introdução à filosofia moderna

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ARQUIDIOCESE DE SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO Seminário Arquidiocesano São José Instituto Superior de Ciências Religiosas da Arquidiocese do Rio de Janeiro INTRODUÇÃO À FILOSOFIA MODERNA O panorama histórico e seus elementos constitutivos Organizado por Rubens Raniery Fernandes Gomes Bacharel em Filosofia pela PUC-Rio Rio de Janeiro, 2014.

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Page 1: Introdução à Filosofia Moderna

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Organizado por Rubens Raniery Fernandes Gomes

Bacharel em Filosofia pela PUC-Rio

Rio de Janeiro, 2014.

Page 2: Introdução à Filosofia Moderna

1

“Nossa razão deve amparar a nossa fé, sempre com

a reserva de não imaginar que por si só, pela força

que pode alcançar, lhe seja dado adquirir essa

ciência sobrenatural que provém de Deus.”

(Michel de Montaigne)

Page 3: Introdução à Filosofia Moderna

2

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 4

1 O CONTEXTO HISTÓRICO 6

1.1. O RENASCIMENTO CULTURAL 6

1.2. AS REFORMAS RELIGIOSAS 7

1.3. A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA 9

1.4. A CRISE DA ESCOLÁSTICA 9

2 OS PRINCIPAIS PERÍODOS E CORRENTES 11

2.1. OS PERÍODOS MARCANTES DA FILOSOFIA MODERNA 11

2.1.1. O Iluminismo 11

2.1.2. O Humanismo 11

2.2. AS CORRENTES FILOSÓFICAS NA FILOSOFIA MODERNA 12

2.2.1. O Racionalismo 12

2.2.2. O Ceticismo 13

2.2.3. O Empirismo 13

2.2.4. O Idealismo 14

2.2.5. O Criticismo 14

3 OS PENSADORES 16

3.1. O RENASCIMENTO 16

3.1.1 Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527) 17

Principais pensamentos 17

3.1.2 Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) 18

Principais pensamentos 19

I. Fideísmo 19

II. Ceticismo 19

3.1.3 Giordano Bruno(1548-1600) 20

Principais pensamentos 20

3.2. IDADE MODERNA 22

3.2.1 Francis Bacon (1561-1626) 23

Principais pensamentos 24

I. Teoria dos Ídolos 24

II. Teoria dos Métodos Científicos 24

3.2.2 René Descartes (1596-1650) 25

Principais pensamentos 25

I. O Discurso do Método 25

II. A realidade e as substâncias 26

III. Meditações Metafísicas e o solipsismo 26

3.2.3 Blaise Pascal (1623-1662) 27

Principais pensamentos 27

I. A miséria da dignidade do homem 27

II. Os Espíritos 28

3.2.4 John Locke (1632-1704) 29

Principais pensamentos 30

3.2.5 Baruch Spinoza (1632-1677) 31

Page 4: Introdução à Filosofia Moderna

3

Principais pensamentos 31

I. Deus como única substância 31

II. A religião 32

3.2.6 Gottfried Willhelm Leibniz (1646-1716) 32

Principais pensamentos 33

I. Leibniz e seus predecessores 33

II. A monadologia 33

III. O discurso metafísico 34

3.2.7 David Hume (1711-1776) 35

Principais pensamentos 36

3.2.8 Jean-Jacques Rousseau (1717-1778) 37

Principais pensamentos 37

I. O Pacto Social 37

II. A educação 38

3.2.9 Immanuel Kant (1724-1804) 38

Principais pensamentos 40

I. A doutrina do conhecimento 40

II. Os juízos 41

III. A moral e a metafísica kantiana 42

REFERÊNCIAS 44

ANEXO I: ATA DE EXCOMUNHÃO DE BARUCH SPINOZA 46

ANEXO II: O ESQUEMA DO PROCESSO DO CONHECIMENTO EM KANT 47

Page 5: Introdução à Filosofia Moderna

4

INTRODUÇÃO

A Filosofia Moderna é um período da história da filosofia marcado por grandes

transformações culturais, influenciando diretamente no pensamento da sociedade. Foi um

período da história em que, os pensadores que ali surgiam, buscavam a libertação do sistema

político e religioso que até a Idade Média governada com pulso de ferro à produção

intelectual-político-socal.

A Filosofia Moderna transformou o pensamento e ao mesmo tempo se transformou.

Transformou o pensamento elaborando novos métodos para o conhecimento, uma ciência

moderna, ao passo que se transformou, pois de toda a história da filosofia, visto que foi ela

que mais passou por diversidades intelectuais e históricas. As transformações histórico-

sociais tais como o Renascimento, em especial a retomada de Platão e Aristóteles sob um

ponto de vista distinto da Escolástica e do medievo, foram essenciais para a nova época. Por

conseguinte, o cientificismo, a supervalorização da experiência, indo de contraposição ao

dogmatismo e a metafísica clássica, foi o estopim para o rompimento com o pensamento, que

até então dominava. A modernidade passa a supervalorizar o homem e seus atributos, a

liberdade e a razão, como medida para obter o conhecimento das coisas ao seu redor,

diferentemente do período medievo, no qual a religião depositava as respostas em Deus.

Abrem-se as portas para o ceticismo, o qual se tornou o maior ponto de partida da

mudança de época, para o racionalismo e o empirismo, que foram grandes paradigmas deste

período. As produções científicas, o humanismo e a razão acima de todas as coisas, foram

elementos que contribuíram para que esse período fosse diverso em ideologias e doutrinas

marcantes ao mesmo tempo muito diversas para um mesmo momento histórico. Todas

possuíam um único objetivo, delimitar a capacidade de conhecimento do homem através da

gnosiologia, a epistemologia e a ontologia, em síntese, a teoria do conhecimento.

Grandes nomes renomados passaram pela modernidade, que giram do renascimento

com artistas humanistas, século XIV, e se estende até o idealismo as portas da

contemporaneidade, século XVIII. Passando pelos renascentistas humanistas, Erasmo de

Roterdã e Dante Alighieri, os cientistas Galileu Galilei e Giordano Bruno, os céticos Michel

de Montaigne e Blaise Pascal, os racionalistas René Descartes e G. W. Leibniz, os empiristas

Tomas Hobbes e John Locke, os políticos Nicolau Maquiavel e J.-J. Rousseau e sintetizando

todo o pensamento moderno em Immanuel Kant.

Este curso tem como objetivo um panorama histórico-político da Filosofia Moderna

em seus elementos constitutivos, entretanto, o mesmo não pretende esgotar todo o conteúdo

Page 6: Introdução à Filosofia Moderna

5

da tal filosofia e nem pretende abordar todos os pensadores, mas demarcar em uma linha

histórica seus limites, características e importâncias para a história.

Page 7: Introdução à Filosofia Moderna

6

1 O CONTEXTO HISTÓRICO

A Filosofia Moderna representa um período da história da filosofia que se inicia a

partir do século XIV se estende até o século XVIII. Historicamente a Idade Moderna só tem

inicio no século XVII após o enfraquecimento da Igreja com o período do Renascimento

Cultural. Entretanto, o Renascimento não se trata de um período propriamente histórico, mas

um movimento cultural, e por esse ir de oposição ao período medievo, passa a ser considerado

pré-modernidade, isto é, dentro da história como modernidade.

A Filosofia Moderna é marcada pelo rompimento com a ideia proposta pela

Escolástica e pelos pensadores medievos, isto é, Deus está no centro de todas as coisas e é a

única medida de todas as coisas. Ao invés disso, dá-se lugar a racionalidade e os métodos

científicos como fontes únicas para o saber e colocando o homem no centro do mundo a partir

das concepções dadas pelo humanismo e dos demais elementos que contribuíram para a

mudança do período: a queda da Escolástica, as reformas religiosas e científicas.

O rompimento com a metafísica é outra característica própria e principal do período,

derrubando, assim, os pressupostos metafísicos, eliminando a religião e a ética, no seu sentido

clássico. A proposta de todos os movimentos filosóficos da época é derrubar a religião que

tem Deus como seu centro e passar a valorizar o homem colocando-o como regra para todas

as coisas. O fato não é se preocupar em provar que Deus não exista, característica da

contemporaneidade e pós-modernidade, mas que o sistema religioso estava corrompido.

1.1. O Renascimento Cultural

O Renascimento Cultural do inicio do século XIV marca a redescoberta da cultura

Greco-romana pagã em oposição à cultura cristã medieval. Trata-se de um período da história

europeia que está localizado entre a Idade Medieva e o Iluminismo. O humanismo foi a

principal característica deste período, no qual a redescoberta do homem e o seu supervalorizar

tornaram-se o centro de todo o pensamento do período. Todo humanista valorizava o homem

como imago Dei, assim, retirou-se Deus do centro do mundo e passou a colocar o homem no

mesmo, abrindo-se mão do teocentrismo1 escolástico passando para um antropocentrismo

2.

O homem passou a parar de pensar com a cabeça da Igreja e da sua Escolástica e

passou a valorizar a sua própria razão, não era mais Deus que dava as respostas ao homem e

sim à razão. Tratava-se de uma nova leitura do homem na história, não mais a partir do que a

1 Teocentrismo = θεóς (Deus) + κέντρον (centro). 2 Antropocentrismo = άνθρωπος (humano) + κέντρον (centro).

Page 8: Introdução à Filosofia Moderna

7

Igreja apresentava, mas sim o homem fazendo a sua história. Retomando, assim, na ética, na

moral, na economia, na política e na arte, as ideias do platonismo, aristotelismo, ceticismo,

epicurismo e estoicismo. Os autores do Renascimento utilizavam as mesmas fontes histórias

que os autores medievos, entretanto, passaram a refletir modificando o centro do

conhecimento, de Deus para o homem. Em si, o Renascimento não possui muita produção

filosófica crítica de muita relevância, os escritores da época são bem mais conhecidos por sua

literatura do que pelas inovações trazidas, trata-se de um período de transição para a

modernidade.

O Renascimento teria sido época de grande efervescência intelectual e artística, de

grande paixão pelas novas descobertas quanto à Natureza e ao Homem, de

redescobertas do saber greco-romano liberado da crosta interpretativa com que o

cristianismo medieval o recobrira, de desejo de demolir tudo quanto viera do

passado, desejo favorecido tanto pela chamada Devoção Moderna (a tentativa de

reformar a religião católica romana sem romper com a autoridade papal) quanto pela

Reforma Protestante e pelas guerras de religião, que abalaram a ideia de unidade

europeia como unidade político-religiosa e abriram as portas para o surgimento dos

Estados Territoriais Modernos.3

1.2. As Reformas religiosas

A crise religiosa floresceu por volta do século XVI e veio trazer à tona realidades que

já estava ocorrendo em toda a Europa e que a Igreja tentava lutar contra. Tratava-se de um

tentar descentralizar da Igreja o poder que a mesma tinha bem como modificar a perspectiva

de mundo e seus fenômenos que estavam atrelados a doutrinas da mesma. Em um primeiro

momento, indo de encontro com os dogmas de fé e posteriormente com a própria estrutura

hierárquica da mesma.

A Igreja assume um lugar de grande importância e destaque na história e passa reter

em si uma potência política e religiosa, a qual tinha poderes para colocar no trono um rei e ao

mesmo tempo depô-lo. A integração entre Igreja e Estado era muito bem clara e vê-se

nitidamente nas Inquisições. Portanto,

O mundo cristão europeu cinde-se de alto a baixo em novas ortodoxias (luteranismo,

calvinismo, anglicanismo, puritanismo) e em novas heterodoxias (anabatistas,

menonitas, quakers, os "cristãos sem igreja"). As lutas religiosas não ocorrem

apenas entre católicos e reformados, mas também entre estes últimos e

particularmente entre eles e as pequenas seitas radicais e libertárias que serão

freqüentemente dizimadas, com violência descomunal. 4

3 SHAUÍ, Marilena. Filosofia Moderna. São Paulo: USP, 2000. Disponível em:

<http://www.chasqueweb.ufrgs.br/~slomp/filosofia/chaui-filosofia-moderna.htm>. 4 Ibidem.

Page 9: Introdução à Filosofia Moderna

8

Assim, pode-se dizer que os maiores movimentos de crítica à religião se iniciam neste

período, ao menos os pensamentos, e irão aflorar por volta do século XVII com as criticas, em

geral, racionalistas do fenômeno religioso5. O método de leitura da Sagrada Escritura também

foi questionado e a partir deste período, a proposta de novas traduções e interpretações da

Sagrada Escritura contribuiu fortemente para um rompimento de muitos com a Igreja e

principalmente em crises com o próprio Estado. Tudo isso tendo em vista descentralizar da

Igreja Romana o poder absoluto, o qual a mesma estava se aproveitando de forma não

condizente com as verdades contidas nas Escrituras.

