leishmanioses_visceral e tegumentar

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0 FACULDADE METROPOLITANA DA AMAZÔNIA CURSO DE ENFERMAGEM DISCIPLINA: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS LEISHMANIOSES (VISCERAL E TEGUMENTAR) AUTORES: ADELAIDE BAIA LUCÉLIA OLIVEIRA LUCIENE VERAS KÁTIA CARDIAS MAURÍCIO ESTEVES BELEM, PARÁ, BRASIL 2009

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Page 1: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

0

FACULDADE METROPOLITANA DA AMAZÔNIA

CURSO DE ENFERMAGEM

DISCIPLINA: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS

LEISHMANIOSES (VISCERAL E TEGUMENTAR)

AUTORES: ADELAIDE BAIA

LUCÉLIA OLIVEIRA

LUCIENE VERAS

KÁTIA CARDIAS

MAURÍCIO ESTEVES

BELEM, PARÁ, BRASIL

2009

Page 2: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

1

LEISHMANIOSES (VISCERAL E TEGUMENTAR)

AUTORES: ADELAIDE BAIA

LUCÉLIA OLIVEIRA

LUCIENE VERAS

KÁTIA CARDIAS

MAURÍCIO ESTEVES

Trabalho apresentado ao Curso de

Graduação em Enfermagem do Centro

de Ciências Biológicas e Humanas e

Educação da FAMAZ, como requisito

parcial e avaliação à obtenção de nota

na disciplina Doenças Infecciosas e

Parasitárias.

Orientadora: Profª Rute Araújo.

BELÉM, PARÁ, BRASIL

2009

Page 3: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

2

FACULDADE METROPOLITANA DA AMAZÔNIA

CURSO DE ENFERMAGEM

DISCIPLINA: DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS

LEISHMANIOSES (VISCERAL E TEGUMENTAR)

AUTORES: ADELAIDE BAIA

LUCÉLIA OLIVEIRA

LUCIENE VERAS

KÁTIA CARDIAS

MAURÍCIO ESTEVES

Trabalho apresentado ao Curso de

Graduação em Enfermagem do Centro

de Ciências Biológicas e Humanas e

Educação da FAMAZ, como requisito

parcial e avaliação à obtenção de nota

na disciplina Doenças Infecciosas

Parasitárias.

Orientadora: Profª Rute Araujo.

BELÉM, PARÁ, BRASIL

2009

Page 4: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

3

AUTORES: ADELAIDE BAIA

LUCÉLIA OLIVEIRA

LUCIENE VERAS

KÁTIA CARDIAS

MAURÍCIO ESTEVES

LEISHMANIOSES (VISCERAL E TEGUMENTAR)

Trabalho apresentado ao Curso de

Graduação em Enfermagem do Centro

de Ciências Biológicas e Humanas e

Educação da FAMAZ, como requisito

parcial e avaliação à obtenção de nota

(__________) na disciplina Doenças

Infecciosas e Parasitárias.

Orientadora: Profª Rute Araújo.

Ass.: __________________________________________________________

1º Exam.: Rute Araújo – Msc.– Faculdade Metropolitana da Amazônia

Belém, Pará, Brasil

2009

Page 5: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

4

DEDICATÓRIA

A DEUS PELA FORÇA

AOS MEUS PAIS PELO CARINHO

A MEUS FILHOS PELA ALEGRIA DE TE-LOS

Page 6: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

5

AGRADECIMENTOS

AO MEU ORIENTADOR

AOS COLEGAS DA TURMA

Page 7: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

6

EPIGRAFE

O SOL DA MANHA RASGA O CÉU DA AMAZÔNIA

EU OLHO BELÉM DA JANELA DO HOTEL

AS AVES QUE PASSAM FAZENDO UMA ZONA

MOSTRANDO PRA MIM QUE A AMAZÔNIA SOU EU.

NILSON CHAVES

Page 8: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

7

RESUMO

As leishmanioses são doenças infecto-parasitárias que acometem o

homem, sendo que apresentam diferentes formas clínicas dependendo do

parasita envolvido em sua etiologia e da relação do hospedeiro com o mesmo.

O objetivo desta pesquisa bibliográfica é chamar atenção para a existência

desta patologia em nosso meio, a qual passará a figura entre o diagnóstico

diferencial e outras patologias comumente vistas.

