instituto superior de ciÊncias da saÚde egas moniz · 2016-04-12 · instituto superior de...
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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
EGAS MONIZ
MESTRADO EM PSICOLOGIA FORENSE E CRIMINAL
PERCEÇÃO DAS QUESTÕES DE GÉNERO EM CONTEXTO
POLICIAL: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NA POLÍCIA DE
SEGURANÇA PÚBLICA
Trabalho submetido por
Joana Filipa Coelho Pinheiro
para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia Forense e Criminal
Trabalho orientado por
Professora Doutora Cristina Soeiro
Outubro de 2013
Resumo
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Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz
Mestrado em Psicologia Forense e Criminal
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
Trabalho submetido por
Joana Filipa Coelho Pinheiro
Para obtenção do grau de Mestre em Psicologia Forense e Criminal
Orientado por:
Professora Doutora Cristina Soeiro
Outubro de 2013
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
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Agradecimentos
Aos meus pais por aquilo que hoje sou, resultado do amor irrefutável, do apoio
incondicional e do exemplo de vida.
Ao Rafael pela ternura e afeto genuínos.
Ao Bruno pela paciência, carinho e apoio inquantificáveis.
À minha Orientadora, Professora Doutora Cristina Soeiro, pela prudente e perspicaz
orientação de disciplina, moralidade, profissionalismo e pelo apoio absoluto em todas as
dificuldades acrescidas. E por ter sido a base de suporte de paciência, compreensão e apoio
nos momentos de maior fragilidade fazendo-me entender que cada dificuldade tem de ser
encarada como um desafio ao qual vencerei sempre que a certeza seja, de que dei o meu
melhor.
A todos os meus colegas de Mestrado, que permitiram fazer deste ciclo de formação
uma das melhores fontes de enriquecimento, tanto profissional como pessoal, cuja partilha
fomentou o significado de um verdadeiro grupo de trabalho.
Ao Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz, pelo complemento de
formação académica.
Resumo
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Resumo
A sociedade que outrora assumiu como elemento integrante o sexo masculino, passa
a ser alvo de inúmeros estudos e culmina naquilo a que hoje chamamos de diferenciação de
sexos, implicando a aceitação do género feminino em instituições tradicionalmente
masculinas como é o caso da Polícia. Assim, surgiu o interesse em fazer um estudo
exploratório qualitativo com o propósito de analisar a percepção das questões de género no
trabalho de Polícia a 80 elementos pertencentes à Polícia de Segurança Pública. Foi
elaborado um questionário de questões abertas, e após uma análise de conteúdo de onde
derivaram as categorias que permitiram fazer a análise estatística, os resultados
evidenciaram semelhanças na percepção dos elementos policiais em relação aos colegas do
sexo oposto, assumindo que as mulheres, equitativamente aos homens, a capacidade de
desempenhar, talqualmente, o cargo policial.
Palavras Chave: Trabalho de Polícia, percepção social
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
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Abstract
The society that once took as integral male, becomes the target of numerous studies
and culminates in what we now call gender differentiation, implying the acceptance of
females in traditionally male institutions such as the police. Thus, arise the interest in
making a qualitative exploratory study in order to analyze the perception of gender issues in
the work of the 80 Polices belonging to the Public Security Police. It was developed a
questionnaire with open-ended questions, and after a content analysis, from which derived
the categories allowed to do statistical analysis, the results showed similarities in the
perception of police elements in relation to her male peers, assuming that women, equitably
to men, have the same ability to play the police role.
Keywords: police work, social perception
Índice
7
Índice
Introdução ................................................................................................................. 10
Breve apreciação sobre os conceitos de género e a percepção social ................... 12
Evolução do conceito de Género .......................................................................... 12
Perceção social e das organizações da Polícia .................................................... 14
Características do trabalho de Polícia .................................................................... 16
Componente operacional do trabalho de Polícia ............................................... 18
Componente organizacional do trabalho de Polícia .......................................... 19
Componente extrínseca ao trabalho de Polícia .................................................. 21
Mulheres e homens no trabalho de Polícia ............................................................. 23
Objetivos .................................................................................................................... 29
Metodologia ............................................................................................................... 30
Participantes .......................................................................................................... 30
Instrumento ........................................................................................................... 31
Procedimento ......................................................................................................... 32
Resultados .................................................................................................................. 35
Discussão .................................................................................................................... 47
Conclusão ................................................................................................................... 51
Referências ................................................................................................................ 53
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
8
Índice de Ilustrações
Gráfico de dispersão 1 - Configuração topológica das variáveis em estudo considerando o
género como variável suplementar 43
Gráfico de dispersão 2- Configuração topológica das variáveis em estudo considerando a
divisão, idade e tipo de trabalho como variáveis suplementares 46
Índice de tabelas
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Indice de tabelas
Tabela 1 Perguntas do questionário organizadas por áreas do trabalho de Polícia 35
Tabela 2 Respostas dos participantes organizadas para a componente operacional 36
Tabela 3 Respostas dos participantes para a componente organizacional 39
Tabela 4 Respostas dos participantes organizadas para a componente extrínseca 39
Tabela 5 - Dimensões em estudo 41
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
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Introdução
O embate dos sexos, na disputa pelas posições de poder social, vem suscitando ao
longo da história o olhar e atenção de interessados, estudiosos e demagogos que se
debruçam nesta matéria pretendendo obter uma solução final que, paradoxalmente,
apresente e represente a transversalidade inerente a uma condição social em permanente
evolução.
A luta da mulher pelos seus direitos, vigorada ao longo dos tempos, permitiu uma
expansão da mentalidade social e há envolvência desta em meios até então tipicamente
restritos ao sexo masculino, como é o caso das forças de segurança pública, onde se denota
um acentuado progresso no que respeita a entrada da mulher.
Sendo o contexto policial considerado um dos mais masculinizados pela sociologia
das profissões e os estudos acerca das questões de género neste contexto revelarem-se
escassos, surge o interesse em fazer um trabalho que oferecesse um crescimento sucinto no
que respeita a percepção das questões de género na Polícia de Segurança Pública. Este
trabalho é proposto para a obtenção do Grau de Mestre em Psicologia Forense e Criminal
do Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz.
Assim, propõe-se a realização de uma aproximação, tanto mais clara, concisa e
objetiva, numa perspetiva de estudo que se quer minuciosa e ciente da necessidade de
revisão sistemática da matéria até então publicada, com vista a uma interpretação que se
quer intuitiva e coerente.
O trabalho bissetar-se-á em duas componentes fulcrais: no primeiro estádio, propõe-
se a uma revisão de literatura, contextualizando-se a problemática, fazendo uma revisão a
conteúdos bibliográficos tidos como referência, designadamente nas áreas da do trabalho de
Polícia e percepção social, procedendo-se à sua pesquisa e respetiva explicação, não
descorando a análise de trabalhos, publicações e artigos de revistas científicas cuja temática
releve para a presente Dissertação.
Num segundo estádio, que complementa e suporta o primeiro a partir do
desenvolvimento de um questionário que tende em dar resposta “a questões relevantes,
cujas resposta não [se] encontra na documentação disponível ou, tendo-a encontrado, não
lhe parece fiável” (Carmo e Ferreira , pp. 231, 2009).
Introdução
11
Com a confluência destes dois métodos, fomenta-se uma investigação que “não seja
puramente nem somente interpretativa. A sua essência será emancipar, criticar e
identificar” (Freixo, s.d.). Para tal, pretende-se explicar e os conceitos, com base em ideias
vigentes, de modo a salvaguardar uma sustentação teórica coerente, suscetível de se
coadunar com o resultado dos questionários.
No tocante à estrutura do trabalho, esta compreende uma estrutura clássica -
Introdução, Desenvolvimento e Conclusão, em favor da simplicidade, clareza e
fundamentação metodológica (Santo, 2010). Tanto a primeira como a última receberão
estas mesmas designações, sendo que a Desenvolvimento se organizará em três capítulos
estreitando-se do geral para o particular.
Concluindo, numa primeira fase será feito um enquadramento geral, abordando
sumariamente o conceito de género, de onde se partirá para uma análise do trabalho de
polícia em si cabendo e, por último, cabe analisar a influência do género no trabalho de
polícia. Concluir-se-á por fim esta investigação com base nos resultados obtidos.
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
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Breve apreciação sobre os conceitos de género e a percepção social
Evolução do conceito de Género
Vários estudos trazem à colação diversas abordagens para explicar a formação das
identidades de género e os papéis sociais baseados nessas mesmas identidades. Alguns
deles dão maior relevo às influências sociais, outros salientam a análise das diferenças de
género per si.
Antes da análise dos estudos existentes acerca das perceções de género em contexto
policial a que este trabalho tem como objeto de estudo, é indispensável a alusão à distinção
dos conceitos de sexo e género para uma melhor compreensão da matéria em estudo.
Dos estudos escritos ao longo dos tempos acerca das questões de género depreende-
se que terá sido a partir de meados do século XVIII que se assume haver o registo de dois
sexos – o feminino e o masculino, entendido, até então, como apenas um – o masculino,
sendo a mulher considerada como um macho incompleto (Laqueur, 1994).
Delineando, de forma precisa, a sustentabilidade das diferenças de género denota-se
que, na sua generalidade, o termo sexo aplica-se às diferenças anatómicas e fisiológicas que
definem particular e objetivamente o corpo da mulher e do homem. Por sua vez, o termo
género estende-se às dissemelhanças psicológicas, sociais e culturais entre indivíduos de
ambos os sexos, promotores das interpretações socialmente construídas de masculinidade e
feminilidade que, não sendo necessariamente um produto direto do sexo biológico de um
indivíduo os influencia continuamente (Diamond, 2002).
A distinção destes dois conceitos é imprescindível para a compreensão da perspetiva
em que, pessoas com anatomia pertencente à mulher podem sentir-se masculinas e
indivíduos fisiologicamente homens podem sentir-se femininos (Amância, 1994). Robert
Stoller (1968), Linda Nicholson (2000) e Joan Scott (1995), três nomes cujos estudos
representam pilares nas teorias de género, defendem a ótica de que o que é biologicamente
dado pode surgir em oposição ao que é socialmente construído influenciando assim,
diretamente, as relações entre os sexos. Não obstante, “o género enfatizava igualmente o
aspeto relacional das
Breve apreciação sobre os conceitos de género e a perceção social
13
definições normativas da feminidade” ( Scott, 1995, p.78) cujo corolário assentão só numa
metamorfose dos padrões morais do conhecimento tradicional como, e não menos
meritório, na evolução de uma perspetiva em que as mulheres e os homens são definidos
em termos recíprocos não podendo ser entendidos isoladamente (Scott, 1986).
Desde cedo somos influenciados, e até incisivamente direcionados para aquilo a
que, irrevogavelmente se assume como sendo a nossa presumível orientação sexual. Esta
inferência de padrões dominantes de cada género configuraria tipificações limitativas ao
que seria pertinente, ao homem e à mulher, num dado contexto social (Biaggio, 1976).
