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Estimulação cognitiva

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  • Pr-Reitoria de Ps-Graduao e Pesquisa

    Stricto Sensu em Gerontologia

    Trabalho de Concluso de Curso

    OFICINAS DE ESTIMULAO COGNITIVA EM IDOSOS

    ANALFABETOS COM TRANSTORNO COGNITIVO LEVE.

    Braslia - DF

    2010

    Autora: Izabel Borges dos Santos

    Orientadora: Dra. Lucy Gomes Vianna

  • IZABEL BORGES DOS SANTOS

    OFICINAS DE ESTIMULAO COGNITIVA EM IDOSOS ANALFABETOS COM

    TRANSTORNO COGNITIVO LEVE.

    Dissertao submetida ao Programa de Ps-

    Graduao Stricto Sensu em Gerontologia da

    Universidade Catlica de Braslia, como

    requisito parcial para obteno do Ttulo de

    Mestre em Gerontologia.

    Orientadora: Dra. Lucy Gomes Vianna.

    Braslia

    2010

  • Ficha elaborada pela Biblioteca da Universidade Catlica de Braslia - UCB

    S237o Santos, Izabel Borges

    Oficinas de estimulao cognitiva em idosos analfabetos com Transtorno

    Cognitivo Leve / Izabel Borges Santos. 2010.

    148 f. ; 30 cm

    Dissertao (mestrado) Universidade Catlica de Braslia, 2010. Orientao: Lucy Gomes Vianna

    1. Idosos Analfabetismo. 2. Cognio. 3. Memria. I. Vianna, Lucy

    Gomes, orient. II.Ttulo.

    CDU 613.98

  • Dissertao de autoria de Izabel Borges dos Santos, intitulada Oficinas de estimulao cognitiva em idosos analfabetos com Transtorno Cognitivo Leve, apresentada como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Gerontologia da Universidade Catlica

    de Braslia, em 24 de Junho de 2010, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo

    assinada:

    ____________________________________________________

    Prof Dra. Lucy Gomes Vianna

    Orientador

    Universidade Catlica de Braslia - UCB

    ____________________________________________________

    Prof Dr. Vicente de Paula Faleiros

    Universidade Catlica de Braslia - UCB

    ____________________________________________________

    Prof Dra. Claudia Cristina Fukuda

    Universidade Catlica de Braslia - UCB

    ____________________________________________________

    Prof Dra. Carmen Jansen Cardenas

    Suplente

    Universidade Catlica de Braslia - UCB

    Braslia

    2010

  • Dedicatria

    A minha querida me Olga, hoje com 84 anos

    e com tanta lucidez resgata da memria fatos e

    vivncia dos seus onze filhos e nos faz viver

    momentos do nosso inconsciente que ento

    no sabamos existir.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus... que est sempre ao meu lado dando-me fora e iluminando-me. Agradecer

    neste momento entender a ddiva de Deus. uma forma de consolidar a importncia das

    relaes construdas ao longo de uma histria de vida, onde muitas pessoas me foram

    presenteadas, fazendo parte de uma construo. So seres preciosos que na minha vivncia e

    memria permanecero.

    A todo o corpo docente do programa de Ps Graduao em Gerontologia da Universidade

    Catlica de Braslia, que compartilhou o seu saber. A meus colegas de mestrado, pelos

    momentos inesquecveis que dividimos angstias, alegrias e crescimento.

    A todos idosos desta pesquisa, participantes dos grupos que se comprometeram com a

    construo de um trabalho, que sempre estiveram disponveis e mais que isto, felizes por

    estarem colaborando.

    A Secretaria de Sade do Distrito Federal que me proporcionou a liberao parcial de minha

    carga horria de trabalho, dando-me oportunidade de crescer como profissional e ser um

    agente na transformao junto aos outros profissionais e na atuao politizada e direcionada

    em prol da populao idosa.

    AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

    Ao meu esposo, Laudival Mizael e aos filhos Fernando e Vincius, que como fonte de vida

    esto sempre ao meu lado, mostrando a cada instante, que o amor no se acaba com o passar

    dos anos ou da distncia... gloriosamente se multiplica.

    A meus queridos pais, Adelaudio () e Olga, por serem exemplos de fora, dignidade e honestidade e o forte elo intergeracional.

    A querida orientadora Prof. Dra. Lucy Gomes, que com muito carisma, respeito e firmeza

    soube direcionar e estimular o prosseguimento de cada fase da dissertao.

    Por fim, as minhas amigas Neuza Matos, Maria Sueli e Mrcia Arajo. Quem tem um amigo tem um tesouro (Saint Exupery). De fato, minha vida privilegiada com tesouros diferentes e especialmente preciosos. Neuza, que me incentivou e de maneira incondicional me ajudou

    em todas as etapas desta caminhada e atravs das nossas vivncias fez brilhar o meu olhar na

    velhice. Sueli, fiel, companheira, um exemplo de perseverana. Mrcia, sempre humana e

    sensvel ao prximo.

  • Que rosto lindo eu vi hoje, rugoso, To fascinante qual o duma criana!

    Continha o mesmo brilho radioso

    (...) como se o amanh unisse o dia d' ontem

    como se o amanh fosse a nossa essncia!

    (...) Pois, uma ruga prmio incontestvel.

    Eugnio de S. Vicente

  • RESUMO

    SANTOS, Izabel Borges. Oficinas de estimulao cognitiva em idosos analfabetos com

    Transtorno Cognitivo Leve. 2010. 148 p. Dissertao de Mestrado em Gerontologia pela

    Universidade Catlica de Braslia, Braslia - Distrito Federal, 2010.

    Introduo: As oficinas de Estimulao Cognitiva para idosos analfabetos com Transtorno

    Cognitivo Leve tema pouco explorado no Brasil. Objetivos: Analisar o desempenho

    cognitivo de indivduos idosos analfabetos com diagnstico de Transtorno Cognitivo Leve

    (TCL) antes e aps a realizao de Oficinas de Jogos e Brincadeiras de Estimulao

    Cognitiva, adaptadas para uso em indivduos analfabetos; determinar o perfil scio-

    econmico-demgraficos desses idosos; verificar a percepo dos idosos sobre sua memria e

    identificar os benefcios e contribuies das Oficinas na percepo dos idosos. Material e

    Mtodo: Trata-se de pesquisa social quantiqualitativa, utilizando o mtodo de pesquisa-ao

    A amostra foi composta por 63 idosos ( 60anos) analfabetos com TCL, sendo 22 no Grupo Experimental (GE), que participaram das 10 Oficinas de Estimulao Cognitiva; Grupo

    Controle 1 (GC1), com 21 idosos, que tiveram 10 palestras sobre a sade; e Grupo Controle

    2 (GC2), com 20 idosos, nos quais no foi aplicada interveno alguma. Foram feitos os

    seguintes testes: Miniexame do Estado Mental (MEEM), Memria de Lista de Palavras

    (MLP), Fluncia Verbal (FV) e Teste Computadorizado de Ateno Visual (TCA). A anlise

    dos dados foi do programa SPSS, Skewness, teste qui quadrado e mtodo de Bardin.

    Resultados: Os idosos estudados tinham idade mdia de 72,8 7,16 anos, sendo 92% do

    sexo feminino, do lar, vivos ou casados, sem aposentadoria prpria e com renda mdia de

    um salrio mnimo. 82% dos idosos relataram piora da memria ao longo do ltimo ano,

    havendo uma mudana significativa de sua percepo de forma positiva aps participao nas

    dez oficinas e palestras (GE e GC1, respectivamente). Nos trs grupos, os comentrios dos

    idosos sobre sua memria no pr-teste foram feitos de forma simples e pessimista. No ps-

    teste, os participantes dos GC1 e GC2 mantiveram os mesmos esquecimentos, enquanto os do

    GE se destacaram nas categorias: melhora na cognio, socializao/integrao, mudana nas

    atividades de vida diria e satisfao com as oficinas. Os idosos do GE obtiveram maior

    escore no MEEM, significativamente maior que os do GC2. Os idosos do GE obtiveram

    significativamente maiores escores no item ateno e clculo do MEEM, no teste de MLP e

    no teste FV. No TCA, no surgiu diferena significativa entre os trs grupos. Concluso: As

    Oficinas oferecidas tiveram destaque na melhoria da cognio, da percepo positiva da

    memria e da funcionalidade do idoso em tarefas simples; geraram aprendizagem,

    socializao e integrao, assim como diverso e satisfao. Intervir com oficinas ou palestras

    educativas em sade obteve-se o mesmo efeito no MEEM. As oficinas foram eficazes na

    melhora da memria verbal de longo prazo e fluncia verbal. H necessidade de pesquisas a

    fim de mensurar o tempo de permanncia dos benefcios encontrados.

    Palavras chaves: Idoso analfabeto. Transtorno cognitivo Leve. Estimulao cognitiva.

  • ABSTRACT

    SANTOS, Izabel Borges. Cognitive stimulation Workshops for elderly illiterate people

    with Mild Cognitive Impairment. 2010. 148 p. Dissertation in Gerontology from the Catholic University of Brasilia, Brasilia - Distrito Federal, 2010.

    Introduction: The cognitive performance of elderly illiterate people with Mild Cognitive Impairment and

    stimulation Workshops is a subject little explored in Brazil. The objectives of this study were: To analyze the

    cognitive performance of elderly illiterate people with Mild Cognitive Impairment (MCI) before and after

    Workshops of adapted Cognitive Stimulation Games, determine the socio-economic-demographic profile, verify

    the perception of the elderly about their own memory and identify the benefits and contributions of the

    workshops on the perception of the elderly. Material and Methodology: quantitative and qualitative social

    research, using the action research methodology. The sample consisted of an Experimental Group (EG) n = 22

    with 10 workshops, a Control Group 1 (CG1), n = 21 with lectures and a Control Group 2 (CG2), n = 20 without

    intervention. Tests: Mini-Mental State Examination (MMSE), Word List Memory task (WLM), Verbal Fluency

    (VF) and Computerized Visual Attention Test (CVAT). The analysis through SPSS, Skewness, chi square and

    method of Bardin Results: The 63 elderly were mostly young old (average age 72.8 7,16 years old), female

    92%, housewife, widowed or married, without their own retirement and with an average income of a minimum

    wage. The 82% elderly reported worsening of memory over a year and their perception changed positively after

    participating in the ten workshops and lectures (EG and CG1). Before the test, the elderly comments about their

    memory were simple and pessimistic. After the test, CG1 and CG2 maintained the same forgetfulness but EG

    stood out from the others in the following categories: improvement in cognition, socialization/integration,

    changes in the daily life activities and satisfaction with the workshops. The EG had a higher score on the

    MMSE, but was only significantly better than CG2. EG excelled in the item Attention and Calculation, from the

    MMSE, in the WLM and in the VF. In the CVAT there was no significant difference. Conclusion: These

    workshops were important in improving cognition, positive perception of the memory and the

    elderly skills in simple tasks; they generated learning, socialization and integration, fun and

    satisfaction. The same effect on the MMSE was obtained with the intervention of workshops and educational lectures on health. The workshops were effective in improving long-term verbal memory and verbal fluency. The

    mnemonic difficulty persists in the EG and there is the necessity of carrying out further research in order to

    measure how long these benefits will continue.

