jorge luiz castanheira alexandre moacyr henriques dr...
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Diretoria da LIESA (Triênio 2012-2015)
Presidente - Jorge Luiz Castanheira Alexandre
Vice-Presidente e
Diretor de Patrimônio - Zacarias Siqueira de Oliveira
Tesoureiro - Moacyr Henriques
Diretor Jurídico - Dr. Nelson de Almeida
Secretário -
Eduardo Bruzzi
Diretor de Carnaval - Elmo José dos Santos
Diretor Comercial - Hélio Costa da Motta
Diretor Cultural - Hiram Araújo
Diretor Social - Jorge Perlingeiro
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ÍNDICE
PÁGINA
ORDEM DOS DESFILES 05
RANKING DAS ESCOLAS 07
G.R.E.S. UNIDOS DO VIRADOURO 09
G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA 17
G.R.E.S. MOCIDADE IND. DE PADRE MIGUEL 29
G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL 37
G.R.E.S. ACADÊMICOS DO SALGUEIRO 45
G.R.E.S. ACADÊMICOS DO GRANDE RIO 55
G.R.E.S. SÃO CLEMENTE 61
G.R.E.S. PORTELA 69
G.R.E.S. BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS 77
G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR 85
G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE 93
G.R.E.S. UNIDOS DA TIJUCA 105
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GRUPO ESPECIAL
ORDEM DOS DESFILES
CARNAVAL/2015
ORDEM HORÁRIO
DE INÍCIO
DOMINGO
(15/02/2015)
SEGUNDA
(16/02/2015)
1 Às 21:30 h UNIDOS DO
VIRADOURO SÃO CLEMENTE
2 Entre 22:35 e 22:52 h ESTAÇÃO PRIMEIRA
DE MANGUEIRA PORTELA
3 Entre 23:40 e 00:14 h MOCIDADE IND. DE
PADRE MIGUEL BEIJA-FLOR
4 Entre 00:45 e 01:36 h UNIDOS DE
VILA ISABEL UNIÃO DA ILHA
5 Entre 01:50 e 02:58 h ACADÊMICOS DO
SALGUEIRO
IMPERATRIZ
LEOPOLDINENSE
6 Entre 02:55 e 04:20 h ACADÊMICOS DO
GRANDE RIO UNIDOS DA TIJUCA
As Escolas de Samba, cuja posição na Ordem dos Desfiles
corresponda à numeração ímpar deverão se concentrar a partir do
prédio do Juizado de Menores no sentido dos prédios da CEDAE
e Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
As Escolas de Samba, cuja posição na Ordem dos Desfiles
corresponda à numeração par deverão se concentrar a partir da
lateral do Setor 01 (um) da Avenida dos Desfiles no sentido do
Edifício “Balança Mas Não Cai”;
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RANKING LIESA
2010 / 2014
OR
DE
M
ESCOLA 2010 2011 2012 2013 2014
TO
TA
L
Col. Col. Col. Pt. Col. Pt. Col. Pt. Col. Pt.
1º Unidos da Tijuca 1º 20 2º 15 1º 20 3º 12 1º 20 87
2º Beija-Flor de Nilópolis 3º 12 1º 20 4º 10 2º 15 7ª 4 61
3º Acadêmicos do Salgueiro 5º 8 5º 8 2º 15 5º 8 2º 15 54
4º Unidos de Vila Isabel 4º 10 4º 10 3º 12 1º 20 10º 1 53
5º Acadêmicos do Grande Rio 2º 15 - - 5º 8 6º 6 6º 6 35
6º Imperatriz Leopoldinense 8º 3 6º 6 10º 1 4º 10 5º 8 28
Estação Primeira de
Mangueira 6º 6 3º 12 7º 4 8º 3 8º 3 28
8º Portela 9º 2 - - 6º 6 7º 4 3º 12 24
9º União da Ilha do
Governador 11º 0 - - 8º 3 9º 2 4º 10 15
10º Mocidade Independente de
Padre Miguel 7º 4 7º 4 9º 2 11º 0 10º 1 12
11º Unidos do Porto da Pedra 10º 1 8º 3 12º 0 - - - - 4
12º São Clemente - - 9º 2 11º 0 10º 1 11º 0 3
13º Inocentes de Belford Roxo - - - - - - 12º 0 0
Renascer de Jacarepaguá - - - - 13º 0 - - 0
Unidos do Viradouro 12º 0 - - - - - - - - 0
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“Nas veias do Brasil,
é a Viradouro em um dia de
graça!”
G.R.E.S.
UNIDOS DO VIRADOURO
Presidente: Carlos Gustavo Coutinho (Clarão)
Carnavalesco: João Vitor Araújo
Fundação: 24 de junho de 1946
Cores: Vermelho e Branco
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G.R.E.S. Unidos do Viradouro
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“Nas veias do Brasil,
é a Viradouro em um dia de graça!”
E se não fossem os negros? Por certo, o Brasil seria outro...
Este enredo para o desfile da Unidos do Viradouro 2015 é
baseado em dois sambas
De autoria do imortal poeta negro Luiz Carlos da Vila,
Ele próprio, Luiz Carlos, um exemplo clássico da
perspicácia e sabedoria populares sofisticadas
Que nos restaram como sagrada herança desse ébano
vitorioso.
Canta, então, a Viradouro seu elogio
Aos valores da inteligência transcendental dos povos vindos
d’África,
Valores esses que culminaram por estruturar a nossa alma
verde-amarela.
Tomando o Brasil como vibrante corpo miscigenado,
Aceitamos a tese afirmada nas canções
De que nas veias da pátria-mãe gentil circulam os pilares da
venturosa negritude;
Foi incansável sobrevivência, sempre trocando gás
carbônico por oxigênio,
Em asfixiante agonia que não a matou jamais!
Nossa procissão cultiva as sementes da felicidade,
Desabrochadas em emocional vascularização da esperança
A influência espiritual ramificada ao extremo da nossa
sistêmica nação,
Carnaval/2015
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Que foi se adaptando em destemida corrente
E fez o brasileiro catar e juntar em si
O que foi espalhado com sabedoria: as qualidades do além-
mar!
Navegando sobre as ondas do tal pensamento luminoso que
enovelam o artista,
E desembarcando nas tabas ameríndias,
O brilhante legado criativo junta atabaque ao cocar;
Faz simbiose entre o pajé e o griot: flechas e altares!
Tupis, bantos, guaranis e yorubás testemunhando tupã
abraçar oxalá.
É no tempo encantado da singular sagração terra brasilis,
Quando enraizamos nosso particular baobá.
Somos esta corporificação híbrida, uma organicidade única,
Onde palmas de mão musicalizam palmo de chão.
Somos da linhagem abençoada dos guerreiros que raiam
com a liberdade.
Um povo de alma negra
Porque amamentado na sala da casa grande pelo leite que da
senzala vinha.
Saudável pela força das mãos de cura do preto velho
A balançar misteriosas palavras de preciosos poderes.
No fogão da mãe baiana, em espiritual culinária,
Refazemos diariamente os laços culturais temperados pela
magia dos ritmos,
Partidos em fogoso carnaval... o samba atesta o nosso
triunfo!
G.R.E.S. Unidos do Viradouro
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Viradouro brada atitude e muda a estratégia da camélia
abolicionista:
É mediadora na superação do ressentimento,
Ao assumir na escolha das obras do excepcional sambista
A beleza se ser miscigenado,
O que transformou o Brasil em terra que nunca anda só.
A vitória é a reconciliação; a ousadia é viver em paz!
Carnavalesco: João Vitor Araújo
Autor da Sinopse: Milton Cunha
(a partir de duas músicas de Luiz Carlos da Vila: “Nas veias
do Brasil” e “Por um dia de graça”)
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“Agora chegou a vez, vou
cantar: Mulher de Mangueira,
Mulher Brasileira em primeiro
lugar!”
G.R.E.S.
ESTAÇÃO PRIMEIRA
DE MANGUEIRA
Presidente: Francisco Manoel de Carvalho
Carnavalesco: Cid Carvalho
Fundação: 28 de abril de 1928
Cores: Verde e Rosa
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G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira
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“Agora chegou a vez, vou cantar: Mulher de
Mangueira, Mulher Brasileira em primeiro lugar”
Tudo era festa no meu tempo de menino. Nascido e criado
em Mangueira, o morro e seus bairros eram o meu quintal,
mas também a minha casa, o meu mundo, o meu reduto para
brincar, para aprender as duras lições da vida e, para
sonhar... Habitada por gente simples e tão pobre/ que só tem
o sol que a todos cobre... Cantarolava eu, que nem conhecia
Cartola, contudo por intuição percebia a resposta ao como
podes Mangueira cantar? De verso em verso, a intuição
virava convicção: eu digo e afirmo que a felicidade e os
sonhos aqui moram, e aí estava a chave de tudo – a
felicidade e os sonhos. Por aqui, até nossos barracos são
castelos/ em nossa imaginação... Sonhou feliz, Nelson
Cavaquinho.
