jornal contexto - edição 44 (dezembro/2014)

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PG 3 JORNAL CON TEXTO Nº 44 Jornal laboratorial produzido por alunos do curso de jornalismo da UFS CAMPUS NO SERTÃO PREVÊ INTEGRAÇÃO A cidade de Glória, situada no sertão sergipano, sediará o novo Campus da UFS e irá reunir es- tudantes e comunidade a partir de 2015. INFLAÇÃO AFETA O BOLSO DE TODOS O aumento persistente dos preços corrói o poder de compra das fa- mílias e pode gerar incertezas na economia quando é muito acentu- ado. WHATSAPP E SUAS INFLUÊNCIAS Para os mais íntimos whats, ou zapzap. Essa tecnologia contri- bui para a comunicação, mas o seu uso excessivo pode causar vários problemas, muitas vezes não perceptíveis. 2015 JÁ COMEÇOU PARA O CONFIANÇA Com o acesso garantido o clube co- meça a projetar a temporada 2015 visando o título do Campeonato Sergipano e a permanência na Sé- rie C do “Brasileirão”. 35% ISLAMISMO: A RELIGIÃO QUE MAIS CRESCE NO PLANETA Esse é o número de muçulmanos estimado para próximos 20 anos, passando dos atuais 1,3 bilhão para 2,2 bilhões até 2034. Cercada de preconceitos e estigmas é necessário conhecer os fun- damentos e as crenças dos seguidores de Mohamed. Nesta edição, a professora Sô- nia Meire fala sobre a impor- tância da mulher no cenário político e o que precisa ser feito para incluir o sexo femi- nino na politica. CONTEXTANDO FOTO: BRUNO CAVALCANTE Questões Raciais. O que Comemorar? A vida do negro no Brasil: 2014 retomou o debate sobre as ques- tões raciais na sociedade brasileira, revelando que o preconceito e o racismo ainda persistem. Neste cenário, a Semana da Cons- ciência Negra destaca-se como momento de reflexão. ILUSTRAÇÃO: FRANCELINO JR PG 6/7 PG 9/10 PG 23 PG 8 Ano 12 - São Cristóvão/ SE, Dezembro de 2014 Fanpage: www.facebook.com/contextoufsimpresso Edição Digital (Acervo): http://issuu.com/contexto-ufs CURTA & COMPARTILHE O CONTEXTO NA WEB

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Jornal Laboratório produzido pelos alunos do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe, matriculados na disciplina Laboratório em Jornalismo Impresso I (Turma 1).

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Page 1: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

PG 3

JORN

ALCON

TEXTONº 44

Jornal laboratorial produzido por alunos do curso de jornalismo da UFS

CAMPUS NO SERTÃO PREVÊ INTEGRAÇÃO A cidade de Glória, situada no sertão sergipano, sediará o novo Campus da UFS e irá reunir es-tudantes e comunidade a partir de 2015.

INFLAÇÃO AFETA O BOLSO DE TODOSO aumento persistente dos preços corrói o poder de compra das fa-mílias e pode gerar incertezas na economia quando é muito acentu-ado.

WHATSAPP E SUAS INFLUÊNCIASPara os mais íntimos whats, ou zapzap. Essa tecnologia contri-bui para a comunicação, mas o seu uso excessivo pode causar vários problemas, muitas vezes não perceptíveis.

2015 JÁ COMEÇOU PARA O CONFIANÇA Com o acesso garantido o clube co-meça a projetar a temporada 2015 visando o título do Campeonato Sergipano e a permanência na Sé-rie C do “Brasileirão”.

35% ISLAMISMO: A RELIGIÃO QUE MAIS CRESCE NO PLANETA

Esse é o número de muçulmanos estimado para próximos 20 anos, passando dos atuais 1,3 bilhão para 2,2 bilhões até 2034. Cercada de preconceitos e estigmas é necessário conhecer os fun-damentos e as crenças dos seguidores de Mohamed.

Nesta edição, a professora Sô-nia Meire fala sobre a impor-tância da mulher no cenário político e o que precisa ser feito para incluir o sexo femi-nino na politica.

CONTEXTANDO

FOTO: BRUNO CAVALCANTE

Questões Raciais. O que Comemorar?A vida do negro no Brasil: 2014 retomou o debate sobre as ques-tões raciais na sociedade brasileira, revelando que o preconceito e o racismo ainda persistem. Neste cenário, a Semana da Cons-ciência Negra destaca-se como momento de reflexão.

ILUSTRAÇÃO: FRANCELINO JR

PG 6/7

PG 9/10

PG 23

PG 8

Ano 12 - São Cristóvão/ SE, Dezembro de 2014 Fanpage: www.facebook.com/contextoufsimpressoEdição Digital (Acervo): http://issuu.com/contexto-ufs

CURTA & COMPARTILHE O CONTEXTO NA WEB

Page 2: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

EDITORIAL

3, 4,5 e 6

POLÍTICA

22, 23,24 e

CULTURA

18, 19,20 e

ciência&tecnologia&

comportamento

13, 14, 15, 16 e

saúde&meioambiente

7 e 8

ECONOMIA

9 e 10

MUNDO

11 e 12

EDUCAÇÃO

26, 27 e

ESPORTE

SUMÁRIO

CHARGE Universidade Federal de SergipeCampus Prof. José Aloísio de Campos

Av. Marechal Rondon, s/n, São Cristóvão - SE

Reitor - Prof. Dr. Angelo Roberto AntoniolliVice- Reitor - Prof. Dr. André Maurício C. Souza

Pró- Reitor de Graduação - Prof. Dr. Jonatas Silva MenesesDiretora do CECH - Drª. Iara Maria Campelo Lima

Jornal Laboratório do curso de Jornalismo

Departamento de Comunicação Social (DCOS) -Drª. Raquel Marques Carriço Ferreira

Fone: 2105-6919/ 2105-6921 Email: [email protected]

Coordenação Editorial: Prof. Ma. Michele da Silva Tavares(DRT - 1195/SE)

Planejamento Visual: Saullo d’AnunciaçãoColaboração: Ives Deluc

Equipe Contexto - Edição 45

Ana LúciaBruno Cavalcante

Carolina LeiteCleydson Santos

Demétrius OliveiraDeyse Tuanne

Ediê ReisFernanda Sales

Felipe GoettenauerHelena Sader

Isadora Santos

Juliana SantanaJussara Gonçalves

Kamille PerezLeilane CoelhoLorena FreireMary Belfort

Miguel CarlosRafael Lima

Rodrigo AlvesSilvânio Júnior

Silvia Rodrigues

EXPEDIENTE

Preparar um jornal como o Contexto é para nós alunos do curso de Jorna-lismo, a oportunidade de vivenciar a prática dentro da academia, as muitas experiências que nos aguardam no mercado de trabalho. Desse modo, pen-samos essa edição diante de um cenário pós eleições 2014, no qual vamos abordar de forma enfática a atual situação da política no Brasil.

A Edição 44 do Contexto é pluritemática e apresenta um dossiê sobre o cenário político no Brasil, abrangendo os desafios da mulher na política, em um país ainda muito machista onde as mulheres são minorias nos lugares de debate político. Também problematizamos as questões raciais, além de enfatizar o uso das redes sociais dentro de um cenário político nacional e regional.

Na construção desse jornal, será mostrado no caderno de Economia, como está sendo o ingresso de universitários no mercado de trabalho, e o que se

entende por inflação. Já em Mundo, convidamos você leitor a entender o funcionamento do programa Ciências sem Fronteiras, e a religião que mais cresceu em 2014, o Islamismo.

Assuntos contundentes que irão fazer com que você, caro leitor, se sinta bem informado com cada tema aqui abordado. Iremos também tratar da expansão do Campus de Glória, na editoria de Educação, e um alerta acerca do avanço da obesidade no Brasil e no mundo, no espaço destinado à Saúde.

E para aqueles que não conhecem como é o processo de descarte do material tecnológico, terão algumas dicas. Sem esquecer das dicas de como usar o aplicativo WhatsApp e sua relação com as pessoas. Tere-mos o prazer de apresentar o crescimento do audiovisual em Sergipe, nosso orgulho. E ai? Está esperando o que? Tenha uma ótima leitura.

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”. Essa é uma citação extraída do Artigo 1º da Declaração Uni-versal dos Direitos do Homem. Mas quando rela-cionada ao racismo, apresenta uma contradição. Todos iguais? Em que lugar? Uma sociedade que se diz moderna e evoluída ainda contém pesso-as retrógradas que humilham o seu próximo por causa de uma simples cor de pele. Essas pessoas conhecem os Direitos Humanos?

O racismo não é um tema atual, no entanto continua presente e pouco se foi combatido. A discriminação cultural, profissional e religiosa; e o aumento da violência contra negros, nos faz lembrar alguns acontecimentos importantes que

foram desencadeados durante o ano de 2014. Como a campanha “eu não sou macaco”, que mesmo sendo suscitada por estrangeiros, serve de exemplo para a sociedade brasileira que ainda convive lado a lado com o racismo. É admirável que mesmo depois de tantos anos, existem pes-soas que não “conhecem” os Direitos Humanos. São pessoas assim, que vive um retrocesso, onde fixaram suas raízes no tempo da escravidão e por lá ficaram. O mais engraçado é que muitas delas gostam de um sambinha, saboreando uma boa feijoada ou uma bela moqueca. Aqueles velhos costumes trazidos dos negros.

Essa sociedade desordenada e preconceituosa “ajuda” a construir uma cultura antiprogressista

(DES)ORDEM E (ANTI)PROGRESSO

no Brasil. Esse mesmo Brasil que é formado por uma miscigenação de raças, onde somos todos brancos, negros, pardos e índios. Então, por que ainda existe racismo? Leis e fiscalizações existem. O que falta mesmo é a sociedade se conscientizar e aprender o significado da palavra “respeito”. Cabe à educação familiar e escolar fazer o seu trabalho, pois uma sociedade que “comemora” o Dia da Consciência Negra e o Dia da Denúncia contra o racismo, não é uma sociedade conscien-te.

Acreditar que não existe um racismo latente na sociedade atual é acreditar que nunca houve escravidão no Brasil.”

Por Isadora Santos, aluna do curso de Jornalismo/ UFS.

OPI

NIÃ

O

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contextando

COM PROFESSORA SÔNIA MEIRE

3

CONTEXTO: A senhora acha que os partidos sergipanos e nacionais dão espaços realmente para as mulheres? (Com relação a posições de destaques dentro do partido)

SÔNIA MEIRE: A entrada da mulher na política é uma conquista e faz parte da luta pela reafirmação da mulher nos espaços de poder. Em geral, em uma so-ciedade marcada pelo patriar-cado, é comum que os partidos tenham dificuldades para reco-nhecer o poder da mulher, tan-to é, que alguns partidos cria-ram cotas para mulheres para incentivar a participação femi-nina. O PSOL por exemplo, em seu último congresso aprovou, por unanimidade, que em to-das as instâncias de direção do partido tem que ter no mínimo 50% de mulheres.

C: O partido ao qual a se-nhora se candidatou, nor-malmente apoia as mulhe-res aos pleitos eleitorais?!

SM: Sim, a candidata a presi-denta da República é um exem-plo disto, mas não significa dizer que não se tenha neces-sidade de discutir a participa-ção das mulheres na política. O último congresso do partido aprovou por unanimidade a participação de mulheres em todos os espaços internos do mesmo. No entanto, muita luta ainda há por se fazer para que as mulheres ocupem cada vez mais o espaço público, os espaços de poder representando um projeto socialista, um projeto de transformação real.

C: Há diferença na concorrência en-tre homens e mulheres na política sergipana e/ou nacional?

SM: Sim, a maior parte dos candidatos nacionalmente e em Sergipe, inclusive os eleitos foram homens. Na câmara federal

apenas 10% dos eleitos são de mulheres. No senado, entre os 27 vagas disponíveis as mulheres conseguiram ocupar apenas 5. Na assembleia legislativa de Sergipe a banca-da feminina eleita foi de 16,7%, houve uma diminuição em relação à eleição de 2010. A diminuição nas bancadas estaduais ocorreu em 16 estados brasileiros.

C: O que a senhora pensa com relação a participação das mulheres nos mo-vimentos sociais locais e nacionais? E se existem muitas mulheres envolvi-das nesses movimentos?

SM: Sim, As mulheres cada vez mais lide-ram as mobilizações, as lutas, estão à frente de movimentos sindicais e sociais e à frente do seu próprio tempo.

C: Visto em conta que a maioria dos eleitores sergipanos são do sexo femi-

nino, o que a senhora pensa a respei-to das mulheres não votarem massi-vamente em você?!

SM: O voto em mulheres na conjuntura das eleições não pode ser visto de forma dire-ta de que mulher poderia votar em mulher. Historicamente as mulheres foram subme-tidas ao mundo privado. A participação da

mulher no mundo públi-co da política exige uma transformação completa das relações assumidas pela sociedade do capi-tal. A negação da mulher na política tem haver com uma questão econô-mica cuja base é a explo-ração. Por isso, lutamos para que as mulheres não se candidatem ape-nas para constar e os partidos alcançarem a cota de participação fe-minina.Nas eleições em Sergipe o financiamento priva-do, o apelo emocional e o assédio para que as pessoas não perdessem o emprego, mesmo que precarizado, foram al-guns fatores que marca-ram a decisão de mulhe-res e homens. Por isso, não se pode dizer que mulher não vota em mu-lher. Vota sim, mas antes de votar na mulher, vota

no projeto e nós tivemos uma parcela signi-ficativa de mulheres e de jovens que aposta-ram no projeto que estávamos defendendo e não apenas votou porque era uma figura feminina que defendia o projeto, embora consideremos que a candidatura também tivesse destaque em ser mulher, até porque os adversários eram todos homens. Neste caso, o projeto ousado sendo defendido por uma única candidata mulher conseguia dia-logar muito bem com a população.

Professora Doutora em educação na Universidade Federal de Sergipe e candidata a governadora de Ser-gipe pelo PSOL nas eleições de 2014.

por KAMILLE [email protected]

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políticapolítica

4

por KAMILLE [email protected]

DESAFIOS DA MULHER NA POLÍTICAMesmo com todas as dificuldades e preconceitos, a presença feminina no cenário político apresenta avanços. Apesar disso, o número de mulheres na Assembleia Legislativa ainda é consideravelmente pequeno

Maria Mendonça, do PP, das 27 vagas oferta-das para a Assembleia Legislativa, apenas cin-co foram preenchidas por mulheres e nenhu-ma Deputada Federal foi eleita ou reeleita em 2014.

Uma pesquisa realizada no inicio do mês de outubro pelo DataSenado confirmou o que os brasileiros acham a respeito da pequena parti-cipação da mulher na política, segundo eles, os fatores vão desde a falta de interesse por polí-tica até a falta de apoio dos partidos políticos. Outro fator dominante é o fato dos partidos se-rem comandados por homens.

Para a Professora e candidata ao cargo de go-vernadora de Sergipe pelo Psol ( Partido Socia-lismo e Liberdade), nas eleições de 2014, Sônia Meire, a entrada da mulher na política é uma conquista e faz parte da luta pela reafirmação da mulher nos espaços de poder. Segundo a professora, isso dificulta o reconhecimento da mulher no espaço politico e com isso alguns partidos acabaram criando cotas para incenti-var a participação feminina. Mas a inclusão de cotas não é o suficiente. “A negação da mulher na política tem haver com uma questão econô-mica cuja base é a exploração. Por isso, luta-

mos para que as mulheres não se candidatem apenas para constar e os partidos alcançarem a cota de participação feminina.

Embora todas as dificuldades enfrentadas pelo sexo feminino para “ter espaço” na socie-dade, o nomes de mulheres que estão sendo re-conhecidas pela competência vem crescendo. Angela Merkel, Chanceler da Alemanha desde 2005 e líder do partido União Democrata-Cris-tã desde 2000, Cristina Kirchner, Presidenta da Argentina desde 2007, e, a representan-te brasileira Dilma Rousseff, que comanda o Brasil desde 2000, são alguns dos nomes de mulheres importantes no mundo. Número esse que tende a crescer cada vez mais

O número de mulheres no Brasil, segundo o IBGE, é de aproximadamente seis mi-

lhões a mais que o número de homens. Mesmo com essa grande diferença,não é difícil perce-ber que os cargos de chefia e os salários mais altos ainda são, na sua maioria, ocupados pelo sexo masculino.

A conquista do voto feminino, a Carta Mag-na de 1988, e várias outras conquistas tem contribuído para o avanço da participação da mulher nos cenários públicos, diminuindo a discriminação e garantindo assim o direito de igualdade, entretanto a presença feminina ain-da é escassa nos cargos de poder.

No cenário político, a primeira mulher na América do Sul, por exemplo, a ser eleita pre-feita, foi a Luíza Alzira Soriano, que venceu as eleições de 1928 na Cidade de Lajes (RN). Nes-se ano, a eleição para presidente foi a primeira a ter duas mulheres na lista dos três principais candidatos, e Dilma Rousseff, foi a primeira presidenta eleita no Brasil, em 2000, sendo re-eleita neste ano de 2014.

Em Sergipe a situação é a mesma, embora Sílvia Fontes, do PDT, tenha sido a Deputada Estadual mais votada no Estado, seguida de

Lideranças políticas femininas pelo mundo: da esquerda para a direita, Cristina Kirchner, da Argentina, Dilma Rousseff, do Brasil e Angela Merkel, da Alemanha

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5 política

por LORENA [email protected]

AS REDES SOCIAIS INVADEM A POLÍTICACurtidas e compartilhamentos se difundem em largas proporções e influenciam diretamente no cenário político brasileiro, criando um novo espaço para discussões

As mídias sociais são formas de relaciona-mento interpessoais que a cada dia vem se

consolidando mais. Facebook, twitter, instagram, whatsapp e outras tantas mídias se difundem a cada dia, e fortalecem laços interativos entre seus usuários, formando amizades virtuais.

Os espaços virtuais já constituem um palco para a diversidade de relacionamentos. Entretan-to, no ano de 2014, a internet inovou, além das formas de relacionamento, a web abriu uma bre-cha para o debate político.

Uma enxurrada de conteúdo foi produzida, a militância virtual ganhou espaço e os discursos online se perpetuaram, dando visibilidade a can-didatos e proposta, gerando assim uma nova di-mensão para votação de cargos eletivos.

Todo esse material, vira matéria-prima para os estudos desenvolvidos por Vitor Braga, pesquisa-dor na área e docente da Universidade Federal de Sergipe, que desenvolve estudos científicos acer-ca dessa revolução digital.

“A transformação imediata trazida pelas redes sociais para o processo político/eleitoral, foi a forma de se perceber a audiência da campanha. Nas campanhas anteriores com tv, radio folder, cartazes, o termômetro do processo era feito atra-vés de pesquisas, diretamente com o público, era uma comunicação mais vertical. Atualmente a forma de se perceber a audiência é totalmente di-ferente. Hoje em dia o fato (de campanha) acon-tece agora e instantaneamente gera compartilha-mento e tuites, etc”, disse Vitor Braga, mostrando os avanços trazidos por essa revolução digital.

Segundo Vitor, a necessidade de estar aten-to ao universo digital, bem como de gerenciar o perfil dos candidatos, expõe o surgimento de um novo personagem dentro dos bastidores das cam-panhas, os profissionais de mídias sociais, já que há funções muito específicas que são desenvolvi-das por esses profissionais.

Para o pesquisador, a grande marca deixada pela convergência midiática dentro do cenário político, foi a modificação da audiência. “Não se pode imaginar que essa audiência é semelhante ao modelo que já existia, porque é uma audiência que trabalha com várias plataformas e consegue informação de várias formas, tanto através da mí-dia social, quando das suas redes sociais particu-lares”, disse ele Braga.

As eleições de 2014 marcaram o desafio dos profissionais de campanha em trabalhar de forma sinuosa com a convergência midiática. Alcançan-do os maiores avanços já vistos pela globalização, a internet desafiou o marketing de campanha a se remodelar.

Leandro Gonçalves da Luz, publicitário que atuou diretamente na campanha política de can-didato, sentiu diretamente os impactos desta nova dinâmica que fora imposta pelos ambien-tes virtuais. Há cinco anos na área, diz que a co-municação virtual permite alcançar interações nunca vistas, já que a velocidade de interação é sempre alta. Entretanto relata que essa rápida di-fusão tem seus contrapontos, uma vez que há ge-ração de conteúdo instantâneo permite a difusão de muitos boatos inverídicos.

Para o publicitário, os articuladores de campa-nha devem estar sempre atentos ao universo vir-

tual para ter controle sobre as informações que são geradas a cada instante. “Manter um controle sobre o universo do candidato online é a melhor maneira de evitar possíveis crises, entretanto quando formadores de opinião espalham notícias sobre boas ações do candidato a mensuração po-sitiva é excelente”, disse ele ressaltando a impor-tância dos formadores de opinião.

A formação de opinião nas redes sociais é um ponto controverso, opiniões emergem a cada ins-tante, sendo

difícil encontrar aquele que fica ileso, ao que é difundido. É o caso do estudante de design grá-

fico, Vitor Araújo. Com 20 anos, declara-se um militante virtual com orgulho. Acostumado a compartilhar informações para o seus seguido-res, avalia o espaço virtual, como um ambiente mais cômodo para emergir a discursão politica.

