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Revista Brasileira de Geocincias

Albano Antonio da Silva Leite et al.

34(4):447-458, dezembro de 2004

GEOLOGIA E GEOCRONOLOGIA DOS GRANITIDES ARQUEANOS DA REGIO DE XINGUARA-PA E SUAS IMPLICAES NA EVOLUO DO TERRENO GRANITO-GREENSTONE DE RIO MARIA, CRTON AMAZNICOALBANO ANTONIO DA SILVA LEITE1,2, ROBERTO DALLAGNOL1, MOACIR JOS BUENANO MACAMBIRA4 & FERNANDO JACQUES ALTHOFF1,3Abstract GEOLOGY AND GEOCHRONOLOGY OF ARCHEAN GRANITOIDS OF THE XINGUARA REGION: IMPLICATIONS FOR THE EVOLUTION OF THE RIO MARIA GRANITE-GREENSTONE TERRANE, AMAZONIAN CRATON The Xinguara area, located in the Rio Maria Granite-Greenstone Terrain Par, is composed of several Archaean granitoids. Structures and fabric elements visible at outcrop and microscopic scales, and zircon Pb-Pb ages suggest that these granitoids were emplaced in two distinct episodes of growth of the Archaean crust: (i) 2.948 5 to 2.924 2 Ma, genesis, emplacement and deformation of Caracol tonalitic complex, related to Arco Verde tonalite, wich outcrops in Marajoara area, and to TTG rocks of the So Flix do Xingu region. This period was marked by the formation of thick greenstone sequences and TTG plutons, forming dome-and-keel structures, related to a vertical tectonics, like those reported in the east Pilbara (Autralia) and Dharwar (India) cratons; (ii) 2.878 4 to 2.865 1 Ma, genesis, emplacement and deformation of the Rio Maria granodiorite, gua Fria trodhjemite and Xinguara granite. In this period, some 50 Ma after formation of the last TTG, distinct magmatic series were formed in a short time span (10-15 Ma). In this stage, plate convergence and subduction processes were operative. Keyworks: TTG Archean granitoids, leucogranites, Pb-Pb zircon geochronoloogy, Carajs Mineral Province, Rio Maria Granite-Greenstone Terrane, Amazonian Craton. Resumo A regio de Xinguara, no Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria PA, composta por vrios tipos de rochas granitides arqueanas. Relaes de campo e dados isotpicos Pb-Pb por evaporao de zirco indicam que a formao destas rochas ocorreu em dois perodos principais, com caractersticas tectnicas distintas: (i) 2.948 5 a 2.924 2 Ma, gerao, colocao e deformao do Tonalito Caracol, correlacionado ao Tonalito Arco Verde, da regio de Marajoara, e aos granitides TTG da regio de So Flix do Xingu. Este perodo foi marcado pela formao de um terreno base de domos TTG e bacias de greenstone belts associado a uma tectnica vertical, similar aos dos crtons Pilbara (Austrlia) e Dharwar (ndia); (ii) 2.878 4 a 2.865 1 Ma, gerao, colocao e deformao do Granodiorito Rio Maria, Trondhjemito gua Fria e do Granito Xinguara. Neste perodo, que ocorreu cerca de 50 Ma aps a formao dos ltimos granitides TTG, formaram-se vrios granitides geneticamente diferentes em um curto espao de tempo (10-15 Ma). Nesta etapa, o processo de convergncia e subduco de placas parece ter sido mais efetivo. Palavras-chave: granitides arqueanos TTG, leucogranitos, geocronologia Pb-Pb em zirco, Provncia Mineral de Carajs, Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria, Crton Amaznico.

INTRODUO A Provncia Mineral de Carajs situa-se na poro oriental do Crton Amaznico, SE do estado do Par (Fig. 1). Em virtude das suas inmeras riquezas minerais, tornou-se uma das regies melhor estudadas da Amaznia. No entanto, nesta provncia existem algumas pores onde trabalhos de mapeamentos geolgicos e estudos de metalognese e geocronologia so raros, ou ainda no foram executados, o que dificulta bastante a elaborao de um quadro geolgico regional. A regio de Xinguara, rea abordada no presente trabalho (Fig. 1), situa-se no limite entre o Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria e o Cinturo de Cisalhamento Itacainas. O quadro estratigrfico do Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria vem sendo progressivamente melhor definido, tendo em vista os inmeros trabalhos de mapeamento geolgico executados pela Docegeo/CVRD e a CPRM na dcada de 80 e incio de 90. Uma contribuio significativa vem sendo dada pelos pesquisadores do Laboratrio de Geologia Isotpica do CG-UFPA, mediante

dataes por mtodos geocronolgicos mais precisos (Pb-Pb em zirco e SHRIMP). O Grupo de Pesquisa Petrologia de Granitides do CG/UFPA tambm tem dado sua contribuio por mapeamentos geolgicos de semi-detalhe, estudos petrogrficos, geoqumicos e estruturais e, mais recentemente, em colaborao com pesquisadores do Laboratrio de Geologia Isotpica do CGUFPA, tambm nos estudos geocronolgicos. O mtodo de datao por evaporao direta de Pb em monocristais de zirco uma ferramenta apropriada para a determinao da idade de cristalizao de rochas antigas. No presente trabalho, este mtodo foi aplicado em algumas amostras de rochas granitides da regio de Xinguara, com o objetivo primordial de definir as idades das mesmas, contribuindo para uma melhor definio do quadro estratigrfico local e, permitindo assim, estabelecer uma correlao direta com os demais granitides do Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria e com os eventos termo-tectnicos que ocorreram na Provncia Mineral de Carajs.

1 - Grupo de Pesquisa Petrologia de Granitides Universidade Federal do Par, CG, C.P. 1611, 66075-900, Guam Belm-PA. E-mails: [email protected], [email protected] 2 - Companhia Vale do Rio Doce Rod. 263, km 296, 33030-970, Santa Luzia-MG. E-mail: [email protected] 3 - Universidade Vale do Rio dos Sinos, Av. Unisinos, 950, 93022-000, So Leopoldo-RS. E-mail: [email protected] 4 - Laboratrio de Geologia Isotpica - Universidade Federal do Par, CG, C.P. 1611, 66075-900, Guam Belm-PA. E-mail: [email protected]

Revista Brasileira de Geocincias, Volume 34, 2004

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Geologia e geocronologia dos granitides arqueanos da regio de Xinguara (PA) e suas implicaes na evoluo do terreno granito-greenstone de Rio Maria, Crton Amaznico

