ii - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · ii...

17

Upload: others

Post on 17-Aug-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre
Page 2: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

II

Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário

Actas do II Congresso Internacional

Sobre Arqueologia de Transição (29 de Abril a 1 de Maio 2013)

Editores

Gertrudes Branco Leonor Rocha Cidália Duarte

Jorge de Oliveira Primitiva Bueno Ramírez

CHAIA 2015

Page 3: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

III

Coordenação Editorial: Gertrudes Branco Leonor Rocha Cidália Duarte Jorge de Oliveira Primitiva Bueno Ramírez Design: Ivo Santos Gertrudes Branco Leonor Rocha Comissão Organizadora: Leonor Rocha (CHAIA/ Universidade de Évora) Cidália Duarte (DRCN) Gertrudes Branco (CHAIA) Ivo Santos (CHAIA/ Universidade de Évora) Cláudia Teixeira (Universidade de Évora) Jorge de Oliveira (CHAIA/ Universidade de Évora) André Carneiro (CHAIA/ Universidade de Évora) Rosário Fernandes (CHAIA/ Universidade de Évora) Paula Morgado (CHAIA/ C. M. Monforte) Sérgio Batista (C.M. Monforte) Comissão Cientifica: Ana Maria Bettencourt (Universidade do Minho) Ana Maria Silva (Universidade de Coimbra) André Carneiro (Universidade de Évora) Chris Scarre (Durham University) Cidália Duarte (DRCN) Cláudia Teixeira (Universidade de Évora) Filomena Barros (Universidade de Évora) Helena Catarino (Universidade de Coimbra) Jorge de Oliveira (Universidade de Évora) Leonardo García Sanjuán (Universidad de Sevilha) Leonor Rocha (Universidade de Évora) Luc Laporte (Université de Rennes) Primitiva Bueno Ramírez (Universidad de Alcalá de Henares) Rodrigo de Balbin Behrmann (Universidad de Alcalá de Henares) Serge Cassen (Université de Nantes) Teresa Matos Fernandes (Universidade de Évora) Apoio Técnico: Ana Leonor Cavaco Maria Manuela Mexia Patrícia Flores Pedro Soares Rita Moura Torres Sérgio Batista

Page 4: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

IV

Edição: CHAIA Centro de História de Arte e Investigação Artística Universidade de Évora Palácio do Vimioso Largo Marquês de Marialva, 8 7000-809 Évora http://www.chaia.uevora.pt/ CHAIA/UÉ - Referência: UID/EAT/00112/2013 Trabalho financiado por Fundos Nacionais através da FCT/Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do Projeto - Refª UID/EAT/00112/2013 [CHAIA/UÉ 2014] ISBN: 978-989-99083-6-9 O conteúdo dos artigos é da inteira responsabilidade dos autores. Sendo assim a organização declina qualquer responsabilidade por eventuais equívocos ou questões de ordem ética e legal. Patrocinadores/Apoio institucional:

Governo da República

Portuguesa

Page 5: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

V

ÍNDICE PREFÁCIO VII

DE NASCENTE PARA POENTE: REFLEXÕES SOBRE A SINTAXE DA ARQUITECTURA MEGALÍTICA NO ALENTEJO……………………………………………………………………………………………………………………. Pedro Alvim

1

O “ETERNO DESCANSO” NO NEOLÍTICO DO ALENTEJO NORTE……………………………………………………. Jorge de Oliveira

7

NOVOS DADOS SOBRE O MEGALITISMO FUNERÁRIO DO CONCELHO DE AVIS.................................................... Ana Ribeiro

17

CONTRIBUTO PARA O CONHECIMENTO DA ANTA GRANDE DO ZAMBUJEIRO (ÉVORA, PORTUGAL): AS PONTAS DE SETA…………………………………………………………………………………………………………… Ivo Santos; Leonor Rocha

34

ANTA GRANDE DO ZAMBUJEIRO (ÉVORA, PORTUGAL): CONTRIBUTO PARA O CONHECIMENTO DAS CERÂMICAS…………………………………………………………………………………………………………………..Leonor Rocha

42

ANÁLISIS DEL MODELO DE ORGANIZACIÓN ESPACIAL DE LA NECRÓPOLIS DE VALENCINA. LA COMPLEJIDAD SOCIAL A DEBATE……………………………………………………………………………………….. Juan Carlos Mejías García; Mª Rosario Cruz-Auñón Briones; Ana Pajuelo Pando; Pedro Manuel López Aldana

52

A ANTA DO MONTE VELHO (MONFORTE, PORTUGAL)………………………………………………………………. Leonor Rocha; Paula Morgado

71

APRECIACIONES EN RITUALES FUNERARIOS DE CUEVAS ARTIFICIALES, GILENA UN EJEMPLO………… Mª Rosario Cruz-Auñón Briones; Juan Carlos Mejías-García; Ana Pajuelo Pando; Pedro Manuel López Aldana

78

OS HIPOGEUS 3 E 4 DA QUINTA DO ANJO (PALMELA) – UMA ABORDAGEM GEOARQUEOLÓGICA………… Pedro Mendes

90

LAS ESTRUCTURAS FUNERARIAS DE CERRO VASCONCILLAS (ROTA, CÁDIZ)…………………………………. Yolanda Costela Muñoz; Helena Courtot

106

ENTERRAMENTO DE CÃES NA QUINTA DO ALMARAZ (ALMADA, PORTUGAL)………………………………… Francisco Correia

113

MORRE-SE HÁ MUITO TEMPO SOBRE A TERRA. TOPOGRAFIA FUNERÁRIA E SOCIEDADE NO ALTO ALENTEJO EM ÉPOCA ROMANA......................................................................................................................................... André Carneiro

125

DA NECRÓPOLE AO POVOADO DE SÃO FARAÚSTO II (ORIOLA, PORTEL): NOVAS PERSPECTIVAS ATRAVÉS DE UMA ABORDAGEM PLURIDISCIPLINAR……………………………………………………………….. Carlos Ferreira; Catarina Mendes; Maria Teresa Ferreira; Hélder Santos; Nuno Barraca

140

A NECRÓPOLE ROMANA DA ROUCA (ALANDROAL, ÉVORA)………………………………………………………. Mónica S. Rolo

146

A NECRÓPOLE DO POÇO DO CORTIÇO (ALANDROAL, PORTUGAL)………...……………………………………... André Carneiro; Leonor Rocha

