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 87 Cadernos Cenpec 2007 n. 4  artigo Leitura e produção de texto no ensino fundamental Zoraide Faustinoni* * Zoraide Faustinoni é autora de livros did áticos e pesquisadora do Cenpec da área de Gestão e Sistemas de Ensino. prendemos a ler e a produzir textos orais e escritos em diferentes espaços e grupos sociais. Há uma aprendiza- gem de fala, leitura e escrita que se dá por meio da es- cuta, do gesto, da observação, da imitação, de informa- ções colhidas em diferentes espaços e situações. A escola, no entanto, tem como função desenvolver um trabalho intencional, planejado e sistemático para ampliar essas aprendizagens e possibilitar, às novas gerações, o acesso a discursos mais complexos, como aqueles produzidos pela Ciência, pela esfera política e pela mídia. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei n. 9394, 1996) estabelece, como um de seus objetivos,  (...) o desenvolvimen to da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo (seção III, art. 32º, I). A escola é um importante espaço de letramento. E letramento, segundo Magda Soares (1998), (...) é o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura e escrita, em um contexto especíco, e como essas habilidades se relacionam com as necessidades, valores e práticas sociais. Por exemplo: comprar e ler o jornal para se informar sobre o que acontece no mundo, escrever uma carta para a coluna do leitor, posicionando-se sobre deter- minada matéria, sentir prazer ao ler um romance, pre- encher um formulário ao solicitar um emprego etc. É também Magda Soares que nos chama a atenção para A

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  • 87 Cadernos Cenpec 2007 n. 4

    artigo

    Leitura e produo de textono ensino fundamentalZoraide Faustinoni*

    * Zoraide Faustinoni autora de livros didticos e pesquisadora do Cenpec da rea de Gesto e Sistemas de Ensino.

    prendemos a ler e a produzir textos orais e escritos em diferentes espaos e grupos sociais. H uma aprendiza-gem de fala, leitura e escrita que se d por meio da es-cuta, do gesto, da observao, da imitao, de informa-es colhidas em diferentes espaos e situaes.

    A escola, no entanto, tem como funo desenvolver um trabalho intencional, planejado e sistemtico para ampliar essas aprendizagens e possibilitar, s novas geraes, o acesso a discursos mais complexos, como aqueles produzidos pela Cincia, pela esfera poltica e pela mdia.

    A Lei de Diretrizes e Bases da Educao (Lei n. 9394, 1996) estabelece, como um de seus objetivos,

    (...) o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como

    meios bsicos o pleno domnio da leitura, da escrita e do clculo

    (seo III, art. 32, I).

    A escola um importante espao de letramento. E letramento, segundo Magda Soares (1998),

    (...) o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura e

    escrita, em um contexto espec co, e como essas habilidades se

    relacionam com as necessidades, valores e prticas sociais.

    Por exemplo: comprar e ler o jornal para se informar sobre o que acontece no mundo, escrever uma carta para a coluna do leitor, posicionando-se sobre deter-minada matria, sentir prazer ao ler um romance, pre-encher um formulrio ao solicitar um emprego etc. tambm Magda Soares que nos chama a ateno para

    A

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    o fato de que, muitas vezes, os sujeitos so capazes de comportamentos escolares letrados, mas so incapa-zes de lidar com os usos cotidianos da escrita em con-textos no escolares.

    Outros autores (Costa, 2000; Tfouni, 2002) enten-dem que o letramento inclui tambm a produo de tex-tos orais (por exemplo: a capacidade de fazer narrativas e relatos orais, de se sair bem numa entrevista, de par-ticipar de uma assemblia do sindicato ou do condom-nio do prdio, de ministrar uma aula, de fazer uma ex-posio oral em um congresso ou seminrio), uma vez que, nas sociedades letradas, h uma interseco en-tre oralidade e escrita.

    Segundo Bakhtin (1929; 1990), os textos orais ou es-critos que produzimos so formas de expresso que se originam nas necessidades criadas em diferentes esfe-ras da comunicao humana. Essas formas de dizer no so inventadas a cada vez que nos comunicamos, elas esto nossa disposio, circulam nos diferentes meios sociais, tenhamos ou no conscincia delas.

