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Faculdade de Ciências da Educação e Saúde – FACES
Curso de Psicologia
O papel da escuta rogeriana no processo de prevenção do suicídio
Zíngara Tavares de Carvalho
Orientador: Frederico Guilherme Ocampo Abreu
Brasília - DF
Dezembro, 2019
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Faculdade de Ciências da Educação e Saúde – FACES
Curso de Psicologia
O papel da escuta rogeriana no processo de prevenção do suicídio
Zíngara Tavares de Carvalho
Orientador: Frederico Guilherme Ocampo Abreu
Monografia apresentada como uma das atividades curriculares do curso de graduação em Psicologia do Centro Universitário de Brasília – UniCEUB Professor-orientador: Frederico Guilherme Ocampo Abreu
Brasília - DF
Dezembro, 2019
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Faculdade de Ciências da Educação e Saúde – FACES
Curso de Psicologia
Folha de Avaliação
Autora: Zíngara Tavares de Carvalho
Título: O papel da escuta rogeriana no processo de prevenção do suicídio
Banca Examinadora:
____________________________________________
Prof: Frederico Guilherme Ocampo Abreu
______________________________________________
Prof: Otávio Abreu
_______________________________________________
Prof: Francielly Muller
Brasília
Dezembro 2019
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Agradecimentos
A todos aqueles que torceram pelo meu sucesso.
Ao meu orientador, Frederico Guilherme, por todos os ensinamentos e orientações durante
esse percurso e por acreditar no meu potencial.
Aos participantes, pela disponibilidade e compartilhamento de suas experiências.
Aos meus pais, minha irmã, minha filha e aos avós paternos da minha filha, por acreditarem
em mim, me apoiarem e contribuírem, cada um à sua maneira, para que eu chegasse até aqui.
Aos meus amigos e colegas, pela compreensão das ausências, das mudanças de humor e por
me acompanharem nessa trajetória.
Aos professores do curso de psicologia que por meio dos seus ensinamentos permitiram que
eu pudesse estar hoje concluindo este trabalho.
Ao professor Daniel Goulart em especial, que durante anos me orientou e acompanhou em
projetos e pesquisas. Que me incentivou e acolheu, acreditando no meu potencial e
possibilitando que eu não desistisse nos momentos de tensão.
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Sumário
Introdução.................................................................................................................................1
Capítulo 1: O fenômeno suicídio.............................................................................................5
1.1 : Suicídio e suas definições..........................................................................................5
1.2 : Breve histórico do suicídio.........................................................................................7
1.3 : Prevenção do suicídio................................................................................................10
1.3.1: Sobre o CVV (Centro de Valorização da Vida).................................................13
Capítulo 2: A Abordagem Centrada na Pessoa........................................................................15
2.1: Breve histórico da psicologia humanista....................................................................15
2.2: Conceitos básicos da ACP.........................................................................................18
2.3: A formação do voluntário no CVV a partir da ACP..................................................21
Capítulo 3: Metodologia...........................................................................................................24
3.1: Tipo de estudo............................................................................................................25
3.2: Participantes...............................................................................................................25
3.3: Instrumentos...............................................................................................................25
3.4: Estratégia de coleta de informações...........................................................................25
3.5: Estratégia de análise das informações........................................................................25
Capítulo 4: Análise e resultados...............................................................................................28
4.1: Motivacional..............................................................................................................28
4.2: Preparação..................................................................................................................29
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4.3: Aplicação da Técnica.................................................................................................30
4.4: Percepção Atual do Serviço.......................................................................................33
4.5: Percepção do Resultado do Atendimento..................................................................35
4.6: Aprimoramento Pessoal.............................................................................................37
Considerações finais.................................................................................................................39
Referências...............................................................................................................................41
Anexos......................................................................................................................................46
Apêndices.................................................................................................................................52
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Resumo
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o fenômeno suicídio atinge oitocentas mil pessoas por ano, o que equivale à uma morte a cada quarenta segundos, além disso, para cada morte registrada há pelo menos vinte tentativas fracassadas. O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional para todos como forma de prevenção do suicídio. Esse serviço se apoia na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) a qual utiliza a escuta como instrumento de apoio. Este trabalho caracteriza-se como pesquisa qualitativa e teve como objetivo geral analisar o papel da escuta rogeriana no processo de prevenção do suicídio através da percepção de voluntários do CVV. Dessa forma, foram realizadas entrevistas semiestruturadas áudio-gravadas e transcritas com quatro voluntários do CVV e para a análise das informações foi utilizada a análise de conteúdo. Os resultados certificaram que os voluntários apresentam um interesse no outro e demonstram exercer as atitudes facilitadoras possibilitando um ambiente favorável para que o outro consiga promover em si atitude de mudança. Também foi possível identificar que o tempo de experiência e o aprimoramento contínuo são relevantes para a interiorização da Abordagem de modo que a escuta rogeriana se torne natural e habitual. Acredita-se que o estudo possibilita a abertura de espaços para reflexões e uma melhor comunicação com a população a respeito desse tema ainda visto como tabu, contribui também no sentido em que se avalia a aplicação da ACP em um contexto diverso do tradicional da clínica psicoterápica.
Palavras chaves: escuta, suicídio, Abordagem Centrada na Pessoa, Centro de Valorização da Vida.
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Introdução
O suicídio pode ser definido como um ato consciente e intencional, praticado pelo
próprio indivíduo com a intensão de morte, por meio de um método que acredita ser fatal
(ABP, 2014). Numa classificação mais simplista, seria o ato intencional de tirar a própria
vida. É um fenômeno humano complexo, universal e multifatorial, ou seja, resulta de uma
interação entre fatores biológicos, genéticos, culturais, psicológicos, sociológicos e
ambientais. Porém, o estigma é ligado a desordens mentais e à incapacidade de procurar
ajuda. Este fenômeno é um grande problema de saúde pública, que não deixa de ser um
problema social também, no mundo todo (WHO, 2014).
Conforme os dados levantados pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2014),
800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos, isto é, uma morte a cada 40 segundos e para
cada caso fatal há pelo menos outras 20 tentativas fracassadas. A OMS (2006) também
afirma que cerca de 90% dos indivíduos que cometem suicídio tem alguma perturbação
mental e que 60% deles estão deprimidos no momento da ação. Ou seja, uma grande parte
desses casos podem ser evitados, contudo a problemática não é valorizada pelos governos em
termos de prevenção para todos, pois qualquer pessoa tem potencial para uma ideação
suicida, o que pode levar à tentativa e, consequentemente, ao ato exitoso também.
Atualmente, apenas 28 países têm estratégias nacionais de prevenção do suicídio, e o
Brasil é um deles (WHO, 2014). Dentre os programas que priorizam essa temática como
medidas de prevenção o CVV (Centro de Valorização da Vida) se destaca, pois, este é um
serviço prestado por voluntários e consiste em oferecer, gratuitamente, apoio emocional e
prevenção ao suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo
e anonimato (CVV, 2019).
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O CVV foi fundado no Brasil, na cidade de São Paulo, em 1962 e caracteriza-se como
uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública
Federal desde 1973 (CVV, 2019). O funcionamento desse serviço se baseia na escuta
rogeriana, que se caracteriza como uma escuta acolhedora e sem julgamentos, pois a teoria
rogeriana acredita na capacidade, latente ou manifesta, do indivíduo de resolver os próprios
problemas de modo suficiente para o alcance da satisfação e funcionamento adequado
(Rogers & Kinget, 1975).
Rogers nomeia essa capacidade como tendência atualizante e para a sua eficácia é
necessário que a pessoa possa exercer a liberdade experiencial, isto é, se permitir sentir o que
sente, independente da aprovação dos outros. Além disso, é preciso ter uma noção do eu
realista, ou seja, haver uma coerência entre a própria percepção de si e a percepção dos outros
sobre o indivíduo (Rogers & Kinget, 1975).
De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2013), apesar de o suicídio ser um
fenômeno de amplo alcance psicossocial, ainda é uma temática que, em qualquer que seja o
contexto, exige delicadeza para ser abordada e, com isso, as pessoas pouco falam sobre. Em
vista disso, muitas vezes elas não têm apoio psicológico para abordar o assunto, isso pode
gerar desconforto ou culpa por ter passado por alguma experiência relacionada à morte, além
de ser uma questão muito individual que, geralmente, não se tem espaço para compartilhar.
Dessa forma as pessoas pouco exercem uma escuta acolhedora, sem julgamentos e
preconceitos com aquele que precisa desse apoio. Com isso, torna-se importante avaliar como
o voluntário do CVV percebe o papel da escuta rogeriana na sua atuação e em que medida ele
consegue perceber de alguma forma se isso gera reflexão no sujeito em relação a repensar a
determinação suicida.
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Desse modo, esta pesquisa tem como objetivo geral analisar o papel da escuta
rogeriana no processo de prevenção do suicídio através da percepção de voluntários do CVV
(Centro de Valorização da Vida). Os objetivos específicos pretendem caracterizar a escuta
rogeriana como um instrumento de apoio, caracterizar a percepção do voluntário do CVV
sobre a escuta rogeriana como um instrumento de apoio na prevenção do suicídio e analisar a
diferença de percepção de voluntários com diferentes tempos de experiência no serviço.
Devido ao fato de as taxas mundiais de mortalidade por suicídio serem tão altas e,
ainda assim, o suicídio ser um tabu repleto de mitos na sociedade, é exaltada a relevância da
ampliação dos estudos na área, principalmente no que diz respeito às estratégias de prevenção
do fenômeno de modo a alcançar a maior parte da população.
A partir dessa preocupação, o CVV (2019) afirma que “falar é a melhor opção” e
adota como forma de prevenção do suicídio o apoio emocional a qualquer pessoa que procura
o serviço. Esse apoio é sustentado pela ACP (Abordagem Centrada na Pessoa) que destaca o
papel da escuta nesse processo. Acredita-se que esse estudo, por meio da escuta rogeriana,
possa ajudar a estabelecer uma melhor comunicação entre a população, para que as pessoas
saibam lidar melhor com a temática e deixe de ser um tabu estigmatizado na sociedade.
