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Pós-Graduação – A Vez do Mestre
Terapia de Família
Kelly Siqueira Moura
A interferência da família na escolha profissional.
Niterói
2006
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÂO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Kelly Siqueira Moura
A INTERFERÊNCIA DA FAMÍLIA NA ESCOLHA PROFISSIONAL
Este publicação atende a complementação didático-
pedagógica de metodologia de pesquisa e a produção e
desenvolvimento de monografia, para o curso de pós-
graduação em Terapia de Família. Pela autora Kelly
Siqueira Moura.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que direta e
indiretamente contribuíram para a realização da
minha monografia, ao corpo docente do Projeto
“A vez do Mestre” e a professora Maria Poope
pela revisão dos textos. Agradeço ainda, de
forma muito especial, a DEUS que ao longo de
minha formação acadêmica não me
desamparou e me proporcionou grandes
vitórias. Obrigada, SENHOR!!!
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DEDICATÓRIA
DEDICO ESSE TRABALHO A DEUS, AOS MEUS PAIS QUE MUITO AMO E ME ORGULHO E AO MEU NOIVO E GRANDE AMIGO, WANDERSON, PELO INCENTIVO E APOIO.
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RESUMO
O trabalho monográfico em questão tem por objetivo destacar a interferência
que a família pode produzir no processo de escolha profissional a adolescentes
próximos a prestarem vestibular. Tendo em vista, a fase da adolescência,
caracterizada pela tomada de grandes e importantes decisões, inclusive a
relacionada à profissão. Analisando o conceito de família, que vem sofrendo
modificações ao longo dos anos, destacando-a como transmissora de valores que
tanto podem facilitar as opções, como dificultá-las. Ressaltando a importância de
um trabalho em Orientação Vocacional em que a família possa participar
ativamente deste processo, contribuindo para uma escolha de uma profissão
consciente e coerente.
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METODOLOGIA
A intenção deste estudo foi o de investigar, por meio da pesquisa
bibliográfica, as interferências da família no processo da decisão profissional a
adolescentes às portas do vestibular, apoiando as aulas e palestras de conteúdo
progmático teórico, bem como as vivências adquiridas no decorrer do curso em
Terapia de Família.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................08
CAPITULO I ....................................................................................09
A escolha profissional em questão .............................................09
1.1 – As diferentes formas de se pensar a adolescência ............................09
1.2 - A Adolescência e a escolha profissional .............................................11
CAPITULO II ...................................................................................14
A interferência da família na escolha profissional .....................14
2.1 – A família com foi? Como vai? ...............................................................14
2.2 – A interferência da família na escolha profissional ..............................17
CAPITULO III ..................................................................................21
A contribuição da Orientação Vocacional ...................................21
3.1 – O surgimento da escolha profissional .................................................21
3.2 – A Orientação Vocacional segundo diferentes autores ......................22
3.3 – A inclusão da família na Orientação Vocacional .................................25
CONCLUSÃO ..................................................................................27
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ....................................................29
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INTRODUÇÃO
Hoje, mais do que no passado, evoluíram as incertezas a respeito do futuro
profissional de milhares de pessoas. É fato que às portas do vestibular, jovens não
sabem o curso que farão. Torna-se cada vez mais difícil, nos últimos anos fazer essa
opção.
A escolha profissional nem sempre foi um problema do homem. A possibilidade
da escolha profissional surge como questão importante na medida em que é instalado,
definitivamente o "estrangulamento" do mercado de trabalho.
Ao se admitir que o homem é um ser sócio-histórico formado de suas relações
com outros indivíduos, não poderíamos entender a escolha da profissão como algo
simplesmente isolado e individual. Um conjunto de elementos sociais e econômicos
interferem ou influenciam a escolha profissional.
A família é um interferente crucial na decisão profissional. Ela é vista como
transmissora de valores que tanto podem facilitar as opções, como dificultá-las. Não
apenas integra o indivíduo ao meio social, mas também lhe proporciona condições de
autonomia e, por isso mesmo, de interferência no meio social. É relevante mostrar que
a família tem uma importância eminentemente social, ainda que essa questão assuma
conotações diferentes através da história.
A intenção deste estudo é investigar as interferências que a família vem
"produzindo" no processo da decisão de uma escolha profissional à adolescentes em
vias de vestibular.
O primeiro capítulo, objetiva enfatizar o processo de escolha profissional,
colocando-a em questão, frente à fase da adolescência. O segundo, visa destacar o
conceito de família ao longo do tempo, vendo-a como um fator interferente no momento
em que o adolescente precisa tomar uma decisão profissional. O último, tem por
objetivo apresentar a Orientação Vocacional, como um recurso de auxílio para a opção
de uma profissão, enfatizando a importância da família ser incluída neste processo.
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CAPÍTULO I
A escolha profissional em questão
Ao se admitir que é na adolescência, momento em que vai se
estabelecendo uma identidade e tomada de grandes escolhas, inclusive, a relacionada
à profissão, buscamos por meio deste capítulo, discutir a escolha profissional
colocando-a em questão frente a fase da adolescência, caracterizada de formas
diversas por diferentes autores.
