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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ARTES RAFAEL KEIDI KASHIMA LARCI (Laboratório de Regência Coral Infantil): proposta de formação acadêmica para regentes de coros infantis. CAMPINAS 2019

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ARTES

RAFAEL KEIDI KASHIMA

LARCI (Laboratório de Regência Coral Infantil): proposta de formação acadêmica para regentes de coros infantis.

CAMPINAS 2019

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Rafael Keidi Kashima

LARCI (Laboratório de Regência Coral Infantil): proposta de formação acadêmica para regentes de coros infantis.

Tese apresentada ao Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas

como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutor em

Música, na área de Música: Teoria, Criação e Prática.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Jorge Luiz Schroeder. ESTE TRABALHO CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO RAFAEL KEIDI KASHIMA, E ORIENTADO PELO PROF. DR. JORGE LUIZ SCHROEDER

CAMPINAS

2019

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1.1.1 BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE DOUTORADO

Rafael Keidi Kashima

ORIENTADOR: Prof. Dr. Jorge Luiz Schroeder.

1.1.2 MEMBROS:

Prof. Dr. Jorge Luiz Schroeder.

Prof.(a). Dr(a). Silvia Cordeiro Nassif.

Prof. Dr. Angelo José Fernandes.

Prof(a). Dr(a). Susana Cecília Almeida Igayara de Souza.

Prof(a). Dr(a). Maria Flávia Silveira Barbosa.

Programa de Pós-Graduação em Música do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas.

A ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros da Comissão Examinadora encontra-se no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade

DATA DA DEFESA: 14.02.2019

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Dedicatória

Dedico esta tese à minha querida mãe, Regina Maria Ferrarezi Kashima, e ao meu pai,

Regino Kashima.

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Agradecimentos

Agradeço aos meus familiares!

Pai, obrigado por estar no começo desta trajetória e tenho certeza que você sabia

que eu iria conseguir.

Considero minhas amigas e amigos como minha família. Assim, obrigado

imensamente por existirem.

Professor Jorge, obrigado pela confiança! Você sempre acreditou e iluminou as

minhas ideias!

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Resumo

Esta pesquisa-ação apresenta as reflexões acerca da implementação do Laboratório de

Regência Coral Infantil (LARCI), onde atuei como coordenador, analisando os objetivos,

as justificativas e os procedimentos deste laboratório de formação em regência, por meio

do desenvolvimento de um coral infantil com crianças de 6 a 9 anos no PRODECAD

(Programa de Desenvolvimento e Integração da Criança e do Adolescente da UNICAMP),

regido pelos alunos e alunas de graduação em Música desta mesma universidade. Este

laboratório tem como modelo inspirador o projeto Comunicantus Laboratório Coral (USP,

Ramos, 2003). Tendo como base conceitual o autor Sacristán (2000, 2005 e 2013), inicia-

se com uma pesquisa documental dos currículos dos cursos de licenciatura e bacharelado

em música da UNICAMP. O trabalho também apresenta os conteúdos da prática coral

infantil na intenção de propor um aporte teórico para a formação em regência, nesta

perspectiva (Coll, 1998). Por fim são relatados e discutidos os processos ocorridos no

período de implantação do Laboratório no primeiro semestre de 2018, por meio da

análise do diário de campo deste pesquisador e de entrevistas realizadas com as alunas

e alunos regentes participantes. Os dados auxiliam o processo de reflexão acerca das

grades curriculares de ambos cursos, pois, dentre outros motivos, devido à sobrecarga

de disciplinas obrigatórias, ocorre a tendência em uniformizar os perfis dos egressos, o

currículo analisado parece não atender às demandas formativas daqueles interessados

profissionalmente em reger coros infantis. A participação no laboratório das alunas e

alunos de graduação evidenciou também a relevância de espaços práticos de ação

educativa efetiva como forma de englobar as diversas demandas formativas necessárias

ao regente coral infantil.

Palavras chaves: Regência coral infantil; Educação musical; Formação docente.

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Abstract

This action-research presents the reflections on implementing the Children Choir

Conduction Laboratory (LARCI), where I worked as coordinator, by analyzing the goals,

justifications and procedures in this laboratory of Choir Conducting Graduation through

the development of a children choir on PRODECAD (Campinas University's Children and

Teenagers Integration and Development Program), conducted by the undergraduate

students of Music Program in this same University. This laboratory was inspired by the

Comunicantus Laboratório Coral project (São Paulo University, Ramos 2013). For this

purpose, at first we perform a documentary research on the curricula of Music

Undergraduate Programs for Bachelors and Licentiates, using the author Sacristán (2000,

2005 and 2013) as conceptual basis. Then this paper also presents the contents for

children choir practice aiming to propose a theorical contribution to the Choir Conduction

Undergraduate Program based on this perspective (Coll, 1998). Finally, we report and

discuss the processes that happened during this Laboratory implementation in the first

semester of 2018 by analyzing the researcher's field journal and the interviews made with

the students of the Conducting Program participating in this project. Data supports the

reflection procedure on the program of both courses because due to the excess of

mandatory classes—among other reasons—the profiles of alumni tend to be

standardized, and the current curriculum seems to not meet the formative demands to

those interested in professionally conducting children choirs. These students'

participation on the Laboratory also highlighted the importance of practical spaces with

effective educational action as a way of including the many formative demands required

to the children choir conductor.

Key words: Children choir conduction; Music education; Teacher Training.

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Sumário

Sumário ............................................................................................................................................................. 9

Primeiros pressupostos .................................................................................................................................. 11

1. A atuação e formação das/os regentes de coros infantis .......................................................................... 19

1.1 LARCI (Laboratório de regência coral infantil) .......................................................................... 28

1.2 Considerações sobre o Currículo ............................................................................................... 31 1.2.1 Contexto exterior ...................................................................................................................... 35

1.2.2 Contexto do sistema de ensino ................................................................................................. 38

1.2.3 Contexto didático ...................................................................................................................... 50

2. Construindo o LARCI ................................................................................................................................... 63

2.1 O que aprender ......................................................................................................................... 63 2.1.1 Conteúdos Conceituais .............................................................................................................. 65

2.1.2 Conteúdos Procedimentais ....................................................................................................... 76

2.1.3 Conteúdos atitudinais ............................................................................................................... 84

2.2 Pressupostos pedagógicos ........................................................................................................ 89

2.3 Entrevista com coordenadores do COMUNICANTUS, projeto inspirador desta tese ............... 93 2.3.1 Análise da entrevista ................................................................................................................. 96

3. Implementação do LARCI .......................................................................................................................... 105

3.1 Acesso ao PRODECAD .............................................................................................................. 106 3.1.1 Ficha de Inscrição LARCI .......................................................................................................... 113

3.2 Registro dos dados .................................................................................................................. 114

3.3 Primeiro Planejamento ........................................................................................................... 118 3.3.1 Debate das atividades ............................................................................................................. 118

3.3.2 Estrutura do ensaio (panorama geral) .................................................................................... 123

3.3.3 Mais reflexões do observador ................................................................................................. 129

3.4 Primeiro encontro com as crianças ......................................................................................... 129 3.4.1 Mais reflexões do observador ................................................................................................. 130

3.4.2 Debate das atividades ............................................................................................................. 134

3.4.3 Estrutura do ensaio (panorama geral) .................................................................................... 140

3.5 Oficinas experimentais ............................................................................................................ 143 3.5.1 Debate das atividades ............................................................................................................. 143

3.5.2 Estrutura do ensaio (panorama geral) .................................................................................... 163

3.5.3 Mais reflexões do observador ................................................................................................. 169

3.6 Ensaios abertos ....................................................................................................................... 170 3.6.1 Debate das atividades do planejamento anteriores aos ensaios (primeiro momento) ........... 170

3.6.2 Estrutura dos ensaios abertos (panorama geral) .................................................................... 193

3.6.3 Mais reflexões do observador ................................................................................................. 195

4. Entrevista com as/os estagiárias/os do grupo ........................................................................ 198

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4.1 Motivações para participação do LARCI .................................................................................. 201

4.2 Diferenciais formativos propostos pelo LARCI ........................................................................ 206

4.3 Auto avaliação do aprendizado das/os estagiárias/os ............................................................ 213

4.4 Sobrecarga de disciplinas obrigatórias .................................................................................... 219

4.5 Sugestões para encaminhamentos futuros ............................................................................. 225

Considerações Finais..................................................................................................................................... 229

Referências Bibliograficas ............................................................................................................................. 238

Anexo 1. Entrevista Comunicantus ............................................................................................................... 243

Anexo 2. Entrevista Estagiárias/os I .............................................................................................................. 258

Anexo 3. Entrevista estagiárias/os II ............................................................................................................. 273

Anexo 4. Partitura “Lamento da Lavadeira” ................................................................................................. 281

Anexo 5. Partitura “Garota do Tacacá” ........................................................................................................ 291

Anexo 6. Parecer Consubstanciado do CEP .................................................................................................. 291

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Primeiros pressupostos

Esta pesquisa analisa o desenvolvimento do LARCI (Laboratório de Regência Coral

Infantil) na Unicamp buscando discutir uma formação acadêmica que atenda melhor às

demandas de competências necessárias para a prática de regência focada na atuação

específica de coros infantis. Ao longo dos capítulos se estabelecerão reflexões que, por

um lado, justifiquem a implementação do LARCI como complemento da formação dos

regentes e educadores musicais e, por outro, foquem como se deu a sua implantação e

quais os procedimentos e avaliações realizadas ao longo de sua efetivação no primeiro

semestre de 2018.

O LARCI é inspirado no projeto “Comunicantus Laboratório Coral”, do

Departamento de Música da ECA (Escola de Comunicação e Arte da Universidade

Estadual de São Paulo), do qual participei, antes do meu ingresso no Ensino Superior em

Música na Unicamp, durante a minha adolescência como cantor em um dos corais do

projeto. Lembro-me de ficar bastante interessado com as relações entre as alunas e os

alunos que nos regiam, coordenados pelos docentes responsáveis pelo projeto, o

Professor Doutor Marco Antonio da Silva Ramos e a Professora Doutora Susana Cecília

Igayara.

Em funcionamento desde 2001, o Comunicantus Laboratório Coral oferece aos alunos da Graduação e da Pós-graduação do Departamento de Música da ECA-USP a oportunidade de realizar estágio supervisionado como regentes, monitores ou preparadores vocais (entre outras funções relacionadas ao canto coral) em coros comunitários formados por pessoas que não necessariamente possuem conhecimento ou prática musical anterior. Com objetivos não somente artísticos, mas também educativos, as atividades têm foco no ensino-aprendizagem tanto dos coralistas quanto dos alunos estagiários, que são orientados pelos Professores Marco Antonio da Silva Ramos e Susana Cecília Igayara. (HAUK-SILVA, 2012, p.01).

A minha primeira graduação na Unicamp foi em canto lírico, sendo influenciado e

motivado pela minha participação no Comunicantus. Nessa mesma instituição, logo no

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segundo ano de graduação, iniciei também o curso de licenciatura, pois comecei a

trabalhar como professor auxiliar em uma escola privada, neste caso, motivado pelas

minhas dificuldades financeiras. Neste período, como forma de complementar a minha

renda, ingressei como estagiário em um projeto social voltado para coros infanto-juvenis.

Em ambos os espaços permaneci durante 7 anos, tornando-me professor.

Eu havia cantado em coros infantis, permaneci na juventude no Comunicatuns e

durante a graduação no Coro Contemporâneo de Campinas; o interesse pelo canto coral

já era evidente, porém, nunca havia me imaginado regente. Da mesma forma que me

tornei professor dando aula, como regente tive o mesmo processo.

Tanto na escola quanto neste projeto social, pude perceber e vivenciar a validade

do exercício prático docente com o contato real com as crianças. Estas situações me

conduziram a refletir sobre a relevância dos estágios na formação docente e sentir

algumas formas de distanciamento que ocorriam entre o que eu aprendia como aluno do

Ensino Superior e as competências que se demonstravam emergentes na minha vida

profissional naquele momento.

Avaliei que boa parte das competências que desenvolvi para esta prática foram

gradualmente sendo sedimentadas durante as vivências que tive no contato direto com

as crianças – planejando em casa, experimentando junto com o coral e avaliando, na

perspectiva constante de alcançar a melhor performance possível. Era nesses momentos

que as ideias e palavras se tornavam ações, que consequentemente resultavam na

música como sendo o principal objeto compartilhado entre regentes e cantores.

Durante a licenciatura não ocorreram espaços que me proporcionassem a possibilidade

de reger algum grupo coral, com exceção de um semestre na disciplina de técnica de

regência, uma disciplina obrigatória. No meu caso, como se tratava de uma disciplina

obrigatória, essa disciplina de iniciação à regência poderia ser um dos locais mais propícios

para essa experiência acontecer, no entanto, seu objetivo principal, no período em que a

cursei, estava voltado especificamente para o desenvolvimento do gestual técnico, não

havendo espaços para o debate sobre os processos que envolvem o ensino do cantor

coral durante os ensaios. Não me lembro de nenhuma ênfase dada para questões de

performance ou interpretação vocal, por exemplo. Porém, como eu já tinha, por conta

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própria, interesse pelo canto coral – e também já havia concluído o bacharelado em canto

lírico –, esse interesse somado a outros caminhos profissionais me levaram inclusive a

perceber a escassez destes assuntos na minha formação.

Ao término do meu mestrado, já envolvido nos estudos de formação de

profissionais da educação musical, aventei a possibilidade de desenvolver um projeto que

fosse similar ao Comunicantus da USP, o que poderia ser uma alternativa viável para

aqueles que estivessem interessados em atuar na regência e que, assim como eu, não

tivessem espaço para se dedicar e estudar especificamente esta área de atuação durante

a graduação na Unicamp. Evidentemente, as alunas e os alunos poderiam, com

autonomia, buscar a observação de ensaios corais nas disciplinas de estágio, mas ainda

assim são poucas as chances de que a/o regente responsável pelo local do estágio

permita que o ensaio seja conduzido por uma estagiária/o. Assim, o que geralmente

ocorre com a/o regente graduada/o é que seu primeiro contato com a condução se dá

quando a pessoa é a responsável pelo coral.

Como parte deste doutorado, no ano de 2018 implementei o LARCI (Laboratório

de Regência Coral Infantil), obtendo dados para analisar a sua relevância e os principais

fundamentos da sua existência que possam servir de inspiração para outros projetos

similares da mesma forma que o Comunicantus serviu para esta Tese.

Inicialmente, Laboratório é um termo comum na área da saúde e das ciências

exatas. Desde a Educação Básica, os espaços mais privilegiados já costumam conduzir

seus alunos e alunas para experiências práticas, buscando vinculá-las com os conteúdos

básicos a serem desenvolvidos durante suas disciplinas. Assim, o laboratório é um recurso

didático a partir do qual se espera obter vivências e experiências mais ricas do que aquelas

do cotidiano, onde os conhecimentos prévios são explorados com maior profundidade e,

a partir das análises que ele permite, impulsionar novas descobertas.

As autoras Afonso e Leite (2000) discutem a existência de dois tipos de laboratório

de formação; no primeiro deles, a/o docente responsável somente demonstra as ações

enquanto as demais pessoas observam. Este modelo de laboratório, segundo as autoras,

não seria tão eficiente, pois ainda não ocorreria obrigatoriamente a comunicação e a

relação direta entre a/o futuro regente e quem canta. O tipo de laboratório proposto

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pelas autoras busca colocar a aluna e o aluno no centro do processo, para que sejam

ativos efetivamente no manuseio e na compreensão de seus instrumentos. No caso do

LARCI, a hipótese desta tese é que a participação do laboratório complementaria a

formação em regência na Unicamp, acrescentando a ela experiências práticas com o coral

infantil.

Essa formação laboratorial não busca substituir uma formação teórica. O sentido

de sua existência é que as teorias discutidas nos currículos de formação pedagógica e

musical possam ser apropriadas de um modo mais significativo pelos aprendizes, na

medida em que seja possível verificar as implicações destes saberes no cotidiano

educacional, buscando a melhoria na qualidade da instrução e nos processos de

aprendizagem.

A descrição e análise da implementação do LARCI na Unicamp poderia ser

realizada de perspectivas variadas, desvendando olhares diversos (dos teóricos

educacionais, dos teóricos da regência, dos docentes, dos discentes, das crianças etc.)

que justificassem, ou não, a significância deste tipo de laboratório formativo na Unicamp.

Neste sentido, ao longo deste trabalho, são analisados 4 principais tópicos que buscaram

construir a ideia desta tese.

O primeiro capítulo apresenta os fundamentos do papel da regência coral infantil.

A intenção dessa discussão inicial é deslocar a sua função de mero condutor das práticas

musicais para a área da docência e a todas as questões que justifiquem as diferenças no

trabalho a ser desenvolvido com crianças, ou grupos de cantoras e cantores amadores,

comparado à condução de grupos composto por musicistas profissionais.

Entender o papel da regência vinculado à função docente é uma premissa desta

pesquisa. Na atuação em coros infantis e amadores é ainda mais necessária esta

perspectiva, já que as/os coristas não têm relações diretas de trabalho com quem rege,

e normalmente seu ingresso no coral é a primeira experiência de prática musical coletiva

com características mais formais. No caso das crianças, o respeito das características e

peculiaridades da infância, além de fundamentais para um aprendizado significativo e

amplo, é um direito (ECA, Brasil, 1990) que, contudo, pode ser negligenciado e até

mesmo desconhecido pelos profissionais em regência.

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O LARCI foi implementado na Unicamp e disponibilizado principalmente para as

alunas e os alunos da graduação em música, tanto da licenciatura quanto do bacharelado.

Além de contar com a minha experiência pessoal como egresso destes cursos (do

Laboratório da USP e da graduação da Unicamp), inicialmente foi realizada uma pesquisa

documental de ambos os cursos de graduação para que, por meio da comparação entre

as cargas horárias e ementas, disponíveis nas grades curriculares e nos Projetos Políticos

Pedagógicos, fosse possível identificar a viabilidade de implementação de um novo

projeto de formação. Também procurou-se saber se, neste caso, um laboratório de coral

infantil seria inovador ou necessário, caso a área da regência coral infantil já estivesse

contemplada nos planejamentos curriculares ou nos Projetos Políticos Pedagógicos.

Por meio da análise dos Projetos Políticos Pedagógicos dos cursos de graduação

associada à organização da grade curricular, desvenda-se um caminho que torna possível

verificar se ocorre uma formação que possa suprir a vasta rede de saberes e

conhecimentos necessários ao regente, na perspectiva da atuação em acordo com as

pedagogias modernas de ensino e o complexo desempenho técnico musical. Além disso,

valho-me também das minhas reflexões acerca da importância dos planejamentos nos

cursos de Ensino Superior e os caminhos possíveis para a formação docente.

O autor Sacristán (2013) descreve que o currículo a ensinar representa uma

seleção organizada de conteúdos e as regulações que organizarão as práticas didáticas.

Sua estrutura está associada ao tempo de aprendizagem e à sucessão de assuntos que

serão abordados: representa aquilo que se compreende como desenvolvimento da aluna

e do aluno dentro do espaço educacional por meio da ampliação do acesso à escola e por

meio da lógica serial de transmissão dos saberes do séc. XVI e XVII. Nas palavras do autor:

“o currículo se transformou em uma invenção decisiva para a estrutura do que hoje é a

escolaridade e de como a entendemos” (SACRISTÁN, 2013, p. 17).

O currículo não está descolado dos seus contextos sociopolíticos globalizados,

assim, no primeiro capítulo desta Tese, também se discute as diversas maneiras como as

mudanças ideológicas da sociedade interferem na sua estrutura e implementação. Neste

sentido, entendo que é pertinente discutir as diretrizes que legislam sobre os cursos de

música e que, desta forma, influenciam nas estruturações curriculares. Destaca-se que em

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2016 ocorreu uma mudança no currículo da licenciatura em música da Unicamp e

novamente, no ano de 2018, outra modificação curricular foi implantada para este curso.

Nesta pesquisa atualizei os dados para contemplarem o catálogo vigente durante a

implementação do LARCI, que começou em 2018.

Antes do início do laboratório, para possibilitar a organização dos principais

assuntos que seriam debatidos e categorizar os conteúdos da prática coral infantil que

nortearam o trabalho pedagógico do LARCI, o segundo capítulo apresenta um

aprofundamento do trabalho desenvolvido pelas autoras Braga e Tourinho (2013)

relacionado aos conteúdos da prática coral infantil. A ideia de aprofundar o contato com o

trabalho dessas autoras foi a de obter uma documentação pedagógica consistente que

pudesse conceituar os procedimentos que seriam utilizados durante o planejamento e

ensaios do Laboratório.

O segundo capítulo também busca contribuir para que as/os regentes possam ter

uma bibliografia em português que pontue os tópicos que envolvem o aprendizado e

ensino no canto coral, concebido aqui como uma prática que envolve mais do que o ato

de cantar. E mesmo o aprendizado do canto também incorpora diversas questões que

convergem para um canto afinado, expressivo e tecnicamente aplicado na perspectiva

da saúde vocal.

Também se encontra nesta seção a entrevista realizada com os coordenadores do

Comunicantus. O meu acesso a eles foi razoavelmente fácil devido à minha participação

como aluno do projeto. Destaco que esta experiência que tive enquanto cantor no

Comunicantus foi muito marcante e determinante na minha relação com o fazer musical.

Ao ingressar na Unicamp, tive a oportunidade de participar do Coro Contemporâneo de

Campinas, onde também fortaleci o meu interesse e prazer com a prática coral e tive

mais uma vez o contato com um regente totalmente dedicado à sua área, o Professor

Doutor Ângelo Fernandes. O trabalho com as crianças veio posteriormente, espaço onde

me encontro atualmente e através do qual tenho a oportunidade e o privilégio de

contribuir socialmente. Neste sentido, já parto do pressuposto que, em minha

experiência, o contato com a prática real coral e o fazer musical com pessoas muito

dedicadas ao assunto foram determinantes na minha trajetória, e isto é, de alguma

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forma, o que eu gostaria de transmitir aos meus estagiárias/os na idealização do LARCI.

Durante o período do doutorado troquei de orientação, e esta mudança também

foi determinante para a implementação do LARCI. O contato com o novo orientador

Professor Doutor Jorge Schroeder possibilitou a minha compreensão da posição

fundamental da experimentação do meu projeto para que eu pudesse investigar as

consequências de sua implementação e o significado que teria para seus participantes.

Sendo assim, no terceiro capítulo encontra-se descrito o processo de

implementação do projeto, desde a busca e o contato com o espaço que seria

implementado e, posteriormente, a análise dos dados coletados. A partir deste capítulo

esta tese busca discutir os acontecimentos que julgamos como principais e que podem

contribuir para outros laboratórios ou práticas similares no Ensino Superior.

Nesta pesquisa estão presentes a análise dos treze encontros ocorridos durante a

implementação do LARCI no PRODECAD (Programa de Desenvolvimento e Integração da

Criança e do Adolescente) dirigido pelo DEDIC (Divisão de Educação Infantil e

Complementar) da Unicamp. Este espaço acolhe as filhas e os filhos das servidoras,

servidores, professoras, professores, alunas e alunos da Unicamp (Universidade Estadual

de Campinas), como um espaço socioeducativo, e é organizado com 3 núcleos:

• CECI Parcial: acesso à educação de bebês e crianças que compreende a

faixa etária de 6 meses a 05 anos e 11 meses, meio período;

• CECI Integral: acesso à educação de bebês e crianças que compreende a

faixa etária de 6 meses a 05 anos e 11 meses, período integral;

• PRODECAD: programa de educação não formal com crianças e

adolescentes que compreende a faixa etária de 6 a 14 anos.

Buscou-se discutir as análises dos diários de campos realizados semanalmente

após as visualizações de todos os encontros. Primeiramente, o difícil desafio foi o de

manter atualizações metódicas dos dados coletados para que não ocorresse acumulação

de dias sem a transcrição dos dados no diário. Como pesquisador, encontrei diversos

desafios ao longo desses meses, durante os quais também tive a oportunidade de

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constantemente me autoavaliar como coordenador do laboratório e formador das/os

estagiárias/os.

No quarto capítulo estão contidas as análises das entrevistas realizadas com as/os

estagiárias/os participantes do LARCI. Após a primeira experiência de efetivação deste

projeto, estas entrevistas buscaram compreender a opinião do grupo participante sobre a

validade em participar deste tipo de programa de formação de regentes corais infantis,

além de avaliar e levantar sugestões para melhoria da estrutura e da metodologia

adotada, visando a continuidade do Laboratório.

Por meio da transcrição das falas destes sujeitos, é traçada uma discussão que

busca associar os assuntos debatidos ao longo desta tese, tais como: as possíveis

diferenças entre a formação proposta pelo LARCI e os cursos de graduação dos

participantes; os principais aprendizados possíveis durante a participação do laboratório;

os aspectos da formação em regência coral infantil, dentre outros.

O objetivo durante a escrita deste quarto capítulo foi de que, por meio das falas,

fossem levantadas concepções que justificassem e auxiliassem no desenvolvimento do

LARCI como um espaço que pudesse servir tanto para formar regentes de coros infantis

quanto para exemplificar um modelo que valoriza a participação da criança neste tipo de

formação. Interessante destacar que este tipo de processo valoriza a atuação da criança

na formação docente. A infância é um momento único e peculiar do desenvolvimento

cognitivo e social da humanidade, assim, uma formação que possa compreendê-la desta

forma precisa se aproximar da realidade das crianças, suas concepções, compreensões

de mundo, comportamentos, sua impressionante capacidade afetiva de aceitar a

diferença, sua curiosidade e entusiasmo em aprender e descobrir o novo.

Por fim, são apresentadas as considerações finais, resumindo os principais

conceitos discutidos, além de propor novos desafios que despertaram a vivência deste

laboratório. Este é um começo de um trabalho que apresenta inúmeras questões a serem

discutidas e também o ponto de partida de sua leitura.

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1. A atuação e formação das/os regentes de coros infantis

A ideia desta tese originou-se como proposta de pesquisa posterior sugerida a

partir da dissertação “A função e o desenvolvimento do jogo didático nos ensaios de

coros infantis” (KASHIMA, 2014), deste mesmo autor. Nesta dissertação, defendi que o

jogo é funcional e importante para o desenvolvimento da criança, inclusive na prática

coral infantil, e que um dos entraves de seu uso durante os ensaios está associado à falta

do debate pedagógico durante as formações das/os regentes corais infantis.

Isso porque, em respeito às peculiaridades da infância, a/o regente precisa ter

conhecimentos pedagógicos, além dos musicais, para que seu ensaio seja um espaço de

construção de conhecimento e que busque estimular o maior número possível de

cantores de forma significativa e efetiva.

Por meio da análise das entrevistas coletadas na minha dissertação, observei a

necessidade das/dos regentes entrevistados buscarem cursos de capacitação, além da

formação fornecida durante suas graduações, especificamente associados a oficinas

especificamente de regência coral infantil. Elas e eles buscavam aperfeiçoamento na

formação pedagógica que auxiliasse o próprio desenvolvimento e atuação durante os

ensaios. Destaco que todas/os entrevistadas/os disseram que compreendiam que em

seus cursos de graduação não foram suficientemente abordados os temas que envolviam

a regência coral infantil.

Teoricamente e legalmente difundida, a formação continuada é uma condição

inerente da/o profissional da educação para que sua atuação projete processos de ensino

e aprendizado que busquem atender às demandas sempre variadas das/os

educandas/os. Neste sentido, torna-se fundamental estimular que as futuras professoras

e professores, neste caso inclusas/os as/os regentes, conscientizem-se de que não existe

especificamente o momento que a pessoa está plenamente formada para a docência.

Trabalhar com educação é um processo de constante transformação, inclusive pela

velocidade em que a sociedade se modifica, sendo necessário que esse profissional esteja

atento, além de envolvido, a estas mudanças. Porém, sem descartar a relevância das/os

entrevistadas/os se manterem em formação, existe uma possibilidade de não haver

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espaços nas formações para este tipo de atuação.

Parto do princípio de que são diversos os campos da atuação na regência e,

concretamente, qualquer pessoa que estiver conduzindo um grupo musical pode ser

considerada a regente, independentemente de ter algum tipo de curso formal. Em grupos

totalmente amadores, quem conduzirá o ensaio provavelmente será a pessoa

considerada mais bem preparada musicalmente ou que tiver uma personalidade de

liderança, duas características importantes para a regência. Neste sentido, não existe

uma habilitação oficial obrigatória para esta profissionalização.

Porém, entendo que é pertinente a discussão da formação no Ensino Superior em

música que habilite a atuação em corais com crianças, promovendo espaços onde esta

prática possa ser discutida ou até mesmo ser aplicada. Mesmo que não ocorra uma

habilitação específica para este campo profissional, não é viável desconsiderar a

necessidade de abarcar os assuntos que envolvem a regência de crianças, sendo esta

uma prática distinta daquela realizada com adultos.

Em sua pesquisa a autora Mateiro (2009) descreve que, nos quinze cursos de

licenciatura analisados por ela, existe a tendência das formações se direcionarem para

um único modelo estrutural de currículo, promovendo, assim, a formação de docentes

principalmente para o Ensino Fundamental e Médio, ainda que existam as demandas e

intenções em obter “profissionais capazes de trabalhar com educação infantil, com

adultos e idosos, com crianças portadoras de necessidades especiais, como regentes

corais, regentes de pequenas orquestras, bandas ou qualquer tipo de conjunto musical”

(MATEIRO, 2009, p. 65). Destaco que mesmo que não seja desenvolvido necessariamente

um coral, a própria condução de qualquer atividade musical coletiva exige competências

específicas relacionadas com a mediação/regência para a condução de ensaios.

Considera-se que a vivência do coral infantil é uma atividade de possível

realização na Educação Básica, e o uso da voz cantada ou falada costuma perpassar pela

maioria das performances e atividades musicais realizadas durante as aulas, ou pelo

menos durante os processos de ensino e aprendizagem. Além disso, o coral é uma

atividade que exige poucos recursos humanos e estruturais. Por meio do aprendizado

essencialmente em grupo a/o regente basicamente pode se responsabilizar pelo

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processo de ensino, sem a necessidade de instrumentos musicais variados ou

equipamento tecnológico.

O pesquisador Figueiredo (2006), após estudo realizado em um curso de

licenciatura em música com a finalidade de averiguar a importância da regência coral nas

formações das/dos participantes, corroborando com um dos pressupostos desta

pesquisa1, constatou que:

As respostas dos participantes incluem a regência como uma atividade que sintetiza diversas áreas estudadas ao longo do curso. Desta forma, o estudo de regência não só se aplica para a atuação do professor de música em sala de aula, como também contribui para o desenvolvimento musical pessoal. Além disso, alguns estudantes consideraram o aprendizado da regência importante porque abre possibilidades de trabalho não só na escola, mas também em outros espaços onde as práticas corais e instrumentais acontecem. (FIGUEIREDO, 2006, p. 888)

Observa-se também que a criação e o desenvolvimento de mais grupos corais

escolares têm potencial de motivar as/os participantes a ampliar o interesse e a

motivação em se manter nesta atividade artística, além de propiciar o surgimento de

futuros grupos juvenis e posteriormente corais adultos, além de também favorecer a

formação de público.

Já os cursos de bacharelado em regência, mesmo que sem um direcionamento à

formação exclusivamente para a prática com crianças, não precisam negligenciar esse

campo de atuação profissional. Diversos projetos de educação formal e não formal

utilizam o canto coletivo como vivência musical. Porém, quando não acontecem as

discussões pedagógicas nos cursos superiores para o trabalho a ser desenvolvido com

crianças, principalmente em corais amadores, direciona-se muitas vezes a um tipo de

formação com características conservatoriais tecnicistas, desconsiderando as diversas

questões de ensino e aprendizagem exigidas. Neste sentindo, Just (2013), por meio da

avaliação de sua própria prática, analisa que:

1 O pressuposto da regência como ferramenta para a educadora ou educador musical

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Por muitos anos, relutamos com a ideia de assumir essas características pedagógicas no trabalho do Coro Curumim, talvez por não nos sentirmos merecedores do título de educadores; ou porque essas práticas de ensino foram realizadas de maneira intuitiva, de acordo com a formação musical da mestranda, observando o trabalho de outros regentes, colhendo informações esparsas em livros, ouvindo e praticando músicas, colocando a “mão na massa”, e indo buscar recursos para dar suporte e enfrentar as dificuldades inerentes ao ensino da música (JUST, 2013, p. 105).

Mesmo nas disciplinas práticas destes cursos, observa-se a tendência em

construir a técnica em regência exclusiva para atuação em grupos que já tenham

formação musical prévia, direcionando-se para regentes de coros adultos profissionais

ou com considerável conhecimento musical nesta área.

Importante perceber que a regência engloba uma complexa gama de desafios,

dentre eles: a condução musical, os aspectos educacionais da criança e, muitas vezes, a

gestão administrativa do coro. Esta sobrecarga de tarefas envolve temas diversos e

interdisciplinares, acarretando no desafio complexo da estruturação das formações.

O trabalho com o coro infantil não é uma tarefa simples. Grandes responsabilidades são destinadas aos profissionais que se dedicam a esta prática. Ao considerar estes profissionais como educadores, a tarefa de “educar” se remete não somente ao sentido musical, mas também ao cuidado especial referente à formação global da criança (LEAL, 1999, p.10).

O trabalho da/o regente é medido principalmente pela qualidade de condução

dos seus ensaios, sendo o espaço onde são desenvolvidas as habilidades e competências

necessárias aos cantores para a prática coral. Como proponente, quem rege é

responsável por organizar as atividades que promovam o desenvolvimento

musical-artístico do grupo. Por meio destas atividades planejadas são estimuladas as

ações que buscam a aquisição e assimilação dos conteúdos, possibilitando a melhor

execução do repertório.

O regente coral como agente de um processo educacional, pode

desenvolver com maior eficácia os diversos aspectos envolvidos na

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prática coral através do planejamento. [...] as etapas a serem

desenvolvidas necessitam de organização, pois só assim promoverão

crescimento. Um problema apresentado de forma inadequada ou no

momento inoportuno pode significar frustração, provocar desinteresse

ou promover aprendizagem inconsistente (FIGUEIREDO, 1990, p.19).

Mesmo em um coral novo constituído por crianças com habilidades e

competências pré-existentes que favorecem esta prática, o ensaio é o único momento

em que é possível ensinar e aprender determinados conteúdos que só serão assimilados e

realizados coletivamente. A performance do coral como uma prática essencialmente

coletiva será o resultado das potencialidades e dificuldades combinadas das/dos

cantoras/es junto à sua comunidade coral2.

A dissertação de mestrado do autor Viegas: Questionamentos sobre a atuação do

regente: o ensino da performance, defendida em junho de 2009 pelo Programa de Pós-

graduação em Música da UFMG, contém três entrevistas realizadas com os seguintes

regentes: Osvaldo Colarusso, Mateus Araújo e Roberto Minczuk, nas quais uma das

perguntas trata da formação em regência no país.

Um dos entrevistados, Colarusso, diz em sua fala: “Eu tenho muitas críticas a

respeito do ensino da regência. Da mesma forma que ninguém é compositor porque tem

diploma de compositor, ninguém é regente por que tem diploma de regência” (2009,

p.108), neste sentido, este regente entende que a formação acadêmica em regência não

é obrigatória para aqueles que desejam reger ao longo de suas carreiras profissionais:

Calarusso: eu costumo dizer que ninguém entra em um seminário para ser Papa. O mesmo deve acontecer com a regência. Ele tem de estudar muito, para que a regência seja a culminância daquele estudo. Eu conheço maestros que não tem um gestual tão bom, mas em termos de cabeça são muito interessantes. São muitos mais “maestros” estes que os que têm um gesto tecnicamente perfeito, mas que possuem várias lacunas na sua formação e não têm nada a dizer. [...] (VIEGAS, 2009, p. 108)

2 Na comunidade coral encontramos as/os coristas, regente, músicos auxiliares e acompanhadores, eventuais funcionários administrativos, responsáveis e cuidadores.

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Segundo o autor, o ensino da regência não pode se reduzir ao gestual técnico sem

a possibilidade de relacioná-lo às suas intenções musicais, e é fundamental que possam

ser aplicados e/ou vivenciados na prática (nos ensaios). Nesta perspectiva, o regente

Minczuk ressalta que: “não há regente sem orquestra, assim como também não há

pianista sem piano. Mas no caso do regente é ainda pior, pois seu instrumento pensa, um

instrumento que tem uma ideia de como a música deve ser” (VIEGAS, 2009, p.127).

Minczuk: o regente na verdade não precisa começar propriamente com

uma orquestra. Qualquer grupo com mais de cinco integrantes já serve

para um estudante de regência colocar em prática seus conhecimentos.

O mais importante é começar a lidar com músicos, com pessoas, e

conseguir ser um líder. Às vezes o melhor regente é até o que tem menos

técnica, mas é líder, que o que tem técnica, mas não é líder. Então a

questão da liderança, a questão de conduzir, a questão de comandar, o

regente precisa refletir sobre tudo isto. Ele tem de comandar, inspirar,

liderar, e quem tem estas qualidades será um melhor regente que

aquele que possui uma técnica melhor, mas não tem estas qualidades.

(VIEGAS, 2009, p.127)

A última citação evidencia que a formação em regência é engrandecida quando é

possível aplicar todos os saberes que envolvem a sua prática em momentos reais de

ensaio, isto é, quando a/o estudante conduz um grupo real, todos os saberes são exigidos

de forma combinada: seu gesto, seus métodos pedagógicos, sua percepção auditiva e seu

canto são responsáveis para a realização de um ensaio eficiente, onde seus objetivos são

alcançados por meio das atividades propostas.

Evidente que os papeis pedagógicos e administrativos não excluem a necessidade

de se obter conhecimentos musicais que perpassam a teoria e a prática. A/o regente é

uma referência musical importante para as crianças. Desta forma, faz-se necessário

adquirir conhecimento musical abrangente, além de habilidades técnicas para conduzir o

grupo de forma eficiente. Oliveira (2011) observa que para a/o regente:

[...] é necessário o domínio da expressão e da musicalidade, de forma

que, ao entrar em contato com a partitura ele consiga lê-la no sentido

mais completo do termo “ler”, ou seja, uma leitura em que o indivíduo

reconstrua o texto, assimilando tanto as questões e significados

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musicais que se apresentam à primeira vista, quanto aquelas que

exigem o conhecimento do contexto e da obra e um conhecimento

musical que vá além do que está escrito nos limites do papel (OLIVEIRA,

2011, p.49).

A formação em regência que contemple os diversos saberes existentes

correlacionando-os dá suporte para que as ações da/o regente sejam embasadas

teoricamente e favoreçam o desenvolvimento do grupo social e artisticamente. Inspirado

na pesquisa de Amato (2008), abaixo, encontra-se uma reorganização dos saberes

necessários, categorizados pela autora, projetando uma atuação em regência eficiente

em seus variados campos de ação, mesmo que não citado, todos estes saberes estão

associados a uma proficiência musical:

• Saber agir: como líder, torna-se fundamental a compreensão de que suas escolhas

e atitudes repercutem no resultado geral do trabalho. Observa-se a figura da/o

regente como um modelo a ser seguido pelas pessoas demais;

• Saber comunicar, liderar e motivar: é fundamental ao regente conseguir gerir os

recursos humanos do grupo e estimular o desenvolvimento de relações sociais

positivas entre todas e todos que participam. A comunicação também se

enquadra na habilidade do coral de se expressar musicalmente durante as

performances e está fortemente ligada à capacidade de a/o regente conseguir

conduzir e indicar artisticamente o que suas cantoras e cantores realizarão para

alcançar os resultados performáticos almejados;

• Saberes pedagógicos: a/o regente é responsável pelos processos de ensino e

aprendizagem do coro. Existem grupos nos quais cabe inteiramente ao regente

organizar e executar os planejamentos de ensaio com total autonomia, incluindo

sua direção e produção artística;

• Saber mobilizar recursos: a/o regente pode ter que administrar as condições

estruturais para os ensaios e apresentações, além de também precisar obter

recursos financeiros para a sua realização, principalmente nos grupos em que não

existem recursos humanos que contemplem essas funções (coros autônomos e/o

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desvinculados de projetos onde a/o regente também os produzam).

Corroborando com esta ideia, segundo o autor Ramos, “ensinar regência coral é

promover uma imersão no meio, seja estudando, regendo, cantando, ensinando,

tocando, administrando, ou quantas mais atividades paralelas o ambiente coral propicie e

necessite” (2003, p. 13). Neste sentindo, a formação teórica não deve ser descartada,

porém é importante perceber que caso ocorra a supervalorização destes conteúdos,

podem ser desvalorizadas as vivências práticas.

As vivências práticas reais nas formações acadêmicas são geralmente alcançadas

com os estágios, que proporcionam o espaço formativo onde, a partir das discussões

teóricas realizadas nos cursos de graduação, as alunas e os alunos podem refletir

criticamente “as teorias estudadas com as situações práticas” (ALMEIDA E PIMENTA,

2015, p.29), buscando a articulação dos diversos elementos que estão sendo observados

com a finalidade de desenvolvimento pessoal.

Entendemos o estágio como um campo de conhecimento que envolve estudos, análise, problematização, reflexão e proposição de soluções para o ensinar e o aprender, e que compreende a reflexão sobre as práticas pedagógicas, o trabalho docente e as práticas institucionais, situados em contextos sociais, históricos e culturais. Nesse sentido, caracteriza-se como mediação entre os professores formadores, os estudantes em curso e os professores das escolas. (ALMEIDA E PIMENTA, 2015, p.29)

Quando se trata de coros infantis, a prática da regência se torna mais complexa,

pois é necessária a presença das crianças para que efetivamente ocorram as vivências

que proporcionem experiências reais das dinâmicas e os desafios de organização e

procedimentos de ensaio. Mesmo que ocorram as simulações com adultos, o que é

comum na formação das/dos regentes, dificilmente elas se aproximarão das reações

diversas e espontâneas características da infância. Desta forma, caberia às disciplinas de

estágios promover a possibilidade de se ter contato com as didáticas relacionadas ao coral

infantil, além das próprias Instituições de Ensino Superior serem incumbidas de

desenvolverem projetos de extensão que poderiam aproximar a comunidade à

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universidade, promovendo benefícios para a sociedade.

Em síntese são levantados três campos formativos: a formação teórica, a

formação prática-técnica e a experiência de palco (experiência real de ensaio e

apresentação). O regente Araújo acrescenta na regência o papel da performance e, sendo

assim, a fundamental experiência em palco com apresentações públicas durante a

formação (VIEGAS, 2009, p.118). Caso não haja um grupo para ensaiar, também não

ocorrem momentos na formação onde ocorrem as experiências de apresentação pública

ou mesmo a oportunidade para adquirir algum tipo de experiência em produzir os

concertos, prática comum para quem rege grupos amadores. Neste sentido, durante a

formação em regência, faz-se necessária a abordagem de diversas perspectivas visando

múltiplas áreas de conhecimento:

A atividade coral, como prática complexa, composta por fatores humanos, e como manifestação artística de valor social, cultural e educativo, não deve ser superficialmente abordada pelo regente em suas concepções e no cotidiano dos coros. Assim, a educação do regente coral urge ser delineada sob uma ótica multidimensional, permitindo que sejam formados profissionais capacitados musical e pedagogicamente. (AMATO, 2008, p.25)

Esta demanda formativa complexa da regência coral acarreta a dificuldade de

organizar sua formação. Nos currículos dos cursos de graduação com a intenção de

formar regentes corais infantis, deve haver a reflexão sobre como seria possível

proporcionar uma formação técnico-musical envolvendo as habilidades da regência, de

em associação aos saberes pedagógicos sobre ensino e aprendizagem, debates estes mais

comuns nos cursos de licenciatura em música em comparação com os cursos de

bacharelado em regência.

Estas questões justificam e buscam compreender o cenário em que propus o

surgimento do objeto desta pesquisa, o LARCI (Laboratório de Regência Coral Infantil), na

qual a minha hipótese é que a criação de um espaço onde seja possível reger crianças

permite o desenvolvimento de uma alternativa para a formação tanto para os cursos de

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licenciatura em música quanto para o bacharelado em regência, buscando equilibrar a

formação técnico-musical com a pedagógica. Além de proporcionar o contato real com

esta área profissional.

1.1 LARCI (Laboratório de regência coral infantil)

Avaliando como possibilidade de auxiliar a formação em regência coral infantil na

Unicamp, esta pesquisa propõem a criação de um Laboratório inspirado no projeto

Laboratório Coral-escola3, desenvolvido e aplicado na Universidade Estadual de São

Paulo com coros adultos. O projeto se chamou Comunicantus: Laboratório Coral criado

em 2001 na USP, idealizados pelo Professor Doutor Marco Antônio da Silva Ramos e pela

Professora Doutora Susana Cecília Igayara. Esse projeto foi inserido no programa de

graduação da USP após seu criador pesquisar as razões pelas quais muitos dos egressos

não se encaminhavam para o mercado de trabalho na área de regência coral.

Avaliou-se que, durante a formação, as alunas e alunos somente regiam coros de

músicos “regendo obras complexas, [...], mas ao deixar a escola, eles se encontravam

com uma realidade na qual muito desses aspectos eram quase inúteis, frente a uma

situação em que a educação musical é negligenciada” (RAMOS, 2003, p.12). Na prática

coral, mesmo sendo esse um grande espaço de atuação profissional, são raros os coros

de musicistas profissionais no Brasil. No âmbito dos coros infantis principalmente, nos

quais é indissociável a estância de formação educacional, por ser tratar

fundamentalmente do trabalho a ser desenvolvido com crianças.

A implementação deste projeto buscou proporcionar às alunas e alunos as

vivências em trabalhos com coros amadores visando ampliar sua formação durante a

3 A ideia de desenvolver o Conceito Coral-escola despertou com o coral do Museu Lasar Segall (1977 – 1997),

no qual, mesmo com a alternância de cantores e regentes, buscava-se o aperfeiçoamento musical constante. “O conceito CORAL ESCOLA, pensando como um espaço onde formação e performance aconteçam indissoluvelmente associadas; onde toda ação é educativa; onde a qualidade artística é objetivo primeiro, mas é também objetivo educativo; onde as aulas não são um espaço separado de aprendizado e treinamento musicais; onde ensaios são aulas; onde apresentações são aulas; onde aulas se confundem em profundidade com a atividade artística enquanto tal. ” (RAMOS, 2003, p.10)

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graduação. Justificando sua ideia, Ramos (2003) ressalta que:

Meus alunos estavam sendo preparados para serem bons regentes de

coros de músicos, mas não sabiam trabalhar em um coro de leigos. Era

preciso ensiná-los a trabalhar também em uma realidade mais dura,

para que eles não se sentissem frustrados e consequentemente

desencorajados ao se lançar no mercado de trabalho. E também

prepará-los para transformar essa realidade. (RAMOS, 2003, p.12)

Ressalta-se que, neste processo que propus de implementação do Laboratório de

Regência Coral Infantil (LARCI), tantos as/os regentes quanto as/os coralistas são

aprendizes. As/os regentes, sob orientação e supervisão constante e coletiva,

desenvolveram suas práticas em regência e puderam experimentar a eficácia dos

procedimentos escolhidos, que já haviam sido anteriormente discutidos de forma

horizontal e democrática em reuniões de formação e planejamento ocorridas nos

planejamentos de ensaio. Seguimos, nesse sentido, as diretrizes do Laboratório pioneiro

da USP.

Para o Comunicantus: Laboratório Coral, o projeto do coral oficina tinha como principal objetivo a criação de um coro no qual as questões de técnica de ensaio, de ensino coletivo de canto e de construção de um grupo desde seu início pudessem ser planejadas e realizadas em conjunto por um grupo de estudantes, fortemente supervisionado pelos professores coordenadores. Os estagiários participaram de todo o processo de concretização do coro, que envolveu desse atividades de produção _ divulgação do Coral no campus da Usp (elaboração e distribuição de cartazes), organização dos espaços físicos (salas) para o os ensaios, preparação e transporte do material necessário (teclado ou outros instrumentos, estantes, etc) _, passando pela definição do perfil do coro, até chegar ao desenvolvimento de estratégias de ensaio e de ensino-aprendizagem para o grupo real que se formou. (HAUCK- SILVA, 2012, p.29)

Durante os ensaios com as crianças, as/os estagiárias/os regentes possuem a

oportunidade de treinar procedimentos de ensaios variados e, junto com os seus pares

sob coordenação, refletir sobre todo o planejamento dos processos de ensino de

aprendizado da prática coral. Cria-se um ambiente onde é possível integrar a teoria e a

prática e, a partir da aproximação e vivência destes elementos, aprofundar-se na

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formação em regência coral infantil.

[...] os alunos estagiários do Comunicantus: Laboratório Coral, durante toda a preparação, realização e avaliação das atividades corais são incentivados a utilizar de forma integrada e interativa os conhecimentos musicais adquiridos nas disciplinas cursadas durante a graduação [...]. A integração e a interação de conhecimentos musicais e pedagógicos são realizadas em nível prático durante os ensaios e aulas e também em nível teórico, por meio da reflexão escrita nas avaliações de ensaios, [...]. (HAUCK-SILVA, 2012, p.34)

O diferencial do LARCI é a possibilidade de se desenvolver um trabalho com

crianças, que acarreta demandas e responsabilidades diferentes do trabalho com

adultos. Na medida em que as situações reais surgem, criam-se espaços para os assuntos

que remetem a demandas formativas em regência. Desenvolvendo determinadas ações

com os grupos em ensaios reais, oportuniza que os/as regentes atuem buscando

estratégias de ensino que de fato aprimorem artisticamente o grupo, podendo realizar

uma análise de sua própria prática, à luz de um planejamento e treinamento anteriores,

elaborados de forma contextualizada.

Existe uma série de fatores combinados que são responsáveis pela formação de

alunos e alunas em qualquer nível de escolaridade ou contexto. Nesta pesquisa busca-se

encontrar relações entre a formação que a Unicamp pretende oferecer e o que o LARCI

proporcionou para seus participantes, associadas ao aprendizado específico da regência

coral infantil. A ideia também é justificar a implementação do LARCI e a relevância de seu

modelo formativo.

Iniciamos o debate pelas questões vinculadas ao currículo. Por meio dele, os

conteúdos e procedimentos escolares são organizados e transmitidos, carregando

valores e tradições daqueles que o estruturam e também do público para o qual é

destinado. Sua análise permite observar que tipo de formação e perfil de egresso os

cursos superiores planejaram e oficializam.

Toda política curricular é, assim, uma política de constituição do conhecimento escolar: um conhecimento construído simultaneamente para a escola (em ações externas à escola) e pela escola (em suas práticas institucionais cotidianas). Ao mesmo tempo, toda política curricular é uma política cultural, pois o currículo é fruto de uma seleção

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da cultura e é um campo conflituoso de produção de cultura, de embate entre sujeitos, concepções de conhecimento, formas de entender e construir o mundo (LOPES, 2004, p. 111).

Sacristán (2000) elenca alguns problemas que normalmente surgem para o

tratamento dos currículos. Resumidamente são questões acerca de qual ideologia

embasa o funcionamento estrutural da escola (tipo de organização de tomada de

decisões, democratização do ensino e a cultura) e questões voltadas aos assuntos mais

pedagógicos (objetivos, conteúdos e métodos de transmissão de conhecimento). Estes

temas relacionados podem esclarecer “as ideias e valores que orientam as decisões em

torno de seus conteúdos até a racionalização dos meios para obtê-los e comprovar seu

sucesso” (SACRISTÁN, 2000, p. 125). Ressalta-se que as questões ideológicas criam os

sistemas que estruturam os cursos através das políticas públicas que, por sua vez,

ordenam o funcionamento das tomadas de decisões, inspiradas nos valores e atitudes da

cultura dominante.

1.2 Considerações sobre o Currículo

O termo currículo basicamente assume dois sentidos no cotidiano, o primeiro

deles está vinculado aos percursos profissionais resumidos em um documento, o

Curriculum Vitae, nele estão contidos todos os feitos considerados importantes para

almejar uma carreira profissional qualquer. O outro sentido trata do planejamento dos

caminhos formativos das/os estudantes, descrevendo aquilo que será apreendido e em

qual ordem se dará (SACRISTÁN, 2000, p. 16).

O planejamento educacional, tendo o currículo como um de seus componentes,

caracteriza-se pela organização de ações, visando atender às demandas das/os

estudantes e da sociedade por via de análises sistemáticas. Contextualizando-se histórica

e geograficamente sua implementação e possibilidade de flexibilização se tornam

fundamentais para atingir seus objetivos. Para a continuidade e efetivação dos planos

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faz-se necessário o acordo com planos posteriores, e isso pode ser prejudicado caso os

currículos estejam vinculados apenas a interesses políticos temporários ou atendam

apenas a benefícios particulares (COOMBS, 1972, p. 61). Na perspectiva das políticas

públicas o planejamento reflete o projeto de sociedade pretendido e “trata-se de uma

leitura específica a respeito da realidade social que é própria daqueles que estão no

comando do setor concernente em determinado momento” (AZEVEDO, 1997, p.66).

Os processos de ensino são incialmente discutidos nos planos curriculares, mas é

na prática pedagógica que o plano se torna realidade. Assim, pela experiência real, por um

lado as atividades buscam atingir os objetivos gerais do currículo e, por outro, também

podem modificar as suas intenções iniciais. Neste sentido, Sacristán (2000) sugere que o

ensino seja visto não somente pelos planos, tornando-se importante analisar de alguma

forma as práticas que transformam o currículo em aprendizado concreto para alunas e

alunos.

Desde o início do seu uso no contexto educacional, contudo, o currículo tem sido

utilizado para expressar a ideia de fragmentação e segmentação dos conteúdos que serão

ensinados. Cabe ao currículo organizar uma sequência de conteúdos, já que todas as ações

separadas, ao se juntarem, devem corresponder ao perfil almejado de egresso. Porém,

devido a esta fragmentação é possível que se criem entraves para realização de conexão

entre esses conteúdos.

O autor Sacristán (2013) levanta duas questões dicotômicas de grande relevância

sobre as consequências da organização escolar por currículos: uma projeta a organização

dos assuntos que serão debatidos incentivando que alguns temas fundamentais sejam

discutidos e não negligenciados; outra, como consequência, com ou sem moderação,

limita a atuação pedagógica privando as/os docentes de autonomia para abordar e

desenvolver os assuntos de seu interesse pessoal ou de seus alunos e alunas.

Em tempos modernos, poderíamos dizer que, com essa invenção unificadora, pode-se em primeiro lugar evitar a arbitrariedade na escolha de o que será ensinado em cada situação, enquanto, em segundo lugar, se orienta, modela e limita a autonomia dos professores. Essa polivalência se mantém nos nossos dias. (SACRISTÁN, 2013, p.16)

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As demandas educacionais, pela perspectiva que adotamos aqui, são sempre

diversificadas e contextualizadas sócio-historicamente. Observa-se, assim, que o

currículo não é um elemento neutro ou mesmo de âmbito universal. Por isso, a reflexão

constante de sua estrutura e eficácia é necessária e enriquecedora, pois, segundo esta

concepção, não existem processos únicos e exclusivos no ensino. Neste sentido, ao fim e

ao cabo, o currículo escolar reside na expressão de um projeto de sociedade almejado

elencando conteúdos considerados adequados para este objetivo. Destaca-se ainda o

desafio dos currículos não representarem a realidade.

O currículo é o lugar onde se “entrecruzam processos, agentes e âmbitos diversos

que, num verdadeiro e complexo processo social, dão significado prático e real ao

mesmo” (SACRISTÁN, p.129, 2000). Assim, pela observação das relações entre estes

processos, é possível analisar o currículo real e o resultado de sua aplicação. Abaixo estão

listados os referenciais que auxiliam no estudo do currículo dentro do contexto em que

eles são realizados:

Contexto didático: o ambiente pedagógico por meio de seus métodos e

procedimentos condicionam os resultados obtidos (p.130);

Contexto psicossocial: as relações entre os sujeitos e o que será ensinado acarreta

as motivações para as/os alunas/os;

Contexto organizativo: as estruturas da Instituição de Ensino associadas às

condições de trabalho;

Contexto do sistema educativo: as Instituições de Ensino não são unidades

isoladas, assim seguem regulamentações gerais curriculares;

Contexto exterior: questões ideológicas resultantes de “pressões econômicas e

políticas, sistema de valores que preponderam, culturas dominantes sobre

subculturas marginalizadas, [...], influência da família, [...], incidem na

hierarquização dos saberes escolares” (SACRISTÁN, p.131, 2000).

Tomando como um processo contextualizado socialmente, ao se observar o

currículo deve-se levado em conta as impressões dos sujeitos envolvidos, além da própria

documentação, já que os processos de ensino e aprendizagem não são unilaterais. Muitas

vezes os conteúdos que foram planejados pelo profissional da educação para sua aula

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não são os mesmo que as alunas e alunos assimilaram. Existe um lado que é a

intencionalidade curricular oficial, que expressa suas ideias e objetivos, e um outro lado

oculto, que é o que concretamente é aprendido. Nessa mescla se encontra o currículo

real. (SACRISTÁN, 2000).

O currículo oculto, que tem sido também conceitualizado como currículo não escrito, latente ou implícito, faz referência aos efeitos sutis resultado da experiência escolar, tal como se desenvolve no presente, refletindo a dimensão educativa de ensino paralela das intenções do currículo explicito, manifesto ou escrito, e que é produzido através das práticas desenvolvidas. (SACRISTÁN, p.17, 2005)

Além do currículo oculto observado por Sacristán (2005), o mesmo autor destaca

também a existência do currículo nulo, que é caracterizado pela dimensão de práticas e

conteúdos que são negligenciados pelo currículo real. Neste sentido, além do currículo

oficial, faz-se necessário compreender aquilo que as instituições de ensino não declaram

oficialmente e o que concretamente decidiram não ensinar, buscando identificar suas

razões contextualizadas culturalmente.

A autora Chauí (2001) descreve a universidade como uma instituição social que

tende a representar uma realidade sócio-histórica de uma determinada sociedade. Nesta

perspectiva é importante analisar as suas estruturas a partir dos valores impostos pelos

grupos dominantes que encaminharam o desenvolvimento dos cursos de graduação e

pós-graduação. É importante observar que quanto mais dinâmicos forem os valores de

uma determinada sociedade, mais rápido exigirão transformações educacionais que

atendam as novas demandas surgidas.

Porém, Veronica (2011) discute que as Universidades mantêm estruturas

positivistas curriculares, nas quais os assuntos são ensinados linearmente, com

finalidades neles mesmos e transmitidos verbalmente de forma hierarquizada pelos

professores e professoras. Nesse cenário, faz-se necessário desenvolver outros

paradigmas que possam atender aos novos contextos sociais e históricos, além das

mudanças da própria sociedade.

Na perspectiva documental, sendo um dos elementos de estudo curricular, utilizo,

como exemplo para discutir a formação em regência coral infantil, os contextos que

envolvem o sistema de ensino, sua organização e sua didática. Uso como objeto de

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investigação os cursos de Licenciatura em Música e Bacharelado em Regência da

Unicamp.

Para o Ensino Superior, as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação são

normativas obrigatórias que orientam os planejamentos curriculares para os cursos de

graduação. Sua análise possibilita verificar as intenções oficiais almejadas para os perfis

dos egressos e, nesta pesquisa, busca-se também identificar a existência da possibilidade

da formação de professoras e professores regentes que estejam habilitados para a

atuação em coros infantis.

O autor Sacristán (2005) destaca que a análise de um currículo que proponha

alterações de disciplinas ou sequências metodológicas, mesmo que elas se tornem

efetivas, não implica necessariamente na mudança da qualidade do ensino. Ele considera

que as substituições podem apenas buscar atribuir novos sentidos ao próprio

aprendizado: “é preciso ver que fatos e condicionantes devem mudar, para que essas

práticas se transformem em verdade” (p. 141). Esta perspectiva implica que sem a

participação das alunas e alunos nestes processos de mudança, eles tendem a manter as

mesmas estruturas hierárquicas curriculares, distanciando-se de seus interesses e

contextos sócio históricos.

A seguir, selecionei alguns contextos que envolvem os currículos dos cursos de

licenciatura e bacharelado em regência da Unicamp, espaço onde foi realizada esta

pesquisa, buscando também justificar a criação do Laboratório de Regência de Coros

Infantis como uma alternativa formativa nesta área, sem necessariamente precisar de

grandes alterações curriculares.

1.2.1 Contexto exterior

O contexto exterior trata dos aspectos que envolvem a forma com que as

ideologias políticas interferem em todas as tomadas de decisões e ações que organizam

os sistemas de ensino. Essas ideologias são provenientes dos contextos sociais nos quais

as instituições de ensino estão inseridas e variam de acordo com o grupo dominante

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sócio-culturalmente contextualizado. A implementação dessas ideologias afirma

determinados valores que influenciam as políticas públicas e, por consequência, a

qualidade do bem-estar de cada sociedade.

1.2.2.1 Planejamento e política pública educacional

Na perspectiva das políticas públicas, o planejamento nos contextos escolares

reflete o projeto de sociedade pretendido, pois “trata-se de uma leitura específica a

respeito da realidade social que é própria daqueles que estão no comando do setor

concernente em determinado momento” (AZEVEDO, 1997, p.66). A realidade social é

constituída por diversos elementos que formam o universo cultural de um determinado

grupo. Observa-se desta forma que um planejamento na perspectiva neoliberal4, por

exemplo, tende a promover culturas e ações visando o desenvolvimento do bem-estar

individual em detrimento das ideologias mais voltadas s questões de direitos sociais

igualitários.

Para o planejamento no ensino superior é fundamental a compreensão da função

social que ocupam as universidades e suas carreiras na sociedade, associando-os aos

contextos em que estão inseridos. No séc. XX foi possível observar a ampliação e a

massificação das universidades, principalmente nos países em desenvolvimento. Em seus

estudos sobre o assunto, Santos (2016) ressalta dois grandes fatores que ocasionaram a

expansão e massificação do Ensino Superior após a Segunda Guerra Mundial, sendo o

resultado, de um lado, das lutas sociais pelo direito a educação e, por outro, a economia

exigindo mão de obra qualificada em alguns setores da indústria. Especificamente no

Brasil, a partir da LDB de 1996 foram redefinidos os estatutos do Ensino Superior

propondo sua identidade, área de atuação e estrutura organizacional.

A autora Wozniak (2012) analisa que no Ensino Superior houve um aumento

quantitativo significativo na oferta de cursos (em sua maioria privados e nas

4 Neoliberalismo remete ao livre mercado em contraponto aos ideais do Estado de bem-estar social. Por meio da internacionalização do capital, a partir dos anos 70, estas ideias passaram a influenciar as gestões dos EUA e Inglaterra, inspirando e posteriormente globalizando estas estratégias de governo. O que principalmente nos países subdesenvolvidos gerou grande desigualdade de classes e dificuldade de acessos aos direitos igualitários.

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Universidades Federais durante a gestão do governo Lula/PT), principalmente ocorreu a

ampliação das organizações que ofertam os cursos em modalidade a distância, porém,

está destacado em seus estudos que este aumento não significou a melhoria necessária

da qualidade de ensino.

No Brasil a demanda por educação superior é grande. No entanto, esse crescimento não provocou massificação do atendimento por meio das universidades públicas como foi regra na América Latina. Ao contrário, o sistema público tornou-se mais qualificado, com expansão mais no último mandato do governo Lula, sendo a expansão numericamente mais significativa feita pelas vias do ensino privado (WOZNIAK, 2012, p.146).

Um dos principais marcos destas mudanças foram causados pelas alterações

sociais em escala mundial, ocorridas no início dos anos 70 com a crise do modelo

capitalista difundido, crise gerada pela incapacidade do Estado de organizar o acúmulo

do capital das grandes empresas em detrimento da oferta de serviços públicos, isso junto

aos processos inflacionários incontroláveis, preservando as discrepâncias violentas das

diferentes condições das várias classes sociais. A autora Chauí (2001) analisa que o Estado

teria como meta principal buscar a estabilidade financeira 1) por meio da contenção de

gastos sociais gerando aumento do desemprego e quebrando o poder dos sindicatos; 2)

pela reforma fiscal com o incentivo de investimentos privados, diminuindo os impostos

sobre o capital e as fortunas; 3) aumentando os impostos sobre a renda individual,

“portanto, sobre o trabalho, o consumo e o comércio” (p.18), evidenciando assim

estruturas mercadológicas de gestão. Como consequência destas medidas é possível

destacar: desemprego estrutural; poder financeiro determinando as ações do Estado;

terceirização estrutural; a ciência e a tecnologia como agente de acumulação de capital;

a trasnacionalização da economia; aumento das discrepâncias sociais.

[...] surgem perspectivas, apoiadas no modelo de acumulação flexível, e imposições de reformas aos estados-nação, que passaram de interventores a gestores, ou seja, transferiram funções específicas do setor de serviços para o mercado, adotando a privatização como forma de superação dos problemas que afetavam suas economias e alterando

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significativamente a concepção das relações entre os setores públicos e privados. (SANTOS, 2016, p. 163)

As universidades então absorvem e são geridas pelos ideais neoliberais que,

segundo a Chauí (2001), podem ser evidenciados nos seguintes pontos: aceitação dos

sistemas de vestibular e avaliação que não consideram as desigualdades encontradas nos

níveis de ensino anteriores; critérios quantitativos de avaliação de produção; aceitação

de distribuição de recursos públicos a partir da ideia de “linha de pesquisa” tendendo a

financiar prioritariamente grandes laboratórios ou grupos; aceitação da terceirização e

da universidade a serviço das empresas privadas.

Na intenção de promover a construção de um currículo emancipatório e vinculado

aos contextos e interesses socioculturais das alunas e alunos, caberia às gestões a missão

de promoverem ferramentas de participação democrática efetivas, distanciando-se de

propostas clientelistas e de interesses individuais. Neste sentido, independentemente do

nível escolar ou carreira educacional, faz-se necessária a constância avaliação, análise e

alterações dos programas curriculares para que eles possam atender as demandas da

sociedade e possam contribuir para a formação de sujeitos críticos e capazes de

transformar a realidade.

1.2.2 Contexto do sistema de ensino

O contexto do sistema de ensino se refere a normatizações oficiais que regulam a

construção dos currículos nas Unidades de Ensino, em todos os níveis de escolarização. Em

caráter de Lei as instituições devem desenvolver seus currículos à luz das diretrizes

oficiais. Os países democráticos almejam que todo o processo de desenvolvimento e

implementação das legislações educacionais possa ocorrer com a participação ativa da

sociedade visando sua melhoria de forma equilibrada e distribuída em todo território

nacional.

1.2.2.1 Diretrizes e Referenciais Curriculares dos cursos de música

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Veiga (2011) sintetiza pontos básicos para a elaboração curricular. Em sua

concepção, o currículo não é um elemento neutro. Ele representa uma ideologia na qual

as instituições de ensino precisam identificar seus elementos para revelar se ocorre a

presença da manutenção de privilégios da classe dominante: “[..] a determinação do

conhecimento escolar, portanto, implica uma análise interpretativa e crítica, tanto da

cultura dominante, quanto da cultura popular. O currículo expressa uma cultura” (VEIGA,

2011, p.27). A autora observa que a forma de organização hierarquizada fragmenta o

conhecimento escolar, dificultando as possibilidades de relações que buscariam uma

concepção mais integradora de ensino, visando diminuir as diferenças e isolamentos das

disciplinas.

Orientar a organização curricular para fins emancipatórios implica, inicialmente, desvelar as visões simplificadas da sociedade, concebidas como um todo homogêneo, e de ser humano, como alguém tende a aceitar papéis necessários à sua adaptação ao contexto em que vive. Controle social, na visão crítica, é uma contribuição e uma ajuda para a contestação e a resistência à ideologia veiculada por intermédio dos currículos escolares. (VEIGA, 2011, p.29, grifos da autora)

O Parecer CNE/CES nº 195 de 5 de agosto de 2003 (BRASIL, 2003) apresentou as

Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação em música, dança, teatro e designer e

foi homologado pela Resolução CNE/CES nº 2 de 8 de março de 2004 (BRASIL, 2004).

Segundo estes documentos, os cursos de música devem almejar que a aluna e/ou aluno

aproprie-se de:

[...] pensamento reflexivo, da sensibilidade artística, da utilização de técnicas composicionais, do domínio dos conhecimentos relativos à manipulação composicional de meios acústicos, eletro-acústicos e de outros meios experimentais, e da sensibilidade estética através do conhecimento de estilos, repertórios, obras e outras criações musicais, e revelando habilidades e aptidões indispensáveis à atuação profissional na sociedade, nas dimensões artísticas, culturais, sociais, cientificas e tecnológicas, inerentes à área da música. (BRASIL, 2003, p.3

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A autora Hentschke (2003) relata que o projeto das diretrizes curriculares em

música, finalizado em 2002 pelo CEE/Música e em seguida apresentado ao CNE, era um

projeto distinto do homologado, o que evidencia mais uma vez a discrepância dos

interesses e necessidades da sociedade em relação às normativas aprovadas. A autora

pontua uma problemática em relação aos currículos dos cursos de bacharelado que não

oferecem necessariamente as disciplinas de cunho pedagógico. Nesta perspectiva,

aqueles que cursam o bacharelado em regência não necessariamente precisam

percorrer, durante suas graduações, disciplinas de cunho pedagógico interdisciplinar, e

isso reduz a formação desses alunos a uma instrução exclusivamente técnica. Sabe-se

que na atuação em grupos infantis e/ou amadores, além das questões musicais, diversos

outros campos de análise são necessários para uma atuação que valorize e respeite a

infância fortalecendo a função social do/a regente como educador/a.

Os educadores musicais, além de terem uma formação pedagógica sólida, estão continuamente atualizando-se, no sentido de buscar formas mais adequadas e contextualizadas para a sua prática docente. Por outro lado, tradicionalmente, o músico docente universitário (daí falo enquanto estereótipo) tem praticado uma proposta educacional mais tecnicista e tradicional de educação. O objetivo desses docentes é a formação do músico profissional (erudito, na maioria dos cursos), baseado em critérios absolutos de perfil de profissional. (HENTSCHKE, 2003, p. 54)

Segundo a autora, esta disparidade provoca a necessidade de reflexão em relação às duas

formações, bacharelado e licenciatura, para que as concepções sobre o que é um músico

preparado para a performance ou para a docência sejam capazes de enfrentar as difíceis

demandas apresentadas nos espaços educacionais. Nas instituições de ensino em que

existem as duas modalidades (bacharelado e licenciatura), normalmente é o mesmo

grupo docente que organiza ambas as estruturas curriculares, o que pode resultar na

dificuldade de se constituir as identidades específicas de cada um dos cursos, além da

resistência encontrada comumente na atualização dos programas curriculares.

Especificamente a aluna ou aluno do curso de bacharelado provavelmente atuará

também em áreas com demandas pedagógicas em conservatórios, cursos livres, aulas

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particulares como profissional autônomo, dentre outros espaços, e isso cria uma

demanda importante para se rever as grades curriculares que contemplem uma

formação de qualidade para estas atuações educacionais futuras do bacharel.

Com as mudanças cada vez mais aceleradas da nossa sociedade, não podemos ignorar o que está acontecendo do lado de fora da universidade, as novas exigências dos múltiplos espaços de atuação profissional. Nesse caso, é importante dar voz aos nossos alunos, pois muitos exercem atividades profissionais concomitantes ao curso de graduação. (HENTSCHKE, 2003, p.55)

Devido ao grande número de modalidades na formação em música, aprovadas

por meio dos Artigos 2, 3 e 4 da Resolução CNE/CES nº 2 de 2004, as Diretrizes

apresentam orientações gerais relacionadas às competências e habilidades ensejadas,

nas quais a/o egresso possa atuar e intervir na sociedade em acordo com as diversas

manifestações culturais com sensibilidade, criatividade e excelência prática. Seguindo

orientações do Art. 10, desta mesma Resolução, as instituições de ensino devem “adotar

formas específicas e alternativas de avaliação, internas e externas, sistemáticas,

envolvendo todos quantos se contenham no processo do curso, observados em aspectos

considerados fundamentais para a identificação do perfil do formando” (BRASIL, 2004).

Também está proposto que a/o egresso esteja apto a pesquisar cientificamente, atuar

em espaços culturais diversos, inclusos os educacionais, específicos em música e a criação

musical junto à sua divulgação.

Especificamente para a licenciatura em música, por meio da Resolução nº2 de

julho de 2015 (BRASIL, 2015) foram definidas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

formação inicial em nível superior, enquadrando-se as diversas licenciaturas para a

Educação Básica e distanciando-se oficialmente dos cursos de bacharelado. O documento

considera a consolidação da normatização de professores um ato indispensável para o

desenvolvimento do Plano Nacional de Educação junto ao fortalecimento do Sistema

Nacional de Educação articulando assim as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Formação Inicial e Continuada, em Nível Superior junto às Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Educação Básica. Abaixo umas das considerações que expressam a

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educação como direito para todos justificando a existência desta legislação específica:

CONSIDERANDO que a educação em e para os direitos humanos é um direito fundamental constituindo uma parte do direito à educação e, também, uma mediação para efetivar o conjunto dos direitos humanos reconhecidos pelo Estado brasileiro em seu ordenamento jurídico e pelos países que lutam pelo fortalecimento da democracia, e que a educação em direitos humanos é uma necessidade estratégica na formação dos profissionais do magistério e na ação educativa em consonância com as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos. (BRASIL, 2015, p.2)

Neste documento também se encontram as normativas curriculares das

licenciaturas relacionadas aos grandes assuntos a serem abordados e à carga horária

mínima, estipulando duração de 4 anos de integralização curricular. São valorizadas as

atividades práticas como fundamentais para a formação docente, além de seu caráter

interdisciplinar, incentivando o fortalecimento da formação continuada para os

profissionais da rede básica já prevista nas demais leis vigentes. Os assuntos a serem

abordados nos currículos encontram-se no § 2º:

§ 2º Os cursos de formação deverão garantir nos currículos conteúdos específicos da respectiva área de conhecimento ou interdisciplinares, seus fundamentos e metodologias, bem como conteúdos relacionados aos fundamentos da educação, formação na área de políticas públicas e gestão da educação, seus fundamentos e metodologias, direitos humanos, diversidades étnico-racial, de gênero, sexual, religiosa, de faixa geracional, Língua Brasileira de Sinais (Libras), educação especial e direitos educacionais de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas. (BRASIL, 2015, p.12)

Entendo que em 4 anos, com contextos socioculturais tão variados no país, é

extremamente complexa a criação de uma normatização formativa rígida. Assim, as

diretrizes curriculares mais abertas possibilitariam que as Instituições de Ensino Superior

pudessem se organizar de acordo com os interesses da comunidade envolvida. Porém,

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ressalto que sem a presença da gestão democrática nas construções dos Projetos

Políticos Pedagógicos, e, consequentemente, dos currículos, caso não haja interesse do

corpo docente ou ocorram conflitos de interesses corporativos, as formações certamente

não atenderão às demandas das alunas e alunos e suas diversas possibilidades de campos

de atuação e/ou de interesse.

