jornalismo transmídia no dossiê tudo sobre belo...
TRANSCRIPT
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
1
Jornalismo transmídia no dossiê Tudo Sobre Belo Monte1
Marcos Carvalho MACEDO2
Yvana FECHINE3
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE
Resumo
Articular conteúdos diversos, complementares e autônomos, distribuídos em diferentes
mídias ou plataformas explorando as potencialidades da convergência midiática e da cultura
participativa constitui a especificidade do modelo transmídia, desenvolvido na indústria do
entretenimento, e ensaiado também no jornalismo. O objetivo deste trabalho é investigar
como o modelo transmídia, especialmente as narrativas transmídias (Jenkins, 2009a), foi
implementado no dossiê Tudo Sobre Belo Monte, publicado pelo Grupo Folha. A partir da
sistematização de conceitos como transmidiação e conteúdos transmídias (Fechine et al,
2013), procuramos identificar as estratégias utilizadas para propagação e expansão dos
conteúdos jornalísticos através da análise dos desdobramentos temáticos dos conteúdos
produzidos e distribuídos na internet, no jornal impresso, na televisão e em aplicativo do
conglomerado.
Palavras-chave: jornalismo; transmidiação; narrativas transmídias; convergência midiática.
Introdução
Com a crise dos modelos tradicionais de produção e distribuição de notícias, as
empresas de jornalismo têm repensado suas rotinas e estimulado novas formas de
engajamento de seu público. Os investimentos em produção de conteúdos multimídias que
estabeleçam algum tipo de interação com os consumidores, hoje bem mais ativos do que há
alguns anos, apesar de estar longe do ideal, já se constituem uma urgente e indiscutível
necessidade. A cultura participativa, desencadeada pelas ferramentas que permitem aos
consumidores também produzir e distribuir informação, não se restringiu ao ambiente da
web. As mudanças são mais amplas e afetam o modo de consumir informação também em
outras mídias.
É neste contexto que as produções de narrativas transmídias encontram espaço. A
possibilidade de utilizar diversas mídias para distribuição de conteúdos que se desdobram e
mantém relação entre si pode ser vista como uma tentativa de alcançar consumidores cada
vez mais segmentados, já que cada conteúdo se torna um ponto de entrada para todos os
demais. No jornalismo, as narrativas transmídias tendem a se concretizar em grandes
1 Trabalho apresentado na Divisão Temática Jornalismo, da Intercom Júnior – XII Jornada de Iniciação Científica em
Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação 2 Graduado em Jornalismo 2016.1 pelo DCOM-UFPE, email: [email protected] 3 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Jornalismo do DCOM-UFPE, email: [email protected]
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
2
reportagens que abordam temas complexos e polêmicos, e necessitam de maior
aprofundamento e contextualização.
O presente artigo investiga a produção de jornalismo transmídia. Pretendemos
averiguar como o modelo de produção e distribuição de conteúdos associados em diversas
mídias, até então praticado de forma mais recorrente pela indústria do entretenimento, vem
sendo explorado também no jornalismo. As narrativas transmídias, apontadas como a forma
mais rara e complexa de desenvolvimento desse modelo, serão o objeto da atenção
específica deste estudo. Nosso objetivo é caracterizar tais narrativas no jornalismo a partir
dos desdobramentos temáticos de conteúdos espalhados em diversas mídias do dossiê Tudo
Sobre Belo Monte, publicado pelo Grupo Folha.
Ainda que escassas, as produções transmídias têm chamado atenção pelas
possibilidades que oferecem ao jornalismo de reencontrar seu espaço no novo cenário de
convergência midiática. Os desafios são muitos, sobretudo porque se trata de um modelo
concebido para o entretenimento, mais especialmente do cinema e da televisão, embora os
estudiosos do tema não deixem de considerar sua aplicabilidade no jornalismo em geral.
Com a ampliação do acesso, a web tem se tornado um importante ponto de
referência no processo de convergência dos meios, visto agora de forma diferente daquele
até então anunciado, de cooptação dos antigos meios pelas tecnologias digitais. “Se o
paradigma da revolução digital presumia que as novas mídias substituiriam as antigas, o
emergente paradigma da convergência presume que novas e antigas mídias irão interagir de
forma cada vez mais complexas” (Jenkins, 2009a, p. 32).
Convergência não é um conceito novo, mas o significado que apresenta hoje difere
substancialmente daquele até então concebido. Inicialmente definiu-se convergência a partir
de elementos tecnológicos, depois dos meios e, por fim, dos conteúdos e da cultura. Apesar
deste histórico, coube a Jenkins (2009a), com a publicação de Cultura da Convergência, a
popularização desta ideia, evidenciada de forma mais ampla pelo autor na descrição das
produções e práticas do mundo do entretenimento.
Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múltiplas
plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao
comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a
quase qualquer parte em busca de experiências de entretenimento que desejam.
Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas,
mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que
imaginam estar falando. (Jenkins, 2009a, p. 29).
Na visão de Jenkins (2009a) aquilo que distingue a cultura da convergência é o
rompimento com o modo tradicional de passividade dos espectadores dos meios de
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
3
comunicação. Os novos consumidores são estimulados pela cultura participativa
potencializada pela web, a apropriarem-se dos conteúdos, tomarem parte no processo de
produção e distribuição ou até produzirem seus próprios conteúdos. Tratamos por cultura
participativa “o cenário e o conjunto variado de possibilidades abertas aos consumidores de
maior acesso, produção e articulação de conteúdos midiáticos, a partir da digitação e
convergência dos meios” (Fechine et al. (2013, p. 27).
Neste cenário, a web ocupa lugar de destaque. Seu ambiente de digitalização e
convergência desenvolve nos consumidores habilidades e competências diferenciadas como
design, programação, criação, edição, mediação, etc.. “A web representa um lugar de
experimentação e inovação, onde os amadores sondam o terreno, desenvolvendo novos
métodos e temas e criando materiais que podem atrair seguidores, que criam suas próprias
condições”. (Jenkins, 2009a, p. 207)
Transmidiação e Narrativas transmídias
A conceituação de narrativa transmídia – objeto de interesse específico deste
trabalho – possui um recorte mais preciso dentro do leque variado de manifestações
multiplataformas e multimídias, envolvendo a relação entre distintas plataformas
tecnológicas no ambiente da cultura participativa. Por isso, antes de partirmos para sua
caracterização, conceituaremos o fenômeno mais amplo, no qual estas estão inseridas, que é
a transmidiação, conforme tem sido proposto por Fechine (2013, 2014). Esta distinção entre
transmidiação e narrativa transmídia é fundamental para compreensão das manifestações
potencializadas pela convergência midiática e a cultura participativa.
Entendemos transmidiação como um modelo de produção orientado pela
distribuição em distintas mídias e plataformas tecnológicas de conteúdos
associados entre si e cuja articulação está ancorada em estratégias e práticas
interacionais propiciadas pela cultura participativa estimulada pelo ambiente de
convergência. Por envolver uma cadeia criativa multiplataforma, esse modelo de
produção é adotado mais frequentemente por corporações que atuam em distintas
mídias (Fechine et al., 2013, p. 26).
Os autores destacam a necessidade de um projeto de produção de conteúdos
planejado de forma a aproveitar o melhor de cada mídia e as potencialidades da cultura
participativa. Dentre esta articulação de mídias, deve-se eleger uma “mídia regente”, isto é,
uma mídia na qual “se desenvolve o texto de referência (um programa narrativo principal) a
partir do qual se dão os desdobramentos e articulações” (Fechine et al., 2013, p. 29), que
Jenkins (2009a) chama de ‘nave mãe’ da franquia.
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
4
Na transmidiação é fundamental também a produção de conteúdos associados entre
si, que devem fazer parte do mesmo universo narrativo e manter uma relação estreita com
um conteúdo ou texto de referência, veiculado na mídia regente. Para isso faz-se necessário
uma instância produtora responsável pelo projeto ou ação transmídia que articule estratégias
e práticas para engajar seus destinatários-consumidores.
Na caracterização de um projeto transmídia o que o constitui como tal é a
articulação entre o texto de referência e os desdobramentos e complementações veiculados
em outras mídias e dispositivos. O que podemos considerar como o texto ou o enunciado
transmídia só se manifesta no momento mesmo em que se dá essa articulação entre
conteúdos (Fechine, 2014). A transmidiação não existe para aquele consumidor que não
aciona, a partir do ponto de acesso, os demais conteúdos associados. O texto transmídia
representa, portanto, o resultado do conjunto das manifestações de um projeto transmídia.
O texto transmídia pode ser pensado como a totalidade da manifestação que
resulta da articulação de enunciados correlacionados e distribuídos em distintas
plataformas tecnológicas, ou seja, corresponde ao todo que resulta da articulação
das partes propostas pelo enunciador e operada pelo destinatário (Fechine, 2014,
p. 121).
A proposta de Fechine (2014) é de tomar a hipertextualidade como chave de leitura
para pensar a organização do texto transmídia, porque ele só se concebe enquanto tal à
medida que consumidores acessam conteúdos associados a partir de um destes mesmos
conteúdos. Quando um texto em uma mídia ou plataforma leva o consumidor a conectar-se
a outro texto em outra mídia ou plataforma que complementa o anterior, ativa, então, a
transmidiação. Esse modo de organização da linguagem baseado na associação e
remissividade entre textos pode ser pensado, em termos mais amplos, como
hipertextualidade.