GRANITIDES DA PROVNCIA MINERAL DE CARAJS SNTESE DOS DADOS GEOLGICOS E GEOCRONOL-GICOS A Provncia Mineral de Carajs possui idade arqueana, como atestam vrios dados geocronolgicos (Fig. 1, Tabela 1). Costa et al. (1995) distinguiram nesta regio trs domnios tectnicos: Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria, limitado a norte e a sul pelos cintures de cisalhamento Itacainas e Pau DArco, respectivamente. Entretanto, Althoff et al. (1995) e DallAgnol et al. (1997) no consideram a existncia do Cinturo de Cisalhamento Pau DArco, no havendo a, um domnio tectnico distinto e sim uma extenso para sul do Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria, que se prolongaria pelo menos at a cidade de Redeno. Souza et al. (1996) subdividem a Provncia Mineral de Carajs em dois domnios tectnicos: Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria e o Bloco Carajs. Segundo estes autores, o limite entre

este domnios, que corresponderia poro norte do Cinturo de Cisalhamento Itacainas no claro, podendo estar situado imediatamente a sul do Granito Xinguara ou a norte do Greenstone Belt da Sapucaia. DallAgnol et al. (1997) sugerem que a regio entre Xinguara e o sul da Serra dos Carajs, embora pertencente ao Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria, seria uma zona de transio, pois foi afetada pelos eventos atuantes no Bloco Carajs. A estratigrafia e as principais unidades da Provncia Mineral de Carajs constam da figura 1 e Tabela 1. DallAgnol et al. (1997) com base em dados petrogrficos, geoqumicos e geocronolgicos dividiram os granitides da Provncia em sete grupos. Os cinco primeiros tm idades arqueanas (3,0 a 2,5 Ga, Tabela 1), e os dois ltimos paleoproterozicas (1,95 a 1,86 Ga). Os trs grupos mais antigos pertencem ao Terreno GranitoGreenstone de Rio Maria (Fig. 1): 1 - tonalito-trondhjemitogranodioritos de sutes tipo TTG; 2 - granitides ricos em Mg,

5 10 0 W

5 00 0 W

N

Arqueano G ra nitos A lcalin os G ru po R io F resco/ Fo rm a o gu as C lara s S u pe rg rup o Ita ca i na s

2,86 Ga

2,57 Ga O ld S a lo b o C ig a no 2,64 Ga 2,76 Ga 6 00 S

S u ite P laq u L eu co gran ito s a - Tro n dh je m ito M og no , b - Tro nd hjem ito gu a Fria G ra no diorito R io M aria G ra nitide s TT G: 1 - Ton alito A rco Ve rd e, 2 - C om p le xo Ton a ltico C a ra co l C o m p le xo X in gu

F a lhC en tra l

2,75 Ga aC a r a j E s tre la s

G ra n ito P la n a lto 2 ,7 3 G a Pi um 2,97 Ga S a pu ca ia

G re en ston e B eltsC o m p le xo P iu m

Neoproterozico C in tu ro Araguaia Paleoproterozico

S e rin g a

G ra nitos A no rog n ico s

2S o Jo o

bX ing u ara

7 00 S

aId eintid a d e 2,87 GaS erra das A nd orinhas

re a E stu d ad a

B a nn a ch G ra d a s

2,87 Ga Ja m on M usa 2,96 Ga G u a ran t M a rajo ara 2,98 Ga

30 km

1

M a ta S u rro 2,87 Ga

8 0 0 'S

Figura 1 Mapa geolgico simplificado da Provncia Mineral de Carajs (modificado de Docegeo 1988).

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Albano Antonio da Silva Leite et al.

Tabela 1 - Dados geocronolgicos das rochas arqueanas da Provncia Mineral de Carajs.Unidades Estratigrficas Tipo de Rocha Mtodo Material Analisado Rocha total Zirco Zirco Zirco Zirco Zirco Titanita Zirco Zirco Zirco Zirco Idade(Ma)/ Referncia 3.050114 (1) 3.00214 (2) 2.8599 (2) 2.8592 (3) 2.8514 (3) 2.7613 (3) 2.4975 (3) 2.555+4/-3 (3) 2.7322 (3) 2.7572 (3) 2.75839 (4)

Complexo Pium Complexo Xingu Supergrupo Itacainas

REGIO DE CARAJS Granulito Pb-Pb Granulito SHRIMP Granulito SHRIMP Leucossoma grantico U-Pb Gnaisse flsico U-Pb Anfibolito U-Pb U-Pb U-Pb U-Pb U-Pb U-Pb

Grupo Salobo Grupo Igarap Pojuca Grupo Gro Par Granitos Foliados Alcalinos Granito Itacainas Granito Old Salobo Complexo Grantico Estrela Anfibolito Anfibolito Vulcnica flsica Riolito

Granitide Pb-Pb Zirco 2.52538 (5) Granitide U-Pb Zirco 2.5732 (3) Granitide Rb-Sr Rocha total 2.52768 (6) Granitide Pb-Pb Zirco 2.7637 (7) Metagabros de guas Claras Gabro Pb-Pb Zirco 2.64512 (8) REA DE TRANSIO ENTRE AS REGIES DE RIO MARIA E CARAJS Complexo Xingu Gnaisse Pb-Pb Zirco 2.97216 (9) Granodiorito Rio Maria Granitide Pb-Pb Zirco 2.85017 (9) Sute Plaqu Granitide Pb-Pb Zirco 2.72929 (9) Granito Planalto Granitide Pb-Pb Zirco 2.7472 (10) Intrusivas Diorticas Diorito Pb-Pb Zirco 2.7386 (10) TERRENO GRANITO-GREENSTONE DE RIO MARIA Supergrupo Andorinhas Grupo Lagoa Seca Metavulcnica flsica U-Pb Zirco 2.904+29/-22 (11) Metavulcnica flsica U-Pb Zirco 2.9795 (12) Identidade Metadacito Pb-Pb Rocha total 2.94488 (13) Tonalito Arco Verde Tonalito U-Pb Zirco 2.957+25/-21 (11) Complexo Xingu Gnaisses Tonalitos U-Pb Titanita 2.798? (12) Granodiorito U-Pb Zirco 2.874+9/-10 (11) Granodiorito Rio Maria Granodiorito U-Pb Zir, Titan. 2.8725 (12) Quartzo-diorito Pb-Pb Zirco 2.8784 (14) Trondhjemito Mogno Granitide U-Pb Titanita 2.871? (12) Tonalito Paraznia Granitide U-Pb Titanita 2.858 (12) Granodiorito Cumaru Granitide Pb-Pb Zirco 2.8174 (15) Granito Mata Surro Leucogranito Pb-Pb Rocha total 2.87210 (16) Leucogranito Pb-Pb Zirco 2.8717 (16) Granito Guarant Leucogranito Pb-Pb Zirco 2,93 Ga (16) Fontes: (1) Rodrigues et al. (1992); (2) Pidgeon et al. (2000); (3) Machado et al. (1991); (4) Gibbs et al. (1986); (5) Souza et al. (1995); (6) Barros et al. (1992); (7) Barros et al. (2001); (8) Dias et al. (1996); (9) Avelar et al. (1999); (10) Huhn et al. (1999); (11) Macambira (1992); (12) Pimentel & Machado (1994); (13) Souza (1994); (14) DallAgnol et al. (1999); (15) Lafon et al. (1994); (16) Althoff et al. (2000).

tipo Granodiorito Rio Maria; 3 - leucogranitos potssicos de afinidade clcio-alcalina. Os grupos 4 e 5 afloram na regio de transio entre Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria e o Bloco Carajs e neste ltimo bloco. So representados, respectivamente, pelos granitides da Suite Plaqu (Arajo et al. 1994), situados na zona de transio e com idade de 2,73 Ga (Avelar et al. 1999); e pelos granitos foliados subalcalinos com idades de 2,52 a 2,76 Ga e representados pelo Complexo Grantico Estrela (Barros et al. 1997), Granito Old Salobo (Lindenmayer et al. 1994), Granito Itacainas (Souza et al. 1995) e Granito Planalto (Huhn et al. 1999), todos do Bloco Carajs (Fig. 1, Tabela 1). Os dois grupos de granitos paleoproterozicos (granitos clcio-alcalinos de idade entre 2,0 e 1,9 Ga correlacionados Suite Parauari e granitos anorognicos com idades em torno de 1,88 Ga) no sero discutidos nesta sntese.Revista Brasileira de Geocincias, Volume 34, 2004

