lanzarote e saramago

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  • 7/26/2019 Lanzarote e Saramago

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    LanzaroteQuintadoMarcoAlbanoLourenoKremlinClasseCCabrio

    BrasilPernambuco,retrato a docee salgado

    HESIODOG

    OESESTESUPLEMENTOF

    AZPART

    EINTEGRANTEDAEDION

    9559DOP

    BLICO,ENOP

    ODESE

    RVENDIDOS

    EPARADAMENTE

    FUGAS| Pblico | Sbado 18 Junho 2016

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    ViagemLanzarote

    A casa que Saramagoquis que fosse

    feita de livros

    A cor de Lanzarote a deum tio apagado numalareira. Os elementos mexemconnosco. Deve ter sidotambm por isso que JosSaramago sentiu que aquelapodia ser a sua terra. Mudou-se

    para esta ilha das Canriasem 93. Morreu a 18 de Junhode 2010, faz hoje seis anos.

    A casa e a biblioteca podem servisitadas.Anabela Mota Ribeiro

    Em 2006, aoliveira era tronco fino e folhagempobre que ameaava no medrar.Nesta terra vulcnica, que to pre-ta que parece pintada, que medra?Lanzarote cho de calhaus, vulcesa serpentear o horizonte, a montaablancamuito erguida e orgulhosa.Passaram dez anos e a oliveira cres-

    ceu a ponto de estar mais alta que acasa onde esto os livros, a bibliote-ca. E a sua fora slida o suficientepara danar ao vento, um vento quearranca as pessoas do solo e as fazdeslizar. Dana, cresce.

    Jos Saramago j no a v assim.Morreu em 2010.

    Esta a oliveira que ocupa o rec-tngulo de entrada da biblioteca.

    H outra que est na casa-casa, a dedormir e tomar o pequeno almoo,que cresceu quase tanto quanto aoutra. As duas cresceram mais doque o marmeleiro plantado porcausa do filme de Victor Erice O Soldo Marmeleiro, que continua umapromessa de rvore, assim como

    a romzeira, que no vingou. Scresceram as palmeiras e as olivei-ras. Tanto que j no se v o mar aofundo, a dois ou trs quilmetros,daquele ponto do jardim onde ele,quieto, recolhia para olhar. um lu-

    gar assinalado: h uma cadeira demadeira e uma pedra vulcnica comtamanho de meteorito, para pousaros ps ou para nada, simplesmente

    para existir, existncia bela.As rvores so folhas, razes, pi-lar-tronco. Saramago quis ser raiz,espraiar-se, movimento orgnico decorpo que no pode estar quieto ese move no subterrneo.

    Apontamento romntico: umafolha de rvore assinalou no calen-

    drio, durante anos, o dia em queo escritor conheceu a mulher, a

    jornalista espanhola Pilar del Ro.Comeou por estar no 11 de Junho,era afinal no 14. E talvez porque aateno no fosse toda, quando tro-caram palavras pela primeira vez aotelefone, e ele no sabia como elaera, anotou mal o nome e escreveuPilar de los Ros.

    Foi h 30 anos. Saramago tinha63, Pilar 36.A oliveira veio para Tas h 10. Tas

    est entre a aldeia e a vila, olhandono mapa fica a meio da costa este deLanzarote, o nmero de habitantesanda pelos cinco mil. EmJos e Pilar,filme de Miguel Gonalves Mendes

    que acompanha quatro anos de vidado casal, podemos ver como a olivei-ra era mirrada, quase murcha. Che-gou no mesmo par de meses em quechegaram os livros, milhares, quehoje ocupam a larga biblioteca, ecom eles terra, memria, lugar, cria-o. A oliveira vinha da Azinhaga, aaldeia ribatejana do escritor, come-o de mundo que cola com este fim

    do mundo onde Saramago se sentiunuma infncia reencontrada.L iremos, biblioteca e infn-

    cia. Agora recuamos no tempo, aantes da oliveira e dos contentoresde livros. Recuamos ao ano em quese mudaram para Lanzarote, depoisdo abominvel veto do condecorado

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    Sousa Lara escolha de O Evange-lho Segundo Jesus Cristo para PrmioLiterrio Europeu. Polmica assazintragvel, hoje como ento abstru-sa. Lanzarote pareceu uma terra-soluo para lidar com a revolta,lugar de tranquilidade e tempo paraescrever.

