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I ENCONTRO DE ANTROPOLOGIA E ARQUEOLOGIA DA UFMG 22 a 24 de novembro de 2017 PROGRAMAÇÃO GERAL HORA/DIA 22/11 - Quarta 23/11 - Quinta 24/11 - Sexta 13h – 19h30 Credenciamento 13h – 19h30 Credenciamento 14h – 17h30 Minicursos Minicursos Minicursos 18h – 19h30 Cine- Debate do filme: “Em busca de Leila” Mesa de Encerramento: "Negritudes, academia e ciências humanas: para além de objetos" 20h – 22h Grupos de Trabalho 19h – 22h30 Grupos de Trabalho 22h Festa de Encerramento Dia 22/11 Quarta- Feira: 13h 19h30: Credenciamento. Local: Hall do segundo andar - FAFICH 14 17h30: Minicursos: Introdução aos Cadernos Etnológicos de Karl Marx 14h às 17h Arqueologia Histórica e História: uma relação necessária 14h às 16h30 Introdução às práticas de fotogrametria para fins arqueológicos 14h às 17h30 Cerâmica com som: técnicas de produção de instrumentos musicais 14h às 17h30 Antropologia do Espaço: a intrínseca relação entre a Geografia e a Antropologia 14h às 17h30 Memória, patrimônio e arqueologia 14h as 17h30 Redes Sociais e Bolhas Ideológicas: do conteúdo personalizado à pós-verdade 14h as 17h30 Representações da lesbianidade no cinema 14h as 17h30 Desenho e Caderno de Campo 14h as 17h30

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Page 1: I ENCONTRO DE ANTROPOLOGIA E ARQUEOLOGIA DA … · GT 1 - Arqueologia Histórica (Dia 23 - 19:00 às 20:45) Técnica, arte e função: uma reflexão sobre a caligrafia nos séculos

I ENCONTRO DE ANTROPOLOGIA E

ARQUEOLOGIA DA UFMG

22 a 24 de novembro de 2017

PROGRAMAÇÃO GERAL

HORA/DIA 22/11 - Quarta 23/11 - Quinta 24/11 - Sexta

13h – 19h30 Credenciamento

13h – 19h30 Credenciamento

14h – 17h30 Minicursos Minicursos Minicursos

18h – 19h30 Cine- Debate do filme: “Em busca de

Leila”

Mesa de Encerramento:

"Negritudes, academia e ciências humanas: para além

de objetos"

20h – 22h Grupos de Trabalho

19h – 22h30 Grupos de Trabalho

22h Festa de Encerramento

Dia 22/11 – Quarta- Feira:

13h – 19h30: Credenciamento.

Local: Hall do segundo andar - FAFICH

14 – 17h30: Minicursos:

Introdução aos Cadernos Etnológicos de Karl Marx – 14h às 17h

Arqueologia Histórica e História: uma relação necessária – 14h às 16h30

Introdução às práticas de fotogrametria para fins arqueológicos – 14h às 17h30

Cerâmica com som: técnicas de produção de instrumentos musicais – 14h às

17h30

Antropologia do Espaço: a intrínseca relação entre a Geografia e a Antropologia

– 14h às 17h30

Memória, patrimônio e arqueologia – 14h as 17h30

Redes Sociais e Bolhas Ideológicas: do conteúdo personalizado à pós-verdade

– 14h as 17h30

Representações da lesbianidade no cinema – 14h as 17h30

Desenho e Caderno de Campo – 14h as 17h30

Page 2: I ENCONTRO DE ANTROPOLOGIA E ARQUEOLOGIA DA … · GT 1 - Arqueologia Histórica (Dia 23 - 19:00 às 20:45) Técnica, arte e função: uma reflexão sobre a caligrafia nos séculos

Introdução ao pensamento de feministas negras: diálogos entre academia e

militância – 14h as 17h

Arte, antropologia e arqueologia: aproximações e possibilidades – 14h30 às

17h30

18h – 19h30: Cine-debate do filme “Em busca de Leila” de Beatriz

Vierah

Local: A ser definido

20h – 22h – Grupos de Trabalho

GT 2 - Genero, Sexualidade e Raça:

Local: A ser definido

- Bordando a cabeça: o ato de trançar e se deixar ser trançada - Elisa Hipólito do

Espírito Santo (UFMG)

- Da festa ao silêncio – Uma análise dos rituais modernos de menarca e suas

repercussões na construção de sexualidades e corpos feminizados - Flora Villas

Carvalho (UFMG)

- Representação e vivência: The L Word e o imaginário lésbico - Marina Morena

Silva Carmo (UFMG)

- “O problema são os héteros”: tramas institucionais, conjugalidades e afetos entre

travestis privadas de liberdade - Vanessa Sander (UNICAMP)

- Costurando em Fissuras: A doula no aborto no Brasil - Thaís Teles Rocha (UFMG)

- Novas materialidades e o fazer etnográfico nas pesquisas de gênero e sexualidade

em contexto virtual - Ítalo Vinícius Gonçalves (UFMG)

GT 6 - Etnologia e Religiosidades:

Local: A ser definido

- A resiliência em terras celtas: as ilhas de Orkney e suas relações de troca,

interdependência e reciprocidade - Ana Beatriz Nascimento Soares (UFMG)

- Compondo o topeng: as máscaras do tradicional teatro-dança balinês - Maria

Bonome Pederneiras Barbosa (UFMG)

- "O cemitério da antropologia: Lewis Morgan e sua relação com Marx e Engels" -

Lucas Parreira Álvares (UFMG)

- Festas em movimento: notas preliminares sobre um aspectos estruturais das

festas krahô - Eduardo Santos Gonçalves Monteiro (USP)

- O cotidiano e o cosmológico: Magistas, reinadeiros e a magia no cotidiano -

Alexandre Iung Dias (UFMG)

- "Mina ora ê, sou de angola...": pensando a formação das religiosidades

afrobrasileiras na diáspora. - Menderson Rivadávia Alves Amaral (UFMG)

Page 3: I ENCONTRO DE ANTROPOLOGIA E ARQUEOLOGIA DA … · GT 1 - Arqueologia Histórica (Dia 23 - 19:00 às 20:45) Técnica, arte e função: uma reflexão sobre a caligrafia nos séculos

Dia 23/11 – Quinta-Feira:

13h – 19h30: Credenciamento.

Local: Hall do segundo andar - FAFICH

14 – 17h30: Minicursos:

Introdução aos Cadernos Etnológicos de Karl Marx – 14h as 17h

Arqueologia Histórica e História: uma relação necessária – 14h às 16h30

Introdução às práticas de fotogrametria para fins arqueológicos – 14h às 17h30

Cerâmica com som: técnicas de produção de instrumentos musicais – 14h às

17h30

Direitos Territoriais no Brasil – 14h às 18h (17h30?)

Memória, patrimônio e arqueologia – 14h as 17h30

Redes Sociais e Bolhas Ideológicas: do conteúdo personalizado à pós-verdade

– 14h as 17h30

Representações da lesbianidade no cinema – 14h as 17h30

Desenho e Caderno de Campo – 14h as 17h30

As diferentes alternativas de auto inscrição negra no meio acadêmico: pan-

africanismo, negritude e afrocentricidade. – 14h as 16h

Introdução ao pensamento de feministas negras: diálogos entre academia e

militância – 14h as 17h

Arte, antropologia e arqueologia: aproximações e possibilidades – 14h30 às

17h30

ONU e Agenda Ambiental – 14h as 17h30

Corporalidades e contextos múltiplos - olhares antropológicos – 14h e 17h30

19h – 20h45 – Grupos de Trabalho

GT 1 - Arqueologia Histórica:

Local: A ser definido

- Técnica, arte e função: uma reflexão sobre a caligrafia nos séculos XVIII e XIX -

Matheus Miranda Mota (UFMG)

- Práticas e usos da cerâmica artesanal na área noroeste da senzala do colégio dos

jesuítas - Paula de Aguiar Silva Azevedo (UFMG)

- Entorno da senzala: Uma análise da cerâmica vidrada do Colégio dos Jesuítas,

Campos dos Goytacazes - RJ. - Nathalia Rodrigues de Lima (UFMG)

- Nesta terra morta, a morte que lhes cabe: problematização acerca do estudo de

cemitérios rurais de escravizados no Brasil - Edilaine Aparecida de Souza (UFMG)

GT 3 - Direitos, Pessoa e Agência:

Local: A ser definido

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- O preço do novo mundo: uma etnografia multissituada da batalha judicial entre a

Apple e o FBI - Gustavo Ramos Rodrigues (UFMG)

- A tecnologia do poder e poder da tecnologia: notas sobre o internet.org - Lucas

Vinicios Emerick Rodrigues (UFMG)

- Direitos animais na agenda ambiental global: confrontos e aproximações - Raysa

França Pereira do Carmo (UFMG)

- O direito às origens nas práticas do Grupo de Apoio à Adoção de Belo Horizonte

- Aline Beatriz Miranda da Silva (UFMG)

- Apontamentos teóricos para a etnografia de um rio – Ana Paula Santos Rodrigues

(UFMG)

GT 4. Patrimonio, Território e Saberes:

Local: A ser definido

- Saberes na infância: reflexões sobre produção e divulgação científica para

crianças a partir da teoria ator-rede no Projeto Universidade das Crianças UFMG -

Bárbara M. Martinez Viana (UFMG)

- Formação de identidades: pesquisadores xacriabá - Amanda Jardim da Silva

Rezende (UFMG)

- As Unidades de Conservação como uma forma de colonialidade e seus impactos

sobre modos de ser e viver de povos e comunidades tradicionais: colonialidade do

poder e totalitarismo epistêmico - Isaías Franco Ramalho (UFMG)

- Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico em perspectiva: a Arqueologia

Preventiva e o modelo de atuação do Estado - Flávia Cristina Costa Vieira (UFMG)

- Os desdobramentos da transformação do queijo canastra em patrimônio imaterial

brasileiro - Mariana Crispim Caiafa (UFMG)

21h – 22h30 – Grupos de Trabalho

GT 5. Arte, Poder e Resistência:

Local: A ser definido

- Mais que rimas e melodias: possíveis abordagens entre arqueologia, Rap e suas

(i)materialidades - Lara de Paula Passos (UFMG)

- “(Sobre)viver”: etnografia sobre o processo de legitimação do baile funk das

quadras do Vilarinho. - Laurene Marquesane Oliveira da Silva (UFMG)

- (Re)construindo um lugar na cidade: o caso de "resistência" da Vila Autódromo

(RJ) - Rodolfo Teixeira Alves (UFRJ)

- A construção do risco, mobilização e resistência: uma análise da trajetória de São

José do Jassém frente à mineração - Yasmin Rodrigues Antonietti

(UFMG/UNIMONTES)

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GT 7. Arqueologia Pré-colonial:

Local: A ser definido

- Cerâmica arqueológica no Alto médio São Francisco - Taísa Corrêa Jóia (UFMG)

- Histórias de fantasmas materiais: O que a Arqueologia na Amazônia no início do

século XX tem a nos dizer? - Queiton Carmo dos Santos (Unifap)

- As relações cronoestilísticas na arte rupestre da Lapa da Fazenda Velha,

Monjolos- Minas Gerais - Nathalia Ribeiro Dias Guimarães (UFMG)

- Sítio arqueológico barro branco e seus mistérios - Rosalvo Ivarra Ortiz (UFMG)

Dia 24/11 – Sexta – Feira:

14 – 17h30: Minicursos:

Arqueologia Histórica e História: uma relação necessária – 14h às 16h30

- Introdução às práticas de fotogrametria para fins arqueológicos – 14h às

17h30

Cerâmica com som: técnicas de produção de instrumentos musicais – 14h às

17h30

O fazer antropológico em contextos de crise, conflitos e defesa de direitos:

desafios e potencialidades. – 14 as 17h30

Memória, patrimônio e arqueologia – 14h as 17h30

Redes Sociais e Bolhas Ideológicas: do conteúdo personalizado à pós-verdade

– 14h as 17h30

Representações da lesbianidade no cinema – 14h as 17h30

Desenho e Caderno de Campo – 14h as 17h30

As diferentes alternativas de auto inscrição negra no meio acadêmico: pan-

africanismo, negritude e afrocentricidade. – 14h as 16h

Introdução ao pensamento de feministas negras: diálogos entre academia e

militância – 14h as 17h

Arte, antropologia e arqueologia: aproximações e possibilidades – 14h30 às

17h30

18h – 19h30: Mesa de Encerramento: "Negritudes, academia e

ciências humanas: para além de objetos”.