Inexoravelmente, a aprendizagem da diferenciação de papéis começa por ser, de
forma subtil e quase instintiva, expressa desde a infância, não apenas pela preponderância
da psicologia social ou observação direta das referências do mesmo sexo mas,
conjuntamente, pela influência assumida mediante familiares, sendo mais tarde
homologada na escola e consubstanciada através dos meios de comunicação social (Berger,
1978) o que propicia uma aprendizagem de atitudes e comportamentos típicos de cada sexo
(Kohlberg, 1966; Bandura, 1971; Diamond, 2000)). Assim, e na ótica das representações
sociais culturalmente esperadas e socialmente aceites, aos rapazes seriam incutidas
competências de cariz mais instrumental, primordialmente para estimular a capacidade para
a ação, assumindo-se como mais fortes, independentes, agressivos, competentes e
dominantes, já as raparigas seriam persuadidas para uma dimensão mais expressiva e
emotiva e tendiam a ser mais dependentes, sensíveis, afetuosas e aptas a suprimir os seus
impulsos agressivos e sexuais (Parsons, 1964 e Biaggio, 1976). Domina, desde muito cedo,
aquilo que, a posteriori, Scott (1995) e por sua vez Filho (2005) vieram exibir como
consciência das diferenças sexuais e da sua própria organização social.
No que ressalva às questões de género relativas ao contexto policial, Dowler e
Bruce (2008) procuraram nos seus estudos avaliar os níveis de stress nas diferenças de
género e determinar o impacto desta discriminação em elementos policiais, também
Wertsch, (1998) se revelou curioso face a este tema. As conclusões declararam –se
antagónicas. Ou seja, os primeiros sugerem que elementos do sexo feminino experimentam
níveis mais elevados de stress e o segundo conclui que os elementos policiais do sexo
masculino experienciam maiores níveis de stress, exaustão emocional e insatisfação.
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
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Em conclusão, um conjunto de normas, valores e expectativas sociais influenciam a
identidade de género que cada ser humano batalha por conquistar. Sendo esta identidade
posteriormente adquirida que permite a distinção dos papéis de masculinidade e
feminilidade, tão comuns nos dias de hoje ( Lorber, 2010).
Foi explanada até então, uma breve contextualização relativa à designação do
conceito de género e, particularmente alusiva aos diferentes papeis sociais.
Perceção social e das organizações da Polícia
Presentemente, dado que o objeto principal deste estudo passa pela abordagem ao
conteúdo das perceções, torna-se igualmente imprescindível, revigorar o conceito de
perceção social para um melhor entendimento da matéria em estudo. Sendo este, um
processo mental, no qual a informação sensorial é disposta e introduzida significativamente
(Bastos, 2000 citado por Bartilotti, Scopel & Gamba, 2006 9; Horta, Mendes&Oliveira,
2009 21).
Associada à perceção encontra-se a atenção sendo este mecanismo de seleção, que
nos permite reagir a determinadas situações, ao invés de outras, este processo é seletivo,
dada a quantidade de informação que o indivíduo recebe. (Horta, Mendes&Oliveira, 2009).
De forma generalizada a perceção social consiste na formação de impressões acerca
dos outros, diretamente influenciadas pelo contexto social em que a pessoa está inserida
(Horta, Mendes&Oliveira, 2009).
O conceito de perceção surge através do trabalho de Sternberg (2000), como um
“conjunto de processos pelos quais reconhecemos, organizamos e entendemos as sensações
recebidas dos estímulos ambientais e abrange muitos fenómenos psicológicos” (Sternberg,
2000, pp.110). O autor define duas teorias determinantes, ambas explicadas como
antagónicas e claramente influenciadas pela psicologia da Gestalt: a perceção construtiva e
a perceção direta.
Na primeira, definida como perceção racional ou inteligente, o indivíduo concilia o
que sabe, o que sente e as inferências ou deduções com base na experiência e no que
conhece (Sternberg, 2000). Ou seja, o sujeito explora a perceção de um estímulo usando
as informações sensoriais para fundamentar a estrutura, reforçando-o com fontes de
informação externas
Breve apreciação sobre os conceitos de género e a perceção social
15
Por sua vez, a perceção direta é representada pelas informações dos recetores
sensoriais, incluindo o ambiente (Sternberg, 2000, pp.125).
Tendo em conta que o âmbito policial é o objeto fulcral deste trabalho torna-se
indispensável, aquando a referencia às questões da perceção social, evidenciar esta
perceção relativa às organizações policiais. E, nesta perspetiva, denota-se ainda muito
diminuto o trabalho existente acerca da perceção social das organizações policiais e
Portugal fica aquém quando comparado com a Inglaterra ou os Estados Unidos, onde
existe, desde há muito, um vasto campo de pesquisas nesta área (Ivkovic, 2008). Trata-se
de um assunto complexo uma vez que a polícia não se faz representar por uma entidade
isolada, mas sim, como parte integrante da sociedade na qual um grande número de fatores
sociais poderá ter inferência na forma como os cidadãos consideravelmente percecionam, a
Polícia.
Estudos contínuos têm apontado diferentes fatores intervenientes na formação dessa
perceção que, não obstante, na sua maioria se representam como inconclusivos. No entanto,
a experiência pessoal destaca-se como um aspeto de vigoroso impacto sendo representativa,
não somente do possível contacto que o indivíduo tem ou teve durante sua vida com a
Polícia como, e não menos meritório, do conhecimento pessoal abrangido pelas
informações, experiências de conhecidos ou meios de comunicação social (Lopes, 2010;
Brown, 1998).
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
16
Características do trabalho de Polícia
Principia-se este capítulo com a indispensável alusão à análise das características do
profissional de polícia, tendo presente as questões associadas à ordem pública e por
consequência ao funcionamento de uma polícia uniformizada.
O elemento policial, que se faz representar por uma figura de autoridade surge, no
campo da sociologia das profissões, como uma categoria social e profissionalmente
construída. Não obstante, pelo facto daquele se fazer representar por uma Instituição,
coaduna-se na perspetiva em que, numa dada instituição os elementos pertencentes à
mesma são encobertos, como que por uma maré de influências, frutos das expressões da
rotina de trabalho, que propicia a partilha de aprendizagens, a perspetivar o mundo exterior
de forma muito semelhante (Bretas, 1997) e à formação de padrões de comportamentos
coadjuvantes (Torrente, 1997) criando o habitus (Bourdieu,2007) ou seja, posturas e
comportamentos análogos, de forma quase inconsciente Estes padrões, apreendidos e
adquiridos por força da influência e da rotina são também uma estratégia de adesão às
condições de trabalho e aos valores da instituição, permitindo assim que muitos elementos
policiais, desprovidos de uniforme, sejam identificados por características básicas tais como
o modo de vestir, o andar ou até o falar (Sacramento, 2007).
Revela-se curioso que, no trabalho de pesquisa feito para este estudo acerca do
conceito de caserna policial, existiu sempre, por parte dos autores, um persistente interesse
na compreensão do porquê dos agentes expressarem opções na “caserna” que poderão ser
consideradas ofensivas aos valores liberais e democráticos das atuais sociedades ocidentais,
bem como a compreensão da influência de tais opções no comportamento. E a razão deste
facto, que se revelou como mais justificativa, vai de encontro ao conceito de cultura policial
e às suas características.
O conceito de cultura policial que surge a partir de estudos etnográficos acerca dos
trabalhos de rotina leva ao que foi referido anteriormente já que, ressalva uma camada de
profissionais que atuam segundo normas e valores informais e, não obstante, que operam
sob a estrutura rígida e hierarquizada das organizações da Polícia. Não menos meritória,
Características do trabalho de polícia
17
surge a perspetiva de Bourdieu (1989) que explica a prática cultural como resultado
da interação entre disposições culturais (habitus) e posições estruturais (campo), situando a
cultura policial no contexto predominantemente social e político e designando-a como a
principal responsável pela má conduta da Polícia (Fitzgerald Report, 1989).
Na literatura surgem inúmeras críticas relativamente à conceptualização da cultura
policial fazendo-se eleger, não somente, pela falta de definições existentes de cultura
policial para explicar a diferenciação interna e as diferenças jurisdicionais mas também pela
passividade implícita no processo de aculturação por parte dos elementos e, não menos
relevante, pelo isolamento que resulta do contexto social, político, jurídico e organizacional
da Instituição policial (Slovak, 1986).
Ainda relativo à subcultura policial, não pode deixar de ser referido que existem
incongruências no modo de policiamento nas diferentes sociedades, afirmando que essas
variações são perfeitamente explicáveis em termos das estruturas e tradições das próprias
sociedades. Nesta questão da subcultura, alvo de inúmeras investigações e teorizações,
suprimindo qualquer intensão corroborada por influência social particulariza-se a
perspetiva de Waddington (1998) especificando o pressuposto de que, a Polícia tem uma
subcultura ocupacional distinta e particular. Este autor, debruça assim os seus estudos nesta
questão e, para tal, recai sobre uma compreensão sistemática analisando os pontos fulcrais
desta realidade iniciando, primordialmente, uma bifurcação da subcultura policial entre a
caserna, a atuação na rua e a forma como estas se influenciam reciprocamente, enumerando
um conjunto de características que, a priori, poderiam ser encaradas como distintivas desta
subcultura: sentido de corpo e de missão, desejo de ação e agitação, divisão em relação à
sociedade, solidariedade mútua entre agentes, conservadorismo autoritário e o cinismo.
Contrariamente, e como forma de negação destas características distintivas,
afirmando que a subcultura policial se representa por um conjunto comum de valores,
crenças e atitudes dentro de um contexto policial, Waddington (1998) defende não ser
meramente porque os polícias exibem traços comuns entre si que tal indicação devesse ser
apontada como distintiva ou singular da sua subcultura. Neste sentido, encontra-se como
que uma desculpabilização daquelas características que se poderiam estabelecer como
definidoras. Sendo assim, e destacando dois dos pontos em estudo, alvos de maior
controvérsia, sublinha-se que, relativamente ao desejo de ação e agitação, sobretudo
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
18
evidente na ilusão coletiva de que a Polícia e os seus elementos servem principalmente para
combater o crime, assentindo-se que essa ilusão visa legitimar audiências externas por parte
do público e, mais do que isso, sustentar a autoestima ocupacional. Todas estas questões
legitimam o facto de, como vimos anteriormente, esta ser considerada uma das profissões
com maior exigência de capacidade de gestão do stress diário.
O stress por sua vez, é designado por Vaz Serra (1988 pp. 301) como “a resposta
não específica do organismo a qualquer exigência de adaptação” o que justifica o facto de
este poder ser alterado consoante a capacidade de gestão das problemáticas.
Existem indicações sobre a relação entre os sintomas de stress e o contexto
profissional tendo sido, por isso, um interesse de estudo para muitos investigadores avaliar
a prevalência desta relação e as características específicas do trabalho de polícia (Jex &
Crossley, 2005).
A literatura tem referenciado áreas específicas como principais fatores de stress
associados à natureza das tarefas das forças de segurança pública.
Componente operacional do trabalho de Polícia
Esta componente enquadra-se nas questões intrínsecas às características específicas
do trabalho de polícia, reunindo um conjunto de situações que, mal geridas, podem
despoletar os níveis individuais de stress. Particularizando cabe referir , a exposição a
situações potencialmente traumáticas e emocionalmente exigentes a que os elementos
policiais estão constantemente sujeitos por serem, na maioria das vezes, os primeiros a
chegar a situações de acidentes (Burke & Mikkelsen, 2005) Estas situações passam por um
“acontecimento que envolve morte ou ofensas à integridade física e emoções de medo
intenso ou horror” (Caldeira, 2004, pp.20) tais como acidentes, violência, confrontos ou
presenças em tribunal.