Certa vez, deitado no chão e olhando para o alto e a
imaginar o morro todo em verde e rosa, descobri que a
natureza já tinha feito a sua parte. As mangueiras, muitas
mangueiras, coloriam a paisagem com todo o verde possível
e necessário. Nesse dia entendi a razão/ inspiração do verso
Mangueira, teu cenário é uma beleza/ que a natureza
criou... Só faltava o rosa, pensei.¹
Foi há muito tempo que ouvi falar pela primeira vez das
grandes mulheres de Mangueira. Vovó Lucíola, parteira que
ajudou muitos mangueirenses a chegar ao mundo, dona de
uma sabedoria de preta velha, e que muitos diziam ser mais
antiga que o próprio morro, me contou, com riqueza de
detalhes, lindas histórias de doçura e de bravura, que me
encantaram a alma e invadiram a minha imaginação.
Carnaval 2015
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Ainda lembro quando vovó me pegou pelo braço e apontou
uma frondosa mangueira no alto do morro e falou: “tá vendo
aquela árvore, “fio”?” Enxuguei as lágrimas que insistiam
em molhar meu rosto e firmei o olhar na direção apontada.
E, continuou vovó: “ela é como um elo entre as mulheres do
morro e a nossa Escola de Samba. A raiz, o tronco resistente
e os galhos cheios de folhas, servem para proteger as flores
que se transformarão em frutos. Assim, também, são as
mulheres, daqui e de qualquer lugar, “fio”! Nós somos como
as árvores, como a natureza, geramos vida e continuidade
através dos nossos frutos. Assim é a nossa vivência e nossa
contribuição com a Mangueira!”.
Neste dia entendi que o que estava faltando era o rosa
feminino daquelas mulheres para fazer par com o verde das
mangueiras... Eram as “ROSAS” de Mangueira que estavam
faltando! Tudo agora fazia sentido! Os homens foram a raiz e o
tronco, mas as mulheres foram as flores, as “ROSAS” que
geraram os frutos mais doces que a Mangueira me deu! Algum tempo depois, novamente deitado no chão e olhando
as mangueiras, agora enfeitadas de flores, lembrei-me da
minha conversa com vovó Lucíola. Lentamente adormeci e
sonhei. Sonhei com as grandes mulheres de Mangueira
recebendo outras grandes mulheres do Brasil para um
magistral desfile de carnaval. Sonhei que era primavera no
morro e as “ROSAS”, em verso e prosa, novamente,
desabrocharam com todo o seu esplendor.
Venham divinas damas que carregam no sangue esta
nobreza ancestral, despertem para sonhar novamente e
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira
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ouçam os versos mais belos que o poeta compôs para lhes
ofertar. Por mais esta noite, desçam o morro em cortejo para
reinar na folia como legítimas representantes da dinastia do
samba, pois é através de suas memórias que a Mangueira
vem contar e cantar a trajetória de outras grandes mulheres
do Brasil.
Venha vovó Lucíola, e seja novamente a minha guia! Deixe
o doce perfume de suas lembranças invadir o meu sonho,
entorpecer a minha alma e se espalhar por ruas, becos e
vielas.
Na liberdade que somente a poesia e os sonhos podem
conceder, vejo os barracos/castelos enfeitados com
guirlandas florais e o povo vestido com fidalguia para a
noite triunfal.
E as baianas giram e o movimento de suas saias me faz
recordar as histórias de valentia e superação que havia
escutado muito tempo atrás. Então, presencio Tia Fé, anciã
que carrega no próprio nome a força da religiosidade das
mulheres do morro, sendo aclamada como uma verdadeira
quebradeira de grilhões na aurora da Estação Primeira, e
glorifico as mães do samba.
Salve as “Candaces do Brasil”!
Salve Suluca da Mangueira, tal como Chica da Silva, uma
autêntica herdeira da realeza africana!
Orayê yê o, Ciata de Oxum; a sua benção Mãe Menininha
do Gantois!
Carnaval 2015
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Os acordes afinados de um violão me chamam a atenção e
uma suave melodia embala o meu sonho. Não demora e o
coro, ao longe, também se faz ouvir e o canto harmonioso
das pastorinhas de Mangueira atravessa a barreira do tempo,
unindo passado e presente e, num compasso emocionante,
faz-se ecoar pelas vozes das grandes cantoras
mangueirenses, que hoje cantam em homenagem às grandes
intérpretes do Brasil. E tem Chica, Chica Boom e
balangandãs para todo o lado e disputas acirradas entre as
Rainhas do rádio. Mas, sempre haverá uma “bandeira
branca” para “clarear” a alegria!
O morro é festeiro e transpira musicalidade. E tem jongo e
maxixe nos cordões de velhos, mas a batucada é soberana
para embalar a cantoria e animar o povão quando chega o
carnaval. Protegida pela Guarda Real da bateria, a rainha
desce as escadarias do seu castelo, no alto do morro, e se
posta à frente dos ritmistas com altivez monárquica para
receber as rainhas da beleza brasileira, lideradas por Gisele
Bündchen e Marta Rocha coroada, com a faixa no peito e o
cetro na mão. Trajes típicos desfilam a nossa brasilidade e
se misturam às mulatas e cabrochas em apresentação
apoteótica. No meu sonho “Real”, o Buraco Quente se
transforma em passarela de moda e de samba; porque, no
reinado de Momo, todas as mulheres são belas rainhas e
nós, os seus súditos.
E, tudo em Mangueira é belo e tem seus fundamentos!
Feito um ritual mágico, tia Lina se posiciona para ser
reverenciada como a primeira Porta-Bandeira da verde e
rosa. Percebo os guardiões abrindo caminho enquanto o
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira
25
pavilhão mangueirense flutua em meio ao povo, conduzido
com graça e elegância, ora por Neide, ora por Mocinha. É a
arte em movimento antropofágico de Tarsila! É a delicadeza
das mãos nos versos de Rachel de Queiroz; é a sensibilidade
feminina transmitida em cores e gestos; é o poder da arte
derrubando barreiras e preconceitos e empunhando a
bandeira da igualdade.
As vozes se multiplicam e a cantoria aumenta. Mas é
preciso concentração! Uma voz se destaca entre todas as
outras e se faz respeitar! Em Mangueira, berço de grandes
guerreiras, Dona Neuma, mulher de fibra, prestígio e
liderança, é quem toma as rédeas da situação, seja nas
árduas batalhas da vida, no dia a dia do morro ou nas alegres
batalhas de confetes e serpentina. Sempre com a firmeza e a
sensibilidade de uma líder nata. Quando necessário, fazia-se
Maria Quitéria nas pelejas para defender o samba e a
Mangueira, mas se alguém precisasse de auxílio,
rapidamente se transformava em Ana Néri para socorrer.
Então, respeitem quem pode chegar aonde elas chegaram e
abram alas para todas as mulheres que se colocaram à frente
de seus tempos e que, nunca estiveram à espera de príncipes
encantados para lhes salvar! São estas mulheres que nos
conquistam pela simplicidade e, ao mesmo tempo, se
impõem pela grandiosidade, e que hoje, personificadas em
Dona Zica e aclamadas em um desfile triunfal, recebem de
Mangueira o que a história oficial muitas vezes lhes negou:
a valorização e o reconhecimento. Que seus exemplos de
força e persistência se transformem em uma espécie de
vento suave e contínuo capaz de tremular no ponto mais alto
das nossas consciências a legítima bandeira verde e rosa...
Carnaval 2015
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Que o rosa possa significar a mais singela tradução do nosso
reconhecimento a todas as mulheres deste país... E que o
verde possa transmitir a nossa esperança por igualdade de
direitos, para a honra e glória daquelas que lutaram e ainda
lutam por dignidade.
Ainda inebriado, sinto o rosa da alvorada no morro a me
despertar. Percebo que o meu sonho está chegando ao fim,
não no sentido de acabar, mas porque está se tornando
realidade!
A sua benção vovó Lucíola e, obrigado por me permitir
sonhar, por esta noite, o seu sonho maior de igualdade e
respeito a todas as mulheres.
É a sua, a nossa Mangueira que está na Avenida e, todas as
Marias com as latas d’água nas cabeças, as negas mais
malucas do que nunca, as cabrochas e mulatas e as senhoras
do Departamento Feminino e da Velha Guarda, vêm saudar
as nossas Ritas Lee, as nossas Martas Vieira da Silva, as
nossas Marias da Penha e as nossas Fernandas Montenegro
porque, para honra e glória do Brasil, “Agora chegou a vez,
vou cantar: Mulher de Mangueira, Mulher Brasileira
em primeiro lugar!”
Cid Carvalho
Carnavalesco
(¹) Trecho retirado da revista: Mangueira, Paixão em Verde e Rosa de
2005. Texto do então Presidente da Agremiação Álvaro Luiz Caetano
e livremente adaptado por Cid Carvalho.
