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i Artigo de Revisão Bibliográfica Mestrado Integrado em Medicina Dentária INFLUÊNCIA DA OBESIDADE NA SAÚDE ORAL Laura Catarina Sousa Tavares Orientadora: Maria de Lurdes Ferreira Lobo Pereira Coorientadora: Inês Alexandra Costa Morais Caldas Porto, 2019

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Artigo de Revisão Bibliográfica Mestrado Integrado em Medicina Dentária

INFLUÊNCIA DA OBESIDADE NA SAÚDE ORAL

Laura Catarina Sousa Tavares

Orientadora: Maria de Lurdes Ferreira Lobo Pereira

Coorientadora: Inês Alexandra Costa Morais Caldas

Porto, 2019

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Artigo de Revisão Bibliográfica

Mestrado Integrado em Medicina Dentária

“INFLUÊNCIA DA OBESIDADE NA SAÚDE ORAL”

Autora:

Nome completo: Laura Catarina Sousa Tavares

Número de aluno: 201602931

E-mail: [email protected] ou [email protected]

Orientadora:

Maria de Lurdes Ferreira Lobo Pereira

Professora auxiliar da Faculdade Medicina Dentária da

Universidade do Porto

Coorientadora:

Inês Alexandra Costa Morais Caldas

Professora associada da Faculdade Medicina Dentária da Universidade do Porto

Área científica: Medicina Dentária Preventiva e Saúde Comunitária

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“Ontem você era tudo, hoje tanto faz.

O mundo dá voltas, o tempo passa,

as pessoas evoluem, a vida é mágica,

e quem fica parado simplesmente desaparece,

vai ficando pra trás.”

Augusto Branco

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, desde já, à minha orientadora, Professora Doutora Maria de Lurdes

Pereira, por todas as sugestões, simpatia, rigor, paciência, disponibilidade e

encorajamento, que foram essenciais na elaboração e conclusão deste presente trabalho.

Um agradecimento especial também à minha coorientadora, Professora Doutora

Inês Caldas, por todo o conhecimento que me transmitiu, por todas as dúvidas

esclarecidas e pelo apoio prestado.

Aos meus pais, irmão, avós e restante família, por todo o apoio incondicional, por

estarem permanentemente ao meu lado em todas as fases da minha vida e por acreditarem

sempre em mim.

Aos meus amigos, por me ajudarem sempre que precisei, pelo companheirismo e

por todos os momentos vividos, que irão ficar para sempre no meu coração.

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ÍNDICE

· Agradecimentos................................................................................................. IV

· Índice de Tabelas .............................................................................................. VI

· Índice de Figuras ............................................................................................. VII

· Lista de Abreviaturas .....................................................................................VIII

· Resumo ............................................................................................................. IX

· Abstract .............................................................................................................. X

· Introdução ........................................................................................................... 1

· Materiais e métodos ............................................................................................ 5

· Desenvolvimento .................................................................................................. 7

• Determinação da composição corporal e diagnóstico de obesidade………….7

• Obesidade e erupção dentária………………………………………………...10

• Obesidade e cárie dentária …………………………………………………...12

• Obesidade e doença periodontal……………………………………………...16

• Obesidade e intervenções cirúrgicas na cavidade oral………………............20

• Obesidade e cancro oral………………………………………………………21

• Obesidade e outros aspetos…….………………………………………...........23

• Medidas preventivas para combate da obesidade e papel do médico dentista

…………………………….…….…………………………………….…...........24

· Conclusão........................................................................................................... 26

· Referências bibliográficas ................................................................................. 27

· Anexo I: Parecer da orientadora ...................................................................... 31

· Anexo II: Declaração de autoria ....................................................................... 32

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ÍNDICE DE TABELAS

· Tabela 1- Classificação do estado ponderal segundo a IMC .............................. 8

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ÍNDICE DE FIGURAS

· Figura 1- Complicações que surgem como consequência da obesidade.

Adaptado de AlSulaiman et al (2017)(1)…..…………………………………………...2

· Figura 2- Esquema da pesquisa bibliográfica ..................................................... 6

· Figura 3-Diagrama a explicar os fatores envolvidos no desenvolvimento da

cárie. Adaptado de Monteiro et al (2014) (2) ............................................................. 12

· Figura 4- Modelo que relaciona a doença periodontal com a obesidade e com

as doenças crónicas associadas à obesidade. Adaptado de Dahiy et al

(2012)(3)…………………………………………………….…………………………..18

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LISTA DE ABREVIATURAS

OMS: Organização Mundial de Saúde

IMC: Índice de Massa Corporal ou Índice de Quetelet

AVC: Acidente Vascular Cerebral

DOC: Espessura das Dobras Cutâneas

IC: Índice de Conicidade

IRCQ: Índice da Relação Cintura Quadril

IgF-1: Insulin-like Growth Factor 1

CPO-D: Dentes Cariados, Perdidos e Obturados

CAL: Clinical Attachment Loss

PPD: Probing Pocket Depht

TNF- α: Fator de necrose tumoral alfa

IL: Interleucina

PAI-1: Inibidor da ativação do plasminogénio-1

MMPs: Metaloproteinases da matriz

HPV: Vírus do Papiloma Humana

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RESUMO

Introdução: A obesidade é uma doença crónica que se caracteriza pela

acumulação excessiva de tecido adiposo. A sua prevalência tem aumentado, sendo

considerada pela OMS como uma epidemia global. Esta é uma das causas de morte

prematura, afetando consideravelmente a saúde sistémica e a saúde oral.

Objetivo: Efetuar uma revisão bibliográfica sobre a obesidade e as suas

repercussões na saúde oral, de modo a sistematizar a informação disponível sobre a

temática.

Materiais e Métodos: A presente monografia foi elaborada a partir de uma

revisão da literatura existente. Foi efetuada a pesquisa bibliográfica de artigos científicos

em bases de dados nacionais e internacionais, como a Medline, Pubmed, Scielo, Scopus,

Science Direct e Google Scholar.

Desenvolvimento: A nível oral, a obesidade tem várias repercussões, sendo que

está associada a uma erupção dentária precoce, podendo levar ao aparecimento de más-

oclusões e apinhamentos, problemas ortodônticos e distúrbios nas articulações

temporomandibulares. A cárie e a obesidade são duas doenças com etiologia

multifatorial, sendo que apresentam fatores de risco comuns, como os hábitos dietéticos

e o estatuto socioeconómico. A obesidade tem também sido sugerida como um possível

fator de risco no desenvolvimento de periodontite, apesar de não estarem totalmente

esclarecidos os mecanismos biológicos que estão subjacentes. Esta tem sido igualmente

associada a dificuldades cirúrgicas na extração dos terceiros molares e a um aumento de

complicações pós-cirúrgicas.

A obesidade poderá ainda estar associada a um risco aumentado de cancro oral,

no entanto, serão necessários mais estudos nesta área.

Conclusão: É essencial enfatizar a importância de um estilo de vida saudável e

ativo, de modo a prevenir o aparecimento da obesidade. A nível oral, é também

importante o reforço das medidas preventivas, de modo a evitar todas as consequências

orais que poderão advir da obesidade.

Palavras-chave: Obesidade, saúde oral, erupção dentária, cárie, doença

periodontal, medidas preventivas.

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ABSTRACT

Introduction: Obesity is a chronical disease that is characterized by the excessive

accumulation of adipose tissue. Its importance has been increasing, being considered by

the OMS as a global epidemic. Obesity is one of the causes of premature death,

considerably affecting the systemic health and the oral health.

