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 Maio 2000 Semestral Volume 9  Ainda nesta edição  Abracadabra, Ci ro Gomes, Lançamentos, Endereços Úteis, Obituário: Argalji, Sztulman, Dia s Gomes, Rabino Chereim, Salem, Valiani, Safra, Rabino Souza, Cônsul Malamud e Fernanda Sampaio Memórias da Comunidade Israelita de S. Paulo Os Judeus Italianos e o Brasil Os Últimos Cristãos-Novos de Vilarinhos dos Galegos (Portugal) Retrato de Olívia Rodrigues “Tabaco”, última rezadeira judia em Vilarinho dos Galegos

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Maio 2000

Semestral

Volume 9

Memrias da Comunidade Israelita de S. Paulo Os Judeus Italianos e o Brasil Os ltimos Cristos-Novos de Vilarinhos dos Galegos (Portugal)

Ainda nesta edio

Abracadabra, Ciro Gomes, Lanamentos, Endereos teis, Obiturio: Argalji, Sztulman, Dias Gomes, Rabino Chereim, Salem, Valiani, Safra, Rabino Souza, Cnsul Malamud e Fernanda SampaioRetrato de Olvia Rodrigues Tabaco, ltima rezadeira judia em Vilarinho dos Galegos

Editorialeste diversificado. Como no jazz, o tema condutor o dar a sua verso O material que compengulonmero Anna mundoCampagnanosuas peculariedades. Marcosmesmo, porm cadaodasolista nosdos judeus italianos particular. Contaremos vrias histrias do judaico e Firer diz do incio Comunidade Judaica em S. Paulo, observando-a pelo familiar. Rosa conta outra histria fascinante e desconhecida, itinerrio em direo ao Brasil, durante as leis raciais. O historiador portugus Antnio Pimenta de Castro, num texto emocionado, diz como acompanhou o progressivo desaparecimento dos judaizantes em Vilarinho dos Galegos. Aproveitando o momento, Paulo Valadares lembra um descendente de Branca Dias em evidncia, o poltico Ciro Gomes. Mas no s isso. Continuam algumas colunas que j esto se tornando fixas, como o obiturio e as pequenas notas sobre muitos assuntos diferentes. Este o nono Geraes/Brasil. Apesar de todas as dificuldades no podemos reclamar do ano que terminou. O balano de nossas atividades tem sido positivo. Publicamos material indito dentro da histria judaica. No nmero anterior, Marcos Feldman , narrou o assassinato de um colono judeu, no comeo do sculo, e relacionou este episdio com um dos pontos centrais da histria brasileira: a Coluna Prestes. Este trabalho teve repercusso e chegou inclusive a revista VEJA1. Reuven Faingold, um de nossos editores, e que neste nmero, nos traz um delicioso artigo sobre Abracadabra, lanou o seu livro D. Pedro II na Terra Santa. Dirio de Viagem 1876. Ao mesmo tempo ele foi o curador de uma exposio belssima intitulada Luzes do Imprio. D. Pedro II e o Mundo Judaico patrocinada pela Casa de Cultura de Israel e o SESC. Dois scios, Carlos Barata e o deputado federal Cunha Bueno lanaram um trabalho magnfico o Dicionrio dos Nomes de Famlias. 500 Anos de Histria do Brasil. 1500-2000. Assim ns tivemos as nossas pequenas vitrias. Boa leitura!

Nota1 Mais uma da Coluna, Veja, 04-08-1999, p.26.

Memrias da Comunidade Israelita de S. Paulo My Memories on the Jewish Community of S. PauloMarcos FirerMarcos Firer, former chairman of FISESP (Jewish Council of So Paulo). He tells about the first Jews that arrived to So Paulo in the early of the century and slowly formed the their ishuv, the people, their families as well as the birth of the local Jewish institutions.entrada do Cemitrio Israelita N achama a ateno, com as seguintes de Vila Mariana um tmulo inscries: Um Tal Ulmann, nascido na Alscia em 1822, falecido em Ribeiro Preto em 1906 / Um Tal Ulmann, nascido no Peru em 1856, falecido em Ribeiro Preto em 1908 / Um Tal Gelber, nascido em 1888 na Astria e falecido na Suia em 19131 So trs geraes, pai, filho e genro do filho, que entretanto, atravs de suas ramificaes representam quase 150 anos duma familia judia no Brasil. O primeiro Ulmann deixou a Alscia no decorrer da revoluo de 1848, que por sua vez, forou o incio da imigrao dos judeus alemes para os EUA, Per, que por sua vez, em virtude da riquezas minerais, serviu como ponto de atrao para jovens aventureiros. Porm a rigorosa influncia jesutica perseguia os judeus, forandoos converso ou a emigrao para outros paises latino-americanos mais tolerantes. O Brasil do tempo de D. Pedro II j abolira as restries religiosas e o riqueza dos bares de caf, atraia os mercadores de origem mista franco-alem da religio mosaica. Portanto o velho Ulmann se estabeleceu na chamada Princesa do Caf, Ribeiro Preto, onde por mais de trinta anos manteve um florescente estabelecimento comercial. As filhas e netas, por sua vez formaram famlias, casando-se com imigrantes de origem russa, lituana, etc. Por exemplo, uma filha do velho Ulmann, se casou com Cezar Gordon, que era por sua vez, cunhado do Hessel Klabin2. As filhas do Gelber, casadas com Kadischewitz, Siegelman e outros deram raizes a vrias famlias. Para ilustrar, a viva do Berco Udler3, neta do Gelber,2 GERAES / BRASIL, Maio 2000, vol. 9

tataraneta do velho Ulmann j av, portanto j so sete geraes duma ininterrupta identidade judaica. Em geral a histria dos imigrantes uma histria de cls, h um patriarca, seja, ele rabe, israelita, armnio, grego, com exceo da imigrao planejada, subvencionada ou de pnico, respectivamente forada. H entretanto na formao de nossa comunidade um elemento que merece estudo, pois, se trata dum fenmeno atpico. Apesar de cronologicamente pertencer a esse grupo, a primazia na forja duma mentalidade judia brasileira, os elementos alsacianos, se isolaram. Talvez, por no se tratar de migrantes, que deixaram atrs, a pobreza, a perseguio, cuja nica riqueza era o talit e tefilim alm das tradies e a vontade de vencer. Os alsacianos, vieram de famlias, bem abastadas e em geral, atraidos pelos nababescos turistas brasileiros, que ao comprarem jias, artigos de arte e vinhos finos em Paris e Lion, foram vistos por eles, e assim resolveram abrir filiais tanto no Brasil, bem como na Argentina. J por volta de 1840/1850 se instalam tanto em S. Paulo, Rio at Pelotas, filiais com nomes tradicionais judaicos. Kahn, Levy, Aron, Israel, Weil, Hanau, Worms, Grumbach, Netter, Frank, Koblenz, Haenel, Loeb, Jacob, Nathan, etc. Nos Who Is Who, tanto em Londres, New York, Paris, encontaremos esses nomes, no somente no alto comrcio, mas tambm no captulo de cincias, artes, poltica. Porm esses elementos, cosntituem uma colonia bilinge. J que a Alscia passava do domnio francs para alemo e vice-versa. Eram cultos e justia seja feita, Strasbourg, Metz, Colmar, Mulhause, mesmo antes e durante a emancipao napolenica era a sede da erudio talmdica. Na

bagagem trazida para o Brasil, alm do amor pela a civilizao europia, no melhor sentido da palavra, existia um certo orgulho e dignidade judaica, porm discreta e introvertida. Pode-se dizer, que durante um sculo perdurou o dominante papel da colnia alsaciana (seria exagerado cham-la de francesa). Na poca ela representou um certo poder econmico, mas discreto, por exemplo a maioria dos prdios no chamado tringulo (Rua 15 de Novembro, Direita, So Bento, Quitanda) pertencia aos Netters, Arons, Levy, Worms, Grumbach, Michel. Mas, com a crise do caf e o declnio dos bares, eles foram obrigados a vender as propriedades e fechar as casas de luxo. Interessante notar, que cada uma dessas famlias, nutria o sonho, ao se retirar do comrcio, passando-os para genros, sobrinhos, retirar-se na velhice para Paris, Nice. Como j frisei, o Brasil era uma colnia, a metrpole era Paris, alis, ciclo interrompido pela Segunda Guerra e Nazismo, mas retomado nas ltimas dcadas. Seja como for, a colnia teve um papel histrico, deu aos judeus um certo ar de respeitabilidade em contraste dos elementos indesejveis, que entraram no Brasil, no fim do sculo, atravs de Buenos Aires e que desmerecidamente popularizaram o nome das Polacas. Ao lado negativo da colonia deve se anotar uma falta de compromisso aos problemas judaicos mundiais, as contribuies parcas e rarssimas para os fundos, apesar de terem participado para as necessidades locais e beneficientes. Do outro, lado nunca negaram a identidade judaica, e, durante geraes mantiveram um judasmo formal evitando at pouco tempo converso e casamentos mistos. talvez um fim melanclico, depois de cem anos, depois de manter uma posio importante no comrcio, depois de fundar cidades e industrias (por exemplo Osasco foi a cria dos Levys e Heimans Cermica Hervy) deles restam s tmulos nos cemitrios. A prpria vida comunitria comeou com a imigrao, antes individual, depois familiar e posteriormente macia dos judeus da Europa Oriental, na maior parte do mencionado Imprio Russo e parcialmente do Imprio Austro-Hngaro. Conforme j mencionado, se trata dum cl que vamos dividir em lituano, bessarabiano e polons, deixando ao lado as subdivises. Nas ltimas dcadas do sculo passado, fora do Rio de Janeiro e de algumas cidades do Norte, Manaus, Belm, Recife, Salvador, j existia pequenos ncleos de judeus em S. Paulo, Santos, Campinas, formados alm de alsacianos, de imigrantes oriundos da Polnia, tanto russos, austriacos ou alem em maior parte, artesos ou empregados at mdicos. Eram alfaiates ou peleteiros atraidos pela bonana, que no conseguiram emigrar para os EUA, ao passar pelo primeiro ponto de emigrao que no sculo passado era Londres. Nos anos 1887/1888 desembarcou no porto de Santos um judeu idoso, acompanhado por um filho moo, era Leib Klabin e o filho Moshe (posteriormente renomeados Leon e Maurcio). O velho era o encarregado dos registros judaicos, especialmente para o servio militar, da sua cidadezinha natal Podzelbe, e que estando envolvido numa irregularidade qualquer, que podia lev-lo ao processo e desterro para a Sibria, saiu clandestinamente para Londres, de onde pretendia emigrar para os EUA, para onde j seguira um outro filho. Mas as leis americanas, tolerantes em geral, eram rigorosas a respeito da tracoma, barraram-nos e ento os dois tomaram um navio rumo a Buenos Aires, no caminho pararam em Santos, subindo a serra para S. Paulo e resolveram permanecer por aqui. O jovem Maurcio se instalou com uma banca de lpis e cadernos no atual Largo So Francisco, servindo aos estudantes da Academia. O negcio progrediu, ento ele mandou vir a noiva Berta Osband, duma cidadezinha russa perto de Pskow. O velho insistiu que os outros filhos Hessel e Salomo viessem tambm, veio tambm a filha nica Nessel e dois sobrinhos Max e Miguel Lafer. O ltimo casou-se com a prima, de cujo casamento nasceu o dr. Horcio Lafer. O velho e os seus filhos dedicaram-se ao comrcio de artigos escolares. Contou o Max Lafer (o pai do Dr. A. Jacob Lafer), que o Velho despachava os filhos e

