joão gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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VirtualBooks

Page 3: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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© Copyright 2013, João Gabriel da Fonseca Mateus.

Capa: Diney Vasco

1ª edição

1ª impressão

(2013)

Todos os direitos reservados, protegidos pela lei 9.610/98.

Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida,

em qualquer meio ou forma , nem apropriada e estocada

sem a expressa autorização do autor.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

_____________________________________________ Mateus, João Gabriel da Fonseca

ESCRITOS SOBRE A IMPRENSA OPERÁRIA DA PRIMEIRA

REPÚBLICA. João Gabriel da Fonseca Mateus. Pará de Minas, MG:

Editora VirtualBooks, 2013.14x20 cm., 191 p.

ISBN 978-85-7953-973-2

1. Jornalismo. 2. Luta política na imprensa anarquista e operária brasileira.

3. Jornais do proletariado brasileiro. 4.História. 5. A educação e o

anarquismo no Brasil. Título.

CDD- 070

____________________________________________

Livro editado pela

VIRTUALBOOKS EDITORA E LIVRARIA LTDA.

Rua Porciúncula,118 - São Francisco

Pará de Minas - MG - CEP 35661-177 -

Tel.: (37) 32316653 - e-mail: [email protected]

http://www.virtualbooks.com.br

Page 4: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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AGRADECIMENTOS

Ao longo do tempo em que este texto foi escrito

acumulei um bom número de dívidas de gratidão. Assim, o

espírito coletivo deste trabalho me deixa na obrigação de

agradecer algumas pessoas que me auxiliaram no processo de

sua constituição. Sendo assim, remeto meus sinceros

agradecimentos:

À Sônia Lobo, minha orientadora da monografia, que

com toda paciência acolheu meu pedido de orientação, as

justificativa de meus atrasos, me deu total independência

teórica e de estudos e foi comigo até o fim com leituras atentas

e comprometidas; meu grande amigo e companheiro de luta

Deivid Carneiro pelas conversas sobre essa “sociedade

cancerígena”; Rafael Saddi pela atitude libertária que carrega

em si de forma singular e por toda ajuda na orientação deste

texto; Luiz Aurélio Bueno Neves, companheiro que durante

nossos dias de pesquisa no Arquivo Edgard Leuenroth

propiciou várias conversas proveitosas sobre as nossas

pesquisas; ao Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), em especial

Marina Rabelo, Maria Dutra de Lima, Humberto Innarelli, Ana

Paula e Ricardo Biscalchin, trabalhadores desse arquivo que

foram prestativos e pelo auxílio nos dias de coleta das fontes;

ao casal Reginaldo e Sirlene Noleto pela estadia e pelos dias

agradáveis na cidade Campinas/SP; Felipe Corrêa da

Federação Anarquista do Rio de Janeiro e Thiago Lemos do

Grupo de Estudos Sobre Anarquismo de Patos de Minas pelas

indicações bibliográficas disponibilizados por eles e que aqui

foram utilizados; ao “anarco-peruano” Juan Chacón,

companheiro libertário que com nossas conversas ébrias

contribuiu e muito ao longo da escrita do texto e fez

gentilmente as correções gramaticais a pedido da banca; a Luiz

Eduardo Bacural; A Diney Vasco por produzir a capa; a todos

meus companheiros autogestionários, em especial, Marcos

Ataídes, Reinaldo Souza, Edmilson Marques, Nildo Viana,

Cleito Pereira; Lisandro Braga e Lucas Maia que tem a

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essência de verdadeiros militantes: a amizade e a solidariedade

libertária.

Impossível seria esquecer-se da minha família: meu

pai João Batista, um sincero e humilde homem que me inspira

cotidianamente no meu modo de agir diante dessa humanidade

desumana; minha mãe Mary Lane, pela paciência às minhas

ausências familiares, pelo carinho e pelo amor enorme que tem

pelo “filho anarquista”; minha irmã Gisele que, quem sabe,

trilhará pelos complicados e tortuosos caminhos da docência;

aos meus “prirmãos” Marcílio Júnior e Vinícius Mateus; ao

meu primo “anarcólogo” Munís Alves pelos debates sobre

anarquismo e com as leituras de seu blog fez com que eu

direcionasse meu olhar para outras questões que até então

estavam despercebidas; ao tio Mariozan (in memoriam) pelas

agradáveis conversas que tive quando saía de Goiânia para ter

paz de estudo na sua casa; aos demais familiares.

Muitos ficaram e estes se sintam agradecidos. Eis aqui

meus singelos agradecimentos aos que a falha memória me

propiciou. No mais, todos vocês foram imprescindíveis nesse

trajeto tortuoso, sofrível e, enfim, realizado.

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DEDICATÓRIA

(...) Ao povo pobre e trabalhador!

(faixa 3 Quem é esse homem do capítulo II do disco Balões de

Ar - banda Señores)

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LISTA DE ABREVIATURAS

ADS – Aliança Democrática Socialista

AEL – Arquivo Edgard Leuenroth

AIT – Associação Internacional dos Trabalhadores

CGT – Confédéracion Géneral du Travail (Confederação Geral

do Trabalho)

COB – Confederação Operária Brasileira

FORA – Federação Operária Regional Argentina

FOSP – Federação Operária de São Paulo

FRE - Federación Regional Española

FTRE - Federación de Trabajadores de la Región Española

IFCH – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

PCB – Partido Comunista Brasileiro

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

UTG - União dos Trabalhadores Gráficos

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SUMÁRIO

Resumo / 11

Prefácio: “Ação direta ensina a viver sem tutela”:

o aspecto pedagógico da luta política na imprensa

anarquista e operária brasileira – Thiago Lemos Silva. / 13

Introdução / 17

CAPÍTULO I /

1.1. Estado atual dos conhecimentos / 26

1.2. Delimitação teórico-metodológica e conceitual / 39

CAPÍTULO II

Contexto do proletariado brasileiro na Primeira República

/ 53

2.1. Imigração, formação do operariado e condições de

trabalho / 53

2.2. Sociedades de resistência, sindicatos e imprensa

operária / 58

2.3. De A Lanterna à A Plebe / 63

2.4. Edgard Leuenroth: breve biografia de militante

anarquista / 69

2.5. A constituição da Semana Trágica / 74

2.6. Do dia 9 a 16 de julho: a Semana Trágica / 78

CAPÍTULO III

A Plebe e a ação política pedagógica da ação direta / 85

3.1. “Trabalhador forte e fecundo” / 85

3.2. Pela ação direta: “Rumo à Revolução Social” e “Em

nome do Povo, não!” / 87

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3.3. Contra a Igreja e o clericalismo / 91

3.4. A Plebe durante a Greve Geral / 92

3.5. A Plebe após a Greve Geral / 97

3.6. Pictografia como recurso educacional / 104

3.7. Poesias libertárias / 112

3.8. A influência das Escolas Modernas e indicações

bibliográficas / 116

3.9. A “Gazetilha de Satan” critica com sarcasmo / 119

Considerações Finais / 121

Fontes para Pesquisa / 122

Jornais / 122

Referências Bibliográficas / 123

Apêndices / 133

O comunismo anarquista do jornal Spártacus (1919 –1920)

/ 134

Referências / 152

Jornais / 152

Bibliografias / 153

La prensa operaria en Brasil: la importancia de los

periódicos libertários / 156

O sindicalismo revolucionário como estratégia dos

Congressos Operários (1906, 1913, 1920) / 160

Nas páginas da Imprensa da Primeira República: os

poemas anticlericais em A Lanterna / 176

Referências Bibliográficas / 190

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RESUMO

Este livro é fruto de uma pesquisa realizada junto ao

Arquivo Edgard Leuenroth da Universidade Estadual de

Campinas (AEL – UNICAMP) que trabalha as aspirações e

práticas pedagógicas do periódico A Plebe de 1917. Assim,

tencionamos acompanhar nesse ano (do número de sua

fundação à sua paralisação na décima nona edição) os

pressupostos políticos e pedagógicos da ação direta, ou seja,

as formas utilizadas pelo periódico para compreender um

processo de formação de uma auto-educação libertária,

fundamentada nos pressupostos do anarquismo. Com isso,

entendemos que a estratégia anarquista adotada por A Plebe

articulava a luta libertária em prol de uma sociedade igualitária

com a instrução da classe trabalhadora para que atingisse um

objetivo final, ou seja, a revolução social e a construção de

uma sociedade libertária. Sendo assim, analisaremos nas

páginas que seguem, alguns desses elementos da ação direta

como pressupostos políticos e pedagógicos na constituição de

formas de sociabilidade coletiva com um fim social efetivo.

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PREFÁCIO

“Ação direta ensina a viver sem tutela”: o

aspecto pedagógico da luta política na imprensa

anarquista e operária brasileira Thiago Lemos Silva

Repudiamos [...] a ação eleitoral e parlamentar,

que só serve para reforçar o Estado [...] e

adormecer as energias populares. O nosso

método é ação direta que [...] tende a despertar

a iniciativa e a coragem, leva a agir por conta

própria, a unir-se, a viver sem tutela [...]

preconizamos (como meios de ação direta) a

greve, a boicotagem, a sabotagem, a agitação

de praça, o comício, a greve geral, e por fim a

insurreição e a expropriação a que os

oprimidos e explorados devem recorrer, se a

isso levados pela necessidade e pela

consciência da sua própria força.1

Ao enunciar sua definição dos militantes engajados

com o jornal A Plebe, Neno Vasco introduziu uma imagem

capaz de traduzir o aspecto essencialmente pedagógico do qual

estava profundamente impregnada a luta política levada a cabo

pela imprensa anarquista e operária, durante o contexto que

abarca o período da Primeira República no Brasil.Inscrevendo

a ação direta no cerne da política, Neno Vasco e seus

companheiros de viagem apostavam na possibilidade de o

proletariado aprender, por si mesmo, a lutar em prol dos

interesses da sua classe social, construir a consciência dos

antagonismos entre capital-trabalho, superar a função do

Estado e, por conseguinte, revolucionar a sociedade capitalista,

fato que tornaria exequível sua reconstrução ulterior em

Mestre em História pela UFU (Universidade Federal de Uberlândia);

professor na rede pública e particular de educação básica de Patos de Minas

(Minas Gerais) e membro do Coletivo Mundo Ácrata. 1VASCO, Neno. O que somos. A Plebe. São Paulo,n º54, 28/07/1920.

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direção ao socialismo. Perscrutar esse aspecto sublinhado por

Neno Vasco constitui o objetivo maior do trabalho de João

Gabriel da Fonseca. Resultado de pesquisa e redação de

monografia defendida junto ao Curso de História do Instituto

Federal de Goiás, o livro deste jovem pesquisador lança um

novo olhar sobre os aspectos “formais” e “informais” do

projeto político-pedagógico do jornal A Plebe, durante A

Semana Trágica de 1917 na cidade de São Paulo, momento

particularmente rico do “sonhar libertário”2, para evocar aqui a

feliz expressão de Cristina Hebling Campos.

Breve, porém, intensa em termos de agitação social, A

Semana Trágica assume na narrativa tramada pelo autor mais

que meros sete dias de existência. Privilegiando os múltiplos

fatores que a tornaram possível, João Gabriel da Fonseca

coloca em evidência a luta contra a carestia de vida, a

diminuição da jornada diária para 08 horas, a regulamentação

do trabalho infantil e feminino, as ressonâncias da Revolução

Russa, o assassinato do operário José Martinez, os saques ao

Moinho Santista, o emergir das Ligas Operárias de Bairro e o

papel do Comitê de Defesa Proletária.

No entanto, ela não se reduz a isso. Distanciando-se das

interpretações esquemáticas e simplistas, o historiador recusa-

se a ver n’A Semana Trágica um ato puramente espontaneista

dos trabalhadores por um lado, ou como a ação diretiva de uma

vanguarda política por outro. Pelo contrário, ela revelaria o

processo de enraizamento e duração da estratégia de ação

direta, forma pela qual o anarquismo exerceu sua hegemonia

no interior do movimento operário brasileiro, que se

encontrava presente nas lutas contra o patronato desde a aurora

do século XX.

Das atividades nos sindicatos até as intervenções nas

escolas racionalistas, passando pela crítica ao militarismo e a

luta anticlerical, João Gabriel da Fonseca nos mostra o papel

2 CAMPOS, Cristina Hebling. O sonhar libertário: movimento operário

nos anos de 1917 a 1921. Campinas: Pontes/ Campinas, 1988.

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não desprezível que A Plebe, surgida no entremeio d’ A

Semana Trágica, desempenhou enquanto centro de aglutinação

e irradiação de um projeto político-pedagógico que conferiu à

ação direta a difícil tarefa de ensinar os trabalhadores a

viverem sem tutela. Na sua luta pela autonomia, esse projeto

não se restringiu as formas tradicionais de educação política,

que visavam persuadir os trabalhadores racionalmente por

meio da propaganda doutrinária. Ao lado dessa forma de

educação política, vemos surgir nas páginas d’ A Plebe , uma

outra, que integra, mas, ao mesmo tempo ,transcende a sua

dimensão puramente racional; fato que não se furta à análise

extremamente cuidadosa de João Gabriel da Fonseca.

Em conjunto com os panfletos, ensaios, informes e

demais gêneros literários cuja fisionomia se aparenta, o autor

também se detêm nos gêneros literários que não podem ser

tomados apenas como formas de propaganda dirigida, tais

como as caricaturas, poesias e crônicas. Com objetivos

semelhantes, porém com funções diferentes, esses gêneros

literários tinham como finalidade mais sensibilizar do que

persuadir os trabalhadores na sua luta contra o capital,

mostrando que a autonomia é uma conquista que passa tanto

pelo intelecto quanto pelo coração.

Se analisada a partir dessa perspectiva, o aspecto

pedagógico da luta política enfatizado por Edgard Leuenroth,

Florentino de Carvalho, Adelino Pinho e os demais articulistas

d’ A Plebe ganha outro sentido, muito mais profundo e

abrangente. Tal como é entendido pelo autor, a luta política é,

em si mesma, tomada como um processo pedagógico. Não se

tratou, obviamente, de um projeto que visava criar uma escola

aonde o militante “iluminado” viria, em um passe de mágica,

fazer com que os trabalhadores aprendessem o socialismo,

mas, antes fazer com que as organizações que lutavam pelo

socialismo tivessem um caráter pedagógico.

O constante esforço dos anarquistas para retirar os

trabalhadores da apatia e incitá-los à ação, o qual eles

responderam de modo positivo e efetivo, talvez nos ajude a

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entender a reação violenta dos poderes instituídos na semana

de 09 a 16 de julho do ano de 1917. Afinal de contas, nada

mais perigoso a uma República cujo cimento da dominação

estava assentado na dependência clientelista do que um

movimento operário que agia de modo totalmente autônomo.

Em virtude disso, o governo de São Paulo agiu de forma tão

repressiva em relação aos movimentos grevistas que eclodiram

na cidade no referido ano, procurando a todo custo erradicar os

indesejáveis anarquistas, como se estes fossem plantas exóticas

de impossível aclimatação em um solo tido como ordeiro e

pacífico, imagem esta que foi constantemente reatualizada e

ritualizada pelas elites nacionais da época, quando tratou-se de

deslegitimar toda a resistência por parte do jovem

proletariado brasileiro contra o nascente capitalismo industrial.

Quase um século nos separa dos personagens dessa

história que nos é contada pelo autor, o que pode gerar certo

estranhamento no leitor que se dispuser a enfrentar o presente

livro. Em uma época em que se anuncia “ o fim das utopias”, “

o desencantamento do mundo”, “ a ascensão da

insignificância”, “ a amargura da história”, entre outros lugares

para designar o mundo dito “pós-moderno”, em que toda e

qualquer forma de tentativa de mudar a sociedade constitui

uma quimera irrealizável, o projeto político-pedagógico levado

a cabo pelos anarquistas antes, durante e depois d’ A Semana

Trágica parece algo arcaico e obsoleto.

Entretanto fica aqui o convite, em forma de desafio,

para o leitor refletir se o livro é ou não contemporâneo ao

século XXI, século que parece desconhecer a sábia lição

extraída de Rosa Luxemburgo, também libertária, em face das

reiteradas e frequentes derrotas do movimento socialista no

século XX, bem como sua dimensão eminentemente

pedagógica: “Não estamos derrotados. Ao contrário,

venceremos, se não tivermos desaprendido a aprender”3.

3LUXEMBURGO, Rosa. A crise da social democracia. Disponível em:

http://www.marxists.org/portugues/luxemburgo/1915/junius/cap01.htm.

Acesso em: 09 de maio de 2013.

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INTRODUÇÃO

Este texto é a monografia defendida para obtenção do

título de graduação em Licenciatura em História pelo IFG

(2009 – 2013) que foi defendido e aprovado em 15 de

fevereiro de 2013. Além desse texto, a obra é composta por 4

artigos publicados em revistas/jornais especializados na área

de ciências humanas.

A ideia de fazer esse trabalho está intrinsecamente

ligada com a forma que me deparei durante a minha trajetória

acadêmica com a educação e o anarquismo (de maneira difusa

e marginal) e também, na forma como hegemonicamente esses

dois conceitos (e são além de meros conceitos) são entendidos

no interior das faculdades, universidades, escolas, etc. As (in)

compreensões na maioria das vezes foram fruto, ora de mal

entendidos, de falta de leituras e quando houveram, leituras

apressadas que formaram uma imagem caricatural do

anarquismo; outrora de ranços e intenções a priori com um

objetivo já delimitado e (pré) conceituoso sobre essas

temáticas. Quando assim pensado, fica quase impossível

compreender algo de proveitoso do anarquismo.

Dessa maneira, as páginas que se seguirão não

buscam um fim em si mesmo, e também, não são a solução

para essas incompreensões das quais eu cito. São meros

esforços para compreender algumas singularidades recônditas

das práticas políticas anarquistas (uma entre tantas) que

emanaram da classe trabalhadora para a classe trabalhadora.

Um grão de areia frente ao que já foi produzido e está

arquivado. Assim, ressalto as palavras de Errico Malatesta4

quando afirmava que “Na ciência, as teorias, sempre

hipotéticas e provisórias, constituem um meio cômodo para

reagrupar e vincular fatos conhecidos, e um instrumento útil

4 MALATESTA, E. Anarquismo y Anarquia. In: RICHARDS, V.

Malatesta: Pensamiento e Acción. Buenos Aires: Tupac Ediciones

Revolucionarios, 2007, p. 39.

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para a investigação”, mas essa ciência apenas interpreta os

fatos novos e não é a verdade única e acabada.

Outros autores e autoras importantes deveriam ser

tratados aqui na temática geral, mas por falta de espaço e

tempo, não puderam ser contemplados. Mesmo assim,

Proudhon, Bakunin, Élisée Reclus, Louise Michel, Errico

Malatesta, Piotr Kropotkin, Gori, Luigi Fabbri, Luce Fabbri,

Max Nettlau, Ferrer y Guardia, Emma Goldman, Nestor

Makhno, Volin, Sébastien Faure, Arshinov, Rudolf Rocker,

Tolstói, José Oiticica, Neno Vasco, Fábio Luz, Domingos

Passos, Maria Lacerda de Moura, Everardo Dias, João

Penteado, Adelino Pinho, Florentino de Carvalho, Oresti

Ristori, Gigi Damiani, Giovanni Rossi, Malvina Tavares,

Hermínio Marcos, Avelino Fóscolo, Fábio Luz, Domingos

Passos, Edgar Rodrigues, Milton Lopes, Carlo Aldegheri, Ideal

Peres, Jaime Cubero, Noam Chomsky, Daniel Guérin, estão às

vezes diretamente e indiretamente citados no texto. Basta uma

reflexão mais atenta que será possível visualizar isso.

Assim, A Semana Trágica dos dias 9 a 16 de julho de

1917 estampada nas páginas d’ A Plebe será analisada aqui

mais do que meros 7 dias. Tem seus acontecimentos e seus

determinantes frutos de vários motivos que lhe são anteriores e

ressonâncias posteriores, já que reacendeu e reacende a

esperança, como um legítimo sentimento do ser humano de

sonhar-para-a-frente (BLOCH, 2005, p. 21).

* * *

No século XIX, bastante estimulados pela propaganda

do governo brasileiro sobre a chamada “terra da

oportunidade”, muitos europeus emigraram para o Brasil entre

1870 e o começo da Primeira Guerra Mundial. Tamanha foi a

imigração que, “entre 1884 e 1903, o Brasil recebeu mais de

um milhão de italianos” (DULLES, 1973). Com eles também

vieram as ideais do movimento operário europeu. Os

imigrantes que chegavam ao Brasil vinham carregados de

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valores, concepções e pensamentos de organização proletária,

características da Europa daquele contexto. Na perspectiva

organizacional do movimento operário a imprensa foi um

órgão de grande importância pela propagação dos interesses

dos trabalhadores, na divulgação dos ideais do movimento e

suas ações políticas, carregando ainda um caráter didático e

doutrinário. No caso brasileiro, as transformações ocorridas no

processo de modernização potencializaram o crescimento e a

necessidade da imprensa, trazendo a “difusão de novos hábitos,

aspirações e valores” (LUCA, 2011:120), que abrigava uma

infinidade de publicações periódicas.

Assim, no incipiente movimento operário, os

anarquistas foram os principais participantes e levaram os

periódicos em formas de jornal como o principal mecanismo

de propagação de seu ideal de emancipação social.

Apresentavam alternativas ao operariado, com ideais que

contrariavam a ordem capitalista vigente, tais como: greve

geral, boicotes, sabotagens, revolução social, etc.

A greve geral de 1917, que assumiu na memória

social o sentido de um ato simbólico e único5, entra nesse

cenário como uma expressão das precárias vidas dos

trabalhadores paulistanos e como um momento de “convulsão

social sem precedentes na história do Brasil” (LOPREATO,

2000, p. 46).

Para reconstruirmos a história desses movimentos de

reprodução de ideais libertários se torna fundamental

buscarmos, um elemento dentre as mais diversificadas formas

de compreender o movimento operário: a imprensa operária

caracterizada pelos periódicos criados por trabalhadores. Com

isso, o periódico A Plebe, escolhido como fonte primária para

esta pesquisa, foi um dos jornais do proletariado que pretendia

conscientizar a classe trabalhadora de sua situação de

explorados e unir os trabalhadores em suas lutas por melhores

condições de vida e trabalho.

5 FAUSTO, 1977, p. 192.

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O assunto de que trata o presente estudo é a relação

entre imprensa operária e educação. De maneira mais

específica, o trabalho que se segue visa analisar os

pressupostos políticos e pedagógicos no âmbito da

“resistência” ao capitalismo encontrado no periódico A Plebe,

inserido no contexto do movimento operário na Primeira

República do Brasil no ano de 1917. Mais especificamente,

nossa pesquisa procurará entender o que ficou chamado de “A

Semana Trágica” (LOPREATO, 2000) e assim, compreender

os pressupostos pedagógicos d' A Plebe durante esse recorte

temporal. Para isso, foi necessário compreender as condições

de vida e trabalho do proletariado na Primeira República do

Brasil que levaram à construção de formas de organização no

movimento operário, entendendo a importância das

organizações operárias (ligas operárias, greves, sindicatos,

sociedades de resistência, regiões de lazer e cultura operária)

para a luta cotidiana dos trabalhadores.

Além disso, centramos nosso recorte temporal na

Greve Geral de 19176 na cidade de São Paulo, compreendendo

o processo histórico do nascimento do jornal operário A Plebe

advindo do periódico A Lanterna7. É nesse contexto que

podemos analisar a linha de entendimento do mundo

propagada pelo jornal caracterizado pelos seus propósitos

6 José Carlos Orsi Morel ao analisar a situação da classe trabalhadora irá

dizer que “la huelga general del 17 surge como uma respuesta radical del

movimiento contra la situación de extrema miséria y opresión” (MOREL,

1988, p. 28).

7 No segundo capítulo deste trabalho iremos apresentar a história desse

periódico. Mas de antemão, A Lanterna, foi um periódico anticlerical de

orientação anarquista e órgão da Liga Anticlerical. Foi considerado por

Boris Fausto, como “o veículo mais consistente do anticlericalismo

anarquista, embora seja razoável supor que ele tenha sido temperado pelo

propósito de aglutinar outros círculos além dos libertários”. Foi inaugurado

sob a égide de Benjamin Motta no qual permaneceria até 1904 ocorrendo

uma paralisação das publicações e será retomado no ano de 1909 por

Edgard Leuenroth (FAUSTO, 1977, p. 83).

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educativos já que em qualquer das tendências dentro do

movimento operário o jornal é tido como um “portador de suas

propostas, como veículo de suas resistências e como proposta

de educação dos trabalhadores” (KHOURY, 1987, p. 15).

No campo educacional, as ações do movimento

operário foram diversas, sendo que, na realidade, “as

atividades abraçadas pelos trabalhadores dentro do movimento

operário e, principalmente, entre os anarquistas, possuíam um

caráter pedagógico e educacional inegável” (NASCIMENTO,

2006, p. 77).

Nossa hipótese é que o periódico A Plebe se

constituiu como um mecanismo e estratégia dos anarquistas

para propagar os pressupostos políticos e pedagógicos da ação

direta com o objetivo da revolução social feita pela classe

trabalhadora rumo à sociedade anárquica. Assim pensado,

elucidaremos no terceiro capítulo que a estratégia dos

libertários não era determinista, e sim, complexa e

multideterminante, que almejava a emancipação total das

classes oprimidas e opressoras da sociedade capitalista em prol

de uma sociedade livre em todas as esferas da sociedade com a

abolição do sistema capitalista e das classes sociais.

Utilizamos como fonte primária os periódicos

publicados por A Plebe, do número 01 de 09 de junho de 1917

ao número 19 de 30 de outubro deste mesmo ano, data em que

o periódico foi interrompido pela prisão de seu editor. A coleta

destas fontes foi realizada no mês de junho de 2012 no

Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) nas dependências do

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade

Estadual de Campinas (UNICAMP) na cidade de Campinas,

São Paulo. O periódico A Plebe foi fundado em 1917 por

Edgard Leuenroth8 e findou em 1950. Contudo, durante esse

8 “Edgard Leuenroth, filho de um farmacêutico alemão, emigrado para o

Brasil, nasceu em Mogi-Mirim, no estado de São Paulo em 1881 e morreu

em 1968. (...) Em 1903, participa de um Círculo Socialista, em São Paulo,

mas em 1904 já se converte ao anarquismo. Ingressa na recém fundada

União dos Trabalhadores Gráficos (UTG), ali trabalha como bibliotecário e

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longo período (comparado com a trajetória de outros

periódicos) houve diversas paralisações das publicações,

prisões de seus diretores e empastelamentos.

Além dos números de A Plebe, realizamos uma

pesquisa fundamentada majoritariamente em referências

bibliográficas (artigos, ensaios, livros, monografias,

dissertações, teses, etc.) que fundamentarão o trabalho em

todos os seus capítulos.

Do ponto de vista metodológico, ressalvamos que esta

pesquisa optou pelo estudo de um recorte temporal bastante

delimitado. No entanto, esse curto período é rico em fontes que

tratam da relação entre a educação libertária e a imprensa

operária, especialmente no que diz respeito ao periódico A

Plebe de 1917. Concordando com Marc Bloch, “o vocabulário

dos documentos não é, a seu modo, nada mais que um

testemunho: precioso, sem dúvida, entre todos; mas, como

todos os testemunhos, imperfeito; portanto, sujeito à crítica”

(BLOCH, 2011, p. 142). Assim, face à imensa e confusa

realidade que nos cerca, o historiador é levado a compreender

essa realidade e obrigado a recortá-la temporalmente. “Este é

um autêntico problema de ação. Ele nos acompanhará ao longo

colabora na publicação do jornal O Trabalhador Gráfico. Foi um dos

fundadores da Federação Operária de São Paulo, em 1905, e um dos

principais responsáveis pela realização dos três principais congressos

operários realizados em 1906, 1913 e 1920, no Rio de Janeiro. Participou

intensamente da imprensa operária: redator, com Neno Vasco, da Terra

Livre (1905), diretor da Folha do Povo (1908 – 1909), reinicia a publicação

de A Lanterna (1906 – 1910), fundador de A Plebe (1917). (...)”

(PINHEIRO e HALL, 1979, p. 226). Ainda sobre Edgard Leuenroth,

Edgard Rodrigues diz que a partir de 1909 até o ano de 1935, Leuenroth

dirigiu A Lanterna, “(...) jornal anti-clerical e libertário fundado pelo dr.

Benjamin Mota em 1901, em duas fases que lhe granjeou muitos amigos e

alguns inimigos terríveis sindo preso quando desmascarou a Igreja no Caso

Idalina. Nesse mesmo ano de 1912 fundou A Guerra Social, periódico de

São Paulo, foi redator principal e no ano de 1915, colaborou ativamente no

diário O Combate. Nos anos de 1916-1917, foi redator-secretário da revista

Eclética, de São Paulo. Em 1917 fundou o jornal anarquista A Plebe,

semanário, passando em 1919 a diário.

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- 21 -

de todo o nosso estudo” (idem, ibidem, p. 52). Essa delimitação

nos permitiu identificar as críticas à sociedade de classes e as

propostas de educação libertária que visavam romper com as

relações sociais capitalistas e instaurar novas formas de relação

humana, contida no periódico citado. Além destes periódicos,

utilizaremos uma vasta produção bibliográfica produzida por

diversas áreas das ciências humanas que nos apontou alguns

caminhos a percorrer, como será visto no capítulo I.

O problema que nos orientou na pesquisa foi: qual o

projeto educativo (formal ou informal) expresso pelo Jornal A

Plebe no contexto das greves gerais do ano de 1917? Com

essa problemática central nos vem outras questões secundárias

e não menos importantes: que tipo de educação era veiculado

nas páginas de A Plebe? Quais as estratégias utilizadas pelos

autores para atingir seu público-alvo? Quem produzia A Plebe

e com qual interpretação da realidade estava ligada? A Plebe

produzia uma interpretação do passado e uma projeção de um

futuro radicalmente diferente além da retórica, por exemplo,

com o uso de imagens?

Na historiografia, houve um apreciável acréscimo de

estudos em relação ao movimento operário a partir da análise

de documentos relativos a Imprensa Operária9. Tema

anteriormente de estudo dos militantes políticos (não-

acadêmicos) de gerações posteriores à Primeira República do

Brasil, pois estavam ligados cotidianamente a produção de

periódicos, revistas, etc. para a militância do dia-a-dia, a

história do movimento operário passou a fazer parte de

inquietações dos sociólogos e cientistas políticos acadêmicos

nos anos 1960. Chamada por Batalha (2007, p. 148) de

Sínteses Sociológicas, essas produções “abarcava sociólogos

preocupados em elaborar grandes sínteses, que estabeleciam

teorias explicativas do movimento operário e de suas opções

ideológicas”.

9 FERREIRA, Maria Nazareth. Imprensa Operária no Brasil. São Paulo:

Ática, 1978.

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Nos anos 1970, a historiografia acadêmica ganhou um

salto quantitativo e qualitativo com a produção dos

brasilianistas e de historiadores brasileiros, sobretudo, com a

criação de arquivos do movimento operário, como por

exemplo, o AEL. Na década de 1980, irá ocorrer o processo de

“ampliação, fragmentação e crise” caracterizado por uma

crescente produção acadêmica (fruto do crescimento dos

programas de pós-graduação), da diversificação das fontes de

pesquisa e consecutivamente, a “fragmentação do campo de

estudo” onde a teoria “cedeu espaço para os estudos de caráter

mais empírico” (idem, p. 153).

Essa breve análise geral e a que vem abaixo não tem a

pretensão de esgotar os temas nem de fechar o leque de

possibilidades interpretativas de nossas fontes, mas sim,

preencher algumas brechas deixadas por estas pesquisas e

incentivar a realização de novas pesquisas de futuros

pesquisadores sobre a história do movimento operário trazendo

a tona o que Eric Hobsbawn afirma: “É uma função digna dos

historiadores a de reconstruir um passado esquecido,

estimulante, imperecível” (HOBSBAWN apud HAUPT, 2010,

p. 50).

Dentre toda essa bibliografia, até onde apreciamos,

são poucos10 os estudos e pesquisas com profundidade ligada

ao contexto de “educação” no ano de 1917, seja anterior e

posterior à Greve Geral de Julho. No que tange à abordagem

dada por essas pesquisas, a produção por mais vasta que seja se

limita aos estudos, quase que exclusivamente, do papel da

Imprensa (especificamente o jornal) como “instrumento de

politização” (FERREIRA, 1988).

10 Nesse sentido, encontramos dois trabalhos que estudam especificamente

a educação no Jornal A Plebe no recorte temporal de 1917. Cf.

GONÇALVES, A. M.; NASCIMENTO, M. I. M. Educação nas folhas do

jornal “A Plebe”: 1917 – 1919. In: Publicatio UEPG: Ciências Sociais

Aplicadas, Vol. 16, No 2, 2008; e GONÇALVES, Ody Furtado. Trajetória e

ação educativa do jornal A Plebe (1917-1927). In: Quaestio: Revista de

estudos em Educação, v. 6, n. 2, 2004.

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Portanto, a história do movimento operário nos remete

também a pensar também a amplitude da conceituação de

educação. Esta necessidade mostra a importância da presente

pesquisa para produção historiográfica brasileira e nos motivou

a propor o estudo desse tema. Dessa forma, evidenciar a ação

da educação enquanto “pressuposto educativo da ação direta”11

é ao mesmo tempo elucidar o contexto do conceito de “ação

direta” no âmbito da educação libertária e mostrar que o seu

estudo, desdobra-se em outras possíveis e inesgotáveis

pesquisas.

Para a realização deste objetivo será necessário

analisar a bibliografia escolhida de forma crítica (comumente

chamada de “revisão bibliográfica” ou “estado atual da arte”) -

já que as diferentes tradições intelectuais de cada período de

produção acabam por gerar representações díspares ou

semelhantes do movimento operário na Primeira República -

juntamente com alguns conceitos importantes, que serão

tratados no capítulo I. Dentre eles: anarquismo, sindicalismo

revolucionário, imprensa operária, ação direta e educação

libertária.

Como contextualizar é uma questão fundamental

para o ofício do historiador, no capítulo II, será realizada uma

contextualização histórica do movimento operário na Primeira

República, traçando as determinações da imigração, as

condições de vida e trabalho do proletariado na Primeira

República do Brasil, os motivos e determinantes que

condicionaram a organização dos periódicos e as organizações

operárias existentes na Primeira República (ligas operárias,

greves gerais, sindicatos, imprensa operária, etc.) na cidade de

São Paulo nesse ínterim. Ainda, analisaremos a Greve Geral de

julho de 1917 dando um enfoque especial à Semana Trágica.

Logo após, no capítulo III, faremos uma análise dos

pressupostos políticos e pedagógicos da ação direta em A

Plebe. Nesse capítulo, buscaremos explicitar as críticas ao

11 A educação do operariado pela ação grevista, preparando-o para a

“grande revolução”, que poria fim à sociedade burguesa.

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Estado, à Igreja e à exploração capitalista em suas mais

diversificadas esferas da realidade, destacando alguns

elementos específicos do jornal que propagaram aquilo que

chamamos de educação libertária.

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CAPÍTULO I

1.1. Estado atual dos conhecimentos

Nosso trabalho utiliza-se de diversas categorias e

conceitos que foram bastante explorados dentro de um

contexto mais abrangente: a Primeira República do Brasil

(1895 – 1930). Nessa perspectiva devemos, de antemão, fazer

uma análise geral de como o tema (conceitual e

temporalmente) foi construído por diversos autores.

Apresentaremos abaixo uma revisão bibliográfica com

algumas obras e análises das décadas de 1960, 1970, 1980,

1990, do princípio dos anos 2000.

O centro de nossa preocupação nesta análise é buscar

uma interpretação de obras escritas sob o tema acima que

possibilitaram analisar os pressupostos políticos e pedagógicos

do ano de 1917. Entendemos que a bibliografia que

encontramos é relativamente extensa, mas aborda a questão da

educação em segundo plano. São também na maioria das vezes

obras não-acadêmicas, ou seja, ligados à militância. Faremos

abaixo uma leitura de suas problemáticas centrais juntamente

com suas conclusões e possíveis lacunas que poderão ser

preenchidas neste trabalho.

O sociólogo Azis Simão no ano de 1966 publica

Sindicato e Estado: suas relações na formação do proletariado

de São Paulo12 onde aponta a essência das primeiras

organizações dos trabalhadores paulistanos da Primeira

República do Brasil definindo-os como “não corporativos”. Tal

obra é pioneira no estudo dos sindicatos, pois faz análise desde

a gênese dos sindicatos no Brasil (em meados do século XIX

nos setores têxteis e metalúrgicos até os anos 30) sob uma

“pesquisa empírica de fôlego” (BATALHA, 2007, p. 149).

Para o referido autor, a classe constrói suas possibilidades de

12 SIMÃO, Azis. Sindicato e Estado: suas relações na formação do

proletariado de São Paulo. São Paulo: Dominus Editora, 1966.

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organização e luta de acordo com as condições materiais pré-

existentes, portanto, no caso das greves, estas acontecem em

momentos de maior depressão econômica (carestia de vida).

Nesse sentido, sua tese central é de que durante o

período do fim da Primeira República com o desenvolvimento

da indústria, novos tipos de relações sociais (por exemplo, o

corporativismo e burocratização) acabaram por atrelar o

sindicato ao Estado constituindo novas formas organizativas

perdendo seu caráter combativo e autônomo. Sendo assim, no

período pré-1930, os sindicatos não foram associações

controladas por “mestres com o fim de preservar os privilégios

corporativos”, nem dentro deles estabeleceram distinções entre

operários, segundo o grau de qualificação profissional. A tese

difundida e fundamentada durante toda a obra de Azis é a de

que o “sindicato” que historicamente foi considerado como

sinônimo de resistência e autonomia perde seu sentido

libertário e se liga à perspectiva de luta controlada pelas leis do

Estado na década de 1930 quando o sindicato, o Estado e o

patronato “(...) iniciavam a elaboração de novas vias

institucionais de suas recíprocas relações” (SIMÃO, 1966, p.

87). Os sindicatos, desde seu surgimento, foram associações de

assalariados que se organizavam no processo de produção e

que se desenvolveu no Brasil com o Primeiro Congresso

Operário Brasileiro de 1906 (no qual constituiu a COB –

Confederação Operária Brasileira), onde fora instituído como a

estratégia (CORRÊA, 2011) de organização autônoma dos

trabalhadores de uma dada empresa ou de toda categoria.