1.1 - As diferentes formas de se pensar a adolescência
Diariamente ouvimos a afirmativa de que o momento da escolha profissional
coincide com a fase da adolescência, um período de crise, transição, adaptação e
ajustamento. Segundo Bohoslavsky, "todo adolescente é uma pessoa em crise, na
medida em que está desestruturando e reestruturando tanto seu mundo interior como
suas relações com o mundo exterior" (Bohoslavsky,1998,pg.36). È um momento de
ruptura, onde o indivíduo terá que se inserir no mundo dos adultos para o qual não se
encontra totalmente capacitado, deixando para trás seu mundo infantil, seguro e
conhecido, tendo de se adaptar a uma nova forma de vida. Segundo análise de
Aberastury (1981), o adolescente realiza três lutos fundamentais, são eles: a) o luto
pelo corpo infantil perdido em decorrência das mudanças biológicas comuns a fase da
adolescência; b) o luto pelo papel e a identidade infantil, que em função da
responsabilidade e busca de autonomia renuncia a relação de dependência e papéis
esclarecidos que mantinha de forma cômoda e prazerosa; c) o luto pelos pais da
infância, que significam proteção e refúgio, e que não mais atuarão como supridores a
partir do momento em que terão de tomar as decisões por si mesmo. Debesse (1946),
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considera que a adolescência está para além de uma simples transição entre a infância
e a fase adulta, possui uma mentalidade e psiquismo que lhe é peculiar.
Os existencialistas nomeiam a adolescência de ´nascimento existencial` em que a
identidade adulta começa a se definir, e o jovem passa a buscar melhor conhecer seus
gostos, interesses e motivações, impondo limite entre o que quer ser e o que não quer
ser. Logo, desequilíbrios e instabilidades são inerentes à crise preexistente na
adolescência,e, tal perspectiva marca a naturalização e universalização do
comportamento do adolescente.
A busca de si mesmo e da identificação, tendência grupal, necessidade de
intelectualizar e fantasiar, as crises religiosas, a deslocalização temporal, a evolução
sexual desde o auto-erotismo até a heterossexualidade, atitude reivindicatória,
contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta, afastamento
progressivo dos pais, constantes flutuações do humor e do estado de ânimo, são
aspectos envolvidos no processo do adolescer. E foi com base nestas características,
que os autores, Aberastury e Knobel (1981), inauguraram a noção de "síndrome normal
da adolescência" ou "crise essencial da adolescência", onde todo o adolescente passa
por intranqüilidades e inconstâncias extremas e são vulneráveis a assimilar projeções
familiares, de amigos e da própria sociedade.
Osório (1992), vai além ao acreditar que a crise de identidade do adolescente só
tem sentido em se tratando de jovens oriundos de classes mais altas da sociedade.
Estes têm maior chance, dispõe de tempo para dedicar-se aos estudos e não
trabalham (ou não exercem atividades profissionais muito desgastantes), tem
condições de alimentar-se bem, de descansar bem, tem o dinheiro para comprar o
material necessário para o estudo e etc., o que difere das classes menos privilegiadas
que precisam lutar para sobreviver. No entanto, ele acaba por destacar a crise em
qualquer Jovem, mesmo aqueles em “ condições de vida extremamente adversas,
desde que assegurada a satisfação das necessidade básicas ”. A rebeldia e a
contestação indicam uma adolescência normal, o adolescente submisso é exceção à
normalidade.
Blasco (1997), acredita ser arriscada a posição que a Psicologia defende ao
admitir que a adolescência é uma etapa de crise e turbulência, rotulando como
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patológico o adolescente que não apresenta características ´comuns` como a rebeldia
ou dificuldades presentes na síndrome normal da adolescência. Outra questão
importante, ao considerar "saudável" o ´ ser anormal, é possível que problemas sérios
que apareçam na adolescência não sejam reconhecidos como tal, podendo o
adolescente apresentar alterações de comportamento sérios, sendo rotulados como
"bobagens da idade".
A Psicologia nos seus manuais supõe direitos e oportunidades iguais para todos
os adolescentes, sendo que na realidade as coisas não acontecem assim, na verdade
com este discurso vela-se e legitima-se as desigualdades sociais, vivendo de
idealizações.
A concepção da Psicologia sócio-histórica, diferente da visão naturalista e
universal do adolescente adotada pela Psicologia Tradicional, não nega a
adolescência, mas a entende não como uma fase natural ao desenvolvimento humano,
mas como uma fase, que é criada historicamente pelo homem nas suas relações
sociais, enquanto um fato e passa a fazer parte da cultura enquanto significado. A
adolescência na visão sócio-histórica, não deve ser explicada, e sim, compreendida em
sua origem e desenvolvimento histórico, dentro de uma tessitura social, que constitui
uma determinada adolescência.
1.2 - A Adolescência e a escolha profissional
Para melhor esclarecimento, a autora Adélia Clímaco (1991), traz questões
sociais, econômicos e culturais como fatores que possibilitam a compreensão do
surgimento da adolescência. Diz que, na modernidade, o trabalho, com todo o seu
aparato tecnológico, passou a exigir que os jovens adquirissem maior tempo de
formação escolar. A realidade do desemprego comum à sociedade capitalista forçou-os
a melhor se prepararem para o ingresso no mercado de trabalho, ficando maior parte
do tempo na escola, afastando-se do trabalho por algum tempo. O adolescente
treinado e controlado, para que esteja a serviço do capital.
