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Karl Marx
Breve Esboccedilo Biograacutefico
Seguido de uma Exposiccedilatildeo do Marxismo
Vladimir Ilitch Lenine
1914
Escrito Julho a Novembro de 1914 Primeira ediccedilatildeo 1915 na Granat Encyclopaedia Seventh Edition Volume28 sob a assinatura de V Ilyin Transcriccedilatildeo para a web amavelmente cedida por O Vermelho Fonte da transcriccedilatildeo (desconhecida) HTML por Joseacute Braz para os Marxist Internet Archive
Karl Marx
A Doutrina Marxista
Materialismo Filosoacutefico
Dialeacutetica
A Concepccedilatildeo Materialista da Histoacuteria
A Luta de Classes
A Doutrina Econoacutemica de Marx
Valor
Mais-valia
Socialismo
Taacutecticas da Luta de Classes do Proletariado
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KARL MARX
Karl Marx nasceu em 5 de Maio de 1818 em Trier (Pruacutessia renana) O pai
advogado israelita converteu-se em 1824 ao protestantismo A famiacutelia
abastada e culta natildeo era revolucionaacuteria Depois de ter terminado os seus
estudos no liceu de Trier Marx entrou na Universidade de Bona e depois na de
Berlim aiacute estudou direito e sobretudo histoacuteria e filosofia Em 1841 terminava o
curso defendendo uma tese de doutoramento sobre a filosofia de Epicuro Eram
entatildeo as concepccedilotildees de Marx as de um idealista hegeliano Em Berlim aderiu
ao ciacuterculo dos hegelianos de esquerda (3) (Bruno Bauer e outros) que
procuravam tirar da filosofia de Hegel conclusotildees ateias e revolucionaacuterias
Ao sair da Universidade Marx fixou-se em Bona onde contava tornar-se
professor Mas a poliacutetica reacionaacuteria de um governo que em 1832 tinha tirado a
Ludwig Feuerbach a sua cadeira de professor recusando-lhe novamente o
acesso agrave Universidade em 1836 e que em 1841 proibira o jovem professor Bruno
Bauer de fazer conferecircncias em Bona obrigou Marx a renunciar a uma carreira
universitaacuteria Nessa eacutepoca o desenvolvimento das ideias do hegelianismo de
esquerda fazia na Alemanha raacutepidos progressos A partir sobretudo de 1836
Ludwig Feuerbach comeccedila a criticar a teologia e a orientar-se para o
materialismo a que em 1841 adere completamente (A Essecircncia do
Cristianismo) em 1843 aparecem os seus Princiacutepios da Filosofia do Futuro Eacute
preciso () ter vivido a influecircncia emancipadora desses livros escreveu mais
tarde Engels a propoacutesito destas obras de Feuerbach Noacutes (isto eacute os
hegelianos de esquerda entre eles Marx) imediatamente nos tornamos
feuerbachianos(4) Nessa altura os burgueses radicais da Renacircnia que tinham
certos pontos de contacto com os hegelianos de esquerda fundaram em Coloacutenia
um jornal de oposiccedilatildeo a Gazeta Renana(5) (que apareceu a partir de 1 de Janeiro
de 1842) Marx e Bruno Bauer foram os seus principais colaboradores e em
Outubro de 1842 Marx tornou-se o redator-chefe mudando-se entatildeo de Bona
para Coloacutenia Sob a direccedilatildeo de Marx a tendecircncia democraacutetica revolucionaacuteria do
jornal acentuou-se cada vez mais e o governo comeccedilou por submetecirc-lo a uma
dupla e mesmo tripla censura e acabou por ordenar a sua suspensatildeo completa a
partir de 1 de Janeiro de 1843 Por essa altura Marx viu-se obrigado a deixar o
seu posto de redator mas a sua saiacuteda natildeo salvou o jornal que foi proibido em
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Marccedilo de 1843 Entre os artigos mais importantes que Marx publicou na Gazeta
Renana aleacutem dos que indicamos mais adiante (ver Bibliografia (6)) Engels cita
um sobre a situaccedilatildeo dos vinhateiros do vale do Mosela (7) A sua atividade de
jornalista tinha feito compreender a Marx que os seus conhecimentos de
economia poliacutetica eram insuficientes e por isso lanccedilou-se a estudaacute-la com ardor
Em 1843 Marx casou-se em Kreuznach com Jenny von Westphalen amiga de
infacircncia de quem jaacute era noivo desde o tempo de estudante A sua mulher
pertencia a uma famiacutelia nobre e reacionaacuteria da Pruacutessia O irmatildeo mais velho de
Jenny vou Westphaleu foi ministro do interior na Pruacutessia numa das eacutepocas mais
reacionaacuterias de 1850 a 1858 No Outono de 1843 Marx foi para Paris para editar
no estrangeiro uma revista radical em colaboraccedilatildeo com Arnold Ruge (1802-
1880 hegeliano de esquerda preso de 1825 a 1830 emigrado depois de 1848 e
partidaacuterio de Bismarck depois de 1866-1870) Mas soacute apareceu o primeiro
fasciacuteculo desta revista intitulada Anais Franco-Alematildees(8) que teve de ser
suspensa por causa das dificuldades com a sua difusatildeo clandestina na Alemanha
e de divergecircncias com Ruge Nos artigos de Marx publicados pela revista ele
aparece-nos jaacute como um revolucionaacuterio que proclama a criacutetica implacaacutevel de
tudo o que existe e em particular a criacutetica das armas e apela para as massas
e o proletariado(9)
Em Setembro de 1844 Friedrich Engels esteve em Paris por uns dias e desde
entatildeo tornou-se o amigo mais iacutentimo de Marx Ambos tomaram uma parte
muito ativa na vida agitada da eacutepoca dos grupos revolucionaacuterios de Paris
(especial importacircncia assumia entatildeo a doutrina de Proudhon (10) que Marx
submeteu a uma criacutetica impiedosa na sua obra Miseacuteria da Filosofia publicada
em 1847) e numa aacuterdua luta contra as diversas doutrinas do socialismo
pequeno-burguecircs elaboraram a teoria e a taacutetica do socialismo proletaacuterio
revolucionaacuterio ou comunismo (marxismo) Vejam-se as obras de Marx desta
eacutepoca 1844-1848 mais adiante na Bibliografia Em 1845 a pedido do governo
prussiano Marx foi expulso de Paris como revolucionaacuterio perigoso Foi para
Bruxelas onde fixou residecircncia Na Primavera de 1847 Marx e Engels filiaram-
se numa sociedade secreta de propaganda a Liga dos Comunistas (11) tiveram
papel destacado no II Congresso desta Liga (Londres Novembro de 1847) e por
incumbecircncia do Congresso redigiram o ceacutelebre Manifesto do Partido
Comunista publicado em Fevereiro de 1848 Esta obra expotildee com uma clareza
e um vigor geniais a nova concepccedilatildeo do mundo o materialismo consequumlente
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aplicado tambeacutem ao domiacutenio da vida social a dialeacutetica como a doutrina mais
vasta e mais profunda do desenvolvimento a teoria da luta de classes e do papel
revolucionaacuterio histoacuterico universal do proletariado criador de uma sociedade
nova a sociedade comunista
Quando eclodiu a revoluccedilatildeo de Fevereiro de 1848 (12) Marx foi expulso da
Beacutelgica Regressou novamente a Paris que deixou depois da revoluccedilatildeo de Marccedilo
(13) para voltar agrave Alemanha e fixar-se em Coloacutenia Foi aiacute que apareceu de 1 de
Junho de 1848 ateacute 19 de Maio de 1849 a Nova Gazeta Renana (14) de que Marx
foi o redator-chefe A nova teoria foi brilhantemente confirmada pelo curso dos
acontecimentos revolucionaacuterios de 1848-1849 e posteriormente por todos os
movimentos proletaacuterios e democraacuteticos em todos os paiacuteses do mundo A contra-
revoluccedilatildeo vitoriosa arrastou Marx ao tribunal (foi absolvido em 9 de Fevereiro
de 1849) e depois expulsou-o da Alemanha (em 16 de Maio de 1849) Voltou
entatildeo para Paris de onde foi igualmente expulso apoacutes a manifestaccedilatildeo de 13 de
Junho de 1849(15) e partiu depois para Londres onde viveu ateacute ao fim dos seus
dias
As condiccedilotildees desta vida de emigraccedilatildeo eram extremamente penosas como o
revela com particular vivacidade a correspondecircncia entre Marx e Engels
(editada em 1913) Marx e a famiacutelia viviam literalmente esmagados pela miseacuteria
sem o apoio financeiro constante e dedicado de Engels Marx natildeo soacute natildeo teria
podido acabar O Capital como teria fatalmente sucumbido agrave miseacuteria Aleacutem
disso as doutrinas e as correntes predominantes do socialismo pequeno-
burguecircs do socialismo natildeo proletaacuterio em geral obrigavam Marx a sustentar
uma luta implacaacutevel incessante e por vezes a defender-se mesmo dos ataques
pessoais mais furiosos e mais absurdos (Herr Vogt (16)) Conservando-se agrave
margem dos ciacuterculos de emigrados Marx desenvolveu numa seacuterie de trabalhos
histoacutericos (ver Bibliografia) a sua teoria materialista dedicando-se sobretudo
ao estudo da economia poliacutetica Revolucionou esta ciecircncia (ver a seguir o
capiacutetulo acerca da doutrina de Marx) nas suas obras Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica
da Economia Poliacutetica (1859) e O Capital (r1867)
A eacutepoca da reanimaccedilatildeo dos movimentos democraacuteticos no final dos anos 50 e
nos anos 60 levou Marx a voltar ao trabalho praacutetico Foi em 1864 (em 28 de
Setembro) que se fundou em Londres a ceacutelebre I Internacional a Associaccedilatildeo
Internacional dos Trabalhadores Marx foi a sua alma sendo o autor do
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primeiro Apelo (17) e de um grande nuacutemero de resoluccedilotildees declaraccedilotildees e
manifestos Unindo o movimento operaacuterio dos diversos paiacuteses procurando
orientar numa via de atividade comum as diferentes formas do socialismo natildeo
proletaacuterio preacute-marxista (Mazzini Proudhon Bakuacutenine o trade-unionismo
liberal inglecircs as oscilaccedilotildees dos lassallianos para a direita na Alemanha etc)
combatendo as teorias de todas estas seitas e escolas Marx foi forjando uma
taacutetica uacutenica para a luta proletaacuteria da classe operaacuteria nos diversos paiacuteses Depois
da queda da Comuna de Paris (1871) - a qual Marx analisou (em A Guerra Civil
em Franccedila 1871) de uma maneira tatildeo penetrante tatildeo justa tatildeo brilhante tatildeo
eficaz e revolucionaacuteria - e depois da cisatildeo provocada pelos bakuninista (18) a
Internacional natildeo pocircde continuar a subsistir na Europa Depois do Congresso
de 1872 em Haia Marx conseguiu a transferecircncia do Conselho Geral da
Internacional para Nova lorque A I Internacional tinha cumprido a sua missatildeo
histoacuterica e dava lugar a uma eacutepoca de crescimento infinitamente maior do
movimento operaacuterio em todos os paiacuteses do mundo caracterizada pelo seu
desenvolvimento em extensatildeo pela formaccedilatildeo de partidos socialistas operaacuterios
de massas no quadro dos diversos Estados nacionais
A sua atividade intensa na Internacional e os seus trabalhos teoacutericos que
exigiam esforccedilos ainda maiores abalaram definitivamente a sauacutede de Marx
Prosseguiu a sua obra de transformaccedilatildeo da economia poliacutetica e de acabamento
de O Capital reunindo uma massa de documentos novos e estudando vaacuterias
liacutenguas (o russo por exemplo) mas a doenccedila impediu-o de terminar O Capital
A 2 de Dezembro de 1881 morre a sua mulher A 14 de Marccedilo de 1883 Marx
adormecia pacificamente na sua poltrona para o uacuteltimo sono Foi enterrado
junto da sua mulher no cemiteacuterio de Highgate em Londres Vaacuterios filhos de
Marx morreram muito jovens em Londres quando a famiacutelia atravessava uma
grande miseacuteria Trecircs das suas filhas casaram com socialistas ingleses e
franceses Eleanor Aveling Laura Lafargue e Jenny Longuet um dos filhos
desta uacuteltima eacute membro do Partido Socialista Francecircs
(A Doutrina Marxista gt)
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Notas
(3)Hegelianos de esquerda ou jovens hegelianos corrente idealista na filosofia alematilde
dos anos 30-40 do seacuteculo XIX que procurava tirar conclusotildees radicais da filosofia de
Hegel e fundamentar a necessidade de transformaccedilatildeo burguesa da Alemanha O
movimento dos jovens hegelianos era representado por D Strauss B e EBauer M
Stirner e outros Durante certo tempo tambeacutem L Feuerbach partilhou as suas ideacuteias
bem com K Marx e F Engels na sua juventude os quais rompendo posteriormente
com os jovens hegelianos submeteram agrave criacutetica a sua natureza idealista e pequeno-
burguesa em A Sagrada Famiacutelia (1844) e em A Ideologia Alematilde (1845-1846)(retornar
ao texto)
(4)F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde(retornar ao texto)
(5) Rheinische Zeitung (fuumlr Politik Handel und Gewerbe (Gazeta Renana de Poliacutetica
Comeacutercio e Induacutestria) diaacuterio que se publicou em Coloacutenia entre 1 de janeiro de 1842 e
31 de marccedilo de 1843 O jornal foi fundado por representantes da Renacircnia que tinham
uma atitude oposicionista para com o absolutismo prussianoTambeacutem alguns
hegelianos de esquerda foram atraiacutedos para participarem no jornal A partir de abril de
1842 K Marx colaborou na Gazeta Renana e a partir de outubro do mesmo ano
tornou-se um dos seus redatores passando o jornal a revestir-se de um caraacuteter
democraacutetico revolucionaacuterio Em janeiro de 1843 o governo da Pruacutessia decretou o
encerramento da Gazeta Renana a partir de 1 de abril estabelecendo entretanto uma
censura especialmente rigorosa ao jornal Devido agrave decisatildeo dos acionistas de lhe
atribuir um caraacuteter mais moderado Marx em 17 de marccedilo de 1843 declarou que saiacutea
da redaccedilatildeo(retornar ao texto)
(6)Trata-se da lista de obras composta por VI Lenine para o artigo Karl Marx (que natildeo
se inclui na presente ediccedilatildeo - N Ed) (retornar ao texto)
(7)Trata-se do artigo de K Marx Justificaccedilatildeo do Correspondente do Mosela (retornar
ao texto)
(8) Soacute apareceu o primeiro fasciacuteculo duplo em fevereiro de 1844 Nele foram
publicadas as obras de K Marx e F Engels que marcam a sua passagem definitiva para
o materialismo e comunismo (retornar ao texto)
(9) Na introduccedilatildeo ao artigo Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Filosofia do Direito de Hegel
Marx escreve A arma da criacutetica natildeo podia evidentemente substituir a criacutetica das
armas porque a foca material natildeo pode ser derrubada senatildeo pela forccedila material mas
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logo que penetra nas massas a teoria passa a ser tambeacutem ela uma forccedila material
(retornar ao texto)
(10) Doutrina de Proudhon corrente anticientiacutefica hostil ao marxismo do socialismo
pequeno-burguecircs Criticando a grande propriedade capitalista a partir de posiccedilotildees
pequeno-burguesas Proudhon sonhava com perpetuar a pequena propriedade privada
propunha que fossem organizados os bancos do povo e de troca que segundo ele
permitiriam aos operaacuterios obter meios de produccedilatildeo proacuteprios tornar-se artesotildees e
garantir a venda justa dos seus produtos Proudhon natildeo compreendia o papel
histoacuterico do proletariado negava a luta de classes a revoluccedilatildeo proletaacuteria e a ditadura
do proletariado Partindo de posiccedilotildees anarquistas negava tambeacutem a necessidade do
Estado (retornar ao texto)
(11) Liga dos Comunistas primeira organizaccedilatildeo internacional comunista do
proletariado criada sob a direccedilatildeo de Marx e Engels no iniacutecio de junho de 1847 em
Londres em consequumlecircncia da reorganizaccedilatildeo da Liga dos Justos associaccedilatildeo secreta
alematilde de operaacuterios e artesatildeos que seguiu na deacutecada de 1830 Os princiacutepios
programaacuteticos e de organizaccedilatildeo da Liga fora elaborados com a participaccedilatildeo direta de
Marx e Engels que redigiram tambeacutem o documento programaacutetico o Manifesto do
Partido Comunista publicado em fevereiro de 1848 A Liga dos Comunistas existiu ateacute
Novembro de 1852 e foi antecessora da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores (I
Internacional) Os dirigentes mais eminentes da Liga dos Comunistas desempenharam
mais tarde o papel dirigente na I Internacional (retornar ao texto)
(12) Trata-se da revoluccedilatildeo burguesa em Franccedila em fevereiro de 1848 (retornar ao
texto)
(13) Trata-se da revoluccedilatildeo burguesa na Alemanha e na Aacuteustria que se iniciou em marccedilo
de 1848 (retornar ao texto)
(14)A Nova Gazeta Renana (Neue Rheinische Zeitung) publicou-se em Coloacutenia entre 1
de junho de 1848 e 19 de maio de 1849 O jornal foidirigido por K Marx e F Engels
sendo Marx redator-chefe A Nova Gazeta Renana apesar de todas as perseguiccedilotildees e
obstaacuteculos por parte da poliacutecia defendia corajosamente os interesses da democracia
revolucionaacuteria os interesses do proletariado A expulsatildeo de Marx da Pruacutessia em marccedilo
de 1848 e as perseguiccedilotildees contra os outros redatores da Nova Gazeta Renana foram a
causa da cessaccedilatildeo da publicaccedilatildeo do jornal (retornar ao texto)
(15) Trata-se da manifestaccedilatildeo popular em paris organizada pelo partido da pequena
burguesia (Montanha) em sinal de protesto contra a infraccedilatildeo pelo presidente e pela
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maioria da Assembleacuteia Legislativa da ordem constitucional estabelecida pela revoluccedilatildeo
de 9148 A manifestaccedilatildeo foi dispersa pelo governo (retornar ao texto)
(16) Leacutenine alude ao panfleto de K Marx Herr Vogt (O Senhor Vogt) escrito em
resposta agrave brochura caluniosa O Meu Processo contra o Allgemeine Zeitung do
agente bonapartista K Vogt (retornar ao texto)
(17) Trata-se do manifesto Constituinte da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores
(retornar ao texto)
(18) Bakuninismo corrente cuja denominaccedilatildeo deriva do nome de Nakuacutenine ideoacutelogo
do anarquismo inimigo do marxismo e do socialismo cientiacutefico Os bakininistas
travaram uma luta tenaz contra a teoria marxista e contra a taacutetica do movimento
operaacuterio A tese principal do bakuninismo eacute a negaccedilatildeo de todo o Estado incluindo a
ditadura do proletariado e a incompreensatildeo do papel histoacuterico universal do
proletariado Uma sociedade revolucionaacuteria secreta constituiacuteda por destacadas
personalidades devia na opiniatildeo dos bakuninistas dirigir revoltas populares A sua
taacutetica das conquistas e do terror era aventureira e hostil agrave doutrina marxista da
insurreiccedilatildeo (retornar ao texto)
A Doutrina Marxista
O marxismo eacute o sistema das ideacuteias e da doutrina de Marx Marx continuou e
desenvolveu plena e genialmente as trecircs principais correntes ideoloacutegicas do
seacuteculo XIX nos trecircs paiacuteses mais avanccedilados da humanidade a filosofia claacutessica
alematilde a economia poliacutetica claacutessica inglesa e o socialismo francecircs em ligaccedilatildeo
com as doutrinas revolucionaacuterias francesas em geral O caraacuteter notavelmente
coerente e integral das suas ideacuteias reconhecido pelos proacuteprios adversaacuterios - e
que no seu conjunto constituem o materialismo moderno e o socialismo
cientiacutefico moderno como teoria e programa do movimento operaacuterio de todos os
paiacuteses civilizados - obriga-nos a fazer preceder a exposiccedilatildeo do conteuacutedo
essencial do marxismo a doutrina econocircmica de Marx de um breve resumo da
sua concepccedilatildeo do mundo em geral
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O Materialismo Filosoacutefico
Desde 1844-1845 eacutepoca em que se formaram as suas ideacuteias Marx foi
materialista foi em particular partidaacuterio de L Feuerbach cujo uacutenico lado fraco
foi para ele mesmo mais tarde a falta de coerecircncia e de universalidade do seu
materialismo Marx via a importacircncia histoacuterica mundial de Feuerbach que fez
eacutepoca precisamente na sua ruptura decisiva com o idealismo de Hegel e na sua
afirmaccedilatildeo do materialismo que jaacute desde o seacuteculo XVIII e nomeadamente em
Franccedila natildeo foi apenas uma luta contra as instituiccedilotildees poliacuteticas existentes assim
como contra a religiatildeo e a teologia existentes mas tambeacutem contra toda a
metafiacutesica (tomada no sentido de especulaccedilatildeo delirante por oposiccedilatildeo a uma
filosofia sensata) (A Sagrada Famiacutelia (19) no Literarischer Nachlass) Para
Hegel - escrevia Marx - o processo do pensamento que ele personifica mesmo
sob o nome de ideacuteia num sujeito independente eacute o demiurgo (o criador) da
realidade Para mim pelo contraacuterio o ideal natildeo eacute senatildeo o material transposto
e traduzido no ceacuterebro humano (O Capital I posfaacutecio da segunda ediccedilatildeo)
Perfeitamente de acordo com a filosofia materialista de Marx F Engels
expondo-a no Anti-Diacuteihring (ver) que Marx lera ainda em manuscrito escrevia
A unidade do mundo natildeo consiste no seu ser A unidade real do mundo
consiste na sua materialidade e esta uacuteltima estaacute provada por um longo e
laborioso desenvolvimento da filosofia e das ciecircncias naturais O movimento eacute
o modo de existecircncia da mateacuteria Nunca e em parte alguma houve nem poderaacute
haver mateacuteria sem movimento Mateacuteria sem movimento eacute impensaacutevel do
mesmo modo que movimento sem mateacuteria Mas se pergunta depois disso o
que satildeo o pensamento e a consciecircncia e donde provecircm conclui-se que satildeo
produtos do ceacuterebro humano e que o proacuteprio homem eacute um produto da natureza
o qual se desenvolveu no seu ambiente e com ele daiacute se compreende por si soacute
que os produtos do ceacuterebro humano que em uacuteltima anaacutelise satildeo igualmente
produtos da natureza natildeo estatildeo em contradiccedilatildeo mas sim em correspondecircncia
com a restante conexatildeo da natureza Hegel era idealista isto eacute para ele as
ideacuteias do seu ceacuterebro natildeo eram reflexos (Abbilder por vezes Engels fala de
reproduccedilotildees) mais ou menos abstratos dos objetos e dos fenocircmenos reais
mas pelo contraacuterio eram os objetos e o seu desenvolvimento que eram para ele
os reflexos da ideacuteia que jaacute existia natildeo se sabe onde antes da existecircncia do
mundo No seu Ludwig Feuerbach livro onde expotildee as suas ideacuteias e as de Marx
sobre a filosofia de Feuerbach e que soacute mandou imprimir depois de ter lido uma
vez mais o velho manuscrito de 1844-1845 escrito em colaboraccedilatildeo com Marx
10
sobre Hegel Feuerbach e a concepccedilatildeo materialista da histoacuteria Engels escreve
A grande questatildeo fundamental de toda a filosofia especialmente da filosofia
moderna eacute a da relaccedilatildeo entre o pensamento e o ser entre o espiacuterito e a natureza
Que eacute primeiro o espiacuterito ou a natureza Conforme respondiam de uma
maneira ou de outra a esta questatildeo os filoacutesofos dividiam-se em dois grandes
campos Aqueles que afirmavam que o espiacuterito eacute primeiro em relaccedilatildeo agrave natureza
e que por conseguinte admitiam em uacuteltima instacircncia uma criaccedilatildeo do mundo
de qualquer espeacutecie constituiacuteam o campo do idealismo Os outros que
consideravam a natureza como o elemento primordial pertenciam agraves diversas
escolas do materialismo Qualquer outro emprego dos conceitos de idealismo e
de materialismo (no sentido filosoacutefico) natildeo faz mais do que criar a confusatildeo
Marx repudiou categoricamente natildeo apenas o idealismo sempre ligado de uma
maneira ou de outra agrave religiatildeo mas tambeacutem o ponto de vista particularmente
difundido nos nossos dias de Rume e de Kant o agnosticismo o criticismo o
positivismo(20) sob os seus diferentes aspectos considerando esse gecircnero de
filosofia como uma concessatildeo reacionaacuteria ao idealismo e no melhor dos
casos uma maneira envergonhada de aceitar o materialismo agraves escondidas
renegando-a publicamente A este respeito eacute bom consultar aleacutem das jaacute
citadas obras de Marx e Engels a carta de Marx a Engels datada de 12 de
Dezembro de 1866 em que falando de uma intervenccedilatildeo do ceacutelebre naturalista
T Huxley que se mostrou mais materialista do que habitualmente e
reconheceu que enquanto observamos e pensamos realmente nunca podemos
sair do materialismo Marx o critica por ter aberto uma porta ao agnosticismo
e agrave teoria de Rume Eacute importante sobretudo reter a opiniatildeo de Marx sobre as
relaccedilotildees entre a liberdade e a necessidade A necessidade soacute eacute cega enquanto
natildeo eacute compreendida A liberdade consiste em conhecer a necessidade (F
Engels Anti-Diacuteihring) E o reconhecimento das leis objetivas que regem a
natureza e da transformaccedilatildeo dialeacutetica da necessidade em liberdade (da mesma
maneira que a transformaccedilatildeo da coisa em si natildeo conhecida mas cognosciacutevel
em coisa para noacutes da essecircncia das coisas em fenocircmenos) O defeito
essencial do velho materialismo incluindo o de Feuerbach (e com mais forte
razatildeo o do materialismo vulgar de Buchner-Vogt-Moleschott) era para Marx
e Engels 1 - que este materialismo era essencialmente mecanicista e natildeo
tomava em conta os progressos mais recentes da quiacutemica e da biologia
(atualmente conviria acrescentar ainda a teoria eleacutetrica da mateacuteria) 2 - que o
velho materialismo natildeo tinha um caraacuteter histoacuterico nem dialeacutetico (sendo pelo
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contraacuterio metafiacutesico no sentido de antidialeacutetico) e natildeo aplicava a concepccedilatildeo do
desenvolvimento de forma consequumlente e sob todos os seus aspectos 3 - que
concebia a essecircncia humana como uma abstraccedilatildeo e natildeo como o conjunto de
todas as relaccedilotildees sociais (concretamente determinadas pela histoacuteria) natildeo
fazendo assim mais do que interpretar o mundo enquanto aquilo de que se
tratava era de o transformar ou por outras palavras natildeo compreendia a
importacircncia da atividade revolucionaacuteria praacutetica
A Dialeacutetica
Marx e Engels viam na dialeacutetica de Hegel a doutrina do desenvolvimento mais
vasta mais rica de conteuacutedo e mais profunda a maior aquisiccedilatildeo da filosofia
claacutessica alematilde Consideravam qualquer outro enunciado do princiacutepio do
desenvolvimento da evoluccedilatildeo unilateral pobre que mutilava e deturpava a
marcha real do desenvolvimento (marcha que muitas vezes se efetua atraveacutes de
saltos cataacutestrofes revoluccedilotildees) na natureza e na sociedade Marx e eu fomos
seguramente quase os uacutenicos que procuramos salvar (do descalabro do
idealismo incluindo o hegelianismo) a dialeacutetica consciente para a integrar na
concepccedilatildeo materialista da natureza A natureza eacute a comprovaccedilatildeo da dialeacutetica
e devemos dizer que as ciecircncias modernas da natureza nos forneceram materiais
extremamente numerosos (e isto foi escrito antes da descoberta do raacutedio dos
eletrotildees da transformaccedilatildeo dos elementos etc) cujo volume aumenta dia a dia
provando assim que em uacuteltima anaacutelise na natureza as coisas se passam
dialeticamente e natildeo metafisicamente (21)
A grande ideacuteia fundamental - escreve Engels - segundo a qual o mundo natildeo
deve ser considerado como um conjunto de coisas acabadas mas como um
conjunto de processos em que as coisas aparentemente estaacuteveis bem como os
seus reflexos mentais no nosso ceacuterebro os conceitos passam por uma seacuterie
ininterrupta de transformaccedilotildees por um processo de gecircnese e de deperecimento
esta grande ideacuteia fundamental penetrou desde Hegel tatildeo profundamente na
consciecircncia corrente que sob esta forma geral quase jaacute natildeo encontra
contraditores Mas reconhece-la em palavras e aplicaacute-la na realidade concreta
em cada domiacutenio submetido agrave investigaccedilatildeo satildeo duas coisas diferentes Nada
haacute de definitivo de absoluto de sagrado para a filosofia dialeacutetica Ela mostra a
caducidade de todas as coisas e para ela nada mais existe senatildeo o processo
ininterrupto do surgir e do perecer da ascensatildeo sem fim do inferior para o
12
superior de que ela proacutepria natildeo eacute senatildeo o simples reflexo no ceacuterebro pensante
Portanto para Marx a dialeacutetica eacutea ciecircncia das leis gerais do movimento tanto
do mundo exterior como do pensamento humano (22)
Foi este aspecto revolucionaacuterio da filosofia de Hegel que Marx adotou e
desenvolveu O materialismo dialeacutetico natildeo necessita de nenhuma filosofia
colocada acima das outras ciecircncias A uacutenica coisa que resta da filosofia anterior
eacute a teoria do pensamento e das suas leis a loacutegica formal e a dialeacutetica(23) E a
dialeacutetica compreende na concepccedilatildeo de Marx como na de Hegel o que hoje se
chama agrave teoria do conhecimento ou gnosiologia ciecircncia que deve considerar o
seu objeto tambeacutem historicamente estudando e generalizando a origem e o
desenvolvimento do conhecimento a passagem do natildeo conhecimento ao
conhecimento
Atualmente a ideacuteia do desenvolvimento da evoluccedilatildeo penetrou quase
completamente na consciecircncia social mas por outra via que natildeo a da filosofia de
Hegel No entanto esta ideacuteia tal como a formularam Marx e Engels apoiando-
se em Hegel eacute muito mais vasta e rica de conteuacutedo do que a ideacuteia corrente da
evoluccedilatildeo Eacute um desenvolvimento que parece repetir etapas jaacute percorridas mas
sob outra forma numa base mais elevada (negaccedilatildeo da negaccedilatildeo) um
desenvolvimento por assim dizer em espiral e natildeo em linha reta um
desenvolvimento por saltos por cataacutestrofes por revoluccedilotildees soluccedilotildees de
continuidade transformaccedilotildees da quantidade em qualidade impulsos internos
do desenvolvimento provocados pela contradiccedilatildeo pelo choque de forccedilas e
tendecircncias distintas agindo sobre determinado corpo no quadro de um
determinado fenocircmeno ou no seio de uma determinada sociedade
interdependecircncia e ligaccedilatildeo estreita indissoluacutevel de todos os aspectos de cada
fenocircmeno (com a particularidade de que a histoacuteria faz constantemente aparecer
novos aspectos) ligaccedilatildeo que mostra um processo uacutenico universal do
movimento regido por leis tais satildeo certos traccedilos da dialeacutetica dessa doutrina do
desenvolvimento mais rica de conteuacutedo do que a doutrina usual (Ver a carta de
Marx a Engels de 8 de Janeiro de 1868 onde ridiculariza as tricotomias
riacutegidas de Stein que seria absurdo confundir com a dialeacutetica materialista)
13
A Concepccedilatildeo Materialista da Histoacuteria
Dando-se conta do caraacuteter inconsequumlente incompleto e unilateral do velho
materialismo Marx foi levado agrave convicccedilatildeo de que era preciso pocircr a ciecircncia da
sociedade de acordo com a base materialista e reconstruir esta ciecircncia
apoiando-se nessa base(24) Se de uma forma geral o materialismo explica a
consciecircncia pelo ser e natildeo ao contraacuterio ele exige quando aplicado agrave vida social
da humanidade que se explique agrave consciecircncia social pelo ser social A
tecnologia diz Marx (O Capital l) revela a atitude ativa do homem para com a
natureza o processo imediato da produccedilatildeo da sua vida e por conseguinte das
suas condiccedilotildees sociais de vida e das representaccedilotildees espirituais que delas
derivam(25) Uma formulaccedilatildeo completa das teses fundamentais do
materialismo aplicado agrave sociedade humana e agrave sua histoacuteria eacute dada por Marx no
prefaacutecio agrave sua obra Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica nestes
termos
Na produccedilatildeo social da sua existecircncia os homens entram em relaccedilotildees
determinadas necessaacuterias independentes da sua vontade relaccedilotildees de produccedilatildeo
que correspondem a um dado grau de desenvolvimento das suas forccedilas
produtivas materiais
O conjunto dessas relaccedilotildees de produccedilatildeo constitui a estrutura econocircmica da
sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura juriacutedica e
poliacutetica e agrave qual correspondem formas de consciecircncia social determinadas O
modo de produccedilatildeo da vida material condiciona o processo da vida social
poliacutetica e intelectual em geral Natildeo eacute a consciecircncia dos homens que determina o
seu ser mas pelo contraacuterio eacute o seu ser social que determina a sua consciecircncia
Num certo estaacutedio do seu desenvolvimento as forccedilas produtivas materiais da
sociedade entram em contradiccedilatildeo com as relaccedilotildees de produccedilatildeo existentes ou o
que natildeo eacute senatildeo a expressatildeo juriacutedica disso com as relaccedilotildees de propriedade no
seio das quais elas se haviam movido ateacute entatildeo De formas de desenvolvimento
das forccedilas produtivas que eram essas relaccedilotildees tornam-se seus entraves Abre-se
entatildeo uma eacutepoca de revoluccedilatildeo social A transformaccedilatildeo na base econocircmica
revoluciona mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura
Quando se estudam tais revoluccedilotildees eacute preciso distinguir sempre entre as
transformaccedilotildees materiais ocorridas nas condiccedilotildees econocircmicas de produccedilatildeo -
que podem ser verificadas com o rigor proacuteprio das ciecircncias naturais - e as
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formas juriacutedicas poliacuteticas religiosas artiacutesticas ou filosoacuteficas em resumo as
formas ideoloacutegicas sob as quais os homens tomam consciecircncia desse conflito e
lutam por resolvecirc-lo
Assim como natildeo se pode julgar um indiviacuteduo pela ideacuteia que ele faz de si
proacuteprio tambeacutem se natildeo pode julgar uma tal eacutepoca de revoluccedilotildees pela
consciecircncia que ela tem de si mesma Pelo contraacuterio eacute preciso explicar esta
consciecircncia pelas contradiccedilotildees da vida material pelo conflito que existe entre as
forccedilas produtivas sociais e as relaccedilotildees de produccedilatildeo Em traccedilos largos os
modos de produccedilatildeo asiaacutetico antigo feudal e burguecircs moderno podem ser
designados como outras tantas eacutepocas de progresso na formaccedilatildeo econocircmica da
sociedade (Ver a foacutermula sucinta que Marx daacute na sua carta a Engels datada de
7 de Julho de 1866 A nossa teoria da organizaccedilatildeo do trabalho determinada
pelos meios de produccedilatildeo)
A descoberta da concepccedilatildeo materialista da histoacuteria ou mais exatamente a
aplicaccedilatildeo a extensatildeo consequumlente do materialismo ao domiacutenio dos fenocircmenos
sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da histoacuteria anteriores a
Marx Em primeiro lugar estas consideravam no melhor dos casos os moacutebiles
ideoloacutegicos da atividade histoacuterica dos homens sem investigar a origem desses
moacutebiles sem apreender as leis objetivas que presidem ao desenvolvimento do
sistema das relaccedilotildees sociais e sem descobrir as raiacutezes dessas relaccedilotildees no grau de
desenvolvimento da produccedilatildeo material Em segundo lugar as teorias anteriores
natildeo abarcavam precisamente a accedilatildeo das massas da populaccedilatildeo enquanto o
materialismo histoacuterico permite pela primeira vez estudar com a precisatildeo das
ciecircncias naturais as condiccedilotildees sociais da vida das massas e as modificaccedilotildees
dessas condiccedilotildees A sociologia e a historiografia anteriores a Marx no melhor
dos casos acumularam fatos em bruto fragmentariamente recolhidos e
expuseram alguns aspetos do processo histoacuterico O marxismo abriu caminho ao
estudo universal e completo do processo do nascimento desenvolvimento e
decliacutenio das formaccedilotildees econocircmico-sociais examinando o conjunto das
tendecircncias contraditoacuterias ligando-as agraves condiccedilotildees de existecircncia e de produccedilatildeo
exatamente determinaacuteveis das diversas classes da sociedade afastando o
subjetivismo e o arbiacutetrio na seleccedilatildeo das diversas ideacuteias dominantes ou na sua
interpretaccedilatildeo revelando as raiacutezes de todas as ideacuteias e todas as diferentes
tendecircncias sem exceccedilatildeo no estado das forccedilas produtivas materiais Os homens
satildeo os artiacutefices da sua proacutepria histoacuteria mas que causas determinam os moacutebiles
15
dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
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histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
17
(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
18
(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
19
mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
2
KARL MARX
Karl Marx nasceu em 5 de Maio de 1818 em Trier (Pruacutessia renana) O pai
advogado israelita converteu-se em 1824 ao protestantismo A famiacutelia
abastada e culta natildeo era revolucionaacuteria Depois de ter terminado os seus
estudos no liceu de Trier Marx entrou na Universidade de Bona e depois na de
Berlim aiacute estudou direito e sobretudo histoacuteria e filosofia Em 1841 terminava o
curso defendendo uma tese de doutoramento sobre a filosofia de Epicuro Eram
entatildeo as concepccedilotildees de Marx as de um idealista hegeliano Em Berlim aderiu
ao ciacuterculo dos hegelianos de esquerda (3) (Bruno Bauer e outros) que
procuravam tirar da filosofia de Hegel conclusotildees ateias e revolucionaacuterias
Ao sair da Universidade Marx fixou-se em Bona onde contava tornar-se
professor Mas a poliacutetica reacionaacuteria de um governo que em 1832 tinha tirado a
Ludwig Feuerbach a sua cadeira de professor recusando-lhe novamente o
acesso agrave Universidade em 1836 e que em 1841 proibira o jovem professor Bruno
Bauer de fazer conferecircncias em Bona obrigou Marx a renunciar a uma carreira
universitaacuteria Nessa eacutepoca o desenvolvimento das ideias do hegelianismo de
esquerda fazia na Alemanha raacutepidos progressos A partir sobretudo de 1836
Ludwig Feuerbach comeccedila a criticar a teologia e a orientar-se para o
materialismo a que em 1841 adere completamente (A Essecircncia do
Cristianismo) em 1843 aparecem os seus Princiacutepios da Filosofia do Futuro Eacute
preciso () ter vivido a influecircncia emancipadora desses livros escreveu mais
tarde Engels a propoacutesito destas obras de Feuerbach Noacutes (isto eacute os
hegelianos de esquerda entre eles Marx) imediatamente nos tornamos
feuerbachianos(4) Nessa altura os burgueses radicais da Renacircnia que tinham
certos pontos de contacto com os hegelianos de esquerda fundaram em Coloacutenia
um jornal de oposiccedilatildeo a Gazeta Renana(5) (que apareceu a partir de 1 de Janeiro
de 1842) Marx e Bruno Bauer foram os seus principais colaboradores e em
Outubro de 1842 Marx tornou-se o redator-chefe mudando-se entatildeo de Bona
para Coloacutenia Sob a direccedilatildeo de Marx a tendecircncia democraacutetica revolucionaacuteria do
jornal acentuou-se cada vez mais e o governo comeccedilou por submetecirc-lo a uma
dupla e mesmo tripla censura e acabou por ordenar a sua suspensatildeo completa a
partir de 1 de Janeiro de 1843 Por essa altura Marx viu-se obrigado a deixar o
seu posto de redator mas a sua saiacuteda natildeo salvou o jornal que foi proibido em
3
Marccedilo de 1843 Entre os artigos mais importantes que Marx publicou na Gazeta
Renana aleacutem dos que indicamos mais adiante (ver Bibliografia (6)) Engels cita
um sobre a situaccedilatildeo dos vinhateiros do vale do Mosela (7) A sua atividade de
jornalista tinha feito compreender a Marx que os seus conhecimentos de
economia poliacutetica eram insuficientes e por isso lanccedilou-se a estudaacute-la com ardor
Em 1843 Marx casou-se em Kreuznach com Jenny von Westphalen amiga de
infacircncia de quem jaacute era noivo desde o tempo de estudante A sua mulher
pertencia a uma famiacutelia nobre e reacionaacuteria da Pruacutessia O irmatildeo mais velho de
Jenny vou Westphaleu foi ministro do interior na Pruacutessia numa das eacutepocas mais
reacionaacuterias de 1850 a 1858 No Outono de 1843 Marx foi para Paris para editar
no estrangeiro uma revista radical em colaboraccedilatildeo com Arnold Ruge (1802-
1880 hegeliano de esquerda preso de 1825 a 1830 emigrado depois de 1848 e
partidaacuterio de Bismarck depois de 1866-1870) Mas soacute apareceu o primeiro
fasciacuteculo desta revista intitulada Anais Franco-Alematildees(8) que teve de ser
suspensa por causa das dificuldades com a sua difusatildeo clandestina na Alemanha
e de divergecircncias com Ruge Nos artigos de Marx publicados pela revista ele
aparece-nos jaacute como um revolucionaacuterio que proclama a criacutetica implacaacutevel de
tudo o que existe e em particular a criacutetica das armas e apela para as massas
e o proletariado(9)
Em Setembro de 1844 Friedrich Engels esteve em Paris por uns dias e desde
entatildeo tornou-se o amigo mais iacutentimo de Marx Ambos tomaram uma parte
muito ativa na vida agitada da eacutepoca dos grupos revolucionaacuterios de Paris
(especial importacircncia assumia entatildeo a doutrina de Proudhon (10) que Marx
submeteu a uma criacutetica impiedosa na sua obra Miseacuteria da Filosofia publicada
em 1847) e numa aacuterdua luta contra as diversas doutrinas do socialismo
pequeno-burguecircs elaboraram a teoria e a taacutetica do socialismo proletaacuterio
revolucionaacuterio ou comunismo (marxismo) Vejam-se as obras de Marx desta
eacutepoca 1844-1848 mais adiante na Bibliografia Em 1845 a pedido do governo
prussiano Marx foi expulso de Paris como revolucionaacuterio perigoso Foi para
Bruxelas onde fixou residecircncia Na Primavera de 1847 Marx e Engels filiaram-
se numa sociedade secreta de propaganda a Liga dos Comunistas (11) tiveram
papel destacado no II Congresso desta Liga (Londres Novembro de 1847) e por
incumbecircncia do Congresso redigiram o ceacutelebre Manifesto do Partido
Comunista publicado em Fevereiro de 1848 Esta obra expotildee com uma clareza
e um vigor geniais a nova concepccedilatildeo do mundo o materialismo consequumlente
4
aplicado tambeacutem ao domiacutenio da vida social a dialeacutetica como a doutrina mais
vasta e mais profunda do desenvolvimento a teoria da luta de classes e do papel
revolucionaacuterio histoacuterico universal do proletariado criador de uma sociedade
nova a sociedade comunista
Quando eclodiu a revoluccedilatildeo de Fevereiro de 1848 (12) Marx foi expulso da
Beacutelgica Regressou novamente a Paris que deixou depois da revoluccedilatildeo de Marccedilo
(13) para voltar agrave Alemanha e fixar-se em Coloacutenia Foi aiacute que apareceu de 1 de
Junho de 1848 ateacute 19 de Maio de 1849 a Nova Gazeta Renana (14) de que Marx
foi o redator-chefe A nova teoria foi brilhantemente confirmada pelo curso dos
acontecimentos revolucionaacuterios de 1848-1849 e posteriormente por todos os
movimentos proletaacuterios e democraacuteticos em todos os paiacuteses do mundo A contra-
revoluccedilatildeo vitoriosa arrastou Marx ao tribunal (foi absolvido em 9 de Fevereiro
de 1849) e depois expulsou-o da Alemanha (em 16 de Maio de 1849) Voltou
entatildeo para Paris de onde foi igualmente expulso apoacutes a manifestaccedilatildeo de 13 de
Junho de 1849(15) e partiu depois para Londres onde viveu ateacute ao fim dos seus
dias
As condiccedilotildees desta vida de emigraccedilatildeo eram extremamente penosas como o
revela com particular vivacidade a correspondecircncia entre Marx e Engels
(editada em 1913) Marx e a famiacutelia viviam literalmente esmagados pela miseacuteria
sem o apoio financeiro constante e dedicado de Engels Marx natildeo soacute natildeo teria
podido acabar O Capital como teria fatalmente sucumbido agrave miseacuteria Aleacutem
disso as doutrinas e as correntes predominantes do socialismo pequeno-
burguecircs do socialismo natildeo proletaacuterio em geral obrigavam Marx a sustentar
uma luta implacaacutevel incessante e por vezes a defender-se mesmo dos ataques
pessoais mais furiosos e mais absurdos (Herr Vogt (16)) Conservando-se agrave
margem dos ciacuterculos de emigrados Marx desenvolveu numa seacuterie de trabalhos
histoacutericos (ver Bibliografia) a sua teoria materialista dedicando-se sobretudo
ao estudo da economia poliacutetica Revolucionou esta ciecircncia (ver a seguir o
capiacutetulo acerca da doutrina de Marx) nas suas obras Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica
da Economia Poliacutetica (1859) e O Capital (r1867)
A eacutepoca da reanimaccedilatildeo dos movimentos democraacuteticos no final dos anos 50 e
nos anos 60 levou Marx a voltar ao trabalho praacutetico Foi em 1864 (em 28 de
Setembro) que se fundou em Londres a ceacutelebre I Internacional a Associaccedilatildeo
Internacional dos Trabalhadores Marx foi a sua alma sendo o autor do
5
primeiro Apelo (17) e de um grande nuacutemero de resoluccedilotildees declaraccedilotildees e
manifestos Unindo o movimento operaacuterio dos diversos paiacuteses procurando
orientar numa via de atividade comum as diferentes formas do socialismo natildeo
proletaacuterio preacute-marxista (Mazzini Proudhon Bakuacutenine o trade-unionismo
liberal inglecircs as oscilaccedilotildees dos lassallianos para a direita na Alemanha etc)
combatendo as teorias de todas estas seitas e escolas Marx foi forjando uma
taacutetica uacutenica para a luta proletaacuteria da classe operaacuteria nos diversos paiacuteses Depois