Objective: To carry out a literature review on obesity and its repercussions on

oral health, in order to systematize the available information on the subject.

Materials and methods: This monography was elaborated from a review of

existing literature. It was performed a bibliographic search of scientific articles in national

and international databases, such as Medline, Pubmed, Scielo, Scopus, Science Direct and

Google Scholar.

Development: Obesity has repercussions at oral level, being associated with early

dental eruption and may lead to the appearance of bad occlusion and crowding,

orthodontic problems and disorders of the temporomandibular joints. Dental cavity and

obesity are diseases with multifactorial etiology, with common risk factors such as dietary

habits and socioeconomic status, however, there is no causal relationship between them.

Obesity has been suggested as a possible risk factor in the development of periodontal

disease, although the biological mechanisms behind this are not fully understood. This

has also been associated with surgical difficulties in the extraction of third molars and an

increase in postoperative complications.

Obesity may be associated with an increased risk of oral cancer, however, further

studies in this area are still required.

Conclusion: It is essential to emphasize the importance of a healthy and active

lifestyle, in order to prevent the onset of obesity. At oral level, it is also important to

strengthen the preventive measures, in order to avoid all the oral consequences that may

result from obesity.

Keywords: Obesity, oral health, dental eruption, cavities, periodontal disease,

preventive measures.

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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INTRODUÇÃO

A obesidade é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma

epidemia global e um dos maiores desafios de saúde pública do século XXI.(4) Esta é uma

doença crónica que se caracteriza pela acumulação excessiva de tecido adiposo,

proporcionalmente à massa magra.(5)

A prevalência da obesidade tem aumentado tanto nos países desenvolvidos como

nos subdesenvolvidos.(5) Em Portugal, foi constatado nos resultados do 4.º Inquérito

Nacional de Saúde um crescimento da obesidade entre adultos. (4) Foi verificado também

que a prevalência desta doença em Portugal, entre crianças e jovens, é uma mais elevadas

a nível da Europa.(4)

A obesidade ocorre devido a múltiplas causas, com destaque para as mudanças do

estilo de vida da sociedade atual, tanto a nível dos hábitos alimentares, com o aumento

do consumo de alimentos ricos em gorduras e sacarose, como com a diminuição da prática

de exercício físico, que leva a um aumento do sedentarismo.(4, 5) Apesar disto, a obesidade

pode também ocorrer devido a doenças endócrinas e genéticas, como síndrome de

Cushing e síndrome de Stein Leventhal.(6) Os fatores genéticos têm um papel na etiologia

da obesidade, e certas formas monogénicas da obesidade são caracterizadas por genes

defeituosos que codificam para moléculas envolvidas na regulação hipotalâmica do

equilíbrio energético.(4, 6)

A antropometria é a ciência que estuda as medidas de tamanho, peso e proporções

do corpo humano. Nesta ciência encontramos as medidas de peso e estatura, os diâmetros

e os comprimentos ósseos, a Espessura das Dobras Cutâneas (DOC), alguns índices,

como é o caso do Índice de Massa Corporal (IMC), Índice de Conicidade (IC) e Índice da

Relação Cintura Quadril (IRCQ) e as circunferências. Através destes valores

antropométricos e índices é possível efetuar a determinação da composição corporal e o

diagnóstico da obesidade. (7, 8)

A obesidade é uma das causas de morte prematura, sendo um fator de risco para

o aparecimento de comorbilidades, como doenças cardíacas, hipertensão arterial,

osteoartrite, diabetes tipo 2, apneia obstrutiva do sono, asma, aterosclerose, Acidente

Vascular Cerebral (AVC), para além de provocar também problemas a nível psicossocial

como baixa autoestima e depressão.(5, 9-11) Estar acima do peso durante a adolescência

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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aumenta fortemente o risco de apresentar obesidade e síndrome metabólica na idade

adulta.(12)

Inúmeras evidências mostram também que a obesidade é um importante fator

de risco para o aparecimento de diversos tipos de cancros.(5, 10, 11)

A obesidade pode influenciar e aumentar a probabilidade de aparecimento de

vários problemas a nível oral.(13) Uma possível justificação para isto, é o facto do elevado

teor de gordura provocar alterações hormonais e inflamatórias. (9, 14, 15)

A erupção dentária é um processo biológico e contínuo, que consiste no

movimento dos dentes desde as suas posições nas criptas ósseas até a cavidade oral. Tem

sido demonstrado na literatura, uma associação entre um IMC aumentado e uma erupção

dentária precoce. Várias consequências podem ocorrer devido a esta alteração, como é o

caso do aparecimento de más-oclusões e apinhamentos, problemas ortodônticos e

distúrbios nas articulações temporomandibulares.(9, 14, 16-18)

A cárie dentária é outro problema de saúde pública, sendo a doença crónica mais

frequente na infância. Relativamente à influência da obesidade no aparecimento da cárie

dentária e como ambas as doenças têm uma etiologia multifatorial, é aceite que estas

Figura 1- Complicações que surgem como consequência da obesidade. Adaptado de

AlSulaiman et al (2017).(1)

Psicossocial Baixa auto-estima

Depressão

Neurologico Pseudotumor cerebral

Pulmonar Apneia do sono

Asma

Gatrointestinal Cálculos biliares Esteato-hepatite

Renal Glomeruloesclerose

Musculoesquelético Doença de Blount

Pé chato

Cardiovascular Dislipidemia Hipertensão Coagulopatia

Inflamação crónica Disfunção endotelial

Endócrino Diabetes tipo II

Puberdade precoce Síndrome dos ovários policísticos (raparigas)

Hipogonadismo (rapazes)

Complicações da obesidade

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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apresentem fatores de risco comuns, como é o caso dos hábitos dietéticos e do estatuto

socioeconómico, no entanto, não existe uma relação de causalidade entre elas.(19, 20)

Foi também verificado que indivíduos obesos apresentavam uma pobre saúde oral

quando comparado com os não obesos. (12, 21, 22) Um estudo de Nihtila et al teve como

objetivo averiguar a existência de uma associação entre os comportamentos de saúde oral,

o estilo de vida e o excesso de peso entre jovens adultos europeus, sendo que para isto

estudou uma amostra representativa da população adulta com idade entre os 18 a 35 anos

de oito países europeus, e verificou que a realização de apenas uma escovagem ao dia e

a efetuação de um tratamento de urgência aquando da última consulta de medicina

dentária encontravam-se fortemente associados ao excesso de peso.(12) Um outro estudo

de Franchini et al que analisou noventa e oito indivíduos com faixas etárias entre 10 e 17

anos, averiguando por meio de um exame clínico o índice de placa dos participantes,

verificou que os indivíduos obesos apresentavam uma pior higiene oral.(22)

A doença periodontal caracteriza-se por um processo de inflamação e destruição

dos tecidos responsáveis pelo suporte dentário, como é o caso da gengiva, do ligamento

periodontal, do cemento radicular e do osso alveolar.(15) A obesidade tem também sido

sugerida como um possível fator de risco no desenvolvimento de doença periodontal.(15)

Apesar de não estarem totalmente esclarecidos os mecanismos biológicos que estão por

detrás desta relação, pensa-se que esta ocorrerá devido à libertação de citocinas e

hormonas pelo tecido adiposo, que influenciam a comunicação celular, alterando a

resposta inflamatória tecidual.(15)

O número de dentes remanescentes é um forte indicador de saúde oral, sendo que

tem sido verificado uma menor quantidade de peças dentárias em pacientes obesos.(23)