O avanço tecnológico desafiou a sociedade resolvendo problemas humanos,
prolongando a vida, e abrindo perspectivas para o mercado de trabalho.
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Manter as crianças na escola por um período prolongado foi a solução encontrada
por muitos pais em que lhes foram dadas às condições para que se mantivessem as
crianças sob sua tutela sem ingressar no mercado de trabalho. A extensão do período
escolar, e conseqüentemente, o distanciamento dos pais e da família e a aproximação
de um grupo de iguais foram as conseqüências dessas exigências sociais. Neste
contexto ocorre a criação de um novo grupo social com características comuns entre si:
a juventude/ a adolescência.
Sendo assim, a adolescência, um período de latência social, e também, a
necessidade de se fazer uma escolha profissional coerente, foi gerada a partir da
sociedade capitalista, aonde questões sociais e históricas vão contribuindo para uma
fase em que o indivíduo afasta-se do trabalho e busca uma maior preparação técnica.
As mudanças corporais passam a ser tomada como marcas do corpo, que sinalizam a
adolescência.
Os jovens neste momento da vida, possuíam competência para ingressarem no
mundo adulto e capacidade de trabalho, porém, em suas necessidades sociais, não
estavam autorizados para exercerem sua autonomia e sustento mediante o mundo de
trabalho e vínculo de dependência do adulto, mesmo tendo condições de estar de outra
forma na sociedade.
Podemos dizer que deste contexto surgem sentimentos como a rebeldia, a
moratória, a instabilidade, a busca de identidade e os conflitos tão característicos dessa
fase. Mas há de se esperar, já que estando aptos para a atuação no mundo adulto são
vedadas as possibilidades deles experimentarem a realidade social.
A adolescência é considerada um momento crucial da vida do homem. Um
período de suma importância em que vai se dar a tomada de decisões, inclusive, a
relacionada a profissão, que muitas das vezes, compromete todo um futuro, se não
realizada conscientemente. A escolha de uma profissão coloca-se na listagem das
decisões a serem tomadas. Alguns adolescentes a tomam como a mais importante e
primordial para sua vida adulta, e desesperam-se frente à ideologia de que a escolha
de uma profissão é para a vida toda. Desesperam-se frente a esta imposição, por
vezes injusta, pois frente às inúmeras possibilidades, muitas não conhecidas, tem que
se escolher apenas uma, a “profissão certa”. A chegada ao ensino médio, por volta dos
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15 anos de idade, marca o início das preocupações com a carreira. São muitos os
adolescentes/jovens que no 3º ano do Ensino Médio, etapa final do ensino básico, não
sabem o que fazer e o que escolher, ou melhor, não tem acesso a maiores
informações sobre as diversas profissões. Muitos se formam e a beira de prestar um
vestibular ou ocupar-se profissionalmente não sabe o que farão.
Vale ressaltar, que a escolha profissional deve estar intimamente ligada às
afinidades e habilidades do estudante. Especialistas a uma reportagem a revista Época
(2003, p.97), alertaram que a vocação não é tudo para a definição da carreira, mas,
também, deve-se levar em conta aspectos como remuneração e o modo de vida que se
pretende no futuro, para então, medir sacrifícios e ambições. Inúmeros fatores
interferem diretamente na hora de um adolescente realizar a sua escolha por uma
profissão, sendo relevante, que o mesmo esteja atento a tais implicadores.
O momento de escolha profissional é um período em que o adolescente precisa
de subsídios familiar e emocional para a realização da melhor escolha possível. Logo,
não poderíamos entender a escolha profissional como algo simplesmente isolado e
individual. Uma série de fatores sociais e econômicos interferem na escolha de uma
profissão. Entre eles, a família apresenta-se como um fator interferente na escolha
profissional de um adolescente, e, é desse mesmo lugar que, muitas vezes, espera ser
atendido e apoiado.
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CAPÍTULO II
A interferência da família na escolha profissional
“Família, família, papai, mamãe, titia. Família, almoça junto todo dia. Nunca perde
essa mania”. Percebemos muitas vezes um certo saudosismo que nos acomete pela
lembrança de um tempo em que a letra da música do grupo Titãs representava um
espelho da sociedade. Homens e mulheres voltados para preocupações bem definidas,
ligados na tarefa mútua de gerar, criar e educar os seus filhos. Na hora das refeições,
aquela festa! Todos reunidos trocando idéias, comentando afazeres diários ou
desabafos por algum contratempo. Mas hoje a realidade é outra. A vida contemporânea
quebrou convenções, fazendo com que o ser humano convivesse numa nova e muito
diferente estrutura familiar. Sendo assim, pretendemos destacar neste capítulo a família
do passado e do presente, ressaltando-a como um fator interferente na escolha
profissional de um adolescente.
2.1 - A Família como foi ? Como vai?
