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Introduo
O jornalismo existe para ampliar a capacidade humana
de ver, ouvir, conhecer e entender a realidade.
McLuhan, 1972
Os linguados escritos mo precederam as mquinas de escrever, chegadas s
redaces no fim dos anos 50. A nossa tecnologia era de ponta esfrica, j deixara de
ser de aparo. Chamava-se bic. () Estivesse o jornalista na rua ou na sala de
redaco, o equipamento acompanhava-o no bolso ou na orelha, relata o jornalista
Pedro Foyos (Correia et al., 2009:351). O atroz matraquear do teclado de uma mquina
de escrever (ibid.:352) acabaria por ser substitudo pelo do computador na dcada de
80. Com a informatizao das redaces e a chegada da Internet, o computador
rapidamente se afirmou como ferramenta de trabalho indispensvel e epicentro de
difuso de contedos.
Na verdade, a rede desencadeou uma srie de mudanas: no acesso
informao, nos moldes tradicionais de a produzir, armazenar e divulgar, nas rotinas
jornalsticas, nas empresas de comunicao, nos perfis profissionais e no consumo das
audincias. O impacto foi profundo e sublinhou a necessidade de desenvolver contedos
especficos para o meio online, dando origem ao ciberjornalismo.
Ao individualizar e democratizar o acesso, o suporte digital legitimou novas
exigncias. Hoje, quem l tem o poder de decidir o que deseja ler, quando e como quer
receber os contedos, mas continua a procurar facilidade e qualidade de informao, a
par de satisfao na leitura (Bastos, 2000:53). Da a importncia crescente do
ciberjornalismo, pois acrescenta valor informao atravs da convergncia de recursos
(texto, sons, imagens estticas e em movimento, entre outros elementos) num s meio.
A Sociedade do Conhecimento (Peter Drucker, 1969) debate-se, dia aps dia,
com um ecossistema meditico (Canavilhas, 2011:14) de mltiplas ofertas que,
incessantemente, bombardeia informao em todas as direces. Como preconiza Snia
Padilha (2007), vivemos um dilvio informacional, onde a Internet tem cooperado
intensamente na disseminao do conhecimento universal que vai muito alm dos
limites social, tnico e poltico. neste contexto que se revaloriza o papel de mediao
do jornalista para disponibilizar informao til e relevante.
Os contedos passaram a estar permanentemente disponveis e livres das
condicionantes temporais e espaciais, o que possibilitou a aproximao entre pessoas de
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todo o mundo e o alargamento do espao comunicativo. Contudo, Wolton (cit. in Lopz,
2008:13) lembra que os homens, quanto mais ingressam na globalizao, mais querem
afirmar as suas razes. Assim, comea a registar-se um interesse revigorado pela
informao de proximidade:
O local, graas Internet, supera os limites geogrficos e a informao local alcana em
estabelecer-se na agenda dos media digitais, superando largamente as fronteiras
geogrficas para centrar-se em temticas que, sendo de especial interesse para uma
comunidade limitada, so perfeitamente reconhecidas e assumidas como prprias por
audincias que transcendem essa comunidade mais prxima. (Lpez, 2008:83)
J em 1964, Marshall McLuhan redimensionava o mundo escala de uma
aldeia, onde tudo se sabe e onde todos se conhecem. Com o digital, o espao meditico
sofre alteraes na sua territorializao. O global comea por ser local e o local pode
tornar-se global, sustenta Duarte (2010). Esta ltima premissa traduz-se em novas
perspectivas para a imprensa regional: os novos produtos na Internet abrem boas
oportunidades para a informao de proximidade (Lpez, 2008:78). , por isso, de
crucial importncia conhecer qual o grau de utilizao e de explorao da Internet nas
redaces dos meios de comunicao social regionais.
O objectivo desta investigao perceber de que modo que os jornais com
presena online activa dos distritos de Bragana e Vila Real esto a explorar as
potencialidades da Internet. Nesse sentido, equacionaram-se as seguintes hipteses de
estudo:
Hip. 1) o uso que os jornais em estudo fazem das potencialidades da Internet
baixo e, comparativamente com os nveis dos jornais nacionais, o
subaproveitamento das potencialidades mais acentuado escala regional;
Hip. 2) o baixo aproveitamento das potencialidades est relacionado com a
falta de um modelo de negcio sustentvel e de condies materiais e
humanas afectas (em exclusivo) rea do ciberjornalismo.
