introducao a educacao crista 3

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Introdução à Educação Cristã (3) – Reflexões, Desafios e Pressupostos – B. O Método de Deus e a sua Eficácia: 1) O ENTENDIMENTO PROPOSTO POR DEUS: “Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento (בּין) (bîyn), os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem” (Sl 32.9). Uma das coisas maravilhosas que Deus concedeu ao ser humano de forma bas- tante especial, é a capacidade de autoconsciência, perceber a realidade, permitindo assim, interpretar e organizar as sensações. 1 Sem esta capacidade teríamos apenas noção da cor verde ou amarela, perfume suave ou intenso, som fraco ou forte, con- tudo não teríamos as condições de identificar determinado objeto, como por exem- plo: cor de uma laranja, perfume de uma rosa, som de um violino, etc. Enquanto que os órgãos sensoriais (paladar, olfato, tato, audição e visão) nos fornecem qualidades de sensação, a nossa percepção organiza sínteses mentais. Aliada à percepção, temos a capacidade de discernir as coisas, que nos permite separar, distinguir, discriminar. Chamamos isso de discernimento. A definição é um instrumento ideal para isso. Definir, segundo o sentido etimoló- gico 2 é delimitar. A definição procura determinar a compreensão da idéia, circuns- crevendo a sua abrangência, indicando todos os seus elementos constitutivos. Co- mo todo conceito possui um conteúdo, a definição nada mais é do que a determina- ção da natureza deste conteúdo. 3 A definição se propõe a nos fazer ver com maior clareza o objeto analisado, o assunto do qual tratamos. A “indefinição” acarreta uma série de omissões e equívocos, 4 justamente por não termos claro diante de nós o 1 “A percepção permite que um organismo receba informação do ambiente e converta a informação sensorial recebida em experiência organizada. (...) Tradicionalmente, a palavra (...) percepção refere-se mais estritamente à maneira pela qual o indivíduo organiza e inter- preta a informação sensorial recebida” (Samuel Pfromm Netto, Psicologia: introdução e guia de estudo, São Paulo/Brasília: EDUSP/CNPQ., 1985, 10-4). Para uma discussão mais detalhada sobre o emprego da palavra, ver: Percepção: In: Nicola Abbagnano, Dicionário de Filosofia, 2ª ed. São Paulo: Mestre Jou, 1982, p. 722-726. 2 As palavras gregas correspondentes são: o(/roj = “termo”, “limite” e o(rismo/j = “delimitação”, “acor- do”, “tratado”. 3 Do ponto de vista lógico, a idéia é igual a sua definição. A definição lógica consiste de fato em deli- mitar exatamente a compreensão de um objeto, ou, em outros termos, em dizer o que uma coisa é. Daí o princípio: “A definição é a noção desenvolvida e (...) a noção é a definição condensa- da” (L. Liard, Lógica, 9ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979, p. 25). 4 Em uma entrevista concedida em 1991, Thomas Kuhn queixando-se do uso excessivo e inadequa- do da expressão “paradigma”, que marca o seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas, admite

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Artigo sobre Educação Cristã parte 3

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Page 1: Introducao a Educacao Crista 3

Introdução à Educação Cristã (3) – Reflexões, Desafios e Pressupostos –

B. O Método de Deus e a sua Eficácia:

1) O ENTENDIMENTO PROPOSTO POR DEUS:

“Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento (בין) (biyn), os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem” (Sl 32.9). Uma das coisas maravilhosas que Deus concedeu ao ser humano de forma bas-tante especial, é a capacidade de autoconsciência, perceber a realidade, permitindo assim, interpretar e organizar as sensações.1 Sem esta capacidade teríamos apenas noção da cor verde ou amarela, perfume suave ou intenso, som fraco ou forte, con-tudo não teríamos as condições de identificar determinado objeto, como por exem-plo: cor de uma laranja, perfume de uma rosa, som de um violino, etc. Enquanto que os órgãos sensoriais (paladar, olfato, tato, audição e visão) nos fornecem qualidades de sensação, a nossa percepção organiza sínteses mentais. Aliada à percepção, temos a capacidade de discernir as coisas, que nos permite separar, distinguir, discriminar. Chamamos isso de discernimento. A definição é um instrumento ideal para isso. Definir, segundo o sentido etimoló-gico2 é delimitar. A definição procura determinar a compreensão da idéia, circuns-crevendo a sua abrangência, indicando todos os seus elementos constitutivos. Co-mo todo conceito possui um conteúdo, a definição nada mais é do que a determina-ção da natureza deste conteúdo.3 A definição se propõe a nos fazer ver com maior clareza o objeto analisado, o assunto do qual tratamos. A “indefinição” acarreta uma série de omissões e equívocos,4 justamente por não termos claro diante de nós o 1“A percepção permite que um organismo receba informação do ambiente e converta a

informação sensorial recebida em experiência organizada. (...) Tradicionalmente, a palavra (...) percepção refere-se mais estritamente à maneira pela qual o indivíduo organiza e inter-preta a informação sensorial recebida” (Samuel Pfromm Netto, Psicologia: introdução e guia de estudo, São Paulo/Brasília: EDUSP/CNPQ., 1985, 10-4). Para uma discussão mais detalhada sobre o emprego da palavra, ver: Percepção: In: Nicola Abbagnano, Dicionário de Filosofia, 2ª ed. São Paulo: Mestre Jou, 1982, p. 722-726. 2As palavras gregas correspondentes são: o(/roj = “termo”, “limite” e o(rismo/j = “delimitação”, “acor-

do”, “tratado”. 3 Do ponto de vista lógico, a idéia é igual a sua definição. A definição lógica consiste de fato em deli-

mitar exatamente a compreensão de um objeto, ou, em outros termos, em dizer o que uma coisa é. Daí o princípio: “A definição é a noção desenvolvida e (...) a noção é a definição condensa-da” (L. Liard, Lógica, 9ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979, p. 25). 4 Em uma entrevista concedida em 1991, Thomas Kuhn queixando-se do uso excessivo e inadequa-

do da expressão “paradigma”, que marca o seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas, admite

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objeto do qual estamos tratando ou, em que sentido nos aproximamos de cada idéi-a.5 Algo natural ao ser humano é o desejo de entender para poder discernir a reali-dade, interpretando o mundo à sua volta e as situações às quais todos estamos su-jeitos. As Escrituras nos falam sobre isso. Há até o lugar para preceitos que envolva o discernimento em nossa etiqueta: “Quando te assentares a comer com um governa-dor, atenta bem6 (בין) (biyn) para aquele que está diante de ti” (Pv 23.1). Ou seja: dê atenção ao governador que está diante de ti, não simplesmente à comida servida.

