introducao a educacao crista 8

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Artigo sobre Educação Cristã parte 8

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  • Introduo Educao Crist (8) Reflexes, Desafios e Pressupostos

    F. O Que Ensina.... (Rm 12.7) Uma Palavra aos Professores:

    O corao do educador cristo deve ser motivado pelo amor. Ainda que ningum tenha uma motivao ab-solutamente pura, mesmo assim o cres-cente desejo de nosso corao deve ser o de ver pessoas crescendo na f. Nosso ministrio educacional no deve ser egosta, mas um servio aos outros. O ensino deveria ser apresentado como um dom de amor aos outros. Somente essa motivao digna do adjetivo cris-

    t Perry G. Downs.1

    Introduo:

    Vivemos num mundo marcado por crises em diferentes reas: costuma-se falar na crise do desemprego que tem sido um fantasma com um corpo bem definido j no incio de nosso sculo , poltica, financeira, habitacional (sem-terra, sem-teto), de autoridade,2 de segurana pblica, etc. Compactuando com tais crises, en-contramos o problema educacional.

    A crise educacional no , como alguns podem pensar, um fenmeno tipicamente brasileiro ou simplesmente secular. A maioria dos pases, desenvolvidos ou no, en-frenta em maior ou menor escala esta problemtica: O analfabetismo, falta de salas de aula, de pessoal competente, de recursos (problema mais comum entre os pases subdesenvolvidos), de qualidade no ensino, de interesse por parte dos alunos, etc. A Igreja tambm no est imune a isto.

    Particularmente, creio que a anlise do problema educacional tem pecado em sua abordagem, sendo frequentemente unilateral, tentando resolver os problemas ape-nas pelo lado do professor que comprovadamente no tem grandes estmulos a-

    1 Perry G. Downs, Introduo Educao Crist: Ensino e Crescimento, So Paulo: Editora Cultura

    Crist, 2001, p. 17. 2 "O problema bsico do mundo de hoje problema de autoridade. O caos no mundo se

    deve ao fato de que, em todas as reas da vida, as pessoas perderam todo o respeito pela autoridade, quer entre as naes ou entre regies, quer na indstria, quer em casa, quer nas escolas, ou em toda e qualquer parte. A perda da autoridade! E, em minha opinio, tudo comea realmente no lar e na relao matrimonial" (D.M. Lloyd-Jones, Vida No Esprito: No Casamento, no Lar e no Trabalho, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas, 1991, p. 87).

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    lm de sua vocao , proporcionando-lhe, se tanto, cursos de especializao, onde predominam trabalhos em grupo que, quando muito, geram em boa parte da turma, algumas frases de efeito que passam a ser slogans dos especializados. Ainda no esforo de resolver o problema do professor, so-lhe dadas novas tcni-cas, objetivos, material, livros e apostilas (Sempre com um discurso de como funcio-nou na experincia de quem ensina). Tudo isto vem acompanhado de uma palavra de como deve ou no proceder o professor (e tome exemplos que demonstram a ve-racidade do sistema). Nestes discursos, h uma palavra mgica, a qual abre todas as possibilidades, dando uma autoridade acadmica indizvel: MODERNO. Quando falamos de mtodo moderno, o momento de prender a respirao porque agora, significa que, possivelmente mais uma revoluo copernicana vai ser realizada e, os velhos manuais que nem sequer chegaram a idade do por que, sero qualifi-cados de antiquados,3 ideolgicos, alienantes e favorecedor do sistema. O destino de tais manuais ser as luzes; no do sucesso, mas da fogueira. O mtodo que ento surge, vem sob o manto sagrado de maduro, elaborado e testado no primeiro mundo ou adaptado realidade brasileira, recebendo a adjetivao de moderno ou novssimo e, poder ser apelidado de novo, adequado ou mesmo contextualizado. Este ritual do ocaso que no por acaso, contribui para que mui-tas vezes os professores se sintam massacrados pelas novas frmulas que prescre-vem como ele deve agir sem que, na realidade, consiga com exagerada frequncia, dissolver a terrvel barreira, amide slida do desinteresse do aluno.

    Aqui no estamos propondo nenhum conservadorismo inconsequente; antes es-tamos sugerindo que, no sistema educacional como em quase tudo , a questo da morte de uma forma ou idia e o surgimento de outra, no deve obedecer ao cri-trio puramente temporal: o velho no necessariamente ultrapassado, nem o novo obrigatoriamente o que faltava. Obviamente, a recproca tambm verda-deira. Deixemos agora estes assuntos para os pedagogos, psiclogos e filsofos da educao e, voltemos s consideraes sobre o nosso tema.

    A Escola Dominical, que costumeiramente em nossas igrejas um dos pilares fundamentais da Educao Crist, tem as suas particularidades que a distingue de outras escolas e, creio que a principal o fato de termos um Livro-Texto inesgot-vel, infalvel, atualssimo, o qual nos traz orientaes seguras e diretas sobre o as-sunto que vimos considerando. O nosso propsito analisar o texto de At 20.17-35, estudando o comportamento do apstolo Paulo como mestre, sob o ttulo: O Que Ensina.... Assim procedendo, podemos observar que aquele que ensina deve ter:

    1) Dignidade Pessoal (At 20.31):

    Os efsios haviam convivido de forma intensiva com Paulo durante trs anos (At 20.31); por isso, eles o conheciam bem, sabiam de suas palavras e testemunho. Agora, quando Paulo se despede daqueles presbteros em Mileto, relembra aquilo que eles j sabiam: qual fora o seu comportamento entre os irmos durante aqueles

    3O historiador britnico Eric Hobsbawn, parece estar correto, quando, analisando a nossa presente era, diz que quase todos os jovens de hoje crescem numa espcie de presente contnuo, sem qualquer relao orgnica com o passado pblico da poca em que vivem (A Era dos Extremos, So Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 13).

