leite lopes- trabalho visto pela antropologia social

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REVISTA CIÊNCIAS DO TRABALHO VOLUME 1 - NúMERO 1 65 * Antropólogo e professor titular do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio Janeiro - UFRJ. Introdução: a esfera econômica e o trabalho na Antropologia Social O trabalho é estudado tradicionalmente pelos antropólogos em suas monografias sobre grupos indígenas, étnicos, camponeses, de pescadores, de artesãos. Nesses estudos, o trabalho, assim como a esfera econômica em geral, aparece de forma embutida no conjunto da vida social destes grupos sociais “tradicionais”, “pré-capitalistas”. Aí se apresentam em geral o dom e a reciprocidade, a negação ou o obscurecimento do interesse econômico, em benefício da lógica da honra ou do capital simbólico. O dom se mostra como fato social total e o princípio do mercado se subordina aos da reciprocidade e da redistribuição. Nesses estudos, o trabalho pode não ser o tema central de interesse, mas aparecer de forma subordinada a outros aspectos com os quais está interrelacionado. Entre 1950 a 1970, colocou-se para os antropólogos a questão da apli- cação ou da crítica e apropriação dos conceitos da chamada teoria econômi- ca (ela própria atravessada por correntes divergentes) construída para expli- car a economia capitalista, mas tendo a pretensão de abarcar os princípios econômicos em geral, de todas as sociedades. Deu-se então o debate entre os “substantivistas”, que preconizavam a historicidade dos conceitos e a ne- cessidade de novos instrumentos para a análise econômica das sociedades não capitalistas, e os chamados “formalistas”, que atribuíam aos conceitos da teoria econômica um alcance geral, a serem aplicados nas etnografias. Os substantivistas se localizavam em algumas universidades norte-americanas, influenciados pela obra e pelos discípulos do historiador econômico húnga- ro Karl Polanyi, mas depois tiveram uma repercussão importante em todo o O TRABALHO VISTO PELA ANTROPOLOGIA SOCIAL José Sergio Leite Lopes*

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trabalho e antropologia social

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  • Revista CinCias do tRabalhoVolume 1 - Nmero 1

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    O trabalhO vistO pela antrOpOlOgia sOcial

    * Antroplogo e professor titular do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio Janeiro - UFRJ.

    Introduo: a esfera econmica e o trabalho na Antropologia Social

    O trabalho estudado tradicionalmente pelos antroplogos em suas monografias sobre grupos indgenas, tnicos, camponeses, de pescadores, de artesos. Nesses estudos, o trabalho, assim como a esfera econmica em geral, aparece de forma embutida no conjunto da vida social destes grupos sociais tradicionais, pr-capitalistas. A se apresentam em geral o dom e a reciprocidade, a negao ou o obscurecimento do interesse econmico, em benefcio da lgica da honra ou do capital simblico. O dom se mostra como fato social total e o princpio do mercado se subordina aos da reciprocidade e da redistribuio. Nesses estudos, o trabalho pode no ser o tema central de interesse, mas aparecer de forma subordinada a outros aspectos com os quais est interrelacionado.

    Entre 1950 a 1970, colocou-se para os antroplogos a questo da apli-cao ou da crtica e apropriao dos conceitos da chamada teoria econmi-ca (ela prpria atravessada por correntes divergentes) construda para expli-car a economia capitalista, mas tendo a pretenso de abarcar os princpios econmicos em geral, de todas as sociedades. Deu-se ento o debate entre os substantivistas, que preconizavam a historicidade dos conceitos e a ne-cessidade de novos instrumentos para a anlise econmica das sociedades no capitalistas, e os chamados formalistas, que atribuam aos conceitos da teoria econmica um alcance geral, a serem aplicados nas etnografias. Os substantivistas se localizavam em algumas universidades norte-americanas, influenciados pela obra e pelos discpulos do historiador econmico hnga-ro Karl Polanyi, mas depois tiveram uma repercusso importante em todo o

    O trabalhO vistO pela antrOpOlOgia sOcialJos Sergio Leite Lopes*

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    JOs sergiO leite lOpes campo antropolgico1. Formaram-se ali instrumentos e procedimentos para o estudo das sociedades no capitalistas de grande valia para os estudiosos nas Cincias Sociais, historiadores e inclusive economistas.

    J o trabalho nas sociedades capitalistas foi inicialmente estudado por economistas, socilogos e historiadores, mas tornou-se progressivamente do-mnio tambm dos antroplogos ou de uma parte deles. Isso se deu por in-termdio do estudo dos processos de proletarizao ou de subordinao de camponeses e de pequenos produtores diretos (com ou sem caractersticas tnicas na apresentao de suas identidades sociais) esfera capitalista.

    A Antropologia brasileira, como Antropologia feita em casa, anthropolo-gy at home, como agora dizem os ingleses desde o final dos anos 1980, e no mais uma antropologia do ultramar (das colnias e ex-colnias), uma antro-pologia voltada inicialmente para os grupos indgenas em territrio brasilei-ro e em seguida para diferentes grupos, fenmenos e processos sociais que se passam neste territrio. Ela, cedo talvez mais cedo que as antropologias metropolitanas, devido ao peso das tradies acadmicas destas ltimas interessou-se pela Antropologia urbana, das sociedades ditas complexas, e tambm por grupos de trabalhadores industriais.

    A Antropologia brasileira se adiantou em relao a tendncias que s depois a Antropologia dos pases academicamente dominantes seguiria, por uma srie de razes histricas, entre as quais a conjuntura especfica em que se deu o surgimento da ps-graduao em Antropologia Social no pas. Quando do surgimento do primeiro deles, o programa do Museu Nacional da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1968 (e de outros, logo em seguida), o pas encontrava-se sob os efeitos de um regime de ditadura militar, com re-percusses na represso e na censura s atividades unversitrias e, em particu-lar, nas Cincias Humanas, na Sociologia e na Histria (onde havia professores crticos, havia cursos de graduao e movimento estudantil)2. A Antropologia Social nascente se organizou como curso de ps-graduao sem equivalente na graduao (portanto, sem a represso imediata ao movimento estudantil da graduao) e com seu objeto tradicional sobre as sociedades indgenas, ento mais afastado dos temas supostamente perigosos para o Estado. A Antropo-logia Social pde assim contar com mais tranquilidade relativa para voltar-se para problemas gerais da sociedade brasileira pelas suas portas dos fundos, a partir de grupos sociais aparentemente perifricos. Ela pde tambm voltar-se para o estudo dos processos de subordinao e proletarizao do campesina-to, para os impactos sociais do capitalismo sobre diferentes grupos sociais, inclusive de trabalhadores industriais, e assim constituir um novo olhar para o trabalho e os trabalhadores de certa forma diferente do constitudo pela Sociologia industrial do trabalho, que havia sido formada na USP durante os

    1. No Brasil, o livro mais famoso de Polanyi, A Grande Transformao, as origens de nossa poca (The Great Transformation; the origins of our times), que de 1944, foi traduzido em 1980. Uma coletnea com muitos de seus artigos foi publicada recentemente, intitulada A Subsistncia do Homem e ensaios correlatos (POLANYI, 2012). (Meu primeiro artigo publicado examinava a obra de Polanyi, cf. Lopes (1971).