Modifica-se a maneira de ler e interpretar a Bíblia, modifica-se a relação entre

religião e política: todos devem ter o direito de ler o Livro Santo e nele Deus não

declarou que a monarquia é o melhor dos regimes políticos. Dois resultados

culturais decorrem dessa nova atitude: por um lado, o desenvolvimento de escolas

protestantes para alfabetização dos fiéis, para que possam ler a Bíblia e escrever

sobre suas próprias experiências religiosas, divulgando a nova e verdadeira fé (a

panfletagem será uma das marcas características da Reforma, que produziu uma

população alfabetizada); por outro lado, na fase inicial do protestantismo (que seria

suplantada quando algumas seitas triunfassem e se tornassem dominantes), a defesa

da ideia de comunidade, de república popular ou aristocrática e do direito político à resistência, isto é, da desobediência civil face ao papado e aos reis e imperadores

católicos.6

A chamada Reforma Protestante que na verdade abarcou muito mais do que se pode

imaginar, foram transformações mais do que religiosas, foram, ao mesmo tempo, reformas

políticas e sociais. Destacam-se dentro deste período os protestantes, os quais se desdobraram

nas Reformas Luterana (1521), Calvinista (1534) e Anglicana (1534). Entretanto, as

consequências destes rompimentos foram muito grandes para a sociedade que entrava em

crise.

Em primeiro lugar, crise da consciência, pois a descoberta do universo infinito por

homens como Giordano Bruno deixava os seres humanos sem referência e sem

centro; em segundo lugar, crise religiosa, pois tanto a Devoção Moderna quanto a

Reforma Protestante criaram infinidade de tendências, seitas, igrejas e interpretações

da Sagrada Escritura, dos dogmas e dos sacramentos, de modo que a referência à

ideia de Cristandade, central desde Carlos Magno, se perdera; em terceiro lugar,

crise política, pois a ruptura do centro cósmico (o universo é infinito), a perda do

centro religioso (o papado), a perda do centro teórico (geocentrismo, aristotelismo

tomista, mundo hierárquico de seres e de ideias) foi também a perda do centro

político (o Sacro Império Romano Germânico destroçado pelos reinos modernos

independentes e pelas cidades burguesas do capitalismo em expansão) e de suas instituições (papa, imperador, Direito Romano, Direito Canônico, relações sociais

determinadas pela hierarquia da vassalagem entre os nobres e pela clara divisão

entre senhores e servos, das relações econômicas definidas pela posse da terra e pela

5 Em destaque: René Descartes (1596-1650), Blaise Pascal (1623-1662), Baruch Spinoza (1632-1677) e

Immanuel Kant (1724-1804). 6 SHAUÍ, Marilena. Filosofia Moderna. São Paulo: USP, 2000. Disponível em:

<http://www.chasqueweb.ufrgs.br/~slomp/filosofia/chaui-filosofia-moderna.htm>.

Page 10: Introdução à Filosofia Moderna

9

agricultura e pastoreio, com o artesanato urbano apenas subsidiário para o pequeno

comércio dos burgos).7

Com efeito, a Igreja de Roma também se deu o direito de defesa, principalmente se

preocupando no avanço do protestantismo e na grande perda do povo, desta forma, a mesma

propõe uma Contra Reforma, convocando o Concílio de Trento para discutir essa situação

chegando as seguintes conclusões sobre este assunto: a reforma da Congregação da Sacra,

Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício; a criação do Index Librorium Proibitorium e

fechamento do cânon; e a preocupação com a evangelização e catequese dos colonos pelos

jesuítas.

1.3. A Revolução Científica

Para o período em questão, as novas descobertas científicas participam de um

movimento chamado de Renascimento Científico, pois o nome Revolução Científica é mais

atual, do início do século XX. O Renascimento científico deve ser olhado sobre a perspectiva

do Renascimento Cultural, o homem buscando encontrar respostas por si mesmo e não

esperando que a Igreja os dê. Por consequência, pode-se atestar uma mudança na intenção e

na busca do conhecimento, trata-se de um período de grandes descobertas experimentais que

foram possibilitadas devido aos estudos mais profundos, saindo das grandes bibliotecas

medievais e indo para a prática8. Trata-se da ruptura com o pensamento clássico do Estagirita

de inteligibilidade, buscando evitar o erro (equivoco).

Nesse período, muitos pensadores se destacaram com suas doutrinas cientificistas ou

almejando fazer ciência, entretanto se destacam com valor científico, cientistas como: Nicolau

Copérnico9 (1473-1543), Galileu Galilei

10 (1564-1642), Andreas Vesalius

11 (1514-1564),

Leonardo da Vinci (1452-1519) e Johannes Kepler12

(1571-1630). Os demais, também

obtiveram muitas inovações, mas muito associados à filosofia ainda, visto que até o inicio do

século XVII a ciência estava atrelada a mesma.

1.4. A crise da Escolástica

7 SHAUÍ, Marilena. Filosofia Moderna. São Paulo: USP, 2000. Disponível em:

<http://www.chasqueweb.ufrgs.br/~slomp/filosofia/chaui-filosofia-moderna.htm>. 8 Três elementos constitutivos: experiência, observação e comprovação. 9 De revolutionibus orbium coelestium (1543). 10

Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo (1632). 11 De Humani Corporis Fabrica (1543). 12 Mysterium Cosmographicum (1596) e Astronomia Nova… De Motibus Stellae Martis (1609), sobre as 3 Leis

do movimento planetário.

Page 11: Introdução à Filosofia Moderna

10

A Escolástica entra em decadência por volta do inicio do século XIV, no final do

período medievo. Marcado pelo surgimento do humanismo renascentista, pelas novas

descobertas científicas, pelas Reformas e, principalmente, pelas discussões entre a fé e a

razão. Destacam-se neste período de passagem da Escolástica para o Renascimento, quatro

grandes pensadores que colaboraram marcando esta distinção entre fé e razão, são eles: João

Duns Scotus, Mestre Echkart, Guilherme de Ockham e Nicolau de Cusa13

.

O primeiro, e talvez mais importante, dos aspectos da evolução da escolástica foi

possivelmente a separação entre a razão e a fé. Com Duns Scotus e Guilherme de

Ockham, a teologia se voltou para o maior problema da escolástica: o equilíbrio

entre a razão e a fé. Foi Duns Scotus o primeiro a separar a razão dos assuntos da fé, pois Deus é tão livre que escapa à razão humana. A liberdade divina, tornada centro

da teologia, estava definitivamente fora do alcance da razão. Guilherme de Ockham

prosseguiu esta obra e completou o divórcio entre o conhecimento prático e o

teórico, aplicando as consequências da doutrina escotista às relações entre o homem

e Deus.14

Esses autores da segunda Escolástica, principalmente Ockham e Scotus tiveram

grande influencia neste declínio da mesma. O Doctor Subtilis15

fez questão de evidenciar as

distinções entre os assuntos de fé e razão, entre teologia e filosofia. Em sua obra Ordinatio,

trata de conceituar os entes (finitos e infinitos) e intelecto (intuição e abstração), porém se

questiona da possibilidade de se fazer metafísica ou uma teologia filosófica. Duns Scotus foi

o mentor de Ockham, por isso vê-se a importância e semelhança no pensamento de ambos

para o periodo. Já o Doctor Invincibilis16

com a via moderna, a lógica da modernidade e a

Navalha de Ockham17

, coloca a razão em evidencia deixando a fé em outro campo.

13 Apenas uma referência destes pensadores de passagem para contexto histórico. 14 TÔRRES, Moisés Romanazzi. A decadência da Escolástica no fim da Idade Média. In: Revista de história. n. 9. 1. semestre. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001. p. 67. 15

Alcunha honorífica atribuída à Duns Scotus. 16 Alcunha honorífica atribuída à Guilherme de Ockham. 17

Partindo do conceito aristotélico: “o que se pode fazer com menos não se deve fazer com mais”. Trata-se do

principio do nominalismo de Ockham. Em termos metafísicos, Ockham sustenta que, na realidade só existem

indivíduos e também que no individuo tudo é individual. Em termos epistemológicos, a economia proposta tem

seu principal corolário na posição de Ockham sobre os universais, por que os negam a existência, reduzindo-os a

nomes.

Page 12: Introdução à Filosofia Moderna

11

2 OS PRINCIPAIS PERÍODOS E CORRENTES

2.1. Os períodos marcantes da Filosofia Moderna

Além do período do Renascimento, entre os séculos XIV-XVII, e da Revolução

Científica, entre os séculos XVI-XVIII, os pensadores também sofreram influencias de

períodos, não necessariamente históricos, mas de influência doutrinaria e de pensamentos

dentro da filosofia. Trata-se do Iluminismo e do Humanismo.

2.1.1. O Iluminismo

O Iluminismo18

trata-se de um movimento que surgiu na França, na Alemanha e na

Inglaterra. Esse não apenas é um movimento filosófico, mas também político, artístico e

literário que floresceu por volta do século XVIII, com a finalidade de defender a ciência e a

razão do dogmatismo que era proposto pela fé e criticar o sistema absolutista que existia. O

principal pensamento deste movimento é acabar com o teocentrísmo que era defendido pelos

escolásticos, abusando assim do racionalismo.

Tratava-se de substituir as crenças e a religiosidade que, na concepção deles, fazia o

homem regredir, visto que o homem é capaz de raciocinar e buscar suas próprias respostas,

retirando Deus do centro e alterando assim a centralidade e a medida de tudo para o homem.

Assim, é pela razão se chega a todas as verdades que outrora eram dadas pela religião.

Entretanto, Kant com o noumeno, a coisa em si, mostra que a razão é limitada, visto que ela

só pode conceber aquilo que é apresentado por fenômenos, à coisa para mim.

A razão, no Iluminismo, ganho um papel importante dentro da história, pois ela passa

a ser instrumento de liberação individual. Dentre os pensadores se destacam: Denis Diderot

(1713-1784), Jean d’Alembert (1717-1783), Voltaire (1694-1778), Montesquieu (1689-1755)

e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).

2.1.2. O Humanismo

Tratava-se do movimento filosófico e literário que surgiu dentro do período do

Renascimento nos meados do século XIV, mas especificamente na região da Itália, com a

finalidade de situar o homem e sua totalidade como centro de toda a reflexão e propor meios

para a realização do mesmo. Esse movimento faz parte integrante e constitutiva da passagem

do medievo para a modernidade, e sendo doutrina específica no Renascimento.

18 Esclarecimento, Ilustração ou Século das Luzes.

Page 13: Introdução à Filosofia Moderna

12

Em sentido mais geral, pode-se entender por H. qualquer tendência filosófica que

leve em consideração as possibilidades e, portanto, as limitações do homem, e que,

com base nisso, redimensione os problemas filosóficos.19

O Humanismo se baseia em três pontos fundamentais: o primeiro deles é o

reconhecimento da totalidade do homem como ser formado de alma e corpo e destinado a

viver no mundo e a dominá-lo; o segundo trata-se do reconhecimento da historicidade do

homem, trata-se da união do homem com o seu passado e ao mesmo tempo para distingui-lo

dele; por fim, o terceiro trata do reconhecimento do valor humano das letras clássicas, sendo

essas produções intelectuais do homem.20

Dentro da evolução do humanismo, desde o seu inicio na Itália até sua extensão por

toda a Europa passando principalmente pela França e Espanha, se destacaram os principais

pensadores: Coluccio Salutati (1331-1406), Leonardo Bruni (1374-1444), Lorenzo Valia

(1407-57), Giannozzo Manetti (1396-1459), Leonbattista Alberti (1404-72) e Mario Nizolio

(1498-1576), dentre os Italianos; Charles de Bouelles (1470 ou 75-1553), Petrus Ramus

(1515-1572), Michel Eyqem de Montaigne (1533-1592), Pierre Charron (1541-1603),

Francisco Sanchez (1562-1632) e Justo Lipsio (1547-1606), dentre os Franceses; os espanhóis

Ludovico Vives (1492-1540); por fim, o alemão Rodolfo Agrícola (1442-85).

2.2. As correntes filosóficas na Filosofia Moderna

Dentro do âmbito da filosofia moderna, foram retomadas diversas correntes de

pensamentos que tiveram seu inicio na filosofia clássica e foram relidas ao modo moderno.

Ao mesmo tempo novos estilos de pensamentos surgiram, uns totalmente diferentes do estilo

clássico e outros unindo diversas doutrinas buscando uma síntese do pensamento.

2.2.1. O Racionalismo

Por racionalismo entende-se o movimento filosófico que agregou a filosofia o conceito

de raciocínio como uma operação que se utiliza de proposições lógicas. Trata-se da teoria na

qual a razão é o meio de se alcançar o conhecimento, essa é o princípio fundamental para se

chegar ao conhecimento de qualquer coisa e que tudo, mesmo não sendo experimental, tem

uma causa inteligível. A razão torna-se suficiente para o conhecimento do mundo. Desta

forma, observa-se o avanço da matemática e da lógica como meios racionais de adquirir o

conhecimento verdadeiro.

19 ABBAGNANO, Nicola. Humanismo. In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5. ed. São Paulo:

Martins Fontes, 2007. p. 519. 20 Cf. Ibidem, p. 519.

Page 14: Introdução à Filosofia Moderna

13

Destaca-se na modernidade o famoso racionalismo cartesiano, o qual a razão é o único

meio para o conhecimento e abrindo-se mão das dúvidas, pois Descartes evidência as opiniões

do senso comum. Entretanto, dentre os pensadores se destacam não somente René Descartes

(1596-1650), mas também Thomas Hobbes (1588-1679), Baruch Spinoza (1632-1677) e G.