O presente estudo favorece uma melhor compreensão sobre como o próprio voluntário
enxerga a sua atuação, o seu papel dentro do CVV, sendo assim, é um incremento tanto para
o voluntário como para o serviço em si. Logo, o estudo contribui também no sentido em que
se avalia a aplicação da ACP em um contexto diverso do tradicional da clínica psicoterápica.
Ao buscar estudos referentes a essas concepções, tanto no que concerne o trabalho do CVV
quanto o olhar para a ACP em diferentes contextos, em buscadores de trabalhos acadêmicos,
é notório que são escassos, não há uma produção acadêmica extensa.
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Com isso, colabora também possibilitando a abertura de espaços para reflexões,
discussões e transformações, sobre o modo de ver e atender aquele que precisa desse apoio,
não apenas dentro das instituições, mas também em qualquer outro ambiente de circulação
social.
A seguir serão apresentados os capítulos que estruturam esse estudo. O capítulo 1
aborda a temática do suicídio, passando por suas definições e um breve histórico do
fenômeno, a importância da prevenção e a apresentação do Centro de Valorização da Vida. O
capítulo 2 adentra na Abordagem Centrada na Pessoa, passando por um histórico da
psicologia humanista e fazendo um link da Abordagem com o CVV. O capítulo 3 explica a
metodologia desse estudo e o percurso feito para se obter a análise e os resultados, os quais
são apresentados no capítulo 4 com recortes de falas das entrevistas realizadas com os
participantes. Após a discussão realizada no capítulo 4 são apresentadas as considerações
finais.
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Capítulo 1: O fenômeno suicídio
A seguir serão apresentadas algumas definições de suicídio e como este fenômeno
pode ser percebido de diferentes maneiras de acordo com as diversas culturas, bem como as
alterações na compreensão do ato com o passar dos anos. Outro aspecto abordado faz
referência à importância da prevenção do suicídio destacando em um último tópico um
programa de prevenção que interessa ao presente estudo por utilizar de uma abordagem
humanista em seus atendimentos.
1.1 – Suicídio e suas definições
A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP, 2014, p.6) define o suicídio como “um
ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma
consciente e intencional, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal”.
Ainda acrescenta que existem comportamentos suicidas referentes aos planos e as tentativas
de suicídio.
Para Durkhein (2000, p.14), o suicídio é “todo caso de morte que resulta direta ou
indiretamente de um ato, positivo ou negativo, realizado pela própria vítima e que ela sabia
que produziria esse resultado”. E a tentativa de suicídio seria o ato assim definido, porém
interrompido antes do resultado de morte.
Szasz (2002) menciona que a palavra suicídio pode ser entendida de duas formas
diferentes: sendo uma delas a descrição de uma maneira de morrer, ou seja, tirar a própria
vida, voluntária e intencionalmente; e a outra forma é carregada de uma conotação de peso,
negativa, em que utilizamos a palavra para condenar a ação, desse modo, qualificar o suicídio
de pecaminoso, criminoso, irracional, injustificado.
Sendo este um fenômeno universal, é interpretado de diferentes formas para cada
cultura, bem como para cada indivíduo. Assim, é importante ressaltar que, por exemplo, no
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Japão, em que há uma alta taxa de suicídios, o ato pode ser visto como uma morte honrada e,
em 2014, mais de 25 mil pessoas cometeram suicídio no país. Isso dá uma média de 70 por
dia, prevalecendo o sexo masculino (BBC BRASIL, 2015).
Um estudo realizado no Brasil investigou os índices de suicídio entre 1980 e 2000, o
qual os resultados mostraram que os índices globais de suicídio aumentaram 21% em 20
anos. Além disso, no que diz respeito aos fatores de idade e sexo, os homens cometem
suicídio de 2,3 a 4 vezes mais que as mulheres. Acredita-se que essa diferença possa ser
representada pelo método escolhido, uma vez que homens tendem a utilizar métodos mais
letais e o índice de tentativas é muito maior para as mulheres (Abreu et al, 2010).
Segundo Felix et al (2016), a maior parte dos estudos abordados identifica maior
prevalência de tentativas de suicídio em pessoas do sexo feminino, adolescentes e jovens,
pessoas que vivem sozinhas, desempregados e indivíduos com baixa escolaridade. A
população idosa (acima de 65 anos) apresentou as taxas mais elevadas e a população jovem,
entre 15 e 24 anos, apresentou o maior crescimento (Abreu et al, 2010). O suicídio é a
segunda principal causa de morte entre os jovens nessa faixa etária no mundo todo no ano de
2016 (OPAS, 2018).
O estudo realizado por Felix et al (2016, p.173), teve como objetivo “evidenciar os
fatores de risco para a tentativa de suicídio revisando as produções publicadas no Brasil em
10 anos”. A partir daí, os autores ressaltaram que a tentativa de suicídio pode estar
relacionada a fatores sociodemográficos diversos, que se modificam conforme o contexto
cultural, histórico e político.
Percebe-se que é possível verificar grupos de risco para o comportamento suicida. Os
transtornos mentais estão presentes em uma parcela significativa daqueles que cometem
suicídio, além disso, outros fatores também podem indicar risco, como por exemplo,
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“antecedentes familiares, sexo, idade, relações familiares, abuso de substâncias químicas,
problemas físicos, principalmente aqueles que causam invalidez e/ou dor crônica e situação
social desfavorável, como pobreza e desemprego” (Abreu et al, 2010, p.197).
Levando em consideração as diversas formas de olhar para o fenômeno, é interessante
destacar que o suicídio é legalizado em alguns países quando caracterizado como suicídio
assistido ou eutanásia. Conforme Cruz e Oliveira (2013, p.407), “o suicídio assistido é uma
decisão da pessoa gravemente enferma que escolhe dar fim à própria vida, é a ação do
próprio indivíduo que causa sua morte”, porém, há o auxílio de um terceiro para dar
assistência moral ou material. Já a eutanásia, é considerada “a morte promovida por médico;
outros consideram a compaixão elemento caracterizador da eutanásia” em interesse do
enfermo (Cruz & Oliveira, 2013, p.408).
No presente estudo entende-se por suicídio o ato intencional de tirar a própria vida,
decorrente de múltiplos fatores, por meio de qualquer método que o indivíduo utilize para
alcançar como resultado a morte. Além disso, entende-se a tentativa de suicídio por agir
intencionalmente, utilizando-se de um instrumento que o indivíduo acredite trazer como
resultado a morte, de modo consciente para chegar ao determinado fim. É importante
ressaltar que alguns comportamentos podem ser considerados suicidas sem que o indivíduo
tenha consciência dessa ação, por exemplo quando se coloca em risco a própria vida
deixando de atender necessidades fisiológicas da vida humana ou passando a se arriscar de
forma cotidiana. Acredita-se aqui que a prevenção deve ser estabelecida para qualquer
pessoa, não somente para os grupos de risco.
1.2 – Breve histórico do suicídio
A palavra suicídio foi utilizada pela primeira vez por Desfontaines em 1737, tem sua
origem no latim – sui (si mesmo) e caederes (ação de matar) - e expõe a necessidade de
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procurar a morte como um refúgio quando o sofrimento se torna insuportável (Miranda,
2010; Antunes, 2017).
Segundo Silva (2009), os comportamentos suicidas sempre existiram na humanidade,
o que vem se modificando com o passar do tempo é o olhar voltado para o fenômeno nas
diversas culturas, passando por um ato a ser incentivado até a ser condenado.
Entre os séculos VIII e X, na Idade Média, este ato tinha apenas duas explicações
advindas do senso comum e alimentadas pela Igreja, sendo essas: a loucura e o desespero.
Para este segundo caso, conforme a Igreja, o indivíduo estaria possuído pelo diabo, pois além
do desprezo ao poder da Igreja, não houve remorso ao pensar na penitência como
consequência de se tentar o suicídio (Silva, 2009).
Durante a Renascença, iniciou-se um movimento de questionar a condenação do
fenômeno imposta pela Igreja Católica e surgiu um novo olhar para a individualidade humana
com maior respeito pela dignidade. Após o surgimento da tipografia, o acesso à escrita
ampliou-se de maneira que a maior parte da população de diferentes camadas pudesse ser
influenciada refletindo seus sentimentos. A partir disso, autores que analisavam o fenômeno
sem preconceitos passaram a ganhar visibilidade. No teatro inglês passaram a ser frequentes
as cenas de suicídio. Com essa repercussão, autoridades religiosas, morais e judiciais se
opunham a esse despertar de novos questionamentos e preocupações a respeito da temática,
reforçando no século XVI a explicação medieval da morte voluntária em razão do desespero
(Silva, 2009).
Debates a respeito passam a ser publicados a partir do século XVIII, autores foram até
acusados pelo aumento nas taxas de mortes voluntárias. O suicídio carregou um viés
filosófico-moral-religioso até o século XVIII no Ocidente, enquanto os filósofos gregos e
romanos refletiam sobre ser uma ação de honra ou prejudicial à sociedade. Onde o
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Cristianismo exercia forte influência para o povo, o suicídio chamava atenção de forma a ser
algo indistinguível do martírio e um modo de alcançar o paraíso (Silva, 2009).
Karl Marx (1818-1883) foi um filósofo revolucionário alemão e um dos fundadores
do socialismo científico. Em seu livro “Sobre o suicídio” (2006), o autor cita as memórias do
francês Jacques Peuchet (1758-1830) para definir o fenômeno suicídio como um sintoma da
organização deficiente da sociedade. Ressalta que na época da paralisação e das crises da
indústria, dos encarecimentos dos meios de vida e de invernos rigorosos, esse sintoma se
acentuava assumindo uma condição alarmante, juntamente com o aumento da prostituição e
do latrocínio.
No prefacio “Um Marx insólito” (Marx, 2006), Michael Löwy desenvolve que para
Marx, o suicídio é uma crítica inspirada na compreensão de que o privado é político, em que
se contempla uma forma de vida antinatural. Evidencia a posição de vítima ou carrasco que
as pessoas em geral enfrentam por agirem como estranhas umas às outras, com hostilidade,
em um contexto de competição e guerra de todos contra todos, uma verdadeira solidão em
massa que explica o contexto social do desespero e do suicídio. Dessa forma, as causas do
suicídio, de acordo com Marx, têm uma ligação com os males da sociedade burguesa
moderna, ou seja, uma sociedade que necessita de uma significativa transformação da
estrutura social e econômica.
