hoje macau 25 set 2014 #3182

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DSAT Manual de boas maneiras para taxistas CONSELHOS CONSULTIVOS Ser mais do que um objecto decorativo HOJE MACAU Tragédia grega Excelência e temporalidade DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 QUINTA-FEIRA 25 DE SETEMBRO DE 2014 ANO XIV Nº 3182 hojemacau AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB LOI MAN KEONG AVALIA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A eficiência é cada vez menor PUB PÁGINAS 2-3 ‘‘ POLÍTICA PÁGINA 4 SOCIEDADE PÁGINA 7 h

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Hoje Macau N.º3182 de 25 de Setembro de 2014

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Page 1: Hoje Macau 25 SET 2014 #3182

DSAT Manualde boas maneiraspara taxistas

CONSELHOS CONSULTIVOS Ser mais do que um objecto decorativo

HOJE

MAC

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Tragédia grega Excelência e temporalidade

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 Q U I N TA - F E I R A 2 5 D E S E T E M B R O D E 2 0 1 4 • A N O X I V • N º 3 1 8 2

hojemacau

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

LOI MAN KEONG AVALIA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A eficiênciaé cada vezmenor

PUB

PÁGINAS 2-3

‘‘

POLÍTICA PÁGINA 4

SOCIEDADE PÁGINA 7 h

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HOJE

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hoje macau quinta-feira 25.9.20142 ENTREVISTA

FLORA [email protected]

É vogal do Conselho Con-sultivo para a Reforma da Administração Pública. Na sua opinião, como deve funcionar essa reforma?A meta de 2014 é criar a avaliação de desempenho dos funcionários públicos. Comparando com antes e depois da transferência de soberania de Macau, não há uma grande alteração no sistema da função pública, o que faz com que a [Ad-ministração] esteja cada vez mais inchada e as funções sobrepostas. A eficiência é cada vez menor. Isso tem a ver com duas razões: a pri-meira é a confusão na divisão de trabalhos - o Executivo nunca melhorou os trabalhos nos departamentos, embora haja desenvolvimento na sociedade. A segunda é a qualidade dos funcionários públicos - podemos observar

LOI MAN KEONG, ELEMENTO DO CONSELHO CONSULTIVO PARA A REFORMA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

“O Executivo nunca melhorou os trabalhos nos departamentos”Loi Man Keong não tem papas na língua: a eficiência em Macau é baixa e isso deve-se, sobretudo, às funções sobrepostas e aos muitos departamentos no Executivo. Vice-presidente do Centro de Política de Sabedoria Colectiva e vogal do Conselho Consultivo para a Reforma da Administração Pública, Loi Man Keong diz discordar de ajustamentos nos Conselhos Consultivos, mas deixa outras sugestões para melhoriasno Executivo

que, quando os funcionários da linha da frente enfrentam dificuldades e as contam aos superiores, ninguém assume [a responsabilidade]. Isso acontece, porque o salário que eles recebem e as tarefas que têm de fazer não são correspondentes.

Pode dar um exemplo? Sim. Um técnico superior pode chegar a um índice salarial de 730 (cerca de 55 mil patacas) apenas depois de trabalhar mais de dez anos, enquanto um Chefe de Departamento ganha também o mesmo índice. Podemos imaginar... Um técnico superior que traba-lha horas extras pode vir a ganhar muito subsídios, mas um Chefe de Departamento não tem direito a subsídios. Neste contexto, poucas pes-soas preferem ser chefes de um departamento, porque a responsabilidade de ser chefe é grande.

A Administração está relacionada com medidas de gestão e a Justiça com a criação de regimes. Agora, em Macau, a criação de leis e a execução dessas leis funciona no mesmo órgão, o que não é razoável. (...) Como é possível juntar a Administração e a Justiça? O primeiro problema disso é a baixa eficiência, o segundo é a confusão de trabalhos

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3 entrevistahoje macau quinta-feira 25.9.2014

GOVERNO ELECTRÓNICO A PASSO DE CARACOL

LOI MAN KEONG, ELEMENTO DO CONSELHO CONSULTIVO PARA A REFORMA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

“O Executivo nunca melhorou os trabalhos nos departamentos”

Durante a campanha elei-toral do Chefe do Executi-vo, Chui Sai On disse que vai ajustar os organismos consultivos, exemplifican-do que uma pessoa não pode ser vogal de vários Conselhos Consultivos, como acontece. Qual a sua opinião sobre isto? Acho que isso é “falar por falar”. Não me parece que haja problemas com o facto de uma pessoa ser vogal de vários Conselhos Consultivos. Como eu: sou vogal de três. Na realidade, em cada um deles tenho valores diferentes. No Conselho da Juventude, utilizo a minha experiên-cia sobre política, dou conselhos aos jovens para

participar na política. Sou também vogal do Conselho Consultivo dos Serviços Comunitários, trabalho sempre com a classe mais baixa e tenho um papel representante. Sendo tam-bém vogal do Conselho Consultivo para a Reforma da Administração Pública, o Governo quer que dê informações sobre a go-vernação electrónica. Até ao momento, posso dizer que sou o único vogal no Conselho que conhece informações correctas e sobre o chamado Governo Electrónico. Caso o regula-mento obrigue a que uma pessoa não possa ser vogal de vários Conselhos e não se consegue encontrar pes-

soas habilidosas, então não se cria o Conselho? Acho que o mais importante não é quantos cargos tem uma pessoa, mas sim avaliar o seu desempenho, como a presença, o discurso e o de-sempenho, para fiscalizar a eficiência dos Conselhos Consultivos.

Mas concorda com o li-mite para os mandatos desses membros, tal como foi referido pelo Chefe do Executivo?Isso concordo, mas acho que deve haver uma medida flexível, como por exem-plo, quando não haja mais ninguém para substituir o membro presente, deve haver casos especiais.

O que falta ainda para que haja uma reforma efectiva da Administração Pública?Do ponto de vista da gestão, em Macau falta um meca-nismo de punição e recom-pensa, no contexto em que o salário não corresponde ao nível do cargo. Quando se faz bem, recompensa-se. Quando se faz mal tem de se ser punido, mas agora, há “zero” [responsabilidades] sobre isso. Isso faz com que a eficiência seja muito baixa. O mecanismo actual não beneficia da eficiência. Além disso, a eficiência baixa deve-se à existência de muitos serviços interde-partamentais, onde não se consegue imputar respon-sabilidades.

São muitos os serviços com as mesmas responsabili-dades?Por exemplo, para abrir um estabelecimento de comidas, embora haja um serviço “one stop” onde se pode pedir as licen-ças de todos os serviços,

no processo seguinte, as pessoas têm de dirigir-se a esses mesmos serviços: pedir a licença de higiene do Instituto para os Assun-tos Cívicos e Municipais (IACM), a licença de Corpo de Bombeiros, a licença de Segurança Alimentar dos Serviços de Saúde e a aprovação do projecto do estabelecimento de comidas à Direcção dos Serviços de Solos, Obras públicas e Transportes (DSSOPT). Então, podemos imaginar que, para criar apenas um estabelecimento de comidas é tudo tão burocrático que demora, pelo menos, nove meses ou um ano e meio. Como é que se pode querer que a economia de Macau

desenvolva, se apenas um estabelecimento de comidas que paga cem mil patacas de renda mensal tem de esperar pela aprovação mais de nove meses? Será isto be-neficiar a população? Isso é uma das maiores queixas da população sobre a eficiência do Executivo.

Na sua opinião, qual a principal mudança que tem de se fazer na Admi-nistração?Considero que devia haver uma pessoa ou um departa-mento de coordenação para aumentar a eficiência. O Governo diz sempre que há um caminho para a reforma da Administração Pública. De facto, sugiro que esse

comece por ser a criação de um gabinete para fazer a reforma, que abranja todos os Secretários do Executivo, coordene todos os trabalhos de todos os Secretários, to-das as Direcções e todos os Departamentos. Senão, cada Departamento governa à sua maneira e não se consegue aumentar a eficiência.

Há opiniões que indicam que se deveria dividir a pasta da Administração e Justiça. Concorda? Concordo. Isso tem a ver com a divisão de traba-lhos. A Administração está relacionada com medidas de gestão e a Justiça com a criação de regimes. Agora, em Macau, a criação de leis

Carga de trabalhos

Como é que se pode querer que a economia de Macau desenvolva, se apenas um estabelecimento de comidas que paga cem mil patacas de renda mensal tem de esperar pela aprovação mais de nove meses?

Quando os funcionários da linha da frente enfrentam dificuldades e as contam aos superiores, ninguém assume [a responsabilidade]. Isso acontece, porque o salário que eles recebem e as tarefas que têm de fazer não são correspondentes

e a execução dessas leis funciona no mesmo órgão, o que não é razoável. Seria como o conceito de Assem-bleia Legislativa e os órgãos de justiça: a AL elabora as leis, os órgãos executam as leis, porque um departa-mento que elabora leis deve ter autonomia. No caso da Administração e Justiça, a Justiça serve para melhorar [o Direito], mas a Adminis-tração é mais importante, porque a Administração domina em Macau. Então, como é possível juntar a Ad-ministração e a Justiça? O primeiro problema disso é a baixa eficiência, o segundo é a confusão de trabalhos. Se parte da Administração quer elaborar uma lei, então pode fazê-lo. Não devia ser assim.

Chui Sai On deixou várias promessas para o novo mandato. Acha que as conseguirá cumprir? Podemos ver que o proble-ma mais difícil de resolver é a habitação. O Governo salienta sempre que Macau deve fazer novos aterros, mas os novos aterros só estão prontos depois de dez anos e o novo mandato de Chui Sai On é apenas de cinco. Logo, não acho que seja trabalho para o próximo mandato. Outra coisa é o trânsito. Nessa área, considero que os pensamentos dos respon-sáveis dos cargos públicos devem mudar. Sugiro que se diminua o número de para-gens de autocarros, porque agora é elevado e obriga a que a velocidade média dos carros seja de 20 qui-lómetros por hora. Macau deve fazer uma vida a pé e ter os transportes públicos como transportes entre as zonas principais. Mas, isso é um problema de cultura, as pessoas não andam a pé e, se isso não mudar, não se conseguem resolver os problemas dos transportes.

4G OPERADORAS COM AUTO-PUNIÇÕES? RIDÍCULO

O desenvolvimento actual do chamado Governo Electrónico em Macau é demasiado lento, diz Loi Man Keong. O vogal do Conselho Consultivo para a Reforma da Administração Pública defende que este é um dos pontos a ter em conta na reforma do Governo. “Se tivermos como referência Portugal e Taiwan, onde se utiliza a governação

electrónica para tornar os processos transparentes, esclarecendo todos os processos de tratamento dos documentos, os residentes e os departamentos podem fiscalizar a eficiência do trabalho. Isso é uma parte importante da reforma e o facto é que, no resto do mundo, sobretudo em Portugal a governação electrónica tem muito sucesso.”

Tem esperança na rede 4G, mas Loi Man Keong considera que há duas coisas negativas nas exigências do Governo face às empresas: depois de atribuição da licença, a taxa de abrangência da rede tem de ser de apenas 50%. “Acho que isto apoia precisamente as operadoras. Os residentes pagam o 4G mas usufruem apenas de 50%, será isso justo? Para as operadoras, 100% de abrangência da rede não é difícil, porque as estações estão preparadas, só é uma questão de

acrescentar mais equipamentos para se atingir os 100%. Isso é um problema de investimento das operadoras. No entanto, o Governo dá espaço às operadoras para ganharem dinheiro, quando estas oferecem apenas 50% de serviços”, realça ao HM. Mas há mais. “Outra coisa negativa é a punição. O contrato requer punições, mas as operadoras podem elaborar punições por si próprias. Isto não é ridículo? O Executivo deve ligar a punição com a qualidade de serviços directamente.”

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4 hoje macau quinta-feira 25.9.2014POLÍTICA

REDUÇÃO? NÃO É PRECISOSerá que Chui Sai On deveria reduzir o número de Conselhos Consultivos no próximo mandato? Eilo Yu e Agnes Lam consideram que as melhorias não passam por aí. “É difícil dizer. Não estou certo de que o Governo faça subitamente uma mudança grande. Penso que nos próximos cinco anos o Governo vai focar-se numa tentativa de fazer as pessoas felizes”, disse o docente. Já Agnes Lam foi clara: “não penso que deveriam ser reduzidos, porque o problema é que são sempre as mesmas pessoas que se sentam nos mesmos conselhos. Se houver um melhor sistema para nomear pessoas, para haver maior variedade. Não penso que deveriam ser reduzidos, o que temos é de fazer com que funcionem melhor”, concluiu.

O Governo tem mais de uma dezena de Conselhos Consultivos com a função de dar sugestões às políticas públicas, mas há quem conteste a existência de alguns. Três rostos políticos pedem membros mais próximos da população e uma maior clareza no trabalho destes Conselhos

CONSELHOS CONSULTIVOS ESPECIALISTAS CRITICAM FALTA DE EFICIÊNCIA

Elementos meramente decorativosANDREIA SOFIA SILVA*[email protected]

E M chinês, um vaso é sinó- nimo de algo que não ser-ve para nada, por ser um elemento decorativo sem

grandes funções. É desta forma que a deputada Kwan Tsui Hang intitula os mais de dez Conselhos Consultivos criados na estrutura governativa. Olhando para o Boletim Oficial (BO), existem Conselhos Consultivos para políticas que visam a reforma jurídi-ca, a cultura, a reforma da saúde ou o desenvolvimento económico, entre outros sectores.

Ao fim de cinco anos do primei-ro mandato de Chui Sai On, o papel destas entidades na formulação de estratégias governamentais parece ter sido pouco, segundo vozes ouvidas pelo HM.

