intitulados títulos de pedro proença

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Trata-se de uma mostra onde a composição tipográfica é abordada numa perspectiva “pitoresca” e literária, na intermitente tradição que vai dos livros renascentistas aos cartazes e panfletos das vanguardas do século passado. As obras presentes nesta exposição são complementadas com um livro que as documenta de uma forma mais privada e manuseável – porque a digestão destas tipografias assim o pedem, como que imaginando um destino romanesco e lírico que se perde nos meandros de uma propaganda dilacerada por si própria e pela nossa vontade de desejar e rir.

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PedroProença

intitulados

TÍTULOS

PedroProença

intituladosTÍTULOS

ASSÍRIO & ALVIM

PedroProença

intituladosTÍTULOS

ASSÍRIO & ALVIM

TEXTO INSTITUCIONAL

Perdoe-me desde já o benévolo leitor a ousadia da incursão de um soi-di-sant modesto artista no domínio celerado e rigoroso das cousas typographicas. Aminha relativa aversão, ou mesmo irritação, ao que hoje se chama, em mercan-til anglicismo, design gráfico, sempre se deveu ao rigor das ferramentas, ao ladoinsonso dos “tipos”, à trabalhosa relação com as “gráficas”, às partidas que mepregaram nas impressões e no tratamento das imagens, aos desaparecimentos de ori-ginais e outros assuntos que não me acodem por ora. No entanto sempre gosteide máquinas de escrever, da composição manual dos tipos, das caligrafias rebus-cadas, dos livros iluminados e dos acidentes que o tempo faz nos manuscritos:manchas, carimbos, anotações, rasgões e outras desordens que por vezes pertur-bam a legibilidade. Cada vez mais acho que o livro, objecto de devoção algo mo-ribundo (embora nobre e honroso!), deve ser encarado como um caderno, e que afunção recriativa do leitor é a de rabiscar, contrapor, achincalhar, precisar, obs-curecer, iluminar, “traduzir”, sublinhar, acrescentar, cortar, apagar, etc. Es-tas atitudes de remontagem terão as suas virtudes se não vierem no sentido deempobrecimento e espartilhamento de texto. Não tenho a pretensão de desautorizaro que é do autor, ou de celebrar alternativamente a recensão comezinha e as ba-talhas recepcionistas dos estafados exegetas ou hermeneutas. No fundo acho sim-pática a ideia de que só o leitor que não é passivo é que é significativo (vai-se tornando o seu autor!), mesmo que a significação seja uma floresta deequívocos. Tento não acentuar em demasia a ideia de que são os “vedores quefazem a pintura”, se bem que

TEXTO INSTITUCIONAL

Perdoe-me desde já o benévolo leitor a ousadia da incursão de um soi-di-sant modesto artista no domínio celerado e rigoroso das cousas typographicas. Aminha relativa aversão, ou mesmo irritação, ao que hoje se chama, em mercan-til anglicismo, design gráfico, sempre se deveu ao rigor das ferramentas, ao ladoinsonso dos “tipos”, à trabalhosa relação com as “gráficas”, às partidas que mepregaram nas impressões e no tratamento das imagens, aos desaparecimentos de ori-ginais e outros assuntos que não me acodem por ora. No entanto sempre gosteide máquinas de escrever, da composição manual dos tipos, das caligrafias rebus-cadas, dos livros iluminados e dos acidentes que o tempo faz nos manuscritos:manchas, carimbos, anotações, rasgões e outras desordens que por vezes pertur-bam a legibilidade. Cada vez mais acho que o livro, objecto de devoção algo mo-ribundo (embora nobre e honroso!), deve ser encarado como um caderno, e que afunção recriativa do leitor é a de rabiscar, contrapor, achincalhar, precisar, obs-curecer, iluminar, “traduzir”, sublinhar, acrescentar, cortar, apagar, etc. Es-tas atitudes de remontagem terão as suas virtudes se não vierem no sentido deempobrecimento e espartilhamento de texto. Não tenho a pretensão de desautorizaro que é do autor, ou de celebrar alternativamente a recensão comezinha e as ba-talhas recepcionistas dos estafados exegetas ou hermeneutas. No fundo acho sim-pática a ideia de que só o leitor que não é passivo é que é significativo (vai-se tornando o seu autor!), mesmo que a significação seja uma floresta deequívocos. Tento não acentuar em demasia a ideia de que são os “vedores quefazem a pintura”, se bem que