    Os gneros so formas relativamente estveis de enunciados, disponveis na cultura, e podem ser de -nidos por trs aspectos bsicos coexistentes: seus temas: o que dizvel ou pode se tornar diz-

    vel, por meio do gnero; sua construo composicional: forma particular dos

    textos pertencentes ao gnero; seu estilo: seleo, feita pelo autor, de recursos da

    lngua do vocabulrio, de gramtica tendo em vista o gnero.Para Schenewly (2004), o gnero uma ferramen-

    ta, um instrumento com o qual possvel exercer uma ao lingstica sobre a realidade. Segundo esse autor, o uso de uma ferramenta resulta em dois efeitos dife-rentes de aprendizagem: por um lado, amplia as capa-cidades individuais do usurio; por outro, aumenta seu conhecimento a respeito do objeto sobre o qual a fer-ramenta utilizada.

    Linguagem e participao social

    No plano da linguagem, a aprendizagem dos diver-sos gneros discursivos que socialmente circulam en-tre ns no somente amplia a competncia lingstica e discursiva dos alunos, como tambm lhes aponta in-meras formas de participao social que eles, usando a linguagem, podem ter como cidados.

    Ao aprender como so feitas e qual a nalidade

    das cartas argumentativas de solicitao e de

    reclamao, o aluno no apenas se apropria de

    informaes sobre o seu contedo, a sua estrutura,

    o seu estilo e sobre a linguagem mais adequada

    a esse gnero, como tambm toma conscincia

    de que os cidados tm o direito de reclamar e

    solicitar providncias das autoridades competentes.

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    Por exemplo, ao aprender a ler o jornal a reconhe-cer as intenes de quem escreve, os recursos utiliza-dos para atingir determinado leitor, a comparar a forma como diferentes jornais publicam uma mesma notcia, quais assuntos so objeto de destaque etc. os alu-nos comeam a penetrar nessa esfera de comunicao to importante para a formao de opinio.

    Ao aprender como so feitas e qual a nalidade das cartas argumentativas de solicitao e de reclamao,o aluno no apenas se apropria de informaes sobre o seu contedo, a sua estrutura, o seu estilo e sobre a linguagem mais adequada a esse gnero, como tam-bm toma conscincia de que os cidados tm o direi-to de reclamar e solicitar providncias das autoridades competentes.

    Por meio de estudo de gneros, tais como bulas de remdio e rtulos de embalagens, aprendem sobre os cuidados com a sade e os direitos do consumidor. Ou ainda, no campo criativo, percebem que podem apre-ciar e criar textos para a fruio esttica e re exo cr-tica, como o poema, as letras de canes e as narrati-vas de co em geral.

    imprescindvel, portanto, que a escola desenvol-va capacidades que possibilitem aos cidados a me-lhor participao possvel em situaes de fala e es-cuta, de leitura e produo de textos com diferentes finalidades.

    O que os exames de leitura indicam

    Exames de leitura, como o Sistema de Avaliao da Educao Bsica SAEB, e o Programa Internacional de Avaliao de Alunos PISA e a pesquisa realiza-da pelo Instituto Montenegro com o objetivo de cons-truir um Indicador de Alfabetismo Funcional INAF in-dicam aspectos que poderiam ser mais bem trabalha-dos pela escola. Sabemos que essas avaliaes tm li-mites. A esse respeito, importante conhecer as re e-xes feitas por diferentes autores, como Ribeiro (2003) e Bonamino (2002).

    No entanto, apesar das ressalvas que possam ser feitas a essas avaliaes, elas nos do pistas do que pode ser melhorado, no apenas para o aluno sair-se bem no exame, como, sobretudo, para poder utilizar a leitura, a fala e a escrita para se situar no mundo, para lutar por direitos, para usufruir bens culturais, para pros-seguir com os estudos, para interferir nos rumos pol-

    ticos do pas, para se inserir no mercado de trabalho, en m, para ser cidado.

    Os resultados dos exames apontam: pouca familiaridade com a diversidade de gneros

    discursivos; falta de hbito de voltar ao texto para responder a

    questes referentes a ele em geral, os estudantes respondem com base no senso comum, consideran-do apenas as alternativas colocadas, sem relacion-las ao texto;

    di culdade para: 1. inferir o signi cado de termos desconhecidos,

    apoiando-se no contexto;2. localizar informaes e fazer inferncias a partir

    de gr cos; 3. integrar informaes advindas de um texto verbal

    contnuo e de um gr co; 4. perceber contradies no texto; 5. relacionar causa e conseqncia em textos mais

    longos.Essas avaliaes rea rmam o papel fundamental da

    escola na formao do leitor, pois os nveis mais altos so atingidos somente por aqueles que completaram as oito sries do ensino fundamental. No entanto, o au-mento do nvel de letramento no tem acompanhado o aumento de escolaridade.