Os granitides TTG esto representados pelo Tonalito Arco Verde (Althoff et al. 2000), granitides TTG de Xinguara (Leite 2001), Trondhjemito Mogno e Tonalito Paraznia (Huhn et al. 1988), todos expostos no Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria. Rochas similares, ainda enquadradas no Complexo Xingu, ocorrem na rea de transio entre o Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria e o Bloco Carajs, bem como no Bloco Carajs (Fig. 1). Todas estas unidades exibem fortes similaridades petrogrficas e geoqumicas, mas suas idades no so totalmente coincidentes. O Tonalito Arco Verde mostrou uma idade obtida pelo mtodo U-Pb em zirco de 2.957 +25/-21 Ma (Macambira 1992). Idades similares foram obtidas para os granitides TTG do Complexo Xingu (2.972 16 Ma, Avelar et al. 1999). O Trondhjemito Mogno datado em 2.871 Ma (U-Pb em titanita, Pimentel & Machado 1994) intrusivo no greenstone belt de

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Geologia e geocronologia dos granitides arqueanos da regio de Xinguara (PA) e suas implicaes na evoluo do terreno granito-greenstone de Rio Maria, Crton Amaznico

Identidade (Huhn et al. 1988) e estratigraficamente posterior ao Tonalito Arco Verde. O Granodiorito Rio Maria e rochas afins exibem feies petrogrficas muito caractersticas, facilitando a correlao entre suas diferentes reas de ocorrncia. Eles cobrem uma grande rea do Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria (Fig. 1), sendo expostos alm da sua rea tipo (Rio Maria), a sul de Xinguara e a norte de Redeno. Alguns granitides descritos nas regies do Xingu e Carajs tambm so correlacionados ao Granodiorito Rio Maria (Docegeo 1988, Avelar et al. 1999). Rochas mficas e intermedirias, formando enclaves ou pequenos corpos, esto normalmente associadas a ele (Medeiros & DallAgnol 1988, Souza 1994). Rochas do Granodiorito Rio Maria forneceram idades de cristalizao de 2.874 +9/-10 Ma (U-Pb em zirco, Macambira 1992), 2.872 5 Ma (U-Pb em zirco e titanita, Pimentel & Machado 1994) e 2.878 4 Ma (Pb-Pb em zirco, DallAgnol et al. 1999). Rochas similares que ocorrem na regio do Xingu, na rea de transio entre o Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria e o Bloco Carajs, mostraram idade de 2.850 17 Ma (Pb-Pb em zirco; Avelar et al. 1999). As relaes de campo (Docegeo 1988) mostram que o Granodiorito Rio Maria intrusivo no Supergrupo Andorinhas. Leucogranitos potssicos de afinidade clcio-alcalina so abundantes no Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria, representados pelos granitos Xinguara (Leite & DallAgnol 1997), Mata Surro e Guarant (Althoff et al. 2000) e por stocks granticos em contato com o Greenstone Belt Identidade (Souza 1994). O Granito Mata Surro intrusivo no Tonalito Arco Verde e em sua rea tipo forneceu idade de 2.872 10 Ma (Pb-Pb em rocha total, Macambira & Lafon 1995). Na regio de Marajoara, Althoff et al. (2000) consideram que o corpo de leucogranito potssico situado imediatamente a sul de Pau DArco, inicialmente correlacionado ao Granito Guarant, possui maiore afinidade geoqumica e geocronolgica com o Granito Mata Surro. Este corpo mostrou idade Pb-Pb em zirco de 2.871 7 Ma (Althoff et al. 2000, Tab. 1). O Granito Guarant ficou, em funo disso, restrito ao corpo localizado a sul do Granito Jamon, com idade de cristalizao em ca. 2,93 Ga (Althoff et al. 2000). O Granito Xinguara possui enclaves dos granitides TTG de Xinguara e do Grano-diorito Rio Maria (Leite 2001) e, muito provavelmente, sua idade se situa no intervalo entre 2,87 e 2,80 Ga, definido por Macambira (1992). Os granitides da Sute Plaqu ocorrem na rea de transio entre o Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria e o Bloco Carajs, na poro sul do Cinturo Cisalhamento Itacainas (Fig. 1). Foram definidos e estudados por Arajo & Maia (1991) e Arajo et al. (1994). Os granitos da Sute Plaqu so geralmente foliados e seus contatos com as rochas encaixantes do Complexo Xingu so controlados pelo trend regional E-W (Costa et al. 1995). Uma idade de 2.729 29 Ma (Pb-Pb em zirco, Avelar et al. 1999) foi obtida para um granito desta sute e considerada como mnima. Se esta idade corresponder aproximadamente idade de cristalizao da sute, como ocorre normalmente com outras idades Pb-Pb na Provncia Mineral de Carajs (Macambira & Lafon 1995), ento a Sute Plaqu mais jovem do que os granitides potssicos do Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria. Os granitos foliados subalcalinos do Bloco Carajs so representados pelo Granito Old Salobo (Lindenmayer et al. 1994), Complexo Grantico Estrela (Barros et al. 1997), Granito Planalto (Huhn et al. 1999) e pelos granitides foliados da regio do

rio Itacainas (Souza et al. 1995) (Fig. 1). As idades desses granitos esto situadas no intervalo entre 2,76 e 2,52 Ga. O Complexo Grantico Estrela mostra muitas similaridades com o Granito Old Salobo. Ambos so subalcalinos e tm altas razes Fe/ Mg, tanto em rocha total como em minerais. Apesar das similaridades geoqumicas entre o Granito Old Salobo e o Complexo Grantico Estrela, o ltimo revelou idade Pb-Pb em zirco bem maior (2.763 7 Ma, Barros et al. 2000), demonstrando que no so contemporneos. Por outro lado, a idade do Complexo Grantico Estrela no muito distinta das obtidas para a Sute Plaqu e Granito Planalto (Tab. 1). ASPECTOS GEOLGICOS DOS GRANITIDES DA REGIO DE XINGUARA Consideraes Gerais O mapeamento geolgico executado na regio de Xinguara (Leite 2001) revelou a existncia de unidades arqueanas e proterozicas. O mapa geolgico (Fig. 2) apresenta diversas modificaes em relao aos divulgados anteriormente (Leite & DallAgnol 1997, Leite et al. 1999). Os granitides TTG, enquadrados informalmente por Leite & DallAgnol (1997) nos tonalito-trondhjemitos gnissicos do Complexo Xingu, foram mais bem definidos por Leite (2001) e Leite et al. (2001) e formalmente denominados de Tonalito Caracol. Os granitides trondhjemtico-granodiorticos, identificados inicialmente na poro norte do Granito Xinguara, so denominados de Trondhjemito gua Fria . Este abrange grande parte das pores norte e nordeste da rea mapeada, estendendose at o limite com o Greenstone Belt de Sapucaia (Fig. 2). Ele intrusivo na seqncia nas rochas que compem o Greenstone Belt de Sapucaia e no Tonalito Caracol, pois engloba enclaves dessas unidades. Sua relao com o Granito Xinguara, tal como definida inicialmente por Leite & DallAgnol (1997), de contemporaneidade, tendo em vista as evidncias estruturais e a ausncia de enclaves do Trondhjemito gua Fria no Granito Xinguara. O Granodiorito Rio Maria na regio de Xinguara muito similar, tanto petrogrfica como geoquimicamente, ao descrito na rea tipo (Medeiros & DallAgnol 1988) e em outras reas (Souza 1994, Althoff et al. 1995, 2000), justificando plenamente a sua correlao com o mesmo (Leite 2001 e Leite et al. 2001). Seu posicionamento estratigrfico a nvel regional bem definido. intrusivo nos greenstone belts, no Tonalito Arco Verde e cortado pelo Trondhjemito Mogno (Huhn et al. 1988, Souza et al. 1990). Na regio de Xinguara intrusivo no Tonalito Caracol, sendo cortado pelo Trondhjemito gua Fria e pelo Granito Xinguara. Alm das unidades mencionadas, h corpos plutnicos, representados pelo Granito Manda Saia, e diques mficos e flsicos, correlacionados ao magmatismo paleoproterozico presente na regio. Descrio das Unidades Geolgicas TONALITO CARACOL Ocorre em trs domnios principais na regio de Xinguara (Fig. 2). No domnio NW est limitado a norte pelo Greenstone Belt de Sapucaia, a oeste pelo Granodiorito Rio Maria, a leste pelo Trondhjemito gua Fria e a sul pelo Granito Xinguara. Sua estruturao marcada por um bandamento orientado na direo N-S, levemente ondulado, com mergulhos fortes a verticais. O bandamento afetado por bandas de cisalhamento dctil dextrgiras, orientadas na direo NE-SW. Nas pores SW e sul da rea mapeada o Tonalito Caracol ocorre definindo umaRevista Brasileira de Geocincias, Volume 34, 2004

