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HOJE MACAU PUB Ter para ler Embora não considere uma boa estratégia, o presidente da Sociedade Aberta de Macau admite, por causa da proibição do IACM, a mudança de nome da iniciativa projectada para o mês de Agosto e considera avançar para tribunal contra o instituto. PÁGINA 5 SER OU NAO SER JASON CHAO NÃO EXCLUI DAR OUTRO NOME AO REFERENDO AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB PROPRIEDADE Tong Sin Tong acusada de forjar assinaturas SALÁRIO MÍNIMO A RESISTÊNCIA FAZ-SE DIA A DIA POLÍTICA PÁGINA 4 SOCIEDADE PÁGINA 6 LOJAS TRADICIONAIS DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 SEXTA-FEIRA 25 DE JULHO DE 2014 ANO XIII Nº 3139 hojemacau A discussão está adiada. O presidente da comissão que analisa a proposta de Lei do Salário Mínimo, Cheang Chi Keong, veio anunciar que as partes interessadas só serão ouvidas na próxima legislatura. PUB ˜

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Hoje Macau N.º3139 de 25 de Julho de 2014

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Page 1: Hoje Macau 25 JUL 2014 #3139

HOJE

MAC

AU

PUB

Ter para ler

Embora não considere uma boa estratégia, o presidente da Sociedade Aberta de Macau admite, por causa da proibição do IACM, a mudança de nome da iniciativa projectada para o mês

de Agosto e considera avançar para tribunal contra o instituto. PÁGINA 5

SER OU NAO SERJASON CHAO NÃO EXCLUI DAR OUTRO NOME AO REFERENDO

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

PROPRIEDADETong Sin Tongacusada de forjar assinaturas

SALÁRIOMÍNIMO

A RESISTÊNCIA FAZ-SE DIA A DIA

POLÍTICA PÁGINA 4 SOCIEDADE PÁGINA 6

LOJAS TRADICIONAIS

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 S E X TA - F E I R A 2 5 D E J U L H O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 1 3 9

hojemacau

A discussão está adiada. O presidente da comissão que analisa a propostade Lei do Salário Mínimo, Cheang Chi Keong, veio anunciar que as partes interessadas só serão ouvidas na próxima legislatura.

PUB

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Page 2: Hoje Macau 25 JUL 2014 #3139

FOTO

S HO

JE M

ACAU

hoje macau sexta-feira 25.7.20142 REPORTAGEM

LEONOR SÁ MACHADO*[email protected]

A viagem pedonal da Ave-nida da Praia Grande até à Rua do Merca-dores, passando pela

icónica San Ma Lou, é uma das mais nostálgicas e atabalhoadas que existem. O ar desarrumado das alfaiatarias, louceiros e lojas de ferragens, juntamente com o cheiro intenso a carne e peixe seco transporta-nos para um tempo que julgamos inexistente. Ele existe, sim, mas longe da Macau moderna, hoje em dia conhecida pela vida louca dos casinos e o vaivém de turistas que não deixam as cadeiras das mesas de jogo arrefecerem. É nesta zona que encontramos as lojas mais tradicionais de Macau. Ou algumas delas.

Quem entra na loja de Lao Mang Keng, ali mesmo na esqui-na, como quem entra na Rua do Mercadores, sente-se de volta ao passado. Lao tem 72 anos e gere agora a loja de carne e peixe seco ‘Quen Ine Chan’. Orgulhosamente, confessa ao HM que o estabeleci-mento pertence à sua família há mais de quatro gerações, ocupando aquele mesmo pedaço de esquina há um século: em letras chinesas, bem gordas, pode ler-se mesmo “Marca antiga com cem anos”.

Lao confessa ao HM que ainda há muitas pessoas a comprarem produtos na sua loja, acrescentando que são os chouriços adocicados e os peixes secos que fazem as de-lícias de qualquer um. Tem pena, quando pensa que o negócio terá, muito provavelmente, um fim no dia em que a velhice forçar a refor-ma. “Tenho duas filhas, mas acho que nenhuma delas quer continuar com a loja. Ambas têm profissões

São lojas de pivetes e incenso, ferragens e louças, de carne e peixe secos às quais o interior da China parece ter roubado grande parte da clientela. Não fecham portas, porque não querem desistir, mas lutam lado a lado com outras - também dedicadas ao comércio tradicional – já fechadas a cadeado EM MACAU, AS LOJAS TRADICIONAIS PERDEM CLIENTES PARA O INTERIOR DA CHINA

Sobreviver todos os diasliberais”, explica. E este parece não ser o único problema. “Ac-tualmente há mais clientes, mas compram menos produtos do que antigamente. Dantes havia menos clientes, mas, na altura, as pessoas compravam grandes quantidades de carnes secas como lembrança para levar para o interior da China. Agora já não precisam porque na China há imensos produtos e as pessoas só compram para consumo próprio.”

Continuamos Rua dos Merca-

dores dentro, para tentar perceber que outros estabelecimentos tradicionais ainda prevalecem. À vista desarmada, e bem perto do Mercado de São Domingos, há uma farmácia típica de Macau com mais de 30 anos. Daquelas tradicionais, onde todos os produtos estão en-cerrados em frascos: folhas de chá, gengibre seco...

“Não há médicos aqui, por isso as pessoas vêm cá com as receitas depois de uma consulta e pedem os medicamentos que precisam”,

explica um dos sócios, de apelido Chio. Desconhece o valor da renda, mas diz que o negócio vai “assim assim”, ainda que “pior do que antigamente”.

Tal como na loja de Lao, também na farmácia ‘Heng Wo Tong’, o HM se cruza com um ou um outro cliente. Locais, porque a concorrência na China continental é grande e quem é de lá não tem de procurar Macau.

“Claro que o [volume] de negócio não é tão grande como nas farmácias maiores”, afirmou Chio, acrescentando que a grande maioria dos clientes é local, uma vez que os turistas já não procu-ram este tipo de serviços, como o faziam antes, porque também já os há, disponíveis por essa China fora.

RENDAS ALTAS DITAM FIMChio e Lao não são os únicos a referir que a China continental lhes roubou parte da clientela.

Na louçaria ‘Foc Io Cheong’, o gestor Fok e a sua ajudante e vizinha, Fei, descansam contra uma das prateleiras atrás do balcão. “Ele está com dores de garganta”, explica Fei, ao perceber que o HM quer falar com Fok. Amavelmente, toma as rédeas e começa por con-tar a história da abertura da loja, especializada na venda de louças e outros artigos. Uma espécie de drogaria.

Pratos, caixas de plástico,

esculturas poeirentas e quinqui-lharias de todo o género enchem o espaço de venda, já de si pe-queno. A ‘Foc Io Cheong’ vive na

“A grande maioria dos clientes é local, uma vez que os turistas já não procuram este tipo de serviços, como o faziam antes, porque também já os há, disponíveis por essa China fora”CHIO Sócio de uma farmácia

“Muitas pessoasjá quiseram comprar ou arrendar esta loja, mas como não pretendem continuar com este meu negócio, eu não aceitei”LO YIU PING Dono de uma lojade máquinas de costura

Tam Kin Hong

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3 reportagemhoje macau sexta-feira 25.7.2014

“A sociedade ficou melhor depois de 1999, mas o negócio ficou pior”LAM Empregada de uma joalharia

mesma rua há mais de um século e é agora gerida pelo bisneto do fundador. Mas sofre todos os dias. “A renda é cara e sentimos uma grande pressão”, diz a ajudante ao HM, com um olhar visivelmente triste. “Tenho medo que um dia o proprietário venda este espaço e a loja deixe de existir.”

Questionada pelo HM sobre se preferia os tempos antigos ou um Macau mais moderno, Fei assegura que gostava mais do antigamente. Mas não culpa os turistas. Os responsáveis, diz antes, são os in-vestidores e “barões” do mercado imobiliário, que o revestem de especulação.

Agora, o mercado é “impossí-vel” e antes era suportável, desta-cou. “Antes havia muitas lojas como esta, mas hoje são apenas duas ou três”, revela. Algo que o HM pode constatar, ao continuar ruela fora.

Não foi preciso caminhar mui-to, para perceber que a Rua dos Mercadores é, sem dúvida, uma das mais antigas e tradicionais de Macau. Contudo, é possível com-preender a razão pela qual muitas delas exibem pesados portões de metal, típicos de uma era que já não mais existe: muitas delas es-tavam munidas de avisos de falta de pagamento de electricidade, outras tinham simplesmente ar de que não eram arejadas há já vários anos. E as rendas, essas, são parte responsável. “Se esta loja

“Tenho medo que um dia o proprietário venda este espaço e a loja deixe de existir”FEI Ajudante de uma louçaria

fosse arrendada, seria impossível continuar o negócio”, diz-nos Lo Yiu Ping, o dono de uma loja de máquinas de costura.

CONTAR OS DIAS Mas Lo Yiu Ping pode ser con-siderado um homem de sorte. Detém a sua própria loja e não tem a quem pagar uma renda com aumentos progressivos e quase incomportáveis. “A loja é minha. Se fosse arrendada, seria impossí-vel continuar aqui”, conta ao HM, enquanto bate levemente com os dedos no balcão de vidro.

Tem dois filhos, mas não acre-dita que algum tenha intenções de ficar com a loja, até porque um deles está no estrangeiro a trabalhar. “Dantes tinha gente a trabalhar para mim, mas agora já não”, disse, continuando a explicar que as máquinas que vende vêm do Japão, substituindo as ante-riormente provenientes da China.

Também o volume de negócio da loja ‘Va Kei’ tem diminuído cada vez mais, mas nada disso parece destronar Lo, que pretende conti-nuar a estar atrás daquele balcão, dia após dia, até ter demasiada idade para ali permanecer.

O interesse pela compra de lojas tradicionais como esta é crescente, conforme o HM pôde constatar. Lo confessa que já foi contactado por várias pessoas com interesse em ficarem com o espaço, mas nunca cedeu. “Muitas pessoas já quiseram comprar ou arrendar esta loja, mas como não pretendem continuar com este meu negócio, eu não aceitei”, diz.

Lo Yiu Ping consegue perce-ber que o território sofreu várias mudanças nos últimos 20 anos e que isso afecta o seu negócio, mas continua a ter esperança. Talvez daqui a uns tempos, todos voltem a precisar de uma máquina de costura em casa.

Numa das paralelas à Rua dos Mercadores, bem estreita e calma, encontrámos, entre portas e tra-vessas, várias lojas tradicionais de quinquilharias e ferragens e uma alfaiataria. Mesmo em frente a uma

das dezenas de portas ferradas a cadeado está a joalharia ‘I Hap’, propriedade de Kong Sio Hok, um homem com quase um século de experiências para contar.

A idade avançada já não per-mite que atenda clientes e por isso mesmo delegou a gestão da pequena e atabalhoada loja a Lam, que já trabalha no mesmo local há 20 anos. O acordo consta numa troca de favores: Lam gere o es-paço, atende a clientela e cuida de Kong. O proprietário permite que a já septuagenária viva no andar por cima do espaço de venda, que “não é muito grande”.

“Qual a principal diferença entre viver numa Macau gover-nada por portugueses e depois da mudança de administração?”, queremos saber nós. “Antes da transferência, havia mais clientes. A sociedade ficou melhor depois de 1999, mas o negócio ficou pior. Só as lojas grandes, como a [padaria] Koi Kei, é que ganham dinheiro hoje em dia”, confessa.

A falta de receitas ao final do mês é justificada por Lam diz com o facto de as joalharias tradicionais terem sido destronadas, depois das grandes ourivesarias e casas de penhores terem ganho terreno numa cidade cada vez mais sedenta por dinheiro.

Palmilhando travessas e ruelas

discretas, Rua dos Ervanários fora, o cheiro de incenso assola qualquer nariz, seja ele estrangeiro ou local. A fragrância, que tanto marca a vivência de Macau, inunda a rua e vem da loja de pivetes ‘Veng Heng Cheong’.

O pai de Tam Kin Hong abriu o estabelecimento de venda de incenso em 1968 e uma das pri-meiras coisas que pode ver-se é uma moldura com uma fotografia sua ao lado do antigo Presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio.

O chão, as prateleiras e até a ventoinha de tecto estão pejadas de pó amarelo. “Este pó? Não tem ne-nhuma função especial, é só mesmo mais um elemento para embelezar os paus de incenso”, explicou Tam, ao encarar duas caras intrigadas. A loja nasceu em plena Revolução Cultural, quando fazer incenso era proibido na China e Macau era dos poucos locais onde esta actividade era permitida. Agora, que tudo é possível e vendável no continente, o proprietário afirma que “não há grande razão para ter a loja aqui”.

Comparando tempos antigos, Tam diz que prefere Macau sob administração chinesa, embora, tal como todos, admita que o negócio piorou. Também prefere o estado da actual sociedade do território, mas admite que o negócio viu tempos mais áureos, bem lá atrás, lá no tempo de Sampaio. “Gosto mais [de Macau] agora. O sector dos pivetes já é grande na China e por isso a percentagem de clientes desceu”, revela Tam, a sua opinião juntando-se à de todos os restantes proprietários, vendedores e conta-dores de histórias que falaram com o HM. “Mas, na verdade, passa-se o mesmo com os outros sectores como o dos bens de primeira ne-cessidade, por exemplo”.

Sobre a continuidade do es-tabelecimento, o proprietário - a segunda geração deles -mostra-se reticente. “A nova geração não quer continuar. Não tenho a certeza se vou continuar muito mais tempo também, pois quero reformar-me.”

Para Tam, que já conta mais de cinquenta, o processo de produção de incensos é “cansativo e sujo” e é necessário um local de maior

dimensão, sendo por isso que se dedica apenas ao empacotamento do material, muito utilizado para prestar homenagem aos deuses e antepassados. Agora, Macau já não é sítio para isto e produção é inteiramente executada na China, tornando-se o território lugar para o embalamento.

NÚMEROS INVISÍVEISAlgumas das anteriormente exis-tentes lojas tradicionais de Macau fecharam, outras continuam a viver e outras apenas a sobreviver. Para bem ou para mal, tanto o proprie-tário da loja de carne e peixe secos como o embalador de incenso consideram que tudo tem um fim. Não admitem ter “pena” que as lojas fechem portas para sempre, mas acreditam, bem no fundo, que são o resquício de vida de um tempo que não mais voltará, de uma cidade onde os supermercados eram mercearias e os casinos não roubavam clientes aos alfaiates. Mas, as rendas actuais não param de aumentar e muitos têm sido os proprietários que se vêm obriga-

dos a fechar portas devido à falta de receitas ao final de um mês de trabalho. Os turistas já pouco se interessam por produtos típicos e o que vai salvando estes carismáticos lugares parece ser, ao contrário do que se possa pensar, as gentes locais. Passam, a caminho dos tem-plos, no senhor Tam para comprar um molho de incenso, mas não sem antes entrarem na farmácia de Chio para aviar aquela receita, vinda de um qualquer médico especialista em medicina tradicional.