Salomão designa de inteligente o homem com discernimento que busca a sabe-doria: “A sabedoria é o alvo do inteligente (בין) (biyn), mas os olhos do insensato va-gam pelas extremidades da terra” (Pv 17.24). O homem inteligente não se perde em distrações sem foco, sem objetivo, antes, concentra seus esforços em alcançar a sabedoria – a capacidade de utilizar bem os recursos de que dispõe –, mantendo-a diante de seus olhos. O insensato se perde em suas divagações achando, inclusive, que pode comprar a sabedoria (Pv 17.16).7

Ele também afirma que sabedoria consiste em discernir o nosso caminho: “A sa-bedoria do prudente é entender (בין) (biyn) o seu próprio caminho, mas a estultícia dos insensatos é enganadora” (Pv 14.8). Aplicando este princípio ao campo espiritu-al podemos ilustrar com Jó, que não conseguindo discernir o seu suposto pecado, pede a Deus que o faça compreender o seu erro: “Ensinai-me, e eu me calarei; dai-me a entender (בין) (biyn) em que tenho errado” (Jó 6.24). Continua: “Há iniqüidade na minha língua? Não pode o meu paladar discernir (בין) (biyn) coisas perniciosas?” (Jó 6.30).

No Salmo 32.9 Deus usa figuras fortes para falar da obtusidade daqueles que não

atentam para a Sua instrução: “Não sejais como o cavalo8 ou a mula (פרד) (pered),9 sem entendimento (בין) (biyn), os quais com freios e cabrestos são dominados; de que no livro não definira “paradigma” tão rigorosamente como deveria” (John Horgan, O Fim da Ciên-cia: uma discussão sobre os limites do conhecimento Científico, 3ª reimpressão, São Paulo: Compa-nhia das Letras, 2006, p. 64). 5Condillac (1715-1780) assim expressou esta questão: "A necessidade de definir é apenas a ne-

cessidade de ver as coisas sobre as quais se quer raciocinar e, se fosse possível ver sem defi-nir, as definições se tornariam inúteis" [E.B. de Condillac, Lógica ou Os Primeiros Desenvolvimen-tos da Arte de Pensar, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. 27), 1973, p. 121]. 6A Contemporary English Versions, traduz por “aja da melhor maneira”. English Standard Version:

“observe criteriosamente”; Geneva Bible (1587) e King James Version: “considere diligentemente”. 7“De que serviria o dinheiro na mão do insensato para comprar a sabedoria, visto que não tem en-tendimento?” (Pv 17.16). 8 As Escrituras chamam atenção apenas para a força do cavalo, não para a sua suposta inteligência (Sl 33.17; 147.10). 9A mula ou o mulo é gerado do cruzamento do cavalo com a jumenta ou do jumento com a égua; en-

tretanto, ele é estéril, não podendo reproduzir-se. “As mulas são valiosas pelo fato que combi-

nam a força do cavalo com a resistência e o passo firme do jumento, além de ter o vigor ex-tra característico dos híbridos” (G.S. Cansdale, Mula: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, Vol. II, p.1075).

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outra sorte não te obedecem” (Sl 32.9).

Por meio de outra analogia, Deus recorre à figura de outros animais para falar da ignorância culposa do povo. Referindo-se a Israel diz: “O boi conhece o seu possui-dor, e o jumento (חמור) (chamor), o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem co-nhecimento, o meu povo não entende (בין) (biyn)” (Is 1.3). Ele toma dois animais difí-ceis de trato: o boi e o jumento. Mostra que a obtusidade, a teimosia e a dificuldade de condução destes animais dão-se pela sua própria natureza; no entanto, assim mesmo, eles sabem reconhecer os seus donos, aqueles que lhes alimentam. O ho-mem, por sua vez, como coroa da criação, cedendo ao pecado perdeu totalmente o seu discernimento espiritual; já não reconhecemos nem mesmo o nosso Criador; an-tes lhe voltamos as costas e prosseguimos em outra direção.10

Deus deseja que Lhe obedeçamos voluntariamente com entendimento; aliás, a

nossa obediência é resultante de nosso discernimento espiritual (Sl 32.9).11 O dis-cernimento que Deus deseja que tenhamos nada tem a ver com a glória humana. O salmista resume esta verdade: “O homem, revestido de honrarias, mas sem enten-dimento (בין) (bi yn), é, antes, como os animais, que perecem” (Sl 49.20).

Mas o que significa “entendimento”, no texto que estamos analisando? O verbo (בין) (biyn)12 apresenta a idéia de um entendimento, fruto de uma obser-vação demorada, que nos permite discernir para interpretar com sabedoria e condu-zir os nossos atos.13 “O verbo se refere ao conhecimento superior à mera reu-

nião de dados. (...) Bîn é uma capacidade de captação julgadora e per-

ceptiva e é demonstrada no uso do conhecimento”.14 Analisemos mais pormenorizadamente o seu emprego nas páginas do Antigo Testamento:

10

Jones explora com vivacidade a analogia do texto. Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, O Caminho de Deus, não o nosso, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2003, p. 43-46. 11“Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são do-minados; de outra sorte não te obedecem” (Sl 32.9). 12

O substantivo é (ינה�) (biyna h). 13bi) �ין yn) permite diversas traduções (ARA):

Acudir (Sl 5.1) (No sentido de considerar); Ajuizado (Gn 41.33,39); Atentar (Dt 32.7,29; Sl 28.5); Atinar (Sl 73.17; 119.27); Considerar (Jó 18.2; 23,15; 37.14); Contemplar (Sl 33.15); Cuidar (Dt 32.10); Discernir (1Rs 3.9,11; Jó 6.30; 38.20; Sl 19.12); Douto (Dn 1.4); Ensinar (Ne 8.7,9); Enten-der/entendido/entendimento (Dt 1.13;4.6; 1Sm 3.8; 2Sm 12.19; 1Rs 3.12;1Cr 15.22; 27.32; 2Cr 26.5; Ed 8.16; Ne 8.2,3,8,12; 10.28; Jó 6.24;13.1; 15.9; 23.5; 26.14; 28.23; 32.8,9; 42.3); Fixar no sentido de pensar detidamente (Jó 31.1); Inteligência (Dn 1.17); Mestre (no sentido de expert) (1Cr 25.7,8); Penetrar (com o sentido de discernir) (1Cr 28.9; Sl 139.2); Perceber (Jó 9.11;14.21; 23.8); Perito (Is 3.3); Procurar (Sl 37.10); Prudentemente (2Cr 11.23); Reparar (1Rs 3.21); Revistar (procurar atenta-mente) (Ed 8.15); Saber/Sabedoria (Ne 13.7; Pv 14.33); “Sisudo” em palavras (1Sm 16.18); Superin-tender (por ter maior conhecimento) (2Cr 34.12). 14

Louis Goldberg, Bîn: In: Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 172.

