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Levantamento e Caracterização de Famílias Tipográficas para uso em Sistemas de Sinalização Survey and Characterization of Typographic Families for use in Wayfinding Systems Scherer, Fabiano de Vargas; Mestre; Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] Cardoso, Eduardo; Mestre; Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] Fetter, Luiz Carlos; Mestre; UniRitter - Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected] Resumo A tipografia desempenha papel vital na sinalização. Este trabalho propõe-se a levantar, através de bibliografia pertinente, as famílias tipográficas mais indicadas, bem como, caracterizar quais aspectos as tornam eficientes para uso em sistemas de sinalização. As características levantadas dizem respeito aos aspectos técnicos, como a legibilidade, que junto aos aspectos estéticos, como a adequação ao ambiente e a mensagem a ser passada, fazem parte quando escolha da família tipográfica mais adequada a um determinado projeto. Palavras Chave: Design, Sinalização; Tipografia. Abstract Typography plays a vital role in wayfinding. This paper intends to raise through the pertinent literature, the most suitable typographic families, as well as to characterize what aspects make them effective for use in wayfinding systems. Features raised relate to technical aspects, such as legibility, which together with the aesthetic aspects, such as suitability to the environment and the message, when choosing the typeface best suited to a particular project. Keywords: Design; Wayfinding; Typography.

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Levantamento e Caracterização de Famílias

Tipográficas para uso em Sistemas de Sinalização

Survey and Characterization of Typographic Families for use in Wayfinding Systems Scherer, Fabiano de Vargas; Mestre; Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] Cardoso, Eduardo; Mestre; Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] Fetter, Luiz Carlos; Mestre; UniRitter - Centro Universitário Ritter dos Reis [email protected]

Resumo A tipografia desempenha papel vital na sinalização. Este trabalho propõe-se a levantar, através de bibliografia pertinente, as famílias tipográficas mais indicadas, bem como, caracterizar quais aspectos as tornam eficientes para uso em sistemas de sinalização. As características levantadas dizem respeito aos aspectos técnicos, como a legibilidade, que junto aos aspectos estéticos, como a adequação ao ambiente e a mensagem a ser passada, fazem parte quando escolha da família tipográfica mais adequada a um determinado projeto. Palavras Chave: Design, Sinalização; Tipografia.

Abstract Typography plays a vital role in wayfinding. This paper intends to raise through the pertinent literature, the most suitable typographic families, as well as to characterize what aspects make them effective for use in wayfinding systems. Features raised relate to technical aspects, such as legibility, which together with the aesthetic aspects, such as suitability to the environment and the message, when choosing the typeface best suited to a particular project. Keywords: Design; Wayfinding; Typography.

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10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).

Introdução Apesar da crescente valorização das imagens e de seu uso, a palavra escrita continua

valiosa para a informação e comunicação. Assim como para a área editorial, a tipografia desempenha papel vital na sinalização. Diferentemente desta, no entanto, existem especificidades na sinalização que resultam em aspectos onde as regras tradicionais da tipografia são revistas e sensivelmente alteradas.

Este trabalho propõe-se a levantar, através de bibliografia pertinente, as famílias tipográficas mais indicadas para usos em sistemas de sinalização. Bem como caracterizar quais aspectos tornam uma família tipográfica eficiente para uso em sistemas de sinalização. As características levantadas dizem respeito aos aspectos técnicos, como a legibilidade, que junto aos aspectos estéticos, como a adequação ao ambiente e a mensagem a ser passada, fazem parte quando escolha da família tipográfica mais adequada a um determinado projeto.

O objetivo é avaliar, através de indicação pela bibliografia, tanto as características relativas ao tipo recomendado para uso em sistemas de sinalização quanto às famílias tipográficas sugeridas. Ressalta-se, entretanto, que neste estudo apenas se levará em questão as características inerentes a família tipográfica e não a questões relacionadas a composição entre os elementos de um sistema, sejam gráficos ou formais, e a percepção através da cor.

1. Sinalização Segundo a SEGD (Society for Environmental Graphic Design), dentro dos sistemas

gráficos para ambientes, o processo de sinalização pode ser definido como o planejamento, projeto e especificação de elementos gráficos no ambiente construído ou natural. Para a Associação dos Designers Gráficos - ADG (2000), o design de sinalização procura aperfeiçoar, por vezes, até viabilizar, a utilização e o funcionamento de espaços, sejam eles abertos ou construídos. A função da sinalização corresponde a ajudar os usuários a entender o espaço, identificando, orientando e informando; ainda pode realçar visualmente o ambiente e proporcionar segurança às pessoas. Segundo Bastos (2004) a sinalização é o ambiente “falando” com os usuários, com sua própria personalidade.