W. Leibniz (1646-1716).

2.2.2. O Ceticismo

Trata-se da corrente de pensamento filosófica que considera impossível chegar ao

conhecimento real das coisas através da razão humana, isto é, o intelecto não pode inferir a

certeza sobre as coisas. Não se tratava de não existir certeza das coisas, mas sim a

impossibilidade do intelecto conhecê-las, pois o grande problema para chegar à certeza está

no critério de verdade e falsidade. Desse modo, encontra-se no ceticismo primeiramente o

homem renunciando à busca pela certeza e suspender o juízo21

, “mediante renúncia ao

conhecimento da verdade”22

, devido à dúvida sobre o critério de verdade; depois a busca pela

certeza (experimental)23

que vai de contrario ao dogmatismo; e por fim, a

imperturbabilidade24

da alma em vista da conformidade com a capacidade limitada de atingir

a certeza e o juízo de verdade e falsidade.

O ceticismo surge na modernidade juntamente com a retomada do pensamento dos

filósofos clássicos dentro do renascimento. Com este, na modernidade, o ceticismo ganha um

novo horizonte, ele busca contestar o dogmatismo que era proposto pela escolástica, gerando

assim, um relativismo, pois limita à capacidade do conhecimento ao senso comum e a vida

prática. Na modernidade, principalmente neste período de transição, mesmo tentando fazer

oposição ao dogmatismo existe também o chamado ceticismo fideísta, cujo grande pensador

em destaque foi Michel de Montaigne, o qual “argumenta que, sendo a razão incapaz de

atingir a verdade, deve-se então apelar para a fé e a revelação como fontes da verdade”25

.

2.2.3. O Empirismo

Trata-se da corrente filosófica a qual a experiência (sensorial) e a evidência são

critérios de verdade para se chegar ao conhecimento. Em um período de renascimento

21 evpokh, (epoché): a “suspensão do juízo” é característica do ceticismo pirrônico. 22 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo:

Paulus, 2005. v. 3, p. 62. 23 zh,thsij (zétesis): essa é caracterizada pelo ceticismo acadêmico de Carnéades. 24 avtaraxi,a (ataraxía): de origem em Demócrito, mas floresceu no ceticismo, epicurismo e estoicismo,

principalmente com Pirro. 25 JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES. Ceticismo. In: JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário

básico de filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.

Page 15: Introdução à Filosofia Moderna

14

científico, nada mais justo que o método científico tenha um grande peso nas definições de

todas as coisas, desta forma a experiência sensorial que compõe o método científico passa a

ser critério para todas as descobertas da época. O empirismo teve um papel essencial na

história, visto que ele surgiu no Reino Unido em contraposição ao racionalismo exagerado

que surgiu no mesmo período histórico em toda a Europa ocidental.

O empirismo mesmo sendo um pensamento novo, pelo menos no que se trata de

tradição filosófica, era uma forma de pensamento já contemplada desde a antiguidade, como a

“távola rasa” de Aristóteles que fora retomada pó John Locke. Dentre os defensores do

empirismo destacam-se Nicolau Maquiavel (1469-1527) Francis Bacon (1561-1626), Thomas

Hobbes (1588-1679), George Berkeley (1685-1753), David Hume (1711-1776) e John Locke

(1632-1704), o qual esse último, por sua grande contribuição no pensamento, é considerado o

precursor da tradição empirista.

2.2.4. O Idealismo

O Idealismo trata-se da corrente filosófica que surgiu nos meados do século XVII26

, no

advento da modernidade, com base na doutrina das ideias platônicas. Entretanto, foi no cogito

cartesiano que ela teve sua origem, mas teve maior prestigio junto com as escolas alemãs. O

Idealismo parte de uma síntese entre o racionalismo, que valorizava a razão como meio de

conhecimento, e o empirismo, que buscava na experiência as suas justificativas.

Na modernidade, o Idealismo, apresentam-se: George Berkeley (1685-1753) e

Immanuel Kant (1724-1804). Esses desenvolveram o Idealismo cada qual de uma forma

distinta, surgindo pelo menos quatro doutrinas idealistas dentro do período, a saber: o

Idealismo Absoluto que está diretamente ligado ao pensamento de Hegel na Filosofia

Contemporânea; o Idealismo Dogmático e o Idealismo Transcendental que estão voltados

para o pensamento de Kant; e o Idealismo Imaterial que está diretamente ligado ao

pensamento de Berkeley.

2.2.5. O Criticismo

O criticismo é a filosofia própria do pensamento kantiano, trata-se de considerar que a

análise crítica da possibilidade. Essa doutrina de Kant, que em seus pontos básicos agiu na

filosofia moderna e nos efeitos ao longo dos séculos que a mesma causou. Trata-se de uma

síntese do próprio Kant das duas possíveis fontes de conhecimento que eram defendidas desde

26 Mas ganhou força mesmo no século XIX.

Page 16: Introdução à Filosofia Moderna

15

o medievo, a sensibilidade e o entendimento, isto é, o empirismo e o racionalismo. Entretanto,

Kant busca defender que só é possível o conhecimento quando se juntam as experiências com

o intelecto, onde a sensibilidade dá a matéria para o conhecimento e o intelecto as formas da

mesma.

Em primeiro momento, o criticismo vai tratar da formulação crítica do problema

filosófico e o rompimento com a metafísica como esfera de problemas que estão além das

possibilidades da razão humana. Depois, o criticismo delimitará a tarefa da filosofia como

reflexão sobre a ciência, a fim de determinar as condições que garantem a validade da ciência,

isto é, trata-se da verificação de quais ciências cumprem o critério científico do juízo sintético

a priori27

. Por fim, o criticismo busca uma distinção fundamental entre os problemas relativos

à origem do conhecimento (de onde ele vem?), o conhecimento no homem (como ele se

desenvolve?) e o problemática quanto a validade do conhecimento (quais seriam os

critérios?).

27 O juízo sintético é o juízo que não se pode chegar às conclusões com apenas as proposições oferecidas por ele,

se faz necessário a experiência para saber a veracidade.

Page 17: Introdução à Filosofia Moderna

16

3 OS PENSADORES

Agora, trabalhar-se-á propriamente dito os dois período críticos da historia da filosofia

moderna, o Renascimento e a Idade Moderna, abordando alguns pensadores dos momentos

históricos. Pretende-se ressaltar os pensadores que tiveram maior influência nas doutrinas e no

período, e que as suas filosofias atualizaram a filosofia clássica, mudaram o momento em que

viviam e se tornaram pressupostos para a posteridade.

3.1. O Renascimento

Depois de um período da história inteiramente religioso, no qual o Deus era o centro

de todas as preocupações, o Renascimento inaugura um novo período filosófico. Como

filosofia em si, este período não trouxe muita novidade, apenas releituras de cunho

humanistas de clássicos, mas suas obras ficaram na história pelo poder literário e pela ousadia

de fazer frente ao sistema religioso que até então dominava.

O renascimento não é um período histórico propriamente dito, mas é um período que

concilia o religioso com as novidades modernas, trata-se de uma síntese do novo espírito que

surgira. Dante Alighieri (1265-1321) e sua obra Divina Comédia abriram as portas na

filosofia para este novo estilo elaborando uma reflexão filosófica sobre o religioso, mas foi

somente entre os séculos XV-XVI que o movimento se concretizou. A proposta foi realmente

um “renascer”, pois a Idade Média era um período que fora considerado Idade das Trevas, da

escuridão, um período de barbáries.

Neste período, os pensadores utilizaram das mesmas fontes que os medievais,

entretanto, com outro foco, com um foco mais na humanidade, no raciocínio e nas

experiências. O teocentrismo que era característico da doutrina da Idade Média já não era tão

forte devido à queda da Escolástica e as próprias crises religiosas que estavam ocorrendo. Foi

então o momento em que a arte28

, a literatura e a filosofia puderam respirar livres das

correntes religiosas. No campo da filosofia se destacam como mentes brilhantes que atuaram

em diversas áreas como a arte, a música e a literatura, entretanto, manter-se-á o foco nos

pensadores que mais se destacaram como filosofia, dos quais alguns serão tratados mais

detalhadamente em seguida.

28 Michelângelo, Leonardo Da Vinci e Botticelli.

Page 18: Introdução à Filosofia Moderna

17

Principais pensadores do Renascimento:

Dante Alighieri (1265-1321) Thomas More (1478-1535)

Georgios Gemisto Pléthon (1355-1452) Tomás Müntzer (1490-1525)

Leonardo Bruni (1369-1444) Bernardino Telésio (1509-1588)

Nicolau de Cusa (1401-1464) Jean Bodin (1530-1596)

Leon Battista Alberti (1404-1472) Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592)

Marsílio Ficino (1433-1499) Giordano Bruno (1548-1593)

Desidério Erasmo de Roterdã (1466-1536) Johannes Althusius (1557-1638)

Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527) Tommaso Campanella (1568-1639)

3.1.1 Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527)

Foi um político, historiador, intelectual e diplomata no período do Renascimento,

nascido na Itália. Suas maiores reflexões giram em torno do sistema político de sua época e a

proposta de uma reorganização do mesmo, dando inicio a uma nova época para o pensamento

político, gerando a ciência política moderna que se tem conhecimento até hoje. Suas obras

mais conhecidas foram O Príncipe29

(1513), o Discurso sobre a primeira década de Tito

Lívio (1512-1517) e A Arte da Guerra (1519/20), mas Maquiavel também escreveu diversos

romances, comédias e obras literárias de pouca importância para o estudo filosófico.

Principais pensamentos

Em sua grande obra O Príncipe defendia como ideal o chamado realismo político, no

qual descartava totalmente as doutrinas políticas que, até então, estavam em vigou ou se

apresentaram para discussão e desenvolve outro sistema. Maquiavel se utiliza de pensamentos

dos filósofos da antiguidade, mas com um olhar totalmente distinto do olhar medieval. O

pensador tem o foco no seu objetivo, afastando-se “do pensamento especulativo, ético e

religioso, assumindo como cânon metódico o princípio de especificidade”30

.

No seu pensamento político, ele parte de um realismo político, dos conceitos de virtù e

fortuna, da liberdade e “retorno aos princípios”. A saber:

a) O conceito de virtù (virtude) e está diretamente ligado à maioria de suas obras.

A virtude não está ligada ao sentido que a Escolástica tem, mas está totalmente

29 No original criado por Maquiavel De Principatus (Sobre os Principados). 30 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo:

Paulus, 2005. v. 3, p. 93.

Page 19: Introdução à Filosofia Moderna

18

vinculada ao sentido primeiro que o Estagirita31

identificou como areté32

.

Entretanto, para ele trata-se da astúcia, capacidade de dominar a situação, seria

uma sabedoria intrínseca.

b) O conceito de fortuna, também muito utilizado por ele, está ligado ao sentido

de sorte33

. Que age na vida das pessoas sem se saber onde e como ela vai agir,

sendo esta ação boa ou má. De modo que,

não por acaso, mas para que o nosso livre-arbítrio não desapareça, julgo poder ser

verdade que a sorte seja arbitra de metade de nossas ações, mas que, também, ela

deixe a nós governar a outra metade, ou quase.34

c) O retorno aos princípios está diretamente ligado ao ideal de liberdade e bons

costumes que deveriam ser as bases para o governo, isto é, a república romana.

Não necessariamente, o filósofo pensou em um imperialismo como ideal

político na figura do príncipe por ele descrito, mas na proposta da soberania da

virtude sobre a sorte.

Maquiavel, ganha a alcunha de malévolo pelo fato de analisar a sociedade de forma

fria e calculista, buscando mostrar como se alcançar o poder e nele se manter. Destarte,

quando se fala de política e governo, Maquiavel defende que o governante tem a obrigação de

manter o poder e a segurança no país o qual governa, ainda que para isso tenha que derramar

sangue (“os fins justificam os meios”35

). Este, não precisa ter qualidades, basta ser “falso”

parecendo ao povo ter, entretanto, nunca deve confiar na lealdade de seus súditos, visto que

todos são corruptíveis de modo que podem se voltar contra ele e, caso necessário, de acordo

com a situação deve tomar todas as providências necessárias, inclusive matar.

3.1.2 Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592)

Foi um político, escritor, humanista, filósofo, cético, e fideísta, nascido na França que

inovou os escritos filosóficos com a elaboração do método ensaísta. Montaigne escreveu três

volumes de sua grande obra, a qual denominara Ensaios, nesta, ele sintetiza todo o seu

pensamento e engloba todas as ideologias filosóficas do Renascimento e, por conseguinte, o

humanismo. Sua obra compreende em um autorretrato do ‘eu’ subjetivo, interior, do autor. O

31 Ética a Nicômaco. 32 avreth,, realização da própria essência. 33

Vinculado à deusa romana Felicitas, deusa da sorte e da fortuna. 34 MAQUIAVEL apud REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a

Descartes. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005. v. 3, p. 94. 35 Dito popular, mas não foi escrito pelo autor, entretanto, associa-se ao seu pensamento.