450

Albano Antonio da Silva Leite et al.

5000'W

4950' W7 0

4940' W

GBS

GBSR ib e iro g ua Fria

S apuc aia

N

# Faz. g ua Fria A L -2 1 0 C 5 5

7 5

1 2# F az . M a gn ol nd ia

4 0 6 0 8 0 5 3 7 0 7 5da O

gua Fria700'S M JL -9 B1 0 5 0 5 5 7 0 5 5

6 0 7 0 5 6

6 5

6 0 6 0 4 5 5 6 7 0 # Fa z. S o Jo rg e 6 0

5 1 8

A L -1 6 3

1 9

C r re go n a

7 0

1 8 1 8

X N -34

X ing ua rinh a 5 2 3

# Fa z. E sta o l

A L -6 07 0 7 5 7 5

Placa de S o Francisco

XinguaraA L -2 1 6R ib ei r o

5 0 7 5 4 5 6 0 4 5 7 0 5 0 # Fa z. V otu p ora ng aMa ri a

5 8

G BI G BI710'S

A L -2 1 4

5 3

4 5 6 5 4 5 # Fa z. B arr eiro P re to

z in

ha

G BI

P a le o p r o te ro z ic o D iq ues B sico s e F ls icos

4 kmS m b o lo s70 F olia o e/ou b an da me nto C ida de e Vila s F olia o m ilo ntica L ine a o m in era l Z on a de c isa lh am en to d e ba ixo n gulo18

+ +

G ranito M anda S aia A rq u e a n o G ranito X ingu ara Tron dhjem ito gua F ria5

18 5

# F a z.

F aze nd as E nclav e to naltico-tro nd hje m tic o E nclav e m eta b sic o E nclav e m ic ceo A L-21 0C - A m os tra s da tad as

X X

G ranodiorito R io M aria C om p lexo To naltico C aracol G reenston e Belt de S apucaia ( G B S) e Identidade ( G B I)

Z on a de c on ce ntrao d e de form a o C on tato ge ol gico D ren ag em

Figura 2 Mapa geolgico da regio de Xinguara (Leite 2001). faixa orientada na direo NW-SE, sendo limitado a norte pelo Granito Xinguara e Granodiorito Rio Maria e a sul pelo Granodiorito Rio Maria. No domnio SW a estruturao do Tonalito Caracol marcada por numerosas zonas de cisalhamento de direo NW-SE, com mergulhos suaves (20o) para SW. As rochas so marcadas por uma acentuada foliao milontica, acompanhada de uma lineao mineral subhorizontal que mergulha para NW. No domnio sul domina uma estruturao marcada por um bandamento, similar ao observado no setor NW, porm orientado na direo NW-SE a WNW-ESE. GRANODIORITO RIO MARIA Ocorre em grande parte da poro sul da rea e em um pequeno corpo aflorante a oeste (Fig. 2). marcante a sua homogeneidade, verificada tanto por uma textura granular mdia, quanto pela colorao cinza clara com tons esverdeados, devidas essencialmente aos cristais de plagioclsio saussuritiza-dos. Possui uma foliao paralela orientao regional NW-SE a WNW-ESE, com mergulho de cerca de 60o para SW, a qual varia localmente de no penetrativa a penetrativa. Enclaves mficos achatados de tamanhos variados so comuns. Dispem-se paralelamente aos planos da foliao do Granodiorito Rio Maria. Na poro oeste da rea, a foliao apresentada pelo Granodiorito Rio Maria acompanha o contorno do Granito Xinguara e seus mergulhos so ora para NW, ora para NE.Revista Brasileira de Geocincias, Volume 34, 2004

TRONDHJEMITO GUA FRIA Aflora por toda poro nordeste da rea (Fig. 2). Possui bandamento levemente ondulado, orientado na direo NW-SE a WNW-ESE, com mergulhos subverticais a verticais. Prximo do contato com o Granito Xinguara seus mergulhos so de 60o para sul e SW, ou para NE (Fig. 2). Contm, localmente, enclaves mtricos do Tonalito Caracol. O Trondhjemito gua Fria cortado por diques e veios leucogranticos relacionados ao Granito Xinguara. Tanto os diques e veios do Granito Xinguara quanto as bandas do Trondhjemito gua Fria encontram-se dobrados, indicando um baixo contraste de viscosidade entre ambos quando do dobramento e, provavelmente, uma diferena de idade no muito significativa. GRANITO XINGUARA Ocupa a parte central da rea mapeada. O pluton Xinguara constitui um corpo de forma alongada com eixo maior orientado sub-concordantemente ao trend WNW-ESE regional (Fig. 2). Em termos estruturais, nas variedades mais grossas a foliao ausente, ou incipiente, tendendo a ser mais pronunciada ao longo do contato sul, onde h a incidncia de zonas de deformao mais intensa, as quais so responsveis pela brusca reduo da granulao e forte orientao mineral no Granito Xinguara e, provavelmente, tambm nas encaixantes. A foliao nesta poro possui orientao geral WNW-ESE com