da queda da Comuna de Paris (1871) - a qual Marx analisou (em A Guerra Civil
em Franccedila 1871) de uma maneira tatildeo penetrante tatildeo justa tatildeo brilhante tatildeo
eficaz e revolucionaacuteria - e depois da cisatildeo provocada pelos bakuninista (18) a
Internacional natildeo pocircde continuar a subsistir na Europa Depois do Congresso
de 1872 em Haia Marx conseguiu a transferecircncia do Conselho Geral da
Internacional para Nova lorque A I Internacional tinha cumprido a sua missatildeo
histoacuterica e dava lugar a uma eacutepoca de crescimento infinitamente maior do
movimento operaacuterio em todos os paiacuteses do mundo caracterizada pelo seu
desenvolvimento em extensatildeo pela formaccedilatildeo de partidos socialistas operaacuterios
de massas no quadro dos diversos Estados nacionais
A sua atividade intensa na Internacional e os seus trabalhos teoacutericos que
exigiam esforccedilos ainda maiores abalaram definitivamente a sauacutede de Marx
Prosseguiu a sua obra de transformaccedilatildeo da economia poliacutetica e de acabamento
de O Capital reunindo uma massa de documentos novos e estudando vaacuterias
liacutenguas (o russo por exemplo) mas a doenccedila impediu-o de terminar O Capital
A 2 de Dezembro de 1881 morre a sua mulher A 14 de Marccedilo de 1883 Marx
adormecia pacificamente na sua poltrona para o uacuteltimo sono Foi enterrado
junto da sua mulher no cemiteacuterio de Highgate em Londres Vaacuterios filhos de
Marx morreram muito jovens em Londres quando a famiacutelia atravessava uma
grande miseacuteria Trecircs das suas filhas casaram com socialistas ingleses e
franceses Eleanor Aveling Laura Lafargue e Jenny Longuet um dos filhos
desta uacuteltima eacute membro do Partido Socialista Francecircs
(A Doutrina Marxista gt)
6
Notas
(3)Hegelianos de esquerda ou jovens hegelianos corrente idealista na filosofia alematilde
dos anos 30-40 do seacuteculo XIX que procurava tirar conclusotildees radicais da filosofia de
Hegel e fundamentar a necessidade de transformaccedilatildeo burguesa da Alemanha O
movimento dos jovens hegelianos era representado por D Strauss B e EBauer M
Stirner e outros Durante certo tempo tambeacutem L Feuerbach partilhou as suas ideacuteias
bem com K Marx e F Engels na sua juventude os quais rompendo posteriormente
com os jovens hegelianos submeteram agrave criacutetica a sua natureza idealista e pequeno-
burguesa em A Sagrada Famiacutelia (1844) e em A Ideologia Alematilde (1845-1846)(retornar
ao texto)
(4)F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde(retornar ao texto)
(5) Rheinische Zeitung (fuumlr Politik Handel und Gewerbe (Gazeta Renana de Poliacutetica
Comeacutercio e Induacutestria) diaacuterio que se publicou em Coloacutenia entre 1 de janeiro de 1842 e
31 de marccedilo de 1843 O jornal foi fundado por representantes da Renacircnia que tinham
uma atitude oposicionista para com o absolutismo prussianoTambeacutem alguns
hegelianos de esquerda foram atraiacutedos para participarem no jornal A partir de abril de
1842 K Marx colaborou na Gazeta Renana e a partir de outubro do mesmo ano
tornou-se um dos seus redatores passando o jornal a revestir-se de um caraacuteter
democraacutetico revolucionaacuterio Em janeiro de 1843 o governo da Pruacutessia decretou o
encerramento da Gazeta Renana a partir de 1 de abril estabelecendo entretanto uma
censura especialmente rigorosa ao jornal Devido agrave decisatildeo dos acionistas de lhe
atribuir um caraacuteter mais moderado Marx em 17 de marccedilo de 1843 declarou que saiacutea
da redaccedilatildeo(retornar ao texto)
(6)Trata-se da lista de obras composta por VI Lenine para o artigo Karl Marx (que natildeo
se inclui na presente ediccedilatildeo - N Ed) (retornar ao texto)
(7)Trata-se do artigo de K Marx Justificaccedilatildeo do Correspondente do Mosela (retornar
ao texto)
(8) Soacute apareceu o primeiro fasciacuteculo duplo em fevereiro de 1844 Nele foram
publicadas as obras de K Marx e F Engels que marcam a sua passagem definitiva para
o materialismo e comunismo (retornar ao texto)
(9) Na introduccedilatildeo ao artigo Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Filosofia do Direito de Hegel
Marx escreve A arma da criacutetica natildeo podia evidentemente substituir a criacutetica das
armas porque a foca material natildeo pode ser derrubada senatildeo pela forccedila material mas
7
logo que penetra nas massas a teoria passa a ser tambeacutem ela uma forccedila material
(retornar ao texto)
(10) Doutrina de Proudhon corrente anticientiacutefica hostil ao marxismo do socialismo
pequeno-burguecircs Criticando a grande propriedade capitalista a partir de posiccedilotildees
pequeno-burguesas Proudhon sonhava com perpetuar a pequena propriedade privada
propunha que fossem organizados os bancos do povo e de troca que segundo ele
permitiriam aos operaacuterios obter meios de produccedilatildeo proacuteprios tornar-se artesotildees e
garantir a venda justa dos seus produtos Proudhon natildeo compreendia o papel
histoacuterico do proletariado negava a luta de classes a revoluccedilatildeo proletaacuteria e a ditadura
do proletariado Partindo de posiccedilotildees anarquistas negava tambeacutem a necessidade do
Estado (retornar ao texto)
(11) Liga dos Comunistas primeira organizaccedilatildeo internacional comunista do
proletariado criada sob a direccedilatildeo de Marx e Engels no iniacutecio de junho de 1847 em
Londres em consequumlecircncia da reorganizaccedilatildeo da Liga dos Justos associaccedilatildeo secreta
alematilde de operaacuterios e artesatildeos que seguiu na deacutecada de 1830 Os princiacutepios
programaacuteticos e de organizaccedilatildeo da Liga fora elaborados com a participaccedilatildeo direta de
Marx e Engels que redigiram tambeacutem o documento programaacutetico o Manifesto do
Partido Comunista publicado em fevereiro de 1848 A Liga dos Comunistas existiu ateacute
Novembro de 1852 e foi antecessora da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores (I
Internacional) Os dirigentes mais eminentes da Liga dos Comunistas desempenharam
mais tarde o papel dirigente na I Internacional (retornar ao texto)
(12) Trata-se da revoluccedilatildeo burguesa em Franccedila em fevereiro de 1848 (retornar ao
texto)
(13) Trata-se da revoluccedilatildeo burguesa na Alemanha e na Aacuteustria que se iniciou em marccedilo
de 1848 (retornar ao texto)
(14)A Nova Gazeta Renana (Neue Rheinische Zeitung) publicou-se em Coloacutenia entre 1
de junho de 1848 e 19 de maio de 1849 O jornal foidirigido por K Marx e F Engels
sendo Marx redator-chefe A Nova Gazeta Renana apesar de todas as perseguiccedilotildees e
obstaacuteculos por parte da poliacutecia defendia corajosamente os interesses da democracia
revolucionaacuteria os interesses do proletariado A expulsatildeo de Marx da Pruacutessia em marccedilo
de 1848 e as perseguiccedilotildees contra os outros redatores da Nova Gazeta Renana foram a
causa da cessaccedilatildeo da publicaccedilatildeo do jornal (retornar ao texto)
(15) Trata-se da manifestaccedilatildeo popular em paris organizada pelo partido da pequena
burguesia (Montanha) em sinal de protesto contra a infraccedilatildeo pelo presidente e pela
8
maioria da Assembleacuteia Legislativa da ordem constitucional estabelecida pela revoluccedilatildeo
de 9148 A manifestaccedilatildeo foi dispersa pelo governo (retornar ao texto)
(16) Leacutenine alude ao panfleto de K Marx Herr Vogt (O Senhor Vogt) escrito em
resposta agrave brochura caluniosa O Meu Processo contra o Allgemeine Zeitung do
agente bonapartista K Vogt (retornar ao texto)
(17) Trata-se do manifesto Constituinte da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores
(retornar ao texto)
(18) Bakuninismo corrente cuja denominaccedilatildeo deriva do nome de Nakuacutenine ideoacutelogo
do anarquismo inimigo do marxismo e do socialismo cientiacutefico Os bakininistas
travaram uma luta tenaz contra a teoria marxista e contra a taacutetica do movimento
operaacuterio A tese principal do bakuninismo eacute a negaccedilatildeo de todo o Estado incluindo a
ditadura do proletariado e a incompreensatildeo do papel histoacuterico universal do
proletariado Uma sociedade revolucionaacuteria secreta constituiacuteda por destacadas
personalidades devia na opiniatildeo dos bakuninistas dirigir revoltas populares A sua
taacutetica das conquistas e do terror era aventureira e hostil agrave doutrina marxista da
insurreiccedilatildeo (retornar ao texto)
A Doutrina Marxista
O marxismo eacute o sistema das ideacuteias e da doutrina de Marx Marx continuou e
desenvolveu plena e genialmente as trecircs principais correntes ideoloacutegicas do
seacuteculo XIX nos trecircs paiacuteses mais avanccedilados da humanidade a filosofia claacutessica
alematilde a economia poliacutetica claacutessica inglesa e o socialismo francecircs em ligaccedilatildeo
com as doutrinas revolucionaacuterias francesas em geral O caraacuteter notavelmente
coerente e integral das suas ideacuteias reconhecido pelos proacuteprios adversaacuterios - e
que no seu conjunto constituem o materialismo moderno e o socialismo
cientiacutefico moderno como teoria e programa do movimento operaacuterio de todos os
paiacuteses civilizados - obriga-nos a fazer preceder a exposiccedilatildeo do conteuacutedo
essencial do marxismo a doutrina econocircmica de Marx de um breve resumo da
sua concepccedilatildeo do mundo em geral
9
O Materialismo Filosoacutefico
Desde 1844-1845 eacutepoca em que se formaram as suas ideacuteias Marx foi
materialista foi em particular partidaacuterio de L Feuerbach cujo uacutenico lado fraco
foi para ele mesmo mais tarde a falta de coerecircncia e de universalidade do seu
materialismo Marx via a importacircncia histoacuterica mundial de Feuerbach que fez
eacutepoca precisamente na sua ruptura decisiva com o idealismo de Hegel e na sua
afirmaccedilatildeo do materialismo que jaacute desde o seacuteculo XVIII e nomeadamente em
Franccedila natildeo foi apenas uma luta contra as instituiccedilotildees poliacuteticas existentes assim
como contra a religiatildeo e a teologia existentes mas tambeacutem contra toda a
metafiacutesica (tomada no sentido de especulaccedilatildeo delirante por oposiccedilatildeo a uma
filosofia sensata) (A Sagrada Famiacutelia (19) no Literarischer Nachlass) Para
Hegel - escrevia Marx - o processo do pensamento que ele personifica mesmo
sob o nome de ideacuteia num sujeito independente eacute o demiurgo (o criador) da
realidade Para mim pelo contraacuterio o ideal natildeo eacute senatildeo o material transposto
e traduzido no ceacuterebro humano (O Capital I posfaacutecio da segunda ediccedilatildeo)
Perfeitamente de acordo com a filosofia materialista de Marx F Engels
expondo-a no Anti-Diacuteihring (ver) que Marx lera ainda em manuscrito escrevia
A unidade do mundo natildeo consiste no seu ser A unidade real do mundo
consiste na sua materialidade e esta uacuteltima estaacute provada por um longo e
laborioso desenvolvimento da filosofia e das ciecircncias naturais O movimento eacute
o modo de existecircncia da mateacuteria Nunca e em parte alguma houve nem poderaacute
haver mateacuteria sem movimento Mateacuteria sem movimento eacute impensaacutevel do
mesmo modo que movimento sem mateacuteria Mas se pergunta depois disso o
que satildeo o pensamento e a consciecircncia e donde provecircm conclui-se que satildeo
produtos do ceacuterebro humano e que o proacuteprio homem eacute um produto da natureza
o qual se desenvolveu no seu ambiente e com ele daiacute se compreende por si soacute
que os produtos do ceacuterebro humano que em uacuteltima anaacutelise satildeo igualmente
produtos da natureza natildeo estatildeo em contradiccedilatildeo mas sim em correspondecircncia
com a restante conexatildeo da natureza Hegel era idealista isto eacute para ele as
ideacuteias do seu ceacuterebro natildeo eram reflexos (Abbilder por vezes Engels fala de
reproduccedilotildees) mais ou menos abstratos dos objetos e dos fenocircmenos reais
mas pelo contraacuterio eram os objetos e o seu desenvolvimento que eram para ele
os reflexos da ideacuteia que jaacute existia natildeo se sabe onde antes da existecircncia do
mundo No seu Ludwig Feuerbach livro onde expotildee as suas ideacuteias e as de Marx
sobre a filosofia de Feuerbach e que soacute mandou imprimir depois de ter lido uma
vez mais o velho manuscrito de 1844-1845 escrito em colaboraccedilatildeo com Marx
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sobre Hegel Feuerbach e a concepccedilatildeo materialista da histoacuteria Engels escreve
A grande questatildeo fundamental de toda a filosofia especialmente da filosofia
moderna eacute a da relaccedilatildeo entre o pensamento e o ser entre o espiacuterito e a natureza
Que eacute primeiro o espiacuterito ou a natureza Conforme respondiam de uma
maneira ou de outra a esta questatildeo os filoacutesofos dividiam-se em dois grandes
campos Aqueles que afirmavam que o espiacuterito eacute primeiro em relaccedilatildeo agrave natureza
e que por conseguinte admitiam em uacuteltima instacircncia uma criaccedilatildeo do mundo
de qualquer espeacutecie constituiacuteam o campo do idealismo Os outros que
consideravam a natureza como o elemento primordial pertenciam agraves diversas
escolas do materialismo Qualquer outro emprego dos conceitos de idealismo e
de materialismo (no sentido filosoacutefico) natildeo faz mais do que criar a confusatildeo
Marx repudiou categoricamente natildeo apenas o idealismo sempre ligado de uma
maneira ou de outra agrave religiatildeo mas tambeacutem o ponto de vista particularmente
difundido nos nossos dias de Rume e de Kant o agnosticismo o criticismo o
positivismo(20) sob os seus diferentes aspectos considerando esse gecircnero de
filosofia como uma concessatildeo reacionaacuteria ao idealismo e no melhor dos
casos uma maneira envergonhada de aceitar o materialismo agraves escondidas
renegando-a publicamente A este respeito eacute bom consultar aleacutem das jaacute
citadas obras de Marx e Engels a carta de Marx a Engels datada de 12 de
Dezembro de 1866 em que falando de uma intervenccedilatildeo do ceacutelebre naturalista
T Huxley que se mostrou mais materialista do que habitualmente e
reconheceu que enquanto observamos e pensamos realmente nunca podemos
sair do materialismo Marx o critica por ter aberto uma porta ao agnosticismo
e agrave teoria de Rume Eacute importante sobretudo reter a opiniatildeo de Marx sobre as
relaccedilotildees entre a liberdade e a necessidade A necessidade soacute eacute cega enquanto
natildeo eacute compreendida A liberdade consiste em conhecer a necessidade (F
Engels Anti-Diacuteihring) E o reconhecimento das leis objetivas que regem a
natureza e da transformaccedilatildeo dialeacutetica da necessidade em liberdade (da mesma
maneira que a transformaccedilatildeo da coisa em si natildeo conhecida mas cognosciacutevel
em coisa para noacutes da essecircncia das coisas em fenocircmenos) O defeito
essencial do velho materialismo incluindo o de Feuerbach (e com mais forte
razatildeo o do materialismo vulgar de Buchner-Vogt-Moleschott) era para Marx
e Engels 1 - que este materialismo era essencialmente mecanicista e natildeo
tomava em conta os progressos mais recentes da quiacutemica e da biologia
(atualmente conviria acrescentar ainda a teoria eleacutetrica da mateacuteria) 2 - que o
velho materialismo natildeo tinha um caraacuteter histoacuterico nem dialeacutetico (sendo pelo
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contraacuterio metafiacutesico no sentido de antidialeacutetico) e natildeo aplicava a concepccedilatildeo do
desenvolvimento de forma consequumlente e sob todos os seus aspectos 3 - que
concebia a essecircncia humana como uma abstraccedilatildeo e natildeo como o conjunto de
todas as relaccedilotildees sociais (concretamente determinadas pela histoacuteria) natildeo
fazendo assim mais do que interpretar o mundo enquanto aquilo de que se
tratava era de o transformar ou por outras palavras natildeo compreendia a
importacircncia da atividade revolucionaacuteria praacutetica
A Dialeacutetica
Marx e Engels viam na dialeacutetica de Hegel a doutrina do desenvolvimento mais
vasta mais rica de conteuacutedo e mais profunda a maior aquisiccedilatildeo da filosofia
claacutessica alematilde Consideravam qualquer outro enunciado do princiacutepio do
desenvolvimento da evoluccedilatildeo unilateral pobre que mutilava e deturpava a
marcha real do desenvolvimento (marcha que muitas vezes se efetua atraveacutes de
saltos cataacutestrofes revoluccedilotildees) na natureza e na sociedade Marx e eu fomos
seguramente quase os uacutenicos que procuramos salvar (do descalabro do
idealismo incluindo o hegelianismo) a dialeacutetica consciente para a integrar na
concepccedilatildeo materialista da natureza A natureza eacute a comprovaccedilatildeo da dialeacutetica
e devemos dizer que as ciecircncias modernas da natureza nos forneceram materiais
extremamente numerosos (e isto foi escrito antes da descoberta do raacutedio dos
eletrotildees da transformaccedilatildeo dos elementos etc) cujo volume aumenta dia a dia
provando assim que em uacuteltima anaacutelise na natureza as coisas se passam
dialeticamente e natildeo metafisicamente (21)
A grande ideacuteia fundamental - escreve Engels - segundo a qual o mundo natildeo
deve ser considerado como um conjunto de coisas acabadas mas como um
conjunto de processos em que as coisas aparentemente estaacuteveis bem como os
seus reflexos mentais no nosso ceacuterebro os conceitos passam por uma seacuterie
ininterrupta de transformaccedilotildees por um processo de gecircnese e de deperecimento
esta grande ideacuteia fundamental penetrou desde Hegel tatildeo profundamente na
consciecircncia corrente que sob esta forma geral quase jaacute natildeo encontra
contraditores Mas reconhece-la em palavras e aplicaacute-la na realidade concreta
em cada domiacutenio submetido agrave investigaccedilatildeo satildeo duas coisas diferentes Nada
haacute de definitivo de absoluto de sagrado para a filosofia dialeacutetica Ela mostra a
caducidade de todas as coisas e para ela nada mais existe senatildeo o processo
ininterrupto do surgir e do perecer da ascensatildeo sem fim do inferior para o
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superior de que ela proacutepria natildeo eacute senatildeo o simples reflexo no ceacuterebro pensante
Portanto para Marx a dialeacutetica eacutea ciecircncia das leis gerais do movimento tanto
do mundo exterior como do pensamento humano (22)
Foi este aspecto revolucionaacuterio da filosofia de Hegel que Marx adotou e
desenvolveu O materialismo dialeacutetico natildeo necessita de nenhuma filosofia
colocada acima das outras ciecircncias A uacutenica coisa que resta da filosofia anterior
eacute a teoria do pensamento e das suas leis a loacutegica formal e a dialeacutetica(23) E a
dialeacutetica compreende na concepccedilatildeo de Marx como na de Hegel o que hoje se
chama agrave teoria do conhecimento ou gnosiologia ciecircncia que deve considerar o
seu objeto tambeacutem historicamente estudando e generalizando a origem e o
desenvolvimento do conhecimento a passagem do natildeo conhecimento ao
conhecimento
Atualmente a ideacuteia do desenvolvimento da evoluccedilatildeo penetrou quase
completamente na consciecircncia social mas por outra via que natildeo a da filosofia de
Hegel No entanto esta ideacuteia tal como a formularam Marx e Engels apoiando-
se em Hegel eacute muito mais vasta e rica de conteuacutedo do que a ideacuteia corrente da
evoluccedilatildeo Eacute um desenvolvimento que parece repetir etapas jaacute percorridas mas
sob outra forma numa base mais elevada (negaccedilatildeo da negaccedilatildeo) um
desenvolvimento por assim dizer em espiral e natildeo em linha reta um
desenvolvimento por saltos por cataacutestrofes por revoluccedilotildees soluccedilotildees de
continuidade transformaccedilotildees da quantidade em qualidade impulsos internos
do desenvolvimento provocados pela contradiccedilatildeo pelo choque de forccedilas e
tendecircncias distintas agindo sobre determinado corpo no quadro de um
determinado fenocircmeno ou no seio de uma determinada sociedade
interdependecircncia e ligaccedilatildeo estreita indissoluacutevel de todos os aspectos de cada
fenocircmeno (com a particularidade de que a histoacuteria faz constantemente aparecer
novos aspectos) ligaccedilatildeo que mostra um processo uacutenico universal do
movimento regido por leis tais satildeo certos traccedilos da dialeacutetica dessa doutrina do
desenvolvimento mais rica de conteuacutedo do que a doutrina usual (Ver a carta de
Marx a Engels de 8 de Janeiro de 1868 onde ridiculariza as tricotomias
riacutegidas de Stein que seria absurdo confundir com a dialeacutetica materialista)
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A Concepccedilatildeo Materialista da Histoacuteria
Dando-se conta do caraacuteter inconsequumlente incompleto e unilateral do velho
materialismo Marx foi levado agrave convicccedilatildeo de que era preciso pocircr a ciecircncia da
sociedade de acordo com a base materialista e reconstruir esta ciecircncia
apoiando-se nessa base(24) Se de uma forma geral o materialismo explica a
consciecircncia pelo ser e natildeo ao contraacuterio ele exige quando aplicado agrave vida social
da humanidade que se explique agrave consciecircncia social pelo ser social A
tecnologia diz Marx (O Capital l) revela a atitude ativa do homem para com a
natureza o processo imediato da produccedilatildeo da sua vida e por conseguinte das
suas condiccedilotildees sociais de vida e das representaccedilotildees espirituais que delas
derivam(25) Uma formulaccedilatildeo completa das teses fundamentais do
materialismo aplicado agrave sociedade humana e agrave sua histoacuteria eacute dada por Marx no
prefaacutecio agrave sua obra Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica nestes
termos
Na produccedilatildeo social da sua existecircncia os homens entram em relaccedilotildees
determinadas necessaacuterias independentes da sua vontade relaccedilotildees de produccedilatildeo
que correspondem a um dado grau de desenvolvimento das suas forccedilas
produtivas materiais
O conjunto dessas relaccedilotildees de produccedilatildeo constitui a estrutura econocircmica da
sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura juriacutedica e
poliacutetica e agrave qual correspondem formas de consciecircncia social determinadas O
modo de produccedilatildeo da vida material condiciona o processo da vida social
poliacutetica e intelectual em geral Natildeo eacute a consciecircncia dos homens que determina o
seu ser mas pelo contraacuterio eacute o seu ser social que determina a sua consciecircncia
Num certo estaacutedio do seu desenvolvimento as forccedilas produtivas materiais da
sociedade entram em contradiccedilatildeo com as relaccedilotildees de produccedilatildeo existentes ou o
que natildeo eacute senatildeo a expressatildeo juriacutedica disso com as relaccedilotildees de propriedade no
seio das quais elas se haviam movido ateacute entatildeo De formas de desenvolvimento
das forccedilas produtivas que eram essas relaccedilotildees tornam-se seus entraves Abre-se
entatildeo uma eacutepoca de revoluccedilatildeo social A transformaccedilatildeo na base econocircmica
revoluciona mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura
Quando se estudam tais revoluccedilotildees eacute preciso distinguir sempre entre as
transformaccedilotildees materiais ocorridas nas condiccedilotildees econocircmicas de produccedilatildeo -
que podem ser verificadas com o rigor proacuteprio das ciecircncias naturais - e as
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formas juriacutedicas poliacuteticas religiosas artiacutesticas ou filosoacuteficas em resumo as
formas ideoloacutegicas sob as quais os homens tomam consciecircncia desse conflito e
lutam por resolvecirc-lo
Assim como natildeo se pode julgar um indiviacuteduo pela ideacuteia que ele faz de si
proacuteprio tambeacutem se natildeo pode julgar uma tal eacutepoca de revoluccedilotildees pela
consciecircncia que ela tem de si mesma Pelo contraacuterio eacute preciso explicar esta
consciecircncia pelas contradiccedilotildees da vida material pelo conflito que existe entre as
forccedilas produtivas sociais e as relaccedilotildees de produccedilatildeo Em traccedilos largos os
modos de produccedilatildeo asiaacutetico antigo feudal e burguecircs moderno podem ser
designados como outras tantas eacutepocas de progresso na formaccedilatildeo econocircmica da
sociedade (Ver a foacutermula sucinta que Marx daacute na sua carta a Engels datada de
7 de Julho de 1866 A nossa teoria da organizaccedilatildeo do trabalho determinada
pelos meios de produccedilatildeo)
A descoberta da concepccedilatildeo materialista da histoacuteria ou mais exatamente a
aplicaccedilatildeo a extensatildeo consequumlente do materialismo ao domiacutenio dos fenocircmenos
sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da histoacuteria anteriores a
Marx Em primeiro lugar estas consideravam no melhor dos casos os moacutebiles
ideoloacutegicos da atividade histoacuterica dos homens sem investigar a origem desses
moacutebiles sem apreender as leis objetivas que presidem ao desenvolvimento do
sistema das relaccedilotildees sociais e sem descobrir as raiacutezes dessas relaccedilotildees no grau de
desenvolvimento da produccedilatildeo material Em segundo lugar as teorias anteriores
natildeo abarcavam precisamente a accedilatildeo das massas da populaccedilatildeo enquanto o
materialismo histoacuterico permite pela primeira vez estudar com a precisatildeo das
ciecircncias naturais as condiccedilotildees sociais da vida das massas e as modificaccedilotildees
dessas condiccedilotildees A sociologia e a historiografia anteriores a Marx no melhor
dos casos acumularam fatos em bruto fragmentariamente recolhidos e
expuseram alguns aspetos do processo histoacuterico O marxismo abriu caminho ao
estudo universal e completo do processo do nascimento desenvolvimento e
decliacutenio das formaccedilotildees econocircmico-sociais examinando o conjunto das
tendecircncias contraditoacuterias ligando-as agraves condiccedilotildees de existecircncia e de produccedilatildeo
exatamente determinaacuteveis das diversas classes da sociedade afastando o
subjetivismo e o arbiacutetrio na seleccedilatildeo das diversas ideacuteias dominantes ou na sua
interpretaccedilatildeo revelando as raiacutezes de todas as ideacuteias e todas as diferentes
tendecircncias sem exceccedilatildeo no estado das forccedilas produtivas materiais Os homens
satildeo os artiacutefices da sua proacutepria histoacuteria mas que causas determinam os moacutebiles
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dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
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histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
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(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
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(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
19
mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
3
Marccedilo de 1843 Entre os artigos mais importantes que Marx publicou na Gazeta
Renana aleacutem dos que indicamos mais adiante (ver Bibliografia (6)) Engels cita
um sobre a situaccedilatildeo dos vinhateiros do vale do Mosela (7) A sua atividade de
jornalista tinha feito compreender a Marx que os seus conhecimentos de
economia poliacutetica eram insuficientes e por isso lanccedilou-se a estudaacute-la com ardor
Em 1843 Marx casou-se em Kreuznach com Jenny von Westphalen amiga de
infacircncia de quem jaacute era noivo desde o tempo de estudante A sua mulher
pertencia a uma famiacutelia nobre e reacionaacuteria da Pruacutessia O irmatildeo mais velho de
Jenny vou Westphaleu foi ministro do interior na Pruacutessia numa das eacutepocas mais
reacionaacuterias de 1850 a 1858 No Outono de 1843 Marx foi para Paris para editar
no estrangeiro uma revista radical em colaboraccedilatildeo com Arnold Ruge (1802-
1880 hegeliano de esquerda preso de 1825 a 1830 emigrado depois de 1848 e
partidaacuterio de Bismarck depois de 1866-1870) Mas soacute apareceu o primeiro
fasciacuteculo desta revista intitulada Anais Franco-Alematildees(8) que teve de ser
suspensa por causa das dificuldades com a sua difusatildeo clandestina na Alemanha
e de divergecircncias com Ruge Nos artigos de Marx publicados pela revista ele
aparece-nos jaacute como um revolucionaacuterio que proclama a criacutetica implacaacutevel de
tudo o que existe e em particular a criacutetica das armas e apela para as massas
e o proletariado(9)
Em Setembro de 1844 Friedrich Engels esteve em Paris por uns dias e desde
entatildeo tornou-se o amigo mais iacutentimo de Marx Ambos tomaram uma parte
muito ativa na vida agitada da eacutepoca dos grupos revolucionaacuterios de Paris
(especial importacircncia assumia entatildeo a doutrina de Proudhon (10) que Marx
submeteu a uma criacutetica impiedosa na sua obra Miseacuteria da Filosofia publicada
em 1847) e numa aacuterdua luta contra as diversas doutrinas do socialismo
pequeno-burguecircs elaboraram a teoria e a taacutetica do socialismo proletaacuterio
revolucionaacuterio ou comunismo (marxismo) Vejam-se as obras de Marx desta
eacutepoca 1844-1848 mais adiante na Bibliografia Em 1845 a pedido do governo
prussiano Marx foi expulso de Paris como revolucionaacuterio perigoso Foi para
Bruxelas onde fixou residecircncia Na Primavera de 1847 Marx e Engels filiaram-
se numa sociedade secreta de propaganda a Liga dos Comunistas (11) tiveram
papel destacado no II Congresso desta Liga (Londres Novembro de 1847) e por
incumbecircncia do Congresso redigiram o ceacutelebre Manifesto do Partido
Comunista publicado em Fevereiro de 1848 Esta obra expotildee com uma clareza
e um vigor geniais a nova concepccedilatildeo do mundo o materialismo consequumlente
4
aplicado tambeacutem ao domiacutenio da vida social a dialeacutetica como a doutrina mais
vasta e mais profunda do desenvolvimento a teoria da luta de classes e do papel
revolucionaacuterio histoacuterico universal do proletariado criador de uma sociedade
nova a sociedade comunista
Quando eclodiu a revoluccedilatildeo de Fevereiro de 1848 (12) Marx foi expulso da
Beacutelgica Regressou novamente a Paris que deixou depois da revoluccedilatildeo de Marccedilo
(13) para voltar agrave Alemanha e fixar-se em Coloacutenia Foi aiacute que apareceu de 1 de
Junho de 1848 ateacute 19 de Maio de 1849 a Nova Gazeta Renana (14) de que Marx
foi o redator-chefe A nova teoria foi brilhantemente confirmada pelo curso dos
acontecimentos revolucionaacuterios de 1848-1849 e posteriormente por todos os
movimentos proletaacuterios e democraacuteticos em todos os paiacuteses do mundo A contra-
revoluccedilatildeo vitoriosa arrastou Marx ao tribunal (foi absolvido em 9 de Fevereiro
de 1849) e depois expulsou-o da Alemanha (em 16 de Maio de 1849) Voltou
entatildeo para Paris de onde foi igualmente expulso apoacutes a manifestaccedilatildeo de 13 de
Junho de 1849(15) e partiu depois para Londres onde viveu ateacute ao fim dos seus
dias
As condiccedilotildees desta vida de emigraccedilatildeo eram extremamente penosas como o
revela com particular vivacidade a correspondecircncia entre Marx e Engels
(editada em 1913) Marx e a famiacutelia viviam literalmente esmagados pela miseacuteria
sem o apoio financeiro constante e dedicado de Engels Marx natildeo soacute natildeo teria
podido acabar O Capital como teria fatalmente sucumbido agrave miseacuteria Aleacutem
disso as doutrinas e as correntes predominantes do socialismo pequeno-
burguecircs do socialismo natildeo proletaacuterio em geral obrigavam Marx a sustentar
uma luta implacaacutevel incessante e por vezes a defender-se mesmo dos ataques
pessoais mais furiosos e mais absurdos (Herr Vogt (16)) Conservando-se agrave
margem dos ciacuterculos de emigrados Marx desenvolveu numa seacuterie de trabalhos
histoacutericos (ver Bibliografia) a sua teoria materialista dedicando-se sobretudo
ao estudo da economia poliacutetica Revolucionou esta ciecircncia (ver a seguir o
capiacutetulo acerca da doutrina de Marx) nas suas obras Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica
da Economia Poliacutetica (1859) e O Capital (r1867)
A eacutepoca da reanimaccedilatildeo dos movimentos democraacuteticos no final dos anos 50 e
nos anos 60 levou Marx a voltar ao trabalho praacutetico Foi em 1864 (em 28 de
Setembro) que se fundou em Londres a ceacutelebre I Internacional a Associaccedilatildeo
Internacional dos Trabalhadores Marx foi a sua alma sendo o autor do
5
primeiro Apelo (17) e de um grande nuacutemero de resoluccedilotildees declaraccedilotildees e
manifestos Unindo o movimento operaacuterio dos diversos paiacuteses procurando
orientar numa via de atividade comum as diferentes formas do socialismo natildeo
proletaacuterio preacute-marxista (Mazzini Proudhon Bakuacutenine o trade-unionismo
liberal inglecircs as oscilaccedilotildees dos lassallianos para a direita na Alemanha etc)
combatendo as teorias de todas estas seitas e escolas Marx foi forjando uma
taacutetica uacutenica para a luta proletaacuteria da classe operaacuteria nos diversos paiacuteses Depois
da queda da Comuna de Paris (1871) - a qual Marx analisou (em A Guerra Civil
em Franccedila 1871) de uma maneira tatildeo penetrante tatildeo justa tatildeo brilhante tatildeo
eficaz e revolucionaacuteria - e depois da cisatildeo provocada pelos bakuninista (18) a
Internacional natildeo pocircde continuar a subsistir na Europa Depois do Congresso
de 1872 em Haia Marx conseguiu a transferecircncia do Conselho Geral da
Internacional para Nova lorque A I Internacional tinha cumprido a sua missatildeo
histoacuterica e dava lugar a uma eacutepoca de crescimento infinitamente maior do
movimento operaacuterio em todos os paiacuteses do mundo caracterizada pelo seu
desenvolvimento em extensatildeo pela formaccedilatildeo de partidos socialistas operaacuterios
de massas no quadro dos diversos Estados nacionais
A sua atividade intensa na Internacional e os seus trabalhos teoacutericos que
exigiam esforccedilos ainda maiores abalaram definitivamente a sauacutede de Marx
Prosseguiu a sua obra de transformaccedilatildeo da economia poliacutetica e de acabamento
de O Capital reunindo uma massa de documentos novos e estudando vaacuterias
liacutenguas (o russo por exemplo) mas a doenccedila impediu-o de terminar O Capital
A 2 de Dezembro de 1881 morre a sua mulher A 14 de Marccedilo de 1883 Marx
adormecia pacificamente na sua poltrona para o uacuteltimo sono Foi enterrado
junto da sua mulher no cemiteacuterio de Highgate em Londres Vaacuterios filhos de
Marx morreram muito jovens em Londres quando a famiacutelia atravessava uma
grande miseacuteria Trecircs das suas filhas casaram com socialistas ingleses e
franceses Eleanor Aveling Laura Lafargue e Jenny Longuet um dos filhos
desta uacuteltima eacute membro do Partido Socialista Francecircs
(A Doutrina Marxista gt)
6
Notas
(3)Hegelianos de esquerda ou jovens hegelianos corrente idealista na filosofia alematilde
dos anos 30-40 do seacuteculo XIX que procurava tirar conclusotildees radicais da filosofia de
Hegel e fundamentar a necessidade de transformaccedilatildeo burguesa da Alemanha O
movimento dos jovens hegelianos era representado por D Strauss B e EBauer M
Stirner e outros Durante certo tempo tambeacutem L Feuerbach partilhou as suas ideacuteias
bem com K Marx e F Engels na sua juventude os quais rompendo posteriormente
com os jovens hegelianos submeteram agrave criacutetica a sua natureza idealista e pequeno-
burguesa em A Sagrada Famiacutelia (1844) e em A Ideologia Alematilde (1845-1846)(retornar
ao texto)
(4)F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde(retornar ao texto)
(5) Rheinische Zeitung (fuumlr Politik Handel und Gewerbe (Gazeta Renana de Poliacutetica
Comeacutercio e Induacutestria) diaacuterio que se publicou em Coloacutenia entre 1 de janeiro de 1842 e
31 de marccedilo de 1843 O jornal foi fundado por representantes da Renacircnia que tinham
uma atitude oposicionista para com o absolutismo prussianoTambeacutem alguns
hegelianos de esquerda foram atraiacutedos para participarem no jornal A partir de abril de
1842 K Marx colaborou na Gazeta Renana e a partir de outubro do mesmo ano
tornou-se um dos seus redatores passando o jornal a revestir-se de um caraacuteter
democraacutetico revolucionaacuterio Em janeiro de 1843 o governo da Pruacutessia decretou o
encerramento da Gazeta Renana a partir de 1 de abril estabelecendo entretanto uma
censura especialmente rigorosa ao jornal Devido agrave decisatildeo dos acionistas de lhe
atribuir um caraacuteter mais moderado Marx em 17 de marccedilo de 1843 declarou que saiacutea
da redaccedilatildeo(retornar ao texto)
(6)Trata-se da lista de obras composta por VI Lenine para o artigo Karl Marx (que natildeo
se inclui na presente ediccedilatildeo - N Ed) (retornar ao texto)
(7)Trata-se do artigo de K Marx Justificaccedilatildeo do Correspondente do Mosela (retornar
ao texto)
(8) Soacute apareceu o primeiro fasciacuteculo duplo em fevereiro de 1844 Nele foram
publicadas as obras de K Marx e F Engels que marcam a sua passagem definitiva para
o materialismo e comunismo (retornar ao texto)
(9) Na introduccedilatildeo ao artigo Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Filosofia do Direito de Hegel
Marx escreve A arma da criacutetica natildeo podia evidentemente substituir a criacutetica das
armas porque a foca material natildeo pode ser derrubada senatildeo pela forccedila material mas
7
logo que penetra nas massas a teoria passa a ser tambeacutem ela uma forccedila material
(retornar ao texto)
(10) Doutrina de Proudhon corrente anticientiacutefica hostil ao marxismo do socialismo
pequeno-burguecircs Criticando a grande propriedade capitalista a partir de posiccedilotildees
pequeno-burguesas Proudhon sonhava com perpetuar a pequena propriedade privada
propunha que fossem organizados os bancos do povo e de troca que segundo ele
permitiriam aos operaacuterios obter meios de produccedilatildeo proacuteprios tornar-se artesotildees e
garantir a venda justa dos seus produtos Proudhon natildeo compreendia o papel
histoacuterico do proletariado negava a luta de classes a revoluccedilatildeo proletaacuteria e a ditadura
do proletariado Partindo de posiccedilotildees anarquistas negava tambeacutem a necessidade do
Estado (retornar ao texto)
(11) Liga dos Comunistas primeira organizaccedilatildeo internacional comunista do
proletariado criada sob a direccedilatildeo de Marx e Engels no iniacutecio de junho de 1847 em
Londres em consequumlecircncia da reorganizaccedilatildeo da Liga dos Justos associaccedilatildeo secreta
alematilde de operaacuterios e artesatildeos que seguiu na deacutecada de 1830 Os princiacutepios
programaacuteticos e de organizaccedilatildeo da Liga fora elaborados com a participaccedilatildeo direta de
Marx e Engels que redigiram tambeacutem o documento programaacutetico o Manifesto do
Partido Comunista publicado em fevereiro de 1848 A Liga dos Comunistas existiu ateacute
Novembro de 1852 e foi antecessora da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores (I
Internacional) Os dirigentes mais eminentes da Liga dos Comunistas desempenharam
mais tarde o papel dirigente na I Internacional (retornar ao texto)
(12) Trata-se da revoluccedilatildeo burguesa em Franccedila em fevereiro de 1848 (retornar ao
texto)
(13) Trata-se da revoluccedilatildeo burguesa na Alemanha e na Aacuteustria que se iniciou em marccedilo
de 1848 (retornar ao texto)
(14)A Nova Gazeta Renana (Neue Rheinische Zeitung) publicou-se em Coloacutenia entre 1
de junho de 1848 e 19 de maio de 1849 O jornal foidirigido por K Marx e F Engels
sendo Marx redator-chefe A Nova Gazeta Renana apesar de todas as perseguiccedilotildees e
obstaacuteculos por parte da poliacutecia defendia corajosamente os interesses da democracia
revolucionaacuteria os interesses do proletariado A expulsatildeo de Marx da Pruacutessia em marccedilo
de 1848 e as perseguiccedilotildees contra os outros redatores da Nova Gazeta Renana foram a
causa da cessaccedilatildeo da publicaccedilatildeo do jornal (retornar ao texto)
(15) Trata-se da manifestaccedilatildeo popular em paris organizada pelo partido da pequena
burguesia (Montanha) em sinal de protesto contra a infraccedilatildeo pelo presidente e pela
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maioria da Assembleacuteia Legislativa da ordem constitucional estabelecida pela revoluccedilatildeo
de 9148 A manifestaccedilatildeo foi dispersa pelo governo (retornar ao texto)
(16) Leacutenine alude ao panfleto de K Marx Herr Vogt (O Senhor Vogt) escrito em
resposta agrave brochura caluniosa O Meu Processo contra o Allgemeine Zeitung do
agente bonapartista K Vogt (retornar ao texto)
(17) Trata-se do manifesto Constituinte da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores
(retornar ao texto)
(18) Bakuninismo corrente cuja denominaccedilatildeo deriva do nome de Nakuacutenine ideoacutelogo
do anarquismo inimigo do marxismo e do socialismo cientiacutefico Os bakininistas
travaram uma luta tenaz contra a teoria marxista e contra a taacutetica do movimento
operaacuterio A tese principal do bakuninismo eacute a negaccedilatildeo de todo o Estado incluindo a
ditadura do proletariado e a incompreensatildeo do papel histoacuterico universal do
proletariado Uma sociedade revolucionaacuteria secreta constituiacuteda por destacadas
personalidades devia na opiniatildeo dos bakuninistas dirigir revoltas populares A sua
taacutetica das conquistas e do terror era aventureira e hostil agrave doutrina marxista da
insurreiccedilatildeo (retornar ao texto)
A Doutrina Marxista
O marxismo eacute o sistema das ideacuteias e da doutrina de Marx Marx continuou e
desenvolveu plena e genialmente as trecircs principais correntes ideoloacutegicas do
seacuteculo XIX nos trecircs paiacuteses mais avanccedilados da humanidade a filosofia claacutessica
alematilde a economia poliacutetica claacutessica inglesa e o socialismo francecircs em ligaccedilatildeo
com as doutrinas revolucionaacuterias francesas em geral O caraacuteter notavelmente
coerente e integral das suas ideacuteias reconhecido pelos proacuteprios adversaacuterios - e
que no seu conjunto constituem o materialismo moderno e o socialismo
cientiacutefico moderno como teoria e programa do movimento operaacuterio de todos os
paiacuteses civilizados - obriga-nos a fazer preceder a exposiccedilatildeo do conteuacutedo
essencial do marxismo a doutrina econocircmica de Marx de um breve resumo da
sua concepccedilatildeo do mundo em geral
9
O Materialismo Filosoacutefico
Desde 1844-1845 eacutepoca em que se formaram as suas ideacuteias Marx foi
materialista foi em particular partidaacuterio de L Feuerbach cujo uacutenico lado fraco
foi para ele mesmo mais tarde a falta de coerecircncia e de universalidade do seu
materialismo Marx via a importacircncia histoacuterica mundial de Feuerbach que fez
eacutepoca precisamente na sua ruptura decisiva com o idealismo de Hegel e na sua
afirmaccedilatildeo do materialismo que jaacute desde o seacuteculo XVIII e nomeadamente em
Franccedila natildeo foi apenas uma luta contra as instituiccedilotildees poliacuteticas existentes assim
como contra a religiatildeo e a teologia existentes mas tambeacutem contra toda a
metafiacutesica (tomada no sentido de especulaccedilatildeo delirante por oposiccedilatildeo a uma
filosofia sensata) (A Sagrada Famiacutelia (19) no Literarischer Nachlass) Para
Hegel - escrevia Marx - o processo do pensamento que ele personifica mesmo
sob o nome de ideacuteia num sujeito independente eacute o demiurgo (o criador) da
realidade Para mim pelo contraacuterio o ideal natildeo eacute senatildeo o material transposto
e traduzido no ceacuterebro humano (O Capital I posfaacutecio da segunda ediccedilatildeo)
Perfeitamente de acordo com a filosofia materialista de Marx F Engels
expondo-a no Anti-Diacuteihring (ver) que Marx lera ainda em manuscrito escrevia
A unidade do mundo natildeo consiste no seu ser A unidade real do mundo
consiste na sua materialidade e esta uacuteltima estaacute provada por um longo e
laborioso desenvolvimento da filosofia e das ciecircncias naturais O movimento eacute
o modo de existecircncia da mateacuteria Nunca e em parte alguma houve nem poderaacute
haver mateacuteria sem movimento Mateacuteria sem movimento eacute impensaacutevel do
mesmo modo que movimento sem mateacuteria Mas se pergunta depois disso o
que satildeo o pensamento e a consciecircncia e donde provecircm conclui-se que satildeo
produtos do ceacuterebro humano e que o proacuteprio homem eacute um produto da natureza
o qual se desenvolveu no seu ambiente e com ele daiacute se compreende por si soacute
que os produtos do ceacuterebro humano que em uacuteltima anaacutelise satildeo igualmente
produtos da natureza natildeo estatildeo em contradiccedilatildeo mas sim em correspondecircncia
com a restante conexatildeo da natureza Hegel era idealista isto eacute para ele as
ideacuteias do seu ceacuterebro natildeo eram reflexos (Abbilder por vezes Engels fala de
reproduccedilotildees) mais ou menos abstratos dos objetos e dos fenocircmenos reais
mas pelo contraacuterio eram os objetos e o seu desenvolvimento que eram para ele
