jornaleco - 9ª edição / dezembro de 2009

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Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra 9ª edição - dezembro/2009 Um ano depois dos contêineres: o que mudou em Santa Maria? Espaço urbano agora é mais disputado Vandalismo se tornou corriqueiro Rotina dos catadores foi alterada A implantação do novo sistema de coleta de lixo em Santa Maria completa um ano. Neste período, mudou a paisagem do centro da cidade com a retirada das lixeiras tradicionais e a instalação de contêineres verdes. Verdes na cor. A falta de compartimentos separados para a coleta do lixo considerado “limpo” gerou uma série de debates e reações na comunidade. Alterou a maneira dos catadores fazerem seu trabalho. Deixou quem já separava o lixo sem alternativas. Até que, finalmente, neste final de 2009, começam a ser instalados os ecopontos, lixeiras adaptadas para coleta do lixo seletivo. A ocupação do espaço urbano pelos contêi- neres diminuiu as vagas para os carros no centro da cidade. Depredação dos contêineres prejudica o bom funcionamento do sistema de coleta do lixo e expõe a falta de consciência ambiental. Catadores disputam o lixo reciclável e o espaço no complicado mapa das ruas do centro de Santa Maria. Página 6 Página 7 Páginas 10 e 11 CAMILLA GUTERRES NÍCHOLAS FONSECA TIAGO SACKIS TIAGO SACKIS Novo sistema utiliza caminhões para coleta automatizada do lixo

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Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra

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Page 1: JornalEco - 9ª edição / dezembro de 2009

Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra 9ª edição - dezembro/2009

Um ano depois dos contêineres: o que mudou em Santa Maria?

Espaço urbano agora é mais disputado

Vandalismo setornou corriqueiro

Rotina dos catadores foi alterada

A implantação do novo sistema de coleta de lixo em Santa Maria completa um ano. Neste período, mudou a paisagem do centro da cidade com a retirada das lixeiras tradicionais e a instalação de contêineres verdes. Verdes na cor. A falta de compartimentos separados para a coleta do lixo considerado “limpo” gerou uma série de debates e reações na comunidade. Alterou a maneira dos catadores fazerem seu trabalho. Deixou quem já separava o lixo sem alternativas. Até que, finalmente, neste final de 2009, começam a ser instalados os ecopontos, lixeiras adaptadas para coleta do lixo seletivo.

A ocupação do espaço urbano pelos contêi-neres diminuiu as vagas para os carros no centro da cidade.

Depredação dos contêineres prejudica o bom funcionamento do sistema de coleta do lixo e expõe a falta de consciência ambiental.

Catadores disputam o lixo reciclável e o espaço no complicado mapa das ruas do centro de Santa Maria.

Página 6 Página 7 Páginas 10 e 11

CAMILLA GUTERRES

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Novo sistema utiliza caminhões para coleta automatizada do lixo

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Aproximadamente um ano após a substituição das tradicionais lixeiras pelos contêineres, fomos às ruas para saber o que a população santa-mariense pensa sobre o novo modo de recolhimento de lixo.

Por Joseana Stringini e Patric Chagas

Têm mais aspectos bons por-que tirou aquele lixo que tava lá do outro lado da rua, que ficava aquele montão de saco lá na frente, nas frentes das ca-sas, muito lixo no chão. Agora tem um local pra largar. Fica fechado, fica armazenado. Por

um lado foi muito bom. O que tem que melhorar é a qualidade de recolhimento, de manuseio com os próprios contêineres e um local apropriado para lar-gar os contêineres. O horário de recolhimento pela noite também faz com que alguns moradores recla-mem do barulho. A sujeira que fica em volta, o acú-mulo que, às vezes, demora para ser retirado. E o ca-minhão que já andou arrancando placa dos taxistas, batendo na área do prédio. Tem bastante coisa, até o manuseio do pessoal que estão trabalhando com isso aí e que não tem o cuidado de fazer o trabalho.

Gilberto Vargas Pereira38 anos, zelador

Já que eles fizeram isso, eles podiam começar fazendo a coleta seletiva, porque têm os catadores, que entram den-tro dos contêineres, catando o lixo reciclável. Atrapalha na calçada e fica tudo uma sujei-ra. Têm lugares que o espaço

na calçada já é pequeno pra passar e juntam mais os catadores em volta. Tem que dar a volta, não tem como passar, só pela rua. Sem contar que fica tudo uma sujeira em volta.

Carolina Tusi21 anos, estudante

Eu acho que não melhorou nada esse sistema dos contêi-neres. Não melhorou nada pra nós. Só piorou. Ficou bem pior, porque não tem espaço pras pessoas passarem nas cal-çadas. Eu acho que não melho-rou nada. E o cheiro é horrível.

As pessoas têm que passar pela rua porque não tem espaço nas calçadas e o cheiro é insuportável.

Ezilma Pedrollo38 anos, gerente de loja

Eles dizem que a banca da gente, o camelódromo, ocupa o espaço público, mas o con-têiner também ocupa o espaço público, e ainda tem o mau cheiro. O que mais atrapalha é o mau cheiro. Até que hoje em dia eles coletam todos os

dias, mas o mau cheiro fica quando abre. O cheiro fica no meio da população. Se abre ele, o cheiro já vem. E atrapalha muito o espaço para a passagem das pessoas. Fica pequeno e geralmente um tem que esperar pro outro passar. O espaço ficou muito curto, que dificulta muito.

Flávio Oliveira da Cruz39 anos, ambulante

O contêiner eu acho ótimo, só que têm muitos catadores que não ajudam a conservar a limpeza da cidade, derramam os lixos, uns pagam pelos ou-tros. E dificulta o trabalho dos catadores. Pra mim é difícil, mas eu acho ótimo porque

conserva a limpeza da cidade. Olinda Maria Gomes

47 anos, recicladora

Eu acho que aqui no centro é benéfico, mas tem um pro-blema. O problema do vanda-lismo, que estorva bastante. É melhor do que as lixeiras, porque ficavam muito mais ex-postas à sujeira nas ruas, esse tipo de coisa. Pra recolher a

quantidade de lixo aqui do centro é benéfico, ficou mais fácil.

Adão Juremir Giacomelli58 anos, taxista

O problema maior dos contêineres é o vandalismo. As pessoas não têm respeito, eles amassam. Colocam fogo, amassam, chutam e tem uns até que dormem dentro. Acho que o vandalismo só aumentou com a chegada dos contêine-

res. Mas em relação à limpeza eles contribuíram muito pra cidade ficar mais limpa.

Dorilda Woltmann55 anos, técnica de enfermagem e vendedora

Eu acho bom, mas eu acho que os caminhões são poucos, tinha que ser mais quantidade. E o povo de Santa Maria tinha que ser um pouquinho mais educado. Eles preferem, às ve-zes, largar do lado do contêi-ner e não largam dentro. Tem

tanta gente desempregada na cidade que o prefeito poderia empregar toda essa gente para fazer a lim-peza das ruas. E eu acho que o prefeito, ele tinha que fazer uma propaganda, ele pessoalmente, por exemplo, ir num programa de rádio, num horário de audiência e pedir pro povo ser mais educado.

Marcelo Oliveira24 anos, gari

Eu acho que não mudou para melhor, o pessoal come-ça a pegar o lixo reciclável e o resto fica tudo espalhado no caminho. Se tivessem coloca-do uns contêineres de lixo seco e outros de orgânico, eu acho que daria resultado. Mas mis-

turou tudo. Ficou pior ainda, mais suja a cidade.Rosangela Niederauer

50 anos, técnica em enfermagem

Como você avalia a implantação dos

contêineres em Santa Maria?

EDITORIAL

Em 2008, o resultado da licitação feita pela Prefeitura Municipal decidiu qual empresa seria responsável pelo recolhimento e destino das cerca de 180 toneladas de lixo produzidos por dia em Santa Maria. A PRT Prestação de Serviços Ltda adotou, então, o sistema de recolhimento de lixo por meio de contêineres. Em um primeiro momento, as caixas contêineres foram colocadas na região central, responsável por cerca de 30% do lixo da cidade.

No centro de Santa Maria há uma concentração de prédios residenciais, restaurantes e lojas que produzem grande quantidade de lixo. A demanda é tanta que, na maioria das vezes, os contêineres não dão conta. Mesmos com eles cheios, os resíduos continuam sendo depositados nas calçadas ou ao lado dos recipientes de coleta. Cachorros procuram restos para comer e as próprias pessoas que recolhem o material reciclável espalham a sujeira em via pública, o que agrava ainda mais a situação nas ruas da cidade.

Passado praticamente um ano da implantação da coleta conteinirizada na cidade, a população ainda tem muitas dúvidas e questionamentos. Os principais deles: por que não foi implantada em toda a cidade a coleta seletiva nos contêineres, já que a separação do lixo reciclável é uma das premissas básicas de uma cidade limpa, civilizada e ambientalmente responsável? Por que em uma cidade com tantos catadores, o sistema que veio para gerenciar o lixo apresenta tantas dificuldades para esta categoria de trabalhadores?

O JornalEco foi às ruas saber a opinião das pessoas sobre a implantação dos contêineres. Registrou atos de vandalismo. E atos de sobrevivência, na rotina sofrida dos catadores. Flagrou excesso de lixo sem recolhimento. Pesquisou alternativas e exemplos de reciclagem. Conversou com as autoridades. E acompanhou o funcionamento dos caminhões de coleta. O resultado deste trabalho você confere nesta edição.

