introdução às origens do haṭha yoga

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Introdução às Origens do Haṭha Yoga Não há como afirmar quando o Yoga teve início por duas razões. A primeira é referente à tradição oral do Yoga Śastra. A tradição védica na qual o Yoga está inserido , apesar de estar fundamentada no cânone de escrituras sagradas mais extenso e antigo da humanidade pelo qual hoje há um mínimo consenso acadêmico sobre quando estas escrituras foram geradas, tem sua origem em uma longa tradição oral antes que houvesse necessidade de registrar por escrito seus versos. Ninguém pode dizer quando esta tradição teve início. Filosofia Perene Śiva Natarāja Para entendermos a segunda razão, temos que conceber o Yoga de forma mais profunda. Os limites impostos pelas vicissitudes da natureza sempre geraram no homem um aflitivo conflito existencial, como também um ímpeto de os transcender em prol de uma verdade ontológica mais profunda e libertadora. Tal ímpeto é inerente ao homem e independe da forma cultural em se manifesta. De uma maneira ampla, todo empenho que parte deste ímpeto pode ser descrito como Yoga, e desta forma o Yoga é tão antigo quanto o homem em si. Esta visão é belamente simbolizada nos mitos de origem do Yoga que o atribuem à deidade Śiva, que em algumas tradições é descrita como a manifestação do Ser que dá a qualidade entrópica ao universo, embora nas tradições mais diretamente relacionadas ao Yoga (especialmente à sistemas como o Haṭha Yoga), é vista como o próprio Ser. Isto nos faz compreender que o empenho do homem pela Verdade do Ser tem dupla genetriz: a dor de perceber que tudo em que ele preza tende inevitavelmente à transitoriedade, porém uma certeza íntima que além do mundo dos fenômenos existe uma verdade eterna onde o homem pode depositar sua confiança. Esta certeza não pode ser uma abstração mental, pois o finito não pode conceber o infinito. Ela vem do coração do homem onde habita

Author: ashra-jardim

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  1. 1. Introduo s Origens do Haha Yoga No h como afirmar quando o Yoga teve incio por duas razes. A primeira referente tradio oral do Yoga astra. A tradio vdica na qual o Yoga est inserido , apesar de estar fundamentada no cnone de escrituras sagradas mais extenso e antigo da humanidade pelo qual hoje h um mnimo consenso acadmico sobre quando estas escrituras foram geradas, tem sua origem em uma longa tradio oral antes que houvesse necessidade de registrar por escrito seus versos. Ningum pode dizer quando esta tradio teve incio. Filosofia Perene iva Natarja Para entendermos a segunda razo, temos que conceber o Yoga de forma mais profunda. Os limites impostos pelas vicissitudes da natureza sempre geraram no homem um aflitivo conflito existencial, como tambm um mpeto de os transcender em prol de uma verdade ontolgica mais profunda e libertadora. Tal mpeto inerente ao homem e independe da forma cultural em se manifesta.De uma maneira ampla, todo empenho que parte deste mpeto pode ser descrito como Yoga, e desta forma o Yoga to antigo quanto o homem em si. Esta viso belamente simbolizada nos mitos de origem do Yoga que o atribuem deidade iva, que em algumas tradies descrita como a manifestao do Ser que d a qualidade entrpica ao universo, embora nas tradies mais diretamente relacionadas ao Yoga (especialmente sistemas como o Haha Yoga), vista como o prprio Ser. Isto nos faz compreender que o empenho do homem pela Verdade do Ser tem dupla genetriz: a dor de perceber que tudo em que ele preza tende inevitavelmente transitoriedade,porm uma certeza ntima que alm do mundo dos fenmenos existe uma verdade eterna onde o homem pode depositar sua confiana. Esta certeza no pode ser uma abstrao mental, pois o finito no pode conceber o infinito. Ela vem do corao do homem onde habita o Ser, que o atrai para a descoberta do Si Mesmo atravs da auto-investigao denominada tma vicra. A palavra "Yoga" aparece em um texto pela primeira vez no g Veda, cnone que tem possivelmente 4500 anos de idade,em um contexto diferente do qual a usamos. Como a "unio ou identificao do ser vivente com o Ser Universal", sua primeira apario no Taittirya Upaniad, h 3000 anos. No sculo II a.C., o sbio Patajali compilou um sistema prtico e filosfico denominado Atga Yoga (Yoga de Oito Membros) em seu texto Yoga Stra. E h cerca de 600 anos atrs, comearam a aparecer os primeiros textos de Haha Yoga, dentre os quais os mais conhecidos so o Haha Yoga Pradpik, o Gherada Sahit e o iva Sahit.
  2. 2. O Corpo como Sagrado e a Serpente Enrodilhada O Haha Yoga faz parte da tradio tntrica indiana. O Tantra uma escola pensamento que como fenmeno literrio, surgiu apenas na baixa idade mdia indiana, por volta do sculo VIII d.C., porm mistura elementos pr-histricos da cultura aborgene indiana com o pensamento vdico. A premissa bsica do Tantra uma viso monista do universo,onde o Ser (denominado iva) e a Fora da Natureza (denominada akti), em ltima anlise so dois nomes para a mesma realidade. A natureza material ento no irreal (como considerada por outras escolas de pensamento vdico),mas manifestao fsica de realidades mais sutis. Esta sacralizao da natureza acaba por dar ao adepto uma viso, no contexto da religio bramnica, revolucionria de seu prprio corpo - visto como sagrado, ele tido no como a fonte de misrias,paixes,doenas e mortalidade,mas instrumento de salvao. Atravs do Haha Yoga, aspira-se o transubstanciar em vajra deha, o "corpo adamantino", veculo capaz de conduzir as energias sutis de alta frequncia que levam sdhaka a sua realizao no Yoga. Gorakantha Os sistemas de Yoga associados ao tantrismo tm como ponto em comum o objetivo de atingir a percepo do Ser e a libertao (moka) atravs do processo de liberao do potencial energtico latente na base da coluna vertebral do homem, a kualin, e o Haha Yoga no diferente. A palavra "Haha" quer dizer "fora" ou "esforo", e se refere ao fato de que seus mtodos para obter xito no Yoga dependerem de um trabalho fsico. Sua denominao tambm est ligada s slabas-semente ham e ham, cujo som tem influncia vibratria respectivamente nas ns id e pigal, as correntes energticas lunar e solar. O objetivo do Haha Yoga equilibrar estas correntes, purificando o corpo e seus centros crebro espinais de suas impresses subconscientes latentes e abrir suumn n, corrente energtica principal do corpo humano presente na coluna, para que, poeticamente, "a noiva v at o amado" - kualin akti chegue aos mais elevados centros crebro-espinais,desperte os potenciais psquicos do homem e esclarea sua percepo em direo Autorrealizao. A origem do Haha Yoga tradicionalmente est associada a Gorakantha e seu mestre Matsyendrantha, que fundaram a linhagem Ntha e viveram por volta do sculo X d.C.. Este venervel yogi tm grande mrito em sistematizar suas tcnicas e fundar a escola que propagou seu legado, e provavelmente ele ou seu mestre responsvel pelo cunho do termo Haha Yoga (os primeiros textos de Haha Yoga so atribudos Goraka, precedendo o Haha Yoga Pradpik, incluindo um que se perdeu denominado justamente Haha Yoga). O nthismo atribui o incio de sua ordem a Adntha, o nath primordial,que seria o prprio iva, passando seus ensinamentos diretamente para Matsyendra. A vida de Gorakantha recoberta de mitos, e ele venerado como um mestre divino e siddha (ser perfeito, realizado) em toda a ndia e tambm no Tibete. O Senhor das Feras e a Cidade Perdida Porm,h muitas evidncias que indicam que os mtodos corporais e bioenergticos expostos nos textos clssicos de Haha Yoga precedam em muito a idade mdia. O prprio Yoga Stra tem vrios aforismos expondo o controle da energia vital e meditaes nos centros crebro-espinais, algo caracterstico do Haha Yoga. Poucos sculos antes a vetvatara Upaniad foi escrita, com versos sobre estabilidade corporal, controle da energia vital, e os benefcios do trabalho corporal atravs do Yoga. At mesmo o
