influência do meio ecológico e da autonomia funcional nos … · 2013-07-29 · e da autonomia...
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UNIVERSIDADE DE LISBOAFACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
Influência do Meio Ecológicoe da Autonomia Funcionalnos níveis de Depressão
e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados
e não institucionalizados
Cláudia Sofia Ventura Russo
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde, Núcleo de Psicologia Clínica Dinâmica)
2008
UNIVERSIDADE DE LISBOAFACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
Influência do Meio Ecológicoe da Autonomia Funcionalnos níveis de Depressão
e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados
e não institucionalizados
Cláudia Sofia Ventura Russo
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde, Núcleo de Psicologia Clínica Dinâmica)
Dissertação orientada pela Professora Doutora Maria Eugénia Duarte Silva
2008
AGRADECIMENTOS
Para a realização deste estudo, considero que foi importantíssimo o apoio das pessoas que
me rodeiam.
Neste sentido, em primeiro lugar e muito especialmente, agradeço à Prof. Doutora Maria
Eugénia Duarte Silva, pela disponibilidade e pela ajuda que me ofereceu, bem como a
motivação, criticas e sugestões que me transmitiu e que tanto contribuíram para a elaboração
deste trabalho.
Não posso deixar de agradecer aos meus Familiares e Amigos (são muitos, eles sabem a
quem me refiro!) pela crença que depositaram em mim e na concretização desta dissertação
e, pela motivação transmitida.
Mesmo não estando fisicamente comigo, agradeço à minha Mãe – por sempre me ter
incentivado a lutar pelos objectivos!
Por último, mas não de forma menos especial, quero agradecer aos idosos que participaram
neste estudo e permitiram a sua elaboração.
Muito obrigado!
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.
Fernando Pessoa
Índice
Resumo ............................................................................................................................... 8
Abstract .............................................................................................................................. 9
Introdução ........................................................................................................................ 10
Método .............................................................................................................................. 39Caracterização da amostra .......................................................................................... 39Meio Ecológico ........................................................................................................... 42Plano Experimental .................................................................................................... 42Instrumentos ............................................................................................................... 43Procedimento .............................................................................................................. 47Procedimento estatístico ............................................................................................. 48
Resultados ......................................................................................................................... 49
Discussão .......................................................................................................................... 55
Conclusão .......................................................................................................................... 62
Implicações ....................................................................................................................... 63
Limitações ......................................................................................................................... 64
Bibliografia ....................................................................................................................... 65
Anexos .............................................................................................................................. 73
Índice de quadros
Quadro 1Características sócio-demográficas da amostra ................................................................ 40
Quadro 2Autonomia física e instrumental, e estado cognitivorelativamente ao sexo em cada meio ecológico ................................................................ 41
Quadro 3Resultados do teste de Kruskall-Wallis relativamente à autonomia funcional(física e instrumental) e ao meio ecológico ...................................................................... 49
Quadro 4Relação entre a autonomia funcional (física e instrumental), a depressão e a ansiedade face à morte ............................................................................. 50
Quadro 5 Resultados do teste de Kruskall-Wallis relativamente à depressãoe à Ansiedade face à morte, em cada meio ecológico ....................................................... 52
Índice de figuras
Figura 1Resultados da amostra na GDS (níveis de depressão) ...................................................... 51 Figura 2Resultados da amostra no DAQ (níveis de ansiedade face à morte) ................................ 51
Figura 3Resultados da GDS para o sexo feminino ......................................................................... 54 Figura 4Resultados da GDS para o sexo masculino ....................................................................... 54
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Resumo
O presente estudo foi desenhado para determinar, de forma empírica, se a autonomia funcional
e o meio ecológico influenciam os níveis de depressão e de ansiedade face à morte, em
idosos institucionalizados e não institucionalizados. Para isto foram aplicados, a 86 idosos
(26 de um Lar; 30 de um Centro de Dia e 30 residentes na Comunidade), instrumentos que
avaliam o nível de autonomia – MAB (Botelho, 2000), a depressão – GDS (Yesavage et al.
1983; Barreto e cols., 2003) e a ansiedade face à morte – DAQ (Conter, Weiner & Plutchik,
1982; Barros de Oliveira, 1998). De acordo com o meio ecológico foram formados três
grupos. Verificou-se que os idosos institucionalizados são os menos autónomos, sendo que
maiores níveis de autonomia funcional estão associados a menores níveis de depressão.
A ansiedade face à morte não se encontra associada à autonomia funcional, nem difere
para os grupos estabelecidos. Outros resultados vão ao encontro das hipóteses formuladas,
apresentando-se a depressão correlacionada positivamente com a ansiedade face à morte,
em todos os grupos. Quanto às diferenças de género, as mulheres apresentam maiores níveis
de depressão que os homens, não se verificando diferenças na ansiedade face à morte.
Palavras-chave: Envelhecimento, Institucionalização, Autonomia Funcional, Meio
Ecológico, Depressão, Ansiedade face à Morte.
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The present study was aimed in order to determine, in an empiric way, if the functional
autonomy and the ecological environment had any influence in the experience of depression
and death anxiety, in institutionalized and non institutionalized older adults. It was applied
a questionnaire for measuring functional autonomy – MAB (Botelho, 2000), and scales for
measuring depression – GDS (Yesavage et al. 1983; Barreto et al., 2003) and death anxiety
– DAQ (Conter, Weiner & Plutchik, 1982; Barros de Oliveira, 1998). The sample consisted
of 86 older adults (26 institutionalized, 30 attending day activity centres but living in their
own homes and 30 community-dwelling participants). Taking into account the participants’
ecological environment, three groups were formed. Results suggest that the institutionalizedResults suggest that the institutionalized
older adults experience the lower levels of autonomy; higher levels of functional autonomy
are associated to lower levels of depression. Death anxiety results did not correlate with
functional autonomy; there were no differences between groups as far as death anxiety was
concerned. Some hypotheses were confirmed: depression has a positive correlation with
death anxiety, in all groups. As far as sex differences are concerned, women showed high
levels of depression than men but no differences in the death anxiety experience.
Key-words: Ageing, Institutionalization, Functional Autonomy, Ecological Environment,
Depression, Death Anxiety.
Abstract
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Envelhecimento
Anteriormente, somente um pequeno número de pessoas alcançava os 65 anos, actualmente
a maioria das pessoas espera atingir uma idade avançada.
No princípio do século XX, a esperança média de vida, aquando do nascimento, era de
35.8 anos para os homens e de 40 para as mulheres, em 2000, esses valores ascenderam a
72.7 e 79.7, respectivamente (INE, 2002).
O aumento da taxa de envelhecimento da população apresenta-se como um dos desafios
mais importantes do século XXI - a reflexão acerca de questões com importância crescente,
como o estatuto dos idosos na sociedade, a solidariedade intergeracional, a qualidade de
vida dos idosos sobre o próprio modelo social vigente (INE, 2002) - de forma a que se possa
propiciar aos idosos um maior bem-estar físico, psicológico e social.
A população portuguesa sofreu, recentemente, um aumento acelerado da taxa de
envelhecimento, indo o seu grau de envelhecimento demográfico ao encontro do padrão
da média Europeia. Os resultados dos Censos 2001 aludem para um número superior de
pessoas idosas comparativamente ao número de jovens (102 idosos por cada 100 jovens,
com menos de 15 anos).
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), velho é aquele que já atingiu os 65 anos,
embora este limiar mude dos países sub-desenvolvidos (60 anos) para os desenvolvidos,
onde os 70 ou 75 anos podiam corresponder à idade de passagem à velhice, tendo em conta
a média da esperança de vida (Barros de Oliveira, 2005).
As causas do envelhecimento da população são sobretudo a redução drástica da natalidade
e a redução acentuada da doença e da taxa de mortalidade (Barros de Oliveira, 2005; Arroteia
& Cardoso, 2006).
Introdução
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
No envelhecimento da população tem-se verificado outro fenómeno: as mulheres vivem
em média mais anos do que os homens, sendo o acontecimento comum a toda a humanidade
(Barros de Oliveira, 2005).
O envelhecimento, processo que decorre durante todo o ciclo de vida humano, caracteriza-
se pela deterioração endógena e irreversível da estrutura e funcionamento de vários órgãos
e tecidos (Sousa & Figueiredo, 2003). O declínio das capacidades e funções, que ocorre nos
últimos anos de vida, conduz a uma menor capacidade de adaptação e de resposta face a
factores de stress intrínsecos e extrínsecos (Robert, 1994; Hall, Maclennam & Lye, 1997;
Sousa & Figueiredo, 2003). As perdas ganham um peso especial e interferem na qualidade
de vida, podendo levar à diminuição dos níveis de auto-confiança e de auto-estima (Trigo
& Lourenço, 1998). Sobretudo nas sociedades ocidentais, o idoso deixa de ter um papel
definido, o que pode conduzir a sentimentos de inutilidade e ao aparecimento de sintomas
depressivos. Com o envelhecimento, verificam-se modificações nas reacções emocionais e,
por vezes, na estrutura da personalidade (Spar & La Rue, 1998).
Birren (1961) sugere que o envelhecimento é um continuum, sendo os novos acontecimentos
assimilados e acomodados, de acordo com as vivências passadas.
Os estudos longitudinais medem mudanças na maturidade enquanto estudos transversais
avaliam diferenças geracionais e mudanças maturacionais (Schaie, 1965).
Kelly (1955), a partir dos dados obtidos num estudo longitudinal, afirma que as mudanças
na personalidade, relativas à idade, são pequenas e que as diferenças observadas nos estudos
transversais da personalidade podem ser resultado de diferenças entre coortes.
Woodruff e Birren (1972) realizaram um estudo longitudinal com três grupos de diferentes
coortes, visando examinar mudanças ontogénicas e geracionais na personalidade. Para
atingir os objectivos fizeram comparações longitudinais e transversais dos resultados, em
testes de personalidade (Woodruff & Birren, 1972).
As comparações dos resultados, nos sujeitos avaliados ao longo do tempo, indicam que
as mudanças objectivas na personalidade, relativas à idade, são pequenas, enquanto que
as mudanças subjectivas são significativas. As diferenças nos resultados dos testes de
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
personalidade para as várias coortes são significativas, sugerindo que, entre coortes, as
diferenças objectivas na personalidade foram grandes. As diferenças objectivas entre coortes
foram mais evidentes que as mudanças objectivas da idade, no mesmo sujeito (Woodruff &
Birren, 1972).
Segundo Lawton (1990), as mudanças associadas à idade cronológica ocorrem mas são
relativamente menores comparadas com as mudanças associadas à falta de saúde, ao baixo
rendimento e às alterações sociais sofridas pelos idosos. A extensão destes factores nas
necessidades ambientais dos idosos pode mudar (Lawton, 1990).
Muitos estudos psiquiátricos referem-se à terceira idade como um período de perdas: dos
amigos, dos papéis sociais e da saúde, tornando-se, elas, a principal fonte de perturbação na
velhice.
A diminuição da auto-estima, a dificuldade de adaptação a novos papéis e lugares, a falta
de motivação para planear o futuro, as atitudes infantis ou infantilizadas, a tendência à
depressão, à hipocondria ou somatização e mesmo tentativas de suicídio, o surgimento de
novos medos, a solidão, a diminuição das faculdades mentais, são algumas das características
que se imputam aos idosos (Richard & Mateev-Dirkx, 2004). Contudo, existe uma variação
individual na capacidade de permanecer saudável, face aos factores de stress (Trigo &
Lourenço, 1998). Alguns indivíduos desenvolvem patologias e perturbações psicológicas,
enquanto outros se mantêm estáveis, mesmo quando vivenciam situações graves e intensas
(Goldberg & Huxley, 1996).
Da mesma forma que determinados idosos declinam nas suas capacidades cognitivas/
instrumentais, outros indivíduos beneficiam de um funcionamento cognitivo e instrumental
eficiente, até ao fim da vida (Barros de Oliveira, 2005).
Na área da psicologia social e da personalidade encontram-se descrições positivas acerca
do processo de envelhecimento (Barros de Oliveira, 2005).
Para entender a velhice, é necessário explorar todo o ciclo de vida, na medida em que esta
fase do ciclo de vida depende de todo o percurso anterior (Duarte Silva, 2005).
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Erikson (1982) foi um dos autores a conceber um modelo que abarca todo o ciclo de
vida humano. Segundo o autor, o ciclo de vida resulta de uma sequência de fases de
desenvolvimento, tendo tanto o ego como a realidade social um papel proeminente. A
identidade constrói-se ao longo de toda a vida, estando constantemente em reelaboração
(Erikson, 1982).
Erikson descreve oito conflitos característicos do desenvolvimento humano: confiança básica
versus desconfiança básica; autonomia versus vergonha e dúvida; iniciativa versus culpa;
aplicação ao trabalho versus inferioridade; identidade versus confusão de papéis; intimidade
versus isolamento; generatividade versus estagnação; integridade versus desespero.
Cada estádio remete para uma crise própria que resulta do conflito entre tendências
opostas. Como condição para um desenvolvimento saudável é necessário resolver cada
conflito integrando as necessidades pessoais com as sociais.
Erikson (1982) encara o envelhecimento como o culminar do desenvolvimento dos sete
conflitos anteriores, um momento durante o qual o sujeito reflecte sobre a sua vida e recorda
os seus sucessos e as suas desilusões, incorporando no self lembranças e experiências
significativas acerca de si próprio e do que o envolve. O sentido de “integridade do eu”,
objectivo primordial desta fase do ciclo de vida – o envelhecimento – seria atingido quando
a pessoa se revelasse capaz de aceitar e integrar as realizações e os fracassos, atribuindo-se
a responsabilidade por ambos, pelo que foi e pelo que é. Se este conflito for bem resolvido,
alcança-se o desenvolvimento da integridade do ego. Com a aceitação dos acontecimentos
de vida que experienciou, o indivíduo não irá recear a morte, pressupondo um equilíbrio e
uma boa adaptação aos sete estádios precedentes, o que levará a um balanço positivo e a um
sentimento de satisfação perante a vida (Erikson, 1982).