A capacidade de dar uma notícia de morte é outro fator de stress acrescido já que,
para além do facto de existir um cadáver que possivelmente esteve na presença destes ainda
lhes cabe a tarefa acrescida de ser mensageiro de uma informação que cuja transmissão
poderá ter as mais variadíssimas reações por parte do recetor que, na maioria das vezes se
representa por um ente querido do defunto (Moldovan, 2009).
Características do trabalho de polícia
19
O trabalho por turnos e o excesso de horas de trabalho está frequentemente
associado a problemas de saúde física e mental (Seligmann-Silva, 1994). Esta questão vai
ainda dificultar a gestão familiar e das relações sociais (Sacramento, 2007) que serão
posteriormente, abordadas neste estudo. É ainda fulcral fazer referência à imprevisibilidade
inerente à atividade policial tendo em conta que este profissional, por vezes, seja obrigado a
prolongar seu horário de serviço por causa de alguma ocorrência surgida no final do seu
turno.
O risco de vida para o próprio e a salvaguarda da vida do outro ( Burke &
Mikkelsen, 2005) são questões implícitas a partir do momento em que se passa a exercer
uma profissão destas, em que o combate à criminalidade está sempre inerente.
O porte de arma de fogo integra-se neste âmbito e traduz-se como um aspeto
fundamental no trabalho operacional de Polícia. Este instrumento de defesa pessoal,
necessário para o desempenho das suas funções aquando uma situação de risco iminente
para si ou para terceiros, representa perspetivas opostas para os diversos elementos
policiais. Portanto, aquilo que para uns caracteriza maior segurança para outros apresenta-
se como algo que os desconforta, suscitando uma preocupação constante na possibilidade
de ser necessário recorrer a este meio para sua defesa. Num estudo feito na Polícia Civil do
Rio Grande do Sul (2007), onde foram entrevistados delegados de ambos os sexos com o
intuito de perceber de que forma era vista a mulher Polícia, Jaqueline Sacramento, autora
daquele estudo conclui que, na questão em que se referia ao porte e uso de arma de fogo, os
elementos do sexo masculino recorriam à ironia relativamente à prestação das mulheres no
desempenho desta função em particular, sublinhando alguma fragilidade e evitamento para
a possibilidade de disparar contra alguém. Muitos deles alegam ainda que elas não
deveriam usar arma de fogo já que, para estas, este procedimento acarreta uma série de
conflitos internos (do foro psicológico e moral) o que induz a uma falta de confiança na
mulher polícia neste tipo de atuação.
Componente organizacional do trabalho de Polícia
A componente organizacional do trabalho de Polícia é um outro campo
consideravelmente prepotente na literatura sendo que, para Malach-Pines e Keinan (2006),
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
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esta é a área em que os profissionais das forças de segurança pública mais referem como
indutores de pressão. A identidade organizacional é assim entendida como um concentrado
de informação que integra os valores dominantes, duradouros e consensuais, instituídos
como narrativas que protegem a imagem da instituição (Malach-Pines & Keinan, 2006
citado por Gonçalo, Gomes, Barbosa, Afonso, 2010). Encontramos então referência a esta
entidade como sendo uma estrutura organizacional, hierárquica e altamente burocrática,
onde a falta de apoio por parte das chefias e da administração e as poucas oportunidades de
progressão na carreira são encaradas como barreiras diárias aos elementos (Gonçalo et al,
2010).
A progressão na carreira nesta profissão revela-se, segundo Clara Vasconcelos
(2000) particularmente morosa e difícil sendo que, para os elementos do sexo feminino a
dificuldade acresce por recearem que o seu sucesso seja visto como consequência de
prestação de serviços de cariz mais íntimo (Clara Vasconcelos, 2000) justificando que o
assédio sexual representa um dos maiores obstáculos para as mulheres nesta profissão
(Amâncio e Lima, 1994). Estas, ao serem submetidas a cargos iguais aos dos colegas
homens, para além das fortes pressões impostas pelos mesmos, estão sujeitas a duas
particularidades antagónicas de avaliações comuns. Ou seja, caso demonstrem capacidade e
competência no exercício destas funções a sua feminilidade é colocada em causa e quando
falham, a sua condição feminina é afirmada (Shields, 1988, citado por Ribeiro, 2010).
Particularizando ainda esta questão das pressões organizacionais, é importante
elucidar que os polícias lidam com público diferenciado e desenvolvem expectativas e
respostas diferentes para cada qual. Não obstante, vários autores defendem que a relação
entre os polícias e os jovens do sexo masculino, talqualmente, entre polícias e negros, está
mais sujeita ao “desequilíbrio de forças” por parte da polícia (Sykes e Clark, 1975). Para
além disso os elementos policiais estão sujeitos a uma autonomia no “trabalho de rua” em
relação aos supervisores, e por isso, a liberdade para decidir como conduzir a interação com
os cidadãos. Estas decisões, gestão de conflitos e a capacidade de respostas assertivas no
imediato são exigidas pelos superiores hierárquicos de forma repetida e permanente.
Características do trabalho de polícia
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Componente extrínseca ao trabalho de Polícia
Para além dos fatores operacionais e organizacionais a literatura salienta os fatores
extrínsecos à atuação policial, fazendo-se representar por questões que, mesmo fora do
âmbito profissional, são afetados devido à condição profissional como é o caso da gestão
das exigências laborais e familiares, a ilação de um sistema judicial punitivo perspetivado
como tolerante para com os criminosos ou as atitudes negativas e de desconfiança da
comunidade (Malach-Pines & Keinan, 2006) retratam um ponto potencialmente
determinante no que concerne aos fatores de stress em contexto policial.
Bretas e Poncioni (1999) mencionam ainda a dificuldade acrescida na gestão de
relações sociais tendo em conta as representações negativas e o conservadorismo moral e
social, resultado dos comportamentos adquiridos pelos elementos policiais como meio
facilitador de integração na instituição, típicos de sistemas hierárquicos como é o caso da
polícia (Kant de Lima, 1997). Para além disto também as vivências de stress diárias
legitimam uma atitude defensiva para com a sociedade e aumentam a tendência ao
individualismo e isolamento que, impreterivelmente, tende em levar o elemento policial a
um de dois extremos: ou encontra o seu refúgio e identidade no trabalho o que leva a um
aumento de coesão e partilha no seio profissional e na própria identidade do grupo (Hagen,
2004) ou tende a via do consumo excessivo de álcool e, eventualmente, outras substâncias
psicoativas como forma de atenuar as tensões internas (Gonçalo et al, 2010).
A gestão do conflito casa – trabalho é outro ponto a considerar neste parâmetro,
mais dificultado na questão da mulher policia. Para muitos oficiais do sexo masculino a
mulher está desprovida de poder desempenhar um bom trabalho na atividade policial
porque se subdivide entre as tarefas da casa e do trabalho (Sacramento, 2007). Lambert,
(1990) e posteriormente Edward e Rothbard (2000) debruçam os seus estudos no conceito
de spillover que se traduz pelo transporte dos afetos, valores, competência e
comportamentos do nível profissional para a esfera familiar ou vice-versa. Num estudo de
onde são avaliados dois tipos de spillover, de forma independente, do trabalho para a
família e da família para o trabalho, concluiu-se que o spillover do domínio profissional
para o domínio familiar é cerca de três vezes mais frequente que o oposto e que este traduz
um impacto mais intenso na mulher policia em comparação ao homem ( Frone, Russell &
Cooper, 1992).
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
22
Incisivamente na questão da relação laboral e familiar e coadjuvando com o que os
estudos publicados anteriormente foram comprovando, a mulher apresenta, de facto, mais
divergências no seio familiar em comparação ao homem começando, desde logo, com as
desconfianças por parte do parceiro ou conjugue que se devem, não somente ao facto de
existir um maior número de homens neste contexto profissional como, e de igual
relevância, o facto de haver o estigma de que nesta profissão elas têm uma relação muito
próxima com os homens. A conciliação do trabalho e das tarefas domésticas é outra
dificuldade que, sobretudo a mulher, por ser estigmatizada culturalmente como a
responsável pelas lides domésticas e, por isso, representativa no seio familiar como quem
prepara as refeições, trata dos filhos e cuida da casa, se depara podendo mesmo culminar
em esgotamento. No entanto, isto não invalida que, com confiança, estas mulheres e
homens possam manter relacionamentos saudáveis e duradouros (Stratton, 1986).
Face ao exposto acima e em forma de resumo, reitera-se imprescindível sintetizar o
conteúdo deste parâmetro considerando quatro pontos essenciais no que respeita as
características do trabalho de Polícia sendo eles, [1] a componente operacional, [2] a
componente organizacional, [3] a componente extrínseca onde consta a rotina, a gestão das
relações familiares e inter-relações sociais.
Para findar esta questão é ainda relevante salientar as consequências que a
exposição, por partes dos elementos policiais a estes fatores de stress, pode acarretar. Sendo
assim são identificados: sintomas físicos como - doenças cardiovasculares, problemas de
estômago, doenças psicossomáticas, níveis elevados de cortisol, colesterol e pressão
sanguínea; sintomatologia psicológica - raiva, indiferença, baixa satisfação laboral,
desordens de ajustamento e de stress pós-traumático e sintomas comportamentais - declínio
da qualidade no desempenho profissional, agressividade, absentismo, abuso de drogas,
burnout, tentativas de suicídio e mesmo, de formas mordaz, suicídio consumado (Violanti,
Andrew, Burchfiel, Dorn, Hartley & Miller (2006).
A esta rutura que afeta o bem estar do profissional causando exaustão emocional e
física, despersonalização e falta de realização pessoal a literatura dá o nome de burnout
(Vaz Serra, 2002). O burnout é, desta forma, o prolongamento da falta de capacidade de
gerir as situações potenciadoras de stress e, por sua vez a acumulação dos efeitos físicos e
psicológico que foram referidos anteriormente culminando na incapacidade de
Características do trabalho de polícia
23
desempenhar a função profissional. (Cunha, 2004). Na tentativa de contornar esta
tendência é cada vez mais rigorosa a fase de seleção dos elementos policiais, sobretudo no
que respeita à avaliação da personalidade e capacidade de gestão do stress, através dos
testes psicotécnicos e das entrevistas.
Posto isto, tendo presente a realidade portuguesa, num estudo realizado pela
Secretaria de Estado da Administração Pública na mesma altura em que foi criada uma
escola de oficiais de Polícia – Escola Superior de Policia (ESP), que atualmente tem a
designação de Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna (ISCPSI), foi
elaborado um perfil de oficial de Polícia, pelo qual se entendia um conjunto de qualidades
morais, profissionais e pessoais necessárias para prosseguir uma carreira policial.