    Keyword: Elderly Illiterate. Mild cognitive impairment. Cognitive stimulation.

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Distribuio dos 63 idosos analfabetos com TCL na UMT-DF, estudados nos

    trs grupos, de acordo com a faixa etria..............................................................

    60

    Tabela 2 - Distribuio dos 63 idosos analfabetos com TCL estudados na UMT-DF, nos

    trs grupos, de acordo com o estado civil..............................................................

    62

    Tabela 3 - Distribuio dos 63 idosos analfabetos estudados com TCL na UMT-DF, de

    acordo com a renda econmica.............................................................................

    63

    Tabela 4 - Distribuio dos 63 idosos analfabetos com TCL estudados na UMT-DF, de

    acordo com aposentadoria, penso e BPC.............................................................

    64

    Tabela 5 - Distribuio dos 63 idosos analfabetos com TCL estudados na UMT-DF, de

    acordo com a profisso/ocupao..........................................................................

    66

    Tabela 6 - Relao intergrupos nas respostas pergunta Como est sua memria hoje? nos pr e ps-testes, em 63 idosos analfabetos com TCL, UMT-DF....................

    75

    Tabela 7 - Relao intergrupos nas respostas pergunta Voc acredita que sua memria pior do que a dos outros? nos pr e ps- testes, em 63 idosos analfabetos com TCL, UMT-DF..............................................................................................

    76

    Tabela 8 - Anlise dos itens do MEEM, pr e ps-testes, nos 63 idosos analfabetos com

    TCL dos GE, GC1 e GC2, UMT-DF.....................................................................

    89

    Tabela 9 - Anlise das etapas do Teste de Memria de Lista de Palavras, nos pr e ps-

    testes, nos 63 Idosos analfabetos com TCL dos GE, GC1 e GC2, UMT-DF........

    92

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Distribuio dos 63 idosos analfabetos com TCL na UMT-DF, de acordo

    com a moradia e o arranjo familiar................................................................... 67

    Grfico 2 - Respostas pergunta Como est sua memria hoje?, no pr e ps oficinas de 22 idosos analfabetos com TCL do GE, UMT-DF...................................... 69

    Grfico 3 - Respostas pergunta Voc acredita que sua memria pior do que a dos outros? no pr e ps oficinas de 22 idosos analfabetos com TCL do GE, UMT-DF........................................................................................................... 70

    Grfico 4 - Respostas pergunta Como est sua memria hoje? no pr e ps palestras de 21 idosos analfabetos com TCL do GC1, UMT-DF.................................... 71

    Grfico 5 - Respostas pergunta Voc acredita que sua memria pior do que a dos outros? no pr e ps palestras de 21 idosos analfabetos com TCL do GC1, UMT-DF........................................................................................................... 72

    Grfico 6 - Respostas pergunta Como est sua memria hoje? no perodo correspondente aos pr e ps-testes, em 20 idosos analfabetos com TCL do

    GC2, UMT-DF.................................................................................................. 73

    Grfico 7 - Respostas pergunta Voc acredita que sua memria pior do que a dos outros? no perodo correspondente aos pr e ps-testes, em 20 idosos analfabetos com TCL do GC2, UMT-DF......................................................... 74

    Grfico 8 - Escore geral do MEEM, pr e ps testes, nos GE, GC 1 e GC2, nos 63

    idosos analfabetos com TCL, UMT-DF.......................................................... 88

    Grfico 9 - Escore geral da Memria de Lista de Palavras, nos pr e ps-testes, nos 63

    idosos analfabetos com TCL dos GE, GC1 e GC2, UMT-DF.......................... 91

    Grfico 10 - Escore geral da Fluncia Verbal, nos pr e ps-testes, em 63 idosos

    analfabetos com TCL dos GE, GC1 e GC2, UMT-DF................................... 94

    Grfico 11 - Variabilidade do tempo de reao visual (milissegundos), nos pr e ps-

    testes, nos 63 idosos analfabetos com TCL nos GE, GC1 e GC2, UMT-DF... 96

    Grfico 12 - Percentual de acertivas emitidas nos pr e ps-testes, nos 63 idosos

    analfabetos com TCL dos GE, GC1 e GC2, UMT-DF..................................... 96

    Grfico 13 - Percentual de Falsos Alarmes emitidas nos pr e ps-testes, nos 63 idosos

    analfabetos com TCL dos GE, GC1 e GC2, UMT-DF..................................... 97

    Grfico 14 - Tempo mdio de reao aos estmulos visuais pr e ps-testes, nos 63 idosos

    analfabetos com TCL dos GE, GC1 e GC2, UMT-DF..................................... 98

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Resumo dos agrupamentos das categorias e subcategorias. Grupo

    Experimental....................................................................................................... 77

    Quadro 2 - Resumo dos agrupamentos das categorias e subcategorias. Grupo Controle 1.. 77

    Quadro 3 - Resumo dos agrupamentos das categorias e subcategorias. Grupo Controle 2..

    77

    Quadro 4 - Categorizao dos comentrios dos idosos analfabetos com TCL no GE sobre

    seu estado mnemnico aps as Oficinas de Estimulao Cognitiva, UMT-DF. 78

    Quadro 5 - Categorizao dos comentrios dos idosos analfabetos com TCL no GC1

    sobre seu estado mnemnico aps as palestras, UMT-DF.................................. 81

    Quadro 6 - Categorizao dos comentrios dos idosos analfabetos com TCL no GC2

    sobre seu estado mnemnico aps o perodo correspondente ao das Oficinas

    de Estimulao Cognitiva e palestras, UMT-DF................................................ 82

  • LISTA DE SIGLAS

    AVDIs - Atividades Instrumentais de Vida Diria

    AVDs - Atividades de vida diria

    BCSB - Brief Cognitive Screening Battery

    DA - Doena de Alzheimer

    DCC - Declnio da Capacidade Cognitiva

    EDG - Escala de Depresso Geritrica de Yesavage

    FV - Teste de Fluncia Verbal

    GC1 - Grupo Controle 1

    GC2 - Grupo Controle 2

    GE - Grupo Experimental

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    INAF - Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional

    IQCODE - Informant Questionnaire of Cognitive Decline in the Elderly

    MEEM - Miniexame do Estado Mental

    NEUROPSI - Bateria Neuropsicolgica Abreviada

    QPAF - Questionrio Pfeffer de Avaliao Funcional

    TCA - Teste Computadorizado da Ateno Visual

    TCL - Transtorno Cognitivo Leve

    TCM - Teste Computadorizado da Memria

    TEVA - Testes de Variveis de Ateno Visual

    TRD - Teste do Desenho do Relgio

    UMT-DF - Unidade Mista de Taguatinga - Distrito Federal

    UNESCO - United Nations Educational Scientific and Culture Organization

    UNIFESP - Universidade Federal de So Paulo

  • SUMRIO

    1 INTRODUO................................................................................................... 15

    1.1 JUSTIFICATIVA................................................................................................. 17

    1.2 OBJETIVOS......................................................................................................... 20

    1.2.1 Objetivo geral....................................................................................................... 20

    1.2.2 Objetivos especficos............................................................................................ 20

    1.3 HIPTESE............................................................................................................ 21

    2 FUNDAMENTAO TERICA...................................................................... 22

    2.1 ENVELHECIMENTO E ALTERAES FISIOLGICAS RELACIONADAS

    COGNIO...................................................................................................... 22

    2.2 ANALFABETISMO NA VELHICE: UMA REALIDADE NO BRASIL........... 27

    2.3 TRANSTORNO COGNITIVO LEVE.................................................................. 30

    2.4 FUNCIONAMENTO DA MEMRIA NO IDOSO............................................. 32

    2.5 ESTIMULAO COGNITIVA E SUA REPERCUSSO NA VELHICE......... 37

    2.6 TESTES DE AVALIAO COGNITIVA........................................................... 40

    2.6.1 Miniexame do Estado Mental (MEEM)............................................................. 42

    2.6.2 Teste de Memria de Lista de Palavras............................................................. 43

    2.6.3 Teste de Memria de Figuras .......................................................... 43 2.6.4 Teste de Fluncia Verbal..................................................................................... 44

    2.6.5 Teste do Desenho do Relgio (TRD)................................................................... 45

    2.6.6 Escala de Katz: Atividades de Vida Diria (AVDs).......................................... 45

    2.6.7 Atividades Instrumentis de Vida Diria (AIVDs)............................................. 46

    2.6.8 Teste Computadorizado da Memria (TCM) e Teste Computadorizado da

    Ateno Visual (TCA).......................................................................................... 46

    2.6.9 Questionrio PFEFFER de Avaliao Funcional (QPAF)............................... 47

    2.6.10 Informant Questionnaire of Cognitive Decline in the Elderly (IQCODE)..... 48

    3 MATERIAIS E MTODOS............................................................................... 49

    3.1 TIPO DE PESQUISA............................................................................................ 49

    3.2 CUIDADOS TICOS........................................................................................... 50

    3.3 PARTICIPANTES ................................................................................................ 50

    3.4 LOCAL DAS OFICINAS, PALESTRAS E DOS TESTES................................. 52

    3.5 OFICINAS............................................................................................................. 52

    3.6 PALESTRAS......................................................................................................... 56

    3.7 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS.................................................... 56