    Jos e Pilar tinham estado na ilhano final de 91, foram praia de Fa-

    mara no dia de Natal. Mesmo no In-verno, um calor moderado invade osdias. A gua talvez faa tiritar, numprimeiro encontro, mas depois pas-sa. As fotografias desbotadas mos-tram uma famlia numa nesga deareia grossa e escura, e uma meialua de pedra vulcnica que forma

    rializao do desejo e necessidade

    de ir para um outro planeta que fi-casse ali ao lado. A mudana fez-seem Fevereiro de 93.

    No jardim no havia rvores e oscaminhos eram de terra pedregosa.Quando se v as imagens de regressoa casa, depois de ser anunciado oprmio Nobel mas ainda antes doseu recebimento, em Estocolmo,Jos e Pilar aparecem junto ao murobranco, envolvidos em flores, sor-risos e vento. E uma paisagem dequase nada volta.

    Foi tambm esse quase nada volta que os seduziu. Queriam umavida de palavras primitivas, centradano essencial, ptrea. Com silncio edias sem interrupo.

    Fizeram-se casas irms para asduas irms e suas famlias. Tudo

    branco, preto e vermelho. No hcasa que no seja branca em Lanza-rote, imposio governamental. E apedra oscila entre a cor do tio japagado numa lareira e aquele ver-melho que vem da terra muito fer-

    rosa; vermelho ou, para ser exacta,cor de tijolo. Transposto o porto,uma nova porta d acesso s duascasas. Num ngulo recto, a de Marae Javier a da direita, a de Jos e Pilarem frente.

    Entra-se. O espao dominadopor luz e pedra, pela clarabia de vi-

    um murete e protege do vento. Esta-vam com eles a irm de Pilar, Mara,a stima numa escada de 15 filhos(Pilar a mais velha), e o marido, oarquitecto Javier Prez-FernndezFgares, que moravam na ilha.

    Era a primeira vez que visitavamLanzarote e, apesar da adeso ins-tantnea ao lugar, no podiam ima-

    ginar que, no longe daquele Natal,

    aquele ponto das Canrias seria casa.O impacto da ilha, a fora agreste, aaridez lunar foram traduzidos emdesabafos de felicidade. E a vida se-

    guiu em Lisboa. E depois foi o cho-que e a tristeza do veto. E da noitepara o dia, surgiu Lanzarote comopossibilidade, coisa efectiva, mate-

    dro fosco que emana uma luz branca

    e por um tapete de pedra vulcnica,pedra porosa e organizada em riscosdiagonais que faz as vezes de tapetede material macio e caro.

    A casa, assim designada desdesempre, e com o artigo, hoje umacasa-museu com visitas dirias du-rante a manh. O que permite ver?Tudo. Os passos, as rotinas, a mo-dstia, a memorabilia, os encontroscom personagens e fragmentos que

    vivem na casa como pessoas de ver-dade (por exemplo, Blimunda, por

    exemplo, a passarola doMemorial doConvento), a surpresa com a dimen-so (como cabiam as pernas to com-pridas de Saramago naquele quartode mdia-pequena dimenso?), asfotografias da filha Violante e maridoe filhos, as fotografias da tribo delRo coladas com man no frigorfi-co, as fotografias do Nobel, pompa emaravilhosa circunstncia, a gravurade Ilda Reis, sua primeira mulher, aspedras trazidas de todos os lados ereunidas numa espcie de caixa de

    vidro, canetas e esferogrficas ofe-recidas em sales e academias, umaat com diamantes, os cavalos, oselefantes, os objectos dos que qui-seram demonstrar a Saramago queforam tocados pelas suas alegorias,pelos mundos que eram inventados eque eram iguais aos seus, pelo de-

    Pilar em

    Lanzarote,a ilha que cho de

    calhaus ,

    vulces aserpentear no

    horizonte, e

    onde hoje sepode visitar

    a casa e a

    biblioteca deSaramago

    O impacto da ilha,a fora agreste,a aridez lunar

    foram traduzidosem desabafosde felicidade

    MANUELROBERTO

    MANUELROBERTO

    DR

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    sejo de afagar o semblante triste do

    menino que via cavalos no Ribatejoe no tinha condio de os montar,do escritor que, para alm gostar decavalos, inventou o co das lgrimase um elefante que faz um caminholongo, longussimo, e acaba com apata transformada em recipiente desombrinhas e bengalas, oco, destitu-do, apetrecho banal.