Segundo Costa e McCrae (1992), os traços de personalidade mantém-se relativamente
estáveis ao longo do ciclo de vida, isto é, verifica-se a estabilidade desses factores com o
avançar da idade. Na perspectiva da lifespan, a velhice pode ser caracterizada por declínios
em algumas áreas e crescimento noutras (Baltes, 1987), dando origem a um envelhecimento
bem sucedido, num processo de mudança e estabilidade.
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
O conceito de envelhecimento bem sucedido só faz sentido inserido numa perspectiva
ecológica, visando o indivíduo no seu contexto sócio-cultural, integrando a sua vida actual
e passada, ponderando uma dinâmica de forças entre as pressões ambientais e as suas
capacidades adaptativas, dando o devido relevo ao “sentir subjectivo de cada indivíduo,
completamente idiossincrático, que se compreende à luz da construção da história de cada
um” (Paúl, 1996).
Assim, a velocidade do envelhecimento depende da variabilidade dos acontecimentos
externos, bem como da resiliência e de factores reparadores (Trigo & Lourenço, 1998).
Podem ser factores psicossociais de resiliência a crença religiosa, a possibilidade de exercer
uma actividade laboral, voluntária e/ou recreativa, as oportunidades de socialização e as
redes de suporte social, ou seja, factores que o parecem proteger do aparecimento de co-
morbilidade (Brink, 1983, cit. por Trigo & Lourenço, 1998).
Para um melhor entendimento acerca do envelhecimento é necessário estabelecer a
distinção entre envelhecimento normal, patológico e óptimo.
O envelhecimento dito normal decorre com ausência de patologia biológica ou psíquica;
o envelhecimento patológico poderá ser caracterizado pela degenerescência associada a
doenças crónicas (físicas ou psíquicas) e a doenças e síndromes típicos da velhice; e o
envelhecimento óptimo, com sucesso, identifica-se a um estado de referência ideal, em que
as capacidades biológicas e psicológicas permitem uma adaptação, muito satisfatória, do
ponto de vista pessoal e social (Baltes & Baltes, 1990). Tanto o envelhecimento normal
como o envelhecimento óptimo traduzem sanidade mental, no entanto o último identifica-
se com uma maior qualidade de saúde, na medida em que o indivíduo procura activamente
melhorar o seu funcionamento e desempenho, promovendo o desenvolvimento de bem-
estar psicológico (Duarte Silva, 2005).
É certo que o aumento da idade traz um acréscimo de doenças, contudo as perdas a nível
físico e mental não são necessariamente concomitantes ao envelhecimento normal (Lima,
2004). A saúde e a doença nos idosos são fenómenos clínicos que estão dependentes de
factores económicos e sociais. Dos factores sociais destaca-se a reforma, ou seja, a ruptura
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
com o mundo produtivo, que pode influenciar negativamente o estado de saúde (Rodrigues,
Marques & Fabrício, 2000).
Fonseca (2006), no seu estudo, com idosos portugueses, sobre o processo de transição-
adaptação à reforma, verificou que, nos primeiros anos após a reforma, os indivíduos vivem
relativamente satisfeitos, aproveitando, tanto quanto possível, as actividades e as relações
que as condições pessoais lhes permitem. Contudo, com o avanço da idade, observa-se
uma vulnerabilidade e um afastamento crescentes, o que pode sugerir que os efeitos do
envelhecimento são mais determinantes sob o ponto de vista psicológico do que os efeitos
directamente ligados à reforma (Fonseca, 2006).
No entanto, vários idosos adquirem capacidades para compensar as disfunções do
processo normal de envelhecimento, auto-actualizando-se e potenciando a maturação.
O envelhecimento bem sucedido – optimal aging/successful aging – comporta a selectividade nos
processos e o uso de planos alternativos para compensar as perdas (Freund & Baltes, 1998).
O modelo SOC – Selecção, Optimização e Compensação – descreve uma compreensão
das mudanças de desenvolvimento e resiliência através do ciclo de vida (Baltes &
Baltes, 1990; Baltes, P., 1997). Este modelo assume que, ao longo da vida, os indivíduos
desenvolvem capacidades que podem ser orquestradas em três componentes – selecção,
optimização e compensação (Freund & Baltes, 1998). O conceito de selecção surge no
decorrer do aparecimento de limitações, ao longo do tempo. Assim, emerge a necessidade,
inerente à existência humana, de seleccionar domínios/objectivos de funcionamento.
A optimização é definida como o aperfeiçoamento de recursos internos e externos, de forma a
atingir níveis elevados de funcionamento para o cumprimento dos objectivos seleccionados.
Quando confrontados com a perda de recursos ou com o declínio no funcionamento,
necessários para atingir o objectivo seleccionado, outros processos/recursos são necessários
e rentabilizados para manter um dado nível de funcionamento – compensação.
O resultado da coordenação destes três processos é a manutenção de uma velhice feliz e
bem-sucedida, em que as perdas compensam os ganhos (Baltes & Baltes, 1990; Freund &
Baltes, 1998).
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
O modelo SOC é conceptualizado como um modelo desenvolvimental generalizado para
todo o ciclo de vida, contudo nas pessoas idosas, as dinâmicas associadas são amplificadas
e tomam um perfil especial. A limitação de recursos e as necessidades compensatórias
associadas tornam-se mais evidentes na idade mais avançada do que em idades mais jovens
(Freund & Baltes, 1998).
No estudo de Freund e Baltes (1998) com uma amostra de sujeitos idosos e muito idosos
tentou verificar-se se estratégias de selecção, optimização e compensação na condução da
vida poderiam predizer indicadores globais de envelhecimento bem sucedido. Os resultados
corroboraram a hipótese, sendo que o modelo SOC foi significativamente associado
com indicadores subjectivos de envelhecimento bem sucedido, mais precisamente, foi
positivamente relacionado com a satisfação com o envelhecimento, pouca agitação, ausência
de solidão social e emocional.
Para Freire (2000), o envelhecimento bem sucedido é uma competência adaptativa, tratando-
se da capacidade para responder de forma flexível a desafios ambientais, físicos, emocionais
e sociais. Essa capacidade envolve diversas dimensões – emocional (estratégias para lidar
com acontecimentos stressantes), cognitiva (na resolução de problemas) e comportamental
(no desempenho e competência social).
Ryff (1982, cit. por Lima, 2004) referia-se ao successful aging como sendo um
funcionamento positivo ou ideal, relacionando-o com o trabalho desenvolvimental ao
longo do curso de vida. Palmore (1995) compreende o envelhecimento bem sucedido
como combinando a sobrevivência (longevidade), a saúde (ausência de incapacidade) e a
satisfação com a vida.
A teoria da desvinculação/desinvestimento (Cumming & Henry, 1961; Barros de Oliveira,
2005) define que um envelhecimento bem sucedido é aquele em que os indivíduos, à medida
que deixam de trabalhar e deixam voluntariamente o seu papel activo na sociedade, procuram
outras actividades. O adulto vai desinvestindo ou afastando-se dos papéis sociais que
representava, centrando-se mais no “eu” e envolvendo-se menos social e emocionalmente.
A teoria da actividade (Lemon, Bengston & Peterson, 1972), em que o envelhecimento bem
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
sucedido é tanto melhor quanto mais actividade tiver o indivíduo. Uma das mais recentes
é a teoria da continuidade (Atchley, 1972). À luz desta teoria, as pessoas que envelhecem
com mais sucesso são aquelas que continuam com as suas actividades de lazer, hábitos,
preferências e estilos de vida da meia-idade (Simões, 1982) - o exercício físico, os bons
hábitos alimentares e actividades interessantes – que desafiam corpo e mente, mantendo
o idoso mais saudável, física e psicologicamente (Bee & Mitchell, 1984). Tal saúde, física
mas sobretudo psíquica, está muito dependente da capacidade dos idosos se adaptarem às
múltiplas situações, mais ou menos stressantes, como as alterações no trabalho ou a reforma,
que juntamente com outras condicionantes, como doenças mais ou menos graves, podem
contribuir para o bem ou mal estar do idoso, conforme a capacidade que tem para lidar com
acontecimentos stressantes e do apoio que recebe ou não (Czaja, 2001).
Sullivan e Fisher (1994) enfatizam o potencial de crescimento e os pontos fortes
dos indivíduos que estão a envelhecer, utilizando conceitos como auto-controlo,
consciencialização, eus possíveis, enriquecimento de vida e empowerment para descrever
este período da vida marcado pela auto-actualização. Esta abordagem, incidindo nos pontos
fortes, dá ênfase às dimensões internas da experiência e ao papel da motivação intrínseca,
como as bases para acção e fonte de resiliência, para os indivíduos que estão a envelhecer.
Num período mais avançado do ciclo de vida, os indivíduos, mesmo com limitações das
capacidades e perdas, podem e sentem-se felizes (Lima, 2004).
Os idosos não se apresentam menos satisfeitos com a vida em relação aos outros grupos
etários, apesar dos problemas de saúde e/ou financeiros (Neto, 1999, cit. por Barros de
Oliveira, 2005). Num estudo de Costa e McCrae (1991), com amostras que incluíam desde
jovens adultos até idosos, concluiu-se que o bem-estar é relativamente estável ao longo do
tempo.
A idade não parece ser uma variável determinante no sentimento de bem-estar, mas antes
factores a ela associados, como a saúde mais fragilizada, a perda de familiares e amigos
(Barros de Oliveira, 2005).
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
O envelhecimento bem-sucedido é medido não apenas pela ausência de problemas mas
também por indicadores de bem-estar subjectivo, como a satisfação com a vida e a qualidade
de vida percebida.
A velhice, enquanto fase de muito stress, pode ser questionada. Para muitos indivíduos
os acontecimentos de vida, neste período, não são mais consternantes que nos outros e não
parecem ser vistos como negativos, mas antes como desafios ao envelhecimento bem sucedido,
provocando novas expressividades, ao invés de ameaçarem a continuidade do self (Palmore,
1985, cit. por Birren & Schaie, 1997; Kahana & Kahana, 1996, cit. por Lima, 2004).
No processo de envelhecimento, a adaptação implica a compensação de perdas através de
recursos a novas estratégias de pensamento e a novas estratégias de resolução de problemas,
que reflectem bem a experiência de vida de cada um (Paúl, 2005). As transformações de
ordem física determinam um desafio para a pessoa que envelhece, exigindo a aceitação de
um novo self, associado a um corpo fisicamente menos robusto e menos capaz, diferente da
imagem da juventude. Com todas as mudanças e desafios que o idoso encontra nesta fase, a
identidade irá sofrer uma reelaboração (Duarte Silva, 2005).
Durante o desenvolvimento existem tarefas que se impõem aos adultos de idade avançada
ou já na velhice, nomeadamente a aceitação das alterações do corpo, a confirmação da
finitude da vida e a perda progressiva de relações interpessoais (Barros de Oliveira, 2005).
Colarusso (1998) concretiza-o em três tarefas específicas: a) manter a imagem do corpo e
a integridade física (adaptação às alterações físicas, ao declínio das forças e adaptação da
vida a esta realidade); b) aceitar a morte dos outros (à medida que se vai envelhecendo, vão-
se perdendo cada vez mais aqueles que se amam e aqueles com quem se mantêm relações
significativas, como os amigos, irmãos, cônjuge); c) preparar a própria morte (à medida que
se envelhece e as forças declinam, a ideia da própria morte e a sua aceitação torna-se a tarefa
mais desafiante).
Os idosos ter-se-ão de debruçar sobre uma revisão correcta e contínua daquilo que foi a
sua vida, numa espécie de percurso interior, aceitando os aspectos negativos do passado
(Erikson, Erikson, & Kivnick, 1986), para não caírem em desilusão, depressão ou desespero,
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
e sabendo valorizar mais os aspectos positivos, adaptando-se à nova realidade do processo
de envelhecimento (Barros de Oliveira, 2005). Esta valorização do positivo e aceitação
do passado marca a sabedoria, ponto culminante do pensamento. A sabedoria funciona
como preditor do bem-estar subjectivo, influenciando, positivamente, a satisfação com a
vida, independentemente de outros factores objectivos, como a saúde ou o dinheiro, sendo,
também, um importante preditor do envelhecimento bem-sucedido (Ardelt, 1997, 2000, cit.
por Barros de Oliveira, 2005).
Segundo Duarte Silva (2005), os idosos são sobreviventes que, de acordo com as
vicissitudes da vida, sofreram uma selecção natural em que os casos que apresentavam
maior gravidade já morreram e os restantes, mais resilientes, obtiveram uma melhoria das
respectivas patologias.
Atingir a velhice significa que foi possível sobreviver e adaptar-se a muitas experiências e
a desafios específicos de todas as outras fases da vida (Duarte Silva, 2005).
Capacidade funcional
De acordo com uma perspectiva evolucionista, posteriormente às etapas de desenvolvimento,
maturação e reprodução, e consoante o aumento da longevidade dos indivíduos, os
mecanismos de manutenção metabólica experimentam uma situação de falência (Lithgow
& Kirkwood, 1996 cit. por Botelho, 2000).
O funcionamento efectivo no quotidiano é uma tarefa da idade avançada, promovendo a
autonomia e a independência (Baltes & Lang, 1997).
O conceito de capacidade funcional está relacionado com a autonomia na execução de
tarefas de prática frequente e necessária a todos os indivíduos (Sousa & Figueiredo, 2003).
Estas tarefas compreendem os cuidados pessoais e de adaptação ao meio em que se vive e
asseguram a possibilidade de se viver de forma auto-suficiente (Fillenbaum, 1984; Botelho,
2000). A capacidade funcional para o desempenho de tarefas do dia-a-dia comporta benefícios
para a saúde física e mental, e é determinante para o bem-estar social (Fillenbaum, 1984).
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
O ideal seria o idoso viver bastantes anos e, tanto quanto possível, de forma autónoma. A
capacidade funcional deverá então ser relacionada com factores intrínsecos ao indivíduo,
mas também extrínsecos, de natureza social, económica e ambiental (Botelho, 2000).