A estudante de Relações Internacionais, Paula Alves, analisa a importância das redes sociais no cenário político brasileiro desde o ano de 2013. “Podemos ressaltar a importância das redes so-ciais na política desde o ano passado, durante as manifestações de junho, já que boa parte da or-ganização dessas manifestações se deu via inter-net”, disse a estudante.

Para ela, é necessário dirimir os pontos positi-vos e negativos, que fora proporcionados por essa convergência midiática.

“A maior participação e interesse da socieda-de civil pela própria política (mesmo porque esta vem se tornando mais acessível), a veiculação de dados que não são beneficiados pela imprensa “mainstream” e a rápida mobilização de um nú-mero significativo de pessoas”, disse ela elencan-do a carga positiva do cenário de convergência.

Todavia, Paula aponta pontos negativos que fo-ram observados durante a campanha política. “A falta de “confiabilidade” de muitas informações que circulam de maneira bem mais fácil (ou seja, aqueles a veiculação de boatos que mais desinfor-mam do que informam) e a falta de um debate te-órico, com argumentos mais sólidos (gerado por

opiniões formadas somente pelo senso comum), fato que acarreta em discussões “políticas” pesso-ais, com a presença de xingamentos, preconceitos e até mesmo um sentimento de ódio ou separatis-tas”, disse ela, com pesar.

Em relação aos xingamentos e discursões pú-blicas, estas foram ampliadas pelas mídias so-ciais. Um compartilhamento, seguido de um comentário de discórdia era o suficiente para ins-taurar o caos virtual. Amizades sendo desfeitas, e o discurso de ódio sendo levado a proporções elevadas.

Com uma postura pró-ativa virtualmente, Vi-

tor Araújo mostra-se muito tranquilo em relação a todo esse discurso de ódio que foi gerado nas redes sociais. “Acredito que tenha sido (o ódio), fruto de um temperamento hostil daqueles que acreditam que propostas políticas e ideologias devem ser difundidas (ou combatidas) através do medo, e não por meio da contra argumentação”, concluiu ele.

Alheio a essa agressividade, Vitor vê seus com-partilhamentos como uma maneira de difundir propostas ideológicas de forma discursiva.

Com a missão de lidar e prepara toda uma campanha política, o publicitário Leandro, es-pera desafios cada vez maiores para as próximas eleições.

“Nas próximas campanhas os profissionais de-vem estar mais atentos ao diálogo, sempre focan-do em humanizar e quebrar as barreiras a modo de gerar aproximação entre o candidato e o públi-co geral. Campanhas transparentes e dinâmicas”, disse ele.

Assim, na geração dos likes e compartilhamen-tos, o cenário político virtual ganha espaço e visi-bilidade, incumbindo aos militantes e gestores de campanha direcionar o agendamento virtual

Ilustração: Fernando Caldas

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6 política

QUESTÕES RACIAIS: O QUE COMEMORAR?Uma proposta de análise sobre a vida dos negros no Brasil, suas lutas e conquistas, mediante as manifes-tações referentes a semana da consciência negra

“ - Mãe porque eu sou diferente de todo mundo da minha escola e daqui de casa?

- Como assim Maria*? - É mãe eu sou diferente, sou preta, meu cabelo é

ruim, de bruxa não gosto de ser assim! - Mas quem te disse isso minha filha? - Todo mundo na escola”.

Esse é parte do diálogo entre mãe e filha que ba-lançou toda estrutura familiar, quando aos sete anos de idade, Maria Luiza (pseudônimo que atribuímos à criança para preservar sua identidade), questionou os pais a respeito da cor de sua pele e seus cabelos, devido aos atos de bullying sofridos na escola. Caçula de quatro filhos de uma família descendente direta de escravos, que se orgulha da história de seus an-tepassados, Maria é a que maior evidencia os traços afro. Descobriu isso através do preconceito e intole-rância de uma sociedade que se diz não racista, mas que na verdade vive um racismo disfarçado. Ser a mais negra da família nunca exigiu uma conversa sobre o assunto, como afirma dona Josefa (também pseudônimo), mãe da criança. “Sempre soubemos que ela era diferente, o que chamamos de tinta mais forte, mas todos somos negros com raízes afro mui-to bem claras e nos orgulhamos disso, nunca vimos a necessidade de dizer a ela ‘filha você é mais negra que seus irmãos’.”, explica.

Entretanto, passada a fase da creche - pelo visto também a fase da inocência, agora matriculada no 1º ano do ensino fundamental a pequena afro-brasilei-ra se deparou com uma enorme situação de precon-ceito das piores formas possíveis e não só dos colegas de mesma idade, mas também de educadores, que se omitiam e se negavam a enxergar o problema. Maria Luiza, deixava agora de ter o próprio nome respeita-do na escola para ser chamada de “cuscuz queima-do”, “tição preto”, “carvãozinho”, “nega preta” “filho-te de urubu”, “cabelo de bombril”, “cabelo de bruxa”, etc. Não é preciso ter formação em psicologia para imaginar o que tudo isso provocou na cabeça e na

vida de um ser no início da formação do seu conheci-mento de mundo e que esses traumas serão levados para toda vida.

Toda essa situação jamais imaginada pelos fami-liares, fez com que soluções fossem buscadas na ten-tativa de resolver o problema do preconceito, porém esse problema é de difícil solução em um país onde impera a “lei do mais forte”, o racismo encoberto e falta de aceitação do outro. Segundo a família, junto à escola, nada se conseguiu fazer, no entendimento da direção e dos professores isso era coisa de criança. “A escola nem nos deu atenção, por vezes ia lá con-versar com diretora, professora, e elas simplesmente me diziam que era coisa de criança, que eles se en-tenderiam entre eles mesmos e que eu não me preo-cupasse”, afirma a mãe de Maria.

Mas, em casa, os transtornos de tudo sofrido na escola traziam problemas: Maria Luiza não se ali-mentava direito, não queria sair de casa “para não se queimar no sol”, porque para ela a cor de sua pele era “preta” por causa do sol, ir à escola estava fora de cogitação, queria se isolar do mundo “até ficar branca”. Em sua imaginação infantil, um dia seria “normal” como aqueles que a maltratavam, várias si-tuações foram vividas durante todo esse processo de aceitação. Seu comportamento antes de uma criança alegre, empolgada com a escola, brincalhona, sorri-dente fora trocado pelo de uma pequena depressi-va, chorava constantemente, buscava diariamente entender porque não era igual, questionava-se com Deus, porque Ele a teria feito assim. Com o passar do tempo, na tentativa de ser aceita no seio escolar, entregava o próprio lanche para os colegas, pagava com as poucas moedas que ganhava por minutos de paz onde ninguém lhe dissesse nenhum dos apeli-dos, comparava-se aos outros e de nenhuma forma entendia a cor de sua pele.

Foi necessário um longo acompanhamento psico-lógico profissional e um processo junto ao Ministério Público para que a escola tomasse alguma providên-cia. Atualmente aos 10 anos de idade, passados três

de toda essa fase, Maria Luiza entende um pouco me-lhor a situação, mas algumas coisas ainda não foram aceitas, mesmo agora se reconhecendo como negra e defendendo-se dos insultos que sofre. Mudou o ca-belo através de processos químicos e diz: “É melhor evitar o sol intenso para não ficar ainda mais preta”. A história dessa criança nos faz refletir a necessidade de em pleno século XXI debater a vida dos negros no Brasil desde o processo de colonização até os atuais dias de preconceitos velados.

Há 319 anos na data que hoje se comemora o dia da consciência negra morria Zumbi, líder do Qui-lombo dos Palmares, morto em 20 de novembro de 1695, justamente por lutar pelo direito de ser negro, disseminar a cultura afro e as religiões de matrizes africanas. No período em que se reafirmam essas lu-tas através dessa data dita comemorativa surge uma nova nesse cenário, o dia da denúncia contra o racis-mo (19/02). Mas, faz-se necessário que a sociedade de modo geral se questione sobre o que comemorar nessas datas, além de refletir sobre as conquistas e lutas do negro no Brasil, e o estilo de vida do povo que é maioria no país segundo censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) como também da cultura e religião que propagam.

A atualidade de uma temática tão antiga expõe o paradoxo que vive a sociedade diante do racismo, de certo modo obriga o poder público a criar ações que atendam aos anseios do povo afro. Nesse sentido, entre 2003 e 2008, foram aprovadas as leis 10.639 e 11.645 que estabelecem a obrigatoriedade da in-clusão no currículo oficial da rede de ensino o tema: “História e Cultura Afro-brasileira e Indígena”. Para o prof. Dr. Eduardo Quintana responsável por inú-meras pesquisas sobre diversidade étnica e cultural na Universidade Federal Fluminense (UFF), o fato das leis existirem não significa que elas defendam os interesses dos negros. “Existem as leis, mas há ain-da um grande e necessário debate para que essas leis efetivamente se cumpram. Tratar as questões raciais é entender que não adianta existir a lei sem a devida

Imagem: Blog da UNEGRO/Rio de Janeiro

Page 7: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

7 política

por ANA [email protected]

efetivação delas, até porque o grande desafio dessas leis é colocar as questões raciais como processos civi-lizatórios”, afirma.

Em 2014, foi criado pelo governo um projeto de lei que reserva 20% das vagas de concursos públicos da União para candidatos negros. A lei 12.990/2014 foi proposta pelo Executivo, em novembro de 2013, teve uma tramitação extremamente rápida no Congres-so Nacional. É importante notar que a lei representa uma etapa subsequente à adoção de reserva de vagas para estudantes negros e pardos nas universidades públicas brasileiras. Essa reserva de vagas nos con-cursos públicos não apenas se mostra compatível como cumpre a determinação do artigo 39 do Es-tatuto da Igualdade Racial, que determina: Art. 39. “O poder público promoverá ações que assegurem a igualdade de oportunidade no mercado de trabalho para a população negra, inclusive mediante a imple-mentação de medidas visando à promoção da igual-dade nas contratações do setor público e o incentivo à adoção de medidas similares nas empresas e orga-nizações privadas”.

RELIGIÃOEsse debate sobre as questões raciais vai muito

além da reivindicação do direito de ser respeitado independentemente da cor da pele e chama atenção para as reivindicações do direito de disseminar uma cultura e professar o que para a comunidade afro é uma religião. Mesmo que a maior parte dos negros no Brasil se declare cristãos existe uma parte da po-pulação, cerca de 0,3% de brasileiros que se dizem pertencentes as manifestações religiosas de matrizes africanas, o Candomblé e a Umbanda, ainda assim a sociedade pensa essas manifestações somente como uma cultura étnica, ou vulgarmente conhecida como “macumba”, “coisas do demônio”, etc, não como uma religião, e esses modelos já estão afirmados no imaginário da sociedade.

Para o Professor Doutor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Genésio José dos Santos, foram mais de três séculos de dominação europeia, de li-nhagem religiosa católica, e com a disseminação de outras práticas religiosas ligadas ao cristianismo, a perseguição aos cultos aos orixás, intensificou-se. “A demonização tornou-se mais forte a partir das práti-cas religiosas protestantes que resolveram eleger as de matriz africana como seus verdadeiros alvos, com algumas poucas exceções. Mas, o que falta ser exerci-tado pela sociedade brasileira e pelos cristãos é o res-peito a diversidade e ao caráter plural da cultura bra-sileira. Esta sociedade precisa livrar-se da ignorância que é reflexo da falta de conhecimento”, afirma.

Já para a lei, segundo o Juiz da 17ª vara do Rio de Janeiro, Eugênio Rosa de Araújo, são mesmo apenas manifestações religiosas. Do ponto de vista social quando o juiz toma uma decisão como essa ele põe na lei o que para a massa já está posto como prática diária de não aceitação do outro com seus direitos, deveres, jeito de ser e ver o mundo, colocando em dúvida ainda, o que afirma a Constituição de 1988, quando diz que “O estado é laico”.

Conforme afirma José Thiago da Silva Filho, ou Thiago Fragata (como é conhecido), historiador, po-eta e diretor do Museu Histórico de Sergipe, o pro-blema está em um Estado que se diz laico, mas está diretamente ligado a uma religião. “Depois de toda uma experiência colonizadora europeia no Brasil, que animalizou africanos através de uma escatologia para justificar a escravidão como um mandamento divino, uma libertação e uma igualdade foi garantida na letra da lei, mas a Constituição e o Código Penal apesar de suas atualizações do último século, não re-fletiu ou alterou a realidade preconceituosa, racista”.

Segundo o Professor Dr. Genésio Santos, essa lai-cidade do Estado não se enquadra nas práticas reli-giosas de matriz africana. “Não existem políticas de Estado obrigando qualquer tipo de comemoração a

essas práticas. Mas, o Estado Brasileiro, continua, mesmo com a constituição dizendo que o Estado é Laico, comemorando as datas do calendário católico, com a instituição de feriados, inclusive. O fato de ser instituído o Dia Nacional da Consciência Negra foge totalmente do propósito, visto que não existe o dia de comemoração à Iemanjá, a Oxalá ou a Iansã, por exemplo”, explica.

Se pensarmos no que foi feito historicamente com as religiões e/ou práticas religiosas que não o catoli-cismo na América Latina e demais porções do globo terrestre, esse imaginário de demonização das ma-nifestações religiosas de matrizes africanas, está lon-ge de ser desconstruído e requer muito mais esforço para que isso aconteça. “Quando um juiz reconhece que existem sim manifestações religiosas distintas do cristianismo, não está favorecendo as práticas re-ligiosas de matriz africana, ao contrário, está abrin-do os olhos da sociedade para o caráter plural destas práticas, e por isso mesmo, a diversidade tem que ser respeitada. Se nos reconhecermos diferentes uns dos outros, porém iguais diante da lei, muita coisa pode mudar na convivência em sociedade”, afirma o pro-fessor Genésio.

CULTURACom o objetivo de atender a necessidade de uma

política cultural de Estado que seja inclusiva e de-mocrática, o Ministério da Cultura, em parceria com a Fundação Nacional das artes, criou o projeto que fomenta as produções artísticas de produtores ne-gros. Durante a chamada semana da consciência ne-gra, muitos eventos, inclusive nas escolas públicas e particulares, buscaram demonstrar uma dita cultura africana, com danças, histórias e memórias contadas sobre os escravos e a história da África, que direta ou indiretamente reforçam estereótipos do imaginário infantil e reafirmam preconceitos.

Essas manifestações executadas por pedagogos não refletem a real necessidade de se educar para o combate ao preconceito, aceitação e expressão da cultura afro. Thiago Fragata, afirma que o que se ten-ta, de forma “atabalhoada”, é reafirmar o contributo do povo africano para construção do Brasil. “É la-mentável algumas práticas educativas que no anseio de afirmar ou reafirmar negritude e essa contribui-ção cultural do povo negro, acabam por defender o protagonismo do negro em detrimento do branco ou índio. Acredito que o foco deve ser a diversidade e a tolerância; é preciso construir as práticas educativas e planejamento tendo como orientação a diversida-de e a tolerância. Negritude dentro de um quadro abrangente de diversidade cultural, religiosidade de matriz africana dentro de um país que preconiza a tolerância religiosa, um país laico”, justifica.

Dentre esses eventos realizados nas redes de en-sino para afirmação da negritude, estão presentes os concursos de beleza negra que buscam identificar de forma excludente e por vezes racista, padronizações de beleza segundo a cultura do capitalismo, ditando formas para rostos e corpos atenderem critérios ale-atórios. Usando o discurso de valorização da negritu-de, esses concursos expõem meninos e meninas de diferentes idades que nesses “eventos especiais” são reconhecidos como bonitos.

Segundo Thiago Fragata, esse é mais um exemplo do que chama de “atividade afirmativa atabalhoa-da”. “Assistimos nas escolas a tal da eleição da beleza negra e seus festejados concursos. Ora, buscar um padrão de beleza negro será a fórmula para se con-trapor ao padrão de beleza branco, sabendo o quanto este é excludente, ditado por uma minoria de modis-tas, orientado para satisfazer um nicho do mercado de produtos de “beleza”? Não, não precisamos cele-brar um padrão de beleza negro para incentivar a au-toestima entre os jovens. A autoestima é que deveria ser o foco”, explica.

Já entre os eventos culturais, em São Cristóvão na

semana da consciência negra foi realizada a quinta edição do “O CÍRCULO DOS OGÃS: africanidade e resistência em São Cristóvão”. Um evento ecumêni-co e democrático cujo objetivo é mobilizar as comu-nidades de terreiros de São Cristóvão e a sociedade sergipana para um dia de reflexão sobre direitos e cidadania. “Tenho dito que pensamos este evento focado na tolerância religiosa e na diversidade cul-tural brasileira, se ele mantém seu foco nas questões étnico-raciais é por conta do preconceito inaceitável que perdura em pleno século XXI, das injustiças e invisibilidade social que vive, por exemplo, o povo de terreiros deste país. Não por acaso o tema do V Círculo dos Ogãs (2014) foi “Mulheres Negras”. Ima-ginemos que no mercado de trabalho de hoje, uma mulher negra ganha menos que o homem branco, a mulher branca e o homem negro”, afirma Thiago que é também um dos organizadores do evento.

Ainda sobre o dia da consciência negra, o professor Genésio chama atenção para o fato de que essa data não foi estabelecida para comemoração. “A Semana da Consciência Negra não foi criada para comemo-ração das práticas religiosas de matriz africana nem de sua cultura e sim para refletir a importância da participação dos negros de origem africana na cons-tituição da sociedade brasileira. Até porque a socie-dade brasileira historicamente negou esta presença negro-africana em seu seio, colocando os negros em situação de inferioridade, com propósitos bem defi-nidos, a partir de uma ideologia europeia dominan-te, perpassando pelo processo, inclusive de formação escolar”.

A chamada Semana da Consciência Negra não foi instituída nem pelo Estado e nem pelo Governo do Brasil e sim pelo Movimento Negro politicamen-te organizado, com o propósito de fazer com que os negros brasileiros possam conhecer e reconhecer a sua verdadeira história, que de forma alguma é àque-la inventada pelos descendentes de europeus, tanto de origem portuguesa como espanhola, nos primei-ros momentos da colonização. Já que, as regras da convivência social brasileira estabeleceram ao longo dos anos condições que fizeram com que negros não se orgulhassem de suas origens, não só através dos estereótipos sobre as religiões de matrizes africanas, seja pelo modo como se vestem os praticantes destas, seja pelo modo como usam seus cabelos, ou os dias da semana que guardam, ou mesmo pela demoni-zação das mesmas, mas também através de ditados populares e muito usuais como: “A coisa tá preta”, ou, “aquela/e é a ovelha negra da família”, etc. Essas regras de certo modo são responsáveis por situações como a que vivenciou Maria Luiza e sua família, con-tinuarem acontecendo em pleno século XXI.

126 anos nos separam daquele 13 de maio de 1888 (data em que a escravidão foi abolida no Brasil), não há mais a senzala, o tronco, o feitor, nem o chicote, mas manteve-se o preconceito, o racismo, a discri-minação, a inferiorização do negro em detrimento ao branco e todas as marcas dos longos anos de do-mínio europeu. “A história dos africanos e dos seus descendentes deve estar na pauta do dia das escolas e das universidades para que a ignorância seja um dia superada e a convivência entre pessoas de cores e práticas religiosas distintas seja verdadeiramente harmônica. Não se pode negar que as conquistas do movimento negro organizado vêm se estabelecendo de forma progressiva e de certo modo, mesmo que aos poucos, a sociedade brasileira vai entendendo que mesmo de forma velada o racismo está presente em seu meio e que precisa ser superado”, conclui o professor Genésio.

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por MIGUEL [email protected]

QUEREM A VOLTA DO TERROR?Defensores da Intervenção Militar pedem o poder e a força no país. Torturados relacionam o pedido às mais tristes lembranças dos Anos de Chumbo

O escândalo na Petrobrás e a crise de abaste-cimento de água ocorrida na cidade de São

Paulo são umas das situações deflagradoras no qual o Brasil está vivendo. Por outro lado, um forte apelo tem sido provocado pela extrema direita quando pe-dem a volta da Intervenção Militar.

Foram através de manifestações ocorridas na cida-de de São Paulo, maior concentração de pessoas, em Junho deste ano e em outras cidades do país que mi-litantes da direita e parcela da sociedade sem filiação aos partidos, foram às ruas requerer a volta dos mili-tares ao governo. E foi no Facebook, que essa “luta” ganhou força, frases do tipo: “Intervenção militar já” e “Sociedade quer que os militares voltem a governar o Brasil”, foram publicadas e curtidas.

E porque a Intervenção Militar deve ser entendi-da como instituição de uma Ditadura Militar? Para entender um pouco do que é militarização, a pesqui-sadora e mestre em História, formada pela Univer-sidade Federal de Sergipe - UFS, Mislene Vieira dos Santos, explica: “a militarização pode ser pensada como um resultado de uma tomada de poder pelos militares”.

Num momento em que acontecem mobilizações nas ruas que apelam para uma intervenção militar na vida política e institucional brasileira é urgente e necessária uma reflexão sobre as condições que per-mitiram a implantação da ditadura militar no Brasil. O golpe de 31 de março de 1964 foi um dia de triste memória que se transformou em uma ditadura de 21 anos. Mediante a esse fato, vamos voltar ao tempo e encontrar na história, a lembrança da tomada de po-der pelos chamados “Generais de guerra”.