    3.8 ANLISE DOS DADOS...................................................................................... 58

    4 APRESENTAO DOS RESULTADOS E DISCUSSO DOS

    RESULTADOS.................................................................................................... 59

    4.1

    APRESENTAO E DISCUSSO DOS DADOS SCIO-ECONMICO-

    DEMOGRFICOS................................................................................................ 59

    4.1.1 Histrico da Unidade Mista de Taguatinga Distrito Federal........................ 59

    4.1.2 Caracterizao da amostra.................................................................................. 59

    4.1.3 Faixa etria........................................................................................................... 60

    4.1.4 Faixa sexo.............................................................................................................. 61

    4.1.5 Estado civil............................................................................................................ 61

    4.1.6 Renda econmica.................................................................................................. 62

    4.1.7 Aposentadorias, penses e benefcio da prestao continuada........................ 63

  • 4.1.8 Profisso/ocupao............................................................................................... 64

    4.1.9 Moradia e arranjo familiar................................................................................. 66

    4.2 APRESENTAO E DISCUSSO QUANTO A PERCEPO DA

    MEMRIA............................................................................................................ 68

    4.2.1 Grupo Experimental............................................................................................ 68

    4.2.2 Grupo Controle 1................................................................................................. 71

    4.2.3 Grupo Controle 2............................................................................... 73

    4.2.4 Anlise geral da percepo da memria atual e em relao memria dos

    outros.................................................................................................................... 75

    4.3 COMENTRIO DOS IDOSOS SOBRE SEU ESTADO MNEMNICO PR

    E PS OFICINAS................................................................................................. 77

    4.4 APRESENTAO E ANLISE DOS TESTES APLICADOS........................... 88

    4.4.1 Miniexame do Estado Mental (MEEM)............................................................ 88

    4.4.2 Memria de Lista de Palavras............................................................................ 90

    4.4.3 Fluncia Verbal.................................................................................................... 93

    4.4.4 Teste Computadorizado de Ateno Visual...................................................... 95

    5 CONCLUSES................................................................................................... 100

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................. 103 APNDICE.......................................................................................................... 118

    APNDICE A - Cronograma de Atividades das Oficinas de Estimulao

    Cognitiva atravs de Jogos e Brincadeiras Adaptadas para Idosos Analfabetos... 118

    APNDICE B - Cronograma das Palestras de Educao em Sade para Idosos

    Analfabetos - Grupo Controle 1............................................................................. 119

    APNDICE C - Estratgias de Estimulao Cognitiva para Idosos Analfabetos-

    Tarefa de Casa - Grupo Experimental.................................................................. 120

    APNDICE D - Comentrios dos Idosos sobre Estado Mnemnico - Grupo

    Experimental, Controle 1 e 2................................................................................. 121

    APNDICE E - Oficinas de Jogos e Brincadeiras Adaptadas para Idosos

    Analfabetos............................................................................................................ 130

    ANEXOS............................................................................................................... 144

    ANEXO I - Aprovao do Comit de tica da FEPECS....................................... 144

    ANEXO II - Cronograma de Atividades da Pesquisa............................................ 145

    ANEXO III - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido................................. 146

    ANEXO IV - Roteiro de Entrevista....................................................................... 148

  • 15

    1 INTRODUO

    O processo de envelhecimento fase marcada por mudanas profundas que podem

    culminar em doenas e incapacidades de naturezas diversas. Sabe-se hoje que certos dficits

    de memria fazem parte do envelhecimento saudvel (YASSUDA et al., 2006).

    Na velhice, frequentemente ocorrem alteraes em diferentes reas da cognio,

    envolvendo ateno, percepo, memria, raciocnio, juzo, imaginao, pensamento e

    linguagem. Indivduos com idade igual ou acima de 60 anos geralmente se queixam de

    dificuldades com a memria e outras habilidades cognitivas, especialmente quando comparam

    seu desempenho atual com o apresentado no passado. Alm das dificuldades em armazenar

    informaes e resgat-las, referem ainda prejuzo ocupacional e social. Diante dessas

    alteraes decorrentes da idade, ocorre autoabandono, perda da autoestima, isolamento da

    sociedade e mesmo do ambiente familiar (SOUZA; CHAVES, 2005; AVILA; BOTTINO,

    2006).

    H interesse crescente em manter e at aumentar a capacidade cerebral dos idosos,

    proporcionando estratgias concretas para mant-los aptos e flexveis (LAWRENCE, 2000).

    Independente da relevante preocupao com o possvel progresso do declnio cognitivo

    fisiolgico para a demncia, as queixas subjetivas que os idosos apresentam a respeito de seu

    desempenho mnemnico so reais e devem ser acolhidas.

    Atualmente, o idoso tem dificuldade para se adaptar s exigncias do mundo moderno.

    Isso se deve, em parte, deficincia educacional dessa gerao, que viveu uma poca na qual

    freqentar a escola era privilgio de poucos. Por esse motivo, ocorre alto ndice de

    analfabetismo nesse grupo etrio, atingindo 5,1 milhes no Brasil. Existe ainda o

    analfabetismo funcional, que abarca os indivduos com menos de 4 anos de estudo. Segundo

    IBGE (2000), 59,4% dos idosos responsveis pelos domiclios no Brasil so analfabetos

    funcionais (IBGE, 2000).

    Para responder aos objetivos desta pesquisa, na presente dissertao foi realizada

    reviso bibliogrfica dos seguintes temas: primeiro foi abordado o envelhecimento e as

    alteraes fisiolgicas relacionadas cognio nessa etapa da vida, ressaltando-se a

    repercusso do declnio cognitivo sobre a capacidade funcional global do idoso. A seguir

    evidenciaram-se as definies de analfabetismo atualmente vigentes no Brasil, revisando-se

    situao e progresso da alfabetizao dos idosos. Aps, apresentaram-se os aspectos

    conceituais do Transtorno Cognitivo Leve (TCL) e as dificuldades de sua caracterizao e

    diagnstico, bem como sua diferenciao com o declnio da cognio natural do

  • 16

    envelhecimento. Posteriormente, distinguiram-se os modelos de memria, bem como o

    funcionamento e a combinao de subsistemas relatados por diversos autores. Na sequncia,

    destacou-se a estimulao cognitiva como estratgia de ativao das funes cognitivas e

    preveno de declnios cognitivos, bem como a melhora na qualidade de vida. Por ltimo,

    abordou-se os instrumentos de avaliao cognitiva/funcional que colaboram na avaliao

    ampla do idoso, usados em ambientes especializados e de ateno sade do idoso, tanto em

    pesquisas nacionais quanto internacionais.

    Esta pesquisa teve como objetivo principal analisar o desempenho cognitivo de idosos

    analfabetos com TCL antes e aps a realizao de Oficinas de Jogos e Brincadeiras de

    Estimulao Cognitiva Adaptadas, por meio de instrumentos de avaliao cognitiva. Outro

    aspecto importante evidenciado foi a autopercepo dos idosos sobre sua memria, bem como

    a percepo das contribuies das oficinas. O estudo foi realizado na Unidade Mista de

    Taguatinga (UMT-DF), da Secretaria do Estado de Sade do Distrito Federal, que dispe de

    servio de referncia para o atendimento de ateno sade do idoso e conta com equipe

    multidisciplinar.

  • 17

    1.1 JUSTIFICATIVA

    Nas ltimas dcadas, observou-se ntido envelhecimento demogrfico e, como

    consequncia dessa transio, envelhecimento da populao mundial (SIQUEIRA, 2002).

    Esse fenmeno j observado h algum tempo nos pases desenvolvidos, mas ocorre agora de

    modo acelerado nos pases em desenvolvimento, incluindo o Brasil. caracterizado,

    principalmente, pelos declnios das taxas de fecundidade e de mortalidade nas idades

    avanadas tendo, como consequncia direta, mudana na estrutura etria da populao

    (PEREIRA, 1995; HIGGS, 1997; CARVALHO; GARCIA, 2003).

    Diversos estudos epidemiolgicos fazem projees que apontam para o aumento

    crescente e contnuo do nmero de idosos no Brasil. Atualmente so 15 milhes de indivduos

    com 60 anos ou mais (8,6% da populao) sendo que, em 2025 sero aproximadamente 34

    milhes nessa faixa etria (dos quais 10,6% correspondero a idosos com 80 anos e mais), o

    que colocar o Brasil na sexta posio com maior nmero de idosos no mundo (IBGE, 2000;

    SCHOUERI, 2000; SOUZA; CHAVES, 2005). Essa alterao demogrfica deve-se tambm

    s atuais conquistas mdico-tecnolgicas que tm possibilitado a preveno e cura de doenas

    que antes eram consideradas fatais (SOUZA; CHAVES, 2005).

    Alm do aumento no nmero de idosos, tambm h aumento da expectativa de vida,

    que atualmente de 68,6 anos, sendo 2,5 anos a mais do que no incio da dcada de 90.

    Estima-se que em 2020, a expectativa de vida no Brasil ser de 70,3 anos (IBGE, 2000).

    No Brasil, as mulheres vivem, em mdia, oito anos a mais do que os homens. As

    diferenas de expectativa de vida entre os gneros levaram, como consequncia, ao fato de

    que em 1991, as mulheres correspondiam a 54% da populao de idosos, enquanto em 2000

    passaram a 55,1%. Portanto, em 2000, para cada 100 mulheres idosas havia 81,6 homens

    idosos (IBGE, 2000).

    Envelhecer , portanto, processo natural que caracteriza etapa da vida do homem,

    ocorrendo com mudanas fsicas, psicolgicas e sociais que acometem de forma particular

    cada indivduo com sobrevida prolongada. a fase na qual, ponderando sobre a prpria

    existncia, o indivduo idoso conclui que alcanou objetivos, mas que tambm sofreu perdas,

    entre as quais a sade, que se destaca como um dos aspectos mais afetados (MENDES et al.,

    2005).

    Como resultado desse processo, observa-se que ao longo do avano cronolgico, o

    corpo humano est submetido a situaes de sobrecarga funcional prolongada, podendo no

  • 18

    reagir de modo adaptativo, levando ao desenvolvimento de processos patolgicos agudos e

    predominantemente crnicos. As alteraes fisiolgicas que provm do envelhecimento

    orgnico predispem ao surgimento de doenas crnico-degenerativas, as quais podem

    comprometer a capacidade funcional. Alm disso, perdas neuronais podem iniciar processos

    demenciais que dificultam o autocuidado e geram perda da autonomia e da independncia

    (SCHOUERI, 2000).