sobrinhos, com caixes de mercadorias para cidadezinhas do interior e com a obrigao de voltarem sexta tarde. Todos moravam juntos num casaro em Vila Mariana e o Velho manteve o padro de vida tradicional. L para o ano 1901/1902 Maurcio j era atacadista de papel e artigos escolares e arrendou em Salto de It uma fabriqueta de papel. Ao mesmo tempo expandiu a empresa comprando reas e reas de terras, as vezes griladas ao redor de S. Paulo. A famlia cresceu, vieram mais parentes, sobrinhos, primos, os irmos Kadischewitz, sendo um de nome Wolf, que adotou o nome de sua me, irm do Velho e que depois chefiou os Klabins do Rio de Janeiro. Era amigo ntimo de Vargas. Em 1906 importou-se uma noiva para Salomo Klabin, a Luba Segall, filha dum sofer (homem que manuscriptava Torah e documentos sacros). Junto a Luba, vieram os irmos Lazar Segall o pintor, que depois se casou com a sobrinha da irm, filha do Maurcio, um outro irmo Oscar, Jacob, etc. irms, cunhados e concunhados inclusive os cunhados do Jacob, Epsteins, respectivamente pais das pianista Estelinha Epstein e Yara Bernadete. Atravs dos Epsteins vieram os primos Kliass, Ocougne, etc. J em 1909 os Klabins se tornaram uma potncia industrial, abriram a prpria fbrica de papel na Ponte Grande, que existe at hoje, alm das indstrias de papel e celulose nos estados do Paran e Santa Catarina, cermicas, indstrias qumicas, plantaes de caf, pinheirais, etc. Portanto, no decorrer de quase noventa anos o cl Klabin deu ao Brasil, alm duma potncia industrial, vultos na poltica, nas artes, na literatura e at nos esportes. Os Klabins-Lafers, atravs das geraes souberam manter a identidade judaica contribuindo sem grande ostentao para vrias instituies locais. Maurcio doou a rea para instalar o cemitrio na Vila Mariana e por ironia do destino, foi um dos primeiros enterrados al. Os irmos Klabin, especialmente Miguel Lafer (o pai do Horcio e Jacob) eram fundadores, alm de outros, Jos Kaufmann, Moyss Gandelmann, os irmos Teperman e outros, da primeira escola judaica brasileira, a Renascena. Os irmos Klabin tambm participaram e financiaram a construo do Templo Bet-El e at agora esto na direo do mesmo. Um dado curioso: o terreno para a construo do templo foi doado por um tal Bergmann, scio e co-fundador das Fbricas de l Kowarick que deixou por testamento um terreno, onde posteriormente foi construido o Hotel Terminus (Brigadeiro Tobias) e que depois foi permutado pela rea na rua Martinho Prado. Tambm Hessel Klabin, deixou em testamento um terreno para construir um hospital. As senhoras Berta e Luba Klabin, durante dezenas de anos estiveram na direo da Ofidas, etc. Numericamente e atravs das ramificaes imprimiu mais a imagem da coletividade, um outro cl que chamariamos bessarabiano. Quase na mesma poca que os Klabins, veio da cidade bessarabiana Sekuron4 um judeu de nome Nute Tabatchinik5, que mudou o seu nome para Tabacow. O Velho Nute se estabeleceu na cidade de Sorocaba e consta que ele foi o primeiro clientelchik, pois tinha estado na Argentina, onde j existia esta ocupao. O Velho, pai de muitas filhas e um nico filho, no enriqueceu como os Klabins, porm conseguiu casar as filhas, que por sua vez, constituiram dinastias e ramificaes. Elas se casaram com Hugo Lichtenstein, um judeu hngaro; Bernardo Nebel, austraco (galitziano); Nathan Bortman, Soliternik, Wassermann, alm do filho Hidal (av do Dr. Manuel Tabacow Hidal6). Alm de fundar famlias tradicionais, outro mrito do Velho Nute foi ter trazido o sobrinho Isaac (Aizik) Tabacow pai do Jos e sogro do Adolfo Bedrikow, do Moyss Kauffmann, do Boris Bakaleynik e do Arnoldo Felmanas. Talvez ele seja a figura mais respeitada e proeminente do Bom Retiro. Foi o pai e o patrocinador dos clientelchiks. Alis ele comeou a atividade num stetele, Franca, a rica e imperatriz cidade de Franca onde no princpio do sculo j existia uma rica comunidade judaica alis a terra do Dr. A. Brikman , dos seus irmos e tambm do veterano lder sionista Jacob Schneider.GERAES / BRASIL, Maio 2000, vol. 9 3

Em p, o casal Esther e Jos Tabacow Hidal com o filho Jacob. Sentados Sigismundo Ficher e Nathan Tabacow (de chapu), Circa 1896.

Mudando-se para S. Paulo, nos primeiro anos do sculo, Isaac providenciou a vinda dos sobrinhos, entre eles Rachmiel (Ramiro, pai entre outros do pianista Adolfo Tabacow) e atravs do Ramiro vieram os cunhados e concunhados, os Schwartzes, os Gandelmans, os Kantors. Nos anos de 1908/1910 j existia uma respeitvel colonia bessarabiana. O Isaac forneceu o pekel (o carto) e despachava para o Interior: Mogi das Cruzes, Taubat, Guaratinguet, Bragana, etc., cidadelas de penetrao bessarabiana. Anos depois, um ou outro j abriu a sua casa de mveis, que em geral tiveram a denominao Casa Alem, pois o idish podia confundir-se e passar por alemo. Alm da imigrao, motivada pelo parentesco, vieram simplesmente landsleit, conterrneos, entre eles os clebres 18 fiss, nove solteiros da cidade Jedinetz, que moravam juntos e que num dia ruim de vendas, cansados depois de muito trabalhar a clientela, lavaram os ps suados no chafariz do Largo Osrio. Entre os dezoito ps se distinguiram, Jos Teperman, Salomo (Schloime) Schmalz, David Fridman, Weinberg, Rosenberg, todos nomes fundamentais no comrcio de mveis. Existia em Campinas um ncleo mais slido e mais respeitvel, tambm de procedncia bessarabiana ou do sul da Rssia. J nos anos noventa do sculo passado se fundou a Casa Kauffmann, do Jos Kauffmann, que antes da Guerra de 1914 se mudou para S. Paulo (Florncio de Abreu), e que por sua vez trouxe os parentes Kauffmann (pai do pianista Artur Kauffmann), os sobrinhos Kertzmann, etc. Andou tambm por Campinas e Jundia um tal Capito Cardozo, nascido Karduschanski, que foi nomeado por um coronel qualquer. A vida antes da guerra de 1914 foi bastante buclica, sem grande ambies, uma transplantao da vida das cidadezinhas bessarabianas para as terras do Cruzeiro do Sul. As necessidades culturais e religiosas eram elementares. Se rezava nos feriados em casas parti4 GERAES / BRASIL, Maio 2000, vol. 9

culares, houve um e outro que ensinava os filhos as rezas, a cerimnia da circunciso foi procedida por Isaac Mesquita7, pai do corretor Waldemar Mesquita, no confundir com os Mesquitas do Estado. Depois apareceu entre outros um dos primeiros mohelim e schoichet, Neuach Grosslerner, av do Abro Portnoi. Entre 1908/1910 formou-se a primeira sinagoga do Bom Retiro, a da rua da Graa, e assim comeou uma vida social. J se notou uma concentrao residencial no Bom Retiro, que comeou com a imigrao dos judeus poloneses, antes da guerra. Talvez um dos primeiros da colonia, foi o clebre Meyer (Meyer mitr Bord) Goldstein8, um judeu polons, que chegou no sculo passado, se estabeleceu na Rua Jos Paulino, sogro do Kulikoff9 e do Jacob Hidal Tabacow, e por sua vez responsvel pela vinda dos primeiros imigrantes da Polnia. Falando da poca, antes da I Guerra Mundial, existia em S. Paulo, outro grupo, um pouco isolado da maioria dos bessarabianos, lituanos, galitzianos, um grupo que intelectualmente se considerava superior, era o grupo russo de Odessa, cuja lngua materna era o russo. Eram os Zlatopolskis, que j eram industriais de papel, litografia e tipografia, nos primeiros anos deste sculo. Um cunhado deles era o Dr. Ephim Mindlin, o dentista, e outros parentes os Kaniefskis, e os Rabinowitz (no os dos Guarda-chuvas e Peles). Deste grupo sairam msicos, Anselmo Zlatopolski, Leon Kaniefski; o arquiteto Henrique Mindlin; os advogados Jos10 e Arnaldo; e os sobrinhos, Henrique, Romeu e Leondio11. S a segunda e terceira gerao se mesclou com os bessarabianos. Mas, nos anos 1910 eram bem separados, bem snobs, apesar de que o Dr. Efim com o Nazismo se tornou mais nacionalista e sem dvida, deve-se a ele em primeiro lugar, a constituio e construo do Lar dos Velhos. Nos primeiros anos da I Guerra se constituiram oficialmente as primeiras instituies judaicas de S. Paulo: em 1915 a Ezra, a Sinagoga do Capito Matarazzo (depois Newton Prado) em 1916. Apesar de acusar nos anos da guerra s uma imigrao espordica e maior parte, atravs de outros paises latino-americanos, Argentina, Chile, etc, a coletividade se preparou para uma imigrao mais numerosa, que de fato se realizou. Em primeiro lugar, logo aps o armistcio de 1918, os pais foram buscar os filhos e mulheres deixados na terra natal. Na Rssia e especialmente na Ucrnia, onde reinava a guerra civil, os pogroms dos Hetmans, as perseguies dos judeus da Polnia, da Hungria (por razes polticas) foram os fatores que estimularam uma imigrao ininterrupta entre 1919-1937. Pode-se dizer que naqueles anos a comunidade era pobre com a exceo de alguns judeus alemes que entre 1934 e 1937 conseguiram trazer pelo menos uma parcela de seu patrimonio. A maioria era formada de gente que no tinha nada. O pessoal dos shetelach alm do talit e tefilim, trouxeram numerosos filhos, sogras, sogros, a vontade de adaptar-se, trabalhar e um certo know-how. Enquanto os bessarabianos e ucranianos eram ambulantes, com a meta de abrir uma casa de mveis, os poloneses almejavam por uma mquina de costura ou um tear de malha. No era fcil o comeo: a crise do caf, a revoluo de 1930 e 1932, porm o pessoal no desanimava. No Bom Retiro trabalhava-se 20 horas por dia, em pores, em casebres, mulheres, filhos menores e os maridos, carregando a mercadoria, correndo pelos bairros ou tomando trens para leva-la para o interior. Entretanto, nas cidades do Interior uns patrcios j os esperava, pois uma onda de imigrantes, especialmente os oriundos da Volynia, j estavam em cidades do serto, no na busca de ouro e diamantes (como os lendrios bandeirantes), mas simplesmente em busca do po honesto e laborioso. Esta , em poucas palavras a histria da coletividade entre as duas guerras mundiais. Porm os novos imigrantes, uma vez satisfeitas as primeiras necessidades de po, cama e roupa, j almejavam algo maior, lembravam os grmios e campanhas polticas. Ento, como cogumelos aps uma chuva, surgiram as agremiaes poltica e ideolgicas. Enquanto a primeira leva era at certo ponto, primria e politicamente ingnua,