A família até o século XVIII, vivia sob um modelo patriarcal , onde o pai
considerado o ‘maioral’ do lar, tinha todos os direitos sobre a mulher e filhos, sendo-lhe
permitido, até mesmo, matá-los. Na época romana, a família era compreendida pelos
filhos casados, suas mulheres e filhos, e também, os escravos. Posteriormente, a
família fora reduzida ao pai, à mãe e aos filhos, mantendo o modelo patriarcal. Tinham
uma missão de transmitir de geração a geração valores como a procriação, a
transmissão dos bens e da tradição, a linhagem, a possessão de terras e a herança.
O casal tinha seus papéis divididos de acordo com o sexo, a saber: o homem
responsável em prover as necessidades básicas da família e a mulher tinha a função
de protetora do lar, onde os serviços domésticos e cuidado com os filhos faziam parte
de sua tarefa diária.
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A família vem sofrendo desagregação, no entanto, permanece sendo um espaço
privilegiado de socialização e de prática de tolerância e divisão de responsabilidades,
de busca coletiva de estratégias de sobrevivência e lugar inicial para o exercício da
cidadania sob o parâmetro da igualdade, do respeito e dos direitos humanos. A família
é o espaço indispensável para a garantia da sobrevivência de desenvolvimento e da
proteção integral dos filhos e de mais membros; independente do arranjo familiar ou
da forma que vem se estruturando.
“ É a família que propicia os aportes afetivos e sobretudo
materiais necessários ao desenvolvimento e o bem-estar dos
seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na
educação formal e informal é em seu espaço que são absorvidos
os valores éticos e humanitários, e onde se aprofunda os laços de
solidariedade. È também em seu interior que se constroem as
marcas entre as gerações e são observados valores culturais ” (
Ferrari, M. e Kaloustian, S.M.p.11).
O estatuto da criança e do adolescente ( Art. 4º) trata a família como sendo a
instituição responsável pela alimentação e proteção da criança, da infância à
adolescência. A socialização da criança, a sua inserção na cultura, valores e normas
começa deste lugar. Logo, para um desenvolvimento completo e harmonioso da
personalidade da criança faz-se necessário que a mesma cresça num contexto familiar
onde a felicidade, amor e compreensão sejam evidentes.
Atualmente, encontramos a chamada “família mosaico” , que segundo Claire
Garbar e Francis Theodore (2000,p.161), trata-se de um “conjunto de elementos
justapostos”, que numa família seriam as recombinações de inúmeros divórcios, dos
segundos casamentos e coabitações, onde um novo tipo de família vai surgindo.
Assim, “os meus filhos”, “os seus filhos” e “os nossos filhos”, pai, mãe, padrasto,
madrasta, irmãos, meio-irmãos e irmãos postiços, dão origem a um conjunto de
verdadeiros e falsos, avôs, avós, tios, tias, primos e primas.
Com base em diferentes estudos antropológicos, a família vem sofrendo
inúmeras e variadas mudanças sendo reinventada com novos arranjos. A saber, o
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etnólogo, Claude Lévi- Strauss (1982,p.357), em um de seus estudos observou de
forma nítida que a família consiste em “uma união mais ou menos duradoura,
socialmente aprovada, entre um homem, uma mulher e seus filhos”, constituindo
fenômeno universal, presente em toda e qualquer sociedade. No entanto, diferentes
sistemas de matrimônio e filiação se dão, de acordo, com o contexto sócio-histórico-
cultural de cada localidade.
Segundo Claude Lévi-Strauss (1982), a família pode ser baseada em
diferentes tipos de casamento. Como exemplo, a civilização mulçumana constitui-se em
uma sociedade polígama onde o homem pode ter ao mesmo tempo inúmeras esposas.
Na Índia, entre o Nayor e os Todas caracteriza-se por ser uma sociedade poliandra
onde uma mulher pode ter diversos maridos. Já no Nepal, os Pahari praticam um tipo
de poliandria fraterna em que uma mulher desposa o filho mais velho dos seus irmãos.
No tocante a filiação nem sempre os pais assumem a educação dos filhos. A
exemplo, entre os Mossis, na África, a mãe é considerada aquela que pare, amamenta
e educa. Entre os Trobian, na Melanésia, as crianças pertencem a linhagem materna.
O pai é visto pela criança como marido de sua mãe, delegando ao irmão da mulher o
lugar de verdadeiro pai. Diferentemente, em Israel as crianças desde os seis meses de
vida são criadas em grupos, nas conhecidas “casa das crianças” por babás, podendo
ver seus pais durante duas horas por dia, de acordo com a sociedade a filiação pode
ser materna ou paterna. Na ilha de Tori, na Etiópia, depois do casamento, cada cônjuge
volta a viver com seus pais , onde marido e mulher não precisam morar juntos. Nas
sociedades polígamas, cada esposa tem sua casa e o marido a visita regularmente.
Desta forma, constatamos que não existe um modelo único de família, e sim
diferentes formas de se pensar e vivenciar a família que devem ser compreendidas e
respeitadas.