A chegada dos ecopontos de coleta seletiva coincidentemente ao fechamento desta edição prova que o assunto é dinâmico e pauta as discussões ambientais da comunidade.

Expediente JornalEco – 9ª edição Jornal experimental desenvolvido na disciplina de

Jornalismo Especializado I do curso de Comunicação Social - Jornalismo do Centro Universitário FranciscanoReitora: Irani RupoloDiretora da área de Ciências Sociais: Sibila RochaCoordenadora do Jornalismo: Rosana ZucoloProfessora orientadora: Aurea Evelise Fonseca - MTb 5048Reportagens e textos: Ana Laura Barbat, Bernardo Bortolotto, Carine Horstmann, Carolina Moro da Silva, Cláudia Monique Abade, Igor Müller, Jamile Peres, Joseana Stringini, Jucineide Ferreira, Juliana Bolzan, Laís Bozzetto, Liciane Brun, Marcelo Figueiredo, Micheli de Barros, Natália Poll, Osvaldo Maia, Patric Chagas, Rafael de Góes, Raul Pujol, Renata Ceratti, Rita Barchet, Tiago Sackis e Vanessa Roepke. Colaborou: Liciane Brun.Diagramação: Prof. Iuri Lammel e Leandro PassosFotos: Augusto Coelho, Camilla Guterres, Diego Fontanella, Evandro Sturm, Gabriela Perufo e Maiara Bersch (Laboratório de Fotografia e Memória, sob orientação da profª. Laura Fabrício), Dandara Flores, Nícholas Fonseca e Thays Ceretta (acadêmicos de Jornalismo/colaboradores), Cláudia Monique Abade, Jucineide Ferreira, Juliana Bolzan, Laís Bozzetto, Patric Chagas, Renata Ceratti, Tiago Sackis e Vanessa Roepke.Impressão: Gráfica Gazeta do SulTiragem: 1.000 exemplaresDistribuição gratuitaNovembro / 2009

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Os contêineres trouxeram mudanças boas e ruins para a cidade. Antes deles, cada pré-dio, casa e restaurante tinha a sua própria lixeira junto à rua. Hoje existe apenas um contêi-ner para cada quadra.

Para alguns, isso foi muito significativo, como é o caso de João Ricardo Vargas, dono do restaurante Chicken–in, na rua Venâncio Aires. “Eu prefiro as-sim porque como a gente tem restaurante, antes ficava o mau cheiro dos lixos espalhados. Ainda existe um pouco de su-jeira, quando os papeleiros vêm tirar o lixo e espalham ele pelo chão. Mas fora isso está me-lhor assim”, comenta Vargas, que ainda acrescenta: “para não acumular o lixo aqui dentro do nosso restaurante, ele é retirado pelo menos três vezes no dia”.

Para outras pessoas, essa mudança se tornou um “peso” em suas vidas, como Lurdes Batista, que deixa acumular o máximo de lixo dentro de casa, causando desconforto e mau cheiro, “mas fazer o quê, até a lixeira eu preciso cami-nhar uma quadra inteira, não vale a pena ir até lá levar ape-nas um saco de lixo”, comen-ta a dona de casa, que também reclama do excesso de lixo nos contêineres.

Anderson Costa Braz, mo-rador e zelador do edifício Es-panha, também localizado na Venâncio Aires, conta como é feita a coleta e como é re-tirado o lixo. “Uma vez por dia eu junto os lixos e separo seco de orgânico, porque vem uma catadora aqui, três vezes por semana, levar o lixo seco. Não fica muito acúmulo, pois existe uma lixeira para cada corredor, onde os moradores depositam o seu lixo ali, e depois eu só pego da lixeira e levo para as lixeiras que ficam na garagem”, explica Braz.

O maior problema de Ander-son Braz é a distância entre os contêineres e o prédio: “ficou horrível assim, a distância está um horror, e ainda é complicado porque como saio daqui com o lixo de todos os apartamentos, tenho medo de ser atropelado, porque tenho que sair com o carrinho cheio e atravessar a rua. Por isso saio bem cedo da tarde, antes de ter começado o movimento”, comenta.

O açougueiro José Garcia não tem problemas quanto ao lixo, pois o contêiner está em frente ao seu açougue. Ele con-ta que as pessoas chegam até o contêiner com muitas sacolas, muito lixo.

São mudanças necessárias para o crescimento da cida-de, mas se utilizadas da forma correta. Os contêineres foram colocados para que a cidade pudesse ficar mais limpa, mas a realidade é outra. E o princi-pal seria fazer com que todos colaborassem e entendessem a importância de ter uma cidade limpa. É vantagem para todos colocar o lixo no devido lugar.

Juliana Bolzan e Marcelo Figueiredo

O zelador faz a seleção do lixo na garagem do edifício e guarda o que é reciclável para a catadora

fotos Juliana Bolzan

Maratona do lixo

Novos hábitos com o lixo

anderson na frente do prédio mostrando a distância dos contêineres: na foto à esquerda, em direção mais ao centro, os contêineres ficam quase na esquina com a floriano Peixoto. na foto à direita, em direção centro-bairro, descendo a Venâncio, os contêneires ficam depois da esquina com a Serafim Valandro.

Para o pessoal do restaurante, a distância dos contêineres é positiva

por ficar longe do mau cheiro

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CoMportaMeNto

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“As mais de cem toneladas de lixo produzidas por dia, em San-ta Maria, não ficarão mais es-palhadas pelo centro da cidade. Cenas de lixeiras abarrotadas e sujeira pelas ruas e calçadas estão com os dias contados”. Trecho encontrado no site da Prefeitura Municipal de Santa Maria sobre o contrato da nova coleta de lixo, o contêiner.

Faz quase dois anos que as lixeiras e a coleta comum dos resíduos domésticos foram de-sativadas em alguns pontos da cidade, depois que a Prefeitura firmou o contrato com a PRT Prestação de Serviço Ltda, em-presa que ganhou a licitação para fazer o recolhimento do lixo. Foi implantado um novo processo, a coleta conteiniriza-da, em que a principal vanta-gem apontada pela empresa é a possibilidade dos moradores escolherem o horário e o dia mais apropriados para retirar os resíduos de suas residências.

Conforme estipulado no contrato, mais de 300 equipa-mentos de con-têineres foram instalados nas ruas e bairros do centro da ci-dade, ocupando o equivalente a uma vaga de carro, junto à calçada. Estes contêineres de-veriam estar equipados com sensores para avisar o cami-nhão de coleta quando 80% da capacidade fosse atingida. Mas, segundo um funcionário da em-presa, não identificado aqui, os contêineres não possuem esses sensores: “A gente só vê que ele está cheio quando tem lixo para fora”, explica.

População ainda insatisfeita com a coleta de contêiner

Alguns problemas em torno do lixo depositado e o próprio contêiner são motivo de recla-mação da população atingida pelo novo sistema. Melhorias para uns, insatisfação para ou-tros sobre o serviço implantado. Junção de catadores para sepa-rar o lixo reciclável, detritos espalhados nas calçadas pelo acúmulo ou excesso de lixo no contêiner, são ocorrências mais

notificadas por quem mora ou tem um estabelecimento co-mercial por perto.

Em frente à loja da empre-sária Patrícia Martins, proprie-tária de um estabelecimento comercial na rua Doutor Boza-no, há um contêiner. Ela acre-dita que a situação do lixo no local melhorou um pouco por-que ele fica fechado, porém ela convive com a sujeira deixada pelos catadores quando catam os recicláveis. Restos jogados no chão e excesso de lixo em volta dos recipientes é uma das principais reclamações. “Este da frente fica constantemente cheio, creio eu que no final de semana ele lota e sempre tem lixo no chão, pois os catadores tiram tudo de dentro, reviram e deixam no chão e vão embora”, diz Patrícia. A empresária tam-bém relata que quando o cami-nhão faz o recolhimento, ele simplesmente leva o que está dentro do contêiner: “Se tem lixo no chão fica, até porque tá sempre sujo aqui na frente”, en-

cerra ela.Na coleta de

contêiner não há seleção do lixo reciclável do orgânico. Ao serem deposi-tados, eles se misturam, por não haver uma coleta seletiva e uma cons-cientização da

população que utiliza esse tipo recolhimento. Os lixos de pada-rias, restaurantes, entulhos, que vão desde móveis a material de construção, são colocados den-tro do recipiente, o que causa o transbordamento para fora dos contêineres, além de problemas técnicos no caminhão de coleta.

“Esses dias tinha até carne e os indiozinhos estavam pegan-do, inclusive saiu na tv”, relata a atendente Andressa Olecos, sobre a situação que presenciou em frente ao seu trabalho. O cheiro ruim de dentro dos reci-pientes, lixo espalhado na cal-çada pelos catadores e o exces-so que se aglomera em torno dos contêineres, são problemas que, segundo ela, ocorrem por receberem grande quantidade de lixo. “Hoje, por acaso, eles estão vazios, porque sempre estão transbordando. Inclusive

A coleta de lixo pelo sistema de caminhões e contêineres é totalmente mecanizada (foto acima). Transbordamentos de lixo em alguns locais são problemas encontrados diariamente na cidade (abaixo, à esquerda). Catadores dentro

dos contêineres vasculham o lixo e colocam material para fora, nas calçadas (abaixo, à direita).

