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2 IMPACTOS SOBRE O MEIO FÍSICO CLIMA E MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO A ORLA COSTEIRA DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO: IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE O MEIO ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR E REDEFINIÇÃO DA LINHA DE COSTA NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO

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2 IMPACTOS SOBRE O MEIO FÍSICO 

 

 

 

CLIMA E MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO  

 

A ORLA COSTEIRA DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO: IMPACTOS 

DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE O MEIO  

 

ELEVAÇÃO DO NÍVEL DO MAR E REDEFINIÇÃO DA LINHA DE COSTA NA REGIÃO 

METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO  

 

A  ORLA  COSTEIRA  DA  REGIÃO  METROPOLITANA  DO  RIO  DE  JANEIRO  IMPACTOS  DAS 

MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE O MEIO FÍSICO 

Dieter Muehe (IGEO/UFRJ) | Paulo C. C. Rosman (COPPE/UFRJ) 

 

Características gerais 

A evolução da orla costeira no Brasil e, em particular no Rio de Janeiro, foi condicionada pelas oscila‐

ções do nível do mar desde a penúltima  transgressão, há 120.000 anos, quando o nível do mar se 

encontrava cerca de 8 m acima do nível atual. Uma nova transgressão, associada à elevação do nível 

do mar após o último evento glacial atingiu, cerca de 5.600 anos atrás, uma altura entre 3 e 4 m aci‐

ma do nível atual para decrescer, com algumas oscilações, ao nível atual. Como consequência destes 

dois eventos transgressivos, e associados aos mesmos, foram construídos dois cordões litorâneos ou 

barreiras arenosas, as mais antigas e mais interiorizadas, com altura entre 8 m e 14 m e as mais re‐

centes, com cerca de 5 a 7 m de altura, em cujo flanco oceânico se desenvolveram as praias atuais.  

Estas barreiras, verdadeiros diques, formam a estrutura que, de um lado, representa uma proteção e 

, de outro, uma vulnerabilidade da zona costeira. Esta se caracteriza pela existência de baixadas e 

zonas embrejadas, à retaguarda das barreiras, e pelo bloqueio da drenagem vinda dos maciços cos‐

teiros, impedindo desta forma a chegada de sedimentos ao mar. Conseqüentemente as áreas baixas 

de antigas lagunas colmatadas, como também os terraços ou planícies fluvio‐marinhas, já represen‐

tam hoje áreas de risco devido à proximidade, e mesmo ao afloramento, do lençol freático e conse‐

qüente dificuldade de drenagem. Por outro  lado, a ausência de aporte de sedimentos continentais 

para a plataforma continental representa um risco potencial para a estabilidade das praias oceânicas 

e sua capacidade de ajuste a uma elevação do nível do mar, considerando que a principal fonte dos 

sedimentos ‐ a plataforma continental ‐ tende, por esgotamento, a deixar de ser fonte supridora para 

a manutenção do balanço sedimentar. 

Em resumo, a vulnerabilidade física, da zona costeira do município e região metropolitana do Rio de 

Janeiro, a uma elevação do nível do mar, se caracteriza pelos riscos de erosão costeira e principal‐

mente pelos de inundação intensificados pela recorrência de eventos extremos como ressacas, ven‐

tos fortes e chuvas intensas. 

No que tange à erosão costeira, a vulnerabilidade aumenta com o grau de exposição às ondas. Pode‐

se afirmar que o simples aumento estático do nível do mar não provoca erosão e que esta é uma 

função da movimentação da água por ondas e correntes. Assim, há necessidade de distinguir ambi‐

entes distintos de exposição. A orla, portanto pode ser classificada com exposta, semiexposta e abri‐

gada. 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 77

A orla exposta é a diretamente voltada para o oceano aberto. Neste sentido, as praias oceânicas da 

região metropolitana  se apresentam extremamente vulneráveis  considerando  sua orientação dire‐

tamente voltada para a  incidência de ondas de  tempestade e seu déficit potencial de sedimentos. 

Sua capacidade de ajuste, por retrogradação, a uma elevação do nível do mar, nas praias urbanas é 

quase inexistente devido à fixação da pós‐praia por muros e pela proximidade da frente urbanizada e 

ainda,  localmente, pela proximidade de encostas cristalinas do maciço costeiro. Nas orlas costeiras 

em processo de urbanização, principalmente na região metropolitana a  leste de Niterói, a proximi‐

dade das  construções em  relação à praia  representa um  risco potencial que pode  ser minimizado 

com a adoção de faixas de não edificação. As exceções estão constituídas pelas praias do Recreio dos 

Bandeirantes, Grumari e parte da Marambaia no município do Rio de Janeiro, onde o espaço à reta‐

guarda, não urbanizado, permite um ajuste por retrogradação. 

As orlas semi‐expostas e abrigadas se  localizam no  interior das baías de Guanabara e Sepetiba e na 

orla das  lagunas. Estas, dependendo da orientação e da pista do vento, podem ser mais ou menos 

afetadas por  ação de ondas  e  correntes,  apresentando  a Baía de Guanabara  áreas mais  expostas 

quando da penetração de ondas oceânicas de Sudeste, direcionadas para a enseada da Glória e de 

Sudoeste, direcionadas para as praias de Boa Viagem, Flechas e Icaraí em Niterói (Figura ). 

Em suma, para os diversos cenários de elevação do nível do mar as praias oceânicas urbanas, devido 

à sua “fixação” com muros, ficam  impedidas de se ajustar por meio de retrogradação e tenderão a 

perder areia, efeito acelerado pelo  refluxo das ondas nos obstáculos  impermeáveis  representados 

pelos mesmos muros. Já as praias oceânicas não urbanizadas e não confinadas na pós‐praia por obs‐

táculos rígidos poderão se ajustar através de um processo combinado de erosão e transposição nu‐

ma amplitude de recuo da ordem de algumas dezenas e metros, dependentes da declividade do fun‐

do marinho adjacente e da amplitude de elevação do nível do mar. 

 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 78

 

Figura :. Classificação da orla da Baía de Guanabara e praias oceânicas urbanizadas do Rio de Janeiro e Niterói. Fonte Muehe et al. 2006. 

Efeitos mais negativos que a de uma elevação do nível do mar que a prevista para a erosão da orla se 

farão  sentir na elevação do nível  freático, na  inundação das zonas baixas e conseqüentemente no 

bloqueio do escoamento de canais e  rios das baixadas cuja drenagem mal consegue  se ajustar ao 

nível do mar atual, gerando enchentes em condições de chuvas  fortes em situação de preamar de 

sizígia. Em outras palavras, qualquer um dos cenários de elevação do nível do mar trará problemas 

idênticos, porém espacialmente ampliados e com diferentes números de pessoas atingidas. 