G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira
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Nota de Agradecimento
HONRA E GLÓRIA ÀS ROSAS DE MANGUEIRA
Nosso reconhecimento especial à Vó Nair Pequena, que
morreu durante o desfile de 1970; à Dina que, ao lado de
Lurdes Bolão, Tia Sulina e Tia Meil, foi uma das mais
belas pastoras de Mangueira; à Dona Xinga, a nossa 1º
Destaque por muitos anos seguidos; à Vanik Mavil que,
juntamente com Rosemary, hoje cantora, foram grandes
passistas internacionais; à Dona Amélia do Russo e Dona
Ivete deslumbrantes baianas da verde e rosa; à grande
rezadeira, Dona Pequetita e, à Tia Alice de Jesus, a
responsável pelo projeto social de esportes que foi
determinante para ida do Chiquinho, o nosso atual
Presidente, para a Mangueira.
À todas, o nosso muito obrigado em nome da Estação
Primeira de Mangueira!
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“Se o mundo fosse acabar, me diz
o que você faria se só te restasse
um dia?”
G.R.E.S.
MOCIDADE INDEPENDENTE
DE PADRE MIGUEL
Presidente: Wandyr Trindade
Carnavalesco: Paulo Barros
Fundação: 10/11/1955
Cores: Verde e Branco
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G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel
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“Se o mundo fosse acabar,
me diz o que você faria se só te restasse um dia?”
A Mocidade Independente de Padre Miguel quer provocar a
imaginação do público e pergunta: Se o mundo fosse
acabar, me diz o que você faria se só te restasse um dia?
Em uma livre adaptação da música O último dia, de
Paulinho Moska e Billy Brandão, o enredo de 2015 retoma
um tema inquietante que sempre impressionou a
humanidade com suas previsões e profecias: afinal, o fim do
mundo parece estar sempre próximo... Mas o que você faria
diante da possibilidade de um ponto final na aventura do
homem na Terra? Se o mundo fosse realmente acabar e
restasse apenas um dia para viver, apenas um último dia... O
que você faria?
“Meu amor
O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria?”
Se os prédios e avenidas que você conhecia ruíssem sob os
seus pés
“Me diz o que você faria?”
Se um dia, você descobrisse que não mentiam as profecias
Sábios sabiam, santos sentiam, videntes já viam
Papas pregavam, rezavam, pediam
E os bruxos, o futuro já liam
Premonições, pesadelos, o fim do mundo os sonhos previam
Não eram loucos, eram guias
Carnaval 2015
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“Me diz o que você faria?”
“Abria a porta do hospício”, soltava a sua alegria?
Agora a loucura é real, juízo final, é o último dia
“Meu amor
O que você faria se só te restasse um dia?”
“Corria para um shopping center
Ou para uma academia?”
Enquanto o mundo se desfaz, me diz o que você faria
Aproveitava esse tempo, no mesmo ritmo e compasso
Você manteria a rotina, tudo igual, passo a passo?
Se o tempo não voltasse atrás, me diz, você brincaria?
Ficava de bem com a vida, com os amigos se divertia
Se não houvesse amanhã, cantava, dançava, sorria
Passava as horas, minutos, segundos, até terminar esse dia?
“Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?”
Botava pra fora a tristeza, soltava o que reprimia
Tirava a roupa e saía, fugia para o meio da rua
“Andava pelado na chuva”, fazia amor sem censura, o que
te prendia?
Lançava seu corpo no ar, você aprendia a voar, meu amor
Vivia. E o que há pra viver, nesse último dia?
Fazia o mundo girar, matava a sede, morria
Se o mundo fosse acabar, me diz, ganhava a rua e sumia?
E o prazer de viver até onde te levaria?
“Dinamitava o meu carro, parava o tráfego e ria”
“O que você faria se só te restasse esse dia?
G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel
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Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria?”
Se o chão tremesse aos seus pés, e você não tivesse saída
E se as águas rolassem, arrastando a multidão
Pegava a fantasia pra brincar na Avenida
O que você faria, meu amor?
Batia um bumbo com força, esquentava o tamborim
Rodava a baiana, levava o estandarte, anunciava a folia
Vinha na Mocidade sambando sem parar
Acreditava que, assim, você sobreviveria?
No último dia, afinal, se fosse carnaval, você se acabaria?
Paulo Barros
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“O Maestro Brasileiro na
Terra de Noel... Tem Partitura
Azul e Branca da Nossa Vila
Isabel”
G.R.E.S.
UNIDOS DE VILA ISABEL
Presidente: Elizabeth de Souza Aquino
Carnavalesco: Max Lopes
Fundação: 04/04/1946
Cores: Azul e Branco
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G.R.E.S. Unidos de Vila Isabel
41
“O Maestro Brasileiro na Terra de Noel...
Tem Partitura Azul e Branca da Nossa Vila Isabel”
Preparem-se para um grande concerto!
O maestro sobe ao púlpito, exercendo uma função
primordial como “elemento de ligação das ideias do
compositor aos instrumentistas e/ou cantores1”, e,
suavemente, ergue a batuta ao ato sublime que transcende a
essa dualidade e se lança aos encantos da regência sinfônica,
inscrita “dentro de parâmetros do imponderável, da mítica,
da aura que acompanha o artista e determina a sua
sonoridade2”.
Sua regência é mais que um gesto, ruma-nos à poesia dos
sons, traduz das partituras a emoção da formação de um
povo, a genialidade espontânea da criação, a musicalidade
orquestrada à inspiração de significativas apresentações que
provêm do canto e do balé.
Numa relação humana onde o elemento principal é a
música, o maestro Isaac Karabtchevsky transforma a
Sapucaí num palco e rege o enredo do meu samba: “O
Maestro brasileiro na terra de Noel... Tem partitura azul e
branca da nossa Vila Isabel”.
Em tons graves, agudos, altos ou baixos...as notas musicais
saltam dos instrumentos. Afinam-se cordas, metais, sopros,
percussão... Os efeitos sonoros vão criando uma incrível e
mágica sonoplastia... E de uma forma livre e espontânea, o
prelúdio se inicia.
Carnaval 2015
42
Tudo pronto. Ouvimos o terceiro sinal. Deixem-se contagiar
pelos sentidos da música.
Peguem seus libretos, o espetáculo vai começar!
Na forja do destino, um momento divino: “Faunos” entoam
seus sons cristalinos.
Envolvidos pela poesia, a saudade aperta em nosso peito.
Em tempo de inspiração, os “retratos da vida” são o cocar
da cultura do nosso Brasil. De um índio, bravo nativo,
chamado Guarani – que se veste de paixão e luta para
conquistar seu grande amor.
Viajamos pelo canto do “Uirapuru” e descobrimos cada
pedacinho desse chão.
Do “Concerto da Floresta” ao sertão brasileiro, seguimos
pelos trilhos do “bachiano menino” a todo o vapor.
Pulsantes sejam o “canto da alma caipira” e o “canto da
nossa terra”, aventuras de meninos moleques e de seus
coloridos papagaios, a matriz da genuína cultura brasileira!
“Corremos pelas partituras de mãos dadas com notas
musicais” ao requinte de sinfonias clássicas, barrocas e
românticas. Suítes, sonatas, concertos...embalam,
musicalmente, as “Quatro Estações” dos fenômenos da
Natureza; enredam-se pelo amor shakespeariano de
“Romeu e Julieta”, pelas aventuras de “Fígaro”, o astuto
criado da velha Sevilha, e protagonizam um conjunto de
revelações e disfarces num festivo e simbólico “Baile de
Máscaras”. Seus sons, ainda entrelaçam-se às nuances, aos
detalhes, às “cores” que a voz consegue, sem possibilidade
G.R.E.S. Unidos de Vila Isabel
43
de confronto, reproduzir, navegando por entre mares de
compassos, declamações líricas à ousadia do capitão, o que
carrega uma maldição por desafiar “Satanás” a bordo de um
“O Navio Fantasma”.
Um momento esplêndido: o maestro reduz seu gesto à
proporção justa. Expressa o máximo com o mínimo...respira
com a orquestra! Um espetáculo à parte. Allegro, avante...
Seu realismo fantástico cruza as fronteiras da criação com a
regência da Nona Sinfonia de Beethoven!
Entre românticos arcos de flores, a “Sagração da
Primavera”!
Linda é a bailarina, princesa, camponesa que, ao som da
sinfonia, reflete o brilho de raro esplendor do “Lago dos
Cisnes”. Não há quem não se emocione com a majestosa e
exuberante coreografia, aventurando-se, sob muitas formas,
diante do “fogo sagrado” de “La Bayadère”. Nem com
“Balé de Bolshoi”, com o “Quebra Nozes” e com tantos
outros... É girando na ponta dos pés que a orquestra revela a
emoção da “arte dos passos”.
Nossos olhos, sem mais prova, atestam, deslumbrados, um
magnífico espetáculo.
Diante do que se vê, sopranos e tenores entoam da arte
teatral: a ópera, voz encenada em drama musical. Castelos,
histórias de amor, contos e fábulas...faces do imaginário, um
tom magistral de sonhos em sintonia com a vida.
Carnaval 2015
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Ó magia! Sob a partitura azul e branca, tudo soa, recebendo,
em si, o sopro que do Brasil ecoa. Vem, meu “povo do
samba”, desfrutar dessa música boa, de um “Aquarius
Concerto”, ao solo de um pandeiro e renascer das cinzas nos
versos de um “senhor partideiro”: Martinho da Vila. Vem
com a Vila Isabel, com seu reduto de bambas que “não quer
abafar ninguém3”, “só quer mostrar que faz samba
também4”.
