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JULIANO RICARDO RESENDE CUSTO DE PRODUÇÃO DA ATIVIDADE LEITEIRA: UM ESTUDO DE CASO NA REGIÃO DE GURINHATÃ – MG Orientador: Prof. Ricardo Pereira Reis LAVRAS MINAS GERAIS, BRASIL 2006 Monografia apresentada ao departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Pós Graduação Lato Sensu em Bovinocultura Leiteira: Manejo, Mercado e Tecnologia (PBL) para a obtenção do título de especialista.

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JULIANO RICARDO RESENDE

CUSTO DE PRODUÇÃO DA ATIVIDADE LEITEIRA: UM ESTUDO DE CASO NA REGIÃO DE GURINHATÃ – MG

Orientador: Prof. Ricardo Pereira Reis

LAVRAS MINAS GERAIS, BRASIL

2006

Monografia apresentada ao departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Pós Graduação Lato Sensu em Bovinocultura Leiteira: Manejo, Mercado e Tecnologia (PBL) para a obtenção do título de especialista.

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JULIANO RICARDO RESENDE

CUSTO DE PRODUÇÃO DA ATIVIDADE LEITEIRA: UM ESTUDO DE CASO NA REGIÃO DE GURINHATÃ – MG

APROVADA em _______ de _________________ de _______

Prof: _______________________________________________

Prof: _______________________________________________

Prof: _________________________________________

UFLA(Orientador)

LAVRASMINAS GERAIS, BRASIL

2006

Monografia apresentada ao departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Pós Graduação Lato Sensu em Bovinocultura Leiteira: Manejo, Mercado e Tecnologia (PBL) para a obtenção do título de especialista.

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, por nunca ter me

abandonado.

A minha mãe e meu irmão, que estão sempre ao meu lado.

A todos os professores da Universidade Federal de Lavras,

em especial, ao meu orientador, por estar sempre à

disposição para me ajudar.

Aos amigos Nilander José Franco, Átila Martins e Ádson

Aguiar que colaboraram com este trabalho.

A todos, muito obrigado.

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SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO ......................................................................................... 1

2 - REVISÃO DE LITERATURA E MODELO TEÓRICO........................... 3

2.1 - Histórico da produção de leite no Brasil ................................................. 32.2 – Crescimento do setor leiteiro no Brasil .................................................. 42.3 – Custos de produção ................................................................................ 62.3.1 – Particularidades do sistema de produção de leite ................................ 72.3.2 – Custo fixo ............................................................................................ 92.3.2.1 - Depreciações de recursos .................................................................. 92.3.3 – Custo variável ...................................................................................... 132.3.4 – Custo operacional ................................................................................ 132.3.5 – Custo alternativo e de oportunidade .................................................... 142.3.6 – Custo econômico ................................................................................. 142.3.7 – Outras terminologias ........................................................................... 152.3.8 – Rateio de custos ................................................................................... 152.4 - Inventário ................................................................................................ 162.4.1 – Variação do inventário animal ............................................................ 172.5 - Receita .................................................................................................... 172.6 – Lucro/ha ................................................................................................. 182.7 – Análise econômica e interpretação dos resultados ................................. 182.7.1 – Fluxo de caixa ..................................................................................... 192.7.2 - Lucratividade ........................................................................................ 202.7.3 – Rentabilidade ou retorno do investimento .......................................... 202.7.4 – Tempo do retorno do investimento “Pay Back” ................................. 212.7.5 – Taxa interna de retorno (TIR) ............................................................. 212.7.6 – Relação benefício/custo ...................................................................... 22

3 - METODOLOGIA ...................................................................................... 23

3.1 – Estudo de casos ...................................................................................... 233.2 - Inventário ................................................................................................ 233.3 - Depreciações ........................................................................................... 24

4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................. 26

4.1 – Custo fixo ............................................................................................... 264.2 – Custo variável ......................................................................................... 264.3 – Custo operacional ................................................................................... 274.4 – Custo alternativo ou de oportunidade .................................................... 284.4.1 – Da terra ................................................................................................ 284.4.2 – Dos animais e outros bens ................................................................... 294.4.3 – Do custo operacional ........................................................................... 294.4.4 – No capital total .................................................................................... 29

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4.5 – Custo total da atividade leiteira .............................................................. 304.6 – Produção e receita .................................................................................. 304.7 – Custos operacionais, econômicos e receita da atividade leiteira ............ 314.8 – Custos operacionais, econômicos e receita do leite ............................... 324.9 – Resultado caixa da atividade leiteira ...................................................... 334.10 – Lucro operacional da atividade leiteira ................................................ 344.11 – Lucro econômico da atividade leiteira ................................................. 344.12 – Lucratividade da atividade leiteira ....................................................... 354.13 – Rentabilidade da atividade leiteira ....................................................... 354.14 – Tempo de retorno do investimento “Pay Back” da atividade leiteira .. 364.15 – Taxa interna de retorno da atividade leiteira ........................................ 364.16 – Relação benefício/custo da atividade leiteira ....................................... 37

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 38

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 39

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Produção de leite em milhões de litros por ano (1995 a 2005) ................. 3

Tabela 2 – Consumo de leite em milhões de litros por ano (1994 a 2004) ................. 5

Tabela 3 – Estimativa da vida útil em horas máquina e equipamentos ...................... 11

Tabela 4 – Vida média produtiva de alguns animais ........................................................ 12

Tabela 5 – Inventário da propriedade avaliada ................................................................ 24

Tabela 6 – Vida útil estimada para cálculo das depreciações dos bens .............................. 25

Tabela 7 – Depreciações com base no inventário da propriedade avaliada ........................ 25

Tabela 8 – Custo fixo da atividade leiteira na propriedade avaliada .................................. 26

Tabela 9 – Custo variável da atividade leiteira na propriedade avaliada ............................ 27

Tabela 10 – Custo operacional da atividade leiteira na propriedade avaliada ..................... 27

Tabela 11 – Custo de oportunidade do capital empatado em terra .................................... 28

Tabela 12 – Custo de oportunidade do capital imobilizado............................................... 29

Tabela 13 – Custo de oportunidade do custo operacional ................................................. 29

Tabela 14 – Custo de oportunidade do capital na atividade leiteira.................................... 30

Tabela 15 – Custo econômico da atividade leiteira .......................................................... 30

Tabela 16 – Produção, receita do leite e da atividade leiteira ............................................ 31

Tabela 17 – Custos médios e receita média da atividade leiteira (R$/litro)......................... 31

Tabela 18 – Custos médios e receita média do leite (R$/litro) .......................................... 32

Tabela 19 – Produtividade dos produtores referências e do caso em estudo ....................... 32

Tabela 20 – Indicadores de eficiência na produção de leite e do caso em estudo ................ 33

Tabela 21 – Resultado caixa da atividade leiteira na propriedade avaliada ........................ 33

Tabela 22 – Lucro operacional da atividade leiteira na propriedade avaliada .................... 34

Tabela 23 – Lucro econômico da atividade leiteira na propriedade avaliada ...................... 34

Tabela 24 – Lucratividade da atividade leiteira na propriedade avaliada ........................... 35

Tabela 25 – Rentabilidade da atividade leiteira na propriedade avaliada ........................... 35

Tabela 26 – “Pay Back” da atividade leiteira na propriedade avaliada .............................. 36

Tabela 27 – Taxa interna de retorno da atividade leiteira na propriedade avaliada ............. 36

Tabela 28 – Relação benefício/custo da atividade leiteira na propriedade ......................... 37

Páginas

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1 - INTRODUÇÃO

A produção de leite é uma atividade muito explorada, onde é sempre

questionada a questão da viabilidade econômica, que é indicada com os indicadores

do custo de produção. Na análise de uma exploração de vacas para a produção de

leite, deve-se procurar estabelecer índices de produtividade, porque somente

através deles torna-se possível elaborar uma apreciação técnica da atividade

(FARIA e CORSI, 2000).

LEDIC (2005) afirma que o produtor de leite pode transformar sua

atividade em uma opção competitiva com qualquer outro empreendimento dentro

de uma visão do retorno do capital investido. O que difere a competividade da

produção de leite de outras atividades é que, geralmente, estas atividades já têm

uma maior tecnificação e também uma tecnologia superior obtendo sempre índices

muito mais altos e, consequentemente, trazendo maior retorno financeiro ao

produtor.

Apesar disso, na produção de leite o que se encontra é uma grande

melhoria na questão da tecnologia, pois a cada dia que passa os produtores estão

investindo em novas máquinas, equipamentos, assistência técnica e mão de obra

qualificada, para contribuir com o aumento da qualidade de sua produção, fazendo

com que a produção de leite se torne cada dia mais competitiva com as demais

atividades alternativas existentes no mercado.