  3. 3. pico Bhagavadgt, que foi composto entre os sculos V e VI a.C. mas narra uma batalha (e em seus versos, um dilogo) ocorrido em 1500 a.C., no verso IV:29 menciona a unio de pra e apna como meio de liberao. Este um fenmeno energtico o qual pode-se dizer que o objetivo do praticante avanado de Haha Yoga e de suas cincias irms. Selo de Paupati Mas a mais antiga pista que nos faz imaginar quo antigos estes mtodos podem ser vem das escavaes em Mohenjo-Daro, stio arqueolgico datado de 2800 a.C. no Paquisto descoberto da dcada de 20. A cidade perdida demonstrou surpreendente avano cultural da civilizao do Indo - Saraswat,sendo uma metrpole de 2,5 quilmetros quadrados de rigoroso planejamento urbano, com um sofisticado sistema de drenagem e esgoto e edifcios de 3 andares construdos com tijolos cozidos no forno. Algo que fascinou os estudiosos foram os selos de pedra-sabo e terracota demonstrando divindades sentadas maneira dos yogis,particularmente, o Selo de Paupati ("Senhor das Feras"), que no s retrata uma divindade sentada em uma postura ritual semelhante bhadrsana, mas que alguns pesquisadores a identificam como iva, o yogi primordial arquetpico. Luz no Haha Yoga O texto clssico mais conhecido de Haha Yoga o Haha Yoga Pradpik (seu ttulo quer dizer Luz no Haha Yoga), escrito no sculo XV por Swami Svtmrma. Logo de incio, no primeiro verso, o autor demonstra sua ligao ao nthismo, prestando homenagem ao guru primordial Adntha, e no quarto verso d crditos origem do conhecimento que expe a Matsyendrantha e Gorakantha. No primeiro verso ainda,h uma meno interessante: Svtmrma apresenta o Haha Yoga como uma escadaria que conduz ao elevado Raja Yoga. Raja Yoga o Yoga Rgio, ttulo que o aponta ao mais elevado Yoga. O termo conhecido hoje como um sinnimo do Atga Yoga de Patajali.No sabemos o que o autor quis dizer com isso, provavelmente finalidade do Haha Yoga, o samdhi (estado* exttico de percepo do Ser) atravs do despertar do potencial energtico latente na base da coluna (como o samdhi tratado na tradio em que se apia o nthismo). O termo Raja Yoga designando o Atga Yoga s seria dado no sculo XIX por Swami Vivekananda, o primeiro mestre a ensinar o Santana Dharma na Amrica.Contudo,o Haha Yoga, que por si s inclui tcnicas de meditao e por si s tem o potencial o sdhaka Autorrealizao, serve como excelente via de preparo psicofsico caso o praticante queira seguir o Atga Yoga**. Um grande diferencial do Yoga Stra de Patajali para o Haha Yoga Pradpik que apesar de ambos oferecerem uma lista de prescries e proscries comportamentais indicadas para o xito no Yoga, no primeiro isto aparece como pr-requisito para suas prticas posteriores,enquanto o Haha Yoga Pradpik enfatiza a purificao corporal por meio de akarma e o trabalho postural e de regulao do fluxo bioenergtico atravs, respectivamente, de sana e prnyma. O cdigo comportamental do Haha Yoga, visando tica, bem-estar coletivo e individual e atitudes inteligentes para o sucesso da meta do Yoga, tratado no primeiro captulo mas no tido como pr-requisito. Aps estas primeiras instncias, os captulos seguintes ocupam-se de tcnicas avanadas para o despertar de kualinakti como mudr (selos corporais de direcionamento bioenergtico) e bandha (contraes corporais), e culmina numa descrio de N e Ly Yoga (descritos no texto Brahmaidhna: uma Explanao Sobre N e Ly Yoga) e do samdhi. Como podem perceber, o Haha Yoga um sistema completo que leva finalidade de todo sistema de Yoga, por uma abordagem tntrica. N e Ly Yoga so sinnimos de Kualin Yoga, e pode-se dizer que esta cincia e o Haha Yoga tradicional so, na prtica, idnticos. Haha Yoga Contemporneo
  4. 4. Segundo Swami Satyananda Saraswati,um dos maiores mestres tntricos do sculo XX, a corrente lunar governa o psiquismo (o antakaraa e suas partes) enquanto a corrente solar governa a fisiologia do corpo (pacapra).Sua sucessora Swami Satyasangananda Saraswati,durante uma palestra no Brasil, ensinou que o Haha Yoga equilibrando perfeitamente o complexo mente-corpo faz o praticante viver nem em introspeco aprisionante, nem em extroverso impulsiva, mas com uma qualidade de presena e ateno plena (mindfulness). Como o Yoga definido em dois clebres textos, bastante facilitada a "perfeio na ao" que o que nos torna livres mesmo em atividade na vida, e a "cessao [da identificao com] a atividade mental", possibilitando o processo de introspeco, concentrao, meditao e samdhi. Swami Sivananda Saraswati (esq.) e Swami Vishnudevananda Saraswati (dir.) No sculo XX, os grandes expoentes do Haha Yoga foram Sr Tirumalai Krishnamacharya (mestre de K. Pattabhi Jois,difusor do mtodo Ashtanga Vinyasa Yoga) e Swami Sivananda Saraswati,que dentre seus discpulos mais conhecidos,esto Swami Satchidananda Saraswati, que fundou o mtodo Yoga Integral, Swami Vishnudevananda Saraswati,fundador das escolas de Sivananda Yoga que existem pelo mundo inteiro, e Swami Satyananda Saraswati, fundador da Bihar School of Yoga. Escolas como estas influenciaram a tornar o Haha Yoga o sinnimo top of mind de Yoga no ocidente, que teve sua aceitao e difuso talvez pela mesma razo da sua proposta original - sem a necessidade prvia de restries comportamentais ou inquerimentos filosficos profundos, o aspirante atravs dos mtodos psicofsicos vem a transformar sua mente de maneira que o qualifique espontaneamente para viver de acordo com a paz e a estabilidade que sua verdadeira natureza. * Esta firmeza calma dos sentidos chama-se Yoga. Mas deve estar atento, pois o Yoga vem e vai. - Kaha Upaniad II:3:11. Embora o yogi realizado entre e saia de samdhi, em rigor tcnico incorreto cham-lo de estado. Os estados da conscincia de sono, sonho e viglia so os trs sustentados por turya, que no outro estado da conscincia, mas a conscincia em si, em seu aspecto natural, puro e no-alterado pelos outros trs.Quando o yogi realiza turya atravs da suspenso da identificao com os processos mentais,percebe que isto no um estado que comea e termina, mas a verdade contnua e subjacente aos trs estados, no percebida pela identificao da conscincia com um deles, como o
