israel igreja pentecostes

7/25/2019 Israel Igreja Pentecostes

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Israel, a Igreja e oPentecoste



Israel, a Igreja e oPentecoste

São Paulo / 2010

Marcelo M. Magalhães

A festividade judaica e seus simbolismos, o

derramamento de Espírito Santo na Igreja Primeva ea atualidade nas modernas denominações cristãs



Copyright © 2010 por Oxigenio Books.Publicado com autorização. Nenhuma porção desta obra

pode ser reproduzida sem a devida autorização da editora.

Editoração: Magno PaganelliRevisão: Cristiano OliveiraCapa: Ari Frello1ª Edição: outubro/ 2010

ISBN: 978-85-98172-99-6

Esta é uma edição de

www.oxigenionline.com

[email protected]



SumárioAgradecimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9Abreviaturas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13Capítulo 1. O PENTECOSTE JUDAICO . . . . . . . . . . . .17

As origens do festival de Xavu’otO desenvolvimento da festividade em IsraelXavu’ot entre os judeus da atualidade

Capítulo 2. OS SIGNIFICADOS DE PENTECOSTE. . .23Numerologia

No judaísmoNo cristianismo

Capítulo 3. O PENTECOSTE E A IGREJA PRIMEVA. .29Sentindo a falta do MestreO preternatural acontece

Mudança de vida, pensamento e atitudeCapacitados pelo Espírito Santo

Capítulo 4. O OBJETIVO DO FALAR EM LÍNGUAS EMPENTECOSTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41Primeiro argumento

Segundo argumentoTerceiro argumentoQuarto argumento

Capítulo 5. DOS JUDEUS PARA OUTROS POVOS. . 45 Jesus inclui os excluídos

Os Samaritanos abalados pelo poder de Deus

O Evangelho rompe fronteiras



Capítulo 6. PAULO E OS EXCESSOS NA IGREJA

DE CORINTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53Excessos pneumáticos

Capítulo 7. CONTRADIÇÕES ATUAISDO PENTECOSTE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57Graça, dom gratuito de DeusPráticas enfadonhasPromovendo guerras espirituais

Construindo ídolos e amuletosProsperidade e acúmulo de capitalRepensando as práticas

Capítulo 8. AVIVAMENTO E REAVIVAMENTO. . . . . . .73Dinâmica do poder

Culto corporativo e reforma espiritualEmocionalismo, um câncer degenerativo Arrependimento é ação e reflexão

Capítulo 9. APRENDENDO COM O PENTECOSTE . . . . 79 Atuação ilimitada do Espírito Santo

Comprometido com o Evangelho do reino

Capítulo 10. SER OU NÃO SER PENTECOSTAL,FALAR OU NÃO EM LÍNGUAS. . . . . . . . . . . . . . . . . .85 Administrando as diferenças

Sonho e utopia

CONSIDERAÇÕES FINAIS: uma reflexão. . . . . . . . . . 91BIBLIOGRAFIA. . . . . . . . . . . . . . . .95ANEXOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99Tabela comparativa de hebraico/portuguêsTabela comparativa do grego koiné/português



Aos meus filhos: Marcelinho e Bruna.

Que sejam sempre uma grande bênção nas

Mãos do Senhor.

Dedicatória



A Deus, pela sua grande misericórdia e amor.

Ao Pr. Prof. Hilmar Sathler, que me iniciou nos estudos bíblicos e nos originais.

Ao meu querido amigo pastor Elias Amaral que sempreme deu apoio e incentivo.

Ao pastor Welington Alves Souza por acreditar na minhacapacidade e na indicação do meu nome para produção deartigos

Ao querido pastor José P. de Rezende Filho (TecoRezende), que me incentivou na leitura e na produção escrita.

A professora Ida Maria Ulhôa Guedes que fez a primeira

correção deste trabalho dentro das adaptações lingüísticasdo português.

A minha querida esposa Claudinéia, pela sua paciência esempre colaboradora em minha carreira.

A meu pai João S. Magalhães e minha mãe TeresaMarques quem amo tanto.

Agradecimentos



a.C antes de Cristo

AT Antigo Testamento

cap capítulo

cf conferir

d.C depois de CristoId. idem

Ibid ibidem

NTG Novo Testamento Grego

Op cit opus citatum

p página

v. versículo

vol volume

vv versículos

Abreviaturas



As páginas que se seguem são frutos de pesquisas eobservações acerca do processo histórico de Pentecoste comofestividade judaica, dos fenômenos ocorridos na Igrejaprimitiva, registrado no livro de Atos e os significados para

os dias atuais. No decorrer da obra são expostos açõesencontradas em certos movimentos pentecostais e neo-pentecostais como práticas entusiastas e exacerbadas.

Reconhecemos a amplitude do tema aqui desenvolvido esujeição a polêmicas que podem surgir por causa dadramaticidade, usos e costumes, teologias denominacionalistase formas de interpretações isoladas da Bíblia.

Nesta obra não se pretende fazer apologia sobre o

pentecostalismo, o falar em línguas, desenvolver temáticassobre dons espirituais, frutos do espírito etc. Nem tão pouco,criticar as denominações pentecostais e não pentecostais, ostidos como tradicionais ou conservadores, pois há muitasobras nas livrarias defendendo os variados pontos de vista edoutrinas estabelecidas por diferentes correntes teológicasdenominacionais.

O trabalho aqui desenvolvido é produto de análises

culturais e exegéticas bíblicas, abrangendo a etimologia dos

Introdução



14 ISRAEL, A IGREJA E O PENTECOSTE

termos tanto da língua hebraica e grega, de pesquisas a vários

teóricos de diferentes denominações religiosas e outrasvertentes. São transcritas palavras do hebraico e grego,primeiramente sua transliteração, seguidas de sua escritaoriginal nas notas de rodapé. As transliterações usadas,principalmente no que diz respeito ao hebraico, seguem osistema fonético Luso-brasileiro do professor David José Perese do professor Moses Bem-Sabat Amzalak facilitando acompreensão daqueles que não conhecem o idioma hebreu.

Como festividade, encontramos no Pentecoste váriossignificados e símbolos com aplicações tanto na áreaespiritual como cultural seja no judaísmo ou cristianismo,que durante o festival a Igreja recebe o derramar do EspíritoSanto e toma impulso, revelando ao mundo o verdadeiroensinamento de Cristo.

O Pentecoste, dentre outras festas, com o passar dosséculos, perdeu sua originalidade em algumas denominações

religiosas e o que mais chama a atenção na atualidade, sãosurgimentos de alguns movimentos religiosos com teologiaspróprias, usos e costumes para justificar seus ensinamentos.Impõem ideologias, propostas de reformas que tem abaladoa cabeça de muita gente. Usam do fato ocorrido na Igrejaprimitiva no dia de Pentecoste para justificarem suamensagem e atitudes tidas como reveladoras e poderosas.

Muitas pessoas desavisadas e por falta de compreensão do

que foi e é o Pentecoste, são levadas por vários motivos à buscade soluções para problemas ou mesmo curiosidades acerca dofuturo. Vimos manipulações de gente desprovidas de umadevida maturidade teológico-espiritual que induzem outras quepela mesma forma são como ovelhas sem pastor e sem pasto.

Infelizmente, ocorrem abusos e fenômenos tidos comoespirituais nos cultos, promovidos por pessoas e receptadaspor aquelas sem discernimento do que é o verdadeiro

Pentecoste.



INTRODUÇÃO 15

Relembramos mais uma vez que neste trabalho, propõe-

se uma análise histórica do pentecoste originário da religiãoisraelita, os acontecimentos ocorridos na Igreja Primitiva, seussimbolismos e críticas a certos movimentos modernos derestauração. E analisado os abusos manipulativos,desenvolvendo uma visão crítica sobre o assunto, procurandolevar ao leitor o verdadeiro sentido didático, para aplicaçãotanto na vida espiritual como temporal.

Diante destes fatos, é proposta uma “reflexão” sobre nossas

ações e práticas tomadas no cotidiano, nas relações com opróximo, na Igreja, isso inclui a Bíblia, a obra de Deus e onosso corpo como igreja individual e templo do Espírito Santo.



O Pentecoste é uma festividade judaica muito alegre,também celebrada pelos cristãos. Cada uma destas religiõestem sua maneira de festejar aplicando vários significados,

estes, incorporados com o passar do tempo, influenciadospelas mudanças culturais, filosóficas e fatos históricos queaconteceram no decorrer dos séculos.

Os judeus não gostam de usar o termo “Pentecoste” porse tratar de uma palavra grega. Chamam-na de Xavu’ot1 queno hebraico significa “semanas”.

Originalmente, a festividade de Pentecoste era chamadade “festa da Sega” ou “festa das Primícias”. Era celebrada

no momento em que se colhiam os primeiros frutos do trigo.Sua prática bíblica é a observação como mandamento doSenhor (Êx 23:16; 34:22).

Nos tempos posteriores ao êxodo, foi chamada de “Festadas Semanas”, isto por causa da contagem de sete semanas apartir da colheita da cevada, no qüinquagésimo dia era feita a

Capítulo 1

O Pentecoste Judaico

1 tA[Wbv




oferta de cereais ao Senhor (Lv 23:16), daí a origem do termo

Pentecoste, que no grego significa “qüinquagésimo”.

As origens do festival de Xavu’otA comemoração de Pentecoste, historicamente, é de origem

anterior ao cativeiro egípcio, tratando-se de uma festividaderelacionada com a agricultura entre alguns povos no OrientePróximo. Os povos cananeus, por exemplo, festejavam suascolheitas com grandes cultos da fertilidade, invocando seusdeuses e a comemoração era feita com grande fartura decarnes, sacrifícios cruentos, bebidas, cultos eróticos eadorações aos seus deuses da providência.

O povo de Israel, com um culto diferenciado dos povospagãos, também agradeciam a Deus pelas colheitas echamavam esta ocasião de Hag Habicurim que significa “festadas primícias” relativa a colheita dos frutos e cereais (Êx 23:16;34:22; Nm 13:20). Esta festa era uma das mais importantesno ano, reconhecida também como “Festa do Senhor” (Lv23:39).

Sua contagem era feita depois da colheita da cevada e dafesta da Páscoa, que é a festa da libertação do povo hebreuda escravidão egípcia. Xavu’ot (Pentecoste) também eraconhecida como a festa de santa convocação, na qualnenhum trabalho poderia ser feito (Lv 23:21), a não ser ossacerdotais e o culto ao Senhor.

O desenvolvimento da festividade emIsrael

Após o assentamento do povo de Israel em Canaã e aconstrução do Templo de Jerusalém, Pentecoste tornou-seuma importante festa de peregrinação anual, a segunda, juntamente com mais duas: a Festa dos Pães Ázimos e



O PENTECOSTE JUDAICO 19

Tabernáculos (Dt 16:16). Judeus de outras localidades, da

diáspora e turistas de diversas partes vinham a Jerusalémpara o festival de Pentecoste. Traziam consigo oferendas dacolheita dos primeiros frutos para ofertarem no Templo.Natan Ausubel relata o seguinte:

“Os que vinham de aldeias próximas traziam oferendas defigos e uvas frescas. Porém, os que vinham de pontosdistantes traziam figos e passas ressequidas. A procissãoserpenteava pelas colinas que davam acesso a Jerusalém,precedida por um boi, festivamente adornado: seus chifreseram recobertos de ouro, e uma coroa de folhas de oliveiraencimava-lhe a cabeça. Os peregrinos traziam esse animalpara um sacrifício no altar do Templo. Ao longo do caminhopara Jerusalém, o chalil (a flauta de dois tubos) soavaalegremente. Nos portões da cidade, a procissão detinha-se, e os peregrinos eram recebidos pelos sacerdotes, queos conduziam com cerimônias ao interior do Templo emmeio ao som das flautas2”.

No livro de Levítico (23: 9-25), encontramos as observaçõesacerca deste festival como santa convocação para adoraçãoa Deus. Era feito com ofertas do ômer (feixe), ou dois pãesfeitos de farinha de trigo nova, sem fermento, e o holocaustona qual o sacerdote fazia uma inspeção visual minuciosa paraver se as ofertas estavam dentro dos conformes descritos nalei (Nm 28: 25-31).

No momento da oferta os sacerdotes moviam-nosritualmente de um lado a outro recitando oraçõesapropriadas apresentando-as perante o Senhor. Uns eramoferecidos para o perdão de pecado e outros para aparticipação do povo. Após estes atos, os pães, os cordeirose os frutos eram repartidos e comidos pelos sacerdotes.

2 N. AULSUBEL, Conhecimento judaico II, v. 6, p.777-778. In: Judaica.




Os judeus menos favorecidos economicamente e os que

vinham de regiões distantes podiam participar destafestividade e oferecer suas ofertas, colhendo as sobras dacolheita que os agricultores deixavam, cumprindo assim, omandamento de Levítico 23:22. Esta festividade era de caráter“interpessoal” e requeria uma qualidade de nobreza, benevolência e hospitalidade, diferente da Páscoa3 que éexclusiva e fechada à família judaica.

Na ocasião da festividade a alegria era contagiante, onde

todos se regozijavam, com músicas, danças, se deliciandocom os produtos das colheitas e as ofertas ao templo.Agradeciam a Deus pelas colheitas e davam continuidadeda festa de sua libertação do cativeiro egípcio. Neste aspecto,Xavu’ot é a continuação da Páscoa, como festa da liberdadedo povo hebreu.

Como festa de peregrinação, Xavu’ot simbolizava a uniãocom os judeus da diáspora, à sua terra e a religião,

relembrando seu passado glorioso e os feitos de Deus paracom eles e fortalecendo sua esperança no Messias.

Xavu’ot entre os judeus da atualidadeApós a guerra da Judéia e a destruição do segundo Templo

no ano 70 d.C. pelos romanos, a festa de xavu’ôt (Pentecoste)passou a ser celebrada nas sinagogas. Elas são enfeitadas deforma bastante alegre com muitas flores e diversas plantas

tipificando o Monte Sinai quando foi entregue os DezMandamentos a Moisés e a toda congregação de Israel.

Na festividade, como continuação da Páscoa,posteriormente, foi incorporada pelos rabinos judeus, àdoação dos Dez Mandamentos, à Aliança feita no Sinai e àLei (Êx 19 e 20). O termo hebraico para Lei é Torá4 e também

3 Cf. M. MAGALHÃES: Páscoa: no judaísmo e cristianismo.



O PENTECOSTE JUDAICO 21

designa “ensinamento” (também é referência as cinco livros

de Moisés, chamado pelos cristãos de Pentateuco). No judaísmo, a Torá é a revelação da vontade de Deus ao seupovo, para ser observada e guardada como estatuto perpétuo.

De acordo com as tradições judaicas, os arranjos floraisnas sinagogas representam a transformação que ocorreu noSinai que, de um lugar seco e desértico passou a ser cheio deplantas e flores pelo poder de Deus ali manifestados, issodiante de Moisés e todo povo de Israel presente5.

Nos cultos judaicos, são lidos o Decálogo, pois foramdoados por Deus ao seu povo; o Livro de Rute, que deixou osdeuses pagãos, aceitando o povo de Israel como o seu povo epara adorar ao Deus de Jacó, tornando seu Deus. O motivodesta leitura é que a história de Rute se passou no tempo dacolheita (Rt 1:16).

