instituto a vez do mestre licenciatura em pedagogia ... · etapas da educação infantil e o papel...

33
1 Instituto A Vez do Mestre Licenciatura em pedagogia O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Apresentação de monografia ao IAVM como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em pedagogia Por.: Rosilda Da Silva Valpassos Orientador:Prof. Vilson Sérgio de Carvalho RIO DE JANEIRO 2009 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Upload: dangtram

Post on 20-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

Instituto A Vez do Mestre

Licenciatura em pedagogia

O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia ao IAVM

como requisito parcial para a obtenção

do grau de especialista em pedagogia

Por.: Rosilda Da Silva Valpassos

Orientador:Prof. Vilson Sérgio de

Carvalho

RIO DE JANEIRO

2009

DOCU

MENTO

PRO

TEGID

O PEL

A LE

I DE D

IREIT

O AUTO

RAL

2

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por permitir o

término do meu curso, vencendo todas

as barreiras pelo caminho.

A minha filha pela compreensão,

estímulo nesta etapa da minha vida.

Em especial as minhas colegas

Hanriete, Marinalva, Rosane e Vanessa

que me ajudaram muito durante todo o

curso.

3

DEDICATÓRIA

Dedico à todos os educadores que

acreditam no lúdico como estratégia no

desenvolvimento da aprendizagem da

criança.

4

EPÍGRAFE

O lúdico privilegia a criatividade e a

imaginação por sua própria ligação

com os fundamentos do prazer. Não

comporta regras preestabelecidas, nem

velhos caminhos já trilhados, abre

novos, vislumbram outros possíveis.

(Rubens Alves, 1986)

5

RESUMO

Esta monografia trata da metodologia de ensino que busca alternativas

para o planejamento na educação infantil através do lúdico. Hoje, o lúdico é

visto com um caráter educacional e diversos autores discutem sua influência no

ensino aprendizagem, sendo um agente facilitador e motivador do ensino. Este

trabalho é um estudo bibliográfico, que busca refletir sobre os brinquedos e sua

relação com a infância através da brincadeira, do jogo, do lúdico, do faz de

conta.

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................6 CAPITULO I- O LÚDICO NA APRENDIZAGEM.................................................8 1.1. O que é o lúdico?.....................................................................................8 1.2. A evolução do conceito............................................................................9 1.3. Brincando se aprende............................................................................13 1.4. A importância do lúdico..........................................................................14

CAPITULO II – O lúdico na educação infantil...................................................18 2.1. A educação infantil no Brasil......................................................................18 2.2. As etapas da educação infantil...................................................................20 2.3. O papel do educador da educação infantil.................................................22

CAPITULO III – O LÚDICO AS CONCEPÇÕES TEORICAS SOBRE AS ATIVIDADES LÚDICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL........................................26 3.1.A visão de Vygotsky sobre a brincadeira ...................................................26 3.2. A visão de Piaget sobre a brincadeira.......................................................29 3.3. A visão de Wallon sobre a brincadeira......................................................31 3.4. A visão de Bruner sobre a brincadeira......................................................33

CONCLUSÃO....................................................................................................35 BIBLIOGRAFIA..................................................................................................37

7

INTRODUÇÃO

Estamos num mundo em transformações políticas, sociais e culturais

necessitamos de uma prática educacional interdisciplinar utilizando-se de

métodos diversificados, buscando novas alternativas numa associação entre a

prática e a realidade do aluno.

O jogo e a brincadeira desempenham um papel importante no

desenvolvimento da criança e nada seria mais interessante do que falar do

lúdico.

Para a criança brincar é uma realidade cotidiana e para que elas

brinquem é somente necessário usar a imaginação. Através da imaginação as

crianças relacionam seus interesses e suas necessidades com a realidade do

mundo que pouco conhecem. A brincadeira faz com que a criança se expresse,

de forma simbólica, suas fantasias, seus desejos, medos e sentimentos

agressivos.

Através da brincadeira a criança conhece um espaço de decifração dos

“enigmas” que a rodeiam. A brincadeira é, para ela, um espaço de investigação

e construção de conhecimentos sobre si mesma e sobre o mundo.

A escolha desse tema surgiu da necessidade de justificar o descaso, por

parte de alguns educadores, que consideram o lúdico e a aprendizagem ações

distintas com finalidades diferentes, e que ao brincar a criança esta apenas

ocupando seu espaço ocioso.

O lúdico possui interferência no desenvolvimento da criança, esta

característica é destacada por teóricos tais como: Vygotsky, Piaget e outros

que enriqueceram esta pesquisa teórica.

No primeiro capitulo enfatizo o que é lúdico, a sua importância na

educação, demonstrando que através da brincadeira se aprende

O segundo capítulo relata a história da educação infantil no Brasil, as

etapas da educação infantil e o papel do educador da educação infantil.

O terceiro capitulo aborda as concepções teóricas sobre as atividades

lúdicas na educação infantil.

Dessa forma, procurei destacar a importância do lúdico no

desenvolvimento da criança da educação infantil.

8

CAPÍTULO I

O LÚDICO NA APRENDIZAGEM

1.1 – O QUE É O LUDICO?

O lúdico é uma das formas de ensino mais eficaz, que permite a

transmissão de valores culturais de forma prazerosa para a criança através da

brincadeira.

A palavra “lúdico” é relativa “a jogos, brinquedos e divertimentos

(dicionário da língua portuguesa O GLOBO, 1996, p.456). Essa definição é um

tanto pragmática considerando os avanços realizados nos estudos atuais

relacionados a esse tema.

Para Carlos Luckessi (1994)

“ O lúdico é o modo de ser do homem no transcurso da vida. O mágico,

o sagrado, o artístico, o filósofo, o jurídico são expressões da experiência

lúdica constitutiva da vida. O lúdico significa construção criativa da vida

enquanto ela é a vida. O lúdico é um “fazer a caminho enquanto se caminha”:

nem se espera que ele esteja pronto, nem se considera que ele ficou pronto,

este caminho criativo foi feito (está sendo feito) com a vida no seu “ir’ e “vir” no

seu avançar e recuar. Mais não há como pisar nas pegadas já feitas pois que

cada caminhante faz e fará novas pegadas. O lúdico é a vida se construindo no

seu movimento”. (p.51)

O movimento lúdico seria uma permanente construção e reconstrução

impulsionado por desejos, sonhos, fantasias, projetos entre outros. Assim como

o jogo, o movimento lúdico esta sempre sendo consumido e produzido e ao

produzir se consome para produzir novamente.

O conceito de lúdico se transformou com o passar do tempo,

considerando as habilidades por ele desenvolvidas e as diversas mudanças

ocorridas na sociedade e na educação.

Com o decorrer do tempo os conceitos são transformados,

principalmente, quando se trata de educação, pois do contrário iríamos

trabalhar com o absoleto, com o ultrapassado, tornando inviável a formação de

conhecimentos.