No início do Século XIX o tema foi guiado pelo sentimento, reconhecido como
suicídio romântico, um suicídio de amor. Ainda assim, havia quem admirasse ou repugnasse
a prática, porém a morte voluntária passou a ser vista mais pela ótica da libertação do que do
aniquilamento, sendo perceptível um recuo das condenações. Países como França e Inglaterra
ocultavam da população os casos de suicídio, com exceção daqueles cometidos para escapar
da justiça. Entretanto, um fato que prova a mudança de atitude frente ao suicídio foi a criação
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de associações de auxílio na reintegração dos que sobreviveram a uma tentativa de suicídio.
O papel do diabo vai aos poucos sendo substituído por uma responsabilidade humana, a qual
descreve uma prática racional que pode ser explicada (Silva, 2009).
1.3 - Prevenção do suicídio
Haja vista que o fenômeno suicídio se refere ao ato intencional de tirar a própria vida
(ABP, 2014), é natural que questões sobre a existência sejam abordadas. Dutra (2000) afirma
a linguagem como um parâmetro constituinte da existência, isto é, nós nos sentimos na
relação com o outro, por meio de uma comunicação que envolve uma compreensão implícita
na situação. Heidegger (1999) evidencia a questão da fala como algo que constitui qualquer
sentimento ou humor, algo que está em qualquer experiência humana, mesmo que nem
sempre seja possível utilizar das palavras para se expressar. Deste modo, a fala é a articulação
da compreensão. Sempre há abertura às falas e escutas de cada um, pois isso faz parte da
vivência humana.
Percebe-se aí a importância daquele que pensa em cometer o ato suicida, ou daquele
que já passou por uma tentativa de suicídio, ter um espaço de fala onde possa ser
compreendido. Dutra (2011) ressalta que o fenômeno não escolhe idade, classe social, gênero
ou nacionalidade, visto que os motivos que levam alguém ao suicídio são construídos no
decorrer da sua história e se revelam nos sentidos e modos de ser constituintes da existência
de cada um. A autora ainda acrescenta que não é possível traçar um perfil do suicida, como
dito em alguns mitos construídos a respeito da temática, pois trata-se de um fenômeno
multideterminado que ocorre por uma série de fatores ambientais unidos a determinados
modos de ser.
É importante comunicar que a prevenção do comportamento suicida é possível, porém
é um grande desafio social, econômico e político, ou seja, a atenção deve ser multidisciplinar
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em todo o mundo (CFP, 2013) e se faz necessária uma ampla estratégia envolvendo diversos
setores para uma prevenção efetiva (OPAS, 2018).
A prevenção do suicídio requer uma visão, um plano e um conjunto de estratégias.
Para que seja possível criar mudanças sociais, são necessários três fatores importantes: o
conhecimento (científico e informado pela prática), o apoio público (vontade política); e uma
estratégia social como uma resposta nacional para realizar metas de prevenção do suicídio
(CRP, 2013). Os esforços de prevenção necessitam também de coordenação e colaboração
entre os diversos setores da sociedade, incluindo saúde, educação, trabalho, agricultura,
negócios, justiça, lei, defesa, política e mídia, de modo abrangente e integrados (OPAS,
2018).
O CRP (2019, p.3) ainda ressalta que “com o advento das tecnologias de informação e
comunicação, principalmente as redes sociais, cabe aos profissionais a utilização das mesmas
com estratégias de orientação e prevenção ao suicídio”. Qualquer psicólogo(a) poderá ter
acesso aos locais indicados no site do Ministério da Saúde para a obtenção de ajuda na
prevenção do suicídio: CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e
Centros de Saúde); UPA 24h, SAMU - 192, Pronto Socorro, Hospitais, e Centro de
Valorização da Vida (CVV) - 188 (ligação gratuita).
Apenas 28 países pelo mundo têm estratégias nacionais de prevenção do suicídio
(WHO, 2014), e o Brasil é um deles. Alguns programas que priorizam essa temática como
medidas de prevenção são: SUPRE, ABEPS, AMIGOS DO ZIPPY, NEPS, IASP, CVV,
entre outros.
Em 1999 a OMS lançou o SUPRE (Suicide Prevention Program), como iniciativa
mundial para a prevenção do suicídio. É um manual em que é proposta pela OMS a
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recomendação para que os países-membros desenvolvam ações e políticas próprias que
englobem assistência e prevenção do suicídio (CFP, 2013).
Outro programa relevante para o desenvolvimento do tema da prevenção do suicídio
no país é a Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (ABEPS), uma
associação civil, de âmbito nacional e sem fins lucrativos, que tem como objetivo geral
acarretar o estudo, a discussão e a pesquisa em torno da prevenção do suicídio. Realizou o II
Congresso Brasileiro de Prevenção do Suicídio em agosto de 2018 em Vitória (ES), onde
reuniu os esforços da sociedade, das instituições e dos profissionais, dando visibilidade ao
tema (ABEPS, 2019).
Dentre esses programas, o “Amigos do Zippy” chama a atenção de maneira especial
em função de que a temática suicídio, embora central, é colocada de modo muito delicado
para o público-alvo, ou seja, as crianças participantes. Esse programa foi desenvolvido na
Inglaterra, por um grupo de profissionais multidisciplinares, testado e aperfeiçoado entre
1998 e 2001. É voltado para crianças de seis e sete anos e permite aos pequenos falarem de
seus sentimentos, interagirem com outras pessoas e que sejam capazes de se apoiarem de tal
modo que comportamentos solidários sejam desenvolvidos (Amigos do Zippy, 2019).
Atualmente, 30 países já aderiram ao projeto, no Brasil o programa está sendo implantado em
vários estados por meio da Associação pela Saúde Emocional de Crianças (ASEC) desde
2004 (ASECBRASIL, 2019).
O Núcleo de Estudo e Prevenção do Suicídio (NEPS) foi criado em 2007 com
finalidade de manter o acompanhamento aos pacientes que tentaram o suicídio, oferecer
tratamento àqueles que não tentaram, mas que correm o risco de fazê-lo, e ao paciente em
crise também. Propõe uma ação interdisciplinar com visitas domiciliares, orientação e
acolhimento, além de desenvolver atividades de pesquisa na área e oferecer cursos de
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capacitação profissional sobre a abordagem ao paciente suicida e estágios para estudantes de
graduação do curso de psicologia (CIAVE, 2019).
Outro programa de prevenção do suicídio denominado de Associação Internacional
para a Prevenção do Suicídio (IASP), fundado em 1960, é uma Organização Não-
Governamental vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS). A associação dedica-se à
prevenção do comportamento suicida, promove aliviar seus efeitos e proporciona um fórum
para acadêmicos, profissionais de saúde mental, trabalhadores de crise, voluntários e
sobreviventes do suicídio (IASP, 2019).
E, para este estudo, o CVV (Centro de Valorização da Vida) se destaca, pois, este
utiliza uma abordagem humanista em seus atendimentos, fundada por Carl Rogers. O
funcionamento desta instituição será explicado logo a seguir.
1.3.1 – Sobre o CVV (Centro de Valorização da Vida)
Este é um programa de prevenção do suicídio que possibilita atendimento a todas as
pessoas, independentemente de fazer parte de um grupo considerado em risco ou não. O
apoio é oferecido pela instituição por meio de uma comunicação que oportuniza
compreensão. Algumas informações podem inferir qual é o alcance do programa à população
brasileira, pois os contatos com o CVV são feitos pelo telefone 188 (24 horas e sem custo de
ligação), pessoalmente (nos 93 postos de atendimento) ou pelo site www.cvv.org.br, por chat
e e-mail. Nestes canais são realizados mais de 2 milhões de atendimentos anuais, por
aproximadamente 2.400 voluntários, localizados em 19 estados mais o Distrito Federal
(CVV, 2019).
O programa foi fundado em São Paulo, em 1962, é uma associação civil sem fins
lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal, desde 1973.
Desenvolve também, em todo o país, outras atividades relacionadas ao apoio emocional, com
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ações abertas à comunidade que estimulam o autoconhecimento e melhor convivência em
grupo e consigo mesmo. A instituição também mantém o Hospital Francisca Julia que atende
pessoas com transtornos mentais e dependência química em São José dos Campos-SP (CVV,
2019).
Os atendimentos realizados pelos voluntários do CVV têm como fundamento a
Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), fundada por Carl Rogers (1902-1987), autor
considerado um dos responsáveis pelo desenvolvimento da Psicologia Humanista, visto que
acredita e apresenta uma visão holística, ecológica, organísmica e sistémica da pessoa
(Fonseca, 2009).
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Capítulo 2: A Abordagem Centrada na Pessoa
A seguir será apresentado de forma sucinta o histórico da psicologia humanista,
ressaltando também o histórico da Abordagem Centrada na Pessoa fundada por Carl
Rogers. Expõe também explicações sobre os conceitos básicos da teoria de Rogers e como
a Abordagem está ligada com o CVV.
2.1 - Breve histórico sobre a psicologia humanista
Segundo Campos (2006), na década de 60 houve uma militância dos jovens que
contestavam a cultura, a política, os estilos de vida, os regimes repressivos e autoritários
das instituições e, principalmente, a desumanização do ser humano, que na época ocorria
silenciosamente por meio da tecnocracia. Esses jovens se agarraram à brecha que ainda
restava para a imaginação de um mundo melhor e para a tentativa de se libertarem da
alienação de um modelo sócio-político-econômico e religioso que os oprimia. Nesse
sentido, surge uma nova consciência, uma nova maneira de pensar, de se perceber e se
relacionar com as pessoas e com o mundo.