A manutenção da independência é vista como uma prioridade pelos serviços de saúde,
acção social e pelos próprios idosos, sendo comum a associação entre independência
e qualidade de vida, factores preditores de um envelhecimento bem sucedido (Duarte &
Pavarini, 1997, cit. por Sousa & Lourenço, 2003).
Revela-se assim extremamente importante a avaliação funcional multidimensional da
população idosa. Esta avaliação tem como objectivo identificar perturbações funcionais,
físicas, mentais, sociais, económicas e ambientais, assim como contribuir para a manutenção
e/ou recuperação da tão importante capacidade funcional, conservando-a o máximo de
tempo possível (Lawton, Moss, Fulcomer & Kleban, 1982; Bowling, 1997; Organização
Mundial de Saúde, 2003). A avaliação da capacidade funcional pressupõe a avaliação quer
da autonomia física quer da autonomia instrumental (Botelho, 2000).
Baltes e Lang (1997) estudaram o impacto dos recursos na funcionalidade e no
envelhecimento bem sucedido, sendo o objectivo examinar o processo diferencial de
envelhecimento, no que respeita à funcionalidade, entre idosos com diferentes níveis de
recursos – elevados e baixos. Os autores enquadraram os idosos em quatro grupos baseando-
se em dois tipos de recursos: a cognição e a personalidade. Os resultados sugeriram que os
quatro grupos diferem: a) nos períodos de vigília; b) no tipo e na frequência das actividades
realizadas – intelectuais (culturais e sociais) e relacionais; e c) no tempo de repouso (Baltes
& Lang, 1997). Considerando as diferenças de idade, os efeitos são mais extensos no grupo
com menos recursos. Assim, os recursos podem ter uma função protectora ou amortecedora,
contra os efeitos negativos da idade, para a funcionalidade. De acordo com o modelo SOC,
os autores argumentam que os indivíduos com mais recursos, apesar das perdas, apresentam
um envelhecimento melhor sucedido que os outros, uma vez que podem fazer um uso mais
frequente dos três processos – selecção-optimização-compensação e, desse modo, atrasar o
declínio (Baltes & Lang, 1997).
21
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
A dependência funcional é consequência (geralmente) de uma deficiência e/ou incapacidade/
restrição da actividade, constituindo uma desvantagem social/restrição da participação, que
leva à necessidade de auxílio de terceiros para a execução de determinadas actividades
(Botelho, 2000).
A dependência em determinadas tarefas pode ser vista à luz do modelo SOC (Freund
& Baltes, 1998). Segundo os autores, o idoso, na fase de compensação, aumenta a sua
dependência nas capacidades enfraquecidas, para poder canalizar a sua energia para tarefas
prioritárias, o que tem um carácter adaptativo.
Baltes e Reisenzein (1986) referem que a dependência poderá constituir uma fonte de
contacto social e atenção, anteriormente em falha, para o idoso. A dependência pode assim
representar um ganho secundário bastante valioso para o indivíduo. No entanto, pode afirmar-
se que nem todas as posições dependentes são adaptativas. O facto de um idoso depender
e receber ajuda de terceiros para as suas actividades diárias poderá ter um forte impacto
negativo, gerando sentimentos de impotência, vulnerabilidade e debilidade, podendo levar
à diminuição de auto-estima e ao isolamento social (Verdugo & Gutiérrez-Bermejo, 1999).
Para que o envelhecimento seja uma experiência bem sucedida, há que promover a
autonomia e independência (Botelho, 2000).
De acordo com Charazac (2004), a dependência é uma relação que compromete o sujeito
na totalidade do seu corpo e da sua mente. A transição para a dependência, através de
regressão, faz reviver angústias antigas, apresentando-se a qualidade dos objectos internos,
como um aspecto relevante para a tolerância dessa dependência. A relação de dependência
pode ser vivida como uma ferida que cria uma perda narcísica ou como uma verdadeira
satisfação, consolidando a segurança interna do sujeito.
Institucionalização
Para o idoso que se depara com a crescente deterioração de ordem física e psicológica,
perda de autonomia funcional e com a diminuição da capacidade do meio para o ajudar a
22
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
superar tais incapacidades, torna-se necessário encarar a hipótese de internamento numa
instituição (Fernandes, 2002). A idade avançada ou as suas limitações físicas reduzem a
amplitude de actividades disponíveis para o indivíduo, tanto que as suas capacidades
instrumentais podem tornar-se menos satisfatórias na obtenção de objectivos apropriados,
como permanecer em casa, preparar refeições e manter contactos sociais. A proximidade
com os seus pares e, consequentemente, o aumento da oportunidade de estabelecer relações
sociais são a maior vantagem da institucionalização (Lawton & Simon, 1967). A rede
de apoio social e o convívio com outras pessoas podem ser entendidos como factores de
sobrevivência e de felicidade, sendo que as instituições têm o papel fundamental de agir
como mediadoras e promotoras dessa rede social (Freire Jr. & Tavares, 2004/2005).
A transferência de suas casas para um contexto institucional é sempre um grande desafio
para os idosos, pois deparam-se com uma transformação, muitas vezes, radical do seu estilo
de vida, afastando-se, com frequência, do seu projecto existencial (Freire Jr. & Tavares,
2004/2005), ficando subordinados a todo um conjunto de regras, imposições e proibições
que passam a ocupar o seu quotidiano e onde tudo é controlado (Santos & Encarnação,
1997, cit. por Pombo & Couvaneiro, 2006).
Davim, Torres, Dantas e Lima (2004) procuraram conhecer o contexto social, económico
e de saúde de idosos que vivem em lares. Concluíram que a maioria dos idosos era do sexo
feminino, apresentava baixo nível de escolaridade, dificuldades financeiras, relacionamento
familiar conflituoso, actividades de lazer limitadas e problemas de saúde.
A institucionalização ou a permanência nos lares de 3ª idade pode depender da capacidade
de adaptação do idoso, do apoio familiar e sobretudo da qualidade da instituição em causa.
Nalguns lares, talvez na maioria, pode acontecer a despersonalização, a desinserção familiar
e comunitária, a massificação e a rotina (Neto, 2000). O idoso sente-se marginalizado,
colocado à parte da sociedade e da vida a que estava habituado (Pombo & Couvaneiro, 2006).
Contudo, podem haver cuidados individualizados, onde o idoso mantém a sua autonomia
e independência, na medida do possível, e onde é ajudado pelo pessoal e pelos técnicos a
aceitar, progressivamente, algumas dependências e perdas.
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Alguns estudos sugerem que os efeitos da institucionalização podem ser menos prejudiciais
do que geralmente se supõe. O impacto que terá sobre a interacção social parece exercer
uma influência importante sobre a auto-estima, que pode ser negativamente afectada. No
entanto, existem opiniões divergentes, considerando que a institucionalização poderá, na
verdade, ser útil para a auto-estima do idoso, por aumentar as oportunidades de interacção e
papeis sociais adequados ao sujeito (Fernandes, 2002).
Garbin e Montewka (2000) evidenciaram que quando a instituição oferece condições que
favorecem a realização de actividades facilitadoras de autonomia e independência, os idosos
estão motivados e têm poucos sentimentos negativos relacionados com a velhice.
O idoso, se ficar no seio familiar, pode sentir muito mais a solidão, se não for devidamente
apoiado, sendo este sentimento o mais angustiante para o ser humano e sobretudo para o
adulto muito envelhecido (Neto, 2000).
A instituição é, na maioria dos casos, a última casa onde se vai viver e, o facto de se viver
permanentemente em contacto com a alheia e a sua própria vulnerabilidade, deterioração,
dependência e até mesmo a morte, leva a que o idoso tenha tendência a deprimir-se e a
desinteressar-se do facto de viver (White & Janson, 1986).
O ambiente é um factor importante a ter em conta na problemática das pessoas idosas.
Quando o ambiente é inadequado, percepcionado pelo idoso como perigoso e ameaçador da
sua integridade, este pode regredir, refugiando-se na segurança do seu mundo interior. Isto
pode originar a deterioração rápida do seu estado de saúde (Fernandes, 2002).
Lawton e Simon (1967; Lawton, 1990) verificaram que os utentes de lares usam o espaço
de forma consistente com os seus estilos sociais, e modificam o seu ambiente físico, de
acordo com as suas necessidades. A proximidade física torna-se de grande importância na
criação da estrutura social – o papel das instalações, como mediador de interacção, emerge
imediatamente. Essa proximidade surge como facilitadora da amizade, sendo a familiaridade
a maior necessidade ambiental dos idosos (Lawton, 1990). A velhice comporta uma menor
mobilidade e energia e, possivelmente, gera uma menor necessidade de estabelecer relações
baseadas em similaridades diferenciadas.
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
A institucionalização pode ter consequências a nível funcional e psicológico para os idosos
(Pombo & Couvaneiro, 2006). Cabete (2005, cit. por Pombo & Couvaneiro, 2006) salienta
a confusão e a desorientação que influenciam os hábitos de vida e alteram as relações
interpessoais.
Segundo um estudo exaustivo de Paúl (1992, 1997, cit. por Fonseca, 2005), os idosos
residentes em lares tendem a sentir-se mais sozinhos e insatisfeitos, afastados das suas redes
sociais, num dia-a-dia monótono e sem esperança ou investimento no futuro terreno. Em
contrapartida, vivem menos agitados e têm atitudes mais positivas face ao envelhecimento.
Quanto aos idosos, residentes na comunidade, que experimentavam um reduzido bem-
estar psicológico, tal ficava a dever-se, sobretudo, à falta de apoio adequado mesmo para a
realização de tarefas de rotina (Fonseca, 2005).
Lieberman, Prock e Tobin (1968) compararam três grupos de idosos: institucionalizados,
a viver na comunidade e em listas de espera institucionais. Partiram do pressuposto de que
as diferenças entre a amostra que vive na comunidade e a das listas de espera institucionais
reflectiriam efeitos de pré-institucionalização, enquanto as diferenças entre a amostra das
listas de espera e a dos institucionalizados reflectiriam efeitos da institucionalização. Muitos
estudos sugerem que viver num ambiente institucional pode ter efeitos físicos e psicológicos
nocivos para o indivíduo, jovem ou idoso (Lieberman, Prock & Tobin, 1968). Neste estudo,
verificaram que certas características psicológicas se apresentavam mais afectas aos idosos
em lista de espera do que aos residentes em instituições. Os efeitos frequentemente descritos,
como a pouca perspectiva de futuro, o sentimento de maior distância psicológica dos outros
e o aumento de sentimentos de desespero, são revelados pelos sujeitos em lista de espera,
o que leva a afirmar que estas características podem articular mais significados simbólicos
e fantasias acerca da institucionalização do que os que resultam da verdadeira experiência
vivida nas instituições. O ambiente institucional parece afectar, adversamente, a orientação
no tempo e no espaço, aumentando a preocupação com o corpo e diminuindo a resposta
emocional, contudo, viver numa instituição pode ter efeitos positivos, possuindo os utentes
um melhor nível de funcionamento psicológico (Lieberman, Prock & Tobin, 1968).
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Os idosos institucionalizados constituem, geralmente, um grupo privado dos seus projectos,
afastado da família, de casa, dos amigos, das relações que envolvem a construção da sua
história. Podem associar-se a essa exclusão social as consequências das doenças crónicas,
que são os motivos principais do internamento em instituições de longa permanência (Freire
Jr. & Tavares, 2004/2005). Freire e Tavares (2004/2005) estudaram a percepção dos idosos
brasileiros acerca da sua saúde, incidindo sobre indivíduos, com diferentes características de
autonomia física: independentes, semi-independentes e dependentes, em meios ecológicos
diferentes – no edifício do lar (alas masculina e feminina) e em moradias, na zona envolvente
do lar, cedidas aos idosos independentes para as AVD’s.
O conceito de saúde destes idosos focava aspectos físicos, sociais e mentais, denotando
a compreensão de que saúde não é apenas a ausência de doença, mas um conceito
multidimensional. A capacidade funcional, a autonomia e a independência foram os principais
factores destacados, estando ligados à capacidade para trabalhar, sendo o trabalho um factor
com relevância no estado de saúde. A transição de cidadão activo para inactivo tem um
reflexo negativo no estado de saúde dos indivíduos (Rodrigues, Marques & Fabrício, 2000).
Para os idosos participantes neste estudo, os sintomas são mais preocupantes que a doença
propriamente dita, manifestando desconhecimento das suas doenças e da necessidade
diária de medicamentação. Assim, Veras, Lourenço, Martins, Sanchez e Chaves (2002)
destacam a importância de políticas e modelos de promoção da saúde, junto dos idosos, para
desenvolver o processo de empowerment, fazendo-os sentir que podem ter algum controlo
sobre a sua saúde e sobre as suas vidas.
Quanto aos medos, mais do que da morte que pode ser entendida como libertação de uma
vida destituída de significado e amor humano, os idosos manifestaram medo da dependência
e da perda de autonomia.
Os indivíduos deste estudo dissociaram idade e saúde, manifestando que é possível
envelhecer feliz e saudável, ressaltando que envelhecer num Lar nem sempre é sinónimo de
perdas mas sim uma etapa da vida que se pode saborear com alegria e bem-estar (Freire Jr.
& Tavares, 2004/2005).
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Contudo, noutros estudos, tem sido concluído que, verdadeiramente, o bem-estar e a
qualidade de vida dos idosos têm base na família (Oliveira, Souza, Freitas & Ribeiro, 2006,
cit. por Pombo & Couvaneiro, 2006).
O meio onde vivem representa a maior fonte de bem-estar para os idosos, especialmente
para aqueles que estão em situação de maior fragilidade ou sozinhos (Rubinstein, Kilbride
& Nagy, 1992, cit. por Wahl, 2001). Wahl (2001) identifica três classes de processos
psicossociais que dão significado ao facto dos idosos preferirem permanecer em suas casas:
a versão pessoal das regras de ordem doméstica, a incursão das experiências de vida nos
traços das suas casas, e a relação física entre si e o ambiente que os circunda.
Sixsmith e Sixsmith (1991) assumem que a casa tem um papel principal na orientação
física e espacial na idade avançada, onde transições vivenciais críticas, tais como o
comprometimento funcional ou a viuvez, são (re)integradas dentro da estrutura de vida,
através da confiança e da perseverança sustentadas pelos recursos do meio, a própria casa.