Page 20: Introdução à Filosofia Moderna

19

estilo da escrita é uma abordagem mais livre do pensamento filosófico ao qual o ensaísta se

propôs a transcrever de si36

.

Principais pensamentos

I. Fideísmo

Montaigne tratou de diversos assuntos em seus Ensaios, que giram em torno da vida,

da morte, das crises, das experiências e de diversos temas referentes ao homem que os

clássicos já haviam tratado, entretanto, com a atualização do seu tempo, tornando-se

influência para muitos pensadores posteriores como. O “conhece-te a ti mesmo” délfico foi o

principal elemento no pensamento do filósofo, bem como os pensamentos estóicos, pirrônicos

e principalmente aristotélicos. O grande destaque no pensamento do filósofo é o fato do

fideísmo, sendo ele um filósofo que busca colocar o homem como o centro, entretanto não

abre mão da causalidade, sendo esta como providência de Deus.

Também em Montaigne o ceticismo convive com uma fé sincera. Isso surpreendeu

muitos historiadores. Na realidade, porém, sendo o ceticismo desconfiança na razão,

ele não põe a fé em causa, pois esta situa-se num plano diferente, sendo portanto

estruturalmente inatacável pelo espírito cético. "O ateísmo - escreve Montaigne - é

[...] uma proposição quase contra a natureza e monstruosa, difícil também e inapta

para fixar-se no espírito humano, por mais insolente e desregulado que ele possa

ser". Entretanto, a "naturalidade" do conhecimento de Deus depende inteira e exclusivamente da fé. O cético, portanto, só pode ser fideista.37

Não se trata de um fideísmo místico, pois ele coloca o homem no centro de seus

Ensaios e a busca pela felicidade do mesmo através do conhecimento de si. E mais,

II. Ceticismo

No Ensaio: A Apologia de Raymond Selond, Montaigne posiciona-se em relação ao

critério ou regra da fé, que se tornou fonte de conflitos entre católicos e protestantes. Ele

reitera logo no inicio do ensaio que há três resultados de toda a investigação humana da

verdade, a saber:

1. Que aquele que busca encontre a verdade que busca (dogmatismo);

2. Que diga que não pode encontrá-la (ceticismo);

3. Que ainda continue buscando.

36

Cf. BROCA, J. Brito. Clássicos Jackson: Pensadores Franceses. São Paulo: W. M. Jackson Inc., 1970, v. 12,

p. 7-12. 37 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo:

Paulus, 2005. v. 3, p. 62.

Page 21: Introdução à Filosofia Moderna

20

Contra a pretensão dos protestantes, Montaigne usa o arsenal cético contra a pretensa

descoberta da verdade contrária a fé. Entretanto, esse arsenal (argumentos) também se aplica a

teologia de Raymond Selond38

. Com efeito, afastando as pretensões dogmáticas dos

protestantes e teólogos católicos é condição para alcançar a fé em sua simplicidade e pureza,

ser tal como faria o cético pirrônico. Por ceticismo fideísta entende-se a adoção de uma

atitude contrária a pretensão dogmática da razão em favor da aceitação da fé por razões não

racionais.

3.1.3 Giordano Bruno(1548-1600)

Filippo Bruno foi um filósofo, teólogo, escritor e frade Dominicano39

italiano da

segunda metade do século XVI. Bruno, em um primeiro momento foi julgado por apresentar

ideias contrarias a fé, deixando o hábito, adotou o calvinismo no qual mais tarde negaria e

seria excomungado. Após um momento de peregrinação por quase toda a Europa publicando

seus escritos e posteriormente lecionando em Veneza, foi pego pela Inquisição, a qual já o

tinha na lista de foragidos. Condenado à fogueira pela Inquisição romana por ser acusado de

homicídio e de defender heresias.

Bruno chega a ter um total de mais de trinta escritos, entre seus escritos destacam-se:

De umbris idearum (1582); Da causa, do princípio e do uno (1584); Do infinito, do universo

e dos mundos (1584); Circulação da besta triunfante (1584); Dos heroicos furores (1585); De

triplici minimo et mensura40

(1591); De monade numero et figure41

(1591); e De immenso et

innumerabilibus42

(1591).

Principais pensamentos

Suas influências estão no neoplatonismo que auxiliou na formulação de uma gnose

renascentista de influências religiosas43

, por isso nunca deixou de se professar filósofo-

religioso. O seu pensamento de caráter mágico-hermético que leva ao Uno neoplatônico seria

a “boa religião”, que fora destruída pela doutrina do cristianismo, assim, não se poderia mais

denominar cristão por discordar de princípios da doutrina. Entretanto, o objetivo dele era ser

38 Teólogo espanhol católico, autor do Livro das Criaturas. 39 Giordano Bruno foi seu nome de religioso o qual mesmo saindo da ordem não deixou de utilizá-lo. 40

Do mínimo. 41 Das mônadas. 42 Ou De innumerabilibus, immenso, et infigurabili. 43 Recebeu influências de Marsílio Ficino.

Page 22: Introdução à Filosofia Moderna

21

fundador de uma nova religião, a fim de elaborar uma reforma moral universal, e

principalmente, contra as ideias da Escolástica.44

Bruno defendia a doutrina da infinitude do Universo, por isso fora acusado de

panteísta, que é o ponto culminante em sua cosmologia. A ideia de infinito está em tudo, seja

no universo, nas infinitas estrelas, nos infinitos planetas habitados, colocando Deus como

figura perfeitíssima e o Universo imanente a ele. Para Bruno, não havia distinção entre

matéria e espírito, as duas substâncias seriam reduzidas a uma única substância provida da

animação espiritual (Deus). O que faz todas as coisas se moverem45

seria um principio

anímico que é da natureza dos seres vivos, transformando-os permanentemente46

. Giordano

Bruno acreditava que o mundo era um grande ser, ou melhor, animal e tudo possuía alma. Em

síntese, o Universo seria uno, vivo e infinito. O único ser vivo que se destaca no Universo é o

homem, pois sua mente tem semelhança à mente divina e consegue desvendar os mistérios do

Universo.

Sobre a mente, Bruno faz uma reflexão a partir da “religião da mente”, a egípcia, pois

este tem o culto ao sol que na verdade seria o intelecto ou ao menos sua imagem visível.

Assim,

As “sombras das ideias” não são as coisas sensíveis, mas muito mais (no contexto

bruniano) as “imagens mágicas” que refletem as ideias da mente divina e das quais

as coisas sensíveis são cópias. Imprimindo na mente essas “imagens mágicas”,

obtém-se então como que um reflexo do universo inteiro na mente, adquirindo-se

desse modo não apenas uma potencializaça maravilhosa da memoria, mas também

fortalecimento da capacidade operativa do homem em geral.47

Deste modo, Justificando a capacidade da mente do homem.

Giordano Bruno é um dos maiores filósofos renascentistas e mais difícil de

compreender, pois ele aborda temas tanto da filosofia clássica como temas propostos por

pensadores48

que viram séculos depois, que vão desde a filosofia, passando pela teologia e

pela ciência.

Não parece possível fazer dele um precursor da revolução do pensamento moderno,

no sentido em que operara a revolução cientifica, porque seus interesses eram de natureza completamente diferente: mágico-religiosos e metafísicos.49

44 Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São

Paulo: Paulus, 2005. v. 3, p. 111. 45 Seriam “modos de ser” das coisas. 46 Principio do “ser e não ser” de Heráclito e da atualização das coisas (ato e potência) do Estagirita. 47

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo:

Paulus, 2005. v. 3, p. 114. 48 Principalmente Baruch Spinoza. 49 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. Op. cit., p. 117.

Page 23: Introdução à Filosofia Moderna

22

Defende o heliocentrismo, que inclusive não entrou em seu processo de heresia, e

também afirma uma Causa ou Princípio Supremo que deriva o intelecto universal presente na

alma. Este princípio se trata da mente que está por de trás de tudo, mente que todas as outras

derivam e não se tem como conhecê-la, o qual Bruno irá definir como o Uno de Plotino

atualizado, isto é, a mente nas coisas50

dita anteriormente.

3.2. Idade Moderna

Após o Renascimento ter abalado o monopólio e o poder da Igreja, a Idade Moderna

inovou toda a história, pois a filosofia passou a cultuar a racionalidade e o método científico

como meio para se alcançar o conhecimento. A filosofia moderna compreende dos períodos

entre os séculos XVII-XVIII que fora marcado pela vitória da ciência e a razão sobre a

religião. Tratava-se de um período em que se buscava trazer a luz o período de trevas do que

se passou com o medievo, batizando este movimento de Iluminismo.

A gnosiologia passou a ser um grande expoente dentro do pensamento moderno, a

pergunta “o que posso conhecer?” sintetiza toda a filosofia moderna, pois ela reflete em outra

pergunta “como podemos conhecer o que podemos conhecer?” e principalmente “o que

podemos esperar por isso?”. A crise da metafísica já estava lançada e com a crise da mesma,

os pressupostos da ética e da religião também estão em decadência, entretanto, ainda se

tentará resgatar um pouco da metafísica na modernidade, mas não com o seu sentido clássico

aristotélico.

A busca pelas experiências, pelas representações e pala definição de conceitos dará a

modernidade um novo horizonte totalmente disperso do que era proposto pelo medievo e pela

escolástica alterando todo um sistema político e econômico. As criticas religiosas irão surgir

neste período, não como meio de destruir a religião, mas para supervalorizar a razão e o

homem, a fim de libertá-lo da religião. A Idade da Razão, assim conhecida à modernidade, só

deixará de ser absoluta com o idealismo alemão, no inicio do século XIX.

Dentre os pensadores do período se destacam grandes homens marcaram a história,

seja pela ciência ou pela filosofia, dos quais alguns serão lembrados, entretanto, tratar-se-á

posteriormente de alguns mais detalhadamente, mas não com o intuito de esgotar o

pensamento dos mesmos.

50 Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São

Paulo: Paulus, 2005. v. 3, p. 115.

Page 24: Introdução à Filosofia Moderna

23

Principais pensadores da Idade Moderna:

Francis Bacon (1561-1626) Giambattista Vico (1668-1744)

Galileu Galilei (1564-1642) Christian Wolff (1679-1754)

Tommaso Campanella (1568-1639) George Berkeley (1685-1753)

Johannes Kepler (1571-1630) Charles-Luis de Secondat, Montesquieu (1689-1755)

Thomas Hobbes (1588-1679) François Marie Arouet Voltaire (1694-1778)

René Descartes (1596-1650) Thomas Reid (1710-1796)

Henry More (1614-1687) David Hume (1711-1776)

Blaise Pascal (1623-1662) Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)

Baruch Spinoza (1632-1677) Denis Diderot (1713-1784)

John Locke (1632-1704) Jean Le Round D'Alembert (1717-1783)

Nicolas Malebranche (1638-1715) Immanuel Kant (1725-1804)

Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716)

3.2.1 Francis Bacon (1561-1626)

Foi um grande pensador inglês, nascido em Londres, onde ascendeu em sua carreira

política e se tornando um dos maiores pensadores de sua época. Viveu no período das

novidades industriais, dessa maneira, Bacon escreveu grandes obras em sua vida respirando a

atmosfera social e política em que vivia tornando-se político, filósofo, estadista e ensaísta,

considerado um dos fundadores da Ciência Moderna. Tinha como novidade em seu

pensamento o desenvolvimento do método científico como meio para se chegar ao

conhecimento, buscando-o sempre vinculando a experiência (empírica) com o raciocínio

lógico.

Na verdade, Bacon propusera reconstruir o saber em uma grande obra, a Instauratio

magna, obra esta que foi fragmentada em seis partes, gerando assim, seis obras distintas: De

Augmentis Scientiarum; Novum Organum (1620); História Naturalis; Scala Intellectus;

Anticipationes Philosophiae Secunda; e Philosophia Secunda aut Scientia Activae.

Entretanto, Bacon também desenvolve outros escritos uns de cunho literários, jurídicos e

teológicos, entre eles se destacam: Nova Atlantis (1624); Elementos das leis comuns da

Inglaterra; Maxims da Lei; Casos de traição; De interpretatione naturae proemium (1602);

História da Vida e da Morte; Meditationes Sacrae (1597); Theological Tracts (post-mortem);

A sabedoria dos antigos (1609); e Ensaios (1597).