Campos (2006) ainda ressalta que terapias humanistas passaram a ser indicadas às
organizações percebidas como desumanizadoras. Assim, iniciando um movimento atrelado
à percepção de que para se ter uma boa sociedade era necessário unir forças, não somente
do campo de estudo sociológico, mas também do campo da psicologia, reforçando a ideia
de que as pessoas precisavam ter consciência da consciência. Logo, o clima cultural dos
anos 60 abriu portas para a constituição de uma proposta de psicologia humanista, que
ocorre, inicialmente nos EUA atrelada ao Movimento do Potencial Humano que tinha uma
ligação com as manifestações do Movimento Contracultural do momento.
O projeto da psicologia humanista ganha destaque neste momento, principalmente,
por ser uma proposta que se diferencia do tradicional enfoque clínico que adentra no estudo
das psicopatologias. Enfatiza-se nessa proposta a saúde, o bem-estar e o potencial humano
16
de crescimento e de auto realização, com o intuito de atender às mudanças exigidas pelos
jovens dos anos 60. Deste modo, priorizou-se o atendimento psicoterápico para pessoas de
saúde mental considerada normal (ou pouco debilitada), com a intenção de elevar seus
níveis de autoconhecimento, ajudá-las a se relacionarem melhor consigo e com os outros e
promover seus potenciais latentes de criatividade e autodesenvolvimento (Campos, 2006).
Sendo assim, a Psicologia Humanista situa-se como terceira força da psicologia e
refere-se a um conjunto de teorias e de práticas psicológicas que questionavam os
pressupostos da Psicanálise e do Behaviorismo, além do contexto histórico, social, cultural e
econômico da década de 60. Um dos autores que passou a desenvolver seu trabalho dentro
dessa proposta foi Carl Rogers, que desde os anos 30 já se dedicava aos seus trabalhos
(Campos, 2006).
Conforme Moreira (2010), Carl Rogers apresenta uma linha de pensamento que vai se
modificando junto à evolução de sua carreira profissional, de tal modo que a própria
denominação de sua proposta teórica também sofre alterações. Em 1940 nasce sua nova
proposta teórica de psicoterapia, a qual ele denomina de Psicoterapia Não-Diretiva ou
Aconselhamento Não-Diretivo, como publicado em 1942 em seu livro Psicoterapia e
Consulta Psicológica. Após alguns anos passa a denominá-la Terapia Centrada no Cliente,
Ensino Centrado no Aluno, Liderança Centrada no Grupo e, por fim, Abordagem Centrada na
Pessoa, sendo esta última a denominação mais adequada para sua teoria (Rogers, 1983).
Essa mudança na terminologia declara a ampliação do campo de aplicação de sua
teoria. O conceito de “Terapia Centrada no Cliente” foi transformado em “Abordagem
Centrada na Pessoa”, ou seja, a partir daí a teoria deixa de ser limitada ao estudo de
psicoterapia e se amplia para um ponto de vista, uma filosofia, um modo de ver a vida, um
modo de ser, que se aplica a qualquer situação que visa o crescimento de uma pessoa, de um
grupo ou de uma comunidade. Além disso, a compreensão do autor sobre a relação entre
17
terapeuta e cliente também se amplia para as demais relações interpessoais, como por
exemplo um casamento, uma família, uma escola, uma administração, uma relação entre
diferentes culturas, entre outras (Rogers, 1983).
Segundo Moreira (2010), autores que discutiram o trabalho de Rogers consideram
que todo esse percurso pode ser divido em fases e, para a psicoterapia, destacam-se na
literatura três fases: Fase Não-Diretiva (1940-1950), Fase Reflexiva (1950-1957) e Fase
Experiencial (1957-1970). A autora propõe uma quarta fase: a Fase Coletiva ou Inter-
Humana (1970-1987), que envolve a ACP.
A Fase Não-Diretiva representa o momento em que Rogers declara o nascimento da
sua proposta inovadora de psicoterapia. Neste momento, Rogers aponta a ideia do impulso
individual para o crescimento e para a saúde e ressalta que a própria relação terapêutica pode
ser uma experiência de crescimento. A ênfase está nos sentimentos, no aqui e agora, no
indivíduo e não no problema. O terapeuta tem uma postura permissiva, interferindo o mínimo
possível na fala do cliente, desse modo, é o cliente quem conduz o processo. É importante
ressaltar que a ideia de não-diretividade foi bastante criticada, ocasionando mal-entendidos e
mitos sobre a compreensão da atuação do terapeuta. Até hoje a teoria tem sua imagem
marcada de forma negativa e equivocada, pois a proposta rogeriana investe na desconstrução
da imagem de autoridade que o psicoterapeuta tinha naquele momento da Psicologia. Além
disso, o próprio autor deixa de usar o termo desde a década de 50 por entender que não foi a
denominação mais adequada (Moreira, 2010).
A Fase Reflexiva tem como foco o reflexo de sentimentos do cliente, por isso essa
denominação, a ênfase neste momento está na centralidade que o cliente ocupa no processo
terapêutico. Dessa forma, constitui o momento da Terapia Centrada no Cliente em que o
papel do terapeuta se torna mais ativo, designado em promover o desenvolvimento do cliente
em ambiente desprovido de ameaça, isto é, perante as condições facilitadoras. Logo, é
18
desenvolvida a teoria das atitudes facilitadoras: a empatia, a consideração positiva
incondicional e a congruência. Por meio da empatia, o psicoterapeuta busca compreender o
mundo do cliente considerando a perspectiva do mesmo; a consideração positiva
incondicional significa o total respeito à individualidade do cliente; e a congruência diz
respeito a correspondência entre a experiência do terapeuta e a comunicação desses
sentimentos ao cliente (Moreira, 2010).
Na Fase Experiencial, Rogers enfatiza a experiência do cliente, do terapeuta e da
relação entre ambos. A psicoterapia passa ter como objetivo ajudar o cliente utilizar por
inteiro a sua experiência visando promover uma maior congruência do self e do
desenvolvimento relacional. A relação terapeuta-cliente passa a obter significado de encontro
existencial, pois a experiência do terapeuta também passa a ocupar lugar mais significativo
nessa relação. Dessa forma, evidencia-se o conceito de congruência como atitude facilitadora
(Moreira, 2010).
A Fase Coletiva ou Inter-Humana faz referência ao momento em que Rogers
denomina sua teoria como Abordagem Centrada na Pessoa, em 1976. Nesse momento,
Rogers se interessa mais por aspectos que englobam a relação humana coletiva reconhecendo
seu trabalho, desde então, como uma abordagem, não mais como psicoterapia (Moreira,
2010).
2.2 – Conceitos básicos da ACP
Para o entendimento da ACP são importantes alguns conceitos básicos da teoria
como: tendência atualizante, noção do eu (self) e liberdade experiencial. Além disso, as
atitudes facilitadoras (congruência, consideração positiva incondicional e compreensão
empática) também são fundamentais para a compreensão do funcionamento dessa
Abordagem.
19
A tendência atualizante, de acordo com Rogers e Kinget (1975), caracteriza-se como a
capacidade do ser humano de atualizar suas potencialidades e isso independe do nível físico e
da situação real objetiva, depende da percepção do indivíduo. A eficácia dessa tendência
depende do caráter realista da noção do eu, que por sua vez, tem como critério para a
realidade a própria percepção e a percepção dos outros a respeito do indivíduo. Essa noção do
eu (self) é o conjunto organizado e mutável de percepções relativas a si. A conjugação dessas
duas noções determina o comportamento de modo que a primeira representa o fator dinâmico
e a segunda representa o fator regulador. Uma fornece energia, outra a direção.
A liberdade experiencial consiste em a pessoa não se sentir obrigada a negar ou
deformar suas opiniões e atitudes para manter a afeição ou apreço das pessoas importantes
para si. Cada experiência de incongruência entre o self e a realidade aumenta a
vulnerabilidade que ocasiona aumento de defesas, interceptando experiências e criando novas
situações de incongruência. Quando a pessoa toma consciência da discrepância entre seu
comportamento e suas crenças ela adoece, podendo até resultar em psicose (Rogers & Kinget,
1975).
Segundo Rogers (1983), todo ser humano possui recursos para a auto compreensão e
para modificação de seus autoconceitos, atitudes e comportamento autônomo, basta que este
tenha um clima passível de atitudes psicológicas facilitadoras. Para criar um clima facilitador
de crescimento há três condições que se aplicam na relação à qual o objetivo seja o
desenvolvimento da pessoa: autenticidade, também chamada de congruência; consideração
positiva incondicional; e compreensão empática.
A autenticidade diz respeito à transparência do profissional, quanto mais o terapeuta
for ele mesmo nessa relação maior é a probabilidade de que o cliente mude e cresça de modo
construtivo. Da mesma forma que “para o terapeuta, o que o cliente vive pode se tornar
20
consciente, pode ser vivido na relação e pode ser comunicado se for conveniente” (Rogers,
1983, p.39). Sendo assim, há uma correspondência ou congruência entre o que o cliente está
vivenciando em nível profundo, o que está presente na consciência e o que o cliente expressa
no momento (Rogers, 1983).
A consideração positiva incondicional é essencial na formação de um clima facilitador
ao crescimento, diz respeito à atitude positiva do terapeuta em querer que o cliente expresse
os sentimentos que ocorrem no momento, além disso, os aceita, seja eles quais forem
(Rogers, 1983). O terapeuta deve reconhecer e aceitar plenamente os sentimentos e atitudes
expressos pelo cliente, independente de seus valores morais, sem julgamentos ou críticas,
como também sem elogios ou aprovação. Seja uma atitude positiva ou negativa, um
sentimento agradável ou desagradável, doloroso ou prazeroso, tudo deve ser recebido da
mesma forma pelo terapeuta. “Aceitar é receber o que se oferece, sem necessidade de
concordâncias ou discordâncias” (Rudio, 1975, p.102).
E, por fim, a compreensão empática diz respeito à forma de escutar o cliente,
captando com precisão os sentimento e significados pessoais vivenciados naquela fala e
comunicando-os para o cliente, mostrando que nessa relação ele está sendo compreendido.
Esta escuta ativa e sensível é muito rara no cotidiano das pessoas (Rogers, 1983). Significa
“sentir o mundo privado do cliente como se ele fosse o seu, mas sem
perder a qualidade 'como se'" (Rogers, 2008, p. 151).