INTITULADOS TÍTULOS

Perdoe-me desde já o benévolo leitor a ousadia da incursão de um soi-disant modesto artista no domínio celerado e rigoroso das cousas typographicas.A minha relativa aversão, ou mesmo irritação, ao que hoje se chama, em mer-cantil anglicismo, design gráfico, sempre se deveu ao rigor das ferramentas, aolado insonso dos “tipos”, à trabalhosa relação com as “gráficas”, às partidas queme pregaram nas impressões e no tratamento das imagens, aos desaparecimen-tos de originais e outros assuntos que não me acodem por ora. No entantosempre gostei de máquinas de escrever, da composição manual dos tipos, dascaligrafias rebuscadas, dos livros iluminados e dos acidentes que o tempo faz nosmanuscritos: manchas, carimbos, anotações, rasgões e outras desordens que porvezes perturbam a legibilidade. Cada vez mais acho que o livro, objecto de de-voção algo moribundo (embora nobre e honroso!), deve ser encarado comoum caderno, e que a função recriativa do leitor é a de rabiscar, contrapor,achincalhar, precisar, obscurecer, iluminar, “traduzir”, sublinhar, acrescentar, cor-tar, apagar, etc. Estas atitudes de remontagem terão as suas virtudes se não vie-rem no sentido de empobrecimento e espartilhamento de texto. Não tenho apretensão de desautorizar o que é do autor, ou de celebrar alternativamente arecensão comezinha e as batalhas recepcionistas dos estafados exegetas ou her-meneutas. No fundo acho simpática a ideia de que só o leitor que não é pas-sivo é que é significativo (vai-se tornando o seu autor!), mesmo que a signifi-cação seja uma floresta de equívocos. Tento não acentuar em demasia a ideiade que são os “vedores que fazem a pintura”, se bem que a cozinhem e estu-

INTITULADOS TÍTULOS

Perdoe-me desde já o benévolo leitor a ousadia da incursão de um soi-disant modesto artista no domínio celerado e rigoroso das cousas typographicas.A minha relativa aversão, ou mesmo irritação, ao que hoje se chama, em mer-cantil anglicismo, design gráfico, sempre se deveu ao rigor das ferramentas, aolado insonso dos “tipos”, à trabalhosa relação com as “gráficas”, às partidas queme pregaram nas impressões e no tratamento das imagens, aos desaparecimen-tos de originais e outros assuntos que não me acodem por ora. No entantosempre gostei de máquinas de escrever, da composição manual dos tipos, dascaligrafias rebuscadas, dos livros iluminados e dos acidentes que o tempo faz nosmanuscritos: manchas, carimbos, anotações, rasgões e outras desordens que porvezes perturbam a legibilidade. Cada vez mais acho que o livro, objecto de de-voção algo moribundo (embora nobre e honroso!), deve ser encarado comoum caderno, e que a função recriativa do leitor é a de rabiscar, contrapor,achincalhar, precisar, obscurecer, iluminar, “traduzir”, sublinhar, acrescentar, cor-tar, apagar, etc. Estas atitudes de remontagem terão as suas virtudes se não vie-rem no sentido de empobrecimento e espartilhamento de texto. Não tenho apretensão de desautorizar o que é do autor, ou de celebrar alternativamente arecensão comezinha e as batalhas recepcionistas dos estafados exegetas ou her-meneutas. No fundo acho simpática a ideia de que só o leitor que não é pas-sivo é que é significativo (vai-se tornando o seu autor!), mesmo que a signifi-cação seja uma floresta de equívocos. Tento não acentuar em demasia a ideiade que são os “vedores que fazem a pintura”, se bem que a cozinhem e estu-

téticos, a principio com o Pedro Portugal e depois, de uma forma mais os-tensiva, com o Fernando Brito, puxou-me a brasa a um interesse vago pela tra-dição modernista do desenho tipográfico. Por outro lado o Manuel João Vieiracultivava a manual tradição ornamental que vai do renascimento ao oitocentos(versão pornoecológica!) e o Xana fazia-me soborear a sensual estética super-pop. Destes cozinhados de tendencias conflituosas nascem em boa parte as coi-sas aqui presentes, se bem que quer o fundo dadaísta, quer o barroco, (umconvidando a uma aparência de desordem tipográfica e o outro ao chiste pala-vroso) façam parte de uma tradição que já mastigara, assim como o velho fu-turismo e umas pitadas de certo surrealismo.