 

Principais efeitos das mudanças climáticas na zona costeira1 

Em forma sintetizada, os principais efeitos esperados com as mudanças climáticas em zonas costeiras 

são discutidos nesta seção, com exemplos focados na área metropolitana do Rio de Janeiro. Os prin‐

cipais efeitos esperados são: 

Elevação do Nível Médio do Mar (NMM), como conseqüência dos efeitos termoestérico e eustático 

(longo prazo) ou meteorológicos (transientes de curto prazo). 

1 Partes desta seção são adaptações de Rosman, P. C. C et alii. (2007) e (2009). 

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Aumento  de  extremos  climáticos,  i.e.,  períodos  de  secas mais  prolongados  e  eventos  de 

tempestades com mais ventos e chuvas de maior intensidade. 

Possível mudança nas direções de propagação das ondas devido a alterações na circulação 

atmosférica, semelhante ao que já acontece em eventos de El Niño. 

Como se discute a seguir, tais efeitos ocorrem em sinergia gerando conseqüências cumulativas e não 

de modo isolado. 

As intervenções recomendadas demandam ações preparatórios do Estado, já que muitas necessitam 

de dados ambientais não disponíveis para dimensionamento efetivo das  intervenções. Além disso, 

algumas intervenções implicam em realocação de pessoas, o que sempre gera dificuldades políticas e 

sociais. 

 

Conseqüências de cada efeito isoladamente e de forma cumulativa – sinergia de efeitos 

Discute‐se nesta seção as principais conseqüências de cada um dos efeitos  listados acima as conse‐

qüências diretas decorrentes isoladamente de cada efeito, e as conseqüências cumulativas devido à 

sinergia entre os efeitos. 

 

Conseqüências na zona costeira devido à Elevação do Nível Médio do Mar 

A elevação do NMM é um efeito persistente, isto é, define um novo nível base para as variações cícli‐

cas do nível do mar geradas por marés e efeitos meteorológicos. As estimativas atuais para a  taxa 

média de subida do nível do mar, em termos globais, são da ordem de meio centímetro por ano, o 

que resultaria para o final do século, em uma sobrelevação de 0,5 m em relação ao NMM atual. 

Entretanto, para ações locais em nível de engenharia, o que realmente importa é a variação do nível 

médio relativo do mar. A taxa de variação do nível médio relativo do mar resulta da soma da taxa de 

variação do nível médio do mar com a taxa de variação do nível do terreno. Para  isso, é necessário 

que ambos os níveis sejam medidos em relação a um mesmo Referencial de Nível  (RN) confiável e 

fixo, e.g., o datum do IBGE. 

Para ações governamentais é  fundamental conhecer a  taxa de variação do nível médio  relativo do 

mar, pois especialmente em regiões sedimentares geologicamente recentes, como é o caso das bai‐

xadas  lagunares e de baías, ocorrem  significativas alterações nos níveis dos  terrenos marginais ao 

longo dos anos. Por exemplo, se em determinada  região estiver ocorrendo uma subsidência  (abai‐

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xamento) do terreno na taxa de 0,5 cm/ano, a taxa de subida do nível médio relativo do mar na regi‐

ão seria de 1,0 cm/ano.  

As principais conseqüências da elevação do nível médio relativo do mar são: 

Tendência de translação das praias e cordões de dunas em direção a terra.  

Onde houver ruas e avenidas na retro‐praia haverá diminuição das faixas de areia e potencial 

risco de ataque de ondas diretamente nas benfeitorias públicas, como ilustra o esquema na 

Figura 1. 

Recuo das  linhas de orla em regiões de baixadas de  lagoas costeiras e baías, em  função da 

subida do nível médio relativo da água. Nestes  locais, é provável que a taxa de elevação do 

nível médio do mar seja superior à média, visto que se trata de regiões sedimentares geolo‐

gicamente recentes, cujos terrenos tendem a sofrer subsidências. Portanto, potencialmente 

o problema é mais grave. 

Problemas de macro‐drenagem em águas interiores, especialmente em zonas urbanas situa‐

das em baixadas de baías e lagoas costeiras aumentando a tendência de alagamentos. As á‐

guas fluem de cotas mais altas para cotas mais baixas e a velocidade do escoamento depen‐

de do desnível. Com a subida do nível médio relativo diminuem os desníveis, diminuindo a 

declividade relativa e conseqüentemente a velocidade dos escoamentos.  

Aumento da profundidade média de  lagoas costeiras e baías.  Isso efetivamente representa 

um efeito de rejuvenescimento, em contraposição ao envelhecimento representado pelo as‐

soreamento. 

Aumento da intrusão salina em zonas estuarinas levando a causar aumento ou diminuição de 

manguezais, em função da disponibilidade de áreas de expansão, e, mais para montante, po‐

tencial problema de captação de água salobra em locais que hoje captam água doce. 

 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 81

Perfil atual

Nível Médio do Mar - Atual

Nível Médio do Mar +50cmPerfil com NMM +50cm

 

Recuo da linha de costa

 

Figura 1. Esquema de recuo de linha de costa em decorrência de elevação do nível médio do mar. 

Conseqüências na zona costeira devido ao aumento de extremos climáticos 

As conseqüências na zona costeira do Aumento dos Extremos Climáticos são transientes ou cíclicas, 

pois variam ao longo das estações do ano. Aumento de extremos climáticos significa secas mais lon‐

gas e ocorrências de chuvas de tempestade mais intensas e freqüentes. No mar, a maior intensidade 

de tempestades tenderá a aumentar a altura das ondas e das marés meteorológicas. Tais efeitos se 

sobrepõem à elevação do nível médio relativo do mar. A Figura 2 mostra evidências claras da ten‐

dência de aumento na magnitude das marés meteorológicas. 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 2:   Evidências da  tendência de aumento da magnitude de marés meteorológicas na Baía de Guanabara, RJ. Os valores  indicados 

representam diferenças entre níveis de maré medidos e níveis de maré previstos. Tais diferenças são basicamente devido às marés meteoro‐

lógicas. (NEVES, S.C., 1992). 

 

 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 82

As principais conseqüências na zona costeira em função do aumento dos extremos climáticos são:  

Com tempestades mais intensas no mar, as ondas ficam mais altas e as marés meteorológi‐cas mais elevadas. Portanto, onde houver ruas e avenidas na retro‐praia haverá sérios pro‐blemas de erosão e possível destruição de muros, ruas e avenidas devido à diminuição das faixas de areia. A  

 

Figura 3 mostra os efeitos de maré meteorológica no Estado do Rio de Janeiro, ocasionando 

variação do nível médio do mar ao longo dos dias. Fica evidente que as magnitudes das ma‐

rés meteorológicas chegam a ser da mesma ordem de grandeza das variações usuais de ma‐

ré. 

