos polticos o poder do representante limitado - Por cartas de patente, e pelas leis - Quando orepresentante um s homem, seus atos no autorizados so apenas seus - Quando uma assemblia, apenas o ato dos que assentiram - Quando o representante um s homem, se tiver dinheiroemprestado ou uma dvida, por contrato, s ele vinculado, no os membros - Quando umaassemblia, s so vinculados os que assentiram - Se o credor pertencer assemblia, s o corpo ficasubmetido obrigao - 0 protesto contra os decretos dos corpos polticos por vezes legtimo, masnunca o contra o poder soberano - Os corpos polticos para governo de uma provncia, colnia oucidade - Os corpos polticos para a regulao do comrcio - Um corpo poltico para conselho a serdado ao soberano - Um corpo privado regular, legtimo, como uma famlia - Corpos privadosregulares mas ilegtimos - Sistemas irregulares, tais como as ligas privadas - Faces relativas aogovernoCAP. XXIII - Dos ministros pblicos do poder soberano - Quem ministro pblico Ministros paraadministrao geral - Para administrao especial, como para a economia - Para a instruo do povo -Para a administrao da justia - Para a execuo - Os conselheiros cuja nica funo de assessoriano so ministros pblicosCAP. XXIV - Da nutrio e procriao de um Estado - 0 alimento de um Estado consiste nos bens do mar eda terra, e em sua correta distribuio - Toda propriedade privada da terra deriva originariamente dadistribuio arbitrria pelo soberano - A propriedade de um sdito no exclui o domnio do soberano,mas apenas o dos outros sditos - 0 poder pblico no deve ter uma propriedade delimitada - Oslugares e objetos do comrcio exterior dependem, quanto sua distribuio, do soberano - As leis detransferncia da propriedade tambm competem ao soberano - 0 dinheiro o sangue do Estado - Aconduta e regulao do dinheiro para uso pblico - As colnias so os filhos do EstadoCAP. XXV - Do conselho - 0 que o conselho - Diferenas entre ordem e conselho 0 que so a exortao e adissuaso - Diferenas entre conselheiros adequados e inadequadosCAP. XXVI - Das leis civis - 0 que a lei civil - 0 soberano legislador - E no est sujeito lei civil - 0costume lei, no em virtude do tempo, mas do consentimento do soberano - A lei de natureza e a leicivil incluem-se reciprocamente - As leis provinciais no so feitas plos costumes, mas pelo podersoberano - Algumas insensatas opinies dos juristas relativamente feitura das leis - Sir Edward CokeSobre Littleton Liv.2, Cap. 6, Fl. 97 b - A lei que feita sem ser tornada conhecida no lei - Todas asleis no escritas so leis de natureza - No h lei quando o legislador no pode ser conhecido -Diferena entre verificar e autorizar - A lei verificada pelo . juiz subordinado - Plos registros pblicos- Por cartas patentes e selo pblico - A interpretao da lei depende do poder soberano - Todas as leisprecisam de interpretao - A autntica interpretao da lei no a dos autores - 0 intrprete da lei ojuiz dando sentena viva voc em cada caso particular - A sentena de um juiz no 0 obriga, nem aoutro juiz, a dar sentena idntica em todos os casos futuros - A diferena entre a letra e a sentena dalei - As aptides necessrias num juiz - Divises da lei - Outra diviso da lei - Como a lei positivadivina conhecida como lei - Outra diviso das leis - 0 que uma lei fundamental - Diferena entre leie direito; e entre urna lei e uma cartaCAP. XXVII - Dos crimes, desculpas e atenuantes - 0 que o pecado - 0 que um crime - Onde no h leicivil no h crime - A ignorncia da lei civil s vezes constitui desculpa - A ignorncia do soberanono constitui desculpa - A ignorncia da pena no constitui desculpa - As punies declaradas antes dofato constituem desculpa para maiores punies depois dele - Nada pode ser tornado crime por uma lei 5. feita depois do fato - Os falsos princpios do bem e do mal como causas do crime - Falsos mestresinterpretando erradamente a lei de natureza, e falsas inferncias feitas plos mestres a partir deprincpios verdadeiros - Por suas paixes, presuno de riqueza, e amigos; sabedoria - dio,concupiscncia, ambio, cobia, como causas do crime 0 medo s vezes causa do crime, como porexemplo quando o perigo no presente bem corpreo - Nem todos os crimes so iguais - Desculpastotais - Desculpas contra o autor - A presuno de poder constitui uma agravante - Os maus mestresconstituem uma atenuante - Os exemplos de impunidade so atenuantes - A premeditao umaagravante - A aprovao tcita do soberano urna atenuante - Comparao dos crimes por seus efeitos- Lesa-majestade - Suborno e falso testemunho - Fraude Contrafao da autoridade - Comparao doscrimes contra os particulares - 0 que so os crimes pblicosC AP. XXVIII - Das penas e das recompensas - Definio depena - De onde deriva o direito de punir - Asinjrias privadas e vinganas no so penas; nem a negao de preferncias; nem a pena infligida semaudincia pblica; nem a pena infligida pelo poder usurpado; nem a pena infligida sem respeito pelobem futuro - As ms e consequencias naturais no so penas - 0 dano infligido, se for menor que obeneficio resultante da transgresso, no pena - Quando a pena est includa na lei, um dano maiorno pena, e sim hostilidade - 0 dano infligido por um fato anterior lei no pena - 0 representantedo Estado no pode ser punido - 0 dano infligido a sditos revoltados o por direito de guerra, no naqualidade de pena - Penas corporais Capitais - Ignomnia - Priso - Exlio - A punio de sditosinocentes contrria lei de natureza - Mas o dano infligido durante a guerra a inocentes no o ; nemaquele que infligido por rebeldes declarados - A recompensa pode ser salrio ou graa Os benefciosconcedidos por medo no so recompensas - Salrios fixos e ocasionaisCAP. XXIX - Das coisas que enfraquecem, ou levam dissoluo de um Estado - A dissoluo dos Estadosderiva de sua instituio imperfeita - Falta de poder absoluto - Julgamento privado do bem e do mal -Conscincia errnea - Pretenso inspirao - Sujeio do poder soberano s leis civis - Atribuio depropriedade absoluta aos sditos - Diviso do poder soberano - Imitao das naes vizinhas -Imitao dos gregos e dos romanos - Governo misto - Falta de dinheiro - Monoplios e abusos dospublicanos - Homens populares - Excessivo tamanho de uma cidade, multiplicao das corporaes -Liberdade de disputar contra o poder soberano Dissoluo do EstadoCAP. XXX - Do cargo do soberano representante - Procurar conseguir o bem do povo - Pela instruo e pelasleis - Contra o dever do soberano renunciar a qualquer direito essencial da soberania; ou no fazer quese ensinem ao povo seus fundamentos - Objeo dos que dizem que no h princpios de razo para asoberania absoluta - Objeo baseada na incapacidade do vulgo - Os sditos devem ser ensinados, eno afetar as mudanas de governo; nem prestar adeso (contra o soberano) a homens populares, nemdisputar contra o poder soberano; devem ter dias destinados aprendizagem de seu dever, e honrarseus pais - E evitar a prtica de injrias, e fazer tudo sinceramente e de corao - 0 uso dasUniversidades - Igualdade dos impostos - Caridade pblica - Preveno da ociosidade - 0 que so asboas leis - As que so necessrias - As que so evidentes - Penas - Recompensas - Conselheiros -ComandosMilitaresCAP. XXXI - Do Reino de Deus por natureza - Objetivo dos captulos seguintes - Quem so os sditos doReino de Deus - Uma tripla palavra de Deus: razo, revelao e profecia - Um duplo Reino de Deus:natural e proftico - 0 direito de soberania de Deus derivado de sua onipotncia - 0 pecado no acausa de toda aflio -.As leis divinas - 0 que so a honra e a venerao - Diversos sinais de honra Adorao natural e arbitrria - Adorao ordenada e livre - Adorao pblica e privada Finalidade daadorao - Atributos da honra divina - Aes que so sinais da honra divina - A adorao pblicaconsiste na uniformidade - Todos os atributos dependem das leis civis - Nem todas as aes - Puniesnaturais - Concluso da segunda parte TERCEIRA PARTEDO ESTADO CRISTOCAP. XXXII - Dos princpios da poltica crist - A palavra de Deus, transmitida plos Profetas, o princpiomais importante da poltica crist - Mas no deve renunciar-se razo natural - 0 que cativar oentendimento - Como Deus fala aos homens Atravs de que sinais so conhecidos os profetas - Os 6. sinais de um profeta na antiga lei so os milagres e a doutrina conforme lei - Cessando os milagres,cessam tambm os profetas, e as Escrituras tomam seu lugarCAP. XXXIII - Do nmero, antiguidade, alcance, autoridade e intrpretes dos livros das Sagradas Escrituras -Dos livros das Sagradas Escrituras - Sua antiguidade - 0 Pentateuco no foi escrito por Moiss - 0 livrode Josu foi escrito depois de seu tempo - Os livros dos Juzes e de Rute foram escritos muito depoisdo cativeiro - 0 mesmo ocorreu com os livros de Samuel - Os livros dos Reis, e as Crnicas - Esdras eNeemias - Ester - J - Os Salmos - Os provrbios - 0 Eclesiastes e os Cnticos - Os Profetas - 0 NovoTestamento - Formulao do problema da autoridade das Escrituras - Sua autoridade e interpretaoCAP. XXXIV - Do significado de esprito, anjo e inspirao nos livros das Sagradas Escrituras - 0 sentido decorpo e esprito nas Escrituras - 0 Esprito de Deus tear nas Escrituras s vezes o sentido de um vento,um hlito - Em segundo lugar, o de extraordinrios dons de entendimento - Em terceiro lugar, o deextraordinrios sentimentos - Em quarto lugar, o de dons de predio por intermdio de sonhos evises Em quinto lugar, o de vida - Em sexto lugar, o de subordinao autoridade - Em stimo lugar,o de corpos areos - 0 que um anjo - 0 que a inspiraoCAP, XXXV - Do significado de Reino de Deus, Santo, Sagrado e Sacramento nas Escrituras - 0 Reino deDeus entendido plos religiosos em sentido metafsico e pelas Escrituras em sentido prprio - Aorigem do Reino de Deus - Que o Reino de Deus propriamente sua soberania civil sobre umdeterminado povo mediante um pacto 0 que Santo - 0 que Sagrado - Graus de santidade SacramentoCAP. XXXVI - Da palavra de Deus e dos Profetas - 0 que palavra - Tanto as pala uras proferidas por Deusquanto as palavras relativas a Deus so chamadas palavras de Deus nas Escrituras - A palavra de Deusfoi usada metaforicamente, em primeiro lugar, para significar os decretos e o poder de Deus - Emsegundo lugar, para significar os efeitos de sua palavra - Em terceiro lugar, para significar as palavrasde razo e eqidade - Diversas acepes da palavra profeta - A predio de eventos futuros nemsempre profecia - A maneira como Deus falou aos profetas - Aos profetas extraordinrios do AntigoTestamento falou atravs de sonhos e vises - Aos profetas de vocao perptua e supremos Deusfalou no Antigo Testamento desde a sede de sua clemncia, de uma maneira no indicada nasEscrituras - Aos profetas de vocao perptua, mas subalternos, Deus falou atravs do Esprito - Porvezes Deus falou atravs de sortes - Todo homem deve examinar a probabilidade de uma pretensavocao de profeta - Toda profecia, a no ser a do Soberano Profeta, deve ser examinada por todosditoCAP. XXXVII - Dos milagres e seu uso - Um milagre uma obra que causa admirao - E deve portanto serrara, e no ter causa conhecida - 0 que a um homem parece um milagre, pode a outro no parec-lo - Afinalidade dos milagres - Definio de ummilagre - Que os homens tendem a deixar-se enganar porfalsos milagres Cuidados contra a impostura dos milagresCAP. XXXVIII - Do significado da Vida Eterna, Inferno, Salvao, Mundo Vindouro e RedenonasEscrituras - 0 lugar da eternidade de Ado, se no tivesse pecado, teria sido o Paraso Terrestre -Textos respeitantes ao lugar da vida eterna, para os crentes - Ascenso ao cu - Lugar que ocuparo,depois do julgamento, os que nunca pertenceram ao Reino de Deus, ou que lhe pertenceram e foramexpulsos - 0 Trtaro - A congregao dos gigantes - 0 lago do fogo - As trevas absolutas - Gehena eTophet - Do sentido literal das Escrituras a respeito do inferno - Satans e Diabo no so propriamentenomes, mas apelativos - Tormentos do inferno - As alegrias da vida eterna e a salvao so a mesmacoisa - A salvao do pecado e da misria so uma s - 0 lugar da salvao eterna - A redenoCAP. XXXIX - Do significado da palavra Igreja nas Escrituras - Igreja, casa do Senhor - 0 que propriamente Ecclesia - Em que sentido a Igreja uma pessoa - Definio de Igreja - Estado Cristo eIgreja so uma coisa sCAP . XL - Dos direitos do Reino de Deus em Abrao, Moiss, nos Sumos Sacerdotes e nos Reis de Jud - Osdireitos soberanos de Abrao - Abrao tinha o poder exclusivo para ordenar a religio de seu prpriopovo - Nenhuma pretenso de esprito privado contra a religio de Abrao - Abrao nico juiz eintrprete do que Deus manifestou - Em que assentava a autoridade de Moiss - Moiss foi (abaixo deDeus) soberano dos judeus, durante toda a vida, embora Aaro exercesse o sacerdcio - Todos osespritos estavam subordinados ao esprito de Moiss - Depois de Moiss, a soberania pertence aoSumo Sacerdote - Do poder soberano entre a poca de Josu e a de Saul - Dos direitos dos reis deIsrael - A prtica da supremacia na religio no existia na poca dos reis, segundo o direito mesa -Depois do cativeiro, os judeus no tiveram um Estado estabelecido 7. CAP. XLI - Da misso do Nosso Abenoado Salvador - As trs partes da misso de Cristo - Sua missocomo redentor - 0 Reino de Cristo no deste mundo - A finalidade da vinda de Cristo era renovar opacto do Reino de Deus, e persuadir os eleitos a abra-lo, o que constitua a segunda parte de suamisso - A pregao de Cristo no era contrria lei dos judeus nem de Csar - A terceira parte desua misso era ser rei (abaixo de seu Pai) dos eleitos - A autoridade de Cristo no Reino de Deus subordinada de seu Pai - Um e mesmo Deus a pessoa representada por Moiss e por CristoCAP. XLII - Do poder eclesistico - Do Esprito Santo que desceu sobre os apstolos - Da Trindade - 0 podereclesistico apenas o poder de ensinar - Um argumento em favor disto o poder do prprio Cristo:do nome de regenerao; de sua comparao com a pesca, a levedura e a semeadura - Da natureza daf; da autoridade que Cristo conferiu aos prncipes civis - 0 que os cristos podem fazer para evitar aperseguio - Dos mrtires - Argumento baseado nos pontos de sua misso - Da pregao - E doensino - Batizar; e perdoar e reter os pecados - Da excomunho - 0 uso da excomunho sem poder civilno tem efeito algum sobre um apstata - Mas apenas sobre os fiis - Quais asfaltas que incorrem emexcomunho - Das pessoas sujeitas a excomunho - Do intrprete das Escrituras antes de os soberanoscivis se tornarem cristos - Do poder de transformar as Escrituras em lei - Dos dez Mandamentos - Dalei judicial e da lei levtica - A segunda lei - Quando o Antigo Testamento se tornou cannico - 0 NovoTestamento comeou a ser cannico com os soberanos cristos Do poder dos Conclios paratransformar as Escrituras em lei - Do direito de instituir funcionrios eclesisticos no tempo dosapstolos - Matias institudo como apstolo pela congregao - Paulo e Barnab institudos comoapstolos pela congregao - Paulo e Barnab institudos como apstolos pela igreja de Antioquia -Quais os cargos da Igreja que so magisteriais - Ordenao de mestres - Que so os ministros daIgreja; e como so escolhidos - Dos rendimentos eclesisticos, sob a lei de Moiss - Na poca de nossoSalvador, e depois - Os ministros do Evangelho viviam da benevolncia de seus rebanhos - Que osoberano civil, sendo cristo, tem o direito de designar pastores - Somente a autoridade pastoral dossoberanos de jure divina, e a dos outros pastores jure civili - Os reis cristos tm poder paradesempenhar toda espcie de funes pastorais - Se o soberano civil for cristo, ser cabea da Igrejaem seus prprios domnios - Exame do livro De Summo Pontfice do cardeal Belarmino - 0 primeirolivro - 0 segundo livro - 0 terceiro livro - 0 quarto livro - Os textos sobre a infalibilidade dos juzos dosPapas em pontos de f - Textos sobre o mesmo em matria de costumes - 0 problema da superioridadeentre o Papa e outros bispos - Do poder temporal dos PapasCAP. XLIII - Do que necessrio para algum entrar no Reino dos Cus - A dificuldade de obedecer aomesmo tempo a Deus e ao homem no nada para quem distingue entre o que e o que no necessrio para a salvao - Tudo o que necessrio para a salvao est contido na f e na obedincia- Que obedincia necessria, e a que leis - Naf do cristo, qual a pessoa em que se acredita - Ascausas da f crist - A f adquire-se ouvindo - D nico artigo necessrio da f crist; provado plospropsitos dos evangelistas; plos sermes dos apstolos; pela facilidade da doutrina; por textosformais e claros - Pelo falo de ser o fundamento de todos os outros artigos - Em que sentido outrosartigos podem ser considerados necessrios - Que tanto a f como a obedincia so necessrias para asalvao - Com que cada uma delas contribui para tal - A obedincia a Deus e ao soberano civil noso incompatveis, quer seja cristo quer seja infiel QUARTA PARTEDO REINO DAS TREVASCAP. XLIV - Das trevas espirituais resultantes da m interpretao das Escrituras - 0 que o reino das trevas- A Igreja ainda no est totalmente livre das trevas - Quatro causas das trevas espirituais - Errosderivados de m interpretao das Escrituras, relativamente ao Reino de Deus - Como que o Reino deDeus a atual Igreja; e que o Papa seu vigrio geral; e que os pastores so seu clero - Erros derivadosda confuso entre consagrao e conjurao - Encantamento nas cerimnias de batismo - E nocasamento, na visitao dos doentes, e na consagrao de lugares - Erros derivados da confuso entrevida eterna e morte para sempre; como a doutrina do purgatrio, e os exorcismos, e a invocao dossantos - Os textos apresentados em apoio das doutrinas acima referidas j tinham sido refutados -Rplica ao texto em que Beza se apoia para inferir que o Reino de Cristo comeou com a ressurreio -Explicao da passagem em Marcos 9 - Abuso de alguns outros textos em defesa do poder do Papa - 0ritual da consagrao, nas Escrituras, no inclua exorcismos - As Escrituras no provam que a 8. imortalidade da alma humana seja da natureza, e sim da graa - 0 que so os tormentos eternos -Rplica aos textos apresentados como prova do purgatrio - Rplica s passagens do Novo Testamentoapresentadas como prova do purgatrio Como deve ser entendido o batismo dos mortosCAP. XLV - Da demonologia e outros vestgios da religio dos gentios - A origem da demonologia - 0 queeram os demnios dos antigos - Como se espalhou essa doutrina - At que ponto foi aceite plosjudeus - Por que nosso Salvador no a controlou - As Escrituras no ensinam que os espritos sejamincorpreos - 0 poder de expulsar os demnios no o mesma que era na Igreja primitiva - Outrovestgio do gentilismo, a adorao das imagens, foi deixada na Igreja, no implantada nela - Rplica acertos textos que parecem justificar as imagens - 0 que o culto - Distino entre culto divino e cultocivil - D que uma imagem - Fantasmas - Fices - Imagens materiais - 0 que a idolatria -Escandalosa adorao das imagens - Rplica ao argumento dos querubins e da serpente de bronze - Apintura de seres fantsticos no idolatria, mas -o seu abuso no culto religioso - Como a idolatria foideixada na Igreja - Canonizao dos santos - 0 nome de Pontifex - Procisso de imagens - Velas deceias e tochas acesasCAP. XLVI - Das trevas resultantes de v filosofia e das tradies fabulosas - 0 que filosofia - A prudnciano faz parte da filosofia - Nenhuma doutrina falsa faz parte da filosofia; nem tampouco a revelaosobrenatural; nem o saber adquirido pela aceitao dos autores - Dos incios e progresso da filosofia -Das escolas de filosofia entre os atenienses - Das escolas dos judeus - As escolas dos gregos soimprofcuas - As escolas dos judeus so improfcuas - 0 que a Universidade - Erros introduzidos nareligio pela metafsica de Aristteles - Erros relativos s essncias abstratas Nunc stans - Um corpoem diversos lugares, e diversos corpos em um s6 lugar ao mesmo tempo - Absurdos da filosofianatural, como a gravidade tomada como causa do peso - A quantidade posta no corpo j feito - Infusodas almas - Ubiqidade de apario - A vontade como causa do querer - A ignorncia uma causaoculta - Uma faz coisas incongruentes, e outra a incongruncia - 0 apetite pessoal a regra do bempblico; e de que o matrimnio legtimo seja falta de castidade, e todo governo fora o popular sejatirania; que o governo no seja de homens, mas das leis - Leis acima da conscincia - Interpretaespessoais da lei - A linguagem dos clrigos das Escolas - Erros derivados da tradio - Supresso darazoCAP. XLVII - Do beneficio resultante de tais trevas, e a quem aproveita - Aquele que recebeu o beneficio deum fato deve ser considerado seu autor- Que a Igreja militante o Reino de Deus, como primeiramentefoi ensinado pela Igreja de Roma - E conservado tambm pelo presbitrio - Infalibilidade - Sujeioaos bispos - Isenes do clero - Os nomes de sacerdotes e sacrifcios - 0 sacramento do matrimnio - 0celibato sacerdotal - A confisso auricular - A canonizao dos Santos e a declarao dos mrtires -Transubstanciao, penitncia, absolvio - Purgatrio, indulgncias, obras externas - Demonologia eexorcismo - A teologia das Escolas - Quem so os autores das trevas espirituais - Comparao doPapado com o reino das fadasReviso e ConclusoAO MEU MUI ESTIMADO AMIGOSr. francis GodolphinDe Godolphin Estimado Senhor, Aprouve a vosso mui merecedor irmo, Sr. Sidney Godolphin, quando era ainda vivo, considerardignos de ateno a meus estudos, e alm disso privilegiar-me, conforme sabeis, com testemunhos efetivos desua boa opinio, testemunhos que em si mesmos j eram grandes, e maiores eram ainda dado o merecimentode sua pessoa. Pois de todas as virtudes que a homem dado ter, seja a servio de Deus, seja a servio de seupas, da sociedade civil, ou da amizade particular, nenhuma deixava de manifestamente se revelar em suaconversao, no que fossem adquiridas por necessidade ou constitussem uma afetao de momento, masporque lhe eram inerentes, e rebrilhavam na generosa constituio de sua natureza. portanto em sinal dehonra e gratido para com ele, e de devoo para convosco, que humildemente vos dedico este meu discursosobre o Estado. Ignoro como o mundo ir receb-lo, ou como poder refletir-se naqueles que parecem ser-lhefavorveis. Pois apertado entre aqueles que de um lado se batem por uma excessiva liberdade, e do outro por 9. uma excessiva autoridade, difcil passar sem ferimento por entre as lanas de ambos os lados. No entanto,creio que o esforo para aprimorar o poder civil no dever ser pelo poder civil condenado, nem podesupor-se que os particulares, ao repreend-lo, declarem julgar demasiado grande esse poder. Alm do mais,no dos homens no poder que falo, e sim (em abstrato) da sede do poder (tal como aquelas simples eimparciais criaturas no Capitlio de Roma, que com seu rudo defendiam os que l dentro estavam, noporque fossem quem eram, mas apenas porque l se encontravam), sem ofender ningum, creio, a no ser osde fora, ou os de dentro (se de tal espcie os houver) que lhes sejam favorveis. O que talvez possa sertomado como ofensa so certos textos das Sagradas Escrituras, por mim usados com uma finalidade diferenteda que geralmente por outros visada. Mas fi-lo com a devida submis so, e tambm, dado meu assunto,porque tal era necessrio. Pois eles so as fortificaes avanadas do inimigo, de onde este ameaa o podercivil. E se apesar disto verificardes que meu trabalho atacado por todos, talvez vos apraza desculpar-me,dizendo que sou um homem que ama suas prprias opinies, que acredito em tudo o que digo, que honreivosso irmo, como vos honro a vs, e nisso me apoiei para assumir o ttulo (sem vosso conhecimento) de ser,como sou,Senhor,Vosso mui humilde emui obediente servidor THO. HOBBES Paris, 15/25 de abril de 1651.Introduo Do mesmo modo que tantas outras coisas, a natureza (a arte mediante a qual Deus fez e governa omundo) imitada pela arte dos homens tambm nisto: que lhe possvel fazer um animal artificial. Poisvendo que a vida no mais do que um movimento dos membros, cujo incio ocorre em alguma parteprincipal interna, por que no poderamos dizer que todos os autmatos (mquinas que se movem a si mesmaspor meio de molas, tal como um relgio) possuem uma vida artificial? Pois o que o coraro, seno umamola; e os nervos, seno outras tantas cordas; e as juntas, seno outras tantas rodas, imprimindo movimentoao corpo inteiro, tal como foi projetado pelo Artfice? E a arte vai mais longe ainda, imitando aquela criaturaracional, a mais excelente obra da natureza, o Homem. Porque pela arte criado aquele grande Leviat a quese chama Estado, ou Cidade (em latim Civitas), que no seno um homem artificial, embora de maiorestatura e fora do que o homem natural, para cuja proteo e defesa foi projetado. E no qual a soberania uma alma artificial, pois d vida e movimento ao corpo inteiro; os magistrados e outros funcionrios judiciaisou executivos, juntas artificiais; a recompensa e o castigo (plos quais, ligados ao trono da soberania, todas asjuntas e membros so levados a cumprir seu dever) so os nervos, que fazem o mesmo no corpo natural; ariqueza e prosperidade de todos os membros individuais so a fora; Salus Populi (a segurana do povo) seuobjetivo; os conselheiros, atravs dos quais todas as coisas que necessita saber lhe so sugeridas, so amemria; a justia e as leis, uma razo e uma vontade artificiais; a concrdia a sade; a sedio a doena;e a guerra civil a morte. Por ltimo, os pactos e convenes mediante os quais as partes deste Corpo Polticoforam criadas, reunidas e unificadas assemelham-se quele Fiat, ao Faamos o homem proferido por Deus naCriao.Para descrever a natureza deste homem artificial, examinarei: Primeiro, sua matria, e seu artfice; ambos os quais so o homem. Segundo, como, e atravs de que convenes feito; quais so os direitos e o justo poder ou autoridadede um soberano; e o que o preserva e o desagrega. Terceiro, o que um Estado Cristo. Quarto, o que o Reino das Trevas. 10. Relativamente ao primeiro aspecto, h um ditado que ultimamente tem sido muito usado: que asabedoria no se adquire pela leitura dos livros, mas do homem. Em conseqncia do que aquelas pessoas queregra geral so incapazes de apresentar outras provas de sua sabedoria, comprazem-se em mostrar o quepensam ter lido nos homens, atravs de impiedosas censuras que fazem umas s outras, por trs das costas.Mas h um outro ditado que ultimamente no tem sido compreendido, graas ao qual os homens poderiamrealmente aprender a ler-se uns aos outros, se se dessem ao trabalho de faz-lo: isto , Nosce te ipsum, L-te ati mesmo. O que no pretendia ter sentido, atualmente habitual, de pr cobro brbara conduta dos detentoresdo poder para com seus inferiores, ou de levar homens de baixa estirpe a um comportamento insolente paracom seus superiores. Pretendia ensinar-nos que, a partir da semelhana entre os pensamentos e paixes dosdiferentes homens, quem quer que olhe para dentro de si mesmo, e examine o que faz quando pensa, opina,raciocina, espera, receia, etc., e por que motivos o faz, poder por esse meio ler e conhecer quais so ospensamentos e paixes de todos os outros homens, em circunstncias idnticas. Refiro-me semelhana daspaixes, que so as mesmas em todos os homens, desejo, medo, esperana, etc., e no semelhana dosobjetos das paixes, que so as coisas desejadas, temidas, esperadas, etc. Quanto a estas ltimas, aconstituio individual e a educao de cada um so to variveis, e so to fceis de ocultar a nossoconhecimento, que os caracteres do corao humano, emaranhados e confusos como so, devido dissimulao, mentira, ao fingimento e s doutrinas errneas, s se tornam legveis para quem investiga oscoraes. E, embora por vezes descubramos os desgnios dos homens atravs de suas aes, tentar faz-lo semcompar-las com as nossas, distinguindo todas as circunstncias capazes de alterar o caso, o mesmo quedecifrar sem ter uma chave, e deixar-se as mais das vezes enganar, quer por excesso de confiana ou porexcesso de desconfiana, conforme aquele que l seja um bom ou um mau homem.Mas mesmo que um homem seja capaz de ler perfeitamente um outro atravs de suas aes, issoservir-lhe- apenas com seus conhecidos, que so muito poucos. Aquele que vai governar uma nao inteiradeve ler, em si mesmo, no este ou aquele indivduo em particular, mas o gnero humano. O que coisadifcil, mais ainda do que aprender qualquer lngua ou qualquer cincia, mas ainda assim, depois de eu terexposto claramente e de maneira ordenada minha prpria leitura, o trabalho que a outros caber ser apenasverificar se no encontram o mesmo em si prprios. Pois esta espcie de doutrina no admite outrademonstrao. PRIMEIRA PARTEDO HOMEMCAPTULO I Da sensaoNo que se refere aos pensamentos do homem, consider-los-ei primeiro isoladamente, e depois emcadeia, ou dependentes uns dos outros. Isoladamente, cada um deles uma representao ou aparncia dealguma qualidade, ou outro acidente de um corpo exterior a ns, o que comumente se chama um objeto. Oqual objeto atua nos olhos, nos ouvidos, e em outras partes do corpo do homem, e pela forma diversa comoatua produz aparncias diversas.A origem de todas elas aquilo que denominamos sensao (pois no h nenhuma concepo noesprito do homem, que primeiro no tenha sido originada, total ou parcialmente, nos