Local: A ser definido

22h - Festa de encerramento do evento

Local: Milharal (perto do Auditório Sônia Viegas, na Faculdade de Letras

da UFMG)

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AGENDA DE MINICURSOS

Minicurso/Dia QUARTA - 22 QUINTA - 23 SEXTA - 24

Introdução aos Cadernos Etnológicos de

Karl Marx 14h – 17h 14h – 17h30 -

Arqueologia Histórica e História: uma

relação necessária

14h – 16h30 14h – 16h30 14h – 16h30

Introdução às práticas de fotogrametria

para fins arqueológicos

14h – 17h30 14h – 17h30 14h – 17h30

Introdução à prática e aos princípios do

desenho de cerâmicas arqueológicas

- 14h – 17h30 -

Cerâmica com som: técnicas de

produção de instrumentos musicais

14h – 17h30 14h – 17h30 14h – 17h30

Direitos Territoriais no Brasil

- 14h – 17h30 -

Arte, antropologia e arqueologia:

aproximações e possibilidades

14h30 – 17h30 14h30 – 17h30 14h30 – 17h30

Introdução ao pensamento de feministas

negras: diálogos entre academia e

militância

14h – 17h 14h – 17h 14h – 17h

O fazer antropológico em contextos de

crise, conflitos e defesa de direitos:

desafios e potencialidades.

- - 14h – 17h30

Corporalidades e contextos múltiplos -

olhares antropológicos

- 14h – 17h30 -

ONU e Agenda Ambiental

- 14h – 17h30 -

Antropologia do Espaço: a intrínseca

relação entre a Geografia e a

Antropologia

14h – 17h30 - -

Memória, patrimônio e arqueologia

14h – 17h30 14h – 17h30 14h – 17h30

Redes Sociais e Bolhas Ideológicas: do

conteúdo personalizado à pós-verdade

14h – 17h30 14h – 17h30 14h – 17h30

Representações da lesbianidade no

cinema

14h – 17h30 14h – 17h30 14h – 17h30

Desenho e Caderno de Campo

14h – 17h30 14h – 17h30 14h – 17h30

As diferentes alternativas de auto

inscrição negra no meio acadêmico: pan-

africanismo, negritude e

afrocentricidade.

- 14h – 16h 14h – 16h

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GRUPOS DE TRABALHO E MINICURSOS:

- RESUMOS DOS TRABALHOS:

GT 1 - Arqueologia Histórica (Dia 23 - 19:00 às 20:45)

Técnica, arte e função: uma reflexão sobre a caligrafia nos séculos XVIII e

XIX - Matheus Miranda Mota

A escrita e a produção de documentos foram elementos essenciais para a

constituição do mundo ocidental como o conhecemos. Porém, ao praticarmos

cotidianamente a escrita não pensamos sobre a fisicalidade dos nossos

movimentos, o formato das letras, a relação com os instrumentos que utilizamos

ou até mesmo sobre como cada uma das letras é construída. A partir da

perspectiva de que os documentos e as formas pelas quais os produzimos

podem ser analisadas enquanto artefatos arqueológicos, pretendo apresentar

reflexões sobre como dois sistemas caligráficos - English Roundhand e

Spencerian Script - utilizados nos séculos XVIII e XIX tratam a técnica, arte,

beleza e a funcionalidade do texto. As discussões foram feitas a partir da leitura

e análise de manuais produzidos enquanto instrumentos de ensino dos

respectivos sistemas caligráficos.

Práticas e usos da cerâmica artesanal na área noroeste da senzala do

colégio dos jesuítas - Paula de Aguiar Silva Azevedo

Este trabalho se visa apresentar os resultados obtidos a partir da análise da cerâmica artesanal proveniente do contexto NW do Colégio dos Jesuítas - RJ, referente a uma unidade doméstica relacionada a área da senzala na fazenda. O contexto em questão consiste de duas áreas principais associadas tanto a um espaço de produção e consumo de alimentos, quanto a uma área de descarte nas proximidades . Em ambos os contextos foram identificados grande quantidade de material, entre louças, ossos, telhas, cerâmicas torneadas e, essencialmente pertinente a este trabalho, cerâmicas de produção artesanal. Entende-se essas cerâmicas de produção artesanal como aquelas que foram produzidas, principalmente, para as unidades domésticas e dentro das comunidades locais, na mesma perspectiva que apresentado por Zanettini & Wichers na premissa de cerâmica de produção local/regional. Essas cerâmicas tendem a apresentar características mais particulares, visto que sua produção seria para suprir demandas específicas e em menor proporcionalidade, assim como também são comumente referidas como cerâmicas utilitárias, isto é, teriam fins especificamente domésticos. Para o contexto do Colégio dos Jesuítas (inicialmente uma fazenda escravista do século XVIII) tem-se a premissa de que a cerâmica artesanal foi gradualmente substituída pela cerâmica torneada, vidrada (grés) e por louças a partir do século XIX e, que, gradativamente ela retorna em grande proporção conforme foi verificado nas escavações das camadas mais tardias. Essa retomada, ou reutilização de bens produzidos

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localmente, pode estar relacionada a questões de acessibilidade aos mercados locais, à aquisição de outros tipos de bens de consumo, como as louças e as cerâmicas torneadas, ou também uma reafirmação de tradições e práticas relacionadas à ancestralidade. Objetiva-se demonstrar como a cerâmica artesanal evidenciada no contexto doméstico da senzala se insere na perspectiva das práticas cotidianas, alimentares e nas relações de resistência às imposições materiais, que são marcantes no processo de escravização. Ademais, discute-se a produção artesanal das cerâmicas como elemento de afirmação e reconhecimento de grupo, que perfazem estratégias de manutenção de valores herdados da ascendência africana dentro desta fazenda escravista.

Entorno da senzala: Uma análise da cerâmica vidrada do Colégio dos Jesuítas, Campos dos Goytacazes - RJ. - Nathalia Rodrigues de Lima

Este trabalho trata dos apontamentos iniciais da análise das cerâmicas vidradas escavadas no Colégio dos Jesuítas em Campos dos Goytacazes/RJ, datadas do final do século XVIII até meados do XIX. A análise do material se concentra nos estudos da variabilidade morfológica e temporal. Os dados obtidos desta análise são contrastados com a historiografia local e os demais dados arqueológicos já levantados, permitindo-se expor um pouco da vivência que circundava os indivíduos escravizados, suas práticas sociais e o elo do seu cotidiano com sua materialidade. Além disso, através da revisão bibliográfica somada a análise do material pretende-se suscitar a discussão a respeito dos contextos de usos da cerâmica vidrada, considerando sua morfologia original e as marcas de uso que lhe foram agregadas. Busca-se também demonstrar as características da produção regional deste material. A relevância deste trabalho consiste na importância da análise da cerâmicas vidrada, uma vez que, pouquíssimos trabalhos na Arqueologia Histórica abordam esta categoria material, o que acaba gerando uma quase invisibilidade não somente da categoria, como também do contexto as quais elas estão relacionadas, seu conhecimento de produção e das pessoas a que pertenciam. Nesta terra morta, a morte que lhes cabe: problematização acerca do

estudo de cemitérios rurais de escravizados no Brasil - Edilaine Aparecida

de Souza

As divisões sociais dentro dos diversos grupos também aparecem nas práticas

mortuárias, ou seja, nos rituais que vão desde a preparação da morte até depois

do enterramento. Durante o período da escravidão os escravizados ocupavam o

mais baixo nível da escala social, sendo vistos praticamente como objetos

descartáveis. Nesse período quem controlava as práticas mortuárias era a Igreja

e os escravizados reuniam-se em Irmandades, associações de leigos católicos,

para garantir uma morte mais digna. Isso porque era frequente o abandono de

corpos dos escravizados pelos senhores. Nos Estados Unidos há vários estudos

sobre cemitérios de escravizados no contexto rural, neles várias evidências de

práticas mortuárias africanas foram encontradas. No entanto, esse campo não

foi desenvolvido no Brasil. Baseando-nos nesses estudos, discutimos como

esses trabalhos poderiam ser desenvolvidos no país, entendendo que no

contexto rural esses cemitérios, possivelmente, não seriam controlados pela

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Igreja e os escravizados talvez tivessem mais autonomia. Também propomos

métodos não interventivos de pesquisas e possíveis campos de análise. Foram

feitos estudos preliminares de quatro cemitérios no contexto rural para discutir a

falta de evidência sugerindo o uso destes por escravizados.

GT 2 - Genero, Sexualidade e Raça (Dia 22 - 20:00 às

22:00)

Da festa ao silêncio – Uma análise dos rituais modernos de menarca e suas repercussões na construção de sexualidades e corpos feminizados - Flora Villas Carvalho

A menarca (primeira menstruação) é um processo de dimensões fisiológicas,

emocionais e psicossociais na vida das mulheres, assim como reflete e participa

da construção de uma série de questões culturais, de tabus e de relações

familiares. Existem, na antropologia clássica, várias referências à ritos de

menarca em outros contextos etnográficos, mas muito pouco se produziu a

respeito de como esse processo acontece no Brasil e quais as suas

repercussões na vida e na construção das noções de “mulher”, “feminilidade”,

“fertilidade” e “sexualidade” das garotas que passam por ele. Pensando nestes

pontos de estudo e lacunas, neste trabalho me propus a buscar e analisar relatos

de mulheres, mães e filhas, que passaram por esta experiência no Brasil, a fim

de entender em que medida estes rituais tem repercussões nas vidas das

garotas, qual seu papel social em nossa sociedade, quais os atores envolvidos

neste processo e como acontecem as práticas destes rituais modernos. Em

minha pesquisa entrevistei duas garotas na puberdade e suas respectivas mães

e, em um segundo momento, obtive o relato de 160 mulheres através de uma

publicação em um grupo de Facebook (exclusivo para mulheres e assuntos que

as perpassam) a respeito de suas experiências de menarca e das forma como

suas mães e famílias lidaram com o processo. A partir dessas análises pude

perceber o quão múltiplas são as experiências de menarca - indo do festejar ao

calar dessas meninas – o quão significativos são na vida das garotas e na própria

construção de mulheres para a sociedade, além de ver o quanto estes processos

estão também em constante mudança, acompanhando muitas vezes o próprio

ritmo de transformações no sistema cultural brasileiro das últimas décadas e o

impacto do crescimento do movimento feminista no país.

Representação e vivência: The L Word e o imaginário lésbico - Marina

Morena Silva Carmo

Em diversas conversas com amigas que, assim como eu, se relacionam sexualmente e afetivamente com mulheres, ou seja, estabelecem relações de âmbito lésbico, sempre surge o assunto de qual foi o primeiro beijo lésbico presenciado. As respostas em grande maioria envolvem produções de audiovisual, envolvem ver em uma tela. Pensando na representação da lesbianidade nesse tipo de produção chego ao marco que foi a estreia do seriado The L Word que foi ao ar em 2004 e é considerado, de certa forma, um marco na representação de uma cultura de mulheres que se relacionam com mulheres.

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Me propus assim a conversar com mulheres que constroem e vivenciam essa cultura sobre suas opiniões e qual simbologia esse seriado teve em suas relações com a própria sexualidade. Este trabalho traz uma análise dessas nossas vivências, desse querer se ver na tela e no que envolve a produção e reprodução do imaginário do que é ser lésbica.