Mais secas causam diminuição da vazão dos rios, tal efeito associado à subida do nível médio 

relativo do mar, e eventualmente somado a efeitos de marés meteorológicas mais altas, ten‐

de a aumentar a intrusão salina em regiões estuarinas causando incremento de manguezais 

e potencial problema de captação de água salobra em locais que hoje captam água doce.  

Freqüentemente marés meteorológicas estão associadas às passagens de  frentes  frias, que 

por vezes trazem chuvas intensas. Portanto, a soma dos efeitos de subida do nível médio re‐

lativo do mar com eventos de marés meteorológicas mais elevadas e chuvas intensas irá oca‐

sionar sérios problemas de macrodrenagem em zonas urbanas situadas em baixadas de baías 

e lagoas costeiras, com alagamentos e inundações crescentes. 

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 Gráfico cedido pelo Prof. Carlos Eduardo Parente Ribeiro Área de Engenharia Costeira - PENO-COPPE/UFRJ

 

Figura 3. Registro de maré meteorológica no Estado do Rio de Janeiro. A linha vermelha representa níveis previstos de maré astronômica. A 

linha azul retrata os níveis reais medidos, que englobam os efeitos de maré astronômica e maré meteorológica. As linhas pontilhas marcam 

os níveis médios do mar previstos e medidos ao longo dos dias. A maré meteorológica se caracteriza pela variação do nível médio diário, 

i.e., a diferença entre a linha pontilhada azul e a linha pontilhada vermelha. 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 83

Conseqüências na zona costeira devido a mudanças no clima de ondas 

Entenda‐se por mudanças no clima de ondas, em uma dada  localidade, a alteração das estatísticas 

pertinentes à direção de propagação, ao período e à altura das ondas  incidentes. As conseqüências 

na zona costeira devido a mudanças no clima de ondas são persistentes. Embora o clima de ondas 

mude ao longo do ano, refletindo os ventos típicos de cada estação, as mudanças aqui tratadas são 

referidas a efeitos mais persistentes. As principais conseqüências de tais efeitos são: 

Tendência de realinhamento de linhas de praia, buscando novos arcos de equilíbrio em fun‐

ção das novas direções dominantes de propagação das ondas que atingem a praia, Figura 4. 

Por se tratarem de efeitos persistentes, o novo alinhamento de equilíbrio poderá trazer sé‐

rios problemas em arcos de praia em zonas urbanas, tais como as praias oceânicas do Rio de 

Janeiro, Niterói e adjacências. 

 

As praias são formações sedimentares muito dinâmicas que, continuamente, tendem a se realinhar 

em função do clima de ondas que as atinge. A tendência do alinhamento da orla é sempre ficar per‐

pendicular à direção de propagação das ondas dominantes do clima de ondas vigente. 

Para facilitar o entendimento do mecanismo de realinhamento das praias exemplifica‐se com o caso 

da praia do Arpoador‐Ipanema‐Leblon que é alinhada com o eixo Leste‐Oeste, (Figura 4). Um obser‐

vador na praia de  Ipanema, olhando para o mar, está olhando para  Sul. As ondas  típicas de bom 

tempo, na sua maior parte, vêm do quadrante Sudeste (SE), ou seja, pela esquerda do observador. 

Em contraste, usualmente as ondas de tempestade, ou ressacas, vêm predominantemente pela direi‐

ta do observador, do quadrante Sudoeste (SW). Entretanto, vale  lembrar que também ocorrem on‐

das de bom tempo vindas de SW, bem como ressacas vindas de SE. 

Ondas do quadrante Sudeste (SE) transportam areia em direção ao Leblon. Como tal clima de ondas 

é  reinante e dominante na Primavera e Verão, a  resultante do  transporte de sedimentos é para o 

Leblon. Assim, no fim do Verão, a tendência é o Arpoador estar deficitário de areia e o Leblon supe‐

ravitário. Opostamente, no Outono e  Inverno há maior ocorrência e dominância de  ressacas, que 

usualmente provêm do quadrante Sudoeste  (SW), o clima dominante passa a ser de ondas de SW. 

Ondas desta direção transportam areia em direção ao Arpoador. Assim, ao final do Inverno, o Arpoa‐

dor tende a estar superavitário de areia e o Leblon deficitário. 

 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 84

Em todos os meses ocorrem ondas de ambos os quadrantes. Mas, na Primavera e Verão, predomina 

o  bom  tempo  e  as  ressacas  são menos  intensas  e menos  freqüentes.  Contrariamente,  no Outo‐

no/Inverno, embora o bom tempo também seja mais  freqüente que o mau tempo, ocorrem muito 

mais ressacas, e estas são mais  intensas, do que na Primavera/Verão. Estatisticamente,  levantou‐se 

que desde a década de 50, mais de 70% das ressacas fortes o bastante para ser notícia de jornal o‐

correram no Outono/Inverno, sendo cerca de 30% no Outono e de 40% no Inverno. 

Evidentemente, não há um equilíbrio perfeito ano a ano no volume de areia que é transportado de 

um  lado para o outro e vice‐versa. Há anos nos quais a resultante favorece o Leblon e há anos em 

que o Arpoador é favorecido. Entretanto, em períodos mais longos, digamos 5 anos, o equilíbrio pre‐

valece, caso contrário ou o Leblon ou o Arpoador não existiria como praia. Mas, vez por outra ocor‐

rem fenômenos naturais que causam um forte desequilíbrio. Em anos de El Niño fortes, a circulação 

atmosférica alterada muda os ventos e conseqüentemente o clima de ondas. Na praia do Arpoador‐

Ipanema‐Leblon, em anos de El Niño forte, as ressacas entram mais de Sul e SE ao invés do mais usu‐

al que é de Sul e SW. A conseqüência é o desequilíbrio no balanço do transporte de sedimentos, cau‐

sando um grande acúmulo no Leblon e déficit no Arpoador, como indica a linha pontilhada na Figura 

4. Como conseqüência de mudanças climáticas, um efeito similar pode deixar de ser episódico e tor‐

nar‐se persistente. Evidentemente, as conseqüências seriam graves. 

 

Típica tendência de realinhamento do litoral devido a mudanças de direção de propagação das ondas em anos de El Niño fortes. Efeitos similares podem ocor-rer como conseqüência de mudanças climáticas.

Figura 4:  Exemplo de arco de praia em zona urbana – praia do Arpoador‐Ipanema‐Leblon. Destaca‐se a típica tendência de realinhamento 

do litoral devido a mudanças de direção de propagação das ondas em anos de El Niño forte. Efeitos similares podem ocorrer como conse‐

qüência de mudanças climáticas. 