Os judeus observantes contam ritualisticamente os dias ecada semana de xavu‘ot, todas pronunciadas com umaoração apropriada. A contagem deste dia passou a serconhecida como “sefirat haomer” ou simplesmente “sefirá”

(contagem) ou “omer” (feixe de espigas). Este fato é devidoao oferecimento do feixe de cevada no Templo que era levadono segundo dia da Páscoa, iniciando assim a contagem dassete semanas até chegar ao qüinquagésimo dia.

Atualmente, nos Mochaves e Kibutsim em Israel, osagricultores praticantes do judaísmo festejam de forma alegree festiva Xavu’ot. Trazem os primeiros frutos de suas colheitas,testificando as comunidades judias, as bênçãos que Deus deua todos os agricultores, mostrando-as ao público como provado que Deus fez, agradecendo assim as colheitas e pedindomais bênçãos para as posteriores.

4 hrAt5 A. UNTERMAN, Dicionário judaico de lendas e tradições, p. 240




Com relação a esta festividade, Rosenberg nos dá uma

idéia acerca de certos usos e costumes, descrevendo que“judeus conservadores e ortodoxos não devem se casar oucortar cabelo, (...) não usam roupas novas em memória aosalunos de Rabi Akiva, mortos por uma doença, no séc. IId.C” 6 .

Há certa exceção em que é comemorado no dia 5 de Iar acriação do Estado de Israel, com o Dia da Independência; edo dia 28 de Iar que é comemorado o dia de Jerusalém em

que houve a reunificação da Cidade Santa em 1967 após aGuerra dos Seis Dias.

Nesse período, Goldberg e Rayner relata-nos outros fatoshistóricos que aconteceram aos judeus:

“Relembra outras tragédias da história judaica, como omassacre da Renânia, durante as Cruzadas e, maisrecentemente, o Holocausto. Isto porque o dia 27 de Nissan,

aniversário do levante do gueto de Varsóvia, foi declaradopelo Parlamento de Israel um dia de memória às vítimasdo período nazista. Ele é conhecido como Iom Hashoá (“Diado Holocausto”)” 7.

Este é o Pentecoste original judaico, o Xavu’ot, cheio desimbolismos e alegria, que nos traz grandes lições de vida ede agradecimento. É esta festividade que Deus usou paraderramar o Espírito Santo sobre a igreja nascente e é delaque vamos embasar os capítulos seguintes.

6 R. A. ROSENBERG, Guia conciso do judaísmo, p. 222.7 D. J. GOLDBERG e J. D. RAYNER, Os judeus e o judaísmo, p.392.



O termo português “Pentecoste”, tem suas origens nalíngua grega pentecostê 1, indicando a festa judaica dePentecoste. Este termo deriva de pentéconta, significando“qüinquagésimo”. Etimologicamente, esta palavra é formada

por dois vocábulos, o número cardinal pénte (cinco) e dosubstantivo contes, derivado do verbo kentaô, que significa“atravessar com aguilhão”.

Esta expressão helênica foi dada pelos judeus que viviamna diáspora, longe da terra de Israel, aproximadamente nofim do século III a.C. Eles não falavam o hebraico e como ogrego era a língua universal naquele tempo, utilizaram otermo pentecoste para designar a festa do qüinquagésimo dia

após a Páscoa. Como dito anteriormente, os judeus nãogostam de termos estrangeiros e chamam esta festividade dexavu’ot2.

Xavu‘ot no hebraico é um substantivo masculino plural,significa “semanas”. Este termo indica sete semanas contadas

Capítulo 2

Os Significados dePentecoste

1 penthkosth2 tA[Wbv




após a Páscoa, ou seja, cinqüenta dias contados e observados

a partir da oferenda do molho de cevada no Templo de Jerusalém, que era celebrada no sexto dia do mês de sinvan.

Esta festividade, tanto para os judeus como os cristãostêm vários significados, que servem para avivar a história, acultura, fé e religião. Todos com ensinamentos fortificantesde doutrina e teologia.

Numerologia Um dos primeiros significados relacionados com o termo

hebraico é o valor do número 7. A etimologia da palavrahebraica xavu’ot, vem da raiz hebraica composta de XIN,VÊIT E ‘ÁIN ([bX). Estas consoantes juntas nos dão umaidéia de abundância, fartura, bênção, saciar. Como tambémdesignam o número cardinal 7 que no hebraico é xeva‘.

O número sete é o número relacionado com a perfeiçãode Deus; a Bênção e Descanso Divino3, como está registradoem Gênesis 2:3. É um número completo, acabado,expressando totalidade. O termo sábado deriva desta raizretratando a obra acabada de Deus e Seu descanso. Deuscomo onipotente não precisava descansar, pois é Deus, masinstituiu o sábado por causa do homem (Mc 2:27), para seudescanso e para dedicá-lo à adoração e culto.

Multiplicando por ele mesmo (7X7) encontramos quarentae nove (49), daí a contagem para a festa das primícias deDeus, que dá a fartura dos alimentos para saciar nossa fome.Este número (49) é símbolo de júbilo, alegria e contentamento.Os judeus consideram esta contagem como “a ascensão dequarenta e nove degraus, iniciando com a impureza dos

3 C. CHEN, Os números na Bíblia, p.103.



OS SIGNIFICADOS DE PENTECOSTE 25

egípcios até a entrega da Torá por Deus a Moisés e ao povo

congregados no Sinai”4

.Como o Pentecoste era celebrado no qüinquagésimo dia,

temos a junção de 49 + 1 = 50. O número 1 indica unidade,singularidade é o número de Deus daí a festividade depentecoste que indica a alegria, a felicidade que somente vemde Deus. Portanto o número 50 está relacionado com ohomem “existencial”, sua espiritualidade, ações com opróximo, a criação e relações com o próprio Deus que devem

se processar com alegria e júbilo.Observando o termo hebraico para Pentecoste “xavu’ot”,

teremos o significado de semanas. Semanas são múltiplos desete e servem para designar o tempo de Deus para com ohomem. Este tempo, é de organização, de continuidadeespiritual, de purificação e de cumprimento das promessasde Deus aos homens, como foi o caso dos acontecimentosem Atos 2. Também é tempo de preparação para o plantio e

colheita, tempo e hora de reflexão e estar sempre na presençae dispensação do Espírito.

No JudaísmoPara os judeus religiosos, o Pentecoste está relacionada

com a historicidade de Israel, sua união e libertação daescravidão egípcia. Esta libertação envolve o corpo e o espírito,portanto, é a continuação da Páscoa, que abrange o moral eo espiritual na religião judaica.

A religiosidade judaica é voltada para a observância dosregistros de Êxodo 19, quando Deus falou a Moisés no Sinai,na instituição dos Dez Mandamentos e das leis (cap. 20),que passariam a ser observadas e seguidas por todo povo deIsrael, regulamentando assim sua vida como nação e religião.

4 A. UNTERMAN, id., p. 196.




Neste aspecto, a observância de Pentecoste é voltada para

convocar e a unir o povo de Israel, aqueles que se encontramdistantes da terra santa (diáspora), a se reunirem para aadoração e agradecimento a Deus como um só povo em umsó pensamento.

Com relação à agricultura, é a festa de ação de graçaspela colheita do trigo, simbolizando “uma nova vida”.

No cristianismoO Pentecoste cristão é a lembrança e a comemoração da

descida do Espírito Santo sobre a Igreja primitiva (At 2), queaconteceu no dia do festival judaico, como sinal da presençade Cristo, Seu poder e Sua glória. Desta forma, cumpriu-seassim a profecia de Joel 2:28-30, com o dom de línguasrepartido entre os cristãos, a pregação com o falar extáticode Pedro e a grande conversão de pessoas, que são asprimeiras primícias para Deus, marcando assim o início da“era da Igreja”.

Relacionado com o dom de línguas e o falar de Pedrocompreendido por diferentes pessoas de diversos idiomas,simboliza a quebra da maldição de Babel (Gn 11: 1-9), causadapela ignorância e altivez do homem, superada em uma sólíngua, o “Evangelho de Cristo” impulsionado pelo EspíritoSanto.

Assim como no judaísmo o pentecoste cristão é a grandecolheita espiritual, iniciada com a dispensação da graça, noqual Deus deu Seu Espírito, de forma uniforme, igualitária,sensível seja para judeus ou gentios, como prova daressurreição de Cristo.

O evento ocorrido em Atos 2 marca o começo de umanova língua, para ser ensinada e falada por todahumanidade, chamada de “Evangelho”. O termo evangelho



OS SIGNIFICADOS DE PENTECOSTE 27

comumente falado significa “Boa Notícia, Boas Novas”, mas

ultrapassa esses significados, pois enfocam em sua etimologiauma “mensagem para dentro”, ou seja, o mensageiro quefala atingindo o interior, mexendo por dentro, no coração,no espírito.

O evangelho é a proclamação da vitória, a de Cristo sobrea morte, motivo de alegria e de festa para toda cristandade.

É também a continuação de uma nova vida de libertação.Paulo fala em 2 Coríntios 3:17 “Ora o Senhor é Espírito; e

onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade”. A atuação dePentecoste na vida cristã é de liberdade e libertação, pois,fomos chamados para a liberdade, não para que a carne sejacolocada em primeiro plano, mas para dar lugar ao Espíritoe ao amor (Gl 5:13).

O feixe de ômer na festividade da colheita judaica,simboliza para o cristão a união dos povos e de todos oscrentes, pela mesma forma como um feixe de trigo é juntado,

unido e amarrado para ser oferecido a Deus, assim tambémé a Igreja universal, o Corpo de Cristo, que deve ser unidano amor do Senhor, com um só propósito e um só caminho aseguir.

O Pentecoste significa também a própria presença deCristo sobre a Igreja, de forma contínua, consolando-a eguardando-a, através do Espírito Santo, em cumprimentode Sua promessa (Lc 24:48-49; At 1:8) de que iria para o Pai

mas enviaria o consolador (Jo 15:26; 16:13).Um dos simbolismos mais impressionante acerca de

Pentecoste é a quebra de barreiras territoriais, de raças,preconceitos e discriminação enfocando a união de diferentespessoas de diferentes nacionalidades, línguas, usos ecostumes é a unidade na universalidade5 , a total união num

5 P. TILLICH, Teologia sistemática, p. 500.




só corpo “o de Cristo”. A Igreja, portanto, é a verdadeira

comunidade espiritual.Acima de tudo o Pentecoste é um ato de fé,

arrependimento, amor e esperança em Cristo, onde a Igrejaespera Sua volta gloriosa para com Ele estar eternamente.

No Novo Testamento este termo está relacionado com aressurreição de Cristo sendo Ele as primícias de Deus (1Co15: 20-23).



Chegando a festividade da Páscoa em Jerusalém, Jesus épreso, julgado e condenado à cruz. Cristo sofreu suplícios,escárnios e foi morto, pendurado na cruz que carregara eapós, sepultado em um túmulo emprestado1.

Estes fatos foram de muita tristeza para seus discípulos.Estavam deprimidos, desorientados e pairava no ar muitasdúvidas, pois o Mestre era o fator essencial na vida deles.Abalados, ressentidos e oprimidos estavam, pois, o Messias,morrera em uma cruz, instrumento de grave puniçãocorporal, destinada a blasfemadores e criminosos, pessoasrejeitadas pela sociedade da época.

Mas o grande milagre aconteceu, o Mestre ressuscitou ao

terceiro dia, daí começaram os discípulos a recobrar asesperanças.

Cristo ficara com seus discípulos alguns dias, segundoregistrado em Atos 1:3, quarenta dias, dando-lhes orientaçõesfinais e ordenando-lhes a ensinarem a todas as criaturas oevangelho mudando assim o título deles para Apóstolos.

Capítulo 3

O Pentecoste e a IgrejaPrimeva

1 M. MAGALHÃES, op cit.




Mas o Mestre ficou pouco tempo com eles e foi assunto

aos céus. De acordo com a tradição histórica da Igreja Cristã,e os registros do livro de Atos 1, Cristo ascendeu aos céus,mandou que Seus apóstolos esperassem em Jerusalém nãose ausentando dela, dando-lhes a promessa da virtude2 doEspírito Santo (v. 8) e a responsabilidade das missõesevangelizadoras.

Assim procederam os apóstolos em obediência ao mandatodo Senhor, permanecendo em oração3. Naquele momento

ficou ainda no ar muitas dúvidas, decepções e certainsegurança. Aqueles instantes eram novamentedeprimentes, com muita tristeza e ainda tinham muitasdúvidas em seus corações. Aquelas pessoas ainda eramtotalmente dependentes de Cristo, que a partir daquela horanão estaria mais presente entre eles.

Sentindo a falta de Cristo

Como os apóstolos podiam então desempenhar asordenanças do Mestre, de pregar e testificar do Evangelhosupostamente estavam ainda receosos e com dúvidas,oprimidos e desgastados, talvez pensassem numa pressãopsicológica e assédio moral que iriam sofrer da parte dos judeus e das elites dominantes da época.

Uma coisa é, estavam com certo temor de tudo e de todos,desde os partidos políticos e religiosos judaicos até mesmo

´ ´2 Do grego dunamin (dínamim), derivado de dunamij (dinâmis) quesignifica: poder, autoridade, força corpórea, ânimo. Este termo designa eficáciade algo correto, desejável do dever, como tendência a boas açõescomportamentais e de conduta que é característica do verdadeiro servo deDeus cheio do Espírito Santo.3 Que exemplo para nós cristãos na atualidade dada pelos Apóstolos, primeiracoisa que Cristo requer de nós é a obediência, algo que muitos não praticamtrazendo desconforto e escândalos para a Igreja atual.



O PENTECOSTE E A IGREJA PRIMEVA 31

dos representantes de Roma que dominava toda região.

Estavam tímidos e receosos, pois o Mestre havia partido epensavam o que poderia vir sobre eles.

Ansiosos e depressivos ficaram, por causa da insegurança,cheios de medo por causa de uma fé ainda imatura efragilizada pelos acontecimentos da crucificação destruindoalgumas esperanças. Talvez estivessem pensando sobre qualseria a reação das pessoas ao saberem que eles eramdiscípulos de um homem marginalizado pela sociedade, um

homem que foi crucificado como um criminoso qualquer.Seriam eles aceitos como mensageiros de Deus e suas palavrasouvidas levadas em consideração?

O conflito interior daqueles homens era grande, mas osapóstolos foram fiéis e obedeceram sem restrições asordenanças de Cristo. Dirigiram-se para Jerusalém e todos decomum acordo perseveraram nas orações e súplicas a Deus4.

O preternatural acontece O capítulo 2 de Atos relata que os apóstolos estavam todos

reunidos no dia de Pentecoste num local de costume. Lucas,não relata com exatidão o lugar onde estavam, podendo ser ocenáculo ou na casa de alguém nem mesmo afirma quantaspessoas estavam ao certo reunidos, se eram os onze apóstolos,as mulheres e Maria com os irmãos ou os cento e vinte totaisda multidão, como relatado no capítulo 1 versículos 13 ao 15.