Um estudo transversal de Osterg et al explorou esta associação numa população sueca

adulta, sendo que para isto analisou 2816 indivíduos selecionados aleatoriamente,

verificando o IMC, a circunferência de cintura e as perdas dentárias de cada um.(24)

Informações relativas à idade, nível de educação, estilo de vida, como os hábitos

tabágicos, as práticas de exercício físico e a presença de comorbilidades, como

hipertensão, diabetes e doença cardiovascular foram coletadas por meios de questionários

e entrevistas.(24) Foi verificado nos participantes com menos de 60 anos de idade, uma

associação significativa entre a perda dentária, a obesidade abdominal e a obesidade geral,

independentemente da idade e sexo, e permaneceu esta associação ao considerar as

diferenças socioeconómicas, estilo de vida e comorbilidades.(24)

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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A obesidade tem sido associada a dificuldades cirúrgicas na extração dos

terceiros molares e a um aumento de complicações pós-cirúrgicas.(23) Um estudo de

Gbotolorun et al, que teve como objetivo investigar fatores radiográficos e clínicos

associados a um aumento da dificuldade na extração de terceiros molares inferiores

inclusos, verificou que o tempo total de extração aumentava em pacientes com IMC mais

alto, sendo que 50% dos pacientes obesos eram categorizados como sendo de cirurgias

muito complicadas.(25) Isto pode ser justificado pelo facto dos indivíduos obesos

apresentarem diferenças anatómicas e fisiológicas relativamente aos indivíduos com peso

normal.(23)

O cancro oral é o sexto cancro mais comum no mundo, sendo a sua etiologia

multifatorial.(26) Um estudo de Choi et al forneceu a primeira evidência epidemiológica

que suporta uma associação entre obesidade e um risco aumentado de cancro oral.(27)

Apesar disto, poucas evidências sobre esta relação estão disponíveis, sendo que mais

estudos são necessários nesta área. Um outro estudo restrospectivo de Iyengar et al

concluiu que a obesidade é uma variável a ter em conta no prognóstico do carcinoma

espinocelular da língua.(28)

Deste modo, é verificado a importância da realização de um estilo de vida

saudável e ativo, de modo a prevenir o aparecimento da obesidade.(29) A redução da

ingestão de açúcares é uma medida bastante importante, tanto para prevenção da cárie

dentária, como também para a prevenção do excesso de peso e da obesidade.(30) Dada a

elevada frequência de consultas dentárias que são realizadas, especialmente durante a

infância, os dentistas encontram-se numa posição ideal para detetar precocemente

pacientes que estejam com excesso de peso ou obesos. Devido a isto, torna-se importante

a inclusão de estratégias de prevenção primária e de redução de fatores risco da obesidade

aquando das consultas de medicina dentária. (23, 31)

Neste trabalho pretende-se efetuar uma revisão bibliográfica sobre os diferentes

métodos no diagnóstico da obesidade, influência da obesidade na saúde oral,

designadamente na erupção dentária, no desenvolvimento da cárie, doença periodontal e

cancro oral, dificuldades cirúrgicas aquando da extração de terceiros molares e

complicações pós-cirúrgicas em pacientes obesos, medidas preventivas da obesidade e o

papel do médico dentista na prevenção da mesma.

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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MATERIAIS E MÉTODOS

A presente monografia foi elaborada a partir de uma revisão da literatura,

recorrendo-se a bases de dados nacionais e internacionais, cumprindo critérios de inclusão

e exclusão. As bases de dados utlizadas nesta pesquisa foram a Medline, Pubmed, Scielo,

Scopus, Science Direct e Google Scholar. Para além disso, procedeu-se à pesquisa de

obras literárias na biblioteca da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do

Porto.

As palavras-chave utilizadas na pesquisa foram «Obesidade e erupção dentária»,

«Obesidade e cárie dentária»,, «Obesidade e doença periodontal», ,«Obesidade e saúde

oral», «Obesidade e cancro oral», «Cirurgia bariátrica e saúde oral» e «Obesidade e

medidas preventivas» e suas correspondentes em inglês «Obesity and dental eruption»,

«Obesity and dental cavities, », «Obesity and periodontal disease», «Obesity and oral

health», «Obesity and oral cancer», «Bariatric surgery and obesity» e «Obesity and

preventive measures».

Foram definidos limites relativamente ao idioma dos artigos, tendo sido incluídos

apenas artigos na língua inglesa e portuguesa, e data de publicação dos artigos, sendo

apenas selecionados artigos que tenham sido publicados de 2000 a 2019. Não foram

definidos limites de pesquisa relativamente ao tipo de artigo, sendo que foram utlizados

artigos de revisão clínica, artigos de jornais, artigos de revisão, estudos-piloto, casos

clínicos e obras literárias. Foram excluídos artigos com texto limitado ao acesso integral

e cujo título ou resumo não abordavam o tema pretendido.

Cumprindo os critérios de inclusão e exclusão acima descritos, a pesquisa resultou

numa amostra de 63 artigos e livros. O esquema seguinte ilustra, pormenorizadamente,

de que forma é que foi efetuada a pesquisa.

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

6

129

Resultados obtidos

Excluídos por resumo

99

Artigos selecionados

Excluídos por texto

63

Artigos utilizados

Figura 2-Esquema da pesquisa bibliográfica.

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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DESENVOLVIMENTO

➢ DETERMINAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL E DIAGNÓSTICO

DE OBESIDADE

Existem vários métodos para verificar a composição corporal, sendo que estes se

dividem nos métodos diretos, indiretos e duplamente indiretos. O método direto tem uma

elevada precisão, no entanto, tem a sua utilização muito limitada, porque a análise é feita

através da dissecação física ou físico-química de cadáveres. Métodos como a

Plestimografia, a Ultra-Sonografia, a Tomografia Computadorizada, a Absortometria

Radiológica de Raio X de Dupla Energia, a Condutividade Elétrica Total, a verificação

do Potássio Corporal Total, a Ressonância Magnética, a Condutividade Elétrica Total, a

Análise de Ativação de Neutrões, a Hidrometria e a Excreção Urinária de Creatinina

podem também ser utilizados na determinação da composição corporal. Os métodos

duplamente indiretos são os menos rigorosos, no entanto, têm uma melhor aplicação

prática e um menor custo, sendo largamente aplicados em ambiente clínico e de campo.

Dentro destes métodos temos a antropometria.(7)

A antropometria é a ciência que estuda as medidas de tamanho, peso e proporções

do corpo humano. Nesta ciência encontramos as medidas de peso e estatura, os diâmetros

e os comprimentos ósseos, DOC, as circunferências e alguns índices, como é o caso do

IMC, IC e IRCQ.(7)

O IMC é um índice amplamente difundido é bastante útil do ponto de vista clínico

para o diagnóstico de obesidade. Este apresenta resultados aceitáveis para avaliações

populacionais, contudo, para a avaliação clínica individual não se revela satisfatório, já

que não leva em consideração as quantidades proporcionais dos diferentes componentes

corporais. Este é calculado através da divisão do peso pela estatura ao quadrado (IMC =

Peso (kg) / estatura2 (m2)). O excesso de peso caracteriza-se por um IMC de 25kg/m2 a

29,9kg/m2 e a obesidade de 30kg/m2 para cima, sendo que existem vários graus de

obesidade.(7, 8)

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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CLASSIFICAÇÃO IMC (Kg/ m2)