As praias, além de serem ótimos locais de lazer em épocas de bom tempo, são as melhores estrutu‐

ras existentes para proteção do litoral. Nada dissipa de modo mais eficiente a energia das ondas de 

uma ressaca do que uma praia. Essa dissipação ocorre basicamente através de dois mecanismos. O 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 85

primeiro está na arrebentação das ondas causada pelas profundidades decrescentes em direção ao 

litoral, como ocorre defronte a praias. O segundo está na existência de grande quantidade de areia 

para  ser  transportada pelas  correntes e  turbulências geradas na  zona de arrebentação das ondas. 

Tanto a  turbulência na arrebentação quanto o  transporte de areia são mecanismos extremamente 

eficientes para dissipação da energia das ondas.  

Entretanto, em zonas urbanas, uma praia que, em condições naturais, havia sido  livre e dissipativa, 

se torna restrita e refletiva, se o estoque de areia for limitado e as ondas começarem a atingir estru‐

turas na retro‐praia. A arrebentação de ondas sobre estruturas urbanas leva, invariavelmente, a de‐

sastres. 

Em zonas urbanas o efeito de subida do nível médio relativo do mar, efetivamente, reduz o estoque 

de areia útil entre as estruturas urbanas na retro‐praia e  linha de orla,  (Figura 1). Em situações de 

marés meteorológicas a redução do estoque efetivo é ainda maior. Portanto, fica evidente a sinergia 

entre os diversos efeitos de mudanças climáticas.  

 

Ações de engenharia para prevenção e remediação 

Discute‐se nesta seção, em caráter geral, ações que devem nortear intervenções de engenharia para 

prevenção, mitigação e remediação das consequências dos efeitos das mudanças climáticas em zo‐

nas costeiras. Basicamente dois grupos de intervenções são primordiais: 

Ações em praias oceânicas de  zonas  costeiras urbanizadas, para prevenir e mitigar  conse‐

qüências  futuras e até mesmo  remediar situações atuais. O que se quer evitar são os pro‐

blemas de erosão de praias, diminuição do estoque de areia e risco de sérios danos a benfei‐

torias urbanas como calçadas, avenidas, ruas e moradias. 

Ações em áreas costeiras de baixadas de baías e sistemas  lagunares, de modo a prevenir e 

mitigar conseqüências  futuras e até mesmo remediar situações atuais, relacionadas à cres‐

cente probabilidade de aumento de freqüência e magnitude de alagamentos e inundações. 

 

Ações preventivas em praias oceânicas de zonas costeiras urbanizadas 

Nas praias oceânicas  em  áreas urbanas ou  com  estruturas na  retro‐praia,  sempre que possível,  a 

melhor solução é aumentar o estoque de areia, ou no jargão técnico, de engordamento de praia. O 

esquema da Figura 5  ilustra o resultado esperado com o aumento de estoque. Na  figura sugere‐se 

um aumento da largura da praia, afastando a linha de costa das estruturas urbanas e a criação de um 

campo de dunas como reserva estratégica. 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 86

O custo de tal tipo de intervenção é muito baixo em face aos benefícios. Os principais benefícios são 

o de manter e até melhorar as condições para o turismo e laser, além de prover o estoque de areia 

necessário para evitar os transtornos que decorreriam das mudanças climáticas. Se nada for feito, as 

conseqüências de elevação do NMM, em sinergia com ressacas e marés meteorológicas mais inten‐

sas,  inexoravelmente acarretará em episódios de destruição de calçadas e avenidas de  forma cres‐

cente, chegando a inviabilizar áreas residenciais defronte a praias. 

Em praias ainda com urbanização leve, será provavelmente mais econômico retroceder as benfeito‐

rias públicas como estradas, do que engordar as praias. 

 

Perfil atual

Perfil projetado

~100m

Berma

Duna

Nível Médio do Mar - AtualNível Médio do Mar +50cm

Perfil com NMM +50cm

Perfil atual

Perfil projetado

~100m

Berma

Duna

Nível Médio do Mar - Atual

Perfil com NMM +50cm

Nível Médio do Mar +50cm

 

Figura 5: O perfil azul indica uma possível intervenção de aumento de estoque de areia em uma praia oceânica em zona costeira urbaniza‐

da, como na área da praia do Arpoador.  

Em zonas costeiras que vierem a ser urbanizadas no futuro, é imperativo respeitar uma maior distân‐

cia em relação à linha de orla e, em nenhuma hipótese, ocupar ou aprisionar a primeira linha de du‐

nas sob avenidas ou calçadas. Basicamente, este é o erro em quase todas as cidades costeiras. Nas 

praias do município do Rio de Janeiro, por exemplo, avenidas e calçadas estão construídas sobre o 

primeiro  cordão de dunas, efetivamente  retirando  a  areia das dunas do estoque estratégico para 

proteção da praia e do litoral. Na imagem da Figura 4 tal efeito é especialmente notável nas regiões 

do Arpoador e do Leblon. 

 

Em locais onde as praias são muito extensas, e.g. praia da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro, pode ser 

necessário  segmentar a praia criando enseadas para viabilizar a estabilidade do engordamento de 

praia, como exemplifica a Figura 6.  

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 87

 

Figura 6. Possível solução para possibilitar o aumento do estoque de areia em praias urbanas muito extensas. No exemplo a praia da barra 

da Tijuca no Recreio foi segmentada por guia‐correntes ligando a Lagoa de Marapendi ao mar. Além de viabilizar o engordamento indicado, 

criou‐se uma condição para melhoria da qualidade das águas na Lagoa. No caso, outra abertura mais a  leste seria necessária, para criar 

outra enseada. 

Finalmente, vale ressaltar que obras de aumento de estoque de areia,  i.e., engordamento de praia, 

podem ter validade de décadas, vide Copacabana. Porém há casos em que intervenções de reposição 

de areia são necessárias, em geral, não mais que uma vez por década. 

 

Ações preventivas em baixadas de baías e sistemas lagunares 

De longe, as intervenções em áreas costeiras urbanizadas em baixadas de baías e sistemas lagunares 

são as mais complexas sob o ponto de vista social e político, por envolverem a realocação de pessoas 

e rearranjo de zonas de cidades. Tais ações efetivamente irão demandar planos diretores municipais 

a serem seguidos por décadas. É muito provável que haja necessidade de uma ação coordenadora e 

fomentadora do Estado para viabilizar as intervenções. 

Em regiões costeiras urbanizadas em baixadas de lagoas costeiras e baías, sempre que possível, deve‐

se iniciar o processo de transferência das pessoas para outras áreas e o desfazimento da urbanização 

nas áreas de depressões naturais, mais vulneráveis a alagamentos, ou que passarão a ter crescentes 

problemas de inundação.  