Concomitantemente, aquando da tentativa de elaboração de um perfil de oficial ou agente
de polícia, a maioria dos estudos realçam como primordial a componente psicológica ao
invés da componente física (Begonha, 1992 ). Deste modo, enquanto a rapidez de reflexos e
a agilidade são os critérios físicos mais encontrados (Begonha, 1992), a coragem, a
tenacidade, o conhecimento profissional e a integridade são, segundo Chaves (1997, citado
por Ribeiro, 2010) as quatro qualidades procuradas, pela PSP, nos seus futuros oficiais e
agentes. No entanto é impreterível salientar que, apesar da componente física não ser tida
como a mais relevante no perfil de uma carreira policial, facto é que simboliza um dos
maiores fatores de reprovação nos candidatos ao ISCPSI, sobretudo em candidatos do sexo
feminino.
Mulheres e homens no trabalho de Polícia
Importa mencionar a escassez de literatura existente sobre a temática da mulher em
contexto policial no contexto português. Inevitavelmente, numa visão ampla pelas
estatísticas oficiais e estudos existentes, apercebemo-nos que desde sempre os homens são
mais propensos a este trabalho.
Torna-se assim imprescindível contornar esta questão levando, tendencialmente,
alguns investigadores a orientar os seus estudos dando considerável discussão ao papel da
mulher e à forma como esta se envolve numa profissão tradicionalmente masculina
(Heidensohn, 2003).
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
24
A razão inicial para o ingresso das mulheres na polícia prende-se por uma questão
de necessidade por parte da Instituição em preencher postos com tarefas específicas, não
representativas pelo controlo ou repressão social particularmente masculinas mas,
forçosamente, para funções de secretariado. Não obstante o princípio de igualdade de
oportunidades estar, em teoria, bem vincado, na prática obedece a restritos limites formais e
materiais assentindo a que estas não fossem representativas do verdadeiro trabalho policial.
A grande barreira que separou as mulheres do contexto policial durante décadas é
derrubado e, a valoração monetária, o fator “sonho” e o desejo de fazer diferença no
Sistema Policial são, segundo um estudo de treino e motivação incidido em agentes
femininas na Costa Atlântica do Canadá, os grandes fatores motivacionais que levam estas
mulheres, nos dias de hoje, a enveredar pela via policial (Jackson, 1997). Passou assim a
ser, cada vez mais percetível a entrada destas neste contexto que, até à década de 70,
albergava única e exclusivamente elementos do género masculino.
Apesar de estas, em relação aos homens, serem de forma análoga e irrevogável,
capazes de desempenhar, talqualmente, o cargo policial (Martin, 1993; Worder, 1993,
citados por Almeida & Amâncio, 2008) , constata-se que a sua entrada em relação ao sexo
oposto, mesmo tendo-se verificado um aumento na proporção de elementos policiais do
género feminino nos últimos 30 anos (Centro Nacional de Mulheres e Policiamento, 2002),
continua incontestavelmente reduzida. Facto é, que todas as jurisdições rejeitam uma maior
proporção de mulheres do que homens, incongruentemente com a Polícia Federal
Australiana que reverteu esta tendência (Prenzler 1996) rejeitando, em média, uma maior
proporção de homens.
Sendo o contexto policial categorizado como o grupo mais masculinizado da
sociedade (Brown e Campbell, 1994), a entrada das mulheres neste contexto desencadeou,
concomitantemente, uma série de controvérsias, sendo muitas vezes acompanhada por
resistências encaradas como uma ameaça a valores e práticas dominantes deste ambiente
(Carreiras, 1997) e que, por inferência, propiciam dificuldades acrescidas na valoração do
desempenho destas.
Os obstáculos surgem assim que começa a fase de seleção. Incontestavelmente, um
estudo com grupos de polícias australianos (Prenzler, 1995 citado por Calazans, 2004)
assentiu que as mulheres, ao candidatarem-se a esta profissão, devem estar expectantes e
Mulheres e homens no trabalho de polícia
25
seguras do desgaste irregular a que estarão sujeitas. Por assim dizer, ressalvam-se as
constantes avaliações por parte dos colegas sendo que, algumas das dificuldades causadas
pelos homens polícias passam por alegar a falta de competência, por parte destas, para a
função de patrulha ou mesmo o uso de uma linguagem indecorosa com intuito de causar
mau estar (Stratton, 1986)
Traduz-se como vasto o campo relativo às objeções colocadas pelos homens e, não
menos impetuosas, pela própria Instituição, dificultando a atuação policial das mulheres.
Importa assim salientar de forma explícita, generalizando a perspetiva do elemento policial,
os maiores obstáculos a que estas mulheres se vêm sujeitas. Particulariza-se esta questão
salientando os estereótipos promovidos pelo género ameaçado onde a aceitação das colegas
como eficientes e competentes implica que estas se assumam como menos femininas (Lord,
1986). Segundo Bárbara Stratton (1986) existe uma tentação, por parte da própria
Instituição, em dotar as mulheres de características tipicamente masculinas para que, a sua
feminilidade, não seja um entrave no desempenho da sua atuação policial. Isto propicia,
numa tentativa de aprovação, à existência de mulheres (agentes) que, por autodeterminação,
optam por seguir um caminho puramente masculino, pensando, agindo e comportando-se
talqualmente os homens, colocando de parte a sua feminilidade que, por consequência pode
induzir à perda de autoestima (Stratton, 1986). Ainda como fundamento a esta explicação
fazemos alusão ao testemunho de uma agente francesa, no trabalho de Gérard Delhomez
(1973, pp. 19), onde assume que “é preciso que sejamos femininas, evitar o
comportamento viril, banir os termos menos dignos, a linguagem de carroceiro”.
Nos estudos associados a este tipo de estereótipos foram identificados, a
competência, a capacidade técnica e a racionalidade como características masculinas e a
emotividade e o desejo de ajudar, como peculiaridades intrínsecas à mulher (Berg &
Budnick, 1986; Charles, 1982). As mulheres são reconhecidas por utilizarem um estilo
mais baseado nas competências comunicacionais, ao invés da força física, suprimindo
assim em grande número a violência policial e um aumento, equiparável, da eficácia ao
nível das relações com a sociedade (Harrington et al., 2001; Lonsway, Moore, Harrington,
Smeal & Spillar, 2002). Posto isto, e concomitante à capacidade acrescida da mulher em
lidar com o cidadão assume-se, direta e subtilmente, uma distribuição de tarefas em que,
sendo a mulher teoricamente mais vulnerável, cabem-lhe funções menos exigentes
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
26
fisicamente como o atendimento e apoio a vítimas de crimes sexuais ou violência
doméstica que, em muitos casos, se fazem acompanhar de filhos menores, e a realização de
trabalhos de secretaria (Ribeiro, 2010).
Por corolário, constata-se que, nos casos em que é importante a assistência ao
cidadão as mulheres estarão mais propensas tendendo, a manifestarem-se como mais
acessíveis, mais comunicativas, e sensíveis substituindo “os músculos pelo cérebro, a força
pela comunicação e a objetividade pela sensibilidade” (Ribeiro, 2010).
Esta questão fundamenta, por parte dos homens, um acentuado receio de que as
colegas mulheres não tenham capacidade de os apoiar e defender fisicamente em situações
mais perigosas e violentas nas quais seja exigido mais esforço físico (Stratton, 1986).
Um estudo feito pelo Centro de Recrutamento policial, do Rio Grande do Sul, 2007)
com oficiais de Polícia revela que estes evidenciam a capacidade e de persuasão, das
colegas, em situações potencialmente violentas, mas afirmam que os homens, devido à sua
presença física, têm maior propensão para impedir a violência em si. Estes assumem ainda
que as mulheres deviam estar enquadradas no que, em contexto português e nos dias de
hoje, chamamos de Modelo Integrado no Policiamento de Proximidade (MIIP) do qual
fazem parte as Equipas do Programa Escola Segura (EPES) e Equipas de Proximidade e de
Apoio à Vítima (EPAV). Estas equipas são, por norma, responsáveis pela segurança e
policiamento de proximidade, pela prevenção e vigilância em áreas comerciais e vigilância
em áreas residenciais. São ainda responsáveis pela prevenção da violência doméstica, apoio
às vítimas e acompanhamento pós-vitimação e na identificação/sinalização de problemas
que possam interferir na segurança dos cidadãos. Concluindo, o tipo de serviço destas
equipas não envolver, habitualmente, situações de violência estrema em que a força tenha
de ser usada ou risco de vida.
Denotando uma íntima ligação entre a informação até ao momento apresentada e os
dados reais vai-se, da forma mais esclarecedora possível, escrever os dados estatísticos a
que foi possível ter acesso. Na perspetiva da Polícia de Segurança Pública e,
particularmente, no que concerne aos dados estatísticos do efetivo policial, é importante
ressalvar alguns números que nos permitirão ter uma maior consciência acerca das
diferenças de género e as funções correspondentes.
Mulheres e homens no trabalho de polícia
27
Estudos da Direção Nacional da PSP, permitiram constatar que a entrada dos
primeiros elementos femininos, na PSP, ocorreu no Comando de Lisboa em 1930. A
Ordem de Serviço n.º 115, de 25/04/1930, refere “Que sejam alistados provisoriamente
neste Corpo de Polícia, em conformidade com o 1.º do art. 2.º do Decreto de 27 de maio de
1911 “ficando (...) colocados na Secção Administrativa”. Segundo Clemente (2002), a
primeira Guarda do sexo feminino entrou na PSP em 1 de novembro de 1930, e só
ascendeu a Guarda de 1:ª classe em 1941.
Verificou-se ainda que, só em 1971, se realizou efetivamente o primeiro concurso
público para admissão de Guardas do sexo feminino na Polícia, o qual contou com 678
concorrentes, das quais ficaram aprovadas 273 nas provas literárias e físicas. Ao concurso
podiam candidatar-se todos os indivíduos do sexo feminino que reunissem as seguintes
condições: “Ter nacionalidade portuguesa; ter mais de 21 anos de idade e menos de 35 anos
à data do alistamento; possuir a habilitação mínima do exame do 2.º grau de instrução
primária; ter a altura mínima de 1,55m; estar isenta de culpa de Registo Criminal e ter
irrepreensível comportamento moral e civil (Revista Polícia Portuguesa, 1971, pp. 3)
Constatou-se ainda que, em 22 de janeiro de 1973, na Ordem de Serviço n.º 14 (II
Parte) do Comando Geral (CG) da PSP, foi publicado o Aviso de abertura do concurso
público para a admissão de Guardas do sexo feminino. Este aviso vem alterar as condições
de candidatura em relação às provas físicas, que passam a ser diferentes de acordo com o
sexo do concorrente.
Posto isto, e aproximando os valores à realidade atual, com base no Balanço Social
de 2008, verifica-se que na Instituição existiam 22.214 elementos com funções policiais,
sendo 20.664 homens e 1.550 mulheres e destas, 81 % desempenham funções não
correspondentes a atividades operacionais ou que não necessitam de um conhecimento
técnico-policial para serem concretizadas (Ordem de Serviço n.º 22-II parte, em
04/02/2010). E através da consulta à Lista de Antiguidade do pessoal Oficial de Polícia,
reportada a 31/12/2009 aparecem, na carreira de Oficiais, apenas existem 74 mulheres e
710 homens.