    2. Para uma anlise da histria da criao do PPGAS-MN-UFRJ, ver Garcia Jnior (2009).

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    anos 1960, polo at ento dominante nas Cincias Sociais brasileiras. Nesta conjuntura dos anos 1970 e 1980, os cursos de ps-graduao em Antropo-logia Social puderam atrair para si muitos egressos dos cursos de graduao em Cincias Sociais e tratar de forma original temas at ento canalizados pela Sociologia e Cincias Polticas.

    Esta nova construo de estudos sobre o trabalho e os trabalhadores que iam se desenvolvendo no exame das relaes entre campesinato, trabalhado-res rurais e trabalhadores urbanos, nas pesquisas dos cursos de ps-graduao em Antropologia Social, foram se confrontando com a viso prevalecente da questo da origem rural da classe operria nos centros industriais brasileiros (em particular da rea metropolitana de So Paulo), dando a essa classe especi-ficidades que a distanciariam de suas congneres nos pases centrais, tomados como tipo-ideal e modelo, literatura esta publicada nos anos 1960 e no incio dos anos 1970. Havia uma nfase, na Sociologia do Trabalho da poca, na nova sociedade capitalista urbana moderna que se formava, cujo exemplo maior era a cidade de So Paulo, em detrimento da dinmica de outras regies do pas, e inclusive sobre os processos sociais de formao do prprio proletariado pau-lista. Tal interpretao sobre o enfraquecimento dos trabalhadores industriais brasileiros que se deveria s caractersticas advindas de sua origem rural aca-bava obscurecendo anlises relevantes produzidas por estudos monogrficos dos prprios socilogos paulistas. Esta crtica tese da origem rural da classe operria como algo que a tornava arcaica e incipiente, fez-se, a partir dos anos 1970, atravs do estudo emprico do campesinato, ele prprio, dos traba-lhadores rurais, assim como inicialmente de setores vistos como tradicionais da indstria e dos seus trabalhadores3.

    A alternativa representada por novas pesquisas feitas por antroplogos se fez atravs da valorizao de mtodos etnogrficos, de observao direta, do trabalho de campo prolongado, do contato respeitoso e duradouro com as populaes estudadas, com empatia, com o entendimento de suas repre-sentaes e concepes do mundo. Os mtodos etnogrficos utilizados com sucesso nos estudos de Antropologia Social acabaram se estendendo para ou-tras disciplinas e hoje so comuns em estudos de outras Cincias Humanas.

    Vou relatar algo sobre o estado da Antropologia Social que se interessa sobre os temas do trabalho a partir de minha prpria experincia de pesquisa, que se entrelaa com a de outros colegas prximos, bem como com uma lite-ratura interdisciplinar que apropriada para esta perspectiva.

    A apropriao de uma literatura antropolgica e interdisciplinar para o estudo do trabalho

    Minha experincia de pesquisa baseou-se na comparao entre dois gru-pos sociais de trabalhadores do ponto de vista de sua relao com a histria e a

    3. Ver, em particular, o projeto Emprego e mudana socioeconmica no Nordeste, em que uma primeira anlise concentrada de diversos grupos sociais interrelacionados feita e se discute a noo de situaes-tipo (PALMEIRA, 1977). Ver tambm a apreciao sobre os efeitos desse projeto em Garcia Jnior (2010).

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    JOs sergiO leite lOpes formao de uma memria coletiva. Eles eram grupos menos comuns nos es-tudos antropolgicos, na medida em que eram operrios industriais. Por outro lado, sua posio obscurecida e perifrica s reas industriais centrais do pas, alm da origem rural recente, os aproximava da rbita da investigao etno-grfica. So eles (a) os operrios industriais de usinas de acar (estudados no Nordeste, em Pernambuco, no incio dos anos 1970, e recentemente relacio-nados a informaes secundrias sobre sua atual conformao em escala na-cional); (b) os operrios e as operrias txteis, e suas famlias, em uma fbrica e uma vila operria exemplar, representativa das fbricas dos primeiros 70 anos da industrializao brasileira do sculo XX. Como a apropriao de uma litera-tura existente vai sendo construda de acordo com os fenmenos e processos empricos observados, darei algumas caractersticas do universo investigado na pesquisa, condicionantes de minha aproximao com a bibliografia. Tam-bm mostrarei o entrelaamento de minha pesquisa com as de colegas pr-ximos que so, ao mesmo tempo, uma bibliografia de alcance mais imediato.

    Esses dois grupos estudados sucessivamente e comparados a posteriori apresentam uma relao diferenciada e mesmo polarizada em diferentes con-cepes de histria. Os operrios do acar apresentam uma concepo de um tempo estrutural cclico, alternado por administraes sucessivas4. Devi-do importncia das relaes constitudas no interior de tais administraes, ocorrem periodicamente migraes por equipes ou cliques no mercado de tra-balho das usinas de acar: um mestre ou chefe de seo que sai tende a levar seus homens de confiana para o emprego seguinte. Trata-se de uma histria masculina, em que a famlia operria se apresenta como pano de fundo, de-pendente dos trabalhadores masculinos (pais de famlia). Tal concepo tem todas as aparncias de uma histria fria, sobretudo se comparada com seus vizinhos de processo agroindustrial, os trabalhadores rurais situados na mes-ma rea de plantation. Os operrios do acar, por serem industriais, foram beneficiados pela legislao nacional do trabalho implantada nos anos 1940, durante um perodo de governo ditatorial (que contribuiu para quebrar a re-sistncia patronal a essas medidas) e, em contraste com os trabalhadores da parte rural da plantation (grande maioria excluda desses direitos), eles passa-ram a ocupar uma posio de superioridade relativa na hierarquia das usinas. Ao contrrio, os trabalhadores rurais, moradores e depois trabalhadores de rua, tambm conhecidos como clandestinos, estudados por colegas mais experien-tes que eu na equipe originria de pesquisa a que eu pertencia, tiveram acesso aos direitos trabalhistas 20 anos depois dos operrios, em pleno perodo de-mocrtico e de forte mobilizao social, e que logo depois foram alvo principal, na rea canavieira, da represso por parte da nova ditadura implantada pelos militares em 1964. O processo ento desencadeado a partir da incluso tardia dos trabalhadores rurais aos direitos sociais e da subsequente expulso dos moradores por parte dos proprietrios proporcionou a esses trabalhadores uma comparao entre um passado idealizado, de acesso a concesses ane-

    4. (LOPES, 1976).