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A) NEGATIVAMENTE:

Consideremos aqui o problema da falta de discernimento apontada pelo próprio Deus: 1) Como vimos, a destruição de Israel estava relacionada à falta de dis-cernimento da Palavra de Deus. Pouco antes do Cativeiro Assírio, Deus fala por meio de Oséias: “Não castigarei vossas filhas, que se prostituem, nem vossas noras, quando adulteram, porque os homens mesmos se retiram com as meretrizes e com as prostitutas cultuais sacrificam, pois o povo que não tem entendimento (בין) (biyn) corre para a sua perdição” (Os 4.14). 2) Ao povo que se desviava do caminho de Deus, Oséias adverte-lhe mostrando a retidão do caminho de Deus e o perigo de se desviar dele: “Quem é sá-bio, que entenda (בין) (biyn) estas coisas; quem é prudente (בין) (biyn), que as saiba, porque os caminhos do SENHOR são retos, e os justos andarão neles, mas os transgressores neles cairão” (Os 14.9). 3) Deus por meio de Jeremias fala de seus filhos que já não O conhecem, tendo inteligência para fazer o mal, não o bem: “Deveras, o meu povo está louco, já não me conhece; são filhos néscios e não inteligentes (בין) (biyn); são sábios para o mal e não sabem fazer o bem” (Jr 4.22). A ignorância de quem era Deus conduziu o povo à sofisticação na maldade. Diferentemente do que o Apóstolo Paulo recomen-da no Novo Testamento: “.... quero que sejais sábios para o bem e símplices para o mal” (Rm 16.19).

B) POSITIVAMENTE: 1) Quando Deus em sonho pergunta a Salomão o que ele deseja que o Senhor o desse, Salomão pediu justamente entendimento para julgar o povo: “9 Dá, pois, ao teu servo coração (לב) (le b) compreensivo para julgar a teu povo, para que pruden-temente discirna (בין) (bi yn) entre o bem e o mal; pois quem poderia julgar a este grande povo? 10 Estas palavras agradaram ao Senhor, por haver Salomão pedido tal coisa. 11 Disse-lhe Deus: Já que pediste esta coisa e não pediste longevidade, nem riquezas, nem a mor-

te de teus inimigos; mas pediste entendimento (בין) (biyn), para discernires o que é justo; 12 eis que faço segundo as tuas palavras: dou-te coração (לב) (le b) sábio e inteligente (בין) (bi yn), de maneira que antes de ti não houve teu igual, nem depois de ti o haverá” (1Rs 3.9-12).

Na realidade Salomão estava sendo coerente com a orientação de seu pai, Davi, que nos seus conselhos finais, disse: “Que o SENHOR te conceda prudência e en-tendimento (בינה) (biyna h), para que, quando regeres sobre Israel, guardes a lei do SENHOR, teu Deus” (1Cr 22.12).

Mais tarde, o próprio Hirão, rei de Tiro, reconheceu por escrito esta capacidade

em Salomão: “.... Bendito seja o SENHOR, Deus de Israel, que fez os céus e a terra; que deu ao rei Davi um filho sábio, dotado de discrição e entendimento (ינה�) (biyna h), que edifique casa ao SENHOR e para o seu próprio reino” (2Cr 2.12).

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2) Jó refletindo sobre o poder de Deus, confessa a sua limitação diante de Deus “Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos! Que leve sussurro te-mos ouvido dele! Mas o trovão do seu poder, quem o entenderá (בין) (biyn)?”(Jó 26.14). Passadas todas as provações, ele admite ter falado sobre o que não conhe-cia: “Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia (בין) (biyn); coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia” (Jó 42.3).

De fato, as Escrituras nos mostram que Deus dirige o nosso caminho sem que o entendamos perfeitamente: “Os passos do homem são dirigidos pelo SENHOR; co-mo, pois, poderá o homem entender (בין) (biyn) o seu caminho?” (Pv 20.24). 3) Por isso, os servos de Deus desejosos de fazer a Sua vontade supli-cam a Deus que lhes dê discernimento:

“Dá-me entendimento (בין) (biyn), e guardarei a tua lei; de todo o coração (לב)

(le b) a cumprirei” (Sl 119.34). “As tuas mãos me fizeram e me afeiçoaram; ensina-me (בין) (biyn) para que a-prenda os teus mandamentos” (Sl 119.73). (Do mesmo modo: Sl 119.125,169). “Faze-me atinar (בין) (biyn) com o caminho dos teus preceitos, e meditarei nas tuas maravilhas” (Sl 119.27).

4) O salmista que confessa durante determinado tempo de sua vida ter admirado o caminho do ímpio, finalmente percebe: “Em só refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim; até que entrei no santuário de Deus e atinei .com o fim deles” (Sl 73.16-17) (biyn) (בין)

5) O verdadeiro entendimento está no conhecimento de Deus: “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento (דעת) (da‛ath) do Santo é prudência (בינה) (biyna h)” (Pv 9.10). 6) “A revelação das tuas palavras esclarece (אור) ('o r) e dá entendimento -aos simples” (Sl 119.130). Este discernimento só é possível por intermé (biyn) (בין)dio da Palavra. Por isso mesmo Deus nos convida a um exame de Sua Palavra; nela temos os Seus ensinamentos e promessas que, de fato, podem iluminar os nossos olhos, apontando e nos capacitando a seguir o Seu caminho. “Porque o mandamen-to é lâmpada, e a instrução, luz (אור) ('o r)....” (Pv 6.23). Esta é a experiência do sal-mista: “Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina (אור) ('o r) os olhos” (Sl 19.8). “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz (אור) ('o r) para os meus caminhos” (Sl 119.105).15

15

Nas Escrituras, seguir a instrução de Deus é o mesmo que andar na luz: “Irão muitas nações e di-rão: Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do SENHOR, de Jerusalém (...) Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz (אור) ('or) do SENHOR” (Is 2.3,5). “Aten-dei-me, povo meu, e escutai-me, nação minha; porque de mim sairá a lei, e estabelecerei o meu direi-to como luz (אור) ('or) dos povos” (Is 51.4). [Para um estudo mais pormenorizado do emprego da pa-lavra no Antigo Testamento, ver: Herbert Wolf, ‘ôr: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Interna-cional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 38-42; William Gesenius, Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament, 3ª ed. Michigan: WM. Eerdmans Publishing Co. 1978, p. 23].