Esta característica, explorada pelo webjornalismo, tem como função remeter ou
conectar a outras informações, sejam elas textos, imagens fixas ou em movimento, sons ou
infografias, e “abre uma diversidade de itinerários de leitura tão vasta quanto o número de
arranjos e combinações possíveis” (Canavilhas, 2014, p. 9), permitindo organizar conteúdos
em fragmentos, ao mesmo tempo dependentes e autônomos de sentidos entre si. A
hipertextualidade aproxima-se, então, do modo de organização do texto transmídia.
A respeito das estratégias transmídias, Fechine et al. (2013) identificam na
teledramaturgia duas grandes categorias: a propagação e a expansão. Ambas têm como
objetivo o engajamento do destinatário-consumidor, seja reiterando e repercutindo o texto
de referência (propagação) ou criando novos conteúdos articulados dentro do mesmo
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
5
programa narrativo (expansão). Dentre as estratégias de expansão, os autores identificam as
narrativas transmídias como uma das manifestações da transmidiação. Para Fechine (2013,
2014) as narrativas transmídias ocorrem quando o texto de referência (narrativa principal)
se desdobra em novas histórias a partir do universo narrativo. Nessa lógica, as narrativas
transmídias são consideradas uma das mais complexas e bem articuladas manifestações da
transmidiação.
Os distintos modos de expansão do universo podem ser considerados, nas ações
mais complexas, como programas narrativos auxiliares ou secundários,
contribuindo, a partir da articulação com o programa narrativo principal ou de
base (texto de referência), para a construção de uma narrativa transmídia scricto
sensu (Fechine, 2014, p. 122, grifo próprio).
Embora não seja o primeiro a tratar de narrativas transmídias, foi Jenkins (2009a)
que desenvolveu de forma mais compreensível este conceito e apontou as particularidades
deste modelo de produção. O autor descreve como textos articulados em uma única
narrativa são concebidos de forma tão ampla que não se reduzem a uma única mídia. O
fluxo de conteúdos movimenta-se em múltiplas plataformas e mídias, aproveitando-se da
cooperação entre os múltiplos mercados e da cultura participativa.
Uma história transmídia desenrola-se através de múltiplas plataformas de mídia,
com cada novo texto contribuindo de maneira distinta e valiosa para o todo. Na
forma ideal de narrativa transmídia, cada meio faz o que faz de melhor – a fim de
que uma história possa ser introduzida num filme, ser expandida pela televisão,
romances e quadrinhos; seu universo possa ser explorado em games ou
experimentado como atração de um parque de diversões. Cada acesso à franquia
deve ser autônomo, para que não seja necessário ver o filme para gostar do game,
e vice-versa. Cada produto determinado é um ponto de acesso à franquia como
um todo” (Jenkins, 2009a, p. 138).
Posteriormente, Jenkins (2009bc) propõe sete princípios a partir dos quais se
organizam as narrativas transmídias. Compreendemos que não se tratam de critérios de
classificação das produções transmídias e sim de características que se manifestam em
maior ou menor grau nestas produções: tornar os conteúdos Distribuíveis x Exploráveis
(Spreadability vs. Drillability); explorar sua Continuidade x Multiplicidade (Continuity vs.
Multiplicity); bem como o potencial de Imersão x Extração (Immersion vs. Extractability);
desenvolver a Construção de Universos (Worldbuilding); e a Serialidade (Seriality) dos
conteúdos; explorar a Subjetividade (Subjectivity) dos personagens; e estimular a
Performance (Performance), dos fãs.
Para mostrar como o modelo de narrativas transmídias pode ser aplicado no
jornalismo, Moloney (2011) recuperou estes sete princípios (Jenkins, 2009bc), mostrando
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
6
como já vem sendo explorados nas redações, ainda que não com a mesma intensidade que a
indústria cinematográfica de Hollywood.
A maioria destes princípios, no entanto, não aprofundam a relação existente entre
os conteúdos que compõem o texto transmídia, entendido como a totalidade dos conteúdos
associados. Não são capazes, portanto, de tornar clara a existência de uma narrativa
transmídia, visto que não caracteriza a especificidade das narrativas transmídias: os
desdobramentos ou complementaridade de conteúdos em outras plataformas ou mídias a
partir do texto de referência e dentro de um mesmo universo narrativo, que segundo
Fechine et al. (2013) são as estratégias de expansão. Ainda assim, subsidiam nosso processo
de análise na identificação das funções dos conteúdos do dossiê Tudo Sobre Belo Monte.
Por se tratar de um processo que vem sendo incorporado pouco a pouco em uma
atividade com rotinas produtivas marcadas pelo deadline do fechamento, Moloney (2011),
Scolari (2013), Renó e Flores (2012) e Canavilhas (2013), dentre outros autores, tendem a
considerar o jornalismo diário, com as restrições da brevidade de tempo, o menos indicado
para explorar as narrativas transmídias.