Boris Fausto autor da obra Trabalho Urbano e

Conflito Social (FAUSTO, 1976) para obtenção do título de

livre-docente na USP, em 1977, analisa as condições materiais

de existência e a mentalidade coletiva dos trabalhadores

urbanos de 1890 a 1920. Fausto nos traz a tese de que os

anarquistas não haviam compreendido o papel do Estado e não

valorizavam uma luta por ele e que nos anos 20 ocorre uma

crescente “alternativa comunista” de base bolchevique

ocasionando uma mudança das lutas da classe operária.

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Considera ainda que o ano de 1917 foi o “símbolo de uma

mobilização de massas impetuosa, das virtualidades

revolucionárias” (FAUSTO, 1976: 192).

Fausto busca uma análise do desenvolvimento das

lutas operárias de 1890 até a década de 20 do século XX

apresentando as razões do declínio do Movimento Operário

Revolucionário, dentre as quais, destaca-se a falta de

compreensão dos anarquistas sobre o papel do Estado já que “o

anarquismo brasileiro está associado a um sistema de

pensamento cientificista, corporificado no evolucionismo e no

livre pensamento (...)” (idem, p. 71). Por fim, Fausto retoma o

pensamento de que a formação da consciência revolucionária

do operariado paulistano da Primeira República esteve ligada

meramente ao seu próprio contexto: o anarquismo

corresponderia aos primeiros estágios da industrialização, que

no Brasil é tardia e débil e nesse caso, os anarquistas foram

derrotados por não compreender o papel do Estado. Nesse

sentido, o autor aponta que nos anos entre 1890 e 1920 ocorre

uma “sucessão de derrotas” pelo simples motivo de que as

concessões sociais conquistadas não se encontram

institucionalizadas (FAUSTO, 1976: 245).

A propaganda operária no Brasil nos primeiros anos

da Primeira República buscou a necessidade de ampliar o

internacionalismo proletário para um discurso audível e

assimilável. Em 1917 a greve geral de julho em São Paulo

simbolizou um movimento fulcral da insatisfação proletária

que objetiva com tal greve, incentivar os trabalhadores a lutar

através da ação direta. Totalmente reprimida ela se expandiu

para outros estados como Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio

Grande do Sul, Paraná, etc. Essa é, de maneira bem genérica, a

contribuição de Paulo Sérgio Pinheiro e Michael M. Hall.

Publicada no ano de 1979 e intitulada A Classe Operária no

Brasil – 1889 – 1930 – documentos. Volume 1 – O Movimento

Operário (PINHEIRO; HALL, 1979) pela Editora Alfa-

Ômega, tal obra traz uma coletânea de documentos históricos

do Movimento Operário com algumas análises desses dois

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autores. Especificamente, podemos nos atentar para as suas

concepções do que foi a greve geral de julho de 1917. Porém, a

confusão entre sindicalismo revolucionário e

anarcossindicalismo ainda se manifesta nesses autores.

Mas além disso, para os autores a referida greve foi a

manifestação política urbana mais impressionante da Primeira

República. A greve assumiu dimensões vastas, o governo (pelo

menos momentaneamente) se sentiu ameaçado e o movimento

operário pode ajudar a explicar a ferocidade da repressão que

irrompeu em larga escala dois meses mais tarde.

O brasilianista Sheldon Leslie Maram, produz em

1979 a obra Anarquistas, imigrantes e o movimento operário

brasileiro (1890-1920) defendendo a tese de que o

anarcossindicalismo foi a doutrina política dominante no

movimento operário brasileiro da Primeira República.

Sustentando com argumentos, ele aponta que de 1890 até

1920, espanhóis, portugueses e italianos são os imigrantes mais

presentes no movimento operário brasileiro advindo da política

imigratória desse período.

A tese de anarcossindicalismo enquanto corrente

hegemônica é refutada por Samis (2004) e por Corrêa (2011),

já que para esses últimos, o que ocorreu no Brasil

hegemonicamente foi o sindicalismo revolucionário e não

anarcossindicalismo, já que ambos não estão desvinculados do

anarquismo, mas são estratégias distintas. Para Corrêa (2011,

p. 83) “o sindicalismo revolucionário nunca se colocou,

explícita e conscientemente, em vínculo com o anarquismo,

diferentemente do segundo”. Em outras palavras, o

anarcossindicalismo tem necessariamente em suas orientações

ideológicas o anarquismo; já o sindicalismo revolucionário não

tem necessariamente, uma linha ideológica clara e única.

Maram (1979) afirma em coro que a história do movimento

operário no Brasil conta com uma diversificada e plural forma

organizativa e de influência teórico-política dos trabalhadores.

Silvia Lang Magnani em O Movimento Anarquista em

São Paulo (1906 – 1917) (MAGNANI, 1982) publicado no

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ano de 1982 não poderia ficar de fora dessa análise. A autora

toma com pressuposto básico de sua análise que a presença do

anarquismo brasileiro não pode ser determinada apenas pela

chegada de milhares de imigrantes europeus. Rebatendo a tese

da “planta exótica”, a autora considera que tais análises

fundamentadas em discrepâncias com as fontes históricas e

documentais deixadas pelos libertários não correspondem com

as colocações de que houve uma importação mecânica de um

ideário político europeu para o Brasil (MAGNANI, 1982, p.

50). No que concerne à luta dos anarquistas no movimento

operário, de acordo com ela, existia a instauração de “(...) uma

moral operária fundamentada na solidariedade humana e de

classe” (MAGNANI, 1982, p. 13). Esta interpretação colabora

com nossa hipótese de uma educação para a ação direta, já que

a solidariedade compõe um dos pilares dessa educação.

Cristina Hebling Campos publica em 1983 a

dissertação de mestrado intitulada O Sonhar Libertário

(Movimento Operário nos anos 1917 a 1920) (CAMPOS,

1983) onde defende que no Brasil tinha anarquistas e

sindicalistas revolucionários, onde os primeiros se

organizavam por ligas, comitês, alianças, grupos teatrais,

jornais, etc. e os sindicalistas revolucionários que entendiam

que o sindicato seria a base da transformação social. Por essa

diferenciação, a autora ressalta que essas duas correntes no

Brasil “não são sempre fáceis de distinguir. Na prática há

grupos que adotam elementos das duas tradições segundo suas

necessidades e com uma certa indiferença às distinções que

prevaleciam em vários outros países na época” (CAMPOS,

1983, p. 9). Para a autora, o sonhar libertário só estava no

cotidiano desses trabalhadores devido uma intensa elaboração

conceitual e militante (principalmente em São Paulo no ano de

1917 com o fortalecimento das ligas de bairro, um tipo de

organização de inspiração basicamente anarquista)

indissociável de uma conjuntura favorável para tal. Ela

defende que “o movimento operário no Brasil, após um

período de depressão (...) vai aos poucos se recolocando e se

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reorganizando (...)” nos fins de 1916 e início do outro ano “o

clima nos dois grandes centros urbanos – Rio de Janeiro e São

Paulo – é de agitação” (CAMPOS, 1983, p. 34). Assim,

quando a greve estoura, o CDP com a atuação dos anarquistas

foi fundamental, pois “tanto a organização da greve quanto

suas reivindicações refletem o esforço característico do

anarquismo que vê o confronto na contradição entre os

proprietários e a população despossuída (pessoas que ao

mesmo tempo são produtores, consumidores e moradores)”

(CAMPOS, 1983, p. 42).

Francisco Foot Hardman publica no ano de 1983 Nem

Pátria, nem Patrão!: vida operária e cultura anarquista no

Brasil (HARDMAN, 1984) apresenta uma nova leitura do

movimento operário da Primeira República do Brasil e oferece

uma perspectiva que renova os trabalhos acadêmicos

abordando temáticas que eram ainda pouco trabalhadas.

Utilizando, sobretudo, como referencial teórico obras de Karl

Marx, Friedrich Engels, Antônio Gramsci e Eric J. Hosbsbawn,

Foot Hardman apresenta alguns elementos que levaram, no

ínterim de 1906 e 1917, à radicalização do movimento operário

que consecutivamente aumentou sua capacidade organizativa e

revolucionária. Desde a criação da Confederação Operária

Brasileira (COB) em 1908 com objetivo de criar uma unidade

de trabalhadores de vários ofícios, o movimento se radicaliza.

Foram nesses mosaicos de organizações criadas e mantidas

pelo próprio movimento de classe que se desenvolveram

práticas culturais variadas marcadas fortemente pela imigração

estrangeira e pela diversidade étnica.

Nos sindicatos – primeiramente não

institucionalizados pelo governo –, os anarquistas, visavam a

luta contra a opressão capitalista e, assim, também

contribuíram na vitalidade e consciência da organização

operária. Estes eram chamados de anarcossindicalistas.

Para o autor, a classe operária brasileira apresenta

uma estreita ligação no sentido histórico do conceito de classe

(natureza específica, formações, tempo e espaço) e ao geral

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(seu quadro internacional). Sendo assim, a greve geral surge

como ato educativo para o operariado. Além de uma educação

formalizada (em escolas operárias, racionalistas, etc.) a classe

operária buscou em elementos do cotidiano a sua afirmação

formativa. Contudo, a greve geral e a ação direta13 eram

celebradas como momentos e formas adequadas de “ginástica

revolucionária” (HARDMAN, 1980, p. 47).

Hardman, apoiado em E. J. Hobsbawn14, apresenta a

diferenciação das instâncias de luta da classe operária mundial

mostrando seu corporativismo e burocratização e que, no caso

específico do Brasil, isso ocorre com as medidas do Governo

Vargas, após 1930. O que de fato nos é relevante e

fundamental é como, F. F. Hardman apresenta as instâncias de

luta cultural da classe estabelecendo uma nova área de atuação

e militância, ou seja, estabelecendo festividades (Festas

Operárias), reuniões, atividades pró-Escolas Modernas (de

caráter anticlerical e de influência do espanhol Francisco

Ferrer y Guardia) como novas formas da ação direta. Evidente,

pelo próprio caráter de condição da classe, as festividades eram

realizadas com grande precariedade material. Todos esses

métodos da classe são caracterizados pelo autor como

“Estratégia do Desterro” que, levado às suas últimas

consequências pela defesa da “cultura operária” intransigente,

nas concepções anarquistas, encontrava bases sólidas nas

condições reais de existência do proletariado do Brasil.

É entendendo a greve como o próprio acontecer

ritualizado da cultura operária que Hardman concluiu sua obra.

Essa é uma demonstração de força autônoma e a sua

importância já reside no ato mesmo de sua expressão quando a

13 Podemos definir ação direta como expressão da crença de que o

proletariado só se libertará quando confiar na influência de sua própria

ação, direta e autônoma, prescindindo de intermediários no conflito entre

capital trabalho. 14 HOBSBAWM, E. J. As classes operárias inglesas e a cultura desde os

princípios da Revolução Industrial. In: Níveis de Cultura e Grupos Sociais.

Santos: Martins Fontes, 1974.

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política e a cultura voltam a se reencontrar: a relação entre o

poético e o histórico.

Em 1987 José Antônio Segatto apresenta a obra A

Formação da Classe Operária no Brasil (SEGATTO, 1987)

com alguns dados e análises peculiares. Ao narrar passo a

passo a constituição da classe operária (a imigração e as suas

condições de existência), suas formas organizativas, seus

movimento reivindicatórios, ele faz algumas análises dos quais

discordamos, principalmente, no último capítulo. Em A

ideologia e a organização política ele demonstra que o

anarquismo é uma ideologia da vanguarda (SEGATTO, 1987,

p. 81-84) e que formavam um grupo bastante minoritário e vê a

criação do PCB como uma vitória real da classe trabalhadora,

pois o anarquismo tem debilidades e uma incapacidade política

com uma realidade complexa. Sua análise ainda reitera que no

campo organizativo os anarquistas se ancoravam no

“espontaneísmo”, no “economicismo” e na “dispersão do

doutrinarismo abstrato” (idem, p. 87). Essa análise pode ser

contestada pela próxima obra que iremos analisar.

Christina da Silva Roquete Lopreato traz uma

reflexão mais aprofundanda e com novas interpretações em sua

obra O Espírito da Revolta: a greve geral anarquista de 1917

(LOPREATO, 2000) De maneira singular, utilizando de

referenciais da imprensa operária da Primeira República e

propondo uma reconstrução a partir dessas fontes, a autora

apresenta-nos os significados da greve geral de 1917

caracterizada como “anarquista” em São Paulo. Nesse sentido,

ela vem aludindo, sobretudo, sobre as condições de vida e de

trabalho que se empunham até então os trabalhadores

(sobretudo imigrantes) proveniente de horizontes culturais

diversos, que (re) organizaram a cidade de São Paulo dando a

ela um ambiente próprio com seus laços culturais,

estabelecendo lugares políticos tais como greves, ligas de

resistência, jornais impressos, grupos anarquistas, espaços de

lazer e cultura, etc.

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A imprensa teve importante papel antes, durante e

após a deflagração da Greve Geral de Julho de 1917. Foi

veículo de informação, formadora de opinião e força de

pressão junto ao patronato e ao poder público. Em São Paulo,

sobretudo com o Jornal A Plebe (caracterizado pelo jornal

Correio Paulistano como “cúmplices e promotores da

anarquia”) matérias sobre as condições de vida e de trabalho

do operariado eram constantemente veiculados e ocupavam

periodicamente as páginas dos principais jornais dos centros

operários da cidade. Em especial, no decorrer dos primeiros

seis meses do ano (ou seja, anterior à Greve de Julho) os

jornais foram essenciais, pois demonstravam aos trabalhadores

as condições nos quais estes estavam submetidos, sobretudo,

no quesito “carestia de vida”.

Com a eclosão da greve geral, a imprensa operária

acompanhou o desenrolar dos acontecimentos combativos da

semana de 9 a 17 de julho de 1917 atuando como mecanismo

de veiculação das perspectivas dos trabalhadores. A

perspectiva importante apontada por Lopreato é a questão da

“ação direta”. A ação direta pode ser compreendida de acordo

com a autora, como uma forma de atuação junto à realidade

com dignidade política (LOPREATO, 2000, p. 21). A ação

direta, composta por métodos tais como boicote, sabotagem e

greve, se estabelece com mais preponderância na obra, já que

para a autora, a greve geral fora a mais utilizada. Em suas

palavras a greve geral é mais utilizada já que “é considerada a

mais rica em ensinamentos por que explicita os interesses

contraditórios entre o patrão e o empregado, rompe a harmonia

existente entre eles e faz aparecer a luta de classes”. Ocorre

que, logo após a suspensão da greve geral, a perseguição

policial aos militantes anarquistas acabou por revelar a

repressão ferrenha do governo sobre os militantes, sobretudo

com a intensificação de atuação da “Lei Adolfo Gordo”15 que

previa a expulsão de estrangeiros desde 1907.

15 Nos primeiros anos do século XX no Brasil a política repressiva do

Estado se fortificou. Tal repressão materializada, por exemplo, na Lei

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- 34 -

A sociedade dominante da Primeira República

tinha a pretensão de se livrar dos problemas

sociais com a deportação dos ‘agitadores

estrangeiros’. Em 1893, já fora promulgado o

decreto 1566 que, ao regular a entrada dos

estrangeiros, tratava também da expulsão dos

mesmos durante o estado de sítio. Assim, em

05/01/1907 é promulgada a nova lei (A Lei

Adolfo Gordo) (...). A lei Adolfo Gordo,

seguindo a tendência, exigia que os sindicatos

registrassem seus estatutos e suas diretoria

(PINHEIRO, 1990, p. 157).

O trabalho de Lopreato (2000) buscou reconstruir a

greve geral de 1917 de tal maneira que é impossível encontrar

uma dissociação entre narrativa e interpretação analítica. A

perspectiva da autora traz à tona o sujeito histórico, tratando do

“militante anarquista” cuja ação é, sem sombra de dúvidas em

sua análise, individualizada e potencializada, destacando

militantes como Gigi Damiani, Guilio Sorelli, Edgard

Leuenroth, Neno Vasco, José Oiticica, Florentino de Carvalho,

dentre vários outros.

Adolfo Gordo, proposta pelo Deputado Adolfo Gordo e aprovada no ano de

1907é um exemplo elementar. A lei previa a expulsão de estrangeiros que

estivessem ligados ao movimento operário da época. Nesse âmbito, um

exemplo claro é a expulsão do diretor do jornal socialista "AVANTI",

Vicente Vacirca, em 1908 (RODRIGUES, 1997, s/p). De acordo com

Dulles (1977, p. 117), essa lei, que será reeditada em 1922, “estabelecia

punições para os que contribuíssem para a prática de tais crimes através de

reuniões ou de qualquer instrumento de propaganda; e conferia às

autoridades o direito de fechar, por tempo indeterminado, sindicatos e

entidades civis que cometessem atos prejudiciais à segurança pública”. Para

maior aprofundamento: BATALHA, Claudio. O Movimento Operário na

Primeira República. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000;

RODRIGUES, Edgard. O Homem e a Terra no Brasil. Florianópolis:

Insular, 1997; LEAL, C. F. B. Pensiero e Dinamite: Anarquismo e

repressão em São Paulo nos anos 1890. 2006. 308f. Tese (Doutorado)-

Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Estadual de

Campinas, 2006.

Page 36: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

........................

- 35 -

Os jornais constituíam-se em um elo entre as várias

práticas da propaganda social. No espaço do jornal, os

militantes do movimento apoiavam as greves, alavancavam as

iniciativas dos grupos operários e organizações classistas de

bairros e ofícios, além de conferências anticlericais e de livre

pensamento.

Ainda no ano de 1996, a mesma editora lança a

contribuição de Josué Pereira da Silva intitulada Três

Discursos, Uma Sentença: Tempo e Trabalho em São Paulo –

1906 – 1932 (SILVA, 1996) que aborda elementos que não

foram sistematizados profundamente por Lopreato (já que o

objeto da autora é outro) que são as questões da noção de

“tempo e discurso”. O referencial teórico metodológico de

Silva (1996) está intrinsecamente ligado à perspectiva de

Walter Benjamin e da História Social. O autor apresenta uma

introdução relatando a discussão filosófica e histórica sobre

como foram criados os conceitos de tempo linear e, assim, de

tempo progressivo e de tempo produtivo para, desse modo,

entender a ideia de dividir as 24 horas do dia em três partes

iguais, das quais uma delas (8 horas) seria dedicada

exclusivamente ao trabalho.

Silva (1996) nos traz discursos em que o trabalho é

denunciado por não ser capaz de fornecer aos trabalhadores

valores morais que poderiam ser adquiridos em outras esferas

sociais além da noção de que o tempo de 8 horas de trabalho

por dia era a pauta mais significativa das reivindicações

operárias que fora lançada no I Congresso Operário Brasileiro

do ano de 1906. O discurso preponderante sobre o trabalho era

dado pelas elites brasileiras com uma valoração moral muito

forte e de outro lado, a imprensa operária também reservava

grande parte do discurso do trabalho, porém, pela luta de

jornadas de 8 horas. Ocorre que, nas duas classes fundamentais

da sociedade capitalista, uma percepção de tempo pode mudar

ou dar sentido à conduta de seus indivíduos em cada classe,

traçando projeções e percepções de mundo no dia-a-dia. A

obra se estabelece com um discurso sobre a moral do

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- 36 -

trabalhador na relação conflituosa entre Trabalhador, Patrão e

Governo durante a Primeira República.

Nos anos 2000, especificamente publicado 2004 no

livro organizado por Eduardo Colombo (et. al.), Alexandre

Samis escreve Pavilhão negro sobre pátria oliva: sindicalismo

e anarquismo no Brasil (SAMIS, 2004) e vem nos atentar com

uma riqueza de fontes, sobre os motivos e a origem da

Imprensa Operária ligada ao sindicalismo revolucionário, que

para o autor, cresce fundamentalmente com o I Congresso

Operário Brasileiro que deveria prestar auxilio e “propaganda

por folhetos, manifestos, conferências, representações teatrais”

através do proselitismo militante, que fora uma necessidade de

uma ação pedagógica no auxílio da prática política. Fora criado

em 1906 o porta voz oficial de imprensa da COB: o periódico

A Voz do Trabalhador16.

Ainda para Samis, o quantitativo de greves no Brasil

se deve muito às organizações operárias revolucionárias,

sobretudo os sindicatos. Nesse sentido, a greve geral de julho

de 1917 estaria habilmente desenhada, segundo o autor, pelos

anarquistas sindicalistas a frente das associações de classe e

estaria fora do seu caráter puramente espontâneo, que para o

autor, estaria mais envolvido através das articulações entre

núcleos combativos do CDP (Comitê de Defesa Proletária).

Encontramos ainda nos anos 2000, um emaranhado de

teses e dissertações acerca da ação operária na Primeira

República (obviamente não as analisaremos) e poucas com o

enfoque na educação enquanto princípio ligado à ação

proletária e revolucionária. Em 2006, Rafael Deminicis e

Daniel Aarão Reis Filho organizaram a obra História do

Anarquismo no Brasil, vol .1 e trouxeram a tona diversos

trabalhos dos quais, destaco: Anarquismo em prosa e verso:

literatura e propaganda anarquista na Imprensa Libertária de

São Paulo durante a Primeira República (LEAL, 2006) de

16 A comissão responsável pela editoração desse periódico estava

intimamente ligada à COB. Assim, entre seus membros destacava-se o luso

Neno Vasco, Manuel Moscoso, Carlos Dias, etc.

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Claudia Feierabend Baeta Leal. A obra constrói a noção de que

os anarquistas utilizando-se da Imprensa Operária combatiam

em prol de suas ideias e contra aqueles que impediam o livre

desenvolvimento dos indivíduos e que buscavam contribuir

para o desenvolvimento da consciência revolucionária.

No volume 2 da obra citada de organização de Rafael

Deminicis e Carlos Augusto Addor, identificamos um texto

que não poderíamos deixar de fora de nossa revisão. O artigo

Anarquismo e movimento operário nas três primeiras décadas

da República (DEMINICIS; ADDOR, 2009) de Carlos

Augusto Addor evidencia uma série de elementos apontando

para o fato de que o anarquismo, durante as três primeiras

décadas da República, foi principalmente através da corrente

anarcossindicalista, senão a tendência política hegemônica no

interior do movimento operário e sindical brasileiro,

certamente uma das mais fortes, atuantes e combativas

correntes organizatórias da classe trabalhadora e que os anos

da década de 10 fora a conjuntura de maior ascensão do

movimento operário brasileiro, pois neste ocorrem

movimentos grevistas “num ritmo e intensidade até então

desconhecidos” no Brasil. No contexto referido, os

trabalhadores paulistanos desenvolveram suas lutas para além

das reivindicações imediatas (econômicas – salários, jornadas,

etc.), mas também para uma possível revolução social.

Nossa última análise será feita sobre a obra Ideologia

e Estratégia: anarquismo, movimentos sociais e poder popular

de Felipe Corrêa, publicado pela Editora Faísca no ano de

2011. Dividida em três capítulos extensos, a principal tese que

perpassa ambos os capítulos, são as noções entre ideologia e

estratégia. Ideologia e estratégia são utilizadas nos textos para

discutir anarquismo e sindicalismo revolucionário. Ideologia,

para o autor, constitui-se enquanto um conjunto de ideias e de

valores respeitantes à ordem pública e tendo como função

orientar comportamentos políticos coletivos enquanto sistema

de ideias conexas com a ação. Estratégia é a escolha dos

meios mais adequados para se atingir determinados fins. Dessa

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forma, o anarquismo seria uma ideologia e o sindicalismo

revolucionário uma estratégia. Contudo, sua análise

fundamentada nesses conceitos é determinante para entender

que o sindicalismo revolucionário não constitui uma ideologia

diferente do anarquismo, mas uma das estratégias adotadas

pelo anarquismo (CORRÊA, 2011, p. 32). Assim,

majoritariamente, o fenômeno que manifestou no Brasil foi o

sindicalismo revolucionário e não, o anarcossindicalismo.

Para concluir, podemos dizer que a sistematização

dessas fontes levantou nossa temática em dois sentidos:

primeiro, por que possibilitou que nossa temática emergisse da

leitura dos documentos instigando-nos a pesquisas sobre a

educação; e por outro lado, através das lacunas deixadas por

estas fontes. Inúmeras outras fontes ainda serão analisados e,

obviamente, aparecerão na monografia de forma mais

aprofundada. Os temas nos permitirão vislumbrar hipóteses,

resgatando paradigmas e superando outros, para expressar uma

escrita da História além de meras informações esquemáticas e

doutrinárias. Sendo assim, nos ancoraremos principalmente nas

análises de Campos (1983), Magnani (1992), Pinheiro (1990),

Lopreato (2000), Samis (2004), Leal (2006), Biondi (2009) e

Corrêa (2011) que nos pareceu mais favorável com nossas

hipóteses (ver “Introdução”) e de outro lado, mais atualizada

frente à produções recentes.

Ao ambicionarmos demonstrar a ação política e

pedagógica que está expressa pelos números de A Plebe no ano

de 1917, compreendemos que esse periódico foi um espaço de

socialização de saberes e práticas educacionais libertárias.

Assim sendo, pretendemos caminhar rumo a uma pesquisa que

permite dar visibilidade às questões presentes nessa forma de

ação política nessas fontes primárias.

1.2. Delimitação teórico-metodológica e conceitual

Nosso referencial metodológico está baseado em

Rüsen (2010) que aponta as “operações processuais do método

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histórico”17 e as “operações substancias”18. A primeira

operação processual é a heurística19. Ela se reduz ao

questionamento (levantamento de questões históricas) e

seleção de fontes.

As outras duas operações são a crítica e a

interpretação. A crítica das fontes, enquanto uma operação

metódica tira informações, dados e manifestações do passado

das fontes a partir de nossas concepções do presente,

estabelecendo um vínculo direto entre o passado e o presente.

Nesse sentido, a críticas das fontes “é o ponto fulcral da

objetividade histórica” (idem, p. 123).

A interpretação, enquanto “operação metódica que

articula, de modo intersubjetivamente controlável, as

informações garantidas pela crítica das fontes sobre o passado

humano” (idem, ibidem) nos ajuda a organizar as informações

das fontes históricas, estabelecendo contextualizações

necessárias, sintetizando as perspectivas, os sentidos das

experiências do passado e etc. Se torna fundamental afirmar

isso pois, as fontes históricas não apresentam seus fatos nas

meras correlações empíricas ou nos fatos/dados das fontes.

Outras três concepções são importantes, pois as

operações processuais são complementadas pelas operações

substanciais. Trata-se da hermenêutica, analítica e dialética. A

hermenêutica é a análise dirigida à subjetividade dos atores

históricos. Trata-se de compreender suas intenções e o sentido

imaginado de suas ações. Já na analítica, as fontes são

investigadas como “resíduos que manifestam as condições sob

17 De acordo com Rüsen (2007, p. 122), “Trata-se do que deve ser

apreendido, pela crítica das fontes, como fato especificamente histórico e

do que deve ser estabelecido, interpretativamente, como contexto histórico

de fatos”. 18 Rüsen (2007, p. 133 – 167). 19 Heurística é “a operação metódica da pesquisa, que relaciona questões

históricas, intersubjetivas controláveis, a testemunhos empíricos do

passado, que reúne, examina e classifica as informações das fontes

relevantes para responder às questões, e que avalia o conteúdo informativo

das fontes” (RÜSEN, 2007, p.118).

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as quais foram possíveis as criações culturais que formam a

tradição” (RÜSEN, 2007, p. 146). Nesta fase, aborda-se nas

fontes as experiências nas quais o tempo é experimentado

como limite definidor das possibilidades do agir.

A última operação substancial é a dialética. Ela é

compreendida como o momento de combinação entre a

hermenêutica e a analítica com o intuito de serem percebidas

enquanto uma relação entre as experiências do tempo humano

e as intencionalidades humanas (RÜSEN, 2007, p. 159).

Levando em consideração esta perspectiva teórico-

metodológica, esse trabalho visa aprofundar o questionamento

e a seleção (heurística) dos artigos de A Plebe levando em

consideração nossa problemática geral. Ele precisa extrair

destes artigos o conteúdo factual (dados) que eles nos

fornecem (crítica) e necessita estabelecer conexões entre estes

fatos, isto é, o contexto de fatos (interpretação).

Ao mesmo tempo, por essa escolha metodológica,

esse trabalho precisa estabelecer uma análise hermenêutica dos

artigos, visando compreender o sentido subjetivo que orienta a

ação dos autores de A Plebe. Mas, estas intenções e projeções

subjetivas precisam ser contextualizadas (Analítica). Neste

sentido, nosso trabalho pretende analisar o contexto de

produção do jornal, reconstruindo o período republicano

brasileiro e os contextos de efeitos que fornecem limites para

as intenções subjetivas dos autores do jornal.

Além desses pressupostos metodológicos faz-se

opção, neste estudo, de adotar alguns conceitos, tais como os

de anarquismo, sindicalismo revolucionário, imprensa

operária, ação direta e educação libertária.

Para explicitar o que compreendemos por

anarquismo, utilizarei os pressupostos que Felipe Corrêa

desenvolveu em Ideologia e Estratégia: anarquismo,

movimentos sociais e poder popular. Ancorado nos sul-

africanos Michael Schmidt e Lucien van der Walt20 e no

20 SCHMIDT, M.; VAN DER WALT, L. Black Flame: the revolutionary

class politics of anarchism and syndicalism. Oakland: Ak Press, 2009.

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brasileiro Alexandre Samis21, Corrêa (2011) define do

anarquismo como

(...) uma ideologia22, um tipo de socialismo

revolucionário, que surge no século XIX

colocando-se no campo social e sem

desconsiderar as desigualdades da sociedade, e

por isso tem uma herança histórica, ideológica

e teórica determinada. Possuindo elementos

morais de relevância, o anarquismo não pode

ser considerado uma ciência, apesar de utilizar

métodos racionais para a leitura da realidade –

posicionando-se contra a exploração e a

dominação – para a criação de uma perspectiva

de sociedade futura e também para o

estabelecimento de estratégias e táticas. O

anarquismo defende uma transformação social

revolucionária, em nível internacional, que

deve ser levada a cabo de baixo para cima, ser

protagonizada pelos diferentes sujeitos

oprimidos e fazer com que os meios de luta

estejam de acordo com os fins que se pretende

21 SAMIS, A. Clevelândia: anarquismo, sindicalismo e repressão política

no Brasil. São Paulo: Imaginário, 2002; _______. Minha Pátria é o Mundo

Inteiro: Neno Vasco, o anarquismo e o sindicalismo revolucionário em dois

mundos. Lisboa: Letra Livre, 2009.

22 Devemos fazer algumas ressalvas e esclarecimentos o conceito de

“ideologia” utilizado tanto pelos sul-africanos Michael Schmitd e Lucien

van der Walt como por Felipe Corrêa. Primeiro, o termo ideologia

historicamente em outras concepções tem outros significados. Por exemplo,

na teoria marxista, corresponde à “falsa consciência sistematizada da

realidade”. Se pensarmos assim, o anarquismo se situaria como falsa

consciência dos trabalhadores – fato que não concordamos; segundo nossa

interpretação aqui desenvolvida, o termo ideologia para definir o

anarquismo, para não ser compreendido como falsa consciência

sistematizada da realidade, pode ser substituído por “política” ou como

“desenvolvimento de uma práxis” – que une teoria e ação, sendo, portanto

indissociável a relação meios e fins. Assim sendo, seria mais claro definir o

anarquismo como uma práxis, ou, como uma ideologia, entendida como um

conjunto de teorias orientado por suas ações práticas se autodeterminando.

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atingir. Como objetivo, o anarquismo propõe a

criação de um socialismo autogestionário e

federalista, sem capitalismo e sem Estado, que

concilie a liberdade individual, a liberdade

coletiva e a igualdade (CORRÊA, 2011, p. 47).

Dessa forma, o anarquismo, como corrente do

socialismo – conforme está definido acima – não é sinônimo

de antiestatismo ou meramente uma corrente libertária e

antiautoritária. Pensar o anarquismo de forma reducionista

causa uma visão também reducionista da realidade; nem

generalizações (no sentido de transcender o momento histórico

analisado) são cabíveis, pois, não se pode falar de anarquismo

antes do capitalismo e nem em anarquismo fora do campo

socialista (CORRÊA, 2011, p. 36).

Nessa definição, o anarquismo é um fenômeno que

constitui parte das teorias libertárias que a história produziu,

mas de maneira alguma, pode ser completamente vinculado a

todas elas. Portanto, devemos delimitar o surgimento do

anarquismo para não cairmos em generalizações históricas

causando uma imprecisão do tema (até por que o termo

anarquismo surgirá com os conflitos23 entre Marx e Bakunin).

(...) o anarquismo pode ter surgido em

Proudhon, desenvolvendo suas principais

linhas, mas dá um inegável salto qualitativo

com Bakunin e a ADS, passando a existir em

sua plenitude e maturidade, consolidando-se

como uma ideologia cujas bases encontram-se

no movimento popular do século XIX e que

preconiza uma prática política organizada e

coletiva (CORRÊA, 2011, p. 42).

Para dialogarmos com essa definição, temos que

definir o que se entende por estratégia, pois justamente o

23 SADDI, R. Ditadura do Proletariado ou Abolição do Estado? O Conflito

Conceitual entre

Anarquistas e Marxistas. In: Revista Enfrentamento, ano 04, nº 06,

Jan./Jun. de 2009.

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anarquismo, enquanto uma ideologia teve ao longo do seu

desenvolvimento, diversas estratégias, dentre elas, o

sindicalismo revolucionário.

De acordo com Hardman (1984, p. 31), no Brasil

antes da década de 30 do século XX, um dos elementos

fundamentais da classe operária é sua autonomia cultural

advinda de sua autonomia no plano associativo, principalmente

sindical, constituindo o sindicato enquanto “um espaço

valorizado como expressão de força e dignidade” (idem, p. 49).

O historiador Cláudio Batalha irá apontar que o

“sindicalismo de ação direta, ou sindicalismo revolucionário,

tinha por modelo a política adotada pela Confederação Geral

do Trabalho francesa” que

(...) fundava-se na rejeição de intermediários

no conflito entre trabalhadores e patrões; na

condenação da organização partidária e da

política parlamentar; na proibição da existência

de funcionários pagos nos sindicatos; na

adoção de direções colegiadas e não-

hierárquicas; na reprovação de serviços de

assistência nos sindicatos; na recusa da luta por

conquistas parciais; na defesa da greve como

principal forma de luta, apontando para a greve

geral. (BATALHA, 2000, p. 29).

Nesse sentido, o sindicalismo revolucionário não

constitui uma ideologia diferente do anarquismo, mas uma das

estratégias adotadas pelo anarquismo (CORRÊA, 2011, p. 32).

No Brasil, o sindicalismo revolucionário, teve uma

envergadura bastante considerável. Um exemplo elementar

sobre o sindicalismo revolucionário no Brasil está exposto no

Primeiro Congresso Operário de 1906.

O Congresso de 1906 mostra a clara influência

do sindicalismo revolucionário: há mesmo uma

menção ao operariado francês como “o modelo

de atividade e iniciativa ao trabalhador

brasileiro”. Tal doutrina, nos anos

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imediatamente anteriores a 1906, chega a

dominar a organização do movimento operário

em São Paulo e a exercer uma larga influência

no movimento no Rio de Janeiro. De fato, as

resoluções do Congresso são muito mais

sindicalistas que revolucionárias (do

anarquismo dificilmente se encontra algum

traço) (PINHEIRO e HALL, 1979, p. 41).

Dessa forma, trazendo os elementos do sindicalismo

revolucionário, o tipo de organização escolhido é o sindicato

de resistência, com o intuito de evitar no interior do sindicato,

o cooperativismo, “que atraem grande número de aderentes

sem o indispensável espírito de luta” (NETO, 2007, p. 27).

Ainda, “os sindicatos serão organizados por ofício, por

indústria ou por ofícios vários, neste último caso apenas com o

objetivo de facilitar e provocar a formação de outras

associações de resistência” (idem, ibidem).

De acordo com Alexandre Samis, o Congresso

aprovou a filiação de suas teses ao sindicalismo revolucionário

francês, estabelecendo os seguintes pontos fulcrais:

neutralidade sindical, federalismo, descentralização,

antimilitarismo, antinacionalismo, ação direta, greve geral, etc.

No texto final aprovado pelo Congresso, fica latente a

“capacidade e abrangência do programa que previa a

possibilidade de convivência de ‘opiniões política e religiosas’,

elegendo o campo econômico”24, como o de compreensão por

este ser de interesse comum (SAMIS, 2002, p. 135).

Os princípios de ação direta estão explícitos nas

resoluções do I Congresso Operário Brasileiro:

“Considerando que o proletariado

economicamente organizado, independente dos

partidos políticos, só pode, como tal, lançar

24 Esta concepção está Mikhail Bakunin. Ver: BAKUNIN, M. Catecismo

Revolucionário: Programa da Sociedade da Revolução Internacional. São

Paulo: Imaginário/Faísca, 2009.

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mão dos meios de ação que lhe são próprios;

(...)

o Congresso aconselha como meios de ação

das sociedade de resistência ou sindicatos todos

aqueles que dependem do exercício direto e

imediato da sua atividade, tais como a greve

geral ou parcial, a boicotagem, a sabotagem, o

label, as manifestações públicas, etc., variáveis

segundo as circunstâncias de lugar e de

momento” 25 (COB, 1906 in: PINHEIRO e

HALL, 1979, p. 51).

Outro elemento fundamental é a perspectiva de

“neutralidade” dos sindicatos em relação às vertentes políticas.

Os sindicatos não deveriam nem ser anarquistas, nem

meramente sindicalistas, estes deveriam ser de orientação

revolucionária. Para ficar mais claro, o jornal A Terra Livre de

1906 ressalta a diferença entre nível político e nível social. O

(...) Congresso não foi, de certo, uma vitória do

anarquismo. Não o devia ser. A Internacional,

desfeita por causa das lutas de partido no seu

seio, deve ser memorável lição para todos. Se o

Congresso tivesse tomado um caráter libertário,

teria feito obra de partido, não de classe. O

nosso fim não é constituir duplicatas dos

nossos grupos políticos. Mas se o Congresso se

não foi, a vitória do anarquismo, foi, porém,

indiretamente útil à difusão das nossas ideias

(RODRIGUES, 1969, p. 131).

Além da relação entre o sindicato e a perspectiva

política, os sindicatos, de acordo com as Resoluções do I

Congresso Operário Brasileiro, não deveriam ser “associações

controladas por mestres, com o fim de preservar antigos

25 “Resoluções do 1º Congresso Operário Brasileiro efetuado nos dias 15,

16, 17, 18, 19 e 20 de abril de 1906 na sede do Centro Gallego, à Rua da

constituição, 30 e 32, Rio de Janeiro, 1906 (IISG)” (PINHEIRO e HALL,

1979, p. 58).