    A escolaridade da populao brasileira vem aumen-tando signi cativamente. Os dados do Instituto Brasilei-ro de Geogra a e Estatstica - IBGE mostram, por exem-plo, que a parcela de pessoas de 15 a 64 anos com ape-nas quatro anos de estudo caiu de 37,9% para 33,6%, entre 2002 e 2005, enquanto que a proporo daque-les que completaram o ensino mdio ou superior subiu de 35,5% para 40,8%, no mesmo perodo. No entanto, o desempenho dos brasileiros entre 15 e 64 anos mostra uma tendncia de melhora em letramento em ritmo infe-rior ao da prpria escolarizao (Boletim INAF, 2007).

    Os primeiros resultados da pesquisa Estudo Longitu-dinal da Gerao Escolar Projeto GERES, publicados em 2006, indicam que as crianas realizam pouco progresso aps a alfabetizao inicial (http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u18519.shtml, 03.04.2006). E os resultados do SAEB mostram que h um aumento da pro cincia em leitura ao longo da escolaridade, mas, da 4 para a 8 srie, esse aumento modesto.

    Esses dados no diminuem a importncia da esco-larizao, mas indicam que a atuao da escola precisa

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    ser melhorada e que um trabalho bem planejado e con-sistente, com leitura e produo de textos, deve ser de-senvolvido. E esse trabalho ser mais efetivo se a escola interagir com as prticas culturais de seus alunos.

    Evidentemente, no se trata apenas de melhorar o trabalho com a leitura e a produo de textos, como tambm de reprovar menos, de combater a defasagem idade-srie, pois, se o ensino fundamental to impor-tante, preciso garanti-lo para todos, na idade corre-ta prevista pela legislao. E, para isso, a escola pbli-ca precisa contar com o apoio e orientao dos rgos governamentais.

    No basta avaliar, preciso dar condies para que os educadores aprimorem seu trabalho e unam esfor-os para que todos aprendam.

    Leitura e produo de texto em todas as reas do ensino

    O desenvolvimento de capacidades de leitura e pro-duo de textos uma tarefa de todos os componentes curriculares e no apenas de Lngua Portuguesa.

    Nas aulas de Lngua Portuguesa, os estudantes vo entrar em contato com diversos gneros discursivos para apreender suas caractersticas e desenvolver ca-pacidades de leitura e produo de diferentes gneros, que abordam os mais diversos temas, com variadas -nalidades. Nesse trabalho, o ideal sempre preservar o mximo possvel a funo social que a leitura e a es-crita tm fora da escola.

    Cabe tambm rea de Lngua Portuguesa o traba-

    lho de anlise lingstica, de modo que os alunos se apropriem desses conhecimentos e possam ler e pro-duzir textos, em diferentes situaes escolares e no-escolares, com clareza, coeso e correo gramatical e ortogr ca.

    Os professores dos outros componentes curricula-res utilizam a leitura e a escrita como instrumento para a aprendizagem de contedos de sua rea. Para que aprendam os contedos das reas, os alunos preci-sam saber explorar um texto. Por outro lado, os conte-dos das diferentes reas conceitos, habilidades, va-lores, procedimentos que elas desenvolvem concor-rem para a ampliao do letramento, tornando o sujei-to mais apto a compreender diferentes gneros discur-sivos e a utilizar diferentes suportes textuais.

    Ler e compreender

    A leitura um processo no qual o leitor realiza um tra-balho ativo de construo do signi cado do texto. Para os leitores em formao, a mediao do professor in-dispensvel. Assim, antes de propor a leitura de um tex-to escrito, ou de um conjunto de textos, preciso que o professor veri que as di culdades que ele apresen-tar para os alunos.

    A leitura feita com diferentes objetivos: por prazer, para conhecer um determinado assunto, para se atua-lizar, para executar uma ao etc.

    Um dos primeiros cuidados esclarecer os objetivos da leitura: por que vamos ler, o que buscamos nesse texto ou nesse suporte textual, o que vamos fazer com

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    as informaes que o texto traz, que conhecimentos queremos construir. importante lembrar que, quan-do perdemos de vista o motivo para fazer alguma coi-sa, tornamos essa ao mecnica, sem sentido e no nos mobilizamos para realiz-la de fato.