SEM EFEITO“Os Conselhos Consultivos não deviam ser vasos. Já fiz muitas interpelações nas sessões da Assem-

“Há dois ou três que estão a trabalhar bem, mas há conselhos que não publicitam os encontros”AGNES LAM Docente UM

FIGURAS PÚBLICAS DE CONFIANÇA O que deve então, mudar, para que os Conselhos Consultivos se tornem eficazes? Kwan Tsui Hang pede que os presidentes dos Conselhos sejam figuras públicas que tenham a confiança do povo. “Não podem ser os dirigentes do Governo, porque isso não vai ser eficaz, porque o Executivo é que decide se ouve essas opiniões ou não”, disse a deputada. Também Agnes Lam pede mudanças na composição destes grupos. “Se o Governo criou esta plataforma para saber as opiniões das pessoas, ainda que de forma indirecta, então deveria permitir que mais entidades fossem nomeadas, com mais representantes. Essa seria a melhor forma”, defendeu a docente. Eilo Yu apontou que a sociedade também deve ter um papel mais activo nesta questão. “Não é apenas a responsabilidade do Governo mas a forma como a população participa na sociedade que pode reduzir esta diferença. O Governo pode iniciar uma reforma para melhorar esta comunicação, mas também cabe à sociedade fazer algo”, frisou o docente.

bleia Legislativa (AL) a questionar a estrutura e o efeito dos conselhos. Primeiro, os dirigentes parece que não dão muita atenção aos conse-lhos. Depois, não há comunicados junto do público, o Governo só ouve e não se sabe se as opiniões dos membros vão ou não ser tidas em conta nos assuntos políticos e sociais”, disse Kwan Tsui Hang.

“Os Conselhos Consultivos não deviam ser vasos”KWAN TSUI HANG Deputada

Agnes Lam, docente da Univer-sidade de Macau (UM), fez parte de vários Conselhos Consultivos e assume: “há dois ou três que estão a trabalhar bem, mas há conselhos que não publicitam os encontros”, conta ao HM.

“Alguns Conselhos Consulti-vos são reconhecidos pelos média e população, porque têm uma maior exposição. Muitas vezes não sabemos que eles existem, não sabemos quando têm reuniões ou o que fazem e, no entanto, é suposto darem opiniões importantes para o trabalho do Governo. Há algumas especulações”, defende a docente.

Já Eilo Yu, também professor da UM, na área da Ciência Política, diz que os últimos cinco anos se

pautaram por falta de acções concretas, com um papel

reduzido dos Conselhos. “Em termos de reso-

lução dos problemas das pessoas, penso que o Governo ficou aquém das expectativas, na questão dos transpor-tes e do alojamento. O Governo ainda não apresentou nenhum

plano concreto para a habitação pública, apesar

de termos os novos aterros. Parece que as expectativas

das pessoas são maiores face ao passado e o Governo continua

a agir de forma lenta”, disse o professor. - *com Cecília Lin

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FACEBOOK

5 políticahoje macau quinta-feira 25.9.2014

Funcionários públicos na Macau Investimento e DesenvolvimentoO Secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, nomeou três funcionários públicos para prestarem serviços na sociedade Macau Investimento e Desenvolvimento SA. A decisão foi conhecida ontem através da publicação de um despacho no Boletim Oficial (BO), sendo nomeados Mac Vai Tong, da Direcção dos Serviços de Economia (DSE), Mou Heng Kei e Leong Pou Nei, da Direcção dos Serviços de Finanças (DSF). Os três funcionários irão prestar serviços na MID SA por um período de um ano, a partir do próximo dia 1 de Novembro, mas o despacho não especifica que tipo de trabalho irão desenvolver. Os salários dos trabalhadores serão pagos pela empresa. Recorde-se que a sociedade comercial foi criada em 2011 e tem como presidente do Conselho de Administração Sou Tim Peng, director da DSE.

O Comissário de Auditoria, Ho Veng On, garantiu

que o órgão está “firmemente determinado” em actuar de forma rigorosa na gestão dos recursos públicos.

Num comunicado que cita declarações que aconteceram durante a VIII Assembleia Geral da Organização das Instituições Superiores de Controlo da Comunidade dos países de Língua Portuguesa (OISC/CPLP), Ho Veng On disse ainda que vai haver

HONG KONG ESTUDANTES DE MACAU SOLIDÁRIOS COM PROTESTO

Todos por todosAPOIOS A SUBIRNa mesma página, foi feito um convite ao estudantes de Macau. O que se propõe é que os alunos tirem uma fotografia ao seu cartão de estudante e a coloquem na sua página pessoal com o título “Apoiamos o boicote às aulas dos estudantes de Hong Kong”. Até ao fecho desta edição, já 30 fotografias circulavam na rede social de alunos da Universidade de Macau, Instituto Politécnico, Universidade da Cidade de Macau e da Universidade São José, entre outras entidades escolares.

FIL IPA ARAÚ[email protected]

FLORA [email protected]

O S protestos organiza-dos por estudantes de várias instituições de ensino de Hong Kong

não estão a passar indiferentes a Macau. Um grupo de mais de 50 assistentes sociais e estudantes da área juntou-se ontem na Praça Flor de Lótus, em Macau, erguendo cartazes onde se lia “apoiamos o boicote às aulas dos estudantes de Hong Kong”.

Luzia Ho, uma das organiza-dores da concentração, apelou, através de um evento criado na rede social Facebook, à partici-pação dos estudantes de Macau. A organizadora considera que o boicote deve ser apoiado por todos, realçando que os alunos não devem manter uma postura de descuido das matérias que estão em causa e que motivam as manifestações na região vizinha.

Recorde-se que, em Hong Kong, fazem-se ouvir protestos contra o Governo Central devido ao facto de Pequim ter decidido transformar a promessa de sufrágio directo para a escolha do Chefe do Executivo, em 2017, num sufrágio que tem de escolher apenas líderes apontados previamente pelo próprio Governo.

CAMINHO CONJUNTO?Segundo um ‘post’ publicado na página do evento, a organizadora afirma que é a semelhança com o que se passa em Macau que faz com que haja este apoio. “Nos últimos anos, Macau e Hong Kong enfren-taram as mesmas discussões sobre a reforma política e, por isso, na sua opinião, os assistentes sociais devem mostrar a solidariedade como agentes activos na sociedade em que estão.” Luzia Ho mostra-se ainda defensora de uma “caminha-da conjunta” pela democracia entre Hong Kong e Macau. O activista residente de Macau, Wong Kin Lon, está a estudar no primeiro ano do curso de Política e Administração na Universidade

Chinesa de Hong Kong e não quis deixar de estar presente na semana de boicote às aulas. “Gostava que este protesto para a reforma política de Hong Kong tivesse influência em Macau”, afirmou o aluno ao HM.

Na opinião do aluno, os resi-dentes de Macau devem “também

apoiar o desenvolvimento demo-crático de Hong Kong e todos os seus movimentos civis, para que haja um sufrágio”, explica.

Questionado sobre o futuro de Macau, Wong Kin Lon mostra--se reticente. “Não prevejo uma proposta de reforma política

“Gostava que este protesto para a reforma política de Hong Kong tivesse influência em Macau”WONG KIN LON Activista e aluno de Política e Administração na Universidade Chinesa de Hong Kong

Cerca de meia centena de assistentes sociais e estudantes de Macau manifestou-se na Praça Flor de Lótus num gesto de solidariedade para com os colegas da região vizinha

melhor em Macau, que é um sítio bem mais conservador que Hong Kong, mas poderia surgir uma igual”, diz, reforçando que “só depois de Hong Kong conseguir uma mudança, é que Macau per-ceberá que também poderá seguir o mesmo caminho”.

Auditoria Garantias de rigor na gestão de recursos públicos uma grande exigência quanto à transparência, prestação de contas e eficiência nos servi-ços e organismos públicos.

“O CA está ciente das suas responsabilidades sociais em promover uma melhor Admi-nistração Pública centrada nos cidadãos e em prol de um desenvolvimento humano e sustentável”, diz.

Ho Veng On afirmou ainda que num “Governo aberto e responsável, com-pete aos serviços públicos

não só respeitarem os cri-térios técnicos e éticos de boa gestão, como também saber dialogar, auscultar as opiniões e comunicar as deci-sões político-administrativas aos cidadãos”.

O Comissário frisou ainda que só uma boa Administra-ção contribuirá “indubita-velmente” para uma melhor Administração Pública, caso esta se guie por “princípios de transparência e prestação de contas”. - F.A.

Wong Kin Lon, que marcou presença em vários movimentos civis em Macau ao lado de Jason Chao e Sou Ka Hou, clarificou que a causa pela qual os alunos estão a lutar vale a perda das matérias que iriam aprender. “Vale a pena lutar por um siste-ma político mais democrático”, concluiu.

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6 política hoje macau quinta-feira 25.9.2014

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Numa entrevista a um diário, Ella Lei critica o Governo por este não prestar atenção aos problemas que existem na área do trabalho. A deputada indirecta diz que na próxima sessão legislativa vai continuar a promover a implementação do salário mínimo e defende a revisão da Lei das Relações de Trabalho

Muitas vezes, o Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) chega a um consenso, mas o processo legislativo torna-se lento, porque o Governo não dá atenção ao assunto

CECÍLIA L [email protected]

E LLA Lei, deputada indirecta na Assembleia Legislativa (AL), deu uma entrevista ao diário chinês Ou Mun

onde promete continuar a lutar pela implementação do salário mínimo geral, acusando ainda o Governo de não dar atenção suficiente à Lei das Relações do Trabalho .

Ella Lei defende que ainda há um grupo de trabalhadores com um baixo vencimento, pelo que deveria ser criada uma Lei do Salário Míni-mo geral o mais depressa possível.

Para além da questão do salário mínimo, a deputada considera que é necessário alterar a Lei das Relações do Trabalho, porque quando os tra-balhadores perdem o emprego por acidentes de trabalho, ou quando não recebem salários por falência da empresa, pode acontecer que as famílias fiquem sem ganhos.

Ella Lei admite que “é sempre complicado” promover uma lei relacionada com os trabalhadores,

TRABALHO ELLA LEI CRITICA GOVERNO FACE À LEI LABORAL

A olhar para o lado

mas frisa que a falta de atenção do Executivo também não ajuda. “Muitas vezes, o Conselho Per-manente de Concertação Social (CPCS) chega a um consenso, mas o processo legislativo torna--se lento, porque o Governo não

dá atenção ao assunto”, frisou a deputada ao Ou Mun.

PROBLEMAS EXISTEMElla Lei diz que se olha demasiado para a actual taxa de desemprego e para as receitas de impostos

ESFORÇO PARA APRENDER“Ao longo do tempo, tenho vindo a acompanhar os assuntos laborais. Agora sou deputada e preciso de dar as minhas opiniões sobre questões jurídicas, por isso, já não sou apenas uma deputada dos trabalhadores. Mas preciso de aprender mais aspectos, ainda preciso de me esforçar em muitas áreas”, disse ainda Ella Lei em jeito de balanço nos primeiros dez meses como deputada.

como provas de que não existem problemas na área laboral em Ma-cau. Contudo, tal “não é verdade”, assumiu a deputada.

Em relação ao papel da socie-dade na supervisão do Governo, Ella Lei considera que os residentes “obviamente” estão mais exigentes face ao Executivo. Apesar das inter-pelações escritas e orais terem au-mentado no hemiciclo, bem como os debates, a deputada considera que “muitos departamentos não são muito sérios na sua resposta”, dan-do apenas “uma resposta oficial”. “Não há efeitos, os departamentos precisam de ajustar a sua lógica e maneira de pensar”, disse ainda ao mesmo jornal.

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Na reportagem de ontem intitulada “Relações douradas”, sobre

os Vistos Gold, erradamente escrevemos que Jorge Chang era

advogado, quando, na realidade, a sua profissão é jurista. Também,

onde se lê que “não há” funcionários chineses a trabalhar nas

lojas da Avenida da Liberdade, deve ler-se que há funcionários

chineses, efectivamente, a fazer esse trabalho. Ao visado e aos

leitores, pedimos as nossas desculpas.

O HM ERROU

7SOCIEDADEhoje macau quinta-feira 25.9.2014

ANDREIA SOFIA [email protected]

S ÃO frequentes as queixas contra os taxistas no que diz respeito às irregulari-dades que cometem e os

maus modos que têm para com os clientes. A pensar nisso, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) está a pensar na criação de cursos de formação profissional, onde leis e cultura local poderão ser ensinados.

“A DSAT está a ponderar ofere-cer cursos de formação profissional para aqueles que já trabalham como taxistas, por forma a melhorar a qualidade dos seus serviços. Os cursos podem incluir as leis e regulamentos relacionados, a lín-gua, história e cultura de Macau, a qualidade do serviço e a atitude”, disse o organismo em resposta escrita ao HM.

Contudo, as novas medidas estão dependentes da revisão do Regulamento do Transporte de Táxis, processo que foi sujeito a consulta pública. “No processo de revisão das leis e regulamen-tos relacionados com os táxis, a DSAT recolheu várias opiniões

D URANTE o primei-ro semestre do ano deram entrada no

Estabelecimento Prisio-nal de Macau (EPM) 282 novos reclusos, de acordo com os dados da Direcção dos Serviços de Estatísti-cas e Censos (DSEC).

Segundo os números apresentados, os presidiá-rios do sexo masculino representam a maior fatia do bolo ultrapassando os 83%, ou seja, de Janeiro até Junho foram registadas 235 novas entradas. O sexo feminino apresenta valores mais baixos, tendo dado entrada nesta primeira metade do ano 47 reclusas, cerca de 17% do total das entradas.

Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau em 2016Um comunicado oficial ontem emitido dá conta de que o projecto da ponte que irá ligar as regiões de Macau, Hong Kong e Zhuhai deverá estar concluído daqui a dois anos. “Os governos das três regiões têm vindo a envidar todos os esforços para impulsionar as obras da construção da ponte (...)”, é referido no comunicado, que dá ainda um prazo para a inauguração das estruturas do posto fronteiriço. “A construção das superstruturas na zona de administração do posto fronteiriço de Macau, sita no lado sul da ilha artificial, entrou na fase de trabalhos de concepção aprofundada e em detalhes, prevendo que os projectos estejam concluídos de forma faseada desde o fim do corrente ano até ao próximo ano, com as obras de construção previstas a ser iniciadas seguidamente”, aponta o documento.