Os Referenciais Curriculares Nacionais dos Cursos de Bacharelado e Licenciatura5

(BRASIL, 2010) iniciam a discussão sobre a adoção de denominação comum dos cursos

de graduação que seria justificada para facilitar a mobilidade estudantil, fortalecer a

identidade dos cursos e facilitar o levantamento de dados de pesquisa para avaliação dos

cursos que se dispõem às mesmas formações (BRASIL, 2010, p.5).

As cargas horárias mínimas estabelecidas neste documento são 2400 horas para o

bacharelado no período de 4 anos e para a licenciatura 2800 horas em 3 anos.

Especificamente para a licenciatura ocorreu um aumento da carga horária para 3200,

com 4 anos de integralização por via da Resolução nº 2 de julho de 2015 (BRASIL, 2015)

em caráter de Lei.

Segundo Souza (2014), a partir dos anos 80 o teoricismo era reinante, sendo essa

uma das fragilidades de formação inicial para a docência. A Resolução nº2/2002 (BRASIL,

2002) tentou alterar esta composição por meio da ampliação da carga horária de prática

de estágio para 800 horas:

I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso;

II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso; (BRASIL, 2002).

Inúmeros eventos no país apontaram a dificuldade de implementação desta carga

horária, e após diversas consultas ao CNE sobre os modos de aplicação o Conselho Pleno

do CNE elaborou em 2006 um parecer favorável à diminuição para 300 horas, porém isso

5 Os Referenciais Curriculares não são propostas obrigatórias respaldadas pela Lei. Estes documentos sugerem as estruturas e conteúdos que podem ser abordados nos currículos.

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não se traduziu em nova resolução (SOUZA, 2014). As soluções encontradas

concretizaram-se no aumento da carga horária sem que isso significasse o aumento de

trabalho ou número de docentes, traduzindo-se na ampliação de tempo sem ganhos

acadêmicos efetivos. Porém ressalta-se o avanço da compreensão relacionada à maior

inserção nos espaços educacionais, favorecendo a formação crítica do contexto

educacional contemporâneo.

Para o bacharelado, o perfil almejado descreve a/o egresso como conhecedor

profundo de técnicas e fundamentos da música associados aos conhecimentos teóricos e

práticos nos aspectos “técnico-criativos, estéticos, culturais, históricos e sociais” (BRASIL,

2010, p. 84). Também dentre as suas competências estão as pesquisas científicas que

analisam as produções musicais e o conhecimento de história da música. Destaca-se que,

dentre os principais ambientes de atuação profissional, diversos deles são espaços com

características mais direcionadas a atividades de músicos amadores, isso de certa forma

já prescreve uma atuação pedagógica:

[...] pesquisador em Instituições de Ensino Superior; em grupos vocais; montagens de óperas, espetáculos e recitais; em orquestras; em conjuntos musicais, religiosos e folclóricos; em empresa de comunicação, estúdios de gravação, teatros, igrejas ou agências de propaganda; em editoras de partituras musicais. Também pode atuar de forma autônoma, em empresa própria ou prestando consultoria. (BRASIL, 2010, p. 84)

Dentre os temas que deverão ser abordados, encontram-se: linguagem e

estruturação musical, percepção musical, história da música, assuntos relacionados à

cultura, práticas em grupo, questões vinculadas à performance, saúde, ética, meio

ambiente, tecnologia e suas relações com a ciência. Não há, nessa resolução, um

componente obrigatório que discuta assuntos pedagógicos. Assim, mesmo na

perspectiva de que o egresso do curso do bacharelado certamente ensinará o seu

instrumento, reproduzindo a metodologia que aprendeu, pode ser que suas

competências e recursos não atendam à variedade de perfis e processos pedagógicos dos

seus futuros aprendizes. Por conta dessa ausência, subentende-se que não caberia ao

bacharelado em música atuar na docência em nenhuma instância, fato que está

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discrepante com a vida profissional.

No referencial para o curso de licenciatura em música a pessoa formada torna-se

professora com a possibilidade central de atuação na Educação Básica. Além da prática

direta em sala de aula, a licenciada “elabora e analisa materiais didáticos, como livros,

textos, vídeos, programas computacionais, ambientes virtuais de aprendizagem, entre

outros” (BRASIL, 2010). É importante que este profissional possa compreender as

relações entre diversos assuntos escolares, contribuindo para a educação e promovendo

cidadãos éticos, autônomos e com pensamento crítico. Além disso, sua profissionalização

também pode ocorrer em espaços de ensino não formal ou de forma autônoma.

A partir das orientações legislativas para as graduações em música constata-se

que ocorreram avanços significativos em relação à abertura das Instituições de Ensino

em organizarem seus programas curriculares com autonomia. No caso da licenciatura em

música são previstas nas normatizações: a carga horária de estágio, duração dos cursos

e ensino de Libras. A normatização da carga horária favorece que as instituições privadas,

na perspectiva de aumento de lucros, não encurtem a duração de seus cursos, o que

prejudicaria a qualidade formativa. Os demais temas obrigatórios visam aproximar as

professoras e professores dos contextos reais da Educação Básica, o que acredito ser

fundamental para uma atuação que valorize a educação democrática e pública no âmbito

do direito.

Aprofundando o debate relacionado ao currículo na perspectiva da formação em

regência coral infantil utilizei os cursos de licenciatura em música e bacharelado em

regência da Unicamp como referência curricular. Além de que nesta mesma universidade

cursei o doutorado e desenvolvi Laboratório de Regência Coral Infantil, que será discutido

mais adiante.

1.2.2.2 Diretrizes da Unicamp que estruturam os cursos de licenciatura e bacharelado em regência

O documento oficial do regimento interno das Instituições de Ensino é o Projeto

Político Pedagógicos, que contém as estruturas do desenvolvimento curricular e

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apresenta as ideologias, os processos e todo o seu funcionamento. Desde a organização

geral da escola até a dinâmica da sala de aula, o PPP contribui para a formação da

identidade do espaço onde será executado, desenvolvendo uma cultura de relações e

processos de sociabilidade. Para sua construção, os referenciais teóricos e metodológicos

visam buscar os alicerces de sua viabilidade, nutrindo-se de subsídios técnicos e

financeiros das estâncias superioras como o MEC (Ministério da Educação) e Secretarias

de Educação Estaduais e Municipais.

Segundo o Art. 12 da LDB de 1996, os estabelecimentos de ensino, respeitando as

especificidades do núcleo a que pertencem juntamente com as leis comuns de seus

sistemas, são incumbidos de desenvolver e executar seus projetos políticos pedagógicos.

Neste panorama, segundo o Art. 13 desta mesma legislação, cabe aos docentes: “I -

participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II -

elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do

estabelecimento de ensino”. (BRASIL, 1996).

O Projeto Político Pedagógico dos cursos de graduação deve ser criado e seguir os

princípios norteadores da gestão democrática prevista no Art. 206 da Constituição

Federal de 1988, na forma de lei do ensino público, e corroborada pelo Art. 56 da LDB de

1996 referente ao ensino superior:

As instituições públicas de educação superior obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a existência de órgãos colegiados deliberativos, de que participarão os segmentos da comunidade institucional, local e regional. (BRASIL, 1996)

Segundo Veiga (2011), o conceito de PPP (Projeto Político Pedagógico) vai além

da documentação legal que será encaminhada às autoridades. Faz-se necessário que ele

se torne vivenciado por toda uma comunidade escolar. O termo político refere-se à parte

do projeto que indica as ações socioeducativas que serão colocadas em prática,

destacando os interesses políticos majoritários. O pedagógico define quais escolhas

pedagógicas serão consideradas e vivenciadas, também cumprindo sua intencionalidade.

É importante que sua criação esteja associada aos contextos que serão implementados,

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“[..] nesse sentido é que se deve considerar o projeto político pedagógico como um

processo permanente de reflexão e discussão de problemas na escola, na busca de

alternativas viáveis à efetivação de sua intencionalidade [...]” (VEIGA, 2011, p.13).

A gestão democrática desperta a socialização do espaço escolar, princípio que

promove a participação coletiva e a reciprocidade, superando a opressão, e seu

funcionamento “anula a dependência de órgãos intermediários que elaboram políticas

educacionais das quais a escola é mera executora” (VEIGA, 2011, p.18). A autora observa

que a implementação da gestão democrática é um enorme desafio, já que implica em

uma ampla participação crítica dos envolvidos para a construção do Projeto Político

Pedagógico.

Ressalta-se a difícil tarefa de construção, manutenção e efetivação dos projetos políticos

pedagógicos para a melhoria da qualidade dos serviços educacionais, “[...] que devem

gerar capacitação técnica, produção intelectual e indivíduos educados com autonomia

necessária para contribuírem para melhoria da qualidade de vida da população”

(BUSSMAN, 2011, p.48). Sua implementação é condicional para definir a escola como

espaço de construção de conhecimento com um movimento dinâmico sócio-histórico. As

ferramentas que garantem sua construção no viés da gestão democrática podem

acontecer por meio de assembleias, associações de pais e mestres, conselhos, grêmios

estudantis, conselhos de pais e mestres, representações discentes e docentes, entres

outras formas de consulta da comunidade escolar. Porém, na medida que estas

organizações6 mantiverem a dominância de poder, será mantido também o sistema

hierárquico não democrático. Destaca-se também que muitas vezes ocorre que o projeto

fica no nível do desejável, mas não atinge o nível do aplicável, o que gera um ambiente

de insatisfação e desqualifica essas organizações.

A impotência diante dos problemas educacionais tem se constituído no sentimento mais frequente entre os educadores que, corroídos pelo “cansaço pedagógico” e principalmente por uma grande angústia, anseiam em chegar ao como, às receitas ou aos possíveis modelos de um paradigma que melhor explique o fazer educativo. Mas pelo fato de não terem sido “gestados” e gerados no cotidiano, acabam não sendo

6 De forma genérica pode-se definir organização como um conjunto de pessoas e recursos articulados para a realização de um objetivo ou conjunto de objetivos, mantendo interação com o meio. (BUSSMAN, 2011, p.39)

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absorvidos, vividos. (RESENDE, 2011, p.63)

O projeto político-pedagógico com base na sua construção coletiva supõe a

necessidade do rompimento do pensamento fragmentado de organização, definições e

diretrizes claras do que pretende a instituição de ensino, envolvimento político da

comunidade escolar, rompendo com os individualismos, análise e avaliação dos sistemas

educacionais, estudos constantes teóricos, formação continuada e valorização dos

profissionais da educação e gestores competentes (BUSSMAN, 2011).

1.2.2.3 PPP dos cursos de licenciatura e bacharelado em música da Unicamp

O curso de licenciatura foi criado em 2005, iniciando suas atividades em 2006 após

deliberação do CONSU 281/205 (Conselho Universitário da Unicamp) como uma

modalidade do curso de música, e posteriormente, em 2015, tornou-se um curso de

graduação específico. Saliento que o reconhecimento como uma área exclusiva é

fundamental para a valorização desta área de conhecimento, além de contribuir para a

ampliação dos debates específicos de cada uma destes campos formativos.

Dentre os objetivos gerais do curso almeja-se a formação musical e educacional

altamente qualificada, além de promover e incentivar a pesquisa na área: “incentivar o

aluno a ser um pesquisador constante, buscando suas próprias soluções para os

problemas pedagógicos que se colocam no dia a dia de um educador musical”

(Departamento de música/Instituto de Artes – Unicamp, 2015). A pesquisa é fundamental

para o profissional da educação para que sua prática esteja em constante reflexão e

adequação. Neste sentido, a formação continuada relacionada à pesquisa favorece o

surgimento de “mecanismos que garantam a ele maior autonomia (individual e

coletivamente), espaço para investir em novos modos de pensar e fazer seu trabalho e

meios de melhorar seu reconhecimento social” (PEREIRA, 2006, p.280).

O PPP da Licenciatura em Música da Unicamp pressupõe a habilitação do egresso

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para o trabalho em diversos tipos de instituições escolares e não escolares em dimensões

de trabalho variados. Não se prevê diretamente a atuação em regência da pessoa

licenciada em música, porém, como uma prática recorrente da educação musical,

subtende-se esta possibilidade profissional.

O curso de bacharelado em música da Unicamp7 possui o Projeto Político

Pedagógico vigente construído no ano de 2012. Observa-se que neste PPP, o curso de

licenciatura em música ainda era uma modalidade oferecida, e não uma graduação

específica. Assim, o PPP naquele período se referia tanto ao bacharelado quanto à

licenciatura. Neste documento para o perfil profissional é proposta uma formação teórica

e prática que possa conferir versatilidade para atuar em suas diversas possibilidades.

Destaco o seguinte trecho revelando a intenção de atuação do egresso do curso de

bacharelado em regência em grupos amadores:

Um regente deve necessariamente estar apto a reger uma grande orquestra, mas ele também deve estar apto a organizar um coral comunitário em um local onde não haja nenhuma atividade musical, ou mesmo toar, compor ou criar arranjos originais, ou ainda atuar em novas frentes da prática musical como a área de técnico e produtor de estúdio musical, computação musical, relação música e novas tecnologias, música e cena. (Dep. de música- IA/Unicamp, 2012)

Dependendo das intenções dos grupos musicais, ao convidar ou selecionar uma

pessoa para ser condutora dos ensaios, automaticamente ela é definida como regente.

Para o exercício dessa profissão não existe uma regulamentação que exija a formação

acadêmica para a profissionalização, diferente das licenciaturas, que são normatizadas

como obrigatórias para atuar na Educação Básica, segundo a LDB 9394/96 (BRASIL, 1996).

No ano de 2017 ocorreram a alterações da LDB 1996, durante a gestão do Presidente

Temer, possibilitando a contratação de docentes sem licenciatura (LDB, 1996, art. 61,

inciso IV, incluso em 2017), representando um retrocesso nas lutas dos movimentos

educacionais.

Segundo o PPP de 2012 não é possível fornecer formação acadêmica especializada

7 Projeto vigente até o ano de 2016, mesmo período de realização desta pesquisa.

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que englobe todos os conhecimentos nas áreas de atuação, porém os cursos se propõem

a fornecer uma “educação contínua e permanente” (Dep. de música- IA/Unicamp, 2012).

Não existindo neste documento definições claras de como aconteceria esta

continuidade, observa-se que por meio dos reingressos e modalidades combinadas, além

das disciplinas eletivas, subentende-se a existência de caminhos alternativos em que a

aluna ou aluno possam traçar suas respectivas formações. A Unicamp, dentre as

universidades públicas do estado de São Paulo, é a única que possibilita o reingresso e a

modalidade combinada nos cursos de música sem a obrigatoriedade de concorrer a uma

vaga específica durante o vestibular regular anual. Nos demais espaços universitários

públicos do estado, o egresso precisa novamente se submeter aos processos tradicionais

de ingresso, o que dificulta o trânsito entre os cursos.

1.2.3 Contexto didático

O contexto didático é constituído pelos métodos e procedimentos de ensino que

cada instituição elege como norteadores de suas atividades. Neste caso, foi observada a

estrutura curricular dos cursos de licenciatura e bacharelado em música, sendo esse um

dos objetos de análise que auxiliaram na identificação de como os conteúdos são

abordados nos cursos de graduação. Reconhecemos que os programas curriculares não

podem traduzir com clareza a qualidade do ensino durante as aulas, porém, é possível

verificar se os planejamentos dos cursos favorecem, ou não, a formação em regência

coral infantil.

1.2.3.1 Estrutura curricular

Em análise dos catálogos de graduação dos cursos de licenciatura e bacharelado

em regência de 2018 da Unicamp, ambos os cursos apresentam dois núcleos de

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disciplinas, constituídos pelas disciplinas obrigatórias e as eletivas. Observa-se que dentre

as eletivas, existe um grupo de créditos a serem cumpridos dentro do Instituto de Artes

ou Departamento de Música, e um outro grupo daqueles créditos que podem ser

cumpridos em qualquer Instituto ou Departamento da Unicamp. Existem também os

créditos obrigatórios do curso de línguas pertencentes ao núcleo comum de ambos os

cursos de música, em cujas disciplinas é possível a escolha de qual idioma de língua

estrangeira será cursado.

A previsão para a conclusão da licenciatura é de 4 anos, e o curso é composto por

236 créditos (entre disciplinas eletivas e obrigatórias), somando 3540 horas de atividade.

O bacharelado apresenta 204 créditos, com 3060 horas de atividade, podendo ser

integralizado em 5 anos. Abaixo é apresentada uma tabela com os dados relacionados à

quantidade de créditos obrigatórios e eletivos/eletivos-obrigatórios (2018):

Obrigatórias Eletivas

Licenciatura 188 créditos 79,66%

48 créditos 20,34%

Bacharelado em regência

188 créditos 92,15%

16 créditos 7,85%

Tabela 1: quantidade de créditos de disciplinas eletivas e obrigatórias.

Destaca-se que também é possível separar as disciplinas eletivas de ambos os

cursos em mais duas variáveis: disciplinas eletivas livres e disciplinas

eletivas/obrigatórias8, representadas no quadro abaixo:

Licenciatura Bacharelado

06 créditos em qualquer disciplina do IA

08 créditos em tópicos de regência

12 créditos de instrumento 06 créditos de instrumento

28 créditos em disciplinas que envolvam teoria musical

02 créditos livres 02 créditos livres

8 Nesse grupo, deve ser cursado um conjunto de disciplinas optado dentre aquelas propostas nos catálogos

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Tabela 2: disciplinas eletivas e eletivas/obrigatórias.

Inicialmente é possível observar que os currículos de ambos os cursos

apresentavam maior número de créditos obrigatórios, resultando em pouco espaço para

escolha das alunas e alunos dos seus respectivos caminhos formativos. Além disso,

livremente só é sugerido escolher uma disciplina (equivalente aos dois créditos livres) em

toda a integralização curricular de ambos os cursos. Esses dados demonstram-se distintos

das intenções previstas no PPP de 2012 (sendo este o vigente do curso de bacharelado),

que no período de sua criação também projetava o curso de licenciatura, que afirmava a

possibilidade e a importância das alunas e alunos construírem seus próprios caminhos

formativos, destacado na citação a seguir:

O aluno do curso de música recebe uma formação interdisciplinar e humanística por meio de uma abordagem mais profunda da linguagem e de amplas possibilidades de pesquisa. Para tanto, é oferecido um núcleo de disciplinas obrigatórias, bem como disciplinas eletivas, inclusive de outros Institutos ou Faculdades, que podem ser escolhidas de acordo com as preferências ou demandas pessoais. "O aluno direciona a sua própria formação da melhor maneira possível e ainda encontrará facilidades para dar continuidade à sua formação musical e acadêmica", esclarece o coordenador. (Dep. de Música/IA – Unicamp, 2012)

Similar ao PPP de 2012, o de 2015 (exclusivo do curso de licenciatura) também

incentiva e discute a autonomia formativa, segundo o trecho destacado:

O aluno do curso de Licenciatura em Música receberá uma formação interdisciplinar e humanística por meio de uma abordagem mais profunda da linguagem musical e de amplas possibilidades de pesquisa. Para tanto, serão oferecidos núcleos de disciplinas obrigatórias e disciplinas eletivas, inclusive de outros Institutos ou Faculdades, que poderão ser escolhidas de acordo com as preferências ou demandas pessoais. O aluno direcionará a sua própria formação da melhor maneira possível e ainda encontrará facilidades para dar continuidade à sua formação musical e acadêmica. (Dep. de Música/IA

– Unicamp, 2015).

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Pela leitura desses documentos compreende-se que os cursos desejam

proporcionar às alunas e alunos caminhos para direcionarem suas formações da “melhor

maneira possível” (PPP 2012, PPP 2015). Porém, observa-se que esses currículos não

permitem que ocorra muita autonomia neste caminho formativo, dessa forma,

tornam-se incoerentes e distantes do que é proposto no Projeto Político Pedagógico de

ambos os cursos. A dificuldade centra-se no fato de que, documentalmente, os cursos

preveem formações múltiplas, porém, a existência de muitas disciplinas obrigatórias

tende a homogeneizar os perfis de egresso, além de exigir um tempo considerável para a

integralização curricular.

No caso de as disciplinas obrigatórias não oferecerem a formação em regência

coral infantil, o currículo muito fechado não propicia que a/o graduando busque com

autonomia se matricular em alguma outra disciplina na qual, de alguma maneira, possa

haver espaço para o desenvolvimento de sua formação de acordo com seu interesse.

A leitura dessa estrutura me sugere a seguinte alternativa: o importante é

fornecer assuntos variados obrigatórios, desenvolvendo uma formação na qual a/o

graduanda/o se apropria razoavelmente de temas distintos, ou que de alguma maneira

a estrutura curricular proporcione uma formação inicial sólida, e posteriormente cada

pessoa possa se aprofundar em alguma área de acordo com seu interesse. Além de que

cursar muitas disciplinas ocupa um tempo que pode dificultar o estudo individual.

1.2.3.2 Análise das disciplinas pedagógicas musicais e exclusivamente pedagógicas

Para a formação em regência coral infantil, faz-se necessário o estudo das

questões pedagógicas que envolvem os processos de ensino e aprendizado musical em

grupo com foco nas particularidades da infância. Para esta reflexão foram considerados

os conteúdos pedagógicos musicais para o curso de licenciatura e bacharelado de todas

as disciplinas que envolvem a teoria e a prática de ensino geral e, especificamente, o

ensino de música, descritos nas ementas. Em relação às cargas horárias, não foram

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contabilizadas para a licenciatura as horas de estágio prático extraclasse, somando-se

somente as horas-aula dentro de sala de aula.

Observa-se que para o bacharelado as disciplinas de regência coral e orquestral

preveem em suas ementas a atuação em grupos variados, tendo a/o regente o papel de

educador musical, sendo assim, subtende-se a existência da intenção em abordar

questões pedagógicas musicais nestas disciplinas.

Na Licenciatura existe um núcleo exclusivamente pedagógico, que engloba os

assuntos relacionados à educação geral, à arte e à escola, somando o total de 46,80% de

disciplinas voltadas às questões pedagógicas (2018):

Disciplinas Créditos

MU068 Laboratório de Instrumentos Harmônicos 2 MU070 Percussão Aplicada 2

MU119 Pedagogia e Didática Musical I 6 MU219 Pedagogia e Didática Musical II 6

MU319 Pedagogia e Didática Musical III 2

MU419 Pedagogia e Didática Musical IV 2 MU573 Estágio Pedagógico I 6 MU673 Estágio Pedagógico II 8

MU147 Iniciação à Regência I 6

TOTAL DE CRÉDITOS 40 Tabela 3: disciplinas pedagógicas musicais.

Disciplinas Créditos

AR101 Fundamentos Filosóficos da Arte Educação 4

AR301 Psicologia do Desenvolvimento Aplicado às Artes I

4

AR601 Processos Pedagógicos Voltados para o Corpo na Arte

4

EL212 Política Educacional: Organização da Educação Brasileira

6

EL213 Libras e Educação de Surdos 6

EL511 Psicologia e Educação 6

EL683 Escola e Cultura 6

EL774 Estágio Supervisionado I 8

EL874 Estágio Supervisionado II 8

AR101 Fundamentos Filosóficos da Arte Educação 4 TOTAL DE CRÉDITOS 52

Tabela 4: disciplinas pedagógicas gerais.

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A regência abrange as seguintes disciplinas (2018):

Disciplinas Créditos

MU147 Iniciação à Regência I 6 MU247 Iniciação à Regência II 6

MU148 Regência Coral I 6

MU248 Regência Coral II 6 MU348 Regência Coral III 6

MU448 Regência Coral IV 6

MU175 Regência Orquestral I 6

MU275 Regência Orquestral II 6

MU375 Regência Orquestral III 6

MU475 Regência Orquestral IV 6

MU147 Iniciação à Regência I 6 TOTAL DE CRÉDITOS 60

Tabela 5: disciplinas pedagógicas musicais II.

O curso de licenciatura não tem a intenção exclusiva de formar regentes de coros

infantis, porém, pela incorporação da disciplina de Iniciação à Regência no currículo

obrigatório, supõe-se que o programa curricular pretende abordar a perspectiva de que

as competências e habilidades da regência são importantes e fundamentais para a

atuação da professora ou professor de música.

Em relação à formação pedagógica, a licenciatura evidentemente apresenta uma

demanda de estudo superior em temas mais variados, já que contempla uma quantidade

considerável de disciplinas que preveem este tipo de debate. Já o curso de regência não

prevê especificamente a atuação em grupos infantis, porém, caso a/o aluna/o tenha

interesse nesta área (ou mesmo na atuação em coros amadores) é possível que as e os

interessados se matriculem nas disciplinas relacionadas às pedagogias, espaço onde

seriam debatidos os métodos ativos da educação musical, além dos diversos assuntos

que envolvem os processos de ensino e aprendizagem em contextos diversos. Neste

sentido, as/os ingressantes dos cursos de bacharelado em regência precisariam ser

instruídas/os nesta perspectiva para tomarem ciência desta possibilidade. Observa-se

que no currículo do bacharelado não prevê muito espaço para a matrícula em pedagogia e

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didática, já que só possui 02 créditos de disciplina de livre escolha, além de que esta

matéria (MU 119 Pedagogia e Didática Musical I) possui 06 créditos.

No currículo do bacharelado em regência não existem obrigatoriamente as

disciplinas de estágio, assim, entende-se que o tempo formativo prático deve acontecer

nas próprias disciplinas de regência. A ampliação e o incentivo de formação a partir da

prática em ambientes reais para a/o regente, com grupos variados, seria uma alternativa

para vivências mais diversificadas, além das práticas de regência já existentes que

envolvem a prática da regência de grupos instrumentais ou corais formados pelas/os

musicistas do curso de graduação. Seria importante que as universidades, junto aos

cursos, proporcionassem e incentivassem estes estágios. A ideia não seria incorporar

mais disciplinas obrigatórias no currículo da regência, mas sim rever o modelo estrutural

organização das disciplinas existentes na regência coral.

A lista dos instrumentos do currículo da licenciatura se refere aos cursos

existentes no bacharelado, porém, não foram encontradas disciplinas de regência após a

MU 147 Iniciação a Regência I. Isto é, quem cursa a licenciatura não tem garantias de que

poderá se matricular, por exemplo, em MU Regência Coral I, diferente das outras

modalidades do bacharelado. De fato, existe uma pequena parcela de créditos nesse

curso que permite a matrícula em outras disciplinas de regência, caso a aluna ou aluno

ache necessário, mas elas representam apenas 2,5% de toda a estrutura curricular. Já no

curso do bacharelado, normativamente não são valorizadas as disciplinas

interdisciplinares que envolvem o trabalho pedagógico e o estágio em espaços fora da

Universidade. Mantendo-se a quantidade de disciplinas obrigatórias propostas,

estruturalmente este quadro dificilmente poderia ser alterado ou exigiria o aumento da

quantidade de semestres para a integralização curricular.

1.2.3.3 Análise das disciplinas técnico-musicais

As disciplinas técnico-musicais visam a formação teórica musical da/o regente e

da/o licenciado e sua formação musical prática. Além de toda a compreensão musical

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que é possibilitada pelo domínio destes saberes, uma formação ampla e sólida

proporcionará ao futuro profissional o potencial de análise do repertório junto ao

contexto do coro, e quais são os melhores procedimentos técnicos que devem ser

utilizados nos ensaios. Destaco que os conhecimentos teóricos, em especial o histórico,

fornecem elementos que promovem a conscientização estilística das obras associadas

aos seus contextos, lógica que aplicada à escolha do repertório para o coral favorece a

construção identitária do grupo.

As disciplinas analisadas foram selecionadas a partir de suas ementas, que as

descrevem como exclusivamente teóricas e relacionadas aos conceitos musicais e

históricos. Abaixo a tabela para a licenciatura presente no catálogo de 2018:

Disciplinas Créditos

MU049 Introdução à Pesquisa 2

MU105 Estruturação Musical I 2

MU205 Estruturação Musical II 2

MU114 Análise I e MP 110 Arranjo I 4

MU214 Análise II e MP 210 Arranjo II 4

MU314 Análise III e MU 111 Música Industrializada I 4

MU414 Análise IV e MU 211 Música Industrializada II 4

MU146 Harmonia do Período Barroco e MP 130 Harmonia I 4

MU246 Harmonia do Classicismo ao Romantismo e MP 230 Harmonia II

4

MU346 Harmonia do Romantismo ao Século XX e MP 330 Harmonia III

4

MU446 Harmonia do Século XX e MP 440 Harmonia IV 4

MU360 História da Música I 2

MU460 História da Música II 2

MU560 História da Música III 2

MU660 História da Música IV 2

MU190 História da Música Brasileira I 2

MU290 História da Música Brasileira II 2

Total de créditos 50

Tabela 6: disciplinas teóricas musicais/licenciatura.

O bacharelado em regência apresentava as seguintes disciplinas (2018):

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Disciplinas Carga horária

MU049 Introdução à Pesquisa 2

MU114 Análise I 2

MU214 Análise II 2

MU314 Análise III 2

MU414 Análise IV 2

MU105 Estruturação Musical I 2

MU205 Estruturação Musical II 2

MU146 Harmonia do Período Barroco 2

MU246 Harmonia do Classicismo ao Romantismo 2

MU346 Harmonia do Romantismo ao Século XX 2

MU446 Harmonia do Século XX 2

MU360 História da Música I 2

MU460 História da Música II 2

MU560 História da Música III 2

MU660 História da Música IV 2

MU155 Contraponto e Fuga I 2

MU255 Contraponto e Fuga II 2

MU165 Orquestração I 2

MU265 Orquestração II 2

MU355 Contraponto I 2

MU455 Contraponto II 2

MU512 Dicção I 2

MU612 Dicção II 2

MU190 História da Música Brasileira I 2

MU290 História da Música Brasileira II 2

TOTAL DE CRÉDITOS 50

Tabela 7: disciplinas conceituais musicais regência.

A estrutura é baseada na lógica serial com a presença de pré-requisitos em todas

as disciplinas, com exceção daquelas que são as primeiras de uma sequência. Os cursos

aparentemente demonstram grande preocupação na formação teórica, e para a/o

futura/o regente de coros infantis este núcleo é de grande importância. Em

contraposição, as disciplinas com pré-requisitos distribuídas em muitos semestres de

forma serial podem compartimentar abusivamente o conhecimento, resultando em

extensas cargas horárias de disciplinas pouco interdisciplinares.

Para o curso do bacharelado em regência todas as disciplinas oferecidas provêm

do curso de música erudita, em contraponto a isso, diversos regentes, principalmente os

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de corais infantis no Brasil, trabalharão com o repertório popular. Na Unicamp, diferente

das demais universidades públicas paulistas, por causa da existência do curso de

bacharelado em música popular, seria possível esta perspectiva formativa, ou seja, o

conhecimento também dos gêneros da música popular pelas/os regentes.

A formação prática musical é representada pelas disciplinas que instrumentam as

competências técnico musicais. A licenciatura apresenta as seguintes disciplinas:

Disciplinas Créditos

MU058 Rítmica I 5

MU059 Rítmica II 5 MU060 Rítmica III 5

MU061 Rítmica IV 5 MU193 Percepção Musical I 5

MU293 Percepção Musical II 5

MU393 Percepção Musical III 5

MU493 Percepção Musical IV 5

MU 112 Técnica Vocal I 2

MU 212 Técnica Vocal II 2

AC145 Expressão Corporal I 2

AC245 Expressão Corporal II 2

MU120 Coral I 2 MU220 Coral II 2

Crédito em qualquer instrumento 12

TOTAL DE CRÉDITOS 64 Tabela 8: disciplinas musicais práticas licenciatura.

Para o bacharelado em regência:

Disciplinas Créditos

MU058 Rítmica I 5

MU059 Rítmica II 5

MU060 Rítmica III 5

MU061 Rítmica IV 5

MU193 Percepção Musical I 5

MU293 Percepção Musical II 5 MU393 Percepção Musical III 5

MU493 Percepção Musical IV 5

AC145 Expressão Corporal I 2 AC245 Expressão Corporal II 2

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60

MU 112 Técnica Vocal I 2

MU 212 Técnica Vocal II 2 MU120 Coral I 2

MU220 Coral II 2

MU320 Coral III 2

MU420 Coral IV 2

MU520 Coral V 2 MU620 Coral VI 2

MU998 Recital 6

Crédito em qualquer instrumento 6

TOTAL DE CRÉDITOS 72

Tabela 9: disciplinas musicais práticas do bacharelado.

A formação musical prática proporciona às/aos ingressantes vivências e

desenvolvimento artístico pessoal com propostas individuais ou coletivas. Em especial a

percepção e a rítmica compõem os fundamentos musicais básicos na produção musical

envolvendo diretamente a capacidade de perceber e analisar o objeto auditivo produzido

pelas práticas musicais9

. Dessa forma, independentemente do campo de atuação, o

profissional em música será beneficiado com estes saberes. Não é, contudo, previsto em

ementa que a/o aluna/o estudará nestas disciplinas os conteúdos na perspectiva também

de ensiná-los. É evidente que a própria experiência do aprendizado oferece elementos e

referências também para a prática do ensino, mas, supondo a situação de a/do regente

recém-formado se confrontar com a formação de um coral infantil, o contexto em que se

encontram as crianças em ensino coletivo é muito distante do universo por ela/ele

vivenciado nas aulas de graduação, cabendo, então, exclusivamente às disciplinas de

cunho pedagógico proporcionar estas experiências e discussões.

Importante perceber que este núcleo de disciplinas mostrado acima pertence a

uma parcela significativa da formação de ambos os cursos. Para as/os regentes corais as

práticas de ensaiar e de reger são intrinsicamente conectadas. Desta forma, o ensaio

consiste em momentos nos quais o/a regente identifica os desafios e momentos nos

quais, junto ao grupo, encaminha as propostas com a finalidade de desenvolver as

performances. Assim, como responsável pelo resultado sonoro do grupo, é necessário

que durante as conduções a/o regente seja capaz de identificar os aspectos do som para

9 A MU212 Técnica vocal II é a única deste grupo que descreve em ementa o direcionamento de conteúdos para técnica vocal de coros.

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poder modificá-los. Neste sentido, as disciplinas de percepção musical e rítmica são

fundamentais para que se estimule e desenvolva este tipo de habilidade.

No currículo dos cursos de música da Unicamp prevê-se o cumprimento das

disciplinas de percepção em quatro semestres, subentendendo uma quantidade de

tempo que representa metade do curso de graduação para quase todas as habilitações.

Retomo que a/o licenciada/o pode encontrar dificuldades em se matricular nas

disciplinas da regência coral, o que dificulta a melhoria da formação da percepção vocal

no sentido de desenvolver ferramentas que possibilitem o melhor e mais consciente

desenvolvimento sonoro do coro.

Nas disciplinas que constroem a performance são engrandecidas e ampliadas as

relações pedagógicas com as performances musicais e artísticas. A/o regente experiente

em palco, tanto conduzindo grupos quanto cantando, tem mais ferramentas para

resolução de problemas recorrentes nas organizações dos concertos. Nota-se que não é

garantido que um bom performer seja também um bom ensaiador, mas quanto mais

ferramentas e bagagens anteriores forem obtidas, mais recursos terão os futuros

profissionais para desenvolverem com segurança as performances dos coros nos quais

atuarão. Nesse grupo de disciplinas especificamente o coral caracteriza-se mais para a

formação como cantor, já que para as alunas e alunos da licenciatura não é possível a

atuação como regente, sendo essa uma atividade exclusiva daqueles que cursam o

bacharelado em regência.

Observa-se que o curso de Licenciatura reserva 74 créditos que constituem

disciplinas essencialmente práticas, nas quais é desenvolvido especificamente o

aprendizado técnico musical, representando apenas de 31% a 35% do total de créditos,

aspecto que caracteriza o curso como mais direcionado aos assuntos teóricos; isso pode

reduzir o espaço para o desenvolvimento da aprendizagem prática musical daqueles que

frequentam esse curso, consequentemente, há menos tempo disponível para dedicação

a essa área. O bacharelado em regência dedica 64,7% dos créditos às práticas musicais ou

aprendizado técnico musical. Além de oferecer mais disciplinas na área, também elas são

diluídas em mais tempo, já que no bacharelado há um ano a mais de integralização em

comparação com a licenciatura. Para a regência coral infantil, como já dito

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anteriormente, não deveria ser descartado o aprendizado pedagógico, porém, caso a/o

regente não tenha formação musical, sua atuação tende a ser mais limitada, dificultando

suas habilidades para o ensino do repertório.

É importante ressaltar que a mudança da estrutura curricular representa uma

série de alterações e discussões das intenções e formato dos cursos, vinculado à

construção e efetivação das propostas dos PPP’s. Observa-se que essas discussões

precisam ser acompanhadas impreterivelmente do aumento do quadro docente e da

estrutura física para atender com qualidade às formações nas graduações.

Com esta reflexão, identifico que os currículos tanto do bacharelado em regência

quanto da licenciatura não são suficientes para uma formação — mesmo inicial — dos

egressos nas práticas corais do coro infantil. As razões seriam, principalmente:

1) falta de abordar a situação específica do coro infantil e amador; 2) falta da

prática com crianças reais e não musicistas (no sentido de não terem formação musical

anterior); 3) falta de discussão mais frequente e aprofundada dessa situação que,

contudo, é bem comum na vida das/dos licenciados e das/dos regentes, qual seja: a

organização e condução de corais infantis; 4) a inclusão da organização e condução do

coral infantil como ferramenta fundamental dos processos de musicalização em ambos

os cursos.

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2. Construindo o LARCI

Este capítulo abordará as áreas de debate que fundamentaram as propostas

pedagógicas e os procedimentais do LARCI. Este material conduziu os debates do grupo

e, consequentemente, os planejamentos. A primeira área se refere aos temas que, no

nosso julgamento, devem ser ensinados nos coros infantis. A ideia é partir desses

conteúdos e habilidades para discutir então o que a/o regente precisaria aprender para

abordar estas informações. A segunda se refere às escolhas pedagógicas que foram

tomadas para a abordagem destas informações, isto é, quais foram os fundamentos

teóricos que embasaram as escolhas e como foi o desenvolvimento dos procedimentos,

tanto nos ensaios com as crianças quanto na formação das/os regentes.

2.1 O que aprender

A/o regente, medida em que obtém um norteador de conteúdos, acaba por ter

facilitada de alguma maneira a escolha dos métodos e repertórios, pois, assim julgamos,

pode ter mais clareza sobre as diversas habilidades simultâneas que são responsáveis

para o desenvolvimento do coral, tanto as artísticas quanto as sociais. Nesta pesquisa

entende-se que os conteúdos dos ensaios precisam ser pensados e organizados em

acordo com as habilidades e necessidades de aprendizado demandadas por cada coral,

relacionando essas demandas com as possibilidades de atuação e interesse, e priorizando

uma proposta de aprendizado musical significativo. Neste sentindo a/o regente poderia

ser formada/o para conseguir estruturar seus ensaios acessando o maior número possível

de cantores e respeitando sua diversidade e interesses. Nesta perspectiva, a nosso ver,

toda a escolha dos procedimentos e repertório levaria a uma melhoria da qualidade

musical nos processos de ensino e aprendizado.

Para a criação de um coro infantil e estruturação pedagógica do LARCI iniciei o

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processo investigando quais seriam os principais conteúdos a serem ensinados nos

ensaios; a intenção era de buscar compreender o que precisaria ser ensinado ao futuro

regente para que ele pudesse, com maior autonomia, realizar um trabalho com qualidade

em seus grupos. Como perspectiva teórica de organização de conteúdos utilizei o autor

César Coll (1998).

Para Coll10 (1998), os conteúdos representam uma série de saberes culturais, cuja

assimilação é de grande importância. A base dessa organização propõe que os saberes a

serem eleitos nos espaços de ensino não sejam desarticulados do contexto social e

cultural de seus participantes, e que permitam reelaborá-los e associá-los às diversas

realidades existentes. Além disso, entende-se que alguns tipos de saberes precisam ser

organizados e planejados para serem transmitidos de forma mais eficiente e específica.

O discernimento dos conteúdos a serem ensinados permite uma escolha facilitada

dos métodos e repertórios, pois assim se obtém mais clareza de quais são as diversas

habilidades simultâneas a serem estimuladas para o desenvolvimento do coral, tanto

artísticas quanto sociais. Os conteúdos nas formações em regência e nos ensaios de coros

infantis precisam ser pensados e organizados em acordo com as habilidades e

necessidades apresentadas por cada grupo discente e/ou coral, relacionados com as

possibilidades de atuação e interesse, e priorizando uma proposta de aprendizado

musical significativo.

César Coll (1998) sugere uma organização de conteúdos divididos em três

categorias: conceituais, procedimentais e atitudinais. A ideia não é enrijecer o processo

por meio de uma categorização que priorize ou hierarquize métodos ou propostas de

ensino, em contraponto a isso, a organização parte da concepção de repensar os

processos e valores de ensino e aprendizagem de conteúdos específicos e também

refletir sobre o papel que eles desempenham no desenvolvimento humano no espaço

escolar. Nesta perspectiva, o autor ressalta que:

10 A ideia deste trabalho não é utilizar as pesquisas de C. Coll pragmaticamente. Escolhi sua categorização pois a entendo como uma facilitadora conceitual interessante para repensar a hierarquia dos conteúdos escolares associados aos conteúdos do canto coral infantil.

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Isso não quer dizer, contudo, que a classificação deva ser interpretada de maneira rígida. Uma simples leitura das propostas curriculares permite-nos observar como frequentemente um mesmo conteúdo aparece ao mesmo tempo nas três categorias. Ou seja, a distinção, da forma como é introduzida nas propostas curriculares, é principalmente e antes de mais nada, uma distinção do tipo pedagógico. (COLL, 1998, p.16)

O ensino tradicional tende a supervalorizar o ensino de dados e fatos por

memorização, direcionando todo o seu sistema de organicidade e avaliação para esta

finalidade. Sendo assim, observa-se que a ampliação dos conteúdos poderia proporcionar

que o aprendizado acontecesse em diversas instâncias e processos variados, tanto

individualmente quanto coletivamente. A categorização dos termos, segundo Coll (1998),

não implica na compartimentação do ensino, e sim na inter-relação necessária para que o

aprendizado seja significativo e motivador, respeitando e valorizando as alunas e alunos

em seus contextos. Coll (1998) busca também pensar nas/os aprendizes como ativas/os

durante o processo de aprendizagem, de forma a tornar as propostas mais significativas,

visando o desenvolvimento humano e social durante os processos.

2.1.1 Conteúdos Conceituais

Os conteúdos conceituais implicam na capacidade de interpretar dados e fatos de

maneira significativa e de relacioná-los com outros saberes de características culturais

e/ou científicas. A diferença entre dados e fatos e os conceitos é a maneira como eles são

apresentados e aprendidos nos espaços educacionais. Para Pozzo (1998), dados e fatos

são especificidades que demandam aprendizado mais voltado para os assuntos a serem

memorizados, sem a necessidade de saberes prévios. Considera-se importante o

aprendizado de dados e fatos porque, por meio deles, determinadas informações podem

ser dialogadas e possibilitam a reconstrução, interpretação e ressignificação de

conceitos. Os dados e fatos foram a base da educação formal e dos instrumentos de

avaliação durante considerável tempo na educação. Porém, sabê-los não garante que o

conhecimento seja desenvolvido caso não se consiga estabelecer relações significativas

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necessárias, que é a condição sem a qual não se pode dispor de conceitos para decifrar

os dados e fatos. Em contraponto a isso, “os conceitos permitem-nos organizar a realidade

e poder prevê-la” (POZZO, 1998, p.21). O autor ressalta que:

Tais mudanças, não representam uma redução da importância dos conteúdos tradicionais e, sim, mais uma reconsideração do seu papel na educação. Não consiste em eliminar os conceitos e fatos do currículo, embora em algum caso suponha a redução do tempo dedicado aos mesmos, mas estabelecer uma relação complementar, de dependência mútua, entre os diversos tipos de conteúdo. (POZZO, 1998, p. 20)

Na formação em regência estes assuntos são aqueles que se vinculam às

disciplinas teóricas dos cursos de graduação. Na perspectiva de ensiná-los, além de

compreendê-los, as/os regentes precisam ter ferramentas pedagógicas para transmitir

estes conhecimentos de modo eficaz, contextualizado, e que contribua para as

performances do grupo. A seguir é apresentada uma análise de quais dados/fatos e

conceitos são básicos nas práticas corais infantis.

As autoras Braga e Tourinho (2013), após analisar a avaliação e proposta curricular

no curso Técnico de Instrumento Musical aplicado no Centro de Educação Profissional

Pracatum (Salvador, BA), em 2008, propõem três aspectos da prática coral a serem

considerados e proporcionados às alunas e alunos, para seu aperfeiçoamento musical: o

do “INDIVÍDUO”, relacionado às questões teóricas e práticas da voz; os “SABERES

MUSICAIS JÁ ADQUIRIDOS” característicos da cultura e experiência anterior; e “O

GRUPO”, vinculado às habilidades do fazer música coletivamente. Observa-se que,

comumente, não existem nos corais aulas individuais, desta forma, todos os aspectos

precisam ser estimulados em vivências coletivas durante o espaço e tempo do ensaio.

Porém, não se descarta a necessidade de a/o regente conhecer cada habilidade

individualmente, pois assim poderá refletir sobre as potencialidades e sobre como cada

uma pode contribuir para a construção da performance do coletivo.

Retomando a categorização, Braga e Tourinho selecionam os seguintes conteúdos

como conceituais, inspiradas também na categorização proposta por Coll (1998):

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Conteúdos conceituais – Conhecimento de notação musical: leitura de partituras específicas para coral, sinais musicais, intervalos, repertório, fraseologia, harmonia, desenho melódico, características estilísticas, esquemas analíticos de uma peça, estrutura da obra (estilo, forma, motivo, andamento, textura, timbre, dinâmica – em momentos de apreciação musical, utilizando vocabulário musical adequado–, tessitura, extensão, linha melódica, letra, arranjo, entre outros), criação de arranjos e composições vocais, aspectos de fisiologia e higiene vocal, classificação vocal, tessituras e tipo de vozes. (BRAGA & TOURINHO, 2013, p. 51)

Observa-se que Braga e Tourinho (2013), não delimitam quais dos conteúdos são

considerados como conceitos diferenciando-os dos dados e fatos em sua proposta de

categorização. Para iniciar esta discussão, torna-se fundamental compreender que os

processos de ensino e aprendizagem de dados e fatos são distintos dos conceitos. Desta

forma, acredito na importância do discernimento das diferenças dentre ambos para não

ocorrer a supervalorização do ensino baseado apenas na memória, característico do

aprendizado de dados e fatos, em relação ao ensino significativo, favorável à assimilação

de conceitos.

Aprofundando a categorização das autoras Braga e Tourinho (2013), os conteúdos

conceituais foram divididos em cinco áreas temáticas: os relacionados 1) ao letramento

musical; 2) ao funcionamento da voz; 3) ao ensino da letra da canção; 4) aos aspectos

composicionais e 5) à apreciação musical. Todas as áreas temáticas apresentam conceitos

e dados/fatos, porém, refletidos e praticados de forma independente, possibilitam a

ampliação e otimização do aprendizado musical.

Em seguida elaborei um quadro comparativo dos conteúdos, diferenciando-os

entre dados/fatos e conceitos:

Dados/Fatos Conceitos

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Alfabetização musical: nomeação das notas na

pauta e compreensão teórica das figuras

rítmicas.

Letramento musical: solfejo musical e análise musical.

Funcionamento da voz (fisiologia e anatomia).

Letra da canção. Comunicação textual11

.

Apreciação musical. Capacidade de distinguir e interpretar

sensivelmente a música escutada.

Tabela 10: conteúdos conceituais.

2.1.1.1 Letramento musical

O ensino da leitura musical pode ser compreendido em duas instâncias: por meio

da nomeação das notas na pauta junto ao conhecimento teórico das figuras rítmicas —

característico do ensino de dados e fatos (alfabetização musical) — e por meio do solfejo

métrico e/ou cantado e afinado buscando realizá-lo com musicalidade — sendo o

conjunto de habilidades melódicas, rítmicas e técnica vocal que originam uma

competência conceitual (denominarei esta competência conceitual de letramento

musical). Assim, a/o regente precisa ter discernimento da diferença dos processos de

ensino e aprendizagem destas duas ações. O ensino do solfejo cantado (letramento

musical) em parte cabe também à área dos conteúdos procedimentais, uma vez que

cantar exige habilidades técnicas vocais, além do domínio da leitura em si. Observa-se

que toda a execução prática de uma atividade abrange ambos os conteúdos, conceitual e

procedimental, além da própria atitude resultante das relações que os sujeitos têm ao

em exercer determinada ação.

Para desenvolver e possibilitar o avanço do nível técnico e da dificuldade do

repertório, o letramento musical se torna uma ferramenta eficiente para as/os coristas e

regentes, fazendo que o aprendizado não se paute exclusivamente pela memorização das

11 Comunicate the text. (LECK, 2009, p.4)

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melodias e letras, proporcionando mais autonomia aos cantores do grupo.

Incialmente saliento que o aprendizado do letramento musical por meio do

solfejo cantado tende a ser mais lento que a nomeação ritmada das notas na pauta

(solfejo métrico). Isso acontece porque o solfejo melódico/rítmico (solfejo cantado) exige

habilidades vocais específicas e percepção auditiva treinada resultante de dois principais

procedimentos: a ação da leitura rítmica associada ao canto.

Em grupos infantis e/ou amadores é comum que o nível de leitura do repertório

esteja aquém do seu potencial performático, ou seja, as/os coristas podem cantar melhor

do que ler o repertório com autonomia. Assim, pode-se afirmar que os processos e

métodos de ensino e habilidades não ocorrem simultaneamente. É interessante destacar

que solfejar uma canção já conhecida do repertório é mais fácil que a leitura à primeira

vista, outra habilidade distinta, já que o grupo já se apropriou de memória da linha

melódica e a métrica.

Corroborando sobre a importância do letramento musical na prática coral infantil,

Leck (2009, p.3), dentre suas bases temáticas para o desenvolvimento do coral infantil,

propõe ensinar as habilidades de leitura justificando que à função da/o regente não

caberia somente ensaiar as canções, mas também promover o desenvolvimento musical,

o que, segundo o autor, inclui o aprendizado da notação musical. Por meio da leitura, a/o

corista terá possivelmente um desempenho mais eficiente, já que pode prever

antecipadamente o que necessita realizar, em comparação com o/a cantor/a que utiliza

somente os recursos de memória, repetição e musicalidade pessoal. A assimilação deste

tipo de conteúdo faz também com que “[...] cada cantor deva ser capaz de tomar decisões

musicais em acordo com as convenções estabelecidas [...]” (LECK, 2009, p.157),

estimulando certa autonomia do fazer musical individual.

Associado ao letramento musical, o ensino da compreensão musical (LECK, 2009,

p.2), outra temática abordada pelo autor, refere-se aos conhecimentos de harmonia e

estruturação da obra, fornecendo mais ferramentas à performance da corista. É

imprescindível esse tipo de conhecimento para a/o regente, pois oferece a ela/e as

ferramentas para transmitir estas ideias e funções desses conteúdos, justificando-os para

a interpretação musical, mesmo que as/os coristas ainda não sejam capazes de

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decifrá-los de forma autônoma, somente pela leitura ou escuta.

As autoras Braga e Tourinho (2013) não acrescentaram em sua proposta de

organização o ensino de harmonia e estruturação musical, por isso completou-se na

Tabela 10 estes dados. Porém, decidi substituir o termo “ensino da compreensão

musical”, proposto por Leck (2009), por “análise harmônica e estrutural”, porque entendo

que “compreensão musical” seja um conceito muito amplo, já que saber harmonia e

estruturação não significa compreender toda a abrangência de informações que

promovem a compreensão da música como um todo. Observa-se que os conteúdos de

harmonia e estruturação requerem saberes (análise de intervalos musicais) posteriores à

alfabetização musical, porém, pelo estimulo sensorial, a/o regente pode ensinar

auditivamente as variações harmônicas anteriormente à compreensão formal

sistemática destas estruturas.

Ressalta-se que o funcionamento eficaz da proposta de ensino do letramento

musical utilizando o repertório será potencializado caso a edição da partitura esteja em

acordo com o que será realizado. No Brasil ocorre a dificuldade de acesso e compra de

partituras coral, principalmente aquelas que já apresentem a linha do piano completa

escrita, o que leva as/os regentes ou correpetidores a construírem arranjos ou, por

diversas instâncias administrativas e estruturais, a utilizarem apenas o recurso da

memória para o ensino do repertório. A questão em torno de utilizar ou não partituras

nos ensaios sugere que o ensino da alfabetização musical pode perder a função, já que

nada será lido realmente com a finalidade da performance, tornando esses processos de

ensino descolados das vivências dos ensaios. Porém, ainda assim a perspectiva do

letramento musical continua válida, já que parte de experiências sensíveis para a

assimilação destes conteúdos.

Diversos são os métodos e processos que podem ser utilizados para o letramento

musical. O mais importante é que a/o regente consiga captar no grupo quais são as

ferramentas mais eficientes, não se esquecendo de que em grupos heterogêneos faz-se

necessário utilizar vivências variadas para favorecer o aprendizado dentro das diferenças

sociais. No caso dos coros infantis, vale lembrar que a utilização dos jogos pode ser

extremamente eficiente e importante no desenvolvimento infantil, além de se

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apresentar como um recurso que pode ser muito motivador. Por fim, a utilização do

próprio repertório para ensinar estes conteúdos também otimiza o aprendizado dos

mesmos.

2.1.1.2 Funcionamento da voz

Entende-se que os assuntos relacionados ao funcionamento da voz são os

associados à fisiologia e anatomia vocal. Para a/o regente o conhecimento destas

singularidades da voz fornece elementos que podem esclarecer quais são as dificuldades

de uso vocal enfrentadas pelas cantoras e cantores de forma mais minuciosa. Por meio

dessa constatação, a/o regente pode propor exercícios vocais específicos para

determinado problema, além de contribuir para a sua própria compreensão global da

prática do canto. O ensino do canto se apresenta por diversos métodos resultando

sonoramente em qualidades distintas. O autor Fernandes (2009) analisa que este

resultado se apresenta nos seguintes aspectos:

De forma generalizada, existem essencialmente três áreas da produção vocal, que devem ser estudadas e trabalhadas: a administração da respiração; a função laríngea (coordenação eficiente da respiração com a produção do som) aliada à busca do relaxamento do pescoço, mandíbula e músculos faciais; e o desenvolvimento e exploração da ressonância vocal. Neste processo o regente deve considerar fatores como a postura apropriada, o aquecimento vocal, a função e o valor dos vocalizes, bem como buscar meios de trabalhar o ataque do som, os diferentes tipos de articulação musical, a flexibilidade vocal (agilidade), a extensão vocal, os vários aspectos ligados à dicção, os registros da voz, os timbres e o vibrato. (FERNANDES, 2009, p.205)

Ressalta-se que as três áreas de produção vocal apresentadas estão todas ligadas

ao funcionamento fisiológico e anatômico da voz, exigindo que este conteúdo esteja

esclarecido ao regente. Já para cantoras e cantores, principalmente com foco na prática

infantil e amadora, dependendo da forma como são apresentados, esses conteúdos

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podem enfrentar dificuldades ao serem incluídos nos ensaios, pois a nomeação técnica

pode não estar no espectro de linguagem dos conhecimentos prévios das crianças, o que

exige o uso de outros recursos de comunicação para a assimilação desses conteúdos e da

própria prática do canto.

Comumente professoras/es e regentes utilizam de metáforas imagéticas para

abordar o funcionamento e aperfeiçoamento vocal em suas aulas, “[...] essas expressões

metafóricas são exemplos de um jargão conhecido no meio musical como ‘imagens’, e

são utilizadas por professores de canto de abordagens técnicas e estilísticas as mais

variadas em seu processo de ensino” (SOUSA; SILVA; PEREIRA, 2010, p.317).

Compreende-se que não se aprende a cantar teoricamente, porém, é possível agregar

elementos teóricos para facilitação do aprendizado.

[...] O cantor em geral resiste ao contato com a perspectiva científica da voz, pois encontra dificuldade em utilizar esses resultados isolados em seu fazer artístico cotidiano, que abarca não somente o aspecto físicoacústico da voz, mas inúmeras questões pertinentes ao universo musical, marcado pela subjetividade e pela importância do processo criativo. Faz-se necessário, portanto, um esforço para a construção de pontes de comunicação entre os dois universos, para que um possa expandir seus conhecimentos a partir do diálogo com o outro. (SOUSA; SILVA; PEREIRA, 2010, p.318).

Nesta pesquisa, os assuntos vinculados à saúde vocal também se enquadram nos

conteúdos de funcionamento da voz. É de extrema importância o ensino das condições

salutares que favorecem ou desfavorecem a prática do canto, buscando estimular no coro

e individualmente o uso otimizado da técnica vocal também para evitar danos fisiológicos

vocais posteriores.

2.1.1.3 Letra da canção

Tanto Braga e Tourinho (2013) quanto Leck (2009) descrevem o ensino da letra

como uma das bases de conteúdo, porém a terminologia letra da canção pode não

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esclarecer todos os conteúdos envolvidos com o aprendizado da letra do repertório.

Como não há especificação de cada item no trabalho de Braga e Tourinho (2013), nesta

pesquisa, letra da canção é associada à aprendizagem e memorização exclusivas do texto

utilizado (dados/fatos). Já os conceitos são as inflexões, prosódia e a necessidade da

compreensão poética para a interpretação, proposta por Leck (2009) como indicações

para o trabalho da/o regente. Desta forma, preferi utiliza a mesma terminologia deste

autor: “comunicação textual” (2009, p.4).

Comunicação textual. Entender as sutilezas da linguagem. A ativação dos articuladores consonantais promove a compreensão e comunicação musical do texto. Obter tempo para aprender a sutileza da poesia. A expressão artística só pode resultar da compreensão aprofundada do texto. (LECK, 2010, p.4)

Comumente os grupos infantis, pelo seu caráter cênico (tendência das

performances atuais dos coros infantis), costumam se apresentar sem o uso de

partituras, e isso faz surgir a necessidade da memorização da letra. Esse processo inclui

pelo menos outros dois campos: a memorização da letra e sua compreensão. Quando a/o

regente explica e discute com seu grupo sobre o que a canção almeja transmitir, promove

mais possibilidades relacionais, inclusive favorecendo a memorização. As crianças têm

possibilidades de vincular aquilo que está sendo cantando com suas experiências

pessoais, atribuindo significado à própria performance.

Na minha experiência verifiquei que é mais eficiente ensinar pequenos trechos de

músicas diferentes simultaneamente, ao invés de decorar uma música inteira para

posteriormente ensaiar a próxima. Esta variedade de repertório faz com que o conjunto

das canções fique finalizada somente próximo aos concertos, porém proporciona mais

dinamicidade aos ensaios, fator que otimiza muito o aprendizado com crianças.

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2.1.1.4 Apreciação Musical

Acrescenta-se que a ampliação da apreciação musical, por meio de repertórios e

performances variadas, favorece que o grupo tenha mais elementos e inspirações para a

performance, além de promover na criança a consciência das múltiplas possibilidades

interpretativas do fazer musical. A inclusão no currículo de apreciação musical como

conteúdo incentiva a construção de um programa de apreciação musical que venha

auxiliar a própria performance do grupo. A autora Freire (2001) descreve que:

O uso da apreciação, frequentemente omitido, praticado de forma apenas "intuitiva", sem qualquer respaldo teórico de professor ou, ainda, praticado de forma apenas "ilustrativa", sem qualquer pretensão de construir, a partir da apreciação, um corpo conceitual que interfira, produtivamente, na construção do conhecimento musical, na criação musical, na "performance". (FREIRE, 2001, p.71)

Dentro do programa de apreciação, assistir às próprias gravações também

estimula a autoavaliação do grupo e a percepção mais minuciosa das habilidades das

crianças, já que a/o corista ou regente, durante o momento de sua atuação, não pode

perceber o real resultado performático que está sendo produzido por motivos acústicos e

espaciais. Um acervo de gravações de apresentação também pode fornecer elementos

avaliativos para a/o regente se organizar em relação aos conteúdos a serem propostos

posteriormente.

Igayara (2007) analisa que a escolha do repertório12 também constitui a

identidade do grupo, como resultado da recusa ou aceitação das escolhas dentre a

comunidade envolvida. Na medida em que as pessoas se identificam com a prática

(repertório cantado e apreciado) elas acrescentam elementos à proposta e obtêm

determinadas características, promovendo a constituição da identidade do grupo. A

12 Nesta pesquisa o repertório inclui todas as músicas a serem executadas pelo coro junto as que serão ouvidas nos programas de apreciação musical.

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autora ressalta que promover um repertório novo, muitas vezes desconhecido,

beneficiaria a abertura para as diferenças, também fornecendo elementos identitários

que estão em constante transformação. Observa-se que são raros os corais infantis de

constituição estanque. Normalmente, por diversas instâncias, as/os integrantes dos

coros podem se alterar, principalmente os vinculados a programas sociais e/ou de

contraturnos escolares. Desta forma, a organização dos conteúdos de apreciação sem a

atenção a estas mudanças pode não atender à diversidade das constantes “novas”

comunidades envolvidas.

Nos coros escolares, Igayara (2007) explicita a problemática do repertório quando

direcionado exclusivamente aos interesses da coordenação administrativa das

instituições que os abrigam, destacando principalmente as festividades. Nesses casos, as

escolhas se tornam de certa forma comprometidas, ao deixar de buscar também atender

às demandas de interesses das alunas e alunos. Assim, a proposta do repertório como

projeto de musicalização perde seu propósito e se direciona a finalidades que não são

necessariamente benéficas para o desenvolvimento musical ou cultural do coral. É

importante compreender que independente da demanda e do contexto em que o grupo

está inserido, a escolha do repertório precisa se adequar e adaptar-se, pois:

[...] penetrar no universo coral não é, apenas, participar de uma atividade musical, mas adaptar-se, transformar e criar novas comunidades de leitura de um suposto repertório coral, com seu cânone e com suas aberturas, descobrir e construir sua identidade como grupo. Nesta discussão, assumem um papel importante os arranjos ou adaptações corais, que sempre fizeram parte da história do repertório coral e, por diversas vezes, operaram mediações entre os universos cultos e populares, ou entre universos culturais distintos. (IGAYARA, 2007, p.5)

Sabe-se que, por meio da expansão e acessibilidade da internet, assistir vídeos

variados tornou-se uma prática mais comum, e isso propicia, então, uma apreciação musical

associada a imagens oriundas de diversas fontes midiáticas. Observa-se que, a princípio, a

apreciação musical exclusivamente auditiva pode não prender a mesma atenção da

criança, na medida em que ela somente tenha vivências ou hábitos em que escutar

música esteja vinculado à visualização de vídeos, com isso, esse recurso se faz necessário,

no entanto, isso não necessariamente mudar o objetivo da proposta.

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[...] vale a pena ressaltar, é que estamos em uma era de referências eminentemente visuais. Os meios de comunicação investem na criação de recursos que prendem a atenção dos interlocutores, inovando em procedimentos que sejam eficientes para manter o ouvinte atento. [...] nada melhor que aproveitarmos recursos visuais para a fixação e incorporação de conteúdos no trabalho com crianças (SHIMITI, [s.d.], p.5).

Reitero que para o ensino de conteúdos de dados/fatos e conceitos visando um

desenvolvimento global e humanizado, a/o regente poderia se desenvolver muito no

papel de educador musical ao obter conhecimentos relacionados aos métodos ativos13 de

educação musical, que partem do pressuposto da busca de uma educação significativa.

Esses conhecimentos são obtidos a partir de estudos da infância, psicologia do

desenvolvimento e métodos de ensino variados que podem de alguma forma vincular-se

à prática coral, além das habilidades de regência para conduzir o ensaio de forma a

construir musicalmente os conhecimentos de caráter mais teóricos que viabilizem a

prática.

2.1.2 Conteúdos Procedimentais

Os conteúdos procedimentais se referem, na perspectiva de Valls (1998), ao

aprendizado de ações otimizadas e organizadas de determinada atividade. Nos espaços

educacionais os procedimentos são comumente ensinados nas práticas educacionais e

são justificados por meio de conhecimentos científicos; porém, “é possível afirmar que,

apesar disso, os procedimentos não mereceram na escolarização o reconhecimento,

13 Os métodos ativos são os processos pedagógicos que buscam possibilitar a experiência direta da aluna e aluno, a partir do contato e vivência dos elementos musicais. No início do séc. XX, “como resposta a uma série de desafios provocados pelas mudanças na sociedade ocidental” (FONTERRADA, 2003, p.107), estes ideais foram disseminados e aprofundados por diversos educadores musicais, visando a preocupação “específica em cuidar do desenvolvimento e do bem-estar da criança, ou mesmo do jovem e do adulto” (FONTERRADA, 2003, p.109).

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como o que agora é solicitado” (VALLS, 1998, p.76).

A experimentação variada de determinadas ações proporciona a vivência e

assimilação de dados/fatos e conceitos de forma mais significativa. Na medida em que

ocorre esta experimentação por parte das alunas e dos alunos, ampliam-se suas

potencialidades para realizar determinadas tarefas, pois elas se tornam mais familiares.

Desta forma, na intenção de promover autonomia nos procedimentos, entende-se que

“o grau de domínio maior de um procedimento é demonstrado talvez, quando a atuação

fica sob controle automático e não se precisa de consciência para realizá-la” (VALLS,

1998, p.88).

Na assimilação de conhecimentos associados à aquisição de ferramentas

procedimentais, as pessoas podem demonstrar diversas maneiras para realizar

determinada tarefa. Torna-se, então, importante que a/o docente ou a/o regente

responsável pela mediação do grupo investigue quais foram as razões das escolhas da

aluna ou aluno para aquele fim e, consequentemente, analise e promova a ampliação e

otimização do repertório para aquele determinado fazer. É evidente, também, que uma

atitude incoerente ou negativa na realização de um procedimento, mesmo que já

assimilado, torna-o dificultoso ou irrealizável.

Os procedimentos são diferenciados como algoritmos, isto é, aqueles que contêm

exatamente os mesmos passos para realização da meta de forma correta, e como os

heurísticos, que orientam as ações de maneira geral, de modo que seu uso e implicação

nem sempre tornem os resultados similares entre os sujeitos. Saliento que o ensino

heurístico não garante que a solução seja encontrada rapidamente pelo indivíduo, visto

que são propostos caminhos para este fim. No ensino coletivo normalmente as instruções

de caráter algorítmico podem não atender à compreensão de todos, pois para a

realização destas atividades são necessários determinados procedimentos e habilidades

prévias. Dentro de um grupo heterogêneo torna-se complexo que todas e todos

alcancem simultaneamente, a partir das mesmas instruções objetivas, por isso quase

sempre é mais viável o ensino com caraterísticas mais heurísticas.

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Mas isso não impede que, mediante os heurísticos, seja possível

enfrentar, com grandes possibilidades de sucesso, as exigências que se

apresentam nas metas propostas. E mais, já que é quase impossível que

possam ser construídos e aprendidos algoritmos para todas as ações

escolares orientadas para metas, pode-se muito bem dizer que a maior

parte do trabalho procedimental consiste e deve consistir na

aprendizagem e ensino de heurísticos. Ou seja, sob as fórmulas dos

desenhos curriculares enunciam os procedimentos a serem ensinados e

aprendidos, cabe entender na maioria dos casos que se está propondo

um curso de ação de natureza heurística e não algorítmica. (VALLS,

1998, p.85)

O aprendizado de procedimentos nas formações em regência se dá durante as

matérias que proporcionam algum tipo de vivência prática musical. Na regência coral são

situações em que as/os graduandas/os participam como cantoras/es ou regentes durante

ensaios e apresentações. As técnicas de regência e de canto são aprendidas quando

vivenciadas fisicamente e, por esta razão, são tidas como conteúdos de grande

importância. É importante salientar que também são procedimentos as ferramentas

metodológicas práticas que a/o regente possui para conduzir melhor as dinâmicas do

ensaio e que quanto mais variado for a sua experiência anterior maior serão suas

possibilidades de alternativas para resolução de problemas encontrados.

Existem diversas metodologias para o ensino do canto, por isso a/o regente

precisa ter clareza de quais são suas prioridades e quais as propostas que se adequam

melhor às habilidades vocais das coristas, vinculando-as com os objetivos técnicos

desejados. Fernandes (2009) descreve que “é importante, portanto, que o regente

determine suas prioridades e trabalhe para alcançá-las através de um programa

sistemático de preparo vocal” (FERNANDES, 2009, p.198). No coral infantil a

sistematização de qualquer metodologia a ser utilizada está relaciona à organicidade

mental da/o regente de poder visualizar as etapas e funcionalidades de cada vocalize, ou

qualquer outra atividade, com finalidade do desenvolvimento vocal. Acrescento que o

uso de um exclusivo exercício para resolver alguma carência técnica pode não atender à

compreensão e assimilação de todas as crianças. Portanto, é importante observar que esta

sistematização não pode gerar o enrijecimento das escolhas metodológicas

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procedimentais.

Outro influenciador da produção sonora do grupo também é resultado de

variantes além da própria técnica vocal.

[...] não poderíamos deixar de ressaltar que há uma série de fatores que, embora não participem diretamente da formação sonora coral, influem no resultado sonoro de qualquer coro na performance, tais como: o tipo de grupo coral, a idade e a maturidade musical dos cantores, a realidade sociocultural dos membros do coro, a saúde geral dos cantores, o ambiente acústico dos ensaios e das performances, a frequência de ensaios por semana, o tempo de cada ensaio e o tipo de cantores que formam o grupo – se profissionais ou se amadores. (FERNANDES, 2009, p. 202-203)

Fernandes (2009) analisa três áreas da produção vocal que precisam ser

abordadas para o desenvolvimento da técnica vocal. Durante a prática do canto todas as

habilidades são exercidas de forma simultânea, assim, apenas o estímulo de um dos

pontos não garante o aprendizado efetivo do canto. No entanto, esses pontos podem ser

estimulados ou priorizados de maneira independente, conforme o objetivo principal de

cada vocalize ou repertório. A tabela abaixo apresenta os conteúdos e suas

especificidades:

Conteúdos procedimentais Especificidades

RESPIRAÇÃO Postura; Fonação/Afinação; Homogeneidade vocal.

RESSONÂNCIA Uniformidade das vogais

DICÇÃO

REGISTRAÇÃO VOCAL

Tabela 11: conteúdos procedimentais.

O controle da respiração promove o “bom fôlego, o vibrato estável, a melhor

afinação, a execução refinada do legato e a capacidade de cantar homogênea e

equilibradamente em variados níveis de dinâmica” (FERNANDES, 2009, p.205). A postura

corporal é uma das responsáveis para a respiração otimizada, sendo uma das bases do

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ensino do canto. Comumente entende-se postura adequada para o canto como sendo a

verticalização e o alinhamento postural, desta forma, caso o coro cante nesta posição, as

propostas precisam ser direcionadas a esta finalidade. Em grupos nos quais exista a

movimentação corporal, o cantar em movimento construído também durante o

aquecimento vocal otimiza o desenvolvimento destas habilidades simultaneamente.

Ao longo da minha prática como regente de coros infantis percebi que, quando

era ensinada alguma canção anterior à movimentação corporal, após inserir os

movimentos as crianças cantavam com uma qualidade inferior daquela normalmente

executada. Elas precisavam estar bem seguras com a coreografia para novamente

voltarem a cantar de forma tecnicamente mais aplicada. Como alternativa para este

cenário, sugiro que sejam inseridos exercícios vocais e o aprendizado do repertório

incluindo a movimentação corporal em todos os processos, mesmo que ainda não seja

aquela a ser utilizada na coreografia final.

A exclusividade do uso de uma única linha corporal pode diminuir as

potencialidades e necessidades apresentadas pelas coristas. Leck (2009) descreve que as

crianças rapidamente adquirem o hábito postural nos ensaios, porém ele pode ser

construído exclusivamente pela imitação forçada ou adquirido de forma mais

significativa, resultado de um trabalho de exploração e consciência corporal. É

importante considerar que, na medida em que se variam as propostas, as vivências

distintas levam à experimentação e compreensão de qual seria a melhor adaptação da

respiração e função laríngea para cada desafio técnico e necessidade do repertório.