Projetos de sinalização podem variar enormemente em tamanho e complexidade. Estes projetos precisam ser desenvolvidos com uma visão mais global e interdisciplinar, não somente definindo os conceitos gráficos (tipografia, pictogramas, setas, imagens, grafismos, diagramação e cor) e formais, mas considerando também as demais relações espaciais. Embora o termo sinalização possa ser considerado muito amplo e genérico, segundo Velho (2007), ao ir se modificando ao longo dos anos, ele reflete a complexidade ao incorporar novos atributos no seu desempenho (tais como o seu relacionamento com o ambiente, a introdução de uma linguagem gráfica mais expressiva e uma maior liberdade na escolha e no uso de tipografias e cores). Assim, um projeto de sinalização pode ser caracterizado pelo resultado da combinação de vários seus subsistemas.

Um sistema de sinalização pode ser composto pelo conteúdo, pela forma e pelos materiais e as técnicas. Ou seja, o conteúdo representa a demanda, o problema e a solução com que o designer tem que trabalhar. Ele pode ser representado através de: tipos (letras, palavras, frases); e figuras (pictogramas, setas, imagens e grafismos). A forma representa a maneira pela qual o conteúdo vai ser apresentado ao usuário. Os materiais e as técnicas são os meios de materializar o conteúdo e a forma. (CARDOSO, SCHERER, 2011).

2. Tipografia para Sinalização Baseadas no produto editorial, que imperou soberano neste segmento comercial durante

muito tempo (aprox. 1450-1950), as regras da tipografia contemplam o todo, ou seja, o tipo

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em performance na página. Compondo uma grande massa de texto (textura), a uniformidade gerada pelos espaçamentos contribui tanto ou mais do que o tipo em si para o fluxo confortável da leitura. Serifas e outros detalhes e seus benefícios são reais para a leitura, mas não precisam ser percebidos conscientemente pelo leitor. Vários desses detalhes são resultado de observação do comportamento dos processos industriais de impressão. Aspectos como a viscosidade da tinta, a alcalinidade do papel e até as características específicas de determinadas línguas geraram estes elementos. Uma orelha do “g” aumentada, um terminal mais pontudo ou uma serifa mais pesada e ligando-se de modo diferente a cada lado das hastes verticais não tem origem estético-artística, na maioria das vezes, mas sim uma resposta criativa e técnica às limitações de determinado processo de reprodução de um texto em um corpo (tamanho) específico, por exemplo.

É por esse motivo que algumas famílias incluem versões entre as quais parece difícil perceber a diferença, mas elas existem. São versões frequentemente denominadas como display, book, ou medium e caption. Nestas, a ideia é alterar sutilmente alguns detalhes como o contraste entre as hastes ou dimensões para que, quando usados em tamanhos diferentes, esses detalhes que funcionam de determinado modo em corpo 9 não sejam um detalhe esquisito e que chame a atenção quando usado em corpo 72. Estas alternativas também modificam significativamente os espaços entre letras, caracteres e linhas, entre outros detalhes.

O tamanho dos caracteres e a quantidade de texto usados em sinalização são, portanto, os grandes responsáveis pelos aspectos específicos que devemos considerar ao projetar para esta finalidade. A distância do observador é consideravelmente grande se comparada com um livro, revista ou jornal, e a quantidade de texto é ínfima. O usuário (equivalente ao leitor) está em movimento e quer apenas a informação direcional ou de identificação de determinado serviço oferecido. Autores consagrados da área recomendam alguns tipos que apresentam detalhes em determinados caracteres, que, ao serem drasticamente ampliados (em sinalização o uso de corpos com 30 cm é comum) resultam em um ruído, se fazem notar sobremaneira, mais atrapalham do que ajudam, pelo fato de chamarem atenção (UEBELE, 2006). Aquela serifa, aquele detalhe imperceptível no texto longo da página chama demasiada atenção quando uma única palavra curta (como “Saída”, por exemplo) com 20 cm de altura.

A necessidade de tipos em tamanho grande acarreta um problema de espaço, resultando em placas grandes demais, cuja fixação pode tornar-se crítica, além de gerar custos elevados. Assim, o desenho dos caracteres pode assumir certa condensação, desde que originalmente desenhada nessas características1, o que compensa um pouco. Em rodovias esses aspectos são ainda mais críticos, uma vez que o motorista está se deslocando em maior velocidade e a iluminação não é constante, o que frequentemente causa ofuscamento. À noite, o material refletivo usado gera uma espécie de contorno (halo) luminoso em volta dos caracteres, o que demanda um espaçamento maior entre eles.