TÁXIS DSAT TEM PLANO PARA ENSINAR “BONS MODOS”

Ovelhas negras em formação?

EPM MAIS DE 200 NOVOS PRESOS NO PRIMEIRO SEMESTRE

O sol aos quadrados

235novas entradas

83%do sexo masculino

Comparativamente ao semestre anterior, o fluxo de movimento dos reclusos apresentou uma diminui-ção. De Junho a Dezembro de 2013, o EPM recebeu 317 novos reclusos, sendo 261 homens e 56 mulheres. Em termos gerais, em 2013 foram recebidos 505 novos reclusos, valor superior aos 488 registados em 2012,

assim como aos 421 referentes ao ano de 2011.

DA REINSERÇÃORecorde-se que, numa entrevista ao HM, Ste-phen Ng, coordenador do Departamento de Rein-tegração Social da EPM afirmou que os reclusos poderão, se assim o en-tenderem, fazer parte do plano de reinserção disponibilizado pelo es-tabelecimento e outras autoridades. Este trabalho “divide-se em cinco áreas: a formação educativa, a formação profissional e depois cursos de inte-resse, como línguas ou hobbies”.

O EPM tem ao dispor formação educativa, cur-sos do ensino primário e secundário recorrentes, cursos oficiais. “Os re-clusos que frequentam estes cursos, se atingirem o número de presenças exigido e com aprovei-tamento conseguem um certificado da DSEJ. Há reclusos que frequentam cursos superiores, o EPM dá apoio, os professores vêm de fora para dar aula aos reclusos”, explicou o Stephen Ng. - F.A.

sobre a formação dos condutores de táxi, mas ainda não chegou a qualquer conclusão”, adiantou ainda o organismo liderado por Wong Wan.

As questões foram colocadas pelo HM a este organismo depois de Tony Kuok, presidente da Associação de Mútuo Auxílio de Condutores de Táxi e membro do

Conselho Consultivo do Trânsito, ter defendido regras mais apertadas nos exames de acesso à profissão de taxista.

“É necessário dificultar o exa-me para ganhar a carteira profissio-nal, basta escolher entre o A, B e C, então é fácil obter a aprovação. É preciso rever o exame”, disse Tony Kuok. Contudo, a DSAT garantiu que “neste momento não há planos para ajustar as questões dos exames para a obtenção da carteira profissional de táxi”.

SIM AOS POLÍCIAS À PAISANA A Associação Choi In Tong Sam apelou ontem ao Governo para melhorar a qualidade dos serviços de táxis através de medidas de gestão e diz concordar com a introdução de polícias à paisana para combater as irregularidades dos taxistas. A associação diz ainda que considera necessário aumentar a punição, incluindo suspensão ou cancelamento da licença e a assunção de responsabilidades penais. Sugere ainda que, nas condições do concurso de licenças, se adicionem requisitos especiais e restrições, dando como exemplo que os rádio-táxis devem esperar nos locais definidos para os bairros antigos, resolvendo a dificuldade de apanhar táxi nesses locais.

FISCAL ATROPELADO DSAT SEM RESPOSTAO HM questionou ainda o organismo de Wong Wan sobre o caso do fiscal que foi atropelado por um taxista. A DSAT apenas respondeu que o Regulamento do Transporte de Passageiros de Táxis “não estipula qual a sanção administrativa que deve ser aplicada ao taxista que causou o acidente de trânsito”. “Se o taxista está envolvido num acidente de trânsito, deverá ser aplicada a Lei do Trânsito Rodoviário, o que envolve a investigação e recolha de provas pela polícia, bem como o julgamento em tribunal”, diz a DSAT, que não adianta se o condutor do táxi foi punido.

“A DSAT está a ponderar oferecer cursos de formação profissional para aqueles que já trabalham como taxistas, por forma a melhorar a qualidade dos seus serviços” DSAT

O Governo promete analisar a possibilidade de criação de cursos de formação para taxistas, onde leis, “qualidade do serviço e atitude” e história e cultura de Macau poderão fazer parte do leque de conhecimentos transmitidos

Page 8: Hoje Macau 25 SET 2014 #3182

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HEIR

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hoje macau quinta-feira 25.9.20148 sociedade

JOANA [email protected]

A concessão do terreno da Wynn no Cotai con-tinua sob investigação do Comissariado contra

a Corrupção (CCAC). Isso mesmo confirmou o organismo, num co-municado enviado às redacções.

“O caso encontra-se presente-mente em investigação e o CCAC está vinculado a respeitar o segredo de justiça, pelo que não faz qual-quer comentário sobre o assunto”, começa por dizer o organismo.

IUOE FAZ NOVO PEDIDO A CHUI SAI ON

O CCAC continua a investigar a concessão do terreno no Cotai à Wynn, depois do patrão da operadora ter assegurado que o organismo “estava satisfeito” com a colaboração da empresa. Em causa, o alegado pagamento de 400 milhões de patacas a uma empresa da China - que a Wynn afirma ter feito em relatórios à Bolsa de Valores

WYNN CCAC SEGUE COM INVESTIGAÇÃO. EMPRESA ADMITE TER PAGO A UMA “TERCEIRA PARTE”

Água mole em pedra dura

“Não [há] quaisquer elementos complementares a divulgar.”

O caso diz respeito à concessão do mais recente terreno da Wynn no Cotai, onde vai nascer o Wynn Pa-lace, em que a operadora poderá ter feito, alegadamente, pagamentos no valor de 50 milhões de dólares americanos a um grupo da China, para deter a propriedade do terreno.

Contudo, se a adjudicação foi feita através de concurso público, como assegura a Wynn e a Direc-ção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), também é verdade que a Wynn

A IUOE pediu ao Governo que entregue documentos “públicos” sobre as transacções da Wynn Macau no Cotai, porque diz que a operadora pagou a um grupo de Pequim para poder ficar com o terreno.Em duas cartas, dirigidas a Chui Sai On, Chefe do Executivo, e a Lau Si Io, Secretário para as Obras Públicas e Transportes, a IUOE pedia informações “sobre o compromisso dos direitos [de um terreno] no Cotai

para indivíduos de Pequim”. Em documentos enviados ao HM, Jeffrey Fiedler, da União, dizia ter solicitado “toda a documentação cobrindo as comunicações e com referências às empresas Tien Chiao Entertainment e Investment Company e à Companhia de Entretenimento e Investimento Chinese Limitada”, bem como de pessoas como “José Cheong Vai Chi – também conhecido como “Cliff Cheong” -, Ho Ho e Zhang Luchuan”. Fiedler pedia ainda

documentação relacionada com pagamentos feitos pela empresa a Edmund Ho, na qualidade de Chefe do Executivo, por considerar que este estivesse envolvido nas empresas. De acordo com uma segunda carta enviada a Lau Si Io, na semana passada, Jeffrey Fiedler indica que a resposta da DSSOPT foi de que não tinha documentos relacionados com as transacções. A União insiste e pede essa documentação ao Chefe do Executivo.

“O caso encontra-se presentementeem investigação e o CCAC está vinculado a respeitar o segredo de justiça, pelo que não faz qualquer comentário sobreo assunto”COMUNICADO DO CCAC

admite ter feito pagamentos a uma “terceira parte”, em documentos e relatórios que entregou à Bolsa de Valores de Hong Kong.

“A empresa foi contactada pelo CCAC, que pediu determinadas informações relacionadas com o terreno no Cotai”, começa por dizer um recente comunicado enviado pela operadora à Hong Seng Index. “A empresa está a cooperar com o CCAC e, previamente, já tinha fornecido informação em 2009 e em relatórios intermédios de 2011 e 2012.”

A TERCEIRA PARTESão precisamente esses relatórios que indicam que houve um pa-gamento feito relacionado com o terreno no Cotai, no mesmo valor que o indicado pela União Internacional de Engenheiros Operacionais do Nevada (IUOE, na sigla inglesa), que recentemente reacendeu a polémica.

“Em Maio de 2012, [a em-presa] fez um pagamento de 50 milhões de dólares americanos (aproximadamente 389 milhões de dólares de Hong Kong) a uma terceira parte não relacionada

[com a empresa e com o Governo de Macau], devido à desistência desta em determinados direitos relacionados com o terreno e com [eventual] desenvolvimento futuro no local”, pode ler-se nos dois relatórios intermédios a que o HM teve acesso. “O Grupo [empresa] havia divulgado anteriormente a exigência desse pagamento (…).”

De acordo com a informação prestada no relatório, o acordo para esse pagamento foi feito em Agosto de 2008 pela Palo Real Estate Company, empresa subsi-diária da Wynn, com uma “empresa constituída em Macau”.

Mais ainda, a Wynn informa que o acordo mandava que o paga-mento “fosse feito 15 dias depois de o Governo de Macau publicar em Boletim Oficial a concessão”.

PARA CONTINUARA declaração do CCAC chega de-pois de Steve Wynn, que teve esta semana em Macau, ter dito que o organismo estava satisfeito com o apoio da operadora à investigação e que “tudo o que está relacionado com essas transacções é tão limpo, puro e cristalino que até se poderia beber”. Wynn disse que mostrou toda a informação e que “pareceu” que ficaram muito satisfeitos, dando a entender que esta tinha terminado.

O CCAC, contudo, não dá o caso como acabado e diz que tam-bém lançou o comunicado porque havia vários órgãos de comunicação social a pedir esclarecimentos sobre as declarações do patrão da Wynn.

“Em Maio de 2012, [a empresa] fez um pagamento de 50 milhões de dólares americanos (aproximadamente 389 milhões de dólares de Hong Kong) a uma terceira parte não relacionada [coma empresa e com o Governo de Macau]”RELATÓRIO DA WYNN

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9 sociedadehoje macau quinta-feira 25.9.2014

O Governo concluiu a recolha de opiniões sobre os quatro per-cursos turísticos al-

ternativos criados no âmbito da iniciativa “Sentir Macau passo a passo” e, segundo um comunica-do, 37% dos inquiridos pediram a “optimização dos equipamentos de transporte de apoio e instalações públicas de turismo”.

Em relação às sessões de con-sulta, foram recolhidas 77 suges-tões, que incluem “a formação de guias, o aumento do conhecimento entre os residentes sobre pontos de interesse turístico, a optimiza-ção das infra-estruturas ao longo do itinerário dos novos roteiros, como casas de banho públicas,

CECÍLIA L [email protected]

O vice-director dos SS admitiu que é não é fácil ajustar

o sector médico, dando o exemplo dos países com o Inglaterra e Estados Unidos, em que é difícil obter uma intervenção do Governo, mas, numa resposta a um ou-vinte do programa “Macau Talk”, confirmou que será criado um Conselho para os Assuntos de Medicina que possa fazer o reconhecimen-to legal de médicos e alunos finalistas do Curso de Medi-cina que queiram regressar a

Universidade Onde está o exame único ? A vice-presidente da Associação Geral de Estudantes Chong Wa de Macau, Lei Un Man, apontou que, como já está definida a data do exame único para acesso às quatro universidades, o Governo deve publicar o mais rápido possível os detalhes sobre o exame, de forma a que as escolas possam acompanhar as matérias. Afirma a vice-presidente que o exame único ajudará a aumentar o nível integral dos estudantes e a diminuir o número de exames que os estudantes precisam, actualmente, de enfrentar, mas diz-se desapontada com o facto de, até ao momento, não haver documentos e instruções claras sobre a nova avaliação.

Estudante da UM atropelada em Maio acabou por falecerA estudante da Universidade de Macau que foi atropelada em Maio na rotunda perto da instituição faleceu na terça-feira passada, depois de receber tratamento médico durante vários meses. Teng Teng, a jovem, foi atropelada por um camião que perdeu o controlo na descida da Universidade, em Maio deste ano, e sofreu fracturas na perna esquerda e nos ossos de bacia. Segundo o jornal Ou Mun, no início de Agosto, Teng Teng, foi transferida para a enfermaria geral, mas os ferimentos agravaram-se e os médicos não conseguiram tratá-la, pelo que Teng Teng acabou por falecer. Desde o acidente da estudante que muitos estudantes da UM angariaram dinheiro para os tratamentos de Teng Teng.

A consulta pública que agora chega ao fim indica que a criação de caminhos alternativos para o turismo em Macau recebe o apoioda maioria

TURISMO OPTIMIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS E INSTALAÇÕES

Outros roteiros são bem-vindos

1257inquéritos

transportes e sinalização, o melho-ramento da eficácia da divulgação dos roteiros e do efeito destes na dispersão dos visitantes pelos di-ferentes pontos turísticos”, refere o mesmo comunicado.

Os resultados, revelados ontem pela Direcção dos Serviços de Tu-rismo (DST), mostram que, de um total de 1257 inquéritos válidos, o apoio aos novos roteiros registou 6,71 pontos, numa escala de 0 a 10. Já a atenção prestada aos novos roteiros registou 5,28 pontos, en-quanto que o conhecimento sobre os novos percursos é de apenas 29,6%. Cerca de 905 residentes

e 352 comerciantes participaram nos inquéritos, feitos online, na rua, ou através da entrega formal de opiniões junto da DST.

SINAIS DE ORIENTAÇÃOSegundo Cheng Wai Tong, sub--director da DST, “muitas das sugestões servirão como referência em futuros ajustamentos e melho-ramentos do projecto”, pode ler-se no comunicado emitido.

Os roteiros que a DST criou para afastar os turistas do centro histórico passam pelas freguesias de Nossa Senhora de Fátima, Santo António, Nossa Senhora do

SERVIÇOS DE SAÚDE CRIAÇÃO DE CONSELHO PARA ASSUNTOS DE MEDICINA

Em busca de novos ajustesMacau. Os alunos terão que fazer um exame para que possam entrar no sistema de formação de Macau e assim obter o reconhecimento profissional.