Na reunião de costume, em pleno dia festivo, ocorreu umfenômeno “a descida do Espírito Santo sobre toda acongregação”. O Espírito Santo estava sendo esparzido sobretoda a igreja, coisa que ainda, até aquele momento, não havia

4 Mais um ponto a ser focado para a atualidade, além de obedeceram aomandato de Jesus, estavam fazendo as coisas de forma organizada, com omesmo sentimento, propósito e união perseveraram em orações e em preces.




acontecido de maneira coletiva registrado em toda Bíblia.

O redator de Atos dos apóstolos relata um “ruído repentinocomo um vento impetuoso e encheu toda a casa onde estavamsentados” (v 2). Notemos que o ambiente no local da reuniãoera de organização, de ordem e união dos que ali estavamcongregados5.

O interessante nesta declaração Lucana cujo destaquesão quatro palavras gregas, a saber: êhos hosper feroménes pnoês 6 (som como um vento veemente), isto é, um som

“audível” (ruído), comparado (como) do vendaval. A primeirapalavra destacada êhos indica “aquilo que se pode ouvir,uma vibração sonora”, seguido da conjunção subordinativahósper que significa “como, assim como”, após o verbo noparticípio presente passivo feroménes (sendo movido,impetuoso, conduzido, soprado) e o substantivo neutroindicando posse pnoês (do vento). Analisando estes termospodemos refletir que:

• O ruído no Antigo Testamento é símbolo de presença epoder de Deus, quando se manifesta ao seu povo (2Rs7:6; Is 29:6; 42:13; Jr 51:55; Ez 37:7);

• O vento, pela mesma forma, é símbolo de poder, ação epresença de Deus, é símbolo do Espírito (Gn 8:1; Ex 14:21;2Sm 22:16; 1Rs 19:11; Is 29:6; Ez 13:13).

Lucas figura em palavras o resultado de uma ação e odesenvolvimento de um processo anormal de causasinexplicáveis racionalmente, que abalou e envolveu osapóstolos e encheu todo aquele lugar onde estavam reunidos.O redator expôs que aquele acontecimento sobrenaturalindicava que o poder e a autoridade de Deus enchiam aquelelugar e contagiava os presentes.

5 Isto é um fator importante para um culto saudável e espiritual.6 h=coj w[sper ferome,nhj pnoh/j




No verso 3 são registradas “línguas como de fogo

repartidas sobre cada um dos presentes”. O termo gregoutilizado para línguas é glossai7, um substantivo femininoplural significando “línguas, idiomas, linguagens”, surgindodaí o termo glossolalia: o ato de falar em línguasdesconhecidas.

O fogo é símbolo de juízo de Deus e consome tudo aquiloque não pode subsistir diante de Sua santidade (Is 29:6; 30:27-28; Ez 1:4). Indica também purificação e queima do

pecado, é característica de autoridade e poder. É presençade Deus como ocorrido com Moisés quando o Senhor lhefalou por meio da sarça ardente (Êx 3).

O vento e o fogo descritos por Lucas, não são fenômenosnaturais mas simbolismos espirituais transcritos para nossainterpretação. São representações de poder, purificação,presença e glória de Deus, que se manifesta em pessoas eprincipalmente em ambientes preparados, de formação

espiritual, ética e devidamente ordenados.As “línguas como de fogo” descrita, é uma metáfora

estabelecendo uma relação de autoridade e poder vinda doEspírito Santo pelo uso da voz. No português, a palavra“como” é advérbio de modo, no grego o termo é hôseí 8 que éuma conjunção subordinativa, significando “como se fosse,da mesma maneira”, confirmando, dessa forma, o uso dosubstantivo fogo, como figura de linguagem e força de

expressão literária.O termo línguas descrito acima está relacionado com o

conjunto de palavras ou expressões de um povo para secomunicarem, é a expressão verbal do idioma.

7 glw/ssai8 wsei.




O versículo quatro relata que “todos ficaram cheios do

Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas,conforme o Espírito lhes concedia que falassem”. No grego,o verbo empregado com sentido de falar é laléin 9 que está noinfinitivo presente expressando os “órgãos da fala”. O termonoutras ou outras é o adjetivo demonstrativo feminino plural“hetérais” 10 expressando “outro da mesma qualidade”.Observemos que houve um fato sobrenatural da parte deDeus na vida dos apóstolos, eles começaram a falar de

maneira espontânea e extranatural, idiomas e dialetos deoutros povos pelo poder de Deus.

Houve um grande alvoroço no lugar, pois várias pessoasde diferentes nacionalidades e culturas estavam em Jerusalémpara a comemoração da festa de Pentecoste. Elas ouviramos apóstolos falarem em sua própria língua. O termo gregoempregado para língua aqui descrito é dialécto11 que é umsubstantivo feminino que significa “dialeto, linguagem,

maneira de falar, variedade regional de uma língua”. Estaação nos esclarece que todas as pessoas ali presentes puderamentender os apóstolos no seu “vernáculo”. Existia naquelelugar, emissores e receptores e quando houve a atuaçãosobrenatural do Espírito sobre os apóstolos eles anunciaramuma mensagem com idéias em que os envolvidos no processode comunicação entendiam perfeitamente a mensagem.

Naquele momento não houve uma “xenofonia” que é a

perturbação da voz através de sons estranhos e sim o falarde um idioma que foi entendido pelas pessoas. O domrecebido pelos apóstolos de falarem em línguas estranhas paraeles é denominado de “xenoglossia”, pois foram idiomas

9 lalei/n10 ete,raij11 diale,ktw|




falados e entendidos pelas pessoas ali presentes em Jerusalém,

vindas de diferentes regiões e paises. Tais turistas tinhamseu idioma e sua variedade regional da língua, ou seja, o seudialeto.

Este dom de línguas foi um milagre da parte de Deusocorrido no dia de Pentecoste agindo na vida dos apóstolos,presenciada por várias pessoas, pois foi pela atuação doEspírito Santo que os estimularam a falar em línguas estranhasque eles não entendiam, mas conhecida de outros povos.

Eles falaram línguas, vivas na época, expressandogramaticalmente idéias, sentimentos e emoções e os presentesentendiam o que falavam os apóstolos. Houve tambémconfusão de certas pessoas pois não entendiam aquelemovimento, pensavam que por ser um dia festivo e alegreaquelas pessoas estavam cheias de vinho e totalmente bêbadas.

Os apóstolos não sabiam falar os diversos idiomas dos

turistas presentes na festividade. Houve então um milagre; ofalar de Pedro e dos apóstolos passou a ser compreendidopelas pessoas. Este milagre sobrenatural não era produzidopela mente dos apóstolos, nem por indução psicológica oumesmo por fenômenos parapsicológicos, mas “vindo doEspírito Santo”.

Que milagre foi este do falar em outras línguas e as pessoasentenderem? Houve um dom de línguas ou um dom de

ouvido? Os apóstolos não falaram no seu idioma pátrio(aramaico), não conheciam os idiomas específicos dos turistas,pois não os estudaram. Eram compostos na sua maioriaGalileus, pescadores rudes, sem formação de nível rabínica,ou mixnáica - o saber acadêmico-religioso daquela época,nem tão pouco estudaram nas escolas filosóficas gregas. Setivessem falado em aramaico, o milagre do ouvir pelospresentes de outras nações teria sido no ouvido, então seria




“dom de ouvido”, se falaram em outras línguas (glossolalia)

ou língua dos anjos como dizem alguns, teria necessidadede um intérprete, mas, o milagre aconteceu de formarecíproca, ou seja, “no falar dos apóstolos e no ouvir daspessoas de diferentes regiões e nacionalidades”, portanto éum acontecimento fora do comum vindo de Deus, ummistério não explicável racionalmente, mas que deve seraceito pela fé.

Mudança de vida, pensamento e atitude.Lucas descreve que “todos foram cheios do Espírito Santo

e começaram a falar noutras línguas, conforme o EspíritoSanto lhes concedia que falassem”. Observemos que o escritorsagrado está descrevendo um milagre, uma ação divina e, omais importante, é que foi um fenômeno espontâneo eautêntico da parte de Deus que envolveu de maneira

sobrenatural os seus servos obedientes ali presentes.Houve uma mudança radical na vida daquelas pessoas,pois como discípulos eram homens simplesmenteentusiasmados com os ensinamentos e milagres presenciadospor eles ao lado de Cristo. Não eram homens convertidostotalmente, nem maduros espiritualmente. A fé deles era com base na emoção, no sobrenatural, num intelecto fragilizadoe imaturo. Com posse e ação do Espírito Santo em suas vidas

houve verdadeiramente uma mudança de seus valores,pensamentos e atitudes, começando a alcançar umamaturidade autenticamente espiritual alicerçada na fé emCristo, superando os conflitos pessoais.

Com os acontecimentos sobrenaturais, os apóstolos sãotransformados pelo poder vindo do alto. A partir daquelemomento, entenderam o propósito divino sendo revestidos ecapacitados para atuarem como testemunhas vivas do poder




de Deus, como também autoridades de Cristo, para atuarem

na pregação do evangelho.Aquela ocorrência espiritual marcou definitivamente a vida

dos apóstolos, pois foram esclarecidas as dúvidas, anseios emedos pela ação do Espírito Santo na vida de cada um, assimsendo, os apóstolos poderiam desempenharinquestionavelmente o mandato do Senhor, transpondo todosos obstáculos, superando todas as barreiras e vencer o mal.

A descida do Espírito Santo foi uma nova experiência e

algo inédito em toda história apreciada pela igreja primevacom Cristo, na qual os apóstolos ficaram livres de qualquerincerteza e insegurança. Mas, ainda havia em alguns oorgulho e certa forma de discriminação para com os gentiose sua cultura.

Capacitados pelo Espírito Santo

O evento anormal ocorrido com os apóstolos chamou aatenção de muita gente. A multidão aglomerava-se cada vezmais. Curiosos queriam ver o que estava acontecendo. Unsfalavam que estavam bêbados e fora de si. Os ouvintes queconheciam os apóstolos preocupados e maravilhadosperguntavam: como é que as pessoas galiléias podiam falarnas diversas línguas ali presentes, de forma nítida e todasestas pessoas de diferentes lugares entendem?

Elas tinham preconceitos relacionados com os galileus,tidos como pessoas sem cultura, rudes, com um linguajardiferenciado, sendo facilmente reconhecidos por qualquer judeu.

Pedro levanta. Cheio do Espírito Santo e com autoridadecomeça a anunciar a mensagem do reino. Em sua declaraçãoàquela multidão, fala daquele movimento, expõe que aquiloque estavam presenciando era o cumprimento da profecia




de Joel (2: 28-32), que nos últimos dias o Espírito seria

derramado sobre toda a carne.E o seu falar extático envolveu os ouvintes, eles podiam

entender todo o discurso no seu próprio linguajar. Todosficaram maravilhados do seu relato sobre Jesus e as profecias,testificando como testemunhas vivas da promessa do Pai.Neste ato, Pedro sabia o que estava falando e todos entendiama sua mensagem, mas a confusão era o “como” o povão podiaentendê-lo.

O milagre do falar e ouvir foram mútuos, aconteceu nalíngua (órgão da fala) e no ouvido das pessoas pela atuaçãosobrenatural do Espírito Santo de Deus, pois os apóstolosfalaram de forma extática e as pessoas puderam entendernas suas línguas e dialetos conhecidos da época, pois o idiomafalado tinha vocabulário definido, havia dicção comconstruções gramaticais compreensíveis. Não foi umaduplicação mental lingüística, nem mera repetição

onomatopéica de sons, não houve uma “glossomancia”, masum milagre de Deus, na quebra da maldição de Babel pelofalar do único idioma chamado “Evangelho do reino”, tudopelo controle e atuação do Espírito Santo que concedia aosapóstolos, confirmando a promessa de Jesus descrita emMarcos 16: 15-18.

Pedro com autoridade chama as pessoas aoarrependimento e ao batismo no nome de Jesus, sendo

convertidos quase três mil pessoas. A partir deste momentonasce a igreja triunfante pelo poder e graça de Deus.

A manifestação sobrenatural, em Atos 2, confirma apresença de Cristo e a união entre os crentes. Segundo Tillich“é a criação de uma fé que estava ameaçada e quasedestruída pela crucificação”12, livrando os apóstolos de todo

12 Id.




tipo de dúvidas e incertezas, confirmando assim sua fé, pois

sem ela não existiria Comunidade Espiritual13

.Observemos que tudo isto aconteceu na vida dos apóstolos

porque foram obedientes ao mandado do Mestre e confiaramem Sua promessa, que antes de subir aos céus, determinou otempo e o local para que aguardassem (At 1:4-5). Estes fatossão um estímulo e exemplo maravilhoso para nossa vida ode “obedecer e confiar nas promessas de Jesus”.

13 Ibid., p.501.



Qual seria o objetivo e o significado do falar em línguaspelos apóstolos no dia de Pentecoste?

A esta pergunta apresentaremos quatro argumentos:

Primeiro argumento:É a capacitação sobrenatural que Deus confere aos seus

servos.

Assim como os modernos empresários estão preocupadoscom a capacitação de seus funcionários para produziremmais, com qualidade e segurança para atingirem metas cada

vez maiores voltada para os lucros, Deus capacita seusescolhidos para trabalharem na sua obra com o objetivo deuma vida melhor e mais feliz.

Na Bíblia encontraremos várias pessoas que receberam ochamado de Deus. Sobre essas pessoas teremos as“vocacionadas” e as “designadas”.

Às vocacionadas cito duas pessoas, Isaías (3) e Ezequiel (1-3). A estes, Deus aparece e eles aceitam a missão sem

Capítulo 4

O Objetivo do Falar em Línguas em Pentecoste




constrangimento e reclamações, não fazem objeções a cerca

de sua missão e Deus os capacita.As designadas cito três pessoas, Moisés (Ex 3), Gideão (Jz

5) e Jeremias (Jr 1). Ao lermos nas Sagradas Escriturasobservaremos que a ação de reclamação e postas objeçõessão visíveis.

Mas o que mais importa é a quem Deus lhe confere umamissão, ele fala a pessoa e confirma, colocando sua unção eacima de tudo os capacita.

Voltando aos acontecimentos no dia de Pentecoste, aslínguas (faladas e entendidas) foram uma forma sobrenaturalpara a pregação do Evangelho, as pessoas que não conheciamas letras sacras dos judeus (o hebraico que somente a elite cultadominava) e a Torá (que poucos tinham posse econhecimento). Neste dia especial, o dia de um festival alegreque também é a continuação da festa da libertação do cativeiroegípcio (Páscoa) que Deus capacitou os Apóstolos a ação de

falar e testemunhar aquilo que tinham recebido direto do céu,de Deus que é a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo.

Segundo argumentoPara os cristãos compreenderem o cumprimento das

promessas do Mestre e desempenharem o papel deevangelistas.

A Palavra de Deus deve ser lida e interpretada com mesmofundamento espiritual em que foi escrita. Sem auxílioespiritual corremos o risco do legalismo e fundamentalismoradical sem compreendermos o verdadeiro sentido emensagem para nossas vidas.