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    xas moradia e a relaes personalizadas com alguns patres, contraposto a um presente de dificuldades maiores. O instrumental cognitivo proporcionado por essa viso do passado, aliado curta vivncia no incio dos anos 1960 de um sentimento de libertao, dava a esse grupo social a possibilidade e a von-tade de associao reivindicativa mesmo sob condies severas de represso (PALMEIRA, 2013; SIGAUD, 1980 a e b). J os operrios do acar guardavam distncia do momento de entrada dos direitos nos anos 1940 sem a mesma mobilizao dos camponeses e trabalhadores rurais 20 anos depois. No pero-do repressivo ps-64, no dispunham dos mesmos instrumentos associativos e resistiam a uma explorao cotidiana do trabalho de forma atomizada.

    J os operrios e as operrias txteis da grande companhia industrial que criou uma cidade no incio do sculo XX (hoje com aproximadamente 300 mil habitantes) apresentavam alta sensibilidade quanto apropriao singular de acontecimentos externos que traziam consequncias sobre a vida social local5. A trajetria do campo para a fbrica, comum grande maioria desses trabalhadores, a grandeza e o carisma patronais, a luta pelo cumprimento dos direitos desde os anos de 1940, as greves dos anos 1950 e incio dos 1960 e o movimento contra a opresso aos operrios estveis entre os anos de 1967 at o incio dos anos 1980, so todos fatores de elaborao de uma historicidade quente (comparvel sensao trmica social no dos operrios do acar, mas dos trabalhadores rurais canavieiros dos anos 1960 e 1980).

    O que havia de disponvel na literatura para se tratar de operrios in-dustriais de forma antropolgica no momento em que essas pesquisas fo-ram feitas? Como a minha pesquisa inicial se deu no interior de um projeto coletivo visando estudar a plantation canavieira, partamos do conhecimen-to dos estudos de Eric Wolf e Sidney Mintz no Caribe, dentro da tradio da Antropologia Cultural norte-americana. O tema da proletarizao aparecia nos estudos sobre campesinato e sociedades camponesas. Tambm estava ele presente nas pesquisas de Pierre Bourdieu do incio dos anos 1960 sobre o campesinato e os trabalhadores urbanos argelinos. E se encontrava nos captulos de anlise histrica ancorada em material emprico do Livro 1 de O Capital, de Karl Marx. Tambm se dispunha do conhecimento das pesquisas da ponta urbana do continuum folk-urbano de estudos da Antropologia e Sociologia la Chicago, como a anlise interacionista das instituies totais de Ervin Goffman. E finalmente, dispunha-se do instrumental criado para o estudo de sociedades tribais (simples, indgenas etc.), como as classifi-caes coletivas de Mauss e Durkheim, o pensamento selvagem de Lvi--Strauss, o tempo estrutural de Evans-Pritchard, a serem apropriados para o contexto agroindustrial e fabril pesquisado.

    Tambm se colocava a questo do acesso ao campo, da entrada nos do-mnios da empresa que incluam no s a fbrica como tambm a moradia dos trabalhadores. Quando desta tematizao, ao fazer a introduo ao meu trabalho sobre os operrios do acar, intitulado O Vapor do Diabo, em 1975,

    5. (LOPES, 1988)

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    JOs sergiO leite lOpes dispunha-se das reflexes de Simone Weil quando de sua experincia operria dos anos 1930 na Frana, mas ainda no da descrio e da anlise de Robert Li-nhart como tabli na Citron de Paris, publicada s em 1978. E eu mal conhecia a experincia de Donald Roy como pesquisador-enquanto-operrio, nos anos 1940 em Chicago, orientado de Everett Hugues, que recentemente tem sido revalorizada6. No se tratava, na ocasio, de trabalhar como operrio para fazer assim observao participante, mas de simplesmente ter acesso aos trabalha-dores com a possibilidade de estabelecer as relaes de confiana necessrias para a pesquisa etnogrfica.

    Assim, em meados dos anos 1970, eu pensava estar entrando em um territrio inexplorado pela Antropologia, aquele ocupado pelas condies de trabalho e de vida dos operrios. De fato, s depois fui buscar antecedentes de um enfoque antropolgico em estudiosos universitrios ou no universitrios sobre as classes trabalhadoras e, inclusive, a dos antroplogos profissionais. Em parte, os operrios haviam sido encontrados pelos etngrafos em algum lugar no meio do continuum folk-urbano formulado pelos antroplogos cultu-rais norte-americanos. Foram assim, desde os trabalhadores txteis indgenas da localidade de Cantel, na Guatemala, estudados por Manning Nash nos anos 1950, at os operrios de Yankee City descritos por Lloyd Warner, ou os meta-lrgicos de Chicago aos quais se incorporou como nativo e pesquisador no declarado Donald Roy. A proximidade da Antropologia e da Sociologia na tra-dio da escola de Chicago fizeram antroplogos como Warner e Foote-Whyte transitarem de estudos de temas clssicos da disciplina antropolgica (no caso do primeiro) e de comunidades tnicas urbanas (no caso do ltimo) para estu-dos assemelhados Sociologia industrial, embora fortemente instrumentaliza-dos pela etnografia. Algumas universidades norte-americanas fundaram, nos anos 1940, institutos de relaes humanas associados s indstrias, onde se incluam projetos de antropologia aplicada, geralmente reformistas ou refor-madores, em torno do tema de relaes industriais. O que no sem relao com o que era ensinado na Escola Livre de Sociologia e Poltica de So Paulo, com a presena de Donald Pierson ao lado de disciplinas de administrao e relaes industriais. E com a posterior entrada do antroplogo Mario Wagner Vieira da Cunha na primeira direo do Instituto de Economia e Administrao da USP e do recrutamento para l de Juarez Brando Lopes.