O GOLPE O golpe militar veio de uma confluência de inte-

resses civis, da elite, do patronato que estava num momento de efervescência cultural que vinha se de-lineando nas décadas de 1950 e 1960. “Além do cres-cimento do populismo, as ameaçadoras reformas de base, um contexto internacional de bipolarização en-tre os Estados Unidos, que ajudou a eclodir ditaduras na América Latina e a União Soviética”, explica Mis-lene. Naquele contexto, qualquer pessoa que se iden-tificasse com ações voltadas para a população, para o desenvolvimento mais igualitário, de visão de rique-za, de reformas, já era “taxado” como comunista.

Nesse momento, o então presidente eleito João Goulart, estava perdendo espaço dos grupos políticos de direita (conservadores), que se viam ameaçados pelas suas propostas de reformas de base. As forças de esquerda ficaram surpresas e desarticuladas, com dificuldade de organização, onde aos poucos a nova ordem militar era estabelecida.

RETRATOS DA DITADURA EM SERGIPE Na noite do dia 31 de março de 1964, havia rumo-

res de que tropas militares estavam se deslocando para a capital sergipana. “Uma multidão se dirigira para o Palácio do Governo, para ter respostas do que se tratava. Logo em seguida, o deputado federal Eu-valdo Diniz da União Democrática Nacional (UDN), foi preso, causando um certo alarde. Em seguida, o delegado regional do trabalho e líderes sindicalistas também foram presos”, contextualiza Mislene.

No momento do golpe, o governador de Sergipe na época, João das Seixas Dória, estava no Rio de Ja-

neiro. Quando retornou, dia 01 de Abril de 1964, no período da noite, emitiu uma mensagem para a po-pulação sergipana se colocando a favor das reformas de base, da proposta que vinha sendo delineada pelo presidente João Goulart. Poucas horas após o pro-nunciamento, o Palácio do Governo foi invadido por militares, prendendo o então governador de Sergipe. “Em primeira instância ele é levado para Salvador, onde fica detido, de lá é levado para a ilha Fernando de Noronha, onde ficou preso com Miguel Arraes, o ex-governador de Pernambuco”, explica a pesquisa-dora.

Seixas Dória passou mais de 100 dias preso, cau-sando mobilizações por ser uma figura representa-tiva, após ser liberto, todos os seus direitos políticos foram cassados por 10 anos. Diante disso, o vice-go-vernador, Sebastião Celso de Carvalho, assume o Go-verno em Sergipe.

Um dos primeiros focos de ação foram com os po-líticos, fazendo uma “Operação limpeza”, destituindo prefeitos, deputados e vereadores. Os que tivessem históricos de corrupção eram retirados dos manda-tos e àqueles que tinham uma identificação com as reformas de base do governo de Seixas Dória ou com o de João Goulart, eram cassados. “A ideia da “Ope-ração limpeza” era passar para a sociedade, que tudo esta-va sendo feito em nome da segurança na-cional”, conta Mislene. Era importante for-talecer a segu-rança interna para haver um d e s e n v o l v i -mento econô-mico.

Além do ju-diciário que es-tava debilitado, a igreja católica em Sergipe es-tava dividida, de um lado o Arcebispo Dom Luciano Cabral Duarte, da ala dos conservadores (de apoio), do outro, o Arcebispo Dom José Vicente Távora, da ala progres-sista, que achava a ditadura um tremendo retrocesso político.

O 28º Batalhão de Caçadores não foi só fisicamen-te e representativamente um símbolo forte das ações dos militares do Estado de Sergipe, mas foi nesse lo-cal que se desencadearam as prisões, torturas físicas e psicológicas dos detidos. “Houve torturados em Ser-gipe”, afirma Mislene. Ela relata que os torturados, na maioria das vezes levavam tapões, socos, gritos, uma forma de captar informações.

PRESOS E TORTURADOSWellington Mangueira, ex-integrante do PCB (Par-

tido Comunista Brasileiro), foi um desses sergipanos torturados. Preso político várias vezes, Mangueira so-freu por defender ideais de liberdade numa época em que era proibido até pensar ou manifestar opiniões

que fossem divergentes dos militares. Ele relata como foi o dia que foi preso pela primeira vez: “Não me re-cordo muito bem da data, se foi dia 03 ou 04 de Abril de 1964, só sei que foi quando estava eu e meu colega Mário Jorge, saindo do Atheneu, e de repente parou um jipe do exército, saiu dele soldados armados e nos obrigaram a entrar no jipe”. O professor de comunicação da UFS, Sebastião de Sá Figueiredo, tinha 13 anos quando eclodiu o período militar em Sergipe. “O período militar em Sergipe foi um grande choque”, disse. Segundo o professor, o golpe não foi só dos militares, mas também dos civis. “Um golpe de direita, antiprogressista. Só que depois os militares não deixaram os civis participarem”, con-firma.

Sebastião foi preso no dia 13 de dezembro de 1982, durante o Congresso oficial do PCB, que de forma ca-muflada estava intitulado de “Reunião de Comunis-tas”, na sede do Jornal Voz da Unidade, localizado na Praça Dom José Gaspar, Centro de São Paulo. “Tive uma arma apontada na minha cabeça”, relata.

Após a prisão em São Paulo, o professor da UFS respondeu um processo de lei de segurança durante 5 anos, no qual não podia trabalhar. “Quando eu iria trabalhar, era logo demitido”, enfatiza.

Querer ressurgir um movimento ao qual trouxe desconforto para o Brasil, é romper toda uma dis-cussão acerca da democracia. “Se a democracia tem seus defeitos, vamos aprimorá-la”, disse Wellington. Segundo ele, o período militar é marcado por ser a maior desgraça que o povo brasileiro sofreu durante toda a história. “O golpe deixou marcas doloridas e impossíveis de serem apagadas por sua perversida-de, quando prendia e torturava quem não aceitava as ordens dos militares. O golpe também foi terrível pela insegurança generalizada e pelo medo que todos sentíamos. A ditadura brasileira foi criminosa, sobre-tudo, pela falta de respeito ao livre pensar do ser hu-mano”, conclui

À esquerda Wellington e à direita Sebastião

Foto: Miguel Carlos

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ISLÃ CRESCE PELO MUNDO

Cerca de um milhão de muçulmanos está no Brasil, sendo que a maioria dos se-

guidores do Islã encontram-se na Ásia e no Oriente Médio. Atualmente, o islamismo é a religião que mais cresce perdendo apenas para o cristianismo. Os dados apontam, portanto, que os admiradores de Alá fazem parte de uma realidade social, política e religiosa em âmbito mundial.

Desconhecida pela grande maioria, o Islã é vítima de preconceito por está associada a casos de terrorismo. Homens bombas e faná-ticos religiosos pregando a morte de infiéis estão numa minoria disposta a matar e mor-rer, movida por teorias segundo as quais um “fiel suicida” garantiria um lugar de honra no paraíso. Esses são movidos pelo fanatismo e a interpretação ao pé da letra de textos sagra-dos. O verdadeiro mulçumano nega a violência e prega a união de preceitos e a busca da paz para a humanidade.

Pouca gente sabe, mas na Rua Nestor Sam-paio, no bairro Luzia, funciona o Centro Cul-tural Islâmico de Sergipe. Criado em Janeiro deste ano o centro tem o objetivo de esclare-cer equívocos sobre o Islã e divulgar os ver-dadeiros ensinamentos da religião para a co-munidade sergipana. Mulçumanos de Aracaju, Areia Branca, Itabaiana, Itabaianinha e Simão Dias e até mesmo de outros países aproveitam

o espaço para as orações e sermões.

CRESCIMENTO DO ISLAMISMOCom o crescente número de fiéis e de líderes, o

aumento de mesquitas e centros islâmicos se tor-na necessário, hoje são 115 espalhados pelo Bra-sil, em 2005 eram 70. O representante dos mul-çumanos em Sergipe, Bruno Gabriel, acredita que o aumento se dá pela divulgação da religião em língua portuguesa. “Há mais líderes falando e en-sinando o islã em português. Isso ajuda no enten-dimento e divulgação da religião”, disse Bruno.

A língua tem sido o fator principal para a re-versão de brasileiros sem origem muçulmana. No islã todos nascem muçulmanos, por isso quando se falam de novos adeptos eles não usam a pa-lavra “conversão”, mas sim “reversão”. Bruno também explica que os líderes religiosos não ti-nham o incentivo a se dedicarem ao idioma, pois o desejo era retornar para o Oriente Médio, mas o pensamento deles vêm mudando por pensarem em se estabelecer no Brasil.

Ainda sobre o crescimento do Islamismo, o sociólogo Rodorval Ramalho afirma que existem muitas razões para uma pessoa se converter ou trocar de religião. A mudança ocorre desde a ne-cessidade de apoio para enfrentar o cotidiano e a busca de sentindo para a vida. “Os processos de conversão não devem ser vistos como novidade.

No começo do cristianismo, por exemplo, as mu-lheres se converteram em massa, pois aquela nova religião lhes tratava como iguais aos homens. No mundo moderno, com o pluralismo religioso, as conversões são mais comuns, tendo em vista que cada indivíduo escolhe a religião que quiser. No caso do islã, é interessante observar que uma re-ligião tão restritiva ao individualismo moderno chame tanto a atenção de indivíduos modernos,” explica Rodorval.

Além da língua, a facilidade para se tornar um muçulmano também tem colaborado para o crescimento deles no Brasil. A reversão acontece quando a pessoa diz por três vezes a frase diante de um interlocutor: “Não há Deus se não Deus e o Profeta Muhammad é seu mensageiro”. Depois dessa etapa de confissão, a pessoa passa a pra-ticar as cinco orações diárias, fazer caridade aos mais necessitados, participar do jejum durante o mês do Ramadã e se tiver condições financeiras, faz a peregrinação à cidade saudita de Meca.

REVERSÃO“São 17h45. Está na hora da oração da tarde”,

avisa Fagner Santos, convertido há três dias, in-terrompendo a entrevista. Ele se levanta, pede li-cença e vai apressado ao banheiro. Lava as mãos, em seguida a boca, barba e orelha, umedece os cabelos e entra no salão do Centro Islâmico.

Dos sete bilhões de habitantes no planeta, cerca de 1,3 bilhão são muçulmanos representando 25% da população mundial

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Ajoelhado, ora por cerca de cinco minutos. Não é preciso ter nascido muçulmano ou ser ca-

sado com um praticante da religião. Também não é necessário estudar ou se preparar especialmente para a ocasião. A reversão acontece quando a pes-soa diz por três vezes a frase “Não há Deus se não Deus e o Profeta Muhammad é seu mensageiro” diante de um interlocutor. Depois dessa etapa de confissão a pessoa passa a praticar as cinco orações diárias, fazer caridade aos mais necessitados, parti-cipar do jejum durante o mês do Ramadã e se tiver condições financeiras, faz a peregrinação à cidade saudita de Meca.

Mas voltando para o Fagner, ele mora no muni-cípio de Lagarto há 75km da capital. Há oito anos era evangélico, se converteu ao Islamismo por que precisava de algo que acalmasse espiritualmente. “Sempre tive muita fé em um Deus supremo, mas me faltava alguma coisa. Agora, se Deus quiser, morrerei muçulmano”, explica Fagner.

Quem se converteu há um ano foi Paulo Andra-de. Ele conheceu o Islã por meio de um amigo mu-çulmano, em uma época em que só queria saber de diversão. “Gostava de beber, de cair na noite.Tinha uma irresponsabilidade típica dos jovens”, conta Paulo. Quando anunciou sua decisão de se conver-ter ao islamismo, a família católica ficou apreensiva. As piadinhas, como “vai virar terrorista”, duraram pouco tempo. “Quando perceberam a mudança da minha postura, das minhas atitudes, viram que a religião estava me fazendo bem. Na primeira vez que minha mãe me viu jejuando durante o Ramadã, ela se emocionou e chorou”, relata Paulo.

A LIGAÇÃO DO MUNDO ISLÂMICO COM O TERRORISMO

Onde se veem conflitos envolvendo os muçul-manos eles podem ser explicados pelas diferenças internas, aliadas à miséria e à carência de educação, que contribuíram para o surgimento de grupos fun-damentalistas religiosos. Movidos pelo fanatismo e interpretação ao pé da letra de textos sagrados. A maioria dos muçulmanos é contra aos ataques sui-cidas e considera um pecado extremo, uma ofensa contra Alá, na medida em que atenta contra o dom da vida. A maioria dos muçulmanos são contra aos ataques suicidas e considera um pecado extremo, uma ofen-sa contra Alá, na medida em que atenta contra o dom da vida .

Algumas opiniões de mulçumanos em Sergipe sobre o assunto:

“No verdadeiro Islã, o terror não existe. No Islã, matar um ser humano é um ato tão grave como a infidelidade. Ninguém pode matar um ser huma-

no. Ninguém pode tocar numa pessoa inocente, inclusive nos tempos de guerra.” – Bruno Gabriel“O Islã tem respeitado sempre diferentes pontos

de vista e ideias, e isto deve ser entendido para que possa ser valorizado adequadamente. Lamento

dizer que nos países onde vivem os muçulmanos, alguns líderes religiosos e muçulmanos imaturos

não têm mais armas à mão do que sua interpreta-ção fundamentalista do Islã. Usam-na para atrair algumas pessoas para lutas que servem para seus

próprios propósitos.” – Mustafá“Uma das pessoas mais odiada no mundo é

Osama Bin Laden, por ter manchado o nome do Islã. Criou uma imagem muito ruim. Inclusive,

ainda que tentássemos todo o possível para repa-rar o terrível dano ocorrido, levaríamos anos para

repará-lo.” – Fagner Santos “É nosso erro; é um erro da nação. É um erro

da educação. Um muçulmano de verdade, alguém

CURIOSIDADES1 Todos os ensinamentos contidos no Alcorão têm força de lei.

2 Alá é o nome do Deus único do islamismo.

3 Alcorão que dizer o livro, assim como a palavra bíblia.

4 No Alcorão, Alá é identificado por 99 adjetivos. Três deles são “pacificador”, “misericordioso” e “clemente”.

5 Maria, mãe de Jesus, é a única mulher que o Alcorão chama pelo nome.

6 Jesus Cristo é citado 25 vezes no alcorão. Ele aparece ora como filho de Maria ora como o messias Jesus, filho de Maria. Mas, para o islamismo, Jesus Cristo foi apenas um profeta.

7 Segundo os muçulmanos, os ensinamentos de Jesus Cristo foram mal interpretados pelos cristãos.

que entende o Islã em todos seus aspectos, não pode ser um terrorista. É duro para uma pessoa ser

muçulmana se está envolvido com terrorismo ao mesmo tempo. A religião não permite o assassina-

to de pessoas para cumprir uma meta.” – Edivilson Ramos

TRAJESO uso do véu é um dos traços culturais que mais

chamam atenção daqueles que não são muçulma-nos, principalmente das mulheres. Em Aracaju, onde o calor é muito forte, as pessoas não muçul-manas questionam a adoção do traje, que acompa-nha roupas folgadas que cobrem todo o corpo, mas quem usa pouco se importa.

As muçulmanas se dizem protegidas ao usar o acessório. Quanto ao calor, alegam sentir-se melhor do que parece porque os trajes as protegem do sol.

“A mulher tem de conhecer a religião para saber os mo-tivos pelos quais usa o véu”, diz Kátia Ahmad , 32 anos. Natural de Estância, ela se casou com um muçulmano e acabou se envolvendo com o islamismo.

A adoção do véu é uma norma do islamismo registrada no Alcorão, uma das ordens que Deus enviou aos muçul-manos. “A mulher é chamada a se proteger, a cobrir seu cabelo e se vestir com roupa adequada, seja durante os momentos da oração ou no dia a dia”, diz Kátia. Ao con-trário da mulher, o homem não precisa se cobrir porque não chama atenção como a figura feminina. Kátia lembra da diferença entre o véu e a burca. “O véu é usado pelos muçulmanos, a burca não. Não é um ato islâmico, é um costume afegão”, explica

Livros e folhetos do Centro Cultural Islâmico de Sergipe

Foto: André Teixeira

por BRUNO [email protected]

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CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS Conheça o programa e entenda como ele funciona

O programa Ciência sem Fronteiras começou a atuar em 2012, uma inciativa em conjunto dos

Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), por meio de suas respectivas instituições de fomento – CNPq e Capes –, e Secretarias de Ensino Superior e de Ensino Tecnoló-gico do MEC.

Trata-se de investimentos para a formação de mão de obra qualificada e proporciona aos jovens que pas-sam na prova, uma bolsa de estudos no exterior. Ci-ências Exatas e da Terra; Engenharias e demais áreas tecnológicas; Biologia, Ciências Biomédicas e da Saú-de; Computação e Tecnologias da Informação são al-gumas das áreas contempladas pelo programa.

O Contexto UFS conversou com o coordenador do curso de Relações Internacionais, Professor Israel Roberto Barnabé (foto). O Ciência sem Fronteiras é acompanhado na UFS pelo setor CORI/PROSGRAP e já beneficiou cerca de 270 alunos em três anos.

Contexto: Quais os pontos positivos e os negati-vos do Ciência sem Fronteiras?

Prof. Israel Roberto: Eu vejo mais pontos posi-tivos, eu acho que é um programa que nunca existiu antes e o Brasil não tem uma história de bolsa sandui-che para graduação. As bolsas para graduações são mínimas, muito pontuadas e o programa Ciência sem Fronteiras muda isso, porque o principal público atin-gido foram os alunos de graduação. É um programa que se estende também para pós-graduação e os alu-nos tem possibilidade de fazer doutorado, mestrado profissional, mas cerca de 80% das bolsas estão des-tinadas ou foram ocupadas até agora por alunos de graduação, então o primeiro aspecto positivo é esse, possibilitar que alunos da graduação façam uma bolsa sanduíche no exterior. O aluno no exterior aprimora a língua estrangeira, a partir da convivência com uma cultura diferente. Ele também conhece metodologias de ensino em universidades diferentes, outra reali-dade da educação e volta para o Brasil, eu acho que mais crítico, com relação à própria educação inclusive pensando e apontando também os pontos positivos da universidade brasileira. Costumo dizer que o aluno de um modo geral volta mais brasileiro, porque não há um deslumbramento com relação à universidade es-trangeira, é claro que do ponto de vista de infraestru-tura boa parte dessas universidades estão melhores construídas do que algumas brasileiras, mas do ponto de vista de como as aulas são ministradas, qual que é a metodologia, eles também voltam para o Brasil co-nhecendo melhor os pontos positivos da universidade brasileira.

C: A meta do Ciência sem Fronteiras era levar 101

mil estudantes para o exterior. Aqui na UFS quantos alunos foram contemplados?

IR: O programa começou em 2012 e a proposta foi lançada em 2011, então como foi um movimento mui-to rápido as universidades não estavam preparadas ainda para o trâmite desses alunos, por isso o acom-panhamento não foi muito cuidadoso no início para as universidades federais de um modo geral. Agora a UFS está fazendo um levantamento mais cuidadoso e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) vai mandar a lista com todos os alunos. Mas, aqui na UFS, nós mandamos entre 250 e 270 alunos para o Mundo todo, nós temos alunos em toda a Europa, Oceania, Ásia, América do Norte, então nossos alunos estão bem espalhados.

C: Os alunos dos cursos de humanas não são con-templados pelo programa, mas no dia 18 de novem-bro deste ano o “Idioma sem Fronteiras” foi lançado pelo MEC vinculado ao Ciência sem Fronteiras, para alunos e professores, então quais são as metas com re-lação a esse novo programa?

IR: O programa Idioma sem fronteiras do MEC tem o objetivo de preparar os alunos para participa-rem do programa Ciência sem Fronteiras, continua ainda dentro das áreas prioritárias, então os alunos que não estão aptos para irem para o programa Ci-ência sem Fronteiras acabam não participando des-se novo programa, mas nós criamos agora na UFS o “Idioma sem Fronteiras da UFS”, com o objetivo de oferecer cursos inicialmente de francês, espanhol e inglês para alunos que não sejam contemplados pelo Ciência sem Fronteiras e para os professores da UFS e técnicos administrativos, justamente para fazer com que esses alunos, professores ou funcionários estejam preparados e aptos com o idioma, para participarem de um intercâmbio, seja pelo Ciência sem Fronteiras ou para outras possibilidades que surjam.

C: Professor Israel Barnabé o senhor acredita que futuramente os alunos das áreas de humanas serão contemplados?

IR: Eu não vejo um horizonte muito amplo para isso, nós recebemos a visita da representante do CNPq na semana acadêmica e ela mostrou novamente as áreas prioritárias. Tem todo um motivo para isso, eu não vejo muito horizonte para ampliação dessas áreas para as áreas de humanas. Já foi lançado agora o Ci-ência sem Fronteiras II, que deve ir de 2016 a 2020, e as áreas contempladas continuam as mesmas, então eu não vejo muito avanço nesse sentido. Essa segunda etapa prevê mais de 100 mil bolsas e o MEC vai fazer um esforço para que os alunos de pós-graduação par-ticipem mais.