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O entendimento proveniente de Deus faz com que tenhamos discernimento em

todas as coisas: “Os homens maus não entendem (בין) (biyn) o que é justo, mas os que buscam o SENHOR entendem (בין) (biyn) tudo” (Pv 28.5). “Sou mais prudente os teus preceitos” (Sl (natsar) (נצר) que os idosos, porque guardo (biyn) (בין)119.100).

Este discernimento, contudo, não é apenas para uma satisfação intelectual, antes tem um efeito prático; ele é, de certa forma, profilático: “Por meio dos teus preceitos, consigo entendimento (בין) (biyn); por isso, detesto todo caminho de falsidade” (Sl 119.104).

Por isso, à pergunta de Jó sobre onde encontrar a sabedoria e o entendimento, ele mesmo apresenta a resposta: “Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar do entendimento (בינה) (biyna h)?” (Jó 28.12). “Donde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar do entendimento (בינה) (biyna h)?” (Jó 12.20). “E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento biyna) (בינה) h)” (Jó 28.28). O nosso discernimento revela-se em nos apartar do mal seguindo a Lei de Deus. 7) O cuidado de Deus para como o Seu povo passa necessariamente pe-la instrução. Ou seja: no ensino de Deus temos uma demonstração de Seu cuidado amoroso para conosco. Moisés, de forma poética, diz: “Achou-o numa terra deserta e num ermo solitário povoado de uivos; rodeou-o (סבב) (sa bab)16 e cuidou (בין) (biyn) dele, guardou-o (נצר) (natsar) como a menina dos olhos” (Dt 32.10).

8) A compreensão da Palavra nos revigora nas angústias: “Sobre mim vi-eram tribulação e angústia; todavia, os teus mandamentos são o meu prazer. Eterna é a justiça dos teus testemunhos; dá-me a inteligência deles (בין) (biyn), e viverei” (Sl 119.143-144). Como não compreendemos todas as coisas, necessitamos ter o dis-cernimento concedido por Deus para continuar confiando em Seu cuidado. Aplicando o que vimos neste tópico, devemos enfatizar que a misericórdia de Deus tem nos assistido muitas vezes de uma forma misteriosa (Sl 32.10). Contudo, Deus nos oferece a Sua Palavra para que reflitamos nela e busquemos o entendi-mento necessário para aplicar aos nossos desafios cotidianos. Precisamos nos valer disso rogando a Deus que nos dê discernimento espiritual e saibamos interpretar os sinais dos tempos a fim de viver com sabedoria neste mundo. Portanto, podemos ex-trair alguns princípios para o nosso aprendizado: a) Devemos buscar conhecimento: “O coração (לב) (le b) sábio (בין) (biyn) procura o conhecimento, mas a boca dos insensatos se apascenta de estultí-cia” (Pv 15.14). (Ver também: Pv. 16.16; 23.4,23).

Quando Nabucodonosor entrevistou Daniel e a seus amigos com vistas a servi-rem no palácio, registra as Escrituras: “Ora, a estes quatro jovens Deus deu o co-

16

Lembremo-nos de que esta é a mesma palavra que ocorre no Salmo 32.7,10 que é traduzida por “assistir”.

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nhecimento e a inteligência em toda cultura e sabedoria; mas a Daniel deu inteligên-cia (בין) (bi yn) de todas as visões e sonhos. Vencido o tempo determinado pelo rei para que os trouxessem, o chefe dos eunucos os trouxe à presença de Nabucodo-nosor. Então, o rei falou com eles; e, entre todos, não foram achados outros como Daniel, Hananias, Misael e Azarias; por isso, passaram a assistir diante do rei. Em toda matéria de sabedoria e de inteligência (בינה) (biyna h) sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos e encantadores que havia em todo o seu reino” (Dn 1.17-20). “Deus é sempre designado como a

fonte de todo conhecimento verdadeiro, e a habilidade intelectual é dádiva

dele”.17 A sabedoria destes jovens provinha de Deus e esta se manifestava em sua

obediência aos Seus mandamentos. A submissão à Palavra leva-nos de forma obje-tiva a ter uma visão da realidade bastante diferenciada. O quadro de referência bíbli-co continuará sendo um desafio à simples inteligência carnal, limitada ao saber ho-dierno. “O Cristianismo fornece uma estrutura intelectual que é, na verdade,

superior a qualquer outra visão do mundo para buscar o conhecimento”.18 Portanto, devemos nos esforçar por obter este entendimento: “O princípio da sa-bedoria é: Adquire a sabedoria; sim, com tudo o que possuis, adquire o entendimen-to ( ינהב ) (bi yna h)” (Pv 4.7).

b) Refletir sobre os feitos de Deus: O Conselho de Eliú a Jó: “Inclina, Jó, os ouvidos a isto, pára e con-sidera (בין) (biyn) as maravilhas de Deus” (Jó 37.14). A consideração dos feitos de Deus é um estímulo à nossa obediência prazerosa e à glorificação de Sua sabedoria e majestade (Rm 11.33-36). c) Confiar em Deus: “Confia no SENHOR de todo o teu coração (לב) (leb) e não te estribes no teu próprio entendimento (בינה) (bi yna h)” (Pv 3.5). A prova de discernimento é não confiar simplesmente nele, mas, no Deus que nos concede esta capacidade.

***

Vimos que o objetivo de Deus para nós é que diferentemente do cavalo e da mu-

la, tenhamos entendimento, discernimento em nosso pensar e agir. No Salmo 32.8 Davi emprega três palavras para falar de como Deus nos ensina. Ou seja, Deus nos instrui para que tenhamos o discernimento ao qual ele vai se referir no verso 9:

17

Gene Edward Veith, Jr, De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 19. 18

Gene Edward Veith, Jr, De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 13. "O

cristianismo é a religião que oferece o maior privilégio e que, com ele, exige a maior obriga-ção. No cristianismo, o esforço intelectual e a experiência emocional não são descuidados - longe disto - porém devem combinar-se para frutificar na ação moral" [William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, (I,II,III Juan y Judas), Buenos Aires: La Aurora, 1974, Vol. 15, p. 53].

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2) DEUS NOS INSTRUI:

“Instruir-te-ei (שכל) (śâkal)19e te ensinarei o caminho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho” (Sl 32.8).