A palavra família é destacada por Claire Garbar e Francis Theodore (2000), como
tendo dois sentidos. De um lado, entendida como um conjunto de seres do mesmo
sangue, por outro, um conjunto de pessoas que vivem sob o mesmo teto, dentro de
uma visão também sociológica. Já o demógrafo destaca a família por um grupo
formado por mãe e seus filhos; permitindo-lhe calcular o índice de natalidade. O INSSE,
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caracteriza a família como sendo composta de pelo menos duas pessoas: seja um
casal, casado ou não, com ou sem filhos, ou um adulto com um ou vários filhos.
Enfim, um ponto comum entre as “famílias tradicionais” e as “novas famílias”, é
que independente das definições oficiais referentes a família, esta é a “primeira
comunidade social da qual a criança participa... permite o aprendizado da vida em
sociedade e transmissão de valores”, segundo análise de Claire Garbar e Francis
Theodore (2000), destacando-a de suma importância na vida de uma criança e,
posteriormente, de um adolescente.
2.2 - A interferência da família na escolha profissional
A família é um espaço onde cada membro tem um papel a desempenhar, sendo
que os papéis principais na família devem ser desempenhados pelos pais. Grandes são
as responsabilidades e funções destinadas aos mesmos, tal como, função material,
psicológica e social de alimentar, vestir, cuidar, proteger, e também, estabelecer
relacionamentos saudáveis entre pais e filhos. A saber, todo o registro da comunicação,
verbal e não-verbal, irá possibilitar que a criança crie seus laços, tendo seus pais como
principais exemplos idendificatórios.
A família está para além de uma associação de pessoas, “ é onde as crianças
descobrem o amor e o ódio, onde elas podem esperar receber simpatia e tolerância,
mas também exasperação”, segundo análise da psicanalista Fançoise Polto (id. Claire
Garbar e Francis Theodore,2000, p.36).
A psicopedagoga, Silvia Amaral de Mello Pinto, a uma entrevista a revista época
(2003, p. 89), declarou que aos pais “não basta apenas treinar os filhos para passar no
vestibular e ser competitivos, se os pais não tiverem também como objetivo contribuir
para que eles se sintam realizados, todos esses planos podem acabar em frustração”.
Estudos afirmam que desde a primeira infância pode-se cultivar e estimular a
inteligência, a criatividade, a responsabilidade e o respeito às regras de boa
convivência social até mesmo na hora do brincar. Os primeiros anos de vida são
cruciais para o desenvolvimento das competências e habilidades que os filhos vão
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carregar por toda vida. As brincadeiras são importantes recursos para o
desenvolvimento psicológico e motor e para a convivência social da criança.
É importante que a escolha da escola esteja em consonância com o tipo de
formação dada em casa, seja ela liberal ou conservadora. A família deve estar atenta e
priorizar uma instituição adequada a essas aspirações. Levando em conta, as
afinidades naturais do adolescente, não optando por uma carreira, apenas pelos
retornos financeiros e preferências familiares.
Escolher uma escola adequada implica no currículo e tipo de formação intelectual
e moral que se pretende dar aos filhos. Se pais conservadores escolherem uma escola
liberal para seu filho, provavelmente, terá conflitos ” uma boa escola é aquela que se
preocupa com a criança em todos os seus aspectos: físico, cognitivo, afetivo e social ” ,
diz a psicopedagoga Silvia Amaral de Mello Pinto.
A família apresenta-se como um fator interferente, a partir do momento em que
exerce sua função socializadora. A exemplo, quando um bebê nasce,
conseqüentemente, é integrado no grupo social de referência pertencente a sua família.
Um bebê antes mesmo de chegar ao mundo, ocupa um lugar social, e também
psicológica, na vida dos integrantes da família. Logo, a família está encarregada de
apresentar o mundo ao bebê, junto a outras figuras significativas, e, é deste mesmo
lugar, que no futuro se dará a escolha profissional. Segundo Maria Luiza (1995,p.74) “
a forma como os pais dão significado aos elementos da vida ocupacional sempre está
presente no modo de um filho significar este universo”.
Geralmente quando um adolescente procura decidir-se profissionalmente, depara-
se com algumas pressões familiares. A família torce para o filho estudante conseguir
entrar numa faculdade, no entanto, algumas famílias exercem cobranças que podem
aumentar e comprometer o estresse e dificultar o desempenho do adolescente frente a
escolha profissional. Os pais devem ter em mente que o vestibular não é o fim das
coisas, e sim, uma etapa a ser alcançada. Os pais devem preocupar-se na realização
pessoal e profissional de seus filhos, incentivando-os a assumir responsabilidades da
vida adulta, mesmo que , na maioria das vezes, os pais continuem bancado-os
financeiramente.
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Maria Luiza (1995,p.78) diz que a escolha profissional influenciada pelos dilemas
familiares, poderá transformar-se em um “sintoma de grupo” , ou expressão de
ansiedades e conflitos compartilhados. Para melhor esclarecimento, o conceito
“identificação projetiva”, introduzido pela Melaine Klein (1946), contribui para entender
como se forma um “paciente-identificado” num contexto familiar, ou melhor um bode-
expiatório dos conflitos, um responsável pelos problemas familiares, mas que na
realidade expressam um dilema compartilhado, onde, através do sintoma as dores e
dificuldades de todo o grupo familiar são expressos.