Baixo peso <18,5

Peso normal 18,5-24,9

Excesso de peso 25-29,9

Obesidade Grau I 30-34,9

Obesidade Severa Grau II 35-39,9

Obesidade Mórbida Grau III >40

Para a avaliação corporal em crianças, alguns índices foram desenvolvidos,

nomeadamente a estatura para a idade (E/I) que reflete o crescimento linear e os défices

de saúde ou nutrição a longo prazo e o peso para a idade (P/I) que reflete a massa corporal

em relação à idade cronológica. A classificação do IMC pode também ser aplicada em

crianças, através da verificação do IMC para a idade (IMC/I). Estes índices podem ser

utilizados como valor-Z, que expressa o valor antropométrico como o número de desvios

padrão abaixo ou acima da mediana da população referência, ou percentis, que expressam

a posição do indivíduo numa determinada distribuição de referência. Usualmente, os

percentis são muito utilizados na prática clínica porque a sua leitura é direta.(8)

O IC é um índice que tem por objetivo identificar a distribuição da gordura e o

risco de doenças. Este índice tem por base o conceito de que o corpo humano altera da

forma de um cilindro para a forma de um “cone duplo” com a acumulação de massa gorda

à volta da cintura.(7)

O IRCQ está fortemente associado à gordura visceral e parece ser um índice

aceitável para determinação da gordura intra-abdominal. A equação divide a

circunferência da cintura (cm) pela circunferência do quadril (cm). Este índice tem uma

boa confiabilidade.(7)

O método de DOC é a segunda técnica antropométrica mais usada para a

determinação da massa gorda corporal, devido a sua fácil utilização e custo relativamente

baixo. Este é realizado através da medição das pregas cutâneas, sendo que o princípio que

está por base na sua realização, é o facto de aproximadamente metade do conteúdo da

gordura corporal se encontrar no compartimento subcutâneo.(7, 8)

As Circunferências são os perímetros dos diversos segmentos corporais, como os

braços, as pernas, a cintura, o quadril, o tórax e o pescoço.(8) Uma Circunferência da

Tabela 1-Classificação do estado ponderal segundo o IMC.

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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Cintura superior a 102 cm nos homens e 88 cm nas mulheres é um fator de risco para o

desenvolvimento de patologias, como a doença arterial coronária.(8, 32)

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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➢ OBESIDADE E ERUPÇÃO DENTÁRIA

A erupção dentária é um processo biológico e contínuo, que consiste no

movimento dos dentes desde as suas posições nas criptas ósseas até a cavidade oral.(16)

Embora os mecanismos exatos subjacentes a este processo não sejam totalmente

conhecidos, muitos fatores parecem influenciá-lo, tais como fatores demográficos (a raça,

o sexo e a idade), genéticos, nutricionais, socioeconómicos, morfológicos e doenças

sistémicas. Os fatores fisiológicos também parecem ter um papel neste processo, através

da atuação da sinalização molecular, de várias hormonas e de mediadores que afetam o

crescimento.(16)

Estudos têm demonstrado uma associação entre o excesso de peso, a obesidade e

uma erupção dentária precoce.(14, 16-18)

Um dos primeiros estudos sobre este tema de Hilgers et al, onde foram analisados

104 pacientes com idades compreendidas entre os 7 a 15 anos, associando os seus IMC

com o estadio de erupção dentária, segundo o método de Demirjian(33), demonstrou que

o excesso de peso está associado a uma média de ano e meio de avanço no

desenvolvimento dentário dos dentes permanentes, tendo observado também uma

erupção dentária precoce.(9) Paralelamente, detetaram também que crianças magras

tinham a taxa de erupção dentária mais lenta e crianças com excesso de peso tinham a

taxa de erupção dentária mais rápida.(9)

Uma erupção precoce nas crianças obesas pode ser explicada pelo facto do

crescimento geral também se encontrar acelerado nas mesmas, incluindo o crescimento

esquelético.(14)

Estes resultados foram posteriormente comprovados por vários outros estudos em

diferentes populações, como é o caso de um estudo longitudinal de Sanchez-Perez et al

realizado na Cidade do México que analisou 110 crianças, e chegou à conclusão que

crianças obesas tinham mais dentes erupcionados do que crianças não obesas.(18) Outro

estudo longitudinal de Nicholas et al realizado pela universidade de Iowa, que após

analisar 77 crianças, também afirmou que as crianças obesas têm uma erupção mais

precoce.(14) Um outro estudo transversal de Must et al, que apresentava 5434 participantes

com idades compreendidas entre os 5 a 14 anos chegou à conclusão que crianças obesas

tinham em média mais 1,44 dentes permanentes irrompidos, comparativamente às

crianças não obesas.(16)

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

11

Uma possível justificação para este crescimento mais rápido é o facto do elevado

teor de gordura provocar alterações hormonais.(9) Foi verificado que crianças obesas têm

níveis diminuídos da hormona do crescimento, enquanto mantêm níveis aumentados de

Insulin-like Growth Factor 1 (IgF-1) livre, um fator de crescimento circulante principal.

Níveis aumentados de IgF-1 causam um crescimento acelerado, e suprimem o sistema

hipotalâmico-hipofisário, mantendo a continuação de níveis baixos da hormona do

crescimento.(9, 14) Paralelamente, uma associação entre a obesidade e a inflamação está

documentada, sendo possível que esta inflamação influencie o momento da erupção

dentária nos pacientes obesos.(14)

Estudos recentes sugerem também que adolescentes obesos apresentam

crescimento craniofacial precoce, podendo este facto ser uma variável nos tratamentos

ortodônticos.(9, 34) A obesidade tem também sido associada a um início precoce da

puberdade, principalmente em mulheres.(9)

A erupção dentária precoce em crianças obesas pode ter várias consequências a

nível oral, podendo levar ao aparecimento de más-oclusões e apinhamentos, prejudicando

a correta higiene dentária, levando ao aparecimento de problemas dentários (como a cárie

e a doença periodontal), problemas ortodônticos e distúrbios nas articulações

temporomandibulares. Para além disto, o tempo que os dentes estão presentes na arcada

dentária tem influência no aparecimento de lesões cariosas.(16, 17)

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

12

➢ OBESIDADE E CÁRIE DENTÁRIA

A cárie dentária é uma doença infeciosa que na ausência de tratamento pode levar

à destruição total da estrutura dentária. Apesar de ser facilmente prevenível, continua a

ser o problema de saúde oral com maior prevalência, sendo a principal causa de dor oral

e perda dentária.(10, 11)

A cárie ocorre devido à fermentação de hidratos de carbono por microorganismos

cariogénicos com capacidade acidogénica e acidúrica (como os Streptococcus mutans e

os Lactobacillus), produzindo ácido lático e expondo o esmalte dentário a um ambiente

ácido, levando à desmineralização dentária.(10, 20, 35) Esta pode ser diagnosticada

clinicamente nos seus estágios iniciais (lesões em esmalte) ou nos estágios mais tardios

(cavitação em dentina ou atingimento da polpa dentária).(35) A cárie é, portanto, um

produto da interação entre os fatores determinantes, o hospedeiro (morfologia dentária,

capacidade tampão da saliva), o substrato (dieta cariogénica), os microrganismos e o

tempo, sendo também influenciada por muitos outros fatores, como pela exposição a

fluoretos, higiene oral e o estatuto socioeconómico.(35, 36)

Classe social

Renda

Escolaridade

Comportamento

Atitudes

Conhecimento

Saliva

Açúcares

Higiene pH da placa e espécies bacterianas

Flúor

Agentes antimicrobiano

s

Dieta

Tempo

Dente

Bactérias

Seguros de saúde

Ca2+

PO4

2+

Cáries

Figura 2- Diagrama a explicar os fatores envolvidos no desenvolvimento da cárie.