CAMILLA GUTERRES

Grandes mudanças e poucas melhoras na coleta de lixo

Da lixeira para a coleta automatizada

Contêineres deveriam

estar equipados

com sensores

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GERENCIAMENTO

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esses dias, veio um funcioná-rio da Prefeitura e recolheu um pouco do que tinha na calçada, porque as pessoas não conse-guiam caminhar,” comenta ela sobre o ponto de lixo na esqui-na da Doutor Bozano com a Floriano Peixoto.

Otimista com a nova coleta de contêiner, o taxista Antonio Luis Gabrieli, que trabalha em um ponto de táxi na rua Al-berto Pasqualini, acredita que eles vieram para ajudar em certo ponto a situação do lixo na cidade e dá dicas para solu-cionar problemas com a nova coleta. “Conscientização do povo em rela-ção à nova coleta e maior número de contêiner em determinados lu-gares, pois os que têm atual-mente não são suficientes. Pode melhorar o serviço”. A opinião de quem convive diariamente com o caos em torno dos con-têineres instalados perto do ponto de táxi em que trabalha, mostra a verdadeira situação do lixo naquele local. “Acontece que são poucos os contêineres. Por exemplo, esses dois daqui da rua atendem praticamente todos os prédios que têm aqui. Em questão de uma hora eles estão lotados”. Conforme Ga-brieli, o caminhão que coleta o lixo do local passa uma vez por dia, durante a noite.

Prefeitura pede que PRT cumpra com mais

rigor o contrato

A qualidade do serviço pres-tado à população pela PRT foi

questionada pela Prefeitura, que pediu uma reformulação no contrato. No início de agos-to foram feitos alguns ajustes de cláusulas que não estavam sendo cumpridas pela empre-sa, como a coleta seletiva com pontos específicos e a implan-tação dos contêineres. A limpe-za dos contêineres pelo menos uma vez por semana, que não está sendo feita, foi outro item. O que não foi implantado no

primeiro ano, a empresa tem alguns meses para se adaptar às reivindica-ções da Prefei-tura em relação ao acordo. É o que o engenhei-ro florestal da Prefeitura, Luis Geraldo Cervi, assinalou na pa-

lestra Geração e destinação de resíduos sólidos em Santa Ma-ria, realizada na Unifra.“Em relação ao contrato Prefeitura e PRT, tem como reformular por-que todos esses problemas serão estudados afim de resolvê-los”, diz ele. O contrato tem vigência de cinco anos e pode ser reno-vado a cada ano de acordo com as necessidades. Caso a empre-sa não cumprir todos os itens, ele pode ser rescindido.

Chuva, cultura da população e catadores: alguns dos problemas da empresa

A empresa PRT tem três ca-minhões: um de coleta; outro de reserva, caso tiver um pro-blema mecânico; e o exclusivo para a lavagem dos recipientes. O recolhimento do lixo dos contêineres tem um esquema.

De segunda a sábado, em seto-res alternados ou dependendo da demanda, a partir das 16h começa a coleta nos lugares mais afastados do centro. A partir da meia-noite, o serviço é efetuado no centro, para não interromper o trânsito. A cada quinze dias todos os contêine-res são lavados, garante a em-presa. Segundo o engenheiro ambiental da PRT, Leonardo Da Cas, “enquanto um é esva-ziado, o outro caminhão vem atrás, lava ali mesmo e devolve o contêiner à via”.

Com reclamações da popula-ção sobre o serviço, a PRT fez um estudo sobre os problemas gerados em torno da coleta de contêiner. A chuva, a cultura da população e catadores são os motivos apontados pela empre-sa como responsáveis pelos pro-blemas na área em que o serviço é realizado. Segundo Da Cas, os contêineres que são destinados ao depósito de lixo doméstico vi-raram lugar de colocar entulho. Restos de poda de árvores, mó-veis e materiais de construção, como tijolo e telha são descar-tados junto com o lixo domés-tico. “As pessoas colocam tudo isso e muito mais no contêiner, junto com o lixo, e logo ele vai encher e transbordar. Com isso, o caminhão equipado com um sensor não consegue levantar, por causa do peso”, diz o enge-nheiro, sobre uma das causas do transbordamento dos recipien-tes. Ele ressalta que com o con-têiner lotado, o caminhão deixa de fazer a coleta e a Prefeitura é acionada para tirar o lixo, no-tificar e multar as pessoas que depositaram entulho.

Depois da chuva vem o sol e logo os problemas em relação ao recolhimento do lixo apare-

cem. Segundo Da Cas, o estudo feito pela empresa mostra que em dias de chuva o acúmulo de lixo diminui nas ruas e a quanti-dade cai pela metade, porque as pessoas deixam de colocar seus lixos nos contêineres. “Abriu o sol e o pessoal vai e coloca todo o lixo acumulado nos dias em que choveu, causando o excesso de resíduos nos contê-ineres”, diz o engenheiro sobre outra possível causa de trans-bordamento.

Uma das questões citadas pelo engenheiro é o nível cul-tural das pessoas que utilizam o serviço. “Em vez de colo-carem o lixo dentro do con-têiner, porque tem lugar, eles colocam no lado de fora ou na calçada”, comenta.

A cultura das pessoas que usam a coleta também foi apon-

tada pelo estudo. O lixo espa-lhado em volta dos contêineres tem, como uma das causas, os catadores. É o que informa o estudo realizado pela PRT, e também um dos mais citados pelos usuários entrevistados pelos repórteres do JornalEco. Segundo o engenheiro ambien-tal da empresa, Leonardo Da Cas, na hora de retirar o mate-rial coletado, os catadores revi-ram o lixo, que acaba espalha-do ao redor dos contêineres e pela calçada: “Muitas vezes os contêineres estão pela metade, e os catadores ao recolherem o material reciclável, colocam o lixo para fora e deixam no chão, gerando transtornos, para nós, a Prefeitura e usuários”.

Ana Laura Barbat eJucineide Ferreira

População insatisfeita

“Catadores tiram tudo de dentro dos

contêineres, reviram, deixam no chão e vão embora”.

Patrícia Martins

“Conscientização do povo e maior númerode contêineres em alguns lugares, melhoraria o serviço”.

Luis Gabrieli

“Depois da chuva vem o sol e logo os problemas em relação ao recolhimento do lixo aparecem”.

Leonardo Da Cas

“Esses contêineres da frente aqui têm cheiro

ruim que vem de dentro e, geralmente,

na calçadas tem lixos espalhados.”

Andressa Olecos

Contêineres deveriam ser limpos

uma vez por semana

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Esses dois contêineres estavam vazios, mas já tinha lixo no lado de fora

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GERENCIAMENTO

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O novo sistema de coleta de lixo em Santa Maria, no qual as lixeiras convencionais fo-ram substituídas pelos contêi-neres, trouxe mudanças para o trânsito de veículos e pessoas. Frequentemente os transeuntes se deparam com os contêineres em meio às calçadas e preci-sam contorná-los usando a rua ou o pequeno espaço que res-ta na calçada. “É só dar uma desviada que está resolvido, mas algumas vezes o pessoal se aperta para passar”, afirma o militar Madson Goulart, 24 anos. O estudante Anísio Tron-co Filho, 21 anos, lembra que é complicado quando as lixeiras estão cheias e as pessoas atiram o lixo na rua.

No caso dos motoristas, o problema reside nas vagas de estacionamento que são ocu-padas pelos 400 contêineres espalhados pelo centro da cida-de. Segundo Madson, as novas lixeiras funcionam como carros estacionados e muitas vezes mal estacionados. Também re-clama dos caminhões que, por seu tamanho e lentidão na hora da coleta, causam um acúmulo de veículos nas ruas menores. O engenheiro ambiental da PRT, Leonardo Da Cas Lasta, 27 anos, lembra que a decisão de esvaziar os contêineres no centro a partir da meia-noite é exclusivamente para evitar en-garrafamentos. Já na região me-nos central, na qual o fluxo de carros é menor, a coleta é efetu-ada a partir das 16h, informa.

Leonardo expli-ca que não houve planejamento ur-bano da Prefeitu-ra para analisar o posicionamento e espaço que as no-vas lixeiras ocupa-riam. No entanto, a empresa chilena THEMAC (Tec-nologia e Equipa-mento para o Meio Ambiente) foi contratada para fazer um estudo populacional que con-sistia na análise da quantidade de lixo produzida por habitante e os locais mais habitados. “O estudo mostra que há uma mé-dia de 600g diários de lixo pro-duzido por pessoa na cidade”, diz Leonardo.

O secretário de Controle e Mobilidade Urbana, Sérgio Medeiros, informa que segui-damente recebe reclamações sobre o posicionamento dos

contêineres e as repassa para a Secretaria de Proteção Ambien-tal, para tomar uma solução cabível. “A PRT não mexe na disposição dos contêineres sem um ofício da Prefeitura autori-zando a mudança”, explica o engenheiro ambiental Leonar-do Lasta. Entretanto, algumas vezes, as modificações no posi-cionamento dos contêineres são

feitas pelos pró-prios moradores. A funcionária da em-presa Fan, Camila Pascotini, 22 anos, conta que a lixeira que agora está em frente ao seu local de trabalho já foi empurrada várias vezes pelos donos dos estabeleci-

mentos locais. Agora chegaram a um consenso para o lugar da lixeira: entre a empresa de via-gens e o restaurante Távola, na rua Duque de Caxias.

Como a implantação do pro-jeto é recente, a população está em processo de adaptação a esse sistema, a princípio implantado somente no centro da cidade. Nos bairros, a coleta ainda é feita de modo convencional.