Uma das modalidades dadas pelo programa é a graduação sanduíche, essa bolsa tem validade de 12 a 18 meses e a meta a ser alcançada para ela até o ano de 2015 é de 64 mil bolsas.

Adriana Guimarães, aluna do curso de Biome-dicina da UNIT, foi contemplada por essa mo-dalidade no final do ano passado e no dia 2 de janeiro deste ano viajou para Hungria para es-tudar na University of Szeged. “Sempre quis sair do Brasil, explorar novas culturas, ver as diferen-ças entre as sociedades e ainda combinar isso a possibilidade de estudar em uma universidade diferente, conceituada e que me proporcionasse ampliar ainda mais o meu conhecimento”, rela-

tou. Ela conheceu o programa pela televisão e procurou entender como ele fun-

cionava através da internet. “Escolhi a Hungria por ser um país que se localiza na Europa Central e com baixo custo de vida, pelas universidades serem bem con-

ceituadas e principalmente pela oportunidade de ter contato com outra língua além do inglês”, explicou.

Com relação ao ensino, Adriana contou que existem muitas diferenças entre o ensino do Brasil e da Europa, especificamente da Hungria. Primeiramente, existe uma diferença entre a atuação profissional de cada curso, diferença de legisla-ção mesmo de cada profissional; segundo, existe diferença entre o tempo de graduação, pós-graduação, por exemplo, o curso de biologia lá dura dois anos, mas para o profissional poder atuar na área ele não pode ser somente gradua-do, então obrigatoriamente ele tem que fazer a sua pós-graduação.

“O ensino nas aulas também é diferente, as matérias na Hungria são dividi-das muito detalhadamente porque eles veem tudo muito mais aprofundado que no Brasil, por isso a quantidade de matérias por semestre é maior, mas em compensação cada matéria tem uma carga horária menor do que no Brasil, en-tão consequentemente eles acabam sendo mais bem preparados para atuar no mercado de trabalho”, completou Adriana

Natália da Silva Rosa, 19 anos é estudante do 4º período do curso de Letras da Universidade Fede-ral de Sergipe e f alou para o Contexto UFS. O curso dela não está dentro das áreas contempla-das.

“Eu me sinto prejudicada porque cursando Le-tras eu teria certa necessidade de viajar, pois estudo português e inglês. Se eu viajasse seria uma gran-de oportunidade para desenvolver melhor o que eu aprendi na universidade, mas o meu curso não é contemplado, não só o meu como também Pu-blicidade e Propaganda, Jornalismo e Design Grá-fico, que do meu ponto de vista seria importante para os alunos terem essa oportunidade. Os cursos que trazem mais renda são os be-neficiados, enquanto que os outros não têm aproveitamento e não trariam renda para o país e por isso eles não investem. O governo sempre passa a pro-posta de investir em educação e nas cate-gorias de base, mas mesmo assim essa classe é esquecida e não tem o Ciência sem Fronteiras e outros programas que auxiliem. O Idioma sem Fronteiras é parecido com o programa que já existia, o Inglês sem Fron-teiras, que quando a pessoa faz um curso de exatas ela consegue viajar, mas se for da área de humanas ela só faz um curso de inglês. Então só aperfeiçoou o que já tinha antes, a diferença é que no Idioma sem Fronteiras a pessoa consegue estudar outras línguas.

Foto: Arquivo Pessoal

Foto: Arquivo Pessoal

Foto: Maria Belfort

por MARIA [email protected]

Page 12: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

políticaeconomia

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por CAROLINA [email protected]

INFLAÇÃO AFETA O SEU COTIDIANOAracaju possui a cesta básica mais barata do país, fato que possibilita uma melhor qualidade de vida aos moradores da capital sergipana

A inflação está presente no dia-a-dia de todos os brasileiros, seja com maiores ou menores

índices. Porém, muitos não sabem o que ela significa para a nossa economia e que está diretamente ligada ao poder de compra da população, podendo afetar até mesmo sua qualidade de vida.

Inflação não é um simples aumento de preço, é o processo persistente de aumento de preço, que corrói o poder de compra das famílias e pode gerar incertezas na economia quando é muito acentuado. Entre as consequências que a inflação gera ao dese-quilibrar a economia está a atualização salarial para recompor o poder de compra.

Para controlar esse constante aumento de preços, é preciso que o governo adote medidas eficazes. As duas medidas mais comuns são o aumento das taxas de juros e o corte de gastos públicos.

O economista Ricardo Lacerda, assessor econô-mico do governo do estado de Sergipe e professor da Universidade Federal de Sergipe, explica que muitas vezes esses remédios contra a inflação po-dem ter efeitos colaterais muito danosos, “como o desemprego, perda de rendimentos para as famílias e redução de serviços públicos”.

O aumento dos níveis de preços é medido através de diversos índices, como por exemplo, o Índice Na-cional de Preços ao Consumidor (INPC), o Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S) e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Os índices diferenciam-se pelo tipo de cálculo rea-lizado que variam de acordo com a renda, região, produto, período, dentre outras especificidades que tornam a pesquisa mais segura.

Isso ocorre por que a inflação não afeta a todos da mesma forma. “Nas famílias mais pobres, alimenta-ção e transporte pesam mais. Já nas famílias mais

ricas, itens como refeição fora de casa e educação são os que mais pesam. Portanto, se os preços dos alimentos subirem muito, as famílias mais pobres serão mais afetadas. Mas, se isso ocorrer com as mensalidades escolares e os serviços, serão as famílias mais ricas as mais impactadas”, afirma Ricardo.

Nas últimas décadas, o brasilei-ro enfrentou diversas alterações nos índices e sentiu as consequ-ências no orçamento. De acordo com o IPCA, em 1994, o índice in-flacionário chegou a 18,57%, hoje convivemos com 5,05%. Para a dona de casa, Mônica Duarte, a redução das taxas, nos últimos 20 anos, gerou equilíbrio e estabilização da moeda, pro-porcionando aos brasileiros uma maior capacidade de aquisição de produtos.

A consumidora relata que no ano de 1994, duran-te o governo de José Sarney, a alta dos preços ocorria praticamente a todo instante. “Não dava para saber o preço das coisas, se hoje eu comprasse um produ-to por um preço, com certeza amanhã já não seria mais o mesmo”, explica Mônica. Ela considera que a principal diferença é que hoje temos a possibilidade de nos planejar economicamente para comprar algo daqui há alguns meses. “Antes não era assim, tinha que ser de imediato, pois futuramente aquele pro-duto não teria o mesmo preço”, completa.

SERGIPEO Departamento Intersindical de Estatística e

Estudos Socioeconômicos (Dieese) foi criado na dé-cada de 50 pelo movimento sindical brasileiro para desenvolver pesquisas e indicadores permanentes. Entre eles, destacam-se as pesquisas de preços, de emprego e renda, como também o cálculo da Cesta Básica Nacional, medido mensalmente em 16 capi-tais brasileiras.

Aracaju é uma das cidades analisadas e possui a cesta básica mais barata do país. De acordo com o Dieese, o valor da cesta na capital sergipana é de R$ 232,82, com variação mensal de -0,15 %. Porém, não são feitas medições oficiais do IPCA em Sergipe. Na região Nordeste, as pesquisas são feitas apenas nas regiões metropolitanas de Salvador, Recife e Fortaleza.

Segundo Ricardo Lacerda, há expectativa que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) amplie a pesquisa do IPCA para todas as capitais brasileiras. “Isso seria muito importante para acom-panhar a evolução dos preços em Sergipe. Por en-quanto, temos que observar as taxas nacionais e as das regiões metropolitanas do Nordeste, que refle-tem realidades mais próximas das nossas. No caso da região Metropolitana de Salvador, o IPCA subiu 6,44% nos últimos doze meses e na região metropo-litana de Recife, 6,72%, enquanto a média nacional foi 6,59%, nada muito distante uma das outras”, conclui o economista

Foto: André Teixeira

Índice Nacional de Preços ao Consu-midor Amplo (IPCA)

O índice indica a variação mensal do custo de vida médio das famílias com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos das 11 principais regiões metropolitanas do país.

Page 13: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

políticaeducação

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Foto: arquivo pessoal

A evasão escolar causa diversos prejuízos tanto nos aspectos econômico, social e

humano. Os motivos que levam ao estudante desistir dos cursos são inúmeros, pois podem ser por motivos pessoais, por falta de intimi-dade com as disciplinas ofertadas pelo curso, por questões financeiras, entre outros. Além disso, muitos estudantes não conseguem se manter na Universidade, e precisam conciliar trabalho e estudo. Segundo o Instituto Nacio-nal de Estudos e Pesquisas (INEP), o índice médio de evasão nas instituições públicas é de

12% e nas particula-res é de 26%. Os cur-sos com as menores concorrências são os de maiores índices de desistências e vice versa.

Um exemplo de um desses casos de desistência do curso superior é o de Thia-go Cordeiro, ex-es-tudante de jornalis-mo da Universidade Federal de Sergipe. Thiago tem 30 anos e trabalha como se-gurança, ele trancou o curso no segundo período, pois não se identificou com a área e se decepcio-nou com a falta de estrutura e equipa-mentos. Essa é uma das queixas mais frequentes entre os alunos desistentes, como também a fal-ta de incentivos do governo e da própria universidade. O ex--universitário con-ta ainda que tentou trocar de curso, mas as opções que foram dadas eram limita-das já que era obri-gatório a optar por cursos vinculados às disciplinas que ele estava cursando. “Se tivesse recebido mais incentivos do governo ou da pró-

pria universidade haveria mais chances de continuar”, lamenta.

Thiago também comenta sobre o papel da administração das universidades nesse pro-cesso. “Ainda falta uma administração respon-sável e organizada dos recursos financeiros recebidos pela universidade, onde o foco prin-cipal seja uma reforma estrutural relacionada à construção e manutenção de novos espaços de conhecimento e reforma e manutenção dos espaços antigos dando a estes um acervo ma-terial que beneficie tanto servidores quanto

docentes.” Ele pretende agora fazer um curso técnico profissionalizante pois acredita que todo tipo de conhecimento é valido, só que no caso de universidade publicas se perde muito tempo e atualmente os cursos técnicos estão abrindo varias portas.

A falta de estrutura é realmente uma das principais causas que incentivam o abandono das graduações. Muitos estudantes se veem numa corda bamba, tendo que equilibrar a vida pessoal, muitas vezes turbulenta com as dificuldades encontradas na faculdade. Essa situação pode acabar obrigando o universitá-rio a abandonar um curso para encontrar uma alternativa que traga resultados mais imedia-tos.

Outro fator apontado para a as evasões, é a falta de maturidade dos estudantes na hora de escolher o curso, a maioria tem de fazer a escolha por uma determinada opção ainda na adolescência, uma fase por si só muito con-turbada. Um estudo feito pelos pesquisadores Emmanuel Ribeiro Cunha e Marília Costa Mo-rosini aponta que 63,25% dos evadidos, situ-am-se na faixa etária entre 18 e 25 anos, des-cartando, desse modo, a “pouca idade” como um sinalizador de evasão. Consideram, entre-tanto, a “imaturidade vocacional”, ou seja, o pouco conhecimento sobre si e sobre o mundo do trabalho, como uma das causas do abando-no desses estudantes.

Para reverter essa situação muito tem que ser feito. Uma das ideias mais apoiadas pelos professores é a criação do cargo de professor orientador, para auxiliar os alunos na supe-ração das dificuldades durante os cursos de graduação, o que pode influir sobre a decisão do abandono ou da permanência do aluno em seu curso. Na UFS uma das alternativas em prática é o aumento no número de bolsas para o auxilio na manutenção do universitário na graduação, como por exemplo, moradia, ali-mentação e transporte. Existe também um programa de inclusão de alunos em repúblicas nas proximidades do campus. Porém, há mui-to a ser debatido. É necessário maior investi-mento maior na estrutura dos cursos para que possam garantir suporte efetivo no aprendiza-do dos alunos e mais atenção às suas necessi-dades básicas

EVASÃO AFETA AS UNIVERISDADESFalta de apoio, estrutura e imaturidade na escolha do curso são os principias motivos das desistências do estudantes.

por RAFAEL [email protected]

O ex estudante Thiago Cordeiro não se arrepende de ter desitido

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14 educação

UFS PREVÊ INTEGRAÇÃO NO SERTÃOA cidade de Glória, situada no sertão sergipano, sediará o novo Campus da UFS e irá reunir estudantes e comunidade a partir de 2015.

Kitéria sonha cursar medicina veterinária

Em entrevista à redação do Contexto UFS, o Rei-tor da Universidade Federal de Sergipe, Ângelo

Antoniolli (foto), explica com exclusividade como fun-cionará o Campus do Sertão e como a mobilização popular foi importante para a sua instalação.

Como aconteceu essa mobilização entre as cida-des do sertão pela luta do Campus? E como Glória estava inserida?

A interiorização da Universidade Federal de Sergipe é uma conquista essencial e o Campus para o sertão sergipano está há muito tempo em discussão. Toda a região do semiárido se mobilizou na época em que alguns representantes discutiram a importância da universidade naquela região. Desde 2006, quando a UFS começou a se expandir fora de São Cristóvão, que a cidade de Glória entrou no debate. Mas aconteceu primeiramente em Itabaiana, Laranjeiras e Lagarto e apenas este ano acontece a conquista do povo que de fato já debatia sobre o assunto. É preciso que a gen-te reconheça que quem iniciou a discussão foi Gló-

ria, mas todos os municípios estavam envol-vidos, todo o sertão esteve presente nessa luta.

E o modelo pedagógico implantado nesse Campus está voltado para a região?

Sim. Foi fácil de pensar num Campus para o

Sertão, pois ele estará muito ligado ao arranjo produ-tivo local, onde a universidade vai fazer parte da his-tória de todo o semiárido. Então é fácil pensar quais os cursos podem melhorar tudo aquilo que já existe lá. O modelo pedagógico que estamos pensando é fazer com que a universidade esteja integrada a toda aquela comunidade. Sua sede foi escolhida para ser em Glória, mas suas ações estão sendo pensadas e discutidas para interagir com toda a região, modifi-cando positivamente o ambiente coletivo. Então eu posso afirmar que o Campus do Sertão beneficiará não apenas glória, mas toda a região sertaneja.

Já que o Campus vai interagir com a comunida-de, quais foram os critérios para definir os cursos?

Quando pensamos nos cursos de Medicina Veteri-nária, Zootecnia, Agronomia e Agroindústria, pensa-mos na ligação com a tecnologia de indústria, com o arranjo produtivo do leite e do queijo, e com os animais daquela região. A medicina veterinária e a zootecnia, por exemplo, tem muito a ver com os re-banhos, e nós temos que apoiar o que já existe, me-lhorando, qualificando e dando uma orientação mais própria para os micro-produtores. Vamos intervir com o pequeno agricultor, e quando eu digo nós vamos intervir, eu me refiro aos nossos alunos, professores e técnicos administrativos, que estarão integrados na-quela produção. Cada assentamento e microrregião vai sofrer uma ação positiva da UFS, pois ela não está sendo pensada para ficar no seu intramuros e apenas formar o aluno, ela vai formar o aluno dentro do am-biente em que ele vai agir e trabalhar futuramente.

Esse modelo de integração de universidade e comunidade já existe em outro Campus?

Sim. Nós pensamos nessa integração porque já te-mos uma experiência. Usamos o Campus de Lagarto como referência. Lá toda a saúde é focada na saúde da família, toda formação em saúde é focada na inte-

gração dos alunos com a comunidade. E no sertão vai ter a mesma coisa, a diferença é que nesse Campus o foco é a agricultura familiar. Tanto o aluno como o professor também aprende com o agricultor, pois é ele que está ali no dia-a-dia, que agora será assistido e orientado. E os alunos vão aprender com o agricultor, pois seu currículo prevê visitas do primeiro ao último ano o acompanhamento dentro da agricultura fami-liar.

Sobre a sede? O que está sendo feito? Já tem uma sede provisória equipada para receber os alu-nos?

Nós temos uma sede provisória, que já funciona, a EAD, um ensino a distancia da UFS. Tem laboratório de física, biologia, química e já está tudo montado para receber esses alunos. As aulas serão realizadas com dois cursos pela manhã e dois a tarde. Além dos labo-ratórios, já está sendo construída a estrutura física das novas salas de aulas.

E o espaço definitivo do Campus?Estamos nas tratativas dos espaços definitivos

e ainda esse mês ou mês que vem já quero voltar a dialogar com o prefeito e governador à vista de adian-tar um pouco mais. A data prevista para começar a obra poderá ser definida esse ano, mas ainda está em processo de licitação. Já estamos avançados com essa sede provisória que pode servir durante dois anos. As tratativas estão entre a Embrapa e um espaço na zona rural, mas a meta seria construir um hospital veteriná-rio para tratar dos animais e trazer uma estrutura

Fotos: Fernanda Sales

18 de mar-ço de 2014.

Essa é a data que o Ministério da Educação (MEC) informou que a cidade de Nossa Senhora da Gló-ria, localizada a 126 km da capi-tal, foi escolhida para sediar o novo Campus da Uni-versidade Federal de Sergipe (UFS). Este Campus, que é considerado o “Campus do Ser-tão”, terá sua sede em Glória, mas irá

beneficiar estudantes de todo o sertão sergipano, que terão a possibilidade de ingressar na Universidade, sem precisar se deslocar para uma cidade distante da sua. Enquanto a sede definitiva está em processo de licitação, o Campus do Sertão terá uma sede provi-sória, para que os estudantes comecem a estudar no segundo semestre de 2015. Serão ofertados os cursos de Zootecnia, Medicina Veterinária, Agronomia e Agroindústria, com 50 vagas em cada curso. O ob-

jetivo é formar o aluno dentro do ambiente em que este irá trabalhar e a proposta é que os estudantes es-tejam integrados com a comunidade local.

Na visão dos estudantes e professores da cidade de Nossa Senhora da Glória, o Campus da UFS será o pontapé inicial para estimular ainda mais que os estudantes ingressem na carreira acadêmica. A ex-pectativa desse campus para a população é grande e todos anseiam que a chegada do Campus do Sertão traga benefícios para a comunidade local e estudan-tes. De acordo com Denival Araújo, professor do Ensino Médio do Colégio Estadual Manoel Messias Feitosa (CEMMF), o Campus do Sertão irá estimu-lar os alunos a ingressarem numa universidade com mais facilidade. “Pensar em uma universidade ainda era um sonho distante, pois o acesso à universidade era difícil e nem todo mundo consegue se manter em outra cidade. Então, com um Campus aqui em Glória, a locomoção e acessibilidade facilitará a vida de alunos da região”, explica o professor.

Denival ainda destaca que já participou de ma-nifestações em prol do campus. “Eu estive engajado nesses movimentos de luta porque acho positivo a escola apoiar o Campus. Outro motivo foi por uma questão própria, porque eu sempre quis ter estuda-do na minha cidade, mas como não tive essa opor-tunidade, quero contribuir que meus alunos e que a próxima geração de estudantes consigam ter esse privilégio”.

Outro ponto positivo destacado pelo professor é a valorização da própria cidade. “Glória é uma cidade em desenvolvimento, considerada a capital do sertão e localizada bem geograficamente, então trazendo um campus pra cá, traz também o desenvolvimento, a oportunidade de trabalho, um incremento positivo no comércio, e o estímulo para os jovens da cidade e das regiões vizinhas”, finaliza.

A estudante do 2º ano do Ensino Médio do CEMMF, Kitéria Letícia Amorim, explica que o Campus irá fazer com que ela tenha mais chance de fazer o curso de Medicina Veterinária. “Como eu gosto de animais eu sempre tive vontade de fazer o curso de medicina veterinária, mas minhas condi-ções não eram favoráveis e o deslocamento era com-plicado. Hoje em dia eu já vejo essa possibilidade, pois com a UFS aqui eu posso estudar na minha ci-dade, ficar perto da minha família, e trabalhar futu-ramente no lugar onde eu vivo”, ressalta a aluna.

Kitéria ainda explica que se mobilizou junto com outros estudantes nessa luta e que está ansiosa com a chegada desse Campus. “Para mim a universidade é um anseio não de agora, mas de muito tempo. O campus da UFS no Alto Sertão sergipano foi uma luta que eu participei. E com essa conquista eu que-ro estudar aqui, me formar aqui e trabalhar aqui. Quando eu terminar o 3º ano, meu objetivo é fazer o vestibular da UFS em Glória, para aperfeiçoar tudo aquilo que eu já vivencio no dia-a-dia”, ressalta.

por FERNANDA [email protected]

Page 15: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

políticasaúde&meioambiente

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por EDIÊ REISreisediê@gmail.com

VENENO QUE SE PÕE À MESAO Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Cerca de 500 mil pessoas são contaminadas por ano no país e as consequências ainda são desconhecidas aos que consomem.

Na década de 20 os agrotóxicos passaram a ser utilizados com o objetivo de combater as pragas

e aumentar a produtividade agrícola. Esses produtos são resultado de processos químicos, biológicos e físi-cos feitos para alterar a composição da fauna e da flora e, dessa forma, evitar o dano causado por alguns seres vivos. No Brasil, os agrotóxicos foram utilizados de for-ma frequente a partir da década de 1960 e, segundo o Ministério do Meio Ambiente, hoje é o maior consumi-dor desse tipo de defensivo agrícola do mundo.