Nos últimos anos (consequência do meu comprometimento com o pro-jecto “explicadista”) comecei a refazer livros desse género, a praticar caligrafias,a lançar para a gaveta vários números da revista Xplain e a ter uma vontadeindomável de criar uma fonte homeostética (“triangula”, em contraposição àneo-construtivista Debrito). O resultado deste apetite foi o atirar-me à confec-ção de fontes incipientes, algumas das quais divertidas. Fiz uma versão da cali-grafia do livro xilogravado por chineses Innocentia Victrix, e diverti-me comuma adaptação de exercícios caligráficos do rei francês Luís XIII. Depois veioa fúria e as adaptações mais variadas do que me apeteceu – versões “bad”, semeconomia, com rasgamentos, esborratamentos, pingamentos, impressões mancha-das, intervenções gráficas, caligrafias infantiloídes. Pus-me a digitalizar tudo. Oetecedário do Lapa, a caligrafia do Cy Twombly, as figuras do Joaquim Ro-drigo, imagens simbólicas, florões. Não tive pudor nenhum, embora às vezes te-nha assomado alguma má consciência desta espécie de pirataria privada. Li,com deleite de quem aprende, o livro didáctico do Paulo Heitlinger sobre ostipos, comprei toneladas de livros, transpirando tipografia por todos os poros,até esta se converter numa doença que me atacou o corpo numa espécie de an-siedade devastante que me enchia de dores corporais. Fui, pelo meio, convidadoa fazer uma série de capas, para as quais utilizei, com dificuldade, algumas das

fem superficialmente nos meandros da consciência – mas as imagens tambémexercem os seus poderes sobre os corpos, bombardeando-os com diversas afec-ções a que não conseguimos ser insensíveis. Muitas dessas afecções mantêm-secruas, em estado de transição, e são prelúdios de pequenas mudanças de vida,sem que a inclinação fetichista e contemplativa as devore nas suas projecções su-postamente passivas. Não vou ao ponto de exigir uma atitude criativa de todosos leitores, acusando-os de traição, e de paralisarem o processo de transmutaçãode tudo num outro e distinto tudo. Há coisas que não merecem, e outras queapetece conservar assim tal e qual como espaço onde podemos acolher uma es-pécie de glória indefinida (como as que parecem sugerir as das missas barrocase as das misses das barracas).

O meu apetite pela confecção de livros vem, obviamente, das infâncias,e passa em parte pelo espírito das histórias aos quadradinhos de que fui umadolescente devorador até aos limiares possíveis da época (o inicio dos anos70), que foi em parte de ouro no acesso a materiais exuberantes e diversifica-dos – dos comics anti-comunistas e “colonialistas” aos fanzines da contracultura.Dessa época temos o testemunho luxuoso das aguarelas do Eduardo Batarda (dasaga cómica do Peregrino Blindado, passando pelos avatares pseudo-popistas darevisão crítica das primeiras vanguardas e do pitoresco, trocalho e outras deta-lhadas e admiráveis peregrinações ao patusco e obsceno) às quais me esforçopor homenagear indirectamente (no “espírito”?) ao atribuir a uma série destaexposição o titulo insidioso de “Cancioneiro do Menino Eduardo”. Homenagemao Batarda, mas também ao meu filho Eduardo que tem no fundo algumas afi-nidades (no rigor?) com este artista que tanto admiro (e a melhor admiraçãoque se lhe pode fazer (espero que não esteja errado) é parodiá-lo!).