  5. 5. silncio onipresente por trs das perturbaes sonoras. ** No confundir com o Ashtanga Vinyasa Yoga, estilo de Haha Yoga caracterizado por posturas dinmicas,difundido por K.Pattabhi Jois e muito popular no ocidente, de alta adeso nas academias de ginstica. Postado por Diogo Ralston s 16:57 Nenhum comentrio: Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest Marcadores: Yoga (Haha Yoga), Yoga (Tantra) segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013 O Mal do Sculo: A Dor que Conduz ao Ser - Parte II Parte II - O Sofrimento na Viso do Yoga e sua Extino Toda cincia que no se ocupa da Libertao intil. Rjamrtaa,IV:22 Na primeira parte do texto, foi introduzida a questo dos grandes nmeros de casos diagnosticados de transtornos de ansiedade e depresso, como isto pode estar relacionado com alguns fatores da sociedade ps-moderna, e a abordagem da filosofia existencial quanto questo de angstia. Foi tambm discutido o trabalho do telogo alemo existencialista Paul Tillich e sua concepo das trs ansiedades fundamentais que ameaam o existncia do homem denunciando sua finitude, o no -ser no homem,e como nossos medos tm no s suas razes na ansiedade existencial, mas so medidas para evitar o confronto com esta ameaa de ordem mais abstrata, estabelecendo relaes com objetos de medo muitas vezes criados com este fim. A primeira parte do texto concluda com a importncia da coragem de ser, como Tillich a chama, uma coragem existencial que visa afirmar o ser a despeito do no-ser. Esta segunda parte se dedica a mostrar como a coragem pode levar a um caminho de comunho com o Ser*, e a erradicao completa da angstia.Dois mil anos antes destes autores existencialistas exporem suas obra,em uma terra a milhares de quilmetros de distncia da Europa ou da Amrica do Norte, um texto com idias talvez semelhantes era compilado. Sua origem envolta de controvrs ias - estudiosos contemporneos no concordam com a data de sua compilao, com uma margem de possibilidade de oito sculos, mas o consenso que deve ter sido escrito por volta de dois sculos antes de cristo. Sua autoria, mais coberta de mistrio ainda - no se sabe quase nada sobre seu autor, ou ele foi mesmo o autor, e para densificar esta nvoa, o autor em sua terra natal deitificado, envolto em lendas e mitos. Contudo ele recebe o ttulo de mahai - grande sbio - o admitimos ento como tal. Seu nome Patajali, e o texto cujo mrito a ele atribudo o Yoga Stra, os Aforismos do Yoga, a referncia mais conhecida e completa de Yoga, um dos daranas (pontos de vista) da antiga filosofia vdica. Agora, o Ensinamento do Yoga
  6. 6. Patajali Mahai Patajali visto como um compilador pois as idias expostas em seus stras antecedem o seu texto. So idias que aparecem de forma mais espalhada em outras escrituras vdicas,e estas tendem a serem passadas em uma longa tradio oral antes de serem transcritas.Porm, a virtude do Yoga Stra a sua organizao, objetividade e preciso em expr o Yoga em sua definio, objetivo e processos, em um sistema denominado atga - oito membros, referente sua sistematizao em oito partes de como um aspirante chega meta do Yoga. E esta meta suprema o samdhi, a realizao da verdade sobre o Si Mesmo que leva moka, a libertao do sofrimento existencial. Logo no incio do primeiro captulo o Yoga definido em dois dos mais conhecidos aforismos deste texto: yogachittavttiniroda | | 2 | | Yoga a cessao da [identificao com] as modificaes da conscincia. tad drau svarpe vasthnam | | 3 | | Ento, aquele que v se estabelece em sua prpria natureza. Aquele que v (dra) chamado de o observador ou a conscincia testemunha, e de tma, que o prprio Ser no homem.Este possui todos os atributos (ou melhor,falta de atributos) que o Ser tratado em muitas obras de filosofia ocidental - eternidade,imutabilidade, imaculabilidade em relao ao mundo dos fenmenos e da causalidade. Porm no pensamento vdico, o Ser consciente, a conscincia no homem que antecede seus fenmenos psquicos.Dizo vigsimo sutra do segundo captulo: Aquele que v [o Purua] o conhecedor absoluto.Ele puro e observa as modificaes da conscincia como uma testemunha. Como ser discutido mais detalhadamente adiante, justamente quando a conscincia se identifica com o psiquismo que a veicula como um ser vivente e individual (jivtma) tendo como causa avidy ou ignorncia, que surge o sofrimento existencial. Isto ocorre com a identificao com os objetos que os sempre mutveis fenmenos psquicos lhe apresentam. Por isto a conscincia deve isolar sua identificao em si mesma (kaivalya), retirando a identificao das representaes psquicas gradualmente das mais densas s mais sutis. E para isto, preciso que o psiquismo se estabilize e se aquiete, e o sistema ctuplo do Atga Yoga apresentado no texto justamente um manual metodolgico orientando o aspirante neste objetivo. A Intencionalidade Suprema
  7. 7. Arjuna O arets dos antigos gregos citado na primeira parte do texto tambm tm sua concepo vdica. Patajali o menciona como vrya, muitas vezes traduzida como energia (investida em um objetivo), a intencionalidade,e outras como coragem.Otermo coragem apropriado, pois vrya a caracterstica dos heris (vra) e raiz snscrita de palavras latinas, como virilidade. Esta virilidade porm no algo bruto ou barbrico, mas uma virtude na raiz de sua etimologia: o latim virtus que quer dizer justamente fora masculina. Virtude, porm, virtus aliada nobreza moral, portanto associada ao ideal do cristianismo medieval do cavaleiro consagrado, do heri corajoso, nobre, espiritual. Assim como o arets da grcia antiga, vrya tem uma conotao dentro do que o contexto cultural valoriza, similar aos dos gregos at - enquanto esta virtude para os gregos trata-se de uma coragem nascida da educao filosfica, que orienta corretamente a afirmao da intencionalidade, o herosmo vdico o herosmo de Arjuna, personagem do pico Bhagavad Gita, que o dirige a cumprir o dharma, manter o rigor do auto-controle e da disciplina, e se colocar humilde perante sabedoria transcendental dos Vedas, como o heri pico coloca-se em relao ao seu professor Ka. Vrya um dos quatro** pr-requisitos para o aspirante ter xito em atingir o samdhi, como consta no Yoga Stra. A coragem de ser mencionada na primeira parte do texto afirma o ser a despeito do no-ser,a coragem no contexto vdico direciona a intencionalidade do aspirante a transcender o no-ser,percebendo-se comoo Ser aqum das sobreposies do no-ser. O No-Ser como Manifestao A palavra sobreposio usada para entender o que o mundo dos fenmenos e do vir-a-ser neste contexto. Outro darana de interpretao vdica associado ao Yoga o Vednta.A tradio vedantina em sua concepo no-dual sintetizada na expresso brahma satya, jagat mithy ("s o Ser Real, este mundo [apenas] aparente). Este conceito de mithy significa algo que no tem realidade independente. Toda manifestao no universo natural tem incio, meio e fim, porm o Ser perene, existindo antes, durante e depois do que quer que tenha se manifestado. Os fenmenos psquicos mudam da viglia para o sonho, e cessam do sonho para o sono sem sonhos, mas o Ser permanece desde sempre e para sempre. De acordo com o Vednta, o significado de todo objeto manifesto uma sobreposio que depende de um regime de som e luz, de nome e significado. Esta sobreposio mithy,e identificar-se com isto aflitivo por sua identidade ter a amorfidade de algo que, por depender de muitos outros fatores para ter sua forma e composio, est sempre sujeito mudana. Mithy no irreal, no termo que o mundo, em certo sentido, existe. Assim como My, vulgarmente traduzida como iluso e com isto,sempre causando confuses, definida no Vivekacmai, mesmo texto de onde vem o verso citado no pargrafo acima, como Aquilo que e que no - algo que existe,