Com o desfazimento da urbanização, as áreas desocupadas devem ser rapidamente  transformadas 

em parques ou áreas de  recreação para uso da população. Tais áreas passariam a  funcionar como 

zonas estratégicas de amortecimento e acumulação de água, potenciais piscinões naturais, mitigando 

efeitos que de outra forma ocorreriam mais intensamente em áreas vizinhas. Isto é, terão uso como 

parque e área de lazer em condições de bom tempo, mas tais áreas serão eventualmente alagadas e 

inundadas  em  situações de marés  altas  e  grandes  chuvas. A drenagem urbana das  áreas  vizinhas 

aproveitará tais áreas para despejo de suas águas em situações de necessidade.  

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 88

Em regiões propensas a alagamentos crescentes nos quais seja muito difícil a transferência da popu‐

lação e o desfazimento da urbanização, há que se projetar sistemas de diques e comportas. Entretan‐

to, dado o alto custo e as dificuldades operacionais de tais sistemas, devem ser restringidos a casos 

excepcionais. 

Muitas das  regiões mais vulneráveis a alagamentos e  inundações  são conhecidas pelas prefeituras 

locais. Entretanto, a demarcação precisa de tais regiões demanda  levantamentos topográficos com 

altimetria detalhada, pelo menos entre as cotas do NMM e a cota +2,5m. Nesta  faixa de cotas, as 

linhas de nível devem ser definidas no mínimo a cada 0,5m.  

Considerando que a maioria das áreas propensas a inundações e alagamentos é ocupada por popula‐

ção de baixa renda, com urbanização muito precária, esta pode ser uma oportunidade para solucio‐

nar dois problemas. Primeiro, resgatar a dignidade desta população com projetos de urbanização e 

moradia adequados, melhorando a qualidade de vida no município. Segundo, criando condições es‐

tratégicas para desenvolvimento do município e enfrentamento dos desafios a serem postos pelas 

mudanças climáticas. 

No que concerne ao potencial problema de captação de água salobra, decorrente da maior intrusão 

salina devido à subida persistente do NMM, e ainda mais em eventos transientes, porém sinérgicos, 

de marés meteorológicas, deve‐se prever a realocação dos pontos de captação. Evidentemente, de‐

vem mudar para montante, os pontos de captação que passarem a captar água salobra. 

O  dimensionamento  de  tais  intervenções  demandará  conhecimento  de  topo‐hidrografia  de  baías, 

sistemas lagunares e trechos estuarinos de rios afluentes. A Figura 7 exemplifica um tipo de informa‐

ção que se pode obter com modelagem computacional para auxílio a projetos de engenharia e plane‐

jamento urbano de cidades em baixadas. Para utilização de modelos é  imprescindível dispor‐se de 

dados atualizados de batimetria e contornos de margens. A carência de tais dados em sistemas lagu‐

nares e rios de baixada é muito grande. 

O exemplo da Baía de Guanabara na Figura 7 mostra que efeitos da subida do NMM não são lineares 

no interior dos corpos de água. Gráficos de nível de maré similares aos apresentados podem ser fei‐

tos prontamente para outros pontos da Baía e ao  longo dos rios afluentes. Repare que na previsão 

feita para 2100, considerou‐se a ocorrência de assoreamento na Baía de Guanabara. A consideração 

feita quanto ao modo de assoreamento  foi expedita, objetivando meramente exemplificar um dos 

estudos que podem ser feitos através de modelagem computacional. 

O que se apresenta como exemplo na Figura 7, pode ser efetivado para outras baías, sistemas lagu‐

nares e estuários do Estado, permitindo avaliar potenciais níveis de  inundação em diferentes cená‐

rios. Dada a complexidade de tal empreitada e as especificidades de cada corpo de água, tal tarefa 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 89

excede em muito o escopo deste relatório. De modo a se viabilizar tais estudos, será necessário de‐

senvolver um programa de  trabalho com objetivos bem definidos,  incorporando campanhas de  le‐

vantamento de dados. 

 

0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 400000

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(UTM)

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Rio São João de Meriti

Rio Sarapuí

Rio Iguaçú

REDUC

CTA

Rio Estrela

Ilha do Governador

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Profundidades (m)__ RN = NMM‐2001 __

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Profundidades (m)__ RN = NMM‐2001 __

 

Batimetria em 2100 

Batimetria em 2001 Figura 7. Estimativa de efeitos da subida do nível médio do mar nas marés na Baía de Guanabara. O gráfico acima mostra previsões de 

variação dos níveis de maré na  região da  foz do Rio  Iguaçú. Os mapas mostram estimativas de mudanças de batimetria decorrentes de 

assoreamentos prováveis. Em ambos as batimetrias são referidas ao NMM de 2001. Nota‐se que devido a efeitos dinâmicos, a variação 

efetiva nos níveis de maré no fundo da baía pode ser até 10% superior à variação do nível médio do mar. 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 90

Diagnóstico da vulnerabilidade da orla oceânica metropolitana do Rio de Janeiro 

Nesta seção apresenta‐se um diagnóstico da vulnerabilidade da orla da zona metropolitana da cidade 

do Rio de Janeiro subdividida em três segmentos: 

1. De Ponta Negra e Niterói. 

2. Da Barra da Baía de Guanabara à Praia de Grumari. 

3. Da Barra de Guaratiba à Restinga da Marambaia. 

 

Vulnerabilidade da orla entre Ponta Negra a Niterói 

O  litoral entre Ponta Negra e Niterói é formado por extensas praias associadas a cordões arenosos, 

de orientação Leste‐Oeste diretamente expostas a tempestades vindas do sul. O aporte de sedimen‐

tos continentais é completamente impedido pela presença dos cordões litorâneos em cuja retaguar‐

da se desenvolveram  lagunas para as quais convergem os pequenos cursos de água que drenam o 

flanco oceânico do maciço costeiro. 

A orientação do litoral, como em todo o segmento da região oceânica metropolitana, dispõe as prai‐

as à ação frontal de ondas de tempestade, resultando em máxima exposição a eventos extremos. A 

urbanização é densa e mais ou menos contínua na orla de Niterói e descontínua no município de 

Maricá com concentrações na extremidade oeste de Itaipuaçu, Barra de Maricá e Ponta Negra (Fig. 

2). 

 

Figura 8. Urbanização da orla costeira de Itaipuaçu, em primeiro plano, seguido pelas praias de Itaipu, Camboinhas e Piratininga. No fundo 

a barra da Baía de Guanabara. Observar que em  Itaipuaçu a urbanização da primeira barreira arenosa, entre a praia e o canal, é ainda 

esparsa. (Foto Dieter Muehe). 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 91

O primeiro mapeamento com indicação de segmentos costeiros segundo o grau de vulnerabilidade à 

erosão foi apresentado em 1989 (Muehe & Corrêa 1989) para as praias de Guaratiba e Itaipuaçu, no 

Município de Maricá (Figura 9) e Piratiniga, Camboinhas, Itaipu e Itacoatiara, em Niterói (Figura 10). 