os reflexos da ideacuteia que jaacute existia natildeo se sabe onde antes da existecircncia do
mundo No seu Ludwig Feuerbach livro onde expotildee as suas ideacuteias e as de Marx
sobre a filosofia de Feuerbach e que soacute mandou imprimir depois de ter lido uma
vez mais o velho manuscrito de 1844-1845 escrito em colaboraccedilatildeo com Marx
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sobre Hegel Feuerbach e a concepccedilatildeo materialista da histoacuteria Engels escreve
A grande questatildeo fundamental de toda a filosofia especialmente da filosofia
moderna eacute a da relaccedilatildeo entre o pensamento e o ser entre o espiacuterito e a natureza
Que eacute primeiro o espiacuterito ou a natureza Conforme respondiam de uma
maneira ou de outra a esta questatildeo os filoacutesofos dividiam-se em dois grandes
campos Aqueles que afirmavam que o espiacuterito eacute primeiro em relaccedilatildeo agrave natureza
e que por conseguinte admitiam em uacuteltima instacircncia uma criaccedilatildeo do mundo
de qualquer espeacutecie constituiacuteam o campo do idealismo Os outros que
consideravam a natureza como o elemento primordial pertenciam agraves diversas
escolas do materialismo Qualquer outro emprego dos conceitos de idealismo e
de materialismo (no sentido filosoacutefico) natildeo faz mais do que criar a confusatildeo
Marx repudiou categoricamente natildeo apenas o idealismo sempre ligado de uma
maneira ou de outra agrave religiatildeo mas tambeacutem o ponto de vista particularmente
difundido nos nossos dias de Rume e de Kant o agnosticismo o criticismo o
positivismo(20) sob os seus diferentes aspectos considerando esse gecircnero de
filosofia como uma concessatildeo reacionaacuteria ao idealismo e no melhor dos
casos uma maneira envergonhada de aceitar o materialismo agraves escondidas
renegando-a publicamente A este respeito eacute bom consultar aleacutem das jaacute
citadas obras de Marx e Engels a carta de Marx a Engels datada de 12 de
Dezembro de 1866 em que falando de uma intervenccedilatildeo do ceacutelebre naturalista
T Huxley que se mostrou mais materialista do que habitualmente e
reconheceu que enquanto observamos e pensamos realmente nunca podemos
sair do materialismo Marx o critica por ter aberto uma porta ao agnosticismo
e agrave teoria de Rume Eacute importante sobretudo reter a opiniatildeo de Marx sobre as
relaccedilotildees entre a liberdade e a necessidade A necessidade soacute eacute cega enquanto
natildeo eacute compreendida A liberdade consiste em conhecer a necessidade (F
Engels Anti-Diacuteihring) E o reconhecimento das leis objetivas que regem a
natureza e da transformaccedilatildeo dialeacutetica da necessidade em liberdade (da mesma
maneira que a transformaccedilatildeo da coisa em si natildeo conhecida mas cognosciacutevel
em coisa para noacutes da essecircncia das coisas em fenocircmenos) O defeito
essencial do velho materialismo incluindo o de Feuerbach (e com mais forte
razatildeo o do materialismo vulgar de Buchner-Vogt-Moleschott) era para Marx
e Engels 1 - que este materialismo era essencialmente mecanicista e natildeo
tomava em conta os progressos mais recentes da quiacutemica e da biologia
(atualmente conviria acrescentar ainda a teoria eleacutetrica da mateacuteria) 2 - que o
velho materialismo natildeo tinha um caraacuteter histoacuterico nem dialeacutetico (sendo pelo
11
contraacuterio metafiacutesico no sentido de antidialeacutetico) e natildeo aplicava a concepccedilatildeo do
desenvolvimento de forma consequumlente e sob todos os seus aspectos 3 - que
concebia a essecircncia humana como uma abstraccedilatildeo e natildeo como o conjunto de
todas as relaccedilotildees sociais (concretamente determinadas pela histoacuteria) natildeo
fazendo assim mais do que interpretar o mundo enquanto aquilo de que se
tratava era de o transformar ou por outras palavras natildeo compreendia a
importacircncia da atividade revolucionaacuteria praacutetica
A Dialeacutetica
Marx e Engels viam na dialeacutetica de Hegel a doutrina do desenvolvimento mais
vasta mais rica de conteuacutedo e mais profunda a maior aquisiccedilatildeo da filosofia
claacutessica alematilde Consideravam qualquer outro enunciado do princiacutepio do
desenvolvimento da evoluccedilatildeo unilateral pobre que mutilava e deturpava a
marcha real do desenvolvimento (marcha que muitas vezes se efetua atraveacutes de
saltos cataacutestrofes revoluccedilotildees) na natureza e na sociedade Marx e eu fomos
seguramente quase os uacutenicos que procuramos salvar (do descalabro do
idealismo incluindo o hegelianismo) a dialeacutetica consciente para a integrar na
concepccedilatildeo materialista da natureza A natureza eacute a comprovaccedilatildeo da dialeacutetica
e devemos dizer que as ciecircncias modernas da natureza nos forneceram materiais
extremamente numerosos (e isto foi escrito antes da descoberta do raacutedio dos
eletrotildees da transformaccedilatildeo dos elementos etc) cujo volume aumenta dia a dia
provando assim que em uacuteltima anaacutelise na natureza as coisas se passam
dialeticamente e natildeo metafisicamente (21)
A grande ideacuteia fundamental - escreve Engels - segundo a qual o mundo natildeo
deve ser considerado como um conjunto de coisas acabadas mas como um
conjunto de processos em que as coisas aparentemente estaacuteveis bem como os
seus reflexos mentais no nosso ceacuterebro os conceitos passam por uma seacuterie
ininterrupta de transformaccedilotildees por um processo de gecircnese e de deperecimento
esta grande ideacuteia fundamental penetrou desde Hegel tatildeo profundamente na
consciecircncia corrente que sob esta forma geral quase jaacute natildeo encontra
contraditores Mas reconhece-la em palavras e aplicaacute-la na realidade concreta
em cada domiacutenio submetido agrave investigaccedilatildeo satildeo duas coisas diferentes Nada
haacute de definitivo de absoluto de sagrado para a filosofia dialeacutetica Ela mostra a
caducidade de todas as coisas e para ela nada mais existe senatildeo o processo
ininterrupto do surgir e do perecer da ascensatildeo sem fim do inferior para o
12
superior de que ela proacutepria natildeo eacute senatildeo o simples reflexo no ceacuterebro pensante
Portanto para Marx a dialeacutetica eacutea ciecircncia das leis gerais do movimento tanto
do mundo exterior como do pensamento humano (22)
Foi este aspecto revolucionaacuterio da filosofia de Hegel que Marx adotou e
desenvolveu O materialismo dialeacutetico natildeo necessita de nenhuma filosofia
colocada acima das outras ciecircncias A uacutenica coisa que resta da filosofia anterior
eacute a teoria do pensamento e das suas leis a loacutegica formal e a dialeacutetica(23) E a
dialeacutetica compreende na concepccedilatildeo de Marx como na de Hegel o que hoje se
chama agrave teoria do conhecimento ou gnosiologia ciecircncia que deve considerar o
seu objeto tambeacutem historicamente estudando e generalizando a origem e o
desenvolvimento do conhecimento a passagem do natildeo conhecimento ao
conhecimento
Atualmente a ideacuteia do desenvolvimento da evoluccedilatildeo penetrou quase
completamente na consciecircncia social mas por outra via que natildeo a da filosofia de
Hegel No entanto esta ideacuteia tal como a formularam Marx e Engels apoiando-
se em Hegel eacute muito mais vasta e rica de conteuacutedo do que a ideacuteia corrente da
evoluccedilatildeo Eacute um desenvolvimento que parece repetir etapas jaacute percorridas mas
sob outra forma numa base mais elevada (negaccedilatildeo da negaccedilatildeo) um
desenvolvimento por assim dizer em espiral e natildeo em linha reta um
desenvolvimento por saltos por cataacutestrofes por revoluccedilotildees soluccedilotildees de
continuidade transformaccedilotildees da quantidade em qualidade impulsos internos
do desenvolvimento provocados pela contradiccedilatildeo pelo choque de forccedilas e
tendecircncias distintas agindo sobre determinado corpo no quadro de um
determinado fenocircmeno ou no seio de uma determinada sociedade
interdependecircncia e ligaccedilatildeo estreita indissoluacutevel de todos os aspectos de cada
fenocircmeno (com a particularidade de que a histoacuteria faz constantemente aparecer
novos aspectos) ligaccedilatildeo que mostra um processo uacutenico universal do
movimento regido por leis tais satildeo certos traccedilos da dialeacutetica dessa doutrina do
desenvolvimento mais rica de conteuacutedo do que a doutrina usual (Ver a carta de
Marx a Engels de 8 de Janeiro de 1868 onde ridiculariza as tricotomias
riacutegidas de Stein que seria absurdo confundir com a dialeacutetica materialista)
13
A Concepccedilatildeo Materialista da Histoacuteria
Dando-se conta do caraacuteter inconsequumlente incompleto e unilateral do velho
materialismo Marx foi levado agrave convicccedilatildeo de que era preciso pocircr a ciecircncia da
sociedade de acordo com a base materialista e reconstruir esta ciecircncia
apoiando-se nessa base(24) Se de uma forma geral o materialismo explica a
consciecircncia pelo ser e natildeo ao contraacuterio ele exige quando aplicado agrave vida social
da humanidade que se explique agrave consciecircncia social pelo ser social A
tecnologia diz Marx (O Capital l) revela a atitude ativa do homem para com a
natureza o processo imediato da produccedilatildeo da sua vida e por conseguinte das
suas condiccedilotildees sociais de vida e das representaccedilotildees espirituais que delas
derivam(25) Uma formulaccedilatildeo completa das teses fundamentais do
materialismo aplicado agrave sociedade humana e agrave sua histoacuteria eacute dada por Marx no
prefaacutecio agrave sua obra Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica nestes
termos
Na produccedilatildeo social da sua existecircncia os homens entram em relaccedilotildees
determinadas necessaacuterias independentes da sua vontade relaccedilotildees de produccedilatildeo
que correspondem a um dado grau de desenvolvimento das suas forccedilas
produtivas materiais
O conjunto dessas relaccedilotildees de produccedilatildeo constitui a estrutura econocircmica da
sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura juriacutedica e
poliacutetica e agrave qual correspondem formas de consciecircncia social determinadas O
modo de produccedilatildeo da vida material condiciona o processo da vida social
poliacutetica e intelectual em geral Natildeo eacute a consciecircncia dos homens que determina o
seu ser mas pelo contraacuterio eacute o seu ser social que determina a sua consciecircncia
Num certo estaacutedio do seu desenvolvimento as forccedilas produtivas materiais da
sociedade entram em contradiccedilatildeo com as relaccedilotildees de produccedilatildeo existentes ou o
que natildeo eacute senatildeo a expressatildeo juriacutedica disso com as relaccedilotildees de propriedade no
seio das quais elas se haviam movido ateacute entatildeo De formas de desenvolvimento
das forccedilas produtivas que eram essas relaccedilotildees tornam-se seus entraves Abre-se
entatildeo uma eacutepoca de revoluccedilatildeo social A transformaccedilatildeo na base econocircmica
revoluciona mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura
Quando se estudam tais revoluccedilotildees eacute preciso distinguir sempre entre as
transformaccedilotildees materiais ocorridas nas condiccedilotildees econocircmicas de produccedilatildeo -
que podem ser verificadas com o rigor proacuteprio das ciecircncias naturais - e as
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formas juriacutedicas poliacuteticas religiosas artiacutesticas ou filosoacuteficas em resumo as
formas ideoloacutegicas sob as quais os homens tomam consciecircncia desse conflito e
lutam por resolvecirc-lo
Assim como natildeo se pode julgar um indiviacuteduo pela ideacuteia que ele faz de si
proacuteprio tambeacutem se natildeo pode julgar uma tal eacutepoca de revoluccedilotildees pela
consciecircncia que ela tem de si mesma Pelo contraacuterio eacute preciso explicar esta
consciecircncia pelas contradiccedilotildees da vida material pelo conflito que existe entre as
forccedilas produtivas sociais e as relaccedilotildees de produccedilatildeo Em traccedilos largos os
modos de produccedilatildeo asiaacutetico antigo feudal e burguecircs moderno podem ser
designados como outras tantas eacutepocas de progresso na formaccedilatildeo econocircmica da
sociedade (Ver a foacutermula sucinta que Marx daacute na sua carta a Engels datada de
7 de Julho de 1866 A nossa teoria da organizaccedilatildeo do trabalho determinada
pelos meios de produccedilatildeo)
A descoberta da concepccedilatildeo materialista da histoacuteria ou mais exatamente a
aplicaccedilatildeo a extensatildeo consequumlente do materialismo ao domiacutenio dos fenocircmenos
sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da histoacuteria anteriores a
Marx Em primeiro lugar estas consideravam no melhor dos casos os moacutebiles
ideoloacutegicos da atividade histoacuterica dos homens sem investigar a origem desses
moacutebiles sem apreender as leis objetivas que presidem ao desenvolvimento do
sistema das relaccedilotildees sociais e sem descobrir as raiacutezes dessas relaccedilotildees no grau de
desenvolvimento da produccedilatildeo material Em segundo lugar as teorias anteriores
natildeo abarcavam precisamente a accedilatildeo das massas da populaccedilatildeo enquanto o
materialismo histoacuterico permite pela primeira vez estudar com a precisatildeo das
ciecircncias naturais as condiccedilotildees sociais da vida das massas e as modificaccedilotildees
dessas condiccedilotildees A sociologia e a historiografia anteriores a Marx no melhor
dos casos acumularam fatos em bruto fragmentariamente recolhidos e
expuseram alguns aspetos do processo histoacuterico O marxismo abriu caminho ao
estudo universal e completo do processo do nascimento desenvolvimento e
decliacutenio das formaccedilotildees econocircmico-sociais examinando o conjunto das
tendecircncias contraditoacuterias ligando-as agraves condiccedilotildees de existecircncia e de produccedilatildeo
exatamente determinaacuteveis das diversas classes da sociedade afastando o
subjetivismo e o arbiacutetrio na seleccedilatildeo das diversas ideacuteias dominantes ou na sua
interpretaccedilatildeo revelando as raiacutezes de todas as ideacuteias e todas as diferentes
tendecircncias sem exceccedilatildeo no estado das forccedilas produtivas materiais Os homens
satildeo os artiacutefices da sua proacutepria histoacuteria mas que causas determinam os moacutebiles
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dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
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histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
17
(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
18
(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
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mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
4
aplicado tambeacutem ao domiacutenio da vida social a dialeacutetica como a doutrina mais
vasta e mais profunda do desenvolvimento a teoria da luta de classes e do papel
revolucionaacuterio histoacuterico universal do proletariado criador de uma sociedade
nova a sociedade comunista
Quando eclodiu a revoluccedilatildeo de Fevereiro de 1848 (12) Marx foi expulso da
Beacutelgica Regressou novamente a Paris que deixou depois da revoluccedilatildeo de Marccedilo
(13) para voltar agrave Alemanha e fixar-se em Coloacutenia Foi aiacute que apareceu de 1 de
Junho de 1848 ateacute 19 de Maio de 1849 a Nova Gazeta Renana (14) de que Marx
foi o redator-chefe A nova teoria foi brilhantemente confirmada pelo curso dos
acontecimentos revolucionaacuterios de 1848-1849 e posteriormente por todos os
movimentos proletaacuterios e democraacuteticos em todos os paiacuteses do mundo A contra-
revoluccedilatildeo vitoriosa arrastou Marx ao tribunal (foi absolvido em 9 de Fevereiro
de 1849) e depois expulsou-o da Alemanha (em 16 de Maio de 1849) Voltou
entatildeo para Paris de onde foi igualmente expulso apoacutes a manifestaccedilatildeo de 13 de
Junho de 1849(15) e partiu depois para Londres onde viveu ateacute ao fim dos seus
dias
As condiccedilotildees desta vida de emigraccedilatildeo eram extremamente penosas como o
revela com particular vivacidade a correspondecircncia entre Marx e Engels
(editada em 1913) Marx e a famiacutelia viviam literalmente esmagados pela miseacuteria
sem o apoio financeiro constante e dedicado de Engels Marx natildeo soacute natildeo teria
podido acabar O Capital como teria fatalmente sucumbido agrave miseacuteria Aleacutem
disso as doutrinas e as correntes predominantes do socialismo pequeno-
burguecircs do socialismo natildeo proletaacuterio em geral obrigavam Marx a sustentar
uma luta implacaacutevel incessante e por vezes a defender-se mesmo dos ataques
pessoais mais furiosos e mais absurdos (Herr Vogt (16)) Conservando-se agrave
margem dos ciacuterculos de emigrados Marx desenvolveu numa seacuterie de trabalhos
histoacutericos (ver Bibliografia) a sua teoria materialista dedicando-se sobretudo
ao estudo da economia poliacutetica Revolucionou esta ciecircncia (ver a seguir o
capiacutetulo acerca da doutrina de Marx) nas suas obras Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica
da Economia Poliacutetica (1859) e O Capital (r1867)
A eacutepoca da reanimaccedilatildeo dos movimentos democraacuteticos no final dos anos 50 e
nos anos 60 levou Marx a voltar ao trabalho praacutetico Foi em 1864 (em 28 de
Setembro) que se fundou em Londres a ceacutelebre I Internacional a Associaccedilatildeo
Internacional dos Trabalhadores Marx foi a sua alma sendo o autor do
5
primeiro Apelo (17) e de um grande nuacutemero de resoluccedilotildees declaraccedilotildees e
manifestos Unindo o movimento operaacuterio dos diversos paiacuteses procurando
orientar numa via de atividade comum as diferentes formas do socialismo natildeo
proletaacuterio preacute-marxista (Mazzini Proudhon Bakuacutenine o trade-unionismo
liberal inglecircs as oscilaccedilotildees dos lassallianos para a direita na Alemanha etc)
combatendo as teorias de todas estas seitas e escolas Marx foi forjando uma
taacutetica uacutenica para a luta proletaacuteria da classe operaacuteria nos diversos paiacuteses Depois
da queda da Comuna de Paris (1871) - a qual Marx analisou (em A Guerra Civil
em Franccedila 1871) de uma maneira tatildeo penetrante tatildeo justa tatildeo brilhante tatildeo
eficaz e revolucionaacuteria - e depois da cisatildeo provocada pelos bakuninista (18) a
Internacional natildeo pocircde continuar a subsistir na Europa Depois do Congresso
de 1872 em Haia Marx conseguiu a transferecircncia do Conselho Geral da
Internacional para Nova lorque A I Internacional tinha cumprido a sua missatildeo
histoacuterica e dava lugar a uma eacutepoca de crescimento infinitamente maior do
movimento operaacuterio em todos os paiacuteses do mundo caracterizada pelo seu
desenvolvimento em extensatildeo pela formaccedilatildeo de partidos socialistas operaacuterios
de massas no quadro dos diversos Estados nacionais
A sua atividade intensa na Internacional e os seus trabalhos teoacutericos que
exigiam esforccedilos ainda maiores abalaram definitivamente a sauacutede de Marx
Prosseguiu a sua obra de transformaccedilatildeo da economia poliacutetica e de acabamento
de O Capital reunindo uma massa de documentos novos e estudando vaacuterias
liacutenguas (o russo por exemplo) mas a doenccedila impediu-o de terminar O Capital
A 2 de Dezembro de 1881 morre a sua mulher A 14 de Marccedilo de 1883 Marx
adormecia pacificamente na sua poltrona para o uacuteltimo sono Foi enterrado
junto da sua mulher no cemiteacuterio de Highgate em Londres Vaacuterios filhos de
Marx morreram muito jovens em Londres quando a famiacutelia atravessava uma
grande miseacuteria Trecircs das suas filhas casaram com socialistas ingleses e
franceses Eleanor Aveling Laura Lafargue e Jenny Longuet um dos filhos
desta uacuteltima eacute membro do Partido Socialista Francecircs
(A Doutrina Marxista gt)
6
Notas
(3)Hegelianos de esquerda ou jovens hegelianos corrente idealista na filosofia alematilde
dos anos 30-40 do seacuteculo XIX que procurava tirar conclusotildees radicais da filosofia de
Hegel e fundamentar a necessidade de transformaccedilatildeo burguesa da Alemanha O
movimento dos jovens hegelianos era representado por D Strauss B e EBauer M
Stirner e outros Durante certo tempo tambeacutem L Feuerbach partilhou as suas ideacuteias
bem com K Marx e F Engels na sua juventude os quais rompendo posteriormente
com os jovens hegelianos submeteram agrave criacutetica a sua natureza idealista e pequeno-
burguesa em A Sagrada Famiacutelia (1844) e em A Ideologia Alematilde (1845-1846)(retornar
ao texto)
(4)F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde(retornar ao texto)
(5) Rheinische Zeitung (fuumlr Politik Handel und Gewerbe (Gazeta Renana de Poliacutetica
Comeacutercio e Induacutestria) diaacuterio que se publicou em Coloacutenia entre 1 de janeiro de 1842 e
31 de marccedilo de 1843 O jornal foi fundado por representantes da Renacircnia que tinham
uma atitude oposicionista para com o absolutismo prussianoTambeacutem alguns
hegelianos de esquerda foram atraiacutedos para participarem no jornal A partir de abril de
1842 K Marx colaborou na Gazeta Renana e a partir de outubro do mesmo ano
tornou-se um dos seus redatores passando o jornal a revestir-se de um caraacuteter
democraacutetico revolucionaacuterio Em janeiro de 1843 o governo da Pruacutessia decretou o
encerramento da Gazeta Renana a partir de 1 de abril estabelecendo entretanto uma
censura especialmente rigorosa ao jornal Devido agrave decisatildeo dos acionistas de lhe
atribuir um caraacuteter mais moderado Marx em 17 de marccedilo de 1843 declarou que saiacutea
da redaccedilatildeo(retornar ao texto)
(6)Trata-se da lista de obras composta por VI Lenine para o artigo Karl Marx (que natildeo
se inclui na presente ediccedilatildeo - N Ed) (retornar ao texto)
(7)Trata-se do artigo de K Marx Justificaccedilatildeo do Correspondente do Mosela (retornar
ao texto)
(8) Soacute apareceu o primeiro fasciacuteculo duplo em fevereiro de 1844 Nele foram
publicadas as obras de K Marx e F Engels que marcam a sua passagem definitiva para
o materialismo e comunismo (retornar ao texto)
(9) Na introduccedilatildeo ao artigo Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Filosofia do Direito de Hegel
Marx escreve A arma da criacutetica natildeo podia evidentemente substituir a criacutetica das
armas porque a foca material natildeo pode ser derrubada senatildeo pela forccedila material mas
7
logo que penetra nas massas a teoria passa a ser tambeacutem ela uma forccedila material
(retornar ao texto)
(10) Doutrina de Proudhon corrente anticientiacutefica hostil ao marxismo do socialismo
pequeno-burguecircs Criticando a grande propriedade capitalista a partir de posiccedilotildees
pequeno-burguesas Proudhon sonhava com perpetuar a pequena propriedade privada
propunha que fossem organizados os bancos do povo e de troca que segundo ele
permitiriam aos operaacuterios obter meios de produccedilatildeo proacuteprios tornar-se artesotildees e
garantir a venda justa dos seus produtos Proudhon natildeo compreendia o papel
histoacuterico do proletariado negava a luta de classes a revoluccedilatildeo proletaacuteria e a ditadura
do proletariado Partindo de posiccedilotildees anarquistas negava tambeacutem a necessidade do
Estado (retornar ao texto)
(11) Liga dos Comunistas primeira organizaccedilatildeo internacional comunista do
proletariado criada sob a direccedilatildeo de Marx e Engels no iniacutecio de junho de 1847 em
Londres em consequumlecircncia da reorganizaccedilatildeo da Liga dos Justos associaccedilatildeo secreta
alematilde de operaacuterios e artesatildeos que seguiu na deacutecada de 1830 Os princiacutepios
programaacuteticos e de organizaccedilatildeo da Liga fora elaborados com a participaccedilatildeo direta de
Marx e Engels que redigiram tambeacutem o documento programaacutetico o Manifesto do
Partido Comunista publicado em fevereiro de 1848 A Liga dos Comunistas existiu ateacute
Novembro de 1852 e foi antecessora da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores (I
Internacional) Os dirigentes mais eminentes da Liga dos Comunistas desempenharam
mais tarde o papel dirigente na I Internacional (retornar ao texto)
(12) Trata-se da revoluccedilatildeo burguesa em Franccedila em fevereiro de 1848 (retornar ao
texto)
(13) Trata-se da revoluccedilatildeo burguesa na Alemanha e na Aacuteustria que se iniciou em marccedilo
de 1848 (retornar ao texto)
(14)A Nova Gazeta Renana (Neue Rheinische Zeitung) publicou-se em Coloacutenia entre 1
de junho de 1848 e 19 de maio de 1849 O jornal foidirigido por K Marx e F Engels
sendo Marx redator-chefe A Nova Gazeta Renana apesar de todas as perseguiccedilotildees e
obstaacuteculos por parte da poliacutecia defendia corajosamente os interesses da democracia
revolucionaacuteria os interesses do proletariado A expulsatildeo de Marx da Pruacutessia em marccedilo
de 1848 e as perseguiccedilotildees contra os outros redatores da Nova Gazeta Renana foram a
causa da cessaccedilatildeo da publicaccedilatildeo do jornal (retornar ao texto)
(15) Trata-se da manifestaccedilatildeo popular em paris organizada pelo partido da pequena
burguesia (Montanha) em sinal de protesto contra a infraccedilatildeo pelo presidente e pela
8
maioria da Assembleacuteia Legislativa da ordem constitucional estabelecida pela revoluccedilatildeo
de 9148 A manifestaccedilatildeo foi dispersa pelo governo (retornar ao texto)
(16) Leacutenine alude ao panfleto de K Marx Herr Vogt (O Senhor Vogt) escrito em
resposta agrave brochura caluniosa O Meu Processo contra o Allgemeine Zeitung do
agente bonapartista K Vogt (retornar ao texto)
(17) Trata-se do manifesto Constituinte da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores
(retornar ao texto)
(18) Bakuninismo corrente cuja denominaccedilatildeo deriva do nome de Nakuacutenine ideoacutelogo
do anarquismo inimigo do marxismo e do socialismo cientiacutefico Os bakininistas
travaram uma luta tenaz contra a teoria marxista e contra a taacutetica do movimento
operaacuterio A tese principal do bakuninismo eacute a negaccedilatildeo de todo o Estado incluindo a
ditadura do proletariado e a incompreensatildeo do papel histoacuterico universal do
proletariado Uma sociedade revolucionaacuteria secreta constituiacuteda por destacadas
personalidades devia na opiniatildeo dos bakuninistas dirigir revoltas populares A sua
taacutetica das conquistas e do terror era aventureira e hostil agrave doutrina marxista da
insurreiccedilatildeo (retornar ao texto)
A Doutrina Marxista
O marxismo eacute o sistema das ideacuteias e da doutrina de Marx Marx continuou e
desenvolveu plena e genialmente as trecircs principais correntes ideoloacutegicas do
seacuteculo XIX nos trecircs paiacuteses mais avanccedilados da humanidade a filosofia claacutessica
alematilde a economia poliacutetica claacutessica inglesa e o socialismo francecircs em ligaccedilatildeo
com as doutrinas revolucionaacuterias francesas em geral O caraacuteter notavelmente
coerente e integral das suas ideacuteias reconhecido pelos proacuteprios adversaacuterios - e
que no seu conjunto constituem o materialismo moderno e o socialismo
cientiacutefico moderno como teoria e programa do movimento operaacuterio de todos os
paiacuteses civilizados - obriga-nos a fazer preceder a exposiccedilatildeo do conteuacutedo
essencial do marxismo a doutrina econocircmica de Marx de um breve resumo da
sua concepccedilatildeo do mundo em geral
9
O Materialismo Filosoacutefico
Desde 1844-1845 eacutepoca em que se formaram as suas ideacuteias Marx foi
materialista foi em particular partidaacuterio de L Feuerbach cujo uacutenico lado fraco
foi para ele mesmo mais tarde a falta de coerecircncia e de universalidade do seu
materialismo Marx via a importacircncia histoacuterica mundial de Feuerbach que fez
eacutepoca precisamente na sua ruptura decisiva com o idealismo de Hegel e na sua
afirmaccedilatildeo do materialismo que jaacute desde o seacuteculo XVIII e nomeadamente em
Franccedila natildeo foi apenas uma luta contra as instituiccedilotildees poliacuteticas existentes assim
como contra a religiatildeo e a teologia existentes mas tambeacutem contra toda a
metafiacutesica (tomada no sentido de especulaccedilatildeo delirante por oposiccedilatildeo a uma
filosofia sensata) (A Sagrada Famiacutelia (19) no Literarischer Nachlass) Para
Hegel - escrevia Marx - o processo do pensamento que ele personifica mesmo
sob o nome de ideacuteia num sujeito independente eacute o demiurgo (o criador) da
realidade Para mim pelo contraacuterio o ideal natildeo eacute senatildeo o material transposto
e traduzido no ceacuterebro humano (O Capital I posfaacutecio da segunda ediccedilatildeo)
Perfeitamente de acordo com a filosofia materialista de Marx F Engels
expondo-a no Anti-Diacuteihring (ver) que Marx lera ainda em manuscrito escrevia
A unidade do mundo natildeo consiste no seu ser A unidade real do mundo
consiste na sua materialidade e esta uacuteltima estaacute provada por um longo e
laborioso desenvolvimento da filosofia e das ciecircncias naturais O movimento eacute
o modo de existecircncia da mateacuteria Nunca e em parte alguma houve nem poderaacute
haver mateacuteria sem movimento Mateacuteria sem movimento eacute impensaacutevel do
mesmo modo que movimento sem mateacuteria Mas se pergunta depois disso o
que satildeo o pensamento e a consciecircncia e donde provecircm conclui-se que satildeo
produtos do ceacuterebro humano e que o proacuteprio homem eacute um produto da natureza
o qual se desenvolveu no seu ambiente e com ele daiacute se compreende por si soacute
que os produtos do ceacuterebro humano que em uacuteltima anaacutelise satildeo igualmente
produtos da natureza natildeo estatildeo em contradiccedilatildeo mas sim em correspondecircncia
com a restante conexatildeo da natureza Hegel era idealista isto eacute para ele as
ideacuteias do seu ceacuterebro natildeo eram reflexos (Abbilder por vezes Engels fala de
reproduccedilotildees) mais ou menos abstratos dos objetos e dos fenocircmenos reais
mas pelo contraacuterio eram os objetos e o seu desenvolvimento que eram para ele
os reflexos da ideacuteia que jaacute existia natildeo se sabe onde antes da existecircncia do
mundo No seu Ludwig Feuerbach livro onde expotildee as suas ideacuteias e as de Marx
sobre a filosofia de Feuerbach e que soacute mandou imprimir depois de ter lido uma
vez mais o velho manuscrito de 1844-1845 escrito em colaboraccedilatildeo com Marx
10
sobre Hegel Feuerbach e a concepccedilatildeo materialista da histoacuteria Engels escreve
A grande questatildeo fundamental de toda a filosofia especialmente da filosofia
moderna eacute a da relaccedilatildeo entre o pensamento e o ser entre o espiacuterito e a natureza
Que eacute primeiro o espiacuterito ou a natureza Conforme respondiam de uma
maneira ou de outra a esta questatildeo os filoacutesofos dividiam-se em dois grandes
campos Aqueles que afirmavam que o espiacuterito eacute primeiro em relaccedilatildeo agrave natureza
e que por conseguinte admitiam em uacuteltima instacircncia uma criaccedilatildeo do mundo
de qualquer espeacutecie constituiacuteam o campo do idealismo Os outros que
consideravam a natureza como o elemento primordial pertenciam agraves diversas
escolas do materialismo Qualquer outro emprego dos conceitos de idealismo e
de materialismo (no sentido filosoacutefico) natildeo faz mais do que criar a confusatildeo
Marx repudiou categoricamente natildeo apenas o idealismo sempre ligado de uma
maneira ou de outra agrave religiatildeo mas tambeacutem o ponto de vista particularmente
difundido nos nossos dias de Rume e de Kant o agnosticismo o criticismo o
positivismo(20) sob os seus diferentes aspectos considerando esse gecircnero de
filosofia como uma concessatildeo reacionaacuteria ao idealismo e no melhor dos
casos uma maneira envergonhada de aceitar o materialismo agraves escondidas
renegando-a publicamente A este respeito eacute bom consultar aleacutem das jaacute
citadas obras de Marx e Engels a carta de Marx a Engels datada de 12 de
Dezembro de 1866 em que falando de uma intervenccedilatildeo do ceacutelebre naturalista
T Huxley que se mostrou mais materialista do que habitualmente e
reconheceu que enquanto observamos e pensamos realmente nunca podemos
sair do materialismo Marx o critica por ter aberto uma porta ao agnosticismo
e agrave teoria de Rume Eacute importante sobretudo reter a opiniatildeo de Marx sobre as
relaccedilotildees entre a liberdade e a necessidade A necessidade soacute eacute cega enquanto
natildeo eacute compreendida A liberdade consiste em conhecer a necessidade (F
Engels Anti-Diacuteihring) E o reconhecimento das leis objetivas que regem a
natureza e da transformaccedilatildeo dialeacutetica da necessidade em liberdade (da mesma
maneira que a transformaccedilatildeo da coisa em si natildeo conhecida mas cognosciacutevel
em coisa para noacutes da essecircncia das coisas em fenocircmenos) O defeito
essencial do velho materialismo incluindo o de Feuerbach (e com mais forte
razatildeo o do materialismo vulgar de Buchner-Vogt-Moleschott) era para Marx
e Engels 1 - que este materialismo era essencialmente mecanicista e natildeo
tomava em conta os progressos mais recentes da quiacutemica e da biologia
(atualmente conviria acrescentar ainda a teoria eleacutetrica da mateacuteria) 2 - que o
velho materialismo natildeo tinha um caraacuteter histoacuterico nem dialeacutetico (sendo pelo
11
contraacuterio metafiacutesico no sentido de antidialeacutetico) e natildeo aplicava a concepccedilatildeo do
desenvolvimento de forma consequumlente e sob todos os seus aspectos 3 - que
concebia a essecircncia humana como uma abstraccedilatildeo e natildeo como o conjunto de
todas as relaccedilotildees sociais (concretamente determinadas pela histoacuteria) natildeo
fazendo assim mais do que interpretar o mundo enquanto aquilo de que se
tratava era de o transformar ou por outras palavras natildeo compreendia a
importacircncia da atividade revolucionaacuteria praacutetica
A Dialeacutetica
Marx e Engels viam na dialeacutetica de Hegel a doutrina do desenvolvimento mais
vasta mais rica de conteuacutedo e mais profunda a maior aquisiccedilatildeo da filosofia
claacutessica alematilde Consideravam qualquer outro enunciado do princiacutepio do
desenvolvimento da evoluccedilatildeo unilateral pobre que mutilava e deturpava a
marcha real do desenvolvimento (marcha que muitas vezes se efetua atraveacutes de
saltos cataacutestrofes revoluccedilotildees) na natureza e na sociedade Marx e eu fomos
seguramente quase os uacutenicos que procuramos salvar (do descalabro do
idealismo incluindo o hegelianismo) a dialeacutetica consciente para a integrar na
concepccedilatildeo materialista da natureza A natureza eacute a comprovaccedilatildeo da dialeacutetica
e devemos dizer que as ciecircncias modernas da natureza nos forneceram materiais
extremamente numerosos (e isto foi escrito antes da descoberta do raacutedio dos
eletrotildees da transformaccedilatildeo dos elementos etc) cujo volume aumenta dia a dia
provando assim que em uacuteltima anaacutelise na natureza as coisas se passam
dialeticamente e natildeo metafisicamente (21)
A grande ideacuteia fundamental - escreve Engels - segundo a qual o mundo natildeo
deve ser considerado como um conjunto de coisas acabadas mas como um
conjunto de processos em que as coisas aparentemente estaacuteveis bem como os
seus reflexos mentais no nosso ceacuterebro os conceitos passam por uma seacuterie
ininterrupta de transformaccedilotildees por um processo de gecircnese e de deperecimento
esta grande ideacuteia fundamental penetrou desde Hegel tatildeo profundamente na
consciecircncia corrente que sob esta forma geral quase jaacute natildeo encontra
contraditores Mas reconhece-la em palavras e aplicaacute-la na realidade concreta
em cada domiacutenio submetido agrave investigaccedilatildeo satildeo duas coisas diferentes Nada
haacute de definitivo de absoluto de sagrado para a filosofia dialeacutetica Ela mostra a
caducidade de todas as coisas e para ela nada mais existe senatildeo o processo
ininterrupto do surgir e do perecer da ascensatildeo sem fim do inferior para o
12
superior de que ela proacutepria natildeo eacute senatildeo o simples reflexo no ceacuterebro pensante
Portanto para Marx a dialeacutetica eacutea ciecircncia das leis gerais do movimento tanto
do mundo exterior como do pensamento humano (22)
Foi este aspecto revolucionaacuterio da filosofia de Hegel que Marx adotou e
desenvolveu O materialismo dialeacutetico natildeo necessita de nenhuma filosofia
colocada acima das outras ciecircncias A uacutenica coisa que resta da filosofia anterior
eacute a teoria do pensamento e das suas leis a loacutegica formal e a dialeacutetica(23) E a
dialeacutetica compreende na concepccedilatildeo de Marx como na de Hegel o que hoje se
chama agrave teoria do conhecimento ou gnosiologia ciecircncia que deve considerar o
seu objeto tambeacutem historicamente estudando e generalizando a origem e o
desenvolvimento do conhecimento a passagem do natildeo conhecimento ao
conhecimento
Atualmente a ideacuteia do desenvolvimento da evoluccedilatildeo penetrou quase
completamente na consciecircncia social mas por outra via que natildeo a da filosofia de
Hegel No entanto esta ideacuteia tal como a formularam Marx e Engels apoiando-
se em Hegel eacute muito mais vasta e rica de conteuacutedo do que a ideacuteia corrente da
evoluccedilatildeo Eacute um desenvolvimento que parece repetir etapas jaacute percorridas mas
sob outra forma numa base mais elevada (negaccedilatildeo da negaccedilatildeo) um
desenvolvimento por assim dizer em espiral e natildeo em linha reta um
desenvolvimento por saltos por cataacutestrofes por revoluccedilotildees soluccedilotildees de
continuidade transformaccedilotildees da quantidade em qualidade impulsos internos
do desenvolvimento provocados pela contradiccedilatildeo pelo choque de forccedilas e
tendecircncias distintas agindo sobre determinado corpo no quadro de um
determinado fenocircmeno ou no seio de uma determinada sociedade
interdependecircncia e ligaccedilatildeo estreita indissoluacutevel de todos os aspectos de cada
fenocircmeno (com a particularidade de que a histoacuteria faz constantemente aparecer
novos aspectos) ligaccedilatildeo que mostra um processo uacutenico universal do
movimento regido por leis tais satildeo certos traccedilos da dialeacutetica dessa doutrina do
desenvolvimento mais rica de conteuacutedo do que a doutrina usual (Ver a carta de
Marx a Engels de 8 de Janeiro de 1868 onde ridiculariza as tricotomias
riacutegidas de Stein que seria absurdo confundir com a dialeacutetica materialista)
13
A Concepccedilatildeo Materialista da Histoacuteria
Dando-se conta do caraacuteter inconsequumlente incompleto e unilateral do velho
materialismo Marx foi levado agrave convicccedilatildeo de que era preciso pocircr a ciecircncia da
sociedade de acordo com a base materialista e reconstruir esta ciecircncia
apoiando-se nessa base(24) Se de uma forma geral o materialismo explica a
consciecircncia pelo ser e natildeo ao contraacuterio ele exige quando aplicado agrave vida social
da humanidade que se explique agrave consciecircncia social pelo ser social A
tecnologia diz Marx (O Capital l) revela a atitude ativa do homem para com a
natureza o processo imediato da produccedilatildeo da sua vida e por conseguinte das
suas condiccedilotildees sociais de vida e das representaccedilotildees espirituais que delas
derivam(25) Uma formulaccedilatildeo completa das teses fundamentais do
materialismo aplicado agrave sociedade humana e agrave sua histoacuteria eacute dada por Marx no
prefaacutecio agrave sua obra Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica nestes
termos
Na produccedilatildeo social da sua existecircncia os homens entram em relaccedilotildees
determinadas necessaacuterias independentes da sua vontade relaccedilotildees de produccedilatildeo
que correspondem a um dado grau de desenvolvimento das suas forccedilas
produtivas materiais
O conjunto dessas relaccedilotildees de produccedilatildeo constitui a estrutura econocircmica da
sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura juriacutedica e
poliacutetica e agrave qual correspondem formas de consciecircncia social determinadas O
modo de produccedilatildeo da vida material condiciona o processo da vida social
poliacutetica e intelectual em geral Natildeo eacute a consciecircncia dos homens que determina o
seu ser mas pelo contraacuterio eacute o seu ser social que determina a sua consciecircncia
Num certo estaacutedio do seu desenvolvimento as forccedilas produtivas materiais da
sociedade entram em contradiccedilatildeo com as relaccedilotildees de produccedilatildeo existentes ou o
que natildeo eacute senatildeo a expressatildeo juriacutedica disso com as relaccedilotildees de propriedade no
seio das quais elas se haviam movido ateacute entatildeo De formas de desenvolvimento
das forccedilas produtivas que eram essas relaccedilotildees tornam-se seus entraves Abre-se
entatildeo uma eacutepoca de revoluccedilatildeo social A transformaccedilatildeo na base econocircmica
revoluciona mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura
Quando se estudam tais revoluccedilotildees eacute preciso distinguir sempre entre as
transformaccedilotildees materiais ocorridas nas condiccedilotildees econocircmicas de produccedilatildeo -
que podem ser verificadas com o rigor proacuteprio das ciecircncias naturais - e as
14
formas juriacutedicas poliacuteticas religiosas artiacutesticas ou filosoacuteficas em resumo as
formas ideoloacutegicas sob as quais os homens tomam consciecircncia desse conflito e
lutam por resolvecirc-lo
Assim como natildeo se pode julgar um indiviacuteduo pela ideacuteia que ele faz de si
proacuteprio tambeacutem se natildeo pode julgar uma tal eacutepoca de revoluccedilotildees pela
consciecircncia que ela tem de si mesma Pelo contraacuterio eacute preciso explicar esta
consciecircncia pelas contradiccedilotildees da vida material pelo conflito que existe entre as
forccedilas produtivas sociais e as relaccedilotildees de produccedilatildeo Em traccedilos largos os
modos de produccedilatildeo asiaacutetico antigo feudal e burguecircs moderno podem ser
designados como outras tantas eacutepocas de progresso na formaccedilatildeo econocircmica da
sociedade (Ver a foacutermula sucinta que Marx daacute na sua carta a Engels datada de
7 de Julho de 1866 A nossa teoria da organizaccedilatildeo do trabalho determinada
pelos meios de produccedilatildeo)
A descoberta da concepccedilatildeo materialista da histoacuteria ou mais exatamente a
aplicaccedilatildeo a extensatildeo consequumlente do materialismo ao domiacutenio dos fenocircmenos
sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da histoacuteria anteriores a
Marx Em primeiro lugar estas consideravam no melhor dos casos os moacutebiles
ideoloacutegicos da atividade histoacuterica dos homens sem investigar a origem desses
moacutebiles sem apreender as leis objetivas que presidem ao desenvolvimento do
sistema das relaccedilotildees sociais e sem descobrir as raiacutezes dessas relaccedilotildees no grau de
desenvolvimento da produccedilatildeo material Em segundo lugar as teorias anteriores
natildeo abarcavam precisamente a accedilatildeo das massas da populaccedilatildeo enquanto o
materialismo histoacuterico permite pela primeira vez estudar com a precisatildeo das
ciecircncias naturais as condiccedilotildees sociais da vida das massas e as modificaccedilotildees
dessas condiccedilotildees A sociologia e a historiografia anteriores a Marx no melhor
dos casos acumularam fatos em bruto fragmentariamente recolhidos e
expuseram alguns aspetos do processo histoacuterico O marxismo abriu caminho ao
estudo universal e completo do processo do nascimento desenvolvimento e
decliacutenio das formaccedilotildees econocircmico-sociais examinando o conjunto das
tendecircncias contraditoacuterias ligando-as agraves condiccedilotildees de existecircncia e de produccedilatildeo
exatamente determinaacuteveis das diversas classes da sociedade afastando o
subjetivismo e o arbiacutetrio na seleccedilatildeo das diversas ideacuteias dominantes ou na sua
interpretaccedilatildeo revelando as raiacutezes de todas as ideacuteias e todas as diferentes
tendecircncias sem exceccedilatildeo no estado das forccedilas produtivas materiais Os homens
satildeo os artiacutefices da sua proacutepria histoacuteria mas que causas determinam os moacutebiles
15
dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
16
histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
17
(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
18
(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
19
mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
5
primeiro Apelo (17) e de um grande nuacutemero de resoluccedilotildees declaraccedilotildees e
manifestos Unindo o movimento operaacuterio dos diversos paiacuteses procurando
orientar numa via de atividade comum as diferentes formas do socialismo natildeo
proletaacuterio preacute-marxista (Mazzini Proudhon Bakuacutenine o trade-unionismo