com certa tendncia pr-sionista, contida todavia pelos Jahudim, compostos em parte por indivduos de origem alem, pelos snobs de origem russa e pelos nachlaeufers que pretendiam com o anti-sionismo, cavar uma entrada nos sales. A segunda leva j se definiu logo ao descer do navio, eram trotskistas, leninistas, anarquistas, Poalei zionim da esquerda e da direita, Bund. Formaram-se duas associaes dos judeus poloneses, uns progressistas e outros sionistas. Os Sionistas dividiram-se em Revisionistas e Zeire-zion, Poale-sion, etc. As discusses progrediram: Borochov e Jabotinsky, Sirkin e Sokolov . Porm veio o ano de 1937: Estado Novo do Getlio, a onda do Integralismo, desabrochou um anti-semitismo que era latente, e apesar da amizade que Getlio pessoalmente manteve com alguns judeus, a linha oficial no era favorvel aos judeus. Surgiram as restries a imigrao. E quem sabe, se dezenas de milhares de vidas judaicas se salvariam, se as leis do pas teriam sido mais tolerantes. A vida comunitria foi restringida, grmios de carter poltico fechados, jornais e revistas em lngua estrangeira interditados. J haviam surgidos jornais em idish tanto em S. Paulo, bem como no Rio de Janeiro. Comcios proibidos. Schelichim, como o Dr. Merkin do ORT , s podiam se dirigir as comunidades durante as oraes vestidos de talit. Porm a II Guerra Mundial, trouxe ao Brasil, alm do relativo bem estar econmico, o fortalecimento da indstria e comrcio, uma nova onda de imigrantes, refugiados da guerra e do Nazismo, portadores de capitais. Outra vez, a ironia do destino, enquanto o Z povo ficou preso nos ghettos e condenados as cmaras de gas. Os capitalistas que podiam transferir para um Brasil uma considervel quantia em divisas, conseguiram o visto do Itamaraty. No ainda a hora de pesquisar o nmero de capitais entrados nos pas nos ano da guerra e ps-guerra. Pode-se dizer, que em grante parte, a indstria de plsticos, eletrodomticos (Arno e outros), brinquedos Estrela, Trol, Atma, alm das indstrias txteis e de confeces foram criadas por capitais trazidos naquela poca. As incorporaes, construes, tiveram a cooperao e estmulo dos arquitetos, como Korngold, etc. Os filhos e netos dos imigrantes se formaram, brilharam tanto nas profisses, bem como nas cincias e com orgulho natural poderia se mencionar nomes tradicionais da comunidade Tiommo, Raw, Goldenberg, at Lattes. A queda do Estado Novo e o trmino da II Guerra Mundial, beneficiou a comunidade, levantaram-se as barreiras da emigrao, os restos, salvos dos ghettos, campos de convcentrao, do exlio da Sibria, Turquesto, etc, encontram no Brasil o seu lar, nos enriquecem com a sua experincia e know-how. Muitos trouxeram at o fanatismo religioso, os hbitos e tradies dos hassidim, porm a frtil terra a todos tolerou. Houve a necessidade de se readaptar a nova realidade. Logo depois da guerra o Centro Hebreu Brasileiro, um disfarado orgo controlador tanto de beneficncia, bem como arrecadador dos fundos sionistas, tornou-se o porta-voz do Congresso Mundial Judaico; em franca oposio aos seguidores do Joint, que era por si anti-sionista e s admitia fins filantrpicos. O rabiscador destas linhas, atuou como secretrio-geral do Centro de S. Paulo. Sendo presidente nacional o falecido Eduardo Horowitz e de S. Paulo, Maurcio Blaustein, um sionista tradicional do mais puro quilate. Ainda recorda as lutas e os esforos para criao dum orgo consultivo e dirigente da futura Federao, cujo primeiro presidente foi o saudoso Dr. Moiss Hoff, seguido pelos igualmente saudosos Drs. Moiss Kauffmann e Moiss Kahan. S a criao do Estado de Israel conseguiu reunir tantos elementos heterognios: CIP, Progressistas, Religiosos, numa entidade guarda-chuva. No foram mencionadas as vrias instituies criadas em S. Paulo nos ltimos 40/50 anos e que seguem mais ou menos esta ordem cronolgica: Crculo Israelita (1925), Linat Hatzedek (1929/30), Macabi (ao redor de 1930), Asilo dos Velhos (1938). E as escolas, Bialik em Pinheiros, Peretz na Vila Mariana, Escola Israelita do Cambucy, a Fleitlich no Brs, Talmud Tor (1934), Bet Chinuch (1948) e na Lapa. A Cooperativa (1929), Bnei Brith, em torno de 1935, alm de sinagogas, yeshivot e last but not least a Hebraica.

H porm um dever elementar, que ns judeus esquecemos; enquanto qualquer cidadezinha do interior homenageia os fundadores, elevando monumentos ao major Zequinha ou ao coronel Nhonho; ns judeus esquecemos os nomes, de gente como Maurcio Klabin, Isaac Tabacow, Moiss Weiner, Marcos Frankenthal, Maurcio Blaustein, Moiss Hoff, Vittorio Camerini, Salo Wissmann, Jos Teperman, David Kopenhagen, Moiss Kagan. Moiss Kauffmann e outros, como o Simon Fleiss em cuja chcara foi idealizada e realizada a fundao da Hebraica.PS: Deve existir um livro editado por um tal Nudelman, em portugus, dedicado aos primeiros trinta anos do ishuv de S. Paulo. Marcos Firer; Presidente da FISESP (Federao Israelita do Estado de So Paulo) por dois mandatos (1971-3, 1973-5).

Notas1 Todas as Notas de Rodap deste trabalho so de autoria do departamento de pesquisa da SGJ/BR. Leopoldo Gelber (1899-1918), est sepultado ao lado de Jos Ullmann e Maurcio Ullmann (f. 1906) V. O Imprio Klabin, de G. Faiguenboim, Geraes/Brasil, , maio de 1995. pp. 7-8. Berco Udler (Odessa, 1923 S. Paulo, 03-08-1971), artista plstico. Secureni ou Sekiryany, Bessrabia, possuia populao judaica expressiva, em 1897, eram 5.042 pessoas, ou 56% da populao total. Foi um centro comercial onde se negociava produtos agrcolas da vizinhana. Ela foi anexada pela Romnia em 1918, e em 1930, os judeus j somavam 4200, ou 72% da populao. Em 1939 passou para o domnio sovitico, sendo destruida a populao judaica pelos Nazistas, inclusive funcionando como um campo de concentrao. Nathan Tabacow, f. em 29-12-1920, VM, 1-1; 04-01-1922, VM, 1-7. Manoel Tabacow Hidal (S. Paulo, 1919- idem, 1979), filho de Jacob Tabacow Hidal e Fanny (filha de Mayer) Goldstein. Casado com Fanny Schechtman. Pais de: Eduardo e Jairo. Mdico, um dos fundadores do Hospital Albert Einstein Isaac Amzalak da Costa Mesquita (S. Paulo, 1877 Rio de Janeiro, 1960), foi um advogado, dirigente da Mat Laranjeiras. Casado com a argentina Esther Mendes Gonalves, no deixou descendncia, ao que se registra. provvel que o mohel tenha sido no ele, mas o pai, Samuel Edouard da Costa Mesquita (Paris, 1837 S. Paulo, 1894), que chegou a exercer as funes de rabino em S. Paulo e Campinas. Ele teve quatro filhos: Marcos (Mardoche), Isaac, Sarah e Emlia, mas nenhum chamado Waldemar. Mayer Goldstein, f. em 14-07-1932. Samuel Coulicoff chegou ao Brasil em 1904. Em S. Paulo, foi cobrador de bonde, teve uma fbrica de perfumes e depois uma loja de ferramentas em sociedade com dois irmos. Aqui casou-se com Sarah, filha de Mayer Goldstein. Segundo a sua filha Ida, ele era um homem alegre, falava sete idiomas e era parecido fisicamente com Getlio Vargas. Ele um personagem incidental no livro As Religies no Rio de Joo do Rio. ...o hhasan David Hornstein um exemplo. Esse homem cursou doze anos a Universidade Talmudica, polyglotta, professor, correspondente de varios jornaes escriptos em hebreu e rabbino diplomado da religio judaica. David estava na Palestina, na colonia Rishon lSion, uma especie de companhia que o fallecido baro B. Rothschild installra em terrenos comprados ao sulto, com grande odio dos beduinos. Nessa colonia havia medicos, advogados, russos nihilistas. O resultado foi a sublevao, que o amvel baro, depois da morte do administrador, acabou, dispersando os amotinados. Vinte dous desses homens, entre os quaes David e o erudito Kulekf, que acabou rico em S. Paulo, partiram para Bayreuth, depois para Pariz. Hirsh deu-lhes 500 francos, fazendo um discurso camarario. Os judeus revolucionrios foram para Gibraltar e ahi embarcaram para o Brasil. Todos acabaram com furtuna (sic), menos o rabbino, que ficou ensinando linguas, por que o sacerdote judeu no vive do seu culto (pp. 241/2). Coulicoff ou Kulikof morreu em 22-11-1969. Jos Ephim Mindlin (S. Paulo, 08-09-1914), filho de Ephim H. Mindlin e Fanny (filha de Pinkus) Zlatopolsky, casado com Guita (filha de Jos) Kauffmann. Advogado, industrial e biblifilo. Pais de: Srgio, Betty, Diana e Snia. Leonildo Mindlin casou-se com Sarah (filha de Jos) Teperman, e so os pais de Vera Mindlin Bobrow, presidente da FISESP (1995-7).

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Os Judeus Italianos e o Brasil The Italian Jews and BrazilAnna Rosa CampagnanoThe Jewish Italian community has existed for over 2000 years. it is result of several migration currents. The presence of Italian Jews in Brazil is recent. It has only taken importance when the racial laws of Benito Mussolini were passed. This article, is about the Italian Brazilian Community and the names of the families that arrived in Brazil, expatriated by Mussolini. Quem so os judeus italianos?que tem mais de A comunidade judaica italiana, da unioncleode dois mil anosque histria, formou-se atravs de diversos grupos chegaram ao pas em diferentes pocas. O mais antigo o formado pelos judeus que viveram na Itlia ainda na poca do Imprio Romano, localizando-se principalmente no centro e no sul da pennsula. Com a chegada dos judeus asquenazitas que, no sculo 14 deixaram a Alemanha devido peste negra (1348) e s Cruzadas, indo para o Piemonte e Vneto; juntando-se com a dos judeus franceses expulsos daquele pas entre 1306 e 1394, que foram para o Piemonte, e com os banqueiros judeus italianos vindos de Roma, formou-se um outro ncleo no norte da Itlia. rara (sob o ducado dos Estensi), Modena, Reggio Emilia e sobretudo Livorno, para onde se dirigiram tambm os judeus italianos fugidos de Napoles e do sul da Italia conhecidos como Reino das Duas Siclias, que tambm estava sob a coroa espanhola. Alguns judeus chegaram Itlia vindos do imprio Otomano aps a revoluo francesa, seja por motivos polticos ou econmicos. Como consequncia da 1 Guerra Mundial e com a anexao de Trieste, Gorzia, Merano e Fiume ao Reino da Itlia. Chegou Itlia um novo grupo de judeus vindos de outros pases, como Corf, ustria, Alemanha, Hungria e Polnia. Outros judeus, do norte da Europa, refugiaram-se na Itlia entre as duas grandes guerras mundiais, fugindo das perseguies nazistas. Para muitos deles, a Itlia foi um trampolim para a Palestina e as Amricas. Depois de 1948, com o nascimento do Estado de Israel e as sucessivas guerras rabe-israelenses, os judeus que viviam nos pases rabes passaram a ser considerados inimigos sionistas. Eles fugiram, e dois mil judeus persas da cidade de Meshad se estabeleceram em Milo. Entre eles havia tambm judeus egpcios, descendentes da antiga comunidade de Livorno, os quais, por uma lei dos Mdici no final do sculo XIV, foram reconhecidos como cidados do Gro Ducado. Depois de sculos, famlias exiladas vindas do Egito de Gamal Abdel Nasser, com base nas antigas transcries dos registros municipais toscanos, obtiveram a cidadania italiana. A Itlia, apesar de ser considerada por muitos judeus como um pas de refgio, no deixou de perseguir os seus judeus. Uma data fundamental na histria desta perseguio foi quando o papa Paulo V, em 1555, publicou a bula Cum nimis absurdum,que obrigou os judeus a morar em bairros separados (guetos) e a usar um sinal que os distinguisse. Esses bairros surgiram em todas as regies; seja naquelas sujeitas ao Estado da Igreja, seja naquelas nas quais o papado tinha grande influncia e naquelas onde os soberanos no tinham fora suficiente para contestar a imposio papal. Livorno foi a uma nica exceo. Essa segregao durou mais de dois sculos. A identidade nacional dos judeus italianos formou-se somente durante o Risorgimento, juntamente com o processo de unificao da Pennsula, quando os muros do ltimo gueto foram derrubados em 1870, e Roma foi proclamada capital da Itlia. A histria da conscincia nacional dos judeus italianos ocorreu ao mesmo tempo que a formao da conscincia nacional dos prprios cidados italianos, que at aquele momento tinham vivido em vrios estados, sob diversas naes estrangeiras. A passagem da condio de judeus italianos a italianos judeus, provocou, em certos casos, o risco de colocar em crise a identidade judaica. Na verdade, desde a unificao da Itlia, os judeus se debateram entre assimilao e integrao. Um pequeno nmero de sionistas infiltrou-se entre as divises internas do judasmo italiano, propondo um renascimento judaico nacional, poltico, religioso e cultural. O Sionismo italiano foi elaborado atravs das idias de Dante Lattes (1876-1965), escritor e jornalista, que entendia o Sionismo como renascimento nacional judaico; Alfonso Pacifici (1889-1983), advogado, que por sua vez considerava o Sionismo como a redeno de Israel; Enzo Sereni (1905-1944), que pretendia revitalizar

Pino Jesi, Compagnia Voluntari Giuliani e Dalmati Trieste, circa 1927.