Analisando a proposta de Leck (2009), a autora Rheinboldt (2014) descreve que

“a postura adequada para se cantar em pé é composta pelos pés bem apoiados no chão

e posicionados em uma distância confortável (largura dos ombros), tronco ereto, pescoço

e ombros sem tensões e braços e mãos para baixo” (2014, p.21). Acrescento que esse

pensamento precisa ser devidamente relativizado e adequado ao tipo de performance e

perfil das/os coristas, isso porque mesmo que a intenção dessa posição seja otimizar a

respiração para o canto, ela pode gerar tensão muscular, contrapondo-se com a

finalidade do ensino da postura no coral com a finalidade em promover a consciência

corporal.

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Segundo Leck (2009), o trabalho postural pode ser desenvolvido por meio de

imitação e de comandos da/o regente de forma que a criança organize seu corpo até a

postura acreditada ideal para o canto:

Enquanto os alunos ainda estão em silêncio de frente para o regente, o instrutor pode levá-los através de uma série de posições, como uma proposta lúdica, e mover-se até a postura adequada para cantar. Por exemplo; sentado, com uma mão para cima, polegar na orelha, contorcendo-se para a frente e para trás na cadeira. Sentando-se para a frente, caindo, cruzando e descruzando as pernas. Ombros para trás, etc. (LECK, 2009, p.18)

Na perspectiva crítica desta citação a palavra silêncio foi grifada por ser um

requisito aparentemente fundamental na proposta e prática do autor Henry Leck, muito

difundida e utilizada no Brasil em coros infantis (principalmente depois do evento Gran

Finalle realizado em São Paulo, para o qual esse regente é convidado bienalmente a

ministrar cursos e reger coros infanto-juvenis inscritos). O enrijecimento de como chegar

ao SILÊNCIO pode gerar processos de ensino condicionantes e impositores, com pouco

espaço de reflexão e atuação criativa da aluna e aluno. Ressalto a importância

fundamental de se considerar o discurso individual-cultural proveniente de cada sujeito

para a promoção de uma educação mais significativa. À medida que a/o regente toma

consciência dessa questão, pode repensar qual é real função da exigência do silêncio e

em quais momentos é fundamental respeitá-lo, principalmente abrindo espaços para os

indivíduos se posicionarem. O silêncio pode ser tanto doutrinador impositivo, colocando

os indivíduos como meros reprodutores mecânicos dos interesses da/o regente, quanto

construído de forma pedagógica em respeito às características da infância, visando

inclusive propostas democráticas. No coral, considerado uma prática com número grande

de integrantes, torna-se um desafio cotidiano valorizar os interesses individuais; porém

dentro do trabalho pedagógico é importante não descartar esta perspectiva de

procedimento.

Não desconsidero a importância do silêncio dentre as práticas musicais, mas nos

conteúdos relacionados ao desenvolvimento postural pode direcionar os estímulos a

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condicionamentos posturais, sem garantir o desenvolvimento da consciência do corpo.

Destaca-se que as práticas corporais também são favorecidas pela troca de

impressões sensoriais dentre as pessoas do grupo. Como é possível que cada corpo

assimile seu aprendizado de formas muito distintas, fazem-se necessários elementos

variados de discurso para a compreensão da maioria. Assim, a fala socializada dos

participantes traria mais elementos assimilativos a todos.

Em relação à corporalidade das crianças é importante ressaltar que a/o regente é

modelo para o grupo e todo o conjunto de sua movimentação gera respostas tanto

corporais quanto musicais. Nesta perspectiva, a autora Branco (2010) ressalta que:

[...] todas as atividades do ensaio ocorrem sob o impacto da figura e da presença corporal do regente. A sua postura corporal geral, reveladora de suas características físicas e psicológicas construídas ao longo de sua vida; a postura dinâmica, sinal de seu momentum corporal global em dado instante; a consistência e flexibilidade de sua movimentação; a expressão facial; a técnica de regência - todas essas características em conjunto levam a uma comunicação ampla com os cantores. (BRANCO, 2010, p.1)

Nos coros cênicos comumente são contratados coreógrafos ou coreógrafas para

desenvolverem o trabalho corporal com as crianças. Caso esta pessoa não possa ir em

todos os ensaios, a/o regente também precisa se preparar para manter a qualidade dos

movimentos, não estimulando erroneamente certos vícios que podem ser prejudiciais à

performance.

A fonação como um dos “fundamentos de uma boa técnica vocal é a consciência

de como as pregas vocais se fecham no momento do ataque do som, ou seja, como exata

e precisamente elas se encontram para que a produção do som aconteça” (FERNANDES,

2009, p. 216). A fonação também é uma das responsáveis pela afinação individual e,

consequentemente, coletiva do coral. Desta forma, é fundamental desenvolver durante

os vocalizes propostas que sejam constantemente relembradas durante a execução do

repertório.

A afinação é um conteúdo que visita todas as três categorias de conteúdos, e

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dentro das subdivisões diversas são responsáveis pela afinação desejada na performance.

Segundo Leck, “[...] a desafinação é o resultado do apoio da respiração inadequado,

formação incorreta de vogais, formação insuficiente de solfejo, percepção auditiva

subdesenvolvida, ou apenas falta de atenção. Quando você prioriza a boa entonação, os

cantores logo se atentam à produção vocal correta” (LECK, 2009, p.3). Além das questões

técnicas específicas que resultam na desafinação, também se ressaltam as

particularidades comportamentais e socioculturais das/dos coristas:

Vários fatores podem interferir na desafinação das crianças: entre os mais comuns estão os problemas psicológicos, como a timidez, o sentimento de inferioridade, o medo, o excesso de emoção ou agitação e a ansiedade; todos estes fatores podem ser responsáveis por um canto desafinado. O tipo de ambiente musical que a criança tem em casa, bem como a falta de controle dos mecanismos da voz cantada são também determinantes na desafinação. (SOBREIRA, 2003, p.172)

As cavidades orais também são responsáveis pela uniformidade das vogais,

resultando inclusive em melhor desempenho na afinação e equilíbrio dos timbres. As/os

coristas, por meio da escuta inicial da própria voz durante a prática do canto, podem não

ter clareza de sua real produção vocal e, assim, todo o seu empenho e avaliação de sua

produção não estaria baseado no que de fato está sendo realizado vocalmente. Desta

forma, a/o regente precisa construir um meio para que as crianças confiem em suas

propostas e entendam a necessidade de modificar uma prática que seja considerada

eficiente.

Os exercícios de voz que favorecem a dicção não podem se deter apenas na

compreensão do texto, porque na voz cantada a dicção precisa ser desenvolvida em prol

da produção do som eficaz. As atividades são desenvolvidas não apenas na voz falada,

portanto, há a necessidade de adaptações da produção das vogais e consoantes.

Simultaneamente ao desenvolvimento da dicção a produção do som é otimizada e a

compreensão do texto também é favorecida.

Historicamente, como muitos dos mecanismos fisiológicos do funcionamento da

voz eram desconhecidos na pedagogia do canto, tornou-se habitual que seu ensino fosse

baseado nas impressões sensoriais de ressonância da voz. “[...] Relacionou-se, assim, o

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registro aos termos ‘peito’ e ‘cabeça’, que são as regiões onde ocorrem adaptações

ressonantais, mas que não são as que geram de fato os diferentes registros, o que

originou as discordâncias e variadas terminologias existentes” (PACHECO; MARÇAS;

PINHO, 2004, p.429). Para que o cantor consiga dominar e equalizar seus registros vocais,

são necessários estímulos que se adequem às necessidades do repertório e que também

possam variar, produzido, assim, variação nas cores sonoras do grupo.

A fim de utilizar todo seu potencial vocal, o cantor precisa encontrar

condições favoráveis para dominar o uso das cavidades de ressonância e

a musculatura envolvida na produção da voz. No tocante à registração

vocal, a difícil tarefa do regente é orientar seus cantores a respeito de

cada registro, bem como ajudá-los a desenvolver a habilidade de

“transitar” de um registro para outro sem perda da qualidade sonora.

(FERNANDES, 2009, p.256)

O uso do registro da voz de cabeça, para as crianças, pode ser desconhecido tanto

na sua prática quanto em sua escuta musical anterior. Assim, com a finalidade da

produção da voz saudável nesta tessitura e a ampliação de sua extensão vocal, faz-se

necessária a persistência das cantoras e dos cantores e regentes em exercitar esta

habilidade. De acordo a variação do repertório, principalmente aquele vinculado ao

repertório popular folclórico, mesmo que a tessitura da canção não exija o uso da voz de

cabeça necessariamente, sua prática não deveria ser descartada, já que quanto mais

elementos a crianças obtiver sobre o domínio da própria voz, maior, exponencialmente,

será a sua capacidade de variação em performance.

2.1.3 Conteúdos atitudinais

Conteúdos atitudinais são relacionados à organização de ações e aspectos da

afetividade oriundos da personalidade individual e de fatores sociais, vinculados às

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relações criadas entre os sujeitos e os “objetos” que disparam as atitudes. De forma a

valorizar as relações interpessoais, torna-se fundamental esclarecer e propor

pedagogicamente vivências nas quais seja promovido o desenvolvimento do convívio

coletivo, para favorecer a comunidade relacionada de maneira otimizada e significativa.

Neste sentindo, segundo Saraiba, “podemos definir, então, as atitudes como tendências

ou disposições adquiridas e relativamente duradouras a avaliar de um modo

determinante um objeto, pessoa, acontecimento ou situação e a atuar de acordo com

essa avaliação” (1998, p.123, grifos do autor).

Saraiba (1998) descreve ainda que, por meio de processos avaliativos, os sujeitos

relacionam-se com coisas, objetos, situações ou pessoas, promovendo as atitudes que

são expressas pela linguagem verbal e não verbal. Diferente do hábito, a atitude tende a

refletir preferências conscientes e verbalizadas dos atuantes, possuindo um caráter mais

de escolha.

É conveniente esclarecer, no entanto, que, embora uma pessoa tenha uma atitude clara e concreta em relação a algo ou a alguém, nem sempre pode ou escolhe atuar de acordo com ele, já que as atitudes não são os únicos fatores que intervêm na decisão tomada por uma pessoa, a de agir de uma maneira determinada. (SARAIBA, 1998, p.125)

Saraiba (1998) analisa que as pessoas têm necessidades biológicas e sociais, desta

forma, determinadas atitudes auxiliam a satisfação destes desejos. Além de sua função

utilitária, são propostas quatro funções psicológicas das atitudes, principalmente de

natureza motivacional: fatos desagradáveis que nos conduzem a tomar atitudes para nos

proteger, resultando em uma característica defensiva; ações que auxiliam a alcançar

objetivos ou minimizar punições, apresentando a característica funcional; a necessidade

das pessoas em expressar seus valores e demonstrar o conceito de si mesma são as de

função expressiva; para ordenar, esclarecer e dar estabilidade ao cotidiano, possuem a

função cognoscitiva.

Por meio das atitudes é possível fazer as leituras de quais valores constituem os

sujeitos, porém, é possível que o valor não influencie diretamente em uma escolha

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atitudinal ocasionada por diversas razões distintas. Cabe acrescentar que o observador

que fará uma análise, buscando justificar uma determinada atitude, precisa compreender

que definir a justificativa de uma atitude sempre será fruto do seu olhar e valor em

relação à ação observada. Consequentemente poderá fazer julgamentos que não são os

reais devido às diversas instâncias, criando uma rede motivacional que dispara as nossas

atitudes constantemente. Dentro dos espaços educacionais, independentemente de seu

tipo de atuação, “os valores se constituem em um projeto ou ideal a ser compartilhado

que dá sentido e orienta a formação de atitudes na escola, como opções pessoais

adquiridas livre e refletidamente” (SARAIBA, 1998, p.128).

No que se refere aos valores, a escola procura desenvolver na criança uma moral cidadã e critérios de autonomia que sejam solidários e representem um compromisso com a sociedade onde vivem. Os novos currículos reservam um espaço importante nos seus conteúdos, para que os alunos se conscientizem e despertem a sua curiosidade por outras formas de vida, valores, línguas e raças existentes no mundo e dentro de sua própria nação. (SARAIBA, 1998, p.127)

As atitudes também são construídas por meio das normas socioculturais ou

institucionalizadas. A vida cotidiana nos apresenta formas padrão de conduta que são

compartilhadas e interiorizadas por meio da consciência ou da imposição social e/ou

hierárquica. Nos espaços educacionais as regras e normas são estabelecidas para otimizar

o funcionamento de acordo com a finalidade e proposta existente, regida pelo próprio

espaço junto à comunidade envolvida. Cabe aos atores sociais determinar o modo como

estas atitudes serão estabelecidas e quais as razões de sua existência.

Quando o sujeito é inserido em um espaço novo as atitudes tendem também a

buscar a sua adaptação à novidade para seu próprio conforto, já que por meio de suas

ações também ocorrerá o julgamento dos demais, inclusive para analisar o quanto cada

pessoa se enquadra ou é representada dentro do grupo. Na medida também em que o

espaço se contrapõe aos valores e hábitos do indivíduo, é necessário que ocorra alguma

forma de adaptação para a sua permanência no grupo.

O coral, como mais um espaço social e essencialmente uma atividade coletiva,

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tem padrões sociais de comportamento com a finalidade de otimizar a sua prática.

Grupos com características mais recreativas, direcionados à alta performance, ou

escolares, entre outros, dispõem de necessidades atitudinais diferentes e, por meio de

escolhas político-pedagógicas, organizam como serão propagadas e estimuladas as

atitudes da comunidade envolvida. Porém, é importante ressaltar que a prática, a

vivência ou qualquer outro aspecto esperado do sujeito relacionado ao coral pode não

ser conhecido nem similar à sua cultura anterior, principalmente porque o coral é uma

atividade musical bem específica. Assim, o modelo mental de como é o processo

metodológico, musical e administrativo do novo integrante não correspondente ao

esperado.

Os conteúdos atitudinais compreendem “participação, cooperação com o grupo,

respeito e valorização ao colega e a diversidade musical e desenvolvimento de atitude

corista: frequência, pontualidade, disciplina, cuidado com material didático” (BRAGA;

TOURINHO, 2013, p.51). Este é um grupo de conteúdos que otimiza o convívio, e espera- se

que sejam estimulados por meio de propostas significativas.

Ressalta-se que as atitudes coristas descritas por Braga e Tourinho (2013), com

foco no coro infantil, não correspondem necessariamente às propostas a serem

desenvolvidas diretamente e exclusivamente com as cantoras e os cantores. As crianças

podem não ter desenvolvido determinada maturidade ou autonomia para ir aos ensaios

com frequência e pontualidade, por exemplo, já que precisam ser acompanhadas pelos

seus respectivos responsáveis, de forma que, por essa perspectiva, culpabilizar a criança

especificamente pelo atraso seria ineficiente. Durante o ensaio, são responsabilidades da

criança as atitudes que ela tem em relação aos outros, ao espaço e às atividades.

Portanto, as demais questões apresentadas, fora dessa restrita área de atitudes, não

seriam funcionais se dialogadas sem a participação dos seus respectivos responsáveis.

Caso exista a obrigatoriedade em ser integrante do coral, as motivações

tornam-se, pelo menos inicialmente, exclusivamente extrínsecas. As atitudes sem

motivações intrínsecas tendem a encontrar maior resistência a mudanças, já que não

ocorrem desejos interiores em cooperar com a proposta. A criança, moldando-se apenas

pelo seguimento das regras, pode se afastar do fazer coral/artístico/musical

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posteriormente, além de outras implicações, caso essas regras sejam propostas a ela de

maneira pouco significativa ou até mesmo violenta.

Observa-se que nos corais escolares (ensaios ocorridos dentro do espaço escolar),

mesmo que não obrigatórios, por conta das atitudes construídas dentro da escola, as

crianças levarão consigo os mesmos comportamentos do seu cotidiano.

Consequentemente, as atitudes, inclusive da/do regente, serão similares às dos

profissionais da educação durante o período regular, também resultado do projeto

político-pedagógico. Caso a escola tenha atitudes de organização comportamental que

não correspondam às expectativas da/do regente, para este/esta faz-se então necessária

a reconstrução destas atitudes durante os ensaios para que correspondam aos ideais pré-

concebidos da/do regente. Ressalta-se que, do ponto de vista que sustento, este

desacordo dificultaria a mudança atitudinal e o desenvolvimento em diversos aspectos

de ambas das propostas.

A/o regente precisaria compreender que a indisciplina não é uma relação única

da criança com a atividade. Destaca-se que “[...] um entendimento suficientemente

amplo do conceito de indisciplina escolar precisa integrar diversos aspectos. É preciso,

por exemplo, superar a noção arcaica de indisciplina como algo restrito à dimensão

comportamental [...]” (GARCIA, 1999, p.102). Observa-se, então, que a indisciplina parte

de uma incongruência de expectativas comportamentais resultantes de toda a

comunidade envolvida. Segundo Garcia (1999) cabe à escola compreender que:

É papel da escola considerar o quadro concreto das condições e desenvolvimento dos alunos e de suas necessidades, bem como garantir as condições apropriadas ao processo de ensino aprendizagem. Assim, as expectativas da escola, por exemplo, devem refletir não uma disposição autoritária elaborada por um determinado grupo responsável por processos decisórios na escola, mas uma orientação de base consensual que reflita a contribuição de toda a comunidade ligada à escola, e não apenas dos profissionais da educação que nela atuam. (GARCIA, 1999, p.102)

O próprio resultado musical do grupo não é consequência exclusiva de sua

disciplina durante o ensaio. Comumente espera-se que crianças mais “disciplinadas”

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tenham mais disposições na aprendizagem, no entanto, essa concepção descarta que

cada um tende a aprender de maneiras diferentes. Assim, não há garantias de que uma

criança considerada indisciplinada não desenvolverá as habilidades musicais e sociais

eficientes para a prática coral e as demais relações de sua vida social.

A expectativa da/o regente com as atitudes das crianças requer estar em acordo

com as características do grupo, e suas propostas se encaminhariam neste sentido. Na

medida em que a promotora ou o promotor das atividades não visualizar as

peculiaridades do universo em que está atuando, suas escolhas e maneiras de

transmiti-las tenderão a métodos impositivos. A dificuldade da/do regente encontra-se

em promover determinada regularização atitudinal com tantas peculiaridades, porém,

respeitando-se e valorizando-se as características, as habilidades e os valores distintos de

cada criança, elas conseguirão se desenvolver coletivamente sem violentar suas

individualidades. aprendizado atitudinal para a prática coral infantil na formação da/o

regente acontecerá com mais significância na vivência de ensaios de coros infantis com

crianças. Neste sentido, a formação mais eficaz proporciona e/ou incentiva a existência

de espaços em que haja a possibilidade da existência de grupos reais oferecidos tanto

por estágios externos quanto por programas vinculados à própria instituição de ensino.

A simulação de ensaios realizada com participantes adultos é mais limitada na condição

de proporcionar experiências que se aproximem das relações surgidas entre adultos e

crianças, além das relações desenvolvidas entre elas mesmas.

Para que todos estes conteúdos possam ser assimilados de forma eficaz e

equilibrada tanto nas formações, quanto nas atuações reais como regentes, o

planejamento das ações e conteúdos específicos para a regência coral infantil requer a

abrangência de diversas perspectivas e áreas de conhecimentos distintos. Como é um

trabalho que envolve aspectos educacionais visando uma atuação contextualizada, é

indispensável que ele seja repensado, ressignificado e reorganizado constantemente.

2.2 Pressupostos pedagógicos

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Para discutir a base dos processos pedagógicos do LARCI partimos da premissa de

que a aprendizagem inicia muito antes dos contextos escolares, isto é, todas as

experiências da criança anteriores ao ingresso na escola junto ao contexto sociocultural

no qual estava inserida. A escola, na maioria das vezes, oportuniza outro tipo de

experiência, única e diferente das vivências anteriores. Desta forma, a aprendizagem e o

desenvolvimento se dá desde os primeiros anos de vida por meio da vivência inicial com

os adultos.

Todas as atividades propostas nos ensaios corais têm o objetivo de preparar as

pessoas para a performance vocal. É importante destacar que a criança é diferente do

adulto e, por isso, outras necessidades diferentes daquelas dos adultos surgem durante

os processos de ensino e aprendizagem desta performance. Incialmente, a análise do

contexto social no qual o grupo está inserido, tanto do ambiente de ensino no qual será

construído o coral quanto dos lares das crianças, fornece informações relevantes para a

escolha do repertório e a identificação dos assuntos mais familiares e das propostas

seriam mais eficientes, para se buscar estratégias educativas através das quais as crianças

consigam relacionar esses novos saberes com os já pré-existentes. Além disso, a retórica

das explicações precisa ser compreensível ao grupo, ou pelo menos atenda à demanda

da maioria. Neste sentido, o autor Coll (2000) ressalta que para o aprendizado de

conteúdos específicos, a atribuição de sentido àquilo que se aprende é de extrema

importância para os processos de ensino.

Somente na medida em que se produz este processo de construção de conteúdos de significados e de atribuição de sentido se consegue que a aprendizagem de conteúdos específicos cumpra a função que lhe é determinada e que justifica sua importância: construir para o crescimento pessoal dos alunos, favorecendo e promovendo seu desenvolvimento (COLL, 2000, p.14)

Após uma primeira observação do contexto sociocultural inicia-se o processo de

escolha do repertório. Vale lembrar que ao mesmo tempo o conjunto de canções precisa

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ser musicalmente realizável, também é importante que ele seja motivador, de forma que

as crianças, durante os ensaios, tenham interesse em cantar as canções com muitas

repetições, pois o aprendizado do repertório leva determinado tempo. As músicas serão

escutadas e cantadas em vários ensaios. Observa-se que é mais complexo saber a

quantidade das canções adequadas para uma primeira organização do repertório quando

o grupo é desconhecido ao regente. Sinteticamente é mais interessante começar com um

número reduzido de canções que sejam mais fáceis para que, depois desse primeiro

momento, escolher quais serão os próximos passos para desenvolver a qualidade da

performance do grupo.

Após a definição do repertório, chega-se ao momento de construir a estrutura do

ensaio, ou seja, os planejamentos das rotinas, organizadas dentro de uma estrutura

temporal. As ideias pedagógicas são organizadas tanto nos procedimentos dos ensaios

como no modo em que eles serão propostos. Existem diversas pedagogias que podem

ser escolhidas, o principal é promover que todas as crianças possam desenvolver o seu

máximo potencial nas atividades.

Sabe-se que as propostas lúdicas são mais eficientes e importantes na infância e

que elas podem ser promovidas pelo uso dos jogos. Sendo assim, o uso de jogos faz com

que as repetições sejam mais motivadoras, promovendo o prazer na realização das ações

(KASHIMA, 2014). As crianças, jogando, podem simultaneamente aprender a se

desenvolver como coralistas e também se divertirem, favorecendo a sua permanência no

coral. Para o autor Freire “[...] essa é uma característica muito marcante do jogo. É o

prazer funcional da ação, a repetição de atividades que já foram dominadas”. (2001, p.

168).

Para Figueiredo (1990), a variedade das atividades também é importante para que

ocorram mais possibilidades de aprendizado dentre a heterogeneidade das crianças,

além de evitar determinados condicionamentos que dificultem um desenvolvimento

mais amplo da criança.

Quanto mais variado for o perfil do grupo, mais diversificadas precisam ser as

atividades para que todos tenham a oportunidade de aprender. Porém, é importante

sempre se atentar para a finalidade que foi proposta para o coral, já que é fundamental

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que as crianças cantem. Quando não há muito interesse em cantar, as escolhas

pedagógicas devem se estar voltada para a criação de um ambiente agradável para que,

aos poucos, seja possível que as experiências positivas das crianças nos ensaios

transformem-se em prazer pelo canto coletivo.

O principal avaliador da qualidade do ensaio é a criança, neste sentido,

independentemente do que será feito, é importante que ela seja a protagonista do

processo e que, na maior parte do tempo, possivelmente no ensaio todo, todo o seu

potencial seja estimulado.

Tendo então a sua rotina estruturada, a/o regente precisa se preparar para o

ensaio estudando o repertório e analisando as possíveis ocorrências que podem

acontecer durante os processos. Quando se planeja um ensaio, normalmente é

organizada uma estrutura de forma idealizada, considerando-se que todas as atividades

acontecerão sem nenhuma intercorrência. Porém, algumas vezes as crianças respondem

de forma inesperada ou se recusam a realizar as propostas, ou ainda não compreendem

o que deveria ser feito ou não necessariamente alcançam os objetivos almejados. Nessa

hora a/o regente precisa estar preparado para ter uma alternativa. Evidentemente não é

possível prever tudo o que pode acontecer num ensaio, porém, não é descartada a ideia

de reflexão sobre algumas outras ferramentas que possam facilitar ou reorganizar o que

foi proposto para se obter um ensaio com a melhor qualidade possível.

Após o ensaio, inicia-se um novo processo de reflexão. Primeiro, avalia-se o que

foi feito, buscando compreender o que é entendido como eficiente, isto é, o que foi

percebido, quais ações foram interessantes para o desenvolvimento tanto social quanto

musical do grupo. Depois reflete-se sobre aquilo que a atividade não gerou, seus

resultados negativos (como por exemplo: causar estresse e desinteresse nas crianças)

visando levantar hipóteses sobre as razões do fracasso e propostas de modificações que

poderiam ter sido realizadas para que ela tivesse sido percebida como mais positiva.

Surge, a partir desse movimento reflexivo e prático, um ciclo de planejamento,

execução e ação importante em todo os ensaios.

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2.3 Entrevista com coordenadores do COMUNICANTUS, projeto inspirador desta tese

Com a finalidade de levantar dados e discutir experiências relacionadas à criação

do LARCI, realizei uma entrevista com a coordenação do Comunicantus – Laboratório

Coral da ECA-USP.

As atividades corais do Departamento de Música da ECA-USP são planejadas e desenvolvidas neste Laboratório, que reúne os professores da área coral e dialoga com professores de outras áreas e de outras instituições ligadas ao Canto Coral. Além das disciplinas curriculares, o Laboratório mantém vários coros, com perfis diferenciados de público, sempre como oportunidade de estágio e de aprendizado prático e reflexivo, preparando os futuros músicos para as múltiplas possibilidades de trabalho em Canto Coral. O Comunicantus tem incentivado a produção discente, com muitas composições e arranjos estreados pelos coros que fazem parte do laboratório. Realiza também projetos especiais de extensão, tais como cursos, workshops, palestras, seminários. Tem recebido importantes profissionais ligados ao Canto Coral, tanto brasileiros como internacionais, objetivando a formação dos alunos, o crescimento da atividade coral e o desenvolvimento da pesquisa e da atividade artística. As atividades são supervisionadas pelos professores Marco Antonio da Silva Ramos (coordenador) e Susana Cecília Igayara. (http://comunicantus.blogspot.com/p/o-que-e-o-comunicantus.html, acesso em: 07/2018).

Esta entrevista foi realizada simultaneamente com ambos os coordenadores do

Comunicantus: Prof. Dr. Marcos Antônio da Silva Ramos e a Prof.ª Dr.ª Susana Cecília

Igayara, aprovada com o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE)

53116216.2.0000.5404. O trabalho grupal vem sendo utilizado nas ciências sociais e na

saúde denominado como grupo focal. Ele surge inspirado nos grupos operativos

desenvolvidos nas investigações de caráter interdisciplinar, realizadas na década de 50

na Argentina por Pichon-Rivièri (1998). Este autor define grupo como o “conjunto restrito

de pessoas, ligadas entre si por constantes de tempo e espaço, e articulados por sua

mútua representação interna, que se propõe de forma explícita ou implícita, uma tarefa

que constitui sua finalidade” (PICHON-RIVIÈRI, 1998, p. 234). Os participantes do grupo,

além de aprenderem a pensar e a discutir algo, obtêm a oportunidade de refletir sobre

as opiniões alheias, interagindo com ideologias e pensamentos distintos, participando de

alguma atividade em equipe.

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Segundo as autoras Aschidamini e Saupe (2004) o grupo focal se assemelha ao

grupo operativo na sua estrutura e operacionalização com indicações para pesquisas

terapêuticas e sociais, sendo recomendado para as pesquisas de campo, já que “em

pouco tempo e baixo custo permite uma diversificação e um aprofundamento dos

conteúdos relacionados ao tema de interesse” (2004, p.10). Essa metodologia representa

uma estratégia de pesquisa qualitativa que tem a intenção de criar e atribuir “significados

às coisas e às pessoas nas interações sociais e estas podem ser descritas e analisadas,

prescindindo de quantificações estatísticas” (FREITAS, 2002, p. 222).

O grupo focal se diferencia das entrevistas individuais por possibilitar a interação

entre as pessoas para obtenção dos dados em torno de um tema de interesse em comum

dentre aqueles que participam. Para a escolha dos sujeitos, as autoras Aschidamini e

Saupe (2004) ressaltam a fundamental relevância que a decisão em participar deve ser

livre de coação, sendo devidamente convidadas e motivadas a participar, o que acarreta

na difícil tarefa de selecionar as pessoas participantes.

O número de participantes pode variar, porém é necessário que esteja associado

à quantidade dos encontros e à sua duração para que haja espaço suficiente para a

participação de todos os envolvidos; além de se considerar a complexidade dos temas

abordados e o grau de polêmica que envolverá as perguntas (BONFIM, 2009). Essa

entrevista foi realizada somente com duas pessoas devido à relevância do

posicionamento desses sujeitos em relação ao tema desta pesquisa.

A autora Bonfim (2009) destaca ainda a importância da organização dos recursos

para o dia da coleta de dados, dentre eles: a escolha do local adequado onde não ocorram

muitas interferências externas, possível gravação dos dados e organização de um

ambiente favorável e acolhedor. A ideia também é evitar possíveis posicionamentos

hierárquicos que possam coagir a participação. Neste sentido, a autora sugere realizar a

entrevista em torno de uma mesa, onde também o moderador pode ter livre visualização

dos sujeitos. Neste caso não foi necessário identificá-los com crachás, já que participaram

somente duas pessoas.

Bonfim (2009) apresenta uma lista de regras que também foram apresentas antes

da entrevista, sugerindo comportamentos que facilitariam a transcrição dos dados e

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condução das entrevistas:

1) falar uma pessoa de cada vez; 2) evitar discussões paralelas para que todos possam participar; 3) dizer livremente o que pensa; 4) evitar o domínio da discussão por parte de um dos integrantes; 5) manter a atenção e o discurso na temática em questão (BONFIM, 2009).

A entrevista foi organizada com um guia de temas, configurando-se como

perguntas semiestruturadas, sendo uma “série de perguntas abertas, feitas verbalmente

em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de

esclarecimento” (LAVILLE; DIONNE, 1999, p.188). A ideia é facilitar que o moderador

(entrevistador) fomente o debate, mantendo claro os objetivos da pesquisa para que o

grupo não desvie o foco durante o debate ao mesmo tempo em que todos se sintam

confortáveis para expor suas opiniões.

A tarefa de condução do grupo focal, enquanto instrumento de pesquisa, exige do moderador habilidades específicas no manejo de discussões em grupo. Ele deverá ter sensibilidade e bom senso para conduzir o grupo de modo a manter o foco sobre os interesses do estudo, sem negar aos participantes a possibilidade de expressar-se espontaneamente (BONFIM, 2009).

A estratégia abordada para a análise dos dados denomina-se emparelhamento,

que “consiste em emparelhar ou, mais precisamente, em associar os dados recolhidos a

um modelo teórico com a finalidade de compará-los” (LAVILLE; DIONE, 1999, p.227),

seguida de uma categorização.

O pesquisador agrupa inicialmente o melhor possível as diversas unidades de conteúdo nas categorias previamente fixadas [...]. Depois, se sucedem as revisões críticas tomando muitas vezes como ponto de partida os elementos não classificados na primeira vez, que podem acarretar a criação de novas categorias ou, então, a ampliação ou subdivisão de categorias existentes e a

definição de novos critérios de pertinência (LAVILLE; DIONNE, 1999, p.222).

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2.3.1 Análise da entrevista

Iniciamos a conversa abordando os assuntos estruturais do funcionamento do

Comunicantus. O objetivo de abordar essas questões foi de buscar compreender o

modelo de funcionamento para utilizá-lo como referência para o LARCI. Mesmo que o

projeto da USP não contemple coros infantis, sua estrutura de planejamento pode ser

usada em projetos de grupos corais amadores variados.

Uma das diferenças dentre o Comunicantus e o LARCI é que, na USP, o projeto

está diretamente associado ao curso de graduação e pós-graduação, já que seus

idealizadores são docentes do Dep. de Música da ECA. Assim, as disciplinas que esses

idealizadores lecionam também buscam auxiliar na formação e organização das alunas e

alunos que atuam no Comunicantus. No LARCI o projeto é considerado uma atividade

totalmente extracurricular, sem vínculos com nenhuma disciplina (não exige matrícula

para a participação). As/os estagiárias/os participantes podem utilizar o espaço como

estágio obrigatório, porém, as questões e dificuldades apresentadas nas atividades do

laboratório são exclusivamente debatidas no próprio LARCI. Avalio que esta é uma

condição inicial de implementação do projeto e futuramente, ocorrendo sua efetivação,

será possível aproximar as atividades do laboratório com a graduação de forma mais

efetiva. Destaca-se também que o Comunicantus já oferece auxílio financeiro via bolsas

institucionais para as alunas e alunos atuantes, favorecendo a assiduidade e permanência

no projeto.

Neste subcapítulo são apresentados recortes da transcrição na entrevista que

foram mais relevantes para análise do funcionamento do Comunicantus. Os temas

geradores das perguntas foram: estrutura do funcionamento do Comunicantus;

processos de escolha do repertório; divisão das funções e responsabilidades nos ensaios

dentre as alunas e alunos bolsistas; procedimentos para desenvolver as competências

para a regência; fluxo de bolsistas.

Susana: O laboratório é o espaço que reúne todas as atividades práticas. Então os

grupos que ensaiam apresentam, cada um tem sua “subidentidade”... a gente, além

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disso, tem espaço de workshops, coisas mais eventuais. Tem também um espaço que a

gente faz seminários, mesas redondas e etc., com os próprios participantes dos níveis

de mestrado e doutorado, e professores convidados às vezes, que aí é acoplado com o

grupo de pesquisa, que aí é uma outra vertente. [...]. Os comunitários estão vinculados a

uma disciplina de graduação, tem também a participação de alunos que estão no

mestrado e no doutorado... eles entram por uma outra disciplina ou pelo projeto PAE

(projeto de aperfeiçoamento de ensino) [...].

Marcos: é uma disciplina... porque agora tem o mestrado e o doutorado em

performance. Então, tem uma disciplina que se chama “Práticas Laboratoriais”. Então

muitas vezes eles se engancham lá para participar... tem disciplina na pós-graduação e

disciplina para a graduação. Para a graduação ela está desenvolvida em módulos, de

forma que a pessoa possa dar sequência, e elas são todas no mesmo horário. O que a

gente chama de ensino multiseriado, né?

SUSANA: Você tem várias séries num mesmo espaço de educativo.

RAFAEL: Ela é eletiva para todo mundo?

MARCOS E SUSANA: Para todo mundo.

SUSANA: Ela só é eletiva, não é obrigatória em nenhuma grade. É... então nisso a gente

tem alunos nos vários níveis: desde primeiro ano até último ano de doutorado no

mesmo espaço. Então essa ideia do planejamento e avaliação é o que guia o cotidiano

da atividade. A gente faz esses planejamentos coletivamente, mas a gente tem sempre

uma pessoa designada para ser o avaliador e outra pessoa para ser o produtor. Por

que? Porque vai cuidar do ensaio, não consegue avaliar o ensaio. Às vezes tem até que

sair porque faltou uma cadeira e você tem que ver… Então essas funções não podem ser

concomitantes, ou é uma coisa ou é outra né... Na função de avaliador, você também é

quem fecha o planejamento. O planejamento é coletivo, a gente faz durante a aula:

divide em grupos, tem dois coros Então a estrutura é essa. Agora, durante a aula a

gente divide os horários, então têm assuntos que tem que discutir, assuntos do

cotidiano, tem coisas de estrutura, tem avaliação e planejamento, e tem a leitura e ai

planejamento mesmo do ensaio “oh, quem vai fazer? Cuidado com esse lugar aqui o

gesto que você está fazendo não está bom ”, daí entra os apoios.

MARCOS: tem a classe de “Regência Coral”, que também é multiserial. Então a primeira

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hora é só com os iniciantes, depois tem mais duas com todo mundo. Então, a primeira

hora geralmente o que é? Técnica... “ato você bate assim, corte você faz assado...”, essa

coisa bem do gesto, tenho uma escola muito bem definida. Olha, eu tô ensinando uma

tradição, não estou ensinando a reger. É uma tradição, o que quer dizer é que outros

regentes têm outras tradições. Então, eu provoco eles irem olhar as outras tradições, e ai

às vezes a gente faz assim “o que vocês viram no último mês que se incorpora facilmente

nisso que a gente faz? ”. Então eles vão trazendo, às vezes eles trazem vídeos de

concerto que assistiram [?] “olha, eu vi o cara fazendo assim...”, traz a gente olha... é

bem bacana.

O Comunicantus é formado por mais grupos corais em comparação ao LARCI. Em

consulta na página oficial da internet do projeto, este laboratório é responsável pelo

Coral-escola e Coral da terceira idade (grupos amadores) e mais cinco grupos formados

por alunas e alunos da graduação e pós-graduação: Coral da ECA, Coro de Câmara

Comunicantus, Coro Universitário Comunicantus, Classe de regência coral e Madrigal

Comunicantus. Devido ao grande número de espaços práticos, o projeto oferece amplas

possibilidades de atuação, de acordo com os interesses e disponibilidades de seus

integrantes. Como esta pesquisa está voltada para coros infantis, considerados

amadores, permanecemos discutindo principalmente as questões que envolvem o Coral-

escola e o Coro da terceira idade, mais próximos do LARCI.

Sinteticamente, faz-se necessário criar espaço para o planejamento dos ensaios

de forma intermitente, com encontros semanais para o aperfeiçoamento das/os

estagiárias/os. É nesses espaços que ocorre o aprendizado técnico musical e pedagógico

direcionado especificadamente para cada um dos coros do Comunicantus. Durante a

entrevista foi enfatizada a necessidade do treino e preparo da/o regente antes do

encontro com os cantores. Durante as próximas falas é importante destacar que o

contexto do grupo influencia diretamente quais as posturas que a/o regente precisa ter

para conduzir de forma mais eficaz os ensaios.

MARCOS: Eles nunca vão para frente do coro antes que todo mundo esteja com fluência em

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cantar aquilo lá e a pessoa em reger.

SUSANA: É, e a gente nunca escolhe uma música e passa direto para o coro. Primeiro

precisa passar pela aula.

SUSANA: É, e a gente nunca escolhe uma música e passa direto para o coro. Primeiro

precisa passar pela aula.

MARCOS: O ponto nosso é: o coralista. O coro é um laboratório, mas eles não são

cobaias.

SUSANA: É, com a gente é parecido. Porque a gente também tem um grupo de

universitários que trabalha com coro de terceira idade. Eles respondem de maneira

diferente, nunca simula. Mesmo sonoramente, quando canta às vezes a gente fala

“esse andamento está ótimo para vocês”, mas eles vão cantar mais lento. Então é legal

isso, porque você testa na aula é vai para o ensaio e volta e fala “é verdade aquilo

funcionou, aquilo não funcionou”.

MARCOS: a gente faz o ensaio de naipe-aula, que a gente chama. A gente vai e faz um

ensaio mostrando pra eles o que tá fazendo. “Né”, você vai assim: “o que eu fiz? ”, “fiz

isso, isso, isso, isso...”, “e o que eu vou fazer? ”, “Isso, isso, isso...”. Presta atenção. Aí, no

próximo ensaio eles já tão fazendo bons ensaios de naipe.

Ambos os laboratórios possibilitam que as/os estagiarias/os discutam assuntos

concretos que vivenciaram em seus ambientes de atuação e que, nos planejamentos,

possam analisar e desenvolver soluções reais para o aperfeiçoamento dos seus coros.

Esse tipo de formação permite que a pessoa utilize, de forma cíclica, a teoria em prol de

uma prática real, podendo tanto avaliar os resultados e desenvolvimento do coro quanto

ter a oportunidade de verificar se as escolhas para o ensaio foram eficientes, retornando

novamente a um grupo que está especificamente reunido para discutir estes assuntos.

As reuniões de planejamento precisam ser bem estruturadas para que ocorra o

mínimo possível de erros das/os regentes no encontro com seus cantores, pois mesmo

que elas e eles estejam em processo de formação, para quem canta no coral este fato

não deve ser relevante, pois, como disse o Prof. Dr. Marcos, quem canta nesse tipo de

projeto não é cobaia.

Retomando a discussão curricular na Unicamp, quem cursa a Licenciatura, devido

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ao excesso de disciplinas obrigatórias, possivelmente não teria condições de participar e

praticar a regência na mesma proporção que quem cursa o bacharelado em regência. Isso

poderia acarretar uma defasagem na formação procedimental e atitudinal. O que ocorre

é que as disciplinas de estágio não garantem necessariamente, e de forma organizada, o

direcionamento das propostas para que efetivamente as/os estagiárias/os possam

retomar aos seus ambientes de atuação com propostas concretas – pois cada aluna e

aluno pode escolher livremente em qual espaço atuará –, ocorrendo o distanciamento

da/o docente responsável pela disciplina do espaço em que as/os estagiárias/os estão

frequentando.

Seguimos discutindo qual seria o perfil das alunas e alunos da USP que

frequentam o Comunicantus.

MARCOS: ele é bem misturado. Regência, licenciatura, instrumentos....

SUSANA: a gente chama todo mundo o tempo todo, inclusive, a gente tem ótimos

alunos de instrumento. [ ]. Eu acho que a diversificação de atividades, assim, vem do

que eles dizem, por que que eles vieram procurar. Então, assim, “eu também sempre

cantei em coro”, “eu gosto”, “na minha igreja tem” ou “na escola eu vejo que tem um

espaço”[ ].

Aproveitando este perfil, questionei aos coordenadores se havia relação entre

querer participar do Comunicantus por conta da profissionalização na área da regência,

já que sua atuação pode acontecer em espaços variados, característica que favorece e

promove a importância da existência deste tipo de formação acadêmica.

SUSANA: […] tudo bem, eu sou um instrumentista eu gostaria de tá numa orquestra

mas eu tenho que diversificar, eu tenho que garantir que eu vou sobreviver de música,

né? Não necessariamente do meu instrumento”.

MARCOS: os nossos, os alunos que saíram daqui se eles querem ir pra área, pode

demorar seis meses pra ele sair bem empregado. [ .. ] porque a gente prepara mesmo

para enfrentar.

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RAFAEL: sempre vai cantar.

SUSANA: é, acho que a gente aqui tem um atrativo para o pessoal de regência, que vem

fazer, que é: tem muito tempo a disposição na frente de algum grupo, algum (músico).

RAFAEL: tempo de pódio, “né”?

SUSANA: tempo de pódio, exatamente. Então, isso, quer dizer, tem os comunitários,

mas por exemplo, mesmo no comunitário você também está na frente de um grupo de

adultos, né?

MARCOS: nas aulas de regência também está regendo na classe de regência.

SUSANA: e também tá regendo na classe de regência. Aí aqueles que tão no final de

curso, eles chamam para serem assistentes do coral da ECA, ou mestrado ou graduação,

no final da graduação.

Rafael: para reger.

SUSANA: e aí, é um superdesafio.

O tempo de pódio se refere aos momentos em que a/o regente está à frente de

um grupo real, conduzindo os ensaios. Além de ter consciência e habilidades para

perceber e trabalhar quais as informações precisam ser ditas ou demonstradas aos

cantores, a/o regente precisa aperfeiçoar sua forma de comunicação para que, em

diferentes contextos, quem canta no coro (ou pelo menos a maioria das/dos

participantes) compreenda e consiga executar o que está sendo almejado na

performance. Este tipo de prática somente acontece quando o coral é real, pois no

planejamento fictício não acontece a troca com quem canta, e dificilmente seria possível

prever todas as reações e soluções para problemas apresentados no desenvolvimento

das performances. É importe ressaltar que não é possível desenvolver um programa de

Ensino Superior no qual houvesse espaços tão distintos de formação para todos os

campos da/o regente ou licenciado. Porém, a ideia é valorizar a existência desse tipo de

laboratório e que os programas de extensão possam ser uma das alternativas para uma

formação acadêmica que busque vincular a teoria à prática.

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Retomando a entrevista, o próximo tópico foi relacionado à distribuição de função

dentre as/os estagiárias/os, e foi relatado que existe a alternância de todas as atividades

de acordo com os interesses pré-existentes e com as habilidades de cada integrante.

Também foi ressaltado que aqueles mais experientes, ao longo do tempo participando

do Comunicantus, começam a ajudar os novos integrantes. Esta estrutura se repete nas

disciplinas pelas quais os coordenadores são responsáveis, pois elas são multiseriais,

como dito anteriormente.

Perguntei para ambos se, caso alguém escolhesse alguma função específica e

fosse verificado que a pessoa não conseguiria executá-la com qualidade nos ensaios,

quais eram as providencias tomadas pelo Comunicantus.

SUSANA: a gente tenta resolver isso um pouco pela aula. Já teve caso: o aluno vem no

começo, está entusiasmado, vê a música que ele gosta e escolhe. A música não seria

impossível para o coro, mas ainda é um pouco difícil para ele. Ele foi lá tentar reger a

classe, sentiu dificuldade, a gente dá um suporte, ajuda, resolve.... Mas ele não ia

conseguir crescer na velocidade necessária [...]. Então o que a gente faz “Ah, a peça é

legal. Mas e se a gente... vamos por uma outra? ”. Daí a gente escolhe alguma coisa no

nível dele

Devido à heterogeneidade dos participantes, no caso do LARCI faz-se necessário

que toda a prática que será realizada no ensaio seja verificada anteriormente nos

planejamentos, evitando assim o máximo possível de erros nas execuções musicais

das/os regentes. Este tipo de ação também permite que a/o regente ganhe mais

segurança no ensaio, além de ter mais claro quais questões devem ser estudas e

preparadas individualmente fora dos momentos de planejamento e ensaio.

Por fim, discutimos os processos de escolha do repertório coral e suas relações

com quem canta e quem o rege.

SUSANA: tem que ver todos os detalhes. Por exemplo, tem um momento do ano,

quando a gente começa, digo assim “pessoal, o que a gente vai cantar esse ano?

Tragam ideia repertório” [?]. Vem pouquíssimas, porque todo mundo ainda está

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procurando... Então você tem: “Vamos lá ler essa música que vocês trouxeram”, aí tem

quinze, vinte minutos para ler. Chega um momento do ano em que todo mundo

procurou, aí chegam, assim sete músicas: “aí eu quero ler essa, eu quero ler essa”.

Então a gente tem que organizar, distribuir. Eu vejo com eles a dificuldade: “isso daqui

vai demorar duas aulas para acabar, porque não vai dar tempo... isso daqui a gente

tem que fazer primeiro isso... então vamos trazer uma gravação para facilitar, para a

pessoa ter uma referência? ”. A gente programa todas essas atividades...[...].

Geralmente a gente incentiva que eles busquem um repertório e a gente não tem

pressa, assim de “tem que achar para amanhã! ”. Então assim “oh, essa peça, legal. O

que tem de positivo nela? Isso é aqui é bom oh, o texto é interessante... mas o que tem

de negativo? Essa tessitura tá muito extrema, nosso tenor vai ter dificuldade para

cantar tanto agudo assim”. Então você teria que procurar “isso aqui tá bom, a

dimensão, o tempo de duração dela é bom para o nosso ritmo de ensaio mas nesse

ponto não está bom”, daí a pessoa vai procurar. Ou fala “a peça é bom, mas esse estilo é

muito... precisaria de uma peça que preparasse. Ah então vamos deixar ela um pouco

mais para frente, vamos colocar uma outra coisa que possa preparar para chegar lá....

MARCOS: Não vamos fazer essa obra com esses coros porque eles não têm fôlego, até

porque não tem técnica vocal, a gente já mostra meio que diretamente para o próprio

aluno. Mas quando a obra está ali no limiar, a gente não faz escolha enquanto a gente

não passa pelo coro que a gente chama de CUCU, que é o Coro Universitário.

[...]

SUSANA: com relação a essa história de repertório que é uma das coisas que eu mais

falo para os alunos e peço que eles falem para as outras pessoas, que as pessoas têm

tendência a achar que coro é só uma coisa “ah” “ cê faz um coral”, né? “Um coral”.

Acontece que assim, um coral com cento e cinquenta pessoas tem um perfil, tem um

repertório, tem um tipo de expressão. Um coral com dez pessoas que também existe.

[…]

SUSANA: cada coral pode fazer um tipo, um outro tipo de repertório, é outra

sonoridade, é outra PESQUISA, então na verdade a questão do repertório, a primeira

coisa que a gente tem que ver, que existem formações corais então e aí eu passo por

vários gêneros, compositores e suas obras.

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Sinteticamente foram levantados os seguintes pontos que são fundamentais para a

escolha do repertório dos coros no Comunicantus:

• As/os estagiárias/os realizam uma pesquisa individual com o repertório de

interesse, de acordo com o grupo que fica responsável, porém, também são

estimulados a auxiliarem na escolha dos demais coros do projeto;

• São consideradas as questões técnico musicais e vocais do repertório para que, ao

longo do tempo, ele corresponda às necessidades e habilidades de aprendizagem

do coro;

• As disciplinas envolvidas com o Comunicantus auxiliam na preparação e escolha

prévia das obras;

• Organizar o repertório pelo seu nível de dificuldade associado ao calendário de

ensaio e apresentações;

• Verificar o perfil do grupo, tanto na quantidade de cantores, quanto no seu contexto

social para uma escolha que favoreça o aprendizado das performances.

No próximo capítulo será relatado o processo de implementação e desenvolvimento

do LARCI na Unicamp no primeiro semestre de 2018.

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3. Implementação do LARCI

Esta pesquisa se enquadra naquilo que muitos pesquisadores consideram ser uma

pesquisa-ação, já que uma das fontes de colheita de dados foi o desenvolvimento do

LARCI com a minha participação, das/os estagiárias/os e das crianças, junto à

coordenação do espaço onde ele ocorreu. Segundo a autora Baldissera (2001), uma

pesquisa-ação acontece quando há “realmente uma ação por parte das pessoas

implicadas no processo investigativo, visto partir de um projeto de ação social ou da

solução de problemas coletivos e estar centrada no agir participativo e na ideologia de

ação coletiva” (BALDISSERA, p.6, 2001).

Para que seja efetiva, faz-se necessária a integração ativa e permanente, durante

o tempo da pesquisa, entre pesquisadores e as pessoas envolvidas no processo, visando

ampliar o conhecimento tanto dos que investigam, quanto daqueles que participam do

projeto como sujeitos a serem investigados. Nesse caso, o pesquisador base sou eu,

porém, nos espaços de planejamento, a participação das/os estagiárias/os foi

fundamental, contribuindo para o debate e, consequentemente, fornecendo mais dados

para análise. Além das crianças que, mesmo não sendo o objeto de análise, a partir das

participações no ensaio, contribuíram fornecendo dados para continuidade do projeto.

A pesquisa-ação por ser participativa, supõe uma co-implicação no trabalho dos pesquisadores e das pessoas envolvidas no projeto onde se faz intercâmbio, socialização das experiências e conhecimentos teóricos e metodológicos da pesquisa. (BALDISSERA, p.08, 2001)

O momento investigativo da pesquisa-ação se divide em várias fases. Inicialmente

pela escolha do tema (associado ao referencial teórico, apresentado nos capítulos

anteriores desta tese) a ser investigado, junto ao espaço e população-alvo. O segundo

passo é a sistematização da informação, isto é, como serão organizados os registros para

análise posterior. Em seguida, a elaboração de uma estrutura pedagógica, que organiza

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as diretrizes e os encaminhamentos do projeto ao longo do tempo. Após o projeto

estruturado, ocorre a sua implementação com os encontros dentre os participantes, por

fim, a avaliação e análise dos dados coletados.

3.1 Acesso ao PRODECAD

Após a minha qualificação, iniciei a reestruturação desta pesquisa. Durante a

qualificação foi evidenciado que o LARCI seria o principal objeto de análise e que, pela

sua implementação, eu teria mais clara as questões mais relevantes para serem

abordadas no desenvolvimento da tese. Já que defendo a formação prática da regência

em ambientes reais, seria necessário vivenciar o Laboratório para observar as principais

demandas deste processo. A partir da produção e do desenvolvimento dele, recolheria

os dados que trariam as contribuições para responder e justificar o potencial deste tipo

de espaço no Ensino Superior em Música.

O projeto para o desenvolvimento foi previsto para ser implementado no primeiro

semestre de 2018, desta forma, iniciei a sua produção no segundo semestre do ano

anterior. Inicialmente precisei escolher um espaço onde haveria a possibilidade em

organizar um coral infantil que aceitasse que eu realizasse a pesquisa.

Para a escolha do local do LARCI, a princípio, foi importante considerar se o coral

seria criado em um local onde já houvesse as crianças, como escolas ou espaços de

educação não formal, ou se ele seria proposto via um curso de extensão da Unicamp,

para convidar a comunidade no entorno a se matricular nele, de modo que se criasse um

espaço novo de formação. Acordou-se que a primeira opção seria mais viável, já que

garantiria que as alunas e alunos já estivessem alocadas/os, evitando assim a necessidade

de divulgação de um curso novo, correndo o risco que não houvesse inscritos, além de

diminuir a tramitação burocrática e de produção deste curso.

O primeiro local que contatei, via e-mail, foi o Programa de Desenvolvimento e

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Integração da Criança e do Adolescente (PRODECAD), espaço da Unicamp onde é

oferecida a educação complementar das alunas e alunos de 6 a 14 anos, em sua maioria

matriculados na E. E. Sérgio Pereira Porto, exclusivamente direcionado aos filhos e filhas

das/os funcionárias/os e discentes da Unicamp e da Fundação de Desenvolvimento da

Unicamp (FUNCAMP). O PRODECAD foi criado em 1987 pertencendo à Divisão de

Educação Infantil e Complementar da Unicamp (DEDIC).

Solicitei uma possível reunião com a intenção de apresentar uma proposta de

oficina de música para as crianças. Neste primeiro encontro, fui recebido pela

Coordenadora de Projeto Socioculturais daquele período e durante essa conversa falei

brevemente sobre o meu projeto de doutorado e sobre o interesse em criar um coral

com as crianças matriculadas. Neste mesmo dia foi solicitado que o meu projeto fosse

enviado para ser avaliado pela coordenação pedagógica e que a princípio, havia o

interesse de implementação da proposta. Seria importante também que eu propusesse

o número de crianças no coral, quantos encontros aconteceriam por semana e a duração

dos ensaios, isto é, estruturasse melhor a minha proposta.

O PRODECAD, além de ser vantajoso por já oferecer um público de crianças

matriculadas e tanto a instituição quanto as próprias crianças estarem habituados a

proporem oficinas como parte de sua rotina pedagógica, também fica dentro da

Unicamp, fato que facilita aos graduandos e graduandas a participação no LARCI,

evitando custos e tempo de locomoção.

Para a estrutura do projeto foram discutidas as seguintes questões:

1. A faixa etária dos cantores e cantoras foi estabelecida para no máximo 10 anos,

já que este projeto está direcionado para coros infantis, sendo que inicialmente

não havia a intenção em abordar com profundidade os assuntos que envolvem os

aspectos da adolescência e juventude. Para também determinar um perfil do

grupo foi sugerido que fosse para aquelas crianças que estivessem pelo menos no

2º ano do Ensino Fundamental I, cuja média etária é de 7 anos de idade. A ideia

foi reduzir o número de crianças que não estivessem alfabetizadas, já que

também foi pensado o uso de partituras musicais como parte do ensaio, e h á

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a leitura das letras das músicas do repertório, pois não haveria sempre muito

tempo para memorização do repertório. Apesar de não se necessário ser letrado

para a prática coral, já que as canções também podem ser aprendidas

exclusivamente por memorização, sem o recurso do uso da leitura, no caso de

grupos em que a maioria das crianças não sabe ler, a estrutura do ensaio precisa

ser elaborada à luz deste contexto, é normalmente é necessário fazer mais

repetições para que as letras das canções sejam memorizadas;

2. Acordamos que após o carnaval seria o momento ideal para iniciarmos os ensaios.

Na minha avaliação, quanto mais perto do início do semestre letivo da graduação,

que geralmente ocorre em março, maior seria a chance de as/os integrantes do

LARCI já estivessem disponíveis, devido à proximidade com o fim das férias de

verão da graduação na Unicamp. Para a Coordenadora de Projetos Sociais, após o

carnaval as crianças já estariam mais adaptadas, retomando as suas atividades e

rotinas no PRODECAD. Combinamos então de iniciar o projeto na última semana

de fevereiro. Necessitaríamos também de um encontro de planejamento para

este primeiro ensaio com as crianças, dessa, também aconteceria, alguns dias

antes do início das atividades com as crianças, uma reunião com as/os integrantes

do LARCI já no PRODECAD, para observarmos o espaço;

3. Para a escolha do dia da semana em que aconteceriam os ensaios no PRODECAD

foi importante destacar que as/os integrantes do LARCI precisariam de dois

momentos de encontro, um para planejamento e estudo e outro para o ensaio

com as crianças, para a prática. Verifiquei os horários das disciplinas que seriam

fornecidas no primeiro semestre de 2018 do curso de graduação em música.

Também conversei com uma docente desse mesmo curso buscando uma

sugestão de horário e dia da semana com menos aulas oficiais do curso, para que

pudéssemos escolher esse dia, para que houvesse mais disponibilidade e,

possivelmente, mais inscritos no LARCI. Nessa conversa com a docente do curso

decidimos: que as alunas e alunos da licenciatura provavelmente se interessariam

em participar do LARCI e que, por isso, seriam convidados; e que daríamos

preferência para aqueles que estariam no começo da graduação, ou seja, os que

normalmente têm mais disponibilidade de horário, já que ainda não tiveram

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muito tempo para se envolverem em outros projetos. Assim, investiguei melhor

o horário do 3º semestre da licenciatura em música, este é o período em que se

iniciam os estágios obrigatórios do curso. A grade do curso de bacharelado em

regência, outro público-alvo desta pesquisa, também foi utilizada como

referência para esta escolha. Terça-feira foi então a data escolhida e pensei

inicialmente no horário das 10h às 11h. Tendo decidido isso com base nas

informações que obtive dos cursos, comecei a divulgar um primeiro encontro para

quem estivesse interessado em desenvolver um coral infantil, com postagens no

Facebook, grupos de e-mails e cartazes pelo Instituto de Artes da Unicamp.

Recebi 18 e-mails de pessoas interessadas e para cada uma delas enviei a

seguinte resposta:

Olá NOME DA PESSOA!

Tudo bom? Sou aluno do doutorado e supervisor do Projeto Primeira Nota. Minha pesquisa é voltada aos currículos no Ensino Superior em formação de Regência Coral. Como proposta prática criarei este laboratório, onde os integrantes regerão.

Serão dois encontros por semana, o ensaio no PRODECAD com as crianças e um segundo

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momento de planejamento e formação, onde serão discutidos os assuntos que envolverão os ensaios e a formação teórica e prática nas questões acerca da prática de regência coral infantil no geral.

Aguardo você na nossa reunião. Assim que eu confirmar quantas pessoas irão, aviso em qual sala será!

Desde já, obrigado!

No dia do encontro, estavam presentes quatorze pessoas, incluindo o meu

orientador. Recebi três e-mails justificando a ausência. Éramos cinco homens e nove

mulheres, em sua maioria da licenciatura em música, duas pessoas do bacharelado em

regência e uma ingressante no Mestrado em Música. Uma das alunas da licenciatura

também cursava a modalidade combinada com o curso de bacharelado em piano.

Em roda, iniciei falando sobre minha pesquisa justificando as intenções de

começar um coral infantil no PRODECAD. Ao meu ver, naquele momento todas e todos

se demonstraram interessadas/os. Expliquei que ainda não havia sido completamente

decidido o horário dos ensaios, porém, das 10h até as 11h (como informado no cartaz de

divulgação) aconteceria um dos encontros: ou o planejamento ou o ensaio. Assim, ter

esta disponibilidade de horário seria impreterível para participar. Acordou-se que após o

dia 23 de novembro (data que seriam divulgados os horários das disciplinas da

graduação) eu enviaria uma planilha com as propostas de horários e que aquela que

tivesse o maior número de inscritos disponíveis seria a escolhida para o segundo

encontro semanal.

Eu havia confirmado uma segunda reunião com a coordenação do PRODECAD e

já haviam me enviado um documento que oficializava a viabilização do projeto,

aprovando minha proposta. O coral que imaginei para o LARCI teria um ensaio por

semana de uma hora e meia de duração. Seria um grupo fixo de no máximo trinta

integrantes, considerando também que poderia haver evasões ou novas crianças

interessadas ao longo do semestre. Provavelmente aprenderíamos três ou quatro

canções, além de alguns jogos cantados. Esse repertório seria escolhido junto aos

discentes inscritos do LARCI, mas eu levaria uma canção para o planejamento do primeiro

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dia.

Nessa reunião no PRODECAD fui recebido por uma professora que já havia

organizado variados projetos de música com aulas de instrumentos e musicalização com

as crianças. Informalmente, ela me orientou sobre a rotina do espaço, me contando um

pouco de sua trajetória naquele lugar. Cordialmente ela me ofereceu sua ajuda e aceitei

imediatamente. Em seguida, fui recebido pela coordenação do espaço e iniciamos

oficialmente a reunião esclarecendo algumas dúvidas sobre o projeto.

As crianças no PRODECAD não têm uma rotina obrigatória de oficinas a toda

semana, isto é, elas podem circular livremente pelas as atividades que estiverem

acontecendo, o que impossibilitaria, a princípio, a existência de um grupo fixo.

Explicaram-me que anteriormente houve um projeto que obrigava a participação das

crianças e que não gerou resultados positivos para as crianças e nem para o docente

proponente. A coordenação tinha receio que o coral se tornasse desgastante e pouco

motivador, tornando-se diferente das propostas implementadas normalmente neste

espaço. Sendo assim, o coro não teria um grupo de participantes fixo. Todas as semanas

teríamos que aceitar, provavelmente, crianças diferentes, o que exigiria que os ensaios

tivessem o caráter de oficinas de curta duração. Isto é, mesmo que algumas crianças

pudessem se interessar e ir a todos os encontros, algumas poderiam ir somente alguns

dias. Por conta dessa situação específica não poderia haver canções no repertório que

demorassem muito tempo para serem apreendidas. Explicaram-me que normalmente

quando as crianças gostam das atividades, costumam frequenta-las com frequência. Na

expectativa que o LARCI pudesse desenvolver ensaios eficientes e envolventes, parti da

premissa que tínhamos potencial para isso, já que o resultado positivo do laboratório

favoreceria a minha pesquisa.

Também discutimos que as crianças não conheciam exatamente a proposta.

Então haveria uma chance que iniciássemos o projeto com um grupo itinerante e, na

medida que houvesse um número relevante de crianças fixas, poderíamos repensar o

modelo ou mesmo ampliá-lo.

Decidimos então que começaríamos como uma oficina livre. Este tipo de oficina

requer que o grupo de crianças aprenda a realizar algum tipo de performance vocal em

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um único ensaio. Mesmo que as canções se repetissem ao longo dos encontros seria

importante que o repertório não requeresse muitos encontros para assimilação. Sendo

assim, canções muito curtas e jogos que associassem o uso da voz ou algum tipo de

performance cênico-corporal seriam fundamentais. Importante destacar que o objetivo

inicial seria cativar as crianças para que se interessassem pela prática coral e,

futuramente, caso fosse bem-sucedido, pudéssemos criar um coro com crianças

definidas e constantes. Entendi a importância das questões oferecidas pelo PRODECAD

e, mesmo com esses aparentes limites, decidi que poderíamos tentar. De qualquer

maneira as/os inscritas/os no LARCI teriam a possibilidade de praticar a condução dos

ensaios. Não seria o que normalmente acontece, ou seja, quando a/o regente programa

um longo período de ensaios para o aprendizado do repertório; mas tínhamos que

começar de algum lugar. Também considerei que quanto mais adversas fossem as

condições, mais questões surgiriam para o debate, situação que poderia ser positiva para

a coleta de dados.

Para facilitar a frequência das/dos estagiárias/os nas reuniões e nos ensaios,

decidimos que ambos os encontros aconteceriam no mesmo dia, e a coordenação do

PRODECAD disponibilizou uma sala para que ficássemos toda a manhã realizando as

atividades do LARCI. Às terças-feiras pela manhã poderíamos ensaiar às 9 horas, com

duração de 50 minutos. Em seguida, também faríamos o planejamento no próprio

PRODECAD. Também foi considerada a possibilidade de algum funcionário ou funcionária

do espaço que também quisesse participar do projeto nos ensaios.

Como ampliação do LARCI, foi proposto que ocorresse quinzenalmente uma

oficina com as próprias professoras do PRODECAD, buscando aproximá-las do projeto.

Discutimos naquele momento a importância de toda a comunidade escolar se envolver

com a proposta, promovendo maiores vínculos com a atividade coral. A ideia era que

fossem proporcionadas vivências com as professoras similares às das crianças durante os

ensaios, discutindo a relevância dos processos de ensino na prática coral. Desta forma o

LARCI começaria atuando em três frentes: o coral com as crianças, a formação das/os

regentes e um curso de educação musical para as profissionais da educação do

PRODECAD.

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Aproveitamos esse encontro e marcamos uma apresentação às professoras da

proposta para o início do mês seguinte. Pensamos que seria interessante realizar a

apresentação básica do projeto e proporcionar algum tipo de vivência prática,

aproximada daquelas previstas para os ensaios do coral. O principal objetivo era justificar

a minha pesquisa para elas e também, caso elas gostassem, poder contar com a ajuda

delas em sua implementação com relação às crianças. Também naquele momento, elas

seriam convidadas a se integrar ao projeto.

Organizamos, então, a seguinte estrutura:

• 07h30 às 08h20: formação quinzenal com as professoras e professores

do PRODECAD;

• 08h40 às 09h: chegada das/dos integrantes do LARCI para produção do

ensaio;

• 09h às 09h50: ensaio com as crianças;

• 10h às 11h30: planejamento do ensaio.

Estando então o período estipulado, com a divulgação aos interessados iniciais

recebi 13 fichas de inscrição preenchidas. A ficha seguia o seguinte modelo:

3.1.1 Ficha de Inscrição LARCI

1. Nome:

2. Curso e período:

3. Instrumento:

4. Experiência com o canto coral:

5. Qual a razão que levou você a se interessar pelo LARCI?

O objetivo foi organizar os dados básicos das/dos participantes e levantar

hipóteses de motivação da participação no LARCI para poder avaliar, após o fim deste

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semestre de implementação, se as expectativas e intenções da participação no

laboratório seriam atendidas ou transformadas ao longo do processo.

Incialmente tivemos dez mulheres inscritas e três homens. Dez participantes eram

graduandas/os de variados semestres da licenciatura, com exceção de duas pessoas já

formadas, sendo uma delas ingressante no mestrado em música nesse mesmo período.

Também houve uma inscrição de uma aluna já formada no bacharelado em flauta

transversal. Nesse grupo havia também três pessoas que cursavam a modalidade

combinada da licenciatura com o bacharelado em cursos diferentes. As habilidades

instrumentais deste grupo eram compostas por pianistas, cantores, flautistas

transversais e violonistas.

Todas as pessoas relataram experiência como cantores em grupos corais

amadores e sete deles haviam cantado em coros quando crianças ou adolescentes,

preservando uma memória da vivência nesta prática como coralista. Destaca-se também

que a intenção geral do grupo de participar do laboratório era desenvolver a prática de

regência com vistas à profissionalização nesta área. Uma das participantes também se

inscreveu para desenvolver seu Trabalho de Conclusão de Curso associado ao

laboratório; e ainda outra tinha interesse em enviar um projeto para o PIBIC (Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da CAPES).

3.2 Registro dos dados

Organizei três fontes básicas para o registro das atividades. A primeira delas foi o

registro em vídeo, totalizando vinte e uma horas de gravação que abarcam todos os

encontros de planejamento e ensaio.

Como segunda fonte, durante os ensaios com as crianças uma das/os

estagiárias/os ficaria responsável por observar e registrar por escrito, numa espécie de

diário de aulas, como havia sido o desenvolvimento das atividades. Também

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realizaríamos a leitura destes relatos nos planejamentos seguintes para deflagrar o

debate. Por fim, como terceira fonte e associando estes dois tipos de registros,

semanalmente eu mesmo redigi um diário de campo de caráter mais pessoal, onde, após

a visualização dos vídeos, relatei os assuntos debatidos, as falas dos participantes e

análises prévias do que havia ocorrido tanto no ensaio quanto no planejamento.

O diário de campo foi um instrumento de registro de dados realizado de forma

intermitente durante todo o tempo de realização da pesquisa para ser analisado

posteriormente. Embora seja desenvolvido para relatar as ações ocorridas, também abre

espaço para análises e interpretações imediatas, além da enumeração das ocorrências.

Nesta pesquisa a enumeração das ocorrências também ficou sob encargo dos registros

de ensaio das/os estagiárias/os realizados semanalmente. Deve-se destacar que nesse

montante de registros escritos as notas descritivas tendem a ser mais extensas

comparadas às reflexivas. Porém, foi importante que as reflexões já estivessem no diário,

mesmo que elas tivessem um caráter mais interrogativo, tendo sido colhidas

praticamente no “calor da hora”. Isto porque, segundo Roese, a partir das interrogações

do/a observador/a e organizador/a do diário, o/a pesquisador/a tem a oportunidade de

avaliar e alterar suas próprias ações e conceitos. (ROESE, 2006)

A autora Roese (2006) destaca seis aspectos para serem considerados na

construção de um diário de campo: retrato dos sujeitos; reconstrução dos diálogos;

descrição do espaço físico; relatos de acontecimentos particulares; descrição das

atividades e comportamento do observador. Estes aspectos também foram utilizados

como temas geradores da categorização para análise do diário e são mais bem

detalhados a seguir:

Retrato dos sujeitos: apresenta os aspectos físicos, etários, culturais,

particularidades dos sujeitos. A ideia é descrever todos os aspectos

significativos que influenciem de alguma forma suas ações. Nesta pesquisa,

para a análise do diário, estes dados descrevem as/os estagiárias/os e as

crianças, buscando relacioná-los;

Reconstrução dos diálogos: descreve as falas e expressões corporais que

foram observadas como relevantes para as ações que se deram em seguida.

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Busca-se valorizar as/os participantes da pesquisa como ativas/os no

desenvolvimento da mesma. No LARCI, as/os estagiárias/os são o grupo que

foi mais atentamente observado, embora não se descarta a importância da

observação e participação das crianças na construção das relações e,

consequentemente, no desenvolvimento dos ensaios e planejamento;

Descrição do espaço físico: relatam as estruturas físicas dos espaços

buscando relacionar as influências que estas condições impõem para o dado

analisado;

Relatos de acontecimentos particulares: descrevem casos pontuais que

foram observados como geradores de fatos relevantes de análise, a partir da

observação do relato do diário. No caso particular desta pesquisa, foram

anotadas as ocorrências que geraram debates ou atividades relevantes

durante os ensaios e planejamentos. Destaca-se que normalmente o que

acontecia no ensaio determinava o que seria debatido ou praticado no

planejamento;

Descrição das atividades: detalham todas as atividades incluindo reflexões

relevantes à pesquisa. No ensaio, foram descritas como as/os estagiarias/os

conduziam suas propostas, avaliando a participação das crianças. Já no

planejamento foram apresentados os temas debatidos e as propostas

práticas, tais como aquelas realizadas nos ensaios musicais;

Comportamento do observador: apresentam como as ações do observador

interferiram na pesquisa. Ou seja, como eu atuei e me autoavaliei na

coordenação do projeto. É interessante destacar que ao longo da construção

do diário tive a oportunidade de ver nos vídeos como eu me comportava

normalmente nas aulas e pude, aos poucos, ir buscando referências para a

minha auto avaliação (isso quis dizer, em resumo, buscar outras formas de

agir que eu entendi que seriam mais eficientes na coordenação do LARCI).

Todos o diário foi organizado pelo seu dia, realizado semanalmente e divido em

duas partes: ensaio e planejamento. Para a análise foram determinadas categorias,

buscando agrupar, a partir dos temas geradores propostos pela autora Roese (2006), as

similaridades das ocorrências e assuntos, organizadas nos principais tópicos:

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Estrutura do ensaio: apresenta as discussões dos momentos de

planejamento (tais como horário e sequência de atividades) focado em

desenvolver as atividades que aconteceriam com as crianças.

Debate das atividades: foram descritas todas as propostas e análises dos

planejamentos a partir dos ensaios conduzidos pelas/os estagiárias/os

com ou sem a minha interferência. Buscou-se relacionar como a

organização e as ocorrências do planejamento foram influenciadas

pelo ensaio;

Mais reflexões do observador: apresenta as observações, ações e

reflexões realizadas pelo autor desta pesquisa.

Estas categorias serão apresentadas em 4 etapas. A primeira (PRIMEIRO

PLANEJAMENTO) retrata o primeiro encontro com as/os estagiárias/os em que somente

foi realizado o planejamento do primeiro ensaio com as crianças, além da apresentação

dos principais objetivos e conceitos que envolviam o projeto. A segunda etapa (PRIMEIRO

ENCONTRO COM AS CRIANÇAS) observa o primeiro dia com as crianças, dando início aos

ensaios reais. A terceira (OFICINAS EXPERIMENTAIS) discute os cinco encontros seguintes

nos quais as/os estagiárias/os já conduziram as atividades, porém, as crianças eram

conduzidas pelas professoras de sala até o local do ensaio). A quarta e última etapa

(ENSAIOS ABERTOS) apresenta a segunda fase do projeto na qual as crianças, com

autonomia, começariam a frequentar os ensaios e começaríamos de fato buscar

desenvolver um grupo fixo coral no PRODECAD. Também nesta fase as funções dentre

as/os estagiárias/os já estariam mais bem estabelecidas e já conheceríamos o perfil

básico das crianças daquele espaço.