rgos dos sentidos). Oresto deriva daquela origem.Para o que agora nos ocupa, no muito necessrio conhecer a causa natural da sensao, e escrevilargamente sobre o assunto em outro lugar. Contudo, para preencher cada parte do meu presente mtodo,repetirei aqui rapidamente o que foi dito.A causa da sensao o corpo exterior, ou objeto, que pressiona o rgo 11. prprio de cada sentido, ou de forma imediata, como no gosto e tato, ou de forma mediata, como navista, no ouvido, e no cheiro; a qual presso, pela mediao dos nervos, e outras cordas e membranas docorpo, prolongada para dentro em direo ao crebro e corao, causa ali uma resistncia, ou contrapresso,ou esforo do corao, para se transmitir; cujo esforo, porque para fora, parece ser de algum modo exterior.E a esta aparncia, ou iluso, que os homens chamam sensao; e consiste, no que se refere viso, numaluz, ou cor figurada; em relao ao ouvido, num som, em relao ao olfato, num cheiro, em relao lngua epaladar, num sabor, e, em relao ao resto do corpo, em frio, calor, dureza, macieza, e outras qualidades,tantas quantas discernimos pelo sentir. Todas estas qualidades denominadas sensveis esto no objeto que ascausa, mas so muitos os movimentos da matria que pressionam nossos rgos de maneira diversa. Tambmem ns, que somos pressionados, elas nada mais so do que movimentos diversos (pois o movimento nadaproduz seno o movimento). Mas sua aparncia para ns iluso, quer .guando estamos acordados querquando estamos sonhando. E do mesmo modo que pressionar, esfregar, ou bater nos olhos nos faz supor umaluz, e pressionar o ouvido produz um som, tambm os corpos que vemos ou ouvimos produzem o mesmoefeito pela sua ao forte, embora n observada. Porque se essas cores e sons estivessem nos corpos, ou objetosque os causam, no podiam ser separados deles, como nos espelhos e nos ecos por reflexo vemos que elesso, nos quais sabemos que a coisa que vemos est num lugar e a aparncia em outro. E muito embora, a umacerta distncia, o prprio objeto real parea confundido com a aparncia que produz em ns, mesmo assim oobjeto uma coisa, e a imagem ou iluso uma outra. De tal modo que em todos os casos a sensao nada mais do que a iluso originria, causada (como disse) pela presso, isto , pelo movimento das coisas exterioresnos nossos olhos, ouvidos e outros rgos a isso determinados.Mas as escolas de Filosofia, em todas as Universidades da Cristandade, baseadas em certos textos deAristteles, ensinam outra doutrina e dizem, a respeito da causa da viso, que a coisa vista envia em todas asdirees uma species visvel ou, traduzindo, uma exibio, apario ou aspecto visvel, ou um ser visto, cujarecepo nos olhos a viso. E quanto causa da audio, dizem que a coisa ouvida envia uma speciesaudvel, isto , um aspecto audvel, ou um ser audvel, o qual, entrando na orelha, faz a audio. Tambm noque se refere causa do entendimento, dizem que a coisa compreendida emite uma species inteligvel, isto ,um ser inteligvel, o qual, entrando no entendimento, nos faz entender. No digo isto para criticar o uso dasUniversidades, mas porque, devendo mais adiante falar em seu papel no Estado, tenho de mostrar, em todas asocasies em que isso vier a propsito, que coisas devem nelas ser corrigidas, entre as quais temos de incluir afreqncia do discurso destitudo de significado. CAPTULO II Da imaginaoNenhum homem duvida da verdade da seguinte afirmao: quando uma coisa est imvel,permanecer imvel para sempre, a menos que algo a agite. Mas no to fcil aceitar esta outra, que quandouma coisa est em movimento, permanecer eternamente em movimento, a menos que algo a pare, muitoembora a razo seja a mesma, a saber, que nada pode mudar por si s. Porque os homens avaliam, no apenasos outros homens, mas todas as outras coisas, por si mesmos, e, porque depois do movimento se achamsujeitos dor e ao cansao, pensam que todo o resto se cansa do movimento e procura naturalmente orepouso, sem meditarem se no consiste em qualquer outro movimento esse desejo de repouso que encontramem si prprios. Da se segue que as escolas afirmam que os corpos pesados caem para baixo por falta de umdesejo para o repouso, e para conservao da sua natureza naquele lugar que mais adequado para eles,atribuindo, de maneira absurda, a coisas inanimadas o desejo e o conhecimento do que bom para suaconservao (o que mais do que o homem possui).Quando um corpo est em movimento, move-se eternamente (a menos que algo o impea), e seja o quefor que o faa, no o pode extinguir totalmente num s instante, mas apenas com o tempo e gradualmente,como vemos que acontece com a gua, pois, muito embora o vento deixe de soprar, as ondas continuam arolar durante muito tempo ainda. O mesmo acontece naquele movimento que se observa nas partes internas dohomem, quando ele v, sonha, etc., pois aps a desapario do objeto, ou quando os olhos esto fechados,conservamos ainda a imagem da coisa vista, embora mais obscura do que quando a vemos. E a isto que oslatinos chamam imaginao, por causa da imagem criada pela viso, e aplicam o mesmo termo, ainda queindevidamente, a todos os outros sentidos. Mas os gregos chamam-lhe fantasia, que significa aparncia, e to adequado a um sentido como a outro. A imaginao nada mais portanto seno uma sensao diminuda, 12. e encontra-se nos homens, tal como em muitos outros seres vivos, quer estejam adormecidos, quer estejamdespertos. A diminuio da sensao nos homens acordados no a diminuio do movimento feito na sensao,mas seu obscurecimento, um pouco maneira como a luz do sol obscurece a luz das estrelas, as quais nempor isso deixam de exercer a virtude pela qual so visveis, durante o dia menos do que noite. Mas porque,entre as muitas impresses que os nossos olhos, ouvidos e outros rgo recebem dos corpos exteriores, s sensvel a impresso predominante, assim tambm, sendo a luz do sol predominante, no somos afetados pelaao das estrelas. E quando qualquer objeto e afastado dos nossos olhos, muito embora permanea aimpresso que fez em ns, outros objetos mais presentes sucedem-se e atuam em ns, e a imaginao dopassado fica obscurecida e enfraquecida, tal como a voz de um homem no rudo dirio. Daqui se segue quequanto mais tempo decorrer desde a viso ou sensao de qualquer objeto, tanto mais fraca a imaginao.Pois a contnua mudana do corpo do homem destri com o tempo as partes que foram agitadas na sensao,de tal modo que a distncia no tempo e no espao tm ambas o mesmo efeito em ns. Pois tal como distncia no espao os objetos para que olhamos nos aparecem minsculos e indistintos em seus pormenores eas vozes se tornam fracas e inarticuladas, assim tambm, depois de uma grande distncia de tempo, a nossaimaginao do passado fraca e perdemos, por exemplo, muitos pormenores das cidades que vimos, das ruas,e muitas circunstncias das aes. Esta sensao diminuda, quando queremos exprimir a prpria coisa (isto ,a prpria iluso), denomina-se imaginao, como j disse anteriormente; mas, quando queremos exprimir adiminuio e significar que a sensao evanescente, antiga e passada, denomina-se memria. Assim aimaginao e a memria so uma e a mesma coisa, que, por razes vrias, tem nomes diferentes. Muita memria, ou a memria de muitas coisas, chama-se experincia. A imaginao diz respeitoapenas quelas coisas que foram anteriormente percebidas pela sensao, ou de uma s vez, ou por partes emvrias vezes. A primeira (que consiste em imaginar o objeto em sua totalidade, tal como ele se apresentou nasensao) a imaginao simples, como quando imaginamos um homem, ou um cavalo que vimos antes; aoutra composta, como quando a partir da viso de um homem num determinado momento, e de um cavaloem outro momento, concebemos no nosso esprito um centauro. Assim, quando algum compe a imagem desua prpria pessoa com a imagem das aes de outro homem, como quando algum se imagina um Hrcules,ou um Alexandre (o que freqentemente acontece queles que lem muitos romances), trata-se de umaimaginao composta e na verdade nada mais do que uma fico do esprito. Existem tambm outrasimagens que surgem nos homens (ainda que em estado de viglia) devido a uma forte impresso feita nasensao, como acontece quando, depois de olharmos fixamente para o Sol, permanece diante dos nossosolhos uma imagem do Sol que se conserva durante muito tempo depois; ou quando, depois de atentar longa efixamente para figuras geomtricas, o homem (ainda que em estado de viglia) tem no escuro as imagens delinhas e ngulos diante de seus olhos. Este tipo de iluso no tem nenhum nome especial, por ser uma coisaque no aparece comumente no discurso dos homens. As imaginaes daqueles que se encontram adormecidos denominam-se sonhos. E tambm estas (talcomo as outras imaginaes) estiveram anteriormente, ou em sua totalidade ou parcialmente, na sensao. Eporque, na sensao, o crebro e os nervos, que constituem os rgos necessrios da sensao, esto de talmodo entorpecidos que no so facilmente agitados pela ao dos objetos externos, no pode haver no sonoqualquer imaginao ou sonho que no provenha da agitao das partes internas do corpo do homem. Estaspartes internas, pela conexo que tm com o crebro e outros rgos, quando esto agitadas mantm osmesmos em movimento. Donde se segue que as imaginaes ali anteriormente formadas surgem como se ohomem estivesse acordado, com a ressalva que, estando agora os rgos dos sentidos entorpecidos, a ponto denenhum novo objeto os poder dominar e obscurecer com uma impresso mais vigorosa, um sonho tem de sermais claro, em meio a este silncio da sensao, do que nossos pensamentos quando despertos. E daqui sesegue que uma questo difcil, e talvez mesmo impossvel, estabelecer uma distino clara entre sensao esonho. No que me diz respeito, quando observo que