No final do sculo 15 e durante o sculo 16 teve lugar a imigrao sefaradita da Espanha (1492) e de Portugal (1497), que diretamente ou indiretamente, via Holanda ou pases muulmanos, se transferiram para o Estado Pontifcio na Itlia, especialmente Roma, Fer6 GERAES / BRASIL, Maio 2000, vol. 9

a vida judaica italiana, combinando religio, cultura e Sionismo, e que foi o primeiro chalutz italiano na Palestina; e, por fim, Felice Momigliano (1886-1924), filsofo e historiador italiano, que considerava o sionismo uma contribuio econmica dos judeus ocidentais para os judeus orientais, com a finalidade de facilitar sua emigrao para a Palestina, pois no eram livres para realizar, em sua ptria, as suas aspiraes.

Carta da Raa, seguiram-se todas as leis raciais que levaram discriminao dos judeus praticada at a queda do fascismo em 1943, e que, com a invaso da Itlia pelas tropas nazistas durante o perodo da Repblica de Sal, terminou com perseguies e deportaes para os campos de extermnio nazistas. Para poder aplicar as leis promulgadas aps a Carta da Raa, a Direo Geral para a Democracia e a Raa do Ministrio do Interior (Demorazza), anunciou em 5 de agosto e realizou em 22 de agosto, um recenseamento para saber quantos e quem eram os judeus na Itlia. Esse recenseamento mostrou que os judeus italianos eram cerca de 45.270 para uma populao de 43.900.000 habitantes (0.1% do total). Desse nmero faziam parte cerca de nove mil judeus estrangeiros, residentes ou de passagem.

O processo de nacionalizao no impediu que os judeus italianos conservassem, ainda que no de maneira homognea, suas prprias peculiaridades tnicas religiosas.Uma vez emancipados, os judeus italianos tornaram-se espontneamente patriotas e liberais, pois a Itlia liberal lhes assegurava o pleno reconhecimento de seus direitos civs. Eles participaram da 1 Guerra Mundial e, com o advento do fascismo de Mussolini, muitos tornaram-se fascistas, vendo nesse partido apenas um nacionalismo renascido; combateram nas guerras para a conquista da Lbia, da Etipia e da Eritria. No incio, Mussolini no se mostrou anti-semita, mas com a aproximao Itlia-Alemanha, sua atitude para com os judeus, e em particular com o sionismo, mudou. O primeiro ato pblico que tornou conhecido o comportamento do Duce para com os judeus, no muito claro at aquele momento, foi a publicao do Manifesto da Raa em 26 de julho de 1938. Esse manifesto foi assinado por conhecidos pensadores fascistas, docentes nas universidades italianas que, sob a gide do Ministrio da Cultura Popular, haviam redigido dez proposies que fixavam as bases do racismo fascista. O nono tem desse declogo estabelecia que os judeus no pertenciam raa italiana. Ao Manifesto, seguiu-se a primeira lei anti-semita (R.D.L. de 5 de setembro de 1938, n 1390), expulsando os judeus de todas escolas. Os esclarecimentos sobre quem era judeu de acordo com o fascismo, e um primeiro aperfeioamento das leis raciais, foram apresentados no Certificado da Raa que foi aprovado entre 6 e 7 de outubro de 1938. De acordo com a lei: a) de raa judaica aquele nascido de pai e me judeus, ainda que pertena a uma religio diferente da religio judaica. b) considerado de raa judaica aquele nascido de pais que sejam um de raa judaica e o outro de nacionalidade estrangeira. c) considerado de raa judaica aquele nascido de me de raa judaica e de pai desconhecido. d) considerado de raa judaica aquele que, mesmo nascido de pais de nacionalidade italiana, dos quais somente um de raa judaica, pertena religio judaica, ou seja, ainda que esteja inscrito em uma comunidade israelita, ou que tenha feito, de qualquer outra maneira, manifestaes de judasmo. e) No considerado de raa judaica aquele nascido de pais de nacionalidade italiana, dos quais somente um de raa judaica, que, em 1 de outubro de 1938, pertencia a religio diferente da judaica.

Pino Jesi

Os judeus italianos reagiram de muitas maneiras a essa repentina mudana de atitude do governo italiano. Alguns argumentaram mostrando a sua participao na historia politica e militar italiana e no partido fascista, e pediam que fossem tratados com benevolencia e no fossem perseguidos. Eram os combatentes, os feridos, os mutilados e os invlidos que haviam participado nas quatro guerras sustentadas pela Itlia naquele perodo: na Lbia, a 1 Guerra Mundial, na Etipia, na Espanha; as famlias dos judeus fascistas inscritos noGERAES / BRASIL, Maio 2000, vol. 9 7

partido nos anos de 1919 a 1922 e no segundo semestre de 1924; famlias que tivessem mritos excepcionais, a ser averiguados por uma comisso especial. Essas diferenas, porm, no excluiam o fato de que todos os judeus, indiscriminadamente, fossem proibidos de lecionar em toda e qualquer escola. Os que tiveram oportunidade, emigraram para a Palestina, os Estados Unidos ou a Amrica do Sul. Verificaram-se, ainda, muitas apostasias (converses ao Catolicismo) e at mesmo algumas arianizaes conseguidas com a apresentao de documentos falsos e grandes somas de dinheiro. Alguns optaram por uma outra fuga, o suicdio. O caso mais notrio de suicdio foi o de um editor famoso, Angelo Fortunato Formiggini, nascido em Mdena, que, aps um perodo de atividade em Gnova, havia se transferido, em 1916, para Roma. A campanha anti-judaica afetou-o profundamente desde o incio, levando-o finalmente a planejar seu suicdio, ocorrido em Mdena, para onde havia retornado nicamente com esse objetivo; ele atirou-se do alto da Torre della Ghirlandina, na Praa do Duomo. No bolso de seu palet foram encontrados o bilhete de entrada para a Torre e um cheque de 30 mil liras (para a poca, uma grande soma) destinado aos pobres de sua cidade. Ele no desejava que pensassem que havia sido induzido quela deciso extremada por estar em dificuldades financeiras. Mussolini proibiu que os jornais escrevessem sobre o assunto, mas a notcia espalhou-se da mesma forma, apesar de no ter tido a repercusso que merecia. Os judeus restantes adaptaram-se vida dentro das prprias comunidades e continuaram, apesar do agravamento de suas condies, a ajudar seus irmos do outro lado dos Alpes que, com o advento de Hitler ao poder, haviam afludo em grande nmero para a Itlia, sem dinheiro e necessitando de ajuda. A DELASEM (Delegazione Assistenza Emigranti), uma sociedade criada para essa finalidade, fornecia aos expatriados o necessrio para ficar na Itlia ou se exilar.

Milo - Carlo Franco; Nicol Frieder; Mario Elio Levi; Enrico Rimini; Bruno Russi Npoles - Carlo Sonnino; Sergio Tagliacozzo Pdua - Giorgio Schreiber; Alessandro Seppilli; Renato Salmoni; Alfredo Zuccari Pisa - Ivo Faldini Roma - Emilio Milla; James Levi Bianchini; Guido Guastalla; Enzo Jona; Davide Isacco Cal; Franco Cal; Sergio Cal Veneza - Guido Hirsh Vercelli - Renato Pescarolo; Luciana Pescarolo; Alice Colombo; Anselmo Nozzi Verona - Mario Artom; Mariuccia Colombo Nomes de famlias que emigraram para o exterior, sem especificao de destino, e que esto no Brasil:De Benedetti; Guastalla; Pontecorvo; Terracini; Treves; Ventura Muitos dos imigrantes mantiveram seus registros nas comunidades e continuaram a pagar as contribuies. Faltam-nos dados sobre muitas comunidades, inclusive a grande comunidade de Livorno, e aqueles obtidos so incompletos. Os judeus emigraram desde 1938, ou seja, desde a proclamao das leis raciais, at junho de 1940, quando a Itlia entrou em guerra. Aps essa data, a emigrao tornou-se praticamente impossvel, seja devido cessao do servio de navios italianos e estrangeiros partindo dos portos italianos para as Amricas, seja pelas dificuldades, sempre maiores, em obter os vistos de trnsito. Segundo dados do Ministrio do Interior, desde o final de 1938 at 15 de novembro de 1941 teriam sado da Itlia, 7.304 israelitas.

Os italianos judeus no BrasilEm 1938, quando se iniciou o xodo dos judeus italianos, o governo do Brasil, sob a presidncia de Vargas, ainda era fascista e os vistos de entrada eram submetidos a controles severos. De fato, s era permitida a entrada a pessoas teis, que trouxessem benefcios econmicos para o pas. J havia sido instituida uma lei que estabelecia a necessidade de apresentao, para obter o visto de entrada, das cartas de chamada de cidados ou parentes residentes no Brasil. Isso levou, inevitavelmente, compra de cartas falsas. Alm disso, durante o perodo ditatorial de Vargas (1937-1945) e com a criao do Estado Novo, inspirado no fascismo, o governo emitiu uma srie de Circulares Secretas, destinadas s misses diplomticas, aos consulados, s autoridades de imigrao e de polcia, com a finalidade de regulamentar a entrada de estrangeiros de origem semita no territrio nacional. O xito dessa poltica restritiva dependia em grande parte do zlo dos agentes brasileiros no exterior. A restrio imigrao judaica colocou o Brasil em posio muito delicada no exterior. De fato, os Estados Unidos e a Inglaterra solicitaram ao governo brasileiro que tratasse da questo judaica com menos rigor. Os judeus italianos que conseguiram emigrar para o Brasil, aqui encontraram um ambiente italiano predominantemente fascista. Os descendentes dos imigrantes que haviam chegado desde o final do sculo 19, fugindo da misria na Itlia, haviam se sentido novamente valorizados com o fascismo, contando com o apoio de uma ptria poderosa na qual Mussolini tentava reviver as glrias do Imprio Romano. Ser fascista tornou-se para eles um fator de prestgio pessoal. Tornando-se fascistas eles adotavam tambm, com uma certa leviandade, as idias anti-semitas. A presena dos judeus italianos antes de 1938 foi insignificante, sendo composta quase que exclusivamente por pequenos comerciantes, mas com alguns nomes de destaque como Lattes, Levi e Mayer. Contudo, o fluxo migratrio causado pelas leis raciais no foi muito numeroso: talvez uma centena de famlias, das quais mais de setenta vieram para So Paulo, totalizando 400 pessoas. Os judeus italianos se auto-definiram A Colonia Mussolini, para sublinhar o carter invo-

Emigrao judaica italianaNo Centro Bibliogrfico Judaico de Roma, situado no Lungo Tevere Sanzio no. 5, encontrei pastas que contm as listas de recenseamento atribuidas Unione delle Comunit Israelitiche Italiane (hoje UCEI), dos anos 38 a 40,1.Ao lado dos diversos nomes esto anotadas as vrias transferncias, dentro do pas e para o exterior, dos judeus inscritos nas varias comunidades da Itlia. No constam dessas listas aqueles que seguiram a lei proclamada com o Regio Decreto de 30 de outubro de 1930, no. 1731, Titolo I, Articolo 5, assinada pelo rei, Vitor Manuel III, pelo chefe de governo Mussolini e pelo guarda-sinete Rocco. Deixa de fazer parte da Comunidade quem se converte para outra religio ou declara no mais querer ser considerado israelita de acordo com o presente decreto. Essa declarao deve ser feita ao presidente da Comunidade ou ao Rabino-Chefe, pessoalmente ou por documento autenticado. Aquele que deixa de fazer parte da Comunidade de acordo com o inciso primeiro, perde o direito de utilizar as instituies israelitas de qualquer Comunidade; perde, especialmente, o direito prestao de atos rituais e ao sepultamento em cemitrios israelitas. Todavia, este artigo no excluiu os judeus que haviam se desligado da comunidade, de ser considerados igualmente judeus para os fins das leis raciais de 1938. As pessoas e as famlias que vieram para o Brasil, que encontrei nas listas das cidades de onde partiram, so os seguintes: Ancona - Carlo Alberto Trevi; Alberto Trevi; Giorgio Trevi; Vittorio Terni; Adriana Terni; Augusta Levi; Valentino Rocca; Edoardo Camiz Genova - Giuseppe Amar; Giuseppe Anau; Leonardo Anau; Nissin Augusto Anau; Romolo Bondi; Gino Colombo; Attilio De Benedetti; Arnaldo De Benedetti; Carlo Alberto Levi; Oscar Levi; Giuseppe Moscato; Michele Vitale; Emilio Avigdor; Giorgio Castellini8 GERAES / BRASIL, Maio 2000, vol. 9