    Saramago disse uma semana apso anncio do Nobel, com urgncia:Quero recuperar, saber, reinven-tar a criana que eu fui. Pode pare-cer uma coisa um pouco tonta, umsenhor nesta idade estar a pensarna criana que foi. Mas eu acho queo pai da pessoa que eu sou essacriana que eu fui. H o pai biolgi-co, e a me biolgica, mas eu diriaque o pai espiritual do homem quesou a criana que fui (entrevista aAlexandra Lucas Coelho). Machadode Assis disse-o de outra maneira emMemrias Pstumas de Brs Cubas:O menino o pai do homem. Aideia da criana que pai espiritualdaquele que escreve est expres-

    sa no livroAs Pequenas Memrias,comeado anos e anos antes e queconheceria publicao em 2006. Aepgrafe: Deixa-te levar pela crianaque foste.

    Esse pai espiritual alimentou-secomo pde. Tarde e bem. Recuperoas suas palavras (retiradas de umaentrevista que lhe fiz): Os meus paissacrificaram-se muito e deram-meestudos para ir para a universidade?No, tive estudos que estavam aomeu alcance e ao alcance da bolsa da

    famlia: estudei para ser serralheiromecnico. Fui serralheiro mecnico.Depois fui vrias coisas ao longo davida. Li muito. Livros meus s os tivequando tinha 19 anos, quando pudecomprar, com dinheiro que um ami-

    go me emprestou.Na casa podem ver-se os livros, os

    escritores, ou seja, a famlia em queele tambm se fez pai de famlia deum, criana-escritor. H uma gra-vura de Bartolomeu Cid dos Santosque representa Fernando Pessoa

    em criana, num triciclo, uma es-tranha imagem de Cames com osdois olhos e sem a pala, alinhadosna vertical esto Tolstoi, James Joy-ce, Kafka, Proust, Lorca na paredeem frente, Pessoa no trao oblquoe definitivo de Jlio Pomar, Pessoaa contracenar com Cesrio Verde e

    pelas golas do casaco, outros o se-guraram, os mdicos, os amigos, a

    famlia, ele prprio. E agora estavaali, a ver, a dar o passeio, a pensar, atraduzir o mundo em palavras.

    Mas agora 2016 e Pilar guia-me sozinha pelo territrio sara-maguiano. Ocorre-me a letra queManuela de Freitas escreveu paraa voz de Caman e que encerra ofilme de Miguel Gonalves Mendes.Chama-se J no estar e declinaesta certeza seca do escritor: Nopenso na morte. Ou melhor, todospensamos na morte. A morte para

    mim no tanto isso de morrer; mais simples, e ao mesmo tempomais duro. A pessoa estava e j noest isso que o pior de tudo.[...] Daqui a duas ou trs semanas,quando voltar a casa, posso che-

    gar varanda, olhar para o jardime pensar: Agora estou aqui, vejo

    a paisagem, Pessoa omnipresente,

    Pessoa que o levou a todo o lado,at a Pilar. No esquecer que O anoda morte de Ricardo Reis o ano docomeo com Pilar. Nunca o tinha

    visto, foi tudo por telefone. Noera tanto para o conhecer, mas simpara lhe agradecer o prazer que metinha proporcionado [a leitura deO ano da morte de Ricardo Reis ].Combinmos ver-nos, tommosum caf, fomos visitar a campa deFernando Pessoa, eu vinha com omeuLivro do Desassossego, e pron-to. Quando que percebeu que asua vida tinha mudado? Quandonos encontrmos. No dia seguintetelefonou-me para pedir a minhamorada. Na poca tinha um meio-namorado, e quando cheguei a Es-panha disse-lhe que j no o queriaver mais. Fiquei livre, sem relaes,sem amante. Sabia que algo ia acon-tecer. E aconteceu. Uns meses de-pois, Jos chegou, sem que tivessehavido uma carta, uma comunica-o, nada. Apareceu em Sevilha. Eusabia que ia aparecer, mais tarde ou

    mais cedo. (Da minha entrevista aPilar, em 2010.)

    Lua e Marte

    Pilar anda pela casa. No moranesta casa-museu, mas em Lisboa.Porm, demora-se temporadas emTas, onde o tempo escorre mais de-vagar. Vive como pode a tragdia daperda, decidida a cumprir o desejodele: continu-lo. s vezes exprimea zanga pela injustia. A injustia de

    Jos j no estar para ver a beleza.