nos sonhos no penso muitas vezes nem constantementenas mesmas pessoas, lugares, objetos, aes que ocupam o meu pensamento quando estou acordado, e queno recordo uma to longa cadeia de pensamentos coerentes, sonhando como em outros momentos, e porqueacordado observo muitas vezes o absurdo dos sonhos, mas nunca sonho com os absurdos de meuspensamentos despertos, contento-me com saber que, estando desperto, no sonho, muito embora, quandosonho, me julgue acordado. E dado que os sonhos so causados pela perturbao de algumas das parte internas do corpo,perturbaes diversas tm de causar sonhos diversos. E daqui se segue que estar deitado com frio provocasonhos de terror e faz surgir o pensamento e a imagem de alguns objetos temerosos (sendo recprocos omovimento do crebro para as partes internas, e das partes internas para o crebro). E que do mesmo modo 13. que a clera provoca, quando estamos acordados, calor em alugas partes do corpo, assim tambm, quandoestamos dormindo, o excesso de calor de algumas das partes provoca a clera, e faz surgir no crebro aimaginao de um inimigo. Da mesma maneira, tal como a bondade natural causa deseje quando estamosdespertos, e o desejo provoca calor em certas outras partes do corpo, assim tambm o excesso de calor nessaspartes, enquanto dormimos, faz surgir no crebro uma imaginao de alguma bondade manifestada. Em sumanossos sonhos so o reverso de nossas imaginaes despertas, iniciando-se o movimento por um lado quandoestamos acordados, e por outro quando sonhamos.Observa-se a maior dificuldade em discernir o sonho dos pensamentos despertos quando, por qualquerrazo, nos apercebemos de que no dormimos, o que fcil de acontecer a um homem cheio de pensamentosterrveis e cuja conscincia se encontra muito perturbada, e dorme sem mesmo ir para a cama ou tirar a roupa,como algum que cabeceia numa cadeira. Pois aquele que se esfora por dormir e cuidadosamente se deitapara adormecer, no caso de lhe aparecer alguma iluso inesperada e extravagante, s a pode pensar como umsonho. Lemos acerca de Marcos Bruto (aquele a quem a vida foi concedida por Jlio Csar e que foi tambmo seu valido, e que apesar disso o matou) de que maneira em Filipi, na noite antes da batalha contra CsarAugusto, viu uma tremenda apario, que freqentemente narrada pelos historiadores como uma viso, mas,consideradas as circunstncias, podemos facilmente ajuizar que nada mais foi do que um curto sonho. Poisestando em sua tenda, pensativo e perturbado com o horror de seu ato temerrio, no lhe foi difcil, aodormitar no frio, sonhar com aquilo que mais o atemorizava, e esse temor, assim como gradualmente o fezacordar, tambm gradualmente deve ter feito a apario desaparecer. E, no tendo nenhuma certeza de terdormido, no podia ter qualquer razo para pens-la como um sonho, ou qualquer outra coisa que no fosseuma viso. E isto no acontece raramente, pois mesmo aqueles que esto perfeitamente acordados, se foramtemerosos e supersticiosos, se se encontrarem possudos por contos de horror, e estiverem sozinhos no escuro,esto sujeitos a tais iluses e julgam ver espritos e fantasmas de pessoas mortas passeando nos cemitrios,quando ou apenas iluso deles, ou ento a velhacaria de algumas pessoas que se servem desse temorsupersticioso para andar disfarados de noite a caminho de lugares que no gostariam que se soubesse serempor elas freqentados.Desta ignorncia quanto distino entre os sonhos, e outras iluses fortes, e a viso e a sensao,surgiu, no passado, a maior parte da religio dos gentios, os quais adoravam stiros, faunos, ninfas, e outrosseres semelhantes, e nos nossos dias a opinio que a gente grosseira tem das fadas, fantasmas, e gnomos, e dopoder das feiticeiras. Pois, no que se refere s feiticeiras, no penso que sua feitiaria seja algum poderverdadeiro; mas contudo elas so justamente punidas, pela falsa crena que possuem, acrescentada ao seuobjetivo de a praticarem se puderem, estando sua atividade mais prxima de uma nova religio do que de umaarte ou uma cincia. E quanto s fadas e fantasmas ambulantes, a idia deles foi, penso, com o objetivo ouexpresso ou no refutado, de manter o uso do exorcismo, das cruzes, da gua benta, e outras tantas invenesde homens religiosos. Contudo, no h dvida de que Deus pode provocar aparies no naturais, mas no questo de dogma na f crist que ele as provoque com tanta freqncia que os homens as devam temer maisdo que temem a permanncia, ou a modificao do curso da Natureza, que ele tambm pode deter e mudar.Mas homens perversos, com o pretexto de que Deus nada pode fazer, levam a sua ousadia ao ponto deafirmarem seja o que for que lhes convenha, muito embora saibam que mentira. Cabe ao homem sensato sacreditar naquilo que a justa razo lhe apontar como crvel. Se desaparecesse este temor supersticioso dosespritos, e com ele os prognsticos tirados dos sonhos, as falsas profecias, e muitas outras coisas deledecorrentes, graas s quais pessoas ambiciosas e astutas abusam da credulidade da gente simples, os homensestariam muito mais bem preparados do que agora para a obedincia civil.E esta devia ser a tarefa das Escolas, mas elas pelo contrrio alimentam tal doutrina. Pois (ignorando oque seja a imaginao, ou a sensao) aquilo que recebem, ensinam: uns dizendo que as imaginaes surgemdeles mesmos e no tm causa; outros afirmando que elas surgem mais comumente da vontade, e que os bonspensamentos so insuflados (inspirados) no homem por Deus, e os maus pensamentos pelo Diabo. Ou entoque os bons pensamentos so despejados (infundidos) no homem por Deus, e os maus pensamentos peloDiabo. Alguns dizem que os sentidos recebem as espcies das coisas, e as transmitem ao sentido comum, e osentido comum as transmite por sua vez fantasia, e a fantasia memria, e a memria ao juzo, tal comocoisas passando de mo em mo, com muitas palavras que nada ajudam compreenso.A imaginao que surge no homem (ou qualquer outra criatura dotada da faculdade de imaginar) pelaspalavras, ou quaisquer outros sinais voluntrios, o que vulgarmente chamamos entendimento, e comum aohomem e aos outros animais. Pois um co treinado entender o chamamento ou a reprimenda do dono, e omesmo acontece com outros animais. Aquele entendimento que prprio do homem o entendimento no sde sua vontade, mas tambm de suas concepes e pensamentos, pela seqncia e contextura dos nomes das 14. coisas em afirmaes, negaes, e outras formas de discurso, e deste tipo de entendimentos falarei maisadiante. CAPTULO III Da conseqncia ou cadeia de imaginaesPor conseqncia, ou cadeia de pensamentos, entendo aquela sucesso de um pensamento a outro, quese denomina (para se distinguir do discurso em palavras) discurso mental.Quando o homem pensa seja no que for, o pensamento que se segue no to fortuito como poderiaparecer. No qualquer pensamento que se segue indiferentemente a um pensamento. Mas, assim como notemos uma imaginao da qual no tenhamos tido antes uma sensao, na sua totalidade ou em parte, domesmo modo no temos passagem de uma imaginao para outra se no tivermos tido previamente o mesmonas nossas sensaes. A razo disto a seguinte: todas as iluses so movimentos dentro de ns, vestgiosdaqueles que foram feitos na sensao; e aqueles movimentos que imediatamente se sucedem uns aos outrosna sensao continuam tambm juntos depois da sensao. Assim, aparecendo novamente o primeiro e sendopredominante, o outro segue-o, por coerncia da matria movida, maneira da gua sobre uma mesa lisa, que,quando se empurra uma parte com o dedo, o resto segue tambm. Mas porque na sensao de uma mesmacoisa percebida ora se sucede uma coisa ora outra, acontece no tempo que ao imaginarmos alguma coisa noh certeza do que imaginaremos em seguida. S temos a certeza de que ser alguma coisa que antes, num ounoutro momento, se sucedeu quela. Esta cadeia de pensamentos, ou discurso mental, de dois tipos. Oprimeiro livre, sem desgnio, e inconstante. Como quando no h um pensamento apaixonado para governare dirigir aqueles que se lhe seguem, como fim ou meta de algum desejo, ou outra paixo. Neste caso diz-seque os pensamentos vagueiam, e parecem impertinentes uns aos outros, como acontece no sonho. Assim socomumente os pensamentos dos homens que no s esto sem companhia mas tambm sem quaisquerpreocupaes, embora mesmo ento seus pensamentos estejam to ocupados como em qualquer outromomento, mas desta vez sem harmonia, como o som de um alade fora de tom, ou, mesmo dentro do tom,tocado por algum que no saiba tocar. E contudo, nesta selvagem disposio de esprito, o homem podemuitas vezes perceber o seu curso e a dependncia de um pensamento em relao a outro. Pois num discursoda nossa atual guerra civil, que coisa pareceria mais impertinente do que perguntar (como efetivamenteaconteceu) qual era o valor de um dinheiro romano? Contudo para mim a coerncia era assaz manifesta, poiso pensamento da guerra trouxe o pensamento da entrega do rei aos seus inimigos; este pensamento trouxe opensamento da entrega de Cristo; e este por sua vez o pensamento dos trinta dinheiro, que foram o preo datraio: e da facilmente se seguiu aquela pergunta maliciosa. E tudo isto num breve momento, pois opensamento clere.A segunda mais constante por ser regulada por algum desejo ou desgnio. Pois a impresso feita poraquelas coisas que desejamos, ou receamos, forte e permanente, ou (quando cessa por alguns momentos) derpido retorno. por vezes to forte que impede e interrompe nosso sono. Do desejo surge o pensa mento dealgum meio que vimos produzir algo de semelhante quilo que almejamos e do pensamento disso, opensamento de meios para aquele meio; e assim sucessivamente, at chegarmos a algum incio dentre denosso prprio poder. E porque o fim, pela