154

A PREFERÊNCIA PELA INUMAÇÃO NAS NECRÓPOLES ROMANAS DOS SÉCS. III - IV D.C. DO MUNICÍPIO DE PENAFIEL (NORTE DE PORTUGAL)………………………………………………………………………………….. Teresa Soeiro

159

COLEÇÃO ANTÓNIO/DELMIRA MAÇÃS. O CASO DAS NECRÓPOLES DE SÃO SALVADOR DE ARAMENHA: CERÂMICA COMUM. DADOS PRELIMINARES………………………………………………………………………….. Vítor Dias

175

MUDANÇAS NOS SÍMBOLOS MATERIAIS DE IDENTIDADE NO PERÍODO VISIGODO A PROPÓSITO DAS FIVELAS DE CINTURÃO LIRIFORMES…………………………………………………………………………………… Sofia Lovegrove

187

HALLAZGO DE UN SARCÓFAGO TARDORROMANO EN SANTA MARÍA DE BENQUERENCIA, TOLEDO…….. Elena Rosado Tejerizo; Antonio Rodríguez Fernández; Elena Justel Gómez

195

LA CATACOMBE DES SAINTS PIERRE-ET-MARCELLIN A ROME (IER-IIIE S.) : DISCUSSION SUR L’ORIGINE DES DEFUNTS ET LEUR DECES…………………………………………………………………………………………… Philippe Blanchard; Hélène Reveillas; Sacha Kacki; Dominique Castex

197

Page 6: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

VI

UNA NUEVA NECRÓPOLIS DE ÉPOCA VISIGODA EN CUBILLEJO DE LA SIERRA (GUADALAJARA, SPAÑA).. Mª Luisa Cerdeño; Emilio Gamo; Marta Chordá

217

EXCAVACIÓN ARQUEOLÓGICA EN LA NECRÓPOLIS MEDIEVAL DE SAN LÁZARO, TOLEDO………………... Antonio Rodríguez Fernández; Elena Rosado Tejerizo

224

ALCÁÇOVA DO CASTELO DE MÉRTOLA NECRÓPOLE MEDIEVAL E MODERNA………………………………... Maria de Fátima Palma; Clara Rodrigues; Teresa Carmo

234

LA NECRÓPOLIS MUDÉJAR-MORISCA DE MUEL (ZARAGOZA): EL REFLEJO DE DOS RITOS FUNERARIOS EN LA ESPAÑA MODERNA………………………………………………………………………………………………… Ieva Reklaityte; Enrique García Francés

246

OS ELEMENTOS DE ADORNO NA NECRÓPOLE MEDIEVAL E MODERNA DA ALCÁÇOVA DO CASTELO DE MÉRTOLA……………………………………………………………………………………………………………………... Lígia Rafael; Maria de Fátima Palma; Rute Fortuna; Clara Rodrigues

258

SEPULTURAS ESCAVADAS NA ROCHA DA FREGUESIA DE ROSMANINHAL (IDANHA-A-NOVA)…………… Mário Chambino; Francisco Henriques; João Carlos Caninas

272

ESTELAS MEDIEVAIS DO CASTRO DO JARMELO (GUARDA)……………………………………………………….. Tiago Pinheiro Ramos

289

O ESPAÇO FUNERÁRIO ALTO-MEDIEVAL DA TORRE VELHA (CASTRO DE AVELÃS, BRAGANÇA)………….. Sofia Tereso; André Brito; Cláudia Umbelino; Miguel Cipriano; Clara André; Pedro C. Carvalho

297

ARQUEOLOGÍA FUNERARIA EN LA ALTA MONTAÑA DE TENERIFE (ISLAS CANARIAS)……………………… Sergio Pou Hernández; Matilde Arnay de la Rosa; Carlos García Ávila; Efraín Marrero Salas; Emilio González Reimers

307

FORGET ME NOT… EXPOSURE OF CASE STUDIES DETECTED IN FUNERARY CONTEXTS, WHICH DEPOSITION IS UNUSUAL (PORTUGAL)………………………………………………………………………………… Sónia Ferro; Daniela Anselmo; Teresa Matos Fernandes

318

ESTUDO ANTROPOLÓGICO DO CONVENTO DE NOSSA SENHORA DO CARMO, TAVIRA………………… Sandra Cavaco; Jaquelina Covaneiro; Teresa Carmo

325

ESTUDO ANTROPOLÓGICO DO CONVENTO DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA, TAVIRA (PORTUGAL)……… Jaquelina Covaneiro; Sandra Cavaco; Teresa Carmo

332

Page 7: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

VII

PREFÁCIO

Mais do que grandes templos ou majestosos palácios os testemunhos materiais da morte foram desde sempre objeto de

atenção e estudo por parte dos que sobre as memórias do passado se interessam. Muito antes da fase científica da

história da arqueologia, ou mesmo antes da fase dos “antiquários”, encontramos referências, ainda que duma forma algo

fantasiosa ou lendária, a estruturas tumulares e a obscuros ritos com elas relacionadas.

A forte carga mágica e religiosa em que todos os povos e culturas envolveram a morte contribui para que ela fosse

ritualizada de diferentes formas, mas sempre mantendo uma gramática praticamente comum, a de perpetuar a memória

dos que morriam. Assim, mais discretos, ou mais monumentais os espaços da morte foram e continuam a ser procurados

com diversos interesses, sejam eles científicos, religiosos ou, simplesmente, por aqueles a que vulgarmente chamamos

de “caça tesouros”. Mas as memórias materiais da morte não se esgotam nos espaços sepulcrais. Em paralelo existe um

vasto conjunto de artefactos específicos, diretamente associados com os contextos funerários, que de uma forma direta

ou indireta preencheram ao longo dos tempos os vastos complexos rituais da morte nos diferentes ambientes que os

produziram. Indissociável das estruturas e dos artefactos funerários o grande universo da antropologia biológica, nas

suas mais diversas vertentes e durante tanto tempo negligenciada, evidencia a enorme importância destes saberes para a

construção da memória histórica e arqueológica.