Essa forma de escutar descrita por Rogers, possibilita que as pessoas entrem em
contato com suas experiências internas, podendo desenvolver uma atitude de maior
consideração em relação a si mesmo, de forma a compreender e considerar o seu eu
verdadeiro. Estar mais congruente com suas próprias experiências faz com que a pessoa seja
mais eficiente em propiciar seu próprio crescimento (Rogers, 1983).
21
Em conformidade com essa linha de pensamento são realizados os atendimentos do
CVV, oferecendo apoio emocional às pessoas que buscam o serviço. E para que a
comunicação ocorra de modo empático, os voluntários utilizam respostas compreensivas que,
segundo Rogers, são as chamadas reiteração, reflexo de sentimento e elucidação.
Rudio (1975) define reiteração como apenas uma repetição do que o cliente disse, em
que nada é acrescentado. Rogers e Kinget (1975) evidenciam que este tipo de reflexo está
voltado para o conteúdo estritamente manifesto da comunicação do cliente, basicamente de
modo a resumir a fala. A reiteração é utilizada geralmente nos momentos em que o cliente
está em uma atividade descritiva, na intenção de chamar atenção sobre o ponto ou apenas
manifestar compreensão e ausência de julgamento (Rudio, 1975; Rogers & Kinget, 1975).
Já o reflexo de sentimento é mais dinâmico. Este é utilizado de modo a extrair a
atitude, o sentimento que o cliente manifestou, mas não o colocou na fala de forma explicita.
O objetivo é que o cliente tome consciência de elementos que compõem o campo do que ele
pensa e sente dando oportunidade para ampliar e modificar seu campo de percepção (Rudio,
1975).
Outro tipo de resposta compreensiva é a elucidação, esta não é utilizada com
frequência, pois possui um componente inferencial que pode assemelhar-se de uma
interpretação, mesmo não sendo uma (Rudio, 1975). A elucidação visa tornar evidente
sentimentos e atitudes que não foram colocados em palavras na fala do cliente, mas que
podem ser deduzidos da comunicação ou de seu contexto (Rogers & Kinget, 1975).
2.3 - A formação do voluntário no CVV a partir da ACP
O princípio fundador do CVV é a valorização do ser humano, incluindo a
compreensão, a fraternidade, a cooperação e o crescimento interior de cada um (Dockhorn &
Werlang, 2008). Nesse sentido, o CVV passou a adotar o princípio da não diretividade em
22
seus atendimentos a partir da década de 70, tendo como embasamento teórico a ACP. Vale
ressaltar que a ACP é aplicável e passível de compreensão por leigos, isto é, para além da
proposta de psicoterapia, servindo como um auxílio em certos momentos, por meio de
diálogos de ajuda (CVV, 2006).
Para o CVV, a relação de ajuda ocorre quando um ser humano oferece apoio a outro,
com o objetivo de criar condições favoráveis para que a “Tendência Atualizante” do sujeito
seja reativada, ou seja, que ele liberte o seu desenvolvimento e caminhe com seus próprios
pés (CVV, 2004; 2006). Essa relação não consiste em aconselhamento, nem substitui a
psicoterapia ou qualquer tipo de ajuda profissional. Dessa maneira, é papel do voluntário do
CVV saber comunicar a aceitação necessária para que aquele que utiliza o serviço consiga
desabafar e entrar em contato consigo com maior profundidade, criando as condições
favoráveis a mudanças (CVV, 2004; 2006).
Em concordância com a ACP, o CVV entende que todo ser humano tem uma
tendência natural ao crescimento, sendo capaz de escolher direções construtivas para seu
crescimento e realização de seus potenciais, sempre em direção positiva quando livre de
ameaças (CVV, 2006).
Para se tornar um voluntário do CVV basta que a pessoa seja maior de 18 anos, passe
por um curso gratuito de preparação do voluntário proporcionado pelo próprio CVV e tenha
pelo menos 4 horas semanais disponíveis para se dedicar ao trabalho (CVV, 2019). As
pessoas que se dispõem a participar desse curso aprendem questões básicas da relação
humana de maneira simples e dinâmica, ou seja, que todos possam compreender a proposta
de atendimento do serviço e de se relacionar com os outros em qualquer contexto, tendo
como base a Abordagem Centrada na Pessoa.
23
Neste curso é disponibilizado aos participantes um “Manual para Capacitação Inicial
do Voluntário” que os auxiliam na escolha e no desenvolvimento do seu trabalho voluntário.
Neste contém também “dados e informações sobre a história do voluntariado, os conceitos
dessa atividade, as responsabilidades necessárias, legislação e alguns exemplos de trabalhos
voluntários” (Instituto Voluntários em Ação, 2010, p.2). Durante o curso, além de leituras
baseadas na ACP, são realizados treinamentos com simulações de atendimentos com o intuito
de proporcionar maior segurança na iniciação dos atendimentos reais.
24
Capítulo 3: Metodologia
3.1 Tipo de estudo
Esta é uma pesquisa qualitativa com uso de entrevista semiestruturada. A pesquisa se
define por “um esforço cuidadoso para a descoberta de novas informações ou relações e para
a verificação e ampliação do conhecimento existente” (Godoy, 1995, p.58). No caminho para
estas descobertas, diferente da pesquisa quantitativa, a pesquisa qualitativa não procura
enumerar ou medir os eventos estudados. Parte de focos de interesses amplos que, em geral,
vão se definindo no processo de pesquisa, conforme o desenvolvimento do estudo. Abrange a
obtenção de dados descritivos acerca de pessoas, lugares e processos interativos pelo contato
direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos
segundo a perspectiva dos participantes da situação em estudo (Godoy, 1995).
Segundo Flick (2009), a pesquisa qualitativa é de suma importância ao estudo das
relações sociais, entretanto a frequente mudança social e a consequente diversificação das
esferas de vida são motivos desafiantes para os pesquisadores sociais, em termos de
acompanharem as transformações contextuais. Os aspectos essenciais da pesquisa qualitativa
consistem na escolha adequada de métodos e teorias convenientes; no reconhecimento e na
análise de diferentes perspectivas; nas reflexões dos pesquisadores a respeito de suas
pesquisas como parte do processo de produção de conhecimento; e na variedade de
abordagens e métodos.
De acordo com Boni e Quaresma (2005), a entrevista semiestruturada é um
instrumento de coleta de informações utilizado em pesquisas qualitativas, constituída por
perguntas abertas e fechadas, de modo que possibilite o participante a falar sobre o tema
proposto. As questões a serem seguidas são definidas a priori, porém isso ocorre de maneira
fluida como em uma conversa informal e, apesar disso, é essencial que o pesquisador se
25
atente para o momento e o modo em que as perguntas serão feitas, sabendo também retomar
o foco da entrevista e reconhecer novas possibilidades.
3.2. Participantes
Participaram do estudo dois voluntários do CVV com mais de dez anos de experiência
e dois voluntários com até um ano de experiência. Para a análise e resultados os participantes
serão apresentados com nomes fictícios: P1 – Renan, voluntário há 30 anos; P2 – Rafaela,
voluntária há 7 meses; P3 – Ricardo, voluntário há 7 meses; e P4 – Gabriel, voluntário há 20
anos.
3.3. Instrumentos
Foi realizada uma entrevista semiestruturada (Apêndice A) para a coleta de
informações.
3.4. Estratégia de coleta de informações
O projeto foi submetido à aprovação do comitê de ética e pesquisa e aprovado
conforme o parecer (Anexo A). Após aprovado, foi feito o contato com o serviço do CVV
com o intuito de marcar um encontro para que fosse possível convidar alguns voluntários a
participarem da pesquisa. Logo depois, foram marcados encontros individuais com cada um
dos voluntários que aceitaram participar da pesquisa, sendo apenas um único encontro com
cada participante. Nesses encontros os participantes assinaram o TCLE (Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido) (Apêndice B) e responderam à entrevista semiestruturada
para a coleta de informações com duração de aproximadamente uma hora. As entrevistas
foram áudio-gravadas e transcritas para a realização das análises.
3.5. Estratégia de análise das informações
26
Para analisar as informações coletadas, as entrevistas foram transcritas e depois
analisadas com base na estratégia de análise de conteúdo (Bardin, 2010), que se caracteriza
por uma metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de
documentos e textos e, dessa forma, ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma
compreensão de seus significados num nível que vai além de uma leitura comum (Moraes,
1999).
Conforme Moraes (1999, p.2):
Essa metodologia de pesquisa faz parte de uma busca teórica e prática, com um
significado especial no campo das investigações sociais. Constitui-se em bem mais do
que uma simples técnica de análise de dados, representando uma abordagem
metodológica com características e possibilidades próprias.
Para organizar uma análise de conteúdo é válido o processo de categorização que
consiste em classificar elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e
reagrupamento segundo o gênero com os critérios definidos a priori. O critério pode ser
semântico (por temas), sintático (verbos e adjetivos), léxico (pelo sentido das palavras) e
expressivo (diferentes perturbações da linguagem). Sendo assim, “a mensagem pode ser
submetida a uma ou várias dimensões de análise” (Bardin, 2010, p.146).
Segundo Bardin (2010), ao classificar elementos em categorias é averiguado o que
cada um deles tem em comum, e por meio dessas semelhanças é possível constituir os
agrupamentos. Para isso, é necessário ocorrer duas etapas: o inventário, equivalente a
isolação dos elementos e a classificação, equivalente a repartição dos elementos e então a
procura ou imposição de uma certa organização às mensagens.
A autora ainda informa que a categorização pode empregar dois processos inversos:
caixas e acervo. O processo de caixas ocorre quando o sistema de categorias é fornecido e os
27
elementos são repartidos da melhor forma possível à medida que vão sendo encontrados,
conveniente quando a organização do material provir diretamente dos funcionamentos
teóricos hipotéticos. Já o processo de acervo, ocorre quando o sistema de categorias não é
fornecido de modo a priori, antes resulta da classificação analógica e progressiva dos
elementos, ou seja, o título conceitual de cada categoria é definido de modo posteriori à
operação.