Adaptado de Monteiro et al (2014).(2)

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

13

Relativamente à influência da obesidade no aparecimento da cárie dentária, os

estudos publicados demonstraram resultados controversos.(10, 11, 19, 36-46)

Dois estudos utlizados nesta investigação demonstraram uma associação positiva

significativa entre a obesidade e a prevalência da cárie dentária.(11, 46) Um destes estudos,

de Alswat et al realizado na Taif University Outpatient Clinics, na Arábia Saudita, que

incluiu 385 participantes com idades iguais ou superiores a 18 anos, onde foram obtidos

os dados necessários por meio de questionários e entrevistas, sendo que informações

sobre os hábitos alimentares, hábitos de higiene oral, tabagismo, atividade física e número

de horas de utilização de aparelhos eletrónicos foram coletadas.(11) A prevalência de cáries

nos participantes foi conseguida através do exame dentário, tendo por base os critérios

padrão da OMS para o diagnóstico de cárie, ou seja, através do número de Dentes

Cariados, Perdidos e Obturados (CPO-D).(11) Por fim, a estatura e peso foram obtidos, de

modo a calcular o IMC de cada participante.(11) Por meio de uma análise estatística com

estes dados, e após controlo de potenciais fatores de confusão, como o tabagismo e a

escovagem dentária, uma correlação positiva significativa foi observada entre o IMC e o

CPO-D.(11) Um outro de estudo, de Gerdin et al. que analisou as mesmas variáveis numa

amostra 5577 crianças, chegou também a uma associação positiva significativa entre a

obesidade e a prevalência de cárie dentária.(46)

Apesar dos resultados obtidos nestes estudos, um estudo transversal de Goodson

et al realizado no Kuwait, com uma amostra de 8275 crianças, onde foi avaliada a relação

do IMC de cada uma, com o CPO-D, verificou uma relação inversa entre estas duas

variáveis, sendo, portanto, que nesta amostra, as crianças com sobrepeso apresentavam

menor prevalência de cáries que as crianças com peso normal e baixo peso.(36)

Todavia, a maioria dos estudos, demonstram não existir uma associação

significativa entre a obesidade e a cárie dentária.(10, 19, 37-45)

Um estudo transversal de Tripathi et al, realizado no Department of Pedodontics

and Preventive Children Dentistry, onde foram analisadas 2688 estudantes, com idades

compreendidas entre os 6 a 17 anos, associando o IMC de cada uma, com os seus

respetivos CPO-D, verificou que, embora as crianças obesas tivessem mais cáries que as

não obesas, não houve uma associação significativa entre estas duas variáveis.(37) Outro

estudo transversal de Paisi et al realizado na cidade de Plymouth, com uma amostra de

352 crianças com idades compreendidas entre os 4 a 6 anos, onde foi igualmente

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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associado o IMC de cada criança com os seus respetivos CPO-D, não verificou qualquer

associação entre estas duas variáveis.(42)

O conceito de plausibilidade biológica sugere que nem a hipótese "obesidade

aumenta o risco de cáries" nem a hipótese "cáries aumentam o risco de obesidade" são

particularmente lógicas.(20) Em vez disso, e como ambas as doenças têm uma etiologia

multifatorial, é mais realista que fatores de risco comuns aumentem a probabilidade de

aparecimento de ambas as doenças, que são, portanto, observadas em associação.(20)

Hoje em dia, sabe-se então, que tanto a obesidade como a cárie têm fatores de

risco que lhes são comuns, entre eles, os hábitos dietéticos e o estatuto socioeconómico.

Devido a isto, é aceite que estas duas patologias possam aparecer frequentemente na

mesma pessoa, apesar de não existir uma relação de causalidade entre elas.(20)

A dieta desempenha um papel importante no aumento da prevalência da

obesidade, devido ao maior consumo de alimentos ricos em gorduras e hidratos de

carbono. Crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade relataram maior consumo

de bebidas açucaradas e alimentos como «fast food» em comparação com aqueles que

apresentavam peso normal. Além disto estar diretamente associado ao aparecimento de

obesidade, os hábitos alimentares, principalmente a ingestão de sacarose, tem uma relação

causal bem estabelecida com a cárie dentária.(37, 39, 44, 47)

Usualmente, as crianças com maior risco de cárie dentária provêm de famílias de

estratos sociais e económicos abaixo da média.(20) Tanto a prevalência de cárie como a

falta de tratamento oral aumentam com a diminuição do estrato social e dos recursos

financeiros.(20) A obesidade também está associada a um baixo estatuto socioeconómico,

sendo que Drewnoski e Darmon(48) especularam que esta relação pode ser devida ao baixo

custo dos alimentos densos em energia, particularmente os com alto teor em gorduras e

açúcares.(20)

Um estudo de Marshall et al. através de exames dentários realizados em 427

crianças e de questionários enviados para os seus pais verificou que crianças que

apresentavam cáries, ingeriam mais bebidas carbonatadas, provinham de pais menos

instruídos, mães com maior IMC em comparação com as crianças livres de cáries.(20)

Constatou também que crianças com sobrepeso, apresentavam pais com IMC aumentado

e menor nível de educação.(20) Com esta informação, foi possível concluir que tanto a

cárie dentária, como a obesidade, coexistem em crianças de baixo estatuto

socioeconómico.(20)

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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Passar muito tempo a ver televisão, enquanto se ingere alimentos processados

(ricos em hidratos de carbono ou gorduras) é considerado uma das principais causas de

excesso de peso, obesidade e aparecimento de cárie dentária.(37)

Um estudo transversal de Ravishankar et al realizado através de questionários foi

feito a 1100 estudantes com idades entre os 7 a 12 anos, na cidade de Moradabad, para

avaliar a relação entre cárie dentária, o IMC e os hábitos de assistir televisão.(49) Os

questionários eliciavam a informações referentes à quantidade de horas, à frequência e à

realização de refeições, enquanto as crianças assistiam televisão.(49) Estes questionários

foram enviados aos pais e às crianças, sendo que, posteriormente, foi realizado o exame

dentário, de modo a verificar o CPO-D e índice de placa.(49) A medição do peso e estatura

foi também realizada de modo a calcular o IMC de cada participante.(49) Os resultados

obtidos demonstraram que uma alta prevalência de cárie dentária, má higiene oral e o

aumento do IMC está associado com o número de horas passadas a ver televisão nas

crianças.(49)

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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➢ OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL

A doença periodontal caracteriza-se por um processo de inflamação e destruição

dos tecidos responsáveis pelo suporte dentário, como é o caso da gengiva, do ligamento

periodontal, do cemento radicular e do osso alveolar, podendo levar a perdas dentárias.(15)

Estudos epidemiológicos revelam que mais de dois terços da população mundial sofre de

doença periodontal.(3)

A periodontite é, portanto, uma doença que se caracteriza por uma inflamação

gengival, associada à destruição do ligamento periodontal e do osso alveolar, assim como

também pela contaminação do cemento radicular por bactérias gram-negativas anaeróbias

específicas, como é o caso da Porphyromonas gingivalis, da Actinobacillus

actinomycetemcomitans e da Tanerella forsythia.(15) Tem sido verificado que a

periodontite está associada a um risco moderado, mas significativo, de desenvolvimento

de doença coronária.(3) O reconhecimento desta doença no estabelecimento de problemas

a nível oral e sistémico exige um importante esforço, de modo a controlá-la.(50)