Os dados anteriores permitem depreender que figura nos quadros da PSP um baixo
efetivo de mulheres estando muito aquém de poder representar, de forma justa, as mulheres
da sociedade portuguesa e que existe uma grande percentagem de mulheres com funções
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
28
não operacionais justificada pelo facto da mulher, a partir de uma determinada altura da
vida, sentir necessidade de estabilização sendo o horário de expediente (das 9h00 às 17h30)
o de maior preferência.
Tem-se como certo que ainda nos dias de hoje, os conceitos “masculino” e
“feminino” estão diretamente associados a características, postura e comportamentos que
influenciam o modo como cada qual é tratado pela sociedade. A mulher está ligada ao juízo
do feminismo e o homem ao da masculinidade (Stewart & McDermott, 2004).
Denota-se assim ser crucial uma mudança nas conceções respeitantes ao papel da
Polícia. Isto permite que os próprios agentes, habituados a um contexto masculinizado e
inseridos numa organização com novos contornos de aceitação feminina se predisponham a
uma adaptação à nova realidade e apreendam características de cariz mais humanitário,
afastando-se progressivamente do estereótipo da masculinização (Christie, 1996 ; citado
por Almeida & Amâncio, 2008).
Objetivos
29
Objetivos
Na presente dissertação não se pretende um estudo generalizado a toda a
comunidade policial da PSP acerca das perceções de género visto ser inviável para no
tempo disposto para a sua elaboração. Pretende-se, tão somente, oferecer um progresso a
esta matéria focando este trabalho a um grupo particular desta força de segurança pública.
Assim, nesta linha de orientação, surge o interesse em fazer um estudo exploratório
qualitativo cujo objetivo geral se prende com a análise da perceção das questões de género
no trabalho de Polícia na PSP. Para o qual existem os seguintes objetivos específicos:
a) Analisar a perceção que eles (homens) têm do seu trabalho como polícias
e do trabalho desempenhado pelas colegas;
b) Analisar a perceção que elas (mulheres) têm do seu trabalho como
polícias e do trabalho desempenhado pelos colegas.
c) Comparar os resultados obtidos por tipo de Serviço
d) Analisar se a idade do/a agente induz a perceção que estes têm do
trabalho de polícia executado pelas/os colegas.
e) Perceber se a experiência profissional (anos de serviço), influencia a
perceção que os elementos policiais têm do seu trabalho executado
pelas/os colegas do sexo oposto.
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
30
Metodologia
Participantes
Para este estudo foram escolhidos, por conveniência, elementos policiais da
1ªDivisão do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP e futuros oficiais, alunos dos 5
anos de ensino, do Instituto de Ciências Policiais e Segurança Interna (ISCPSI).
Dos 80 elementos, 22 são do sexo feminino (27,5%), e 58 do sexo masculino
(72,5%). As idades dos participantes estão compreendidas entre os 20 e mais de 50, sendo
que o intervalo de idades mais frequente é entre os 20 e os 30 anos. As idades foram
agrupadas por intervalos por razões de garantir o anonimato dos participantes já que, a
amostra não só se faz representar por elementos de um grupo específico que per si não
envolve um grande aglomerado de elementos também, e por consequência, implica a que
estes elementos sejam associados facilmente por força da idade.
Ainda relativo ao aspeto sociodemográfico retiramos desta amostra de 80
participantes que 61 (76,3%) são solteiros, 17 (21,3%) se encontram á data do estudo
casados e apenas 2 (2,5%) classificam-se no estado civil como divorciados. Relativamente
ao número de filhos a discrepância é elevada visto a maioria, ou seja 63 do elementos
(78,8%) afirmar a inexistência de filhos. Podemos ainda ressalvar que no que respeita a
naturalidade dos participantes o maior número concentra-se no sul representando 26
participantes (32,5%), seguidamente evidencia-se o norte com uma representatividade de
22 participantes (27,5%) e com valores menos elevados temos centro que se iguala ao valor
de participantes provenientes do estrangeiro sendo 11 de cada (13,8%) e finalmente temos
os provenientes das ilhas fazendo um numero de 10 participantes (12,5%).
É necessário reforçar que aquando da análise demográfica deste estudo,
especificamente as questões de cariz profissional, que por este ter sido aplicado num núcleo
restrito da PSP como é o caso da 1ª Divisão do Comando Metropolitano de Lisboa existe
uma maior necessidade de assegurar a confidencialidade dos participantes, fator esse que
levou nos levou à preocupação de criar algumas estratégias para contornar essa questão.
Acima referimos a estratégia usada com a questão da “idade” no entanto, a “categoria” é
Metodologia
31
um outro aspeto de fácil associação à identidade do participante já que por norma,
cada esquadra se faz representar por apenas um oficial. No intuito de contornar esta questão
optámos por associar os cargos ao tipo de serviço. Ou seja, os 7 oficiais, os 5 chefes e os 20
agentes passaram a estar enquadrados no tipo de “serviço operacional” fazendo um total de
36 elementos. Já os 44 alunos do ISCPSI e os 5 agentes de secretaria foram enquadrados no
tipo de serviço “não operacional” representando assim uma amostra de 44 elementos.
Ainda no que concerne ao contexto profissional importa ressalvar que o tempo de
serviço médio dos participantes é de M = 78,29 meses (DP = 89,5) sendo 2 meses o tempo
mínimo e 432 meses o tempo máximo dos participantes.
Instrumento
Para o presente estudo havia a necessidade de elaborar um questionário que
permitisse avaliar a perceção de um contexto muito específico – diferenças de género e
forças de segurança pública. Os instrumentos que a literatura fornecia até ao momento não
eram suficientemente abrangentes ao ponto de atingir os objetivos propostos para esta
investigação. Sendo assim, numa primeira fase, enveredou-se por uma pesquisa acerca das
características do trabalho de Polícia para que, de forma explícita e organizada, fosse
possível, ordenar áreas individualizadas desse contexto. As componentes organizacional,
operacional e extrínseca foram as que mais se evidenciaram na literatura e que, por sua vez,
foram usadas como base de apoio à elaboração do questionário pretendido. Ao explorar
estas três componentes encontraram-se inúmeros aspetos que fazem parte do trabalho de
Polícia, que acarretam uma gestão de conflitos internos e até externos para a execução do
mesmo. Nesta linha de ideias fez sentido evidenciar aspetos como o uso de arma de fogo, a
exposição a situações potencialmente traumáticas, a pressão das chefias, a falta de apoio
judicial, a gestão trabalho-casa, a gestão das relações sociais e até a rotina.
De forma cautelosa, e estando as componentes bem definidas, procedeu-se então à
elaboração de questões abertas direcionando-as às características do trabalho de Polícia
sempre com o intuito de perceber a perceção que os homens têm o seu trabalho e do
trabalho desempenhado pelas colegas e destas em relação a eles. Depois de aplicado a um
grupo exploratório, como será explicado no procedimento com maior cuidado, e revisto foi
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
32
colocado online para que desta forma o acesso aos elementos policiais e a gestão do tempo
para responder ao mesmo fossem facilitados.
O questionário ( anexo a) organiza-se em três partes complementares: uma primeira
parte sociodemográfica que possibilitou recolher informações tais como, o sexo do sujeito,
a idade, a naturalidade, o estado civil e a validação da existência de filhos ou não. Uma
segunda parte de contextualização profissional onde obtemos informação acerca do serviço
em que está enquadrado, a divisão, a esquadra e os anos de experiência e finalmente, uma
terceira parte onde constam as questões abertas acerca do tema proposto neste estudo que
permitiu recolher informação sobre as perceções que cada elemento tem acerca do trabalho
de polícia e do mesmo desempenhado pelos(as) colegas do sexo oposto abrangendo, na sua
maioria, três grandes dimensões do trabalho de polícia sendo elas, a componente
organizacional, a componente operacional e os fatores extrínsecos como as relações sociais.
Sendo assim, esta última parte do questionário permitiu recolher informação acerca da
perceção, sempre na perspetiva das diferenças entre homens e mulheres, que cada elemento
policial tem dos seguintes parâmetros: o papel de uma força de segurança; as características
que evidencia no trabalho de polícia; a exposição a situações potencialmente traumáticas ou
emocionalmente exigentes; o trabalho de rotina; a questão do porte e uso de arma de fogo; a
organização interna da entidade policial; as relações sociais; a gestão família-trabalho e a
progressão de carreira.
Procedimento
No presente trabalho desenvolveu-se uma metodologia que nos permitisse “estudar,
compreender e explicar a situação atual do objeto de investigação” (Campo & Ferreira,
2009). Elaborou-se uma organização evidente e clara que se estrutura em três componentes
fulcrais: por um lado, e numa perspetiva mais teórica, a contextualização e revisão literária
a qual, fruto de uma vasta pesquisa dos estudos já apresentada. Num segundo momento foi
feita uma leitura pormenorizada das respostas dos 80 participantes para servir de suporte à
análise de conteúdo que se seguiu. Para este efeito é usado o MAXqda, programa de análise
de conteúdo assistida por computador cujo nome surge pela primeira vez em 2001 após
uma atualização constante dos programas anteriores. O uso do MAXqda neste trabalho
Metodologia
33
permitiu não só, clarificar e sintetizar a informação recolhida como também a categoriza-la
para ser possível uma posterior análise estatística.
Este estudo exploratório, sendo de cariz qualitativo, foi aprovado pela Comissão
Cientifica do Instituto Superior de Ciências da saúde Egas Moniz visto terem sido
correspondidas todas as exigência para o efeito.
Para dar continuidade ao processo foi elaborada uma carta com o pedido formal de
autorização endereçada ao Comandante da 1ª Divisão do Comando Metropolitano de
Lisboa da qual foi obtida resposta a consentir o estudo. O pedido de autorização à direção
do ISCPSI foi feito via eletrónica endereçado ao gabinete do Diretor do qual obtivemos
resposta com significativa celeridade.
Após a validação e certificação de que todo o processo que assegura o rigor ético de
deontológico desta investigação estar confirmado, procedeu-se à aplicação de um possível
questionário, de forma de exploratória, a 5 elementos policiais com intuito de validar a
clareza das questões visto serem de resposta aberta. As questões alteradas derivaram de
críticas relativas à falta de percetibilidade das mesmas. Especificando: A pergunta acerca
dos aspetos que consideravam ser relevantes no seu trabalho inicialmente designava-se por
“ Como perceciona o trabalho de Polícia” e a alteração resultou em “Quais as
características que considera mais importantes no trabalho de Polícia?”. A outra pergunta
na qual os participantes sentiram dificuldade passou pela questão da rotina onde neste
questionário piloto constava como “ Como perceciona o trabalho de rotina?” e resultou em
“Quais os aspetos que melhor definem o trabalho de rotina?”.
Após críticas construtivas e reformulações, oriundas de elementos policiais que se
propuseram a responder ao questionário piloto e analisar as perguntas tendo em conta os
seus objetivos, surge então o questionário final (Anexo A) que depois de revisto e aprovado
pela Orientadora foi colocado online para posteriormente ser enviado e respondido pelos
elementos da PSP e alunos do ISCPSI.
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
34
No tocante à estrutura do trabalho, esta compreende uma estrutura clássica de uma
dissertação em Psicologia – “Introdução, estado da arte, objetivos, resultados, discussão e
Conclusão, em favor da simplicidade, clareza e fundamentação metodológica”. (Espírito,
2010).