liberal inglecircs as oscilaccedilotildees dos lassallianos para a direita na Alemanha etc)
combatendo as teorias de todas estas seitas e escolas Marx foi forjando uma
taacutetica uacutenica para a luta proletaacuteria da classe operaacuteria nos diversos paiacuteses Depois
da queda da Comuna de Paris (1871) - a qual Marx analisou (em A Guerra Civil
em Franccedila 1871) de uma maneira tatildeo penetrante tatildeo justa tatildeo brilhante tatildeo
eficaz e revolucionaacuteria - e depois da cisatildeo provocada pelos bakuninista (18) a
Internacional natildeo pocircde continuar a subsistir na Europa Depois do Congresso
de 1872 em Haia Marx conseguiu a transferecircncia do Conselho Geral da
Internacional para Nova lorque A I Internacional tinha cumprido a sua missatildeo
histoacuterica e dava lugar a uma eacutepoca de crescimento infinitamente maior do
movimento operaacuterio em todos os paiacuteses do mundo caracterizada pelo seu
desenvolvimento em extensatildeo pela formaccedilatildeo de partidos socialistas operaacuterios
de massas no quadro dos diversos Estados nacionais
A sua atividade intensa na Internacional e os seus trabalhos teoacutericos que
exigiam esforccedilos ainda maiores abalaram definitivamente a sauacutede de Marx
Prosseguiu a sua obra de transformaccedilatildeo da economia poliacutetica e de acabamento
de O Capital reunindo uma massa de documentos novos e estudando vaacuterias
liacutenguas (o russo por exemplo) mas a doenccedila impediu-o de terminar O Capital
A 2 de Dezembro de 1881 morre a sua mulher A 14 de Marccedilo de 1883 Marx
adormecia pacificamente na sua poltrona para o uacuteltimo sono Foi enterrado
junto da sua mulher no cemiteacuterio de Highgate em Londres Vaacuterios filhos de
Marx morreram muito jovens em Londres quando a famiacutelia atravessava uma
grande miseacuteria Trecircs das suas filhas casaram com socialistas ingleses e
franceses Eleanor Aveling Laura Lafargue e Jenny Longuet um dos filhos
desta uacuteltima eacute membro do Partido Socialista Francecircs
(A Doutrina Marxista gt)
6
Notas
(3)Hegelianos de esquerda ou jovens hegelianos corrente idealista na filosofia alematilde
dos anos 30-40 do seacuteculo XIX que procurava tirar conclusotildees radicais da filosofia de
Hegel e fundamentar a necessidade de transformaccedilatildeo burguesa da Alemanha O
movimento dos jovens hegelianos era representado por D Strauss B e EBauer M
Stirner e outros Durante certo tempo tambeacutem L Feuerbach partilhou as suas ideacuteias
bem com K Marx e F Engels na sua juventude os quais rompendo posteriormente
com os jovens hegelianos submeteram agrave criacutetica a sua natureza idealista e pequeno-
burguesa em A Sagrada Famiacutelia (1844) e em A Ideologia Alematilde (1845-1846)(retornar
ao texto)
(4)F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde(retornar ao texto)
(5) Rheinische Zeitung (fuumlr Politik Handel und Gewerbe (Gazeta Renana de Poliacutetica
Comeacutercio e Induacutestria) diaacuterio que se publicou em Coloacutenia entre 1 de janeiro de 1842 e
31 de marccedilo de 1843 O jornal foi fundado por representantes da Renacircnia que tinham
uma atitude oposicionista para com o absolutismo prussianoTambeacutem alguns
hegelianos de esquerda foram atraiacutedos para participarem no jornal A partir de abril de
1842 K Marx colaborou na Gazeta Renana e a partir de outubro do mesmo ano
tornou-se um dos seus redatores passando o jornal a revestir-se de um caraacuteter
democraacutetico revolucionaacuterio Em janeiro de 1843 o governo da Pruacutessia decretou o
encerramento da Gazeta Renana a partir de 1 de abril estabelecendo entretanto uma
censura especialmente rigorosa ao jornal Devido agrave decisatildeo dos acionistas de lhe
atribuir um caraacuteter mais moderado Marx em 17 de marccedilo de 1843 declarou que saiacutea
da redaccedilatildeo(retornar ao texto)
(6)Trata-se da lista de obras composta por VI Lenine para o artigo Karl Marx (que natildeo
se inclui na presente ediccedilatildeo - N Ed) (retornar ao texto)
(7)Trata-se do artigo de K Marx Justificaccedilatildeo do Correspondente do Mosela (retornar
ao texto)
(8) Soacute apareceu o primeiro fasciacuteculo duplo em fevereiro de 1844 Nele foram
publicadas as obras de K Marx e F Engels que marcam a sua passagem definitiva para
o materialismo e comunismo (retornar ao texto)
(9) Na introduccedilatildeo ao artigo Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Filosofia do Direito de Hegel
Marx escreve A arma da criacutetica natildeo podia evidentemente substituir a criacutetica das
armas porque a foca material natildeo pode ser derrubada senatildeo pela forccedila material mas
7
logo que penetra nas massas a teoria passa a ser tambeacutem ela uma forccedila material
(retornar ao texto)
(10) Doutrina de Proudhon corrente anticientiacutefica hostil ao marxismo do socialismo
pequeno-burguecircs Criticando a grande propriedade capitalista a partir de posiccedilotildees
pequeno-burguesas Proudhon sonhava com perpetuar a pequena propriedade privada
propunha que fossem organizados os bancos do povo e de troca que segundo ele
permitiriam aos operaacuterios obter meios de produccedilatildeo proacuteprios tornar-se artesotildees e
garantir a venda justa dos seus produtos Proudhon natildeo compreendia o papel
histoacuterico do proletariado negava a luta de classes a revoluccedilatildeo proletaacuteria e a ditadura
do proletariado Partindo de posiccedilotildees anarquistas negava tambeacutem a necessidade do
Estado (retornar ao texto)
(11) Liga dos Comunistas primeira organizaccedilatildeo internacional comunista do
proletariado criada sob a direccedilatildeo de Marx e Engels no iniacutecio de junho de 1847 em
Londres em consequumlecircncia da reorganizaccedilatildeo da Liga dos Justos associaccedilatildeo secreta
alematilde de operaacuterios e artesatildeos que seguiu na deacutecada de 1830 Os princiacutepios
programaacuteticos e de organizaccedilatildeo da Liga fora elaborados com a participaccedilatildeo direta de
Marx e Engels que redigiram tambeacutem o documento programaacutetico o Manifesto do
Partido Comunista publicado em fevereiro de 1848 A Liga dos Comunistas existiu ateacute
Novembro de 1852 e foi antecessora da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores (I
Internacional) Os dirigentes mais eminentes da Liga dos Comunistas desempenharam
mais tarde o papel dirigente na I Internacional (retornar ao texto)
(12) Trata-se da revoluccedilatildeo burguesa em Franccedila em fevereiro de 1848 (retornar ao
texto)
(13) Trata-se da revoluccedilatildeo burguesa na Alemanha e na Aacuteustria que se iniciou em marccedilo
de 1848 (retornar ao texto)
(14)A Nova Gazeta Renana (Neue Rheinische Zeitung) publicou-se em Coloacutenia entre 1
de junho de 1848 e 19 de maio de 1849 O jornal foidirigido por K Marx e F Engels
sendo Marx redator-chefe A Nova Gazeta Renana apesar de todas as perseguiccedilotildees e
obstaacuteculos por parte da poliacutecia defendia corajosamente os interesses da democracia
revolucionaacuteria os interesses do proletariado A expulsatildeo de Marx da Pruacutessia em marccedilo
de 1848 e as perseguiccedilotildees contra os outros redatores da Nova Gazeta Renana foram a
causa da cessaccedilatildeo da publicaccedilatildeo do jornal (retornar ao texto)
(15) Trata-se da manifestaccedilatildeo popular em paris organizada pelo partido da pequena
burguesia (Montanha) em sinal de protesto contra a infraccedilatildeo pelo presidente e pela
8
maioria da Assembleacuteia Legislativa da ordem constitucional estabelecida pela revoluccedilatildeo
de 9148 A manifestaccedilatildeo foi dispersa pelo governo (retornar ao texto)
(16) Leacutenine alude ao panfleto de K Marx Herr Vogt (O Senhor Vogt) escrito em
resposta agrave brochura caluniosa O Meu Processo contra o Allgemeine Zeitung do
agente bonapartista K Vogt (retornar ao texto)
(17) Trata-se do manifesto Constituinte da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores
(retornar ao texto)
(18) Bakuninismo corrente cuja denominaccedilatildeo deriva do nome de Nakuacutenine ideoacutelogo
do anarquismo inimigo do marxismo e do socialismo cientiacutefico Os bakininistas
travaram uma luta tenaz contra a teoria marxista e contra a taacutetica do movimento
operaacuterio A tese principal do bakuninismo eacute a negaccedilatildeo de todo o Estado incluindo a
ditadura do proletariado e a incompreensatildeo do papel histoacuterico universal do
proletariado Uma sociedade revolucionaacuteria secreta constituiacuteda por destacadas
personalidades devia na opiniatildeo dos bakuninistas dirigir revoltas populares A sua
taacutetica das conquistas e do terror era aventureira e hostil agrave doutrina marxista da
insurreiccedilatildeo (retornar ao texto)
A Doutrina Marxista
O marxismo eacute o sistema das ideacuteias e da doutrina de Marx Marx continuou e
desenvolveu plena e genialmente as trecircs principais correntes ideoloacutegicas do
seacuteculo XIX nos trecircs paiacuteses mais avanccedilados da humanidade a filosofia claacutessica
alematilde a economia poliacutetica claacutessica inglesa e o socialismo francecircs em ligaccedilatildeo
com as doutrinas revolucionaacuterias francesas em geral O caraacuteter notavelmente
coerente e integral das suas ideacuteias reconhecido pelos proacuteprios adversaacuterios - e
que no seu conjunto constituem o materialismo moderno e o socialismo
cientiacutefico moderno como teoria e programa do movimento operaacuterio de todos os
paiacuteses civilizados - obriga-nos a fazer preceder a exposiccedilatildeo do conteuacutedo
essencial do marxismo a doutrina econocircmica de Marx de um breve resumo da
sua concepccedilatildeo do mundo em geral
9
O Materialismo Filosoacutefico
Desde 1844-1845 eacutepoca em que se formaram as suas ideacuteias Marx foi
materialista foi em particular partidaacuterio de L Feuerbach cujo uacutenico lado fraco
foi para ele mesmo mais tarde a falta de coerecircncia e de universalidade do seu
materialismo Marx via a importacircncia histoacuterica mundial de Feuerbach que fez
eacutepoca precisamente na sua ruptura decisiva com o idealismo de Hegel e na sua
afirmaccedilatildeo do materialismo que jaacute desde o seacuteculo XVIII e nomeadamente em
Franccedila natildeo foi apenas uma luta contra as instituiccedilotildees poliacuteticas existentes assim
como contra a religiatildeo e a teologia existentes mas tambeacutem contra toda a
metafiacutesica (tomada no sentido de especulaccedilatildeo delirante por oposiccedilatildeo a uma
filosofia sensata) (A Sagrada Famiacutelia (19) no Literarischer Nachlass) Para
Hegel - escrevia Marx - o processo do pensamento que ele personifica mesmo
sob o nome de ideacuteia num sujeito independente eacute o demiurgo (o criador) da
realidade Para mim pelo contraacuterio o ideal natildeo eacute senatildeo o material transposto
e traduzido no ceacuterebro humano (O Capital I posfaacutecio da segunda ediccedilatildeo)
Perfeitamente de acordo com a filosofia materialista de Marx F Engels
expondo-a no Anti-Diacuteihring (ver) que Marx lera ainda em manuscrito escrevia
A unidade do mundo natildeo consiste no seu ser A unidade real do mundo
consiste na sua materialidade e esta uacuteltima estaacute provada por um longo e
laborioso desenvolvimento da filosofia e das ciecircncias naturais O movimento eacute
o modo de existecircncia da mateacuteria Nunca e em parte alguma houve nem poderaacute
haver mateacuteria sem movimento Mateacuteria sem movimento eacute impensaacutevel do
mesmo modo que movimento sem mateacuteria Mas se pergunta depois disso o
que satildeo o pensamento e a consciecircncia e donde provecircm conclui-se que satildeo
produtos do ceacuterebro humano e que o proacuteprio homem eacute um produto da natureza
o qual se desenvolveu no seu ambiente e com ele daiacute se compreende por si soacute
que os produtos do ceacuterebro humano que em uacuteltima anaacutelise satildeo igualmente
produtos da natureza natildeo estatildeo em contradiccedilatildeo mas sim em correspondecircncia
com a restante conexatildeo da natureza Hegel era idealista isto eacute para ele as
ideacuteias do seu ceacuterebro natildeo eram reflexos (Abbilder por vezes Engels fala de
reproduccedilotildees) mais ou menos abstratos dos objetos e dos fenocircmenos reais
mas pelo contraacuterio eram os objetos e o seu desenvolvimento que eram para ele
os reflexos da ideacuteia que jaacute existia natildeo se sabe onde antes da existecircncia do
mundo No seu Ludwig Feuerbach livro onde expotildee as suas ideacuteias e as de Marx
sobre a filosofia de Feuerbach e que soacute mandou imprimir depois de ter lido uma
vez mais o velho manuscrito de 1844-1845 escrito em colaboraccedilatildeo com Marx
10
sobre Hegel Feuerbach e a concepccedilatildeo materialista da histoacuteria Engels escreve
A grande questatildeo fundamental de toda a filosofia especialmente da filosofia
moderna eacute a da relaccedilatildeo entre o pensamento e o ser entre o espiacuterito e a natureza
Que eacute primeiro o espiacuterito ou a natureza Conforme respondiam de uma
maneira ou de outra a esta questatildeo os filoacutesofos dividiam-se em dois grandes
campos Aqueles que afirmavam que o espiacuterito eacute primeiro em relaccedilatildeo agrave natureza
e que por conseguinte admitiam em uacuteltima instacircncia uma criaccedilatildeo do mundo
de qualquer espeacutecie constituiacuteam o campo do idealismo Os outros que
consideravam a natureza como o elemento primordial pertenciam agraves diversas
escolas do materialismo Qualquer outro emprego dos conceitos de idealismo e
de materialismo (no sentido filosoacutefico) natildeo faz mais do que criar a confusatildeo
Marx repudiou categoricamente natildeo apenas o idealismo sempre ligado de uma
maneira ou de outra agrave religiatildeo mas tambeacutem o ponto de vista particularmente
difundido nos nossos dias de Rume e de Kant o agnosticismo o criticismo o
positivismo(20) sob os seus diferentes aspectos considerando esse gecircnero de
filosofia como uma concessatildeo reacionaacuteria ao idealismo e no melhor dos
casos uma maneira envergonhada de aceitar o materialismo agraves escondidas
renegando-a publicamente A este respeito eacute bom consultar aleacutem das jaacute
citadas obras de Marx e Engels a carta de Marx a Engels datada de 12 de
Dezembro de 1866 em que falando de uma intervenccedilatildeo do ceacutelebre naturalista
T Huxley que se mostrou mais materialista do que habitualmente e
reconheceu que enquanto observamos e pensamos realmente nunca podemos
sair do materialismo Marx o critica por ter aberto uma porta ao agnosticismo
e agrave teoria de Rume Eacute importante sobretudo reter a opiniatildeo de Marx sobre as
relaccedilotildees entre a liberdade e a necessidade A necessidade soacute eacute cega enquanto
natildeo eacute compreendida A liberdade consiste em conhecer a necessidade (F
Engels Anti-Diacuteihring) E o reconhecimento das leis objetivas que regem a
natureza e da transformaccedilatildeo dialeacutetica da necessidade em liberdade (da mesma
maneira que a transformaccedilatildeo da coisa em si natildeo conhecida mas cognosciacutevel
em coisa para noacutes da essecircncia das coisas em fenocircmenos) O defeito
essencial do velho materialismo incluindo o de Feuerbach (e com mais forte
razatildeo o do materialismo vulgar de Buchner-Vogt-Moleschott) era para Marx
e Engels 1 - que este materialismo era essencialmente mecanicista e natildeo
tomava em conta os progressos mais recentes da quiacutemica e da biologia
(atualmente conviria acrescentar ainda a teoria eleacutetrica da mateacuteria) 2 - que o
velho materialismo natildeo tinha um caraacuteter histoacuterico nem dialeacutetico (sendo pelo
11
contraacuterio metafiacutesico no sentido de antidialeacutetico) e natildeo aplicava a concepccedilatildeo do
desenvolvimento de forma consequumlente e sob todos os seus aspectos 3 - que
concebia a essecircncia humana como uma abstraccedilatildeo e natildeo como o conjunto de
todas as relaccedilotildees sociais (concretamente determinadas pela histoacuteria) natildeo
fazendo assim mais do que interpretar o mundo enquanto aquilo de que se
tratava era de o transformar ou por outras palavras natildeo compreendia a
importacircncia da atividade revolucionaacuteria praacutetica
A Dialeacutetica
Marx e Engels viam na dialeacutetica de Hegel a doutrina do desenvolvimento mais
vasta mais rica de conteuacutedo e mais profunda a maior aquisiccedilatildeo da filosofia
claacutessica alematilde Consideravam qualquer outro enunciado do princiacutepio do
desenvolvimento da evoluccedilatildeo unilateral pobre que mutilava e deturpava a
marcha real do desenvolvimento (marcha que muitas vezes se efetua atraveacutes de
saltos cataacutestrofes revoluccedilotildees) na natureza e na sociedade Marx e eu fomos
seguramente quase os uacutenicos que procuramos salvar (do descalabro do
idealismo incluindo o hegelianismo) a dialeacutetica consciente para a integrar na
concepccedilatildeo materialista da natureza A natureza eacute a comprovaccedilatildeo da dialeacutetica
e devemos dizer que as ciecircncias modernas da natureza nos forneceram materiais
extremamente numerosos (e isto foi escrito antes da descoberta do raacutedio dos
eletrotildees da transformaccedilatildeo dos elementos etc) cujo volume aumenta dia a dia
provando assim que em uacuteltima anaacutelise na natureza as coisas se passam
dialeticamente e natildeo metafisicamente (21)
A grande ideacuteia fundamental - escreve Engels - segundo a qual o mundo natildeo
deve ser considerado como um conjunto de coisas acabadas mas como um
conjunto de processos em que as coisas aparentemente estaacuteveis bem como os
seus reflexos mentais no nosso ceacuterebro os conceitos passam por uma seacuterie
ininterrupta de transformaccedilotildees por um processo de gecircnese e de deperecimento
esta grande ideacuteia fundamental penetrou desde Hegel tatildeo profundamente na
consciecircncia corrente que sob esta forma geral quase jaacute natildeo encontra
contraditores Mas reconhece-la em palavras e aplicaacute-la na realidade concreta
em cada domiacutenio submetido agrave investigaccedilatildeo satildeo duas coisas diferentes Nada
haacute de definitivo de absoluto de sagrado para a filosofia dialeacutetica Ela mostra a
caducidade de todas as coisas e para ela nada mais existe senatildeo o processo
ininterrupto do surgir e do perecer da ascensatildeo sem fim do inferior para o
12
superior de que ela proacutepria natildeo eacute senatildeo o simples reflexo no ceacuterebro pensante
Portanto para Marx a dialeacutetica eacutea ciecircncia das leis gerais do movimento tanto
do mundo exterior como do pensamento humano (22)
Foi este aspecto revolucionaacuterio da filosofia de Hegel que Marx adotou e
desenvolveu O materialismo dialeacutetico natildeo necessita de nenhuma filosofia
colocada acima das outras ciecircncias A uacutenica coisa que resta da filosofia anterior
eacute a teoria do pensamento e das suas leis a loacutegica formal e a dialeacutetica(23) E a
dialeacutetica compreende na concepccedilatildeo de Marx como na de Hegel o que hoje se
chama agrave teoria do conhecimento ou gnosiologia ciecircncia que deve considerar o
seu objeto tambeacutem historicamente estudando e generalizando a origem e o
desenvolvimento do conhecimento a passagem do natildeo conhecimento ao
conhecimento
Atualmente a ideacuteia do desenvolvimento da evoluccedilatildeo penetrou quase
completamente na consciecircncia social mas por outra via que natildeo a da filosofia de
Hegel No entanto esta ideacuteia tal como a formularam Marx e Engels apoiando-
se em Hegel eacute muito mais vasta e rica de conteuacutedo do que a ideacuteia corrente da
evoluccedilatildeo Eacute um desenvolvimento que parece repetir etapas jaacute percorridas mas
sob outra forma numa base mais elevada (negaccedilatildeo da negaccedilatildeo) um
desenvolvimento por assim dizer em espiral e natildeo em linha reta um
desenvolvimento por saltos por cataacutestrofes por revoluccedilotildees soluccedilotildees de
continuidade transformaccedilotildees da quantidade em qualidade impulsos internos
do desenvolvimento provocados pela contradiccedilatildeo pelo choque de forccedilas e
tendecircncias distintas agindo sobre determinado corpo no quadro de um
determinado fenocircmeno ou no seio de uma determinada sociedade
interdependecircncia e ligaccedilatildeo estreita indissoluacutevel de todos os aspectos de cada
fenocircmeno (com a particularidade de que a histoacuteria faz constantemente aparecer
novos aspectos) ligaccedilatildeo que mostra um processo uacutenico universal do
movimento regido por leis tais satildeo certos traccedilos da dialeacutetica dessa doutrina do
desenvolvimento mais rica de conteuacutedo do que a doutrina usual (Ver a carta de
Marx a Engels de 8 de Janeiro de 1868 onde ridiculariza as tricotomias
riacutegidas de Stein que seria absurdo confundir com a dialeacutetica materialista)
13
A Concepccedilatildeo Materialista da Histoacuteria
Dando-se conta do caraacuteter inconsequumlente incompleto e unilateral do velho
materialismo Marx foi levado agrave convicccedilatildeo de que era preciso pocircr a ciecircncia da
sociedade de acordo com a base materialista e reconstruir esta ciecircncia
apoiando-se nessa base(24) Se de uma forma geral o materialismo explica a
consciecircncia pelo ser e natildeo ao contraacuterio ele exige quando aplicado agrave vida social
da humanidade que se explique agrave consciecircncia social pelo ser social A
tecnologia diz Marx (O Capital l) revela a atitude ativa do homem para com a
natureza o processo imediato da produccedilatildeo da sua vida e por conseguinte das
suas condiccedilotildees sociais de vida e das representaccedilotildees espirituais que delas
derivam(25) Uma formulaccedilatildeo completa das teses fundamentais do
materialismo aplicado agrave sociedade humana e agrave sua histoacuteria eacute dada por Marx no
prefaacutecio agrave sua obra Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica nestes
termos
Na produccedilatildeo social da sua existecircncia os homens entram em relaccedilotildees
determinadas necessaacuterias independentes da sua vontade relaccedilotildees de produccedilatildeo
que correspondem a um dado grau de desenvolvimento das suas forccedilas
produtivas materiais
O conjunto dessas relaccedilotildees de produccedilatildeo constitui a estrutura econocircmica da
sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura juriacutedica e
poliacutetica e agrave qual correspondem formas de consciecircncia social determinadas O
modo de produccedilatildeo da vida material condiciona o processo da vida social
poliacutetica e intelectual em geral Natildeo eacute a consciecircncia dos homens que determina o
seu ser mas pelo contraacuterio eacute o seu ser social que determina a sua consciecircncia
Num certo estaacutedio do seu desenvolvimento as forccedilas produtivas materiais da
sociedade entram em contradiccedilatildeo com as relaccedilotildees de produccedilatildeo existentes ou o
que natildeo eacute senatildeo a expressatildeo juriacutedica disso com as relaccedilotildees de propriedade no
seio das quais elas se haviam movido ateacute entatildeo De formas de desenvolvimento
das forccedilas produtivas que eram essas relaccedilotildees tornam-se seus entraves Abre-se
entatildeo uma eacutepoca de revoluccedilatildeo social A transformaccedilatildeo na base econocircmica
revoluciona mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura
Quando se estudam tais revoluccedilotildees eacute preciso distinguir sempre entre as
transformaccedilotildees materiais ocorridas nas condiccedilotildees econocircmicas de produccedilatildeo -
que podem ser verificadas com o rigor proacuteprio das ciecircncias naturais - e as
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formas juriacutedicas poliacuteticas religiosas artiacutesticas ou filosoacuteficas em resumo as
formas ideoloacutegicas sob as quais os homens tomam consciecircncia desse conflito e
lutam por resolvecirc-lo
Assim como natildeo se pode julgar um indiviacuteduo pela ideacuteia que ele faz de si
proacuteprio tambeacutem se natildeo pode julgar uma tal eacutepoca de revoluccedilotildees pela
consciecircncia que ela tem de si mesma Pelo contraacuterio eacute preciso explicar esta
consciecircncia pelas contradiccedilotildees da vida material pelo conflito que existe entre as
forccedilas produtivas sociais e as relaccedilotildees de produccedilatildeo Em traccedilos largos os
modos de produccedilatildeo asiaacutetico antigo feudal e burguecircs moderno podem ser
designados como outras tantas eacutepocas de progresso na formaccedilatildeo econocircmica da
sociedade (Ver a foacutermula sucinta que Marx daacute na sua carta a Engels datada de
7 de Julho de 1866 A nossa teoria da organizaccedilatildeo do trabalho determinada
pelos meios de produccedilatildeo)
A descoberta da concepccedilatildeo materialista da histoacuteria ou mais exatamente a
aplicaccedilatildeo a extensatildeo consequumlente do materialismo ao domiacutenio dos fenocircmenos
sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da histoacuteria anteriores a
Marx Em primeiro lugar estas consideravam no melhor dos casos os moacutebiles
ideoloacutegicos da atividade histoacuterica dos homens sem investigar a origem desses
moacutebiles sem apreender as leis objetivas que presidem ao desenvolvimento do
sistema das relaccedilotildees sociais e sem descobrir as raiacutezes dessas relaccedilotildees no grau de
desenvolvimento da produccedilatildeo material Em segundo lugar as teorias anteriores
natildeo abarcavam precisamente a accedilatildeo das massas da populaccedilatildeo enquanto o
materialismo histoacuterico permite pela primeira vez estudar com a precisatildeo das
ciecircncias naturais as condiccedilotildees sociais da vida das massas e as modificaccedilotildees
dessas condiccedilotildees A sociologia e a historiografia anteriores a Marx no melhor
dos casos acumularam fatos em bruto fragmentariamente recolhidos e
expuseram alguns aspetos do processo histoacuterico O marxismo abriu caminho ao
estudo universal e completo do processo do nascimento desenvolvimento e
decliacutenio das formaccedilotildees econocircmico-sociais examinando o conjunto das
tendecircncias contraditoacuterias ligando-as agraves condiccedilotildees de existecircncia e de produccedilatildeo
exatamente determinaacuteveis das diversas classes da sociedade afastando o
subjetivismo e o arbiacutetrio na seleccedilatildeo das diversas ideacuteias dominantes ou na sua
interpretaccedilatildeo revelando as raiacutezes de todas as ideacuteias e todas as diferentes
tendecircncias sem exceccedilatildeo no estado das forccedilas produtivas materiais Os homens
satildeo os artiacutefices da sua proacutepria histoacuteria mas que causas determinam os moacutebiles
15
dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
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histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
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(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
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(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
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mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
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circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
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partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
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meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
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identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
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Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
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dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
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monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
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do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
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um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
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revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
6
Notas
(3)Hegelianos de esquerda ou jovens hegelianos corrente idealista na filosofia alematilde
dos anos 30-40 do seacuteculo XIX que procurava tirar conclusotildees radicais da filosofia de
Hegel e fundamentar a necessidade de transformaccedilatildeo burguesa da Alemanha O
movimento dos jovens hegelianos era representado por D Strauss B e EBauer M
Stirner e outros Durante certo tempo tambeacutem L Feuerbach partilhou as suas ideacuteias
bem com K Marx e F Engels na sua juventude os quais rompendo posteriormente
com os jovens hegelianos submeteram agrave criacutetica a sua natureza idealista e pequeno-
burguesa em A Sagrada Famiacutelia (1844) e em A Ideologia Alematilde (1845-1846)(retornar
ao texto)
(4)F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde(retornar ao texto)
(5) Rheinische Zeitung (fuumlr Politik Handel und Gewerbe (Gazeta Renana de Poliacutetica
Comeacutercio e Induacutestria) diaacuterio que se publicou em Coloacutenia entre 1 de janeiro de 1842 e
31 de marccedilo de 1843 O jornal foi fundado por representantes da Renacircnia que tinham
uma atitude oposicionista para com o absolutismo prussianoTambeacutem alguns
hegelianos de esquerda foram atraiacutedos para participarem no jornal A partir de abril de
1842 K Marx colaborou na Gazeta Renana e a partir de outubro do mesmo ano
tornou-se um dos seus redatores passando o jornal a revestir-se de um caraacuteter
democraacutetico revolucionaacuterio Em janeiro de 1843 o governo da Pruacutessia decretou o
encerramento da Gazeta Renana a partir de 1 de abril estabelecendo entretanto uma
censura especialmente rigorosa ao jornal Devido agrave decisatildeo dos acionistas de lhe
atribuir um caraacuteter mais moderado Marx em 17 de marccedilo de 1843 declarou que saiacutea
da redaccedilatildeo(retornar ao texto)
(6)Trata-se da lista de obras composta por VI Lenine para o artigo Karl Marx (que natildeo
se inclui na presente ediccedilatildeo - N Ed) (retornar ao texto)
(7)Trata-se do artigo de K Marx Justificaccedilatildeo do Correspondente do Mosela (retornar
ao texto)
(8) Soacute apareceu o primeiro fasciacuteculo duplo em fevereiro de 1844 Nele foram
publicadas as obras de K Marx e F Engels que marcam a sua passagem definitiva para
o materialismo e comunismo (retornar ao texto)
(9) Na introduccedilatildeo ao artigo Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Filosofia do Direito de Hegel
Marx escreve A arma da criacutetica natildeo podia evidentemente substituir a criacutetica das
armas porque a foca material natildeo pode ser derrubada senatildeo pela forccedila material mas
7
logo que penetra nas massas a teoria passa a ser tambeacutem ela uma forccedila material
(retornar ao texto)
(10) Doutrina de Proudhon corrente anticientiacutefica hostil ao marxismo do socialismo
pequeno-burguecircs Criticando a grande propriedade capitalista a partir de posiccedilotildees
pequeno-burguesas Proudhon sonhava com perpetuar a pequena propriedade privada
propunha que fossem organizados os bancos do povo e de troca que segundo ele
permitiriam aos operaacuterios obter meios de produccedilatildeo proacuteprios tornar-se artesotildees e
garantir a venda justa dos seus produtos Proudhon natildeo compreendia o papel
histoacuterico do proletariado negava a luta de classes a revoluccedilatildeo proletaacuteria e a ditadura
do proletariado Partindo de posiccedilotildees anarquistas negava tambeacutem a necessidade do
Estado (retornar ao texto)
(11) Liga dos Comunistas primeira organizaccedilatildeo internacional comunista do
proletariado criada sob a direccedilatildeo de Marx e Engels no iniacutecio de junho de 1847 em
Londres em consequumlecircncia da reorganizaccedilatildeo da Liga dos Justos associaccedilatildeo secreta
alematilde de operaacuterios e artesatildeos que seguiu na deacutecada de 1830 Os princiacutepios
programaacuteticos e de organizaccedilatildeo da Liga fora elaborados com a participaccedilatildeo direta de
Marx e Engels que redigiram tambeacutem o documento programaacutetico o Manifesto do
Partido Comunista publicado em fevereiro de 1848 A Liga dos Comunistas existiu ateacute
Novembro de 1852 e foi antecessora da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores (I
Internacional) Os dirigentes mais eminentes da Liga dos Comunistas desempenharam
mais tarde o papel dirigente na I Internacional (retornar ao texto)
(12) Trata-se da revoluccedilatildeo burguesa em Franccedila em fevereiro de 1848 (retornar ao
texto)
(13) Trata-se da revoluccedilatildeo burguesa na Alemanha e na Aacuteustria que se iniciou em marccedilo
de 1848 (retornar ao texto)
(14)A Nova Gazeta Renana (Neue Rheinische Zeitung) publicou-se em Coloacutenia entre 1
de junho de 1848 e 19 de maio de 1849 O jornal foidirigido por K Marx e F Engels
sendo Marx redator-chefe A Nova Gazeta Renana apesar de todas as perseguiccedilotildees e
obstaacuteculos por parte da poliacutecia defendia corajosamente os interesses da democracia
revolucionaacuteria os interesses do proletariado A expulsatildeo de Marx da Pruacutessia em marccedilo
de 1848 e as perseguiccedilotildees contra os outros redatores da Nova Gazeta Renana foram a
causa da cessaccedilatildeo da publicaccedilatildeo do jornal (retornar ao texto)
(15) Trata-se da manifestaccedilatildeo popular em paris organizada pelo partido da pequena
burguesia (Montanha) em sinal de protesto contra a infraccedilatildeo pelo presidente e pela
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maioria da Assembleacuteia Legislativa da ordem constitucional estabelecida pela revoluccedilatildeo
de 9148 A manifestaccedilatildeo foi dispersa pelo governo (retornar ao texto)
(16) Leacutenine alude ao panfleto de K Marx Herr Vogt (O Senhor Vogt) escrito em
resposta agrave brochura caluniosa O Meu Processo contra o Allgemeine Zeitung do
agente bonapartista K Vogt (retornar ao texto)
(17) Trata-se do manifesto Constituinte da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores
(retornar ao texto)
(18) Bakuninismo corrente cuja denominaccedilatildeo deriva do nome de Nakuacutenine ideoacutelogo
do anarquismo inimigo do marxismo e do socialismo cientiacutefico Os bakininistas
travaram uma luta tenaz contra a teoria marxista e contra a taacutetica do movimento
operaacuterio A tese principal do bakuninismo eacute a negaccedilatildeo de todo o Estado incluindo a
ditadura do proletariado e a incompreensatildeo do papel histoacuterico universal do
proletariado Uma sociedade revolucionaacuteria secreta constituiacuteda por destacadas
personalidades devia na opiniatildeo dos bakuninistas dirigir revoltas populares A sua
taacutetica das conquistas e do terror era aventureira e hostil agrave doutrina marxista da
insurreiccedilatildeo (retornar ao texto)
A Doutrina Marxista
O marxismo eacute o sistema das ideacuteias e da doutrina de Marx Marx continuou e
desenvolveu plena e genialmente as trecircs principais correntes ideoloacutegicas do
seacuteculo XIX nos trecircs paiacuteses mais avanccedilados da humanidade a filosofia claacutessica
alematilde a economia poliacutetica claacutessica inglesa e o socialismo francecircs em ligaccedilatildeo
com as doutrinas revolucionaacuterias francesas em geral O caraacuteter notavelmente
coerente e integral das suas ideacuteias reconhecido pelos proacuteprios adversaacuterios - e
que no seu conjunto constituem o materialismo moderno e o socialismo
cientiacutefico moderno como teoria e programa do movimento operaacuterio de todos os
paiacuteses civilizados - obriga-nos a fazer preceder a exposiccedilatildeo do conteuacutedo
essencial do marxismo a doutrina econocircmica de Marx de um breve resumo da
sua concepccedilatildeo do mundo em geral
9
O Materialismo Filosoacutefico
Desde 1844-1845 eacutepoca em que se formaram as suas ideacuteias Marx foi
materialista foi em particular partidaacuterio de L Feuerbach cujo uacutenico lado fraco
foi para ele mesmo mais tarde a falta de coerecircncia e de universalidade do seu
materialismo Marx via a importacircncia histoacuterica mundial de Feuerbach que fez
eacutepoca precisamente na sua ruptura decisiva com o idealismo de Hegel e na sua
afirmaccedilatildeo do materialismo que jaacute desde o seacuteculo XVIII e nomeadamente em
Franccedila natildeo foi apenas uma luta contra as instituiccedilotildees poliacuteticas existentes assim
como contra a religiatildeo e a teologia existentes mas tambeacutem contra toda a
metafiacutesica (tomada no sentido de especulaccedilatildeo delirante por oposiccedilatildeo a uma
filosofia sensata) (A Sagrada Famiacutelia (19) no Literarischer Nachlass) Para
Hegel - escrevia Marx - o processo do pensamento que ele personifica mesmo
sob o nome de ideacuteia num sujeito independente eacute o demiurgo (o criador) da
realidade Para mim pelo contraacuterio o ideal natildeo eacute senatildeo o material transposto
e traduzido no ceacuterebro humano (O Capital I posfaacutecio da segunda ediccedilatildeo)
Perfeitamente de acordo com a filosofia materialista de Marx F Engels
expondo-a no Anti-Diacuteihring (ver) que Marx lera ainda em manuscrito escrevia
A unidade do mundo natildeo consiste no seu ser A unidade real do mundo
consiste na sua materialidade e esta uacuteltima estaacute provada por um longo e
laborioso desenvolvimento da filosofia e das ciecircncias naturais O movimento eacute
o modo de existecircncia da mateacuteria Nunca e em parte alguma houve nem poderaacute
haver mateacuteria sem movimento Mateacuteria sem movimento eacute impensaacutevel do
mesmo modo que movimento sem mateacuteria Mas se pergunta depois disso o
que satildeo o pensamento e a consciecircncia e donde provecircm conclui-se que satildeo
produtos do ceacuterebro humano e que o proacuteprio homem eacute um produto da natureza
o qual se desenvolveu no seu ambiente e com ele daiacute se compreende por si soacute
que os produtos do ceacuterebro humano que em uacuteltima anaacutelise satildeo igualmente
produtos da natureza natildeo estatildeo em contradiccedilatildeo mas sim em correspondecircncia
com a restante conexatildeo da natureza Hegel era idealista isto eacute para ele as
ideacuteias do seu ceacuterebro natildeo eram reflexos (Abbilder por vezes Engels fala de
reproduccedilotildees) mais ou menos abstratos dos objetos e dos fenocircmenos reais
mas pelo contraacuterio eram os objetos e o seu desenvolvimento que eram para ele
os reflexos da ideacuteia que jaacute existia natildeo se sabe onde antes da existecircncia do
mundo No seu Ludwig Feuerbach livro onde expotildee as suas ideacuteias e as de Marx
sobre a filosofia de Feuerbach e que soacute mandou imprimir depois de ter lido uma
vez mais o velho manuscrito de 1844-1845 escrito em colaboraccedilatildeo com Marx
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sobre Hegel Feuerbach e a concepccedilatildeo materialista da histoacuteria Engels escreve
A grande questatildeo fundamental de toda a filosofia especialmente da filosofia
moderna eacute a da relaccedilatildeo entre o pensamento e o ser entre o espiacuterito e a natureza
Que eacute primeiro o espiacuterito ou a natureza Conforme respondiam de uma
maneira ou de outra a esta questatildeo os filoacutesofos dividiam-se em dois grandes
campos Aqueles que afirmavam que o espiacuterito eacute primeiro em relaccedilatildeo agrave natureza
e que por conseguinte admitiam em uacuteltima instacircncia uma criaccedilatildeo do mundo
de qualquer espeacutecie constituiacuteam o campo do idealismo Os outros que
consideravam a natureza como o elemento primordial pertenciam agraves diversas
escolas do materialismo Qualquer outro emprego dos conceitos de idealismo e
de materialismo (no sentido filosoacutefico) natildeo faz mais do que criar a confusatildeo
Marx repudiou categoricamente natildeo apenas o idealismo sempre ligado de uma
maneira ou de outra agrave religiatildeo mas tambeacutem o ponto de vista particularmente
difundido nos nossos dias de Rume e de Kant o agnosticismo o criticismo o
positivismo(20) sob os seus diferentes aspectos considerando esse gecircnero de
filosofia como uma concessatildeo reacionaacuteria ao idealismo e no melhor dos
casos uma maneira envergonhada de aceitar o materialismo agraves escondidas
renegando-a publicamente A este respeito eacute bom consultar aleacutem das jaacute
citadas obras de Marx e Engels a carta de Marx a Engels datada de 12 de
Dezembro de 1866 em que falando de uma intervenccedilatildeo do ceacutelebre naturalista
T Huxley que se mostrou mais materialista do que habitualmente e
reconheceu que enquanto observamos e pensamos realmente nunca podemos
sair do materialismo Marx o critica por ter aberto uma porta ao agnosticismo
e agrave teoria de Rume Eacute importante sobretudo reter a opiniatildeo de Marx sobre as
relaccedilotildees entre a liberdade e a necessidade A necessidade soacute eacute cega enquanto
natildeo eacute compreendida A liberdade consiste em conhecer a necessidade (F
Engels Anti-Diacuteihring) E o reconhecimento das leis objetivas que regem a
natureza e da transformaccedilatildeo dialeacutetica da necessidade em liberdade (da mesma
maneira que a transformaccedilatildeo da coisa em si natildeo conhecida mas cognosciacutevel
em coisa para noacutes da essecircncia das coisas em fenocircmenos) O defeito
essencial do velho materialismo incluindo o de Feuerbach (e com mais forte
razatildeo o do materialismo vulgar de Buchner-Vogt-Moleschott) era para Marx
e Engels 1 - que este materialismo era essencialmente mecanicista e natildeo
tomava em conta os progressos mais recentes da quiacutemica e da biologia
(atualmente conviria acrescentar ainda a teoria eleacutetrica da mateacuteria) 2 - que o
velho materialismo natildeo tinha um caraacuteter histoacuterico nem dialeacutetico (sendo pelo
11
contraacuterio metafiacutesico no sentido de antidialeacutetico) e natildeo aplicava a concepccedilatildeo do
desenvolvimento de forma consequumlente e sob todos os seus aspectos 3 - que
concebia a essecircncia humana como uma abstraccedilatildeo e natildeo como o conjunto de
todas as relaccedilotildees sociais (concretamente determinadas pela histoacuteria) natildeo
fazendo assim mais do que interpretar o mundo enquanto aquilo de que se
tratava era de o transformar ou por outras palavras natildeo compreendia a
importacircncia da atividade revolucionaacuteria praacutetica
A Dialeacutetica
Marx e Engels viam na dialeacutetica de Hegel a doutrina do desenvolvimento mais
vasta mais rica de conteuacutedo e mais profunda a maior aquisiccedilatildeo da filosofia
claacutessica alematilde Consideravam qualquer outro enunciado do princiacutepio do
desenvolvimento da evoluccedilatildeo unilateral pobre que mutilava e deturpava a
marcha real do desenvolvimento (marcha que muitas vezes se efetua atraveacutes de
saltos cataacutestrofes revoluccedilotildees) na natureza e na sociedade Marx e eu fomos
seguramente quase os uacutenicos que procuramos salvar (do descalabro do
idealismo incluindo o hegelianismo) a dialeacutetica consciente para a integrar na
concepccedilatildeo materialista da natureza A natureza eacute a comprovaccedilatildeo da dialeacutetica
e devemos dizer que as ciecircncias modernas da natureza nos forneceram materiais
extremamente numerosos (e isto foi escrito antes da descoberta do raacutedio dos
eletrotildees da transformaccedilatildeo dos elementos etc) cujo volume aumenta dia a dia
provando assim que em uacuteltima anaacutelise na natureza as coisas se passam
dialeticamente e natildeo metafisicamente (21)
A grande ideacuteia fundamental - escreve Engels - segundo a qual o mundo natildeo
deve ser considerado como um conjunto de coisas acabadas mas como um
conjunto de processos em que as coisas aparentemente estaacuteveis bem como os
seus reflexos mentais no nosso ceacuterebro os conceitos passam por uma seacuterie
ininterrupta de transformaccedilotildees por um processo de gecircnese e de deperecimento
esta grande ideacuteia fundamental penetrou desde Hegel tatildeo profundamente na
consciecircncia corrente que sob esta forma geral quase jaacute natildeo encontra
contraditores Mas reconhece-la em palavras e aplicaacute-la na realidade concreta
em cada domiacutenio submetido agrave investigaccedilatildeo satildeo duas coisas diferentes Nada
haacute de definitivo de absoluto de sagrado para a filosofia dialeacutetica Ela mostra a
caducidade de todas as coisas e para ela nada mais existe senatildeo o processo
ininterrupto do surgir e do perecer da ascensatildeo sem fim do inferior para o
12
superior de que ela proacutepria natildeo eacute senatildeo o simples reflexo no ceacuterebro pensante
Portanto para Marx a dialeacutetica eacutea ciecircncia das leis gerais do movimento tanto
do mundo exterior como do pensamento humano (22)
Foi este aspecto revolucionaacuterio da filosofia de Hegel que Marx adotou e
desenvolveu O materialismo dialeacutetico natildeo necessita de nenhuma filosofia
colocada acima das outras ciecircncias A uacutenica coisa que resta da filosofia anterior
eacute a teoria do pensamento e das suas leis a loacutegica formal e a dialeacutetica(23) E a