Carine Horstmann e Tiago Sackis

Não é proibido estacionar no local, mas é praticamente impossível. O pequeno veículo acaba atraplhando a entrada e saída de automóveis da garagem

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A disputa entre contêineres, carros e pedestres

“Às vezes o pessoal se aperta

para passar”

Na esquerda, pedestres são forçados a desviar usando a rua. Na direita, motoristas disputam espaço com os contêineres

Até faixa de segurança foi ocupada por contêiner, como é o caso desta, quase na esquina da Andradas e Floriano

espAço

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Caos no lixo

Com a instalação de 400 contêineres de coleta de lixo em Santa Maria, surgiu um novo problema na cidade: a de-gradação dos mesmos. Os atos de vandalismo tomam propor-ções não imaginadas nem pelos responsáveis pela coleta de lixo na cidade, a empresa PRT Pres-tação de Serviços Ltda.

Segundo Leonardo Lasta, engenheiro ambiental da PRT, a empresa estava preparada para o vandalismo, mas não em ta-manha escala. Ele fala que os vândalos, na sua grande maio-ria, não moram na região cen-tral da cidade, onde estão os contêineres, eles apenas estão de passagem quando fazem os atos de destruição. Lasta afir-mou que não estava autorizado a divulgar valores, mas falou que, em média, um contêiner é danificado por dia e em fi-nais de semana chegam a ser de 5 a 6. Até hoje não ocorreu nenhum caso de contêiner que tenha sumido. Ele ainda afirma que foram feitos estudos para a escolha dos locais de colocação dos recipientes de coleta, mas que falta ainda costume aos ci-dadãos. Esse sistema de coleta existe há mais de 20 anos nos Estados Unidos e países da Eu-ropa e possui eficiência compro-vada, argumenta. No Brasil, segun-do ele, apenas as cidades de Santa Maria, Pelotas e Caxias do Sul possuem esse tipo de coleta do lixo.

Quando um contêiner é de-predado, ele é mandado para o conserto em uma empresa terceiri-zada, localizada em Santa Maria. Dependendo do grau do dano, o reparo é feito no próprio local do contêiner. No caso de um dano maior, ele é removido até a sede da em-presa, sendo substituído tempo-rariamente por um reserva.

As maiores formas de vanda-lismo contra os contêineres são as queimadas, pichações e der-rubadas. Também são comuns os furtos de peças essenciais para o bom funcionamento do contêiner. Outro problema en-contrado é o depósito de coisas muito pesadas nos coletores, como tijolos e pedras, porém esse fator, além do vandalismo

em si, pode ser atribuído à falta de informação da população.

Lasta conta que serão ins-talados quinze ecopontos em Santa Maria - contêineres com separação dos lixos que serão postos em locais estratégicos para evitar o vandalismo.

A motivação de um vândalo

Por que estragar um bem que é público e útil para a sociedade? Para explicar o ponto de vista de um vândalo, consultamos a psi-cóloga, professora e coordena-dora do curso de Psicologia da Unifra, Fernanda Pires Jaeger.

Segundo Fernanda, o ato de vandalismo é uma forma de expressão, geralmente de um adolescente, para mostrar sua indignação com um ou mais elementos da sociedade. O jo-vem toma como alvos espaços públicos que têm representa-tividade para a população em geral, como estátuas e prédios históricos, ou novidades que es-tão em voga, como é o caso dos contêineres. Assim ele ataca o que é valorizado pelos demais e tem sua manifestação vista e repercutida. Ela acrescenta que o vândalo ataca o que é novo, pois “a novidade geralmente é algo que demonstra status, be-

leza, enfim, algo positivo dentro da nossa socie-dade e o vândalo vai tentar atacar isso.” O papel de organização dos espaços públicos que os coletores têm é também alvo dos vânda-los. “Atingir os contêineres, de alguma forma, é também protestar contra essa orga-nização que vem

do Estado”, complementa.Segundo a professora, não

há prática de vandalismo vinda de apenas uma classe econômi-ca ou grupo social, há muitas variáveis. A auto-estima baixa é um fator que amplia muito as probabilidades de se realizar tais atos. O vândalo é, princi-palmente, um adolescente do sexo masculino, que usa o ato de depredar bens alheios como uma válvula de escape. “Na sua visão, ele (o vândalo) não está destruindo o que é dos outros. Há uma intenção, uma manifes-tação de algo que essa pessoa

está sentindo, mas não neces-sariamente a pessoa vai sentir prazer ao fazer essa atividade”, complementa a psicóloga.

Perguntada sobre trabalhos dentro da área da Psicologia na Unifra destinados ao comba-te ao vandalismo, a professora afirmou que pode ser uma ideia para o futuro, mas que não teria muito êxito, pois o vândalo não se vê com um problema, na ver-dade sente orgulho do que faz.

Caso o contêiner de sua re-gião esteja depredado, a indi-cação da PRT é que a Prefei-tura seja avisada para passar a ordem à empresa. Esse é um procedimento padrão, já que a PRT não pode fazer nada sem o aval da Prefeitura. Se ocorrer o flagrante de alguém cometen-do ato de vandalismo, deve-se ligar para a polícia, pois trata-se de um crime. Nos casos de incêndio, deve-se ligar para o Corpo de Bombeiros, para evi-tar um acidente maior.

Osvaldo Henriques Maia e Rafael Góes

Uma triste realidade: na Cidade Cultura, os contêineres são vítimas frequentes da ação de vândalos. Queimadas, pichações e derrubadas são

as principais avarias encontradas

nícholas fonseca

Depredação de contêineres toma proporções expressivas

A psicóloga Fernanda Jaeger diz que a principal motivação de um vândalo é a vontade de protestar

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rafael Góes

VANDALISMO

Em caso de vandalismo, ligue:■ Bombeiros 3221-2463

■ 4ª Delegacia de Polícia 3223-8599

■ linha Verde - Prefeitura 39 21 71 51

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Papel, plástico, metal e vidro. O ato de separar esse tipo de material dos demais está sem-pre em pauta na sociedade, isso porque é uma ação de extrema importância para a vida em co-letividade. Indiscutível também é o valor dessa atitude para o desenvolvimento sustentável do planeta. Um costume sim-ples que, adotado, pode fazer a diferença no meio ambiente e na economia de muitas famílias que dependem do lixo reciclável para sobreviver. Para isso é pre-ciso pensar globalmente e agir localmente. Porém, com a ins-talação dos contêineres na cida-de, muitas pessoas repensaram a maneira como lidam com o lixo. Mas a questão é: de que maneira esse sistema de recolhimento de detritos influenciou as pessoas? A influência sobre os lares foi positiva ou negativa?

O atual sistema de varredura do lixo, instalado há cerca de um ano na cidade, ainda causa muitas polêmicas. A maioria dos comen-tários são sobre os locais aonde as lixeiras foram instaladas, além da questão da quantidade de lixo para a baixa quantidade de lixeiras. Outro fator criticado é em relação à composição dos contêineres, que não têm estrutu-ra para receber a coleta seletiva. Por causa desse fator muitas pessoas pararam de separar os resíduos.

É o caso da professora apo-sentada Inês Bortagarai. O fato dos contêineres não possuírem divisões para o lixo orgânico e reaproveitável fez com que ela deixasse de separar o lixo sólido em casa: “Não adianta nada você fazer sua parte em casa, educar a família para esse tipo de atitude e depois ver que todo o trabalho de separação foi em vão, porque os lixos foram misturados dentro da lixeira” confessa a aposenta-da. Curiosamente, Inês é a favor do atual método de depósito resi-dual, pois para ela a cidade ficou mais higienizada, sem a prolife-ração de bichos e isenta de apa-rentes sujeiras. “Esse sistema é um avanço”, explica Inês.

Ela modificou seu costume e admite sem constrangimento que retrocedeu em sua vida. Po-rém, a aposentada acredita que transformações precisam ser pensadas e feitas nos contêineres de modo a educar e mostrar às

pessoas que é possível ajudar o meio ambiente: “Quando foram instalados ficamos esperançosos sobre uma tecnologia que pro-metia novidades com relação à questão ambiental, pois o que se sabia é que seriam colocados dois contêineres de cores dife-rentes para distinguir os tipos de lixo. Até hoje isso não foi feito, mas espero que aconteça em breve”, comenta. Outra solução viável para ela é uma divisória interna, que possibilitasse a dife-renciação dos materiais.

Uma vida útil ao lixo

A rotina é sempre a mesma e o hábito já pegou. Separar o lixo em casa e dar destino certo a ele. É o que pensa o empresário e DJ José Ney da Gama. Para fazer tudo corretamente ele adquiriu duas lixeiras diferentes para facilitar a prática no dia-a-dia. Como reside em uma casa, Gama achou uma solução não só para o que é rea-proveitável, mas também para o que teria como destino os aterros

da cidade: “Todo o lixo orgânico que acumulo em casa vai para um buraco que fiz na terra nos fundos da casa. Esse re-síduo fará com que o solo se torne mais rico, pois os restos de alimentos, cas-cas de verduras e

frutas, restos de madeira e grama se tornam adubo. É uma espécie de fertilizante natural, que cus-ta menos, não prejudica o meio ambiente e pode ser a solução do lixo sem aproveitamento”, expli-ca.

O empresário sempre achou importante a preocupação am-biental. Ele acredita que as pes-soas deveriam ter esse tipo de educação não só na escola, onde se discute o tema, mas também dentro de casa: “A melhor ma-

Para separar lixo do lixo que não é lixoApós a instalação dos contêineres ficou difícil fazer a coleta seletiva em casa, mas tem quem prove o contrário

Santa Maria deve ter

um sistema integrado de

coleta seletiva neira de educar uma criança é dar o próprio exemplo. O fato é que nos dias de hoje as crianças têm mais consciência ecológica que os adultos.”