“O problema são os héteros”: tramas institucionais, conjugalidades e

afetos entre travestis privadas de liberdade - Vanessa Sander

Este trabalho tem como objetivo analisar sentidos e práticas conjugais e afetivas

entre travestis privadas de liberdade – e seus respectivos maridos – acontecidas

no interior de uma instituição penitenciária masculina em Minas Gerais. De um

lado, busco observar os discursos da administração carcerária sobre os

relacionamentos sexuais e amorosos vividos nas “alas LGBTs”; que atribuem a

responsabilidade dos conflitos ocorridos nesses espaços à presença de homens

heterossexuais. De outro, exploro as narrativas das próprias travestis sobre os

casos e casamentos que viveram durante o cumprimento da pena,

frequentemente definindo a prisão como “o melhor lugar para arrumar um

marido”. Articulando essas duas perspectivas, pretendo identificar como as

conjugalidades são (re)inventadas e mediadas pelo sistema penitenciário e quais

dinâmicas configuram o dentro muitas vezes como um lugar afetivamente mais

atraente que o fora. Pensando a prisão como um espaço produtivo de relações,

a proposta é analisar como desejos e casamentos, construídos no interior das

instituições penais, se configuram tanto como espaços privilegiados para

regulações, quanto para articulações, negociações e agências.

Costurando em Fissuras: A doula no aborto no Brasil - Thaís Teles Rocha Doula, do grego "A mulher que serve" é uma profissional que atua oferecendo

atenção integrada à pessoa gestante durante pré, pós e parto latente. Durante a

seguinte proposta, pretendo levantar interrogações migrando o ofício da

doulagem para o contexto de abortamento, enquanto situação obstétrica,

levando em consideração: 1.a ilegalidade da prática de interrupção voluntária da

gestação no Brasil; 2. o tabu e o medo de procurar atenção obstétrica durante

abortamento 3. a consequente suscetibilidade dos corpos em abortamento à

violência obstétrica. Durante o trabalho, tento dialogar de modo transdisciplinar,

a partir da metodologia de história de vida, a atuação liminar da doula em

processos liminares de abortamento no Brasil, a partir da conjuntura histórica,

política e de gênero do aborto voluntário, criminalizado no país. A partir dos

relatos, pretendo provocar intersecções de raça e classe. Em segundo plano,

provoco para reflexão: Quando se fala de autonomia, aborto é o contrário de

maternidade?

Novas materialidades e o fazer etnográfico nas pesquisas de gênero e sexualidade em contexto virtual - Ítalo Vinícius Gonçalves

Page 11: I ENCONTRO DE ANTROPOLOGIA E ARQUEOLOGIA DA … · GT 1 - Arqueologia Histórica (Dia 23 - 19:00 às 20:45) Técnica, arte e função: uma reflexão sobre a caligrafia nos séculos

A partir dos resultados da iniciação científica intitulada “O/A antropólogo/a no

campo e na rede”, cujo objetivo era o levantamento bibliográfico do maior número

possível de trabalhos etnográficos nas áreas de gênero e sexualidade realizados

em contexto virtual, as discussões a serem apresentadas margeiam sobre o

lugar do/a antropólogo/a em campo e das fronteiras entre as dimensões on e

offline. O principal foco da pesquisa foi verificar como as narrativas empregadas

nesses novos fazeres etnográficos poderiam nos ajudar a repensar o método

tradicional, bem como tensionar as perspectivas mais clássicas da disciplina

antropológica. Por vez, somos levados a questionar o conceito de

“materialidade”, não somente relativo a corpos, territórios e temporalidades, mas

também àquilo que se refere a própria dimensão etnográfica.

Bordando a cabeça: o ato de trançar e se deixar ser trançada - Elisa Hipólito

do Espírito Santo

O corpo humano é motivo de arte em todas as culturas e civilizações. Pinturas

faciais e corporais, maquiagens, tatuagens, mutilações, perfurações,

decorações, vestimentas típicas, acessórios, penteados, são realizadas em

todas as culturas e ilustram essa tendência universal de conceber o corpo como

objeto de beleza estética. O corpo, assim, e seus atributos constituem o suporte

e a sede material para qualquer processo de construção da identidade. Quando

pensamos em corpos femininos negros observamos que há uma centralidade da

cabeça para investimentos estéticos-corporais. O cabelo para essas mulheres e

suas manipulações, sejam elas cortes, alisamento, permanente afro,

relaxamento, tranças, dreads, penteados, entre outros, vão além da categoria

estética, biológica e individual e se tornam um corpo social e linguístico, pelo

qual expressões e símbolos de resistência cultural veiculam. Como o corpo é

passível de codificações particulares dentro de um grupo social, alguns códigos

inscritos na maneira em que se manipula certas partes, nesse caso o cabelo, só

podem ser entendidos e decodificados por quem faz parte desse grupo

étnico/racial e por quem possui uma convivência necessária para tal. Partindo

do exposto, me proponho nesse trabalho a analisar um contexto específico: a

arte de trançar o cabelo e as tramas realizadas nos cabelos já trançados, a partir

das atividades e técnicas utilizadas pelas trançadeiras no universo dos

chamados salões étnicos na cidade de Belo Horizonte. A partir de uma descrição

particularizada irei abordar como esse ato de trançar e de se deixar ser trançada

fazem parte de um processo de construção e afirmação da identidade negra.

GT 3 - Direitos, Pessoa e Agência (Dia 23 - 19:00 às 20:45)

O preço do novo mundo: uma etnografia multissituada da batalha judicial entre a Apple e o FBI - Gustavo Ramos Rodrigues

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O presente trabalho versa sobre uma disputa judicial ocorrida ao longo do

primeiro semestre de 2016 entre a empresa de tecnologia Apple e a Agência

Federal de Investigação dos Estados Unidos sobre o desbloqueio de um iPhone

para uma investigação sobre um caso de terrorismo. O caso atraiu atenções

midiáticas estadunidenses e internacionais consideráveis e tornou-se

emblemático dos embates contemporâneos envolvendo o estatuto dos métodos

de encriptação, o direito à privacidade e os problemas de segurança nacional.

Enquanto o FBI construiu sua argumentação alegando que a cooperação da

empresa era necessária para a proteção da segurança nacional e enfatizando

uma tensão crescente entre privacidade e segurança, a Apple se posicionou

desde o início do conflito de maneira oposta: a empresa alegava que o exigido

pelo FBI implicaria numa fragilização generalizada da segurança de milhões de

dispositivos, além de resultar num precedente perigoso, uma vez que o governo

seria capaz de compelir empresas de tecnologia a facilitar a segurança de seus

dispositivos. O presente trabalho analisa os argumentos utilizados nessa batalha

judicial buscando compreender que tipo de racionalidade está sendo acionada

pelos atores e com base em quais valores eles constroem seus

posicionamentos. O método utilizado foi a etnografia multissituada para seguir

atores dispersos espacialmente num contexto internacional, o que foi efetuado

principalmente por meio de fontes jornalísticas e documentais relativas ao

processo.

A tecnologia do poder e poder da tecnologia: notas sobre o internet.org - Lucas Vinicios Emerick Rodrigues

Em agosto de 2013, o Facebook e mais seis empresas (Samsung, Ericsson,

MediaTek, Opera Software, Nokia e Qualcomm) lançaram um projeto chamado

Internet.org. A missão do projeto conduzido pela empresa estadunidense é de

“levar o acesso à Internet e os benefícios da conectividade aos dois terços do

mundo que ainda não os possuem”. Atualmente o serviço já está em

funcionamento em 48 países da África, Ásia e América Latina. Através do

aplicativo Free Basics (até setembro de 2015 era chamado Internet.org) que

consiste em uma interface onde as pessoas acessam gratuitamente um pacote

selecionado de serviços básicos da internet como sites de saúde, educação,

páginas do governo e ao Facebook, as empresas filtram/escolhem a informação

que é disponibilizada ao público e tanto padrões de acesso, quanto dados

pessoais e sensíveis dos usuários são apropriados por elas. O trabalho aqui

proposto discorre sobre a questionável posição de mediação existente entre os

usuários e a internet exercida pelo Internet.org que atua num duplo movimento

restringindo/direcionando o conteúdo da Web que é exibido a um público

localizado em países do sul global e paralelamente capitalizando os dados desse

mesmo público.

Direitos animais na agenda ambiental global: confrontos e aproximações -

Raysa França Pereira do Carmo

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Esse artigo tem como objetivo analisar as relações existentes entre a agenda ambiental global e o movimento pelos direitos políticos dos animais. A preocupação com os direitos animais no Ocidente não é pauta tão recente: uma das primeiras organizações criadas em prol dos Direitos Animais foi a The Vegetarian Society, estabelecida em 1847 na Inglaterra. Posteriormente, em 1944. surge a The Vegan Society, que defende o abolicionismo animal, isto é: o fim do uso de animais por humanos em todos os âmbitos da vida. Em 1975, Peter Singer publica Animal Liberation, livro que é hoje considerado a bíblia dos veganos e defensores dos direitos dos animais. A partir da década de 80, fortificado pela publicação de obras como Animal Liberation, argumentos pelos direitos animais ganham mais força e contornos mais definidos. Nesse sentido, os Direitos Animais tornam-se importantes para as políticas de Estado, e são incorporados na legislação de diversos países. Já as questões ambientais, dotadas de poder de agenda, são alvo de intensa disputa por definições, políticas e demandas: a velocidade com que o movimento foi aceito pelos setores empresariais, ainda que no nível do discurso, não encontra precedentes na história das empresas. Essas características do movimento ambientalista, como a rápida ascensão, o poder de agenda, e a dificuldade de precisão do conceito e de demandas que seriam legítimas, o tornam poroso suficiente para a absorção de pautas animalistas. O Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas, por exemplo, recomenda a adoção do vegetarianismo global como alternativa de mitigação dos impactos ambientais do crescimento populacional e da agropecuária. Tendo isso em vista, valendo-se da revisão estruturada de literatura, busca-se compreender e reconstruir as trajetórias que associam os movimentos pelos direitos dos animais com movimentos pelos direitos da natureza por meio do olhar antropológico.

O direito às origens nas práticas do Grupo de Apoio à Adoção de Belo

Horizonte - Aline Beatriz Miranda da Silva

A partir do acompanhamento etnográfico das atividades desenvolvidas pelo

Grupo de Apoio à Adoção de Belo Horizonte - GAABH, o objetivo deste trabalho

é refletir sobre como o grupo tem abordado as questões sobre a busca das

origens biológicas. O presente trabalho consiste nas reflexões inicias do projeto

de iniciação científica “Entre grupos de apoio e leis: reflexões sobre adoção”, que

faz parte de um projeto mais amplo, intitulado “Em busca das origens: direitos

recíprocos, identidade e parentesco” e coordenado pela professora Sabrina

Finamori. Entendido como um direito humano fundamental para a identidade

pessoal, o conhecimento das origens, no caso da adoção, gera uma tensão entre

diferentes sujeitos de direito. Por um lado, esse direito está submetido ao

consentimento dos pais de nascimento em comunicar a informação (FINAMORI,

2015). Por outro lado, a busca por essa informação também está sujeita à

burocracia do Estado. Neste sentido, assim como aponta Claudia Fonseca

(2010), é preciso partir da ideia de que os direitos são politicamente construídos.

Portanto “transformar alguém (nesse caso a pessoa adotada) em sujeito de

direito, longe de ser um processo simples, depende de uma negociação entre

atores de status desigual, interagindo em um campo de forças cambiantes”

(FONSECA, 2010, p.494). Nesse contexto, é interessante compreender como

grupos de apoio à adoção abordam essas questões ao orientar pais e filhos

adotivos sobre a busca pelas origens biológicas. Esse debate perpassa grande

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parte das discussões do Grupo de apoio à Adoção de Belo Horizonte - GAABH

e está relacionado a diferentes temas, tais como o perfil desejado das crianças

e adolescentes, o desejo dos filhos adotivos de conhecer os parentes biológicos,

os desafios da família adotiva no auxílio da busca pelas origens de seus filhos e

as dificuldades encontradas diante da burocracia do Estado ao longo da busca

pela informação de parentesco. A metodologia da pesquisa é qualitativa e incluiu

etnografia dos encontros presenciais do GAABH, realização de entrevistas e

análise de leis e debates jurídicos sobre o tema em questão.