A palavra é traduzida por entendimento (Gn 3.6; Sl 14.2; 53.2; 2Cr 30.2220); “inte-ligência” (Jr 3.15); “atentar” (Sl 106.7); “prudência” (1Sm 18.5; Sl 2.10; 94.8; 111.10; Is 52.13); “êxito” (1Sm 18.14,15,30; 2Rs 18.7); “discernimento” (Sl 36.3); acudir (Sl 41.1). A palavra se refere “à ação de, com a inteligência, tomar conhecimen-

to das causas. (...) Designa o processo de pensar como uma disposição complexa de pensamentos que resultam numa abordagem sábia e bastan-te prática do bom senso. Outra conseqüência é a ênfase no ser bem-

sucedido”.21

A) A FONTE DA INSTRUÇÃO ESTÁ EM DEUS: 1) O modelo desta instrução viva temos de forma perfeita em Jesus Cris-to. Por intermédio de Isaías Deus fala que o Messias agiria com esse discernimento: “Eis que o meu Servo procederá com prudência (שכל) (śa kal); será exaltado e eleva-do e será mui sublime” (Is 52.13).

2) É Deus mesmo Quem nos instrui. No entanto, curiosamente, nossos primeiros pais que tinham a presença contínua de Deus com eles, rejeitaram a ins-trução divina, preferindo a sabedoria que supostamente viria da árvore no Jardim do Éden: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento (שכל) (śâkal), tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu” (Gn 3.6). Assim consumou-se o pecado de nossos primeiros pais. O entendimento proposto por Deus nunca pode começar por um ato de falta de entendimento que se concretize em desobediência a Sua Palavra. O entendimento deve começar pela obediência aos Seus preceitos e, ele amadurece no processo de aprendizado da obediência. Em outras palavras, aprendo a obedecer obedecendo. Temos o exemplo perfeito em Cristo que, “embora sendo Filho, aprendeu a obediên-

19

Ver: William Gesenius, Hebrew-Chaldee Lexicon to the Old Testament, 3ª ed. Michigan: WM. Eerdmans Publishing Co. 1978, 789-790; Louis Goldberg, Sakal: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicio-nário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1478-1480; Robert B. Girdlestone, Synonyms of the Old Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, (1897), Reprinted, 1981, p. 74, 224-225. 20

Neste texto aparece tanto o verbo (כל ) (śakal) como o substantivo sekel (leke&), evidenciando o profundo conhecimento que os levitas tinham do serviço do Senhor: “Ezequias falou ao coração de todos os levitas que revelavam (leke&) (sekel) bom entendimento (כל ) (śakal) no serviço do SENHOR; e comeram, por sete dias, as ofertas da festa, trouxeram ofertas pacíficas e renderam graças ao SE-NHOR, Deus de seus pais” (2Cr 30.22). 21

Louis Goldberg, Sakal: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Anti-go Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p 1478.

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cia pelas coisas que sofreu” (Hb 5.8).22 Portanto, adquiro maior conhecimento de Deus e de Sua Palavra quando, ainda que não as entenda perfeitamente em toda a Sua extensão e intensidade, sigo as Suas instruções e me mantenho atento à Sua Palavra me desviando de caminhos que são opostos ao que Deus claramente nos dá a conhecer. Calvino conclui corretamente que, “a fé, quando é conduzida à

obediência a Deus, mantém nossas mentes fixas em sua palavra”.23

A atitude de Adão e Eva, diferentemente, revelou falta de entendimento que se agravaria na concretização consumada deste comportamento carente de fé em Deus. Aqui temos também outra lição preciosa para nós que muitas vezes tendemos a trocar a instrução de Deus por outra, estranha à Sua Palavra. Esta é uma tendência normal do homem pecador: substituir o Criador pela criatura (Rm 1.25).

3) Deus mesmo diz que daria líderes ao reino de Judá que os conduziria com inteligência: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos apascentem com conhecimento e com inteligência (שכל) (śâkal)” (Jr 3.15).

4) Por outro lado, por intermédio de Jeremias sabemos que o fracasso de Judá estava no fato dos príncipes (pastores) se desviarem da instrução do Senhor: “Porque os pastores se tornaram estúpidos e não buscaram ao SENHOR; por isso, não prosperaram (שכל) (śâkal), e todos os seus rebanhos se acham dispersos” (Jr 10.21).24

5) Os judeus no deserto erraram justamente por não atentarem para a instrução de Deus: “Nossos pais, no Egito, não atentaram (שכל) (śâkal) às tuas ma-ravilhas; não se lembraram da multidão das tuas misericórdias (desex) (hesed) e fo-ram rebeldes junto ao mar, o mar Vermelho” (Sl 106.7).

B) DEMONSTRAMOS TER ASSIMILADO A INSTRUÇÃO DO SENHOR NO APEGO À PALAVRA: O discernimento se revela no apego incondicional à Palavra: “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; revelam prudência (leke&)(sekel) todos os que o praticam. O seu louvor permanece para sempre” (Sl 111.10). “Temer a Deus não

é o fim da sabedoria, mas o começo. Uma pessoa que teme a Deus pode se abrir para as alturas vastas e vertiginosas do conhecimento. Aqueles que ‘praticam’ esse temor de Deus podem ter um ‘bom entendimento’ de tu- 22

“Se desejamos que a obediência de Cristo nos seja proveitosa, então devemos imita-la”

(João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 5.9), p. 138). 23

João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Edições Parakletos, 1999, Vol. 2, (Sl 38.10), p. 184. 24

O sentido de prosperar aparece também de forma positiva em Jr 23.5 (ARA: “agirá sabiamente”). King James: “prosper”. No entanto, a tradução de ARA parece ser a mais correta (Ver: Robert B. Gir-dlestone, Synonyms of the Old Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, (1897), Reprinted, 1981, p. 224).