    Os idosos apresentam mais problemas de sade do que a populao geral. Mais da

    metade dos idosos apresenta algum problema de sade (53,3%), sendo 23,1% deles

    portadores de doenas crnicas (IBGE, 2000). Com o envelhecimento, so observadas

    alteraes orgnicas e funcionais, decorrentes de mudanas nos mecanismos de homeostase

    que so controlados pelos sistemas imunolgico, endcrino e nervoso, podendo levar a

    dficits leves em pessoas que envelhecem normalmente. H indivduos que experienciam

    menor declnio cognitivo que outros, sendo que essas diferenas individuais aumentam com o

    avanar da idade. Mudanas radicais na habilidade mental da pessoa idosa podem indicar

    comprometimento importante de sua sade (KAWAS, 2003).

    A funo cognitiva marcada por diferenas individuais considerveis, podendo a

    perda da eficincia cognitiva ser frequentemente compensada. Uma das manifestaes mais

    frequentes desse declnio so as alteraes relacionadas com a memria (FERRARI, 1997).

    A literatura sugere que no envelhecimento saudvel existe a possibilidade de compensao,

    pelo menos parcial, dos dficits cognitivos (BACKMAN, 1989; BALTES; BALTES, 1990;

    DUNLOSKY; HERTZOG, 1998). Segundo Yassuda (2006), pesquisas sobre intervenes

    cognitivas apontam para os treinos da cognio e da memria, que podem aumentar as

    habilidades cognitivas de idosos normais. Assim, o idoso saudvel capaz de aproximar seu

    desempenho atual do seu desempenho mximo possvel, por apresentar plasticidade cognitiva.

    Com o aumento da idade, existe tendncia de ocorrerem declnios cognitivos e

    funcionais, condicionando diminuio da interao social e nas atividades fsicas e de lazer,

    com conseqente decrscimo na qualidade de vida e na expectativa de vida ativa dos idosos.

    Por isso, a implementao de programas de treino cognitivo relevante tanto para a melhora

    e/ou manuteno das funes cognitivas quanto para manter boa qualidade de vida nos idosos

    (GALLO; SCHOEN; JONES, 2000).

    Frente a isso, postula-se a aplicao do exerccio de memria atravs de sua

    estimulao/motivao, como mtodo teraputico na recuperao e/ou manuteno da funo

    neural associada cognio (SOUZA; CHAVES, 2005). Acevedo (2007) refora que os

  • 19

    treinos tm como objetivo maximizar as funes cognitivas e prevenir futuros declnios

    cognitivos. Intervenes cognitivas podem contribuir para a funcionalidade cognitiva do

    idoso, melhorando a qualidade de vida e o bem-estar psicolgico (IRIGARAY, 2009).

    Justifica-se, portanto, realizao de oficinas de Estimulao Cognitiva atravs de jogos

    e brincadeiras adaptados para idosos analfabetos com diagnstico de Transtorno Cognitivo

    Leve, verificando-se o seu desempenho cognitivo antes e aps a realizao dessas oficinas.

    Esta pesquisa foi realizada mediante atuao prtica e multiprofissional em unidade de

    referncia de atendimento sade do idoso, vislumbrando contribuir e disponibilizar

    assistncia diferenciada na rea da cognio, bem como melhoria na qualidade de vida dos

    idosos, de suas famlias e da sociedade.

    H necessidade de estudos especficos que beneficiem a populao idosa analfabeta,

    tendo em vista as peculiaridades dessa parcela da populao, muitas vezes esquecida dentro

    do contexto geral. Portanto, o presente estudo contribuir com informaes para a

    compreenso dessa problemtica e a tomada de novas direes referentes ao atendimento

    desse segmento social e usurio da UMT-DF. Trata-se de tema importante, que merece

    aprofundamento principalmente por parte dos profissionais da rea de sade que trabalham

    diretamente com essa clientela.

  • 20

    1.2 OBJETIVOS

    1.2.1 Objetivo geral

    Analisar o desempenho cognitivo de indivduos idosos analfabetos com diagnstico de

    TCL antes e aps a realizao de Oficinas de Jogos e Brincadeiras de Estimulao Cognitiva,

    adaptadas para uso em indivduos analfabetos.

    1.2.2 Objetivos especficos

    1. Determinar o perfil scio-econmico-demogrfico dos idosos analfabetos estudados.

    2. Verificar a autopercepo dos idosos analfabetos sobre sua memria antes e aps as

    intervenes aplicadas.

    3. Identificar a contribuio das Oficinas de Estimulao Cognitiva na percepo dos

    idosos analfabetos.

    4. Verificar o impacto das oficinas na estimulao cognitiva de idosos analfabetos

    atravs dos testes de avaliao cognitiva.

  • 21

    1.3 HIPTESE

    As estratgias da Estimulao Cognitiva, atravs de jogos e brincadeiras adaptados

    para indivduos idosos analfabetos, trabalham ateno, percepo, raciocnio, juzo,

    imaginao, pensamento, linguagem e memria, levando a melhoria da cognio, detectvel

    nos testes de avaliao cognitiva e na auto-percepo desses idosos analfabetos.

  • 22

    2 FUNDAMENTAO TERICA

    2.1 ENVELHECIMENTO E ALTERAES FISIOLGICAS RELACIONADAS

    COGNIO

    Reconhecendo-se a relevncia da temtica idoso, nos dias atuais parte-se para o

    resgate histrico das discusses acerca do envelhecimento, bem como das alteraes

    fisiolgicas, dando-se nfase s alteraes cognitivas.

    O envelhecimento e a busca da longevidade so preocupaes que se destacaram em

    toda a histria da humanidade. Na ltima dcada esse tema mereceu maior nfase, seja por

    aumento da populao de idosos seja pela reduo gradativa da capacidade funcional desse

    grupo etrio, o que traz para a sociedade a questo da insero social desse segmento

    (PEIXOTO, 1998; PAPALO NETTO, 2007).

    As concepes sobre velhice vm sendo construdas ao longo do desenvolvimento da

    humanidade. Uma das primeiras representaes grficas do envelhecer, segundo Leme (2001,

    p. 9), veio do Egito: o hierglifo que significa velho ou envelhecer, dos anos 2800-2700 a.C.,

    que representa uma imagem humana deitada, com ideograma representativo de fraqueza

    muscular e de perda ssea.

    Para os gregos antigos, conforme Arajo e Carvalho (2005), a vida humana se

    relaciona com o binmio matria e energia. Cada pessoa possua uma quantidade limitada de

    matria e calor, para ser usada durante toda a vida. Com o passar dos anos, a matria e o calor

    iam se dissipando. A velhice, portanto, era vista como a dissipao do calor at a total

    diminuio da reserva calorfica, ocorrendo ento a morte.

    Durante a idade mdia e at o sculo XVIII, os idosos eram pouco numerosos. A vida

    era muito rdua e aqueles que sobreviviam tinham que contar com a solidariedade da famlia

    ou com a caridade pblica de senhores feudais e da igreja (ALBUQUERQUE, 2005). Nesse

    sentido, Mascaro (2004) comenta que a vida dos idosos continuou difcil no incio do

    capitalismo e no sculo XIX durante a Revoluo Industrial. O destino dos mesmos era

    depositado nas mos das famlias que podiam trat-los com benevolncia, como tambm

    esquec-los, abandonando-os em hospitais e asilos.

    J o sculo XX, no entanto, foi marcado por grandes avanos na cincia do

    envelhecimento. Em parte devido ao crescente aumento do nmero de idosos, mas

  • 23

    principalmente aos conhecimentos adquiridos por meio de estudos que se desenvolveram

    desde os pioneiros Metchnikoff e Nascher, em 1903 e em 1909, respectivamente,

    estabeleceram-se os fundamentos da gerontologia, estudo da velhice, e da geriatria (FREITAS

    et al., 2002). Segundo essa mesma autora, at o aparecimento do trabalho de Warren, na

    dcada de 30, a Gerontologia estava restrita aos aspectos biolgicos do envelhecimento e da

    velhice, sendo mrito dessa pesquisadora delinear os primrdios da avaliao

    multidimensional e a importncia da interdisciplinaridade.

    Nas ltimas dcadas, de acordo com Camarano (2002), o crescimento da populao

    idosa foi consequente a dois processos: alta fecundidade no passado, observada nas dcadas

    de 50 e 60 e reduo da mortalidade na populao idosa.

    O envelhecimento para Spirduso (2005) concebido como uma experincia

    individual, tanto no aspecto de subjetividade como na perspectiva dos sistemas fisiolgicos,

    com ndices de envelhecimento e compensao diferentes. Este processo marcado por

    conjunto de traos morfolgicos, orgnicos e funcionais, agravados pelas doenas que

    acometem os idosos. A diferenciao entre o fisiolgico e o patolgico difcil, pois esses

    fenmenos guardam estreita relao (CARVALHO FILHO, 1997; JACOB FILHO; SOUZA,

    2000).

    Segundo Vieira e Glashan (1996), as modificaes que ocorrem nos diversos sistemas

    levam reduo da reserva funcional, que compromete a homeostasia e, consequentemente, a

    capacidade de adaptao s modificaes do meio. Esses autores ressaltam, ainda, a

    necessidade de se conhecerem as principais alteraes observadas no idoso, a fim de fazermos

    a distino dos efeitos da senescncia ou alteraes da senilidade.

    Canineu (1997) declarou ser o sistema nervoso o centro regulador e ferramenta

    indispensvel para a manuteno da homeostase com o envelhecimento. H alteraes

    anatmicas e qumicas no encfalo e medula, como diminuio do volume celular. Essa perda

    maior no crtex e menor no tronco cerebral, em que se localizam os centros reguladores da

    homeostase.

    A deficincia do sistema nervoso demonstrada por meio da falta de tolerncia s

    modificaes de temperatura, com produo de hipotermia ou hipertermia, alm da

    diminuio da sensibilidade de receptores responsveis pelo controle da presso arterial,

    receptores cutneos e quimiorreceptores. Essa diminuio da conduo dos estmulos , em

    parte, ocasionada por menor liberao dos neurotransmissores (OLIVEIRA; FURTADO,

    1999).

  • 24

    preciso considerar a diminuio da reserva funcional dos indivduos idosos, que

    somada aos anos de exposio a inmeros fatores de risco, os tornam mais vulnerveis a

    doenas. Eles so geralmente portadores de mltiplas enfermidades crnicas e incapacitantes

    e, por isso, consumidores de grande parte dos recursos oramentrios destinados sade

    (LOPES, 2002; PAPALO, 2002; KAWAS, 2003).