Ideia Original e Carnavalesco: Max Lopes
Pesquisa e texto: Marcos Roza
1 HAAG, Carlos. Maestro fala da ligação histórica da música popular
com a erudita e conta que foi a voz que o ensinou a reger. Pesquisa
FAPESP, São Paulo, Entrevista, edição 181, 2011. 2 Idem 3 ROSA, Noel. Palpite Infeliz, 1935. 4 Idem.
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“Do fundo do quintal, saberes
e sabores na Sapucaí...”
G.R.E.S.
ACADÊMICOS DO SALGUEIRO
Presidente: Regina Celi dos Santos Fernandes
Carnavalescos: Renato Lage e Márcia Lage
Fundação: 05/03/1953
Cores: Vermelho e Branco
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G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro
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“Do fundo do quintal, saberes e sabores na
Sapucaí...”
Os primeiros habitantes
Afastada do litoral, a região do Serro do Frio, em Minas
Gerais, antes da chegada dos colonizadores, era habitada
pelos índios botocudos. Tratava-se de uma tribo conhecida
pelas enormes argolas enfiadas nos lábios e nos lóbulos das
orelhas. Da presença indígena, a cozinha mineira herdou
muitos elementos, como o uso de raízes e brotos, os
frutos encontrados no mato, a caça, a pesca, os utensílios, os
modos de preparo e tempero dos alimentos, enfim, o
aproveitamento dos recursos que a terra dava.
Conta certa crônica escrita por um viajante europeu que os
índios desta região tinham como hábito degustar um verme
que vivia no broto da taquara, uma espécie de bambu. Os
nativos faziam com ele uma excelente iguaria parecida com
um creme que ressaltava o sabor dos alimentos. Usado de
outra forma, o “bicho-da-taquara”, como era também
conhecido, uma vez seco e triturado em pó, servia como
poderoso sonífero. Isto proporcionava longas noites de sono
repletas de sonhos maravilhosos por terras desconhecidas e
de exuberantes paisagens, paraíso de cores e sensações
inesperadas. Aquele que o consumia, era transportado para
um mundo imaginário fascinante!
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A corrida do ouro
Os bandeirantes avançaram pelo território brasileiro em
busca de riquezas. Levavam na bagagem, nos lombos dos
burros, o modo de cozinhar dos tropeiros que produziam
uma comida seca e fácil de ser transportada. Comida não
perecível, de quem fica pouco tempo em um só lugar. As
bandeiras tinham que se virar com o pouco que tinham à
mão, daí recorrerem à caça e à pesca, aos talos e folhas e
outras tantas ervas que encontravam pelos caminhos.
Por volta de 1693, foi descoberto ouro em Minas Gerais.
Logo teve início uma corrida desenfreada atrás de seus
veios. Esmeraldas e diamantes atraíram gente de toda parte
do Brasil e da Europa. Portugal teve que abrir o olho,
mandou fiscais, militares e estabeleceu uma alfândega para
evitar o contrabando dos metais e pedras preciosas.
Nesse período a população cresceu, os pequenos povoados
viraram vilas com casas de alvenaria e sobrados de dois
andares que ocuparam o lugar das palhoças de pau-a-
pique. Modos e modas da metrópole se espelhavam no
comportamento das sinhás e sinhazinhas, que trouxeram
tecidos e rendas, louças e talheres, novos ingredientes para
aprimorar ainda mais a cozinha mineira.
Alucinados pela febre do ouro muitos abandonaram a
lavoura e se dedicaram à exploração das minas. Logo a
escassez de alimentos se fez sentir. Havia ouro, mas faltava
comida. Com o preço dos alimentos subindo sem parar,
muita gente passou fome. E como a necessidade é mãe da
invenção, o mineiro daqueles tempos foi buscar soluções até
G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro
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então impensadas. Exigia-se o aproveitamento de tudo. O
que antes era rejeitado, agora era incorporado num novo
prato, num novo modo de preparo. Daí vem o jeito mineiro,
sempre cauteloso e prevenido. Ou seja, a abundante cozinha
típica mineira surgiu da fome.
Os escravos das minas
A notícia da descoberta do ouro trouxe para Minas milhares
de escravos vindos de outras regiões do Brasil,
principalmente daquelas onde a cana-de-açúcar prosperava.
Outros vieram diretamente do continente africano, o que
causou um espantoso aumento da população negra em
Minas. Esta migração forçada e sofrida deixou sua marca
indelével na cultura mineira, seja na religiosidade, na
música e na dança e, sobretudo, na cozinha, formando junto
com o indígena e o branco colonizador a “Saborosíssima
Trindade” da tão variada culinária de Minas.
“Depois do idioma, a comida é o mais importante elo entre
o homem e a cultura”. Raul Lody
A cozinha
“O cartão de visitas de um local é a sua cozinha. Ela ensina,
pelo sabor, seus saberes”.
Um prato típico é aquele que preserva e envolve muitos
saberes no seu conteúdo, saberes que não se perderam no
tempo. Cada utensílio de cozinha, como pilões, tachos,
gamelas, colheres de pau, panelas de ferro ou de pedra
sabão. Cada tempero como o imprescindível alho e sal,
Carnaval 2015
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o urucum, a pimenta, cada folha vinda do mato ou da horta,
como o “ora-pro-nobis” e a couve, cada ingrediente como a
gordura de porco, a farinha ou a cachaça, tudo guarda em si
um conhecimento ancestral, que atravessa as gerações e faz
sentir no presente as lembranças e os afetos que nos
remetem a outros tempos e lugares vividos.
As receitas culinárias de Minas são inumeráveis. Misturas
de magia afro-indígena, da sofisticação luso-europeias, mas
o princípio fundamental em todas elas, dito com
propriedade, é: “O primeiro ingrediente que vai na panela é
o amor”.
A comida e a fé, sustentáculos do homem da terra…
Era preciso ter disposição e força para encarar o trabalho
duro. E haja angu e rapadura para vencer a lida! Mas mesmo
quando a comida era pouca, havia a fé, havia a crença,
que superava as dificuldades e enchia de esperança o futuro.
Em Minas, a devoção está para o homem como o sol está
para a vida. Sob a luz de Nossa Senhora do Rosário o “ora-
pro-nobis” toma gosto e ganha tom! Todos em uma só voz
entoam as angústias e as glórias de um povo que sobreviveu
à escravidão. Todos honram à padroeira da cidade do Serro,
nas figuras de índios, reis, juízes e marujos. Aqui as três
raças se consagram: índios, brancos e negros louvam em
uníssono àquela que guarda e protege a todos sem fazer
distinção. Homens e mulheres unem-se num ato de amor e
gratidão por tudo o que a terra e a vida lhes deram sob a
bênção de Nossa Senhora, cantando, seguindo em procissão,
e, é claro, compartilhando os quitutes da boa mesa, da
G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro
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divina comida mineira, temperada com uma boa pitada de
generosidade.
E eis o grande milagre:
Colher de pau, pilão, tacho de cobre.
Fogo de chão, gamela, fogão de lenha.
É com amor que o mineiro põe a mesa,
É atiçar o fogo e manter a chama acesa!
Renato Lage e Márcia Lage
Este enredo é baseado no livro “História da Arte da Cozinha
Mineira”, de Dona Lucinha (Maria Lúcia Clementino
Nunes). Folhear essa obra é fazer um aprendizado sobre os
costumes de Minas Gerais, suas tradições, suas deliciosas
receitas. É seguir os caminhos que levaram à descoberta do
ouro e se aprofundar na história do Brasil. Nosso enredo
para o carnaval de 2015 é uma viagem através dos sabores
que Minas Gerais oferece e resguarda nos saberes que cada
prato típico preserva através do tempo.
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“A Grande Rio é do baralho!”
G.R.E.S.
ACADÊMICOS DO GRANDE RIO
Presidente: Milton Abreu do Nascimento
Carnavalesco: Fábio Ricardo
Fundação: 22/09/1988
Cores: Vermelho, Verde e Branco
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G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio
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“A Grande Rio é do baralho!”
Para muitos o Carnaval é um jogo. Já que é assim, a Grande
Rio entra na partida e para começar, dá as cartas. Atiçando
nossa imaginação, no seio da criatividade, reaviva o
simbolismo dos tempos remotos, e, ao poder econômico, dá
a Ouros. Ao poder militar, Espadas. Copas para o poder
religioso. Paus ao poder político, que no povo encontra seu
alicerce.
A seguir, saca a figura de um Rei. Em seguida, a de uma
Dama. Completando, um Valete. Diz, de antemão, que um
Coringa pode trazer sorte, mas o Ás – que é trunfo – guarda
pra si, como quem esconde “uma carta na manga”.