Existem alguns fatores de risco inerentes ao hospedeiro, responsáveis pelo

aumento da probabilidade de ocorrência das doenças periodontais, devido às alterações

que provocam na resposta inflamatória e imunológica. Entre estes temos, a Diabetes

Mellitus, os hábitos tabágicos e o stress, bem como a predisposição genética.(15)

Estudos têm sugerido a obesidade como um possível fator de risco para o

desenvolvimento de doença periodontal.(6, 32, 51-55)

Um estudo de Al-Zahrini et al. avaliou a relação da obesidade com a doença

periodontal numa amostra de 13665 participantes (6.466 homens e 7.199 mulheres) com

idades iguais ou superiores a 18 anos.(52) Os indivíduos obesos foram determinados tendo

por base o IMC e a circunferência de cintura, e o diagnóstico de doença periodontal foi

realizado através da verificação do Clinical Attachment Loss (CAL) e do Probing Pocket

Depht (PPD).(52) Outras covariáveis foram tidas em conta, como é o caso dos hábitos

tabágicos e da presença de doenças sistémicas como a Diabetes.(52) Foi concluído neste

estudo que a obesidade está significativamente associada à doença periodontal em adultos

jovens, sendo que isto não se verificou em pacientes com idades mais avançadas.(52)

Um estudo prospetivo de Gorman et al teve como objetivo avaliar a relação da

obesidade com a progressão da doença periodontal, para isto analisou 1038 homens

caucasianos com idades entre os 21 a 84 anos, realizando nestes exames orais e médicos

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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de aproximadamente 3 em 3 anos.(32) O diagnóstico de doença periodontal era verificado

através da perda de osso alveolar, que era visível nas radiografias dentárias, CAL e PPD

e o diagnóstico da obesidade, foi obtido através do IMC e a circunferência de cintura.(32)

Os resultados demonstraram que tanto o IMC, como a circunferência de cintura

associavam-se significativamente a um risco acrescido de progressão da doença

periodontal.(32)

Um outro estudo de Khader et al teve como objetivo determinar a relação da

periodontite com a obesidade e o sobrepeso na população da Jordânia, para isso, utilizou

uma amostra aleatória de 350 pessoas com idades compreendidas entre os 18 a 40 anos.(53)

Os participantes preencheram questionários, onde foram coletadas informações relativas

à idade, sexo, estado civil, renda, anos de escolaridade, presença de doenças sistémicas,

como a Diabetes, hipertensão e dislipidémia, hábitos tabágicos e medicação.(53) O CAL e

o PPD foram as ferramentas utilizadas para a determinação do estado periodontal e as

medidas e índices antropométricos (como o peso, estatura, circunferência do quadril e a

circunferência da cintura, o IRCQ, e o IMC) foram utilizados para o diagnóstico de

obesidade e de excesso de peso.(53) Após uma análise estatística, os resultados

demonstraram que apenas 14% dos participantes como peso normal tinham doença

periodontal, enquanto 30% dos participantes com sobrepeso e 52% dos participantes

obesos apresentavam periodontite.(53) Esta foi mais prevalente entre indivíduos com

circunferência da cintura alta e com alto IRCQ.(53) Foi concluído, então, que a obesidade

estava significativamente associada ao aumento da prevalência de periodontite.(53)

Apesar de não estarem completamente esclarecidos os mecanismos biológicos

que estabelecem a relação entre obesidade e a doença periodontal, esta tem sido associada

à libertação de citocinas e hormonas pelo tecido adiposo, que influenciam a comunicação

celular, alterando a resposta inflamatória tecidual.(15)

O tecido adiposo é um órgão endócrino ativo que secreta uma grande variedade

de citocinas pró-inflamatórias, como exemplo temos, o fator de necrose tumoral alfa

(TNF- α), a interleucina-6 (IL-6), e a interleucina-8 (IL-8). Estas citocinas são

preponderantes na resposta inflamatória, e são secretadas numa quantidade que é

proporcional ao tecido adiposo existente. Devido a este alto nível de citocinas libertadas,

a obesidade pode influenciar a resposta inflamatória que ocorre devido à agressão causada

pelo biofilme bacteriano aos tecidos periodontais, o que indica que a obesidade pode

contribuir para exacerbação das doenças periodontais.(3, 15, 50)

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

18

Nos indivíduos obesos, o inibidor da ativação do plasminogénio-1 (PAI-1) é

secretado em maior quantidade pela gordura visceral, o que leva à aglutinação do sangue,

reduzindo o fluxo sanguíneo no tecido gengival, e aumentando o risco de aparecimento

de periodontite.(15)

Têm sido verificados níveis elevados de TNF-𝛼 no fluido crevicular gengival

de indivíduos obesos. Níveis crescentes de TNF-𝛼 contribuem também para o surgimento

da doença periodontal por vários mecanismos. Exemplos desses mecanismos são o facto

do TNF-𝛼 induzir a destruição do osso alveolar, estimulando a formação de células de

reabsorção óssea, os osteoclastos, e o facto de ser um dos primeiros promotores da

resposta do hospedeiro frente às bactérias patogénicas periodontais, regulando as

metaloproteinases da matriz (MMPs), que degradam o tecido conjuntivo. O TNF-𝛼 é um

indutor de resistência à insulina tanto na diabetes como na obesidade, sendo que a

Fatores genéticos

Fatores ambientais

(Ex: hábitos tabágicos, nutrição

e atividade física)

Periodontite

(Fatores bacterianos)

Obesidade

Tecido adiposo

Elevada síntese de citocinas inflamatórias

(TNF-α, IL-1, IL-6)

Doenças crónicas

Ex: Diabetes tipo II, doença coronária

Figura 3- Modelo que relaciona a doença periodontal com a obesidade e com as doenças crónicas

associadas à obesidade. Adaptado de Dahiya et al (2012).(3)

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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resistência à insulina também medeia a relação entre obesidade e doença periodontal. Para

além disto, este é também um potente inibidor da adiponectina.(50, 56)

A adiponectina é um produto dos adipócitos e seus níveis encontram-se

diminuídos em indivíduos obesos. A adiponectina tem vários efeitos benéficos como

efeitos anti-inflamatórios, vasoprotetores e antidiabéticos. Foi demonstrado que a

adiponectina tem uma função periodontal benéfica, porque mantem a homeostase da

saúde periodontal, melhora lesões periodontais e contribui para a cicatrização e

regeneração periodontal.(3, 56)

A leptina é uma substância secretada pelo tecido adiposo e encontra-se

aumentada em pacientes obesos. Esta desempenha um papel importante na regulação do

consumo e gasto de energia, regulação do apetite e do metabolismo. Tem sido verificado

que a leptina está presente em gengivas saudáveis, no entanto, níveis aumentados desta

hormona estão associados ao desenvolvimento de periodontite.(3, 56)

Uma associação da obesidade com proteína C-reativa sistémica elevada, que é

um marcador de inflamação de baixo grau, tem sido relatada. Esta inflamação de baixo

grau desencadeia a ocorrência de doença periodontal.(56)

A obesidade afeta também a resposta imune e aumenta a circulação de espécies

reativas de oxigénio, o que, por sua vez, causa dano oxidativo gengival e progressão da

periodontite.(3)