    Em segundo lugar, imprescindvel veri car o que os alunos j sabem sobre o assunto e tambm sobre o gnero discursivo e o suporte textual onde o texto se encontra , pois isso ir facilitar ou di cultar a com-preenso.

    importante que o professor chame a ateno dos alunos para: os elementos contextualizadores o ttulo, a fon-

    te, a seo/captulo de onde foram retirados, os da-dos sobre o autor, a poca em que foi escrito etc.;

    as possveis intenes do autor que informao quer transmitir, a quem quer convencer, que re e-xes quer provocar, quem so seus provveis inter-locutores. interessante fazer perguntas com o objetivo de agu-

    ar a curiosidade e instigar a antecipao sobre o con-tedo do texto, hipteses que podem ser validadas ou rejeitadas na leitura subseqente.

    Capacidades de leitura

    Antes mesmo de se ter um texto em mos, temos que mobilizar determinadas capacidades de leitura. Assim, preciso ajudar nossos alunos a: localizar e acessar fontes de consulta (bibliotecas, Internet, programas de rdio e TV, museus etc.); utilizar os chrios impressos ou a Inter-net para localizar obras, autores, assuntos etc.; consultar ndices; localizar uma matria dentro do jornal; avaliar criticamente as fontes (saber se so con veis).

    H capacidades que so comuns leitura de diver-sos gneros.

    Por exemplo: reconhecer as caractersticas do gnero; identi car a nalidade do texto; identi car a intencionalidade do autor; reconhecer os efeitos de sentido a partir de recur-

    sos gr cos, sonoros, estilsticos, semnticos, mor-fossintticos etc.;

    localizar as informaes explcitas; inferir o sentido de uma palavra pelo contexto; fazer as inferncias globais; identi car os temas ou as idias centrais;

    estabelecer relaes entre as partes de um texto; relacionar o texto com conhecimentos do cotidiano

    ou especializado; avaliar criticamente um texto.

    Outras capacidades so mais espec cas a um de-terminado gnero.

    Por exemplo: identi car o con ito gerador do enredo romance,

    novela, crnica, contos de fadas etc.; distinguir o que de nio e o que exemplo

    textos didticos, verbetes, artigos cient cos, teses acadmicas etc.;

    reconhecer as posies distintas sobre um mesmo tema artigos de opinio, debate, editorial, teses acadmicas etc.;

    distinguir fato de opinio reportagem, artigos de opinio, teses etc.;

    estabelecer relao entre a tese e o argumento editorial, teses acadmicas, debate etc.;

    identi car a ordem seqencial de procedimentos experimentos, regras de jogo, instrues de monta-gem, receitas culinrias etc. importante tambm ter em mente que uma mes-

    ma capacidade pode ser exercida de forma diferente, conforme o gnero. Por exemplo, diferente localizar a informao num texto literrio e num gr co. As re-laes que podem ser estabelecidas entre texto verbal e imagem so diferentes para a primeira pgina de um jornal e numa pgina do livro de Cincias. E h novas necessidades surgindo, por exemplo, a capacidade de lidar com o hipertexto.

    E quanto produo de textos?

    No que se refere produo de textos, importante que os professores das diversas reas pensem em ati-vidades em que a fala e a escrita tenham nalidade so-cial, por exemplo: comunicar algo, registrar, divulgar, in-formar, expor, alertar, agradar, relatar, convencer, emo-cionar, divertir etc.

    Quando falamos em produo, referimo-nos no so-mente aos textos escritos, como tambm aos orais.

    O principal objetivo de se ensinar gneros orais na escola desenvolver capacidades de uso social da fala, tanto nas prticas mais informais, isto , aquelas da vida privada cotidiana conversa, relato de experincia vi-vida, comentrio quanto nas mais formais, aquelas

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    que ocorrem na esfera pblica de comunicao dis-cusso em grupo, assemblia, seminrio, debate. O tra-balho com a produo oral de textos, muitas vezes es-quecido pela escola, desenvolve importantes capaci-dades de participao social.

    Para produzir textos em diferentes gneros, pre-ciso conhec-los; assim, necessrio que essa diver-sidade seja utilizada e trabalhada nas aulas das dife-rentes disciplinas do currculo. A produo de texto re-quer planejamento.