A realidade predominante na maioria das regiões produtoras de leite do

país é de grande deficiência de conhecimentos sobre sistemas de produção mais

intensivos. A história da produção leiteira no Brasil foi escrita para animais

rústicos que exigem poucos conhecimentos sobre manejo, porém pouco produtivos

que associados à baixa lotação das pastagens, alto intervalo entre partos e baixo

nível tecnológico comprometem o sucesso da atividade quando encarada de forma

empresarial (GOMES, 1999).

Há alguns anos, na área urbana, conhecer os custos de produção era

suficiente para um bom modelo de gestão financeira. As empresas sabiam os custos

e calculavam os preços de venda, garantindo parte dos lucros que almejavam. Hoje

em dia, os preços são formados pelo consumidor e o empresário deve gerir os

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custos de produção cujas características revelam um poder de concentração

econômica, caracterizada em mercado oligopolista.

Por meio deste trabalho, busca-se identificar indicadores técnicos e

econômicos de custos e estimar o custo da atividade leiteira. Para tanto, será

utilizado o acompanhamento de uma propriedade leiteira, caracterizando um estudo

de caso.

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2 – REVISÃO DE LITERATURA E MODELO TEÓRICO

2.1 – Histórico da produção de leite no Brasil

O Brasil possui um dos maiores rebanhos leiteiros do mundo, porém com

produção média muito baixa, por volta dos 5,7 litros por vaca por dia

(ANUALPEC, 2005). As propriedades, de maneira geral, apresentam índices

produtivos e reprodutivos muito baixos, fazendo com que a renda da propriedade

não seja muito satisfatória.

Frequentemente se diz que produzir leite, no Brasil, não é bom negócio, em

razão do pequeno lucro, ou até mesmo do prejuízo que essa atividade dá ao

produtor (GOMES, 2000).

Entretanto, a produção de leite vem crescendo a cada ano que passa, se for

comparada a produção de 1995, que foi de 16.474 milhões de litros com a de 2005,

que foi de 25.018 milhões de litros, conforme Tabela 1.

Tabela 1 – Produção de leite em milhões de litros por ano (1995 a 2005).

Produção de leite (milhões de litros/ano)Ano

BrasilEstados Unidos

Índia Rússia

1995 16.474 n.d. n.d. n.d.1996 18.515 69.857 33.500 35.8001997 18.665 70.802 34.500 34.1001998 18.693 71.334 35.500 33.0001999 19.070 73.750 36.000 32.0002000 19.767 75.929 36.250 31.9002001 20.510 74.994 36.400 33.0002002 21.643 77.140 36.200 33.5002003 22.254 77.253 36.500 33.0002004 23.475 77.525 37.500 32.2002005 25.018 80.150 38.500 31.200

FONTE: ANUALPEC, 2006 (adaptado).

Pode-se notar um grande aumento na produção entre esses anos e se a

produção brasileira for comparada com a de outros países grandes produtores, nota-

se que o Brasil teve um grande crescimento anual enquanto a Rússia, por exemplo,

no mesmo período, teve uma queda em sua produção.

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Na raiz da explicação do aparente paradoxo (negócio ruim e aumento da

produção) está a estrutura da produção de leite do Brasil, onde muitos produzem

pouco e poucos produzem muito. Os produtores de até 50 litros de leite/dia

correspondem a 50% do número total de produtores, mas respondem por apenas

10% da produção. No outro extremo, os produtores de mais de 200 litros de

leite/dia correspondem a apenas 10% do número total, porém respondem com 50%

da produção. Diante de tal realidade, é fácil compreender a afirmativa de que

produzir leite não é bom negócio. Com certeza, para muitos não é, porém para

outros é um excelente negócio (GOMES, 2000).

2.2 – Crescimento do setor leiteiro do Brasil

Segundo GOMES e ZOCCAL (2003), o padrão de crescimento que vem

ocorrendo na pecuária leiteira no Brasil se caracteriza por grandes alterações no

decorrer das últimas três décadas. Nos anos 70, esse crescimento foi explicado pelo

aumento do número de vacas; nos anos 80, os ganhos de produtividade e o

aumento do número de vacas ordenhadas explicam, em igual importância, o

crescimento da produção. Entretanto, nos anos 90, o fator mais importante para o

crescimento da produção foi o aumento da produtividade.

O significativo crescimento da produtividade, nos anos 90 (5,4% ao ano),

reflete as mudanças estruturais verificadas nos sistemas de produção, que

respondem pela maior parte da produção nacional. Maior abertura comercial,

desregulamentação do mercado de leite, queda da inflação, maior interação da

cadeia produtiva com a coleta a granel e o espaço conquistado pelo leite longa vida

foram argumentos que contribuíram para as mudanças estruturais verificadas.

Aliado a essas variáveis econômicas, não se pode deixar de reconhecer o

importante papel da pesquisa agrícola, cujas inovações tecnológicas permitiram

aumentos de produtividade (GOMES, 2000). O mesmo autor comenta sobre as

mudanças nas fontes de crescimento da produção, que contribuíram para alterar

participações relativas dos diversos grupos de produtores na produção total.

Outro importante fator para aumento na produção de leite brasileira é o

aumento do consumo do produto fluido no país. Em 1994, o país consumiu

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aproximadamente 3.471 milhões de litros, já em 2004, este número passou para

5.993 milhões de litros (Tabela 2), aumentando assim a demanda desse produto,

fazendo com que a produção aumente para satisfazer a necessidade de mercado

(ANUALPEC, 2006).

Tabela 2 – Consumo de leite fluido no Brasil (1994 a 2004).

Ano Consumo (milhões de litros)1994 3.4711995 3.9971996 4.4761997 4.9701998 5.3451999 5.2252000 5.1002001 5.3902002 5.7002003 5.7672004 5.993

FONTE: ANUALPEC, 2006 (adaptado).

Quanto às exportações, o Brasil cresceu nos onze primeiros meses de 2004.

Entre janeiro e novembro, as exportações de lácteos somaram U$ 81,3 milhões,

sendo que em todo o ano de 2004 as remessas do setor ao exterior chegaram a U$

95,3 milhões. Em relação à balança comercial, ocorreu um superávit de cerca de

U$ 10 milhões, um valor muito positivo, se comparado a 2003, que apresentou um

déficit na balança comercial de U$ 63,8 milhões. Mas o pior resultado foi

alcançado em 1998, cujo saldo negativo chegou a U$ 503,9 milhões (ALVIM e

MARTINS, 2005).

Em 2005, as exportações somaram U$ 130,0 milhões, sendo que o saldo da

balança comercial ficou em U$ 8,8 milhões, valor positivo, mais inferior ao de

2004 (ANUALPEC, 2006).

Apesar de a recuperação ser uma boa noticia para o setor, percebe-se que a

recomposição real no preço pago ao produtor está se dando em ritmo lento e em

menor proporção que aumento dos custos (ALVIM e MARTINS, 2005).

Neste cenário, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e

Agricultura (FAO) prevê que, em 2010, o Brasil será deficitário no comércio

mundial de lácteos. Em outras palavras, o país importará mais produtos lácteos do

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que os venderá ao exterior. Segundo a entidade, o Brasil estará consumindo

anualmente quase 31 bilhões de litros, um aumento anual de 3,3%. Como a

população deverá crescer ao redor de 1,5% ao ano, o aumento do consumo

decorrerá em grande parte da elevação do consumo per capita. A FAO estima que

o Brasil terá um consumo de 155 kg por habitante por ano em 2010. É um aumento

substancial, frente aos 130 kg por pessoa hoje consumidos. Para a entidade, embora

a produção deva crescer dentro das taxas históricas, ao redor de 3,5% ao ano, não

crescerá a ponto de tornar o pais estruturalmente superavitário, ao menos nesse

horizonte de tempo (ANUALPEC, 2006).

2.3 – Custos de produção

A definição de eficiência de uma propriedade leiteira começa pela

conjunção de despesas e receitas, gerando lucro ou prejuízo. Normalmente, o

produtor de leite se preocupa muito com o preço do produto, e o preço não justifica

sucesso ou fracasso de um negócio. O que interessa é o todo, custo em conjunto

com o preço e renda, o que determinará o lucro da atividade em questão (FARIA,

2005).

A estimativa dos custos de produção é o detalhamento de todas as despesas

e receitas diretas ou indiretas das atividades produtivas envolvidas (GOTTSCHAL

et al., 2002). Este custo é um dos principais fatores a ser analisado para a boa

administração de uma empresa. Com ele pode-se estimar a viabilidade econômica

de um negócio, em função do capital investido ou compará-lo com outras

atividades agropecuárias ou não. Porém, se a metodologia do cálculo deste custo

não for conhecida, esta viabilidade pode ser estimada de maneira incorreta

chegando a conclusões equivocadas.