O presente estudo utilizou a análise de conteúdo com algumas categorias definidas a
priori: motivacional, preparação, aplicação da técnica, percepção atual do serviço e
aprimoramento pessoal. No decorrer da análise surgiu a necessidade de criar uma categoria a
posteriori: percepção do resultado do atendimento, a qual contempla como o voluntário
percebe a qualidade da escuta rogeriana, ou seja, a eficácia dos atendimentos.
28
Capítulo 4: Análise e Resultados
Neste capítulo, por meio da análise de conteúdo com as categorias definidas à priori e
apenas uma categoria definida a posteriori, serão apresentadas as análises e os resultados
adquiridos a partir das entrevistas realizadas com os voluntários do CVV.
4.1 – Motivacional
Nesta categoria pretende-se explorar com os participantes os fatores motivadores para
serem voluntários do CVV. Nota-se que houve uma sintonia entre todos os participantes a
respeito do aspecto motivacional para fazerem parte do CVV, sendo o desejo por fazer um
trabalho voluntário o foco das respostas destacadas abaixo.
P1 - Renan: “Me lembro de ter visto uma das primeiras propagandas que era nacional
e fui para o treinamento sem nenhuma expectativa, sem saber de nada, nenhuma informação
sobre o funcionamento, por curiosidade, eu sempre gostei de fazer trabalho voluntário. ”
P2 - Rafaela: “Já com intenção de atender, na verdade eu já gostaria de fazer algum
trabalho voluntário, mas ainda não tinha entrado em contato com nenhuma instituição e o
CVV me chamou a atenção. ”
P3 - Ricardo: “Eu já vinha procurando há um bom tempo um serviço voluntário para
fazer. (...) achei legal, foi numa época que eu já conseguiria estar me organizando melhor,
fazer um voluntariado, um assunto legal. ”
P4 - Gabriel: “acho que minha vida inteira eu fiz trabalho voluntário (...), mas eu
sentia a necessidade de estar num grupo e pensei eu vou fazer esse curso. ”
É curioso observar que mesmo com a discrepância de tempo de atuação no serviço de
cada participante, todos buscaram fazer parte do CVV por um interesse no voluntariado, isso
significa um interesse no outro, em estar disponível para aceitar e acolher ao outro sem
29
esperar nada em troca. Durante o desenvolvimento de sua abordagem Rogers notou que é
possível estabelecer uma relação aceitadora e permissiva em qualquer situação em que o
interesse genuíno pelo outro esteja presente, não somente nos contextos clínicos (Bacellar,
Rocha & Flor, 2012).
4.2 – Preparação
Com esta categoria pretende-se compreender melhor o percurso do sujeito para se
tornar um voluntário do CVV e como a ACP está inserida nessa preparação, visto que são
pessoas de diferentes formações acadêmicas, ou até mesmo sem nenhuma graduação. Ao
perguntar sobre o conteúdo passado dentro do curso preparatório para ser um voluntário do
CVV, as repostas foram semelhantes no que se refere ao ensinamento básico da ACP.
Seguem relatos que descrevem essa afirmação.
P1 - Renan: “Em termos de conteúdo a proposta é Carl Rogers, (...) leitura básica de
Rogers. Tem a orientação, a sugestão do que ler como Rogers, Rudio (...) Orientação não
diretiva, um jeito de ser, etc. (...) A ACP no curso não é passada de forma profissional. (...) A
gente menciona muito o Rogers por causa da direção centrada no grupo, da orientação não
diretiva, da tendência atualizante, todas essas características, esses elementos que Rogers usa
na abordagem humanista a gente coloca também. Os conceitos básicos a gente fala que veio
de Rogers que tem toda uma linha humanista, mas não pode ser passado nada profissional
porque são voluntários, são pessoas de todas as formações, não pode ser nada muito teórico
sofisticado em termos de teoria. (...), mas é o básico com consistência, não é superficial em
termos de achismos ou de que está fazendo de qualquer maneira. ”
P2 - Rafaela: “ (...) passamos por uns 3 sábados por uma introdução a leitura de
Rogers. A ACP é passada por leitura e discussão, abrindo pontos que os facilitadores acham
30
importantes. E explicam o porquê de utilizarem essa abordagem, a forma da escuta, do
respeito, da opinião...”
P4 - Gabriel: “Os conteúdos normalmente são voltados para a outra pessoa, para você
conhecer e entender a outra pessoa, para a forma como você atende e escuta o outro que é a
ACP e a tendência atualizante”.
Os participantes apresentam um embasamento teórico rogeriano não muito
aprofundado para se tornarem voluntários e realizarem o serviço, Vieira et al (2018, p.68)
ressaltam que no entendimento rogeriano, “embora estudantes possam passar por
treinamento, não é somente a instrução sobre como proceder que os tornará psicoterapeutas”.
Isso implica dizer que a aprendizagem significativa se faz mais presente pela experiência do
psicoterapeuta, assim vale para o voluntário também. Os facilitadores dos cursos são os
próprios voluntários, isso remete ao que Branco et al (2017, p.89) evidenciam sobre a relação
horizontal estabelecida entre formador e formando dentro da perspectiva humanista
fenomenológica, de modo que oportuniza “um olhar mais apurado para o outro e, sobretudo,
para si mesmo enquanto terapeuta, pois é um trabalho que requer, do estagiário, uma tomada
de posição pessoal, ética, política, social e profissional”.
Percebe-se que os voluntários Renan e Gabriel, com muitos anos de experiência no
serviço, abordaram em suas respostas alguns conceitos teóricos para explorar melhor a forma
que a ACP é ensinada aos voluntários, diferentemente de Rafaela que é voluntária há menos
de um ano.
4.3 – Aplicação da Técnica
Com esta categoria pretende-se analisar o nível de conhecimento dos voluntários no
que diz respeito ao uso da técnica da ACP. Apesar de o CVV utilizar a ACP como base para
os atendimentos, não necessariamente os voluntários vão apresentar um domínio conceitual,
31
nem mesmo aqueles com muitos anos de experiência, pois como observado nos relatos
anteriores eles aprendem o básico da teoria. A confusão na compreensão da Abordagem fica
evidente na fala a seguir citada pelo participante que mais utiliza os termos teóricos em suas
explicações e atua no serviço há 20 anos.
P4 - Gabriel: “Acho essa coisa fantástica da tendência atualizante e da ACP, são duas
ferramentas que te preparam para você conhecer e compreender e aceitar e fazer uma relação
de ajuda”.
Percebe-se que o participante se refere a esses conceitos como duas “coisas” distintas
possíveis de serem aplicadas como técnicas, como ferramentas. Neste caso, cabe ressaltar que
a ACP é uma filosofia, um modo de ser e de ver a vida (Rogers, 1983) e a tendência
atualizante é um potencial latente do ser humano de se desenvolver, é uma tendência ao
crescimento e enriquecimento, faz parte da visão de homem que constitui a Abordagem
(Rogers & Kinget, 1975).
Além do uso dos termos da Abordagem é intrigante também reparar que os
voluntários vão criando termos entre si que constituem talvez uma linguagem própria do
CVV. Nota-se nos trechos a seguir uma linguagem comum entre os voluntários.
P1 - Renan: “é como se ela fosse zerando, não sei se dá para falar assim, mas ela vai
baixando o nível de tensão, acalmando. ”
P2 - Rafaela: “é muito importante depois que você sai do plantão você se esvaziar,
tanto no início você se esvaziar do mundo, da sua rotina, e no final você se esvaziar daquilo
tudo para sair de lá de uma forma mais leve e sem estar pensando naquilo todos os dias ou
que você poderia ter feito diferente, ou se tivesse falado aquilo talvez poderia ter outro
resultado, então esse esvaziamento é muito importante. ”
32
P3 - Ricardo: “(...) no posto eu já faço um zeramento antes, normalmente faço isso no
caminho, despreocupando com outras coisas, me preparando para estar pleno ali, inteiro de
corpo e alma, a mesma coisa na saída né. Não dá para sair dali levando algo para o nosso dia,
para nossa vida, algo que não seja nosso, esse esvaziamento também é importante, cada
voluntário tem sua forma de lidar. ”
Os termos “zeramento” e “esvaziamento” foram colocados principalmente para
retratar a importância de não misturar o próprio mundo com o mundo que é do outro. Isso
remete ao que Rogers chama de compreensão empática que significa “sentir o mundo
privado do cliente como se ele fosse o seu, mas sem perder a qualidade 'como se'" (Rogers,
2008, p. 151). É interessante observar que mesmo os voluntários mais novos no serviço já
percebem o quanto isso é importante.
Mesmo havendo uma confusão teórica a respeito da ACP, os voluntários demonstram
conseguir exercer as condições facilitadoras durante os atendimentos, o que ressalta o valor
da formação prática. O relato a seguir se refere às tentativas de suicídio e evidencia essa
afirmação.
P4 - Gabriel: “A filosofia do CVV é de respeito pelo outro, se o outro quer tirar a
própria vida o CVV vai acolher, eu não concordo com a sua postura, o CVV não concorda
com o suicídio, mas ele aceita o suicida. A gente valoriza a vida, a gente acredita na
tendência atualizante do outro, mas no determinado momento que você quer tirar a própria
vida, interromper esse ciclo, o CVV aceita. (...) É claro que numa eminência, a pessoa está
idealizando a gente faz de tudo para salvar a vida, o CVV salva vidas, trabalha com apoio
emocional e prevenção do suicídio, trabalha o emocional para que a pessoa não idealize e não
pense no suicídio, mas se isso está determinado em você e você não quer mudar, a gente
respeita, não é que concorda, mas aceita que as pessoas tomem suas próprias decisões, a
33
gente não vai interromper, nós vamos oferecer, os voluntários são treinados para numa
tentativa de suicídio oferecer ajuda, mas se o outro não quiser, nós vamos aceitar e ficar com
ele até o momento final.”