A seguir, a tabela apresenta as datas (1º semestre de 2018) de realização de cada

uma das etapas analisadas:

ETAPA DATA

Primeiro planejamento 20/02

Primeiro encontro com as crianças 27/02

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Oficinas experimentais 06/03 até 03/04

Ensaios abertos 10/04 até 22/05

Tabela 12: calendário dos ensaios.

Observe que o texto escrito em itálico representa a transcrição direta do diário de

campo, isto é, copiei as informações que foram escritas por mim durante a execução do

mesmo. O texto escrito em negrito são as transcrições das falas. As análises são

apresentadas a seguir.

3.3 Primeiro Planejamento

O Primeiro planejamento (20/02) aconteceu exatamente uma semana antes do

ensaio com as crianças. Como eu mesmo conduziria o primeiro ensaio, o principal

objetivo de planejamento seria apresentar os conceitos-base do projeto e a estrutura e

funcionamento gerais associados ao cronograma proposto, além de apresentar o ensaio

que seria realizado por mim com as crianças.

No dia do primeiro encontro participaram oito estagiárias inscritas no semestre

anterior. Neste caso, decidimos que essas oito pessoas que foram na primeira reunião de

planejamento seriam as primeiras a assumirem alguma função no próximo ensaio com

as crianças, como a correpetição do repertório.

3.3.1 Debate das atividades

Iniciamos o primeiro planejamento com a entrega de cópias do cronograma, de

alguns fundamentos dos conteúdos da prática coral e rotinas de ensaio, resumindo os

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temas apresentados nos dois capítulos anteriores desta Tese. Uma das minhas principais

preocupações era que as/os inscritas/os no LARCI pudessem constatar que o Laboratório

estava bem organizado, proporcionando maior segurança em participar. Assim, me

dediquei bastante em explicar a estrutura e o planejamento do projeto. Esse dia foi um

encontro mais expositivo.

Expliquei ao grupo que o fundamento do canto coral obviamente é a prática do

canto coletivo. Sendo assim, ensinaríamos as crianças a cantar, e a consequência desse

aprendizado geraria uma performance musical e cênica, pois como os coros também

normalmente se apresentam em público, também seria nossa intenção produzir uma

apresentação pública do repertório do coral. Teríamos, contudo, que tomar certos

cuidados para não direcionar os ensaios somente para o concerto, situação que acontece

normalmente e gera ensaios muito repetitivos e estressantes, desgastando as atividades

e prejudicando a participação motivada das crianças. Além de cantar, as crianças teriam

a oportunidade de se desenvolver globalmente e socializar, por essa razão nos

comportaríamos sempre buscando processos de ensino e aprendizado significativos e

motivadores. O objetivo também era buscar atividades prazerosas e com muito potencial

de aprendizado, buscando criar laços afetivos consistentes das crianças com a prática

coral.

Após esta primeira explicação foram apresentados os conteúdos-base da prática

coral, compilados desta mesma tese. O objetivo foi explicitar o que poderia ser ensinado

e depois discutir quais os procedimentos que utilizaríamos.

Enfocamos que, independentemente de observarmos estes conteúdos de forma

separada, todos os processos de ensino envolveriam os Procedimentos, isto é, as

atividades seriam ensinadas na prática e, somente após a primeira experiência,

retomaríamos a reflexão e planejamento para em seguida vivenciarmos novamente. Isto

é, quando fossemos ensinar um conteúdo musical qualquer ele não poderia estar em

separado de uma vivência musical. Tudo que envolvesse o ensino de um conceito, de

uma ideia específica, buscaríamos atividades através das quais ele pudesse ser

experimentado durante uma ação, por exemplo: caso quiséssemos ensinar a nomeação

das notas da clave buscaríamos utilizar alguma partitura do repertório ou algo que em

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seguida pudesse ser cantado ou solfejado; não utilizaríamos atividades nas quais

somente é preciso nomear as notas sem nenhum sentido musical.

Após a apresentação da estrutura do ensaio (que será discutida no subcapítulo

posterior), em que foi apresentada a canção Maré (Domínio Público), iniciamos o

planejamento estudando essa canção inicial para o preparo do ensaio.

De modo geral as partituras precisam ser decifradas pela/o regente para que os

ensaios possam ser organizados de maneira mais eficaz para otimizar o aprendizado.

Expliquei então ao grupo que eu regeria o primeiro ensaio para que fosse possível

proporcionar um momento de observação a todos, pretendendo que as/os estagiárias/os

pudessem partir de um exemplo real de condução das atividades, assim como também

poder observar como as crianças reagiam às propostas.

Cantei uma vez a música inteira e em seguida todo o grupo repetiu. A canção foi

executada com certa facilidade por todas/os, precisando somente de algumas sugestões

em relação à precisão rítmica das frases para que a música adquirisse mais movimento,

isto é, ao invés de executá-la com o canto legatto, seria mais adequado usar o stacatto

entre as notas. Neste sentido seria necessário estimular a dicção das consoantes para

maior compreensão textual, tornando a música mais “ritmada”.

Comentei neste momento que os dois primeiros compassos, iniciados com a nota

Ré 2, possuem uma frase com extensão de uma oitava, acarretando provavelmente uma

mudança de registro vocal da criança: da voz de peito para a de cabeça. Esse tipo de

alteração costuma desequilibrar os timbres, deixando a frase pouco uniforme. Assim,

para evitar esta dificuldade técnica, a minha sugestão inicial seria tentar realizá-la toda

com voz de cabeça. Para isso, caso as crianças estivessem com dificuldade de acessar esse

registro, seria sugerido que elas cantassem de forma “bem leve”, isto é, com pouca

pressão de ar, mesmo que ocasionasse na diminuição da intensidade do som, pelo menos

inicialmente.

Em resumo, não poderíamos em nenhum momento sugerir que elas cantassem

mais forte, sempre buscando esta sonoridade leve e aveludada, similar de uma flauta de

madeira. Deveríamos nos atentar também caso o som produzido tivesse muita

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soprosidade, isto é, uma voz na qual se pode escutar a saída do ar (como um sopro). Seria

necessário estimular que as crianças cantassem um pouco mais claro, isto é, de uma

forma que ocorresse uma sonoridade mais brilhante. O aconselhado seria um vocalize

com a existência de mais vogais frontais, tais como o I e o E, precedidas de uma

consoante, como Brim, Trin, tim, Mi, reduzindo assim a fenda das pregas vocais.

As respirações foram marcadas para que as/os regentes, durante seu gestual,

realizassem as indicações adequadas para que o grupo inspirasse. Esta canção possui

poucas notas longas, o que facilita a técnica respiratória. Seria importante observar como

as crianças inspiram, principalmente em relação à movimentação os ombros, gesto que

comumente sugere tensão e respiração torácica. O adequado seria que estivessem

executando a respiração intercostal. Perguntei se haviam dúvidas e todas disseram que

poderíamos prosseguir.

Em seguida propus a primeira atividade experimental do grupo com exercícios de

gestual simples de regência, nas fórmulas de compasso 2/4, 4/4, 3/4 e 6/8. O grupo não

demonstrou dificuldade.

Embora o ensino da regência enfatize a importância do gestual correto da/o

regente na condução musical, com crianças, quando se percebe que elas não estão

cantando, pode ser necessário outro tipo de estimulo gestual, além da marcação do

andamento da música. Faz-se necessário algumas vezes, por exemplo, gesticular que o

som está baixo; que elas precisam abrir mais a boca; gestos que auxiliem na memorização

da letra; ou até mesmo aproximar-se de alguma criança e encostar em seus braços para

que ela retome a atenção quando dispersa. De maneira geral o ensaio é o momento em

que é necessário fazer todo o possível para que as crianças executem melhor a canção,

mesmo que haja prejuízo do gestual correto da/o regente. Ao longo do processo o gestual

técnico pode voltar a ser introduzido, na medida em que as crianças consigam

compreendê-lo.

Após esta primeira vivência prática com as estagiárias, sugeri que alguém fosse

reger a canção para as demais cantarem. Neste momento duas participantes se

ofereceram. Nessas regências algumas correções foram necessárias. Observei que

inicialmente as regentes estavam muito aflitas com o gestual e por conta disso não se

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conectavam com as/os cantoras/es. Importante ressaltar o contato visual com o grupo,

facilitando a compreensão dos gestos e estimulando a atenção das crianças. Assim, sugeri

que a regência fosse realizada mais uma vez, porém a partir deste foco. A primeira a reger

teve maior dificuldade inicial em marcar as respirações no seu gesto, porém, após

algumas tentativas, estava já executando com mais facilidade.

Uma dificuldade em comum dentre as duas voluntárias era a de traduzir no

gestual a musicalidade, além da marcação do andamento. A corporalidade da/o regente

de forma clara e simultânea deveria transmitir diversas informações para as crianças, e

isso exige um estudo dos gestos em favor da expressividade. Propus que o gestual

também fosse realizado dançando, isto é, marcando o ritmo pela movimentação

corporal, podendo também favorecer a construção e compreensão do caráter mais

ritmado desta canção.

Regente: regendo esta música em dois, preciso de 4 tempos para conseguir me preparar bem para dar a entrada

Comentei com o grupo que cada uma delas buscasse compreender qual forma de

dar entrada seria mais segura. A ideia era de que ao começar a música a regente estivesse

preparada para prosseguir no andamento correto. Como não havia ninguém no grupo

com experiência em regência, entendo que neste momento seria importante motivar a

atuação independente das dificuldades, principalmente considerando-se que estávamos

no começo do projeto.

Por fim, cantamos algumas vezes a música, o que também entendi que seria

importante que todos conhecessem o repertório. Como eu conduziria o primeiro ensaio

com as crianças conclui ser importante explicitar às estagiárias quais são as minhas

considerações para planejar um ensaio, fornecendo a elas pelo menos uma referência.

Assim, encerramos o primeiro encontro com uma visita ao espaço físico do

PRODECAD, junto à coordenação do espaço.

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3.3.2 Estrutura do ensaio (panorama geral)

No primeiro planejamento apresentei uma proposta de rotina de ensaio. A ideia

era ter quatro momentos distintos, porém, não necessariamente numa mesma ordem

cronológica. Esta sequência serviria como organizadora das propostas, porém, ao longo

dos ensaios, poderia ser necessário mais atenção e tempo para uma das atividades ou

conteúdos em relação às outras. Desta forma, em todas as semanas seguintes seriam

revistas as rotinas de acordo com os objetivos de cada encontro:

• Acolhida e dinâmica corporal (alongamento, aquecimento);

• Canção do repertório associada com a atividade deflagradora;

• Atividade de musicalização curta;

• Passagem do repertório;

Para explicar melhor o que representam cada um dos momentos da rotina, li os

seguintes os seguintes tópicos:

1. Com cada grupo, no primeiro encontro, é necessário obter propostas dinâmicas e

motivadoras já que o principal objetivo é incentivar as crianças a se inscrevam

posteriormente na oficina. Desta forma, o ensaio precisaria ser bem entretido e

divertido, isto é, as propostas precisariam proporcionar a participação do grupo

sem gerar desconforto ou desinteresse. De maneira geral, nosso objetivo seria

cativá-las proporcionando um ensaio divertido;

2. Existia a possibilidade de, caso apresentássemos a oficina chamando-a de “coral”,

isso não gerasse tanto interesse nas crianças devido aos estereótipos da prática

coral tradicional. Assim, um nome mais atrativo poderia obter mais inscritos.

Escolhemos então o nome de Oficina de Canto em Movimento;

3. A escolha do repertório seria o fio condutor dos conteúdos musicais a serem

desenvolvidos, isto é, após a escolha e estudo das canções seriam organizadas as

atividades que possibilitariam o aprendizado da mesma;

4. Nestes ensaios o repertório precisaria ser composto inicialmente por uma música

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curta com a intenção de o grupo apreendê-la em uma aula ou, pelo menos,

possibilitar a construção de uma pequena performance curta. Em uma aula as

crianças precisariam ter a experiência de como seriam normalmente todos os

ensaios, porém através de uma versão curta, isto é, atividades simples, de fácil

assimilação e com resultados imediatos. Como demoraria um tempo para o

próximo encontro com o mesmo grupo não seria possível organizar um

planejamento que necessitasse de mais de um encontro para a assimilação dos

conteúdos eleitos;

5. Com o primeiro grupo de crianças as atividades seriam conduzidas por mim para

que as/os licenciadas/os tivessem uma referência prática inicial. Com os outros

grupos, as funções seriam distribuídas dentre as/os integrantes de acordo com os

interesses e habilidades de cada um;

6. Somente duas funções do laboratório já seriam de responsabilidade dos

participantes no primeiro ensaio: acompanhamento musical no violão e

percussão para facilitar o trânsito entre as salas e a avaliação/registro do primeiro

dia.

Perguntei se havia alguma dúvida e ninguém se manifestou. Prossegui explicando

quais seriam as funções e o que cada uma delas realiza no ensaio, lendo o seguinte

trecho:

• Produtora/Produtor de ensaio: responsável pelas partituras e organização do

espaço e informes;

• Preparadora/Preparador vocal: responsável pelo aquecimento corporal e vocal;

• Educadora/Educador musical: responsável pela organização dos conteúdos

conceituais (leitura musical, história e cultura musical com um viés de

musicalização);

• Pianista correpetidora/correpetidor: responsável por acompanhar as músicas no

ensaio;

• Regente: responsável em reger a peça pré-escolhida;

• Avaliadora/Avaliador: responsável pelo registro dos acontecimentos do ensaio.

Para esta primeira fase era necessário já levar escolhida alguma música do

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repertório, pois não haveria tempo para que ocorresse uma pesquisa, pois na próxima

semana já seria o primeiro ensaio. Sendo assim eu mesmo escolhi a primeira canção do

repertório e apresentei ao grupo. Expliquei que para escolhê-la considerei os seguintes

tópicos:

1. A canção precisaria ser em português e curta, isto é, poucas estrofes para

possível memorização rápida.

2. Interessante ela possuir um caráter animado e dançante, privilegiando

canções mais rítmicas do que melódicas, assim, pelo próprio repertório já se

cria um ambiente mais descontraído e motivador.

3. A tessitura melódica precisa ser média, neste caso do Dó 3 ao Ré 4, já que não

conhecíamos quais as crianças que cantariam, o ideal era possibilitar uma

música sem grandes desafios técnicos.

4. Na intenção de que a canção seja apreendida em uma aula já haveria o

desenvolvimento da performance inteira em um ensaio. Caso o repertório

possuísse alguma temática motivadora ou que já sugerisse algum tipo de

movimentação corporal seria mais simples organizar todas as atividades

inspiradas na letra da canção para promover maior significado para a sua

prática.

5. O acompanhamento instrumental da música também não poderia ser muito

complexo pois eu não tinha certeza de quais alunos e alunas da graduação

compareceriam no primeiro dia, assim, o melhor seria apresentar um

repertório que facilmente as/os regentes conseguissem executar.

A música escolhida para este momento foi Maré de Domínio Público:

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Iniciamos o planejamento das atividades retomando que o ensaio seria curto, com

50 minutos. Nesta etapa foram retomados os pontos relevantes das rotinas de ensaio e

propus as atividades que havia planejado para o primeiro ensaio. Elas foram completadas

com sugestões palas/os estagiárias/os, como não ocorreram muitas falas, rapidamente

chegamos na seguinte estrutura:

1. Alongamento e aquecimento: para este momento foram escolhidas duas

atividades. Inicialmente pensamos em realizar o alongamento corporal com

um jogo que pudesse proporcionar movimento corporal, noções de

espacialidade e trabalho cooperativo, ao mesmo tempo que fosse bem

divertido e motivador. Planejamos um jogo de estátuas coletivas, isto é,

acompanhadas por uma música todas as crianças caminham pelo espaço

realizando movimentos variados de acordo com a sugestão do condutor do

jogo, como: andar nas pontas dos pés, pulando, de costas, acompanhando os

ritmos com palmas, entre outros, alternando em cada parada musical.

Quando a música para a/o regente sugere um ambiente: escola, hospital,

praia, e o grupo precisa montar estátuas que simulem o que as pessoas fazem

neste local ou objetos pertencentes ao local sugerido. A ideia é que eles criem

um repertório de movimento corporal e se organizem com autonomia no

espaço, isto é: uma criança que fizesse a estátua nadando, demarcaria onde

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está a água, neste sentido, não poderia haver outra criança muito próxima

dela tomando sol, já que aquele lugar tem água. Esta regra seria explicada

antes da execução da atividade;

2. A segunda atividade seria similar à primeira, porém, quando a música parasse

as crianças precisariam se organizar em diferentes formas de agrupamento,

como trios, quintetos, rodas e por fim três filas do mesmo tamanho em

posicionamento coral. A ideia era já explicar o posicionamento que

normalmente o coro ensaia;

3. Para estimular a fonação das crianças iniciaríamos o desafio do contrário. Isto

é, escolheríamos palavras e elas teriam que responder com outras que seriam

suas contrárias correspondentes: João – Maria, Dentro – Fora, Pão – queijo,

sempre entoadas num intervalo melódico de terça menor. Assim, quando a/o

regente cantasse João, João, João, as crianças responderiam, Maria, Maria,

Maria, criando sequencias mais complexas: João lá dentro comento pão =

Maria lá fora comendo queijo. O objetivo era investigar a afinação, estimular a

fonação e também a atenção das crianças;

4. Em seguida, para possibilitar a exploração da voz de cabeça na criança,

buscamos também associar esse objetivo com uma atividade que pudesse já ir

estimulando a criança a prestar atenção na condução – regência. A proposta

consiste em que uma criança sorteada (para evitar conflitos) vá até a frente do

grupo e realize um desenho no ar. As demais crianças seguem vocalmente este

desenho com a vogal U (a vogal U facilita o acesso ao registro de cabeça).

Iríamos revezando algumas crianças sorteadas para que não ficasse

desgastante;

5. Para a passagem do repertório resolvemos que as crianças aprenderiam por

meio da repetição, isto é, o regente cantaria e em seguida elas repetiriam o

que foi cantado. Uma das regentes sugeriu que fosse ensinado o texto de

forma ritmada antes. Discutimos que ao ensinar com a melodia ganharíamos

tempo e evitaríamos que elas se acostumassem a declamar o texto com a voz

de peito, assim, elas já começariam cantando. Para facilitar foi combinado

escrever a letra em um painel grande acelerando o processo de memorização

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por parte das crianças. Caso o grupo estivesse muito desafinado seriam

realizadas algumas correções. Contudo, sem não surtem efeito rapidamente,

deixaríamos momentaneamente o repertório cantado e ensinaríamos a

parlenda “tumba la catumba, tumba, tá”, que está associada com percussão

corporal simples de palmas e batidas com os pés;

6. Apreendida razoavelmente a canção Maré, ou pelo menos uma parte dela,

seria sugerido ao grupo que retomasse as estátuas de mar realizadas na

primeira atividade e durante a introdução da música as estátuas iriam sendo

montadas e desmontadas até a música iniciar, na qual todas as crianças

começariam a cantar;

7. Por fim, cantaríamos a canção da D. Maroquinha de despedida em roda e

realizaríamos o convite da oficina, agradecendo a participação.

Por fim foram divididos os acompanhamentos musicais, isto é, quem tocaria os

instrumentos neste primeiro dia, procedimento que buscaríamos alternar a cada ensaio.

Ensaiamos com o acompanhamento no violão e piano executado por duas pessoas que

se comprometeram a estudar a execução para a semana seguinte. Também tivemos uma

pessoa selecionada para ser a observadora.

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3.3.3 Mais reflexões do observador

Até o momento do ensaio que aconteceria com as crianças eu havia organizado

todas as etapas de estruturação do LARCI, de forma que não ocorreram grandes

problemas para que o projeto iniciasse dentro dos prazos previstos. Uma das

preocupações iniciais foi se haveria inscrições das/os alunas/os da graduação para os

estágios, mas tínhamos pessoas suficientes para o início do projeto. Assim, o desafio

seguinte foi estimular o interesse das crianças em participar do coral, já que elas

poderiam circular livremente pelas várias atividades do PRODECAD oferecidas no mesmo

horário do laboratório.

Como eu mesmo realizei o primeiro ensaio, inicialmente pensei que seria

importante observar as crianças em aula para obter mais informações de como poderia

ser o desenvolvimento das atividades no ensaio, para, assim, obter mais informações que

auxiliassem no planejamento dos demais encontros. Também entendi que eu serviria

como referência de regente demonstrando uma forma de propor as atividades que

havíamos planejado, além disso, como esse já que seria também o primeiro ensaio, havia

certa insegurança das/os estagiárias/os em assumir alguma atividade.

Não descarto a confissão de que eu também estava inseguro. Caso o primeiro

ensaio desse certo, isso seria encorajador para que as/os integrantes do LARCI se

oferecessem, durante o planejamento, para assumir alguma função no próximo ensaio.

Retomo que duas funções já haviam sido distribuídas, a correpetição no violão e a

observação; e que a observadora já registraria o ensaio com a ficha de observação.

3.4 Primeiro encontro com as crianças

A segunda etapa apresenta o primeiro ensaio com as crianças (27/02), realizado

pelo pesquisador. Este foi o primeiro dia em que experimentamos as atividades

planejadas e conhecemos as crianças. Após esse encontro ainda tivemos mais cinco

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ensaios que fizemos baseados neste primeiro, todos com a intenção de convidar as

crianças para as oficinas regulares durante o semestre. Havíamos combinado que, a partir

do que observássemos neste ensaio, planejaríamos o que viria a seguir. Manteríamos

essa estrutura para buscar sempre aperfeiçoar a condução das atividades. Este primeiro

encontro seria o único em que eu faria a condução completa do ensaio; nos seguintes

aconteceria um rodízio para que cada pessoa pudesse experimentar todas as funções.

A primeira categoria que será apresentada é a atuação do observador, já que foi

o próprio que conduziu as atividades com as crianças. Este ensaio seria o principal tema

a ser debatido no planejamento seguinte, assim, compreendo que é mais interessante e

esclarecedor saber como ele ocorreu.

3.4.1 Mais reflexões do observador

Como eu fiz o primeiro ensaio com as crianças início o debate desta fase (primeiro

encontro com as crianças) com o relato do diário de campo que representa as minhas

impressões e escolhas para este dia.

Iniciei com a roda de apresentação. Quando comecei a falar da oficina de música,

algumas crianças comentaram sobre os instrumentos que tinham em casa,

principalmente ao verem o violão, despertando interesse para com o instrumento. Então,

sugeri que na roda falássemos os nossos nomes e alguma música ou instrumento que

gostávamos. A maioria delas falou que gostava de música, porém não sabia dizer

exatamente o nome de uma. Percebo a complexidade desta resposta, já que

normalmente as crianças pequenas escutam o que é oferecido, assim, não

necessariamente escolhem as músicas que escutarão dificultando a memorização dos

nomes. Também houveram várias respostas sobre possuir os instrumentos em casa,

variando entre violões e guitarras.

Em seguida, expliquei o jogo das placas. Quando as crianças são um pouco mais

velhas normalmente eu não mostro as placas antes, com a intenção de que elas de forma

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autônoma consigam realizar as formas com o grupo. Neste dia decidi mostrar as placas

antes para inicialmente discutir quais seriam as possíveis posições, já que não conhecia o

perfil da turma resolvi facilitar. Observo que neste momento havia algumas estagiárias

na roda e outros estavam de pé observando do lado de fora. Ocorreram também alguns

atrasos, e quem chegou mais tarde não entrou na roda, com exceção de uma criança que

participou assim que chegou na aula.

A professora da sala também estava na roda. Ela auxiliou nas respostas com as

crianças. Ao meu ver, avaliei que era positivo ela se integrar e que eu não interferiria na

participação dela em nenhum momento. Seria melhor observar primeiro como seria e em

seguida, junto aos integrantes do LARCI, discutir durante o próximo planejamento. Ao

mesmo tempo, com a professora da sala auxiliando nesta atividade eu não poderia

observar como as crianças responderiam com autonomia. Após a explicação das placas

começamos o jogo.

As estagiárias que estavam na roda junto com a professora brincaram com as

crianças. Eu não interferi por que realmente não havia pensado isso antes. O jogo foi bem

divertido e me pareceu bem eficaz, já que observei a participação motivada de todas as

crianças. A última forma que eles montaram sugeria que o grupo formasse duas filas.

Quando ela foi construída pelo grupo expliquei que aquela posição seria chamada de FILA

CORAL e normalmente os corais cantavam nesta posição. Sugeri que as estagiárias que

quisessem participar fossem para as filas de trás, para não se posicionar na frente das

crianças (parecia óbvio, mas precisou ser dito).

Neste momento havia esquecido que haveria o jogo das estátuas e fui direto para o

jogo do contrário. Iniciei a atividade para facilitar a compreensão com o morto-vivo ao

contrário, isto é, quando eu dissesse vivo, as crianças teriam que fazer o morto. Após essa

primeira proposta comecei a parte cantada. De forma gradativa as crianças conseguiram

responder às sequências que eu criei. Neste momento observei também o potencial de

afinação do grupo de forma bem positiva. Não houve dificuldades em cantar a 3º menor

proposta neste jogo, mesmo com as alterações da tonalidade, já que cada vez que eu

cantava subia de tom, e elas conseguiram acompanhar.

Lembrei do jogo das estátuas e expliquei que ele iria acontecer. Comecei direto

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com o tema MAR (já estávamos na segunda metade do ensaio e fiquei preocupado que

não daria tempo de aprender o repertório). Observei que as estátuas eram bem variadas e

interessantes, resultado provável de atividades corporais deste tipo em contextos

anteriores ao ensaio. Este jogo durou quatro rodas e o tema sempre foi o MAR, porém,

solicitei que as crianças não fizessem sempre a mesma estátua. Ao fim mostrei a placa da

fila coral e elas montaram sozinhas a formação. Destaco que a primeira experiência das

crianças com o auxílio dos adultos nesta atividade resultou de forma positiva, já que neste

segundo momento elas conseguiram realizar a atividade com autonomia.

Todas já nas filas, comentei sobre o Rio Catolé, que ficava localizado na Bahia.

Algumas crianças comentaram que conheciam o Estado ou que já haviam estado em

algum outro rio. Em seguida, cantei a canção inteira para as crianças. O meu objetivo era

proporcionar um momento de apreciação do repertório antes do seu aprendizado.

Saliento a importância das referências e quanto elas auxiliam no aprendizado musical.

Decidi começar pela segunda metade da música, já que ela era mais curta. Cantei uma

oitava abaixo daquela que seria executada pelas crianças. Na minha tessitura vocal este

registro seria o mais possível de ser executado tecnicamente aplicado e de forma musical,

já que sou tenor, resultando na melhor qualidade na minha performance e

consequentemente na referência musical apresentada.

Em seguida, perguntei ao grupo se alguém lembrava o nome do Rio da música e

muitas responderam CATOLÉ. Comecei então por esta frase, onde eu cantava e parava

exatamente onde estaria a palavra Catolé para que eles completassem a frase. Elas

responderam cantando, assim, decidi que por imitação eu ensinaria este final inteiro.

Neste momento as estagiárias cantaram junto com as crianças. Foi bem positivo pois

auxiliou na formação do som, além de desinibir o grupo. Entendo que para a criança,

como todas as pessoas da sala estavam cantando, isto proporcionaria uma motivação

para ela cantar também, incentivada pelo grupo.

Necessitamos algumas repetições para decorar a frase e, mesmo assim, senti que

nem todas as crianças estavam cantando. Para não haver tanta repetição, podendo

desgastar a atividade para a criança, sugeri que realizássemos repetições com vozes

variadas. Isto é, cantamos com os dentes serrados, com a boca aberta, em uma tessitura

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bem mais aguda e outra bem mais grave. O meu objetivo era que elas memorizassem a

letra e também a melodia. Estas atividades também proporcionaram que as crianças

explorassem os timbres possíveis da voz. Depois de quatro variações, contudo, começou a

dispersão do grupo.

Para motivá-las sem que houvesse uma repreensão da minha parte decidi

incorporar o jogo das estátuas na passagem do repertório. Enquanto a música tocava

todas as crianças ficavam andando pela sala. Assim que eu desse um sinal, todos

congelavam na posição de algum animal do mar e cantaríamos o refrão.

Depois de algumas rodadas novamente pedi que as crianças se organizassem

novamente em fila coral e pedi para que o grupo cantasse com a voz normal e sem o

auxílio de nenhum dos/as integrantes do LARCI. Avaliei o resultado positivo pois o trecho

havia sido memorizado. Não houve a necessidade de correção da afinação pois percebi

que o resultado sonoro do grupo estava positivo em execução da melodia. O timbre

estava muito metálico, mas para o primeiro ensaio me dei por satisfeito.

Solicitei que ficássemos em roda e ensinei uma música de despedida que possui

uma movimentação dos dedos da mão. Esta movimentação deixou o grupo curioso e foi

possível repetir a canção algumas vezes com a participação atenta das crianças.

No fim uma das crianças pediu para cantar uma música. Esta mesma criança

durante o ensaio em diversos momentos vinha me perguntar algo ou interrompia. A

professora da sala auxiliou positivamente também quando alguma criança interrompia a

fala de outra. Acredito que este já deve ser um combinado do grupo fora dos nossos

ensaios. Por fim, a criança cantou o refrão da música Nossa Senhora do compositor

Roberto Carlos. Ela cantou com voz de peito e de forma bem afinada e também comentou

que foi sua vó que havia ensinado a canção. Todas as pessoas bateram palmas. Ela

provavelmente queria cantar a música desde o início, caso eu tivesse proporcionado isto

antes havia a possibilidade de que durante o ensaio ela não tivesse interrompido as outras

crianças durante as demais atividades.

Pela minha experiência, entendo que este é um cenário comum na prática coral.

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Como os grupos são normalmente grandes e existe grande preocupação com o

aprendizado do repertório, isso dificulta que hajam momentos em que as crianças

possam se colocar, expressar suas ideias e vontades. Porém, valorizando estes

momentos, destaco que para a criança que cantou durante a roda final, este momento

pode ter sido para ela o mais significativo de todo ensaio; e, por fim, ela cantou, uma das

finalidades da prática coral. Além disso pude perceber seu potencial vocal. Por fim, me

despedi e iniciamos a reunião de planejamento.

3.4.2 Debate das atividades

Após o ensaio iniciei a reunião de planejamento relatando para o grupo as minhas

impressões sobre o ensaio.

De maneira geral achei o grupo motivado e as atividades foram interessantes.

Reexpliquei que as crianças teriam faixas etárias variadas e que, por um lado, seria

positivo, pois teríamos experiências com diferentes perfis de cantores. Porém, teríamos

que sempre nos adaptarmos de acordo com os centros de interesse do grupo.

Desta forma, quando as crianças escolhessem as atividades que fôssemos

conduzir, seria necessário levar em conta como grupos variados de crianças podem

responder as mesmas atividades de formas variadas. Deveríamos tentar levantar

hipóteses das possíveis ocorrências do ensaio ao invés de imaginar um contexto onde

tudo que foi planejado ocorresse como esperado.

Exemplifiquei que as crianças do primeiro grupo eram as mais novas que teríamos

e, dessa forma, isto significa termos tido a experiência da oficina com um determinado

perfil: com outra classe poderia ser completamente diferente durante a participação das

propostas. Minha experiência pessoal indica que crianças mais velhas poderiam assimilar

os conteúdos apresentados com mais velocidade. Independentemente da faixa etária,

contudo, alertei ao grupo de estagiárias/os que avaliassem constantemente o modo e a

velocidade como as crianças iam se desenvolvendo durante o ensaio. Quando fosse

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percebido que elas não estavam conseguindo executar algo, que fosse reexplicado de

forma mais simples, não avançando no nível de dificuldade do desafio.

Em seguida retomamos o planejamento do que seria feito no próximo ensaio.

Expliquei ao grupo que o desafio inicial se dá durante o processo de estimular as crianças

a vocalizarem, isto é, existe a possibilidade de que seja proposto a elas que cantem algo

e que poucas crianças de fato cantem. Algumas podem não querer cantar ou se sentirem

constrangidas. Quando as crianças já estão habituadas a cantar em outras situações

domésticas tendem a participar com mais facilidade deste tipo de atividade,

diferentemente daquelas que não cantam, podendo estas últimas terem mais resistência

para começar. Quem conduz o ensaio pode continuar pedindo a elas que cantem

incansavelmente, porém, essa insistência pode criar um ambiente estressante tanto para

as crianças quanto para o próprio regente.

Ressaltei o desafio de organizar o aprendizado do repertório ao longo do semestre

com 50 minutos de ensaio. Toda a rotina do ensaio costuma ir mudando na medida em

que as crianças sabem mais músicas do repertório. No começo do semestre teríamos

mais tempo para realizar atividades que não tivessem necessariamente ligadas à

passagem do repertório e, no fim do semestre, ficaríamos mais voltados para os ensaios

da mostra. O começo é a chave do sucesso! Este período é que precisa ser focado no

ensino do repertório, pois no final, dependendo da quantidade de músicas, só haveria

tempo para a passagem das músicas e não teríamos tanto tempo para ensinar coisas

novas.

Começamos a distribuir as funções do próximo ensaio (que será discutido no

próximo sub tópico deste texto) e, de acordo com o interesse das/os participantes, todas

as atividades foram rapidamente preenchidas.

Após a divisão das funções iniciamos nossas práticas com um exercício de

marcação de tempo e gestual básico de regência. Focamos principalmente na precisão

rítmica dos gestos, limpando possíveis movimentações desnecessárias. A maior

dificuldade estava em marcar o tempo corretamente executando-o com a musculatura

mais relaxada. Em seguida regemos, cantando e marcando as entradas e respirações.

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Destaco que para a/o regente desenvolver o aprendizado musical do coral,

incialmente é necessário dominar os conteúdos musicais necessários para a sua

performance. Este estudo precisa ser minucioso, facilitando o processo de planejamento

e organização das rotinas de ensaio. A formação em regência, ou até mesmo para quem

for trabalhar na disciplina de arte da Educação Básica, quando não estrutura espaços que

oportunizem o desenvolvimento técnico musical por meio de experiências concretas do

fazer musical, reduz e desvaloriza um dos principais elementos dessa prática: o som.

Algumas estagiárias/os estavam com dificuldade de lembrar corretamente do

gestual de regência, não conseguindo demonstrar com clareza os locais da canção onde

deveriam ocorrer as respirações. Exercitamos algumas repetições. Enfatizei ao grupo que

a execução vocal deveria ser bem articulada para valorizar a precisão rítmica, ao invés do

canto legatto. Foram necessárias correções de afinação, além de indicar que seria

necessário tentar fazer com que as crianças emitissem vogais menos metalizadas para

auxiliar na afinação e no equilíbrio dos timbres.

Perguntei quem tinha interesse em reger o grupo.

A primeira estagiaria que se ofereceu para participar foi a regente que estava

incumbida de ensaiar a canção Maré na próxima semana. Ao iniciar a simulação do

discurso de recepção das crianças a estagiária espontaneamente não conseguiu explicar o

que seria a aula:

Estagiária que propôs a atividade: Bom dia crianças, nós estamos aqui para fazer uma

aula e… me perdi.

Ressaltei neste momento que precisamos praticar os procedimentos além de

organizá-los apenas mentalmente, dando o seguinte exemplo: caso for necessário contar

uma história para as crianças, faz-se necessário treinar as entonações e a própria

narrativa para que no momento do ensaio não ocorram erros e tudo possa ser explicado

da forma mais clara possível. Além do que, ao exercitarem oralmente a comunicação

previamente, também é possível avaliar se a proposta está compreensível, já que é

possível se escutar. Realizar este processo mentalmente pode não suprir todo o estudo da

prática, mesmo porque a música na prática é sonora, sendo assim, faz parte a escuta para

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a sua total compreensão.

A segunda estagiária também exercitou a explicação do jogo das placas.

Inicialmente ela começou o seu discurso da seguinte maneira:

Estagiária que propôs a atividade: nós vamos fazer um jogo de estátuas e vocês

precisam montar um cenário de uma lagoa.

Sugeri a ela que seria interessante explicar todas as regras do jogo antes de

iniciá-lo, pois seria possível que, caso ela começasse falando que as crianças precisariam

montar um cenário de lagoa, as crianças já se levantassem e começassem a atividade

antes mesmo de escutar o restante da explicação. Desta forma, poderia ocorrer a

dispersão da atenção das crianças.

A próxima simulação foi o exercício do contrário com a preparadora vocal. Ao

iniciar cantando o primeiro intervalo ela começou cantando numa tonalidade muito

grave. Retomei a necessidade de começarmos em uma tessitura mediana para o alcance

das crianças, que nesta atividade poderia ser a partir do sol 3. A ideia era ir subindo a

tonalidade aos poucos, mas caso iniciasse numa região muito grave iria demorar muito

tempo para as crianças precisarem acessar o registro de cabeça.

Estagiária que propôs a atividade: vocês acham que esta atividade não seria

desinteressante para as crianças mais velhas?

Rafael: para tornar mais desafiador, seria necessário realizar sequencias de intervalos

mais longos e progressivamente mais difíceis.

Decidimos então pelas seguintes possibilidades: João – Maria, dentro – fora,

branco – preto, pão – queijo. Também foi sugerido que, se houvesse tempo, a atividade

de seguir a regência com uma vogal poderia ser proposta. Destaquei que fosse utilizada a

vogal U, já que ela também facilita o acesso da criança ao registo da voz de cabeça.

No momento do treino da regente, comecei solicitando que ela cantasse e regesse

a música sozinha. Ela executou bem, porém, vocalmente ocorreu uma pequena

dificuldade. A estagiária estava com dificuldade de cantar a parte mais grave da canção,

pois ao executá-la, sua voz saía soprosa. Primeiro perguntei se ela percebia o que

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acontecia neste trecho. Caso ela não tivesse notado inicialmente seria importante

identificar que estava com um problema técnico vocal; mas como ela percebeu, sugeri

que executasse a música inteira com a vogal I. Esse exercício auxiliou que ela mantivesse

sua voz no foco, não ocorrendo a saída de ar.

Ressaltei que seria importante que, na primeira vez que a canção fosse cantada

para as crianças, deveria ser executada musicalmente de forma correta e musical. Já os

regentes masculinos que alcançassem as notas na tessitura da canção poderiam cantar a

primeira vez uma oitava abaixo, para mostrarem para as crianças a melhor referência

vocal possível.

O Laboratório propõe a possibilidade do exercício prático do planejamento das

atividades. Quando é mantido o estudo do planejamento apenas no seu sentido teórico

não há espaço para os conteúdos procedimentais, que envolvem diretamente a ação.

Mesmo que fale sobre como fazer algo, o ato de executar exige outras habilidades que

somente são desenvolvidas em exercícios práticos.

Após algumas correções nos procedimentos, perguntei ao grupo, por qual parte

começaríamos ensinando a música. Sugeri que fosse por aquela que achássemos mais

fácil.

Estagiária E: eu acho que o refrão é mais curto, então podemos começar por aí.

Não ocorreram objeções. Assim decidimos que iríamos priorizar o ensino da

segunda parte da música para buscar uniformizar o que os grupos saberiam. Solicitei que

ela praticasse em casa na frente de um espelho e com um gravador para que pudesse

avaliar sua performance e aprimorar sua precisão rítmica e melódica, além de tirar os

portamentos do seu canto.

Destaquei que, no caso do violão como instrumento correpetidor, o

acompanhamento muito dedilhado poderia dificultar a assimilação das crianças do

andamento da música. Assim iniciaríamos com um acompanhamento mais preciso e

rítmico, simples e, na medida em que as crianças mantivessem o andamento com

autonomia, poderíamos aperfeiçoar o arranjo da correpetição.

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Começamos em seguida a dividir as funções para o próximo ensaio. Expliquei que,

após a divisão, cada pessoa responsável simularia ali entre nós como proporia a

atividade. Nós não precisaríamos simular cenicamente o comportamento das crianças,

somente levantaríamos hipóteses e possíveis problemas para fomentar o debate e

estimular que a/o regente desenvolvesse estratégias variadas para ensinar o mesmo

conteúdo.

O primeiro cargo foi a produção. Neste momento sua única obrigação seria chegar

mais cedo para poder verificar as salas comigo e montar a câmera. Também, para

organizar o tempo do ensaio, seria responsabilidade da produção informar o tempo de

cada atividade para a/o regente durante o ensaio, para auxiliar na organização da rotina.

Além de ir buscar o violão no depósito. Mantivemos o violão como instrumento

correpetidor para facilitar o transporte.

É interessante observar que os cargos que não têm o contato direto com as

crianças foram mais rapidamente preenchidos. Um dos desafios neste tipo de laboratório

é estimular que as/os estagiárias/os assumam as funções mais práticas da regência. As

inseguranças, devido à superexposição que a situação exige, podem gerar um clima de

tensão e consequentemente diminuir a qualidade das nossas relações com as crianças.

O segundo cargo (regente) seria a pessoa que faria a roda da acolhida e também

quem passaria o repertório, uma estagiária se ofereceu e consequentemente todos os

cargos foram distribuídos: preparador/a vocal, correpetição, educador/a musical e

observador/a.

Estagiária D: o coro vai cantar a duas vozes? Faremos classificação vocal?

Comentei que primeiro buscaríamos um uníssono afinado, já que quanto mais

crianças conseguissem cantar afinadas maior seria nosso sucesso na polifonia

subsequente. Expliquei que provavelmente não seria possível no primeiro semestre, pois

o processo de afinar e timbrar o grupo normalmente demora considerável tempo em

coros iniciantes. Caso fosse possível, no segundo semestre buscaríamos algum repertório

que tivesse ostinatos ou frases musicais com “perguntas e respostas”. E posteriormente

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até talvez algum cânone.

A próxima dúvida foi em relação à classificação vocal. Comentei que o repertório

inicial seria em uma tessitura média de possível realização para crianças mais agudas ou

graves (sopranas ou mezzos-sopranas). Ressaltei que para a classificação vocal correta

seria necessário também treinamento vocal anterior, para que pudesse ser realizada uma

avaliação mais adequada, já que as crianças conseguiriam vocalizar com mais facilidade

após um tempo de experiência vocal.

Por fim, a estagiária que se ofereceu para ensinar a canção final cantou uma vez

para recordar e ensinar a letra para todo o restando do grupo. (Ela já conhecia a música).

No dia deste planejamento, conduzindo as atividades e visualizando o vídeo

posteriormente, percebi que o grupo não falava muito. Evidente que pode ser porque eu

mesmo falo muito, ou certamente por conta de ser um primeiro contato com esse tipo

de discussão coletiva, algo não muito comum nas aulas dos cursos de música; mas

também compreendi que as pessoas que tinham mais experiência vocal, isto é, as

cantoras do grupo, se colocaram mais durante os debates. Entendo que elas têm mais

experiência prévia para avaliar o resultado sonoro técnico produzido pelas crianças e,

como sabem cantar, já compreendem quais são os assuntos que são abordados

basicamente no ensino de canto. Avaliei que buscaria no próximo planejamento não falar

tanto e motivar mais intensamente as falas das/os integrantes.

3.4.3 Estrutura do ensaio (panorama geral)

A primeira questão estrutural discutida no planejamento após o ensaio foi sobre

o que todos faríamos quando não estivéssemos em ação nas atividades. Alguns

participantes manifestaram que pessoas paradas no fundo da sala poderiam ficar

“estranhas” e, se todas participassem, talvez as crianças também ficassem mais

motivadas.

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Para fomentar o debate comentei que, caso houvesse sempre adultos

participando, não saberíamos como as crianças cantariam sozinhas.

Como não ocorreram mais falas, sugeri que se alguém ficasse inibido ou não

quisesse, não seria necessário participar, respeitando os seguintes procedimentos:

• Quando participasse, não auxiliasse diretamente as crianças, somente quando

fosse solicitado por aquela pessoa que tivesse na frente da proposta;

• Na passagem do repertório todo o grupo poderia cantar junto. As vozes dos

adultos poderiam auxiliar como referência para as crianças, porém, seria

necessário que em alguns momentos houvesse somente as crianças cantando e

quem determinaria estes momentos seria a/o regente;

• Eu me comprometi com o grupo que não interferiria diretamente com as crianças e

nem interromperia as atividades. (Para mim seria um processo de desapego).

Porém, alertei que quem tivesse conduzindo as propostas se mantivesse em

constante observação atenta das crianças e, caso percebesse que algo não estava

indo bem, pedisse auxílio ou sugestão de outra pessoa do grupo: “Não espere o

barco afundar para ir buscar seu colete salva vidas”;

• Seria importante também que a atuação dos adultos não se sobressaísse em

relação às crianças;

• Caso houvesse o interesse em participar, seria necessário também realizar todas

as atividades para que as crianças também tivessem essa referência, não podendo

abandonar a atividade no meio.

Eu considerei também que a sala de ensaio que estamos realizando as atividades

não tem espaço suficiente para que todas as pessoas, simultaneamente, realizem as

propostas. Como um dos objetivos era observar as crianças, daríamos prioridade a elas.

Estagiária C: Rafael, eu vi a professora ajudando e participando, ela também interferiu

com as crianças. Como vamos fazer?

Perguntei se alguém se sentiria incomodado caso a professora quisesse ou não

participar. Ninguém se manifestou. Então, sugeri que não interferíssemos na atuação da

professora. Quando ela quisesse participar ou interviesse nos ensaios, respeitaríamos as

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ações e decisões dela.

Para o LARCI os fatos de as professoras gostarem do projeto e se sentirem

confortáveis em participar dele é bem relevante, já que elas são as pessoas que passam

mais tempo com as crianças e possuem muitas oportunidades para motivá-las em

participar do coral. Inclusive lembrando os dias em que aconteceriam as oficinas.

Continuarmos a discussão:

Solicitei que a observadora A realizasse a leitura de sua ficha. A principal

observação que ela fez, e que despertou a fala dos demais presentes, foi a questão de não

ter tido tempo de realizar todas as atividades planejadas.

O grupo discutiu que o momento da acolhida demorou mais do que havíamos

imaginado, porém, uma das participantes relatou:

Estagiária A: senti, durante a roda, que o grupo precisava ter um espaço para se

apresentar. As crianças queriam falar coisas sobre elas.

Estagiária B: eu acho que seria estranho as crianças entrarem e já fossemos

começando as propostas.

Rafael: a roda é um espaço imprevisível durante as aulas e que já havia entrado em

conversas imensas. Eu já entrei em fendas no tempo durante conversas em roda!

Obter espaços no ensaio em que as crianças possam falar sobre elas, sobre o que

gostam de fazer, além de proporcionar que a/o regente obtenha mais informações sobre

o contexto sócio-cultural do grupo, também favorece que sejam criados laços afetivos

entre todos os participantes. Além do interesse no aprendizado musical e na prática coral

em si, as crianças, ao criar vínculos entre elas e com a/o regente, adquirem mais razões

para se manterem motivadas em continuar no coral.

Acordamos que manteríamos a roda, porém, seria necessário ficarmos atentos

para que não desviássemos muito do assunto proposto.

O espaço do LARCI, ao ter um grupo real de crianças, mesmo que não

soubéssemos exatamente como o grupo seria, possibilita que as/os estagiárias/os

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tenham pelo menos uma referência para contribuir com o debate, auxiliando aqueles

que não possuem experiências com coral infantil anteriormente.

3.5 Oficinas experimentais

As oficinas experimentais são os cinco encontros seguintes ao primeiro ensaio

com as crianças (06/03 até 03/04). Neste momento as/os estagiárias começam a

alternância da condução das atividades. Porém, os grupos foram levados pelas

professoras como forma de divulgar a oficina, isto para que, posteriormente, as crianças

estivessem motivadas e com interesse suficiente para participar do LARCI com

autonomia.

Nos planejamentos, através do que era observado nos ensaios, busquei

apresentar quais eram as dificuldades que na minha perspectiva dificultaram a condução

das atividades e debater orientações de como a/o regente poderia se preparar melhor

para que, da próxima vez, estivesse mais habilitada/o e soubesse direcionar o seu estudo.

3.5.1 Debate das atividades

Este subcapítulo apresenta os debates e atividades que ocorreram durante os

planejamentos das oficinas experimentais. A organização dos assuntos que aconteceriam

nestes planejamentos seriam fruto das ocorrências dos ensaios para que fosse a mais

contextualizada possível e viesse contribuir para a melhora da performance das/os

estagiárias/os, observando a atuação de todos a alternando nas funções. Estes debates

estão organizados por categorias temáticas que resumem os principais temas abordados:

sonoridade; estudo prévio para o ensaio; dificuldades musicais e procedimentos;

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planejamento dos ensaios abertos.

3.5.1.1 Sonoridade

O primeiro debate desta fase foi relacionado à sonoridade vocal. Já que a nossa

intenção era desenvolver um coral, teríamos que escolher antecipadamente qual a

sonoridade almejada. Assim as propostas teriam que buscar este objetivo. Resolvi iniciar

por este ponto para também debater a importância de a/o regente desenvolver sua

percepção, tendo mais condições de avaliar como o grupo melhorará sua performance.

Além disso, seria importante exemplificar elementos que precisariam ser analisados para

avaliar a resposta das crianças durante a atividade.

Comecei o debate no planejamento, após o primeiro ensaio que as/os

estagiárias/os realizaram, comentando que para a/o regente poder definir qual será a

sonoridade vocal que seu grupo terá, precisaria conhecer os diversos usos da voz,

buscando compreender qual a técnica vocal que resultará na sonoridade desejada. Além

de organizar tecnicamente como seu coro canta também é preciso desenvolver a

percepção vocal para identificar como seu coro está cantando e articular os melhores

caminhos para desenvolver o potencial vocal do seu grupo.

Saber cantar certamente ajuda muito na regência coral, já que pelo menos, de

acordo com a formação universitária, um processo de aprendizado de canto foi

vivenciado pela/o regente. Mesmo que a/o regente não conheça diversas técnicas de

ensino de canto concretamente, ao menos uma ela ou ele certamente vivenciou na sua

formação anterior. Além de conseguir compreender corporalmente quais são os

procedimentos vocais para adquirir determinada sonoridade. No entanto, observo que

saber cantar também não descarta o estudo da pedagogia vocal, já que esses saberes

precisam ser transmitidos para perfis variados de aprendizes, principalmente dentro de

coros infantis e amadores.

Destaco que eu já fui regido por regentes que não cantavam, porém, na minha

perspectiva, conseguiam transmitir com clareza quais eram os procedimentos para

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realização de um determinado modo de cantar. Penso que para este tipo de habilidade

faz-se necessária uma trajetória longa de ensaios em grupos variados, presenciando

diversas pessoas diferentes aprendendo a cantar, adquirindo um vasto repertório de

propostas e concepções de atividades que melhorem a qualidade do canto.

Expliquei a importância da uniformidade sonora das vogais, proporcionando a

melhora na afinação e equilíbrio entre os timbres das vozes das crianças. O exercício

consistia em cantar as vogais alterando as formas da boca: uma vez com a boca bem

aberta, outra vez com a boca mais verticalizada. Dividi o grupo de estagiárias/os pela

metade e, enquanto uns cantavam, outros observavam. A ideia era trabalhar tanto o

aprendizado individual da técnica vocal quanto a percepção vocal. Por fim, o grupo

comentou a necessidade de escutar muitos corais infantis variados para poder ampliar as

suas referências.

No primeiro dia de planejamento, resumidamente, destacamos que os

procedimentos naquele momento para a correção da técnica vocal envolveriam as

seguintes etapas:

• Escutar atentamente e ver a corporalidade da criança: formato de lábios,

tensões na face ou ombros, equilíbrio postural;

• Após a observação atenta, buscar imaginar o que as crianças estão

fazendo que resulte nesta sonoridade;

• Buscar as indicações corretas e diretivas para que as crianças assimilem as

informações;

• Corrigir um aspecto sonoro por vez para que o processo seja gradativo,

sendo que caso as crianças não tenham conseguido realizar algo, não

continuar avançando na complexidade do desafio proposto;

• Evitar ao máximo que as crianças cantem algo musicalmente errado ou de

forma inadequada para que elas não viciem nos erros.

3.5.1.2 Estudo prévio e preparo individual para o ensaio

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Os ensaios durante as oficinas experimentais apresentaram questões similares ao

longo dessas cinco semanas. Durante esta fase dedicamos grande parte dos nossos

debates e práticas à importância de a/o regente se preparar para os ensaios. Além de

planejar é necessário treinar as habilidades para executar o planejamento, tais como

saber cantar bem a música e dominar as regras dos jogos, requisitando para isso um

grande preparo individual prévio. Não descarto a possibilidade de, durante os encontros,

as flexibilizações no planejamento sejam necessárias para dar continuidade a uma

determinada atividade que parece estar funcionando bem, mas não é a mesma coisa que

não compreender os objetivos do que se é proposto.

Como exemplo de situação ocorrente no ensaio que gerou este tema, na primeira

atividade realizada pelas/os estagiárias/os nas oficinas experimentais, a responsável pelo

jogo cooperativo de acolhida e a regente que realizaria a passagem da primeira canção

do repertório não estavam seguras em relação aos procedimentos que deveriam buscar

seguir na condução das atividades planejadas:

(Transcrição do primeiro ensaio conduzido pelas/os estagiárias/os)

Estagiária que propôs a atividade: pessoal, vocês são da mesma sala certo? Então agora a gente vai jogar um jogo que é no coletivo. Eu vou mostrar uma placa e vocês vão fazer todos juntos o que estiver na placa.

Criança: como assim?

Estagiária que propôs a atividade: vamos testar?

Eu não estava entendendo se ela estava mudando os procedimentos do jogo (você

explica uma placa e em seguida inicia o jogo e observa como as crianças respondem às

demais) ou se ela tinha esquecido como se joga. Ao começar mostrando todas as placas

e falando para as crianças como elas deveriam se organizar não dando tempo para que

jogassem com autonomia. Após ela mostrar a placa fila coral percebi que ela já havia

terminado a atividade, isto é, ela não lembrava mesmo de como era jogo.

Neste momento levantei e recordei discretamente para ela que havia a parte do

jogo em que as crianças caminhavam pelo espaço e, quando a música parasse, elas

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deveriam formar os desenhos das placas sozinhas. Destaco que a possibilidade de

interferência imediata no laboratório favorece que alguns problemas sejam contornados

imediatamente.

Em seguida, após a instrução, ela iniciou o jogo como havia sido combinado.

Porém, no primeiro caminhar ela já sugeriu que as crianças utilizassem a imaginação e

caminhassem pelo espaço como se estivessem andando na lua. Em seguida, mesmo antes

de parar a música e mostrar uma das placas, ela pediu que as crianças andassem como

se estivessem jogando futebol.

Observei que ela estava misturando o jogo das estátuas com o das placas. Após

alguns minutos ela mostrou uma das placas. As crianças formaram a forma: ela então se

lembrou parcialmente como era.

A regente iniciou cantando a música para as crianças conhecerem. Ela demonstrou

dificuldade na respiração, mas executou bem a canção. Porém, quando começou a passar

para as crianças, claramente teve dificuldade em manter o andamento.

As repetições foram variando de andamento durante a música deixando-a cada

vez mais lenta. Ela também teve dificuldades em marcar qual seria o andamento para a

correpetidora acompanhar, dificultando a parte instrumental. Como as crianças estavam

cantando e a ideia era conhecer a música decidi não interferir, porém as/os estagiárias/os

começaram a cantar para ajudá-la a manter a pulsação.

Ela focou mais no refrão para que as crianças decorassem a letra. Também foi

solicitado que cantassem de formas diferentes: boca fechada e boca muito aberta. Esta

proposta auxiliou que elas cantassem em seguida sem utilizar a letra, isto é, de memória.

O timbre das crianças estava metálico, porém as afinações, em sua maioria, se

mostraram satisfatórias. Como eles decoraram rapidamente ocorreu que a regente não

sabia mais o que fazer com o grupo, pois, no momento, parece que não imaginou que

poderia focar na música inteira, ao invés de somente o refrão. Provavelmente ela se

inspirou no ensaio anterior, no qual não ouve tempo para ensinar a música inteira, e não

imaginou que neste novo contexto poderia avançar.

Quando eu percebi que ela não sabia mais o que fazer assumi o restante da

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passagem do repertório. Organizei com as crianças que elas construíssem corporalmente

estatuas que remetessem a atividades realizadas na praia, como nadar e tomar sol.

Organizamos os espaços e elas repetiram o refrão mais 3 vezes associando o

movimento corporal. Sugeri para as crianças que não imaginassem que o mar e essa

canção fossem muito fortes, que era necessário cantar de forma mais suave. A ideia era

reduzir o timbre metálico diminuindo a pressão do ar para acessar com mais facilidade o

registro da voz de cabeça. O resultado foi positivo, porém realmente diminui a projeção

sonora. Observei que as crianças são bem familiarizadas com propostas corporais, tendo

bastante repertório de movimentação com criatividade.

Por fim, solicitei que formássemos a roda para cantar a canção de despedida. A

última estagiária assumiu a função de ensinar a canção. Ela conseguiu demonstrar bem

a canção para as crianças, mas foi possível observar que estava nervosa, já que sua voz

saia tremula e não conseguiu controlar bem a respiração. Porém, as crianças receberam

bem a proposta, principalmente na movimentação dos dedos. Neste momento a voz das

crianças já estava com um timbre mais aveludado e suave, provavelmente devido à

correção realizada na proposta anterior.

[...]

Houve outras ocorrências similares em que eu tive que auxiliar as/os

estagiárias/os. A princípio, como todas as pessoas participantes fariam um rodízio na

condução nas atividades, só seria possível a cada pessoa exercer a condução do ensaio

uma única vez. Assim não foi possível avaliar neste momento a evolução das/os

estagiárias/os individualmente.

A dificuldade musical foi bastante recorrente e constantemente discutida nos

planejamentos. É importante perceber que nesse formato de laboratório existe a

possibilidade de acontecer algum tipo de auxílio de uma pessoa mais experiente que

mostra exemplos de alternativas naquele contexto a serem imediatamente

experimentadas para que a/o estagiária/o tenha uma experiência real com os problemas

que ocorrem nas práticas corais. No planejamento após o primeiro ensaio, a observadora

relatou:

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(Transcrição do Planejamento após o primeiro ensaio realizado pelas/os estagiárias/os)

Observadora: O jogo do contrário eu não sei o que aconteceu. Da primeira vez eles

cantaram. A segunda vez, ela cantou (a estagiária que propôs a atividade), e eles

falaram.

Estagiária que propôs a atividade: eu comecei e senti que estava muito grave, depois

eu subi e eles não me acompanharam.

Rafael K: pode ser o salto que você deu. Foi muito grande o intervalo (uma quinta), caso

fosse mais gradativo, poderia ser que funcionasse, estruturando melhor a dificuldade

da atividade.

Estagiário A: a impressão que eu tive é que eles estavam na voz fala e a estagiária

proponente sacou isso e subiu a tonalidade. Ela poderia neste caso dizer para eles que

existem duas vozes, a falada, e a outra voz, a cantada e pedisse novamente que elas

cantassem.

Interessante destacar que comparado ao planejamento anterior, certamente pelo

fato das/os estagiárias/os estarem à frente das atividades, foi maior a quantidade de falas

durante os planejamentos seguintes. Percebi, a partir deste momento, que a participação

foi mais motivada e menos passiva. Como existem mais pessoas observando e temos um

momento de discussão logo após o ensaio, diversos olhares podem contribuir para a

melhoria das propostas, favorecendo a formação de todos os integrantes, inclusive a

minha.

Ao longo dos encontros com as crianças, na medida em que todas as pessoas

participantes fossem passando por essas vivências, possivelmente contribuiriam com

mais opiniões e sugestões durante os debates. Tendo tido a experiência direta com as

crianças elas podem, com mais propriedade, refletir sobre suas experiências e sobre

aquelas observadas nas outras regências, ampliando as perspectivas em relação aos

procedimentos da/o regente durante os ensaios.

O procedimento de investigação costuma fornecer maiores informações para a

escolha de quais as ações serão tomadas. Após a investigação, buscando possíveis razões

sociais, cognitivas ou pedagógicas, busca-se desenvolver a melhor estratégia pedagógica

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para alcançar o objetivo estipulado. Ressalto também que o resultado sonoro do coral é

decorrente das vozes simultâneas, portanto, quanto mais treinadas individualmente,

melhor será o resultado sonoro total. Mesmo assim algumas dificuldades podem ser

diluídas dentro do grupo, onde uma pessoa auxilia a outra.

No segundo ensaio realizado pelas/os estagiárias/os, corroborando com a ideia

da importância de vivenciar as experiências para ter mais ferramentas para avaliá-las, a

observadora comentou:

(Transcrição do planejamento após o segundo ensaio realizado pelas/os estagiárias/os)

Observadora: eu achei que a passagem do repertório também foi muito afobada: de

repente já estava a música inteira com mil coisas e as crianças não estavam cantando.

Poderia ter voltado um pouco só para elas cantarem.

Estagiária F: você poderia ter focado no Maré (refrão) mesmo. Você já viu que nas

placas elas já não conseguiam fazer, tiveram mais dificuldade do que a outra turma.

Seria mais melhor começar pela parte mais fácil.

Quem fez este último comentário foi a primeira estagiária que regeu no ensaio

anterior e neste dia estava como observadora, isto é, a única do grupo (exceto eu) que já

tinha passado pela experiência de ensinar esta música, mesmo que não para o mesmo

grupo, porém para um grupo com um perfil similar.

Discutimos nos planejamentos deste período a necessidade de praticar a

simulação dos ensaios para que haja maior segurança na condução dos mesmos. Isto é,

mesmo que a/o estagiária/o acredite que sabia o que solicitará às crianças, à frente do

grupo às vezes se demonstra confuso. A consequência avaliada nesta falta de preparo

anterior da/o regente é a dificuldade da percepção do que o grupo está realizando para

consequentemente realizar a próximas instruções com mais eficiência, à luz dos objetivos

de cada proposta.

3.5.1.3 Dificuldades musicais e procedimentos

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Para exemplificar situações de dificuldade musical, no segundo ensaio, uma

estagiária levou um pandeiro e perguntou se poderia tocá-lo no ensaio com as crianças.

Eu disse que sim e que poderia ajudar:

Quando ela começou a tocar, não conseguiu entrar no mesmo andamento do

violonista, eu tentei indicar o andamento para que eles tocassem juntos, mas não foi

possível. Fiquei com um dilema:

• Musicalmente o acompanhamento musical não estava ajudando no jogo.

O ideal era que a música estivesse corretamente executada para auxiliar

as crianças na assimilação do ritmo;

• O jogo poderia acontecer mesmo com uma música mal tocada, já que a

proponente continuou conduzindo a proposta;

• Para a estagiária que levou o pandeiro tocar melhor, precisaria praticar

muito e este poderia ser um momento para isso.

Decidi naquele momento que ela prosseguisse. Imaginei que ela melhoraria ao

longo das experiências que adquiriria. Mesmo com a dificuldade musical do

acompanhamento, a regente conseguiu manter a atividade.

Durante os planejamentos que se seguiram começaram a surgir mais falas a

respeito das dificuldades musicais:

(Transcrição do planejamento após o segundo ensaio realizado pelas/os estagiárias/os)

Estagiária B eu acho que além da ansiedade tem que tomar cuidado para não cantar

desafinado porque as crianças aprendem super-rápido.

Uma das questões interessantes e relevantes deste tipo de formação laboratorial

é que quando a/o estagiaria/o esquece algo ou fica perdida/o durante a atividade pode

ser possível a ajuda e correção imediata pelos outros participantes, mesmo após ser

percebido e alterada a proposta. Nesse ambiente também podem ser verificados

imediatamente os resultados das mudanças ou esquecimentos de determinados

procedimentos para ajudar as crianças nos processos de aprendizado.

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Em outro caso similar, no terceiro ensaio, o regente fez a contagem regendo para

a violonista e, ao entrar cantando, começou errando o desenho melódico da primeira

frase da música. Imediatamente eu cantei a frase para que ele conseguisse perceber o

engano. Ao começar a cantar mais uma vez fiz um sinal para que todas as estagiárias e

estagiários cantassem juntos com o regente para ajudar.

Ao fim da canção ele começou pedindo que as crianças repetissem a letra, após

ele realizar a primeira leitura da primeira metade da canção uma frase de cada vez. Em

seguida já pediu que elas cantassem e, neste momento, todos os adultos cantaram juntos

novamente.

Percebendo que as crianças não estavam cantando parou a canção e mostrou a

primeira frase da canção, porém cantando em falsete (na oitava das crianças). Acredito

que ele queria estimular o uso da voz de cabeça nas crianças, mas cantou a frase

desafinada e, ao solicitar que as crianças cantassem, não surtiu efeito; as crianças não

cantaram. Depois, ele sugeriu que as crianças cantassem fazendo uma coreografia, onde

cada frase musical fosse executada com um gestual com os braços. E passou a música

inteira uma única vez.

Ao pedir para que cantassem e dançassem sozinhas elas não cantaram nem a

primeira frase. Ele parou e comentou para elas que estava difícil fazer tudo ao mesmo

tempo e iria fazer junto com elas para ajudá-las. Ao reiniciar, todos na sala precisaram

cantar porque as crianças não cantaram. Não ocorreu a proposta de pedir que elas

cantassem de formas diferentes, atividade que poderia ter estimulado o canto e a

memória.

Em seguida ele pediu que elas ficassem em pé e se dividissem em dois grupos.

Pediu para que elas fizessem alguma movimentação corporal que representasse uma

ação realizável na praia: nadar, tomar sol, pescar, entre outras. Ele pediu então que elas

cantassem se movimentando. Novamente elas não cantaram e ele parou a proposta e

retomou o gestual que havia criado na segunda vez que mostrou a música.

Parecia que ele estava confuso e, por fim, elas não cantaram nenhuma frase

sozinhas. Decidi não interferir pois queria ver até onde a proposta chegaria. Me pareceu

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que não chegou a lugar nenhum. Ocorreram tentativas de tentar estimular as crianças,

falando que não estava escutando ou fazendo o sinal de levar as mãos aos ouvidos.

Porém, em nenhum momento ele parou o que estava fazendo e disse a todos com clareza

e atenção que elas não estavam cantando, ou cantando muito baixo.

No cenário em que a/o estagiária/o possui as habilidades para estudar com

autonomia, a dificuldade musical pode ser fruto da falta de preparo prévio. Caso estas

habilidades não estejam bem desenvolvidas faz-se necessário buscar treinamento para

supri-las. A dificuldade deste momento é que não tínhamos tempo para que eu

acompanhasse o estudo musical individual de cada estagiária/o.

Destaca-se a fundamental importância do papel da regência de ser uma referência

musical para as crianças. Ao buscar dar exemplos vocais, caso estes sejam executados de

forma incorreta, as crianças cantoras tendem a imitar o modelo apresentado, assimilando

indevidamente a música. Também destaco que caso a/o regente não perceba seus erros

musicais dificilmente terá condições de detectar os mesmos erros nas crianças.

Em relação ao currículo, as práticas musicais da Licenciatura possuem menor

carga horária comparada às disciplinas teóricas. Me refiro às práticas musicais, às

vivências que proporcionam o fazer musical além do estudo da percepção e da rítmica.

Seriam as situações nas quais as/os estudantes teriam acesso à realização musical de

algum tipo de repertório e a prática de formação em grupo.

Para as questões procedimentais, no segundo planejamento das oficinas

experimentais houve algumas dúvidas principais e tentamos esclarecer tudo. Os

principais procedimentos levantados foram:

• Caso as crianças não cantem, propor que utilizem vozes diferentes, porém

ao invés de pedir, desafie o grupo, como no exemplo:

SOLICITAR: cantem agora somente a vogal U.

DESAFIAR: quem consegue cantar somente com aa vogal U?

Por meio do desafio, as crianças entram no contexto lúdico do jogo e ficam

mais motivadas para executarem as propostas;

Quando as crianças cantarem a linha melódica com uma única vogal,

faz-se importante estimular o legatto, almejando um fluxo de ar contínuo,

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sem mudança de registro e sem articulação entre uma nota e outra, com

a melhor afinação e precisão rítmica possível. A ideia é buscar um timbre

uniforme, sem ataques glóticos desnecessários e musicalmente bem

executado;

• Todas as propostas que forem solicitadas às crianças precisam ser

demonstradas com referências para que elas executem com mais

facilidade;

• Ao fazer algum tipo de demonstração vocal, faz-se necessário exagerar no

modelo para deixar bem claro qual mudança sonora seria a desejada;

• Quando for percebido que as crianças não estão realizando algo

corretamente, sempre lembrá-las da forma correta, porém associada a

algum estímulo positivo: “crianças ainda não estou ouvindo todas

cantarem, mas já melhorou da última vez”. Mantendo o grupo animado

com a proposta e acreditando que estão melhorando.

No terceiro ensaio realizado pelas/os estagiárias/os:

O proponente da atividade decidiu começar a explicação do jogo do contrário, pelo

jogo vivo ou morto (as crianças ficam em pé quando é dito “vivo” e abaixadas quando é

dito “morto”). Ele começou com a seguinte sequência: vivo, morto, vivo. A maioria das

crianças realizaram a movimentação ao contrário e ele comentou, alertando para o

gesto. Porém, em seguida, ele já propôs a segunda parte: ele falaria um movimento,

porém faria outro, para confundir as crianças. Realmente, todas se confundiram a

maioria das vezes.

No jogo do contrário cantado as crianças não conseguiram cantar nenhuma

sequência no início. Ele falava muito rápido e estava difícil de memorizar. Mesmo não

tendo resultado positivo das crianças ele continuou acrescentando elementos no jogo,

dificultando mais ainda a proposta.

Vendo que as crianças não estavam conseguindo, pedi para o estagiário que

mostrasse, numerando com os dedos, a quantidade de palavras da sequência auxiliando

as crianças, e falasse mais devagar. Ele começou a fazer a contagem e o resultado foi

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positivo, já que algumas crianças começaram a acertar mais vezes as sequências. Porém,

ele não conseguiu que elas cantassem, tornando o jogo apenas falado. Ele parecia ansioso

atropelando algumas etapas, e quando elas erravam as sequências ele não comentava

que aquela não era a resposta correta.

Devido a esta ocorrência debatemos a importância de estimular primeiro a

fonação de algum trecho da música antes de continuar a passagem da canção. O

importante é motivá-las de formas variadas para que elas comecem a cantar e só depois

realizar as devidas correções. Vale ressaltar que isso deve acontecer quando for

percebido que o grupo não está cantando. Ressaltei a importância de não corrigir as

crianças em tudo de uma vez só para não ficar confuso, a ideia é ir ajustando as ações

para que elas consigam melhorar sua performance por etapas.

Visando uma solução para auxiliar no estudo musical, no planejamento da quarta

oficina experimental, uma das estagiárias/os sugeriu:

(Transcrição do planejamento após o terceiro ensaio realizado pelas/os estagiárias/os)

Estagiária A que propôs a primeira atividade: acho que podemos chegar mais cedo para

podermos passar as partes musicais.

Estagiária F: concordo! E podemos combinar as frases musicais para o jogo das placas,

por que achei que ficou muito tempo tocando. Sugiro duas frases musicais e assim

também já fica combinado com quem estiver tocando violão. Pode ser duas vezes o

refrão também.

Decidimos que a partir do 4º encontro, chegaríamos mais cedo para o ensaio

musical. A partir desta decisão tínhamos um momento anterior em que realizávamos os

ensaios musicais. Eu acompanharia e auxiliaria nas questões musicais.

Constantemente neste período retomávamos: para que serviam as propostas e

quais seriam os principais objetivos a serem alcançados. Busquei salientar que quando

observamos que o grupo não consegue realizar determinada ação, ao invés de não

interferir, pode ser mais interessante alterar a atividade para que elas alcancem os

objetivos da proposta. A ideia é fornecer uma referência visual concreta para as crianças

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de como elas ocupam o espaço para estarem de fato bem distribuídas.

A experiência adquirida ao longo do tempo em ensaios é fundamental para que

a/o regente consiga lidar com as situações adversas. Qualquer coisa pode acontecer

durante os encontros, principalmente com crianças. Destaca-se que, especificamente em

grupos novos, leva considerável tempo para compreender os melhores processos de

ensaio para o coral, para que eles estejam de acordo com o contexto em que ele está

inserido. É importante notar que o planejamento é fundamental para que as atividades

sejam organizadas, auxiliando a/o regente durante a sua rotina de ensaio. Porém, esse

planejamento não pode ser encarado como uma bula a ser seguida, faz-se necessário ter

flexibilidade para conseguir avaliar se a atividade proposta está funcionando e, caso

contrário, qual será a alteração necessária e imediata para que a atividade ocorra da

melhor forma possível e almejando os melhores resultados.

Dificilmente poderíamos avaliar o grupo em um encontro só ou compará-lo com

os coros dos encontros anteriores, primeiro por serem crianças diferentes e, segundo,

porque os procedimentos dos ensaios também não foram exatamente cumpridos como

combinado. Sendo assim, ressaltei nos planejamentos a necessidade de cada pessoa se

preparar mais para desenvolver as atividades e ensaiar em casa como se estivessem

falando com as crianças. Quando a/o regente está mais preparada/o e consciente dos

objetivos de cada proposta, pode alterá-la com mais facilidade quando ela não funciona,

pois sabe concretamente quais são suas intenções, mantendo o grupo ativo e

aprendendo. No caso das crianças, quando a/o regente se perde, se desconcentra ou não

consegue conectar uma atividade a outra, isso pode gerar a dispersão da concentração e

foco das crianças, e retomada leva tempo considerável.