O HM tentou saber, junto da Di-recção dos Serviços de Estatísticas e Censos, informações concretas sobre o número de estabelecimen-tos comerciais tradicionais abertos actualmente, face ao passado. Tal não foi possível até ao fecho desta edição, mas foi fácil de compreen-der, através dos testemunhos de outros tempos, que os negócios mais pequenos têm vindo a dimi-nuir exponencialmente. Lao Mang Keng tinha sete lojas e agora só tem duas. Fei assegura-nos que “antes, havia muitas lojas [tradicionais]” e as de agora quase se contam pelos dedos das mãos. - *com Flora Fong

Lao Mang Keng

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4 hoje macau sexta-feira 25.7.2014POLÍTICAHOJE [email protected]

N ADA do que diz respeito à proposta de Lei do Salário Mínimo Para os Trabalhadores de

Limpeza e de Segurança vai ficar decidido nesta sessão legislativa. Quem é o garante é o próprio pre-sidente da 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, Cheang Chi Keong, encarregue de analisar na especialidade a proposta de lei.

“A Comissão quer ouvir as associações que se mostraram inte-ressadas em dar as suas opiniões e como estamos com muito trabalho, só conseguiremos ter reuniões com as partes interessadas na próxima sessão legislativa, ou seja, depois do dia 16 de Outubro”, explicou Cheang, informando que, apesar da Comissão pretender ser rápida, não “será possível ter a apreciação da especialidade concluída nesta sessão legislativa”.

Relativamente ao que foi dis-cutido na reunião, o presidente afirmou que dois assuntos de peso foram o foco do debate: o método e valor do salário e, de novo, o alargamento de um salário mínimo geral em todas as áreas.

Foi então discutido como “ajus-tar o conteúdo da proposta de lei”, isto é, como “alargar o âmbito de aplicação [da lei] para todos os sectores, ou seja, elaborar uma proposta que estipule um salário mínimo geral”, explicou Cheang Chi Keong.

SALÁRIO GERA NO FUTUROO presidente garante que o Gover-no avançará numa primeira fase com a presente proposta de lei e que, “futuramente, passo a passo, contemplará os outros sectores”.

Recorde-se que o presidente já se tinha manifestado sobre esta vontade no última reunião, defen-dendo a criação de uma nova lei,

LEONOR SÁ MACHADO [email protected]

O chefe de gabinete da PSP, Vong Chun Fat, afirmou que há

a possibilidade de que a Lei do Trânsito Rodoviário ve-nha a ser revista, principal-mente no que diz respeito ao “ajustamento” do método de punição e aperfeiçoamento das vias rodoviárias.

A declaração faz parte da resposta a uma interpelação escrita da deputada Ella Lei, que fala sobre o aumento do número de acidentes viários estes ano. A PSP assegura que vai ouvir as opiniões dos vários serviços governa-mentais e dos residentes para saber mais sobre as recentes infracções, embora afirme

SALÁRIO MÍNIMO LEI SÓ PODERÁ SER APROVADA EM OUTUBRO

Quem espera, alcança?Tudo adiado em matéria de salário mínimo. O argumento apresentado pelo presidente da 3ª Comissão Permanenteda AL é o excesso de trabalho. Conclusões só na próxima sessão legislativa

“Como estamos com muito trabalho, só conseguiremos ter reuniões com as partes interessadas na próxima sessão legislativa, ou seja, depois do dia 16 de Outubro”CHEANG CHI KEONG Presidente da 3ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa

LEI DO TRÂNSITO RODOVIÁRIO PSP FORNECE DADOS PARA REVISÃO DE DIPLOMA

“Legislação mais perfeita”que o regime de punição presentemente em vigor “já atinge o efeito de prevenção e de dissuasão” pretendido.

“O CPSP vai ouvir as diversas opiniões, ao mesmo tempo, concilia activamente o trabalho de revisão da lei, fornecendo dados técni-cos e pareceres policiais e apresentado atempadamente ao serviço competente da legislação as suas propostas, bem como participar no res-pectivo estudo, no sentido de cooperar na elaboração de uma legislação mais perfeita e em conformidade com a

necessidade real”, lê-se na resposta da PSP.

Ella Lei não foi a única deputada a reclamar o au-mento do valor das multas e um aperto do cerco quanto às infracções cometidas por automobilistas e peões. Em final do passado mês de Maio, também as deputadas da Assembleia Legislativa, Chan Hong e Kwan Tsui Hang, expressaram a sua preocupação com o número de atropelamentos regista-dos nesse mesmo mês.

“Deve ser ponderada a revisão da lei, reforçando

as penas para a condução [sob efeito de álcool, droga e excesso de velocidade], no sentido de combater a con-

com anexos, onde se vão acrescen-tado profissões sempre que o Exe-cutivo desejar. Tal não acontece agora, pois segundo Cheang, uma vez que os deputados já aprovaram uma proposta de lei que apenas versa sobre um sector, alargar o âmbito da lei significaria voltar à estaca zero em todo o processo.

Outro dos temas debatidos, e dos quais não há consenso, é o método de cálculo do valor do salário. Segundo o presidente é necessário fazer a separação dos trabalhadores que recebem à hora, ao dia e ao mês, assim como aqueles que estão a receberem o subsídio de alimentação e outros complementares.

“Uma outra questão é o número de dias pagos, se devem ser 26 ou 30”, explicou Cheang, indicando que se está “a tentar perceber como se vai fazer o cálculo, porque se se tiver em conta os 30 dias, o salário será de 7200, caso contrário será de 6240”.

Uma das preocupações apre-sentadas por Cheang, também na última reunião, estava subordinada aos efeitos negativos da imple-mentação da proposta de lei. Para o presidente “a administração de propriedades não é o sector com mais trabalhadores com baixos rendimentos, mas sim o manu-factureiro” e por esse motivo o princípio da igualdade poderia ser posto em causa. Segundo dados fornecidos pelo Executivo à Co-missão Permanente da AL, só no ano passado 1869 trabalhadores do sector das manufacturas recebiam este subsídio, contra 2967 do sector da limpeza e segurança. Mas, en-tre 2009 e 2013, os trabalhadores de manufacturas representaram cerca de 40% da fatia dos utiliza-dores deste subsídio, de cinco mil patacas. Cheang garante que “a proposta não viola o princípio da igualdade” e o impacto da sua apli-cação “não será muito grande”.

dução perigosa”, explicou Chan num plenário.

Recorde-se que Kwan Tsui Hang apresentou, no

hemiciclo, dados estatísticos relativos aos acidentes rodo-viários desde 2011, ano em que foram registados mais de 14 mil desastres com 12 mortes.

Só nos primeiros seis meses deste ano houve quase 7000 acidentes que resultaram em sete mortes.

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5 políticahoje macau sexta-feira 25.7.2014

HOJE [email protected]

O presidente da Socie-dade Aberta de Ma-cau, Jason Chao, não exclui a hipótese de

alterar o nome do ‘referendo civil’ sobre o sufrágio universal para a votação no Chefe do Executivo, quando, e se o caso do conflito com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) chegar a tribunal. A decisão ainda não está tomada, mas a associação pondera interpor recurso no Tribunal de Úl-tima Instância (TUI) da escolha do IACM em negar o uso de espaços para actividades relacionadas com o ‘referendo’ não oficial que a as-sociação – em conjunto com mais duas – quer levar a cabo.

A entrada ou não de recurso em tribunal está dependente da elabo-ração, por parte das associações, de um documento que terá de ser

Casinos Francis Tam admite queixas à DSALO Secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam assegura estar atento às necessidades apresentadas pelos funcionários dos casinos, garantindo que “os apoiará quando necessário”. De acordo com Tam, embora haja competitividade e concorrência – ao nível de recursos humanos – entre as seis operadoras de jogo do território, tem havido uma melhoria das condições de trabalho, bem como um aperfeiçoamento do regime de contratação de pessoal. O Secretário confirma que os Serviços para os Assuntos Laborais receberam algumas queixas por parte de trabalhadores do sector do jogo, mas assegura que todas elas serão resolvidas o mais rápido possível. O anúncio de Tam surge no dia seguinte à manifestação dos funcionários do sector do jogo, que juntou cerca de duas mil pessoas em volta do casino Venetian pelo aumento de salários e progressão na carreira. Ao protesto aderiram trabalhadores do Galaxy e do Sands.

AL Lei dos animais não deve ser aceiteesta legislaturaO Governo não deve ver a Assembleia Legislativa (AL) aceitar a proposta de Lei de Protecção dos Animais ainda nesta sessão legislativa. A câmara deve rejeitar o diploma, concluíram os deputados depois de analisarem com detalhe o regimento, conforme citado pela rádio Macau. Sem haver mudanças a estas regras da AL, o hemiciclo não pode receber o diploma, uma vez que Pereira Coutinho e Leong Veng Chai já apresentaram um projecto de lei com o mesmo tema. Segundo a rádio, a decisão final cabe ao presidente da AL, Ho Iat Seng, mas a comissão encarregue por ele de estudar o regimento da AL entende, por unanimidade, que aceitar a proposta de lei do Governo sobre a protecção dos animais significaria uma repetição. “Quanto à posição da comissão é que as duas iniciativas são substancialmente repetidas (...) segundo o número 1 do artigo 109, o sujeito da renovação refere-se a qualquer deputado e também ao Governo, que goza do poder de iniciativa nos termos da lei básica”, explicou o presidente da comissão, Vong Hin Fai, citado pela rádio.

REFERENDO JASON CHAO PONDERA AVANÇAR PARA TRIBUNAL CONTRA IACM

E se o nome fosse outro?

IACM DEMORA NÃO EXISTESem resposta não ficou o IACM, que no final do dia de ontem disponibilizou um comunicado aos meios de comunicação acusando a Sociedade Aberta de Macau de querer deturpar a realidade. “Segundo o que se encontra determinado, a comunicação para a realização de uma reunião deve ser apresentada com uma antecedência de três dias úteis antes da sua realização e, caso tenha um carácter político ou laboral, a antecedência é de dois dias. O IACM recebeu, no dia 22 do corrente mês, a comunicação por escrito da ‘Open Macau Society’, para que a reunião tivesse lugar no dia 24 do corrente mês”, explica o instituto. “O IACM, de acordo com as disposições, respondeu ao respectivo pedido no dia 23, ou seja, 24 horas antes da realização da actividade, não existindo, por isso, demora”, garantiu. “Assim sendo, o IACM acrescenta ainda que lamenta “profundamente” que existam situações por parte da associação “que não correspondem à realidade”.

O presidente da Sociedade Aberta de Macau considera interpor recurso no TUI por causa da negação de espaços para actividades ligadas ao “referendo”, mas o tempo corre contra Jason Chao que acusa o IACM de estar deliberadamente a atrasar a entrega de documentos

entregue hoje ao TUI. “Não posso dizer que vamos avançar para tribu-nal, porque é preciso elaborar um documento que tenha a descrição exacta de tudo o que aconteceu. Para isso precisamos de alguém que nos ajude nessa elaboração para que nada seja rejeitado pelo tribunal, por isso, não sei se temos tempo até amanhã [hoje]”, expli-cou Jason Chao ao HM.

O TUI pode decidir sobre o caso no prazo máximo de cinco dias, mas Chao considera que o IACM está propositadamente a prejudicar a actividade. “Os cidadãos têm o direito de organizar um referendo civil”, defende o activista, que acusa o IACM de estar a fazer tudo para atrasar os documentos. “Se não entregarmos os documentos a tempo, o tribunal não pode consi-derar o recurso. Acho que o IACM está deliberadamente a atrasar a entrega dos documentos. É um abuso grave do seu poder e viola

“Acho que o IACM está deliberadamente a atrasar a entrega dos documentos. É um abuso grave do seu poder e viola o princípio da boa-fé do Código de Procedimento Administrativos”JASON CHAO

o princípio da boa-fé do Código de Procedimento Administrativos que todos os organismos públicos devem respeitar”, explicou Jason.

SER OU NÃO SERA utilização do nome ‘referendo’ tem sido uma das maiores polé-micas em volta desta actividade, uma vez que um referendo só é possível com base na lei e o que as associações estão a fazer é visto como um mero inquérito.

Contudo, a hipótese de alte-ração do nome não é considerada uma boa estratégia para o activista,

ainda que possa vir a ser tomada, em último caso. “Não acredito que alterar o nome seja uma boa estra-tégia, porque se o caso chegar a tribunal será quase a mesma coisa”, explicou o activista, acrescentando que as associações “não acreditam que seja necessário” tal alteração nesta fase do procedimento. Para Jason a mudança poderá ser co-locada em cima da mesa caso o “tribuna decida alguma coisa”.

Tal como avançado ontem pelo HM, o IACM justificou a sua re-cusa aos pedidos das associações argumentando que o “referendo viola a Lei Básica e a Constituição da China”, sublinhando o que diz o Governo e o Gabinete de Ligação do Governo Central da China na RAEM: Macau não tem direito de estabelecer um referendo.

Apesar da nega, Jason Chao afirmou que a organização tem um “plano B” para contornar os entraves colocados e manter o objectivo de colocar mesas de votos fictícias em alguns dos espaços públicos de Ma-cau. Questionado sobre a alternativa, o activista defendeu que “por ques-tões de segurança” não pode revelar o que a organização planeia fazer.

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6 hoje macau sexta-feira 25.7.2014SOCIEDADEANDREIA SOFIA [email protected]

A CAM - Sociedade do Aeroporto Internacio-nal de Macau (CAM) registou, nos primeiros

seis meses do ano, receitas no valor de 960 milhões de patacas, oriundas de um tráfego de 1,5 milhões de pessoas. Numa conferência de im-prensa promovida ontem, Vicki Mou, vice-chefe da Comissão Executiva da CAM, confirmou que as rotas locais, com a China e Taiwan, são responsáveis por 40% das receitas.

“Temos 21 rotas aéreas e oito delas são locais. Podemos dizer que o volume de passageiros é satisfatório”, disse Vicki Mou.

Para a segunda metade do ano, está prevista a abertura de novas rotas para as cidades de Xian e Shi-jianzhuang, bem como o lançamento de uma rota directa entre Macau e Tianjin e o aumento de frequência de voos para a zona este da China.