    Assim, a capacidade funcional surge como novo paradigma relevante para o idoso. A

    sade, dentro dessa nova perspectiva, passa a ser resultado da interao das dimenses fsica,

    mental, independncia na vida diria, integrao social, suporte familiar e independncia

    econmica, podendo, qualquer dessas funes, afetarem a capacidade funcional do idoso

    (RAMOS, 2002; BRASIL, 2007).

    Pesquisas atuais tm enfocado a memria, a ateno e os sistemas perceptivos, na

    tentativa de compreender os diferentes transtornos observados na clnica geritrica. Os

    avanos neuroanatmicos e as medidas neuropsicolgicas tm relacionado os sistemas

    neuronais e as funes cognitivo-comportamentais. A plasticidade cognitiva e neuronal esto

    presentes no curso de vida do adulto, havendo sua reduo associada idade (ABREU;

    TAMAI, 2006).

    Segundo Baltes e Baltes (1990), o envelhecimento deve ser interpretado, de forma

    global, como associao entre ganhos e perdas, seguindo critrio de otimizao seletiva com

    compensao, mostrando a existncia de plasticidade na velhice. Em conformidade com este

    referencial, Stern (2002) defende a idia de que o indivduo tem potencial cognitivo

    modificvel, referindo-se reserva cognitiva ou habilidade do indivduo para aperfeioar ou

    maximizar o seu desempenho atravs da ativao de mecanismos compensatrios.

    O crebro pode sofrer mudanas em sua organizao apresentada como

    neuroplasticidade, principalmente na localizao de informaes especficas, em decorrncia

    de vrios fatores, dentre eles, a aprendizagem. A neurognese refere-se formao de novos

    neurnios, o que parece ocorrer durante toda a vida. No so todas as reas do crebro que so

    beneficiadas com o nascimento de novas clulas, mas o hipocampo tem essa capacidade, que

    a regio fundamental para a memria. A neuroplasticidade e a neurognese contribuem para

    que o organismo se adapte s mudanas. Dessa forma, a aprendizagem em qualquer momento

    da vida contribui para essas duas funes (GUIMARES, 2007).

    A percepo, como conhecimento de uma informao do ambiente ou meio, a base

    da cognio. Seu processamento rpido e se d pelos sentidos (viso, audio, tato, olfato e

    propriocepo). As experincias individuais passadas tm grande influncia sobre a

    percepo. A cognio a capacidade de adquirir e de usar informao com a finalidade de

  • 25

    adaptar-se s demandas do meio ambiente. As funes cognitivas podem ser distintamente

    divididas em: ateno, orientao, memria, organizao visuomotora, raciocnio, funes

    executivas, planejamento e soluo de problemas. A capacidade de adquirir uma informao

    envolve habilidades para processar essa informao ou a capacidade para entender, organizar

    e integrar as informaes novas com experincias anteriores (LEZAK, 1995; VIEIRA, 2002;

    ABREU; TAMAI, 2006).

    Abreu e Tamai (2006) enfatizam ainda que a disfuno cognitiva (funcionamento

    anormal ou prejudicado) pode afetar a capacidade funcional em todas as esferas da vida, seja

    social, interpessoal, lazer, trabalho e atividades da vida diria. Neri (2006) refora que o

    declnio cognitivo associado ao desconforto pessoal, perda da autonomia e aumento dos

    custos sociais, apontando para a manuteno da cognio como indicador de qualidade de

    vida na velhice e da longevidade.

    Lopes e Bottino (2002) e Ventura e Bottino (2002) afirmam que o envelhecimento

    acarreta declnio cognitivo normal que se pode apresentar desde a meia-idade, mas que

    comum depois dos 70 anos. O dficit ou diminuio de habilidades cognitivas em indivduos

    idosos, de acordo com La Rue (1992), exibe grande variabilidade individual no ritmo e

    dimenso do seu declnio, especialmente em funo de fatores no intrinsecamente

    dependentes da idade cronolgica.

    igualmente consensual a noo de que o envelhecimento cognitivo normal

    influenciado por processos de natureza gentico-biolgica e scio-cultural. O primeiro

    determina declnio funcional sensorial e diminuio na velocidade de processamento da

    informao, ambos associados a alteraes neurolgicas tpicas do envelhecimento. O

    segundo determina desenvolvimento e manuteno das capacidades dependentes da

    experincia, podendo ter ao compensatria em relao s perdas do envelhecimento

    biolgico (BALTES, 1993 apud NERI, 2006). Dessa forma, o processo de envelhecimento

    compreende modificaes e perdas evolutivas, sendo essas transformaes pautadas

    geneticamente para cada espcie. Seu ritmo, durao e efeitos comportam diferenas

    individuais e grupais, relacionando-se com os eventos de natureza gentico-biolgico, scio-

    histrico e psicolgico (NERI, 2001; SILVA, 2005).

    Horn e Cattell (1966, apud NERI, 2006) propuseram o modelo bifatorial de

    inteligncia fluida e inteligncia cristalizada, que fundamenta o raciocnio da maior parte das

    pesquisas sobre o desenvolvimento intelectual ao longo da vida. A inteligncia fluida reflete

    as capacidades mentais primrias: raciocnio, memria, orientao espacial e velocidade

    perceptual. Essas capacidades declinam com a idade, em funo das mudanas neurolgicas e

  • 26

    sensoriais tpicas do envelhecimento, as quais afetam a velocidade do processamento da

    informao. A inteligncia cristalizada relaciona-se com experincias, dependendo da

    influncia da cultura e no diminui com a idade, a menos que ocorra declnio substancial nas

    capacidades fluidas. Sua interao com capacidades e processos bsicos aperfeioa

    capacidades mentais, tais como, compreenso verbal, fluncia verbal e raciocnio geral.

    Nos ltimos 50 anos, o estudo do envelhecimento cognitivo humano progrediu

    expressivamente, sabendo-se hoje que certos dficits de memria fazem parte do

    envelhecimento saudvel (YASSUDA et al., 2006). Entretanto, a literatura sugere que no

    envelhecimento saudvel a capacidade de reserva cognitiva pode ser mobilizada e at mesmo

    melhorada por meio do treinamento (BACKMAN, 1989; BALTES, 1990; DUNSLOSKY;

    HERTZOG, 1998).

    O envelhecimento normal, e inclusive o cognitivo, um processo de mudanas que

    comportam diferenas individuais, gerando uma etapa vital e pautada no reconhecimento de

    que o transcurso do tempo produz efeitos no indivduo, que entra numa fase diferente das

    vividas anteriormente, possuindo, ainda, uma realidade prpria e diferenciada, mas no menos

    importante.

  • 27

    2.2 ANALFABETISMO NA VELHICE: UMA REALIDADE NO BRASIL

    O analfabetismo no Brasil realidade que acompanha o envelhecimento populacional.

    O crescente nmero de idosos, especialmente de mulheres em contexto domiciliar, vem

    seguido de aumento do nvel de escolaridade em diversos Estados do Brasil. O homem idoso

    continua sendo mais alfabetizado que a mulher idosa. O conceito de analfabetismo torna-se

    relevante medida que o analfabetismo funcional est presente entre os idosos com algum

    nvel de escolaridade (IBGE, 2000).

    A populao de idosos representa contingente de quase 15 milhes de pessoas com 60

    anos ou mais de idade (8,6% da populao brasileira), sendo que as mulheres constituem a

    maioria. Cerca de 8,9 milhes (62,4%) dos idosos so responsveis por domiclios e tm, em

    mdia, 69 anos de idade, tendo estes em mdia 3,4 anos de estudo (IBGE, 2000).

    Segundo dados do IBGE (1995; 1996), comentados por Garrido e Menezes (2002),

    45,6% das mulheres idosas eram vivas, enquanto 79,1% dos homens idosos eram casados.

    Nesses anos, 37% dos idosos se declararam analfabetos, havendo entre esses um excesso de

    mulheres e de moradores em reas rurais. Em 1999, cerca de 65% dos idosos eram os

    responsveis pela famlia e mais de 1/3 ainda se encontrava no mercado de trabalho, e quase

    12% viviam sozinhos, havendo proporo maior de mulheres que homens nessa situao.

    Camarano (2004) confirma que foram observados avanos nos nveis educacionais da

    populao brasileira entre 1940 e 2000, aumentando a proporo de pessoas alfabetizadas,

    bem como o nmero mdio de anos de estudo. A proporo de idosos alfabetizados teve

    aumento significativo entre as mulheres. Quanto aos homens, o aumento foi de 59% e, entre

    as mulheres, de 146%. Em 1940, 74,2% da populao idosa feminina eram analfabetas e, em

    2000, essa frao caiu para aproximadamente 1/3. Apesar de os ganhos no perodo terem sido

    mais significativos entre as mulheres, so os homens idosos que se encontram em melhores

    condies de alfabetizao, sendo essa proporo de 68,9%, enquanto entre as mulheres de

    63,45%.

    Diante desse quadro, ainda reportando a Camarano (2004), h referncia que com

    relao ao gnero, os homens continuam sendo, proporcionalmente, mais alfabetizados do que

    as mulheres, j que at os anos 60 tinham mais acesso escola do que as mulheres. No caso

    dos idosos responsveis pelo domiclio, os ndices tambm melhoraram no perodo de 1991 a

  • 28

    2000, com aumentos significativos tanto na proporo de alfabetizados como no nvel de

    escolaridade.

    Na ltima dcada houve aumento significativo no percentual de idosos alfabetizados

    no pas. Em 1991, 55,8% dos idosos declararam saber ler e escrever pelo menos um bilhete

    simples, enquanto em 2000 esse percentual passou para 64,8%, o que representa um

    crescimento de 16,1% no perodo. Os dados fazem parte do Perfil dos Idosos Responsveis

    pelos Domiclios no Brasil, do IBGE (2000), mostrando que, apesar dos avanos, ainda

    existem 5,1 milhes de idosos analfabetos no Brasil.

    Os anos de escolaridade esto diretamente relacionados ao conceito de analfabetismo.