Famlia Armando DiSegni no Brasil

luntrio da escolha migratria. Esta foi quase sempre casual, ligada ao fato da obteno de um visto aps cansativas peregrinaes por vrios consulados. O mundo do trabalho os acolheu favoravelmente e quem utilizou em larga escala a sua presena foi a famlia Matarazzo, que empregou muitos imigrantes judeus. Tambm as universidades e institutos de pesquisa ofereceram trabalho aos profissionais judeus italianos; entre os mais importantes podemos citar o professor Tullio Ascarelli, professor de direito na Universidade de So Paulo, o advogado penal Enrico Tullio Liebman, e Giorgio Mortara, professor de estatstica, que trabalhou no IBGE do Rio de Janeiro. Os judeus italianos no sentiram necessidade de fundar uma sinagoga prpria como haviam feito os judeus de outras nacionalidades, mas frequentaram no incio a sinagoga mais antiga de So Paulo, chamada Templo Israelita Brasileiro do Rito Portugus Ohel Yaacov, hoje Sinagoga da Abolio e, depois, a Congregao Israelita Paulista (CIP). Atravs do casamento, os judeus italianos se assimilaram aos ashkenazitas e sefaraditas, e a maior parte deles no transmitiu aos prprios filhos e netos a cultura italiana, s vezes nem sequer a prpria lingua. Nas entrevistas que realizei, poucos demonstraram saudades da Itlia, devido traio da mesma para com eles, que se consideravam italianos acima de tudo. Disso so testemunha vrios livros de memrias, na maior parte no publicados, dedicados a transmitir a histria da famlia para as geraes futuras. O nmero de sobrenomes judaico-italianos que constam das listas dos cemitrios do Butant, Vila Mariana e dos Protestantes, su-

perior ao encontrado nas listas das comunidades italianas e, com exceo de trs sobrenomes, as datas das mortes so posteriores a 1945, data do fim da guerra.

Nota1 nmero 7l A - B - C, Movimento Inventrio n 8.188.800 Anna Rosa Campagnano, historiadora [email protected],

Homnimo ou Personagem? O personagem do ator Roberto Benigni, no filme A Vida Bela (1997), um judeu italiano chamado Guido Orefici, vtima do Holocausto. Segundo o ator e diretor do filme, este seria apenas uma obra de fico, mas com alguns momentos baseados na realidade. Consultando o Il Libro Della Memoria. Gli Ebrei deportati dallItalia (1943-1945), de Liliana Picciotto Fargion, encontramos tambm um Guido Orefici, que identificado assim: nato a Firenze il 15.1.1873, figlio di Flaminio e Cal Elena. Ultima residenza nota: Firenze. Detenuto a Milano carcere. Deportato da Milano il 30.1.1944 a Auschwitz. Ucciso allarrivo a Auschwitz il 6.2.1944. Fonte 1, convoglio 06 (p. 451).

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Os ltimos Cristos-novos de Vilarinho dos Galegos (Portugal) The Last New Christians of Vilarinho dos Galegos (Portugal)Antnio Pimenta de Castro Vilarinho dos Galegos, a small town in the Northeast of Portugal, has an old criptojewish tradition, with numerous descendants from victims of the Inquisition. The author tells about Mrs. Olivia Rodrigues Tabaco, the last local Jewish worshipper.edico este Olvia Tabaco, possivelmente a D rezadeira viartigo deTiacandeias doGalegos (Mogadouro,ltima judaica Vilarinho dos Portugal), a quem acender as Senhor, s sextas-feiras noite, com torcidas rezadas, na velha cozinha da sua modesta casa, pintada com as negras cores de muitos rigorosos invernos nordestinos e que me ensinou muitas tradies do seu povo e rezas ao seu Adonai. Dentro de pouco tempo, assim espero, penso publicar muito do que recolhi sobre as tradies e costumes deste nobre povo, para que no desaparea, esta parte to importante da nossa cultura, com o cerrar dos olhos da ltima rezadeira de Mogadouro. Tenho pela tia Olvia Tabaco um carinho muito especial, na verdade ela partilhou comigo aquilo que tinha de mais precioso, a memria do Seu Povo, a Tradio...Vi comovido, as lgrimas de saudade a escorrerem pela sua face quando me falava do seu tempo de mocidade, do tempo dos velhos marranos, rosto curtido por muitos invernos, mais parecia um velho pergaminho...Que Adonai esteja sempre contigo tia Olvia e quando fizeres a ltima viagem, finalmente para junto do resto do teu povo, do povo de Moiss, que acompanhem tantas luzes como aquelas que tu acendestes a ELE todas sextas-feiras noite nas velhas candeias de azeite puro e com as torcidas rezadas, como quem desfia um rosrio... com a maior alegria que registo um interesse crescente dos descendentes dos cristos-novos de Trs-os-Montes pela procura e estudo das suas raizes familiares e histricas. Que diferena de h uns dez anos atrs ! H uma dezena de anos, aqui, poucos se assumiam como descendentes de judeus e a palavra judeu era interpretada como um insulto. Lembro-me do j longnquo ano de 1981 em que fui pela primeira vez, na companhia do meu saudoso tio Mrio Augusto de Oliveira (tambm ele descendente de judeus e de Vilarinho dos Galegos), a Vilarinho para comear a recolher oraes e outras tradies dos marranos. Apesar do meu tio ser de Vilarinho e ser conhecida a sua ascendncia judaica, que dificuldade para as pessoas comearem a falar...Parecia que a horrenda Inquisio ainda estava viva e que os seus esbirros andavam cata de vtimas para autos-de-f! Foi preciso ir l dezenas de vezes e ganhar muita confiana para comearem a falar. Depois de ganharem toda a confiana em mim, devo dizer que enchi quatro ou cinco cassetes que guardo religiosamente e que sero, a par com outras recolhas, a base do meu futuro trabalho. Percorri a aldeia, mostraram-me onde se reuniam as rezadeiras, como colocavam as toalhas sobre a cabea enquanto diziam as oraes, que oraes eram ditas ao benzer das torcidas para as candeias do Senhor, como era feito o po zimo (cozido entre duas telhas novas), como se benziam, os jejuns e as festas, a zona onde viviam os judeus, enfim abriram-me a sua alma...Mas no se pense que foi fcil... Lembro-me, a ttulo de exemplo, de dois episdios que registei: Estando a tia Olvia Tabaco (todos em Vilarinho dos Galegos tm alcunhas) a ensinar-me algumas das suas tradies, eis que aparece, ao cimo da canelha, um homem que vinha do amanho das terras, ento a tia Olvia colocou o dedo na boca, em sinal de silncio, e comeou a falar das suas doenas. Quando o homem desapareceu ela disse-me Este no da nossa raa, chuo1. O outro episdio foi o seguinte: Tendo eu ido visitar uma senhora encamada que me disseram saber muitas oraes, a sua empregada, que estava acompanhada de outra senhora, desatou a fazer-me sinais dizendo-me: Agora j ningum sabe nada, morreu tudo. As que sabiam morreram, a Patata e outras antigas que sabiam, mas j morreram todas, agora ningum sabe nada. No final da conversa com a senhora encamada, que nada me disse, a empregada, sozinha, acompanhou-me at a porta e disse-me: Aparea daqui a meia hora na casa da tia Olvia que eu digo-lhe algumas oraes. Assim foi: a dita senhora disse-me uma boa dzia de oraes e muito me contou dos rituais e tradies do seu povo. Hoje, as pessoas j esto mais abertas, muitas j no tm vergonha de afirmarem publicamente que so descendentes de judeus. J comeam a ter orgulho de afirmarem publicamente que so descen-

Dona Olvia Rodrigues Tabaco 10 GERAES / BRASIL, Maio 2000, vol. 9

dentes de judeus. Penso, com alguma vaidade, que o meu livro Os Judeus na Obra de Trindade Coelho contribuiu muito para isto. O seu lanamento pblico excedeu as melhores expectativas, o salo nobre da Cmara Municipal de Mogadouro foi pequeno para tanta gente e largas dezenas tiveram mesmo de ficar no corredor. Em poucos meses, o livro esgotou. No seu lanamento os oradores (Antnio Jlio Andrade, Dr. lvaro Leonardo Teixeira, Professora Maria de Jesus Sanches e Dr. Joo Guerra) foram brilhantes, cativaram a atenta assistncia. Contudo gostaria de destacar duas pessoas que se encontravam presentes e que impressionaram a assistncia pelos seus testemunhos pessoais: os meus amigos Dr. Joo Guerra e o Elias Nunes. O Dr. Joo Guerra porque transmontano, de Freixo de Espada-Cinta, descendente de judeus, voltou novamente religio e tradies de seus avoengos. Retomou novamente o fio que a horrvel Inquisio tentou, em vo, cortar. No teve complexos, magistrado, no hesitou em responder o chamamento do sangue. O Elias Nunes, comerciante, de Belmonte (actualmente presidente da Comunidade Judaica de Belmonte), era o representante vivo, felizmente muito vivo, de um povo mrtir, que sofreu na pele os horrores da Inquisio e a discriminao da estupidez, da intolerncia e da xenofobia mas que a tudo isso resistiu e que contra tudo e contra quase todos manteve a tradio, a integridade e a f do seu povo. As pessoas viram al, bem diante dos seus olhos, um jovem, com a sua esposa, que se afirmava Judeu, que no tinha vergonha, antes orgulho, de nas suas veias correr o sangue de cristos-novos, de marranos que muito sofreram mas que continuava vivo, de cabea bem levantada. As pessoas estavam habituadas a verem s estudos sobre marranos como coisa do passado. Tudo estaria perdido...Tudo estaria j encoberto pela poeira do tempo...S uma vaga recordao de uma passado j longnquo...De repente viram que no, que ali estava no um papel amarelecido pelo tempo, mas o representante vivo de uma comunidade viva, como o foram outrora as de Azinhoso, Vilarinho dos Galegos, Argoselo, Caro, Mogadouro...Isso mexeu com eles, tocou-lhes fundo da alma, mexeu na sua memria colectiva... De repente, viram que aquilo que as suas avs e seus pais lhes ensinaram tinha sentido, correspondia a uma cultura, estava-lhes no sangue...Ento comecei a receber cartas, muitas cartas, de Argoselo, de Caro, de Macedo de Cavaleiros, de todo o nordeste...De repente as pessoas procuravam-me na rua, em minha casa...Lembro-me assim de repente de duas pessoas que me procuraram e me disseram o seguinte: Sabe, o meu tio que tinha um sto em Mogadouro dizia-me que nunca se devia varrer o sto no Sbado, dava azar..., sempre achei que ele no batia bem da bola, agora sei porque que ele, que era de Argoselo, me dizia isso.., ou aquele habitante do Azinhoso que fez questo em me mostrar onde eram os pelames no Azinhoso...Tinham a necessidade de me dar o seu testemunho, de me dizer que tambm eles tinham sangue...judeu ! Sei que procuram as suas razes, a sua memria.

ge, queimando vivos judaizantes em praas pblicas cheias de gente. A Praa do Rossio em Lisboa, talvez o exemplo mais conhecido. A lista dos mdicos foi analizada pelo prof. Reuven Faingold num artigo intitulado em ingls Flight from the Valley of Death - Converso Physicians Leaving Portugal in the Early l7th Century; publicado na revista PEAMIM n. 68 (Summer 1996), pgs. 105-138. Entre os setenta mdicos pesquisados, dois deles fugiram para o Brasil. Trata-se dos irmos Manuel Nunes e Lucas Fernandes, ambos filhos de Manuel lvares, natural de Campo Maior. Os irmos fugiram por volta de 1611, pois segundo o documento, em 1614 j estariam morando na Terra de Santa Cruz. O mesmo texto nos revela que ambos irmos fugiram sendo pobres. Cabe destacar que a maior parte dos conversos abandonavam o territrio por medo de serem punidos violentamente pelo Santo Ofcio. O caso dos dois irmos mdicos chegados ao Brasil raro, pois a viagem da metrpole colnia era cercada de perigos.