FILAS DE ESPERADe acordo com as estatís-ticas, no ano passado cada residente deu entrada 9,4 vezes em consultas no hospi-tal de São Januário, um valor bem mais alto do que o das

regiões à volta de Macau, daí as grandes listas de espera. O director desvalorizou o caso, afirmando que na caso da cirurgia pediátrica são pre-cisas três semanas de espera enquanto em Hong Kong são necessárias 15 semanas.

Ainda assim, e porque o programa permite a partici-pação directa dos ouvintes, um residente aproveitou o momento para apresentar o seu descontentamento sobre o congestionamento nos serviços públicos cau-sado pelo número de Tra-balhadores Não Residentes (TNR). Confrontando com isto, o director dos Assuntos Médicos do Hospital São Januário, Lei Wai Seng,

que também participava no programa, tranquilizou o ouvinte defendendo que o número de TNR em lista de espera para consultas não tem aumentado nos últimos anos e que, portanto, os residentes não devem ficar preocupados com essa ques-tão. Chan clarificou ainda que o hospital cobra tarifas diferentes aos TNR para os vários serviços, assim como aos turistas, que pagam o

dobro do valor cobrado aos residentes.

PLANO NOCTURNOO director do hospital público, afirmou ainda que pretende ter um plano de serviços prestados, durante a noite, por organizações sem fins lucrativos e organizações não governamentais (ONG) e que para isso precisará de recrutar mais trabalhadores, principal-mente não residentes. Chan acrescentou que pretende orga-nizar uma base de dados com as informações dos três hospitais em Macau, para perceber qual a carência de profissionais nas instituições de saúde.

MAIS TURISTAS NA SEMANA DOURADA FACE A 2013Segundo a Rádio Macau, o sub-director da DST frisou não ter uma estimativa oficial, mas disse que o território deverá receber mais turistas na Semana Dourada em Outubro, por comparação ao ano passado. “Neste momento, ainda não temos uma estimativa feita mas, de Janeiro até Agosto, houve uma subida de quase 8% face ao período homólogo do ano passado. Normalmente, aplica-se uma percentagem mais ou menos igual à Semana Dourada”, disse Cheng Wai Tong. O mesmo responsável adiantou ainda que vão ser adoptadas novas medidas para controlar o fluxo de turistas, como, por exemplo, a

criação de passeios de sentido único ou a instalação de grades mais altas para evitar a circulação de pessoas na estrada. Face à coordenação do excesso de turistas, Cheng Wai Tong admitiu que terão de ser feitos estudos. “É verdade que temos de fazer estudos. Talvez seja sempre a mesma resposta, mas é verdade que os estudos são muito importantes. Temos de analisar, estudar para ver o que é que podemos fazer para atingir um ponto de equilíbrio entre residentes e visitantes. De certeza que não podemos aplicar medidas obrigatórias. Não podemos”, referiu o sub-director da DST, citado pela Rádio Macau.

6,71pontos no apoio aos novos

roteiros, numa escala de 0 a 10

Carmo e São Francisco Xavier. “A aceitação nas quatro freguesias dos novos roteiros é relativamente alta, totalizando três pontos, um valor acima do nível médio”, pode ler-se.

Em relação ao impacto que os novos roteiros terão, as pessoas inquiridas consideram que terão um efeito positivo na economia e cultura das comunidades, mas ao mesmo tempo temem que tal possa agravar os problemas de trânsito. “Foram também expressos receios que os novos roteiros possam gerar uma subida dos preços das rendas para espaços comerciais ou o impacto na vida dos residentes”, pode ainda ler-se. - A.S.S.

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10 hoje macau quinta-feira 25.9.2014EVENTOS

O TEMPO ENVELHECE DEPRESSA • António TabucchiTodas as personagens deste livro parecem estar empenhadas numa confrontação com o Tempo: o tempo dos acontecimentos que viveram ou estão a viver e o tempo da memória ou da consciência. Mas é como se uma tempestade de areia se tivesse levantado nas suas clepsidras: o tempo foge e detém-se, gira sobre si próprio, esconde-se, reaparece a pedir contas. Do passado emergem es-tranhos fantasmas, as coisas que antigamente eram incompatíveis agora parecem harmonizar-se, as versões oficiais e os destinos individuais não coincidem. Um ex-agente da defunta República Democrática Alemã que durante anos espiou Bertold Brecht, vagueia sem destino por Berlim até ir ter ao túmulo do escritor para lhe confiar um segredo. Numa localidade de férias da ex--Jugoslávia, um oficial italiano da ONU que durante a guerra do Kosovo sofreu as radiações do urânio empobrecido ensina a uma miúda a arte de ler o futuro nas nuvens. Um homem que engana a sua solidão contando histórias a si próprio torna-se protagonista de uma aventura que inventara numa noite de insónia. Sensível às convulsões da História recente, Antonio Tabucchi mede-se com o nosso Tempo «desnorteado», em que se os ponteiros do relógio da nossa consciência parecem indicar uma hora diferente daquela que vivemos.

PEREGRINAÇÃO DE ENMANUEL JHESUS • Pedro Rosa MendesComo fez com o Mapa Cor-de-Rosa em Baía dos Tigres, Pedro Rosa Mendes reinventa, nesta “Peregrinação de Enmanuel Jhesus”, um espaço nobre da literatura portuguesa, de Fernão Mendes Pinto a Ruy Cinatti: o arquipélago malaio, imenso território de aventura, onde as caravelas chegaram há exac-tamente 500 anos. Passagens de História, memórias políticas, cadernos da guerrilha, tratados breves de diplomacia, debates teológicos, cenas de artes marciais, cartografia antiga, observações de botânica, notas de geologia, ritos de sagração, sortes tauromáquicas, até um fado perdido (por Amália?) lá em «Outramar»: abundantes são os tesouros que nos acompanham nesta viagem. Uma vertigem de personagens desfilam e falam a várias vozes. O resultado é um romance em diário de bordo, uma ficção de portulano, «suma accidental em que da conta de mvitas e mvito estranhas cousas que vio e ouvio nos reynos do Achém, Çamatra, Sunda, Jaua, Flores y Servião y Bellos, que vulgarmente se chamam Timor, homde nace o sandollo».

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ANDREIA SOFIA [email protected]

M IO Pang Fei a explicar a sua pintura cheia de traços brancos

e pretos. O olhar do artista plástico sobre uma Xangai que tem todas as velocidades num só lugar. O olhar sobre a arte chinesa cheia de figuras de Mao e a maneira de fazer uma arte diferente. São estas as imagens que preenchem o trailer do documentário sobre Mio Pang Fei, o artista plástico de Macau nascido em Xangai, e que terá a sua estreia mundial na edição 2014 do festival DocLisboa. O evento acontece na capital portuguesa entre 16 e 26 de Outubro e irá exibir cerca de 200 documentários para uma audiência de 25 mil pessoas.

DOCLISBOA DOCUMENTÁRIO SOBRE MIO PANG FEI COM ESTREIA MARCADA

Uma a ponte entre a arte ocidental e a cultura chinesa

RETRATO DE UM ARTISTANascido em Xangai na década de 30, Mio Pang Fei é considerado um dos mais conceituados artistas plásticos de Macau e um dos nomes sonantes da arte contemporânea da China continental. Afastou-se da corrente artística do Realismo Socialista e acabou por interessar-se por arte moderna ocidental, à época considerada anti-revolucionária. Estudou caligrafia e arte tradicional chinesa, as únicas disciplinas permitidas no tempo da Revolução Cultural, mas em Macau acabaria por cruzar a linha artística chinesa com as técnicas ocidentais, numa corrente à qual chamou de Neo-Orientalismo.

Pedro Cardeira, um dos rostos por detrás da produtora local Inner Harbour Films, está contente com a selecção do seu trabalho sobre Mio Pang Fei.

“Fiquei muito feliz com a notícia. O Doc Lisboa é um dos festivais mais importantes do mundo a nível de documentá-rio. Sobretudo para o panora-ma da indústria audiovisual em Macau, que não está habituada a ver filmes feitos em Macau nesses festivais. Penso que vai ser muito importante para a indústria audiovisual em Ma-cau”, disse o cineasta ao HM.

Questionado sobre se o pú-blico português vai compreen-der a arte e o olhar de Mio Pang Fei, Pedro Cardeira mostra-se optimista. “O Mio Pang Fei faz a ponte entre a arte ocidental e cultura chinesa. Considero que o Mio Pang Fei e a sua obra são um veículo para fazer

essa ligação. Olhando para as poucas reacções que já tive, de colegas que colaboraram no filme, penso que o filme vai ser bastante esclarecedor para compreender não só a obra do Mio Pang Fei mas também a cultura chinesa”, defendeu o cineasta.

ESTREIA EM MACAU ACONTECE MAIS TARDESe a estreia em Portugal do documentário já tem data marcada, o mesmo não acon-tece com a apresentação do trabalho no território. “De-pois teremos uma estreia em Macau, mais tarde. Ainda não sabemos quando, talvez em finais de Novembro”, confir-mou Pedro Cardeira ao HM.

O director de fotografia da Inner Harbour Films começou a rodar o documentário há cerca de dois anos, num ano em que

O documentário que está a ser feito pela produtora local Inner Harbour Films sobre o artista plástico Mio Pang Fei foi seleccionado para a edição 2014 do DocLisboa, onde terá a sua estreia mundial. Em Macau, o público poderá ver o filme pela primeira vez em Novembro

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DIARIAMENTEEXPOSIÇÃO “MACAU OF MY OWN”, DE EDUARDO MAGALHÃES Creative MacauENTRADA LIVRE

EXPOSIÇÃO PIONEIRISMO DO MOVIMENTO DA NOVA CULTURA – UMA EXPOSIÇÃO DE QIAN XUANTONGMuseu de Arte de MacauENTRADA LIVRE

HOJESEMINÁRIO “O CONTRIBUTO DA CULTURA PARA O DESENVOLVIMENTO”, COM JOSÉ TOLETINO DE MENDONÇA Fundação Rui Cunha, 18h30Entrada livre

SEXTA-FEIRACONFERÊNCIA SOBRE MOÇAMBIQUE: “PASSADO E PRESENTE DE UM REINO INTRANSIGENTE”, COM ANDRÉ VAN DOKKUMClube C&C, 18h15Entrada livre

PALESTRA COM THOMAS DANIELL SOBRE ARTISTAS JAPONESESUniversidade de São José, 18h30ENTRADA LIVRE

PIANO NA GALERIA (COMEMORAÇÃO 1º ANIVERSÁRIO)Fundação Rui Cunha, 20h00ENTRADA LIVRE

SÁBADOSEMINÁRIO “VER O MUNDO PELOS OLHOS DAS CRIANÇAS”Armazém do Boi, 17h00ENTRADA LIVRE

JAZZ AO SÁBADO – ENCONTRO DE MÚSICOS DE MACAU E HONG KONGFundação Rui Cunha, 17h00ENTRADA LIVRE

CONCURSO DE FOGO DE ARTIFÍCIO DE MACAU EQUIPA DE PORTUGAL Largo da Torre de Macau, 21h00ENTRADA LIVRE

CONCURSO DE FOGO DE ARTIFÍCIO DE MACAU EQUIPA DA AUSTRÁLIA Largo da Torre de Macau, 21h30ENTRADA LIVRE

CONCURSO DE FOGO DE ARTIFÍCIO DE MACAU EQUIPA DA FRANÇALargo da Torre de Macau, 22h00ENTRADA LIVRE

DOMINGOWORKSHOP PARA CRIANÇAS “PAPER DREAM HOUSE”Armazém do Boi, 10h0050 PATACAS

11 eventoshoje macau quinta-feira 25.9.2014

O QUE FAZER ESTA SEMANA?

FIL IPA ARAÚ[email protected]

C HEGOU a hora da equipa portu-guesa de pirotecnia convencer o júri do Concurso Internacional de

Fogo de Artifício de Macau, que decorre durante o mês de Setembro.

Subordinada ao tema ‘Utopia’, a equipa do Marco de Canaveses, Pyrofel Pirotecnia, pretende fazer com que os olhos de Macau se virem para o céu, com um espectáculo pirotécnico que irá contar a história de uma “cidade perfeita”.

“Pretendemos explorar o conceito ‘Dream City’, ou seja, mostrar a cidade como algo de perfeito, neste caso Ma-cau. O nosso espectáculo irá mostrar

Macau como uma referência turística não esquecendo a sua marca portu-guesa”, explicou à imprensa Diogo Vasconcelos, um dos quatro membros da equipa portuguesa.

Não sendo nova nestas andanças, a Pyrofel Pirotecnia, com 13 anos de experiência, pretende unir o efeitos de iluminação, fogo de artifício e multi-média em 18 minutos.

TODA A MÚSICA“A multimédia será usada principal-mente no fim da exibição, usaremos também vários géneros músicas, desde a música clássica ao rock”, explicou. Relativamente às cores usadas pela equipa lusa, Diogo Vasconcelos conta que estarão sempre ligadas a emoções.

Portanto “paixão será vermelho, verde harmonia”, por exemplo.

Em 2002, com apenas um ano de existência, a equipa marcou presença pela primeira vez neste concurso, de onde saiu como a grande vitoriosa. Doze anos depois, a equipa acredita que está mais profissional e que, por isso, o espectáculo será bem melhor.

O próximo sábado será a quarta noite de exibições. Além da equipa portuguesa, participam ainda os estreantes australia-nos, com o tema ‘O Amor’, e a equipa francesa, que desta vez arriscou num “tema diferente”: ‘A biodiversidade é o nosso futuro”. O espectáculo da equipa portuguesa começa às 21h00, seguindo--se a equipa da Austrália, às 21h30, e a equipa francesa, meia hora depois.

“Be Cool” Workshop para pais de adolescentesO ‘Projecto Be Cool’ - da Associação de Reabilitação de Toxicodependentes (ARTM) - realiza amanhã um workshop com o tema “Emoções” para pais de adolescentes. O evento tem como objectivo ajudar os pais a lidar com as emoções dos filhos adolescentes, que muitas vezes passam por fases emocionais de alguma instabilidade e dúvida. O workshop será conduzido pela médica Amanda Brook, especialista em questões dos adolescentes. A sessão acontecerá nas instalações do ‘ Be Cool’, na Taipa, e está marcado para as 19 horas, com entrada livre.