PALAVRAS-CHAVE: leishmaniose tegumentar americana, phebotominae e

leishmaniose visceral ou (calazar).

Page 9: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

8

ABSTRACT

The leishmaniases are infectious and parasitic diseases that affect

man, and showing different clinical forms depending on the parasite involved in

its etiology and the relationship of the host with the same. The objective of this

research literature is to call attention to the existence of this disease in our

environment, which will among the differential diagnosis and other diseases

commonly seen.

KEY-WORDS: ATL, phebotominae and visceral leishmaniasis (kala azar).

Page 10: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................10

CAPITULO 1 - TEGUMENTAR AMERICANA ..................................................14

1.1 - Etiologia......................................................................................14

1.2 - Epidemiologia.............................................................................16

1.3 - Quadro clinico.............................................................................18

1.4 - Diagnostico.................................................................................19

1.5 - Diagnostico Diferencial...............................................................20

1.6 - Tratamento..................................................................................24

1.7 - Vigilância Epidemiologia.............................................................25

1.8 - Medidas de controle....................................................................26

CAPITULO 2 – LEISHMANIOSE VISCERAL(CALAZAR).................................28

2.1 – Aspectos Imunológico................................................................29

2.2 – Quadro Clínico...........................................................................30

2.3 – Diagnóstico Laboratorial............................................................32

2.4 – Exames Específicos...................................................................32

2.5 – Tratamento.................................................................................33

2.6 – Medidas de Controle..................................................................33

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................35

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................36

Page 11: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

10

INTRODUÇÃO

As leishmanioses são doenças causadas por protozoários do gênero

Leishmania e, clinicamente, podem apresentar-se sob forma visceral,

Tegumentar ou cutaneomucosa(3).

A leishmaniose é uma importante zoonose que ocorre no Velho

Mundo e nas Américas, caracterizando-se como um grave problema de saúde

pública nos países pobres e uma das endemias prioritária da OMS. É descrita

em 88 países, e, destes, 76 são países em desenvolvimento, incluindo os 13

mais pobres do mundo. A Organização Mundial de Saúde estima que no

mundo há 12 milhões de indivíduos infectados por leishmânia e 350 milhões de

pessoas sob risco de infecção(3).

Acometendo 1 a 2 milhões de pessoas a cada ano, das quais 500

mil apresentam a forma visceral ou calazar. É altamente prevalente no Oeste

da Índia, ocorrendo ainda na China, África, Oriente Médio, Américas e nos

países do mediterrâneo(3).

No Brasil, Moreira (1895) identificou pela primeira vez a existência

do botão endêmico dos países quentes, chamando “Botão da Bahia” ou “Botão

de Biskra”. A confirmação de formas de leishmânias em úlceras cutâneas e

nasobucofaríngeas ocorreu no ano de 1909, quando Lindenberg encontrou o

parasito em indivíduos que trabalhavam em áreas de desmatamentos na

construção de rodovias no interior de São Paulo. Splendore (1911)

diagnosticou a forma mucosa da doença e Gaspar Vianna deu ao parasito o

nome de Leishmania brazilienses. No ano de 1922, Aragão, pela primeira vez,

demonstrou o papel do flebotomíneo na transmissão da leishmaniose

tegumentar e Forattini (1958) encontrou roedores silvestres parasitados em

áreas florestais do Estado de São Paulo(1).

Page 12: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

11

Desde então, a transmissão da doença vem sendo descrita em

vários municípios de todas as unidades federadas (UF). Nas últimas décadas,

as análises epidemiológicas da leishmaniose tegumentar americana (LTA) têm

sugerido mudanças no padrão de transmissão das doenças, inicialmente

considerada zoonoses de animais silvestres, que acometia ocasionalmente

pessoas em contato com as florestas. Posteriormente, a doença começou a

ocorrer em zonas rurais, já praticamente desmatadas, e em regiões

periurbanas. Observa-se a existência de três perfis epidemiológicos: a)

Silvestre – em que ocorre a transmissão em áreas de vegetação primária

(zoonose de animais silvestres); b) Ocupacional ou lazer – em que a

transmissão está associada à exploração desordenada da floresta e derrubada

de matas para construção de estradas, extração de madeira, desenvolvimento

de atividades agropecuárias, ecoturismo; (antropozoonose) visualizados nas

(figuras 1 e 2) e c) Rural ou periurbana – em áreas de colonização (zoonose de

matas residuais) ou periurbana, em que houve adaptação do vetor ao

peridomicílio (zoonose de matas residuais e/ou antropozoonose) ver (figuras 3

e 4)(1).