Quando utilizados de forma correta, desempenham bem o papel de combate às pragas sem prejudicar os alimentos, mas se o agricultor não souber ter alguns cuidados na aplicação ou abusar da quantidade e do tempo ideal de ação, o produto passa a ser um grande risco por causar intoxicações tanto a quem manuseia, quanto aos consumidores dos alimentos, pas-sando pelos moradores das áreas agrícolas, além dos danos ao meio ambiente.

Acontece que mesmo diante aos riscos e as leis criadas, o país que mais consome esses pro-dutos ainda facilita no controle e monitoramen-to do uso, enquanto a população se contamina. Em outubro de 2013, por exemplo, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) detectou em 36% das amostras analisadas substâncias proibidas no Brasil e alimentos impróprios para consumo.

RISCOS À SAÚDE HUMANASegundo dados de uma pesquisa realizada

pelo Programa de Análise de Resíduos de Agro-tóxicos em Alimentos (PARA), da Anvisa, em 2011, com amostras coletadas em todos os esta-dos do Brasil, cerca de um terço dos alimentos consumidos regularmente pelos brasileiros es-tão contaminados por algum tipo de agrotóxi-co. Além disso, 28% dessas amostras avaliadas continham ingredientes não autorizados para o cultivo ou extrapolaram os limites dos resíduos aceitáveis (Limite Máximo dos Resíduos - LMR). Outra pesquisa feita pela Organização Mundial da Saú-de (OMS) afirma que cerca de 500 mil brasileiros são contaminados por ano.

São dados que preocupam e fazem refletir sobre as consequências dessa contaminação. A presença desses ingredientes não autorizados nos alimentos consumi-dos configuram a maior preocupação pois, assim como explicado em entrevista pelo nutricionista Antônio Dantas, os efeitos desse consumo vão desde complica-ções agudas e subagudas como dores no estômago e na cabeça, passando por problemas neurológicos e dese-quilibrio hormonal, até danos crônicos como o câncer.

Os efeitos na saúde não se limitam apenas aos con-sumidores dos alimentos, os agriculturoes que fazem uso do produto e a população que vive ao redor das plantações também sofrem com a intoxicação. Segun-do o técnico em agropecuária Adelmo Paulo Santos, o

primeiro risco é o de intoxicação através do contao dire-to sem o uso de equipamentos de proteção apropriados como luvas, macacão, botas e máscara. A manipulação incorreta pode levar ao agricultor problemas sérios de saúde como complicações renais e do fígado, lesões neurológicas ou intoxicação aguda, como vômitos, des-maios, distúrbios cardíacos e pulmonares.

DANOS AO MEIO AMBIENTEEm entrevista o gestor ambiental Manuel Cardoso

informa que o uso incorreto e indiscriminado de agro-tóxicos causa danos irreparáveis ao meio ambiente, mas que, ainda assim, a aplicação de qualquer forma afetará o solo. Os cuidados com o uso começam no transporte dos produtos em veículos apropriados, pas-sam pelo armazenamento em local isolado, a aplicação

rigorosamente focada no alvo e o descarte das embala-gens em unidades autorizadas.

Manuel ressalta também que os efeitos negativos prejudicam fauna, flora e os recursos hídricos que po-dem ser carreados através da chuva, chegando até o leito dos rios, o que ocasionará a poluição das águas e, em consequência, a mortandade de seres aquáticos e o envenenamento humano através de pescados e pelo consumo da água. Ou seja, de alguma forma a contami-nação chega ao contato humano.

LEIS DE CONTROLEPela relevância em relação à sua toxicidade e pelo

alto consumo no Brasil, os agrotóxicos possuem uma grande cobertura legal no Brasil, com amplo número

de normas. A lei mais importante é a Lei nº 7802/89, que rege o processo de registro de um produto agro-tóxico, regulamentada pelo Decreto nº 4074/02, que estabelece que “os agrotóxicos, para serem produzidos, exportados, importados, comercializados e utilizados devem ser previamente registrados em órgão federal, de acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis pelos setores da saúde, do meio ambiente e da agricultura.”.

O Ibama realiza a avaliação do potencial de periculo-sidade ambiental de todos os agrotóxicos registrados no Brasil. A Anvisa, que é o orgão que fiscaliza regulamen-ta, analisa e controla e fiscalizar produtos e serviços que envolvam riscos à saúde, coordena o Programa de Aná-lise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) com a finalidade de fiscalizar o abuso dos agrotóxicos, a Rede Nacional de Centros de Informação Toxicológica (Renaciat) e promove capacitações em toxicologia. Ou

seja se uma empresa vender produtos que têm contaminantes em excesso ela receberá adver-tência, multa ou apreensão do produto.

O engenheiro agrônomo Flávio Silva de San-tana afirma que, no caso de uso dos agrotóxicos, cabe principalmente ao agricultor respeitar as orientações fornecidas pelo fabricante, além do receituário agronômico fornecido pelo técni-co responsável, o qual prescreve as orientações técnicas e fitas sanitárias que o produtor deverá seguir.

ALTERNATIVAS AO USOA biotecnologia é a aplicação de seres vivos,

agentes biológicos, que tem como a função, no caso do agronegócio, a preservação da planta-ção. O Brasil hoje conta com o suporte natural, técnico e de pesquisa para o amplo desenvolvi-mento da biotecnologia, mas falta incentivo para o seu desenvolvimento. O incentivo brasileiro cai muito mais sob a produção de agrotóxicos do que para o uso de outras tecnologias que não se mostram economicamente viáveis.

A Agroecologia é a melhor alternativa para aqueles que procuram evitar alimentos com residuos tóxicos. A alimentação orgânica, embora ainda não amplamente difundida, está ganhando a a atenção de consumidores que procuram um estilo de vida mais saudável.

Em Aracaju o “Cantinho da Roça” surgiu para difun-dir a prática dessa alimentação livre de aditivos tóxicos. Contando com a agricultura familiar, os organizadores realizavam feiras que disponibilizavam alimentos orgâ-nicos e, além disso, eventos culturais, esportivos e edu-cativos que tornam o lugar ainda mais interessante

Fonte: Movimento Sem Terra

Foto ilustrativa

Page 16: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

saúde&meioambiente16

CRESCE NÚMERO DE OBESOSCom uma alimentação com baixo valor nutritivo somado ao sedentarismo, o número de pessoas com so-brepeso e obesidade aumenta no Brasil

Conhecida como o acúmulo de gordura no corpo, a obe-

sidade é considerada um dos prin-cipais problemas de saúde pública, não só no Brasil, como no mundo. Segundo dados divulgados pela pes-quisa da Vigitel (Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças por inquérito telefônico), 50,8% dos brasi-leiros estão acima do peso ideal, sendo destes 17,5 % obesos, o que comprova que o Brasil manteve o índice de popu-lação acima do peso em relação ao ano de 2012.

A doença foi dividida em três tipo baseando-se no Índice de massa cor-poral (IMC), como tipo 1, moderado e excesso leve de peso, onde o paciente apresenta IMC entre 30 e 34,9 kg, tipo 2,obesidade leve ou moderado, onde o IMC fica entre 35 e 39,9 kg e tipo 3, obesidade mórbida, onde o IMC é ex-cede 40 kg.

Pela sua complexidade e sua disse-minação tão silenciosa, mas visivelmente percep-tível por todos os lados, a obesidade tornou-se o mal do século, atingindo não só adultos, como crianças e chegando com força aos países em de-senvolvimento, como é o caso do brasil. O fato é que o país passa por uma transição epidemiológi-ca e nutricional, onde os casos de desnutrição es-tão diminuindo e os de sobrepeso e obesos estão aumentando. Estes casos, referem-se principal-mente aos homens que estão aderindo cada vez mais a uma alimentação com baixo valor nutriti-vo somado ao sedentarismo. Conforme os dados da Vigitel, os homens tem mais excesso de peso que as mulheres, a diferença chega a 7%.

Aqui no estado de Sergipe, não existe estudos concretos que comprovem em números quantas pessoas possuem a doença ou estão no caminho

de adquiri-la. Mas, basta andar nas ruas da capi-tal para perceber que o número de pessoas com sobrepeso e obeso é grande.

Especialista em endocrinologia, Layla Wan-derley Cordeiro, afirma que os principais fatores de risco para obesidade em Sergipe são a falta de atividade física e os hábitos alimentares inade-quados, com alto consumo de alimentos pobres em nutrientes e fibras, mas ricos em gorduras, sal e açúcar.

Sabe-se que má alimentação é um caminho para a obesidade, mas existem casos em que a genética ou a compulsão alimentar, consequên-cia de fatores psicológicos, influenciam o peso. Diego Garcia, estudante, 23, sempre teve propen-são ao sobrepeso e chegou a pesar 129 kg. Deci-dido a adquirir uma qualidade de vida melhor,

Diego contrariou a genética e todos os fatores que o levavam a obesidade e foi dos 129 kg aos 69 kg. Com a ajuda de um nutricionista, atividades físi-cas e uma alimentação balanceada, ele mantém uma vida saudável, sem exageros e garante que a vida melhorou muito após quase um ano de dedi-cação ao emagrecimento.

O caminho para o emagrecimento nem sem-pre é fácil, uma opção que tem sido acessível a muitos pacientes, feita tantos em hospitais par-ticulares, quanto públicos é a cirurgia bariátrica mais conhecida como redução de estômago. O método vem sido utilizado por muitos médicos, mas tem sofrido uma banalização e levado a mui-tos pacientes a não acompanharem corretamente todo o processo de tentativa de emagrecimento. O problema é que muitos paciente fazem a cirur-gia sem saber que o procedimento só deve ser fei-to após acompanhamento com psicólogo, nutri-cionista e atividade físicas.

O número de pessoas procurando o emagreci-mento cedo e o aumento de obesos reflete a popu-lação jovem que está se desenvolvendo. Com uma alimentação rica em gordura e alimentos indus-trializados o quadro de obesidade infantil cresce a cada ano.

A nutricionista Camila Godoy Corrêa afirma que isso pode ocorrer devido vários fatores, como a praticidade e a correria dos pais no dia a dia. “Eles trabalham demais e acabam pecando na alimentação dos filhos e na própria alimentação. Estes hábitos infelizmente irão refletir no cres-cimento dessa criança, e a chance dessa ser um adulto obeso é grande, ou certa.”, explica.

Rico em fast-foods, alimentos gordurosos e poucos nutritivos, o Brasil caminha para uma re-alidade cruel de países desenvolvidos, com uma população rica em conhecimento e pobre em edu-cação alimentar

Lanche de fast-food

NÃO SABE CALCULAR O ÍNDICE DEMASSA CORPORAL? É FÁCILBasta dividir o peso (kg) pela altura (metros).Ex: IMC = 50 (peso) ÷ 1,60 (altura)²IMC = 50 ÷ 2,56IMC = 19,5 = PESO NORMAL

QUER SABER EM QUE ÍNDICE VOCÊ ESTÁ? CONFIRA OS PERCENTUAISEntre 17 e 18,49 - Abaixo do pesoEntre 18,5 e 24,99 - Peso normalEntre 25 e 29,99 - Acima do pesoEntre 30 e 34,99 - Obesidade IEntre 35 e 39,99 - Obesidade IIAcima de 40 - Obesidade III

por LEILANE [email protected]

Foto: Leilane Coelho

Page 17: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

saúde&meioambiente17

por SILVÂNIO JÚ[email protected]

A mobilidade urbana é algo que vem sendo discutido com mais intensidade à medi-

da que as grandes cidades são tomadas cada vez mais por veículos, causando grande transtorno ao trânsito. Para muitos, é difícil conviver com a realidade de incluir em seu roteiro diário engar-rafamentos quilométricos, em horários de pico ou até fora dele.

O aumento no número de veículos é um fato que acomete às grandes cidades do país. Aracaju, apesar de geograficamente pequena, é uma das capitais que apresenta o maior número de carros por habitantes. Segundo dados de 2013 divulga-dos peloDepartamento Nacional de Trânsito (De-natran), Aracaju possui cerca de 160 mil veículos. São quase 3 habitantes por veículo.

Uma forma de tentar mudar esse quadro e ame-nizar o grande fluxo de veículos nas ruas é buscar alternativas de locomoção que possibilitem uma maior fluidez ao caó-tico trânsito. O uso da bicicleta pode ser um bom exemplo dessa iniciativa, que faz des-se meio de transporte algo que vai além dos momentos de lazer.

O Cicloativismo, movimento que defen-de o uso da bicicleta, vem crescendo na ci-dade de Aracaju com a ideia de mostrar para os cidadãos que pode lançar mão de trans-portes motorizados em detrimento de uma maneira mais benéfi-ca, não só ao trânsito como também à saúde de quem opta por pe-dalar.

Aracaju possui hoje uma malha cicloviária com extensão de cerca de 60 km, situada em pontos da cidade onde o fluxo de veículo é in-tenso. Os dados são da Su-perintendência Municipal de Transportes e Trânsito de Aracaju (SMTT), que afirma também que existe o projeto de am-pliação em 21,8 km das ciclovias da cidade.

Segundo levantamento entre as prefeituras das capitais brasileiras e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a dimensão das ciclovias destaca Aracaju como um dos luga-res mais bem avaliados nos quesitos: proporção entre o número total de ciclovias e o número de habitantes, soma total da malha cicloviária e es-paços destinados às bicicletas.

A ONG Ciclo Urbano, um dos mais expressivos movimentos de incentivo ao uso da bicicleta na capital, promove ações para que a utilização de biciletas como meio de transporte se torne um hábito. A ONG foi criada em 2007, com a finali-dade de orientar a sociedade na busca da melho-

ria da mobilidade urbana, possibilitando o diálo-go entre motoristas, pedestres e principalmente ciclistas.

Para o presidente da Ciclo Urbano, Luciano Aranha, é preciso haver diálogo entre o poder público e sociedade. “Para resolver o problema da mobilidade urbana, ou ao menos amenizar o trânsito caótico que é cada vez mais comum nas nossas cidades, é preciso que o poder público atente para essas necessidades. O projeto de tra-zer bicicletas que podem ser usadas pela popula-ção, não só pode ser uma opção de mobilidade, como também traz bons resultados para a qua-lidade de vida e socialização das pessoas”, disse.

Luciano diz ainda que, apesar da extensão da malha cicloviária existente, Aracaju está longe de possuir um ambiente que de fato possibilite a in-tegração entre motoristas e ciclistas. “As ciclovias da nossa cidade oferecem um tráfego tranquilo

para as magrelas em alguns pontos de grande flu-xo de carros, mas isso não é tudo. Se não houver uma ampliação da malha e criação de ciclorrotas que atendam as necessidades de um ponto a ou-tro, não adiantará muito”, afirmou.

Segundo o presidente, as ciclorrotas são “ciclo-vias que se interligam e facilitam o deslocamento do ciclista por diferentes pontos da cidade, em meio ao trânsito intenso ou calmo. Não se trata apenas de uma ligação entre origem e destino através da malha cicloviária, mas a possibilidade de oferecer ao ciclista, um trajeto tranquilo”.

Luciano conta que não basta apenas inves-tir em ciclovias se não houver uma estruturação para promover a segurança de quem decide optar por esse meio de transporte, e ainda que as ciclo-vias existentes podem trazer riscos aos ciclistas.

”A Ciclo Urbano tem percebido uma quantidade expressiva de usuários de bicicleta que aderi-ram à ideia de usar os modais não só para lazer e passam a usar para ir ao trabalho também. É aí que observamos que a infraestrtura cicloviária e sinalização não existem, expondo os ciclistas a acidentes”.

CICLISTAO ator Kassem Afif mora na Zona Sul da capi-

tal e vai ao trabalho todos os dias de bicicleta, no Centro. Ele afirma que os ganhos em optar por um meio de transporte alternativo são bons, mas que a rota de ciclovias precisa ser melhorada. “Já faz um tempo que troquei veículos motorizados por bicicleta e gosto muito. Chego mais rápido ao meu trabalho, além de ajudar na melhoria da mi-nha saúde já que de certa forma é um exercício. Mas seria mais interessante que existisse uma

rota que desse con-ta de todo o trajeto e não só nas avenidas de grande movimento”, comenta.

Kassem afirma ain-da que em alguns pon-tos o risco é constante pois as ciclovias não se estendem. Ele acredi-ta que outro fator que incomoda um pouco é o clima da cidade. “Chega um momento em que não tem mais ciclovias e aí tenho que disputar espaço com os carros. Outra coisa um pouco chata é o sol forte, mas quanto a isso nada podemos fa-zer. De resto, andar de bicicleta é uma ótima saída pra quem não deseja perder tempo em engarrafamentos”, disse.

Apesar dos proble-mas existentes com

a malha cicloviária de Aracaju, o presidente

da Ciclo Urbano, Luciano Aranha, acredita que a cidade está dando grandes passos para a melho-ria da infraestrutura. “Firmando parcerias com diversas entidades e órgãos públicos, a capital sergipana deve se destacar ainda mais por ofere-cer uma opção para a mobilidade urbana, já que estudos dão conta de que o número de usuários de bicicletas tem crescido muito e a cidade preci-sa atender a demandas”, conta Luciano

CICLOATIVISMO MOBILIZA ARACAJUO incentivo ao uso da bicicleta cresce na capital sergipana e busca amenizar o trânsito intenso

Cicloativismo está se tornando opção para sergipanos

Page 18: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

saúde&meioambiente18

CHIKUNGUNYA VOLTA A ATACARDoença semelhante a dengue se espalha pelo mundo sendo confiramada em países como França, Méxi-co, Estados Unidos e Brasil. OMS considera a situação grave.

A infecção febril causada pelo vírus Chikun-gunya (CHIKV), pode ser transmitida pe-

los mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, também conhecido como mosquito da dengue. Em contrapartida, se comparado com a dengue, mata com menos frequência.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), desde 2014 o vírus já foi identifi-cado em 19 países. Em menos de 2 anos quase 2 milhões de casos, sendo a maioria na Índia.

Depois de assolar o mundo, a doença chegou ao Brasil e até o dia 15 de novembro, o Ministério da Saúde registrou 1.364 casos de Febre Chikun-gunya no Brasil, sendo 125 confirmados por cri-tério laboratorial e 1.239 por critério clínico-epi-demiológico. Do total, 71 casos são importados, ou seja, de pessoas que viajaram para países com transmissão da doença, como República Domi-nicana, Haiti, Venezuela, Ilhas do Caribe e Guia-na Francesa.

Os outros 1.293 foram diagnosticados em pes-soas sem registro de viagem internacional para países onde ocorre a transmissão. Destes casos, chamados de autóctones, 531 foram registrados no município de Oiapoque (AP), 563 em Feira de Santana (BA), 196 em Riachão do Jacuípe (BA), um em Matozinhos (MG), um em Pedro Leopol-do (MG) e um em Campo Grande (MS).

Diferentemente da dengue, que tem quatro subtipos, o vetor chikungunya é único. Uma vez que a pessoa é infectada e se recupera, torna-se imune à doença. Quem já contraiu a dengue não está livre da chikungunya, pois apesar de trans-mitidos pelo mesmo mosquito e com sintomas similares são vírus distintos.

SINTOMAS Os principais são: início abrupto de febre febre

acima de 39 graus e dores intensas nas articula-ções de pés e mãos. Podendo ocorrer, também, dor de cabeça, dores nos músculos e manchas vermelhas na pele.

Em torno de 30% dos casos não chegam a de-senvolver sintomas. O Ministério da Saúde defi-niu que devem ser consideradas como suspeitos todos os que apresentarem febre de início súbi-to maior de 38,5ºC e artralgia (dor articular) ou artrite intensa com início agudo e que tenham histórico recente de viagem às áreas nas quais o vírus circula de forma contínua. A dor articular, presente em 70% a 100% dos casos, é intensa e afeta principalmente pés e mãos - geralmente tornozelos e pulsos e em maior intensidade do que na dengue.

Sobre o desenvolvimento da doença, Taíse Ca-valcante, coordenadora do Programa Municipal de Controle da Dengue em Aracaju, alerta: “os sintomas surgem em cerca de três a doze dias, mas a doença em si não representa grande ris-co à saúde. Já a Dengue age mais lentamente no organismo só que se não tratada a tempo pode levar a morte. Por isso recomendamos que as pessoas busquem prevenir as doenças e em caso de aparecimento dos sintomas procurem quanto antes os serviços de saúde”.

Muitas vezes, os sintomas em indivíduos in-fectados são suaves e a infecção pode passar des-

percebida, ou ser diagnosticada como dengue.Indivíduos maiores de 65 anos tiveram uma

taxa de mortalidade 50 vezes superior quando comparados ao adulto jovem (menores de 45 anos de idade). Apesar de não ser claro por que os adultos mais velhos têm um risco aumentado para doença mais grave, pode ser devido à res-posta imunológica diminuída.

TRANSMISSÃO O vírus é transmitido pela picada da fêmea de

mosquitos infectados. São eles o Aedes aegypti e o Aedes albopictus. O mosquito adquire o vírus CHIKV ao picar uma pessoa infectada, durante o período de viremia.

A sua única forma de transmissão é através do mosquito e não existe transmissão entre indiví-duos.