  8. 8. mas apenas como manifestao. Os Vedas tem uma viso de realidade coerente com a filosofia parmenidiana, por exemplo - o que muda, no pode ser real, s o Ser imutvel real. E a existncia do Ser eterna - satya (o que quer dizer verdade ou realidade, nitya quer dizer eterno, mas em termos qualitativos so praticamente sinnimos). Este Ser, brahman, a conscincia testemunha,o Purua citado atrs. Quando ela identifica-se com si mesma,o sujeito percebe-se tambm como satya, no como seu corpo ou sua mente que so mithy, caindo por terra a concepo de sua finititude.Pode-se dizer ento que o no-ser nos Vedas mithy ou my, partindo do pressuposto que so manifestaes do Ser (Tillich tambm considerava o no-ser como abarcado no ser, ou seja - no existe, em nenhuma corrente de pensamento citada,algo que seja alheio ao ser, at mesmo o no -ser). O Sofrimento no Pensamento Vdico Alm dos daranas do Yoga e do Vednta, existe tambm a escola de filosofia Skhya, que descreve uma elaborada cosmologia de como o Ser e a natureza interagem resultando na manifestao do universo fsico.O Skhya descreve uma fonte trplice de sofrimento conhecida como dukha traya, que composta do sofrimento oriundo da relao do homem com a natureza (dhidaivika), com as outras pessoas (dhibhautika) e com si mesmo (dhitmika). O Yoga Stra claramente tem influncia do Skhya por muitas vezes usar a terminologia da escola filosfica,mas complementa o duhka traya com outro conceito: pacaklea. O pacaklea um conjunto de cinco aflies existenciais descrita no terceiro aforismo do segundo captulo do Yoga Stra: avidysmitrgadvebhinive kle, que quer dizer ignorncia, egosmo, apego, averso e medo da morte so os cinco kles. O aforismo seguinte descreve a ignorncia, avidy, como a causa das seguintes quatro aflies. A conscincia em seu aspecto individualizado, encantada com o jogo de cores e formas da manifestao (my), acaba por sofrer de uma espcie de amnsia sobre a natureza de sua prpria identidade. Diz o quinto aforismo do segundo captulo: Ignorncia tomar o no eterno, o impuro, o incorreto e o no Ser como sendo o eterno, o puro, o correto e o Ser respectivamente. Tomar o no Ser como sendo o Ser neste contexto significa tomar a manifestao,que finita, com o Ser, que eterno. Como vimos, neste contexto tudo que mutvel no o Ser em seu aspecto puro, o No-Ser que, contudo, manifestao do Ser. Isto torna compreensveis as prximas aflies. O egosmo, segundo o aforismo seguinte, a identificao do poder do Ser com o poder da cognio,ou seja,identificao da conscincia pura com o psiquismo e seus vttis (padres psquicos). Estes vttis so descritos como klia e aklia no primeiro captulo, isto , aflitos e no-aflitivos. Os padres de conscincia no-aflitivos no so aqueles que conduzem ao prazer, mas aqueles, em termos, isentos de aflio, que dizem respeito e conduzem o aspirante iluminao. Os padres psquicos diretamente relacionados ao prazer produzem desejo e esto intrinsecamente relacionados, como uma estrada de mo dupla, aos padres de conscincia de medo e dio - afinal, tememos e odiamos os objetos e eventos que ameaam a realizao de nossos desejos.Estes so o terceiro e o quarto kles,apego e averso (rga e dve),respectivamente os vttis que acompanham memrias de prazer e sofrimento.Tudo provoca sofrimento para aquele que discerne, escreve Patajali em outro aforismo, e isto se refere no s ao apego, mas at mesmo os padres psquicos aklia, pois a liberao final pelo estado de supresso (chitta nirodah) necessariamente incluem os vttis no-aflitivos. Estes tambm geram impresses latentes, que por sua vez geram mais vttis, mantendo o aspirante sob o jugo dos guas,os atributos bsicos da natureza manifesta que geram toda a mutabilidade.
  9. 9. Um Temor de Razes Profundas A quinta aflio o medo da morte, abhinivea. Patajali deixa claro que este medo no se trata de um medo psicolgico superficial, mas um medo profundo, pois no stra que o descreve, mencionado que este est presente tanto no ignorante quanto no sbio.O sbio,mesmo avanado em sua discernimento entre o Ser e o No-Ser, ainda possui a vsana (condicionamento subconsciente) que surge da experincia do medo da morte. Aqui a palavra experincia usada porque para os estudiosos do Yoga, abhinivea est relacionado lembrana de morrer em existncias passadas. Para estes, o medo da morte no pode ser explicado sem o reencarnacionismo, pois no surge da percepo direta, nem da deduo ou testemunho, anterior a tudo isso. Independente desta concepo reencarnacionista, abhinivea pode perfeitamente ser relacionado ao ser- para-a-morte de Martin Heidegger,que est encrustado no daisein,o ser em sua particularidade humana que consciente de sua existncia finita. Isto , abhinivea mesmo sendo traduzido como medo da morte,em uma comparao com a filosofia existencial no se trata de um medo,mas da prpria angstia do ser.Pode ser perfeitamente comparado tambm Ansiedade da Morte de Tillich - de fato, a ansiedade trplice de Tillich, a angstia dos autores existenciais e a aflio quntupla do Yoga Stra tm a mesma caracterstica bsica: so raiz de todo o sofrimento humano. O pacaklea responsvel pelos condicionamentos mentais e comportamentais que nos impedem de perceber nossa natureza, em um crculo vicioso. Inclusive,so estes condicionamentos que determinam as situaes conflituosas que derivam de nosso ambiente externo, relacionado natureza e s pessoas (dhidaivika e dhibhautika descrito no Skhya). Os kleas condicionando nosso comportamento, geram os frutos de karmaya, uma espcie de arquivo subconsciente de tendncias e impresses latentes que vm determinando nossas aes e suas relaes de causa e efeito. Estas acabam por moldar a realidade situacional em que no s estam os inseridos no momento presente, como potencialmente estaremos no futuro.Em suma,enquanto as aflies existenciais no forem anuladas pelo fogo do conhecimento,estas iro determinar nossas vidas e nos manter aprisionados em nossas dores. Liberdade Prtica Felizmente,o Yoga Stra oferece um caminho de liberao,cortando o sofrimento por sua raiz. Seguem o dcimo e o dcimo primeiro aforismo do segundo captulo: te pratiprasavahey skm | | 10 | | Estes kleas sutis podem destruir-se ao interromper-se [a identificao com] a vida psicomental. dhynaheystadvttaya | | 11 | | Os vttis vinculados a eles se aniquilam com a meditao. A prtica meditativa descrita como samyama (concentrao, meditao e samdhi - os trs ltimos membros do mtodo ctuplo de Patajali) e mla praj (exposio, questionamento e reflexo sobre a verdade do Ser) tem, ento, a capacidade de queimar as razes da angstia existencial, a fonte de todo o sofrimento. Mas para o leitor, isto pode parecer demasiadamente abstrato e metafrico. Ou ento de pragmatismo inalcanvel, especialmente para aquele que no familiar com a prtica da meditao.