Page 25: Introdução à Filosofia Moderna

24

Principais pensamentos

Sendo a sua obra de maior peso filosófico, na Novum Organum desenvolvesse o seus

pensamentos de maiores destaques a Teoria dos Ídolos e a sua Teoria do Método:

I. Teoria dos Ídolos

Por “ídolos”, Bacon refere-se às ideias, crenças, valores, costumes pré-concebidos que

se interpõem ao conhecimento da realidade. O progresso científico, do qual depende o

progresso social e político, só pode ocorrer com a superação dos ídolos, ou melhor, falsos

ídolos que são responsáveis por corromper a ciência. Bacon subdivide os ídolos em espécies,

tais como:

a) Os ídolos da tribo (Idola Tribus): referem-se dos preconceitos sobre o ser humano

e “poderiam ser resumidos na tendência do homem em assumir o que parece como

a própria realidade das coisas”51

, seria a ideia de o intelecto ser a medida de todas

as coisas de forma que ele afirme aquilo que lhe convém52

.

b) Os ídolos da caverna (Idola Specus): referem-se ao preconceito individual, ao

modo que cada pessoa possui a sua caverna, como proposto por Platão53

, de modo

que a imagem exibida se torna aquilo que cada um entende sobre ela.

c) Os ídolos do foro ou do mercado (Idola Fori): são provenientes das relações

humanas, do uso da linguagem, que muitas vezes a pessoa utiliza-se de palavras

cujo significados são desconhecidos para ela mesma54

, necessitando assim

restaurar o ordenamento das coisas através dos significados.

d) Os ídolos do teatro (Idola Theatri): marcam tudo aquilo que os homens admiram

movidos por suas paixões os grandes personagens na história com destaque para os

filósofos. Estes tipos de preconceitos são os mais perigosos e inumeráveis, pois os

escritos da antiguidade e os escritos Sagrados, em sua época, se tornam regras e

fonte de todo o conhecimento.

II. Teoria dos Métodos Científicos

A primeira condição do progresso científico é a descoberta de um novo ‘ponto de

partida’ para o método científico. Para Bacon, o ponto de partida original é a ‘experiência’

51 ROVIGHI, Sofia Vanni. História da Filosofia Moderna: da revolução científica a Hegel. 2. ed. São Paulo:

Loyola, 2000. p. 22. 52 Cf. Ibidem, p. 22. 53 Conferir no Mito da Caverna, no Livro A República de Plantão. 54 Cf. ROVIGHI, Sofia Vanni. Op. cit., p. 23.

Page 26: Introdução à Filosofia Moderna

25

(empiria), já que nihil est in intelectum quod primus non fuerit us sensu. O homem tal qual

“távola rasa” deve aprender novamente a partir de uma experiência (sensível). Em termos

metódicos, a ciência empírica desenvolve-se a partir das observações e predições que se

tornam possíveis graças à indução (generalização) das leis empíricas.

Desta forma, o novo método consistiria dos seguintes elementos:

1) o momento fundamental da aquisição do saber é a indução, não a dedução

silogística; 2) na indução, não é preciso passar de imediato da experiência dos particulares aos axiomas mais universais, mas deve-se ir gradativamente da

experiência dos particulares aos axiomas menos universais (axiomas médios) e,

então, destes passar aos mais universais; 3) para encontrar os axiomas médios, não é

preciso entregar-se ao acaso, mas cumpre seguir certas regras.55

3.2.2 René Descartes (1596-1650)

Foi um grande pensador francês, filósofo, físico e matemático que se destacou no

inicio da modernidade com o pensamento Cogito ergo sum. Criador do sistema cartesiano, ele

iniciou o pensamento moderno, abrindo mão de tudo que poderia ser considerado falso para a

construção do conhecimento, adotando apenas o que era claro e distinto para o intelecto.

Suas principais obras foram: Regras para a Direção do Espírito56

(1701); Discurso

sobre o Método57

(1637); O Tratado da Luz (1632/33); Geometria (1637); Meditações

Metafísicas (1641); e As Paixões da Alma (1649). Entretanto, foi com o Discurso sobre o

Método e com as Meditações Metafísicas que Descartes ficou famoso.

Principais pensamentos

I. O Discurso do Método

A linguagem cartesiana aponta para uma reforma radical da ciência, capaz de dar

unidade e segurança face ao tempo de incertezas e conflitos vividos entre os homens. Assim,

Descartes adotou com premissa a imagem do reformador que sozinho ‘fez nova todas as

coisas’. Em O Discurso do Método, Descartes buscava trazer para a filosofia a mesma

segurança que se tinha na matemática para se alcançar a verdade, esta verdade seria distinta

da verdade no clássico, isto é, a “adequação da mente a realidade”.

Trata-se de um postulado, cujo objetivo já é explicado pelo título original: Discurso

sobre o método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência (Discours

de la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la verité dans les sciences). Este é

55

ROVIGHI, Sofia Vanni. História da Filosofia Moderna: da revolução científica a Hegel. 2. ed. São Paulo:

Loyola, 2000. p. 22. 56 Regulae ad directionem ingenii. 57 Discours de la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la verité dans les sciences.

Page 27: Introdução à Filosofia Moderna

26

composto basicamente por quatro momentos: evidência, análise, síntese e revisão, partindo de

um elemento essencial em seu método, à chamada “dúvida metódica”58

como meio para se

chegar à verdade proposta pelo pensador, isto é, a evidência (clareza e distinção).

Como regras de seu método, Descartes se utiliza das seguintes:

1º. Regra da Evidência: nada aceitar como verdadeiro exceto o que é claro e distinto.

2º. Regra da Análise: dividir todas as dificuldades nas suas menores partes, a fim de

melhor analisá-lo.

3º. Regra da Síntese: reunir todas as partes em um todo evidente.

4º. Regra da Revisão: rever todo o processo para ter certeza de nada omitir.

II. A realidade e as substâncias

Para Descartes, a realidade é constituída apenas de dois aspectos um extensivo e outro

qualitativo, entretanto, uma está relacionada ao objeto em si e a outra ao sujeito que observa,

logo são subjetivas da consciência. Descartes, não busca defender um idealismo moderado,

pelo contrario ao alegar a extensão, isto é, qualidades objetivas, ele não reduz o ser ao pensar

totalmente e nem nega a realidade como uma total independência do sujeito em relação ao

mundo. Trata-se de uma posição realista crítica e não puramente idealista, assim ele afirma

que existe algo que está fora dele e de seu intelecto, admitindo a existência de pelo menos três

substancias: res cogitans59

(espírito); res divina60

(Deus); e res extensa61

(matéria).

III. Meditações Metafísicas e o solipsismo

Nas Meditações Metafísicas, Descartes tem como objetivo a aplicação do seu método,

apresentando no primeiro momento as razões para se alcançar a dúvida, pois a dúvida é um

modo do próprio pensamento, assim “si dubito, cogito”, ao mesmo tempo em que “si cogito,

sum”, ou ainda, “cogito ergo sum”. Após a descoberta do cogito, primeira evidência

indubitável, a qual o ser pensante só pode ter certeza da sua existência e mais nada, deste

modo, ele se encontra sozinho. Descartes observa que está sozinho consigo mesmo, sem saber

se há algo além do seu pensamento e de sua subjetividade, necessitando assim sair deste

solipsismo.

A superação do solipsismo ocorre pela demonstração de que há uma ideia clara e

distinta cujo conteúdo formal tem necessariamente realidade objetiva, ou seja, corresponde a

58

Cogito, ergo sum (Penso, logo existo). 59 Trata-se de uma substância pensante, imperfeita, finita e dependente. 60 Trata-se de uma substância eterna, perfeita, infinita, que pensa e é independente. 61 Trata-se de uma substância que não pensa, extensa, imperfeita, finita e dependente.

Page 28: Introdução à Filosofia Moderna

27

algo ‘extramental’. Trata-se da demonstração da existência de Deus a partir de Sua ideia clara

e distinta tal como o sujeito pensante encontra em si mesmo a priori. Como a ideia de Deus

representa o ser perfeitíssimo e como o ser pensante se sabe imperfeito, então a causa da ideia

de Deus é extrínseca ao próprio sujeito pensante que por imperfeito não a pode causar.

Ademais, como a existência é uma perfeição e por Deus ser perfeitíssimo, logo Deus existe.

Daqui decorre que a ideia clara e distinta de Deus é o próprio Deus que existe

independentemente e de forma transcendental ao próprio sujeito pensante.

Se é verdadeiro que Deus criou em mim ideias claras e distintas dentre as quais a

própria ideia de Deus, então há uma razão universal e necessária a saber: para que o sujeito

pensante possa conhecer a realidade extramental de forma a priori. Isto significa, por

exemplo, que o sujeito pensante ao representar num plano geométrico um objeto estará

necessariamente representando conforme a realidade extensional desse mesmo objeto fora do

pensamento, já que o mesmo Deus garante tal correspondência. Entretanto, o que faz de

Descartes o primeiro filósofo da modernidade é o fato de mesmo tendo ciência da existência

de um Deus, valoriza a razão humana como resposta para o conhecimento.

O racionalismo cartesiano foi não só o responsável pela concepção inatista (a

priorista), mas também por definir o conhecimento a partir de regras. Isto significa que

compete ao entendimento definir as regras do bom uso do livre arbítrio até mesmo em

assuntos teóricos e não só práticos.

3.2.3 Blaise Pascal (1623-1662)

Foi um matemático, físico, filósofo, teólogo62

e moralista francês dos meados do

século XVI, que se destacou na história fazendo a junção perfeita entre as ciências exatas com

o pensamento filosófico, gerando assim a filosofia da matemática. Em destaque ressalta-se o

seu Espírito geométrico. Suas principais obras63

de caráter filosófico são: Les Provinciales

(1656/57) e Penseés (1670).

Principais pensamentos

I. A miséria da dignidade do homem

62 Defensor do cristianismo, mais especificamente do jancenismo. 63

As obras de Pascal não se esgotam nessas, mas o mesmo também escreve: Éssai sur les coniques (1640),

Expériences nouvelles touchant le vide (1647), Préface du traité du vide (1647), Récit de la grande expérience

de l'équilibre des liqueurs (1648), Lettre Circulaire relative á la Cycloide (1658), Écrits sur la grâce (1656-

1658) e Traité des coniques (conhecido por Leibniz).

Page 29: Introdução à Filosofia Moderna

28

A antropologia de Pascal é marcada pala crítica aos filósofos que exageraram, seja a

miséria seja a dignidade do homem. Por isso, ao mesmo tempo em que Pascal elogia a

concepção estóica da resignação e da providencia, critica o excesso de confiança do estoico

em cumprir com o seu dever moral, conduzindo-o à “soberba diabólica”. Por sua vez, os

céticos são elogiados pó reconhecerem a fraqueza humana. O ceticismo é um antídoto à

sabedoria estóica. Entretanto, os céticos não conheceram a miséria humana, o que leva ao

desespero. Se o estoicismo exagera o poder e a dignidade do homem, então é preciso

reconhecer que há outra medida para a natureza humana, que revelada à luz da fé em Cristo.

“Jesus é o objeto de tudo e o centro para o qual tudo tende (...). Por conseguinte,

podem bem conhecer-se Deus sem sua miséria e sua miseria sem Deus; mas não se

pode conhecer Jesus Cristo sem conhecer ao mesmo tempo Deus e sua miséria”

(Pascal)

II. Os Espíritos

Para pascal o conhecimento humano esta entre dois abismos do infinito e do nada, a

partir do qual nenhum homem pode ignorar. Para ele, só se pode obter o conhecimento

limitado e parcial das coisas, mesmo assim válido. Assim, ele elabora a duas possíveis

diferenças substanciais no campo do conhecimento: a primeira é dada pelo chamado Esprit

géométrique (Espírito geométrico) que é o conhecimento científico obtido através de

procedimentos analíticos (racionais e geométricos); e o Esprit de finesse (Espírito de fineza)

que deriva do próprio homem, trata-se do conhecimento existencial do homem, os

movimentos de sua alma em sua esfera espiritual.

Mesmo se aproveitando do Espírito geométrico no campo científico, Pascal entende

que esse não é suficiente para entender a realidade, pois ele não compreende os dramas da

existência humana. Desta forma, qualquer ciência que não considere o homem em suas

conclusões se torna inútil e para entender os fundamentos da existência humana, é necessário

entender o coração do homem e este é o meio para se utilizar o Espírito de fineza. Destarte,

O coração tem suas razões, que a razão não conhece: sabe-se isso em mil coisas. Eu

digo que o coração ama o ser universal naturalmente e a si mesmo naturalmente,

conforme a isso se aplique; e se endurece contra um ou outro, à sua escolha.

Rejeitastes um e conservastes o outro: é com razão que amais?

É o coração que sente Deus, e não a razão. Eis o que é a fé: Deus sensível ao

coração, não à razão.64

64 PASCAL, Blaise. Pensamentos. 16. art., 2002. Disponível em:

<http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/pascal.html>.