Produções transmídias devem ser concebidas e desenvolvidas com cuidado e em
um tempo maior para se tornarem eficazes. Da concepção à distribuição uma
franquia de Hollywood leva anos para seu lançamento. Mas tradições de longas
investigações ou documentários estendidos estão profundamente enraizados no
jornalismo. Coberturas de questões complexas e contínuas – imigração,
consequências de guerras, conflitos sociais – prestam-se perfeitamente para uma
abordagem aprofundada e distribuição complexa. (Moloney, 2011, p. 12, tradução
nossa).
Na visão de Moloney (2011), o jornalismo literário e o jornalismo público são
potenciais formas para exploração de narrativas transmídias, tanto porque propicia maior
profundidade e contextualização na abordagem de temas, criando conexões entre estruturas
narrativas ou favorecendo a multiplicidade de vozes, quanto pela capacidade de interação
que incorpora o público, estimulando a conversa entre cidadãos de modo a aprofundar
discussões de temas relevantes para a sociedade.
Jornalismo transmídia no dossiê Tudo Sobre Belo Monte
O dossiê4 Tudo Sobre Belo Monte, primeiro da série Tudo Sobre, projetado pelo
Grupo Folha, trata da construção da terceira maior hidrelétrica do mundo, às margens do
4 Utilizamos o termo “dossiê” para referir-se à totalidade dos conteúdos produzidos de forma associada e distribuída em
diversas mídias sobre a temática da Usina de Belo Monte, o especial Tudo Sobre Belo Monte, e a expressão “reportagem
para web” para referir-se ao texto de referência A Batalha de Belo Monte, publicado no portal da Folha.
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
7
Rio Xingu, no Pará. O projeto de dossiês, desenvolvido posteriormente com outras
temáticas, articula uma reportagem especial, publicada no portal, com conteúdos associados
veiculados nos principais veículos do conglomerado de mídias: além do próprio portal, no
Jornal Folha de S. Paulo e no telejornal semanal TV Folha, então exibido pela TV Cultura5.
Assumimos a reportagem para web A Batalha de Belo Monte, publicada em 15 de
dezembro de 2013 no hotsite agregado ao Portal da Folha de S. Paulo, como o texto de
referência, isto é, como texto a partir do qual se desenvolveu um programa temático
principal. Esta qualificação fica evidente também porque os conteúdos ligados à reportagem
que foram veiculados no jornal impresso, na TV ou mesmo nas matérias do portal da Folha,
remetem, de uma maneira ou de outra, ao hotsite. Temos então, além do texto de referência,
uma mídia de base ou regente, ou seja, uma mídia a partir da qual o texto transmídia se
articula. Essa mídia de referência é a internet, rede mundial de computadores, e a
plataforma utilizada é a web6.
A noção de hipertextualidade citada anteriormente como chave de leitura do texto
transmídia foi tomada como um dos pressupostos para análise do dossiê Tudo Sobre Belo
Monte. Exploramos o modo como os conteúdos produzidos para as diversas mídias
associam-se ao texto de referência e como reportam-se uns aos outros ou desdobram-se e
ampliam em novos conteúdos distribuídos em outras mídias e plataformas.
Para perceber a articulação entre os conteúdos distribuídos nas mídias utilizadas,
um caminho de investigação que se mostrou possível foi a partir da análise dos aspectos
temáticos abordados tanto no texto de referência quanto nos textos associados. Procuramos,
neste caso, traçar um paralelo entre universo narrativo, mais recorrente na ficção, e universo
temático, mais adequado a uma abordagem jornalística. Esta perspectiva, apoiada no
método de análise para reportagens especiais adotado por Fechine (2013-2016), nos pareceu
razoável por evidenciar como os conteúdos se desdobram e avançam na abordagem de
novos aspectos temáticos para além do texto de referência e da mídia regente, bem como
por se tratar, em última análise, de uma reportagem especial, cuja principal característica é
aprofundar um determinado tema, oferecendo diversos pontos de vista sobre o mesmo.
A reportagem A Batalha de Belo Monte está organizada em cinco capítulos – Obra,
Ambiente, Sociedade, Povos Indígenas e História – , além de um Making-of, dois artigos de
5 O Programa TV Folha deixou de ser exibido na TV Cultura em abril de 2014, tornando-se um produto exclusivo da
internet, apesar de manter o mesmo formato. 6 Seguimos a distinção proposta por Fechine et al. (2013, p. 28), que trata plataforma como “a combinação de uso de uma
determinada mídia com certo tipo de tecnologia (Pratten, 2011, p. 28). Podemos ter, assim, plataformas distintas a partir
do emprego de tecnologias distintas em uma mesma mídia”.