grandeza da impresso, vem muitas vezes ao esprito, no caso denossos pensamentos comearem a divagar, eles so rapidamente trazidos de novo ao caminho certo. O que,observado por um dos sete sbios, o levou a dar aos homens o seguinte preceito, que hoje est esquecido,Respice finem, o que significa que em todas as nossas aes devemos olhar muitas vezes para aquilo quequeremos ter, pois deste modo concentramos todos os nossos pensamentos na forma de o atingir.A cadeia dos pensamentos regulados de duas espcies: uma, quando, a partir de um efeito imaginado,procuramos as causas, ou meios que o produziram, e esta espcie comum ao homem e aos outros animais; aoutra quando, imaginando seja o que for, procuramos todos os possveis efeitos que podem por essa coisaser produzidos ou, por outras palavras, imaginamos o que podemos fazer com ela, quando a tivermos. Destaespcie s tenho visto indcios no homem, pois se trata de uma curiosidade pouco provvel na natureza dequalquer ser vivo que no tenha outras paixes alm das sensuais, como por exemplo a fome, a sede, alascvia e a clera. Em suma, o discurso do esprito, quando governado pelo desgnio, nada mais do queprocura, ou a capacidade de inveno, que os latinos denominaram sagacitas e solertia, uma busca das causasde algum efeito presente ou passado, ou dos efeitos de alguma causa passada ou presente. Umas vezes ohomem procura aquilo que perdeu, e daquele lugar e tempo em que sentiu a sua falta, o seu esprito voltaatrs, de lugar em lugar, de momento em momento, a fim de encontrar onde e quando o tinha; ou, por outras 15. palavras, para encontrar algum momento e lugar certo e limitado no qual possa comear um mtodo deprocura. Mais uma vez, da os seus pensamentos percorrem os mesmos lugares e momentos, a fim dedescobrir que ao, ou outra ocasio o podem ter feito perder. A isto chamamos recordaro, ou o ato de trazerao esprito; os latinos chamavam-lhe reminiscentia, por se tratar de um reconhecimento das nossas aespassadas. s vezes o homem conhece um lugar determinado, no mbito do qual ele deve procurar, e ento seuspensamentos acorrem de todos os lados para ali, como quando algum varre uma sala para encontrar uma jia,ou quando um cachorro percorre um campo para encontrar um rastro, ou quando um homem percorre oalfabeto para iniciar uma rima. s vezes o homem deseja conhecer o acontecimento de uma ao, e ento pensa em alguma aosemelhante no passado, e os acontecimentos dela, uns aps os outros, supondo que acontecimentossemelhantes se devem seguir a aes semelhantes. Como aquele que prev o que acontecer a um criminosoreconhece aquilo que ele viu seguir-se de crimes semelhantes no passado, tendo esta ordem de pensamentos: ocrime, o oficial de justia, a priso, o juiz e as gals. A este tipo de pensamentos se chama previso, eprudncia, ou providncia, e algumas vezes sabedoria, embora tal conjetura, devido dificuldade de observartodas as circunstncias, seja muito falaciosa. Mas isto certo: quanto mais experincia das coisas passadastiver um homem, tanto mais prudente , e suas previses raramente falham. S o presente tem existncia nanatureza; as coisas passadas tm existncia apenas na memria, mas as coisas que esto para vir no tmexistncia alguma, sendo o futuro apenas uma fico do esprito, aplicando as conseqncias das aespassadas s aes que so presentes, o que feito com muita certeza por aquele que tem mais experincia,mas no com a certeza suficiente. E muito embora se denomine prudncia quando o acontecimentocorresponde a nossa expectativa, contudo, em sua prpria natureza, nada mais do que suposio. Poisapreviso das coisas que esto para vir, que providncia, s compete quele por cuja vontade as coisas devemacontecer. Dele apenas, e sobrenaturalmente, deriva a profecia. O melhor profeta naturalmente o melhoradivinho, e o melhor adivinho aquele que mais versado e erudito nas questes que adivinha, pois ele temmaior nmero de sinais pelos quais se guiar. Um sinal o evento antecedente do conseqente, e contrariamente, o conseqente do antecedente,quando conseqncias semelhantes foram anteriormente observadas. E quanto mais vezes tiverem sidoobservadas, menos incerto o sinal. E portanto aquele que possuir mais experincia em qualquer tipo deassunto tem maior nmero de sinais por que se guiar para adivinhar os tempos futuros, e consequentemente o mais prudente. E muito mais prudente do que aquele que novato nesse assunto, desde que no sejaigualado por qualquer vantagem de uma sabedoria natural e extemporria, muito embora os jovens possampensar o contrrio. Contudo no a prudncia que distingue o homem dos outros animais. H animais que com um anoobservam mais e alcanam aquilo que bom para eles de uma maneira mais prudente do que jamais algumacriana poderia fazer com dez anos. Do mesmo modo que a prudncia uma suposio do futuro, tirada da experincia dos tempospassados, tambm h uma suposio das coisas passadas tirada de outras coisas, no futuras, mas tambmpassadas. Pois aquele que tiver visto por que graus e fases um Estado florescente primeiro entra em guerracivil e depois chega runa, ao observar as runas de qualquer outro Estado, pressupor uma guerrasemelhante e fases semelhantes ali tambm. Mas esta conjetura tem quase a mesma incerteza que a conjeturado futuro, sendo ambas baseadas apenas na experincia. No h qualquer outro ato do esprito humano que eu possa lembrar, naturalmente implantado nele,que exija alguma coisa mais alm do fato de ter nascido homem e de ter vivido com o uso de seus cincosentidos. Aquelas outras faculdades das quais falarei a pouco e pouco, e que parecem caractersticas apenasdo homem, so adquiridas e aumentadas com o estudo e a indstria, e so aprendidas pelo homem atravs dainstruo e da disciplina, e procedem todas da inveno das palavras e do discurso. Pois alm da sensao edos pensamentos e, da cadeia de pensamentos, o esprito do homem no tem qualquer outro movimento,muito embora, com a ajuda do discurso e do mtodo, as mesmas faculdades possam ser desenvolvidas a talponto que distinguem os homens de todos os outros seres vivos. Seja o que for que imaginemos finito. Portanto no existe qualquer idia. ou concepo, de algo quedenominamos infinito. Nenhum homem pode ter em seu esprito uma imagem de magnitude infinita, nemconceber uma velocidade infinita, um tempo infinito, ou uma fora infinita, ou um poder infinito. Quandodizemos que alguma coisa infinita, queremos apenas dizer que no somos capazes de conceber os limites efronteiras da coisa designada, no tendo concepo da coisa, mas de nossa prpria incapacidade. Portanto onome de Deus usado, no para nos fazer conceb-lo (pois ele incompreensvel e sua grandeza e poder so 16. inconcebveis), mas para que o possamos venerar. Tambm porque (como disse antes) seja o que for queconcebamos foi primeiro percebido pela sensao, quer tudo de uma vez, quer por partes. O homem no podeter um pensamento representando alguma coisa que no esteja sujeita sensao. Nenhum homem portantopode conceber uma coisa qualquer, mas tem de a conceber em algum lugar, e dotada de uma determinadamagnitude, e suscetvel de ser dividida em partes. Que alguma coisa est toda neste lugar, e toda em outrolugar ao mesmo tempo; que duas, ou mais coisas, podem estar num e no mesmo lugar ao mesmo tempo:nenhuma destas coisas jamais ocorreu ou pode ocorrer na sensao; mas so discursos absurdos, aceitos pelaautoridade (sem qualquer significao) de filsofos iludidos, e de escolsticos iludidos, ou iludidores.CAPTULO IV Da linguagemA inveno da imprensa, conquanto engenhosa, comparada com a inveno das letras, coisa desomenos importncia. Mas ignora-se quem pela primeira vez descobriu o uso das letras. Diz-se que o primeiroque as trouxe para a Grcia foi Cadmus, filho de Agenor, rei da Fencia. Uma inveno fecunda paraprolongar a memria dos tempos passados, e estabelecer a conjuno da humanidade, dispersa por tantas e todistantes regies da Terra, e com dificuldade, como se v pela cuidadosa observao dos diversosmovimentos da lngua, palato, lbios, e outros rgos da fala, em estabelecer tantas diferenas de caracteresquantas as necessrias para recordar. Mas a mais nobre e til de todas as invenes foi a da linguagem, queconsiste em nomes ou apelaes e em suas conexes, pelas quais os homens registram seus pensamentos, osrecordam depois de passarem, e tambm os usam entre si para a utilidade e conversa recprocas, sem o queno haveria entre os homens nem Estado, nem sociedade, nem contrato, nem paz, tal como no existem entreos lees, os ursos e os lobos. O primeiro autor da linguagem foi o prprio Deus, que ensinou a Ado amaneira de designar aquelas criaturas que colocava sua vista, pois as Escrituras nada mais dizem a esterespeito. Mas isto foi suficiente para lev-lo a acrescentar mais nomes, medida que a experincia e oconvvio com as criaturas lhe forneciam ocasio para isso, e para lig-los gradualmente de modo a fazer-secompreender. E assim com o passar do tempo pde ser encontrada toda aquela linguagem para a qual eledescobriu uma utilidade, embora no fosse to abundante como aquela de que necessita o orador ou ofilsofo. Pois nada encontrei nas Escrituras que pudesse afirmar, direta ou indiretamente, que a Ado foramensinados os nomes de todas as figuras, nmeros, medidas, cores, sons, iluses, relaes, e muito menos osnomes de palavras e de discursos, como geral, especial, afirmativo, negativo, interrogativo, optativo,infinitivo, as quais so todas teis, e muito menos os de entidade, intencionalidade, qididade, e outrasinsignificantes palavras das Escolas.Mas toda esta linguagem adquirida e aumentada por Ado e sua posteridade, foi novamente perdida natorre de Babel, quando pela mo de Deus todos os