Após a terceira semana observei que as atividades estavam bem incorporadas

pelas/os estagiárias/os. A prática tanto na ação durante o ensaio quanto observando as

e os colegas auxiliou a diminuição das dificuldades e os planejamentos, antes ocupado

pelas passagens musicais e relembrando como funcionam as atividades, começaram a

ter mais espaço para discutir quais seriam os próximos objetivos das atividades, já que

havia segurança na execução daquelas que estavam sendo propostas.

A melhora nos estagiárias/os também foi observada por eles. Após apontarmos

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com mais clareza os problemas musicais, as/os estagiárias/os começaram a se autoavaliar

com mais frequência nas reuniões:

(Transcrição do planejamento após o quarto ensaio realizado pelas/os estagiárias/os)

Estagiária que propôs o jogo das placas: eu achei que as crianças ficaram muito

grudados e eu esqueci de falar para as crianças andarem em silêncio para ouvir o

acompanhamento musical. (Neste caso, ainda bem que não estavam muito atentas à

música, por que estava sendo mal executada.) [..] eu tentei caminhar pelo espaço

indicando os buracos para as crianças preencherem, mas foi muita informação ao

mesmo tempo, elas estavam entretidas em resolver as formas de caminhar.

O interessante nesta fala é que a estagiária relatou sua dificuldade e já avaliou

seus procedimentos simultaneamente, observando como as crianças responderam às

atividades. De forma positiva as reuniões podem ter despertado nela o olhar crítico sobre

as propostas e sobre como a escolha dos procedimentos afetam a qualidade dos

resultados. Foi a primeira fala com este perfil durante os planejamentos até aquele

momento. Além de poder ser um bom observador das crianças a/o regente precisa

também se autoavaliar para verificar se o problema não está na forma como conduz ou

se comunica com o seu grupo, dificultando a compreensão de todas as crianças.

Outro aspecto relevante deste momento, e que justifica a existência e

participação no LARCI, relaciona-se à dificuldade das/os estagiárias/os de estimular as

crianças quando a proposta não acontece da forma esperada ou alterá-la quando é

avaliada como ineficiente, isto é: as crianças não estão conseguindo realizar bem o que

o foi proposto e a/o regente não sabe como corrigir ou não percebe o erro.

Avalio também que como utilizamos as mesmas propostas em todos os ensaios,

as/os estagiárias/os foram adquirindo referências mais variadas, ampliando o potencial

do debate.

3.5.1.4 Planejamento dos ensaios abertos

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Após o quarto ensaio, no quinto planejamento das oficinas experimentais, nos

dedicamos discutis os planejamentos dos ensaios que aconteceriam quando a oficina

estivesse de fato aberta e com livre circulação. Na medida em formos conhecendo as

turmas, as/os estagiárias/os também começaram a apresentar mais hipóteses, sugerindo

para seus pares alternativas de melhoria:

(Transcrição do planejamento após o quarto ensaio realizado pelas/os estagiárias/os)

Regente: achei que tem que arredondar as vogais

Rafael: por que?

Regente: achei muito estridente

Rafael: concordo, mas além das vogais estarem muito abertas, elas estavam cantando

com muita pressão de ar. Seria interessante suavizar, buscar uma sonoridade mais leve.

O que você sugeria para o grupo?

Regente: que eles mudassem a forma da boca

Rafael: mas eles simplesmente não iam fazer isso só porque você pediu. Normalmente

elas precisam de mais instruções para compreender.

Regente: para começar eu faria um exercício de vogal com o posicionamento dos lábios.

Rafael: costuma funcionar mesmo, mas só cuidado que este exercício, quando o grupo

não é afinado, não costuma ajudar muito. Fazer exercícios técnicos com arpejos ou

escalas quando as crianças são muito desafinadas só reforça que elas continuem

cantando desafinado e viciem na desafinação. Importante no começo afinar o grupo e

aos poucos ir introduzindo propostas de ajuste técnico vocal. Evidente que a técnica vai

auxiliar na afinação, mas é mais fácil corrigir dentro de um contexto musical. Isto é, ao

invés de corrigir afinação no vocalize, utilizar uma frase musical bem cantabile como

exercício técnico. Corrigir a afinação dentro de um contexto musical e não somente um

exercício técnico. A música vai ajudar.

Regente: entendi, posso pedir para elas cantarem a mesma frase de jeitos diferentes,

uma vez bem estridente e outra suave.

Rafael: costuma ser mais interessante desta forma, pois proporciona uma experiência

mais prática de técnica vocal e também ajuda que elas vão decorando a canção. Só não

esquece de sempre ressaltar qual será a voz que usaremos em cada trecho que este tipo

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de exercício for solicitado. Tenta também utilizar referências lúdicas: canta com

carinho, canta como estivesse contando um segredo, canta como se estivesse falando

com uma pessoa muito longe, canta superaberto, etc... Lembrem-se que quando elas

começarem a cantar com menos pressão ou de registro de cabeça, perde ressonância,

sendo assim, diminui a intensidade do som. Mas os desafios técnicos são resolvidos por

etapas. Primeiro ela se acostuma com o registro de cabeça e depois buscamos uma voz

com foco. Só evitem que as crianças cantem com muito vasão de ar, aquele som aerado.

Achei interessante e positivo a regente conseguir perceber as variações do timbre

vocal das crianças e já conseguir simultaneamente levantar hipóteses que visam a

melhoria da performance vocal. No geral, as/os participantes conseguem com mais

autonomia discutir os problemas e as soluções dentro dos ensaios.

Neste dia (após o 4º ensaio), discutimos a tessitura vocal do repertório que seria

escolhido para os ensaios abertos.

Após uma explicação sobre as notas de passagem, em que as crianças conseguem

fazer a passagem de voz de peito para a cabeça entre a nota sol 3 e lá 3. Evidentemente

aquelas que possuem pouca ressonância, fruto de uma voz com pouca pressão de ar,

muito leve, acessam a voz de cabeça com mais facilidade entre as notas mi 3 e fá 3. Do lá

3 para cima poucas crianças afinariam com o registro de peito sem um preparo vocal ou

algum tipo de experiência ou familiaridade com o timbre nesta tessitura (belting).

Dificilmente o ataque no dó 4 seria com facilidade acessado com a voz de cabeça. Porém,

além da tessitura, ao escolher o repertório, faz-se necessário observar os intervalos entre

as notas e o seu desenho melódico. Um ataque vocal em uma nota muito aguda costuma

ser tecnicamente mais difícil que cantá-lo comparado quando a mesma nota está dentro

de uma frase musical com intervalos gradativos.

• A tessitura é uma das questões que definem a dificuldade do repertório,

porém, os desenhos melódicos influenciam os mecanismos técnicos

necessários para a realização com uma sonoridade tecnicamente aplicada.

Uma das estagiárias trouxe duas canções e cantou para o grupo. Aparentemente

o grupo se interessou pelas canções. Combinei com o grupo a criação de um grupo de

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WhatsApp para podermos enviar as partituras que escolhermos ou discutirmos assuntos

relacionados ao grupo. Decretei que estava proibido o envio de qualquer questão que não

estivesse relacionada diretamente com o LARCI.

A estagiária responsável pela produção do grupo foi designada para criá-lo no

WhatsApp e que fossem enviadas fotos das partituras no grupo, além da rotina descrita

por e-mail com cada função determinada.

Retomamos o debate do repertório que seria escolhido. Começamos com uma

pergunta:

(Transcrição do planejamento após o quarto ensaio realizado pelas/os estagiárias/os)

Estagiária que propôs o jogo das placas: Rafael, você sempre escolhe o repertório antes

de conhecer o perfil do grupo?

Rafael: quando o grupo é novo, eu escolho uma canção para começar que eu já tenha

utilizado em algum outro grupo e avaliei como positiva. Normalmente pode ser

interessante ter alguma canção falada para começar também que é mais fácil que uma

cantada. Comece com alguma coisa que você acredite que dará certo para motivar o

grupo e ao longo do processo, você vai organizando o repertório de acordo com a

dificuldade de execução. Mas é bom lembrar que precisam ser músicas realizáveis, bom

ficar atento. Não existe uma receita de bolo, mas algumas canções são realmente mais

simples que outras. Quando for reger algum grupo que já existia é melhor olhar antes

o que eles já cantavam e escutá-los uma vez, a partir daí, escolher o repertório. Quando

eu era criança, participava de um coral infantil, então uso até atividades que eu lembro

de ter realizado.

Neste encontro foi solicitada uma pesquisa individual de propostas de repertório

preferencialmente buscando referências gravadas.

No 5º planejamento lemos 2 canções (Lamento da Lavadeira, Garota do Tacacá e

Vocalize14) que foram sugeridas pelas estagiárias, e escolhemos em quais momentos

seriam utilizadas durante os ensaios. A ideia foi que a maioria dos momentos da rotina

14 As partituras estão nos anexos 4 e 5 respectivamente

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fosse cantada para ampliar o repertório vocal, já que seriam apenas 50 minutos. Desde o

aquecimento corporal ao repertório normal em si seriam utilizadas pequenas canções.

Acordamos que no próximo ensaio poderiam ser levadas mais alternativas, mas

essas três já seriam utilizadas. Sugeri que no próximo planejamento tentaríamos fechar

boa parte do repertório e dividiríamos as canções entre as/os regentes para todos se

prepararem. Durante a leitura das três canções foram necessárias correções no solfejo.

Realizamos a leitura juntos, pode ser que separados não fosse possível devido à

dificuldade musical de alguns integrantes. Após as correções musicais conversamos sobre

outras ideias de músicas.

Escutamos algumas versões das canções que encontramos na internet e

discutimos um pouco algumas correções na partitura, já que uma delas tinha sido

transcrita por uma das estagiárias. Destaco que quem levou mais repertório foi uma

estagiária que era cantora infantil, isto é, possuía mais vivências na área, as demais

pessoas perguntaram sugestões de onde poderiam achar, então sugeri:

• Procurem na internet vídeos de coros infantis para ter um panorama de

referências de grupos diferentes e possibilidades de repertório;

• O acesso a partituras é mais complicado, provavelmente algumas

canções teremos que escrever o arranjo;

• Buscar canções com estilos variados, favorecendo a dinâmica dos

ensaios;

• As crianças costumam ser mais agitadas que adultos, neste sentido,

perceber o repertório também a partir da “energia” do grupo. Crianças

mais agitadas podem se interessar mais por canções mais ritmadas;

• Buscar melodias agradáveis e também é importante a/o regente gostar do

repertório;

• Lembrar que as canções serão repetidas diversas vezes durante o

semestre, neste sentido, quanto mais pessoas gostarem da música, mais

agradáveis serão os ensaios;

• Evitar clichês do repertório dito infantil. As crianças podem executar

qualquer canção, no entanto, é necessário ter atenção ao conteúdo das

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letras.

Dedicamos os dois últimos planejamentos para também organizar como seria o

início da oficina aberta. Estudamos as canções trazidas para organizarmos como seriam

os próximos ensaios e em qual sequência ensinaríamos as músicas para as crianças.

A princípio começaríamos por duas, Lamento da Lavadeira e Garota do Tacacá. As

estagiárias que trouxeram essas canções seriam as responsáveis pelos ensaios. Nos

ensaios também haveria um momento para a prática da percussão corporal, que seria

realizado por algum dos estagiárias/os, além do aquecimento vocal realizado por outra/o.

Também dividiríamos os acompanhamentos musicais e a observação para todos

realizarem pelo menos uma função.

No último planejamento, antes da abertura da oficina oficialmente com o livre

trânsito das crianças, começamos a passagem do repertório com a primeira música para

começar essa aula:

A regente responsável pela música sugeriu também utilizar o manossolfa na

canção. Sugeri que fosse alterada a última parte da música, realizando uma frase

ascendente ao invés de descendente como havia sido composto originalmente, porém,

deixei que a regente escolhesse em casa como achasse melhor. Um dos estagiários se

ofereceu para tocar piano para esta canção. Decidimos também, como procedimento do

primeiro dia, marcar a mão das crianças o lado direito ou esquerdo para facilitar. Em

seguida sugeri algumas formas de passar pela primeira vez uma canção nova: repetição,

estímulos positivos, uso do gesto corporal.

Foi solicitado por uma as estagiárias o envio de algum texto teórico. Combinei que

depois do primeiro ensaio no formato novo, verificaríamos qual foi a maior dificuldade e

a partir dele, eu escolheria a bibliografia e discutiríamos semanalmente.

A próxima canção foi o Lamento da Lavadeira, a regente começou falando sobre

a necessidade de refazer a partitura. Um estagiário ficou responsável por tocar o violão.

(Transcrição do planejamento após o 5º ensaio conduzido pelas/os estagiárias/os)

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Regente: acho que faz mais sentido começar pelo começo da música mesmo, por conta

de letra. Não consigo imaginar esta música segmentada. Prefiro começar da primeira

parte.

Estagiário A: vai ter coreografia? Porque qualquer coisa você cantava e eles iam

aprendendo os gestos ou vice-versa, porque a letra é grande. E eles cantando mesmo,

só o refrão que é mais fácil, já que tem pouco tempo para cada música.

Achei ótima a sugestão e é possível verificar que as/os estagiárias/os conseguem

com mais autonomia refletir sobre as questões do ensaio. A regente também gostou da

ideia e se programou para pensar em um gestual para as estrofes e ensinar o refrão

concretamente para as crianças.

3.5.2 Estrutura do ensaio (panorama geral)

Este subcapítulo apresenta os assuntos discutidos nos planejamentos em relação

a estrutura do ensaio com as crianças levantando pequenas alterações necessárias

durante as oficinas experimentais. Neste sentido, o primeiro encontro com as crianças

foi fundamental para podermos avaliar se as atividades que eu havia previamente

apresentado ao grupo na semana anterior seriam relevantes e eficientes. Em toda a

primeira fase de implementação das oficinas experimentais utilizaríamos a mesma

estrutura de rotina de ensaio, porém, a forma como íamos apresentando as atividades

foi sendo alterada à medida que eram discutidos os problemas que as/os estagiárias/os

foram encontrando enquanto conduziam as propostas.

A questão estrutural do ensaio não sofreu muitas mudanças ao longo destes

primeiros 6 encontros. Mantivemos todas as atividades para que as/os estagiárias/os

fossem se aprimorando a partir da observação de seus pares.

A partir do quarto planejamento, após o ensaio realizado pelas/os estagiárias/os,

começamos então a discutir o repertório futuro do grupo, já que no planejamento

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anterior foi sugerido que todos realizassem uma pesquisa para termos algumas

possibilidades, além da música Maré que já estava incluída.

Acordamos que os ensaios com os grupos manteriam a mesma estrutura de

propostas: 1) acolhida, 2) jogo, 3) aquecimento e 4) repertório, não necessariamente na

mesma ordem. Quando estivéssemos mais próximos do fim do semestre e da

apresentação dedicaríamos mais tempo para a passagem do repertório.

Para termos uma quantidade razoável de canções o ideal seria que todas as

propostas estivessem vinculadas com a atividade do canto: um jogo cantado, roda de

acolhida cantada, aquecimento com pequenas canções ao invés de exercícios

convencionais, entre outros. Também pensei que para termos um tempo razoável de

repertório para a mostra teríamos que começar os ensaios já com o repertório completo,

pois só teríamos dois meses e meio para a preparação.

Descrevi para o grupo a sequência da rotina para que, na semana seguinte, todos

pudessem trazer sugestões de como seria desenvolvido o primeiro ensaio da oficina

aberta:

• O ensaio será iniciado pela atividade de percussão corporal como proposta de

alongamento. Um estagiário na semana anterior ficou responsável por montar

uma coreografia. A ideia era buscar uma proposta para o despertar do corpo

simultaneamente com a estimulo do aprendizado do pulso rítmico e memória

coreográfica;

• Após a percussão corporal será proposto o aquecimento vocal, neste caso,

iríamos usar as mesmas atividades;

• Ensino do repertório novo. A ideia era no começo dos ensaios passar o repertório

novo, enquanto as crianças estão mais dispostas. Após a passagem do repertório

novo, retomamos a canção Maré que as crianças já conhecem;

No quinto planejamento, outra estagiária levou uma sugestão de canção que ela

acreditava que seria interessante como aquecimento vocal. Decidimos incorporar no

começo do ensaio, após as atividades de técnica vocal. Ensinaríamos a canção

progressivamente para não desgastar as crianças, já que ela não estaria a princípio

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incluída no repertório.

(Transcrição do quinto planejamento após os ensaios realizados pelas/os estagiárias/os)

Estagiário A: mas tudo na mesma aula?

Rafael: a ideia não é ensinar a música inteira. Nós ensinamos partes de cada canção

para que não haja tanto desgaste na passagem do repertório. Nos organizamos para

que no fim do semestre as músicas fiquem preparadas quase que simultaneamente.

Assim os ensaios sempre terão novidades e o repertório não fica enjoativo, já que não

cantamos a música inteira durante todo o período do ensaio. Ensinamos por pedaços.

Escolhemos de acordo com a dificuldade do repertório. Os ensaios também ficam mais

dinâmicos.

Estagiária B: você acha que apresentamos a música inteira para as crianças?

Rafael: normalmente vale a pena, mas depende de qual é o objetivo e qual habilidade

você quer desenvolver. Mas sempre é valido escutar a canção inteira antes de

aprendê-la. Por exemplo: no “Para começar esta aula”, uma das dificuldades está

centrada nas crianças conseguirem saber o lado direito e o esquerdo cantando.

Podemos no primeiro momento propor alguma atividade que aborde esta questão.

Mesmo que não estejamos cantando necessariamente a música já projetamos quais são

os desafios que as crianças encontrarão e vamos construindo o repertório

gradativamente.

Estagiária C: mas no caso da direita e esquerda como exemplo, você acha que vale a

pena escolher outra música para também ensinar isso?

Rafael: acho que seria válido se tivéssemos mais tempo de ensaio. No nosso caso, como

são poucos encontros e rápidos, acho mais eficiente ir direto com a canção que vai ser

utilizada para otimizar. Fica um pouco mais focado. Faz uma dinâmica de direita

esquerda e já começa a canção que fala sobre esse pedaço. Vamos conversando sobre

cada momento do ensaio e estagiário, começa mostrando qual é a sua coreografia de

percussão corporal. Já decidimos também quem irá tocar o acompanhamento musical.

Também no quinto planejamento, o estagiário responsável pela percussão

corporal, enquanto debatíamos, criou uma sequência e apresentou sua criação para o

grupo.

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O primeiro ponto foi que sua coreografia começava com o pé esquerdo e as demais

atividades normalmente começamos pela direita. Sugerimos seguir esse padrão.

Retomamos a importância de a/o regente conseguir realizar tanto começando pela

direita, quanto pela esquerda, para ajudar as crianças enquanto estiver de frente para

elas (espelho).

O grupo deu sugestões de movimento. Eram três partes. Sugeri que

provavelmente no primeiro dia elas não conseguiriam aprender todas as três partes. As

duas primeiras já seriam interessantes. Todo o grupo aprendeu a sequência. Perguntei

ao estagiário:

(Transcrição do quinto planejamento após os ensaios realizados pelas/os estagiárias/os)

Rafael: para ensinar as crianças, o que você faria primeiro?

Estagiário: primeiro eu faria algo sobre direita e esquerda para começarmos do lado

certo.

Rafael: mas como você começaria?

Estagiário: eu faria e eles repetissem.

Rafael: eu acho importante e fundamental a imitação, mas eu sugiro que você

acrescente comandos vocais para as crianças irem fazendo e falando: pé, volta, palma,

peito. Falando no ritmo para auxiliá-las tanto na memorização da sequência quanto na

assimilação do pulso. Estimular a criança ao falar no ritmo os gestos auxilia que ela

organize seu pensamento e, simultaneamente, realize com mais facilidade. Importante

você fazer a contagem para começarmos juntos.

Após alguns treinos o estagiário conseguiu realizar a contagem antecipando a

entrada da percussão e treinou também a condução da atividade. Também escolhemos

a estagiária para acompanhar no piano a proposta.

Destaco que na formação, além de discutir a importância do planejamento das

atividades, faz-se necessário o preparo de como será a condução da proposta, isto é,

como será explicado e dirigido de modo que seja mais eficiente e compreensível. Neste

sentido, quanto menos experiência no trabalho didático com crianças, mais importante

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o treino da oratória, além de tentar imaginar como o grupo responderia normalmente ao

tipo de atividade que será proposta e já prever possíveis conflitos na intenção de

evitá-los.

Combinamos que já que a percussão corporal seria realizada em filas, como

seriam 30 crianças o limite, ao chagarem já organizaríamos 3 filas com 10 crianças em

cada. Foi sugerido também que fosse proposto um pequeno alongamento de pescoço,

braços e coluna antes de propor a percussão.

Após a escolha das canções do repertório, passamos a fala para a estagiária que

se ofereceu para ser a responsável pela proposta de aquecimento vocal:

(Transcrição do quinto planejamento após os ensaios realizados pelas/os estagiárias/os)

Estagiária: o que nós vamos propor como meta vocal neste começo?

Rafael: no começo a fonação e a exploração do registro agudo.

Ressaltei a importância de falarmos também sobre o alinhamento corporal com

as crianças, enfatizando a postura adequada para a prática coral. Começamos a discutir

qual seria o modo de nos referirmos à postura coral. Alguns comentaram sobre a

complicação de solicitar para as crianças “ficarem retas” ou na “postura correta”, pois ao

ouvir essas expressões elas poderiam ficar enrijecidas, duras, como a pose do “soldado”.

Decidimos que íamos dizer termos como “alinhados” ou “postura para cantar” ficando

atentos com relação a um possível enrijecimento corporal das crianças. Buscaríamos um

corpo alinhado, porém relaxado.

Caso as crianças não estivessem cantando corretamente na primeira tonalidade

não haveria motivos para a mudança da tonalidade. Importante primeiro elas afinarem

e depois ir subindo a tonalidade para que não fiquem repetindo a melodia de forma

incorreta, evitando vícios melódicos desnecessários.

Demarquei os seguintes pontos para o preparo vocal:

• Fonação;

• Articulação.

Caso eles estejam muito desafinados, como o vocalize não trabalha uma extensão

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vocal muito grande, vale a pena direcionar a nossa atenção para a correção da afinação.

(Transcrição do quinto planejamento após os ensaios realizados pelas/os estagiárias/os) Estagiária: o que você acha de corrigir afinação com boca chiusa?

Rafael: o boca chiusa serve para que?

Estagiária: ressonância.

Rafael: então pode ser que não ajude na afinação, além do que você não conseguirá

distinguir nem escutar tão bem as desafinações.

A/o regente pode perceber quais são os pontos problemáticos vocais antes de

propor alguma atividade que de fato vá auxiliar no preparo vocal. O uso de vocalizes

como “receitas de bolo” costumam não ter uma finalidade efetiva, tornando-se algumas

vezes atos mecanizados que não realizam necessariamente o desenvolvimento do

quesito técnico para que foi proposto. Não existe vocalize mágico. Existe, sim, boa

percepção vocal para escolher e ir corrigindo a produção vocal até que a sonoridade

alcance o objetivo almejado.

No 6º e último planejamento antes dos ensaios abertos, combinamos que seriam

inclusos no planejamento exercícios do canto da escala diatônica. Todo o nosso

repertório, inicialmente, utilizou essa escala como estrutura musical, então, decidiu-se

que as crianças também praticariam a escala. Adotamos também os gestos clássicos do

manossolfa para ajudar.

Neste dia, concluímos o seguinte planejamento para a abertura das oficinas:

• Chegar 30 minutos antes para a passagem musical e, nesse período, quem

não tivesse o que ensaiar ou já havia terminado, iria fazer os convites nas

salas, lembrando as crianças da oficina;

• Iniciaríamos o ensaio com a passagem da coreografia de percussão

corporal;

• Seria ensinada a canção Para começar essa aula. A estagiária ficou

responsável por planejar uma proposta para ensinar a letra da canção ou o

seu gestual, já que seria incorporado o manossolfa;

• Em seguida, ensaiaríamos a canção Garota do Tacacá. A responsável

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prepararia uma pequena explicação para apresentar a canção para as

crianças;

• Ensaiaríamos a canção Maré, para retomar o que as crianças já haviam

cantado da primeira oficina;

• Por fim, mostraríamos a música Garota do Tacacá, caso a dançarina fosse.

Estruturamos os seguintes horários:

• 09h às 09h30 – passagem musical e preparo do ensaio (primeiro momento);

• 09h30 às 10h30 – ensaio;

• 10h30 às 11h30 – planejamento (segundo momento).

3.5.3 Mais reflexões do observador

A minha primeira observação ao escrever o diário de campo, revendo os vídeos

deste dia, foi a alteração de postura das/os estagiárias/os nos planejamentos. No início,

quando apresentavam uma questão qualquer eu falava algumas possibilidades e

alternativas tentando justificar as minhas escolhas. Após refletir, decidi que tentaria

sempre responder com uma outra pergunta ou, pelo menos, iniciar o debate realizando

outras perguntas ao invés de dizer as respostas. Tinha a intenção naquele momento em

estimular a autonomia na reflexão das/os estagiárias/os e que favorecer que pudessem

fazer relações com outros saberes adquiridos fora daquele espaço.

É importante destacar que os ensaios seguintes não teriam sempre o mesmo

formato, como consequência, haveria menos tempo para que organizássemos treinos de

como conduzir as propostas.

Eu, a princípio, também contei com que o estudo musical individual fosse mais

eficiente e percebi que existe uma defasagem dentre as habilidades. Quando a/o regente

ou condutor de qualquer atividade tem problemas musicais, também tem mais

dificuldade para organizar a condução do ensaio. Completando a dificuldade deste

quadro as/os estagiárias/os precisam de mais tutoria para corrigir as questões musicais,

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por não perceberem eventuais erros.

Sendo assim, a realização do laboratório sem uma pessoa com mais experiência e

proficiência musical poderia ser prejudicada. Essa supervisão não teria como ocorrer

somente nos planejamentos, já que os erros aconteciam nos ensaios e prejudicavam o

andamento do mesmo, além de prejudicar o aprendizado das crianças.

Mesmo na condução das atividades, quando a/o estagiária/o é inexperiente,

mesmo que a pessoa saiba o que precisaria ser feito, por nervosismo ou por alguma

ocorrência inesperada, não consegue dar prosseguimento à atividade, desviando-se dos

objetivos ou mesmo não conseguindo mais que as crianças realizem qualquer outra

proposta, sendo necessária a interferência direta, auxiliando-a/o.

3.6 Ensaios abertos

Os ensaios abertos representaram a última fase de implementação do LARCI neste

1º semestre de 2018 (10/04 até 22/05). Eles totalizaram seis encontros com as crianças.

Inicialmente planejamos que teríamos nove ensaios, lembrando que no último dia

ocorreria uma apresentação pública (ou um ensaio aberto) para finalizarmos o semestre.

Porém, devido à greve dos funcionários da Unicamp, o atendimento no PRODECAD das

turmas que as crianças do coral frequentavam foi interrompido. Assim, tive que terminar

a coleta de dados antes do planejado e não foi possível realizar a finalização.

Neste momento cada pessoa já estava com sua função definida, ou como

condutor da atividade ou no acompanhamento musical. Algumas canções, na intenção

de contemplar a participação de todas as pessoas, tinham dois ou três instrumentos

acompanhando: piano, violão e flauta doce.

3.6.1 Debate das atividades do planejamento anteriores aos ensaios (primeiro momento)

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Com o intuito de ensaiar e apresentar as canções para as crianças, tivemos

durante o planejamento correções práticas musicais, visando desenvolver a performance

da/o regente e também vocalmente as/os integrantes do grupo de estagiárias/os. Foram

debatidas questões sobre a clareza dos gestos e características sonoras e performáticas

(coreografia e expressão) para que o grupo pudesse apresentar as canções para as

crianças com a melhor qualidade possível.

O principal relato do diário de campo desse momento faz referência à falta de

experiência das/os estagiárias/os em práticas musicais coletivas, fazendo com que a

percepção auditiva associada à habilidade de tocar junto fossem desafiadoras para boa

parte deles:

O primeiro estagiário, responsável por ensinar a percussão corporal começou

propondo sua coreografia. Ele começou mostrando e explicando para o grupo o que seria

feito. Em seguida solicitou ao grupo que executassem a percussão corporal fazendo a

contagem. Ele errou algumas vezes a coreografia e estava fora de ritmo, demorando

alguns minutos para conseguir se comunicar bem com as crianças.

Me pareceu que o estagiário havia estudado, já que tinha montado e mostrado a

coreografia na semana anterior durante o planejamento, mas a prática de conduzir a

atividade na frente no coral desestabilizou um pouco sua organização interna. Precisaria

de mais experiência para conseguir realizar ações simultâneas sob pressão de um

resultado positivo no aprendizado.

Começamos pela Maré. O pianista e o violonista estavam com dificuldade de

compreender o gestual da regente. De maneira geral eles pareciam que não estavam

muito seguros com a entrada do acompanhamento da canção. A regente estava com um

gestual e com uma movimentação excessiva que complicava a clareza do andamento.

Neste momento treinamos algumas vezes a entrada da canção, mas sugeri que fosse

realizado um estudo doméstico em frente ao espelho. Como não havia muito tempo antes

das crianças chegarem, ainda teríamos que passar as outras músicas, após mais algumas

poucas passagens, pareceu-me que já estavam mais entrosados.

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Nas semanas seguintes realizamos novamente as passagens musicais do

repertório. O acompanhamento instrumental das canções ainda estava com problemas

e prejudicando o ensaio. Sugeri que se encontrassem fora do nosso horário de

planejamento para ensaiar mais. Sabendo, contudo, das dificuldades de horários devido à

sobrecarga de atividades dos respectivos cursos, também aconselhei que fizessem

gravações das passagens musicais para que pudessem em casa estudar com alguma

referência auditiva mais próxima do real.

(2º ensaio aberto)

Em seguida, a estagiária responsável pela atividade de técnica vocal estava com

algumas dúvidas nos gestos da música D. Marquinha que havíamos combinado e

passamos primeiro isso. Sugeri que fizéssemos uma vez a escala para treinar o

acompanhamento, ela estava com dúvidas sobre se usaríamos obrigatoriamente os

gestos do manossolfa. Eu sugeri que poderia ser outro gestual, porém, que mantivesse a

ideia de um movimento para cada nota associada a alguma lógica de movimento

ascendente.

Começamos verificando como seria a correpetição. O pianista não estava

conseguindo realizar a melodia na mão direita e algum tipo de acompanhamento

harmônico ritmado na mão esquerda. Sugeri que ele tentasse ir marcando de alguma

maneira o pulso do vocalize e que treinasse em casa algum acompanhamento a partir de

alguns exemplos que demonstrei. Ocorreu que na canção D. Maroquinha, o pianista

também não conseguia tocar a melodia junto com a acompanhamento harmônico

simultaneamente. Sugeri que fizesse somente a base harmônica e treinasse em casa.

Quando ele se ofereceu para tocar o piano no planejamento anterior imaginei que

como a escolha do pianista foi um processo voluntário, provavelmente não teríamos

dificuldades musicais. De qualquer maneira, aconteceu a necessidade do treino em grupo.

A pianista do “Para começar essa aula” tem muita dificuldade para realizar a

melodia acompanhada ao piano, similar ao pianista que tocou a canção Maré. Ambos

também não conseguem cantar e tocar a canção simultaneamente. Me parece que

estudaram errado o repertório em casa. Quando a/o regente solicitou também alterações

no andamento, ambos não conseguiram rapidamente tocar no andamento correto e

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algumas vezes continuaram tocando errado, principalmente a pianista do “Para começar

essa aula”.

(3º ensaio aberto)

Começamos o planejamento com a passagem da canção, Para começar esta aula,

com a estagiária responsável. Inicialmente, escutando a regente cantando junto com o

correpetidor, sugeri que ela articulasse vocalmente as palavras, pois havia um problema

com a dicção, achei que isso ajudaria na projeção vocal, já que ela canta com a

intensidade muito baixa. Entendo que os exercícios de técnica vocal são muito

importantes para as/os regentes também para cantarem corretamente nos ensaios e

fornecerem uma referência musicalmente eficiente para as crianças. Em seguida,

ensaiamos o Maré para apresentar para as crianças. A regente apresentou um pouco de

dificuldade em organizar gestualmente a entrada do correpetidor e das crianças, mas

após algumas repetições, assimilou melhor esse ponto musical.

(4º ensaio aberto)

Observei inicialmente a dificuldade da pianista em manter uma pulsação e

sincronizar o acompanhamento com a melodia. Ela já melhorou desde o primeiro ensaio,

porém, musicalmente ainda é bastante limitada. Destaco que me parece que ela sabe

dessa dificuldade e está se empenhado para executar melhor a sua performance ao piano,

já que se ofereceu para tocar. Os momentos de treino musical em grupo também são mais

desafiadores para a/o musicista que está habituado a estudar o repertório solístico

sozinha/o. São outras as necessidades e atenção que a/o correpetidor/a precisa obter para

exercer com eficiência sua função.

A prática musical em grupo vai favorecer que ela treine melhor esta habilidade, já

que, normalmente, a/o regente ou educador/a musical precisa ensaiar grupos, pois as

classes de educação musical com crianças costumam ser coletivas.

(5º ensaio aberto)

O planejamento antes do ensaio começou com a passagem musical da canção

Lamento da Lavadeira. A pianista e a regente estavam combinando as entradas e o

andamento e elas conseguiram organizar bem o arranjo, porém, havia um pouco de

dificuldade na comunicação gestual para a entrada correta. Me parece que ambas não

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estavam com a ideia musical da canção bem construída mentalmente. Conversamos um

tempo para que ambas pudessem ter clareza de como gostariam de realizar a introdução

da música.

(6º ensaio aberto)

De maneira geral ela é uma das pianistas com menos experiência em correpetição

no grupo, mas observo que ela está se empenhando para estudar e conseguir tocar nos

ensaios. Ela ainda possui uma dificuldade no andamento para conseguir acompanhar as

crianças, pois me parece que ela não é muito flexível no que diz respeito ao andamento

no piano. Quando ela estuda de uma forma não consegue muito alterar sua execução,

mesmo que sejam pequenas mudanças. Destaco de qualquer forma que já observo uma

melhora no seu desempenho, principalmente sua confiança ao executar a canção.

Como observado na primeira fase do projeto, destaca-se a importância de realizar

a passagem do repertório também sob supervisão, com ensaios frequentes além do

planejamento, para que as habilidades técnicas musicais já estejam superadas nos

ensaios. Além das/os correpetidores, para as/os regentes também se faz necessário

reservar um tempo de estudo dedicado à clareza do gestual da regência vinculada com o

canto simultaneamente.

As habilidades musicais das/os estagiárias/os eram distintas, sendo que alguns

possuíam mais experiência e domínio técnico-musicais do que outras/os. Como as

propostas do LARCI são organizadas e praticadas sempre em grupo, o resultado não

depende exclusivamente da habilidade individual dos sujeitos. As experiências em

práticas musicais coletivas exigiram das/os participantes o estudo de procedimentos com

os quais pareciam não estar muito habituadas/os. Foi percebido que ocorria o estudo e

preparo em casa, mas não em grupo. Assim, ao chegar nos encontros, este estudo não

era tão eficiente.

Como tivemos 10 participantes, a tendência foi que as facilidades e dificuldades

fossem diluídas de acordo com as funções escolhidas. Como cada pessoa escolheu o que

exerceria, tiveram condições de se dedicar e perceber que, mesmo numa atividade na

qual a pessoa acreditava estar habilitada, ainda precisavam de mais estudo e preparo,

pois ocorreram diversas dificuldades musicais.

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O ensaio com as/os instrumentistas também foi importante para a/o regente

organizar como seria o arranjo das canções. Normalmente as partituras de coros infantis

do repertório em português brasileiro são arranjos que incluem somente os acordes,

como indicação harmônica, sem a transcrição do que seria exatamente executado pelos

musicistas acompanhadores. Assim, cabe ao regente junto aos seus acompanhadores

analisarem e desenvolverem seu próprio o arranjo musical. Se a/o regente não tiver

muito claro como gostaria que a música soasse, será mais difícil a compreensão das/os

instrumentistas.

Com os arranjos montados, também utilizamos os espaços de planejamento para

que todo o grupo apreendesse a canção e realizassem a performance completa antes de

ensinar com as crianças a canção completa. Combinamos que sempre buscaríamos

apresentar em coro o repertório novo que seria proposto ou quando tivéssemos que

mostrar alguma coreografia.

Quanto às questões vocais, devido à minha formação, eu tinha mais condições de

auxiliá-los. E observei que a maioria também tinha mais facilidade para cantar do que

para tocar. Porém, houve situações em que as/os estagiárias/os não percebiam os seus

próprios erros.

Discutindo a importância de conhecer outros grupos infantis e regentes perguntei

para as/os estagiárias/os se eles conheciam. Somente duas pessoas já tinham vistos

outros ensaios ou grupos se apresentando ao vivo. Não são apresentadas referências

musicais e estéticas nos cursos. Estas referências inspiram caminhos para a construção

da performance. Não adianta conhecer razoavelmente um método de ensino se você não

souber onde quer chegar artisticamente com o processo que ele propõe.

Uma parte considerável das/os estagiárias/os não realiza nenhuma atividade

artística pessoal, somente estudando as matérias da licenciatura que são em sua maioria

teóricas. Cadê a arte? Como vou ensinar algo que é prático somente ouvindo falar sobre o

assunto?

Ao longo dos quatro primeiros ensaios as questões musicais foram mais

abordadas. Dentre as/os estagiárias/os, percebi que todas/os que cursavam as

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modalidades combinadas tinham mais facilidade na assimilação do repertório, enquanto

as alunas e alunos da licenciatura tinham perfis mais heterogêneos. É interessante

destacar que as habilidades musicais não se apresentaram relacionadas ao semestre

cursado, isto é, não significou que quanto mais adiantado estivesse no curso, melhor

musicista seria.

Nos casos mais complexos a participação no LARCI se mostrou ineficiente para

estimular o desempenho musical ao ponto de, até o fim dos encontros, não haver mais

problemas musicais no acompanhamento. As/os regentes melhoraram mais

rapidamente que as/os instrumentistas correpetidores. Foi, contudo, possível avaliar

alguma melhora significativa nas performances musicais das/os estagiárias/os, ainda que

para alguns fosse preciso mais tempo para assimilação do repertório. Possivelmente

essas questões precisariam ser resolvidas em conjunto com a formação fora do LARCI.

3.6.1.1 Debate das atividades do planejamento posteriores aos ensaios abertos (segundo momento)

No primeiro ensaio aberto tivemos dez crianças participando.

Fiquei tenso devido à quantidade reduzida de crianças, mesmo após a divulgação.

Perguntei na roda como funcionava a escolha das oficinas. Havíamos tido o feedback de

que as oficinas tinham sido bem aceitas pelas crianças e que provavelmente teriam

muitos participantes, mas no primeiro dia foram poucas.

Imagino as seguintes hipóteses:

• A divulgação feita pelas estagiárias foi ineficiente. Esta mesma hipótese

foi sugerida pelo coordenador do PRODECAD em uma conversa,

posteriormente;

• As primeiras crianças não lembraram como foi a oficina, então precisamos

de outra estratégia para convidá-las novamente;

• Existe algum problema com o horário;

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• As crianças já estão habituadas a irem para as outras oficinas que são em

área externa, ao contrário da nossa que ocorre numa sala fechada.

Acredito ser o espaço externo mais atraente, já que o contexto escolar

costuma mantê-las muito tempo dentro da sala. Um ensaio ao livre seria

mais atrativo? Musicalmente seria muito complexo escutar e cantar com

tranquilidade nas áreas externas;

• As atividades do coral não são tão atrativas quanto as que já acontecem

no espaço.

Antes de conseguir identificar as causas da pouca frequência inicial e buscar

soluções para que as crianças frequentassem o coral (assunto que será discutido no

subtópico seguinte), prosseguiremos com a análise dos ensaios.

Após o primeiro ensaio, perguntei para o estagiário que propôs a percussão

corporal o que ele havia achado de sua proposta. Ele disse que havia dado tudo certo

apesar das dificuldades no começo. Em seguida comecei a debater sobre como o

nervosismo atrapalha a proposta e favorece que sejam cometidos erros. Ao longo do

tempo a experiência aliviará os sintomas.

Prossegui falando sobre a necessidade de corrigir as crianças quando tiverem

cometendo algum erro musical, a estagiária da atividade de técnica vocal comentou:

(Transcrição do planejamento após o primeiro ensaio aberto)

Estagiária da atividade de técnica vocal: como é a primeira experiência que eu tô vivendo,

eu fico tensa e eu paro de perceber a criança. Eu vi que o planejamento é só um ponto do

que vai ser feito.

Essa fala corrobora a ideia de que, mesmo que tivéssemos praticados os ensaios

com os adultos, a experiência com as crianças é bem diferente. De forma impactante

ocorrem as necessidades de flexibilidade no planejamento das atividades para manter as

propostas em andamento, principalmente quando se percebe que aconteceu algum tipo

de imprevisto. O mesmo ocorreu com o comentário da estagiária responsável neste

mesmo ensaio pela canção Para começar esta aula:

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(Transcrição do planejamento após o primeiro ensaio aberto)

Estagiária responsável pela canção Para começar esta aula: eu achei que deu tudo certo,

mas o difícil é saber o que corrigir primeiro.

O desafio inicial desta fase foi a importância do desenvolvimento da percepção vocal

associado ao conhecimento de procedimentos de correção durante a execução das

crianças. Mesmo que percebido o erro, é bastante desafiador conseguir imediatamente

obter alguma ferramenta pedagógica que traga resultados positivos imediatos, evitando

que as crianças repitam muitas vezes incorretamente a mesma canção.

Este tipo de percepção só pode ser desenvolvido na escuta de crianças cantando,

ou por meio de gravações ou em contato direto com elas. Mesmo falando sobre a voz

infantil, a percepção e análise do som parte de um refinamento auditivo que precisa ser

estimulado com a audição de crianças cantando. Quando, durante a formação, não são

apresentadas essas referências, é mais difícil que a/o regente desenvolva seu ensaio a

partir de uma sonoridade mental bem desenvolvida, já que não consegue avaliar com

clareza as possibilidades, incluindo qualidades e defeitos, desta produção.

Percebendo isso, neste planejamento realizamos uma atividade de percepção

vocal. Duas regentes foram escolhidas para participar. Todos cantamos a música e

sorteamos, em sigilo, uma pessoa que cometeria erros na execução. A/o regente

precisaria identificar a pessoa que estava errada e qual seria o erro. As duas tiveram

dificuldades para identificar qual seria o erro exato, porém conseguiram saber quem

estava errando.

Sugeri como atividade para estudo em casa que as/os estagiárias/os escutassem

diversos grupos amadores no Youtube e buscassem identificar possíveis erros de

execução e como resolveriam o problema identificado. A ideia foi oferecer formas e

ferramentas de estudo com grupos corais variados. A internet é uma ótima ferramenta

para isso.

Ainda nesta perspectiva, realizei a seguinte observação:

Existem fatores externos que influenciam as trajetórias acadêmicas, porém,

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faltam tanto conhecimentos teóricos dos métodos de ensino quanto referências práticas

de como desenvolvê-los. As/os estagiárias/os não se organizam pensando no perfil dos

alunos. Ficam mais preocupados com o que será ensinado e não como será ensinado e

em qual contexto. Essa estagiária que vai sempre bem também sempre conduz as

atividades com mais energia, além de ser muito simpática. As crianças aprenderam o

refrão da música.

Além de saber o que corrigir, conseguir se comunicar com as crianças para que

elas se mantenham motivadas, para que elas consigam aperfeiçoar as performances

também se mostrou ser necessária a experiência prévia. Destaca-se o difícil desafio de

preparar as/os estagiárias/os para os imprevistos além do planejamento. Observei que,

sem a minha interferência imediata durante os ensaios, normalmente ocorre que as/os

regentes ficam perdidos quando não alcançam os objetivos que haviam traçado durante

a preparação individual anterior ao ensaio. Neste caso, as crianças também estão

envolvidas nos processos do ensaio, assim, garantir simultaneamente que elas tenham

uma boa aula e as/os regentes também aprendam com o processo é um dos fatores

relevantes do laboratório com a interferência de um supervisor em todo os ensaios.

Realmente é complexo decidir quando ainda é eficiente corrigir um erro antes de

prosseguir ensinando algo novo. É preciso desenvolver um tipo de sensibilidade para

perceber que o grupo está ficando desgastado e pode ser que ainda não seja o momento

de corrigir determinados erros e prosseguir com o ensaio.

Percebi que uma das dificuldades nas estratégias procedimentais para o ensino

dos conteúdos é que não necessariamente faltava conhecer os métodos ativos de

educação musical, mas como eles podem ser utilizados em certos contextos. Me pareceu

que as/os estagiárias/os pensavam que simplesmente basta solicitar que as crianças

cantem e elas sairão cantando tudo corretamente. Não conseguiam perceber e nem

escolher os processos que utilizariam para o ensino do repertório, fora a repetição

imitando a/o regente.

Sendo assim, durante os ensaios a minha interferência buscou ajudar nos casos

em que a/o regente solicitava algo para as crianças, mas não conseguia o resultado

almejado, o que foi constante em todos os ensaios:

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(1º ensaio aberto)

A segunda estagiária era a responsável pelo aquecimento vocal com duas

principais atividades. O ensino da escala diatônica com os nomes das notas e cantar a

canção D. Maroquinha em tonalidades diferentes.

A escala aconteceu sem grandes problemas, e observei que as crianças já sabiam

a nomeação das notas memorizadas (dó - ré - mi). Já na passagem da D. Maroquinha,

após ela relembrar a canção, as crianças cantaram uma vez com erros na melodia. Ela, já

em seguida, solicitou a mudança da tonalidade para o pianista. Neste momento, interferi

sugerindo que ela fizesse mais uma vez e observasse se as crianças estavam cantando

corretamente a melodia antes da mudança da tonalidade. Haviam ocorridos alguns erros

de afinação. Ela percebeu o erro na segunda passagem da canção e ajudei com a

correção. A dificuldade neste momento está em desenvolver a percepção vocal e ter

ferramentas técnicas para corrigir possíveis erros, de forma que as crianças não fiquem

executando incorretamente os trechos musicais para os erros não serem memorizados.

O mesmo ocorreu com a segunda estagiária que ficou responsável pelo ensino da

canção Para começar esta aula. Ela cantou uma vez e já pediu para as crianças cantarem,

resultando que nenhuma conseguiu. Ela não percebeu que as crianças não sabiam a letra

e a melodia, já que escutaram e praticaram poucas vezes, necessitando que houvesse

acontecido a passagem do trecho mais gradativamente: primeiro a letra no ritmo, depois

a melodia e por fim, a sequência coreográfica. Sugeri que ela retomasse do princípio e fosse

ensinando as partes separadamente. As crianças após a mudança do método,

conseguiram realizar melhor o trecho cantado. Os gestos ainda estavam desorganizados,

mas já havia sido melhor.

(2º ensaio aberto)

Antes de chamar a responsável pelo aquecimento vocal, como ela ia ensinar

também a nomeação da escala diatônica, passei com as crianças antes o nome das notas.

Depois organizei um sorteio e elas precisariam falar na sequência, caso não soubessem,

o grupo ajudaria. Ela ainda não conseguiu estimular as crianças cantando. De alguma

maneira a estagiária não sabe o que fazer. O problema que não há tempo para prepará-la

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completamente, já que, como ela está terminando o curso de licenciatura, esperei que ela

tivesse mais repertório de atividades ou algum tipo de vivência com crianças. Mas, a

princípio, parece que não. A dificuldade dela está em se comunicar com as crianças.

Ajudei-a, conversando com as crianças e pedindo que elas cantassem com mais energia.

Melhorou, mas começou a ficar gritado. Depois solicitei que elas mantivessem a mesma

energia, porém, não poderiam gritar. Resultou em uma sonoridade mais aveludada com

menos erros de afinação.

(3º ensaio aberto)

De maneira geral ele conduziu melhor o grupo. O desafio agora é ele conseguir

avaliar quando deve ficar repetindo um trecho até que as crianças acertem e quando é o

momento de prosseguir, mesmo que as crianças ainda não tenham conseguido realizar

toda a performance.

(4º ensaio aberto)

Auxiliei a regente na passagem desta canção, pois ela não conseguiu decidir no

momento como prosseguiria com a passagem do repertório. De maneira geral, as

crianças participaram bem, porém, observamos que havia ainda uma dificuldade na

primeira parte da letra. Após algumas repetições variadas, chamamos as/os

estagiárias/os para retornarem e organizamos uma apresentação. As crianças se

demonstraram bastante animadas e cantaram razoavelmente bem.

Na canção Maré a estagiária começou falando a letra e as crianças repetiram.

Depois ela me olhou com uma cara de espanto, pois mesmo assim, elas não cantaram.

Ela também passou mais de uma frase de uma vez, o que dificulta a memorização.

Interferi estimulando as crianças a repetirem a canção de formas variadas. Elas ficaram

mais atentas à coreografia, mas também era a primeira vez que passávamos esta canção

completa.

As crianças apresentaram a canção, mas cantaram com mais confiança o refrão.

Voltamos para a roda e distribuímos a letra da Maré. A estagiária responsável

pediu para as crianças repetirem duas vezes de formas diferentes e depois me lançou

aquele mesmo olhar de dúvida da estagiária anterior. Devido à falta de experiência às

vezes o repertório de propostas que a/o regente possui ainda não inclui ferramentas

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suficientes para manter as crianças cantando ou corrigir erros da execução. Nesta hora

conduzi o restante do ensaio perguntando para as crianças as seguintes questões: Agora,

só irá cantar quem gosta de estar de férias! Quem de vocês gostam? Muito bem, vamos

cantar como se estivéssemos de férias. Repeti isto com: quem gosta de chocolate e quem

gosta de nadar. Normalmente, quando são usados temas bem familiares da infância a

maioria delas costuma cantar e foi o que ocorreu no nosso coro.

Interessante novamente observar que além do desafio de saber o que ensinar,

após esta fase do planejamento, como ensinar seria o próximo passo. Observei que as/os

estagiárias/os chegavam com uma ideia planejada que normalmente era uma proposta

de repetição mecanizada. A/o regente executa e as crianças repetem até que elas

assimilem e, principalmente, não havia instruções de como elas poderiam melhorar. De

maneira geral as/os estagiárias/os não decodificam o conjunto de habilidades

necessárias para cada performance musical almejada, assim, durante a execução, não

visualizam exatamente qual seria a dificuldade do grupo para corrigir e conduzir a

atividade de forma mais diretiva. Destaco também a dificuldade de saber o que priorizar

nos ensaios.

Algumas vezes uma dificuldade não precisa ser corrigida imediatamente quando

observada, já que são outros objetivos que precisam ser priorizados. Com o acúmulo de

experiência, fica mais fácil saber a hora de corrigir e a hora de relevar, mas essas escolhas

precisam ser pautadas por algum processo metodológico previamente estudado.

Outro debate significativo e constante nos planejamentos foi sobre como a/o

regente precisa ser interessante e atrativo, isto é, demonstrar certa animação com as

propostas:

(Transcrição do planejamento após o segundo ensaio aberto)

Estagiário A: eu fico pensando que isso vai de cada pessoa, da personalidade. Mas

também não precisa mudar a personalidade, você pode pensar em técnicas que pode

usar nos ensaios para estimular.

Estagiaria B: eu acho que nessa situação fica mais difícil porque você fica sendo

observado por todos. Você fica sendo assistido. Se a gente tivesse fechado em uma sala

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de aula somente com crianças, seria diferente, teríamos outros recursos. Aqui fica o

triplo de difícil.

Estagiária C: eu me sinto mais intimidada.

Rafael: pode até ser mesmo que as pessoas fiquem intimidadas. Mas o que tenho

observado é que quando não sabemos o que fazer quando estamos sozinhos,

normalmente, a/o regente trava. Quando as crianças não realizam o esperado ou o

planejamento não acontece, caso a/o regente não tenha experiência, ela ou ele dá uma

travada. Não sabe muito bem para onde ir.

Estagiária D: quando você vê que não está dando certo e rapidamente não pensa em

algo, as crianças já enlouquecem! Por isso que sozinho é muito pior.

Estagiária E: eu vou falar por mim, eu to vendo que a gente tem que arriscar mesmo,

experimentar. Nós já tivemos vários encontros e se acontecer alguma lambança

enorme, o Rafael tá aqui e vai ajudar.

Achei extremamente válido este debate. Inicialmente, uma das questões que

apresentaram foi como desenvolver um laboratório com tantos observadores, sem que

as pessoas observadas se sentissem intimidadas. As crianças parecem não se incomodar

tanto quanto os adultos. Mas de qualquer maneira, a ideia inicial era não obrigar ninguém

a realizar as atividades. As/os estagiárias/os estariam livres para participarem ou não.

Refleti que seria pior caso fosse obrigatório e as/os estagiárias/os não se empenhassem

e se tornassem referências negativas para as crianças. Nada mais esquisito do que um

adulto fazendo uma atividade infantil malfeita.

Assim como a/o professor, a/o regente ao entrar em uma sala de aula não precisa

ser necessariamente outra pessoa, mas a sua performance é medida pelo seu ensaio.

Assim, ao ensaiar um grupo, sua personalidade ou estado emocional não

necessariamente afeta a funcionalidade e eficácia do seu trabalho. A ideia é que ao

começar um ensaio a/o regente se torne uma performance, assim, não é mais a sua

identidade que está sendo vista, e sim uma combinação de habilidades artísticas e de

ensino combinadas. Observo que, dependendo do dia, as pessoas lidam de modos

diferentes com determinadas situações, mas isso não deveria afetar o seu desempenho

como profissional. Um médico não poderia se recusar um atendimento ou maltratar um

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paciente no pronto-socorro por estar de mal humor, mesmo que estar de mal humor seja

uma situação comum.

Nos dois primeiros planejamentos, como as/os estagiárias/os apresentaram

dificuldade no ensaio, dedicamos boa parte do tempo discutindo quais tinham sido os

problemas, e não sobrou muito tempo para organizar como seriam os procedimentos do

ensaio seguinte. Montávamos uma proposta de rotina, porém, cada pessoa era

responsável individualmente por organizar, a partir do problema que havíamos

levantado, como conduziria o próximo ensaio.

A minha principal sugestão foi que não fosse desperdiçada nenhuma passagem

do repertório sem um objetivo bem claro, visando a melhora da performance. As crianças

poderiam se envolver com o ato de cantar de maneiras variadas. Construindo um

ambiente onde o cantar fizesse parte de um contexto motivador as repetições seriam

menos enfadonhas e, também por esta ludicidade, seria possível desenvolver aspectos

técnico-musicais.

Neste dia, apresentei o capítulo quatro da minha dissertação com propostas de

jogos que poderiam ser interessantes e eficientes na prática coral infantil, justificando-os.

Enviei a dissertação com as partituras por e-mail e sugeri a leitura e adaptação das

propostas para o nosso repertório.

Durante essas duas primeiras semanas de ensaio aberto, retratando a dificuldade e

os problemas da repetição descontextualizada, organizei uma proposta prática na qual em

pequenos grupos, deveriam levantar hipóteses e propostas de atividades que não

utilizassem tanto a repetição.

Na semana seguinte, a estagiária responsável pelo Lamento da Lavadeira

começou ensaiando o refrão da canção. Ela organizou a roda e sugeriu que as crianças

repetissem o refrão com timbres e andamentos variados. As crianças cantaram bem esse

momento. A estagiária dessa canção é bastante expressiva vocalmente e corporalmente,

tanto na passagem do repertório quanto na forma como se comunica com as crianças.

No geral as crianças ficam bem interessadas pelo que ela falou. Ela começou a lembrar a

primeira estrofe e, junto com as crianças criou uma pequena coreografia para auxiliar na

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memorização da letra.

Em seguida, ela havia preparado um cartaz com a primeira estrofe, porém, com

algumas lacunas na letra. A ideia dela era que as crianças completassem as lacunas para

memorizarem a letra. ADOREI! Ela foi a primeira que organizou com autonomia uma

proposta alternativa no ensaio, além da repetição ou sugestões que eu havia dado.

Como as crianças têm livre acesso e permanência nas oficinas, quando elas se

desinteressam ou se cansam, vão embora. Existe a parte positiva que não tivemos em

momento algum tipo de conflito ou problemas com as crianças. Elas sempre executaram

todas as propostas com bastante interesse e nunca discutiram entre si, assim, sempre

tivemos um grupo atento e disposto a realizar as propostas, independentemente de

alguns terem saído. Tanto as crianças quanto as estagiárias e estagiários não passaram

por situações de desconforto ou estresse, não havendo tensão nas relações pessoais. A

dificuldade deste contexto é organizar um ensino contínuo e progressivo, sem tantas

certezas do resultado como normalmente acontece nos corais. Porém, avaliamos que um

grupo foi constante e aquelas crianças que estavam sempre presentes estavam cantando

as canções.

Até o terceiro ensaio as/os estagiárias/os planejaram a passagem do repertório

utilizando a repetição como ferramenta principal. Começamos a observar que as crianças

nos últimos 15 minutos do ensaio começavam a sair da aula. Entendemos naquele

momento que as atividades do começo estavam muito repetitivas, deixando as crianças

desgastas e desestimuladas, já que ao longo do ensaio elas iam cantando cada vez menos,

até a evasão.

Retomando um ponto relevante deste debate, mesmo em outros contextos

corais, existe a dificuldade de ensinar o repertório além do recurso da imitação, o que

implica em pouco espaço para a criança que se sente desgastada ou vê a repetição como

algo desnecessário, sem sentido. É difícil que ela seja estimulada ao aprendizado. Desta

forma, a/o regente precisa pesquisar os interesses do grupo e organizar estímulos

indiretos para que as crianças repitam as canções.

Inspirada pela regente do Lamento da Lavadeira, na semana seguinte a regente

do Garota do Tacacá trouxe também a mesma ideia para a sua canção (Acho que para

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ajudar na memorização das letras, já que elas alternam no ensaio, farei cartazes de todas

as músicas). Interessante destacar que as/os estagiárias/os assistindo a performance dos

seus pares também são inspirados a novas propostas, que normalmente não teriam

organizado anteriormente sem vê-las em um ensaio.

As crianças cantaram bem neste primeiro momento, porém, quando ela solicitou

que elas levantassem e se movimentassem ao cantar as crianças, em sua maioria, não

realizaram as ações. Acredito que faltaram estímulos e referências para que elas

conseguissem. Decidi não interferir, pois, mesmo que as crianças não estivessem

realizando a movimentação, pareciam bem atentas no cantar. Após este momento a

regente chamou a próxima estagiária para o Lamento da Lavadeira. Sugeri que as

crianças montassem uma roda para variar um pouco o posicionamento. Mesmo que

pequena, a mudança (posição para o ensaio), já cria uma nova ambiência para a

atividade e também a roda facilita a conversa, porque neste momento, falamos da

apresentação.

Buscando também alternativas para evitar as repetições descontextualizadas, a

regente responsável pela canção no Para começar esta aula havia me dito que precisava

de uma sugestão para a repetição. Sugeri que fizéssemos a primeira parte como um jogo

de mãos. Assim, conduzi esse momento no ensaio.

As crianças se organizaram bem em duplas e mostrei variedades possíveis de

combinação de movimentos e pedi para que elas escolhessem. Conseguimos cantar a

canção 9 vezes desta forma. No começo, algumas crianças estavam mais atentas ao

gesto, mas observamos que algumas já estavam cantando. Podemos incluir este jogo

também na performance final desta canção. Me parece mais interessante que a

coreografia que tinha sido criada pela regente.

Na intenção de estimular que as/os estagiárias/os pensassem e experimentassem

outras alternativas de propostas para ensinar o repertório, solicitei que o planejamento

do sexto ensaio fosse organizado sem a minha interferência. A indicação era que, a partir

do que observamos nos ensaios anteriores (onde estava ocorrendo a dificuldade de saber

identificar as dificuldades das crianças e planejar as atividades com mais variedades),

as/os regentes precisariam organizar propostas em que as crianças fossem estimuladas

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de outras formas a cantarem o repertório.

A observadora começou falando para o grupo sua primeira impressão do ensaio

da canção Garota do Tacacá. Ela comentou que as crianças não dançaram quando foi

solicitado e que seria interessante que pudessem se movimentar mais, a regente que

ensaio a canção respondeu:

(Transcrição do planejamento após o terceiro ensaio aberto)

Regente da Garota do Tacacá: você estava aqui atrás, eu lá da frente observei que as crianças

estavam se movimentando.

Estagiário A: elas até estavam se movimentando, mas acho que era pouco

Estagiária B: a gente tem que lembrar que no começo ou elas cantam ou elas dançam.

Acho que você pode ajudá-las mais na letra durante a canção, elas estavam cantando

atrasadas porque não lembravam muito bem o começo da frase.

Estagiária C: hoje elas aprenderam a segunda parte, então é mais difícil mesmo. Mas

hoje foi bem, porque pareceu que elas estavam cantando bem a primeira parte. Depois

se você quiser que elas dancem, trabalhe isso.

Regente da Garota do Tacacá: eu não gosto muito de coral com coreografia, mas

também não quero que elas fiquem engessadas.

As/os estagiárias/os continuaram debatendo a movimentação e o problema que

observaram em relação ao andamento. Elas e eles concluíram que precisam trabalhar

mais a segunda parte. A regente solicitou que no próximo ensaio todas/os as/os

estagiárias/os cantassem uma vez para as crianças, como havia sido feito nas outras

canções.

Considero que o debate deles foi bem interessante, tanto avaliando o

desempenho das crianças quanto da regente. De maneira geral, elas e eles conseguiram

formular questionamentos sobre o que aconteceu e concretamente projetar os próximos

passos de forma gradativa.

(Transcrição do planejamento após o terceiro ensaio aberto)

Regente do Lamento da Lavadeira: as crianças não sabem muito bem a estrutura, elas

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até conhecem a música, mas me parece que elas não sabem concretamente. Acho que

as crianças saíram no começo porque eu comecei a minha parte igual na semana

passada.

Estagiária D: eu acho que a roda que você fez ficou um pouco longa, por isso, as crianças

saíram neste momento.

Regente do Lamento da Lavadeira: pode ser mesmo, por que a gente já estava em roda e

já estávamos conversando

Estagiária D: exatamente, se na roda já começasse a fazer. Você tem razão, eu não

tinha percebido desta maneira.

Destaco que foi possível observar que as/os estagiárias/os já estavam utilizando

as reações das crianças em relação à recepção das atividades como fundamentais para

avaliar o ocorrido e organizar as ações futuras. Quanto mais elementos possuir sob o

perfil das crianças cantora, melhores condições a/o regente tem em organizar o

planejamento do que será ensinado e como serão transmitidas estas informações.

Quando a/o regente durante o ensaio está muito focada/o na sua própria performance

e não consegue ir analisando o desempenho do grupo pode tomar decisões não muito

eficazes sobre os procedimentos seguintes, pois não avaliou realmente como o grupo

executou e respondeu às questões anteriores.

As/os estagiárias/os começaram a discutir a entrada da parte vocal, pois as

crianças estavam adiantando o tempo. Junto, o grupo chegou à conclusão de que poderia

facilitar a entrada das crianças se houvesse um sinal executado por algum instrumento

de percussão. Eles também sugeriram que houvesse mais preparo vocal antes do

repertório. Me parece que eles ficaram meio divididos em relação a isso, pois uma parte

acreditava que seria possível realizar este tipo de processo de ensino durante a passagem

do repertório. Por fim, decidiram experimentar novamente os primeiros modelos nos

quais começavam o ensaio com a preparação vocal.

O quarto ensaio planejado foi o mais variado em propostas, pois cada canção

tinha uma atividade deflagradora, porém, como não executaram na prática, ainda

precisei auxiliar no ensaio:

As crianças começaram em roda com os estagiários responsáveis pela primeira

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parte do ensaio: a acolhida e o alongamento e aquecimento. O estagiário teve um pouco

de dificuldade de se comunicar com as crianças na organização das filas. Durante a

condução da proposta da coreografia rítmica o estagiário propôs que as crianças o

ajudassem, considero esta ideia muito interessante. A sua dificuldade está em conseguir

informar para as crianças as correções que elas precisariam fazer para melhorarem a

execução da coreografia. Observei isso, pois a aluna que se voluntariou para ir à frente

mostrar a coreografia estava executando bem a sequência, mas em outro andamento,

ela estava fazendo bem mais rápido. Ele não a informou, e acredito que, se comentasse,

ela iria se corrigir imediatamente: desperdiçou este momento. O que ocasiona este tipo

de ação é que as crianças ficam somente repetindo a atividade sem propósito, já que não

são motivadas pelo regente a melhorarem ou corrigirem os seus erros. Fazia algumas

semanas que ele não conduzia esta atividade no ensaio, pois havia faltado.

As crianças na quinta repetição já estavam realizando no andamento somente

pela imitação no andamento correto. Entendo que mesmo que o objetivo fosse alcançado,

se houvesse as correções antes, não seria necessário esse desgaste no início do ensaio que

tendeu a se acumular durante o restante das atividades, o que no fim dificulta bastante

a motivação e a atenção das crianças para as propostas.

O estagiário também teve problemas na segunda parte da coreografia rítmica. Ele

não compreendeu a organização rítmica dos movimentos e a pulsação. Neste momento

ajudei na manutenção da pulsação que estava desencontrada com o acompanhamento

dos instrumentos.

A próxima atividade foi o aquecimento vocal. As crianças cantaram muito bem,

com autonomia, logo que a estagiária responsável perguntou quem lembrava da canção

D. Maroquinha. Auxiliei no fim, para sugerir uma questão expressiva. As crianças, na

parte falada da canção, estavam executando de forma monofônica, assim sugeri que

falassem de maneiras diferentes, buscando uma entonação mais exagerada.

A terceira estagiária, na canção Para começar esta aula, não conseguiu ainda

organizar propostas que possam ensinar as crianças para além da imitação e repetição.

A pianista melhorou, mas ainda tem dificuldade com a pulsação. Acho que é um problema

tanto na técnica como pianista quanto na sua habilidade rítmica. Pode ser que seja

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necessário colocar outro acompanhador com o violão para ajudar. O problema é cobrir a

flauta doce. Esta estagiária está no começo do curso de Licenciatura em música, mas já é

formada em Licenciatura em biologia. Ela tem menos experiência em propostas de

educação musical, comparada aos demais.

Em seguida começou a passagem da canção Garota do Tacacá. A estagiária

organizou placas com a letra para ajudar as crianças. Ela ia fazer como a primeira

estagiária do Lamento da Lavadeira, porém, sugeri que solicitasse para as crianças

colocarem a letra na ordem para dar uma variada. Foi interessante e as crianças

participaram bem ativas. A dificuldade dessa canção está nas palavras indígenas, mesmo

que já tenha sido explicado o significado dos termos, elas têm mais dificuldade de

memorizar, pois não estão familiarizadas com a linguagem.

Para a última proposta, a estagiária responsável pela canção Maré havia impresso

fotografias do rio Catolé (citado no poema da canção) e de algumas espécies de animais

de água doce e sugeriu para as crianças cantarem com a voz do peixe. Haviam imagens

que mostravam animais. Havíamos discutido no dia anterior, brevemente, como

organizaríamos esta proposta e destaco que ela é a segunda estagiária que já organizou

uma variação lúdica para o ensaio, demonstrando positivamente a melhora na sua

performance como regente no nosso contexto de ensaio. As crianças avançaram bem na

técnica vocal, principalmente em relação à amplitude da abertura da boca e posição dos

lábios, imitando a boca do peixe. Esta posição auxilia o acesso do registro agudo da voz

e favorece o equilíbrio do timbre.

Consideramos, no planejamento posterior a este ensaio, que tivemos mais

variedade de atividades na passagem do repertório. Mesmo que ainda não tivéssemos

um modelo que pudesse abordar todas as questões, já era visível que, para as/os

estagiárias/os que regem as canções, aumentava o repertório de propostas de ensaio e

conseguiam se envolver mais com as atividades do laboratório com autonomia.

Em análise deste ensaio, o grupo levantou os seguintes pontos:

• Precisa melhorar a questão do andamento e consciência rítmica da

coreografia. O estagiário precisa estudar mais a atividade em andamentos

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variados para melhorar a sua consciência rítmica e coordenação corporal;

• A canção de aquecimento D. Maroquinha está bem cantada e agora seria o

momento de estimular a mudança das tonalidades;

• Sobra a canção Para começar esta aula, uma das estagiárias levantou a

seguinte questão:

(Transcrição do planejamento após o quarto ensaio aberto)

Estagiária A: não sei se é uma impressão só minha, mas parece que a

coreografia da música está fora do tempo, tem algo que não encaixa.

Regente responsável pela canção Para começar esta aula: realmente na

segunda parte da estrofe não encaixa tão bem a palma final, fica um

pouco fora da prosódia.

Rafael: regente, se você sabia que tinha um problema por que não

trocou?

Regente responsável pela canção Para começar esta aula: como

havíamos ensinado assim desde o começo, achei que seria complicado

mudar. Eu tinha outra ideia para esta parte, mas iria dificultar mais a

coreografia, pois teria mais elementos.

Estagiária: se colocar mais uma palma, já dá certo.

Rafael: acho que dá para colocar duas palmas nas duas partes.

Experimentamos com as duas palmas e deu certo. O trabalho desenvolvido em grupo

permitiu que as dificuldades de cada um pudessem ser amenizadas pelo restante das pessoas.

Entendo que se no planejamento anterior já tivessem cantado a música, teriam resolvido mais

rapidamente este problema. Destacamos neste momento a importância do planejamento no

seu sentido prático mais uma vez.

Seguimos com a Garota do Tacacá. A canção possui uma dificuldade rítmica

devido aos contratempos. Resolvemos que seria interessante que o acompanhamento

musical auxiliasse melhor ritmicamente. A violonista responsável por esta canção estava

com dificuldade de executar o acompanhamento no tempo correto de maneira que

ficassem evidenciados os contratempos da canção. A regente também toca violão, mas

não estava conseguindo explicar como gostaria que fosse executado, pois percebeu que

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a violonista tem algumas limitações técnicas. Ficamos um tempo tentando ajudar a

violonista e mostramos uma forma de acompanhamento para ela estudar durante a

semana.

A afinação não tinha tantos problemas, porém, como as crianças estavam com

dificuldades na letra, ainda não cantavam toda a melodia corretamente, primeiro

teríamos que resolver esta questão.

Para ensinar a letra usaríamos mais uma vez as placas com a letra, porém elas

teriam que ser refeitas com imagens para facilitar a leitura e ajudar na memorização,

trazendo outras informações para as crianças.

A próxima canção foi a Maré. Discutimos um tempo outras possibilidades de

imagens que podem ajudar as crianças na técnica vocal. Avaliamos que o uso das placas

foi bastante interessante e sugerimos que no ensaio seguinte a regente retomasse as

imagens, buscando a sonoridade desejada.

Perguntei para os estagiários quais são as habilidades que temos que obter para

conseguir realizar a coreografia rítmica. Foram levantados os seguintes conteúdos:

• Consciência do pulso rítmico;

• Coordenação e lateralidade;

• Memorizar a coreografia.

O grupo sugeriu propostas que conheciam para principalmente desenvolver o

pulso rítmico, pois entendemos naquele momento que como o estagiário responsável

também está com a mesma dificuldade, pode ser uma alternativa interessante. Como

seria suspenso o ensaio da semana seguinte devido à greve, decidimos que todos

buscassem propostas que pudessem trabalhar o pulso, porém de alguma maneira

ensinassem a coreografia e estimulassem a lateralidade, com a finalidade de que a

atividade auxiliasse diretamente no aprendizado da coreografia.

Sinteticamente, nesta fase do projeto nos dedicamos a refletir e treinar a

importância do domínio da atividade a ser proposta e ter o conhecimento prévio de

alternativas para solucionar os possíveis problemas que surgem inesperadamente

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durante os ensaios quando o planejamento não corresponde com o esperado. Destaco

que ao longo desse processo, as/os estagiárias/os tinham mais facilidade para falar sobre

as propostas do que para executá-las nos ensaios. Aparentemente ocorre um

distanciamento entre as habilidades de organizar o que será feito e as de colocar isso em

prática.

O LARCI permitiu que simultaneamente pudéssemos realizar tanto o debate

quanto a experimentação, para que pudéssemos adquirir mais referências para ampliar o

debate seguinte. Interessante destacar que, devido à proposta pedagógica do

PRODECAD, onde as crianças podem circular de acordo com seus interesses, aconteceu

de não termos, em nenhum ensaio, que resolver questões de conflito pessoal, tanto entre

as crianças quanto embates com as/os regentes. As questões ficaram mais centradas nas

dificuldades de conduzir e aperfeiçoar as conduções das propostas, já que as crianças,

quando participando ativamente do ensaio, não apresentavam dificuldades de realizar o

que era sugerido. O cerne dos problemas estava mais em como a atividade era proposta.

3.6.2 Estrutura dos ensaios abertos (panorama geral)

Quando ocorriam faltas, eu assumia as propostas daquelas pessoas que não haviam

comparecido. Mesmo enviando por e-mail a rotina, ninguém se habilitava a ocupar o

espaço do outro. O paradigma é que mesmo sabendo o que era para ser feito, as/os

estagiárias/os, caso não fossem exatamente incumbidos a se preparar para algo, não

tinham flexibilidade para ocupar emergencialmente qualquer outra função. Acredito que

isso era fruto de uma insegurança já esperada, devido à falta de experiências do grupo.

Após o problema de no primeiro encontro terem ido poucas crianças, conversei

com a coordenação do PRODECAD pedindo ajuda para que as professoras das salas

recordassem às crianças que às terças-feiras seriam os ensaios. Me sugeriram que ao

chegar no espaço, eu mesmo fosse andar pelas salas para que as crianças pudessem ver

que naquele dia haveria a oficina. A partir dessas medidas, em todos os outros encontros

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tivemos em média vinte crianças.