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privilégios corporativos” (SIMÃO, 1966, p. 160). Estes

deveriam ser compostos por trabalhadores para lutar pelos

interesses dos trabalhadores, trazendo o lema da Associação

Internacional dos Trabalhadores (AIT) de 1864: “A

emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios

trabalhadores”.

Apesar das diferenças26 entre os três Congressos

Operários (1906, 1913 e 1920), que ressalvadas algumas

alterações relativas às especificidades do contexto histórico de

cada congresso, prevalecia o sindicalismo revolucionário

enquanto estratégia a ser utilizada através da ação direta, como

“método fundamental para a obtenção das transformações

sociais desejadas”

Maria Nazareth Ferreira nos fornece o conceito de

Imprensa Operária. Para a autora, podemos identificar a

imprensa operária produzida por operários, sob o ponto de

vista do emissor, do ponto de vista do receptor e do seu

conteúdo, no que tange às questões da classe social

(FERREIRA, 1988, p.5).

Porém, existem diversos outros elementos para

caracterizamos a imprensa operária, como por exemplo, as

produções de indivíduos não pertencentes àquela classe, mas

que expressa os interesses dessa classe. Quando falamos então

de imprensa operária, estamos dizendo de elementos internos

da classe e externos da classe, porém, não podem ser

desvinculadas do próprio movimento operário, pois ambos

estão relacionados através das lutas da classe trabalhadora. A

Imprensa Operária, no contexto dos fins do século XIX até a

segunda década dos mil e novecentos, constitui-se como “canal

dos problemas dos trabalhadores” e como centros de

propagação de concepções políticas.

26 Cf. SAMIS, A. Pavilhão negro sobre pátria oliva: sindicalismo e

anarquismo no Brasil. In: COLOMBO, Eduardo (orgs.). História do

Movimento Operário Revolucionário. São Paulo: Expressão e Arte &

Imaginário, 2004

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Em questões quantitativas, Ferreira (1978), aponta

que entre o “último quartel do século XIX até as duas

primeiras década do século atual (XX), apareceram

aproximadamente 343 títulos de jornais espalhados pelo

território brasileiro” (idem, ibidem, p. 14). Com considerável

quantidade, através do convencimento expresso pelos jornais, a

imprensa operária ancorada em centenas de periódicos, foi um

órgão fundamental para os sindicatos (ligas operárias, uniões

profissionais ou associações de resistência) na propagação de

seus ideais. Porém, a trajetória desses periódicos estava

condicionada às “dificuldades financeiras e diligencias

policiais” que “garantiam vida breve para a maioria desses

periódicos, ou temporárias interrupções na publicação dos mais

bem sucedidos” (DULLES, 1973, p. 23). De fato, alguns

periódicos não conseguiram encontrar certa regularidade na

sua distribuição, sendo que, alguns desapareciam e

reapareciam sob outros títulos e redatores (na maioria, os

redatores eram os mesmos, porém, sob diversas questões eles

utilizavam pseudônimos).

Nessa questão da Imprensa Operária, devemos notar

algo anterior que é o jornal. Este teve um papel fundamental,

pois criou o “hábito de leitura” e preparou “o terreno para o

surgimento da imprensa operária na virada do século” (idem,

p. 9). Sendo assim, o jornal é um resultado do conjunto de

informações, preocupações, propostas, produzidos pela

coletividade e para ela mesma (idem, p. 6).

Conforme Boris Fausto enuncia, o jornal “constitui

um dos principais centros organizatórios anarquistas e de

difusão da propaganda”. O jornal figura-se dentro do

movimento operário da Primeira República do Brasil como um

“veículo de expressão escrita, transforma-se também com

frequência em veículo oral, ao ser lido em voz alta aos

trabalhadores analfabetos” (1977, p. 91).

Outro conceito fundamental que trabalharemos aqui é

o de ação direta. Ancorado em Adonile Guimarães, Christina

Lopretato, Anton Pannekoek e José Oiticica, entendemos que a

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ação direta é crítica da sociedade burguesa proferida pelo

movimento operário revolucionário de bases eminentemente

libertárias que fornece uma “recusa à tática de representação

burguesa, de rejeição ao parlamentarismo” (LOPREATO,

2000, p. 46). Nesse sentido, a ação direta é “a ação dos

próprios trabalhadores sem a mediação da burocracia sindical”

(PANNEKOEK, 2011, p.119). Assim, ação direta pode ser

expressão através do campo da propaganda (no caso a

Imprensa Operária nos jornais e demais periódicos)

promovendo a ampliação da greve gerando assim a autonomia

como conduta de vida (idem, p. 120).

Para José Oiticica (anarquista brasileiro), a ação direta

tende

(...) a despertar a iniciativa, o espírito de

espontaneidade, a decisão, a coragem, ensinando

a massa popular a agir por conta própria, a unir-

se e viver em luta. Hoje, mais do que nunca, ação

direta, é o processo exato de rebelião proletária

(OITICICA, 1963, p. 47).

Complementando tal análise do conceito aqui

empregado, Lopreato afirma que a estratégia da ação direta

contrapõe-se ao parlamentarismo e a qualquer outra forma de

representação política, estabelecendo os vínculos de ações e

estratégias sem esperar forças externas de outras classes.

Torna-se a ação direta “a expressão da crença de que o

proletariado só se libertará quando confiar na influência de sua

própria ação, direta e autônoma, prescindindo de

intermediários no conflito capital/trabalho” (2000, p. 20).

Dentre o emaranhado de práticas e estratégias da ação

direta, encontra-se o boicote, a sabotagem, e a greve, sendo

que esta última, a estratégia exemplar da ação direta e é

considerada como “a mais rica em ensinamentos por que

explicita interesses contraditórios entre o patrão e o

empregado, rompe a harmonia existente entre eles e fazer

aparecer a luta de classes” (idem).

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- 49 -

Os anarquistas, no geral, sempre consideraram a

educação e o convencimento estrategicamente fundamentais.

Por isso se torna elementar definirmos educação libertária. Tal

definição foi embasada no anarquista russo Mikhail Bakunin

que em seus escritos irá fundamentar as críticas à educação

vigente propondo a Instrução Integral27, uma forma

educacional que tem por fim a supressão da sociedade

capitalista e só poderá se concretizar nessa “nova sociedade”.

Porém, educação libertária não é sinônimo de instrução

integral, já que este último só se concretizará na sociedade

anárquica, sendo que o primeiro, manifesta-se como forma de

luta para o rompimento com essa sociedade. Por isso, para uma

maior precisão utilizaremos educação libertária e pedagogia

libertária e não o conceito desenvolvido por Bakunin28.

A educação libertária tem por objetivo buscar os

meios para

Criar uma pedagogia e um ensino que

revelarão à criança (e ao adulto) os malefícios

de todo poder abusivo e de toda injustiça

social, de onde quer que esse dois provenham;

das religiões às democracias utilizadas como

meios sibilinos de coerção moral e física sobre

o próprio indivíduo (SAFÓN, 2003, p. 11).

Ainda,

27 Assim, na sua definição a instrução é integral “(...) quando prepara os

homens tanto para a vida do espírito como do trabalho, a fim de que todos

se possam tornar pessoas completas”. (BAKUNIN, 1979, p. 43). Nesse

âmago, a instrução integral só pode ser consolidada na abolição da divisão

entre trabalho intelectual e trabalho manual, portanto, em uma sociedade

sem classes sociais.

28 Em Bakunin, temos a noção de emancipação pela prática, ou seja, a

transformação social só se concretizará na realização prática dos oprimidos,

constituindo formas de atuação libertária nessa sociedade para seu

rompimento.

Page 51: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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- 50 -

Reconhecer obrigações à pessoa humana, certo,

mas não imposições que a desnaturem, e, por

conseqüência, fazer aparecer no indivíduo o ser

humano que traz em si. Ativar o senso humano

ao ponto que ninguém possa mais aceitar a

opressão e a iniqüidade como norma de vida e

possa, ao contrário, rejeitá-las pela revolta

(idem, p. 11- 12).

Nesse sentido, dialogaremos também (de forma

secundária) com o conceito de educação exposto por

Gonçalves & Nascimento (2008). Para as autoras, a imprensa

operária fazia opções de divulgar as perspectivas educacionais

que melhor representassem seus princípios, seus pressupostos

teóricos e que, portanto, articulassem a ideia de “educação e

revolução anarquista”. Assim, “preocupados com a formação

do homem anarquista, dedicaram escritos e estudos ao tema da

educação. A educação era fundamental nos planos anarquistas

(...)” (GONÇAVES; NASCIMENTO, 2008, p. 360), pois,

os libertários eram conhecedores da

importância de se educar o militante. Para eles

era necessário instruir o trabalhador, dar-lhe

cultura e conhecimento, pois um povo sem

instrução engoliria as “pílulas amargas” da

imprensa, da ideologia e do discurso burguês

(idem, p. 361).

Porém, queremos ir mais longe: identificar a ação

pedagógica que pressupõe uma ampliação em relação à

educação em si. Por isso, Vancanti (2010) também nos fornece

elementos para essa questã. De acordo com ele, a imprensa

operária foi um órgão muito importante para a divulgação da

educação libertária. Ele diz: “Os jornais foram muito utilizados

pelos intelectuais socialistas/anarquistas para propagar suas

ideias, informações;” ou seja, “aquilo que chamavam de

conscientização se mesclava, nas páginas dos periódicos, com

as notícias de acontecimentos sociais” (VALCANTI, 2010, p.

3). É nesse sentido que cabe nosso conceito de educação

Page 52: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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- 51 -

libertária, enquanto uma ferramenta de conscientização das

condições de classe, que fora utilizada como instrumento de

propagação das ideias libertárias. Nesse sentido, a imprensa

“(...) era o grande veículo de difusão da propaganda militante,

constituindo-se como a expressão mais visível da cultura

operária na República Velha” (GARZIA, 2011, p. 54). Mas

além disso, apresentaremos uma concepção estática mais

ampla das imagens além de sua proposição formal (ver

capítulo 3).

Ressalta Valcanti que as imagens publicadas pelo

jornal também serviram de instrumentos de conscientização

dos trabalhadores, pois “a propaganda anarquista foi

importante para os objetivos deste grupo que, usando de uma

retórica clara e coerente buscava reunir os trabalhadores dentro

de um ideal comum (...), a imagem se apresentou como um

importante instrumento de divulgação e agregação de um

discurso específico” (VALCANTI, 2010, p. 12).

Para uma maior precisão do uso do conceito de

educação, Gonçalves (2004), nos dá um importante marco ao

utilizar que A Plebe foi um instrumento de educação informal

por excelência. Mas além disso, o jornal foi um instrumento de

ação política e pedagógica. Em que pese o conceito do autor,

ele explica que o jornal

procurava-se instruir os trabalhadores para uma

compreensão efetiva do que realmente seria

uma sociedade organizada nos moldes

anarquistas. Então os editores passaram a

inserir no jornal textos que informavam o

trabalhador sobre as características da

sociedade pós-revolucionária; a condição da

família anarquista; as habitações populares em

um regime anarquista e sobre outros temas

referentes a esta sociedade por eles idealizada

(GONÇALVES, 2004, p. 11).

Assim, os editores e escritores desse periódico,

tinham a crença de que o jornal e o livro poderiam alongar as

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- 52 -

“relações dos livros indicados para leitura nos grupos de

estudos sociais, nas bibliotecas das associações de bairros e

sindicais” (idem, p. 15).

Vale ressaltar que mais do que informar os principais

conceitos, fontes bibliográficas e os periódicos, devemos nos

atentar para uma análise minuciosa destas fontes. É pensando

historicamente que irei recorrer a essas fontes para construir a

pesquisa que proponho.

O próximo passo nosso será o de reconstruir os fatos

que marcaram o contexto do proletariado paulista anterior à

Semana Trágica (Lopreato, 2000), apresentando a necessidade

das organizações operárias para o contexto.

Page 54: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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- 53 -

CAPÍTULO II - Contexto do proletariado brasileiro na

Primeira República

Ela se desencadeia contra a causa dos males ou

a ataca de modo indireto, ela é consciente e

instintiva, humana ou brutal, generosa ou muito

egoísta, mas de qualquer modo, é a cada dia

maior e se amplia incessantemente.

(Um Pouco de Teoria, Errico Malatesta, 1892).

2.1. Imigração, formação do operariado e condições de

trabalho

De acordo com o sociólogo Azis Simão, nos fins do

século XIX na cidade de São Paulo começa-se a “destacar as

silhuetas do patrão e do trabalhador assalariado” (SIMÃO,

1966, p. 9) onde as relações entre a sociedade anterior, que se

baseava nas relações escravocratas dava lugar à sociedade

fundamentada nas relações de assalariamento. Nesse contexto,

emerge-se um emaranhado de indústrias que darão sentido para

a afirmação de um proletariado urbano que crescerá demasiado

formando uma classe operária.

Essas novas relações em emersão estão em conexão

com outro elemento fundamental para esse crescimento do

corpo de mão de obra industrial: a imigração. Conforme

salientamos na Introdução, a leva de imigrantes

especificamente italianos29 irá formar uma mão de obra

considerável nos fins do século XIX e início do século XX.

29 Um aspecto importante da imigração italiana e do movimento libertário

será a formação da Colônia Cecília no município de Palmeira no Paraná.

Esse movimento engendrou-se quando um “grupo de anarquistas deixou a

Itália, em fevereiro de 1890, para tomar posse de terras que havia recebido

do governo brasileiro, segundo sua política de estímulo à imigração. No

primeiro ano a experiência foi bem-sucedida, e na primavera de 1891 havia

cerca de duzentas pessoas vivendo e trabalhando na colônia”

(WOODCOCK, 2006, p. 170). Para mais, ver WOODCOCK, G. História

das idéias e movimentos anarquistas- v.2: O movimento. Porto Alegre:

L&PM: 2006.

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- 54 -

Já na década de 50 do século XIX, em meio a

“intensos debates sobre a utilização de imigrantes europeus

para o povoamento de áreas devolutas ou para substituição da

mão-de-obra africana escrava” o governo brasileiro, após uma

revolta na fazenda do latifundiário Nicolau de Campos

Vergueiro devido ao uso do “Regime de Parceira”, irá

intensificar o apoio à imigração (SAMIS, 2002, p. 130). Nesse

período foi registrada a entrada de cerca de 117 000 indivíduos

que entraram no Brasil nos anos 1950 e na próxima, cerca de

527 000.

Em um estudo sobre a imigração para o Brasil,

Petrone (1990) aponta a intensidade que o Estado brasileiro

atuava nesse processo potencializando com recursos do Estado

a vinda de imigrantes. De acordo com a autora, esse fenômeno

“faz parte de uma realidade bem mais ampla e complexa, onde

as oportunidades de sucesso nas áreas novas, as forças de

atração, portanto, e as de repulsão, ou seja, a pobreza, as

dificuldades para sobreviver e a superpopulação nos países de

origem, constituem apenas algumas das condicionantes”

(PETRONE, 1990, p. 95). No entanto, a década de 1890 é mais

favorável para entender as principais determinantes da

imigração. Contribuiu para o seu desenvolvimento, o

crescimento da lavoura cafeeira, o regime de governo que

mudara em 1889, abolição da escravidão, crise econômica na

Itália e nos Estados Unidos, a política de Estado

impulsionando a imigração, entre outros fatores (PETRONE,

1990, p. 101).

Além dessa relação da entrada de imigrantes, é salutar

ressaltar que o processo de êxodo rural que ocorre

principalmente em São Paulo, se dá na conjuntura de 1898 até

1907, onde destaca-se a crise cafeeira e a consecutiva

diminuição de plantio e da pressão da mão de obra rural. Nesse

ínterim, o núcleo urbano crescerá, alimentando a indústria

paulistana por conta de uma recuperação econômica entre os

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- 55 -

anos de 1905 – 1913 com um surto industrial (PINHEIRO,

1990, p.155).

De 1890 a 1929 entraram ao todo no Brasil

(...), 3 523 591 imigrantes, sendo que na

primeira década do período em apreço vieram 1

205 703; na década de 1900, aliás a menos

significativa quanto à imigração, a cifra baixou

para 649 898. Durante a década em que houve

a Primeira Guerra Mundial chegaram 821 522

imigrantes, para na seguinte se registrarem 846

522. O ano em que mais imigrantes se

registraram em toda a História do Brasil é

1891: 216 110 (...) (PETRONE, 1990, p. 100).

Especificamente o Estado de São Paulo recebeu entre

1889 e 1930, 2 022 654 imigrantes, correspondendo a “57,7%

do total do Brasil” (PETRONE, 1990, p. 103). Nessa base

quantitativa ainda destaca a predominância de italianos com

cerca de um terço desse total do estado paulistano. Pinheiro

(1990, p. 139) ressalta, por exemplo, que no ano de 1900,

“92% dos operários industriais no Estado de São Paulo eram

estrangeiros e 81% eram italianos”. Essa eminência de

superioridade numérica de italianos ressoou na forma e nas

diretrizes assumidas pelo movimento operário organizado no

Brasil. Ao destacar isso, o autor acima referido,

Apresentando os dados quantitativos específicos da

imigração em São Paulo, Simão (1966, p. 26 – 27) aponta que,

segundo os censos de 1890, 1900, 1920 e 1940,

o número de habitantes do Estado foi,

sucessivamente, de 1.384.753, 2.279.608,

4.592.188 e 7.180.316. Registrou-se um

aumento de 64,8% na década de 1890, que se

elevou a mais de 100% no primeiro vintênio

deste século, caindo para 56,4% no seguinte.

Tal crescimento demográfico deveu-se, em

grande parte, às contínuas levas de imigrantes,

que, inicialmente pequenas, avolumaram-se

depois de 1886, quando o governo provincial

passou a custear inteiramente o transporte de

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- 56 -

colonos europeus para o serviço da

cafeicultura. (...) A quantidade de entrados, em

1887 e 1900, foi de 909.417, contribuindo com

uma taxa de 86% para o aumento do número de

habitantes então verificado. No período de

1901 a 1920, mais de 823.642 estrangeiros

entraram com a quota de 38,5% no crescimento

de uma população já aumentada com os

entrados anteriormente e o número ignorado de

seus descendentes (SIMÃO, 1966, p. 26 - 27).

A migração campo-cidade, sobretudo para a cidade de

São Paulo, também teve uma forte conotação devido às “fases

de depressão do setor cafeeiro e as dificuldade de acesso à

propriedade da terra” (FAUSTO, 1977, p. 24).

Para Luigi Biondi, os anos de 1916 e 1917 são

importantes para entender como a imigração italiana teve uma

emersão considerada. Para ele, dois fatores são essenciais: a) a

inserção definitiva na economia do trabalho urbano industrial

ou artesanal; b) a fixação no território por conta dessa inserção

e pela “impossibilidade de voltar à Itália devido à guerra e à

crise econômica que a precedeu” (BIONDI, 2009, p. 274). E

como forma de luta contra essa realidade complexa e

dificultosa, a principal arma do proletariado foi a greve. Essas

greves eram “esparsas até fins do séc. XIX” mas cresceram

demasiado nas primeiras décadas do século passado

(SEGATTO, 1987, p. 61),

Mas, o desenvolvimento industrial no Brasil não fora

linear e evolutivo. Teve suas fases de ascensão e queda. A

produção, no primeiro momento, se restringia especificamente

a produzir bens de consumo não duráveis, ou seja, tecidos,

alimentos, etc. e concentrava-se principalmente nas cidades de

São Paulo e no Rio de Janeiro. Assim, começava-se a formar

um contingente populacional operário urbano que, juntamente

com esse crescimento populacional ocorrido principalmente

pela imigração italiana, espanhola e portuguesa, tornará a base

principal do incipiente movimento operário dos fins dos anos

mil e novecentos e que se fortalecerá e terá o seu auge em

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- 57 -

1917 na greve geral de julho. Nesse sentido, as grandes

migrações transoceânicas dos séculos XIX e XX constituem

um aspecto do movimento demográfico advindo da Europa que

potencializou a urbanização e a industrialização de São Paulo

(PETRONE, 1990, p. 95) (SEGATTO, 1987, p. 14). Essa

relevância está intrínseca na forma, na composição e nas

motivações do movimento operário brasileiro, já que foi na

greve geral de julho de 1917 que ocorre a fixação e

participação efetiva dos italianos na constituição de uma classe

operária e de seus movimentos organizativos. Assim pensando,

a “presença de um proletariado de origem italiana deve ter

refletido no movimento as tensões que caracterizavam

internamente a comunidade ítalo-paulistana” já que os ecos e

reflexos da Guerra Mundial estavam se intensificando na Itália

(BIONDI, 2009, p. 272).

Assim, a maioria dos trabalhadores aqui instalados

estavam submetidos a longas jornadas de trabalho, “que nos

primeiros anos do século XX atingiram 14 horas no Distrito

Federal e 16 horas em São Paulo -, com poucas possibilidades

de descanso e lazer” (BATALHA, 2000, p. 11).

Ainda de acordo com ele os

(...) trabalhadores moravam em habitações

precárias, como os cortiços; na periferia dos

centros urbanos, padecendo problemas de

transporte e de infra-estrutura; ou, ainda,

submetidos ao controle patronal, caso das vilas

operárias das empresas. No caso de doença,

invalidez ou desemprego, o trabalhador que

não contasse com um fundo beneficente da

empresa, ou que não contribuísse por sua

própria iniciativa para alguma forma de

sociedade que fornecesse auxílios, via-se

inteiramente desassistido e tinha sua

sobrevivência ameaçada em virtude da

completa ausência de políticas sociais

(BATALHA, 2000, p. 11).

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- 58 -

As condições dos trabalhadores eram tão adversas,

que Oreste Ristori, anarquista italiano, irá relatar no periódico

La Battaglia no ano de 1911 que as condições de trabalho no

Brasil eram terríveis e a “vida horrorosa”. Em suas palavras:

“O trabalhador dos campos, trabalha aqui quatorze e quinze

horas e vive em imundas pocilgas de barro” (RISTORI apud

RODRIGUES, 1969, p. 306).

No regime de trabalho cotidiano na fábrica era exigida

do trabalhador uma disciplina do trabalho fundamentada na

assiduidade e pontualidade, “como também um ritmo intensivo

de produção, não se consentindo interrupção individual da

atividade senão com licença superior” (SIMÃO, 1966, p. 72).

As condições de manutenção e de reprodução da vida material

ao operariado não eram favoráveis. Ressalta Segatto (1987, p.

23) que a “disciplina e a coerção no interior das fábricas eram

bastante rigorosas, visando a garantia do máximo rendimento

da mão-de-obra”.

Essas condições desfavoráveis à classe operária foram

fundamentais para o surgimento das primeiras organizações de

resistência. Devemos ressaltar, conforme Alexandre Samis30

que desde a década de 30 do século XIX existiam organizações

de trabalhadores urbanos, porém, limitadas ás perspectivas de

socorros mútuos e de cooperação. Porém, é a partir dos fins

desde século que começará a surgir na cidade de São Paulo as

organizações de resistência, chamados por vezes de sindicatos,

ligas, núcleos, etc., que foram contrários às “difíceis condições

de vida e de trabalho” (SEGATTO, 1987, p. 26).

2.2. Sociedades de resistência, sindicatos e imprensa

operária

Antes mesmo da constituição de grandes organizações

de trabalhadores, já existia algumas associações ainda na

primeira metade do século XIX.31 As organizações de

30 2002, p. 132. 31 Citando essas organizações, Segatto (1987, p. 35), diz: “(...) Sociedade

de Oficiais e empregados da Marinha, fundada em 1833; a Sociedade

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trabalhadores na cidade de São Paulo foram, de acordo com

Cláudio Batalha (2000, p. 16), divididas em três tipos: a)

associações pluriprofissionais, reunindo operários de diferentes

setores de trabalho; b) associações por ofícios, que congregava

os trabalhadores por ofícios; e c) sindicatos por empresas, que

organizava os trabalhadores de determinada indústria. Assim,

essas organizações citadinas foram elementares para a

construção dos posteriores sindicatos de resistência.

Essas novas organizações surgiram com as

denominações mais diversas: associação,

centro, grêmio, liga, sociedade, união e, até

mesmo, sindicato. Com frequência, na

denominação havia a qualificação “de

resistência”, para enfatizar sua diferença com

relação às sociedades mutualistas, consideradas

“beneficentes” (BATALHA, 2000, p. 15).

Esses tipos de organizações sindicais irão substituir as

formas de organizações mutualistas que apontamos

anteriormente. Assim, nos triênio 1903-1905 cresceram as

ligas de resistência em São Paulo. Em novembro de 1905,

essas associações se reuniram em torno da Federação Operária

de São Paulo (FOSP) criada em 26 de agosto de 1917

(LOPREATO, 2000, p. 19). Essa federação irá surgir “(...)

reunindo em sua fundação a União dos Chapeleiros, a Liga dos

Trabalhadores em Madeira, a Liga dos Pedreiros e a União

Internacional dos Sapateiros” (FAUSTO, 1977, p. 120).

Porém, as organizações de trabalhadores em São

Paulo eram incipientes se comparadas com as do Rio de

Janeiro. Nesse sentido, o salto qualitativo de forma

organizacional será dado quando, em abril de 1906, a

Federação Operária Regional Brasileira organizará o Primeiro

Congresso Operário Brasileiro. Assim, o Primeiro Congresso

Operário, realizado entre os dias 15 e 22 de abril de 1906 deu

Mecânica Aperfeiçoadora das Artes e Beneficente, em 1936; e a sociedade

de Auxílio Mútuo dos empregados da Alfândega, em 1838”.

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- 60 -

um passo significativo para a organização do sindicalismo

revolucionário no Brasil fruto do “ascenso do movimento

operário revolucionário” (SAMIS, 2004, p. 135). Porém, essa

não foi a primeira organização de trabalhadores no Rio de

Janeiro e no Brasil. Conforme Oscar Farinha Neto aponta, após

as greves de 1903 na capital federal surge uma necessidade de

criação de um órgão que “coordenasse o movimento das

diversas classes trabalhadoras” no Rio de Janeiro (NETO,

2007, p. 21). E dessa necessidade irá surgir, neste mesmo ano,

a Federação das Associações de Classe, cujo modelo de

organização era inspirado no sindicalismo na versão de Émile

Pouget, então secretário-geral da CGT francesa.

Com as influências da FORA (Federação Operária

Regional Argentina) – de bases anarcossindicalistas – a

federação passa-se a chamar Federação Operária Regional

Brasileira, com forte influência anarquista e que terá a

possibilidade de uma reunião geral (Congresso) no ano de

1906.

Esse Congresso, chamado primeiramente de

Congresso Operário Regional Brasileiro32, contou com a

participação de 43 delegados de vários estados do Brasil

representando as 28 associações de trabalhadores. Em

deliberação, aprovou-se a filiação (muito mais uma

continuação) das teses do congresso ao modelo do

sindicalismo revolucionário francês33.

Do Congresso que surgirá a COB (oficialmente em

1908) está próximo aos moldes do anarco-sindicalismo da

FTRE (Federación de Trabajadores de la Región Española)

fundada em 1881 advinda da FRE (Federación Regional

32 De acordo com Samis (2004, p. 135), foi a comissão de redação das

deliberações finais do congresso que deu o nome do encontro de Primeiro

Congresso Operário Brasileiro, já que se tratava de um Congresso nacional

e não regional. 33 De acordo com Pinheiro e Hall (1979, p. 41): “o Congresso de 1906

mostra a clara influência do sindicalismo revolucionário: há mesmo uma

menção ao operariado francês como ‘o modelo de atividade e iniciativa ao

trabalhador brasileiro’”.

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- 61 -

Española) de 1870 (CORRÊA, 2012, p. 218). Nesse congresso

foi deliberado que não ocorreria nenhuma vinculação a

partidos (ou a um modelo ou diretriz proletária), sendo que o

congresso via “como ’única base sólida de acordo e de ação’

os interesses econômicos comuns a toda classe operária”

(DULLES, 1977, p. 27). É compreendendo a realidade operária

como uma interpretação do passado que a COB reafirmaria

suas bases sem uma doutrina política única a ser seguida.

Porém, há de ressaltar que os militantes anarquistas não eram a

maioria, mas apesar disso, tinham a hegemonia do pensamento

no interior do Congresso. De fato, isso não nos autoriza a dizer

que o Primeiro Congresso Operário defendeu o anarco-

sindicalismo ou o anarquismo. O Primeiro Congresso assumirá

o sindicalismo revolucionário e não, o anarco-sindicalismo

(CORRÊA, 2011, p. 135).

Como afirmamos a organização do Primeiro

Congresso que criará em 1908 a COB, vai dar um salto

qualitativo nas organizações sociais de cunho sindicalistas.

Nesse período se intensificará na capital federal e na cidade de

São Paulo o debate em torno das oito horas34, que figurou

como uma bandeira de luta e esteve presente nas

reivindicações dos trabalhadores durante boa parte da Primeira

República. É nesse contexto que a FOSP será inserida.

Utilizando como estratégia de luta a greve geral, assumirá toda

a luta econômica articulada com a propulsão revolucionária.

Por exemplo, nas comemorações do Primeiro de Maio de

1907, “a FOSP conclamou o operariado paulista a iniciar o

movimento (grevista)35” (LOPREATO, 2000, p. 22).

34 Ver LAFARGUE, Paul. O Direito à Preguiça. Marília: UNESP, 1999.

Além de Lafargue, o trabalho de Josué Pereira da Silva é elementar para

compreender como historicamente surgiu o debate da divisão tripartida do

tempo, dividindo as 24 horas diárias entre o lazer, o trabalho e o sono. Para

tal, ver SILVA (1996), op. cit. 35 Devido a forte repressão estatal em 14 de maio de 1907, a FOSP foi

fechada e alguns de seus membros acabaram presos (LOPREATO, 2000, p.

23).

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- 62 -

A greve era entendida, como foi justificada por Paulo

Sérgio Pinheiro (1990, p. 150), como um exercício

revolucionário, que deveria culminar na “greve geral

revolucionária” onde a “ação direta era a sua estratégia básica”

rechaçando “qualquer cooperação com a política eleitoral ou

parlamentar”. Contribuiu fortemente para a ascensão de vários

movimentos grevistas a carestia de vida durante o período da

Primeira Guerra Mundial. Pinheiro (1990, p. 147), destaca que

no contexto da Guerra Mundial acontecerá um aumento do

custo vida advindo principalmente pelo aumento dos preços

dos gêneros de consumo importados além do aumento dos

produtos internos provocados pelo reflexo do aumento da

“demanda externa”. Assim, “os produtos exclusivos de

consumo interno tenderam a substituir os de importação, o que

afetou seu nível de preços”. Nesse processo, entre 1914 – 1918

por conta da crise “as construções param, as fábricas reduzem

a produção e, em muitos casos, cessam suas atividades.

Aumenta o desemprego” (PINHEIRO, 1990, p. 155). Assim,

nesse período emergiram diversos movimentos grevistas que

darão o tom do movimento operário da Primeira República.

Nesse processo de constituição de uma unidade de

luta do proletariado paulistano, a imprensa de origem operária

exercerá um papel fundamental ao propagar, comunicar e

relacionar os trabalhadores em prol de suas conquistas. Nesse

sentido, para auxiliar no convencimento dos trabalhadores

existia a Imprensa Operária, órgão que tinha um intuito de ser

o “veículo de comunicação da classe trabalhadora”36, onde o

seu conteúdo “é resultado do conjunto de informações,

36 É importante salientar que neste período a imprensa de cunho anarquista

também cresceu demasiado, publicando centenas de periódicos dentre os

quais destaca-se: O Amigo do Povo (1902 criado por Neno Vasco), La

Barricata (editado por Gigi Damiani e Adolfo Felipe), O Libertário (que

surgiu em 1904 e foi editado por Neno Vasco, Manuel Moscoso e Everardo

Dias), La Battaglia (criado em 1904 dos editores Gigi Damiani e Oresti

Ristori), O Despertar (1904 em Curitiba), A Terra Livre (no ano de 1905

por Neno Vasco), A Lucta Operaria (publicada pela Federação Operária de

São Paulo), etc.

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........................

- 63 -

preocupações, propostas etc. produzido pela coletividade e

para ela mesma” (FERREIRA, 1988, p. 6). O jornal que visava

o público trabalhador fora um “(...) produto cultural particular

capaz de formar uma comunidade de leitores ouvintes que

alimentavam-se das ideias e debates surgidos naqueles

círculos” sendo que provavelmente acabavam “alterando as

formas de relacionamento que provocavam a distribuição de

pensamentos novos” (GIGLIO, 1995, p. 52).

Nesse sentido, um claro exemplo de imprensa como

veículo de propagação de interesses operários era o jornal A

Voz do Trabalhador37 que logo nas resoluções do Primeiro

Congresso já apareceria como veículo de propaganda da COB

e que circularia com esse intento de 1908 a 1915. Nesse âmago

chamado de Imprensa Operária (folhetins, panfletos, revistas,

etc.) destaca-se o jornal: um instrumento de informação,

conscientização e de mobilização da classe (idem).

Assim, nos limitaremos a observar como se deu o

surgimento do periódico A Plebe. Para tanto, devemos retornar

ao periódico A Lanterna que paralisou em 1916 e que fora

coordenado por Edgar Leuenroth, criador do outro periódico

que estudaremos de forma mais detida nesse trabalho.

2.3. De A Lanterna à A Plebe

O periódico A Lanterna foi fundado em 7 de março de

1901 por Benjamin Motta (advogado maçom) e devido à

constância de problemas econômicos, fechamentos por parte

do Estado, repressão policial, etc. passou por algumas fases,

sendo a primeira, de 1901 a 1902, retomando em 1903 e

continuando até 1904 de caráter anticlerical sob a direção de

Benjamin Motta. Nesse período, de acordo com Rodrigues

(1997, s/p) publicou-se 60 números.

37 Para maior aprofundamento sobre esse periódico, cf. Giglio (1995) e

Peres (2004) op. cit.

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........................

- 64 -

Na primeira fase, A Lanterna efetuava uma

contundente afirmação das pautas anticlericais

e defendia as ideias de progresso, civilização,

valorização do trabalho produtivo e da

liberdade. Tratava-se de um compromisso com

as causas da modernidade e do progresso, tanto

espiritual (do indivíduo), quanto material e

moral (da sociedade). Preconizava-se a

instrução laica e integral, baseada no

racionalismo, na experimentação, na co-

educação e nas ciências, assim como princípios

morais cívicos, quase evangélicos, sustentados

na fraternidade humana, no altruísmo, na

tolerância, na solidariedade, no apoio e respeito

mútuos (PERES, 2005, p. 2-3).

Na sua segunda fase, entre os anos de 1909 a 1916 (17

de outubro de 1909 a 19 de novembro de 1916), teve uma

mudança na orientação do jornal, que passa a ser de caráter

anticlerical e uma conotação claramente anarquista sob a

direção de Edgard Leuenroth. Nesse ínterim, contou com a

publicação de 293 números com o subtítulo de Folha anti-

clerical e de combate, assumindo uma postura eminentemente

libertária.

Na segunda fase de publicação, A Lanterna

conservou a maior parte do ideário da primeira

fase, ao mesmo tempo em que destacava a

questão social e acrescentava elementos anti-

religiosos em sua agenda anticlerical. Este

posicionamento provocou o afastamento dos

aliados da primeira fase que não abriam mão da

visão religiosa: parte dos maçons, os espíritas e

os protestantes. Se a aliança com a outra parte

dos maçons foi preservada, o grupo editor

reforçava a aproximação tanto com os

agrupamentos libertários quanto com os

trabalhadores e suas associações de classe.

Neste movimento, os anarquistas e seus aliados

atuavam, para além do jornal anticlerical,

através de iniciativas e ações culturais, em

grupos de afinidade e centros de convivialidade

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- 65 -

tipicamente modernos: centros de estudos

sociais, teatros, círculos de leitura, escolas e

universidades populares. Nestes “lugares de

encontro” (ou melhor, lugares de

aproximação), a relação entre os atores sociais

articulava-se cada vez mais em torno das já

citadas questões sociais. Simultaneamente,

Estado e Igreja puseram-se a campo para

disputar corações e mentes no conjunto da

sociedade, em particular entre os trabalhadores

(PERES, 2005, p.3).

Na sua última fase, com os esforços de Leuenroth, o

periódico é publicado semanalmente dentre julho de 1933 a

fevereiro de 1934. Porém, de fevereiro de 1934 a janeiro de

1935 terá de uma publicação a outra um espaço de tempo mais

longínquo, ou seja, quinzenalmente.

Em todas as suas fases, o periódico contou com

ilustrações, charges e fotos. Em suas páginas é comum

encontrar textos assinados por seus editores, porém, devido ao

perigo de represálias, os colaboradores do periódico só

assinavam seus textos com iniciais e/ou pseudônimos38. Tem-

se no periódico uma infinidade de colunas diferentes. Artigos

críticos, charges, poemas, notícias de caráter mundial.

Não era interesse do jornal questionar tão

somente o papel da Igreja como veículo de

crenças e dogmas, mas também como um

sistema a serviço do poder político e

econômico. Defendia projetos de constituição

de uma sociedade laica. Adepto de um

38 Por exemplo, Adelino de Pinho publicou no número nº138 de A

Lanterna, datado de 11 maio de 1912, o artigo A Invasão Negra utilizando-

se do pseudônimo Pinho de Riga. Destaca-se nesse texto suas ásperas

palavras quando afirma que “os padres e jesuítas de casaca, com suas

escolas, seus liceus de artes e ofícios, suas irmandades, suas lojas e toda a

espécie de associações religiosas, têm uma fábrica irregular para o

ministramento da estupidez e da cegueira moral e intelectual. Daí o apoio e

a adesão de todos os que têm empenho em manter este miserável estado

social, a todas as empresas de caratês religioso”.

Page 67: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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- 66 -

jornalismo libertário, denunciador de opressões

e privilégios da Igreja Católica, considerava-se

apartidário, colocando-se unicamente a serviço

da emancipação social e política dos menos

favorecidos, em defesa do movimento operário

e, a partir do final do ano de 1933, critica e

opõe-se aos integralistas, denunciando a união

destes com a Igreja (CATÁLOGO DE

PERIÓDICOS, UNESP).

Nesse sentido, A Lanterna tinha “seu foco e visão

anárquica” e este “concentrava-se na influência da Igreja

Católica no Estado e na sociedade. Foi principalmente, mas

não somente, um porta voz das ligas anti-clericais que haviam

por todo o país” (PINTO, 2010, p. 597)39.

De acordo com Boris Fausto, o periódico A Lanterna

era o “veículo mais consistente do anticlericalismo anarquista”

(FAUSTO, 1977, p. 83) onde se inseriu como mais um “dos

principais centros organizatórios anarquistas e de difusão de

propaganda” (idem, p. 91). Porém, os esforços pessoais de

Edgard Leuenroth e de seus amigos e colaboradores do jornal

não foram suficientes para mantê-lo circulando.