Um dos objectivos é também a exploração de linhas low-cost com “potencial desenvolvimento” no mercado chinês, apesar de Vicki Mou ter frisado que o mercado precisa de mais tempo para se preparar.

O mais recente relatório da emigração de 2013, divulgado esta semana

pela Secretaria de Estado das Co-munidades Portuguesas, revela que o ano passado um idoso, residente em Macau, recorreu ao Apoio Social a Idosos Carenciados das Comunidades Portuguesas (ASIC--CP). O homem chegou a receber um subsídio de cerca de dois mil euros – cerca vinte mil patacas.

O apoio destina-se a idosos com idade igual ou superior a 65 anos e registou 32 candidaturas em 2013

de portugueses residentes em todo o mundo. A RAEM mereceu ainda dois pedidos de informação junto da Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Por-tuguesas em Lisboa.

Este foi o primeiro relatório da emigração a ser realizado pelo Governo português, tendo sido apresentado esta terça-feira por José Cesário, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, numa comissão da Assembleia da República.

O documento, que mostra que o

actual movimento migratório por-tuguês tem, na maioria, a Europa como destino, poucos dados con-tém sobre Macau. No parlamento português, o Governo admitiu que existem “dificuldades” e que “as políticas [de emigração] podem ser melhoradas”. José Cesário falou do aumento dos emigrantes qualificados e disse que “existem muitos portugueses com habilita-ções desadequadas ao que estão a fazer” no estrangeiro.

O HM tentou pedir um comen-tário sobre o documento a Vítor

Sereno, cônsul-geral de Portugal em Macau, e também a Fernando Gomes, do Conselho das Comu-nidades Portuguesas, mas ambos estiveram incontactáveis até ao fecho desta edição.

O relatório mostra que o maior volume de cidadãos portugeses no estrangeiro concentra-se em países europeus, em particular em França e na Suíça, sendo que a emigração para Macau situa-se nas estatísticas de menor número, com os dados a apontar para cinco mil pessoas no território. - A.S.S.

Pedido de comparticipação pecuniária especialAntónio José de Freitas, presidente da Santa Casa da Misericórdia, considera que o Governo podia ter políticas para construir um mecanismo da segurança social a longo prazo. “Como a economia de Macau tem aumentado rapidamente, concordo com a proposta da comparticipação pecuniária, no entanto, acho que, além disso, não estão a ser dados cuidados e apoios especiais a pessoas que têm condições mais fracas, sendo que a vida deles não pode, assim, ser melhorada”, disse, citado pelo jornal Ou Mun. António José Freitas considera que muitas das medidas sociais como a comparticipação pecuniária e os vales de saúde abrangem toda a população, mas sugere que se possa oferecer uma “comparticipação especial” a pessoas que ganham menos do que o índice mínimo de subsistência. Além disso, aconselha a um aumento do valor dos vales de saúde para 1000 ou 1500 patacas para idosos com mais de 65 anos, de forma a assegurar a vida das pessoas com mais necessidades e dos idosos que sofrem várias doenças. - F.F.

Nos primeiros seis meses do ano, o aeroporto registou um tráfego de 5,1 milhões de passageiros e receitas de 960 milhões de patacas, sendo que 40% foi gerado por rotas locais. É certa a abertura de novas linhas aéreas com o continente, mas a aposta nos voos low-cost pode demorar. Certa é a expansãodo aeroporto já a partir deste ano

CAM QUER APOSTAR EM VOOS DE BAIXO CUSTO

Em fase de crescimento

21rotas

8locais

FLORA FONG [email protected]

A família responsável pela estância de madeira Lei Seng

entregou ontem uma carta ao Ministério Público, pe-dindo a intervenção no caso do direito de propriedades de dois terreos na Avenida Almirante Lacerda. A res-ponsável da estância, Iong Lao Tsing, acusa a Associa-

ção de Beneficência Tong Sin Tong de ter forjado duas assinaturas num contrato de compra e venda e de direito de propriedade nos anos 1950.

A Lei Seng perdeu o processo que tinha em tri-bunal contra a associação, presidida pelo deputado e primo de Chui Sai On, José Chui Sai Peng. O Tribunal de Segunda Instância (TSI) determinou que a Tong Sin

Tong tem direito de posse sobre dois terrenos agríco-las onde fica a estância de madeira, por considerar que não há provas em relação ao arrendamento entre a associação de beneficência e a Lei Seng,.

Em Fevereiro deste ano, o Tribunal de Última Instân-cia deciciu recusar um recur-so da estância de Madeira, pelas mesmas razões.

Em Julho, o caso voltou

para o Tribunal Judicial de Base e Iong Lao Tsing afirmou que já pediu a intervenção do Governo. A responsável afirma que a Associação de Beneficência Tong Sin Tong fez duas assinaturas falsificadas num contrato de compra e venda e num documento de direito de propriedade em 1948 e 1950 respectivamente, para obter o direito de proprie-dade das duas áreas. Iong

assegura já ter a prova de identificação de assinaturas feita por especialistas, que afirmam que estas assinatu-ras são falsificadas.

Além disso, a família acusa ainda a Tong Sin Tong de ter pago ao advogado da responsável da família Iong, de forma a que este destruísse os documentos do direito de propriedade dos terrenos sem os ter entregue ao tribunal.

ESTÂNCIA DE MADEIRA FAMÍLIA ACUSA TONG SIN TONG DE ASSINATURAS FALSIFICADAS

Advogado pago para destruir

“Temos de olhar para a nossa estrutura em termos de passa-geiros. O mercado em Macau ainda não está muito virado para as linhas low-cost. Precisamos de companhias aéreas que se estabeleçam no mercado e ana-lisem a procura. O aeroporto quer proteger a companhia de base, a Air Macau, em termos de receitas, ma não vamos parar de apoiar o desenvolvimento de outras linhas aéreas. Em termos

de mercado temos de ver quais são as necessidades”, garantiu a vice-chefe da Comissão Execu-tiva da CAM.

A empresa gestora do aeroporto internacional de Macau garante que as rotas aéreas com o conti-

nente irão, de certeza, começar a operar no próximo semestre. Há intenções de abrir novas rotas, mas a CAM “ainda não tem certeza quanto a esses destinos”.

EXPANSÃO DO AEROPORTOSERÁ REALIDADEOutro dos projectos que a CAM pretende desenvolver nos próxi-mos seis meses, a partir de Se-tembro ou Outubro, é a expansão do aeroporto, com a construção de um terminal de passageiros nos lados norte e sul. Espera-se, com esse projecto, que o aero-porto possa ter mais 1,5 milhões de passageiros e mais portas de acesso.

Em relação ao hangar destina-do à aviação executiva, vai estar concluído também este ano.

Outro objectivo da CAM é a liberalização do acesso das em-presas aos serviços de apoio ao aeroporto. O projecto da criação de uma zona de ‘duty-free’ já foi analisado e aguarda a apro-vação do Governo. “Abrimos um concurso público e estamos abertos a que outras empresas queiram concorrer”, garantiu Vicki Mou.

APOIO SOCIAL IDOSO DE MACAU RECORREU ÀS COMUNIDADES PORTUGUESAS

Por vinte mil patacas na carteira

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7 sociedadehoje macau sexta-feira 25.7.2014

A arquitecta responsável pela renovação do espaço da Taipa lamenta o fraco aproveitamento do auditório vocacionado para as mais variadas actividades artísticas e que se localiza numa zona de interesse patrimonial

A arquitecta Maria José de Freitas critica a fraca uti l ização do

Auditório do Carmo, na zona das Casas Museu da Taipa, fora do período das festividades habituais. Ao HM, a responsável pelo projecto de renovação do espaço fala da existência de poucas iniciativas de carácter cultural.

“Podia ser muito mais intensa a utilização do sítio e seria muito mais interes-sante para todos”, disse a arquitecta. “O espaço foi dotado de alguma auto-

TJB Corrupção activa leva a condenação de aluno de condução O Tribunal Judicial de Base (TJB) condenou um homem pelo crime de corrupção activa a uma pena de sete meses de prisão, mas com a suspensão da pena em um ano e seis meses. O caso havia sido entregue pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC) ao Ministério Público (MP), por se tratar de algo ocorrido na Administração Pública. Segundo um comunicado do MP, o homem, de apelido Leong e com 55 anos, ofereceu, no passado dia 21 de Julho, mil patacas à pessoa que o ia examinar num exame de condução, na Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT). O objectivo era “suborná-lo de modo a passar o exame mas foi denunciado pelo examinador”.

Fundo de Conservação Energética Empresas recebem 39 milhões Só no segundo semestre deste ano foram dados às Pequenas e Médias Empresas (PME) e associações locais quase 39 milhões de patacas em apoios no âmbito do Fundo de Conservação Energética, destinado a implementar infra-estruturas mais amigas do ambiente no sector empresarial. Das muitas entidades abrangidas destaca-se a Associação Geral das Mulheres de Macau, que recebeu 493 mil patacas, o Hotel Grand Emperor, com 500 mil patacas, e ainda a Sociedade para o Desenvolvimento dos Parques Industriais de Macau, que recebeu 387 mil patacas.

A Direcção dos Servi-ços de Solos e Obras

Públicas (DSSOPT) emitiu ontem um comunicado onde fala da tendência de redução dos processos ligados a obras ilegais.

“Da leitura dos dados estatísticos podemos verifi-car uma expressiva redução no número de processos

AUDITÓRIO DO CARMO MARIA JOSÉ DE FREITAS CRITICA POUCA UTILIZAÇÃO

Dá Deus nozes...

“Podia ser muito mais intensa a utilização do sítio e seria muito mais interessante para todos. (...) É uma zona da cidade e da vila da Taipa que tem outros edifícios de interesse patrimonial”MARIA JOSÉ DE FREITAS Arquitecta responsável pelo projecto de renovação do espaço

nomia em termos do tipo de espectáculos, de várias exigências, que pudessem acontecer ao longo do tempo. Isso não tem acon-tecido, sei que por vezes há alguns espectáculos musicais e de dança, mas podiam acontecer muito mais eventos. É uma zona

da cidade e da vila da Taipa que tem outros edifícios de interesse patrimonial”, defende.

A reacção de Maria José de Freitas surge depois do HM ter tentado perceber junto do Instituto para os Assuntos Cívicos e Muni-cipais (IACM) quantas as-

sociações é que já fizeram o pedido de arrendamento do auditório. Actualmente o custo do espaço varia entre as 300 e 400 patacas por hora, sendo que a publi-cidade custa 500 patacas.

O IACM, contudo, não avançou com números, tendo dito apenas que “é

bem-vinda a marcação da sua cedência por parte de as-sociações e organizações”. O organismo frisou ainda o sucesso do “Fórum do Au-ditório do Carmo”, virado para a partilha de “diversos conhecimentos culturais com vista a elevar a quali-dade de vida dos cidadãos”, e que já recebeu quatro mil pessoas desde 2011.

Trata-se “de um local que se presta, principalmente, à realização de actividades levadas a efeito pelo IACM, mormente actividades ar-tísticas plurifuncionais, graças à melhoria das suas instalações interiores e à zona envolvente”, frisa o IACM, que acrescenta que o Auditório recebe ainda, se-gundo o IACM, “colóquios sobre assuntos comunitários e bibliotecas”.

Maria José de Freitas fala de um local onde se poderiam realizar eventos “ligados às gentes de Macau” e onde se poderiam criar “pólos de interesse que atraíssem ao longo da semana e no fim--de-semana pessoas, inde-pendentemente dos festivais que se viessem a realizar”.

A arquitecta especificou ainda a falta de utilização de uma das casas-museu. “[O Auditório] está perto da moradia número cinco que foi toda equipada com um restaurante e que até hoje ainda não funcionou como restaurante. Tem todo o equipamento e condições de espaço”, disse ao HM.

Quando o Lvsitanvs teve de deixar a casa amarela, junto às ruínas de São Pau-lo, chegou a ser levantada a hipótese de se transferir para a Taipa, algo que nunca aconteceu. “Não sei porque é que não se concretizou e teria muito gosto que isso viesse a acontecer. Penso até que a própria Casa de Portugal poderia depois organizar ali exposições”, defendeu a arquitecta. - A.S.S.

Processos sobre obras ilegais sofrem reduçãoabertos nos últimos anos, cuja tendência é, igualmen-te, cada vez maior”, pode ler-se. A DSSOPT criou em 2010 um grupo destinado a eliminar as obras ilegais em prédios residenciais e desde então que há menos 30% de casos a acontecer. Entre o ano passado e o primeiro semestre deste

ano, a redução de casos cifrou-se nos 10%.

“Podemos concluir que, no corrente ano, foi redu-zido para mais de metade o número de casos abertos para o tratamento de obras ilegais, comparativamente com o número registado em 2010, o que mostra que foram preliminarmente frutíferos os esforços envi-dados ao longo dos últimos anos pela Administração no combate contra as obras ilegais”, aponta o comuni-cado, que também refere uma maior participação dos cidadãos no processo. Entretanto, a DSSOPT começou ontem a demolir mais um conjunto de obras ilegais no quinto piso de um edifício situado na Rua Afonso Albuquerque.

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HOJE

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8 sociedade hoje macau sexta-feira 25.7.2014

O Festival da Lusofonia viu a sua concreti-zação “por um fio”, depois de o Instituto

para os Assuntos Cívicos e Muni-cipais (IACM) se ter inicialmente recusado a tratar de procedimentos pelos quais sempre foi responsável, mas o instituto já voltou atrás.

No final da primeira reunião preparatória do Festival, as asso-ciações que constituem o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa encostaram o IACM à parede: ou os moldes da realização das festividades decorreriam como as edições anteriores ou nenhuma das associações estaria disposta a participar no Festival.

A Comissão Exe-cutiva da Teledi-fusão de Macau

entregou ontem no Mi-nistério Público vários documentos relativos a ameaças e insultos de trabalhadores de casi-nos contra jornalistas da estação em reportagem numa manifestação na quarta-feira.

A manifestação, agen-dada por uma associação de trabalhadores do sec-tor, tinha como objectivo pressionar a Sands China a praticar aumentos de, pelo menos, 10%, contra os já efectuados pela operadora no valor de 5% - idêntico aos restantes operadores.