9

Em algumas décadas era possível encontrar-se diversos livros e autores

que associavam o jogo a questão da obediência e da moral. Observa-se que os

objetivos atribuídos as atividades lúdicas estavam ligadas as questões políticas

e ideológicas.

De acordo com José Carlos Libaneo (1990), “o processo educativo onde

quer que se dê, é sempre contextualizado social e politicamente: há uma

subordinação a sociedade que lhe faz exigências, determina objetivos e lhe

provê condições e meios de ação (...), a educação é um fenômeno social.

(p.18)

Nos dias atuais, diante das várias transformações educacionais, além do

avanço tecnológico, a brincadeira tornou-se algo excelente para o

desenvolvimento da criança, seja motor, afetivo ou cognitivo. Dentro dessa

atmosfera lúdica, poderão se manifestar suas potencialidades e experiências.

Os jogos evoluíram e o homem e o conceito de brincar também

passaram por varias transformações que a educação deve acompanhar, para

que não fique presa a conceitos ultrapassados. A inserção do uso da cultura

como impulsionadora do processo ensino-aprendizagem esta cada vez mais

presente nos recursos pedagógicos da escola. Vemos as brincadeiras sendo

passadas de geração em geração como forma de resgatar a nossa cultura,

mas esse simples brincar proporciona também uma aprendizado direcionado

as disciplinas de forma atraente, socializadora e divertida. Essa estratégia de

ensino só é valorizada no ensino infantil pois no ensino fundamental, a questão

lúdica passa a ser considerada como objeto de puro lazer.

A visão tradicional da pedagogia considera a atividade lúdica como

pequenos intervalos citados no currículo escolar como aulas de recreação e até

mesmo nas aulas de educação física. Ao observarmos algumas brincadeiras

da cultura popular percebemos que apresentam objetivos educacionais

inseridos nos jogos. As brincadeiras como: jogo de bola, amarelinha, cabra-

cega, dentre outros são ótimos recursos no qual a criança desfruta da

aprendizagem de determinados conceitos, sem dar conta, dessa apreensão. É

importante ampliar a questão lúdica na aprendizagem pois ela é vista como

uma forma atraente e estimuladora para a criança para se desenvolver. Para

Nylse Cunha (1994), “brincando, a criança pode aprender a trabalhar porque

aprende a estar em atividade e descobre o prazer de estar operando,

10

enganjando-se por livre e espontânea vontade. A criança deve aprender a

utilizar o jogo descobrindo e compreendendo, e não por simples imitação.

(p.27).

Vários autores destacam o jogo em suas obras como fator primordial no

desenvolvimento da criança em qualquer fase que ela esteja, constituindo o

centro da atividade da criança em qualquer fase que ela esteja, constituindo o

centro da atividade da criança definido como atividade livre, espontânea, que

tem a função de proporcionar ao mesmo tempo, a satisfação de necessidade

física, psíquica e social. As teorias da aprendizagem tem procurado explicar a

natureza do fenômeno lúdico, de um lado consideram o jogo como exercício

preparatório para a vida adulta, outras como atividades que revive épocas

anteriores da evolução da espécie, enquanto outros veem como manifestação

do intuito de teatralidade. Para Bruno Bettelheim (1998), “As brincadeiras das

crianças deveriam ser consideradas como atividades mais serias (...)”. É o

meio pelo qual a criança efetua suas primeiras grandes realizações culturais e

psicológicas, e através da brincadeira ela expressa a si própria” (p.164).

O jogo é uma lembrança do passado com projeção no futuro. Uma

válvula de escape para os conflitos internos e oportunidade de expansão para

a criatividade, meio de que a criança se utiliza na avaliação de suas

potencialidades com relação a outras chegando a um equilíbrio psicossocial no

relacionamento em grupo. Gisela Wajsktop (1995) esclarece essa questão, “O

brinquedo dá alegria, liberdade, satisfação, repouso interno e externo, paz com

o mundo. Uma criança que brinca integralmente, será certamente um completo

e determinado. (p.35).

1.2 – A evolução do conceito

Ao falar sobre o termo lúdico não podemos esquecer de fazer um breve

retrospectiva lembrando de um educador discípulo de João Pestalozzi,

chamado Friederic Froebel, criador do primeiro jardim de infância

(kindengarten), que no século XIX, já defendia em sua metodologia, atividades

lúdicas, utilização de jogos e brinquedos, linguagem oral-efetiva, por entender

que ambos eram formas de levar a criança a efetuar a aprendizagem, alem de

acreditar que a atividade espontânea era capaz de fornecer elementos para se

determinar que tipo de adulto resultaria dessa criança. Suas ideias, ainda hoje,

são de grandes utilidade para a psicologia da aprendizagem. Com isso, tem-se

11

pela primeira vez a implementação da questão das atividades lúdicas na

aprendizagem.

Alem de Froebel, outros autores também associam a ideia do brincar

com a finalidade de construir conceitos didáticos como: Celestin Freinet e Maria

Montessori.

Para Celestin Freinet (1994), as atividades apenas tem o intuito de

satisfazer as necessidades de prazer e alegria das crianças. Segundo Maristela

Angotti, a concepção freinetiana visava “liberar ao Maximo as crianças. Mostrar

caminhos para sua realização, supõe a organização dos interesses e das

capacidades infantis, possibilitando o desenvolvimento Maximo de sua

personalidade em atividades-trabalho que lhe garantem o prazer, a satisfação

na sua realização” (p.47).

Maria Montessori, cita apenas o jogo didático, que é cercado por uma

extrema disciplina, que pouco é absorvida pela criança, até que por fim, ela

esteja totalmente obediente as regras. Se faz necessário ressaltar que o seu

trabalho era direcionado a crianças portadoras de necessidades especiais e

que posteriormente, foi desenvolvido nas crianças consideradas normais.

O lúdico era utilizado como um remédio, para o mais diversos fins. Numa

concepção mais moderna, Jean Chateau (1987) destacava características bem

práticas para as atividades lúdicas, “(...) é jogando que a criança conquista sua

independência, desenvolvendo a personalidade, além de elaborar esquemas

práticos úteis a vida adulta...O jogo transita entre a pura ficção do sonho e a

realidade do trabalho” (p.23).

Atualmente existem especialistas e obras designadas a enfatizar a

brincadeira lúdica no ambiente escolar. As brincadeiras servem como ponte de

projeção que nos transporta para a infância, através delas que o

desenvolvimento da aprendizagem acontece.

Na mesma linha de pensamento de Jean Chateau (1995), vemos a obra

recente de Gisela Wajskop que segue o pensamento chateouriano, “a

brincadeira é uma forma de atividade social cuja característica imaginativa e

diversa do significado cotidiano da vida fornece uma ocasião educativa única

para as crianças. Podem experimentar e pensar situações novas ou mesmo do

seu cotidiano, isentas das pressões situacionais” (p.23).