Figura 1 – área de desmatamento na região Amazônica.

Page 13: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

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Figura 2 – casa construída em área da floresta amazônica para extrativismo de borracha.

Figura 3 – assentamento Rio Piorini, Região Norte do Brasil.

Page 14: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

13

Figura 4 – Ocupação de encosta da Serra do Mar.

No Brasil, a LTA é uma doença com diversidade de agentes, de

reservatórios e de vetores que apresenta diferentes padrões de transmissão e

um conhecimento ainda limitado sobre alguns aspectos, o que a torna de difícil

controle. Propõe-se a vigilância e o monitoramento em unidades territoriais,

definidas como áreas de maior produção da doença, bem como, suas

características ambientais, sociais e econômicas, buscando um conhecimento

amplo e intersetorial. Propõe-se, ainda, que as ações estejam voltadas para o

diagnóstico precoce e tratamento adequado dos casos detectados e

estratégias de controle flexíveis, distintas e adequadas a cada padrão de

transmissão manual(1).

.

.

Page 15: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

14

Capítulo 1 - LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA

A leishmaniose tegumentar americana (LTA), também

conhecida como úlcera de Bauru, nariz-de-tapir e botão-do-oriente, é uma

doença parasitária da pele e mucosas (boca, nariz, faringe e laringe), de

caráter pleomófico, causada por protozoários do gênero Leismania, podendo

evoluir para cronicidade(3).

A doença cutânea apresenta-se classicamente por pápulas, que

evoluem para úlceras com bordas elevadas e fundo granuloso que podem ser

únicas ou múltiplas e são indolores. Também pode manifestar-se como placas

varicosas, nodulares, papulosas, localizadas ou difusas. A forma mucosa,

secundária ou não e destruição dos tecidos da cavidade nasal, faringe e

laringe. Quando a destruição do tecido é importante, pode causar perfuração

do septo nasal e/ou palato(3).

1.1 - ETIOLOGIA

Os agentes da leishmaniose tegumentar completam seu ciclo

biológico envolvendo obrigatoriamente mamíferos, considerados hospedeiros

definitivos, e insetos hematófagos da subfamília Phebotominae, que são os

hospedeiros intermediários(2). O modo de transmissão é por meio de picada de

insetos flebotomíneos do gênero Lutzomia infectado. O período de incubação

Page 16: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

15

varia de duas semanas a 12 meses (média de um mês) (3). Não há transmissão

de pessoa a pessoa(1).

No mamífero o parasita apresenta-se sob a forma aflagelada,

denominada amastigota(ver figura 6), transformam-se em promastigotas, (ver

figura 5) que se multiplica por divisão binária no interior de macrófagos, não só

na pele mas também nas vísceras de alguns animais. Cerca de quatro dias

depois de se infectar, o inseto já pode transmitir o parasita a um novo

hospedeiro(2). Os reservatórios são o homem, os marsupiais, os roedores, a

preguiça, o tamanduá, o cão, o eqüino(3).

Figura 5 – Forma flagelada ou promastigota

Page 17: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

16

Figura 6 – Forma aflagelada ou amastigota

1.2 - EPIDEMIOLOGIA

No Brasil, a Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) é uma das

afecções dermatológicas que merece mais atenção, devido à sua magnitude,

assim como pelo risco de ocorrência de deformidades que pode produzir no ser

humano, e também pelo envolvimento psicológico, com reflexos no campo

social e econômico, uma vez que, na maioria dos casos, pode ser considerada

uma doença ocupacional. Apresenta ampla distribuição com registro de casos

em todas as regiões brasileiras(1).

Na década de 80, a LTA foi assinalada em 19 UF, verificando sua

expansão geográfica quando, em 2003, foi confirmada a autoctonia em todos

os estados brasileiros. Observa-se ampla dispersão e, em algumas áreas

apresenta intensa concentração de casos, enquanto em outras os casos

apresentam-se isolados. (Figuras 7 e 8)(1).