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    anos em que ali viveu (At 20.18). Vs bem sabeis.... (E)pistamai).4 O termo grego expressa preliminarmente o conhecimento obtido devido aproximao com o obje-to conhecido, e, ento, o conhecimento resultante de uma prtica prolongada de percepo. O fato de Paulo trazer baila o seu passado de relacionamento fraterno com a Igreja de feso revela uma vida digna; ele no tinha do que se envergonhar, ou tentar apagar a lembrana de seus irmos; isto porque Paulo era um homem hon-rado, que sempre soube se portar com dignidade. Todavia, como se manifestava a dignidade pessoal de Paulo? O que isto tem a ver com o mestre? Competncia por si s no basta?! Responderemos a estas e outras perguntas no decorrer deste ca-ptulo. Dentro deste tpico, podemos ver que Paulo revelou a sua dignidade pessoal tendo:

    A) AUTORIDADE MORAL:

    A autoridade moral de Paulo como mestre, se alicerava sobre alguns pi-lares, analisemo-los:

    1) Crer no que ensina:

    A dignidade pessoal do professor evidenciada aqui. preciso que ele creia no que est ensinando. Se eu ensino o que no creio, a minha atitude imoral, estou sendo desonesto. Um dos motivos porque tem crescido o nmero de lderes religiosos com problemas de depresso est aqui enraizado: no mais crem no que ensinam. Ento, por que ensinam? Para poder sobreviver. Esta dialtica diablica entre o no crer e o ensinar a causa determinante de diversas patologias. A frag-mentao entre o ensino e a f conduz-nos perda do respeito por ns mesmos. A ausncia de integridade o caminho fcil que nos conduz ao sarcasmo e deses-truturao espiritual, moral e intelectual.

    Paulo se gastou noite e dia (At 20.31) em prol do Evangelho, admoestando, en-sinando publicamente e de cada em casa (At 20.20). Ser que todo este esforo va-leu a pena? Paulo estava convencido de que sim, pois cria no que ensinava. Ele sa-bia por experincia prpria, que o Evangelho o poder de Deus para a salvao de todos os que crem (Rm 1.16). Por isso, apesar de muitas vezes os seus ouvintes buscarem sinais e sabedoria, ele pregava a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus (1Co 1.22-24).

    Como autnticos mestres cristos podemos fazer uma confisso idntica a que foi formulada em um Congresso cristo realizado em Jerusalm (1928): A nossa mensagem Jesus Cristo. Nele sabemos quem Deus e o que o homem po-de vir a ser por meio dele.5

    4Pedro quando negou a Jesus, usou esta mesma palavra para dizer que no compreendia o que es-tavam falando a respeito dele ser seguidor do Nazareno (Mc 14.68). (*Mc 14.68; At 10.28; 15.7; 18.25; 19.15,25; 20.18; 22.19; 24.10; 26.26; 1Tm 6.4; Hb 11.8; Tg 4.14; Jd 10). 5 Cf. John A. Mackay, ...Eu Vos Digo, 2 ed. rev. Lisboa: Junta Editorial Presbiteriana de Coopera-

    o em Portugal, 1962, p. 13.

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    O nosso ensino s ser eficaz se primeiramente estivermos convencidos da vali-dade do que ensinamos. Todavia, quando ensinamos a Palavra de Deus, devemos estar convictos de que Ela mais poderosa do que a nossa incredulidade ou m vontade. Por isso, Deus na Sua sbia e inesgotvel soberania pode se valer at mesmo dos falsos mestres ainda que saibamos que estes no permanecero impu-nes.6

    2) Viver o que ensina:

    Crer no que ensinamos eficiente, mas, no suficiente; preciso que procuremos viver o que ensinamos. O conhecimento intelectual da verdade sem sua aplicao s aumenta a nossa culpa diante de tal omisso.7 O descaso para com o que cremos no sentido de no buscar harmonizar a nossa conduta com o que ensi-namos , primariamente, uma questo tica.

    Paulo vivia a sua pregao; e, por isso, trazia tona, memria pblica, o seu vi-ver no meio daqueles irmos durante os trs anos em que ali passou. Podemos ob-servar que Paulo no fez isso apenas como um ato retrico para impressionar seus ouvintes; pelo contrrio, em outras ocasies ele demonstrou a mesma segurana, fruto de uma conscincia tranquila. Por isso, ele podia conclamar os seus discpulos (aprendedores) a serem seus imitadores (1Co 4.16; 11.1) e, tambm, a desafiar os filipenses, a olharem para ele como padro daqueles que se diziam discpulos de Cristo (Fp 3.17).8 O exemplo de Paulo era o testemunho vivo da eficcia do seu en-sino; ele encarnava em sua vida a sua pregao; Paulo tinha a correta conscincia de que o ensino no se limitava a apenas 50 minutos semanais, antes, tal perodo deveria vir acompanhado de um exemplo vivo e dirio.

    A. H. MacKinney expressou bem esta verdade quando disse: A verdade en-carnada a nica verdade espiritual que consegue apelar de modo efeti-vo. Por isso, cada professor deve sentir bem fundo em seu corao que sua pessoa a lio que mais apela ao corao.9

    Talvez, alguns descrentes pudessem duvidar do que Paulo ensinava, contudo, ti-nham que se render ao exemplo de sua vida. O exemplo tende sempre a ser mais e-ficaz do que o preceito. Todavia, o comportamento no condizente com o princpio

    6 Deus julgar o discurso dos professores ainda mais duramente que o discurso de outros

    crentes (John A. Hughes, Por que Educao Crist e no Doutrinao Secular?: In: John F. MacAr-thur, Jr. ed. ger. Pense Biblicamente!: recuperando a viso crist do mundo, So Paulo: Hagnos, 2005, p. 384).