12

Segundo Johan Huizinga (1980) o homem se realiza através do jogo. Na

educação infantil, as atividades lúdicas devem ser espontâneas, livres sem

uma dedicação total, pois as crianças estão em fase primaria de

desenvolvimento. Já no ensino fundamental os jogos são direcionados com

objetivos pedagógicos que desenvolvam a construção da aprendizagem.

Recentemente autores como Simão Miranda (2001), apresenta uma

nova concepção sobre o lúdico, tendo uma abordagem nas funções

intelectuais, emocionais e sociais da criança, visando inovar o ensino nas

séries iniciais. O ato de jogar requer toques de criatividade (...)” (p.72).

1.3 – Brincando se aprende

Através do lúdico unimos o prazer do brincar com a fonte do

conhecimento. Ao brincar a criança assimila papeis sociais que ocorrem em

seu meio, fazendo com que ela realize, construa e adquira conhecimentos.

Ao brincar a criança demonstra suas emoções, sua forma de expressão

e seu comportamento. Esses elementos promovem ao educador um

conhecimento amplo do seu aluno, e é a partir dessa observação que o

educador vai traçar as atividades que desenvolva um bom desempenho na

aprendizagem visando um ensino d qualidade.

A revista presença pedagógica (1998) publicou um reportagem onde

pesquisadores defendem o lúdico como mediador do processo ensino-

aprendizagem, sendo ele um elemento catalisador. Para estes pesquisadores,

através do uso de atividades lúdicas associadas aos objetivos instrucionais

serve para desenvolver comportamentos que proporciem a formação de

estruturas cognitivas e, psicomotoras e efetivas, que são capazes de dar

suporte e embasamento aos conhecimentos formais, e estimular habilidades

que facilitaram o aprendizado criando espaço para desenvolver as atitudes que

irão influenciar no exercício da cidadania.

Em contradição a estes pesquisadores, vemos outros que defendem o

lúdico como uma simples forma de lazer, onde somente o relacionamento

social será desenvolvido.

De uma forma geral, o lúdico apresenta grandes vantagens para o

ensino-aprendizagem, pois fornece condições de interação entre os alunos,

tornando o ensino mais dinâmico e prazeroso fazendo da aula um lugar

prazeroso em que a criança sinta vontade de estar.

13

A importância dessa forma de educar é que as crianças não receberão

somente informações, mas viverão situações, tirando suas próprias

conclusões, eliminando a necessidade de ser o educador quem indica o que

ele deve observar e concluir (DOHME, 2003).

“Brincando (...), as crianças aprendem(...) a cooperar com os

companheiros(...), a obedecer as regras do jogo(...), a respeitar os direitos dos

outros(...), a acatar a autoridade(...), a assumir responsabilidades, a aceitar

penalidades que lhe são impostas (...0, a dar oportunidades aos demais (...),

enfim a viver em sociedade”. (KISHIMOTO, 1994, p.110)

A criança ao brincar imita, representa e joga. A criança não cresce

apenas de forma física, a infância é a fase da aprendizagem necessária para

se chegar a fase adulta. Através das atividades lúdicas a criança pequena

desenvolve seus aspectos físicos, sociais e cognitivos que o ajudarão no

processo de ensino-aprendizagem.

“Brincar é uma atividade paradoxal: livre, imprevisível e espontânea,

porém, ao mesmo tempo, regulamentada, meio de superação da infância,

assim como de constituição da infância, maneira de apropriação do mundo de

forma ativa e direta, mas também através da representação, ou seja, da

fantasia e da linguagem (WAJSKOP, 1995, p.47).

1.4 A importância do lúdico

Quando se fala em jogos, brincadeiras, a única coisa que pensamos é

que eles apenas são um passatempo para ocupar as horas da criança ou é

uma forma de recompensa por bom comportamento ou por ter cumprido as

tarefas escolares.

Mas essa não é a verdadeira importância que devemos dar ao lúdico na

vida da criança. Ao educador cabe a elaboração dessa prática como objetivo d

direcionar a apreensão de conteúdos de acordo com a realidade e o interesse

do aluno.

Autores como Johan Huizinga, Gisela wajskop, Jean Chateau e outros

consideraram o jogo e a brincadeira atividades que devem ser espontâneas na

criança, porem este não deixa de ter uma relação com a educação. O jogo

educativo começa a ter valor na educação a partir do século XVI, através das

práticas dos jesuítas, na valorização do esforço físico corporal, na competição.

No renascimento, ate o jogo de baralho ganha um cunho pedagógico com o

14

padre franciscano, Thomas Murner adotando imagens espanholas nos jogos de

carta. Nos séculos seguintes os jogos cada vez mais diversificados ganham

campo na educação, tornando-se um recurso alternativo que auxilia na

motivação e interesse dos alunos, desenvolvendo sua criatividade, cognição e

socialização.

O papel pedagógico do jogo começa a ser considerado somente a partir

da inclusão de regras, objetivadas para a aprendizagem da criança. Através

dele consegue-se reter a atenção, tornando mais fácil o rendimento e a

apreensão dos conteúdos.

A criança vive no mundo do jogo e transpõe para as brincadeiras a

realidade vivida de acordo com seus interesses e desejos. Tornando-se assim

indispensável na educação.

Hoje, as atividades lúdicas são caracterizadas como estimulantes de

vários fatores que compõem o desenvolvimento do aluno e a maioria dos

teóricos são unanimes em admitir a importância do lúdico na educação.

Simão Miranda (2001), pesquisador do lúdico na prática pedagógica há

mais de dez anos, identifica cinco efeitos que o jogo proporciona ao aluno de

series iniciais, a cognição, a afeição, a motivação, a criatividade e a

socialização. Pesquisas confirmam que fenômenos como a cognição e a

socialização são mais explorados pelos professores. Porque através dos jogos

a criança vivencia a realidade, sendo utilizada como meio de trabalhar o afeto,

o respeito ao próximo, dentre outros.

Ressalta que a escola deve reconhecer a bagagem cultural do aluno, e a

partir daí tentar uma transformação, proporcionando uma aprendizagem não

apenas didática, mas também, uma aprendizagem social. Simão Miranda

citando Alves (2001), nos revela:

“Se se acende a fornalha que faz entrar em ebulição o caldeirão mágico

da criatividade, preparam-se os caminhos que conduzem dos subterrâneos

reprimidos do inconsciente até nosso mundo diurno-institucional, abrem-se as

portas das feras selvagens não reprimidas, soltam-se as águias” (p.84).

Os educadores devem rever suas práticas educativas adequando-as de

maneira conveniente a seus alunos apresentando inovações, flexibilidade,

sabendo construir com os alunos uma aprendizagem prazerosa e estimulante.

Obtendo melhores resultados nos rendimentos escolares. O lúdico aciona e

15

ativa diversas funções da criança aprimorando a aprendizagem, trazendo

benefícios para o desenvolvimento físico, intelectual e didático.

Através do lúdico auxiliamos na construção dos conteúdos,

proporcionando a aquisição de habilidades, permitindo o desenvolvimento

operatório do sujeito levando o aluno ao conhecimento elaborado, na busca do

interesse e o gosto em aprender sendo capaz de fazer associações

interdisciplinares baseadas no lúdico.