Através das cartas ela encontra seu destino. Carta que é
“jogo”, e também revela os mistérios da adivinhação. Os
arcanos maiores do tarô de Marselha previram, mas foram
os lábios rubros da cigana que confirmaram: uma “chave”
ilustrada na mesa indica que as portas estão abertas. A carta
31 do oráculo cigano reafirmou: o “sol” vai brilhar. É ele
quem traz o anúncio de que bons ventos virão com as cinzas
de quarta-feira.
Os astros se alinham e as estrelas iluminam nossos
caminhos. Da mesma forma que nove são as cartas
numeradas, nove são os planetas do sistema solar. Assim
como quatro são os naipes, quatro são os elementos
estabelecidos pela Astrologia – o fogo, a terra, a água e o ar
– que, por sua vez, dividem os doze signos zodiacais.
Carnaval 2015
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Há quem guarde um coringa... quem trate a disputa com a
malícia de um poker, a inteligência de uma partida de sueca
ou como os velhos malandros, bons no carteado. Previ,
sonhei e imaginei. A Grande Rio despista os jogadores e dá
sua cartada na Avenida. A sorte está lançada! Façam suas
apostas!
Leandro Vieira e Roberto Vilaronga
Carnavalesco Fábio Ricardo
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“A incrível história do homem
que só tinha medo da
Matinta Perera, da tocandira e
da onça pé de boi”
G.R.E.S.
SÃO CLEMENTE
Presidente: Renato Almeida Gomes
Carnavalesca: Rosa Magalhães
Fundação: 25/10/1961
Cores: Preto e Amarelo
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G.R.E.S. São Clemente
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“A incrível história do homem que só tinha
medo da Matinta Perera, da tocandira e da
onça pé de boi”
Em Rio Branco era assim, um florestão envolvendo a
cidade. Ninguém adentrava na mata – “Tá doido seu?” Era
habitada pela bruxa Matinta Perera, que calava o uirapuru
mas que sumia com a chuvarada, por um bicho brabo, o
gogó de sola, de dentada perigosa feito cobra, pela formiga
tocandira, pela onça do pé de boi, que todo mundo jura que
existia, com pé de boi e tudo. Pois foi lá nesse lugar tão
longe que nosso personagem passou a infância.
Foi crescendo até que um dia chegou a hora de voltar para o
Rio de Janeiro, sua terra natal e onde passaria o resto de sua
vida.
No Lido é que começou a brincar carnaval, ouvindo
“Mamãe eu quero” e “Touradas em Madri”. O bloco de sujo
de que fazia parte ensaiava no cemitério. A molecada se
encontrava perto da quadra IV, que ainda estava em
construção, e os defuntos ali enterrados não reclamavam do
barulho.
“A avenida Rio Branco era um deslumbramento só” – mão
dupla, tudo decorado, cheia de grupos fantasiados. Entre os
carros, desfilavam os cordões, grupos e blocos com muitos
pierrôs, arlequins, tiroleses, holandeses e muitas colombinas
também.
Carnaval 2015
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Passa o tempo, passa a guerra, passa a ditadura de Vargas, o
tempo vai correndo e nosso herói vai se tornando mais
adulto e mais valente. Essa avenida Rio Branco, dos desfiles
carnavalescos, era a mesma que abrigava o Teatro
Municipal, a Biblioteca Nacional, o Museu e a Escola de
Belas Artes. E lá foi ele, atraído pelas artes, para a tal
escola, e também para o teatro, onde trabalhou por muito
tempo. Foi desse local, numa janela do andar superior, seu
camarote exclusivo, que viu pela primeira vez um desfile de
escola de samba, com Natal reclamando e a Portela
evoluindo, alí, naquela mesma avenida.
Um dia, foi convidado para fazer parte do júri das escolas de
samba. Aceitou.
E foi também na Avenida Rio Branco que, encarapitado
num palanque de madeira, viu um desfile bastante sui-
generis. “A primeira escola, quebrou o eixo do carro... Que
entre a segunda.... Mas a segunda só entraria se a primeira
entrasse.... Então que entre a terceira... E nada da terceira, e
nada da quarta também – Às onze e meia da noite, chega
alguém avisando que a quinta iria desfilar – até que
enfim...”
A quinta era o Salgueiro, apresentando enredo sobre Debret
– o que cativou nosso jurado: em vez de “Panteão de
Glória”, “Batalhas de Tuiuti”, etc., cantava um artista –
Debret.
Foi desse dia em diante que nosso personagem tornou-se
carnavalesco e salgueirense – as cores vermelho e branco
G.R.E.S. São Clemente
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ainda por cima o remetiam ao time de futebol lá do Rio
Branco, quando ainda era menino.
Não esperava receber o convite para desenvolver o enredo
para o Salgueiro, no ano seguinte. Escolheu a resistência
negra durante o período da escravidão, Nzambi dos
Palmares, ou Zumbi dos Palmares, assunto que não era
focalizado pelas escolas. Virou filme, e Zumbi hoje é
símbolo de resistência.
Descobriu para o povo não só o Nzambi como Xica da
Silva (foi um estouro!!), Aleijadinho, e acabou
desencavando um enredo sobre uma visita de um rei negro a
Mauricio de Nassau – cuja música foi cantada não só no
carnaval como em estádios de futebol, casamentos, e até
hoje faz sucesso – Olêlê, Olálá, pega no ganzê, pega no
ganzá...
Apesar das vitórias, havia uma certa crítica negativa a ele,
dizendo que não se deveria interferir numa manifestação
popular. Tinham esquecido que, desde a década de 40, as
escolas contratavam artistas eruditos e profissionais para
realizarem seus enredos.
No ano do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, o
tema escolhido foi “História do Carnaval Carioca”, que
retratava o carnaval carioca e o baile dos pierrôs, produzido
por Eneida todo ano. Jogaram muito confete e serpentina
durante o desfile, e os garis estavam esperando o Salgueiro
sair da avenida para limpar tudo antes do desfile da Portela.
Provocativos, os salgueirenses disseram que aquela era a
comissão de frente da Portela. Os portelenses obrigaram os
Carnaval 2015
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garis a irem limpando a pista no final do desfile do
Salgueiro. Foi a apoteose – “Puxa, não esqueceram nada,
tem até os garis limpando o final da festa!” Esses garis
foram aproveitados mais tarde pelo Joãozinho Trinta no seu
famoso desfile dos Ratos e Urubus. Na época, João era
aderecista e bailarino. Acabou abandonando a dança e
tornou-se carnavalesco, mas esta já é uma outra história...
O nosso herói fez outros carnavais vitoriosos. Depois,
passou a bola adiante e foi se dedicar a vários afazeres nas
TVs para as quais trabalhava.
Um dia, cansado da vida, foi embora, acho que um pouco
contrariado, pois viver foi sempre uma aventura que encarou
sem medo.
Deve ter sido recebido por uma extensa corte – Nzambi,
Aleijadinho, Xica da Silva e outros tantos negros e mulatos
que fazem parte da cultura deste país mulato. Agitando
bandeirinhas, eles gritaram em coro: “Pamplona, Pamplona,
Pamplona...”
Rosa Magalhães
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“ImaginaRIO, 450 Janeiros de
uma Cidade Surreal”
G.R.E.S.
PORTELA
Presidente: Sérgio Procópio da Silva
Carnavalesco: Alexandre Louzada
Fundação: 11/04/1923
Cores: Azul e Branco
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“ImaginaRio, 450 Janeiros de uma Cidade
Surreal”
Rio, hoje meu samba se reveste do manto azul que teu céu
empresta à Majestade do Samba, que em sua fugaz realeza
foge à realidade e, na “surrealeza” de sua beleza, te faz a
festa.
Num olhar dito louco e transgressor, te ergo aqui um
monumento aos seus 450 janeiros, que distorcem o tempo e
dissolvem as duas realidades afastadas para fundir-se em um
sonho febril, como visão de “Dalí” e outros tantos que, na
absurda plasticidade das cores e formas, reinventam seus
encantos mil.
Eu, artista de trinta carnavais, vividos entre devaneios e
verdades, criei sonhos e vesti teu povo de plumas e paetês,
iludindo os olhos estrangeiros que se encantam com a sua
maior festa, sem perceberem que és feito de antagonismos
que me inspira a olhar-te com o meu tempo, entendendo o
seu, pelo tempo de Deus.
Usando seus curvos e distorcidos cenários, interpreto e
retrato a ti e a teu povo, diverso e plural, que te faz cidade
surreal, hoje expressa em arte neste carnaval. Para isso, me
desfaço de laços, refaço meu traço, me solto em teu espaço
e, como um “salvador daqui”, recrio suas linhas pela visão
da arte de tantos, pois és cria de Deus e tens fome da arte do
Homem.
Carnaval 2015
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És a feliz Cidade Maravilhosa, repleta de recantos que são
espantos da criação, da imagem provocante e criativa e da
arte que sustenta a vida, quando as mãos mais abusivas
tentam te imitar em vão. És a viagem convidativa, que hora
se refaz e se reconstrói, nas asas da imaginação do lúdico
fértil e gentil, onde hoje imagina, Rio, a minha “águia
redentora”, num abraço de asa acolhedora que te faz abrir
imenso o coração do meu Brasil.