Percebe-se que o voluntário aceita os sentimentos e as atitudes do outro sem a
necessidade de concordância ou aprovação. De acordo com Rogers (1983), isso exemplifica o
que é chamado de consideração positiva incondicional. Vale ressaltar que é possível perceber
no relato que o voluntário deixa claro sua posição de valorizar a vida, ele oferece ajuda
mesmo que aceitando a decisão do outro, isso pode ser um exemplo de como o voluntário
mantém a congruência, sendo ele mesmo na relação com o outro. Ainda segundo Rogers
(1983), a congruência implica em o indivíduo estar inteiramente íntegro ao se dispor para
ouvir o outro, isto é, estar consciente do que está vivenciando no momento e trazer essa
vivência para a comunicação.
4.4 – Percepção atual do serviço
Nesta categoria estão inseridas as percepções dos voluntários sobre o modo que eles
atendem hoje as pessoas que procuram o serviço, fazendo um comparativo com o modo que
atendiam no começo do voluntariado. Seguem relatos que ilustram esse processo.
P2 - Rafaela: “Foi ficando mais natural porque no início era uma coisa mais mecânica,
e depois você nem percebe que está fazendo aquilo e às vezes você usa até no seu dia a dia. A
forma com que você é no CVV com essa escuta, referente uma escuta ativa, você começa a
usar no seu dia a dia, de estar presente, ouvir atentamente a pessoa, então fica mais leve, você
nem lembra que está fazendo aquilo. ”
P3 - Ricardo: “No início a aderência à Abordagem é altíssima, mas não soa tão
natural, à medida que você vai ganhando segurança e se soltando, fazendo isso mais
34
naturalmente o grande desafio passa a ser estar ali 100% na filosofia, na Abordagem, de
forma bem mais natural”.
P4 - Gabriel: “No início foi difícil interiorizar, eu não acreditava na proposta, eu
entendi tudo aquilo, me encantei com a filosofia, mas eu achava que isso era insuficiente para
você manter uma relação de ajuda (...), foi um desafio para mim. Nos meus primeiros
atendimentos eu me policiava muito e quando terminava o atendimento eu achava que eu não
tinha sido total, achava que ainda faltava alguma coisa, aquele vazio ou interrogação porque
nem sempre a pessoa dá uma devolutiva (...). Os treinamentos de papéis e a leitura me
fizeram entender que aquilo era o suficiente e se não fosse o outro ia ligar de novo ou ia
manter a ligação comigo. (...) e quando eu achava que precisava fazer alguma coisa era o
Gabriel (nome fictício) querendo fazer mais ou conversar mais, não era nem ajudar, mas
quando o outro interrompe a ligação eu percebi que isso já era o suficiente, comecei a
entender que isso era a forma correta e foi ficando mais natural para mim, mais claro, mais
transparente. (...) então não demorou muito tempo acredito que uns 9 meses, 1ano, depois
disso passou a ser natural para mim. ”
A partir dessas informações, é interessante notar que apesar de ser desafiante adentrar
na Abordagem, depois de um certo tempo de prática é possível que a escuta rogeriana
aconteça de forma bem mais natural, além de se expandir para as outras relações em
diferentes contextos se tornando uma escuta habitual. Rogers (1983) afirma que as condições
facilitadoras se aplicam indiferentemente aos diversos tipos de relações como terapeuta e
paciente, pais e filhos, líder e grupo, administrador e equipe. Além disso, Bacellar, Rocha e
Flor (2012, p.134) corroboram com Rogers e a mudança para Abordagem ressaltando que “as
condições básicas para o desenvolvimento interpessoal, passaram a representar um jeito de
ser e de estar nas relações”, o qual fica claro que o CVV adotou para o seu funcionamento e
os voluntários acabam por adotar para si também.
35
Vieira et al (2018) comentam sobre uma preocupação comum entre psicoterapeutas
em formação, que diz respeito ao uso correto das respostas compreensivas para centrar-se no
cliente, muitas vezes essa preocupação interfere na espontaneidade da relação. Isso pode ser
considerado um dos fatores que dificulta a aderência inicial à Abordagem também para os
voluntários, visto que os voluntários Rafaela e Ricardo, com menos de 1 ano de atuação,
apresentam em suas falas “as vezes você usa até no seu dia a dia” e “o grande desafio passa
ser estar 100% na filosofia” enquanto que o voluntário Gabriel, com muitos anos de
experiência no serviço, afirma que após um ano a escuta rogeriana passou a ser natural.
Vale destacar mais um relato de Gabriel que exemplifica essa naturalidade da escuta
rogeriana atualmente em sua vida: “Eu não costumo ser diferente com as pessoas no
momento em que não estou no meu plantão, então acredito nisso. A partir do momento que
estou num lugar favorável que alguém começa a conversar, eu faço o acolhimento, reflexo de
sentimento, o outro não precisa saber dessa filosofia, dessa técnica, mas isso é uma coisa que
eu adotei para minha vida, então eu faço no ônibus, etc.”
4.5 – Percepção do resultado do atendimento
Nesta categoria, criada a posteriori, é destacado como os voluntários percebem se o
serviço está sendo eficaz ou não, ou seja, aborda o feedback dos usuários do CVV como
forma de analisar se o acolhimento ocorre de maneira adequada. Entende-se que essa
categoria complementa a anterior (percepção atual do serviço) e possibilita um parâmetro
para a próxima categoria (aprimoramento pessoal). A seguir são destacados trechos em que
os participantes citaram alguns feedbacks daqueles que ligam para o CVV, nota-se o quão é
comum os feedbacks positivos com relação aos atendimentos.
P2 - Rafaela: “Em todas as ligações tem um feedback, mais positivo, de ‘vocês me
ajudaram’, ‘eu não conhecia, mas ainda bem que liguei para aí’, ‘vou ligar outras vezes’, ‘eu
36
não sabia que eu só precisava desabafar’, ‘vocês são muito importantes na minha vida’, tem
de tudo. Te elogia diretamente, do seu trabalho e do serviço como um todo, da importância
do CVV para a sociedade. Toda ligação tem esse feedback voltado para isso”.
P3 - Ricardo: “você percebe pelo próprio atendimento que teve uma relação de ajuda e
no final você vai ouvir ‘estou me sentindo muito mais tranquila’, ‘obrigado por ter me
ouvido’, ‘eu consegui desabafar, tirei um peso dos ombros’, ‘acho que já vou até conseguir
dormir’, você percebe na fala do outro. Muitos passam esse feedback, geralmente positivo. ”
P4 - Gabriel: “ela dá o feedback para você que está se sentindo melhor, agradece o
atendimento (...), então durante a ligação você percebe essa mudança da hora que você ligou
para o final da ligação, porque elas se sentem bem atendidas, acolhidas, respeitadas (...), as
pessoas nunca deixam a ligação da mesma forma que ela ligou. ”
A partir desses feedbacks é possível afirmar que os voluntários em geral têm um bom
vocabulário para fazerem um bom uso das respostas compreensivas, que conforme Rudio
(1975, p.116) “consistem fundamentalmente no fato do terapeuta poder exprimir com seus
próprios termos o que percebeu daquilo que o cliente manifestou”. Isso significa que as
atitudes psicológicas facilitadoras estão presentes nos atendimentos, pois, segundo Rogers
(2017), todas as pessoas possuem dentro de si recursos que possibilitam a auto compreensão
e a modificação de seus autoconceitos, de suas atitudes e de seu comportamento autônomo, e
esses recursos podem ser ativados se houver um clima, passível de definição, de atitudes
psicológicas facilitadoras.
Ainda em busca de compreender melhor como os voluntários percebem o resultado de
seus atendimentos, foi abordado em seguida sobre a diferença na emoção da pessoa durante a
ligação.
37
P1 - Renan: “Muitas vezes ou ela está agitada ou ela começa chorando ou falando
muito rápido e à medida que vou conversando, ela vai se tranquilizando, serenando sabe? (...)
acontece muito de a pessoa dizer e eu consigo perceber também. ”
P2 - Rafaela: “Quando a outra pessoa finaliza a ligação, pela fala da pessoa já é uma
forma de alívio, de ‘ainda bem que eu liguei para aí’, ‘ainda bem que eu consegui falar isso
tudo’ então acho que é essa diferença da angústia do início para o alívio do final da ligação”.
P3 - Ricardo: “Você percebe nitidamente no final do atendimento que as emoções da
pessoa estão mais leves. Mesmo quando não tem o feedback, dá para perceber que no final,
quando está refletindo, os sentimentos já são mais tranquilos que no início. ”
Apesar de não terem recortes de respostas dos voluntários como exemplo de
atendimento, esses relatos demonstram que o voluntário é capaz de fazer os reflexos de
sentimentos exercendo as condições facilitadoras de modo adequado para construir um
ambiente favorável aonde o outro se sinta aceito e consiga desabafar. Conforme Rogers
(1983) as condições facilitadoras devem ser aplicadas em qualquer situação que visa o
desenvolvimento da pessoa, ou seja, não se restringem aos psicoterapeutas ou às clínicas
psicológicas, pois qualquer indivíduo é capaz de promover em si atitude de mudança estando
em um ambiente favorável. As percepções dos voluntários quanto aos resultados dos
atendimentos foram semelhantes, não havendo diferenças pelo tempo de experiência de cada
um dentro do CVV.
4.6 – Aprimoramento pessoal
Esta categoria explicita de que maneira os voluntários buscam melhorar o próprio
atendimento. Mesmo não sendo um pré-requisito o voluntário ter uma formação acadêmica
que envolve a ACP, a maioria deles passam a ler e pesquisar sobre a Abordagem em busca de
aprimorar os atendimentos. Seguem relatos que descrevem essa busca por aprimoramento.