Por meio das brincadeiras os alunos passam a ver o ambiente escolar,

um espaço de criação, no qual ele pode explorar, desenvolver e discutir,

aplicando ideias com maior segurança. Além disso, o próprio professor obtém

vantagens do processo ensino-aprendizagem através do lúdico, este torna-se

capaz de aprender a readaptar suas estratégias de ensino, fugindo dos

métodos tradicionais.

O professor ao usar as atividades lúdicas como recurso no processo

ensino-aprendizagem estará criando na sal de aula um ambiente motivador que

permite aos alunos participar ativamente desse processo, assimilando

experiências e informações e incorporando atitudes e valores. As atividades

lúdicas desenvolve as estruturas psicológicas globais, como cognitivas, afetivas

e emocionais.

De acordo com Rabioglio (1995), “(...) não basta brincar, é preciso haver

um projeto pedagógico que considere a introdução da brincadeira na classe,

até sua realização, analise e avaliação.” (...)

16

CAPÍTULO II

O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

2.1 A educação infantil no Brasil

Ao falarmos sobre a educação infantil no Brasil devemos ressaltar as

diversas transformações que a infância ocorreu desde a época dos escravos

até os dias atuais.

Para Philippe Áries (1974), d acordo com a mudança da sociedade no

decorrer da história o sentimento de infância sofreu diversas transformações.

Na época da escravidão, as crianças brancas iniciavam seus estudos

aos 6 anos de idade, a criança escrava entre 6 e 12 anos, auxiliava os

escravos adultos nas suas atividades. De 12 anos em diante já eram

considerados adultos para trabalhar e ter vida sexual ativa.

Depois da libertação dos escravos e da proclamação da republica

diversas mudanças ocorreram na sociedade, entre elas a mudança do governo

em relação aos problemas das crianças como a criação de creches e jardins de

infância para melhorar o atendimento a infância.

As creches serviam de local onde as mães deixavam seus filhos para

irem trabalhar nas industrias e também o lugar onde as empregadas

domesticas deixavam seus filhos.

Com a criação do departamento da criança no Brasil, em 1919, a

infância começa a ser observada e estudada, promovendo-se congressos,

buscando leis de amparo as crianças e pesquisando as estatísticas sobre a

mortalidade infantil.

Nos anos 30, a criança passa a ser valorizada, surgindo então vários

órgãos de amparo social e jurídico a infância. No decorrer dos anos 60, a

educação básica passa a ser obrigatória e gratuita. Em 1970, a pré-escola

começa atendendo crianças de 4 a 6 anos, nessa época acontece uma

crescente evasão escolar e repetência nas classes de crianças pobres, sendo

mais acentuada entre os alunos do primeiro grau, que tinha como objetivo

suprir as carências culturais decorrentes da educação familiar precária que não

oferecia boas condições para o desenvolvimento escolar de suas crianças. A

17

pré-escola não conseguiu atender a expectativa esperadas, pois possuía um

ensino informal que não atendia as necessidades pedagógicas dos alunos, a

maioria dos educadores eram voluntários e não possuíam um

comprometimento com a realização das atividades (Áries, 1974).

Sendo assim a quantidade de creches particulares começam a crescer,

pois ofereciam uma educação voltada para os aspectos cognitivos, emocionais

e sociais das crianças e as creches publicas apenas realizavam um trabalho

assistencialista, proporcionando alimentação, higiene e segurança física.

Na década de 80, a educação passou por uma forte crise, onde não

existia uma política global que incentivasse os programas educacionais e de

saúde no atendimento a criança, visando seu desenvolvimento. Fora isso

também havia a desqualificação dos docentes, a não participação da família e

da sociedade no processo educacional.

Foi somente com a constituição de 1988, que a criança brasileira obteve

como direito o atendimento de zero a seis anos, como dever do estado, da

família e da sociedade.

Depois da constituição, surgiu a necessidade de que os direitos da

criança fosse regulamentado, surgindo assim no inicio da década de 90 o

estado da criança e do adolescente, enfatizando que toda criança e

adolescente tivesse direito a educação. Destacando-se o artigo 53 que diz “A

criança e o adolescente tem o direito a educação, visando ao pleno

desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e

qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: I- igualdade de condições para

o acesso e permanência na escola; II – direito de ser respeitado por seus

educadores; III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer as

instancias escolares superiores; IV – direito de organização e participação em

entidades estudantis; V – acesso a escola pública e gratuita próxima a sua

residência.

Em 2001, foi aprovada a lei de diretrizes e bases da educação nacional

(LDB) que regulamenta a educação infantil definida como a primeira etapa da

educação básica. Que tem como finalidade o desenvolvimento integral da

criança de 0 a 6 anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológico,

intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. A lei

18

também estabelece que a educação infantil será oferecida em creches para

crianças até 3 anos e em pré-escola para crianças de 4 a 6 anos.

Essa preocupação no atendimento as crianças da educação infantil é

devido ao fator que é nessa faixa de idade em que os estímulos educativos tem

maior poder de influencia na formação da personalidade e no desenvolvimento

da criança. A unidade educacional de educação infantil devera proporcionar as

crianças situações que ajudem crescer, refletir e tomar decisões tanto no seu

cotidiano habitual como no educacional.

2.2 As etapas da educação infantil

A educação infantil se divide em etapas, de acordo com a faixa etária da

criança. A criança de 0 a 1 ano é atendida em berçários. De 2 a 3 anos é

atendida no maternal. De 4 a 5 anos é atendida na pré-escola.

A criança pequena ao ingressar numa instituição de ensino, entra em

contato com outras crianças e com adultos de origens e hábitos culturais

diferentes proporcionando assim um aprendizado de novas ideias.

No berçário vemos duas ações presentes: o cuidar e o ensinar. O cuidar

e o educar são inseparáveis. Como exemplo podemos citar o momento da

alimentação onde o cuidar esta presente e ao mesmo tempo o ensinar, pois

através desse cuidar o educador ensina hábitos que contribuirá para o

desenvolvimento infantil.

No desenvolvimento do bebê, as brincadeiras merecem total atenção.

Através das brincadeiras iremos estimular as percepções visuais, auditivas e

táteis.

Para que haja bom desenvolvimento da criança é necessário que se crie

vínculos afetivos adulto/criança e criança/criança, proporcionando um ambiente

acolhedor onde a criança se sinta segura e estimula.

As brincadeiras do berçário se caracterizam em brincadeiras com bola,

chocalho, móbiles, livros de pano, uso do espelho, brincadeiras cantadas,

atividades de rolamentos, tudo para que ocorra a estimulação e o

desenvolvimento do bebê tanto física como social no espaço que ele esta

inserido.

No maternal as atividades desenvolvidas visam proporcionar o

desenvolvimento progressivo da autonomia da criança, através de construção

de normas de convivências, de uso de talheres, do banheiro, do uso material

19

existente na sala de aula, sabendo ouvir e falar com as outras crianças e com

os adultos.