Observamos que ao longo do ensaio, após os quarenta e cinco primeiros minutos,

as crianças começavam a sair dos ensaios. Normalmente saía de três a cinco crianças. É

interessante notar que nunca saía uma criança sozinha. Sempre elas iam em duplas ou

trios. Observo também que, como as atividades do ensaio eram muito parecidas entre as

músicas, isso poderia estar gerando um desgaste nas crianças, levando algumas à evasão.

Neste momento também estávamos discutindo a necessidade de variedade de propostas

nos ensaios.

Sugeri no planejamento do quarto ensaio que no fim do ensaio fizéssemos algo

muito diferente, que no caso foi ensinar as crianças a fazerem um origami de peixe.

Tínhamos pensado que também poderíamos usá-lo na performance da canção Maré.

Neste dia, fizemos o origami do peixe para a canção final Maré. Neste momento

todas as crianças e as/os estagiárias/os participaram. As crianças pediram para levar os

peixes para casa, então fizemos mais de um peixe para cada criança. Destaco que foi o

primeiro momento que todos estavam socializando, isto é, todas/os as/os estagiárias/os e

as crianças. Penso que precisamos de mais momentos como este, foi bonito de ver.

Antes desta atividade no ensaio, duas crianças haviam saído. Como fizemos o

origami no fim, durante a proposta nenhuma criança saiu e ainda cantamos fazendo as

dobraduras. Foi possível avaliar que esta música já estava decorada e vocalmente bem

executada. Estava meio estridente, mas já havia melhorado. Essas práticas, junto aos

debates, repercutiram na mudança do quinto e sexto ensaios, como já discutido no

subcapítulo anterior.

No quarto ensaio também foi solicitado pela coordenação do PRODECAD que uma

criança com deficiência cognitiva frequentasse nossas aulas, pois foi sugerido pela sua

equipe médica que ela participasse de atividades musicais. Sugeri que organizássemos as

seguintes ações:

• Toda a semana alguém deve ir buscá-la em sua sala de aula para que ela

venha à oficina;

• Nas atividades em dupla sempre ajudaríamos que ela encontrasse alguém

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para ser sua companheira;

• Observamos que ela, de maneira geral, se mantinha ativa no grupo

realizando as atividades, embora com certa dificuldade, porém,

geralmente parece que ela compreendia o que havia sido solicitado ao

grupo. As demais crianças também a aceitaram sem problemas. Quando

ela precisasse realizar algo individualmente, percebendo que ela não havia

compreendido ou não conseguia, alguém deveria auxiliar.

Nos ensaios seguintes, a criança participou de forma bem integrada ao grupo.

Tanto ela quanto as demais crianças pareciam estar habituadas às questões que

envolvem a inclusão. Ela não executava a parte vocal, isto é, não cantava, porém, dançava

e respondia às perguntas assim como as demais crianças. Não tivemos problemas em

incluí-la.

Nessa fase, fomos mais rigorosos com o controle do tempo. Cronometrávamos

cada proposta com mais precisão e conseguimos manter nos ensaios o que havia sido

planejado. Não foi um processo tão simples, pois algumas vezes as/os regentes sentiam

que o controle do tempo gerava certa ansiedade, mas ajudava a organizar as ideias.

Observamos que, mesmo com a alternância, tínhamos uma média de quatorze

crianças que foram em quase todos os ensaios neste período. Avaliamos como positivo,

já que era possível avançar com o ensino do repertório, não sendo necessário sempre

recomeçar. Mesmo que pequeno, esse grupo fixo auxiliava as crianças que vinham visitar

o coral esporadicamente.

3.6.3 Mais reflexões do observador

Na primeira fase, a repetição das mesmas atividades com turmas diferentes

favoreceu que os objetivos e potencialidades de cada proposta fosse mais sedimentada

nas/os estagiarias/os. Na fase de ensaios, como toda semana era necessário dar um novo

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passo com o grupo, apareceu a dificuldade de colocar em prática o que era planejado,

mesmo que o sujeito acreditasse que compreendia o que deveria ser feito.

Quando eu realizava as interferências imediatas no ensaio e demonstrava uma

alternativa para ajudar na condução da atividade com as crianças, durante o

planejamento havia maior participação das/os estagiárias/os no debate. Principalmente a

pessoa que foi ajudada.

A interrupção das atividades devido à greve não possibilitou verificar até onde

chegaríamos com as crianças. Neste momento, observando a gravação do último ensaio,

avalio os seguintes resultados com as crianças:

• A percussão corporal estava parcialmente decorada, o condutor teve

dificuldades para organizar e provavelmente iríamos facilitá-la ou deixá-la

de lado;

• A canção Para Começar Esta Aula estava decorada. A coreografia que a

regente havia escolhido tinha um problema que já havia sido discutido, e

decidíramos uma forma de resolvê-lo. A pianista ainda não estava muito

segura, mas já havia melhorado sua precisão rítmica. Já havia sido

sugerido formas de estudo;

• Em O Lamento da Lavadeira seriam cantadas as duas primeiras estrofes,

porque não haveria tempo para decorar todas. Reorganizamos ao arranjo

devido a isso;

• A canção Garota do Tacacá estava com o refrão bem decorado, porém, a

dificuldade com a letra estava prejudicando a memorização de algumas

partes. Porém, já havia também melhorado e acreditávamos que seria

possível aprender a canção inteira;

• A canção Maré era aquela que estava mais pronta do repertório.

Precisaríamos mantê-la aprendida e incorporar de alguma forma os peixes

que haviam sido construídos.

Nestas perspectivas, penso que seria possível apresentar o repertório, ou boa

parte dele, no final do semestre. Além do que as/os estagiárias/os poderiam também

cantar junto com as crianças, pois já tinha sido ensaiado anteriormente nos

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planejamentos das performances e arranjos.

Observei a tendência de que o nervosismo e a ansiedade na frente das crianças

criam um bloqueio para que a pessoa possa avaliar com clareza o que está acontecendo

com o grupo, principalmente por não ter referências de como resolver determinadas

situações que não foram previstas. A insegurança da/o regente também dificulta que

ocorra a observação da performance do coro, pois o excesso de concentração no que

precisa ser feito embota a percepção, não deixando espaço para que haja a análise dos

resultados do que está sendo executado.

Sinteticamente, tivemos as seguintes questões principais:

1. As dificuldades musicais da prática em grupo;

2. Dificuldade de realizar ações combinadas: reger e cantar;

3. Dificuldade em aplicar as atividades no ensaio, devido à falta de experimentação

prévia;

4. Dificuldade auditiva de reconhecimento da produção vocal das crianças e a partir

disser realizar as correções diretivas;

5. Dificuldade em improvisar alguma proposta quando o planejamento não ocorre

como o esperado;

6. Desconhecimento de propostas que organizam o ensino do canto.

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4. Entrevista com as/os estagiárias/os do grupo

Para avaliar o processo de desenvolvimento do LARCI e os seus resultados foi

realizada uma entrevista com as/os estagiárias/os que ao longo do primeiro semestre se

disponibilizaram a participar do laboratório. Devido à greve dos Sindicato dos

Trabalhadores da Unicamp (STU), a finalização do projeto no primeiro semestre foi

antecipada, assim, a entrevista também ocorreu antes da data que havia sido agendada

no início das atividades.

Da mesma forma que a entrevista apresentada no capítulo 2, “Entrevista com a

coordenação do Comunicantus”, neste caso também foi utilizada a entrevista na forma de

grupo focal. Como todas as atividades foram realizadas coletivamente entendo, que

estaríamos habituados ao debate em grupo, já que durante o semestre sempre ocorria o

momento de discussão. Além disso, a proposta de grupo focal viabiliza a possibilidade de

entrevistar todas as pessoas juntas, sendo catorze participantes nesta pesquisa. Esta

coleta de dados foi aprovada com o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

(CAAE) 53116216.2.0000.5404.

Para organizar a entrevista iniciei enviando um e-mail ao grupo pré-agendando

uma data. Duas pessoas não poderiam participar no dia em que a maioria estaria

disponível, assim, decidi separar a entrevista em duas datas para garantir que todos

participassem. Ambas foram realizadas e gravadas na própria sala no PRODECAD, onde

ensaiávamos. Como não estavam indo as crianças por conta da greve, o espaço estava

silencioso e pouco frequentado, favorecendo a ambientação para a entrevista.

Previamente ao encontro, organizei as seguintes perguntas:

• Porque vieram ao LARCI?

A ideia desta questão foi identificar quais as expectativas que cada um tinha ao

se inscrever no laboratório para que, ao fim, fosse avaliado se as propostas foram

interessantes para o grupo ao longo do semestre.

• Qual que é a diferença do que é oferecido nos respectivos cursos comparado ao

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que é proposto pelo LARCI?

Nessa pergunta busquei compreender se o LARCI propunha algum procedimento

diferencial para entender a relevância do desenvolvimento deste laboratório.

• O que vocês pensam sobre a quantidade de disciplinas obrigatórias dos seus

cursos?

A ideia desta pergunta era buscar as relações entre o LARCI e a grade curricular,

já discutida no primeiro capítulo.

• Vocês conseguem avaliar o que aprenderam aqui e se isso é importante na

profissionalização futura?

Tendo em mãos esta guia inicial, que julguei incluir os pontos principais que

desejava discutir posteriormente na tese, encaminhei as entrevistas então a partir deste

eixo.

Nos dois dias do encontro, iniciamos a entrevista explicando os procedimentos de

fala e inscrição. A principal dificuldade nesse tipo de coleta de dados é estabelecer que

as pessoas não falem ao mesmo tempo ou se interrompam, situação que dificultaria as

transcrições posteriormente. Para isso, cada participante recebeu um número de

identificação escrito em um crachá. Expliquei que haveria perguntas que todos

responderiam e outras que somente quem tivesse interesse. Quando houvesse o

interesse de falar, a pessoa interessada levantaria a mão, e eu, anotando a sequência de

intenções, iria indicando o momento que a fala aconteceria, similar à inscrição de uma

fala em assembleias deliberativas. Esta anotação com os números das inscrições de fala

também facilitou a transcrição, pois eu já tinha em mãos, previamente anotado, a ordem

das falas.

Destaquei ao grupo a relevância de estarmos atentos para não desviarmos dos

assuntos propostos nos debates, o que prejudicaria os objetivos da coleta de dados.

Desse modo, caso alguma pessoa começasse a discutir um tema que não abordaríamos,

e não havendo qualquer outra fala posterior que completasse ou retomasse a discussão

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principal, o grupo todo seria alertado e buscaríamos rapidamente retomar os assuntos

em questão.

No primeiro dia de entrevista, como o grupo se compôs com maior número de

pessoas (12 ao todo), não ocorreram interrupções nesta perspectiva, pois entendo que,

como havia mais pessoas para darem as suas opiniões sobre os temas propostos, não

houve tempo para a dispersão do assunto. Diferentemente disso, no segundo dia (2

pessoas) algumas vezes a entrevista desviava de assunto e era necessário retomar ao

tema da pergunta para não perdermos o fluxo estabelecido para a coleta de dados. A

primeira durou duas horas e a segunda, uma hora.

Para a transcrição das falas neste capítulo e no anexo 2 e 3, os nomes ditos

durante as entrevistas foram substituídos por XX. A primeira entrevista está na íntegra,

com exceção da explicação do funcionamento que antecedia o começo das perguntas.

Na segunda entrevista também foi retirado um trecho que desviamos dos assuntos em

questão e as/os estagiárias/os pediram privacidade.

Tentei manter as falas mais próximas da oralidade. Como qualitativa, esta

pesquisa busca compreender “as motivações, as representações, consideremos os

valores, mesmo se dificilmente quantificáveis; deixemos falar o real a seu modo e o

escutemos” (LAVILLE & DIONNE, 1999, p.43). Para esta análise o primeiro passo foi o

recorte de conteúdos: a ideia foi buscar dentro das falas pequenas unidades que

posteriormente poderiam se tornar categorias. Neste caso, as unidades selecionadas

buscaram temas em comum, isto é, falas que abordavam assuntos similares, mesmo que

dentro de uma única fala, sendo possível fracioná-las em unidades diferentes. Destaca-se

que, ainda que tratando de temas variados, é comum que alguns temas “[sejam] apenas

aflorados, ao passo que outros ocuparão um lugar central. ” (LAVILLE & DIONNE, 1999,

p.217). Para definir as categorias segui o modelo misto definindo categorias iniciais e, ao

longo da análise, reagrupando as unidades comuns até a categorização final.

As categorias iniciais foram elaboradas conforme os itens principais das

entrevistas:

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• Motivações que levaram à inscrição no LARCI;

• Impressões pessoais da experiência;

• Comparar formação com e sem LARCI;

• Sobrecarga de matérias obrigatórias em relação às eletivas;

• Contribuições para aprendizagem individual.

As falas que abordaram estes temas foram recortadas da transcrição completa e

reorganizadas. Após análise mais detalhada foi possível reagrupá-las novamente. A seguir

estão escritas as categorias finais e suas respectivas análises.

4.1 Motivações para participação do LARCI

Nesta categoria, o objetivo é identificar qual o perfil de aluna ou aluno que se

disponibilizou para participar e as demandas e razões que as/os levaram a se inscrever

no laboratório. Abaixo, apresenta-se a lista com o curso de todos os 14 participantes e o

semestre que estavam cursando durante o 1º semestre de 2018, junto ao seu

instrumento de proficiência, em uma ordem aleatória:

• Licenciatura – 9º semestre/canto, violão e um pouco de piano;

• Licenciatura – 3º semestre/ violão;

• Licenciatura – 3º semestre/piano;

• Licenciatura 9º semestre e Bacharelado Canto Lírico – 7º semestre/voz,

violão (básico), piano (básico) e acordeom;

• Licenciatura - 7º semestre e Bacharelado em piano – 7º semestre/ piano, voz

e ukulele;

• Licenciatura – 3º semestre/piano;

• Licenciatura – 5º semestre/piano;

• Licenciatura – 3º semestre/ flauta transversal, piano e canto;

• Licenciatura – 3º semestre/ violão, canto e percussão;

• Licenciatura - 9º semestre e Bacharelado canto lírico/ voz;

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• Licenciatura 9º semestre/ violão;

• Licenciatura- 7º semestre/ flauta;

• Licenciatura – 9º semestre/ violão e piano;

• Licenciatura – 5º semestre/ violino.

Destaca-se que não houve inscrições das alunas e alunos do bacharelado em

regência. Acredito que tenha ocorrido uma incompatibilidade com os horários do curso

de regência, já que o interesse pelo laboratório havia sido externado por algumas alunas e

alunos com quem tive contato durante a divulgação. Ao privilegiar um período para o

funcionamento do LARCI que coincidisse com a previsão de poucas disciplinas para o

curso de licenciatura no quadro de horários, facilitando uma maior adesão de

participantes neste estágio, acabou-se por dificultar a participação para quem cursava o

bacharelado em regência, pois no mesmo horário ocorria a disciplina de práticas

orquestrais que as alunas e alunos da regência são obrigados a assistir, e em alguns casos

reger os ensaios.

A questão de ter um horário disponível é bem complicada para quem cursa a

licenciatura, porém, esse grupo foi privilegiado por entendermos que teriam maior

interesse na atuação com crianças. Contudo, para o aprimoramento das atividades e

maior participação futura de regentes faz-se necessário repensar os horários ou abrir

outras propostas similares ao LARCI simultaneamente, aumentando as possibilidades de

participação.

As entrevistas ocorreram após a participação do LARCI, assim, as falas se

misturam entre impressões pessoais a partir das vivências que já haviam acontecido e a

experiência anterior ao Laboratório. Neste sentido, na pergunta sobre as motivações que

levaram à participação do LARCI, as motivações pessoais mesclam-se com colocações

sobre aspectos que as pessoas acharam mais relevantes nas respectivas formações.

Para apresentar as motivações que levaram as/os estagiárias/os a se inscreverem

no LARCI a seguir são apresentados alguns recortes de suas próprias falas:

1: Bom, é.... eu vim para o LARCI porque eu estou na licenciatura e faço bacharel

também, em canto, e eu sempre busquei coisas que pudessem unir as duas frentes. Eu

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acho que o LARCI foi um momento que me deu uma luz e quando o Rafa propôs o

laboratório, eu fiquei muito interessada em poder trabalhar com esses dois assuntos

que sempre me acompanharam durante toda a minha vida na Unicamp de uma

maneira única, né? [...].

2: Bom Parecido com a 1, o fato, também, de ser do canto e da licenciatura, o canto

coral é como a união. Eu sempre me interessei por canto coral. Já tinha participado de

outras coisas sobre esse assunto [ ].

3: É. O meu interesse, na verdade, pelo ensino de canto coral começou no PIBID do ano

passado. A gente foi para uma escola e tal... e eu vi que essa área despertou um

interesse bem grande em mim. Coisa que eu não imaginaria, porque eu toco violão, né?

Já dei aula de violão particular e tal... E a partir do PIBID... e depois eu fiquei sabendo

logo no finalzinho que a oficina ia ser oferecida no ano seguinte [ ].

4: [...]. O fato de ser uma oficina supervisionada, né? A oportunidade de discutir a

prática e não ficar só em uma discussão teórica. E não é uma prática sem

fundamentação teórica, né? Por mais que a gente não tenha só parado para ler um

texto e tudo o mais, a gente sempre teve muita direção sua e tudo o mais, né?

5: Concordo com o 3, mas o meu interesse foi, também, porque eu sempre achei que o

curso é muito teórico. O curso de música da licenciatura é muito teórico e, talvez para

mim, seja o principal motivo, dentro de vários, foi a oportunidade de ter uma

experiência de aprendizado da minha formação na prática. Porque em nenhum

momento, na minha formação, eu tive uma experiência mediada de oportunidade de

aprendizado. Eu tive o PIBID, mas o PIBID não tinha essa mediação durante esse

processo. Então você ia, só que você não tinha essa mediação de alguém que é da área [

].

6: Mais para complementar, mais, a minha formação, ter mais experiência,

principalmente com criança mais nova. Porque é a primeira vez que eu realmente

comecei a trabalhar com criança abaixo de oito, nove anos.

7: No meu caso também tem a ver com essa falta de experiência, que eu nunca tive

contato de ensino diretamente infantil, né? Com crianças. E eu sempre participei de

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coro, mas é totalmente diferente de você reger um coro... e essa experiência, na

realidade, na nossa faculdade, a gente não tem a prática que a gente cobra muito nas

aulas. E eu acho muito importante, né aqui a gente desenvolver isso. Basicamente é

isso.

8: Eu sempre gostei muito de cantar e de coral, e eu tenho experiências de coro infantil,

mas eu nunca tive aulas de regência que fossem direcionadas exatamente para reger

um coro infantil. Porque um coro adulto é extremamente diferente. Então eu vi no

LARCI uma oportunidade de ter uma experiência direta com coro infantil, aprender

como lidar a, não fazer só um ensaio, mas inserir elementos de musicalização.

9: É. Eu fiz Técnica Vocal e Preparo Vocal Para Coro Infantil com a XX, e isso me chamou

muito a atenção para o coral infantil, as coisas que ela falou durante essas aulas. E isso

me incentivou muito a vir para cá e a falta de laboratórios que a gente tem na

licenciatura. O LARCI foi uma oportunidade de ter um laboratório mais prático e guiado.

10: Para mim, eu já conhecia o Rafael, porque eu trabalhei com ele no CEMMANECO

por dois anos... e foram bem começo da licenciatura. Então eu basicamente aprendi

fazendo, né? Eu aprendi na prática e aí... depois eu fui entendendo o teórico e aí

quando eu soube que era o Rafael que ia dar a oficina, eu me interessei, porque,

primeiro que eu canto também, e é uma questão de ensino, que são coisas que estão

ligadas.

11. [...]. Apesar de eu não ter o interesse específico de ser regente de coro, eu acreditei

que essa experiência podia melhorar as minhas aulas como professora, me dar mais

ferramentas para trabalhar com músicas cantadas com as crianças [ ].

12: Meu principal motivo é por estar lá no coral infantil do CEMMANECO desde o meio

do ano passado, e eu nunca tinha trabalhado com canto coral, nem com crianças e

porque eu estava procurando atividades agradáveis na Unicamp.

13: [ ] O que me atraiu foi principalmente a questão de que eu não tinha experiência

em dar aula, ou coisa assim, e ver as crianças na sala de aula. Então isso foi o que me

interessou.

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14: Eu pretendo seguir a área de canto coral mesmo. Então já era um interesse meu e,

aí, quando eu vi que você estava dando essa oficina eu achei bem bacana, porque seria o

meu primeiro contado com regência coral mesmo. [ ]

As falas 1, 2, 3, 7, 8, 9 e 14 apontam inicialmente para o interesse na área do canto

coral infantil, oriundo de uma vivência anterior nesta prática e/ou na possibilidade de

vincular o ensino de canto em suas práticas pedagógicas. Este grupo representou o

público inicialmente almejado para integrar-se ao LARCI, já que um dos principais

objetivos deste projeto foi proporcionar um laboratório de formação específica para

regentes corais infantis.

A possibilidade de atuação prática durante os ensaios com as crianças foi também

o elemento motivador dentre as falas 4, 6, 7, 10, 11, 12 e 13. O diferencial do LARCI para

uma oficina ou curso de regência é a participação das crianças durante todo o processo

formativo. Este grupo relatou certa dificuldade de acessar disciplinas, programas ou

projetos que contemplem a formação teórica e prática pedagógica simultaneamente

durante suas formações, favorecendo e justificando a existência deste laboratório.

A fala 5 ressalta que a existência de uma supervisão e discussão mais direcionada

foi o aspecto mais significativos para a sua inscrição no laboratório. As três motivações

apresentadas são os principais objetivos do desenvolvimento do LARCI: a formação em

regência coral infantil; a prática na condução dos ensaios com crianças; a supervisão

direta nos ensaios de alguém com mais experiência, além do próprio grupo de regentes.

Destaca-se que todos os participantes do LARCI já haviam cursado a disciplina

obrigatória “Coral I e II”15, mas ninguém citou essa experiência como motivadora para

buscar aperfeiçoar os estudos de canto coral. Nessas disciplinas as alunas e alunos

cantam no coro, assim, não têm a oportunidade de reger ou participar dos planejamentos

do ensaio. A participação cantando em um coral é fundamental para a formação em

regência, pois representa um espaço no qual são estimuladas as habilidades

performáticas da/o regente em sua prática vocal, além fornecer referências para

15 Esta consulta foi realizada conferindo as integralizações curriculares solicitadas previamente.

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desenvolver estratégias na condução dos seus futuros ensaios como regente. Em

contrapartida, como todo o coral do departamento é formado por discentes do curso de

música, no ensaio não são necessárias propostas voltadas para grupos infantis ou até

mesmo grupos de adultos amadores que necessitam de estímulos diferentes comparados

com cantores com algum tipo de estudo de música técnico, e consequentemente, leitura

musical.

Todas/os estagiarias/os cursaram também a disciplina “Iniciação a regência I”,

porém, ela também não foi citada como um dos despertares do interesse pela área. No

caso da Licenciatura em música, elas seriam as principais disciplinas que envolveriam a

prática do canto coral e da regência. Diferentemente da entrevista 4, em que foi citada a

participação de uma disciplina eletiva relacionada diretamente com técnica vocal para

coros infantis, tornando-se um espaço gerador de interesse na formação continuada

nesta área.

Neste cenário de comparações sobre o que havia sido realizado no LARCI com as

demais disciplinas que o curso oferece, a seguir, a segunda categoria de análise apresenta

estas considerações. É evidente que essas falas não retratam o que a maioria das alunas

e alunos da licenciatura pensam sobre o próprio curso, dando conta de uma amostragem

pequena que são aquelas e aqueles que participaram do Laboratório. Porém, como a

entrevista foi realizada em grupo, uma reflexão sobre as respostas críticas dos

entrevistados leva a crer que essa amostragem tem um peso significativo, já que, caso

não fosse um consenso para os presentes, ocorreriam outras falas que pontuassem

outras perspectivas ou pontos de vista menos incisivos na crítica ao curso de licenciatura.

4.2 Diferenciais formativos propostos pelo LARCI

Como citado na categoria anterior, algumas falas apontam para uma dificuldade das

alunas e alunos ao sentirem que nas disciplinas de seus cursos as práticas parecem estar

distantes das teorias estudadas, além do que, nos estágios que frequentaram, observa-se

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que as/os estagiárias/os sentem que os procedimentos não são necessariamente

orientados para melhorar a qualidade de suas aulas. Em contraponto a esta crítica mais

contundente, outra fala aponta que o entrevistado reconhece que ocorre a mediação

prática durante as disciplinas, porém, ainda assim, não são apontados quais são os

procedimentos para chegar em alguma realização musical

8: Acho que a prática mesmo, né? Porque, nas nossas aulas, fica tudo no hipotético: o

grupo de crianças é hipotético, o que a gente vai fazer é hipotético... E a gente, às vezes,

até planeja aulas com crianças, só que, na hora, você vê que... o planejamento, você

usa, mas às vezes você muda tudo. Então, eu acho que a grande diferença não é nem a

mediação, porque na aula você também tem mediação, você sempre apresenta o

projeto de planejamento e a professora vê, mas eu acho que é mais a prática mesmo.

Ter um grupo de crianças reais no qual você pode planejar e aprender a ter jogo de

cintura...

4: Eu acho que também dentro da... pelo menos é o que eu sinto, que dentro das

disciplinas que eu fiz no IA, de licenciatura, nenhuma delas incentiva a gente a pensar

no processo, sabe? É sempre no produto final. Quando a gente vai fazer um

planejamento, é: “Ok, o que que a gente tem que fazer para aquecer a voz? ”, “Ah! A

gente tem que cantar”, ok! Então a gente vai lá e escreve “cantar”. Ninguém fala como

cantar, de onde partir e, depois que você cantou, aonde você quer chegar, sabe. Eu acho

que esse ponto também é muito importante para a prática.

10: Eu queria complementar a fala da 8. A gente fica muito no planejamento, né? E eu

sinto também que a gente tem o começo e o fim. A gente não tem o meio. Tipo... o

começo ser muita teoria, e o fim o que você vai fazer. Só que fica esse buraco de “como

fazer? ”.

4: Eu acho que o que a 10 quis dizer é que o LARCI contempla tanto o início quanto o

meio e o fim, enquanto a licenciatura fica faltando aí...

5: Eu acho que... em relação ao LARCI e das outras experiências e disciplinas que eu tive

no curso, comungando com o que meus colegas acabaram de falar, eu acho que aqui

está muito bem orientado com relação a procedimento. Tanto em função da estrutura

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que você mesmo propõe, quanto por estar em um espaço prático, né? E isso é possível.

Sem isso, acredito que, se isso fosse proposto na disciplina teórica não faria, então,

sentido se hoje eu falasse assim: “Não... Então falta o ensino de procedimentos no

curso”. Só que não faz sentido você tentar ensinar procedimentos sem uma experiência

prática, né? Só que ao mesmo tempo é necessária essa noção procedimental de como

que é o processo de ensino, né? De você aprender a ensinar. Então faz muita diferença

em você pensar em cada procedimento, porque não é só você pensar: “Ah, começa aqui

e você tem que fazer cantar”. Tá! Mas e como é que canta? Quais são as etapas? Eu

faço o quê? Eu só abro a boca e....? Esses procedimentos são fundamentais para você

entender: “Ah, então fazer cantar... dar uma aula de canto é isso, isso, isso, isso e isso,

né? ”. Então isso deixa muito mais claro. Você tem clareza do que tem que fazer e como

você vai chegar lá. Se não tem isso, você não tem nada, na verdade.

13: Ah! Tem uma diferença bem grande. Começa que essa disciplina (LARCI), ela

funciona de forma mais prática, obviamente... e vinculada à disciplina. Não,

necessariamente, Pedagoga e Didática Musical, que é uma disciplina que (se) propõe a

falar de pedagogia e que tem uma parte de estágio de observação e o estágio não é

vinculado à professora e tudo o mais. Então você tem que ir atrás do seu. Essa disciplina,

ela é útil nesse sentido, né? Ela propõe a prática e eu acho que é o diferencial, assim.

Não tem no curso de música.

14: Eu acho que a liberdade de poder experimentar, né? No curso a gente fica muito

ligado à questão teórica, muito sentado na cadeirinha debatendo quais vão ser os

pontos a serem trabalhados, quais as reações de uma criança, como que acontece isso e

a gente não vê. Então, se a gente não vê, a gente nunca vai saber se é isso mesmo que

acontece ou não. As pessoas podem falar várias coisas de referências bibliográficas “x”,

super “tops” e a gente pode ver que, às vezes, no ambiente que a gente vai trabalhar,

isso não funcione. Porque, na prática, a teoria é outra.

Estes recortes apresentam uma questão estrutural da organização do

planejamento da aula. Como exemplo, a/o estagiária/o está consciente de que é

importante realizar o aquecimento vocal antes da execução do repertório, faz o

planejamento em tópicos e descreve quais serão os exercícios vocais possíveis de serem

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realizados. Porém, quando não existe um coral ou uma sala de aula real para observar se

os procedimentos escolhidos são eficientes é mais complexo fazer uma avaliação mais

próxima dos contextos dos ensaios com crianças. Essas falas apontam que no contexto

das disciplinas são discutidas hipóteses, e a/o docente responsável realiza a mediação

explicando as alternativas para melhora da performance tanto da/o regente quanto do

coral ou qualquer grupo abordado, porém com poucas referências e/ou práticas

procedimentais.

Retomando o debate do capítulo 3, em que é analisado o diário de campo do

laboratório, cito um exemplo na perspectiva do que foi dito nesta fala: as/os

estagiárias/os sabem que é importante realizar o vocalize e conseguem pensar em

alternativas de exercícios, porém, concretamente, pela sua falta de conhecimento vocal

e procedimental, não sabem como estimular as crianças a cantarem e realizar as

correções no momento em que elas estão cantando.

Parece existir um hábito de construir o planejamento de um grupo considerado

ideal no qual a/o regente solicitaria o que deveria ser feito e todas as crianças, sem

dificuldade, conseguiriam realizar. Caso o grupo não consiga, sem a discussão das

questões procedimentais nas quais se encontram as etapas das habilidades necessárias

para o ato de cantar, me parece que a/o regente tende a deslocar a dificuldade para o

coro, isto é, considera que o grupo não compreende bem, ao invés de imaginar quais

seriam os problemas que ocorreram na proposta desenvolvida pelo próprio regente. De

maneira geral parece mais comum culpabilizar quem não compreende do que se

autoavaliar, visando a mudança do próprio procedimento.

Quando não existe muita experiência no contato real com crianças, as alunas e

alunos da graduação não têm referências de possíveis ocorrências e soluções que

acontecem quando são propostas determinadas atividades em contextos variados, aliás,

mesmo que houvesse esta experiência, o distanciamento do docente da graduação com o

espaço de atuação das/os graduandos dificulta que as ações tomadas sejam debatidas ao

ponto de favorecer a melhora da qualidade das aulas.

As próximas falas trazem a relevância do LARCI possibilitar a prática musical, além

da prática pedagógica:

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14: […] [...] E tem uma outra questão também, que o 13 falou... da questão de tocar. Eu

vejo bastante dessa característica em mim e nele, né? Tipo... a gente gosta da música

também, a gente não gosta só da educação musical. A gente quer ser músico, a gente

quer tocar, a gente quer estar aí tocando com a galera do bacharel, porque, meu... a

gente faz um curso de música e isso tem que vir em primeiro lugar. Antes de você ser

professor, você tem que ser alguma coisa antes, né? Você tem que ser geólogo, você

tem que ser historiador para depois poder dar aula disso, né? Eu acredito que você tem

que ter um conhecimento.

12: [...]. Porque, assim... É a oportunidade do aluno da licenciatura ter uma aula

prática. E, não que seja fácil vir aqui todo dia, mas, querendo ou não, para mim, é um

prazer vir aqui, sabe? É uma hora que eu dedico, não só para a minha profissão, mas

para o meu fazer musical... que eu gosto de estar fazendo.

O fazer musical necessita e é fruto da ação prática. Nesse sentido, apenas falar

sobre música não permite que todas as habilidades musicais sejam estimuladas. Similar à

situação de realizar um ensaio ou dar uma aula. Saber o que vai fazer organizando

teoricamente o planejamento do ensaio, sem o treino prático, não garante que a pessoa

conseguirá transmitir os conhecimentos com clareza e eficiência para conduzir os seus

cantores e cantoras.

Outro assunto pertinente levantado é a possibilidade de todas as pessoas

poderem reger. Os programas como o LARCI podem descontruir o discurso, de tendência

mais ultraconservador e elitista, que coloca a/o regente como um ícone, distanciando

esta prática daqueles que cursam a licenciatura. É interessante evidenciar que a criação

de um coral infantil é uma forma de ensino musical

10: Eu acho que tem uma fala muito forte, assim, no IA, da coisa assim: “Quem rege é

o regente, quem rege é o regente, quem rege é o regente”...

0: Ah! Tem esse... o ícone, né?

10: Exatamente! E, principalmente para a gente da licenciatura, que existe o madrigal.

A gente no madrigal... a gente é tipo rato de laboratório. É só isso, né.

0: O madrigal que você fala, é o que quem tem que fazer iniciação à regência, tem que

cantar no madrigal?

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10: É. E essa fala, assim, né... que ecoa, né? Para mim ficou uma coisa assim: “Ai! Eu

não posso reger, então, porque eu estou fazendo licenciatura”, “Eu não sei fazer isso”,

“Quem sabe é o regente”. Aí, com o LARCI aqui, eu vi que eu tenho muitas

possibilidades. Acho que, inclusive, em alguns casos, melhor que os regentes... porque

eles só abanam o braço para a gente.

Destaca-se também que dois estagiárias/os que cursaram a mesma disciplina no

1º semestre de 2018, Pedagogia e Didática Musical I, ficaram mais satisfeitos com a

possibilidade de ter uma discussão teórica mais aprofundada, proporcionada por esta

disciplina, e ter a oportunidade de verificar as práticas que envolvem os assuntos

abordados durante a aula. Quando ocorre maior conexão entre as ações teóricas e

práticas, os processos de aprendizado de ambas áreas de conhecimento parecem se

oferecer de modo mais facilitado, atribuindo referências práticas à discussão teórica e

vice-versa.

11: Bom.... Eu vou dar exemplo da Pedagogia e Didática Musical. Por que a XX, ela falou

de autorregularão, de... dessas coisas, também, que a XX, né... na FE falou. Sobre

planejamento e sobre replanejamento, autoavaliação. Eu acho que esses conceitos,

essas ideias, deu pra ver já aqui sendo aplicado. Antes mesmo de a gente aprender lá....

Porque desde o início a gente vai fazendo exatamente, né... isso. Acho que nos

primeiros cinco encontros, assim... foi tipo um universo novo que surgiu, porque um

monte de coisa que eu não sabia, eu comecei a aprender logo na primeira aula que a

gente fez aqui. Em dez, quinze minutos a gente já tava tendo contato com coisas que

não imaginava como é que ia ser. E daí, quando a gente volta para a aula de Pedagogia

e Didática musical, a gente vê tudo que a gente viu aqui, falado lá, mas de forma

teórica. Então eu acho que tem uma troca legal, assim. Provavelmente outras

disciplinas também. É porque, tipo assim... O curso de licenciatura, o que eu acho ótimo,

ele é voltado para a educação do ensino regular, né? Então, uma coisa que acontece

muito são as pessoas entrarem no curso pensando em dar aula de instrumento e tudo

o mais... que eu acho que a metodologia, ela varia muito, né? Ela tem que ser sempre

readaptada, reapropriada... os métodos que tem por aí, também. A pessoa vai dar aula

de piano, aí vai pegar o método lá: “Piano virtuoso”, aí tem que readaptar tudo, porque

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não funciona. E, acho que, aqui... aula para tantas crianças, a gente tendo que se

readaptar toda hora, as crianças saindo quando quiserem, as crianças tendo idade que

a gente não sabe... aleatória Tudo isso, acho que, ajuda a gente a aprender a ter

ferramenta para adaptar o nosso planejamento, a nossa avaliação tudo isso.

12: É. Eu acho que essa questão da Didática e Pedagogia Musical foi bem importante,

assim... essa matéria, a gente estar fazendo em conjunto com aqui. Foi a primeira...

são quatro, né? A gente está na primeira. [...] e eu achei legal dessa da gente ver a

teoria em um dia e executar aqui várias coisas, levar as coisas que a gente executou e

entender um pouco o que que aconteceu também, né? Tem essa questão posterior da

avaliação. Também, acho que a questão de ver o quanto é ruim algumas coisas que a

gente tem na faculdade. Por exemplo: a disciplina de coral. Como está fraco, né? Porque

a gente não tem um aquecimento, direito, lá. E, aqui, a gente vê, assim... “como você

deve fazer”, e lá “como você não deve fazer”. Eu acho isso importante; ter gente que

saiba o que está fazendo. Porque é complicado achar que aquilo é um coral. Num nível

de graduação para pessoas que vão ser músicos. Talvez não sejam coralistas...

1: [...]. Foi diferente da Faculdade de Educação, da disciplina que eu fiz com a XX. Porque

ela tinha uma proposta de estágio e a gente teve que se encaixar dentro da proposta

dela. Isso foi muito interessante. No começo ficou todo mundo meio relutante, mas foi

legal. Era uma proposta de adolescentes, numa condição e num contexto determinado

por ela e, em grupo, a gente ia nas escolas que abriam espaço para a gente fazer

intervenções e atividades rolavam e era muito legal. E lá a gente tinha muito espaço de

conversa, de explicar o que aconteceu, o que deu certo, o que deu errado, como é que

foi na sala de aula. Isso foi muito interessante, assim, mas foi num contexto muito

voltado...

As pessoas que não conseguiram associar o que estavam aprendendo durante sua

participação no LARCI com as disciplinas de seus cursos tiveram falas mais

questionadoras e críticas em relação ao curso.

1: [...] a minha última disciplina de estágio na licenciatura, [...], nada era discutido. Eu

juro! Porque foi um absurdo isso. A gente não discutia sobre os espaços. Eram

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pouquíssimas as coisas que eram trazidas, as aulas eram extremamente monótonas...

é.... eu juro que eu não entendi aquele semestre. Então, assim... a minha última

experiência foi muito ruim nas aulas de estágio. Eu tive uma experiência muito boa no

Estágio Supervisionado que eu tive que fazer na Faculdade de Educação. Aí foi legal! O

Estágio Supervisionado da Educação foi um espaço onde a gente dialogava.

10: Só complementando, o que falta... o que eu vejo no meu estágio da música... Estágio

I da música... é direcionamento. Então, se deu certo para ela, é porque a professora

estava preparada para fazer isso. Ela tinha um planejamento, ela tinha base e aí ela

teve o espaço... ela conseguiu o espaço e deu certo. Nas nossas aulas de estágio,

assim... é difícil.

Ocorrendo a possibilidade simultânea de discutir questões pedagógicas e

musicais, diversas habilidades são abordadas com a perspectiva de serem desenvolvidas,

além do que os conceitos teóricos ganham vida para as/os estagiárias/os. Não tivemos

uma só pessoa que não executou alguma atividade no LARCI, todos alternaram entre

correpetição ou regência, de acordo com os interesses pessoais, assim, a próxima

categoria discute o que individualmente as/os participantes compreendem que

aprenderam no LARCI.

4.3 Auto avaliação do aprendizado das/os estagiárias/os

Nesta categoria foram identificados dois principais grupos de possível categorização: as

pessoas que regeram tiveram impressões similares em relação ao próprio aprendizado,

assim como aquelas que tocaram, tiveram outro tipo de experiência, porém, bastante

significativa da mesma maneira. Início a discussão por aquelas que regeram.

6: Eu acho que aqui no LARCI eu comecei a pensar e prestar muito mais atenção no meu

papel de professor enquanto eu estou lá na frente das crianças, como eu devo me

portar, não só o que eu tenho que falar, ou como meu corpo deve agir... E para ter uma

experiência melhor, não só para mim, mas para as crianças aprenderem com mais

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facilidade. Eu acho que isso da gente, no final de toda aula, parar e ver o que é que nós

fizemos, o que deu certo, o que deu errado, está ajudando muito mais para fora daqui

também. Para eu conseguir chegar e pensar: “Não! Ok! Durante essa atividade eu vou

ter que ter esse jogo de cintura. Eu vou ter que fazer desse jeito e não desse porque, da

última vez que eu fiz, deu errado. Então na hora mesmo se está dando alguma coisa

errada, tentar prestar atenção, não só também no que as crianças estão demonstrando,

mas no que eu estou passando para elas. Acho que é muito importante esse “durante

da aula” que o LARCI deu.

10: Eu sozinha não pensava muito nisso. Acabava que chegando, assim... e antes de

começar a próxima aula que a gente decidia, porque era um grupo. Mas eu sozinha

pensava: “O que que eu posso fazer para melhorar? ”. E, tendo essa anotação e depois

discutindo, eu comecei a pensar mais sobre o que eu estou fazendo para a próxima aula.

E como tem muita gente no grupo e tinha muitos momentos que não havia atividades

para todo mundo, né? Natural. E por eu ser muito observadora, gostar mesmo de ver o

que está acontecendo, começou a cair mais essa ficha de ficar bem mais claro para mim

que: “Aquilo ali foi legal e então dá para eu colocar”, quando eu dou uma aula...

0: Absorver né?

10: Exatamente! [...] É... Só para finalizar: Eu acho que, na verdade, todo o processo,

né? Uma coisa muito importante que a gente acaba... que a gente aqui fez, né... e que

eu acho que a gente acaba não fazendo fora daqui é a questão de anotar o que

acontece, né? Durante a aula e depois pensar no que pode melhorar. [...].

A possibilidade de se autoavaliar e ser avaliado por um grupo de observadores,

quase que em seguida da execução da ação, favoreceu que as vivências do LARCI fossem

mais memorizadas. Neste sentido, a estrutura do planejamento, ação e avaliação

contínua foi valorizada como um dos fundamentos que esta tese entende como

necessários para que o coral se desenvolva de forma progressiva e contínua, de acordo

com os contextos e desenvolturas técnicas apresentadas, já que cada grupo coral tende a

compreender e executar a performance à sua maneira, não sendo possível desenvolver

o mesmo método para todos os grupos, ou seja, não existem receitas prontas. Além

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disso, nessas falas as pessoas começaram a olhar para a própria performance como uma

das fontes de análise para avaliar a qualidade do desempenho do seu coral.

A relevância do estudo de procedimentos também surgiu nesta categoria,

diversos estagiárias/os consideraram a possibilidade de praticar seus planejamentos e

compreendê-los como formas de organizar as atividades, porém sendo necessário levar

em conta certa flexibilidade, como um dos elementos mais importantes vivenciados no

LARCI. Destaca-se que o fato também de ter a minha interferência direta nas atividades

quando algo não ocorria da forma esperada, ou não dava certo, também os estimulava a

ver que alterar a proposta é possível para que sua efetividade seja alcançada a partir dos

objetivos pedagógicos pré-estabelecidos, ao invés de insistir na programação

rigidamente até o desgaste das crianças.

2: Para mim o que mais ficou mesmo, na realidade prática, foi a questão de você

realmente observar o que você precisa mudar, do que ficar só, né? Na Foi mais uma

questão de segurança. Eu acho que eu ganhei um pouco mais de segurança e de você

poder corrigir, né? Você falava: “Tem que corrigir”, “Não pode deixar passar”, que é

uma coisa que para mim, às vezes.... Sei lá Não sei porquê. Acho que até mesmo pela

insegurança, né? De você não corrigir, não deixar passar pequenas coisas mesmo, né?

Então eu acho que isso, nas minhas outras práticas, também teve reverberação...

2: [ ]. Outra coisa que eu acho que para mim ficou, é a coisa do planejamento de uma

forma prática, né? Você realmente ver que você tem que planejar no ponto de vista de

vivenciar aquilo, né? Então, não sei sempre que se fala de planejamento, a gente

sempre vê muito planejamento, mas fica aquela coisa assim, de: “Eu planejo ali, mas

executo outra coisa”, né? Mas você pode juntar as duas coisas, né? “Eu planejo, não só

para seguir um roteiro, mas porque eu sei onde eu quero chegar, como (eu quero

chegar) e eu sei o grupo que eu estou...”. Bom, para mim, na última, o planejamento

fez mais sentido. Saber o que eu queria exatamente e como.

6: Eu acho que, para mim, o que mais me pegou, que eu acho que eu vou levar daqui...

primeiro é a questão do corpo, do movimento corporal que, como eu fiquei muito mais

com isso.... É e entender um pouquinho mais do que a criança é capaz de fazer nessa

idade que a gente pegou. Porque, realmente eu cheguei com algumas coisas que, para

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mim eram as coisas mais fáceis de fazer, sei lá: dar três pulinhos e dar uma rodadinha...

eu não preciso treinar para fazer isso. [...] E uma criança tem outros processos

completamente diferentes dos meus. Que a gente... eu, pelo menos, acabei esquecendo

de levar em conta quando eu estava criando a coreografia. E também essa coisa de você

conseguir olhar, prestar atenção no que as crianças estão fazendo enquanto você está

fazendo, e ver no que que elas precisam ser corrigidas. Acho que esse foi o ponto que

eu mais prestei atenção e que quero melhorar mais.

Como também discutido nos capítulos 2 e 3, a percepção vocal precisa ser

estimulada para que a/o regente consiga identificar a qualidade da performance do seu

coro, assim traçando os melhores caminhos que escolherá para desenvolvê-la. Pelo diário

de campo e as entrevistas, nota-se que além de as/os estagiárias/os perceberem as

dificuldades e erros, ocorre ainda a dificuldade sobre o que fazer após esse diagnóstico e

como realizar as interferências.

As entrevistas indicam que a experiência real com o coro favoreceu que as/os

estagiárias/os avaliassem essa habilidade desafiadora necessária à regência, na qual,

fazer as interferências ao longo do trabalho com o coral é o cerne da qualidade do seu

trabalho, pois estas são as ações que resultarão na melhora da performance.

1: Para mim foi a experiência direta, né? O trabalho de preparação vocal, técnica vocal

é. Foi muito interessante poder sentir na prática mesmo, como é que aquilo funcionava.

Perceber que você... é tem que estar realmente muito atento ao que você está fazendo.

Então às vezes eu ficava muito mais preocupada em executar, mas sem ver o resultado,

né? Então você falava: “XX, não tem como você avançar sobre o tom se eles não estão

afinando esse”, aí eu: “Ah! Tá! É verdade”. [...]. Lidar com os aspectos técnicos vocais,

assim... é pensar: “Porque que a gente tá fazendo u? ”, “Porque que a gente está

fazendo exercícios de fala? ”, “Qual que é a importância de fazer com que eles falem?

”, sabe? Isso, para mim, são coisas importantes que eu nem pensava, assim: “Nossa! Eu

preciso fazer com que eles falem primeiro”, “Que eles emitam som”. E muitos daqui não

tinham tido muita experiência... não tinham tido experiência com coral.

2: E é um pouco o que a gente aprende e.... assim... É um pouco o que às vezes tem nos

conteúdos, né... de você... e que é válido, né? A gente tem que realmente respeitar, mas

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às vezes eu via até reverberar na minha prática de ensino de canto lírico, que é você

falar: “Não! Isso está errado”, “Eu sei que você pode cantar assim, mas se você quiser

cantar determinado repertório, se você quiser cantar lírico, isso não está bom”. Isso para

mim sempre foi uma dificuldade... que é uma certa segurança de você saber: “Isso eu

sei. Bom, pelo menos dessa forma, e você não está fazendo assim”. Então eu acho que

para mim, isso teve muita reverberação, muitas consequências nas questões práticas e

da performance do professor como eu nunca tinha refletido sobre isso. Sobre o professor.

Ele está em uma performance. Sempre refleti isso na minha performance como cantora,

não como professora. Isso também, acho que teve consequências nas minhas outras

práticas.

0: Que legal!

Para quem realizou o acompanhamento instrumental das canções do coral,

alternando em todos os vocalizes, canções e jogos que tinham algum tipo de

acompanhamento musical, houve experiências e auto avaliações similares ao regente,

porém as habilidades destacadas estiveram mais voltadas a possibilidade de exercitar

seus instrumentos de proficiência em uma prática coletiva, tanto acompanhando o coral,

quanto tocando junto com outros instrumentos.

5: Eu me coloquei aqui mais como... acompanhei algumas músicas, né? E aí eu queria

fazer um comentário também, que tem a ver com a primeira pergunta, mas eu acho

importante falar: Eu acho que aqui existe um processo de apropriação progressiva das

habilidades necessárias para você ser um educador musical, por exemplo. E em outros

espaços, eu acho que isso é mais difícil. Porque, por exemplo, se a gente vai fazer um

estágio ou alguma coisa em algum outro lugar, você tem todos os problemas de uma

vez, né? E aí você tem um teórico que não lida com problema nenhum, ou você lida com

todos os problemas de uma vez. Aqui você consegue falar: “Não, escolhi esse”, no meu

caso, por exemplo... escolhi como é acompanhar melhor. Então aí eu fui estudando

alguns ritmos. Só que é isso. Eu acho que eu entendi melhor essa relação, né? Nessa

conjuntura específica que é você ter um regente, você ter um grupo e você ter que

acompanhar. E acho que preciso melhorar muito mais em estudos de ritmo, muito mais!

Mas agora eu já tenho uma noção melhor. Antes eu não tinha noção nenhuma, porque

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eu nunca tinha feito isso. [...] Eu pude tocar. Hoje eu posso dizer que eu consigo tocar,

pelo menos. Né? Pelo menos o básico, sim.

3: [...] É que, assim... às vezes eu estudava uma coisa, aí ficava lá..., que mecanicamente

estava ok para mim, mas eu chegava na hora, assim: “Ah, vai precisar mudar”, aí: “O

que eu faço? ”. Eu percebi que preciso estudar e estudar para chegar em um nível que,

por exemplo, que eu já consigo dominar mais o violão. E é mais natural, sabe? Então,

se precisar mudar alguma coisa na hora, eu sei que eu vou conseguir. E tipo... não só

mecanicamente, mas também alguma coisa de cifra. Porque às vezes eu tenho a

harmonia na minha cabeça e não está escrito, mas eu consigo tocar no violão. No piano,

às vezes, está na minha cabeça, (mas) aí não sai por causa de mecânica mesmo. Então

eu percebi que... para mim, pegou, mas isso... eu percebi que... como que... lógico que

como o abismo que tem entre os dois, né? Mas eu percebi como que é importante você

ter domínio do instrumento para...

8: [...]. Eu estava acompanhando e acho que foi algo muito importante para mim de,

não só prestar atenção no que eu estava fazendo, mas no que o regente também estava

realizando. No tempo que ele estava dando. Se as crianças estavam atrasando, eu tinha

que prestar atenção se ele estava puxando as crianças para frente, ou se ele estava

acompanhando as crianças, porque daí eu tinha que seguir ele. Se as crianças não

estavam conseguindo cantar muito a melodia, eu tinha que tocar a melodia mais forte,

ou se elas já estavam ok, eu podia fazer a harmonia. Acho que, para mim, foi algo que

foi muito marcante: Acompanhar prestando atenção principalmente no regente, mas

também nas crianças, no contexto geral e não só no que eu estou fazendo.

Nas disciplinas obrigatórias da licenciatura em música, a única disciplina que

predispõe uma prática musical em grupo é a “Coral”. A disciplina Iniciação à Regência

também possibilita a participação de um semestre no “Madrigal”, porém, somente como

cantores, pois quem rege são exclusivamente aqueles que cursam a Regência.

Reforçando que as disciplinas da regência não são disponibilizadas como eletivas para a

Licenciatura, isso dificulta o aprofundamento na área deste grupo de discentes.

Destaca-se que mesmo que a/o regente não tivesse o privilégio de obter um

correpetidor para auxiliar nos ensaios e apresentações do coro, seria o caso de o próprio

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regente desenvolver a habilidade de conseguir tocar algum instrumento acompanhador,

pelo menos nos ensaios. Para poder tocar em grupo a percepção se mostra muito mais

complexa, pois é necessário avaliar a própria execução tanto quanto estar atento às

execuções das demais pessoas. Não exageramos ao afirmar que parece ser possível

desenvolver esta habilidade somente na prática, na presença de outros instrumentistas

ou cantores.

Para o exercício no instrumento de proficiência e ensaios em grupo faz-se

necessário tempo de estudo. Discutindo as questões do tempo, a seguir são apresentadas

as impressões relacionadas às sobrecargas horárias do currículo da licenciatura, um dos

assuntos já discutidos nesta tese.

4.4 Sobrecarga de disciplinas obrigatórias

As duas primeiras falas conectam-se com o subcapítulo anterior, que debateu a

angústia das/os licenciadas/os sobre a dificuldade que encontram para estudar e

aperfeiçoar a técnica dos seus próprios instrumentos.

3: Uma coisa que eu vejo, mais no começo do curso, é que... eu imagino como isso deve

ser para a galera que faz combinada, mas parece que a licenciatura, ela vai sufocando

a prática do seu instrumento. Então você entra tocando e tal... estuda né? Antes de

entrar aqui. Mas parece que, quando você chega, a sua prática, do seu instrumento, a

licenciatura parece que vai sufocando e você vai tipo: “Ah, mas eu não preciso nem...”.

Porque não se espera Você ouve isso de pessoas, sabe? Que você não é músico.

3: [ ]. Para que que eu vou precisar estudar música? Para que eu vou me dedicar se eu

só tenho que ler textos? Então é isso que eu vejo. Foi uma das coisas que mais pegou

comigo. Eu senti que o meu estudo de instrumento que... eu acho que é uma coisa que

é necessária. Eu sei que tenho que saber da minha prática pedagógica, mas eu preciso

conhecer meu instrumento também. E eu preciso conhecer muitas outras coisas, tipo...

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bem... assim... eu acho que de música, tipo: de análise, harmonia. Eu acho que você

precisa saber.

Na perspectiva da regência, o domínio das artes do canto é o instrumento base

da/o regente, além das habilidades que envolvem a condução de ensaios e organização

dos grupos. Nesta situação mais específica, o domínio no canto facilitaria que a/o regente

organizasse indicações claras e assertivas para o desenvolvimento vocal do grupo.

Mesmo nos corais que podem contratar preparadores vocais especializados, caso esse

privilégio não pudesse ocorrer em todos os ensaios, a/o regente precisaria saber o que

fazer para não permitir que seus cantores permanecessem muito tempo cantando de

forma prejudicial e/ou incorreta.

2: […] Quando eu dou aula de canto no começo acho que é bem difícil, porque é

difícil você transmitir aquilo que você vive no seu corpo, né? Ainda mais uma coisa tão

abstrata. Mas no momento em que você se dedica a conhecer o teu instrumento, no

caso, você consegue acessar o instrumento do outro, você consegue ter ferramentas

para fazer o outro acessar aquilo que é o que eu acho que falta com outros conteúdos

que a gente não domina e então, não consegue ter ferramentas para fazer o outro

dominar.

Uma das premissas para poder participar do LARCI, ou de qualquer outra eventual

atividade complementar, é que é necessário dispor de tempo, tanto presencialmente

quanto o tempo de estudo individual. No capítulo 1 foram apresentadas as grades

curriculares dos cursos de licenciatura e bacharelado em regência da Unicamp.

Principalmente na licenciatura evidenciou-se uma sobrecarga de disciplinas obrigatórias.

Como já discutido, os Projetos Políticos Pedagógicos propõem um curso no qual os

egressos teriam a possibilidade de profissionalização em diversos campos da Educação

Musical, assim, sua formação busca ser bem ampla na intenção de atender a contextos

variados. Porém, cria-se uma dicotomia, pois o acúmulo de disciplinas obrigatórias tende

a homogeneizar o perfil do egresso, não restando muito espaço para que cada aluna e

aluno construa sua própria trajetória formativa com autonomia. Além da falta de

disciplinas que envolvam o contato com práticas musicais.

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6: [...]. Em todos os meus semestres, eu tive o mínimo de 28, 30 créditos quando eu

tentava pegar poucos, e sempre tentando fazer alguma coisa a mais: um laboratório,

um estágio, uma extensão, alguma coisa. É bem complicado, isso, nessa nossa carga

horária. Tem dia que eu acordo cedo e vou até a noite fazendo aula, ou então dando

aula, e eu sinto que falta tempo para a gente estudar e tentar aprender novas coisas.

Eu queria aprender a tocar piano, por exemplo e não tenho tempo para isso. Nem

mesmo para estudar ao piano. Então eu acho que seria muito bom ter menos

obrigatórias e mais optativas, porque assim a gente poderia, pelo menos, manejar

melhor o tempo.

Considerando que nem todas as pessoas que cursam a licenciatura

necessariamente se envolveriam com o canto coral, mesmo quando atuam na Educação

Básica, sua limitação de habilidades e saberes musicais pode diminuir sua capacidade

criativa, limitando os elementos musicais que poderão ser usados ao longo da vida

docente. Embora a pessoa possa, após a finalização do curso, permanecer se

aperfeiçoando, ela tende a realizar a formação continuada quando está ciente dessa

necessidade ou quando já está empregada em algum contexto no qual isto seja

valorizado.

5: E acho que é um curso que, na teoria, é para ser amplo, né? Se você conversa com os

professores, eles falam... não é um curso, por exemplo, de licenciatura em violino,

licenciatura em canto. Então quando você conversa com os professores, eles até falam:

“Ó, você pode escolher fazer isso, você pode escolher fazer aquilo”... uma prática

pedagógica teoricamente ampla. Só que o curso na teoria é teoricamente amplo, mas

na prática você tem que fazer tanta coisa que você não consegue, na verdade, escolher,

né? Então no meu ponto de vista, se não é para ser um curso guiado, orientado em

algum sentido específico, por exemplo: seja licenciatura voltada para alguma coisa;

voltada para alguma prática de instrumento, ou algo do tipo, que você tenha mais

disciplinas eletivas e aí você possa escolher dentro de uma gama de possibilidades, ali,

o que que você considera mais relevante para a sua prática pedagógica.

A organização do curso de licenciatura de forma a serem criadas mais disciplinas

eletivas certamente favoreceria que as/os estagiárias/os tivessem mais tempo de estudo

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e conseguissem organizar quais os caminhos formativos corresponderiam melhor aos

seus próprios anseios profissionais. Evidente que o Ensino Superior não visa somente a

formação para a profissionalização, porém, no caso da licenciatura da Unicamp, para a

regência coral infantil não há espaço. Lembrando mais uma vez que a habilidade de

conduzir grupos musicais com crianças vai muito além da prática coral.

11: Eu acho que a gente tem muitas matérias, como já falaram, e que a expectativa do

curso, que é para ser feito em quatro anos, é completamente irreal. Se você fizer ele

em quatro anos, você não consegue participar de nenhum outro projeto. Não consegue

participar de nada. [...]. E com essa carga horária tão grande, no fim você tem que

escolher se você se dedica às matérias, ou se você se dedica aos outros projetos. Então

eu me dedicava mais aos projetos em que eu estava dando aula, ou aprendendo a dar

aula, que eu achei que seriam mais importantes para a minha formação e várias das

disciplinas obrigatórias, eu fiz de qualquer jeito só para poder passar e me formar.

2: Eu acho muito sobrecarregado. Até me questionei se eu viria aqui, porque eu,

querendo ou não, estou atrasando uma matéria que é o Inglês Instrumental, que eu

teria que fazer nesse horário de terça, das oito às dez, e quinta das oito às dez. Então

seriam dois horários que eu teria que me abster de qualquer outra atividade para fazer

essa obrigatória. Só que eu coloquei na balança o porquê que eu precisava fazer o LARCI

e o porquê que eu precisava fazer o inglês agora, e eu optei por aqui. Mas, se for ver, a

gente fica em uma sinuca de bico. Entre poder pegar coisas que vão agregar ao nosso

cotidiano como profissionais, e no que a gente tem que cumprir obrigatoriamente

porque a gente é do curso. Só que eu, por exemplo, já sei muito bem o que eu quero,

então isso me facilita. Mas, eu fico pensando: alguém que está na licenciatura e não

sabe se vai mais para a musicalização, se quer trabalhar mais com a questão de aula

particular, se quer dar aula de instrumento... e você não pode priorizar as coisas que

você quer. Você não pode dar uma direção para o seu estudo. Eu acredito que no estudo

da faculdade você tem que dar uma direção, porque não dá para você ser bom em tudo.

Já está provado, isso, né?

Considerando que o curso está previsto para ser concluído em quatro anos,

documentalmente, este tempo seria o necessário para que a formação planejada tivesse o

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êxito almejado. Neste sentido, quando é esperado que as/os alunas/os participem de

atividades de extensão ou projetos variados parece não ser levada em conta a carga

horária excessiva que de alguma forma prejudica a progressão curricular visando a

integralização no tempo previsto. Esta fala acima não representa a realidade de todas e

todos que cursam a licenciatura, porém, o currículo extenso é uma realidade quantitativa

factual. O curso de licenciatura e bacharelado em música também se organizou de modo

a ser cursado no período integral e, devido ao número exíguo de docentes, nem sempre

as disciplinas obrigatórias são oferecidas em todos os semestres, mesmo aquelas que são

pré-requisitos para uma sequência de outras seis disciplinas a ela atreladas. Assim,

quando uma pessoa decide participar de algo que aconteça nos mesmos horários das

disciplinas obrigatórias, ela concretamente atrasará pelo menos um ano de algum grupo

atrelado de disciplinas, mesmo que sua participação em algum projeto extracurricular

seja apenas de um semestre.

As dificuldades do LARCI, e dos projetos similares, esbarrou na indisponibilidade

dos participantes. O Comunicantus disponibiliza bolsas auxílios para seus participantes,

favorecendo a permanência ao longo do tempo de aceite do auxílio financeiro. No nosso

laboratório as/os alunas/os ficam sem muitas alternativas, principalmente aqueles que

precisam desses tipos de auxílios institucionais, pois, além de não terem tempo

normalmente para as atividades extracurriculares, muitas vezes ainda precisam se

ocupar com outras propostas remuneradas para auxiliar sua permanência no sistema

universitário.

Um estagiário que estava cursando outra carreira, antes de ingressar na música,

considera que seu curso anterior estava com sobrecargas de disciplinas eletivas,

diferente do curso de licenciatura em música, situação que ele também considera

desfavorável para a formação.

Ele compara os esquemas estruturais e avaliativos da licenciatura em música com

o da Educação Básica, que tem diversos conteúdos divididos em disciplinas que não

necessariamente se complementam e organizam sistemas avaliativos que valorizam

somente os conteúdos conceituais, descartando os procedimentos e as atitudes que

envolvem a prática docente e musical.

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13: Eu acho que o curso de música, de licenciatura em música... eu fazia XX, antes...

então eu acho ele um curso bem melhor. Tipo assim... ele é incomparavelmente melhor

que o curso de estudos literários. Não tem... sabe... são coisas totalmente diferentes.

Parece que um é da Unicamp e o outro é, tipo... nada a ver. , mas, justamente porque

são cursos inversos: o curso de XX só tem eletivas e o curso de música só tem

obrigatórias, por exemplo. Eu acho que a quantidade de obrigatórias que a gente tem,

e quais elas são, são coisas que podem ser repensadas a longo prazo, ou também a

curto prazo. Eu acho que a gente tem muita aula muita hora aula e muita matéria

que é teórica e, por isso mesmo, tem muita prova e trabalho. Eu sinto falta de

disciplinas práticas que voltem a gente para a educação musical, por exemplo, e que

também, tipo... não necessariamente tenha, tipo O LARCI é uma disciplina que, se

tivesse uma disciplina assim na graduação, seria uma disciplina que teria esse

componente prático de a gente conseguir dar aula e ser avaliado no, sei lá numa

avaliação mais formativa, mais processual, e não precisar ficar fazendo trabalho

teórico de dez páginas, que é uma coisa que não dá tempo de fazer.

14: Eu vejo uns trabalhinhos que a gente tem que fazer, que eu fico, tipo: “O que? ”

13: É. Parece ensino médio. Eu falo para a minha... lá Eu falo para ela: “Mano! É

ensino médio, o curso de música são totalmente ensino médio”. Você sai de um curso

de humanas e vai para um curso de música, parece que é curso de ensino médio.

Porque, nas humanas, todo mundo acha que você é adulto o suficiente para fazer umas

coisas nada a ver e, na licenciatura em música, parece que eles querem puxar você para

como se você estivesse em no ensino médio.

Esta tese não busca discutir qual seria o melhor currículo para o curso de

Licenciatura em música. Neste subcapítulo a ideia foi discutir que no formato que a grade

se encontra durante o recorte temporal desta pesquisa, a participação no LARCI foi

ficando mais difícil ao longo do tempo devido à sobrecarga de atividades que o curso

obriga suas e seus estudantes a participar para a sua integralização. Como não tivemos

estagiárias/os do bacharelado em regência, não foi possível levantar dados sobre as

impressões desses sujeitos, mas, já se sabe que o bacharelado é composto por menos

disciplinas obrigatórias, que são distribuídas em 5 anos, de forma que há mais tempo

para que a/o discente organize e planeje sua formação.

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Uma pessoa no Ensino Superior considerada inapta para organizar sua própria

formação conceitualmente não teria condições de projetar e planejar a formação de um

outro grupo, por exemplo. Já que parece não ter havido em nenhum momento da

educação oficial uma preocupação no sentido de que este planejamento seria uma

questão fundamental. Ao ingressar no Ensino Superior, novamente o sujeito se vê em

uma estrutura de formação de conhecimento serial e rígida tal qual o ensino médio

(como foi mencionado nas entrevistas), não havendo muito espaço para autonomia, tão

defendida nos próprios teóricos sobre pedagogia musical debatidos nos cursos. Ao se

formar, as alunas e alunos são colocados em realidades onde precisarão sozinhos

resolver tudo, sem terem vivenciado momentos de organizar a própria autonomia

formativa e de auto avaliação.

4.5 Sugestões para encaminhamentos futuros

Para avaliar a estrutura e procedimentos do LARCI o último subcapítulo incorpora

as falas que apontam sugestões de encaminhamentos que buscam a melhoria do

laboratório na perspectiva das/os estagiárias/os. Iniciamos o debate sobre as questões

estruturais, referentes à ordem das ações: ensaio musical, ensaio com crianças e

planejamento.

A princípio esta estrutura foi aprovada por todas as pessoas em ambas as

entrevistas, mas as/os estagiárias/os solicitaram a possibilidade inicial de termos mais

rotatividade entre as funções ao longo do tempo:

1: Eu gostei dessa estrutura de ter planejamentos semanais junto com as aulas,

porque no próprio planejamento a gente já se baseava na próxima aula com o

que foi feito na aula anterior.

0: Logo em seguida o planejamento, você está falando? Aula e planejamento?

1: Sim. Logo em seguida para a próxima: “Ah! Então isso já deu certo”...

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0: Fica mais na cabeça, né?

1: É fica mais na cabeça, fica mais fresquinho.

10: Eu concordo com a XX, mas eu queria falar um pouco do que você fala muito, né... que a gente tem que saber que isso aqui é tipo, um plano ideal, né? E que na hora a gente tem que saber fazer tudo ao mesmo tempo. E, levando em consideração a isso, eu acho que seria interessante se a gente fizesse esse treinamento aqui. Do tipo...

0: Mais práticas entre nós?

10: É. Da gente fazer essa rotação. Porque chagou num ponto que cada um tinha a sua

música fixa, então a gente já sabia o que ia acontecer. “Essa pessoa vai fazer isso,

aquela pessoa vai fazer aquilo, e a outra pessoa vai fazer aquilo”. Então essa é a minha

sugestão: Que tenha isso, que é o planejamento, mas que tenha uma rotatividade.

Na fase de apresentação do laboratório para as crianças, momento que fizemos a

mesma estrutura de ensaio para grupos diferentes do PRODECAD foi possível que as/os

estagiárias/os experimentassem mais a condução das atividades variadas. Porém ao

longo do semestre, quando o repertório já estava escolhido, ficaria mais complexo

conseguir a continuidade do processo de aprendizado das canções alternando a/o

regente. Também seria impossível colocar uma canção para cada pessoa conduzir, pois

isso resultaria em um repertório muito extenso de difícil finalização para organizar o fim

do semestre ou algum tipo de apresentação pública. Neste panorama foi sugerido por

uma estagiária que cada canção, ao invés de ter uma pessoa responsável em reger,

poderia ter duas pessoas que combinariam e se organizariam nas atividades.

Cogitamos também a possibilidade de ter dois grupos de crianças, mas eu entendo

que a princípio não daríamos conta de aumentar a nossa estrutura de atendimento até

que o laboratório esteja bem estabelecido e as/os estagiárias/os tenham mais autonomia

durante os ensaios, de forma que não haja necessidade de intervenções frequentes como

o ocorrido no primeiro semestre de implementação. Concretamente não teríamos tanto

tempo sobrando para que as atividades fossem todas treinadas e discutidas pelo grupo

aula a aula.

A organização de duplas e trios responsáveis por cada canção do repertório pode,

a princípio, amenizar esta dificuldade encontrada pelas/os estagiárias/os por não terem

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tanto tempo de planejar as propostas durante os nossos encontros. Com o auxílio de mais

uma ou duas pessoas as questões que não foram possíveis de serem resolvidas nos

nossos encontros ficariam para serem debatidas nestas pequenas equipes.

Tivemos no primeiro semestre a necessidade de correções musicais durante os

planejamentos. O primeiro momento de 30 minutos, dedicado para a passagem musical,

não foi suficiente para que em todos os ensaios fosse possível passar todas as canções

juntos, pois cada dia ficava dedicado a uma canção devido à dificuldade das/os

estagiárias/os. Observa-se que elas e eles não conseguiam se encontrar fora do tempo

dedicado ao LARCI para ensaiarem com as/os regentes ou os demais musicistas, assim, o

único momento em comum que restava era durante este período.

A alternativa seria conseguir mais salas no PRODECAD para que as/os várias/os

musicistas acompanhadores conseguissem ensaiar com as/os regentes

simultaneamente. A questão de ter mais salas disponíveis ou até mesmo outro piano fica

extremamente complicada no contexto do espaço escolhido para a realização do coral,

pois todas as salas do PRODECAD costumam estar ocupadas por todo o período da

manhã, que é o mais concorrido do dia. Porém, a cada semestre isto pode ser reavaliado

de acordo com a estrutura que o PRODECAD oferece.

A estratégia de colocar somente as/os musicistas mais preparadas/os como

responsáveis pela regência ou pelo acompanhamento excluiria a participação de alguns

estagiárias/os para além da observação. Situação que é contraposta à ideia do LARCI, em

que todas as pessoas precisariam de um momento de ação prática, independente da área

musical.

Também foi sugerido que o LARCI se institucionalize de alguma forma, pois existe a

relevância de que caso ele possa oferecer créditos de eletivas, as/os estagiárias/os, pelo

fato de que precisam obter muitos créditos para a sua integralização curricular, ficariam

mais motivadas/os e com condições de participar por mais tempo do projeto.

Evidencia-se que o desenvolvimento do coral e, consequentemente, de seu repertório

leva determinado tempo e a alternância das/os estagiárias/os prejudicaria ou dificultaria o

desenvolvimento do aprendizado, já que quase sempre a mudança da/o regente ou dos

acompanhadores representa um novo recomeço.

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12: É. Porque, querendo ou não, isso pesa, né? Tipo... é uma manhã que a gente tira

para vir aqui. Mas eu acho que deveria continuar o laboratório, não só para o benefício

da gente que está estudando, mas para o benefício das crianças. O trabalho coral, ele

não tem como ser feito só seis meses. Não tem como a gente chamar aquilo: “Ah! A

gente fez um coral”. Não! Coral é um processo gradativo. Acho muito importante

continuar e ver o tanto de mudanças que ele pode ter, tanto na educação... aqui,

quanto nas relações pessoais. Eu acredito na música, não só como puramente ensino

de música; teoria e técnica, mas sim na questão pessoal também. Na questão do

desenvolvimento da criança...

Sinteticamente, elaboramos as seguintes diretrizes:

• Organizar mais regentes por canção para que, em grupo, possam ser

planejadas e ensaiadas as canções para além do momento destinado para

isso;

• Organizar a possibilidade da participação no LARCI oferecer créditos

favorecendo a integralização curricular das/os estagiárias/os;

• Fortalecer o projeto para a criação de mais de um coral de crianças.

14: Foi muito útil. Além de útil, assim... agregar à nossa vivência musical, né? A

oportunidade de a gente poder tocar aqui, de poder reger e de poder conhecer um

repertório diferente. Foi muito bacana. O que eu gostei muito, assim, para mim, é a

questão das suas falas sobre técnica vocal. Eu adorei. Me engrandeceu muito à questão

de como lidar com criança

Infelizmente não tivemos a oportunidade de terminar o semestre com

apresentação pública devido à greve dos servidores da Unicamp. Porém, em respeito as

pautas, não considero que a pesquisa foi prejudicada, mesmo que antecipando seu fim,

já que no semestre posterior o LARCI se manteve e a perspectiva é que ele exista ou se

perpetue independentemente do seu formato.

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Considerações Finais

Esta tese buscou analisar e justificar a implementação do LARCI (Laboratório de

Regência Coral Infantil), durante o primeiro semestre de 2018, sendo um espaço de

formação complementar em regência coral infantil, oferecido para as alunas e alunos de

graduação em música da Unicamp, que possibilitou a criação de uma oficina coral para as

crianças matriculadas no PRODECAD (Programa de Desenvolvimento e Integração da

Criança e do Adolescente) no período matutino.