39 Devemos fazer algumas ressalvas. Essa eminência anticlerical nada mais

é do que um reflexo do cientificismo que está presentes nos meios

anarquistas. Por exemplo, em Kropotkin (anarquista russo), encontramos a

seguinte citação que nos remete a refletir sobre as influências do

positivismo no anarquismo. Diz o anarquista russo: “Para nós, a natureza é

um todo do qual o homem e a sociedade fazem parte... Nosso método é o

das ciências naturais exatas... de forma a englobar toda a natureza e todos

os efeitos de ordem social em um a mesma unidade de idéias sem, no

entanto, cair nos mesmos excessos de Augusto Comte e de Herbert Spencer

em suas tentativas do mesmo gênero.... A anarquia ... possui sua base

filosófica na compreensão materialista , mecânica da Natureza, na qual o

homem, sua vida psíquica e sua vida societária são compreendidos como

fatos da história natural?” (KROPOTKIN apud SEIXAS, 1995, p.142-

143). Para mais, ver o conceito de evolução em Élisée Reclus (MATEUS,

2002, p. 69 – 93.

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- 67 -

“Militante engajado no movimento operário brasileiro” (LOPREATO, GONÇALVES, 2011, p. 3) Edgard Leuenroth participará ativamente do movimento grevista do ano de 1917. No ano anterior à greve, ao lado de notados militantes anarquistas Edgard Leuenroth auxiliou a refundar o Centro Libertário de São Paulo que passou a ser um local de encontro, discussões e elaborações de propostas e ações da prática anarquista (LOPREATO, 2000, p. 71). A refundação do Centro Libertário viria para “despertar nos trabalhadores a vontade de lutar por uma vida com dignidade” (idem, p. 73) e nesse processo, Luigi Damiani40 exerceu um papel fundamental.

Imagem 1 - Painel do periódico. Nele se destaca, além do seu nome, o número de assinaturas, a localidade, o seu redator, sua numeração cronológica, a periodicidade de publicação e regras

40 Luigi Damiani (1876 – 1953), ou como era mais conhecido, Gigi

Damiani foi um italiano anarquista que no Brasil “foi redator do jornal

anarco-comunista Guerra Sociale. Com sua habilidade de escrevinhador,

Damiani marcou presença na difusão de idéias anarquistas entre o

operariado paulistano, incitando-o a romper as amarras que o prendiam a

uma vida de miserabilidade. Seus escritos sobre o que costumava chamar

de ‘costrutto’ teórico do anarquismo, isto é, a moral anárquica, serviram de

contraponto às idéias de caráter mais reformista nos sindicalistas”

(LOPREATO, 2000, p. 73). Gigi Damiani e o também italiano, Oresti

Ristori, foram considerados por Edgar Rodrigues (1984, p. 128) como uma

equipe anarquista de muito mérito. Gigi ainda dirigiu o jornal O Despertar;

em Curitiba colaborou com o periódico libertário Il Lavotero de 1893;

participou do Comitê de Defesa Proletária ao lado do já citado Leuenroth,

além de, Rodolfo Felipe, Francisco Cianci, Florentino de Carvalho, Antonio

D. Candeias, etc. Foi expulso do Brasil no ano de 1919. Para mais

informações ver: Biondi (1998), op. cit.

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- 68 -

para publicação de propagandas comerciais. A Plebe, nº 4, 30 de junho.

Assim, com os acontecimentos que ascendiam por

conta das constantes greves, Edgard Leuenroth organiza um

jornal com maior amplitude temática libertária, saindo das

críticas ao clero e aprofundando em temáticas de caráter mais

emergencial: denunciar as mazelas que o capitalismo produzia

aos trabalhadores incitando-os a organizar-se. Assim, em 9 de

junho chega às ruas o primeiro número do jornal A Plebe, que

será reconhecido como “(...) o mais importante veículo de

divulgação em língua portuguesa das ideias anarquistas entre

os trabalhadores paulistanos” (LOPREATO, 2000, p. 35).

Para seu redator,

(...) como reflexo vivo dessa convulsão

apocalyptica [das greves e do Ascenso do

movimento operário] que surge A Plebe, filha

dos ardentes anseios de uma pleiade de moços

combatentes da phalange libertaria (A PLEBE,

n°1, p. 1, 09 de junho) [observação e grifo

nosso].

De forma geral, o jornal teve uma influência

significativa no movimento operário já que “(...) todas as

tendências dentro do movimento utilizaram o jornal como

portador de suas propostas, como veículo de suas resistências e

como proposta de educação dos trabalhadores” (KHOURY,

1981, p. 15).

Mais um jornal às ruas e com sua orientação política

explícita: o anarquismo.

2.4. Edgard Leuenroth: breve biografia de militante

anarquista

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- 69 -

Imagem 2 - Foto de Edgard Leuenroth publicada em A Plebe, nº 15,

30 de setembro de 1917. Na descrição da imagem lê-se: “EDGARD

LEUENROTH, director d’<A Plebe>, preso como autor <psychico

e intellectual> do assalto ao Moinho Santista”

Edgard Leuenroth fora considerado como um

“personagem importante da história do(s) anarquismo(s) do

Brasil” (LOPREATO, 2009, p. 201). Militante desde jovem

participou de diversas organizações de trabalhadores no início

do século XX no Brasil, além de ter contribuído na construção

de diversas organizações sindicais, jornais, consolidando-se

como um dos “principais porta-vozes dos trabalhadores em

manifestações operárias ocorridas na cidade de São Paulo, ao

longo do século XX” (idem, 2011, p. 4).

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- 70 -

Nascido no interior leste do estado de São Paulo, na

cidade de Mogi-Mirim, em 31 de outubro de 1881, Edgard

Frederico Leuenroth era filho de um médico alemão e mãe

brasileira. Bastante jovem iniciou (especificamente no ano de

1904) a sua trajetória na militância libertária “interrompida

somente quando, em idade avançada, suas forças físicas de

octogenário não mais lhe permitiram agitar a bandeira

anarquista” (LOPREATO, 2009, p. 201).

Para Edgar Rodrigues (1994, s/p), o militante

paulistano “é envolvido, tocado, contagiado pelo movimento

libertário” começando sua militância onde conhecerá o

português e anarquista Neno Vasco. Mas antes disso,

Leuenroth havia ingressado no Círculo Socialista Primeiro de

Maio, no qual não ficará muito tempo (LOPREATO, 2009, p.

203).

Ainda adolescente, já tinha clareza da

importância da liberdade de expressão e da

força da imprensa livre como meio propulsor

de idéias progressistas. Por acreditar não haver

escravidão para o espírito que se quer livre,

escreveu e falou sem peias, arcando com as

consequências da sua ousadia. E foi

principalmente nas atividades desenvolvidas

nos jornais que teve contato com diferentes

correntes do pensamento e abraçou o

anarquismo (LOPREATO, 2009, pp. 202-

2003).

No ano de 1903, quando trabalhava no ramo da

tipografia, fundou o Centro Tipográfico de São Paulo que no

ano seguinte se transformará em UTG (União dos

Trabalhadores Gráficos). Esse período de militância e sua

vinculação às organizações de ofício serão responsáveis pela

relação estreita que Leuenroth terá com a classe trabalhadora.

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È nesse ínterim que o anarquista ajudará a fundar a Federação

Operária de São Paulo (FOSP). Edgar Rodrigues destaca que:

Nos meios operários e anarquistas não faltou

aos congressos de nível estadual e nacional

(São Paulo). Esteve sempre presente na luta

pela libertação dos grandes mártires do

capitalismo burguês e do Estado: Ferrer, no

"Caso Idalina", Durruti, Nicols, Mateo, Nestor

Makno, Sacco e Vanzetti, entre outros e bateu-

se contra as expulsões de anarquistas

estrangeiros do Brasil. Participou de muitas

greves, destacando-se a de 1917, quando foi

preso e julgado no Tribunal do Júri de São

Paulo como autor intelectual de uma greve que

desembocou num dos maiores movimentos

insurrecionais operárias até hoje ocorridos na

paulicéia, no Brasil, com assaltos a casas

comerciais, barricadas nas ruas, luta com as

forças armadas do Governo estadual e morte de

operários grevistas (RODRIGUES, 1994, s/p).

No ano de 1906, em meio a manifestações contra o

Caso Idalina (caso em que um padre fora acusado de

assassinar uma criança em um orfanato), Edgard Leuenroth é

preso e liberto com a ajuda de seu amigo e advogado Evaristo

de Morais. Nesse mesmo ano, participou do Primeiro

Congresso Operário Brasileiro na cidade do Rio de Janeiro,

cidade na qual passara a morar em 1905.

Na sua vida e no percurso como militante anarquista e

como bom conhecedor da tipografia que era, Leuenroth irá

ajudar a organizar vários jornais, dentre os quais destaca-se: O

Boi (1897-1899), Folha do Brás, O Alfa (1901), O

Trabalhador Gráfico (1904). Colaborou também com o

periódico anarquista A Terra Livre (dirigido por Neno Vasco),

foi redator de Luta Operária, órgão da Federação Operária de

São Paulo nos anos de 1906-1907. Entre os anos de 1909 e

1935 se tornou diretor do jornal A Lanterna (fundando por

Benjamin Motta, o qual nos referimos anteriormente). No ano

de 1912 fundou e foi redator do jornal Guerra Social na cidade

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- 72 -

de São Paulo. Ainda nessa década, colaborou com o jornal

anarco-comunista O Combate, foi seu redator principal durante

bom tempo e no ano de 1915, foi redator-secretário da revista

Eclética de São Paulo (RODRIGUES, 1995, s/p).

Na segunda década do século XX, Edgard Leuenroth

participou de vários movimentos grevistas, onde destaca-se sua

participação ativa na greve geral de julho de 1917, fazendo

parte, por exemplo, da composição do CDP (Comitê de Defesa

Proletária) que tinha o intuito de coordenar as ações da greve.

Nesse movimento exerceu o papel de “incentivador,

organizador e orientador das jornadas libertárias de Julho”

(LOPREATO, 2009,p. 204). Ele, por ser considerado como um

“indesejável” foi condenado à prisão logo após o movimento

grevista de julho. Destaca Lopreato (2009):

Durante os seis meses em que ficou

encarcerado, sob acusação de ter cometido um

crime de multidão, preparou sua auto-defesa na

qual afirmou ter sido preso e processado por

defender idéias libertárias. E com o mesmo

espírito de livre-pensador e de assumir a

responsabilidade por suas ações, rebateu as

acusações que sofreu em outros processos que

lhe valeram, durante sua trajetória de

militância, passagens sofridas pelos cárceres

(LOPREATO, 2009, p. 204).

Antes mesmo de ser preso fundará (no mês de junho

de 1917) o periódico A Plebe, sendo redator ao lado de

Rodolfo Felipe, Pedro Augusto Mota, Florentino de Carvalho e

outros anarquistas. Colaborou também com José Oiticica, após

ser libertado, para a organização do jornal Spartacus (que

circulou no ano de 1918 até o início de 1919); também

colaborou com o jornal anarquista Voz do Povo, com o jornal

anarquista Ação Direta e fundou nos últimos anos de sua vida,

o periódico Libertário na São Paulo (RODRIGUES, 1994,

s/p), (LOPREATO, 2011, p. 5). Por conta da constante

repressão, é comum encontrar vários pseudônimos de Edgard

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Leuenroth. Os mais utilizados são: Frederico Brito, Routh,

Palmiro Leal, Len, Leão Vermelho, Leão Xisto e Sifleur41.

Essa repressão fora tão clara que foi preso novamente no ano

de 1935 por ser o responsável pelo periódico A Lanterna

(LOPREATO, 2009, p. 205).

Além de uma vasta produção de artigos em todos

esses e em outros jornais, Edgard Leuenroth também publicou

obras mais vastas, dentre as quais, destaca-se: O que é

Marximismo ou Bolchevismo: programa comunista (São

Paulo, 1922) onde em forma de panfleto critica com veemência

a teoria e a prática bolchevique e de casos específicos de seus

partidários no Brasil, principalmente aqueles que fundaram o

PCB, dentre os quais Astrojildo Pereira42, um ex-anarquista

que ficará ao lado dos bolcheviques sendo considerado um

inimigo de Leuenroth. Escreveu A organização dos jornalistas

brasileiros 1908-1951 (fora publicado posteriormente à sua

morte); publicou também pela mesma cidade no ano de 1963,

o livro Anarquismo – Roteiro da Libertação Social.

O prefaciador dessa obra (Augustín Souchy43) aponta

que “desde há mais de meio século, também no Brasil os

libertários vêm lutando em favor da libertação não somente de

41 ARQUIVO EDGARD LEUENROTH. Edgard Leuenroth (1881 - 1968).

Disponível em: http://www.ifch.unicamp.br/ael/website-

ael_pesquisatematica/e-album/website-ael_ed-edga-a.htm; e

http://segall.ifch.unicamp.br/site_ael/index.php?option=com_content&view

=article&id=123&Itemid=90. Acesso em novembro de 2012. 42 De acordo com Chacon (1965, p. 297 - 298), Astrojildo Pereira Duarte

da Silva, foi um militante anarquista que nasceu em 1890, fora aluno do

Colégio Anchieta (jesuíta) de Nova Friburgo (Rio de Janeiro) teve, quando

jovem uma orientação republicana, aderindo à teoria anarquista por volta de

1908 e 1910 após leituras de Bakunin, Faure, Grave, Malatesta, Hamon e

Kropotkin. Posteriormente, após a Revolução Russa, sairá dos campos

revolucionários e integrará as fileiras do bolchevismo. 43 Anarquista polonês (1892 – 1984). Essa referência a Augustín Souchy

nos remete a refletir sobre o caráter do internacionalismo do anarquismo,

ou seja, a articulação mundial entre seus militantes, seja no campo teórico

seja na prática. Para a biografia deste, ver:

http://deu.anarchopedia.org/Augustin_Souchy.

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uma classe, mas de todas as camadas sociais, e não somente

para libertar uma nação, mas toda a humanidade” (SOUCHY,

1963, p. 8). Nesse livro, o anarquista paulistano analisa os

aspectos específicos da teoria anarquista e, além de textos de

sua autoria, publica pequenos escritos de velhos conhecidos

teóricos do anarquismo como Mikhail Bakunin, Élisée Reclus,

Errico Malatesta, Piotr Kropotkin, Luce Fabbri, George

Woodcock, Gigi Damiani,, Jacinto Cinazo, Neno Vasco, José

Oiticica, etc. Para o prefaciador da primeira edição da obra,

Edgard Leuenroth cumpre o papel de “combater toda classe

dos prejudiciais dogmas que, no passado, impediram e na

atualidade ainda impedem o progresso humano na ordem

moral” (SOUCHY, 1963, p. 8).

Edgard Leuenroth morreu na cidade de São Paulo em

28 de setembro de 1968 aos 87 anos, curiosamente no ano do

Ato Inconstitucional número 544 (GALVÃO, s/d, p. 2).

2.5. A constituição da “Semana Trágica”

Este título faz alusão ao termo utilizado por Christina

Lopreato no primeiro capítulo de sua obra O Espírito da

Revolta – A greve geral anarquista 191745, que através de uma

análise detida, a autora reconstitui a semana entre os dias 9 e

16 de julho de 1917, entendida por ela como a Semana

Trágica.

No ano de 1917 em São Paulo ocorreu, por conta de

várias questões, uma greve que iria figurar na historiografia

como o maior acontecimento grevista da Primeira República.

Suas motivações foram múltiplas, não cabendo apenas uma

visão determinista de interpretação da realidade que possa

considerar que o movimento de julho foi fruto de um

44 O AI-5, como ficou conhecido o Ato Institucional número 5, foi o quinto

decreto do governo brasileiro durante o período da ditadura militar (1964 -

1985) entrando em vigor em dezembro de 1968 durante o governo de Costa

e Silva, que dentre várias atribuições, dava maiores concessões acima da

constituição ao Presidente da República. 45 Op. Cit.

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- 75 -

espontaneísmo ou, de outro lado, mero fruto da articulação

entre indivíduos e grupos descolados da classe. Para não

cairmos nessas interpretações, buscaremos analisar a greve

geral de julho de 1917 como um movimento que articulou a

realidade sócio-histórica do Brasil naquele contexto, a relação

do país no contexto mundial, a crise do trabalho registrada

naquele ano e nos anos que a antecedem, a carestia de vida, a

articulação da própria classe em movimento que criou seus

mecanismos de luta contra essa realidade através de várias

estratégias, dentre as quais, a imprensa.

O triênio de 1906-1908 foi marcado por um aumento

dos movimentos grevistas, envolvendo outras regiões além do

círculo das capitais de Rio-São Paulo. Por exemplo, a greve em

Porto Alegre em 1907 e a greve das Docas de Santos em 1908.

No ano de 1907, uma greve surge no dia 1º de maio na cidade

de São Paulo (PINHEIRO, 1990, p. 156) por meio dos

trabalhadores da construção civil, metalúrgica e da indústria da

alimentação, fora ganhando proporção de greve geral quando

houve a adesão de trabalhadores da área dos setores gráficos,

sapateiros e têxteis.

No quatriênio 1910-1913 ocorreu um aumento do

custo de vida da classe operária, sobretudo, pelo crescimento

econômico registrado nesses anos. Porém, com o findar desses

anos e o começo da Guerra Mundial, a realidade se altera e

outra brusca redução dos preços dos principais produtos que o

Brasil exportara acontece e dificulta a entrada de capitais

estrangeiros: “As construções param, as fábricas reduzem a

produção e o trabalho semana; e, em muitos casos, fecham as

portas” (PINHEIRO, 1990, p. 159).

No ano de 1915 é registrada uma melhoria da situação

do Brasil no quadro internacional, sendo que

consecutivamente, ocorre uma elevação nos preços e do custo

de vida. O alvoroço por uma luta ampla de vários setores do

proletariado alertava para a busca de uma ação comum entre

anarquistas e socialistas. As ações em bairros como a Mooca,

Brás, Belenzinho, Cambuci e Bom Retiro se tornam

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frequentes. No mês de maio de 1917 é registrada a formação

da Liga Operária do Belenzinho e da Liga Operária da

Mooca46.

A manifestação do Primeiro de Maio de 1917

ia nesta direção: representantes dos grupos

anarquistas, socialistas e republicanos estavam

de novo juntos na comissão que organizou a

passeata pelo centro de São Paulo e os

comícios que a precederam nos bairros

operários (BIONDI, 2009, p. 286).

A greve que culminará na greve geral se inicia no

Cotonifício Crespi com reivindicações assim resumidas:

abolição das multas aos operários, aumento salarial de 15 a

20%, redução da semana de trabalho para 5dias e meio,

jornada diária de 8 horas, fim do trabalho noturno,

regulamentação do trabalho feminino e infantil, supressão da

contribuição pró-pátria47, etc. (PINHEIRO, 1990, p. 160).

Após a negação dos pedidos feita pelo patronato, a greve se

amplia, principalmente pela adesão dos trabalhadores da

Estamparia Ipiranga e da fábrica de bebidas Antarctica. O

cenário de paralisação geral está pronto, só faltava um estopim:

A morte de um sapateiro de vinte e um anos é o

um marco na evolução dos acontecimentos. A

46 De acordo com Campos (1983, p. 36), a constituição dessas ligas de

bairro foram fundamentais para o movimento, pois suas atividades eram

contínuas e isso fez com que as ações coordenadas com um objetivo

finalista reunisse várias corporações, conferências sobre a movimentação

grevista. A Liga Operária da Mooca surgiu em meados de maio durante a

greve dos tecelões da Crespi e posteriormente surge a Liga Operária do

Belenzinho, Lapa e do Cambucy. 47 A contribuição Pró-Pátria ou o Comitato Italiano Pro-Patria era um

grupo formado principalmente por empresários italianos que contribuíam

financeiramente, de uma forma fervorosa de nacionalismo, com o Estado

italiano para a manutenção da Itália na Primeira Guerra. Essa contribuição

começa a ser cobrada de trabalhadores italianos que trabalhavam nas

fábricas desses proprietários. Para maior aprofundamento, ver: (BIONDI,

2009, pp. 280 – 284).

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........................

- 77 -

paralisação se estende a 35 empresas, com mais

de 15 000 grevistas, incluindo os trabalhadores

da Mariângela e da estamparia Ipiranga, em

greve de solidariedade. Nos três dias seguintes

ao enterro, a greve é total (PINHEIRO, 1990,

p. 161).

Com tamanha mobilização, as repressões dos

aparelhos do Estado aumentaram e como já era normal, as

greves eram considerados casos de polícia. A Lei Adolfo

Gordo que entra em vigor em 1913 terá uma revisão em 1920,

prevendo a expulsão dos “indesejáveis”.

Nos anos próximos a 1917, ocorre novamente um

ascenso do movimento operário que viria consagrar o ano de

1917 como “o período de maior conflito da história do

movimento operário em São Paulo até aquele momento”

(BIONDI, 2009, p. 263). Esse acontecimento deve ser marcado

por uma continuidade das greves ocorridas em anos anteriores,

além dos movimentos de julho deste mesmo ano.

Portanto, concordado com Biondi (2009, p. 263 –

269), a greve de 1917 é fruto de vários elementos e pode ser

consideradas como uma revolta imediata com intensidade

revolucionária (BIONDI, 2009, p. 269). Porém,

(...) embora tais trabalhadores não pudessem

imaginar que essa greve teria prolongados

efeitos no âmbito de um amplo processo de

organização proletária (...), eles estavam agindo

dentro de um contexto no qual, (...), em muitos

setores operários e artesãos politizados

(incluindo alguns dos trabalhadores que estava

participando do protesto), esperava-se que esta

greve, aparentemente episódica, se

transformasse num movimento grevista e

sindicalista bem mais vasto e bem sucedido.

O alvoroço por uma luta ampla de vários setores do

proletariado alertava para a busca de uma ação comum entre

anarquistas e socialistas. As ações em bairros como a Mooca,

Page 79: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

........................

- 78 -

Brás, Belenzinho, Cambucy e Bom Retiro se tornam

frequentes. Nesse mês é registrado a formação da Liga

Operária do Belenzinho e da Liga Operária da Mooca.

A manifestação do Primeiro de Maio de 1917

ia nesta direção: representantes dos grupos

anarquistas, socialistas e republicanos estavam

de novo juntos na comissão que organizou a

passeata pelo centro de São Paulo e os

comícios que a precederam nos bairros

operários (BIONDI, 2009, p. 286).

Assim, devemos entender que as greves de junho de

1917 no Cotonifício Crespi e na fábrica de bebidas Antarctica

são os prólogos da greve geral de julho (BIONDI, 2009, p.

289) que irão dar subsídios para o maior acontecimento

grevista da Primeira República.

2.6. Do dia 9 a 16 de julho: a Semana Trágica

A greve desencadeada pelos tecelões do Cotonifício

Crespi em 9 de junho de 1917 (mesmo dia do lançamento do

primeiro número de A Plebe), fora fruto de deliberação após

uma reunião da Liga Operária da Mooca que tinha a mesma

quantidade de grevistas e de filiados. Esse movimento grevista

“começou na seção de tecelagem que reunia aproximadamente

400 operários, mas acaba se generalizando por toda a

indústria” (CAMPOS, 1983, p. 41). Curiosamente quando a

greve na fábrica Antarctica foi declarada, centenas de

operários se dirigiram à sede da Liga Operária da Mooca para

aderirem ao movimento.

O ápice virá com alguns atentados e mortes quando,

por exemplo, na

(...) noite do dia 7 de julho (assaltos a carros de

farinha na Mooca) e a tarde do dia 13 (ataque

da cavalaria da Força Pública na Ladeira do

Carmo e morte do pedreiro Nicola Salerno e da

menina Edoarda Bindo, filha do operário

Page 80: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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- 79 -

primo) a cidade de São Paulo ficou quase

ingovernável (BIONDI, 2009, p. 292).

O dia 9 de julho é o marco fundador da Semana

Trágica. Esse dia irá marcar o início de conflitos generalizados

entre grevistas e policiais, sendo que, na manhã dessa segunda

feira, um conflito tal como colocamos, ocorre nas mediações e

proximidades da Fábrica Antarctica. É nesse acontecimento

que José Martinez morre ao ser ferido por uma bala disparada

pela polícia no dia 10 (LOPREATO, 2000, p. 34).

José Martinez era espanhol, tinha 21 anos e era

membro do grupo Jovens Incansáveis. Em seu enterro reuniu-

se mais de 10 000 pessoas (ver imagem anterior) que dará o

caráter generalizado da greve. Nesse contexto surgirá CDP

(Comitê de Defesa Proletária)48 que coordenará as ações

grevistas contra a carestia de vida e que era composto por

membros das associações de bairros, ligas de resistência,

sindicatos, etc. em um contexto que marca o crescimento de

grevistas entre o dia 13 ao dia 16 com o salta no número de

grevistas: de 25 mil para cerca de 50 mil, fazendo com que a

greve tenha um caráter insurrecional (MORAES, 1999, p. 20).

48 O CDP foi constituído em 6 de julho de 1917 no Salão Germinal em São

Paulo e foi formado por “representantes das ligas operárias, das

corporações em greve e de associações “político-sociais”. Estes fatos

mostram, à despeito do que diziam os militantes que continuamente

afirmavam a espontaneidade da greve geral, que ela efetivamente teve um

núcleo que potencializou o seu acontecer (CAMPOS, 1983, p. 37).

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Imagem 3 - Foto de José Martinez publicado no n° 6 d'A Plebe de

21 de julho de 1917.

Assim, de acordo com Campos (1983, p. 42),

resumia-se o programa de reivindicações do CDP em julho: 1)

aumentos salariais; 2) jornada de 8 horas diárias; 3) abolição

do trabalho do menor de 14 anos; 4) pagamento pontual dos

salários; 5) direito de associação; 6) não dispensa dos operários

grevistas; 7) diminuição dos preços dos alimentos; 8) redução

de 30% dos aluguéis; 9) garantia de trabalho permanente; 10)

abolição do trabalho noturno; 11) aumento de 50% nos salários

de trabalhos extraordinários; 12) fim da especulação de

gêneros e preços – açambarcadores; 13) fim da alteração e

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falsificação de alimentos; 14) obrigação do Estado em

assegurar o mínimo de alimentos à população.

No dia seguinte à morte de Martinez onde a

ampliação de um cortejo fúnebre para uma mobilização de

massa (no cortejo fúnebre na manhã do dia 11 indo pelo trajeto

da Avenida Rangel Pestana ao centro da cidade), deu os pontos

cruciais e antecipou algumas questões que viriam se

concretizar nos dias seguintes. A greve toma traços

radicalizados e os conflitos com os aparelhos repressivos

governamentais se ampliaram, fato este que não conseguiu

conter as manifestações públicas e as demais ações dos

grevistas. Nessa data, conta Lopreato (2000, p. 42), os

trabalhadores grevistas “(...) apedrejavam fábricas e assaltaram

um caminhão da Favilla e Lombardi (...) de cujo carregamento

retiraram 200 caixas de fósforo”. Além desse saque, ocorreu

também com o Moinho Santista de onde foram levadas 600

sacas de farinha. Nesse inteírm, os operários “através da

persuasão ou da violência (...) conseguiram a adesão dos

companheiros de trabalho, fechando os estabelecimentos que

se mantinham em atividade” (DULLES, 1977, p. 52).

Na “sexta-feira 13” já se registrava mais de 50

fábricas paralisadas reunindo um total de 20 mil trabalhadores

grevistas. Essa data marcará também a morte de uma criança

de 12 anos após ser atingida por uma bala perdida nos

confrontos entre grevistas e policiais. Além da criança, um

pedreiro também vem a óbito em um conflito com a polícia na

plataforma de um bonde, justamente no dia em que o CDP

convocou um comício na Liga Operária da Mooca

(LOPREATO, 2000, p. 58).

Em 14 de julho ocorre o início da negociação, que

transcorreria sem tantos conflitos. Na cidade, os bondes já

circulavam normalmente, mas o clima de novos possíveis

conflitos ainda pairava no ar. Contudo, o CDP escolheu um

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grupo de militantes49 para atuar nas negociações com os

industriais juntamente com uma Comissão de Imprensa. A

greve só seria finalizada se os industriais se comprometessem a

assumir todas as reivindicações.

No domingo, dia 15 de julho, as negociações se

desenvolveram mais. Nesse dia “(...) os representantes do setor

público assumiram o compromisso de libertar todos os

indivíduos presos por participação da greve, reconhecer o

direito de associação e de reunião” (LOPREATO, 2000, p. 60).

Nesse fim de semana, o CDP promoveu os acordos com o

governo e patronato, mediado pela Comissão de Jornalistas da

grande imprensa paulista, órgão que viria relatar e assegurar o

papel de ambos os lados em cumprir tal acordo. Foram

garantidas melhoras das condições gerais de vida, cumpimento

das leis de trabalho, nenhuma dispensa dos grevistas, direito de

associação, aumento de 20%, etc. (CAMPO, 1983, p. 43).

No dia 16 de julho a normalidade do trabalho volta

(nas localidades onde o patronato acatou as reivindicações), as

mobilizações foram autorizadas pela polícia e após isso, a

repressão aumenta. A suspensão da greve foi assinada na

segunda-feira e foi entendida como uma “vitória moral da

classe trabalhadora”.

Os militantes anarquistas assinalaram a vitória

dos trabalhadores sobre o governo, sobre os

industriais, mas, principalmente, sobre si

mesmos porque, na luta, eles encontraram a

consciência de si (LOPREATO, 2000, p. 66).

Após a suspensão da greve, a atividade associativa

dos grevistas continuaram e os “libertários procuraram manter

acesa a chama da solidariedade, estimulando os trabalhadores a

darem continuidade ao processo de organização do operariado,

iniciado com a constituição das ligas de bairro” (LOPREATO,

49 São eles: Edgard Leuenroth, Gigi Damiani, Francesco Cianci, Antonio

Candeias, Rodolpho Felipe e Theodoro Monicelli (LOPREATO, 2000, p.

60).

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2000, p. 141). Porém, “a violência policial foi gritante.

Terminada a greve, continuou a pairar o fantasma que levava o

nome de questão social” (CAMPOS, 1983, p. 43).

Por fim, como fruto de vários elementos, jamais

podemos “(...) negar a importância do papel desempenhado

pela crise econômica que se alastrava na cidade de São Paulo

naquele momento” (BIONDI, 2009, p. 265) e o próprio

contexto mundial de ascendência do movimento operários e

revoluções.

De forma geral, o ano de 1917 foi caracterizado

mundialmente por toda uma série de protestos,

motins e greves sem precedentes, cujo evento

maior foi – como todos sabemos – a revolução

russa, momento ligado exatamente a processos

de organização sindical e política, no qual

misturavam-se fenômenos de autoconstituição

e de intervenção política e organizativa externa

nas organizações operárias, mas que surgiam

de um estado de revolta aberta que ia além da

luta contratual entre empresários e

trabalhadores usualmente praticada (BIONDI,

2009, p. 268).

Contudo, a ação dos militantes também merece

destaque especial. A greve geral e a ação direta só se torna

possível devido o dispêndio de trabalho militante de segmentos

operários e organizações autônomas que se articularam e

incitaram50 o desenvolvimento da greve localizada para uma

greve geral.

Sendo assim, concordando com Lopreato (2000),

50 Quando afirmamos, referenciado em Lopreato (2000) e Biondi (2009),

que os segmentos e organizações operárias, sobretudo anarquistas, foram

fundamentais para o movimento, não afirmo que estes atuaram enquanto

uma “vanguarda”, como na compreensão teorizada por Lênin. Os

anarquistas, especificamente, propagaram e desenvolveram o acirramento

da luta de classes com diversos mecanismos, por exemplo, a greve geral e a

imprensa através de uma minoria ativa, ou seja, um agrupamento específico

que atua no convencimento e não na sua direção.

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A greve geral se tornou possível graças a uma

conjugação de fatores, explorados com argúcia

por experientes militantes anarquistas. Ela foi o

resultado de um trabalho de vários anos de

pregação doutrinárias e de incitamento à ação

direta. Desde o raiar dos novecentos, os

anarquistas vinham se dedicando à tarefa de

sacudir as energias adormecidas dos

trabalhadores. No ano de 1917, eles se

aproveitaram da situação de crise por que

passava o país e incitaram trabalhadores a

agirem por conta própria e de forma autônoma

contra a exploração a que estavam submetidos

(LOPREATO, 2000, p. 46).

Como não devemos pensar que o movimento tenha se

desenvolvido sem levar em consideração a propaganda efetiva

realizada pela própria classe trabalhadora, sua situação,

conjuntura, contexto e suas determinações, devemos entender

que estes são elementos fundamentais para afirmar o papel de

propagação de uma ação e política pedagógica guiada pelos

pressupostos da ação direta. Assim, como veremos adiante, a

imprensa operária será uma propagadora de uma pedagogia

para a ação direta, caracterizada por “impulsos tanto

espontâneos como organizados” (BIONDI, 2009, p. 271).

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CAPÍTULO III - A Plebe e os pressupostos políticos e

pedagógicos da ação direta

“Urge a ação em todas as suas

manifestações, consciente,

decidida, vigorosa”.

Rumo à Revolução Social,

Edgard Leuenroth (A Plebe, n°1,

p. 1, 9 de junho).

3.1. “Trabalhador forte e fecundo”

Como era usual e frequente cantar o hino A

Internacional51 de Eugène Pottier durante as reuniões e

manifestações nos acontecimentos grevistas de 1917, faço

alusão a um trecho da letra para esse subtítulo.

Com a sublevação da classe trabalhadora nos meses

de abril e maio, conforme apontamos anteriormente, uma greve

geral estava prestes a eclodir. Com a fundação do novo

semanário de Edgard Leuenroth na segunda semana de junho,

mais um órgão vem à tona com o objetivo de conscientizar os

trabalhadores de seu atual estágio de exploração e sua

potencialidade revolucionária. Para isso, A Plebe utilizou de

diversos mecanismos, entre eles, fotografias e imagens que

retratavam o contexto da classe operária brasileira e mundial (o

clericalismo, a Guerra Mundial, as condições da reprodução

material e existencial da classe, além de seu projeto de

sociedade futura, fundada na anarquia) que chamaremos aqui

de pressupostos políticos e pedagógicos da ação direta.

Definida anteriormente como os mecanismos e

estratégias dos anarquistas para uma forma de educação

libertária do operariado pela ação grevista, preparando-o para a

“grande revolução” que poria fim à sociedade burguesa, a ação

direta se torna algo elementar na nossa definição. Assim,

51 O hino da Associação Internacional dos Trabalhadores foi traduzido ao

português pela primeira vez por Neno Vasco (HAGEMEYER, 2008, p.

229).

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conforme a importante constatação de Guimarães (2011, p.

110), a ética libertária incluía a ação direta que se utilizava de

dois dispositivos: o primeiro entendido como persuasão

(formas de convencimento do outro) e o segundo, a luta

eminentemente direta contra a burguesia e sua sociedade.

Conforme salientamos anteriormente, o periódico A

Plebe se constituiu como um substituto que detém mais

profundidade intelectual e revolucionária do que A Lanterna.

Assim os seus textos são expressões das convergências

existentes entre a teoria anarquista e a realidade brasileira,

mediada por particularidades durante seu processo de

confecção, sobretudo durante os dias da Semana Trágica.

Os temas que de que tratavam o periódico quando se

tratava da Primeira Guerra Mundial era o nacionalismo e o

sorteio militar que se tornara imposto naquele período. A Plebe

debateu questões diversas, entre as quais a exploração do

trabalho, o poderio exercido pelo clero em relação à educação,

a situação da classe trabalhadora frente à carestia de vida que

crescera nos últimos meses de 1916 e se potencializou em

1917, a relação da burocracia governamental com a sociedade,

etc. Assim, considerado que as representações de educação em

A Plebe se davam de forma difusa e multifacetada,

analisaremos a diversidade que tais “formas” que a ação direta

era representada nas páginas do periódico.

A ideia de adotarem uma perspectiva ampla de luta

será fundamental para a concepção de educação que estamos

analisando. Como o processo de educação libertária passa

fundamentalmente por compreender a necessidade de uma luta

final, A Plebe irá relacionar as lutas pelas melhorias atuais e

imediatas com seu objetivo final. Assim, a luta do jornal

anarquista não era meramente contra a moral religiosa, como

às vezes ficara claro no antigo jornal A Lanterna em que

Leuenroth dirigia. Ela se estabelecia em uma complexidade

ramificando-se em várias formas de atuação contra a sociedade

capitalista e colocava elementos prefigurados de uma

sociedade radicalmente diferente. Essa estratégia anarquista

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adotada por A Plebe articulava a luta libertária em prol de uma

sociedade igualitária com a instrução da classe (protagonistas

centrais nesse processo), para que atingisse seu objetivo final:

a revolução social. Sendo assim, analisaremos nas páginas que

seguem, alguns desses elementos da ação direta como

pressuposto educativo na constituição de formas de

sociabilidade coletiva com um fim social efetivo

(GUIMARÃES, 2011, p. 109).

3.2. Pela ação direta: “Rumo à Revolução Social” e “Em

nome do Povo, não!”

O texto de autoria de Edgard Leuenroth e um outro de

Bazílio de Torrezão52 publicados, respectivamente, no primeiro

e no segundo número d’A Plebe, são fundamentais para

interpretarmos a forma que o periódico concebia a ação

anarquista e a tarefa histórica do proletariado.

O texto de Leuenroth que inaugurara o periódico sob

o título de Ao que Vimos – Rumo à Revolução Social faz uma

análise das motivações de se criar um novo periódico e do

contexto específico em que este surge. Assim, Leuenroth irá

apontar através de uma linguagem simples e direta, os

principais elementos que figuravam na realidade de época, a

força e necessidade do periodismo militante, além da

necessidade histórica do proletariado de superar essa sociedade

e edificar uma nova.

Contrapondo-se às análises reducionistas sobre a

realidade social (por exemplo, dos imediatistas bastantes

criticas pelos anarquistas do período), o autor apresenta nas

passagens seguintes o entendimento da vida social humana

como implicada em suas diferentes dimensões.

Ao que vimos – Rumo à Revolução Social

52 Bazilio Torrezão era um dos pseudônimos de Asrojildo Pereira

(CORRÊA, 2010b, p. 543).

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- 88 -

E assim, sempre sustentada pelos mesmos

lutadores do meio libertário, valiosamente

coadjuvados por um bom núcleo de homens de

consciências bafejadas por princípios

innovadores espalhados por todo o Brazil, foi

A Lanterna atravessando os annos, vivendo a

vida das folhas avançadas, zurzindo

impiedosamente a canalha da Igreja,

desmascarando os tartufos sociaes,combatendo,

em campanhas memoráveis que lhe valeram

perseguições sem conta, todas as explorações e

tyrannias e collocando-se sempre, com a

sinceridade e o enthusiasmo de quem esposa

uma causa que é sua, ao lado das victimas dos

potentados (...). Edgard Leuenroth (A PLEBE,

n° 1, p. 1, 9 de junho).