Page 18: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

17

Figura 7 – casos de leishmaniose tegumentar americana por município, Brasil – 2003, 2004 e

2008.

Figura 8 – densidade de casos de leishmaniose tegumentar americana por município, Brasil –

2003 e 2004.

Page 19: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

18

No decorrer do tempo houve mudanças no perfil dos pacientes

afetados, inicialmente, atacava em geral adultos jovens do sexo masculino,

mas depois passou a acometer pessoas de todas as idades e sexos. Existem

vários casos relatados de LTA associados à AIDS(3).

As populações rurais do Norte, Nordeste e Centro-Oeste são as

que pagam maior tributo à moléstia, que assola extensas áreas de colonização

recente, com florestas ainda abundantes. Das regiões Norte e Nordeste

procedem cerca de 75% dos casos registrados no país. No Nordeste, a

endemia persiste também em áreas de colonização antiga, especialmente nas

zonas serranas dos estados do Ceará, Paraíba e Bahia(2).

1.3 - QUADRO CLÍNICO

A doença tem inicio na pele, onde as formas promastigotas foram

inoculadas pela picada do flebotomíneo (ver figura 9). Dependendo da resposta

imune do hospedeiro e da espécie infectante, a doença pode ficar limitada ao

local da inoculação do parasita, ou atingir novos sítios na pele e nas mucosas

do nariz, orofaringe e laringe. De acordo com a localização das lesões,

distinguem-se, portanto, três formas clínicas da moléstia: a forma cutânea, a

cutânea-mucosa e a forma mucosa(2).

O agravamento pode surgir com disfagia, distonia, insuficiência

respiratória por edema de glote, pneumonia por aspiração e morte(3).

Page 20: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

19

Figura 9 – Fêmea do flebotomíneo ingurgitada

1.4 – DIAGNÓSTICO

Suspeita clínico-epidemiológica associada a dados laboratoriais.

Exame parasitológico direto, por meio de exame do aspirado da borda da lesão

ou in-print feito com fragmento da biópsia; histopatologia, intra-dermorreação

de Montenegro – IRM. Sorologia pode ser útil(3). Alguns destes apresentam

cicatrizes sugestivas ou história de tratamento prévio, ao passo que outros,

sem vestígios da moléstia, podem ter sido sensibilizados a partir de infecções

inaparentes. Esta é, sem dúvida, uma importante causa de erro da

interpretação do teste, pois, em qualquer desses indivíduos, a presença de

lesão suspeita de origem não leishmaniose pode levar a um falso

diagnóstico(2).

Entre as principais causas de diagnósticos falsos positivos citam-se

as úlceras crônicas de membro inferior, ectimas, neoplasias da pele e as

Page 21: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

20

lesões do complexo verrucoso, especialmente paracoccidioidomicose e

esporotricose(2).

1.5 - DIAGNOSTICO DIFERENCIAL

• Forma cutânea – Úlceras traumáticas, úlceras vasculares, úlcera

tropical, cromomicose, neoplasias cutâneas, sífilis e tuberculose

cutânea.

• Forma mucosa – hanseníase virchowiana, sífilis terciária e

neoplasias. Várias lesões visualizadas a seguir:

Figura 10 – LTA – Lesão cutânea localizada em estágio inicial, com característica de placa

infiltrativa (observar nesta fase ausência de ulceração).

Page 22: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

21

Figura 11 – LTA – Lesão ulcerada fraca, única, pequena, com bordas elevadas, infiltradas com

hiperemia ao seu redor e fundo granuloso.

Figura 12 – LTA – Lesão ulcerada fraca, única, arredondada, com bordas elevadas, infiltradas

e fundo granuloso

Page 23: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

22

Figura 13 – LTA – Lesão cutânea múltipla, ulceradas, com bordas elevadas, infiltradas e fundo

granuloso com crosta a nível central.

Figura 14 – LTA - Lesão com aspecto framboesóide, localizada na pele do nariz,

sem comprometimento da mucosa nasal.

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23

Figura 15 – Aspectos características da LTA em cães.

Figura 16 – Aspectos característicos da LTA em cães.