És o Rio que surge de um delírio, que nunca foi foz ou
desemboco de rio algum, convergindo fantasias desde o
branco olhar distante no tempo, surgido das ondas, ungido
do desconhecido, dos bravos, dos reinos de além mar. Foste
o palco de disputas e conquistas, um caldeirão de culturas a
se mesclar enfim, nos contornos do desenho sensual das
curvas de sua geografia, como corpo de mulher de fartos
seios a debruçar-se assim, sobre o mar, no abraço plácido de
sua bela Guanabara.
És o verde que esbanja o viço da tenra juventude, que se
retorcendo entre o azul serpenteia o olhar à mata que entra
pelo mar, és “jardim das delícias”, éden de sua plenitude,
que às vezes se disfarça em canteiros, legados de Dom João,
na terra em que tudo dá, portal a espelhar suas florestas e a
envolver como moldura os recortes dos teus rochedos, sua
natural escultura, onde o sol vem repousar.
És, de fato, o cartão postal de todo um país, paisagem
abençoada pelos trópicos, de relevos imprevisíveis feito
notas musicais, que acalantam e inspiram a criatividade de
seu povo, a refazer o compasso em uma nova divisão,
traduzindo suas curvas que entram pelo “balanço de seu
G.R.E.S. Portela
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mar”. És tempero puro de sal e sol, a têmpera de jeitos e
trejeitos ao tempo que passa, com graça de não passar, és
sempre jovem no que esboça, a “bossa” nova de cantar, as
suas sereias morenas, as princesas do seu mar, que
“continua lindo”, “continua sendo” assim a desfilar, “do
Leme ao Pontal”, de “maravilha de beleza e do caos”, de
garotas de Ipanema, de meninos do Rio, de seus 40 graus.
És a vida fervilhante, que vai e vem, entra e sai,
atravessando os montes ao monte de coisas por ver, no
atraente paraíso que revela as faces do pecado e do prazer,
de suas noites boêmias sob os teus tantos arcos, Lapa que
abriga segredos múltiplos de sabores, de cores e de tons. És
a catedral da luxúria, a serpente tentação que nos induz ao
sonho, nos conduz à dança das ilusões, na sedução que lança
o brilho dos seus neons.
És num momento à parte, um mundo em seu próprio
universo, que gira, que rola com ginga e malícia, na magia
que joga e inocente se lança ao espaço ao panteão dos
deuses, o palco do absurdo, o templo do futebol. Maracanã,
és nave mãe do planeta bola, de teus fiéis, da crença e
paixão, abduzidos de êxtase, supridos de fome e sede, ao
balançar da rede, em gritos de gol.
És ponto de chegada e de partida, estação Central do Brasil,
trilhos que levam e trazem teu povo, nos destinos que se
cruzam em terras suburbanas, nos terreiros de bambas,
celeiros de onde o samba saiu. És tu enfim, o rio de
contrastes, que passa e que atravessa a realidade da vida
com sua alegria de viver.
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És um anfiteatro das artes que gera, em cada canto dos seus
recantos montanhosos, eventos que te montam irreal.
Invertes a valorizada vista altiva para o descanso de tuas
favelas encontrarem a cidade no asfalto, pois és imaginada
em cores, formas e vida e acima de tudo, és o samba de
todos, cantado pelo sangue azul da Portela, que dentro de
teu tempo festivo, meu Rio, comemora ainda a vida vivida
da arte de um príncipe “da Viola”. Hoje, o samba que ouves,
te festeja com a fome de saborearmos tua arte de ser,
receber e inspirar. Aplausos aos teus quatrocentos e
cinquenta janeiros, criada cidade de Deus aonde até teu filho
veio morar e pra sempre te abraçar. Parabéns a você e a
todos nós, por sermos tão criativos em vivermos em ti, feliz
cidade surreal.
Com amor: Alexandre Louzada
Autor: Alexandre Louzada (Carnavalesco)
Colaboração: Luiz Carlos Bruno (Diretor de Carnaval)
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“Um Griô Conta a História:
Um Olhar Sobre a África e o
Despontar da Guiné Equatorial
Caminhemos Sobre a Trilha de
Nossa Felicidade”
G.R.E.S.
BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS
Presidente: Farid Abrão David
Carnavalescos: Laíla, Fran Sérgio, Ubiratan Silva,
Victor Santos, André Cezari,
Bianca Behrends e Claudio Russo
Fundação: 25/12/1948
Cores: Azul e Branco
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G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis
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“Um Griô Conta a História:
Um Olhar Sobre a África e o Despontar da Guiné
Equatorial Caminhemos Sobre a Trilha de Nossa
Felicidade”
Sinopse:
A conversa que ora inicia, poderia muito bem versar sobre
religião e a fé em nossos ancestrais ou, quem sabe, sobre
liberdade e este verde sem fim. Alguns poderiam dizer que é
o passado que se revela do outro lado do Mar Tenebroso ou,
por que não a África animista por natureza, em sua história
de exploração, luta e dor. Esta conversa é tudo isso e um
pouco mais, diálogo entre um pequeno filho da Guiné
Equatorial e um Griô, um ancião, senhor do passado, mais
um daqueles sábios que guardam, de pai para filho, a
história viva do continente africano e, mais precisamente, de
seu povo.
A criança, olhos fixos no velho homem, não deixa passar
um detalhe sequer, e o contador de histórias, em um tom
tranquilo, porém com a voz firme, devaneia... Declama...
Recita... o livro aberto da memória:
Foi num tempo primitivo, no albor de toda raça, sob um
verde inimaginável, que nossa gente surgiu. Foi muito antes
deles chegarem, os brancos, em seus grandes barcos,
guiados pela mais voraz ambição, sedentos de ouro e de
gente, nossa gente!
Antes era tudo verde, toda vida, tambores e tribos...
Carnaval 2015
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A natureza pulsava em cada elemento; as raízes das árvores
entrelaçavam-se com a nossa raiz, e crescíamos, vivíamos e
cultuávamos a liberdade, cada um com a sua fé. Os ritos
refletiam a força e a ligação do povo com a natureza, e a
Ceiba, árvore sagrada da vida, testemunhou cada momento
do florescer de nossa história.
Mas um dia, esta paz sucumbiu... Eles chegaram rasgando o
Mar Tenebroso, e com as marés, trouxeram a cobiça, sua
força e seus costumes, tão diferentes das nossas tradições...
Eles sangraram os corações de nossos ancestrais!
Falavam outra língua, buscavam riquezas... Escravizaram
homens, mulheres, crianças... Em nome do Rei de Portugal.
A jóia da Coroa era a Casa da Guiné...
E do litoral, nossas mães observaram, onda após onda, seus
filhos vendidos... Quantos reis comerciados, escravos por
um trocado, objetos da opressão, no mercado de gente,
mercadoria humana.
Mas a grandeza de nossa terra atrai outras bandeiras da
maldade, e a engenharia da ambição ergue a sua companhia,
leva o continente negro, através de nossa cultura, por um
oceano de mágoas. Os filhos da África constroem a
evolução da humanidade; o sangue negro foi a argamassa do
edifício da escravidão.
Papéis assinados, destinos trocados, nossa terra por um
tratado: “Habla Espanhol”!
A raça negra, que transpiramos em cada poro, resiste,
enfrenta a dor, não se entrega jamais e, a cada grilhão, nos
G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis
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tornamos mais fortes; a cada opressão, a cultura se
manifesta.
Nada é mais degradante do que a ausência da liberdade!
Nada é mais libertador do que a força de um povo!
Menino, nós temos sangue dos Bengas! Somos herança do
reino Bubi! Corremos nas terras Fang!
Temos influência de Oyó!
A África é a Mãe da Humanidade!
Filho, o suor negro construiu a civilização moderna.
Enquanto a empresa da escravidão possibilitou o acúmulo
de riquezas, nosso mar de gente sangrou os mares. Ah!
Quantos Zumbis, quantos Mandelas surgiram aqui no Golfo
da Guiné? Nossa gente ensinou ao mundo o perfeito
significado da palavra liberdade...
Senhor! (Fala a criança): E agora que eles foram embora?
O Griô aponta para o mar e diz:
O que você vê?
O oceano!
E depois?
O horizonte!
Carnaval 2015
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A África hoje enxerga o horizonte da reconstrução,
respeitando a história daqueles que resistiram, observando a
luta de quem um dia venceu a dor; símbolos de um
continente desapropriado de grande parte de sua gente, mas
acima de tudo, um continente guerreiro.
A nova face da África se lança rumo ao progresso; respeita a
natureza, mas se engrandece com as riquezas que afloram
deste chão.
Nova face em meio a grande floresta e a imensidão do mar
em que se encontra a Guiné Equatorial; o país que emerge
da Costa da Guiné, terra intimamente ligada à história do
Brasil, vivendo o presente, como nação amiga e ansiando
um futuro de unidade, paz e justiça.
Meu filho, orgulhe-se desta raça, de sua dignidade e de sua
contribuição para a humanidade! Lute, pois lutar sempre foi
nossa verdade, para que assim, “caminhemos sobre a trilha
de nossa felicidade”.