 

 

Figura 9. Classificação da vulnerabilidade da linha de costa entre a Praia de Itaipuaçu e Ponta Negra, extremidade oeste da orla oceânica 

da Região Metropolitana do Rio de Janeiro 

 

Figura 10. Classificação da vulnerabilidade das praias oceânicas de Niterói 

Trabalhos  subseqüentes  (Lins‐de‐Barros 2005; Muehe et al.; 2006; Silva et al. 2008a), assim  como 

relatos em jornais, confirmaram o incremento da erosão nas áreas identificadas como de risco. 

Não obstante os claros indícios de erosão e vulnerabilidade costeira, a comparação de perfis topográ‐

ficos, ao longo da costa entre Niterói e Cabo Frio indica que, apesar das amplas variações na largura e 

volume dos perfis de praia, a linha de costa na interseção da face da praia com o nível médio do mar, 

não apresentou, ao longo das quase quatro últimas décadas, tendência de migração ou modificação 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 92

do estoque de sedimentos (Muehe 2011). A comparação entre duas tempestades excepcionais mos‐

trou resultados divergentes, com efeitos erosivos severos e acumulação simultânea de sedimentos 

na formação de um banco na antepraia associados a uma das tempestades e, na outra, efeitos erosi‐

vos pequenos, que se  limitaram à praia e parte do  flanco oceânico das dunas  frontais, com  ligeiro 

ganho de sedimentos quando consideradas as dunas  frontais como um  todo.  Isto sugere que  tem‐

pestades excepcionais produzem erosão, mas podem  também ser  responsáveis pela  recomposição 

do estoque de areias a partir de remobilização de sedimentos da plataforma continental interna em 

direção à costa e conseqüente reequilíbrio do balanço sedimentar.  Isto se aplica especialmente ao 

litoral entre a Marambaia e o Cabo Frio cuja plataforma continental interna apresenta espessa cober‐

tura de areias quartzosas. 

A ressaca de maior intensidade, com ondas altas, fortes ventos e maré de sizígia, ocorreu em maio de 

2001 e deixou vestígios de sua passagem ao  longo de toda a orla costeira, com recuo da escapa da 

pós‐praia da ordem de um decâmetro ou um pouco mais. Este recuo tem sido interpretado como um 

indicador da  tendência erosiva de  toda a orla. Esta, no entanto, voltou à  sua posição anterior,  se 

considerarmos a posição média de  interseção da  face praial com o nível médio do mar. Os pontos 

mais críticos de erosão, mesmo que não ativos, representam pois um sinal de alerta sobre a necessi‐

dade de manter a  faixa de amortecimento de acordo com as normas do Projeto Orla cuja  largura 

mínima  foi definida considerando uma elevação do nível do mar da ordem de 1 m  (Muehe, 2001; 

2004). 

Segue um  retrospecto do que ocorreu ao  longo de cada um dos  trechos da orla de Ponta Negra a 

Niterói. 

Entre a Ponta Negra e a Barra de Maricá a erosão foi intensa incluindo perda parcial ou total de resi‐

dências devido à construção das mesmas muito próximas ao  limite da barreira arenosa com a praia 

(Figura 11). Após a  tempestade os moradores cujas casas ainda continuavam sob risco passaram a 

implantar, na praia, um conjunto de defesas, de eficácia duvidosa, que variavam desde a construção 

de um simples muro, defronte à casa, até o enterramento de estruturas de suporte como manilhas, 

estacas  e  outras  supostas  “defesas”.  Os  prejuízos  foram  avaliados  como  sendo  da  ordem  de 

R$200.000/km, sendo que ¾ correspondentes aos casos de perda  total e o  resto a gastos com  re‐

construção, somando‐se a  isto ainda a subseqente desvalorização temporária dos  imóveis  (Lins‐de‐

Barros 2005).  

 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 93

 

Figura 11  Barra de Maricá, logo após a tempestade de maio de 2001,mostrando a proximidade das casas à praia resultado do não estabe‐

lecimento de uma faixa de amortecimento. (Foto Dieter Muehe) 

A recuperação da praia após a tempestade parece ter sido total, não havendo evidência de uma ten‐

dência de recuo da linha de costa ao comparar perfis topográficos transversais em quase quatro dé‐

cadas de estudo (Figura 12). 

 

0 50 100 150 200 250Distância (m)

-1012345

Cot

a(m

)

15.02.197302.05.200414.12.200404.10.2010

Barra de Maricá

 

Figura 12. À esquerda superposição de perfis transversais à barreira arenosa levantados em 1973, 2004 e 2010, indicando a não retrogra‐

dação da linha de costa e à direita, foto de outubro de 2010, mostrando a recuperação da berma de tempestade, área vegetada, e da praia. 

(Foto Dieter Muehe). 

Ao  longo de toda essa orla a frente de urbanização se  inicia quase que em contato com a praia en‐

contrando‐se extremante vulnerável,  tanto a eventos extremos quanto ao ajustamento da costa a 

uma elevação do nível do mar  (Figura 13). A  implantação da  faixa de amortecimento, proposta no 

Projeto Orla para novas construções, representa assim uma ação a ser concretizada. 

 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 94

 

Figura 13: Frente de urbanização entre Barra de Maricá e Ponta Negra (ImagemGoogle Earth). 

Na praia de Itaipuaçu, a urbanização se expandiu principalmente sobre a barreira arenosa mais inte‐

riorizada, enquanto a barreira frontal, que apresenta claros sinais de transposição por ondas e des‐

truição da estrada de barro construída em seu topo, apresenta uma ocupação ainda incipiente e es‐

pacialmente descontínua (Figura 14). 

Apesar dos nítidos sinais de  instabilidade geomorfológica há controvérsias se esses sinais represen‐

tam um processo de recuo da linha de costa ou apenas uma resposta dinâmica, conforme ressaltado 

por Silva et al. (2008a) para o setor oeste da praia de Itaipuaçu, caracterizada por retrogradação, da 

ordem de 13m, transposição da barreira por ondas (overwash) e ampla variabilidade do perfil praial. 

O fato é que o capeamento de barro da estrada, construída sobre a barreira arenosa, se apresenta 

em grande parte destruído dando lugar ao substrato de areia grossa original, impedindo o trânsito de 

automóveis (Figura 15).  

 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 95

 

Figura 14. Segmento da praia de Itaipuaçu mostrando a baixa ocupação da barreia arenosa frontal, entre a praia e o canal, e a ocupação 

mais densa da barreira interiorizada, formada durante a penúltima transgressão marinha, quando o nível do mar esteve cerca de 6 a 10 m 

mais elevado que o nível atual (Suguio et al.2005). 