Apontamentos teóricos para a etnografia de um rio – Ana Paula Santos

Rodrigues

O objetivo deste trabalho é discutir alguns aspectos teóricos que são levantados quando se procura realizar uma etnografia que não tem como tema central os seres humanos, ou, pelo menos, onde estes não são os únicos protagonistas. Mais especificamente, será discutido o projeto de etnografia de um rio, chamado Jacaré, que está localizado no centro-oeste mineiro. Etnografar uma entidade não humana produz muitos desafios e reflexões para uma antropóloga, visto que o próprio nome Antropologia remete ao estudo do homem, e sabemos que, na sociedade ocidental, o humano se constitui, muitas vezes, como o oposto ou transcendente à natureza. No contexto atual, no entanto, estas dicotomias estão sendo repensadas, principalmente pela inegável influência destrutiva das construções humanas sobre o mundo natural. Dado este contexto, muitas pesquisas sobre questões socioambientais foram e são motivadas por este chamado do meio ambiente em destruição, proliferando a partir da emergência do ambientalismo, que pode ser considerado não apenas como movimento social, mas também como processo histórico. Estas pesquisas colocaram e ainda colocam questões que vão além da política, levando a novas perspectivas epistemológicas que influenciam as ciências humanas como um todo. Assim, neste trabalho pretendo discutir, através do caso do rio Jacaré, algumas questões teóricas relevantes para a construção da etnografia de um rio, ou para o estudo das interações entre sociedade e meio ambiente de modo geral. Especificamente, quatro aspectos teóricos se apresentam como centrais, a saber: 1) a separação entre natureza e cultura, 2) as diferentes formas de apropriação do mundo natural, 3) a interdisciplinariedade e 4) o antropocentrismo.

GT 4. Patrimônio, Território e Saberes (Dia 23 - 19:00 às 20:45)

Saberes na infância: reflexões sobre produção e divulgação científica para crianças a partir da teoria ator-rede no Projeto Universidade das Crianças UFMG - Bárbara M. Martinez Viana

Como estudante de Antropologia e bolsista do Projeto de Divulgação Científica

“Universidade das Crianças” (UC) da UFMG, tenho trabalhado com medidas de

incorporar formas de discutir outros campos do conhecimento dentro do Projeto.

O UC, propõe divulgar a ciência para o público infantil, a partir de dúvidas que

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as próprias crianças apresentam sobre o corpo humano e meio ambiente. Este,

tem importante papel educativo enquanto Projeto de divulgação científica.

Considerando esse aspecto, o presente trabalho analisa a valoração de

processos de construção do conhecimento junto à crianças seguindo um viés

social e antropológico. O embasamento dessa necessidade, partiu do

fundamento crítico à linguagem de produção dos textos analisados e

experiencias nas tarefas como bolsista. Adota-se então, um viés “bio-social” para

expor a relevância de adotar diferentes formas de fazer ciência. O que aqui se

propõe, portanto, é um olhar que busca compreender os processos de

aprendizagem de ciências por meio dos valores e conhecimentos produzidos no

universo cultural das próprias crianças, que pode ser interpretado através das

perguntas. (COUTINHO, et al. 2017). O intuito é envolver a criança na

construção do conhecimento, com importante papel fundador na aprendizagem,

para tanto, considera-se a teoria ator rede (LATOUR, 2012) . Através desta,

pretende-se considerar a criança portadora de ações plenas na rede de relações,

levando em conta que, a aprendizagem nos campos científicos é igualmente uma

forma de “aprender a ser afetado”. ( COUTINHO, et al. 2017). Parte-se da teoria

de que a interação com o social é vista como fornecedora do estímulo de

perspectivas diferentes sobre as quais as crianças podem refletir melhor. Nesse

sentido, é seguido o levantamento de discussão acadêmica de fazer

antropologia para e por crianças no contexto de divulgação científica, onde a

criança é agente na construção do saber, na medida em que ela questiona e se

vê na resposta

Formação de identidades: pesquisadores xacriabá - Amanda Jardim da Silva Rezende

O trabalho é resultante de uma pesquisa realizada em 2015 e 2016 junto a dois

ex- estudantes-pesquisadores xakriabá irmãos, Célia e Edgar. A pesquisa teve

como alvo de estudo as narrativas elaboradas por eles sobre suas trajetórias

acadêmicas na licenciatura indígena da UFMG, FIEI (Formação Intercultural de

Educadores Indígenas). Tendo como material de análise entrevistas que realizei

junto aos irmãos xakriabá e arquivos pessoais que reúnem suas produções

acadêmicas, busquei refletir, de maneira mais geral, sobre como se dá a

inserção e permanência de indígenas na universidade. Particularmente, discuto

sobre como se deram suas iniciações à vida acadêmica, como se perceberam e

se viram percebidos na universidade, assim como a constituição da identidade

do eu-pesquisador durante suas formações. Parte da pesquisa foi destinada a

tratar sobre os antecedentes a vida acadêmica, que descreviam aspectos

referentes a vida escolar e familiar dos interlocutores. Célia e Edgar foram das

primeiras turmas de alunos do PIEI/MG (Programa de Implantação das Escolas

Indígenas), ensino básico, e do FIEI, ensino superior, situados no contexto de

recente escolarização xakriabá. Procurarei, então, através dos relatos contidos

nessa pesquisa, trazer reflexões sobre como estão imbricadas as formações

escolares e acadêmicas dos irmãos na construção e constituição de suas

identidades como pesquisadores xacriabá.

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As Unidades de Conservação como uma forma de colonialidade e seus

impactos sobre modos de ser e viver de povos e comunidades tradicionais:

colonialidade do poder e totalitarismo epistêmico - Isaías Franco Ramalho

A separação entre natureza e cultura é um dos aspectos fundantes da

modernidade colonial. Juntamente com outras dicotomias, como

selvagem/civilizado, masculino/feminino, corpo/alma, razão/emoção, a divisão

entre natureza e sociedade foi imposta pelo colonizador europeu aos nativos do

continente americano e, posteriormente, aos da África, Ásia e Oceania. A relação

entre cada lado dessas dicotomias não é simétrica, mas hierárquica, de modo

que o homem ocidental moderno se vê acima da natureza, justificando o

subjugamento e a dominação dela por ele. Entretanto, inúmeros estudos

etnográficos evidenciam que essa separação não é universal. Assim, não são

todas as sociedades que enxergam natureza e cultura como dois campos

distintos. O surgimento da Revolução Industrial na Inglaterra, em fins do século

XVIII, provocou uma intensa transformação do meio natural, motivando a

delimitação de áreas com a finalidade de preservar espaços tidos como

selvagens (wildernesses). Tento origem na cosmologia europeia, essa ideia

parte do pressuposto de que o homem é sempre um predador da natureza e que,

para mantê-la pura e livre de sua ação maléfica, é necessário isolá-la de

qualquer ser humano. Assim, muitas Unidades de Conservação são criadas em

territórios onde vivem e se reproduzem grupos que não reconhecem uma

separação tão clara entre mundo natural e mundo humano. Em nome da

“preservação da natureza” vários povos e comunidades tradicionais são

expulsos de suas terras e têm, por isso, seus modos de ser e viver ameaçados,

pois estes foram edificados numa relação intensa com o ambiente ocupado,

dependendo dele para a sua manutenção. Neste trabalho, então, usando as

noções de colonialidade do poder e totalitarismo epistêmico, pretendo analisar a

criação de UCs como uma forma de colonialidade, que pretende impor às várias

sociedades não europeias a episteme ocidental moderna, negando e ocultando

outras formas de conhecer e habitar o mundo.

Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico em perspectiva: a Arqueologia Preventiva e o modelo de atuação do Estado - Flávia Cristina Costa Vieira

Este trabalho traça um paralelo geral entre o contexto político e econômico do

país, com as principais mudanças ocorridas na arqueologia brasileira e dentro

do próprio IPHAN. Para isso apresenta e discute os dados a respeito da

quantidade de Portarias de Arqueologia emitidas em 2016. Constata o

despreparo do Estado para compreender a importância da proteção e

salvaguarda do patrimônio arqueológico e questiona o atual modelo de atuação

para um país com as dimensões continentais como o Brasil, haja vista que é

incapaz de controlar e acompanhar totalmente os projetos que autoriza. Por fim,

propõe uma reflexão a respeito da oportunidade de aproveitar as comemorações

dos 55 anos da denominada Lei de Arqueologia e dos 80 anos do IPHAN para

colocar em perspectiva o modelo de funcionamento desse gerenciamento e

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propor mudanças e ações que sejam mais alinhadas com a realidade da

arqueologia brasileira.

Os desdobramentos da transformação do queijo canastra em patrimônio imaterial

brasileiro - Mariana Crispim Caiafa

A partir de 2008, quando o IPHAN concedeu o modo de fazer queijo minas

artesanal como patrimônio imaterial brasileiro muitas mudanças perpassaram a

vida dos produtores de queijo. Na Serra da Canastra, região sudoeste do estado

de Minas Gerais, a produção do queijo é um fenômeno essencial para a

socialização e possui um forte valor simbólico para os moradores, revelando uma

antiga tradição. A patrimonialização do queijo trouxe lógicas diversas nas quais

os produtores foram inseridos: luta contra a vigilância sanitária, novos mercados

e consumidores, gastronomização do produto e perspectivas diferentes de um

produtor sobre o outro diante desse novo horizonte. Procuro entender quais as

observações dos pequenos produtores acerca do patrimônio e como essa

interferência foi acontecendo ao longo do tempo, alterando ideais e modos de

vida local.

GT 5. Arte, Poder e Resistencia (Dia 23 - 21h00 às 22:30)

Mais que rimas e melodias: possíveis abordagens entre arqueologia, Rap e suas (i)materialidades - Lara de Paula Passos

A cena hip hop no Brasil ( e suas 4 esferas: a dança de rua - feita por b-girl ou

b-boy -, a batida musical - dos e das DJ -, as rimas cantadas - por MCs - e o

grafite). ganha força juntamente com as influências dos bailes de funk e

blackmusic a partir de 1980. O presente trabalho propõe um olhar geral sobre o

cenário da cultura de rua nacional, com enfoque nos duelos de rimas livres e

improvisadas (Batalhas de MCs e freestyles) e nas cyphers (videos de parcerias

de composições originais), e as materialidades desses/nesses espaços. Meu

objetivo é delinear possíveis abordagens arqueológicas acerca da cena rap

nacional, passando pela arqueologia urbana, arqueologia da repressão e da

resistência e arqueologia do capitalismo. Exponho também elementos sobre as

questões de raça gênero e classe que permeiam essas discussões, levando em

conta o histórico da cena hip hop no Brasil que é majoritariamente masculina, e

teve suas origens na articulação de homens negros periféricos na década de 80.

Procuro observar a inserção de mulheres (principalmente as negras e

periféricas) na cena atual e como a presença delas influencia na materialidade e

na imaterialidade do contexto abordado.

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“(SOBRE)VIVER”: ETNOGRAFIA SOBRE O PROCESSO DE LEGITIMAÇÃO DO BAILE FUNK DAS QUADRAS DO VILARINHO. - Laurene Marquesane Oliveira da Silva

Em Belo Horizonte, observa-se um crescimento da cena funk, quanti e

qualitativamente.Apesar desse crescimento, as práticas estatais de

criminalização dessas manifestações culturais só vêm aumentando.O funk não

vive, sobrevive. A sociedade capitalista, gerida da maneira como é hoje, tem

como principal objetivo de seus governos, conter essas classes subalternas, seja

através da institucionalização do extermínio, seja por meio da criminalização

cotidiana dos pobres e suas expressões culturais (LOPES; 2010)Tem que se

levar em consideração também que, além de outros fatores, a imagem

socialmente criada a respeito dos bailes pela classe alta, quase sempre

associados à violência, à marginalidade, etc. tem como consequência o não

reconhecimento desses como um espaço de lazer e cultura. Na contramão desse

cenário, houve uma mobilização por parte do municipio em reconhecer as

Quadras como legítimas, tendo acesso a “privilégios” que somente outros tipos

de entretenimento têm, por exemplo, o transporte público aos frequentadores do

baile antes e depois do evento, o metrô que é de graça no final dos bailes, a

parceria com a polícia militar no que diz respeito à programas de conscientização

aos frequentadores do baile,concessão de alvará, etc. logo, a Vilarinho é

exceção em relação a outros locais em que também acontecem bailes funk. Ela

é o espaço que os jovens negros da periferia de Belo Horizonte têm para

construir e afirmar sua identidade cultural. Foi-se constatado isso através das

entrevistas estruturadas e semiestruturadas nas idas ao baile. Os jovens a todo

momento, tentavam se diferenciar do “outro”, fosse nas falas, fosse no jeito de

se vestir, no jeito de dançar, reivindicando a todo momento para si a identificação

como funkeiro. Ao lutar pelo direito à esse espaço, ao transpor as margens do

Estado, esses jovens acabam por desafiar a manutenção da ordem social

estabelecida pelo Estado e pelas classes mais abastadas.