As atividades realizadas com o maternal usam como recursos:

brinquedos, musicas, jogos, vídeos. De maneira que envolva tanto o aspecto

motor como o social e cognitivo.

A criança do maternal utiliza a brincadeira como forma de se expressar e

de compreender o mundo e as pessoas. Para a criança, o brincar é uma

possibilidade de sentir que ela domina, ou seja, ela age em função da sua

própria iniciativa, estimulando assim a sua autonomia perante o mundo.

Através das brincadeiras de faz de conta, a criança constrói sua própria

realidade, utilizando-se de elementos concretos da sua realidade cotidiana.

Como exemplo uma boneca vira um bebê onde ela passa a cuidar como se

fosse real, ela sabe que não é mas faz de conta que seja.

Nas brincadeiras a criança toma suas próprias decisões, ela decide se o

bebê vai dormir, acordar, comer, tomar banho, isso ajuda no desenvolvimento

da capacidade de liderança e trabalha de forma lúdica sés conflitos.

Na pré-escola as atividades lúdicas são proporcionadas através de

jogos, brincadeiras, expressão corporal de forma que favoreça o

desenvolvimento motor e sócio-afetivo das crianças. Com a participação nos

jogos contribuir na formação de atitudes como cooperação, obediência as

regras, respeito mutuo, senso de responsabilidade e justiça, iniciativa pessoal e

grupal.

“Brincando (...), as crianças aprendem (...) a cooperar com os

companheiros (...), a obedecer as regras do jogo (...), a respeitar os direitos dos

outros (...), a acatar a autoridade (...), a assumir responsabilidades, a aceitar

penalidades que lhe são impostas (...), a dar oportunidades aos demais (...),

enfim a viver em sociedade.” (KISHIMOTO, 1994, p.110)

As atividades lúdicas favorecem o desenvolvimento da criança e sua

formação moral, de forma que a ajudem na apropriação e na construção de

atitudes necessárias para uma vida em sociedade, onde respeite seus direitos

e deveres como cidadão participativo e transformador.

2.3 O papel do educador da educação infantil

O educador da educação infantil possui o papel de mediador do

conhecimento, proporcionando através de atividades lúdicas a ação e a

20

compreensão das diversas atividades vivenciadas pela criança. Ele deve

manter um papel ativo no desenvolvimento dos seus alunos, intermediando as

ações, incentivando, organizando e adequando as situações de aprendizagem

de acordo com a realidade do aluno.

Nas escolas de educação infantil, cabe ao educador criar espaços e

tempos para que as atividades lúdicas sejam inseridas, atendendo as

diferenças de cada aluno.

Cabe ao educador valorizar as atividades lúdicas das crianças

participando das brincadeiras, observando-as de forma atenta acompanhando

seu desenvolvimento, suas novas descobertas, o seu relacionamento com as

outras crianças e com os adultos.

“A esperança de uma criança, ao caminhar para a escola é encontrar um

amigo, um guia, um animador, um líder – alguém muito consciente e que se

preocupe com ela e que a faça pensar, tomar consciência de si e do mundo e

que seja capaz de dar-lhe as mãos para construir com ela uma nova história e

uma sociedade melhor”. (ALMEIDA, 1987, p. 195)

Ao explicar o mundo infantil, o educador deve ter conhecimento teórico,

prático, capacidade de observação, mantendo vinculo com a criança de forma

que estimule e proporcione o desenvolvimento na aprendizagem.

Através da utilização de jogos, brincadeiras e brinquedos o educador

pode estimular, analisar e avaliar a aprendizagem, as competências e as

potencialidades dos alunos, respeitando a individualidade de cada um.

“Que o adulto seja elemento integrante das brincadeiras, ora como

observador e organizador, ora como personagem que explicita ou questiona e

enriquece o desenrolar da trama, ora como elo entre as crianças e os objetos.

E, como elemento entre as crianças e o conhecimento, o adulto deve estar

sempre atento as primeiras, acolhendo suas brincadeiras, atendo as suas

questões, auxiliando-as nas suas reais necessidades e buscas em

compreender e agir sobre o mundo em que vivem (wajskop, p.38)

O papel do educador é observar as ações dos alunos e fazer

intervenções quando necessárias, para isso é importante mesclar onde orienta

e dirige as brincadeiras, como outro onde os alunos são responsáveis pelas

brincadeiras.

21

As brincadeiras dirigidas tem propósitos específicos como culturais,

matemáticos, linguísticos, etc. além de ajudar no desenvolvimento cognitivo,

afetivo, social, motor e na construção de valores.

Nas brincadeiras espontâneas deve-se estimular a imaginação infantil,

oferecendo brinquedos, jogos, que podem ser industrializados ou

confeccionados a partir de sucatas.

Trabalhar com crianças da educação infantil exige do educador um

domínio de conceitos e habilidades que ajudem na aprendizagem e no

desenvolvimento da criança, ampliando as suas linguagens de forma a

compreender o mundo e a si mesma.

O educador deve manter uma relação onde transmita segurança para a

criança, valorizando suas habilidades e seus potenciais. Ele articula o

desenvolvimento educacional, tendo como base o desenvolvimento corporal,

afetivo e cognitivo de forma concomitante.

Para Kishimoto (1980):

“ o mediador deve respeitar o interesse do aluno e trabalhar a partir de

sua atividade espontânea, ouvindo suas duvidas, formulando desafios a

capacidade de adaptação infantil e acompanhando seu processo de construção

do conhecimento.” (p.2)

Ao educador cabe explorar e adaptar as situações ocorridas no dia a dia

de forma que auxilie na superação das dificuldades encontradas pelos alunos

usando as atividades lúdicas como meio para atingir seus objetivos. Através

das brincadeiras a criança adquire conhecimentos específicos e desenvolve as

suas habilidades física e mental. A forma lúdica de ensinar proporciona ao

aluno a vivencia de experiências, como o perder, o ganhar, o medo e o

conhecimento de conceitos e regras.

A brincadeira é um impulso natural da criança e funciona como um

grande motivador.

Para Bomtempo (1986), as crianças tem varias maneiras de brincar,

tanto sozinhas como em grupo. A criança muito pequena não encontra

condições de brincar com um numero grande de crianças, elas brincam com

duas ou três, ou sozinhas. Nem sempre conseguem dividir os brinquedos,

geralmente brincam uma do lado da outra, sendo que não estão brincando

juntas.

22

Para Lima (1992), o brincar é combinação da ficção com a realidade.

Na brincadeira de faz de conta, as crianças trabalham com o que

presencia na realidade na forma da ficção.

Os jogos de construção são importantes para a experiência sensorial,

estimulando a criatividade e desenvolve as habilidades das crianças como

exemplo a coordenação e a, concentração.

As brincadeiras de regras integram varias dimensões da personalidade

da criança com: afetiva, social, cognitiva e motora.