O artista português Vhils foi convidado para de-

corar um mural no Freeport do Luxemburgo, a primeira zona franca da União Euro-peia destinada a armazenar obras de arte e artigos de luxo livres de impostos. Trata-se de um mural com 26 por 10 metros e foi esculpido por Vhils, pseudónimo de Alexandre Farto, no átrio

FOGO DE ARTIFÍCIO “UTOPIA” É O TEMA APRESENTADO PELA EQUIPA PORTUGUESA

Macau, uma cidade perfeita

DOCLISBOA DOCUMENTÁRIO SOBRE MIO PANG FEI COM ESTREIA MARCADA

Uma a ponte entre a arte ocidental e a cultura chinesa

“O Doc Lisboa é um dos festivais mais importantes do mundo a nível de documentário. Penso que vai ser muito importante para a indústria audiovisual em Macau”PEDRO CARDEIRADirector de fotografiada Inner Harbour Films

O documentário que está a ser feito pela produtora local Inner Harbour Films sobre o artista plástico Mio Pang Fei foi seleccionado para a edição 2014 do DocLisboa, onde terá a sua estreia mundial. Em Macau, o público poderá ver o filme pela primeira vez em Novembro

a obra de Mio Pang Fei foi pro-tagonista de uma exposição no Galaxy. Pedro Cardeira falou não só com o pintor como com a família e amigos para perceber a dimensão por detrás da arte. O trabalho conta com finan-ciamento por parte do Instituto Cultural (IC), incluindo o apoio institucional do Albergue SCM e da Fundação Rui Cunha.

Vhils Artista português esculpe mural no Luxemburgocentral do entreposto adua-neiro inaugurado esta sema-na e que se propõe ser um depósito de alta segurança para guardar e transaccionar “obras de arte, vinhos finos, metais preciosos, jóias, diamantes e automóveis de colecção”. Composto por rostos esculpidos no betão através de técnicas de co-fragem, picaretas e martelos

pneumáticos, o mural levou três semanas a concluir e decora agora este local que já foi descrito como um ‘bunker’ e onde “só se entra por convite”, segundo o di-rector, David Arendt.

SÓ PARA ALGUNSAo contrário da maior parte dos trabalhos do artista português - que começou a pintar paredes com ‘graffiti’ aos 13 anos e tem conquista-do o mundo a escavar retratos em muros -, o mural que criou no Luxemburgo não vai, portanto, poder ser visto pelo público em geral, visto que o acesso ao edifício do Freeport, de alta segurança, é limitado. No entanto, os cidadãos comuns vão ter uma oportunidade única de apreciar a obra de Vhils já no próximo dia 28 de Setembro: nessa data, o Museu de Arte Moderna do Luxemburgo (Mudam) organizará, no Freeport, uma visita aberta no âmbito da exposição “Private Art Kirchberg”, a decorrer naquele local.

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12 publicidade hoje macau quinta-feira 25.9.2014

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13CHINAhoje macau quinta-feira 25.9.2014

U M antigo respon-sável da Comissão Estatal de Desen-volvimento e Re-

forma chinesa compareceu ontem num tribunal no norte da China, acusado de ter re-cebido o equivalente a cerca de 4,5 milhões de euros em subornos.

Liu Tienan, ex-diretor da Comissão Estatal de De-senvolvimento e Reforma é o mais recente alto quadro a ser presente à justiça chinesa por corrupção, no âmbito de uma campanha anti-corrupção levada a cabo pela nova liderança chinesa, encabeçada pelo secretário-geral do partido e Presidente da República, Xi Jinping.

As acusações reunidas pelo gabinete do procurador podem valer a Liu, que tinha a categoria de vice-ministro, a pena perpétua, segundo um comunicado publicado

O corpo desmembrado de uma menina japonesa de

seis anos foi encontrado em vários sacos de plástico perto da sua casa na cidade de Kobe, informou ontem a polícia.

Testes de DNA confirma-ram que as partes do corpo eram de Mirei Ikuta, que de-sapareceu na cidade japonesa de Kobe a 11 de Setembro, indicou a polícia.

A imprensa local infor-mou que agentes estavam a interrogar um homem de 47 anos, residente no mesmo bairro da criança.

O Japão tem uma das taxas de criminalidade mais baixas

UM tigre branco ma-tou esta terça-feira

um jovem de 20 anos num Jardim Zoológico de Nova Deli, anunciou o director do zoológico da capital indiana.

O tigre mordeu o jovem, que entrou no recinto onde se encontra-va o animal, no pescoço enquanto o resto dos vi-sitantes atiravam pedras e paus na tentativa de o salvar, disse Amitabh Ag-nihotri, adiantando que o alarme foi activado mas a vítima já estava morta.

“Nós temos armas

tranquilizantes mas estas estão no hospital do zoo. Quando tínhamos as ar-mas prontas, o rapaz já estava morto”, acrescen-tou o director do jardim zoológico.

Fotografias do acon-tecimento, colocadas na internet, mostram o tigre sobre a vítima, que estava deitada na relva tentando proteger a cabeça e as mãos.

O jardim zoológico de Nova Deli tem três tigres brancos, embora só um deles seja colocado no recinto exterior.

Os tigres brancos provêm do sul e este da Ásia, particularmente na Índia, e a sua aparência deve-se a um gene re-cessivo. Estão categori-zados como uma espécie em extinção.

De acordo com o ultimo censo realizado em 2011 a Índia alberga 1,706 tigres de Bengala e cerca de 100 tigres brancos, estes últimos mantidos em cativeiro.

Os principais desafios na protecção destes ani-mais são a caça furtiva e a destruição de habitats.

CORRUPÇÃO EX-DIRIGENTE LIU TIENAN JULGADO

Fim da doce vida

4,5milhões de euros, valor dos

subornos alegadamente

recebidos

pelo tribunal de Langfang, na província de Hebei.

Na sua conta do Sina Weibo, o equivalente chi-nês do Twitter, o tribunal difundiu uma foto do antigo quadro do Partido Comunista Chinês, vestido de preto e de pé na sala de audiências, entre dois funcionários do tribunal.

O antigo dirigente é

acusado de tirar proveito dos seus cargos para obter bene-fícios para os seus familiares em troca de concessões de contratos.

VIVA O LUXOOs subornos, segundo o tri-bunal, foram concretizados sob a forma de dinheiro, presentes para o filho de Liu, incluindo uma casa em

Pequim e um Porsche, entre outros, de acordo com o comunicado.

Além das funções na Comissão Estatal de De-senvolvimento e Reforma, órgão que aprova todos os grandes projectos indus-triais na China, Liu Tienan dirigiu igualmente a Agên-cia nacional de Energia.

Liu Tienan foi colo-

cado no ano passado sob inquérito judiciário por corrupção. Em Maio de 2013 foi demitido de todas as funções e expulso do Partido Comunista Chinês (PCC) em Agosto.

O antigo dirigente caiu em desgraça em Dezem-bro de 2012, depois de a revista de negócios chinesa Caijing ter publicado uma reportagem, na qual são feitas alegações de fraude, subornos e de ameaças de morte realizadas por Lui.

Segundo a revista, Liu tirou vantagem dos cargos que ocupava para promover negócios para os membros da sua família.

PARA DURARA campanha anti-corrupção na China, considerada a mais drástica e diversificada das últimas décadas, que já atin-giu dezenas de altos quadros com estatuto ministerial,

vai durar “pelo menos mais cinco anos”, anunciou no início deste mês a imprensa oficial chinesa.

A actual campanha foi lançada logo após o XVIII Congresso do Partido Co-munista Chinês, em Novem-bro de 2012, que elegeu a nova liderança do país para a próxima década.

Caído em desgraça desde 2012, o antigo vice- -ministro está agora a ser julgado pelos crimesdo costume: subornos de milhões que valem casase porches para a família

Para tentar recuperar o prestígio do PCC, Xi Jinping prometeu “combater tanto as moscas como os tigres”, numa alusão aos quadros dirigentes que pareciam imunes às anteriores campa-nhas anti-corrupção.

Tigre branco mata jovem num zoo de Nova DeliJapão Corpo desmembrado encontrado em sacos de plástico

e os crimes violentos são con-siderados raros, sendo normal uma criança de seis anos ir sozinha para a escola, mesmo em cidades grandes.

Uma busca intensiva foi lançada depois de Mirei não ter regressado a casa há duas se-manas, mas não havia pistas até que na terça-feira vários sacos de plástico que emanavam um forte odor foram descobertos nos arbustos a apenas 100 metros da casa da menina.

Os sacos continham a cabe-ça, tronco com os braços e as pernas, disse um porta-voz da polícia à AFP, acrescentando que algumas partes ainda não foram encontradas.

As roupas e sandálias, que se acredita pertencer à menina, foram encontradas no local, acrescentou.

REGIÃO

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14 hoje macau quinta-feira 25.9.2014

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A excelência e a temporalidade I(Ésquilo)

A Oresteia, drama maior de Ésquilo que che-gou até nós, e seu último, é representado pela primeira vez em 458 a.C., dois anos antes da sua morte, nesta altura Sófocles tinha 37 anos e já arrebatara vários primei-ros prémios nas competições, e Eurípides era um jovem adulto com 27 anos de ida-de. A estreia de Eurípides nas competições é em 455 a.C., com 30 anos de idade e, por conseguinte, por muito, muito pouco não chegaram a concorrer os três a um mesmo prémio.

Mas, seja como for, certo é que Eurí-pides viu muitas vezes Ésquilo em com-petição com os seus dramas. Havia uma diferença de trinta anos entre Ésquilo e Sófocles e uma diferença de apenas 10 anos entre este e Eurípides, perfazendo a diferença de 40 anos entre Ésquilo e Eu-rípides.

A importância de ter bem presente a contemporaneidade deles deve-se a dois factores: 1) usualmente julga-se que eles fizeram parte de momentos históricos bem distintos, o que não poderia ser mais verda-deiramente falso; 2) por outro lado, termos também bem presente esse esmagador pe-

Paulo José Miranda

EXCELÊNCIA E TEMPORALIDADEAO LONGO DA TRAGÉDIA

ríodo da história grega clássica, em parti-cular, e da humanidade em geral.

Na sua primeira competição, em 468 a.C., com apenas 27 anos de idade, Sófo-cles derrota Ésquilo; e, sem dúvida, Eurí-pides assistiu a essa competição, com os seus 17 anos de idade. A primeira peça que chegou até nós, destes três génios, foi uma peça de Ésquilo, ainda da chamada primei-ra fase do autor, e a única dessa fase, levada a competição (e sagrando-se vencedora) em 472 a.C.: Os Persas. Sófocles com 23 anos de idade e Eurípides com 13.

Mais: a primeira vitória de Ésquilo, nas competições, em 484 a.C., foi certamente assistida por Sófocles, se é que ele não fez mesmo parte do coro de crianças. Atribui--se a Ésquilo a criação da tragédia (ao in-troduzir o segundo actor), a Eurípides a ex-tensão da tragédia a uma criação temática, criação dos seus próprios temas para além da tradição, mas acerca de Sófocles, para além de se lhe atribuir a criação do terceiro personagem, atribui-se também as tragé-dias mais tragicamente perfeitas.

Apesar desta proximidade temporal, desta contemporaneidade dos autores, há factores históricos, acontecimentos que fazem com que eles cresçam em ambien-tes e expectativas muito distintas. Ésquilo

foi combatente em Maratona, na guerra contra os Persas na defesa da liberdade do estado de Atenas, contra aquele que era o maior império nessa altura.

Pouco tempo mais tarde, seu irmão irá perecer na célebre e mítica batalha de Sala-mina, que Ésquilo irá cantar na sua tragédia Os Persas. Para Ésquilo, os heróis não era uma história que se contava, mas um facto ao qual assistira e mesmo vivera. O exér-cito ático em inferioridade numérica de 1 para 10, destrói o indestrutível exercito persa.

Aliado à vontade, coragem e engenho dos gregos, aliaram-se também os deuses na defesa dos áticos, isto é, o destino este-ve com eles nessa dura prova em defesa da liberdade. Em caso de derrota, provavel-mente não haveria tragédia. Em caso de derrota em Salamina, a humanidade nos séculos imediatamente subsequentes, po-deria ter sido outra, bem diferente, pelo menos arte e pensamento seriam e isto marcaria seguramente a história da hu-manidade mais do que a história do povo ático.

Ésquilo vive um período eufórico, um período em que eles mesmos, e ele fazen-do parte deles, conquistaram com seus braços o direito à liberdade e a necessi-

dade de agradecer aos deuses. Sófocles irá crescer neste ambiente, num ambiente em que o povo ático se sente um povo espe-cial, um povo que merece o que tem, que merece os seus deuses e que a eles deve, não só respeitar, mas também aceitar as suas decisões.

Sófocles é, aqui, bastante diferente de Ésquilo. Sófocles respeita mais os deuses do que os homens, isto é, atribui mais im-portância aos primeiros no destino dos se-gundos do que a estes mesmos. Isto nunca aparece nas tragédias de Ésquilo que che-garam até nós. Parece curioso que Sófo-cles, mais jovem do que Ésquilo, seja mais conservador do que este. Mas não é sempre assim?

A geração imediatamente a seguir a uma geração revolucionária e vitoriosa nas suas conquistas, não educa seus filhos de um modo mais abastado e em segurança, fazendo com que estes acabem por se tor-nar mais conservadores? Assim aconteceu com a geração de Sófocles e, mutatis mutan-tis, com ele mesmo.

Se analisarmos as tragédias de Sófocles, vamos encontrar o destino, a vontade dos deuses como factor primordial do mal que atinge os humanos. É assim em Édipo Rei, é assim em Antígona, é também assim em

Ésquilo Sófocles Eurípides

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15 artes, letras e ideiashoje macau quinta-feira 25.9.2014

(Continua na página seguinte)

Electra. Por outro lado, o grande heroísmo dos seus personagens não é outro senão a coragem e a determinação com que acei-tam, caminhando mesmo para ele, o seu destino traçado pelos deuses e ao qual eles nada podem alterar.