Page 25: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

24

Figura 17 – Úlcera leishmaniótica na cauda de roedor silvestre do gênero Proechimys.

1.6 - TRATAMENTO

Forma cutânea – antimonial de N-metil-glucamina, 20mg/dia, por 20

dias; pentamidina, 4mg, por via intramuscular (IM), a cada 2 dias, até completar

no máximo 2g de dose total (aplicar após alimentação e fazer repouso em

seguida); anfotericina B (deoxicolato) 0,5mg dia, por via endovenosa (EV),

aumentando-se 1mg em dias alternados (máximo de 50mg/dia), até atingir

dose total de 1 a 1,5g.

Forma mucosa – Antimonial de N-metil-glucamina, 20mg/dia, por 30

dias consecutivos; pentamidina, no mesmo esquema para forma cutânea, até

atingir dose total de 2g; anfotericina B, conforme esquema para forma cutânea,

até completar, se possível, 2g de dose total.

A terapia antimonial está contra-indicada em casos de gravidez e

amamentação, hipersensibilidade ao antimônio, tuberculose pulmonar,

cardiopatias, nefropatias e hepatopatias.

Page 26: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

25

A paramomicina tem sido relatada como droga de eficácia

satisfatória no tratamento auxiliar.

1.7 - VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

Tem como objetivos investigar e controlar os focos, visando à

redução do número de casos, ao diagnóstico e ao tratamento precoces dos

doentes para evitar a evolução e complicações da doença(3).

Os objetivos específicos da LTA são(1):

• Identificar e monitorar unidades territoriais de relevância

epidemiológica;

• Investigar e caracterizar surtos;

• Monitorar formas graves com destruição de mucosa;

• Identificar precocemente os casos autóctones em áreas

consideradas não-endêmicas;

• Reduzir o número de casos em áreas de transmissão

domiciliar;

• Monitorar os eventos adversos aos medicamentos.

Page 27: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

26

1.8 - MEDIDAS DE CONTROLE

Na cadeia de transmissão: diagnóstico precoce e tratamento

adequado dos casos humanos e redução do contato homem-vetor(3).

Outras medidas preventivas de ambientes individuais ou coletivos

devem ser estimuladas, tais como(1):

• Telagem das janelas;

• Utilização de mosquiteiros e uso de repelentes quando

exposto a ambientes onde os vetores habitualmente possam

ser encontrados;

• Manejo ambiental por meio de limpeza de quintais e terrenos,

a fim de alterar as condições do meio que propiciem o

estabelecimento de criadouros para formas imaturas do vetor;

• Destino adequado do lixo orgânico, a fim de impedir a

aproximação de mamíferos comensais, como marsupiais e

roedores, prováveis fontes de infecção para os flebotomíneos;

• Limpeza periódica dos abrigos de animais domésticos;

• Manutenção de animais domésticos distantes do

intradomicílio durante a noite, de modo a reduzir a atração

dos flebotomíneos para este ambiente;

• Condições de moradia, que facilitam o acesso do vetor;

• Implantar ou aprimorar o fluxo de informação de interesse à

vigilância e assistência;

• Suprir as unidades de saúde com materiais e insumos

necessários para diagnóstico e tratamento;

Page 28: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

27

• Capacitar os profissionais que irão compor a equipe

multiprofissional das unidades básicas e laboratoriais de

saúde ou das referencias, no diagnostico laboratorial, clinica e

tratamento;

Page 29: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

28

Capítulo 2 - LEISHMANIOSE VISCERAL (CALAZAR)

Sua definição tem sido fundamentada nas manifestações clássicas

que produzem o seu agente etiológico, as Leishmânias do gênero donovani, no

sistema reticuloendotelial do homem. A forma Calazar, ou febre negra, é uma

síndrome clinica caracterizada por febre irregular de longa duração, acentuado

emagrecimento, intensa palidez cutaneomucosa, a qual confere um aspecto

escurecido da pele nos indivíduos causasianos(2).

A transmissão dá-se, principalmente, por meio da picada de

flebótomos dos gêneros Phlebotomas(Velho Mundo) e Lutzomyia (continente

americano). O L. longipalpis, o mais importante vetor da LV do homem no meio

rural e da periferia das cidades, onde encontra condições adequadas para

proliferar e se infectar(3).