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do”.25 Em outro contexto Calvino faz uma aplicação oportuna: “Visto que os olhos são, por assim dizer, os guias e condutores do ho-mem nesta vida, e por sua influência os demais sentidos se movem de um lado para o outro, portanto dizer que os homens têm o temor de Deus di-ante de seus olhos significa que ele regula suas vidas e, exibindo-se-lhes de todos os lados para onde se volvam, serve de freio a restringir seus apetites

e paixões”.26 “Quem quer que deseje crescer na fé deve também ser diligente em

progredir no temor do Senhor”.27

C) NA INSTRUÇÃO DE DEUS TEMOS O SUCESSO NAQUILO QUE REA-LIZAMOS: O caminho do “sucesso” passa pela obediência à instrução divina. “Nu-

ma era de pragmatismo no mundo secular, onde os fins justificam os meios, existe a tentação de prostituir o caráter cristão em favor do sucesso. E mais, numa cultura que aclama cada vez mais o sucesso a qualquer custo e rene-ga as virtudes como alvos valiosos, os líderes podem perseguir, sem perce-

ber, os holofotes do sucesso e perder a alegria de servir a Cristo”.28 1) Foi esta a mensagem de Deus a Josué: “Tão-somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que se-jas bem-sucedido (שכל) (śâkal) por onde quer que andares. Não cesses de falar des-te Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer se-gundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido (שכל) (śâkal)” (Js 1.7-8). A força e a coragem de Josué se revelariam, não simplesmente em atos de bravura, estratégias e comando, mas, no apego irres-trito à Palavra. Ele necessitaria de muita coragem, como de fato necessitou, para não ceder às pressões do povo que, em muitas ocasiões, rumava em direção ao pa-ganismo. O seu testemunho final foi de uma profunda coragem e força em perseve-rar no serviço do Senhor (Js 24.14-15). 2) Davi inspirado por Deus apresenta o modelo de um bom rei como a-quele que com sabedoria atenta para a Palavra de Deus: “Atentarei sabiamente śa) (שכל) kal) ao caminho da perfeição....” (Sl 101.2). O nosso caminho nunca poderá ser mais completo ou perfeito do que o de Deus.

25

Gene Edward Veith, Jr, De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 135. 26

João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo, Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 36.1), p. 122-123. 27

João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 1, (Sl 25.14), p. 557. 28

Alex D. Montoya, A Liderança: In: John MacArthur, Jr. et al. Redescobrindo o Ministério Pastoral, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1998, p. 321.

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3) Davi quando dá instruções a seu filho Salomão, que o substituiria no trono, mostra-lhe que o êxito de seu reinado dependeria de sua fidelidade aos ensi-namentos da Lei de Deus: “Guarda os preceitos do SENHOR, teu Deus, para anda-res nos seus caminhos, para guardares os seus estatutos, e os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus testemunhos, como está escrito na Lei de Moisés, para que prosperes (שכל) (śa kal) em tudo quanto fizeres e por onde quer que fores” (1Rs 2.3).

4) Davi ora neste sentido: “Que o SENHOR te conceda prudência (leke&)29 e entendimento (בינה) (biyna h), para que, quando regeres sobre Israel, guardes a lei do SENHOR, teu Deus” (1Cr 22.12). Guardar a Lei é um ato de grande discernimen-to espiritual.

5) Posteriormente quando Salomão faz aliança com Hirão, rei de Tiro, es-te reconhece a prudência de Salomão, bendizendo a Deus por isso: “Bendito seja o SENHOR, Deus de Israel, que fez os céus e a terra; que deu ao rei Davi um fi-lho sábio, dotado de discrição (leke&)30 e entendimento (בינה) (biyna h), que edifique casa ao SENHOR e para o seu próprio reino” (2Cr 2.12).

D) ASPECTOS GERAIS: 1) Quando seguimos a instrução de Deus nos tornamos pacientes e mais dispostos a perdoar: “A discrição (leke&)31 do homem o torna longânimo, e sua glória é perdoar as injúrias” (Pv 19.11). 2) A esposa prudente é uma dádiva divina: “A casa e os bens vêm como herança dos pais; mas do SENHOR, a esposa prudente (שכל) (śa kal)” (Pv 19.14). Al-gumas coisas podemos herdar de nossos antepassados, porém o cônjuge sábio é proveniente de Deus, por isso devemos orar neste sentido e pedir discernimento a Deus.

3) Precisamos, então, fazer como os líderes de Israel, que se reuniram diante de Esdras para serem instruídos na Palavra: “.... ajuntaram-se a Esdras, o es-criba, os cabeças das famílias de todo o povo, os sacerdotes e os levitas, e isto para atentarem (שכל) (śa kal) nas palavras da Lei” (Ne 8.13).

4) Tiago nos orienta quanto à sabedoria: “Se, porém, algum de vós ne-cessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes im-propera; e ser-lhe-á concedida” (Tg 1.5). 5) De passagem podemos observar que a instrução deve ser ministrada

29

Aqui é empregado o substantivo sekel. (leke&) 30

Aqui é empregado o substantivo sekel. (leke&) 31

Aqui é empregado o substantivo sekel. (leke&)

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de forma que as pessoas entendam; com sabedoria e simplicidade. Quando Esdras e os levitas leram o livro da Lei diante do povo,32 registra Neemias: “Leram no livro, na Lei de Deus, claramente, dando explicações (leke&),33 de maneira que entendes-

sem (בין) (biyn)34 o que se lia” (Ne 8.8). 6) A verdadeira sabedoria está em atentar para a instrução de Deus: “Compreendo (שכל) (śâkal) mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos” (Sl 119.99).

Notemos, então, que é Deus mesmo quem nos capacita a usar de nossa inteli-gência. Esta “inteligência” está associada à conformação de nosso pensar e agir à Palavra de Deus.

3) DEUS NOS ENSINA:

“Instruir-te-ei e te ensinarei (ירה) (yârâh) o caminho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho” (Sl 32.8).

Figuradamente a palavra traduzida por “ensinar” tem o sentido de mostrar, indicar, “apontar o dedo”;encaminhar (Gn 46.28); disparar (Sl 11.2; 64.4); apontar (Sl 25.8); atingir (Sl 64.4); desferir (Sl 64.7). No hifil35 tem o sentido de “ensinar”. 1) Davi diz que Deus em sua bondade aponta o caminho aos pecadores: “Bom e reto é o SENHOR, por isso, aponta (ירה) (yârâh) o caminho aos pecadores” (Sl 25.8). Acrescenta: “Ao homem que teme ao SENHOR, ele o instruirá (ירה) (yârâh) no cami-nho que deve escolher” (Sl 25.12). Diante de tantas e novas opções que se mos-tram, na realidade, a única viável para aqueles que querem agradar ao Senhor, é seguir as Suas instruções. 2) O salmista pede a Deus que ensine o seu caminho: “Ensina-me (ירה) (yârâh), SENHOR, o teu caminho e guia-me por vereda plana, por causa dos que me esprei-tam” (Sl 27.11).