Apresentado os motivos do nascimento de mais um

jornal, Leueroth esclarece os leitores que o objetivo do

periódico é o de

(...) corresponder, de maneira mais completa, á

magnitude deste extraordinário momento

histórico por que está atravessando a

humanidade.

Estão em jogo os destinos da sociedade actual.

Multiplos são os elementos que, em trágica

associação, arrastaram os povos á horrível

situação presente, exigindo que contra todos

elles se emprenhe uma luta sem tréguas e de

extermínio (...). Edgard Leuenroth (A PLEBE,

n° 1, p. 1, 9 de junho).

Ainda, relatando os empecilhos da realidade em se

criar um novo periódico, Edgard Leuenroth explica os motivos

da substituição de A Lanterna por A Plebe.

Por isso, apesar das tremendas difficuldades

dominantes, apparece A Plebe em substituição

á A Lanterna que, tendo surgido com o título

tradicionalmente anticlerical , para dar combate

ao clericalismo, apresentou-se sempre com

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uma feição mais ampla, atacando o padre e a

Igreja na sua razão de ser, como elementos

perniciosos, alliados perennes dos dominantes,

ao mesmo tempo que tocava, por ser dirigida

por libertários, em todas as faces da questão

social (A PLEBE, n° 1, p. 1, 9 de junho).

Noutro momento do texto, Edgard Leuenroth irá, com

veemência, continuar apresentando os objetivos da fundação d’

A Plebe e seus objetivos finais. Finalizando o texto com as

seguintes palavras, Leuenroth está convicto da necessidade de

um novo órgão anarquista.

Urge, portanto, proseguir na obra dos

abnegados de outrora para que, quando além

das fronteiras concencionaes ruir

fragorosamente o arcabouço apodrecido do

regimen social dominante, tambem o povo

desta terra, no arrebol de um novo e sublime 13

de Maio, conquiste sua alforria derradeira,

fazendo com que o Brazil, passando a pertencer

a todos os seus habitantes, a todos proporcione

a vida folgada e feliz que a exuberancia

trabalhada de suas riquezas naturaes permitte.

E’ com esse objectivo que vem lutar A Plebe.

Edgard Leuenroth.

(A PLEBE, n° 1, p. 1, 9 de junho).

Conforme está expresso no texto, a luta é formadora

de consciência. Portanto, é nos momentos do conflito entre as

classes sociais que surgirá um momento de rompimento com

essa sociedade no plano da cosnciência. Veremos isso mais

claro quando criticando os valores da sociedade capitalista,

Edgard Leuenroth dirá:

Liberdade, egualdade e fraternidade só existem

como uma grosseira rethorica rotulando muita

miséria e oppressão (...). Edgard Leuenroth (A

PLEBE, n° 1, p. 1, 9 de junho).

A idéia de adotarem uma perspectiva ampla de luta

será fundamental para a concepção de educação que estamos

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analisando. Como o processo de educação libertária passa

fundamentalmente por compreender a necessidade de uma luta

final, A Plebe irá relacionar as lutas pelas melhorias atuais e

imediatas com seu objetivo final. Assim, a luta de A Plebe não

era meramente contra a moral religiosa, como às vezes ficara

claro no antigo jornal A Lanterna em que Leuenroth dirigia.

Mas, sua interpretação sobre o papel do clericalismo ainda é

subjacente.

O clericalismo, que é uma das cabeças desse

monstro, só desaparecerá quando, num

movimento audaz e vigoroso, se lhe desferir o

golpe certeiro e mortal (...). Edgard Leueroth

(A PLEBE, n° 1, p. 1, 9 de junho).

Como visto acima, o clericalismo só seria superado

com uma força organizada e capaz de derrotá-lo. A luta

anticlerical não era meramente uma luta contra a instituição (a

Igreja, mas antes de tudo, uma luta complexa que articularias

aspectos culturais, econômicos e políticos.

Outro texto de mesma significância será publicado no

número seguinte por Bazílio Torrezão. O primeiro parágrafo

do texto Em nome do Povo, não! é bastante revelador da

assertiva acima apresentada: o articulista expressa uma crítica

com fervor a ação dos deputados brasileiros frente à Guerra

Mundial que assolava a Europa naquele contexto.

Não é verdade que o povo brazileiro tenha

delegado poderes a quaesquer a essa réqua de

salafrarios parlamentares. Não é verdade,

porque a mentira do sufrágio é cousa

unanimentemente proclamada fora de qualquer

duvida. As eleições são todas falsas e

falsissimas: a imprensa o tem demonstrado um

milhão de vezes e são os próprios deputados

que o teem confessado e provado (A PLEBE,

n° 2, p. 1, 16 de junho).

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Para o articulista, a ação direta (estratégia anti-

parlamentar, sem mediadores entre a relação capital trabalho)

era a forma de o proletariado lutar e combater para edificar

uma nova sociedade. Assim, as ações do Estado e suas vias

parlamentares são complacentes com as desigualdades sociais

e utilizam dos meios formais para legalizá-la. Outras críticas

veementes virão contra a Igreja, que no entendimento do

jornal, seria a instituição que mais forma mentes servis,

principalmente nos seus aspectos educacionais.

3.3. Contra a Igreja e o clericalismo

A Plebe que era uma continuação de A Lanterna (que

tinha uma conotação mais anticlerical do que anarquista).

Ainda conterá os elementos principais do antigo periódico.

Buscando esclarecer os assinantes sobre a paralisação do

jornal, o editorial de A Plebe publicará Aos amigos e antigos

assignantes de <<A Lanterna>>. Nesse texto deixarão claro

que as “(...) nossas relações com os antigos dedicados amigos

não sofrerão solução de continuidade”. E justificando a

publicação do novo periódico, compreendendo a realidade

sócio-histórica da classe trabalhadora, dirá que o jornal tem

uma necessidade “(...) mais do que nunca, indispensável (A

PLEBE, n° 1, p. 2, 9 de junho).

Fazendo duras críticas ao clericalismo na educação, o

número inicial do periódico irá proferir duras críticas a um

grupo de professoras recém-formadas do período que

convidaram padres para celebrar “(...) a missa em acção de

graças pela terminação do curso” (A PLEBE, n° 1, p. 3, 9 de

junho). Nessas ásperas críticas irão ressaltar pelo próprio

contexto e influência dos pressupostos racionalistas das

Escolas Modernas a iniquidade do fato de serem professoras e

religiosas. A Plebe dirá: “Que professoras vão ter os filhos do

povo!...” (idem).

Apresentando duras críticas à moral religiosa e

especificamente, a moral transmitida pela Igreja Católica, o

artigo A Igreja Christã assinado por F.A.L. assim escreve:

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A igreja christã não é, como geralmente se

pensa, uma instituição verdadeiramente

sublime, baseada na doutrina de Christo. Ao

contrário do que se imagina, Ella é uma

instituição anti-christã, baseada num fundo

immoral que repugna. As violações que sofre

todos os dias a philosophia do mestre, estão ahi

para confirmar o que dizemos. (...) (A PLEBE,

n° 1, p. 4, 9 de junho).

Continuando o texto, o autor define a Igreja Católica

como uma instituição “iníqua, absurda e deshumana” que

produz a “dôr, a ignorância, o luto e a desgraça, que embrutece

as inteligencias e que produz o sangue” (A PLEBE, n° 1, p. 4,

9 de junho)

A Igreja e o Estado: eis ahi os dois inimigos

irreconciliáveis do progresso e da liberdade,

institutos que são de obscurantismo e tyrannia

(A PLEBE, n° 7, p. 28 de julho).

A intensa campanha anticlerical era um elemento

central para entender a estratégia educativa do jornal. O

anticlericalismo irá compor as páginas do periódico de maneira

libertária, ou seja, articulada coma luta contra o capital, já que

a aceitação de qualquer autoridade (seja ela religiosa ou não53)

pressupõe a submissão do individuo. Assim pensada, a relação

entre o papel do clero junto à sociedade capitalista é a de

conciliação de interesses e complementares tal como sua luta

para a superação.

3.4. A Plebe durante a Greve Geral

Retomando as explicações da teoria do capital

elaborada por Marx (1982), o advogado ex-redator d’A

53 BAKUNIN, M. Catecismo Revolucionário: Programa da Sociedade da

Revolução Internacional. São Paulo: Imaginário/Faísca, 2009.

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........................

- 93 -

Lanterna, escreverá sobre a mais-valia54, conceito

extremamente importante na teoria marxista que consiste de

maneira geral, no valor do trabalho não pago a quem produz,

ou seja, o trabalhador. No texto O pobre é um vadio?

Benjamin Motta entenderá que a,

(...) fortuna accumulada, disse-o Carl Marx, e

ninguem poderá demonstrar o contrario, é

producto exclusivo de trabalho não pago.

Logo, quem trabalha não ganha dinheiro,

porque o lucro é todo do patrão, e o pobre não

é um vadio, é apenas a victima lastimavel de

uma péssima e detestavel organisação social

(...). Apontem-nos uma grande fortuna ganha

honradamente pelo trabalho, e provaremos que

para a sua formação concorreram outros

factores que não o trabalho exclusivo, manual e

intellectual. Benjamim Motta (A PLEBE, n° 1,

p. 1, 9 de junho).

Ainda no primeiro número do jornal, ressalta-se a

importância e o surgimento de diversas agremiações, núcleos e

sindicatos. Sob o título de Acção Obreira – O Operariado de

São Paulo parece despertar para a luta – Movimento grevistas

– Associações que surgem, o periódico libertário anunciará a

fundação da Liga Operária do Belenzinho e da Mooca, que,

sobretudo, fora constituída após as propostas dos trabalhadores

combativos

(...) fazendo com que entre os trabalhadores,

sujeitos agora, como nunca, a uma situação

verdadeiramente intolerável, devido á acção

aladroada dos patrões, insaciáveis sanguesugas

sociaes, se comece a sentir a necessidade de

agir contra os bandidos que, ao abrigo da lei,

vivem a roubar o producto do seu trabalho

insano (A PLEBE, n° 1, p. 3, 9 de junho).

54 Para maior aprofundamento, ver MARX, K. Para a Crítica da Economia

Política — Salário, Preço e Lucro — O Rendimento e Suas Fontes. São

Paulo, Abril Cultural, 1982.

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- 94 -

Conforme ressaltamos no capítulo 2, foram os

múltiplos fatores para a eclosão da greve geral de julho. Assim

pensando em múltiplos fatores, Florentino de Carvalho

apresentará ao operariado paulista os principais motivos da

greve, ressaltando principalmente, as condições materiais que

esta classe está submissa.

O Momento - O porquê das Gréves

A miseria e o trabalho transformam-se em

ouro, em vil metal, que corre em torrentes

caudalosas para os cofres dos negreiros do

Capital e do Estado, operando-se este milagre

pelo talisman da exploração e do imposto. (...)

Florentino de Carvalho (A PLEBE, n° 5, p. 1, 9

de julho).

Ainda,

O operariado realiza, portanto, uma obra

justiceira conquistando pela greve ou outros

meios de acção direta tudo quanto lhe é

extorquido, roubado legal ou ilegalmente.

E não devem perder esta occasião favorável em

que os collocou o incremento do trabalho, que

evita em parte a concorrência de braços. O

movimento deve generalizar-se a todas as

classes, alastrar-se por todo o paiz, afim de que

as conquistas sejam mais rapidas e radicaes.

(...) Florentino de Carvalho (A PLEBE, n° 5, p.

1, 9 de julho).

Eça de Queiroz55 escreverá o artigo Plebe que será

publicado no número 5 do jornal ressaltando as condições

desfavoráveis da classe trabalhadora que, segundo ele, é um

55 Escritor português que nasceu em 1845 e faleceu em 1900. É um dos

renomados escritores portugueses do chamado realismo português. Para

mais, ver: http://www.feq.pt/eca-de-queiroz.html; LYRA, H. O Brasil na

vida de Eça de Queiroz. Lisboa: Livros do Brasil, 1965. MATOS, A.C.

Diccionário de Eça de Queiroz. Lisboa: Caminho, 1988.

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- 95 -

povo que “(...) chora de fome, e da fome dos seus pequeninos –

para que os Jacynthos, em janeiro, debiquem, bocejando, sobre

pratos de Saxe, morangos gelados em champagne e avivados

d’um fio de ether!” (A PLEBE, n° 5, p. 1, 9 de julho).

Além desse texto de Eça de Queiroz, outro nos chama

a atenção. Em meio aos acontecimentos grevistas, A Plebe

buscava esclarecer aos trabalhadores o papel do CDP (órgão

que reunia representantes dos sindicatos e de organizações

operárias e que fora constituído durante a greve geral), para

deixar claro suas posições além de vetar possíveis reações da

classe contra o órgão.

Assim dirão em A’ guisa de ultimatum

O programa communicado aos jornaes pelo

Comitê de Defeza Proletaria era o minimo que

um comitê de defeza, sahido das multidões

vencidas pela fome, espoliada, roubada e

assaltada pelos cossacos do Estado poderia

reclamar (A PLEBE, n° 6, p. 1, 21 de julho)

Confirmando nossa tese de que A Plebe propagava

mecanismos de uma educação libertária, o texto de João

Crispim citado anteriormente deixa claro que a greve geral

seria a única estratégia, naquele contexto, potencialmente

revolucionária utilizada pela classe trabalhadora

O unico recurso para que póde appellar a classe

trabalhadora é a greve geral de todas as classes

operrias da capital, do Estado, do Brasil, afim

de oppor á força bruta do capitalismo a grande

força do trabalho. Agitem-se as classes

laboriosas, estreitem os laços de solidariedade,

revoltem-se pois somente arvorando o pendão

das rebeldias e da guerra contra os

exploradores e verdugos se alcançará melhores

condições de existência, obrigando-os a cair

aos nossos pés pedindo misericórdia (A

PLEBE, n° 6, p. 2, 21 de julho).

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Valendo-nos de artigo publicado em A Plebe, n° 6,

intitulado O Appello aos Soldados notamos que a reafirmação

do caráter de classe da ação anarquista era freqüente e bastante

usual, já que a consciência de classe seria fundamental para a

união dos trabalhadores. Nesse artigo acima descrito

encontramos uma forma de conscientizar os soldados,

propondo para esse grupo específico, que não deveriam

“perseguir os nossos irmãos de miséria”.

Vós, tambem, sois da grande massa popular, e,

si hoje vestis a farda, voltarei a ser amanha os

camponeses que cultivam terra, ou os operarios

explorados das fabricas e officinas. (...)

Cumpri o vosso dever de homens! Os grevistas

são vossos irmãos na miseria e no soffrimento;

os grevistas morrem de fome, ao passo que os

patrões morrem de indigestão! Soldados!

Recusai-vos no papel aos carrascos! (A

PLEBE, n° 6, p. 2, 21 de julho).

Compreendida que a ação anarquista e sua

mentalidade seria algo novo frente à história da humanidade,

os articulistas do jornal tentarão justificar esse entendimento

através da noção de que os libertários teriam as aspirações de

uma sociedade radicalmente distinta da capitalista.

A mentalidade anarchista é uma mentalidade

nova. Constrangidos a viver num mundo

decrépito, em continuo esfacelo, e cuja

existência só com guerras e oppressões de todo

o gênero é possível perpetuar, os anarchistas,

pelo espírito, pela vontade, pelas aspirações

pertencem a um mundo que ha-de vir (A

PLEBE, n° 3, p. 4, 23 de junho).

Os pressupostos políticos e pedagógicos da ação

direta também ressoavam nas críticas aos métodos utilizados

pelo Estado em relação à educação. Combatendo o militarismo

nas escolas, em setembro de 1917 após as festividades da

efeméride de Independência do Brasil e dias antes de seu

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primeiro empastelamento, o periódico libertário publicará um

breve texto assinado por sr. Ellis intitulado Farpas de Fogo –

Soldadinhos. Nesse texto, denunciará a formação de uma

consciência militarizada nos estudantes e fará críticas

impetuosas ao Estado que financiara tal educação.

E’, como se vê, o progresso do militarismo em

marcha. Não bastava já haver serviço militar

obrigatorio – tornou-se preciso tambem

introduzir nas escolas o ensino da matança! (...)

Em vez de a educarem racionalmente,

demonstrando-lhe o erro, o preconceito e o

dogmatismo, para que possam amanhã gosar

integralmente um Porvir suavizador, pregam-lhe

a pratica do assassinato, o roubo, da pilhagem e

da destruição para que esta sociedade putrefacta

se eternise na face da terra! (A PLEBE, n° 13, p.

1, 8 de setembro).

O fim da greve geral terá um desfecho bastante

complexo. Quando o CDP foi criado em meio aos

acontecimentos grevistas, ele tinha o intuito de unificar a luta

dos trabalhadores em prol de uma luta unificada, politizada e

organizada. Após a greve notamos que será necessário

continuar as atividades feitas pelos grevistas em novas formas

de organização popular. É entre uma dessas organizações que

ressurgirá a FOSP (federação Operária de São Paulo) e as

demais ligas operárias citadas no capítulo II. Sua rearticulação

será sempre lembrada nos números do jornal que seguirão após

a greve até seu empastelamento. Trataremos das ressonâncias

da greve no próximo ponto.

3.5. A Plebe após a Greve Geral

Quando A Plebe anuncia Os trabalhadores continuam

em actividade56 foi a prova cabal de que as novas agremiações

de trabalhadores surgiriam no Estado de São Paulo. A classe

operária vivia um período de reorganização pós-greve e

56 Assinado por Rebelião no n° 13°, 8 de setembro de 2013, p. 3.

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constituía novos órgãos de resistência que será reprimido com

veemência nos meses que sucedem a julho. Porém, ainda

denunciando o não cumprimento dos acordos feitos entre

patronato e classe trabalhadora, A Plebe irá continuar com um

árduo trabalho de denunciar o não-cumprimento, além de

almejar, caso necessário, uma nova greve geral. Assim,

inúmeros textos continuarão a ser publicados até a paralisação

do periódico (que só retornará em 1919) após a prisão de

Edgard Leuenroth.

Após acontecimentos grevistas, o periódico irá lançar

mão de uma forma de interpretação do passado que elencará as

experiências que a classe trabalhadora ganhou com o

acontecimento ao reafirmar a necessidade da ação direta e sua

derradeira importância para o fim do capitalismo.

Esses acontecimentos para nós, dizem mais que

as melhores dissertações sobre o valor e o

significado da acção direta na luta contra os

inimigos do trabalhador. Vimos o seu resultado

em São Paulo, não há ainda um mez.

Erguendo-se em massa contra os seus tyrannos

e exploradores, fez exploradores e tyrannos

oscillar nos seus privilegios e o proprio

Estado, guarda desses privilegios, tremer na

sua base de seculos, aturdido de pavor (A

PLEBE, n° 9, p. 1, 11 de agosto).

Foi compreendendo a estratégia política da ação direta

como mecanismo de luta dos trabalhadores como resultado de

lutas concretas que entende-se a necessidade “deante da acção

directa da massa, da massa que se agita, actua e quer, recuam

todas as prepotências, acovardam-se todas as tyranias,

desfazem-se e desaparecem todos os cynismos” (A PLEBE, n°

9, p. 1, 11 de agosto).

Todavia, a repressão ao movimento grevista de 1917

será exemplar e marcará os últimos dias da primeira fase de A

Plebe, explica Lopreato (2000, p. 209). O periódico que foi

lançado em 9 de junho terá sua última publicação de 1917 no

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dia 30 de outubro. No entanto, A Plebe ressurgirá em 1919 e

permanecerá publicando até no ano de 1951, fruto de mais uma

ação policia (LOPREATO, 2000, p. 109).

No ínterim de fim da greve geral até a paralisação do

periódico notamos uma recomposição e um apelo mais

significativo à classe para que fiquem claros os acordos e

vitórias conquistados além da necessidade de uma retomada

dos movimentos sociais de combatividade. Resumindo as

vitórias da classe trabalhadora com a greve geral de julho, o

periódico irá assim publicar:

Embora em parte, os capitalistas e

governantes cederam:

Os industriaes assumiram perante o

<<Comitê>> de Jornalistas o compromisso

seguinte:

a) manter a concessão feita, de vinte por cento

sobre os salarios em geral;

b) affirmar que não será dispensado nenhum

operário que tenha tomado parte na presente

greve;

c) declarar que respeitarão absolutamente o

direito de associação dos seus operarios;

d) effectuar os pagamentos dos salários dentro

da primeira quinzena que se seguir ao mez

vencido;

e) consignar que acompanharão com a máxima

boa vontade as iniciativas que forem tomadas

no sentido de melhorar as condições moraes,

materiaes e econômicas do operariado de S.

Paulo (A PLEBE, n° 6, p. 4, 21 de julho).

Apresentando justificativas sobre a necessidade da

implementação regular das 8 horas de trabalhos diários,

Andrade Cadete em texto elucidativo sob o título de 8 horas de

trabalho, dirá que a luta pela redução da jornada de trabalho é

profícua para o trabalhador por questões físicas e para o

patronato, que desfrutará de mercadorias melhores. Assim ele

dirá:

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- 100 -

Na jornada de 8 horas igualmente se observa

que o trabalho produzido é mais perfeito, isto

por se encontrar o funcionamento do

organismo humano completamente

regularizado e lhe ser dado o correspondente

descanço. Nestas condições, o detentor dos

instrumentos de trabalho vê valorizados os seus

artigos e por consequencia com mais margem

para poder concorrer no mercado (A PLEBE,

n° 12, p. 1, 1° de setembro).

Outro fator elementar de frutos da organização será a

construção da FOSP (Federação Operária de São Paulo)57 em

substituição do CDP (Comitê de Defesa Proletária) no dia 26

de agosto com “a mesma linha de organização que a

antecedeu, manifesta-se contra as prisões de operários fazendo

impetrar ordens de habeas-corpus em favor dos prisioneiros”

(KHOURY, 1981, p. 26). Ressaltando a necessidade e

importância do novo órgão da classe operária, o anarquista

João Penteado irá dizer que a recente Federação Operária nada

mais é do que um:

(...) organismo vivo e poderoso, apezar de

recente, apezar de ter nascido hontem, não

deixa de traduzir as nossas mais caras

“esperanças e prometter abundantes e salutares

fructos para a causa da emancipação do

proletariado! (A PLEBE, n° 11, p. 1, 25 de

agosto).

O trecho acima descrito ilustra a forte expectativa em

relação ao novo periódico que teria o salutar papel de

incentivar e potencializar a luta de classes. Após esse artigo,

com total entusiasmo, a edição do jornal terá frases de

destaque sobre a criação da FOSP, dentre as quais se destaca:

Actividade Animadora – Desenvolve-se o movimento do

57 Para tal, ver o artigo Convênio Operario de domingo no número 12

datado do dia 1 de setemrbo, p. 3.

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Proletariado; A Federação Operaria foi reconstituída com

grande enthusiasmo – Novas gréves de protesto.

Reafirmando as bases do sindicalismo revolucionário,

destaca-se na descrição feita sobre bases do acordo e a forma

de estruturação da Federação em relação aos sindicatos

operários não sindicalizados, assim dirão:

As classes que para melhor poderem resolver

os trabalhos syndicaes, decidirem dellas se

destacar a fim de constituírem secções das

uniões de industriais ou officios ou syndicatos

autônomos, manterão, junto ás mesmas,

comissões de relação compostas de dois

delegados (A PLEBE, n°11, p. 3, 25 de

agosto).

Após as contínuas perseguições a membros de

sindicatos e federações, o periódico lançará com mais

frequência artigos sem assinatura de autor algum (certamente

para assegurar e manter certa segurança). A Plebe, n°13

publicará o seguinte artigo inicial: Que nojo!... – Havemos de

reagir, apezar de tudo. Nesse texto, a ação direta será

retomada em forma de aclamações veementes para a classe

trabalhadora que, denunciando as deportações e mortes de

operários, proferirá as seguintes palavras contra os órgãos

oficiais do Estado:

Não! Mil vezes não! Havemos de reagir,

atravez de tudo, contra esse crime inominável,

expondo os seus objectos autores á ignomínia,

á justiça popular, a fim de que uns laivos de

remorso penetrem nas suas consciencias

pervertidas. Havemos de mostrar a nossos

irmãos trabalhadores, custe o que custar, dôa a

quem doer, as consequencias funestas que

advêm da desigualdade economica e social

presente, apontando-lhes, simultaneamente, o

caminho conducente á sua integral

emancipação (A PLEBE, n° 13, p. 1, 25 de

agosto).

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Bastante reveladora da repressão para a classe

operária, os últimos números do periódico será recheado por

denúncias dos atos policiais sobre os membros de sindicatos,

federações, jornais operários, que ainda estavam a todo vapor

propagando seus ideais, mesmo após a greve de julho. A

necessidade de uma união será necessária para “oppôr uma

barreria tenaz ás arremetidas de tão audaciosos escravocratas”

(A PLEBE, n° suplemento58, p. 1, 15 de setembro).

Exemplificando isso, o jornal em seu décimo terceiro

número publicará Que Banditismo! A infame trama policial –

Está sendo forjado um processo contra os militantes

anarchistas. Nesse texto assinado por R. F. a ação das forças

militares em repressão aos indesejáveis (LOPREATO, 2000)

será clara. Vejamos:

A imbecilidade do governo, como a

imbecilidade da polícia (já que as duas se

confundem) não está, precisamente, no facto de

desejar a expulsão de alguns operarios, cuja

presença o governo ou a polícia julgam

perigosa para o exercício deste governo para a

acção desta policia. Somos os primeiros a

reconhecer que o governo, seja elle qual for,

tem o direito de legitima defeza. A

imbecilidade não está, portanto, no exercício

deste direito, mas no mau uso que deste direito

o governo quer fazer (A PLEBE, n° 13, p. 2, 8

de setembro).

Com certa virilidade, o pequeno texto irá rebater as

alegações por parte da polícia de que as greves eram frutos dos

58 O suplemento, de acordo com nota explicativa publicado nele, publicado

em 15 de setembro de 1917 e foi “composto e impresso nas officinas do

jornal “O Combate”, que o seu diretor poz á nossa inteira disposição para

que A PLEBE não deixasse de circular. Innutil seria encarecer o valor de

tão significativo gesto, neste momento. Ao O COMBATE e sua digna e

honrada direcção todo o nosso reconhecimento”.

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indesejáveis, ou seja, um pequeno e articulador grupo de

anarquistas e não da classe em si.

De facto, só um governo de microcephalos

pode conceber que os movimentos grevistas

são obra de meia dúzia de operarios

professando idéas subversivas. E’, literalmente,

o que se póde chamar o Maximo de obtusidade

na arte de discernir. As causas únicas das

greves, causas econômicas, causas Moraes,

essas o governo ignora-as superiormente e

superiormente as despreza (A PLEBE, n° 13, p.

2, 8 de setembro).

A presença desses indesejáveis só comprova a tese de

que “os libertários representavam uma força política ativa e

incômoda aos industriais e aos poderes constituídos”

(LOPREATO, 2000, p. 217).

Continuando com sua eloquente tarefa de denunciar

para a classe trabalhadora as falcatruas (na concepção de A

Plebe), a anarquista brasileira Iza Ruti em A Philanthropia

“delles” irá criticar um clérigo da cidade de Campinas que fez

doações para um hospital em ato de filantropia. Esse ato será

interpretado pela anarquista como um roubo, pois “o dinheiro

por elles empregado em teu favor é o pão tirado da tua boca”.

E tu, ó misero plebeu, que dizes a tudo isso?

Tambem os aplaudes?

Oh! Não. Bem sei que divisas bem claramente

a hypocrisia e a desfaçatez que há em todos os

seus gestos. (...)

A miseria, o escarneo, o desprezo, o insulto da

esmola que te arroja esta sociedade que tu, ó

forte dos fortes! sustentas por um lamentável e

triste egoísmo... (A PLEBE, n° 11, p. 2, 25 de

agosto).

Entendido pelo governo como “indesejáveis” os

militantes anarquistas (uma minoria frente à classe) será

penalizada por serem os culpados pelos conflitos na greve de

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- 104 -

julho e uma possível articulação de uma nova paralisação

geral. Apresentando os elementos dessa designação feita aos

anarquistas, em 30 de setembro J. Guanabara escreverá em “Os

indesejáveis” assim que as ações repressivas do Estado farão

com que “em breve, germinará em resultados grandiosos” (A

PLEBE, n° 15, p. 1, 30 de setembro). Para o articulista, o

fenômeno de dar aos anarquistas o adjetivo de indesejáveis era

normal e usual.

As práticas repressivas aos militantes libertários eram

vistas como “crimes do Estado”, uma “campanha infame”

contra os “apostolladores das idéias avançadas”.

Assim definido, o Estado é:

(...) essa terrível machina destruidora que

arrastas milhares de homens ao matadou

humano – A GUERRA. E os políticos, que

pregam ao povo o militarismo, jamais se

levantaram contra esse tremendo flagelo. (A

PLEBE, n° 15, p. 1, 30 de setembro).

O redator d’A Plebe será preso em fins de setembro

quando por uma “escala da repressiva do governo” invade a

sala onde funcionava a redação do jornal (ADDOR, 1986, p.

119). Com isso, os interesses específicos da classe trabalhadora

orientados e propagados pela imprensa operária se encontram

em completo retrocesso, já que as reivindicações atendidas no

plano teórico, encontram-se distantes de realizadas na prática.

Edgard Leuenroth foi preso no dia 14 de setembro de 1917 e

liberto apenas em 8 de março de 1918 sob a acusação de ser o

autor e mentor do roubo ao Moinho Santista no dia 11 de julho

durante a greve (LOPREATO, 2000, p. 187).

3.6. Pictografia como recurso educacional

Por mais que os textos escritos forneçam indícios

valiosos para a interpretação de uma realidade social, “as

imagens constituem-se no melhor guia para o poder de

representações visuais” (HASKEL apud BURKE, 2004, 17).

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- 105 -

As imagens publicadas pelo A Plebe expõem

traços do imaginário da militância anarquista,

revelando uma linguagem alternativa de

formação política, que guarda suas

sensibilidades próprias, desenvolvida pelo

periódico libertário (GARZIA, 2011, p. 61).

Porém, além de se tornar fácil, o uso das imagens em

periódicos anarquistas no caso específico da Primeira

República tem uma funcionalidade maior, pois

Em um momento em que a maioria dos

operários era analfabeta ou desconhecia a

língua portuguesa por terem origem estrangeira

(espanhóis, italianos, poloneses entre outros), a

imagem passou a ser um importante

instrumento de educação política por facilitar a

transmissão da mensagem

ao leitor, que se identificava enquanto

indivíduo ou classe social na representação

visual (GAWRYSZEWSKI, 2009, p. 19).

Assim, verificamos que A Plebe continha imagens

(geralmente estavam na primeira folha em sua parte superior)

que representavam e ditavam a temática geral de cada número,

por mais que seja veiculado vários temas ao longo de um só

número.

Evidente que a educação para a ação direta era algo

manifestado nas páginas do periódico de diferentes maneiras.

Portanto, analiso nesse momento, a veiculação de imagens do

periódico como forma de chegar ao leitor com maior

facilidade.

Para Garzia (2011, p. 53), a veiculação de imagens,

caricaturas e fotografias em geral era uma forma de apostar na

“capacidade de inspiração destas”, constituindo formas de

interpretar a realidade e projetar uma nova sociedade advinda

da estratégia da ação direta. Essas pictografias veiculavam, no

contexto de 1917, formas de representação da realidade

burguesa e operária, as desigualdades existentes entre essas

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- 106 -

classes sociais, além das representações de uma nova

sociedade fundada nos princípios do anarquismo.

Analisaremos três imagens para demonstrar como era

veiculado o conteúdo anarquista nas imagens do jornal.

Para interpretar as produções pictóricas de A Plebe,

lançaremos mão da compreensão do alemão Walter Benjamin

que define as imagens dialéticas. Pensado assim, a imagem é

categoria central no pensamento de Benjamin (MAIO, 2012).

Aparece como elemento construtivo e depositário das formas

cognitivas, pois estabelece um vínculo da relação entre o

presente e o imaginário (por exemplo, uma projeção de futuro).

Pensado assim, essas imagens podem conter redefinições da

realidade histórica a partir da noção de temporalidade e,

obviamente, uma interpretação do passado através de sua

compreensão do presente propondo um futuro diferente.

Podem-se definir assim as imagens dialéticas:

(...) a imagem é a dialética na imobilidade.

Pois, enquanto a relação do presente com o

passado é puramente temporal e contínua, a

relação do ocorrido com o agora é dialética –

não é uma progressão, e sim uma imagem, que

salta. – Somente as imagens dialéticas são

imagens autênticas (isto é: não-arcaicas), e o

lugar onde as encontramos é a linguagem.

Despertar. (BENJAMIN, 2006, p. 504).

Assim, a imagem dialética é mais uma maneira que os

indivíduos narram histórias de um passado com suas carências

do presente vivido. Isso nada mais é do que resíduos de um

tempo histórico ainda em reconstrução, ou seja, uma relação

contínua do processo histórico com elementos do passado e do

presente com a imagem tendo um pretensão de produzir

conhecimento pela maneira em que descreve o processo por

meio do qual, o autor recorre ao passado confrontando-o com

os elementos de tempo presente.

O alemão diz que o,

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........................

- 107 -

(...) índice histórico das imagens diz, pois, não

apenas que elas pertencem a uma determinada

época, mas, sobretudo, que elas só se tornam

legíveis numa determinada época. (...)Pois,

enquanto a relação do presente com o passado

é puramente temporal, a do ocorrido com o

agora é dialética – não de natureza temporal,

mas imagética. Somente as imagens dialéticas

são autenticamente históricas, isto é, imagens

não-arcaicas. A imagem lida, quer dizer, a

imagem no agora da cognoscibilidade, carrega

no mais alto grau a marca do momento crítico

perigoso, subjacente a toda leitura

(BENJAMIN, 2006, p. 504 – 505).

Após essa explanação teórica, podemos analisar as

imagens. Uma das imagens mais marcantes veiculadas em A

Plebe no período analisado é “Derradeiras Machadadas”. Nela,

por exemplo, veicula-se a noção de que a luta militante deva

ser multideterminante, ou seja, fundada nos vários aspectos da

realidade social feita pelos militantes frente à sociedade.

Nesse sentido, não era propício uma crítica aos

aspectos políticos e econômicos (maior que o político na

imagem) meramente, era preciso ir além, combater a

iniqüidade moral da sociedade humana regida pela autoridade.

Mas desse “tronco principal” surge três galhos suplementares:

um primeiro e maior notavelmente pela imagem, a iniquidade

moral, produzindo preconceitos, ensino viciado, ignorância,

superstição, etc.; o segundo sendo a iniquidade política que

produz as leis, o militarismo, a guerra, o patriotismo,

corrupção, o Estado, etc.; e por fim, o terceiro galho advindo

da autoridade, a iniquidade econômica, produzindo o

comércio, a agiotagem, a desigualdade social, falência,

prostituição, etc.

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- 108 -

Imagem 4 - Derradeiras Machadadas", A Plebe, nº 9, 11 de agosto

de 1917

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- 109 -

Imagem 5 - "Igualdade e Fraternidade", A Plebe, n° 1, 9 de junho de

1917. Assim, só poderia ser concretizada tal luta se

houvesse uma concessão para a educação, um papel importante

no processo de formação cultural (GOMES, 2005, p. 88).

Assim, cabia ao trabalhador combater as iniquidades que se

sustentavam através do seu pilar fundamental: a autoridade.

Além dos aspectos mais visíveis da imagem, outros

nos chama a atenção. O contexto específico, como apontamos

anteriormente, é de luta à moral cristã. Por isso, vemos a

representatividade do corpo nu como afronta à tal perspectiva:

apenas um ser humano despido de suas limitações morais

conseguirá romper com a sociedade que o reprime. Além

disso, a visão voltada para a raiz da árvore nos passa a noção

de uma ruptura sem volta, ou seja, o aquilo que gera a

sociedade deve ser rompida na sua raiz.

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- 110 -

No entanto, apesar da constatação de que não existia

um discurso único proferido pela imprensa operária da

Primeira República, é evidente a utilização de imagens para

representar a realidade sócio-histórica do momento de formas

variadas.

Vê-se, portanto, claramente o conteúdo da

desigualdade social na imagem: de um lado a representação de

um burguês clássico sentado em um montante de dinheiro

exibindo sua forma física pomposa e, de outro, a classe

operária mendicante em multidão e “famélica” sem rosto e

fisionomia própria. Segundo Gawryszewski,

Em geral, o patrão burguês é representado

como sendo um homem (seria difícil de se

entender o patrão representado por uma

mulher, visto que quase todos os patrões eram

homens) de terno e cartola. Outra característica

era sua obesidade. Esta ligada não à fartura

“boa”, mas à opressão e à desigualdade social e

econômica (GAWRYSZEWSKI, 2009, p. 31).

Outra imagem de destaque foi publicada em A Plebe,

n° 4, no dia 30 de junho de 1917 e representa a situação da

classe trabalhadora e o que significa o papel da entrada do

Brasil na Guerra: a piora das condições da própria classe em

nome do patriotismo. Assim, a crítica veemente está expressa

em sua legenda que aparece O ultimo pedaço de pão que está

sendo tomado pela Guerra. Essas concepção estética mostra a

representação do soldado com um guerreiro romano (o gigante

imperialista) caracterizado por uma forma física militar e

superior que a classe trabalhadora.

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- 111 -

Imagem 6 - "O Brazil na Guerra - o último pedaço de pão", A Plebe,

n° 4, 30 de junho de 1917.

De um lado a representação da força voraz de uma

guerra e de outro, uma família pequena caracterizada em sua

tradicionalidade (homem/mulher/filho/filha) e assustada pela

fisionomia do gigante.

Todas as imagens veiculadas por A Plebe tem um

sentido político-educacional, mas não somente. Como fica

claro a imagem produz um sentido de uma estética libertária

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- 112 -

que produz uma autocompreensão da realidade a partir de

representações da realidade em pictografias.

Todas relacionam os temas mais abordados do jornal,

e evidentemente, conforme Gawryszewski (2009, p. 22 – 23)

aponta “dentro de uma perspectiva educacional, pedagógica,

ou seja, de mostrar, ensinar e difundir o ideal libertário, de

denunciar e desnudar o sistema capitalista”. Com isto posto, é

possível identificar por meios das imagens por ele veiculadas,

as “péssimas condições de alimentação e trabalho; os mártires

e heróis dos trabalhadores, a repressão policial e a invasão e

destruição da impressa (“empastelamento”) (...)”, além da “a

ação direta (boicote e greve) e outras tantas questões que os

trabalhadores sentiam e viviam”..