O Laboratório de Arqueologia da Universidade de Évora em parceria com o CHAIA ao organizarem a segunda edição

do CIAT – 2º Congresso Internacional sobre Arqueologia de Transição entenderam dedicá-lo, exatamente, aos

diferentes contextos funerários, dando especial preferência aos estudos realizados sobre os distintos períodos de

transição cultural. Neste evento participaram um alargado conjunto de investigadores que apresentaram e discutiram os

resultados dos seus estudos abarcando um amplo espectro cronológico.

Os três dias do congresso, que decorreu na Universidade de Évora, de 29 Abril a 1 de Maio de 2013, evidenciou quão

justo foi o tempo porque muitos foram os comunicantes e assistentes que quiseram partilhar e discutir os últimos

resultados das mais recentes investigações sobre o mundo funerário, evidenciando quanto oportuna foi a realização

desta reunião científica e cujas actas agora se publicam.

A todos os comunicantes e participantes e sobretudo a todos os que se disponibilizaram para que este congresso se

realizasse e a publicação das actas se concretizasse manifestamos o nosso agradecimento esperando que em breve

consigamos organizar o 3º Congresso de Arqueologia de Transição.

1 de Maio de 2015

Jorge de Oliveira

Page 8: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

ANTA GRANDE DO ZAMBUJEIRO (ÉVORA, PORTUGAL): CONTRIBUTO PARA O CONHECIMENTO DAS CERÂMICAS Leonor ROCHA1 ABSTRACT Of the hundreds of funerary megali thic monuments registered in Alentejo, of dif ferent sizes and types, one stands out by its monumentali ty: the Anta Grande do Zambujeiro. In recent years we have undertaken a project to study the archaeological materials (with exception of schist plates) this megali thic funerary monuments identified in the sixties of the 20th century, by Henry Leonor Pina. The various interventions in this monument, by dif ferent investigators, eventuall y ever being full y publi shed getting the spoils deposited in the Museum of Évora. Wanted of this work was to present a summary of existing ceramic although part of the collection is not yet in a position to be treated. Keywords: Megali thic tombs; Anta Grande do Zambujeiro; ceramics; Évora; Portugal RESUMO Das centenas de monumentos megalíticos funerários registados no Alentejo, de diferentes dimensões e tipologias, uma delas sobressai pela sua monumentalidade: a Anta Grande do Zambujeiro. No decurso dos últimos anos temos vindo a desenvolver um projecto que visa estudar o espólio (á excepção das placas de xisto) deste monumento megalítico funerário identificado na década de sessenta do século XX, por Henrique Leonor Pina. As várias intervenções realizadas neste monumento, por diferentes investigadores, acabaram por nunca virem a ser integralmente publicadas ficando o espólio depositado no Museu de Évora. Procura-se neste trabalho apresentar uma súmula da cerâmica existente apesar de parte da coleção ainda não se encontrar em condições de poder ser tratado. Palavras-Chave: Megali tismo funerário; Anta Grande do Zambujeiro; cerâmicas; Évora; Portugal 1. Há sítios e sítios… O Alentejo Central é conhecido pela quantidade e monumentalidade dos seus monumentos megalíticos a nível internacional desde, pelo menos, os trabalhos de

1 Investigadora do CHAIA. Docente/ Escola de Ciências Sociais - Universidade de Évora

34

Vergil io Correia (Correia, 1921) e de Georg e Vera Leisner (Leisner, 1944, 1949; Leisner e Leisner, 1959) e de Manuel Heleno (Rocha, 2005) os quais inventariaram, escavaram e publicaram centenas de monumentos megalíticos funerários desta região. Temos considerado, inúmeras vezes, que os monumentos megalíticos podiam ser também marcos na paisagem devido à sua implantação, preferencialmente em linhas de cumeada por onde se transita com maior facilidade, por poderem incorporar nas suas estruturas pétreas elementos que os tornassem facilmente distinguíveis na paisagem (como blocos de quartzo branco), etc, etc. Na realidade, o caso da Anta Grande do Zambujeiro (AGZ) vem demonstrar que, por vezes, eles podem permanecer invisíveis durante milénios, por se tornarem um elemento físico na paisagem, ou seja, a sua monumentalidade e estado de conservação acabaram por os tornar em mais um elemento da paisagem. Assim, não obstante o empenho dos inúmeros investigadores que trabalharam nesta área, até à primeira metade do século XX, nomeadamente o casal Leisner no concelho de Évora (Leisner, 1944; Leisner e Leisner, 1959), a AGZ conseguiu permanecer inédita até à década de 60, do séc. XX. De fato, apenas em Março de 1964, quando se encontra no concelho de Évora a realizar trabalhos na anta do Barrocal, Henrique Leonor Pina, por informação oral do Sr. António Rebocho, identifica no local conhecido como “o cabeço da Anta” , a AGZ, completamente preservada (Alegria e Dias, 2007). Esta tardia identificação poderia ter sido sinal de bom augúrio, mas não foi. Na realidade, a jóia da coroa do megali tismo português rapidamente foi empenhada e perdida. Das várias intervenções realizadas temos apenas um artigo publicado (Soares e Sil va, 2010) sendo que a esmagadora maioria do espólio recuperado não tem qualquer contextualização estratigráfica. 2. Os ar tefactos cerâmicos Os primeiros trabalhos de escavação foram realizados por Henrique Leonor Pina, entre 1964 e 1969, em curtas campanhas de três semana/ano, e deles resultaram cerca de duas mil peças que se encontram depositadas no actual Museu de Évora. Os materiais recuperados nas campanhas seguintes, sob a responsabil idade de Carlos Tavares da Sil va e de Rui Parreira, realizadas, nos anos 80 e entre 1991-1994 do século XX, respetivamente, só muito recentemente deram entrada nas reservas do Museu de Évora. Para além de, como é natural, ainda não ter havido capacidade técnica de o catalogar, uma parte significativa deste espólio, sobretudo as cerâmicas, não se encontra sequer lavado.

42

Page 9: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

ARQUEOLOGIA DE TRANSIÇÃO: O MUNDO FUNERÁRIO

43

Figura 1 - Contentor com cerâmicas. Museu de Évora De acordo com as memórias recuperadas em entrevista recente (Alegra e Dias, 2007), uma vez que não existem quaisquer Cadernos de Campo da 1ª fase de escavações, H. L. Pina refere que esta intervenção foi realizada com o apoio da Junta Distrital que suportava os custos dos trabalhadores rurais contratados e dos combustíveis.