Para Sófocles, alterar, se assim podemos dizer, é aceitar. Aceitar não é uma resig-nação, mas um acto de coragem, um acto de heroísmo. As personagens de Sófocles atiram-se na direcção do seu próprio fim, pois o fim é não contradizer tudo aquilo por que viveram até ali. Aceitar é, para este autor, a expressão da coragem máxima, da andreia, como se dizia em grego, e que tinha o significado de capacidade de permanecer onde se está; capacidade de permanecer no ponto de vista que é o seu.

É assim com Édipo, é assim com Antí-gona, é assim também com Electra. A cada instante vêm mais nitidamente o fim deles mesmos, mas continuam a precipitar-se para ele, pois a coragem de permanecer fiel ao que deve ser feito é mais forte do que salvar as suas próprias vida. Este não é, de todo em todo, o heroísmo dos personagens de Ésquilo. Em Ésquilo, quem mais mal faz ao humano é o próprio humano. Os deuses são, ainda assim, inferiores no desespero em que os humanos colocam e conduzem as suas próprias vidas.

O que parece estar em causa em Ésquilo é a necessidade de dar ao humano o que é do humano. O modo como conduzimos as nossas vidas é o que mais importa em tudo o que nos acontece. Os deuses julgam-nos, afectando-nos má ou afortunadamente, consoante o nosso comportamento. Deve-mos querer o que é do humano e não o que não lhes diz respeito.

Há aquilo que convém a um deus e aquilo que convém a um humano. Há, de facto, uma posição muito clara em relação a uma necessidade de traçar uma ontologia do humano, em Ésquilo, que não encontra-mos efectivamente em Sófocles. Pois esta posição mostra a necessidade de uma her-menêutica segura acerca do que é o huma-no; sem isso, incorremos no risco de nos desviarmos do que nos convém e cair em impiedade, afectando todo o nosso destino e os que de nós advêm.

Não é que os deuses não tenham o po-der sobre nós e de nossas vidas decidam, não é isso que está em causa em Ésquilo, o que verdadeiramente está em causa é que as acções dos deuses em relação à vida de cada um dependerá das acções de cada um enquanto humano, isto é, dependerá de uma boa ou má adequação à vida humana. Ou seja, as acções dos deuses sobre nós de-rivam menos das suas paixões do que das nossas. Saibamos nós controlar as nossas paixões e eles saberão recompensar devi-damente a nossa conduta.

Há aqui, obviamente, também uma po-sição ética marcante. Mas, antes de mais, e isso é preciso deixar claro, há uma her-menêutica do humano que é necessária compreender, pois sem isso, sem sabermos o que é conveniente a um humano e o que não é, não poderemos agir bem ou mal em relação às nossas próprias vidas. Sem se

traçar primeiro uma ontologia – não neces-sariamente teórica, obviamente –, não há possibilidade de se erigir uma ética. E esta é a grande guerra de Ésquilo.

 A excelência e a temporalidade II(Sófocles)

Apaixonemo-nos então agora pela arte de Sófocles. Para muitos, as peças de Sófocles são a excelência da tragédia, especialmente Édipo Rei. Mas em que consiste esta exce-lência, em que se baseiam tais juízos para fazer de Sófocles, e de Édipo Rei, a expres-são máxima desta arte ática?

Veja-se o que diz Albin Lesky: “Em És-quilo aprendemos a entender o sentido desse destino ordenado por Zeus [a origem humana pelo qual os deuses nos castigam], que exige a expiação da culpa e leva o homem através da dor do discerni-mento, mas que também conhece a graça (kháris). Sófocles, em contrapartida, não procura por trás do acontecer mesmo o seu sentido último. Tudo o que acontece é divino; Zeus está neste mundo com todos os outros deuses, mas o sentido de seu actuar não se reve-la ao homem. Não lhe cabe esquadrinhar os mistérios do governo dos deuses, nem se rebelar contra a terrível severidade com que, por vezes, ele se faz sentir sobre o homem. Aos deuses agrada (...) o homem (...) que sabe resignar-se.”

Como é bem visível, o ponto de vista de Sófocles é bastante diferente do de És-quilo. Aqui, não adianta traçar uma herme-nêutica do humano, tentar identificar aqui-

lo que cabe a cada um de nós, de modo a podermos conduzir-nos da melhor manei-ra e evitar as represálias dos deuses. Não adianta porque precisamente o que não cabe ao humano é a resignação da sua ig-norância em relação ao seu destino, em re-lação à sua vida e ao caminho que percorre.

Neste sentido, Sófocles é bem mais ra-dical do que Ésquilo, pois nenhum esforço humano pode salvar o humano. Por melhor que conduzamos nossas vidas, por mais que consigamos calar um coração rancoro-so e secar a sede de vingança, no fim de tudo nada disso importará, pois é e sempre será dada aos deuses a última palavra; tudo em nós é a vontade deles.

Por conseguinte, para os apaixonados de Sófocles, a sua grandeza encontra-se precisamente aqui neste contraste violento entre a omnipotência divina e um nada de potência humana; cai-se na miséria maior a despeito de ser-se virtuoso, pois ainda que se aja melhor do que todos os humanos, basta um deus para nos fazer perder, basta o poder desse deus e de sua paixão, para que o humano passe de um ser virtuoso a nada.

Da virtude ao nada, é onde se encontra precisamente o Édipo Rei de Sófocles. Édi-po foi o mais virtuoso dos homens do seu tempo. Deixou a cidade, que julgava ser a dele e de seus pais, por ter ficado a saber, através de um oráculo, que iria matar seu próprio pai e desposar sua própria mãe.

Assim, ainda jovem, deixa Corinto, sua cidade, e sua favorável situação de herdeiro do trono da mesma, para evitar que o orá-culo se cumprisse; por amor aos pais e aos deuses, deixa tudo o que tinha. Mais tarde é ainda ele o responsável pela libertação da cidade de Tebas, tornando-se aí um herói e acabando por desposar a rainha, Jocas-ta, que tinha ficado viúva, pelo assassinato misterioso do seu rei, Laio.

Foi ainda, durante anos, um exemplar governador de Tebas, mas nada disto, nada da sua excelência humana aplacou a tra-gédia que o habitava desde sempre. Esta é a tese forte de Sófocles, contrária, à de Ésquilo: nada nos salva, nem a excelência. Se, por um lado, esta posição é radical, por outro lado é muito mais conservadora do que a de Ésquilo, pois a deste trazia já em si o embrião que mais tarde iria conduzir à filosofia. O ponto de vista de Sófocles, car-regado de pessimismo ou, se preferirmos, de um “nada adianta fazer”, desfraldava ain-da a bandeira dos deuses e dos mitos.

Há por outro lado, do ponto de vista estético, um poder extraordinário em Édi-po Rei, através do conhecimento do seu final ser imediatamente revelado no início da peça. Leia-se o juízo de Lesky, acerca da peça: “Na estrutura desta peça, a mais magistral da literatura universal, do ponto de vista dramático, o traço genial consiste em que, desde o início, toda a verdade é de pronto revelada.”

Há mestria invulgar, sem dúvida, mas indissociável do ponto de vista que vimos anteriormente, de nada valer a pena fazer, se com isso julgamos que podemos agradar por inteiro a todos os deuses. Assim, come-çar uma peça revelando o seu final, é como se se dissesse: como vêem, o fim é sempre o mesmo, o que aqui importa, aquilo que importa à arte é como se vai até ao fim.

Não importa aqui a revelação, mas a construção, isto é, a essência de Édipo Rei é estética, pois o que mais importa, desde o início, é mostrar que a arte é saber fa-zer e não saber. Por conseguinte, estamos também depostos numa tese original, que retira ao humano a possibilidade de traçar uma hermenêutica da sua natureza, mas apresenta aquilo que, mais do que tudo, cabe ao humano: a arte.

Para Sófocles, arte e humano são uma e a mesma coisa. A arte é ainda a imitação dos deuses. Podemos imitar os deuses, mas não podemos compreender o humano. Só-focles quer, antes de mais, instituir como grandeza humana maior o saber fazer, isto é, a arte; e Rei Édipo é, sem dúvida, a ex-pressão máxima deste sentido.

A excelência e a temporalidade III(Eurípides)

Avancemos para a nossa derradeira pai-xão, apaixonemo-nos agora por Eurípides. Na introdução à sua excelente tradução de Medeia, de Eurípides, à página 11, Mário da Gama Kury escreve: “As gerações subse-quentes manifestaram preferência por Eurípides em

AS ACÇÕES DOS DEUSES SOBRE NÓS DERIVAM MENOS DAS SUAS PAIXÕES DO QUE DAS NOSSAS. SAIBAMOS NÓS CONTROLAR AS NOSSAS PAIXÕES E ELES SABERÃO RECOMPENSAR DEVIDAMENTE A NOSSA CONDUTA

PARA OS APAIXONADOS DE SÓFOCLES, A SUA GRANDEZA ENCONTRA-SE PRECISAMENTE AQUI NESTE CONTRASTE VIOLENTO ENTRE A OMNIPOTÊNCIA DIVINA E UM NADA DE POTÊNCIA HUMANA

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comparação com Ésquilo e com Sófocles. Tanto assim foi que das 74 peças que escreveu 19 sobrevi-veram, enquanto das 94 de Ésquilo somente 7 se con-servaram e das 123 (ou mais) de Sófocles somente 7 chegaram até nós.”

E, ainda no mesmo livro, agora às pági-nas 15-6, a acabar a sua introdução à peça, Kury escreve: “Para dar uma fama da Medeia na Antiguidade, citamos a seguir, em tradução, um epi-grama do poeta Arquimedes (época desconhecida), conservando na Antologia Palatina, livro VI, 50, contendo conselho aos poetas seus contemporâneos:

‘Não te atrevas a percorrer, poeta novo, a es-trada frequentada por Eurípides; nem mesmo tentes, pois seria dificílimo seguir o seu trajeto; a impressão é que ela é fácil, mas se alguém tenta pisa-la vê que é árdua como se fosse pavimentada de estacas pontia-gudas. Experimenta apenas retocar a trilha de Me-deia, a filha de Aietes! Sentir-te-ás anónimo e ras-teiro. Afasta as tuas mãos da coroa de Eurípides!’”

Estamos então perante, não só um novo poeta, mas também uma nova situação. A nova situação a que me refiro é a da in-fluência exercida nas gerações subsequen-tes, por parte da obra de um autor em de-trimento dos outros. Na época de ouro da tragédia grega, isto não acontecia. Havia momentos em que um deles era preferido em relação aos outros, mas pela própria apresentação da peça em competição e não por um juízo teórico ou a priori da própria tragédia e do seu conceito.

Talvez não seja alheio a célebre frase que encontramos na Poética de Aristóte-les (1453 a 30), acerca de Eurípides: “o mais trágico dos trágicos”. Curiosamente, ou talvez não, Aristóteles nessa mesma obra, tece duras criticas à peça Medeia, de Eurípides.

Em 1454 b 1 e 1461 b 20, Aristóteles “censura Eurípides pela implausibilidade do episódio em que Medeia e Egeu se encontram (versos 758 e seguintes) e pelo recurso ao sobrenatural (a fuga de Medeia no carro do Sol) para finalizar a peça. As críticas de Aristóteles, todavia, só conseguem acen-tuar o primitivismo de sentimentos que Eurípides im-primiu à peça e a importância dos poderes mágicos de Medeia, factores essenciais para o desenvolvimento da tragédia. O episódio de Egeu, por exemplo, por meio da ânsia do rei de Atenas de conseguir que sua mulher lhe desse um filho, acentua a necessidade ins-tintiva dos pais de se verem perpetuados nos filhos e, portanto, torna mais compreensível a ideia de Medeia de vingar-se de Jasão nos filhos dele. E, naturalmente, o episódio é parte do encadeamento da peça, por as-segurar a Medeia um refúgio fora de Corinto quando tivesse de fugir após a prática dos crimes (vejam-se os versos 1578-1580). Quanto ao final da peça, a saída de Medeia no carro do Sol é apenas um elemen-to sobrenatural a mais entre tantos que se integram na trama, cuja heroína se vangloria de seus poderes mágicos e os comprova, e se orgulha de descender do próprio Sol.” (Mário da Gama Kury)

Mas qual a razão de tanto apreço em relação a Eurípides, nas gerações subse-quentes, e pouca em relação a Sófocles e Ésquilo? Umas das razões que podemos apontar é, sem dúvida, o facto da trama da tragédia não se dever senão aos erros humanos, aos seus próprios actos e não ao destino e às paixões dos deuses.

Há, por conseguinte, em Eurípides uma ruptura enorme em relação à própria con-

cepção da tragédia. Eurípides ultrapassa, se assim o podemos dizer, a tradição para criar ele próprio a sua tragédia, o seu en-tendimento da tragédia. Não podemos dei-xar de imaginar o espanto que estas peças devem ter causado no espírito de Sófocles, pois não poderia haver poeta mais radical-mente oposto a ele do que Eurípides.

E, para mais, para além de imprimir uma ruptura com o conceito de tragédia, acaba também por produzir uma ruptura com a própria construção da mesma, como veremos adiante. Eurípides introduz a originalidade

individual na tragédia, isto é, a trama da tra-gédia já não se rege mais pela tradição, pela origem dos mitos, mas antes pela originalida-de individual, pela criação do próprio autor.

O poeta não cria apenas os versos, mas cria também a trama. Sem dúvida, trata-se de algo extremamente ousado, se tivermos em atenção que ele é apenas dez anos mais novo do que Sófocles, e este era conside-rado o expoente máximo desta arte ática. Estar a procurar novos caminhos, era estar a procurar também um divórcio entre o au-tor e o público.