  10. 10. O Yoga possui muitos caminhos, cada um adequado a um tipo de pessoa, e tambm uma poca. Sim, uma poca - pois estes tempos onde transtornos de humor e de ansiedade se tornaram uma questo de sade pblica se encaixam na descrio de uma era especfica a qual os Vedas mencionam. H uma outra escola de filosofia vdica,no-ortodoxa como os daranas, que segundo suas prprias escrituras especialmente tem suas prticas especialmente recomendadas para estes tempos turbulentos. uma escola que contm elementos to antigos,que suas razes entrelaam -se com as razes do Yoga, e na no mundo contemporneo, seu sistema de prtica mais conhecido se confundiu como sinnimo do Yoga Darana. Esta escola o Tantrismo, e a prtica referida, o Haha Yoga. Os fundamentos do Tantrismo e do Haha Yoga ficaro para outro texto, pois este um tema de extenso prpria. O que apropriado constar aqui que o Haha Yoga compatvel, complementar e de certa forma introdutrio ao sistema prescrito por Patajali. Swami Svtmrma escreveu no sculo XVI o mais antigo tratado de Haha Yoga que se tem acesso, e o descreve como uma escadaria para Rja Yoga - termo que, trs sculos depois, o respeitado Swami Vivekananda usou para descrever o Atga Yoga exposto por Patajali. O processo de desindentificao com os padres psquicos gradual, tal como a libertao interior. A expresso que a verdade amarga no incio, e doce no final, no Haha Yoga no tem lugar. O seu trabalho corporal libera as tendncias latentes do subconsciente,das mais grosseiras s mais sutis,co mo do extenso conhecimento da psicologia e fisiologia sutil do tantrismo. Assim, por si s, gradual e ininterruptamente,a prtica aumenta o bem-estar e a qualidade de vida desde o comeo da prtica - por isso conquistou o nmero de adeptos que tem hoje. Esta sutilizao e refinamento do sistema psicofsico no apenas prepara o aspirante para samyama e desperta seu interesse por mla praj, mas sozinha capaz de dar vislumbres do mar de calma que sua natureza. Satcitnanda - Sua Verdade ltima A ansiedade e a depresso devem ser vistos de maneira oportunista,e isto requer muita coragem. Muitos so os que encontram mecanismos eficientes para tornar a angstia suportvel, assim mantendo -se perpetuamente condicionados por ela de forma subconsciente.Quando a escurido abissal do Nada vm tona por aqueles indivduos mais sensveis, e estes vagam pelo deserto do sentimento de vazio, a jaz uma oportunidade sem igual para que por trs do insuportvel silncio deste deserto, se oua a voz do Ser que Eternidade, Conscincia e Amor (satcitnanda). A coragem que leva afirmao do Ser a despeito do No-Ser, pode ser canalizada para a transcendncia do No-Ser rumo identificao com o Ser. Desta forma, no apenas convive-se superando a angstia - mas pode-se a aniquilar completamente. Por mais que o pensamento de muitos autores ocidentais tenham similaridades (e muitas vezes, influncia direta) com o pensamento vdico, mas so nos yoga astras que encontramos uma metodologia objetiva, pragmtica e completa de superao angstia existencial.Nesta jornada,descobre-se que por trs do sofrimento emocional, h a angstia,porm por trs desta,h uma paz alm de todo o entendimento - e por trs desta realidade,no h mais nada. Esta a verdade ltima do ser humano.
  11. 11. * partir daqui escreve-se Ser com letra maisculapelocarter no apenas universal, mas divino da palavra - o Ser como Brahman. ** Swami SatyanandaSarawati, ao contrriode muitosautores, traduz o sutra I:20 considerando samdhi praja como uma virtude nica, conhecimento do samdhi e no duas(samdhi e praja separadamente), totalizando assim quatro ao invs de cinco virtudes. Postado por Diogo Ralston s 08:57 Nenhum comentrio: Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest Marcadores: Psicologia (Ansiedade), Psicologia (Humor), Yoga (Haha Yoga), Yoga (Vednta), Yoga (Yoga Stra) O Mal do Sculo: A Dor que Conduz ao Ser - Parte I Parte I - Introduo e Ansiedade no Pensamento Ocidental Quando um homem no encontra a si mesmo,no encontra nada. - Johann Wolfgang von Goethe. O que parece para alguns um "modismo", esconde uma alarmante verdade: casos dos chamados "transtornos"de humor e ansiedade tm crescido de maneira epidmica em todo o mundo. A Anxiety and Depression Association of America consta que 18% da populao acima de 18 anos nos Estados Unidos sofre com algum tipo de transtorno de ansiedade. O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clnicas em So Paulo recentemente apresentou uma pesquisa mostrando dados semelhantes: 20% da populao do estado de So Paulo tambm se encontra na mesma condio. A ansiedade a instncia psquica do mecanismo do estresse, e o estresse est direta ou indiretamente ligado a 50% a 75% de todas as consultas mdicas feitas no mundo. Estatsticas da Organizao Mundial de Sade de 2001 (mais de 10 anos atrs) atestavam a depresso como quinta maior causa de morbidade entre todas as doenas do mundo, e que at 2020 subiria para a segunda,junto com as doenas cardiovasculares. Estas duas enfermidades j so as mais debilitantes e dispendiosas no contexto de sade. Estes nmeros fazem disto uma questo de sade pblica de ordem global. como um grande aviso que nos faz perguntar: o que est acontecendo conosco? O que membros da comunidade mdica atestam que tais casos foram sempre presentes, mas apenas agora o desenvolvimento dos critrios diagnsticos e modelos de doena permitem identificar tais distrbios.Mas apesar dos enormes avanos que as pesquisas em neurocincias tm tido no campo,ainda desafiador estabelecer uma etiopatogenia destas enfermidades dada a complexidade das reas com que se relacionam, dada a natureza biopsicossocial do homem. No obstante, isto no nos impede de levantar algumas questes.
  12. 12. Sob Presso A cultura humana tende a evoluir numa velocidade que sobrepuja sua prpria natureza biolgica,que tem um passo bastante mais gradual.Nos ltimos 60 anos, houve mais progresso que em toda a histria da civilizao humana.O sistema nervoso humano no mudou desde que ramos caadores -coletores; o que compreensvel,visto que o perodo em que a humanidade abandonou estas prticas para fundar os alicerces da civilizao at a ps-modernidade corresponde a apenas 1% de sua histria evolutiva. Os mdulos de nosso crebro esto preparados para a quantidade ruidosa de informao a que somos expostos,s inmeras possibilidades de interpretaes de situaes sociais como ameaadoras, com a complexidade das presses as quais a sociedade moderna nos expe? E qual o impacto que estas mudanas podem ter sobre a formao de nossa subjetividade? Qual a identidade que se adapta a esta sociedade,e como isso afeta nossa sade emocional e a qualidade de nossas relaes? Osocilogo ZygmuntBauer conhecido por cunhar o termo modernidade lquida,que descreve um mundo de rpida mutao onde nada mantm uma mesma forma por muito tempo. A perda de solideznas instituies sociais e a flexibilidade no mercado de trabalho obrigaria as pessoas a estarem em constante e desgastante atividade sem nenhum senso de estabilidade ou segurana. Isso tambm teria um reflexo nas relaes humanas: a falta de tempo a impossibilidade de assentar razes impossibilitaria