informe ser tÃo vivo #2

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SER TÃO VERDE Publicação Especial do Núcleo Sertão do Instituto de Permacultura da Bahia Edição 2 Março 2015 Para recuperar áreas degradadas na Bacia do Jacuípe, no município de Várzea da Roça, o projeto Águas do Jacuípe incentiva famílias, mulheres e jovens agricultores a implantar sistemas agroflorestais, produzindo alimentos aliados à recomposição da caatinga. AGRICULTORES RECUPERAM ÁREAS DEGRADADAS CURTA NOSSA PÁGINA EM WWW.FACEBOOK.COM/AGUAS.DOJACUIPE

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Publicação do projeto Águas do Jacuípe

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Page 1: INFORME SER TÃO VIVO #2

SerTãoVerde

Tiragem: 1000 exemplares

Publicação especial do Núcleo Sertão do Instituto de Permacultura da Bahia

edição 2 Março 2015

FAMÍLIAS AGRICULTORAS AJUDAMA RECUPERAR A CAATINGA

Zeca SouzaNelson Ariel

Renato Calixto

Para recuperar áreas degradadas na Bacia do Jacuípe, no município de Várzea da Roça, o projeto Águas do Jacuípe incentiva famílias, mulheres e jovens agricultores a implantar sistemas agroflorestais, produzindo alimentos aliados à recomposição da caatinga.

Agricultores recuperAm áreAs degrAdAdAs

curtA NossA págiNA em www.fAcebook.com/AguAs.dojAcuipe

Page 2: INFORME SER TÃO VIVO #2

O cenário do campo em Várzea da Roça está mudando com a ajuda de muitas famílias agricultoras da região. Elas não praticam mais queimadas, e começam a recompor matas ciliares e quintais agroflorestais.

Com a implantação das chamadas Agroflorestas, que unem o plantio de alimentos ao de espécies da caatinga, aumentam-se a diversidade de plantas e a possibilidade de sombra aos animais. E a grande vantagem: próximas ao Riacho do Urubu e ao Rio Camizãozinho, essas famílias contribuem para recuperar matas que garantam um futuro de umidade mais duradoura nos rios e solos do semiárido. A proposta faz parte do projeto Águas do Jacuípe, que estimula a recuperação de áreas degradadas por desmatamentos e erosão na Bacia do Jacuípe. “Geralmente, os agricultores aderem à proposta por se sentir apoiados por nossa equipe, que pelo menos uma vez por mês visita e dá assessoria a cada

propriedade envolvida”, afirma Dirce Almeida, coordenadora do projeto. Neste ano,

estão sendo beneficiados mais 19 proprietários.

As famílias integradas ao projeto desde 2013 já compartilham conhecimentos com vizinhos e parentes. Ao longo de um ano, apreenderam técnicas de recomposição da cobertura vegetal, de implantação do Sistema Agroflorestal (SAF) e de captação da água da chuva com baixo custo. Nessa toada, cada participante se reconecta com sabedorias profundas e dá um novo significado a suas áreas produtivas e ao bioma local.

O projeto é realizado pelo Instituto de Permacultura da Bahia (IPB) e patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

Visita ao Sistema Agroflorestal do agricultor José Fernandes de Souza: (da esquerda para direita) Bruno Nascimento, Jucelio Santana, Gerivaldo Santana, Zeca Souza, Dirce Almeida e Débora Didonê

EQUIPE TÉCNICA | COORDENAÇÃO GERAL | Dirce Almeida | ASSESSORIA PEDAGÓGICA | Maricélia Silva | ASSESSORIA TÉCNICA | Paulo das Mercês | TÉCNICOS DE CAMPO |

Alajaque Souza e Gerivaldo Santana | AUXILIARES TÉCNICOS | Jucelio Santana e Romilton Cintra | ADMINISTRATIVO | Roselma Santana | E-MAIL: [email protected]

EXPEDIENTE | EDIÇÃO E REVISÃO | Débora Didonê | PROJETO GRÁFICO | Ravi Santiago | FOTOS | Leila Aquino e Arquivo IPB | TEXTOS | Dirce Almeira e Débora Didonê

famílias agricultoras ajudam a recuperar a caatinga

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Desde menino, o agricultor Jacinto Carneiro da Silva, o Ariel, é grande conhecedor de árvores. Sabe dizer quais as propriedades medicinais de uma espécie, se sua ma-deira é boa para móveis ou cercas. Mas já cortou muita árvore do quintal. “Meu pai dizia que uma planta junta com a outra não dava certo”, diz Ariel. Com o projeto Águas do Jacuípe, virou o jogo. Aprendeu a implantar sistemas agroflorestais, mis-turando feijão com melancia, girassol, umbuzeiro e todo tipo de árvore da caatinga. “Essa experiência me fez perceber que plantar assim realmente dá certo. Quando tiver aquela sombrinha vai ser uma maravilha”, diz Ariel.