Não me posso deixar de referir ao meu período de formação e aos ínu-meros livros “homeostéticos” que desenhei com a chancela (manual) ASA DI-CARUS (sobretudo no período 83/86). O convívio com os restantes homeos-

téticos, a principio com o Pedro Portugal e depois, de uma forma mais os-tensiva, com o Fernando Brito, puxou-me a brasa a um interesse vago pela tra-dição modernista do desenho tipográfico. Por outro lado o Manuel João Vieiracultivava a manual tradição ornamental que vai do renascimento ao oitocentos(versão pornoecológica!) e o Xana fazia-me soborear a sensual estética super-pop. Destes cozinhados de tendencias conflituosas nascem em boa parte as coi-sas aqui presentes, se bem que quer o fundo dadaísta, quer o barroco, (umconvidando a uma aparência de desordem tipográfica e o outro ao chiste pala-vroso) façam parte de uma tradição que já mastigara, assim como o velho fu-turismo e umas pitadas de certo surrealismo.

Nos últimos anos (consequência do meu comprometimento com o pro-jecto “explicadista”) comecei a refazer livros desse género, a praticar caligrafias,a lançar para a gaveta vários números da revista Xplain e a ter uma vontadeindomável de criar uma fonte homeostética (“triangula”, em contraposição àneo-construtivista Debrito). O resultado deste apetite foi o atirar-me à confec-ção de fontes incipientes, algumas das quais divertidas. Fiz uma versão da cali-grafia do livro xilogravado por chineses Innocentia Victrix, e diverti-me comuma adaptação de exercícios caligráficos do rei francês Luís XIII. Depois veioa fúria e as adaptações mais variadas do que me apeteceu – versões “bad”, semeconomia, com rasgamentos, esborratamentos, pingamentos, impressões mancha-das, intervenções gráficas, caligrafias infantiloídes. Pus-me a digitalizar tudo. Oetecedário do Lapa, a caligrafia do Cy Twombly, as figuras do Joaquim Ro-drigo, imagens simbólicas, florões. Não tive pudor nenhum, embora às vezes te-nha assomado alguma má consciência desta espécie de pirataria privada. Li,com deleite de quem aprende, o livro didáctico do Paulo Heitlinger sobre ostipos, comprei toneladas de livros, transpirando tipografia por todos os poros,até esta se converter numa doença que me atacou o corpo numa espécie de an-siedade devastante que me enchia de dores corporais. Fui, pelo meio, convidadoa fazer uma série de capas, para as quais utilizei, com dificuldade, algumas das

fem superficialmente nos meandros da consciência – mas as imagens tambémexercem os seus poderes sobre os corpos, bombardeando-os com diversas afec-ções a que não conseguimos ser insensíveis. Muitas dessas afecções mantêm-secruas, em estado de transição, e são prelúdios de pequenas mudanças de vida,sem que a inclinação fetichista e contemplativa as devore nas suas projecções su-postamente passivas. Não vou ao ponto de exigir uma atitude criativa de todosos leitores, acusando-os de traição, e de paralisarem o processo de transmutaçãode tudo num outro e distinto tudo. Há coisas que não merecem, e outras queapetece conservar assim tal e qual como espaço onde podemos acolher uma es-pécie de glória indefinida (como as que parecem sugerir as das missas barrocase as das misses das barracas).

O meu apetite pela confecção de livros vem, obviamente, das infâncias,e passa em parte pelo espírito das histórias aos quadradinhos de que fui umadolescente devorador até aos limiares possíveis da época (o inicio dos anos70), que foi em parte de ouro no acesso a materiais exuberantes e diversifica-dos – dos comics anti-comunistas e “colonialistas” aos fanzines da contracultura.Dessa época temos o testemunho luxuoso das aguarelas do Eduardo Batarda (dasaga cómica do Peregrino Blindado, passando pelos avatares pseudo-popistas darevisão crítica das primeiras vanguardas e do pitoresco, trocalho e outras deta-lhadas e admiráveis peregrinações ao patusco e obsceno) às quais me esforçopor homenagear indirectamente (no “espírito”?) ao atribuir a uma série destaexposição o titulo insidioso de “Cancioneiro do Menino Eduardo”. Homenagemao Batarda, mas também ao meu filho Eduardo que tem no fundo algumas afi-nidades (no rigor?) com este artista que tanto admiro (e a melhor admiraçãoque se lhe pode fazer (espero que não esteja errado) é parodiá-lo!).