Por não conseguir controlar o preço do produto que vende, o produtor

necessita administrar as variáveis que estão sob o seu controle. Trata-se de uma

estratégia para tornar seu produto competitivo, atingindo menores custos de

produção. O seu resultado econômico em um mercado caracterizado pela

concorrência depende do gerenciamento dos custos de produção do leite e dos

ganhos de escala. O aumento da eficiência produtiva é fator decisivo para a

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competitividade do setor leiteiro que, produzindo com menor custo, beneficiará

toda a cadeia do leite (REIS, MEDEIROS e MONTEIRO, 2001).

REIS (2002) define custos de produção como sendo a soma dos valores de

todos os recursos (insumos e serviços) utilizados no processo produtivo de uma

atividade agrícola, em certo período de tempo e que podem ser classificados em

curto e longo prazo. Neste caso, o curto prazo é a safra, ou seja, o período de

análise.

AGUIAR e ALMEIDA (2002) citam que o custo total de produção de um

produto agropecuário deve representar todos os pagamentos em dinheiro (custo

caixa) assim como as despesas implícitas que não envolvem desembolso de

dinheiro (custo não caixa) a exemplo da depreciação dos bens utilizados no

processo produtivo ou a remuneração do capital investido, ou a remuneração do

capitalista.

Segundo FARIA (2005), a realidade mostra que o produtor brasileiro ainda

não sabe estimar seu lucro, ficando preocupado apenas em cobrir seus custos

operacionais. O custo é só uma ferramenta usada para que decisões administrativas

sejam tomadas. O que importa é a remuneração do capital, ou seja, a relação entre

o lucro e o capital investido na atividade produtiva.

2.3.1 - Particularidade do sistema de produção de leite

O fato de uma propriedade leiteira ter produção conjunta de leite e de

animais (bezerros que nascem, novilhas que crescem, vacas descartadas), a renda

bruta, geralmente, é composta além da venda do leite, também da venda de

animais, assim como o custo de produção engloba os gastos com a produção de

leite e de animais.

Sendo assim, os custos de uma fazenda leiteira correspondem não apenas

ao custo do leite, e sim ao custo da atividade leiteira (produção de leite e animais).

Entretanto, na comparação feita entre o preço do leite e o custo do leite,

deve-se tomar cuidado para não superestimar esse custo, comparando o preço do

leite com o custo da atividade leiteira.

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Como na prática não se consegue separar o que vai para a produção de leite

e o que vai para a produção de animais, devido à sua grande dificuldade

operacional, AGUIAR e ALMEIDA (2002) citam que o método mais utilizado

para apropriar esses custos é a distribuição dos custos da atividade na mesma

proporção da renda bruta, conforme exemplo abaixo:

a) Renda bruta anual da atividade leiteira:

- Venda de leite = 788.400 litros x R$ 0,50/litro = R$ 394.200,00

- Venda de animais = R$ 96.000,00

- Total = R$ 490.200,00

b) Custo anual da atividade = R$ 420.000,00

c) Composição percentual da renda bruta anual:

- Leite = R$ 394.200,00 / R$ 490.200,00 = 80%

- Animais = R$ 96.000,00 / R$ 490.200,00 = 20%

d) Renda bruta anual da atividade leiteira/litro:

R$ 490.200,00 / 788.400 litros = R$ 0,62/litro

e) Custo da atividade leiteira/litro = R$ 420.000,00 / 788.400 litros = R$

0,53/litro

d) Custo do litro de leite = R$ 0,53/litro x 80% = R$ 0,43/litro

Comparando o custo do litro de leite com o preço recebido de

R$ 0,50/litro, observa-se um lucro por litro de R$ 0,07. Quando a comparação é

feita com o custo da atividade/litro, tem-se um prejuízo de R$ 0,03/litro. Portanto,

no momento da análise, é importante considerar que o preço do litro de leite pago

ao produtor é sempre comparado com o custo do leite e não da atividade leiteira,

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assim como o custo da atividade leiteira é comparado com a renda bruta da

atividade por litro.

2.3.2 – Custo fixo

Custo fixo é aquele que permanece inalterável, em termos físicos de valor,

independente do volume de produção e dentro de um intervalo de tempo relevante

(GOTTSHALL et al. 2002).

REIS (2002) define custo fixo como sendo aquele que não é assimilado

totalmente pelo produto no curto prazo, ou seja, considera-se apenas a parcela de

sua vida útil, por meio de depreciação. Do ponto de vista de fluxo de caixa, estes

custos serão reembolsados a longo prazo, devendo, no curto prazo, somente

considerar a depreciação do período de uso.

São considerados custos fixos fatores como a depreciação dos bens e

benfeitorias, impostos e taxas de remuneração fixa, calagem, obras de irrigação

entre outros fatores que compõem o custo de produção.

2.3.2.1 - Depreciação de recursos

A depreciação é o custo necessário para substituir os bens quando esses

tornam-se inúteis pelo desgaste físico. Representa a reserva em dinheiro que a

empresa faz durante o período de vida útil provável do bem (benfeitorias, animais

destinados à reprodução e serviços, máquinas, implementos, equipamentos) para

sua posterior substituição (LOPES e CARVALHO, 2000).

Quando é feito algum tipo de investimento na propriedade que vai ser útil

por vários anos consecutivos não é justo que se aproprie este gasto no mesmo ano

que ele foi gerado. Desta forma se procura com a depreciação evitar que os custos

de produção sejam superestimados em anos de investimentos e subestimados em

anos normais (AGUIAR e ALMEIDA, 2002).

Segundo LOPES e CARVALHO (2000); NOGUEIRA (2004); AGUIAR e

ALMEIDA (2002), o método mais simples para se calcular a depreciação de um

bem é o chamado linear, que consiste na seguinte fórmula:

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Depreciação = Vi – Vf, onde:

n

Vi – Valor inicial do bem;

Vf – Valor final ou valor de sucata do bem;

n – Vida útil estimada do bem (anos).

NOGUEIRA (2004) recomenda que o valor residual de máquinas e

veículos seja considerado em 10% do valor de um novo.

As estimativas, segundo MARION (1996), principalmente as fixadas pelo

imposto de renda, em relação às máquinas, é notado desvios significativos, pois há

máquinas cuja vida útil não ultrapassa três anos, enquanto outras passam de 10

anos. Desta forma a análise da vida útil, de um implemento, ou benfeitoria

separadamente é a melhor escolha. Esta deve ser prevista por pessoas experientes

da área, no caso, zootecnistas, produtores rurais, técnicos, engenheiros agrônomos,

entre outros. Ele sugere também que a depreciação de implementos agrícolas seja

calculada por horas trabalhadas ao invés de anos de vida, pois não são utilizados

ininterruptamente durante o ano. Desta maneira, o valor monetário do equipamento

novo sobre o número estimado de horas de trabalho, implica na sua depreciação

por hora.

O número estimado de horas de trabalho na vida útil de implementos e

máquinas pode ser encontrado em seus fabricantes ou por pesquisadores idôneos

que desenvolvem esses dados ao longo dos anos (Tabela 3).

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Tabela 3 - Estimativa da vida útil em horas máquina e equipamentos.

Descrição Vida útil (horas)Trator de rodas 12.000

Arados 2.000Grade de discos 2.000Grade de dentes 2.500Grade de molas 2.500

Rolo 1.500Semeadeira a lanço 800

Semeadeira em linha 1.200Plantadeira de milho 1.200

Pulverizador 1.500Enxada rotativa 1.500

Capinadeira a trator 2.500Ceifadeira rotativa 2.000Ancinho mecânico 1.500

Enfardadeira 2.500Ceifa-trilha 2.000Ensiladeira 1.200

Colhedeira de milho 1.500Carregador de estrume 2.000Espalhador de estrume 2.500Moinho de forragem 1.500

Elevador portátil 1.500Carroção 5.000

Adubadeira 1.000

FONTE: ANTUNES e ENGEL (1994)

A partir dessas estimativas, associadas ao valor novo do equipamento, a

depreciação por hora se torna uma ferramenta fácil para a determinação dos custos

fixos.

Em pastagem, a depreciação na proporção de sua perda de potencialidade

tem capacidade limitada. E para efeito de custo, são feitas estimativas para o tempo

de sua vida útil (MARION, 1996). Uma queda na produtividade das pastagens de

aproximadamente 6% ao ano é atribuída à diminuição dos nutrientes no sistema da

pastagem (MARTINS et al., 1996).

Segundo AGUIAR (1996), há uma queda no potencial de produção das

pastagens da ordem de 6 a 20% ao ano, afirmando que essa queda ocorre devido

aos erros de manejo, na adequação das taxas de lotação animal (sub pastejo ou

super pastejo) e a falta de adubação de manutenção.