Quando os sujeitos são questionados sobre o que significa “estar em casa”, os idosos
com comprometimento da mobilidade revelam, significativamente, mais aspectos de
familiaridade e habituação, comparados com idosos sem comprometimento das funções
(Oswald, 1996 cit. por Wahl, 2001).
Uma outra perspectiva do significado de casa é o constructo ambiental de place
attachment. Este constructo é definido como um conjunto de sentimentos que se têm por
uma localização geográfica, ou seja, o indivíduo está emocionalmente ligado a um lugar
que é sentido como promotor de experiências (Rubinstein & Parmelee, 1992, cit. por Wahl,
2001). Outro constructo referente à ligação cognitivo-emocional do idoso à casa é o de
housing satisfaction, importante componente de bem-estar, autonomia e continuidade na
idade avançada.
Os idosos preferem estar nas suas casas durante o processo de envelhecimento, fazendo
frente aos desafios, sendo que outras localizações não são sentidas como agradáveis, nem
como opções promotoras de ajustamento para o desenvolvimento futuro (Wahl, 2001).
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
No entanto, num estudo comparativo efectuado com dois grupos de idosos espanhóis,
um formado por indivíduos institucionalizados e o outro por indivíduos a residir em meio
familiar, Castellón (2003) verificou que não existiam diferenças relevantes entre ambos, ou
seja, a saúde era a preocupação principal e todos ambicionavam viver o melhor possível.
Apesar dos principais motivos que levam à institucionalização se relacionarem com factores
susceptíveis de gerar um impacto negativo na qualidade de vida (viuvez, doença), estes
idosos valorizavam positivamente a institucionalização, algo que o autor explica pelo papel
determinante que as relações interpessoais exercem na “produção” de satisfação de vida
(Castellón, 2003).
Depressão
A depressão é uma doença caracterizada por uma tristeza persistente, desencorajamento
e perda de auto-estima (Lima, 2004). A depressão necessita de atenção clínica devido ao
seu carácter severo, que poderá comprometer o funcionamento normal. O paciente fica, de
facto, incapacitado, pelo seu estado deprimido. Além da perturbação do humor, o indivíduo
pode manifestar baixos níveis de energia mental e física, culpabilidade, preocupação com
a morte e ideação suicída. Nos idosos, pode haver ainda uma extrema somatização. As
causas da depressão, numa fase de vida tardia, são atribuídas a acontecimentos stressantes e
negativos (Hamilton, 2000; Spar & La Rue, 1998).
A depressão é um dos transtornos que mais afectam o idoso, sendo o seu diagnóstico
mais complexo de elaborar que noutras faixas etárias (Oliveira, Santos, Cruvinel & Néri,
2006), pois, por vezes, o próprio processo de envelhecimento pode apresentar características
semelhantes aos sintomas depressivos (Piccoloto, Wainer, Benvegnú & Juruena, 2001). A
detecção clínica da depressão, nos idosos que vivem na comunidade, continua a ser um
problema de saúde pública, sendo que cerca de 50% dos médicos de clínica geral falham na
sinalização de doentes com depressão (Costa, 2005).
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
A depressão envolve uma série de comprometimentos no funcionamento de um indivíduo
(Oliveira e cols., 2006). A depressão e outras perturbações do humor, incluindo também as
alterações ansiosas, são problemas psicológicos que, em muitos casos, se expressam, na
velhice, através de uma ampla variedade de problemas físicos e funcionais. Os próprios
sintomas emocionais, típicos da depressão, constituem-se como uma das principais queixas
dos idosos.
Fleck, Lima, Louzada, Schestasky, Henriques, Borges e Camey (2002) verificaram que a
sintomatologia depressiva estava associada com o menor envolvimento social e qualidade
de vida, bem como, com uma maior utilização dos serviços de saúde.
A caracterização e identificação dos sintomas depressivos nos idosos agrava-se pela
interacção com outros factores, como a fadiga, a perda de apetite e as alterações do sono, que
estão mais associadas ao próprio processo de envelhecimento ou a determinadas condições
médicas do que a desordens depressivas major. O diagnóstico de depressão complica-se
também quando associado a doenças cerebrais como as demências (Lima, 2004).
Muitos autores sugerem que não existe um aumento do risco de depressão ou ansiedade
associada ao envelhecimento, excepto nos muito idosos ou naqueles que apresentam
determinadas doenças (Lima, 2004). Contudo, parece encontrar-se diferenças na
apresentação da depressão e no número de sintomas devido, provavelmente, à alteração
dos precipitantes, por exemplo, perda do cônjuge, dor ou doença crónica (Penninx et al.,
1996, cit. por Hamilton, 2000, p. 189), alterações da mobilidade, frustração pelas perdas ou
dificuldades de adaptação às mudanças.
De acordo com Lima (2004), têm sido identificados factores biológicos associados à
depressão como, o abuso de drogas ou medicamentos, doenças, alterações hormonais e
história familiar com presença de depressões.
Em vários estudos (Lima, 2004), verificou-se que as mulheres sofriam, mais frequentemente,
de depressão major e de sintomas depressivos do que os homens. Além deste facto,
diferenciam-se ainda na percepção e expressão dos sintomas (Kockler & Heun, 1997, cit.
por Lima, 2004).
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Factores associados ao estilo de vida, como problemas financeiros, problemas sociais ou
relacionais podem contribuir para um estado depressivo (West, Reed & Gildengorin, 1998,
cit. por Hamilton, 2000). A institucionalização é uma das condições que pode fazer aumentar
o número e a intensidade da depressão (Hamilton, 2000).
Oliveira e cols. (2006) estudaram a relação entre ansiedade, depressão e desesperança
constatando a relação entre as três perturbações, sendo que a relação entre a ansiedade e a
depressão apresentou um índice de correlação mais elevado. Este estudo foi elaborado com
uma amostra constituída por três grupos de idosos. Os autores verificaram que a maioria dos
idosos (54,4 %; n=43) viviam sozinhos ou com o cônjuge e sem parentes ou familiares, o que
revelou a sua independência. Os resultados demonstraram que os idosos que viviam em lares
apresentavam uma maior incidência de sintomas depressivos, ansiosos e de desesperança,
do que os outros dois grupos – um constituído por utentes de um centro de dia e outro por
utentes de um posto de distribuição de medicamentos. No que diz respeito à ansiedade, esta
é bastante incidente na população idosa institucionalizada, sendo considerada grave. Os
outros dois grupos, acima referidos, também apresentavam sintomas ansiosos, embora os
apresentassem de uma forma mais atenuada.
A depressão sobrecarrega as famílias e instituições que providenciam cuidados aos idosos,
é extremamente destruidora da qualidade de vida, e como tal, impõe uma grande carga
social e económica para a sociedade (Costa, 2005).
A depressão é uma preocupação para muitos idosos. Costa (2005) concluiu que ela é
uma perturbação psiquiátrica extremamente prevalecente. A maioria da população idosa
que participou no seu estudo estava deprimida, quer a institucionalizada (54,6%), quer
a residente na comunidade (62,9%). Na população idosa deprimida, independentemente
do contexto, a maioria apresentava critérios de diagnóstico para depressão minor, sendo
esta prevalência significativamente superior no contexto comunitário. A prevalência de
depressão major não era superior, neste estudo, nos idosos institucionalizados relativamente
aos residentes na comunidade. Além disso, esta investigação apontou para o facto de que
a clínica da depressão nos idosos, na sua generalidade, era mais variada e atípica do que a
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
do adulto jovem, ou seja, os idosos apresentavam, frequentemente, sintomas depressivos
não contemplados pelas categorias diagnósticas das classificações tradicionais (DSM-IV
e ICD-10), (Costa, 2005). “Assim, a chave para um diagnóstico e intervenção efectiva
na depressão geriátrica talvez esteja, por um lado, na manutenção de um elevado índice
de suspeição e, por outro lado, em dar uma especial atenção à incapacidade funcional e
às questões relacionadas com a qualidade de vida provocadas por uma depressão nesta
idade” (Costa, 2005).
Ansiedade face à morte
O indivíduo é simultaneamente produtor e produto de uma sociedade e da sua cultura. Esta
fase tardia da vida é marcada por grandes transformações psicológicas, físicas e sociais e,
por isso, o idoso deve estar consciente de si, como ser finito que envelhece. Muitos idosos,
nesta fase da vida, são acometidos por distúrbios mentais (Oliveira, Santos, Cruvinel e Néri,
2006). O transtorno de humor foi o problema psiquiátrico mais frequente, prevalecendo nas
mulheres (Almeida, 1999). Entre outros problemas, a ansiedade, a depressão e a desesperança
em idosos são pouco investigados pelos profissionais no contexto clínico, embora sejam
comuns entre as queixas (Gazalle, Hallal & Lima, 2004).
A condição humana identifica-se com a fragilidade da vida ou com a inexorabilidade da
morte. Assim, todo o ser humano se confronta com questões existenciais e, mais ainda, à
medida que a vida vai declinando, assumindo o morrer e a morte, não somente uma dimensão
biológica, mas também psicológica e social (Barros de Oliveira, 2005).
A morte, tema tão difícil e tabu entre os indivíduos mais jovens, é notoriamente mais aceite
pelos idosos (Barros de Oliveira, 1998; Lima, 2004). De um modo geral, todos os indivíduos
pensam na morte e, quando se chega a uma idade mais avançada, esse pensamento passa a fazer
parte do imaginário, com mais frequência (Couvaneiro, Nunes & Santos, 2004). A aceitação
da finitude da vida e o conforto em falar sobre a morte são muito maiores numa fase tardia da
vida (Lima, 2004) e um dos maiores sinais de maturidade humana (Barros de Oliveira, 2002).
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Rasmussen e Brems (1996) constataram que uma maior maturidade e mais idade estavam,
negativamente, correlacionadas com o medo da morte. Contudo, os idosos comportam-se de
forma muito diversificada face à morte (Passos, 2005), uns afirmam que estão preparados,
outros vivem o momento apegados à vida, sem pensar muito, a longo prazo.
A ansiedade decorre face a uma visão catastrófica dos acontecimentos, prevendo que
algo perigoso e ameaçador pode acontecer (Oliveira e cols., 2006). Para Skinner e Vaughan
(1985), a ansiedade nos idosos está relacionada com as limitações vivenciadas na velhice
e, na maior parte dos casos, interpretadas como ameaçadoras. Os indivíduos com elevados
níveis de ansiedade têm tendência para antecipar incapacidades futuras e questionam as suas
próprias funções intelectuais. Essas percepções negativas influenciam a atenção selectiva,
a codificação da informação na memória, bloqueando a compreensão e o raciocínio (Coes,
1991, cit. por Oliveira e cols., 2006), o que nesta idade pode representar a diferença entre
uma boa ou uma comprometida saúde mental. Byrne (2002, cit. por Oliveira e cols., 2006)
considera que os sintomas de ansiedade nos idosos são frequentes e que geralmente vêm
associados à presença de depressão e a doenças físicas. Xavier, Ferraz, Trendi, Argimon,
Bertollucci, Poyares e Moriguchi (2001) estudaram a ansiedade em idosos com mais de
80 anos e constataram que 10,6% dos 77 idosos da amostra apresentavam transtorno de
ansiedade generalizada. Os elevados níveis de ansiedade estavam associados a sintomas
depressivos. Regier et al. (1988, cit. por Oliveira, Santos, Cruvinel e Néri, 2006) verificaram
que 5,5 % dos idosos com mais de 65 anos de idade apresentavam transtorno ansioso,
excluindo os casos de ansiedade generalizada. O índice aumentava para 15 % quando se
incluíam os casos de ansiedade generalizada (Katona, Manela & Livingston, 1996, cit. por
Oliveira e cols., 2006). Num estudo de Almeida (1999), foi encontrada uma prevalência de
15,4 % de idosos com transtorno de ansiedade.
A ansiedade face à morte é definida como o medo da morte e do morrer que os indivíduos
experienciam na sua vida quotidiana, causada pela antecipação do estado em que cada um
morrerá (Tomer, 1994, cit. por Fry, 2003). A palavra ou o pensamento da morte é o estímulo
cuja resposta é a ansiedade ou o medo da morte (Couvaneiro, Nunes & Santos, 2004).
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Freud (1856-1939) reconheceu que as pessoas expressavam medo da morte. No entanto,
a tanatofobia, como Freud a definiu, era um mero disfarce para uma preocupação mais
profunda. Não era a morte que as pessoas temiam pois “É difícil imaginar a nossa própria
morte, e sempre que a tentamos imaginar, nós (…) sobrevivemos como espectadores (…)
no fundo ninguém acredita na sua própria morte, ou (….) no inconsciente todos estamos
convencidos da nossa própria imortalidade.” (Freud 1953, pp. 304 e 305).
A tanatofobia pode incluir o medo do momento da morte, do evento em si, medo do
sofrimento e a angústia que a precede, medo do que acontecerá depois e ainda medo de
aniquilamento ou extinção total (Kastenbaum & Aisenberg, 1983; Fry, 2003; Barros de
Oliveira, 2005). O medo da morte está ligado ao tempo (quando?) ou a outras condições
(como?, onde?) (Barros de Oliveira, 2002; 2005). Para muitos autores a ansiedade face à
morte não é um constructo singular global, mas multidimensional (Fry, 2003). A controvérsia
surge no número de factores componentes do mesmo (Thorson & Powell, 2000, cit.
por Fry, 2003).
O medo da morte não é inato, mas introjectado desde a infância, e atinge todos os seres
humanos. O que se teme não é tanto a morte, mas o processo de morrer, a duração do
mesmo, a possibilidade da dependência, a impotência, o sofrimento, a solidão, o abandono,
o desconhecido (Neimeyer & Moore, 1994, cit. por Fry, 2003; Wass & Neimeyer, 1995, cit.
por Fry, 2003; Passos, 2005). Entre os idosos existe o medo adicional, que acompanha uma
vida prolongada, de que a morte pode ser um processo doloroso e lento, culminando no total
abandono da família e amigos (Cicirelli, 1998).