Melaine Klein (1946), utiliza tal expressão para designar o mecanismo através do
qual “ uma combinação de partes cindidas do EU é projetada em outra pessoa”, onde
os sentimentos e idéias derivados do mundo interno do indivíduo são divididos em
pedaços e projetados num objeto exterior. Assim, o sujeito se desprovêem de parte do
EU e a vivencia no objeto ou a outra pessoa, como se este possuísse a parte projetada.
A outra pessoa reciprocamente a recebe num processo de conivência, por laços que
permanecem inconscientes aos sujeitos.
O que ocorre é que neste caso o indivíduo e grupo familiar permanecem
descontentes e com seus conflitos. Daí podemos pensar, que a escolha profissional
pode se tratar de uma iniciativa de reparo e ‘conserto’ de algo que se encontra
estragado ou quebrado dentro do indivíduo, podendo surgir como significante de um
conflito grupal, numa tentativa de representar tais conteúdos e apresentar uma solução.
A saber, é comum que alguns pais façam de seus filhos um depósito de
seus próprios ideais não realizados ao longo da vida, ao invés de criá-los para serem
construtores de seus próprios sonhos. È fundamental, que os pais observem os
interesses dos filhos e os ajudem na descoberta de suas habilidades. Os pais devem
quebrar preconceitos e idealizações sobre as profissões, para evitar decepções futuras.
A família não precisa omitir o que gostaria que o estudante fizesse, já que todo filho
sabe que seus pais tem expectativas a seu respeito. No entanto, pressão não adianta,
o interessante é mostrar no dia-a-dia as referências que se pretende passar aos filhos.
Bohoslavsky (1997), destacou a importância de se estar atento aos movimentos
aparentes ou ‘falsas’ reparações enfatizando a necessidade de detectá-los, uma vez
que possivelmente terão maior probabilidade de frustrar o futuro profissional do que
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produzir resultados positivos. Já que normalmente resulta em uma situação de pura
aparência, como se a pessoa pudesse livrar-se de sensações interiores dolorosas, mas
que na realidade não resolve o problema e a ansiedade tornam-se fatores originais.
Daí a importância de dentro de um programa de Orientação Vocacional voltado
para adolescentes se dar a inclusão da família neste processo, a fim de se
compreender a psicodinâmica familiar que está inserida, e assim, auxiliá-lo,
considerando os processos envolvidos neste imaginário familiar, contribuindo para uma
escolha profissional consciente e coerente.
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CAPÍTULO III
A contribuição da Orientação Vocacional
O objetivo deste capítulo é destacar a contribuição da Orientação Vocacional no
processo da escolha profissional de um adolescente, ressaltando a importância da
participação da família do orientando no mesmo.
3.1 – O surgimento da escolha profissional
Na comunidade primitiva, os seres humanos organizavam o seu trabalho como
atividade de coleta e mais tarde de caça e não havia muita distinção entre as funções,
ou seja, viviam para sua própria sobrevivência. A coletividade era mínima, assentada
sobre a propriedade de terra e unida por laços de sangue, os seus membros eram
indivíduos livres, com direitos iguais. As mulheres e as crianças estavam em pé de
igualdade com os homens, havendo apenas uma hierarquia no que se refere a
assuntos de guerra e cuidados com a saúde, atividades desenvolvidas por questão de
bravura e/ou idade avançada. Não havendo necessidade nem a possibilidade de
grandes escolhas no desempenho das funções.
Na Grécia antiga, o ócio era uma atividade valorizada, a contemplação era uma
atividade dos homens não-livres, que tinham a função de produzir a existência material.
O trabalho era sinônimo de atividade penosa e degradante, sem valor social, ser
cidadão ou escravo, por exemplo, não dependia de qualquer tipo de escolha, mas da
condição de classe familiar, do indivíduo, ou de acordo com as vitórias ou derrotas em
guerra.
Na Idade Média, especificamente no feudalismo, a sociedade era estratificada
onde a posição e a ocupação do indivíduo era transmitida de pai para filho, com se
fosse uma determinação divina onde "os ricos cada vez ficam mais ricos e os pobres
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cada vez ficam mais pobres" . Assim sendo, neste modo de produção os sujeitos não
escolhiam uma profissão, os laços de sangue é que determinavam e explicavam a
estrutura social, não havendo, mobilidade social. O conceito de vocação que vigorava
era de cunho religioso a favor da manutenção da ordem social, colocando que esta era
determinada pela vontade de Deus.
A escolha profissional emerge na medida em que é instalado definitivamente o
sistema capitalista de produção. A característica principal deste modo de produção será
não mais a satisfação das necessidades humanas, mas a geração de lucro.
3.2 – A Orientação Vocacional segundo diferentes autores
As teorias e práticas da Orientação Profissional avançam e a seleção de pessoal
na contratação de mão-de-obra passa a ter importância, uma vez que prevalece a
ideologia capitalista : " o homem certo no lugar certo, visando a maior produtividade".
“A posição do indivíduo no capitalismo, não é mais determinado,
pelos laços de sangue. Agora esta posição é conquistada pelo
indivíduo segundo o esforço que despende para alcançar esta
posição. Se antes esta posição era entendida em função das leis
naturais referendadas pela vontade divina, agora, ao contrário, o
indivíduo pode tudo, desde que lute, estude, trabalhe, se esforce,
e também ( por que não ) seja um pouco aquinhoado pela sorte”.