Analisando os dados desses autores, observa-se que nas pastagens pode

ocorrer uma queda na taxa de produção que varia de 6 a 20% ao ano, o que

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significa que, entre 5 a 16 anos, após a formação da pastagem essa se encontra

totalmente exaurida, se não manejadas corretamente do ponto de vista.

No entanto, tenho acompanhado propriedades com pastagens de capim

colonião com mais de 60 anos de formação sem nenhum sinal de degradação, ou

seja, a pastagem é uma cultura perene e a amortização deve ser determinada de

acordo com a região, por um profissional capacitado embasado em informações

históricas das pastagens já implantadas e sobre avaliação visual da situação das

mesmas.

MARION (1996) sugere que o gado reprodutor (touro e vaca), animais de

trabalho e outros animais constantes no ativo permanente sejam alvos de

depreciação, por perderem sua capacidade reprodutiva com o passar dos anos

(Tabela 4). Deve-se considerar o valor residual para provável venda no frigorífico

quando não mais for útil. O cálculo é feito pelo peso do animal multiplicado ao

preço pago em arrobas.

Tabela 4 - Vida média produtiva de alguns animais.

Animais Vida média produtiva (anos) Taxa de depreciação ao ano (%)Bovinos – reprodutor 8 12,5Bovinos – matrizes 10 10,0

Suínos 4 25,0Burro de tração 12 8,3Cavalo de sela 8 12,5Boi de carro 5 20,0

FONTE: MARION (1996)

Resultados de pesquisas sobre vida média de animais produtivos são de

grande importância para se determinar o custo fixo dispensado aos mesmos, no

decorrer de suas atividades. Como uma forma de repor o capital investido nesses

bens à recomposição do mesmo, na compra de outros, quando esses estiverem com

sua capacidade de reproduzir prejudicada, e não mais serem úteis.

Por convenção não se deprecia a terra porque não perde valor de mercado e

seu uso preserva a qualidade da mesma.

Em rebanhos leiteiros estabilizados, que se considera no cálculo do custo

todo o rebanho, a categoria vaca não será depreciada, uma vez que, as novilhas

substituem as vacas e o custo da recria destas novilhas entram na composição do

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custo de produção. Entretanto, ao se considerar apenas a categoria vacas, elas

devem ser depreciadas (AGUIAR e ALMEIDA, 2004).

NOGUEIRA (2004) cita que a reserva de capital, obtida com as

depreciações não precisa necessariamente ser dirigida para investimento bancário,

podendo ser armazenada em novos investimentos, ou seja, compra de bens de

capital que tendem a gerar rendimentos ou riquezas para a empresa.

2.3.3 – Custo variável

Custo variável é aquele que varia de acordo com a quantidade produzida e

cuja duração é igual ou menor que o ciclo de produção (curto prazo). Em outras

palavras, eles incorporam totalmente ao produto no curto prazo, não sendo

aproveitados para outro ciclo produtivo (LOPES e CARVALHO, 2000; AGUIAR

e ALMEIDA, 2002).

REIS (2002) cita que são os recursos que exigem dispêndios monetários de

custeio durante a safra.

São considerados custos variáveis na produção de leite, fatores como

alimentação do rebanho, medicamentos, inseminação artificial, fertilizantes,

defensivos, combustíveis, manutenções, mão de obra, entre outros.

Segundo NOGUEIRA (2004), muitas vezes, o fluxo de caixa é confundido

como custos variáveis. O primeiro é a relação entre as entradas e as saídas de

capital de uma empresa, enquanto o segundo são os recursos que se incorporam ao

produto ao longo do ciclo.

2.3.4 – Custo operacional

É o custo de todos os recursos que exigem desembolsos monetário por

parte da atividade produtiva para a sua recomposição, como gastos com insumos,

mão-de-obra, manutenção, despesas gerais, incluindo as depreciações dos recursos

fixos. Pode ser definido também como sendo todos os custos fixos somados aos

custos variáveis. A finalidade dos custos operacionais na análise é a opção de

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decisão em casos em que os retornos financeiros sejam inferiores aos de outras

alternativas, representadas pelos custos de oportunidade (REIS, 2002).

2.3.5 – Custo alternativo ou de oportunidade

Custo de oportunidade é o custo que um fator de produção (capital, mão-

de-obra, entre outros) possui devido a sua não utilização em uma outra atividade

alternativa no mercado, e sim pelo seu uso na atividade avaliada. O custo de

oportunidade não representa um desembolso de dinheiro propriamente dito e sim

uma medida de eficiência que deve ser considerada como custo. Este custo envolve

a taxa de juros de todo o capital investido na atividade durante o período de tempo

necessário para se concluir o ciclo de produção (GOTTSCHALL et al., 2002).

REIS (2002) cita que pode ser definido também como sendo o retorno que

o capital utilizado na atividade agrícola estaria proporcionando se fosse aplicado

em outras alternativas de investimento, como o mercado financeiro. Ele nos

permite verificar se é viável economicamente o empreendimento em questão, desde

que seu retorno financeiro seja igual ou superior às outras alternativas de uso do

capital (taxa de juros real da caderneta de poupança, aluguel de terras, etc).

Estas taxas utilizadas podem ser a taxa de juros de 6% ao ano ou a taxa de

juros de 12% ao ano (GOTTSCHALL et al., 2002; NOGUEIRA, 2004).

Caso o valor da terra seja incluído no cálculo, essa taxa deve ser de 3% ao

ano para o total imobilizado. No entanto, essas taxas fixas e arbitrárias não

contemplam as melhores oportunidades de uso do capital. Segundo NOGUEIRA

(2004), fugindo das taxas bancárias, outra opção é analisar o rendimento de outras

atividades, como agricultura anual, cana, laranja, aluguel de pastagens, etc.

2.3.6 - Custo econômico

Somando-se o custo operacional ao custo alternativo ou de oportunidade,

obtém-se o custo econômico.

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2.3.7 – Outros terminologias

REIS (1997) e REIS (2002) adotam também a metodologia de classificação

dos custos de produção em custo total (CT), custo total médio (CTMe), custo

operacional total (CopT), custo operacional fixo total (CopFT), custo operacional

variável total (CopVT), custo operacional total médio (CopTMe), custo fixo médio

(CFMe), custo variável médio (CVMe), custo operacional fixo médio (CopFMe) e

o custo operacional variável médio (CopVMe) com a divisão dos respectivos

valores totais pela produção na safra considerada.

OLIVEIRA FILHO (1998) adota os custos diretos, que são aqueles

relacionados a uma única atividade produtiva, ou seja, são exclusivos e fáceis de

serem apropriados, sem a necessidade de nenhum tipo de processamento

intermediário ou rateio e os custos indiretos, que necessitam de algum tipo de

rateio até poderem ser apropriados às suas respectivas atividades produtivas, por

beneficiar mais de uma atividade.

GOMES (1999) adota custo operacional efetivo, custo operacional total e

custo total e uma combinação das classes citadas por NOGUEIRA (2004).

2.3.8 - Rateio de custos

Por mais detalhada e precisa que seja uma contabilidade, existem alguns

custos, especialmente os fixos, que precisam ser rateados entre as unidades ou

setores de produção.

A necessidade de rateio é inversamente proporcional à organização da

contabilidade da empresa (NOGUEIRA, 2004).

Como critério de rateio dos custos indiretos, REIS, MEDEIROS e

MONTEIRO (2001) citam que pode-se utilizar o índice percentual entre a área

explorada com leite e a área total da propriedade.

Para outros custos, NOGUEIRA (2004) sugere usar a receita proporcional

de cada atividade, como por exemplo, em uma fazenda leiteira, a receita pode ser

obtida com a venda de leite, de esterco e de animais, ou na proporção da área

ocupada por cada categoria ou cultura.

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2.4 - Inventário

Os registros dos itens patrimoniais competentes ao negócio agropecuário

servirão para fins gerenciais quando for utilizado na determinação do valor do

negócio, na sua rentabilidade em um determinado período, e prover o empresário

de informações que o auxiliarão na tomada de decisão (AGUIAR e ALMEIDA,

2004).

O inventário é um tipo de registro geral que leva em consideração todos os

bens da propriedade, atendendo às exigências tanto do fisco quanto do

administrador. Deve ser feito anualmente e serve para corrigir as falhas de

informação da contabilidade. Na verdade, é o primeiro levantamento a ser feito em

um ano contábil. O inventário anual permite conhecer a evolução do balanço

patrimonial que pode implicar em saldo positivo, caso haja crescimento no

patrimônio, ou negativo, caso caia de um ano para outro (AGUIAR e ALMEIDA,

2004).