Pois não será de estranhar que, um pú-blico habituado a e apreciador de Sófocles (naturalmente também de Ésquilo, mas a comparação com Sófocles torna-se aqui bem mais pertinente), não tenha repudia-do as peças de Eurípides. Pelo menos, terá tido bastante dificuldade em compreendê--las e apreciá-las. Não é por acaso que, Eu-rípides é, de entre os três génios, o menos compreendido no seu tempo.

Convém fazer aqui um pequeno parên-tesis para falarmos da grande causa desta diferença nas peças de Eurípides. Na se-

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gunda metade do século V a.C. começa a surgir um novo movimento intelectual fora de Atenas e que iria influenciar determi-nantemente Eurípides: as obras sofistas, de Protágoras, Górgias, Pródico e Leontinos.

O que vai marcar esta época com mais profundidade, traçando uma enorme ruptura como passado é Protágoras, com a sua célebre frase: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são, das que não são enquanto não são.” Trata-se de uma ruptura, com a tradição e com o modo como o humano entendia o mundo e a si próprio, muito maior do que nós possamos imaginar.

Um mundo que era ainda marcado pela reverência aos deuses, por um pensamento profundamente religioso deveria sentir-se completamente abalado por estes novos intelectuais, este novo modo de pensar e de entender o cosmos. Protágoras escreve: “Acerca das divindades não posso saber se existem ou não existem, ou como são figuradas, pois muitos obstáculos impedem verificá-lo: sua invisibilidade e a vida tão curta do homem.”

Esta afirmação é ainda mais agressiva ao pensamento vigente do que a anterior, se é que é possível; mas a verdade é que elas estão entrelaçadas. Pela primeira vez, afirmar a existência dos deuses era consi-derado inacessível aos humanos. E por que razão? Pela impossibilidade de verificação.

Verificar é precisamente o oposto de acreditar. Podemos acreditar que Deus existe, mas não podemos acreditar que o sol existe. A existência do sol é verificável, por conseguinte arredada do foro da cren-ça. Só o inverificável pode ser acreditado. Eu posso acreditar que o presidente Lula não vai ganhar de novo as eleições, porque, hoje, aqui e agora, é inverificável, mas não posso acreditar que estou escrevendo estas palavras, pois elas são verificáveis.

Posso acreditar que uma mulher me ama, mas não posso acreditar que ela tem sexo comigo, caso estejamos a praticá-lo. O que é verificável é oposto da crença. Colocar como necessidade humana a veri-ficação para atestar da existência dos deu-ses é, efectivamente, fazer uma inversão epistemológica no acesso ao mundo e suas manifestações.

Com Protágoras, passa a existir, a ter ca-rácter ontológico aquilo que pode ser verifi-cado (embora não se trata de uma verificação com as exigências e protocolos do pensamen-to do século XX, tal como foi escrito na filo-sofia das ciências e posto em causa por Karl Popper). Existe o que o homem pode ver ou pensar. Existe o que o homem pode. O que o homem não pode, não existe.

Em verdade, não há a negação da exis-tência do que não pode ser verificado, ape-nas não se pode afirmar a existência dessas entidades. Esta distinção é de extrema im-portância, pois ela permite a possibilidade da existência de algo muito caro aos sofis-tas em geral e a Protágoras em particular: a antilogia ou contradição, tal como é ex-pressa na obra de Protágoras, com o título de Antilogias (Antilogai).

Era a aceitação de que para cada coi-sa há duas maneiras de conceber, que se

contradizem. A contradição tornava-se assim, para estes novos intelectuais, a pró-pria natureza do humano. O humano é por natureza contraditório, por conseguinte os juízos pronunciados acerca das coisas são eles mesmos também contraditórios.

Contradição, antilogia, não é apenas a possibilidade de se afirmar correctamente juízos opostos acerca de uma mesma reali-dade, por exemplo, afirmar que o homem é mortal e o seu contraditório o homem não é mortal (defendo aqui a imortalidade das suas obras); ou ainda dizer-se que a desgra-ça de Édipo foi causada por um deus, por exemplo, e que a desgraça de Édipo não foi causada por um deus. Contradição é tam-bém a afirmação da impossibilidade de ve-rificação, quer seja pelo pensamento, quer seja pelos sentidos.

Nos casos anteriores, contradição é a aceitação da impossibilidade de dar uma resposta única àquelas questões, de saber se o homem é ou não mortal (independen-temente do argumento do seu prolonga-mento na história) ou de se saber se foi ou não por causa de um deus que Édipo caiu em desgraça, pois para isso seria necessário sabermos se a alma é ou não imortal, para a primeira antilogia, ou o que é um deus, para a segunda antilogia, e isso está fora do alcance humano.

Eurípides, que era um homem bastante solitário e amante dos livros e da leitura – contrariamente a Sófocles que era de gran-de popularidade e exerceu vários cargos públicos na sua Atenas, como homem de estado –, foi profundamente influenciado por estas novas ideias que vinham da Héla-de, mas de fora da cidade de Atenas.

Eurípides não foi um filósofo, mas foi se-guramente um intelectual a quem estas ideias estimulavam a pensar e interpretar o mundo. Não foi propriamente um seguidor deste ou daquele sofista, mas antes se deixou impreg-nar pela leitura de todos eles, e isso acabou por aparecer na construção das suas tragédias. Nestas, o humano ocupa a cena central; o hu-mano, suas contradições e paixões assumiam a cena. Por outro lado, havia uma dicotomia clara nas suas peças: de um lado os deuses; de outro os humanos.

Apesar de não estar de acordo com a avaliação que Junito de Souza Brandão faz de Ésquilo e de Sófocles, estou completa-mente de acordo em relação à sua avaliação de Eurípides em geral e da sua arte em par-ticular, por isso gostava de citar aqui uma passagem do seu Teatro Grego, pp. 57-9:

“É que para o poeta de Medeia, o ‘kósmos’ trá-gico não é mais o mito, mas o coração humano, ao qual o grande poeta desceu como se fora um mergu-lhador e de lá arrancou sua tragédia. (...) Não sen-do um homem que aderisse a sistemas (...) a tragédia euripidiana é uma colcha de retalhos com rótulos e etiqueta de todas as escolas. Coagido a produzir um género com maioridade literária definida, já elevada à perfeição por Ésquilo e Sófocles, com uma estru-tura inflexível, temas de inspiração gastos, por um lado, mas obrigatórios por outro (o mito), o gosto do público já formado, moldes enfim que não podia como pensador aceitar, nem tão pouco como poeta romper, o autor de Hécuba tomou uma posição de

rebeldia contra as tradições teatrais, não só quan-to às fontes e critérios de inspiração, mas também no tocante à estrutura da tragédia. Arrancando de suas personagens a majestade teatral de outrora, o trágico inovador procurou substituí-la pelos rugi-dos das paixões e arrebatamentos afetivos, em cuja descrição é mestre consumado. Fazendo a tragédia descer do Olimpo para as ruas de Atenas, Eurípides secularizou-a, fundindo assim a linguagem da Ágo-ra com a do Pireu. (...) Em outros termos, a paixão amorosa, tão ausente em Ésquilo e Sófocles, há de ser a mola-mestra do drama euripidiano.”

Sem dúvida, a tragédia esgotara a sua inspiração, tendo como representantes má-ximos da sua excelsa arte os poetas Ésquilo e Sófocles, assim a tentativa de Eurípides é vista, e muito bem, por Juanito de Souza Brandão, como necessidade de conquistar o seu próprio espaço teatral. Por outro lado, é também a necessidade da própria tragédia não perecer. A sua continuidade só poderia se dar, efectivamente, numa abertura a outros temas, a outras inspira-ções, como o fez Eurípides, e muito bem nos disse o classicista Souza Brandão. Mas tudo isto não teria acontecido se as novas ideias sofistas não tivessem aparecido e im-pregnado o autor de Medeia.

Esta talvez seja a razão maior para que as gerações subsequentes tenham bebido muito mais de Eurípides do que os seus contemporâneos e tenham preterido os seus outros dois companheiros e adversá-rios. Ele mostrava ao futuro próximo o que mais iria interessar a esse mesmo futuro próximo, enquanto os outros tragedió-grafos apareciam seguramente como “ul-trapassados”, como autores do passado, e provavelmente foram lidos muito mais por razões técnicas e de história do teatro do que por razões de arte e de pensamento.

As épocas imediatamente a seguir es-tavam bem mais interessadas no humano, nas suas paixões e contradições do que nos deuses e nas relações destes com os hu-manos. Mas, volvidas dezenas e dezenas de séculos, a apreciação que hoje fazemos deles é bastante distinta da que fizeram os contemporâneos destes três génios; e tam-bém igualmente bastante distinta da que fizeram as gerações imediatamente subse-quentes. A arte não morre, muda de lugar e, por vezes, até guarda silêncio por muito tempo, esperando aqueles que lhe irão dar o verdadeiro valor; ou, talvez, um valor in-flacionado.

Julgo este momento da história da li-teratura, um momento privilegiado para se estudar a boa ou má recepção que um autor

MAS QUAL A RAZÃO DE TANTO APREÇO EM RELAÇÃO A EURÍPIDES, NAS GERAÇÕES SUBSEQUENTES, E POUCA EM RELAÇÃO A SÓFOCLES E ÉSQUILO? UMAS DAS RAZÕES QUE PODEMOS APONTAR É, SEM DÚVIDA, O FACTO DA TRAMA DA TRAGÉDIA NÃO SE DEVER SENÃO AOS ERROS HUMANOS, AOS SEUS PRÓPRIOS ACTOS E NÃO AO DESTINO E ÀS PAIXÕES DOS DEUSES

pode ter no seu tempo e nos tempos futu-ros. A arte influencia a vida, cria-a, por isso nem sempre é possível aos humanos aceitá--la no momento em que ela acontece.

Aristóteles via a excelência estética, harmónica de Sófocles, talvez não isola-do das suas próprias ideias, do seu próprio pensamento. Não devemos esquecer o “or-tho lógos”, a justa medida ou meio termo, o equilíbrio, em suma, que tanto agradava ao filósofo peripatético.

Goethe, como grande poeta que era, apre-ciava a grandeza poética do “Agamémnon” de Esquilo, pois dois dos estásimos (parte canta-da pelo coro) dessa obra são verdadeiros poe-mas dentro da obra, poemas que podem ser lidos à parte. A apreciação da excelência não só muda ao longo do tempo da humanidade, mas também ao longo dos interesses de cada um dos humanos que se confronta com essa mesma excelência.

Mas o que é a excelência, aretê, como diziam os Gregos? Excelência é fazer exce-lentemente alguma coisa. Fazer muito bem alguma coisa. Podemos ser excelentes a matar ou a dizer mal de alguém, por exem-plo, o que despede de imediato a conexão da palavra à sua herança de tradução latina: virtude. A excelência é algo que se atinge ou não, que é possível de ser atingido. De facto, estamos muitas vezes em presença da excelência: quando ouvimos musica (se ela for excelente), quando lemos um livro (se for igualmente excelente), quando cui-damos de alguém ou alguém cuida de nós. Quem é mãe ou pai ou amigo sabe muito bem o que é a excelência pois é aquilo que faz com seu filho, filhos ou amigos.

Excelência não é da ordem da perfei-ção. Excelência é fazer bem alguma coisa. E o fazer bem não tem perfeição, tem exce-lência ou não. Quando um cozinheiro pre-para bem um prato ele é excelente, não é perfeito. Por conseguinte, a excelência tem modos de ser.

Um cozinheiro pode ser melhor do que outro sem que este outro deixe de ser excelente. Excelência é a adequação com-pleta àquilo que se faz. Mas cada um de nós é uma identidade distinta da outra e irá realizar essa excelência de modo dife-rente. Como cada um de nós vamos sendo diferentes ao longo do tempo é também possível que possamos realizar a excelência diferentemente ao longo do tempo.

A temporalidade é o humano no seu tempo e no tempo dos outros. O humano na consciência de si e da história. Na história e em si, o humano sempre está, mas pode não ter consciência de uma ou de outra ou até de ambas. Consciência de si não é o mes-mo que conhecimento da sua personalidade ou auto-conhecimento. Consciência de si é consciência da sua humanidade, conheci-mento daquilo que faz de si um ser humano. E a apreciação da excelência, seja ela qual for, só pode dar-se nesta consciência dupla de si e da história. Apreciação sem conhe-cimento da história do objecto de conheci-mento é deslumbramento e apreciação sem conhecimento da sua condição humana, é um mero exercício retórico.

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ACONTECEU HOJE 25 DE SETEMBRO

João Corvofonte da inveja

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

18 hoje macau quinta-feira 25.9.2014

H O J E H Á F I L M E

(F)UTILIDADES

Se estás perdido hácha-te!

C I N E M ACineteatro

SALA 1THE MAZE RUNNER [B]Um filme de: Wes BallCom: Dylan O’Brien, Kaya Scodelario14.00, 17.45, 19.45, 21.45

THE BOXTROLLS [A]FALADO EM CANTONÊSUm filme de: Graham Annable, Anthony Stacchi16.00

SALA 2THE EQUALIZER [C]Um filme de: Antoine Fuqua

Com: Denzel Washington, Cloe Grace Moretz, Melissa Leo14.30, 16.45, 19.15, 21.30

SALA 3A WALK AMONGTHE TOMBSTONES [C]Um filme de: Scott FrankCom: Liam Neeson14.00, 16.00, 18.00, 21.45

THE BOXTROLLS [A]FALADO EM CANTONÊSUm filme de: Graham Annable, Anthony Stacchi20.00

THE BOXTROLLS

Nasce Thomas Morgan, ‘o Darwin da genética’• Hoje é dia de recordar Thomas Hunt Morgan, geneticista norte-americano, cujo trabalho permanece vivo, num legado eterno. Morgan provou que os cromossomas são portadores de genes.Thomas Hunt Morgan nasceu em Lexington (Kentucky), 25 de Setembro de 1866. Trabalhou em história natural, zoologia e genética, sobretudo nesta última ciência, cuja obra lhe permitiu receber o Nobel de Fisiologia/Medicina, em 1933, por ter conseguido provar que os cromossomas são portadores de genes.Thomas Hunt Morgan deixou um importante legado na área da genética. Alguns dos seus estudantes da Universidade de Columbia e do Instituto de Tecnologia da Califórnia seguiram a investigação nesta área e conquistaram os seus próprios prémios Nobel.Como modo de homenagear Thomas Hunt Morgan, a Genetics Society of America condecora, todos os anos, um dos seus membros, com a medalha de ‘Thomas Hunt Morgan’, para distinguir contributos importantes para a ciência genética.“Assim como as descobertas de Charles Darwin sobre a evolução de espécies animais definiram a biologia do século XIX como uma ciência descritiva, as descobertas de Morgan sobre os genes e sua localização nos cromos-somas ajudaram a transformar a biologia em uma ciência experimental.”, escreveu Eric Richard Kandel, seu aluno e vencedor de um Nobel.Hoje, no dia em que se assinala o nascimento de Thomas Hunt Morgan, recordamos o seu trabalho notável. O Darwin da genética morreu em Pasadena, a 4 de Dezembro de 1945.