    7 A aplicao da verdade to importante como a prpria verdade. No h nenhum va-

    lor em termos conhecimento intelectual da verdade, se no a aplicarmos, e so muitos os que falham neste ponto [D.M. Lloyd-Jones, Crescendo no Esprito, So Paulo: Publicaes Evan-glicas Selecionadas, 2006 (Certeza Espiritual: Vol. 4), p. 10]. 8Irmos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que tendes em ns (Fp

    3.17). 9 A. H. MacKinney, The Sunday School Teacher at His Best, p. 20. Apud J.M. Price, A Pedagogia de

    Jesus: O Mestre por Excelncia, 3 ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1975, p. 10.

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    ensinado, no deve simplesmente anul-lo, mas, de fato, enfraquece-o. Da a impor-tncia do professor viver em harmonia com o seu ensinamento.10

    Calvino constata que a doutrina ser de pouca autoridade, a menos que sua fora e majestade resplandeam na vida do bispo como o reflexo de um espelho. Por isso ele diz que o mestre seja um padro ao qual os discpu-los possam seguir.11 Em outro lugar, aps afirmar que Timteo foi formado por Paulo na na academia de seu prprio ensino, acrescenta: um bom mestre aquele que molda seus alunos no s por meio de suas palavras, mas, por as-sim dizer, tambm lhes abre seu prprio corao para que tenham a experi-ncia de que todo o seu ensino sincero.12

    Xenofonte (c. 430-355 a.C.), historiador e general grego, que foi discpulo de S-crates (469-399 a.C.), sem ao que parece entender plenamente as lies de seu mestre, disse algo de grande relevncia a respeito dele: Sei que Scrates era pa-ra seus discpulos modelo vivo de virtuosidade e que lhes administrava as mais belas lies acerca da virtude e o mais que ao homem concerne.13

    B) AUTORIDADE ESPIRITUAL:

    Aquele que ensina deve ter autoridade espiritual para faz-lo; ela uma decorrncia natural de trs elementos que formam a sua base.

    1) Estudo das Escrituras:

    As Escrituras se constituem no meio usado por Deus para a nossa san-tificao (Jo 17.17).14 A Palavra de Deus o alimento indispensvel, vital para a nossa nutrio espiritual; por isso, encontramos recomendaes diversas para que a estudemos e pratiquemos os seus ensinamentos (Js 1.8; Mt 22.29; Jo 5.39; Tg 1.22-25).

    Considerando que Deus age por intermdio da Escritura, o estudo srio e siste-mtico da Palavra fundamental para o nosso crescimento espiritual. Obviamente,

    10 Adams comenta com acerto: Gostemos ou no, a teoria e a prtica, pela prpria natureza

    da vida humana, j esto integradas na pessoa do professor. Um professor ensina teoria (tal-vez no a teoria que conscientemente quer ensinar) o tempo todo por sua prtica, e nisto ele inevitavelmente se comunica bem. O que o mestre (ou mestra) faz e diz, o que so as suas atitudes, os seus modos, etc. tudo parte do ensino ministrado mediante modelos. O mestre constitui a integrao de princpio e prtica (Jay A. Adams, Conselheiro Capaz, So Paulo: Fiel, 1977, p. 243). 11J. Calvino, As Pastorais, So Paulo: Paracletos, 1998, (Tt 2.7), p. 331 12

    J. Calvino, As Pastorais, (2Tm 3.10), p. 256. 13

    Xenofonte, Ditos e Feitos Memorveis de Scrates, So Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, Vol. II), 1972, I.2.17. p. 44. 14

    Vd. Hermisten M.P. Costa, O Pai Nosso, So Paulo: Editora Cultura Crist, 2001.

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    no ser a leitura mecnica da Bblia que nos far amadurecer em nossa f em Deus. Houve e certamente h homens que possivelmente conheam a Bblia melhor do que ns, sabendo passagens de memria, distinguindo bem os perodos histri-cos, etc., mas, no conhecem o Deus da Palavra. O conhecimento de Deus e de Sua Palavra evidencia-se pela prtica da Palavra. O crescimento espiritual no mstico, sentimental, devocional, psicolgico ou resultado de truques secre-tos. Vem atravs da compreenso e da prtica de princpios dados pela Pa-lavra de Deus, acentua MacArthur.15 A santificao, portanto, no uma experincia autnoma, antes o exerccio de compreenso e aplicao da Palavra nossa vida. Insisto: A experincia o resul-tado deste processo. As nossas experincias no servem de fundamento slido para a nossa f. Antes, elas devem ser examinadas luz das Escrituras. A Palavra de Deus o firme fundamento de nossa f. A Palavra deve ser a intrprete, norteadora e corretora do que experimentamos.

    A Palavra do Esprito eficaz no propsito de santificao estabelecido por Deus. Paulo escreve aos cristos tessalonicenses: "Outra razo ainda temos ns para in-cessantemente dar graas a Deus: que, tendo vs recebido a palavra que de ns ouvistes, que de Deus, acolhestes no como palavra de homens, e, sim como, em verdade , a palavra de Deus, a qual, com efeito, est operando eficazmente em vs, os que credes (1Ts 2.13). Deus nos gera pela Palavra (Rm 10.17) e, agora, crendo, tambm nos santifica de modo eficaz por meio dela.