Figura 3 - AGZ em escavação por Henrique Leonor Pina. Arquivo da Câmara Municipal de Évora

Destas recordações, realça-se aqui apenas as memórias sobre as peças de cerâmica que se resumem a uma peça zoomórfica e a um vaso com decoração simbólica (ME 3816) que pela sua exuberância decorativa, chamou naturalmente a atenção dos escavadores.

Figura 3 - Figura Zoomórfica ME-7518

Figura 4 - Desenho ME-7518 (desenho L.Rocha) A taça ME 3816 apresenta decoração simbólica em toda a superfície, como de pode verif icar através da Fig. 6. A decoração é preenchida a pasta branca.

Figura 5 - Taça fechada de base convexa, com decoração simbólica ME 3816

Page 10: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

Leonor Rocha: CERÂMICAS DA ANTA GRANDE DO ZAMBUJEIRO

44

Figura 6 - Desenho da taça fechada de base convexa - ME 3816 Desenho L. Rocha) 2.1. Metodologia Para a descrição e estudo do espólio cerâmico da AGZ depositado no Museu de Évora optou-se por se criar uma base de dados em Excel, com 29 campos descritivos. Os três primeiros parâmetros relacionam-se com a especif icidade da colecção: N.º: numeração antiga (Z 000); N.º ME – número atribuído pelo Museu de Évora ME000); O: origem (Cm = câmara; Cr = corredor), quando referida. Os 22 campos seguintes seguiram, em termos de categorias criadas e de descritores usados, dentro de cada uma delas, os parâmetros anteriormente definidos por V. S. Gonçalves, para monumentos megalíticos de outras áreas (Gonçalves, 1989, 2003). • FG – forma geral. A: aberta; F: fechada • Est – estado. 1: completo; 2: ligeiramente fragmentado; 3: pelo menos metade da peça conservada 4: bordo; 5: bojo; 6: fundo; 7: indeterminado. • HP – homogeneidade da pasta. 1: compacta; 2: semi-compacta; 3: pouco compacta. • CNP – componentes não plásticos. 1: abundantes; 2: em número mediano; 3: escassos.

• CNPd – componentes não plásticos, dimensões. 1: finos (0,1 a 0,25 mm); 2: médios (0,25 a 0,5 mm); 3: grandes (> a 0,5 mm). • CNPmp – componentes não plásticos, matéria-prima. 1: quartzo; 2: quartzo hialino; 3: micas (biotite e moscovite); 4: outros. • ASE – superfície externa, acabamento. 1: rugosa; 2: alisada; 3: polida; 4: aguada; 5: engobe. • ASI – superfície interna, acabamento. 1: rugosa; 2: alisada; 3: polida; 4: aguada; 5: engobe. • CZ – cozedura. 1: oxidante; 2: redutora; 3: oxidante com arrefecimento redutor; 4: redutora com arrefecimento oxidante. • BE – espessamento do bordo. 1: não espessado; 2: aplanado; 3: em bisel simples; 4: em bisel duplo; 5: espessado internamente; 6: espessado externamente; 7: almendrado. • BD – direcção do bordo. 1: bordo recto; 2: bordo convergente; 3: exvertido; 4: invertido. • PF – perfurações. 0: inexistentes; 1: não constatadas; 2: isoladas; 3: apareadas. • MM – mamilos. 0: inexistentes; 1: não constatados; 2: verticais; 3: horizontais; 4: isolados; 5: apareados. • CR – carenas. Nesta categoria, considerou-se a altura do recipiente como elemento determinante. Assim, se a carena se situar acima da linha média, é alta; a meio, é média; abaixo da metade da altura, é baixa. 1: altas; 2: médias; 3: baixas; 4: indetermináveis.

Page 11: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

ARQUEOLOGIA DE TRANSIÇÃO: O MUNDO FUNERÁRIO

45

• Dia – diâmetro interno da abertura ou da boca (mm). • Dea – diâmetro externo da abertura (mm). • Dbj – diâmetro do bojo (mm). • Dmx – diâmetro máximo (mm). • Espb – espessura do bordo (mm). • Espbj – espessura do bojo (mm). • Espf – espessura do fundo (mm). • Espmx – espessura máxima (mm). • Alt – altura total recipiente (mm). Por último, foram criados três campos que, mais uma vez, se destinavam a gerir de forma mais expedita o seu estudo: Des – reporta-se ao desenho da peça S (sim) N (não); Cont – número do contentor do Museu; OBS – observações consideradas pertinentes. O conjunto de cerâmicas da AGZ engloba cerâmicas de fabrico manual, conectáveis com a sua utilização como espaço sepulcral na Pré-história recente e materiais de roda. Estes últimos devem corresponder à sua reutilização na Proto-história, referida por H. Leonor Pina (Alegria e Dias, 2007) e a outros eventualmente posteriores.

Figura 7 - Desenho no Museu de Évora As peças consideradas mais representativas e/ou em melhor estado de conservação foram desenhadas pela signatária com o apoio de alunas de Erasmus e de Arqueologia da Universidade de Évora. 2.2. As cerâmicas manuais Como se referiu anteriormente, o estudo das cerâmicas da AGZ acabou por não ser exaustivo uma vez que o espólio das últimas duas campanhas foi incorporado mais tarde e, uma parte signif icativa, encontra-se por lavar, marcar e inventariar. Para estas cerâmicas optámos por fazer uma contagem geral, por saco. Do espólio tratado é de referir também que inúmeros fragmentos são de tamanho muito reduzido, pelo que muitas das medidas previstas anteriormente não se puderam realizar.