dialeacutetica compreende na concepccedilatildeo de Marx como na de Hegel o que hoje se
chama agrave teoria do conhecimento ou gnosiologia ciecircncia que deve considerar o
seu objeto tambeacutem historicamente estudando e generalizando a origem e o
desenvolvimento do conhecimento a passagem do natildeo conhecimento ao
conhecimento
Atualmente a ideacuteia do desenvolvimento da evoluccedilatildeo penetrou quase
completamente na consciecircncia social mas por outra via que natildeo a da filosofia de
Hegel No entanto esta ideacuteia tal como a formularam Marx e Engels apoiando-
se em Hegel eacute muito mais vasta e rica de conteuacutedo do que a ideacuteia corrente da
evoluccedilatildeo Eacute um desenvolvimento que parece repetir etapas jaacute percorridas mas
sob outra forma numa base mais elevada (negaccedilatildeo da negaccedilatildeo) um
desenvolvimento por assim dizer em espiral e natildeo em linha reta um
desenvolvimento por saltos por cataacutestrofes por revoluccedilotildees soluccedilotildees de
continuidade transformaccedilotildees da quantidade em qualidade impulsos internos
do desenvolvimento provocados pela contradiccedilatildeo pelo choque de forccedilas e
tendecircncias distintas agindo sobre determinado corpo no quadro de um
determinado fenocircmeno ou no seio de uma determinada sociedade
interdependecircncia e ligaccedilatildeo estreita indissoluacutevel de todos os aspectos de cada
fenocircmeno (com a particularidade de que a histoacuteria faz constantemente aparecer
novos aspectos) ligaccedilatildeo que mostra um processo uacutenico universal do
movimento regido por leis tais satildeo certos traccedilos da dialeacutetica dessa doutrina do
desenvolvimento mais rica de conteuacutedo do que a doutrina usual (Ver a carta de
Marx a Engels de 8 de Janeiro de 1868 onde ridiculariza as tricotomias
riacutegidas de Stein que seria absurdo confundir com a dialeacutetica materialista)
13
A Concepccedilatildeo Materialista da Histoacuteria
Dando-se conta do caraacuteter inconsequumlente incompleto e unilateral do velho
materialismo Marx foi levado agrave convicccedilatildeo de que era preciso pocircr a ciecircncia da
sociedade de acordo com a base materialista e reconstruir esta ciecircncia
apoiando-se nessa base(24) Se de uma forma geral o materialismo explica a
consciecircncia pelo ser e natildeo ao contraacuterio ele exige quando aplicado agrave vida social
da humanidade que se explique agrave consciecircncia social pelo ser social A
tecnologia diz Marx (O Capital l) revela a atitude ativa do homem para com a
natureza o processo imediato da produccedilatildeo da sua vida e por conseguinte das
suas condiccedilotildees sociais de vida e das representaccedilotildees espirituais que delas
derivam(25) Uma formulaccedilatildeo completa das teses fundamentais do
materialismo aplicado agrave sociedade humana e agrave sua histoacuteria eacute dada por Marx no
prefaacutecio agrave sua obra Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica nestes
termos
Na produccedilatildeo social da sua existecircncia os homens entram em relaccedilotildees
determinadas necessaacuterias independentes da sua vontade relaccedilotildees de produccedilatildeo
que correspondem a um dado grau de desenvolvimento das suas forccedilas
produtivas materiais
O conjunto dessas relaccedilotildees de produccedilatildeo constitui a estrutura econocircmica da
sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura juriacutedica e
poliacutetica e agrave qual correspondem formas de consciecircncia social determinadas O
modo de produccedilatildeo da vida material condiciona o processo da vida social
poliacutetica e intelectual em geral Natildeo eacute a consciecircncia dos homens que determina o
seu ser mas pelo contraacuterio eacute o seu ser social que determina a sua consciecircncia
Num certo estaacutedio do seu desenvolvimento as forccedilas produtivas materiais da
sociedade entram em contradiccedilatildeo com as relaccedilotildees de produccedilatildeo existentes ou o
que natildeo eacute senatildeo a expressatildeo juriacutedica disso com as relaccedilotildees de propriedade no
seio das quais elas se haviam movido ateacute entatildeo De formas de desenvolvimento
das forccedilas produtivas que eram essas relaccedilotildees tornam-se seus entraves Abre-se
entatildeo uma eacutepoca de revoluccedilatildeo social A transformaccedilatildeo na base econocircmica
revoluciona mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura
Quando se estudam tais revoluccedilotildees eacute preciso distinguir sempre entre as
transformaccedilotildees materiais ocorridas nas condiccedilotildees econocircmicas de produccedilatildeo -
que podem ser verificadas com o rigor proacuteprio das ciecircncias naturais - e as
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formas juriacutedicas poliacuteticas religiosas artiacutesticas ou filosoacuteficas em resumo as
formas ideoloacutegicas sob as quais os homens tomam consciecircncia desse conflito e
lutam por resolvecirc-lo
Assim como natildeo se pode julgar um indiviacuteduo pela ideacuteia que ele faz de si
proacuteprio tambeacutem se natildeo pode julgar uma tal eacutepoca de revoluccedilotildees pela
consciecircncia que ela tem de si mesma Pelo contraacuterio eacute preciso explicar esta
consciecircncia pelas contradiccedilotildees da vida material pelo conflito que existe entre as
forccedilas produtivas sociais e as relaccedilotildees de produccedilatildeo Em traccedilos largos os
modos de produccedilatildeo asiaacutetico antigo feudal e burguecircs moderno podem ser
designados como outras tantas eacutepocas de progresso na formaccedilatildeo econocircmica da
sociedade (Ver a foacutermula sucinta que Marx daacute na sua carta a Engels datada de
7 de Julho de 1866 A nossa teoria da organizaccedilatildeo do trabalho determinada
pelos meios de produccedilatildeo)
A descoberta da concepccedilatildeo materialista da histoacuteria ou mais exatamente a
aplicaccedilatildeo a extensatildeo consequumlente do materialismo ao domiacutenio dos fenocircmenos
sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da histoacuteria anteriores a
Marx Em primeiro lugar estas consideravam no melhor dos casos os moacutebiles
ideoloacutegicos da atividade histoacuterica dos homens sem investigar a origem desses
moacutebiles sem apreender as leis objetivas que presidem ao desenvolvimento do
sistema das relaccedilotildees sociais e sem descobrir as raiacutezes dessas relaccedilotildees no grau de
desenvolvimento da produccedilatildeo material Em segundo lugar as teorias anteriores
natildeo abarcavam precisamente a accedilatildeo das massas da populaccedilatildeo enquanto o
materialismo histoacuterico permite pela primeira vez estudar com a precisatildeo das
ciecircncias naturais as condiccedilotildees sociais da vida das massas e as modificaccedilotildees
dessas condiccedilotildees A sociologia e a historiografia anteriores a Marx no melhor
dos casos acumularam fatos em bruto fragmentariamente recolhidos e
expuseram alguns aspetos do processo histoacuterico O marxismo abriu caminho ao
estudo universal e completo do processo do nascimento desenvolvimento e
decliacutenio das formaccedilotildees econocircmico-sociais examinando o conjunto das
tendecircncias contraditoacuterias ligando-as agraves condiccedilotildees de existecircncia e de produccedilatildeo
exatamente determinaacuteveis das diversas classes da sociedade afastando o
subjetivismo e o arbiacutetrio na seleccedilatildeo das diversas ideacuteias dominantes ou na sua
interpretaccedilatildeo revelando as raiacutezes de todas as ideacuteias e todas as diferentes
tendecircncias sem exceccedilatildeo no estado das forccedilas produtivas materiais Os homens
satildeo os artiacutefices da sua proacutepria histoacuteria mas que causas determinam os moacutebiles
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dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
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histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
17
(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
18
(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
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mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
7
logo que penetra nas massas a teoria passa a ser tambeacutem ela uma forccedila material
(retornar ao texto)
(10) Doutrina de Proudhon corrente anticientiacutefica hostil ao marxismo do socialismo
pequeno-burguecircs Criticando a grande propriedade capitalista a partir de posiccedilotildees
pequeno-burguesas Proudhon sonhava com perpetuar a pequena propriedade privada
propunha que fossem organizados os bancos do povo e de troca que segundo ele
permitiriam aos operaacuterios obter meios de produccedilatildeo proacuteprios tornar-se artesotildees e
garantir a venda justa dos seus produtos Proudhon natildeo compreendia o papel
histoacuterico do proletariado negava a luta de classes a revoluccedilatildeo proletaacuteria e a ditadura
do proletariado Partindo de posiccedilotildees anarquistas negava tambeacutem a necessidade do
Estado (retornar ao texto)
(11) Liga dos Comunistas primeira organizaccedilatildeo internacional comunista do
proletariado criada sob a direccedilatildeo de Marx e Engels no iniacutecio de junho de 1847 em
Londres em consequumlecircncia da reorganizaccedilatildeo da Liga dos Justos associaccedilatildeo secreta
alematilde de operaacuterios e artesatildeos que seguiu na deacutecada de 1830 Os princiacutepios
programaacuteticos e de organizaccedilatildeo da Liga fora elaborados com a participaccedilatildeo direta de
Marx e Engels que redigiram tambeacutem o documento programaacutetico o Manifesto do
Partido Comunista publicado em fevereiro de 1848 A Liga dos Comunistas existiu ateacute
Novembro de 1852 e foi antecessora da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores (I
Internacional) Os dirigentes mais eminentes da Liga dos Comunistas desempenharam
mais tarde o papel dirigente na I Internacional (retornar ao texto)
(12) Trata-se da revoluccedilatildeo burguesa em Franccedila em fevereiro de 1848 (retornar ao
texto)
(13) Trata-se da revoluccedilatildeo burguesa na Alemanha e na Aacuteustria que se iniciou em marccedilo
de 1848 (retornar ao texto)
(14)A Nova Gazeta Renana (Neue Rheinische Zeitung) publicou-se em Coloacutenia entre 1
de junho de 1848 e 19 de maio de 1849 O jornal foidirigido por K Marx e F Engels
sendo Marx redator-chefe A Nova Gazeta Renana apesar de todas as perseguiccedilotildees e
obstaacuteculos por parte da poliacutecia defendia corajosamente os interesses da democracia
revolucionaacuteria os interesses do proletariado A expulsatildeo de Marx da Pruacutessia em marccedilo
de 1848 e as perseguiccedilotildees contra os outros redatores da Nova Gazeta Renana foram a
causa da cessaccedilatildeo da publicaccedilatildeo do jornal (retornar ao texto)
(15) Trata-se da manifestaccedilatildeo popular em paris organizada pelo partido da pequena
burguesia (Montanha) em sinal de protesto contra a infraccedilatildeo pelo presidente e pela
8
maioria da Assembleacuteia Legislativa da ordem constitucional estabelecida pela revoluccedilatildeo
de 9148 A manifestaccedilatildeo foi dispersa pelo governo (retornar ao texto)
(16) Leacutenine alude ao panfleto de K Marx Herr Vogt (O Senhor Vogt) escrito em
resposta agrave brochura caluniosa O Meu Processo contra o Allgemeine Zeitung do
agente bonapartista K Vogt (retornar ao texto)
(17) Trata-se do manifesto Constituinte da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores
(retornar ao texto)
(18) Bakuninismo corrente cuja denominaccedilatildeo deriva do nome de Nakuacutenine ideoacutelogo
do anarquismo inimigo do marxismo e do socialismo cientiacutefico Os bakininistas
travaram uma luta tenaz contra a teoria marxista e contra a taacutetica do movimento
operaacuterio A tese principal do bakuninismo eacute a negaccedilatildeo de todo o Estado incluindo a
ditadura do proletariado e a incompreensatildeo do papel histoacuterico universal do
proletariado Uma sociedade revolucionaacuteria secreta constituiacuteda por destacadas
personalidades devia na opiniatildeo dos bakuninistas dirigir revoltas populares A sua
taacutetica das conquistas e do terror era aventureira e hostil agrave doutrina marxista da
insurreiccedilatildeo (retornar ao texto)
A Doutrina Marxista
O marxismo eacute o sistema das ideacuteias e da doutrina de Marx Marx continuou e
desenvolveu plena e genialmente as trecircs principais correntes ideoloacutegicas do
seacuteculo XIX nos trecircs paiacuteses mais avanccedilados da humanidade a filosofia claacutessica
alematilde a economia poliacutetica claacutessica inglesa e o socialismo francecircs em ligaccedilatildeo
com as doutrinas revolucionaacuterias francesas em geral O caraacuteter notavelmente
coerente e integral das suas ideacuteias reconhecido pelos proacuteprios adversaacuterios - e
que no seu conjunto constituem o materialismo moderno e o socialismo
cientiacutefico moderno como teoria e programa do movimento operaacuterio de todos os
paiacuteses civilizados - obriga-nos a fazer preceder a exposiccedilatildeo do conteuacutedo
essencial do marxismo a doutrina econocircmica de Marx de um breve resumo da
sua concepccedilatildeo do mundo em geral
9
O Materialismo Filosoacutefico
Desde 1844-1845 eacutepoca em que se formaram as suas ideacuteias Marx foi
materialista foi em particular partidaacuterio de L Feuerbach cujo uacutenico lado fraco
foi para ele mesmo mais tarde a falta de coerecircncia e de universalidade do seu
materialismo Marx via a importacircncia histoacuterica mundial de Feuerbach que fez
eacutepoca precisamente na sua ruptura decisiva com o idealismo de Hegel e na sua
afirmaccedilatildeo do materialismo que jaacute desde o seacuteculo XVIII e nomeadamente em
Franccedila natildeo foi apenas uma luta contra as instituiccedilotildees poliacuteticas existentes assim
como contra a religiatildeo e a teologia existentes mas tambeacutem contra toda a
metafiacutesica (tomada no sentido de especulaccedilatildeo delirante por oposiccedilatildeo a uma
filosofia sensata) (A Sagrada Famiacutelia (19) no Literarischer Nachlass) Para
Hegel - escrevia Marx - o processo do pensamento que ele personifica mesmo
sob o nome de ideacuteia num sujeito independente eacute o demiurgo (o criador) da
realidade Para mim pelo contraacuterio o ideal natildeo eacute senatildeo o material transposto
e traduzido no ceacuterebro humano (O Capital I posfaacutecio da segunda ediccedilatildeo)
Perfeitamente de acordo com a filosofia materialista de Marx F Engels
expondo-a no Anti-Diacuteihring (ver) que Marx lera ainda em manuscrito escrevia
A unidade do mundo natildeo consiste no seu ser A unidade real do mundo
consiste na sua materialidade e esta uacuteltima estaacute provada por um longo e
laborioso desenvolvimento da filosofia e das ciecircncias naturais O movimento eacute
o modo de existecircncia da mateacuteria Nunca e em parte alguma houve nem poderaacute
haver mateacuteria sem movimento Mateacuteria sem movimento eacute impensaacutevel do
mesmo modo que movimento sem mateacuteria Mas se pergunta depois disso o
que satildeo o pensamento e a consciecircncia e donde provecircm conclui-se que satildeo
produtos do ceacuterebro humano e que o proacuteprio homem eacute um produto da natureza
o qual se desenvolveu no seu ambiente e com ele daiacute se compreende por si soacute
que os produtos do ceacuterebro humano que em uacuteltima anaacutelise satildeo igualmente
produtos da natureza natildeo estatildeo em contradiccedilatildeo mas sim em correspondecircncia
com a restante conexatildeo da natureza Hegel era idealista isto eacute para ele as
ideacuteias do seu ceacuterebro natildeo eram reflexos (Abbilder por vezes Engels fala de
reproduccedilotildees) mais ou menos abstratos dos objetos e dos fenocircmenos reais
mas pelo contraacuterio eram os objetos e o seu desenvolvimento que eram para ele
os reflexos da ideacuteia que jaacute existia natildeo se sabe onde antes da existecircncia do
mundo No seu Ludwig Feuerbach livro onde expotildee as suas ideacuteias e as de Marx
sobre a filosofia de Feuerbach e que soacute mandou imprimir depois de ter lido uma
vez mais o velho manuscrito de 1844-1845 escrito em colaboraccedilatildeo com Marx
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sobre Hegel Feuerbach e a concepccedilatildeo materialista da histoacuteria Engels escreve
A grande questatildeo fundamental de toda a filosofia especialmente da filosofia
moderna eacute a da relaccedilatildeo entre o pensamento e o ser entre o espiacuterito e a natureza
Que eacute primeiro o espiacuterito ou a natureza Conforme respondiam de uma
maneira ou de outra a esta questatildeo os filoacutesofos dividiam-se em dois grandes
campos Aqueles que afirmavam que o espiacuterito eacute primeiro em relaccedilatildeo agrave natureza
e que por conseguinte admitiam em uacuteltima instacircncia uma criaccedilatildeo do mundo
de qualquer espeacutecie constituiacuteam o campo do idealismo Os outros que
consideravam a natureza como o elemento primordial pertenciam agraves diversas
escolas do materialismo Qualquer outro emprego dos conceitos de idealismo e
de materialismo (no sentido filosoacutefico) natildeo faz mais do que criar a confusatildeo
Marx repudiou categoricamente natildeo apenas o idealismo sempre ligado de uma
maneira ou de outra agrave religiatildeo mas tambeacutem o ponto de vista particularmente
difundido nos nossos dias de Rume e de Kant o agnosticismo o criticismo o
positivismo(20) sob os seus diferentes aspectos considerando esse gecircnero de
filosofia como uma concessatildeo reacionaacuteria ao idealismo e no melhor dos
casos uma maneira envergonhada de aceitar o materialismo agraves escondidas
renegando-a publicamente A este respeito eacute bom consultar aleacutem das jaacute
citadas obras de Marx e Engels a carta de Marx a Engels datada de 12 de
Dezembro de 1866 em que falando de uma intervenccedilatildeo do ceacutelebre naturalista
T Huxley que se mostrou mais materialista do que habitualmente e
reconheceu que enquanto observamos e pensamos realmente nunca podemos
sair do materialismo Marx o critica por ter aberto uma porta ao agnosticismo
e agrave teoria de Rume Eacute importante sobretudo reter a opiniatildeo de Marx sobre as
relaccedilotildees entre a liberdade e a necessidade A necessidade soacute eacute cega enquanto
natildeo eacute compreendida A liberdade consiste em conhecer a necessidade (F
Engels Anti-Diacuteihring) E o reconhecimento das leis objetivas que regem a
natureza e da transformaccedilatildeo dialeacutetica da necessidade em liberdade (da mesma
maneira que a transformaccedilatildeo da coisa em si natildeo conhecida mas cognosciacutevel
em coisa para noacutes da essecircncia das coisas em fenocircmenos) O defeito
essencial do velho materialismo incluindo o de Feuerbach (e com mais forte
razatildeo o do materialismo vulgar de Buchner-Vogt-Moleschott) era para Marx
e Engels 1 - que este materialismo era essencialmente mecanicista e natildeo
tomava em conta os progressos mais recentes da quiacutemica e da biologia
(atualmente conviria acrescentar ainda a teoria eleacutetrica da mateacuteria) 2 - que o
velho materialismo natildeo tinha um caraacuteter histoacuterico nem dialeacutetico (sendo pelo
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contraacuterio metafiacutesico no sentido de antidialeacutetico) e natildeo aplicava a concepccedilatildeo do
desenvolvimento de forma consequumlente e sob todos os seus aspectos 3 - que
concebia a essecircncia humana como uma abstraccedilatildeo e natildeo como o conjunto de
todas as relaccedilotildees sociais (concretamente determinadas pela histoacuteria) natildeo
fazendo assim mais do que interpretar o mundo enquanto aquilo de que se
tratava era de o transformar ou por outras palavras natildeo compreendia a
importacircncia da atividade revolucionaacuteria praacutetica
A Dialeacutetica
Marx e Engels viam na dialeacutetica de Hegel a doutrina do desenvolvimento mais
vasta mais rica de conteuacutedo e mais profunda a maior aquisiccedilatildeo da filosofia
claacutessica alematilde Consideravam qualquer outro enunciado do princiacutepio do
desenvolvimento da evoluccedilatildeo unilateral pobre que mutilava e deturpava a
marcha real do desenvolvimento (marcha que muitas vezes se efetua atraveacutes de
saltos cataacutestrofes revoluccedilotildees) na natureza e na sociedade Marx e eu fomos
seguramente quase os uacutenicos que procuramos salvar (do descalabro do
idealismo incluindo o hegelianismo) a dialeacutetica consciente para a integrar na
concepccedilatildeo materialista da natureza A natureza eacute a comprovaccedilatildeo da dialeacutetica
e devemos dizer que as ciecircncias modernas da natureza nos forneceram materiais
extremamente numerosos (e isto foi escrito antes da descoberta do raacutedio dos
eletrotildees da transformaccedilatildeo dos elementos etc) cujo volume aumenta dia a dia
provando assim que em uacuteltima anaacutelise na natureza as coisas se passam
dialeticamente e natildeo metafisicamente (21)
A grande ideacuteia fundamental - escreve Engels - segundo a qual o mundo natildeo
deve ser considerado como um conjunto de coisas acabadas mas como um
conjunto de processos em que as coisas aparentemente estaacuteveis bem como os
seus reflexos mentais no nosso ceacuterebro os conceitos passam por uma seacuterie
ininterrupta de transformaccedilotildees por um processo de gecircnese e de deperecimento
esta grande ideacuteia fundamental penetrou desde Hegel tatildeo profundamente na
consciecircncia corrente que sob esta forma geral quase jaacute natildeo encontra
contraditores Mas reconhece-la em palavras e aplicaacute-la na realidade concreta
em cada domiacutenio submetido agrave investigaccedilatildeo satildeo duas coisas diferentes Nada
haacute de definitivo de absoluto de sagrado para a filosofia dialeacutetica Ela mostra a
caducidade de todas as coisas e para ela nada mais existe senatildeo o processo
ininterrupto do surgir e do perecer da ascensatildeo sem fim do inferior para o
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superior de que ela proacutepria natildeo eacute senatildeo o simples reflexo no ceacuterebro pensante
Portanto para Marx a dialeacutetica eacutea ciecircncia das leis gerais do movimento tanto
do mundo exterior como do pensamento humano (22)
Foi este aspecto revolucionaacuterio da filosofia de Hegel que Marx adotou e
desenvolveu O materialismo dialeacutetico natildeo necessita de nenhuma filosofia
colocada acima das outras ciecircncias A uacutenica coisa que resta da filosofia anterior
eacute a teoria do pensamento e das suas leis a loacutegica formal e a dialeacutetica(23) E a
dialeacutetica compreende na concepccedilatildeo de Marx como na de Hegel o que hoje se
chama agrave teoria do conhecimento ou gnosiologia ciecircncia que deve considerar o
seu objeto tambeacutem historicamente estudando e generalizando a origem e o
desenvolvimento do conhecimento a passagem do natildeo conhecimento ao
conhecimento
Atualmente a ideacuteia do desenvolvimento da evoluccedilatildeo penetrou quase
completamente na consciecircncia social mas por outra via que natildeo a da filosofia de
Hegel No entanto esta ideacuteia tal como a formularam Marx e Engels apoiando-
se em Hegel eacute muito mais vasta e rica de conteuacutedo do que a ideacuteia corrente da
evoluccedilatildeo Eacute um desenvolvimento que parece repetir etapas jaacute percorridas mas
sob outra forma numa base mais elevada (negaccedilatildeo da negaccedilatildeo) um
desenvolvimento por assim dizer em espiral e natildeo em linha reta um
desenvolvimento por saltos por cataacutestrofes por revoluccedilotildees soluccedilotildees de
continuidade transformaccedilotildees da quantidade em qualidade impulsos internos
do desenvolvimento provocados pela contradiccedilatildeo pelo choque de forccedilas e
tendecircncias distintas agindo sobre determinado corpo no quadro de um
determinado fenocircmeno ou no seio de uma determinada sociedade
interdependecircncia e ligaccedilatildeo estreita indissoluacutevel de todos os aspectos de cada
fenocircmeno (com a particularidade de que a histoacuteria faz constantemente aparecer
novos aspectos) ligaccedilatildeo que mostra um processo uacutenico universal do
movimento regido por leis tais satildeo certos traccedilos da dialeacutetica dessa doutrina do
desenvolvimento mais rica de conteuacutedo do que a doutrina usual (Ver a carta de
Marx a Engels de 8 de Janeiro de 1868 onde ridiculariza as tricotomias
riacutegidas de Stein que seria absurdo confundir com a dialeacutetica materialista)
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A Concepccedilatildeo Materialista da Histoacuteria
Dando-se conta do caraacuteter inconsequumlente incompleto e unilateral do velho
materialismo Marx foi levado agrave convicccedilatildeo de que era preciso pocircr a ciecircncia da
sociedade de acordo com a base materialista e reconstruir esta ciecircncia
apoiando-se nessa base(24) Se de uma forma geral o materialismo explica a
consciecircncia pelo ser e natildeo ao contraacuterio ele exige quando aplicado agrave vida social
da humanidade que se explique agrave consciecircncia social pelo ser social A
tecnologia diz Marx (O Capital l) revela a atitude ativa do homem para com a
natureza o processo imediato da produccedilatildeo da sua vida e por conseguinte das
suas condiccedilotildees sociais de vida e das representaccedilotildees espirituais que delas
derivam(25) Uma formulaccedilatildeo completa das teses fundamentais do
materialismo aplicado agrave sociedade humana e agrave sua histoacuteria eacute dada por Marx no
prefaacutecio agrave sua obra Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica nestes
termos
Na produccedilatildeo social da sua existecircncia os homens entram em relaccedilotildees
determinadas necessaacuterias independentes da sua vontade relaccedilotildees de produccedilatildeo
que correspondem a um dado grau de desenvolvimento das suas forccedilas
produtivas materiais
O conjunto dessas relaccedilotildees de produccedilatildeo constitui a estrutura econocircmica da
sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura juriacutedica e
poliacutetica e agrave qual correspondem formas de consciecircncia social determinadas O
modo de produccedilatildeo da vida material condiciona o processo da vida social
poliacutetica e intelectual em geral Natildeo eacute a consciecircncia dos homens que determina o
seu ser mas pelo contraacuterio eacute o seu ser social que determina a sua consciecircncia
Num certo estaacutedio do seu desenvolvimento as forccedilas produtivas materiais da
sociedade entram em contradiccedilatildeo com as relaccedilotildees de produccedilatildeo existentes ou o
que natildeo eacute senatildeo a expressatildeo juriacutedica disso com as relaccedilotildees de propriedade no
seio das quais elas se haviam movido ateacute entatildeo De formas de desenvolvimento
das forccedilas produtivas que eram essas relaccedilotildees tornam-se seus entraves Abre-se
entatildeo uma eacutepoca de revoluccedilatildeo social A transformaccedilatildeo na base econocircmica
revoluciona mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura
Quando se estudam tais revoluccedilotildees eacute preciso distinguir sempre entre as
transformaccedilotildees materiais ocorridas nas condiccedilotildees econocircmicas de produccedilatildeo -
que podem ser verificadas com o rigor proacuteprio das ciecircncias naturais - e as
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formas juriacutedicas poliacuteticas religiosas artiacutesticas ou filosoacuteficas em resumo as
formas ideoloacutegicas sob as quais os homens tomam consciecircncia desse conflito e
lutam por resolvecirc-lo
Assim como natildeo se pode julgar um indiviacuteduo pela ideacuteia que ele faz de si
proacuteprio tambeacutem se natildeo pode julgar uma tal eacutepoca de revoluccedilotildees pela
consciecircncia que ela tem de si mesma Pelo contraacuterio eacute preciso explicar esta
consciecircncia pelas contradiccedilotildees da vida material pelo conflito que existe entre as
forccedilas produtivas sociais e as relaccedilotildees de produccedilatildeo Em traccedilos largos os
modos de produccedilatildeo asiaacutetico antigo feudal e burguecircs moderno podem ser
designados como outras tantas eacutepocas de progresso na formaccedilatildeo econocircmica da
sociedade (Ver a foacutermula sucinta que Marx daacute na sua carta a Engels datada de
7 de Julho de 1866 A nossa teoria da organizaccedilatildeo do trabalho determinada
pelos meios de produccedilatildeo)
A descoberta da concepccedilatildeo materialista da histoacuteria ou mais exatamente a
aplicaccedilatildeo a extensatildeo consequumlente do materialismo ao domiacutenio dos fenocircmenos
sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da histoacuteria anteriores a
Marx Em primeiro lugar estas consideravam no melhor dos casos os moacutebiles
ideoloacutegicos da atividade histoacuterica dos homens sem investigar a origem desses
moacutebiles sem apreender as leis objetivas que presidem ao desenvolvimento do
sistema das relaccedilotildees sociais e sem descobrir as raiacutezes dessas relaccedilotildees no grau de
desenvolvimento da produccedilatildeo material Em segundo lugar as teorias anteriores
natildeo abarcavam precisamente a accedilatildeo das massas da populaccedilatildeo enquanto o
materialismo histoacuterico permite pela primeira vez estudar com a precisatildeo das
ciecircncias naturais as condiccedilotildees sociais da vida das massas e as modificaccedilotildees
dessas condiccedilotildees A sociologia e a historiografia anteriores a Marx no melhor
dos casos acumularam fatos em bruto fragmentariamente recolhidos e
expuseram alguns aspetos do processo histoacuterico O marxismo abriu caminho ao
estudo universal e completo do processo do nascimento desenvolvimento e
decliacutenio das formaccedilotildees econocircmico-sociais examinando o conjunto das
tendecircncias contraditoacuterias ligando-as agraves condiccedilotildees de existecircncia e de produccedilatildeo
exatamente determinaacuteveis das diversas classes da sociedade afastando o
subjetivismo e o arbiacutetrio na seleccedilatildeo das diversas ideacuteias dominantes ou na sua
interpretaccedilatildeo revelando as raiacutezes de todas as ideacuteias e todas as diferentes
tendecircncias sem exceccedilatildeo no estado das forccedilas produtivas materiais Os homens
satildeo os artiacutefices da sua proacutepria histoacuteria mas que causas determinam os moacutebiles
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dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
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histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
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(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
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(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
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mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
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circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
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partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
8
maioria da Assembleacuteia Legislativa da ordem constitucional estabelecida pela revoluccedilatildeo
de 9148 A manifestaccedilatildeo foi dispersa pelo governo (retornar ao texto)
(16) Leacutenine alude ao panfleto de K Marx Herr Vogt (O Senhor Vogt) escrito em
resposta agrave brochura caluniosa O Meu Processo contra o Allgemeine Zeitung do
agente bonapartista K Vogt (retornar ao texto)
(17) Trata-se do manifesto Constituinte da Associaccedilatildeo Internacional dos Trabalhadores
(retornar ao texto)
(18) Bakuninismo corrente cuja denominaccedilatildeo deriva do nome de Nakuacutenine ideoacutelogo
do anarquismo inimigo do marxismo e do socialismo cientiacutefico Os bakininistas
travaram uma luta tenaz contra a teoria marxista e contra a taacutetica do movimento
operaacuterio A tese principal do bakuninismo eacute a negaccedilatildeo de todo o Estado incluindo a
ditadura do proletariado e a incompreensatildeo do papel histoacuterico universal do
proletariado Uma sociedade revolucionaacuteria secreta constituiacuteda por destacadas
personalidades devia na opiniatildeo dos bakuninistas dirigir revoltas populares A sua
taacutetica das conquistas e do terror era aventureira e hostil agrave doutrina marxista da
insurreiccedilatildeo (retornar ao texto)
A Doutrina Marxista
O marxismo eacute o sistema das ideacuteias e da doutrina de Marx Marx continuou e
desenvolveu plena e genialmente as trecircs principais correntes ideoloacutegicas do
seacuteculo XIX nos trecircs paiacuteses mais avanccedilados da humanidade a filosofia claacutessica
alematilde a economia poliacutetica claacutessica inglesa e o socialismo francecircs em ligaccedilatildeo
com as doutrinas revolucionaacuterias francesas em geral O caraacuteter notavelmente
coerente e integral das suas ideacuteias reconhecido pelos proacuteprios adversaacuterios - e
que no seu conjunto constituem o materialismo moderno e o socialismo
cientiacutefico moderno como teoria e programa do movimento operaacuterio de todos os
paiacuteses civilizados - obriga-nos a fazer preceder a exposiccedilatildeo do conteuacutedo
essencial do marxismo a doutrina econocircmica de Marx de um breve resumo da
sua concepccedilatildeo do mundo em geral
9
O Materialismo Filosoacutefico
Desde 1844-1845 eacutepoca em que se formaram as suas ideacuteias Marx foi
materialista foi em particular partidaacuterio de L Feuerbach cujo uacutenico lado fraco
foi para ele mesmo mais tarde a falta de coerecircncia e de universalidade do seu
materialismo Marx via a importacircncia histoacuterica mundial de Feuerbach que fez
eacutepoca precisamente na sua ruptura decisiva com o idealismo de Hegel e na sua
afirmaccedilatildeo do materialismo que jaacute desde o seacuteculo XVIII e nomeadamente em
Franccedila natildeo foi apenas uma luta contra as instituiccedilotildees poliacuteticas existentes assim
como contra a religiatildeo e a teologia existentes mas tambeacutem contra toda a
metafiacutesica (tomada no sentido de especulaccedilatildeo delirante por oposiccedilatildeo a uma
filosofia sensata) (A Sagrada Famiacutelia (19) no Literarischer Nachlass) Para
Hegel - escrevia Marx - o processo do pensamento que ele personifica mesmo
sob o nome de ideacuteia num sujeito independente eacute o demiurgo (o criador) da
realidade Para mim pelo contraacuterio o ideal natildeo eacute senatildeo o material transposto
e traduzido no ceacuterebro humano (O Capital I posfaacutecio da segunda ediccedilatildeo)
Perfeitamente de acordo com a filosofia materialista de Marx F Engels
expondo-a no Anti-Diacuteihring (ver) que Marx lera ainda em manuscrito escrevia
A unidade do mundo natildeo consiste no seu ser A unidade real do mundo
consiste na sua materialidade e esta uacuteltima estaacute provada por um longo e
laborioso desenvolvimento da filosofia e das ciecircncias naturais O movimento eacute
o modo de existecircncia da mateacuteria Nunca e em parte alguma houve nem poderaacute
haver mateacuteria sem movimento Mateacuteria sem movimento eacute impensaacutevel do
mesmo modo que movimento sem mateacuteria Mas se pergunta depois disso o
que satildeo o pensamento e a consciecircncia e donde provecircm conclui-se que satildeo
produtos do ceacuterebro humano e que o proacuteprio homem eacute um produto da natureza
o qual se desenvolveu no seu ambiente e com ele daiacute se compreende por si soacute
que os produtos do ceacuterebro humano que em uacuteltima anaacutelise satildeo igualmente
produtos da natureza natildeo estatildeo em contradiccedilatildeo mas sim em correspondecircncia
com a restante conexatildeo da natureza Hegel era idealista isto eacute para ele as
ideacuteias do seu ceacuterebro natildeo eram reflexos (Abbilder por vezes Engels fala de
reproduccedilotildees) mais ou menos abstratos dos objetos e dos fenocircmenos reais
mas pelo contraacuterio eram os objetos e o seu desenvolvimento que eram para ele
os reflexos da ideacuteia que jaacute existia natildeo se sabe onde antes da existecircncia do
mundo No seu Ludwig Feuerbach livro onde expotildee as suas ideacuteias e as de Marx
sobre a filosofia de Feuerbach e que soacute mandou imprimir depois de ter lido uma
vez mais o velho manuscrito de 1844-1845 escrito em colaboraccedilatildeo com Marx
10
sobre Hegel Feuerbach e a concepccedilatildeo materialista da histoacuteria Engels escreve
A grande questatildeo fundamental de toda a filosofia especialmente da filosofia
moderna eacute a da relaccedilatildeo entre o pensamento e o ser entre o espiacuterito e a natureza
Que eacute primeiro o espiacuterito ou a natureza Conforme respondiam de uma
maneira ou de outra a esta questatildeo os filoacutesofos dividiam-se em dois grandes
campos Aqueles que afirmavam que o espiacuterito eacute primeiro em relaccedilatildeo agrave natureza
e que por conseguinte admitiam em uacuteltima instacircncia uma criaccedilatildeo do mundo
de qualquer espeacutecie constituiacuteam o campo do idealismo Os outros que
consideravam a natureza como o elemento primordial pertenciam agraves diversas
escolas do materialismo Qualquer outro emprego dos conceitos de idealismo e
de materialismo (no sentido filosoacutefico) natildeo faz mais do que criar a confusatildeo
Marx repudiou categoricamente natildeo apenas o idealismo sempre ligado de uma
maneira ou de outra agrave religiatildeo mas tambeacutem o ponto de vista particularmente
difundido nos nossos dias de Rume e de Kant o agnosticismo o criticismo o
positivismo(20) sob os seus diferentes aspectos considerando esse gecircnero de
filosofia como uma concessatildeo reacionaacuteria ao idealismo e no melhor dos
casos uma maneira envergonhada de aceitar o materialismo agraves escondidas
renegando-a publicamente A este respeito eacute bom consultar aleacutem das jaacute
citadas obras de Marx e Engels a carta de Marx a Engels datada de 12 de
Dezembro de 1866 em que falando de uma intervenccedilatildeo do ceacutelebre naturalista
T Huxley que se mostrou mais materialista do que habitualmente e
reconheceu que enquanto observamos e pensamos realmente nunca podemos
sair do materialismo Marx o critica por ter aberto uma porta ao agnosticismo
e agrave teoria de Rume Eacute importante sobretudo reter a opiniatildeo de Marx sobre as
relaccedilotildees entre a liberdade e a necessidade A necessidade soacute eacute cega enquanto
natildeo eacute compreendida A liberdade consiste em conhecer a necessidade (F
Engels Anti-Diacuteihring) E o reconhecimento das leis objetivas que regem a
natureza e da transformaccedilatildeo dialeacutetica da necessidade em liberdade (da mesma
maneira que a transformaccedilatildeo da coisa em si natildeo conhecida mas cognosciacutevel
em coisa para noacutes da essecircncia das coisas em fenocircmenos) O defeito
essencial do velho materialismo incluindo o de Feuerbach (e com mais forte
razatildeo o do materialismo vulgar de Buchner-Vogt-Moleschott) era para Marx
e Engels 1 - que este materialismo era essencialmente mecanicista e natildeo
tomava em conta os progressos mais recentes da quiacutemica e da biologia
(atualmente conviria acrescentar ainda a teoria eleacutetrica da mateacuteria) 2 - que o
velho materialismo natildeo tinha um caraacuteter histoacuterico nem dialeacutetico (sendo pelo
11
contraacuterio metafiacutesico no sentido de antidialeacutetico) e natildeo aplicava a concepccedilatildeo do
desenvolvimento de forma consequumlente e sob todos os seus aspectos 3 - que
concebia a essecircncia humana como uma abstraccedilatildeo e natildeo como o conjunto de
todas as relaccedilotildees sociais (concretamente determinadas pela histoacuteria) natildeo
fazendo assim mais do que interpretar o mundo enquanto aquilo de que se
tratava era de o transformar ou por outras palavras natildeo compreendia a
importacircncia da atividade revolucionaacuteria praacutetica
A Dialeacutetica
Marx e Engels viam na dialeacutetica de Hegel a doutrina do desenvolvimento mais
vasta mais rica de conteuacutedo e mais profunda a maior aquisiccedilatildeo da filosofia
claacutessica alematilde Consideravam qualquer outro enunciado do princiacutepio do
desenvolvimento da evoluccedilatildeo unilateral pobre que mutilava e deturpava a
marcha real do desenvolvimento (marcha que muitas vezes se efetua atraveacutes de
saltos cataacutestrofes revoluccedilotildees) na natureza e na sociedade Marx e eu fomos
seguramente quase os uacutenicos que procuramos salvar (do descalabro do
idealismo incluindo o hegelianismo) a dialeacutetica consciente para a integrar na
concepccedilatildeo materialista da natureza A natureza eacute a comprovaccedilatildeo da dialeacutetica
e devemos dizer que as ciecircncias modernas da natureza nos forneceram materiais
extremamente numerosos (e isto foi escrito antes da descoberta do raacutedio dos
eletrotildees da transformaccedilatildeo dos elementos etc) cujo volume aumenta dia a dia
provando assim que em uacuteltima anaacutelise na natureza as coisas se passam
dialeticamente e natildeo metafisicamente (21)
A grande ideacuteia fundamental - escreve Engels - segundo a qual o mundo natildeo
deve ser considerado como um conjunto de coisas acabadas mas como um
conjunto de processos em que as coisas aparentemente estaacuteveis bem como os
seus reflexos mentais no nosso ceacuterebro os conceitos passam por uma seacuterie
ininterrupta de transformaccedilotildees por um processo de gecircnese e de deperecimento
esta grande ideacuteia fundamental penetrou desde Hegel tatildeo profundamente na
consciecircncia corrente que sob esta forma geral quase jaacute natildeo encontra
contraditores Mas reconhece-la em palavras e aplicaacute-la na realidade concreta
em cada domiacutenio submetido agrave investigaccedilatildeo satildeo duas coisas diferentes Nada
haacute de definitivo de absoluto de sagrado para a filosofia dialeacutetica Ela mostra a
caducidade de todas as coisas e para ela nada mais existe senatildeo o processo
ininterrupto do surgir e do perecer da ascensatildeo sem fim do inferior para o
12
superior de que ela proacutepria natildeo eacute senatildeo o simples reflexo no ceacuterebro pensante
Portanto para Marx a dialeacutetica eacutea ciecircncia das leis gerais do movimento tanto
do mundo exterior como do pensamento humano (22)
Foi este aspecto revolucionaacuterio da filosofia de Hegel que Marx adotou e
desenvolveu O materialismo dialeacutetico natildeo necessita de nenhuma filosofia
colocada acima das outras ciecircncias A uacutenica coisa que resta da filosofia anterior
eacute a teoria do pensamento e das suas leis a loacutegica formal e a dialeacutetica(23) E a
dialeacutetica compreende na concepccedilatildeo de Marx como na de Hegel o que hoje se
chama agrave teoria do conhecimento ou gnosiologia ciecircncia que deve considerar o
seu objeto tambeacutem historicamente estudando e generalizando a origem e o
desenvolvimento do conhecimento a passagem do natildeo conhecimento ao
conhecimento
Atualmente a ideacuteia do desenvolvimento da evoluccedilatildeo penetrou quase
completamente na consciecircncia social mas por outra via que natildeo a da filosofia de
Hegel No entanto esta ideacuteia tal como a formularam Marx e Engels apoiando-
se em Hegel eacute muito mais vasta e rica de conteuacutedo do que a ideacuteia corrente da
evoluccedilatildeo Eacute um desenvolvimento que parece repetir etapas jaacute percorridas mas
sob outra forma numa base mais elevada (negaccedilatildeo da negaccedilatildeo) um
desenvolvimento por assim dizer em espiral e natildeo em linha reta um
desenvolvimento por saltos por cataacutestrofes por revoluccedilotildees soluccedilotildees de
continuidade transformaccedilotildees da quantidade em qualidade impulsos internos
do desenvolvimento provocados pela contradiccedilatildeo pelo choque de forccedilas e
tendecircncias distintas agindo sobre determinado corpo no quadro de um
determinado fenocircmeno ou no seio de uma determinada sociedade
interdependecircncia e ligaccedilatildeo estreita indissoluacutevel de todos os aspectos de cada
fenocircmeno (com a particularidade de que a histoacuteria faz constantemente aparecer
novos aspectos) ligaccedilatildeo que mostra um processo uacutenico universal do
movimento regido por leis tais satildeo certos traccedilos da dialeacutetica dessa doutrina do
desenvolvimento mais rica de conteuacutedo do que a doutrina usual (Ver a carta de
Marx a Engels de 8 de Janeiro de 1868 onde ridiculariza as tricotomias
riacutegidas de Stein que seria absurdo confundir com a dialeacutetica materialista)
13
A Concepccedilatildeo Materialista da Histoacuteria
Dando-se conta do caraacuteter inconsequumlente incompleto e unilateral do velho
materialismo Marx foi levado agrave convicccedilatildeo de que era preciso pocircr a ciecircncia da
sociedade de acordo com a base materialista e reconstruir esta ciecircncia
apoiando-se nessa base(24) Se de uma forma geral o materialismo explica a
consciecircncia pelo ser e natildeo ao contraacuterio ele exige quando aplicado agrave vida social
da humanidade que se explique agrave consciecircncia social pelo ser social A