    Existem basicamente trs definies de analfabetismo em uso no Brasil, comentados por

    Amorim (2007): o da UNESCO, do IBGE e do INAF. Segundo definio da United Nations

    Educational Scientific and Cultura Organization (UNESCO), analfabeta a pessoa incapaz

    de ler e escrever e analfabeta funcional aquela que incapaz de utilizar suas habilidades de

    leitura e de escrita nas necessidades prticas dirias de seu contexto social. Para o Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), so analfabetas funcionais as pessoas com

    menos de quatro anos de educao formal. Com base em seu levantamento, e considerando

    que quatro anos de escolaridade no assegura o alfabetismo funcional, o Indicador Nacional

    de Alfabetismo Funcional (INAF) classificou os sujeitos em quatro nveis quanto ao grau de

    alfabetizao: analfabeto, aquele que no consegue realizar tarefas simples que envolvem

    decodificao de palavras e frases; alfabetizado nvel rudimentar, o que consegue ler ttulos

    ou frases, localizando uma informao bem explcita; alfabetizado nvel bsico, o que

    consegue ler um texto curto, localizando uma informao explcita ou que exija uma pequena

    inferncia; e o alfabetizado nvel pleno, aquele que consegue ler textos mais longos, localizar

    e relacionar mais de uma informao, comparar vrios textos e identificar fontes.

    Percebe-se que as definies de analfabetismo atualmente vigentes atendem a

    propsitos essencialmente scio-econmicos, no levando em conta a grande heterogeneidade

    de perfis de desempenho cognitivo evidenciada por estudos com populaes analfabetas

    (AMORIM, 2007).

    Quanto ao nmero de anos de estudo dos idosos responsveis pelo domiclio, o Censo

    do IBGE (2000) revelou ainda mdia muito baixa, apenas de 3,4 anos (3,5 anos para os

    homens e 3,1 anos para as mulheres). Comparando-se com o ano de 1991, houve aumento

    nessa mdia em ambos os gneros, mas o crescimento relativo nas mulheres foi maior do que

    nos homens, sendo de 29,2% e de 25,0%, respectivamente. Niteri, no Rio de Janeiro, e

    guas de So Pedro, em So Paulo, tm a maior mdia de anos de estudo em idosos no pas,

  • 29

    sendo de 8,2 e 7,3 anos, respectivamente, enquanto Novo Santo Antnio e Barra DAlcntara,

    ambos no Piau, tm a menor mdia, com 0,2 anos.

    Entre os estados brasileiros, a mdia de anos de estudos dos idosos responsveis por

    domiclios bastante diferenciada: varia de 6,0 anos no Distrito Federal a 1,5 anos no

    Maranho. J em algumas capitais, essa mdia muito superior. Em Florianpolis, por

    exemplo, os idosos responsveis pelos domiclios tm, em mdia, 7,2 anos de estudo,

    enquanto em Rio Branco essa mdia de 2,7. Dado curioso que nas Unidades da Federao

    do Nordeste e do Norte, nas quais a populao rural tem maior expresso, a mdia de anos de

    estudo nas capitais bastante superior. No estado do Maranho, a escolaridade mdia dos

    idosos bastante inferior mdia encontrada na capital So Lus, sendo de 1,5 e 4,7 anos,

    respectivamente (IBGE, 2000).

    Segundo o IBGE (2000), quanto ao analfabetismo funcional, 59,4% dos idosos

    responsveis pelo domiclio tinham, no mximo, 3 anos de estudo, resultado este influenciado

    pela alta proporo de responsveis com 75 anos ou mais de idade, sendo analfabetos ou

    analfabetos funcionais. Destes, 67,4% foram considerados analfabetos funcionais, sendo que

    53,3% dos idosos no grupo de 60 a 64 anos tinham at 3 anos de estudos, Ainda assim, houve

    significativa melhora no perodo intercensitrio, provavelmente resultado dos programas

    federais de alfabetizao de adultos implementados nas ltimas duas dcadas.

    Entre os estados brasileiros, o Maranho lidera com a maior proporo de analfabetos

    funcionais (82,7%), enquanto o Rio de Janeiro tem a menor proporo (38,1%). Nos

    municpios prximos das capitais verifica-se a mesma tendncia das Unidades da Federao,

    ou seja, nas reas geogrficas mais desenvolvidas os nveis educacionais dos idosos so

    melhores. Apesar dos avanos, a proporo de idosos com escolaridade mais alta ainda

    pequena. Em 1991, 2,4% dos idosos tinham de 5 a 7 anos de estudo, enquanto em 2000, essa

    proporo passou para 4,2%. Para aqueles que concluram pelo menos o ensino mdio, a

    proporo passou de 7,5% para 10,5%, com aumento de 40% (IBGE, 2000).

    A situao de analfabetismo pode, por si s, ser considerada fator limitante para a

    sobrevivncia e para a qualidade de vida. As diferenas no nvel de alfabetizao entre os

    gneros refletem a organizao social do comeo do sculo, que bloqueou o acesso escola

    aos mais pobres e s mulheres. O amplo acesso aos meios de alfabetizao, alm da questo

    de cidadania, poderia propiciar maior receptividade, por parte desses idosos, aos programas de

    educao em sade e, tambm, proteo contra as disfunes cognitivas que os afetam com

    frequncia (VERAS, 1994; TELAROLLI, 1996; FELICIANO et al., 2004).

  • 30

    2.3 TRANSTORNO COGNITIVO LEVE

    O envelhecimento da populao fenmeno mundial que tem efeito direto nos

    sistemas de sade pblica. Uma das principais consequncias do crescimento deste segmento

    o aumento da prevalncia das demncias, especialmente da Doena de Alzheimer

    (HAMDAN; BUENO, 2005).

    Canineu e Bastos (2002) referem que privilegiar o envelhecimento bem-sucedido

    requer tambm avaliar e antecipar os fatores de risco para o declnio cognitivo, bem como

    diagnosticar precocemente desvios que possam resultar em patologias na velhice. Inteligncia

    produtiva, hbitos bem organizados de trabalho e modo de vida sadio minimizam as

    deficincias progressivas do envelhecimento.

    comum o aparecimento de queixas relacionadas s alteraes da memria, podendo

    ser causadas por mltiplas situaes como: estresse, ansiedade, depresso ou at demncias.

    Geralmente, pessoas acima de 60 anos tm dificuldades com a memria e outras habilidades

    cognitivas (VENTURA; BOTTINO, 2002).

    vila e Bottino (2006) afirmam que, com o envelhecimento frequentemente ocorrem

    alteraes em diferentes reas da cognio, dependentes dos processos fisiolgicos que se

    alteram com a idade. O declnio cognitivo tem incio e progresso variveis, relacionando-se

    aos fatores educacionais, de sade, bem como ao nvel intelectual global e a capacidades

    mentais especficas do indivduo.

    Nos aspectos conceituais e na tentativa de apresentar atualizao sobre o Declnio da

    Capacidade Cognitiva (DCC), Charchat-Fichman (2005) apontou para o fato de que, ao longo

    das ltimas dcadas tm sido formuladas diferentes definies para caracterizar o DCC

    durante o envelhecimento. As primeiras definies propostas objetivavam caracterizar o DCC

    dentro dos limites de processo fisiolgico desta fase. Posteriormente, surgiram outros

    sistemas de classificao diagnstica, como o Transtorno Cognitivo Leve (TCL) para

    identificar indivduos com maior risco de desenvolver formas especficas de demncia.

    A importncia do conceito subjacente ao termo TCL pde ser avaliada por meio de

    estudos nos quais foi observada incidncia aumentada de demncia aps o diagnstico de

    TCL (RUBIN et al., 1989; FLICKER et al., 1991; MASUR et al., 1994).

    O TCL definido como o estado transitrio entre o envelhecimento normal e a

    demncia, refletindo situao clnica na qual a pessoa apresenta queixas de memria e

    evidncias de alteraes cognitivas que resultam em dificuldade para recordar nomes, nmero

  • 31

    de telefones e objetos guardados, porm no satisfazendo os critrios para possvel ou

    provvel Doena de Alzheimer (ZAINAGHI, 2006).

    Segundo Gomes e Koszuoski (2005), para ser caracterizado como TCL o indivduo

    deve preencher os seguintes critrios: ter queixa de memria confirmada por informante ou

    familiar, ter funes cognitivas gerais preservadas e manter as atividades de vida diria. O

    diagnstico de TCL tarefa complexa e ainda no bem sistematizada na populao de idosos.

    Os quadros leves so frequentes, passando muitas vezes despercebidos, havendo necessidade

    de distinguir entre manifestaes iniciais da doena e modificaes associadas com o

    processo normal do envelhecimento (ENGELHARDT et al., 1998).

    Para Petersen et al. (2001), uma das dificuldades no diagnstico de TCL reside na

    constatao de que nem todas as pessoas identificadas iro desenvolver demncia. Alguns

    desses indivduos iro ter deteriorao cognitiva progressiva, at a provvel ou possvel

    Doena de Alzheimer, enquanto outros permanecero estveis.

    As alteraes cognitivas podem comprometer o bem-estar bio-psico-social do

    indivduo idoso, impedindo a continuidade de sua vida social de forma participativa, assim

    como as interaes com os familiares em particular e com a sociedade em geral. A

    Associao Americana de Psicologia e a Academia Americana de Neurologia recomendaram

    que pessoas com TCL devem ser identificadas e monitoradas quanto progresso para

    desenvolver Doena de Alzheimer (HAMDAN; BUENO, 2005).

    Os indivduos identificados com TCL podero ser beneficiados por tratamentos em

    estgio anterior manifestao plena da demncia. Para isso, se faz necessrio a escolha de

    instrumentos de sensibilidade comprovada, auxiliados por longos perodos de observao

    clnica, uma vez que os padres de declnio cognitivo podem variar entre os indivduos e,

    tambm, por relatos do prprio paciente e de informantes (PETERSEN et al., 2001).

  • 32

    2.4 FUNCIONAMENTO DA MEMRIA NO IDOSO

    A memria desperta o interesse e a imaginao do homem desde a antiguidade.

    Contudo, os primeiros estudos cientficos sobre o tema foram realizados h pouco mais de um

    sculo (DALMAZ; ALEXANDRE NETTO, 2004). Filsofos tm especulado sobre a

    memria por mais de 2000 anos, desde que Scrates props que os seres humanos tinham

    conhecimento inato sobre o mundo (VILA, 2003).

    Hoje, com os avanos das cincias biomdicas, se adquire razovel conhecimento

    acerca dos mecanismos da formao da memria (SOUZA, 1996). Essa incrvel habilidade do

    homem em adquirir, reter e usar informaes ou conhecimentos sobre si e o mundo, faz com

    que a memria seja uma das mais importantes funes cognitivas (TOMAZ, 1993).