3) E assume um compromisso diante de Deus: “Ensina-me (ירה) (ya ra h), SENHOR, o teu caminho, e andarei na tua verdade; dispõe-me o coração (לבב) (le bab) para só temer o teu nome” (Sl 86.11). “Ensina-me (ירה) (ya ra h), SENHOR, o caminho dos teus decretos, e os seguirei até ao fim” (Sl 119.33). “Não me aparto dos teus juízos, pois tu me ensinas (ירה) (ya ra h)” (Sl 119.102). Deus deseja que conhe-

32

Não sabemos ao certo a metodologia utilizada: se, por exemplo, cada um dos levitas explicava por-ções sucessivas das Escrituras a todo o povo ou se todos explicaram concomitantemente a pequenos grupos. 33

Aqui é empregado o substantivo sekel. (leke&) 34

É muito sugestivo o número de vezes que aparece (ין�) (bîyn) no capítulo 8 de Neemias, demons-trando que aqueles que eram capazes de entender (Ne 8.2,3) de fato entenderam com discernimento a Palavra lida e explicada: Ne 8.2,3,7,8,9,12. 35

Devemos ter em vista que o hifil é causativo; ou seja: o sujeito pratica ou leva o sujeito a causar a ação.

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çamos o Seu caminho não simplesmente para exercitar a nossa curiosidade ou dile-tantismo intelectual, antes, para que haja um compromisso de vida. A nossa oração por discernimento, da mesma forma, deve vir acompanhada por este senso de de-pendência e compromisso. 4) Os ídolos nada podem ensinar e a sua própria existência conduz-nos ao en-gano: “18 Que aproveita o ídolo, visto que o seu artífice o esculpiu? E a imagem de fundição, mestra (ירה)(yârâh) de mentiras, para que o artífice confie na obra, fazendo ídolos mudos? 19 Ai daquele que diz à madeira: Acorda! E à pedra muda: Desperta! Pode o ídolo ensinar (ירה)(ya ra h)? Eis que está coberto de ouro e de prata, mas, no seu interior, não há fôlego (רוח)(ru ach) nenhum” (Hc 2.18-19).36 A idolatria é pródiga na condução de uma estrutura de pensamento pecaminosa e viciada. Ignoramos a Deus e, por isso mesmo, não sabemos bem quem somos; daí uma compreensão er-rada da realidade e uma postura equivocada.

4) DEUS NOS ACONSELHA:

“Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir; e, sob as minhas vistas, te darei conselho (יעץ) (yâ‛ats)”37 (Sl 32.8). Deus nos acompanha sempre, nos mantendo sob seus olhos, nos aconselhando. A questão nossa é: Em quem buscamos os nossos conselhos? A escolha de nos-so conselheiro revela, muitas vezes, o tipo de conselho que queremos ter. Podemos não querer buscar conselho com os nossos pais porque cremos saber o que eles nos dirão e, pensamos que o que vamos ouvir é justamente o que não queremos fa-zer. Podemos, do mesmo modo, não buscar orientação nas Escrituras porque pen-samos saber o que elas nos dirão e, sinceramente, não estamos interessados no que nos será proposto... As Escrituras nos mostram alguns homens e nações que souberam se valer de bons conselhos e outros não:

a) Moisés soube atentar para o conselho de seu sogro Jetro quanto à divisão do trabalho no sentido de administrar e governar o povo. O seu sogro lhe diz: “Ouve, pois, as minhas palavras; eu te aconselharei (יעץ) (yâ‛ats), e Deus seja

36

O Antigo Testamento emprega a palavra ( ahUr) (rüah), para “espírito”, sendo traduzida por “vento”, “espírito”, “alento”, “hálito”, “sopro”, etc. Quando ahUr é empregado para Deus, denota o Seu poder in-corruptível e preservador [F. Baumgärtel, Pneu=ma: In: G. Friedrich & G. Kittel, eds. Theological Dic-tionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982, Vol. VI, p. 364]. Portanto, a idéia de vento aponta para o poder soberano de Deus que se movimenta livremente, figuradamente, como uma tempestade, um tufão incontrolável, daí a impossibilidade de prender, domesticar ou domi-nar o Espírito de Deus. O Antigo Testamento mostra o Espírito como onisciente (Is 40.13), onipresen-te (Sl 139.7) e onipotente (Is 34.16), evidenciando assim, a impotência e inércia dos ídolos, visto que estes não têm espírito, não têm vida (Hc 2.19/Jr 10.14). (Para um estudo mais detalhado, ver: Her-misten M.P. Costa, A Pessoa e Obra do Espírito Santo, São Paulo, 2008). 37

A palavra pode ter também o sentido de determinação, desígnio de Deus o qual não pode ser frus-trado (Is 14.24-27; 19.17; 23.8,9).

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contigo; representa o povo perante Deus, leva as suas causas a Deus” (Ex 18.19);

b) Absalão num primeiro momento foi sábio se aproximando de Aitofel, conse-

lheiro de Davi (2Sm 15.12/31; 16.23);38 c) Posteriormente, Absalão erradamente não ouviu o conselho de Aitofel, e sim o

de Husai, que na realidade era amigo de Davi, desfazendo assim um plano que possivelmente seria arrasador contra Davi (2Sm 17.7,11,15, 21);39

d) Quando Adonias planeja herdar de Davi o trono, tomando o lugar do sucessor

legítimo – Salomão –, o profeta Natã aconselha a Bate-Seba. Este seu conse-lho garantiu o trono a Salomão (1Rs 1.12);40

e) Roboão preferiu seguir o conselho dos jovens41 do que dos anciãos, gerando

a divisão do Reino de Israel (1Rs 12.6,8,9,13; 2Cr 10.6,8,9); f) Jeroboão, que com a divisão das tribos, reinou sobre o Reino do Norte, para

que o povo não fosse mais a Jerusalém, se aconselhou e resolveu criar dois bezerros de ouro para que o povo os adorasse em Betel e em Dã (1Rs 12.28-29);42

g) Quando Davi pensa em trazer para Jerusalém a arca da aliança, aconselha-se

antes com seus capitães, príncipes e com o povo em geral (1Cr 13.1-4);43

38

“12 Também Absalão mandou vir Aitofel, o gilonita, do conselho de Davi, da sua cidade de Gilo; en-quanto ele oferecia os seus sacrifícios, tornou-se poderosa a conspirata, e crescia em número o povo que tomava o partido de Absalão.(...) 31 Então, fizeram saber a Davi, dizendo: Aitofel está entre os que conspiram com Absalão. Pelo que disse Davi: Ó SENHOR, peço-te que transtornes em loucura o conselho de Aitofel” (2Sm 15.12,31). “O conselho que Aitofel dava, naqueles dias, era como resposta de Deus a uma consulta; tal era o conselho de Aitofel, tanto para Davi como para Absalão” (2Sm 16.23). 39