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Geologia e geocronologia dos granitides arqueanos da regio de Xinguara (PA) e suas implicaes na evoluo do terreno granito-greenstone de Rio Maria, Crton Amaznico

mergulhos fortes (>85). GEOCRONOLOGIA POR EVAPORAO DE Pb EM MONOCRISTAIS DE ZIRCO As anlises isotpicas, realizadas atravs do mtodo de evaporao de Pb em monocristais de zirco, foram efetuadas no Laboratrio de Geologia Isotpica do CG/UFPA. A metodologia utilizada nas anlises foi quela desenvolvida por Kber (1986). As anlises foram feitas num espectrmetro de massa de ionizao termal modelo FINNIGAN MAT 262. Por esse mtodo, o zirco analisado no estado slido e as idades 207Pb/206Pb obtidas podem ser consideradas como idades mnimas ou como idades representativas da cristalizao do mineral. Informaes mais detalhadas sobre a aplicao desta metodologia encontram-se em Kber (1986) e Gaudette et al. (1998). Os resultados so apresentados com desvios de 2 e as correes do Pb comum so feitas mediante uso do modelo de evoluo do Pb em estgio duplo proposto por Stacey & Kramers (1975), utilizando a razo 204Pb/206Pb medida. A separao cartogrfica e petrogrfica das unidades permitiu selecionar amostras representativas de cada corpo, de modo a determinar as suas idades e testar, por um mtodo independente, a estratigrafia deduzida com base nas relaes de campo e feies estruturais. Foram datadas as amostras AL-216, AL-163, AL-210C, MJL-09B, AL-60 e XN-34 (Fig. 2). As trs primeiras correspondem a trs pontos de amostragem do Tonalito Caracol, a quarta ao Trondhjemito gua Fria e as duas ltimas a dois pontos de amostragem no Granito Xinguara. Alm das idades obtidas com estas amostras tambm ser discutida a idade obtida em quartzo-diorito associado ao Granodiorito Rio Maria (AL-214), j apresentada por DallAgnol et al. (1999). Procedimentos Analticos e Tratamento dos Dados As amostras foram pulverizadas e peneiradas nas fraes granulomtricas de 250-170, 170-125, 125-60 e < 60 m. As amostras com maior volume relativo foram tratadas inicialmente no elutriador, visando uma primeira concentrao dos minerais pesados. Em seguida, os minerais ferromagnticos foram extrados com auxlio de um separador Frantz Isodynamic. Nessa etapa, o separador magntico foi ajustado para um ngulo de 25o de inclinao longitudinal, 10o de inclinao lateral e amperagem variando entre 0,5 e 1,5A. Para a obteno de um concentrado mais rico em zirco, a frao no magntica obtida no separador Frantz foi tratada com lquido pesado (bromofrmio) e, em seguida, os cristais de zirco foram selecionados por triagem manual sob lupa binocular. Os cristais selecionados para anlise foram preferencialmente aqueles sem evidncias de metamictizao, sem incluses ou fraturas. Entretanto, quando a quantidade desses cristais insuficiente, foram analisados cristais com essas caractersticas. Por fim, os cristais selecionados foram aprisionados em filamentos de rnio, para subseqente introduo no espectrmetro de massa. A tcnica analtica empregada no espectrmetro FINNIGAN MAT 262 utiliza dois filamentos posicionados frente a frente, sendo um filamento de evaporao, o qual contm um cristal de zirco, e um filamento de ionizao, a partir do qual o Pb analisado. O filamento de evaporao aquecido gradativamente em temperaturas preestabelecidas, que constitu-

em as etapas de evaporao. Normalmente so realizadas trs etapas de evaporao (1450oC, 1500oC e 1550oC). Mais raramente, dependendo da quantidade de Pb que o cristal contm, podem ser realizadas at cinco etapas de evaporao. Durante cada etapa de evaporao, que dura aproximadamente 5 minutos, ocorre a liberao do Pb do retculo cristalino do zirco. Esse Pb deposita-se imediatamente no filamento de ionizao, o qual mantido em temperatura ambiente. Em seguida, o filamento de evaporao desligado e o filamento de ionizao aquecido a uma temperatura em torno de 1050oC, quando o Pb ali depositado ionizado. As intensidades das emisses dos diferentes istopos de Pb podem ser medidas de duas formas: a primeira, para baixa intensidade de sinal, com monocoletor (um contador de ions), segundo uma varredura na seguinte seqncia de massas: 206, 207, 208, 206, 207 e 204. A segunda, para alta intensidade, feita em multicoletor (contador de ions e caixas de Faraday), segundo uma varredura na seguinte seqncia de massas: 206, 207, 208 e 204. Em ambos os modos, cada conjunto de 10 varreduras define um bloco. Um bloco obtido no contador de ions fornece 18 razes 207Pb/206Pb e no multicoletor, 10 razes 207Pb/ 206 Pb. A partir das mdias das razes 207Pb/206Pb dos blocos, define-se uma idade para cada etapa de evaporao. Em cada etapa de evaporao so obtidos, em geral, at cinco blocos de dados nas anlises em monocoletor e dez nas anlises em multicoletor. A mdia das razes 207Pb/206Pb desses blocos define uma idade correspondente para cada etapa. Esses dados so representados em diagrama Idade (Ma) versus Etapas de evaporao. As idades obtidas nas diferentes etapas de evaporao podem apresentar diferentes valores, sendo que, normalmente, observa-se um aumento nas idades no sentido das etapas de mais alta temperatura. Quando isto ocorre, so consideradas apenas as idades obtidas nas temperaturas mais altas pois, neste caso, o Pb analisado proveniente das pores do cristal de zirco com maior capacidade de reteno de Pb, e, portanto, as idades so teoricamente mais representativas daquelas de cristalizao do mineral. Os dados obtidos so tratados estatisticamente segundo critrios metodolgicos estabelecidos no laboratrio. Resultados Geocronolgicos TONALITO CARACOL As amostras desta unidade geolgica representam seus diferentes domnios estruturais: a amostra AL-216 do domnio sul da rea, onde se tem um bandamento de orientao WNW-ESE; a amostra AL-163 do domnio SW, onde h a incidncia de zonas de cisalhamento de baixo ngulo e a amostra AL-210C do domnio NW, onde h registros de estruturas bandadas de direo N-S. Os pontos de coleta podem ser localizados na Fig. 2. Os cristais de zirco destes biotita-tonalitos a trondhjemitos do Tonalito Caracol mostram uma colorao que varia de rosado a castanho claro, geralmente translcidos a transparentes, com certo brilho adamantino, hbito prismtico bipiramidal, multifacetados, com arestas retas e uniformes; alguns so zonados, sem incluses e com poucas fraturas em seus ncleos. A Tabela 2 resume os resultados das anlises isotpicas do Pb nos cristais de zirco das trs amostras estudadas. Um conjunto de 5 cristais da amostra AL-216, forneceu idade de 2.948 5 Ma (2, Fig. 3a); 6 cristais da amostras AL-163 forneceram idade de 2.936 3 Ma (2, Fig. 3b) e 7 cristais da amostra AL-210C forneceram idade de 2.924 2 Ma (2, Fig. 3c). GRANODIORITO RIO MARIA Esta unidade j havia sido

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Revista Brasileira de Geocincias, Volume 34, 2004

Albano Antonio da Silva Leite et al.