O risco aumenta, portanto, em épocas de ca-lor e chuva, mais propícias à reprodução dos in-setos. Esses mosquitos podem ser encontrados mordendo todo o dia, embora possa haver picos de atividade no início da manhã e final da tarde.

Em compensação, comparado com a dengue, o novo vírus mata com menos frequência. Apesar de não haver um grupo de risco é mais suscetí-vel em idosos, quando a infecção é associada a outros problemas de saúde, ela pode contribuir como causa de morte, porém complicações sérias são raras, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, o vírus dificilmente causa um dano definitivo ao organismo.

Não há evidências de que o vírus seja trans-mitido da mãe para o feto durante a gravidez. Porém, a infecção pode ocorrer durante o parto. Também não há evidências de transmissão pelo leite materno.

OS MOSQUITOSO Aedes aegypti tem presença essencialmente

urbana e a fêmea alimenta-se preferencialmente de sangue humano. O mosquito adulto é encon-trado dentro das residências e os habitats das larvas estão mais frequentemente em depósitos artificiais (pratos de vasos de plantas, lixo acu-mulado, pneus, recipientes abandonados etc.). O mosquito Aedes aegypti mede menos de um centímetro, tem aparência inofensiva, cor café ou preta e listras brancas no corpo e nas pernas. O indivíduo não percebe a picada, pois não dói e nem coça no momento. Por ser um mosquito que voa baixo - até dois metros - é comum ele pi-car nos joelhos, panturrilhas e pés. A voa até mil metros de distância de seus ovos. Com isso, os pesquisadores descobriram que a capacidade do mosquito é maior do que os especialistas acredi-tavam.

O Aedes albopictus está presente majoritaria-mente em áreas rurais, peri-urbanas(áreas den-tro ou próximas à áreas urbanas) e alimenta-se-se principalmente de sangue de outros animais, embora também possa se alimentar de sangue humano. Suas larvas são encontradas mais fre-quentemente em habitats naturais, como inter-nódios de bambu, buracos em árvores e cascas de frutas. Recipientes artificiais abandonados nas florestas e em plantações também podem servir de criadouros.

TRATAMENTO E PREVENÇÃO Ainda não existe um tratamento específico

para a doença, como no caso da dengue. O tra-tamento é paliativo, com uso de antipiréticos e analgésicos para aliviar os sintomas. Não é re-comendado usar o ácido acetil salicílico (AAS) devido ao risco de hemorragia. Recomenda-se repouso absoluto ao paciente, que deve beber lí-quidos em abundância.

Como a doença é transmitida por mosquitos, é fundamental que as pessoas reforcem as medi-das de eliminação dos criadouros de mosquitos

Mosquito Aedes Aegypti, um dos transmissores da doença

Foto: Marc AuMarc, Creative commons

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saúde&meioambiente19

por DEMÉTRIUS [email protected]

Chikungunya significa “aqueles que se dobram” na língua maconde, um dos idiomas da Tanzânia.

Refere-se à aparência curvada dos pacien-tes que foram atendidos na primeira epide-mia documentada, na Tanzânia, localizada no leste da África, entre 1952 e 1953.

nas suas casas e na vizinhança. As medidas que as pessoas devem tomar são exatamente as mes-mas recomendadas para a prevenção da dengue.

Taíse Cavalcante informa que a prevenção é baseada no mesmo modo do combate à dengue, e o cuidado é diminuir o maior número possível de mosquitos adultos através da eliminação de locais que sirvam de acúmulo de água para que os ovos não se transformem em mosquitos adul-tos transmissor da doença.

Atendendo portarias do Ministério da Saúde, a Secretaria de Estado da Saúde oferece suporte aos municípios sempre que é identificado algum risco de ocorrência de surtos ou epidemias. Sid-ney Sá, coordenadora do Núcleo de Endemias da Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe (SES), explica que “há uma brigada de controle e pre-venção a dengue e Chikungunya, composta por cinquenta agentes, que visita os municípios em risco iminente agindo no controle do vetor. Além disso temos os carros fumacê (aqueles que que passam soltando uma fumaça que prejudica os mosquitos, mas são inofensivas aos outros seres) que em uma situação de surto devem ser utiliza-dos para o controle do vetor em sua fase adulta”.

DIAGNÓSTICO O vírus só pode ser detectado em exames de

laboratório. São três os tipos de testes capazes de detectar o Chikungunya: sorologia, PCR em tem-po real (RT-PCR) e isolamento viral. Todas essas técnicas já são utilizadas no Brasil para o diag-nóstico de outras doenças e estão disponíveis nos laboratórios de referência da rede pública.

Para agilizar o diagnóstico e fornecer o trata-mento no menor tempo possível Sidney Sá co-menta que “no estado de Sergipe foram capacita-dos médicos e enfermeiros da atenção básica dos 75 municípios para que os mesmos identifiquem um caso suspeito, e dessa forma casos suspeitos sejam identificados com maior rapidez”.

ORIENTAÇÕES EM CASO DE SUSPEITA A pessoa que suspeitar estar infectava deve

procurar a unidade de saúde mais próxima, ime-diatamente. É aconselhável evitar a automedica-ção, pois ela pode mascarar sintomas, dificultar o diagnóstico e agravar o quadro do paciente.

Segundo Sidney Sá em caso de surto o Estado possui uma estrutura hospitalar, onde há hospi-tais regionais e um de urgência na capital com profissionais já capacitados para atender a casos suspeitos que porventura apareçam. “Mesmo com toda essa estrutura, precisamos da ajuda de todos para que surtos ou epidemias não ocor-ram, principalmente por ser uma doença que seus principais criadouros encontram-se dentro de nossas residências”, salienta.

No Brasil, a notificação de casos é obriga-tória. Os casos suspeitos da doença devem ser comunicados e/ou notificados em até 24 horas a partir da suspeita inicial. Qualquer estabele-cimento de saúde, seja ele público ou privado, deve informar a ocorrência de casos suspeitos às Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde e ao Ministério da Saúde.

CHIKUNGUNYA PELO MUNDOA Chikungunya já foi identificada em cerca de

40 países da Ásia, África, Europa e também nas Américas. Infecções humanas na África têm tido níveis relativamente baixos para um número de anos, mas em 1999-2000, houve um grande surto na República Democrática do Congo, e em 2007 houve um surto no Gabão.

Os mosquitos transmitiam a doença para afri-canos abaixo do Saara, mas os surtos não ocor-riam até junho de 2004. A partir desse ano, a febre chikungunya teve fortes manifestações no Quênia, e dali se espalhou pelas ilhas do Oceano Índico. Da primavera de 2004 ao verão de 2006, ocorreu um número estimado em 500 mil casos.

A partir de fevereiro de 2005, um grande sur-to de chikungunya ocorreu em ilhas do Oceano Índico. Um grande número de casos importados da Europa foi associado com este surto, princi-palmente em 2006, quando a epidemia do Ocea-no Índico estava em seu auge. Um outro grande surto de chikungunya ocorreu entre 2006 e 2007 na Índia. Vários outros países do Sudeste da Ásia também foram afetados. Desde 2005, a Índia, Indonésia, Tailândia, Maldivas e Myanmar têm relatado mais de 1,9 milhões de casos. Em 2007 foram relatados os primeiros casos na Europa. Um surto localizado no nordeste da Itália. Hou-veram 197 casos registrados durante esse surto e confirmou que os mosquitos por Aedes Albopic-tus são possíveis na Europa.

No final de 2013, foram registradas trans-missões autóctone em vários países do Caribe (Anguila, Aruba, Dominica, Guadalupe, Guiana Francesa, Ilhas Virgens Britânicas, Martinica, República Dominicana, São Bartolomeu, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia e São Martinho) e em março de 2014, na República Dominicana. Toda a população do continente é considerada como vulnerável, por dois motivos: como nun-ca circulou antes em nossa região, e por conta disso ninguém tem imunidade ao vírus e ambos os mosquitos capazes de transmitir a doença es-tão presentes praticamente em toda às áreas das Américas. A partir de outubro de 2014, mais de 776 000 casos suspeitos de Chikungunya foram registrados nas ilhas do Caribe, países da Amé-rica Latina e alguns países sul-americanos. 152 mortes também foram atribuídas a esta doença durante o mesmo período. Sendo este o primeiro surto documentado de chikungunya com trans-missão autóctone nas Américas.

No Brasil, foram registrados casos em estados como Bahia, Amapá e São Paulo. No México, al-gumas pessoas já haviam mostrado sintomas da

doença, mas elas haviam contraído o vírus no ex-terior, detectando seu primeiro caso doméstico em novembro desse ano.

Na França de acordo com a OMS, quatro in-fecções ocorreram em uma mesma família, que apresentou sintomas entre o dia 20 de setembro e 12 de outubro deste ano. As pessoas infecta-das vivem em uma localidade próxima de onde ocorreu um caso de chikungunya importado de Camarões. Foram registrados outros casos no Caríbe e Estados Unidos.

Segundo Sidney Sá, a possibilidade da doença chegar a Sergipe é muito grande, principalmente pela presença nacional das duas espécies de Ae-des que transmite a Febre, além do mais a pro-ximidade geográfica com o município de Feira de Santana (BA) onde já houveram vários casos confirmados é outro agravante. “Já foi identifica-do um caso importado no município de São Cris-tovão. E para que a doença não avance e tome proporções incontroláveis é necessário que as atividades de controle do vetor sejam permanen-tes e vigilância sobre possíveis casos contínua”, completa.

Falando sobre o município de Aracaju Taíse completa “o trabalho do Programa Municipal de Controle da Dengue vem acontecendo em Ara-caju e com a perspectiva de que com mais uma doença transmitida pelo Aedes aegypti as ações devem ser intensificadas”.

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Divisão dos 1.239 casos da Febre confirmados por critério clínico-epidemiológico. Escala meramente ilustrativa. Amapá (531), Bahia (759), Mato Grosso do Sul (01) e Minas Gerais (02)

Page 20: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

20 ciência&tecnologia&

comportamento

No Brasil e no mundo, é evidente o avanço tec-nológico. O mercado da tecnologia não para

de produzir equipamentos modernos, fazendo surgir sempre, um novo modelo no mercado tecnológico. Mas já que se produz tanto, é indispensável que exis-tam questionamentos sobre o que ocorre com tantos equipamentos eletrônicos, quando não são mais uteis ou ficaram para trás no quesito modernidade.

Em meio a essas dúvidas, surgem perguntas como: O que acontece com eles? Para onde vão? Onde podem ser descartados de maneira correta, sem prejudicar o meio ambiente? Há um local adequado de descarte desses equipamentos? Existe algum risco maior se esse descarte não for realizado de forma adequada e segura?

Para responder a essas perguntas, é necessário pri-meiro explicar o que é o lixo eletrônico. Segundo o Pro-grama da ONU (Organização das Nações Unidas) Para o Meio Ambiente (PNUMA), lixo eletrônico é todo resí-duo material produzido pelo descarte de equipamentos eletrônicos, como monitores de computadores, telefo-nes celulares e baterias, computadores, televisores, câ-meras fotográficas e impressoras.

Ainda de acordo com o programa da

ONU, o problema ocorre quando o equipamento apre-senta defeito ou se torna ultrapassa-do, e o descarte é realizado no meio ambiente, trazendo danos preocupan-tes. Como estes equipamentos pos-suem substâncias químicas em suas composições como o chumbo, cádmio, mercúrio, berílio, além de outros, po-dem provocar con-taminação do solo e da água.

Tamiris de Car-valho, estudante do sexto período do curso de Engenha-ria Agronômica da

Universidade Federal de Sergipe (UFS), explica que o cádmio é um metal pesado, cancerígeno, que é encon-trado em baterias de celular. “ Quando essas baterias são descartadas em locais indevidos, este metal é libera-do e contamina o solo, plantas como o alface, que pode absorver grandes quantidades de cádmio, devido o fato do metal possuir estrutura similar ao Zinco, que é o nu-

triente da planta”, conta.Além do contaminar o meio ambiente, estas subs-

tâncias químicas podem provocar doenças graves em pessoas que coletam produtos em lixões, terrenos bal-dios ou na rua. Outro fator que preocupa, é o de que es-tes equipamentos são compostos também por grande quantidade de plástico, metais e vidro, e esses materiais demoram muito tempo para se decompor no solo; tor-nando-se, mais um agravante ao meio ambiente.

Ainda sobre o alto consumo desses produtos eletrô-nicos, Tamiris aponta três possíveis fatores responsá-veis por esse consumismo na sua opinião: “ Facilidade de compra e popularização desses produtos, baixo pre-ço de alguns produtos importados, como os celulares vindos da China (piratas), e o próprio consumismo, a necessidade de estar sempre trocando um modelo de celular por um mais moderno, ou comprando um pro-duto eletrônico por status, alguns não compram produ-tos, compram marcas”.

DESCARTE INADEQUADOO que muita gente não sabe, é que em função da

complexidade do problema da contaminação, do au-mento considerável da produção, consumo e do conse-quente descarte de eletroeletrônicos, foram elaboradas leis federais específicas, que estão em vigor em diversas partes do mundo, e que obrigam as empresas a darem um destino correto a esses materiais. No Brasil, no dia 5 de Agosto de 2010, foi aprovada a Lei Federal nº 12. 3055 referente à Política Nacional de Resíduos Sólidos, ela obriga que se dê um destino adequado aos resíduos eletrônicos. No Estado de São Paulo, essas políticas fo-ram aprovadas um pouco mais cedo, em julho de 2009, a Lei Estadual 13.576 que institui normas e procedi-mentos para a reciclagem, gerenciamento e destinação final de lixo tecnológico, entrou em vigor.

Questionado sobre a sua visão em relação a produ-ção, o consumo, e o descarte em locais desapropriados de equipamentos eletroeletrônicos, o Coordenador da Casa de Ciência e Tecnologia da Cidade de Aracaju (CC-TECA), Paulo Augusto César Almeida, Técnico em quí-mica, Pedagogo e Astrônomo amador há mais de vinte anos, relata que o consumo exagerado é o problema e por isso o descarte de material incorreto. “Não temos uma política bem definida, poderiam criar em cada ca-pital uma empresa que recolheria o lixo naquele local. Para mim é um descaso do governo mesmo, ele tem dinheiro pra fazer isso e infelizmente não tem a inicia-tiva”, detalha.

Para não provocar a contaminação e poluição do meio ambiente, é preciso fazer o descarte do lixo ele-trônico em lugares adequados como, empresas e coo-perativas que atuam na área da reciclagem. Já no caso dos celulares e suas baterias, estes podem ser entregues nas empresas de telefonia celular, que encaminham estes resíduos de maneira segura, não gerando danos

ao meio ambiente, ou ainda na CCTECA, onde funcio-na o projeto “Save the planet” que se preocupa com o meio ambiente, recolhe todo o lixo reciclável e todas as terças-feiras um caminhão da Cooperativa dos Agen-tes Autônomos de Reciclagem de Aracaju (CARE) que conta com a doação desse material, recolhe e realiza a reciclagem.

Segundo Paulo Almeida, a pilha tem substâncias químicas como cádmio, chumbo, e algumas possuem mercúrio, que é muito tóxico e se espalha facilmente na atmosfera e no solo. Esses elementos que estão dentro da pilha irão reagir, e quando for retirada a energia de dentro dela, estará acontecendo uma ração química de elétrons gerando a energia que é utilizada.

Sobre o que acontece depois do uso da pilha e em re-lação a parte do processo de reciclagem, o Coordenador da CCTECA, conta que depois que acontece essa reação química, onde temos a geração de subprodutos, essas pilhas são encaminhadas para as indústrias químicas que podem separar esses elementos e reutilizá-los. “Além de não gerar danos você reutiliza a matéria-pri-ma, pois a maioria dos elementos químicos podem ser isolados através de processos de separação, podendo ser usados nas próprias pilhas ou em outros processos industriais”.

Outra opção é doar os equipamentos em boas con-dições de uso, mas que não estão mais dentro da mo-dernidade tecnológica, para instituições sociais que realizam seu trabalho na área de inclusão digital. Além de não contaminar o meio ambiente, esta ação ajuda-rá pessoas carentes. Deixá-los em oficinas de concerto, onde algumas peças podem ser reaproveitadas, ou até mesmo, o eletrônico por completo, é um outro viés

DESCARTE DE ELETROELETRÔNICOSCom os avanços tecnológicos e o alto consumo, o lixo eletrônico descartado de forma inadequada, tornou-se um grande problema ambiental

Tamiris Aparecida, estudante de Engenharia Agronômica-UFS

Paulo Almeida, Coordenador da CCTECA

Foto: Deyse Tuanne

Foto: Deyse Tuanne

por DEYSE [email protected]

Page 21: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

21 ciência&tecnologia&comportamento

Foto: Arquivo CCTECA e Silvia Rodrigues

BEM-VINDO À NAVE PLANETÁRIOA CCTECA Galileu Galiliei é praticamente uma viagem ao universo, apresentando aos seus visitantes as respostas que a ciência tem para tudo que existe ao nosso redor. Vamos conhecer?

Quem nunca ouviu falar que existe vida fora da terra, que estrelas cadentes re-

alizam desejos e que o homem foi à lua? Ou se questionou sobre a origem da vida, como as coisas funcionam e do que são feitas? Que o universo é um mistério ninguém tem dúvi-da, mas você sabia que existe um lugar para desvendá-lo? A ciência explica e a a Casa de Ciência e Tecnologia de Aracaju (CCTECA), considerado o terceiro planetário mais mo-derno do mundo, vai ajudar você a descobrir sobre tudo que existe ao nosso redor.

Química, física, biologia e matemática são disciplinas que fazem parte de todo currícu-lo escolar e muitos questionam para que ser-vem, sem saber que elas estão presentes no nosso cotidiano. Naquele filme 3D que você assistiu, no seu automóvel, na iluminação das ruas, na composição do detergente, na bate-ria do celular, entre outras coisas que muitas vezes passam despercebidas.

O diretor do planetário, Augusto Cesar Al-meida, que é Técnico em Química, Pedagogo e como ele mesmo diz Astrônomo amador desde 1986, acredita que o espaço é uma óti-ma oportunidade para as escolas utilizarem como laboratório para os seus alunos, além de propagar um turismo científico na cidade.

“Muitas escolas nos procuram, não só daqui do Estado, mas de Estados vizinhos também. Assim como visitas técnicas de pessoas da área e grupos de turistas de várias partes do mundo” relata.

PROJETOSHá cinco anos que a CCTECA apresenta aos

seus visitantes o conhecimento das ciências, com suas salas de Óptica, Mecânica, Eletrici-dade, Matemática e Biologia, além da Esta-ção Espacial Pedagógica (sala de projeção do Planetário) e os diversos projetos de estudos para todos os interessados.

Uma das principais atrações da Casa é o Planetário, que possui uma cúpula de seis metros de diâmetro e capacidade para 31 pes-soas. No local, são projetadas imagens de pla-netas, constelações, galáxias, além de filmes educativos. “Apesar de estar numa cúpula pe-quena, não perdemos em qualidade para ne-nhum outro centro”, afirma Augusto.

Na sala de biologia, os instrutores mostram que não é necessário ser cientista para querer entender como e por que os fenômenos ocor-rem. Estudantes de todas as escolas e visitan-tes têm a oportunidade de saber como funcio-na o nosso corpo.

Os efeitos do alcoolismo, os efeitos do fumo, do levantamento de peso incorreto, além de uma maleta com instrumentos que mostram de forma didática as consequências do uso das drogas no organismo. Há ainda um esqueleto humano, microscópio, mode-los de célula animal e vegetal, pele humana, modelos embrionários e a evolução do crânio humano.

Muito além de receber visitas, a Casa de Ciências promove diversos projetos. O pro-jeto Café Consciência é realizado no último domingo de cada mês, onde um cientista é convidado a falar sobre um tema para os vi-sitantes. “A cada edição, cientistas e pensa-dores são convidados para realizarem uma apresentação sobre um tema relevante para a sociedade”, explica o diretor da CCTECA.

Existe ainda um projeto voltado exclusiva-mente para crianças do ensino fundamental - do 5º ao 9º. É o Jovem Cientista, que pos-sibilita aos adolescentes o contato mais real com experimentos. São reuniões realizadas dois sábados por mês, em que os alunos têm noções de robótica, ciências, técnicas de pro-gramação e memorização, além da montagem de pequenos projetos.

Outro projeto desenvolvido é a observação com telescópios, onde os interessados podem acompanhar as observações em dias de lua crescente e cheia, sempre às 18h.