Como cristãos autênticos, devemos crer em todas aspromessas escritas na Bíblia e esperar pela fé até que sejamcumpridas, pois o objetivo das promessas e da obra de Cristo



O OBJETIVO DO FALAR EM LÍNGUAS NO PENTECOSTE 43

é a felicidade do homem, sua liberdade e livramento da

condenação eterna.Com o pecado tudo mudou na criação sendo necessário a

obra de Cristo para libertação e bênçãos para a humanidade.

Terceiro argumento O objetivo era para os “descrentes e exclusivistas

religiosos” e, o foco principal, seria a mensagem do

“evangelho destinada a todas as pessoas de todas as raças,de línguas diferentes, de todas as nações não se importandocom seus credos, ritos e costumes”. Neste aspecto, as línguaseram para os incrédulos e fundamentalistas judeusentenderem o evangelho e o poder de Cristo.

Quarto argumentoO apóstolo, em seu discurso “apresentou este fenômeno

como apogeu do judaísmo” 1

e o começo de uma nova era, a“da Igreja de Cristo” na presença do Espírito Santo, sendouma Comunidade totalmente Espiritual, liberta dopreconceito histórico-religioso, unida pela fé baseada no amorde Cristo, na íntima comunhão de uns pelos outros, sendode caráter universal, sem barreiras e crendices místicas.

Neste sentido, Sóstenes P. Barros nos ensina que:

“A Igreja é a plenitude de Cristo, é onde o crente pode integrar-se para encher-se de sua plenitude. Encher-se do EspíritoSanto é um estado espiritual de grande humildade esubmissão á Cristo e à igreja” 2.

1 K. ARMSTRONG, Uma história de Deus: quarto milênios de busca do judaísmo, cristianismo e islamismo, p.99.2 S. P. BARROS, Análise de dom de línguas, p.23.




Todo servo de Deus tem que ter a plenitude de Cristo,

tomar posse de sua bênção, ser fiel, ser por completo noamor e para tudo isto, dependerá da obediência e observaçãodos ensinamentos do Senhor.

A natureza das línguas descritas em Atos é totalmentedidático-espiritual, é sinônimo de obediência e perseverança.É sinal para os incrédulos e crentes, demonstrando o poder epresença de Deus sobre a Igreja. Começa ai uma novahistória, com um novo povo, formado por judeus e gentios.

A verdadeira Igreja nascida no Pentecoste é baseada noFruto do Espírito, as primícias da colheita através do labordo homem e da intervenção divina que auxilia o homem emsua caminhada. É segundo Conde “uma vida acompanhadade vibração e entusiasmo” 3, cheia de amor, liberta dodesânimo, dos preconceitos e com disponibilidade paratrabalhar, produzir e colher com qualidade. Osacontecimentos neste dia de Pentecoste, é a prova completa

da obra redentora de Cristo para toda humanidade.Os acontecimentos ocorridos em Atos capítulo 2,

relatando a igreja reunida, a descida do Espírito Santo, aslínguas, a pregação de Pedro e a grande conversão de quasetrês mil pessoas, aceitamo-las pela fé, como “fatos históricose autênticos”. As manifestações registradas, as ações tomadassão devidas a certas reações humanas. Seus significados sãovariados e profundos, voltados para o resgate do gênero

humano por Jesus Cristo. São fatos para uma reflexão e açãode nossa vida para com Deus e os ensinamentos de Cristo. Éa nossa condição para com o mandamento do Senhor e Suaspromessas que são aspectos da redenção, da libertação dopecado e de uma nova vida com amor e união em Cristo Jesus nosso Senhor.

3 E. CONDE, Pentecoste para todos, p. 13.



O Antigo Testamento e a Palavra de Deus eramexclusividade para os Judeus, com seu culto próprio e aobservação dos escritos de Moisés com seus usos e costumes.Nos registros bíblicos da época de Jesus, os detentores do

conhecimento eram as elites sacerdotais, os fariseus esaduceus.

O culto era restrito e exclusivo, a salvação era para os judeus ou quem era prosélito do judaísmo. A santificaçãoera exclusividade e os donos do saber teológico eram parapoucos, o que favoreceu a formação de castas (fariseus,saduceus etc.). O ritual e o culto seguiam normatizações deacordo com a Lei Mosaica.

Cristo veio como autor e consumador da salvação doshomens (Lc 1:47; 1 Tm 1: 15), pois ela nos vem pela graçadivina (Ef 2:13). Neste aspecto a salvação vem dos judeus (Jo4:22) para o mundo.

Porque será que Deus escolheu o dia de Pentecoste paraderramar Seu Espírito? Nesta questão destacaremos asseguintes afirmativas:

Capítulo 5

Dos Judeus para OutrosPovos




• A continuação da Páscoa que é a festa da libertação do

cativeiro e da opressão.• É a festividade de gratidão pelas colheitas.

• Por se tratar de um dia festivo e Jerusalém uma cidadecosmopolita turística, com pessoas de diversasnacionalidades e religiões.

• Os presentes (Judeus, Gentios e Cristãos), serviriam detestemunhas aos acontecimentos inéditos da ação de Deusatravés da obra expiatória de Cristo. Estas pessoasserviriam de testemunhas vivas e propagariam oevangelho através do testemunho dos apóstolos.

• A quebra de conceitos selecionistas do judaísmo partidáriomotivados por impulsos religiosos.

Com o derramar do Espírito Santo no dia de Pentecostesobre os apóstolos e a grande pregação de Pedro (At 2), houvea conversão de muitas pessoas dentre elas as não judias. A

igreja triunfante quebra as barreiras territoriais, culturais edos idiomas pelo poder do Evangelho e atuação do EspíritoSanto.

A ordem de Cristo era de pregar o Evangelho a todacriatura, ensinando a todas as pessoas: “aquele que crerserá salvo o que não crer será condenado” (Mt 28:19; Mc16:15-16).

O Mestre ordenara aos apóstolos que esperassem em

Jerusalém até a vinda do Consolador, para seremcapacitados a pregar e testemunhar do evangelho,começando em Jerusalém, após Judéia, Samaria até osconfins da terra (At 1:8).

Cristo, com isso, indica o centro, o local de partida, o início“Jerusalém”. No hebraico, Jerusalém1 (Ieruxaláim) significa

1 ~l;vWry



DOS JUDEUS PARA OUTROS POVOS 47

“cidade da paz”, que era a capital cosmopolita e o centro

religioso do judaísmo. A Judéia era o centro territorial enacional do judaísmo, dali partindo para outro lugar a“Samaria” um local de pessoas rejeitadas pela sociedade judaica. De lá para o mundo (confins da terra), era umproblema grande a ser repensado por qualquer judeureligioso, pois os judeus não tinham comunhão com gentios.Até hoje alguns judeus conservadores, os ortodoxos de modogeral e ultraortodoxos, não freqüentam casas e não têm

comunhão com gentios considerados impuros.

Jesus inclui dos excluídosSamaria era a região ocupada anteriormente pela tribo

de Efraim. Esta região no ano de 621 a.C foi conquistadapor Sargão II da Assíria, incorporando assim outros povosna região e ocasionado uma mistura étnica. Com a misturaracial, os judeus os excluíram de seu culto e observações,ocorrendo assim um conflito étnico-racial, totalmenteideológico, político e religioso, rompendo qualquer tipo derelações entre estes povos.

Os samaritanos excluídos do judaísmo constituíram umculto próprio e diferenciado, favorecendo desta forma opreconceito, o distanciamento e um ódio recíproco entreetnias. Cristo mudaria estas atitudes separatistas. Com seus

ensinamentos rompeu todos os tipos de exclusivismo e barreiras raciais. Um exemplo claro é a parábola do bomsamaritano e seu diálogo com a mulher desta região.

Jesus e os discípulos ao viajarem pela região de Samaria,depararam com samaritanos preconceituosos, cheios deraiva, desprovidos de amor e do próprio Deus. Nas estalagens,não queriam dar pousadas para eles. Tiago e João vendoaquela situação pediram ao Mestre para que orassem e caísse




fogo para matá-los (Lc 9:51-54). Esta ação dos discípulos

deveu-se ao preconceito e ódio pelos samaritanos, refletindodesarmonia, falta de amor, principalmente necessidade deconversão revelando que precisavam aprender mais de Jesus.

O mais notável acontece, Cristo retrucou os discípulosdizendo “Vós não sabeis de que espírito sois (v. 55). O Filho do Homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para

salvá-las” (v. 56) 2.

As coisas começariam a mudar a partir desses

ensinamentos, em que o Mestre provoca a reflexão de seuspensamentos e atitudes. Essa mudança foi maior na vida dosdiscípulos com o derramamento do Espírito Santo sobre elesno dia de Pentecoste, com o anúncio do Evangelho, marcandoo grande início triunfal da igreja, iniciado com a grandepregação de Pedro e a conversão de quase três mil pessoas,dentre elas, judeus e gentios. Desta forma, começou a quebrada barreira ideológico-cultural da religiosidade funda-

mentalista.

Os samaritanos abalados pelo poder de Deus

De Jerusalém, o Evangelho partira para a região deSamaria.

Filipe, diácono escolhido (At 6:5) era judeu da diáspora

de origem helênica. Foi o primeiro a pregar o evangelho aosexcluídos samaritanos.

Graças a mensagem do apóstolo e atuação do EspíritoSanto, levou a libertação e conversão de muitos samaritanos

2 Que resposta maravilhosa, de quebrantamento e de reflexão, na qual muitaspessoas precisam aprender: “o amar incondicional”. A salvação não éexclusividade de alguns, não é rotulação denominacional como dizem algunspor ai. É individual e pela fé em Jesus.




(8:5-13). De acordo com os registros de Atos pôde se ver muita

alegria. Naquele instante de felicidade e do começo de umalibertação foi efetuado o batismo. Os samaritanos estavaminfluenciados e pasmados pela eloqüência da pregação deFilipe, pelos seus ensinamentos e os milagres realizados porDeus ali naquela região. Não havia uma genuína conversão,a fé dos samaritanos ainda era frágil, preconceituosa e fraca,havia necessidade de mudança de temperamento, de açõese atitudes, uma verdadeira conversão e avivamento espiritual,

pois ainda estavam condicionados pelo pelas ações políticas,sociais e religiosas da época. A base lógica de sua fé era naemotividade por causa da atuação de Deus através de Filipe.

Em Jerusalém, os apóstolos tomaram ciência dosacontecimentos em Samaria (v. 14) e enviaram Pedro e João.Chegando lá, viram que os novos crentes samaritanos haviamsido batizados no batismo de João Batista. Os apóstolos

impulseram-lhes a mão, e eles, os excluídos do judaísmo,receberam o Espírito Santo (v. 17), para a glória de Deusacontecendo os mesmos fenômenos da Igreja de Jerusalémem Pentecoste.

Com o recebimento do Espírito Santo pelos samaritanos,foi quebrada a barreira do preconceito separatista e dahegemonia religiosa judaica. Os samaritanos, desta forma,experimentaram a verdadeira manifestação do amor de Deus,

Sua presença e ação atingiram por completo o ser,ocasionando uma autêntica conversão, isto graças aimposição pelas mãos dos apóstolos e pelo poder de Deus.

O Evangelho rompe fronteirasOs povos de outras terras são denominados pelos judeus

de gentios, em hebraico “goi”. Estes eram pessoas não judias




e que não eram filhos da aliança, considerados povos idólatras

com práticas imorais e desacreditados em suas ações2

.Com o mandamento de Cristo de pregar Sua palavra até

os confins da terra e o derramamento do Espírito Santo sobrea Igreja, o evangelho torna-se universal, desnacionalizandoa santidade sendo uma necessidade para todos os homensse encontrarem com seu criador.

Outro exemplo é o de Pedro que ao anunciar o evangelhofoi à casa de um incircunciso piedoso chamado Cornélio (cap.

10), um centurião de Cesaréia (o qual tinha tido uma visãodo anjo do Senhor, orientando-o a procurar Pedro).

Antes, o apóstolo teve uma visão de animais impuros parase comer. De acordo com as leis dietéticas judaicas Pedrocomo judeu ortodoxo rejeitou. Recebeu a ordem de matá-lose comê-los, mas não quis porque era judeu observador daLei. Veio, porém uma voz e disse “não faça tu comum o queDeus purificou” (v. 15). Ele era ainda preconceituoso com os

gentios (v. 28), necessitando ainda de outra aprendizagem.Com a atuação do Espírito Santo na vida de Pedro e os sinaisali realizados, houve outra mudança de pensar em sua vida,compreendendo assim, que a obra de Cristo era universal eo Espírito Santo era para toda a carne, não excluindo ouconsiderando ninguém inferior, ou alguma coisa impura, poiso evangelho e a santificação são para todos, convertendo-seem um só povo, em um único corpo, “o de Cristo”.

A igreja ao saber dos acontecimentos na casa do centurião,ficou espantada e ao mesmo tempo confusa. Muitos nãoaceitavam a questão de gentios e tão pouco incircuncisosimpuros receberem o Espírito. Observemos a mentalidadeexclusivista e estática, faltava-lhes ainda uma verdadeirareflexão do poder de Cristo e amadurecimento espiritual.

2 A. UNTERMAN, op. cit., p. 105.




Pedro quebra estes preconceitos ao testemunhar que todo

aquele que crer em Jesus receberá o perdão dos pecados e osmesmos dons que os judeus. Eles, porém, aceitaram,mudaram suas atitudes e pensamentos e testificaramglorificando a Deus pela vida dos gentios.

O Evangelho depois desta ocasião começou a ser anunciadoaos gentios, o qual ainda alguns pensavam, era aindaexclusividade dos judeus. A igreja primitiva crescia enecessitava de auxiliares para trabalharem nas obras sociais e

na organização geral da igreja. Estes auxiliares denominadosde diáconos eram homens dotados de sabedoria, de boareputação e cheios do Espírito Santo. Foram escolhidoshomens, tantos judeus quanto gregos, como forma de quebrara hegemonia judaica para mostrar a forma de união entre ospovos.

Com a conversão de Saulo de Tarso e sua experiência naestrada de Damasco, assumiu este o nome patrício romano

de Paulo, tomando a iniciativa da evangelização mundial,anunciando o evangelho aos gentios, com ajuda de Barnabée outros.

A mensagem cristã chega a Antioquia (At 11). Acomunidade de Jerusalém manda Barnabé que por sua vezconvoca Paulo para auxiliá-lo. Foi nesta cidade que osconvertidos ao Senhor Jesus foram chamados pela primeiravez de cristãos. (At 11:26). Esta comunidade era muito rica e

próspera, com grande número de convertidos que seempenharam em ajudar os pobres judeus, seguindo ospadrões e observâncias da Igreja.