Figura 8 - Exemplo da dimensão de alguns dos fragmentos Os materiais cerâmicos inventariados no Museu e que constam da base de dados representam um universo de 1024 entradas, em diferentes estados de conservação. Algumas destas entradas, com um único número, representam mais do que um fragmento de cerâmica normalmente por se encontrarem coladas ou estarem todas numeradas com o mesmo número (exp. Z-3935; Z-3714A; Z-3964). De realçar ainda que, à data da realização deste estudo, dos 1040 registos realizados, apenas 48 já possuíam a numeração do Museu de Évora (ME) a par da numeração antiga (Z). Em termos de publicações, como se referiu anteriormente, para além do artigo dos trabalhos de Carlos Tavares da sil va e Joaquina Soares (Soares e Silva, 2010), temos apenas a referência de H. Leonor Pina ao vaso decorado com motivos oculados, do qual publica uma fotografia (Pina, 1971: 154, Est.II). 2.2.1. Forma Geral Em relação aos parâmetros considerados para a descrição da forma geral consideraram-se apenas dois grandes tipos: A – aberta; F – fechada. Em termos de morfologia, seguiu-se a descrição apresentada por outros investigadores, para contextos cronologicamente similares e regionalmente próximos (Lago et all , 1998: 81-85). Dos 1040 fragmentos anali sados até ao presente, cerca de 8,2% correspondem a formas abertas e 13,85% a formas fechadas. 2.2.2. Estado No que diz respeito ao estado como se pode verif icar pelo Gráfico 1, a esmagadora maioria das peças inventariadas são bojos. Em relação à categoria dos Indeterminados, de realçar que se trata de fragmentos de muito reduzidas dimensões ou mesmo “ lascas” de cerâmicas, em que apenas existe uma das superfícies conservadas.

Page 12: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

Leonor Rocha: CERÂMICAS DA ANTA GRANDE DO ZAMBUJEIRO

Gráfico 1 - Estado de conservação Se considerarmos apenas as três primeiras categorias, inteiro, ligeiramente fragmentado e mais de 50% da peça conservada verificamos que existem apenas 87 registos, o que corresponde a cerca de 8,36% do total. Considerando que se trata de materiais recolhidos num monumento funerário e não num povoado, esta elevada fragmentação dos materiais só pode indiciar que os métodos utilizados na escavação não terão sido os mais apropriados. 2.2.3. Homogeneidade da pasta Este descritor foi considerado com base na observação directa dos fragmentos.

Gráfico 2 - Análise das pastas Como seria expectável em contextos funerários, as pastas são maioritariamente compactas. 2.2.4. Componentes não plásticos Em relação aos Componentes Não Plásticos (CNP) foram considerados três parâmetros de avaliação: o número, a dimensão e a matéria-prima. A análi se foi realizada sem recurso a instrumentos ópticos.

Gráfico 3 - Quantidade de CNP Em relação às pastas foi possível individualizar, desde já, dois grandes grupos:

1) As pastas finas. Incluem-se neste grupo cerâmicas pré-históricas e posteriores;

2) As pastas grosseiras. Apresentam maior espessura, peças mais robustas e de maiores dimensões.

Gráfico 4 - E.N.P – dimensão No que concerne à dimensão dos CNP verif ica-se que apesar de serem maioritariamente de calibre fino a médio, existem, nalgumas das peças observadas, alguns componentes de maior dimensão que, em alguns casos, poderá ser a causa da sua fratura.

Gráfico 5 - C.N.P – matéria-prima

46

Page 13: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

ARQUEOLOGIA DE TRANSIÇÃO: O MUNDO FUNERÁRIO

47

2.2.5. Tratamento das superfícies A análise do tratamento das superfícies atesta que estas são maioritariamente tratadas através da técnica do alisamento, engobe ou aguadas, tanto a nível exterior como interior. Em regra, as peças com melhor tratamento das superfícies são as de menor dimensão, com pastas mais finas e decoradas.

Gráfico 6 - Tratamento exterior das superfícies

Gráfico 7 - Tratamento interior das superfícies 2.2.6. Cozedura As cerâmicas apresentam-se maioritariamente com pouco homogeneidade a nível da cor, fato que se denota sobretudo nas peças inteiras. Estas diferenças resultam de dois tipos de fatores:

1) Do processo de cozedura, uma vez que nem todas as peças apresentam cozeduras uniformes. Existem casos de cozeduras oxidantes com partes do recipiente com cozedura redutora e vice-versa;

2) Por fenómenos que me parecem ser posteriores,

e que terão a ver com a exposição ao calor [fogos] e a calcif icações (?) uma vez que as pastas, nestes casos, se apresentam com muitas concreções brancas, quer no interior quer no exterior e que não correspondem a decorações. Este tipo de anomalia (e outras especif icidades das pastas e decorações) encontra-se atualmente em estudo no âmbito de um projeto com o Laboratório HERCULES (Universidade de Évora).

Figura 9 - Exemplo de concreções brancas nos recipientes Regra geral as pastas são bastante compactas. 2.2.7. As decorações

A análise da decoração das cerâmicas poderá também ainda não estar concluída uma vez que se ignora se existem, ou não, fragmentos decorados, nos materiais que se encontram ainda por tratar. Numa primeira abordagem podemos referir que se encontram presentes, em termos de técnicas decorativas, a incisão, a impressão, a impressão+incisão, a incisão/impressão com preenchimento com pasta branca e a aplicação plástica (mamilos e cordões). A utilização de pasta branca para preenchimento de decorações incisas e impressas encontra-se presente em vários recipientes. Desconhece-se ainda de que tipo de material (orgânico ou inorgânico) foi feito a pasta branca. A decoração existente enquadra-se em dois grandes grupos: a denominada “decoração simbólica” (Gonçalves, 1992) e a decoração organizada em torno de linhas e/ou fiadas de pontos impressos, conjugada, por vezes, com decoração incisa. Os recipientes decorados são sobretudo fechados, de pequena dimensão. Esta preferência parece ser comum noutras áreas regionais e poderá dever-se ao fato de “para as decorações exteriores, os recipientes fechados apresentam, obviamente, um maior potencial de visibil idade, favorecendo a exposição da temática decorativa” (Valera, 1997: 81-83). 2.3. As cerâmicas de roda O número de cerâmicas de roda inventariado até ao presente, é bastante escasso, apenas 24 registos. No entanto, alguns deles correspondem a mais que um fragmento que ou possuem o mesmo número de inventário, ou encontram-se coladas.

