jaguaribe_a máquina de passar filme

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A mquina de passar filme

(Vicncia Jaguaribe)

Como em toda cidade pequena, h trinta ou mais anos, em Jaguaruana guardava-se luto por dois ou trs dias, quando morria algum de certa projeo social adiava-se festa, comemorao e qualquer outra atividade que destoasse dos sentimentos despertados pela morte.

Licrio era um primo de minha me. No, esse no nascera no Giqui. Os parentes do Giqui so os da famlia de meu av, Joo Lus de Freitas, o Joo Lucas; o Licrio era parente pelo lado de minha av, Otlia Carlos de Freitas. Apaixonado pela stima arte, o Licrio no perdia uma nica sesso no precrio e desconfortvel cinema da cidade. Como nossa casa ficava no caminho que ele tinha de percorrer para chegar ao prdio onde as pelculas eram projetadas (alis, o prdio ficava vizinho nossa garagem), ele ia um pouco mais cedo, parava na calada e ficava conversando com meu pai.

No dia em que o Sr. Agostinho Severino morreu, o Licrio fez o percurso de sempre para chegar ao cinema. Quando parou l em casa, meu pai perguntou para onde ele ia. Ele lhe respondeu que ia ao cinema.

Mas que cinema, rapaz!? Hoje no vai passar filme, no, o Agostinho Severino morreu informou meu pai.

Com cara de surpresa, perguntou o Licrio:

Espere! E ele levou a mquina de passar os filmes!?