a durabilidade das relaes. Assim vnculos podem ser desfeito a qualquer momento, mantendo-os apenas enquanto eles trouxerem satisfao e convenincia imediata.Em muitas esferas,as pessoas vivem sob constante ameaa de se tornarem descartveis e suprfluas numa analogia que cabe dentro de uma sociedade de consumo: o lixo. Aflio, insegurana, depresso e ansiedade seriam mal- estares caractersticos da chamada modernidade lquida. Angstia, a Inquietao Metafsica Os distrbios de humor e a ansiedade esto intimamente ligados.Os transtornos mistos de depresso e ansiedade so muito comuns e mesmo existe uma comorbidade diagnstica e muitas vezes patognica em transtornos depressivos e de ansiedade, especialmente quando se cronificam - o ansioso crnico acaba por deprimir,e o deprimido crnico acaba por manifestar ansiedade - dada a debilitao que estes sintomas causam na funcionalidade e qualidade de vida de uma pessoa.E a ansiedade tem sido assunto no s de mdicos e psiclogos, mas de milenares tradies espirituais, e influentes e renomados pensadores,que levantam inquerimentos capazes de nos fazer questionar que todos os nossos esforos para lidar com o que tm sido chamado de "o mal do sculo", sem negar s ua valiosa colaborao, ainda assim sejam apenas paliativos. A filosofia existencialista tm uma interessante abordagem de ansiedade como angstia. Se distingue do medo por sua indeterminao - enquanto o medo sempre se relaciona a um objeto, a angstia no se relaciona a nenhum objeto particular. A angstia mais profunda e abstrata, e permeia o psiquismo humano em sua totalidade. Ela , em verdade, a porta de entrada para a condio humana. Sren Kierkegaard escreve que a angstia parte essencial e exclusiva da espiritualidade do homem. Um anjo ou um animal no padeceria deste sentimento,e o homem de esprito fraco se esfora em a mascarar, a esconder. Hegel relaciona a atitude de homem frente morte como angstia, justamente por sua vaguidez, carncia de representao precisa e sentimento de dissoluo de todas as nossas representaes. Martin Heidegger chama o ser em sua condio particularmente humana de daisein (ser-a), e ressalta seu diferencial dos outros entes pela conscincia de sua mortalidade e assim, a obrigatoriedade de
  13. 13. confrontar-se com ela.A morte para o daisein no o fim de sua existncia,mas algo sempre presente e intrnseco a ele. O homem no mortal, mas moribundo, existe para findar-se, e um de seus aspectos ontolgicos o conceito heideggeriano ser-para-a-morte (Sein-zum-Tode). O ser-para-a-morte compreende a morte como a presena do nada e a impossibilidade de sua existncia como tal; da, sua angstia. Mas o importante a ressalta do autor que esta no uma angstia psicolgica, no um superficial medo da morte, dos objetos que podem a provocar, do pensamento, expectativa ou preparao para a morte. Lembrando a nfase na distino do medo e da angstia, enquanto um parte dos entes do mundo, esta ltima brota do ser, muito mais profundamente entranhado na condio existencial humana. O Medo como Resistncia ao Nada Paul Tillich De todos os autores existencialistas,pessoalmente meu favorito o telogo alemo Paul Tillich. Em seu livro A Coragem de Ser, Tillich desenvolve a problemtica do no-ser, conceito abordado desde os pr-socrticos at existencialistas recentes como Heidegger e Sartre (respectivamente, com seus conceitos de Das Nichts e le nant - O Nada). Para o telogo, o ser engloba ele prprio e tambm o no-ser, na forma do dinamismo, do movimento, do devir - o no-ser eternamente presente e eternamente superado. Nesta criatividade vivente, o ser se afirma eternamente superando o no -ser dentro de si. Tillich usa a palavra ansiedade para descrever a angstia existencial. Ansiedade a finidade experimentada como nossa prpria finidade - a conscincia existencial do no-ser, estado no qual um ser tem cincia de seu possvel no-ser. Ansiedade pela finitude no o medo da morte consciente, derivado da observao da transitoriadade universal ou da experincia da morte dos outros,mas a latente impresso de ter que morrer incrustada no ser do homem.O medo da morte relaciona-se com a doena,o acidente,a dor e a perda; a ansiedade com o absoluto desconhecido da possibilidade de cessao existencial que a morte proporciona. Podemos nos relacionar com os objetos de medo da mortalidade, resistindo-os, em prevenes envolvendo nossa sade e segurana, por exemplo. Mas a ansiedade nua do derradeiro no-ser envolve a impotncia insolvel de no ser capaz de resolver sua ameaa, estando alm do alcance de qualquer medida. Apesar de distintos,o medo e a ansiedade so interdependentes.Esta ltima fonte do medo, e tambm veiculada por ele. Tillich traz alguns autores e msticos que descrevem suas experincias em lidar com instantes da ansiedade em sua nudez - Nietzsche e o grande nojo de Zarathustra, a noite da alma de So Joo da Cruz. Para evitar este horror inimaginvel, se acaba por estabelecer objetos de medo, transformando ansiedade em medo, para que este cubra a ansiedade e evite este terrvel desamparo. Atravs da concretude dos objetos de medo, o homem pode estabelecer uma relao de luta e
  14. 14. resistncia,em uma tentativa inconsciente de auto-afirmar-se diante de sua ansiedade, o no-ser. Tillich, no entanto, escreve que tais tentativas so vs. A ansiedade da morte relaciona-se com o no-ser em sua forma mais puramente ntica. Porm o autor fala de outros dois desdobramentos da ansiedade, formando uma trade de ansiedades bsicas. Estas outras so a ansiedade da vacuidade,que a expresso do no-ser negando a auto-afirmao espiritual do homem (sentido, propsito ou significado de sua existncia), e a ansiedade da condenao, ameaando a auto-afirmao moral do homem.As trs ameaas no so mutuamente excludentes, mas imanentes e entrelaadas uma na outra. Esta trplice ameaa pode constituir um desespero, situaes extremas de ansiedade onde sente-se o no-ser como esmagadoramente vitorioso, as quais toda a vida humana tem como tentativa contnua evitar - e a maioria das pessoas faz um bom trabalho quanto a isso. Loucura e Coragem Porm h aqueles que so particularmente sensveis ao no-ser.Para estes,h ainda uma linha de frente para evitar o desespero - a patologia como estado de ansiedade especial sob condies especiais. A neurose seria um escape limitado e disfuncional; o meio de evitar o no-ser evitando o ser. O neurtico afirmaria algo muito abaixo de seu potencial,pois caso contrrio,a realizao plena de seu ser implicaria na aceitao do no-ser. Ele estabelece uma afirmao fixada, irrealista e limitada, e esta fortaleza psquica imaginria ao mesmo tempo que o preserva, cria um conflito entre ele e a realidade que o expe a mais ataques de ansiedade uma vez que pise fora dos limites de sua afirmao reduzida. H contudo uma ambiguidade na personalidade neurtica - pelo fato da limitao da amplitude de sua afirmao ser compensada com uma grande intensidade que lhe distorce a realidade, e tambm pela sensibilidade ao no-ser, que ocasionalmente pode revelar os mistrios do ser, o neurtico pode ter grandes rompantes de criatividade. Ainda assim, a ansiedade patolgica doena e sofrimento, e deve ser