    Jos j no estar para ver as bocasdos vulces do parque nacional deTimanfaya, conhecidos como mon-tanhas de fogo, e onde a terra ardemesmo, l no fundo. um territriode tormenta onde se experimentauma estranha tranquilidade. Comose andssemos debaixo de terra eisso no fosse claustrofbico.

    Pilar recorda-se do ltimo pas-seio de Jos a este lugar que Luae Marte. Foi na primavera de 2008.Ele era um fio de voz e uma c arga

    de ossos, demolido pela doenaem tudo menos na vontade e naimaginao. Passeou por ali umpouco, no muito. Comentou que

    j no esperava ver aquela belezade inferno arrefecido. Meses antesestivera beira do precipcio, nocaiu ao poo porque Pilar o segurou

    os meus ces, a minha mulher e de-pois j c no estou. Mas assim

    para todos, animais, vegetais. Tudoo que nasce morre.A letra de Manuela de Freitas:

    Se s vezes numa rua num lugar

    Eu penso que um dia hei-de morrer

    Sei que tudo o que tenho vou deixar

    Aqui onde hoje estou deixo de estar

    E tudo quanto sou deixo de ser

    Medo da morte no consigo ter

    Mas outros mais humanos e banais

    Medos que a gente tem mesmo sem querer

    Como o medo que eu tenho de morrer

    S por querer viver um pouco mais

    Se consigo a meu modo estar no cu

    Mesmo vivendo neste cho de inverno

    Se apenas sou rvore que cresceu

    No espao e no tempo que o meu

    Para que havia eu de ser eterno

    Mas como as minhas cinzas vo ficando

    Debaixo de uma pedra de jardim

    Meu amor tu sabes onde me encontrarE uma flor sobre a pedra vais deixar

    De cada vez que te lembrares de mim

    De cada vez que te lembrares de mim

    Jos Saramago j no est. Masest em absoluto na obra, na casa,nos smbolos. Nas relaes que so

    visveis. Nos gostos e ob sesse s.Na firmeza, na coerncia. Est emtodos os compartimentos e estmais no escritrio onde escreveuo Ensaio sob re a Ceg ueira , por

    exemplo, anos antes de a casa seexpandir para o outro lado da ruae de ali ser construda a biblioteca(a que tem os milhares de livros ea oliveira entrada), onde escre-

    veu A Viage m do Elefant e e Caimnuma corrida pela vida mais doque contra o tempo. Uma corrida

    ViagemLanzarote

    Foto de famlia em Lanzarote:Saramago e Pilar com Violante,

    a ilha do escr itor, o marido,

    Danilo, e os netos, Ana e Tiago;tambm o ilho de Pilar, Juanjo

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    para satisfazer ainda o desejo defazer, de se sentir vivo, adiar a der-

    radeira partida de xadrez e dizer:espera, guarda a gadanha, tenhocoisas para tratar, gozo para sentir,abraar a minha mulher, ver pelaltima vez o lagarto verde que viana minha infncia.

    nesse escritrio de poucosmetros quadrados que est o dese-nho onde mais est Jos Saramago:aquele em que o av Jernimo seabraa s rvores e chora e se des-pede e abraa o que ama. EscreveunAs Pequenas Memrias: Ter o

    pressentimento de que o fim che-gou, e ir de rvore em rvore doseu quintal, abraar os troncos,despedir-se deles, das sombras ami-gas, dos frutos que no voltar a co-mer. (...) Que palavra dir ento?.

    O av Jernimo: O homem maissbio que conheci em toda a minha

    vida no sabia ler, nem escrever,como ficou dito no discurso do

    Nobel. A av Josefa: No sabesnada do mundo. No entendes depoltica, nem de economia, nem deliteratura, nem de filosofia, nem dereligio. [] E, no entanto, tens osolhos claros e s alegre. O teu riso como um foguete de cores. Comotu, no vi rir ningum (escreveunuma carta em 1968). O av Jer-nimo e a av Josefa: no esqueceros nomes, no esquecer o funda-mento.A visita casa de Saramago termina