(Re)construindo um lugar na cidade: o caso de "resistência" da Vila

Autódromo (RJ) - Rodolfo Teixeira Alves

A comunidade Vila Autódromo, localizada na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, se consolidou como uma experiência de resistência ao projeto de construção da "cidade olímpica". Durante a preparação da cidade para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, a remoção de moradores de favelas para dar lugar às infraestruturas relativas aos Jogos, construídas a partir da ideia de “legado”, foi prática comum do poder público. Os moradores da Vila Autódromo conseguiram organizar um importante movimento contra as remoções na comunidade, contando com apoio de movimentos sociais, núcleos universitários, entre outros. Durante o “processo de resistência”, surgiram muitos projetos visando à permanência da comunidade, destacando-se o Plano Popular de Urbanização da Vila Autódromo e o Museu das Remoções. Acompanhando e colaborando com a organização da Vila Autódromo desde meados de 2015, período que pude desenvolver trabalho de campo, apresento neste trabalho

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alguns dados levantados através de observação participante, entrevistas e análise dos projetos desenvolvidos coletivamente. A partir das experiências e memórias dos moradores, a mobilização da Vila Autódromo potencializou a elaboração de projetos e construiu a história da comunidade como um contraponto às práticas de construção da “cidade olímpica”. Por fim, passado o período de remoções na comunidade, este trabalho apresenta algumas continuidades do processo, avaliando o desenvolvimento de projetos que nasceram desse período e que se inserem hoje nas disputas pela representação da cidade do Rio de Janeiro.

A construção do risco, mobilização e resistência: uma análise da trajetória de São José do Jassém frente à mineração - Yasmin Rodrigues Antonietti

O presente trabalho é um esforço de análise dos efeitos do Projeto Minas-Rio

sobre as comunidades rurais localizadas à jusante da barragem de rejeitos do

empreendimento, sobretudo, na compreensão da trajetória de mobilização dos

moradores da comunidade de São José do Jassém (MG) na luta pelo

reconhecimento dos danos aos quais estão submetidos. O projeto Minas-Rio, da

empresa Anglo American, é um dos maiores complexos mínero-portuários do

mundo e desde as suas primeiras atividades, vem sendo objeto de contestação

e de inúmeras denúncias de impactos ambientais e de violação de direitos

humanos. As denúncias se concentram, majoritariamente, sobre as definições

de “áreas afetadas” adotadas pela empresa; o subdimensionamento dos efeitos

ambientais e sociais deflagradas pelo empreendimento; a flexibilização do

processo de licenciamento e ao modo como a empresa conduz os processos de

negociação com famílias moradoras do entorno do empreendimento. Contudo,

acrescenta-se a essas violações o temor frente à barragem de rejeitos do projeto

dadas as novas dinâmicas impostas a partir do rompimento da barragem de

rejeitos de Fundão, em Mariana, em novembro de 2015. O fato materializou as

inseguranças e incertezas dos moradores quanto a sua localização abaixo da

estrutura, levando o conflito ao campo do gerenciamento de riscos,

intensificando as ações de resistência por parte das comunidades abaixo da

barragem. Destaca-se, nesse sentido, a trajetória de São José do Jassém que,

após anos de “tímida” participação é, hoje, um importante “ator” na defesa das

comunidades situadas à jusante da estrutura da empresa, principalmente

considerado o contexto de licenciamento da expansão do projeto e a contínua

desconsideração da comunidade enquanto atingida por parte do empreendedor,

mesmo após recomendações do Ministério Público Estadual e Federal pela

remoção dos atingidos seja por reassentamento ou indenização

GT 6. Etnologia e Religiosidades (Dia 22 - 20:00 às 22:00)

A resiliência em terras celtas: as ilhas de Orkney e suas relações de troca, interdependência e reciprocidade - Ana Beatriz Nascimento Soares

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A partir de uma imersão na cultura celta em um trabalho de campo durante 6

meses - mais especificamente, na Escócia -, através de voluntariado em

comunidades rurais, é visível a resiliência dos moradores das ilhas nas

chamadas ‘terras-altas’ — Highlands. Para a sobrevivência dos moradores do

arquipélago de Orkney — que se forma com 70 pequenas ilhas, sendo, destas,

20 habitadas —, residentes em locais inóspitos, isolados e agravados por um

impiedoso clima, percebe-se a colaboração entre os vizinhos, vital para uma

plena (con)vivência. Esta se desdobra pela prática de trocas entre vizinhos de

produtos orgânicos e apoio externo, dependendo do clima, além da flexibilidade

da rotina, suscetível a inesperadas mudanças; e se segue por vias de escasso

contato com a mainland (Escócia continental); pela existência de quatro

periculosas barreiras que conectam o extenso arquipélago e pelo instável

funcionamento da balsa que transporta passageiros e cargas entre a mainland e

o arquipélago. A fim de relatar as experiências etnográficas vivenciadas, este

trabalho se propõe a fazer um relato de experiência do meu trabalho voluntário

em uma fazenda orgânica na ilha, juntamente com a experiência de convivência

social nos pubs locais (lugar de expressões culturais da região) e centros

comunitários — pontos essenciais na trajetória do trabalho. Consta, nesses

ambientes, uma resiliência tangível, que se forma, se expressa e se estende pela

música. Percebe-se como um fio invisível e coeso que conecta a todos, algo que,

de forma quase palpável, sobrepuja qualquer animosidade e desavença. Para

estes e futuros desdobramentos, alicerço-me nos argumentos de autores como

Bordieu (1996), Appadurai (2008), Sahlins (1978), Polanyi (1980), entre outros.

Compondo o topeng: as máscaras do tradicional teatro-dança balinês -

Maria Bonome Pederneiras Barbosa

Em 2013, enquanto atriz recém formada pelo Teatro Universitário da UFMG e graduanda de ciências sociais na mesma universidade, tive a oportunidade de ir à Bali, na Indonésia, através do Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural do Ministério da Cultura, a fim de pesquisar sobre a tradicional performance com máscaras topeng. Lá, me hospedei na vila de Batuan com a família de artistas da Tri Pusaka Çakti, composta de três gerações – I Made Djimat, filhos e netos – com quem tive aulas de topeng, além de acompanhá-los em suas performances por toda a ilha, tanto em contextos cerimoniais quando em competições de dança, apresentações para turistas, etc. Também pude acompanhar os processos de fabricação das máscaras com o vizinho e mascareiro I Dewa Gede Mandra, com quem também tive aulas de confecção. Diante da relação entre performer mascarado e plateia, que em alguns momentos era tediosa mas em outros era de intensa interação, a questão sobre a “eficácia” da máscara enquanto objeto que é subjetificado durante sua performance era muitas vezes respondida através da ideia de taksu. Este era como se referiam (performers e envolvidos) ao momento no qual a técnica alcança um nível de perfeição que eleva o nível da obra, podendo ser vivenciado não apenas no topeng, mas em qualquer ofício/trabalho. Estas vivências com o topeng, suas máscaras, mascareiros e performers mascarados, em sua busca pelo taksu, geraram questões que motivam este trabalho, principalmente acerca dos conceitos de “arte”, “técnica” e “agência de objetos” em contextos ditos não-

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ocidentais – dialogando com autores como Clifford Geertz, Marcel Mauss e Alfred Gell.

"O cemitério da antropologia: Lewis Morgan e sua relação com Marx e

Engels" - Lucas Parreira Álvares

Em setembro de 1879, o evolucionista russo Maksim Kovalevsky presenteou seu

amigo Karl Marx com o livro Obshchinnoe Zemlevladenie, de autoria do próprio

Kovalevsky. Tal obra ia de encontro com as pesquisas que Marx desenvolvia

naqueles anos para a redação do volume III de O Capital e, como resultado da

leitura do russo, Marx então escreveu dezenas de páginas entre notas,

comentários e transcrições do texto de Kovalevsky. Além do presente,

Kovalevsky também emprestou um segundo livro à Marx. Tratava-se de Ancient

Society, de autoria do americano Lewis Henry Morgan, originalmente publicado

em 1877. Não diferente, porém de maneira ainda mais significativa, Marx tomou

notas, comentários e transcrições, nos anos de 1880 a 1881, dessa obra de

Morgan. Nos primeiros meses de 1883, a condição da saúde de Marx se

agravou, e, consequentemente, nosso autor veio a falecer, interrompendo seus

planos de, segundo Engels, “expor os resultados das investigações de Morgan

para esclarecer todo o seu alcance em relação com as conclusões de sua análise

materialista da história”. Após a morte de Marx, Engels se sentiu na

responsabilidade de produzir uma obra que tinha como fundamento os estudos

históricos que Marx vinha realizando. Para Engels, isso seria “a execução de um

testamento”. E assim, em 1884, foi publicado o livro A origem da família, da

propriedade privada e do Estado, de autoria de Friedrich Engels. O objetivo

desse trabalho é analisar essa “trama” que envolve os autores mencionados,

evidenciando as diferenças acerca das leituras que Marx e Engels fizeram de

Lewis Morgan, o renomado evolucionista americano. Como a antropologia

considera esses três autores como mortos e superados, nada mais justo do que

tratar esse trabalho como uma espécie de visita ao “cemitério” desse campo de

conhecimento. A dúvida que fica é: essa nova leitura é capaz de propiciar novas

interpretações?

Festas em movimento: notas preliminares sobre um aspectos estruturais das festas krahô - Eduardo Santos Gonçalves Monteiro

Pretendo apresentar algumas notas preliminares resultantes da minha pesquisa

de mestrado, ainda em andamento, centrada no estudo das festas dos índios

Krahô (situados no Tocantins), e as múltiplas e complexas relações entre elas.

Buscarei evidenciar, evocando uma série de aspectos de diferentes festas

observadas em campo ou registrada por outros etnógrafos, certas relações de

transformação estrutural entre festas e mitos krahô e a dinâmica de

recombinação e invenção envolvida na prática das atualizações específicas de

cada festa.

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O cotidiano e o cosmológico: Magistas, reinadeiros e a magia no cotidiano - Alexandre Iung Dias Pretendo abordar, neste trabalho, algumas reflexões acerca das relações entre práticas mágicas e/ou religiosas vivenciadas em contextos cotidianos. Longe de haver uma distinção bem marcada entre ambientes sagrados e profanos e entre práticas mágico-religiosas e uma vida cotidiana “comum”, os entendimentos cosmológicos acerca das relações entre diferentes entes e esferas da realidade preenchem todas as esferas da relação entre pessoas, acontecimentos e realidade. Há agentes atuando a todo o momento e aqueles que entendem dessas relações são capazes de traçar entendimentos significativos por trás de acontecimentos aparentemente sem maiores sentidos. Além disso, acontecimentos muito intensos relativos a compreensões cosmológicas acontecem, muitas vezes, com tal entendimento implícito das partes envolvidas que sequer torna-se necessário explicar o que aconteceu. Para tal objetivo, utilizarei de dois contextos que investiguei e vivenciei e que mobilizam estas relações de diferentes formas: o primeiro é referente a praticantes de Magia do Caos, como a denominam, que são sobretudo camadas médias urbanas com um referencial do ocultismo europeu e do que se convencionou denominar como Nova Era ou neo-esoterismo. Tais praticantes interessam no referente ao uso recorrente de diversos dispositivos mágicos para alterar circunstâncias casuais de suas vidas, como lidar com burocracias ou conseguir ter mais eloquência em diálogos importantes. O segundo contexto parte de experiências e vivências de alguns reinadeiros da Irmandade dos Leonídios de Oliveira (MG), inclusive das crianças participantes do Reinadinho, e suas relações com alguns santos católicos, de um lado, e orixás e entidades de Umbanda, de outro. Mais de do que interpretar os acontecimentos a luz de uma ótica cosmológica, há súbitos acontecimentos dessas esferas comumente entendidas como religiosas, por exemplo, a incorporação de espíritos de pretos-velhos em momentos de festa. "Mina ora ê, sou de angola...": pensando a formação das religiosidades afrobrasileiras na diáspora. - Menderson Rivadávia Alves Amaral

Através de fragmentos etnográficos de um terreiro de candomblé angola de

tradições gomeanas no interior de minas gerais, o trabalho propõe pensar

reflexivamente "matrizes interpretativas" para dar significado ao que chamamos

de tradição angola e colocar esta nação em seu devido lugar de importância na

formação das religiosidades afrobrasileiras. O trabalho também versa sobre o

próprio trabalho criativo do antropólogo e da importância e das dificuldades de

etnografar o próprio grupo.