Fazer sua parte. É por esse mo-tivo que Gama divide seu lixo. “Eu não tenho só benefícios com relação à natureza, mas também posso adubar meu pátio de graça, além de ajudar os catadores que recolhem meu material sólido”, comenta ele, que se mudou há pouco tempo para o bairro Ca-mobi. Gama explica que quando morava no centro já fazia a se-paração, apesar dos contêineres. Ele diz que antes da instalação das novas lixeiras, um catador independente já recolhia o lixo reciclável do prédio e que após a mudança, o acordo foi mantido: “Deixávamos acertado que eu deixaria separado para ele o ma-terial reaproveitável e que o lixo orgânico seria colocado nos con-têineres”. Para Gama é desumano fazer com que catadores tenham que adentrar as lixeiras para reti-rar suas matérias -primas de tra-balho: “É mais fácil então deixar guardado que eles buscam. Afi-

nal, tem gente que tira sua renda mensal com o dinheiro que vem do lixo”, esclarece.

Quem não foge desse pensa-mento é a estudante de Admi-nistração, Adriane Ilha Flores. Ela separa o lixo da seguinte forma: papéis (jornais, folhe-tos, revistas e correspondências, etc.), latas, plásticos variados (principalmente os de refrige-rantes) e restos de alimentos. E

ela faz tudo isso por dois princi-pais motivos: “Quero contribuir para a preservação do meio am-biente, sem agravar ainda mais a poluição do solo e das águas. Ainda mais que o lixo é fonte de renda pra muitas famílias”.

A estudante tem uma preocu-pação que é semelhante à de mui-tas pessoas que separam o lixo: os catadores. Por isso sempre leva o lixo já organizado, principalmen-

Professora admite que não separa mais o lixo O lixo é fonte de renda para muitas famílias

NÍCHOLAS FONSECA

A partir do cadastramento na Associação inicia o processo de seleção e reaproveitamento do lixo limpo

LIXO RECICLÁVEL8

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■ 1º Passo: A pessoa interessada em dar um destino útil ao seu lixo reciclável liga para a Asmar e solicita que o caminhão da associação passe em sua residência para buscar o material.

■ 2º Passo: A Asmar pergunta o local da residência. Dependendo do bairro onde se localiza, informa-se à pessoa qual dia da semana o caminhão de recolhimento passará.

■ 3º Passo: O material é recolhido e levado à sede da associação.

■ 4º Passo: O lixo é despejado, limpo e separado. Após essa etapa ele é colocado em bambonas.,

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Passo a passoO que acontece com o lixo na Asmar?

Para se cadastrarDias da coleta

Para separar lixo do lixo que não é lixoApós a instalação dos contêineres ficou difícil fazer a coleta seletiva em casa, mas tem quem prove o contrário

te os compostos de restos de co-mida e alimentos em geral e tam-bém os vidros. Os lixos formados por papéis e plásticos quase sem-pre ficam nas lixeiras normais: “Todo dia passam as pessoas que recolhem o material para recicla-gem e esse método que uso faci-lita o trabalho deles. Também não vejo problema em depositar nas lixeiras convencionais, porque afinal, alguém irá recolher”, es-clarece Adriana.

A preocupação em mostrar a importância dessas atitudes às pessoas, com campanhas, pro-pagandas e mídia é uma solução observada por Adriana. Para ela é um absurdo que uma cidade do tamanho de Santa Maria não te-nha um sistema integrado de co-leta seletiva do lixo. A estudante critica o município ao ver que não existem locais e lixeiras pró-prias para esse lixo ser recebido. “Seria uma mudança grande nos caminhões de recolhimento, nas lixeiras e na cabeça das pessoas”. Ela também exemplifica sobre a renda que alguns desses produ-tos podem gerar, como o alumí-nio, que é 100% aproveitado.

Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma

Toda a sexta-feira, a empresa Grafisul tem uma visita já espera-da. É o caminhão de recolhimen-to da Associação dos Seleciona-dores de Material Reciclável, a Asmar. O veículo recolhe do em-preendimento, por semana, cerca de 90 kg de papel e cerca de 6 kg de plástico. O proprietário da grá-fica, Sérgio Augusto Carnielutti, afirma que a proteção da natureza e a solidariedade com a Asmar fi-

zeram com que ele se cadastrasse, há dez anos: “Penso nas famílias que estou ajudando com isso e, é claro, no meio ambiente. Já ima-ginou quanto material que pode-ria ser aproveitado, iria ser jogado fora se eles não buscassem aqui toda semana? Isso me motiva”.

Favorável aos contêineres, Carnielutti explica que todo o papel que sobra do trabalho é guardado para ser reciclado. Os plásticos que eles não doam para a associação, são reaproveitados como apoio para os líquidos quí-

micos da empresa. O empresário acha de extrema importância a co-leta seletiva, pois tudo se reapro-veita de alguma forma. “Quando me cadastrei dei a oportunidade de outras pessoas transformarem aquele material, tornando-o usá-vel novamente”, explica.

É a partir do cadastramento na Associação que se inicia o processo de seleção e reaprovei-tamento do lixo limpo. A partir de então, cerca de 15 pessoas ocupam seus dias para fazer a triagem do material, que vai de

garrafas pet até geladeiras.Segundo uma das coordenado-

ras da Asmar, Margarete Vidal, a venda quinzenal é de cerca de 10 toneladas: “Por mês chegamos a vender cerca de 25 toneladas”. Mas, conforme ela, a associação poderia vender mais. Isso porque depois da instalação dos contêi-neres houve uma perda de muitos pontos de coleta na cidade: “Di-minuiu nosso material. Creio que as pessoas acham mais fácil jogar tudo no contêiner”, afirma.

Contrária aos contêineres, Margarete comenta que o sistema foi mal instalado e que a popula-ção não está pensando na profis-são de quem trabalha com lixo e também na saúde pública: “Cus-tamos a sensibilizar a sociedade com relação à nossa causa. Agora parece mais fácil misturar tudo no contêiner. É um pouco de ego-ísmo”, desabafa. Ela ainda diz: “É importante diferenciar lixo de material reciclável, um não serve mais para nada, outro é a matéria-prima do nosso trabalho, que nos traz dinheiro todo o mês”.

Laís Bozzetto e Natália Poll

■ 5º Passo: Das bombonas, o lixo passa para as gaiolas. Elas ficam nessas gaiolas à espera da prensa que é a etapa final. O lixo é prensado, pesado e vendido para ser reciclado.

■ Interessados no cadastramento na Asmar devem ligar para o telefone (55) 3218 1295 ou ir diretamente à sede, na rua Israel Seligman, 660, no bairro Nossa Senhora de Lourdes.

Dias em que o caminhão da Asmar passa nos bairros de Santa Maria:■ Segunda: Centro■ Terça: bairro Camobi, São José trecho até o Cerrito■ Quarta: Centro e bairros Dores e Medianeira■ Quinta: Zona Sul■ Sexta: Centro

■ 50 kg de papel velho = uma árvore poupada

■ 1.000 Kg de papel reciclado = 20 árvores poupadas

■ 1.000 Kg de vidro reciclado = 1300Kg de areia extraída poupada

■ 1.000 Kg de plástico reciclado = milhares de litros de petróleo poupados

■ 1.000 Kg de alumínio reciclado = 5000Kg de minérios extraídos poupados

Fonte: site http://www.natureba.com.br/coleta-seletiva.htm

Mais razões para reciclar:Contribuição para a natureza:

A partir do cadastramento na Associação inicia o processo de seleção e reaproveitamento do lixo limpo

LIXO RECICLÁVEL 9

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Muito mais que respeito, Margarete quer ajudar seus co-legas com o conhecimento ad-quirido. Ela sabe, e é a prova, de que existe uma outra reali-dade atrás dos muros da Uni-versidade e sabe que o diploma não serve para nada se não for bem aproveitado.

Tanto é verdade que ela faz uma crítica aos contêineres colocados na cidade. Para ela, quem teve a ideia nunca saiu do seu escritório para olhar a rea-lidade das ruas. Margarete fala

que durante muito tempo a As-mar lutou para a conscientiza-ção da sociedade sobre a sepa-ração do lixo e de como o lixo

é importante para eles. Com a colocação dos contêineres, a associação perdeu importantes locais de recolhimento e preci-sou dar um passo atrás e come-çar novamente um programa de conscientização da popula-ção sobre a importância de não misturar o lixo orgânico com o lixo seco. “A sociedade não via mais o catador na rua, pois ele já tinha o seu lixo garantido, agora quem sai na rua pode ver muitos catadores em situações degradantes”, diz ela.

Margarete se orgulha muito do que faz. Foi ali, na Asmar, que ela aprendeu a ser gente, conta. Conquistou o respeito próprio, a dignidade e o orgu-lho. E por mais que seu traba-lho seja uma luta diária, não pretende abandoná-lo, pois se considera uma pessoa apaixo-nada pelo que faz. Margarete Vidal considera-se uma pes-soa realizada.

Carolina Moro e Igor Müller

Viver do lixo, e viver com orgulho. É isto que Maria Mar-garete Vidal da Silva tem para ensinar. Para quem olha essa mulher atrás de uma pilha de materiais recicláveis na Asso-ciação de Selecionadores de Material Reciclável de Santa Maria, a Asmar, pode não saber, mas com uma simples conversa todos ficam admirados e com vontade de fazer a diferença. Mais do que uma superação, Margarete é a própria mudança que ela quer ver no mundo.