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
8
opinião e um mapa interativo da Bacia do Rio Xingu, bem como o link para uma página
onde é possível acessar o newgame Folhacóptero, todos acessíveis no menu lateral do
hotsite. Apesar desta divisão, a análise mais detalhada dos conteúdos nos fez reagrupar os
aspectos temáticos abordados de outra forma. Esta nova divisão temática tornou-se
necessária para facilitar o trabalho posterior de comparação dos aspectos temáticos entre o
texto de referência e os textos associados. Organizamos da seguinte maneira os temas
abordados na reportagem para web:
Figura 1: Quadro temático do texto de referência (reportagem para web)
Fizemos o esforço de sintetizar os temas tratados na reportagem, realocando os
aspectos temáticos abordados nos cinco capítulos do texto de referência em dois grandes
temas. O primeiro deles, a Obra de construção da Usina, e segundo envolvia os impactos
causados com instalação da Usina, na verdade, o ponto desencadeador da discussão e da
reportagem. Estes dois temas se desdobraram em outros aspectos temáticos (Figura 1).
Assumindo como pressuposto a existência de uma articulação de textos
distribuídos em diversas mídias e plataformas, tomamos como ponto de partida para a
análise destes textos, as estratégias já identificadas por Fechine et al. (2013) de propagação
e expansão de conteúdos transmídias, pois elas nos permitem distinguir os conteúdos que
acrescentam ou não aspectos diferentes ao texto de referência.
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
9
A partir destas estratégias transmídias de propagação e expansão, e tomando como
referência as subcategorias propostas por Fechine et al. (2013), procuramos agrupar, a partir
de uma perspectiva do próprio fazer jornalístico, os textos associados ao texto de referência
a partir de suas funções comuns. Alguns dos textos apresentavam mais de uma função.
Nestes casos, optamos por identificá-los a partir da função de maior destaque ou apontar as
ênfases, quando possível, de cada função presente nos textos. Os resultados desta análise
foram sistematizados na Tabela 1. Descreveremos, a seguir, cada uma das categorias e
funções identificadas.
Tabela 1: Estratégias e funções dos conteúdos em Tudo Sobre Belo Monte
ESTRATÉGIAS FUNÇÕES
PROPAGAÇÃO
Reprodução
Reedição
Síntese
Promoção
EXPANSÃO
Atualização
Aprofundamento e contextualização
Debate
Vivencial
Imersão
Fiduciária
Fonte: Elaboração do autor.
As estratégias de propagação têm a finalidade de apresentar o texto de referência,
despertar o interesse de consumidores e remetê-los aos desdobramentos temáticos, isto é,
aos conteúdos associados que resultavam de estratégias de expansão.
O primeiro modo de propagação assumiu a função de reprodução de parte do texto
de referência em outra mídia, sem qualquer adaptação de formato ou acréscimo de aspectos
temáticos. O Portal de notícias da Folha, na data do lançamento da reportagem para web,
publicou integralmente os textos dos capítulos sem a mesma formatação apresentada no
hotsite especial, com uma ou outra galeria de fotos7. O Jornal Folha de S. Paulo, na mesma
data, limitou-se a publicar o primeiro capítulo no Caderno Ilustríssima, repetindo a mesma
prática no Caderno Folha 10 (21/12/2013). Mapas e infográficos que integravam o texto de
referência também foram reproduzidos em mateira do Caderno Mercado 2 (14/12/2013).
7 Entre o jornal impresso e o portal de notícias, os conteúdos apenas se repetiram, sem maiores adaptações dos conteúdos.
Considerando que a articulação em diferentes mídias constitui fator caracterizador do texto transmídia, pouco
mencionamos neste trabalho os conteúdos do portal, prevalecendo as publicações do jornal Folha de S. Paulo.
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
10
Outra forma de propagação do texto de referência consistiu na reedição dos
conteúdos, adaptando-os à linguagem específica da mídia utilizada, mas sem tratar de novos
aspectos temáticos. Duas matérias publicadas no Caderno Mercado do Jornal Folha de S.
Paulo traziam à tona a discussão sobre a construção da Usina, utilizando como gancho os
dados da pesquisa realizada pelo Instituto DataFolha para a reportagem. Todos os aspectos
temáticos desenvolvidos nesta matéria estavam presentes no texto de referência, no entanto,
foram apresentados no Jornal com outra redação pelo repórter Marcelo Leite.