VISITAA visita guiada a todas as instalações do Pla-

netário duram em média duas horas. Além das salas, os visitantes podem ter uma rica experi-ência com os diversos experimentos interati-vos do espaço. Ao todo, o espaço dispõe de 81 equipamentos que proporcionam o conheci-mento prático dos fenômenos do cotidiano. Os visitantes também tem à disposição três equi-pamentos externos, entre eles o Gyrotex, que simula a ausência da gravidade com círculos giratórios e que é usado em treinamentos da Nasa e Força Aérea. A CCTECA Galileu Galilei tem muito mais a apresentar e quem tiver in-teresse pode ir fazer uma visita. O Planetário está localizado na Avenida Oviedo Teixeira, no Parque Augusto Franco (Parque da Sementei-ra), próximo ao Shopping Jardins. Das terças às sextas-feiras, o horário de visitação é das 9h às 12h e das 14h às 17h. Aos sábados e domin-gos, a visitação vai das 14h às 17h. Nos sábados e domingos em que ocorrem as observações, a visitação é das 18h às 20h

por SILVIA [email protected]

Page 22: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

ciência&tecnologia&comportamento22

por JUSSARA GONÇ[email protected]

PUNIÇÕES REAIS PARA CRIMES VIRTUAISComentários e postagens ofensivas, durante as eleições, causaram dor de cabeça a muitos usuários das redes

A disputa eleitoral rea lizada recentemen-

te dividiu o país entre em dois polos. As discursões, sobre qual candidato deve-ria assumir a presidência, causaram intrigas pessoais e ofensas, as quais trans-formaram as redes sociais em um verdadeiro ringue de batalha. Os comentários muitas vezes preconceitu-osos, ofensivos e absurdos fugiram totalmente de con-trole e muita gente se sentiu ofendida. Esse tipo de ação é crime e a pessoa pode exi-gir, em tribunal, que o autor do comentário tenha que pagar uma multa, além da detenção de até três anos.

Não é de hoje que crimes cibernéticos vêm aconte-cendo na internet. Quem não se lembra do famoso caso Carolina Dieckmann, no qual a atriz teve fotos íntimas divulgadas sem a sua autorização. E deste ocorrido originou-se a Lei 12.737/2012 que tipifica como crime uma série de condutas no ambiente virtual. Desde invasão

acomputadores, ta-blets, smartphones, conectados ou não à internet, como também interrup-ção internacional do serviço de inter-net, obtenção de in-formação privada, comercialização dos dados obtidos sem autorização.

Em Sergipe, um caso que chocou o estado, foi o vídeo divulgado na in-ternet difamando adolescentes, mui-tas eram menores de idade, intitulado “as mais rodadas de Itabaiana”. Esse ví-

deo gerou muita polêmica e modificou a vida de muitas mulheres, que não podiam sair na rua sem ser julgadas ou discriminadas pela sociedade. O material trazia con

teúdo de caráter ofensivo e de injúria, que para a polícia, é considerado um “crime contra a hon-

ra”.O delegado Alexandro Vieira, explica que os in-

ternautas que ‘xingam’ os nordestinos ou escrevem comentários preconceituosos, estão

cometendo “crime contra a honra”. Vieira ainda acrescenta que os usuários e administradores de páginas ao postarem esses tipos de comentários estão cometendo injúria racial e não racismo como muitos pensam. “É possível a pratica do racismo, que é a discriminação propriamente dita, e a injú-ria racial, que é a ofensa pessoal com uso de ter-mos racistas”, afirma.

Desde 30 de novembro de 2012 quando foi san-cionada a lei, apelidada de Carolina Dieckmann, crimes como esses é investigado e os responsáveis punidos. Segundo especialistas, isso é reflexo de um mundo cada vez mais conectado, segundo da-dos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-tica (IBGE), 50,1% dos brasileiros estavam conec-tados na internet em 2013, sendo que a maioria é jovem de 16 a 18 anos. Levando em consideração

as pessoas que tem acesso à internet 78% dos usuários, de todas as ida-des, tem conta ou página em alguma rede social (Facebook , Twitter, Ins-tagram).

Vieira relata que a grande maio-ria não comente esse tipo de crime, pelo contrario repudiam essa ação, mas essa minoria se torna um pro-blema quando fazem comentários inapropriados nas redes sociais. “As ofensas na rede social representam o maior número de registros na De-legacia de Repressão a Crimes Ci-bernéticos (DRCC)”, afirma.

Qualquer discurso que promova a xenofobia na internet pode para no tribunal. Desde que a pessoa que se sinta ofendida procure uma delega-cia especializada e faça a ocorrência. “Os casos de menor potencial ofen-sivo tem penas inferiores há dois anos e são julgados pelos Juizados

Especiais Criminais, normalmente re-sultando em conciliações ou penas alternativas”, explica o delegado.

O QUE FAZERAs pessoas que se sentirem vítima deste tipo de ação deve se encaminhar a uma delegacia especia-lizada, no caso de Sergipe a DRCC, onde receberá todas as orientações adequadas. Os especialistas alertam para o fato de guardar provas, o ideal é fa-zer uma ata notorial, no qual o profissional do car-tório acessa o conteúdo e atesta sua existência, po-rém esse é um processo caro. Outro método seria usar o print screen (cópia da tela do computador).

Se o possível infrator usar uma página anônima ou falsa para disseminar ideias ofensivas, e o in-ternauta se sente incomodado, também deve ser feito a denúncia, pois segundo o delegado existem técnicas próprias para identificar e punir o autor dos insultos. Ainda pode ser feita a denuncia em diversos meios disponíveis, como entra em conta-to com a própria rede social, contatar ONGS que luta e protege os direitos humanos na rede, por exemplo, a Safernet

Legenda da imagem. Aceaquat ecupien dusam, occusciatur?

ACONTECEUCOMIGO...

Eduardo Rodrigo, 22 anos, Estudante de Geografia da Universidade Tiraden-tes (Unit)

se sentiu ofendido com comentários que circularam após a reeleição da pre-sidenta Dilma Rousseff. Segundo ele ao navegar pela internet, como de costu-me, viu diversos comentários de xeno-fobia, que o deixou indignado. Mas um

em especial, no facebook, chamou sua atenção, o comentário dizia: “Malditos nordestinos mortos de fome! Tem mes-mo é que se ferrar junto com o PT”.

Indignado com o ocorrido, Rodrigo entra em contato, através do facebook, com a pessoa e rebate a sua colocação dizendo:

“Você deveria repensar seu comentá-rio. Seu preconceito, é que fez o Brasil ser como é!”. A pessoa não respondeu e em seguida deleta a sua conta do face-book “sem se desculpar ou se redimir”.

Rodrigo ver essa atitude como um

ato de covardia, “porque ela está ata-cando a nossa democracia, ou seja, todo mundo tem o direito de voltar em quem quiser. Se a presidente ganhou foi porque a maioria assim votou”, ex-plica. Ele ainda relata outros comentá-rios ofensivos, os quais, diziam que to-dos os nordestinos eram burros, idiotas

por terem reeleito a presidenta.“Observo que hoje o mundo é movi-

do pela internet e que neste há os mes-mo preconceitos que encontramos na rua”, relata Rodrigo.

Foto: Ascom SSP-SE

Foto: Arquivo pessoal

Page 23: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

ciência&tecnologia&comportamento23

ENTRE O VÍCIO E A NECESSIDADEWhatsApp: o limite entre os dois lados do aplicativo que vem revolucionando a comunicação

Pensar em uma comunicação moderna, instantânea, prática e ao mesmo tempo

divertida, é pensar hoje, no WhatsApp, ou para os mais íntimos, apenas “whats”. Ou zapzap. Essa tecnologia reforça o quanto as pessoas são dependentes de relações, e por isso, fica cada vez mais raro encontrar alguém que não pos-sui esse aplicativo. Ligações? SMS? Estes estão sendo substituídos, já que as pessoas podem conversar em tempo (quase) real com várias outras ao mesmo tempo. Pedir o número de uma pessoa se tornou inadequado, as pessoas querem agora “o seu whats”. Nesse universo, as mudanças são inerentes e constantes, a cada atualizada, uma novidade. Agora não basta ape-nas enviar uma mensagem e esperar a resposta. É preciso saber se chegou e se foi visualizada. Quantas pessoas já ficaram com raiva quando viram aqueles dois tracinhos azuis e nada de resposta? Quantas pessoas se sentiram “des-locadas” do mundo quando o WhatsApp ficou sem funcionar? Muitas outras se conheceram, se aproximaram e resolveram diversos proble-mas, com o simples teclar neste aplicativo.

Sua funcionalidade adentrou o mundo das comunicações e facilitou a interação de diver-sas pessoas. Nas eleições desse ano, por exem-plo, vários candidatos (senão todos) utilizaram

o WhatsApp para divulgar suas campanhas e interagir com seu “público”. Não é diferente com diversas empresas e seus colaboradores que se adequaram ao novo meio para garantir melhores resultados diante de seus clientes. Para Tiago Santos, supervisor da IBI Promoto-ra de Vendas – Aracaju, as empresas precisam se adequar às novas realidades de mercado, principalmente aos avanços tecnológicos que tem contribuído consideravelmente para es-treitar a relação “cliente x empresa”.

Esse aplicativo também agregou diversas vantagens na comunicação interna da empresa, pois além de ser uma comunicação barata, con-segue atingir uma grande quantidade de pes-soas de forma rápida e em tempo real. “Temos um grupo criado para os supervisores, onde são passadas informações a todo o momento, des-de flash de vendas às comunicações atualiza-das sobre normas, procedimentos da empresa, campanhas de vendas, dentre outros assuntos. Cada supervisor, por sua vez, cria o seu grupo adicionando os funcionários da loja. Nesse, são passadas informações pertinentes à loja, frases e vídeos motivacionais, e é claro, também exis-te o momento de descontração e entretenimen-to com o grupo”, afirma Tiago.

“Hoje, estar conectado é meio que uma regra para viver em sociedade, me sentiria perdida

sem o WhatsApp”, Maíra Sandes, estudante de medicina. A opinião da estudante reflete a rea-lidade da nossa sociedade, onde a comunicação é necessária e o auxílio de ferramentas, como o WhatsApp, é essencial para qualifica-la. Mas o uso desse aplicativo não apresenta apenas benefí-cios. “Considero-me dependente do WhatsApp, porque deixo o celular sempre ao meu alcance. Não consigo ficar mais de uma hora sem ver, só quando estou dormindo (risadas)”, afirma Maíra. Essa dependência vem se tornando comum en-tre os usuários que não se veem mais sem essa tecnologia. Para a estudante, esse vício modificou alguns hábitos de sua rotina, como a perda de foco nos estudos, por exemplo. “Quando estou estudando tenho que deixar o celular longe do al-cance de minhas mãos, porque já é algo mecâni-co, mas não consigo ficar muito tempo sem ver”, conta. A psicóloga clínica, Ilza Donald, explica que isso normalmente acontece devido aos bene-fícios ofertados pela tecnologia. “O usuário fica tão voltado para os benefícios que não percebe o quanto se torna dependente dele, mas nosso cé-rebro é um computador natural, cabe a nós mes-mos saber equilibrar e dominar as nossas ações”, ressalta.

Outro problema, causado pelo uso (excessivo) do WhatsApp, é a mudança nas relações sociais, uma substituição: deixar o real e se contentar ape-nas com o virtual. Como diz o grande McLuhan em seu livro, “Os meios de comunicação como extensões do homem”, muitas pessoas são mais

sociáveis utilizando uma tecnologia do que num ambiente com várias outras pessoas.

Esse comportamento facilita o distanciamento do mundo real e uma aproximação do mundo virtual. Essa é a preocupação. “A comunicação que se estabelece mediada pelos ‘bate-papos’, parte do entendimento de que ‘ele vai ficar lá e eu aqui’, o que gera um nível de segurança, mas ao mesmo tempo, talvez, a pessoa perceba em al-gum momento uma falta de sentido para aquela experiência, porque tem coisas que não serão expressas pela fala, mas sim pelo olhar, pelo toque, que muitas vezes abrimos mão, quando estamos envolvidos com essas tecnologias”, afir-ma a psicóloga e professora da Universidade Fe-deral de Sergipe, Danielle de Gois. O aplicativo, como forma de substituição, proporciona uma falsa socialização à medida que não vai aproxi-mar “pessoa - pessoa”, mas sim uma tecnologia sempre interferindo nessa relação (superficial). Por isso, é importante saber dosar as relações e utilizar o WhtasApp como “um meio”, e não como “ única forma” de interação. “A tecnologia pode aproximar à medida que a utilizamos não como substitutiva, mas como um aparato que está a nosso serviço, e não nós a serviço dele. É um recurso que podemos usar para marcar um encontro com alguém, por exemplo, e não como um impedimento de encontrá-lo por já estar-mos satisfeitos com as trocas de mensagens”, diz a psicóloga

OUVINDO OS ESPECIALISTAS

Vitor BragaOnline

ENTREVISTA

O que é o aplicativo WhatsApp?

É uma ferramenta utilizada em dispositivos móveis para uma comunicação na perspectiva de um instant Message.

Poder conversar com as pessoas num fluxo de conversação diferente de outros meios, já que este é utilizado em dispositivos móveis e permite a interação a “qualquer hora”.

O WhatsApp foi criado em 2009 por Brian Acton e Jan Koum, com o intuito de materializar a ideia de mobilidade e praticidade na comunicação. Em 2012 já alcançava cerca de 10 milhões de mensagens. Em 2013, alcançou a marca de 250 milhões de usuários e 25 bilhões de mensagens enviadas e recebidas por dia. Nesse ano de 2014, o WhatsApp foi vendido para o Facebook, que pagou 19 bilhões de dólares por sua aquisição, sendo que 15 bilhões em ações do Facebook e 4 bilhões de dólares em dinheiro. Hoje o seu forte, além da mobilidade nas conversações, é a criação de grupos, que permitem maior interação e divulgação de informações. Recentemente, o limite de pessoas por grupo foi ampliado de 50 para 100.

Qual a funcionalidade deste aplicativo?

Como surgiu este aplicativo e o que marcou sua trajetória até hoje?

por ISADORA [email protected]

Charge: Yves Deluc

Page 24: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

24 cultura

A PERFORMACE DA DORA exposição “Performance da Dor”, apresenta ao público um misto de emoções, que apresentam as variadas sensações de dor, baseada nas obras de artista plástica mexicana Frida Kahlo.

A Performance da Dor marcou os dois meses fi-nais de 2014, com seu inicio na primeira sexta-

-feira de novembro, dia 7, e com data de término no dia 11 de dezembro, a exposição apresentou para o público um universo no qual se permitia transitar entre diver-sas linguagens, tais como a fotografia, a pintura corpo-ral e a encenação. A exposição foi apresentada no Sesc Centro, e bateu recordes de público, com repercussão até na mídia local.

De autoria das alunas do curso de áudio visual da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Janaína Vas-concelos e Camila Pedroza, a exposição apresenta 7 obras que fazem releituras de pinturas renomadas da artista plástica mexicana, Frida Kahlo. Janaína Conta que o trabalho surgiu da simples ideia e vontade de querer fazer um projeto fotográfico autoral, usando a obra de Frida Kahlo como base referencial.

“No início era tudo muito ingênuo, eu só pensava que a única coisa que não queria era remakes de Frida Kahlo, fora isso não sabia ao certo o que queria. Até que conversei com Camilla, que já trabalhava com pintura corporal e daí iniciamos o processo criativo e de pesqui-sa sobre o tema”, conta aluna apaixonada por fotogra-fia, Janaína.

As artistas deram uma palestra na II Semana Aca-dêmica da Universidade Federal de Sergipe, na qual falaram sobre todo o processo de criação da exposição. Segunda elas o processo foi bem gradual, porém não linear. A necessidade de fazer as 7 obras realmente to-mou força a partir do primeiro ensaio, no qual a obra da coluna partida de Frida Kahlo foi feita, as artistas deci-diram se aprofundar mais no universo da dor.

“Buscamos referencias em autores da fotografia, psicologia, psicanálise, e até na própria vida e obra de Frida. Depois dessa fase de pesquisa pudemos retornar as atividades mais práticas relacionadas diretamente a se fazer as fotografias, no caso os ensaios, e no terceiro momento do processo foi onde iniciamos os trabalhos laboratoriais de experimentações de novas técnicas e formatações para essas imagens capturadas. Essa últi-ma fase se desdobrou até o momento final da galeria, com a montagem das peças”, conta Janaína

Entrevista Ping Pong com Janaína Vasconcelos

Janaína tem 23 anos e já está no final do cur-so de audio visual da Universidade Federal de Sergipe (UFS) , ela pretende seguir carreira de fotógrafa e já está conseguindo se projetar no cenário cultural de Aracaju.

Contexto: Qual foi sua reação ao completar a exposição e abri-la para o público?

JV: Poderia falar melhor em sensação, pare-cia pisar em nuvens e nem acreditar que aquele processo todo se realizava no mundo material de fato. A reação é de satisfação, gratidão, muita alegria.

Contexto: Por que Frida Kahlo?JV: A autora mexicana já era um símbolo que

queríamos tratar desde o inicio do projeto, foi a chave inicial para se pensar em fotografar, tal-vez por admiração mesmo. Porém logo depois de toda pesquisa traçamos nossa linha principal para se tratar do tema dor, e a Frida foi a melhor autora escolhida para se tratar desse tema, ja que sua via inteira foi perpassada intensamente por esse elemento.

Contexto: Contente com o resultado?JV: Completamente, plenamente, absurda-

mente, demasiadamente!Contexto: O que achou da reação do público?JV: Não sei ao certo do público em geral, mas

em vários casos vi as pessoas curiosa sobre os usos dos materiais “novos” em fotografia.

Contexto: Pretende expor em algum outro lu-gar?

JV: Pretendemos levar ao máximo de lugares possíveis.

Contexto: Para você, o que é arte plástica?JV: É se pensar a dimensão poética especial-

mente, materialmente, sensualmente.Contexto: Já se considera uma fotografa pro-

fissional?JV: Não. Diria que pela metade. Falo isso

porque tecnicamente sei que existe muito a se aprender, mas principalmente porque não é uma atividade que me mantém financeiramente por inteiro.

Contexto: Vocês estudam da UFS? A Universi-dade deu algum incentivo?

JV: Sim, os professores do nosso departamen-to e o FOTOUFS ( os mais próximos a nós) acredi-taram desde o inicio nessa ideia.

Contexto: O que o publico deve absolver da exposição?

JV: A experiência, espero que cada um expe-riencie ao seu modo

Foto: Felipe Goettenauer

Releitura da obra “A coluna Partida” por Janaína Vasconcelos

Nascida em 1907, no México, Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón foi uma ar-tista que pintou seus quadros com a dor de uma vida. Frida Kahlo retratava, quase sem-pre em auto-retratos, a angústia de não po-der ter filhos e dos seus diversos problemas na coluna, frutos de um acidente de bonde aos 18 anos, quando um pára-choque per-furou suas costas e saiu por sua vagina. O acidente foi uma base para sua vida artísti-ca, já que seus primeiros quadros foram fei-tos ainda no período de convalescência e as graves sequelas foram temas para obras como “A Coluna Partida” e “Without Hope”.

Pelo forte conteúdo das suas pinturas, foi considerada surrealista por grandes nomes das artes plásticas, título que negou pronta-mente, afirmando que pintava apenas a sua realidade. Frida Kahlo morreu em 1954, seu atestado de óbito registra embolia pulmonar, mas a hipótese de um suicídio por overdose de remédios não é descartada por causa da última anotação em seu diário: “Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar - Frida”. As cinzas do seu corpo es-tão juntas a diversos dos seus quadros no Museu Frida Kahlo, localizado na casa onde viveu, A Casa Azul, em Coyoacán, México.

FRIDA KAHLO

Sem duvidas o que chama mais atenção em toda a exposição são as diferentes texturas em que as fotogra-fias são apresentadas, e como as obras receberam um tratamento manual, se utilizando de diversos elemen-tos que só tornam a exposição ainda mais impressio-nante

por FELIPE [email protected]

Page 25: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

cultura25

Foto: divulgação

Cantora Ananda Barreto despon-ta na cena sergipana

Nascida em berço artístico, seria quase im-possível Ananda se enveredar por outros

caminhos. Dona de um sobrenome forte na cultu-ra sergipana, a cantora é sobrinha de Ismar Bar-reto, um dos maiores compositores da história da música no estado e de Antônio Barreto, líder do grupo Mamulengo de Cheiroso, personagem que também é alvo desta edição do caderno de cultu-ra do Jornal Contexto. Não bastasse isso, a ser-gipana também tem em Elis Regina uma de suas grandes inspirações; Patrícia Polayne, renomada artista de Sergipe, foi a responsável por colocá--la no palco. Evidente que o fato de ser rodeada por tantos ícones, faria das raízes do seu trabalho bastante fortes, mas a composição das mesmas não ficou só por aí e teve Granada, cidade loca-lizada no sul da Espanha, uma das fontes para a sua obra musical que passeia pelo estilo cigano, bem típico do lugar onde foi morar aos 14 anos.

Neste ano, mais precisamente em junho, Anan-da estreou junto a banda que é composta por sua família, a tia Mary Barreto tocando cavaquinho, flauta e também sendo vocal, o primo Dami Na-rayana tocando violão, João Mário no baixo e Pe-drinho Mendonça na percussão. O show ganhou o nome de “A Fuego Lento”, com repertório que mesclou música de Cabo Verde, coco, salsa, mu-sica espanhola e música brasileira.

O primeiro passo da carreira foi dado em uma noite chuvosa em Aracaju. “A princípio parecia que ia sair tudo errado, pensei que não iria dar ninguém. Era um espaço aberto e o palco esta-va todo montado já. De repente vejo uma galera começando a chegar, em respeito aos que já esta-vam no local tinha que fazer de qualquer manei-ra, daí falei com Chico (proprietário do espaço) e sugeri de fazer dentro da sala, era a nossa única opção, fiquei muito feliz, que mesmo com a aque-la chuvarada toda as pessoas ficaram curiosas e vieram espiar o que eu estava aprontando”, conta a cantora. O show foi um sucesso, e as críticas do público foram as melhores.