tecnologia diz Marx (O Capital l) revela a atitude ativa do homem para com a
natureza o processo imediato da produccedilatildeo da sua vida e por conseguinte das
suas condiccedilotildees sociais de vida e das representaccedilotildees espirituais que delas
derivam(25) Uma formulaccedilatildeo completa das teses fundamentais do
materialismo aplicado agrave sociedade humana e agrave sua histoacuteria eacute dada por Marx no
prefaacutecio agrave sua obra Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica nestes
termos
Na produccedilatildeo social da sua existecircncia os homens entram em relaccedilotildees
determinadas necessaacuterias independentes da sua vontade relaccedilotildees de produccedilatildeo
que correspondem a um dado grau de desenvolvimento das suas forccedilas
produtivas materiais
O conjunto dessas relaccedilotildees de produccedilatildeo constitui a estrutura econocircmica da
sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura juriacutedica e
poliacutetica e agrave qual correspondem formas de consciecircncia social determinadas O
modo de produccedilatildeo da vida material condiciona o processo da vida social
poliacutetica e intelectual em geral Natildeo eacute a consciecircncia dos homens que determina o
seu ser mas pelo contraacuterio eacute o seu ser social que determina a sua consciecircncia
Num certo estaacutedio do seu desenvolvimento as forccedilas produtivas materiais da
sociedade entram em contradiccedilatildeo com as relaccedilotildees de produccedilatildeo existentes ou o
que natildeo eacute senatildeo a expressatildeo juriacutedica disso com as relaccedilotildees de propriedade no
seio das quais elas se haviam movido ateacute entatildeo De formas de desenvolvimento
das forccedilas produtivas que eram essas relaccedilotildees tornam-se seus entraves Abre-se
entatildeo uma eacutepoca de revoluccedilatildeo social A transformaccedilatildeo na base econocircmica
revoluciona mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura
Quando se estudam tais revoluccedilotildees eacute preciso distinguir sempre entre as
transformaccedilotildees materiais ocorridas nas condiccedilotildees econocircmicas de produccedilatildeo -
que podem ser verificadas com o rigor proacuteprio das ciecircncias naturais - e as
14
formas juriacutedicas poliacuteticas religiosas artiacutesticas ou filosoacuteficas em resumo as
formas ideoloacutegicas sob as quais os homens tomam consciecircncia desse conflito e
lutam por resolvecirc-lo
Assim como natildeo se pode julgar um indiviacuteduo pela ideacuteia que ele faz de si
proacuteprio tambeacutem se natildeo pode julgar uma tal eacutepoca de revoluccedilotildees pela
consciecircncia que ela tem de si mesma Pelo contraacuterio eacute preciso explicar esta
consciecircncia pelas contradiccedilotildees da vida material pelo conflito que existe entre as
forccedilas produtivas sociais e as relaccedilotildees de produccedilatildeo Em traccedilos largos os
modos de produccedilatildeo asiaacutetico antigo feudal e burguecircs moderno podem ser
designados como outras tantas eacutepocas de progresso na formaccedilatildeo econocircmica da
sociedade (Ver a foacutermula sucinta que Marx daacute na sua carta a Engels datada de
7 de Julho de 1866 A nossa teoria da organizaccedilatildeo do trabalho determinada
pelos meios de produccedilatildeo)
A descoberta da concepccedilatildeo materialista da histoacuteria ou mais exatamente a
aplicaccedilatildeo a extensatildeo consequumlente do materialismo ao domiacutenio dos fenocircmenos
sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da histoacuteria anteriores a
Marx Em primeiro lugar estas consideravam no melhor dos casos os moacutebiles
ideoloacutegicos da atividade histoacuterica dos homens sem investigar a origem desses
moacutebiles sem apreender as leis objetivas que presidem ao desenvolvimento do
sistema das relaccedilotildees sociais e sem descobrir as raiacutezes dessas relaccedilotildees no grau de
desenvolvimento da produccedilatildeo material Em segundo lugar as teorias anteriores
natildeo abarcavam precisamente a accedilatildeo das massas da populaccedilatildeo enquanto o
materialismo histoacuterico permite pela primeira vez estudar com a precisatildeo das
ciecircncias naturais as condiccedilotildees sociais da vida das massas e as modificaccedilotildees
dessas condiccedilotildees A sociologia e a historiografia anteriores a Marx no melhor
dos casos acumularam fatos em bruto fragmentariamente recolhidos e
expuseram alguns aspetos do processo histoacuterico O marxismo abriu caminho ao
estudo universal e completo do processo do nascimento desenvolvimento e
decliacutenio das formaccedilotildees econocircmico-sociais examinando o conjunto das
tendecircncias contraditoacuterias ligando-as agraves condiccedilotildees de existecircncia e de produccedilatildeo
exatamente determinaacuteveis das diversas classes da sociedade afastando o
subjetivismo e o arbiacutetrio na seleccedilatildeo das diversas ideacuteias dominantes ou na sua
interpretaccedilatildeo revelando as raiacutezes de todas as ideacuteias e todas as diferentes
tendecircncias sem exceccedilatildeo no estado das forccedilas produtivas materiais Os homens
satildeo os artiacutefices da sua proacutepria histoacuteria mas que causas determinam os moacutebiles
15
dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
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histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
17
(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
18
(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
19
mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
9
O Materialismo Filosoacutefico
Desde 1844-1845 eacutepoca em que se formaram as suas ideacuteias Marx foi
materialista foi em particular partidaacuterio de L Feuerbach cujo uacutenico lado fraco
foi para ele mesmo mais tarde a falta de coerecircncia e de universalidade do seu
materialismo Marx via a importacircncia histoacuterica mundial de Feuerbach que fez
eacutepoca precisamente na sua ruptura decisiva com o idealismo de Hegel e na sua
afirmaccedilatildeo do materialismo que jaacute desde o seacuteculo XVIII e nomeadamente em
Franccedila natildeo foi apenas uma luta contra as instituiccedilotildees poliacuteticas existentes assim
como contra a religiatildeo e a teologia existentes mas tambeacutem contra toda a
metafiacutesica (tomada no sentido de especulaccedilatildeo delirante por oposiccedilatildeo a uma
filosofia sensata) (A Sagrada Famiacutelia (19) no Literarischer Nachlass) Para
Hegel - escrevia Marx - o processo do pensamento que ele personifica mesmo
sob o nome de ideacuteia num sujeito independente eacute o demiurgo (o criador) da
realidade Para mim pelo contraacuterio o ideal natildeo eacute senatildeo o material transposto
e traduzido no ceacuterebro humano (O Capital I posfaacutecio da segunda ediccedilatildeo)
Perfeitamente de acordo com a filosofia materialista de Marx F Engels
expondo-a no Anti-Diacuteihring (ver) que Marx lera ainda em manuscrito escrevia
A unidade do mundo natildeo consiste no seu ser A unidade real do mundo
consiste na sua materialidade e esta uacuteltima estaacute provada por um longo e
laborioso desenvolvimento da filosofia e das ciecircncias naturais O movimento eacute
o modo de existecircncia da mateacuteria Nunca e em parte alguma houve nem poderaacute
haver mateacuteria sem movimento Mateacuteria sem movimento eacute impensaacutevel do
mesmo modo que movimento sem mateacuteria Mas se pergunta depois disso o
que satildeo o pensamento e a consciecircncia e donde provecircm conclui-se que satildeo
produtos do ceacuterebro humano e que o proacuteprio homem eacute um produto da natureza
o qual se desenvolveu no seu ambiente e com ele daiacute se compreende por si soacute
que os produtos do ceacuterebro humano que em uacuteltima anaacutelise satildeo igualmente
produtos da natureza natildeo estatildeo em contradiccedilatildeo mas sim em correspondecircncia
com a restante conexatildeo da natureza Hegel era idealista isto eacute para ele as
ideacuteias do seu ceacuterebro natildeo eram reflexos (Abbilder por vezes Engels fala de
reproduccedilotildees) mais ou menos abstratos dos objetos e dos fenocircmenos reais
mas pelo contraacuterio eram os objetos e o seu desenvolvimento que eram para ele
os reflexos da ideacuteia que jaacute existia natildeo se sabe onde antes da existecircncia do
mundo No seu Ludwig Feuerbach livro onde expotildee as suas ideacuteias e as de Marx
sobre a filosofia de Feuerbach e que soacute mandou imprimir depois de ter lido uma
vez mais o velho manuscrito de 1844-1845 escrito em colaboraccedilatildeo com Marx
10
sobre Hegel Feuerbach e a concepccedilatildeo materialista da histoacuteria Engels escreve
A grande questatildeo fundamental de toda a filosofia especialmente da filosofia
moderna eacute a da relaccedilatildeo entre o pensamento e o ser entre o espiacuterito e a natureza
Que eacute primeiro o espiacuterito ou a natureza Conforme respondiam de uma
maneira ou de outra a esta questatildeo os filoacutesofos dividiam-se em dois grandes
campos Aqueles que afirmavam que o espiacuterito eacute primeiro em relaccedilatildeo agrave natureza
e que por conseguinte admitiam em uacuteltima instacircncia uma criaccedilatildeo do mundo
de qualquer espeacutecie constituiacuteam o campo do idealismo Os outros que
consideravam a natureza como o elemento primordial pertenciam agraves diversas
escolas do materialismo Qualquer outro emprego dos conceitos de idealismo e
de materialismo (no sentido filosoacutefico) natildeo faz mais do que criar a confusatildeo
Marx repudiou categoricamente natildeo apenas o idealismo sempre ligado de uma
maneira ou de outra agrave religiatildeo mas tambeacutem o ponto de vista particularmente
difundido nos nossos dias de Rume e de Kant o agnosticismo o criticismo o
positivismo(20) sob os seus diferentes aspectos considerando esse gecircnero de
filosofia como uma concessatildeo reacionaacuteria ao idealismo e no melhor dos
casos uma maneira envergonhada de aceitar o materialismo agraves escondidas
renegando-a publicamente A este respeito eacute bom consultar aleacutem das jaacute
citadas obras de Marx e Engels a carta de Marx a Engels datada de 12 de
Dezembro de 1866 em que falando de uma intervenccedilatildeo do ceacutelebre naturalista
T Huxley que se mostrou mais materialista do que habitualmente e
reconheceu que enquanto observamos e pensamos realmente nunca podemos
sair do materialismo Marx o critica por ter aberto uma porta ao agnosticismo
e agrave teoria de Rume Eacute importante sobretudo reter a opiniatildeo de Marx sobre as
relaccedilotildees entre a liberdade e a necessidade A necessidade soacute eacute cega enquanto
natildeo eacute compreendida A liberdade consiste em conhecer a necessidade (F
Engels Anti-Diacuteihring) E o reconhecimento das leis objetivas que regem a
natureza e da transformaccedilatildeo dialeacutetica da necessidade em liberdade (da mesma
maneira que a transformaccedilatildeo da coisa em si natildeo conhecida mas cognosciacutevel
em coisa para noacutes da essecircncia das coisas em fenocircmenos) O defeito
essencial do velho materialismo incluindo o de Feuerbach (e com mais forte
razatildeo o do materialismo vulgar de Buchner-Vogt-Moleschott) era para Marx
e Engels 1 - que este materialismo era essencialmente mecanicista e natildeo
tomava em conta os progressos mais recentes da quiacutemica e da biologia
(atualmente conviria acrescentar ainda a teoria eleacutetrica da mateacuteria) 2 - que o
velho materialismo natildeo tinha um caraacuteter histoacuterico nem dialeacutetico (sendo pelo
11
contraacuterio metafiacutesico no sentido de antidialeacutetico) e natildeo aplicava a concepccedilatildeo do
desenvolvimento de forma consequumlente e sob todos os seus aspectos 3 - que
concebia a essecircncia humana como uma abstraccedilatildeo e natildeo como o conjunto de
todas as relaccedilotildees sociais (concretamente determinadas pela histoacuteria) natildeo
fazendo assim mais do que interpretar o mundo enquanto aquilo de que se
tratava era de o transformar ou por outras palavras natildeo compreendia a
importacircncia da atividade revolucionaacuteria praacutetica
A Dialeacutetica
Marx e Engels viam na dialeacutetica de Hegel a doutrina do desenvolvimento mais
vasta mais rica de conteuacutedo e mais profunda a maior aquisiccedilatildeo da filosofia
claacutessica alematilde Consideravam qualquer outro enunciado do princiacutepio do
desenvolvimento da evoluccedilatildeo unilateral pobre que mutilava e deturpava a
marcha real do desenvolvimento (marcha que muitas vezes se efetua atraveacutes de
saltos cataacutestrofes revoluccedilotildees) na natureza e na sociedade Marx e eu fomos
seguramente quase os uacutenicos que procuramos salvar (do descalabro do
idealismo incluindo o hegelianismo) a dialeacutetica consciente para a integrar na
concepccedilatildeo materialista da natureza A natureza eacute a comprovaccedilatildeo da dialeacutetica
e devemos dizer que as ciecircncias modernas da natureza nos forneceram materiais
extremamente numerosos (e isto foi escrito antes da descoberta do raacutedio dos
eletrotildees da transformaccedilatildeo dos elementos etc) cujo volume aumenta dia a dia
provando assim que em uacuteltima anaacutelise na natureza as coisas se passam
dialeticamente e natildeo metafisicamente (21)
A grande ideacuteia fundamental - escreve Engels - segundo a qual o mundo natildeo
deve ser considerado como um conjunto de coisas acabadas mas como um
conjunto de processos em que as coisas aparentemente estaacuteveis bem como os
seus reflexos mentais no nosso ceacuterebro os conceitos passam por uma seacuterie
ininterrupta de transformaccedilotildees por um processo de gecircnese e de deperecimento
esta grande ideacuteia fundamental penetrou desde Hegel tatildeo profundamente na
consciecircncia corrente que sob esta forma geral quase jaacute natildeo encontra
contraditores Mas reconhece-la em palavras e aplicaacute-la na realidade concreta
em cada domiacutenio submetido agrave investigaccedilatildeo satildeo duas coisas diferentes Nada
haacute de definitivo de absoluto de sagrado para a filosofia dialeacutetica Ela mostra a
caducidade de todas as coisas e para ela nada mais existe senatildeo o processo
ininterrupto do surgir e do perecer da ascensatildeo sem fim do inferior para o
12
superior de que ela proacutepria natildeo eacute senatildeo o simples reflexo no ceacuterebro pensante
Portanto para Marx a dialeacutetica eacutea ciecircncia das leis gerais do movimento tanto
do mundo exterior como do pensamento humano (22)
Foi este aspecto revolucionaacuterio da filosofia de Hegel que Marx adotou e
desenvolveu O materialismo dialeacutetico natildeo necessita de nenhuma filosofia
colocada acima das outras ciecircncias A uacutenica coisa que resta da filosofia anterior
eacute a teoria do pensamento e das suas leis a loacutegica formal e a dialeacutetica(23) E a
dialeacutetica compreende na concepccedilatildeo de Marx como na de Hegel o que hoje se
chama agrave teoria do conhecimento ou gnosiologia ciecircncia que deve considerar o
seu objeto tambeacutem historicamente estudando e generalizando a origem e o
desenvolvimento do conhecimento a passagem do natildeo conhecimento ao
conhecimento
Atualmente a ideacuteia do desenvolvimento da evoluccedilatildeo penetrou quase
completamente na consciecircncia social mas por outra via que natildeo a da filosofia de
Hegel No entanto esta ideacuteia tal como a formularam Marx e Engels apoiando-
se em Hegel eacute muito mais vasta e rica de conteuacutedo do que a ideacuteia corrente da
evoluccedilatildeo Eacute um desenvolvimento que parece repetir etapas jaacute percorridas mas
sob outra forma numa base mais elevada (negaccedilatildeo da negaccedilatildeo) um
desenvolvimento por assim dizer em espiral e natildeo em linha reta um
desenvolvimento por saltos por cataacutestrofes por revoluccedilotildees soluccedilotildees de
continuidade transformaccedilotildees da quantidade em qualidade impulsos internos
do desenvolvimento provocados pela contradiccedilatildeo pelo choque de forccedilas e
tendecircncias distintas agindo sobre determinado corpo no quadro de um
determinado fenocircmeno ou no seio de uma determinada sociedade
interdependecircncia e ligaccedilatildeo estreita indissoluacutevel de todos os aspectos de cada
fenocircmeno (com a particularidade de que a histoacuteria faz constantemente aparecer
novos aspectos) ligaccedilatildeo que mostra um processo uacutenico universal do
movimento regido por leis tais satildeo certos traccedilos da dialeacutetica dessa doutrina do
desenvolvimento mais rica de conteuacutedo do que a doutrina usual (Ver a carta de
Marx a Engels de 8 de Janeiro de 1868 onde ridiculariza as tricotomias
riacutegidas de Stein que seria absurdo confundir com a dialeacutetica materialista)
13
A Concepccedilatildeo Materialista da Histoacuteria
Dando-se conta do caraacuteter inconsequumlente incompleto e unilateral do velho
materialismo Marx foi levado agrave convicccedilatildeo de que era preciso pocircr a ciecircncia da
sociedade de acordo com a base materialista e reconstruir esta ciecircncia
apoiando-se nessa base(24) Se de uma forma geral o materialismo explica a
consciecircncia pelo ser e natildeo ao contraacuterio ele exige quando aplicado agrave vida social
da humanidade que se explique agrave consciecircncia social pelo ser social A
tecnologia diz Marx (O Capital l) revela a atitude ativa do homem para com a
natureza o processo imediato da produccedilatildeo da sua vida e por conseguinte das
suas condiccedilotildees sociais de vida e das representaccedilotildees espirituais que delas
derivam(25) Uma formulaccedilatildeo completa das teses fundamentais do
materialismo aplicado agrave sociedade humana e agrave sua histoacuteria eacute dada por Marx no
prefaacutecio agrave sua obra Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica nestes
termos
Na produccedilatildeo social da sua existecircncia os homens entram em relaccedilotildees
determinadas necessaacuterias independentes da sua vontade relaccedilotildees de produccedilatildeo
que correspondem a um dado grau de desenvolvimento das suas forccedilas
produtivas materiais
O conjunto dessas relaccedilotildees de produccedilatildeo constitui a estrutura econocircmica da
sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura juriacutedica e
poliacutetica e agrave qual correspondem formas de consciecircncia social determinadas O
modo de produccedilatildeo da vida material condiciona o processo da vida social
poliacutetica e intelectual em geral Natildeo eacute a consciecircncia dos homens que determina o
seu ser mas pelo contraacuterio eacute o seu ser social que determina a sua consciecircncia
Num certo estaacutedio do seu desenvolvimento as forccedilas produtivas materiais da
sociedade entram em contradiccedilatildeo com as relaccedilotildees de produccedilatildeo existentes ou o
que natildeo eacute senatildeo a expressatildeo juriacutedica disso com as relaccedilotildees de propriedade no
seio das quais elas se haviam movido ateacute entatildeo De formas de desenvolvimento
das forccedilas produtivas que eram essas relaccedilotildees tornam-se seus entraves Abre-se
entatildeo uma eacutepoca de revoluccedilatildeo social A transformaccedilatildeo na base econocircmica
revoluciona mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura
Quando se estudam tais revoluccedilotildees eacute preciso distinguir sempre entre as
transformaccedilotildees materiais ocorridas nas condiccedilotildees econocircmicas de produccedilatildeo -
que podem ser verificadas com o rigor proacuteprio das ciecircncias naturais - e as
14
formas juriacutedicas poliacuteticas religiosas artiacutesticas ou filosoacuteficas em resumo as
formas ideoloacutegicas sob as quais os homens tomam consciecircncia desse conflito e
lutam por resolvecirc-lo
Assim como natildeo se pode julgar um indiviacuteduo pela ideacuteia que ele faz de si
proacuteprio tambeacutem se natildeo pode julgar uma tal eacutepoca de revoluccedilotildees pela
consciecircncia que ela tem de si mesma Pelo contraacuterio eacute preciso explicar esta
consciecircncia pelas contradiccedilotildees da vida material pelo conflito que existe entre as
forccedilas produtivas sociais e as relaccedilotildees de produccedilatildeo Em traccedilos largos os
modos de produccedilatildeo asiaacutetico antigo feudal e burguecircs moderno podem ser
designados como outras tantas eacutepocas de progresso na formaccedilatildeo econocircmica da
sociedade (Ver a foacutermula sucinta que Marx daacute na sua carta a Engels datada de
7 de Julho de 1866 A nossa teoria da organizaccedilatildeo do trabalho determinada
pelos meios de produccedilatildeo)
A descoberta da concepccedilatildeo materialista da histoacuteria ou mais exatamente a
aplicaccedilatildeo a extensatildeo consequumlente do materialismo ao domiacutenio dos fenocircmenos
sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da histoacuteria anteriores a
Marx Em primeiro lugar estas consideravam no melhor dos casos os moacutebiles
ideoloacutegicos da atividade histoacuterica dos homens sem investigar a origem desses
moacutebiles sem apreender as leis objetivas que presidem ao desenvolvimento do
sistema das relaccedilotildees sociais e sem descobrir as raiacutezes dessas relaccedilotildees no grau de
desenvolvimento da produccedilatildeo material Em segundo lugar as teorias anteriores
natildeo abarcavam precisamente a accedilatildeo das massas da populaccedilatildeo enquanto o
materialismo histoacuterico permite pela primeira vez estudar com a precisatildeo das
ciecircncias naturais as condiccedilotildees sociais da vida das massas e as modificaccedilotildees
dessas condiccedilotildees A sociologia e a historiografia anteriores a Marx no melhor
dos casos acumularam fatos em bruto fragmentariamente recolhidos e
expuseram alguns aspetos do processo histoacuterico O marxismo abriu caminho ao
estudo universal e completo do processo do nascimento desenvolvimento e
decliacutenio das formaccedilotildees econocircmico-sociais examinando o conjunto das
tendecircncias contraditoacuterias ligando-as agraves condiccedilotildees de existecircncia e de produccedilatildeo
exatamente determinaacuteveis das diversas classes da sociedade afastando o
subjetivismo e o arbiacutetrio na seleccedilatildeo das diversas ideacuteias dominantes ou na sua
interpretaccedilatildeo revelando as raiacutezes de todas as ideacuteias e todas as diferentes
tendecircncias sem exceccedilatildeo no estado das forccedilas produtivas materiais Os homens
satildeo os artiacutefices da sua proacutepria histoacuteria mas que causas determinam os moacutebiles
15
dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
16
histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
17
(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
18
(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
19
mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
10
sobre Hegel Feuerbach e a concepccedilatildeo materialista da histoacuteria Engels escreve
A grande questatildeo fundamental de toda a filosofia especialmente da filosofia
moderna eacute a da relaccedilatildeo entre o pensamento e o ser entre o espiacuterito e a natureza
Que eacute primeiro o espiacuterito ou a natureza Conforme respondiam de uma
maneira ou de outra a esta questatildeo os filoacutesofos dividiam-se em dois grandes
campos Aqueles que afirmavam que o espiacuterito eacute primeiro em relaccedilatildeo agrave natureza
e que por conseguinte admitiam em uacuteltima instacircncia uma criaccedilatildeo do mundo
de qualquer espeacutecie constituiacuteam o campo do idealismo Os outros que
consideravam a natureza como o elemento primordial pertenciam agraves diversas
escolas do materialismo Qualquer outro emprego dos conceitos de idealismo e
de materialismo (no sentido filosoacutefico) natildeo faz mais do que criar a confusatildeo
Marx repudiou categoricamente natildeo apenas o idealismo sempre ligado de uma
maneira ou de outra agrave religiatildeo mas tambeacutem o ponto de vista particularmente
difundido nos nossos dias de Rume e de Kant o agnosticismo o criticismo o
positivismo(20) sob os seus diferentes aspectos considerando esse gecircnero de
filosofia como uma concessatildeo reacionaacuteria ao idealismo e no melhor dos
casos uma maneira envergonhada de aceitar o materialismo agraves escondidas
renegando-a publicamente A este respeito eacute bom consultar aleacutem das jaacute
citadas obras de Marx e Engels a carta de Marx a Engels datada de 12 de
Dezembro de 1866 em que falando de uma intervenccedilatildeo do ceacutelebre naturalista
T Huxley que se mostrou mais materialista do que habitualmente e
reconheceu que enquanto observamos e pensamos realmente nunca podemos
sair do materialismo Marx o critica por ter aberto uma porta ao agnosticismo
e agrave teoria de Rume Eacute importante sobretudo reter a opiniatildeo de Marx sobre as
relaccedilotildees entre a liberdade e a necessidade A necessidade soacute eacute cega enquanto
natildeo eacute compreendida A liberdade consiste em conhecer a necessidade (F
Engels Anti-Diacuteihring) E o reconhecimento das leis objetivas que regem a
natureza e da transformaccedilatildeo dialeacutetica da necessidade em liberdade (da mesma
maneira que a transformaccedilatildeo da coisa em si natildeo conhecida mas cognosciacutevel
em coisa para noacutes da essecircncia das coisas em fenocircmenos) O defeito
essencial do velho materialismo incluindo o de Feuerbach (e com mais forte
razatildeo o do materialismo vulgar de Buchner-Vogt-Moleschott) era para Marx
e Engels 1 - que este materialismo era essencialmente mecanicista e natildeo
tomava em conta os progressos mais recentes da quiacutemica e da biologia
(atualmente conviria acrescentar ainda a teoria eleacutetrica da mateacuteria) 2 - que o
velho materialismo natildeo tinha um caraacuteter histoacuterico nem dialeacutetico (sendo pelo
11
contraacuterio metafiacutesico no sentido de antidialeacutetico) e natildeo aplicava a concepccedilatildeo do
desenvolvimento de forma consequumlente e sob todos os seus aspectos 3 - que
concebia a essecircncia humana como uma abstraccedilatildeo e natildeo como o conjunto de
todas as relaccedilotildees sociais (concretamente determinadas pela histoacuteria) natildeo
fazendo assim mais do que interpretar o mundo enquanto aquilo de que se
tratava era de o transformar ou por outras palavras natildeo compreendia a
importacircncia da atividade revolucionaacuteria praacutetica
A Dialeacutetica
Marx e Engels viam na dialeacutetica de Hegel a doutrina do desenvolvimento mais
vasta mais rica de conteuacutedo e mais profunda a maior aquisiccedilatildeo da filosofia
claacutessica alematilde Consideravam qualquer outro enunciado do princiacutepio do
desenvolvimento da evoluccedilatildeo unilateral pobre que mutilava e deturpava a
marcha real do desenvolvimento (marcha que muitas vezes se efetua atraveacutes de
saltos cataacutestrofes revoluccedilotildees) na natureza e na sociedade Marx e eu fomos
seguramente quase os uacutenicos que procuramos salvar (do descalabro do
idealismo incluindo o hegelianismo) a dialeacutetica consciente para a integrar na
concepccedilatildeo materialista da natureza A natureza eacute a comprovaccedilatildeo da dialeacutetica
e devemos dizer que as ciecircncias modernas da natureza nos forneceram materiais
extremamente numerosos (e isto foi escrito antes da descoberta do raacutedio dos
eletrotildees da transformaccedilatildeo dos elementos etc) cujo volume aumenta dia a dia
provando assim que em uacuteltima anaacutelise na natureza as coisas se passam
dialeticamente e natildeo metafisicamente (21)
A grande ideacuteia fundamental - escreve Engels - segundo a qual o mundo natildeo
deve ser considerado como um conjunto de coisas acabadas mas como um
conjunto de processos em que as coisas aparentemente estaacuteveis bem como os
seus reflexos mentais no nosso ceacuterebro os conceitos passam por uma seacuterie
ininterrupta de transformaccedilotildees por um processo de gecircnese e de deperecimento
esta grande ideacuteia fundamental penetrou desde Hegel tatildeo profundamente na
consciecircncia corrente que sob esta forma geral quase jaacute natildeo encontra
contraditores Mas reconhece-la em palavras e aplicaacute-la na realidade concreta
em cada domiacutenio submetido agrave investigaccedilatildeo satildeo duas coisas diferentes Nada
haacute de definitivo de absoluto de sagrado para a filosofia dialeacutetica Ela mostra a
caducidade de todas as coisas e para ela nada mais existe senatildeo o processo
ininterrupto do surgir e do perecer da ascensatildeo sem fim do inferior para o
12
superior de que ela proacutepria natildeo eacute senatildeo o simples reflexo no ceacuterebro pensante
Portanto para Marx a dialeacutetica eacutea ciecircncia das leis gerais do movimento tanto
do mundo exterior como do pensamento humano (22)
Foi este aspecto revolucionaacuterio da filosofia de Hegel que Marx adotou e
desenvolveu O materialismo dialeacutetico natildeo necessita de nenhuma filosofia
colocada acima das outras ciecircncias A uacutenica coisa que resta da filosofia anterior
eacute a teoria do pensamento e das suas leis a loacutegica formal e a dialeacutetica(23) E a
dialeacutetica compreende na concepccedilatildeo de Marx como na de Hegel o que hoje se
chama agrave teoria do conhecimento ou gnosiologia ciecircncia que deve considerar o
seu objeto tambeacutem historicamente estudando e generalizando a origem e o
desenvolvimento do conhecimento a passagem do natildeo conhecimento ao
conhecimento
Atualmente a ideacuteia do desenvolvimento da evoluccedilatildeo penetrou quase
completamente na consciecircncia social mas por outra via que natildeo a da filosofia de
Hegel No entanto esta ideacuteia tal como a formularam Marx e Engels apoiando-
se em Hegel eacute muito mais vasta e rica de conteuacutedo do que a ideacuteia corrente da
evoluccedilatildeo Eacute um desenvolvimento que parece repetir etapas jaacute percorridas mas
sob outra forma numa base mais elevada (negaccedilatildeo da negaccedilatildeo) um
desenvolvimento por assim dizer em espiral e natildeo em linha reta um
desenvolvimento por saltos por cataacutestrofes por revoluccedilotildees soluccedilotildees de
continuidade transformaccedilotildees da quantidade em qualidade impulsos internos
do desenvolvimento provocados pela contradiccedilatildeo pelo choque de forccedilas e
tendecircncias distintas agindo sobre determinado corpo no quadro de um
determinado fenocircmeno ou no seio de uma determinada sociedade
interdependecircncia e ligaccedilatildeo estreita indissoluacutevel de todos os aspectos de cada
fenocircmeno (com a particularidade de que a histoacuteria faz constantemente aparecer
novos aspectos) ligaccedilatildeo que mostra um processo uacutenico universal do
movimento regido por leis tais satildeo certos traccedilos da dialeacutetica dessa doutrina do
desenvolvimento mais rica de conteuacutedo do que a doutrina usual (Ver a carta de
Marx a Engels de 8 de Janeiro de 1868 onde ridiculariza as tricotomias
riacutegidas de Stein que seria absurdo confundir com a dialeacutetica materialista)
13
A Concepccedilatildeo Materialista da Histoacuteria
Dando-se conta do caraacuteter inconsequumlente incompleto e unilateral do velho
materialismo Marx foi levado agrave convicccedilatildeo de que era preciso pocircr a ciecircncia da
sociedade de acordo com a base materialista e reconstruir esta ciecircncia
apoiando-se nessa base(24) Se de uma forma geral o materialismo explica a
consciecircncia pelo ser e natildeo ao contraacuterio ele exige quando aplicado agrave vida social
da humanidade que se explique agrave consciecircncia social pelo ser social A
tecnologia diz Marx (O Capital l) revela a atitude ativa do homem para com a
natureza o processo imediato da produccedilatildeo da sua vida e por conseguinte das
suas condiccedilotildees sociais de vida e das representaccedilotildees espirituais que delas
derivam(25) Uma formulaccedilatildeo completa das teses fundamentais do
materialismo aplicado agrave sociedade humana e agrave sua histoacuteria eacute dada por Marx no
prefaacutecio agrave sua obra Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica nestes
termos
Na produccedilatildeo social da sua existecircncia os homens entram em relaccedilotildees
determinadas necessaacuterias independentes da sua vontade relaccedilotildees de produccedilatildeo
que correspondem a um dado grau de desenvolvimento das suas forccedilas
produtivas materiais
O conjunto dessas relaccedilotildees de produccedilatildeo constitui a estrutura econocircmica da
sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura juriacutedica e
poliacutetica e agrave qual correspondem formas de consciecircncia social determinadas O
modo de produccedilatildeo da vida material condiciona o processo da vida social
poliacutetica e intelectual em geral Natildeo eacute a consciecircncia dos homens que determina o
seu ser mas pelo contraacuterio eacute o seu ser social que determina a sua consciecircncia
Num certo estaacutedio do seu desenvolvimento as forccedilas produtivas materiais da
sociedade entram em contradiccedilatildeo com as relaccedilotildees de produccedilatildeo existentes ou o
que natildeo eacute senatildeo a expressatildeo juriacutedica disso com as relaccedilotildees de propriedade no
seio das quais elas se haviam movido ateacute entatildeo De formas de desenvolvimento
das forccedilas produtivas que eram essas relaccedilotildees tornam-se seus entraves Abre-se
entatildeo uma eacutepoca de revoluccedilatildeo social A transformaccedilatildeo na base econocircmica
revoluciona mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura
Quando se estudam tais revoluccedilotildees eacute preciso distinguir sempre entre as
transformaccedilotildees materiais ocorridas nas condiccedilotildees econocircmicas de produccedilatildeo -
que podem ser verificadas com o rigor proacuteprio das ciecircncias naturais - e as
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formas juriacutedicas poliacuteticas religiosas artiacutesticas ou filosoacuteficas em resumo as
formas ideoloacutegicas sob as quais os homens tomam consciecircncia desse conflito e
lutam por resolvecirc-lo
Assim como natildeo se pode julgar um indiviacuteduo pela ideacuteia que ele faz de si
proacuteprio tambeacutem se natildeo pode julgar uma tal eacutepoca de revoluccedilotildees pela
consciecircncia que ela tem de si mesma Pelo contraacuterio eacute preciso explicar esta
consciecircncia pelas contradiccedilotildees da vida material pelo conflito que existe entre as
forccedilas produtivas sociais e as relaccedilotildees de produccedilatildeo Em traccedilos largos os
modos de produccedilatildeo asiaacutetico antigo feudal e burguecircs moderno podem ser
designados como outras tantas eacutepocas de progresso na formaccedilatildeo econocircmica da
sociedade (Ver a foacutermula sucinta que Marx daacute na sua carta a Engels datada de
7 de Julho de 1866 A nossa teoria da organizaccedilatildeo do trabalho determinada
pelos meios de produccedilatildeo)
A descoberta da concepccedilatildeo materialista da histoacuteria ou mais exatamente a
aplicaccedilatildeo a extensatildeo consequumlente do materialismo ao domiacutenio dos fenocircmenos
sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da histoacuteria anteriores a
Marx Em primeiro lugar estas consideravam no melhor dos casos os moacutebiles
ideoloacutegicos da atividade histoacuterica dos homens sem investigar a origem desses
moacutebiles sem apreender as leis objetivas que presidem ao desenvolvimento do
sistema das relaccedilotildees sociais e sem descobrir as raiacutezes dessas relaccedilotildees no grau de
desenvolvimento da produccedilatildeo material Em segundo lugar as teorias anteriores
natildeo abarcavam precisamente a accedilatildeo das massas da populaccedilatildeo enquanto o
materialismo histoacuterico permite pela primeira vez estudar com a precisatildeo das
ciecircncias naturais as condiccedilotildees sociais da vida das massas e as modificaccedilotildees
dessas condiccedilotildees A sociologia e a historiografia anteriores a Marx no melhor
dos casos acumularam fatos em bruto fragmentariamente recolhidos e
expuseram alguns aspetos do processo histoacuterico O marxismo abriu caminho ao
estudo universal e completo do processo do nascimento desenvolvimento e
decliacutenio das formaccedilotildees econocircmico-sociais examinando o conjunto das
tendecircncias contraditoacuterias ligando-as agraves condiccedilotildees de existecircncia e de produccedilatildeo
exatamente determinaacuteveis das diversas classes da sociedade afastando o
subjetivismo e o arbiacutetrio na seleccedilatildeo das diversas ideacuteias dominantes ou na sua
interpretaccedilatildeo revelando as raiacutezes de todas as ideacuteias e todas as diferentes
tendecircncias sem exceccedilatildeo no estado das forccedilas produtivas materiais Os homens
satildeo os artiacutefices da sua proacutepria histoacuteria mas que causas determinam os moacutebiles
15
dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
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histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
17
(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
18
(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
19
mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
11
contraacuterio metafiacutesico no sentido de antidialeacutetico) e natildeo aplicava a concepccedilatildeo do
desenvolvimento de forma consequumlente e sob todos os seus aspectos 3 - que
concebia a essecircncia humana como uma abstraccedilatildeo e natildeo como o conjunto de
todas as relaccedilotildees sociais (concretamente determinadas pela histoacuteria) natildeo
fazendo assim mais do que interpretar o mundo enquanto aquilo de que se
tratava era de o transformar ou por outras palavras natildeo compreendia a
importacircncia da atividade revolucionaacuteria praacutetica
A Dialeacutetica
Marx e Engels viam na dialeacutetica de Hegel a doutrina do desenvolvimento mais
vasta mais rica de conteuacutedo e mais profunda a maior aquisiccedilatildeo da filosofia
claacutessica alematilde Consideravam qualquer outro enunciado do princiacutepio do
desenvolvimento da evoluccedilatildeo unilateral pobre que mutilava e deturpava a
marcha real do desenvolvimento (marcha que muitas vezes se efetua atraveacutes de
saltos cataacutestrofes revoluccedilotildees) na natureza e na sociedade Marx e eu fomos
seguramente quase os uacutenicos que procuramos salvar (do descalabro do
idealismo incluindo o hegelianismo) a dialeacutetica consciente para a integrar na
concepccedilatildeo materialista da natureza A natureza eacute a comprovaccedilatildeo da dialeacutetica
e devemos dizer que as ciecircncias modernas da natureza nos forneceram materiais
extremamente numerosos (e isto foi escrito antes da descoberta do raacutedio dos
eletrotildees da transformaccedilatildeo dos elementos etc) cujo volume aumenta dia a dia
provando assim que em uacuteltima anaacutelise na natureza as coisas se passam
dialeticamente e natildeo metafisicamente (21)
A grande ideacuteia fundamental - escreve Engels - segundo a qual o mundo natildeo
deve ser considerado como um conjunto de coisas acabadas mas como um
conjunto de processos em que as coisas aparentemente estaacuteveis bem como os
seus reflexos mentais no nosso ceacuterebro os conceitos passam por uma seacuterie
ininterrupta de transformaccedilotildees por um processo de gecircnese e de deperecimento
esta grande ideacuteia fundamental penetrou desde Hegel tatildeo profundamente na
consciecircncia corrente que sob esta forma geral quase jaacute natildeo encontra
contraditores Mas reconhece-la em palavras e aplicaacute-la na realidade concreta
em cada domiacutenio submetido agrave investigaccedilatildeo satildeo duas coisas diferentes Nada
haacute de definitivo de absoluto de sagrado para a filosofia dialeacutetica Ela mostra a
caducidade de todas as coisas e para ela nada mais existe senatildeo o processo
ininterrupto do surgir e do perecer da ascensatildeo sem fim do inferior para o
12
superior de que ela proacutepria natildeo eacute senatildeo o simples reflexo no ceacuterebro pensante
Portanto para Marx a dialeacutetica eacutea ciecircncia das leis gerais do movimento tanto
do mundo exterior como do pensamento humano (22)
Foi este aspecto revolucionaacuterio da filosofia de Hegel que Marx adotou e
desenvolveu O materialismo dialeacutetico natildeo necessita de nenhuma filosofia
colocada acima das outras ciecircncias A uacutenica coisa que resta da filosofia anterior
eacute a teoria do pensamento e das suas leis a loacutegica formal e a dialeacutetica(23) E a
dialeacutetica compreende na concepccedilatildeo de Marx como na de Hegel o que hoje se
chama agrave teoria do conhecimento ou gnosiologia ciecircncia que deve considerar o
seu objeto tambeacutem historicamente estudando e generalizando a origem e o
desenvolvimento do conhecimento a passagem do natildeo conhecimento ao
conhecimento
Atualmente a ideacuteia do desenvolvimento da evoluccedilatildeo penetrou quase
completamente na consciecircncia social mas por outra via que natildeo a da filosofia de
Hegel No entanto esta ideacuteia tal como a formularam Marx e Engels apoiando-
se em Hegel eacute muito mais vasta e rica de conteuacutedo do que a ideacuteia corrente da
evoluccedilatildeo Eacute um desenvolvimento que parece repetir etapas jaacute percorridas mas
sob outra forma numa base mais elevada (negaccedilatildeo da negaccedilatildeo) um
desenvolvimento por assim dizer em espiral e natildeo em linha reta um
desenvolvimento por saltos por cataacutestrofes por revoluccedilotildees soluccedilotildees de
continuidade transformaccedilotildees da quantidade em qualidade impulsos internos
do desenvolvimento provocados pela contradiccedilatildeo pelo choque de forccedilas e
tendecircncias distintas agindo sobre determinado corpo no quadro de um
determinado fenocircmeno ou no seio de uma determinada sociedade
interdependecircncia e ligaccedilatildeo estreita indissoluacutevel de todos os aspectos de cada
fenocircmeno (com a particularidade de que a histoacuteria faz constantemente aparecer
novos aspectos) ligaccedilatildeo que mostra um processo uacutenico universal do
movimento regido por leis tais satildeo certos traccedilos da dialeacutetica dessa doutrina do
desenvolvimento mais rica de conteuacutedo do que a doutrina usual (Ver a carta de
Marx a Engels de 8 de Janeiro de 1868 onde ridiculariza as tricotomias
riacutegidas de Stein que seria absurdo confundir com a dialeacutetica materialista)
13
A Concepccedilatildeo Materialista da Histoacuteria
Dando-se conta do caraacuteter inconsequumlente incompleto e unilateral do velho
materialismo Marx foi levado agrave convicccedilatildeo de que era preciso pocircr a ciecircncia da
sociedade de acordo com a base materialista e reconstruir esta ciecircncia
apoiando-se nessa base(24) Se de uma forma geral o materialismo explica a
consciecircncia pelo ser e natildeo ao contraacuterio ele exige quando aplicado agrave vida social
da humanidade que se explique agrave consciecircncia social pelo ser social A
tecnologia diz Marx (O Capital l) revela a atitude ativa do homem para com a
natureza o processo imediato da produccedilatildeo da sua vida e por conseguinte das
suas condiccedilotildees sociais de vida e das representaccedilotildees espirituais que delas
derivam(25) Uma formulaccedilatildeo completa das teses fundamentais do
materialismo aplicado agrave sociedade humana e agrave sua histoacuteria eacute dada por Marx no
prefaacutecio agrave sua obra Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica nestes
termos
Na produccedilatildeo social da sua existecircncia os homens entram em relaccedilotildees
determinadas necessaacuterias independentes da sua vontade relaccedilotildees de produccedilatildeo
que correspondem a um dado grau de desenvolvimento das suas forccedilas
produtivas materiais
O conjunto dessas relaccedilotildees de produccedilatildeo constitui a estrutura econocircmica da
sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura juriacutedica e
poliacutetica e agrave qual correspondem formas de consciecircncia social determinadas O
modo de produccedilatildeo da vida material condiciona o processo da vida social
poliacutetica e intelectual em geral Natildeo eacute a consciecircncia dos homens que determina o
seu ser mas pelo contraacuterio eacute o seu ser social que determina a sua consciecircncia
Num certo estaacutedio do seu desenvolvimento as forccedilas produtivas materiais da
sociedade entram em contradiccedilatildeo com as relaccedilotildees de produccedilatildeo existentes ou o
que natildeo eacute senatildeo a expressatildeo juriacutedica disso com as relaccedilotildees de propriedade no
seio das quais elas se haviam movido ateacute entatildeo De formas de desenvolvimento
das forccedilas produtivas que eram essas relaccedilotildees tornam-se seus entraves Abre-se
entatildeo uma eacutepoca de revoluccedilatildeo social A transformaccedilatildeo na base econocircmica
revoluciona mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura
Quando se estudam tais revoluccedilotildees eacute preciso distinguir sempre entre as
transformaccedilotildees materiais ocorridas nas condiccedilotildees econocircmicas de produccedilatildeo -