A comunidade de Antioquia é um importante exemplo eum grande modelo a ser seguido pela igreja universal “ajudarmutuamente os menos favorecidos”. Neste aspecto, Delcyrde Souza Lima nos dá uma importante declaração dadiversidade cultural da igreja como organismo histórico e




como corpo do Senhor e da importância do batismo com o

Espírito Santo, argumenta:

“Que o Espírito Santo é aquele que capacita a Igreja,evolvendo todos os povos em um só (...) derrubando aparede e desfazendo as inimizades (...)3

O Batismo com o espírito Santo marcou a imersão depessoas de diferentes povos na esfera de vida e atuação deEspírito Santo para a formação do povo de Deus... Umaesfera do reino de Deus, constituído pelos regenerados,

salvos e transformados em filhos de Deus, guardados peloSenhor como o trigo é guardado em celeiro, e outra esferados filhos da ira, não convertidos, não salvos, que, comopalha imprestável, serão queimados no fogo do juízo vindouro de Deus”4.

Desta forma todos os homens são um em Cristo, pois nãohá judeu nem grego (Gl 3:28), não há mais regionalismo e

nacionalismo religioso, o evangelho é universal. As línguasfaladas em Atos figuram a Igreja hodierna que fala a línguauniversal do evangelho.

3 D. S. LIMA, O Pentecoste e o dom de línguas, p.81.4 Ibid.



Nos dias do apostolo Paulo, a cidade de Corinto era umimportante centro político e comercial. No ano 146 a.C. foidestruída pelos romanos sob o comando de Lúcio Múmio,cônsul romano e reconstruída por Júlio César em 46 a.Ctornando-se província romana da Acaia. César estabeleceu

a cultura com uma grande mistura de povos, alforriados.Construiu templos aos deuses pagãos promovendo cultosimorais e de mistérios reformulando assim sua cultura,dedicados à prostituição sagrada atraindo vários turistas aessa região.

A cidade de Corinto pela sua versatilidade e aberturaintelectual, oferecia condições favoráveis para a entrada docristianismo.

Paulo encontra nessa cidade problemas de cunhos moraise começa sua campanha missionária com grandes desafiosespirituais. Com auxílio Áquila e Priscila um casal judaico-cristão e mais tarde de Silas e Timóteo começa seu trabalhoevangelizador. A maioria dos cristãos era de origem gentílicadas camadas mais pobre da comunidade e a minoria deorigem econômica elevada, em que se percebia desigualdadessociais acentuadas.

Capítulo 6

Paulo e os Excessos naIgreja de Corinto



PAULO E OS EXCESSOS NA IGREJA DE CORINTO 55

salvação era interpretada com base no pensamento grego

com posse da sabedoria, destaca-se entre as várias vertentes,o pensamento relativista (escola sofista), valores gnosiológicos(escola socrática), dualismo platônico e o desvendamento dossegredos do universo e da restituição das causas últimas(Aristóteles) e nas concepções materialistas de Epicuro. Naépoca do Novo Testamento a filosofia tinha deixado suascaracterísticas principais como disciplina tornando-se servados sistemas místicos religiosos privatizando a religião e

descaracterizando a identidade cristã.Tais coisas são fórmulas, ações e práticas do mundo

pecaminoso da religião grego-oriental em que o êxtase era base do culto que entrou na igreja sob influências de taispessoas que querem injetar nos bons usos e costumes, práticasque atrapalham o bom andamento da obra do Senhor.

A glossomania era preferida entre os ditos perfeitos(pneumáticos), mas os abusos não serviam a nada. Não havia

entre os que falavam línguas sons extáticos com sentidos esuas palavras eram desconexas sem interpretação eininteligíveis, mesmo para os que possuíam esse dom (o defalar e interpretar). Paulo em 1 Coríntios 12:1-3 relata queeste falar em êxtase tem suas origens nas práticas dos cultospagãos helenistas cujos pronunciamentos proferiam palavrasde blasfêmia e desonrosas contra Cristo.

Paulo declara que os dons espirituais são para a“edificação da igreja” e ao falar em línguas há a necessidadede interprete para que haja edificação (1 Co 14), pois, quemfala em línguas edifica a si próprio. Em sua instrução (vv 18e 19) Paulo afirma que fala em línguas mais do que todos naIgreja e que prefere falar cinco palavras que as pessoasentendam e possam aprender do que falar dez mil palavrasque os outros não possam compreender.




Muitos cristãos abusavam dessas línguas com propósito

de glorificação e exaltação ao ego, tachando-se “superiores”.Infelizmente, tais atitudes são demonstrações de falta dematuridade espiritual, humildade e respeito, necessitandode nova conversão e responsabilidade com o Evangelho ecom o corpo de Cristo. Novamente Paulo ensina (14:20) sobreo amadurecimento espiritual dos crentes que não sejam comomeninos no entendimento, mas na malícia , e adultos noentendimento e que as línguas não eram objetivo para os

crentes fiéis e sim para os infiéis (22).Certas manifestações observadas na comunidade deCorinto não são autênticas do Espírito, mas provenientes de“espíritos estranhos” que abafam as verdadeirasmanifestações vindas de Deus. Que só servem para promoverindisciplina e desordem na Igreja necessitando de “equilíbrioentre o corpo de Cristo”.

Dentre outras, o Espírito Santo não é de posse de ninguém,

não se usa e nem manipula-O como queriam fazer alguns.Paulo ensina que os dons espirituais são concebidos aspessoas que buscam com sinceridade e zelo (12:31) e que opropósito de tudo é a busca e prática do amor.

Os dons espirituais e mesmo o falar em línguas comoqueriam certas pessoas não substitui a leitura, meditação epregação da Palavra que atua nos atos e ações do cotidianonos servos do Senhor.



Em pleno século XXI, notasse cada vez mais asdivergências a respeito do Pentecoste, como também odistanciamento de sua origem e significado. Muitos líderes e

membros de diversas denominações têm desenvolvido umateologia particular, com significado próprio e ritos específicos, baseados em fontes isoladas da Bíblia.

Não pretende-se desenvolver ou abranger a eclesiologiacomo ciência que estuda a Igreja, estudar fatos e doutrinasdas igrejas históricas protestantes, sejam congregacionais,representativas e episcopais, tidas como tradicionais, mesmoas renovadas, pentecostais ou as neopentecostais.

Cada uma desenvolve seu culto próprio, com suainterpretação das Escrituras com objetivos da defesa de suafé denominada de “apologética”. Muitas vezes tais formasde culto e interpretações levam pessoas a uma confusão àsvezes generalizada, trazendo discordâncias e disputas quena maioria são ideológicas e fundamentalista/partidária.

Cada pessoa ou denominação tem seu jeito de servir aDeus conforme sua consciência, interpretações, usos e

Capítulo 7

Contradições Atuais doPentecoste




costumes conforme a práxis, baseadas em sua consciência e

convicção, estabelecendo suas formas doutrinais.É proposta nesta parte uma revisão crítica das ações e

reações humanas, das tomadas de decisões quecomprometem o bom andamento do Evangelho de Cristo.Evitando abusos que envolvem escândalos apresentados pelamídia e tomado como referência de piadas, gozações enotícias de pessoas que não temem a Deus e tão poucorespeitam Sua Palavra.

Graça, dom gratuito de DeusModernamente, é muito comum ouvimos o termo

“pentecoste ou pentecostais”, mas a falta de informação edeficiência teológica tem deixado muita confusão e dúvidasno ar. Por falta de interesse e um estudo sério das Escrituras,tem levado muitos a se desviarem da verdade, criando certostipos de convicções, ritos e doutrinas diferentes dosensinamentos e acontecimentos de Pentecoste.

É fácil observar o aparecimento de novas denominaçõesreligiosas tidas como “renovadas”, grupos de “restauraçãoespiritual”, ou “carismáticos” afirmando que foram reveladospelo Espírito Santo a assumirem tal postura.

Infelizmente, muitas distorcem a verdadeira tradição doPentecoste judaico e da Igreja Primitiva, cometendo abusos

e causando divisões e escândalos, transformando-se numareação em cadeia. Isto devido a uma deformação séria e emdefesa de interesses particulares, onde sua fé explícita nashomilias, usos, costumes e em rituais é mais eficiente numapregação emotivo/apelativa baseada no sentimento esofrimento do povo para chamar a atenção da massa sofrida.Estes fatos são totalmente divergentes da verdadeira igrejacristã que se baseia na “ação e prática do Evangelho”, com



CONTRADIÇÕES ATUAIS DO PENTECOSTE 59

base no amor de Deus manifesto em Cristo Jesus (Jo 3:16).

Mesmo antes de Cristo e fora dos padrões judaicos, haviaum outro pentecoste que a partir do século IV era usado comoreferência a um imposto cobrado pelo estado sobre asmercadorias no porto de Piraeus1.

Voltando ao nosso tempo e como descrito anteriormente,não é objetivo deste trabalho falar sobre a história, dosfundadores do atual movimento pentecostal, nem tão poucodos acontecimentos da Rua Azuza e de outras denominações

sobre a defesa de seus ideais. Pretende-se relatar, certaspráticas exacerbadas cometidas em certos movimentos derestauração ou mesmo carismáticas, que em termos derestauração ou mesmo carismáticos não têm nada.

O termo “carismático” é derivado do grego chárisma2,significando “dom; dote; mostra de benevolência”. Derivade cháris, que significa “doçura; encanto; favor; graça;respeito; reconhecimento”. No Novo Testamento é usada

segundo Barclay3 como:1º - Graça da vida cristã.

2º - Graça e perdão de Deus.

3º - Como dotes naturais do homem.

4º - Dom que é implantado no homem quando é ordenadoao ministério.

5º - Os dons especiais que podem ser exercidos no serviço

da Igreja.6º - É usado para o “salvamento divino numa situação

difícil”.

1 R. N. CHAMPLIN, Enciclopédia de Bíblia Teologia e filosofia, vol. 5, p.202.2 ca,risma3 W. BARCLAY, Palavras chaves do Novo Testamento, p. 40




A graça ou chárisma é o dom gratuito de Deus, é um favor

imerecido cedido ao homem, são os dons do Espírito Santo.É identificada com o Evangelho de Cristo, com o “Amor” eDeus é o agente deste dom. É usada como saudaçãosignificando “alegria”, pois alegria é um estado de paz,tranqüilidade, de festividade e isso é de caráter pessoal einterpessoal.

Práticas enfadonhas

Infelizmente o termo graça é mal interpretado por certaspessoas e líderes de alguns grupos, que a usam em beneficiode suas ideologias, fugindo ao seu verdadeiro significado emensagem.

As lideranças destes grupos ideológicos e separatistas,ainda com pensamentos nômades e tribais, exercem ocontrário dos exemplos da igreja primitiva e dos

acontecimentos no Pentecoste. A maioria destes sãofundamentalistas extremos e antiintelectuais. Qualquerpessoa que se interesse pelo estudo sério das Escrituras, sãoquestionados e criticados, sofrem com sanções e são taxadoscomo espinhos na carne, desprovidos da verdadeiraespiritualidade. Alegam que a letra mata, baseados em2Coríntios 3:5 e Romanos 2:29; 7:6 em que Paulo se refereaos legalistas.

Os cultos de algumas denominações são alienantes edesordenados, embalados com total êxtase, com práticassemelhantes aos antigos cultos pagãos da fertilidade, indomais além: culto aos mortos, idênticos aos afros, semelhantesaos cultos de mistérios e sessões espíritas. Os acontecimentosnestes trabalhos dizem - “tremendos”, querendo a todo custoexperiências sobrenaturais com Deus. Tais ações afrontamos ensinamentos bíblicos e ao Espírito Santo, servindo para a




criação de castas, onde uns são mais espirituais que os outros

e ai teremos crentes: quentes, fervorosos, mornos, frios ecarnais. Há uma verdadeira competição entre igrejas, cadauma querendo puxar mais membros para seu lado, gerandoconflitos e uma verdadeira luta entre pentecostais X nãopentecostais e pentecostais X neo-pentecostais, isto fora asinvestidas ideológicas e provocantes contra outras seitas,religiões e ao próprio catolicismo.

Algumas pessoas fixam formas de culto com bastante

barulho e entusiasmo. Uns utilizam tecnologia para alcançaro êxtase espiritual. Se o culto é formal e há silêncio, certaspessoas dizem – ser “frios” e, portanto, não há manifestaçãodo Espírito Santo e de poder. Outras, em ousadia, julgam edeclaram que há pecado dentro desta Igreja e o Espírito Santonão opera onde se encontra o pecado.

Certos cultos radicais, são totalmente místicos edesordenados, em que aparecem línguas estranhas, com

resmungos, gargarejos, sons desconexos e fenômenospsicossomáticos em total êxtase sem edificação para o corpode Cristo. Muitos dizem que são dons que edificam o corpo ea pessoa é a evidência da presença do Espírito Santo. Naverdade é dom para uma edificação egocêntrica do querer“ser e aparecer” como alguns faziam na igreja de Corinto.Apresentam normas que para ser batizado com EspíritoSanto tem que falar em línguas ou manifestar na pessoa uma

reação diferente ou algo de estranho, tido como fenômenosespirituais.

Pessoas desprovidas de maturidade espiritual e aquelasque vivem de igreja em igreja, facilmente são manipuladas eembarcam nessa onda buscando mistérios, revelações eprofecias. Outros por pressão psicológica buscam soluçõespara problemas familiares, amorosos, financeiros e espirituais.Também há os que querem acima de tudo prosperidade




material e muito dinheiro. Muitos entram facilmente nestes

movimentos, o futuro, o sobrenatural e a prosperidadefinanceira, são iscas para o povão e despertam os interessesde qualquer pessoa sem maturidade espiritual, como tambémas egoístas e ambiciosas.

Outro fator é a curiosidade pelo sobrenatural e aprognosticação que seduz facilmente as massas popularesatravés do sensacionalismo, tornando um prato cheio paracertos líderes espalhafatos, sectariando pessoas que se

interessam pelo desconhecido, o futurismo e dinheiro. Estasações resultam numa inversão de valores, levando a pessoaa total alienação.

O homem como animal racional da ordem dos mamíferostem sentimentos, emociona-se, tem necessidades que quersuprir, problemas que quer resolver, aliviar dores esofrimentos. Estes são fatores ligados à própria existênciahumana explorada por tais facínoras. Neste ponto,

ultrapassam os limites da fé, da razão e da lógica gerandofanatismo, confusões e distorções das Escrituras. Pessoas quenão aderem a tais movimentos são taxados de frios, carnais,apóstatas, incrédulos, etc.

Infelizmente alguns dão shows, verdadeiros espetáculos,servindo de chacotas, piadas e maldizeres para os não cristãose até mesmo para outros cristãos. Agemcinematograficamente no meio das ruas, pontos de ônibus,

televisão etc, e geram desconforto para pessoas sérias.Em certos cultos não há reverência, nem ordem e tão

pouco decência a Palavra de Deus. Atrapalham osverdadeiros sermões inspirados pelo Espírito Santo. Os cultossão cheios de confusão, o contrário ao da igreja primitiva eaos ensinamentos de Paulo (1Co 14: 26-40).

Os sermões são cheios de chavões e há muita panfletagem.Verdadeiros slogans são a base de manutenção de suas




ideologias e iscas para o público. As pessoas são usadas como

peças anatômicas de seus métodos de cura e de solução deproblemas. E, o principal de tudo, ou seja, o objetivo principalé a “rotulação”, o “marketing” de ser sua denominação aretentora da graça, do poder e da revelação.