homens foram punidos, devido a sua rebelio, com oesquecimento de sua primitiva linguagem. E sendo depois disso forados a dispersarem-se pelas vrias partesdo mundo, resultou necessariamente que a diversidade de lnguas que hoje existe proveio gradualmente dessaseparao, medida que a necessidade (a me de todas as invenes) os foi ensinando, e com o passar dostempos tornaram-se por toda a parte mais abundantes.O uso geral da linguagem consiste em passar nosso discurso mental para um discurso verbal, ou acadeia de nossos pensamentos para uma cadeia de palavras. E isto com duas utilidades, uma das quaisconsiste em registrar as conseqncias de nossos pensamentos, os quais, podendo escapar de nossa memria elevar-nos deste modo a um novo trabalho, podem ser novamente recordados por aquelas palavras com queforam marcados. De maneira que a primeira utilizao dos nomes consiste em servirem de marcas, ou notasde lembrana. Uma outra utilizao consiste em significar, quando muitos usam as mesmas palavras (pela suaconexo e ordem), uns aos outros aquilo que concebem, ou pensam de cada assunto, e tambm aquilo quedesejam, temem, ou aquilo por que experimentam alguma paixo. E devido a esta utilizao so chamadossinais. Os usos especiais da linguagem so os seguintes: em primeiro lugar, registrar aquilo que por cogitaodescobrimos ser a causa de qualquer coisa, presente ou passada, e aquilo que achamos que as coisas presentesou passadas podem produzir, ou causar, o que em suma adquirir artes. Em segundo lugar, para mostrar aosoutros aquele conhecimento que atingimos, ou seja, aconselhar e ensinar uns aos outros. Em terceiro lugar,para darmos a conhecer aos outros nossas vontades e objetivos, a fim de podermos obter sua ajuda. Em quartolugar, para agradar e para nos deliciarmos, e aos outros, jogando com as palavras, por prazer e ornamento, demaneira inocente. 17. A estes usos correspondem quatro abusos. Primeiro, quando os homens registram erradamente seuspensamentos pela inconstncia da significao de suas palavras, com as quais registram por suas concepesaquilo que nunca conceberam, e deste modo se enganam. Em segundo lugar, quando usam palavras demaneira metafrica, ou seja, com um sentido diferente daquele que lhes foi atribudo, e deste modo enganamos outros. Em terceiro lugar, quando por palavras declaram ser sua vontade aquilo que no . Em quarto lugar,quando as usam para se ofenderem uns aos outros, pois dado que a natureza armou os seres vivos, uns comdentes, outros com chifres, e outros com mos para atacarem o inimigo, nada mais do que um abuso dalinguagem ofend-lo com a lngua, a menos que se trate de algum que somos obrigados a governar, masento no ofender, e sim corrigir .e punir.A linguagem serve para a recordao das conseqncias de causas e efeitos, atravs da imposio denomes, e da conexo destes.Alguns dos nomes so prprios, e singulares a uma s coisa, como Pedro, Joo, este homem, estarvore; e alguns so comuns a muitas coisas, como homem, cavalo, rvore, cada um dos quais, apesar de serum s nome, contudo o nome de vrias coisas particulares, em relao s quais em conjunto se denominaum universal, nada havendo no mundo universal alm de nomes, pois as coisas nomeadas so, cada umadelas, individuais e singulares.Um nome universal atribudo a muitas coisas, devido a sua semelhana em alguma qualidade, ououtro acidente, e, enquanto o nome prprio traz ao esprito uma coisa apenas, os universais recordam qualquerdessas muitas coisas.E dos nomes universais, uns so de maior e outros de menor extenso, os mais amplos compreendendoos menos amplos, e alguns de igual extenso compreendendo-se uns aos outros reciprocamente. Como, porexemplo, o nome corpo tem maior significao do que a palavra homem, e a compreende, e os nomes homeme racional so de igual extenso, compreendendo-se um ao outro mutuamente. Mas aqui devemos chamar aateno para o fato de por um nome no se entender sempre, como na gramtica, uma s palavra, mas svezes, por circunlocuo, muitas palavras juntas, pois todas estas palavras "aquele que em suas aes observaas leis do seu pas" constituem um s nome, equivalente a esta simples palavra justo.Por esta imposio de nomes, uns mais amplos, outros de significao mais restrita, transformamos oclculo das conseqncias de coisas imaginadas no esprito num clculo das conseqncias de apelaes. Porexemplo, um homem que no possui qualquer uso da linguagem (como aquele que nasceu e permaneceucompletamente surdo e mudo), se tiver diante dos olhos um tringulo e tambm dois ngulos retos (como osdos cantos de um quadrado), pode, atravs de medio, comparar e descobrir que os trs ngulos daqueletringulo so iguais queles dois ngulos retos que esto ao lado. Mas, se lhe for mostrado um outro tringulodiferente do primeiro na forma, ele no pode saber sem um novo trabalho se os trs ngulos desse tringuloso tambm iguais ao mesmo. Mas aquele que tem o uso das palavras, quando observa que tal igualdade eraconseqente, no do comprimento dos lados, nem de qualquer outro aspecto particular do tringulo, masapenas do fato de os lados serem retos e os ngulos trs, e de isso ser aquilo que o levava a denominar talfigura um tringulo, no hesitar em concluir universalmente que tal igualdade dos ngulos existe em todos ostringulos, sejam eles quais forem, e em registrar sua inveno nestes termos gerais: "Todo tringulo tem seustrs ngulos iguais a dois ngulos retos". E assim a conseqncia descoberta num caso particular passa a serregistrada e recordada, como uma regra universal, e alivia nosso clculo mental do espao e do tempo, eliberta-nos de todo o trabalho do esprito, economizando o primeiro, e faz que aquilo que se descobriu serverdade aqui e agora seja verdade em todos os tempos e lugares.Mas o uso de palavras para registrar nossos pensamentos no to evidente como na numerao. Umlouco natural que nunca conseguisse aprender de cor a ordem das palavras numerais, como um, dois, trs,pode observar cada pancada de um relgio e acompanhar com a cabea, ou dizer um, um, um, mas nuncapode saber que horas esto batendo. E parece que houve uma poca em que esses nomes de nmeros noestavam em uso, e os homens contentavam-se em utilizar os dedos de uma ou das duas mos para aquelascoisas que desejavam contar, e da resultou que hoje as nossas palavras numerais s so dez em qualquernao, e em algumas s so cinco, caso em que se recomea de novo. E aquele que sabe contar dez, se osrecitar fora de ordem, perder-se- e no saber o que esteve a fazer. E muito menos ser capaz de adicionar esubtrair e realizar todas as outras operaes da aritmtica. De modo que sem palavras no h qualquerpossibilidade de reconhecer os nmeros, e muito menos as grandezas, a velocidade, a fora, e outras coisas,cujo clculo necessrio existncia, ou ao bem-estar da humanidade.Quando dois nomes esto ligados numa conseqncia, ou afirmao, como por exemplo "O homem um ser vivo", ou esta outra, "Se ele for um homem, um ser vivo", se o ltimo nome ser vivo significar tudoo que o primeiro nome homem significa, ento a afirmao, ou conseqncia, verdadeira; de outro modo 18. falsa. Pois o verdadeiro e o falso so atributos da linguagem, e no das coisas. E onde no houver linguagem,no h nem verdade nem falsidade. Pode haver erro, como quando esperamos algo que no acontece, ouquando suspeitamos algo que no aconteceu, mas em nenhum destes casos se pode acusar um homem deinveracidade.Vendo ento que a verdade consiste na adequada ordenao de nomes em nossas afirmaes, umhomem que procurar a verdade rigorosa deve lembrar-se que coisa substitui cada palavra de que se serve, ecoloc-la de acordo com isso; de outro modo ver-se- enredado em palavras, como uma ave em varasenviscadas: quanto mais lutar, mais se fere. E portanto em geometria (que a nica cincia que prouve a Deusconceder humanidade) os homens comeam por estabelecer as significaes de suas palavras, e a esseestabelecimento de significaes chamam definies, e colocam-nas no incio de seu clculo.Por aqui se v como necessrio a qualquer pessoa que aspire a um conhecimento verdadeiroexaminar as definies dos primeiros autores, ou para corrigi-las, quando tiverem sido estabelecidas demaneira negligente, ou para apresentar as suas prprias. Pois os erros de definies se multiplicam medidaque o clculo avana e conduzem os homens a absurdos, que finalmente descobrem, mas que no conseguemevitar sem calcular de novo, desde o princpio, no que reside a base de seus erros. De onde se segue queaqueles que acreditam nos livros procedem como aqueles que somam muitas pequenas somas numa maior,sem atentarem se essas pequenas somas foram ou no corretamente somadas; e finalmente encontrando o errovisvel, e no duvidando das suas primeiras bases, no sabem que caminho seguir para se esclarecerem, masgastam tempo azafamando-se em torno de seus livros, como aves que, entrando numa chamin e vendo-sefechadas num quarto, adejam em torno da enganadora luz de uma janela, por no possurem a sabedoriasuficiente para atentarem por que caminho entraram. De tal modo que na correta definio de nomes reside oprimeiro uso da linguagem, o qual consiste na aquisio de cincia; e na incorreta definio, ou na ausnciade definies, reside o primeiro abuso, do qual resultam todas as doutrinas falsas e destitudas de sentido; oque torna aqueles homens que tiram sua instruo da autoridade dos livros, e no de sua prpria meditao,to inferiores condio dos ignorantes, quanto so superiores a estes os homens revestidos de umaverdadeira cincia. Pois entre a verdadeira cincia e as doutrinas errneas situa-se a ignorncia. A sensao ea imaginao naturais no esto sujeitas a absurdos. A natureza em si no pode errar; e medida que oshomens vo adquirindo uma