Outras vias de transmissão incluem o uso de seringas contaminadas

e a transfusão de hemoderivados (parenteral), a via transplacentária

(congênita) e a contaminação em laboratórios (ocupacional)(3).

A LV tem sido caracterizada como infecção oportunista em pacientes

imunossuprimidos pós-transplantes. Em 1985, foi descrito o primeiro caso de

co-infecção HIV (vírus da imunodeficiência adquirida). Desde então, inúmeros

outros tem sido relatados, não só na bacia do mediterrâneo, mas em várias

partes do mundo, inclusive no Brasil. Na Europa, a co-infecção é mais comum

em jovens do sexo masculino, usuários de drogas. A infecção por leishmânia

pode ser de aquisição recente pela picada de flebótomos ou pelo uso de

seringas, mas pode traduzir a recrudescência de infecção latente(3).

Page 30: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

29

2.1 - ASPECTOS IMUNOLÓGICOS

As leishmânias são parasitas intracelulares obrigatórios das células

do sistema fagocítico-mononuclear (SFM) dos mamíferos, onde se multiplicam

por divisão simples ao sugar o sangue dos mamíferos infectados, os

flebótomos fêmeas adquirem as formas amastigotas do protozoário. No trato

digestivo desses insetos, as formas amastigotas transforma-se em

promastigotas metacíclicos e migram para a probóscida. Durante novo repasto

sanguíneo, essas formas são inoculadas por regurgitação no interior da derme

do hospedeiro suscetível, com conseqüente invasão dos macrófagos. As

formas promastigotas também podem ser encontradas em meios de cultura,

onde se multiplicam e atingem a forma metaciclogênica(3).

Quando estimulados com antígenos de leishmânia, os linfócitos

desses pacientes apresentam intensa resposta proliferativa, produzem IFN-2γ

e estimulam macrófagos autólogos a destruir amastigotas e produzir grandes

quantidades de interleucinas-1 (IL-1) e fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α)(3).

As disfunções envolvendo a célula TCD4+ são cruciais no

estabelecimento de uma resposta protetora ou não na LV. Inúmeras evidências

clinicas e experimentais salientam a participação das citocinas nos vários

aspectos da resposta do hospedeiro diante da infecção por leishmânia. O

modelo murino revelou duas subpopulações de linfócitos TCD4+ com

habilidades funcionais distintas e reconhecidas pelo perfil de citocinas

produzido, quais sejam: o subtipo Th1, capaz de produzir interleucina-2 (IL-2),

TNF-β e interferon-gama(INF-γ), e o subtipo Th2, produtor de IL-4, IL-5, IL-6,IL-

9,IL-10 E IL-13. Algumas citocinas, entretanto, são produzidas pelos dois

subtipos de células como IL-3, fator estimulador de colônias de granulócitos e

macrófagos (Gm-CSF) e TNF-α(3).

Page 31: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

30

2.2 - QUADRO CLINICO

A LV é uma doença espectral, que deve ser sempre investigada em

pacientes com historia de febre prolongada e hepatoesplenomegalia(2),

podendo ocorrer formas assintomáticas, oligossintomáticas ou a doença

classicamente de forma assintomática diagnosticada apenas por meio de

testes cutâneos (reação de Montenegro) e/ou sorológico(3).

A forma Calazar clássico, mesmo nas diferentes regiões do mundo,

são marcantes. Em geral, é uma doença de evolução prolongada, a

desnutrição protéico-calórica e o aspecto edemaciado do paciente – com o

abdome protruso à custa de volumosa hepatoesplenomegalia e as alterações

da pele, na Índia conferindo uma cor escurecida, e nas Américas, uma

coloração pardacenta ou de cera velha -, cabelos quebradiços e os cílios

alongados compõem o retrato dessa protozoose (ver figuras 18 e 19)(2).

Page 32: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

31

Figura 18 – criança de nove anos com quadro clássico de leishmaniose visceral. Pancitopenia

periférica e volumosa hepatoesplenomegalia. O desenho amarronzado corresponde aos limites

de palpação da visceromegalia.

Figura 19 – criança com leishmaniose visceral forma grave e refratária ao tratamento com

volumosa hepatoesplenomegalia, ocupando todo o abdome.