Não me posso deixar de referir ao meu período de formação e aos ínu-meros livros “homeostéticos” que desenhei com a chancela (manual) ASA DI-CARUS (sobretudo no período 83/86). O convívio com os restantes homeos-

lógico (pffffff…). Grandes suspiros! Constatei, mais uma vez, a dificuldade empensar a linguagem verbal e compor imagens ao mesmo tempo. Nestes mo-mentos sinto-me algo estúpido, a fluência da escrita não aparece e há um certoengasgamento. Faltam ideias, etc. Por outro lado há a tarefa aleatória de pro-curar nas teclas imagens que surgem como que do nada – e as que se foramusando/esgotando, e o desnorte de não encontrar uma imagem que “por acaso”encaixe… É um método que complementa outros já por mim utilizados no de-senho, na pintura, na literatura, nos “scannings”, na música, etc. Perdoe-me oleitor o tê-los referido.

Pondo de parte qualquer pretensão funcionalista, as obras aqui expostaspertencem mais ao domínio literário ou pictórico do que ao mundo rigorosodas artes gráficas (que por outro lado tem invadido o mundo artístico, a bemou a mal). São coisas com um lado insinuante, mas as insinuações são ambíguas:recriam ficcionalmente coisas da vida no que esta tem de projectivo, com es-trepitosa grandiloquência ou humor de roedor. São parte dessa grande descon-versa novelística em que vou, com uns tantos outros, enredando as coisas nummodo “alegre” de desfrutar o mundo. São também exercícios ou divertimentos,no mesmo sentido, jocoso e tecnicista, que Domenico Scarlatti atribuía às suas“modestas” sonatas. Não sei até que ponto estas coisas serão partilháveis. Masimagino que o são, como algo que se contagia, nesta complexidade, filha deordens argutas e de desordens voluntárias. E aqui vão elas!

fontes que ia fazendo. Continuava a venerar os magníficos manuscritos carolín-gios e começava a apreciar a arte de confeccionar livros com uma imprudên-cia mais “informada”. Reli Marinetti e os futuristas Russos. Estudei, no que háde disponível, a tradição do livro de artista. Admirei os métodos, pouco se-guidos, do futuro-dadaísta Iliazd. Mantive-me fiel ao gosto pelo indeterminadoe informal do John Cage (que no fundo marcou de algum modo a estéticagráfica dos anos 90). Continuei fã do filão renascentista barroco, e fiz fontesdada-barrocas a partir de frontispícios que se iam desconstruindo no programaem que as “fabricava”.

Sempre que produzi uma fonte (e muitas delas são algo medíocres querpelos cânones quer pelo meu próprio juízo vagamente auto-crítico) fiz expe-riências de composições que muito me divertiram – uma série de capas da falsaeditora MINHAM BOOKS abriram-me ainda mais o apetite pela redução/am-pliação de uma arte combinatória interminável. Aproveitei a ocasião de ter estaexposição marcada para rescrever um livro que já vou, qual Penélope, fazendoe refazendo desde 1981 – a parte em causa é sobre o Álvaro Lapa e o JamesLee Byars (um delirante dueto pseudo filosófico e artístico sobre a perfeição ea inclinação espontânea e “badalhoca” para o êxtase). Paginei selvaticamente olivro e fui acrescentando letras, imagens, etc. Era uma vez uma exposição queera um romance que estava impresso em grande e que se podia ir lendo. Agra-dava-me a ideia de ir expondo romances. Porém acabei por concluir que eramdemasiadas imagens para o espaço disponível. Comecei a coçar a cabeça e aperceber que não fazia sentido. A alternativa, já mais em cima da hora, seriaa de fazer peças de raiz. E assim foi – menino vamos aos títulos! – a intitu-lados títulos! Por outro lado surgiu a hipótese de se produzir um catálogo maisgeneroso, isto é, o presente livro – havia já um bom número de imagens im-pressas em tamanhos díspares. Assim, as restantes foram devidamente feitas parao formato “quadrado” em causa. E o que saiu, a bem ou a mal, constitui umaexperiência divertida, embora muitas vezes no limite do esforço físico e psico-