    Paulo como todo Fariseu (At 23.26; 26.5; Fp 3.5) conhecia bem as Escrituras, as quais se constituam em seu sustento para todos os momentos de sua vida. Tanto assim, que, conforme vimos, quando ele se encontrou preso em Roma, pediu a Ti-mteo que, quando fosse se encontrar com ele, levasse duas coisas: a capa (...) bem como os livros, especialmente os pergaminhos (2Tm 4.13). O inverno se apro-ximava; Paulo desejava a sua capa para aquecer o seu corpo e os livros, pergami-nhos e amigos, para aquecer a sua alma saudosa. Ningum totalmente insensvel s condies climticas e, ningum est alm da necessidade de amizade e solida-riedade.

    A Bblia foi escrita para que tenhamos esperana em Deus (Rm 15.4), alimentan-do a nossa alma por meio da compreenso real da Sua vontade.

    Paulo confiando a Igreja aos cuidados dos presbteros, tem certeza da presena sustentadora e santificadora de Deus, operando pela Sua Palavra: "Agora, pois, en-comendo-vos ao Senhor e palavra da sua graa, que tem poder para vos edificar e dar herana entre todos os que so santificados (At 20.32).

    2) Assiduidade aos Cultos:

    Quando nos reunimos para cultuar a Deus, exercitamos o Sacerdcio

    15John F. MacArthur, Jr., Chaves para o Crescimento Espiritual, 2 ed., So Jos dos Campos, SP.: Fiel, 1986, p. 7.

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    Universal dos Crentes, que s se torna possvel por intermdio do sacrifcio expiat-rio de Jesus Cristo (Vejam-se: Hb 7.22-28; 9.11-14;16 10.19-25/Hb 6.19-20). Ele foi o nosso precursor presena de Deus (Jo 14.2-3/Hb 6.17-20;17 Rm 5.2; Hb 4.16).

    No culto pblico ns exercitamos o Sacerdcio Universal dos Crentes da seguinte forma:

    1) Falamos com Deus expressando a nossa f por meio dos cnticos, das ora-es, das ofertas, e dos Credos.

    2) Ouvimos e somos alimentados pela Palavra de Deus a qual lida e exposta.

    3) Compartilhamos a nossa f por intermdio do testemunho unssono daquilo que cremos e que Deus tem feito.

    Por isso, j no Novo Testamento, a aqueles que eram tentados a se ausentarem do culto por motivos irrelevantes, o escritor da Epstola aos Hebreus, exortava: No deixemos de congregar-nos como costume de alguns; antes, faamos admoesta-es, e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima (Hb 10.25).

    As Escrituras no prescrevem quantas vezes devemos nos reunir, contudo, ve-mos na Igreja Primitiva um grande prazer de estar juntos estudando a Palavra e lou-vando a Deus (At 2.42-47). A nossa frequncia aos cultos deve pressupor um desejo de adorar, aprender e servir a Deus. O culto nunca uma atitude passiva, antes en-volve o desejo de participao. Temos um bom resumo do sentimento que deve nor-tear a nossa participao no culto em Hb 10.22-25.18 Por outro lado, como bem ob-

    16Por isso mesmo, Jesus se tem tornado fiador de superior aliana. Ora, aqueles so feitos sacerdo-

    tes em maior nmero, porque so impedidos pela morte de continuar; este, no entanto, porque conti-nua para sempre, tem o seu sacerdcio imutvel. Por isso, tambm pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpvel, sem mcula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os cus, que no tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrif-cios, primeiro, por seus prprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu. Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens sujeitos fraque-za, mas a palavra do juramento, que foi posterior lei, constitui o Filho, perfeito para sempre (Hb 7.22-28). Quando, porm, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens j realizados, mediante o mai-or e mais perfeito tabernculo, no feito por mos, quer dizer, no desta criao, no por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu prprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redeno. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto purificao da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Esprito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mcula a Deus, puri-ficar a nossa conscincia de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo! (Hb 9.11-14). 17

    Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propsito, se interps com juramento, para que, mediante duas coisas imutveis, nas quais impossvel que Deus minta, forte alento tenhamos ns que j corremos para o refgio, a fim de lanar mo da esperana proposta; a qual temos por ncora da alma, segura e firme e que penetra alm do vu, onde Jesus, como precursor, entrou por ns, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre.... (Hb 6.17-20). Na casa de meu Pai h muitas moradas. Se assim no fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vs tambm (Jo 14.2-3). 18

    22

    Aproximemo-nos, com sincero corao, em plena certeza de f, tendo o corao purificado de m conscincia e lavado o corpo com gua pura. 23 Guardemos firme a confisso da esperana, sem

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    servou Warfield (1851-1921): Nenhum homem pode excluir-se dos cultos regu-lares da comunidade qual pertence, sem srios prejuzos para sua vida es-piritual pessoal.19 E: .... nem o indivduo mais santo pode se dar ao luxo de dispensar as formas regulares de devoo, e que o culto pblico regular da igreja, apesar de todas as suas imperfeies e problemas localizados, a proviso divina para o sustento da alma.20 Sem dvida, a frequncia igreja um dos meios de grande relevncia que Deus emprega para nos conduzir maturi-dade crist.21

    Paulo, mais uma vez serve-nos de exemplo. Aps a sua converso e recuperao da viso, passou a participar dos cultos na Sinagoga, aproveitando a oportunidade para pregar a Palavra (Vejam-se: At 9.20; 13.5,14; 42-44; 14.1; 16.13).

    3) Comunho por meio da Orao:

    O apstolo Paulo no s ensinou a respeito da orao (Ef 6.18; 1Ts 5.17), mas, tambm, demonstrou em sua vida o significado da orao. O texto de Atos, que registra a sua priso na cidade de Filipos em companhia de Silas, diz:

    E, depois de lhes darem muitos aoites, os lanaram no crcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse com toda a segurana. Este, recebendo tal ordem le-vou-os para o crcere interior e lhes prendeu os ps no tronco. Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de priso escutavam (At 16.23-25).