Fry (2003) desenvolveu um campo de trabalho partilhando preditores de outros estudos, como
a saúde física e o suporte social, e incluiu variáveis sócio-cognitivas de auto-eficácia e crenças de
conhecimento. Partiu da ideia que as crenças de auto-eficácia e de auto-conhecimento representam
um conjunto de factores que pode ter um papel importante na indução do medo da morte, pois
reflecte a avaliação que os idosos fazem da sua capacidade ou não de transcender o medo do
desconhecido, do esquecimento e da anulação, eventualmente consequentes à morte física. São as
crenças de auto-eficácia que determinam o sentido de controlo das limitações da ansiedade e do stress
33
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
associados com os elementos desconhecidos dos acontecimentos futuros (Bandura, 2000, cit. por
Fry, 2003). Idosos com fracas crenças de auto-eficácia experimentam um declínio na auto-estima e
na satisfação com a vida, contrariamente àqueles com fortes crenças de auto-eficácia. Estas crenças
nos domínios interpessoal, instrumental, emocional e social são tidas como fortes mediadores das
respostas dos indivíduos, na vida tardia (Lawton, 2001, cit. por Fry, 2003). As crenças e percepções
dos indivíduos acerca da auto-regulação e auto-competência em relação aos outros são mediadores
importantes da ansiedade face à morte (Tomer & Eliason, 1996). Os indivíduos com fortes crenças
positivas sobre o seu self exercem um grande controlo sobre os seus processos de pensamento, o
que se traduz em baixos níveis de ansiedade face à morte (Cicirelli, 1999). Fry (2003) pressupôs
que indivíduos com fracas crenças de auto-eficácia revelariam níveis elevados de medo da morte
e de morrer, hipótese que foi corroborada sem se observarem diferenças de género. Contudo, o
autor observou diferenças nos domínios sobre os quais recaem as crenças, sendo que as mulheres
percepcionavam a sua eficácia ligada aos domínios interpessoal, social e emocional, enquanto que
os homens percepcionavam a sua auto-eficácia ligada aos domínios instrumental, organizacional e
físico (Fry, 2003). A crença de eficácia global e em domínios específicos está fortemente relacionada
com a saúde e bem-estar psicológico e é a maior fonte de força interna na vida tardia (Fry & Debats,
2002; Smith, Kohn, Savage-Stevens, Finch, Ingate & Lim, 2000). Fortes níveis de crenças na auto-
eficácia, em diversos domínios de funcionamento, podem equipar os idosos para transcender os
seus medos acerca do que os espera após a morte (Fry, 2003).
Berman e Hays (1973) tentaram testar a presumida relação teórica entre as atitudes
perante a vida, a morte e o pós-morte, bem como replicar estudos anteriores. Os resultados
revelaram que a ansiedade face à morte e a crença num locus de controlo externo não estavam
relacionadas. Também não foram encontradas evidências que relacionassem a externalidade
com a crença no depois da morte. Pequena, mas significante, foi a correlação encontrada
entre a crença no depois da morte e o medo da morte. Dos resultados ressaltaram os níveis
mais elevados, apresentados pelas mulheres, quer na ansiedade face à morte, quer na crença
no depois da morte. Os resultados demonstraram que o medo da morte diminuiu de acordo
com os níveis elevados de educação/instrução.
34
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Goebel e Boeck (1987) sugerem que os idosos experienciam menos ansiedade de morte,
mas que a idade não é um factor, só por si, significante, para determinar a ansiedade de
morte numa população idosa.
Cicirelli (1999) postulou que se poderia esperar que os idosos revelassem um grande medo
da morte visto o aumento da proximidade da mesma e devido aos poucos anos que lhes
restam para viver, bem como o reduzido controlo que sentem ter sobre os seus problemas
mentais e físicos.
Uma maior ansiedade face à morte, por parte dos idosos em relação aos mais novos, é
verificada naqueles que estão mais deprimidos ou são mais ansiosos (Barros de Oliveira,
2005). Desta forma, sendo a depressão, a morbilidade, a perda de apetite, e mesmo o
suicídio, sintomas, frequentemente, associados com a ansiedade prolongada (Fry, 2003),
essa associação também se encontra nas idades mais avançadas.
Num estudo de Barros (1998), os dados sugerem que “nos adultos o medo da morte não é
particularmente agudo e que muitos encaram mesmo a morte como uma bênção”.
Barros de Oliveira (2002), num dos seus estudos, comparou alunos do 6º ano de
escolaridade, do 9º ano de escolaridade, professores do ensino secundário e idosos. Concluiu
que nas crianças e adolescentes dominava uma certa ansiedade face à morte que diminuía na
idade adulta para subir de novo na velhice. A diferença na ansiedade face à morte também
se observava entre homens e mulheres (principalmente as mais novas), sendo que estas
mostraram mais medo da morte (Barros de Oliveira, 2002; Depaola, Griffin, Young &
Neimeyer, 2003, cit. por Barros de Oliveira, 2005).
A religiosidade e a espiritualidade foram apontadas como tendo um papel preponderante no
confronto com as exigências da velhice, facilitando a aceitação das perdas e sendo utilizadas
como recursos em situações difíceis (Freire Jr. & Tavares, 2004/2005). Quando se controlam
variáveis como a religião ou a religiosidade, verifica-se que a religião interiorizada ajuda
a diminuir a ansiedade face à morte, pois só ela pode dar a ideia de transcendência e de
imortalidade espiritual (Thorson & Powell, 1990; Cicirelli, 1999).
35
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Lester (cit. por Kastenbaum & Aisenberg, 1983) concluiu que a crença religiosa não afecta
a intensidade do medo da morte, mas antes direcciona o medo para as questões que cada
religião orienta. O medo da morte está amplamente relacionado com a fé ou a descrença na
imortalidade (Barros de Oliveira, 2005). Uma boa atitude face à morte promove uma melhor
vivência do tempo presente.
Diversas variáveis da personalidade, tais como o sentido da vida e o bem-estar psicológico,
foram estudadas, tendo sido estabelecidas correlações com a ansiedade face à morte. Mas
o medo da morte pode evidenciar uma síndroma depressiva, particularmente nos idosos
(Barros de Oliveira, 2002).
Couvaneiro, Nunes e Santos (2004) estudaram a eventual correlação entre a ansiedade face
à morte e o bem-estar psicológico, em idosos institucionalizados e não institucionalizados.
Os autores concluíram que existiam diferenças entre os dois grupos estudados, tendo-se
verificado que os valores de bem-estar psicológico estão correlacionados positivamente
com os resultados de ansiedade face à morte, isto é, quanto maior o nível de bem-estar
psicológico, maior o nível de ansiedade face à morte. Esta tendência foi verificada nos idosos
institucionalizados. No grupo de idosos não institucionalizados não se obtiveram resultados
que revelassem a existência de ansiedade face à morte, apresentando, estes indivíduos,
índices de bem-estar psicológico inferiores. No sentido de perceber se os resultados
poderiam ser atribuídos a outras variáveis, testaram a influência do sexo, da idade, e do estado
civil. Concluíram que estas variáveis não se correlacionavam, significativamente, com as
dimensões “bem-estar psicológico e ansiedade face à morte”, situação que se verificou, em
ambos os grupos – idosos institucionalizados e não institucionalizados.
Estes resultados parecem contraditórios em relação aos de outros estudos, pois idosos
institucionalizados têm apresentado maior bem-estar psicológico e índices mais elevados
de ansiedade face à morte que os idosos não institucionalizados. Contudo, Couvaneiro,
Nunes e Santos (2004) explanam que essa contradição é atenuada quando se considera
que a institucionalização promove um reencontro com uma estrutura de suporte social, que
responde às necessidades psicossociais. Esse suporte advém de actividades de lazer, cuidados
36
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
de higiene e saúde permanentes e do facto de possuírem companhia, a maior parte do dia. Se
obtêm maior bem-estar psicológico devido a estes factores, naturalmente sentir-se-ão mais
ansiosos quando pensam no fim de tudo isto, traduzindo-se essa experiência em ansiedade
face à morte. Quanto aos idosos não institucionalizados, constata-se que apresentam baixos
níveis de ansiedade face à morte, embora se verifique um menor bem-estar psicológico,
o que reflecte que o ambiente em que estão inseridos não os conforta, nem os securiza
(Couvaneiro, Nunes & Santos, 2004).
O idoso vê-se desarmado e indefeso do ponto de vista bio-psico-social, no último período
da vida, perto de um desfecho que desconhece, tendendo a deprimir-se ou a negar a morte,
tentando parar o tempo, podendo negar-se a si e ao seu próprio corpo (Sousa, 1987).
Não obstante estes estudos e estas conclusões, as pesquisas acerca da ansiedade face à
morte, em idosos, são ainda parcas (Barros de Oliveira, 1998).
Frente ao crescimento da população idosa e às mudanças ideológicas em curso, a
intervenção dos psicólogos com os adultos mais velhos será melhor sucedida no contexto
de equipas multidisciplinares, na interacção da psicologia com outros campos da saúde e do
serviço social.
Face à revisão da literatura realizada, parece pois relevante estudar a relação existente entre
a depressão e a ansiedade face à morte e os níveis de autonomia experimentados, em idosos
inseridos em diferentes meios ecológicos. Este conhecimento poderá representar uma mais
valia na possibilidade de desenvolver e implementar adequadas intervenções junto desta
crescente e heterogénea população, com diversas situações de vida.
37
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Deste modo, formularam-se as seguintes hipóteses:
Hipótese 1 (H1): os idosos institucionalizados (Lar) apresentam menor autonomia
funcional (autonomia física e instrumental) que os que frequentam Centro de Dia e os que
são, apenas, residentes na Comunidade.
Hipótese 2 (H2): os idosos que apresentam maiores níveis de autonomia funcional
manifestam níveis mais baixos de depressão e de ansiedade face à morte.
Hipótese 3 (H3): os idosos com níveis mais elevados de depressão apresentam níveis mais
elevados de ansiedade face à morte, em todos os grupos.
Hipótese 4 (H4): os idosos institucionalizados apresentam níveis mais elevados de
depressão e de ansiedade face à morte que os idosos residentes na Comunidade.
Hipótese 5 (H5): os idosos institucionalizados manifestam um nível mais elevado de
depressão e de ansiedade face à morte do que os idosos utentes do Centro de Dia.
Hipótese 6 (H6): Os idosos utentes de um Centro de Dia apresentam níveis menos elevados
de depressão e de ansiedade face à morte do que os idosos residentes na Comunidade.
Hipótese 7 (H7): os idosos do sexo feminino são mais deprimidos e ansiosos face à morte
que os do sexo masculino.
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
O presente estudo
O presente estudo foi elaborado com o objectivo geral de explorar, de forma empírica, se a
depressão e a ansiedade face à morte, nos idosos, são influenciadas pelo nível de autonomia
funcional experimentado e pelo meio ecológico em que estes estão inseridos.
Os objectivos específicos deste trabalho são os seguintes:
• Explorar a relação entre a autonomia funcional experimentada e diferentes meios
ecológicos – Lar, Centro de Dia e Comunidade -, tentando confirmar a ideia que uma
maior autonomia funcional leva à permanência na Comunidade.
• Procurar compreender a relação entre a depressão e a autonomia funcional, em idosos
nos diferentes meios ecológicos, tentando verificar se os idosos com maior nível de
autonomia funcional manifestam níveis mais baixos de depressão que os idosos com
menores níveis de autonomia funcional.
• Procurar conhecer a relação entre a ansiedade face à morte e a autonomia funcional,
para os mesmos idosos, procurando verificar se os idosos menos autónomos manifestam
níveis mais elevados de ansiedade face à morte que os idosos mais autónomos.
• Tentar compreender se o sexo influencia os níveis de depressão e ansiedade face à morte,
isto é, se as mulheres se manifestam mais deprimidas e mais ansiosas face à morte que
os homens.
• Verificar se o meio onde o idoso está inserido (Lar, Centro de Dia e Comunidade)
influência a depressão e a ansiedade face à morte experimentadas.
39
MÉtodo
Caracterização da amostra
A amostra deste estudo é constituída por 86 indivíduos idosos, 55 do sexo feminino e 31
do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 65 e os 96 anos (a média das idades
é de 78.72 anos, com um desvio padrão de 7.85, sendo de 78.58 para o sexo masculino, com
desvio padrão de 8.15, e de 78.80 para o sexo feminino, com desvio padrão de 7.76).
Foram seleccionados 26 idosos de um Lar do Concelho da Moita, 30 idosos de um Centro
de Dia da Baixa da Banheira e 30 idosos residentes nas suas casas na Comunidade (todos
da Margem Sul do Tejo).
A amostra foi distribuída por três grupos distintos, tendo por critério o seu local de
residência/frequência. O grupo 1 é constituído por 26 idosos residentes numa instituição de
residência permanente (Lar); o grupo 2 é constituído por 30 idosos utentes de um Centro de
Dia; e o grupo 3 é constituído por 30 idosos residentes em suas casas na Comunidade.
No quadro 1 são apresentadas as características sócio-demográficas de cada um dos grupos
(dados recolhidos com o MAB – Método de Avaliação Biopsicossocial; Botelho, 2000).
40
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
No quadro 2, apresentam-se os dados relativos à autonomia física e instrumental, e ao
Estado Cognitivo, para cada sexo, em cada meio ecológico estudado.
Quadro 1 | Características Sócio-demográficas.