Mario de Mello Faro, membro da Associao Portuguesa de Genealogia, do Instituto Brasileiro de Genealogia, do Colgio Brasileiro de Genealogia e nosso conscio, lanou dia 21 de setembro na Biblioteca Social do Club Atltico Paulistano, duas plaquetas sobre famlias portuguesas de origem fidalga. Histrias e Fatos e Famlias Fidalgas Portuguesas e seus Vnculos no Brasil. Mrio de Mello Faro filho de Alexandre de Moraes de Mello e Faro (18791935), fundador no Brasil de uma empresa que veio dar origem a conceituada Casa Bancria Faro S/A. Os Mello Faro da Casa de Porto de Rei, em S. Joo da Fontoura provm de cepa real, eles descendem do 1 Duque de Bragana, portanto em sua linhagem est tanto D. Joo I, quanto D. Nuno lvares Pereira, o Santo Condestvel. Estes dois trabalhos vo reunir-se ao anterior: A Famlia Mello e Faroem Portugal e no Brasil (SP, 1996). Sucesso ao autor so os nossos votos.

Nota1 chuo , em Vilarinho dos Galegos um cristo-velho, que no descendente de judeus.

Antnio Manuel Ramos Pimenta de Castro; professor, historiador, autor do livro Os Judeus na Obra de Trindade Coelho (Mogadouro, 1998)

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Fuga de Crebros na poca da Inquisio. No acervo do A.N.T.T. (Arquivo Nacional da Torre do Tombo) existe uma lista com os nomes de uns setenta mdicos e cirurgies cristos-novos portugueses que foram obrigados a abandonar Portugal em 1614. Neste ano, a represso inquisitorial atingia o seu au-

Foi lanado o livro Em Nome da F. Estudos In Memorian de Elias Lipiner. Uma coletnea em homenagem ao inesquecvel historiador Elias Lipiner (v. Obiturio em Geraes), organizada por Nachman Falbel, Avraham Milgram e Alberto Dines. So doze artigos, uma bibliografia da obra de Lipiner feita por Milgram e a transcrio de algumas conferncias proferidas durante o V Centenrio de Expulso dos Judeus de Portugal. Os artigos esto dentro da histria sefardita em todas as suas manifestaes. O Embaixador Mordechai Arbell autor de A colonizao por judeus portugueses do Brasil holands em Cayenne (atual Guiana Francesa) ; Haim Beinart, de A expulso dos muulmanos de Portugal; Francisco Moreno de Carvalho, Zacuto Lusitano e um tratado de medicina dirigido ao Brasil; Alberto Dines, Aventuras e desventuras de Antnio Isidoro da Fonseca; Nachman Falbel, Um argumento polmico em Vicente da Costa Matos; Maria Antonieta Garcia, Judeus de Belmonte e o poder autrquico; Elvira Cunha de Azevedo Mea, O cotidiano entre as grades do Santo Ofcio; Avraham Milgram, Arthur Hehl Neiva e a questo da imigrao judaica no Brasil; Manuel Augusto Rodrigues, A presena de judeus no territrio portugus nos sculos XI-XII luz do Livro Preto da S de Coimbra ; Claude Bernard Stuczynski, Subsidios para um estudo de dois modelos paralelos de catequizao dos judeus em Portugal ; Jos Alberto Rodrigues da Silva Tavim, O intrprete judeu nos grandes espaos do Oriente (sculo XVI): o triunfo do espio e Frieda Wolff, 1901 Anti-semitismo no Par.

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Um Descendente Ilustre de Branca Dias: Ciro Gomes An Illustrious Descendant of Branca Dias: Ciro GomesPaulo Valadares Branca Dias is a name linked to the Inquisition. She lived early Brazilian Colonial Period, when she became the first teacher domestic arts in Brazil. She left a large and ilustrious descendence. Among her descendents is Ciro Gomes, a young candidate to the Presidency of Brazil.pequeno artigo sobre os ancestrais cristos-novos geneaE ste oudo poltico Ciromas lembrar que os judeus fazemnaparte do logia Gomes, no implica em reconhec-lo como judeu cristo-novo, substrato da formao tnica do brasileiro desde os primeiros dias da Colonizao. Ele s um exemplo de destaque, por brilhar na poltica, mas que estes mesmos cristos-novos podem ser encontrados em milhares de outras famlias annimas que esto por todo o Nordeste1. Ciro Ferreira Gomes nasceu em Pindamonhangaba, S. Paulo (06-11-1957), filho de Jos Euclides Ferreira Gomes Jr. e Maria Jos dos Santos. O seu pai foi prefeito de Sobral, seguindo uma tradio familiar construida na administrao pblica, iniciada pelo primeiro Ferreira Gomes, oriundo de Leiria, em Portugal, que chegou ao Cear na primeira metade do sculo XVIII. O prprio Ciro teve a carreira tpica de um jovem da elite nordestina. Ele j exerceu os principais cargos pblicos, tanto dentro de sua provncia, quanto em mbito nacional. Inclusive casou-se e teve filhos na prpria oligarquia cearense. A sua hoje ex-esposa, pertence estirpe dos Pompeus de Souza, descendente do (ex)padre: Toms Pompeu de Souza Brasil. Ciro nascido e casado em famlias tipicamente cearenses, e aparentado com descendentes de cristos-novos, to presentes na paisagem local. O Cear serviu como refgio para muitos cristos-novos perseguidos pelo Santo Ofcio. O recorte acidentado do seu litoral e a inacessibilidade do Serto atrairam estes perseguidos que buscavam livrarse dos processos inquisitoriais, dos autos-de-f, ficando longe do alcance da Inquisio, e assim recomear as suas vidas. Uma destas famlias a dos Montes, de origem crist-nova espanhola, que escolheu o Nordeste brasileiro para viver quando cinco irmos se dirigiram para l, depois de terem os pais queimados pela Inquisio. A maioria dos que hoje levam o sobrenome Monte se originam no capito Manuel Jos do Monte (f.1778), pernambucano de Boa Vista, filho do coronel Gonalo Ferreira da Ponte, o Caxao, e de Maria da Conceio do Monte e Silva, neto ou bisneto daqueles refugiados. Dele descendem em linha reta os Montes e os Ferreiras da Ponte cearenses. O prprio Manuel Jos do Monte casou-se com uma moa desta estirpe, Ana Maria Uchoa, filha de um figuro de Sobral, o capito e juiz de orfos Jos de Xerez (ou Xares), introdutor do caf e da tcnica do enxerto agrcola no Cear. Duas filhas do capito Manuel Jos do Monte so ancestrais de Ciro Gomes. O pernambucano de Goiana, Jos de Xerez Furna Uchoa (1722-1797), migrou para Sobral com fama de judaizante. Mas que tentou combat-la, pesquisando em cartrios por doze anos e depois escrevendo um trabalho onde afirmou no ter tal qualidade de sangue, relacionando os padres e at um Papa na famlia (Adriano VI), porm reconhecia ter parentes prximos encrencados com o Santo Ofcio. Pois a sua av materna, Antonia de Mendona Uchoa, fora casada com Bartolomeu Peres de Gusmo, o Doutorzinho, de quem tivera uma filha, a sua tia Felcia Uchoa de Gusmo, presa pelo Santo Ofcio em 1730. J, Jos de Xerez, descendia de um segundo casamento de Antonia. Porm esqueceu-se de dizer que des12 GERAES / BRASIL, Maio 2000, vol. 9

cendia (ele e a sua esposa) do casal emblemtico dos cristos-novos no Brasil, Diogo Fernandes e Branca Dias. Duas filhas de Jos de Xerez, casaram-se tambm com descendentes de cristos-novos, a Ana Maria Uchoa, j citada, e Mariana de Lira Pessoa, com Antonio Alvares de Holanda Cavalcante, tetraneto do riqussimo cristo-novo pernambucano Belchior da Rosa. Esta Branca Dias (outra fonte acrescenta o sobrenome Coronel) a personagem histrica que viveu em Pernambuco nos primeiros tempos da colonizao, onde tinha uma escola para moas. Mas que no deve ser confundida com a homnima criada pelo teatrlogo Dias Gomes. Ela nasceu em Viana, Portugal, provavelmente em 1515, e acompanhou o marido Diogo Fernandes, tambm cristo-novo ao Brasil, onde foi processada pela Inquisio e, por ter morrido durante o processo, o Santo Oficio pediu que remetessem os seus ossos para serem queimados (Proc. 5.736, ANTT). Vrios descendentes do casal tambm foram processados como judaizantes nos anos subsequentes. Jos de Xerez da Furna Uchoa e sua esposa Rosa de Oliveira e Silva descendem de Branca Dias Passaram-se as geraes depois de Branca Dias. A represso ideolgica e a diluio destas famlias atravs dos casamentos mistos, num processo de cristianizao crescente levaram esta minoria etno-cultural ao desaparecimento. Mesmo assim restou na cultura cearense um ar levemente judaico que reaparece nos momentos mais inesperados. Durante a cerimnia de posse de Miguel Arrais de Alencar, (ele fra eleito Governador de Pernambuco depois de seu exlio na Argelia), leram-se as palavras do profeta Jeremias (24: 5-7), sobre o desterro dos judeus. Ou achar como o Padre Joo Mendes Lira (descendente dos Ferreiras da Ponte) que pesquisou este assunto no Cear, em Sobradinho, reduto principal deles [os Ferreiras da Ponte], encontrei um pequeno cemitrio contendo um tmulo no qual se lia uma inscrio com duas letras portuguesas, quatro em hebraico e nmeros de difcil decifragem. Na linhagem dos Montes h at aqueles que retornaram ao judasmo como Flvio Mendes Carvalho (1954-1996 ), autor de Raizes Judaicas do Brasil O Arquivo Secreto da Inquisio (1992); Andrelino Alves Feitosa, o Andre Fitousie, que hoje vive em Haifa, dentre outros que j encontramos pela vida. Natrcia Campos, aproveitando os poemas de Virglio Maia e os trabalhos de Socorro Torquato sobre a herldica israelita, escreveu uma artigo memorvel chamado A alma bblica do Serto encourado, sobre a esta faceta judaizante do Cear2 Estes so os ancestrais cristos-novos do poltico Ciro Gomes. Sos os Montes, os Ferreira da Ponte, o abastado Belchior da Rosa, Diogo Fernandes e Branca Dias.

Nota1 Devo ao Dr. Cndido Pinheiro de Lima de Fortaleza, descendente de um irmo de Jos de Xerez, parte do material utilizado neste trabalho. A ele os meus agradecimentos. O Povo, Fortaleza, 4-9-1999, p. 5B

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Branca Dias, Belchior da Rosa e Ciro GomesBibliografia Arajo, Francisco Sadoc de. Cronologia Sobralense (5 vol.) Barros Leal, Vinicius. Os cristos-novos na formao da famlia cearense (Revista do Instituto do Cear, 157-167) / Cearenses descendentes de Branca Dias (Verdadeira histria) (O Povo, 1-7-1979) Borges da Fonseca, A.J.V. Nobiliarchia Pernambucana, II (Mossor, 1992). Filgueira. Marcos Antnio. Os judeus foram nossos avs (Mossor, 1994) Gonsalves de Mello, Jos Antnio. Gente da Nao (Recife, 1989), pp. 117-166 Lira, Joo Mendes. A presena dos judeus em Sobral e circuvinzinhanas e a dinamizao da economia sobralense em funo do capital judaico (Sobral, 1988) Valadares, Paulo. Flvio Mendes Carvalho (1954-1996) (Geraes/Brasil, Novembro 96 e Abril 97, vol. 3, n 1 e 2, p. 13.)