Durante a marcha de protesto, a televisão alega que manifestantes pontapearam a carrinha da TDM, ameaçaram e insultaram jornalistas da estação que estavam no

Metro Ligeiro Construção do traçado na península só em 2016O coordenador-adjunto do Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT) garantiu ontem que as obras de construção do traçado do Metro Ligeiro na península de Macau só vão arrancar em 2016. André Ritchie disse à Rádio Macau que relativamente a este traçado [do segmento norte da península] ainda terá de se acabar a consulta pública. “Se houver uma decisão de traçado, precisamos ainda de fazer o projecto. Portanto, as obras, em princípio, talvez [comecem] apenas em 2016. Porque precisamos de pelo menos seis meses para fazer o projecto, depois precisaríamos ainda de lançar o concurso. Tudo isto leva tempo. Portanto, até começar a obra, estamos a falar em 2016”, disse o responsável à margem de uma sessão pública de esclarecimento sobre o projecto. A consulta pública sobre esta parte do traçado do Metro Ligeiro só termina a 14 de Agosto, sendo que o GIT pretende tomar uma decisão final ainda este ano. André Ritchie não consegue estimar os custos do projecto nem prever qual o custo de cada traçado.

Carne estragada IACM retém produtos da HusiTodas as importações provenientes da Shanghai Husi Food Co., Ltd – a empresa que foi encerrada por misturar carne estragada com carne fresca de forma consciente - estão a ser temporariamente retidas pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). Isso mesmo garante o organismo, em comunicado. De acordo com os registos de importação, Macau importou, há um mês, produtos de frango congelados. O McDonald’s também informou ontem ter parado de vender o hambúrguer Chicken McCrispy, o único, diz a empresa, que era feito com carne da Husi.

FESTIVAL DA LUSOFONIA IACM GARANTE REALIZAÇÃO DE EVENTO

Outono com festa pela certa

TDM FAZ QUEIXA AO MP DE AMEAÇAS DE MANIFESTANTES DO VENETIAN

Por meros númerosdade que os profissionais da empresa devem impor sempre aos seus traba-lhos”, disse Manuel Pires, presidente da Comissão Executiva, em declarações à agência Lusa.

O mesmo responsável disse também ter conver-sado com os jornalistas, salientando que a Co-missão Executiva está solidária com a sua acção e indicou que as imagens e documentos entregues no Ministério Público visam dar conta do caso que «pode no futuro ter outros contornos bem mais graves».O incidente com a TDM foi também condenado pelo Gabinete de Comunicação Social do Governo. - Lusa

interior do veículo e se preparavam para aban-donar o local.

De acordo com a im-prensa local, os insultos teriam começado para ex-pressar descontentamento em relação à cobertura

realizada pela estação de rádio em língua chinesa da TDM, a qual teria estima-do uma adesão inferior à registada no local.

“Numa altura em que se fala muito de liberdade de imprensa e da liberda-

de de imprensa na TDM, ameaçar e insultar é a forma mais grave de limitar essa mesma liberdade dos pro-fissionais desta casa e não é compatível com as regras que se pretendem seguir nem com os padrões de ver-

O IACM volta atrás na decisão de não assumir os encargos dos grupos trazidos pelas associações e promete agora responsabilizar-se por todos os conjuntos musicais envolvidos no Festival da Lusofonia

Em causa estariam algumas alterações apresentadas pelo IACM, que propunha a alteração da calendarização do Festival e

descartava a responsabilidade de trazer a Macau os grupos musicais contratados pelas as-sociações, assumindo apenas compromisso com dois grupos.

As associações uniram-se e entregaram uma carta, revelada pela TDM e à qual o HM teve, agora acesso. A carta foi entregue ao presidente IACM, Alex Vong, e garantia que, caso fossem força-das a não participar no Festival, as associações não evitariam o esclarecimento das “comunida-des e do público em geral sobre as razões que determinaram tal situação”.

No mesmo documento, o fórum defendia que a atitude de silêncio por parte do IACM mos-trava “um grau de desrespeito e

desconsideração intolerável que só pode ter uma leitura – uma vontade clara de destruir o Festi-val, tornando-o tão insignificante quanto possível”.

Perante o confronto, o IACM recuou ontem na sua decisão e desistiu de avançar com as alterações propostas, tal como avançou a rádio Macau.

Para além da mudança de postura, o instituto vai ainda responsabilizar-se por todos os grupos musicais envolvidos no Festival da Lusofonia e não apenas pelos dois anteriormente anunciados.

Fica então garantida a reali-zação do Festival da Lusofonia, que tem data marcada para os dias 17, 18 e 19 do mês de Outubro.

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hoje macau sexta-feira 25.7.2014 9CHINA

A quase totalidade da ma- deira importada pela China de Moçambique (93%), resulta de abates

ilegais, colocando o desbaste nas florestas muito além dos níveis sustentáveis, alerta um relatório da Agência de Investigação Am-biental (EIA, na sigla em inglês).

De acordo o relatório da EIA, divulgado na terça-feira por aquela organização não-governamental do Reino Unido, a China é a prin-cipal responsável pela destruição das florestas tropicais em Moçam-bique, e, se os volumes de abate excessivo continuarem, as reservas comerciais estarão quase esgotadas nos próximos 15 anos.

Segundo o documento, a ex-ploração ilegal de madeira por empresas chinesas, com conivên-cia de altos quadros do Governo moçambicano, privou o país de cerca de 108 milhões de euros em impostos desde 2007.

A EIA exige a suspensão imediata de todas as exportações de madeira em Moçambique, para garantir que se reúnam condições sustentáveis para o consumo e comércio dos recursos florestais do país.

O presidente da Chi-na, Xi Jinping, che-gou ontem à ilha

Terceira, onde permanecerá durante cerca de oito horas e se encontrará com o vice--primeiro-ministro, Paulo Portas.

O avião com a comitiva chinesa, num total de 116 pessoas, aterrou na Base das Lajes uns minutos antes da 07:00, vindo do Chile, para uma escala que deverá terminar por volta das 15:00 locais.

Xi Jinping tinha à sua espera o vice-primeiro--ministro, o presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, e o representante da República

Peste Autoridades reabrem cidadeAs autoridades chinesas reabriram a cidade de Yumen, na província de Gansu, noroeste, depois de terem confirmado não existir qualquer outro caso de peste que provocou a morte a um residente de 38 anos. O homem morreu há uma semana e as autoridades decidiram ‘fechar’ a cidade com cerca de 30 mil habitantes para estudos de despistagem da doença. Não foram, contudo, encontrados outros casos e as autoridades decidiram reabrir a cidade. Das 151 pessoas que mantiveram contacto com a vítima mortal e que foram mantidas em isolamento durante nove dias, nenhuma desenvolveu qualquer sintoma de peste.

“A China é o país que mais importa,exporta e consome madeira no mundo,além de ser o principal responsável peladestruição das florestas tropicais.”RELATÓRIO DA EIA

A Agência de Investigação Ambiental alerta para a destruição das florestas tropicais na antiga colónia portuguesa e aponta a China como um dos principais responsáveis pela catástrofe ambiental

MOÇAMBIQUE MAIS DE 90% DA MADEIRA PARA A CHINA É ILEGAL

Negócio não sustentável

Em 2013, a agência publicou o primeiro relatório, intitulado Conexões de Primeira Classe, denunciando a exploração ilegal

de madeira por empresas chinesas com conivência de altos quadros do governo moçambicano, no-meadamente o actual ministro da

XI JINPING NA ILHA TERCEIRA PARA VISITA DE OITO HORAS

Escala nas Lajes

agricultura, José Pacheco, e o seu antecessor, Tomás Mandlate.

A Procuradoria-Geral da Re-pública de Moçambique (PGR), através do Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC), instaurou um processo para in-vestigar o caso e, recentemente, declarou ambos inocentes.

Em comunicado divulgado a 19 de Junho pelos órgãos de comuni-cação social e a que a Lusa teve acesso, o GCCC diz, sem referir

para a região autónoma, Pedro Catarino.

O presidente chinês seguiu depois para um ho-tel de Angra do Heroísmo, local onde teve lugar um encontro entre Paulo Portas e Xi Jinping,.

Da agenda de Xi Jinping faz ainda parte uma “visita turística” ao Monte Brasil, acompanhado por Vasco Cordeiro, Pedro Catarino e pelo presidente da câmara de Angra do Heroísmo, Álamo Meneses.

Na quarta-feira, Vasco Cordeiro disse esperar que o presidente chinês fique a conhecer melhor

os recursos do arquipéla-go, aquilo que é produzido nas ilhas e a “posição em que os Açores se inserem do ponto de vista marí-timo”.

“Espero que esta visita contribua para um melhor conhecimento dos Açores por parte do primeiro res-ponsável de uma das gran-des economias mundiais”, afirmou.

A 19 de Junho, ques-tionado por jornalistas, no regresso de uma viagem

aos EUA, sobre o even-tual interesse da China na utilização da base das Lajes, onde está instalada a Força Aérea norte-ame-ricana, Vasco Cordeiro respondeu que essa per-gunta deve ser dirigida, “em primeiro lugar”, ao presidente chinês.

Questionado sobre se nos contactos que tinha feito em Washington esse eventual interesse chi-nês nas Lajes tinha sido abordado, respondeu que “não é segredo para nin-guém que essa é uma das áreas que tem merecido alguma atenção da parte de responsáveis políticos norte-americanos”.

os nomes, que não encontrou pro-vas de envolvimento de Pacheco e Mandlate no contrabando de madeira, mas afirma ter apurado elementos indiciadores contra as empresas chinesas Mozambique First International Development Ltd (Mofid) e Enlian International Investment Corporation in Mo-zambique Ltd.

CONTRABANDO NÃO É CRIME“Da investigação resultou, no entanto, existirem indícios fortes de envolvimento das empresas em questão, tanto em actos de contrabando de madeira, como em infracções de natureza admi-nistrativa”, refere-se na nota de imprensa do GCCC.

“Assim, apurou-se que, entre 2011 e 2012, uma delas exportou cerca de 6.400 metros cúbicos de madeira diversa e a outra exportou, entre 2007 e 2009, cerca de qua-tro mil metros cúbicos”, indica o comunicado.

Uma vez que o contrabando de madeira não é tipificado como crime em Moçambique, as duas empresas serão sujeitas a sanções pecuniárias e administrativas.

Na investigação da EIA, José Pacheco e Tomás Mandlate eram descritos como “facilitadores” no contrabando de madeira e uma gravação oculta mostrou um ges-tor chinês de uma das empresas suspeitas a referir-se ao actual ministro da Agricultura como “um irmão” .

Tanto José Pacheco como Tomás Mandlate rejeitaram vee-mentemente as acusações de envolvimento no contrabando de madeira logo que a ONG britâni-ca divulgou os resultados do seu trabalho.

O relatório divulgado na terça-feira volta a indicar a China como o país que mais importa, exporta e consome madeira no mundo, além de ser o principal responsável pela destruição das florestas tropicais.

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10 hoje macau sexta-feira 25.7.2014EVENTOS

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

MACAU - UMA HISTÓRIA CULTURAL • António Aresta, Celina Veiga de OliveiraQue balanço deve ser pedido à história daqueles tempos em que dois povos plasmaram num espaço comum hábitos e modos de vida com marcas de recíproca aceitação e convívio? Como lhes foi possível construir e cimentar em Macau uma ambiência universalmente reconhecida como singu-lar e rara? A história aponta para uma responsabilidade dual dessa atmosfera peculiar, devendo-se tanto a chineses como a portugueses, como se o próprio chão do território impusesse a quem o habitava — temporária ou permanentemente — um comportamento, não totalmente português, não totalmente chinês, mas de Macau.

PORTUGAL-CHINA: 500 ANOS • Miguel Castelo-BrancoObra de autoria colectiva e multidisciplinar, aborda diversas áreas que ilustram os 500 anos das relações luso-chinesas, designadamente: fontes históricas, tipografia e imprensa, cartografia, urbanismo e história da arte, missionação, história das relações internacionais, letras, artes, música, orientalismo e sinofilia, história da ciência e da tecnologia, linguística e história das migrações.

A organização sem fins lucrativos, Caus, criada em Macau em 2013, é uma das sete entidades escolhidas numa primeira fase para integrar o pólo criativo do Palácio Sinel de Cordes

S ETE projectos foram seleccionados num concurso para entrar no pólo criativo do

Palácio Sinel de Cordes, em Lisboa, sede da Trienal de Arquitectura, anunciou quarta-feira esta entidade.

O projecto de reabili-tação do palácio - cedido pela Câmara Municipal de Lisboa há dois anos, para sede da Trienal - e também do pólo criativo, tinha sido apresentado naquele espaço, pela organização, em Maio deste ano.

O pólo intitula-se “FORA: Fórum de Observação e de Representação da Arqui-tectura”, e foi criado este ano pela Trienal, com o objectivo de dinamizar e fo-mentar o debate, discussão e experimentação em torno da arquitectura.

No âmbito do concurso, foram seleccionados os pro-jectos Angular, composto por

TRIENAL DE ARQUITECTURA SELECCIONADOS SETE PROJECTOS PARA REABILITAÇÃO DE PALÁCIO EM LISBOA

Macau entre os eleitos

[Os projectos seleccionados] “Representam transversalmente a arquitectura e que se cruzam com a disciplina de uma forma plural”COMUNICADO DA TRIENAL DE ARQUITECTURA

estudantes de arquitectura que pretendem ligar o mun-do académico à experiência profissional nesta área, e a “Arqa”, uma revista fun-dada em 2000, que cruza os domínios do urbanismo, arquitectura, design e arte.

Ainda seleccionados foram a Caus, uma organi-zação sem fins lucrativos criada em Macau em 2013 para promover a investiga-ção, educação, produção e divulgação de conhecimento nas áreas da arquitectura, urbanismo, design e cultura urbana.

A KWY, também selec-cionada, é uma plataforma multidisciplinar que investi-ga a natureza da colaboração

no contexto de projectos em arte, arquitectura, curadoria e escrita; e o projecto “Pont E9” vai dar inicio a novos projectos em colaboração com entidades portuguesas pelo que a integração no pólo potencia sinergias com a Trienal e restantes membros.

O colectivo Linhabranca faz a união entre o design industrial e a arquitectura em

torno de objectos, espaços, e serviços ditos “sem marca”; e o projecto Multidão é da responsabilidade da Osso – Associação Cultural, cons-tituída por um colectivo de artistas de várias áreas para desenvolver actividade sob o conceito de partilha artística interdisciplinar dentro de contextos regionais, nacio-nais e internacionais.

O colectivo Warehouse, também seleccionado, tem realizado projectos temporários e permanentes numa metodo-logia de processos de criação participativa onde o desenho e a construção são pensados e executados como um todo.