Page 33: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

32

2.3 - DIAGNOSTICO LABORATORIAL

A anemia é normocrômica e normocítica, com hemoglobina na

freqüência inferior a 10g%. A leucopenia é significativa, caracteristicamente

acompanhada por neutropenia (ás vezes, grave, <500 granulócitos), linfocitose

relativa e eosinopenia. A plaquetopenia (geralmente, abaixo de 100.000

células/mm3) completa a clássica pancitopenia. A inversão albumina sérica e

elevação policlonal das globulinas, á custa da fração gama. Apesar da

ocorrência rara de icterícia, há elevação discreta das transaminases (duas a

três vezes o basal)(3).

2.4 - EXAMES ESPECIFICOS

O método rotineiro para o diagnóstico especifico da LV é a

identificação de amastigotas de leishmânia em material aspirado de medula

óssea, corado pelo Giemsa ou Wrigth(3).

O teste de hipersensibilidade tardia (DTH) a antígenos de leishmânia

(teste de Montenegro) é invariavelmente negativo na fase ativa da doença, não

sendo útil para o diagnóstico da LV. Ocorre reversão para positividade meses

após a cura da infecção(3).

Page 34: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

33

2.5 - TRATAMENTO

Os antimoniais pentavalentes (antimoniato de N-metil-meglumina

Glucantime®(Rhodia, Brasil) e estibogluconato de sódio – Pentostam® (Glaxo-

wellcome, UK) são ainda as drogas de primeira linha para o tratamento da LV.

O mecanismo de ação dessas drogas é pouco conhecido.

Entretanto, acredita-se que atuem inibindo a atividade glicolítica e a via

oxidativa dos ácidos graxos das formas amastigotas do parasito.

A anfotericina B é apresentada sob forma de frasco-ampola,

contendo 50mg do desoxicolato. Deve ser infundido por via endovenosa,

diluída na proporção de 10mg da droga/100ml de solução glicosada a 5%, uma

vez ao dia.

2.6 – MEDIDAS DE CONTROLE

A OMS recomenda uma serie de medidas para controlar a LV, como

detecção ativa e passiva de casos suspeitos de LV(3);

• Manutenção de centros capacitados para atendimento dos

doentes;

• Detecção e eliminação dos reservatórios infectados (no Brasil,

não se recomenda tratamento dos animais infectados);

Page 35: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

34

• Controle dos vetores mediante o uso de inseticidas. O

controle vetorial deve ser feito por meio da borrifação com

inseticidas químicos nas casas, com casos autóctones

humanos e caninos, além de remoção de lixo e detritos

orgânicos.

• Estabelecimento de programas de vigilância epidemiológica e

educação continuada. As comunidades nas quais a doença é

endêmica devem ser treinadas a reconhecê-la ao vetor e aos

possíveis animais reservatórios(2).

Até o momento, não há vacinas ou drogas de comprovada proteção

que possam ser usadas na imuno ou quimioprofilaxia do calazar(3).

Page 36: Leishmanioses_visceral e Tegumentar

35

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Leishmaniose constitui um grave problema de saúde pública: sua

importância reside na alta incidência, ampla distribuição geográfica e na

possibilidade de determinar lesões desfigurantes, destrutivas e incapacitantes.

Apesar da existência de inúmeros estudos abordando diferentes

aspectos da Leishmaniose, algumas questões cruciais para a implementação

das medidas de controle continuam sem resposta. Qual a real extensão do

problema? Quais são os fatores de riscos para as populações? Como avaliar o

impacto das intervenções de controle e como antecipar os surtos

epidemiológicos de ampla distribuição geográfica?

No entanto, há que se valorizar e incentivar novas investigações e

pesquisas aplicadas como fontes importantes de informações para subsidiar o

Programa de Controle das Leishmanioses no Brasil.

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BIBLIOGRAFIA

1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.

Manual de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar Ame ricana /

Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. 2ª. ed. atual. –

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Normas e Manuais Técnicos).

2. VERONESI, Roberto F. Tratado de Infectologia 3ª Ed. São Paulo:

Editora Atheneu, 2005.

3. HINRICHSEN, Sylvia L. Doenças Infecciosas e Parasitárias . Editora

Guanabara Koogan S.A, 2005.