Uma das ideias centrais que projetaram todas as análises e práticas posteriores

desta tese revela-se no pressuposto de que o papel da regência coral, ao transmitir os

saberes necessários para que o grupo consiga se aprimorar na sua performance, prevê

que a/o regente tenha conhecimentos pedagógicos que compreendam os processos de

ensino e aprendizagem dentro de práticas com grupos coletivos, e acima de tudo,

heterogêneos, independentemente do nível de conhecimento musical e vocal de seus

cantores e cantoras.

Além de oferecer ferramentas pedagógicas que favoreçam o trabalho da/o

regente, o conhecimento musical é inerente para que exista uma compreensão mais

consciente possível das questões musicais do repertório, de forma que todas as

estruturas musicais e poéticas utilizadas sejam possíveis de decodificação, fornecendo

uma lista de elementos que precisam ser estimulados para que as crianças consigam

realizar as canções de acordo com a estética almejada.

Mesmo não havendo diretrizes legais que explicitem e qualifiquem a formação

para a atuação em regência, já que qualquer pessoa que está à frente de um grupo

musical pode ser considerada regente, os cursos de graduação em música preveem esta

habilitação ou atuação, como no caso da licenciatura em música e bacharelado em

regência.

Em síntese, compreende-se a existência de três principais campos formativos: o

teórico, o prático e a experiência em apresentações públicas (Viegas, 2009). De forma

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complementar, já que as/os estagiárias/os cursam as disciplinas de seus cursos e

possuem algumas experiências com a prática coral anteriormente, o LARCI propôs a

possibilidade de organizar um processo de ensino no qual tanto os aspectos teóricos

musicais e pedagógicos quanto a prática em ensaios reais com crianças aconteceram

simultaneamente.

Como um dos elementos observados com a finalidade de compreender a

formação em regência coral infantil na Unicamp, buscando também justificar a

implementação do LARCI nesta instituição, foram realizadas as análises dos currículos do

curso de Licenciatura em Música e Bacharelado em regência. Ressalta-se mais uma vez

que estes cursos foram escolhidos pois apresentam nos seus Projetos Políticos

Pedagógicos a atuação profissional no campo da regência com corais amadores,

enquadrando-se os coros infantis nesta categoria, além da atuação evidente dos egressos

da licenciatura na Educação Básica, onde é normalmente previsto a utilização do canto

coletivo como ferramenta e conteúdo de ensino e aprendizagem.

Iniciei o debate pelo estudo curricular e destaco que os planejamentos

educacionais, construídos nos Projetos Políticos Pedagógicos e nas grades curriculares,

são fundamentais para que as ações das unidades de ensino, em todos os seus níveis,

sejam organizadas para buscar a melhor forma de desenvolver os seus objetivos

pedagógicos e sociais. Porém, sua eficácia precisa também ser avaliada na prática, já que

os resultados de sua eficiência se dão na medida em que o aprendizado dos discentes

atinge os interesses explícitos e implícitos dos Projetos Políticos Pedagógicos, além das

grades curriculares.

Os currículos podem ser observados por três grandes categorias: currículo real,

currículo oculto e currículo nulo (Sacristán, 2005) e simultaneamente, eles influenciam

diretamente quais são as principais ideologias e teorias pedagógicas que projetam o perfil

da sociedade almejado, reproduzindo e desenvolvendo a cultura dominante. O contexto

exterior, referindo-se às políticas neoliberais (CHAUÍ, 2001) que tendem a aumentar a

oferta de cursos sem necessariamente promover a melhoria da qualidade da instrução,

destaca-se pela fundamental importância de as políticas públicas legislarem e atuarem

para que as instituições de ensino sejam geridas democraticamente, visando um ensino

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de qualidade como direito para todas e todos.

Neste sentido, na intenção de ajudar a desenvolver um currículo emancipatório,

as instituições de ensino poderiam fortalecer as instâncias de participação democrática, à

luz de políticas públicas que incentivem a criação de espaços efetivos de atuação

democrática para toda a sociedade, visando o surgimento de currículos que atendam as

variadas demandas sociais e profissionais.

Em relação aos contextos de ensino, destaco que as Diretrizes oficiais dos cursos

de graduação em música para os bacharelados não preveem a atuação profissional no

campo pedagógico, situação esta que não corrobora a ideia de que o egresso em regência

não atue profissionalmente neste âmbito. Assim, a partir dessa premissa profissional

inicial, as graduações não precisariam necessariamente organizar nesses currículos

alguma forma de valorização dos assuntos que envolvem diretamente as teorias

educacionais e sociais que, se existissem, viriam muito a contribuir para o surgimento de

uma formação em regência que projetasse de forma mais contextualizada a

profissionalização na área. Isto porque possivelmente diversos egressos desses cursos

estarão desenvolvendo seu trabalho com grupos amadores e/ou infantis.

É interessante considerar como positiva a flexibilidade existente tanto das

Diretrizes, quanto das Referências Curriculares. Embora os cursos de Licenciatura tenham

maiores entraves legislativos, por conta das políticas de normatização da carga horária dos

estágios e integralização curricular, além do ensino de LIBRAS, ainda existe um espaço

considerável para que as Unidades de Ensino possam com autonomia organizarem o fluxo

curricular, possibilitando a existência de cursos bem variados no país.

Na Unicamp, ambos os PPPs da Licenciatura (2015) e do Bacharelado (2012),

visam igualmente a atuação profissional de seus egressos em espaços variados. Assim,

busca-se formar a/o regente coral na perspectiva de que ele tenha os saberes necessários

para atuação com crianças, mesmo que não explicitamente em disciplinas específicas. No

caso da Licenciatura, entendo que mesmo que não seja obrigatória a prática de regência,

os saberes relacionados à condução de ensaios auxiliarão no ensino de qualquer tipo de

repertório e performance, já que a idealização de uma prática musical com grupos exige

algum tipo de condução.

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Analisando o contexto didático, no qual se observam a sequência de disciplinas e

carga horária, destaca-se que a Licenciatura tem uma carga superior de disciplinas

obrigatórias, resultando em pouco espaço de mobilidade disciplinar autônoma, em

contraponto ao PPP que prevê um perfil de egresso variado. A conclusão a que chego é: o

engessamento curricular promove a homogeneidade de perfil formativo.

O curso de Licenciatura valoriza mais os assuntos pedagógicos em comparação à

regência, em que não há previsão de nenhuma disciplina obrigatória do curso de

Licenciatura vinculada ao debate das teorias sociais e pedagógicas, além de não existir

uma disciplina de estágio, no qual a aluna e aluno da regência teria a oportunidade de

atuar frente a grupos fora o contexto de discentes universitários. Porém, o curso de

bacharelado em regência prevê mais tempo de integralização curricular, situação que

possibilitaria a matrícula em outras disciplinas, enquanto a licenciatura possui um

número de créditos superior com uma integralização curricular em menor tempo.

Destaca-se também que o curso de licenciatura pressupõe um tempo menor

dedicado às práticas musicais. Mesmo que não seja seu enfoque exclusivo, uma formação

musical de qualidade possibilita que no futuro a professora e o professor tenham mais

ferramentas para trabalhar com o seu principal objeto de estudo, a música. Como

amplamente difundido, o ensino e aprendizado musical perpassam a sua prática, sendo

assim, entende-se que para ensinar música na prática é necessário ter conhecimentos

musicais sólidos do que se pretende ensinar e realizar. Especificamente no coral infantil,

independentemente de o repertório musical não exigir muito tecnicamente da/o

regente, quando não se obtém o domínio técnico do que se espera do grupo, são

limitadas as referências e metodologias para transmitir ao grupo as informações claras e

variadas visando que dentro da heterogeneidade existente dentre as/os cantoras/es,

pelo menos a maioria possa compreender e realizar o que se espera.

Os currículos demonstram que ambos os cursos possuem potencial para a

formação em regência coral infantil, mesmo que nenhum dos dois tenha intenção de

formar exclusivamente para esta prática, porém, observa-se a falta de espaço

institucional para aqueles que tiverem interesse em estudar as práticas de coros infantis.

O LARCI, neste cenário, apresentou-se como uma alternativa importante, criando um

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espaço que integrou a teoria e a prática. Destaco que este laboratório tem a ideia de

difundir sua proposta como formação complementar e não exclusiva.

Dentro do LARCI os principais conteúdos conceituais, procedimentais e

atitudinais, esperados durante a formação de regência de corais infantis podem

acontecer simultaneamente. A presença e participação ativa das crianças projetam a

sequência dos assuntos na medida em que eles surgem como uma necessidade real,

promovendo intenso significado naquilo que a/o estagiária/o aprende. O fio condutor

dos assuntos a serem debatidos e habilidades técnicas adquiridas caminham através da

reflexão e da experimentação simultaneamente.

As responsabilidades da/o regente, à frente de coros infantis, requerem

habilidades musicais e conhecimentos teóricos que resultam de uma formação longa e

demorada. Neste sentido, não seria possível nenhum curso de graduação afirmar

peremptoriamente, em um período de tempo fechado, a garantia de uma formação que

englobe e desenvolva todos estes saberes simultaneamente. Na perspectiva curricular,

uma grade muito rígida com sequências fixas e com poucas possibilidades de escolha

dentre as disciplinas, caso não seja uma habilitação específica para a regência coral

infantil, não cria muitos espaços para que todas as potencialidades fundamentais sejam

desenvolvidas para este campo profissional. Assim, a flexibilização curricular em um

espaço onde exista tanto a modalidade da licenciatura quanto a do bacharelado em

regência, favorece o trânsito das alunas e alunos nas disciplinas que visem complementar

esta formação.

O processo de implementação do LARCI, além da minha experiência como aluno

de um projeto similar na USP, iniciou pela escolha do espaço de implementação,

acarretando na parceria com o PRODECAD da Unicamp; este processo foi seguido pela

convocatória das pessoas interessadas pela internet e cartazes impressos no

Departamento de Música desta mesma Universidade.

Destaco o quanto a experiência, cantando em uma prática coral infantil, pode ser

de extrema significância na vida futura. Assim como eu, todas as estagiárias e estagiários

(14 pessoas) tiveram experiência anteriores em coros amadores e 7, especificamente,

cantaram em coros infantis.

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A participação das/os estagiárias/os foi fundamental para a realização deste

projeto e entendo que ocorreu um número de procura satisfatório, já que o LARCI estava

em fase de experimentação. Sinteticamente, os principais pontos analisados sobre as

atuações durante os ensaios e planejamento estão discutidos a seguir:

As/os estagiárias/os demonstram a dificuldade de traduzir o planejamento na

prática, isto é, mesmo que esteja compreendido o que precisa ser feito para a condução

de determinadas atividades no ensaio, foi necessário estimulá-los a praticar fora do

tempo de encontro, simulando como se estivessem falando com as crianças. Além da

compreensão do procedimento, faz-se necessário o treino das atitudes que a/o regente

precisa tomar a frente do grupo. A ideia é estimular o hábito da comunicação clara e

assertiva entre regentes e crianças.

As/os estagiárias/os da licenciatura têm maiores dificuldades no trabalho de

correpetição. Mesmo que se considerem aptos nos seus respectivos instrumentos, foi

possível observar a falta de práticas musicais em conjunto, ocasionando na dificuldade

perceptiva e entrosamento musical. Esta dificuldade resultou que metade do tempo de

planejamento foi utilizado para os ensaios musicais visando preparar e sedimentar as

canções entre as/os regentes.

A/o regente quando está conduzindo o ensaio, caso esteja muito preocupado com

a própria atuação, isto é, não tem sedimentado e com segurança o que precisa fazer,

demonstra mais dificuldade de observar e avaliar o que as crianças estão realizando

durante as propostas. Assim, ao conduzir o que o grupo precisa fazer, costuma não

atender às reais necessidades do grupo devido à sua dificuldade em avaliar

auditivamente e visualmente o que as crianças estão realizando.

A experiência à frente do coral fomentou melhor os debates durante os

planejamentos. Após a fase de rodízio, em que todas e todos estiveram conduzindo algum

tipo de proposta com as crianças, ampliou-se a participação ativa e significativa das/os

estagiárias/os durante os debates. Entende-se que quando a pessoa está envolvida

diretamente com projeto torna-se mais motivada potencialmente favorecendo a

permanência no mesmo.

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As questões pedagógicas das/os estagiárias/os são mais fáceis de serem

desenvolvidas no LARCI comparadas as dificuldades musicais, já que esta precisa de um

estudo autônomo prévio fora os momentos de encontros. Neste sentido, o planejamento

semanal é fundamental para a existência e eficácia deste tipo de laboratório, porém, não

é suficiente para que todas as demandas formativas sejam contempladas, considerando

assim o LARCI como um programa de formação complementar.

As/os estagiárias/os que tinham experiência prévia como cantores de coros

infantis apresentaram também mais facilidade em escolher o repertório e exemplos de

propostas para os ensaios. Evidencio que a prática de pódium possibilitou a melhora da

performance das/os regentes, tendo sido observado o avanço na qualidade da condução

dos ensaios ao longo do semestre, principalmente quando ocorreram imprevistos,

acarretando na mudança da atividade planejada.

A participação das crianças no projeto é fundamental para que o planejamento

seja eficaz no sentido de concretizar as ideias e possibilidades que podem ocorrer nos

ensaios. Em diversos momentos dos planejamentos foram ressaltados que as crianças

reagiram e responderam às atividades de forma bem distinta daquela que foi praticada

nos planejamentos entre nós, adultos. Ressalta-se que também por meio da voz das

crianças é possível desenvolver a percepção vocal da/o regente, ferramenta básica para

a/o regente coral infantil.

Observei também uma tendência das/os estagiárias/os terem dificuldade de se

planejar por longos períodos, mesmo que os ensaios sejam planejados semanalmente, a

cada ensaio, a/o regente precisa projetar os objetivos performáticos do grupo vinculado

ao tempo e calendário de apresentações, para assim, conseguir organizar quais são as

prioridades de conteúdo a serem desenvolvidos para que o coral consiga realizar a

performance considerada de qualidade, podendo assim avaliar como positivo o

desenvolvimento artístico do coro.

A formação laboratorial no formato escolhido pelo LARCI exige a participação de

alguma pessoa com mais experiência para conduzir e corrigir as propostas quando

necessário. Principalmente durante o encontro com as crianças, para não prejudicar o

desenvolvimento musical e performático das mesmas, quando a/o regente estagiárias/os

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encontra um problema e é observado que não consegue resolvê-lo, para manter as

crianças ativas sem muita dispersão durante o ensaio, faz-se necessária a intervenção

imediata, já que no caso do PRODECAD, quando as crianças se sentiam desmotivadas ou

desinteressadas nas propostas poderiam sair livremente da aula. Assim, um erro da

regência pode prejudicar todo a continuidade do encontro. Mesmo que as crianças não

pudessem sair do ensaio, caso a/o regente estivesse ensinando algo erroneamente, seria

mais difícil corrigi-las de algo que já tivesse sido memorizado e viciado.

Neste cenário onde as crianças podiam circular livremente pela oficina,

observamos que esta proposta pedagógica do PRODECAD favorece que não haja conflitos

nos ensaios entre as crianças e a/o regente. Não tivemos nenhuma ocorrência onde foi

necessário haver algum tipo de embate entre as crianças ou indisciplina durante os

ensaios, o que dificultaria a condução das atividades somada à falta de experiências

das/os regentes em resolução de conflitos. Assim, os temas que envolvem a indisciplina

não fizeram parte dos conteúdos abordados neste semestre.

Utilizamos o número de evasão das crianças para constantemente avaliar a

estrutura e qualidade dos ensaios. Desta forma foi possível identificar a diminuição da

evasão e aumento da participação e assiduidade das crianças ao longo do semestre,

concomitantemente vinculado à melhora do desempenho das/os estagiárias/os.

O grupo de estagiárias/os, durante a entrevista, demonstrou certo descontentamento

em relação as disciplinas de estágio, pois sentem um distanciamento do que é discutido

em aula com questões procedimentais que podem auxiliar as atuações para a melhora

das aulas. Além de uma sobrecarga de disciplinas obrigatórias, criando um empecilho

temporal para que realizassem práticas musicais ou trânsito dentre as disciplinas de

interesse.

Avalio que a experiência em participar do LARCI foi relatada como positiva e que

favoreceu o aprendizado em áreas variadas, além de possibilitar uma vivência que não

havia acontecido anteriormente dentre as/os estagiárias/os. Foi destacada também a

interessante oportunidade de ter um espaço de atuação musical prática e contato direto

com as crianças de forma supervisionada.

Fiquei bastante satisfeito com o semestre de implementação. Espero que a ideia

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prossiga, projetando futuras pesquisas, inclusive no próprio espaço do PRODECAD e toda

a DEDIC que possui potencial e uma abertura muito rica em perspectivas variadas da

Educação Musical, podendo haver estudos variados no âmbito dos processos de ensino

e aprendizagem da criança e da professora e professor, além de programas de formação

para pedagogas e pedagogos vinculados ao uso da música no contexto escolar.

Como estudo posterior, o aprofundamento das questões curriculares tem muito a

contribuir na melhoria do ensino também no Ensino Superior, buscando novas formas de

interpretar a sociedade e projetá-la também na perspectiva da formação de professoras

e professores. Entendo também que um estudo sobre a profissionalização dos egressos

e suas complexidades possam também trazer novos olhares paras as questões das

atualizações curriculares. Incluso a busca de programas curriculares em que possam

proporcionar de forma equilibrada o desenvolvimento técnico musical e os assuntos que

envolvam a linguagem musical e as teorias educacionais. Considero esta uma tarefa

complexa.

Em relação ao PRODECAD, entendo como um privilégio a existência de um espaço

como este dentro da Universidade. A existência de um programa educacional

institucionalizado provê a existência e participação das crianças em pesquisas voltadas

aos assuntos que envolvem a educação, além da carência de profissionais formados

especificamente concursados em arte no trabalho pedagógico junto ao DEDIC,

favorecendo o ensino destas linguagens para as alunas e alunos matriculados nos

diversos níveis de atendimento.

Por fim, espero que esta experiência de implementação deste laboratório possa

contribuir como referência para modelos similares, além de buscar vias para a existência

permanente do LARCI, independentemente da minha coordenação. Isto é, organizar vias

de auto-gestão e despertar o interesse do Departamento de Música a fortalecer espaços

de parcerias com o DEDIC.

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Anexo 1. Entrevista Comunicantus

Transcrição da entrevista com a coordenação do Laboratório Coral Comunicantus.

Iniciamos com uma conversa não formal e partimos para a entrevista.

RAFAEL: primeiro é sobre a estrutura: como que é a estrutura de hoje? Aqui eu tenho o material de vocês, eu vi que têm várias funções no laboratório que foi o professor MARCOS que escreveu: que tinha o observador, não sei se é Pós-Doutorado, o que que é aquilo... tese de alguma coisa...

SUSANA: tese dele?

RAFAEL: isso.

SUSANA: de livre docência.

RAFAEL: isso, é essa que eu estou usando como referência.

SUSANA: o ensino da Regência Coral.

RAFAEL: é. E o modelo de funções, que é essa ideia do planejamento, de ter os espaços reais. Como que funciona hoje o Comunicantus? Vocês se reúnem, tem os grupos...

MARCOS: É ..... Ela [Susana] é mais clara para essas coisas.

SUSANA: Bom, eu acho que só tem que ter uma introduçãozinha. O laboratório é o espaço que reúne todas as atividades práticas. Então os grupos que ensaiam apresentam, cada um tem sua “sub-identidade”, a gente além disso tem espaço de workshops, coisas mais eventuais. E tem também um espaço que a gente faz seminários, mesas redondas e etc com os próprios participantes ai dos níveis de mestrado e doutorado, e professores convidados às vezes, que ai é acoplado com o grupo de pesquisa, que ai é uma outra vertente. Então quando a gente fala como ele é, depende um pouco do grupo. Então eu acho que talvez a gente podia dividir é pelo menos os coros que são coros comunitários, né? E os coros que são coros de alunos. Acho que é. Útil isso, né? Então é nesse sentido, você queria saber como funciona...

RAFAEL: A estrutura mais dos comunitários. Que eles regem.

SUSANA: Os comunitários estão vinculados a uma disciplina de graduação, tem também a participação de alunos que estão no mestrado e no doutorado. .. eles entram por uma outra disciplina ou pelo projeto PAE

(projeto de aperfeiçoamento de ensino), então os alunos de graduação...

MARCOS: é uma disciplina ... porque agora tem o mestrado e o doutorado em performance.

RAFAEL: Uhum.

MARCOS: Então nesse ... tem uma disciplina que se chama “Prática Laboratoriais”. Então muitas vezes eles se engancham lá para estar fazendo...

RAFAEL: Para estar fazendo a prática mesmo.

MARCOS: É.

SUSANA: É, tem disciplina na pós-graduação e disciplina para a graduação. Para a graduação ela está desenvolvida em módulos, de forma que a pessoa possa dar sequência, e elas são todas no mesmo horário. O que a gente chama de ensino multiseriado, né?

RAFAEL: Uhum.

SUSANA: Você tem várias de séries num mesmo espaço de educativo.

MARCOS: O nome da disciplina...

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SUSANA: O nome da disciplina é “Práticas

Multidisciplinares em Canto Coral com Estágio

Supervisionado”.

RAFAEL: Ela é eletiva para todo mundo?

MARCOS E SUSANA: Para todo mundo

SUSANA: Ela só é eletiva, não é obrigatória em nenhuma grade. É Então nisso a gente tem alunos nos vários níveis: desde primeiro ano até último ano de doutorado no mesmo espaço. Então essa ideia do planejamento e avaliação é o que guia o cotidiano da atividade. A gente faz esses planejamentos coletivamente, mas a gente tem sempre uma pessoa designada para ser o avaliador e outra pessoa para ser o produtor. Por que? Porque vai cuidar do ensaio, não consegue avaliar o ensaio. Às vezes tem até que sair porque faltou uma cadeira e você tem que ver então essas funções não podem ser concomitantes,

ou é uma coisa ou é outra né Na função de avaliador, você também é quem fecha o planejamento. O planejamento é coletivo, a gente faz durante a aula: divide em grupos, tem dois coros...

RAFAEL: registrar ali...

SUSANA: É, a pessoa ela é responsável por ver. Então ela vê e registra por escrito o que ficou planejado: de tanto a tanto vai ser isso, qual o objetivo do ensaio...

MARCOS: Frequentemente ela acaba vendo coisas que o grupo não viu. RAFAEL:

Que está fora né?

SUSANA: É que na verdade ela não está fora

MARCOS: Não, no planejamento ela não vai fixar a mesma coisa. Eu gosto de escrever a mão, na hora que eu vou colocar no computador, tem coisas que “puxa isso daqui podia ser aqui. ”

RAFAEL: Ele dá uma limpada, né?

SUSANA: Essa figura ... ele é responsável por escrever o planejamento, que foi feito em conjunto, mas se faltou alguma coisa ele tem que decidir.

RAFAEL: É alternado?

SUSANA: É alternado.

RAFAEL: Mas eles se oferecem? Tipo: “é minha vez”

SUSANA: Não, a gente faz um rodízio

MARCOS: É um rodízio obrigatório.

RAFAEL: Obrigatório para todo mundo?

SUSANA: Exatamente. Nesses últimos semestres a gente tem tido também um outro apoio que é uma outra bolsa. Ela foi bolsa de monitoria em algum semestre, depois ela entrou por um outro projeto, como bolsa de continuidade dos trabalhos, que é um outro aluno, que faz comigo um pré-planejamento da aula, não dos ensaios dos coros, mas do que vai acontecer nessa aula que planeja os ensaios dos coros.

RAFAEL: Entendi

MARCOS: E esse ... a obrigação dele é: como é que tudo está continuando dentro do laboratório? Então ele não só olha para isso, mas olha para outros coros também .... “olha, tal coro tá faltando isso, tal coro tá faltando aquilo; cadê aquele planejamento? ”

RAFAEL: Ele é um gestor.

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SUSANA: mais ou menos isso...

MARCOS: Ele vai aprender ... a gente chama de “continuísta”. Um termo trazido do cinema. Não é bem um gestor, gestor somos nós mesmos. SUSANA: É, porque tem que ver todos os detalhes. Por exemplo, tem um momento do ano, quando a gente começa, digo assim “pessoal, o que a gente vai cantar esse ano? Tragam ideia repertório” [?]. Vem pouquíssimas, porque todo mundo ainda está procurando... Então você tem: “Vamos lá ler essa música que vocês trouxeram”, ai tem quinze, vinte minutos para ler. Chega um momento do ano em que todo mundo procurou, ai chega assim sete música: “ai eu quero ler essa, eu quero ler essa”. Então a gente tem que organizar, distribuir. Eu vejo com ele dificuldade: “isso daqui vai demorar duas aulas para acabar, porque não vai dar tempo... isso daqui a gente tem que fazer primeiro isso... então vamos trazer uma gravação para facilitar, para a pessoa ter uma referência? ”. A gente programa todas essas atividades...

RAFAEL: É um pré planejamento do planejamento para dar referências para eles, né?

SUSANA: É mais uma pessoa que faz parte dessa estrutura, mas isso não é garantido. Por exemplo, para o semestre que vem, eu vou ter... porque depende de projetos, você manda o projeto e aprova ou não aprova. Então tem ano que não tem isso. No ano passado eu tive, por exemplo, no semestre passado por exemplo a gente teve uma pessoa do mestrado, que veio pela bolsa PAE, para cuidar especificamente de preparação vocal. Então ela vinha, fazia exercícios, propunha[?] exercícios etc. É uma eventualidade, dai ela vai acabar o mestrado dela, não sei se vou ter outro. No semestre que vem eu vou ter uma pessoa de mestrado e uma de doutorado com bolsa PAE nesse mesmo espaço. Então elas trazem questões, adiantam, propõe...

RAFAEL: E ao mesmo tempo ajuda nesse ponto

SUSANA: Então a estrutura é essa. Agora, durante a aula a gente divide os horários, então têm assuntos que tem que discutir, assuntos do cotidiano... tem coisas de estrutura, tem avaliação e planejamento, e tem a leitura e ai planejamento mesmo do ensaio “oh, quem vai fazer? Cuidado com esse lugar... aqui o gesto que você está fazendo não está bom...”, dai entra os apoios.

RAFAEL: Um grupo ensaia...

MARCOS: Eles se ensaiam[?]. Eles nunca vão para frente do coro antes que todo mundo esteja com fluência em cantar aquilo lá e a pessoa em reger.

SUSANA: É, e a gente nunca escolhe uma música e passa direto para o coro. Primeiro precisa passar pela aula.

MARCOS: O ponto nosso é: o coralista. O coro é um laboratório, mas eles não são cobaias.

RAFAEL: Não, entendi. A gente faz uma coisa assim lá, que a gente monta as performances com os alunos antes de ir com as crianças. A gente não consegue fazer a simulação real do ensaio porque os adultos não simulariam crianças. Dai a gente levanta situações problemas...

MARCOS: Exato, é a mesma coisa...

RAFAEL: Por exemplo: normalmente uma criança vai responder dessa maneira.

SUSANA: É, com a gente é parecido. Porque a gente também, tem um grupo de universitários que trabalha com coro de terceira idade. Eles respondem de maneira diferente, nunca simula. Mesmo sonoramente, quando canta às vezes a gente fala “esse andamento está ótimo para vocês”, mas eles vão cantar mais lento. Então é legal isso, porque você testa na aula é vai para o ensaio e volta e fala “é verdade aquilo funcionou, aquilo não funcionou”.

RAFAEL: Na hora que vocês, como por exemplo, os alunos chegam com um repertório e diz “eu escolhi essa música, eu quem vou reger”?

MARCOS: Não.

RAFAEL: Como que funciona isso? Quem faz o que?

MARCOS: Não necessariamente.

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RAFAEL: Por exemplo, a gente tem alunos com habilidades para umas coisas e habilidades para outras, ai como lidar com uma dificuldade musical, por exemplo?

MARCOS: A gente tem uma especificidade muito forte ainda em termos de Brasil que é o fato de ter a disciplina de “Repertório Coral” e uma professora específica voltada para isso. O repertório coral na história da música é o maior repertório que existe porque existe a mais tempo e é mais disseminado. Então quer dizer, se você olhar para os últimos dez anos é capaz de ter produzido mais música do que a renascença inteira. Com a quantidade de coisa que se produz todos os dias. Então o trabalho que ela faz também reflete dentro porque é.... “Você pode trazer”. Quando é alguma coisa que está absurda porque o coro....

SUSANA: Não está conseguindo...

RAFAEL: Está muito difícil ou não tem nada ver....

MARCOS: Não vamos fazer essa obra com esses coros porque eles não têm fôlego, até porque não tem técnica vocal, a gente já mostra meio que diretamente para o próprio aluno. Mas quando a obra está ali no limiar, a gente não faz escolha enquanto a gente não passa pelo coro que a gente chama de CUCU, que é o Coro Universitário.

RAFAEL: Tipo experimenta?

MARCOS: É, experimenta. Que é esse CUCU[?] são os regentes do Coral da Terceira Idade e do Coral Escola juntos, que estão dessa aula, são os alunos dessa aula. E eles se apresentam, esse coro a gente faz cantado porque você só sabe porque você faz. Então... eles vão indo e a Susana vai questionando “isso, isso, isso. ”,

às vezes eu falo alguma coisa, mas em geral...

RAFAEL: Mas como é? É assim: você vai reger?

SUSANA: Não, ai é que tá: geralmente a gente incentiva que eles busquem um repertório e a gente não tem pressa, assim de “tem que achar para amanhã! ”. Então assim “oh, essa peça, legal. O que tem de positivo nela? Isso é aqui é bom oh, o texto é interessante mas o que tem de negativo? Essa tessitura tá muito extrema, nosso tenor vai ter dificuldade para cantar tanto agudo assim”. Então você teria que procurar “isso aqui tá bom, a dimensão, o tempo de duração dela é bom para o nosso ritmo de ensaio mas nesse ponto não está bom”, dai a pessoa vai procurar. Ou fala “a peça é bom, mas esse estilo é muito... precisaria de uma peça que preparasse. Ah então vamos deixar ela um pouco mais para frente, vamos colocar uma outra coisa que possa preparar para chegar lá...

RAFAEL: Deixa descansar um pouco...

SUSANA: É, deixa na gaveta...

MARCOS: Às vezes ela arma assim uma cadeia de três peças...

RAFAEL: Entendi.

MARCOS: ... com os objetivos cruzados que vão chegando lá. Agora outra coisa...

SUSANA: Tem também a aula de regência, né?

MARCOS: É, eu vou chegar lá. Mas ainda nesse processo, quando eles começam a ficar mais velhos e ganhar mais fôlego em procurar repertório, em se virar internet, ir e achar as coisas na fonoteca...

RAFAEL: Eles vão chegando aos pouquinhos então.

MARCOS E SUSANA: Vão...

MARCOS: Eles vão chegando, eles vão aprendendo...

SUSANA: Eles vão aprendendo a orientar os outros...

RAFAEL: Entendi. Eles começam mais coadjuvantes...

SUSANA: É.

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MARCOS: Não, eles trazem cinco, seis peças que

eles acharam...

SUSANA: É, e às vezes trás para o colega.

MARCOS: E às vezes não é para ele mesmo, “Olha eu trouxe essa assim, eu sei tô no Coro Escola, mas acho que ela funciona no Coro Terceira Idade”. Dai no outro no Coro da Terceira Idade “Nossa eu achei uma coisa que eu fiquei com vontade de fazer, mas acho que... vamos fazer no CUCU?

RAFAEL: Essa é a vantagem do multiserial, por exemplo, né?

SUSANA: Exatamente, tem vários níveis e aos poucos as pessoas que estão no mestrado e no doutorado elas já ajudam... Às vezes eu até falo: “ai eu nem sei por onde começar a perguntar... Começa por fulano, pede algumas ideias... não precisa ser eu”, eu sei que o outro aluno já vai saber dizer “oh isso sim, isso não, por aqui, por ali... tenta a base de dados”... sabe?

MARCOS: Ai tem a classe de “Regência Coral”, que também é multiserial. Então a primeira hora é só com os iniciantes, depois tem mais duas com todo mundo. Então, a primeira hora geralmente o que é? Técnica... “ato você bate assim, corte você faz assado...”, essa coisa bem do gesto, tenho uma escola muito bem definida armada com tradição [?]. Olha, eu to ensinando uma tradição, não estou ensinando a reger. É uma tradição o que quer dizer é que outros regentes têm outras tradições. Então, eu provoco eles irem olhar as outras tradições, e ai, às vezes a gente faz assim “o que vocês viram no último mês que se incorpora facilmente nisso que a gentefaz? ”. Então eles vão trazendo, às vezes eles trazem vídeos de concerto que assistiram [?] “olha, eu vi o cara fazendo assim...”, traz a gente olha... é bem bacana.

RAFAEL: Ai depois nesse segundo momento depois ai tem as [?] ...

MARCOS: Eles podem ir nessa disciplina a partir do segundo semestre, mas eles vêm sem se matricular já depois de um mês no primeiro ano.

SUSANA: É que às vezes na regência detalha mais depois traz todo o trabalho do coro comunitário “olha aquela peça que eu já trabalhei, agora eu estou me sentindo seguro porque já fiz na aula de regência, então agora eu quero reger com o coro”.

MARCOS: Então é tudo muito integrado.

RAFAEL: É, lá não teve nenhuma pessoa que, por exemplo, quis o repertório… Eles também trouxeram, a gente ficou um tempo debatendo. , mas não teve ninguém que escolheu e que conduziu o grupo que não teria muitas condições. Mas tem algumas pessoas no grupo que têm... as habilidades musicais são diferentes...

Susana: A gente já teve isso aqui...

RAFAEL: E tem que resolver isso...

SUSANA: Mas então a gente resolver isso um pouco pela aula. Já teve caso: o aluno vem no começo, tá entusiasmado, vê a música que ele gosta e escolhe. A música não seria impossível para o coro, mas ainda é um pouco difícil para ele. Ele foi lá tentar reger a classe, sentiu dificuldade, a gente dá um suporte, ajuda, resolve Mas ele não ia conseguir crescer a velocidade necessária para ir fim. Então o que a gente faz “Ah, a peça é legal. Mas e se a gente vamos por uma outra?”. Dai a gente escolhe alguma coisa no nível dele. AÍ às vezes a gente traz. Eu trago muito repertório, só que eu fico assim “Eu não vou trazer nada, tá? Eu não vou trazer música para o coro”. É mentira, eu vou trazer. Mas...

RAFAEL: Não, eu entendi. É para fazer a galera [gestos] também...

SUSANA: Quando você vê que uma semana não veio nada nada muito bom. Na outra, não. Ai eu trago, entendeu? “Olha, vamos tentar isso aqui? É puxa, então quem pode ser? Ah, acho que fulano não tá regendo. ”, ai é até bom quando a gente traz porque a gente mesmo já sugere. Ou “quem quer reger?”, porque às vezes a pessoa...

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RAFAEL: [algum comentário ??]

SUSANA: Não, às vezes a gente fala “Você tem que reger alguma coisa” para alguns alunos que já estão lá há um semestre inteiro, ficou lá fazendo ensaio de naipe semestre que vem você tem que reger.

MARCOS: “Vamos começar por aqui?” RAFAEL: Entendi. SUSANA: Às vezes dar desafios pequenos, e ir crescendo.

RAFAEL: E também para os correpetidores? Porque no nosso, lá no programa do LARCI, eu estou fazendo eles todos pegarem uma função... A maioria da licenciatura, eles tocam instrumentos harmônicos. E como o repertório também da criança de início é bem simples na parte musical [?]

RAFAEL: E faz tudo com piano e violão. E eu também os coloco para alternar.

SUSANA: É a gente vai usando o que tem. Você viu lá que tinha um saxofone...

RAFAEL: Porque tem mais gente de música, sabe? Não da colocar todo mundo para reger.

SUSANA: Claro, a gente também faz isso. Põe solo, põe instrumento... você viu hoje os meninos fazendo...

MARCOS: Põe solo para eles cantarem...

RAFAEL: Eles não podem cantar com as crianças também, fica esquisito.

MARCOS: e Susana: É...

MARCOS: É, mas a gente põe solo dos nossos alunos no meio do coro.

RAFAEL: Para dar função! Porque também se não tem função, não fica, né?

SUSANA: Exatamente.

RAFAEL: Eu tive um pouco essa impressão[?]. Nem que a pessoa fique lá contando as crianças. Se não tem função, não fica.

MARCOS: Outra coisa: [?] o piano toca quem toca piano. Porque a gente faz coisas que precise de algum piano. Mas às vezes não dá... Se é músico popular, bom... vai com o violão, “então você”...

RAFAEL: Quem faz, quem toca...

SUSANA: É, eu acho que a gente deveria usar mais o violão, eu sempre estou falando para os alunos que...

RAFAEL: É ruim de passar a melodia.

SUSANA: Não, é assim: na tradição do canto coral a gente sempre precisou de um instrumento de teclado. Mas no Brasil, o violão é outro instrumento muito mais aquecido. E você pode adaptar! Você pode adaptar tudo.

MARCOS: Mas tem um problema...

SUSANA: Tem o problema do violão que é a amplificação. Então a gente tem feito testes de como a melhor forma de amplificar, se é com microfone, se é com tubos[?]...

MARCOS: Nós mandamos fazer uma caixa de amplificação específica para o violão. Mandamos fazer com a engenharia ai

SUSANA: Na nossa sala tem as caixas acústicas, já fizemos pela mesa e o violão e deu certo...

RAFAEL: A gente usa o violão com o repertório folclórico porque combina mais para cantar, por exemplo, uma catira... Ai com as crianças, fica mais dentro do estilo.

SUSANA: Ai com dois violões...

RAFAEL: Mas passar a melodia no violão é uma dificuldade que a gente tem, porque não segura.

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SUSANA: É, ai que tá. Não é atoa que o piano é instrumento mais principal

MARCOS: Mas dai a gente ensina a afinar, ensina a ir corrigindo enquanto está tocando...

SUSANA: A ouvir também, eles têm dificuldade de ouvir o violão e afinar. É uma coisa que tem que aprender.

SUSANA: o coro tem mais dificuldade pra se afinar com violão do que com piano, mas eu acho que a gente tem que incentivar muito mais.

RAFAEL: é costume.

RAFAEL: qual que é o perfil de vocês? Dos estagiários?

MARCOS: dos alunos?

RAFAEL é, dos alunos.

MARCOS: “eh”, ele é bem misturado. Regência.

RAFAEL: mas a pessoa entra assim: quero cantar, quero ser regente, o curso, experiências anteriores.

MARCOS: não, não, não. “Ó”, vou falar pra você.

SUSANA: não, a gente chama todo mundo o tempo todo.

MARCOS: os alunos que chegaram esse ano em regência.

SUSANA: “tão” todos aí.

MARCOS: entraram cinco.

MARCOS: nós temos três lá

RAFAEL: entram cinco por ano?

SUSANA: isso. É.

MARCOS: até cinco. Não, pode entrar até dez se não entrar ninguém em composição.

SUSANA: é, composição e regência. Composição e regência são dez.

MARCOS: entendeu? Composição e regência a FUVEST resolve.

RAFAEL: lá tem três vagas.

SUSANA: é pouco.

MARCOS: “hein”?

RAFAEL: lá tem três vagas só.

SUSANA: é muito pouco.

MARCOS: pra tudo?

RAFAEL: pra regência.

SUSANA: pra regência.

MARCOS: é?

RAFAEL: e é intransponível.

MARCOS: então, a nossa experiência com grupo, com grupo maior de alunos é que todos estudam mais.

SUSANA: mas eu tenho ó.

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RAFAEL: mas é que no ano passado não aprovou ninguém de regência na Unicamp.

SUSANA: a gente tem ótimos alunos de instrumento.

RAFAEL: lá não aprovam os alunos.

SUSANA: a gente tem ótimos/ a gente tem ótimos alunos de instrumento na/ nas práticas corais.

MARCOS: é.

SUSANA: é bacharelado em violão.

RAFAEL: “uhum”

SUSANA: bacharelado em flauta.

RAFAEL: nossa.

MARCOS: bacharelado em trombone.

SUSANA: é.

MARCOS: tá cheio.

SUSANA: porque eu acho que a diversificação de atividades, assim, vem do que eles dizem, por que que eles vieram procurar. Então, assim, “eu também sempre cantei em coro”, “eu gosto”, “na minha igreja tem” ou “na escola eu vejo que tem um espaço” e assim, “tudo bem, eu sou um instrumentista eu gostaria de tá numa orquestra mas eu tenho que diversificar, eu tenho que garantir que eu vou sobreviver de música, “né”? Não necessariamente do meu instrumento”.

RAFAEL: é.

MARCOS: e a gente ensina a se profissionalizar.

SUSANA: é aí eles, é uma das/ e é isso mesmo, pode ser parte do tempo

MARCOS: os nossos, os alunos que saíram daqui se eles querem ir pra área, pode demorar seis meses pra ele sair bem empregado.

RAFAEL: é, com certeza.

MARCOS: porque a gente prepara mesmo pra enfrentar.

RAFAEL: sabe o que fazer “né”?

SUSANA: é, exatamente.

MARCOS: é, exato.

RAFAEL: lá, a gente recebeu tem muitos alunos, a maioria deles são das modalide combinada, mas o foco foi na licenciatura, já que no coro também são crianças.

SUSANA: é, claro.

RAFAEL: então isso/ “é”/ chama bastante atenção principalmente na educação básica. É uma prática que precisa de instrumento tem diversas questões que mesmo que não se monte um coro, as crianças irão cantar.

SUSANA: exatamente. Tá difícil “né”?

RAFAEL: mesmo que/ não é um coral, mas vai cantar.

SUSANA: é

RAFAEL: sempre vai cantar.

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SUSANA: é, a gente aqui acho que tem um atrativo pra/ pro pessoal de regência, que vem fazer, que é: tem muito tempo a disposição na frente de algum grupo, algum (músico).

RAFAEL: tempo de pódio, “né”?

SUSANA: tempo de pódio, exatamente. Então, isso,

quer dizer, tem os comunitários, mas no/ por

exemplo, para estar no comunitário você também

está na frente de um grupo de adultos “né”?

MARCOS: e também/ e também está regendo na classe de regência.

SUSANA: e também “está” regendo na classe de regência. Aí aqueles que “tão” no final de curso eles chamam umas assistentes do coral da ECA, ou mestrado ou graduação, no final da graduação.

RAFAEL: para reger

SUSANA: é um super desafio porque é só aluno de música

MARCOS: não, o coro da ECA é complexo.

SUSANA: repertório difícil.

RAFAEL: e gente chatíssima né. É uma chatice.

SUSANA: no coro de câmara que é o coro mais selecionado que são aqueles que já tem alguma prática “ne”, fazem um repertório avançado.

MARCOS: não é que é tão chatice é que assim.

RAFAEL: músico é chato, gente.

MARCOS: não, não, não, tanto é que a gente conseguiu, pois parece que os músicos estão gostando de cantar. O que acontece não é chatice, é exigência.

RAFAEL: não, eles gostam de cantar. Só que músico vai esperar o outro errar. Tem essa pressão.

SUSANA: é, a gente tenta quebrar isso.

RAFAEL: tem essa pressão, “né”.

SUSANA: mas eu não consegui ir até o fim do que eu ia falar que é: tem o coral da ECA que tem um nível de aluno de fim de graduação ou mestrado e o coro de câmara que tem alunos de doutorado em performance.

SUSANA: mas isso é muito legal porque o pessoal que “tá” lá “né” no último pedaço e muita gente que surgiu daqui da graduação então também pro aluno fala “bom, eu tenho então um caminho que de, né, de longo prazo”. Agora esse negócio do chato, da prática, desse/ um pouco, esse jeito do músico que só toca por cachê ou “deu um minuto em vou embora e tal”, isso existe, é parte do nosso ambiente. O que a gente tenta fazer? Mostrar que realmente é muito chato.

RAFAEL: muito chato.

SUSANA: é muito mais legal quando você está envolvido. Então a gente tenta modificar. Todos os dias a gente tenta modificar esse comportamento.

MARCOS: no coro escola como tem essas variações de, de, de funcionalidade, e os regentes vão girando, preparação vocal quatro semanas um, quatro semanas outro...

SUSANA: é

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MARCOS: a coisa vai andando assim. Eles, eles. E eles/ a única coisa que a gente obriga é o seguinte: na hora que for fazer o aquecimento, você pode ter cantado, você pode ter feito aula de canto, você pode ter quebrado a perna, é obrigatório estar junto com o grupo.

SUSANA: tem que “tá” lá

MARCOS: mesmo que você não vai cantar, você tá no meio do coro.

RAFAEL: entendi.

SUSANA: tem que “tá” presente.

MARCOS: tem que “tá” presente.

RAFAEL: uma outra coisa, como que vocês lidam com a alternância dos alunos?

SUSANA: alternância em que sentido?

RAFAEL: porque eles saem, outros entram...

SUSANA: a gente (...)

RAFAEL: é sempre um recomeço.

SUSANA: é.

RAFAEL: não? Não tem essa questão de sair tudo mundo?

SUSANA: tem. Às vezes tem.

RAFAEL: não é normal?

MARCOS: todo mundo?

SUSANA: não, todo mundo não.

RAFAEL: a maioria.

SUSANA: mas vamos supor: tem um naipe que estava com três monitores de fim de curso de repente eles formam, os três se formam. Agora, a gente sabe quem vai sair né.

RAFAEL: entendi

SUSANA: mesmo não avisando.

MARCOS: Eles vão fazendo o processo de análise. Não somos nós.

SUSANA: vai tentando chamar.

RAFAEL: entendi.

SUSANA: mas acontece sim. E as vezes a gente tem que o coro tem que também saber “ah, que saiu um cara que estava super bem no coral e agora entrou um iniciante, ele vai errar”.

RAFAEL: vai recomeçar ali de outro.

SUSANA: é, ai você põe um mais experiente com outro, a gente pesquisa que continuaria melhor com as propostas, para dar continuidade no trabalho.

MARCOS: pessoal da terceira idade reclama mais.

SUSANA: é, a gente fica num impasse.

RAFAEL: é que também eles têm esse laço afetivo

SUSANA: a gente fica num stand by que é: faltou alguma coisa, a gente faz.

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RAFAEL: faz.

SUSANA: então, a gente não tem sobrando, ok. A gente vai lá, “né”.

MARCOS: não só isso, mas a gente faz o ensaio de naipe-aula, que a gente chama. A gente vai e faz um ensaio mostrando pra eles o que tá fazendo. “Né”, você vai assim: “o que eu fiz?”, “fiz isso,isso, isso, isso” “e o que eu vou fazer?” “Isso, isso, isso”. Presta atenção. Aí, no próximo ensaio eles já tão fazendo bons ensaios de naipe. RAFAEL: entendi.

MARCOS: porque você, porque a gente foi lá e deu risco. Porque senão fica aquela coisa que não tem risco.

RAFAEL: é, eles precisam de um modelo pra ver também como seria “né”.

SUSANA: é, exatamente

MARCOS: é

SUSANA: você tem que, primeiro você tem que experimentar porque você só percebe se tá sendo efetivo na hora que você vai fazer. E aí tem uma regra também que a gente tenta fazer que é: os colegas que tão/ porque as vezes tem o monitor fazendo e mais algum colega cantando dependendo do naipe. O colega que “tá”, tem que tentar se segurar pra deixar o outro resolver, “né”? E aí as vezes a gente tem alguém que fala “ó, ce fica lá meio de/ “né”/ como ele nunca fez, se você perceber que tá saindo muito você dá uma ajuda”. mas, no geral, a gente quer/ a pessoa tá lá no espaço, tá na função, ela tem que resolver.

RAFAEL: Entendi.

SUSANA: e aí a gente vai tentando propor, “né”, soluções “né”. Tentar isso, tentar aquilo

MARCOS: é, senta do lado, fica olhando o cara

SUSANA: percebeu que deu mais certo nisso do que naquilo. Por que? É a região da voz que a pessoa se encontra melhor? É a parceria de quem “tá” do lado que ele se ouve melhor pelo timbre? O que que é?

RAFAEL: uma coisa que eu vejo que eles têm dificuldade, pelo menos os alunos de lá, uma que é a organização do tempo

SUSANA: é,isso.

RAFAEL: se organizar ao longo do tempo, “né”: o que fazer hoje, o que é importante ser corrigido hoje, o que não é tão importante.

SUSANA: é, a gente também e faz isso pelas avaliações porque as vezes é isso: a gente vai lá, ele quer resolver um problema que é depois de ter resolvido o anterior.

RAFAEL: é.

SUSANA: aí o que acontece no ensaio? Nada. Aí quando a gente vai avaliar fala “ih”, “funcionou? ”, “Não”, “Por que? ” Então vai até que a pessoa mesma consiga sozinha.

RAFAEL: precisa estimular o treino da percepção;

MARCOS: muitas vezes.

RAFAEL: porque na aula eles também não escutam, tem essa dificuldade, como você escutar e saber o que exatamente está acontecendo de errado.

SUSANA: é, eu tenho uma coisa que eu queria dizer.

MARCOS: claro.

SUSANA: com relação a essa história de repertório que é uma das coisas que eu mais falo pros alunos e peço que eles falem pras outras pessoas, que as pessoas tem tendência a achar que coro é só uma coisa “ah” “ você faz um coral”, né? “um coral”. Acontece que assim, um coral com cento e cinquenta pessoas tem um

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perfil, tem um repertório, tem um tipo de expressão. Um coral com dez pessoas que também existe. Cada coral pode fazer um tipo, um outro tipo de repertório, é outra sonoridade, é outra pesquisa, então na verdade a questão do repertório, a primeira coisa que a gente tem que ver, que existem formações corais então/ “ah” e aí eu passo por vários gêneros, compositores e suas obras.

MARCOS: ninguém mais chama de madrigal, né?

SUSANA: agora voltando de novo.

RAFAEL: como que chama agora?

SUSANA: ensemble, agora todo mundo chama de Ensemble.

RAFAEL: “ah”. Nossa!

SUSANA: e aí a gente vai/ “o que que é o Ensemble”, “se o Ensemble é vocal ou instrumental”. Mas o que que é isso? O que que é um coro de câmara? Qual o repertório típico de um coro de câmara? E porque as vezes aquele repertório funciona bem com isso/ não há/ o coro que vai entre vinte e quatro e quarenta. Se você passa de quarenta pessoas já não funciona.

RAFAEL: “uhum”

SUSANA: é, exatamente. Então, o que que vai dar certo, “né”? “Ah” porque você tem várias formas de classificar uma delas é a formação. Assim, o coral da ECA é o perfil de coro sinfônico, se não vai fazer só o repertório sinfônico que é aquele repertório para coros grandes.

RAFAEL: mas não vai soar diferente.

SUSANA: mas não. “Você” tem que fazer coro de massa, então, tem muita música para coro de massa. Mas tem uns certos tipos de arranjo, pensado para oito pessoas que não vão funcionar, mesmo que sejam ótimos cantores, caso a obra exija muitas vozes.

RAFAEL é

SUSANA: “eh”, a formação é outra e isso eu falo muito porque assim: aí vem e convidam o seu coro pra cantar a “Nona Sinfonia”, o seu coro tem vinte e cinco pessoas, amadores, tal “Não, mas não é um coro? ” “ O coro tem que saber cantar a nona sinfonia. ”

RAFAEL: “Carmina Burana”, “né”

SUSANA: é, “Carmina Burana” ou “Requiem”, de Mozart...

RAFAEL: é, mas aí chama dois grupos.

SUSANA: é, chama.

SUSANA: mas é, a gente, a gente tem que educar inclusive outros músicos entendeu? De que coro não é uma coisa só. São formações diferentes e aí a primeira coisa então é entender o perfil do seu coro. Acho que coro infantil tem isso também, tem várias classificações

RAFAEL: claro

SUSANA: se é coro infantil, é infanto-juvenil, é jovem, é juvenil, que no/ que nomes dão.

RAFAEL: o espaço é fundamental porque ele que determina também porque que as pessoas estão ali as crianças estão ali

SUSANA: é, claro, claro. Mas é isso, e quantos são, né porque você pode ter um coro infantil de massa e pode ter um coro infantil, um grupinho pequeno. Isso já também/ o que que você vai cantar vai fazer diferença.

RAFAEL: é.

SUSANA: aí que é a questão de ter/ que acho que é importante o que você tá falando, ter a atividade, a

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prática “né”, a/ o real e ter vários reais porque o próprio cantor, eles falam muito isso “aí quando eu canto com o coral da ECA eu me sinto melhor porque tem muito mais gente então eu consigo soltar melhor a minha voz”

RAFAEL: e quando a voz mais treinada, mais no começo do treino, é difícil segurar “né”

SUSANA: é difícil

SUSANA: e os regentes também. Sabe? Uma coisa que a gente observa que esses alunos, por exemplo, regem o coral da terceira idade e também regem a mesma música no coral de alunos que é menor e um grupo mais treinado, mais ágil. “Eh” eles também têm que fazer alguma diferença no próprio gesto.

RAFAEL: claro.

SUSANA: “né? ”, no próprio gestual, no tempo. Então tem várias coisas no âmbito da regência que o fato de ter dois grupos diferentes também faz diferença, tem que ter o seu código. Quando você tem um negócio imenso, tem que se posicionar diferente. Mas é assim: o repertório e a técnica de ensaio dependem dessa formação coral em primeiro lugar. Depois o nível do coro, se o coro é um coro que lê por partitura, é coro que lê pela letra, que trabalha por memória, é um coro que trabalha obras de frases que necessitam de fôlego, ou só pode fazer peças curtas pelo ritmo de trabalho. Se ensaia uma vez por semana, você não pode fazer obras longas.

RAFAEL: não dá.

SUSANA: não, não pode ter isso como objetivo, “né”? A não ser que elas sejam assim, uma sucessão de peças curtas que no final seja uma “né”?

RAFAEL: vocês têm alguma sugestão?

SUSANA: Eu acho que tudo que você tá falando tem muita coisa que tem identidade e também tem os caminhos próprios “né”? Acho que o fato de trabalhar com esse público “né”, dessa faixa etária, isso é uma das coisas particulares importantíssimas tem que ser a/consideradas. Acho que tem que ser considerado. Mas eu acho que tem coisas, eu vejo meus alunos lá. Que mesmo as coisas que a gente fala que não são para coro infantil, quando eles usam para coro infantil, muita coisa eles conseguem aplicar porque o pensamento é maior. Quer dizer, cada público exige mesmo isso, o aluno de música que você falou exige um tipo de resposta, um tipo até de linguagem e outros públicos existem outras, exigem outras linguagens, mas a estruturação, o pensamento em todo natural, ele serve para coisas diferentes.

MARCOS: o meu primeiro coro foi no Jardim São Luis, um bairro de periferia aqui de São Paulo, quer dizer, naquele tempo era mais periferia do que hoje porque a periferia se estendeu, mas continua sendo bairro pobre, favelado. E eu comecei lá, acho que com vinte e três anos, eu fiquei lá até os vinte e oito até um ano antes de eu entrar aqui.

MARCOS: nesse momento quando eu “estava” começando a minha vida aí, foi um trabalho ali com a garotada da escola, então era assim: os ensaios eram de sábado das seis às sete e meia da noite e domingo.

SUSANA: tá louco, “hein”?

MARCOS: domingo das duas as seis.

RAFAEL: das duas as seis da tarde?

MARCOS: é.

SUSANA: é.

RAFAEL: desafio para quem gosta de cantar mesmo. MARCOS: com um intervalinho.

MARCOS: exatamente.

RAFAEL: deve ter sido primeiro acesso de vários cantores.

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SUSANA: sim.

MARCOS: claro. E era assim, garotada de ginásio e fundamental dois, alguns que já tinham idade pra tá terminando a faculdade misturado, mas que estavam lá no meio da escola. E, e aí esse trabalho resultou em uma coisa enorme tanto que no fim eles estavam cantando século vinte, estavam catando música de vanguarda e participaram de eventos. RAFAEL: sete anos?

MARCOS: participamos duas vezes do festival de Música Nova de Santos, duas vezes convidados pago pelo festival pra cantar lá porque era uma coisa que o pessoal ficava maluco quando eles cantavam.

RAFAEL: que legal.

MARCOS: chegou um momento que eles brigaram entre si por motivos políticos, assim, eram setenta e oito. Então todos já estavam ficando mais estruturados no campo da esquerda então metade entrou num movimento sindical mais forte vamos dizer.

RAFAEL: entendi

MARCOS: e outros mais começaram a brigar entre si, o coro acabou, mas, essas pessoas, elas continuam me procurando de vez em quando, elas aparecem nos concertos, elas aparecem nos meus ensaios, são sessenta anos “né”.

RAFAEL: caramba.

MARCOS: “né”? E aí, eu tinha vinte e três anos, eles tinham quatorze, eu “tô” com sessenta e oito, então (...)

RAFAEL: “tá” todo mundo aí.

MARCOS: “tão” aí “né”. Então eles aparecem de vez em quando. “Eh”, uma das pessoas que mais seguiu, vinha mais nos ensaios, um dia, ela vinha muito no coro da ECA, ela conseguia fugir do trabalho que ela trabalhava aqui em Vinhedo, corria aqui, assistia o ensaio na hora do almoço e voltava para o trabalho. E um dia, enfim, “ah, vamos comer alguma coisa? ” A gente foi comer por aí no campus e ela falou o seguinte “você não tem muita ideia do que você fez na vida da gente: fulano tá terminando o doutorado em história, fulano isso, fulano aquilo, foi dando um histórico do que tinha acontecido. E por uma coisa só você fez isso, foi pela música, porque a música, você foi abrindo a cabeça, a gente só ouvia porcaria”. “E aí a gente começou a ouvir coisas boas e aquilo que era porcaria a gente começou ou a ligar ou a transformar a maneira de fazer” e aí você pegava as coisas da Rita Lee que pra gente, a gente fez arranjos e cantava Rita Lee e ficava bonito “né”. Foi uma vida muito interessante essa, essa de ir percebendo essas transformações e isso significou na vida de todo mundo.

RAFAEL: também precursor né, esses arranjos de música popular.

MARCOS: a gente fazia coletivo.

SUSANA: é, é.

MARCOS: a gente fazia arranjo coletivo.

RAFAEL: legal.

MARCOS: mas, tudo bem. O que eu quero dizer é que quando a gente recebe um aluno “sem base”, aí esse trabalho que a Susana tá relatando do repertório, é absolutamente fundamental. Para a transformação do repertório, é a transformação com muito potencial.

RAFAEL: do sujeito mesmo, “né”?

SUSANA: é.

MARCOS: do sujeito, é.

SUSANA: agora, a gente não trabalha com, quer dizer, eu não trabalho com a perspectiva de que “ah, tem este

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repertório que é melhor” .

MARCOS: esse é melhor que aquele, é...

SUSANA: e, sim, tem/ a gente quer coisas de qualidade. Coisas de qualidade são aquelas que todo mundo gosta, quem canta gostou. O público gostou, E assim, tentar, “eh”, não ter preconceito estético né, porque tem muito preconceito de todo tipo.

RAFAEL: tem.

SUSANA: tem preconceito de uns com a música popular, de uns com um certo tipo de música considerada comercial, também de quem só faz música popular tem um enorme preconceito com a música erudita, tem preconceitos religiosos com este, com aquele repertório da parte de quem é religioso e de quem não é, então, como a gente trabalha?

SUSANA: as vezes, as vezes as pessoas reclamam e aí vai ter alguma razão cultural (...)

RAFAEL: é

SUSANA: acontecem coisas que a gente não captou. Ou pessoal, sei lá. Tem gente que tem problemas pessoais e algumas músicas, elas associam com momentos desagradáveis. Acho que isso a gente tem que trabalhar e tentar entender, “né”? Mas eu acho que quando a gente trabalha tentando ouvir o outro, “eh”, se/ se ele trouxe uma coisa achando que ele achou que é muito legal mas você tá achando que é um lixo, vai ter que ter uma negociação.

RAFAEL: “uhum”.

SUSANA: e ver no que que aquilo pode se transformar ou não.

SUSANA: é, e você tem que ir achando histórias “né”

RAFAEL: o mesmo repertório, esse é a dificuldade porque elas cansam.

SUSANA: mas o adulto também.

RAFAEL: repete muito tempo.

SUSANA: é.

RAFAEL: e inclusive acha que já tá bom, a criança.

SUSANA: é exata/ mas o adulto também, é igualzinho.

RAFAEL: “ah, vamos fazer de novo? Ficou ótimo essa vez”...

SUSANA: é, exatamente. E eu acho que tem que desmistificar essa coisa que o regente é o cara que sabe mais, que sabe tudo.

MARCOS: é.

SUSANA: você tem uma função de liderança naquele momento, é, é desejável que você saiba muito.

RAFAEL: é.

Seguimos com uma conversa particular.

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Anexo 2. Entrevista Estagiárias/os I

0: De uma maneira geral, (essa) é uma conversa aberta. Mas é importante que todos falem, mesmo que seja

apenas em um momento. Mas se vocês pudessem falar o que que levou vocês, individualmente essa... essa é

individual, tá? Claro que é evidente que a fala de um vai fazer despertar uma memória do outro, mas de

uma maneira geral, os interesses foram, a princípio, individuais. Porque vieram ao LARCI?

1: Bom, é Eu vim para o LARCI porque eu estou na licenciatura e faço bacharel também, em canto, e eu sempre busquei coisas que pudessem unir as duas frentes. Eu acho que o LARCI foi um momento que me deu uma luz e quando o Rafa propôs o laboratório, eu fiquei muito interessada em poder trabalhar com esses dois assuntos que sempre me acompanharam durante toda a minha vida na Unicamp de uma maneira única, né? E usando a questão da regência, (de) como trabalhar nessa questão do coro infantil, mas, não só isso; trabalhar também a alfabetização musical das crianças através do canto, né? Porque a gente tem várias ferramentas aqui, não só como regente, mas como educador também. Então foi por isso. 2: Bom Parecido com a XX, o fato, também, de ser do canto e da licenciatura, o canto coral é como a união.

Eu sempre me interessei por canto coral. Já tinha participado de outras coisas sobre esse assunto. Acho,

também, que ter a oportunidade de ter um local prático foi o mais importante. Acho que o que mais me

chamou a atenção. não só teórico, que a gente teve, mas algo mais prático e de a gente aprender com as

crianças, né? Estando na ação mesmo.

3: É. O meu interesse, na verdade, pelo ensino de canto coral começou no PIBID do ano passado. A gente

foi para uma escola e tal. e eu vi que essa área despertou um interesse bem grande em mim. Coisa que

eu não imaginaria, porque eu toco violão, né? Já dei aula de violão particular e tal... E a partir do PIBID e

depois eu fiquei sabendo logo no finalzinho que a oficina ia ser oferecida no ano seguinte. E eu me interessei,

porque com essa experiência que eu tive, eu vi que tem tantas coisas envolvidas como, não só a parte vocal,

mas toda a parte de acompanhamento e de como pensar um repertório para ser trabalhado com um público

específico a parte de arranjos de músicas tudo que a gente tem que considerar para trazer para esse

contexto de canto coral. Então, tudo isso aliado a oportunidade de estágio da disciplina da licenciatura... é....

o LARCI veio para veio bem para aliar essas duas coisas: tanto o meu interesse que criei ano passado, que

fui descobrindo, quanto a oportunidade de estágio.

5: Concordo com o XX, mas o meu interesse foi, também, porque eu sempre achei que o curso é muito

teórico. O curso de música da licenciatura é muito teórico e, talvez para mim, seja o principal motivo, dentro

de vários, foi a oportunidade de ter uma experiência de aprendizado da minha formação na prática. Porque

em nenhum momento, na minha formação, eu tive uma experiência mediada de oportunidade de

aprendizado. Eu tive o PIBID, mas o PIBID não tinha essa mediação durante esse processo. Então você ia, só

que você não tinha essa mediação de alguém que é da área. Acho que esse é o principal motivo. Aliado a

isso, também, que eu estou no CEMMANECO e que aí isso me ajuda a essa prática profissional que eu estou

começando a exercer, e aos meus interesses também. Eu comecei a estudar canto. enfim: tudo isso está

caminhando no mesmo sentido.

6: Para mim foi muito parecido também, no negócio do PIBID. Eu também fiz o PIBID ano passado com a

experiência do coral e foi muito gostoso. Eu me interessei bastante com essa ideia do canto coral infantil e

tal... a pesar de eu não me sentir um bom cantor, muito longe disso. E daí, depois, quando eu entrei no

CEMMANECO, eu também achei muito interessante. Mais para complementar, mais, a minha formação, ter

mais experiência, principalmente com criança mais nova. Porque é a primeira vez que eu realmente comecei

a trabalhar com criança a baixo de oito, nove anos. Porque antes eu estava participando também da oficina

da XX de sábado, só que lá o perfil das crianças é mais... de crianças um pouco mais velhas de nove anos

para frente e também a condição social é bem diferente, né? Do LARCI, do PRODECAD que são também

diferentes. E eu achei que seria interessante complementar essa minha experiência.

7: No meu caso também tem a ver com essa falta de experiência... que eu nunca tive contato de ensino

diretamente infantil, né? Com crianças. E eu sempre participei de coro, mas é totalmente diferente de você

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reger um coro... e essa experiência, na realidade, na nossa faculdade, a gente não tem a prática que a gente

cobra muito nas aulas. E eu acho muito importante, né... aqui a gente desenvolver isso. Basicamente e isso.

8: Eu sempre gostei muito de cantar e de coral, e eu tenho experiências de coro infantil, mas eu nunca tive

aulas de regência que fossem direcionadas exatamente para reger um coro infantil. Porque um coro adulto é

extremamente diferente. Então eu vi no LARCI uma oportunidade de ter uma experiência direta com coro

infantil, aprender como lidar a, não fazer só um ensaio, mas inserir elementos de musicalização.

9: É. Eu fiz Técnica Vocal e Preparo Vocal Para Coro Infantil com a XX, e isso me chamou muito a atenção

para o coral infantil, as coisas que ela falou durante essas aulas. E isso me incentivou muito a vir para cá e a

falta de laboratórios que a gente tem na licenciatura. O LARCI foi uma oportunidade de ter um laboratório

mais prático e guiado.

10: Para mim, eu já conhecia o Rafael, porque eu trabalhei com ele no CEMMANECO (por) dois anos... e

foram bem começo da licenciatura. Então eu basicamente aprendi fazendo, né? Eu aprendi na prática e aí...

depois eu fui entendendo o teórico e aí quando eu soube que era o Rafael que ia dar a oficina, eu me

interessei, porque, primeiro que eu canto também e é uma questão de ensino, que são coisas que estão

ligadas. Mas acho que, para mim, foi muito mais a questão de ser o Rafael. Eu aprendi mais com ele do que

com a faculdade em si.

11: Bom, é Eu também fiquei sabendo desse projeto porque eu trabalhei com o Rafael no CEMMANECO.

Também foi um fato importante para eu estar aqui: ser o Rafael dando o projeto, porque eu gostei muito de

trabalhar com ele e aprendi muito. E durante a minha graduação, eu não tive nenhuma oportunidade de

trabalhar especificamente com o coral. Eu queria ter participado do coro no CEMMANECO, mas eu não

consegui por causa dos dias e horários, então eu trabalhei com a musicalização lá. A pesar de eu não ter o

interesse específico de ser regente de coro, eu acreditei que essa experiência podia melhorar as minhas

aulas como professora, me dar mais ferramentas para trabalhar com músicas cantadas com as crianças e,

pela experiência que eu tive nesse semestre dando aula no colégio, eu acredito que ajudou bastante. Sim!

Melhorou bastante o meu trabalho como professora, em si.

12: Meu principal motivo é por estar lá no coral infantil do CEMMANECO desde o meio do ano passado, e

eu nunca tinha trabalhado com canto coral, nem com crianças e porque eu estava procurando atividades

agradáveis na Unicamp.

4: Bom, é para falar o meu principal motivo de estar aqui? O meu principal motivo... é que todos

contemplaram muito tudo. É. O fato de ser uma oficina supervisionada, né? A oportunidade de discutir a

prática e não ficar só em uma discussão teórica. E não é uma prática sem fundamentação teórica, né? Por

mais que a gente não tenha parado para ler um texto e tudo o mais, a gente sempre teve muita direção sua

e tudo o mais, né? E de todos nós, mesmo, né? Acho que a gente se ajudou nisso. Eu acho que foi muito

importante. E o fato de ser você também conta muito, como falou a XX. e a XX antes falaram. Porque

como a gente já tinha trabalhado juntos antes no CEMMANECO, eu aprendi bastante. Acho que essa é a

forma de aprender a aprender e a ensinar, do tipo. leva a gente para esses caminhos. E o fato de ser o

canto coral, porque eu gosto de cantar, a pesar de não ser o meu instrumento principal. E, quem sabe, né?

Algum dia reger um coro. Mas, enfim.

0: Agora a gente não precisa falar na ordem. Vocês só. quem vai falando, vai levantando, eu vou anotando

e a gente vai apontando e tentando não falar um em cima do outro. Qual que é a diferença que vocês acham

do que propõe o LARCI em relação à formação de vocês... e do que é oferecido no curso nos respectivos

cursos que vocês realizam? Tanto quem faz as modalidades combinadas, quanto quem faz exclusivamente

a licenciatura. Alguma coisa que vocês sentem que o LARCI traz de diferente, tirando o fato de ser mediado,

se tem algum outro ponto. Comparando o que que seria a formação sem o LARCI e a formação com o LARCI.

8: Acho que a prática mesmo, né? Porque, nas nossas aulas, fica tudo no hipotético: o grupo de crianças é

hipotético, o que a gente vai fazer é hipotético... E a gente, às vezes, até planeja aulas com crianças, só que,

na hora, você vê que... o planejamento, você usa, mas às vezes você muda tudo. Então, eu acho que a grande

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diferença não é nem a mediação, porque na aula você também tem mediação, você sempre apresenta o

projeto de planejamento e a professora vê, mas eu acho que é mais a prática mesmo. Ter um grupo de

crianças reais no qual você pode planejar e aprender a ter jogo de cintura...

7: A questão também, depois de você fazer a prática (é) você refletir sobre ela e depois falar tudo o que deu

certo, tudo o que deu errado, o que precisa melhorar. E também a questão de estimular... aí, no caso, o

professor que está... a buscar atividades, a criar... o que você faria, o que está bom, o que não está. Então isso

é uma formação pessoal mesmo.

4: Eu acho que também dentro da... pelo menos é o que eu sinto, que dentro das disciplinas que eu fiz no

IA, de licenciatura, nenhuma delas incentiva a gente a pensar no processo, sabe? É sempre no produto final.

Quando a gente vai fazer um planejamento, é: “Ok, o que que a gente tem que fazer para aquecer a voz? ”,

“Ah! A gente tem que cantar”, ok! Então a gente vai lá e escreve “cantar”. Ninguém fala como cantar, de

onde partir e, depois que você cantou, aonde você quer chegar, sabe. Eu acho que esse ponto também é

muito importante para a prática.

10: Eu queria complementar a fala da XX. A gente fica muito no planejamento, né? E eu sinto também, que a

gente tem o começo e o fim. A gente não tem o meio. Tipo... o começo ser muita teoria, e o fim o que você

vai fazer. Só que fica esse buraco de “como fazer? ”.

0: Aí você acha que o LARCI estaria nesse meio?

10: Não. Isso é o curso de licenciatura.

0: Ah, tá! Entendi?

10: O curso de licenciatura traz isso, porque ele não está muito equilibrado... a parte de... na teoria, para ela

ter uma continuidade e o planejamento ser efetivo e concreto.

4: Eu acho que o que a XX quis dizer é que o LARCI contempla tanto o início quanto o meio e o fim, enquanto a

licenciatura fica faltando aí...

5: Eu acho que... em relação ao LARCI e das outras experiências e disciplinas que eu tive no curso,

comungando com o que meus colegas acabaram de falar, eu acho que aqui está muito bem orientado com

relação a procedimento. Tanto em função da estrutura que você mesmo propõe, quanto por estar em um

espaço prático, né? E isso é possível. Sem isso, acredito que, se isso fosse proposto na disciplina teórica não

faria, então, sentido se hoje eu falasse assim: “Não... Então falta o ensino de procedimentos no curso”. Só

que não faz sentido você tentar ensinar procedimentos sem uma experiência prática, né? Só que ao mesmo

tempo é necessária essa noção procedimental de como que é o processo de ensino, né? De você aprender

a ensinar. Então faz muita diferença em você pensar em cada procedimento, porque não é só você pensar:

“Ah, começa aqui e você tem que fazer cantar”. Tá! Mas e como é que canta? Quais são as etapas? Eu faço

o quê? Eu só abro a boca e ? Esses procedimentos são fundamentais para você entender: “Ah, então fazer

cantar dar uma aula de canto é isso, isso, isso, isso e isso, né? ”. Então isso deixa muito mais claro. Você

tem clareza do que tem que fazer e como você vai chegar lá. Se não tem isso, você não tem nada, na verdade.

6: Eu acho que aqui no LARCI eu comecei a pensar e prestar muito mais atenção no meu papel de professor

enquanto eu estou lá na frente das crianças, (em) como eu devo me portar, não só o que eu tenho que falar,

ou como meu corpo deve agir E para ter uma experiência melhor, não só para mim, mas para as crianças

aprenderem com mais facilidade. Eu acho que isso da gente, no final de toda aula, parar e ver o quê que nós

fizemos, o que deu certo, o que deu errado, está ajudando muito mais para fora daqui também. Para eu

conseguir chegar e pensar: “Não! Ok! Durante essa atividade eu vou ter que ter esse jogo de cintura. Eu vou

ter que fazer desse jeito e não desse porque, da última vez que eu fiz, deu errado. Então na hora mesmo

(se) está dando alguma coisa errada, tentar prestar atenção, não só também no que as crianças estão

demonstrando, mas no que eu estou passando para elas. Acho que é muito importante esse durante da aula

que o LARCI deu.