Page 30: Introdução à Filosofia Moderna

29

Do mesmo modo que para ele o Espírito geométrico necessita do Espírito de fineza, o

mesmo serve para o inverso, caso contrário este seria estéril. Ambos devem caminhar juntos,

a ciência e a fé. Assim,

Conhecemos a verdade, não somente pela razão, mas ainda pelo coração; é desta

última maneira que conhecemos os primeiros princípios, e é em vão que o

raciocínio, que deles não participa, tenta combatê-los (...). Sabemos que não

sonhamos, por maior que seja a impotência em que estamos de prová-lo pela razão;

essa impotência não conclui outra coisa senão a fraqueza da nossa razão, mas não a

incerteza de todos os nossos conhecimentos, como eles o pretendem. Pois o

conhecimento dos primeiros princípios, como o de que há espaço, tempo, movimento, números, é tão firme como nenhum dos que nos dão os nossos

raciocínios. E é sobre esses conhecimentos do coração e do instinto que é preciso

que a razão se apoie e funde todo o seu discurso. O coração sente que há três

dimensões no espaço e que os números são infinitos; e a razão demonstra, em

seguida, que não há dois números quadrados dos quais um seja o dobro do outro

(...). E é tão ridículo que a razão peça ao coração provas dos seus primeiros

princípios, para querer consentir neles, quanto seria ridículo que o coração pedisse à

razão um sentimento de todas as proposições que ela demonstra, para querer recebê-

los. 65

E ainda,

Essa impotência deve, pois, servir apenas para humilhar a razão que quisesse julgar

tudo; mas, não para combater a nossa certeza, como se só houvesse a razão capaz de nos instruir.66

3.2.4 John Locke (1632-1704)

Filósofo inglês do final do século XVII, idealista e figura chave do empirismo como

doutrina, Locke negava a questão das ideias inatas, proposta pelos clássicos, mas acreditava

que as ideias eram frutos do que percebiam os sentidos. Desenvolveu uma filosofia da mente,

que é utilizada até hoje e principalmente no período posterior a sua época, com o conceito de

identidade pessoal e consciência que foram utilizados mais tarde por Hume, Rousseau e Kant.

Destaca-se no pensamento de Locke:

a) o gnosiológico, do qual brotou o Ensaio; b) o ético-politico, que encontrou

expressão (além de sua própria militância política pratica) nos escritos dedicados a

esse tema; c) o religioso, campo no qual a atenção do nosso filosofo se concentrou,

sobretudo nos últimos anos de sua vida (a esses podemos acrescentar, mas numa

dimensão menor, um quarto interesse, de caráter pedagógico, que encontrou

expressão nos Pensamentos sobre a educação).67

65 PASCAL, Blaise. Pensamentos. 22. art., 2002. Disponível em:

<http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/pascal.html>. 66 Ibidem. 67 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.

4, p. 92.

Page 31: Introdução à Filosofia Moderna

30

Na obra denominada Ensaio acerca do Entendimento Humano, Locke defendia certos

direitos naturais68

próprios que todos os homens possuíam. Portanto, passa a desenvolver

trabalhos políticos e também sobre a imaterialidade da alma. Suas principais obras foram:

Cartas sobre a Tolerância (1689); Dois Tratados sobre o Governo (1689); Ensaio acerca do

Entendimento Humano (1690); e Pensamentos sobre a Educação (1693).

Principais pensamentos

Mesmo apreciando Descartes, Locke tornou-se um dos maiores opositores ao

racionalismo francês, utilizando o empirismo partindo da teoria da “távola rasa”, na qual o

homem nasce como uma folha em branco e na medida em que ele experimenta algo pelos

seus sentidos, ele adquire o conhecimento. Diferentemente de Descartes que defendia as

ideias inatas. Para ele,

1) não existem ideias nem princípios inatos; 2) nenhum intelecto humano, por mais

forte e vigoroso que seja, é capaz de forjar ou inventar (ou seja, criar) ideias, bem

como não é capaz de destruir aquelas que existem; 3) consequentemente, a

experiência constitui a fonte e, ao mesmo tempo, o limite, ou seja, o horizonte, ao

qual o intelecto permanece vinculado.69

Locke afirma que as experiências podem ser do tipo externas e internas, sendo a

primeira mais ligada aos sentidos, propriamente dito, e a segunda a reflexão. Estas

experiências possuem qualidades primárias (extensão, movimento...) e secundárias (cor,

sabor...), isto é, são os poderes que as coisas possuem para produzir um efeito, ideia, em

nós70

. O pensador critica a ideia clássica de substância e essência e trata da intuição e

dedução, firmando que só podemos admitir a nossa existência através da indução, a existência

de Deus através da demonstração e a existência de outrem pela sensação71

.

Seus pensamentos não tiveram influencia apenas de Descartes, mas também do

nominalismo escolástico (Guilherme de Ockham), do empirismo inglês e da filosofia de

Malebranche, bem como seus escritos políticos tiveram como fonte Thomas Hobbes

(Contrato social). Nesses últimos, Locke defende que o poder de um homem não poderia

derivar de Deus, como alegavam os reis na época. Ele, entretanto, discordava existência do

pacto social, acreditando que os tipos de poderes deveriam ser separados e limitados em si. O

Estado é obrigado a garantir os direitos naturais de cada cidadão, isto é, o direito à vida, à

68 Direito à vida, à propriedade e à liberdade. 69

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.

4, p. 95. 70 Cf. Ibidem, p. 97. 71 Cf. Ibidem, p. 102.

Page 32: Introdução à Filosofia Moderna

31

liberdade e à propriedade. Tratava-se de uma política de democracia liberal, na qual os

cidadãos teriam direito de colocar e retirar o governante em consenso.

3.2.5 Baruch Spinoza (1632-1677)

Filósofo holandês judeu dos meados do século XVII de caráter racionalista que foi

excomungado pela Sinagoga portuguesa de Amsterdã72

por apresentar ideias contrárias aos

ensinamentos da religião. Sabia hebraico, latim, espanhol, português, holandês e grego, o que

o proporcionou ser conhecido pelo seu criticismo aos textos sagrados. Diferentemente do

racionalismo de Descartes, Spinoza se interessava pela temática vinculada à ética e não a

gnosiologia. Entretanto, foi no campo da exegese que o filósofo ficou conhecido.

Suas principais obras são: o Breve tratado sobre Deus e o Homem (1658); o ensaio

Sobre a correção do intelecto (1661); Os princípios da filosofia de Descartes (1663); os

Pensamentos metafísicos (1663); o Tratado teológico-político73

(1670); e a Ética74

(1677).

Principais pensamentos

I. Deus como única substância

O método de Spinoza pode ser descrito como dedutivo na medida em que parte de

uma intuição originária que contém em si mesma, todas as verdades que serão expostas pela

filosofia. O eixo fundamental de seu pensamento ético está na concepção de Deus, entretanto,

esta fora escrito totalmente como um postulado e definições, algo bem matemático, por isso

também é denominada Ética demonstrada à maneira dos geômetras.

Spinoza defendeu a unicidade da substância, assim, tudo que é imanente a natureza de

uma coisa lhe pertence necessariamente, por isso todas as coisas derivam de Deus

necessariamente. Assim, nada está fora de Deus e que tudo é expressão d’Ele. Por isso, deve

em verdade entender que a causa divina é natura naturans e seus efeitos natura naturata.

Daqui a forma máxima Deus sine natura. Deus ou natureza seria um ser de infinitos atributos

dos quais os homens só tem ciência da extensão (matéria) e do pensamento.

Parece muitas vezes que o pensador tinham ideias panteístas75

, entretanto não é bem

isso76

, o que Spinoza quer defender é um panenteísmo77

. Entretanto, ambas negam a

72 O texto na integra da excomunhão pode ser lido no Anexo I este trabalho. 73 Também conhecido como: Tratado sobre a Religião e o Estado. 74

Também conhecido como: Ética demonstrada à maneira dos geômetras. 75 Deus nada mais é do que tudo o que há no universo, isto é, tudo é Deus. 76 “Deus é causa imanente, não transitiva, de todas as coisas” (SPINOZA, Baruch. Ética, part. I, prop. 18) 77 A presença de Deus nas coisas, isto é, não há identidade, mas há imanência da substância divina nas coisas.

Page 33: Introdução à Filosofia Moderna

32

transcendência. Esse conceito da substância divina possuir diferentes atributos, sendo dois

conhecidos (pensamento e matéria), está totalmente em desacordo com o racionalismo

proposto por Descartes, o qual propusera não uma, mas três substâncias (divina, pensante e

extensa). Parece que Spinoza unifica as três em uma única, isto é Deus, todo o resto se torna

imanência.

Tudo o que existe, existe em Deus, e por meio de Deus deve ser concebido; portanto, Deus é causa das coisas que nele existem, que era o primeiro ponto. Ademais, além de

Deus, não pode existir nenhuma substância, isto é, nenhuma coisa, além de Deus,

existe em si mesma, que era o segundo ponto. Logo, Deus é causa imanente, e não

transitiva, de todas as coisas.78

II. A religião

Em seu Tratado teológico-político (TTP), Spinoza desenvolve sua crítica à religião

elaborando uma nova abordagem para a exegese dos textos antigos a partir do Método

Histórico Crítico (MHC). Para ele a Bíblia não ensina nada mais do que aquilo que a própria

Lei Natural já ensina ao homem, isto é, fazer o bem. Entretanto, alguns necessitam da Bíblia,

pois não conseguem compreender pela razão ou observar a Lei Natural em si mesmo. Desta

forma, Spinoza quer provar que tudo o que a religião prega, ou diz “Bíblia ensinar”, não passa

de uma Política das instituições religiosas que querem alienar a todos os seus seguidores.

Neste posto, Spinoza se aproveita do seu conceito de Deus como substância e a imanência da

mesma e afirma que em tudo contém a Lei Natural e se essa, que é centelha, assim, provém de

uma Lei Eterna, isto é, Deus, logo Deus está em todas as coisas. A religião serve apenas para

instruir os ignorantes que não tem acesso às informações filosóficas, Jesus Cristo seria a

“salvação dos ignorantes”.

3.2.6 Gottfried Willhelm Leibniz (1646-1716)

Filósofo e matemático alemão, da segunda metade do século XVII, teve contato com

neoplatonismo da Renascença e pelo empirismo, o qual escreveu contra ensaio de Locke, mas

foi o cartesianismo e Malebranche que moveram os pensamentos de Leibniz. Entretanto, o

pensador que mais se destacou em suas obras fora Baruch Spinoza, do qual se pode dizer que

teve muita influencia em seus escritos, mas nunca se denominou seguidor.

Suas obras são geralmente escritos esporádicos, pensamentos que não foram

preocupados em ser organizados em livros propriamente ditos sistemáticos. Dentre elas se

78 SPINOZA, Baruch. Ética, part. I, prop. 18.

Page 34: Introdução à Filosofia Moderna

33

destacam: Novos Ensaios sobre o Intelecto Humano79

(1701); Teodicéia80

(1710); Discurso

de Metafísica81

(1686); Monadologia82

(1714); e outros opúsculos de filosofia83

.

Principais pensamentos

I. Leibniz e seus predecessores

Com Descartes, Leibniz partilha o ideal matemático como referencia científica, a

imanência do cogito, o imanentismo e o princípio da autoconsciência como constituidora do

eu. Entretanto, ele criticou Descartes em relação ao dualismo, a noção mecânica de

matemática e a própria noção de substância. Com relação a Spinoza, Leibniz defendeu uma

concepção dinâmica da substância, entendida como uma força conatus. Entretanto, diverge

com relação ao monismo, já que Leibniz sustenta a pluralidade das substâncias. No que tange

a relação com Locke, Leibniz sustenta a existência de princípios e ideais inatos independentes

da experiência. Entretanto, diverge dos racionalistas ao enfatizar o valor da experiência como

ocasião para a consciência do que é inato.

II. A monadologia

Leibniz buscou sintetizar as descobertas da história da filosofia, principalmente no que

se tratava de definir o conceito de substância, a qual designou um trabalho especialmente, a

Monadologia. As mônadas84

são atos na natureza formados de substância simples e indivisa,

semelhantes ao átomo proposto por Demócrito, mas distingue-se do mesmo por não se tratar

de um átomo material como propôs o mesmo, ao modo que a mônada seria uma espécie de

enteléchia85

aristotélica.

Leibniz não concorda com a ideia de extensão (res extensa) proposta por Descartes e

que era a mais comum no período e defendida pelos cartesianos, desta forma, cada mônada se

distinguiria da outra por condições internas e essas qualidades variam, pois por serem puras,

nada externo pode contaminar, elas são independentes em si. Destarte, surgindo uma

metafísica própria de Leibniz a partir das substâncias simples.

79 Crítica ao Ensaio de Locke, mas publicada postumamente em 1765. 80 Sobre o problema do mal. 81 Compreende em 37 trechos em que o pensador detalha sua metafísica. 82 Destinada ao príncipe Eugênio de Sabóia, mas publicada postumamente. 83 Na verdade são correspondência de cujo tema se trata de temas filosóficos. 84 Termo platônico e já utilizado por Giordano Bruno, mas com outra nomenclatura. 85 evntele,xeia, isto é, o ser em ato.

Page 35: Introdução à Filosofia Moderna

34

Todas as coisas existentes são mônadas, isto é, “uma entidade individua capaz de ação,

e os princípios de suas ações são as percepções (representações) e as apetições (vontade)”86

,

que representa todo o universo e sua diversividade, entretanto essa diversividade particular de

cada uma não é um tudo perceptível, apenas Deus pode observar.