Um estudo transversal de Modéer et al analisou os níveis de citocinas, como o

PAI-1, IL-1B, IL-8 e TNF-α num grupo de indivíduos obesos e num grupo de indivíduos

com peso normal, sendo verificados níveis significativamente mais altos de IL-1, IL-8 no

grupo de indivíduos obesos.(54)

Um outro estudo transversal de Buduneli et al foi realizado, de modo a fornecer

uma avaliação comparativa dos níveis séricos de certas citocinas inflamatórias e

hormonas em indivíduos obesos e com peso normal.(57) Para tal, 60 indivíduos obesos e

31 não obesos foram analisados, obtendo-se amostras de soro.(57) Foi verificado no

presente estudo que o IMC aumentado correlacionou-se com os níveis séricos

aumentados das citocinas inflamatórias, nomeadamente a IL-6, e de hormonas, como a

leptina.(57) Foi então concluído que, tal como é sugerido na literatura, níveis aumentados

de leptina e IL-6 no grupo de indivíduos obesos pode ser a explicação para uma possível

relação entre obesidade e doença periodontal.(57)

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➢ OBESIDADE E INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS NA CAVIDADE ORAL

A obesidade tem sido também associada a dificuldades cirúrgicas na extração

dos terceiros molares e aumento de complicações pós-cirúrgicas.(23, 25)

Um estudo de Gbotolorun et al, teve como objetivo investigar fatores

radiográficos e clínicos associados a um aumento da dificuldade na extração de terceiros

molares inferiores inclusos.(25) Para tal, foram realizadas 90 extrações cirúrgicas destes

dentes, num total de 87 pacientes.(25) Um parâmetro que foi tido em conta neste estudo

foi o IMC que cada paciente apresentava. (25) O tempo total de todas as extrações foram

medidas e as mesmas foram classificadas no intraoperatório como fáceis, moderadamente

difíceis e muito difíceis.(25) Após uma análise estatística, foi verificado que o tempo total

de extração aumentava em pacientes com IMC mais alto, sendo que 50% dos pacientes

obesos eram categorizados como sendo de cirurgias muito complicadas.(25) Em contraste,

80% dos pacientes com peso normal foram classificados como cirurgias fáceis, sendo que

nenhuma das cirurgias nestes pacientes foram consideradas muito complicadas.(25)

Os indivíduos obesos podem representar um desafio para a Medicina Dentária,

devido às diferenças anatómicas e fisiológicas que têm relativamente aos indivíduos com

peso normal. Estes indivíduos podem apresentar baixa acessibilidade para a

administração da anestesia e para a realização procedimentos cirúrgicos.(23)

A monitorização da tensão arterial nos indivíduos obesos antes e durante as

cirurgias dentárias pode também ser um problema, pois o uso de um manguito de pressão

arterial padronizado nestes pacientes pode falsamente elevar os valores da pressão

arterial, ocasionando, inclusive, um diagnóstico incorreto de hipertensão.(23, 58) Para além

disto, a cadeira dentária padrão pode não ser a mais adequada para os pacientes obesos.

O uso de cadeiras dentárias e de cadeiras de sala de espera sem braços tem sido referido

como o ideal para acomodar estes pacientes.(23, 59)

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➢ OBESIDADE E CANCRO ORAL

A obesidade tem sido considerada um fator de risco para o aparecimento de

vários tipos de cancro e uma das principais causas de morte nos países ocidentais e

asiáticos. A World Cancer Research Fund e a International Agency for Research on

Cancer mostram evidências de que a obesidade está associada ao aparecimento de cancro

do colon-reto, mama, pâncreas, endométrio, rim e esófago.(27)

A hiperadiposidade tem sido associada à disfunção metabólica, incluindo

resistência à insulina e níveis alterados de adipocitocinas, que promove proliferação e

sobrevida de células tumorais.(28)

O cancro oral é a designação utilizada para um subgrupo de doenças malignas

da cabeça e do pescoço, que se pode desenvolver em vários locais da orofaringe e da

cavidade oral, como os lábios, a língua, as glândulas salivares, a gengiva, o pavimento da

boca e a mucosa oral. O carcinoma espinocelular é o tipo histológico mais comum, sendo

que 90% dos casos de cancro oral são deste tipo.(60, 61)

Este é o sexto cancro mais comum no mundo. Na União Europeia, as taxas de

incidência no ano de 2012 rondaram os 61 416 novos casos de cancro oral, sendo que 42

573 eram em homens e 18 843 mulheres. Em Portugal, no ano 2008 o cancro do lábio, da

cavidade oral e da faringe representavam 4% de todos os cancros diagnosticados no sexo

masculino, sendo o nono mais prevalente, enquanto no sexo feminino não se encontra

entre os 11 mais prevalentes.(26, 61)

O cancro oral tem uma etiologia multifatorial, sendo o consumo de álcool e os

hábitos tabágicos, dois importantes fatores de risco para o seu aparecimento. Outros

fatores, como a infeção pelo Vírus do Papiloma Humana (HPV), estão também

envolvidos, particularmente no aparecimento de cancro nas amígdalas e orofaringe em

pessoas jovens.(26)

Um estudo de Choi el al forneceu a primeira evidência epidemiológica que

suporta também uma associação entre obesidade e um risco aumentado de cancro oral.(27)

Este estudo epidemiológico foi realizado na Coreia, analisou 364 pacientes (242 homens,

122 mulheres) com idade compreendidas 18 a 80 anos que apresentavam carcinoma

espinocelular na cavidade oral e orofaringe e comparou com um grupo controle

constituído por 439 participantes.(27) Questionários estruturados foram preenchidos pelos

participantes, de modo a obter informações relativamente aos hábitos tabágicos e

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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alcoólicos.(27) A estatura e peso foram coletados aquando do exame físico e o IMC que

cada participante foi obtido.(27) Após uma análise estatística, os resultados demonstraram

uma associação significativa entre o risco de cancro oral e um IMC elevado nas mulheres

com menos de 50 anos de idade.(27) Apesar disto, poucas evidências sobre a relação entre

obesidade e cancro oral, incluindo lesões pré-cancerosas, estão disponíveis, sendo que

mais estudos são necessários nesta área.(27)

Um outro estudo restrospectivo de Iyengar et al teve como objetivo explorar a

associação entre o prognóstico do carcinoma espinocelular da língua e os hábitos

alimentares, estado nutricional e IMC.(28) Para isso, foram analisados 155 pacientes com

idades compreendidas entre os 18 a 86 anos, que apresentavam carcinoma espinocelular

na língua e iriam ser submetidos a resseção curativa.(28) Os participantes foram

submetidos a avaliação nutricional antes da cirurgia e o peso e estatura foram medidos,

de modo a calcular o IMC.(28) Os diferentes desfechos clínicos dos participantes,

incluindo sobrevida específica da doença (definida como o tempo da cirurgia até a morte

como um resultado direto do cancro), sobrevida livre de recidiva (definida como o tempo

entre a cirurgia e a primeira recidiva do cancro primário ou óbito), e sobrevida global

(definida como o tempo da cirurgia até a mortalidade por todas as causas) foram

comparados com o IMC.(28) Após uma análise estatística, a obesidade foi

significativamente associada a um pior prognóstico em todos os desfechos clínicos.(28)

Conclui-se, portanto, neste estudo, que a obesidade é uma variável a ter em conta no

prognóstico do carcinoma espinocelular da língua.(28) Esta associação pode não ter sido

previamente verificada, devido a confusão com múltiplos fatores, nomeadamente a perda

de peso antes do diagnóstico.(28)

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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➢ OBESIDADE E OUTROS ASPETOS

