jacques lacan, passado presente - apresentação

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Rio de Janeiro | 2012 JACQUES LACAN, passado presente Tradução Jorge Bastos ALAIN BADIOU ÉLISABETH ROUDINESCO JACQUES LACAN - 5 prova.indd 3 2/8/2012 16:22:05

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Leitura fundamental para conhecer um dos homens mais influentes do século XX e os tentáculos de seu pensamento, que ainda hoje permeiam a sociedade, Jacques Lacan, passado presente, de Alain Badiou e Élisabeth Roudinesco, é uma conversa inteligente e ágil marcada por duas diferentes visões que se complementam e pintam um retrato fascinante deste que é considerado um dos homens mais importantes da psicanálise.

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Rio de Janeiro | 2012

Jacques Lacan,passado presente

Tradução Jorge Bastos

aLain BadiouÉLisaBeth Roudinesco

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Apresentação

com origem numa antiga história, cujos primórdios datam de quase quarenta anos, este livro se deve a uma conjuntura: a comemoração, em setembro de 2011, dos trinta anos de morte de Jacques Lacan. conhecemo-nos há muito tempo e, mesmo seguindo tendências políticas às vezes distintas, mantivemos, de longa data, um diálogo fecundo, fundado no reconhecimento das diferenças e, mais ainda, numa amizade que nunca passou por estre-mecimentos. tivemos em comum a paixão pelos trágicos gregos, de que Freud tanto gostava, pela Revolução de 1789 e sua história, pela poesia como ato de resistência da língua, pelo cinema e pelo engajamento político.

em abril de 2006, um ano e meio depois da morte de Jacques derrida, nosso amigo em comum, estivemos na École Normale Supérieure* na companhia de Yves duroux

* Prestigioso curso de formação superior, sendo a École de Paris, na Rua d’ulm, a mais famosa. (n.t.)

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para um debate sobre alguns filósofos franceses, entre os quais althusser, Foucault, sartre, canguilhem, deleuze. em março de 2010, na cidade de Rennes, num fórum do jornal Libération apresentado por Éric aeschimann, nos confrontamos, outra vez, em torno dos “Lendemains qui chantent”.* tendo saint-Just em mente, dizíamos: “a lei da felicidade não pode se limitar ao simples fato de nos incluirmos no mercado dos objetos disponíveis.” e também: “a catástrofe atual é o higienismo e a norma: o contrário da felicidade.” não gostamos do fanatismo religioso, do cientificismo, do dinheiro em exagero nem da avaliação desenfreada, que são sintomas do abandono dos ideais da razão. Resumindo, temos em comum a con-vicção de que o engajamento político deve seguir ao lado do trabalho, do rigor e da erudição.

era lógico, então, que um dia um diálogo nos reu-nisse, e foi em torno de Jacques Lacan que isso se deu: trinta anos depois. desde sempre, afirmamos que Lacan,

* Literalmente, “os amanhãs que cantam”. a expressão, tirada da autobiografia de gabriel Péri, deputado comunista fuzilado em 1941, se tornou de uso comum. Foram as últimas palavras que escreveu, na véspera da execução: “...o comunismo é a juventude do mundo e prepara amanhãs que cantam.” (n.t.)

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apresentação

renovador do pensamento freudiano, foi um mestre, no sentido socrático* do termo, capaz de atualizar uma po-lítica do sujeito, do desejo e do inconsciente. e acredi-tamos que a dupla abordagem aqui proposta, histórica e filosófica — por mais fugaz que seja —, deva permitir ao leitor interrogar mais uma vez a questão crucial das relações entre revolução política e revolução subjetiva. de forma que transformamos essa convicção em diálogo de duas vozes, em dois tempos e dois momentos: Jacques Lacan, passado presente.

a primeira parte, “um mestre, dois encontros”, desen-volve uma sequência de reflexões pessoais sobre a relação que cada um de nós teve com Lacan, nos anos 1960-1970. a segunda, “Pensar a desordem”, é uma crítica, evocando os aspectos mais pertinentes da contribuição lacaniana, de todos os sectarismos contemporâneos — ideal comu-nitarista, obscurantismo, paixão pela ignorância — que contribuíram, tanto no campo da psicanálise quanto no da política, para um rebaixamento do pensamento.

* a partir dos diálogos de Platão, percebe-se que sócrates era um mestre que se recusava a ter discípulos e que estimulava a autor-reflexão. (n.t.)

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queremos crer, aqui e agora, que, para além da an-gústia mortífera, sob a qual se obstina a se autoproclamar nossa sociedade em crise, uma representação do futuro torna possível nova esperança. Freud, afinal de contas, elaborou certa concepção trágica do sentido íntimo, bem distante do cada-um-por-si que caracteriza nossa época. Por que não pensar a possibilidade daquela invenção voltar a ser, assim como a revolução, uma ideia nova no mundo?

a.B. e É.R.

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