    Notemos que a orao no deve estar ligada simplesmente determinada situa-o ou circunstncia; ela deve fazer parte da nossa cotidianidade, na presena de Deus. A despedida de Paulo em Mileto foi marcada por uma orao sincera e emo-cionada (At 20.36-38).

    O mestre cristo fala de coisas concernentes ao Ser de Deus e Sua vontade; por isso deve esmerar-se por viver em comunho com Deus por meio do estudo da Palavra e da orao a fim de poder aprender dEle conforme o convite feito pelo pr-prio Senhor Jesus, o Deus Encarnado: Aprendei de mim. (Mt 11.28-30).

    Lloyd-Jones (1899-1981) enfatiza a importncia da associao entre a instruo e a orao:

    "A orao sempre necessria como instruo (...). Transmitir conheci-

    vacilar, pois quem fez a promessa fiel. 24 Consideremo-nos tambm uns aos outros, para nos esti-mularmos ao amor e s boas obras. 25 No deixemos de congregar-nos, como costume de alguns; antes, faamos admoestaes e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima (Hb 10.22-25). 19

    B.B. Warfield, A Vida Religiosa dos Estudantes de Teologia, So Paulo: Editora os Puritanos, 1999, p. 19. 20William Robertson Nicoll. Apud B.B. Warfield, A Vida Religiosa dos Estudantes de Teologia,p. 25. 21

    Ver: Perry G. Downs, Introduo Educao Crist: Ensino e Crescimento, So Paulo: Editora Cultura Crist, 2001, p. 182-183.

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    mento no basta. igualmente essencial que oremos que oremos por ns mesmos, para que Deus nos faa receptivos ao conhecimento e ins-truo; que oremos para sermos capacitados a agasalhar o conhecimen-to recebido e aplic-lo; que oremos para que no fique s em nossas mentes, e sim que se apegue aos nossos coraes, dobre as nossas von-tades e afete o homem todo. O conhecimento, a instruo e a orao devem andar sempre juntos; jamais devem estar separadas".22

    C) AUTORIDADE INTELECTUAL:

    A competncia do mestre tambm evidencia a sua dignidade pessoal. A competncia se desenvolve medida que realizamos as nossas tarefas com integri-dade. Lembro-me que quando ingressei no Seminrio em 1976, algo que me inco-modava muito era a sensao de ignorncia diante daquelas enormes estantes cheias de livros na biblioteca; no sabia por onde comear, o que ler, como ler uma lngua desconhecida (a maioria dos livros estava em ingls). Algumas aulas me dei-xavam com sensao idntica. Alguns professores causavam muita admirao pela sua erudio. A minha impresso, que ainda permanece, que eu nunca os alcan-aria... Todavia, Deus nos concede as pequenas coisas para que as realizemos. A competncia consiste na utilizao ntegra dos recursos que Deus nos confere. Mui-tas vezes ficamos a espera das grandes oportunidades e no descobrimos a bele-za de servir a Deus mesmo nos servios rotineiros de nossa igreja. Neste caso, a nossa perspectiva que est equivocada. Quando no percebemos que a grandeza do que fazemos est no propsito para o qual realizamos e na forma como fazemos, mesmo quando tivermos grandes atividades elas no permanecero grandiosas para ns, antes, se tornaro maantes. Uma das maiores bnos que podemos ter neste estado de existncia a conscincia de que estamos servindo a Deus, onde quer que trabalhemos, aonde quer que formos. Somos aperfeioados medida que servimos. Por isso que nada mais poderemos ser do que servos. Servir ao Senhor o nosso maior privilgio. Deus Se digna em utilizar-se dos nossos talentos (1Co 15.10).

    Paulo foi um intelectual do cristianismo primitivo; antes disso, j fora extremamen-te bem formado dentro do judasmo (Gl 1.13-14; Fp 3.4-6; At 22.3; 26.4-5). No entan-to, aps a sua converso, vemos o processo primeiro que Deus utilizou para o seu preparo; Paulo descreve sumariamente sobre isso (Gl 1.15-2.2). Sabemos que ele era poliglota, sabendo expressar-se em Hebraico, Aramaico, Grego e, possivelmen-te, em Latim; provavelmente era doutor da Lei e, em alguns dos seus escritos de-monstrou conhecer obras de poetas gregos (At 17.28; 1Co 15.33; Tt 1.12), alm de revelar um estilo erudito na sua forma de argumentao (Veja-se: 1Co 15.12-22). Ele sem dvida tinha autoridade intelectual para ensinar. Creio estar correto Bourceau, ao dizer que, Constitui grande imoralidade desempenhar um cargo para o qual no se est habilitado. A incompetncia profissional , no fundo uma

    22D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondveis Riquezas de Cristo, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas, 1992, p. 98.

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    questo de honestidade.23

    Paulo consciente desta realidade recomendou a Timteo a necessidade de ter mestres competentes, a fim de que estes pudessem ensinar a outros: E o que de minha parte ouviste, atravs de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a ho-mens fiis e tambm idneos (i(kano/j = competente, apto, seguro, respeit-vel)24 para instruir a outros (2Tm 2.2).

    Lamentavelmente, h professores que no preparam as suas aulas devidamente, querendo ter apenas o ttulo de professor e mestre, no fazendo jus, contudo, sua funo, preferindo confiar numa suposta inspirao divina como recompensa da sua preguia. Assim procedendo, perdem a oportunidade de aprender mais e, pi-or, desestimulam os seus alunos que, muitas vezes, perdem o interesse (quando h) pela matria, pois tendem a identificar o professor com a disciplina.