que podem ser verificadas com o rigor proacuteprio das ciecircncias naturais - e as
14
formas juriacutedicas poliacuteticas religiosas artiacutesticas ou filosoacuteficas em resumo as
formas ideoloacutegicas sob as quais os homens tomam consciecircncia desse conflito e
lutam por resolvecirc-lo
Assim como natildeo se pode julgar um indiviacuteduo pela ideacuteia que ele faz de si
proacuteprio tambeacutem se natildeo pode julgar uma tal eacutepoca de revoluccedilotildees pela
consciecircncia que ela tem de si mesma Pelo contraacuterio eacute preciso explicar esta
consciecircncia pelas contradiccedilotildees da vida material pelo conflito que existe entre as
forccedilas produtivas sociais e as relaccedilotildees de produccedilatildeo Em traccedilos largos os
modos de produccedilatildeo asiaacutetico antigo feudal e burguecircs moderno podem ser
designados como outras tantas eacutepocas de progresso na formaccedilatildeo econocircmica da
sociedade (Ver a foacutermula sucinta que Marx daacute na sua carta a Engels datada de
7 de Julho de 1866 A nossa teoria da organizaccedilatildeo do trabalho determinada
pelos meios de produccedilatildeo)
A descoberta da concepccedilatildeo materialista da histoacuteria ou mais exatamente a
aplicaccedilatildeo a extensatildeo consequumlente do materialismo ao domiacutenio dos fenocircmenos
sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da histoacuteria anteriores a
Marx Em primeiro lugar estas consideravam no melhor dos casos os moacutebiles
ideoloacutegicos da atividade histoacuterica dos homens sem investigar a origem desses
moacutebiles sem apreender as leis objetivas que presidem ao desenvolvimento do
sistema das relaccedilotildees sociais e sem descobrir as raiacutezes dessas relaccedilotildees no grau de
desenvolvimento da produccedilatildeo material Em segundo lugar as teorias anteriores
natildeo abarcavam precisamente a accedilatildeo das massas da populaccedilatildeo enquanto o
materialismo histoacuterico permite pela primeira vez estudar com a precisatildeo das
ciecircncias naturais as condiccedilotildees sociais da vida das massas e as modificaccedilotildees
dessas condiccedilotildees A sociologia e a historiografia anteriores a Marx no melhor
dos casos acumularam fatos em bruto fragmentariamente recolhidos e
expuseram alguns aspetos do processo histoacuterico O marxismo abriu caminho ao
estudo universal e completo do processo do nascimento desenvolvimento e
decliacutenio das formaccedilotildees econocircmico-sociais examinando o conjunto das
tendecircncias contraditoacuterias ligando-as agraves condiccedilotildees de existecircncia e de produccedilatildeo
exatamente determinaacuteveis das diversas classes da sociedade afastando o
subjetivismo e o arbiacutetrio na seleccedilatildeo das diversas ideacuteias dominantes ou na sua
interpretaccedilatildeo revelando as raiacutezes de todas as ideacuteias e todas as diferentes
tendecircncias sem exceccedilatildeo no estado das forccedilas produtivas materiais Os homens
satildeo os artiacutefices da sua proacutepria histoacuteria mas que causas determinam os moacutebiles
15
dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
16
histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
17
(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
18
(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
19
mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
12
superior de que ela proacutepria natildeo eacute senatildeo o simples reflexo no ceacuterebro pensante
Portanto para Marx a dialeacutetica eacutea ciecircncia das leis gerais do movimento tanto
do mundo exterior como do pensamento humano (22)
Foi este aspecto revolucionaacuterio da filosofia de Hegel que Marx adotou e
desenvolveu O materialismo dialeacutetico natildeo necessita de nenhuma filosofia
colocada acima das outras ciecircncias A uacutenica coisa que resta da filosofia anterior
eacute a teoria do pensamento e das suas leis a loacutegica formal e a dialeacutetica(23) E a
dialeacutetica compreende na concepccedilatildeo de Marx como na de Hegel o que hoje se
chama agrave teoria do conhecimento ou gnosiologia ciecircncia que deve considerar o
seu objeto tambeacutem historicamente estudando e generalizando a origem e o
desenvolvimento do conhecimento a passagem do natildeo conhecimento ao
conhecimento
Atualmente a ideacuteia do desenvolvimento da evoluccedilatildeo penetrou quase
completamente na consciecircncia social mas por outra via que natildeo a da filosofia de
Hegel No entanto esta ideacuteia tal como a formularam Marx e Engels apoiando-
se em Hegel eacute muito mais vasta e rica de conteuacutedo do que a ideacuteia corrente da
evoluccedilatildeo Eacute um desenvolvimento que parece repetir etapas jaacute percorridas mas
sob outra forma numa base mais elevada (negaccedilatildeo da negaccedilatildeo) um
desenvolvimento por assim dizer em espiral e natildeo em linha reta um
desenvolvimento por saltos por cataacutestrofes por revoluccedilotildees soluccedilotildees de
continuidade transformaccedilotildees da quantidade em qualidade impulsos internos
do desenvolvimento provocados pela contradiccedilatildeo pelo choque de forccedilas e
tendecircncias distintas agindo sobre determinado corpo no quadro de um
determinado fenocircmeno ou no seio de uma determinada sociedade
interdependecircncia e ligaccedilatildeo estreita indissoluacutevel de todos os aspectos de cada
fenocircmeno (com a particularidade de que a histoacuteria faz constantemente aparecer
novos aspectos) ligaccedilatildeo que mostra um processo uacutenico universal do
movimento regido por leis tais satildeo certos traccedilos da dialeacutetica dessa doutrina do
desenvolvimento mais rica de conteuacutedo do que a doutrina usual (Ver a carta de
Marx a Engels de 8 de Janeiro de 1868 onde ridiculariza as tricotomias
riacutegidas de Stein que seria absurdo confundir com a dialeacutetica materialista)
13
A Concepccedilatildeo Materialista da Histoacuteria
Dando-se conta do caraacuteter inconsequumlente incompleto e unilateral do velho
materialismo Marx foi levado agrave convicccedilatildeo de que era preciso pocircr a ciecircncia da
sociedade de acordo com a base materialista e reconstruir esta ciecircncia
apoiando-se nessa base(24) Se de uma forma geral o materialismo explica a
consciecircncia pelo ser e natildeo ao contraacuterio ele exige quando aplicado agrave vida social
da humanidade que se explique agrave consciecircncia social pelo ser social A
tecnologia diz Marx (O Capital l) revela a atitude ativa do homem para com a
natureza o processo imediato da produccedilatildeo da sua vida e por conseguinte das
suas condiccedilotildees sociais de vida e das representaccedilotildees espirituais que delas
derivam(25) Uma formulaccedilatildeo completa das teses fundamentais do
materialismo aplicado agrave sociedade humana e agrave sua histoacuteria eacute dada por Marx no
prefaacutecio agrave sua obra Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica nestes
termos
Na produccedilatildeo social da sua existecircncia os homens entram em relaccedilotildees
determinadas necessaacuterias independentes da sua vontade relaccedilotildees de produccedilatildeo
que correspondem a um dado grau de desenvolvimento das suas forccedilas
produtivas materiais
O conjunto dessas relaccedilotildees de produccedilatildeo constitui a estrutura econocircmica da
sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura juriacutedica e
poliacutetica e agrave qual correspondem formas de consciecircncia social determinadas O
modo de produccedilatildeo da vida material condiciona o processo da vida social
poliacutetica e intelectual em geral Natildeo eacute a consciecircncia dos homens que determina o
seu ser mas pelo contraacuterio eacute o seu ser social que determina a sua consciecircncia
Num certo estaacutedio do seu desenvolvimento as forccedilas produtivas materiais da
sociedade entram em contradiccedilatildeo com as relaccedilotildees de produccedilatildeo existentes ou o
que natildeo eacute senatildeo a expressatildeo juriacutedica disso com as relaccedilotildees de propriedade no
seio das quais elas se haviam movido ateacute entatildeo De formas de desenvolvimento
das forccedilas produtivas que eram essas relaccedilotildees tornam-se seus entraves Abre-se
entatildeo uma eacutepoca de revoluccedilatildeo social A transformaccedilatildeo na base econocircmica
revoluciona mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura
Quando se estudam tais revoluccedilotildees eacute preciso distinguir sempre entre as
transformaccedilotildees materiais ocorridas nas condiccedilotildees econocircmicas de produccedilatildeo -
que podem ser verificadas com o rigor proacuteprio das ciecircncias naturais - e as
14
formas juriacutedicas poliacuteticas religiosas artiacutesticas ou filosoacuteficas em resumo as
formas ideoloacutegicas sob as quais os homens tomam consciecircncia desse conflito e
lutam por resolvecirc-lo
Assim como natildeo se pode julgar um indiviacuteduo pela ideacuteia que ele faz de si
proacuteprio tambeacutem se natildeo pode julgar uma tal eacutepoca de revoluccedilotildees pela
consciecircncia que ela tem de si mesma Pelo contraacuterio eacute preciso explicar esta
consciecircncia pelas contradiccedilotildees da vida material pelo conflito que existe entre as
forccedilas produtivas sociais e as relaccedilotildees de produccedilatildeo Em traccedilos largos os
modos de produccedilatildeo asiaacutetico antigo feudal e burguecircs moderno podem ser
designados como outras tantas eacutepocas de progresso na formaccedilatildeo econocircmica da
sociedade (Ver a foacutermula sucinta que Marx daacute na sua carta a Engels datada de
7 de Julho de 1866 A nossa teoria da organizaccedilatildeo do trabalho determinada
pelos meios de produccedilatildeo)
A descoberta da concepccedilatildeo materialista da histoacuteria ou mais exatamente a
aplicaccedilatildeo a extensatildeo consequumlente do materialismo ao domiacutenio dos fenocircmenos
sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da histoacuteria anteriores a
Marx Em primeiro lugar estas consideravam no melhor dos casos os moacutebiles
ideoloacutegicos da atividade histoacuterica dos homens sem investigar a origem desses
moacutebiles sem apreender as leis objetivas que presidem ao desenvolvimento do
sistema das relaccedilotildees sociais e sem descobrir as raiacutezes dessas relaccedilotildees no grau de
desenvolvimento da produccedilatildeo material Em segundo lugar as teorias anteriores
natildeo abarcavam precisamente a accedilatildeo das massas da populaccedilatildeo enquanto o
materialismo histoacuterico permite pela primeira vez estudar com a precisatildeo das
ciecircncias naturais as condiccedilotildees sociais da vida das massas e as modificaccedilotildees
dessas condiccedilotildees A sociologia e a historiografia anteriores a Marx no melhor
dos casos acumularam fatos em bruto fragmentariamente recolhidos e
expuseram alguns aspetos do processo histoacuterico O marxismo abriu caminho ao
estudo universal e completo do processo do nascimento desenvolvimento e
decliacutenio das formaccedilotildees econocircmico-sociais examinando o conjunto das
tendecircncias contraditoacuterias ligando-as agraves condiccedilotildees de existecircncia e de produccedilatildeo
exatamente determinaacuteveis das diversas classes da sociedade afastando o
subjetivismo e o arbiacutetrio na seleccedilatildeo das diversas ideacuteias dominantes ou na sua
interpretaccedilatildeo revelando as raiacutezes de todas as ideacuteias e todas as diferentes
tendecircncias sem exceccedilatildeo no estado das forccedilas produtivas materiais Os homens
satildeo os artiacutefices da sua proacutepria histoacuteria mas que causas determinam os moacutebiles
15
dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
16
histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
17
(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
18
(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
19
mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
13
A Concepccedilatildeo Materialista da Histoacuteria
Dando-se conta do caraacuteter inconsequumlente incompleto e unilateral do velho
materialismo Marx foi levado agrave convicccedilatildeo de que era preciso pocircr a ciecircncia da
sociedade de acordo com a base materialista e reconstruir esta ciecircncia
apoiando-se nessa base(24) Se de uma forma geral o materialismo explica a
consciecircncia pelo ser e natildeo ao contraacuterio ele exige quando aplicado agrave vida social
da humanidade que se explique agrave consciecircncia social pelo ser social A
tecnologia diz Marx (O Capital l) revela a atitude ativa do homem para com a
natureza o processo imediato da produccedilatildeo da sua vida e por conseguinte das
suas condiccedilotildees sociais de vida e das representaccedilotildees espirituais que delas
derivam(25) Uma formulaccedilatildeo completa das teses fundamentais do
materialismo aplicado agrave sociedade humana e agrave sua histoacuteria eacute dada por Marx no
prefaacutecio agrave sua obra Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica nestes
termos
Na produccedilatildeo social da sua existecircncia os homens entram em relaccedilotildees
determinadas necessaacuterias independentes da sua vontade relaccedilotildees de produccedilatildeo
que correspondem a um dado grau de desenvolvimento das suas forccedilas
produtivas materiais
O conjunto dessas relaccedilotildees de produccedilatildeo constitui a estrutura econocircmica da
sociedade a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura juriacutedica e
poliacutetica e agrave qual correspondem formas de consciecircncia social determinadas O
modo de produccedilatildeo da vida material condiciona o processo da vida social
poliacutetica e intelectual em geral Natildeo eacute a consciecircncia dos homens que determina o
seu ser mas pelo contraacuterio eacute o seu ser social que determina a sua consciecircncia
Num certo estaacutedio do seu desenvolvimento as forccedilas produtivas materiais da
sociedade entram em contradiccedilatildeo com as relaccedilotildees de produccedilatildeo existentes ou o
que natildeo eacute senatildeo a expressatildeo juriacutedica disso com as relaccedilotildees de propriedade no
seio das quais elas se haviam movido ateacute entatildeo De formas de desenvolvimento
das forccedilas produtivas que eram essas relaccedilotildees tornam-se seus entraves Abre-se
entatildeo uma eacutepoca de revoluccedilatildeo social A transformaccedilatildeo na base econocircmica
revoluciona mais ou menos rapidamente toda a enorme superestrutura
Quando se estudam tais revoluccedilotildees eacute preciso distinguir sempre entre as
transformaccedilotildees materiais ocorridas nas condiccedilotildees econocircmicas de produccedilatildeo -
que podem ser verificadas com o rigor proacuteprio das ciecircncias naturais - e as
14
formas juriacutedicas poliacuteticas religiosas artiacutesticas ou filosoacuteficas em resumo as
formas ideoloacutegicas sob as quais os homens tomam consciecircncia desse conflito e
lutam por resolvecirc-lo
Assim como natildeo se pode julgar um indiviacuteduo pela ideacuteia que ele faz de si
proacuteprio tambeacutem se natildeo pode julgar uma tal eacutepoca de revoluccedilotildees pela
consciecircncia que ela tem de si mesma Pelo contraacuterio eacute preciso explicar esta
consciecircncia pelas contradiccedilotildees da vida material pelo conflito que existe entre as
forccedilas produtivas sociais e as relaccedilotildees de produccedilatildeo Em traccedilos largos os
modos de produccedilatildeo asiaacutetico antigo feudal e burguecircs moderno podem ser
designados como outras tantas eacutepocas de progresso na formaccedilatildeo econocircmica da
sociedade (Ver a foacutermula sucinta que Marx daacute na sua carta a Engels datada de
7 de Julho de 1866 A nossa teoria da organizaccedilatildeo do trabalho determinada
pelos meios de produccedilatildeo)
A descoberta da concepccedilatildeo materialista da histoacuteria ou mais exatamente a
aplicaccedilatildeo a extensatildeo consequumlente do materialismo ao domiacutenio dos fenocircmenos
sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da histoacuteria anteriores a
Marx Em primeiro lugar estas consideravam no melhor dos casos os moacutebiles
ideoloacutegicos da atividade histoacuterica dos homens sem investigar a origem desses
moacutebiles sem apreender as leis objetivas que presidem ao desenvolvimento do
sistema das relaccedilotildees sociais e sem descobrir as raiacutezes dessas relaccedilotildees no grau de
desenvolvimento da produccedilatildeo material Em segundo lugar as teorias anteriores
natildeo abarcavam precisamente a accedilatildeo das massas da populaccedilatildeo enquanto o
materialismo histoacuterico permite pela primeira vez estudar com a precisatildeo das
ciecircncias naturais as condiccedilotildees sociais da vida das massas e as modificaccedilotildees
dessas condiccedilotildees A sociologia e a historiografia anteriores a Marx no melhor
dos casos acumularam fatos em bruto fragmentariamente recolhidos e
expuseram alguns aspetos do processo histoacuterico O marxismo abriu caminho ao
estudo universal e completo do processo do nascimento desenvolvimento e
decliacutenio das formaccedilotildees econocircmico-sociais examinando o conjunto das
tendecircncias contraditoacuterias ligando-as agraves condiccedilotildees de existecircncia e de produccedilatildeo
exatamente determinaacuteveis das diversas classes da sociedade afastando o
subjetivismo e o arbiacutetrio na seleccedilatildeo das diversas ideacuteias dominantes ou na sua
interpretaccedilatildeo revelando as raiacutezes de todas as ideacuteias e todas as diferentes
tendecircncias sem exceccedilatildeo no estado das forccedilas produtivas materiais Os homens
satildeo os artiacutefices da sua proacutepria histoacuteria mas que causas determinam os moacutebiles
15
dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
16
histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
17
(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
18
(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
19
mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
14
formas juriacutedicas poliacuteticas religiosas artiacutesticas ou filosoacuteficas em resumo as
formas ideoloacutegicas sob as quais os homens tomam consciecircncia desse conflito e
lutam por resolvecirc-lo
Assim como natildeo se pode julgar um indiviacuteduo pela ideacuteia que ele faz de si
proacuteprio tambeacutem se natildeo pode julgar uma tal eacutepoca de revoluccedilotildees pela
consciecircncia que ela tem de si mesma Pelo contraacuterio eacute preciso explicar esta
consciecircncia pelas contradiccedilotildees da vida material pelo conflito que existe entre as
forccedilas produtivas sociais e as relaccedilotildees de produccedilatildeo Em traccedilos largos os
modos de produccedilatildeo asiaacutetico antigo feudal e burguecircs moderno podem ser
designados como outras tantas eacutepocas de progresso na formaccedilatildeo econocircmica da
sociedade (Ver a foacutermula sucinta que Marx daacute na sua carta a Engels datada de
7 de Julho de 1866 A nossa teoria da organizaccedilatildeo do trabalho determinada
pelos meios de produccedilatildeo)
A descoberta da concepccedilatildeo materialista da histoacuteria ou mais exatamente a
aplicaccedilatildeo a extensatildeo consequumlente do materialismo ao domiacutenio dos fenocircmenos
sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da histoacuteria anteriores a
Marx Em primeiro lugar estas consideravam no melhor dos casos os moacutebiles
ideoloacutegicos da atividade histoacuterica dos homens sem investigar a origem desses
moacutebiles sem apreender as leis objetivas que presidem ao desenvolvimento do
sistema das relaccedilotildees sociais e sem descobrir as raiacutezes dessas relaccedilotildees no grau de
desenvolvimento da produccedilatildeo material Em segundo lugar as teorias anteriores
natildeo abarcavam precisamente a accedilatildeo das massas da populaccedilatildeo enquanto o
materialismo histoacuterico permite pela primeira vez estudar com a precisatildeo das
ciecircncias naturais as condiccedilotildees sociais da vida das massas e as modificaccedilotildees
dessas condiccedilotildees A sociologia e a historiografia anteriores a Marx no melhor
dos casos acumularam fatos em bruto fragmentariamente recolhidos e
expuseram alguns aspetos do processo histoacuterico O marxismo abriu caminho ao
estudo universal e completo do processo do nascimento desenvolvimento e
decliacutenio das formaccedilotildees econocircmico-sociais examinando o conjunto das
tendecircncias contraditoacuterias ligando-as agraves condiccedilotildees de existecircncia e de produccedilatildeo
exatamente determinaacuteveis das diversas classes da sociedade afastando o
subjetivismo e o arbiacutetrio na seleccedilatildeo das diversas ideacuteias dominantes ou na sua
interpretaccedilatildeo revelando as raiacutezes de todas as ideacuteias e todas as diferentes
tendecircncias sem exceccedilatildeo no estado das forccedilas produtivas materiais Os homens
satildeo os artiacutefices da sua proacutepria histoacuteria mas que causas determinam os moacutebiles
15
dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
16
histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
17
(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
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(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
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mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
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circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
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partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
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meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
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identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
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Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
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dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
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monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
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do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
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um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
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revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
15
dos homens e mais precisamente das massas humanas Qual eacute a causa dos
conflitos de ideacuteias e aspiraccedilotildees contraditoacuterias Que representa o conjunto destes
conflitos na massa das sociedades humanas Quais satildeo as condiccedilotildees objetivas
da produccedilatildeo da vida material nas quais se baseia toda a atividade histoacuterica dos
homens Qual eacute a lei que preside ao desenvolvimento destas condiccedilotildees Marx
fez incidir a sua atenccedilatildeo sobre todos estes problemas e traccedilou o caminho para o
estudo cientiacutefico da histoacuteria concebida como um processo uacutenico regido por leis
apesar da sua prodigiosa variedade de aspetos e de todas as suas contradiccedilotildees
A Luta de Classes
Toda a gente sabe que em qualquer sociedade as aspiraccedilotildees de uns contrariam
as de outros que a vida social estaacute cheia de contradiccedilotildees que a histoacuteria nos
mostra a luta entre povos e sociedades assim como no seu proacuteprio seio que ela
nos mostra aleacutem disso uma sucessatildeo de periacuteodos de revoluccedilatildeo e de reaccedilatildeo de
paz e de guerra de estagnaccedilatildeo e de progresso raacutepido ou de decadecircncia O
marxismo deu o fio condutor que neste labirinto neste caos aparente permite
descobrir a existecircncia de leis a teoria da luta de classes Soacute o estudo do conjunto
das aspiraccedilotildees de todos os membros de uma sociedade ou de um grupo de
sociedades permite definir com uma precisatildeo cientiacutefica o resultado destas
aspiraccedilotildees Ora as aspiraccedilotildees contraditoacuterias nascem da diferenccedila de situaccedilatildeo e
de condiccedilotildees de vida das classes em que se divide qualquer sociedade A
histoacuteria de toda a sociedade ateacute agora existente - escreve Marx no Manifesto do
Partido Comunista (excetuado a histoacuteria da comunidade primitiva
acrescentaria Engels mais tarde) e a histoacuteria de lutas de classes O homem livre
e o escravo o patriacutecio e o plebeu o baratildeo feudal e o servo o mestre de uma
corporaccedilatildeo e o oficial em suma opressores e oprimidos estiveram em
constante antagonismo entre si travaram uma luta ininterrupta umas vezes
oculta aberta outras que acabou sempre com uma transformaccedilatildeo
revolucionaacuteria de toda a sociedade ou com o decliacutenio comum das classes em
conflito A moderna sociedade burguesa saiacuteda do decliacutenio da sociedade feudal
natildeo acabou com os antagonismos de classe Natildeo fez mais do que colocar novas
classes novas condiccedilotildees de opressatildeo novos aspectos da luta no lugar dos
anteriores A nossa eacutepoca a eacutepoca da burguesia distingue-se contudo por ter
simplificado os antagonismos de classe Toda a sociedade estaacute a cindir-se cada
vez mais em dois grandes campos hostis em duas grandes classes em confronto
direto a burguesia e o proletariado Apoacutes a grande revoluccedilatildeo francesa a
16
histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
17
(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
18
(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
19
mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
16
histoacuteria da Europa em muitos paiacuteses revela com particular evidecircncia o
verdadeiro fundo dos acontecimentos a luta de classes Jaacute na eacutepoca da
Restauraccedilatildeo(26) se vecirc aparecer em Franccedila um certo nuacutemero de historiadores
(Thierry Guizot Mignet Thiers) que sintetizando os acontecimentos natildeo
puderam deixar de reconhecer que a luta de classes eacute a chave para a
compreensatildeo de toda a histoacuteria francesa Ora a eacutepoca contemporacircnea a eacutepoca
da vitoacuteria completa da burguesia das instituiccedilotildees representativas do sufraacutegio
amplo (quando natildeo universal) da imprensa diaacuteria barata e que chega agraves massas
etc a eacutepoca das associaccedilotildees operaacuterias e patronais poderosas e cada vez mais
vastas etc mostra com mais evidecircncia ainda (embora por vezes sob uma
forma unilateral pacifica constitucional) que a luta de classes eacute o motor dos
acontecimentos A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista
mostra-nos o que Marx exigia da ciecircncia social para a anaacutelise objetiva da
situaccedilatildeo de cada classe no seio da sociedade moderna em ligaccedilatildeo com a anaacutelise
das condiccedilotildees do desenvolvimento de cada classe De todas as classes que hoje
em dia defrontam a burguesia soacute o proletariado eacute uma classe realmente
revolucionaacuteria As demais classes vatildeo-se arruinando e soccedilobram com a grande
induacutestria o proletariado eacute o produto mais caracteriacutestico desta As camadas
meacutedias o pequeno industrial o pequeno comerciante o artiacutefice o camponecircs
lutam todos contra a burguesia para assegurarem a sua existecircncia como
camadas meacutedias antes do decliacutenio Natildeo satildeo pois revolucionaacuterias mas
conservadoras Mais ainda satildeo reacionaacuterias pois procuram pocircr a andar para
traacutes a roda da histoacuteria Se satildeo revolucionaacuterias satildeo-no apenas em termos da sua
iminente passagem para o proletariado o que quer dizer que natildeo defendem os
seus interesses presentes mas os futuros o que quer dizer que abandonam a
sua posiccedilatildeo social proacutepria e se colocam na do proletariado Em numerosas
obras histoacutericas (ver Bibliografia) Marx deu exemplos brilhantes e profundos
de historiografia materialista de anaacutelise da situaccedilatildeo de cada classe particular e
por vezes dos diversos grupos ou camadas no seio de uma classe mostrando
ateacute agrave evidecircncia porque e como toda a luta de classes eacute uma luta poliacutetica A
passagem que acabamos de citar ilustra claramente como eacute complexa a rede das
relaccedilotildees sociais e dos graus transitoacuterios de uma classe para outra do passado
para o futuro que Marx analisa para determinar a resultante do
desenvolvimento histoacuterico
A teoria de Marx encontra a sua confirmaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo mais profunda mais
completa e mais pormenorizada na sua doutrina econocircmica
17
(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
18
(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
19
mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
17
(lt Karl Marx) (A Doutrina Econoacutemica de Marx gt)
Notas
(19) Ver K Marx e F Engels A Sagrada Famiacutelia capiacutetulo 6 (retornar ao texto)
(20) Agnosticismo doutrina idealista que afirma que o mundo eacute incognosciacutevel que aacute
razatildeo humana eacute limitada e natildeo pode conhecer nada aleacutem das sensaccedilotildees O agnosticismo
manifesta-se sob formas diferentes alguns admitem a existecircncia objetiva do mundo
material mas negam a possibilidade de o conhecer outros potildeem em causa a sua
proacutepria existecircncia alegando que o homem natildeo pode saber se existe algo aleacutem das suas
sensaccedilotildees Criticismo nome que Kant deu agrave sua filosofia idealista considerando que o
seu objetivo principal eacute a criacutetica das faculdades cognitivas do homem Em
consequumlecircncia dessa criacutetica Kant foi levado agrave negaccedilatildeo da possibilidade de a razatildeo
humana conhecer a essecircncia das coisas Positivismo corrente amplamente difundida
na filosofia e sociologia burguesas Foi fundada por A Comte (1798-1857) filoacutesofo e
socioacutelogo francecircs Os positivistas negam a possibilidade de descobrir as necessaacuterias
relaccedilotildees internas das coisas negam o significado da filosofia como meacutetodo de
conhecimento e transformaccedilatildeo do mundo objetivo e reduzem-na agrave sistematizaccedilatildeo dos
dados das ciecircncias isoladas agrave descriccedilatildeo externa dos resultados da observaccedilatildeo imediata
dos fatos positivos Colocando-se acima do materialismo e do idealismo o
positivismo eacute de fato uma variedade do idealismo subjetivo(retornar ao texto)
(21) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(22) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(23) F Engels Anti-Duumlhring (retornar ao texto)
(24) F Engels Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Claacutessica Alematilde (retornar ao
texto)
(25) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XIII (retornar ao texto)
18
(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
19
mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
18
(26) Restauraccedilatildeo periacuteodo da histoacuteria de Franccedila (1814-1830) durante o qual os
Bourbons derrubados pela Revoluccedilatildeo burguesa francesa de 1792 foram reinstalados
no trono (retornar ao texto)
A Doutrina Econoacutemica de Marx
O objetivo final desta obra diz Marx no seu prefaacutecio a O Capital eacute descobrir a
lei econocircmica do movimento da sociedade moderna isto eacute da sociedade
capitalista da sociedade burguesa O estudo das relaccedilotildees de produccedilatildeo de uma
sociedade historicamente determinada e concreta no seu nascimento
desenvolvimento e decliacutenio tal eacute o conteuacutedo da doutrina econocircmica de Marx O
que domina na sociedade capitalista eacute a produccedilatildeo de mercadorias por isso a
anaacutelise de Marx comeccedila pela anaacutelise da mercadoria
O Valor
A mercadoria eacute em primeiro lugar uma coisa que satisfaz uma qualquer
necessidade do homem em segundo lugar eacute uma coisa que se pode trocar por
outra A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso O valor de troca (ou
simplesmente o valor) eacute em primeiro lugar a relaccedilatildeo a proporccedilatildeo na troca de
um certo nuacutemero de valores de uso de uma espeacutecie contra um certo nuacutemero de
valores de uso de outra espeacutecie A experiecircncia quotidiana mostra-nos que
atraveacutes de milhotildees de milhares de milhotildees de trocas deste tipo se comparam
incessantemente os valores de uso mais diversos e mais diacutespares Que haacute de
comum entre estas coisas diferentes que satildeo tornadas constantemente
equivalentes num determinado sistema de relaccedilotildees sociais O que elas tecircm de
comum eacute serem produtos do trabalho Trocando os seus produtos os homens
criam relaccedilotildees de equivalecircncia entre os mais diferentes gecircneros de trabalho A
produccedilatildeo das mercadorias eacute um sistema de relaccedilotildees sociais no qual os diversos
produtores criam produtos variados (divisatildeo social do trabalho) e em que todos
estes produtos se equiparam uns aos outros na troca Por conseguinte o que eacute
comum a todas as mercadorias natildeo eacute o trabalho concreto de um ramo de
produccedilatildeo determinado natildeo eacute um trabalho de um gecircnero particular mas o
trabalho humano abstrato o trabalho humano em geral Numa dada sociedade
toda a forccedila de trabalho representada pela soma dos valores de todas as
19
mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
19
mercadorias constitui uma soacute e mesma forccedila de trabalho humano milhares de
milhotildees de atos de troca o demonstram Cada mercadoria considerada
isoladamente natildeo representa portanto senatildeo uma certa parte do tempo de
trabalho socialmente necessaacuterio A grandeza do valor eacute determinada pela
quantidade de trabalho socialmente necessaacuterio ou pelo tempo de trabalho
socialmente necessaacuterio para a produccedilatildeo de determinada mercadoria de
determinado valor de uso Ao equiparar os seus diversos produtos na troca
como valores os homens equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho
humano Natildeo se datildeo conta mas fazem-no (27) O valor eacute uma relaccedilatildeo entre duas
pessoas disse um velho economista mas deveria acrescentar uma relaccedilatildeo entre
pessoas escondida sob a envoltura das coisas Soacute partindo do sistema de
relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo de uma formaccedilatildeo histoacuterica determinada relaccedilotildees
que se manifestam na troca fenocircmeno generalizado que se repete milhares de
milhotildees de vezes eacute que se pode compreender o que eacute o valor Como valores
todas as mercadorias satildeo apenas quantidades determinadas de tempo de
trabalho cristalizado(28)
Depois de uma anaacutelise detalhada do duplo caraacuteter do trabalho incorporado nas
mercadorias Marx passa agrave anaacutelise da formado valor e do dinheiro A principal
tarefa que Marx se atribui eacute investigar a origem da forma dinheiro do valor
estudar o processo histoacuterico do desenvolvimento da troca comeccedilando pelos atos
de troca particulares e fortuitos (forma simples particular ou acidental do
valor uma quantidade determinada de uma mercadoria eacute trocada por uma
quantidade determinada de outra mercadoria) para passar agrave forma geral do
valor quando vaacuterias mercadorias diferentes satildeo trocadas por outra mercadoria
determinada e concreta sempre a mesma e acabar na forma dinheiro do valor
quando o ouro se torna esta mercadoria determinada o equivalente geral
Produto supremo do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo de mercadorias o
dinheiro encobre e dissimula o caraacuteter social dos trabalhos parciais a ligaccedilatildeo
social entre diversos produtores unidos uns aos outros pelo mercado Marx
submete a uma anaacutelise extremamente minuciosa as diversas funccedilotildees do
dinheiro e eacute especialmente importante notar que tambeacutem aqui (como nos
primeiros capiacutetulos de O Capital) a forma abstrata de exposiccedilatildeo que por vezes
parece puramente dedutiva reproduz na realidade uma documentaccedilatildeo
imensamente rica sobre a histoacuteria do desenvolvimento da troca e da produccedilatildeo
de mercadorias O dinheiro supotildee certo niacutevel de troca de mercadorias As
formas particulares do dinheiro simples equivalente de mercadorias meio de
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
20
circulaccedilatildeo meio de pagamento tesouro ou dinheiro universal indicam
conforme o diferente alcance e a preponderacircncia relativa de uma dessas
funccedilotildees graus muito diversos do processo social de produccedilatildeo (0 Capital I)(29)
A Mais Valia
Num certo grau do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias o dinheiro
transforma-se em capital A foacutermula da circulaccedilatildeo de mercadorias era M
(mercadoria) - D (dinheiro) - M (mercadoria) isto eacute venda de uma mercadoria
para a compra de outra Pelo contraacuterio a foacutermula geral do capital eacute D - M - D
isto eacute compra para a venda (com lucro) E a este acreacutescimo do valor primitivo
do dinheiro posto em circulaccedilatildeo que Marx chama mais-valia Este acreacutescimo
do dinheiro na circulaccedilatildeo capitalista eacute um fato conhecido de todos E
precisamente este acreacutescimo que transforma o dinheiro em capital ou seja
numa relaccedilatildeo social de produccedilatildeo historicamente determinada A mais-valia natildeo
pode provir da circulaccedilatildeo das mercadorias porque esta soacute conhece a troca de
equivalentes nem tatildeo pouco pode provir de um aumento dos preccedilos porque as
perdas e os lucros reciacuteprocos dos compradores e dos vendedores equilibrar-se-
iam trata-se de um fenocircmeno social meacutedio generalizado e natildeo de um
fenocircmeno individual Para obter a mais-valia seria preciso que o possuidor do
dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de uso fosse
dotado da propriedade singular de ser fonte de valor(30) uma mercadoria cujo
processo de consumo fosse ao mesmo tempo um processo de criaccedilatildeo de valor
E esta mercadoria existe eacute a forccedila de trabalho humana O seu uso eacute o trabalho e
o trabalho cria valor O possuidor de dinheiro compra a forccedila de trabalho pelo
seu valor que como o de qualquer outra mercadoria eacute determinado pelo tempo
de trabalho socialmente necessaacuterio para a sua produccedilatildeo (isto eacute pelo custo da
manutenccedilatildeo do operaacuterio e da sua famiacutelia) Tendo comprado a forccedila de trabalho
o possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir isto eacute de a obrigar a
trabalhar durante um dia inteiro suponhamos durante doze horas Mas em seis
horas (tempo de trabalho necessaacuterio) o operaacuterio cria um produto que cobre as
despesas da sua manutenccedilatildeo e durante as outras seis horas (tempo de trabalho
suplementar) cria um sobreproduro natildeo retribuiacutedo pelo capitalista que
constitui a mais-valia Por conseguinte do ponto de vista do processo de
produccedilatildeo eacute necessaacuterio distinguir duas partes do capital o capital constante
investido nos meios de produccedilatildeo (maacutequinas instrumentos de trabalho
mateacuterias-primas etc) cujo valor passa sem modificaccedilatildeo (de uma soacute vez ou por
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
21
partes) para o produto acabado e o capital variaacutevel que eacute investido para pagar a
forccedila de trabalho O valor deste capital natildeo se conserva invariaacutevel antes
aumenta no processo do trabalho criando mais-valia Assim para exprimir o
grau de exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho pelo capital temos de comparar a mais-
valia natildeo com o capital total mas unicamente com o capital variaacutevel A taxa de
mais-valia nome dado por Marx a essa relaccedilatildeo seria no nosso exemplo de 66
ou de 100
A condiccedilatildeo histoacuterica para o aparecimento do capital reside em primeiro lugar
na acumulaccedilatildeo de uma certa soma de dinheiro nas matildeos de certas pessoas num
estaacutedio de desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias em geral jaacute
relativamente elevado em segundo lugar na existecircncia de operaacuterios livres sob
dois aspectos - livres de quaisquer entraves ou restriccedilotildees para venderem a sua
forccedila de trabalho e livres por natildeo terem terras nem meios de produccedilatildeo em geral
- de operaacuterios sem qualquer propriedade de operaacuterios proletaacuterios que natildeo
podem subsistir senatildeo vendendo a sua forccedila de trabalho
O aumento da mais-valia eacute possiacutevel graccedilas a dois processos fundamentais o
prolongamento da jornada de trabalho (mais-valia absoluta) e a reduccedilatildeo do
tempo de trabalho necessaacuterio (mais-valia relativa) Marx analisando o
primeiro processo traccedila um quadro grandioso da luta da classe operaacuteria pela
reduccedilatildeo da jornada de trabalho e da intervenccedilatildeo do poder de Estado primeiro
para a prolongar (seacuteculos XIV a XVII) e depois para a diminuir (legislaccedilatildeo fabril
do seacuteculo XIX) Depois da publicaccedilatildeo de O Capital a histoacuteria do movimento
operaacuterio em todos os paiacuteses civilizados do mundo forneceu milhares e milhares
de novos fatos que ilustram esse quadro
Na sua anaacutelise da produccedilatildeo da mais-valia relativa Marx estuda as trecircs etapas
histoacutericas fundamentais no processo de intensificaccedilatildeo da produtividade do
trabalho pelo capitalismo 1 - cooperaccedilatildeo simples 2 - a divisatildeo do trabalho e a
manufatura 3 - as maacutequinas e a grande induacutestria A profundidade com que a
anaacutelise de Marx revela os traccedilos fundamentais e tiacutepicos do desenvolvimento do
capitalismo aparece entre outras coisas no fato de o estudo da chamada
induacutestria artesanal russa fornecer materiais muito abundantes para ilustrar as
duas primeiras dessas trecircs etapas Quanto agrave accedilatildeo revolucionadora da grande
induacutestria mecanizada descrita por Marx em 1867 manifestou-se durante o
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
22
meio seacuteculo decorrido desde entatildeo em vaacuterios paiacuteses novos (Ruacutessia Japatildeo
etc)(31)
Continuemos O que haacute de novo e extremamente importante em Marx e a
anaacutelise da acumulaccedilatildeo do capital isto eacute da transformaccedilatildeo de uma parte da
mais-valia em capital e do seu emprego natildeo para satisfazer as necessidades
pessoais ou os caprichos do capitalista mas para voltar a produzir Marx
assinalou o erro de toda a economia poliacutetica claacutessica anterior (desde Adam
Smith) segundo a qual toda a mais-valia que se convertia em capital passava a
fazer parte do capital variaacutevel Enquanto na realidade ela se decompotildee em
meios de produccedilatildeo e em capital variaacutevel O crescimento mais raacutepido da parte do
capital constante (no montante total do capital) em relaccedilatildeo agrave parte do capital
variaacutevel tem no processo de desenvolvimento do capitalismo e da sua
transformaccedilatildeo em socialismo uma importacircncia primordial
Acelerando a substituiccedilatildeo dos operaacuterios pelas maacutequinas e criando a riqueza
num poacutelo e a miseacuteria no outro a acumulaccedilatildeo do capital gera assim o chamado
exeacutercito de reserva do trabalho o excedente relativo de operaacuterios ou
superpopulaccedilatildeo capitalista que se reveste de formas extremamente variadas e
daacute ao capital a possibilidade de ampliar muito rapidamente a produccedilatildeo Esta
possibilidade combinada com o creacutedito e a acumulaccedilatildeo de capital em meios de
produccedilatildeo daacute-nos entre outras coisas a explicaccedilatildeo das crises de superproduccedilatildeo
que aparecem periodicamente nos paiacuteses capitalistas a princiacutepio
aproximadamente de dez em dez anos depois com intervalos menos proacuteximos e
menos fixos Impotildee-se a distinccedilatildeo entre a acumulaccedilatildeo do capital na base do
capitalismo e a chamada acumulaccedilatildeo primitiva quando se desapossa
violentamente o trabalhador dos meios de produccedilatildeo se expulsa o camponecircs das
suas terras se roubam agraves terras comunais e imperam o sistema colonial e o
sistema das diacutevidas puacuteblicas as tarifas alfandegaacuterias protecionistas etc A
acumulaccedilatildeo primitiva cria num poacutelo o proletaacuterio livre no outro o detentor
do dinheiro o capitalista
A tendecircncia histoacuterica da acumulaccedilatildeo capitalista eacute caracterizada por Marx
nestes termos ceacutelebres A expropriaccedilatildeo dos produtores diretos faz-se com o
vandalismo mais impiedoso e sob a pressatildeo das paixotildees mais infames mais
ignoacutebeis mesquinhas e odiosas A propriedade privada ganha como trabalho
pessoal (do camponecircs e do artesatildeo) e que o indiviacuteduo livre criou
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