    na cozinha. De muitas maneiras,percebemos que estamos numacasa de portugueses. No servioVista Alegre, num bule para o chque tem a forma de um anans eque de Bordalo Pinheiro, nos co-pos tradicionais da Marinha Gran-de, no caf Delta que oferecido

    aos visitantes. As flores continuam

    a ser mudadas todos os dias. Pasto-ra trata da casa e da loja, um rapazguapo rega o jardim, a veterinriae amiga Marga aparece para umcaf, Graa, a mdica que passouo atestado de bito de Jos, est aoalcance de um telefonema, Juanjo(o filho de Pilar) uma das pessoasque fazem visitas guiadas casa.Tudo gente amiga, razes daquelarvore. No jardim aninham-se doisgatos. Os ces Cames e Greta tam-bm j partiram.

    cabeceira da mesa, virado parasul, sentava-se Saramago. Estodois livros abertos nos Cadernos deLanzarote, abertos como dirios.Junto est uma miniatura da rvo-re-smbolo da casa, uma oliveira-smbolo de paz e sabedoria.

    Desta oliveira vamos para a ou-tra, a primeira de que comecei porfalar, chegada em 2006, que cabiaentre as pernas de Jos. Recebem-nos nesse espao a oliveira e umelefante que podemos acariciarcomo se fosse um co, de peque-

    no porte e aqueles olhos tristes esumidos que os elefantes sempretm. Cinco passos depois entra-sena casa feita de livros, a biblioteca.Ao lado, a loja, a mesa compridaonde se fazem reunies, o aparta-mento no andar de cima onde fi-cavam as visitas, a ampla zona derefeies. Maria Kodama, a vivade Borges, ficou ali, Susan Sontagpreferiu hospedar-se no hotel deArrecife. As conversas sobre o dis-parate irresistvel que o mundo

    foram ali. Tratando-se de Sarama-go, as conversas nunca so apenassobre os livros, ou Deus, ou os di-reitos e deveres do homem, ou ocomunismo. As conversas so comoos livros: so o prprio mundo acontorcer-se, a tentar encontrar umsentido, um caminho.

    Sempre chegamos aonde nosesperam: frase j batida e indisso-civel do elefante Salomo.

    Pilar, encontramo-nos noutrostio, prometeu Jos, fitando a c-

    mara, meio sorriso todo triste, nofilme que os conta.As suas cinzas esto sob uma oli-

    veira centenria vinda da Azinhaga frente da Casa dos Bicos, sede daFundao, em Lisboa.

    Tudo levantado do mesmocho.

    Guia prtico

    COMO IRPara voar at Lanzarote, o melhor apanhar um voo da Binter, umalow-costque liga Lisboa a LasPalmas e Las Palmas a Lanzaroteduas vezes por semana, quintae ao domingo. No h voosdirectos a partir de Portugal, preciso sempre fazer escalaem Las Palmas. De Las Palmas aLanzarote so nem trs quartos dehora de voo, e os insulares usam oavio como quem usa o comboioou o autocarro. Comprado comalguma antecedncia, no caro;ou seja, pode custar, ida e volta,cerca de 200 euros.

    O QUE FAZER

    Lanzarote a mais oriental dassete ilhas das Canrias. Tas,onde ica a casa de Saramago,est entre Arrecife e Puerto del

    Carmen. So uns 15 minutos,no mximo, entre o aeroporto(em Arrecife) e a casa. Tudo pequeno. As visitas so entre as10h da manh e as 14h30. Fazem-se em vrias lnguas e h udio-guias. Todos os dias, exceptodomingo.

    Convm alugar um carro. Nos para este percurso como paraas excurses ao Parque Nacionalde Timanfaya. indispensvelfazer o roteiro do artista plstico

    Csar Manrique: alm da casa-museu, h que visitar os Jameosdel Agua, o Jardim dos Cactos,o miradouro do rio, ver asesculturas movidas a vento queesto dispersas pela ilha.

    As estradas so boas. Come-se um peixe delicioso, batatascozidas com pele gretada pelosal, um estufado de gro quealimentou geraes e geraesde espanhis. Preos mdicos.Conte com bom tempo e vento,

    vento, vento. O corta-vento temde andar sempre na carteira.

    Mais viagens em

    fugas.publico.pt/

    Jos Saramago j

    no est. Mas estem absolutona obra, na casa,nos smbolos.Nas relaesque so visveis.Nos gostose obsesses.

    Na rmeza,na coerncia

    FO

    TOS:DR