Para verificar a primeira hiptese, foi aplicada uma tabela de mediao do
aproveitamento das potencialidades da Internet a oito ciberjornais regionais. Baseada na
verso actualizada da proposta de Zamith (2010), a tabela prev a avaliao da
interactividade, da hipertextualidade, da multimedialidade, da instantaneidade, da
memria, da personalizao, da usabilidade e da criatividade. Depois de apurados os
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resultados dessa anlise, foram realizadas entrevistas aos responsveis editoriais e aos
jornalistas de cada rgo de comunicao social para compreender o que explica o
subaproveitamento das potencialidades supra-referidas.
Esta dissertao encontra-se dividida em sete captulos. No primeiro, intitulado
Jornalismo e Internet: um binmio ainda em fase exploratria, feito o
enquadramento histrico do ciberjornalismo portugus, definindo-se o conceito e
abordando-se o impacto da Internet nas rotinas produtivas, nos contedos jornalsticos e
no seu consumo. O crescente acesso Internet, em Portugal e no resto do mundo, revela
a eficcia global do novo modelo comunicativo. Contudo, os meios de comunicao
social no podem limitar-se migrao de contedos dos suportes tradicionais para os
respectivos websites, mas devem apostar numa produo especfica para a Internet.
Jornalismo regional na rede o nome do segundo captulo, onde est em
destaque a importncia socioeconmica dos meios de comunicao regionais e o seu
ingresso na Internet. A revalorizao do factor proximidade e a relao Local-Global
so outros dos pontos explorados.
O captulo 3, com o ttulo Potencialidades ciberjornalsticas da Internet,
desdobra os conceitos de interactividade, hipertextualidade, multimedialidade,
instantaneidade, memria, personalizao, usabilidade e criatividade.
Em Jornais regionais em anlise, o quarto captulo, so clarificados os
critrios de definio da amostra, de aplicao da tabela e a metodologia adoptada
(anlise de contedo de websites e realizao de entrevistas). Para um melhor
conhecimento dos ciberjornais que integram a amostra, optou-se por disponibilizar
algumas informaes genricas, como a data da fundao, a propriedade, a
periodicidade, a tiragem e dados relativos presena online.
O quinto captulo apresenta os resultados, globais e detalhados, da aplicao da
tabela de medio do aproveitamento das potencialidades ciberjornalsticas, enquanto
que no sexto captulo, designado Fraco investimento na gnese do
subaproveitamento, se elucidam as razes que esto por detrs dos baixos nveis de
uso das potencialidades da Internet pelos ciberjornais regionais analisados.
A fechar, o captulo 7 dedicado apresentao das concluses desta
investigao e ao seu contributo epistemolgico.
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Captulo 1
Jornalismo e Internet: um binmio ainda em fase exploratria
Enquanto quiser continuar a viver em sociedade, neste tempo e neste lugar,
ter que lidar com a sociedade em rede. Porque vivemos na Galxia Internet.
Castells, 2001
1.1. Ciberjornalismo: um conceito por consolidar
Volvida dcada e meia, o jornalismo produzido para a Internet ou com o auxlio
da mesma ainda se debate com a falta de consenso em torno das suas diversas
terminologias: jornalismo online, na Internet, assistido por computador, electrnico,
convergente, multimdia, em rede, em linha, digital, webjornalismo, ciberjornalismo.
At a prpria consagrao de um ciberjornalismo enquanto ramo autnomo, de
alguma maneira distinguvel do jornalismo tradicional, no rene ainda consenso, quer
entre acadmicos quer no seio de profissionais do sector, adverte Bastos (2010:11).
Dominante nos pases anglo-saxnicos, a denominao jornalismo online tem
sido adoptada por acadmicos e especialistas, mas no recolhe unanimidade. Bastos
(2000:73) define-o como o trabalho que um jornalista de qualquer meio de comunicao
faz na e com a Internet, especialmente na pesquisa de contedos, recolha de
informaes e contacto com fontes, elaborando contedos para os mdia tradicionais.
Canavilhas (2001) entende-o como uma simples transposio dos velhos jornalismos
escrito, radiofnico e televisivo para um novo meio. tambm designado por
jornalismo na Internet e jornalismo assistido por computador.
O termo jornalismo electrnico comeou a ser utilizado por autores espanhis e
por Bastos (2000), porm, acabaria por cair em desuso porque o epteto electrnico
tambm se podia aplicar rdio e televiso. Justificao similar explica as fragilidades
da denominao jornalismo multimdia, preconizada por alguns autores europeus: os
meios tradicionais, desde logo a televiso, tambm permitem a produo e difuso de
jornalismo multimdia, entendido como jornalismo que combina texto, som, imagem
fixa ou em movimento (Zamith, 2008:25).
Dada a sua extenso, jornalismo na Internet, em rede e em linha so designaes
que dificultam a imprescindvel formao de um campo semntico afim (Salaverra
cit. in Zamith, ibid.).
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