    H outros professores, que devido ao no preparo, enchem o tempo quantitativa-mente com experincias as quais quase nunca so pertinentes ao assunto estuda-do e, h ainda aqueles que assumem uma metodologia diferente. J.M. Gregory, fa-la sobre os tais mestres:

    Outros mestres passam pela lio como gato por cima de brasas. E concluem que, embora no a tenham aprendido bem ou inteiramente, ou talvez uma parte dela, j apanharam bastante material para encher o perodo de aula, e podem, caso necessrio, suplementar o pouco que sabem com conversa mole, ou historinhas. Ou por falta de tempo ou de nimo para prepararem, deixam de lado a idia de ensinar e enchem o tempo de aula com exerccios que lhes ocorrem na hora.25

    O mestre cristo sabe que tem coisas proveitosas para serem anunciadas e, por isso, procura utilizar o mximo possvel o tempo disponvel. Foi justamente isto o que Paulo fez: Jamais deixando de vos anunciar cousa alguma proveitosa, e de vo-la ensinar publicamente e tambm de casa em casa (At 20.20).

    preciso que os mestres cultivem o hbito da leitura, a fim de obterem um cabe-dal de conhecimento que facilite a comunicao da sua matria e, enriquea o con-tedo da mesma por meio de exemplos paralelos e aplicao do que foi ensinado. A leitura de bons livros eminentemente necessria para que haja uma atualizao constante do que se ensina, procurando enriquecer a argumentao e demonstrar a praticabilidade do que exposto.

    Todavia, acima de tudo, o mestre cristo deve conhecer as Escrituras: Procura

    23 E.P. Bourceau, Apud Pedro Finkler, A Arte de Educar, So Paulo: Editora Coleo F.T.D. Ltda.,

    1963, p. 84. 24

    i(kano/j refere-se quele que suficiente e capaz, apto para fazer uma coisa; por isso atinge de forma eficaz o seu objetivo. O nosso conforto que em ltima instncia a nossa suficincia (= com-petncia) vem de Deus (2Co 3.5). 25

    John M. Gregory, As Sete Leis do Ensino, 3 ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1977, p. 23.

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    (spouda/zw = esforar-se com zelo, apressar-se)26 apresentar-te a Deus, apro-vado (do/kimoj = aprovado aps exame),27 como obreiro que no tem de que se envergonhar, que maneja bem (o)rqotome/w)28 a Palavra da verdade (a)lh/qeia)

    26 Spouda/zw, que bem traduzido em Ef 4.3 por esforando-vos diligentemente (ARA), tem a sua

    nfase enfraquecida em ARA, ARC e BJ, que o traduzem por procurando. Spouda/zw ocorre 11 ve-zes no NT (* Gl 2.10; Ef 4.3; 1Ts 2.17; 2Tm 2.15; 4.9,21; Tt 3.12; Hb 4.11; 2Pe 1.10,15; 3.14), tendo o sentido de correr, apressar-se, fazer todo o esforo e empenho possvel, urgenciar, ser zeloso, diligente, esforo, aplicao. Spouda/zw denota uma diligncia que se esfora por fazer todo o possvel para alcanar o seu objetivo. 27

    O verbo dokima/zw ressalta o aspecto positivo de provar para aprovar, indicando a genuinidade do que foi testado (2Co 8.8; 1Ts 2.4; 1Tm 3.10). Este verbo se refere ao de Deus, nunca em-pregado para a tentao de satans, visto que ele nunca prova aquele que ele pode apro-var, nem testa aquele que ele pode aceitar (Richard C. Trench, Synonyms of the New Testa-ment, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1985 (Reprinted), p. 281). (Vejam-se mais detalhes sobre a tentao, em Hermisten M.P. Costa, O Pai Nosso, So Paulo: Cultura Crist, 2001). No entanto, ambos os verbos podem ser usados indistintamente, mesmo no sendo perfeitamen-te sinnimos (Vd. H. Seesemann, peira/w: In: Gerhard Kittel & G. Friedrich, eds. Theological Diction-ary of the New Testament, 8 ed. (reprinted) Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., 1982, Vol. VI, p. 23; H. Haarbeck, Tentar: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionrio Internacional de Teologia do Novo Testamento, So Paulo: Vida Nova, 1983, Vol. IV, p. 599; Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1985 (Reprinted), p. 278ss.). 28O verbo o)rqotome/w cortar em linha reta, endireitar , que s ocorre neste texto, formado por o)rqo/j (direito, reto, certo, correto) (* At 14.10; Hb 12.13) e te/mnw (cortar), verbo que no aparece no Novo Testamento. Na LXX o)rqotome/w empregado em Pv 3.6 e 11.5 com o sentido de endireitar o caminho. Analogias e aplicaes variadas so possveis, tais como: a idia de lavrar a ter-ra fazendo os sulcos em linha reta; construir uma estrada em linha reta a fim de que o viajante alcan-ce com facilidade o seu objetivo sem se desviar por atalhos; o alfaiate que corta o tecido de forma correta a fim de fazer a roupa (Paulo como fabricante de tendas estava acostumado a este servio no que se refere ao corte dos tecidos de pelo de cabra); o pedreiro que corta a pedra de forma correta para o seu perfeito encaixe, etc. A partir de 2Tm 2.15 vrias analogias so feitas, tais como: a idia de conduzir a Palavra pelo caminho correto para atingir de modo eficaz seu objetivo, manuse-la bem, ministr-la conforme o seu propsito, exp-la de maneira correta, ensinar correta e diretamente a Palavra, etc. [Vejam-se, entre outros: Helmut Kster, o)rqotome/w: In: G. Friedrich & Gerhard Kittel, eds. Theological Dictionary of the New Testament, 8 ed. Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., (reprinted) 1982, Vol. VIII, p. 111-112; Joseph H.Thayer, Thayers Greek-English Lex-icon of the NT, The Master Christian Library, Verson 8.0 [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Sofware, 2000, Vol. 2, p. 270; A. Barnes, Notes on the Bible, The Master Christian Library, Verson 8.0 [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Sofware, 2000, Vol. 15, p. 795; Adam Clark, Commentary the New Testa-ment, Master Christian Library, Verson 8.0 [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Sofware, 2000, Vol. 8, p. 222-223; R. Klber, Retido: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionrio Internacional de Teologia do Novo Testamento, So Paulo: Vida Nova, 1983, Vol. IV, 217-219; William F. Arndt & F.W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, Chicago: University of Chicago Press, 1957, p. 584; Russel N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado, Guaratingue-t, SP.: A Voz Bblica, (s.d.), Vol. 5, p. 379; John R.W. Stott, Tu, Porm, A mensagem de 2 Timteo, So Paulo: ABU Editora, 1982, p. 59-60; J.N.D. Kelly, I e II Timteo e Tito: introduo e comentrio, So Paulo: Vida Nova/Mundo Cristo, 1983, p. 170; William Hendriksen, 1 Timteo, 2 Timteo e Tito, So Paulo: Editora Cultura Crist, 2001, p. 323-324; Newport J.D. White, Second Epistle to Timothy: In: W. Robertson Nicoll, ed., The Expositors Greek Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), Vol. 4, p. 165; p. 798-799; R.C.H. Lenski, Commentary on the New Testament, Pe-abody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1998, Vol. 10, p. 425; W.C. Taylor, Dicionrio do No-vo Testamento Grego, 5 ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1978, p. 152-153; A.T. Robertson, Word Pictu-res in the New Testament, The Master Christian Library, Verson 8.0 [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Sofware, 2000, p Vol. 4, 703; William Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1974, Vol. 12, (2Tm 2.15-18), p. 183; John F. MacArthur, Jr., Princpios para uma Cosmoviso Bblica: uma mensagem exclusivista para um mundo pluralista, So Paulo: Cultura Crist, 2003, p. 49-50].