lógico (pffffff…). Grandes suspiros! Constatei, mais uma vez, a dificuldade empensar a linguagem verbal e compor imagens ao mesmo tempo. Nestes mo-mentos sinto-me algo estúpido, a fluência da escrita não aparece e há um certoengasgamento. Faltam ideias, etc. Por outro lado há a tarefa aleatória de pro-curar nas teclas imagens que surgem como que do nada – e as que se foramusando/esgotando, e o desnorte de não encontrar uma imagem que “por acaso”encaixe… É um método que complementa outros já por mim utilizados no de-senho, na pintura, na literatura, nos “scannings”, na música, etc. Perdoe-me oleitor o tê-los referido.

Pondo de parte qualquer pretensão funcionalista, as obras aqui expostaspertencem mais ao domínio literário ou pictórico do que ao mundo rigorosodas artes gráficas (que por outro lado tem invadido o mundo artístico, a bemou a mal). São coisas com um lado insinuante, mas as insinuações são ambíguas:recriam ficcionalmente coisas da vida no que esta tem de projectivo, com es-trepitosa grandiloquência ou humor de roedor. São parte dessa grande descon-versa novelística em que vou, com uns tantos outros, enredando as coisas nummodo “alegre” de desfrutar o mundo. São também exercícios ou divertimentos,no mesmo sentido, jocoso e tecnicista, que Domenico Scarlatti atribuía às suas“modestas” sonatas. Não sei até que ponto estas coisas serão partilháveis. Masimagino que o são, como algo que se contagia, nesta complexidade, filha deordens argutas e de desordens voluntárias. E aqui vão elas!

fontes que ia fazendo. Continuava a venerar os magníficos manuscritos carolín-gios e começava a apreciar a arte de confeccionar livros com uma imprudên-cia mais “informada”. Reli Marinetti e os futuristas Russos. Estudei, no que háde disponível, a tradição do livro de artista. Admirei os métodos, pouco se-guidos, do futuro-dadaísta Iliazd. Mantive-me fiel ao gosto pelo indeterminadoe informal do John Cage (que no fundo marcou de algum modo a estéticagráfica dos anos 90). Continuei fã do filão renascentista barroco, e fiz fontesdada-barrocas a partir de frontispícios que se iam desconstruindo no programaem que as “fabricava”.

Sempre que produzi uma fonte (e muitas delas são algo medíocres querpelos cânones quer pelo meu próprio juízo vagamente auto-crítico) fiz expe-riências de composições que muito me divertiram – uma série de capas da falsaeditora MINHAM BOOKS abriram-me ainda mais o apetite pela redução/am-pliação de uma arte combinatória interminável. Aproveitei a ocasião de ter estaexposição marcada para rescrever um livro que já vou, qual Penélope, fazendoe refazendo desde 1981 – a parte em causa é sobre o Álvaro Lapa e o JamesLee Byars (um delirante dueto pseudo filosófico e artístico sobre a perfeição ea inclinação espontânea e “badalhoca” para o êxtase). Paginei selvaticamente olivro e fui acrescentando letras, imagens, etc. Era uma vez uma exposição queera um romance que estava impresso em grande e que se podia ir lendo. Agra-dava-me a ideia de ir expondo romances. Porém acabei por concluir que eramdemasiadas imagens para o espaço disponível. Comecei a coçar a cabeça e aperceber que não fazia sentido. A alternativa, já mais em cima da hora, seriaa de fazer peças de raiz. E assim foi – menino vamos aos títulos! – a intitu-lados títulos! Por outro lado surgiu a hipótese de se produzir um catálogo maisgeneroso, isto é, o presente livro – havia já um bom número de imagens im-pressas em tamanhos díspares. Assim, as restantes foram devidamente feitas parao formato “quadrado” em causa. E o que saiu, a bem ou a mal, constitui umaexperiência divertida, embora muitas vezes no limite do esforço físico e psico-

PedroProença

intitulados

TÍTULOS