Observamos o nome de Jesus sendo usado como chavãonas retóricas, como uma espécie de fórmula mágica para seconseguir alguma coisa ou bênçãos, dando suportes paracertas crendices. Outro aspecto relacionado com o nome de

Jesus e seus atributos é a ênfase e engrandecimento do egopromovendo a vaidade pessoal. Estes fatos e ações levam auma vulgarização do Nome de Cristo promovendo umachantagem espiritual sendo este Nome usado como umcondicional para adquirir graça 4.

Dentre outros fatores, as línguas estranhas são fenômenosestonteantes visíveis e audíveis nestes trabalhos. Nelesencontramos verdadeiras onomatopéias glossolálicas.

Algumas pessoas em estado de êxtase falam através decondicionamentos mentais, são viciados em línguasestranhas, uma verdadeira glossolatria. Uns falam porquegostam, se encantam ao ouvir e falar e querem chamar aatenção para sua espiritualidade e acham mesmo bonito orarem voz alta. Neste aspecto, há uma verdadeira“glossomania”, pois adoram ouvir e repetir certos sonsdizendo que é do Espírito Santo.

Em muitos cultos, abrem espaço para verdadeirasmanifestações de euforia psíquicas e estados hipnóticos, comorisos, choros, uivos, gargarejos, etc. Aparecem tambémfenômenos psicossomáticos, como grudar no banco, sentir

4 Esta exposição é tratada de forma clara pelo pastor Francisco ManceboReis em seu livro “Linguagem e Teologia” no décimo segundo capítulo, cujotítulo Uma expressão bíblica e a manipulação do sagrado.




cheiro de perfumes, tremedeiras, desmaios, (dizendo ser

arrebatamento). Uma verdadeira imitação dos cultos pagãosantigos, e cultos do baixo espiritismo. Outras, infelizmente,parecem estar dopadas. Tais ações afetam ou demonstramfalta do equilíbrio emocional e da índole. Estes manipuladorese manipulados são cada vez mais supersticiosos e emocionais,fundamentalistas e separatistas que querem o proselitismo atodo custo, incluso as questões relacionadas com dinheiro,coletas, dízimos e ofertas agindo e se escondendo atrás do

nome de Cristo.Na Bíblia não encontramos tais exemplos, pois o culto na

Igreja Primeva era com ordem e decência. Assisti um cultocerta vez, quando o pregador mandou as pessoas estenderemos braços, contaria até três e as pessoas não conseguiriamvoltar o braço na posição normal. Assim fez, e muitos ficaramcom o braço duro. Pergunto: o que isto tem a ver com apregação da Palavra? O que tal ação serviu para edificação

da Igreja? O que mudou na vida das pessoas? Ali ocorreuum fenômeno psíquico, de auto-sugestão de condicionamentomanipulado mentalmente, ocorrido também em cultos do baixo espiritismo, um verdadeiro estado de hipnose e nãopoder de Deus.

Em certas denominações, não há um culto espiritual sema presença de demônios. Fazem verdadeiros shows deexorcismo, com diálogos e entrevistas aos demônios,

questionamentos tais como: de onde você vem? Como sechama? Qual seu objetivo? Você gosta desta igreja? De qualigreja você gosta? Procuram desfazer de outras igrejas,querendo engrandecer a sua e conquistar o maior númerode prosélitos possíveis. Expõe as pessoas ao ridículo, fazendo-as babar, chorar, rolar como se fossem um animaldomesticado e até falando intimidades, isto em um totalestado hipnótico, demonstrando falta de sabedoria e ética.




Infelizmente, certas pessoas dão mais poder,

engrandecimento e notoriedade ao maligno do que aoevangelho em sua finalidade primeira. Produzem lutas epromovem guerras com verdadeiras batalhas espirituais comocentro de ensino e liturgia. Nas palavras de Lopes,

“Produzindo um cristianismo distorcido, deformado,reduzido e incompleto, negligenciando a obra redentora eexpiatória de Cristo. Seus ensinamentos, a salvação pelafé, mediante o sacrifício na cruz do Calvário” 5.

Descrevem Satanás como se fosse uma pessoa comliberdade total para fazer o que bem quiser e governar omundo. Atribuem aos demônios todos os problemas como:os conjugais, guerra, fome, doenças, uso de drogas, etc. Estessão liderados pelo próprio Satanás que faz o que quer e trataas pessoas como marionetes.

Alguns “voadores espirituais” inventam demônios de todo

tipo, alguns dizem que se olharmos para o céu com os olhosda fé, veremos o céu todo nublado, escuro, como se fosse umeclipse solar de tanto demônio que está em cima querendoatacar e destruir toda humanidade.

Infelizmente, já saiu na mídia e na internet que certoslíderes religiosos ensinam aos seus colaboradores comomanipular o povo. Descrevem como devem falar do amorde Deus aos menos favorecidos, simples e humildes, depois

fazem piadas e chacotas destas pessoas. Será que Jesusquando fez um milagre debochou daqueles a quem tinha beneficiado? Será que quando falou para a mulhersamaritana depois debochou dela com seus discípulos e achamou de adúltera?

5 A. N. LOPES. A batalha espiritual em perspectiva. In: A. S. MATOS. Fécristã e misticismo, p. 133 – 135.




Reflitamos sobre nossas palavras e práticas para com o

próximo e as almas carentes de libertação e solução deproblemas como verdadeiros pastores e servos de Deus.

Promovendo guerras espirituais As guerras declaradas contra o próprio Satã e suas

potestades são mal entendidas e nada inteligível sendo que,a Bíblia nos ensina que a vitória é nossa por Jesus (1Co 15:57;1Jo 5:4). Estes tais que convocam para a guerra não discernem

guerra e batalha, descrevendo-as como epopéias e ilíadascheias de fantasias, induzindo os fiéis a confusão.

O termo “guerra” destina-se a um conflito armado entrenações, povos, populações, famílias, por motivos econômicos,sociais religiosos, busca de poder, dominação, riquezas,libertação da escravidão etc. Neste aspecto a guerra religiosadeclarada por eles é direta contra Satanás e suas hostes paralibertação da escravidão maligna e do pecado. Misturam e

inventam lutas, pelejas e batalhas, baseando em Efésios 6:12.Horton salienta sobre este assunto da seguinte forma:

A batalha espiritual que Paulo descreve em Efésios nadamais é senão a proclamação e defesa do evangelho de Cristocrucificado (...). Observe que esta batalha não é vaga;concentra na verdade e no erro em vez de meramentemostrar sua força em “lutas de poder”. O diabo quer destruir o evangelho, e a igreja está lutando para preservá-

lo e proclamá-lo até que sepulte em obscuridade as defesasdemoníacas. Nenhuma arma é coitada aqui, da qual ocristão se utilize nesse tipo de “batalha espiritual”, ondese vêem em campanhas onde o espírito disso ou demôniodaquilo é “amarrado”. Paulo está apenas usando umametáfora de batalha terrestre para figurar a verdadeiraguerra espiritual pela vitória do evangelho6.

6 M. S. HORTON, Religião de poder, p. 14.




Guerra, lutas, batalhas, pelejas são todas figuras de

linguagem e estilos literários bíblicos, mas hoje querem“prender” o demônio “amarrar” com algemas e cordas,reportá-lo e transportá-lo, isso quando não o invocam antes.

Cristo e os evangelhos não nos ensinam nada disso acimadescrito. Ele não manda conversar nem tão pouco dialogarcom o diabo e os demônios, não manda amarrá-lo, Ele nosensina: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espíritona verdade, está pronto, mas a carne é fraca. (Mt 26:41). Mas se

porventura nos depararmos com as tentações devemosaprender com Tiago capítulo 4: Sujeitai-vos, pois, a Deus; resistiao Diabo, e ele fugirá de vós (v. 7). Chegai-vos, para Deus, e elechegará a vós (v. 8 a).

Construindo ídolos e amuletosAlguns líderes espirituais e certos membros constroem

ídolos abstratos, pois querem seu engrandecimento, compráticas de fetichismo e fanatismo em vez de fé autêntica efidelidade ao evangelho. Outros cultos carismáticos servempara adorar ou confirmar sua fé nos ídolos concretosdefendendo assim a adoração e veneração de outros santosa não ser Jesus.

Desenvolvem cultos espiritualísticos que na verdade sãocultos a personalidade humana, envolvendo a mídia paradesenvolver o status quo, como forma de apresentar carismaou de exaltar o líder7.

Usam de programas tele-evangelístico para sensibilizar opúblico e chamar a atenção. Outros usam da fé e dos fiéispara assumirem cargos públicos de altos níveis político para

7 P. ROMEIRO, em seu livro Evangélicos em crise, p. 51-62 desenvolve esteassunto de forma clara no capítulo 3 sob o título “O culto à personalidade”.




complemento estes, como: crentes “barraqueiros”

“estelionatários da fé”, “facínoras”.

Prosperidade e acumulo de capitalOutros grupos trabalham os ensinamentos de Cristo e o

Evangelho voltado para o capital. Um exemplo claro é umaramificação da teologia da prosperidade. Ensinam estes queos problemas como falta de dinheiro e doenças indicam faltade fé e que a fé é o caminho para o sucesso tanto profissional,

material e espiritual. O crente deve rejeitar a miséria materiale tomar posse da riqueza, pois Deus é o dono do ouro e daprata. As orações são fervorosas, “exigindo” de Deusprosperidade.

Por natureza o servo de Deus é próspero. Se ele sabeadministrar as finanças, não gasta dinheiro aleatoriamente,os recursos que seriam gastos com bebediçes, fumos,prostituição etc., são investidos em outras coisas.

Infelizmente, muitos que não conseguem a riqueza eprosperidade, frustram-se e não querem saber mais doEvangelho. Uns, caem em depressão e buscam auxilio emoutros grupos religiosos sejam cristãos ou não-cristãos, outrosse entregam aos remédios e as drogas.

Nos cultos, ao invés do Espírito Santo operar, eles queremoperar o Espírito Santo conforme o seu bem querer, parasatisfazer seus desejos. Estes não se converteram ao

evangelho de Cristo, mas querem converter o Evangelho aoseu modelo de vida e pensamento. Muitas revelações eprofecias são fantasiosas, alguns até adivinham opensamento, a necessidade, o desejo e certas práticascometidas, tudo por causa de um sentimentalismo, podendoconhecer ou não o destinatário.

9 J. M. COSTA, Porque Deus condena o espiritismo, p.233.




Nos cultos sensacionalistas há abusos de milagres e poder,

afirmando, dizem, pela “fé”, a cura ou recebimento de donsou soluções de problemas.

Como podem afirmar certos tipos de cura se não sãomédicos e tão pouco dispõem de materiais especiais etecnologia para diagnósticos? Creio que Deus cura, mas sehouve cura, há a necessidade de confirmação clínicaespecializada. Se houve confirmação médica então houvemilagre.

Na igreja primeva havia um ambiente ordeiro e Deus agianeste ambiente. Hoje muitos criam um ambiente emocionale manipulativo para Deus operar produzindo experiênciasestonteantes com aparências de piedades. Transcendem asverdades do Pentecoste original para o pentecoste“extraordinário e espetacular” negligenciando qualquerembasamento histórico-teológico bíblico.

A experiência do Pentecoste pela Igreja primitiva foi

unificadora pela presença do Espírito Santo, sendo pluriformena vida individual e coletiva transformando opiniões e omundo pelo Evangelho libertador. O discurso de Pedrorevelou que o Espírito não é para um grupo isolado depessoas, judeus ou os mais religiosos doutrinais, mas paratodos que cressem em Cristo.

Repensando as práticasO interessante em observar em certas pessoas que se

julgam espirituais são seus atos e ações; alguns não vivem bem com seus familiares, com vizinhos, não se relacionamno ambiente de trabalho, são polêmicos, têm nome sujo nocomércio, são descontrolados emocionalmente, vivendocontrariamente com os frutos do Espírito registrado emGálatas 5.




Que tipo de pentecostal é este? Que tipo de pentecoste é

isso? Que tipo de indivíduos que só querem manipular eextorquir os outros? Como é que tais pessoas produzem frutose se produzem algum, que tipos de frutos são estes? Pentecosteé festa da continuação da libertação; que tipo de libertaçãoessas pessoas tem? Se Pentecoste é a festa da colheita e aapresentação a Deus das primícias do fruto, que colheita éessa e que fruto é esse que apresentam ao Senhor? Estes estãono Pentecostes, mas não passaram pela Páscoa que é a nossa

libertação mediante da obra expiatória de Cristo.A Igreja como corpo de Cristo de acordo com Costa H.,

(...) encontra sua vocação no ato de Culto, no qual revelapublicamente o significado de Deus para sua vida, tornandopúblico o que Deus fez... Contudo, é importante que frisemosque o Culto não é uma feira livre, na qual expomos o queDeus fez e convidamos os freqüentadores a fazerem uma“fezinha” nEle... Não! O Culto é um testemunho solene,

público das “Virtudes de Deus” (...)9.

Neste aspecto o Culto a Deus é feito com amor, dedicaçãoe com atitudes éticas de amor, respeito e solidariedade, comcompromisso consigo, com o próximo e com Deus, isto é“comunhão”. É ter consciência daquilo que se está fazendo,a quem cultua e por que se cultua, como se cultua, ter ciênciae consciência daquilo que se fala, entendimento no que ouve,

isto é um culto inteligível e prazeroso.E você leitor, você planta e colhe aquilo que semeou e o

que tem apresentado a Deus? Que tipo de frutos tem dado?Que tipo de culto você tem oferecido a Deus?

Pentecoste também é uma reflexão dos atos diários denossa vida e experiência pessoal e coletiva como aconteceu

9 H. M. P. COSTA, Teologia do culto, p. 29




em Atos. O Espírito Santo não é um privilégio para alguns,

mas uma necessidade na vida de “Todos os Homens”.



Em muitos movimentos pentecostais e neopentecostais,observamos cultos específicos de avivamento e dereavivamento. O verbo avivar significa “tornar vivo, ativo,

intenso; restaurar”. Já o substantivo masculino avivamentosignifica “o ato de avivar; avivar muito; estimular; reacendero fogo”.

Algumas denominações cristãs promovem trabalhosavivalísticos, vemos nestes um grande reboliço, com ênfaseao “poder de Deus” e “enchimento do Espírito Santo”.Muitas pessoas entram nestes cultos para buscar poder, donsespirituais, curas etc. Uns querem realmente um verdadeiro

contato e experiência com Deus e receber alguma benção ouvirtude. Mas, outros não. Infelizmente algumas pessoas nãotêm capacidade moral e nem tão pouco espiritual para buscare receber estes dons e bênçãos. Muitos são fanáticos,exibicionistas, têm seu nome sujo no mercado, não têm umavida familiar digna, dão mal testemunho, e querem “poderespiritual”. Na verdade, o que querem é “poder material estatus”, e estes tais, necessitam primeiro de conversão.