Variáveis Categorias Grupo 1 % Grupo 2 % Grupo 3 %
Sexo Feminino 19 73.1 18 60.0 18 60.0
Masculino 7 26.9 12 40.0 12 40.0
Idades 65-74 4 15.4 8 26.6 14 46.7
75-85 11 42.3 17 56.6 9 30.0
>85 11 42.3 5 16.6 7 23.3
Estado civil Viúvo 12 46.2 21 70.0 14 46.7
Divorciado 2 7.7 3 10.0 0 0
Solteiro 11 42.3 1 3.3 0 0
Casado 1 3.8 5 16.7 16 53.3
Escolaridade Analfabetos 1 3.8 4 13.3 7 23.3
1 a 6 anos 14 53.8 26 86.7 18 60.0
7 a 12 anos 8 30.8 0 0 5 16.7
13 ou mais anos 3 11.5 0 0 0 0
Profissão Quadros superiores 0 0 1 3.3 0 0
Especialistas das Profissões Intelectuais e Cientificas
1 3.8 0 0 0 0
Técnicos e Profissionaisde Nível Intermédio
5 19.2 0 0 0 0
Pessoal Administrativoe Similares
11 42.3 1 3.3 4 13.3
Pessoal dos Serviçose Vendedores
1 3.8 3 10.0 1 3.3
Agricultores e Trabalhadores qualificados da Agricultura
e Pescas0 0 2 6.7 0 0
Operários, Artíficese Trabalhadores Similares
3 11.5 10 33.3 12 40.0
Operadores de instalaçõese máquinas e montagem
0 0 1 3.3 0 0
Trabalhadores não qualificados 5 19.2 12 40.0 13 43.3
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
A amostra deste estudo é uma amostra de conveniência, sendo a sua dimensão definida
pelos recursos disponíveis. A amostra da instituição de residência permanente (Lar) e os
utentes de Centro de Dia foram indicados pelas Assistentes Sociais, directoras técnicas
das Instituições, de acordo com a previsão dos indivíduos serem capazes de responder aos
questionários. A amostra dos idosos residentes na Comunidade foi constituída através do
fenómeno bola de neve.
Quadro 2 | Autonomia física e instrumental, e estado cognitivo relativamente ao sexo em cada meio ecológico.
Frequência
Sexo Feminino Sexo Masculino
Grupo 1
19 7
Estado CognitivoSatisfatório 6 4
Bom 13 3
Autonomia Física Incapaz 19 7Autonomia Instrumental Incapaz 19 7
Grupo 2
18 12Insatisfatório 8 2
Estado Cognitivo Satisfatório 9 3Bom 1 7
Autonomia FísicaDependente 9 3Autónomo 7 9
Independente 2 0
Autonomia InstrumentalIncapaz 17 11
Autónomo 1 1
Grupo 3
18 12Estado Cognitivo Satisfatório 5 1
Bom 13 11
Autonomia FísicaDependente 2 0Autónomo 9 7
Independente 7 5
Autonomia Instrumental
Incapaz 5 11Dependente 0 1Autónomo 9 0
Independente 4 0
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Meio Ecológico
A instituição de residência permanente (Lar) é um edifício de piso térreo, amplo, que possui
um espaço jardinado e portanto, espaço ao ar livre. Assim, os idosos podem usufruir desta parte
exterior da residência e passear sem terem de sair da instituição. Esta residência possibilita
alguma mobilidade e autonomia aos idosos, que possuem, na sua grande maioria, dificuldades
de locomoção. O lar acolhe 47 idosos, situando-se numa zona periférica da vila.
O Centro de Dia é, também, um edifício de piso térreo, pelo que propicia a autonomia
dos seus utentes. É composto por três blocos com diversas divisões: a) recepção, secretaria,
gabinete técnico; b) consultório, sala de espera/estar, WC, sala de actividades lúdicas/
recreativas e sala de ensaios (coro); e c) cozinha, sala de refeições, espaço polivalente, WC,
lavandaria. Os blocos estão dispostos de forma que entre eles fica um espaço de recreio,
coberto por um alpendre, mas ao ar livre. Os três blocos são também rodeados de um
pequeno jardim.
A restante parte da amostra, residente na Comunidade, foi entrevistada, individualmente,
em suas casas.
Plano Experimental
Problema
Qual a influência do meio ecológico e dos níveis de autonomia funcional (física e
instrumental), nos níveis de depressão e de ansiedade face à morte?
Variáveis independentes
Neste estudo, como variáveis independentes definiu-se:
a) O meio ecológico no qual os idosos se inserem: Lar, Centro de Dia ou Comunidade;
b) Autonomia funcional (física e instrumental).
43
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
A avaliação da capacidade funcional pressupõe a avaliação quer da autonomia física quer
da autonomia instrumental (Botelho, 2000).
A capacidade funcional relaciona-se com a capacidade de realizar actividades de prática
frequente e necessária a todos os indivíduos (Botelho, 2000). No que diz respeito à autonomia
funcional, a avaliação realizou-se com o MAB (Botelho, 2000). De acordo com os resultados
fornecidos por este instrumento, os indivíduos são incluídos no nível dependente se forem
classificados como incapazes ou dependentes; sendo incluídos no nível independente se
forem classificados como autónomos ou independentes (Botelho, 2000).
Variáveis dependentes
Como variáveis dependentes definiu-se:
a) O nível de depressão;
b) O nível de ansiedade face à morte.
Instrumentos
MAB – Método de Avaliação Biopsicossocial (Botelho, 2000)
O MAB é um método de avaliação, rastreio, de registo e classificação bio-psico-social.
A cotação tem uma apresentação de quatro níveis (0/1/2/3). As pontuações levam a
classificações que, por sua vez, irão permitir traçar um perfil de doze dígitos. Existem duas
versões do MAB, a versão de internamento e a de ambulatório (Botelho, 2000).
Neste estudo, ambas as versões foram utilizadas, sendo que, o grupo 1 respondeu à versão
de internamento e os grupos 2 e 3 à versão de ambulatório.
A avaliação funcional e multidimensional de idosos engloba a avaliação da capacidade
funcional, capacidade locomotora, morbilidade (caracterização do estado de saúde física e
mental) e aspectos socio-económicos, sendo a informação recolhida respeitante a um período
de quatro semanas, que precede a data da avaliação. A avaliação da capacidade funcional
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
envolve a avaliação conjunta, quer da autonomia física quer da autonomia instrumental.
A autonomia física refere-se ao conjunto de actividades básicas diárias, relacionadas com
cuidados pessoais diários, enquanto que a autonomia instrumental é referente a tarefas que
permitem ao indivíduo a sua integração no meio ambiente (Botelho, 2000).
Como já foi referido anteriormente, o MAB é um método de avaliação bio – psico – social.
A área de avaliação biológica inclui os seguintes domínios: sexo; idade; queixas de saúde;
estado de nutrição; quedas; locomoção; autonomia física; e autonomia instrumental. A área
de avaliação psicológica contém os domínios: queixas emocionais e estado cognitivo. A
área de avaliação social abarca os domínios: estado social e hábitos (Botelho, 2000).
Segundo Botelho (2000), a capacidade funcional pode ser classificada em dois grupos:
Independente e Dependente. Por sua vez, o grupo Independente abarca dois subgrupos:
Independente e Autónomo; enquanto que o grupo Dependente compreende os subgrupos
Dependente e Incapaz. O idoso é incapaz se necessita indispensavelmente de terceiros e
nunca colabora; é dependente se necessita indispensavelmente de terceiros, para substituição
funcional, na qual colabora; é autónomo se necessita indispensavelmente de meios de apoio
ou ocasionalmente de terceiros, sendo neste caso colaborante; o idoso é independente se não
necessita de pessoas e/ou meios para substituição funcional.
GDS – Geriatric Depression Scale (Yesavage, Brink, Rose, Lum, Huang, Adey &
Leirer, 1983)
A GDS, em português – Escala de Depressão Geriátrica, foi concebida de modo a avaliar a
depressão, patologia muito comum na população idosa. Contrariamente às crenças populares,
segundo Kurlowicz e Greenberg (2007), a depressão não faz parte do comportamento
normal dos idosos. Ela pode ser, de facto, reversível, com tratamento apropriado, contudo,
se negligenciada, pode originar um declínio das capacidades físicas, cognitivas e sociais,
bem como atrasa a recuperação de outras doenças de foro médico, aumentando a utilização
de cuidados de saúde e a taxa de suicídio.
45
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Existem vários instrumentos disponíveis para avaliar a depressão, a GDS, criada por
Yesavage, et al. (1983), tem sido testada e usada amplamente com população geriátrica. A
escala é composta por 30 itens, e os participantes são solicitados a responder Sim ou Não,
tomando em consideração como se têm sentido na última semana.
Apesar de ser uma escala dicotómica, origina (pelos menos na experiência vivida) respostas
mais amplas, pois os indivíduos justificam as suas respostas com experiências/situações
concretas.
A escala é cotada por 0 e 1, sendo que se atribui um ponto para as respostas Sim nas
questões: 2, 3, 4, 6, 8, 10, 11, 12, 13, 14, 16, 17, 18, 20, 22, 23, 24, 25, 26 e 28. Cota-se com
um ponto as restantes questões a que o sujeito respondeu Não.
Relativamente à interpretação destes resultados quantitativos, um resultado entre 0-10
revela ausência de depressão; um resultado entre 11-20 demonstra depressão ligeira e; entre
21-30, verifica-se depressão grave.
A GDS tem como população alvo adultos idosos saudáveis, com doenças do foro médico/
psicológico, doenças psiquiátricas e/ou com perdas cognitivas moderadas.
Apresenta a possibilidade de follow-up, ou seja, pode ser usada para monitorizar a
depressão, ao longo do tempo, em todos os contextos clínicos.
A GDS é amplamente utilizada no contexto clínico, tendo sido adaptada para a língua
portuguesa pelo Grupo de Estudos de Envelhecimento Cerebral e Demências, nomeadamente,
por Barreto, Leuschner, Santos e Sobral (2003).
Criada por Yesavage et al. (1983), a GDS passou a ser considerada uma escala com
propriedades de validade e fidelidade satisfatórias para rastreio da depressão no idoso
(Ertan e Eker, 2000; Hoyl et al., 1999, cit. por Sousa, Medeiros, Moura, Souza & Moreira,
2007), sendo traduzida para o português e adaptada para aplicação no Brasil por Stoppe
Júnior et al. (1994).
Um estudo de Sousa, Medeiros, Moura, Souza, e Moreira (2007), com idosos brasileiros,
teve como objectivo avaliar a validade e a fidelidade da GDS, da versão completa (GDS-
30 itens) e da versão reduzida (GDS-15 itens). A concordância entre a aplicação entre a
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
GDS-30 e o exame psiquiátrico foi significativa e moderada (k=0,48; p=0,04), enquanto
a GDS-15 não apresentou concordância estatística (p=0,62). A GDS-30 apresentou uma
sensibilidade de 83% e especificidade de 57%, já a GDS-15 apresentou uma sensibilidade
de 50% e uma especificidade de 62%. Estes índices foram inferiores aos encontrados pelo
autor da escala, que constatou uma sensibilidade de 95% e uma especificidade de 84%, para
a GDS-30 (Yesavage et al., 1983).
Calculou-se para esta amostra o alpha de Cronbach da GDS, obtendo-se um valor de
0.87, verificando-se bons índices de consistência interna e de validade discriminante e de
constructo.
DAQ – Death Anxiety Questionnaire (Barros de Oliveira, 1998)
Quanto à avaliação da ansiedade face à morte e de outros aspectos relacionados com a
morte, as diferentes investigações têm-se mostrado pouco conclusivas, sobretudo devido à
diversidade das escalas utilizadas e das amostras em que foram aplicadas (Barros, 2002).
Dos diferentes questionários utilizados, o Death Anxiety Questionnaire (DAQ) de Conter,
Weiner e Plutchik (1982) distingue-se, apesar da sua estrutura factorial não ser clara. Numa
primeira adaptação por autores portugueses (Simões & Neto, 1994) foram encontrados três
factores.
Barros (1998) fez uma nova adaptação da escala, com a supressão de alguns itens, e
a escala foi considerada unifactorial. Assim, a escala ficou com 11 itens, formulados na
primeira pessoa e de um modo afirmativo. O questionário utiliza uma escala de Likert, com
5 modalidades de resposta que vão desde o “totalmente em desacordo” até ao “totalmente
de acordo”.
Barros de Oliveira (1998) define a ansiedade face à morte como “um medo mais ou menos
concreto ou difuso, daquilo que rodeia o acto próximo e imediato de morrer e do que
eventualmente acontecerá para além da morte”.
47
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Assim sendo, considerou, a priori, a ansiedade da morte como um constructo
substancialmente unifactorial – o que em grande parte veio a confirmar-se através da análise
factorial.
O coeficiente de alfa de Cronbach foi de 0.89, o que denota a sua boa consistência interna.
Os resultados da análise factorial e o índice de fidelidade permitem concluir que a escala
apresenta razoáveis qualidades psicométricas (Barros, 1998). Nesta amostra, o alpha de
Cronbach foi de 0.74.
Procedimento
Para iniciar a recolha de dados começou por abordar-se os responsáveis pelas instituições,
solicitando-lhes o devido consentimento. Posteriormente a esta obtenção, informaram-
se os participantes relativamente ao seu papel no estudo a desenvolver, garantindo a
confidencialidade dos resultados.
O primeiro instrumento aplicado aos sujeitos foi o MAB (Botelho, 2000), seguindo-se a
aplicação da GDS (Barreto et al., 2003) e do DAQ (Barros de Oliveira, 1998). Para qualquer
dos instrumentos a responsável pelo estudo leu os itens, em voz alta, e registou as respostas.
A aplicação dos instrumentos decorreu nos diferentes locais que definem o meio ecológico
dos idosos. Todos os instrumentos são de aplicação rápida, mas por vezes alguns indivíduos
demoravam mais tempo, pois acrescentavam às respostas uma ou outra história, relativa ou
não às questões apresentadas. Contudo, à excepção da amostra institucionalizada, devido
por vezes ao cansaço sentido e dadas as suas condições físicas, todos os instrumentos foram
aplicados num só momento.
Os instrumentos foram aplicados conforme a versão traduzida e adaptada para a língua
portuguesa.