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Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
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dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
23
identificando-se de certo modo com os instrumentos e as condiccedilotildees do seu
trabalho eacute substituiacuteda pela propriedade privada capitalista que assenta na
exploraccedilatildeo do trabalho de outrem o qual natildeo tem mais que uma aparecircncia de
liberdade O que se trata agora de expropriar natildeo eacute jaacute o operaacuterio que explora
ele proacuteprio a sua proacutepria propriedade mas o capitalista que explora numerosos
operaacuterios Esta expropriaccedilatildeo efetua-se pelo jogo das leis imanentes da proacutepria
produccedilatildeo capitalista pela centralizaccedilatildeo dos capitais Cada capitalista mata
muitos outros E paralelamente a esta centralizaccedilatildeo isto eacute agrave expropriaccedilatildeo de
muitos capitalistas por alguns desenvolve-se numa escala cada vez maior e
mais ampla a forma cooperativa do processo de trabalho desenvolve-se a
aplicaccedilatildeo teacutecnica consciente da ciecircncia a exploraccedilatildeo sistemaacutetica do solo a
transformaccedilatildeo dos meios de trabalho em meios que natildeo podem ser utilizados
senatildeo em comum a economia de todos os meios de produccedilatildeo pela sua utilizaccedilatildeo
como meios de produccedilatildeo de um trabalho social combinado a incorporaccedilatildeo de
todos os povos na rede do mercado mundial e por conseguinte o caraacuteter
internacional do regime capitalista Agrave medida que diminui constantemente o
numero dos magnatas do capital que usurpam e monopolizam todas as
vantagens deste processo de transformaccedilatildeo cresce no seu conjunto a miseacuteria a
opressatildeo a escravidatildeo a degeneraccedilatildeo a exploraccedilatildeo mas tambeacutem aumenta ao
mesmo tempo a revolta da classe operaacuteria que eacute instruiacuteda unida e organizada
pelo proacuteprio mecanismo do processo de produccedilatildeo capitalista O monopoacutelio do
capital torna-se o entrave do modo de produccedilatildeo que se desenvolveu com ele e
graccedilas a ele A centralizaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo e a socializaccedilatildeo do trabalho
chegam a um ponto em que se tornam incompatiacuteveis com o seu invoacutelucro
capitalista que acaba por rebentar Soa a uacuteltima hora da propriedade privada
capitalista Os expropriadores satildeo por sua vez expropriados (O Capital I 13)
Outro ponto extraordinariamente importante e novo eacute a anaacutelise feita por Marx
no tomo lide O Capital da reproduccedilatildeo do capital social tomado no seu conjunto
Tambeacutem aqui ele considera natildeo um fenocircmeno individual mas um fenocircmeno
geral natildeo uma fraccedilatildeo da economia social mas a economia na sua totalidade
Corrigindo o erro atraacutes mencionado dos economistas claacutessicos Marx divide toda
a produccedilatildeo social em duas grandes secccedilotildees (1) produccedilatildeo de meios de produccedilatildeo
e (II) produccedilatildeo de artigos de consumo e examina em pormenor com o apoio de
dados numeacutericos a circulaccedilatildeo do capital social no seu conjunto tanto na
reproduccedilatildeo simples como na acumulaccedilatildeo No tomo III de O Capital resolve-se
de acordo com a lei do valor o problema da formaccedilatildeo da taxa meacutedia de lucro
24
Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
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revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
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os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
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das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
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correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
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manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
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representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
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tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
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Um imenso progresso foi alcanccedilado na ciecircncia econocircmica pelo fato de a anaacutelise
de Marx partir de fenocircmenos econocircmicos gerais do conjunto da economia
social e natildeo de casos isolados ou das manifestaccedilotildees superficiais da
concorrecircncia aos quais se limita geralmente a economia poliacutetica vulgar ou a
moderna teoria da utilidade marginal (32) Marx analisa primeiro a origem da
mais-valia e passa em seguida agrave sua decomposiccedilatildeo em lucro juro e renda da
terra O lucro eacute a relaccedilatildeo entre a mais-valia e o conjunto do capital investido
numa empresa O capital de elevada composiccedilatildeo orgacircnica (isto eacute em que o
capital constante ultrapassa o capital variaacutevel em proporccedilotildees superiores agrave meacutedia
social) daacute uma taxa de lucro inferior agrave meacutedia O capital de baixa composiccedilatildeo
orgacircnica daacute uma taxa de lucro superior agrave meacutedia A concorrecircncia entre os
capitais a sua livre passagem de um ramo para outro reduzem em ambos os
casos a taxa de lucro agrave taxa meacutedia A soma dos valores de todas as mercadorias
numa dada sociedade coincide com a soma dos preccedilos das mercadorias mas
em cada empresa e em cada ramo de produccedilatildeo tomado agrave parte sob influecircncia
da concorrecircncia as mercadorias satildeo vendidas natildeo pelo seu valor mas pelo
preccedilo de produccedilatildeo que eacute igual ao capital investido mais o lucro meacutedio
Assim a diferenccedila entre o preccedilo e o valor e a igualizaccedilatildeo do lucro fatos
incontestaacuteveis e conhecidos de todos satildeo perfeitamente explicados por Marx
com base na lei do valor porque a soma dos valores de todas as mercadorias
coincide com a soma dos seus preccedilos Mas a reduccedilatildeo do valor (social) aos preccedilos
(individuais) natildeo se daacute de forma simples e direta segue uma via muito
complicada eacute absolutamente natural que numa sociedade de produtores de
mercadorias dispersos apenas ligados uns aos outros pelo mercado as leis que
regem essa sociedade natildeo possam exprimir-se senatildeo atraveacutes de resultados
meacutedios sociais gerais pela compensaccedilatildeo reciacuteproca dos desvios individuais
num ou noutro sentido
O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais raacutepido
do capital constante em relaccedilatildeo ao capital variaacutevel Ora sendo a mais-valia
funccedilatildeo apenas do capital variaacutevel compreende-se que a taxa de lucro (a relaccedilatildeo
entre a mais-valia e todo o capital e natildeo apenas entre a mais-valia e a parte
variaacutevel do capital) tenha tendecircncia para baixar Marx analisa minuciosamente
esta tendecircncia assim como as diversas circunstacircncias que a ocultam ou a
contrariam Sem nos determos na exposiccedilatildeo dos interessantiacutessimos capiacutetulos do
tomo III consagrados ao capital usuraacuterio ao capital comercial e ao capital-
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
25
dinheiro abordaremos o essencial a teoria da renda da terra Sendo a superfiacutecie
do solo limitada e estando nos paiacuteses capitalistas inteiramente ocupada por
proprietaacuterios particulares o custo de produccedilatildeo dos produtos da terra eacute
determinado pelos gastos de produccedilatildeo natildeo nos terrenos de qualidade meacutedia
mas nos da pior qualidade e pelas condiccedilotildees de transporte (natildeo meacutedias mas
pelas mais desfavoraacuteveis) dos produtos para o mercado A diferenccedila entre este
preccedilo e o preccedilo de produccedilatildeo num terreno de qualidade superior (ou em
melhores condiccedilotildees) constitui a renda diferencial Graccedilas a uma anaacutelise
pormenorizada desta renda em que demonstra que ela proveacutem da diferenccedila da
fertilidade dos terrenos e da diferenccedila dos capitais investidos na cultura Marx
potildee em evidecircncia (ver igualmente as Teorias da Mais-Valia onde a criacutetica a
Rodbertus merece uma atenccedilatildeo particular) o erro de Ricardo ao pretender que a
renda diferencial soacute se obteacutem pela conversatildeo gradual dos melhores terrenos em
terrenos de qualidade inferior Pelo contraacuterio transformaccedilotildees inversas
produzem-se igualmente terrenos de uma categoria transformam-se em
terrenos de outra categoria (em virtude do progresso da teacutecnica agriacutecola do
crescimento das cidades etc) e a famosa lei da fertilidade decrescente do solo
eacute um profundo erro que atribui agrave natureza os defeitos as limitaccedilotildees e as
contradiccedilotildees do capitalismo Aleacutem disso a igualdade do lucro em todos os
ramos da induacutestria e da economia nacional em geral supotildee uma liberdade
completa de concorrecircncia a liberdade de transferir o capital de um ramo para
outro Mas a propriedade privada da terra cria um monopoacutelio que eacute um
obstaacuteculo a essa livre transferecircncia Devido a esse monopoacutelio os produtos de
uma agricultura que se distingue por uma baixa composiccedilatildeo orgacircnica do capital
e que por conseguinte daacute uma taxa de lucro individual mais elevada natildeo
entram no livre jogo de igualizaccedilatildeo da taxa de lucro o proprietaacuterio agriacutecola que
deteacutem o monopoacutelio da terra pode manter o preccedilo acima da meacutedia este preccedilo de
monopoacutelio daacute origem agrave renda absoluta A renda diferencial natildeo pode ser abolida
em regime capitalista mas ao contraacuterio a renda absoluta pode secirc-lo por
exemplo com a nacionalizaccedilatildeo da terra quando esta passa a propriedade do
Estado Esta passagem da terra para o Estado significaria a supressatildeo do
monopoacutelio dos proprietaacuterios agriacutecolas uma liberdade de concorrecircncia mais
consequumlente e mais completa na agricultura E por isso que diz Marx os
burgueses radicais mais do que uma vez na histoacuteria formularam esta
reivindicaccedilatildeo burguesa progressiva da nacionalizaccedilatildeo da terra que todavia
apavora a maior parte da burguesia porque toca de demasiado perto um outro
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
26
monopoacutelio que atualmente eacute muito mais importante e sensiacutevel o monopoacutelio
dos meios de produccedilatildeo em geral (Esta teoria do lucro meacutedio sobre o capital e da
renda absoluta da terra foi exposta por Marx numa linguagem
extraordinariamente popular concisa e clara na sua carta a Engels de 2 de
Agosto de 1862 Ver Correspondecircncia t III pp 77-8 1 Ver tambeacutem a sua carta
de 9 de Agosto de 1862 ibid pp 86-87) Importa igualmente assinalar na
histoacuteria da renda da terra a anaacutelise em que Marx demonstra a transformaccedilatildeo da
renda em trabalho (quando o camponecircs trabalhando na terra do senhor cria
um sobreproduto) em renda em produtos ou renda em espeacutecie (quando o
camponecircs cria na sua proacutepria terra um sobreproduto que entrega ao
proprietaacuterio em virtude de uma coerccedilatildeo extra-econocircmica) depois em renda
em dinheiro (que eacute a renda em espeacutecie transformada em dinheiro - na Ruacutessia
antiga o obrok - em virtude do desenvolvimento da produccedilatildeo de mercadorias) e
finalmente em renda capitalista quando o camponecircs eacute substituiacutedo pelo
empresaacuterio agriacutecola que cultiva a terra com a ajuda do trabalho assalariado
Relativamente a esta anaacutelise da gecircnese da renda capitalista da terra notemos
uma seacuterie de ideacuteias profundas de Marx (particularmente importantes para os
paiacuteses atrasados tais como a Ruacutessia) sobre a evoluccedilatildeo do capitalismo na
agricultura Com a transformaccedilatildeo da renda em espeacutecie em renda em dinheiro
constitui-se necessariamente ao mesmo tempo e mesmo anteriormente uma
classe de jornaleiros natildeo possuidores que trabalham a troco de um salaacuterio
Enquanto esta classe se constitui e enquanto se manifesta apenas
esporadicamente os camponeses abastados sujeitos ao pagamento de uma
renda adquirem naturalmente o haacutebito de explorar por sua proacutepria conta
assalariados agriacutecolas assim como no regime feudal os servos abastados tinham
por sua vez outros servos ao seu serviccedilo Daqui resultou para eles a
possibilidade de juntar pouco a pouco uma certa fortuna e de se
transformarem em futuros capitalistas Entre os antigos possuidores da terra
que a exploram independentemente cria-se assim um viveiro de rendeiros
capitalistas cujo desenvolvimento eacute condicionado pelo desenvolvimento geral
da produccedilatildeo capitalista fora da agricultura (0 Capital III2 p 332) A
expropriaccedilatildeo e a expulsatildeo da aldeia de uma parte da populaccedilatildeo camponesa natildeo
soacute libertam para o capital industrial os operaacuterios os seus meios de
subsistecircncia e os seus instrumentos de trabalho como lhe criam aleacutem disso o
mercado interno (O Capital I2 p 778) (33) A pauperizaccedilatildeo e a ruiacutena da
populaccedilatildeo camponesa influem por sua vez na formaccedilatildeo do exeacutercito de reserva
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
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representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
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tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
27
do trabalho para o capital Em todos os paiacuteses capitalistas uma parte da
populaccedilatildeo dos campos esta constantemente em vias de transformar-se em
populaccedilatildeo urbana ou manufatureira (isto eacute natildeo agriacutecola) Esta fonte de
superpopulaccedilatildeo relativa corre continuamente Por conseguinte o operaacuterio
agriacutecola estaacute reduzido ao miacutenimo de salaacuterio e tem sempre um peacute no pacircntano do
pauperismo (O Capital I2 p 668) (34) A propriedade privada do camponecircs da
terra que ele proacuteprio cultiva constitui a base da pequena produccedilatildeo a condiccedilatildeo
da sua prosperidade e do seu desenvolvimento na forma claacutessica Mas esta
pequena produccedilatildeo soacute eacute compatiacutevel com um quadro estreito primitivo da
produccedilatildeo e da sociedade Em regime capitalista a exploraccedilatildeo dos camponeses
soacute pela forma se distingue da exploraccedilatildeo do proletariado industrial O
explorador eacute o mesmo o capital Os capitalistas tomados isoladamente
exploram os camponeses isoladamente pela hipoteca e a usura A classe
capitalista explora a classe camponesa por meio dos impostos do Estado (As
Lutas de Classes em Franccedila) (35) A parcela do camponecircs jaacute natildeo eacute mais do que o
pretexto que permite ao capitalista tirar da terra lucro juro e renda e deixar ao
proacuteprio camponecircs a preocupaccedilatildeo de arranjar como puder o seu salaacuterio (O 18
Brumaacuterio) (36) Normalmente o camponecircs entrega mesmo agrave sociedade
capitalista isto eacute agrave classe capitalista uma parte do seu salaacuterio e desce assim ao
niacutevel do rendeiro irlandecircs tudo isto sob a aparecircncia de proprietaacuterio privado
(As Lutas de Classes em Franccedila) (37) Qual eacute uma das razotildees que fazem com
que nos paiacuteses em que a propriedade parcelaria predomina o preccedilo do trigo
seja menos elevado que nos paiacuteses de modo de produccedilatildeo capitalista (O
Capital III2 p 340) E que o camponecircs entrega gratuitamente agrave sociedade (isto
eacute agrave classe capitalista) uma parte do sobreproduto Estes baixos preccedilos (do trigo
e dos outros produtos agriacutecolas) resultam portanto da pobreza dos produtores
e natildeo da produtividade do seu trabalho (O Capital t III2 p 340) Em regime
capitalista a pequena propriedade agriacutecola forma normal da pequena
produccedilatildeo degrada-se eacute destruiacuteda e desaparece Pela sua natureza a
propriedade parcelaria eacute incompatiacutevel com o desenvolvimento das forccedilas
produtivas sociais do trabalho as formas sociais do trabalho a concentraccedilatildeo
social dos capitais a criaccedilatildeo de gado em grande escala a utilizaccedilatildeo progressiva
da ciecircncia A usura e o sistema fiscal arruiacutenam-na necessariamente em toda agrave
parte O capital investido na compra da terra eacute subtraiacutedo ao cultivo Dispersatildeo
infinita dos meios de produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo dos proacuteprios produtores (As
cooperativas isto eacute as associaccedilotildees de pequenos camponeses que desempenham
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
28
um extraordinaacuterio papel progressivo burguecircs soacute podem atenuar esta tendecircncia
sem entretanto a suprimir eacute preciso natildeo esquecer tambeacutem que estas
cooperativas datildeo muito aos camponeses abastados mas muito pouco ou quase
nada agrave massa dos camponeses pobres e que tais associaccedilotildees acabam por
explorar elas proacuteprias o trabalho assalariado) Desperdiacutecio enorme de forccedila
humana A deterioraccedilatildeo progressiva das condiccedilotildees de produccedilatildeo e o
encarecimento dos meios de produccedilatildeo satildeo a lei necessaacuteria da propriedade
parcelaria (38) Na agricultura como na induacutestria a transformaccedilatildeo capitalista
da produccedilatildeo produz-se ao preccedilo do martiroloacutegio dos produtores A
disseminaccedilatildeo dos operaacuterios agriacutecolas em grandes extensotildees quebra a sua forccedila
de resistecircncia enquanto a concentraccedilatildeo aumenta a dos operaacuterios das cidades
Tal como na induacutestria moderna o aumento da forccedila produtiva e a mais raacutepida
mobilizaccedilatildeo do trabalho na agricultura capitalista moderna soacute se obtecircm pela
destruiccedilatildeo e esgotamento da proacutepria forccedila de trabalho Aleacutem disso todo o
progresso da agricultura capitalista natildeo eacute apenas um progresso da arte de
esgotar o operaacuterio mas tambeacutem de esgotar o solo A produccedilatildeo capitalista natildeo
desenvolve portanto a teacutecnica e a combinaccedilatildeo do processo social de produccedilatildeo
senatildeo desgastando ao mesmo tempo as fontes de toda a riqueza a terra e o
operaacuterio (O Capital I fim do 13ordm capiacutetulo)
O Socialismo
Pelo exposto vecirc-se que Marx conclui pela transformaccedilatildeo inevitaacutevel da sociedade
capitalista em sociedade socialista a partir uacutenica e exclusivamente da lei
econocircmica do movimento da sociedade moderna A socializaccedilatildeo do trabalho -
que avanccedila cada vez mais rapidamente sob muacuteltiplas formas e que no meio
seacuteculo decorrido depois da morte de Marx se manifesta sobretudo pela
extensatildeo da grande induacutestria dos carteacuteis dos sindicatos dos trusts capitalistas
e tambeacutem pelo aumento imenso das proporccedilotildees e do poderio do capital
financeiro - eis a principal base material para o advento inelutaacutevel do
socialismo O motor intelectual e moral o agente fiacutesico desta transformaccedilatildeo eacute o
proletariado educado pelo proacuteprio capitalismo A sua luta contra a burguesia
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
29
revestindo-se de formas diversas e de conteuacutedo cada vez mais rico torna-se
inevitavelmente uma luta poliacutetica tendente agrave conquista pelo proletariado do
poder poliacutetico (ditadura do proletariado) A socializaccedilatildeo da produccedilatildeo natildeo
pode conduzir senatildeo agrave transformaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em propriedade
social agrave expropriaccedilatildeo dos expropriadores O aumento enorme da
produtividade do trabalho a reduccedilatildeo da jornada de trabalho a substituiccedilatildeo dos
vestiacutegios das ruiacutenas da pequena produccedilatildeo primitiva e disseminada pelo
trabalho coletivo aperfeiccediloado tais satildeo as consequumlecircncias diretas desta
transformaccedilatildeo O capitalismo rompe definitivamente a ligaccedilatildeo da agricultura
com a induacutestria mas prepara simultaneamente pelo seu desenvolvimento a um
niacutevel superior elementos novos desta ligaccedilatildeo a uniatildeo da induacutestria com a
agricultura na base de uma aplicaccedilatildeo consciente da ciecircncia de uma coordenaccedilatildeo
do trabalho coletivo de uma nova distribuiccedilatildeo da populaccedilatildeo (pondo fim tanto
ao isolamento do campo ao seu estado de abandono e atraso cultural como agrave
aglomeraccedilatildeo antinatural de uma enorme populaccedilatildeo nas grandes cidades) As
formas superiores do capitalismo moderno criam condiccedilotildees para uma nova
forma da famiacutelia novas condiccedilotildees para a mulher e para a educaccedilatildeo das novas
geraccedilotildees o trabalho das mulheres e das crianccedilas a dissoluccedilatildeo da famiacutelia
patriarcal pelo capitalismo tomam inevitavelmente na sociedade moderna as
formas mais horriacuteveis mais miseraacuteveis e repugnantes Contudo a grande
induacutestria pelo papel decisivo que confere agraves mulheres aos jovens e as crianccedilas
dos dois sexos nos processos de produccedilatildeo socialmente organizadas e fora da
esfera familiar cria urna nova base econocircmica para uma forma superior da
famiacutelia e das relaccedilotildees entre ambos os sexos E naturalmente tatildeo absurdo
considerar como absoluta a forma germano-cristatilde da famiacutelia como as antigas
formas romana grega ou oriental que constituem de resto uma soacute linha de
desenvolvimento histoacuterico E igualmente evidente que a composiccedilatildeo do pessoal
operaacuterio por indiviacuteduos de ambos os sexos e de todas as idades - que na sua
forma primaacuteria brutal capitalista em que o operaacuterio existe para o processo de
produccedilatildeo e natildeo o processo de produccedilatildeo para o operaacuterio constitui uma fonte
envenenada de ruiacutena e de escravidatildeo - deve transformar-se inevitavelmente em
condiccedilotildees adequadas numa fonte de progresso humano (O Capital fim do 13ordm
capiacutetulo) O sistema fabril mostra-nos o germe da educaccedilatildeo do futuro que
uniraacute para todas as crianccedilas acima de certa idade o trabalho produtivo ao
ensino e agrave ginaacutestica natildeo soacute como meacutetodo de aumento da produccedilatildeo social mas
tambeacutem como uacutenico meacutetodo capaz de produzir homens desenvolvidos em todos
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
30
os aspetos (Ibid) E sobre a mesma base histoacuterica que o socialismo de Marx
coloca os problemas da nacionalidade e do Estado natildeo soacute para explicar o
passado mas tambeacutem para prever ousadamente o futuro e conduzir uma accedilatildeo
audaciosa para a sua realizaccedilatildeo As naccedilotildees satildeo um produto e uma forma
inevitaacutevel da eacutepoca burguesa do desenvolvimento social A classe operaacuteria natildeo
pode fortalecer-se amadurecer formar-se sem se organizar no quadro da
naccedilatildeo sem ser nacional (embora de nenhuma maneira no sentido burguecircs
da palavra) Ora o desenvolvimento do capitalismo destroacutei cada vez mais as
fronteiras nacionais acaba com o isolamento nacional substitui os
antagonismos nacionais por antagonismos de classe Por isso nos paiacuteses
capitalistas desenvolvidos eacute perfeitamente verdadeiro que os operaacuterios natildeo
tecircm paacutetria e que a sua accedilatildeo unitaacuteria pelo menos nos paiacuteses civilizados eacute uma
das primeiras condiccedilotildees da sua libertaccedilatildeo (Manifesto do Partido Comunista) O
Estado essa violecircncia organizada surgiu como algo inevitaacutevel numa
determinada fase do desenvolvimento da sociedade quando esta dividida em
classes irreconciliaacuteveis natildeo teria podido subsistir sem um poder
aparentemente colocado acima dela e diferenciado ateacute certo ponto dela Nascido
dos antagonismos de classe o Estado torna-se o Estado da classe mais
poderosa da classe economicamente dominante a qual por meio dele se torna
tambeacutem agrave classe politicamente dominante e adquire assim novos meios para
reprimir e explorar a classe oprimida Assim o Estado antigo era acima de
tudo o Estado dos escravistas para manter os escravos submetidos o Estado
feudal era o oacutergatildeo de que se valia a nobreza para sujeitar os camponeses servos
e o moderno Estado representativo eacute o instrumento de que se serve o capital
para explorar o trabalho assalariado (Engels A Origem da Famiacutelia da
Propriedade Privada e do Estado obra em que o autor expotildee as suas ideacuteias e as
de Marx) Mesmo a forma mais livre e progressiva do Estado burguecircs a
repuacuteblica democraacutetica de maneira alguma elimina este fato ela modifica
apenas a sua forma (ligaccedilatildeo do governo com a Bolsa corrupccedilatildeo direta e indireta
dos funcionaacuterios e da imprensa etc) O socialismo conduzindo agrave supressatildeo das
classes conduz por isso mesmo agrave aboliccedilatildeo do Estado O primeiro ato - escreve
Engels no seu Anti-Duacutehring - em que o Estado atua efetivamente como
representante de toda a sociedade - a expropriaccedilatildeo dos meios de produccedilatildeo em
nome de toda a sociedade - eacute ao mesmo tempo o seu uacuteltimo ato independente
como Estado A intervenccedilatildeo do poder de Estado nas relaccedilotildees sociais tornar-se-aacute
supeacuterflua num domiacutenio apoacutes outro e cessaraacute entatildeo por si mesma O governo
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
31
das pessoas daacute lugar agrave administraccedilatildeo das coisas e agrave direccedilatildeo do processo de
produccedilatildeo O Estado natildeo eacute abolido extingue-se A sociedade que
reorganizaraacute a produccedilatildeo na base de uma associaccedilatildeo livre de produtores iguais
enviaraacute toda a maacutequina do Estado para o lugar que lhe corresponderaacute entatildeo
museu de antiguidades ao lado da roca de fiar e do machado de bronze (F
Engels A Origem da Famiacutelia da Propriedade Privada e do Estado)
Finalmente relativamente agrave posiccedilatildeo do socialismo de Marx quanto ao pequeno
camponecircs que subsistiraacute na eacutepoca da expropriaccedilatildeo dos expropriadores
interessa citar esta passagem de Engels que exprime o pensamento de Marx
Quando noacutes estivermos na posse do poder de Estado natildeo poderemos pensar
em expropriar pela violecircncia os pequenos camponeses (com ou sem
indenizaccedilatildeo) como seremos obrigados a fazer com os grandes proprietaacuterios A
nossa missatildeo para com os camponeses consistiraacute antes de mais nada em
encaminhar a sua produccedilatildeo individual e a sua propriedade privada para um
regime cooperativo natildeo pela forccedila mas sim pelo exemplo oferecendo-lhes para
este efeito a ajuda da sociedade Teremos entatildeo certamente meios de sobra para
apresentar ao pequeno camponecircs a perspectiva das vantagens que 1aacute hoje lhe
tecircm de ser mostradas (F Engels A Questatildeo Camponesa na Franccedila e na
Alemanha(39) ediccedilatildeo de Alexeacuteiev p 17 A traduccedilatildeo russa conteacutem erros Ver o
original em Die Neue Zeit)
Taacutecticas da Luta de Classe do Proletariado
Marx depois de jaacute em 1844-1845 ter posto a descoberto um dos defeitos
principais do antigo materialismo que consistia em natildeo compreender as
condiccedilotildees nem apreciar a importacircncia da accedilatildeo revolucionaacuteria praacutetica dedicou
durante toda a sua vida paralelamente aos trabalhos teoacutericos uma atenccedilatildeo
contiacutenua agraves questotildees da taacutetica da luta de classe do proletariado Todas as obras
de Marx fornecem a este respeito uma rica documentaccedilatildeo particularmente a
sua correspondecircncia com Engels publicada em 4 volumes em 1913 Esta
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
32
correspondecircncia estaacute longe ainda de estar toda recolhida classificada estudada
e analisada Por isso teremos de nos limitar forccedilosamente aqui agraves observaccedilotildees
mais gerais e mais breves acentuando que para Marx o materialismo
despojado de este aspecto era e com razatildeo um materialismo incompleto
unilateral e sem vida Marx determinou a tarefa essencial da taacutetica do
proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua
concepccedilatildeo materialista-dialeacutetica do mundo Soacute o conhecimento objetivo do
conjunto de relaccedilotildees de todas as classes sem exceccedilatildeo de uma dada sociedade e
por conseguinte o conhecimento do grau objetivo de desenvolvimento desta
sociedade e das relaccedilotildees entre ela e as outras sociedades pode servir de base a
uma taacutetica justa da classe de vanguarda Aleacutem disso todas as classes e paiacuteses
satildeo considerados natildeo no seu aspecto estaacutetico mas no dinacircmico isto eacute natildeo no
estado de imobilidade mas em movimento (movimento cujas leis derivam das
condiccedilotildees econocircmicas de existecircncia de cada classe) O movimento eacute por sua
vez considerado natildeo soacute do ponto de vista do passado mas tambeacutem do ponto de
vista do futuro e natildeo segundo a concepccedilatildeo vulgar dos evolucionistas que soacute
vecircem lentas transformaccedilotildees mas de forma dialeacutetica Nos grandes processos
histoacutericos vinte anos equivalem a um dia - escrevia Marx a Engels - ainda que
em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos (Cor-
respondecircncia t III p 127)(40) Em cada grau do seu desenvolvimento em cada
momento a taacutetica do proletariado deve ter em conta esta dialeacutetica
objetivamente inevitaacutevel da histoacuteria da humanidade por um lado utilizando as
eacutepocas de estagnaccedilatildeo poliacutetica ou da chamada evoluccedilatildeo paciacutefica que caminha
a passos de tartaruga para desenvolver a consciecircncia a forccedila e a capacidade de
luta da classe de vanguarda por outro orientando todo este trabalho de
utilizaccedilatildeo para o objetivo final dessa classe tornando-a capaz de resolver
praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias que concentram
em si vinte anos Duas consideraccedilotildees de Marx interessam particularmente a
este respeito Uma na Miseacuteria da Filosofia refere-se agrave luta econocircmica e agraves
organizaccedilotildees econocircmicas do proletariado a outra no Manifesto do Partido
Comunista eacute relativa agraves tarefas poliacuteticas do proletariado A primeira diz assim
A grande induacutestria concentra num uacutenico local uma multidatildeo de pessoas
desconhecidas umas das outras A concorrecircncia divide os seus interesses Mas a
defesa do salaacuterio este interesse comum que eles tecircm contra o patratildeo une-os no
mesmo pensamento de resistecircncia de coalizatildeo As coalizotildees inicialmente
isoladas constituem-se em grupos e face ao capital sempre unido a
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
33
manutenccedilatildeo da associaccedilatildeo torna-se para eles mais importante que a defesa do
salaacuterio Nesta luta - verdadeira guerra civil - reuacutenem-se e desenvolvem-se
todos os elementos necessaacuterios para a batalha futura Uma vez chegada a este
ponto a coalizatildeo toma um caraacuteter poliacutetico (41) Temos aqui o programa e a
taacutetica da luta econocircmica do movimento sindical para algumas dezenas de anos
para todo o longo periacuteodo de preparaccedilatildeo das forccedilas do proletariado para
batalha futura Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraiacutedos
da correspondecircncia de Marx e Engels e que estes colheram do movimento
operaacuterio inglecircs mostrando como a prosperidade industrial suscita tentativas
de comprar o proletariado (Correspondecircncia com Engels t p136)(42) de
desviaacute-lo da luta como esta prosperidade geralmente desmoraliza os
operaacuterios (III 218) como o proletariado inglecircs se aburguesa como a naccedilatildeo
mais burguesa de todas (a naccedilatildeo inglesa) parece que quereria vir a ter ao lado
da burguesia uma aristocracia burguesa e um proletariado burguecircs (II 290)42
como a energia revolucionaacuteria desaparece nele (III 124)(43) como seraacute
preciso esperar mais ou menos tempo que os operaacuterios ingleses se
desembaracem da sua aparente contaminaccedilatildeo burguesa (III 127) como o
ardor dos cartistas (44) falta ao movimento operaacuterio inglecircs (1866 III 305)(45)
como os dirigentes operaacuterios ingleses se tornam um tipo intermeacutedio entre a
burguesia radical e o operariado (alusatildeo a Holyoake IV 209) como em
virtude do monopoacutelio da Inglaterra e enquanto esse monopoacutelio subsistir natildeo
haveraacute nada a fazer com o operaacuterio inglecircs (IV 433)(46) A taacutetica da luta
econocircmica em relaccedilatildeo com a marcha geral (e com o resultado) do movimento
operaacuterio eacute ai examinada de uma maneira admiravelmente ampla universal
dialeacutetica e verdadeiramente revolucionaacuteria
O Manifesto do Partido Comunista estabelece o seguinte principio do
marxismo como postulado da taacutetica da luta poliacutetica Lutam eles [os
comunistas] pela realizaccedilatildeo de objetivos e de interesses imediatos da classe
operaria mas representam no movimento presente tambeacutem o futuro do
movimento(47) Por isso Marx apoiou em 1848 na Polocircnia o partido da
revoluccedilatildeo agraacuteria o mesmo partido que fomentou a insurreiccedilatildeo de Cracoacutevia
de 1846(48) Em 1848-1849 Marx apoiou na Alemanha a democracia
revolucionaacuteria extrema sem que nunca se retratasse do que entatildeo disse sobre
taacutetica Considerava a burguesia alematilde como um elemento inclinado desde o
iniacutecio a trair o povo (soacute a alianccedila com os camponeses teria permitido agrave
burguesia atingir inteiramente os seus fins) e a concluir compromissos com os
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
34
representantes coroados da velha sociedade Eis a anaacutelise final dada por Marx
da posiccedilatildeo de classe da burguesia alematilde na eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica
burguesa anaacutelise que eacute um modelo do materialismo que encara a sociedade em
movimento e certamente natildeo considera unicamente o lado do movimento que
olha para traacutes sem feacute em si mesma sem feacute no povo resmungando contra os
de cima tremendo diante dos de baixo espavorida diante da tempestade
mundial nunca com energia e sempre com plaacutegio sem iniciativa um
velho maldito condenado no seu proacuteprio interesse senil a dirigir os primeiros
impulsos de um povo jovem e robusto (Nova Gazeta Renana 1848 ver
Literarischer Nachlass III p 212)(49) Uns vinte anos mais tarde numa carta a
Engels (III 224) Marx escrevia que a razatildeo do fracasso da revoluccedilatildeo de 1848 foi
agrave burguesia ter preferido a paz na escravidatildeo agrave simples perspectiva de combater
pela liberdade Quando acabou a eacutepoca revolucionaacuteria de 1848-1849 Marx
opocircs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar agrave revoluccedilatildeo (luta contra
Schapper e Willich) exigindo que se soubesse trabalhar na nova eacutepoca que
preparava sob uma paz aparente novas revoluccedilotildees A seguinte apreciaccedilatildeo de
Marx sobre a situaccedilatildeo na Alemanha nos tempos da mais negra reaccedilatildeo no ano de
1856 mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado Na
Alemanha tudo dependeraacute da possibilidade de apoiar a revoluccedilatildeo proletaacuteria com
uma espeacutecie de segunda ediccedilatildeo da guerra camponesa (Correspondecircncia II
108)(50) Enquanto natildeo acabou na Alemanha a revoluccedilatildeo democraacutetica
(burguesa) Marx votou roda a atenccedilatildeo em mateacuteria de taacutetica do proletariado
socialista ao desenvolvimento da energia democraacutetica dos camponeses
Pensava que a atitude de Lassaiacutele era objetivamente uma traiccedilatildeo para com o
movimento operaacuterio em benefiacutecio da Pruacutessia (III 210) entre outras razotildees
porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiaacuterios e
para com o nacionalismo prussiano Num paiacutes agraacuterio eacute uma baixeza - escrevia
Engels em 1865 no decurso de uma troca de opiniotildees com Marx a propoacutesito de
uma projetada declaraccedilatildeo comum para a imprensa - atacar em nome do
proletariado industrial unicamente a burguesia sem mesmo fazer a alusatildeo aacute
patriarcal exploraccedilatildeo agrave paulada a que os operaacuterios rurais se vecircem submetidos
pela nobreza feudal (III 217)(51) No periacuteodo de 1864 a 1870 quando chegava
ao fim a eacutepoca da revoluccedilatildeo democraacutetica burguesa na Alemanha a eacutepoca em
que as classes exploradoras da Pruacutessia e da Aacuteustria disputavam acerca dos
meios para terminar esta revoluccedilatildeo por cima Marx natildeo se limitou a condenar
Lassaiacutele pelos seus namoros com Bismarck corrigia tambeacutem Liebknecht que
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
35
tinha caiacutedo na austrofilia e defendia o particularismo Marx exigia uma taacutetica
revolucionaacuteria que combatesse tatildeo implacavelmente Bismarck como os
austroacutefilos uma taacutetica que natildeo se acomodasse ao vencedor o junker
prussiano mas recomeccedilasse imediatamente a luta revolucionaacuteria contra ele
inclusivamente no terreno criado pelas vitoacuterias militares da Pruacutessia
(Correspondecircncia com Engels III pp 134 136 147 179 204 210 215 418
437 440~441)(52) No apelo ceacutelebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870
Marx punha em guarda o proletariado francecircs contra uma insurreiccedilatildeo
prematura mas quando apesar de tudo ela se produziu (1871) saudou com
entusiasmo a iniciativa revolucionaacuteria das massas que tomam o ceacuteu de assalto
(carta de Marx a Kugelmann)(53) A derrota da accedilatildeo revolucionaacuteria nesta
situaccedilatildeo como em muitas outras era do ponto de vista do materialismo
dialeacutetico em que se situava um mal menor na marcha geral e no resultado da
luta proletaacuteria do que teria sido o abandono das posiccedilotildees jaacute conquistadas a
capitulaccedilatildeo sem combate uma tal capitulaccedilatildeo teria desmoralizado o
proletariado e minado a sua combatividade Apreciando em todo o seu justo
valor o emprego dos meios legais de luta em periacuteodo de estagnaccedilatildeo poliacutetica e de
domiacutenio da legalidade burguesa Marx condenou vigorosamente em 1877 e
1878 depois da promulgaccedilatildeo da lei de exceccedilatildeo contra os socialistas(54)a frase
revolucionaacuteria de um Most mas combateu com a mesma emergia se natildeo mais
tambeacutem o oportunismo que entatildeo se tinha apoderado temporariamente do
partido social-democrata oficial que natildeo tinha sabido dar imediatas provas de
firmeza de tenacidade de espiacuterito revolucionaacuterio e de prontidatildeo em resposta agrave
lei de exceccedilatildeo a passar agrave luta ilegal (Cartas de Marx a Engels r IV pp 397
404 418 422 42455 ver igualmente as cartas de Marx a Sorge)(55)
(lt A Doutrina Marxista)
Notas
(27) K Marx O Capital t 1 capiacutetulo I (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
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dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
36
(28) K Marx Contribuiccedilatildeo para a Criacutetica da Economia Poliacutetica capiacutetulo I (retornar ao
texto)
(29) Ver K Marx O capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(30) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo IV (retornar ao texto)
(31) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(32) Teoria da utilidade marginal teoria econocircmica vulgar apologista da burguesia que
surgiu na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX em contraposiccedilatildeo agrave teoria do valor do trabalho de
Marx Segundo essa teoria o valor das mercadorias determina-se apenas pela sua
utilidade para os homens e natildeo depende da quantidade do trabalho social gasto com a
sua produccedilatildeo (retornar ao texto)
(33) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIV (retornar ao texto)
(34) Ver K Marx O Capital t 1 capiacutetulo XXIII (retornar ao texto)
(35) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(36) Ver K Marx O 18 de Brumaacuterio de Louis Bonaparte capiacutetulo VII (retornar ao
texto)
(37) Ver K Marx As lutas de Classes em Franccedila capiacutetulo III (retornar ao texto)
(38) Ver K Marx O Capital t III (retornar ao texto)
(39) Die Neue Zeit (Os Tempos Novos) revista teoacuterica do partido Social-Democrata da
Alemanha Foi publicada em Stuttgart de 1883 a 1923 Na Die Nue Zeit foram
publicadas pela primeira vez certas obras dos fundadores do marxismo Engels ajudava
com os seus conselhos a redaccedilatildeo da revista e criticou-a Poe mais de uma vez por se
desvirar do marxismo A partir da segunda metade dos anos 90 apoacutes a morte de F
Engels comeccedilaram a aparecer sistematicamente na revista artigos dos revisionistas
Nos anos da primeira guerra mundial a revista adotou uma posiccedilatildeo centralista
apoiando de fato os sociais-chauvunistas (retornar ao texto)
(40) Ver a carta de K Marx a F Engels de 9 de abril de 1863 (retornar ao texto)
(41) Ver K Marx Miseria da Filosofia fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(42) Carta de K Marx a F Engels de 5 de fevereiro de 1851 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
37
(43) Cartas de F Engels a K Marx de 17 de dezembro de 1857 e de 7 de outubro de
1859 (retornar ao texto)
(44) Cartistas partidaacuterios do primeiro movimento revolucionaacuterio de massas na histoacuteria
da classe operaacuteria de Inglaterra nos anos 30-40 do seacuteculo XIX Os participantes no
movimento publicaram a Carta do Povo e lutavam pelas reivindicaccedilotildees nela
apresentadas sufraacutegio universal revogaccedilatildeo da existecircncia de ser proprietaacuterio de terras
para ser eleito deputado ao parlamento etc Por todo o paiacutes durante vaacuterios anos
realizaram comiacutecios e manifestaccedilotildees nos quais participaram milhotildees de operaacuterios e
artesatildeos O Parlamento inglecircs recusou-se a retificar a Carta do Povo e rejeitou todas as
peticcedilotildees dos cartistas O governo reprimiu cruelmente os cartistas e prendeu os seus
dirigentes O movimento foi esmagado mas a influecircncia do cartismo sobre o
desenvolvimento do movimento operaacuterio internacional foi muito grande (retornar ao
texto)
(45) Carta de F Engels a K Marx de 8 de abril e cartas de K Marx a F Engels de 9 de
abril de 1863 e de 2 de abril de 1866(retornar ao texto)
(46) Cartas de F Engels a K Marx de 19 de novembro de 1869 e de 11 de agosto de
1881 (retornar ao texto)
(47) K Marx e F Engels Manifesto do Partido Comunista capiacutetulo IV (retornar ao
texto)
(48) Trata-se da insurreiccedilatildeo nacional-libertadora democraacutetica na Repuacuteblica de
Cracoacutevia repuacuteblica que desde 1815 estava sob o conjunto da Aacuteustria da Pruacutessia e da
Ruacutessia No decorrer da insurreiccedilatildeo os rebeldes criaram um governo nacional que emitiu
um manifesto sobre a aboliccedilatildeo das cargas feudais e prometeu entregar as terras aos
camponeses sem resgate Em outros manifestos o governo decretou a criaccedilatildeo das
oficinas nacionais a elevaccedilatildeo dos salaacuterios nestas o estabelecimento da igualdade civil
(retornar ao texto)
(49) K Marx A Burguesia e a Contra-Revoluccedilatildeo fim do II capiacutetulo (retornar ao texto)
(50) Carta de K Marx a F Engels de 16 de abril de 1856 (retornar ao texto)
(51) Cartas de F Engels a K Marx de 27 de Janeiro e de 5 de fevereiro de 1865
(retornar ao texto)
(52) Ver as cartas de F Engels a K Marx de 11 de junho de 1863 24 de novembro de
1863 4 de setembro de 1864 27 de janeiro de 1865 22 de outubro de 1867 6 de
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)
38
dezembro de 1867 e as cartas de K Marx a F Engels de 12 de julho de 1864 10 de
dezembro de 1864 e de fevereiro de 1865 17 de dezembro de 1867 (retornar ao texto)
(53) Carta de K Marx a L Kugelmann de 12 de abril de 1871 (retornar ao texto)
(54) A lei exceccedilatildeo contra os socialistas vigorou na Alemanha de 1878 a 1890 A lei
proibia todas as organizaccedilotildees do partido Social-Democrata as organizaccedilotildees operaacuterias
a imprensa operaacuteria Foram confiscadas as publicaccedilotildees socialistas os sociais-
democratas foram perseguidos e deportados Mas o partido Social-Democrata da
Alemanha soube organizar o trabalho clandestino aproveitando ao mesmo tempo as
possibilidades legais para fortalecer laccedilos com a populaccedilatildeo Em 1890 sob a pressatildeo do
movimento operaacuterio de massas que se fortalecia cada vez mais alei de exceccedilatildeo contra
os socialistas foi revogada (retornar ao texto)
(55) Ver as cartas de K Marx a F Engels de 23 de julho e de 1 de agosto de 1877 e de 10
de setembro de 1879 e as cartas de F Engels a K Marx de 20 de agosto e de 9 de
setembro de 1879 (retornar ao texto)