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P1 - Renan: “Busco aprimorar pela leitura, eu gosto muito de ler, então pela
bibliografia que o CVV disponibiliza e pelo de Rogers que acabei comprando muita coisa
dele depois, ajuda muito. Consegui ler o tornar-se pessoa recentemente que nem foi ele
inteiro, terapia centrada no cliente também fiz leituras não ele todo, mas já li muita coisa
também e o um jeito de ser que é o básico, esse eu li inteiro. ”
P2 - Rafaela: “Busco aprimorar por leitura da Abordagem, e a participação nas
reuniões de grupo, semestral e bimestral. ”
P3 - Ricardo: “São importante as reciclagens, aula de reforço, todo mês a gente tem os
exercícios dos grupos com reuniões mensais, fazer os exercícios para se manter na linha. É
uma forma de aprimorar, de se manter aderente a filosofia do CVV. ”
P4 - Gabriel: “Busco aprimorar meus atendimentos me reciclando, fazendo leituras,
participando das reuniões e dos cursos que o próprio CVV oferece. ”
É interessante observar o reconhecimento dos voluntários sobre o quão é importante
estar presente nas atividades que o CVV oferece, além das leituras, afim de cumprir esse
aprimoramento e enriquecer sua formação humanista não somente em dia de plantão. Isso foi
apresentado tanto pelos voluntários com meses de experiência quanto pelos voluntários mais
antigos no serviço. De acordo com Dutra (2013), a formação humanista é um processo
constante em sintonia com o contato com a experiência, não há um fim. Quando essa
formação está voltada para a construção de um olhar social no sentido teórico e prático, é
fundamental que seu desenvolvimento esteja alinhado com a experiência de contato com o
outro e consigo (Branco et al, 2017).
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Considerações finais
O presente estudo analisou o papel da escuta rogeriana no processo de prevenção do
suicídio sob a perspectiva de voluntários do CVV, assim cumprindo com o objetivo geral
proposto. Os objetivos específicos também foram cumpridos à medida que se caracterizou a
escuta rogeriana como um instrumento de apoio, a percepção do voluntário do CVV sobre a
escuta rogeriana como um instrumento de apoio de prevenção do suicídio e se analisou a
diferença de percepção de voluntários com diferentes tempos de experiência no serviço.
Através da análise de conteúdo (Bardin, 2010), foi possível notar que o CVV oferece
seu serviço de apoio emocional e prevenção do suicídio adotando adequadamente os
princípios fundamentais da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). Ainda que esses não
apresentem um domínio conceitual da teoria a qualidade da escuta não foi prejudicada. Dessa
forma, em consonância com Rogers (1983), os voluntários apresentam um interesse no outro
e demonstram exercer as atitudes facilitadoras possibilitando um ambiente favorável para que
o outro consiga promover em si atitude de mudança, o que é fundamental no papel da escuta
rogeriana no processo de prevenção do suicídio. Além disso, foi possível identificar que o
tempo de experiência e o aprimoramento contínuo são relevantes para a interiorização da
Abordagem de modo que a escuta rogeriana se torne natural e habitual.
A ACP propõe um jeito de ser e de se relacionar que qualquer pessoa com disposição
a ajudar e aceitar ao outro é capaz de exercer tendo um conhecimento básico da teoria
(Rogers, 1983). A partir das entrevistas realizadas, verificou-se que a escutara rogeriana pode
ser caracterizada como instrumento de prevenção do suicídio e os voluntários do CVV
adotaram esse jeito para o serviço e para si, havendo até mesmo uma sintonia entre a maioria
das respostas. Destaca-se também o uso de termos entre os voluntários que caracterizam
provavelmente uma linguagem própria do CVV.
40
É possível que com uma amostra maior a análise quanto a diferença de percepções
considerando o tempo de experiência dos voluntários possa ser mais rica, para isso seria
necessário um tempo maior do que o proposto no calendário acadêmico de entrega de
monografia para a realização das entrevistas e das análises. Uma outra limitação para
fundamentar este estudo foi a falta de literatura que aborde a ACP em um contexto diferente
da clínica, impossibilitando comparar os resultados. Assim sendo, esse tema pode ser explorado
em nova pesquisa de forma mais aprofundada.
Desse modo, a partir deste trabalho foi possível apresentar um panorama sobre a
escuta rogeriana em um contexto diverso da clínica psicoterápica tradicional com enfoque na
prevenção do suicídio, aprofundando o conhecimento da pesquisadora sobre esse tema de
interesse e proporcionando a possibilidade de aprofundamento também de outras pessoas
interessadas pelo respectivo tema. A pesquisa contribui para a valorização e visibilidade do
CVV, o qual tem um papel fundamental quando se trata de estratégias sociais de prevenção
do suicídio, assim havendo relevância social. Contribui também para uma perspectiva que se
refere ao facilitador e não necessariamente a quem está sendo facilitado. Além disso,
colabora não apenas para uma maior quantidade de estudos que abordem a ACP fora de um
contexto clínico, mas também fora da psicologia, havendo assim relevância acadêmica.
Possibilita também uma melhor compreensão do fenômeno suicídio que ainda é visto como
tabu na sociedade.
41
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46
Anexos
47
48
49
50
51
52
Apêndices
Apêndice A
Roteiro de entrevista
Categorias:
1 – Motivacional 2 – Preparação 3 – Aplicação da técnica 4 – Percepção atual do serviço
5- Aprimoramento pessoal
1- Como você conheceu o serviço do CVV?
2- O que te motivou a ser voluntário do CVV?
3- Como foi a preparação para ser um voluntário em termos de conteúdo?
4- Visto que esse tipo de escuta não é usual no nosso dia a dia, como foi para você
interiorizar essa proposta e atuar a partir dela? Você se sente seguro para atender os
usuários?
5- Como você se prepara para o dia do seu atendimento?
6- O que difere a escuta rogeriana de uma escuta cotidiana?
7- Os usuários do CVV costumam ligar novamente?
8- Como você percebe a diferença na emoção da pessoa do início para o final da
conversa?
9- Como são os feedbacks que você escuta dos usuários?
10- Como você busca aprimorar seus atendimentos?
11- O que você faz quando sente que o atendimento mexeu com você de alguma forma?
12- Com o passar do tempo, a escuta rogeriana foi ficando mais natural?
13- Como você lida com os obstáculos encontrados no serviço?
Faculdade de Ciências da Educação e Saúde – FACES
Curso de Psicologia
Apêndice B
Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE)
Instituição dos (as) pesquisadores (as): Centro Universitário de Brasília Pesquisador (a) responsável, professor (a) orientador (a), graduado (a): Frederico Guilherme Ocampo Abreu Pesquisador (a) assistente, aluno (a) de graduação: Zíngara Tavares de Carvalho
Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa sobre o papel da escuta rogeriana no processo de prevenção do suicídio.
O documento abaixo contém todas as informações necessárias sobre a pesquisa que estamos fazendo. Sua colaboração neste estudo será de muita importância para nós, mas se desistir a qualquer momento, isso não causará nenhum prejuízo. O nome deste documento que você está lendo é Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Antes de decidir se deseja participar (de livre e espontânea vontade) você deverá ler e compreender todo o conteúdo. Ao final, caso decida participar, você será solicitado a assiná-lo e receberá uma cópia do próprio. Antes de assinar tire todas as suas dúvidas. A pesquisadora e orientadora deste estudo responderá às suas perguntas a qualquer momento (antes, durante e após o estudo). Natureza e objetivos do estudo
• Você está sendo convidado (a) a participar de um projeto de pesquisa aplicada a Psicologia.
• O objetivo específico deste estudo é caracterizar a escuta rogeriana como um instrumento de apoio, caracterizar a percepção do voluntário do CVV (Centro de Valorização da Vida) sobre a escuta rogeriana como um instrumento de apoio de prevenção do suicídio, e analisar a diferença de percepção de voluntários com diferentes tempos de experiência no serviço.
Procedimentos do estudo
• Serão marcados alguns encontros presenciais e individuais de acordo com a necessidade do processo de pesquisa.
• Não haverá nenhuma outra forma de envolvimento ou comprometimento neste estudo. • A pesquisa será realizada no Centro de Formação do Uniceub (CENFOR).
Riscos e benefícios • Este estudo possui baixo risco que é inerente do procedimento de diálogo.
• Caso esse procedimento possa gerar algum tipo de constrangimento, você não precisa realizá-lo, ou pode recorrer ao Centro de Formação do Uniceub (CENFOR), para que possa realizar atendimentos psicológicos gratuitos ou de baixo custo.
• Sua participação poderá ajudar na reflexão sobre o papel da escuta no processo de prevenção do suicídio, abrindo campo para discussões e transformações sobre a temática, também pode contribuir para sua reflexão sobre a sua atuação. Podendo assim possibilitar uma melhor comunicação entre a população sobre o fenômeno suicídio.
Participação, recusa e direito de se retirar do estudo • Sua participação é voluntária. Você não terá nenhum prejuízo se não quiser
participar. • Você poderá se retirar desta pesquisa a qualquer momento, bastando para isso entrar
em contato com a pesquisadora responsável, e avisá-la. • Conforme previsto pelas normas brasileiras de pesquisa com a participação de seres
humanos, você não receberá nenhum tipo de compensação financeira pela sua participação neste estudo.
Confidencialidade • Seus dados serão manuseados somente pelos pesquisadores e não será permitido o
acesso a outras pessoas. • O material com as suas informações ficará guardado sob a responsabilidade da
graduanda Zíngara Tavares de Carvalho com a garantia de manutenção do sigilo e confidencialidade. Os dados e instrumentos utilizados ficarão arquivados com o (a) pesquisador (a) responsável por um período de 5 anos, e após esse tempo serão destruídos.
• Os resultados deste trabalho poderão ser apresentados em encontros ou revistas científicas, entretanto, será mostrado apenas os resultados obtidos como um todo, sem revelar seu nome, instituição a qual pertence ou qualquer informação que esteja relacionada com sua privacidade.
Se houver alguma consideração ou dúvida referente aos aspectos éticos da pesquisa, entre em contato com o pesquisador responsável que aprovou esta pesquisa, pelo e-mail: [email protected]. Também entre em contato para informar ocorrências irregulares ou danosas durante a sua participação no estudo. Eu, _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ RG __ ____ __, após receber uma explicação completa dos objetivos do estudo e dos procedimentos envolvidos concordo voluntariamente em fazer parte deste estudo. Este Termo de Consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia será arquivada pelo pesquisador responsável, e a outra será fornecida ao participante.
Brasília, ____ de __________de _
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Participante
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Frederico Guilherme Ocampo Abreu, email: [email protected]
_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ __ Zíngara Tavares de Carvalho, e-mail: [email protected]