As atividades lúdicas proporcionam as crianças prazer e alegria. O papel

do adulto é muito importante nesse processo, pois ele age como mediador e

estimulador.

Ao brincar, a criança desenvolve a sociabilidade, faz amigos e aprende a

conviver respeitando o direito do outro e as normas estabelecidas pelo grupo.

23

CAPÍTULO III:

CONCEPÇÕES TEÓRICAS SOBRE AS

ATIVIDADES LÚDICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

3.1. A visão de Vygotsky sobre a brincadeira

O lúdico para Vygotsky (1989) é tratado como brinquedo. Destaca em

seus estudos o caráter especial dos brinquedos e a sua importância no

desenvolvimento infantil. Para ele o brinquedo cria uma zona de

desenvolvimento proximal (ZDP), na qual a criança adquire maiores

potencialidades em sua aprendizagem, isto é, a passagem de nível que a

criança percorre do desenvolvimento do real para o desenvolvimento potencial,

com ou sem a intervenção de outros, sejam pessoas ou objetos. Porém, isso

não quer dizer que todas as crianças em qualquer nível de desenvolvimento

consiga alcançar, é necessário que a criança já tenha atingido um nível de

desenvolvimento compatível para o tipo de aprendizagem que se aplique, “é

preciso que o desenvolvimento de um conceito espontâneo tenha alcançado

um certo nível para que a criança possa absorver um conceito cientifico

correlato” (p.93)

Quando Vygotsky (1988) refere-se ao brinquedo ele está se referindo

unicamente as brincadeiras imaginárias, aos jogos de faz de conta. Em sua

análise,ele afirma que através dos jogos imaginários estabelece-se uma fusão

entre elementos reais percebidos pela criança e o significado dos mesmos para

ela. Os jogos são meios pelos quais a criança imita as ações sobre os objetos

e faz uso destes como forma de substituição. Através do brincar, ela irá agir

sobre o significado dado aos objetos, e será nesta representação que a criança

elaborará o pensamento simbólico, “ A criança vê um objeto, mas age de

maneira diferente em relação aquilo que vê. Assim, é alcançada uma condição

em que a criança começa a agir independente daquilo que vê...” (id. 1988,

p.127).

A criança quando realiza a imitação durante uma brincadeira ela não

esta copiando, e sim reconstruindo o que observou na situação na qual

desenvolveu. Na verdade ela cria algo novo para seu conhecimento. Ao atuar

sobre o objeto ela determina um novo significado, e é com este que irá

relacionar-se o tempo inteiro durante a brincadeira.

24

Outro aspecto que Vygotsky focaliza no seu trabalho sobre o

desenvolvimento infantil através do brinquedo, refere-se a questão das regras.

Ele afirma que independente de ser uma situação criada pela criança, o brincar

é uma atividade baseada toda em regras. Estas podem ser implícitas ou

explícitas Tizuko Kishimoto ao falar de Vygotsky explica muito bem:

Há um processo que vai de situações imaginarias explicitas, com regras

implícitas, as situações implícitas com regras explicitas. Por exemplo, a criança

imita um motorista de trem que vai de um lugar ao outro, mudando o roteiro

conforme suas regras implícitas. No jogo de futebol, as regras são explicitas,

mas a situação varia conforme a estratégia adotada pelos participantes.

Não importa a situação, dependendo do desenvolvimento da criança e

do seu interesse, o surgimento das regras será de acordo com a sua

imaginação. Por exemplo, quando a criança brinca de motorista ela

necessariamente não precisa seguir os moldes do qual imita, ela própria cria

suas regras. Em decorrência disto, percebe-se que ela já conseguiu atingir um

nível de estagio mais elevado, consequentemente, mais maduro e mais

avançado será o seu comportamento.

Em suas pesquisas Vygotsky não agiu como um mero observador ele

interagiu com as crianças para verificar e reconhecer as suas potencialidades.

Para ele o brinquedo tem um grande papel no desenvolvimento da identidade e

da autonomia da criança.

Gisela Wajskop (1995), estudiosa das ideias de Vygotsky diz:

A criança desenvolve-se pela experiência social, nas interações que

estabelece desde cedo, com a experiência sócio-histórica dos adultos e do

mundo por eles criado. Dessa forma a brincadeira é uma atividade humana na

qual as crianças são introduzidas constituindo-se em um modo de assimilar e

recriar a experiência sociocultural dos adultos. (p.25)

Através das brincadeiras as crianças desenvolvem alguma capacidades

importantes tais como atenção, memória, imaginação. Desenvolvem também a

capacidade de socialização, por meio da utilização de regras e papeis, e da

interação.

Como construção social, a brincadeira é atravessada pela

aprendizagem, uma vez que os brinquedos e o ato de brincar, a um só tempo,

contam a história da humanidade e dela participam diretamente, sendo algo

25

aprendido, e não uma disposição inata do ser humano. Essa aprendizagem é

mais frequente com os pares do que dependente de um ensino diretamente

transgeracional. (Carvalho apud WAJSKOP, 1995, p.48).

A criança interage através dos brinquedos, resultando no surgimento de

novas tem origem através dos brinquedos, onde ela se relaciona com o mundo,

atribuindo significados além daqueles socialmente já estabelecidos.

É na atividade de jogo que a criança desenvolve o seu conhecimento do

mundo adulto e é também nela que surgem os primeiros sinais de uma

capacidade de imaginar (...). Brincando a criança cria situações fictícias,

transformando com algumas ações o significado de alguns objetos.( Vygotsky,

1991, p.122).

Em seus estudos Vygotsky afirma que não existem brincadeiras sem

regras, tendo como base a brincadeira do faz de conta realizada pelos

pequenos, onde eles usam a imaginação para entender o mundo em que vive.

Portanto é através da brincadeira que a criança aprende a compreender

o mundo, formando sua personalidade, e trabalhando os seus sentimentos

como medo, alegria e raiva. As crianças vivenciam suas ideias, em nível

simbólico para aprenderem seus significados na vida real.

Através das suas ações, a criança evolui seu pensamento, motivo pelo

qual as atividades lúdicas serem importantes para o desenvolvimento do

pensamento, dando oportunidade de expressar seus sentimentos, seus

desejos, seus conflitos.

Para Vygotsky, a brincadeira possui três características: a imaginação, a

imitação e a regra, ao brincar as crianças constroem a consciência da

realidade, mas ao mesmo tempo percebem uma possibilidade de transformá-la

através da imaginação.

3.2 A visão de Jean Piaget sobre a brincadeira

Jean Piaget foi um psicólogo suíço conhecido mundialmente pelos seus

estudos sobre a analise da evolução do pensamento infantil. Ele realizou

pesquisas com crianças, para conhecer a evolução do pensamento ate a

adolescência, de forma que houvesse um aperfeiçoamento dos métodos

educacionais para que o desenvolvimento da criança fosse satisfatório

26

Piaget propôs que o desenvolvimento cognitivo se realiza em estágios,

sendo assim a natureza e a caracterização da inteligência mudam com o

tempo.