    Aqui acho pertinente fazer uma pequena digresso, j que mencionamos a Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo e suas geraes de socilogos dos anos 40 e 50 do sculo XX, para situar a experincia de Jos Albertino Ro-drigues, algo singular de seus contemporneos na sociologia paulista. Embo-ra situado nas classificaes bibliogrficas como pertencente ao mesmo grupo de sociologia do trabalho paulista que produziu seus principais trabalhos nos anos 1960, Jos Albertino apresenta uma peculiaridade extra-acadmica que talvez sua principal obra em sentido amplo: sua contribuio inveno do

    6. Michael Burawoy consagrou a etnografia operria diante da mquina ao revisitar o estudo de Roy no final dos anos 1970 e, em 2006, os artigos de Roy foram editados na Frana por Briand e Chapoulie com um posfcio de Howard S. Becker.

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    trabalho de assessoria tcnica ao sindicalismo de trabalhadores (Albertino foi o diretor-tcnico do DIEESE entre 1955 e 1962 e entre 1965 e 1966, alm de ter tido influncia na instituio nos anos 1970). Pela via desta experincia, esse socilogo teve uma relao de proximidade e empatia com os trabalhadores realmente existentes que o tornava singular no interior de sua gerao7.

    No caso de outros centros mundiais das Cincias Sociais, como a Frana e a Inglaterra, espera pelo retorno para casa da Antropologia (Anthropology at Home; coletnea da ASA de 1988), primeira vista, parecia ser necessria para que os antroplogos se interessassem pelos trabalhadores em suas prprias cidades industriais. Na Inglaterra houve precursores, como o estudo de Firth (1956) sobre famlia no bairro proletrio do East End de Londres, ou as fam-lias e redes sociais de Elisabeth Bott, que incluam famlias de trabalhadores. Havia os estudos de comunidade, depois sistematizados por Ronald Franken-berg; de Dennis, Henriques e Slaughter (1969) que agradecem fortemente orientao de Meyer Fortes e Max Gluckman ou de Young; Wilmott (1962). Tambm os estudos das cidades mineiras no Copperbelt da Rodsia do Norte (atual Zmbia) fazem os antroplogos da escola de Manchester, atrados pelas transformaes nos comportamentos tribais nas cidades, encontrarem-se com trabalhadores industriais. Como na fbrica txtil no interior da Guatemala, os antroplogos tambm na Africa se encontravam com pequenas e mdias ci-dades industriais.

    interessante tambm a trajetria da antroploga norte-americana Hortence Powdermaker, que circulou com desenvoltura entre as tradies da disciplina acadmica de seu pas e da Gr Bretanha, assim como se moveu en-tre temas clssicos e heterodoxos. Fez tese, sob orientao de Malinowski, na London School of Economics, em Lesu na Melansia, indo em seguida estu-dar relaes raciais em Mississpi associada a Edward Sapir, depois etnografar Hollywood, aps ter observado o lugar da recepo do cinema no sul dos Esta-dos Unidos, para finalmente estudar os mineiros africanos na Copper Town do Copperbelt na Rodsia do Norte. Tudo isso aps um mpeto de juventude que a levou da graduao universitria em Histria ao trabalho de ativismo sindical no setor de confeces em seu pas.

    Mas estas so consideraes a posteriori de que no dispunha no mo-mento de comear a fazer a segunda pesquisa com operrios e operrias txteis em Pernambuco, na busca por uma espcie de plantation estendida cidade e ao subrbio nas particularidades das vilas operrias industriais. O que, sim, fui lendo no entremeio das primeiras idas ao campo, ainda no survey para o projeto Emprego e Mudana Social no NE, foi o livro de E.P.Thompson, The Making of the English Working-Class, publicado em 1963, mas disponvel em meados dos anos 1970 pela importao de Penguin Books - editora de li-vros de bolso,da qual aquela obra entrou no catlogo em 1968 - por livreiros brasileiros. Ali aparecia de forma clara, com base na experincia da revoluo industrial inglesa, a hiptese da importncia do passado, da memria, da his-

    7. Para uma anlise desta gerao de socilogos do trabalho, ver Lopes; Pessanha; Ramalho (2012).

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    JOs sergiO leite lOpes tria incorporada, para a possibilidade de criao do novo. Ao contrrio de se ver no novo proletrio industrial, o criador do movimento operrio, Thompson, mostra, atravs de farta documentao, a importncia dos artesos, trabalha-dores a domiclio e trabalhadores rurais destitudos pelas transformaes ca-pitalistas como os motores ativos do novo movimento. Seriam estes, que tm um quadro de referncia anterior, dado por suas tradies de trabalho e de vida, por sua cultura, os que teriam condies de enfrentar os novos modos de dominao social em gestao. Era algo assemelhado a isto que eu e a co-lega Rosilene Alvim estvamos encontrando na cidade de Paulista, na Grande Recife: o predomnio da histria do grupo operrio sobre sua vida presente no relato espontneo dos trabalhadores entrevistados, a ambiguidade entre as realizaes de grandeza patronal que se refletiam nas condies de vida e na experincia dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, o orgulho da participao em protestos contra a ilegitimidade da dominao patronal.

    Ao declarar que: a experincia de classe determinada em grande me-dida pelas relaes de produo em que os homens nasceram [ mas o que nos interessa aqui] a forma como essas experincias so tratadas em termos cul-turais: encarnadas em tradies, sistemas de valores, ideias e formas institucio-nais, E.P.Thompson, no verdadeiro prefcio-manifesto do seu livro The Making of the English Working-Class, invertia o senso comum, inclusive acadmico, ao colocar o protagonismo no no polo moderno da transformao capitalista, a fbrica e seus operrios, mas sobre aqueles a quem tais mudanas estavam deslocando e destruindo: os artesos, trabalhadores rurais e camponeses, os trabalhadores a domiclio. Com isso, ele estava reforando a recuperao de processos histricos, cuja explicao se juntava ao que estava acontecendo com a expropriao das sociedades camponesas e dos grupos artesanais na contemporaneidade da segunda metade do sculo XX. Tambm a microrresis-tncia surda que se passava no interior dos chos de fbrica - com os oper-rios sendo destitudos constantemente de formas anteriores de produzir e de costumes e cargas de trabalho, o que acarretava o aumento crescente de seu esforo sub-remunerado era assim valorizada.