Tabela 2 - Resultados das anlises dos cristais de zirco das amostras do Tonalito Caracol e do Granito Xinguara.Zirco AL-216/1 AL-216/2 AL-216/8 AL-216/12 AL-216/14 Total AL-163/3 AL-163/5 AL-163/6 AL-163/8 AL-163/9 ALF-163/11 Razes Utiliz./ Total 54 70 32 96 86 338 70 36 88 88 88 14 78 462 52 90 84 84 88 18 94 90 93 52 84 88 917 18 93 96 84 57 348 AL-216 Tonalito Caracol do domnio S 208 207 Pb/206Pb Pb/206Pb Pb/206Pb 2 2 2 0,0000787 0,0750779 0,2173333 0,00007333 0,0857539 0,2174554 0,00008018 0,07241157 0,21652122 0,0000271 0,0634044 0,2155449 0,0000753 0,0667644 0,2158229204

(207Pb/206Pb)c 2 0,2164636 0,2166385 0,2156499 0,2152249 0,2149628 Idade mdia 0,2133926 0,2135661 0,2133528 0,2141735 0,2148128 0,21407104 0,2141731 Idade mdia 0,2123049 0,2129032 0,2124627 0,2128329 0,2131034 0,2126588 0,2122917 0,2118825 0,2118532 0,2120746 0,2123925 0,2119433 Idade mdia 0,2037279 0,2047316 0,2047316 0,2050326 0,2049237 Idade mdia

Idade (Ma) 2.9553 2.9566 2.9497 2.9464 2.9442 29485 2.9322 2.9335 2.9312 2.9383 2.9422 2.9378 2.9382 29363 2.9244 2.9282 2.9252 2.9282 2.9303 2,9267 2.9231 2.9202 2.9202 2.9224 2.9242 2.9212 2924 2 2.8566 2.8651 2.8651 2.8672 2.8663 28651

AL-163 Tonalito Caracol do domnio SW 0,0000272 0,06453189 0,2137126 0,00005015 0,1164650 0,2141660 0,0000262 0,0904121 0,2136628 0,0000224 0,1376241 0,2144135 0,0000283 0,0774733 0,2152029 0,00021664 0,0973365 0,2165873 0,0000321 0,1140641 0,2145531 AL-210C - Tonalito Caracol do domnio NW 0,0000126 0,0915953 0,2124748 0,0000213 0,0883025 0,2131531 0,0000302 0,0558375 0,2128227 0,0000382 0,0640317 0,2132429 0,0000021 0,0589728 0,2131434 0,00004910 0,0904666 0,2132288 0,0000261 0,0965321 0,2125917 0,0000303 0,0914434 0,2122525 0,0000261 0,0899439 0,2121532 0,0000403 0,0966255 0,2125444 0,0000384 0,0858321 0,2128725 0,0000331 0,0857927 0,2123333 Amostras AL-60 e XN-34 - Granito Xinguara 0,00002702 0,11874073 0,20404079 0,00002201 0,11920018 0,20499016 0,00001901 0,00784010 0,20496016 0,00006103 0,20012055 0,20582026 0,00006702 0,20085070 0,20572037

AL-210/1 AL-210/3 AL-210/5

AL-210/7 AL-210/10 AL-210/14

AL-210/15 Total AL-60/6 AL-60/8 XN-34/17 Total

Tabela 3 - Resultados das anlises dos cristais de zirco das amostras do Trondhjemito gua Fria.Zirco Ml-09B/1 Ml-09B/2 Ml-09B/3 Ml-09B/5 Ml-09B/7 Ml-09B/10 Ml-09B/13 (207Pb/206Pb)c 0,2013180,00073 0,2018730,002053 0,1992190,000745 0,2107560,004343 0,1949900,002004 0,2082690,000625 0,2059230,000403 Idade mdia * Idade com correo contempornea. # Idade sem correo de Pb 204.204 Pb/206Pb 0,0001280,000041 0,0001690,000024 0,0000970,000015 0,0000320,000124 0,0001480,000022 0,0002480,000023 0,0000450,000011 207 Pb/206Pb 0,2038810,0006 0,2051390,002035 0,2017040,000698 0,2143060,003603 0,1963990,001957 0,2101930,000583 0,2065890,00038

Idade(Ma)# 285810 287132 284111 294354 280033 290809 287906

Idade(Ma)* 283712 284532 282112 291654 278834 289310 287406 2864 21

datada em sua regio tipo, prximo da cidade de Rio Maria (Macambira 1992). Na regio de Xinguara, a amostra coletada de um corpo de quartzo-diorito relacionado ao Granodiorito Rio Maria que aparece no contato do Granodiorito Rio Maria e Tonalito Caracol, aproximadamente 3,5 km a sul de Xinguara, na margem leste da PA-150. A amostra AL-214, que corresponde a este quartzo-diorito, foi analisada por DallAgnol et al. (1999). Desta amostra os referidos autores selecionaram e dataram 5 cristais de zirco, os quais forneceram uma idade mdia de 2.878 4 Ma (Fig. 4a). TRONDHJEMITO GUA FRIA Foi datada uma amostra do

Trondhjemito gua Fria (MJL-09B), coletada a cerca de 1 km a sul de sua seo tipo, a 18 km a NE de Xinguara, na margem leste da PA-150 (Fig. 2). Trata-se de uma rocha de composio trondhjemtica, cuja estruturao principal um marcante bandamento composicional de origem magmtica, orientado na direo NW-SE a WNW-ESE. O seu aspecto textural primrio encontra-se preservado. Dessa amostra foram analisados 7 cristais de zirco, os quais forneceram uma idade mdia de 2.864 21 Ma (Tabela 3, Fig. 4b). GRANITO XINGUARA Em virtude das dificuldades de se extrair cristais de zirco deste granito foram utilizadas duas amos-

Revista Brasileira de Geocincias, Volume 34, 2004

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Geologia e geocronologia dos granitides arqueanos da regio de Xinguara (PA) e suas implicaes na evoluo do terreno granito-greenstone de Rio Maria, Crton Amaznico1 2975 2 5 6 8 9 11 12 13 14

a

Id a de (M a)

2925

2875

A L-216 Id ade : 2 .94 8 5 M a (2 )2825

1 296 0

2

3 4

5

6

7

8

9 10

11

12

b

maior grau de metamictizao. As etapas de mais alta temperatura dos cristais selecionados mostraram uma idade de 2.865 1 Ma (Tabela 2, Fig. 4c). Com objetivo de melhorar a confiabilidade da idade obtida para o Granito Xinguara foram analisados adicionalmente 5 cristais de zirco da amostra XN-34. Os cristais desta amostra so morfologicamente similares aos da amostra AL-60, porm bem menores. As etapas de mais alta temperatura dos cristais 15 e 17 (Tabela 2) mostraram uma idade mdia de 2.866 2 Ma, idade com valor bem prximo daquela obtida para a amostra AL-60. O diagrama da Fig. 4c mostra os resultados das anlises das duas amostras. Os cristais 6 e 8 (AL-60) e 15 e 17 (XN-34) definem uma idade mdia de 2.865 1 Ma (Fig. 4c). Na amostra AL-60, as etapas de mais alta temperatura dos cristais 4, 5 e 10 forneceram uma idade bem maior de 2.928 2 Ma (Fig. 4d) e mostram que certos cristais do Granito Xinguara possuem uma histria um pouco mais complexa, como adiante discutido. DISCUSSO E INTERPRETAO DOS RESULTADOS Os dados geocronolgicos obtidos pelo mtodo de evaporao de Pb em monocristais de zirco (Pb-Pb em zirco) fornecem, em geral, valores similares s idades fornecidas pelo mtodo U-Pb em zirco (Andsdell & Kyser 1991, Macambira & Lafon 1995, DallAgnol et al. 1999). A rigor, as idades Pb-Pb em zirco devem ser consideradas como idades mnimas de cristalizao dos zirces analisados. Porm, na regio de Rio Maria e em outras reas do Crton Amaznico, as idades obtidas pelo mtodo U-Pb em zirco (Machado et al. 1991, Macambira 1992, Pimentel & Machado 1994) se superpem aos valores fornecidos pelo mtodo de evaporao de Pb em zirco. Desta forma, acredita-se que as idades obtidas pelo mtodo Pb-Pb por evaporao de zirco podem ser perfeitamente interpretadas como indicativas das idades de cristalizao dos zirces na rea em foco. Com base nas informaes acima, pode-se considerar que as idades obtidas pelo mtodo de evaporao de Pb em monocristais de zirco, para os granitides da regio de Xinguara, correspondem s idades de cristalizao dos cristais analisados e, conseqentemente, excetuando o caso de possveis zirces herdados ou xenocristais, s idades de colocao das rochas que os contm. As idades obtidas esto sumarizadas na Tabela 4. Estes dados so coerentes, em linhas gerais, com a ordem de colocao dos corpos a partir de relaes estratigrficas e feies estruturais observadas em campo. Todos os cristais de zirco analisados das amostras do Tonalito Caracol foram considerados como de origem magmtica e as idades obtidas seriam, seguindo o raciocnio exposto acima, consideradas como idades de cristalizao e, conseqentemente, de colocao das rochas que os contm. Entretanto, idades obtidas nos diferentes domnios do Tonalito Caracol (2.948 5 Ma - AL216, 2.936 3 Ma - AL-163 e 2.924 2 Ma - AL-210C), mostram diferenas expressivas, pois no se superpem, quando se consideram os erros analticos, que so muito baixos. Isto no facilmente explicvel, pois no se dispe de evidncias conclusivas que justifiquem a separao dessas rochas. Uma hiptese plausvel seria a de que este tonalito foi formado por intruses que se sucederam em um tempo relativamente curto (2.948 a 2.924 Ma), mas com diferenas ainda detectveis pela mtodo utilizado. Neste caso, o Tonalito Caracol no corresponderia a uma, mas vrias intruses, no rigorosamente sincrnicas, que posteriormente seriam afetadas por deformao coaxial e justapostas. Uma outra hiptese seria admitir que as idades obtidas em uma ou mais dasRevista Brasileira de Geocincias, Volume 34, 2004