curada por intermdio da coragem. A coragem a nica sada,tanto para o neurtico quanto para o homem comum. A coragem psicolgica que o poder da mente de sobrepujar seus medos. Esta encontra na ansiedade um adversrio insupervel por seus meios usuais, porm se propriamente direcionada, contm em si a vitalidade para uma auto-afirmao plena.A vitalidade e potncia de vida associada a coragem,no no sentido biolgico, mas associadas intencionalidade do homem - isto , o ser dirigido para contedo significativo (lgica, esttica, tica, f, etc.). Isto empodera o homem no que d a ele o poder de criar para alm de si prprio, sem perder a si prprio. Seu esprito, a instncia na qual esto unidas vitalidade e intencionalidade, o combustvel de sua auto-afirmao. Aquilo que os gregos chamam de arets, especialmente na concepo da grcia antiga, a virtude que todos aspiravam que a coragem de viver todo o seu potencial. A concepo grega de coragem e nobreza vem deste termo, pois esta no a coragem barbrica, mas do grego educado que conhece a ansiedade de no-ser porque conhece o valor de ser. E da vem o conceito de coragem em Tillich, que transcende a coragem meramente psicolgica: esta a coragem de ser, que faz progredir a auto - afirmao a-despeito-de, a despeito daquilo que tende a impedir o eu de se afirmar. O homem que percebe na existncia universal o no-ser compreendido pelo ser, e que este perenemente supera e afirma-se a despeito da constante presena do no-ser,toma esta suprema realidade como exemplo e a insere no mbito microcsmico de sua prpria existncia - seu ser tambm compreende o no-ser, mas este pode ser constantemente superado por sua coragem e auto-afirmao sempre nova e vitalizada. Quando a Dor um Chamado
  15. 15. Aquele que sofre do que hoje descrito como uma patologia costuma buscar o alvio imediato de seus sintomas pela psiquiatria alopata e os psicofrmacos. Isto no uma crtica ou desconsiderao psiquiatria, muito pelo contrrio, estes medicamentos quando bem aplicados tm o nobre resultado de salvar vidas, e uma pessoa estuporada por ansiedade ou tristeza deve procurar este tipo de ajuda. Mas ela no deve parar a, mesmo quando se sente bem,mesmo quando se cansou de questionar-se e quer apenas viver a vida, com sua capacidade funcional restaurada. Se em dado momento ela teve a sensibilidade de sentir o Vazio e isto a prostrou, ela deve admitir que a construo dos muros de seu psiquismo estavam fragilizados por rachaduras ou buracos, mas que por suas brechas foi possvel o medonho espetculo de observar o grande abismo que jazalm destes muros. E o no-ser, como atesta Tillich,conduz aos mistrios do ser - atravs desta escurido,esconde-se a infinidade, como a noite que revela a imensido das estrelas. Um novo paradigma, de ordem espiritual, deve ser includo - a incluso daquilo que todos automaticamente excluem em averso,a realidade do no-ser dentro do ser, e tendo coragem de admitir esta realidade a-despeito-de,observar como a auto-afirmao ntica mostra o triunfo de sua existncia existncia sobre as sombras do Nada.Pode parecer um tanto abstrato, mas isto pode trazer dignidade e serenidade para nossas vidas de forma que nos garante uma defesa ansiedade bastante mais slida, enraizada e profunda que as medidas mais recorridas. Abraar o finito para dar-se conta do eterno pode ser a nica verdadeira e duradoura cura. Postado por Diogo Ralston s 07:27 Nenhum comentrio: Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest Marcadores: Filosofia (Existencialismo), Psicologia (Ansiedade), Psicologia (Humor) quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013 Brahmaidhna: Uma Explanao Sobre da e Ly Yoga Mas, quando ele escutava atentamente o que cantava o rio, com seu coro de mil vozes, quando se abstinha de destilar dele o sofrimento ou o riso, quando cessava de ligar a alma a determinada voz e de penetrar nela com o seu esprito, quando, pelo contrrio, ouvia todas elas, a soma, a unidade, acontecia que a grandiosa cantiga dos milhares de vozes se resumia numa s palavra, que era Om, a perfeio. - Hermann Hesse,Sidarta. Brahmaidhna um termo usado por Swami Sr Yukteswar, o guru do popular Paramansa Yogananda, para designar a meditao no som divino de O. Literalmente, o termo significa meditao em Brahman, o Ser. Os dois mestres enfatizam que tal objeto de meditao pode levar salvao. Para entender isto, precisamos entender o conceito de ontos, o "ser enquanto ser", por que o interesse de tantos pensadores neste segmento da metafsica e como,na tradio dos Vedas,a slaba O est ligada a esta discusso. Ontologia e Soteriologia
  16. 16. A busca do ser enquanto ser,do Ser cuja natureza inerente a todos os seres,no exclusiva ao pensamento oriental - uma busca da humanidade de carter universal.Dentre os nomes que ajudaram a alicerar o pensamento ocidental,podemos citar:Parmnides de Eleia e o Ser Uno, Eterno, Imutvel e No-Gerado;Plato e o Ser das Idias;Plotino e o Uno;Baruch Espinoza e a Substncia. Esta cruzada ontolgica muitas vezes pode ter como motor o inquerimento filosfico. Por exemplo, questionar o que uma cadeira de acordo com sua "taleidade",a cadeira como tal,independente de suas partes - encosto, pernas, assento - um questionamento ontolgico. O homem pode aplicar a mesma pergunta diante de si mesmo. O que faz de mim um homem? Qual o substrato de minh a prpria existncia? Mas muitas vezes esta sede pela realidade ltima por trs dos fenmenos tem aspecto mais visceral. O homem,quando identifica-se por suas partes - seu corpo,intelecto,auto-imagem - v-se confrontado com a questo da mutabilidade da natureza, da perecibilidade de suas partes, da extino daquilo que ele pode considerar como si prprio. Ele confrontado com a mortalidade. O desconforto e a recusa do homem diante desta fora da natureza aparentemente incontestvel presente em qualquer cultura,e de fato o combustvel da transmisso cultural que fez de ns os seres complexos e fascinantes que somos.Mas ao mesmo tempo, tambm a origem primria de nossas mais profundas ansiedades existenciais,resultando no desdobramento de todas as nossas aflies e vcios. a que a busca pelo Ser e pelo autoconhecimento mostra seu principal sentido: uma via soteriolgica. Cosmologia do Yoga Disto de trata o real sentido do Yoga. A palavra Yoga vem da raiz sncrita yuj, cujo um dos significados "juntar" ou "unir", justamente no contexto da unio atravs da identificao do homem com o Ser. Chamado de Cit-kti ou iva-kti pelas tradies tntricas e de Brahman pelas tradies Vedantinas, de acordo com os Vedas esta a realidade do homem, que Satcitnanda - Eternidade, Pura Conscincia e Amor, e que nela todo o sofrimento extinguido. A conscincia na viso vdica no um produto da sofisticao do sistema nervoso humano, mas um aspecto do Ser, Cit, antecedendo qualquer fenmeno psquico. Visando retirar a identificao da conscincia com suas formas de expresso mutveis como o corpo, mente, intelecto e auto-imagem, e a assentar em si mesma, o homem atinge a meta suprema do Yoga que kaivalya ou samdhi, e obtm moka,a libertao do medo e da dor existencial causada por erroneamente se identificar com aquilo que perecvel.