Resultados
35
Resultados
Dos 80 questionários obtidos neste estudo foi feita, numa fase inicial, uma pré-
seleção das questões que iam de encontro às componentes que serviram de suporte para a
elaboração dos mesmos e por sua vez, que permitiriam corresponder aos objetivos
propostos.
Tabela 1
Perguntas do questionário organizadas por áreas do trabalho de Polícia
Componentes do trabalho de polícia Perguntas do questionário
Componente operacional 1. Considera, no decorrer das suas funções de
polícia, estar exposto/a a situações
potencialmente traumáticas ou emocionalmente
exigentes?
a. Exemplifique
b. Diferenças entre homens e mulheres
2. Quais os aspetos que melhor definem o trabalho
de rotina?
a. Aspetos positivos e negativos
b. Diferenças entre homens e mulheres
3. Como vê a questão do porte e uso de arma de
fogo?
a. Aspetos positivos e negativos
b. Diferenças entre homens e mulheres.
Componente Organizacional 1. Quais os aspetos do funcionamento interno da
instituição que apresentam um impacto negativo
e/ou positivo na realização do trabalho de policia?
a. Considera haver diferenças entre homens
e mulheres?
2. Homens e mulheres têm as mesmas
oportunidades de ascensão de carreira?
a. Especifique.
Componente extrínseca 1. Como gere as relações sociais (amigos,
conhecidos)?
a. Denota diferenças e semelhanças entre
homens e mulheres?
2. O que tem a dizer acerca da gestão trabalho –
casa?
a. Semelhanças e/ ou diferenças entre
homens e mulheres.
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
36
Feita esta análise de conteúdo prosseguiu-se, com a ajuda do programa MAX-QDA
já referido no procedimento, à organização e sistematização do conteúdo das respostas em
categorias para uma possível análise estatística numa fase posterior. Sendo que as categoria
que vincaram no final de toda a análise representam áreas específicas do trabalho de
Polícia, sempre referentes à perceção dos homens e das mulheres, como podemos ver nas
tabelas que se seguem.
Para a componente Operacional, e tendo em conta que este estudo pretende dar
ênfase às dissemelhanças de género, foi necessário criar as categorias distinguindo sempre
o sexo, para que desta forma fosse possível obter a perceção dos participantes relativa ao
seu trabalho e a perceção destes em relação ao trabalho dos/as colegas do sexo oposto.
Particularizando, nesta componente as categorias criadas representaram
essencialmente o uso da arma de fogo e a gestão do trabalho de rotina, fazendo-se
reproduzir na tabela como “uso de arma de fogo para a mulher”, “uso de arma de fogo para
o homem”, “Gestão do trabalho de rotina para a mulher” e “gestão do trabalho de rotina
para o homem”. Consoante estas categorias as resposta foram difundidas numa escala
análoga entre “ Maior capacidade”, “Igual capacidade” e “Menor capacidade”
perspetivadas sempre em relação ao sexo oposto.
Tabela 2
Respostas dos participantes organizadas para a componente operacional.
Resultados
37
Componente Operacional
Categorias
Valores
(sempre relativos ao
sexo oposto)
Excertos de respostas
Utilização de arma de
fogo em serviço pelos
homens
Utilização de arma de
fogo em serviço pelas
mulheres
1- Maior
utilização
2- Igual
utilização
3- Menor
utilização
“O homem é mais propício ao uso
de uma arma, é algo inato”(Q12)
“Os homens são mais propensos a
utiliza-las”(Q50)
“Regra geral, os homens sentem-se
mais à vontade no recurso à arma de
fogo.”(Q68)
“Não. Penso que qualquer um, sexo
feminino ou masculino, alto ou baixo,
branco ou preto, conseguirá atingir uma boa
relação com a arma de fogo.”(Q47)
“Acredito que os homens possam ter
um maior à vontade no porte e uso de arma
de fogo.” (Q32)
“As mulheres tendem em recorrer
menos vezes à arma de fogo” (Q6)
“Penso que a instrução de tiro para
mulheres na escola e durante a vida policial
devia de ser em pelo menos o dobro”(Q12)
“Não conheço nenhuma mulher que
tenha usado a arma de fogo”(Q14)
“A perceção que tenho é que as
mulheres têm medo da arma e muitas
dificuldades a fazer fogo”(Q24)
“As mulheres só mesmo em caso
absoluta necessidade” (Q50)
Capacidade de
gestão em situações
traumáticas pelos
homens
Capacidade de gestão
situações traumáticas
em serviço pelas
mulheres
1- Maior
capacidade
2- Igual
capacidade
3- Menor
capacidade
“Os homens gerem com mais facilidade”
(Q5)
“Penso que os homens consegue ser mais
firmes psicologicamente” (Q8)
“O homem gere ligeiramente melhor o
stress” (Q13)
“Os homens conseguem ser mais "frios" ao
lidar com os sentimentos” (Q40)
“As mulheres aguentam menos estas
coisas” (Q4)
“As mulheres são mais sensíveis a este tipo
de situações” (Q5)
“Ainda se denota da parte das mulheres
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
38
Relativo à componente Organizacional, o ponto fulcral destacou-se na questão da ascensão
à carreira e funcionamento interno da Instituição particularizada a cada um dos sexo
organizando as respostas por “maior número de privilégios”, ”igual número de privilégios”
e “menor número de privilégios” mais uma vez com comparação ao sexo oposto.
uma dificuldade acrescida” (Q18)
“É notório que as mulheres são mais
resguardadas” (Q27)
Capacidade de
gerir a rotina para os
homens
Capacidade de
gerir a rotina para as
mulheres
1- Maior
capacidade
2- Igual
capacidade
3- Menor
capacidade
“Penso que as mulheres têm maior
capacidade para gestão das rotinas”.(Q45)
“Não existem grandes diferenças”.
(Q46)
“As mulheres conseguem
desempenhar com mais facilidade
Trabalho de rotina”. (Q57)
Componente Organizacional
Categorias
Valores
(sempre relativos ao
sexo oposto)
Excertos de respostas
Ascensão na carreira nos
homens
Ascensão da carreira nas
mulheres
1- Maior nº de
privilégios
2- Igual nº de
privilégios
3- Menor nº de
privilégios
“A oportunidade está aberta para ambos,
equitativamente”. (Q62)
“As mulheres, apesar de não parecer, certas
coisas são facilitadas”. (Q3)
“As mulheres tendem em ocupar com mais
facilidade cargos de secretaria devido aos
horários que isso lhes proporciona”. (Q6)
“Verifica-se claramente uma descriminação
positiva”. (Q10)
“Penso que os homens continuam a ter uma
maior facilidade e se assim não fosse o
instituto teria muito mais mulheres e a
hierarquia”. (Q18)
Funcionamento interno da
Instituição para os
homens
Funcionamento interno da
instituição para as
mulheres
4- Maior nº de
privilégios
5- Igual nº de
privilégios
Menor nº de
privilégios
“As mulheres possuem uma capacidade de
lidar com matérias administrativas de forma
mais metódica e os homens de fora mais
pragmática.”(Q2)
“As mulheres têm mais facilidade em
perguntar as coisas quando não sabem.” (Q3)
“Os homens são muitos mais competitivos que
as mulheres.” (Q6)
“O facto de as mulheres estarem em minoria
verifica-se uma clara descriminação positiva
para com as mesmas, sendo preferidas para
certo tipo de trabalhos menos stressantes e
mais ambicionados.” (Q11)
“Depende das pessoas e não do sexo.” (Q15)
Resultados
39
Tabela 3
Respostas dos participantes para a componente organizacional
Relativamente à componente extrínseca do trabalho de polícia os pontos fulcrais passaram
pela gestão das relações sociais e a gestão trabalho-casa. A organização das respostas
difundiu-se numa escala entre “maior capacidade de gestão”, “igual capacidade de gestão”
e “menor capacidade de gestão” relativamente ao sexo oposto.
Tabela 4
Respostas dos participantes organizadas para a componente extrínseca
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
40
Feita a análise de conteúdo e a categorização do mesmo foi altura de analisar cada
objetivo em particular através de uma análise estatística no SPSS.
Dos objetivos propostos nesta investigação, a preocupação prendeu-s
e sempre com a análise das perceções dos participantes em relação ao género. Para
realizar um estudo sobre as perceções relativas ao trabalho de polícia tendo presente o
impacto da variável género recorreu-se ao procedimento estatístico de Multivariate
Correspondence Analysis (MCA). Assim, o conjunto de categorias obtidas através da
Componente Extrínseca
Categorias
Valores
(sempre relativos ao
sexo oposto)
Excertos de respostas
Gestão das relações socias
(amigos/família/comunidade) nos
homens
Gestão das relações socias
(amigos/família/comunidade) nas
mulheres
1- Maior
capacidade
2- Igual
capacidade
3- Menor
capacidade e
mulheres
“Talvez as mulheres sejam mais
capazes de estabelecer laços
profissionais mais próximos da
comunidade”. (Q42)
“As mulheres são mais
especializadas em acompanhamento
à comunidade”. (Q45)
“Na minha opinião a relação entre
as mulheres e a comunidade é
significativamente melhor”. (Q55)
“Não há diferenças se o contexto
estiver bem definido”.(Q56)
“Normalmente, sem restrições”.
(Q44)
“De modo que considero ser
saudável”. (Q1)
“De igual modo que os outros”.
(Q17)
Gestão do trabalho-casa nos
homens
Gestão trabalho casa nas mulheres
1- Maior
capacidade
2- Igual
capacidade
3- Menor
capacidade
“Às vezes é difícil ter tempo e
paciência para a família (Q5)
“As mulheres têm por norma mais
dificuldade”. (Q5)
“Nenhuma. Depende das pessoas e
não do sexo”. (Q14)
“É mais complicado para a mulher”
(Q19).
Resultados
41
técnica de análise de conteúdo foram analisadas através deste procedimento com o objetivo
de obter perfis relativos à perceção dos aspetos que definem o trabalho de polícia pelas
mulheres e o mesmo trabalho executado pelos homens.
Na análise deste estudo passa-se a trabalhar com duas dimensões. Como tal
podemos observar na tabela , que se segue , a primeira dimensão foi denominada por
“Dimensão intrínseca” ao trabalho de Polícia que engloba, de uma maneira geral, as
questões do porte e uso de arma de fogo, o trabalho de rotina, as relações sociais, o
funcionamento interno da instituição e a ascensão da carreira. A outra dimensão dignada
por “Dimensão extrínseca” seleciona essencialmente a exposição a situações traumáticas e
a gestão trabalho-casa.
Tabela 5
Dimensões em estudo
Dimensões Média
Dimensão
intrínseca
Dimensão
extrínseca
Uso arma H ,396 ,015 ,205
Porte arma M ,266 ,188 ,227
Porte arma H ,240 ,241 ,241
Uso arma M ,346 ,026 ,186
Sit. Traumáticas
M ,238 ,409 ,323
Sit. Traumáticas
H ,239 ,411 ,325
T. rotina M ,330 ,147 ,238
T. rotina H ,330 ,147 ,238
Trabalho-Casa H ,153 ,330 ,242
Trabalho-Casa M ,097 ,383 ,240
F. interno H ,344 ,166 ,255
F. interno M ,405 ,115 ,260
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
42
Legenda:
Asc. – Ascensão
F. – Funcionamento
G. – Gestão
H – Homem
M – Mulher
Rel. – Relações
Sit. - Situações
T – Trabalho
Correspondendo ao objetivo primordial deste estudo e analisando o diagrama de
dispersão abaixo, acerca das diferenças da perceção que os homens e mulheres tem do
trabalho desempenhado pelas/os colegas, observa-se que a proximidade dos géneros
(“masculino” e “feminino”) deduz a que ambos tenham perceções muito semelhantes.