Page 14: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

Leonor Rocha: CERÂMICAS DA ANTA GRANDE DO ZAMBUJEIRO

3. Um ponto de situação O estudo final das cerâmicas da AGZ só estará realizado quando todas as cerâmicas depositadas no Museu de Évora estiverem em condições de poderem ser analisadas. Mas, no estado actual da investigação alguns comentários são possíveis: - o escasso número de peças recuperadas. Como se referiu anteriormente este número não deixa de ser surpreendente atendendo às dimensões do monumento. Em Reguengos de Monsaraz temos monumentos com dezenas vasos em bom estado de conservação, de acordo com os registos do casal Leisner (Leisner e Leisner, 1951). A anta Grande do Oli val da Pega (OP1) é, dentro deste grupo megalítico a que oferece maior diversidade de materiais cerâmicos, tanto em termos de formas, como de dimensões e decorações. - Maior percentagem e variedade de cerâmicas decoradas. Em relação à decoração simbólica, presente num dos vasos [ME 3816] de realçar as semelhanças entre esta peça e o vaso recolhido em OP1 (Idem, Ibidem: Est. XXX, 14, 14a) apesar do estado de conservação ser, neste caso, muito melhor na AGZ. Os dois apresentam os motivos oculados [olhos solares], raiados, faixas laterais com linhas incisas preenchidas com ponteados impressos e os triângulos também preenchidos com ponteado impresso. A indicação das sobrancelhas é realizada em OP1 – 14, através de dois sulcos paralelos que se prolongam depois em volta de todo o recipiente, enquanto na AGZ – ME 3816, as sobrancelhas são indicadas com uma série de linhas, o que lhe confere maior naturalismo. Na realidade, o pequeno vaso recolhido na AGZ é muito mais reali sta uma vez que para a sua base se prolongam as duas mãos, com cinco traços a indicar os dedos. Também aqui se verif ica o preenchimento com pasta branca. Para além desta peça, existem outras variedades decorativas: - A decoração com linhas incisas preenchidas com ponteado impresso encontra-se presente em outros recipientes (V-44; Z- 4305; Z-4300; Z-4120), em melhor ou pior estado de conservação;

Figura 10 - Fragmento de bojo com decoração incisa e impressa – V 44. Desenho de L. Rocha - Linhas incisas com pasta branca (Z- 4309; ME 18374; Z-4289), ou sem pasta branca (V-45; Z-4041);

Figura 11 - Esférico simples com decoração incisa preenchida com pasta branca – ME 18374. Desenho de L. Rocha - Fragmentos em que apenas surgem ponteados preenchidos com pasta branca (Z-…300); - Restos de decoração impressa em fragmentos de muita reduzida dimensão (Z-4228; Z-3908); - Linhas incisas, paralelas, estão presentes em pelo menos três peças (Z-3969, Z-3826, Z-4432).

Figura 12 - Fragmento de bojo com decoração incisa – Z 3969. Desenho

de L. Rocha

48

Page 15: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

ARQUEOLOGIA DE TRANSIÇÃO: O MUNDO FUNERÁRIO

49

- Linha muito fina feita com ponteados incisos (Z-4234) - Uma peça (Z-3903) apresenta duas linhas paralelas que parecem ser obtidas a partir de uma concha.

Figura 13 - Fragmento de bojo com decoração impressa – Z 3903. Desenho de L. Rocha. - Decoração simbólica encontra-se presente em alguns exemplares, em diferentes estados de conservação. A decoração inclui o triângulo inciso, preenchido com pontilhado, associado a linhas paralelas, onduladas ou ziguezagueantes e, por vezes, aos motivos solares – “olhos solares” (ME - 3816; Z – 3823; Z – 4300);

Figura 14 - Globular com decoração simbólica – Z 3823. Desenho de L. Rocha

Figura 15 - Fragmento de bojo com decoração simbólica – Z 4300. Desenho de L. Rocha Algumas destas peças apresentam a decoração preenchida com pasta branca, mas em apenas um caso (ME 18371) se observou a presença de pasta branca e elementos

vermelhos (cinábrio/ocre) numa decoração incisa com ponteado. Em relação ao espólio cerâmico recolhido nas intervenções posteriores, temos uma descrição sucinta por Sondagem, das escavações de 1983-84, da responsabil idade de Carlos Tavares da Sil va e Joaquina Soares (Soares e Silva, 2010). Pelos desenhos apresentados (Idem, Ibidem: Figs. 20, 22, 25 e 32) a maior parte eram fragmentos sem decoração. No entanto, na área de entrada do corredor, ainda se recolheram duas peças inteiras (Idem, Ibidem: Fig. 25) e na Sondagem D, foi recolhido um fragmento com decoração incisa e bordo denteado (Idem, Ibidem: Fig. 32, nº 3). Das intervenções realizadas na década de 90 do século XX, cujos materiais não estão lavados nem marcados, identificou-se: - Um pequeno esférico partido, mas com quase todos os fragmentos recolhidos o que permite a sua recuperação, com decoração a ponteado inciso na metade inferior e base da peça. Por último, regista-se ainda a presença de algumas formas pouco comuns, cuja função deverá estar relacionada com o sagrado/ simbólico, como é caso da peça Z – 4280, uma pequena caixa de cerâmica que apresenta, nos cantos, perfurações, o que a assemelha a uma cara.

Figura 16 - Caixa de cerâmica – Z 4280. Desenho de L. Rocha Este tipo de objetos foi identificado, esporadicamente, noutros monumentos funerários, com é o caso de Oli val da Pega 2 e Túmulo 1 dos Perdigões (Reguengos de Monsaraz). Partindo dos dados que dispomos atualmente podemos perceber que existem monumentos funerários, de diferentes tipologias que são, de fato, excepcionais. A explicação para a quantidade, variedade e singularidade dos seus espólios poderá residir na existência de uma rede “comercial” de largo espectro, que lhes permitia obter