Para Piaget o desenvolvimento acontece em quatro períodos: sensório

motor (0 a 2 anos); pré-operacional (2 a 6 anos); operações concretas (7 a 11

anos) e operações formais (12 anos em diante).

Na inteligência sensório motora, do nascimento ate 18 meses, a criança

observa o ambiente e age sobre ele, o bebê recebe estímulos visuais, auditivos

e tateis, por isso a necessidade de objetos que ajudem nessas estimulações.

Aos 2 anos até os 6 anos, ocorre a inteligência pré-operacional, onde a

criança começa a usar símbolos mentais (imagens ou palavras) como forma de

expressar os seus sentimentos, nesse estágio ocorre o aumento do vocabulário

das crianças.

Nas operações concretas, 7 anos a 11 anos, a criança passa a usar o

raciocínio e a lógica, sendo necessário o uso de objetos que estimulem o

pensamento.

Nas operações formais, aos 12 anos, não existe a necessidade da

manipulação de objetos concretos. O pensamento formal se expressa através

de palavras ou símbolos, sendo a criança. A educação infantil compreende os

dois primeiros estágios de desenvolvimento: o sensório motor e o pré-

operacional.

Para Piaget: “ a inteligência humana somente se desenvolve no

individuo em função de interações sociais que são, em geral, demasiadamente

negligenciadas.” (PIAGET apud LA TAILLE, 1992).

O relacionamento social, segundo Piaget, é primordial para o

desenvolvimento da inteligência humana, em todos os estágios do

desenvolvimento. De acordo com etapa que a criança se encontrar esse

relacionamento irá exercer uma maior influencia ou não, no desenvolvimento

da inteligência.

Diante da exposição da visão de Piaget sobre o desenvolvimento infantil,

vemos a necessidade da presença das atividades lúdicas no planejamento das

atividades da educação infantil.

Conhecer o aluno, as etapas do seu desenvolvimento, assim como os

fatores que influenciam é a primeira etapa para que se desenvolva um

27

processo educativo de qualidade, permitindo ao aluno condições adequadas de

desenvolvimento físico, cognitivo e social para que haja ampliação de

conhecimentos, através da estimulação de seus interesses.

3.3 – A visão de Henry Wallon sobre a brincadeira

Em sua teoria Wallon destaca que a criança através da imitação vive o

processo de desenvolvimento por fases distintas, mas que é a quantidade de

atividades lúdicas exercida por ela que ira proporcionar o progresso desse

desenvolvimento.

Para Wallon, o conhecimento é conhecimento é construído pela

interação do indivíduo com o meio social, sendo influenciado pelo ato motor,

pela emoção, numa relação dialética onde a linguagem é o meio e o suporte

para que haja o progresso do pensamento. A criança aprende quando interage

com o meio e os objetos e o movimento auxilia nessas relações.

Henry Wallon realizou um estudo que é centrado na criança

contextualizada, onde o desenvolvimento se da de forma descontinua, marcado

por rupturas, retrocessos e reviravoltas, provocando em cada fase profunda

mudanças na fase anterior.

Os estágios de desenvolvimento ocorrem em cinco fases tendo como

predominância a afetiva e a cognitiva: impulsivo-emocional, ocorre no primeiro

ano de vida, a predominância da afetividade orienta as primeiras reações dos

bebês as pessoas, as quais intermediam sua relação com o mundo físico;

Sensório-motor e projetivo, que vai ate os 3 anos de idade. A

aquisição da preensão, dão a criança maior autonomia na

manipulação de objetos e na exploração dos espaços. Nesse

estagio também ocorre o desenvolvimento da função simbólica e

da linguagem;

Personalismo, ocorre dos 3 anos aos 6 anos. Nesse estagio

desenvolve-se a construção da consciência de si mediante as

interações sócias. Reorientando o interesse das crianças pelas

pessoas;

Categorial, os progressos intelectuais dirigem o interesse da

criança para as coisas, para o conhecimento e conquista do

mundo exterior; predominância funcional. Ocorre nova definição

dos contornos da personalidade, desestruturados devido as

28

modificações corporais resultantes da ação hormonal. Questões

pessoais, morais e existenciais são trazidas a tona.

Wallon baseou suas ideias em quatro elementos básicos que estão

sempre em comunicação: afetividade, emoções, movimento e formação do eu.

A afetividade é fundamental no desenvolvimento da criança pois é por

meio dela que o ser humano demonstra seus desejos e vontades. Através das

emoções o ser humano passa a se conhecer, elas possuem grande relevância

no relacionamento da criança com o meio.

As emoções irão organizar os espaços para que haja movimento. Deste

modo a motricidade tem um caráter pedagógico tanto pela qualidade do gesto

e do movimento, quanto pela forma que ele é representado. Vemos assim a

necessidade das atividades lúdicas na educação infantil para que ocorre o

desenvolvimento da criança.

A formação do eu depende essencialmente do outro. Nessa fase

começa a crise da oposição, na qual a reação do outro funciona como

instrumento de descoberta de si própria, costuma ocorrer quando a criança

encontra-se com 3 anos de idade.

Na sua concepção, o lúdico e a infância não podem ser dissociados,

toda atividade da criança deve ser espontânea, livre de qualquer repressão.

3.4 A visão de Jerome Bruner sobre a brincadeira

Bruner propõe em sua teoria explicar como a criança, em diferentes

etapas da sua existência, tende a representar o mundo com o qual interage.

Acredita que haja três níveis de representação cognitiva do mundo enativa,

icônica e simbólica.

Na representação enativa, a criança representa o mundo pelas suas

ações. As crianças muito novas comunicam-se por meio de ações, elas

entendem e assimilam melhor as mensagens sob a forma de movimento.

Em BRUNER apud Barros (1995) faz uma observação que neste

nível, é sobre a recompensa, ou seja, se um adulto quiser elogiar o

comportamento de uma criança bem pequena, o melhor a ser feito é

acariciar a cabeça, bater palmas do que dizer palavras de elogios.

Na representação icônica, a criança já possui a imagem dos objetos,

sem que precise manipulá-lo ou representá-lo como na fase anterior. O

29

professor já consegue passar mensagens através de ilustrações ou

diagramas.

Na representação simbólica, a criança representa o mundo através

de símbolos, sem necessidades de ações e imagens, estando apta a

traduzir suas experiências em linguagem e a receber mensagens verbais

dos adultos.

BRUNER apud BARROS (1995) diz que:

O desenvolvimento intelectual do ser humano resulta, em grande

parte, da estimulação ambiental. O ambiente no qual as crianças vivem

podem determinar algumas diferenças em relação a idade em passam

pelos diversos estágios (p.111)

BARROS (1995) enfatiza que uma variedade de estímulos e mudanças.

Deste modo, verifica-se que a criança desde cedo, deve ser exposta a

estímulos variados, causando-lhe um desejo enorme de aprender.

As atividade lúdicas na visão da teoria de Bruner são importantes no

desenvolvimento da criança da educação infantil. Através delas a criança

estará sendo estimulada, tornando o ambiente de aprendizagem prazeroso.