Contudo, essas imagens dialéticas permitem o

indivíduo produzir a partir de seu tempo histórico uma

determinada manifestação de realidade ou como uma imagem

da redenção, após uma proposição de interpretação crítica do

passado e do presente produzindo uma nova forma de relação

social. Por isso, a "imagem dialética é uma imagem que

lampeja. É assim, como uma imagem que lampeja no agora da

cognocibilidade, que deve ser captado o ocorrido".

Portanto, A Plebe ao insuflar uma concepção de

proposição de uma nova sociedade através das suas imagens,

fez aquilo que Benjamin (2006) chamou de imagem do desejo,

ou seja, o periódico propôs um tempo que há de vir após uma

substituição profunda e radical com o que vivemos. Ou

simplesmente, fez “fascinar como uma aparição capaz de

perseguir” (BOSI, 1977, p. 14).

3.7. Poesias libertárias

Para Lopreato (2000, p. 110), as poesias foram um

importante instrumento de instrução da classe operária nas

páginas d’A Plebe e se constituiu como peça importante por ter

um “caráter doutrinário”. Assim, concordando com sua análise

e indo além dela, analisaremos algumas destas poesias que se

faziam presentes nas páginas do periódico e estabeleceremos

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- 113 -

uma interpretação entre o seu ideário educacional e as referidas

poesias.

De acordo com Alfredo Bosi (1977, p. 142), as

poesias ou meramente a vontade mitopoética de compreender a

natureza e os homens, “foram assumidos e guiados, no agir

cotidiano, pelos mecanismos do interesse, da produtividade”

pela hegemonia burguesa na compreensão das relações sociais

(por exemplo, a ciência). Para Bosi, as poesias também

formam “(...) a crítica direta ou velada da desordem

estabelecida (vertente da sátira, da paródia, do epos

revolucionário, da utopia)” (BOSI, 1977, p. 145). É pensando

assim que analisaremos alguns epos revolucionários de A

Plebe.

Algumas poesias ao identificar o papel das classes

sociais e suas posições frente às desigualdades da sociedade

paulistana no período apresentam críticas à sociedade de forma

contundente nos liames da poesia como recurso lingüístico.

Assim, a questão das moradias de operários e burgueses, a

fome, etc. é tema da poesia Contrastes, que assim pensa:

Quem habita o palácio magestozo

Cercado de confforto e de goso

- O Gran-senhor! (...)

Quem dia a dia soffre e se consome

Para ganhar o negro pão da fome?

– O produtor! (...)

Quem escarnece os códigos e as leis

Praticando mil crimes bem crueis?

– O Gran-senhor! (...)

Quem vive em edifício confortável

Construido por um opperario miseravel?

– O Gran-senhor!

Quem apos a labuta quotidiana

Tem para abrigo lugebre cabana?

O produtor! (...) Andrade Cadete (A PLEBE,

n° 7, p. 4, 28 de julho).

A utilização da metáfora como recurso lingüístico era

algo recorrente dos escritos do periódico, utilizados geralmente

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- 114 -

para dar sentido ao seu discurso libertário analisando as

sociedades do passado, as suas e propondo a ruptura com elas.

Vejamos como na poesia Rebeliao os aspectos constitutivos da

ação direta são trabalhados:

Rebeliao

(...) quando comece a lucta,

Quando explodir a tormenta,

A sociedade corrupta,

Execravel e violenta,

Iníqua, vil, criminosa,

Ha de cahir aos pedaçoes,

Ha de voar em estilhaços

Numa ruína espantosa

Ricardo Gonçalves (A PLEBE, n° 1, p. 2, 9 de

junho).

O uso das metáforas, como por exemplo, na metáfora

cristã O mundo melhor dorme em longa treva presente em O

sol da nova Idéa de Teixeira Bastos, reafirma ainda que a

forma de reconhecer novas formas através de formas já

conhecidas é algo recorrente na atividade humana. Em tal

poesia já citada, através de uma linguagem acessível que

utiliza de adjetivos para caracterizar a sociedade capitalista (a

ser superada), Teixeira Bastos apresenta a noção de fim a

sociedade capitalista de sua época e de suas características

(entre elas, os aspectos religiosos) e a instauração de uma

sociedade, caracteriza por novas relações sociais. Vejamos.

As imagens dos célicos devassos

Levadas pelos ventos revolteiam

As crenças divinaes em estilhaços

(...)

Dos credos sem sentidos as densas brumas

Se dissolvem na noite, quaes espumas

Nas areias da praia que reluz!

O mundo melhor dorme em longa treva.

Emtanto ao longe vejo que se eleva

O sol da nova Idéa, a branca luz!

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- 115 -

(A PLEBE, n° 3, p. 2, 23 de junho).

A luta complexa (e não meramente anticlerical ou

econômica) também está presente nas poesias libertárias

publicadas no periódico. Abaixo temos o exemplo de uma

poesia que compreendia a luta contra o clericalismo, a

sociedade de classes e a sua superação advinda de uma luta

(vingança) para eregir uma sociedade anarquista. Em Abri! Eu

chamo-me a Anarchia! lê-se:

Eu sou o Turbilhão colérico e profundo,

que vem varrer a terra, o raio nunca visto

venho cheio de pó, cansado, todo immundo (...)

Tu, Igreja, renega antes quescante o gallo.

- Justiça, mostra já teu dedo flammejante!

- Vingança, vai sella o teu feroz cavello!

Gomes Leal

(A PLEBE, n° 4, p. 2, 1917).

A figura do burguês e cristão é satirizado na poesia de

Vicente de Miranda Reis que analisa comparativamente os

objetivos de Jesus e dos que se dizem cristãos. Assim dirá que

hoje “(...) o burgues, depois de tantos annos, é bom christão e

explora o povo obreiro (A PLEBE, n° 11, p. 1, 30 de junho).

Outra temática abordada nas poesias vinculadas por A

Plebe é o tema do amor livre. Na poesia datada de 7 de

outubro de 1917, Coriolano Leite entenderá que a moral

religiosa sobre os corpos deva ser combatida e assim, apelando

ao tema da virgindade, dirá aos homens e às mulheres:

Dae-vos altivamente aos beijos, sem receio.

Vida, gerae a vida e procreae amores.

(...)

E vós, homens do amor, e vós que a desejaes,

(...)

Beijae as livremente á grande luz do dia (A

PLEBE, n° 16, p. 2, 7 de outubro).

Um elemento de destaque que foi trabalhado por

Neves (2012, p. 26), é o caráter de refinamento nos escritos

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- 116 -

d’A Plebe. Podemos notar bem isso nas suas poesias e nos seus

escritores, que apesar de ter uma acessibilidade em relação ao

conteúdo, continha momentos de refinamento em relação à sua

escrita que vão além de seu pragmatismo político: o periódico

utiliza o refinamento como arte, logo, uma nova forma de

superação das limitações da sociedade capitalista e de suas

produções.

Assim, esse refinamento, “pode ser uma tentativa de

contrapor a imagem do desordeiro irracional” que

historicamente fora lançada aos anarquistas escritores e que

nada são além de doadores de sentido (BOSI, 1977, p. 141)

que voltam, ou ao menos, possibilitam uma volta rápida e não

tão duradoura do direito do poeta de dar nome às coisas (idem,

p. 144).

3.8. A influência das Escolas Modernas

Um elemento fundamental de uma educação libertária

é a prática da autoformação educacional e da independência

intelectual. A Plebe bem fará isso ao indicar obras de teóricos

libertários aos trabalhadores59. Na edição de 30 de junho de

1917, irá publicar uma frase de Francisco Ferrer y

Guardia60,fundador das Escolas Modernas na Espanha, que

reúne os elementos primários da educação racionalista

proposta pelo espanhol e utilizada por A Plebe: “Procurar o

meio de pôr os seres de accordo no amor e na fraternidade,

sem distinção de sexo, é a grande tarefa da humanidade” (A

PLEBE, n° 4, p. 1, 1917).

Para o espanhol Ferrer y Guardia:

A missão do ensino consiste em demonstrar à

infância, em virtude de um método puramente

científico, que quanto mais se conhecer os

59 Ver, por exemplo, a edição 19 de 30 de outubro de 1917 que em sua

última página reservará um notável espaço para indicar obras de vários

autores, em sua maioria, libertários como Bakunin, Neno Vasco, Proudhon,

Jaurés, Krpotkin, Malatesta, Reclus, Fabbri, etc. 601859 - 1909. Foi o idealizador das Escolas Modernas na Espanha (1901).

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produtos da natureza, suas qualidades e a

maneira de utilizá-los, mais abundarão os

produtos alimentícios, industriais, científicos e

artísticos úteis, convenientes e necessários para

a vida, e com maior felicidade e profusão

sairão de nossas escolas homens e mulheres

dispostos a cultivar todos os ramos do saber e

da atividade, guiados pela razão e inspirados

pela ciência e pela arte, que embelezarão a vida

e justificarão a sociedade (FERRER Y

GUARDIA, 2010, p. 40).

Para A Plebe, bem como para Guardia, era a

“coeducação de meninas e meninos” (GUARDIA, 2010, p. 11)

um passo muito importante para uma educação libertária.

O ensino misto penetra por todos os povos

cultos. Em muitos, faz tempo que são

reconhecidos os seus ótimos resultados. O

propósito do ensino de referência é que as

crianças de ambos os sexos tenham educação

idêntica; que de maneira semelhante

desenvolvam a inteligência purifiquem o

coração e temperem suas vontades; que a

humanidade feminina e masculina sejam

compenetradas, desde a infância, com a mulher

chegando a ser, não em nome, mas na

realidade, a companheira do homem

(GUARDIA, 2010, p. 12).

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Figura 7 – Nota publicada sobre a Escola Moderna. A Plebe, n° 17,

p. 1, 14 de outubro de 1917.

São referências como essas que perpetraram as

páginas d’A Plebe por vários momentos. Por exemplo, em

referencia aos 8 anos da fuzilamento do anarquista espanhol, A

Plebe publicará O anniversario funnebre dum justo

ressaltando que ele, “(...) morreu! Mas a Idéa Sublime

Redemptora triumphou sobre os seus assassinos” (A PLEBE,

n° 17, p. 1, 14 de outubro).

Um exemplo de tal triunfo seria as Escolas

Modernas61 que em São Paulo haviam se instalado e que fora

fruto de trabalho árduo de militantes anarquistas desde 17 de

novembro de 1909 quando elaboraram a Comissão Pró-

61 As Escolas Modernas foram fundamentais para a construção de um ideal

educacional libertário. A Escola Moderna, n° 1, surgiu em 1918 e tinha

João Penteado como organizador.

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Fundação da Escola Moderna62 de São Paulo

(GUIRALDELLI, 1987, p. 131).

Após suas fundações, as Escolas tiveram um

importante papel na ação pedagógica libertária.

Com idéias simples, porém contundentes, os

libertários atacaram os fundamentos da

ideologia dominante. Para os libertários, a luta

pela instrução se inseria no contexto das

demais batalhas que se desenrolavam no

sentido de recuperar instrumentos de atuação

social historicamente monopolizados pelas

classes dirigentes. Insistiam na necessidade da

educação como instrumento de atuação social.

Era necessária instrução para melhor

reivindicar, ao mesmo tempo em que era

necessário reivindicar para poder estudar mais.

A constatação de que a escola funcionava

como foco doutrinador a serviço das camadas

dirigentes fez com que os libertários

redobrassem seus ataques contra o ensino sob

controle estatal (CASALVARA; MORAES,

2002, p. 5).

Essencialmente, essas práticas político pedagógicas

das Escolas Modernas foram propagadas em A Plebe devido

sua articulação libertária, já que esse modelo educacional,

implantado nas Escolas Modernas, coloca em questão as

práticas pedagógicas oficialmente aceitas e difundidas pelo

Estado e pela Igreja (CASALVARA; MORAES, 2002, p. 5).

3.9. A “Gazetilha de Satan” critica com sarcasmo

Outro importante ponto de destaque do periódico é a

seção Gazetilha de Satan. Essa seção aparecerá em geralmente

na parte inferior da segunda página com críticas satíricas a

alguns indivíduos (e não a classe como todo) de destaque no

cenário paulistano e nacional.

62 Na capital federal também se organizou a Comissão Gonçalves (2007, p.

89).

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Sua primeira aparição vem no número inaugural d’A

Plebe. Sem um título específico definido, Roberto Feijó fará

críticas ao “Sr. Medeiros e Albuquerque” (membro da

Academia Brasileira de Letras) (A PLEBE, n° 1, p. 2, 9 de

junho) devido seus escritos conservadores e patrióticos.

A segunda coluna sob o nome de Gazetilha de Satan,

virá em 16 de junho analisando dr. Ruy Barbosa, também feita

por Roberto Feijó, como um “politiqueiro”. No próximo

número, o senador da República Alfredo Ellis é analisado por

Alfredo Villa-Sêcca como um “inútil ao povo brasileiro” além

de “nocivo, é criminoso, é tyrano”.

Como a irregularidade era recorrente em A Plebe, a

seção Gazetilha de Satan será substituída várias vezes por

outras de conteúdos de conotação diferente. Esse é o caso do

número 4 do jornal que em seu local virá Lobos e Cordeiros

assinado por E. Lima e no numero 5, que sob o título de

Octávio Mirbeau, Neno Vasco realizará duras críticas ao autor

de mesmo nome que o título.

Voltando no número 10, a citada seção irá promover,

através de De Loyolla a Machiavel assinado por R. F., uma

profícua análise das relações do Estado com o patronato e

apela para seus leitores que “o operariado merece coisa nova e

imprevista lição” (A PLEBE, n° 10, p. 1, 18 de agosto).

No número seguinte, R. F. analisará a Primeira Guerra

Mundial com o artigo A Paz. Tecendo críticas aos países

envolvidos no conflito, a comunidade socialista internacional

(naquele momento reunidos na II Internacional) e ao Vaticano

que intermediaria o conflito propondo paz, o articulista dirá:

Ignoramos a qual delles caberá a victória. (Não

desejamos incidir ao vício das previsões).

Todavia, agora como no início da guerra, a

nossa convicção é esta e só uma: A paz há-de

fazer-se, com o Vaticano ou sem elle, com a

Internacional ou apeza della (A PLEBE, n° 11,

p. 1. 25 de agosto).

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- 121 -

Por mais que essa seção tenha sido efêmera,

publicando apenas quatro textos, ela foi fundamental para

analisar indivíduos sociais que agiriam em favor da

manutenção das relações sociais vigentes que, conforme

ressaltou Guimarães (2011, p. 110), são esses mecanismos que

reverberam o que se compreende por ação direta, uma prática

ética “alicerçada em princípios morais de uma sociedade

comunista e libertária futura” que só seria possível através da

luta de uma classe específica (a trabalhadora) para a dissolução

das relações sociais capitalistas, através da ação direta que não

é nada além de “a saúde, a dignidade e a vida dos

trabalhadores” (A PLEBE, n° 9, p. 1, 11 de agosto).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para concluir esse trabalho, sem fechar as portas da

reflexão, entendemos que o periódico A Plebe reverbera seus

objetivos e sua forma de conceber uma forma de ação política

e pedagógica voltada para a revolução social através da ação

direta. Seus elementos principais juntamente com outros

secundários estão presentes além de uma aparência e da

retórica utilizada: influi-se novas formas de sociabilidade

através do cotidiano de crítica à sociedade capitalista, por

exemplo, o uso de poesias e pictografias.

Diria por ora que o pensamento difundido por A Plebe

traz com consistência política e pedagógica os pressupostos de

novos tipos de relações sociais que, para o imaginário dos

anarquistas, não é uma “fantasia quimérica” ou um “sonho

abstrato” e sim, concreto, fruto das contradições sociais

existentes, utilizando-se da ação direta como mecanismo de

concretização.

Propagadores de uma ruptura radical em relação à

sociedade de classes e ao futuro da classe operária, o periódico

anarquista reacenderia as chamas da utopia concreta, buscaria

um otimismo em relação ao pessimismo, já que este último,

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- 122 -

nas palavras do filósofo alemão Ernst Bloch nada mais é do

que “paralisia pura e simples” (BLOCH, 2005, p. 432).

A Plebe se constituiu como uma propulsora elementar

do periodismo militante com objetivos claros: a busca de uma

sociedade livre e igualitária fundada nos princípios da anarquia

como “efervescência utópica”.

FONTES PARA PESQUISA

Jornais

A Plebe

n° 01, 09-06-1917

n° 02, 16-06-1917

n° 03, 23-06-1917

n° 04,30-06-1917

n° 05, 09-07-1917

n° 06, 21-07-1917

n° 07, 28-07-1917

n° 08, 04-08-1917

n° 09, 11-08-1917

n° 10, 18-08-1917

n° 11, 25-08-1917

n° 12, 01-09-1917

n° 13, 08-09-1917

n° 14, 22-09-1917

n° 15, 30-09-1917

n° 16, 07-10-1917

n° 17, 14-10-1917

n° 18, 21-10-1917

n° 19, 30-10-1917

Suplemento, 15-09-1917

Page 124: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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APÊNDICES

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- 134 -

O comunismo anarquista do jornal Spártacus

(1919 – 1920)

The communism anarchist of the Spártacus

newspaper (1919 – 1920) Resumo: O jornal Spártacus, periódico que circulou na capital

federal do Brasil entre 1919 e 1920 produzindo um total de 24

números, fizera parte do que ficou comumente conhecido

como Imprensa Operária. Essa imprensa produziu, apesar da

repressão por parte do governo brasileiro, uma intensa

propagação dos ideais operários. Nesse âmago, alguns jornais

tinham linhas ideológicas específicas, caso este do jornal

Spártacus de orientação comunista anarquista. Tem-se como

objetivo deste texto apresentar as principais concepções

assumidas pelo jornal libertário, de seus editores (Astrojildo

Pereira, José Oiticica, etc.) ressaltando o caráter revolucionário

do jornal, preocupado com a finalidade última do anarquismo:

a destruição da sociedade de classes, do capitalismo, do Estado

etc. para a construção de uma sociedade radicalmente

diferente.

Palavras-chave: Spártacus, Imprensa Operária, Anarco-

Comunismo.

Abstract: Spartacus newspaper, periodical circulated in

Brazil’s federal capital between 1919 and 1920 producing a

total of 24 numbers, had been part of what became commonly

known as Labor Press. This press produced, despite the

repression by the Brazilian government, an intense propagation

of the worker’s ideals. In this core, some newspapers had

specific ideological lines, in the Spartacus newspaper’s case

the guidance was the communist anarchist. It has been the

objective of this paper to present the main conceptions

assumed by the libertarian newspaper, of its editors (Astrojildo

Pereira, José Oiticica, etc.) stressing the revolutionary

character of the newspaper concerned with the ultimate goal of

anarchism: the destruction of class society, capitalism, the

State etc. for the building of a radically different society.

Keywords: Spartacus, Press Worker, Anarcho-Communism.

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- 135 -

Este artigo surgiu da necessidade de identificar na

complexidade da imprensa operária e anarquista algumas

diretrizes do pensamento libertário que serão difundidas no

movimento operário da Primeira República do Brasil. A

historiografia ainda não produziu obras que tratem

exclusivamente das minúcias da imprensa operária, sobretudo

anarquista, deixando assim, um lócus a ser preenchido por

novas pesquisas que tratem do assunto. Assim,

compreendemos que ocorreu, e ainda ocorre, uma disputa no

campo da memória do movimento operário brasileiro que, com

objetivos diversos, deturpou o papel da imprensa anarquista,

simplificando-a e elevando disparidades no seu interior para

exaltar determinadas estratégias em detrimento de outras.

Assim, têm-se como objetivos: primeiramente, de

apreender as concepções assumidas pelo jornal Spártacus63,

semanário sediado na cidade do Rio de Janeiro que circulou de

2 de agosto de 1919 a 10 de janeiro de 1920 publicando um

total de 24 números; segundo, instigar pesquisadores

preocupados em estudar um período frutífero e de grande

complexidade da história do Brasil republicano sobre as

questões internas do anarquismo no que tange a sua

organicidade; por último, compreender que a história

dominante é fruto de uma relação histórica de dominação entre

os movimentos revolucionários, como por exemplo, a sólida

fronteira entre o “dizível e o indizível”64 da ditadura vermelha

bolchevista no campo da memória.

Fica difícil imaginar a priori, conforme tentaremos

demonstrar abaixo, como os anarquistas com inspiração nas

63 Todos os números do jornal Spártacus encontram disponíveis no Arquivo

Edgard Leuenroth (AEL) nas dependências do Instituto de Filosofia e

Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) na

cidade de Campinas, São Paulo, onde foram coletados. Todos os números

do jornal se encontram disponíveis neste arquivo, microfilmado, sendo

passível também de ser scaneado no próprio arquivo.

64 POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. In: Estudos

Históricos. Rio de Janeiro, vol. 2, nº 3, 1989, p. 3 – 15.

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- 136 -

teorias de Malatesta e Kropotkin irão relacionar e propagar os

ideais difundidos pelos bolchevistas. Adversários históricos

dos anarquistas, os partidários de Lênin receberão apoio dos

anarquistas no contexto da Primeira República do Brasil.

Porém, esse processo não é algo simples e inocente. Nossa

hipótese é de que entusiasmados pelos ecos da Revolução

Russa, o jornal irá difundir concepções do comunismo65

libertário e estes não terão uma distância crítica, pois no calor

dos acontecimentos e na conjuntura do período, notícias claras

do que realmente acontecera no extremo norte da Europa eram

difíceis.

Antes de tudo, torna-se salutar dizer que com a

imigração, sobretudo italiana, vieram para o país os ideais do

movimento operário europeu e, conjuntamente, suas práticas

políticas. Esses imigrantes que chegavam ao Brasil vinham

carregados de concepções e pensamentos de organização

proletária, características da Europa daquele contexto. Porém,

os ideais do movimento operário não advieram apenas da

Europa.

No caso brasileiro, as transformações trazidas pela

modernização potencializaram o crescimento e a necessidade

da imprensa, trazendo a “difusão de novos hábitos, aspirações

e valores” (LUCA, 2011, p.120), em que abrigavam uma

infinidade de publicações periódicas. Conforme Boris Fausto

(1977, p. 61) o jornal teve um papel de sua importância para o

operariado, pois este “constitui um dos principais centros

65 É notório informar que o conceito de comunismo libertário nos “clássicos

anarquistas” é um conceito utilizado frequentemente por seus militantes,

especificamente em Piotr Kropotkin. Porém, o conceito de comunismo, era

um termo em “disputa”. Na historiografia, os conceitos em disputa são

concepções de suas práticas. Assim destaca Antoine Prost “É que, para os

atores individuais ou coletivos da história, os textos que eles produzem não

são apenas meios de dizer seus atos e posições; os textos são, neles

mesmos, atos e posições. Dizer é fazer, e a lingüística, fazendo o

historiador compreender isso, devolve-lhe a questão do sentido histórico

desses atos particulares” (in: RÉMOND, 1996, p. 317).

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- 137 -

organizatórios de difusão de propaganda”. Ele figura-se dentro

do movimento operário da Primeira República do Brasil como

um “veículo de expressão escrita”, transformando-se “(...)

também com frequência em veículo oral, ao ser lido em voz

alta aos trabalhadores analfabetos”.

Os anos de 1917 - 1920 são marcados por grandes

greves e insurreições ocasionando várias expulsões e

deportações. Por exemplo, a Lei Adolfo Gordo66 será colocada

em prática diversas vezes para expulsar os indesejáveis67. No

Rio de Janeiro no período acima mencionado ecoou três

movimentos grevistas de destaque. Conforme Addor (2009), a

greve de julho de 1917 no Rio de Janeiro ocasionada,

sobretudo, pela carestia de vida e organizada pela FORJ

(Federação Operária do Rio de Janeiro), ocorre ao mesmo

66 Nos primeiros anos do século XX no Brasil a política repressiva do

Estado se fortificou. Tal repressão materializada, por exemplo, na Lei

Adolfo Gordo, proposta pelo Deputado Adolfo Gordo e aprovada no ano de

1907é um exemplo elementar. A lei previa a expulsão de estrangeiros que

estivessem ligados ao movimento operário da época. Nesse âmbito, um

exemplo claro é a expulsão do diretor do jornal socialista "AVANTI",

Vicente Vacirca, em 1908 (RODRIGUES, 1997, s/p). De acordo com

Dulles (1977, p. 117), essa lei, que será reeditada em 1922, “estabelecia

punições para os que contribuíssem para a prática de tais crimes através de

reuniões ou de qualquer instrumento de propaganda; e conferia às

autoridades o direito de fechar, por tempo indeterminado, sindicatos e

entidades civis que cometessem atos prejudiciais à segurança pública”. Para

maior aprofundamento: BATALHA, Claudio. O Movimento Operário na

Primeira República. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000;

RODRIGUES, Edgard. O Homem e a Terra no Brasil. Florianópolis:

Insular, 1997; LEAL, C. F. B. Pensiero e Dinamite: Anarquismo e

repressão em São Paulo nos anos 1890. 2006. 308f. Tese (Doutorado)-

Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Estadual de

Campinas, 2006. 67 Spártacus em seu número 13, datado de 25 de setembro de 1919, irá

dizer que o governo preparou ao Congresso Nacional, via senador Adolpho

Gordo, um “projeto-arrôcho”, ou simplesmente, um “projeto-rolha” que

visava “vedar a propaganda comunista pelas pena ou na tribuna”. Tratava-

se nada menos do que da Lei de Expulsão.

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- 138 -

tempo da greve geral na cidade de São Paulo. A segunda greve

de destaque é “a greve ocorrida em agosto de 1918, dos

trabalhadores da Companhia Cantareira e Viação Fluminense”

(ADDOR, 2009, p. 30). Nesta greve de agosto de 1918, o

conflito entre trabalhadores e a polícia estadual marcam um

período mais um sangrento na história da Primeira República

do Brasil. O terceiro movimento grevista ocorre em novembro

de 1918 como uma greve que visava a insurreição, fato que

não ocorre. Os grevistas são reprimidos pelo Estado sob a

égide da polícia, marcando mais um capítulo sangrento no

movimento operário.

A 18 de novembro de 1918 declara-se no Rio e

em cidades vizinhas uma greve geral

insurrecional. Operários entram em choque

com o exército e a polícia. Oiticica e outros são

presos acusados por um oficial do exército de

serem os promotores de uma tentativa

insurrecional (LOPES, 2007, p. 2).

Para Edgar Rodrigues, no período da Primeira Guerra

Mundial, “o proletariado do Brasil ainda acolheu o grito de

desespero dos flagelados russos, principalmente os anarquistas

do Rio de Janeiro, que haviam fundado o primeiro Partido

Comunista Brasileiro em 1919” (o mesmo partido que citamos

anteriormente). Essa organização era um Partido, mas que

“nada tem a ver com o futuro Partido Comunista”, era apenas

“um produto do entusiasmo dos trabalhadores libertários com a

Revolução dos Sovietes” (RODRIGUES, 1996, s/p).

O jornal Spártacus, considerado como o “porta-voz

do núcleo carioca do Partido Comunista” surgiu em 2 de

agosto de 1919 e tinha sua publicação sob a responsabilidade

de um Grupo Editor, “estando a sua redação e administração a

cargo de Astrojildo Pereira”. Ainda contou como redatores do

jornal: José Oiticica (1882-1957), Astrojildo Pereira (citado

anteriormente e ainda anarquista), Santos Barbosa, Urich

d'Avila, Izauro Peixoto, Salvador Alacid, José Busse e Cruz

Junior.

Page 140: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

........................

- 139 -

No mesmo período, José Oiticica e outros libertários

fundaram em 1919 o Partido Comunista do Brasil de

inspiração malatestiana68. Alexandre Samis aponta que a

criação da Aliança Anarquista do Rio de Janeiro, organização

de orientação política definida, foi fundamental nessa criação.

A Aliança “surgia como um órgão de união, entendimento e de

aliança entre anarquistas” e o Partido “tinha como objetivo dar

organicidade às ações dos libertários que pensavam não bastar

unicamente a inserção sindical para se alcançar a Revolução

Social” (SAMIS, 2004, p.145).

“(...) em 1919, os anarquistas, carentes de um

órgão que respondesse à altura pelas demandas

do período, fundaram um Partido Comunista de

inspiração libertária. Seu “presidente de

honra”, título, aliás, rejeitado pelo

homenageado, José Oiticica, além de outros

anarquistas, entendiam que era premente a

necessidade de se formar um núcleo político

que pudesse encaminhar, mais claramente,

ações anarquistas em diversos setores da

sociedade. O Partido, sem fins eleitorais, vinha

68 Apesar da tese do Partido Anarquista - já presente em Mikhail Bakunin

com a ADS - é com Errico Malatesta que essa estratégia é levada a cabo

com maior profundidade (o italiano desenvolve as teses de Bakunin, apesar

de suas discordâncias). Objetivando criar uma organização anarquista com

base operária sólida, o Partido Anarquista na concepção do italiano Errico

Malatesta, visava, de maneira geral, trazer o desenvolvimento do tema da

organização específica anarquista para catalisar no nível das massas uma

questão ideológica sintética e bastante definida em meio às massas: o

anarquismo. Sobre a "Plataforma Organizativa para una Unión General de

Anarquistas" de 1926, Malatesta dirá : “Eu creio que é, por sobre tudo,

urgente e essencial que os anarquistas alcancem acordo e se organizem

tanto como podem e o melhor que puderem, para que ser capaz de

influencia a direção que as massas tomam em sua luta por melhorias e por

sua emancipação. (...) Daqui se encontra a urgente necessidade de

organizações puramente anarquistas, lutando desde dentro e desde fora dos

sindicatos para alcançar uma sociedade plenamente anarquista e para

esterilizar todo gérmen de degeneração e reação” (MALATESTA, 1927).

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- 140 -

preencher uma lacuna organizativa que não

cessava de crescer com a ampliação das

atividades de militantes libertários no meio

operário” (SAMIS, 2004, p. 138).

Sobre a fundação do Partido Comunista, Nascimento

(2007) diz que “procurando fundir uma concepção

malatestiana de partido com a proposta maximista,

maximalista ou bolchevista, como ficou mais conhecida” o

partido, de “vida efêmera, defendia as bandeiras do

antiparlamentarismo, do antiestatismo, do anticapitalismo.

Feneceu por conta dos embaraços e ambigüidades que

suscitava, retratando o estado de espírito confuso existente

entre os trabalhadores à época” (NASCIMENTO, 2007, p.

130). Porém, há algumas questões a serem rediscutidas na tese

de Nascimento (2007). A distinção entre nível político e social

também é feita pelos anarquistas, portanto, não há nesse

sentido, apropriação dos sentidos políticos do maximalismo. O

que aproxima o partido leninista do partido anarquista é

apenas a distinção entre as esferas, mas há uma diferença

profunda no que tange a tarefa do nível político e do social, o

que distinguiria de maneira mais definida as duas propostas69.

Continuando sobre o Partido Comunista, Astrojildo

Pereira, assim dirá:

são mais ou menos conhecidos os

acontecimentos que antecederam e abriram

caminho à organização definitiva do Partido

Comunista do Brasil. [...] Ponho “Partido

Comunista do Brasil” entre aspas porque em

verdade o seu conteúdo não correspondia ao

rótulo. [...] Em vez de estatutos, foram

elaboradas e adotadas umas simples ‘bases de

acordo’, à boa moda anarquista, com o item

69 Para tal, ver: CORREA, Felipe. Anarquismo e Sindicalismo

Revolucionário: uma resenha crítica do livro de Edilene Toledo, a partir

das visões de Michael Schmidt, Lucien Van der Walt e Alexandre Samis.

Disponível em <http://www.anarkismo.net/article/16164>. Acessado em

14/04/2013.

Page 142: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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- 141 -

seguinte relativo aos ‘fins imediatos’ do

Partido: ‘Promover a propaganda do

Comunismo Libertário, assim como a

organização de núcleos comunistas em todo o

país (PEREIRA, 1962, p. 42).

Após o Congresso Comunista e a fundação do

Partido, o jornal Spártacus (assinado por José Oiticica) irá

publicar os Princípios e Fins e as Previsões Práticas, nos

números 3 e 4 do jornal, respectivamente. Vejamo-las abaixo:

Estes princípios e fins serão a carta de abecê

introdutória do meu Catecismo anarquista que

pretendo editar em livro (...)

XVIII O estado, órgão sustentador da

propriedade particular, baseia-se em leis

impostas aos não-possuidores ou aos pequenos

possuidores

XIX A classe dos grandes possuidores,

constitutive do Estado, sempre criou para seus

membros inúmeros privilégios que os eximiam

das leis. Somente as contínuas revoltas dos

não-possuidores tem conseguidor cercear taes

privilégios.

XX O estado garante a execução das leis

protetoras da propriedade particular por meio

da violência (força armada). O Estado é, por

isso, instituição antisocial e imoral. (...)

XXX O ensino deve ser integral até os vinte

anos e garantido para todos. (...)

XXXI A educação comunista visa desenvolver

o mais possível a capacidade de energia de

todos. (..)

Eis os princípios teóricos. No próximo número

virão as previsões práticas. JOSÉ OITICICA

(SPÁRTACUS, 16/08/1919, p. 1).

Algumas considerações são importantes. Os

princípios libertários desse Congresso Comunista que instituirá

um Partido (sob as bases teóricas malatestianas, conforme

colocamos anteriormente) são importantes de serem

salientados. Primeiramente, a concepção de que o Estado é

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- 142 -

tido como o constituinte dos privilégios da exploração,

compondo então, a sua destruição como uma necessidade

revolucionária; segundo, as leis criada pelo Estado vem para

fundamentar essa exploração no âmbito jurídico e formal,

cabendo aos trabalhadores a luta antiestatal como

revolucionária, ou seja, não cabendo a organização da classe

via Estado; terceiro, a educação propagada pelo Congresso

visa contribuir para a emancipação dos trabalhadores através

dos princípios da integralidade do conhecimento que pode ser

adquirido pelos indivíduos. Outras questões são importantes de

lembrar, por exemplo, as Previsões Práticas. Destacamos

algumas abaixo.

I. O território de cada paiz será dividida em

zonas federadas, cada zona em municípios e

cada município em comunas. (...)

V. Para coordenação e direção dos serviços e

para execução das medidas tomadas nas

assembléas, haverá conselhos comunais,

municipais, federais e um internacional. (...)

XI. Os delegados não gozarão de nenhum

privilégio, nem serão dispensados de seus

serviços profissionais, sinão quando suas

funções de delegado lhes absorverem todo o

tempo.

XVIII. As horas de trabalho em cada comuna

serão reguladas pelas necessidade sociais,

ficando o horário a cargo do conselho comunal.

(...)

Eis o esboço de uma constituição comunista.

Há de ser forçosamente incompleta. Peço aos

camaradas que em tono desse esboço travem

discussões e sugiram outras idéas essenciais.

JOSÉ OITICICA

(SPÁRTACUS, 23/08/1919, p. 1).

Nestes elementos encontramos alguns pontos

definidores do princípio comunista libertário. O primeiro é a

estratégia comunal de organização, na relação de cada

localidade dividida em zonas federadas, cada zona em

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- 143 -

municípios e cada município em comunas, não cabendo o

centralismo e o governo burocrático, e sim, a autogestão;

segundo, os trabalhos realizados dentro de cada comuna será

realizada através de delegados não cabendo autonomia

administrativa do individuo frente ao coletivo; o regime

comunista institui a produção (o trabalho) regulada pela

necessidade social, sendo então, um princípio da necessidade

perante o coletivo70.

Figura 1 - Parte superior do primeiro número de Spártacus.

Nesse contexto a repressão aos trabalhadores

combativos não cessara. Em maio de 1919, trabalhadores

cariocas fazem uma reivindicação ao governo pela jornada de

8 horas de trabalho. Antes mesmo da resposta do governo

emerge um movimento insurrecional onde, estipula-se que no

dia 18 de maio, cerca de 10 mil trabalhadores estivessem

parados (DULLES, 1977, p. 76). O fim da greve no mês de

julho só irá paralisar um movimento específico, dando cabo a

vários que virão adiante. Nesses últimos, a repressão será

grotesca. O brasilianista Jhon W. F. Dulles aponta que mesmo

antes de publicar o jornal Spártacus, a polícia já havia

ameaçado em prender José Oiticica e seus congêneres (idem,

p. 79).

Porém, como exemplar militante anarquista, José

Oiticica e seu Grupo Editor lança o jornal Spártacus. A

justificativa pelo nome dado ao periódico é vista no primeiro

texto que inaugura o jornal. De autoria de José Oiticica, o texto

70 De acordo com Berkman (2006, p. 194), “as necessidades essenciais do

povo devem ser satisfeitas. Nesse estado a revolução vive das provisões já

existentes”.

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- 144 -

que leva o nome do escravo romano, ressalta uma frase que

marcará as páginas deste jornal: “Si temos de arrancar nossas

espadas não seja conta nós mesmos; arranquemo-las conta os

nossos opressores”. Assim, essa frase viria resumir o programa

do jornal quando enumerava os pressupostos libertários que o

escravo romano teria.

“É ele que nos brada, nestas colunas suas,

impregnadas do seu sangue, do seu martírio, do

seu exemplo, convocando os descontentes de

toda a Terra para realisarem, de uma vez, a

obra antiga de Harmonia Humana. JOSÉ

OITICICA” (SPÁRTACUS, 02/08/1919, p.1).

A impossibilidade de publicação diária do jornal é

apresentada ao público leitor no seu primeiro número.

Assinado por José Oiticica, Astrojildo Pereira, Santos Barbosa,

U. d’ Avila, Izauto Peixoto, Adolfo Busse, Salvador Alacid e

Cruz Junior, o artigo Explicação apresenta os subsídios

necessários para compreendermos as dificuldades que a

imprensa libertária passava por vários motivos, sobretudo, da

“tratagem burgueza”. Assim, o grupo justifica a periodicidade

do jornal dizendo que este é “Spártacus. Modesto, mas

irreductivel, todo ele se consagrará à obra imensa da revolução

social dos nossos dias” (SPÁRTACUS, 02/08/1919, p. 1).

Após o surgimento do jornal (datado do segundo dia

de agosto de 1919), outra greve irá emergir e será decisiva para

a afirmação do periódico, pois, ao preencher as páginas com as

notícias da greve, o proletariado iria conhecendo os princípios

fundamentais da prática libertária. Já no mês seguinte, com a

constante e crescente reação aos grupos libertários e da ação

contra a propaganda anarquista, Germiniano da França e

Nascimento Silva (respectivamente, chefe da polícia e

delegado auxiliar) a mando do Presidente Epitácio Pessoa

ordena que “fossem retirados das estações ferroviárias e dos

correios todos os exemplares de A Plebe” além de recolher

todos os exemplares do número 6 do periódico Spártacus

datado de 6 de setembro (idem).