    Isso de fato tinha a ver com o que havamos observado na rea cana-vieira do Nordeste, como a memria da figura tradicional do morador esta-va sendo reforada no momento mesmo em que ela tendia a desaparecer, como aparece na construo retrospectiva de seu tipo-ideal no artigo Casa e Trabalho, de Moacir Palmeira, ou na adio aparentemente paradoxal dos antigos costumes personalizados e paternalistas da relao tradicional de morada com os novos direitos alcanados em 1963 e ento j ameaados, efetuados pelos trabalhadores canavieiros, como analisado por Lygia Sigaud. Ou como a tradio das artes industriais ostentadas pelos artistas das se-es de manuteno das usinas de acar forneciam uma linguagem leg-tima para a reivindicao dos direitos de todos os operrios que eu pude perceber no Vapor do Diabo. Ou ainda a ambiguidade dos operrios txteis na soma dos aspectos positivos selecionados que tinham as suas relaes

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    com os patres na cidade industrial dos anos de 1930 e 1940, por um lado, com a grandeza da luta pela aplicao dos novos direitos sociais apropriados pela associatividade operria, por outro, na crtica situao contempornea da relao entre empresas e trabalhadores, que encontramos na segunda metade dos anos de 1970, em Paulista, Pernambuco. Por um lado, so ressal-tados os aspectos positivos selecionados que tinham as suas relaes com os patres na cidade industrial dos anos de 1930 e 1940. Por outro, tambm narrada a grandeza da luta pela aplicao dos novos direitos sociais apro-priados pela associatividade operria. De fato, mais do que uma aparente incoerncia lgica na soma heterognea de prticas tradicionais e racio-nais-modernas, os trabalhadores operavam na lgica do fluxo contnuo e do tnue limite das apropriaes dos usos das concesses e dos direitos. Como formula Thompson (1968) para o contexto diverso dos trabalhadores que vi-vem o incio da Revoluo Industrial inglesa:

    Minha tese a de que a conscincia dos usos costumeiros era especial-mente robusta no sculo XVIII. De fato, alguns costumes foram de inveno recente, e, na verdade, eram reivindicaes de novos direitos. O costume cons-titua a retrica de legitimao de quase todo uso, prtica ou direito reclama-do. Por isso, o costume no codificado - e at mesmo o codificado - estava em fluxo contnuo. Longe de exibir a permanncia sugerida pela palavra tradio, o costume era um campo para a mudana e a disputa, uma arena na qual inte-resses opostos apresentavam reivindicaes conflitantes (THOMPSON, 1998).

    Assim, apesar de grande parte do operariado txtil de Paulista guardar a imagem positiva da memria dos tempos em que a personalizao patronal era exercida localmente, desde que os direitos sociais se instalaram e se torna-ram disponveis, no ps-guerra de 1945, se disseminou rapidamente a prtica da inscrio de reclamaes na justia do trabalho atravs do sindicato. Apesar de os trabalhadores brasileiros poderem ser vistos sob a aparncia de estarem afogados em leis, na expresso do historiador John D. French diante do tama-nho da Consolidao das Leis do Trabalho (CLT), as leis servem de instrumento de negociao pelos trabalhadores diante da face autoritria dos costumes do patronato no trato com a mo de obra. A apropriao das novas leis pelos tra-balhadores se d enquadrada pelo seu entendimento das suas relaes ante-riores com o patronato.

    Esse argumento thompsoniano do peso do passado nas disposies pre-sentes dos trabalhadores, da importncia de sua experincia, pode vir assim ao encontro do que est pressuposto no processo de atualizao de um habitus de grupo (ou de uma histria incorporada), tal como formulado de forma mais geral por Bourdieu (1963). A hiptese de Thompson se d na prpria origem da Revoluo Industrial, o que faz dotar seu argumento de uma generalidade maior que o simples caso, j que est ele presente paradoxalmente no evento associado modernidade econmica capitalista ela mesma. Argumento seme-lhante se encontra reeditado no caso da Alemanha, examinado por Moore Jr (1978). O autor mostra que, comparados aos metalrgicos recm-surgidos no

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    JOs sergiO leite lOpes incio do sculo XX na regio do vale do rio Rhur, os mineiros da mesma regio, cujas tradies remontavam ao perodo anterior Revoluo Industrial, possu-am padres de legitimidade constitudos no passado do processo de trabalho da corporao artesanal em que estavam inseridos, para condenar a intensifica-o do trabalho no presente. J aos metalrgicos reunidos nas novas siderrgi-cas da regio faltavam tais padres de legitimidade enraizados no passado para lhes fornecer um instrumental de resistncia s suas condies de explorao. Os mineiros do vale do Ruhr obtiveram assim, no incio do sculo XX, um su-cesso maior nas lutas e reivindicaes. Tambm o historiador norte-americano William Sewell Jr., que foi aluno de Geertz, refora essa argumentao ao focali-zar o peso que tem o idioma artesanal corporativo dos trabalhadores franceses durante as revolues de 1830 e 1848, apesar do antema da grande revoluo de 1789 sobre as instituies do antigo regime monrquico. Este tambm um caso estratgico para o argumento thompsoniano, medida que ele pode se verificar mesmo no caso francs, atravessado pela revoluo de 1789. Aqui um historiador no francs tem a vantagem de se liberar das divises entre per-odos consagrados em que se especializam os profissionais da Histria, ao es-tudar, ao mesmo tempo, o fim do Antigo Regime e o perodo ps-revoluo e assim observar a continuidade do idioma corporativo na constituio de um discurso socialista que passa a se opor ao das novas classes dirigentes. Poste-riormente a essas revolues, o republicano Durkheim vem frisar a necessidade de reforar o idioma e a prtica profissional-corporativo-sindical diante das po-tencialidades de anomia provocadas pela diviso do trabalho moderna. E se os artesos e os camponeses so vistos por E.P.Thompson como personagens ati-vos na Revoluo Industrial capitalista com a qual se defrontam entre o fim do sculo XVIII e o incio do XIX, tambm nesse mesmo perodo que se desenrola, na Polinsia, o drama entre os ingleses e os havaianos, em que morre o Capito Cook. Por meio da explicao dessa morte, Marshall Sahlins mostra, contra-corrente, quo ativas podem ser as vtimas do assim chamado Sistema Mundial Capitalista, acionando suas tradies e seus habitus para reapropriarem-se cria-tivamente das trocas oferecidas por seus futuros conquistadores.