Id a d e (M a )

292 0

288 0

A L-16 3 Id ad e: 2.9 36 3 M a (2 )

1 297 5

3

5

7

10

14

15

c

Id a d e (M a )

292 5

287 5

282 5

A L -2 1 0C Id a d e : 2.9 24 2 M a (2 )E ta p a s d e e va p ora o

Figura 3 Diagramas Idade vs. Etapas de evaporao de anlises de cristais de zirco de amostras do Tonalito Caracol: (a) AL-216, (b) AL-163 e (c) AL-210C. Crculos cheios bloco de razes isotpicas utilizadas para o clculo da idade; quadrados vazados bloco eliminado subjetivamente; desvio analtico 2. tras. A amostra AL-60 foi coletada a 4 km a NE da sede do municpio de Xinguara, enquanto a XN-34, a cerca de 10 km a norte da cidade (Fig. 2). As amostras representam leucomonzogranitos de granulao mdia e cor rosa claro. O granito possui uma foliao no penetrativa e macroscopicamente aparenta ser pouco a no deformado. Ao microscpico, o aspecto textural mais marcante uma recristalizao moderada a forte dos feldspatos e do quartzo. A amostra AL-60 forneceu poucos cristais de zirco e destes, apenas 12 foram selecionados para anlise. Os cristais analisados so em parte similares aos descritos nas amostras do Tonalito Caracol, diferindo dos mesmos por serem menores e por terem colorao castanha mais acentuada, refletindo certamente um

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Albano Antonio da Silva Leite et al.

A L -2 14 Idad e: 2 .8 78 4 M a (2 )290 0

a

380 0

340 0

Ida de (M a)

Id a de (M a)286 0

300 0

260 0

220 0

1

2

3

4

5 0297 5

E ta pas d e evap orao

20

40

60 80 N m e ro de b lo co s

100

12 0

140

292 5

Ida d e (M a )

Ida de (M a )

287 5

282 5

E ta pas d e evap orao

E ta pas d e evap orao

Figura 4 - Diagrama Idade vs. Etapas de evaporao dos cristais de zirco do: (a) Granodiorito Rio Maria, (b) Trondhjemito gua Fria, (c) e (d) Granito Xinguara. Smbolos como na Fig. 3. Tabela 4 - Sntese das idades de rochas granitides da regio de Xinguara.Amostra AL-216 AL-163 AL-210C AL-214 MJL-09B AL-60 + XN-34 Unidade Geolgica Tonalito Caracol domnio S Tonalito Caracol - domnio SW Tonalito Caracol domnio NW Quartzo-diorito Rio Maria Trondhjemito gua Fria Granito Xinguara No de gros 5 6 7 5 7 4 Idade (Ma) 2.948 5 2.936 3 2.924 2 2.878 4 2.864 21 2.865 1

amostras datadas no correspondem rigorosamente s idades de cristalizao, sendo de fato idades mnimas, muito prximas das idades de cristalizao, resultante de perdas parciais de Pb radiognico. Esta possibilidade tem como base os sinais de metamictizao observados em alguns dos cristais analisados. A idade obtida na amostra AL-216 do Tonalito Caracol de 2.948 5 Ma, se superpe, dentro do erro, com a idade de cristalizao e colocao obtida para o Tonalito Arco Verde (2.957 +/25 Ma, U-Pb em zirco, Macambira 1992). Ela um pouco inferior idade dos gnaisses Tonalitos do Complexo Xingu na regio de So Flix do Xingu (2.972 16 Ma, Avelar et al. 1999). Isto sugere que a cristalizao e colocao do Tonalito Caracol na regio de Xinguara foi concomitante com a do Tonalito Arco Verde e, que a colocao dos granitides TTG na regio de So Flix do Xingu poderia ter se dado um pouco mais cedo. Por fim, vale ressaltar que estas idades ratificam a existncia de um inRevista Brasileira de Geocincias, Volume 34, 2004

tenso magmatismo TTG Arqueano no Terreno GranitoGreenstone de Rio Maria no perodo de 2.979 a 2.924 Ga (p. ex. Pimentel & Machado 1994, Macambira & Lafon 1995, Macambira & Lancelot 1996, DallAgnol et al. 1997, Avelar et al. 1999, Althoff et al. 2000, Leite et al. 2001). A idade de 2.936 3 Ma obtida para a amostra AL-163, pode ser admitida como sendo de cristalizao e colocao do Tonalito Caracol no domnio SW da rea. Como a deformao imposta a esta rocha foi processada depois de sua completa cristalizao e a instalao das zonas de cisalhamento foi anterior colocao do Granito Xinguara, como discutido por Leite (2001) e Leite et al (2001), pode-se inferir que a instalao das referidas zonas deuse no intervalo de tempo entre 2.936 Ma e 2.865 Ma (idade de cristalizao e colocao do Granito Xinguara). A presena destas zonas de cisalhamento poderia ser um indicativo de uma mudana no regime tectnico regional de vertical para horizon-