Page 16: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

Leonor Rocha: CERÂMICAS DA ANTA GRANDE DO ZAMBUJEIRO

50

peças (marfim), substâncias (cinábrio) e matérias-primas (âmbar) provenientes de outras regiões. Os indicadores de interação, particularmente expressivos em monumentos como a Anta Grande do Zambujeiro e túmulos associados aos grandes povoados de fossos dos Perdigões e Porto Torrão, parecem implicar uma maior complexidade nas relações destas comunidades com o exterior, num espaço geográfico ainda por clarif icar. Agradecimentos: A Antónia Dolores Soares, Ana Carolina Montalvão e Pedro Alvim, o apoio no desenho de algumas das peças cerâmicas. Aos colegas do Centro HERCULES, o inicio do estudo das pastas e elementos de decoração. 4. Bibliografia ALEGRIA, A; DIAS, C.M. (2007) – A anta Grande do zambujeiro na memória do arqueólogo Henrique Leonor Pina. Boletim. Museu Évora. Acessível: ALVIM, P. (2004) – Recintos megalíticos da região da serra de Monfurado e os «cabeços do meio-mundo»: monumentos, paisagem e cultura no neolítico alentejano. In CALADO, M. (Ed.) – Sinais de Pedra. Actas do I Colóquio Internacional sobre Megali tismo e Arte Rupestre. Évora: Fundação Eugénio de Almeida. BRADLEY R. (2002) – The land, the sky and the scottish stone circle. In SCARRE, Chris (ed.) - Monumentali ty and Landscape in Atlantic Europe. London: Routledge. p. 122-38. BRADLEY, R. (1993) – Altering the earth: the origins of monuments in Britain and continental Europe. Edimburgh: Society of Antiquaries of Scotland. Series 8. BRADLEY, R. (1997) – Rock art and the Prehistory of Atlantic Europe. London: Routledge. BURGESS, C. (1987) – Fieldwork in the Évora District, Alentejo, Portugal. Preliminary report. Northern Archaeology, [s.l.], 8. BURGESS, C.; MADDISON, M. ed. (1987) – Northern archeology. Vol. 8. Great Britain. CALADO, L. F; PEREIRA, P; LEITE, J. P. (2001) – Falando com franqueza: a salvaguarda do património e os seus (enormes) problemas. PATRIMÓNIO, ESTUDOS. Número 1. IPPAR. CALADO, M. (2006) – Cadernos de campo 8: Alentejo. In OOSTERBEEK, Luiz (dir.). Territórios da Pré-História em Portugal. Tomar. Edição apoiada pela Comissão Europeia. CALADO, M. (2001) – Da serra d’Ossa ao Guadiana: um estudo de pré-história regional. Trabalhos de Arqueologia. 19. Lisboa: IPA. CALADO, M. (1990) – Aspectos do Megali tismo Alentejano. O Giraldo (Julho e Agosto). Évora. [s.n.]. CALADO, M; BILOU, F. (2005) – Megali thic Évora Megalítica. Edição da Câmara Municipal de Évora. CALADO, M; SANTOS, J; CARVALHO, M. (2007-2008) – Arqueologia do concelho de Évora: um ponto da situação. A Cidade de Évora. II Série. Número 7, p. 47-71.

DIAS, L, OLIVEIRA, J; ROCHA, L; ROSADO, L; DIAS, C; CANDEIAS, A; MIRÃO, J. (no prelo) - Sobre a presença de Cinábrio em rituais funerários no Megali tismo do Alto Alentejo, Portugal. IX Congresso Ibérico de Arqueometria. Lisboa, Portugal. Outubro de 2011. ESPANCA, P.J. (1894) – Estudo sobre as antas e seus congéneres. Vila Viçosa: [s.n.]. ESPANCA, T. (1966) – Inventário Artístico de Portugal: Concelho de Évora. VII. Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes. GOMES, C. J. P. (1997) – Esboço ecológico e considerações fitossociológicas. In SARANTOPOULOS, P. (ed.) – Paisagens Arqueológicas a Oeste de Évora. Évora: Câmara Municipal de Évora. p. 7-13. GONÇALVES, J. P. (1975) – Roteiro de alguns megáli tos do distrito de Évora. A Cidade de Évora. Évora. Ano XXXII. Número 58. Janeiro-Dezembro. pp. 241-61. GONÇALVES, V.S. (1989) – Megali tismo e Metalurgia no Alto Algarve Oriental. Uma aproximação integrada. Lisboa: Minerva do Comércio GONÇALVES, V. S. (1993c) – As práticas funerárias nas sociedades do 4º e 3º milénios. O megali tismo. In MEDINA, J. (dir) – História de Portugal. Lisboa. Ediclube. I. p. 247-301. GONÇALVES, V. S. (1993d) – Manifestações do sagrado na pré-história do Ocidente Peninsular. 3. A Deusa dos olhos de sol. Um primeiro olhar. Revista da Faculdade de Letras de Lisboa. 15. 5ª Série., p. 41-47. GONÇALVES, V. S. (2003a) – Manifestações do sagrado na Pré-História do Ocidente peninsular: 4. A “síndrome das placas loucas” . Revista Portuguesa de Arqueologia. Volume 6. Número 1. p.131- 157. GONÇALVES, V.S. (2003b) – STAM-3, a Anta 3 da Herdade de Santa Margarida (Reguengos de Monsaraz). Trabalhos de Arqueologia. 32. Lisboa: IPA. GONÇALVES, V. S. (2004a) – Manifestações do sagrado na Pré-história do Ocidente peninsular. 5. O explícito e o implícito. Breve dissertação, invocando os limites fluidos do figurativo, a propósito do signif icado das placas de xisto gravadas do terceiro mílénio a.n.e. Revista Portuguesa de Arqueologia. Volume 7. Número 1. Lisboa: IPA. p. 165-183. GONÇALVES, V. S. (2004b) – As deusas da noite: o projecto «placa nostra» e as placas de xisto gravadas da região de Évora. Revista Portuguesa de Arqueologia. Volume 7. Número 2. Lisboa: IPA. p. 49-72. GONÇALVES, V. S. (2006) – Manifestações do sagrado na Pré-História do Ocidente peninsular. 7. As placas híbridas. Definição do conceito. Alguns poucos exemplos. De novo, os possíveis significados das placas. Revista Portuguesa de Arqueologia. Volume 9. Número 2. Lisboa: IPA. p. 27-59. GONÇALVES, V; PEREIRA, A; ANDRADE, M. (2003) - A propósito do reaproveitamento de algumas placas de xisto gravadas da região de Évora. O Arqueólogo Português. Série IV. 21. Lisboa, p. 209-244. HOSKIN, M.; CALADO, M. (1998) – Orientations of Iberian tombs: Central Alentejo region of Portugal. Archaeoastronomy. 23. Cambridge. p. S77-82.