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0: Vamos continuar. A ampliação dos laboratórios gera uma consequência: Precisa ter tempo para vir. E é

uma coisa que demanda mais que duas horas porque você vai vir, tem o planejamento, e tem a coisa que

você faz na sua casa: o seu estudo pessoal. Porque precisa estudar como qualquer outra coisa. . O que que

vocês pensam sobre isso? Em relação à quantidade de disciplinas obrigatórias do curso?

6: Desde que eu comecei aqui na Unicamp, eu senti muito isso que você falou; de realmente ser atropelado

por muitas matérias. Em todos os meus semestres, eu tive o mínimo de 28, 30 créditos quando eu tentava

pegar poucos, e sempre tentando fazer alguma coisa a mais: um laboratório, um estágio, uma extensão,

alguma coisa. É bem complicado, isso, nessa nossa carga horária. Tem dia que eu acordo cedo e vou até a

noite fazendo aula, ou então dando aula, e eu sinto que falta tempo para a gente estudar e tentar aprender

novas coisas. Eu queria aprender a tocar piano, por exemplo e não tenho tempo para isso. Nem mesmo para

estudar ao piano. Então eu acho que seria muito bom ter menos obrigatórias e mais optativas, porque assim

a gente poderia, pelo menos, manejar melhor o tempo.

5: E acho que é um curso que, na teoria, é para ser amplo, né? Se você conversa com os professores, eles

falam... não é um curso, por exemplo, de licenciatura em violino, licenciatura em canto. Então quando você

conversa com os professores, eles até falam: “Ó, você pode escolher fazer isso, você pode escolher fazer

aquilo”... uma prática pedagógica teoricamente ampla. Só que o curso na teoria é teoricamente amplo, mas

na prática você tem que fazer tanta coisa que você não consegue, na verdade, escolher, né? Então no meu

ponto de vista, se não é para ser um curso guiado, orientado em algum sentido específico, por exemplo: seja

licenciatura voltada para alguma coisa; voltada para alguma prática de instrumento, ou algo do tipo, que

você tenha mais disciplinas eletivas e aí você possa escolher dentro de uma gama de possibilidades, ali, o

que que você considera mais relevante para a sua prática pedagógica.

1: Sem contar que quando a gente entra no curso de licenciatura, a gente é jogada para a faculdade de

educação pra fazer três disciplinas de quatro horas e, nas quais, você lida, ali, com assuntos completamente

novos, em que tudo é muito novo pra você, e você fala: “Tá, qual que é a aplicação direta que eu vou ter

disso na música? ”, “Como é que isso vai funcionar? ”. E você não tem esse acesso. E muitas vezes o seu

professor não sabe nem que você é do curso de música. Então fica uma coisa muito perdida, aí. Isso, para

mim, foi o mais duro, acho.

O: O núcleo da educação, né?

1: Foi! Não direcionado para a sua área.

4: Eu fiquei pensando.... Você falou em prática pedagógica. Mas é engraçado, porque pensando nas

disciplinas de licenciatura, eu não sinto que eu tenha absorvido muito sobre práticas pedagógicas, entende?

Por exemplo, as disciplinas na faculdade da FE... é que elas também não são sobre práticas pedagógicas, mas

eu tive uma professora que ensinava bastante sobre pedagogias e eteceteras e tals, só que não tinha um

vínculo com o IA e, mesmo quando eu trazia, assim, para as aulas, as professoras ficavam: “Ah! Sim... é. E tals”,

ou “Ah! Isso existe”, ou sempre quando a gente tenta tratar sobre esse assunto, é uma coisa super superficial

assim...

1: Porque é distante deles....

4: É. Sim. Mas teoricamente superficial. Entende? Tipo... enfim acho que era isso que eu ia falar.

10: Eu, particularmente, acho que a gente perde uma oportunidade muito grande, tendo a faculdade de

educação, sendo usada desse jeito com o curso de licenciatura. Porque a Faculdade de Educação, no

contexto Unicamp, ela é muito boa, mas para a gente, o que acontece é que, às vezes, a gente vai e acaba

sendo meio que cobaia dos professores. Porque eles desenvolvem os projetos deles e aí, tipo, a gente fica:

“Tá... pra que que precisa disso, e ” principalmente na hora do estágio obrigatório da educação. Eu tive

sorte de pegar um professor que era sociólogo, então ele sabia direcionar muito bem todo mundo. Mas eu

conversei com outros colegas e tinha gente que falou assim: “Ah, meu professor... ele pesquisa não-sei-o-

quê do meio ambiente... não sei o que que vou fazer com isso” e fecha a matéria.

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11: Eu acho que a gente tem muitas matérias, como já falaram, e que a expectativa do curso, que é para ser

feito em quatro anos, é completamente irreal. Se você fizer ele em quatro anos, você não consegue

participar de nenhum outro projeto. Não consegue participar de nada. Durante a minha graduação eu

participei de todos os projetos que consegui, por exemplo: O PIBID, o CEMMANECO, as oficinas de

musicalização. Então eu concluo o curso em cinco anos e, mesmo assim, foi com bastante esforço. Tinha

dias que eu ficava aqui de manhã até a noite estudando. E com essa carga horária tão grande, no fim você

tem que escolher se você se dedica às matérias, ou se você se dedica aos outros projetos. Então eu me

dedicava mais aos projetos em que eu estava dando aula, ou aprendendo a dar aula, que eu achei que seriam

mais importantes para a minha formação e várias das disciplinas obrigatórias, eu fiz de qualquer jeito só

para poder passar e me formar. Falaram da FE e eu também concordo. A gente tem uma carga horária bem

grande lá, mas muitas dessas disciplinas a gente tem quando a gente nunca nem deu aula em uma escola.

Então fica tudo muito num campo teórico. Eu acho que, no ponto do curso em que a gente tem essas

disciplinas, talvez a gente ainda não tenha maturidade para realmente entender o que está acontecendo. E

os professores também... tem alguns que parecem que dão as aulas, assim... tanto faz. Os professores bons

da FE... dizem que eles dão aula para a pedagogia... e os professores que, assim, querem usar a gente como

rato de laboratório, dão aula para licenciatura.

12: Eu ainda não fiz boa parte das minhas disciplinas pedagógicas. Nem da FE, nem do IA. Mas eu sinto muita

falta de um jeito, assim, de treinar a gente para (se) comunicar e transferir coisas. Porque o professor seria

alguém que profere coisas e eu sinto muita falta disso. Mesmo na UFSCar, eu fiz várias das matérias

pedagógicas lá e sempre só ler, ler e ler... e depois “se vira”. E tendo contato, assim, direto, com dar aula,

principalmente lá no CEMMANECO e agora teve aqui o LARCI, ajuda bastante isso de se comunicar, mesmo

com o outro, que sejam crianças. Tem um jeito específico de se comunicar com elas.

6: Sobre a minha experiência na FE, tem alguns pontos que eu concordo e outros que eu discordo. Eu

também acho que a gente entra assim, na faculdade e já é “tuchado” para essas matérias e a gente fica

totalmente perdido, sem conseguir entender o que está acontecendo. Porém eu acredito também que um

pouquinho do nosso papel como estudante de música (é) a gente tentar pegar todas essas experiências que

a gente entra em contato nessas aulas da FE e tentar levar para o nosso lado. Apesar de ser supercomplicado

e às vezes, de você não ter nenhum apoio de nenhum professor pra fazer isso. Só que, por exemplo, uma

das matérias que eu mais gostei de fazer e mais me ajudou na minha, assim... na minha vida foi, eu acho que

a matéria de psicologia da educação, que mexeu muito comigo, assim, como pessoa.... E também foi durante

um tempo que eu estava fazendo. dando aula no CAPS (Centro de Apoio Psicossocial e Juvenil). E lá tem

uma realidade também, super diferente da minha e super complicada e juntou as experiências que eu

estava tendo com a aula de Psicologia da Educação e realmente, me fez pensar muita coisa da minha vida.

Então, eu acho assim; a gente depende muito do momento para a gente conseguir pegar o melhor ou o pior

de cada matéria. No meu caso, eu tive também ótimos professores das matérias da FE. Não consigo reclamar

de nenhuma. Só que eu entendo os motivos de vocês reclamarem. Eu consigo super ver a falta de tempo

que a gente tem, a falta de comunicação que os professores da FE têm com a gente porque realmente, ao

meu ver eles não são preparados para conversar sobre educação e música.

3: Uma coisa que eu vejo, mais no começo do curso, é que eu imagino como isso deve ser para a

galera que faz combinada, mas parece que a licenciatura, ela vai sufocando a prática do seu instrumento.

Então você entra tocando e tal. estuda né? Antes de entrar aqui. Mas parece que, quando você

chega, a sua prática, do seu instrumento, a licenciatura parece que vai sufocando e você vai tipo: “Ah, mas

eu não preciso nem...”. Porque não se espera Você ouve isso de pessoas, sabe? Que você não é músico.

4: Nossa! Quantas vezes!

3: Você ouve isso. Isso é real. E tipo: Para que que eu vou precisar estudar música? Para que eu vou me

dedicar se eu só tenho que ler textos? Então é isso que eu vejo. Foi uma das coisas que mais pegou comigo.

Eu senti que o meu estudo de instrumento que... eu acho que... é uma coisa que é necessária. Eu sei que

tenho que saber da minha prática pedagógica, mas eu preciso conhecer meu instrumento também. E eu

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preciso conhecer muitas outras coisas, tipo... bem... assim... eu acho que... de música, tipo: de análise,

harmonia. Eu acho que você precisa saber. Não dá para você fazer pela metade, sabe? Ou tipo... não ter

isso. E eu acho que, para mim, isso é um ponto que pega bastante. Porque você... você acaba assim, tipo... a

licenciatura acaba sufocando o seu lado de músico, no caso.

02:52

10: E eu vejo também uma distância muito grande do curso de licenciatura com o real. Por exemplo; a gente

ser obrigado a fazer Análise I, II, III e IV. A gente vai analisar o que de Debussy na nossa vida como professor

no Brasil, sabe? Tem essas coisas...

0: Ah! Acho que repertório até que não é o problema.

4: É... Eu acho que, assim... Na verdade, eu acho que o problema é a aula de análise....

0: Dois anos, né? É bastante.

4: Sabe aquele negócio, assim? Aquele negócio de que quando você olha no relógio e o tempo não está

passando é porque você não está curtindo o negócio? Tipo. eu acho que o problema maior dessas

disciplinas de Harmonia, também, de Análise, acho que é mais isso, sabe? Porque o problema, como o

Renato falou. eu acho que a gente entra no curso de licenciatura em música, só que parece que cada vez

mais que passa dentro do curso, você vê menos música, de fato, sabe? E assim, por exemplo, pelo menos

para mim Harmonia, Análise, principalmente Análise, foi um dos cursos que eu fiz do tipo, assim: “Ah,

vai... vamos fazer e...”, entendeu? Sendo que era para ser um dos cursos que é mais importante, sabe? Você

está analisando o seu produto. Se você faz música, você trabalha com o som. Eu acho que o mínimo que

você tem que saber é sobre música, sabe? E não também só sobre o seu instrumento, sabe? Isso é

importante. Eu acho que a gente tem que ter um instrumento, tem que saber tocar, mas eu acho que tem

que ir além disso ainda, como educador musical, sabe? Como esse pessoal aí que toca três instrumentos. Eu

aposto que sabem o repertório de mais vários outros instrumentos e etecetera, e etecetera. E não do tipo...

decorar o número da sonata, mas tipo. realmente saber o que está acontecendo ali. Sentir, né? Tipo:

“Ah! Aqui tem uma cadência.”. Não simplesmente um: “Ok, um I – V – I”, mas você sente isso de fato. Acho

que (é) isso que falta um pouco no curso de licenciatura. É que pensando nesse ocupamento de disciplinas,

você não tem além de não ser direcionado, você tem um monte de disciplinas ruins e ainda te ocupa o

tempo que você poderia estar estudando.

10: Acho que ficou meio mal colocado (o que eu disse antes). Acho que o problema não é a análise. O

problema é como ela é feita... e ela não tem ligação nenhuma com harmonia. E isso é uma coisa, assim a

gente perde muito. Se houvesse uma conversa entre as duas matérias, eu acho que, a Harmonia seria mais

fácil e a Análise não seria tão penosa.

0: Eu acho que na Harmonia, de uma maneira geral, você ainda aprende um método para analisar. Bem ou

mal, existe um método.

12: A gente aprende mais a analisar na aula de Harmonia que na aula de Análise.

9: E uma outra coisa nessa questão de Harmonia e Análise que também é uma coisa que me chama a atenção

desde que eu entrei, é que a gente tem as matérias todas voltadas para o erudito e, muitas vezes (quando)

você vai dar aula, você vai estar muito mais próximo da realidade do aluno que vai ser uma realidade muito

mais popular. Então como lidar com isso? Como dialogar com isso?

6: Queria comentar um pouquinho do que a XX falou da prática musical. Quando eu cheguei aqui, tipo... eu

sempre ouvi muita música, sempre passei o dia inteiro ouvindo música. Hoje eu chego em casa e eu escuto

muito menos música do que.... Tipo... às vezes eu quero ficar em um momento de paz, silêncio, para não

ouvir nada, do que mesmo ouvir a música... às vezes tinha que estar estudando, ouvir a música que eu tenho

que analisar.

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11: Eu acho importante ter as aulas de harmonia, ter uma noção de como era a música barroca, romântica e

clássica, etecetera. Mas eu sinto falta de ter uma coisa mais voltada para a prática docente. Por exemplo; eu

senti falta de aprender como fazer arranjo de música, como compor músicas para cantar com as crianças...

que foram coisa que eu só comecei a fazer depois que eu me formei, depois que eu comecei a trabalhar e

fui precisando. Mesmo assim eu só sei fazer umas coisas, assim, bem simples, porque eu não tive nenhuma

ferramenta que me foi ensinada durante a graduação para fazer melhor do que isso.

0: No caso das disciplinas de Percepção e Rítmica, né? Um ponto é: A gente estaria preparada para ensinar

percepção e rítmica tendo feito Percepção e Rítmica?

4: A gente sabe o que não fazer.

2: É. Falando com o XX sobre a perspectiva do bacharel junto com a licenciatura, né? Que é o nosso caso....

Eu acho que, falando por mim, eu tive que fazer uma escolha nos primeiros anos entre licenciatura e

bacharelado, inclusive, eu larguei o CEMMANECO no começo. Larguei toda prática de qualquer coisa da

licenciatura. Eu realmente assumi que ia fazer só o bacharelado. ainda fazendo as matérias da licenciatura.

Então eu acho que quem faz só a licenciatura acaba não tendo essa oportunidade de mergulhar primeiro na

música e depois no ensino. Quando eu dou aula de canto. no começo acho que é bem difícil, porque é difícil

você transmitir aquilo que você vive no seu corpo, né? Ainda mais uma coisa tão abstrata. Mas no momento

em que você se dedica a conhecer o teu instrumento, no caso, você consegue acessar o instrumento do

outro, você consegue ter ferramentas para fazer o outro acessar aquilo. que é o que eu acho que falta com

outros conteúdos que a gente não domina e então, não consegue ter ferramentas para fazer o outro

dominar.

0: Eu tenho uma outra pergunta. O que que vocês levam daqui para o curso e o que do curso, vocês trazem

para cá?

1: Posso ser muito sincera? Eu não sei como é que o pessoal está fazendo agora que tem o pessoal da Ana

Terra e tudo o mais. Ela traz propostas, né? De alguma maneira tudo é ainda muito grande. Mas ela ainda

abre espaços. Mas a minha última disciplina de estágio na licenciatura, que foi Estágio Supervisionado II no

Instituto de Artes, nada era discutido.

0: Vocês ficavam ?

1: Não, não! Eu juro! Porque foi um absurdo isso. A gente não discutia sobre os espaços. Eram pouquíssimas

as coisas que eram trazidas, as aulas eram extremamente monótonas... é eu juro que eu não entendi

aquele semestre. Então, assim a minha última experiência foi muito ruim nas aulas de estágio. Eu tive

uma experiência muito boa no Estágio Supervisionado que eu tive que fazer na Faculdade de Educação. Aí

foi legal! O Estágio Supervisionado da Educação foi um espaço onde a gente dialogava. A professora, que

era a pode falar o nome da professora?

0: eu não estou fazendo um trabalho que critica o curso. Então as falas que falam mal do curso, na verdade

elas vêm com a ideia de trazer uma justificativa para a existência do laboratório, não para que o curso mude,

entendeu? Então eu não vou falar: “Ah, as matérias são ruins, o LARCI é importante”.

1: as matérias do IA foram diferentes da Faculdade de Educação, da disciplina que eu fiz com a Dirce a

Dirce Zan. Porque ela tinha uma proposta de estágio e a gente teve que se encaixar dentro da proposta dela.

Isso foi muito interessante. No começo ficou todo mundo meio relutante, mas foi legal. Era uma proposta

de adolescentes, numa condição e num contexto determinado por ela e, em grupo, a gente ia nas escolas

que abriam espaço para a gente fazer intervenções e atividades rolavam e era muito legal. E lá a gente

tinha muito espaço de conversa, de explicar o que aconteceu, o que deu certo, o que deu errado, como é

que foi na sala de aula. Isso foi muito interessante, assim, mas foi num contexto muito voltado...

0: Específico...

1: É… específico e voltado para a educação. Até que a gente teve sorte de trabalhar com outros alunos da

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licenciatura que estavam e da dança, então, tinha meninas da dança também. Então a gente conseguiu

fazer um projeto artístico na escola que foi muito interessante e essa foi a sorte.

0: Mas por que você acha que esse deu certo?

1: Porque a gente tinha espaço para discussão e espaço de atuação. Os dois.

0: Estavam relacionados.

1: É. Então a gente ia na escola e depois discutia sobre isso. E além de discutir sobre isso, a professora

discutia o que a gente falava. E ela tinha a informação dela, porque ela foi até a escola. Ela foi nas escolas

de todos os grupos para visitar, ver o projeto, ver como a gente estava indo e como é que a escola estava

recebendo aquilo. Então foi muito bom.

0: A vinculação do docente com o espaço de atuação?

1: Exato! Que acho que é a mesma coisa que acho que aconteceu aqui no LARCI, que foi o diferencial para

os cursos relacionados ao instituto de artes.

10: Só complementando: O que falta... o que eu vejo no meu estágio da música... Estágio I da música é

direcionamento. Então, se deu certo para ela, é porque a professora estava preparada para fazer isso. Ela

tinha um planejamento, ela tinha base e aí ela teve o espaço. ela conseguiu o espaço e deu certo. Nas

nossas aulas de estágio, assim... é difícil. Assim porque é aula de planejamento de estágio, sendo que a

professora não planeja a aula. Aí você fica assim: “Tá”.

0: Na sua impressão? Ou é uma coisa que você considera declarada? 10: É fato.

0: Pode ser fato, amiga. Mas eu quero saber se é declarado pela pessoa que não planeja, ou é uma percepção

do grupo.

4: Não é declarado.

10: Não é declarado.

4: Tem um cronograma. 2: Pra mim os estágios da FE, embora não tivessem nada a ver com o. bom, nos que eu fiz eu era a

única das artes, então tinha gente mais vinculada com outras matérias, porém eles traziam toda semana

uma coisa de você descrever o que você está vivenciando, quais são suas angústias, o que você está

fazendo.... O professor, ele levava... embora, assim nem sempre direcionadas à música, (mas) mais

vinculadas à escola, né? À prática mais escolar mesmo, né? E na música a gente acaba não tendo esse espaço

onde é que, assim como eu estou tendo estágio aqui, eu não tenho essa necessidade, né? Porque a gente

está discutindo aqui. Mas, se eu estivesse num lugar como, para mim é um pouco, o CEMMANECO eu não

estou declarando o meu estágio lá, mas eu estou fazendo estágio lá. Eu me sinto muito mais angustiada. Eu

não me sinto orientada em nada no CEMMANECO, né? Então, para mim, né? Nem eu não tenho espaço,

tanto, para a discussão, né? Do que eu faço ali no CEMMANECO, por ser uma circunstância de ensinar teoria

musical, né? Que é algo, também, bem específico para uma idade, né? Maior adolescente. Eu acho que a

diferença...

0: De uma maneira geral. Uma outra pergunta... e essa é importante para que todo mundo dê uma

pensadinha e responda para avaliar a sua aprendizagem, né? No que que o LARCI, você entende, que

contribuiu concretamente para a sua aprendizagem? Não no sentido só teórico, né? “Ah, eu aprendi a

pensar sobre...”. Não! “Eu fiz isso”, “Preciso melhorar isso”, tipo. quem é você aqui e o que que você fez?

Você sente, tipo: “Ah, não aprendi muitas coisas, mas vivenciei”, “Estava envolvido com ensaios”, “Vi como

é que é”, “Toquei...”, enfim, né. O que que você sente? Olha... A sua autoavaliação para que em seguida, a

gente possa fazer a avaliação do grupo como um todo para a gente tirar as diretrizes do que virá.

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5: Eu me coloquei aqui mais como... acompanhei algumas músicas, né? E aí eu queria fazer um comentário

também, que tem a ver com a primeira pergunta, mas eu acho importante falar: Eu acho que aqui existe um

processo de apropriação progressiva das habilidades necessárias para você ser um educador musical, por

exemplo. E em outros espaços, eu acho que isso é mais difícil. Porque, por exemplo, se a gente vai fazer um

estágio ou alguma coisa em algum outro lugar, você tem todos os problemas de uma vez, né? E aí você tem

um teórico que não lida com problema nenhum, ou você lida com todos os problemas de uma vez. Aqui

você consegue falar: “Não, escolhi esse”, no meu caso, por exemplo... escolhi como é acompanhar melhor.

Então aí eu fui estudando alguns ritmos. Só que é isso. Eu acho que eu entendi melhor essa relação, né? Nessa

conjuntura específica que é você ter um regente, você ter um grupo e você ter que acompanhar. E acho que

preciso melhorar muito mais em estudos de ritmo, muito mais! Mas agora eu já tenho uma noção melhor.

Antes eu não tinha noção nenhuma, porque eu nunca tinha feito isso.

09:58

0: Tocou, né? Você pode tocar.

5: É... Eu pude tocar. Hoje eu posso dizer que eu consigo tocar, pelo menos. Né? Pelo menos o básico, sim.

1: Para mim foi a experiência direta, né? O trabalho de preparação vocal, técnica vocal... é. Foi muito

interessante poder sentir na prática mesmo, como é que aquilo funcionava. Perceber que você... é... tem

que estar realmente muito atento ao que você está fazendo. Então às vezes eu ficava muito mais preocupada

em executar, mas sem ver o resultado, né? Então você falava: “XX, não tem como você avançar sobre o tom

se eles não estão afinando esse”, aí eu: “Ah! Tá! É verdade”.

7: Oh Rafa! Eu só vou falar agora porque o meu ponto mais forte foi esse realmente, de... depois que você

fez, você tentar avaliar. Então isso ficou muito para mim... uma coisa que ficou foi isso. Tipo... uma coisa que

você fez, ok! Agora... o que eles fizeram? Como você vai avaliar o que você pode fazer para melhorar? Então

é o ponto forte...

0: Entendi! Que é esse ponto de observar o grupo, mesmo.

1: Para mim, lidar com os aspectos técnicos vocais, assim... é pensar: “Porque que a gente tá fazendo u?”,

“Porque que a gente está fazendo exercícios de fala?”, “Qual que é a importância de fazer com que eles

falem?”, sabe? Isso, para mim, são coisas importantes que eu nem pensava, assim: “Nossa! Eu preciso fazer

com que eles falem primeiro”, “Que eles emitam som”. E muitos daqui não tinham tido muita experiência...

não tinham tido experiência com coral.

0: Parece bobeira, né?

1: É! Parece tão bobo: “Ai... vamos fazer falar”. Mas isso foi muito interessante, assim... eu não tinha noção

nenhuma e hoje eu sinto que eu tenho um pouco mais de noção. Quando for pergunta para mim: “Ah, canto

coral infantil...?”, nossa! Eu acho que vou trazer muitas lembranças. Eu tenho que melhorar muitas coisas...

não que eu domino. Eu não domino nada delas ainda, mas hoje eu tenho uma noção muito melhor, nesse

sentido, acho.

0: Por onde começar?

1: Por onde começar. Exato!

3: Pensando um pouco no que o XX falou... é... eu também me propus a tocar, no caso, o violão e o piano...

é... eu percebi que, às vezes, você precisa ter um certo nível de... é... não sei se de proficiência, mas de

articulação, assim, com o instrumento. É... tipo... você tem que saber trabalhar naturalmente com o

instrumento num nível que você consiga fazer coisas que... demandas da hora, assim. É que, assim... às vezes

eu estudava uma coisa, aí ficava lá..., que mecanicamente estava ok para mim, mas eu chegava na hora,

assim: “Ah, vai precisar mudar”, aí: “O que eu faço?”. Eu percebi que preciso estudar e estudar para chegar

em um nível que, por exemplo, que eu já consigo dominar mais o violão. E é mais natural, sabe? Então, se

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precisar mudar alguma coisa na hora, eu sei que eu vou conseguir. E tipo... não só mecanicamente, mas

também alguma coisa de cifra. Porque às vezes eu tenho a harmonia na minha cabeça e não está escrito, mas

eu consigo tocar no violão. No piano, às vezes, está na minha cabeça, (mas) aí não sai por causa de mecânica

mesmo. Então eu percebi que... para mim, pegou mas isso... eu percebi que... como que... lógico que como

o abismo que tem entre os dois, né? Mas eu percebi como que é importante você ter domínio do

instrumento para...

0: Isso tem a ver com o domínio musical de uma maneira geral; quanto mais músicas você souber, no sentido

música mesmo, músico-artístico, mais você vai conseguir fazer limonada com um quarto de limão. Porque,

se você tem pouca maleabilidade... se você não tem uma visão artística muito, assim, desenvolvida, muito

estimulada, a tendência é que você tenha pouca criatividade. E o que é pouco criativo é mais repetitivo.

Como que desenvolve isso? É aumento do capital cultural. É ver coisas. Tem que assistir, gente. Tipo assim...

faz uma lista dos últimos livros que você leu... é que, também, a gente... volta o problema do tempo, do

dinheiro, de todo mundo. Mas eu falo, assim, num panorama hipotético, ideal, ne? Quais os últimos

concertos, espetáculos de dança, de teatro, de.... não vou falar cinema... é difícil ir no cinema e não assistir

um filme da Marvel. mas assim, que você assistiu? Mesmo! Não no sentido de você ir lá fazer um curso

porque é da matéria, (mas) que você foi lá mesmo pra ver o role porque achou legal, bonito. E apreciou,

né? Porque isso que traria, ne? Quais são os três últimos livros de literatura que você leu? Não assim... um,

sei lá... literatura, né? Sei lá Cem Anos de Solidão. Pode parecer uma questão, mas o capital cultural

interfere muito na sua atuação. Né? Tipo: quem vai mais em museus tem mais condições de montar uma

exposição dentro de um espaço fechado do que uma pessoa que não vai em exposição. Não que museu é

uma obrigação, né? Mas estou falando de museu no sentido de ter contato com as artes, numa esfera geral.

Mas isso também é muito. tem que ter tempo, tem que ter dinheiro, tem que ter uma série de coisas. Mas,

enfim, é um ponto, né? A gente não costuma nem ir assistir recital de formatura, né? Vamos continuar? Outra

avaliação?

12: É. Eu não sei se minha fala vai ser meio incoerente com o momento, assim, porque...

0: Ah, mas tudo bem. Eu edito.

12: É mais um desabafo. Então vai ser quase um desabafo, assim, de roda mesmo. pra rasgar

mesmo. Porque, tipo, comecei lá no CEMMANECO em aula prática de coral, assim, e eu: “Meu deus! A água

está batendo”. E daí, aqui foi vim aqui mais para assistir outras pessoas da minha faixa etária estudando a

mesma coisa para fazer a mesma coisa, dar aula e ver o perrenge. Estou começando a decidir, assim, que

quero ser professor de teoria, assim. 0: Mas é importante saber!

12: É uma decisão que eu estou tomando quase agora, assim. Porque, meu deus! Que perrengue que é dar

aula prática para um grupo. É isso.

0: Mas é... olha .... precisamos de bons professores de teoria. Principalmente de análise. Vai, próximo!

Alguém quer falar mais dessa questão?

8: É. Eu acho que a minha questão também vai na do XX, que eu estava acompanhando e acho que foi algo

muito importante para mim de, não só prestar atenção no que eu estava fazendo, mas no que o regente

também estava realizando. No tempo que ele estava dando. Se as crianças estavam atrasando, eu tinha que

prestar atenção se ele estava puxando as crianças para frente, ou se ele estava acompanhando as crianças,

porque daí eu tinha que seguir ele. Se as crianças não estavam conseguindo cantar muito a melodia, eu tinha

que tocar a melodia mais forte, ou se elas já estavam ok, eu podia fazer a harmonia. Acho que, para mim, foi

algo que foi muito marcante: Acompanhar prestando atenção principalmente no regente, mas também nas

crianças, no contexto geral e não só no que eu estou fazendo.

0: Que é uma questão musical também. Que é o tipo de coisa que você só aprende correpetindo. É claro

que você também precisa estudar em casa.

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10: É... Só para finalizar: Eu acho que, na verdade, todo o processo, né? Uma coisa muito importante que a

gente acaba... que a gente aqui fez, né... e que eu acho que a gente acaba não fazendo fora daqui é a questão

de anotar o que acontece, né? Durante a aula e depois pensar no que pode melhorar. Mesmo trabalhando

lá no CEMMANECO... mesmo tendo isso, né? Falando, né? Falando que é bom pensar sobre a prática. Eu

sozinha...

0: é difícil, né?

10: Eu sozinha não pensava muito nisso. Acabava que chegando, assim... e antes de começar a próxima aula

que a gente decidia, porque era um grupo. Mas eu sozinha pensava: “O que que eu posso fazer para

melhorar?”. E, tendo essa anotação e depois discutindo, eu comecei a pensar mais sobre o que eu estou

fazendo para a próxima aula. E como tem muita gente no grupo e tinha muitos momentos que não havia

atividades para todo mundo, né? Natural. E por eu ser muito observadora, gostar mesmo de ver o que está

acontecendo, começou a cair mais essa ficha de ficar bem mais claro para mim que: “Aquilo ali foi legal e

então dá para eu colocar”, quando eu dou uma aula...

0: Absorver né?

10: Exatamente!

2: Para mim o que mais ficou mesmo, na realidade prática, foi a questão de você realmente observar o que

você precisa mudar, do que ficar só, né? Na Foi mais uma questão de segurança. Eu acho que eu ganhei

um pouco mais de segurança e de você poder corrigir, né? Você falava: “Tem que corrigir”, “Não pode deixar

passar”, que é uma coisa que para mim, às vezes.... sei lá Não sei porquê. Acho que até mesmo pela

insegurança, né? De você não corrigir, não deixar passar pequenas coisas mesmo, né? Então eu acho que

isso, nas minhas outras práticas, também teve reverberação. E é um pouco o que a gente aprende. A gente

tem que realmente respeitar, mas às vezes eu via até reverberar na minha prática de ensino de canto lírico,

que é você falar: “Não! Isso está errado”, “Eu sei que você pode cantar assim, mas se você quiser cantar

determinado repertório, se você quiser cantar lírico, isso não está bom”. Isso para mim sempre foi uma

dificuldade que é uma certa segurança de você saber: “Isso eu sei. Bom, pelo menos dessa forma, e você

não está fazendo assim”. Então eu acho que para mim, isso teve muita reverberação, muitas consequências

nas questões práticas e da performance do professor como eu nunca tinha refletido sobre isso. Sobre o

professor. Ele está em uma performance. Sempre refleti isso na minha performance como cantora, não

como professora. Isso também, acho que teve consequências nas minhas outras práticas.

0: Que legal!

10: Acho que só tem mais uma coisa: Essa do corrigir. Para mim isso, às vezes, fica uma questão do tipo:

“Estou fazendo a coisa certa em corrigir, ou estou sendo autoritária?”.

2: É. Por isso eu falei da mistura que a gente tem de ouvir muito que a gente tem que respeitar, mas também

quando que a gente tem que corrigir.

1: E tem uma coisa também do processo, né? Às vezes tem coisas que .... acho que é entender a linha tênue

entre “parar tudo e vamos corrigir” e “Calma! Isso vai, né .. ”

2: É... “Isso vai ser corrigido com o tempo”, né? O discernimento do que tem que ser agora, se não vicia....

0: Quando você entende o que ela está fazendo, é parte do caminho para aquele lugar que você quer que o

grupo chegue, ou quando o que ela está fazendo não vai levar a lugar nenhum, entendeu? Aquilo só está

fazendo errado mesmo. É difícil, é difícil. Mas você sabe uma coisa que é interessante? Essa é a minha

perspectiva: A gente vê bastante as dificuldades da criança, mas a gente tem que ver é o potencial. Ela está

fazendo, mas ela teria condições de fazer certo. É diferente de você corrigir uma pessoa que não vai

conseguir mesmo. Tipo... você até avisa: “Ó! Não está muito bom, tal”, mas se a XX consegue fazer certo,

porque eu não aviso ela que ela está fazendo errado?

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2: Eu acho que é o conhecimento do grupo que você, também, tá trabalhando, né? Eu percebo isso com os

meus alunos particulares, que à medida que eu vou conhecendo, eu sei aonde ele vai chegar e aonde ele

não vai chegar. No momento, né? Outra coisa que eu acho que para mim ficou, é a coisa do planejamento

de uma forma prática, né? Você realmente ver que você tem que planejar no ponto de vista de vivenciar

aquilo, né? Então, não sei... sempre que se fala de planejamento, a gente sempre vê muito planejamento,

mas fica aquela coisa assim, de: “Eu planejo ali, mas executo outra coisa”, né? Mas você poder juntar as

duas coisas, né? “Eu planejo, não só para seguir um roteiro, mas porque eu sei onde eu quero chegar, como

(eu quero chegar) e eu sei o grupo que eu estou...”. Bom, para mim, na última, o planejamento fez mais

sentido. Saber o que eu queria exatamente e como.

6: Eu acho que, para mim, o que mais me pegou, que eu acho que eu vou levar daqui... primeiro é a questão

do corpo, do movimento corporal que, como eu fiquei muito mais com isso.... É.... e entender um pouquinho

mais do que a criança é capaz de fazer nessa idade que a gente pegou. Porque, realmente eu cheguei com

algumas coisas que, para mim eram as coisas mais fáceis de fazer, sei lá: dar três pulinhos e dar uma

rodadinha... eu não preciso treinar para fazer isso.

0: Precisou sim! Eu acho que esse é o grande aprendizado: Temos que treinar!

6: Não... digo que...

0: Sim. Você tem condições de aprender rapidamente?

6: Isso! Exatamente! E uma criança tem outros processos completamente diferentes dos meus.

0: A última coisa agora é a nossa avaliação no sentido de como foi, se vocês têm... a gente... pode ser o que a

gente quiser. Então se existe uma sugestão de alteração de estrutura Porque a gente começou fazendo o

que? Nos primeiros seis encontros, a gente... foram os mesmos grupos Quer dizer? Grupos diferentes, a

mesma aula. A gente dava a aula e planejava depois. Aí, com a mudança depois da alternância, que ficou

oficina aberta, a gente tinha aquele meio período de ensaio. Acabou que o primeiro momento era um

ensaio musical, que eu achei importante fundamental ter um ensaio musical. Eu achei super importante.

Além do teórico, do debate, é nesse momento que a gente ensaia a música, mesmo, né? E tinha as crianças e

depois vinha o planejamento. Mas ele pode se estruturar de uma maneira diferente: pode também ter dois

grupos simultâneos, pode ter uma outra sequência, a gente pode tentar organizar planejamentos ao longo,

tipo, a gente planeja duas aulas. Bem não sei. “Eu acho que essa estrutura está ok”. A gente pode tentar

voltar a ter turmas fixas. Sei lá o que que a gente imagina que isso pode chegar? A gente pode um dia ter

um grupo fixo é que eu acho que aqui vai ser mais difícil.

1: Eu gostei dessa estrutura de ter planejamentos semanais junto com as aulas, porque no próprio

planejamento a gente já se baseava na próxima aula com o que foi feito na aula anterior.

0: Logo em seguida o planejamento, você está falando? Aula e planejamento?

1: Sim. Logo em seguida para a próxima: “Ah! Então isso já deu certo”...

0: Fica mais na cabeça, né?

1: É .... fica mais na cabeça, fica mais fresquinho.

10: Eu concordo com a Bia, mas eu queria falar um pouco do que você fala muito, né que a gente tem

que saber que isso aqui é tipo, um plano ideal, né? E que na hora a gente tem que saber fazer tudo ao

mesmo tempo. E, levando em consideração a isso, eu acho que seria interessante se a gente fizesse esse

treinamento aqui. Do tipo...

0: Mais práticas entre nós?

10: É. Da gente fazer essa rotação. Porque chagou num ponto que cada um tinha a sua música fixa, então a

gente já sabia o que ia acontecer. “Essa pessoa vai fazer isso, aquela pessoa vai fazer aquilo, e a outra pessoa

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vai fazer aquilo”. Então essa é a minha sugestão: Que tenha isso, que é o planejamento, mas que tenha uma

rotatividade.

0: Mas você acha que a rotatividade na mesma música? Porque assim, ou mais grupos ao mesmo tempo,

ou meio, tipo, uma dupla por música?

10: É! De ter tipo... de mudar, por exemplo: “Ah! A Lara fez amarela...”.

0: Aí, na próxima semana, pode ser outra pessoa?

10: É.

0: Mas você acha que essas pessoas sempre se alternam, ou a gente combina sempre duas? Porque, sabe o

que eu acho também? (Que), se as pessoas que forem reger... a pesar de que aqui podia tá já bem decidido.

A gente planeja junto a atividade, mais ou menos.

4: Ah! Mas mesmo assim, Rafa... Eu acho que mesmo assim. A didática é diferente...

0: O jeito?

4: A postura, tudo...

0: Mas se combinasse fixamente...

4: Não. Se fosse fixo, sim. Agora eu acho que quebra. Porque assim... por mais que a gente combine tudo

junto, por mais que etecetera e etecetera...

0: Tem o caráter, né?

4: É!

2: Eu acho também.

4: O que a pessoa está pensando também, sabe? Do tipo... Por mais que a Lara verbalize tudo o que ela está

pensando sobre a música, eu acho que, às vezes... do tipo... tem algumas coisas que ela faz, mesmo que

inconscientemente, que é dela mesmo, para ensinar.

0: Eu concordo até, mas eu acho que é mais fácil de ver isso quem estava com a música.

4: Como assim?

0: Você também tinha uma música.

4: Sim.

0: Então é mais fácil de ver isso do que quem não estava com uma música.

4: Ah, Tá! Entendi, entendi.

0: Entendeu? Uma alternativa para isso é que... não dá para ter mais músicas. Eu acho que é uma cagada.

2: Eu acho que a coisa das duplas... porque daí, seria discutido também, entende? Porque daí, a pessoa não

ficaria tão sozinha.

10: É. Não foi nem no sentido de tipo: “Vou trocar a pessoa, sabe?”, mas assim... se a gente for imaginar

que, ah... de repente tal pessoa não veio... tipo...

0: Sempre tem a dupla.

10: É. Não ter que ser aquela coisa de ser...

0: Mas ter duas ..... Vocês não são obrigados a estar aqui no semestre que vem. Independente de

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quem estiver, um outro grupo que seja: Valeria a pena ter dois grupos simultâneos fazendo? Porque teriam mais ocupações para todos. Dois grupos...

4: Mas será que tem criança para isso?

0: Não sei.

2: É. Eu pensei assim: Eu acho que a coisa da dupla, eu acho legal e eu acho que trabalhar em dupla sempre é positivo, tipo.... Pra você durante a semana, você vai levar tarefa de preparar aula, discutir o que é a pessoa enriquece...

0: Contrapõe também, né?

2: Ajuda! E se você chega atrasado, ou não chega se já falta. Ajuda. E outra coisa que eu ia propor: Eu gostei de quase toda a estrutura. Eu ia falar de ter espaço, não sei também como, talvez Por exemplo, eu penso numa atividade. Em vez de eu só trazer, tipo: “Surpresa! Trouxe” e aplico direto, ou seja, vocês só viram o que eu planejei. A gente comentou que a gente ia fazer mais na hora de eu pensar, trazer e a gente discutir o que foi pensado, entendeu. Mas não sei, porque daí, a gente teria que antecipar o planejamento em duas semanas, né?

0: Não. Até daria. Ou...

2: Eu digo, para a gente poder compartilhar as atividades que eu estou pensando, em vez de a pessoa só assistir...

0: Bom na prática eu acho que até pode ser, mas a gente teria um problema com o tempo. Porque não é muito tempo. É pouco tempo, né? Na verdade, assim para pensar em todos. Porque a gente está em média em seis atividades por aula. Se a gente fosse experimentar a aula, aí não daria tempo de experimentar, planejar e avaliar. Alguma coisa ficaria dispersa. Mas eu acho que se entrassem as duplas, ou os trios por repertório, você já teria alguém para fazer isso. Que não fosse necessariamente aqui. E se houvesse uma dúvida grande do grupo, aí a gente descobriria isso no grupo.

2: É que, também, a gente faz a reflexão posterior, que também é válida, né? De: “Viu a atividade, aí você faz ”.

0: Não. Mas eu entendo. É importante agente fazer ela. Tipo. Se a gente não tivesse falado na segunda noite sobre o desenho dos peixes porque a gente meio que conversou sobre isso à noite, né? Tipo: “Ah, tá! É isso. Deixa eu ver essa ideia.”

2: Porque eu, por exemplo, além de vir mais insegura... porque é uma coisa que você pensa sozinho. E você não sabe se funciona, se vai. Aí eu recorri a você, né?

0: Mas é que foi uma coisa, um ponto. Mas eu acho que pode ser que com os grupos isso seja uma alternativa mesmo. Participar mais e que tenha mais alguém. E a gente poderia diminuir o tempo, também, de Porque o que que aconteceu? A gente teve dois momentos. No primeiro momento a gente ficava bastante tempo discutindo o que acontecia e teve menos tempo para falar o que ia vir. 2: É. Às vezes ficava mais vago, né?

0: Mais vago. É. As pessoas ficavam responsáveis por organizar e mandar por e-mail e eu mandava depois o que a pessoa decidiu. Pode ser também que a gente diminua com o tempo essa observação e vai. o que foi os dois últimos encontros. Mudou um pouco. A gente ficou mais tempo pensando no que vai fazer, né? Mas tá! Até achar esse equilíbrio. Mas eu ainda acho que, se juntar as pessoas, já dá uma aliviada. Não sei se resolve, né? Mais alguém quer comentar alguma coisa sobre estrutura, sugestões?

2: Eu gostei bastante das seis aulas fixas. Do fato de aí a gente circular bastante, né? Porque daí a gente

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tem referência das outras etapas. Eu fiquei só com o repertório na parte fixa, mas pude vivenciar o aquecimento vocal na outra...

0: É. As primeiras seis semanas foi mais louco, né? Porque todo mundo teve que fazer quase tudo, de uma

maneira geral.

10: Eu gostei bastante:

2: É mais desafiador.

0: Mas é que a gente teve um cenário perfeito, né? (Em) que a gente pode dar a mesma aula. Assim... não

era uma questão. É o que é o processo longo. Que é o que é mais fácil de fazer, porque é o que nós estamos

habituados a fazer, que é oficina. De uma maneira geral nós sabemos dar oficinas. Você sabe... você

conseguiria dar uma oficina.

2: É. O difícil é você fazer o contínuo. Pode ser que dois grupos realmente, aqui não tenha. Poderia ser um

grupo aqui e um grupo no CECI, mesmo que com crianças pequenas. Alguma prática vocal...

2: Isso seria legal, eu acho, de dividir. Porque eu não sei o quanto o laboratório também vai ter mais gente,

talvez, né?

0: Não sei. Eu acho que nunca vai ser mais que isso. Acho que serão outros, normalmente. Não sou apegado.

Eu acho que acontece isso. Tem mais chance de ter alternância, do que a superlotação. Principalmente

porque não tem nenhum vínculo. É que é assim: Ele foi feito, estruturalmente, para os alunos do segundo

ano na grade horária, que eles também não estão aqui.

8: Tão sim. Aqui, ó!

0: Ah! É verdade. Então até que deu certo.

0: Qual que é a perspectiva da profissionalização em regência coral, para vocês, em relação a antes e depois?

Assim... tipo... Era uma coisa que você, até, na fala de vocês, vocês até pensavam sobre, mas vocês entendem

que é real? É possível? É um espaço? O que vocês acham?

2: Eu acho que sim. Assim... para mim, eu já tive uma experiência prévia, mas eu acho muito mais inseguro

eu ir sem base, do que se eu encarar hoje, né? Eu acho. E, bom... eu sempre fico muito na perspectiva. Então

eu acho que ainda mais, assim.

10: Eu acho que tem uma fala muito forte, assim, no IA, da coisa assim: “Quem rege é o regente, quem rege

é o regente, quem rege é o regente”...

0: Ah! Tem esse... o ícone, né?

10: Exatamente! E, principalmente para a gente da licenciatura, que existe o madrigal. A gente no madrigal...

a gente é tipo rato de laboratório. É só isso, né.

0: O madrigal que você fala, é o que quem tem que fazer iniciação à regência, tem que cantar no madrigal?

10: É. E essa fala, assim, né... que ecoa, né? Para mim ficou uma coisa assim: “Ai! Eu não posso reger, então,

porque eu estou fazendo licenciatura”, “Eu não sei fazer isso”, “Quem sabe é o regente”. Aí, com o LARCI

aqui, eu vi que eu tenho muitas possibilidades. Acho que, inclusive, em alguns casos, melhor que os

regentes... porque eles só abanam o braço para a gente.

0: pessoal, o tempo está encerrando, mas alguém pensa que trabalhar no coral infantil profissional é uma

possibilidade.

Todos afirmaram que sim.

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Anexo 3. Entrevista estagiárias/os II

0: O que que levou você a se inscrever aqui no programa? Como você viu? Se você esteve em alguma

reunião? Alguém te avisou?

13: É. Você foi lá no coral e avisou. Aí, no dia que você avisou, eu olhei, vi a sua propaganda e achei da hora. O

que me atraiu foi principalmente a questão de que eu não tinha experiência em dar aula, ou coisa assim, e

ver as crianças na sala de aula. Então isso foi o que me interessou.

14: Eu pretendo seguir a área de canto coral mesmo. Então já era um interesse meu e, aí, quando eu vi que

você estava dando essa oficina eu achei bem bacana, porque seria o meu primeiro contado com regência

coral mesmo. Eu já tinha feito o curso, mas nunca tinha colocado em prática e achei uma oportunidade

muito boa de conseguir colocar em prática algumas coisas que eu já tinha visto, e para aprender mais coisas

também. Coincidiu que eu também comecei a reger outros três grupos nesse ano. Então foi bem bom

praticar, conversar, debater algumas ideias aqui. Mesmo que não tinha tanto a ver com as crianças, mas sim

com a regência coral. Porque eu acho que falta para quem é da licenciatura.

0: Qual é a diferença entre participar do LARCI, comparado com o que é oferecido no curso de licenciatura

de vocês?

13: Ah! Tem uma diferença bem grande. Começa que essa disciplina, ela funciona de forma mais prática,

obviamente... e vinculada à disciplina. Não, necessariamente, Pedagoga e Didática Musical, que é uma

disciplina que (se) propõe a falar de pedagogia e que tem uma parte de estágio de observação e o estágio

não é vinculado à professora e tudo o mais. Então você tem que ir atrás do seu. Essa disciplina, ela é útil

nesse sentido, né? Ela propõe a prática e eu acho que é o diferencial, assim. Não tem no curso de música.

14: Eu acho que a liberdade de poder experimentar, né? No curso a gente fica muito ligado à questão teórica,

muito sentado na cadeirinha debatendo quais vão ser os pontos a serem trabalhados, quais as reações de

uma criança, como que acontece isso e a gente não vê. Então, se a gente não vê, a gente nunca vai saber se

é isso mesmo que acontece ou não. As pessoas podem falar várias coisas de referências bibliográficas “x”,

super “tops” e a gente pode ver que, às vezes, no ambiente que a gente vai trabalhar, isso não funcione.

Porque, na prática, a teoria é outra.

13: É verdade.

0: Entendi.

13: Eu acho que ela é retirada da prática, né? Para falar de aula, com certeza! Tem também a questão de

que... eu acho que, de certa forma, nós que fizemos parte da oficina, a gente tem para dizer que nos anos

de graduação a gente teve essa experiência, que é uma coisa que agrega na nossa formação.

0: O fato de ter participado?

13: É.

14: Com Certeza!

0: Como vocês compreendem as questões da quantidade de disciplinas eletivas e obrigatórias?

13: Eu tenho uma facilidade... porque como eu fazia XX antes de entrar na música, eu eliminei várias coisas,

tipo... mais de eletiva. Eu eliminei línguas e eliminei algumas eletivas. Mas isso não...

0: Mas isso é a menor parte. Tirou assim... nove por cento.

13: É. É tipo bem pequeno. Mas assim... até agora eu não tive a oportunidade de ver o que eu eliminei,

porque o curso inteiro foi só obrigatório. O Primeiro semestre foi a grade que eles montaram, mas no

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segundo semestre eu já tive trinta, trinta e dois, trinta e quatro créditos e nesse semestre eu já estou

fazendo trinta e quatro créditos de novo.

0: O que você acha disso? Você se sente como em relação à sua formação°

13: Eu acho que o curso de música, de licenciatura em música... eu fazia teorias literárias, antes... então eu

acho ele um curso bem melhor. Tipo assim... ele é incomparavelmente melhor que o curso de teorias

literárias. Não tem... sabe... são coisas totalmente diferentes. Parece que um é da Unicamp e o outro é,

tipo... nada a ver, mas, justamente porque são cursos inversos: o curso de estudos literários só tem eletivas e

o curso de música só tem obrigatórias, por exemplo. Eu acho que a quantidade de obrigatórias que a gente

tem, e quais elas são, são coisas que podem ser repensadas a longo prazo, ou também a curto prazo. Eu acho

que a gente tem muita aula... muita hora aula e muita matéria que é teórica e, por isso mesmo, tem muita

prova e trabalho. Eu sinto falta de disciplinas práticas que voltem a gente para a educação musical, por

exemplo, e que também, tipo... não necessariamente tenha, tipo... O LARCI é uma disciplina que, se tivesse

uma disciplina assim na graduação, seria uma disciplina que teria esse componente prático de a gente

conseguir dar aula e ser avaliado no, sei lá... numa avaliação mais formativa, mais processual, e não precisar

ficar fazendo trabalho teórico de dez páginas, que é uma coisa que não dá tempo de fazer.

0: Entendi. Não ficaria para o fim, essa loucura.

13: É.

0: Entendi. E você (14)? O que que você acha?

14: Eu acho muito sobrecarregado. Até me questionei se eu viria aqui, porque eu, querendo ou não, estou

atrasando uma matéria que é o Inglês Instrumental, que eu teria que fazer nesse horário de terça, das oito às

dez, e quinta das oito às dez. Então seriam dois horários que eu teria que me abster de qualquer outra

atividade para fazer essa obrigatória. Só que eu coloquei na balança o porquê que eu precisava fazer o LARCI

e o porquê que eu precisava fazer o inglês agora, e eu optei por aqui. Mas, se for ver, a gente fica em uma

sinuca de bico. Entre poder pegar coisas que vão agregar ao nosso cotidiano como profissionais, e no que a

gente tem que cumprir obrigatoriamente porque a gente é do curso. Só que eu, por exemplo, já sei muito

bem o que eu quero, então isso me facilita. Mas, eu fico pensando: alguém que está na licenciatura e não

sabe se vai mais para a musicalização, se quer trabalhar mais com a questão de aula particular, se quer dar

aula de instrumento... e você não pode priorizar as coisas que você quer. Você não pode dar uma direção

para o seu estudo. Eu acredito que no estudo da faculdade você tem que dar uma direção, porque não dá

para você ser bom em tudo. Já está provado, isso, né?

0: A gente comentou no outro grupo que no bacharelado isso é um pouco mais claro; o que a pessoa precisa

saber e estudar. Você fica lá tocando violino dez horas e é isso que você tem que fazer. Na licenciatura tem

uma sobrecarga de matérias e, no fundo, mesmo assim, ainda acarreta que, ao longo do semestre, pode ser

que a gente não saiba muito bem o que ficar fazendo. Né? Você vai ficar lendo um livro? Você vai ficar

estudando música?

13: É. Eu, profissionalmente, particularmente ainda não tenho uma certeza, porque realmente é isso, assim.

A gente tem um curso que tem muito conteúdo... acho que dos cursos de música ... não sei se incluso a

regência, mas em relação aos cursos de bacharelado, a gente tem muito mais créditos, a gente tem muito

mais coisas para fazer. É engraçado isso, porque, às vezes, a gente forma um grupo musical...Eu

particularmente, sou uma pessoa que sempre gostei muito de tocar e eu gosto de tocar em grupo, gosto de

estar por aí tocando. A gente formou, por exemplo, o grupo: eu, ela, o Leandro e uma amiga nossa do

bacharelado... e a nossa amiga do bacharelado, por mais que faça várias outras coisas, exigiu da gente um

comprometimento que a gente não tinha tempo de ter. Acho que só porque ela não é do nosso curso, ela

não sabe como é que é. Porque se ela soubesse mais um pouco sobre como os nossoS créditos são, da nossa

carga horária, não ia rolar isso.

0: E os estágios.

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13: Que são três, né?

0: É. São três anos de estágio. Você começou agora. Você vai fazer estágio até o fim. E vai aumentar as horas,

né? Ano que vem são setenta por cento.

14: E tem uma outra questão também, que o XX falou... da questão de tocar. Eu vejo bastante dessa

característica em mim e nele, né? Tipo... a gente gosta da música também, a gente não gosta só da educação

musical. A gente quer ser músico, a gente quer tocar, a gente quer estar aí tocando com a galera do bacharel,

porque, meu... a gente faz um curso de música e isso tem que vir em primeiro lugar. Antes de você ser

professor, você tem que ser alguma coisa antes, né? Você tem que ser geólogo, você tem que ser historiador

para depois poder dar aula disso, né? Eu acredito que você tem que ter um conhecimento.

0: Você sente que no curso de licenciatura, o fazer musical está meio...

14: Jogado de lado. Displicente.

13: Vou dar um exemplo. A oficina de percussão aplicada, é uma disciplina muito boa. Eu acho que foi uma

das melhores disciplinas desse semestre. Porque ele se propões a dar uma aula que fosse simples, direta e

clara e ensinou para a gente vários instrumentos, assim... o básico do básico. Mas eu sinto falta de poder,

por exemplo, ter um acompanhamento com algum instrumento. É claro que a gente não está falando da

mesma realidade de outros países que têm um investimento em educação a nível superior, também, mais

elevado...

0: O que vocês acham que vocês levam daqui para o curso de vocês, lá? E o que vocês conseguem imaginar

que vocês usaram, de lá, aqui?

13: Bom Eu vou dar exemplo da Pedagogia e Didática Musical. Por que a XX, ela falou de autorregulação,

de... dessas coisas, também, que a XX, né na FE falou. Sobre planejamento e sobre replanejamento,

autoavaliação. Eu acho que esses conceitos, essas ideias, deu pra ver já aqui sendo aplicado. Antes mesmo

de a gente aprender lá.... Porque desde o início a gente vai fazendo exatamente, né isso. Acho que nos

primeiros cinco encontros, assim foi tipo um universo novo que surgiu, porque um monte de coisa que eu

não sabia, eu comecei a aprender logo na primeira aula que a gente fez aqui. Em dez, quinze minutos a gente

já tava tendo contato com coisas que (eu) não imaginava como é que ia ser. E daí, quando a gente volta para

a aula de Pedagogia e Didática musical, a gente vê tudo que a gente viu aqui, falado lá, mas de forma teórica.

Então eu acho que tem uma troca legal, assim. Provavelmente outras disciplinas também. É porque, tipo

assim O curso de licenciatura, o que eu acho ótimo, ele é voltado para a educação do ensino regular, né?

Então, uma coisa que acontece muito é (de) as pessoas entrarem no curso pensando em dar aula de

instrumento e tudo o mais que eu acho que a metodologia, ela varia muito, né? Ela tem que ser sempre

readaptada, reapropriada os métodos que tem por aí, também. A pessoa vai dar aula de piano, aí vai pegar

o método lá: “Piano virtuoso”, aí tem que readaptar tudo, porque não funciona. E, acho que, aqui. aula

para tantas crianças, a gente tendo que se readaptar toda hora, as crianças saindo quando quiserem, as

crianças tendo idade que a gente não sabe... aleatória Tudo isso, acho que, ajuda a gente a aprender a ter

ferramenta para adaptar o nosso planejamento, a nossa avaliação. tudo isso.

14: É. Eu acho que essa questão da Didática e Pedagogia Musical foi bem importante, assim essa matéria, a

gente estar fazendo em conjunto com aqui. Foi a primeira são quatro, né? A gente está na primeira.

0: Depois tem Estágio I e II.

14: É verdade. Então... e eu achei legal. dessa da gente ver a teoria em um dia e executar aqui várias

coisas, levar as coisas que a gente executou e entender um pouco o que que aconteceu também, né? Tem

essa questão posterior da avaliação. Também, acho que a questão de ver o quanto é ruim algumas coisas

que a gente tem na faculdade. Por exemplo: a disciplina de coral. Como está fraco, né? Porque a gente não

tem um aquecimento, direito, lá. E, aqui, a gente vê, assim “como você deve fazer”, e lá “como você não

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deve fazer”. Eu acho isso importante; ter gente que saiba o que está fazendo. Porque é complicado achar

que aquilo é um coral. Num nível de graduação para pessoas que vão ser músicos. Talvez não sejam

coralistas...

0: É muito amador?

14: É horrível!

13: Mas, depois da apresentação do madrigal, foi, até que... É que, assim gente... as pessoas... a gente tem

esse ouvido. Vou dar um exemplo: A gente cantou o madrigal lá, da disciplina do XX, logo em seguida cantou o

coral. O coral desafinava, tipo... na apresentação final. Mas quando eu falo que desafinava, é porque tinha

cinquenta, sessenta pessoas cantando branco, rápido e em alemão. Aí, tipo assim... eu olhei e falei assim:

“Maravilhoso!”. Eu olhei o resultado do coral e falei: “Palmas para a regente!”, porque eu boto fé que deva

ser difícil estar no lugar dela.

0: É. Mas ela poderia ter feito outra coisa, né?

13: Eu boto a maior fé, entendeu? Porque quando eu fui...

0: Eu acho melhor ela escolher um repertório que você consegue...

14: Eu também penso isso...

13: Também acho. Ela escolheu um repertório em espanhol, quando eu fui aluno dela no coral, e foi

impossível de cantar algumas coisas por causa do espanhol e ler a partitura ao mesmo tempo... uma música

modal em espanhol em seis por oito. Você tá lá estudando outras coisas... música brasileira nada a ver e, sei

lá.... E também, tipo... a parte que sempre me incomodou é exatamente o que a XX falou: aquecimento,

mano! Eu acho imprescindível que tenha, pelo menos, trinta minutos de aquecimento. Em todo coro.

0: Mas é que para fazer esse repertório, vocês não iriam dar conta dela fazer esse tempo de aquecimento,

porque fica um semestre inteiro lendo uma partitura. Demora muito para ler.

13: É. Tem que melhorar a metodologia, ou melhorar o repertório.

14: Acho que para a graduação também, foi legal a gente ter feito aqui e falado com outras pessoas. Porque

muita gente se interessou, tipo: “É! Você está fazendo o LARCI?”, e eu falei, tipo: “Tô!”. Várias pessoas

querem... tipo, procurando... perguntaram como é que é e tal. Porque, assim... É a oportunidade do aluno

da licenciatura ter uma aula prática. E, não que seja fácil vir aqui todo dia, mas, querendo ou não, para mim,

é um prazer vir aqui, sabe? É uma hora que eu dedico, não só para a minha profissão, mas para o meu fazer

musical... que eu gosto de estar fazendo.

14: Sabe uma coisa que me ajudou muito? Eu nunca fiz música em grupo, assim... “Vou fazer música em

grupo”... Eu sempre toquei na igreja.

0: Não. Mas você sempre cantou em coro. O seu ouvido faz assim: “Puc!”.

13: E grupo da igreja também é grupo. Assim.... por mais que não seja a mesma coisa...

0: É. O pessoal da igreja... aquela menina que toca... que é pianista.

13: Manda muito! A XX, por exemplo.

0: ela se vira nos trinta super bem.

13: É que você não viu no dia que teve uma disciplina lá, que a XX deu... de piano para a gente. E no recital

final da disciplina ela tocou uma composição dela. Parecei Beethoven. Parecia Beethoven, mano. Na moral.

0: Mas ela já entrava nessa... ela já sabia tocar.

13: É. Ela manda bem.

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14: Ela sabe... Ela não é...

0: O que vocês fizeram aqui no LARCI que vocês acham que vocês aprenderam? O que que vocês avaliam...

não da estrutura, né... mas da atuação de vocês aqui? O que vocês fizeram? Conversar um pouco, também,

se vocês viram nos outros...

14: Eu aprendi a lidar com criança, mesmo. Porque eu nunca tinha lidado. Nunca tive essa questão de ter

um público com uma idade tão...

0: Eles eram pequenos, né?

14: É. Acho dificílimo trabalhar. Acho mais difícil com crianças, do que com jovem, adolescente, adulto. Eu

prefiro. Tem mais facilidade de comunicação, tal. Para mim foi difícil fazer o lúdico... fazer muito lúdico.

Porque eu não sou. eu sou mais prática. Então trabalhou uma questão que eu precisava, e preciso

trabalhar mais. Então foi bem baca...

0: Você percebeu isso em você, né? 14: É. Eu achei bem bacana. E olhar como os outros estavam fazendo, também me auxiliou... ver gente

que conseguiu fazer funcionar, tipo... encantar as crianças e elas quererem fazer, cantar a música...

13: Às veze por uma diferença, né? Não é que a atividade... é a mesma coisa...

14: Só que a forma de você lidar, às vezes, acho que às vezes é excessivo, né? Também teve coisas que eu

não gostei. Tipo, nossa! Podia ser menos. Manos infantilizado. Mas teve coisas que eu achei importante eu

ver, assim, e que funcionam, né? Por mais que eu não goste, eu acho que funciona e tem que fazer. Ou

buscar uma coisa que eu goste e que funcione também.

13: Eu fui uma das pessoas que, talvez, mais observou, assim. Eu diria que... bom em termos práticos, eu

acho que aprendi bastante em relação a... por exemplo. como levar esse som conjunto para as crianças,

porque... por exemplo. as crianças estão ligadas a coisas rítmicas mais simples, tipo, um batidão de violão,

assim. Não adianta tocar muito dedilhado de violão na aula, ali. Então... tipo... essas coisas, assim, básicas...

de fazer o som ali para correpetir, para o professor ministrar a atividade, acho que me agregou bastante. Da

observação dos outros professores, também acho que teve uma coisa curiosa: cada um leva de um jeito

muito diferente, as atividades. A XX, por exemplo, tem um jeito de levar as coisas, o XX teve outro jeito de

ensinar a mesma música, antes de ela ensinar que foi totalmente diferente. E cada um vai tentando adaptar

essa maneira de fazer, conforme o tempo passa, né? Enfrentando essas dificuldades todas. Eu acho que...

não sei. nesse sentido, ver as pessoas fazendo me levou, também, a ver uma maneira de como eu poderia

levar uma atividade como essa. Só que é muito, assim é uma coisa muito prática. Na hora você tem o

planejamento, você tem uma avaliação toda e as circunstâncias podem te forçar a ter que refazer tudo. Igual

àquela vez que chegou uma galera de treze anos aqui. Porque, assim se não fosse por você (0), Não teria

tido aula nenhuma, né? A gente não estava preparado para dar aquela aula.

0: O que que vocês acham... que além de trazer essa experiência prática que discute isso, vocês encaram o

LARCI como importante? Ou esse modelo de formação, (como importante)? Como ter mais, né? Teriam

outras coisas? Tipo sugestões...

14: Ah! Acho que é bem importante. Poderia continuar o projeto. Tipo... ser uma oficina...

0 Regular?

14: É. Um projeto de extensão regular, ou um Tópico Especial... acho que talvez nem contando créditos.

Assim... contar créditos é chamativo, né? Para os alunos irem participar...

0: Principalmente no meio dessa loucura, né?

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14: É. Porque, querendo ou não, isso pesa, né? Tipo. é uma manhã que a gente tira para vir aqui. Mas eu

acho que deveria continuar o laboratório, não só para o benefício da gente que está estudando, mas para o

benefício das crianças. O trabalho coral, ele não tem como ser feito só seis meses. Não tem como a gente

chamar aquilo: “Ah! A gente fez um coral”. Não! Coral é um processo gradativo. Acho muito importante

continuar e ver o tanto de mudanças que ele pode ter, tanto na educação... aqui, quanto nas relações

pessoais. Eu acredito na música, não só como puramente ensino de música; teoria e técnica, mas sim na

questão pessoal também. Na questão do desenvolvimento da criança...

0: Mas você acha que dá para manter esse modelo em outros... 14:

Outros espaços?

0: É... a estrutura do modelo? O fato de a gente... se reúne, passa a música, combina coisas, faz o ensaio,

depois fala sobre ele. Essa estrutura.

14: Ah! A estrutura, eu achei bacana também. Eu acho que falta, talvez, a prática dos professores... não sei. 0:

Mais tempo de prática deles?

14: É. Mais tempo de formação nossa.

0: Mas no sentido da prática, eles sentiram falta de poder experimentar mais o que eles iam fazer com os

professores.

14: Também!

0: Só que precisaria de muito tempo.

14: É. Precisaria. Seria tipo pegar a aula do XX e fazer tudo de novo.

: Tudo de novo. Porque a gente fica um tempo na parte musical. Um bom tempo a gente ficou corrigindo

coisa musical.

14: É. Isso, na verdade...

13: Eu acho que, a longo prazo, se considerar que as crianças têm uma faixa etária variada... porque aí

surgem vários problemas, né? Por exemplo, para a gente, como aluno da licenciatura, é muito bom uma

disciplina assim. Eu acho que ela é mais útil para a formação de professores do que outras disciplinas de

pedagogia que são obrigatórias no curso. Mas existem outras problemáticas também, em relação às

crianças. Tipo... uma criança de seis a dez anos e daí, tipo... esse ano ela veio lá, ela fez a oficina, no semestre

que vem ela vai fazer a oficina No semestre que vem ela já vai ter aprendido algumas coisas, daí outras coisas

entram... vão ter aprendido. vão estar em outro nível, né?

0: Aí vai querer voltar a ensinar coisas que alguns já fizeram, né?

13: É, mas o esquema de cantar, eu acho... de ter um repertório, formar, eu acho que já ajuda, também, um

pouco nisso. Porque o repertório vai mudando e não vai ficando, também, tão cansativo. 0: Mudam os

regentes também.

14: É. Eu acho que, assim, se você conseguir formar um grupo legal, assim, bom os que chegarem vão

acompanhando, assim, meio aos poucos vão conseguir. Se você tiver uma base sólida, os que vierem vão

continuar o trabalho. Eu acho que a gente conseguiu, por mais difícil que tenha sido, manter um grupinho

mais fixo. Eu acho que, assim as pessoas que foram chegando, foram conseguindo acompanhar porque tinha

esse grupo aqui com a gente.

0: Tinha algumas que vinha sempre. Uma coisa também, dos vídeos, é que elas aprenderam boas partes das

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músicas... eu acho que dentro desse contexto em que elas não vinham sempre, né? E onde os professores

estavam aprendendo juntos eu acho que rolou, até.

14: Eu também achei que rolou.

0: A gente vai conseguir apresentar algumas coisas.

14: Eu achei que ia ser muito bacana.

13: E dá para trabalhara vários aspectos da sonoridade do grupo junto, mesmo que seja um grupo que não

tenha se repetido sempre com as mesmas pessoas, mesmo número, mesma...

0: Tem um perfil vocal também, né?

13: E tem também, tipo... várias crianças que tiveram uma frequência, que voltaram e que você conseguia

observar, tipo... quando tava o som do conjunto, vários aspectos...

0: As que vinham muito, também dava para identificar que elas sabiam mais.

13: É. Lembravam letra, coreografia, participavam da...

14: Tinha mais empatia com a gente...

0: Mais íntimo, né? Tem uma coisa de possibilidades, também, de como fazer com que muitos... é que aqui,

no caso, também tinha mais professores do que... também eram muitos, né? De algum jeito de equilibrar

melhor a participação, mas ao mesmo tempo, também, se colocasse duas salas, pode ser que não

houvessem crianças suficientes...

14: Eu acho que não conseguiria.

0: Eu também acho que não. Teria que ser, acho que de duas vezes por semana, de repente. E então um

grupo atende as crianças...

13: As oficinas são duas vezes por semana, não são?

0: Aqui eles têm todo dia.

13: Todo dia? Nossa! Se fosse duas vezes por semana, isso ia ser muito interessante. 0:

Aí alternava o grupo...

13: É.

14: É, então. Eu gosto disso, mas ao mesmo tempo, fico um pouco receosa à questão de... tipo...

0: Deixar para a galera fazer, né?

14: É. Eu não sei. Essa questão de confundir as crianças mesmo, tipo: “Ai! O que que eu tenho que fazer,

assim? ”.

13: O grupo, que você fala, é o grupo de regentes, né?

0: É. Mas eles poderiam fazer coisas diferentes, aulas diferentes, não o mesmo curso.

14: Ah! Isso acho que isso funcionaria.

0: Não daria para ser o mesmo curso. O da segunda ensina uma coisa, o da quarta ensina outra coisa. Não é

continuação. Porque a gente jamais iria conseguir um registro maravilhoso do grupo saber onde estava...

13: Ia ser a avaliação de um professor versus a avaliação de outro professor.

0: É. E (também) de saber onde está. Não dá. Uma coisa que o outro grupo sugeriu é que a gente colocasse

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duas pessoas por música, ao invés de uma por música.

13: Eu acho que seria bem interessante também.

0: Isso já ajudava a pessoa a ter com quem ela conversar durante a semana para preparar a música e,

também, cobriria a falta em uma emergência. Ao invés de separar os dois grupos. Mas, aí, isso vai depender

de quem vem, quem não vem...

14: E também é difícil trabalhar em dupla. Ainda mais quando você fala de música... é... quando você quer

um resultado musical e seu parceiro, talvez, queira outro.

0: É que a tendência é que... vocês se conhecem... é que você entraria em uma dupla que você queira. Eu

não acho que... é. Porque, como escolhe a música, poucas as chances de você escolher... porque eu não

escolheria as duplas... de você cair em uma dupla que não tivesse tanta afinidade. E, como somos muitos,

isso se resolveria rápido, eu acho. Do tipo: “Gente! Não está rolando. Vamos trocar”.

14: É. Sinceramente, na correpetição da música que eu trabalhei, eu queria falar assim: “Olha! Vamos trocar”

0: Mas eu acho que se ela não aprendesse a tocar a música mais para frente, ela não iria tocar na

apresentação. Em nenhuma hipótese. Seria tocado por outra pessoa na apresentação. Um pouco antes, até.

É que, ao mesmo tempo, tem que dar aquela chance, né?

14: Não... é. Eu acho que que, assim... no seu papel... é fundamental e você fez o que você tinha que ter

feito. É que, assim... Não tem o que a gente fazer, né? A gente fica vendo que não tá funcionando e a gente

sabe fazer, aí a gente fica...

0: É difícil, mas eu te entendo também. A gente teve essa questão de resolver esse ponto da música, é difícil.

Porque se a gente não tivesse que resolver questões musicais, se chegasse a falasse sobre como ensinar as

crianças e as ideias viessem mais prontas, tipo: “A música é assim, o arranjo é esse, tenho essa ideia”... não.

Aqui a gente tem que construir. Foi interessante também. Como que a gente escolhe o repertório? Quais os

pontos levados? Depois que escolhe, como lê? Tipo assim: “Ah! Agora essa música... qual a dificuldade

dela?”, “Agora vamos montar uma performance que faça sentido”. É um processo também, né? Só que

andaria mais rápido se tivesse uma oportunidade de se pular. Porque, também, não se resolve na hora. Não

é uma questão só assim: “Ah! A gente está um som caído”. A vantagem é que as crianças também demoram

para aprender. Aí você repete bastante. A pessoa tem essa oportunidade. Não, mas eu te entendo. Vocês

queriam colocar mais alguma coisa?

14: Ah. Eu acho que eu queria agradecer a oportunidade. Eu achei bem bacana estar trabalhando aqui.

0: Eu espero ter sido útil, né?

13: Foi bastante.

14: Foi muito útil. Além de útil, assim... agregar à nossa vivência musical, né? A oportunidade de a gente

poder tocar aqui, de poder reger e de poder conhecer um repertório diferente. Foi muito bacana. O que eu

gostei muito, assim, para mim, é a questão das suas falas sobre técnica vocal. Eu adorei. Me engrandeceu

muito à questão de como lidar com criança. Eu gosto da forma como você trabalha. Acho muito clara e

sucinta... no ponto que precisa ir, se enrolação, sem volta. Eu gosto de um trabalho assim: conciso.

0: Que vai reto, né?

14: Isso. E que espelha você.

0: Ah! Que bom! É isso, gente. Obrigado! Queria agradecer a vocês pelo semestre.

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Anexo 4. Partitura “Lamento da Lavadeira”

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Anexo 5. Partitura “Garota do Tacacá”

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Anexo 6. Parecer Consubstanciado do CEP

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