    No somente os historiadores sociais e culturais tm contribudo para problematizar a relao aparentemente paradoxal entre trabalho, memria, tradio e transformao social, mas tambm outros especialistas provenien-tes de estudos sobre a recepo social da produo literria. Aparece aqui a figura de Richard Hoggart, professor de Literatura Inglesa, que se debruou sobre os usos populares do letramento (The uses of literacy) no final dos anos 1950, atravs das transformaes e repercusses de publicaes de massa como revistas de bancas de jornal, sobre o pblico leitor das classes popula-res. Para isso, Hoggart fez primeiro uma caracterizao do que seria a cultura das classes trabalhadoras inglesas no interior das quais ele viveu na primeira metade do sculo XX. Dessa forma, ele realizou uma etnografia utilizando-se da observao direta no momento que antecedeu sua escritura do texto. Mas o fez tambm atravs da recuperao sistemtica de sua memria como crian-

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    a e jovem de uma famlia operria da regio industrial de Leeds. Esta etno-grafia retrospectiva de Hoggart abre espao para outra forma de observao direta das classes trabalhadoras. Menos a observao direta do pesquisador, acadmico ou no, que se coloca na pele do trabalhador diante da mquina no interior da fbrica, durante um perodo de tempo, como Simone Weil, Ro-bert Linhart, Donald Roy ou Michael Burawoy. Mas sim a observao da vida cotidiana e do cdigo interno do grupo diante da vida social tal como o uni-versitrio egresso das classes trabalhadoras pode fazer em certas condies de revalorizao cognitiva de sua experincia familiar de origem. Diante da avas-saladora produo do entretenimento de massa dirigido s classes populares, que como que transfere sua baixa qualidade ao que seria a baixa qualidade de recepo do pblico, o autor pode opor a menos conhecida resistncia desse mesmo pblico, ressaltando suas tradies cotidianas que no so atingidas pela produo da indstria cultural de massa. O consumo oblquo (isto , a atitude de no levar a srio tal produo), a apropriao conforme aos seus habitus, a existncia de uma minoria resistente e resiliente em busca de outro acesso aos bens culturais no interior das classes populares; todos eles so fe-nmenos que se opem produo de massa voltada para o lucro imediato. E foram estes universitrios que tiveram parte de suas carreiras voltadas para o ensino aberto de adultos das classes populares, nas associaes educacionais de trabalhadores ou das open universities inglesas os que inspiraram os cha-mados cultural studies, que depois se difundiram no mundo anglo-saxnico e para alm dele. E.P. Thompson, Raymond Williams, Richard Hoggart estiveram ligados a essas instituies universitrias de adultos, de formao continuada. E muito de sua formulao acadmica teve a influncia do contato renovado com essa minoria resistente das classes populares inglesas. Alguns dos histo-riadores culturais, como Roger Chartier, inspiram-se diretamente em Hoggart para desenvolver a noo de apropriao cultural na circulao de ideias entre grupos e classes sociais. E no foi toa que Bourdieu e Passeron promoveram desde 1970 a traduo para o francs de The Uses of Literacy como uma obra inspiradora para as pesquisas que desenvolveram em torno da sociologia da educao e da cultura. Alm disso, como ambos se consideravam trnsfugas de classe como Hoggart, apoiaram-se na sinceridade sistemtica deste ltimo, usado como mtodo para desenvolver partes de suas prprias teorias (e Bour-dieu (2005), ao final da vida, pratica a sinceridade sistemtica de Hoggart em seu livro pstumo Esboo de autoanlise).

    Mas nem s de acadmicos ingleses envolvidos com as classes populares estavam constitudos os quadros das open universities. Havia tambm a entrada de intelectuais exilados do nazismo como Karl Polanyi e Norbert Elias, que pas-saram por aqueles postos universitrios menos estveis a caminho de outras vagas. E com o pensamento aguado pela experincia de ovo da serpente, passada na Alemanha, que Elias vem colocar uma restrio possvel genera-lizao da hiptese de Thompson sobre a fora transformadora ancorada nas tradies. No foi toa que Elias interessou-se pelo que estava encontrando em

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    JOs sergiO leite lOpes campo o seu aluno John Scotson, na pequena cidade industrial por eles chama-da ironicamente de Winston Parva. Ali, uma parcela de trabalhadores, com anti-guidade na pequena cidade e na sua vida associativa, comeou a estigmatizar, atravs das fofocas e dos rumores, moradores de novos conjuntos habitacionais, tambm trabalhadores ingleses, transferidos de Londres no ps-guerra em con-sequncia do bombardeio de suas antigas casas. Sem outras diferenas entre si, tnicas ou de classe, alm da antiguidade no lugar, Elias mostra como, em certas circunstncias, a antiguidade ou a tradio pode dar lugar no construo de um instrumental de resistncia que sirva para a libertao de muitos, do maior nmero possvel, mas, ao contrrio, que pode propiciar o fechamento e a aristo-cratizao do pequeno grupo. Uma advertncia de Elias ao otimismo implcito nos estudos de comunidade sobre a classe trabalhadora inglesa, em que nunca est ausente a solidariedade de classe. E uma autoadvertncia ao otimismo con-tido nas suas prprias anlises evolucionrias do processo de civilizao.

    De fato, h que se estar atento s especificidades histricas de cada gru-po social, de cada trajetria de indivduos representativos de seus grupos so-ciais de origem. H diferenas entre os operrios do acar e os operrios e as operrias txteis, todos eles de Pernambuco.

    Os legados de uma experincia operria em transformao

    Voltando comparao dos dois grupos operrios estudados, esboados mais acima, o caso do grupo dos operrios e operrias txteis de Paulista tem todas as caractersticas de formao do que Elias chama, estendendo Weber, de um carisma de grupo. Pois a coeso dos grupos operrios, em geral pressupos-ta no efeito-teoria da conscincia de classe possvel, de fato algo a ser constru-do e demonstrado. de se perguntar mais frequentemente como alguns desses grupos alcanam uma coeso e um estado de mobilizao diante de tantas con-dies e circunstncias desfavorveis. Assim, por exemplo, Maurice Halbwachs considera a classe operria, na sua verso de uma alienao proletria, como uma classe voltada para a matria e isolada da sociedade. Mas tambm pode-mos considerar o prprio laboratrio secreto da fbrica como uma microssocie-dade, com suas hierarquias, divises e solidariedades. Os operrios do acar, com suas diferenciaes e autoclassificaes internas polarizadas pelas catego-rias de arte e de artista, caractersticas dos operrios de manuteno, acabam construindo um cdigo interno que se difunde a todos os trabalhadores da usi-na, o cdigo da arte, que refora a coeso operria face aos chefes da hierarquia interna, deslegitimados por no serem produtores diretos da matria. como se uma face da dupla verdade do trabalho proposta por Bourdieu o gosto pelo trabalho bem feito e o orgulho da profisso pregasse uma pea na outra face, a verdade da explorao do trabalho, deslegitimando-a. Mas, se aos operrios do acar falta uma historicidade ativa que impulsione sua mobilizao para a diminuio daquela explorao, tal no foi ausente da trajetria dos operrios

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    de Paulista8. Isso durou at o final dos anos 1970. A partir dos anos 1980, uma srie de processos econmicos levaram a uma forte desindustrializao da rea, culminando com as polticas neoliberais dos anos 1990.