No tocante a números, os old style (também conhecidos como números com ascendentes e descendentes ou desalinhados), eficientes para leitura em textos longos e horizontais, não o são aqui, tampouco para listas numeradas. O motivo é o mesmo: não temos textos longos em corpos pequenos; essa particularidade resulta exagerada em função da escala, causando estranheza para o usuário, o que gera retardamento na leitura em função da atenção que desperta - o que supera, neste caso, seus benefícios. Em termos de versatilidade o que realmente se necessita para sinalização são pesos médio e bold, além de condensadas ou semi-condensadas, e, isso sim, uma boa versão otimizada para corpos grandes, cuja denominação pode variar: display ou titling, Mesmo as famílias que apresentam estas variantes, normalmente, estão otimizadas para tamanhos considerados grandes para design editorial, o que significa corpos 20-72. Para Gibson (2009) os tipos de texto podem adicionar lirismo

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(sic) a um projeto, mas sempre que um número for usado isoladamente deve-se dar preferência aos maiúsculos (alinhados), caso contrário este chamará muita atenção e tende a ser interpretado como um ruído ou até como um erro, uma vez que grande parte das pessoas não está habituada a esta configuração.

As medidas tipográficas tradicionais também não se aplicam à sinalização, uma vez que a altura-x é mais determinante do que no design editorial, e essas alturas podem variar bastante entre as fontes. Nenhuma unidade de medida tipográfica tradicional é usada, devido a variação existente entre as fontes: se tomarmos um corpo de 72 pontos, por exemplo, para diferentes fontes, poderemos ter uma diferença de altura significativa dos caracteres. Adota-se o sistema métrico para especificar tamanhos e espaçamentos, e neste momento percebe-se que nenhum tipo está livre da intervenção do designer: este deve ter um sólido conhecimento tanto de desenho tipográfico, de legibilidade e das particularidades da sinalização. O tamanho e a disposição dos elementos informacionais na placa desempenha papel importante para a sua rápida e eficiente leitura. O dimensionamento correto pode se apoiar em tabelas e fórmulas matemáticas, abundantes e fáceis de serem encontradas na literatura, porém, não dispensam testes com protótipos. Uma simples impressão digital colocada na distancia que se pretende que a placa seja lida pode revelar detalhes sobre a tipografia (ou sobre o desenho de determinados ícones), além de sugerir ajustes dimensionais, proporcionais e de arranjo.

Assim, a sinalização demanda abordagem diferenciada tanto em termos de desenho como de espaçamentos. São poucas as fontes que foram elaboradas com esse propósito, como é o caso da Frutiger, para citar uma, projetada por Adrian Frutiger. 2.1. Características

A escolha do tipo ou da família tipográfica a ser usada, - deve levar em conta aspectos conceituais como a adequação ao ambiente e a mensagem a ser transmitida assim como os aspectos técnicos como a legibilidade. Neste ponto, é importante ressaltar que fontes têm personalidades específicas e sugerem certas associações. Por outro lado, é importante abordar os conceitos de legibilidade e leiturabilidade, que não são a mesma coisa, como pode parecer em um primeiro momento, embora uma influencie a outra. Legibilidade diz respeito ao reconhecimento que nos permite reconhecer caracteres individuais e distingui-los uns dos outros: aspectos como o tamanho e o contraste figura-fundo em relação ao seu suporte são essências, além de um desenho que se aproxime do que Frutiger chama de “núcleo das letras forjado por 500 anos de leitura no Ocidente” (FRUTIGER 2002). Leiturabilidade é a facilidade de leitura, diz respeito a composição e a diagramação do texto no suporte. A capacidade de leitura concentra-se na rapidez e facilidade com que o leitor assimila e apreende a informação. Apesar dos componentes individuais serem legíveis, isso não significa automaticamente que a leitura seja fácil. Lemos palavras não como sequências de letras, mas como grupos de letras. Esses grupos facilitam o rápido reconhecimento das palavras. Tudo que possa contribuir para interrupções desta captura quase que fotográfica das palavras torna mais difícil o processo da comunicação. O reconhecimento das palavras é mais fácil ao usarmos a combinação tradicional de caixa alta e baixa (maiúsculas e minúsculas), por isso criar um desenho mais particular e iconográfico para cada palavra, particularmente acentuado pelas variações de alturas geradas pelas ascendentes e descendentes – o que inexiste nas maiúsculas, que resultam em configurações muito semelhantes entre as palavras. O valor relativo do tipo (peso) também pode afetar a legibilidade: os valores médios são mais fáceis de ler devido ao equilíbrio visual entre os espaços interiores e a espessura das hastes das letras. Valores externos de tipos finos ou em negrito (bold ou black) são mais cansativos de ler, já que o contraste entre as hastes da letra e dos espaços internos são mais causadores de