    Esse planejamento implica tomada de decises, como: qual o melhor gnero para o objetivo que se tem:

    emocionar, divertir, informar, convencer, instruir, ex-por, comunicar-se a distncia etc;

    quais so as caractersticas desse gnero: o que pode e o que no pode ser dito;

    como se estrutura, que recursos lingsticos podem ser utilizados;

    a quem o texto se destina: onde vai circular. Alm disso, imprescindvel atentar para o que j sa-

    bemos e para o que precisamos pesquisar sobre o assun-to que ser tratado no texto, pois no basta saber como dizer, indispensvel tambm ter algo para dizer.

    E no basta produzir textos. preciso que eles sejam aperfeioados, tanto no que se refere ao contedo da rea, quanto aos aspectos relacionados situao de produo, s caractersticas do gnero e correo gra-matical e ortogr ca, no caso do texto escrito. Ainda que ensinar gramtica de modo sistemtico seja tarefa da rea de Lngua Portuguesa, ajudar o aluno a revisar o texto e a corrigir as inadequaes tarefa de todos os professores. No se pode esperar que os estudantes construam sozinhos esses conhecimentos.

    Como fazer?

    Como desenvolver todas essas capacidades o desa- o que se coloca a todos os professores. Quando pen-samos em leitura nas diferentes reas do currculo es-colar, sabemos que essa leitura tem, em geral, nali-dade de estudo: ler para aprender. Isso no signi ca que, nas aulas desses componentes curriculares, de-vam circular somente textos escolares ou de divulga-o cient ca.

    O ideal desenvolver a unidade de estudo lanan-do mo de diferentes gneros: artigos de jornal, artigos

    O principal objetivo de se ensinar gneros orais na escola desenvolver

    capacidades de uso social da fala, tanto nas prticas

    mais informais, isto , aquelas da vida privada

    cotidiana conversa, relato de experincia vivida,

    comentrio quanto nas mais formais, aquelas que ocorrem na esfera pblica

    de comunicao discusso em grupo, assemblia,

    seminrio, debate.

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    cient cos, ensaios, textos didticos, poemas, histria em quadrinhos, charges, gr cos, composies musi-cais, crnicas, romances, fotos, memrias, depoimen-tos, entrevistas, textos de humor, lmes etc. Em geral, esta forma j tem sido uma prtica dos professores e est muito presente nos livros didticos.

    A questo como fazer uma adequada explorao desses diferentes textos e relacion-los. Muitas vezes, a diversidade de textos est presente, mas todos os g-neros so trabalhados da mesma forma e se pressupe que o aluno consiga, sozinho, fazer as relaes e re e-xes sobre eles, sem a mediao do professor.

    No que se refere produo de texto, em geral, as propostas so genricas, no h explicitao do gne-ro em que o texto deva ser produzido, nem orientaes para produzi-lo, aperfeio-lo e divulg-lo.

    Como ponto de partida, h algumas perguntas que todos os professores precisam se fazer: Em que situaes a leitura e a produo so propos-

    tas nas aulas? H uma nalidade que justi ca essa leitura e essa

    produo ou so meros exerccios escolares? Os alunos so esclarecidos a respeito da nalidade da

    atividade de leitura ou de produo de um texto? O que o professor espera que os alunos aprendam

    na sua rea? Que gneros so mais adequados para cada conte-

    do, tendo em vista essas aprendizagens? O professor utiliza uma diversidade de fontes de

    consulta e de suportes textuais? Apresenta diferentes gneros, extrados de diferen-

    tes fontes e suportes, para abordar um mesmo tema ou para desenvolver um mesmo conceito, por exem-plo: uma ilustrao, um texto do livro didtico, um gr co, uma reportagem ou artigo de jornal?

    Incentiva e ajuda os alunos a comparar esses diferen-tes textos e a elaborar concluses sobre o assunto, a concordar ou discordar, a se posicionar criticamente?

    Incentiva os alunos a ler, a enfrentar as di culdades de um texto mais longo e mais complexo?

    Diante de textos mais complexos, ajuda-os a identi- car idias, teses, argumentos; a inferir dados que no esto explcitos; a inferir o signi cado de ter-mos desconhecidos; a relacion-los com outros tex-tos lidos ou com experincias de vida?

    Planeja situaes em que os alunos possam demons-trar suas aprendizagens e divulgar suas produes

    para outras pessoas e no apenas para o professor e os colegas de classe?Cada rea do conhecimento tem sua parte na forma-

    o do leitor e do autor de textos orais e escritos. As-sim, o trabalho conjunto dos educadores que ir ga-rantir a ampliao do acesso das crianas e jovens ao mundo letrado.

    Referncias e sugestes de leitura

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