    Enquanto a fbrica txtil que originou a cidade de Paulista fechou defini-tivamente suas portas em meados dos anos de 1990, a usina de acar na qual estudei continua funcionando bem. uma das mais slidas do estado de Per-nambuco, sobrevivendo falncia de muitas de suas similares desde o incio da dcada de 1990. No entanto, com os operrios e operrias de Paulista, pu-demos construir uma relao que tem durado desde 1976 at os dias de hoje, enquanto a comunicao com os operrios da usina pouco durou. O territ-rio da usina e sua vila operria continuaram sendo o monoplio do poder da empresa. J a cidade de Paulista havia transbordado da vila operria original, com a perda do monoplio da companhia sobre o territrio da cidade tendo se consolidado na segunda metade dos anos 19609. Quando l estivemos pela primeira vez, em 1976, j a maior parte das casas da vila operria havia sido re-vertida s famlias operrias por fora de indenizaes trabalhistas, e podamos visit-las sem interferncia da administrao da companhia.

    Foi no contexto do processo de desindustrializao que atingiu desde os anos 1990 a nossa rea de pesquisa que apareceram fortes demandas pela recuperao e sistematizao da memria social da cidade por parte de agen-tes significativos do espao pblico local. E a volta dos pesquisadores ao local sobre o qual produziram teses e livros no despercebida por tais agentes; a prpria condio de pesquisador-coletor de dados vista de forma diferente e transformada em pesquisador testemunha da histria, em sistematizador e colaborador na divulgao da histria local10.

    Ao desencadear-se a feitura de um documentrio sobre a memria dos ex-operrios sobre sua trajetria e vida cotidiana no tempo da companhia, foram se acumulando materiais visuais, novos personagens e eventos voltados para uma objetivao dessa memria social.

    O filme Tecido Memria registra assim, atravs de outra linguagem e com muita pesquisa de imagem, esse novo perodo de campo aps o intervalo de

    8. A fora da historicidade deste grupo operrio fez com que nosso trabalho fosse orientado inicialmente pela interpreta-o dos relatos e interpretaes dos trabalhadores quanto a sua histria, ressaltada espontaneamente. Mas os fatos para os quais apontavam tal confluncia de memrias individuais e histricas, embora contadas oralmente entre os operrios na forma de uma memria subterrnea, para usar o termo de Michael Pollak, tambm deveriam ter deixado marcas nos registros escritos. Esse corpus de relatos nos orientou subsequentemente na procura de uma documentao que corres-pondesse s informaes e representaes contidas na memria dos trabalhadores; em colees de jornais, de relatrios anuais aos acionistas da companhia publicados na imprensa, em documentos governamentais e em arquivos sindicais, cada fonte de informaes tendo que sofrer um processo de interpretao pertinente.

    9. A vila operria de Paulista tinha uma grandeza superior s dimenses habituais das fbricas da poca, que concentra-vam grandes nmeros de trabalhadores. Com uma vila de 6 mil casas em 1950 e com uma fora de trabalho, quando de seu auge, em torno de 15 mil trabalhadores, a Companhia de Tecidos Paulista era uma das maiores fbricas, em escala internacional. A fbrica de Amoskeag, em Manchester, New Hampshire (EUA), considerada a maior do mundo no setor txtil, teve um auge de 17 mil trabalhadores em 1915 (segundo a historiadora Tamara Hareven). O fato de a fbrica txtil utilizar-se igualmente de trabalhadores masculinos e femininos trouxe importantes repercusses na formao de uma comunidade operria mais estvel.

    10. J Raymond Firth em 1954, aps seu reestudo nos dois anos anteriores da Tikopia, que havia pesquisado em 1928 e 1929, procura refletir sobre os estudos bissincrnicos feitos por alguns antroplogos numa sequncia espaada de visitas a um mesmo campo com a finalidade de captar a mudana social. No seu caso de revisita com o antroplogo canadense James Spillius, eles acabaram tendo um papel de mediadores entre o grupo estudado e as autoridades em funo de um perodo de fome e escassez. No nosso caso havia uma fome de reconstituio da memria coletiva do grupo, ameaada de ser relegada ao silncio e ao esquecimento.

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    JOs sergiO leite lOpes 30 anos, por meio dos instrumentos da Antropologia visual que os colegas es-pecialistas dessa rea vinham aperfeioando. A etnografia de longa durao pode agora conter um documento construdo com a participao explcita dos pesquisados, editados e mostrados publicamente em carne, osso e palavra; um documento a ser apropriado de forma mais favorvel pelo prprio grupo retratado e seus descendentes11.

    Resta o desafio de constituir um arquivo crescente reunindo e sistema-tizando materiais recolhidos em pesquisas etnogrficas que vo se tornando, com o passar dos anos, um material historiogrfico - mas que no foram co-letados no sentido de comporem um arquivo pblico. Essa transformao de dados de pesquisadores individuais ou de projetos coletivos em materiais sus-cetveis de uma consulta pblica por especialistas ou pelos prprios descen-dentes dos grupos pesquisados vem se tornando cada vez mais necessria. Se a paixo e o interesse que moviam muitos pesquisadores engajados em empreendimentos de cunho etnogrfico e historiogrfico sobre o mundo dos trabalhadores tinham por motivaes implcitas a vontade de ultrapassar as prprias dificuldades da preservao da experincia de lutas anteriores e sua transmisso de uma gerao operria para outra, dadas pelas prprias formas de dominao a que estavam submetidas, tal paixo persiste agora, no mo-mento mesmo em que a prpria existncia de uma identidade coletiva dos trabalhadores se torna fragmentada e ameaada de extino. J a existncia de bens materiais e imateriais, informaes e representaes coletivas acumu-ladas em resultados de pesquisas e em arquivos dos prprios trabalhadores esto a para serem preservados e organizados para uma apresentao pblica e para o aprendizado de suas lies e seus legados.