A Trienal de Arquitectura sublinha que o Fórum assenta no projecto de reabilitação do Palácio Sinel de Cordes, da autoria da arquitecta Marga-rida Grácio Nunes /FSSMGN arquitectos, “numa aborda-gem que respeita a identidade e o legado da construção setecentista, bem como a sua relação com a envolvente”.

De acordo com a enti-dade, os projectos culturais seleccionados nesta primeira fase “representam transver-salmente a arquitectura e que se cruzam com a disciplina de uma forma plural”.

Em Maio, o presidente da Trienal, José Mateus, disse à agência Lusa que tinha a ex-pectativa de que o projecto de recuperação do palácio esteja concluído até 2016, ano em que se realiza a quarta edição da Trienal de Arquitectura de Lisboa.

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11 eventoshoje macau sexta-feira 25.7.2014

A Orquestra de Ma-cau (OM), realiza o “Concerto de En-

cerramento da Temporada 2013-2014 - Noite Russa”, no dia 3 de Agosto, pelas 20:00 horas, no Grande Au-ditório do Centro Cultural de Macau.

O pianista Barry Dou-glas irá deslocar-se mais uma vez a Macau para colaborar com a OM neste concerto, que será dirigido pelo Director Artístico e Maestro Principal da OM, Lü Jia, e que encerra a temporada da OM.

Barry Douglas ganhou a medalha de ouro no Concurso Internacional Tchaikovsky em 1986, fei-to que lançou a sua carreira internacional. Colaborou com numerosas orquestras como a London Sym-

Dragões no SheratonCOM vista a fornecer atrac-

ções para toda a família, e especialmente os mais novos, o Hotel Sheraton volta a cooperar com o estúdio de animação Dreamworks, oferecendo este Verão aos seus clientes a opor-tunidade de conhecer algumas das personagens dos seus filmes. Baseado no recente filme “How to Train your Dragon II”, em que as personagens “Hic-cup” e “Astrid” travam amizade com o dragão “Toothless”, o hotel criou no Caspian Ballroom o “Dragon Training Camp”, onde as crianças com idades entre os 4 e os 12 anos, podem participar numa série de activi-dades destinadas a estimular as suas capacidades físicas e mentais, num ambiente divertido que conta com a participação das persona-gens do filme, vestidas a rigor.

A entrada custa 150 pa-tacas por criança (mais um adulto) se não for hóspede do hotel, até ao dia 5 de Outubro. Para aqueles que escolherem passar a noite, o hotel decorou 30 quartos com personagens da Dreamworks como “Shrek”, “Madagáscar” e “Kung Fu Panda”, que estão disponíveis até ao dia 30 de Setem-bro, com preços que começam nos 2.888 dólares de HK.

O escritor, dramaturgo e poeta brasileiro Ariano

Suassuna faleceu esta quarta--feira, aos 87 anos, no Recife, após ter sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC) he-morrágico na segunda-feira, informou o Hospital Português de Pernambuco.

O escritor foi internado na última segunda-feira, após sofrer um AVC, tendo sido sub-metido a uma cirurgia, da qual recuperava no Centro de Tratamento In-tensivo (CTI) do hospital.

FRC Uma ponte de jazzEste sábado a Fundação Rui Cunha vai apresentar pelas 17:00 horas mais um concerto de jazz com músicos locais, integrado na série “Saturday’s Jazz”, que tem lugar mensalmente no quarto sábado de cada mês. Esta iniciativa da Macau Jazz Promotion Association destina-se a promover este estilo musical no território, além de querer estabelecer uma plataforma para os músicos locais tocarem ao vivo e cooperarem com artistas do estrangeiro, assumindo normalmente a forma de “jam sessions”. Para o efeito, a associação vai também organizar um concerto em Hong Kong no mesmo dia, 26 de Julho, pelas 20:00 horas, na Sheung Wan Grace Church. Aqui vão actuar Moon Wong de Hong Kong e os Mini-Jazz de Macau. Estes artistas voltam depois a actuar em Macau no dia 23 de Agosto, nas instalações da Fundação. Os concertos locais têm entrada livre, mas para assistir ao evento em HK terá de pagar 40 dólares de HK por bilhete.

ORQUESTRA DE MACAU ENCERRA TEMPORADA COM BARRY DOUGLAS

A excelência de Rachmaninoff Escritor brasileiro Ariano Suassuna morreu aos 87 anos

Natural de João Pessoa, capi-tal do Estado da Paraíba, Suassuna foi um grande propagador da cultural da região nordeste do Brasil, sendo “O Auto da Com-padecida” um dos seus trabalhos mais conhecidos, com versões para a televisão e para o cinema.

Licenciado em Direito, o escritor actuou como advogado no princípio da carreira, na dé-cada de 1950, quando manteve a produção de textos para o teatro, publicando obras como

“O Castigo da Soberba” e “O Rico Avarento”.

Suassuna deixou a advocacia para se tornar professor universitário, tendo-se depois lançado, naquela época, também como romancista, com

livros como “O Romance d’A Pedra do Reino”

e o “Príncipe do Sangue do Vai-

-e-Volta”.

phony Orchestra, Royal Liverpool Philharmonic e Orquestra Sinfónica da Rádio de Berlim, entre outras, e foi nomeado Oficial da Ordem do Im-pério Britânico (OBE) em 2002. O pianista executará

na noite o “Concerto para Piano e Orquestra n.º 2 em Dó menor” de Rachmani-noff, considerado a “obra--prima” do compositor e um dos maiores e mais difíceis concertos para piano, segundo a organi-

zação, que salienta ainda que esta obra clássica dos finais do período român-tico apresenta melodias delicadas e características românticas e líricas.

Os bilhetes custam en-tre 80 e 180 patacas cada.

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12 DESPORTO hoje macau sexta-feira 25.7.2014

Benfica Segunda derrotaNo primeiro teste no estrangeiro o Benfica confirmou os sinais negativos que tinha deixado na Taça de Honra da Associação de Futebol de Lisboa. A equipa de Jorge Jesus sofreu a segunda derrota em três ensaios para a nova época, desta vez diante do Marselha (1-2). Curiosamente o golo da vitória francesa foi apontado por Michy Batshuayi, jogador que esteve nos planos do Benfica para a nova época. Mas é com outros reforços que Jesus vai preparando a temporada 2014/15, e que pelo menos para já ainda não se afirmam como mais-valias.

Adeptos invadem relvado e lutamcom jogadores de equipa israelitaInsólito na Áustria: um grupo de adeptos atacou os jogadores do Maccabi Haifa e invadiu o relvado, desatando à pancada com os jogadores do clube israelita, quando, pelo minuto 85 do encontro de preparação com o Lille, a formação francesa vencia por 0-2. A cena, inacreditável, foi perpetrada por activistas pró-Palestina, num protesto violento contra a ofensiva israelita em Gaza. Os jogadores abandonaram o relvado e a partida nem chegou ao final do tempo regulamentar…

SÉRGIO [email protected]

A introdução da “Taça da Corrida Chinesa” no programa de corridas do 61º Grande Prémio

de Macau foi uma das principais novidades da conferência de im-prensa da pretérita semana na Doca dos Pescadores.

A “Taça da Corrida Chinesa”, ou “Chinese Racing Cup” na designação inglesa, do Grande Prémio será a última das quatro corridas que compõem um novo campeonato monomarca promo-

“CORRIDA CHINESA” TRÊS EX-CORREDORES DE F3 E NENHUM PORTUGUÊS

Macau escolheu os seus pilotos

vido e organizado conjuntamente pelas associações automóveis de quatro territórios dos dois lados do Estreito, com a participação de pilotos provenientes do inte-rior da China, Taipé Chinês e das Regiões Administrativas Espe-ciais de Hong Kong e Macau. O campeonato, um velho sonho da Associação Automóvel de Hong Kong (HKAA), foi apresentado na segunda semana do mês de Junho em Pequim, tem 15 milhões de patacas em prémios monetários e é constituído por quatro eventos em locais designados pelas quatro federações.

A Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC) escolheu o Circuito da Guia, após ter consi-derado o GIC numa primeira fase.

Cada federação irá designar cinco pilotos, sendo que um terá que ser obrigatoriamente do sexo feminino. Segundo o sítio oficial da competi-ção, os escolhidos para a “Selecção de Macau” foram Michael Ho, Lei Kit Meng, Ng Kin Veng, Cheong Chi On e o macaense Jo Rosa Mer-szei. Ho, Meng e Merszei somam entre eles mais de dezena e meia de participações na prova de Fórmula 3 do Grande Prémio de Macau. Apesar da regulamentação anun-ciada indicar que cada federação terá que apresentar um piloto do sexo feminino, a RAEM ainda não nomeou ninguém.

Pelo que o HM conseguiu apurar, nem todos os cinco convi-dados aceitaram o convite, alguns ainda se encontram a ponderar, sendo que todos eles têm o lugar seguro no Grande Prémio de Macau noutras corridas mais competitivas e interessantes a nível desportivo.

Na Conferência de Imprensa do 61º Grande Prémio de Macau, o Coordenador do evento, João Costa Antunes, acredita que esta corrida em Macau servirá “como plataforma de encontro de pilotos dos quatro territórios no Circuito da Guia, contribuirá para elevar a competitividade e reforçar a amizade entre os concorrentes”. A primeira prova da temporada 2014, a cargo do clube automóvel de Hong Kong, estava prevista para o primeiro fim-de-semana de Se-tembro em Zhaoqing, foi cancelada devido a atrasos na preparação das viaturas.

CARRO É LENTOA competição patriota conta com o apoio do fabricante chinês BAIC, também conhecido como Beijing Auto, que vê neste projecto uma excelente plataforma para promo-ver o seu produto “made in China” no seu maior mercado.

O pujante construtor automó-vel chinês irá fornecer os carros - Senova (“Shenbao”) D70, um carro que tem como base o Saab 9-5 - e a assistência técnica cen-tralizada aos vinte participantes. A nova viatura foi a dada a testar pelos pilotos no Circuito Internacional de Guangdong, no fim-de-semana da última jornada do Campeonato de Macau de Carros de Turismo. Esta, ainda num estado muito inicial de desenvolvimento, foi cerca de cinco segundos mais lenta que as viaturas da categoria “AAMC Challenge” e que em Macau, em Novembro, irão competir na CTM Taça de Carros de Turismo de Macau. Para além do andamento modesto, o Senova D70 acusou sérios problemas de travões, for-necidos por um novo fabricante da Ilha Formosa. A preparação dos carros está a cargo da experiente Teamworks Motorsport (ex-China Dragon) de Hong Kong e que curiosamente conta com três dos seus habituais pilotos na favorita equipa de Hong Kong – Samson Fung, Paul Poon e Samuel Hsieh.

“Apesar de estar indicado que cada federação terá que apresentar um piloto do sexo feminino, a RAEM ainda não nomeou ninguém”

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hoje macau sexta-feira 25.7.2014

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hThomas Lim*

OS SEGREDOS DE UM ACTORCapítulo VI – Agentes, monólogos e aptidões especiais

*actor e realizador

“De um modo geral, é melhor que os actores não peçam por oportunidades directamente, pois esta é a função dos agentes”

O mercado em que um ac-tor está inserido determi-na a eventual necessidade de utilizar agentes. Num

grande mercado como a China ou os Estados Unidos, por exemplo, é neces-sário recorrer a serviços deste tipo, mas em sítios como Macau ou Singapura, ter um agente já não é tão necessário. Além disso, há poucas pessoas a traba-lhar como agentes. Como o mercado é menor neste locais, os salários dos ac-tores também não são muito elevados, por isso os agentes não podem cobrar a habitual comissão - cerca de 20% - que praticam noutros sítios.

Na China ou nos Estados Unidos é necessário ter um agente para saber que produtoras ou empresas é que estão a fa-zer audições e onde é que estas se reali-zam. Conhecer as pessoas certas também é muito importante, especialmente na China, mas devido às dimensões do país, é impossível que uma pessoa - ou os seus amigos - esteja a par de todas as produ-ções que acontecem pelo país fora.

Outra razão para recorrer aos serviços de um agente é a necessidade de um ac-tor nunca parecer desesperado em obter um papel. Aliás, é muitas vezes vantajoso para um actor manter uma certa distância e até uma aura de mistério.

Os realizadores e produtores não costumam apreciar actores que sejam de-masiado persistentes, chegando mesmo a evitar este tipo de pessoas. De um modo geral, é melhor que os actores não peçam por oportunidades directamente, pois esta é a função dos agentes.

Pessoalmente, considero funda-mental que a relação entre um actor e o seu agente seja baseada em respeito mútuo, confiança e admiração. Um ac-tor pode ter boa aparência, mas pouca experiência profissional, mas isso não implica que o agente não queira traba-lhar com ele na mesma.

Também há ocasiões em que pode ser necessário que alguém lhe recomende um actor – é por isso que é muito importante conhecer as pessoas certas.

Na China e nos Estados Unidos, ser recomendado por alguém influen-

“É SEMPRE BOA IDEIA TREINAR UMA SÉRIE DE MONÓLOGOS CLÁSSICOS E MODERNOS”

te pode fazer uma grande diferença na maneira como a indústria nos trata no futuro. Mas em mercados mais peque-nos, como o de Macau, o mais normal é um actor arranjar trabalho através dos seus contactos pessoais. Em locais como este, é mais importante ser ami-gável e admirado pelos seus talentos do que manter a tal aura de mistério.

Estudei encena-ção em Londres e foi aí que me aper-cebi que é muito fácil substituir um actor por outro. Cedo percebi que tinha de arranjar maneira de me diferenciar da competi-ção para aumentar as minhas probabi-lidades de vir a trabalhar como actor a tempo inteiro. O que deve então fazer para que notem as suas capacidades, de modo a conseguir garantir trabalho?

Uma boa maneira de o conseguir é investir em aptidões adicionais que podem vir a ser necessárias para um de-terminado papel. Se conseguir cantar, dançar, fazer artes marciais ou tocar um instrumento musical, por exemplo, isso pode aumentar o seu valor como actor

e mesmo garantir um papel, caso a per-sonagem do filme ou peça em questão necessite desse talento.

O domínio de línguas estrangeiras é também uma grande vantagem. Se a comunidade de actores do sítio em que reside não dominar um certo talento – e se houver procura por essa habilidade es-

pecífica – recomen-do que invista na sua aprendizagem. Mas deve ser algo em que tenha um interesse genuíno, de manei-ra a poder dominar bem essa área.