Novos métodos para reduzir o peso de pacientes que apresentam

hiperadiposidade, incluindo técnicas de cirurgia bariátrica, têm sido desenvolvidos para

o tratamento da obesidade, especialmente na sua forma mórbida.(62)

A cirurgia bariátrica é considerada um tratamento eficaz e seguro para todas as

idades, sendo considerada o único tratamento efetivo a longo prazo para a obesidade

mórbida. A sua taxa de realização tem aumentado significativamente na última década,

devido a uma prevalência crescente da obesidade mórbida. Esta cirurgia reverte, elimina

ou melhora significativamente a diabetes tipo 2, hiperlipidemia, hipertensão, doença

cardíaca, acidente vascular cerebral, apneia obstrutiva do sono, muitas formas de cancro

e depressão.(62, 63)

Desde a sua implementação, que as suas as técnicas cirúrgicas sofreram grandes

mudanças ao longo do tempo, tanto para melhorar os procedimentos executados, como

para diminuir das sequelas pós-operatórias. No entanto, embora esta cirurgia seja uma

modalidade terapêutica efetiva para os casos de obesidade avançada, esta está associada

a fatores de risco que afetam tanto a saúde geral, como a saúde oral.(62)

Todas as cirurgias realizadas atualmente resultam em mudanças drásticas na

anatomia gastrointestinal, na fisiologia e nos hábitos alimentares. A nível das

complicações gastrointestinais mais comuns temos a estenose do duodeno, úlcera

gástrica, diarreia, vómitos crónicos, refluxo e cancro gastroesofágico. Existe também um

aumento do risco de deficiências de ferro, vitamina B12, vitamina D e cálcio, devido à

baixa absorção de nutrientes pelo estômago e intestino.(62)

A nível oral, devido ao facto destas cirurgias estarem associadas a um aumento

do risco de refluxo gastroesofágico e vómitos, há uma exposição oral a altos níveis de

acidez (pH 1,2), e sendo que o pH crítico para a dissolução da estrutura dentária é de 5,5,

uma maior quantidade de lesões cariosas e erosivas são observadas nestes pacientes. Para

além disto, também uma hipersensibilidade dentinária e a inflamação das mucosas da

cavidade oral são verificadas com maior frequência nestes pacientes. Apesar disto, mais

pesquisas são necessárias para avaliar a correlação da cirurgia bariátrica e o

desenvolvimento de doenças dentárias.(13, 62)

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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➢ MEDIDAS PREVENTIVAS PARA COMBATE DA OBESIDADE E PAPEL

DO MÉDICO DENTISTA

É amplamente aceite que a obesidade é provocada por uma desordem energética

que ocorre devido a um aporte muito superior às necessidades orgânicas, num período de

tempo aumentado. Este desequilíbrio tem inúmeras causas que interagem e se potenciam,

como é o caso dos fatores internos, onde se encontra a genética e a fisiologia, e os

externos, relacionados à inter‐relação do indivíduo com a sociedade.(4)

Os fatores externos são considerados preponderantes no aumento da obesidade.

Dentro destes, encontram-se as mudanças de estilo de vida, como as alterações dos

hábitos alimentares, com um maior consumo de hidratos de carbono e lípidos, bem como

com o aumento do sedentarismo. Esta etiologia multifatorial da obesidade indica que a

prevenção se deve focar nas escolhas e comportamentos dos indivíduos e também nos

fatores sociais e ambientais que os influenciam.(4)

Os estudos disponíveis relativamente ao consumo de açúcares, mostram,

claramente, que as pessoas consomem significativamente mais açúcar do que deveriam,

aumentando o risco de cárie dentária, excesso de peso e obesidade. A OMS recomenda

uma redução da ingestão destes para menos de 10% do total de energia, sendo o ideal

uma redução para valores abaixo dos 5% da ingestão total de energia, tanto em adultos e

crianças.(30)

Em todo o mundo, os dados sugerem que a ingestão de açúcares aumenta a partir

do 1.º ano de idade e é maior em crianças de idade escolar e adolescentes em comparação

com adultos. Produtos açucarados (como bolos, biscoitos, doces, geleia, mel, gelados,

açúcar de mesa) e bebidas (como bebidas açucaradas e néctares de fruta) contribuem

bastante para o consumo adicional de açúcares, sendo que estes devem ser evitados ao

máximo. As bebidas carbonatadas têm sido sugeridas como um importante fator no

aumento da prevalência da obesidade e da cárie dentária.(13, 30, 64)

Estes padrões alimentares influenciam negativamente a saúde geral dos

indivíduos, provocando alterações no funcionamento do sistema imune, crescimento,

desenvolvimento e saúde oral. Alimentos como carne, peixe, ovos, cereais, frutas,

laticínios, leguminosas e hortaliças numa quantidade equilibrada, devem ser

privilegiados, em detrimento dos alimentos anteriormente referidos.(35, 64)

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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A implementação de uma série de intervenções de saúde pública tem sido

realizada pela OMS, através da rotulagem nutricional, educação do consumidor, e criação

de políticas fiscais direcionadas à produção alimentar, que visam reduzir a

disponibilidade e a ingestão de alimentos com alto teor em açúcares, diminuir o tamanho

das porções de alimentos processados e melhorar as propriedades nutricionais destes.(30)

Vários organismos internacionais relacionados à saúde pública recomendam a

adoção de um estilo de vida ativo, visando o controle das doenças crónico-degenerativas

não transmissíveis. Assim, para adultos de todas as idades, preconiza-se a prática de

exercícios de intensidade moderada. Recomenda-se, ainda, que indivíduos sedentários

devam começar também com exercício físico de intensidade moderada e aumentar

gradativamente a atividade física.(29)

Devido ao facto da saúde oral ser parte integrante da saúde geral e dada a elevada

frequência de consultas dentárias que são realizadas, especialmente durante a infância, os

dentistas encontram-se numa posição ideal para detetar precocemente pacientes que

estejam com excesso de peso ou obesos.(23, 31)

Como o médico dentista já tem um papel fundamental na consciencialização dos

indivíduos relativamente aos malefícios de certos hábitos diatéticos, nomeadamente o

consumo de açúcares e as consequências negativas que isto tem para a saúde oral,

principalmente na formação e desenvolvimento da cárie dentária, uma adaptação poderá

ser realizada, e a inclusão de estratégias de prevenção primária e de redução de fatores de

risco, com o objetivo de promover uma dieta e um estilo de vida saudável poderá ser

também realizada.(23, 31)

Os dentistas devem igualmente encontrar-se preparados para prevenir e combater

os efeitos relacionados à obesidade, as suas comorbidades e as doenças orais que poderão

advir desta.(23)

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“Influência da Obesidade na Saúde Oral” Laura Tavares

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CONCLUSÃO

A obesidade tem várias repercussões tanto para a saúde sistémica, como para a

saúde oral, torna-se, portanto, fundamental enfatizar a importância de um estilo de vida

saudável e ativo, de modo a prevenir o aparecimento da obesidade e combatê-la quando

existente.

Devido ao facto da saúde oral ser parte integrante da saúde geral e dada a elevada

frequência de consultas dentárias que são realizadas, o médico dentista tem um relevante

papel no diagnóstico de obesidade, sendo importante a inclusão de estratégias de

prevenção primária e de redução de fatores risco nas consultas ministradas, de modo a

promover uma dieta e um estilo de vida saudável para todos os pacientes, particularmente

os que se encontram com excesso de peso ou obesos.

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