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- 145 -

A apreensão de Spártacus foi motivo de

orgulho para seus editores e prova de que

efetivamente combatiam a burguesia. Mas a

diminuição da venda impunha uma economia,

e a edição de 13 de setembro saiu com duas

páginas, em vez das quatro costumeiras

(DULLES, 1979, p. 93).

Chamando a atenção dos trabalhadores para esse

incidente muito significativo, o grupo editorial do jornal

publica o artigo A aprehensão de “Spártacus” no número

seguinte.

Sabem os trabalhadores que a polícia

aprehendeu a edição do nosso nosso numero

passado. Os pretextos alegados pela polícia são

os mais fúteis possível. Resumem-se no

seguinte: 1° pregamos aqui o assassínio de

Lloyd George; 2º pregamos directamente a

revolução imediata; 3º usamos de linguagem

desbragada ou mentiroso. (...)

A aprehensão de Spártacus nos orgulha. Prova

que fazemos obra sã, pois apavoramos a

burguezia, católica, redentórica ou

simplesmente conservadora.

E é o nosso fim (SPÁRTACUS, 13/08/1919, p.

1).

Alexandre Samis ressalta que José Oiticia fez críticas

ao movimento anarquista principalmente sobre a questão da

organização. Oiticica coloca em xeque a questão importante no

que diz respeito à “insuficiente conjugação de esforços que

possibilitasse a harmonia entre a militância social e a

organização tipicamente anarquista” (SAMIS, 2009, p. 48).

Em linhas gerais, o semanário anarquista tem diversos

pontos de discussão. A diversidade de temas discutidos no

semanário, sob autoria de vários militantes, não esconde o

papel central que José Oiticica terá no jornal, pois a maioria

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- 146 -

dos textos do jornal, principalmente os primeiros textos que

inauguram os primeiros números são de autoria de Oiticica.

No artigo Dos anarquistas ao povo do Brasil: quem

somos e o que queremos publicado em 27 de setembro de

1919, encontramos uma resposta à aqueles que afirmavam que

o anarquismo seria um problema importado, ou seja, culpa do

imigrante71 europeu, bastando a expulsão para que se resolva o

problema. Vejamos:

(...) Paiz essencialmente de imigração, vivendo

as suas indústrias principalmente do braço e da

inteligência do imigrante, é naturalíssimo que

os centros de maior população operária no

Brasil contenham forte e predominante

percentagem de estrangeiros. E como o

anarquismo se propaga e se radica

especialmente entre as classes operárias, não é

menos naturalíssimo que muitos desses

operários sejam anarquistas. (...) Agora, o que é

absolutamente falso é que todos os anarquistas,

entre nós, sejam estrangeiros. É uma

grandíssima mentira, contra a qual protestamos

com toda a veemência, nós, que este manifesto

laçamos, todos nascidos no Brasil e orgulhosos

das nossas convicções libertárias. (...)

Estrangeiros em última análise, somos todos e

tudo no Brasil. Brasileiros autênticos e puros

são exclusivamente os índios que os nossos

avós estrangeiros e nós próprios dizimamos e

vamos dizimando, no passado e no presente. A

nossa língua é estrangeira. Os nossos costumes

são estrangeiros. (...) Numa palavra: tudo que

possuímos em matéria de civilização é

71 De acordo com Rodrigo Rosa da Silva, a justificativa de expulsão de

anarquistas estrangeiros foi baseada na teoria da “’planta exótica’, numa

suposta conspiração internacional contra o capitalismo e o governo e na tão

propagada origem estrangeira dos militantes, sempre classificados como

“indesejáveis” nas páginas dos jornais mantidos pelas elites” (SILVA,

2005, p. 39).

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- 147 -

absolutamente estrangeiro (SPÁRTACUS,

27/09/1919, p. 2).

De acordo com Silva (2005, p. 39), o “manifesto

acima citado foi assinado por 60 militantes anarquistas de

diversas profissões. Dele podemos extrair os dois principais

argumentos contra a teoria da ’planta exótica’” (SILVA, 2005,

p. 39). Esses argumentos se assentam primeiramente no

pensamento de que os anarquistas no Brasil eram,

exclusivamente, imigrantes expulsos de seus países e segundo,

por pensarem que os imigrantes viam para o Brasil com o

intento de propagar o “caos” e botar lenha na “fogueira da luta

de classes”.

Outro elemento de destaque no jornal e no

anarquismo nesse período, são as influências que a Revolução

Russa causou. José Oiticica e Edgar Leuenroth (1881-1968),

por exemplo, foram abalados pelo bolchevismo, mesmo sem

adotarem o marxismo. No jornal Spártacus número 7 e número

9 registra-se a aproximação de Oiticica com o bolchevismo72.

O primeiro número que destacamos, veicula uma frase de

Lênin sobre o papel da imprensa73. Assim, em 20 de setembro

no artigo Vão Confessando... José Oiticica, fazendo duras

críticas aos ingleses que lutavam contra o bolchevismo dirá:

“Si não fossem os bolchevistas! Por isso, na campanha nova, a

extinção do bolchevismo é ponto capital. Guerra aos

anarquistas de todo o mundo!” (SPÁRTACUS, 20 de setembro

de 1919, p. 1).

O jornal Spártacus (1919 – 1920) publicado no

Rio de Janeiro registra em suas colunas um

72 Ressaltemos que essas aproximações estão numa relação conjuntural de

defesa da Revolução Russa e seus partidários. Há, de fato, uma

aproximação tática dos anarquistas fora da Rússia com o bolchevismo.

Porém, logo superada por conta das questões de repressão, os

acontecimentos de repressão ao Exército Insurrecional Revolucionário da

Ucrânia, aos marinheiros de Kronstadt, etc.

73 Spártacus, nº 07, 13/09/1919.

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debate entre anarquistas em torno de uma

possível convergência entre anarquismo e

marxismo. Neste período, alguns anarquistas

ficaram balançados com o marxismo e outros

passaram para o marxismo fundando o Partido

Comunista Brasileiro, em 1922. Entretando,

outros combateram energicamente as ideias

marxistas. Florentino de Carvalho combateu

ardorosamente o marximos antes de 1917 e

continiu este enfrentamento nos anos seguintes

(NASCIMENTO, 2006, p. 209).

É importante salientar que outras seções não tinham

um título específico, mas apresentava os acontecimentos

mundiais importantes para os trabalhadores. Nesse sentido, nas

primeiras páginas do periódico tinham-se matérias destinadas a

analisar e divulgar os acontecimentos mundiais, por exemplo, a

Revolução Russa do ano de 1917, a Revolução Social na

Itália74, etc. Além destas duas citadas anteriormente, a

veiculação do artigo Mensagem de Lénine aos trabalhadores

americanos75 é a prova da aproximação entre o bolchevismo e

o Grupo Editor do jornal, compondo a afinidade ideológica,

sobretudo por Oiticica e Astrojildo Pereira.

Outro artigo de destaque é Verdade verdadeira do

Bolchevismo, escrita por Fernando Rolba se lê a convicção do

autor pela República dos Soviets quando afirma que os

operários devem aprender a “venerar os vossos irmãos russos,

que são os grandes detentores da humanidade que sofre e que

tem fome!”. Para este autor, o povo russo são as “únicas almas

verdadeiramente grandes e audazes que ainda foi dado ao

74 O nº 13 do jornal irá publicar o artigo A Revolução Social na Itália onde

irá destacar o papel do partido comunista da Itália onde será o país em que

“mais próximo se encontra da liquidação final do regimen burguez pela

revolução social” (SPÁRTACUS, nº 13, 25/10/1919).

75 Spártacus, nº 01, 02/08/1919.

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- 149 -

mundo rotineiro e egoísta procrear!” (SPÁRTACUS, nº 14,

01/11/1919, p. 3).

A política repressiva do Estado acaba por fechar

vários jornais libertários. Edgar Rodrigues (s/d, p. 232) aponta

que no ano de 1919 na cidade do Rio de Janeiro “é suspenso o

jornal ‘Spártacus’” e na cidade de São Paulo, “empastelada ‘A

Plebe’ (...)”76. Assim, o grupo editorial do número 7 apela aos

“camaradas e amigos” que se esforcem para a “manutenção do

nosso orgam!” (SPÁRTACUS, 13 de agosto de 1919, p. 1).

Um elemento de ajuda mútua é a solidariedade ao

propagandear outros jornais libertários com o intento de ajuda-

los. Spártacus irá publicar um esclarecimento chamado de

Plebe diária alertando sobre os problemas que o periódico

paulista passara que estão todos aguardando seus números

diários “impacientes e com uma calorososa e antecipada

saudação aos camaradas de S. Paulo!”, pois o jornal estava

“rompendo quotidianamente o bom combate pela anarquia”

(SPÁRTACUS, 06/09/1919, p. 1).

Não só o jornal carioca fazia saudações e colaborava

com os demais. O jornal A Plebe de 9 de setembro de 1919 irá

veicular “aos nossos camaradas do Rio de Janeiro a nossa mais

viril e firme solidariedade” aos acontecimentos da apreensão

do jornal carioca. No número seguinte d’ A Plebe irá ter a

seguinte frase: “O ‘Spártacus’ opprimido! Viva o ‘Spártacus’”

(A PLEBE, 10/09/1919, p. 2).

76 No número de 25 de setembro de 1919, Spártacus irá publicar ‘A Plebe’

empastelada onde irá denunciar a política do estado em promover o

fechamento do jornal paulista. Para os editores de Spártacus, a policia

paulistana sob a liderança de um delegado que chefia uma quadrilha,

“assalta e empastela um jornal de idéas, depois de grande guerra pelo

Direito, pela Justiça, pela Civilisação!”.

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Figura 2 - Parte superior do último número de Spártacus.

Spártacus também funcionava como uma alerta à

força do imperialismo mundial no território brasileiro. No

número de 20 de setembro de 1919, um artigo “sem

autoria”(provavelmente do Grupo Editor) enumera alguns

grandes capitalistas que são os proprietários de alguns

importantes setores da produção. Chamando-os de

“indesejáveis” (nome dado geralmente aos operários

imigrantes que vieram para o Brasil) Spártacus vem para

(...) mostrar, por estas colunas, comm a prova

real dos factos e não com a calunia das

afirmações sem base, que os “indesejáveis”, no

Brazil, se encontram precisamente na classe

dos capitalistas estrangeiros, cuja actividade se

emprega exclusivamente em sugar o trabalho

nacional, em drenar para fora do Brazil o

melhor das riquezas arrancadas do solo

brazileiro (...) Corrego do Meio, situada em

Sabará, adquirida por 450:000$ pelo Syndicato

Alemão (...) Estessão pois os autênticos

“indesejáveis”, porque estes são, em boa e

lidima verdade os exploradores do Geca

nacional como do Geca nacionalizado

(SPÁRTACUS, 20 de setembro de 1919, p. 1).

Ainda neste número, com o intento de informar aos

trabalhadores brasileiros o que acontecia mundialmente no

movimento dessa classe, publica-se o artigo Boletim da Guerra

Social – Através os telegramas da semana, como por exemplo,

a greve que se instalara na Alemanha e da greve geral de

Marselha. No número inaugural do jornal o artigo A caminho

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- 151 -

da sociedade nova – A Revolução Social na Inglaterra vem a

enunciar a situação grevista que ocorrera na Inglaterra naquele

período. Esta veiculação apresenta como sintomática e

exemplar a ação dos grevistas ingleses.

A partir da edição de 13 de dezembro de 1919,

começa-se a publicar cartas e mensagens na seção A voz dos

deportados... Nesta seção do jornal, semanalmente se

apresentava as consequências e a situação que os militantes

anarquistas estavam após a execução da Lei Adolfo Gordo. No

número 20, Gigi Damiani contará como foi deportado do

Brasil, narrando os acontecimentos até chegar na cidade de

Roma, capital da Itália.

Reafirmando a influência da ideias de Piotr Kropotin,

José Oiticica escreve no texto O que são do jornal, nº 19, de

dezembro de 1919 que “Kropotkin é, na verdade, o escritor que

mais profundamente penetrou na futura organização anárquica

e mais compreende o papel do povo nessa organização de

comunas livres” (SPARTACUS, nº 19, p. 2).

O número 24 de Spártacus levando o slogan A Voz do

Povo – Diário dos Trabalhadores – brevemente será o último

dessa trajetória breve do jornal. O semanário comunista

libertário não sairá mais e sua periodicidade diária nunca

aconteceu. Spártacus terminará sua participação semanal no

dia 10 de janeiro de 1920 por conta de diversos motivos, dentre

os quais estão a dificuldade de recursos para sua manutenção e

a constante repressão do Estado.

Para caminharmos para a conclusão deste texto

devemos colocar uma questão central que está presente em

todos os números do periódico: as interpretações de apoio aos

bolchevistas. Estas, apenas revelam a falta de conhecimento do

que realmente acontecera na Rússia. O jornal em nenhum de

seus números veio defender o Estado e o burocratismo, algo

tão caro e presente aos bolchevistas. Essa interpretação

equivocada que conciliou nas mesmas páginas as teorias de

Lênin, Kropotkin e Malatesta só revela a falta de conhecimento

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- 152 -

dos fatos da revolução russa77 (por conta de diversos elementos

– entre eles a dificuldade de informações que aqui chegavam e

as deturpações dos fatos).

A imprensa operária e anarquista brasileira também

esteve ligada a fenômenos de dominação de sua memória. Uma

memória oficial e ainda reinante execra as singularidades dos

acontecimentos, produz uma significação conservadora do

passado, causando uma visão determinista e dogmática dessa

história.

Assim, para concluir, enfatizamos que o jornal

apresenta uma crítica aos pressupostos teóricos dos que

defendem o Estado. Finalizaremos transcrevendo as palavras

de José Oiticica publicadas no número 6, ressaltando o caráter

libertário e revolucionário do jornal, preocupado com a

finalidade última do anarquismo: a destruição da sociedade de

classes, do capitalismo, do Estado etc. para a construção de

uma sociedade radicalmente diferente, fundada em

pressupostos autogestionários. Oiticica dirá: “não confiamos

nem nos governos, nem nos patrões; porque sabes ter sido a

confiança dos párias em seus amos a maior desgraça deles e a

fôrça de conservação destes”. Ainda reitera que “não queremos

nenhum acôrdo com capitalistas, sendo nosso maior fim

destruir o capitalismo individual e eregir uma sociedade

coletivista” (SPÁRTACUS, 06/09/1919, p. 1).

Assim, Spártacus, como diversos outros jornais

cumpria um importante papel no movimento operário

brasileiro, pois, veiculava ásperos argumentos contra o

capitalismo e, em momento nenhum defende o Estado.

77 Este não é um caso específico de falta de conhecimentos sobre a

revolução russa e a repressão aos grupos libertários. Sebastien Faure,

conhecido anarquista, irá escrever um texto de Paris para o jornal Spártacus

sob o título O Bolchevismo e a atitude anarquista que colocará sua

admiração pela Revolução Russa e seu desconhecimento geral sobre a

atitude dos anarquistas frente ao acontecimento russo, onde serão

combatidos pelo governo de Lênin. (SPÁRTACUS, nº 11, 11/10/1919, p.

1).

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- 153 -

Concordando com Bakunin, Spártacus propaga que “de um

lado, o Estado, de outro, a revolução social”.

Referências

1. Jornais

Jornal Spártacus

nº 1, 02/08/1919;

nº 2, 09/08/1919;

nº 3, 16/08/1919;

nº 4, 23/08/1919;

nº 5, 30/08/1919;

nº 6, 06/09/1919;

nº 7, 13/09/1919;

nº 8, 20/09/1919;

nº 9, 27/09/1919;

nº 10, 04/10/1919;

nº 11, 11/10/1919;

nº 12, 18/10/1919;

nº 13, 25/10/1919;

nº 14, 01/11/1919;

nº 15, 08/11/1919;

nº 16, 15/11/1919;

nº 17, 22/11/1919;

nº 18, 29/11/1919;

nº 19, 06/12/1919;

nº 20, 13/12/1919;

nº 21, 20/12/1919;

nº 22, 27/12/1919;

nº 23, 03/01/1919;

nº 24, 10/01/1920.

Jornal A Plebe

nº 3 (diário), ano II, quarta-feira, 10/09/1919.

Page 155: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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- 154 -

2. Bibliografias

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UNICAMP, Campinas, 2005.

Page 157: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

........................

- 156 -

La prensa operaria en Brasil: la importancia de

los periódicos libertarios

“Sopra um vento de revolta em todos os lugares. A revolta é

aqui a expressão de uma idéia, lá o resultado de uma

necessidade; com mais freqüência ela é a conseqüência de

uma mistura de necessidades e de idéias que se engendram e

se reforçam umas às outras. Ela se desencadeia contra a

causa dos males ou a ataca de modo indireto, ela é consciente

e instintiva, humana ou brutal, generosa ou muito egoísta, mas

de qualquer modo, é a cada dia maior e se amplia

incessantemente” (Um Pouco de Teoria, Errico Malatesta,

1892).

La prensa operaria en Brasil se constituye como un

campo de manifestaciones sociales sorprendentes,

principalmente, al resaltar el papel de propagar los ideales

libertarios del movimiento operario. Durante la Primera

República de Brasil, período comprendido entre los años de

1889 y 1930, la prensa fue un órgano de gran importancia en la

lucha por la propagación de los intereses de los trabajadores,

en la divulgación de los ideales del movimiento y sus acciones

políticas, cargando, aun, un carácter didáctico y doctrinario en

lo que se refiere a la autoeducación proletaria. Así, en el

incipiente movimiento operario de Brasil, los anarquistas

fueron los principales participantes de ese movimiento y

produjeron periódicos en esos formatos en que figura como

principal mecanismo de propagación del ideal de

emancipación social. Presentaban alternativas al operario con

ideales que contradecían al orden capitalista vigente,

propagando la necesidad de la huelga general, boicots,

sabotajes como formas de gimnasia revolucionaria.

Originalmente publicado em: Revista Kiebre, Concepción

Talcahuano/Chile, p. 8 - 8, 12 abr. 2013.

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- 157 -

"Derradeiras machadadas" A Plebe, nº 9, 11 de agosto de 1917.

En ese período se destaca la huelga general de julio

1917 en la ciudad de São Paulo, que asumió en la memoria

social el sentido de un acto simbólico y único. En este

escenario, la huelga es entendida como la expresión de las

precarias vidas de los trabajadores, siendo el principal

acontecimiento de convulsión social de la década de 10 en

Brasil. En este suceso, la prensa tuvo un papel elemental al

incentivar, reproducir y manifestar, a través de palabras

directas, profundas y de fácil comprensión, los sentimientos

libertarios de una sociedad marcada por la explotación del

hombre por el hombre rumbo a la revolución social.

La Plebe (1917 – 1954), por ejemplo, periódico que

circulaba quincenalmente (siendo aun diariamente, por un

Page 159: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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- 158 -

corto período de tiempo) no vehiculaba textos herméticos e no

era escrito por aristócratas del saber. Ese periódico se

constituyó como un propagador de educación libertaria. Fue

hecha POR y PARA trabajadores, militantes y se articulaba

con los grupos de asociación, centros operarios, gremios de

trabajadores, ligas de resistencia, sindicatos combativos, etc.

En esta perspectiva, la prensa libertaria es entendida como

producto cultural capaz de formar una red de transmisión de

ideas, saberes y prácticas para la transformación social.

Pero, la circulación de esos periódicos cayó en la

represión del Estado. Acuerdos entre el Estado y el patronato

fueron esenciales para la creación de leyes que tenían el

objetivo de finalizar las fuerzas del movimiento operario,

haciendo expulsiones, persecuciones, prisiones, etc. Por

ejemplo, el año 1907 la política represiva del Estado se

fortificó. Tal represión materializada, por ejemplo, en la Lei

Adolfo Gordo, propuesta por el Diputado Adolfo Gordo y

aprobada el año 1907 es un ejemplo elemental, pues esa ley

preveía la expulsión de extranjeros que estuvieran ligados al

movimiento operario de la época.

Siendo así, tenemos como ejemplo, algunos

periódicos de gran importancia: A Lanterna, Terra Livre, A

Guerra Social, O Combate, Ação Libertária, La Barricata, La

Battaglia, A Voz do Trabalhador, Jerminal, Germinal, Ação

Direta, Spártacus, Guerra Sociale, etc. Estos periódicos son

ejemplos claros de los vínculos del movimiento de los

trabajadores con la lucha propagada de aquellos, resaltando el

papel de la prensa: profundizar las formas y métodos de

organización, con el propósito de potencializar el proceso de

transformación social.

Algunos individuos también merecen destaque en la

producción de esos periódicos. Por ello, resalto y cito la

importancia de libertarios como Edgard Leuenroth, José

Oiticica, Oresti Ristori, Gigi Damiani, Giovanni Rossi,

Malvina Tavares, Ana Aurora, Hermínio Marcos, Avelino

Fóscolo, Maria Lacerda de Moura, Fábio Luz, Neno Vasco,

Page 160: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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Astrojildo Pereira (hasta entonces anarquista y que,

posteriormente, se volverá bolchevique), Domingos Passos,

Everardo Dias, Antônio Candeias, João Penteado, Adelino

Pinho, Florentino de Carvalho y muchos otros. Ellos son

importantes partícipes de ese medio de comunicación,

contribuyendo con las “extremas rajaduras” en la sociedad

burguesa que se compone por reproducir la iniquidad moral y

económica, la explotación del trabajo, el culto a la autoridad y

violencia psíquica.

Actualmente, la mayoría de esos periódicos se

encuentra conservada y están en manos del Estado, a través de

sus instituciones burocráticas universitarias que los apartan de

la población, siendo hasta prohibida su divulgación completa

por la internet. El acceso está restricto a los círculos

académicos que producen obra, en su mayoría conservadora,

utilizándolas como fuente primaria de investigación. La prensa

libertaria no debería salir de donde surgió: de las manos de los

trabajadores y militantes libertarios.

Page 161: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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- 160 -

O sindicalismo revolucionário como estratégia dos

Congressos Operários (1906, 1913, 1920)*

O objetivo deste texto é identificar e caracterizar a

perspectiva de organização proletária assumida nos Congressos

Operários de 1906, 1913 e 1920 na cidade do Rio de Janeiro.

Objetiva-se ainda explicitar as mudanças entre as concepções

assumidas nesses três congressos (o primeiro realizado entre

15 a 22 de abril de 1906; o segundo de 8 a 13 de setembro de

1913 e o terceiro congresso de 23 a 30 de abril de 1920),

mostrando as similitudes e diferenças assumidas ao longo

dessas duas décadas que separam esses congressos.

Tem-se como elemento norteador desse texto a

estratégia utilizada pela classe trabalhadora que tem

representado um acúmulo de experiências para os teóricos,

compondo uma forma de autogestão social. A derrocada do

sindicalismo revolucionário mostrou mais uma vez a força

voraz do Estado de cooptar, reprimir e por fim à luta dos

trabalhadores, sendo um inimigo da autoemancipação dos

trabalhadores.

Este texto terá como fontes primárias as Resoluções

dos dois primeiros Congressos Operários reunidas na obra

Classe Operária no Brasil (1889 – 1930). Documentos – Vol 1.

O Movimento Operário de Paulo Sérgio Pinheiro e Michael

Hall78, além do Boletim da Comissão Executiva do 3º

Congresso Operário de agosto de 1920 disponíveis no Arquivo

Edgard Leuenroth da UNICAMP e alguns números do Jornal A

* Esse texto sofreu algumas alterações após sua publicação original. Para

ver a primeira versão, acesse: Revista Enfrentamento, ano 7, nº 12,

ago./dez. 2012.

78 PINHEIRO, P. S.; HALL, M. A Classe Operária no Brasil (1889 –

1930) - Documentos – Vol 1. O Movimento Operário. São Paulo: Alfa-

Omega, 1979.

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- 161 -

Voz do Trabalhador, órgão da Confederação Operária

Brasileira, também disponível ao público nesse centro de

documentação.

O Primeiro Congresso Operário, realizado entre os

dias 15 e 22 de abril de 1906 deu um passo significativo para a

organização do sindicalismo revolucionário no Brasil fruto do

“ascenso do movimento operário revolucionário” (SAMIS,

2004, p. 135). Porém, essa não foi a primeira organização de

trabalhadores no Rio de Janeiro e no Brasil. Conforme Oscar

Farinha Neto aponta, após as greves de 1903 na capital federal

surge uma necessidade de criação de um órgão que

“coordenasse o movimento das diversas classes trabalhadoras”

(NETO, 2007, p. 21). E dessa necessidade irá surgir, neste

mesmo ano, a Federação das Associações de Classe, cujo

modelo de organização era inspirado no sindicalismo na versão

de Émile Pouget, então secretário-geral da CGT francesa79.

Essa nascente federação já contava com as bases

pilares do que será a COB posteriormente: o

internacionalismo. Com as influências da FORA (Federação

Operária Regional Argentina) – de bases anarco-sindicalistas –

a federação passa-se a chamar Federação Operária Regional

Brasileira, com forte influência anarquista e que terá a

possibilidade de uma reunião geral (Congresso) no ano de

1906.

Esse Congresso, chamado primeiramente de

Congresso Operário Regional Brasileiro80, contou com a

participação de 43 delegados de vários estados do Brasil

representando as 28 associações de trabalhadores. Em

deliberação, aprovou-se a filiação (muito mais uma

79 Confederação Geral do Trabalho.

80 De acordo com Samis (2004, p. 135), foi a comissão de redação das

deliberações finais do congresso que deu o nome do encontro de Primeiro

Congresso Operário Brasileiro, já que se tratava de um Congresso nacional

e não regional.

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- 162 -

continuação) das teses do congresso ao modelo do

sindicalismo revolucionário francês81.

Do Congresso que surgirá a COB (oficialmente em

1908) está próximo aos moldes do anarco-sindicalismo da

FTRE (Federación de Trabajadores de la Región Española)

fundada em 1881 advinda da FRE (Federación Regional

Española) de 1870 (CORRÊA, 2012, p. 218). Nesse congresso

foi deliberado que não ocorreria nenhuma vinculação a

partidos (ou a um modelo ou diretriz proletária), sendo que o

congresso via “como ’única base sólida de acordo e de ação’

os interesses econômicos comuns a toda classe operária”

(DULLES, 1977, p. 27). É compreendendo a realidade operária

como uma interpretação do passado que a COB reafirmaria

suas bases sem uma doutrina política única a ser seguida.

Porém, há de ressaltar que os militantes anarquistas não eram a

maioria, mas apesar disso, compunham a hegemonia do

pensamento no interior do Congresso. De fato, isso não nos

autoriza a dizer que o Primeiro Congresso Operário defendeu o

anarco-sindicalismo ou o anarquismo. O Primeiro Congresso,

como veremos adiante, assumirá o sindicalismo revolucionário

e não, o anarco-sindicalismo.

Nos liames da compreensão do método federativo

como “o único método de organização compatível com o

irreprimível sentimento de liberdade”, o tema 3 das bases do

Congresso, que tocava no assunto da organização, definia a

federação como:

(...) a mais larga autonomia do indivíduo no

sindicato, do sindicato na federação e da

federação na confederação e como unicamente

admissíveis simples delegações de função sem

autoridade, e delibera, outrossim, fazer as

necessárias práticas para a sua fundação (...).

81 De acordo com Pinheiro e Hall (1979, p. 41): “o Congresso de 1906

mostra a clara influência do sindicalismo revolucionário: há mesmo uma

menção ao operariado francês como ‘o modelo de atividade e iniciativa ao

trabalhador brasileiro’”.

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- 163 -

Delibera também que a Confederação só

admita sindicatos cuja base essencial seja a

resistência sobre o terreno econômico

(PINHEIRO e HALL, 1979, p. 49).

No tocante à Ação Operária, o Congresso aprovaria

uma das bases pilares do sindicalismo revolucionário: a ação

direta. A ação direta era composta por diversas ações,

destacando-se a greve geral ou parcial, o boicote, a sabotagem,

etc.

SOBRE AÇÃO OPERÁRIA

Tema 1

“(...) o Congresso aconselha como meios de

ação das sociedades de resistência ou

sindicatos todos aqueles que dependem do

exercício direto e imediato de sua atividade,

tais como a greve geral ou parcial, a

boicotagem, a sabotagem, o label, as

manifestações públicas, etc., variáveis segundo

as circunstâncias de lugar e de momento”

(idem, 1979, p. 51).

Ainda de acordo com as Bases do Acordo da

Confederação Operária Brasileira, aprovadas pelo Congresso,

dever-se-ia constituir um jornal que levasse a cabo as lutas dos

trabalhadores. Nesse sentido, o objetivo de criar o jornal A Voz

do Trabalhador (nome já definido no Primeiro Congresso),

seria o de “estudar e propagar os meios de emancipação do

proletariado e defender em público as reivindicações

econômicas dos trabalhadores (...)” (idem, p. 42).

O JORNAL

O órgão da Confederação será redigido por

uma comissão escolhida entre os seus membros

e pela Comissão Confederal e publicará,

segundo esta ordem, de preferência:

1.°) Informações sobre o movimento operário e

associativo;

a) Resumo das resoluções das sociedade

aderentes;

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- 164 -

b) Convocação e avisos das sociedades

aderentes;

c) Artigos que a redação considerar contidos

nos limites marcados pelas presentes bases de

acordo, assim como redigidos de modo

compreensível, e isentos de questões pessoais.

11 – O Congresso dirá, cada ano, se a redação

do jornal correspondeu à confiança nela

depositada (idem, p. 43).

O jornal A Terra Livre, que tem Neno Vasco como

principal editor, no número de 13 de agosto de 1906 irá

ressaltar que

A Internacional, desfeita por causa das lutas de

partido no seu seio, deve ser memorável lição

para todos. Se o Congresso tivesse tomado um

caráter libertário, teria feito obra de partido,

não de classe. (...) Mas se o Congresso se não

foi, a vitória do anarquismo, foi, porém,

indiretamente útil à difusão das nossas ideias

(A TERRA LIVRE apud RODRIGUES, 1969,

p. 131).

Dessa forma, o Congresso não se definiu como

anarquista, mas assumiu um caráter revolucionário de bases

sindicalistas. A outra grande preocupação do Primeiro

Congresso Operário Brasileiro foi “a transformação de todas as

entidades operárias em sindicatos de ofício, cujos objetivos

seriam a defesa dos interesses econômicos e a resistência”

(SEGATTO, 1987, p. 38).

É importante ressaltar que durante toda a Primeira

República do Brasil, a imprensa operária foi um importante

órgão da propaganda libertária. Nesse âmago, o periódico A

Voz do Trabalhador circulou de 1908 até 1915 e era a

publicação oficial da Confederação Operária Brasileira,

(SILVA, s/d, p. 13) sob a direção do operário gráfico espanhol

Manuel Moscoso.

Entendemos então que foi com o Primeiro Congresso

Operário Brasileiro, que iria constituir a COB (Confederação

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- 165 -

Operária Brasileira) se instituiu um modelo organizativo

revolucionário que naquele período foi de suma importância ao

movimento operário revolucionário: o sindicalismo

revolucionário. Todas as teses básicas do sindicalismo

revolucionário – neutralidade sindical, federalismo,

descentralização, antimilitarismo, ação direta, greve geral,

antinacionalismo, violência revolucionária, etc. estão contidas

nas declarações dos congressistas (NETO, 2007, p.26). Dessa

forma, de acordo com Edgar Rodrigues, quando vem à tona

esse novo tipo de sindicalismo ocorre uma substituição do

sindicalismo de caráter reformista.

O sindicalismo reformista e possibilista dava

lugar a um novo movimento operário de cariz

revolucionário que, sem desprezar as

reivindicações econômicas imediatas,

introduziu novos objetivos como a instrução e

a capacitação profissional, a cultura de seus

associados através do esperanto, do

conhecimento da história social e da filosofia.

(...) O jornalismo, o teatro amador de

contestação e a poesia, eram alguns dos meios

usados pelo movimento operário para construir

a sua própria cultura, tendo por meta o ideal

social de autogestão Seu objetivo era provocar

a derrocada do Estado, acabar com o regime de

pobres e ricos, de exploradores e explorados,

para reconstruir em cima das ruínas do velho

sistema burguês uma Sociedade Nova,

autogerida, onde todos tivessem direitos e

deveres iguais. Estes temas começaram a ser

frequentemente tratados na imprensa operária e

social, tornando-se uma verdadeira escola para

os trabalhadores ligados a este sindicalismo

autônomo (RODRIGUES, 1997, s/p).

Muitos autores ao longo de suas produções

confundiam ou colocavam o anarco-sindicalismo como

sinônimo de sindicalismo revolucionário. Felipe Corrêa e

Alexandre Samis fazem uma análise mais detida e que

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aprofunda essa discussão, não desvinculando um ou outro ao

anarquismo, mas as analisando enquanto estratégias do

anarquismo. Para o autor “o sindicalismo revolucionário nunca

se colocou, explícita e conscientemente, em vínculo com o

anarquismo” (CORRÊA, 2011, p. 83). Porém, isso não deixa

de vincular o anarquismo ao sindicalismo revolucionário.

o sindicalismo revolucionário é uma estratégia

do anarquismo – um vetor social -, que foi

impulsionada determinantemente pelos

anarquistas, ainda que tenha tomado corpo em

todo um contingente popular amplo de

anarquistas e não-anarquistas, corpo esse que

constituiu sua verdadeira base, e faz com que

não seja possível atribuir completamente o

fenômeno do sindicalismo revolucionário aos

anarquistas (idem, p. 83).

O autor ainda continua:

O que diferencia esse sindicalismo

revolucionário do anarco-sindicalismo é que o

primeiro nunca se vinculou explicitamente e

conscientemente ao anarquismo,

diferentemente do segundo (idem, p. 83).

Assim, entende-se que uma organização anarco-

sindicalista tem em suas bases, os princípios anarquistas; e

uma organização sindicalista revolucionária, no caso o

sindicato, não tinha nas suas bases apenas aos princípios

anarquistas82. Esta última, deveria ter o acúmulo de forças para

“ser uma associação da classe trabalhadora, abarcando dentro

de si quaisquer trabalhadores que, na condição de assalariados,

e tendo em comum as necessidades econômicas, poderiam

82 A diferenciação não está meramente na questão de vínculo de suas bases

ao anarquismo. O anarco-sindicalismo vincula consciente, explícita e

programaticamente o sindicato ao anarquismo. Assim, o anarquismo se

torna a "doutrina oficial" do sindicato.

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- 167 -

utilizar a ação direta como meio de luta” (idem, p. 135).

Porém, é interessante dizer que os sindicatos foram um

importante espaço de militância para os anarquistas nas

décadas de 1900, 1910 e 1920 no Brasil, mas nunca o único

espaço de organização. Afirmar isso seria negar toda a

construção histórica de estratégias de luta que o anarquismo

construiu ao longo de suas lutas e seria, no mínimo, um

reducionismo com grandes consequências.

Ao analisar o Primeiro Congresso, Alexandre Samis

cita o português e anarquista Neno Vasco, que afirmara: “O

Congresso não foi, de certo, uma vitória do anarquismo. Não o

devia ser. (...) Se o Congresso tivesse tomado caráter libertário

[querendo dizer, anarquista], teria feito obra de partido, não

de classe” (SAMIS, 2002, p. 196) [observação e grifo nosso].

No ano de 1912, após a organização do chamado

Congresso Pelego feito por Mário da Fonseca, filho do

presidente da República Hermes da Fonseca, a Federação

Operária do Rio de Janeiro nomeou a Comissão

Reorganizadora da COB com o intuito de rearticular a

formação do Segundo Congresso Operário que aconteceria em

setembro do próximo ano. De acordo com o historiador

Alexandre Samis, deste Congresso que contou com a

participação de duas federações estaduais, cinco federações

locais e mais de cinquenta sindicatos, quatro jornais (A Voz do

Trabalhador, do Rio de Janeiro; A Lanterna, de São Paulo;

Germinal, de São Paulo e O Trabalho de Bagé, Rio de

Janeiro), ligas e associações do país, a “representatividade

havia crescido e, na sua grande maioria, as propostas do

Primeiro Congresso foram corroboradas pelas plenárias de

1913” (SAMIS, 2004, p. 137). No entanto, o cerne das

discussões deste Congresso girava em torno das questões de

cooperativismo, carga horária diária de trabalho, salário

mínimo, bolsas de trabalho e principalmente, do modelo

organizativo, afirmando mais uma vez o sindicalismo

revolucionário.

Os Temas

Page 169: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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- 168 -

Tema 1

(...) O Segundo Congresso Operário Brasileiro,

mesmo tendo em conta a devida liberdade de

preferências e de ação política dada aos

sindicatos fora do sindicato, convida a classe

trabalhadora do Brasil a, repelindo a influência

dissolvente da política, dedicar-se à obra da

orgabização operária sindicalista, que,

considerada dentro da ação operária, é o meio

mais eficaz e mais poderoso para a conquista

de melhoras imediatas de que necessita para o

fortalecimento da luta para a sua completa

emancipação (PINHEIRO e HALL, 1979, p.

188).

De salutar importância é ressaltar que o Segundo

Congresso aprovou um vínculo direto da organização com o

anarquismo (anarco-sindicalismo, portanto), mas essa

resolução nunca foi implementada, deixando as bases

resolutivas do Congresso mantidas, confirmando as mesmas

resoluções do Primeiro Congresso com algumas alterações de

conjuntura, época, etc. (PINHEIRO e HALL, 1979, p. 188).

No limiar das discussões sobre o papel do Congresso,

o que e como os trabalhadores deverão se organizar, surge a

questão das bolsas de trabalho. Estas bolsas estavam em

discussão pelo caráter quase integral que alguns militantes

tinham na COB. Assim, definiu, por negar o funcionalismo

burocrático. Assim,

o Segundo Congresso Operário Brasileiro

entende que a obra essencial e primária da

organização é a resistência e a propaganda e

que, por isso, a instalação de bolsas de trabalho

não deve nunca embaraçar a ação de

resistência, devendo o serviço de colocação ser

feito pelas próprias comissões administrativas

dos sindicatos, para se evitar o funcionalismo

burocrático (idem, p. 194).