Page 17: II - uevora.ptdspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/14764/1/42_51... · 2015. 6. 24. · II Arqueologia de Transição: O Mundo Funerário Actas do II Congresso Internacional Sobre

ARQUEOLOGIA DE TRANSIÇÃO: O MUNDO FUNERÁRIO

51

LAGO, M; DUARTE, C, VALERA, A, ABERGARIA, J; ALMEIDA, F; CARVALHO, A.F. (1998) – Povoado dos Perdigões (Reguengos de Monsaraz): dados Preliminares dos trabalhos arqueológicos realizados em 1997. Revista Portuguesa de Arqueologia.1.1. Lisboa: IPA, p. 45-152. LEISNER, G. e V. (1959) – Die megali thgrber der iberischen halbinsel: der westen. Berlin: Madrider Forschungen I, 2. LEISNER, G. (1944) – O Dólmen de falsa cúpula de Vale-de-Rodrigo. Biblos. Coimbra. Volume XX. p. 1-30. LEISNER, G. (1949) – Antas dos arredores de Évora. A Cidade de Évora. Évora. Ano VI. Número 15-16/17-18. p. 3-40/499-534. MANHITA, A; MARTINS, S; COSTA, J; PRAZERES, C; ROCHA, L; DIAS, C; MIRÃO, J; TEIXEIRA, D. (2014) – A multi-analytical approach for the study of Neoli thic pottery from the Grat Dolmen of Zambujeiro (Évora, Portugal) – a preliminary study. E-conservation Journal, 2, 66-78. MANHITA, A; ROCHA, L; ALEGRIA, A; MIRÃO, J; DIAS, C. (no prelo) - Análise material das contas de âmbar da Anta do Zambujeiro. X Congresso Ibérico de Arqueometria. Castellón, Espanha. Outubro de 2013. MANHITA, A; SALVADOR, R; ROCHA, L; DIAS, C. (no prelo) – Análi se espectroscópica de contas de âmbar da Anta Grande do Zambujeiro. Jornadas do Departamento de Química. Universidade de Évora. Maio de 2013. OLIVEIRA, J. (1997) – O megali tismo funerário a Oeste de Évora: o estado da questão. In SARANTOPOULOS, P. (ed.) Paisagens Arqueológicas a Oeste de Évora. Évora. p. 53-57. PARREIRA, R. – Anta Grande do Zambujeiro: programa de salvaguarda e valorização. Conferência na Câmara Municipal de Évora. Organização Câmara Municipal de Évora. 1996/06/08. Património arqueológico no perímetro Escoural-Valverde - Guadalupe. Serviço Regional de Arqueologia do Sul do Instituto Português do Património Cultural. Évora. 1989. PEREIRA, G. (1875) – Dolmens ou antas dos arredores d´Évora. Notas dir igidas ao Exmo Sr. Dr. Augusto Fil ipe Simões. Évora. [s. ed.]. PINA, H. L. (1971) – Novos monumentos megalíticos do distrito de Évora. Actas do II Congresso Nacional de Arqueologia. Coimbra. Vol. I. p. 151-161. PINA, H. L. (1976) – Cromlechs und menhire bei Évora in Portugal. Madrider Mitteilungen. Número17. Plano Director Municipal de Évora – Inventário do Património Arquitectónico e Arqueológico Concelho Évora. Relatório: ANEXO IV. Junho 2005. Plano Director Municipal de Évora – Relatório Diagnóstico. Vol. I. Dezembro 2007. Lei nº. 107/01 - Lei de bases do património cultural. Número 209/01. DR SÉRIE I-A. Portugal. Assembleia da República. «Processo da Anta Grande do Zambujeiro». Acessível no arquivo da Câmara Municipal de Évora, Évora, Portugal. ROCHA, L. (1999) – Aspectos do Megali tismo da área de Pavia, Mora (Portugal). Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa: IPA. 2. p. 71-94.

ROCHA, L. (2004) – Entre vivos e mortos…arte rupestre e megali tismo funerário na região de Évora. Sinais de Pedra. Actas do I Colóquio Internacional sobre Megali tismo e Arte Rupestre na Europa Atlântica. Évora: Fundação Eugénio d`Almeida. ROCHA, L. (2005) – As origens do megali tismo funerário no Alentejo Central: a contribuição de Manuel Heleno. Lisboa: FLL. Tese de doutoramento policopiada. ROCHA, L. (2012) - Investimentos públicos em Património privado: problemas e perspectivas. VI Congreso Internacional de Musealización de Yacimientos y Património: “Arqueología, Patrimonio y Paisajes Historicos para el Siglo XXI. Toledo. P. 206-213. RODRIGUES, J. D; NUNES, C. (2006) – «Relatório do Estado de alteração e conservação dos monumentos megalíticos Cromeleque dos Almendres e Anta do Zambujeiro». Acessível no Arquivo da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, Évora, Portugal. Roteiro turístico de alguns monumentos megalíticos do distrito de Évora. Edição dos Serviços Culturais da Câmara Municipal de Évora. [s.d.]. SANTOS, A. P. (1994) – Guias arqueológicos de Portugal: monumentos megalíticos do alto Alentejo. Lisboa. Número 1. Fenda. SANTOS, J. C. L. (2009) – A Anta Grande do Zambujeiro. Contributo para o processo de recuperação do monumento. Évora: Universidade de Évora. Tese de Mestrado policopiada. SARANTOPOULOS, P. (2000) – Actividade arqueológica em Évora na última década do século XX. A Cidade de Évora. Évora. II Série. Número 4. p. 9-34. SCARRE, C. (1998) – Exploring Prehistoric Europe. Oxford: Oxford University Press. SCARRE, C. ed. (2002) – Monuments and landscape in Atlantic Europe: perception and society during the Neoli thic and early Bronze Age. London: Routledge. SILVA, A.M; VALERA, A.C; COSTA, C; DIAS, M.I. (2010) – A new research Project on funerary practices at Perdigões enclosure. Apontamentos de Arqueologia e Património. 5. Lisboa: NIA, p. 43-48. SILVA, A. C; PARREIRA, R; SILVA, M. L.; SARANTOPOULOS, P. (1992) – Roteiro do megali tismo de Évora. Évora. Câmara Municipal de Évora. SILVA, A. C. (1990) – Património arqueológico do Alentejo: plano de conservação e valorização a médio prazo. Évora. SRAZS. 150 ex. fotocopiados. SOARES, J; SILVA, C.T. (2010) – Anta Grande do Zambujeiro – arquitectura e poder. Intervenção arqueológica do MAEDS, 1985-87. MUSA, museus, arqueologia & outros patrimónios. 3. Setúbal: FIDS/MAEDS, p.83-129.