Asc. Carreira H ,306 ,164 ,235
Asc. Carreira M ,301 ,180 ,240
G.Rel.Sociais H ,341 ,159 ,250
G. Rel. Sociais M ,234 ,110 ,172
% 44,859 40,164 42,512
Resultados
43
Gráfico de dispersão 1
Configuração topológica das variáveis em estudo considerando o género como variável
suplementar
Particularizando cada categoria ir-se-á seguidamente, de forma organizada, explanar
os resultados de maior relevo.
No que concerne às categorias abrangidas pela Dimensão extrínseca começa-se por
fazer referência à capacidade de gestão em situações traumáticas ou emocionalmente
exigentes a que os elementos policiais estão diariamente sujeitos. Sendo assim, e como
demonstram os resultados, a maioria dos participantes (N=41) assumem uma igualdade na
capacidade de gestão sendo que, denota-se no facto de alguns participantes ( N= 27)
assumirem uma maior capacidade nos homens para lidar com situações tais como uma
retirada de menores, violência extrema ou presenças em tribunal que são, segundo os estes
as situações mais desgastantes psicologicamente (“As mulheres aguentam menos estas
Dim
ensã
o e
xtr
ínse
ca
Dimensão Intrínseca
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
44
coisas” (Q4); “As mulheres são mais sensíveis a este tipo de situações” (Q5); “ainda se
denota da parte das mulheres uma dificuldade acrescida” (Q18);É notório que as mulheres
são mais resguardadas” (Q27); “Os homens gerem com mais facilidade” (Q5); “Penso que
os homens consegue ser mais firmes psicologicamente” (Q8); “O homem gere ligeiramente
melhor o stress” (Q13); “Os homens conseguem ser mais "frios" ao lidar com os
sentimentos” (Q40))
Relativamente ao funcionamento interno da Instituição da Polícia os valores
continuam muito próximos em ambos os sexos destacando-se a igualdade de privilégios
assumida por 61 participantes (“Não considero que existam diferenças neste aspeto”.(Q64);
“Não. Depende das pessoas e não do sexo”. (Q14)) ressalvando 12 participantes que
arrogam que as mulheres têm mais privilégios que os homens (“As mulheres por vezes são
tratadas de maneira diferente, o que não devia acontecer”. (Q45); “ as mulheres são mais
protegidas sem duvida”. (Q79); “Facilidades para as mulheres em ser inseridas em certos
serviços”. (Q73)).
Na questão do uso da arma de fogo apesar de 47 participantes relatarem que usam
com igual frequência alegando relatos semelhantes a estes: “Não. Penso que qualquer um,
sexo feminino ou masculino, alto ou baixo, branco ou preto, conseguirá atingir uma boa
relação com a arma de fogo.”(Q47). Ainda existem 22 participantes que assumem que as
mulheres usam com menos frequência a arma de fogo em relação aos homens (“O homem é
mais propício ao uso de uma arma, é algo inato”(Q12;“Os homens são mais propensos a
utiliza-las”(Q5); “Regra geral, os homens sentem-se mais à vontade no recurso à arma de
fogo.”(Q68); “Acredito que os homens possam ter um maior à vontade no porte e uso de
arma de fog.” (Q32)). É necessário ainda referir que os resultados do uso de arma e o porte
da mesma são diferentes, sendo que na segunda existem mais participantes a igualar ambos
os sexos (N=49) e justifica-se que estes sejam distintos porque “Porte é uma coisa e uso é
outra.... Posso portar uma arma uma vida e nunca fazer uso da mesma em serviço” (Q8).
No que concerne ao trabalho de rotina, 57 dos 80 participantes alegam ser igual a
capacidade de gestão em ambos os sexos destacando-se as seguintes resposta “Não existem
grandes diferenças”. (Q46). No entanto, 13 participantes assumem como sendo mais fácil
para as mulheres esta gestão (“Penso que as mulheres têm maior capacidade para gestão das
Resultados
45
rotinas”.(Q45); “As mulheres conseguem desempenhar com mais facilidade trabalho de
rotina”. (Q57)).
Nas relações com a comunidade é notável que na sua maioria (N= 54) os
participantes assumem uma igualdade entre sexos ressalvando 24 participantes que
consideram que as mulheres têm uma maior capacidade de relação com a comunidade
(“Talvez as mulheres sejam mais capazes de estabelecer laços profissionais mais próximos
da comunidade”. (Q42); “As mulheres são mais especializadas em acompanhamento à
comunidade”. (Q45); “Na minha opinião a relação entre as mulheres e a comunidade é
significativamente melhor”. (Q55)).
Ainda falando em privilégios falta salientar a questão da ascensão à carreira onde a
única pequena diferença é o facto de os homens considerarem que a probabilidade de
progressão na carreira é muito diminuta enquanto as mulheres assumem que esta
progressão profissional acontece de forma mais natural e até célere no entanto, os valores
estão muito próximos (“A ascensão na carreira é transparente e as exigências são
padronizadas e proporcionais para ambos os sexos” (Q2); “Existe essa igualdade de
oportunidades de ascender na carreira entre homens e mulheres, mas, em minha opinião,
apenas porque a lei o impõe” (Q17); “Sim, atualmente sim visto que ao nível da carreira de
oficiais, quando sobe um elemento de um curso, todos os restantes elementos do curso
sobem, não havendo assim discriminação”(Q28)).
No gráfico de dispersão abaixo é possível fazer uma análise generalizada e
topológica das variáveis em estudo considerando o tempo de serviço, idade e tipo de
trabalho como variáveis suplementares. Não descorando que a análise destas variáveis
suplementares correspondem aos objetivos c), d) e e) propostos inicialmente neste estudo.
Sendo que, tanto na tentativa de comparar os resultados obtidos por tipo de serviço
(objetivo c)), como ao analisar se a idade do/a agente tem influencia na perceção que os
participantes homens têm do trabalho de polícia executado pelas colegas e vice-versa
(objetivo d)) e até ao tentar perceber se a experiência profissional (anos de serviço), afeta a
perceção que os agentes têm do seu trabalho executado pelas/os colegas do sexo oposto
aquilo que se conclui é que, todas as variáveis apresentam valores muito semelhantes o que
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
46
Co
mp
on
ente
Ex
trín
seca
Gráfico 2 : Configuração topológica das variáveis em estudo considerando a
divisão, idade e tipo de trabalho como variáveis suplementares
Componente Intrínseca
Dimensão Intrínseca
induz a que não hajam resultados significativos e por sua vez, a perceção dos homens e das
mulheres sejam muito semelhantes.
Gráfico de dispersão 2
Configuração topológica das variáveis em estudo considerando a divisão, idade e tipo de trabalho como variáveis
suplementares
Discussão
47
Discussão
A análise da perceção das questões de género em contexto português,
especificamente, na PSP traduz-se, tal como foi referido no início deste trabalho, um estudo
exploratório e por isso a escassez de recursos comparativos é notória. No entanto, preceder-
se-á seguidamente a uma análise mais teórica dos resultados obtidos organizada consoante
os objetivos propostos inicialmente.
Relativo à perceção os agentes do sexo masculino têm em relação ao seu trabalho
como polícias e ao trabalho desempenhado pelas colegas (objetivo a)) e como estas,
percecionam o trabalho desempenhado pelas próprias e o trabalho executado pelos colegas
(objetivo b)) é necessário particularizar as várias características do trabalho de polícia,
descritas acima nesta dissertação, a fim de melhor explanar o conteúdo que retiramos de
cada.
Sendo assim, no que concerne à capacidade de gestão em situações traumáticas ou
emocionalmente exigentes a que os participantes, por força da sua profissão, estão
constantemente sujeitos, a maioria assume que homens e mulheres apresentam uma
igualdade na capacidade de gestão destas situações. Esta questão contraria aquilo que
consta na literatura em que estudos assumem que as mulheres são muito mais sensíveis,
subtis e emotivas que os homens (Charles, 1982; Berg & Budnick, 1986)
Relativamente ao funcionamento interno da Instituição da polícia os valores
continuam muito próximos e à ascensão da carreira a perceção que eles e elas têm em
relação a si e aos colegas do sexo oposto generaliza-se de forma muito semelhante,
assumindo na sua maioria que os privilégios são iguais para ambos. A particularidade desta
questão diz respeito ao facto dos homens considerarem que a probabilidade de progressão
na carreira é muito diminuta enquanto as mulheres assumem que esta progressão
profissional acontece de forma mais natural e até célere no entanto, os valores estão muito
próximos A literatura revela que a progressão na carreira per si revela-se particularmente
morosa e difícil sendo que, para as mulheres esta dificuldade acresce (Clara Vasconcelos,
2000; Shields, 1988 citado por Ribeiro, 2010).
Na questão do uso da arma de fogo, mais uma vez, a maioria revela que ambos os
sexos usam com semelhante frequência. Esta questão está intrínseca quando na literatura
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
48
faz referência ao facto dos elementos policiais terem sempre presente, inevitavelmente nas
suas vidas, a “irresolúvel ambiguidade de estatutos socioprofissionais” (Durão, 2004, pp.
76). Em contradição a isto, a literatura evidencia, especificamente num estudo feito por
Sacramento (2007) onde nas entrevistas a elementos policiais os homens evidenciavam a
fragilidade das mulheres no desempenho desta função, em específico, ressalvando que elas
não deveriam usar arma de fogo devido aos conflitos internos que esse comportamento
acarreta.
No que concerne ao trabalho de rotina, os participantes assemelham as suas
perceções assumindo uma igualdade na capacidade de gestão em ambos os sexos. No
entanto, assume-se igualmente uma pequena tendência para que as mulheres desempenham
tarefas menos operacionais visto que, a partir de uma determinada altura da vida, irão sentir
necessidade de estabilização sendo o horário de expediente (das 9h00 às 17h30) o de maior
preferência o que induz a concluir que tenham uma maior facilidade em gerir as suas vidas
com a rotina.
Nas relações sociais curiosamente, e ao contrário daquilo que a literatura evidencia,
a maioria dos participantes assumiu mais uma vez a igualdade de gestão para ambos os
sexos. Esta questão da relações sociais é controversa para os elementos policiais pois,
devido ao conservadorismo moral e social a que estão sujeitos na sua profissão, denotam
uma dificuldade acrescida do estabelecimento destas relações (Bretas e Poncioni, 1999). No
entanto, a literatura assume ainda, tal como já foi referido ao longo deste trabalho, que as
mulheres tende a uma maior facilidade na comunicação com o cidadão e na capacidade de
estabelecer a diferença entre o elemento policial que é e a mulher e cidadã que se manifesta
ser (Ribeiro, 2010).