GT 7. Arqueologia Pré-colonial (Dia 23 - 21:00 as 22:30)

Cerâmica arqueológica no Alto médio São Francisco - Taísa Corrêa Jóia

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A região norte do estado de Minas Gerais, e mais especificamente as paisagens

que se encontram à margem do alto/médio São Francisco foram intensamente

ocupadas durante o período pré-colonial. É nesse ambiente que o projeto de

arqueologia coordenado pela Profª Mª Jacqueline Rodet busca entender e

identificar as estratégias de ocupação desse território utilizadas pelos grupos

humanos desde o Holoceno Médio até os dias atuais. Os afloramentos de

calcário e quartzito, predominantes nessa paisagem, abrigam inúmeras

cavidades que fornecem condições favoráveis à preservação de vestígios

arqueológicos. Alguns dos vestígios mais recorrentes referentes ao período pré-

colonial são os instrumentos líticos, as pinturas e gravuras nas paredes das

cavernas e os sepultamentos; curiosamente quase nenhum fragmento cerâmico

foi encontrado nesta região relacionado a esse período. Entretanto, no ano de

2016 durante um trabalho de campo nas proximidades da cidade de Lagoa dos

Patos foi identificada um abrigo com fragmentos cerâmicos em superfície, a

Gruta João de Deus. A análise do material cerâmico coletado da superfície dessa

gruta é o ponto de partida desta pesquisa, que busca dialogar com as outras

pesquisas realizadas na região a fim de discutir o por quê de não encontrarmos

cerâmica em abundância nessa região como em outras parte de Minas Gerais?

e por que encontramos nesse sítio? Partindo inicialmente da curadoria dessa

coleção guiei meu estudo a partir de algumas questões básicas a fim de

caracterizar esse material coletado: quais partes de potes ou outros objetos

cerâmicos encontramos, quais as técnicas utilizadas na produção desses

utensílios, como suas formas e a ausência de decorações podem ou não

estabelecer relações com cerâmicas de outras regiões, quais as variações de

tipos de argila utilizado na confecção desses objetos e como a dinâmica natural

do sítio arqueológico permitiu a conservação e afetou o estado desses materiais

encontrados

Histórias de fantasmas materiais: O que a Arqueologia na Amazônia no

início do século XX tem a nos dizer? - Queiton Carmo dos Santos

Na história da Arqueologia amazônica, lidar com o passado indígena e não

indígena é uma operação complexa e de análise fundamental. Esse trabalho tem

o intuito de apresentar uma discussão a respeito dos estudos das materialidades

arqueológicas constituídas como coleções do “Museu Paraense de História

Natural e Etnografia” no final do século XIX e início do XX. Tais coleções foram

formadas pelo antigo diretor do Museu, o suíço Emilio Goeldi e seus

colaboradores. Constrói-se como finalidade também problematizar essas

primeiras explorações arqueológicas à foz amazônica; atual estado do Amapá

extremo norte do Brasil. Pois, vasculhar qual é a finalidade da formação dessas

coleções e a criação de narrativas advindas em suma das paragens amapaenses

e suas relações com o mundo científico daquele período, toma propósitos

necessários nessa investigação. A metodologia da pesquisa evoca-se a partir da

análise documental das publicações do antigo Boletim hormônio ao museu e as

materialidades formadoras das coleções arqueológicas nesse processo, além de

uma breve discussão bibliográfica, teórica e historiográfica a respeito de mais de

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cem anos de pesquisa na região amazônica. Os resultados dessa pesquisa são

de caráter provisório e argumentam-se duas vias interpretativas; uma focada nas

relações contextuais ao papel que exercia Goeldi na formação das coleções e

outra de cunho posto à interpretação ou descrição das materialidades em que

pese seu caráter valorativo.

As relações cronoestilísticas na arte rupestre da Lapa da Fazenda Velha,

Monjolos- Minas Gerais - Nathalia Ribeiro Dias Guimarães

A Lapa da Fazenda Velha, um abrigo sob rocha calcária, se situa no município de Monjolos, na porção centro-norte de Minas Gerais. A Lapa vem sendo alvo de pesquisas pelo Setor de Arqueologia da UFMG desde 2010, devido ao grande número de grafismos rupestres nela encontrados, que incluem gravuras e pinturas. O sítio impar na região pela densidade de figuras e pela combinação dessas diferentes técnicas é alvo dessa pesquisa, que busca aplicar à ele uma análise crono estilística, com o objetivos de compreender melhor a construção do sítio e as escolhas estilísticas no ato de grafar e as relações entre esses grafismos ao longo do tempo. Além disso, um sítio tão diverso se torna local privilegiado para discussões metodológicas a respeito do trabalho com arte rupestre. Sítio arqueológico Barro Branco e seus mistérios - Rosalvo Ivarra Ortiz

Os diversificados grupos humanos que habitaram a imensidão territorial sul-mato-grossense deixaram suas marcas/ideias, em forma de desenhos (arte rupestre), nas paredes de abrigos e de cavernas, formando assim um vasto exemplar de estilos e de técnicas. Hoje a arte rupestre tornou- se uma área da Arqueologia que permanece sempre em constante perigo, ou seja, uma corrida contra o seu próprio “desaparecimento”, causado por parte de situações de impacto promovida pelo meio ambiente na qual está inserida. Refletir sobre arqueologia é: estudar, conhecer e reconstruir modo de vida das sociedades pré-coloniais, não somente de vestígios materiais como: fragmentos de cerâmica, ferramentas em pedra, instrumentos de caça e pesca restos de alimentos, ossos, restos de habitações, dentre outros achados, mas também estudar sua escrita através da arte rupestre, ou seja, estudar arqueologia não é somente levar em consideração as atividades realizadas pelos homens na superfície do solo, mas também suas atividades marcadas em rochas, nas paredes que estão ai ao seu redor. Portanto, o presente ensaio tem como objetivo propor a análise cosmológica das representações dos grafismos nas superfícies rochosas da caverna Barro Branco da cidade de Alcinópolis-MS. Pois como a arte rupestre está representada no campo das ideias, ela pode ser entendida como uma expressão cosmológica, ou seja, o modo de ver o mundo, logo se torna imprescindível analisar essas expressões mitológica que é representado pela arte rupestre, para que por fim resulta-se em um complexo campo de elementos que serão classificados conforme suas características. Outra questão fundamental que o decorrente artigo, se propõe discutir refere- se à educação patrimonial que é desenvolvido no município, onde na pesquisa que foram empreendidas por duas vezes no ano de 2016, constatou- se que, antes da divulgação do patrimônio da cidade, de acordo como moradores mais eram comum transcorrerem vandalismo, como por exemplo, depredação do sítio, mas isso graça ao esforço do município em promover palestras nas escolas, falando

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da importância de preservar essa riqueza que do ponto de vista da Arqueologia é imensurável.

- MINICURSOS:

Minicurso 1 - Introdução aos Cadernos Etnológicos de Karl Marx

Ministrantes: Lucas Parreira Álvares e Matheus de Araújo Almeida

Proposta: Em 1972 o antropólogo estadunidense Lawrence Krader publicou a

obra The Ethnological Notebooks of Karl Marx, após mais de 20 anos de

tradução, organização e edição de cadernos de Marx que estavam “esquecidos”

no International Institute of Social History, em Amsterdã. Eles remontam ao

período final da vida de Marx, de 1879 até sua morte, no início de 1883. Neles,

Marx transcreve, organiza e tece comentários a alguma passagens das obras de

cinco autores que, mesmo que não fossem “etnólogos”, produziram trabalhos

que versam sobre os assuntos que interessavam a etnologia. São eles: O

historiador russo Maksim Kovalevsky; o etnólogo americano Lewis Henry

Morgan; o arqueólogo inglês John Lubbock; e os juristas britânicos John Budd

Phear e Henry Summer Maine. Embora muito se especule, não é de

conhecimento público o modo pelo qual Marx pretendia expor os trabalhos que

desenvolvia. Entretanto, sua morte em 1883 interrompeu os planos de, segundo

Engels, “expor os resultados das investigações de Morgan para esclarecer todo

o seu alcance em relação com as conclusões de sua análise materialista da

história”. Após a morte de Marx, Engels se sentiu na responsabilidade de

produzir uma obra que tinha como fundamento os estudos históricos que Marx

vinha realizando. Para Engels, isso seria “a execução de um testamento”. E

assim, em 1884, foi publicado o livro A origem da família, da propriedade privada

e do Estado, de autoria de Friedrich Engels – obra essa que é muito criticada

tanto pela tradição marxista quanto pelo próprio desenvolvimento da

antropologia crítica ao evolucionismo. A questão que fica, porém, é: o que tem

dos Cadernos Etnológicos de Marx nesta obra de Engels? A resposta para essa

questão só é possível através da compreensão do sentido e do conteúdo dos

Cadernos Etnológicos de Marx, objetivo que pretende ser cumprido com a

exposição desse minicurso que retoma o olhar da antropologia para um tempo

que deixou, nas palavras de Marx, “vestígios que falhamos em não ver”.

Leitura Indicada: ENGELS, Friedrich. A Origem da Família, da Propriedade

Privada e do Estado. São Paulo: Expressão Popular, 3Ed., 2012, 302p.

MARX, Karl. "Cuaderno Kovalevsky (Extractos)". In: ALARCÓN, Silvia de;

PRIETO, Vicente (eds.). Karl Marx: escritos sobre la comunidad ancestral. La

Paz: Vicepresidencia del Estado Plurinacional, Presidencia de la Asamblea

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Legislativa Plurinacional, 2015, p.121-163.

MARX, Karl. Los apuntes etnológicos de Karl Marx. (Org.: Lawrence Krader)

Madrid: Siglo XXI, 1988. 330p.

Minicurso 2 - Arqueologia Histórica e História: uma relação necessária

Ministrante: Carlos Magno Guimarães

Proposta: Tendo como ponto de partida concepções da História (enquanto

processo) e da Arqueologia Histórica (enquanto área do conhecimento) o

minicurso vai abordar a necessidade e as potencialidades das relações entre

ambas. Quando consideradas em uma perspectiva (metodológica) totalizante

abre-se um universo de possibilidades no tocante aos resultados que podem ser

atingidos em projetos de pesquisa.

- A bibliografia será disponibilizada via web

Minicurso 3 - Introdução às práticas de fotogrametria para fins

arqueológicos

Ministrante: Matheus Miranda Mota

Proposta: Nos últimos anos a arqueologia tem se voltado para a produção de

modelos 3D enquanto uma forma de documentação dos artefatos escavados,

sítios e estruturas. Em geral os equipamentos necessários para a produção

desses modelos são bastante caros e incessíveis para a realidade de vários

pesquisadores no Brasil. A fotogrametria é uma alternativa precisa e de baixo

custo para a produção de modelos texturizados que podem ser utilizados em

análises e atividades didáticas. Esse minicurso pretende introduzir os

participantes aos princípios básicos e à algumas técnicas para a produção de

modelos 3D com o uso de fotogrametria de curto alcance. Para isso, será

abordada a história do desenvolvimento dessa tecnologia, o funcionamento dos

processos, as técnicas para tomada de fotos e o processamento das mesmas

em softwares livres.

O minicurso será baseado na documentação disponível para os softwares

cloudcompare, meshlab, openMVG, openMVS e VisualSfM. Essa documentação

é composta de artigos, manuais e do código fonte dos programas. Todos os

textos estão em língua inglesa, mas sua leitura não é obrigatória para a

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participação no minicurso, já que este é focado em atividades práticas. Para a

participação os inscritos deverão levar seus computadores, uma câmera ou um

celular (opcional) e um objeto para ser para ser modelado (opcional). Para

aqueles que não conseguirem levar o objeto ou a câmera disponibilizarei um

conjunto de fotos para serem processadas.