Margarete é assim. Simpá-tica, sorridente e de fala. Tem muito clara a mensagem que quer passar. Respeito, dignida-de e consciência.

Ela é uma das fundadoras da Asmar, e está no seu segundo mandato como coordenado-ra do grupo. Ela não é chefe, esclarece. Ali ninguém manda em ninguém. As quinze pesso-as que atualmente trabalham no local sabem suas atribui-ções e se dividem entre a sele-ção dos materiais recicláveis e as funções administrativas, em atividades que vão da seleção, compactação até a venda do material. Os lucros são repar-tidos pelas horas trabalhadas e pagos quinzenalmente. É assim que estes trabalhadores têm o seu sustento.

Catadores, ou selecionado-res, é como gostam e devem ser chamados. É uma profissão reconhecida, explica Margare-te. Com o reconhecimento por parte do governo, ela e seus co-legas das cinco associações de seleção de materiais recicláveis e os vários outros que circulam pela cidade, ela espera respeito por parte da população.

Margarete já sentiu o desgos-to de ser desrespeitada. Certa vez, em uma palestra para alu-nos do curso de Geografia, um acadêmico questionou a valida-de da presença dela como pa-lestrante, uma vez que ela não tinha estudo. Este episódio foi marcante para a vida de Mar-garete e, a partir dali, ela soube que só teria respeito se tivesse estudo. Com livros de cursinho jogados fora, ela estudou. Com esforço, empreendeu estudos em duas faculdades. Cursou até o 5º semestre de Economia e Planejamentos Social na Fa-culdade Palotina (Fapas). Em 2007, segundo a Fapas, o curso foi extinto e os alunos realoca-dos. Margarete foi transferida para a Unifra, mas como havia trancado a faculdade na Fapas devido a um problema de saú-de, não chegou a estudar no Centro Universitário Francis-cano, ainda. O 3º semestre de Serviço Social, ela faz em cur-so a distância, pela EaDCom. E ainda quer mais, confessa que pretende cursar Direito.

Atrás de uma pilha de lixos, Margarete buscou e conquistou respeito por ela e pelo seu trabalho

gabriela perufo

Catadora, com orgulhoCom os

contêineres, a Asmar perdeu

locais de recolhimento

HISTÓRIAS DE CATADORES

Diariamente, a rotina dos catadores inclui circular pelo centro da cidade para recolher o que a população descarta. Acabam fazendo parte de um cenário urbano cada vez mais caótico. Mas é ali, na rua, que está a fonte de renda destas pessoas

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Para a Prefeitura Municipal de Santa Maria, os contêineres foram instalados para embele-zar a cidade e dinamizar a co-leta de lixo. Para a comunidade santa-mariense, a opinião sobre as “caixinhas verdes” se divide: alguns odeiam e outros aprovam totalmente. Mas para quem vive do lixo, a história é outra. Os catadores de material reciclável sofrem com o novo sistema e pa-decem com o descaso da socie-dade. A vida de um catador não é fácil, a maioria deles começa a sua “via sacra” pelas ruas do centro da cidade desde a hora em que nasce o sol e terminam quando a maioria das pessoas já está descansando nas suas ca-sas. No dia da nossa entrevista, descobrimos que alguns até pre-cisam pagar o aluguel da car-roça e outros moram em lu-gares tão ermos que sequer têm luz elétrica.

Nossa procu-ra por catadores começou rua Dr. Bozzano, onde o grande número de lo-jas e residências gera uma quan-tidade considerável de lixo.

Vanessa Oliveira, de apenas 19 anos, também sabe disso e, por este motivo, intensifica sua coleta no local. Vanessa é filha de catadores e trabalha na mes-ma profissão desde aos 12 anos, quando largou a escola na quar-ta série do ensino fundamental. Sobre os contêineres, Vanessa tem uma opinião muito cons-ciente e altruísta: “Eu acho bom porque não suja as ruas da cida-de”, afirma a moradora da Vila Oliveira que não desfruta do mesmo material para a coleta de lixo no seu bairro, já que este sistema foi aplicado somente no centro de Santa Maria. Vanessa não usa proteção (luvas, roupas apropriadas e botas) e reve-lou que já sofreu problemas de saúde em virtude disto: “A pior coisa do contêiner é quando está vazio, tenho que entrar dentro dele para pegar as sacolas. Es-ses tempos fiquei com o corpo todo cheio de alergia” afirma a catadora. A moça bonita e educada também nos contou o rendimento de seu trabalho: “O que mais vale são os litros, o papelão, latas e jornal. Vendo por quilo para um depósito de reciclagem. No final do mês eu ganho R$ 250,00, mas pago R$ 150,00 pelo aluguel da carroça e do cavalo. Sobra muito pouco para alimentar meus 3 filhos”.

Nossa entrevista foi inter-rompida quando um comer-ciante trouxe um lote de pape-lão para Vanessa, avisando que a comida também estava lá na loja onde ele trabalha e que ela poderia ir buscar depois. A mãe de três filhos, conta que conse-gue alimentá-los por que recebe a ajuda de muita gente, mas fica triste quando as pessoas olham para ela com desconfiança: “Tem gente que confunde ca-tador com marginal”, afirma a jovem trabalhadora.

Seguimos nossa procura por catadores pelas ruas da cidade. A quantidade era grande, a pon-to de ficarmos chocadas. Nor-malmente toda essa gente nos passa despercebida. Na avenida Presidente Vargas, esquina com

a rua Conde de Porto Alegre, ponto de gran-de circulação de prostitutas e usuários de drogas, encon-tramos Losi-meri Flores da Cunha e seu fi-lho mais velho. Losimeri tem 26 anos, é mãe

de quatro filhos e trabalha como catadora desde os 20 anos. Sua história não é muito diferente da de outros catadores, mas o que mais nos surpreendeu foi saber que ela leva seu filho, de apenas 10 anos para ajudá-la: “Trouxe ele junto porque é pequeno e consegue entrar no contêiner para pegar o lixo lá do fundo” afirma a catadora. A criança, que aqui vamos cha-mar Juliano*, reclamou da im-posição da mãe: “Eu acho ruim porque tem caco de vidro que corta o pé,” afirmou o garoto que, além de tudo, corria risco no intenso trânsito da avenida.

Ainda na avenida Presidente Vargas, encontramos seu Valdir Marques da Costa. Figura de riso fácil e de grande simpatia, seu Valdir era funcionário de

uma empresa de telefonia antes de tornar-se catador: “Trabalho há dois anos como catador e gostei da mudança das lixeiras para os contêineres,” afirmou Costa. Quando perguntado se nem o lixo que fica no fundo das “caixas verdes” dificulta seu trabalho, prontamente ele

puxou um gancho duplo feito de espeto de churrasco: “Eu uso o meu gancho para puxar as sacolas”, afirmou o catador que também se envaidece da sua carroça de quatro rodas e de seu bem alimentado cavalo. Segundo seu Valdir, ele ganha em média R$ 450,00, mas para

chegar nesta cifra percorre um grande caminho: “Moro lá no assentamento perto de onde estão construindo o novo presí-dio, venho sempre no final da tarde e volto no final da noite. Quando chego em casa não tem nem luz elétrica para tomar banho”, declara o catador, que pretende largar esta profissão e virar produtor rural.

A realidade desses catadores nos faz refletir sobre a difícil luta pela sobrevivência. Para alguns, o contêiner é um empecilho, que só serve para tirar a vaga de car-ros e juntar mais lixo ao redor de suas casas, mas para os cata-dores garante o pão de cada dia, o pão que muitas vezes é encon-trado dentro do contêiner.

*nome fictício

Renata Araujo Ceratti e Rita Barchet

Catadora leva o filho todas as noites para ajuda-lá a mexer dentro do contêiner na avenida Presidente Vargas

fotos Renata CeRatti

A voz que vem do contêiner

“Latas, papelão e jornal

valem mais”

Catadora em busca de materiais Catador usa gancho feito de espeto para puxar as sacolas dentro do contêiner

HISTÓRIAS DE CATADORES

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Nas segundas, quartas e sex-tas-feiras, as ruas da vila Schir-mer são decoradas com sacolas plásticas cheias de lixo. As li-xeiras ficam pequenas para a quantidade de resíduos deposi-tados. Árvores, muros, grades e calçadas também ganham uma porção. Sem saber a hora cer-ta em que o caminhão do lixo vai passar, os detritos vão para as ruas cedo da manhã. Alguns passam o dia inteiro até serem coletados. Outras sacolas são destruídas pelos cães. Os mo-radores reclamam da sujeira e culpam o horário disperso da coleta. Para a Secretaria de Pro-teção Ambiental, responsável pela fiscalização, a comunida-de não está acostumada com a hora do recolhimento.

A maioria da população de Santa Maria depende da coleta usual de resíduos urbanos. So-mente 30% dos santa-marien-ses depositam resíduos em con-têineres. Este percentual está distribuído no centro da cidade. Os bairros ainda não podem desfrutar dos confortos destas caixas enormes e cobertas por tampa. O lixo fica exposto às moscas, cães e ao ambiente. A copeira Adriana Machado Cor-reia mora na rua João Lenz, na Vila Schirmer, e prefere guar-dar os resíduos no pátio de casa até a hora do caminhão da co-leta passar para evitar transtor-nos. Nem sempre, porém, a tá-tica funciona. “Eles vêm cedo, vêm tarde, não têm horário. Às vezes, eu perco a hora do cami-nhão”, conta.