A síntese foi identificada como outra função de conteúdos cuja estratégia era a
propagação do texto de referência. A finalidade, neste caso, era sumarizar o texto de
referência, fazendo um resumo dos aspectos temáticos ali presentes em outra mídia. Esta
espécie de conteúdo foi uma forma de adaptação, mas distinguiu-se dela por abordar de
forma condensada todos os temas do texto de referência, ainda que através de outro arranjo
estrutural, inclusive privilegiando um ou outro aspecto. O programa TV Folha Especial
Belo Monte (12/01/2014), procurou resumir em três blocos, por meio de imagens e
depoimentos, mais de 30 horas de material produzido para o projeto. Os percursos
temáticos presentes nos três blocos - O Canteiro, Altamira e Os impactados - seguiam quase
a mesma lógica do texto de referência, com as necessárias realocações temáticas, como a
história do Projeto e os Povos Indígenas, para conseguir abordar todos os aspectos em
pouco mais de 26 minutos de programa.
Uma outra estratégia para propagação foi a utilização de conteúdos para promoção
do texto de referência e dos conteúdos associados. Os aspectos temáticos foram abordados
de maneira superficial ou seletiva, visando atrair o consumidor para o conteúdo que estava
sendo promovido. Poderíamos relacionar este tipo de conteúdo com o que no jornalismo
televisivo é chamado de teaser, uma pequena chamada gravada pelo repórter sobre uma
notícia ou imagens do acontecimento colocadas na escalada do telejornal para atrair a
atenção do telespectador. Sucessivos boxes vinculados às matérias do dossiê publicadas no
Jornal Folha de S. Paulo, evidenciaram esta função de promover os conteúdos, sejam eles
do texto de referência, a reportagem A Batalha de Belo Monte, sejam de textos de outras
mídias, como o aplicativo Folhacóptero, o programa TV Folha Especial Belo Monte, bem
como o Debate com especialistas promovido pela Folha. O último bloco da edição 94 do
TV Folha (15/12/2013) reforçou também esta ideia de teaser, selecionando aspectos
temáticos específicos para despertar no telespectador a curiosidade pelo tema e o consumo
da reportagem na web.
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
11
Figura 2 - Expansão temática do dossiê Tudo Sobre Belo Monte. Fonte: Elaboração do Autor
Na análise dos conteúdos identificamos estratégias de expansão. Com a
comparação de todos os temas abordados no texto transmídia sintetizamos no quadro
Expansão Temática do Dossiê Tudo Sobre Belo Monte (Figura 2) como se deram os
desdobramentos temáticos para outras mídias a partir do texto de referência. Para melhor
visualização de expansão temática, destacamos as abordagens feitas em cada aspecto
ampliado, tanto no texto de referência como nos demais textos associados em outras mídias.
A análise temática que evidenciou a presença de conteúdos desdobrados e
associados ao texto de referência permitiu caracterizar o dossiê Tudo Sobre Belo Monte
como uma narrativa transmídia jornalística, isto é, um texto que se distribui em diversas
mídias através de conteúdos complementares que traziam informações novas e
aprofundavam certos aspectos temáticos. O dossiê cumpriu as condições fundamentais
deste modelo de produção, produzindo conteúdos jornalísticos autônomos em torno de um
mesmo universo temático, no caso a construção da Usina de Belo Monte, no Pará,
explorando tanto aspectos relativos à obra quanto aos impactos gerados por ela por meio da
internet, do jornal impresso, da televisão, e de um aplicativo para smarthpone e tablet.
Os desdobramentos temáticos ou estratégias de expansão foram verificados em
todas as mídias e plataformas associadas e procuravam expandir a abordagem dos temas do
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
12
texto de referência, ampliando informações e contribuindo para uma melhor compreensão
da questão tratada.
Identificamos conteúdos de expansão cuja finalidade principal foi a atualização do
texto de referência, a partir dos acontecimentos recentes relacionados ao assunto. No
jornalismo são as notícias ou hard news, que possuem o papel de manter o público
informado dos últimos fatos. Foram publicadas matérias factuais no Jornal Folha de S.
Paulo que ampliavam aspectos temáticos relativos à Obra, como, por exemplo, a
determinação da paralização das obras da Usina pela Justiça Federal (18/12/2013); a sua
retomada com a liberação judicial e a revelação de que havia um veio de ouro sob o local de
construção da barragem (20/12/2013); assim como as soluções de engenharia na construção
com a descoberta de rocha permeável em dois diques da barragem (14/12/2013).
Outros conteúdos de expansão presentes no dossiê tiveram como função o
aprofundamento ou contextualização de aspectos temáticos presentes no texto de
referência. Os desdobramentos procuravam detalhar algum aspecto relevante que não havia
sido desenvolvido de forma mais ampla na reportagem para web. São matérias mais ao
estilo “feature” ou de gavetas, que aprofunda um assunto numa dimensão mais atemporal.
O Jornal Folha de S. Paulo pautou, durante a semana seguinte à publicação da reportagem A
Batalha de Belo Monte, conteúdos de extensão através de matérias que desdobravam o
aspecto temático da produção energética no Brasil, tomando a Usina de Belo Monte como
gancho para a abordagem: sobre o sistema de transmissão de energia (16/12/2013); sobre
energia eólica (17/12/2013); e sobre o atraso nas obras das usinas de Jirau e Santo Antônio,
ambas no rio Madeira (19/12/2013).