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    (2Tm 2.15) pois Ela, entre outras coisas, til para o ensino (didaskali/a) (2Tm 3.16).

    Calvino traduz a metfora usada por Paulo, maneja bem (2Tm 2.15) por divi-dindo bem, fazendo a seguinte aplicao: Paulo (...) designa aos mestres o de-ver de gravar ou ministrar a Palavra, como um pai divide um po em pe-quenos pedaos para alimentar seus filhos. Ele aconselha Timteo a dividir bem, para no suceder que, como fazem os homens inexperientes que, cor-tando a superfcie, deixam o miolo e a medula intactos. Tomo, porm, o que est expresso aqui como uma aplicao geral e como uma referncia ju-diciosa ministrao da Palavra, a qual adaptada para o proveito daqueles que a ouvem.29 H quem a mutile, h quem a desmembre, h quem a dis-torce, h quem a quebre em mil pedaos, e h quem, como observei, se mantm na superfcie, jamais penetrando o mago da doutrina. Ele contras-ta todos esses erros com a boa ministrao, ou seja, um mtodo de exposi-o adequado edificao. Aqui est uma regra pela qual devemos julgar cada interpretao da Escritura.30

    Toda a Escritura til para o ensino. Queremos aprender com Deus? Desejamos fazer a vontade de Deus? Estamos dispostos de fato a ouvir a Sua voz? Se a sua resposta for no, confesso no ter argumentos para convenc-lo da oportunidade que voc est deixando escapar, contudo, o que posso reafirmar, que Deus Se re-velou na Sua Palavra, para que possamos ser conduzidos a Cristo, aprendendo dEle a respeito de Si mesmo, de ns e do significado de todas as coisas... Portanto, Ele deseja nos ensinar. A teologia deve estar sempre a este servio: aprender e ensinar. Enquanto no aprendermos a aprender, no poderemos ser mestres! O mestre assim como o telogo , tem paixo por ensinar, mas a sua paixo primeira e priori-tria deve ser a de ouvir a voz de Deus nas Escrituras.

    O ensino das Escrituras contribui para a formao de homens perfeitamente habi-litados para toda boa obra (2Tm 3.17). No tempo de Paulo j havia os falsos mestres que eram ousadamente incompetentes: Pretendendo passar por mestres da lei, no compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseveraes (1Tm 1.7). A Ignorncia ousada!

    Daqui se depreende que ousadia no sinnimo de competncia. Alis, estou persuadido de que a competncia, em muitos momentos se caracteriza por um so-noro silncio reverente diante do inescrutvel (Dt 29.29/At 1.6-7; Rm 11.33-36). A e-loquncia de Deus deve propiciar a nossa adorao; o seu silncio, o nosso reveren-te temor.31

    29Como vimos, este era o seu princpio pedaggico: Um sbio mestre tem a responsabilidade de acomodar-se ao poder de compreenso daqueles a quem ele administra o ensino, de modo a iniciar-se com os princpios rudimentares quando instrui os dbeis e ignorantes, no lhes dando algo que porventura seja mais forte do que podem suportar [Joo Calvino, Expo-sio de 1 Corntios, So Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 3.1), p. 98-99]. 30

    Joo Calvino, As Pastorais, (2Tm 2.15), p. 235. 31

    Calvino orientou-nos pastoralmente, dizendo: ....Que esta seja a nossa regra sacra: no pro-curar saber nada mais seno o que a Escritura nos ensina. Onde o Senhor fecha seus pr-

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    Calvino (1509-1564) comenta: Tudo o mais que pesa sobre ns e que de-vemos buscar nada sabermos seno o que o Senhor quis revelar Sua igre-ja. Eis o limite de nosso conhecimento.32 Afinal, tentar ensinar fora das Escritu-ras tolice e, o papel do mestre cristo no outro, seno o de ensinar as Escritu-ras: Mestre aquele que forma e instrui a Igreja na Palavra da verdade.33

    O mestre efetivamente no sabe tudo; porm, deve saber tudo o que ensina!