Capítulo 8

Avivamento eReavivamento




Dinâmica do poder

Certas pessoas centralizam o culto e a mensagem no“poder”, ela é distinta e enfocada a todo instante. Dizem quea igreja precisa de poder, poder e poder e não de outra coisapara vencer o pecado e as forças de Satanás. Poder no grego bíblico é dínamis1, significa “poder; força física ou idiomática;potência; excelência moral; hostes; eficácia; virtude; valor”.Buscam não o poder carnal (dizem), mas espiritual. Queremdestaque espiritual e esquecem que o termo dínamis designa

também o “dinamismo” da qual muitos não têm, que é aeficácia de análise e soluções de problemas, a virtude do amorsem distinção de pessoas ou credo e o valor da vida comunitáriaem busca do bem estar comum. A Ética na maioria dos casosé deixada de lado, pois, sem ela não haveria judaísmo ecristianismo que são religiões totalmente fundamentadas nela.

Culto corporativo e reforma

espiritualMuitos líderes carismáticos e tidos como pentecostaisavivados e avivadores trocam uma teologia séria pelaideologia, causando um declínio moral e espiritual doevangelho e de toda cristandade. Proclamam-se reformadoresprocurando restaurar a vontade divina para o homem deacordo com a Bíblia. Mas que reforma é essa que fazem?Infelizmente reformam outra coisa “o desvio da fé, da

verdadeira espiritualidade e interpretação bíblica”.A verdadeira reforma segundo Nettles

(...) corrige erros de interpretação; conferem precisão,coerência e coragem para uma confissão de fé; e dá formae energia ao culto corporativo ao Deus Triúno. Embora areforma deva ser um processo contínuo em cada igreja e

1 du,namij



AVIVAMENTO E PENTECOSTE 75

no Corpo de Cristo em todo mundo, as maiores

demonstrações de reforma são dadas em tempo de grandedeclínio teológico, moral, espiritual e eclesiológico. 2

Observamos que a reforma deve ser a todo instante emnossa vida. É a verdadeira avaliação de nossas ações ereações, com correção dos erros, isto é crescerespiritualmente, tornar-se maduro e preparado para a vidacristã. Infelizmente o que vemos em certos movimentos é um

declínio moral-teológico e ético, no qual os ´cabeças´ são osverdadeiros inspirados e detentores da autoridade reveladapor Deus. Portanto, o questionamento até mesmo teológicoé morto, pois a “letra mata” e tais pessoas são “um espinhona carne”.

Emocionalismo, um câncer degenerativo

Uma das qualidades encontrada em certos líderesespirituais é o de “magismo”. Alguns são verdadeiros magosespirituais, com seus métodos de transferência de unção,poder, de santidade. Fazem isto tão natural que até pareceum jogo de futebol, com toques, lançamentos, ataques econtra-ataques. Absolutizam o evangelho e inventam modas,usos e costumes para a santificação. Alguns dão aulas até deglossolalia, promovem seminários com métodos para

alcançar o dom de línguas. Em suas literaturas especiaisincentivam a leitura e a meditar nelas, pois, ao lerem estas,podem alcançar o dom de línguas.

Outros querem até mesmo adivinhar o futuro das pessoaspelo seu falar usando da glossomancia de pessoas

2 Tom NETTLES, Um caminho melhor; crescimento de igreja através dereavivamento e reforma. In: M. S. HORTON, Religião de poder, p.134.




glossomaníacas. Dentre outras práticas supersticiosas, há uma

verdadeira bibliomancia, em que certas pessoas abrem a Bíbliaaleatoriamente para ver o que Deus quer falar com elas.

Em muitos cultos avivalisticos pessoas entram,emocionam-se e saem da mesma forma que entraram ou pior,pois seus testemunhos e práticas não são lícitos com osensinamentos de Cristo e dos apóstolos. Não discernem“pentecoste de avivamento espiritual” e nem tão pouco“santificação”. Muitos se enchem do Espírito somente em

dias festivos, quando acaba a festa é necessário promoveroutra para ter espiritualidade e ser cheio novamente doEspírito Santo.

Neste aspecto, qual seria a necessidade da pessoa, de todosnós e da Igreja? Respondo da seguinte forma:

a) Na pregação de João Batista e de Cristo a primeira coisaque ouvimos foi arrependei-vos (Mt 3:2; 4:17).

b) Para haver arrependimento, há a necessidade de ouvir aPalavra e crer (Rm 10:17).

c) Para crer têm que ter fé.

d) A fé leva a conversão e justificação (Rm 4:28).

e) A conversão ocorre a todo o momento de nossa vida, poisela é continuada pelas nossas ações e reflexões docotidiano.

Arrependimento é ação e reflexãoVoltemos ao arrependimento. O termo hebraico para

arrependei-vos é o imperativo xuvu3, derivado de laxuv,significando: arrepender-se, regressar, retornar, converter,reverter. Este verbo nos relata que devemos nos desviar domal e voltar-nos para o bem. Encontramos etimologicamente

3 WvWv



AVIVAMENTO E PENTECOSTE 77

acerca deste verbo hebraico o substantivo feminino texuvá4,

significando “arrependimento, retorno”.No NTG (Novo Testamento Grego) temos o verbo no

imperativo presente metanoeíte5, para designar “arrependei-vos”. Este termo usado tanto por João Batista como Jesus,significa “mudança profunda e radical da mente, das atitudes,emoções, de parecer”. É a transformação de uma vidapecaminosa em uma vida de santidade, assim podemos dizer,é um novo descobrimento: o de Cristo em nossa vida percebido

pelas pessoas através do testemunho pessoal e interpessoal.O verbo metanoeíte é composto pela preposição metá,

significando “para com; contra; depois de; além de; emdireção de; junto de; e o substantivo masculino nóos quesignifica “mente; faculdade de pensar; inteligência; alma;razão”. Estes termos juntos que em nossa tradução é o verboarrepender, nos dão a idéia de que sua ação em nossa vida(arrependimento) abrange a lógica, a razão humana

mediante a fé que “leva-nos a uma mudança interior que semanifesta exteriormente”. Isto é, testemunho e práxis.

Portanto, o arrependimento envolve o homem por completo,no seu espírito, na sua alma e no seu corpo. É uma mudançaradical no viver, agir e pensar, é o novo nascimento, onde ascoisas velhas já passaram e tudo se fez novo (2Co 5:17).

Se morarmos na região sudeste do Brasil, planejamos irpara Brasília e tomamos uma estrada para Porto Alegre o

que devemos fazer? Retornar. Assim é na vida espiritual, oarrependimento é voltar atrás, é converter, mudar de direçãoe seguir em frente. Se este retorno, o voltar atrás não estiverna vida do cristão, então, nunca haverá avivamento oureavivamento. Para receber qualquer avivamento não é

4 hbWvT.5 metanoei/te




necessário somente “crer e receber”, como salienta certos

pregadores “animadores de palco”, mas arrepender, mudarde atitude para avivar e continuar vivo.

A mudança de atitude e inclinar-se para o bem é a“santificação” sem a qual nenhuma pessoa poderá ver a Deus(Hb 12:14). Para santificar-se é necessária a maturidade ecuidados especiais com o corpo, o “templo do Espírito”, pois“saúde espiritual é tão visível quanto a saúde física” 6 .

Esta vida é caracterizada pelo fruto do Espírito, com seu

testemunho, sua humildade e fidelidade, que são marcas da“santidade no temor de Deus”7. Esta característica do cristãoestá em sua experiência pessoal com Deus.

O avivamento tem que ser constante em nossa vida, écomo abastecer o carro com combustível de boa qualidadepara poder viajar, é fazer uma revisão preventiva “e não seruma obra de arte copiada de outro artista”, ou seja, umamera reprodução ou falsificação do original.

Um culto avivado é desenvolvido com amor, respeito aPalavra de Deus e ao próximo, é estar ligado ao trono daGraça, é se relacionar com Deus, é encontrarmos com Deuse sermos submissos a ele, não em rituais alienantes, mas noEspírito. Barros fortalece este argumento da seguinte forma:

“O que agrada a Deus é o culto em que entra o entendimento,a razão, a mente, a meditação e em que a vida santa se

torne agradável a Deus”

8

.

Para o desenvolvimento deste culto espiritual dependeráde nossa obediência, dedicação, principalmente pela fé e peloamor. Para estar no Pentecostes, avivar e reavivar, antes,tem que se passar pela Páscoa.

6 D. GEE, Pentecoste, p.45.7 Id., Depois do Pentecoste, p.9.8

S. P. BARROS, Análise de dom de línguas, p.49.



Os ensinamentos de Pentecoste abrangem todo o serhumano, seu espírito, alma e corpo. Abrange a Igreja, acomunidade em que vive o homem, seu trabalho, família, ou

seja, onde ele estiver. É uma verdadeira lição de vida, dealegria, solidariedade, agradecimento e de servir ao Senhor(Dt 16:11). É o dia da santa convocação, de reflexão eagradecimento a Deus pelo que tem feito por nós. É nossaoferta e agradecimento pelo que temos e produzimos, nãosomente no material, mas principalmente no espiritual.

Enquanto a Páscoa é uma festa reservada para a família judaica1, Pentecostes é uma festa aberta a todos. Indica uma

associação pacífica com Deus, com o homem, sua criação,com o trabalho humano e a natureza em agradecimentoconstante pelos favores concedidos. Não é somente umafestividade de receber, mas de dar e doar, de solidariedadeonde os menos favorecidos podem participar, incentivadospela Palavra de Deus (Lv 23:22). É a alegria de sociabilizar-

Capítulo 9

Aprendendo com oPentecoste

1 Cf. M. MAGALHÃES op cit.




se, comunhão perene com o próximo e para com Deus. É um

verdadeiro modelo de comportamento e de vida.Pentecoste retrata a união pelo evangelho, na luta para

manter os bons costumes e ensinamentos de Jesus e dosapóstolos e não a divisão e o querer o proselitismo para seusistema religioso desfazendo das outras denominaçõesreligiosas. É o lutar contra as artimanhas do maligno, opecado, idolatria, a imoralidade, libertinagem, o preconceitoe a divisão.

Pentecoste é o comprometimento com a Palavra santa elibertadora. Está ligada com a morte e a ressurreição, ou seja,o Novo Nascimento, a verdadeira Conversão; a semente dotrigo precisa morrer para nascer. No Pentecoste, Evangelhoe Espírito Santo não são provados somente de uma única sóvez, mas são contínuos no dia-a-dia em nossa vida. É aformação continuada de nossa existência como seres éticosde acordo com os ensinamentos de Cristo, que requer uma

avaliação constate de nossos atos e ações.O Espírito Santo é o selo de nossa regeneração pela obra

expiatória de Cristo, o novo nascimento mediante a conversãoe pela remissão dos pecados. Todo crente deve ser cheio doEspírito Santo, a não ser assim, não é um verdadeiro servo oucristão autêntico (Jo 3:3-6; Rm 8:9-15; 1Jo 5:1; Ef 1:13 e 4:30).

Atuação ilimitada do Espírito SantoNo Antigo Testamento a atuação do Espírito Santo era

em pessoas isoladas, em determinados momentos. Com aressurreição, Jesus dá aos discípulos o Espírito Santo.Passados 10 dias da Ascensão começa a ação do Espíritosobre a Igreja no Pentecoste. A ação do Espírito não segue osmodelos do Antigo Testamento, de forma isolada e emalgumas pessoas, mas em toda Igreja, em todas as pessoas



APRENDENDO COM O PENTECOSTE 81

que aceitaram a Cristo em suas vidas e são transformadas

pela Palavra do Evangelho.Assim como Deus deu a Torá a Moisés no Sinai, Cristo

nos deu uma nova Lei, selada com o Espírito Santo no dia dePentecoste, para que todo povo se regozije e apresente-se aoSenhor como verdadeiro servo, ofertando a Deus as primíciasdaquilo que plantou e colheu.

Ao ler, interpretar e pôr em prática o evangelho estamosplantando boas sementes que darão bons frutos, e estes frutos

serão apresentados ao Senhor. Para que isto aconteça o cristãotem que ter como colaborador o Espírito Santo em sua vida.Assim como a ferramenta auxilia o trabalhador em seu labor, ocristão deve deixar o Espírito auxilia-lo. Pois, sem ele não háuma verdadeira colheita, ou seja, não há um genuíno Pentecoste.

Comprometidos com o Evangelho doreino

Outro ensinamento maravilhoso é o comprometimentoque todos devemos ter com a Palavra e os mandamentos deCristo, com organização e decência como foi o caso da igrejaprimitiva no dia de Pentecoste, que estava reunida esperandoa promessa do Senhor.

O mais interessante nestes ensinamentos é a quebra de barreiras separatistas e a uniformidade do falar do evangelho

a língua universal da Igreja. É ser cheio do Espírito Santo,pelo testemunho pessoal e coletivo tendo o amor como basee razão.

Neste aspecto, os orgulhos excessivos, da antiga Babel,sua confusão e divisão, foram extirpados, e o Espírito Santoatuou como unificador e instaurador da ordem.

É o tempo da Igreja, de trabalhar na causa do evangelho,preparar e cultivar a terra e colher os frutos para apresentar




ao Senhor. O Espírito Santo é a ferramenta que capacita e

auxilia o trabalho na lavoura de Deus.É a própria Xehiná2 de Deus, é Sua presença poderosa,

sobre a criação e sobre o homem, pois Xehiná é a presença eexperiência com Deus, sua imanência. É o repouso do Senhorsobre Seu povo.

Pentecoste também é transformação interior e exteriormanifestada na vida pelo Espírito Santo, como foi na IgrejaPrimeva em Atos 2, onde as pessoas perceberam pelos

sentidos da visão e audição que havia algo diferente na vidadaquelas pessoas. Isto é caracterizado pelo nosso testemunho,nossa maneira de falar, agir e sentir, não dando respaldo e odireito para os outros nos acusarem de falso testemunho eque nossos atos não condizem com nossas palavras.

Os acontecimentos em Pentecoste são a prova completada obra redentora de Cristo, de onde tiramos evidências deaprendizagem do Espírito Santo na vida do servo: conversão,

humildade, amor, fé, dedicação, respeito, honestidade,unidade do corpo de Cristo, santificação, observação dosensinamentos e busca de conhecimento de Deus. Todos estesque são visíveis a todas as pessoas, são características do Frutodo Espírito e, sobretudo, “objeto de prática no nosso dia-a-dia”.

A verdadeira Igreja nascida pelo Espírito tem que seraquela que apresente “resultados espirituais” e estes devem

ser visíveis. A primeira coisa quando falamos em igrejapensamos em templo e muitos rotulam este termo. Um corpoé formado por várias partes e o que o comanda é a cabeça.Neste aspecto, Cristo é a cabeça do corpo (Ef 1:22), ou seja oguia, aquele que comanda (Ef 4:15) e é esta cabeça é quesintoniza todos os membros (Cl 1:18).

2 hnykiv.



APRENDENDO COM O PENTECOSTE 83

Quando aprendemos tais coisas, deixamos Cristo no

comando e o Espírito atua como foi o caso da Igreja primeva.Diante destes fatos há resultados positivos e verdadeiramenteespirituais. Há salvação de vidas, conscientização, verdadeiraorientação espiritual, libertação de oprimidos e, testemunhosautênticos de verdadeiros salvos e libertos, glorificação doNome de Cristo e muito mais. Estes aspectos são evidênciasdo Fruto do Espírito e demonstra o verdadeiro crescimento eamadurecimento espiritual, tanto individual como coletivo.