Com efeito, se todas as formas das substâncias expressam todo o universo, pode-se

dizer que as substâncias brutas expressam mais o mundo do que a Deus, ao passo

que os espíritos expressam mais a Deus do que o mundo. Por isso, Deus governa as

substâncias brutas segundo as leis materiais da força ou da transmissão do

movimento e governa os espíritos segundo as leis espirituais da justiça, de que as

outras substâncias são incapazes. E por isso as substâncias brutas podem ser

chamadas materiais, porque a economia seguida por Deus em relação a elas é a de

operário ou maquinista, ao passo que em relação aos espíritos Deus cumpre as

funções de príncipe e legislador, que é infinitamente mais elevada. E enquanto, em

relação a tais substâncias materiais, Deus não representa nada mais do que aquilo que representa em relação a tudo, isto é, a função de autor geral das coisas, já em

relação aos espíritos ele assume outro papel, pelo qual o concebemos dotado de

vontade e de qualidades morais, sendo ele próprio espírito e como que um entre nós,

a ponto de entrar em urna ligação de sociedade conosco, da qual é o chefe. Essa

sociedade ou republica geral dos espíritos, sob aquele supremo Monarca, é a parte

mais nobre do universo, composta de muitos pequenos deuses, sob a direção daquele

grande Deus. Com efeito, pode-se dizer que os espíritos criados diferem de Deus

somente como o menos do mais, como o finito do infinito.87

Sobre a relação do conceito de substância em Descartes, Spinoza e Leibniz, entende-

se:

Descartes Spinoza Leibniz

Res cogitans (espírito)

Deus (imanência) Infinitas (mônadas) Res divina (Deus)

Res extensa (matéria)

III. O discurso metafísico

A monodologia apresenta pelo menos quatro ordens em escala de mônadas, a saber:

mônadas nuas (reino vegetal e mineral, isto é, inconscientes); mônadas sensitivas

(conscientes); mônadas racionais (alma humana, isto é, repletas de consciência e intelecto); e

mônada suprema (Deus, isto é, perfeita e causadora de todas as outras). Entretanto, partindo

do pressuposto de que as mônadas seriam átomos isolados, “sem janelas”, para não se

corromperem com nada externo, surge um grande problema, como ela podem se relacionar?

Visto que a monodologia eliminou o dualismo entre a res cogitans e a res extensa cartesiano,

86

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.

4, p. 43. 87 LEIBNIZ apud REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo:

Paulus, 2005. v. 4, p. 50.

Page 36: Introdução à Filosofia Moderna

35

e mais, tendo que os corpos são agregados de mônadas unidos por uma mônada hegemônica

(mônadas racionais, isto é, alma), como ficaria a relação entre corpo e alma nos seres?

Para resolver estes problemas, Leibniz criou uma hipótese metafísica denominada

“harmonia preestabelecida”, que se trata do principio da harmonia que conecta todas as

mônadas. Deste modo, a impenetrabilidade e a força de cada mônada ficariam suspensas entre

si, está influencia entre elas tem “sua eficácia apenas diante da intervenção de Deus”88

.

Assim, esta relação entre as mônadas se estabeleceu três hipóteses desta “harmonia

preestabelecida”:

1) a de supor urna ação recíproca, biunívoca; 2) a de postular urna intervenção de

Deus em todas as ocasiões, como artífice do acordo; 3) a de conceber as substâncias

(as varias mônadas em geral, assim como as mônadas-alma e as que constituem o

corpo) estruturadas de tal modo que elas extraiam tudo do seu interior, e de tal modo

que aquilo que cada urna extrai do seu interior coincida com aquilo que todas as

outras extraem do seu próprio interior com correspondência e harmonia perfeitas,

considerando que isso faz parte de sua própria natureza, desejada Dor seu Criador.89

Para Leibniz, também pode se valer de um milagre contínuo para explicar essa

harmonia preestabelecida das mônadas, trata-se de uma solução ocasionalista, mas este seria

totalmente contrário à sabedoria de Deus que as fez90

. Em síntese, o Discurso de Metafísica91

de Leibniz pode ser resumido da seguinte maneira:

1. Deus é o ser perfeitíssimo;

2. Deus é o agente (metafísico) perfeitíssimo92

;

3. Deus nada faz fora da ordem;

4. A substância individual é aquela realidade que não é atribuída a nenhuma outra;

5. A noção perfeita de uma substância individual compreende todos os seus

predicados verdadeiros;

6. A natureza de uma substância individual consiste em ter uma noção tão perfeita

que seja suficientemente para compreender e fazer deduzir de si todos os

predicados do sujeito a que se atribui esta noção.

7. Somente Deus conhece a noção perfeita das substâncias.

3.2.7 David Hume (1711-1776)

88 LEIBNIZ apud REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo:

Paulus, 2005. v. 4, p. 52. 89 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.

4, p. 52. 90 Cf. Ibidem, p. 52. 91 Compreende em 37 trechos em que o pensador detalha sua metafísica. 92 “Deus age sempre de modo mais perfeito e mais desejável possível”.

Page 37: Introdução à Filosofia Moderna

36

Filósofo e historiador escocês do inicio do século XVIII, que tem como característica

filosófica a fenomenológica, com origem no empirismo de Locke e no idealismo de Berkeley.

Hume também é conhecido por seu ceticismo, reduzindo os princípios racionais às ligações de

ideias vinculadas ao hábito e o ‘eu’ às coleções de estados de consciência93

. Suas principais

obras são: Tratado na Natureza Humana (1739); Investigação sobre o Entendimento Humano

(1748); Investigação sobre os Princípios da Moral (1751); Diálogos sobre a Religião Natural

(post-mortem); Ensaios Morais, Políticos e Literários (1741); A História da Grã-Bretanha

(1754-1762); História Natural da Religião (1757); e Da imortalidade da Alma e outros textos

póstumos.

Principais pensamentos

Hume, bem como Locke opõe-se ao racionalismo cartesiano, assim, tudo que se

conhece vem das percepções ou das ideias que se formam a partir delas. Para ele um signo só

tem significado no mundo quando se tem algo correspondente ao mesmo no mundo.

Entretanto, o próprio identificou um problema em seu sistema, ora, nem tudo que sabemos é

justificado por alguma experiência vivida que já tivemos, visto que ele mesmo tinha negado

as ideias inatas.

Desta forma, Hume conclui que parte de nosso raciocínio se baseia em “prováveis”

acontecimentos. Por exemplo: o nascer do sol na manha seguinte, ainda que não se tenha

vivido a manha seguinte, tem-se consciência através do hábito e de experiências semelhantes

passadas de que o sol nascerá no dia seguinte. Mesmo que a natureza resolva modificar as

suas leis, a única coisa que se tem como melhor guia é o hábito. A causalidade não ganha

espaço no pensamento de Hume, ela é considerada como uma crença ou uma superstição visto

que não se pode justificar essa crença numa conexão casual entre eventos.

Hume também diferencia as chamadas impressões das chamadas ideias. Partindo do

pressuposto de que tudo que está na mente humana são percepções, isto é, algo que fora

apresentado à mente e ela assimilou. Sobre as impressões, Hume irá afirmar que elas dizem

“respeito à força ou vivacidade com que as percepções se apresentam à nossa mente”94

, já as

93

Cf. JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES. Hume, David. In: JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo.

Dicionário básico de filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. 94 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.

4, p. 135.

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37

ideias dizem “respeito à ordem e a sucessão temporal com que elas se apresentam” 95

. Desta

forma, toda a percepção é sentida de como impressão e pensada como ideia96

.

Em síntese, para Hume, primeiramente não se pode criar ideia, se faz necessário os

sentidos de onde provêm todos os conhecimentos. Em seguida, as certezas são substituídas

por probabilidades, inclusive as certezas morais que se tornam verdades de ordem prováveis.

Destarte, não há causalidade, pois nem sempre terão o efeito esperado, destruindo a relação

entre causa e efeito. Trata-se de um ceticismo teórico que para a vida não tem validade

alguma.97

Hume não só desenvolveu seu pensamento na busca pelo conhecimento humano, mas

também colaborou principalmente no campo da ciência, da moral, da religião (com críticas ao

fenômeno religioso) e na própria política (influenciando na constituição americana).

3.2.8 Jean-Jacques Rousseau (1717-1778)

Filósofo, político, escritor e compositor suíço dos meados do século XVIII, se

destacou na história através da Revolução Francesa, tornando-se um dos maiores pensadores

do iluminismo e de sua época. Suas principais obras são: Discurso Sobre as Ciências e as

Artes (1749); Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens

(1755); Do Contrato Social (1762); Emílio ou Da Educação (1762); e Os Devaneios de um

Caminhante Solitário (1776).

Principais pensamentos

I. O Pacto Social

A principal obra que fez com que seu pensamento se propagasse foi Do Contrato

Social, na qual este difere no pensamento político de Locke e Hobbes. Em um primeiro

momento, Rousseau dirá que o homem em sua natureza é bom, mas o sistema político em que

ele vive faz com que ele se desvirtue. O contrato social seria um meio dos homens,

naturalmente bons, se associarem (pacto) e formarem uma sociedade. Para ele, “o homem

nasce livre e por toda a parte ele está agrilhoado”98

, isto é, “aquele que se crê senhor dos

95 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.

4, p. 135. 96

Cf. Ibidem, p. 135. 97 Cf. JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES. Hume, David. In: JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo.

Dicionário básico de filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. 98 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 9.

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outros não deixa de ser mais servo do que eles”99

, esta é a finalidade do contrato, libertar o

homem das cadeias da sociedade devolvendo a liberdade natural.

Não existe autoridade de um sobre o outro100

, o que existe é a vontade geral, todos

ficam submetidos às leis e não a autoridades. A vontade geral se preocupa com o bem

comum, diferentemente da vontade particular que se preocupa apenas com o individual101

.

Destarte,

A vontade geral, portanto, não é a soma das vontades de todos os componentes, mas

uma realidade que brota da renuncia de cada um a seus próprios interesses em favor

da coletividade. E um pacto que os homens não estreitam com Deus ou com um

chefe, mas entre si mesmos, em plena liberdade e com perfeita igualdade.102

II. A educação

Para que o pacto seja bem sucedido é necessário que haja uma boa educação e é na

obra Emílio que Rousseau irá tratar sobre este assunto. Esta obra trata-se de um romance

pedagógico e é uma das maiores obras de todos os tempos nesse assunto. Para o pensador, as

crianças devem ser educadas de forma que sejam bem orientadas quanto a sua liberdade.

Não se deve treinar urna criança quando não se sabe conduzi-la aonde se quer,

somente através das leis do possível e do impossível, cujas esferas, sendo-lhe igualmente desconhecidas, podem ser ampliadas ou restringidas diante dela como

melhor convier. Pode-se prendê-la, impeli-la ou detê-la sem que ela se dê conta,

somente através da voz da necessidade. E pode-se torna-la mansa e dócil somente

através da força das coisas, sem que nenhum vicio tenha condição de germinar em

seu coração, porque as paixões nunca se acendem quando são vis em seus efeitos.103

O sentido de bem comum deve ser colocado na educação das crianças a fim de que

elas passem ao invés de nutrirem o amor de si mesmas, passem a nutrir o amor pela

comunidade (amor aos outros). O processo de educação seria um processo continuo e não

terminaria na infância, mas perduraria a juventude (educação intelectual) e a maturidade

(dimensão moral da educação).

3.2.9 Immanuel Kant (1724-1804)

Ultimo grande filósofo da modernidade, nascido na Prússia, viveu no fim do século

XVIII e XIX. Immanuel Kant diferenciou-se dos demais filósofos do seu tempo ao propor um

99 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p.9. 100 Cf. Ibidem, p.13. 101 Cf. Ibidem, p. 125. 102

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.

4, p. 285. 103 ROUSSEAU apud REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São

Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 287.

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modelo de filosofia que combinasse o racionalismo e o empirismo, a chamada epistemologia,

mas ficou famoso pelo seu idealismo transcendental que influenciou diretamente Hegel. Suas

influências filosóficas foram fortemente caracterizadas em parte de Descartes e Leibniz, com

o racionalismo, e em Hume, Locke e Berkeley, com o empirismo, entretanto, algumas ideias

de Spinoza, Rousseau e Montaigne também podem ser vistas. Em suas obras destacou-se o

criticismo104

.

Seu conjunto de obras é vastíssimo e de suma importância para a filosofia posterior a

ele, circulando entre a metafísica, a ética, a teologia natural, entre outros elementos. Seus

escritos podem ser divididos em seu período de maturidade de pensamento em escritos pré-

críticos e críticos105

, separados por sua Crítica da Razão Pura.

Escritos Pré-críticos:

Pensamentos sobre a verdadeira avaliação das forças vivas (1746); Historia natural

universal e teoria do céu (1755); De igne106

(1755); Principiorum primorum cognitionis

metaphysicae nova delucidatio107

(1755); Os terremotos (1756); Teoria dos ventos (1756);

Monadologia física (1756); Projetos de um colégio de geografia física (1757); Sobre o

otimismo (1759); A falsa sutileza das quatro figuras Silogísticas (1762); O único argumento

possível para demonstrar a existência de Deus (1763); Ensaio para introduzir em metafísica

o conceito de grandezas negativas (1763); Observações sobre o sentimento do belo e do

sublime (1763); Pesquisa sobre a evidência dos princípios da teologia natural e da moral

(1764); Informe sobre a orientação das lições para o semestre de inverno 1765-1766 (1765);

Sonhos de um visionário esclarecidos com os sonhos da metafísica (1766); e De mundi

sensibilis atque intelligibilis forma et principiis108

(1770).