Além da informação patrimonial, o inventário permitirá o cálculo dos

custos das depreciações e remunerações do capital. E quando necessário, servirá

também para incorporar a receita bruta da atividade em casos onde o rebanho

bovino não está estabilizado. Ou seja, quando o rebanho apresentar variação no seu

inventario, essa deve ser considerada para efeito de cálculo como renda bruta do

período. Em casos de vendas extraordinárias do rebanho, o resultado negativo

também deve ser considerado.

AGUIAR e ALMEIDA (2002); AGUIAR e ALMEIDA (2004) citam que a

melhor metodologia é aplicar preços de mercado atualizado para os itens de

inventário. Caso o produtor tenha os preços de compra, pode-se transformar em

dólar ou aplicar os índices de inflação, geralmente o IGP-DI. Esse critério é

contestado por muitos pesquisadores e tende a originar um valor atualizado

diferente dos valores correntes de mercado.

De acordo com NOGUEIRA (2004), compõem essa escrituração, a terra,

as benfeitorias, as máquinas, os equipamentos, as culturas permanentes

(consideradas aquelas que produzam por mais de um ciclo), os animais em

estoques, os animais produtivos e de trabalho.

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2.4.1 - Variação do inventário animal

O pecuarista pode facilmente transformar seu rebanho em dinheiro através

de sua venda, porque o bovino tem uma elevada liquidez de mercado. Por isso, a

variação do inventário animal é de extrema importância para a análise econômica

da atividade leiteira, devendo desta forma, compor a renda bruta da atividade

quando se analisa o custo de produção de uma empresa.

Segundo GOMES (1989), para se calcular a variação do inventário animal,

utiliza-se a seguinte fórmula:

VIA = VRF – VRI – VC, onde:

VIA = Variação do inventário animal;

VRF = Valor do rebanho no final do período;

VRI = Valor do rebanho no início do período;

VC = Valor de compras de animais durante o período.

2.5 - Receita

Segundo GOTTSCHALL et al. (2002), a renda ou receita bruta é o fruto do

somatório do volume vendido multiplicado pelo preço unitário de cada produto.

Este produto não se limita apenas ao leite, e sim, em quaisquer produtos vendidos

que saiam do sistema de produção, como bezerros e vacas de descarte.

REIS (2002) classifica a receita média como o preço do produto mais o

valor médio das vendas de explorações secundárias (subprodutos). Comparando-se

a receita média ou o preço com os custos totais médios obtém-se a análise

econômica da atividade em questão por unidade produtiva. Comparando-se a

receita média ou o preço com os custos operacionais médios tem-se o conceito de

resíduo (ou margem) de cada unidade produtiva.

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2.6 - Lucro/ha

A avaliação do lucro por área permite a comparação de uma atividade com

outras alternativas de uso da terra, tais como o plantio de grãos, exploração de gado

de corte, leite, arrendamento da terra, entre outros.

2.7 - Análise econômica e interpretação dos resultados

Depois de estimar os custos de produção, o próximo passo consiste na

análise dos resultados obtidos para identificar a viabilidade econômica e a

perpetuidade da atividade em questão. Nesta avaliação, pode-se encontrar vários

resultados e cada um tem sua forma de ser analisada, conforme sugere REIS (2002)

e REIS (1997).

O lucro supernormal é uma situação em que a atividade está obtendo

retorno maior que as melhores alternativas possíveis de emprego do capital,

indicando que a empresa pode expandir-se no médio ou longo prazo. Ocorre

quando a receita ou o preço for maior que o custo econômico. O lucro supernormal

também é denominado lucro econômico.

Em se tratando de lucro normal, sugere-se que a atividade está obtendo

retorno igual ao que seria obtido nas melhores alternativas possíveis de emprego de

recursos. Significa estabilidade, mantendo o nível de produção a curto e longo

prazo e ocorre quando a receita média ou preço for igual ao custo total médio. O

lucro normal é o próprio custo alternativo ou de oportunidade.

No caso em que o preço do produto ou a receita média da atividade não

cobrir o custo total médio, pode-se utilizar o custo operacional para análise da

rentabilidade do empreendimento, utilizando-se assim o conceito de resíduo.

Se a receita média ou preço for maior que o custo operacional total médio,

a atividade apresenta resíduo positivo. Ainda se trata de um retorno, mesmo que

inferior aos possíveis de se obter em outras melhores alternativas, indicando que a

empresa está cobrindo todos os custos operacionais, fixos e variáveis, mas

recebendo menos que o valor alternativo (ou de oportunidade).

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Caso a receita média (ou preço) seja igual ao custo operacional total médio,

o resíduo é nulo. Neste caso, a atividade cobre todos os custos operacionais, mas

não proporciona a remuneração do capital empatado na atividade. Uma atividade

nesta situação não pode sustentar-se por muito tempo.

Se o preço é menor que o custo operacional total médio, mas ainda superior

ao custo operacional variável médio, a atividade está cobrindo todos os custos

operacionais variáveis e somente parte do operacional fixo. Nesta situação, o

empreendimento pode sustentar-se só no curto prazo, não levando em conta a

remuneração do capital e a reposição de parte dos recursos fixos. É um processo de

descapitalização.

Se o preço é igual ao custo operacional variável media, a atividade cobre as

despesas de custeio com recursos variáveis, sustentando-se por pouco tempo,

tendendo a mudar de ramo se a situação assim permanecer.

Se o preço é menor do que o custo operacional variável médio, então a

atividade não cobre as despesas de custeio com recursos variáveis, as quais são

obrigatórias no curto prazo, tendo que injetar recursos de outras fontes, o que se

trata de subsidiar a atividade.

2.7.1 – Fluxo de caixa

Fluxo de caixa consiste na relação entre as saídas e entradas de recursos

financeiros na empresa (NOGUEIRA, 2004).

Segundo AGUIAR e ALMEIDA (2004), a demonstração de avaliação

financeira feita pelo fluxo de caixa considera os seguintes possíveis diagnósticos:

a) fluxo de caixa permite saldar despesas e investimentos. A empresa é saudável.

b) fluxo de caixa salda apenas as despesas e parte dos investimentos. A empresa

está consumindo seus recursos, tende a se endividar e parar a atividade.

c) fluxo de caixa não salda as despesas. Encerramento da atividade ou subsídio.

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O diagnóstico pelo fluxo de caixa permite apenas identificar se o negócio

está indo bem ou mal.

2.7.2 - Lucratividade

Representa o quanto um produto deixa de resultado em relação ao seu

preço de venda e seus custos de produção; em outras palavras, é o número

percentual resultante entre a divisão do lucro pelo total de receitas (AGUIAR e

ALMEIDA, 2004).

Sua definição matemática é a porcentagem da receita que representa o

lucro (NOGUEIRA, 2004):

Lucratividade (%) = Lucro x 100.

Receita total

A polêmica em torno da lucratividade aparece em qual lucro utilizar. O

operacional ou o econômico?

Segundo NOGUEIRA (2004), mesmo que o critério de cálculo dos custos

totais envolva o conceito de custos de oportunidade, algumas correntes preferem

utilizar o lucro operacional para calcular o índice lucratividade.

2.7.3 – Rentabilidade ou retorno do investimento

Apresenta quanto uma atividade poderá remunerar o capital que nela foi

investida. Essa é uma das formas de se avaliar o lucro obtido em uma atividade

produtiva em relação ao capital investido para o desenvolvimento dessa atividade.

Está representado pelo lucro sobre o capital investido (AGUIAR e ALMEIDA,

2002):

Rentabilidade (%) = Lucro x 100.

Capital total investido

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Como a rentabilidade é uma relação entre o rendimento em dinheiro e o

total de capital imobilizado, adota-se o lucro operacional. A rentabilidade será o

índice que permitirá comparar o rendimento da atividade com as melhores opções

de mercado. Portanto, parece mais lógico usar o lucro operacional ao invés de usar

o lucro econômico, que já considera outras opções de investimentos no mercado

(NOGUEIRA, 2004).

Entretanto, empresas que definem juros de remuneração de capital para ser

realmente pago aos proprietários do capital devem considerar o lucro econômico da

atividade. Também no caso de capital de terceiros (empréstimos) (AGUIAR e

ALMEIDA, 2004).

2.7.4 – Tempo de retorno do investimento – “Pay Back”

É o período em anos que os resultados levarão para possibilitar um novo

investimento de mesmas proporções. Como as depreciações consideram o

provisionamento para o reinvestimento, o tempo de retorno deve ser calculado

incluindo seus valores. Portanto, não se usa o lucro operacional, mas sim o

resultado de caixa, que são representados pela receita total menos o custo variável

(NOGUEIRA, 2004):

Tempo de retorno = Valor inicial do capital (valor de mercado).