    O tema do trabalho hoje na Antropologia Social e sua interdisciplinaridade

    Aps um perodo de forte interesse pelo tema do trabalho nas Cincias Sociais, entre 1960 e 1980, segue-se um momento de aparente arrefecimento. Este o perodo em que tambm, em escala internacional, a questo operria havia se tornado como que um tema do passado, em virtude das transforma-es no mundo do trabalho, com suas automaes e a diminuio do contin-gente de trabalhadores nas unidades fabris. A precarizao do trabalho ma-

    11. O entusiasmo que pode sentir o antroplogo por sua observao participante, por sua comunho com os pesqui-sados, de estar l; tal entusiasmo talvez possa ser redobrado com uma objetivao participante que, alm de analisar, proporcione a devoluo ao grupo de instrumentos de emoo e reflexo. Os praticantes de uma etnografia de longa durao com grupos de trabalhadores, como Huw Beynon, Michel Pialoux, Abdelmalek Sayad, Robert Cabannes, William Wilson, entre outros, alcanaram isso com seus escritos. O gosto pelas consequncias da prtica antropolgica de muitos colegas de mtier, tais como o apoio s populaes indgenas e s populaes tradicionais, s minorias estigmatizadas, s populaes camponesas ameaadas e aos movimentos que defendem o patrimnio cultural, ambiental, histrico, mate-rial e imaterial; algo desse mesmo gosto pode tambm estar presente na devoluo de um artefato que consiga encenar uma palavra coletiva em jogral, mas com os indivduos aparecendo e se reconhecendo no produto. A satisfao do ofcio de poder traduzir a anlise feita em estudos anteriores numa linguagem esttica de imagem e msica capaz tambm de transmitir a emoo que acompanha a vida desse grupo de trabalhadores, representativo de muitos outros, talvez alcance uma parcela da satisfao profissional daqueles que conseguiram unir, durante alguns anos, seus conhecimentos construo da assessoria tcnica de instituies democrticas de trabalhadores, como foi o caso do socilogo Jos Al-bertino Rodrigues com o DIEESE nos anos 1950 e 1960, ou de Moacir Palmeira e Afranio Garcia Jr., respectivamente com a Contag e a Fetag-RJ nos anos 1970 e 1980, ou ainda de Alfredo Wagner e a Cartografia Social da Amaznia nos anos 2000.

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    nual e as tenses relacionadas com a universalizao do aprendizado escolar faziam deslocar os conflitos sociais para novos espaos alm do trabalho.

    Mas j nos ltimos anos, a ateno aos fenmenos relacionados ao traba-lho e ao emprego tem voltado, conforme diferentes ciclos de crises econmicas se produzem em pases perifricos e nos prprios pases centrais do capita-lismo contemporneo, com consequncias sociais impossveis de serem igno-radas pelos diferentes membros do campo do poder. No interior das Cincias Sociais, o interesse das novas geraes de socilogos e antroplogos da eco-nomia, surgidas nos anos 1990 em diante, inicialmente voltado para os mlti-plos fenmenos de mercado, mercantilizao e financeirizao, passa tambm a direcionar-se para aspectos atinentes ao trabalho. Livros como a Misria do Mundo, coordenado por Pierre Bourdieu, As Metamorfoses da Questo Social, de Robert Castel, na Frana; Quando o trabalho desaparece: o Mundo dos Novos Pobres Urbanos, de William Julius Wilson, nos Estados Unidos da Amrica, ou os artigos interrogativos de Huw Beynon sobre o desaparecimento da classe operria na Inglaterra, todos dos anos 1990, j assinalam a nova centralidade desempenhada pelo lugar do trabalho negligenciado nos anos imediatamente anteriores. E o livro de Michel Pialoux e Stphane Baud, O Retorno Condio Operria, ou os livros de Abdelmalek Sayad sobre os imigrantes norte-africanos na Frana, todos do incio da dcada de 2000, reforam a volta dessa temtica, reatando com preocupaes despertadas nos anos 1960 e 1970.

    Naquele perodo que tem por epicentro os ltimos anos da dcada de 1960, as problemticas de formao das classes trabalhadoras tinham forte importncia na interseo de diferentes disciplinas, a Antropologia Social, a Sociologia e a Histria Social, e na introduo da cultura e da especificidade histrica destes processos de formao. No perodo que se segue ao limiar dos anos 1990, quando o capitalismo se mostra sob aparncias revigoradas, de for-tes transformaes econmicas e sociais, fazendo dispersar as configuraes sociais que envolviam os trabalhadores, a reunio de novos estudos sob o re-corte do trabalho e seus efeitos sobre a constituio da sociabilidade podem ser interessante para o mapeamento de mudanas e permanncias. Tais trans-formaes nos levaram a procurar desconstruir e dessubstanciar categorias to carregadas de significados como as de classe trabalhadora por meio da anlise da sua construo social, histrica e intelectual, dando-se importncia tambm anlise dos mediadores associados quelas classes.

    Por sua vez, o prprio obscurecimento das faces pblicas dos trabalha-dores, por meio de renomeaes e reclassificaes nas empresas que procu-ram atingir suas anteriores identidades, pode ser um estmulo adicional para essa reunio de estudos em andamento. De certa forma, o trabalho pode ser visto, assim, de forma mais ampla, desde as fronteiras da informalidade urba-na at novas formas de profissionalizao de atividades anteriormente vistas como de lazer. Toda a diversidade de aspectos de processos sociais envolven-do o trabalho, das transformaes do trabalho familiar campons, artesanal, do mineiro ou do pequeno comrcio, at o trabalho industrial entra no campo

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    JOs sergiO leite lOpes de interesse de tal agrupamento temtico. As relaes entre famlia e trabalho podem se constituir em outro eixo de reunio de resultados de pesquisa; assim como a relao com o lazer, que vai desde o trabalho subsidirio ou a brico-lagem e o trabalho domstico at atividades religiosas, esportivas ou de cultu-ra popular. Ou da relao do trabalho com a relativamente nova temtica do meio ambiente, do risco industrial e da sade do trabalhador. No momento em que a agricultura de agronegcio assume caractersticas industriais e em que os membros de um campesinato reconstitudo j conheceram a proletarizao em todas as regies do Brasil embora no abandonem o roado, o cruzamen-to entre as tradies dos estudos camponeses e dos estudos sobre operrios pode ser estimulante. Tambm as diferentes formas de mercado, que tm sido mais salientadas na retomada recente da Antropologia e da Sociologia Econ-mica, podem ser vistas de forma relacionada s formas assumidas pelo traba-lho no sentido mais amplo. A pertinncia desta nova reunio de estudos ser tanto maior quanto mais puder acolher uma diversidade temtica em torno de aspectos do trabalho embutidas em outras formas de classificao temtica da Antropologia Social, nos polos de preocupao de Antropologia urbana, de sociedades camponesas, de movimentos sociais, de memria social, de famlia e geraes, de cultura popular, de conflitos ambientais, de educao.

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