 

 

Figura 15: Praia de Itaipuaçu. Depósitos de transposição de ondas e destruição do pavimento da estrada. (Foto Dieter Muehe). 

Não obstante a aparente vulnerabilidade, caracterizada por depósitos de leques de transposição, os 

mesmos  não  representam  uma  tendência  recente,  podendo  ser  observados  em  fotos  do  final  da 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 96

década de 1940 expostos em um restaurante em  Itaipuaçu e reproduzido do acervo da Comércio e 

Indústria Atlântico S/A ‐COMINAT (Figura 16). 

 

Figura 16. Foto de Itaipuaçu do final da década de 1940, mostrando a ocorrência de leques de transposição. Fonte acervo da COMINAT. 

 

Entre as praias oceânicas de Niterói, principalmente  Itaipu, Piratininga e  Itacoatiara, apenas a praia 

de Piratininga tem mostrado o efeito de tempestades extremas, devido à destruição, em duas ocasi‐

ões, de um muro de proteção, construído dentro do perfil dinâmica da praia (Figura 17).  

 

 

-20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110

Distância (m)

012345678

Cot

a(m

)

11.02.197409.08.200220.08.200227.08.200206.09.200213.09.2002

Praia de Piratininga - Niterói - RJ

 

Figura 17: Praia de Piratininga. Destruição de muro após ressaca de 2003. À direita superposição de perfis antes e após a construção do 

muro, mostrando a manutenção da largura da praia. (Foto Dieter Muehe). 

 

Na Figura 18é apresentada uma classificação das praias e dos segmentos sob risco de erosão. 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 97

 

Figura 18: Classificação das praias e indicação dos segmentos com evidências de erosão da região metropolitana do Rio de Janeiro a leste 

da Baía de Guanabara. Fonte Muehe et al. 2006 

A vulnerabilidade da orla da barra da Baía de Guanabara à Praia de Grumari 

A orla oceânica urbanizada do Município do Rio de Janeiro compreende os arcos das praias Verme‐

lha, Leme‐Copacabana, Leblon‐Ipanema, Vidigal, Barra da Tijuca‐Recreio dos Bandeirantes e Grumari. 

Com exceção de grande parte do Recreio dos Bandeirantes, o que há de comum é a  limitação das 

pós‐praia com muros o que impede o ajuste a uma elevação do nível do mar. Ajuste também impe‐

dido pela proximidade de casas e prédios. Assim sendo, a proteção da orla terá que ocorrer por meio 

de recuperação artificial das praias, obras de engenharia ou uma combinação dessas e outras solu‐

ções. A orientação dos arcos praiais em equilíbrio dinâmico com as direções das ondas de tempesta‐

de e de tempo bom provoca desequilíbrios ocasionais levando à perda ocasional de sedimentos em 

uma das extremidades da praia e acumulação no outro, como mostra o exemplo das praias de Ipa‐

nema e Leblon, discutido na seção 0. Este equilíbrio dinâmico poderá ser rompido em caso de altera‐

ção significativa do clima de ondas, tanto em  termo de direções de  incidência das mesmas quanto 

por aumento de freqüência e intensidade de tempestades. 

 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 98

O agravamento de problemas atuais como o bloqueio de canais de drenagem por ação da elevação 

do nível do mar, seja por empilhamento durante ressacas (Figura 19) seja pelo aumento do nível do 

mar, tenderá a aumentar a incidência de enchentes. 

 

Figura 19:  Propagação de ondas ao longo do canal do Jardim de Alah (limite entre as praias de Ipanema e Leblon) durante maré baixa. Foto 

Cláudio Neves. 

No Recreio dos Bandeirantes o segmento central da orla, defronte à Lagoa de Marapendi, não é ur‐

banizada, ao contrário das duas extremidades  incluindo a praia de Grumari e a Barra da Tijuca, cf. 

Figura 20 à esquerda. A  tendência de ocupação das áreas baixas à  retaguarda da barreira arenosa 

representa um risco potencial, pois estas áreas  já apresentam hoje dificuldade de drenagem, como 

se vê na Figura 20 à direita. 

            

Figura 20.: Urbanização ao longo da Barra da Tijuca com segmento central não ocupado, e ocupação de áreas de baixada na região oeste 

do Recreio dos Bandeirantes. (Foto Dieter Muehe). 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 99

Uma classificação das praias e dos pontos de risco à erosão é representada na Figura 21. 

 

Figura 21: Classificação das praias expostas e indicação dos segmentos com evidências de erosão da região metropolitana do Rio de Janei‐

ro. Fonte Muehe et al. 2006 

 

A vulnerabilidade da orla entre Barra de Guaratiba e Restinga da Marambaia 

Com exceção de pequeno segmento urbanizado na Barra de Guaratiba, o resto desse trecho da orla é 

dominado pela Restinga da Marambaia, extensa e estreita barreira arenosa defronte à Baía de Sepe‐

tiba (Figura 22).  

Por constituir no seu segmento oriental a Reserva Biológica e Arqueológica de Guaratiba, além de, 

em toda extensão, estar reservada a exercícios militares, a restinga não se apresenta urbanizada. Sua 

principal vulnerabilidade consiste na possibilidade de ruptura por uma combinação de deflação (blow 

out) e transposição das ondas (Figura 23‐esq.), principalmente no segmento central da restinga onda 

a largura da barreira é muito estreita, um estreitamento acentuado pela erosão do reverso da restin‐

ga em contato com a baía  (Figura 23‐dir.). Esta ruptura poderá permitir a propagação ocasional de 

ondas para o interior da baía em direção à região portuária. 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 100

 

Figura 22: Classificação das praias e indicação dos segmentos com evidências de erosão da Restinga da Marambaia e orla da Baía de Sepe‐

tiba. Fonte Muehe et al. 2006 

 

          

Figura 23:   Restinga da Marambaia: À esquerda blow out  como  facilitador da  transposição de ondas do oceano para a baía. À direita, 

erosão no flanco da restinga voltado para a baía de Sepetiba. Fotos Dieter Muehe. 

Medidas recomendáveis e considerações finais sobre intervenções 

Aspectos práticos de intervenções de engenharia foram discutidos na seção 0. Entretanto, uma ques‐

tão que se coloca é até onde pode ou deve uma Prefeitura intervir no processo de ocupação partindo 

de  cenários de mudanças  climáticas e oceanográficas que, para os aumentos maiores do nível do 

mar, beiram à especulação. 

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 101

O cenário mais pessimista de elevação do nível do mar, previsto no último relatório do IPCC de 2007, 

é de apenas 48 cm até o ano 2100. É pouca elevação e bastante tempo. Porém, discute‐se mais re‐

centemente sobre a possibilidade de elevação do NMM de 1,0m, como considerado no exemplo da 

Figura 7. Dependendo de variáveis desconhecidas este cenário poderá mudar caso se intensifique o 

desgelo na Groenlândia e na Antártica. Não há consenso quanto ao grau de probabilidade de ocor‐

rência destes eventos.  