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Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Procedimento estatístico
Para a análise dos dados recorreu-se ao programa de estatística SPSS. Foi utilizada
metodologia estatística não paramétrica, já que a amostra apresenta apenas condições para
a utilização deste tipo de testes: (i) a dimensão da amostra é de N=86, dividindo-se em três
grupos (n=26, n=30 e n=30), tendo pois um deles um n<30; (ii) após a realização de testes
de normalidade – teste de Kolmogorov-Smirnov – às amostras dos três grupos constituídos,
verificou-se que a distribuição não era normal. Assim, as técnicas não paramétricas utilizadas
foram as seguintes:
• Teste de Wilcoxon-Mann-Whitney
• Teste de Kruskall-Wallis
• Coeficiente de Correlação de Pearson
• Coeficiente de Correlação de Spearman
49
Resultados
Considerando a H1, e como se pode ver no quadro 3, os resultados mostram que os
três grupos de idosos inseridos em meios ecológicos diferentes – Lar (Grupo 1), Centro de
Dia (Grupo 2) e Comunidade (Grupo 3) – diferem significativamente no que diz respeito à
autonomia funcional – física e instrumental.
Quadro 3 | Resultados do teste de Kruskall-Wallis relativamente à autonomia funcional (física e instrumental) e ao meio ecológico.
Autonomia Física Autonomia Instrumental
Média das ordens χ2 Sig. Média das ordens χ2 Sig.
Grupo 1 13.50 35.50
Grupo 2 48.83 65.161 0.000 38.27 24.223 0.000
Grupo 3 64.17 55.67
Dado o valor da média das ordens (ver Quadro 3), a diferença entre o Grupo 1 e os outros
é evidente, sendo pois necessário verificar se as diferenças são igualmente significativas
no que diz respeito à comparação entre o Grupo 2 e 3. Realizando-se o teste de Wilcoxon-
Mann-Witney (U), verificou-se que também esta diferença era significativa, tendo-se obtido
um valor de U de 220.000 (ver anexos – output 1), significativo a p<0.05 (two-tailed).
Pode afirmar-se que o sentido desta diferença, do mais autónomo para o menos autónomo
fisicamente, vai ao encontro desta ordem – Comunidade, Centro de Dia e Lar, o que corrobora
a primeira hipótese, alcançando um dos objectivos deste estudo, tendo-se pois verificado
que os idosos mais autónomos permanecem na comunidade.
No que diz respeito à autonomia instrumental, o valor que se obteve foi de χ2=24.223,
significativo a p<0.05. Para esta variável, a média das ordens diferiu em relação ao que
50
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
ocorreu com a autonomia física, sendo aproximada para o Grupo 1 e 2, destacando-se do
Grupo 3. Submetendo-se os dados ao teste de Wilcoxon-Mann-Witney para comparar o
Grupo 1 e o 2, o valor de U obtido foi 364.000 (ver anexos – output 2), a p>0.05 (two-tailed),
não sendo esta diferença significativa. Contudo, compararam-se também os Grupos 2 e 3,
verificando-se um valor de U de 267.000 (ver anexos – output 1), a p<0.05, confirmando-se
a significância desta diferença.
Deste modo, os Grupos 1 e 2 não diferem entre si, no que se refere à autonomia
instrumental, diferindo ambos, significativamente, do Grupo 3, sendo este o grupo mais
autónomo do ponto de vista da instrumentalidade, apoiando a hipótese formulada.
Considerando a H2, pretendia-se observar a relação entre a autonomia funcional (física e
instrumental) e a depressão, e da autonomia funcional com a ansiedade face à morte. Para este
efeito, aplicou-se o coeficiente de correlação de Spearman. Os resultados são apresentados no
quadro 4. A hipótese foi corroborada no que diz respeito à depressão. Assim, constata-se que
maiores níveis de depressão estão associados aos idosos que apresentam menos autonomia
física. O mesmo sucedeu para a autonomia instrumental (ver quadro 4). A ansiedade face à
morte não se associa, significativamente, com qualquer uma das autonomias.
Quadro 4 | Relação entre a autonomia funcional (física e instrumental), a depressão e a ansiedade face à morte.
Geriatric Depression Scale Death Anxiety Questionnaire
Autonomia Física -0.598** -0.149
Autonomia Instrumental -0.258* -0.149
*valores significativos para p<.05 (two-tailed) **valores significativos para p<.01 (two-tailed)
Relativamente à H3, de um modo geral e, considerando a depressão (M = 15.52, D.P.
= 6.626) e a ansiedade face à morte (M = 33.28, D.P. = 7.511), utilizou-se o coeficiente
de correlação de Pearson para explorar a relação entre as duas variáveis. Os resultados
51
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
demonstraram que os idosos mais deprimidos são, também, os mais ansiosos face à morte,
verificando-se uma correlação forte, positiva e significativa, de r = 0.478, ao nível de
significância de p = 0.01 (ver anexos – output 3).
Nas figuras 1 e 2, pode observar-se a frequência dos resultados na GDS e no DAQ,
respectivamente.
FIGURA 1 | Resultados da amostra na GDS (níveis de depressão).
FIGURA 2 | Resultados da amostra no DAQ (níveis de ansiedade face à morte).
Geriatric Depression Scale252015105
Frequ
ency
12,5
10,0
7,5
5 ,0
2 ,5
0 ,0
M ean =15,52�S td . D ev. =6 ,626�
N =86
Death Anxiety Questionnaire45403530252015
Frequ
ency
20
15
10
5
0
M ean =33,28�S td . D ev. =7 ,511�
N =86
52
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
A magnitude da associação entre a depressão e a ansiedade face à morte difere de grupo
para grupo, sendo que para o Grupo 1 se obteve um resultado de r = 0.842 (ver anexos –
output 4), para o Grupo 2 de r = 0.303 (ver anexos – output 5) e para o Grupo 3 de r = 0.509
(ver anexos – output 6). Todos estes resultados são significativos a p < 0.01 (two-tailed). As
correlações apontadas são fortes e positivas, excepto para o Grupo 2, em que a correlação se
apresenta como moderada. Estes resultados revelam que são os idosos do Grupo 1 aqueles
onde a associação entre a depressão e a ansiedade é mais acentuada, onde ambas as emoções
são elevadas.
Submeteram-se os dados ao teste de Kruskall-Wallis, para comparar a depressão e a
ansiedade face à morte, nos idosos em cada meio ecológico. Considerando a depressão,
verificou-se que a diferença entre os três grupos é significativa, tendo-se obtido um χ2 =
30.578, significativo a p < 0.05, tal como se pode observar no quadro 5. Da observação
da diferença das médias das ordens, verifica-se que é o Grupo 1 o responsável por esta
diferença, dado que, aplicado o teste U de Mann-Whitney entre o Grupo 2 e 3 (ver anexos
– output 7), esta diferença não se revelou significativa (U = 414.000, p = 0.594, two-tailed).
Quanto à ansiedade face à morte, as diferenças entre os três grupos não são significativas,
(χ2= 1.723, a p = 0.423).
Quadro 5 | Resultados do teste de Kruskall-Wallis relativamente à depressão e à ansiedade face à morte, em cada meio ecológico.
GDS DAQ
Média das ordens χ2 Sig. Média das ordens χ2 Sig.
Grupo 1 66.04 48.21
Grupo 2 34.73 30.578 0.000 39.45 1.723 0.423
Grupo 3 32.73 55.67
53
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Desta forma, verificou-se que os idosos institucionalizados são mais deprimidos que os
residentes na Comunidade (H4) e também mais deprimidos que os utentes do Centro de Dia
(H5), no entanto não se estabeleceram diferenças ao nível da ansiedade face à morte, para
qualquer um dos Grupos. Quanto à H6, esta não se confirmou pois as diferenças não foram
significativas. Ainda assim, as diferenças obtidas no que diz respeito à depressão, entre o
Grupo 2 e 3, foram em sentido contrário ao esperado, ou seja, os utentes de Centro de Dia
mostraram-se mais deprimidos e, tal como se esperava, apresentaram-se menos ansiosos,
mas estas diferenças não se revelaram estatisticamente significativas.
De acordo com H7, compararam-se os homens e as mulheres no que diz respeito à
experiência da depressão e da ansiedade face à morte. Relativamente à depressão, a média dos
resultados da escala foi de M = 16.91, no sexo feminino, e de M = 13.06, no sexo masculino,
com desvio padrão de DP = 6.219 e de DP = 6.708, respectivamente, manifestando-se as
mulheres mais deprimidas que os homens.
Para relacionar a depressão e a ansiedade face à morte, recorreu-se ao Coeficiente de
Correlação de Spearman (ver anexos – output 8), tendo-se obtido um valor de rho = - 0.265,
significativo a p = 0.014 (two-tailed). A correlação entre o sexo e a depressão é pois moderada
e negativa, isto é, maiores níveis de depressão são mais frequentes no sexo feminino. No
que respeita à ansiedade face à morte, obteve-se um valor rho = - 0.167, a p=0.125, podendo
afirmar-se que a experiência da ansiedade face à morte não se associa com o género dos
indivíduos.
Na figura 3 e na figura 4 pode verificar-se a frequência dos resultados da GDS para o
sexo feminino e para o sexo masculino, respectivamente.
54
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
FIGURA 3 | Resultados da GDS para o sexo feminino.
FIGURA 4 | Resultados da GDS para o sexo masculino.
Geriatric Depression Scale252015105
Freq
uenc
y
15
10
5
0
M ean =16,91�S td . D ev. =6 ,219�
N =55
Geriatric Depression Scale252015105
Freq
uenc
y
6
4
2
0
M ean =13,06�S td . D ev. =6 ,708�
N =31
55
Discussão
O presente estudo teve como principal objectivo explorar, de forma empírica, se a depressão
e a ansiedade face à morte, nos idosos, são influenciadas pelo nível de autonomia funcional
experimentado, e pelo meio ecológico em que estes estão inseridos.
Relação entre o nível de Autonomia Funcional e o
Meio Ecológico
O primeiro objectivo específico deste trabalho visava explorar a relação entre a autonomia
funcional experimentada e os diferentes Meios Ecológicos, postulando que uma maior
Autonomia levaria à permanência na Comunidade. Os resultados mostram que os idosos
dos diferentes meios ecológicos – Lar, Centro de Dia e Comunidade diferem no que diz
respeito à autonomia funcional – física e instrumental. Assim, os idosos institucionalizados
são os que apresentam menores níveis de autonomia física seguidos dos utentes do Centro
de Dia e dos idosos residentes na Comunidade. Quanto à autonomia instrumental os idosos
institucionalizados e os utentes de Centro de Dia não diferem entre si, diferindo ambos
dos idosos residentes na Comunidade. Demonstra-se assim que, do ponto de vista da
instrumentalidade, os idosos na Comunidade são mais autónomos do que os idosos dos
outros Meios Ecológicos.
Estes resultados, observados nesta amostra, corroboram e vão ao encontro dos resultados
de outros estudos.
Deste modo, tem-se verificado que a dependência funcional é consequência (geralmente)
de uma deficiência e/ou incapacidade/restrição da actividade, constituindo uma desvantagem
social/restrição da participação, que leva à necessidade de auxílio de terceiros para a execução
de determinadas actividades (Botelho, 2000), tornando-se necessário, por vezes, encarar a
hipótese de internamento numa instituição (Fonseca, 2002).
56
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
A institucionalização, nos idosos desta amostra, é consequência de perdas de autonomia
funcional. Assim, e perante a incapacidade do meio para ajudar a superar tais perdas, a
institucionalização teria sido encarada como um mal necessário.
A idade avançada ou as suas limitações físicas reduzem a amplitude de actividades
disponíveis para o indivíduo, tanto que as suas capacidades instrumentais podem tornar-
se menos satisfatórias na obtenção de objectivos apropriados, como permanecer em casa,
preparar refeições e manter contactos sociais (Lawton & Simon, 1967). Aqui se enquadram e se
explicam as semelhanças existentes, na instrumentalidade, entre os idosos institucionalizados
e os utentes de Centro de Dia, que se encontram ligados àquelas instituições, exactamente,
pela perda de capacidade de zelar pelos cuidados e necessidades sentidos por si próprios.
Os idosos institucionalizados diferem dos utentes do Centro de Dia, apenas na autonomia
física, e é esta autonomia que permite aos últimos, dividir o seu meio ecológico entre a
institucionalização e a comunidade. Estes idosos encontram no Centro de Dia uma forma
de suprir as necessidades do quotidiano, o lavar a roupa, a alimentação, sendo que a sua
autonomia física lhes permite voltar a casa e ser um pouco mais autónomos.
O funcionamento efectivo no quotidiano pode ser uma tarefa árdua, na idade avançada, mas
promove a autonomia e a independência (Baltes & Lang, 1997). Não obstante esta promoção
da autonomia, os idosos residentes na Comunidade possuem-na a priori, e é ela que lhes
permite um funcionamento efectivo, diariamente, em comparação com os outros grupos.
O conceito de capacidade funcional está relacionado com a autonomia na execução
de tarefas de prática frequente e necessária a todos os indivíduos (Sousa & Figueiredo,
2003). Estas tarefas compreendem os cuidados pessoais e de adaptação ao meio em que se
vive e asseguram a possibilidade de se viver de forma auto-suficiente (Fillenbaum, 1984;
Botelho, 2000). A capacidade funcional para o desempenho de tarefas do dia-a-dia comporta
benefícios para a saúde física e mental, e é determinante para o bem-estar social (Fillenbaum,
1984). Os idosos residentes na Comunidade revelam maiores níveis de autonomia física e
instrumental, sendo responsáveis pela execução de tarefas e de actividades promotoras do
seu maior bem-estar.
57
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Para que o envelhecimento seja uma experiência bem sucedida, há que promover a
autonomia e independência (Botelho, 2000).
Relação da Autonomia Funcional com a Depressão
e a Ansiedade face à Morte
Outro dos objectivos era procurar compreender e conhecer as relações existentes entre a
autonomia funcional e a depressão e a ansiedade face à morte. Postulou-se que os idosos
com maiores níveis de autonomia funcional manisfestar-se-iam menos deprimidos e menos
ansiosos face à morte.
Os resultados confirmam que os idosos mais autónomos são, de facto, os que manifestam
níveis mais baixos de depressão, contudo, a ansiedade não se encontra relacionada com a
autonomia funcional, independentemente do meio ecológico.
O facto de um idoso depender e receber ajuda de terceiros para as suas actividades diárias
poderá ter um forte impacto negativo, gerando sentimentos de impotência, vulnerabilidade
e debilidade, podendo levar à diminuição de auto-estima e ao isolamento social (Verdugo &
Gutiérrez-Bermejo, 1999).