Ananda vem formando público ao longo dos últimos meses e é um dos destaques da atual cena musical sergipana. Quando o assunto é produção local, a cantora se mostra contente e diz que vê muitas bandas sendo prestigiadas pelo público. Outro fator é o surgimento de muitas cantoras. Ela brinca dizendo que o sergipano é exigente, mas na sua opinião o que falta por aqui são mais produtores para poder lapidar esses talentos e ex-pandi-los pelo Brasil.

Todo artista tem o sonho de gravar o primeiro CD, mas a morena tem o pé no chão e quer pri-meiro preparar o terreno e fazer uma garimpa-gem de possíveis parcerias com compositores já que é apenas interprete. “Se quero mesmo seguir cantando acho que ter uma material palpável do que faço é um cartão de visita, para participar de editais, festivais, fazer contato com artistas de outros estados, enfim, tem que sonhar e fazer também por onde esse sonho chegue até a gente, as coisas não caem do céu, mas ultimamente isso é algo que muita gente tem me falado, não precisa ser um CD, um EP seria algo mais viável talvez”, explica. Os próximos passos agora consistem em montar algo novo. “Estamos num processo ain-

da de pesquisa para que isso aconteça. Algumas participações especiais com novos instrumentos, tentar colocar mais música autoral, estamos ain-da numa busca e em fase de experimentação”, relatou a promissora cantora da nova geração. É esperar esperar pra ver.

PROMESSA MUSICAL PARA 2015

por RODRIGO [email protected]

Quando o assunto é MPB, para seduzir o público dos barzinhos, o campo mais seguro é a releitu-ra de canções de famosos ícones, e entre uma e outra música, composições aparecem, mas isso não é unânime, há gente que arrisca e se dá bem com shows completamente autorais. Por isso nes-ta edição trazemos uma seleção de três trabalhos fonográficos para conhecer ou rever sergipanos autênticos que contribuíram para o crescimento da música sergipana em 2014. Mestrinho/ CD- Opinião O itabaianense Mestrinho acaba de lançar o CD Opinião. Filho do forrozeiro Erivaldo de Carira, Mestrinho é sanfoneiro desde os seis anos e aos doze já fazia shows na região. Aos dezessete foi embora para São Paulo onde formou o Trio Juriti chamando a atenção de artistas com Elza Soares, Zélia Duncan dentre outros, gente que o sergipa-no fez parcerias. O músico faz parte da banda de Gilberto Gil e também participou da construção do mais recente CD do artista baiano, intitulado Gilberto Samba. Tal conexão, fez com que o reno-mado cantor também participasse do seu primei-ro CD solo.

Raquel Delmondes/ CD -Vem Cantar Meu Samba Conhecida pelo timbre de voz que lem-bra as cantoras do rádio, Raquel Delmondes tem no segundo CD “Vem Cantar Meu Samba” doze faixas, onde onze delas são assinadas por compo-sitores sergipanos. Além do samba, ritmo que dá o tom do disco e da carreira, o canto pós Bossa Nova é outra grande paixão.

Banda NaurÊa/ EP - Na Dansanteria NaurÊa, uma das bandas mais bem sucedidas da música sergipana, lançou neste ano um EP com-posto por quatro faixas inéditas. Famosa por sua versatilidade que vai de ritmos regionais a latinos, as músicas foram gravadas no Ori Studio em Ara-caju, mixadas em Recife (PE) e masterizadas em Seattle (EUA) e segue a mesma linha de qualida-de da diversão, característica que é prioridade no trabalho do grupo.

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CONTEXTANDO MÚSICA

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Se tem uma tradição que é seguida todos os fins de ano pela maioria das pessoas, é o balanço positivo e negativo do ano que está prestes a findar. Quando o assunto é música, a coisa tende a ficar no esqueci-mento, a não ser nas famosas premiações da TV que muitas vezes privilegiam uma pequena quantidade de notórios talentos da indústria cultural deixando esquecidos tantos outros expoentes do Brasil conti-nental. A situação piora ainda mais, quando novos ou velhos artistas estão fora do eixo Rio/ São Paulo. No menor estado do Brasil não é diferente, nossos artistas estão nos bares tentando um lugar ao sol.

Page 26: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

26 esporte

Um ano diferente para a Associação Des-portiva Confiança (ADC). Assim será 2015,

quando o Dragão do Bairro Industrial terá uma temporada cheia de jogos. Campeonato Sergipa-no, Copa do Nordeste, Copa do Brasil e, a maior expectativa, o Brasileirão da Série C. Por isso é necessário um bom planejamento, uma equipe forte e competitiva, além de jogadores e diretoria comprometidos com o trabalho a nível profissio-nal.

A diretoria do clube começou esse planejamen-to com a manutenção do técnico Betinho, que foi essencial na conquista do acesso à Série C. Além disso, o clube já trabalha em cima do elenco para a próxima temporada que exigirá um plantel maior e mais qualificado. Por isso, as negociações para a permanência de jogadores importantes na tem-porada 2014 estão em andamento, dentre eles o experiente Geraldo e o xodó da torcida e principal jogador da equipe, Leandro Kível.

O diretor de futebol, Ernando Rodrigues, diz que 70% do elenco será mantido e novos joga-dores serão contratados para reforçar a equipe e disputar a titularidade com os que já estão no grupo. Por isso, a escolha desses jogadores será feita com cautela e muita tranquilidade, para não dar espaço a erros.

Mas, para que esse planejamento seja cum-prido e o Confiança não enfrente problemas fi-nanceiros durante a temporada, o clube terá que solucionar um problema crônico: a falta de inves-timentos. Mesmo com as verbas repassadas du-rante as competições, a exemplo da cota de TV, o clube necessitará de patrocinadores. Porém, his-toricamente os empresários sergipanos não cos-tumam investir grandes montes no futebol.

Mas, o diretor de futebol do Confiança acredita que o clube tem o que oferecer para atrair patro-cinadores. “O Confiança tem um calendário que começa no mês de janeiro e vai até novembro. O patrocinador já sabe que vai ter sua marca vincu-lada a uma equipe grande do futebol sergipano que vai passar em canais de televisão”, afirma o diretor. Segundo Ernando, o clube contratou uma empresa especializada para cuidar do marketing e da assessoria.

COMPETIÇÕESPara quem pensa que o Confiança está com a

cabeça apenas na Série C, se engana. O primeiro objetivo do Dragão é a conquista do Campeona-to Sergipano, que começa no dia 25 de janeiro. O time proletário está no Grupo A onde também estão Itabaiana, Estanciano, Amadense e Boqui-nhense. Por isso, o Confiança terá que começar o ano ‘com tudo’. O primeiro desafio é contra o

Boca Júnior.Já no dia 05 de fevereiro o Confiança começa

a disputar, simultaneamente ao Sergipão, a Copa do Nordeste, competição que dá ao campeão uma vaga na Copa Sul-Americana. O Dragão caiu na chave do Vitória – BA, Serrano – BA e América - RN. O primeiro jogo será contra o Vitória – BA. A equipe sergipana espera fazer uma boa competi-ção, que pode ser encarada como uma prévia dos desafios que estão por vir no Brasileiro – Série C.

Competição que o Confiança disputará com o objetivo de se manter, mas sem deixar de alme-jar o acesso a Segunda Divisão do Brasileiro. “O Confiança tem que entrar na Série C querendo ascender a Série B como ele entrou na Série D querendo o acesso para a Série C. A conquista ou não dessa vaga é fruto de um trabalho bem feito e

exitoso. Mas ainda assim você entra com o desejo dos grandes de querer ascender; caso contrário você está fadado ao fracasso”, ressalta o editor de esportes do Correio de Sergipe, Marcos Borges.

Um fator importante para a disputa dos campe-onatos será a reabertura do Estádio Lourival Ba-tista, o Batistão, que possibilitará que os jogos do Confiança (em casa) sejam realizados na Capital, diferente do ano de 2014 quando foram disputa-dos em Itabaiana. Isso será bom financeiramente para o clube, uma vez que o Batistão comporta mais torcedores do que o Presidente Médici, e logisticamente para a torcida, que não precisará mais se deslocar até a cidade serrana para ver os jogos do Dragão

2015 JÁ COMEÇOU PARA O CONFIANÇACom o acesso garantido o clube começa a projetar a temporada 2015 visando o título do Campeonato Sergipano e a permanência na Série C do Brasileirão

por CLEYDSON [email protected]

FELIPE LIMA

“A empolgação pela nova temporada é grande. Classifica-do para a Série C, que cada vez mais ganha

prestigio no cenário nacional, favorito ao título estadual e disputando mais duas grandes competições, além de ter o es-tádio Lourival Batista recém-reformado ao seu dispor, o Confiança tem nas mãos a oportunidade de se estruturar finan-ceiramente e aumentar sua visibilidade”.

Foto: Marcos Borges

BRENO OLIVEIRA

“Espero que o Con-fiança em 2015 se mantenha forte e com a dereminação que o time teve du-rante os campeonatos disputados no decorrer desse ano. O calendário para o ano de 2015 está bem recheado e dando visibilidade ao futebol e ao es-tado de Sergipe. E como diz o Hino: ‘SOU CONFIANÇA EM TODO BRASIL’”.

FALA, TORCEDOR

Page 27: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

esporte27

por HELENA [email protected]

CRUZEIRENSES FAZEM A FESTA EM ARACAJUPara celebrar a boa fase no time, os torcedores de Sergipe da Raposa criaram a torcida “AracajuZeiros”

Mais uma edição do Campeonato Brasileiro chegou ao fim. Mas, parece que algumas coisas não mudaram tanto assim de um ano para o ou-tro. Repetindo a dose de 2013, o Cruzeiro Esporte Clube se sagrou campeão da maior competição nacional novamente. Conquistando a taça em dois anos consecutivos, o cruzeirense tem motivo de sobra para estar sorrindo à toa. E se engana quem pensa que a alegria se limita às ruas do es-tado de Minas Gerais. Em Aracaju, os torcedores celestes elaboram as mais diversas formas de tra-zer o Mineirão para perto e comemoram o bom momento da equipe.

Seja assistindo às partidas aos montes nos ba-res da capital ou levando caravanas para cidades próximas onde o Cruzeiro vai jogar, os cruzeiren-ses residentes em Sergipe dão seu jeito de curtir a Raposa. E foi desse jeito que surgiu a torcida AracajuZeiros.

Criada por volta de outubro de 2013, através das redes sociais, a AracajuZeiros já reúne mais de cem integrantes. Movidos pelo excelente mo-mento vivido pela equipe no ano passado, os cru-zeirenses passaram a espalhar o amor pela cami-sa celeste também em Aracaju.

É o caso de Neto Oliveira, sergipano de Itabaia-ninha. O estudante conta que começou a se en-cantar pela Raposa aos 4 anos de idade. “Comecei em 1993. Meu pai, botafoguense, convidou vários amigos para assistir Cruzeiro vs Botafogo. Acon-tece que o Cruzeiro acabou goleando o Botafogo. Depois disso, relatos da minha mãe, eu só falava em Cruzeiro”, contou Neto.

Neto esteve presente na partida decisiva entre Cruzeiro e Grêmio em 2013, que praticamente colocou as duas mãos da Raposa na taça, depois de 10 anos sem vencer o Brasileiro. “Os últimos anos foram de pura felicidade. Um time que eu apostava render em 2014, ganhou 2013 também. Entrou para a história, porque, para cruzeirense,

ter poucos bra-sileiros incomoda-va”, disse.

E essa história de que futebol e mulheres não se misturam é coi-sa do passado. A estudante Mirele Bispo acompanha o time há mais de 10 anos e conta que é encantada

com o time Cinco Estrelas. “Acho que o sonho de qualquer torcedor é viver o que eu vivi nessas úl-timas temporadas”, disse a garota.

A AracajuZeiros organiza viagens para acom-panhar a equipe. No ano passado, a torcida come-çou com o pé direito. A primeira viagem realizada já consolidou o título, na partida entre Vitória e Cruzeiro. A equipe celeste venceu por 3 a 1. Em 2014, os integrantes voltaram a se reunir para as-sistir juntos e no estádio às partidas entre Bahia x Cruzeiro, Vitória x Cruzeiro e Santa Rita x Cruzei-ro. E, pelo visto, a torcida faz bem ao time. Todas as vezes que esteve presente, a AracajuZeiros viu a equipe vencer os jogos.

RECORDES

LADO ALVINEGRO DA FORÇASe sobrou rivalidade em Minas Ge-

rais durante as eleições de 2014, no futebol não foi diferente. Disputando o topo do Brasil, Aécio Neves e Dilma Roussef dividiram opiniões de eleitores. Coincidentemente, os ti-mes do coração dos candidatos também apresen-tam grande rivalidade. Dilma, Atlético Mineiro. Aécio, torcedor do Cruzeiro. Dilma levou as elei-ções, mas sobrou alegrias para os dois candidatos dentro de campo.

O Cruzeiro não é o único responsável por tor-nar Belo Horizonte a capital do futebol brasileiro. O Clube Atlético Mineiro também vem de gran-de fase, tendo conquistado em dois anos conse-cutivos dois títulos de grande expressão e inédi-tos para o clube: Copa Libertadores da América (2013) e Copa do Brasil (2014).

O último título conquistado pelo Galo teve um sabor ainda mais especial. Após partidas históri-cas contra Corinthians e Flamengo nas quartas e semifinais, consecutivamente, o Atlético-MG aguardava nada menos que o maior rival na fi-nal da competição: o Cruzeiro, maior vencedor da competição, junto com o Grêmio, com quatro títulos.Mas, dessa vez, não teve como evitar o su-cesso do clube atleticano, que venceu as partidas de ida e volta e se sagrou campeão da Copa pela primeira vez.

As partidas pararam Belo Horizonte por sema-nas e declararam a cidade como capital do futebol em 2014.

Apesar da forte rivalidade, Cruzeiro e Atlético Mineiro dividem o momento brilhante em suas histórias. Capaz até de deixar muito carioca e paulista com uma pintada de inveja

“Para cruzeirense, ter poucos brasileiros

incomodava”

Foto: arquivo pessoal

Cruzeirenses na primeira viagem com a torcida organizada, para partida en-tre Vitória e Cruzeiro. A vitória deu ao time o título de Tricampeão (2013)

Page 28: Jornal Contexto - Edição 44 (Dezembro/2014)

esporte28

por JULIANA [email protected]

DESAFIOS DO PARADESPORTOEm um cenário pouco favorável para o esporte, o paraciclista sergipano Ulisses Freitas vence a falta de patrocínio com muita disciplina e força de vontade.

Com uma gama variada em desportos, o cená-rio sergipano se faz dinâmico e diversificado,

porém a dificuldade de apoio financeiro dá poucas oportunidades ao desenvolvimento de determinadas modalidades no estado. Nesse ambiente se desenvol-ve o paraciclismo, categoria que se destacou no ulti-mo ano rendendo medalhas aos atletas sergipanos. Ulisses Freitas, campeão da penúltima etapa da Copa do Brasil de Paraciclismo 2014, é um exemplo de dedi-cação e superação no esporte. Ele participou de todas as etapas da Copa este ano e subiu ao pódio cinco vezes contabilizando dois bronzes, duas pratas e um ouro. Sempre buscando um lugar de destaque para Ser-gipe, Ulisses vem divulgando o nome do Estado nas competições nacionais e incentivando os para-ciclistas conterrâneos a serem atuantes no esporte. Para o presidente da Federação Sergipana de Ciclis-mo, Jairo Vieira, a divulgação de um calendário com-petitivo ajuda na evolução dos atletas que sempre al-mejaram um padrão nacional. Atuante na Federação desde 2005 e há um ano ocupando o cargo de pre-sidente, Jairo afirma que atualmente oito para-atle-tas são assistidos pela Federação, sendo cinco deles na categoria handbike, a mesma que revelou Ulisses como competidor de futuro desde 2011. Ainda sobre a modalidade, o presidente destaca que o paraciclismo tem evoluído muito nos últimos dois anos não falta apoio da Federação de Ciclismo com divulgações in-tensivas das competições e das conquistas dos atletas. Apesar de existir um incentivo financeiro mí-nimo vindo dos setores municipal e federal Jairo destaca que não é suficiente para manter um es-porte com o custo tão alto. “A parte de patrocínio é muito complicada pois muitas empresas, e alguns órgãos privados ainda não abriram os olhos para o esporte, principalmente para o paraciclismo. Mesmo com a Lei de Incentivo ao Esporte são pou-cas as empresas que investem-no setor”, afirma. A Lei de Incentivo ao Esporte em vigor desde o ano de 2006 permite que empresas e pessoas físicas in-vistam parte do que pagariam ao Imposto de Ren-da em projetos esportivos aprovados pelo Ministé-rio do Esporte, respeitando a porcentagem de 1% para as empresas e 6% no caso de pessoas físicas. Ulisses concorda que falta mais abertura financeira para os patrocínios e declara que, apesar de alguns patrocinadores suspenderem a ajuda, ainda exibem suas marcas e logotipos em camisas dos atletas. “Vis-to, não faço questão, não brigo por isso, mas muitos que estampam as minhas camisas como patrocina-dores já pararam de financiar o esporte há algum tempo”, critica. Ulisses participa também do progra-ma Bolsa Atleta, promovido pela Prefeitura Munici-pal de Aracaju. O programa busca incentivar atletas que representam a capital em competições regionais e nacionais. Mesmo assim a Bolsa não atinge o ideal de cobertura em gastos com equipamento e viagens para as competições. Segundo opresidente da Federação, o que falta para Sergipe ser reconhecido no cenário nacional como grande incentivador do paraciclismo é o apoio de grandes incentivadores para o esporte. “Só preci-samos do apoio de pessoas sérias que acreditam no esporte como uma inclusão social que possibilita qua-lidade de vida e saúde. Apoiando assim a Federação, os nossos ciclistas e os nossos paraciclistas”, ressalta.

Encontrei nosso personagem logo após uma com-petição local, visivelmente cansado porém satisfeito com os últimos resultados da sua carreira. Todos ao redor o cumprimentavam com respeito e admiração enquanto ele passava acompanhado da esposa e do ir-mão. Ulisses sorria e se dirigia ao stand dos atletas para esperar a premiação. “Corri porque gosto, sempre es-tou nos eventos esportivos da minha cidade.” disse a um fotojornalista próximo a ele ao passar entre o aglo-merado de atletas próximo ao pódio de premiação. No microfone Ulisses foi anunciado e mesmo estando sem a handbike de competição conse-guiu o primeiro lugar. Depois da medalha e da pose pra fotos ele falou sobre seu início no es-porte e as pretensões para o futuro focado sem-pre na ascensão como destaque no paraciclismo. Ulisses Freitas iniciou a sua carreira nos esportes em 2010 com o basquete de cadeira de rodas, mas foi com a individualidade competitiva do paraciclismo que ele se identificou. Em fevereiro de 2011 o para-atleta decidiu começar a competir na modalidade e em abril do mesmo ano em São Paulo, durante a Copa do Bra-sil de Paraciclismo, Ulisses teve sua primeira glória. A surpreendente medalha de bronze em seu primeiro ano como competidor oficial foi para ele uma emoção ímpar já que sua única pretensão naquele momen-to era ganhar experiência no esporte para as futuras corridas. “A medalha de bronze foi uma surpresa e um impulso na minha carreira. Eu estava disputan-do com os destaques do país,” declara empolgado. Apesar das dificuldades de patrocínio e equipa-mentos o atleta não parou com os treinos. Seguindo em competições regionais e nacionais durante esses quase quatro anos no esporte Ulisses, conseguiu em outubro deste ano sua primeira medalha de ouro na Copa do Brasil de Paraciclismo. O primeiro lugar no pódio possibilitou ao atleta um maior destaque no nível nacional e ampliou seu foco para as competi-ções internacionais. Ulisses atribui essa evolução ao

equipamento que conseguiu recentemente com a ajuda de amigos, colegas de profissão e empresários. A nova bike espanhola por ser configurada como intermediaria na modalidade lhe proporcionou uma corrida mais justa com os demais competidores, con-firmando as expectativas de que aliando o treino ao equipamento adequado ele cresceria na competição. “Claro que essa bike não é a top de linha, mas é como se diz,: nordestino tem esse sangue de cabra da peste e luta até o final” sorri enquanto fala da sua conquista recente. Sobre ser o primeiro sergipano a chegar tão lon-ge neste tipo de competição ele diz ser engraça-do o teor das piadinhas a respeito de sua origem. Para ele o que importa antes de tudo é trazer vi-torias para sua terra natal. Orgulhoso de sua de sua gente busca sempre evoluir e levar junto para o lugar mais alto do pódio o nome de Sergipe. Após essa injeção de confiança que a medalha de ouro lhe deu Ulisses resolveu largar o curso de direi-to e investir ainda mais nos treinos e em sua carreira de atleta profissional, tudo isso com apoio da famí-lia, amigos e esposa. A meta agora é a Paraolimpíada 2016, na Austrália onde Ulisses sonha conseguir des-taque entre os dez melhores para-atletas mundiais. “Quero colocar o nome de Aracaju e de Sergipe na história”, conclui.

ULISSES, O CAMPEÃO

Ulisses Freitas em competição. (Foto: Acervo Pessoal)