Laíla, Fran Sérgio, Ubiratan Silva, Victor Santos,
André Cezari, Bianca Behrends e Claudio Russo
Departamento de Carnaval e Comissão de Carnaval
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“Beleza Pura?”
G.R.E.S.
UNIÃO DA
ILHA DO GOVERNADOR
Presidente: Sidney Filardi
Carnavalesco: Alex de Souza
Fundação: 07/03/1953
Cores: Vermelho, Azul e Branco
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G.R.E.S. União da Ilha do Governador
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“Beleza Pura?”
Fala minha Ilha, beleza?
Hoje “ela” é a inspiração para este carnaval.
Creio que a conhece, senão, descobrirá com facilidade.
Dizem que é fundamental.
Mora na filosofia: “É o brilho ou esplendor da verdade”.
Quem é ela, afinal?
Está nos olhos de quem vê, isso garanto com certeza.
Mas para quem não crê, pergunto: Importa se não põe à
mesa?
Ela é eterna na natureza, o sublime,
que se transforma a cada instante.
O que brota, floresce, desabrocha.
Em uma metamorfose ambulante.
Mas a humanidade, buscando ter,
em todos os povos e em todas as eras,
se enfeita com seu orgulho e prazer.
Está na alma dos artistas que representam um ideal.
O pincel na tela; o cinzel na pedra dura. A arte eterniza a
formosura.
Após séculos de trevas, renasce na harmonia, na simetria, é
universal.
Faz com que as vitrines da vida lhe chamem a atenção.
Muitos a consideram uma ditadura.
Mas se gosto não se discute... Vista-se de ilusão!
Carnaval 2015
90
Nem sempre sob medida, mas aguente firme, prenda a
respiração!
Mesmo que pareça dissonante, imagine que tudo é chique
demais
tudo é muito elegante.
Assim tratada nos contos de fadas, em personagens que na
sua memória não se perdeu.
Solte suas feras, entre tantas belas e com bruxas sempre a
perguntar:
“Diga espelho meu: se há na avenida alguém mais linda do
que eu?”
Ela pode estar no interior, mas é no exterior que a repararão,
nos corpos perfeitos tonificados e malhados a ferro e
proteína,
nos templos da obsessão ou no olimpo da perfeição.
Aos poucos o corpo se constrói, como de um deus, herói ou
heroína.
Vive na mídia, ela é a cara da riqueza!
“Ela não anda, ela desfila, ela é top, capa de revista”
É toda, toda, trabalhada e com toda firmeza
É de se olhar, toda minúcia, toda delícia... É o que há!
Roubando a cena, por onde passa,
neste concurso chegará em primeiro lugar.
Bem na foto, e mesmo com retoques,
pode curtir e compartilhar, o verbo agora é “sensualizar”!
Quem sabe, com ela, até você se torne “superstar”?
Assim, espero que me revele seus segredos, que me dê
algumas dicas.
G.R.E.S. União da Ilha do Governador
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Quais são os truques dela? Quais são seus artifícios?
E seus enganos, como para buscar felicidade, fosse apenas
buscar a eterna juventude.
Por que todos parecem não se importar? “Se as aparências
enganam”...
Alguém repara? Relaxe, vê se esquece! Na farsa da vida,
“assim é, se lhe parece”.
Pois o que se vê no reflexo? E a despeito dos defeitos...
Para ver suas falhas no entardecer da vida, se agarra aos
ponteiros?
Agora, refletindo sobre a tal, então paro para pensar:
Que importa se está na flor da idade, na forma ou na
estatura?
Se com o tempo vil, tudo passa, tudo muda?
O que é belo declina num só dia, tudo tem seu tempo, sua
hora.
E quanto aos ganhos de tanta experiência? Se nem em sã
consciência não tributa.
Pois alcançar não se pode a eternidade. Mas falo novamente
em felicidade,
se posso enfim me aceitar!
Então é isso! Beleza minha escola, se aproveite dela e
encante mais uma vez a passarela, em um visual de alegria.
Vem amor, vem minha Ilha, vem na sutileza. Que um lindo
desfile se anuncia!
Alex de Souza
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AXÉ, NKENDA!
Um ritual de liberdade
“E que a voz da Igualdade seja
sempre a nossa voz”
G.R.E.S.
IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE
Presidente: Luiz Pacheco Drumond
Carnavalesco: Cahê Rodrigues
Fundação: 06/03/1959
Cores: Verde, Ouro e Branco
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G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense
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AXÉ, NKENDA!
Um ritual de liberdade
“E que a voz da Igualdade seja sempre a nossa voz”
"Ninguém nasce odiando uma pessoa por sua cor
de pele ou religião.
Pessoas são ensinadas a odiar. E se elas aprendem
a odiar, elas podem ser ensinadas a amar."
Nelson Mandela
Axé!
Ouçam a voz do vento. Prestem atenção no que ela tem a
nos contar.
Lembra do tempo em que as estrelas coroavam o nosso
pensamento e, com ele, começavam a brilhar.
Nossos ancestrais conviviam em harmonia com a natureza e
a sabedoria dos animais. Construíram uma gigantesca
família, se espalharam pelo mundo e, por onde passavam,
abriam novos caminhos para semear o amor e a paz.
Naquele tempo, não havia longe, nem perto; nem errado,
nem certo; e reinava uma exuberante floresta onde, hoje,
padece o maior de todos os desertos.
Caminhando pela savana, reunidos em torno da fogueira,
celebrávamos a chegada e a partida, como se o direito de ir e
vir fosse uma certeza prometida.
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense
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Baobá, árvore querida... Aprendemos a cantar, o segredo da
rima, rimando a pureza das palavras com a beleza da
melodia: alegria com nobreza, mistérios com fantasia.
Baobá, árvore querida... Conduz nosso canto até onde
moram os deuses do infinito. E que eles cubram com o
manto da noite o ventre de Mãe África, onde dormem as
matrizes da vida.
África, Triângulo Sagrado, banhado por um oceano de cada
lado.
Ao Norte, o próspero Mediterrâneo; a Leste, o reluzente
Índico; a Oeste, o tenebroso Atlântico.
Entre o Mediterrâneo e o Saara, brotaram as suas primeiras
civilizações, verdadeiras joias-raras: o esplendor do Egito, o
empreendedor Cartago e o Marrocos de Alah.
A Leste, velas tremulavam, salpicando o mar. Traziam sedas
da China, tapetes da Pérsia e temperos da Índia. Do Reino
do Sudão levavam o ouro e outros metais preciosos.
Entre os paralelos do Equador, existe uma majestosa
floresta, onde o homem não se cansa de tirar, nem os deuses
se cansam de repor.
Além de árvores, plantas e criaturas fantásticas, existem rios
e cachoeiras que os nossos olhos são poucos para admirar.
Não existe na Terra, tamanha diversidade, incrível
quantidade de espécies - embora, não faça tanto tempo,
houvesse muito mais.
Carnaval/2015
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Ao longe, Zulus, Massais, Bantos, Mossis, Bokongos e
Hauçás clamam por liberdade e paz!
Os mistérios da Natureza vão além da compreensão.
Explode o raio, grita o trovão, a cheia inunda o vale, a terra
vomita fogo pela boca do vulcão. A cachoeira chora, a lua
cheia anuncia que algo acontecerá antes do raiar do dia. Ao
som de tambores, lendas, mistérios, curas e magia
constroem mitos e aventuras, cultos e culturas. Essa é a
nossa liturgia.
Vivemos numa terra de contrastes permanentes. O mais
velho dos continentes possui a população mais jovem do
planeta - com sonhos ainda latentes.
Também pudera... Nenhum outro continente sofreu tantas
transformações, tantas violações, em tão pouco tempo!
Nossos guerreiros não conseguiram impedir a marcha do
invasor. Suas preces foram sufocadas pelos canhões.
Perdemos nossos bens, muitas vidas, dialetos e nações. O
pranto foi pouco para tanta dor...
Fomos submetidos aos mais diferentes tipos de
colonialismo. Sofremos as mais contundentes formas de
respeitar o "senhor". A pior delas foi o racismo - linha reta
entre quem manda e é mandado.
Nos impuseram uma nova etnia, religiões, obrigações,
devoções e economia. Fomos escravizados à tecnologia, em
nome de um mundo "civilizado".
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense
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Pelas janelas do Atlântico, nossos olhos ainda choram
amargas lembranças, vendo nossos irmãos partirem para
terras desconhecidas. Não houve despedida, nenhuma
notícia, nenhuma esperança.
Uma delas fica do outro lado do oceano e se chama Brasil. É
uma terra muito parecida com a nossa: tem florestas, praias,
muitos rios, clima quente, clima frio, gente que ginga,
brinca e que também faz festa na roça.
Irmãos do Congo, Angola, Daomé, Gaô e Jané foram
levados para lá. Carregaram na lembrança nossos deuses,
nossas danças, nossa música, bebidas e comilanças,
misturando nosso sangue ao brasileiro. É por isso que eles
são tão festeiros.