Minicurso 4 - Introdução à prática e aos princípios do desenho de

cerâmicas arqueológicas

Ministrante: Mauricio Hepp

Proposta: Este minicurso tem como objetivo introduzir e apresentar os conceitos

básicos para o desenho de cerâmicas arqueológicas. O desenho é uma das mais

tradicionais formas de representação desde o início da disciplina arqueológica e

ainda consiste como um modo privilegiado na descrição e análise dos objetos

cerâmicos. Apesar dos avanços da tecnologia com as fotografias digitais e de

softwares para representações gráficas, o desenho consiste em uma técnica

detalhista que proporciona excelentes resultados para a reconstrução e

representação das particularidades do material cerâmico. Tendo em vista essa

importância, este minicurso se propõe a apresentar as principais técnicas para

desenhar e representar o material cerâmico, as convenções utilizadas nessas

representações, e as diferentes técnicas de reconstituição das formas que

permitirão uma boa apresentação do material e uma uniformização para

comparação com outros trabalhos. O minicurso será divido em duas partes: a

primeira consistirá no conteúdo teórico com a apresentação dos conceitos e das

técnicas de desenho e uma introdução à reconstrução gráfica com o uso de

softwares. A segunda parte será destinada à prática de desenhos por conta dos

participantes.

Materiais utilizados: lápis (ou lapiseira), borracha, régua, esquadro, transferidor,

compasso, folha milimetrada (tamanho A4 ou A3)

Minicurso 5 - Cerâmica com som: técnicas de produção de instrumentos

musicais

Ministrantes: Lilian Panachuk, Laila Kierulff, Alissa Rezende

Local: 22 e 23: FAFICH/UFMG. 24: MHNJB/UFMG.

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Proposta: Nessa oficina interessa debater as diferenças técnicas para a

produção de instrumentos de sopro (como ocarina, flautas globulares, flautas

tubulares e apitos) utilizadas no passado pelos povos originários, e ainda hoje.

Aprenderemos sobre o tema à moda indígena, com as mãos, fundamentalmente.

Assim, debateremos com o corpo as questões teóricas e técnicas. Não é

possível que as teorias de corporeidade sejam apresentadas no discurso sobre

elas. Interessa nessa oficina, portanto, produzir, secar e queimar instrumentos

de sopro feitos em cerâmica, por cada participante. Interessa ensinar na prática

as técnicas de modelagem e de produção desses instrumentos, para munir

jovens arqueólogas e arqueólogos sobre a complexidade e versatilidade da

produção cerâmica. A produção de um artefato cerâmico envolve diferentes

processos operatórios, que estão conectados, emaranhados, e podem ser

vislumbrados em um simples fragmento cerâmico do passado. Estes processos

operatórios são acionados e incluem a produção (coleta das matérias-primas,

preparação de instrumentos e implementos a serem utilizados, e toda execução

do objeto), o uso (envolvendo usos primários e secundários, e ainda a reciclagem

e os reparos), o descarte (abandono do objeto por algum motivo) e que ainda

são afetados pelos processos pós-deposicionais pelos quais passou o sítio

arqueológico. Estas histórias de vida, estas biografias, devem ser observadas

durante a análise tecnológica do material cerâmico através de marcas distintivas

presentes nos fragmentos. Para poder observá-las, é preciso reconhece-las.

Para isso, nada melhor que experimentá-las, produzi-las, treinar as mãos, os

olhos, o corpo todo nessa tarefa. Para essa oficina iremos combinar justamente

conhecimentos da arqueologia e da olaria, relacionando disciplinas que se

tocam, e produzir objetos para pensar a materialidade pela perspectiva do corpo.

O objetivo do minicurso é produzir instrumentos com as indicações das

professoras, e nesse processo debater sobre teoria e tecnologia. É preciso

atenção voluntária para realizar uma tarefa bimanual tão exigente quanto a

olaria. Aprender sobre instrumentos musicais em cerâmica é possível, mas

demandará que cada participante esteja realmente interessada/o em entender a

olaria como técnica de produção que exige o corpo. Os primeiros dois dias serão

dedicados à produção dos instrumentos, e o último dia será reservado à queima

dos instrumentos produzidos, que serão entregues aos produtores/as. Ao

aprender sobre cerâmica à moda tradicional, certamente o corpo será um espaço

de memória não somente das técnicas, mas de conhecimentos teóricos. Assim,

interessa também mostrar a interação desses aspectos e, ao mesmo tempo, a

necessidade de sempre olhar para teoria e técnica de forma crítica. Isso porque

a ciência do barro é sempre muito exigente com a teoria e com a técnica, com

procedimentos e protocolos. Assim, ao produzir diariamente peças cerâmicas é

preciso estar disposto a montar e desmontar conhecimentos constantemente.

Nesse sentido as leituras indicadas são sugestões mais gerais sobre a cerâmica,

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a partir das artes plásticas, teorias de motricidade, antropologia e arqueologia. O

que desejamos é que cada participante dedique atenção à tarefa. Esteja

disposta/o a abraçar o barro, não como um recurso, mas como uma pessoa. A

argila, como veremos, tem seus próprios desejos e demandas. É preciso entrar

nessa relação com o corpo todo..

Materiais utilizados:

- Argila (será fornecida pelo evento)

- A queima será realizada no Museu de História Natural e Jardim Botânico, no

último dia de curso.

Minicurso 6 - Direitos Territoriais no Brasil

Ministrante: Aderval Costa Filho

Proposta: O direito ao território no Brasil tem se consagrado como principal pauta

política dos povos e comunidades tradicionais e sua garantia tem representado

um dos maiores desafios para as políticas públicas. Apesar da magnitude

territorial do país, a concentração de terras, seja no âmbito rural ou urbano, tem

sido uma das principais promotoras de injustiças e violações de direitos

humanos. Estas violações no Brasil são históricas, e têm como marco legal

excludente a promulgação da Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850 - Lei de

Terras. A partir de então houve um amplo processo de invasão das terras e

posses de comunitários, de povos e comunidades tradicionais que, sem leitura

e conhecimento das leis, sem recursos para pagar os serviços de medição das

terras e registro imobiliário, sem recursos para pagar ao Estado pelas terras que

tradicionalmente ocupavam, viram-se em desvantagem em relação aos cidadãos

letrados, conhecedores do sistema legal, respaldados por várias alianças com

os poderes locais. Contemporaneamente, os maiores obstáculos ao avanço da

promoção do direito a terra e ao território, no entanto, estão no Congresso

Nacional, no sistema judiciário e mesmo em setores do executivo brasileiro, onde

prevalecem os interesses de latifundiários e do agronegócio. Há vários

dispositivos constitucionais e infraconstitucionais, legislações nacionais e

tratados internacionais que normatizam o direito de propriedade no Brasil,

condicionando sua exploração ao cumprimento de sua função social e ao bem

estar da sociedade. Dentre as figuras jurídico-formais para garantia de direitos

territoriais dos povos e comunidades tradicionais do Brasil temos as Terras

Indígenas, os Territórios Quilombolas, as Reservas Extrativistas (RESEX) e

Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS), a Concessão do Direito Real

de Uso (CDRU – no caso de terras da União), dentre outras, todas inspiradas no

estatuto constitucional das terras tradicionalmente ocupadas (Art. 231 da C.F.).

Este estatuto, garantido inicialmente aos Povos Indígenas no Brasil e que consta

da Constituição Federal de 1988, tem ampliado seu significado, coadunando-se

com os aspectos situacionais que caracterizam hoje o advento de novas

identidades coletivas, e tornou-se um preceito jurídico marcante para a

legitimação de territorialidades específicas e etnicamente construídas,

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conjugando assim direitos civis e culturais. No Brasil, atualmente ainda não

dispomos de figuras jurídico-formais relativas à regularização fundiária que deem

conta da diversidade das formas de apropriação e uso de todos os povos e

comunidades tradicionais, ao tempo em que estão em curso mudanças

profundas nas estruturas agrária e social brasileiras, no sentido de construção

de uma cidadania efetiva, intrincadas negociações entre minorias, antagonistas

e Estado, bem como a construção de medidas administrativas que deem conta

do dilema entre diferença e igualdade de direitos. Neste contexto, os povos e

comunidades tradicionais surgem como sujeitos de direitos fundamentais para

não só apontar lacunas, mas construir soluções que possibilitem o respeito à

diversidade sociocultural brasileira.

Minicurso 7 - Arte, antropologia e arqueologia: aproximações e

possibilidades

Ministrante: Cristiano Araújo

Proposta: A proposta do minicurso é abrir um espaço para discussão das

possibilidades de aproximação entre antropologia, arqueologia e arte;

explorando as potências e limites entre o cruzamento dessas práticas; refletir

sobre outras formas de transmissão e produção do conhecimento. O debate será

fomentado a partir de trabalhos artísticos contemporâneos, como filmes,

fotografias, instalações e performances, além de propostas acadêmicas que

utilizam desses recursos; conhecendo e problematizando as diversas formas de

representação dos grupos, comunidades, conflitos, realidades sociais, etc;

discutindo como o fazer artístico se apropria das ideias antropológicas e vice

versa; e qual o lugar da(o) antropóloga(o) e/ou artista nesse lugar da criação e

representação-transformação. O minicurso será uma oportunidade para as(os)

interessadas(os) trazerem questões relativas a arte em diálogo a questões

antropológicas, discutindo possíveis confluências.

Minicurso 8 - Introdução ao pensamento de feministas negras: diálogos

entre academia e militância

Ministrantes: Elisa Hipólito do Espírito Santo; e Juliana Gonçalves Tolentino

Proposta: O minicurso tem por objetivo apresentar e discutir alguns dos

elementos fundamentais do (s) feminismo (s) negro (s). Diante da existência de

uma extensa produção intelectual de mulheres negras, mas que ainda é

marginalizada na academia, nossa intenção é evidenciar suas epistemologias,

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que articulam e colocam como centrais as questões de gênero, raça, classe e

sexualidade. Para além da produção acadêmica, o (s) movimento (s) de

mulheres negras nos permite salientar a importância da experiência concreta,

buscando a partir dos movimentos sociais e da atuação em rede analisar e

intervir na realidade, numa articulação entre academia e militância. Neste

sentido, exploraremos algumas bibliografias que abordam questões como a

política do pensamento feminista negro; a imbricação de opressões; a crítica às

contradições internas do feminismo hegemônico e do movimento negro;

lesbianidade na perspectiva negra, dentre outras. Temáticas que estão

presentes nos pensamentos de ativistas e acadêmicas negras brasileiras, como

Lélia González e Sueli Carneiro, norte-americanas como bell hooks e Patricia Hill

Collins, e dominicanas como Ochy Curiel e Yuderkys Espinosa Miñoso.

Bibliografia utilizada: Lélia González, Sueli Carneiro, Bell Hooks, Patricia Hill

Collins, Ochy Curiel e Yuderkys Espinosa Miñoso. Além da exibição de vídeos e

minidocumentários.

Minicurso 9 - O fazer antropológico em contextos de crise, conflitos e

defesa de direitos: desafios e potencialidades.