O Programa TV Folha Especial Belo Monte (12/01/2014) também acionou
estratégias de expansão de conteúdos aprofundando aspectos temáticos relevantes. O
enriquecimento com a utilização de novas fontes ou ampliação das falas das fontes já
citadas na reportagem para a web poderia, em princípio, ser considerado parte das
estratégias de expansão, mas destacamos novos aspectos temáticos abordados como: as
condições de trabalho dos operários da Obra; o atraso nas ações compensatórias da cidade
de Altamira, inclusive com o depoimento dos repórteres que destacaram as confusões de
um dia de domingo na cidade; o relato humanizado do agricultor Benedito Balão, ribeirinho
do Xingu, e a descrição de seu habitat e do sonho de voltar a viver às margens do rio.
Uma outra função dos conteúdos de expansão foi o debate de pontos de vista sobre
o assunto considerado polêmico e expressar uma posição frente ao tema, interpretando e
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
13
analisando argumentos a favor ou contra a construção da Usina. No jornalismo esta forma
de conteúdos identifica-se com os gêneros opinativos: editorial, artigo, colunas, cartas e
charges. Citamos, por exemplo, os artigos “Arrancada histórica” (16/12/2013), “Em busca
do equilíbrio” “Inadimplência ambiental”, na sessão Tendências / Debates (21/12/2013); e
o Editorial “A lição de Belo Monte” (18/12/2013)8, além do próprio Debate promovido pela
Folha, mas que optamos por categorizar sob outro aspecto.
Este evento (18/12/2013), que reuniu especialistas para discutir diversos aspectos
da Usina Belo Monte, chama atenção como um outro modo de expansão temática que não
se refere a uma mídia específica. O público, convidado por meio de matérias no jornal e no
portal para comparecer ao auditório na sede da Folha, em São Paulo, pôde presenciar
posicionamentos diversos. Um desdobramento temático importante, mas atípico, porque sai
do âmbito discursivo textual, para inserir-se em um nível mais vivencial, nos moldes
apontados por Jenkins (2009b) de Extração (Extractability) e exemplificados por Moloney
(2011) como workshops promovidos por jornalistas sobre temas de suas coberturas. Como
não tivemos acesso ao debate na íntegra, só foi possível conhecer os aspectos temáticos
expandidos através da matéria do Jornal Folha de S. Paulo (20/12/2013).
Observamos outros conteúdos que expandiam através de uma experiência de
imersão em alguns dos aspectos abordados no texto de referência, proporcionada pela
interação com o ambiente virtual, capaz de motivar a exploração e despertar interesse pelo
assunto. Esta experiência aconteceu através do newgame Folhacóptero, aplicativo
produzido especialmente para o dossiê temático Tudo Sobre Belo Monte. O jogo coloca o
usuário no helicóptero da Folha para sobrevoar a Usina Belo Monte.
8 Pontos de vistas diversos sobre a Usina Belo Monte também apareceram na sessão Painel do Leitor. Posicionamento dos
leitores, elogios e críticas ao trabalho, pedidos de correção de informações foram veiculados na sessão do jornal, no
entanto, poucas foram as respostas dos jornalistas. O mesmo ocorreu nas redes sociais, pouco exploradas pelos produtores:
o hotsite da reportagem para web não permite comentários, apesar de conter botões para compartilhamento no Twitter e
Facebook.
Figura 3: Captura de tela do game Folhacóptero
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
14
Os aspectos temáticos mais evidentes presentes no aplicativo em relação ao texto de
referência foram a noção da dimensão da usina, agora não mais descrita, e os impactos do
alagamento, que acontece no jogo à medida que se cruza um dos círculos posicionado sobre
a barragem. O sobrevoo pelo ambiente virtual do aplicativo coloca o usuário frente à frente
com o objeto tão discutido, a Usina Belo Monte, e projeta o seu momento mais controverso,
o alagamento, quando, de fato, passará a funcionar e efetivará seus impactos. Esta
realidade, ainda que virtual, é presenciada pelo usuário.
Não podemos deixar de destacar um conjunto de abordagens que não se referiam a
um aspecto temático em particular, mas tinham por função reforçar o contrato fiduciário9
tanto do texto de referência quanto de outros conteúdos transmídia. A estratégia era
evidenciar o percurso de produção jornalística da reportagem, descrevendo o processo de
produção e apuração da reportagem a fim de credenciá-la. Esta é uma prática recorrente no
jornalismo investigativo, onde o repórter e os passos percorridos para chegar até as
informações e fontes, acabam se constituindo parte do discurso. A TV Folha (22/12/2013)
enveredou por este caminho descrever o processo de construção de pauta, a apuração e os
desafios para captação de fotografia e vídeo. Os repórteres conversavam e testemunhavam
suas impressões, as dificuldades e soluções encontradas no andamento da produção,
ressaltando o trabalho em profundidade e as perspectivas de atualização do dossiê.