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tal. O Granodiorito Rio Maria possui idade de cristalizao e colocao de 2.874 +9/-10 Ma (U-Pb em zirco, Macambira 1992). Esta idade foi posteriormente confirmada por Pimentel & Machado (1994) (Tabela 1). Na rea em estudo, DallAgnol et al. (1999) obtiveram em uma amostra de quartzo-diorito associado ao Granodiorito Rio Maria uma idade Pb-Pb em zirco de 2.878 4 Ma, considerada como de cristalizao e colocao. Vale salientar que a idade obtida por eles similar s demais obtidas para o Granodiorito Rio Maria, o que confirma que o quartzodiorito e o Granodiorito Rio Maria so contemporneos. O Trondhjemito gua Fria mostrou idade de cristalizao e colocao de 2.864 21 Ma, similar obtida para a cristalizao e colocao do Granito Xinguara de 2.865 1 Ma. Estas idades so perfeitamente compatveis com a ordem de colocao dos corpos proposta a partir das relaes de campo, discutidas anteriormente, que indicam que estas rochas so contemporneas e intrusivas no Tonalito Caracol. importante ressaltar que, num intervalo de tempo muito curto de cerca de 15 Ma, a regio de Rio Maria foi palco de intensa atividade magmtica, ocorrendo um magmatismo de afinidade clcico-alcalina rico em Mg , seguido de um magmatismo trondhjemtico TTG mais jovem do que o Tonalito Caracol e de um magma grantico clcio-alcalino fortemente fracionado . A idade do Trondhjemito gua Fria similar s idades obtidas por Pimentel & Machado (1994) para o Trondhjemito Mogno e o Tonalito Paraznia (Tabela 1). A idade do Granito Xinguara tambm similar s obtidas para o Granito Mata Surro (2.872 10 Ma, Pb-Pb em rocha total, Rodrigues et al. 1992; 2.871 7 Ma, Pb-Pb em zirco, Althoff et al. 2000). A semelhana de idades entre estes granitos sugere que ambos se relacionam a um mesmo evento regional. O mesmo indicaria a estabilizao tectnica do Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria ainda antes do final do Arqueano, o que no comum em outros crtons arqueanos, como Pilbara (Austrlia), Dharwar (India) e Kaapvaal (frica) (Ridley 1992, Sylvester 1994). A idade de 2.928 2 Ma, encontrada em alguns cristais de zirco da amostra AL-60 do Granito Xinguara, est bem prxima da obtida para o Tonalito Caracol no domnio NW da rea (AL-210C), o que leva a concluir que se trata possivelmente de cristais herdados daquele tonalito. Isto sugere que o Tonalito Caracol possa ter servido de fonte do magma que originou o Granito Xinguara (Leite 2001, Leite et al. 2001). CONCLUSES E CONSIDERAES FINAIS Sobre a Estratigrafia da Regio de Xinguara A partir da integrao dos dados geolgicos, estruturais e geocronolgicos, possvel consolidar uma proposta de estratigrafia para a regio de Xinguara, limitada a norte pelo Greenstone Belts de Sapucaia (Oliveira et al. 1995) e a sul pelo Greenstone Belts de Identidade (Souza et al. 2001). Enclaves e mega-enclaves de greenstone ocorrem no Tonalito Caracol, indicando que a colocao dos tonalitos deste complexo foi posterior formao dos greenstone belts. O Tonalito Caracol o granitide Arqueano mais antigo da regio de Xinguara, pois cortado pelos demais granitides. Ele gerou idades que variam de 2.948 5 a 2.924 2 Ma. Aps um perodo de cerca de 50 Ma sem registro de formao de rochas, deu-se a intruso do Granodiorito Rio Maria. Huhn et al. (1988) e Souza et al. (1990) relatam a presena de enclaves de greenstone no granodiorito, bem como evidncias de metamorfismo de contato nos greenstone belts causados pela

intruso do Granodiorito Rio Maria. As idades coincidentes obtidas para esta unidade por diferentes mtodos (ca. 2.87 Ga) tambm atestam que a sua formao foi posterior a dos greenstone belts e do Tonalito Caracol. Cerca de 10-12 Ma aps a colocao do Granodiorito Rio Maria, houve a colocao do Trondhjemito gua Fria e do Granito Xinguara. Estes ltimos so intrusivos nos greenstone belts, no Tonalito Caracol e no Granodiorito Rio Maria, como atestam as relaes de campo, inclusive enclaves destas unidades que so encontrados com certa freqncia dentro do Trondhjemito gua Fria e do Granito Xinguara. As idades obtidas para estas duas unidades (~2.86 Ga) confirmam sua relao de contemporaneidade, j evidenciada pelos dados estruturais. Finalmente, decorridos aproximadamente 1,0 Ga, j no final do Paleoproterozico, houve a intruso de corpos granticos anorognicos, que na regio de Xinguara so representados pelo Granito Manda Saia. Diques mficos e flsicos, contemporneos deste magmatismo (Rivalenti et al. 1998, Silva Jr. et al. 1999), cortam todas as unidades anteriormente citadas. Sobre a Tectnica Arqueana de Xinguara As relaes de campo e os dados isotpicos Pb-Pb por evaporao de zirco indicam dois perodos importantes de atividade tectnica e formao de rochas granitides arqueanas na regio de Xinguara: (i) 2.948 5 a 2.924 2 Ma: gerao, colocao e deformao do Tonalito Caracol, correlacionado ao Tonalito Arco Verde e aos granitides TTG da regio de So Flix do Xingu. As idades obtidas confirmam um intenso magmatismo TTG Arqueano no Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria no perodo de 2,97 a 2,92 Ga; (ii) 2.878 4 a 2.865 1 Ma, gerao, colocao e deformao em um curto perodo de tempo (10-15 Ma) do Granodiorito Rio Maria, Trondhjemito gua Fria e do Granito Xinguara, cerca de 50 Ma aps a formao dos ltimos granitides TTG. O mais antigo destes perodos (> 2,95 a 2,91 Ga) mostra vrias analogias com a evoluo dos crtons Pilbara (Autrlia) e Dharwar (ndia) (Choukroune et al. 1997). Neste perodo foi formado um terreno a base de domos TTG e bacias greenstone belts, associado com um tectnica dominantemente vertical. Na segunda (a partir de 2,88 Ga) vrios granitides geneticamente diferentes formaram-se em um curto espao de tempo, indicando mudanas nos processos de formao da crosta continental. Incluem-se a leucogranitos de derivao crustal, os quais marcam a estabilizao crustal do Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria a ~2,86 Ga, bem antes do final do Arqueano, ao contrrio do que se verifica em outros crtons. Neste estgio dar-se-ia o espessamento e estabilizao da crosta, que se tornaria mais rgida. A partir da o processo de convergncia e subduco de placas seria mais efetivo. Neste contexto, poderia haver a fuso de um manto enriquecido em elementos incompatveis que geraria o magma parental do Granodiorito Rio Maria. A fuso da crosta ocenica subductante, transformada em granada-anfibolito, geraria o magma dos granitides TTG mais jovens . A fuso em diferentes graus dos granitides TTG localizados na base da crosta poderia gerar os magmas granticos do pluton Xinguara. Agradecimentos Aos pesquisadores do Grupo de Pesquisa Petrologia de Granitides (GPPG-CG-UFPa) em especial aos gelogos C. N. Lamaro e H. T. Costi, pelo apoio nas diversas etapas deste trabalho. Ao Prof. Thomas Scheller, a geloga Clris R. Sachett e ao estudante J. C. Melo pelo apoio nas etapas deRevista Brasileira de Geocincias, Volume 34, 2004

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Albano Antonio da Silva Leite et al.

preparao das amostras, obteno e tratamento dos dados isotpicos. Este trabalho recebeu o apoio financeiro de CNPq (000400038/99 e 463196/00-7), CAPES (bolsa de doutorado para o

primeiro autor) e PROINT/UFPA. Este trabalho uma contribuio ao PRONEX/CNPq (Projeto 103/98 Proc. 66.2103/1998-0). Aos revisores da RBG pelas sugestes ao manuscrito.

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