Com o projeto Águas do Jacuípe, o agricultor Nelson Araújo de Souza, a esposa e o casal de filhos hoje olham diferente para as terras nas quais criam gado e produzem requei-jão. A família ajuda a reflorestar o município associando árvores e alimentos ao plantio de palma, usada como ração animal. “Produzimos 70% de toda a ração necessária para o gado”, diz Nelson, para quem o projeto valoriza o agricultor. “Devemos ser mais olha-dos, já que tudo o que se come vem da roça”, diz. Ao aprender técnicas de irrigação e reflorestamento, a família comprova: é possível viver bem no semiárido.

PRODUÇÃO DE RAÇÃO PRÓPRIA

A DESCOBERTA DAS AGROFLORESTAS

Uma das áreas que mais tem recursos naturais favoráveis ao plantio de alimentos e da mata nativa na região é a do agricultor Reinaldo Silva Leal, chamado de Renato. Além da capoeira, que oferece o microclima local, seus terrenos contam com um afluente do Rio Camizãozinho e um relevo perfeito para formar uma barragem subterrânea e um poço para armazenar água da chuva e irrigar as culturas. Com o projeto Águas do Jacuípe, o agricultor cuida diariamente dos plantios. “Plantei umbuzeiro, umburana, seriguela, e tenho certeza que tudo vai crescer”, diz Renato.

VALORIZANDO RECURSOS NATURAIS ABUNDANTES

Há tempos, o agricultor José Fernandes de Souza, o Zeca, não via gameleira ou pau d’arco roxo – o ipê roxo - na região. Hoje essas árvores crescem em sua propriedade, e em breve darão sombra para a produção de alimentos. Esse novo cenário surge com o projeto Águas do Jacuípe, que incentiva o plantio de milho, aipim, feijão andu, entre outras plantas, junto da caatinga. “Agora tenho sombra no quintal e plantas que adubam o solo”, diz Zeca. Suas terras, próximas à nascente do Riacho do Urubu, estão sempre cobertas com bagaço para o bom crescimento das mudas nativas.

A PRÁTICA DE VESTIR A TERRA

No fim dos anos 1980, o agricultor José Calixto Oliveira Maia e seu irmão compraram uma área próxima ao Riacho do Urubu para criar gado. Mas Calixto se incomodava por ter que derrubar a mata nativa para plantar capim. “Retiramos quase todas as árvores”, conta Calixto. Com o tempo, dividiu a propriedade e parou de cortar a vegetação, mas não conseguiu recuperá-la. No projeto, pôde finalmente começar a fazer isso. “Um dia quero ver meu gado conviver com a sombra das árvores”, diz Calixto.

EM BUSCA DE SOMBRA PARA O GADO

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Em mais de duas décadas de trabalho, o IPB já realizou dezenas de projetos estruturantes e educacionais, tendo suas metodologias reconhecidas no âmbito da Convivência com o Semiárido, no fortalecimento da Educação Contextualizada, na consolidação de Tecnologias Sociais para o Saneamento Ecológico e na promoção da Transição Agroecológica. Apoiou diversas iniciativas para a construção de um mundo pautado pelo paradigma da sustentabilidade e da solidariedade.

www.permacultura-bahia.org.br

Localizado no centro-norte do Estado da Bahia, o município de Várzea da Roça faz parte do Território de Identidade Bacia do Jacuípe. O Núcleo atua desde 2009 através do projeto Umbuzeiro: Escola Sustentável do Semiárido, construiu relações de parcerias locais com prefeituras, Sindicatos, Associações Comunitárias e a UNAVAR - União das Associações de Várzea da Roça. Atualmente realiza os projetos “Mulheres Organizadas: Um Desejo, Nossa Ação!” e “Águas do Jacuípe”.

www.permacultura-bahia.org.br/aguasdojacuipe

Núcleo sertão iNstituto de permAculturA bAhiA

“Antes de participar desse projeto, eu estudava no curso Técnico em Agropecuária, mas sem um propósito. Nem sabia da importância das matas ciliares, que ficam nos leitos dos rios. Agora sei que posso trabalhar nessa área e mostrar que o semiárido é produtivo”. Leonarda Lopes de Souza, 20 anos, monitora do projeto Águas do Jacuípe

O grupo de mulheres da Associação Comunitária de Cruz de Alma atua fortemente nas ações do projeto. Foi quem ajudou a definir o local do Viveiro Escola para a produção de mudas destinadas às famílias agricultoras, assim como quem contribuiu com a mon-tagem desse espaço, sua festa de inauguração e, até hoje, faz com que ele funcione.

O Águas de Jacuípe já conta com 17 hectares sendo reflorestados por agricultores e famílias locais. Ao todo, 500 pessoas já participaram de pelo menos uma ação

do projeto, incluindo professoras, lideranças comunitárias, crianças e jovens e agricultores e seus familiares. Cada um é considerado um importante multiplicador dos conhecimentos apreendidos nas experiências.

O Viveiro Escola, criado para reproduzir mudas levadas às propriedades dos

agricultores, conta com 54 tipos de plantas. Dentre elas, 39 são nativas, oito são nativas frutíferas e duas estão em extinção - é o caso da baraúna e do pau-de-colher. Das 23 frutíferas, 15 não são nativas, como o tamarindo e a graviola, mas se adaptam muito bem ao bioma.

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