Não descorando, a gestão trabalho-casa, que é caracterizada pela maioria dos
estudos como mais dificultado para a mulher polícia (Sacramento, 2007; Frone et al.,1992)
assume neste estudo um patamar de igualdade para ambos os sexos. Inevitavelmente a
mulher, ainda nos dias de hoje, está muito mais ligada ao lar em comparação ao homem. A
dimensão de diferenciação entre os sexos, que opõe a dominância à submissão, associam o
trabalho ao sexo masculino e a família ao sexo feminino (Amâncio, 1994). Sendo que a
conciliação do trabalho e das tarefas domésticas é uma dificuldade com que esta, por ser
estigmatizada culturalmente como a responsável pela casa, quem prepara as refeições, e
Discussão
49
trata dos filhos , se depara, podendo vir a refletir-se no desempenho profissional (Stratton,
1986)
Explicados os dois primeiros, e centrais, objetivos deste estudo precede-se
ininterruptamente aos objetivos que visam variáveis suplementares como é o caso da idade,
tempo de serviço e tipo de serviço.
Quando foi proposto comparar os resultados obtidos por tipo de Serviço (objetivo
c)) os valores entre serviço operacional e serviço não operacional encontravam-se muito
próximos o que induz a que se conclua que a perceção dos elementos policiais não é
influenciada pelo tipo de serviço. Apesar de que estudos retratam que os homens assumem
que as colegas deveriam estar enquadradas em equipas que na sociedade portuguesa se
assemelhariam ao MIIP (Harrington et al., 2001), devido à particularidade do serviço pois
atua sobretudo em situações que requerem uma maior sensibilidade e capacidade de
empatia para com o cidadão direcionando-se mais para a perspetiva da vítima e à
sensibilização da prevenção do crime. Fala-se portanto de situações de acompanhamentos
pós-vitimação, retiradas de menores ou sensibilização, particularmente a idosos ou jovens.
Considerando que as mulheres, pela sua natureza, são reconhecidas por utilizarem um estilo
mais baseado nas competências comunicacionais, na sensibilidade e afetividade
(Harrington et al., 2001; Lonsway, Moore, Harrington, Smeal & Spillar, 2002) estarão
mais aptas a enquadrar estas equipas de proximidade.
Ao analisar se a idade do/a agente induz a perceção que os agentes têm do trabalho
de polícia executado pelas/os colegas as semelhanças voltam a ser evidentes ao contrário
daquilo que seria esperado, pois é tendencioso que nas diferentes gerações os mais jovens
enfatizem aspetos de maior conhecimento e abertura para situações que, anteriormente
seriam, moralmente perspetivadas numa só linha de orientação como é o caso da presença,
aceitação e utilidade das mulheres na polícia (Afonso e Leal, 2007).
Quanto à questão da experiência profissional (anos de serviço) influenciar ou não a
perceção dos agentes, os resultados denotaram-se inconclusivos já que, para garantir a
confidencialidade dos participantes o tempo de serviço foi colocado consoante o número de
meses em que estavam no ativo e estes valores apresentaram-se muito díspares. Contudo a
escassez de estudos publicados acerca desta questão foi tão notória que não foi possível
reunir sustentação teórica para este objetivo.
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
50
Apesar da grande parte dos estudos realizados até ao momento, acerca das
diferenças entre géneros no contexto policial, indicarem que existem diferenças
significativas e desfavoráveis para a mulher (Vega & Silverman, 1982, citado por Brown &
Campbell, 1994; Balkin, 1988; Almeida & Amâncio,2008) este estudo contorna todas essas
investigações, estando muito mais próximo dos resultados de investigações estrangeiras
(Block & Anderson, 1974; Charles & Parsons, 1978; citados por Brown & Campbell, 1994;
Charles, 1982) sendo que, realça a posição das mulheres, equitativamente aos homens,
apresentando de forma análoga e irrevogável, a capacidade de desempenhar, talqualmente,
o cargo policial.
Conclusão
51
Conclusão
Cumpre-nos findar esta investigação dando sentido aos objetivos e hipóteses
inicialmente propostos, condensando o presente trabalho. Afirma-se assim, de uma maneira
geral, ter sido alcançado o foco desta dissertação, apesar de a amostra não ser representativa
dos elementos da PSP no seu todo. No entanto, este estudo vem assumir uma tendência
para generalizar as questões que outrora estariam bem vincadas em cada sexo. Ou seja,
cada vez mais se denota a tão batalhada igualdade de género.
É crucial referir que esta aceitação das mulheres num contexto tradicionalmente
masculino terá nela submetida uma série de fatores, fruto do desenvolvimento psicossocial
de uma sociedade que, outrora, estava confinada a uma margem de liberdade tão diminuta
que se revelou numa árdua e ténue capacidade de concordância a esta nova realidade. A
verdade é que, e contrariando tudo o que vem do pedestal basilar da nossa sociedade, a
mulher deixa de ser vista como o sexo fraco e passa a ser colega de trabalho num contexto
em que o risco é de tal forma elevado que a confiança depositada nesta passa a ser essencial
pela salvaguarda da integridade física.
A inteleção que fazemos deste estudo é notoriamente positiva ainda que o percurso
tenha sofrido algumas contingências e vicissitudes, corolários naturais neste tipo de
investigação. Uma vez que as perguntas eram de resposta livre, as respostas tendiam a ser
extensas o que levava, segundo alguns participantes, ao cansaço e, não menos comum, há
tendência para descontextualizar o assunto da questão, divagando em aspetos que
transcendiam o objetivo em estudo. Outro aspeto a ressalvar diz respeito a algumas
dificuldades de compreensão no que concerne ao conteúdo das perguntas como é o caso da
questão acerca do funcionamento interno da Instituição que não era explícita o suficiente
para que todos os participantes entendessem o seu intuito. Surge-nos ainda como
importante mencionar que, o facto de ser um estudo qualitativo, implicando assim que haja
uma análise de conteúdo da informação recolhida, é tendencioso e inevitável a que a
interpretação das respostas conseguidas, mesmo que trabalhadas ao pormenor, tenha
sempre incutido um cariz pessoal. E, finalmente, pelo facto dos participantes deste estudo
representar em um grupo muito restrito dos elementos da PSP e por ser de fácil associação
a identidade dos mesmos, foi necessário criar estratégias para contornar esta questão. Sendo
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
52
assim, o cargo desempenhado por cada participante foi distribuído em dois tipos de serviço.
Ou seja, os agentes, da patrulha ou das equipas de proximidade, os chefes e os oficiais com
cargos de comando passaram a estar enquadrados no tipo de trabalho operacional. Os
cadetes, aspirantes e agentes com trabalho de secretaria foram enquadrados no trabalho não
operacional. Para garantir, ainda com mais precisão, esta questão da confidencialidade as
idades foram agrupadas por intervalos de 10 anos.
Como foi possível perceber, ao longo das pesquisas para a elaboração deste estudo,
a literatura existente acerca da perceção das questões de género na Polícia, em contexto
nacional, revelou-se escassa o que induz à pertinência da realização de mais estudos,
inclusivamente de um que suporte uma amostra extensa o suficiente que nos permitisse
obter resultados representativos da PSP.
Para findar, neste estudo denota-se que a evolução dos tempos permitiu também
uma evolução de mentalidades e aquela que outrora estaria submetida a um papel
secundário, expugnou de facto, e saiu-se vitoriosa nesta contenda de géneros conquistando
autonomia, respeito e individualidade.
Conclusão
53
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Anexo A
Questionário
Perceção das questões de género em contexto policial:
Um estudo exploratório na Polícia de Segurança Pública
Este estudo exploratório qualitativo insere-se no âmbito da dissertação do Mestrado
em Psicologia Forense e Criminal sendo dirigido aos elementos policiais da Policia de
Segurança Pública (designadamente PSP), cujo objetivo geral se prende por analisar a
perceção das diferenças entre homens e mulheres no trabalho de polícia.
Perfil Sociodemográfico
Sexo □ Masculino
□ Feminino
Idade: ________
Naturalidade: __________________
Estado civil: □ Solteiro/a
□ Casado/a
□ Divorciado/a
□ Viúvo/a
Filhos □ Sim Nº ________ Idades: ____ ____ ____ ____
□ Não
Contexto profissional:
Classe: □ Agente
□ Chefe
□ Oficial
Tipo de serviço atual: ________________________________
Tempo de serviço: _____________________________
Divisão e Esquadra: ____________________ _____________________
1. O que é para si uma força de segurança?
a. Aspetos positivos e negativos:
2. Quais as características que considera mais importantes no trabalho de policia?
a. Diferenças entre homens e mulheres.
3. Considera, no decorrer das suas funções de polícia, estar exposto/a a situações
potencialmente traumáticas ou emocionalmente exigentes?
a. Exemplifique
b. Diferenças entre homens e mulheres
4. Quais os aspetos que melhor definem o trabalho de rotina?
a. Aspetos positivos e negativos
b. Diferenças entre homens e mulheres
5. Como vê a questão do porte e uso de arma de fogo?
a. Aspetos positivos e negativos
b. Diferenças entre homens e mulheres.
6. Quais os aspetos do funcionamento interno da instituição que apresentam um impacto
negativo e/ou positivo na realização do trabalho de policia?
a. Considera haver diferenças entre homens e mulheres?
7. Como policia, quais os aspetos que melhor definem a sua relação com a comunidade?
a. Diferenças entre homens e mulheres?
8. Como gere as relações sociais (amigos, conhecidos)?
a. Denota diferenças e semelhanças entre homens e mulheres?
9. O que tem a dizer acerca da gestão trabalho – casa?
a. Semelhanças e/ ou diferenças entre homens e mulheres.
10. Homens e mulheres têm as mesmas oportunidades de ascensão de carreira?
a. Especifique.
Obrigado pela sua atenção
Anexo B
Monte de Caparica, 2013
Exmo.(a) Sr.(a),
No âmbito da Unidade Curricular do Seminário de Dissertação do Instituto Superior de
Ciências da Saúde Egas Moniz, sob a orientação da Professora Doutora Cristina Soeiro,
solicita-se autorização para a participação num estudo exploratório qualitativo acerca da
Perceção das questões de género em contexto policial: Um estudo exploratório na Polícia
de Segurança Pública na Policia de Segurança Pública (PSP) com o objetivo geral de
analisar a perceção das diferenças entre homens e mulheres no trabalho de polícia na
Polícia Segurança Pública (designadamente PSP).
A participação neste estudo é voluntária. A sua não participação não lhe
trará qualquer prejuízo.
Este estudo pode trazer benefícios tais como o enriquecimento de
conhecimentos da área de formação e o alcançar mais um desafio nesta área de
interesse que permitirá concluir uma nova etapa académica.
A informação recolhida destina-se unicamente a tratamento estatístico e/ou
publicação e será tratada pelo orientador e/ou pelos seus mandatados. A sua
recolha é anónima e confidencial.
(Riscar o que não interessa)
ACEITO/NÃO ACEITO participar neste estudo, confirmando que fui
esclarecido sobre as condições do mesmo e que não tenho dúvidas.
_________________________________________________________________
(Assinatura do participante ou, no caso de menores, do pai/mãe ou tutor legal)
_________________________________________________________________
(Assinatura do(s) orientador(es))