No meu caso, mudei-me para Pequim quando acabei os meus estudos em Londres para aprender Kung Fu. Era algo de que sempre gostei, por isso decidi fa-zer disso a minha especialidade. Acabei por treinar na China durante quatro anos e, ao mesmo tempo, ia actuando em pro-duções para a televisão e cinema – alguns desses trabalhos consegui por dominar artes marciais.

Em Macau, os directores de teatro são muitos bons em incorporar estas aptidões especiais nas suas produções.

Dominar monólogos é indispensável

para um actor, especialmente quando este está a começar a sua carreira. Isto ajuda a ganhar confiança para audições e workshops. Até na Ásia lhe pode ser pedido numa audição para realizar um monólogo de Shakespeare. É sempre boa ideia treinar uma série de monólogos clássicos e modernos.

Em relação aos modernos, recomen-do escolher um a partir de um guião popular no país onde reside e treiná-lo na linguagem local. No caso de Macau, faz sentido aprender monólogos em cantonês e em inglês. Pode, por exem-plo, escolher um monólogo em canto-nês de uma das muitas boas produções de Hong Kong, misturando depois um dos clássicos de Shakespeare.

Recomendo também ter sempre umas músicas preparadas para audições. Na mi-nha experiência, reparei que os directores ficam mais bem impressionados se forem usadas músicas de filmes ao invés de músi-cas pop. Se um actor aprender duas ou três canções e memorizar dois ou três monó-logos vai poder brilhar nas audições e nas workshops que frequentar. É essencial ter confiança para ter sucesso como actor.

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hoje macau sexta-feira 25.7.201414 h

A Embaixada japonesa à Eu-ropa encontrava-se em Goa desde Setembro de 1583 e alguns dias depois da sua

chegada e da recepção do Vice-rei da Índia D. Francisco Mascarenhas (1581-84), voltava a partir.

Do Palácio dos Vice-reis, uma grande construção sobre um peque-no outeiro, descendo os 800 metros da Rua Direita, ao som de tambores e pífaros da guarda avançada, o Vice--rei dirigiu-se à Ribeira para assistir à partida da Embaixada. Entre as naus engalanadas, que iriam para Portu-gal, podiam-se ver outras na praia a serem construídas, ou reparadas nos estaleiros e pelas tranquilas águas do Rio Mandovi cruzavam inúmeras em-barcações.

Alexandre Valignano S.J. não se-guiu a bordo. Teve que ficar em Goa, pois fora nomeado Provincial dos Je-suítas e por isso, o Padre Nuno Ro-drigues, acompanhante da Embaixada desde o Japão como intérprete, subs-tituiu Valignano no cargo de Procura-dor da Embaixada a Roma.

A 20 de Fevereiro de 1584 saia da cidade de (Velha) Goa a nau Santiago, tendo o Vice-rei oferecido cinco mil cruzados para os gastos da viagem da Embaixada, que nela seguia para Lis-boa.

Partiram navegando pelo Mando-vi e poucos dias depois, estavam na enseada de Cochim e a 10 de Maio, a dobrar o Cabo da Boa Esperança. Aportaram dezassete dias depois na Ilha de S. Helena, onde passaram onze dias de repouso e de “vitualhas para o resto da navegação”. Saíram da ilha a 27 de Maio e, muito devido à falta de vento, só chegaram a Lisboa a 8 de Agosto de 1584.

A alegria de ver terra e a da chega-da, por fim, da Nau do Trato foi imen-sa. Ecoou por toda Lisboa.

A cidade esperava os barcos e as naus, de novo todas engalanadas, su-biram o Tejo. Visão que permitiu aos embaixadores japoneses abarcar a grandiosidade dos edifícios, campaná-rios de igrejas, muralhas e torres, mas o mais impressionante era o número de embarcações ancoradas no magnífico porto. Entre “barcos próprios para o rio e de costa (falúas e escalares de várias

VIAGEM DA EMBAIXADA JAPONESA POR PORTUGAL

(DE GOA ÀS PLANÍCIES ALENTEJANAS)PARTE III

José simões morais

dimensões e feitios)” encontravam-se mais de trezentas naus de alto bordo.

ESTADIA EM LISBOA NO SÉCULO XVI

Mal os barcos ancoraram, logo subi-ram a bordo muitos padres jesuítas. Os Padres da Companhia preparavam para o dia seguinte o desembarque dos embaixadores, para que este fosse rea-lizado com um grande cerimonial. No entanto, os jovens japoneses ao anoite-cer preferiram ir dormir a terra, de tão maçados que vinham da longa viagem. Com grandes ovações das pessoas que encontraram pelo caminho, seguiram directamente para a Casa Professa de S. Roque da Companhia de Jesus. No dia seguinte foram recebidos pelo Car-deal Alberto Arquiduque da Áustria, Governador de Portugal no reinado de Filipe II de Espanha, ou Filipe I de Portugal. O Cardeal Alberto era filho do já falecido Imperador Maximiliano II (1564-1576) da Áustria e irmão do Imperador Rodolfo II e pela sua irmã, sobrinho do Rei de Espanha.

Os embaixadores de novo se en-galanaram com os trajes de cerimónia japoneses, para serem recebidos pelo Governador de Portugal. Além desta audiência, o Cardeal Alberto esteve mais duas vezes com os embaixadores japoneses e em nenhum dos encontros, os cumprimentos tiveram o beija-mão

do protocolo. Enviou o seu coche, onde costumava andar, para ir buscar os embaixadores japoneses para as re-cepções, assim como, para nele visi-tarem os principais lugares de Lisboa, durante os vinte e sete dias de estadia na cidade.

No dia 5 de Setembro de 1584 par-tiram para Évora.

Começava a viagem, maioritaria-mente terrestre até Roma e que passava por Madrid, onde os embaixadores se-riam recebidos pelo Rei Filipe II.

A acompanhar a Embaixada em Portugal e até aos limites do reino, o Padre Sebastião de Moraes que, mui-to mais tarde, a 27 de Março de 1588, foi sagrado em Lisboa primeiro Bispo de Funai (Oita) no Japão. No entanto, nunca ocupou o lugar pois faleceu na viagem; meia-noite de 19 de Agosto de 1588, à vista da ilha de Moçambique, onde foi sepultado.

Atravessaram o Tejo e após alguns dias pela província do Alentejo chega-ram a Montemor (actualmente Monte-mor-o-novo), onde eram aguardados pelo mordomo do Arcebispo de Évora, que lhes tinha enviado carruagens. Na vila os hospedou “à sua custa, envian-do o seu próprio coche e alguns mó-veis para serviço dos embaixadores.” Faltavam 25 quilómetros para Évora e essas cinco léguas foram feitas no dia seguinte.

EM ÉVORA HOSPEDADOS

O Arcebispo D. Teotónio de Bragan-ça, quando chegaram, ofereceu-lhes o seu palácio, mas os padres condutores levaram-nos a hospedar no Colégio do Espírito Santo, pertencente desde 1557 à Companhia de Jesus. Nessa altura era já a Universidade de Évora, que tinha sido fundada em 1559 pelo Cardeal D. Henrique.

O Colégio do Espírito Santo, abundantemente dotado pelo Cardeal Rei Alberto, tinha no interior o pátio com colunas jónicas em mármore, re-tiradas de um antigo templo a Cupido, ou a Endovélico, situado entre o Alan-droal e Terena, Ermida de S. Miguel.

D. Teotónio, tio do Duque de Bra-gança, retirava da Mitra de Évora opu-lentos rendimentos e nos sete dias que a Embaixada esteve na cidade, man-dou-lhes abundante e opípara comida da sua casa. No último dia de estadia na cidade, 14 de Setembro, era a Festa da exaltação da Santa Cruz. Convidou a Embaixada a assistir às solenidades na Sé e a jantar com ele no Paço.

Na magnífica Sé, D. Teotónio, com grande pompa religiosa, celebrou de pontifical e de seguida pregou o inquisi-dor da cidade que, “colhendo o lanço do triunfo da Santa Cruz, exultou a propa-gação da fé no Japão” com tal eloquên-cia que, no final, todos aplaudiram.

“E QUANTOS PROGRESSOS OS JOVENS JAPONESES FAZIAM NO LATIM, MÚSICA E NOS TEMAS QUE AS SUAS AGUÇADAS CURIOSIDADES DESPERTAVAM”

Como o Padre Nuno Rodrigues pre-cedera a Embaixada, agora, dos Padres que iniciaram a viagem desde o Japão, já só seguia o Padre Diogo de Mesqui-ta, com funções de mestre e pedago-go dos embaixadores. E quantos pro-gressos os jovens japoneses faziam no latim, música e nos temas que as suas aguçadas curiosidades despertavam.

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15 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 25.7.2014

Quanto ao banquete, no Paço, or-denou o Arcebispo colocar uma mesa numa sala próxima, onde mandou os seus escudeiros e criados pessoais ser-vir do seu próprio jantar doze pobres, demonstrando assim aos japoneses a caridosa atenção dispensada aos mais desfavorecidos.

Após o banquete, o próprio arcebis-po levou-os a ver a capela, ricamente decorada com obras de arte e onde eram guardadas muitas relíquias de san-tos que, na volta da Embaixada, lhes se-ria entregue para levarem para o Japão. O que realmente aconteceu. Ofereceu quatro panos de arrás, tecidos em seda e ouro com belas figuras, que remetidas para a Índia, se perderam no naufrágio do navio. Antes das despedidas ainda entregou duzentos e cinquenta cruza-dos para gastos da jornada, assim como mais mil para comprarem na Europa presentes para oferecerem aos seus pa-rentes no regresso ao Japão. Com mil palavras foi a despedida, onde o prela-do muito agradeceu a honra da visita.

A 15 de Setembro de 1584 partiram de Évora na própria carruagem do Ar-cebispo e seguiram para Vila Viçosa, a cumprimentar o Duque de Bragança, sobrinho de D. Teotónio.

De novo, a uma légua do destino, tinham à sua disposição excelentes co-ches e muitos cavaleiros, que em cor-tejo conduziram a Embaixada até ao Duque de Bragança.

A REAL RESIDÊNCIA DE VILA VIÇOSA

Segundo alguns autores, foi o Duque de Bragança, D. Teodósio, acompa-nhado com três Irmãos, à entrada da vila esperar com a sua guarda de honra a Embaixada. Mas António José Figueiredo (de onde seguimos o relato do Padre Sande e cujas aspas ao longo deste artigo estão a ele re-ferenciadas, sendo as notas tanto do Padre Benjamim Videira Pires como de José Maria Braga) diz ter o cor-tejo com a Embaixada seguido di-rectamente para a Real Capela onde, à porta, os aguardava o Duque de Bragança. Convidados para assistir à missa solene que se ia celebrar, os

embaixadores japoneses encontraram no interior um cenário e ambiente deslumbrante. Um imenso número de instrumentos vibravam numa melodia que suavemente enchia o ar e combi-nada com a riqueza dos paramentos sacerdotais, davam o cenário da Rea-leza do Duque de Bragança.

O sétimo Duque de Bragança, D. Teodósio II (1568-1630) era filho de D. Catarina, neta do Rei D. Manuel I e de D. João, sexto Duque de Bragança que falecera em Vila Viçosa a 22 de Feve-reiro de 1583. D. Teodósio tinha par-ticipado na batalha de Alcácer Quibir, onde ficou prisioneiro, sendo pouco depois libertado. Batalha ainda muito fresca na sua memória.

Terminada a missa, foram levados à presença da Duquesa mãe, D. Ca-tarina, filha de D. Duarte, duque de Guimarães e neta do Rei D. Manuel I, pois D. Duarte era filho do segun-do casamento do Rei D. Manuel com

D. Maria, que tal como todas as ou-tras duas esposas de D. Manuel eram filhas dos Reis Católicos. D. Catarina, Duquesa de Bragança, foi um dos sete que se apresentaram como pretenden-tes ao trono de Portugal, após a morte de D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir.

Depois de serem recebidos pela Duquesa mãe como se filhos fossem, seguiram para a sala de jantar onde foi servido o lautíssimo banquete em baixela de ouro e prata. O grau de re-quinte e riqueza teve a admiração dos príncipes do Japão.

“D. TEOTÓNIO, TIO DO DUQUE DE BRAGANÇA, RETIRAVA DA MITRA DE ÉVORA OPULENTOS RENDIMENTOS E NOS SETE DIAS QUE A EMBAIXADA ESTEVE NA CIDADE, MANDOU-LHES ABUNDANTE E OPÍPARA COMIDA DA SUA CASA”

“CONVIDADOS PARA ASSISTIR À MISSA SOLENE QUE SE IA CELEBRAR, OS EMBAIXADORES JAPONESES ENCONTRARAM NO INTERIOR UM CENÁRIO E AMBIENTE DESLUMBRANTE”

A pedido da Duquesa, foram os príncipes vestir de novo as suas roupas japonesas, tendo ficado em conversa sobre os costumes e coisas do Japão. Manifestou-lhes a idosa Duquesa a vontade de ver todo o Japão converti-do ao cristianismo. Ao retirar-se, pediu para lhe emprestarem as vestimentas japonesas, que foram mais tarde leva-das à sua câmara. À feição do corpo do seu segundo filho, D. Duarte, mandou talhar um igual, com o qual no dia se-guinte este se apresentou aos embaixa-dores.

D. Teodósio hospedou-os no seu palácio. Para honrar os seus convi-dados, o Duque organizou uma ca-çada numa das suas enormes tapadas, abundante em veados e javalis. A co-mitiva constava de cento e cinquenta cavaleiros e para além da abundante caçada, em ambiente campestre, ain-da foram organizados jogos de due-los entre cavaleiros que, em cima das suas montadas mostraram a perícia e destreza de batalhar com canas.

Os três dias em Vila Viçosa, na companhia da família dos Duques de Bragança, passaram num ápice e quando quiseram partir, o duque ofe-receu-lhes uma carruagem e dinheiro para os gastos da viagem até Toledo, onde se iam encontrar com o Rei.

De Vila Viçosa partiram a 18 de Setembro e no caminho, seguindo por Elvas e Badajoz, passaram para Mérida. Em todos os lugares de Por-tugal por onde a Embaixada esteve, foi recebida com muitas e grandes festas.

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TEMPO AGUACEIROS OCASIONAIS MIN 28 MAX 33 HUM 65-95% • EURO 10.7 BAHT 0.2 YUAN 1.3

João Corvo fonte da inveja

O mundo e o cão: morrer sem amar é raro, morrer sem ser amado vulgar.