  17. 17. Mas para que este processo seja orientado,o Yoga se associou a escolas de pensamento que oferecem uma explanao cosmol gica de como o universo fsico se manifesta partir do Ser, numa espcie de decantao em elementos sutis at se sedimentar na natureza emprica que conhecemos. Os tantras e os gamas descrevem 36 destes elementos, partindo da Conscincia Pura que iva, e seu aspecto dinmico e criativo, a fora denomina akti. Esta potncia imbuda das energias da vontade,do conhecimento e da ao,e atravs dela, houve uma vontade primordial (Brahma Sakalpa) de manifestao criativa analogicamente representada na expresso vdica ekoham, bahu sym (eu sou um, que eu seja muitos). Esta vontade expressa atravs de um poder vibracional chamado Na akti. Esta vibrao gera Bindu akti, o ponto sutil que fonte de toda a manifestao. Atravs dos cinco princpios de limitao de My akti que incluem o tempo e o espao, esta vibrao causa uma perturbao no equilbrio dos atributos (guas) da natureza em seu estado inerte (Mla Prakti), que possibilita toda a estrutura material e energtica do universo em sua vasta diversidade. Assim podemos dizer que a vibrao de Nda akti o princpio criador e ao mesmo tempo, primeira e mais pura manifestao do Ser. E o Verbo era Deus
  18. 18. Cruzando oceano da mutabilidade, o yogi ento navega buscando a estrela polar que possa conduzir eternidade, Brahman. Os antigos riis (sbios) da ndia, mediante tcnicas iogues que os levavam a estados profundos de introspeco, concentrao e meditao, observaram que conforme os sons exteriores eram abstrados, um unssono que parecia comportar todos os demais ia ganhando fora. Este som impronuncivel era contnuo e inabalvel, como o leo que flui suavemente, como o longo ressoar de um gongo. No podia ser localizado, vinha de dentro e de todo lugar. Suas qualidades de onipresena e perene constncia mostravam sua natureza transcendental.Sempre novo,tinha o poder de sem esforo tomar a mente absorta, e sempre inspirador, continha em si a semente de todo o conhecimento dos Vedas. Foi chamado de Prava por sua intensa qualidade reverberante (de prau, rugir, reverberar), de Anhatana por ser eterno e sem incio (de anhata,no-batido),de Prvak, a palavra suprema, e abdabrahman - o Som de Brahman ou Som Csmico; e simbolizado pelo okra - a slaba O. O Taittiriya Upaniad diz: O Brahman. O todo este universo, tanto visto quanto imaginado (VIII.1) Outros astras vedantinos tambm atestam a plena identificao do Som Csmico com o Ser: Explicar-te-ei resumidamente a meta declarada pelos Vedas, o objetivo de todas as austeridades, que os homens realizam ao levar uma vida de continncia. Essa meta a slaba sagrada [O]. Essa slaba sagrada , em verdade, o puro Brahman. Esta slaba a meta mais elevada. Quem a conhece, realiza todos seus objetivos. Ela o melhor apoio, o mais elevado sustento. Quem conhece este esteio reside feliz no mundo de Brahman. - Kaha Upaniad 1.2.15-7 "O Okra tudo o que est aqui. Aqui [inicia] a clara exposio: tudo o que foi, o que e o que ser, de fato O. Tudo o que h alm dos trs perodos do tempo tambm, de fato, O". - Mkya Upaniat 1.1.1 Na Yoga e Ly Yoga Atravs deste som ouvido em profunda introspeco, o yogi ento pode ter experincia direta com o Ser, a eternidade e infinitude que transcende a mutabilidade do mundo e o sofrimento humano. Mas no apenas por isso que a slaba O tida em estima to alta pela tradio vdica. Quando o sdhaka ouve a vibrao sutil,sem esforos e de modo espontneo,sua ateno dirige-se ao Som que a deixa absorta em um processo conhecido como ly, conforme Swami Sivananda ensina: Ento somos deixados com dois caminhos. O primeiro, para trazer o pra sobre controle atravs de vrias e rduos processos iguicos, e ento para controlar a mente e a introverter dos objetos externos. O segundo, ns podemos tentar aniquilar a mente atravs da realizao de Mano Ly por encontrar um elevado e poderoso princpio ao qual a mente ir naturalmente se dirigir e na qual ir se mergir, assim entrando no estado de Ly. Os sbios descobriram que Mano Ly seguido de Mano Na [extino dos processos mentais] so caminhos mais seguros para obter a autorrealizao do que o rduo processo de controlar e desenvolver a
  19. 19. mente, o que sempre est ligado ao risco da mente pular para os velhos padres dos vsanas [tendncias, padres, vcios e condicionamentos mentais] a qualquer momento. (...) Ento, Mano Ly e Mano Na atravs de Na Yoga (unio ou fuso pelo Som) foi descoberto como um meio eficiente e seguro para a autorrealizao - Tantra Yoga, Nada Yoga and Kriya Yoga. No quarto captulo do Haha Yoga Pradpik, a mais tradicional escritura de Haha Yoga, h passagens que explanam de forma clara a relao entre Na akti e sua identificao com o Ser, o estado de absoro da mente produzido pelo Som Csmico e como este processo conduza moka,a liberdade das aflies existenciais: Louvamos iva, o guru que se apresenta na forma de na, bindu e kal. Aquele que se consagrar a ele alcanar o estado sem mcula, livre as correntes da iluso. (...) A mente domina os rgos dos sentidos. O pra senhor da mente. O estado de dissoluo (ly) controla o pra e, por sua vez, depende da vibrao sutil (na). A quietude mental em si mesma se chama moka, embora outros possam cham-la de outras formas; em qualquer caso, quando a mente e pra se dissolvem, sobrevm uma indescritvel alegria. (IV:1;29-30) E at mesmo as mais famosas escrituras relacionadas ao Yoga, como os aforismos de Patnjali e o pico Bhagavad Gt tambm tm passagens sobre o Som Csmico como manifestao do Brahman e como este tem o poder de conduzir o homem a sua meta ltima: vara um Purua especial, inclume s aflies, os resultados das aes ou as latncias provocadas por elas. Nele est a semente da oniscincia sem par. No estando limitado pelo tempo, vara o guru dos mais antigos mestres. Sua designao o praava [a slaba O]. A repetio constante e a meditao sobre seu significado resultam na remoo dos obstculos e na orientao da conscincia para o interior. Yoga Stra I:24 Pronunciando O, que possui uma slaba [e] [o nome de] Brahman, e lembrando-se de mim, aquele que se vai, abandonando o corpo, alcana o objetivo mais elevado. Bhagavad Gt VIII:13 Porm Na Yoga no se trata de repetir a slaba O,como entoado precedendo recitaes vdicas ou em salas de aula de Haha Yoga. Embora os cnticos de O tenham seus benefcios, especialmente se feitos com concentrao, repetio e reverncia, mestre Yogananda esclarece: Muitas pessoas acreditam que entendem o que Patajali afirmou: Pense neste som e cante- o. Essas pessoas comeam a cantar a palavra O sem terem, primeiro, elevado suas
  20. 20. conscincias para ouvir o verdadeiro O. (...) S podem conhecer Deus aqueles que, pela meditao e pelo samdhi (comunho exttica com Deus), pronunciam superconscientemente Seu Nome Csmico, com os lbios da intuio. (...) Quem conhece Deus como o Som Csmico encontra o porto para libertar-se dos confins das infelicidades humanas e da mortalidade. O verdadeiro conhecimento de Deus e seu nome, O, o nico caminho para a liberdade eterna. A Imerso nas guas do Rio Csmico Pamahamansa Yogananda e sua linhagem de gurus enfatizam o Na Yoga o ensinando com clareza em lies por correspondncia at hoje distribuidas pela Self Realization Fellowship. Nesta tradio, o Na Yoga chamado de Meditao em O e constitui-se de uma das tcnicas bsicas e premilinares para a prtica de Kriya Yoga. Seu mestre Swami Sr Yukteswar, em seu livro "The Holy Science", chama a tcnica de Brahmaidhna, a meditao em Brahman. O respeitado mestre diz que Brahmaidhna o batismo ou mergulho do Eu no rio do Som Sagrado (Prava,O), o que constitui a obra sagrada praticada para alcanar a salvao e nico caminho pelo qual o homem pode retornar sua Divindade, o Pai Eterno, donde caiu. Paramahansa Yogananda carinhosamente comparava abdabrahman com o Parclito, o consolador do evangelho cristo, ...o blsamo curativo para toda a tristeza humana. Postado por Diogo Ralston s 09:32 Nenhum comentrio: Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest Marcadores: Yoga (Ly Yoga), Yoga (Na Yoga), Yoga (Tantra) Postagens mais antigas Pgina inicial Assinar: Postagens (Atom) Aulas de Hatha Yoga e Atendimentos com Reiki www.brahmanidhana.com Temas Filosofia (Existencialismo) (1) Psicologia (Ansiedade) (2) Psicologia (Humor) (2) Yoga (Haha Yoga) (2) Yoga (Ly Yoga) (1) Yoga (Na Yoga) (1) Yoga (Tantra) (2) Yoga (Vednta) (2) Yoga (Yoga Stra) (2) Autor Textos
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