    D) APONTA PARA ALM DE SI MESMO:

    O mestre cristo sabe que ele no a mensagem; contudo, est convicto de que tem a mensagem salvadora de Jesus Cristo e, que esta deve ser anunciada.

    O apstolo Paulo diz que durante o tempo em que trabalhou em feso, anunciou o Evangelho sistematicamente, Testificando tanto a judeus como a gregos, o arre-pendimento para com Deus e a f em nosso Senhor Jesus Cristo (At 20.21).

    Observe que o anncio de Paulo era teocntrico; o homem Paulo era apenas o instrumento de proclamao; a mensagem era: Arrependimento para com Deus e a f em nosso Senhor Jesus Cristo. A mensagem teocntrica traz em si sempre uma intimao para que o homem, pelo Esprito, se arrependa e creia em Cristo.

    Assim tambm, por uma questo de dignidade pessoal e de honestidade, o mes-tre cristo no se apresenta a si mesmo como mensagem, mas, aponta para Jesus Cristo. Isto equivale a dizer que a mensagem crist no egocntrica, mas sim Cris-tocntrica; por isso, Cristo o contedo insubstituvel do Evangelho; sem Ele no h Evangelho, quer no Antigo, quer no Novo Testamento (Rm 15.20).

    Paulo em sua vida e ministrio manifestou sempre a centralidade de Jesus: ele

    prios lbios, que ns igualmente impeamos nossas mentes de avanar sequer um passo a mais [J. Calvino, Exposio de Romanos, So Paulo: Paracletos, 1997, (Rm 9.14), p. 330]. Em ou-tros lugares Calvino insistiu neste ponto: As cousas que o Senhor deixou recnditas em secreto no perscrutemos, as que ps a descoberto no negligenciemos, para que no sejamos condenados ou de excessiva curiosidade, de uma parte, ou de ingratido, de outra (As Ins-titutas, III.21.4). Nem nos envergonhemos em at este ponto submeter o entendimento sabedoria imensa de Deus, que em Seus muitos arcanos sucumba. Pois, dessas cousas que nem dado, nem lcito saber, douta a ignorncia, a avidez de conhecimento, uma es-pcie de loucura (As Institutas, III.23.8). Do mesmo modo, diz Agostinho: Ignoremos de boa mente aquilo que Deus no quis que soubssemos [Agostinho, Comentrio aos Salmos, So Paulo: Paulus, (Patrstica, 9/1), 1998, (Sl 6), Vol. I, p. 60]. 32Joo Calvino, Exposio de 2 Corntios, So Paulo: Edies Paracletos, 1995, (2Co 12.4), p. 242, 243. George comenta: Com toda sua reputao de telogo de lgica rigorosa, Calvino pre-feriu viver com o mistrio e a incoerncia de lgica a violar os limites da revelao ou impu-tar culpa ao Deus que as Escrituras retratam como infinitamente sbio, completamente a-moroso e absolutamente justo (Timothy George, A Teologia dos Reformadores, So Paulo: Vida Nova, 1994, p. 209). [Vd. Joo Calvino, O Livro dos Salmos, So Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 51.5), p. 431-432]. 33

    Joo Calvino, Exposio de Romanos, (Rm 12.7), p. 432.

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    sempre pregou o Evangelho.34 (Vejam-se: At 14.6,7;11-15,21; 15.35; 16.10; 2Tm 4.2).

    A Igreja tem uma misso contnua de ensinar (Mt 28.19,20), a fim de que os ho-mens creiam na Mensagem (Jesus Cristo, o Deus encarnado) e passe, tambm a ensin-la (Ef 4.11-16; 2Tm 2.1-2; Hb 5.11-14).35

    So Paulo, 12 de abril de 2010. Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

    34Quando falamos do contedo do Evangelho, devemos definir o significado deste termo. Compreen-demos ser o Evangelho o prprio Cristo. Ele a personificao do Reino; Cristo o centro para onde tudo converge. O Evangelho Cristocntrico, porque sem Cristocentricidade no h Boa Nova. Cris-to o autor e o contedo do Evangelho. Pregar o evangelho significa pregar a Cristo bem como tudo aquilo que tem relao com Ele (Rm 15.20), j que sem Cristo no haveria Evangelho (Lc 2.9-11). (Vd. Hermisten M.P. Costa, Breve Teologia da Evangelizao, So Paulo: Publicaes Evanglicas Selecionadas, 1996). 35

    11E ele mesmo concedeu uns para apstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e ou-

    tros para pastores e mestres, 12 com vistas ao aperfeioamen-to dos santos para o desempenho do seu servio, para a edificao do corpo de Cristo, 13at que todos cheguemos unidade da f e do pleno conheci-mento do Filho de Deus, perfeita varonilidade, medida da estatura da plenitude de Cristo, 14 para que no mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao re-dor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astcia com que induzem ao erro (Ef 4.11-14). Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graa que est em Cristo Jesus. 2E o que de minha parte ouviste atravs de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiis e tambm id-neos para instruir a outros (2Tm 2.1-2). 11A esse respeito temos muitas coisas que dizer e difceis de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir. 12Pois, com efeito, quando deveis ser mes-tres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de algum que vos ensine, de novo, quais so os princpios elementares dos orculos de Deus; assim, vos tornastes como necessi-tados de leite e no de alimento slido. 13Ora, todo aquele que se alimenta de leite inexperiente na palavra da justia, porque criana. 14Mas o alimento slido para os adultos, para aqueles que, pela prtica, tm as suas faculdades exercitadas para discernir no somente o bem, mas tambm o mal (Hb 5.11-14).