“7 Então, disse Husai a Absalão: O conselho (יעץ) (yâ‛ats) que deu Aitofel desta vez não é bom. (...) 11 Eu, porém, aconselho (יעץ) (yâ‛ats) que a toda pressa se reúna a ti todo o Israel, desde Dã até Ber-seba, em multidão como a areia do mar; e que tu em pessoa vás no meio deles. (...) 15 Disse Husai a Zadoque e a Abiatar, sacerdotes: Assim e assim aconselhou (יעץ) (yâ‛ats) Aitofel a Absalão e aos anciãos de Israel; porém assim e assim aconselhei (יעץ) (yâ‛ats) eu. (...) 21 Mal se retiraram, saíram logo os dois do poço, e foram dar aviso a Davi, e lhe disseram: Levantai-vos e passai depressa as águas, porque assim e assim aconselhou (יעץ) (yâ‛ats) Aitofel contra vós outros” (2Sm 17.7,11,15, 21). 40

“Vem, pois, e permite que eu te dê um conselho, para que salves a tua vida e a de Salomão, teu fi-lho” (1Rs 1.12). 41

Na realidade nem Roboão nem seus amigos eram tão jovens. Estavam na faixa dos 40 anos (1Rs 14.21; 2Cr 12.13). 42

“28 Pelo que o rei, tendo tomado conselhos, fez dois bezerros de ouro; e disse ao povo: Basta de subirdes a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito! 29 Pôs um em Betel e o outro, em Dã. 30 E isso se tornou em pecado, pois que o povo ia até Dã, cada um para adorar o bezerro” (1Rs 12.28-30). 43

“Consultou Davi os capitães de mil, e os de cem, e todos os príncipes; 2 e disse a toda a congre-gação de Israel: Se bem vos parece, e se vem isso do SENHOR, nosso Deus, enviemos depressa mensageiros a todos os nossos outros irmãos em todas as terras de Israel, e aos sacerdotes, e aos

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h) O rei Acazias teve um curto (1 ano) e péssimo reinado porque seguiu as orien-

tações de sua mãe, Atalia, “quem o aconselhava (יעץ) (yâ‛ats) a proceder ini-quamente” e também seguiu as instruções dos conselheiros da casa de Acabe (2Cr 22.3-4);

i) Salomão, o homem mais sábio de todos, instrui-nos quanto à importância de

sabermos nos valer dos bons conselhos e conselheiros: “Não havendo sábia direção, cai o povo, mas na multidão de conselheiros (יעץ) (yâ‛ats) há seguran-ça” (Pv 11.14). A sabedoria consiste em saber nos valer dos bons conselhos: “Da soberba só resulta a contenda, mas com os que se aconselham (יעץ) (yâ‛ats) se acha a sabedoria” (Pv 13.10). “Onde não há conselho fracassam os projetos, mas com os muitos conselheiros (יעץ) (yâ‛ats) há bom êxito” (Pv 15.22). (Ver também: Pv 24.6);

j) Mesmo os ímpios maquinando intrigas contra os necessitados a pureza do

conselho nobre perseverará: “Também as armas do fraudulento são más; ele maquina intrigas (יעץ) (yâ‛ats) para arruinar os desvalidos, com palavras falsas, ainda quando a causa do pobre é justa. Mas o nobre projeta (יעץ) (yâ‛ats) coi-sas nobres e na sua nobreza perseverará” (Is 32.7-8);

k) Salomão também nos fala da alegria do coração daqueles que aconselham à

paz: “Há fraude no coração (לב) (lêb) dos que maquinam mal, mas alegria têm os que aconselham (יעץ) (yâ‛ats) a paz” (Pv 12.20);

l) O nosso maravilhoso conselheiro é o próprio Senhor que nos fala por meio de

Sua Palavra. A profecia a respeito de Jesus Cristo nos diz: “Porque um meni-no nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro (יעץ) (yâ‛ats), Deus Forte, Pai da E-ternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6);

m) A fonte do conhecimento e da sabedoria está em Deus, Quem não precisa de

conselho: “Com quem tomou ele conselho (יעץ) (yâ‛ats), para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu (למד)(lâmad) na vereda do juízo, e lhe ensinou -e lhe mostrou o caminho de entendimen ,(da‛ath) (דעת) sabedoria (lâmad) (למד)to?” (Is 40.14);

n) Jó declara a sabedoria de Deus nos seus conselhos: “Como sabes aconselhar

-ao que não tem sabedoria e revelar plenitude de verdadeiro co (yâ‛ats) (יעץ)nhecimento!” (Jó 26.3).

o) Davi canta o cuidado e a instrução do Senhor: “Bendigo o SENHOR, que me

aconselha (יעץ) (yâ‛ats); pois até durante a noite o meu coração me ensina” (Sl 16.7).

O objetivo de toda a instrução de Deus é para que Lhe sejamos obedientes. A

levitas com eles nas cidades e nos seus arredores, para que se reúnam conosco; 3 tornemos a trazer para nós a arca do nosso Deus; porque nos dias de Saul não nos valemos dela. 4 Então, toda a con-gregação concordou em que assim se fizesse; porque isso pareceu justo aos olhos de todo o povo” (1Cr 13.1-4).

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obediência, contudo, deve ser vista não como algo que seja essencialmente bom pa-ra Deus, como se Ele precisasse dela, antes, é para o nosso bem.

“Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem (קרב)(qa rab)” (Sl 32.9). A idéia aqui de obedecer é a de estar próximo; ter uma relação de proximidade e inti-midade.44 Deus deseja que o obedeçamos com inteligência, tendo a percepção cor-reta de que os Seus mandamentos se constituem no melhor que há para a nossa vi-da. Como vimos, “a fé, quando é conduzida à obediência a Deus, mantém

nossas mentes fixas em sua palavra”.45 Calvino após a exposição de Dn 3.30, ora:

“Deus Todo-Poderoso, já que Te fizeste conhecido a nós no ensinamento de Tua Lei e Evangelho, e também diariamente condescendes em revelar-nos, de maneira familiar; tua vontade, permite que permaneçamos firmes na verdadeira obediência àquele ensino no qual a perfeita retidão se nos manifesta, e que nunca sejamos demovidos de Teu serviço; e, seja o que for que nos aconteça, que estejamos preparados a sofrer mil mortes em vez de nos desviarmos da verdadeira profissão da piedade na qual sai-bamos descansar nossa salvação; e que possamos de tal forma glorificar Teu nome que nos tornemos participantes daquela glória que nos foi con-

quistada pelo sangue de Teu Unigênito Filho. Amém”.46

Maringá, 3 de abril de 2010. Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

44

Ver: Leonard J. Coppes, qãrab: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1367. 45

João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Edições Parakletos, 1999, Vol. 2, (Sl 38.10), p. 184. 46

João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, Vol. 1, (Dn 3.30), p. 232.