Sacolas transbordadas de lixo dão as boas vindas aos clientes de um supermerca-do, na rua João Brunhauser, nos três dias programados de coleta. O proprietário do es-tabelecimento, Nelci Vicente Da Cás, soma prejuízos com a irregularidade do horário. “Se (o caminhão) não vem de manhã, à tardinha tá tudo revirado. E quem junta é eu”, reclama. Da Cás concorda que o estoque de lixo em frente ao supermercado não é bom e gostaria de mudança no reco-lhimento. “Para nós teria que ser diário”, conclui.

A justificativa ea Linha Verde

De acordo com o secretá-rio de Proteção Ambiental, Laurindo Lorenzi Filho, ha-via irregularidade na coleta no início deste ano. Na época,

o município solicitou à PRT - empresa terceirizada e res-ponsável pelo recolhimento de lixo - regularizar os horários. “Como a gente passou a exigir que (PRT) cumpra os horários, o pessoal está largando (lixos) mais tarde, porque antigamen-te não havia este cumprimen-to”, explica Lorenzi.

O governo disponibilizou para a população a Linha Ver-de. Um número de telefone para receber reclamações sobre a coleta. Conforme Lorenzi, logo que a Linha foi instala-da, a secretaria recebia cerca de 250 reclamações por dia. “Hoje nós não temos nenhuma reclamação, ou seja, o sistema está correto”, destaca. Em caso de irregularidade comprovada, o município emite uma adver-

tência à PRT e dá um prazo à empresa para regularizar o sis-tema. Se a PRT descumprir o termo é multada em 1% do va-lor pago pela Prefeitura pelos seus serviços, o que dá cerca de R$ 7 mil por dia.

Para realizar denúncias bas-ta ligar para o número da Li-nha Verde: (55) 3921.7151 ou direto para o secretário Lau-rindo Lorenzi, pelo número (55) 9178.0823.

Catadores agradecem

A comunidade onde a coleta é a usual (antiga), demonstra preferência pelos contêineres. Apesar disto, os catadores, que dependem do lixo para sobrevi-ver, priorizam as velhas lixeiras. Catar resíduos nos contêineres pode trazer surpresas desagra-dáveis, como é o caso da cata-dora Maria de Lurdes dos San-tos. “Me atirei para dentro (do contêiner) para pegar latinhas e machuquei as mãos, cortei ao segurar as latas”, revela. Maria explica como o procedimento é mais seguro com as lixeiras comuns. “Eu pego a sacolinha, abro e pego o material que é necessário. Depois ato e coloco na lixeira”.

Bernardo Bortolotto e Michelli de Barros

Adriana Correia deposita o lixo de duas residências próximo da hora do caminhão passar, na Vila Schirmer, mas nem sempre o lixo é recolhido

fotos bernardo bortolotto

Quando pôr o lixo para fora?Moradores da Vila Schirmer reclamam da coleta

Sem hora certa para serem recolhidos, lixos ficam expostos em frente ao supermercado

A catadora Maria de Lourdes seleciona o material reciclávelcom segurança em lixeiras comuns

Secretário de Proteção Ambiental, Laurindo Lorenzi fala sobre as

melhorias da coleta no município

HORÁRIOS

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Tudo começou por causa de um projeto de extensão. Os empreendedores do projeto “Análise de Viabilidade de uma Empresa de Reciclagem de Re-síduos Orgânicos e Inorgânicos na Cidade de Santa Maria – RS” são acadêmicos dos cursos de Administração, Ciências Con-tábeis, Direito, Economia e En-genharia Ambiental do Centro Universitário Franciscano. Eles possuem interesse neste ramo de atividade devido à qualifi-cação profissional que poderão obter junto à sociedade e dentro das suas devidas profissões, por acreditarem que transformar o resíduo (lixo) pode se tornar algo muito rentável. Hoje os acadêmicos têm o apoio técni-co dos professores da Unifra para desenvolver o projeto, no qual os principais desafios são: educar o povo a separar o lixo, trabalhar em parceria com em-presas e catadores, e comprar seus resíduos, para depois po-der vender o produto reciclado.

Coordenado pela professora do curso de Administração da Unifra, Angelita Freitas da Sil-va, e pelos professores de Eco-nomia Alexandre Reis e Rafael Santos de Oliveira, do curso de Direito, o projeto Usina de Re-ciclagem ainda não tem definido um local certo para se instalar na cidade. O certo é que os estu-dantes vão trabalhar com as so-bras de materiais de construção, pneus e embalagens tetra pak. Boas ideias não faltam para es-tes defensores do meio ambiente como, por exemplo: através da reciclagem da caixinha de leite serão elaboradas telhas e placas de alumínio. Dos pneus e restos de materiais de construção serão produzidos tijolos.

Por enquanto, o projeto está em fase inicial. A primeira par-te é a de implementação, por meio de estudos, da sua viabili-dade financeira de negócio, da forma como será trabalhar com fornecedores, pesquisa de con-corrência, e os tipos de insumos que serão desenvolvidos. Após a conclusão dos estudos, o pró-ximo passo é procurar o lugar para ser construída a usina. Po-rém ainda não há data definida para o projeto sair do papel.

Qual a intenção do projeto?

Este é um mercado em gran-

de ascensão. Conforme os inte-grantes, o objetivo é virar uma empresa dentro do município. Após a conclusão do projeto, a Usina de Reciclagem será co-nhecida como uma empresa com razão social (S/A ou Ltda) e com muito trabalho pela fren-te em prol do meio ambiente. A empresa vai transformar o lixo em insumo para novos produtos, buscando desenvolver uma prá-tica de construção consciente, influenciando arquitetos, enge-nheiros civis e a sociedade como um todo, para o uso dos mate-riais reciclados nas construções.

O papel de cada curso no projeto

Em cada área existe um pa-pel a ser desenvolvido dentro da empresa. Desta forma, os professores responsáveis pela orientação do projeto dividiram as tarefas por área.

Na Administração, o projeto é coordenado pela professora Angelita Freitas da Silva, que é responsável pelos acadêmi-cos Joceimar Antônio Souza e Marcus Vinícius Nunes. Eles pretendem encontrar soluções para transformar problemas em oportunidades, isto é, em-preender, transformando o lixo

em dinheiro, aliado ao desen-volvimento humano e ao bom planejamento, com uma gestão eficaz para realizar o empreen-dimento. O trabalho dos acadê-micos consiste na parte contá-bil, ou seja, na constituição da empresa, forma de tributação, cálculos de impostos, folha de pagamento, contabilização dos custos. Atualmente eles estão verificando bibliografias e le-gislações tributárias referentes às isenções fiscais futuras.

Na parte da Engenharia Ambiental a responsável é a acadêmica Marielle Souza, que faz todo o planejamento do gerenciamento dos resí-duos sólidos, licenciamentos ambientais da empresa, gestão ambiental, plano de produção e de negócio e viabilidade do projeto Usina de Reciclagem.

O professor Rafael Santos de Oliveira participa na assessoria da área jurídica, coordenando a aluna Dienifer de Pelegrini na identificação dos dispositivos legais pertinentes para à elabo-ração e regularização da Usina de Reciclagem ressaltando a importância do uso adequa-do das leis federais, estaduais, municipais e, em especial, os aspectos ambientais e os tipos de tributos aplicados na em-presa. Essas ações estão sendo realizadas em conjunto com o curso de Ciências Contábeis. A pré-definição da empresa é um estudo de mercado. A acadêmi-ca Marlize Debus é responsável pela tributação, crédito de ope-rações, viabilidade financeira, custos e despesas.

O coordenador do curso de Economia, Alexandre Reis,

orienta os alunos de forma multidisciplinar, unindo as áreas integrantes do plano, prestando orientação nas pes-quisas de preço, planejamento e questões teóricas da influên-cia da contabilidade econômi-ca do meio ambiente.

Produtos que serão produzidos

Através da reutilização dos materiais coletados, como as sobras de pneus, lâmpadas flu-orescentes, caixas de leite lon-ga vida e restos de construção civil, a empresa irá produzir os seguintes produtos: telhas, pla-cas, papelão, tijolos, grânulos de pneus e base para estradas. Des-ta forma, a Usina de Reciclagem pretende fazer o ciclo reverso da poluição, abastecendo o merca-do com um material reciclado de qualidade. Ao mesmo tempo, preservará o meio ambiente.

Na medida em que a empresa for implantada, seus produtos serão colocados imediatamen-te no mercado, conforme a de-manda da produção, desenvol-vendo uma conscientização na área da construção civil e nos seus futuros consumidores.

Jamile Peres e Raul Pujol

Projeto está em fase de estudos de viabilidade pelos professores Alexandre Reis, Angelita Freitas da Silva, Rafael de Oliveira e acadêmicos Marcus Vinícius Barboza Nunes e Joceimar Antônio Souza da Luz

Augusto Coelho

Cidade poderá ter Usina de Reciclagem

Estudo verifica viabilidade para implementação do projeto

Benefícios da empresa Usina de Reciclagem

■ Em primeiro lugar estão sempre os benefícios para o meio ambiente.■ Fortalecimento do mercado e desenvolvimento da credibilidade do material produzido pela empresa que entrará no mercado.■ Redução dos custos na construção civil.■ Geração de emprego e renda para os empreendedores e para os catadores.