    Segundo Ferrari (1997) e Yassuda e Canineu (2005), o envelhecimento traz mudanas

    cognitivas, sendo mais frequentes dificuldades com o aprendizado e a memria. Nesse

    perodo da vida, h um declnio maior para novos aprendizados e resoluo de problemas.

    Tambm com o avanar da idade, h diminuio da habilidade de memorizao, recordao,

    de adquirir e reter novos conhecimentos e informaes.

    A memria a base para o desenvolvimento da linguagem, do reconhecimento das

    pessoas e dos objetos vistos todos os dias, para que o homem saiba quem e tenha

    conscincia da continuidade da prpria vida. Sem a memria, a cada dia, ou mesmo a cada

    momento, estaramos comeando uma nova etapa, sem podermos nos valer do que

    aprendemos anteriormente (YASSUDA, 2002).

    Salthouse (1991) e Xavier (1993) concordam que a memria no corresponde a um

    nico sistema, mas composta por sistemas em interao, formados por trs etapas (ou fases)

    do processamento da informao, diferenciando-se entre si somente em sua nomenclatura.

    So elas: codificao (ou registro da informao), reteno (ou armazenagem) e recuperao

    (ou resgate). Elas esto presentes em todos os sistemas de memria, estreitamente ligadas e

    com influncias mtuas. Com a idade avanada, o processo de codificao das informaes

    torna-se mais lento e dispendioso.

    Codificao trata-se da conduo de informao ao crebro, ou seja, de coloc-la na

    memria. Esta etapa depende da percepo dos cinco sentidos (audio, tato, paladar, olfato e

    viso) e da ateno, que por sua vez considerada mecanismo de filtragem limitador da

    quantidade de dados adquiridos ou armazenados na memria. Cabe ressaltar que os fatores

  • 33

    como fadiga, ansiedade e preocupao podem interferir neste processo (ATKINSON et al.,

    1995; LASCA 2003).

    Armazenagem consiste na conservao do conhecimento, mantendo a informao na

    memria. Esta etapa reforada pela repetio ou pela associao.

    Resgate refere-se ao acesso informao armazenada, tendo funo de relembrar os

    dados arquivados e podendo sofrer interferncia de aes ocorridas entre o momento da

    entrada de informao e o da recordao, que por sua vez, poder ser influenciada por fatores

    internos como humor, motivao, necessidade e interesse, bem como externos, como local,

    ambiente e pessoas presentes (COLOM, R; FLORES MENDOZA, 2001).

    No sculo XX surgiram modelos tericos importantes sobre a memria. Entretanto, o

    mais influente o estilo do processamento por nveis, proposto por Atkinson-Shiffrin (1968),

    no qual o modelo estrutural sugere a existncia de trs sistemas de armazenamento de

    informaes: Memria Sensorial, Memria de Curto Prazo e Memria de Longo Prazo.

    Sternberg (2000) relata que estes modelos so hipotticos e no estruturas fisiolgicas

    reais, servindo somente como modelo mental para compreender o funcionamento da

    memria. Diversos autores, dentre eles Ferrari (1997) e Bueno e Oliveira (2004), adotaram a

    estrutura de processamento em srie, no qual a diferena entre os tipos encontra-se nas regies

    enceflicas, no tempo de armazenamento e durao de cada processo aps a aquisio da

    informao. Portanto, a memria no envolve sistema nico, mas combinao complexa de

    subsistemas.

    Memria Sensorial o primeiro sistema responsvel pelo processo inicial da

    informao advinda dos sentidos e sua codificao, retendo temporariamente as informaes.

    Memria de Curto Prazo o segundo processo, denominada tambm de memria para fatos

    recentes, recebendo as informaes j codificadas pelo mecanismo anterior e permanecendo

    por alguns segundos ou minutos para que estas sejam utilizadas, descartadas ou mesmo

    organizadas. E por ltimo, Memria de Longo Prazo possui tempo e capacidade de

    armazenamento ilimitada, consistindo em trazer informaes retrgradas e pessoais (LGER

    et al., 1989; STOPPE JUNIOR, A; LOUZ NETO, 1999).

    Memria Sensorial corresponde ao registro inicial que fazemos da enorme quantidade

    de informaes capitadas por nossos sentidos. Esse registro pode ser visual, auditivo, ttil,

    olfativo, gustativo e proprioceptivo. Como sua durao de armazenamento curta, em torno

    de um a cinco segundos, a informao precisa receber ateno ou interpretao a ser

    transferida do armazenamento sensorial para a Memria de Curto Prazo sob a forma de

    imagens, palavras ou nmeros, ou ser esquecida (BADDELEY, 1992; PINTO, 2003).

  • 34

    Memria de Curto Prazo tem capacidade limitada, sendo que seu tamanho

    determinado pela quantidade de itens que ela armazena durante o perodo de quinze segundos

    a seis horas. descrita como o centro da conscincia humana, pois abriga os pensamentos e

    as informaes, que depois podero ser ou no ser armazenados numa memria mais estvel

    ou permanente (Memria de Longo Prazo). O esquecimento recorrente dos fatos, nesse

    perodo, explica-se devido durao de tempo ser curta ou ento, a ateno ter sido pouca,

    visto esta ser primordial para maior reteno desses conhecimentos (STUART-HAMILTON,

    2002; IZQUIERDO; BEVILAQUA; CAMMAROTA, 2006).

    Segundo Neri (2001), a Memria de Curto Prazo ainda subdividida em Memria

    Primria e Memria Operacional, sendo em ambas as informaes armazenadas por

    aproximadamente vinte segundos. A diferena entre elas est na maneira como o material

    processado. A Memria Primria tem capacidade de manuteno de poucos itens e contm as

    informaes recebidas que sero usadas imediatamente, como, por exemplo, reter um nmero

    de telefone que ser usado a seguir. Essa memria tem capacidade limitada, mas pode ser

    alargada no tempo e durar alguns minutos, sendo que essa extenso recebe o nome de

    Memria Operacional (DER LINDER et al., 1998; DAMASCENO, 1999).

    Memria Operacional trata-se do arquivamento temporrio da informao para o

    desempenho de diversidade de tarefas cognitivas essenciais, como aprendizagem, raciocnio e

    compreenso. Dessa forma, um objeto ou uma informao pode ser representada pela

    Memria Primria e posteriormente sustentada pela Memria Operacional (BADDELEY,

    2000). Porm, Engle et al. (1999) reforaram que, como sua durao curta, ser descartada

    ou transformada em Memria de Longo Prazo, caso haja cargas afetivas ou mltiplas

    repeties e associaes que ajudem a fixar. Memria Operacional afetada pelo

    envelhecimento natural, sendo que a velocidade de processamento diminui com a idade (DER

    LINDER et al., 1994; HERTZOG et al., 2003).

    Memria de Longo Prazo a capacidade que se tem de manter informaes gravveis

    por longos perodos de tempo. Essa memria tem como funo trs categorias de

    informaes: armazenamento, recuperao e esquecimento, que necessitam da seletividade e

    priorizao dos dados, ou seja, do mecanismo da ateno. Esse tipo de memria tem se

    mostrado bastante estvel e menos atingida na velhice (HELENE; XAVIER, 2003).

    O armazenamento da Memria de Longo Prazo afeta o indivduo em suas percepes

    perante o mundo e o influencia na tomada de decises. A recuperao, como readquirir

    informao depois de dcadas, assim como os limites da sua capacidade so desconhecidos. O

    esquecimento , portanto, um processo fisiolgico importante que ocorre continuamente,

  • 35

    filtrando aspectos irrelevantes ou estocando-os de modo que fiquem acessveis em sua forma

    original (HAMDAN, 2003).

    Estudos de dissociao envolvendo pacientes neurolgicos levaram Squire e Zola -

    Morgan (1991) e Squire (1992) a proporem distino de sistemas de memria, segundo o

    contedo a ser processado, diferenciando em Memria Implcita (no declarativa) e

    Memria Explcita (declarativa), ambas consideradas como subdivises da Memria de

    Longa Durao. Memria Implcita revelada quando a experincia prvia facilita o

    desempenho numa tarefa que no requer a evocao consciente ou intencional daquela

    experincia. Esse tipo de conhecimento inclui habilidades perceptuais motoras, cognitivas e

    hbitos (como andar de bicicleta, nadar e digitar) (SCHACTER, 1987).

    Memria Explcita refere-se s informaes que podem ser trazidas a conscincia por

    meio de recordaes verbais ou imagens visuais. Ocorre quando a evocao reconhecida e o

    indivduo tem acesso consciente ao contedo da informao, como a memria para fatos,

    imagens, a lembrana de experincia passada ou a recordao do prprio nome (SCHACTER,

    1987).

    De acordo com Douglas e Spencer (2006), emoo, humor e motivao podem

    influenciar o qu e o quanto lembrado. Cabe ressaltar que a Memria Explcita mais

    sensvel aos efeitos do envelhecimento do que a memorizao realizada inconscientemente,

    ou seja, memria implcita (YASSUDA, 2005).

    Acredita-se que h dois subsistemas na Memria Explcita: Memria Episdica

    (memria autobiogrfica) e a Memria Semntica. Memria Episdica composta de

    lembranas que o sujeito possui acerca de si prprio e de sua vida, sendo responsvel pelo

    armazenamento e recuperao de informaes pessoais, a exemplo: recordaes de

    experincias ntimas e eventos associados h um tempo e/ou lugar em particular, como

    lembranas da prpria formatura, de um filme ou de um rosto (EICH et al., 1994;

    GAZZANIGA et al., 2002).

    Memria Semntica uma das modalidades mnsicas que aparentam ser mais

    resistentes aos efeitos do envelhecimento biolgico. Ela registra informaes verbais, como

    nomes de pessoas ou lugares, descries de acontecimentos, conhecimentos gerais e de

    linguagem como vocabulrios, significados e normas semnticas e sintticas ou de idiomas

    (GREEN, 2000; BRUCKI, 2004).

    O crebro estrutura em permanente construo, assim como as memrias do

    indivduo, compreendida como conjunto de habilidades que possuem funcionamento

  • 36

    cooperativo de diferentes modos do sistema nervoso central, porm sendo independentes,

    proporcionando sensao de memria nica (XAVIER, 1996; NERI; YASSUDA, 2004).