abundncia de linguagem, vo-se tornando mais sbios ou mais loucos do quehabitualmente. Nem possvel sem letras que algum homem se torne ou extraordinariamente sbio, ou(amenos que sua memria seja atacada por doena, ou deficiente constituio dos rgos) extraordinariamentelouco. Pois as palavras so os calculadores dos sbios, que s com elas calculam; mas constituem a moedados loucos que a avaliam pela autoridade de um Aristteles, de um Ccero, ou de um Toms, ou de qualqueroutro doutor que nada mais do que um homem. Sujeito aos nomes tudo aquilo que pode entrar, ou ser considerado, num clculo, e ser acrescentadoum ao outro para fazer uma soma, ou subtrado um do outro e deixar um resto. Os latinos chamavam aoscmputos de moeda rationes, e ao clculo ratiocinatio, e quilo que ns em contas ou livros de clculodenominamos itens, chamavam nomina, isto , nomes; e da parece resultar a extenso da palavra ratio faculdade de contar em todas as outras coisas. Os gregos tm uma s palavra, lgos, para linguagem e razo,no que eles pensassem que no havia linguagem sem razo, mas sim que no havia raciocnio semlinguagem. E ao ato de raciocinar chamaram silogismo, o que significa somar as conseqncias de umaproposio a outra. E porque as mesmas coisas podem entrar em cmputo para diversos acidentes, seus nomesso (para mostrar essa diversidade) diversamente deturpados, e diversificados. Esta diversidade dos nomespode ser reduzida a quatro grupos gerais. Em primeiro lugar, uma coisa pode entrar em conta para matria ou corpo, como vivo, sensvel,racional, quente, frio, movido, parado, com todos os quais nomes a palavra matria ou corpo entendida,sendo todos eles nomes de matria. Segundo, pode entrar em conta, ou ser considerada para algum acidente ou qualidade, que concebemosestar nela, como para ser movido, ser to longo, ser quente, etc.; e ento, do nome da prpria coisa, por umapequena mudana ou alterao, fazemos um nome para aquele acidente que consideramos, e para vivofazemos vida, para movido, movimento, para quente, calor, para comprido, comprimento, e assimsucessivamente. E todos esses nomes so os nomes dos acidentes e propriedades pelos quais a matria e ocorpo se distinguem um do outro. A estes nomes chama-se nomes abstratos, porque separados, no damatria, mas do clculo da matria. Em terceiro lugar consideramos as propriedades de nossos prprios corpos mediante as quaisestabelecemos distines, como quando alguma coisa vista por ns, ns contamos no a prpria coisa, mas a 19. viso, a cor, a idia dela na fantasia, e quando alguma coisa ouvida, no a contamos, mas a audio ou osom apenas, que nossa fantasia ou concepo dela pelo ouvido, e estes so nomes de fantasia. Em quarto lugar levamos em conta, consideramos e denominamos os prprios nomes e discursos, poisgeral, universal, especial, equvoco, so nomes de nomes. E afirmao, interrogaro, ordem, narrao,silogismo, sermo, orao, e tantos outros, so nomes de discursos. E esta toda a variedade de nomespositivos, que so usados para marcar algo que existe na natureza, ou que pode ser concebido pelo esprito dohomem, como corpos que existem, ou que podem ser concebidos como existentes, ou corpos cujaspropriedades so, ou podem ser concebidas, ou palavras e discursos. H tambm outros nomes chamados negativos, que so notas para significar que uma palavra no onome da coisa em questo, como estas palavras nada, ningum, infinito, indizvel, trs no so quatro, eoutras semelhantes, que contudo se usam no cmputo, ou na correo do cmputo, e trazem ao esprito nossascogitaes passadas, muito embora no sejam nomes de coisa alguma, porque nos fazem recusar admitirnomes que no so adequadamente usados. Todos os outros nomes nada mais so do que sons insignificantes, e estes so de duas espcies. Umadelas, quando so novos e o seu sentido ainda no foi explicado por uma definio, e desta espcie existemmuitos, inventados pelos homens das Escolas e pelos filsofos confusos. Uma outra espcie, quando se faz de dois nomes um s nome, muito embora suas significaes sejamcontraditrias e inconsistentes, como por exemplo este nome, corpo incorpreo, ou (o que o mesmo)substncia incorprea, e um grande nmero de outros como estes. Pois sempre que qualquer afirmao sejafalsa, os dois nomes pelos quais composta, postos lado a lado e tornados num s, no significamabsolutamente nada. Por exemplo, se for uma afirmao falsa dizer "um quadrngulo redondo", a expressoquadrngulo redondo nada significa e um simples som. Do mesmo modo, se for falso dizer que a virtudepode ser infundida, ou insuflada e retirada, as expresses virtude infundida, virtude insuflada, so toabsurdas e insignificantes, como um quadrngulo redondo. E portanto dificilmente encontraremos umapalavra destituda de sentido e insignificante que no seja formada por alguns nomes latinos ou gregos. Umfrancs raras vezes ouve chamar nosso Salvador pelo nome Palavra, mas muitas vezes pelo nome de Verbo, econtudo Verbo e Palavra em nada mais diferem seno no fato de uma ser latina e outra francesa.Quando um homem ao ouvir qualquer discurso tem aqueles pensamentos para os quais as palavrasdesse discurso e a sua conexo foram ordenadas e constitudas, ento dizemos que ele o compreendeu, nosendo o entendimento outra coisa seno a concepo causada pelo discurso. E portanto se a linguagem peculiar ao homem (como pelo que sei deve ser), ento tambm o entendimento lhe peculiar. E portanto nopode haver compreenso de afirmaes absurdas e falsas, no caso de serem universais; muito embora muitosjulguem que compreendem, quando nada mais fazem do que repetir tranqilamente as palavras, ou grav-lasem seu esprito.Quando falar das paixes, falarei dos tipos de discurso que significam os apetites, as averses, e aspaixes do esprito do homem, e tambm de seu uso e abuso.Os nomes daquelas coisas que nos afetam, isto , que nos agradam e desagradam, porque todos oshomens no so igualmente afetados pelas mesmas coisas, nem o mesmo homem em todos os momentos, sonos discursos comuns dos homens de significao inconstante. Pois dado que todos os nomes so impostospara significar nossas concepes, e todas as nossas afeies nada mais so do que concepes, quandoconcebemos as mesmas coisas de forma diferente, dificilmente podemos evitar denomin-las de formadiferente tambm. Pois muito embora a natureza do que concebemos seja a mesma, contudo a diversidade denossa recepo dela, no que se refere s diferentes constituies do corpo, e aos preconceitos da opinio, d atudo a colorao de nossas diferentes paixes. Portanto, ao raciocinar, o homem tem de tomar cautela com aspalavras, que, alm da significao daquilo que imaginamos de sua natureza, tambm possuem umasignificao da natureza, disposio, e interesse do locutor. Assim so os nomes de virtudes e vcios, pois umhomem chama sabedoria quilo que outro homem chama temor, crueldade o que para outro justia,prodigalidade o que para outro magnanimidade, gravidade o que para outro estupidez, etc. E portanto taisnomes nunca podem ser verdadeiras bases de qualquer raciocnio. Como tambm no o podem ser asmetforas, e os tropos do discurso, ms estes so menos perigosos, pois ostentam sua inconstncia, ao passoque os outros no o fazem. CAPTULO V Da razo e da cincia 20. Quando algum raciocina, nada mais faz do que conceber uma soma total, a partir da adio deparcelas, ou conceber um resto a partir da subtrao de uma soma por outra; o que (se for feito com palavras) conceber da conseqncia dos nomes de todas as partes para o nome da totalidade, ou dos nomes datotalidade e de uma parte, para o nome da outra parte. E muito embora em algumas coisas (como nosnmeros), alm de adicionar e subtrair, os homens nomeiem outras operaes, como multiplicar e dividir,contudo so as mesmas, pois a multiplicao nada mais do que a adio conjunta de coisas iguais, e adiviso a subtrao de uma coisa tantas vezes quantas for possvel. Estas operaes no so caractersticasapenas dos nmeros, mal tambm de toda a espcie de coisas que podem ser somadas juntas e tiradas umasdas outras, Pois do mesmo modo que os aritmticos ensinam a adicionar e a subtrair com nmeros, tambm osgemetras ensinam o mesmo com linhas, figuras (slidas e superficiais), ngulos, propores, tempos, grausde velocidade, fora, poder, e outras coisas semelhantes. Os lgicos ensinam o mesmo com conseqncias depalavras, somando juntos dois nomes para fazer uma afirmao, e duas afirmaes para fazer um silogismo, emuitos silogismos para fazer uma demonstrao; e da soma, ou concluso de um silogismo, subtraem umaproposio para encontrar a outra. Os escritores de poltica adicionam em conjunto pactos para descobrir osdeveres dos homens, e os juristas leis e fatos para descobrir o que certo e errado nas aes dos homensprivados. Em suma, seja em que matria for que houver lugar para a adio e para a subtrao, h tambmlugar para a razo, e onde aquelas no tiverem o seu lugar, tambm a razo nada tem a fazer.A partir do que podemos definir (isto , determinar) que coisa significada pela palavra razo, quandoa contamos entre as faculdades do esprito. Pois razo, neste sentido, nada mais do que clculo (isto ,adio e subtrao) das conseqncias de nomes gerais estabelecidos para marcar e significar nossospensamentos. Digo marcar quando calculamos para ns prprios, e significar quando demonstramos ouaprovamos nossos clculos para os outros homens.E tal como na aritmtica os homens sem prtica, e mesmo professores, podem muitas vezes errar econtar falso, tambm em qualquer outro tema de raciocnio, os homens mais capazes, mais atentos e maisprticos se podem enganar e inferir falsas concluses. No porque a razo em si prpria no seja sempre umaruo certa, tal como a aritmtica uma arte infalvel e certa. Mas a razo de ne