Considerações finais
As narrativas transmídias, compreendidas como uma das estratégias da
transmidiação, tem se mostrado como um dos modelos possíveis no novo cenário do
jornalismo, porque integra os recursos tecnológicos digitais e as redes, e explora um de seus
aspectos mais significativos, a interpretação, a contextualização e o aprofundamento para
qualificar mais a informação.
Da análise do dossiê Tudo Sobre Belo Monte, caracterizado como narrativa
transmídia, ficou claro como a adoção de estratégias de expansão, seja para atualizar,
detalhar, debater pontos de vista ou promover imersão ou vivência da temática,
contribuíram para uma abordagem diferenciada. Os consumidores do dossiê que trilharam o
percurso proposto pelos produtores, acompanhando as repercussões e desdobramentos
9 Na Semiótica o contrato fiduciário refere-se ao fazer persuasivo do destinador e à adesão do destinatário, que tem como
base um crer verdadeiro atribuído ao discurso, isto é, à confiança depositada pelo enunciatário ao enunciado (Greimas;
Courtés, 2008).
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016
15
temáticos, tiveram um ganho na compreensão da temática abordada bem maior que aquele
que acessou apenas uma mídia. As narrativas transmídias revelam, assim, seu potencial de
promover um aprofundamento de questões relevantes e abrir espaço para múltiplas vozes
numa sociedade onde não só a informação como os públicos estão fragmentados.
As categorizações propostas neste trabalho não têm a pretensão de se fazerem
universais às narrativas transmídias no jornalismo. O olhar para o objeto de análise nos fez
ver algumas das formas possíveis que tomavam os conteúdos nesse modelo de produção,
mas ao mesmo tempo assinalar a convergência dos elementos próprios da cultura jornalista.
O método ensaiado da análise temática dos conteúdos transmídias pode, ainda, ser apontado
como uma contribuição para a identificação das estratégias de expansão transmídias no
jornalismo em trabalhos futuros.
Referências Bibliográficas
CANAVILHAS, João. Jornalismo Transmídia: um desafio ao velho ecossistema midiático. In:
RENÓ, Denis; CAMPALANS, Carolina; RUIZ, Sandra; e GOSCIOLA, Vicente. Periodismo
Transmedia: miradas múltiples. Bogotá: Editorial Universidad del Rosario, 2013.
________. Hipertextualidade: novas arquiteturas noticiosas. In: CANAVILHAS, João (org.).
Webjornalismo: 7 caraterísticas que marcam a diferença. Covilhã: LabCom, 2014, p. 3-24.
FECHINE, Yvana et al. Como pensar os conteúdos transmídias na teledramaturgia brasileira? Uma
proposta de abordagem a partir das telenovelas da Globo. In: LOPES, Maria Immacolata Vassallo
de (org). Estratégias de transmidiação na ficção televisiva brasileira. Porto Alegre: Sulina, 2013.
FECHINE, Yvana. Disciplina Telecinejornalismo. Recife, Universidade Federal de Pernambuco,
2013-2016. Anotações e fichas de Aula.
_________. Interações discursivas em manifestações transmídias. In: FECHINE, Yvana. et al.
(Orgs). Semiótica nas práticas sociais: Comunicação, Artes, Educação. São Paulo: Estação das
Letras e Cores, 2014.
GREIMAS, A. J.; COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. Tradução de Alceu Dias Barbosa Lima et
al. São Paulo: Contexto, 2008.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2009a.
_________ . The Revenge of the Origami Unicorn: Seven Principles of Transmedia Storytelling.
2009b. Disponível em: http://henryjenkins.org/2009/12/the_revenge_of_the_origami_uni.html.
Acesso em 09 nov. 2015.
_________. Revenge of the Origami Unicorn: The Remaining Four Principles of Transmedia
Storytelling. 2009c. Disponível em:
http://henryjenkins.org/2009/12/revenge_of_the_origami_unicorn.html. Acesso em 09 nov. 2015.
MOLONEY, Kevin T. Porting Transmedia Storytelling to Journalism. 2011. 115 f. Dissertação
(Mestrado em Artes). Faculty of Social Sciences, University of Denver.
RENÓ, Denis; FLORES, Jesus. Periodismo Transmedia: Reflexiones y técnicas para el
ciberperiodista desde los laboratorios de medios interactivos. Madrid: Editorial Fragua, 2012.
SCOLARI, Carlos A. Narrativas transmedia: Cuando todos los medios cuentan. Barcelona: Duesto,
2013.