Não fazem uma roda sem que haja um tambor, berimbau,
reco-reco e agogô. Cantam em iorubá, rimam em nagô e
começam a sambar. O que era uma roda vira festa,
colorindo o país de Norte a Sul. Vem maracatu... boi-
bumbá, congada, capoeira, reisado, umbigada, é jongo a
noite inteira.
Como num rap, ou num partido-alto, criam vários sentidos
com a magia das palavras...
Acarajé, quibebe, munguzá,
Caruru, abrazô, vatapá...
"Gererê, sarará, cururu
Olerê!
Balá-blá-blá, bafafá, sururu.
Olará!"
Carnaval/2015
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Nossos irmãos rezavam para os deuses que não eram seus.
Cantavam músicas que não eram suas. E fechavam as
procissões que se arrastavam pelas ruas.
E vejam só que interessante... Depois das lágrimas de uma
chegada angustiante, nasceram festas e folias que alegram o
povo até os nossos dias.
Foi assim que aprenderam a desfilar. Nasceram irmandades
de bambas, organizadas como verdadeiras Escolas de
Samba! Que, aliás, são Escolas de Cultura e Arte Africanas!
Nelas se aprende as coisas mais elementares da vida: Por
exemplo... uma banana, subvertida como símbolo de
racismo, na verdade é o africanismo mais popular do
Brasil... E se não devemos dar asas para o mal, podemos
transformá-lo numa brincadeira de carnaval. Que tal?
Cantemos a LIBERDADE! E para que ela abrisse as asas
sobre nós, tivemos que ser fortes de verdade. Aprendemos
com Zumbi, com os Malês, Manoel Congo, João Cândido e
outros irmãos que já não estão aqui. Mas deixaram um
caminho a seguir.
Aprendi que a vida é um permanente ritual de liberdade.
Lutando por justiça, movimentos se espalharam pelo mundo
inteiro. Estão documentados nos livros, no cinema, no
teatro, na música, nas artes plásticas, nos grafites, por toda
parte. Foi por ela que dediquei toda a minha existência. E
faria tudo novamente.
G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense
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Para que esta mensagem fosse tão transparente como as
nossas águas, buscamos um caminho sem mágoas,
procurando sempre a simplicidade. É como a África, mãe de
tantas diversidades, lutando sempre por justiça. Foi a forma
que encontramos para mostrar a verdade.
Precisamos semear nos livros, nas escolas, nas mentes e nos
corações.
Precisamos reconstruir o continente africano e a
mentalidade de muitos. Precisamos escrever uma nova
História de Vida, pontuada de ações humanas, fraternas e
solidárias!
Precisamos despertar em nossos irmãos, o mais difícil de
todos os desejos: o de aprender a amar. Para que, então, a
voz da igualdade seja sempre a nossa voz
Este será o nosso maior desafio.
Axé, Nkenda!
Nelson Mandela Céu - Departamento da África do Sul, Mvezo
Carnaval/2015
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GLOSSÁRIO
NKENDA - Amor, segundo o Kimbundu, língua africana
falada no Noroeste de Angola.
BAOBÁ (Andansonia digitata) - Também chamado de
embondeiro. Árvore que pode atingir 25 m de altura e 7 m
de diâmetro. É a árvore nacional de Madagascar, emblema
do Senegal e considerada sagrada em todo o continente
africano.
ZULUS, MASSAIS, BANTOS, MOSSIS, BOKONGOS e
HAUÇÁS - Algumas das mais tradicionais etnias africanas.
Acarajé, quibebe, munguzá, caruru, abrazô, vatapá -
Comidas e iguarias da culinária africana.
"Gererê, sarará, cururu/ Olerê!/ Balá-blá-blá, bafafá,
sururu/ Olará!" - trecho da letra de "Querelas do Brasil",
música de Maurício Tapajós e Aldir Blanc, gravada por Elis
Regina.
Carnavalesco: Cahê Rodrigues
Pesquisa e Texto: Marta Queiroz e Cláudio Vieira
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“Um Conto Marcado no
Tempo – O Olhar Suíço de
Clóvis Bornay”
G.R.E.S.
UNIDOS DA TIJUCA
Presidente: Fernando Horta
Dpto. de Carnaval: Carlos Carvalho, Annik
Salmon, Hélcio Paim, Marcus
Paulo e Mauro Quintaes
Fundação: 31/12/1931
Cores: Azul Pavão e Amarelo Ouro
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G.R.E.S. Unidos da Tijuca
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“Um Conto Marcado no Tempo – O Olhar Suíço
de Clóvis Bornay”
Ainda me lembro, sentado aos pés do meu pai... entre as
páginas dos livros, ouvindo suas histórias de uma terra
mágica, viajava nos contos encantados que davam vida aos
cavaleiros medievais montados em ginetes, cavalgando em
direção aos montes gelados e brancos. Dragões alados
sobrevoavam castelos e aldeias, o povo aterrorizado, fez um
pacto até mesmo com o diabo para construir uma ponte e,
assim, seguir seu caminho. Minha imaginação me embalava;
eu ali estava, guardado pelas emoções, o tempo não passava.
Os ponteiros do relógio bailavam em prosa e verso, eu ali
continuava, despertando personagens sem fronteiras nesse
universo.
Fiquei admirado com um bravo caçador, de pontaria certa,
salvou seu filho da tirania fatal. Homem de bem, respeitado
por todos, lutou pela independência de sua terra e pela
liberdade de seu povo. Subindo aqueles montes gélidos,
forrados por nobres estrelas brancas que caíam do céu, vivia
um lendário gigante soprando ventos frios, congelando
plantações e lagos ao léu. Eis que surge para salvar os que
estavam a precisar, o anjo dos Alpes sempre pronto a zelar.
A cada instante, minhas lembranças giravam como
engrenagens de uma caixinha de música, dando vida a uma
variedade de proezas e façanhas que jamais pude imaginar,
onde em um instante tudo cabia no bolso, na palma da mão,
tantas ferramentas em uma só. Em outra caixa, curioso
fiquei, nela senhas secretas que nem mesmo o tempo era
Carnaval 2015
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capaz de apagar. De repente, deparo-me com um novo
tempo que se forma, ponteiros a girar em todas as direções.
“Uma nova hora começou! Aproveite-a sabiamente.” –
assim o cuco falou. Livros, então, passaram a registrar
pensamentos e teorias escritas por um homem de mente
brilhante e coração puro, que, no girar dos ponteiros, viajou
a um futuro, transformando o tempo em fórmulas, fórmulas
em sonhos, e sonhos em realidades. O tempo voa, o tempo
vai, o tempo me leva na brilhante história de um viajante a
planar entre o céu e o mar na aeronave que tem o sol a
alimentá-la.
Assim, um novo tempo se anuncia. Pessoas que passam
pessoas que vêm e que ficam. Bandeiras que voam, dançam
e giram acompanhadas de trompas gigantes encantadas,
soando uma melodia em perfeita harmonia. Mas vejam só:
nessa história fascinante, um escultor transformou o
movimento, alcançando todos seus desejos, fazendo com
que sua arte fosse importante para aquela terra de cores.
Cores que protegiam, em tempos distantes em que guardas
fardados defendiam igrejas, vestindo ricos trajes. Cores que
brincavam sobre folhas brancas, riscos e traços que
conduziam a cadência pintavam o que eu não via.
Atravesso, então, para um tempo futuro, nos filmes de
máquinas e seres viajantes.
Gotas de chuva caem do céu, passeiam entre as nuvens,
descem montanhas, alimentam pastos e fontes. Entro em
uma página em que uma fábrica se faz presente. Sinto o
gosto de tudo que já comi, de tudo que já bebi. Litros e mais
litros do mais puro leite, repleto de aromas e sabores, são
transformados em passe de mágica em queijos empilhados.
G.R.E.S. Unidos da Tijuca
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E lá do alto vejo uma coroa a reluzir, nossa... existe um rei
ali! Percebo o giro dos ponteiros, como a colher do
cozinheiro mexendo sem parar. Cachos de uvas enfeitam
todos os cantos. São cascatas e rios dos mais deliciosos
chocolates, levando meu paladar a percorrer minhas
lembranças. E o cuco? Novamente alegre a cantar, anuncia
“A fábrica não pode parar!”
As páginas do livro vão se acabando. Vejo que as histórias
de ontem e de hoje misturam-se com as do amanhã. Percebo
diante dos meus olhos uma avenida estendendo-se a mim,
aqui e acolá, festas que duram o dia inteiro, até o sol brilhar.
Foliões fantasiados fazem soar instrumentos, girando os
ponteiros da engrenagem do tempo, bailando em versos,
despertando luzes acesas e o brilho das cores. Agora não
mais uma criança e sim um folião a desfilar, ainda fascinado
pelos contos daquele lugar. Encontro-me em meio à
Sapucaí, de tantos carnavais, que sempre festejei. Escrevo
mais um conto marcado no tempo, neste lugar de cores e
riquezas mil, laços Suíça-Tijuca-Brasil.
Clóvis Bornay
Carlos Carvalho, Annik Salmon, Hélcio Paim,
Marcus Paulo e Mauro Quintaes
Departamento de Carnaval
G.R.E.S. Unidos da Tijuca 2015
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LIESA - Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro
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