Diogo Fernandes

Inez Fernandes

Branca Dias

Maria de Paiva Baltazar Leito de Hollanda

Belchior da Rosa

Maria de Goes

Bernarda de Albuquerque

Brites de Vasconcelos

Cristovo de Holanda Cavalcante

Francisco Vaz Carrasco

Manoel Vaz Carrasco e Silva

Bernarda de Holanda Cavalcante

Ins de Vasconcelos Uchoa

Jos de Xeres da Furna Uchoa Ana de S Cavalcante de Albuquerque

Rosa de Oliveira e Silva

Antonio lvares de Holanda Cavalcante

Mariana de Lira Pessoa

Luiza da Costa Maciel2 esposaa

Manuel Jos do Monte

a

Ana Maria Uchoa1 esposa

Ana Maria do Monte

Maria Bernadina do Monte

Francisco de Lira Pessoa Francisca de Lira Pessoa

Jos Ferreira Gomes

Maria Teresa do Monte

Cesrio Ferreira Gomes

Maria Bernadina

Jos Ferreira Gomes

Jos Euclides Ferreira Gomes

Jos Euclides Ferreira Gomes Jr.

Ciro Ferreira Gomes

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Abracadabra e Shabriri no JudasmoProf. Reuven Faingoldutilizada pelos A enigmtica palavra Abracadabra, vulgarmentejudaico efrmula mgicos em suas apresentaes pblicas, uma antiga aramaica (hebraico antigo) extrada do misticismo da Cabala prtica, aceita tambm nas diferentes culturas da Mesopotmia. No antigo Oriente, o bero da civilizao, era comum acreditar que esta estranha palavra possua poderes superiores, celestiais, capazes de curar todo tipo de doenas, especificamente as chamadas doenas de quarentena. So vrias as possveis origens da frmula Abracadabra, e a maior parte delas se remonta ao nome aramaico de um demnio. Outros acreditam que o nome deriva da palavra Abraxas, uma pedra utilizada no mundo antigo para rituais religiosos. Que eram Abraxas? Qual a funo dos abraxas nos rituais mesopotmicos? Estudando a etimologia do termo, vemos que trata-se de uma palavra composta: em grego abrs significa belo e so representa o Salvador. Uma segunda leitura, pouco verossmil, aproxima o termo aramaico ab que significa pai ao verbo bara (Gen. 1:1) que significa criar. H nestas duas etimologias o fator divino personalizado num pai-salvador, e o fator humano representado na prpria beleza da criao. A primeira meno da palavra Abracadabra em textos, aparece num documento do sculo II atribudo ao mdico romano Severus Sammonicus. Ele redigiu um tratado teraputico de versos hexmetros intitulado Preceitos da Medicina, onde ensina o modo correto de colocar os caracteres da palavra ABRACADABRA. As formas seriam as seguintes: ABRACADABRA BRACADABRA RACADABRA ACADABRA CADABRA ADABRA DABRA ABRA BRA RA A ABRACADABRA BRACADABRA RACADABRA ACADABRA CADABRA ADABRA DABRA ABRA BRA RA A ABRACADABRA BRACADABR RACADAB ACADA CAD A tempo em que o paciente tinha contato com a frmula, ele repetia, diariamente, as palavras: que sejam combatidas as febres interminveis, as fraquezas existentes e que todas as doenas mortais sejam afastadas com seu maravilhoso poder de cura. Tambm eram comuns os pergaminhos com acrsticos em forma de pirmide invertida (tringulo), em geral de palavras incompreensveis, arrumadas segundo o modelo do Abracadabra. A modo de exemplo: AKRABOKUS KRABOKUS RABOKUS ABOKUS BOKUS OKUS KUS US S Assim, da mesma forma que existem as frmulas Abracadabra e Akrabokus, existem outras tantas enunciaes de origem judaica, que aparecem em inscries e lpides, em encarnaes e at em pequenos amuletos. Uma dessas frmulas Shabriri que assinala o nome do demnio da cegueira. A palavra Shabriri foi utilizada freqentemente por judeus sefaraditas, tanto iemenitas e persas como tambm por judeus ibricos (espanhis e portugueses), em anis, pendentes ou amuletos. A curiosa frmula shabriri aparece registrada desde tempos antigos em alguns tratados do Talmude, como em Pesachim 112a e Avod Zar 12b da seguinte forma: SHABRIRI ABRIRI RIRI RI SHABRIRI HABRIRI ABRIRI BRIRI RIRI IRI RI I SHABRIRI HABRIR ABRI BR

Todas as letras escritas devem estar colocadas num pergaminho e dobradas em tringulo, de forma tal que, da parte externa no seja possvel decifrar as letras. Esta frmula de letras Abracadabra era amarrada por meio de um fio branco ao pescoo do enfermo durante nove dias. Encerrado deste perodo, o convalescente levanta de sua cama vagarosamente, e caminha at as margens de um rio; e naquelas guas ele atira o pergaminho com sua frmula mgica. Durante o14 GERAES / BRASIL, Maio 2000, vol. 9

A escrita mgica desta frmula talmdica estava disposta de forma tal que, em cada linha ia-se perdendo uma ou mais letras. Qual seria, ento, o significado oculto da gradual diminuio das letras? Segundo os sbios, assim como se perdem as letras (fator teraputico), da mesma forma desapareceram por completo a febre intermitente, as terrveis convulses, e as numerosas doenas que afetam o corpo da pessoa. Existe uma outra frmula utilizada pelos judeus, similar em seus efeitos mgicos e teraputicos, palavra Abracadabra e a frmula hebraica Shabriri. Trata-se da expresso Vatishka Esh, ou seja e o fogo foi contido. A febre que afetava o paciente era o fogo. A prece alcanava a doena e desta forma ela seria estirpada. Esta comparao, as vezes afastada da prpria realidade, tem suas origens num episdio bblico (Nmeros 11: 1-2) onde o relato diz que quando o

Povo de Israel comeou a reclamar amargamente perante Deus, o Todopoderoso ouviu isto, irou-se, e ascendeu entre eles um fogo que devorou a extremidade do acampamento no deserto. O povo judeu implorou a Moiss, Moiss orou ao Senhor e finalmente o fogo extinguiu-se [Vatishka Esh]. Conjugando-se o verbo hebraico shinkof-ain (inf. lishkoa), que significa apagar, extinguir, afundar ou aplacar, a frmula redentora seria a seguinte: VATISHKA ESH TISHKA ESH SHKA ESH O telogo cristo Wendelin de Tournay acreditava que as quatro primeiras letras do termo Abracadabra seriam as iniciais de AV, BEM, RUACH AKODESH, que na lngua hebraica significa Pai, Filho, Esprito Santo. AV BEN RUACH AKODESH Em outras palavras, segundo Wendelin, estaramos na presena das Trs Pessoas da Sagrada Trindade. Obviamente, os rabinos e talmudistas da poca jamais aceitaram esta interpretao provocativa de cunho cristolgico.

Outros exegetas interpretaram de modo diferente a frmula Abracadabra. Estes acharam que a forma seria uma corruptela da palavra Bracha ou Bircat ou Bracha. Seja como for, esta ltima possibilidade aparece como uma hiptese forada, sem fundamento e um tanto especulativa. Resumindo, podemos afirmar que no h certeza acerca da verdadeira origem da frmula Abracadabra, no entanto um fato resulta indiscutvel: um nmero bastante considervel de expresses de raiz aramaica-hebraica, eram utilizadas pelos judeus de formas similares, para obter uma cura ou qualquer outro objetivo superior de carter teraputico. Os reais efeitos da cura ao pronunciar-se a palavra Abracadabra so difceis de avaliar, ficando esta enigmtica questo em aberto para uma outra oportunidade.

Bibliografia consultada:Barzilai, Gli Abraxas, Trieste 1873. Bellerman, A., Tres programas sobre las piedras abraxas, Madrid 1820. Dietrich, A., Abraxas, Berlin 1891. Enciclopedia Judaica, vol. 2, pg. 111 Fernandez Valbuena, Egipto y Asria resucitados, Madrid 1879. Kircher, P., Prodromus coptus sive aegyptiacus, Amsterdam 1672. Laurent-Delille, Les Superstitions des sectaires aux premirs sicles, Paris 1859. Rosenbach, E., Idolatra y Cabala, traduccin espaola, 1 ed. Berlin 1906. Trachtenberg, J., Jewish Magic and Superstition, New York 1939.

Resenha de LivroThe Consular History of the Picciotto Family 1784-1895Alain BigioSGJ/Br recebeu livro The Picciotto Alivro foi publicadooemdesetembroConsular History of thede Milo. Family 1784-1895 autoria do Sr. Emilio Picciotto O de 1998 em italiano e ingls. A cpia que escolhemos para o nosso acervo foi em ingls. A obra trata de uma famlia sefaradi que emigrou de Livorno (em ingles Leghorn) na Toscana para o Oriente Mdio. Graas sua fortuna, cultura e bom relacionamento com a comunidade local, diversos paises europeus solicitam seus servios consulares. Raffaele Picciotto torna-se assim cnsul honorrio temporrio do Imprio Austro Hngaro. Honorrio por no ser remunerado. Ele d incio a uma dinastia de consules que durar 111 anos, de 1784 at 1895. Neste perodo, um Picciotto sempre era consul de algum estado europeu e at mesmo dos Estados Unidos. Membros da famlia representaram os seguintes paises nesse periodo: os Imprios Austro Hngaro e Russo, os reinos da Blgica, Dinamarca, Etruria, da Gr Bretanha, Holanda, Persia, Prssia, da Sardenha, das duas Siclias, da Espanha, da Sucia e Noruega, do Gro Ducado de Toscana, da Repblica de Ragusa e dos Estados Unidos da Amrica. O ltimo Picciotto a ter posio diplomtica no Oriente Mdio foi Giuseppe de Picciotto de 1861 at 1895 como vice-consul da Sucia e Noruega. O livro comea com uma rvore genealgica dos consules seguido das posies consulares que cada membro ocupou. Cada captulo representa um pas e em cada subcaptulo a histria de cada elemento da famlia que serviu nesse consulado. O primeiro, Raffaele Picciotto, recebe a incumbncia, inicialmente temporria e em seguida confirmado no posto. Recebe o ttulo de Ritter Von Picciotto Cavaleiro de Picciotto e autorizado pelo imperador a colocar a partcula de em seu nome, e a ter um braso cujo facsmile ilustra o livro. Ricamente ilustrado com reprodues, o livro exibe diversos documentos que comprovam os fatos. H cpia do documento reconhecendo a cidadania toscana de Daniel e Ilel Picciottto datado de 2 de outubro de 1771. Outra preciosidade em latim seguida da traduo para o ingls da elevao de Raffaele Picciotto posio de Cavaleiro, incluindo a descrio do escudo e a autorizao de usar a partcula nobiliarquica de por ele e por seus descendentes legitimos, datado de novembro de 1806 e assinado por Francisco I. Segue contando as histrias de cada potncia e a biografia dos representantes de cada uma. Cada nomeao plenamente documentada. Diversos autores escreveram a respeito desta dinastia. Entretanto, o mrito do autor Emilio Picciotto a meticulosidade na pesquisa e na riqueza da documentao apresentada. Os documentos foram obtidos dos arquivos nacionais dos vrios estados mencionados. O Sr. Emilio Picciotto est de parabens pelo minucioso trabalho que fez. Ele no relatou um nico fato sem ter a documentao comprobatria. Isto torna o livro uma grande preciosidade para o pesquisador.GERAES / BRASIL, Maio 2000, vol. 9 15