Resultado caixa

2.7.5 – Taxa interna de retorno (TIR)

A Taxa Interna de Retorno (TIR) indica a taxa de pagamento de retorno

anual do projeto, ou seja, quanto o projeto se paga ao ano. Considerando o capital

investido ou imobilizado em um projeto, se levar cinco anos para ser amortizado, a

TIR será de 20% ao ano. Se levar 10 anos será de 10% ao ano. Aceita-se o projeto

se a TIR for maior que o custo do capital (NOGUEIRA, 2004).

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2.7.6 – Relação benefício/custo

É a forma de avaliação mais usada pelos produtores para se optar ou não

por um projeto (NOGUEIRA, 2004):

Relação beneficio/custo = Soma dos resultados de caixa.

Investimento líquido

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3 – METODOLOGIA

3.1 – Estudo de caso

Este estudo foi feito em uma fazenda localizada a 7 km do município de

Gurinhatã, MG, no período de janeiro a dezembro de 2005. A área total para a

atividade leiteira é de 97 ha, sendo 19,7 ha de área de reserva legal e preservação

permanente, 4,7 ha de capim elefante e 72,6 ha destinados à pastagem.

Utilizou-se animais da raça Girolando (3/4 Holandês/Gir), com

alimentação volumosa, na época das águas, à base de pasto de capim braquiarão

adubado e manejado sob lotação rotacionada. Na seca, além do pasto, os animais

foram suplementados com silagem de capim elefante. A alimentação concentrada

foi fornecida durante todo o ano, de acordo com a produção da vaca.

Para os cálculos de custos de produção e avaliação de resultados, utilizou-

se a metodologia descrita por NOGUEIRA (2004).

Considerando que a análise foi baseada em uma propriedade produtora de

leite, este trabalho é caracterizado como um “estudo de caso”.

3.2 – Inventário

Para levantamento do inventário (Tabela 5), utilizou-se o valor atual de

mercado.

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Tabela 5 – Inventário da propriedade avaliada.

Valor inicial % doBens de capitalatual de mercado patrimônio

Pastagem 21.690,05 3,0 Máquinas e implementos 11.250,00 1,5

Tratores 16.000,00 2,2 Veículos 26.000,00 3,6

Equipamentos manuais 7.483,00 1,0 Rufiões 1.000,00 0,1 Matrizes 106.000,00 14,6Novilhas 49.740,00 6,8 Bezerros 4.250,00 0,6

Animais de trabalho 300,00 0,0Capineira 11.765,93 1,6

Caroço-de-algodão 11.652,00 1,6Silos 4.239,00 0,6

Benfeitorias 49.107,64 6,8Edificações 67.500,00 9,3

Sala de ordenha 25.000,00 3,4Equipamentos de ordenha 16.600,00 2,3

Terra 163.478,00 40,9Total 593.055,62 100,0

Nesse caso, do capital imobilizado na atividade leiteira, 40,9% foi referente

à terra e 22,2% em animais. As edificações representaram 9,3% do capital

empatado na atividade.

3.3 – Depreciações

Após levantamento do inventário, calculou-se as depreciações (Tabela 7)

com base na vida útil dos bens apresentados na Tabela 6. O método adotado foi o

linear (LOPES e CARVALHO, 2000; NOGUEIRA, 2004; AGUIAR e ALMEIDA,

2002).

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Tabela 6 – Vida útil estimada para cálculo das depreciações dos bens.

Informações para cálculos Depreciação anual (%) Vida útil (anos)Edificações 4,0 25,0Benfeitorias 5,0 20,0

Curral de espera 4,0 25,0Sala de ordenha 4,0 25,0

Sala de leite 4,0 25,0Sala de máquinas 4,0 25,0

Depósitos 4,0 25,0Sanitários 6,7 15,0Enfermaria 4,0 25,0Escritório 4,0 25,0Pedilúvios 10,0 10,0

Equipamentos de ordenha 10,0 10,0Tratores 10,0 10,0

Máquinas e implementos 10,0 10,0Veículos 10,0 10,0

Equipamentos 10,0 10,0Pastagem formada 4,0 25,0

Canavial 20,0 5,0Silos 4,0 25,0

Silagem 100,0 1,0Touros reprodutores 16,7 6,0Animais de trabalho 10,0 10,0

Tabela 7 - Depreciações com base no inventário da propriedade avaliada.

Depreciação Remuneração % doBens de capitalanual (R$) de capital (R$)

Valor total (R$) depreciado

Edificações 2.592,00 2.106,00 4.698,00 19,5Benfeitorias 2.332,61 1.546,89 3.879,50 16,1

Sala de ordenha 960,00 780,00 1.740,00 7,2Equipamentos de ordenha 1.494,00 547,80 2.041,80 8,5

Tratores 1.440,00 528,00 1.968,00 8,1Máquinas e implementos 1.012,50 371,25 1.383,75 5,7

Veículos 2.340,00 858,00 3.198,00 13,2Equipamentos 673,47 246,94 920,41 3,8

Culturas pastagens 832,90 676,73 1.509,63 6,3Capineira 1.882,55 423,57 2.306,12 9,5

Silos 162,78 132,26 295,03 1,2Rufiões 138,89 35,00 173,89 0,7

Animais de trabalho 27,00 9,90 36,90 0,2Total 15.888,70 8.262,34 24.151,04 100,0

Depreciação mensal (R$) 2.012,59

Além do valor de depreciação anual, foi considerado também a

remuneração de capital sobre o valor atual do bem apresentado no inventário, no

caso uma taxa de juros de 6% ao ano para anular o efeito da inflação.

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4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 – Custo fixo

Conforme COTTSHALL et al. (2002) e REIS (2002), todos os custos que

não sofrem alterações no curto prazo foram classificados como custo fixo (Tabela

8). Neste caso, além das depreciações estão também as despesas administrativas.

Tabela 8 – Custo fixo da atividade leiteira na propriedade avaliada.

Itens do custo Custo (R$/ano) % Custo fixoDepreciação de benfeitorias 3.879,5 9,3

Depreciação da sala de ordenha 1.740,0 4,1Depreciação dos equipamentos de ordenha 2.041,8 4,9

Depreciação do silo 295,0 0,7Depreciação de maquinas e implementos 1.383,8 3,3

Depreciação da pastagem (calagem,análise) 1.509,6 3,6Depreciação do capineira 2.306,1 5,5Depreciação de veículos 3.198,0 7,6

Depreciação de edificações 4.698,0 11,2Depreciação de tratores 1.968,0 4,7

Depreciação de equipamentos 920,4 2,2Depreciação de rufiões 173,9 0,4

Impostos (IR, CNA) 250,0 0,6Outros (ração para cachorro) 2.250,0 5,4Alimentação administrativa 230,8 0,6

Telefone escritório 2.400,0 5,7Sindicatos (contabilidade) 150,0 0,4

Automóvel (combustível, IPVA, seguro,multa) 4.800,0 11,4Energia elétrica 7.738,9 18,5

Custo fixo 41.933,7 100,0

Avaliando-se a participação dos itens que mais oneraram o custo

fixo de produção, identifica-se os custos com energia elétrica (18,5%),

automóvel (11,4%), edificações (11,2%) e benfeitorias (9,3%).

4.2 – Custo variável

Todos os recursos que exigem dispêndios monetários de custeio (REIS,

2002) e que variam de acordo com a quantidade produzida (LOPES e

CARVALHO, 2000; AGUIAR e ALMEIDA, 2002) foram classificados como

custo variável (Tabela 9).

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Tabela 9 – Custo variável da atividade leiteira na propriedade avaliada.

Itens do custoCusto

(R$/ano)% Custovariável

Mão de obra temporária 1.240,0 0,9Mão de obra fixa (Vaqueiro) 27.294,6 19,1

Mineralização 5.862,1 4,1Ração com 24% de PB 40.270,8 28,3Ração com 18% de PB 16.972,5 11,9

Medicamentos 4.700,7 3,3Inseminação artificial 5.505,3 3,9

Consultoria (Zootecnista, Agrônomo e etc) 2.047,5 1,4Frete 1.440,0 1,0

Pastagem ( adu.manut. herbicidas) 8.669,4 6,1Impostos (GTA, ICMS, ITR, comissões) 90,0 0,1

Tropa ( arreios, medicamentos etc) 1.200,0 0,8Capineira (adubo, calcário, limpeza) 10.841,3 7,6

Diversos (roçagem dos pastos e outros) 1.333,7 0,9Mortes 3.550,0 2,5

Borracharia 120,0 0,1Man. de máquinas, veículos e equipamentos 2.262,0 1,6

Manutenção de benfeitorias (cerca, curral, casas) 118,8 0,1Manutençao da ordenhadeira 3.635,3 2,6

Vacinas e vermífugos 4.787,3 3,4Materiais para ordenha 593,6 0,4

Custo variável 142.534,9 100,0

Entre os custos variáveis de produção, os mais onerosos foram às

despesas com alimentação do rebanho, que participaram com 53,9% do

custo da atividade leiteira analisada e o custo com mão de obra fixa e

temporária, que representou 20,0%.