Escritos críticos:

Crítica da Razão Pura (1781); Prolegômenos para toda metafísica futura que se

apresente como ciência (1783); Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vista

Cosmopolita (1784); Resposta à pergunta: O que é iluminismo? (1784); Fundamentação da

Metafísica dos Costumes (1785); Primeiros princípios metafísicos da ciência natural (1786);

Crítica da Razão Prática (1788); Crítica do Juízo (1790); A Religião dentro dos limites da

mera razão (1793); A Paz Perpétua (1795); Doutrina do Direito (1796); A Metafísica dos

104 Conferir o que foi dito anteriormente sobre o ceticismo (capítulo 2). 105 Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005.

v. 4, p. 350. 106 Dissertação de Doutorado de Kant. 107 Tese de docência universitária de Kant. 108 Dissertação sobre a forma e os princípios do mundo sensível e inteligível.

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costumes (1797); O conflito das faculdades (1798); Antropologia do ponto de vista

pragmático (1798); Geografia física (1802); e A pedagogia (1803).

De seu conjunto de obras, destacam-se: Crítica da Razão Pura (1781); Crítica da

Razão Prática (1788); Crítica do Juízo (1790); A Religião dentro dos limites da mera razão

(1793).

Principais pensamentos

I. A doutrina do conhecimento

Em sua vida, Kant se propôs a responder três perguntas: o que posso saber? O que

devo fazer? E o que me é permitido esperar? Essas perguntas tratam de todo interesse que a

razão, tanto especulativa quanto prática, almeja responder e é esse o objetivo primordial da

mesma. Na obra Crítica da Razão Pura (CRP), Kant procura fazer a distinção entre a razão e

o intelecto que outrora fora feito por Platão e Spinoza, a demais, se na atualidade se tem esta

distinção os méritos são todos de Kant. A obra se trata de uma obra de teoria do

conhecimento kantiana que apresentará uma faculdade para o conhecimento humano, a qual

Kant denomina intelecto. Com Descartes, Leibniz partilha o ideal matemático como

referencia científica, a imanência do cogito, o imanentismo e o princípio da autoconsciência

como constituidora do eu.

O conhecimento é formado109

por dois elementos distintos, um sensível e outro

intelectivo. Sobre os sentidos, eles fornecem o objeto, enquanto pelo intelecto os objetos são

pensados. A doutrina da sensibilidade, Kant a chamou de Estética Transcendental (ETr) e

trata da estrutura sensível do conhecimento, na qual, observando o conhecimento sensível

descobre como elemento comum a intuição empírica que rege todo o fenômeno110

e é

apresentada nas formas de espaço e tempo111

.

Sobre o intelecto, este não é formado por intuições, mas sim por conceitos, logo é

totalmente lógico, por isso denomina essa doutrina do intelecto de Lógica Transcendental

(LTr), a qual Kant subdivide em Analítica Transcendental (ATr) e Dialética Transcendental

(DTr). A ATr tem como objetivo analisar as categorias112

a priori que não podem faltar nos

objetos. A saber:

Quantidade: multiplicidade, unidade e totalidade.

109

O esquema da formulação do conhecimento segundo Kant pode ser observados no Anexo II desse trabalho. 110 A “coisa para mim”. 111 A matéria não é captada pelos sentidos se não estiver apresentada nestas formas. 112 Existem doze categorias referentes às formas de juízo da lógica formal.

Page 42: Introdução à Filosofia Moderna

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Qualidade: realidade, negação, limitação.

Relação: substância, causalidade, comunidade.

Modalidade: possibilidade, existência e necessidade.

Assim a ATr, conclui que só é possível conhecer através do intelecto e da sensibilidade

o fenômeno que me é apresentado conceituado de forma apriori pelo intelecto. Entretanto, a

única coisa que o intelecto humano não consegue entender é o númeno113

.

O conceito de númeno e um “conceito problemático”, no sentido de que ele não

contém nenhuma contradição, e como tal nos o podemos pensar, porém não efetivamente conhecer; mas e também um conceito necessário, a fim de que a

intuição sensível não seja estendida ate as coisas em si mesmas: o conceito de

númeno é, portanto, apenas um conceito limite para circunscrever as pretensões da

sensibilidade, e por isso de uso puramente negativo.114

A DTr vai tratar de criticar o intelecto em relação ao metafísico. Ela vai tratar da razão

e suas estruturas, deste modo,

a “razão” é para Kant o próprio intelecto na medida em que se lança para além do

horizonte da experiência possível, e é por isso chamada também de “faculdade do

incondicionado”, da metafísica; esta, todavia, destina-se permanecer pura exigência

do absoluto, incapaz de atingir o próprio absoluto por meio do conhecimento.115

A “razão” seria a faculdade responsável por operar sobre os puros conceitos e juízos

de forma deduzida, totalmente o oposto do indutivo do intelecto através de seus juízos. Os

conceitos puros, Kant os chamará de “Ideias”116

partindo dos tipos de silogismos117

. Assim, as

ideias se distinguiriam em três: a ideia psicológica (alma), a ideia cosmológica (mundo) e a

ideia teológica (Deus)118

. Destarte, a conclusão que se pode chegar da CRP é que a metafísica

como uma ciência impossível, pois o intelecto não é capaz de conceber e nem criar tais ideias,

pois ele não é intuitivo. As ideias apenas contribuem para a compreensão do fenômeno, elas

não alargam o conhecimento, mas unificam119

.

II. Os juízos

O conhecimento humano se funda em três tipos de juízo: o juízo analítico, o juízo

sintético a posteriori e o juízo sintético a priori. O juízo analítico não necessita da

113 A “coisa em si”. 114 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.

4, p. 353. 115 Ibidem, p. 354. 116 Distinta do sentido clássico ou dos demais modernos. 117

Silogismos da lógica formal: categórico, hipotético e disjuntivo. 118 Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005.

v. 4, p. 371. 119 Cf. Ibidem, p. 354.

Page 43: Introdução à Filosofia Moderna

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experiência, visto que ele é formado de forma a priori. O juízo sintético a posteriori é o juízo

baseado nas experiências, logo não são universais. Já que os dois primeiros tipos não podem

ser utilizados pela ciência, ela se utiliza de um terceiro juízo, o juízo sintético a priori, que uni

a universalidade com a necessidade e a fecundidade, dando assim o sentido de síntese. Com

isso, Kant pretende chegar à verificação das ciências para saber quais realmente cumprem o

critério científico do juízo sintético a priori120

, chegando à conclusão de que somente a

matemática e a física cumprem o critério, a metafísica como ciência não cumpre e ficaria de

fora.

III. A moral e a metafísica kantiana

Kant partindo da universalidade, desta forma, em sua obra Critica da Razão Prática

(CRPr) pode-se observar que a razão é suficiente em si mesma, diferentemente da CRP, pelo

menos em suas vontades e ações.

Ora, entre todos os princípios práticos, isto é, entre as regras gerais (subjetivas e objetivas) que determinam a vontade, apenas os imperativos categóricos constituem

as leis praticas que valem sem condições para o ser racional, porque eles

determinam a vontade simplesmente como vontade, prescindindo da obtenção de

determinado efeito desejado.121

Se nos prendêssemos e estivéssemos totalmente subordinados a lei moral e ao seu

conteúdo, agiríamos apenas no utilitarismo e, por conseguinte, em um “empirismo”,

entretanto, à vontade nos permite exercer a virtude, isto é, pela racionalidade agimos com

essência moral, adequando, isto é, a adequação da vontade a forma da lei122

. O que Kant quer

afirmar é que a formulação do imperativo hipotético, o qual até então conduzia toda a moral,

não faz com que a racionalidade seja exercida de forma perfeita. O imperativo hipotético só

tem um objetivo, chegar a uma finalidade, e não conduzir a uma vida moral. Por exemplo: “se

queres ser perfeito, faz isso ou aquilo”.

O interativo categórico, proposto por Kant, trata das ações que são boas em si e não

que são boas apenas com uma finalidade ou interesse. O imperativo categórico colabora para

uma melhor vida moral visto que o seu agir vai contribuir com o exercício da sua vontade,

logo da sua racionalidade (razão). Assim: “age de modo que a máxima de tua vontade possa

120 O juízo sintético é o juízo que não se pode chegar as conclusões com apenas as proposições oferecidas por

ele, se faz necessário a experiência para saber a veracidade. 121 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.

4, p. 376. 122 Cf. Ibidem, p. 376.

Page 44: Introdução à Filosofia Moderna

43

valer sempre, ao mesmo tempo, como princípio de uma legislação universal”123

, em outras

palavras, “age de tal modo que tua lei possa ser universalizada”.

Com isso, Kant infere que a razão pura, a qual o intelecto não podia provar, se torna

razão prática. O númeno se torna possível pela prática, assim, a liberdade e os conceitos puros

se tornam postulados.

Não se poderia fazer jus à lei moral, se não se admitissem estes três postulados: 1) a

liberdade, postulada pelo fato de que e possível conceber a vontade pura como causa livre; 2) a existência de um Deus onisciente e onipotente, postulada para adequar a

felicidade do homem a seus méritos e ao grau de sua virtude; 3) a imortalidade da

alma, postulada no sentido de um aproximar-se sempre mais da santidade, uma vez

que a santidade requerida pelo sumo bem pode se encontrar apenas em um processo

ao infinito.124

A moral kantiana influencia diretamente na crítica da religião de Kant, pois para ela

Deus sendo um postulado da razão pratica para que se exista a moralidade, a religião não

passa de um conhecimento de leis morais, isto é, os mandamentos divinos, assim, a religião se

resume a moralidade. Assim,

A ideia metafísica de Deus é a ideia de um ser que não pode nos aparecer sob a

forma do espaço e tempo; de um ser ao qual a categoria de causalidade não se aplica; de um ser que, nunca tendo sido dado a nós, é posto, entretanto, como

fundamento e princípio de toda a realidade e de toda a verdade. Assim, a ideia

metafísica de Deus escapa de todas as condições de possibilidade do conhecimento

humano e, portanto, a metafísica usa ilegitimamente essa ideia para afirmar que

Deus existe e para dizer o que ele é.125

123 Além desta formulação universal existem outras duas mais voltadas para a metafísica: 1)“Age de modo a

considerar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre também como

finalidade, e jamais como simples meio”; 2) “Age de modo que a vontade, com a sua máxima, possa se

considerar como universalmente legisladora em relação a si própria” (Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario.

História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 376). 124 Ibidem, p. 377. 125 SHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000. p. 297.

Page 45: Introdução à Filosofia Moderna

44

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Page 47: Introdução à Filosofia Moderna

46

Anexo I: Ata de Excomunhão de Baruch Spinoza

“Nota do Herém126

que se publicou da Theba127

em 6 de Ab, contra Baruch

Espinosa.”128

“Os Senhores do Mahamad fazem saber a Vosmecês: como há dias que, tendo notícia

das más opiniões de Baruch de Espinosa, procuraram por diferentes caminhos e promessas

retirá-lo de seus maus caminhos; e que, não podendo remediá-lo, antes, pelo contrário, tendo a

cada dia maiores notícias das horrendas heresias que praticava e ensinava, e das enormes

obras que praticava; tendo disso muitas testemunhas fidedignas que depuseram e

testemunharam tudo em presença de dito Espinosa, de que ficou convencido, o qual tendo

tudo examinado em presença dos Senhores Hahamín129

, deliberaram com o seu parecer que

dito Espinosa seja excomunhado e apartado de toda nação de Israel como atualmente o põe

em herém, com o Herém seguinte: Com a sentença dos Anjos, com dito dos Santos, com o

consentimento do Deus Bendito e o consentimento de todo este Kahal Kadosh130

, diante dos

Santos Sepharin, estes, com seiscentos e treze parceiros que estão escritos neles, nós

Excomunhamos, apartamos, amaldiçoamos e praguejamos a Baruch de Espinosa, como o

herém que excomunhou Josué a Jericó, com a maldição que maldisse Elias aos moços, e com

todas as maldições que estão escritas na Lei. Maldito seja de dia e maldito seja de noite,

maldito seja em seu deitar e maldito seja em seu levantar, maldito ele em seu sair e maldito

ele em seu entrar; não queira Adonai perdoar a ele, que então semeie o furor de Adonai e seu

zelo neste homem e caia nele todas as maldições escritas no livro desta Lei. E vós, os

apegados com Adonai, vosso Deus, sejais atento todos vós hoje. Advertindo que ninguém lhe

pode falar oralmente nem por escrito, nem lhe fazer nenhum favor, nem estar com ele debaixo

do mesmo teto, nem junto com ele a menos de quatro côvados131

, nem ler papel algum feito

ou escrito por ele”.

126 Anátema. 127 Sinagoga de Amsterdã. 128

A 27 de Julho de 1656, a Sinagoga Portuguesa de Amsterdã. 129 Conselheiros. 130 Congregação, Sinagoga. 131 Três palmos, isto é, 0,66m; cúbito.

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Anexo II: O Esquema do processo do conhecimento em Kant