SOLUÇÕES

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Lixo contaminado não pode ser colocado nos contêineres

A necessidade de zelar pela saúde, nos dias de hoje, torna-se indiscutível. E esta preo-cupação é uma alternativa de preservação da vida diante das inúmeras moléstias infecciosas em circulação no mundo. He-patite virótica, especialmente as dos tipos B e C, a AIDS e a herpes labial são algumas das doenças que podem ser trans-mitidas pelo lixo contaminado. Um assunto que ocupa a área da saúde, especialmente em ambientes cirúrgicos e em con-sultórios odontológicos.

O edifício São Pedro, que se localiza na rua Floriano Peixo-to, no centro de Santa Maria, foi escolhido para exemplificar a seleção e o destino do lixo contaminado. A trajetória foi acompanhada no consultório odontológico C&F, dos den-tistas Cristiane Oppermman e Fernando Sartori Thies.

A auxiliar do consultório odontológico C&F, Camila Sar-tori Thies, conta como funciona a separação do lixo no consul-tório onde trabalha. Ela explica que o lixo é separado em dois recipientes. O lixo contamina-do é colocado em sacos leitosos e o lixo simples é colocado em sacos domésticos. “Sempre foi feita esta separação de lixos, é uma norma da vigilância sani-tária”, diz a funcionária.

Os sacos leitosos servem para o descarte de lixo infectado, é um saco plástico na cor branco leitoso e serve para acondicio-nar resíduos infectados. Neste saco não se pode colocar obje-tos perfurantes e sim, materiais como gases com sangue, luvas usadas, algodão e outros utensí-lios usados du-rante a consulta. Já as agulhas, seringas e ma-teriais cortantes são depositados no coletor para perfurocortan-tes, que tem um revest imento interno de pa-pelão para evi-tar cortes na caixa.

Sobre o trabalho realizado no edifício, a doutora Cristia-ne Oppermman acredita que a coleta é correta e revela que o ponto negativo é a quantidade de sacos leitosos disponíveis para cada clínica, apenas três por mês. “É um custo de R$ 85 mensais, onde podemos utilizar somente três sacos leitosos de

um quilo cada. Pouco para um consultório com dois dentistas trabalhando’, ressalta.

O encarregado do departa-mento comercial da RTM de Santa Maria, Áureo Azambuja, fala de um assunto importan-

te: a proteção de catadores e papeleiros. O lixo conta-minado não é misturado com o lixo simples que vai para os contêineres. Desta forma, ajuda a pro-teger pessoas

que sobrevivem de catar lixo. O material infectado é coletado uma vez por semana e vai di-reto para o aterro de resíduos classe 1, considerado perigoso. Já o lixo normal é levado para o aterro da Caturrita, fora do cen-tro da cidade.

Segundo Azambuja, se caso for encontrado em um contê-iner algum tipo de lixo conta-

O saco leitoso e o coletor para perfurocortantes são usados para o descarte do lixo contaminado

monique abade

“O lixo é separado em dois

recipientes”

Classificação dos ResíduosGRUPO A■ Resíduos com possível presença de agentes biológicos que, por suas características, podem apresentar risco de infecção.■ a4 – Recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde, que não contenha sangue ou líquidos corpóreos na forma livre.■ Peças anatômicas (órgãos e tecidos) e outros resíduos provenientes de procedimentos cirúrgicos ou de estudos anatomopatológicos ou de confirmação diagnóstica.

GRUPO B■ Resíduos químicos. Resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade.■ Resíduos de saneantes, desinfetantes, desinfetantes; resíduos contendo metais pesados. (chumbo contido na embalagem do filme radiográfico).■ Efluentes de processadores de imagem (reveladores e fixadores).■ Restos de amálgama

GRUPO C ■ Rejeitos radioativos (não são produzidos no consultório odontológico).

GRUPO D■ Resíduos comuns. Resíduos que não apresentem risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliados. ■ Papel de uso sanitário, absorventes higiênicos, sobras de alimentos e do preparo de alimentos, resíduos provenientes das áreas administrativas, resíduos de varrição, flores, podas e jardins.

GRUPO E ■ materiais perfurocortantes ou escarificantes.■ Agulhas descartáveis, brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, instrumentais quebrados, etc.

Fonte: http://www.odontobio.kit.net/rdc33.htm

SAÚDE PÚBLICA

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minado, a Vigilância Sanitária é chamada por funcionários da PRT e inicia uma investigação para saber quem colocou o lixo no lugar erra-do e pode levar uma multa pela infração. O ato de embalar os resíduos segre-gados em sacos ou recipientes que evitem vazamentos e furos, facilita o acesso e trabalho de coleto-res. Segundo o representante da empresa, “a RTM tem como principal objetivo minimizar a

produção de resíduos e propor-cionar aos resíduos gerados um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à pro-

teção dos tra-balhadores, a preservação da saúde pú-blica”.

Conforme normas da vigilância sa-nitária, a lei considera que os consultó-

rios odontológicos são locais de risco e, por isso, todas as normas e princípios de bios-segurança devem ser seguidas

criteriosamente para obtenção do alvará de funcionamento do consultório. Cada consultó-rio recebe uma visita anual de um funcionário da vigilância. A licença de funcionamento tem validade por um ano e no momento da renovação, é fei-ta nova vistoria, que pode ou não ser programada. O dentista que não cumprir as exigências pode receber um auto de infra-ção e ser penalizado, de acor-do com a Lei Federal nº 6.437, de 20/08/1977 e Lei Estadual 16.140, de 02/10/2007.

Monique Abade eVanessa Roepke

Consultórios são lugares

consideradosde risco

monique abade

van

es

sa

ro

ep

ke

Consultórios odontológicos devem seguir as normas da vigilância sanitária Material infectado vai para o aterro de resíduos

Cores das Embalagens

■ GRUPO Asaco plástico branco leitoso

■ GRUPO Bembalagem original ou embalagem específica

■ GRUPO Dsaco plástico azul ou preto

■ GRUPO Eembalagem rígida, resistente à punctura, ruptura e vazamento, com tampa e identificada.

SAÚDE PÚBLICA

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Depois de muita discussão na comunidade e de tanta espe-ra após a instalação dos contêi-neres, a novidade em termos de prática de consciência ambien-tal chegou em Santa Maria: a implantação de ecopontos, que são coletores separados para depósito de material reciclável.

Os compartimentos dividi-dos para papel, plástico, metal e vidro deixam mais fácil a destinação correta dos mate-riais recicláveis. Utilizado na Europa e sugerido pelo Conse-lho Nacional do Meio Ambien-te (Conama), esse parece ser o método mais adequado para a separação do lixo.

Apesar de surgirem polê-micas com relação à educação da população, que não deposi-ta o lixo nos locais correspon-dentes, há quem tenha plena consciência da necessidade desse processo de separação dos materiais. “É muito inte-ressante esse modo de coleta. As pessoas vão ter que acumu-lar em casa os materiais para depositá-los nessas lixeiras, mas é válido. Há a necessida-de”, comenta o comerciário Ademir Augusti.

Luis Claudio Oliveira Melo admite que esse sistema nem sempre é solução total. “Re-solver completamente o pro-blema não vai, mas vai aju-dar”, avalia o proprietário de uma microempresa.

As lixeiras estão sendo co-locadas em pontos estratégicos da cidade, preferencialmente ao lado dos postos da Brigada Militar, para que se evitem atos de vandalismo. Segundo o se-cretário de Proteção Ambien-tal do Município, Laurindo Lorenzi Filho, este é um pla-

no piloto, por isso a pequena quantidade de ecopontos na ci-dade. “É um teste para vermos a receptividade da população, e se vão se adaptar a esse siste-ma”, explica.

Os ecopontos ficarão chave-ados e o lixo será retirado dia-riamente pela empresa respon-sável, a PRT. Três associações de reciclagem, cadastradas junto à Secretaria de Proteção Ambiental, receberão os mate-

riais depositados nos contêine-res: a Associação de Material Reciclável (Asmar), a Asso-ciação de Reciclagem Seletiva do Lixo Esperança (Arsele) e a Associação de Recicladores Profetas da Ecologia de San-tiago (Arpes).

O secretário Laurindo ainda comenta que para o uso correto dos ecopontos, serão distribuí-dos folders explicativos para a população nos bairros da cida-

de. “Esse é o embrião de uma revolução da coleta seletiva. Não dá para admitir uma cida-de do tamanho de Santa Maria sem coleta seletiva”, comenta o secretário. Lorenzi ainda ex-plica que esse pode ser o início de uma “Revolução Verde”. O projeto prevê, para o ano que vem, a instalação de mais 135 ecopontos na cidade.

Liciane Brun

Um dos primeiros ecopontos de coleta seletiva da cidade foi instalado em frente à Prefeitura

Ecopontos finalmente são instalados na cidade

Ademir Augusti diz que é válido o novo tipo de coleta

Luis Claudio acha que o sistema ajuda, mas não soluciona totalmente

“Não dá para admitir uma

cidade do tamanho de

Santa Maria sem coleta seletiva”

fotos maiara bersch

Onde vão ficar os ecopontos?

■ tancredo Neves ■ santa marta■ Perpétuo socorro■ camobi■ são José■ Patronato■ Urlândia■ medianeira

■ Nossa sra. de Lourdes■ rosário■ itararé■ Nossa sra. das Dores■ No centro serão dois ecopontos, localizados na frente da Prefeitura e ao lado dos bombeiros.

No total, 15 ecopontos serão distribuídos nos seguintes bairros:

Laurindo Lorenzi Secretário de Proteção Ambiental do Município

Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra 9ª edição - dezembro/2009