FALA COM ELAPEDRO ALMODÔVAR (2002)

Uma das obras primas do cineasta espanhol que conta a história de Benigno (Javier Cámara), um enfermeiro apaixonado por Alicia (Leonor Watling), doente em coma. Marco (Darío Grandinetti) é o jornalista que acaba por se envolver com Lídia (Rosario Flores), uma mulher forcado. Um dia, Lídia sofre um acidente e também fica em coma e é aí que Benigno e Marco ficam amigos. Um filme que, para além da força poderosa das palavras e das imagens, tem o poder da música, de Pina Bausch, da voz de Elis Regina quando Lídia toureia e de Caetano Veloso numa noite de luar. Uma película imperdível. - Andreia Sofia Silva

Quando tudo parece estar bemÀs vezes gosto de viver imerso num estado de paralisia social, em que me vejo envolvido num ambiente e num espaço em que tudo parece estar espectacularmente bem, ignorando a podridão do mundo. Claro que, para fazer isso, tenho de sair das ruas de Macau e dos espaços habitados pelas pessoas comuns. Nessas alturas, vou para os casinos. Lá tudo brilha, posso ter uma refeição com talheres dourados e ver pessoas alegres (não felizes) a jogar nos casinos. Esta semana Steve Wynn veio a Macau. Para quem não sabe, é o senhor dono daquele casino muito bonito e elegante de cor castanha que está logo ali à entrada da ponte para a ilha da Taipa. O norte-americano disse aos alunos da Universidade de Macau que o cliente é que conta, que Macau é espectacular, que se investiu muito na educação e saúde, que o crescimento foi galopante, que o Cotai vai ser brutal, que a Ilha da Montanha também. Steve Wynn era a felicidade e o optimismo em pessoa, falando bem do dia-a-dia desta sociedade e das 600 mil pessoas que aqui vivem. Sorria de orelha a orelha e escutava com atenção cada pergunta que lhe faziam. Achei que é um tipo simpático e inteligente. Mas para o dono da Wynn Resorts está tudo bem. Macau é um destino de turismo de topo. Investiu-se na educação e na saúde. Sim, na saúde. Que me perdoem, mas nesse momento entrei em paralisia. Não cerebral, mas social. Senti-me num casino a tomar um copo à beira da piscina. Ignorei todos aqueles que esperam horas nas urgências. Subitamente, eu não era de Macau. Era um chinês turista. Ou do Canadá. Ou dos Estados Unidos.

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hoje macau quinta-feira 25.9.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Cecília Lin; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

19OPINIÃO

Amordedeus? Quebra-se-lhe os dentesO Homem Invisível foiuma péssima invençãoVive à custa do meu male não tem nada de bom para darEmbora, às vezes, ele façaaliciantes promessasNenhuma delas até hojeme conseguiu acalmar

Jorge Palma, O Homem Invisível

U MA das notícias da semana com as declarações do ma-temático e cosmologista Stephen Hawking, que depois de 72 anos de vida e cinquenta deles sofren-do de esclerose motora amiotrófica, decidiu que “não acredita em Deus”. Ora essa, depois de tantas

provas, como é possível não acreditar? Esperem, não é bem assim, é o contrário, Deus não pode possivelmente existir, com tanto mal que tem vindo ao mundo. Ou isso, ou está a perder a guerra com o Seu arqui-inimigo Satanás, vulgo “o Diabo”, que apesar de não se manifestar tanto ou ter obras erguidas em seu nome, ficou com aquela má fama de que “quer instituir o reino do mal”. Má publicidade é melhor que nenhuma publicidade, e aqui o Senhor das Trevas tem o mesmo potencial da China (pelo menos até há três ou quatro anos): ninguém gosta dele, acusam-no das maiores barbaridades, mas na hora de se sentar à mesa e falar de negócios, é tudo uma questão de “pontos de vista”.

Se Hawking era crente antes desta brilhante conclusão (até as crianças com anos de catequese duvidam da existência de Deus mal Lhe pedem qualquer coisa e Ele não dá), pode-se dizer que é um resistente, pois na condição em que se encontra não há fé nem paciência que aguentem. Acreditar que ter o aspecto do fantoche de um qualquer ventríloquo faz parte de um “grande plano” dá logo vontade de perguntar: desculpem lá, mas se isto era um “plano” e o meu “papel” é este, bem me podiam ter consultado, não acham? Mas esperem lá, que Deus é assim um bocado como as agências de seguros, e deixa sempre letras miudinhas no fim de todos os contratos – ou acrescenta-as. Portanto a lógica é a seguinte: se algo de bom acontece, é “graças a Deus”, e se é mau, “paciência”. Este ou esta “paciência” deve ser um dos diabretes estagiários do demo, o/a maroto/a.

É sempre chato quando se perde um aliado de peso como Stephen Hawking,

bairro do or ienteLEOCARDO

Cada vez que fazia uma daquelas birras próprias da idade, e pedia qualquer coisa à minha avó dizendo no fim “...pelo amor de Deus”, como que apelando à sua costela católica, ela respondia: “quem morde em Deus quebra-se-lhe os dentes”

um homem inteligente, um dos pesos pe-sados da elite pensadora. É fácil angariar crentes entre a gente mais humilde e menos escolarizada; há fanáticos que incomodam os demais crentes “porque são doentes mentais, coitados”, e há de entre os que blasfemam “os alcoólicos, coitados”. São todos tão “coitados” que Deus terá mise-ricórdia das suas almas quando estiverem a sofrer dores lancinantes mergulhados na lava dos infernos. Os “crentes”, gente de bem, sim senhor, porque tem “fé” esse antídoto da ciência, ficam de peito inchado sempre que alguém “que estudou” acredita também na tese da existência de Deus, de um Criador, e isso é quanto baste para invalidar qualquer alegação de outro que tenha também queimado muita pestana mas que não acredite em Deus – é parvo e tirou o dia para os chatear, enfim.

Os chineses chamam a Deus “神”, ou “san”, assim unicamente, mas para O distinguir do seu panteão politeísta usam “一神教” (“yat san gau”), literalmente “um só Deus”, referindo-se à religiões abraâmicas, o judaísmo cristianismo e o islamismo. Simpática, esta tolerância por parte dos chineses com os que acreditam num único Deus, e como troco levam o nome de “pagão”, que tem assim uma conotação com “selvagem”. Abraão é o tipo que detém os direitos de autor do tal “Deus” da Tora, da Bíblia e do Alcorão, o que nos leva a pensar que mensagem tão difusa é esta que nos quis passar, e que levou a tanto conflito entre estes três principais entrepostos da Sua adoração. Se calhar é adeptos da porrada, a que depois assiste lá em cima através da “Sky Sports”. Perdão, da “Heaven Sports”.

Quem não acredita em Deus, ou que nega a Sua existência é chamado de “ateu”. Ouvi esta palavra pela primeira vez quando tinha os meus seis ou sete anos, e o meu limitado vocabulário da altura fez-me associar esta palavra que não conhecia a outra que me era mais familiar: “atum”. Foi aí que filosofei pela primeira vez, questionando se a negação do divino implicava a transformação num peixe escombrídeo de carne aveludada e apetitosa, mas cheguei à conclusão que sim, que isso era bem possível, e até prova em contrário abdiquei das latas de Bom Petisco e de Atum General com que fazia as sandes que levava para a praia.

Acreditar em Deus, ser “crente”, é mui-to mais fácil do que ser “atum”, perdão, “ateu”, pois tudo tem a sua explicação. A minha avózinha, por exemplo, dizia-me que se eu me portasse mal, “Deus castiga-va”. Isto deixou-me um pouco de pé atrás com Deus, pois não entendia como alguém

que supostamente criou o Universo e todo o resto se importasse com um fedelho se sete anos que surrupiasse umas bolachas às escondidas. Cada vez que fazia uma daquelas birras próprias da idade, e pedia qualquer coisa à minha avó dizendo no fim “... pelo amor de Deus”, como que apelando à sua costela católica, ela respondia: “quem morde em Deus quebra-se-lhe os dentes”. Isto deixou-me profundamente baralhado, pois já conhecia a outra máxima “Deus dá nozes a quem não tem dentes”, o que me levou a especular sobre a possibilidade de ao não dar nozes a quem tem dentes, estes desprovidos de nozes fossem tentar morder em quem os privou delas. Profundo, muito profundo.

Mas a cartilha do crente tem todas as so-luções, e há duas fórmulas mágicas e os seus derivados que servem a a todos: o teísmo, que nos diz que concerteza, Deus existe e anda normalmente chateado com tudo e mais alguma coisa, e exige que O adoremos com muita força, indo à missa todos os domingos, cumprindo os jejuns e participando de todas as procissões, e o deísmo que diz que tudo bem, Ele existe, está lá mas prefere não ser incomodado, e portanto não há problema se em vez de ir à missa se opte por ficar na cama a cozer a bebedeira do Sábado ou antes ir ver os jogos dos juvenis ou dos iniciados do clube da terra. E se existem exemplos de uma crueldade ser cometida por Deus? Ah isso é no Antigo Testamento, portanto não conta. Foi durante o “lost weekend” de Deus.

ISIS AO MEIO-DIAcartoonpor Stephff

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hoje macau quinta-feira 25.9.2014

MARCO [email protected]

O torneio de wushu da 17ª edição dos Jogos Asiáticos chegou ontem

ao fim sem que a selecção que representa Macau na Coreia do Sul tenha conseguido acrescentar um novo galardão às medalhas de prata conquistadas por Jia Rui, por Li Yi e por Huang Junhua. Esta quarta-feira, o ginásio Ganghwa Dolmens acolheu os combates decisivos das várias categorias de sanda. Sem grande tradição no wushu de combate, Macau passou à margem de um evento que foi amplamente dominado por atletas da República Popular da China, que reclamaram o ouro em três das cinco categorias em disputa.

Sem a mesma capacidade competitiva que caracteriza o wushu, nas restantes mo-dalidades em que as cores de Macau se fizeram representar esta quarta-feira os atletas do território voltaram a quedar-se longe dos lugares do pódio. Na esgrima, a selecção feminina de florete, composta por Ho Ka U, Ho Peng I e Huang Liya ficou-se pelos quartos-de-final da compe-tição, ao perder frente à favorita República Popular da China por 45-9 na terceira eliminatória da primeira ronda do torneio.

TIRO FALHADONo Tiro, Chio Hong Chi também não conseguiu marcar presença entre os melhores atiradores do continente asiático. O atleta do território não conseguiu carimbar a passagem à final do concurso masculino de pistola de tiro rápido à distância de 25 metros. Chio conclui a participação na segunda manga eliminatória da competição no penúltimo lugar da classificação, com uma pontua-ção de 518-3x. Atrás do atirador do território quedou-se apenas Ismael Shaqeef, das Maldivas.

PERTO DO BRILHONo Ténis, exibição distinta, mas a mesma sorte para os dois atletas que representaram Macau no torneio masculino de singulares. Nem Marco Leung Ho Tin, nem Chan Chi Neng conseguiram carimbar a passagem à segunda eliminatória da competição, ainda que Chan tenha quase assinado um pequeno brilharete. O atleta do território defrontou o iemenita Ghaleb Al-Ansi, derro-tando o adversário no primeiro

ATLETAS DE MACAU LONGE DO PÓDIO

Sem o wushu, orfãos de medalhas

parcial por 6-3. O representante do Iémen respondeu à altura no segundo set, forçando o tie--break e vencendo por 7-6. Sem argumentos para contrariar a resistência do adversário, Chan Chi Neng sucumbiu no último e mais importante dos parciais quase sem oferecer luta, perden-do o terceiro set por 6-2.

Antes, Marco Leung Ho Tin tinha já conhecido a mesma sor-te frente ao filipino John Patrick Tierro, ainda que Leung Ho Tin não tenha conseguido surpreen-der o adversário com a mesma energia demonstrada por Chan Chi Neng frente a Ghaleb Al--Ansi. O atleta filipino acabou por levar a melhor em dois sets pelo parcial de 6-2 e 6-1. Chan Chin Neng e Marco Leung Ho Tin representaram as cores do território também no torneio masculino de duplas, tendo defrontado uma dupla nepalesa.

HÓQUEI EM LINHA PERDEU COM HONG KONGA selecção de hóquei em linha de Macau despediu-se esta quarta-feira do Campeonato Asiático da modalidade com uma volumosa derrota no frente--a-frente com a congénere da vizinha Região Administrativa Especial de Hong Kong. Depois de ter perdido frente à República Popular da China e ao Irão, a formação orientada por Hélder Ricardo voltou ontem a somar novo desaire, ao não conseguir contrariar a maior dose de expe-riência do cinco da antiga colónia britânica. Após ter perdido por 14-1 frente à anfitriã China, de ter ganho à Índia por 6-2 e de ter perdido com o Irão por 10-2, o cinco do território foi ontem derrotado por 12-1, despedindo--se do Asiático com três derrotas, uma vitória, dez golos marcados e 36 sofridos. Ontem, frente a Hong Kong, coube a Adam Sou Weng Hong apontar o tento de honra da formação do Lótus.