Ministrantes: Flávia Amboss Leonardo Lúnia Costa; Rafael Costa

Proposta: São diversos os desafios políticos e epistemológicos que permeiam a

produção do conhecimento e do fazer antropológico (MIGNOLO, 2008; WASH,

2010). Diante de um contexto de expansão do capital em escala nacional e

global, a intensiva exploração de recursos naturais tem acarretado na expansão

das fronteiras sobre territórios ocupados por povos e comunidades tradicionais

(RODRÍGUES-GARAVITO, 2012). No Brasil, o processo de redemocratização

que culminou na criação de um marco regulatório ambiental e no reconhecimento

de direitos étnicos tem resultado no acirramento de conflitos entre populações

locais, agências do governo e de grupos empresariais (ZHOURI, 2012). Este

cenário permeia a prática antropológica e, por tanto, a produção do

conhecimento em múltiplos e interligados campos, quais sejam, a prestação de

serviços via assessoria técnica a órgãos públicos e/ou movimentos sociais, a

prestação de serviços ambientais em empresas privadas de consultoria

ambiental, além das práticas acadêmicas no âmbito das atividades de pesquisa

e extensão. Nesse sentido, o minicurso busca dialogar e problematizar a prática

e a produção do conhecimento antropológico em suas múltiplas arenas,

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evidenciando, de certa forma, as condicionantes estruturais e os

constrangimentos que os campos constitutivos desta prática inauguram para os

Antropólogos (ZHOURI & OLIVEIRA, 2013). Para tanto, partiremos das

experiências de campo dos proponentes do minicurso nas áreas de consultoria

e assessoria técnica a órgãos públicos e movimentos sociais, bem como de suas

práticas acadêmicas, tendo em vista a discussão de casos concretos de sua

atuação e os dilemas epistemológicos, políticos, afetivos e existenciais que se

estruturam em torno dessas experiências e do fazer antropológico.

Minicurso 10 - Corporalidades e contextos múltiplos - olhares

antropológicos

Ministrantes: Maria Christina Almeida Barra e Flora Rodrigues Gonçalves

Proposta: A idéia desse minicurso surgiu após as discussões fomentadas pela

mesa coordenada do ultimo fórum de diálogos que tratava sobre “Maternidades

em debate”. A proposta desse minicurso é ampliar o debate para outros

contextos que versem sobre as diferentes formas de compor o mundo:

conjugalidades e corpos múltiplos. Os corpos são múltiplos e também as suas

diferentes formas de se relacionar. Nos propomos a pensar a multiplicidade

dessa realidade a partir dos diversos modos de conceituação do corpo e seus

efeitos nas diferentes formas de conjugalidades, de concepção, de parto, de

maternidades ampliadas nos contextos atuais e ameríndios e das (e nas)

políticas públicas de atenção à esses corpos e às agências perpassadas pelo

simples fato de existir.

Materiais e bibliografias utilizadas: Usaremos vídeos e documentários para o

debate. As referências bibliográficas que usamos pensam necessariamente as

recentes discussões sobre corpos múltiplos de Annemarie Mol e algum legado

do corpo sem órgãos deleuziano. Não é exigida bibliografia anterior da parte dos

participantes.

Minicurso 11 - ONU e Agenda Ambiental

Ministrante: Raysa França Pereira do Carmo

Proposta: A proposta desse mini-curso é a de oferecer um debate sobre a

agenda socioambiental da Organização das Nações Unidas (ONU), tendo como

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foco a atuação do Programa pelo Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP) e

a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Nesse sentido, serão analisados discursos, press releases, conteúdos de sites

oficiais e entrevistas com o objetivo de refletir acerca da mobilização de

conceitos como desenvolvimento sustentável, meio ambiente, recursos naturais

e comunidade global para a governança e impulsionamento de programas e

estratégias da organização. O curso tem como público-alvo aqueles que não tem

conhecimento sobre o funcionamento e alcance da instituição, bem como os que

gostariam de experimentar um olhar antropológico acerca da ONU, de assuntos

internacionais e ambientais. O mini-curso será orientado para as seguintes

abordagens: 1) breve mapeamento e descrição da estrutura de funcionamento

da ONU; 2) caracterização do movimento ambientalista; 3) reflexão sobre o papel

da ONU na agenda ambiental global.

Minicurso 12 - Antropologia do Espaço: a intrínseca relação entre a

Geografia e a Antropologia

Ministrante: José Dias Neto

Proposta: A proposta deste minicurso é refletir sobre a relação entre a

Antropologia e a Geografia, sobretudo com o advento dos estudos em Geografia

Cultural fundamentados no método etnogeográfico, que busca uma aproximação

em relação à etnografia, método clássico da Antropologia. A Geografia

Humanística, vertente com ascensão no campo geográfico desde a década de

70, tem se preocupado cada vez mais com as questões culturais inerentes aos

seus objetos de análise. Em contrapartida, os estudos antropológicos desde os

primórdios têm buscado enfatizar a relação entre sujeitos e território na

construção da identidade social. É estreito o vínculo entre a Geografia e a

Antropologia, neste sentido. O minicurso se proporá a: - Apresentar um breve

histórico da Geografia Cultural, relacionando-a aos estudos antropológicos; -

Apresentar o método de pesquisa Etnogeográfico, na perspectiva do geógrafo

francês Paul Claval, correlacionando-o ao método Etnográfico, destacando a

abordagem etnográfica do antropólogo Clifford Geertz; - Abordar os conceitos de

topofilia, topofobia e topocídio e sua relevância para a análise antropológica; -

Refletir sobre os conceitos de lugar e não-lugar; - Exemplificar a utilização da

etnogeografia a partir da leitura de pesquisas que a empregaram, com ênfase

nas dissertações e teses produzidas no âmbito do Grupo de Estudos Culturais e

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Etnogeográficos (GECES) do IGC/UFMG; - Apresentar vídeos de manifestações

étnico-culturais e propor uma reflexão fundamentada no olhar etnogeográfico.

Minicurso 13 - Memória, patrimônio e arqueologia

Ministrante: Flávia Cristina Costa Vieira

Proposta: A proposta deste minicurso é promover uma aproximação entre

interessadxs na temática do patrimônio e a bibliografia sobre o tema, sob uma

abordagem a partir da arqueologia e da memória social, focando principalmente

na discussão de estudos de caso de sítios arqueológicos e quais as

contribuições a arqueologia brasileira pode fornecer ao campo do patrimônio e

da memória social.

Bibliografia utilizada:

22/11 – Fontes e Conceitos

DELGADO, Lucília. História oral e narrativa: tempo, memória e identidades

POLLAK, Michael. Memória e identidade social

NORA, Pierre. Entre memória e história a problemática dos lugares

ABREU, Regina. Quando o campo é o patrimônio

23/11 – Questões e Reflexões

FUNARI, Pedro. Os desafios da destruição e conservação do Patrimônio

Cultural

CALDARELLI, Solange. Preservação do patrimônio cultural em planejamento

ambiental

MIRANDA, Marcos. Tutela penal do patrimônio arqueológico

ABREU, Regina. Patrimonialização das diferenças e novos sujeitos de direitos

24/11 – Estudos de caso

BEZERRA, Márcia. Sempre quando passa alguma coisa, deixa rastro

CABRAL, Mariana. E se todos fossem arqueólogos?

CABRAL, Mariana; SALDANHA, João. Um sítio múltiplas interpretações

NEVES, Eduardo. Existe algo que se possa chamar de arqueologia brasileira

Todos os textos em PDF serão compartilhados (via Google Drive ou Dropbox)

com os participantes.

Minicurso 14 - Redes Sociais e Bolhas Ideológicas: do conteúdo

personalizado à pós-verdade

Ministrantes: Gustavo Ramos Rodrigues e Luisa Valadares Vieira

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O ano de 2016 foi marcado por uma série de eventos bastante ligados às redes

sociais e à polarização da política. A eleição de Donald Trump, o Impeachment

de Dilma Rousseff e a saída do Reino Unido da União Europeia (“The Brexit”)

foram alguns dos processos políticos nos quais se admitiu uma influência

considerável das redes sociais tanto como mídia quanto como tecnologias de

construção ideológica das posições políticas de seus usuários. Ao fim do ano, o

dicionário Oxford elegeu o termo “pós-verdade” como palavra do ano, definido

como um adjetivo que “refere ou denota circunstâncias em que os fatos objetivos

são menos influentes na formação da opinião pública do que apelos à emoção e

crença pessoal”. O minicurso busca abordar tais debates ao apresentar alguns

dos debates contemporâneos sobre o modo como as redes sociais influenciam

nos processos de construção subjetiva e ideológica de seus usuários, sobretudo

por meio do direcionamento de conteúdo personalizado. Dentre os subtemas

que pretendemos abordar encontram-se: governança por algoritmos, formação

de bolhas ideológicas, os efeitos políticos da personalização de conteúdo, a

emergência de novos movimentos radicais e os sentidos da “pós-verdade”. A

bibliografia indicada é recomendada, mas não é essencial para o aproveitamento

do minicurso, ficando principalmente para aqueles que desejarem se aprofundar

nas discussões levantadas. As sessões consistirão em introdução geral sobre o

tema e apresentações de subtemas mais específicos seguidas de debates

abertos.

Minicurso 15 - Representações da lesbianidade no cinema

Ministrantes: Marina Morena Silva Carmo/ Isabela Crispim Brito Furtado

Proposta: Vivemos em um contexto patriarcal que centraliza uma ótica

hegemônica (masculina, branca, heterossexual e cisgênera) ditando quem pode

fazer e para quem pode ser feito. Pensando esse contexto em relação ao

cinema, nós, enquanto lésbicas e Marina também enquanto negra, pretendemos

discutir como relação afetiva entre mulheres é representada no meio audiovisual,

mais especificamente no cinema. Nesse minicurso refletiremos também sobre a

produção dessa representação e sobre o local que essas mulheres ocupam

nesse meio e não apenas na tela. Sabendo da amplitude de materiais, de

possíveis abordagens e de lesbianidades o minicurso será dividido em três

sessões nas quais a partir de algumas dessas produções cinematográficas

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discutiremos sobre o que seriam essas lesbianidades que afrontam essa

estrutura central homogênea e que compõem um outro tipo de visão e relação

entre mulheres que vai além de um âmbito apenas sexual

Minicurso 16 - Desenho e Caderno de Campo

Ministrantes: Amanda Trindade Diniz e Marcelo Pinel

Proposta: O minicurso consistira em três encontros onde vamos combinar

rodadas de conversas sobre arte e técnica na antropologia, e práticas de

desenho, com uma função descritiva de análise etnográfica. Focando nos

desenhos de campo, como alternativa de análise, que amplia o olhar e o

entendimento. Todos os encontros terão momentos de discussão, com suporte

bibliográfico, e momento de prática, com propostas de desenho que atenda a

demanda de cada um dos participantes. Sendo uma oficina de curta duração não

temos a intenção de ensinar nenhuma técnica de desenho específica mas

explorar as possibilidades do desenho através da nossa própria produção de

imagens. Porém no final de cada encontro entenderemos um pouco melhor como

nossas escolhas iconográficas de representação estão ligadas a vários aspectos

da experiência etnográfica. Os dois textos da bibliografia foram escolhidos para

despertar interesse na área. Alfred Gell é referência para se falar de arte e

agência na antropologia, se interessando muito pela técnica. A segunda autora

que proponho é brasileira e vem desde 2011 estudando o desenho como

dispositivo de análise etnográfica especialmente em cadernos de campo e, como

diz o título do texto que iremos trabalhar, ensinando antropólogos a desenhar.

Minicurso 17 - As diferentes alternativas de auto inscrição negra no meio

acadêmico: pan-africanismo, negritude e afrocentricidade.

Ministrante: Daniel de Oliveira Baptista

Proposta: O presente minicurso tem por objetivo apresentar três diferentes

perspectivas teóricas e metodológicas para se abordar, dentro do meio

acadêmico, as diversas questões concernentes às populações negras e aos

debates em torno das múltiplas faces de sua identidade: o “Pan-Africanismo”, a

“Negritude” e a “Afrocentricidade”. Para tanto, pretende-se desenvolver reflexões

a partir de alguns trechos selecionados de obras e autores chaves para se

compreender esses distintos movimentos teóricos em seus momentos históricos

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em específico, bem como apresentar, de maneira breve, os conceitos nucleares

de cada uma das abordagens mencionadas acima em detrimento da linha

clássica das teorias da etnicidade, que possuem, como sua figura central, o

antropólogo norueguês Frederick Barth. Desse modo, este minicurso trabalhará,

ao longo de seu período de duração, algumas das questões suscitadas e

desenvolvidas a partir de uma intelectualidade negra emergente durante o

século XX, como W.E.B Du Bois, Frantz Fanon, Aimé Cesaire e Molefi Kete

Asante, e como tais abordagens podem contribuir teórica e conceitualmente para

as reflexões em torno da inserção contemporânea das populações negras no

meio acadêmico, levando em conta a produção de discursos e saberes a partir

de seu protagonismo intelectual.