(Bock, 1995, p. 65).
A Orientação Vocacional surge como um recurso auxiliar e eficaz frente à decisão
de uma escolha profissional e exigências do mundo capitalista. Um instrumento que,
por sua vez, as escolas, atualmente, poderiam lançar mão como um recurso
colaborador no processo de decisão profissional. É essencial, o auxílio de um
profissional, o psicólogo, responsável por encaminhar todo o processo de
Orientação Vocacional a partir de uma postura responsável e ética. A escola pode
interferir na escolha de uma profissão de um aluno se usar de estratégias que o
capacite para enfrentar a realidade e prepará-lo para a sua inserção no mercado de
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trabalho, possibilitando-o um espaço reservado a reflexão, a análise e discussões
necessárias para a realização de uma escolha sólida.
Segundo Lucchiari (1993), a Orientação Profissional tem por objetivo
facilitar o momento da escolha ao Jovem, auxiliando-o a compreender sua situação
específica de vida, na qual estão incluídos aspectos pessoais, familiares e sociais. È a
partir dessa compreensão, que ele terá mais condições de definir qual a melhor escolha
possível no seu projeto de vida.
A Orientação Vocacional deve constituir-se em algo mais do que um momento
para a “descoberta” da profissão a seguir. Deve ser um processo em que os conflitos,
estereótipos e preconceitos sejam trabalhados a fim de superá-los; onde as
desinformações sejam enfrentadas e possíveis caminhos traçados; o auto-
conhecimento alcançado para que as decisões venham ser tomadas com base na
realidade social. A Orientação Vocacional como possibilidade de se criar uma
intervenção que a partir de informações e de reflexões sobre diversos aspectos, dê ao
sujeito condições de se apropriar de suas determinações, compreendendo-se como um
sujeito ao mesmo tempo único, singular, histórico e social é o que propõe, Gonçalves
(2001). Segundo o mesmo, quando a Orientação Profissional é proposta dentro de uma
visão naturalizada do que seja a adolescência, caracterizada por crises e dúvidas, a
própria escolha da profissão se naturaliza. Contudo, quando se considera que essa
fase é construída historicamente e que suas dificuldades são geradas
fundamentalmente pela contradição condição/autorização, terá outro tipo de proposta
para esses jovens. É ideal, que a Orientação Profissional possibilite ao indivíduo a
compreensão desse processo histórico, a fim de que se aproprie de suas
determinações e seja capaz de interferir no mundo social.
Bohoslavsky (1998), voltava o seu trabalho em Orientação Vocacional,
especificamente, para adolescentes de 15 a 19 anos, já que é basicamente neste
período que surgem as dificuldades e soluções de natureza vocacional. Para ele a
escolha de uma carreira e um trabalho podem ser auxiliados se o Jovem conseguir
assumir a situação que enfrenta e, ao compreendê-la, chegar a uma decisão pessoal
responsável. O adolescente é capaz de tomar uma decisão se conseguir elaborar os
conflitos e ansiedades em relação ao seu futuro.
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Para Müller, a Orientação Vocacional não se trata de um juízo, ou de um estudo
psicológico do qual se obtém “resultados”, nem tão pouco de um conselho ou
prescrição médica, “é um processo, uma trajetória, uma evolução mediante a qual os
orientandos refletem sobre sua problemática e buscam caminho para a sua elaboração”
(Müller,1988,pg.14). A Orientação Vocacional tem por objetivo levar o orientando a pôr
em prática o conhecimento pessoal, o conhecimento da realidade, e assim, tomar
decisões reflexivas e de maior autonomia, levando em conta suas próprias
determinações psicológicas e as circunstâncias sociais. A vocação faz-se subjetiva e
historicamente em interação com os outros, de acordo com as oportunidades familiares
e as disposições pessoais. Para ela, a Orientação Vocacional é:
“... uma tarefa clínica, cujo objetivo é acompanhar a um ou mais
sujeitos na elaboração de suas reflexões, conflitos e antecipações
sobre seu futuro, para tentar a elaboração de um projeto pessoal
que indica uma maior consciência de si mesmo e da realidade
sócio-econômico cultural e ocupacional, que permita aos
orientandos aprender a escolher um estudo ou ocupação e
preparar-se para desempenhá-lo” . (Muller,1988,p.9)
Para Bock (2001), a melhor escolha profissional que um indivíduo pode
realizar é aquela que consegue dar conta, no sentido de reflexão, do maior número de
determinações para, a partir delas, construir esboços de projetos de vida profissional e
pessoal.
“Para um adolescente, definir o futuro não é somente definir o que fazer, mas
fundamentalmente definir quem ser e, ao mesmo tempo, definir quem não ser”
(Bohoslavsky,1998, pg.28).
Em suma, a Orientação Vocacional deve contribuir para que o indivíduo entenda
sua relação com a sociedade de forma dinâmica e dialética, ampliando o processo de
construção e consciência de si mesmo e do mundo, tornando-o mais apto para resolver
da melhor maneira, questões pertinentes ao seu futuro profissional, organizando suas
ações e intenções baseado nas possibilidades e necessidades.