4.3 – Custo operacional

Somando os custos de todos os recursos que exigem desembolsos

monetários por parte da atividade leiteira produtiva para a sua recomposição

(custos variáveis) com as depreciações e outros custos fixos, estimou-se o custo

operacional (Tabela 10).

Tabela 10 – Custo operacional da atividade leiteira na propriedade avaliada.

Itens de custo Total (R$/ano) Composição (%)Custo variável 142.534,9 77,3

Custo fixo 41.933,7 22,7Custo operacional 184.468,6 100,0

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Percebe-se que o custo fixo representou 22,7% do custo operacional

da atividade leiteira e o custo variável 77,3%.

4.4 – Custo alternativo ou de oportunidade

Apesar de não representar desembolso de dinheiro, considerou-se um valor

para representar o custo de oportunidade, visto que o custo do fator de produção

poderia ter sido utilizado em uma outra alternativa no mercado.

4.4.1 – Da terra

Como o aluguel de pasto é uma atividade comum próximo à propriedade

avaliada, utilizou-se valores de mercado da região para representar o custo de

oportunidade do uso da terra (Tabela 11). A quantidade de cabeças por hectare na

área total (pastagem + capineira) foi de foi de 1,3 cabeças.

Tabela 11 – Custo de oportunidade do capital empatado em terra.

Pecuária ValoresAluguel (R$/cab/mês) 10,00

Cab/ha 1,30R$/ha/ano 156,79

Valor da terra (R$/ha) 1.685,34Custo de oportunidade real (%) 9,3

Na área útil (R$) 12.120,00

O custo total de oportunidade estimado representou 9,3% do valor total

imobilizado em terra, ficando, portanto acima das taxas de juros real da caderneta

de poupança, resultado que corrobora com NOGUEIRA (2004), onde o autor

sugere analisar outras opções além de taxas bancárias, pois estas não contemplam

as melhores oportunidades do uso do capital.

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4.4.2 – Dos animais e outros bens

Como alternativa do uso do capital imobilizado nos animais e outros bens,

foi utilizado a taxa real de juros no mercado financeiro estimado com base nos

valores da taxa SELIC e inflação no ano de 2005 (Tabela 12).

Tabela 12 – Custo de oportunidade do capital imobilizado.

Imobilizado (R$) 236.267,69Custo oportunidade (%) 13,45

Taxa SELIC 19,0Inflação (%) 5,55

Custo de oportunidade em animais + outros bens (R$) 31.778,00FONTE – FGV, 2006 (adaptado).

Do total imobilizado, o custo de oportunidade representou 13,45%, valor

superior ao sugerido por GOTTSCHALL et al., (2002) e NOGUEIRA, (2004).

Desta forma, utilizar a taxa de juros da caderneta de poupança pode não ser a

melhor forma para estimar o custo de oportunidade sobre animais e outros bens.

4.4.3 – Do custo operacional

O custo alternativo sobre o custo operacional representado pelos custos

variáveis e despesas administrativas foi estimado com base na taxa de juros da

caderneta de poupança (GOTTSCHALL et al., 2002; NOGUEIRA, 2004), visto

que envolvem desembolsos gradativos durante o período de produção (Tabela 13).

Tabela 13 – Custo de oportunidade do custo operacional.

Custo operacional (CV + Despesas Administrativas) (R$) 184.468,62Custo oportunidade (%) 6,0

Custo de oportunidade (R$) 11.068,12

4.4.4 – No capital total

Representando o custo de oportunidade da atividade leiteira, somaram-se

os custos de oportunidade da terra, dos animais e outros, dos custos variáveis e

despesas administrativas (Tabela 14).

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Tabela 14 – Custo de oportunidade do capital na atividade leiteira.

Capital na atividade (R$) 584.214,31Somatória dos custos de oportunidade (R$) 54.966,12

Remuneração real do custo total (%) 9,4

Com valores ponderados, o custo de oportunidade total representou 9,4%

do total de capital imobilizado na atividade leiteira durante o ano de 2005, que

representa uma renda líquida de R$ 54.966,12 com outras alternativas de

investimento.

4.5 - Custo econômico da atividade leiteira

Para análise dos resultados da atividade leiteira, o custo econômico é usado

por empresas que definem juros de remuneração de capital. A Tabela 15 ilustra

todos os custos estimados da atividade leiteira em estudo no ano de 2005.

Tabela 15 – Custo econômico da atividade leiteira.

Ítens de custo Total/ano Composição %Custo variável 142.534,88 59,5

Custo fixo 41.933,75 17,5Custo operacional 184.468,62 77,0

Custo de oportunidade 54.966,12 23,0Custo econômico 239.434,74 100,0

Pode-se perceber que do custo total de produção (custo econômico) da

atividade leiteira, o custo variável representou 59,5%, custo fixo 17,5% e custo de

oportunidade 23,0%, o que soma um custo total de R$ 239.434,74 no ano de 2005.

4.6 – Produção e receita

A receita total da atividade foi determinada através do volume anual

vendido multiplicado pelo preço unitário do leite mais o valor das vendas de

animais de descarte (Tabela 16).

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Tabela 16 – Produção, receita do leite e da atividade leiteira.

Produção Litros de leiteMês

litros de leite vaca/mês vaca/diaValor

unitário (R$)Receita mensal (R$)

Janeiro 30.100,00 298,02 9,61 0,59 17.668,70Fevereiro 25.471,00 252,19 9,01 0,58 14.892,89

Março 26.383,00 261,22 8,43 0,56 14.853,63Abril 31.252,00 309,43 10,31 0,59 18.479,31Maio 37.735,00 373,61 12,05 0,64 24.293,79Junho 37.048,00 366,81 12,23 0,68 25.294,89Julho 41.429,00 410,19 13,23 0,68 28.106,26

Agosto 41.429,00 410,19 13,23 0,63 25.901,00Setembro 38.118,00 377,41 12,58 0,59 22.360,02Outubro 32.300,00 319,80 10,32 0,55 17.724,30

Novembro 38.625,00 382,43 12,75 0,53 20.471,25Dezembro 26.762,00 264,97 8,55 0,49 13.180,29

Total 406.652,00 4.026,26 11,02 0,59 243.563,83 (98,4%)Receita vacas descarte (r$) 4.050,0 (1,6%)

Receita total (ano) 247.613,83 (100%)

Da receita total da atividade leiteira no período avaliado, apenas 1,6% foi

relativo à venda de animais descarte, que também pode ser determinado através do

inventário animal. Esse valor será usado para rateio do custo de produção da

atividade leiteira e custo de produção do leite.

4.7 – Custos operacionais, econômicos e receita da atividade leiteira

Os custos da atividade leiteira nada mais são do que todos os custos de

produção de leite e animais. Comparando os custos de produção com a receita

média da atividade leiteira (Tabela 17), procederá uma análise da atividade em

questão.

Tabela 17 – Custos médios e receita média da atividade leiteira (R$/litro)

Itens de custo Custo (R$/litro) Receita (R$/litro)Custo variável 0,35

Custo fixo 0,10Custo operacional 0,45Custo alternativo 0,14Custo econômico 0,59 0,61

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4.8 - Custos operacionais, econômicos e receita do leite

Para determinação do custo de produção do leite (Tabela 18), utilizou-se o

método de rateio através da distribuição dos custos na mesma proporção da renda

bruta gerada, que no caso, foi de 98,4%.

Tabela 18 – Custos médios e receita média do leite (R$/litro).

Itens de custo Custo (R$/litro) Receita (R$/litro)Custo variável 0,34

Custo fixo 0,10Custo operacional 0,44Custo alternativo 0,14Custo econômico 0,58 0,60

GOMES (2000) mostra alguns indicadores de eficiência econômica da

produção de leite baseado em resultados de produtores selecionados do sistema

Itambé, os quais, pelos seus resultados de produção, produtividade e rentabilidade,

podem ser considerados como referência para outros produtores de leite. Estes são

parâmetros construídos a partir de dados provenientes de dez produtores de leite.

Os sistemas de produção dos produtores-referência tem os seguintes pontos

de destaque: 1) o grau de sangue do rebanho varia de 3/4 a 15/16 HZ, com

predominância de 7/8 HZ; 2) a alimentação volumosa, na época das águas, é a base

de pasto adubado e manejado em piquetes rotacionados. Na seca, além do pasto, os

animais são suplementados com silagem; 3) a alimentação concentrada é fornecida

durante todo o ano, de acordo com a produção de cada vaca.