Um livro com a cara do BrasilPaulo Valadares Entre A famlia Cunha Bueno pertence doaristocracia brasileira.lealdadeos seus ancestrais diretos encontra-se Amador Bueno da Ribeira (sc. XVII), que foi aclamado rei Brasil, mas que por Coroa recusou a honraria. Depois dele vieram grandes fazendeiros de caf, viscondes, donos de seguradoras e polticos. Um deles, Antonio Sylvio da Cunha Bueno, foi deputado federal e um dos fundadores da Cmara Brasil-Israel de Comrcio e Indstria em 1958 e seu presidente at falecer em 1969. O seu filho Antonio Henrique Bittencourt da Cunha Bueno, deputado federal e lder monarquista, manteve as ligaes do pai, participando de diversas instituies judaicas. Cunha Bueno, o filho, tambm genealogista de mo cheia, membro das mais importantes associaes que congregam estes pesquisadores, inclusive a Sociedade Genealgica Judaica do Brasil. Parceiro do arquiteto carioca Carlos Eduardo de Almeida Barata, dos mesmos Baratas do republicano Cipriano Barata, genealogista famoso, autor de quase uma centena de trabalhos sobre o tema, ele e Cunha Bueno uniram as suas anotaes e assim surgiu o Dicionrio das Famlias Brasileiras . So dois volumes, 2.500 pginas, mais de dezessete mil verbetes, quase dois mil livros consultados e registrados na sua bibliografia. Acompanha o livro um CD ROM com 1900 imagens de brases e retratos dos personagens, com um sistema de busca que facilita bastante a pesquisa. Pode-se pesquisar pela origem tnica ou nacionalidade, por ttulos e, claro, por sobrenome. O trabalho dos dois pesquisadores impressiona, pelo volume das informaes coletadas e a forma com que foram trabalhadas. O livro tem a forma de um dicionrio e est dividido em dois volumes. H um intrito onde os autores verbetizam alguns conceitos de genealogia, herldica, formando no seu conjunto o material necessrio para compor um curso rpido sobre o tema tratado. Depois os autores entram no tema realmente proposto: uma histria das famlias brasileiras. O primeiro volume, vai de Aanberg at Gonalves da Penha. O segundo volume, de Gonalves Pereira at Zweig ( ele mesmo, o Stefan). Em cada um destes verbetes os autores contam sumariamente a histria destas familias. interessante notar que este livro tem realmente a cara do Brasil. Pois no discrimina nem etnia, nem nacionalidade ou religio. A famlia que teve um registro escrito, num livro ou artigo, e foi encontrada pelos autores, est incluida no trabalho. Os verbetes trazem a linha indgena, a africanae crist-nova do sobrenome focalizado. Como se percebe o seu interesse para todos leitores. Para ns particularmente o interesse duplo. Primeiro ele no registrou apenas as famlias judias, mas tambm vrias linhagens de origem cristnova,gente que, convertida ao Catolicismo, teve que sofrer com a Inquisio. Quanto aos judeus o trabalho no completo, e a culpa no dos autores, pois h pouco material publicado sobre famlias judias brasileiras. Mesmo assim h uma quantidade razovel destas famlias registradas no livro. Algumas com a histria completa, outras apenas o seu registro. Como exemplo de verbetes completos s ler os relativos aos Feffer, Perlman e aos Peres, dentre outros. Quanto aos cristos-novos, os autores registram uma quantidade maior deles. Pois neste caso as fontes so mais acessveis e em maior nmero. So 301 sobrenomes que vo do simples Abreu ao incomum Zuzarte. Neste intervalo entre um e outro encontramos a tragdia vivida por estes personagens. A guisa de exemplo, tomei ao acaso, o referente a famlia Chacn: No Brasil holands, h registro de Manuel Gomes Chacn, mercador, que converteu-se ao judasmo. Sendo circuncisado por Yschac Abuab da Fonseca, em 1643, assumiu o nome de Isaac Habib. Em 1644, voltou ao catolicismo. Foi16 GERAES / BRASIL, Maio 2000, vol. 9

preso em 1647 e enviado para Lisboa, condenado no auto-de-f de 1647, a crcere e hbito a arbtrio. Tinha irmos que tambm se tornaram judeus. Deixou gerao do seu casam., em 1633, com Maria Soares de Leo, tendo dois filhos que continuaram catlicos e abandonaram o pai (p. 724). claro que um trabalho deste tamanho tenha os seus defeitos (poucos). Alguns verbetes aparecem em duplicata (Koelireutter e Koellreutter, Macalo e Malaco), e algumas identificaes de famlias judaicas no esto corretas, como a que diz que Feder sefardita. No CD-ROM identificamos outro problema: as palavras selecionadas em hipertexto no so as mais necessrias para consulta. Porm nenhum destes defeitos diminui a obra. Eles so a mnima parte da cota de erros de quem se prope a um trabalho desta magnitude. Os autores prometem mais alguns volumes para breve. Assim, para as famlias que tenham ficado de fora nos dois primeiros volumes, fica a sugesto de enviar a sua rvore genealgica para os autores nos seguintes endereos: Dicionrio das Famlias Brasileiras. Caixa Postal n. 3000, 01060-970, So Paulo (SP), ou no fax (0xx11) 289-4074, ou para [email protected]. Nossos cumprimentos aos autores por este magnfico trabalho, e fazemos nossas as palavras de Lus Fernando Verssimo: pense neste dicionrio como uma floresta genealgica, amaznica no seu tamanho e diversidade, mas com todas as rvores devidamente identificadas e descritas como num jardim botnico. Uma excurso no seu interior pode ser uma educao e pode ser uma aventura. Ser sempre um prazer.

A Sociedade Genealogica Judaica do Brasil dispe de alguns exemplares do Dicionario das Famlias Brasileiras para venda aos scios e a instituies. O preo especial, R$200,00 (duzentos reais), incluido o CD-ROM e a remessa postal. Os interessados devem entrar em contato conosco atraves da Caixa Postal 1025, CEP 13001-970, Campinas ou pelo e.mail [email protected] A Medalha do Pacificador concedida pelo Exrcito Brasileiro a personalidades que se destacam na construo de uma relao fraterna entre os cidados e a tropa. A condecorao lembra Lus Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias (1803-1880), o soldado mais bem sucedido de nossa histria. Ela o braso pessoal deste cabo de guerra, preso numa fita vermelha e azul. O escudo de Caxias, partido de dois traos cortado de um, homenageia os seus costados mais importantes: 1) Silva, de prata com leo de prpura armado de azul; 2) Fonseca, de ouro com cinco estrelas de vermelho, postas em sautor; 3) Lima, de ouro com quatro palas de vermelho; 4) Brando, de azul com cinco brandes de ouro, acesos de vermelho, postos em sautor; 5) Sorumenha, de vermelho com uma rvore de verde ladeada, direita de uma crescente de ouro e esquerda de uma flor de ls do mesmo; e 6) Silveira, de prata, com trs faixas de vermelho. Curioso notar que a sua representao dos Fonsecas, cinco estrelas sanguinhas em campo de ouro a mesma dos Fonsecas alagoanos, chamados os sete Macabeus e do rabino Yitschac Abuhab da Fonseca, haham em Pernambuco no sc. XVII.

Foi assinado no gabinete ministerial do Palcio do Itamaraty, em 1 de setembro, acordo diplomtico que isenta de visto os israelenses que queiram visitar o Brasil. O ato foi firmado pelo Ministro Luiz Felipe Lampria e pelo Embaixador Yaakov Keinan. O deputado Cunha Bueno, presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Israel, nosso conscio, foi quem deu esta sugesto, com intuito de fortalecer o intercmbio comercial e scio-cultural entre o Brasil e Israel. Sob o patrocnio do Grupo Parlamentar Brasil-Israel, foi lanado no Salo Nobre da Cmara dos Deputados o livro de Faingold: D. Pedro II na Terra Santa. Dirio de Viagem 1876. Parabns ao deputado Cunha Bueno pelo excelente trabalho ! A Casa de Cultura de Israel e o SESC S. Paulo promoveram entre 12 de agosto a 07 de setembro a exposio Luzes do Imprio. D. Pedro II e o Mundo Judaico com sucesso. A sua inaugurao contou com a presena do Ministro Francisco Weffort, do Sr. Abram Szajman e de outras autoridades. O seu tema so as relaes afetivas do Imperador brasileiro com os judeus. Ele falava, lia e escrevia em hebraico. Visitou sinagogas na Europa e nos EUA. Peregrinou na Terra Santa em 1876. Trazendo material indito e algumas revelaes, a exposio foi complementada por quatro palestras; Paulo Valadares (a genealogia do Imperador), Reuven Faingold (A viagem a Terra Santa), Maria Luiza Tucci Carneiro (D. Pedro II e os judeus) e Lilia Moritz Schwarcz (a construo da figura do Imperador). Parabns ao Prof. Reuven Faingold, curador da exposio, pela reunio de to expressivo material, e ao arquiteto Roberto Loeb, pelo belssimo projeto museolgico! Lanamentos. O livro Hermes. Meu Pai (1998, 128 pginas), de Ivo Leonel Paciornik, a biografia do mdico e professor paranaense Hermes ( Hershl ) Paciornik (Lutzk, 14-08-1918). Os Pacionirnik chegaram ao Brasil em 1933. Foram os ltimos deste nome na Polnia. Por razes polticas e de discriminao, o Hermes assim como todos os judeus vindos da Polnia no transmitiram aos seus prprios filhos a cultura polonesa. Ns, nascidos no Brasil, no aprendemos uma nica palavra em polons; no conhecemos uma nica festa tradicional polonesa, uma nica caracterstica do pas, a no ser o anti-semitismo. No almoo caseiro do dia a dia, as discusses e as conversas podiam girar sobre o mais variados temas, mas por um acaso, o assunto Polnia nunca foi ventilado. Os judeus-poloneses aqui chegados no eram poloneses. Eram judeus. A nacionalidade geogrfica simplesmente deixou de existir. Na verdade, ela nunca existiu; a no ser por alguns documentos formais, antigos e desbotados. Meu pai nunca foi polons. Os valores culturais judaicos permaneceram e sero repassados para todo sempre, independente da religiosidade propriamente dita. (pp. 107/8). H um apndice, com uma frondosa rvore genealgica de sete geraes, cujo tronco Hersch Paciornik, av do mencionado mdico, que esparrama-se entre o Parana e So Paulo. Lanamentos. Mecenato Pombalino e Poesia Neoclssica (Fapesp/Edusp, 620 pginas) um trabalho de Ivan Prado Teixeira que reconstitue as relaes do estadista Sebastio Jos de Carvalho e Melo, o Marqus de Pombal, com jovens literatos da provncia brasileira, notadamente o mulato Baslio da Gama, autor de O Uraguay e seu secretrio pessoal. um trabalho de profunda erudio, onde o autor aborda um novo ngulo da administrao pombalina, o uso de escritores brasileiros para a construo de uma imagem positiva do seu governo. O Dr. Teixeira esteve na tarde de um domingo na SGJ/Br. falando sobre o tema (23-05-1999). A sua exposio serena e erudita agradou ao seleto grupo que foi ouvi-lo. O coleciona-

dor Marcos Chusyd, possuidor de uma importante coleo de Judaica, trouxe alguns documentos originais da poca, inclusive a publicao da lei que terminava com a separao jurdica entre cristos-novos e velhos em Portugal (1773).

Alguns Locais de Pesquisas... Arquivos para consultas em S. Paulo : O Estado de S. Paulo, av. Eng. Caetano lvares, 55, Bairro do Limo, tel. 8562186 (com hora marcada) * Arquivo do Instituto Histrico e Geogrfico de S. Paulo, rua Benjamin Constant, 158, 3 andar, S, tel. 328064 * Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, av. Prof. Mello Morais, 1235, bloco D, sala 204, Cidade Universitria, tel. 8153106 * Arquivo Histrico Judaico Brasileiro, rua Prates, 790 * Arquivo Histrico Municipal Washington Lus, rua Roberto Simonsen, 136. S Tel.: 341463* Arquivo Metropolitano D. Duarte Leopoldo Silva, av. Nazar, 993. Ipiranga. Tel.: 2723726* Arquivo Multimeios do Centro Cultural S. Paulo, rua da Figueira, 77, Casa das Retortas, Brs * Fundao Sistema Estadual de Anlises de Dados (SEADE), av. Csper Lbero, 464, tel.: 2292433

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GERAES / BRASIL, Maio 2000, vol. 9 17

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