Mais importante que a elevação do nível do mar, a médio prazo, são as esperadas alteração do clima, 

que poderá se tornar mais seco ou resultar numa estação de estiagem mais prolongada associada à 

alteração e possível incremento na intensidade de chuvas que levará a um aumento do escoamento 

superficial, deposição de  sedimentos nas baixadas,  enchentes  e deslizamentos.  Para os processos 

costeiros o incremento de freqüência e intensidade de tempestades extremas assim como uma alte‐

ração no clima de ondas tem efeito em termos de erosão e transporte de sedimentos e no próprio 

balanço de sedimentos.  

Intervenções e projetos de engenharia demandam dados efetivos. Em se tratando de variáveis ambi‐

entais, há a necessidade de séries temporais por décadas para aumento de confiabilidade e seguran‐

ça em projetos e tomadas de decisão. Como os dados efetivos necessários inexistem ou são de curta 

duração, para a avaliação de tendências de mudanças climáticas e de regime de ondas, passa a ser 

fundamental a obtenção de dados que permitam a  identificação destas tendências. Para este fim o 

estabelecimento e  integração de uma rede permanente de monitoramento de variáveis meteoroló‐

gicas e oceanográficas, concebida para o fim específico de identificação de alterações no clima, é um 

passo fundamental para que dentro de algumas décadas se possa ter uma visão mais clara das ten‐

dências o que permitirá então determinar com mais seguranças as medidas a serem tomadas.  

No que  tange às praias a solução, em caso de erosão, será sua  recuperação por aterro e por uma 

combinação de aterro e obras de engenharia, como discutido na seção 0. Para este fim deverão ser 

efetuados mapeamentos do recobrimento sedimentar da plataforma continental para  identificação 

de areias de granulometria adequada e sua cubagem. No caso das praias próximas a embocadura da 

Baía de Guanabara pode  ser uma boa  fonte de empréstimo de areias de variadas granulometrias. 

Para uma ação mais  imediata  seria  importante  inibir a expansão da ocupação em áreas que  já  se 

encontram  sob  risco pela proximidade do  lençol  freático e de ocorrência de enchentes  como nas 

baixadas da Barra da Tijuca, Jacarepaguá e Sepetiba. 

Convém também incrementar, com muito vigor, o plantio de árvores nas ruas da cidade e o reflores‐

tamento das regiões desflorestadas para a melhoria do clima urbano, da estética da paisagem e re‐

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 102

dução dos efeitos de eventos extremos e consequente diminuição da erosão e assoreamento de rios 

e canais de drenagem. 

A reciclagem e treinamento de professores de Geografia e Biologia com enfoque nas alterações cli‐

máticas e suas conseqüências é outra estratégia muito importante a ser efetivada para a conscienti‐

zação e preparação da próxima geração. 

De acordo com os resultados do Grupo III do IPCC (e.g. IPCC, 1994; IOC/UNESCO, 1999), as possíveis 

respostas às mudanças climáticas na zona costeira dividem‐se em três categorias: proteção, acomo‐

dação e recuo. No caso de zonas fortemente urbanizadas ou com utilização  industrial bem definida 

(por exemplo, portos), justificam‐se as soluções de engenharia de maior vulto. Em regiões mediana‐

mente ocupadas, existe em geral possibilidade de se acomodar novos usos  (por exemplo, transfor‐

mar áreas vulneráveis em parques ou criar ambientes para aqüicultura), mas principalmente é possí‐

vel planejar com antecipação usos  futuros do espaço costeiro através de projetos de zoneamento. 

Finalmente, existem situações onde não há nada a fazer ou que os custos de realocação de casas e 

benfeitorias  sejam  econômica  e  ambientalmente mais  recomendáveis,  inclusive  em  benefício  da 

segurança da população. 

No Estado do Rio de Janeiro, encontram‐se atualmente em curso essas três categorias de resposta, 

ou podem ser citados exemplos no passado que  ilustram a proteção  (e.g. praia de Copacabana), a 

acomodação (e.g. criação de reservas ou parques costeiros) e o recuo (e.g. pontal de Atafona).  

A ocupação urbana do Rio de Janeiro vem se expandindo de modo contínuo, numa faixa que se es‐

tende desde Macaé até Mangaratiba. Pode‐se antecipar, até 2100, a formação de uma megacidade 

(IOC/UNESCO, 1999), com problemas relacionados aos usos de recursos hídricos e minerais, à polui‐

ção atmosférica, à manutenção de ecossistemas costeiros e à proteção das benfeitorias urbanas ou 

instalações industriais. Esta é a megacidade que enfrentará os possíveis efeitos das mudanças climá‐

ticas, demandando o encaminhamento de soluções técnicas e políticas. 

Ao contrário de muitos países que  já enfrentam situações críticas relacionadas ao nível do mar e a 

vulnerabilidade a  fenômenos climáticos, o Estado do Rio de  Janeiro  situa‐se em condição  relativa‐

mente confortável. Acredita‐se que as mudanças que ocorrerão nos próximos 30 anos sejam decisi‐

vas para a prospecção até 2100. Portanto há tempo para se  instalar um programa sério de monito‐

ramento ambiental, que garanta a escolha adequada e o projeto bem fundamentado das soluções de 

engenharia a serem adotadas no futuro. De acordo com o estudo elaborado para o U.S. Federal E‐

mergency Management Agency (HOWARD, 2005), uma lista de dez quesitos foi elaborada para orien‐

tação das agências de seguro quanto à proteção contra inundações costeiras. Esta lista de ações po‐

MEGACIDADES, VULNERABILIDADES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO | 103

deria seguramente ser adotada pelo Estado do Rio de Janeiro quanto à mitigação das vulnerabilida‐

des em face de mudanças climáticas. Os itens considerados são os seguintes: 

Determinação do nível médio do mar e de ambientes costeiros. 

Procedimentos de projeto e de avaliação das estruturas costeiras. 

Cálculo acurado das transformações sofridas pelas ondas por efeito batimétrico. 

Avaliação da erosão induzida por marés meteorológicas. 

Cálculo do espraiamento das ondas (alcance das ondas em situação de ressaca). 

Cálculo do efeito dinâmico das ondas sobre o nível médio do mar. 

Cálculo do galgamento das ondas em estruturas costeiras. 

Avaliação permanente das alturas das ondas. 

Mapeamento das zonas de risco ao longo da costa. 

Mapeamento das dunas frontais 

Um detalhamento dos diversos itens listados está disponível em Rosman et alli (2009). 

 

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