ACONTECEU HOJE 25 DE JULHO

C I N E M ACineteatro

SALA 1DAWN OF THE PLANET OF THE APES [B]Um filme de: Matt ReevesCom: Jason Clarke, Gary Oldman, Keri Russel14.30, 16.45, 21,30

DAWN OF THE PLANET OF THE APES [3D] [B]Um filme de: Matt ReevesCom: Jason Clarke, Gary Oldman, Keri Russel19.15

SALA 2PLANES 2: FIRE & RECUE [A]FALADO EM CANTONÊSUm filme de: Bobs Gannaway14.30, 16.15, 19.45

PLANES 2: FIRE & RECUE [3D] [A]FALADO EM CANTONÊS

Um filme de: Bobs Gannaway18.00

DELIVER US FROM EVIL [C]Um filme de: Scott DerricksonCom: Eris Bana, Edgar Ramirez, Olivia Munn, Sean Harris21.30

SALA 3STEP UP ALL IN [B]Um filme de: Trish SieCom: Alyson Stoner, Biana Evigan, Ryan Gusman, Adam G. Sevani14.30, 16.45, 21.30

STEP UP ALL IN [3D] [B]Um filme de: Trish SieCom: Alyson Stoner, Biana Evigan, Ryan Gusman, Adam G. Sevani19.15

STEP UP ALL IN

Nasce um bebé-proveta, renasce a esperança de pais inférteis• No dia 25 de Julho de 1978, nasce o primeiro bebé--proveta em todo o mundo. A pequena Louise Brown fazia renascer a esperança de milhares e milhares de casais inférteis, numa conquista da ciência.Hoje assinala-se o primeiro nascimento de um bebé, em todo o mundo, a partir de uma fertilização ‘in vitro’. Chama-se Louise Joy Brown e o simples facto de ter nascido, a 25 de Julho de 1978, em Oldham, Inglaterra, representou uma conquista da medicina genética. Mas, acima de tudo, representa uma vitória para pais inférteis.Louise não tem qualquer característica física que a distinga – apenas o facto de ter sido gerada em labo-ratório, no culminar de um projecto de que durou uma década. Representa uma enorme conquista da ciência, que criou um ser humano a partir de um tubo de ensaio.Entretanto, ao longo da sua vida, depois do mediatismo que recaiu sobre si, já trabalhou no Burger King, já foi enfermeira em Bristol e hoje é uma trabalhadora dos correios. É uma das centenas de milhares de bebés que, desde 1978, nasceram através da técnica de fertilização ‘in vitro’. Aos 28 anos, no dia 20 de Dezembro de 2006, Louise Brown deu à luz um bebé por parto normal. Manifestou o desejo de se dedicar às crianças, profissionalmente, ainda que não se sinta atraída pela medicina genética.

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

Socorro, estou apaixonadoÀs vezes acho que Macau é um sítio enfeitiçado. Não, não sou daqueles fanáticos por bruxarias que andam de mau-olhado em riste – até porque se assim fosse, contra mim agia, tendo em conta que sou um gato preto! Em jeito de brincadeira, e enquanto falo com os meus compinchas, culpamos “a humidade” por tudo o que de mau ou menos bom acontece em Macau.Quer seja, ou não, culpa do ar sufocante por esta terra emanado, a verdade é que acho que estou tremendamente apaixonado. Por falta de novas actividades ou caras frescas e bonitas, é fácil ficarmos vidrados em algo ou alguém. Conheci uma gata simples, que acredito ser tão normal como qualquer outra. Bonita, inteligente e sedutora, é certo, mas penso que encontraria parecido em qualquer outra parte do mundo. É que aqui, neste pequeno e movimentado território, tudo se vive com mais intensidade, mais brilho. É tudo mais belo quando acontece e é por isso mesmo que confesso, nesta mesma coluna diária, que acho que estou apaixonado. Nunca mais a vi e memória dela e da sua beleza pode até dissipar-se daqui a um mês, mas neste momento, sinto-me mais vivo do que nunca, mais gato do que nunca.Depois ponho-me a pensar e chego à conclusão que é capaz de ser apenas “a humidade” esse grande e feroz monstro invisível que nos faz querer coisas que nunca imaginámos noutras circunstâncias. Nunca me foi permitido viajar, mas aqui pela redacção fala-se muito de amores e dissabores, situações perfeitas e outras nem tanto. Quero sentir-me assim, feliz e apaixonado. Será que é essa vontade que me faz escrever tais palavras? Esperemos para ver. Pode ser que aquela gata de pêlo branquinho e olhos verdes volte a passar por mim num qualquer dia de chuva e queira aninhar-se debaixo de uma portada. Bem pertinho. Bem apaixonada.

U M D I S C O H O J EOWN THE NIGHT

LADY ANTEBELLUM (2011)

Own the Night é o terceiro álbum da banda Lady Antebellum – um grupo norte-americano de música Country, que tem como cantores principais Hillary Scorr e Charles Kelley e um guitarrista, que às vezes também toca piano, Dave Haywood. O disco contém 12 canções e foi o segundo mais bem sucedido álbum da banda nos EUA, em 2011. ‘We Owned the Night’ e ‘Just a Kiss’ são as músicas mais conhecidas. - Flora Fong

16 hoje macau sexta-feira 25.7.2014(F)UTILIDADES

Page 17: Hoje Macau 25 JUL 2014 #3139

17OPINIÃOhoje macau sexta-feira 25.7.2014

contramãoISABEL [email protected]

O meu pai tem idade sufi-ciente para se lembrar da segunda vez que o mundo entrou em guerra. Era ado-lescente quando a guerra acabou – o que, à época, significava ser-se gente já crescida. A minha mãe nas-ceu com a guerra a rebentar e da guerra dos outros só

tem as memórias do que o pai lhe contava. Mas depois vieram as outras guerras.

Os irmãos que partiram para guerras sem sentido, como se alguma guerra fizesse sentido. Os irmãos longe, as cartas que não chegavam. Os irmãos que não regressaram os mesmos, como se alguém voltasse da guerra da mesma maneira.

Depois as guerras acabaram. As nossas, não as dos outros. Das nossas guerras não guardo memória. A guerra é aquela fotografia a preto e branco do tio M., farda vestida, sorriso no rosto bonito e o olhar infinitamente triste que ainda hoje conserva. A fotografia misturada com todas as outras fotografias na gaveta da sala, o cheiro da gaveta na fotografia, o cheiro das outras fotografias que nunca foram à guerra. A guerra é assim. Não consigo ir além disto porque nunca lhe senti o cheiro. A guerra já tinha fechado quando nasci.

Bem sei que devia escrever sobre a nossa política monoparental, sobre o referendo de faz-de-conta, sobre os buracos na estrada, sobre os buracos na saúde, sobre a poluição, o trânsito e a inflação. Mas há alturas em que

Em facebookianos desabafos prometemos que vamos mudar o mundo, que isto assim não pode ser, que temos de fazer alguma coisa para que as guerras acabem. E com estas promessas esquecemo-nos das horas, afinal já é tarde para ir para a cama, lava os dentes, desliga a luz que há que dormir, amanhã logo se vê, ao final do dia, no cantode sempre do sofá, de telemóvel na mão

As guerras dos outros

a realidade dos outros é mais forte, porque as guerras deixaram de ser fotografias de soldados de ar triste guardadas em gavetas, fotografias com datas escritas a lápis com caligrafia elegante.

As guerras estão aí e é vê-las a rebentar nas televisões, em directo e a cores, o que não nos surpreende, habituados que esta-mos a vê-las em directo e a cores. Muda de canal. As guerras estão aí e é vê-las nas redes sociais. Somos todos especialistas em relações internacionais – mais uns do que outros, é certo. Mas quase todos temos muito para dizer. Culpamos uns e outros, vamos à história buscar justificações para mortes injustificáveis. Sentados no sofá de telemóvel em punho, somos politólogos, especialistas em conflitos geoestratégicos, copiamos links de artigos para esclarecer os amigos virtuais, contamos diariamente o número de mortos de um lado e do outro, num estás-a-ver, estás-a-ver-como-tinha-razão.

Em facebookianos desabafos promete-

STAN

LEY

KUBR

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mos que vamos mudar o mundo, que isto assim não pode ser, que temos de fazer alguma coisa para que as guerras acabem, para que os mísseis fiquem enferrujados do desuso, para que as crianças não morram, para que as mulheres não morram, para que os homens vivam sem armas na mão. E com estas promessas de mudança do mundo esquecemo-nos das horas, afinal já é tarde para ir para a cama, lava os dentes, puxa os lençóis e liga o despertador, desliga a luz que há que dormir, amanhã logo se vê, ao final do dia, no canto de sempre do sofá, de telemóvel na mão. Vendo bem as coisas, as guerras são dos outros e os empregos que convém não perdermos são nossos.

Entretanto cai gente do céu, morre gente no chão de casas de gente que vê gente morrer todos os dias, morre gente nos campos que já não alimentam ninguém e ficamos todos escandalizados, que de outra maneira não podia ser. Desabafamos virtualmente sobre a desgraça, que lá em casa não há ninguém

para nos ouvir, o que queremos mesmo é partilhar com o mundo o que pensamos, porque gostamos de saber o que o resto do mundo pensa. A desgraça tornou-se maior porque não estamos habituados a que a guerra dos outros saia dos telemóveis e atinja gente como nós, que não está em guerra mas sim de viagem. Desabafamos e pedimos ao mundo justificações, como se o mundo estivesse mesmo ali na nossa ‘wall’, pedimos ao mundo que acabe lá com isto, que morrer gente assim não faz qualquer sentido. É gente que morreu na guerra dos outros.

Sobre guerras só sei da fotografia do tio M. e de nada me adianta consumir os artigos de análise da imprensa internacional que leio diariamente. Sobre a guerra nada sei porque não lhe conheço as cores nem nunca quis conhecer, jornalista que nunca quis ser repórter de guerra. Sobre as guerras só sei que não fazem sentido e que ninguém tem razão. E que são feitas por pessoas com interesses maiores, interesses menores, sem interesse nenhum. São feitas por pessoas com medo das armas que os outros escon-dem, com medo das ideias dos outros, é gente com vontade de mais, com vontade em demasia, com desejos do que não lhe pertence. Sobre as guerras só sei que existem porque somos bichos mal resolvidos, com dificuldade em digerir o que já lá vai. As guerras são de pessoas como nós, com os mesmos medos, as mesmas vontades, os mesmos defeitos e os mesmos feitios. As guerras nunca são só dos outros, que somos todos estupidamente iguais.

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18 opinião hoje macau sexta-feira 25.7.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Cecília Lin; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado; Ricardo Borges (estagiário) Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

A eleição para o quarto man-dato do Chefe do Executivo de Macau está agendada para o fim de Agosto e até agora Chui Sai On parece ser o único candidato, o que lhe dá uma forte pro-babilidade de vencer o acto eleitoral, especialmente considerando que não

parece haver ninguém interessado em lhe fazer frente. Este é um produto inevitável do sistema eleitoral em vigor, facto que Hong Kong tem estado a tentar combater através da sua insistência em um sufrágio universal real. De maneira a não enfrentar uma situação como a de Macau, e como protesto contra a pré-selecção de candidatos por Pequim, o campo dos pró-democratas de Hong Kong declarou que vai mobilizar a população para ocupar partes da cidade através do movimento “Occupy Central”, de maneira a ter uma ferramenta para as suas negociações com o Governo Central da China nesta matéria.

Se na eleição para o Chefe do Executivo de Macau não se verificar uma competição entre candidatos diferentes, não se pode falar de uma participação justa em que os interesses da população estão representados, mas sim numa farsa eleitoral organizada por um pequeno círculo de pessoas. Aliás, desde que foi publicado o Livro Branco sobre a prática da política “Um País, Dois Sistemas” na Região Administrativa Especial de Hong Kong, tornou-se claro que esta funciona apenas na teoria, não na prática. Um escritor

REFERENDO

Governantes da mais leal cidadeQue erigis arranha-céus na terra puraUnindo nuvem leve e rocha dura,Dizei-me, sem desvio de verdade: - Aspirais chegar onde os deuses moramE ali, nobre, deixar vosso legado?- É outro, neste chão, vosso cuidadoQue pecúnias ideias vos devoram? - Credes que no alto tudo se encerra;Que o céu diversifica a economiaDe Coloane, Cotai, à forte Guia? - Quereis solo onde não vos atormente,Esquecida, ignota, fraca e pobre, a genteQue ouviu ser das pérolas esta terra?

A.G.

um gr i to no desertoPAUL CHAN WAI CHI*

*Ex-deputado e membroda Associação Novo Macau Democrático

Falta de alternativas viáveis

“Uma eleição com um só candidato só deveria ter lugar numa ilha deserta. Mas Macau e Hong Kong não são ilhas desertas, nem no presente nem no futuro!”

do território vizinho, Wu Si, fez uma boa interpretação deste conceito de política orientada pelo Governo na última edição da Feira do Livro de Hong Kong.

Wu não é contra a política de partido-úni-co usada na China, visto esta ser um legado do passado para a qual não há alternativas viáveis. Mas quando questionado se a China deve continuar a usar este modelo autocrático no futuro, Wu propõe três alternativas.

A primeira é ser o próprio Governo a tomar a iniciativa de introduzir mudanças, tal como aconteceu com o Kuomintang (Partido Nacionalista Chinês) de Taiwan, em que este próprio aboliu a proibição de formar novos partidos políticos e terminou o seu mandato autocrático.

Outra alternativa seria ser a população a tomar a iniciativa de mudar o governo, mas isto implicaria inevitavelmente revoltas e revoluções. Analisando o passado do Partido Comunista Chinês, as purgas de grandes dimensões seriam incontornáveis.

Por último, há a alternativa de colaboração entre o Governo e a população, semelhante à evolução pacífica verificada na África do Sul, que estava mais interessada em desvendar a verdade do que em fazer ajustes de contas.

Mas até agora, o desenvolvimento polí-tico nas sociedades de Hong Kong e Macau tem seguido um percurso que está divor-ciado da realidade. Os resultados práticos que foram definidos no início nunca foram atingidos. Se a situação continuar neste impasse, isso será prejudicial para ambas as regiões, assim como para a própria China.

Apesar de ninguém em Macau ter pro-posto ocupar partes da cidade, num movi-mento semelhante ao “Occuppy Central”, três organizações propuseram realizar um “referendo civil”. Apesar de não ter funda-mento ou implicações legais, este processo teria certamente um impacto político porque ofereceria uma oportunidade para as pessoas de Macau expressarem as suas preferências.