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- 169 -

As bases definidas no Segundo Congresso são mais

eficazes e mais claras no que diz respeito à propaganda e à

educação para os trabalhadores. Além da questão das bolsas de

trabalho, instituiu-se a retomada de A Voz do Trabalhador, já

que a imprensa operária “é o meio mais eficaz para orientar as

massas populares” (idem, p. 196). É nesse contexto de apoio à

imprensa operária que o trabalho de Maria Nazarteh Ferreira

(1988) tem destaque ao apontar que existiam cerca de 343

títulos de jornais operário no território brasileiro. O

reaparecimento do jornal oficial da COB foi um fator de

ascenso desta organização, já que o próprio jornal era

entendido como “ reflexo de todo o movimento operário do

Brasil” (idem, p. 210).

Retomando as decisões do Segundo Congresso, ficou-

se aprovado ainda na seção Moções de Solidariedade, o caráter

internacionalista da luta pela emancipação humana. Moções de

apoio foram mandadas à trabalhadores do México, CGT da

França, trabalhadores de Portugal e da Espanha, para reafirmar

“o espírito de solidariedade” que deve “estar de perfeito estado

para todos os trabalhadores do globo” (idem, p. 202). Esta rede

de solidariedade internacional daria cabo à criação no de 1915

do Congresso Internacional da Paz e ao Congresso Anarquista

Sul-Americano, sendo que este último tinha o papel de “clivar

diferenças sensíveis entre o sindicalismo e o anarquismo”

(SAMIS, 2004, p. 138).

Continuando ainda os apoios, na Terceira Parte do

Relatório da Confederação Operária Brasileira, veicula-se uma

homenagem para Francisco Ferrer y Guardia, anarquista

espanhol que foi fuzilado em 13 de outubro de 1909 pelo

governo espanhol. Ferrer, o criador das Escolas Modernas foi

caracterizado como um “homem que soube num decênio de

penoso estudo constituir um exército de homens educados nos

mais elevados sentimentos de solidariedade” e assim, “grande

foi o abalo sentido pelo operariado consciente do Brasil”

(idem, p. 210). Ainda destaca-se a decisão de recusar fórmulas

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........................

- 170 -

burocráticas nos estatutos sindicais, além de reafirmar a

propaganda anti-militarista e do internacionalismo.

Afirma Pinheiro e Hall (1979, p. 172),

O Congresso Operário de 1913 continuava a

linha adotada pelo Congresso de 1906 (...). A

linguagem é algumas vezes mais militante do

que a do congresso anterior, e há alguns toques

bastante ecléticos (como no tema 10), mas o

teor geral continua a ser sindicalista-

revolucionário, como em 1906. O folheto do

congresso, que vai reproduzido abaixo,

juntamente com as resoluções, também inclui

informação sobre a preparação do congresso, e

um pequeno histórico da Confederação

Operária Brasileira (COB), que permitem

compreender melhor o significado do

congresso.

Cerca de um ano pós o Segundo Congresso Operário,

no número 63 datado de 1º de outubro de 1914, o jornal A Voz

do Trabalhador publicava uma apelo aos trabalhadores para se

manifestarem novamente contra a Guerra Mundial. Neste

número, o texto A Internacional Operária Contra a Guerra

reafirmava o caráter internacionalista dos pressupostos

defendidos pelo jornal e reafirmados no Segundo Congresso.

Diversas organizações operarias, atendendo ao

apelo da Confederação Operaria Brazileira,

realizaram em suas sédes, no dia 13 de

setembro findo, comícios e sessões de protesto

contra a atual conflagração europeia de

solidariedade para com o operariado de todos

os paizes em luta! Em diversas cidades, como

no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo,

Santos, etc., a policia, zelosa no apoio aos

opressores das classes trabalhadoras, não

permitiu a efetuação das manifestações

operarias nem mesmo na séde de suas

associações! Abaixo a tirania burgueza!

Abaixo a guerra! Viva a solidariedade

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........................

- 171 -

universal! (A VOZ DO TRABALHADOR, nº

63, 1º de outubro de 1914, p. 1).

Outro elemento recorrente na imprensa da COB era os

apelos pela paz mundial. A Primeira Guerra Mundial que

assolava a Europa tinha ecos no Brasil e aqui, o jornal A Voz

do Trabalhador fazia apelos contra o militarismo. No número

de 7 de abril de 1915, vem em destaque no artigo Pela Paz – O

grande comício de hoje que esse movimento “de carater

essencialmente internacional,a ajitação de hoje constituirá a

primeira grande manifestação publica a favor da paz, contra a

guerra”. E ainda, “insistimos vivamente para que nenhum dos

nossos amigos deixe de, com sua prezença, contribuir para a

impotencia a significação da manifestação” (A VOZ DO

TRABALHADOR, nº 69, p. 2).

Na Europa o bolchevismo tornava-se vitorioso,

colocando abaixo, via repressão, os conselhos operários. Tais

acontecimentos tiveram ressonâncias em todo o mundo,

causando o processo de criação de Partidos Comunistas, como

por exemplo, o PCB. No caso específico do Brasil, vários

militantes anarquistas irão arregimentar a justificativa do

bolchevismo no Brasil83, concordando com as teses da Terceira

Internacional. Isso sem dúvida foi um elemento estruturante

que contribuiu para a derrocada do sindicalismo

revolucionário, se não, do anarquismo no Brasil.

No ano de 1920 organizar-se-á o Terceiro Congresso

Operário Brasileiro que tem algumas particularidades que

remetem a própria dinâmica que o país estava passando: a

transformação do quadro industrial no Pós-Primeira Guerra

Mundial. Conforme Neto (2007) aponta, a “I Guerra Mundial

83 DULLES (1977), diz que Otávio Brandão entrou em conflito com suas

teses (até então anarquistas) e a crescente bolchevique no país, sendo que,

Astrojildo Pereira, militante que deixou as correntes anarquistas para

defender o bolchevismo, lhe forneceu livros que justificasse que o

bolchevismo não era reformista. Para maior aprofundamento ver Dulles

(1977); Samis (2002).

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- 172 -

criou condições favoráveis ao rápido crescimento da indústria

brasileira” (idem, p. 14). Além disso, vários acontecimentos,

como por exemplo, as greves de 1917, sobretudo a Greve

Geral de julho84 na cidade de São Paulo e suas ressonâncias,

foram elementares para a nova dinâmica da COB.

De acordo com o Boletim da Comissão Executiva do

3º Congresso Operário, as questões do contexto são passíveis e

necessárias de serem analisadas. Vejamos:

O 3º C.O.B., tendo em vista as condições

particulares aos meios operarios do Brazil,

reaffirma em suas linhas geraes as declarações

feitas nos Congressos de 1906 e 1913; por

outro lado, porém, examinando e ponderando a

situação historica de facto em que se encontra o

proletariado mundial neste momento, julga

necessário estabelecer, em termos precisos, um

criterio fundamental, positivo e realista, pelo

qual deverão orientar-se todas as organizações,

todas as lutas, todos os esforços dos

trabalhadores do Brazil (Boletim da Comissão

Executiva do 3º Congresso Operário, Ano I, nº

I, agosto de 1920).

Assim, de acordo com Samis (2004, p. 139), o

Terceiro Congresso realizado em 1920, defendeu a prioridade

da sindicalização por indústrias, em “detrimento da

organização por ofícios”, sendo que as decisões dos congressos

anteriores são reafirmadas com certas questões particulares do

próprio contexto. Essa resolução que aprovara a preferências

pelos sindicatos de indústria em detrimento dos de comércio é

bastante clara. Essa substituição reflete as alterações

tecnológicas em curso, pois “preconizava a organização de

sindicatos de indústria, em lugar dos sindicatos de ofício”

(NETO, 2007, p. 14).

84 Para este intento, cf. LOPREATO, C. R. O Espírito da Revolta: a greve

geral anarquista de 1917. São Paulo: Annablume/FAPESP, 2000.

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- 173 -

Outro elemento específico de declínio do sindicalismo

cobista vem na década de 1920. O brasilianista Jhon W. Foster

Dulles afirma que a Liga Operária da Construção Civil de São

Paulo propôs ao Terceiro Congresso que se filiasse a Terceira

Internacional, caso que não ocorreu por posições de Astrojildo

Pereira (este se vinculará ao bolchevismo posteriormente) e

Edgard Leuenroth85. Porém, a decisão do Congresso foi o de

“transmitir seus ‘votos de felicidade ao importante

acontecimento de Moscou, cujos princípios ferais

verdadeiramente correspondem às aspirações de liberdade e

igualdade dos trabalhadores de todo o mundo’” (DULLES,

1977, p. 113). No entanto, a criação do PCB em 1922 e as

disputas entre anarquistas e bolchevistas sob o controle dos

sindicatos de resistência, que resultaram no conflito entre

diversas federações, foi fator crucial de derrota do sindicalismo

revolucionário. Concomitantemente, a constante repressão do

Estado favoreceu para esta derrocada.

Por fim, compreende-se que os Congressos Operários

foram assumidamente sindicalistas revolucionários, compostos

por princípios que não são exclusivamente anarquistas. O

sindicato que representava um espaço de luta do proletariado

se tornou um empecilho e um amortecedor do conflito

capital/trabalho. Essa conjuntura sócio-histórica tem algumas

particularidades: a veemência repressiva do Estado, por

exemplo, na terceira reformulação da lei Adolfo Gordo, de

1921, que previa a deportação dos indesejáveis (anarquistas,

principalmente), a constância de deportações para Clevelândia

(colônia penal situada no situada no atual estado do Amapá,

entre 1924 e 1926) (SAMIS, 2002), a constância de invasões e

85 Em O Operariado do Brasil e a situação internacional proletária, vê-se:

“I – Declarar a sua espectativa sympathica em face da 3ª Internacional de

Moscou, cujos principios geraes correspondem verdadeiramente as

aspirações de liberdade e igualdade dos trabalhadores de todo no mundo

(Boletim da Comissão Executiva do 3º Congresso Operário, Ano I, nº I,

agosto de 1920, p. 15).

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- 174 -

prisões de redatores de jornais libertários, etc. Além disso,

havia também um refluxo das lutas sociais após a

contrarrevolução burocrática da Rússia, o processo de

bolchevização das organizações sociais atreladas ao seu natural

burocratismo (por exemplo, a eminência da vanguarda).

Assim, a força do burocratismo estatal dos sindicatos

e, sobretudo, com a ascensão do Partido Comunista do Brasil

na década de 20 e das medidas do governo getulista marcaram

o caminhar a passos largos para o enfraquecimento, senão, para

o fim do sindicalismo de bases revolucionárias para se tornar

um local a ser combatido. Combater os sindicatos hoje se torna

um passo importante para o fim da sociedade de classes.

FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CONGRESSO OPERÁRIO. Ano I, nº I, agosto de 1920.

CORRÊA, Felipe. Ideologia e Estratégia: anarquismo,

movimento sociais e poder popular. São Paulo: Faísca, 2011.

CORRÊA, Felipe. Rediscutindo o anarquismo: uma

abordagem teórica. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-

graduação em Mudança Social e Participação Política da

Universidade de São Paulo. São Paulo, 2012.

DULLES, J. W. F. Anarquistas e Comunistas no Brasil (1900

– 1935). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.

FERREIRA, Maria Nazareth. Imprensa Operária no Brasil.

São Paulo: Ática, 1988.

Jornal A VOZ DO TRABALHADOR, Órgão da Confederação

Operária Brasileira. Ano VII, nº 63, 1º de outubro de 1914.

Jornal A VOZ DO TRABALHADOR, Órgão da Confederação

Operária Brasileira. Ano VIII, nº 69, 7 de abril de 1915.

NETO, Oscar Farinha. A Atuação Libertária no Brasil: A

Federação Anarco-Sindicalista. Rio de Janeiro: Achiamé,

2007.

Page 176: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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PINHEIRO, P. S.; HALL, M. A Classe Operária no Brasil

(1889 – 1930) - Documentos – Vol 1. O Movimento Operário.

São Paulo: Alfa-Omega, 1979.

RODIGUES, Edgar. Trabalho e Conflito. Pesquisa 1906 –

1937. Rio de Janeiro: Arte Moderna, s/d.

RODRIGUES, Edgar. Pequena história da Imprensa Social no

Brasil. Florianópolis: Insular, 1997.

RODRIGUES, Edgar. Socialismo e Sindicalismo no Brasil –

1675 – 1913. Rio de Janeiro: Laemmert, 1969.

SAMIS, Alexandre. Minha Pátria é o Mundo Inteiro: Neno

Vasco, o anarquismo e o sindicalismo revolucionário em dois

mundos. Lisboa: Letra Livre, 2009.

SAMIS, Alexandre. Pavilhão negro sobre pátria oliva:

sindicalismo e anarquismo no Brasil. In: COLOMBO, Eduardo

(orgs.). História do Movimento Operário Revolucionário. São

Paulo: Expressão e Arte & Imaginário, 2004.

SAMIS, Alexandre. Clevelândia: anarquismo, sindicalismo e

repressão política no Brasil. São Paulo: Imaginário, 2002.

SEGATTO, José Antonio. A Formação da Classe Operária no

Brasil. São Paulo: Mercado Aberto, 1987.

SILVA, J. O Nascimento da Organização Sindical no Brasil e

as Primeiras Lutas Operárias (1890-1935). S/d.

VASCO, Neno. Concepção Anarquista do Sindicato. Porto:

Afrontamento, 1984.

Page 177: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

........................

- 176 -

Nas páginas da Imprensa da Primeira República:

os poemas anticlericais em A Lanterna

Resumo: As transformações ocorridas no processo de

modernização no início do século XX no Brasil,

especificamente na região sudeste, potencializaram o

crescimento e a necessidade da imprensa, trazendo a

propagação de novas formas sociabilidade entre a população

paulistana, principalmente entre os operários. Nesse contexto

surge o periódico A Lanterna, criado por Benjamin Motta em

1901. Esse texto tem o objetivo de analisar nesse periódico

alguns poemas veiculados entre os anos de 1901 e 1916,com

temáticas anticlericais, apresentando também as

transformações ocorridas entre as suas duas primeiras fases.

Palavras-chave: Imprensa Libertária, Primeira República, A

Lanterna, anticlericalismo.

Introdução

Como afirma Alexandre Samis (2002, p. 21), os

jornais são fundamentais para analisar a conjuntura política,

social e simbólica da Primeira República do Brasil. A imprensa

se firmara em um campo conflituoso no período de ascensão

da classe trabalhadora e mais, confirmou a partir da imprensa

operária o lócus de manifestação e ação dessa classe

insurgente. E é nesse ínterim que “a cultura libertária tinha seu

principal conteúdo revolucionário”: o combate à moral vigente

(SAMIS, 2002, p. 32).

Ligada ao cotidiano citadino da Primeira República

do Brasil, a imprensa libertária terá profícuas produções no

campo de propagação dos ideais libertários e permanecerá

como um campo de profundidade documental a ser explorado

em suas minúcias. Assim está justificada a necessidade desse

texto: compreender nessa diversificada seleção de fontes

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- 177 -

históricas, as manifestações sociais propagadas pelos poemas

veiculados pelo jornal A Lanterna entre 1901, marco

fundador do jornal, e 1916, momento de paralisação das

publicações do periódico.

A imprensa operária exerceu um papel salutar na

divulgação do movimento operário no Brasil durante a

Primeira República. Fora instrumento de politização e esteve

articulado com as ações dos trabalhadores em seus momentos

de insurgência. Assim, no início do século XX, conforme

aponta Luca (2011, p. 120), o cenário cotidiano das cidades,

sobretudo São Paulo, abrigava uma infinidade de publicações

periódicas. Tamanho foi o crescimento que ao analisar a

Imprensa Operária, Maria Nazareth Ferreira constatou que

entre “o último quartel do século XIX” até as duas primeiras

décadas do século XX, 343 títulos de jornais apareceram no

território brasileiro (1988, p. 14).

É importante salientar que neste período a imprensa

de cunho anarquista também cresceu demasiado, publicando

centenas de periódicos dentre os quais destaca-se: O Amigo do

Povo (1902 criado por Neno Vasco), La Barricata (editado

por Gigi Damiani e Adolfo Felipe em língua italiana), O

Libertário (que surgiu em 1904 e foi editado por Neno Vasco,

Manuel Moscoso e Everardo Dias), La Battaglia (criado em

1904 dos editores Gigi Damiani e Oresti Ristori publicado em

língua italiana), O Despertar (1904 em Curitiba), A Terra

Livre (1905 por Neno Vasco), A Lucta Operaria (publicada

pela Federação Operária de São Paulo), etc.

Em meio a esse emaranhado de publicações, surge em

1901, o periódico A Lanterna, órgão da Liga Anticlerical de

São Paulo. Devido à complexidade dessa fonte histórica,

limitaremos a analisar os poemas que veicularam nas páginas

desse periódico no recorte temporal entre 1901 e 1916. As

fontes aqui utilizadas (os jornais A Lanterna) se encontram

disponíveis no Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) que fica nas

dependências do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

(IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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- 178 -

Algumas perguntas nortearão nosso texto: onde se

inseria a imprensa libertária na imprensa operária no Brasil?

Em que contexto surge o periódico A Lanterna? Que

pressupostos eram veiculados em suas páginas? Buscando

responder a essas questões, iniciaremos o texto apresentando

de maneira geral onde se insere temporalmente e

espacialmente o periódico aqui estudado, posteriormente, as

fases do jornal e, por último, uma análise dos poemas aqui

figuravam e compunham o jornal que caminhou de uma luta

anticlerical à perspectiva anticlerical libertária.

Antes de qualquer coisa, devemos deixar claro que

“documento algum é neutro, e sempre carrega consigo a

opinião da pessoa e/ou órgão que o escreveu” (BACELLAR,

2011, p. 63), por isso, torna-se necessário contextualiza-lo,

explica-lo e relacionado com seus produtores, indivíduos que

possuem valores e os expressam em suas produções.

Nesse ínterim, A Lanterna desenvolve-se do

anticlericalismo ao anticlericalismo libertário86, de orientação

anarquista. Com o título de A Lanterna - Orgam da Liga

Anti-clerical esteve sediado no Largo da Sé, nº 5, entre os

anos de 1909 a 1916 na Rua Senador Feijó nº 8-b na cidade de

São Paulo. O periódico fundado em 7 de março de 1901,

passou por algumas fases, sendo a primeira, de 1901 a 1902,

retomando em 1903 e continuando até 1904 de caráter

anticlerical sob a direção de Benjamin Motta. Nesse período,

de acordo com Rodrigues (1997, s/p) publicou-se 60 números.

Na primeira fase, A Lanterna efetuava uma

contundente afirmação das pautas anticlericais

e defendia as idéias de progresso, civilização,

86 Apesar do caráter anticlerical de A Lanterna no contexto de seu

surgimento, o anarquismo é veiculado frequentemente alguns anos após.

Por exemplo, em artigo do português Neno Vasco publicado na seção Da

Porta da Europa, o luso anarquista irá apresentar as principais ideias de

Piotr Kropotkin, anarquista russo que irá fazer parte da corrente

denominada de anarco-comunismo. Para mais aprofundamento, cf. A

LANTERNA, nº 171, 25 de dezembro de 1912, p. 2.

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- 179 -

valorização do trabalho produtivo e da

liberdade. Tratava-se de um compromisso com

as causas da modernidade e do progresso, tanto

espiritual (do indivíduo), quanto material e

moral (da sociedade). Preconizava-se a

instrução laica e integral, baseada no

racionalismo, na experimentação, na co-

educação e nas ciências, assim como princípios

morais cívicos, quase evangélicos, sustentados

na fraternidade humana, no altruísmo, na

tolerância, na solidariedade, no apoio e respeito

mútuos(PERES, 2005, p. 2-3).

Na sua segunda fase, entre os anos de 1909 a 1916 (17

de outubro de 1909 a 19 de novembro de 1916), teve uma

mudança na orientação do jornal, que passa a ser de caráter

anticlerical e anarquista sob a direção de Edgard Leuenroth.

Nesse ínterim, contou com a publicação de 293 números com o

subtítulo de Folha anti-clerical e de combate, assumindo uma

conotação eminentemente libertária.

Na segunda fase de publicação, A Lanterna

conservou a maior parte do ideário da primeira

fase, ao mesmo tempo em que destacava a

questão social e acrescentava elementos anti-

religiosos em sua agenda anticlerical. Este

posicionamento provocou o afastamento dos

aliados da primeira fase que não abriam mão da

visão religiosa: parte dos maçons, os espíritas e

os protestantes. Se a aliança com a outra parte

dos maçons foi preservada, o grupo editor

reforçava a aproximação tanto com os

agrupamentos libertários quanto com os

trabalhadores e suas associações de classe.

Neste movimento, os anarquistas e seus aliados

atuavam, para além do jornal anticlerical,

através de iniciativas e ações culturais, em

grupos de afinidade e centros de convivialidade

tipicamente modernos: centros de estudos

sociais, teatros, círculos de leitura, escolas e

universidades populares. Nestes “lugares de

encontro” (ou melhor, lugares de

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........................

- 180 -

aproximação), a relação entre os atores sociais

articulava-se cada vez mais em torno das já

citadas questões sociais. Simultaneamente,

Estado e Igreja puseram-se a campo para

disputar corações e mentes no conjunto da

sociedade, em particular entre os trabalhadores

(PERES, 2005, p.3).

Na sua última fase, com os esforços de Leuenroth, o

periódico é publicado semanalmente dentre julho de 1933 a

fevereiro de 1934. Porém, de fevereiro de 1934 a janeiro de

1935 passa a ser quinzenal.

Em todas as suas fases, o periódico também contou

com ilustrações, charges e fotos, sendo que de acordo com

Gawryszewski (2009, p. 19), a “(...) maioria das imagens era

de fácil entendimento, mostrava os personagem e contextos

sociais que os operários bem conheciam”. Isso sem dúvida era

mais uma forma de propagação dos ideais do jornal além da

forma escrita.

O caráter irônico das charges d’ A Lanterna,

que serviam ao propósito de satirizar a Igreja

Católica, não tinha por intenção depreciar a

Instituição, mas chamar a atenção, para as

formas de atuação do clero junto à sociedade e

o Estado, que percebiam na Igreja uma

instituição política (PINTO, 2010, p. 600).

Outro elemento fundamental era que em suas páginas

é comum encontrar textos assinados por seus editores, porém,

devido ao perigo de represálias, os colaboradores do periódico

só assinavam seus textos com iniciais e/ou pseudônimos87.

87 Por exemplo, Adelino de Pinho publicou no número nº138, de 11 maio

de 1912, o artigo A Invasão Negra utilizando-se do pseudônimo Pinho de

Riga. Destaca-se nesse texto suas ásperas palavras quando afirma que “os

padres e jesuítas de casaca, com suas escolas, seus liceus de artes e ofícios,

suas irmandades, suas lojas e toda a espécie de associações religiosas, têm

uma fábrica irregular para o ministramento da estupidez e da cegueira

moral e intelectual. Daí o apoio e a adesão de todos os que têm empenho

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Tem-se no periódico uma infinidade de colunas diferentes.

Artigos críticos, charges, poemas, notícias de caráter mundial. Não era interesse do jornal questionar tão

somente o papel da Igreja como veículo de

crenças e dogmas, mas também como um

sistema a serviço do poder político e

econômico. Defendia projetos de constituição

de uma sociedade laica. Adepto de um

jornalismo libertário, denunciador de opressões

e privilégios da Igreja Católica, considerava-se

apartidário, colocando-se unicamente a serviço

da emancipação social e política dos menos

favorecidos, em defesa do movimento operário

e, a partir do final do ano de 1933, critica e

opõe-se aos integralistas, denunciando a união

destes com a Igreja (CATÁLOGO DE

PERIÓDICOS, UNESP).

A terceira fase não será analisada aqui, mas

compreende-se pelo período em que Edgard Leuenroth

retomou o periódico no ano de 1933, precisamente em 13 de

julho findando em 1935 quando ocorria uma “conferência de

José Oiticica, agentes do P.C.B. que ali foram para tumultuar”

que “telefonaram para a polícia e esta chegou rápido, para

prender oito anarquistas e fechar o último reduto de resistência

libertária, juntamente com o porta-voz o jornal A Lanterna”

(RODRIGUES, 1997, s/p).

(...) seu foco e visão anárquica concentravam-

se na influência da Igreja Católica no Estado e

na sociedade. Foi principalmente, mas não

somente, um porta voz das ligas anti-clericais

que haviam por todo o país (PINTO, 2010, p.

597).

Ressaltando o caráter anticlerical de todas as

vertentes, a primeira fase do jornal é caracterizada por essa

em manter este miserável estado social, a todas as empresas de caratês

religioso”.

Page 183: João gabriel da fonseca mateus escritos sobre a imprensa operária da primeira república

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- 182 -

congregação de pensamentos díspares que se unificava no

anticlericalismo.

Partindo da adoção de uma agenda anticlerical,

o grupo editor do jornal recebeu influências das

idéias libertárias – através de leituras, de

contatos pessoais ou mesmo da participação no

enfrentamento da questão social –,

incorporando-as até assumir a condição de

órgão de difusão das posições dos grupos

anarquistas em São Paulo. A fundação da

Aliança Anarquista em São Paulo (outubro de

1916), fato amplamente divulgado nas páginas

do jornal anticlerical, corrobora esta mudança

de orientação (PERES, 2005, p. 7).

Nas próprias palavras de seu editor: “o ódio ao

jesuitismo é enorme, não há duvida, e nós folgamos em poder

reunir todos os anti-clericais á sombra da nossa bandeira de

combate” (A LANTERNA, n° 2, 24 de março de 1901, p. 4).

A folha anticlerical mantinha um diálogo com

grupos e pessoas que estavam sob influência do

ideário libertário, alimentando-o com a

bandeira comum de combate ao clero. O jornal

anticlerical propunha-se a discutir diversas

questões com o conjunto da sociedade,

particularmente com os setores mais radicais e

“progressistas” (PERES, 2005, p. 7).

No jornal fixou-se durante várias circulações, as

seções Sezione italiana e Sección Española que reproduzia

através da língua italiana e espanhola os pressupostos do

jornal, assumindo como estratégia a necessidade de leitores.

Nesse caso específico a escolha dessas duas línguas não foi por

acaso e sim, pela necessidade da produção de artigos que os

trabalhadores e demais imigrantes europeus pudessem ter

acesso.

Liga Anti-Clerical – Affirmação de direitos

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........................

- 183 -

Em quanto não forem revogadas as

Constituições Federal e do Estado na parte em

que garante a liberdade de reunião e de

manifestação do pensamento, a Liga Anti-

Clerical e o seu orgam A Lanterna, se

manifestarão dentro da lei, a despeito das

ameaças em perseguições com que quaisquer

verduges procurem aniquilar nossos direitos

cívicos e sagrados (A LANTERNA, 19 de

maio de 1901, p. 1, n 6).

Porém, era corrente na maioria dos poemas da

primeira fase de A Lanterna, o reconhecimento de que as

manifestações contra o clericalismo na sociedade era ação

legal e estava inserido nos direitos dos indivíduos que

compõem a sociedade. Assim, o jornal assumia seu caráter

anticlerical contra as alegações da ação reacionária dos grupos

da elite republicana.

Por mais que os textos escritos forneçam indícios

valiosos para a interpretação de uma realidade social, as

poesias davam um tom estético mais sofisticado e carregado de

metáforas. Além do fácil entendimento destes, o uso de poesias

em periódicos anarquistas no caso específico da Primeira

República eram usuais, por exemplo, no Periódico A Plebe, de

Edgard Leuenroth, que fora uma continuação de A Lanterna.

Para Lopreato (2000, p. 110), as poesias foram um

importante instrumento de instrução da classe operária.

Podemos notar que nas páginas d’A Lanterna as poesias se

constituíram como peça importante do jornal devido sua

conotação de crítica a moral vigente. Assim, analisaremos

algumas destas poesias que se faziam presentes nas páginas do

periódico e estabeleceremos uma interpretação entre o seu

ideário educacional (no sentido amplo do termo) e as referidas

poesias.

De acordo com Alfredo Bosi (1977, p. 142), as

poesias ou meramente a vontade mitopoética de compreender

a natureza e os homens, “foram assumidos e guiados, no agir

cotidiano, pelos mecanismos do interesse, da produtividade”

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pela hegemonia burguesa na compreensão das relações sociais

(por exemplo, a ciência). Para Bosi, as poesias também

formam “(...) a crítica direta ou velada da desordem

estabelecida (vertente da sátira, da paródia, do epos

revolucionário, da utopia)” (BOSI, 1977, p. 145). É pensando

assim que analisaremos alguns epos revolucionários de A

Lanterna. Algumas poesias ao identificar o papel do clero e de

suas posições frente às desigualdades da sociedade no período

apresentam críticas à sociedade de forma contundente nos

liames da poesia como recurso lingüístico. Assim, nas palavras

de Guerra Junqueiro, nota-se críticas ao rememorar um

passado com forma de justificação das desigualdades de um

tempo histórico. Essa noção de justificativa moral e política é

vista através de uma noção de história que é, antes de tudo,

uma escola da vida, chamada por Koselleck (2005, p. 45) ao

lembrar de Cícero, de magistra vitae onde as “histórias são

instrumentos recorrentes apropriados para comprovar doutrinas

morais, teológicas, jurídicas ou políticas”. Vejamos:

Parasitas

No meio a’uma feira, uns poucos de palhaços

Andavam a mostrar em cima d’um jumento

Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem

braços

Aborto que lhe dava um grande rendimento

Os magros histriões, hypocritas, devassos

Exploravam assim a flor do sentimento

E o monstro arregalaes os grandes olhos baços,

Uns olhos sem calor e sem entendimento

E toda a gente deu esmola aos taes ciganos

Deram esmola até mendigos quase sós,

E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,

Eu lembrei-me de vós funâmbulos da Cruz

Que andais pelo universo há mil e tantos annos

Exhibindo, explorando o corpo de Jesus

(A LANTERNA, 17 de outubro de 1909, nº I,

ano IV)

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Ainda utilizando do passado como coleção de

exemplos, A Lanterna, nos escritos A um crucifixo de

Anthero do Quental, dirá que

Há mil anos, bom Cristo, ergueste os magros

braços

E clamaste da cruz: há deus! E olhaste, ó

crente,

O horizonte futuro e viste, em tua mente,

Um alvor ideal banhar esses espaços!

Porque morreu sem eco o eco de teus passos,

E de tua palavra (ó Verbo!) o som fremente?

Morreste... ah! Dorme em paz! Não volvas, que

descrente,

Arrojaras de novo á campa os membros

lassos...

Agora, como então, na mesma terra erma

A mesma humanidade é sempre a mesma

enferma,

Sob o mesmo ermo céu, frio como um

sudário...

E agora, como então, vivas o mundo exangue,

E ouviras perguntar – de que serviu o sangue

Com que resgate, ó Cristo, as urzes do

Calvário?

Anthero do Quental

(A LANTERNA, Ano XII, 22 de março de

1913, n° 183, p. 13)

A utilização da metáfora como recurso lingüístico era

algo recorrente dos escritos do periódico, utilizados geralmente

para dar sentido ao seu discurso libertário analisando as

sociedades do passado, as suas e propondo a ruptura com elas.

Vejamos como na poesia Judas Hodiernos os aspectos

constitutivos da metáfora são trabalhados.

Judas Hodiernos

Eis os Judas de agora, os negros traidores,

Que em nome de Jesus prégam nas cathedraes,

Arrastando a Razão num círculo de horrores,

Creatando os corações no inferno dos míssaes

Eis as irmãs gentis do lubricos amores,

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Que enchem mosteiros mil, que invadem

hospitaes,

Desmaiando na cruz de braços tentadores,

Que lhes abrem, rezando, os frades sensuaes

Devoram-lhes a carne as larvas dos desejos,

Desvaira-lhes o olhar a torpe sensação

Rebenta-lhe na boca a floração dos beijos...

Histriões de batina! Irmãs de branca touca!

Judas sois vós, por que vendeis a Religião,

E-almasde Satanaz! Tendes só Deus na bocca...

S. Paulo-1901

Frei João da Cruz

(A LANTERNA, ano I, nº 3, 6 de abril de

1901, p. 1).

O uso das metáforas presente em Judas Hodiernos de

Frei João da Cruz reafirma ainda que a moral religiosas é por si

uma afronta ao ser humano. Em tal poesia já citada, através de

uma linguagem acessível que utiliza de adjetivos para

caracterizar a sociedade cristão (a ser superada). Assim, A

Lanterna, “ao tratar de forma consistente o anticlericalismo,

usou a denúncia do exercício da sexualidade dos clérigos,

como uma violação da Igreja ao seu próprio código de

conduta” (FERNANDES, 2003, p. 265).

A interpretação da realidade de forma complexa (e

não meramente anticlerical ou econômica) também está

presente nas poesias libertárias publicadas no periódico.

Abaixo temos o exemplo de uma poesia que compreendia a

luta contra o clericalismo, os conflitos sociais, a moral

religiosa e sua respectiva relação com a sociedade. Em

Cautérios IX e Cautérios CI lê-se

Cautérios

IX

(...)

Guincha, bramas, esbraveis,

Lança por toda parte excommunhões,

O desgraçada, ó destruida Igreja,

Dona, outrora, de thronos, de canhões.

Hoje estas morta.Hoje és velha rameira

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Que inda espera de goso bellos dias,

Mas de quem, com ferror, até se esgueira

A amiga, a camarada das orgias.

Beato da Silva

(A LANTERNA, ano X – Nº 70, 11 de

fevereiro de 1911, p. 1)

Cautérios

CI

(...)

Em ver de rostinhos d’anjos

(O diabo a tudo transtorna!)

Nimbados de santidade,

Que a virtude sã exorna,

- Carantonhas de marmanjos,

Facies de torvos bandidos,

Viram nas santas criaturas,

Do Holmes, os olhos sabidos!

P’ra entender-se o sacrilégio,

É preciso que se invoque

O Demo, Decerto era ele

O desalmado Sherlock

Ou então, por sacrilégio,

Com a costumada malícia,

Por confusos e das avessas

O faro e olhar do polícia.

Beato da Silva

(A LANTERNA, Ano XII, 12 de junho de

1913, nº 199, p. 1).

Um elemento de destaque nesses poemas é crítica a

uma moral religiosa cristã. O contexto específico dessas

publicações são momentos de críticas dos anarquistas à moral

cristã. Por isso, vemos a representatividade da imagem do

clérigo como indivíduo sórdido que ao interpretá-lo como

representante de uma instituição amiga das orgias realiza uma

afronta.

Assim, esse refinamento, “pode ser uma tentativa de

contrapor a imagem do desordeiro irracional” que

historicamente fora lançada aos anarquistas escritores e que

nada são além de doadores de sentido (BOSI, 1977, p. 141)

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que voltam, ou ao menos, possibilitam uma volta rápida e não

tão duradoura do direito do poeta de dar nome às coisas

(idem, p. 144).

Quando apresentava a venda de indulgências e suas

formas de mercantilização da fé, a Lanterna em dois poemas

será veemente em suas críticas. Utilizando da analogia como

maneira de dar um peso nas singularidades dos poemas, A

Verdadeira Água Milagrosa Só Na Casa Deus & Filho e Ás

almas pobres criticarão relação entre pecado, salvação e

condições financeiras. Vejamo-las.

A VERDADEIRA ÁGUA MILAGROSA SÓ

NA CASA DEUS & FILHO

...Endireita a espinhela caida,

Extrai callos, reduz fi elmões, prolonga a vida,

Marca a roupa, e sem damno algum e sem

fedor

Torna o cabello e a barba á primitiva cor.

Todos a Casa Deus & Filho! Ao Bazar da Fé!

Grande redução de preços!

(A LANTERNA, 14 de maio de 1910)

Ás almas pobres

O, Manél, ai tens dinheiro

Podes peccar á vontade,

Pois do missas um cargueiro

Vale bem na eternidade.

Mais si és pobre não abuses.

Ficarás no Purgatório!

Não terá do altar as luzes,

Não terás ó intinório.

Lucrecio

A LANTERNA, n. 4, 20 de abril de 1901, p. 2,

ano I

Nessas poesias, o aspecto da diferenças econômicas

entre as classes sociais ficam evidentes. Entendendo as

relações entre a Igreja e as classes sociais dominantes do

período, o aspecto revolucionário aparece ao entender as

singularidades entre as classes sociais e sua necessidade de

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superação, sobretudo nos textos que o jornal publicava (além

das poesias).

Assim, nas palavras de Alfredo Bosi, o objetivo das

poesias estão além de mero rebuscamento teórico: ela

produzem um imaginário, uma ação simbólica.

O que ela não pôde fazer, o que não está ao

alcance da pura ação simbólica, foi criar

materialmente o novo mundo e as novas

relações sociais, em que o poeta recobre a

transparência da visão e o divino poder de

nomear (BOSI, 1977, p. 145).

Acreditamos que, embora não de forma clara, o

caráter anarquista que o jornal assumira foi preponderante para

ressaltar aquilo que já era usual ao pensamento anarquista: a

crítica à autoridade, pois, seja qual for, ela é se não a

materialização das iniquidades do homem sobre o homem. Ou

como afirmara Mikhail Bakunin:

(...) todas las leyes que emanan de un

legislador, sea humano, sea divino, sea

individual, sea colectivo, y aunque fuese

nombrado por el sufragio universal, son leyes

despóticas, necesariamente extrañas y hostiles

a los hombres y a las cosas que deben dirigir:

no son leyes, sino decretos a los que se

obedece, no por necesidad interior y por

tendencia natural, sino porque se está obligado

a ello por una fuerza exterior, divina o humana;

decretos arbitrarios a los que la hipocresía

social, más bien inconsciente que

conscientemente, da arbitrariamente el nombre

de ley (BAKUNIN, 2008, p. 7).

A leitura d’A Lanterna permite a compreensão da

imprensa operária como um importante lugar de memória da

classe operária brasileira nos anos iniciais do século XX.

Simultaneamente, é também um produto cultural, resultado de

um processo de apropriação de bens simbólicos, promovido

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pelos operários em suas lutas sociais quotidianas. Além disso,

a imprensa operária tinha o intuito de elucidar temas do

cotidiano como uma forma de propagar os ideais libertários ao

operariado. Sendo assim, “A imprensa anarquista e operária

(...) contribuiu sobremaneira à divulgação dos ideais do

movimento e suas ações políticas, trazendo também um caráter

didático e doutrinário” (GONÇALVES e NASCIMENTO,

2008, p. 360).

Para finalizarmos, ressaltemos que essa pesquisa

buscou apresentar o estudo de “uma realidade multiforme,

complexa e rica” apresentando as minúcias e particularidades

para não cairmos em generalizações históricas sobre o

movimento operário no Brasil (HAUPT, 2010, p. 70). Um

estudo aprofundado no campo da imprensa operária,

apresentando uma caracterização das singularidades da história

dessa imprensa, operará como um antídoto ao estrabismo

acadêmico que ressalta a virtuosidade do olhar descritivista

reinante no conhecimento histórico contemporâneo.

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