Todo culto deve ser de caráter pentecostal, ter umambiente alegre, festivo, organizado, decente não alienantee manipulativo, mas com ações de graças, respeito pelaPalavra, louvores espirituais vindo do coração, não de lábiosmecânicos e mentes condicionadas.

No verdadeiro culto espiritual, Cristo se faz presente equando Ele se faz presente, alguma coisa muda, há ação ereflexão, algo novo acontece e tudo isso depende de cada

um de nós.



Esta é uma questão muito melindrosa, podemos dizer aoextremo, delicada, pois envolve pessoas, seres humanos.Envolve pensamentos, interpretação das Escrituras, maneirade ser e agir, fé e a própria cultura.

O homem tem liberdade para escolher, inventar, seguir aforma de vida que quer levar, e o seu comportamento. Tudoisto, leva-se em conta a atitude.

Deus deu o homem condição para escolher, deu ao homemliberdade e nós a chamamos de Livre Arbítrio. No entanto,segundo Savater, nossa liberdade é limitada, pois somoshomens finitos e mortais e muitas coisas não dependem denossa escolha. Ele nos dá uma brilhante explanação sobre a

liberdade de escolha e argumenta:

“Pois não somos livres para escolher o que nos acontece(...). A liberdade consiste em escolher dentro do possível(...) há coisas que dependem de minha vontade (e isso é ser livre), mas nem tudo depende de minha vontade (senão seriaonipotente)1.

Capítulo 10

Ser ou Não Ser pentecostal? Falar ou

Não em Línguas?

1 F. SAVATER. Ética para meu filho, p. 28 e 29.




A condição para ser ou não pentecostal é uma questão de

escolha, de interpretação, de sentir-se bem, de realização,ética e principalmente de fé. Falar ou não em línguas envolveestes mesmos princípios e vai de acordo com cada um e deacordo com a “denominação que escolheu para congregar”.Cabe a nós respeito e seriedade para com cada um. Eu possoou não concordar com os outros, mas eu tenho que respeitaras suas posições.

Certas igrejas ainda andam divididas em fundamentos

ideológicos e separatistas. É preciso avaliar e reavaliar nossasações e atitudes, buscar sim uma renovação espiritual a todoo momento, como também uma renovação material, ou seja,uma renovação da estrutura de vida, de objetivos,pensamentos e das relações interpessoais.

Às vezes pensamos mais no social, principalmente nasfestas e festas em que o povão se reúne aos montes. Reuniõesdiversificadas com objetivos diversos, movimentos de

renovação, ajudas aos menos favorecidos, humanitárias etc.Esquecemos do espiritual, tanto individual, como coletivo,do verdadeiro estudo sério da Escrituras Sagradas, dapromoção de um verdadeiro ensino e principalmente daeducação. Da preparação e formação de pessoas críticas eautônomas, que saibam viver com liberdade e respeito,verdadeiros líderes e construtores do saber. É óbvio que osocial não tem como se separar do espiritual - são como carne

e osso, um sustenta o outro. A grande questão é a seguinte:em que isso ou aquilo vai fazer diferença na minha vida e navida dos outros? Em que isso ou aquilo vai transformar asociedade? A resposta disto cabe uma avaliação e umareavaliação de nossos atos e atitudes para com toda acomunidade.

Uma igreja não pode se concentrar simplesmente emmovimentos isolados, sob atuação de rituais e formalismos,



SER OU NÃO SER PENTECOSTAL? FALAR OU NÃO EM LÍNGUAS? 87

normatizações e regras. Isto é vantagem para ditadores que

querem somente cordeirinhos, que possam se levados peloqueixo para onde for a vontade deste líder. Ela não pode serestática, presa em rituais e em quatro paredes, mas dinâmica.Ela tem que tomar sua posição, como Igreja de Cristo nascidano Pentecoste, reconhecendo o valor do equilíbrio espirituale material, onde são apresentados os frutos do Espírito.

Administrando as diferenças

Há várias denominações religiosas, mas a igreja de Cristoé uma somente. Não existe igreja material e espiritual, masum corpo com seus vários membros e uma cabeça que osrege. Nelas, Cristo atua de forma pluriforme, o que mudasão as diferentes formas de cultura, ou seja, omulticulturalismo, que para alguns é uma forma defragmentação da vida social, mas a indiferença está nohomem que não reconhece as diferenças que o cerca, nãosabe compreendê-las e trabalhá-las.

Aprender com as diferenças é aprender a lidar com aspessoas, é respeito e amor. É colocar de lado a discriminaçãoe o preconceito que na atual sociedade impera. É formar umaconsciência coletiva onde o espiritual, o intelectual e a“prática” são uma.

As divergências ideológicas levam ao separatismo, ao

isolamento e geram o fundamentalismo e certas formas deguetos religiosos. Levam a dominação de uma única culturanegando o direito de outros povos e pessoas de viverem comliberdade, absolutizando as formas de culto e adoração. Estasideologias totalitárias negam os direitos dos outros e oresultado é: injustiça, violência, exclusão social, teocentrismodeturpado, fundamentalismo, falta de democracia e muitaviolência.




Devemos aprender com a igreja primeva, onde a alegria,

o amor, a comunhão, paz, harmonia reinavam sob a atuaçãodo Espírito. Eles haviam aprendido com Cristo e deixadopara nós estes ensinamentos registrados nos evangelhos.

Muitas vezes identificamos as falhas, mas não assolucionamos. Esquecemos que podemos aprender uns comos outros. Que cada um tem seu valor e seu potencial, oserros serão com o tempo corrigidos, mas devem ser corrigidoscom amor, respeito e carinho.

Quando juntos aprendemos, crescemos e amadurecemoscomo verdadeiros cristãos.

Enquanto o complexo e o determinismo tomar conta denosso ser, sempre nos acharemos “os donos da verdade”.Esquecemos de conhecer e conviver, saber aplicar as regrasda fraternidade, do amor e da comunhão.

O homem cresce onde há diferenças, amadurece com asdificuldades. Se tudo fosse igual, alguém inventaria algodiferente. O que devemos saber é administrar essasdiferenças. O que acontece com muitos líderes é não saberliderar, não ser um verdadeiro gestor, mas agir como umcapataz, ditador e terrorista.

Muitos de nós nos perturbamos com as outras seitas ereligiões. Esquecemos das injustiças sociais, do favorecimentodas divisões de classes, a corrupção e a fome. Pela mesma forma,às vezes nos negamos a reconhecer as causas dohomossexualismo, da prostituição, das drogas, dos problemasque afetam as famílias. Devemos educar e preparar os obreirose a membresia para diagnosticar, saber atender, apresentar assoluções, combater as causas e “trabalhar a prevenção” que é amais importante. Isso é Pentecoste, é dar frutos saudáveis, de boa qualidade e com sabor agradável, é a verdadeira festa dacolheita a ser apresentada e ofertada ao Senhor.



SER OU NÃO SER PENTECOSTAL? FALAR OU NÃO EM LÍNGUAS? 89

Sonho e utopia

O homem sente, emociona, isso faz parte de nossa vidacomo seres humanos. Não podemos limitar simplesmente nasemoções em sonhos futuros e utopias, mas deixar o EspíritoSanto agir no nosso intelecto.

Não podemos ficar no nosso interesse, mas no interessedo Senhor, o que interessa ao Senhor? É o exemplo da igrejaprimeva a “comunhão” (At 4: 32-37), onde todos possamviver, sem separação de classes, livres de desigualdades

sociais, onde as pessoas possam viver com dignidade.A igreja não tem como ser a redentora da humanidade,

pois o único redentor é Cristo. O que não pode é elapermanecer inerte diante dos acontecimentos sociais e daslutas contra as desigualdades.

Sobre a questão do falar em línguas, voltamos em Atos 2.Ninguém ensinou aos apóstolos a falarem em línguas, houveuma manifestação sobrenatural vinda de Deus. Falaramespontaneamente sob atuação do Espírito Santo. Receberamo dom do Espírito, não da carne. Infelizmente alguns ensinamque não devemos nos preocupar se o dom de línguas é doEspírito Santo ou de nós mesmos 3, isto é inaceitável e sobretudo, absurdo.

Mas sejamos sóbrios e inteligentes, críticos e questionadorespara construirmos uma verdadeira comunidade cristã, livrede exageros, com ordem e decência, de pessoas livres,responsáveis, maduras, sabendo discernir se tais ações eatitudes são vindas de Deus e se realmente é isto o que Deusquer de nós.

Neste aspecto, não necessitamos de profetas e de revelaçõese sim de vontade, de espírito aberto de querer ler e estudar a

3 D. GAVRILIDES, afirma que devemos falar línguas sem esta preocupação.In: O dom das línguas, p. 27.




Bíblia, pois tudo está nela escrito e é nela que encontramos a

verdadeira vontade de Deus para com todos nós.



Chegamos a última parte do nosso trabalho. Foi e épolêmico este assunto, mas não temos como concluí-lo e fechá-

lo. A todo instante aparecem novas, denominações, seitas eformas religiosas diferentes. Novos movimentos derestauração e com eles outras formas de pensar e agir. Cadauma, futuramente, deve ser analisada e estudada de formacuidadosa à luz das Sagradas Escrituras.

As relações denominacionais que caracterizam asociedade cristã geram antagonismos e contradições. A Igrejadeve ser o espelho da sociedade, um agente de transformação

social caracterizada pelo Fruto do Espírito.Uma vida cheia do Espírito Santo é evidenciada pela

eticidade e amor. Pois, estar cheio do Espírito Santo é umanecessidade do verdadeiro servo e sua experiência comocristão autêntico depende dela. A atuação do Espírito Santona Igreja deve ser em perfeito equilíbrio, pois é a quebra depreconceitos e barreiras raciais, do exclusivismo religioso. Éa união dos povos Judeus e Gentios como um só povo.

Capítulo 11

Considerações FinaisU MA REFLEXÃO




Um culto para ser espiritual tem que haver ordem e

decência, desenvolvido com lógica e razão mediante a fédentro dos padrões bíblicos. Não com manipulação,sensacionalismo, emotismo sem controle, confusão eexploração da fé.

Fé, de acordo com Hebreus 11:1, “é o firme fundamentodas coisas que se esperam, e a prova das coisas que não sevêem”. Tillich define fé como “estar possuído por aquiloque nos toca incondicionalmente”,1 ele nos ensina que ela é

incondicional, não como muitos querem fazer, manipular,impor condições para receber bênçãos. É ela que nos justifica(Rm 5:1) e sem fé nossas obras são mortas (Tg 2:14-18). Ohomem de fé tem que ser transformado, convertido, suaspalavras e ações tem que ser transformadas em atitudes derespeito, solidariedade e união.

Na Bíblia, fé e amor andam juntos e não existe amorverdadeiro e nem tão pouco espiritualidade sem auto-entrega

à Cristo, e isto é uma condição para todo cristão autêntico.O caráter ético e o falar em línguas pela igreja primitivadenotam a palavra dos homens. O seu falar tem que serdivino, inspirado pelo Espírito Santo. Suas palavras precisamser santas para que todos possam ouvir e entender.

Evangelho é seriedade, é comprometimento, é vida. Elenão pode ser pregado sem o verdadeiro testemunho de umavida transformada, pois implica em “confiança” e

“confiabilidade” daquele que prega. O grande educador brasileiro Paulo Freire nos ensina sobre este ponto que,

“A confiança implica o testemunho que um sujeito dá aosoutros de suas reais e concretas intenções. Não pode existir

1 P. TILLICH, Dinâmica da fé, p.5.



CONSIDERAÇÕES FINAIS 93

se a palavra, descaracterizada, não coincide com os atos.

Dizer uma coisa e fazer outra, não levando a palavra asério, não pode ser estímulo à confiança”.2

Infelizmente a Palavra e os ensinamentos do Senhor nãosão absorvidos, compreendidos e principalmente vividoscomo deveriam ser. Muitos pregadores falam, mas não sãoentendidos e muitas vezes eles mesmos não entendem o quefalam. Sua linguagem e ações não são sintonizadas com o

Espírito, mas alienantes e alienadas ao contrário do que estavaacontecendo em Atos 2.

Pregação do Evangelho é levar em consideração anecessidade e a realidade do povo, é sintonizar diálogo,educação e vida como forma de harmonia e arte de viver bem, em união como estava vivendo a Igreja no dia dePentecoste. É cultivar a tolerância sem sermos coniventes como pecado e demais formas de discriminação.

Cristo é o libertador, aquele que descansa, que tem umfardo leve, um julgo suave e é nEle que devemos aprender(Mt 11: 28-30), para podermos descansar, sermos felizes edeixarmos o Espírito atuar em nossa vida.

Pentecoste é o elo de ligação moral, espiritual e cultural,para que não se percam os bons usos e costumes bíblicos,voltados às práticas de evangelho. Estas devem serreavaliadas sempre, através da ação e reflexão nas tomadas

de decisão, com dinamismo e seriedade para podermos viverpara a glória de Deus.

Pentecoste não é uma alegria passageira, descartável. Estafestividade em nossas vidas tem objetivo duradouro, concreto baseado no amor de Deus e na comunhão. Esta felicidadena vida do cristão representa a presença de Cristo. Ela deve

2 P. FREIRE, Pedagogia do oprimido, p.82.




ser avivada e reavivada, não como um simples evento, mas

diária, a todo instante de forma continuada.Pentecoste é a festividade da colheita e sobre este assunto

reflitamos:

• Que tipo de semente estamos ou temos semeado?

• Qual é o nosso objetivo?

• Em que tipo de terreno estamos cultivando?

• De que maneira estamos cuidando?

• O que vamos ou estamos colhendo?• O que vamos ou estamos oferecendo ao Senhor?

O tipo de cultura simboliza nossa vida, nosso testemunho,podemos chamar de moral. O terreno pode ser comparadocom nossa morada, nossa vida, nosso trabalho, esse,chamaremos de ética.

Neste caso, estamos oferecendo ao senhor...



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Anexos1)Tabela comparativa do hebraico/

português

LETRAS

Finais aB

B

G

D

H

W

ZX

J

Y& K

K

$

L

~ M

! N

NOME

Álef

Bêit

Vêit

Guimel

Dálet

Hêi

Vav

Záin

Hêit

Têit

Iud

Caf sofitCaf

Hiáf Hiáf sofit

LâmedMêim

Mêim sôfitNun

Num sôfit

TRANSLITERAÇÃO’

B

V

G

D

H

V

Z

H

T

I

H

K

..

H

L

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N




S[

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Tsad sôfitCuf

Rêixe

Xin

Sin

Tav

S ou SS

‘

P

F

F

Ts

Qu

R

X

S

T



ANEXOS 101

1)Tabela comparativa

grego koiné/portuguêsUnciais

(Maiúsculas)

A

B

G

D

E

Z

H

Q

I

K

L

M

N

X

O

P

R

S

T

U

F

C

Y

W

Cursivas

(Minúsculas)

a

b

g

d

e

z

h

q, ϑi

k

l

m

n

x

op

r

s

j

t

u

f, ϕc

y

w

Nome

alfabetagamadelta

épsilondzetaêta

theta

iôta

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