    De modo geral, as pesquisas demonstram que o envelhecimento da memria

    compreende declnio e estabilidade. Alguns subsistemas, como Memria Semntica e

    Memria Implcita, apresentam-se estveis at idades mais avanadas, enquanto outros, como

    a Memria Operacional e a Memria Episdica, so afetados mais precocemente e

    intensamente pelo envelhecimento cerebral. Alguns indivduos apresentam declnio cognitivo

    expressivo, enquanto outros podem apresentar declnios insignificantes (CARVALHO, 2006).

  • 37

    2.5 ESTIMULAO COGNITIVA E SUA REPERCUSSO NA VELHICE

    notrio que durante o processo de envelhecimento normal, algumas capacidades

    cognitivas diminuem naturalmente com a idade. O termo cognio apresenta diferentes

    variaes conforme caracterizao de diversos autores. Abreu e Tamai (2006) referem a

    cognio como capacidade de adquirir e de usar informaes com a finalidade de adaptar-se

    s demandas do meio ambiente. As funes cognitivas podem ser distintamente divididas em:

    ateno, orientao, memria, organizao visuo-motora, raciocnio, funes executivas,

    planejamento e soluo de problemas. A capacidade de adquirir uma informao envolve

    habilidades para processar essa informao ou a capacidade para entender, organizar e

    integrar as informaes novas com experincias anteriores.

    Bem elucidada por Yassuda (2006), a funcionalidade cognitiva de idosos est

    relacionada sua sade e sua qualidade de vida, bem como, fator primordial no

    envelhecimento ativo e longevidade. O bom funcionamento cognitivo importante para

    autonomia e para capacidade de autocuidado dos idosos, influenciando as decises a respeito

    da possibilidade do idoso continuar a viver com segurana e independncia (OMS, 2005).

    A cognio , portanto, mais do que simplesmente aquisio de conhecimentos e,

    consequentemente, melhor adaptao ao meio; , tambm, mecanismo de converso do que

    captado para o nosso modo de ser interno. o processo pelo qual o ser humano interage com

    os seus semelhantes e com o meio em que vive, sem perder sua identidade (LEZAK, 1995).

    Para Vieira (2002), cognio o termo empregado para descrever toda a esfera do

    funcionamento mental. Esse domnio implica habilidades de sentir, pensar, perceber, lembrar,

    raciocinar, formar estruturas complexas de pensamento e capacidade de produzir respostas s

    solicitaes e estmulos externos.

    Santiago (2007) destacou que h forte influncia da escolaridade (analfabetismo) no

    desempenho cognitivo. A educao pode contribuir na aquisio da reserva cognitiva,

    havendo sugesto de que exposio estimulao cognitiva mais intensa e complexa pode

    estar associada com maiores conexes sinptica (ABISQUETA-GOMES, 1999).

    Segundo Dunlosky (1998), h declnio nas funes cognitivas, como memria,

    ateno e funes executivas, mesmo em idosos no acometidos por doenas. Entretanto, para

    a Organizao Mundial de Sade (2005), muitas vezes o declnio cognitivo ocasionado por

    desuso, doenas, fatores comportamentais, psicolgicos e sociais, mais do que por

    envelhecimento em si, podendo essas perdas ser compensadas por ganhos em sabedoria, em

  • 38

    conhecimento e em experincia. Estudos mostram que, no envelhecimento saudvel, existe a

    possibilidade de compensao de declnios cognitivos (BALTES; BALTES, 1990;

    DUNLOSKY; HERTZOG, 1998).

    Yassuda et al. (2006) mencionaram que os programas de treino cognitivo diferem em

    relao durao, s estratgias e metodologia empregada, encontrando-se na literatura

    grande diversidade em relao aos seus efeitos, sua generalizao para as tarefas no

    treinadas e manuteno dos resultados a longo prazo. Em conformidade com estes dados,

    Carvalho (2006) referiu que o treino da memria no envelhecimento saudvel e suas

    implicaes para o bem-estar do idoso constituem tema praticamente inexplorado dentro da

    perspectiva cientfica no Brasil. Como sugere a literatura, o treino de memria pode promover

    mudanas no funcionamento cognitivo em idosos e colaborar para manter sua funcionalidade

    e independncia (SOUZA e CHAVES, 2005; ALMEIDA, 2007).

    As intervenes cognitivas so compostas por diferentes tipos de programas de treino,

    que apresentam efeitos variveis e amplos no funcionamento cognitivo de idosos, mesmo em

    idades avanadas (NERI, 2006).

    Acevedo (2007) reforou que esses treinos tm como objetivo maximizar as funes

    cognitivas e prevenir futuros declnios cognitivos. O engajamento em atividades de

    estimulao cognitiva e em estilo de vida ativa socialmente tem efeito positivo na cognio e

    na possibilidade de prevenir declnios cognitivos e demncia na velhice.

    As oficinas de estimulao da cognio para idosos so importantes. Segundo

    Zimerman (2000), estimular consiste em instigar, ativar, animar e encorajar. Estimulao

    um dos melhores meios para minimizar os efeitos negativos do envelhecimento, levando os

    indivduos idosos a viver com melhor qualidade de vida. Os jogos e as brincadeiras permitem

    criar meios de manter a mente, as emoes, a comunicao e os relacionamentos em

    atividade.

    Yassuda et al. (2006), com o objetivo de verificar os efeitos de programa de treino de

    memria episdica em 69 idosos saudveis aps quatro sesses, encontraram efeitos modestos

    desse treino. No ps-teste, os idosos do grupo experimental apresentaram melhor desempenho

    na recordao de texto e maior uso de estratgias de memria.

    Souza e Chaves (2005), analisando o efeito da estimulao da memria sobre o

    desempenho no Mini Exame do Estado Mental (MEEM) em 46 idosos saudveis brasileiros,

    em treino de memria de oito sesses, observaram que a maioria dos participantes apresentou

    aumento significativo nos escores do MEEM aps os treinos. Outros estudos tambm

    realizados no Brasil por Lasca (2003) e Carvalho (2006), encontraram melhora no

  • 39

    desempenho dos idosos em tarefas de memria. Carvalho (2006) mostrou que o treino

    promoveu melhora na memria episdica e maior uso da estratgia treinada, indicando que

    idosos no acometidos por doenas podem-se beneficiar desse tipo de interveno. O estudo

    de Lasca (2003) objetivava avaliar os efeitos de um programa de treino de memria que

    consistia em instrues sobre como categorizar duas listas de supermercado. Os participantes

    foram avaliados no pr e ps-teste, sendo esse realizado sete dias aps o pr-teste.

    Evidenciaram que o treino promoveu modesta melhoria nas habilidades de memria, embora

    sem diferena estatisticamente significativa.

    Irigaray (2009), objetivando verificar os efeitos de programa de treino de ateno,

    memria e funes executivas na qualidade de vida e no bem-estar psicolgico de idosos,

    encontrou diferenas significativas entre os grupos no pr e ps-teste, em relao ao

    funcionamento cognitivo, qualidade de vida e ao bem-estar psicolgico. O grupo

    experimental recebeu doze sesses de treino, envolvendo informaes sobre ateno,

    memria, funes executivas, envelhecimento, instruo e prtica de exerccios. Aps o

    treino, os idosos apresentaram melhor desempenho cognitivo, melhor percepo da qualidade

    de vida e maiores ndices de bem-estar psicolgico. O autor concluiu que intervenes

    cognitivas podem contribuir para a melhora da qualidade de vida e do bem-estar psicolgico

    de idosos.

    O estmulo para um bom funcionamento mental, fsico e social configura-se como

    princpio para a promoo da sade de idosos. As oficinas para treinamento de memria so

    estratgias importantes, uma vez que queixas de memria so frequentes neste grupo etrio.

    Atividades mentais funcionam como fator de proteo no declnio cognitivo e algumas

    estratgias de memorizao tm-se mostrado eficazes para melhorar a memria (ALMEIDA,

    2007).

    Frente a isso, postula-se a aplicao do exerccio da memria atravs de sua

    estimulao/motivao, como mtodo teraputico na recuperao e/ou manuteno da funo

    neural associada cognio (SOUZA; CHAVES, 2005).

    Segundo Freire (2000), a velhice no implica necessariamente em doena e em

    afastamento, possuindo o idoso potencial para mudanas e reservas inexploradas. Quanto

    mais os idosos forem atuantes e estiverem integrados em seu meio social, menos nus traro

    famlia e aos servios de sade. De maneira geral, os idosos tm importantes reservas para seu

    desenvolvimento, que podem ser ativadas por aprendizagem, exerccios ou treinamento. Em

    boas condies mdicas e ambientais, muitos idosos continuam a ter potencial para

    desempenho em altos nveis e para adquirir conhecimentos tericos e prticos.

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    2.6 TESTES DE AVALIAO COGNITIVA

    Ao longo da vida mudanas ocorrem no crebro, exercendo papel importante na

    cognio do idoso, frequentemente alterando sua funcionalidade. A avaliao

    neuropsicolgica tem fornecido uma expressiva contribuio, sendo utilizada como auxlio na

    identificao de padres de envelhecimento cognitivo normal e patolgico (YASSUDA,

    2006; SANTIAGO, 2007).

    Segundo Brasil (2007), o grupo dos mais idosos, muito idosos ou idosos em velhice

    avanada (idade igual ou superior a 80 anos) vem aumentando de forma acelerada,

    constituindo o seguimento populacional que mais cresce nos ltimos tempos. neste contexto

    que a denominada avaliao funcional torna-se essencial para estabelecimento de diagnstico,

    prognstico e julgamento clnico adequados sobre os tratamentos e cuidados necessrios as

    pessoas idosas.

    Avaliao funcional busca verificar em que nvel as doenas e agravos impedem o

    desempenho das atividades de vida diria (AVDs) das pessoas idosas, permitindo o

    desenvolvimento de planejamento assistencial adequado. Portanto, capacidade funcional,

    independncia e autonomia da pessoa idosa surgem como novo paradigma de sade, proposto

    pela Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa (BRASIL, 2007).

    De acordo com Loureno e Veras (2006), as avaliaes geritricas associadas s

    informaes obtidas na histria clnica e no exame fsico tradicionais juntamente com aquelas

    produzidas por conjunto de instrumentos especficos, permitem detectar incapacidades,

    planejar cuidados prolongados, avaliar gravid