Este comprometimento na funcionalidade pode também reduzir as relações sociais e levar
ao isolamento e consequentemente a maiores níveis de depressão.
Embora, Lawton e Simon (1967) afirmem que uma das vantagens da institucionalização
parece ser o contacto social, e que a rede de apoio social e o convívio com outras pessoas
podem ser entendidos como factores de sobrevivência e de felicidade (Freire Jr. & Tavares,
2004/2005), a perda de autonomia e o afastamento da família parecem ser mais relevantes,
para a depressão, do que o acesso a essas novas redes sociais, que possam advir da
institucionalização.
De acordo com Paúl (1992, 1997, cit. por Fonseca, 2005), os idosos residentes em lares
tendem a sentir-se mais sozinhos e insatisfeitos, afastados das suas redes sociais, num dia-
a-dia monótono e sem esperança ou investimento no futuro terreno.
58
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Hamilton (2000) refere, mesmo, que a institucionalização é uma das condições que faz
aumentar o número e a intensidade da ocorrência da depressão.
Os adultos mais velhos preferem continuar nas suas casas durante a velhice, fazendo
frente aos desafios, sendo que outras alternativas de residência não são sentidas como
agradáveis, nem como opções promotoras de ajustamento para o desenvolvimento futuro
(Wahl, 2001).
Estes maiores níveis de depressão, nos idosos institucionalizados, devem-se, neste caso, ao
facto de se apresentarem como um grupo privado dos seus projectos, afastado da família, de
casa, dos amigos, das relações que envolvem a construção da sua história. Podem somar-se
a essa exclusão social as consequências das doenças crónicas, que são os motivos principais
do internamento em instituições de longa permanência (Freire Jr. & Tavares, 2004/2005).
O facto da ansiedade face à morte não apresentar diferenças em qualquer um dos grupos
pode dever-se, tal como Freire e Tavares (2004/2005) identificaram no seu estudo, ao facto
dos medos, mais do que da morte, estarem relacionados com a dependência e a perda de
autonomia. Neste sentido, apenas um dos itens do DAQ (Barros de Oliveira, 1998) se
refere, e não exactamente, a esta questão (DAQ 3 – Preocupo-me quando penso que posso
ficar gravemente doente, durante muito tempo, antes de morrer). Por outro lado, embora as
diferenças não sejam significativas, há uma tendência para os idosos residentes na Comunidade
manifestarem maiores níveis de ansiedade face à morte, apresentando-se também mais
autónomos e menos deprimidos. Esta constatação vai ao encontro dos resultados obtidos por
Couvaneiro, Nunes e Santos (2004) que referem, sobre o seu estudo, que maiores níveis de
bem-estar psicológico estão correlacionados com maiores níveis de ansiedade face à morte.
Relação entre os níveis de Depressão e os níveis de
Ansiedade face à Morte
Byrne (2002) considera que os sintomas de ansiedade, nos idosos, são frequentes e que
geralmente vêm associados à presença de depressão e a doenças físicas.
59
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
Ao estudar a relação entre os níveis de depressão e os níveis de ansiedade face à morte,
os resultados corroboraram a hipótese de que os idosos que manifestam maiores níveis de
depressão apresentam níveis mais elevados de ansiedade face à morte.
Deste modo, e na generalidade dos casos, tal como Xavier, Ferraz, Trendi, Argimon,
Bertollucci, Poyares e Moriguchi (2001) verificaram, elevados níveis de ansiedade estavam
associados a sintomas depressivos. Contudo, este estudo referiu-se a ansiedade generalizada.
Barros de Oliveira (2005) concluiu que uma maior ansiedade face à morte se observava nos
idosos que se encontravam mais deprimidos ou se manifestavam mais ansiosos.
Oliveira et al. (2006) verificaram no seu estudo, com idosos brasileiros institucionalizados
e não institucionalizados, que a ansiedade, a depressão e a desesperança estavam
correlacionadas, sendo a correlação entre ansiedade e depressão mais elevada.
No presente estudo, independentemente do meio ecológico dos participantes,
maiores níveis de depressão associam-se positivamente com os níveis de ansiedade face à
morte, indo ao encontro do esperado e do que se tem verificado em outros estudos.
Relação entre o Meio Ecológico e a Depressão, e a
Ansiedade face à Morte
Dos resultados obtidos verifica-se que os idosos institucionalizados manifestam níveis
de depressão mais elevados que os idosos utentes do Centro de Dia e do que os residentes
na Comunidade. Relativamente à ansiedade face à morte não se verificaram diferenças
significativas relativamente ao meio ecológico.
Havia sido postulado que os idosos do Centro de Dia apresentariam níveis mais baixos de
depressão e de ansiedade face à morte que os idosos residentes na Comunidade. Esta hipótese
não se confirmou na totalidade, isto é, os idosos utentes do Centro de Dia manifestaram-se
mais deprimidos e menos ansiosos que os residentes na Comunidade sendo que, em relação
à ansiedade face à morte, a diferença não se revelou como significativa.
A autonomia mostrou-se, mais uma vez, como grande potenciadora de níveis mais elevados
de depressão, explicando-se o facto dos idosos utentes de Centro de Dia se manifestarem
60
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
mais deprimidos do que os residentes na Comunidade. Quanto à ansiedade face à morte,
evidenciou-se que, apesar de esta aumentar com a existência de níveis mais elevados de
depressão, isto não acontecia nos idosos utentes do Centro de Dia, em relação aos residentes
na Comunidade. Este facto pode levar a crer que a autonomia é um factor mais premente
que qualquer outro, aumentando a depressão.
Diferenças de género na Depressão e na Ansiedade
face à Morte
O indivíduo é simultaneamente produtor e produto de uma sociedade e da sua cultura. Esta
fase tardia da vida é marcada por grandes transformações psicológicas, físicas e sociais e,
por isso, o idoso deve estar consciente de si, como ser finito que envelhece. Muitos idosos,
nesta fase da vida, são acometidos por distúrbios mentais (Oliveira, Santos, Cruvinel e Néri,
2006). O transtorno de humor tem sido considerado o problema psiquiátrico mais frequente,
prevalecendo nas mulheres (Almeida, 1999). Entre outros problemas, a ansiedade, a depressão
e a desesperança em idosos são pouco investigados pelos profissionais, no contexto clínico,
embora sejam comuns entre as queixas (Gazalle, Hallal & Lima, 2004).
Para a última hipótese, tentou verificar-se a relação existente entre o género e a depressão,
e a ansiedade face à morte. Observou-se que os níveis de depressão são superiores nas
mulheres, indo este resultado ao encontro do que já afirmaram outros autores (Almeida,
1999; Lima, 2004), nos seus trabalhos.
Davim, Torres, Dantas e Lima (2004) procuraram conhecer o contexto social, económico
e de saúde de idosos que vivem em lares. Concluíram que a maioria dos idosos era do sexo
feminino, apresentava baixo nível de escolaridade, dificuldades financeiras, relacionamento
familiar conflituoso, actividades de lazer limitadas e problemas de saúde.
Estando a depressão correlacionada positivamente com a institucionalização e com a
autonomia, e observando as características desta amostra, ver quadro 1 e quadro 2, verifica-
se que são as mulheres, maioritariamente, que se encontram institucionalizadas, sendo
responsáveis pelo aumento dos níveis de depressão, neste meio ecológico.
61
Influência do Meio Ecológico e da Autonomia Funcional nos níveis de Depressão e de Ansiedade face à Morte, em Idosos institucionalizados e não institucionalizados
A ansiedade face à morte não se associa ao género. De facto, todo o ser humano se confronta
com questões existenciais e, mais ainda, à medida que a vida vai declinando. Deste modo,
o facto de morrer e as questões que envolvem a morte assumem não só uma dimensão
biológica, mas também psicológica e social (Barros de Oliveira, 2005).
A morte, tema tão difícil e tabu entre os indivíduos mais jovens, é notoriamente mais aceite
pelos idosos (Barros de Oliveira, 1998; Lima, 2004). De um modo geral, todos os indivíduos
pensam na morte e, quando se chega a uma idade mais avançada, esse pensamento passa
a fazer parte do imaginário, com mais frequência (Couvaneiro, Nunes & Santos, 2004). A
aceitação da finitude da vida e o conforto em falar sobre a morte são muito maiores, numa
fase tardia da vida (Lima, 2004), e um dos maiores sinais de maturidade humana (Barros de
Oliveira, 2002). Nesta amostra parece acontecer realmente isto, sem que ocorram diferenças
entre homens e mulheres.
62
O presente estudo permite-nos concluir que a depressão está intimamente ligada à
autonomia funcional experienciada e ao meio ecológico onde cada indivíduo se insere.
Assim, os idosos institucionalizados apresentam-se mais deprimidos e menos autónomos
que os não institucionalizados. Concluiu-se, também, que a ansiedade face à morte se associa
positivamente com a depressão, manifestando-se os idosos mais deprimidos, mais ansiosos.
Contudo, a ansiedade face à morte não se associa especificamente nem com a autonomia
funcional, nem com o meio ecológico.
O idoso institucionalizado sente-se marginalizado, colocado à parte da sociedade e da vida
a que estava habituado (Pombo & Couvaneiro, 2006). Contudo, poderão ser disponibilizados
cuidados individualizados, promovendo a autonomia e independência possíveis, e
procurando a aceitação progressiva de dependências e perdas. Este percurso de apoio, no
controlo possível e no luto pelas perdas vividas, poderá constituir uma forma de intervenção
que leve estes adultos envelhecidos e fragilizados a sentirem-se menos deprimidos e mais
satisfeitos com a vida.
Conclusão
63
Implicações
Ao concluirmos que a depressão está intimamente ligada à autonomia e ao meio ecológico,
e que a ansiedade face à morte depende daquela, podemos voltar a afirmar a necessidade de
promover a autonomia como forma de proporcionar aos idosos uma vivência mais positiva,
dos últimos anos das suas vidas, com uma participação mais activa e responsável.
Sullivan e Fisher (1994) enfatizam o potencial de crescimento e os pontos fortes
dos indivíduos que estão a envelhecer, utilizando conceitos como auto-controlo,
consciencialização, eus possíveis, enriquecimento de vida e empowerment, para descrever
este período da vida marcado pela auto-actualização. Esta abordagem, incidindo nos pontos
fortes, dá ênfase às dimensões internas da experiência e ao papel da motivação intrínseca,
como as bases para acção e fonte de resiliência, nos indivíduos que estão a envelhecer.
As instituições terão de trabalhar em conjunto e actuar multidisciplinarmente para
conseguir atingir os objectivos propostos por Sullivan e Fisher (1994).
A instituição é, na maioria dos casos, a última casa onde se vai viver e, o facto de se viver
permanentemente em contacto com a alheia e a sua própria vulnerabilidade, deterioração,
dependência e até mesmo a morte, leva a que o idoso tenha tendência a deprimir-se e a
desinteressar-se do facto de viver (White & Janson, 1986).
O ambiente é um factor importante a ter em conta na problemática das pessoas idosas.
Quando o ambiente é inadequado, percepcionado pelo idoso como perigoso e ameaçador da
sua integridade, este pode regredir, refugiando-se na segurança do seu mundo interior. Isto
pode originar a deterioração rápida do seu estado de saúde (Fernandes, 2002).
Ressalva-se, portanto, a importância de agir de forma a desmistificar estas considerações e
a proporcionar aos idosos experiências menos solitárias, mais satisfatórias, mantendo a sua
integridade e a sua capacidade de ser ainda interventivo, na medida do possível, na sua vida
e na comunidade.
64
Limitações
Este estudo contou com algumas limitações que não podem deixar de ser referidas. A
forma como a amostra foi recolhida e a sua dimensão não permite a generalização dos
resultados encontrados. A amostra é uma amostra de conveniência e, apesar de contar com
a participação de 86 sujeitos, divide-se em três grupos, um com 26 participantes e dois com
30. Por outro lado, a amostra não é representativa de toda a realidade nacional. De facto,
os idosos participantes deste estudo pertencem a uma mesma região, todos da margem sul,
muitos vindos, há muitos anos, de várias zonas do Alentejo e Algarve para tentarem obter
condições de vida melhores.
Outra limitação que foi encontrada diz respeito à aplicação do MAB – Método de Avaliação
Biopsicossocial (Botelho, 2000). A cotação final desta prova, muitas vezes, não contempla
todas as reais capacidades do indivíduo, pois cada capacidade é cotada, no final, com o
valor mais baixo obtido em qualquer um dos itens a que se lhe refere, bastando pois que o
indivíduo não realize uma determinada tarefa adstrita a uma capacidade para que venha a
ser classificado de incapaz, nessa capacidade. Deste modo, tão incapaz é um sujeito que não
realize todas as tarefas, ou a maioria, como aquele que apenas não realiza uma das tarefas
sugeridas. Arranjar uma estratégia que modifique esta forma de cotação, como por exemplo,
fazer uma média dos valores obtidos, ou desdobrar os itens, são questões a reflectir.
Todas estas limitações, tidas em conjunto, advertem para uma interpretação prudente dos
resultados obtidos.
Em estudos posteriores, seria importante contemplar, também, para além do meio
ecológico, o tipo de actividades, estimulações e ocupações existentes e promovidas nas
instituições, pois estas poderão intervir na forma como os adultos mais velhos se adaptam e,
consequentemente, reflectir-se nas suas experiências de autonomia, depressão e ansiedade
perante a morte.
65
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características demográficas e clínicas. Revista Brasileira de Psiquiatria, 21(1), 12-18.
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Output 2 | Resultado do Teste de Wilcoxon-Mann-Witney comparando os Grupos 1 e 2, em relação à autonomia.
Output 3 | Resultados do Coeficiente de Correlação de Pearson, para a GDS e o DAQ.
Output 4 | Resultados, no Grupo 1, da correlação entre a GDS e o DAQ.
Output 5 | Resultados, no Grupo 2, da correlação entre a GDS e o DAQ.
Output 6 | Resultados, no Grupo 3, da correlação entre a GDS e o DAQ.