Uma comparação foi feita com base nos dados apresentados por este autor

(Tabela 19).

Tabela 19 – Produtividade dos produtores referências e do caso em estudo.

Especificações Unidade Média Menor valorMaior valor

Caso em estudo

Produção de leite L/dia 1.024 580 1.860 1.114Produção/vaca em

lactaçãoL/dia 14,15 9,36 21,03 11,0

Produção/total de vacas

L/dia 11,12 7,00 17,81 10,5

Produção/área L/ha/ano 4.993 834 9.528 5.260

FONTE: GOMES 2000 (adaptado).

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Como pode-se ver, todos os resultados deste estudo estão próximos da

média dos resultados apresentados por GOMES (2000).

Foram selecionados quatro indicadores (Tabela 20) que podem servir de

parâmetros para qualquer produtor que deseja ter sucesso na atividade (GOMES,

2000) e comparados com os resultados obtidos neste estudo.

Tabela 20 – Indicadores de eficiência na produção de leite e do caso em estudo.

Especificações IndicadorCaso em estudo

Gastos com mão-de-obra permanente em relação ao valor da produção do leite

Até 20% 11%

Gastos com concentrado para o rebanho em relação ao valor da produção do leite

Até 30% 26%

Custo operacional efetivo (em equivalentes litros de leite) para produzir 100 litros de leite

Até 65 litros 59 litros

Custo operacional total (em equivalente litros de leite) para produzir 100 litros de leite

Até 75 litros 76 litros

FONTE: GOMES 2000 (adaptado).

Dentro dos padrões de eficiência sugeridos por GOMES (2000), a

atividade leiteira avaliada pode ser classificada como uma atividade de sucesso e

de bons índices de eficiência de produção.

4.9 - Resultado caixa da atividade leiteira

Em uma atividade, é obrigatório que a receita cubra os custos variáveis,

obtendo resultado caixa positivo (Tabela 21). Caso isso não ocorra, será necessário

injetar recursos de outras fontes, o que não é interessante.

Tabela 21 – Resultado caixa da atividade leiteira na propriedade avaliada.

Itens R$/total R$/litro R$/haReceita 247.613,8 0,61 3.203,28

Custo variável 142.534,9 0,35 1.843,91Resultado caixa 105.079,0 0,26 1.737,22

A atividade em estudo obteve resultado caixa positivo, indicando que a

receita foi o suficiente para cobrir todos os custos variáveis.

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4.10 – Lucro operacional da atividade leiteira

Quando a receita cobre todos os custos variáveis e fixos, temos um lucro

operacional positivo (Tabela 22). Para uma atividade permanecer no mercado, é

fundamental que a receita seja igual ou superior ao custo operacional. Caso isso

não ocorra, significa que no médio longo prazo a atividade não será capaz de repor

seus bens depreciáveis e perderá a capacidade de produção.

Tabela 22 – Lucro operacional da atividade leiteira na propriedade avaliada.

Itens R$/total R$/litro R$/haReceita 247.613,8 0,61 3.203,28

Custo operacional 184.468,6 0,45 2.386,39Lucro operacional 63.145,2 0,16 816,89

A atividade em estudo obteve lucro operacional positivo, indicando que a

receita foi suficiente para cobrir todos os custos variáveis, custos fixos inclusive

pagar as depreciações.

4.11 - Lucro econômico da atividade leiteira

É a melhor forma de avaliar a viabilidade econômica de uma atividade com

base no lucro (Tabela 23). O custo econômico leva em consideração custos fixos,

variáveis e de oportunidade.

Tabela 23 – Lucro econômico da atividade leiteira na propriedade avaliada.

Itens R$/total R$/litro R$/haReceita 247.613,8 0,61 3.203,28

Custo econômico 239.434,7 0,59 3.097,47Lucro econômico 8.179,1 0,02 105,81

Avaliando os resultados da Tabela 23, verifica-se que a receita superou o

custo econômico, indicando lucro supernormal ou lucro econômico. Este resultado

representa que o rendimento na atividade leiteira avaliada foi melhor que as

melhores opções de investimentos.

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Analisando o lucro econômico/ha, percebe-se que com a atividade leiteira

foi possível obter um retorno de R$105,81 superior a oportunidade de aluguel de

pasto.

4.12 - Lucratividade da atividade leiteira

Com a lucratividade, é possível quantificar em termos de porcentagem a

proporção do lucro operacional em relação à receita total (NOGUEIRA, 2004),

conforme Tabela 24.

Tabela 24 – Lucratividade da atividade leiteira na propriedade avaliada.

Itens R$Receita 247.613,8

Lucro operacional 63.145,2Lucratividade 25,5%

Na atividade em estudo, o lucro obtido representou 25,5% da receita total.

4.13 - Rentabilidade da atividade leiteira

O uso da rentabilidade é fundamental para avaliar o resultado econômico

de uma atividade (Tabela 25). Nela, o total de capital imobilizado é considerado,

ou seja, o retorno é sobre o investimento. Duas atividades de proporções de

investimentos diferentes podem ter o mesmo lucro, porém a rentabilidade será

diferente. Em outras palavras, o “mercadinho da esquina” pode ter o mesmo lucro

que um “supermercado”, porém como o investimento do “mercadinho” é menor,

este terá maior rentabilidade. Isso indica maior eficiência do “mercadinho” em

ralação ao “supermercado”, mesmo com lucros iguais.

Tabela 25 – Rentabilidade da atividade leiteira na propriedade avaliada.

Itens R$Capital total imobilizado 507.936,6

Lucro operacional 63.145,2Rentabilidade 12,4%

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A atividade foi remunerada em 12,4% sobre o capital que nela foi

investida. Para o cálculo, utilizou-se o lucro operacional, conforme NOGUEIRA

(2004).

4.14 - Tempo de retorno do investimento “Pay Back” da atividade leiteira

Sempre que se fala em fazer investimentos em uma atividade à primeira

pergunta que se faz é em quanto tempo o investimento se paga ou seria o mesmo de

perguntar qual o “Pay Back” da atividade. Na determinação, dividi-se o valor total

do investimento pelo resultado caixa gerado por ele (Tabela 26).

Tabela 26 – “Pay Back” da atividade leiteira na propriedade avaliada.

Itens R$Total do inventário 593.055,6

Resultado caixa 105.079,0“Pay Back” 5,6 anos

O período necessário para que os resultados da atividade em estudo

possibilitem um novo investimento de mesma proporção foi de 5,6 anos.

Para o cálculo, utilizou-se o valor do resultado caixa, conforme

NOGUEIRA (2004).

4.15 - Taxa interna de retorno da atividade leiteira

A taxa interna de retorno está relacionada com o “Pay Back” da atividade.

Ela indica a taxa de pagamento anual expressa em porcentagem que a atividade

gera em relação ao investimento (Tabela 27).

Tabela 27 – Taxa interna de retorno da atividade leiteira na propriedade avaliada.Itens R$

“Pay Back” 5,6Índice 100

Taxa interna de retorno 17,8%

Do total imobilizado na atividade em estudo, a taxa de pagamento anual foi

de 17,8%.

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4.16 - Relação benefício/custo da atividade leiteira

Indica o retorno do investimento líquido com relação ao resultado caixa da

atividade (Tabela 28).

Tabela 28 – Relação benefício/custo da atividade leiteira na propriedade avaliada.Itens R$

Resultado caixa 105.079,0Custo econômico 239.434,7

Relação beneficio/custo 0,44

Para cada R$ 1,0 gasto com custo total de produção na atividade em

estudo, obteve-se retorno anual de R$ 0,44.

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5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando-se os indicadores econômicos estimados nesta pesquisa,

pode-se concluir que as despesas com recursos variáveis são as que oneraram o

custo final de produção da atividade leiteira. Os itens que oneraram o custo fixo de

produção da atividade leiteira foram energia elétrica e despesas com automóvel.

Entre os custos variáveis, destaca-se alimentação animal e mão-de-obra. Sob o

ponto de vista de eficiência na produção, a atividade foi considerada viável.

Economicamente, ha uma tendência a médio longo prazo de expansão e

entradas de novas empresas para a atividade, atraindo investimentos competitivos,

visto que a atividade em questão proporcionou lucro econômico, onde todos os

recursos aplicados foram pagos e ainda teve-se lucro adicional.

Considerando que os produtores de leite estão em um segmento

competitivo, ao contrário da indústria compradora que tem capacidade de impor

preços em sistema de mercado oligopolista, os pecuaristas necessitam administrar

os fatores produtivos que estão sob seu controle, que é a estratégia de reduzir os

seus custos de produção. O aumento da eficiência produtiva é fator decisivo para a

competitividade do setor primário, passando, sem dúvida, pelo gerenciamento de

custos da organização de produção.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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