A criança que participa de atividades lúdicas terá seu desenvolvimento

intelectual mais avançado do que a criança que possui participação.

A escola deve proporcionar acesso as brincadeiras, brinquedos, livros de

histórias como conteúdo que desenvolva a expressão criativa da criança

partindo dos pressuposto de que a cultura forma a inteligência e que a

brincadeira favorece a criação de situações imaginarias e reorganiza

experiências vividas e é também, o caminho apontado por Bruner, que abre as

portas da escola para a entrada da cultura e condiciona o saber a um fazer.

30

Conclusão

O mundo atravessa momentos de grandes transformações, como a

tecnologia, a comunicação, dentre outras. Esse avanço das técnicas,

ocasionam uma repercussão na formação cultural da sociedade, refletindo

mudanças no plano social, político e econômico. Consequentemente,

proporciona mudanças no mundo do trabalho, da educação e na linguagem

desses grupos.

Em meio dessa tal transformação, o educador deve recorrer a busca de

recursos alternativos e adaptativos que permitam uma adequação de suas

práticas no contexto da sociedade.

Hoje, como o crescimento das cidades, diminuem os espaços para as

crianças brincarem, além de aumentar cada vez mais o numero de famílias que

não dispõem de recursos para comprar jogos e brinquedos. Tais fatos,

evidenciam a necessidade da instalações de espaços que se destinem não só

a brincadeira, como também favorecer uma melhor aprendizagem.

O ambiente escolar nesta concepção passa ater grande importância no

desenvolvimento da criança, ampliando e modificando os seus recursos em

prol da aprendizagem do aluno. Implementando espaços de brincadeiras,

passando a valorizar o lúdico como uma nova forma agradável, saudável e

prazerosa de desenvolvimento na aprendizagem.

A brincadeira é o trabalho da criança, pois ela estimula a inteligência e

faz com que a criança solte a sua imaginação e desenvolva a sua criatividade.

Ao mesmo tempo possibilita que a criança exerça concentração, atenção e

engajamento, desenvolvendo seu senso de companheirismo. Essa interação

lúdica ajuda ao amadurecimento emocional e vai aos poucos construindo a

socialização dessa criança.

Se as pessoas no geral tivessem a oportunidade de vivenciar o lúdico

como forma de aprendizagem em um estabelecimento de ensino, nunca mais

teriam a visão distorcida, de que a escola e o trabalho, não tem nada a ver com

brincadeira.

O trabalho não se opõe a brincadeira, ou melhor, ambos devem sempre

caminhar juntos, para que seja possível aprender de uma forma mais

agradável.

31

O lúdico por si próprio, já possui seu valor educativo e cabe ao educador

encontrar este valor da melhor forma, adequando a realidade de cada aluno.

Vygotsky considera que, “a brincadeira é um espaço de investigação e

construção de conhecimentos sobre si mesma e sobre o mundo”.

Nesta colocação, o referido autor coloca a brincadeira como sendo o

exercício preparatório para a vida adulta. Ao estar com o lúdico, a criança viaja

no seu imaginário e assim realiza múltiplas ações e reações, que irão auxiliar

no seu desenvolvimento físico, mental e intelectual. Brincando em grupo ou

sozinha, a criança pode estabelecer relações nos diferentes níveis da

linguagem, pois se comunica constantemente e, com isso, enriquece seu

vocabulário, sua construção frasal, desenvolvendo assim a sua linguagem que

facilitara o seu desenvolvimento no mundo. Adquirindo noção do tempo

decorrido, ou melhor o que acontece antes e depois, estruturando a forma

temporal.

Todos os autores citados no corpo dessa monografia possui sua

concepção sobre as atividades lúdicas como forma de desenvolvimento da

criança, construindo a autonomia, a cooperação e a participação ativa da

criança tornando um ambiente prazeroso de aprendizagem.

Como ressalva, faço um comentário de que não foi possível fazer uma

seleção completa com todos os autores que contribuíram e contribuem, para a

reflexão da problemática que envolve as atividades lúdicas. Procurei neste

trabalho reunir, o pensamento dos teóricos mais importantes que destacam a

importância do lúdico na educação. Deixo um campo de pesquisa aberto para

futuros pesquisadores.

32

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA P. N. Explosão recreativa dos jogos. São Paulo, editora estrtura, 1977. ANGOTTI, Maristela. O trabalho docente na pré-escola: revisando teorias, descortinando praticas. São Paulo: Pioneira, 1994. ARIES, P. História social da criança e da família. 2° Ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986. BARROS, Célia S. Guimarães. Pautas de psicologia do desenvolvimento 9° Ed. São Paulo: Ed. Ática, 1995. BETTELHEIM, Bruno. Uma vida para seu filho. São Paulo: Campus 1998 BOMTEMPO, E. “A brincadeira de faz de conta: lugar do simbolismo, da representação do imaginário”, in KISHIMOTO, T. M. jogos, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 1996, p. 57-72. BRASIL, Lei de diretrizes e bases da educação nacional n°9394/96. Brasília, câmara dos deputados. CHAUTEAU, Jean. O jogo e a criança. São Paulo. Editora summus, 1987. CUNHA, Nylce Helena Silva. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. São Paulo. Haltese, 1994. DOHME, Vânia. Atividades lúdicas na educação: o caminho de tijolos amarelos do aprendizado. Peiropolis, RJ : editora Vozes, 2003. HUIZINGA, John. A brincadeira como elemento da cultura. Tradução de Joao Paulo Monteiro, 2 ed São Paulo. Perspectativa, 1980. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo e brincadeira e a educação. São Paulo editora Cortez, 1999. KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. São Paulo; Pioneira, 1994. LIBANEO, José Carlos; didática. São Paulo; editora Cortez, 1994. LIMA, E. C. A. S. “ A atividade da criança na idade pré-escolar”, in ideias, n.10. São Paulo, 1992. LUCKESI, Carlos Cipriano. O lúdico na prática educativa. Rio de Janeiro; revista tecnológica educacional, vol.22,1994. MIRANDA, Simão de. Do fascínio do jogo a alegria do aprender nas séries iniciais. Campinas, SP Papirus, 2001.

33

OLIVEIRA, Marta Korl de Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico, 4° Ed. São Paulo. Ed. Scipione, 1997. OLIVEIRA, Zilma Ramos de: Educação infantil: muitos olhares. São Paulo: Editora Cortez, 1996. PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro. Ed. Zahar, 1975. RABIOGLIO, M. B. Jogar: um jeito de aprender: dissertação de mestrado, USP: São Paulo, 1995. Revista presença pedagógica. Volume 4 (n°23) Belo Horizonte, MG; dimensão, 1998 WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré-escola. 3° Ed. São Paulo: Cortez, 1999. WALLON, Henri. Do acto ao pensamento. Lisboa: morais, 1979. VYGOTSKY, Lev Semyonovitch. A formaçao social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.