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3.3 – A inclusão da Família na Orientação Vocacional
Incluir os pais e/ou familiares no trabalho de Orientação Vocacional não quer
dizer, necessariamente, tê-los concretamente em todo o momento do processo.
Diversos recursos podem ser adotados a fim de que investiguem as representações
vinculados ao processo de escolha profissional presente na família. O objetivo deste
tipo de trabalho “ não precisa se restringir a identificar as carreiras pertinentes ao
estudante, mas pode aspirar a auxiliá-lo na transposição dos impedimentos psíquicos e
elaboração das motivações inconscientes ao caminho da sua profissionalização”,
segundo Luiza(1995, pg. 77).
Ao se falar em projetos de vida profissional e pessoal de um orientando estará se
focalizando no mundo de representações do mesmo e de seu grupo familiar sobre o
mundo de trabalho e sentido da vida de uma forma geral. O que impossibilita que se
tenha uma visão descontextualizada, sendo necessário compreendê-lo junto as suas
ansiedades em referência ao grupo social que faz parte, entre eles, a família, amigos,
escola e etc..
O grupo familiar constitui o grupo de participação e de referência fundamental, e é
por isso que os valores desse grupo constituem bases significativas na orientação do
adolescente, quer a família atue como grupo negativo de referência ou positivo,
segundo análise de Bohoslavsky(1998).
Daí a importância de se destinar um espaço para se pensar a relação do jovem
estudante com a família e com as expectativas parentais. Além disso, prevenir, de
forma a estar atento a todo material psíquico trazido pelo orientando que o dificulta a
dificulta a decidir-se profissionalmente. Já dizia Levisky(1992), que qualquer um de nós,
enquanto ser-humano, já vivenciamos a experiência de como nossa capacidade de
concentração, trabalho, reflexão se alteram na dependência de nossos estados
emocionais. Quando conseguimos modular de forma adequada o nível de ansiedade, a
capacidade criativa, o pensar, o perceber e o aprender significados tornam-se mais
abrangentes. Logo, a participação dos pais no processo de Orientação Vocacional
contribui para a análise e elaboração, pelo indivíduo, destes elementos subjacentes à
escolha ocupacional.
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Cabe à família criar condições, para que o jovem/adolescente dapara-se com
suas questões, reflita sobre elas, aprofundando o conhecimento de si mesmo e da
realidade onde vive; levando em conta, que a escolha é um processo pessoal e
particular, e que são múltiplas as determinações envolvidas nesse processo. A família,
deve fazer valer seu papel social de “formadores de indivíduos” e “construtores de
cidadania”, e assim, contribuir para que o adolescente realize sua escolha profissional,
valorizando o espaço familiar como um fator interferente no projeto de sua vida futura.
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CONCLUSÃO
Entre as inúmeras nuances que interferem na decisão profissional, optamos por
destacar a família, como um dos interferentes cruciais neste processo de escolha.
No espaço familiar, caracterizado pela formação de indivíduos e construtores de
cidadania, os pais têm um papel fundamental; apresenta-se como um agente,
possibilitador ou não, para a resolução de uma opção profissional. Quando em
interação com seu filho, contribui para que o mesmo realize sua escolha calcada em
contribuintes da relação que mantém com os mesmos.
O cultivo ao brincar estimulam a inteligência, a responsabilidade e compromisso
desde a primeira infância quando os pais permitem que seus filhos entrem em contato
com o mundo através das brincadeiras. Já desde pequeno os pais podem contribuir
para um futuro profissional de seus filhos até mesmo na hora da escolha da escola,
sendo de suma importância que a opção pela escola do filho coincida com a criação
que os mesmos dão em casa.
Vale ressaltar, que aos pais não bastam, apenas, treinar seus filhos para terem
sucesso no ingresso à faculdade ou mercado de trabalho, muito mais do que isso,
devem prepará-los para serem construtores de sua própria história, capacitando-os
para realizarem escolhas coerente.
A família é a responsável pela socialização do indivíduo, desde a infância à
adolescência contribuem para um desenvolvimento completo e harmonioso na
personalidade da criança, logo, é necessário que se tenha um contexto familiar onde o
carinho, o afeto e compreensão estejam presentes, para que assim encontrem
subsídios emocionais para enfrentarem os implicadores envolvidos no processo de
escolha.
Ao se entender a família como um grupo de participação e de referência
fundamental, faz-se necessário a inclusão da família no processo de Orientação
Vocacional, recurso utilizado para auxiliar o adolescente no momento da escolha
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profissional, que quase sempre são envolvidas por pressões e questões familiares,
podendo ser trabalhadas neste espaço.
Incluir os pais na orientação Vocacional, não significa necessariamente tê-los em
todo o momento do processo, pelo contrário, é permitir que em um momento específico
do processo participem, a fim de que se investiguem a implicação da família na opção
profissional do adolescente.
Sendo assim, a família apresenta-se como um interferente na escolha de uma
profissão de um adolescente quando em interação com o mesmo, demonstra
disposição para ouvir questões referentes ao que terá que escolher futuramente: o
aluno em vias de se engajar no mercado de trabalho.
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