Seja como for, o campo pró-Pequim é contra a realização deste referendo, pois receia que este exercício tenha impactos negativos na sociedade, especialmente no sentido de que iria expor o cenário corrente em que temos apenas um candidato à eleição de Chefe do Executivo de Macau, semelhan-te às bandas musicais compostas por um só elemento. Para evitar isto, as associações patrióticas que amam Macau não poupam esforços para dar um aspecto positivo e uma boa atmosfera a este acto eleitoral. Realizaram até discussões nos órgãos de comunicação social contra a realização do referendo, que na realidade não tem efeito

TEXTO ENVIADOPOR UM LEITOR

ROB MARSHALL, PIRATES OF THE CARIBBEAN: ON STRANGER TIDES

legal. Com tanto criticismo à volta deste referendo, os seus opositores acabam por lhe dar mais importância do que os próprios organizadores da iniciativa.

Qualquer ideia no mundo tem a sua ori-gem e desenvolvimento próprio, passando por mudanças e um possível fracasso. A roda da história está em perpétuo movimento e as sociedades enfrentam um desenvolvimento constante. Recusar o progresso traria conse-quências negativas e miséria à sociedade e à sua população. No passado, quando o Partido Comunista Chinês teve que enfrentar pro-blemas em que não dispunha de alternativas viáveis, tomou a liderança e decidiu pelo povo.

Hoje em dia, o sistema eleitoral para a escolha do Chefe do Executivo de Hong Kong e de Macau também entrou num beco sem saída em que não há alternativas viáveis disponíveis. Neste caso, tem a sociedade civil responsabilidade de liderar e motivar o Governo a tomar iniciativas que procedam a mudanças? Uma eleição com um só candidato só deveria ter lugar numa ilha deserta. Mas Macau e Hong Kong não são ilhas desertas, nem no presente nem no futuro! Qualquer pessoa que seja patriótica e ame Macau é responsável em ajudar a encontrar um consenso que avance a democracia e introduza, passo a passo, mais canais para a população participar na política.

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HOJE MACAU

hoje macau sexta-feira 25.7.2014 19PERFIL

FLORA [email protected]

A Loja de Cocos Hong Heng abriu há 145 anos, quando havia ainda resquícios da Dinastia Qing. O actual dono, Lei

Heng Keong, representa a quarta geração de empresários que se dedicaram à marca, que consideram local.

Lei nasceu em Macau e cresceu com o negócio familiar: ajudava a família nos tempos livres quando era mais novo, conforme nos conta enquanto visitamos a sua loja. Ainda que, curiosamente, tenha trabalhado também como corrector de textos.

Corriam os anos 1980 e Lei Heng Keong deixa o trabalho. Tinha 40 anos, quando re-gressou à loja de cocos, assumindo o negócio ancestral. Desde sempre que Lei e a esposa insistem num funcionamento tradicional da loja. E de todo o trabalho que ela dá e que, diz-nos Lei, exige dedicação.

“Dou muita atenção à escolha de cocos. Todos os cocos desta loja vêm da Malásia, porque o clima lá é sempre quente e é mais adequado ao cultivo de cocos”, conta-nos, en-quanto mostra que a fruta “não é muito grande, mas a qualidade é melhor, porque o aroma é mais forte e as frutas têm mais ‘carne’ dentro”.

O transportes dos cocos, que existem pendurados por toda a loja com o caracter chinês da ‘felicidade’ pintado a vermelho, é feito por via marítima. “Eu e a minha mulher começamos todos os dias às oito da manhã os

LEI HENG KEONG, DONO DA LOJA DE COCOS HONG HENG

“ENCARO ISTO COMO ARTESANATO ANCESTRAL”

procedimentos, que demoram muito tempo”, explica ao HM Lei Heng Keong.

Limpar, descascar, aplainar e extrair o sumo e o miolo dos cocos... tudo é feito à mão. “Por isso, só ao meio-dia – de todos os dias – é que a primeira parte dos gelados estão prontos”, conta-nos Lei, com um sorriso de orgulho estampado na cara.

Gelados, sim. Lei Heng Keong nunca deixou o negócio

da família, embora admita que o trabalho é duro e cansativo. Mas, para ele, este trabalho é também artesanato.

Com mais de cem anos de história, na Rua da Tercena, a loja de cocos do senhor Lei já foi bem mais popular. Com a modernização, as tradições foram-se perdendo e o negócio, esse, começou a diminuir.

“Antigamente, as lojas desta rua eram muito prósperas, porque Macau foi um centro de viragem de muitos produtos importados e exportados. Várias centenas de cocos desta loja foram vendidos para o interior da China e ganhávamos muito dinheiro. Além disso, era tradição chinesa pendurar cocos nas portas de casa quando as pessoas casavam”, conta-nos. “Coco em chinês é ‘Iek Chi’. ‘Iek’ escreve-se

com o caracter de ‘avós’ e ‘Chi’ tem o sentido de ‘filhos’. Então, combinados, tem o significado de se ter uma família completa.”

Por isso mesmo, antigamente, muitas pessoas compravam cocos para o casamento. Agora, as coisas não são como antes. “Os casa-mentos actuais estão cada vez mais ocidentais e raramente as pessoas penduram cocos nas portas de casa. O nosso negócio tornou-se mais pequeno”, explica Lei ao HM.

Como se duma lição de história se tratasse, aprendemos que o negócio começou a cair nos anos 1950, quando, diz-nos Lei, os produtos

exportados não podiam entrar na região do Delta do Rio das Pérolas. “Várias lojas da Rua da Tercena viram o seu negócio diminuído e a loja da [minha] família sofreu também di-ficuldades em fazer comércio por grosso.”

Em 1962, a loja começou a fazer gelados de cocos artesanais. Mas, só anos depois é que a ‘fama’ bateu à porta. “Fazemos gelados de cocos há muitos anos, mas muitas pessoas não sabiam, nem turistas vinham aqui. Só depois de 2010, quando um programa da televisão de Hong Kong apresentou esta loja e os gelados [às pessoas], é que muitos locais e estrangeiros começaram a procurar a loja para provar o ge-

lado: fresco, saudável e sem açúcar adicional” explicou Lei, orgulhoso.

Felizmente, diz-nos, os gelados e sumos de coco conseguem suportar as despesas. Uma vantagem é também o facto de a loja ser da família, pelo que Lei Heng Keong não sofre com as rendas altas de Macau. “Se não, era difícil continuar.”

Tratar cocos e importá-los são processos demorados e cansativos. Mas Lei assume um carinho enorme pela loja. Carinho que o fez escolher continuar com o negócio de gerações.

Mas Lei já não é jovem e expandir não está muito nos planos da geração seguinte. Os filhos já estão a trabalhar noutros sítios e não vão continuar este negócio “tão cansativo”. Se Lei e a esposa não conseguirem arranjar alguém que queira continuar com esta tradição, o casal só pode manter o negócio o máximo que conseguir. Até porque Lei Heng Keong não quer que se abdique do uso manual no tratamento das frutas.

“Vários empresários de Hong Kong e Taiwan queriam fazer negócio com a minha loja de cocos. Mas encaro este trabalho como um artesanato ancestral, só cocos e nada mais. Se fizer negócio com empresas grandes, se calhar o negócio deixa de ser feito à mão e passa a ser feito com máquinas, que fazem grandes quantidades de produtos. Não quero que esta tradição desapareça, portanto, para continuar este negócio ancestral, só quero manter o negócio da forma como está agora. Não quero arriscar.”

“Não quero que esta tradição desapareça, portanto, para continuar este negócio ancestral, só quero manter o negócio da forma como está agora”

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hoje macau sexta-feira 25.7.2014

DESPENHOU-SE AVIÃO DA AIR ALGÉRIE COM 116 PESSOAS A BORDO

Os negros dias da aviação civil

cartoon por Stephff O ERRO TERRÍVEL

O avião da Air Algérie com 116 pessoas a bordo, que desapareceu

dos radares quando sobrevoava o Norte do Mali, despenhou-se. “Confirmo que caiu”, disse uma fonte oficial argelina às agências noticiosas internacionais.

A fonte não quis, porém, dar mais pormenores sobre o desas-tre, o segundo da aviação civil em 24 horas – na quarta-feira um aparelho despenhou-se devido ao mau tempo em Taiwan, matando 48 pessoas. (ver peça abaixo).

O voo AH 5017 fazia a ligação entre Ouagadougou, a capital do Burkina Faso, e Argel, a capital argelina. “Os serviços de nave-gação aérea perderam o contacto [com o avião] aos 50 minutos de voo”, anunciou, de manhã, a companhia. O aparelho partira à 1h17 e não chegou a Argel à hora prevista, 5h10.

A empresa privada de aviação espanhola Swiftair confirmou que se tratava de um dos seus aviões fretado pela Air Algérie, e que era um MD83. A Swiftair especificou que os dois pilotos e os quatro tripulantes de cabine são espanhóis.

Numa conferência de im-prensa em Ouagadougou, uma representante da Air Argélie, Kara Terki, avançou que muitos dos passageiros se dirigiam para Argel para apanhar outros aviões que os levariam à Europa, Médio Oriente e Canadá. Deu a lista parcial das nacionalidades:

Taiwan Queda de avião faz 48 mortos e 10 feridos

O número de vítimas mortais do acidente na noite de

quarta-feira com um avião da TransAsia Airways que se des-penhou depois de ter descolado do aeroporto de Kaohsiung Siaogang, sul da ilha Formosa, é afinal de 48. As autoridades de Taiwan dão ainda conta de 10 feridos.

Não havia vítimas de Macau a bordo. Das informações re-colhidas através da companhia aérea e da indústria turística de Macau, até ao momento, não há registos que apontem para que residentes de Macau tenham estado envolvidos.

Uma nota da companhia aérea refere que 52 passageiros e quatro membros da tripulação eram todos naturais de Taiwan. Os restantes dois passageiros eram de nacionalidade francesa. A TransAsia disse também que todos os feridos foram trans-portados para o hospital e que a companhia está em contacto directo com as famílias.

O piloto, Lee Yi-liang, tinha 22 anos de experiência de voo enquanto o co-piloto Chiang Kuan-hsing acumulava dois anos e meio de voo. O avião da TransAsia Airways descolou de Kaohsiung Siaogang com mais de uma hora de atraso devido ao mau tempo e previa aterrar meia hora depois no aeroporto de Magong, nas ilhas Penghu. Ao chegar à zona, o piloto pe-diu autorização para voar em círculos antes de aterrar, mas pouco depois perdeu o contacto com terra e despenhou-se sobre um conjunto de casas na cidade de Xixi, nas ilhas Penghu, co-nhecida também pelo nome de “Pescadores”.

O mau tempo na região devia--se à influência do tufão Matmo, que está a afectar a região.

Ontem, em comunicado, Chui Sai On encarregou a De-legação Económica e Cultural de Macau em Taiwan para transmitir uma mensagem ao Conselho para os Assuntos com a China continental em Taiwan, expressando “em seu nome e dos residentes de Ma-cau o profundo pesar, sentidas condolências e solidariedade aos feridos e familiares” das vítimas.

China Mais de 300 mil deslocados devido ao tufão MatmoCerca de 30 mil pessoas foram deslocadas na província chinesa de Fujian, sudeste do país, onde o tufão Matmo, o décimo a atingir a China em 2014, atingiu a costa durante a tarde de ontem, revelaram as autoridades. Nas primeiras horas de influência da tempestade na zona, com ventos e chuvas fortes, as autoridades não registaram vítimas, mas a tempestade provocou o corte de electricidade em 340.000 casas. As autoridades suspenderam também as comunicações marítimas e obrigaram todas as embarcações de pesca a regressar aos portos de abrigo. Outros serviços, como os comboios em zonas costeiras, foram também suspensos devido aos ventos até 126 quilómetros por hora gerados na tempestade. Há uma semana, na passagem do tufão Rammasun, que atravessou a ilha de Hainão antes de entrar no continente, morreram na China 56 pessoas.

Condenado à morte fica quase duas horas a agonizarJoseph Rudolph Wood ‘recusou-se a morrer’ durante quase duas horas. O condenado à morte, por duplo homicídio, ficou a agonizar, “a ofegar e a bufar”, enquanto a injecção letal demorava a fazer efeito. O caso reacendeu a polémica sobre as execuções nos EUA. O incidente ocorreu esta quarta-feira numa prisão no estado do Arizona. Wood recebeu a injecção letal, uma mistura experimental de drogas, mas o tempo foi passando sem que ocorresse o efeito desejado. Wood ficou a ofegar mais de uma hora”, afirmou um dos advogados. Parecia “um peixe em terra a tentar respirar”, reforçou um repórter que acompanhou a execução, Troy Hayden. A mistura de drogas, composta pelo sedativo midazolam e pelo analgésico hidromorfona, não foi a habitual. O condenado só ‘cumpriu’ a pena de morte uma hora e 58 minutos após a injecção.

O voo AH 5017 fazia a ligação entre Ouagadougou, a capital do Burkina Faso, e Argel, a capital argelina

50 franceses, 24 cidadãos do Burkina Faso, oito libaneses, quatro argelinos, dois luxem-burgueses, um belga, um suíço, um camaronês, um ucraniano e um romeno. Mas no Líbano as autoridades avançaram que esta-vam dez libaneses no AH 5017.

Uma fonte da empresa argeli-na explicou à AFP, sob anonima-to, que o avião se aproximava já de território da Argélia quando, devido à fraca visibilidade, a torre de controlo pediu ao comandante

para fazer um desvio de rota para evitar riscos de colisão com outro avião. “O avião não estava longe da fronteira argelina quando foi pedido à tripulação que se des-viasse devido à má visibilidade e para evitar o risco de colisão com outro avião que fazia a ligação Argel-Bamako”, disse a fonte da AFP. “O sinal perdeu-se na mudança de rota”.

O aparelho sobrevoava a região de Gao quando desapa-receu. As autoridades da aviação do Burkina Faso explicaram que já tinham passado o voo à torre de controlo de Niamey, no Níger. Uma fonte diplomática em Bamako, a capital do Mali, disse à Reuters que o Norte do país esteve, nas horas em que o avião sobrevoou a zona, debaixo de uma “poderosa” tempestade de areia.

Em Ouagadougou foi cria-da uma unidade de crise, para prestar informações e apoio aos familiares dos passageiros. Issa Saly Maiga, que chefia a aviação civil do Mali, disse que já estão em curso mecanismos de busca ao avião, mas acautelou. Ainda não foi revelado se os destroços foram detectados e onde. Pouco antes da confirmação da queda do avião a França anunciara que dois caças Mirage 2000 que integram o contigente que tem na África Ocidental iriam sobrevoar a zona onde o aparelho perdeu o contacto com a torre, de forma a perceber onde teria caído.