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distrações. A tipografia perfeita é aquela não tão clara (ligth, leve) que desapareça e nem tão escura (bold, pesada) que suas partes internas fechem.

O espaçamento entre pares específicos de letras (kerning) necessita de uma atenção especial em projetos de sinalização. Como os elementos de informação carregam poucas palavras, sua estrutura deve ser visualmente correta para assegurar clareza e legibilidade. O fato de estas letras serem lidas a distancias muito maiores do que em um livro, por exemplo, requer características específicas e muito próprias tanto do desenho das letras como dos espaçamentos entre caracteres, palavras e entre linhas.

Deve-se, então, entender as necessidades tipográficas de um projeto e selecionar uma fonte que seja ao mesmo tempo adequada (clara, legível) e comunicativa (estar de acordo com a mensagem e o ambiente onde estará inserida). Para Calori (2007), a escolha do tipo é elemento chave na aparência gráfica de um sistema de sinalização. Para a autora, genericamente existem três fatores que podem auxiliar na seleção da tipografia para sistemas de sinalização: adequação formal, longevidade estilística e legibilidade. Bastos (2004), coloca que na escolha da família tipográfica, deve-se questionar: se o desenho do tipo tem personalidade; que peso deverá ser utilizado; se o tipo é altamente legível à distancia e quando iluminado à noite; se planejarmos construir letreiros em três dimensões (letra-caixa), as letras serão facilmente percebidas em angulo; e se o tipo de letra escolhido é compatível com as técnicas de execução/fabricação.

Como este trabalho concentra-se nos aspectos técnicos referentes a legibilidade do tipo para uso em sistema de sinalização, as características levantadas terão como base aspectos básicos pertinentes, como menciona, por exemplo, Calori (2007): ter clareza, ou seja, possuir letras de fácil reconhecimento; ter uma grande altura-x; ter peso médio, com larguras que não são nem muito grossas nem muito finas; e ter largura de caractere médio ou normal, com formas que são nem muito condensados nem muito expandidas. Bastos (2004), mais pragmaticamente, coloca que ao selecionar um determinado tipo de letra para sinalização deve-se levar em conta sete itens (figura 1), ressaltando-se que estas serão as características tipográficas que serão utilizadas para análise das famílias selecionadas:

� altura da maiúscula ou versal, que deve ser proporcional à largura da letra (1, 2); � desenho, que deve ser o mais robusto possível, com pouco contraste de hastes (3); � descendente, que deve ser o menor possível (4); � ascendente, que deve ser, preferencialmente, mais alto que a maiúscula (5); � forma interna (também conhecida como olho ou oco), que deve ser o mais aberta

possível (6); � altura-x, que deve ser grande (7); � serifa (de preferência sem serifa ou com serifa forte, do tipo slab ou egípcia).

Figura 1: Características de uma fonte adequada ao uso em sinalização. A escolha de uma família versátil é outro ponto importante. A necessidade de variantes

vai depender da complexidade do sistema de informações, e, de modo geral, as versões bold e itálico são desejáveis, podendo ser necessários para qualquer projeto2. Todavia a hierarquia pode ser conferida apenas alterando-se tamanho. Uma fonte normal padronizada terá símbolos

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e personagens suficientes para realizar o trabalho de sinalização da média. Os números têm um papel importante na sinalização, por isso a disponibilidade de um conjunto de números que se encaixam nas necessidades do projeto é um importante aspecto a ser levado em conta.

2.2. Análise de Famílias Tipográficas Foram consultadas as bibliografias referentes a sistemas de sinalização relacionadas a

tipografia: A Sign Systems Manual de Crosby, Fletcher e Forbes (1970); The Wayfiding Handbook de Gibson (2009); Wayshowing de Mollerup (2005); The Americans Disabilities Act White Paper da SEGD (1993); Signage Design Manual de Smitshuijzen (2007); e Signage System & Information Graphics de Uebele (2006). Nestas, foram levantadas as famílias tipográficas indicadas e, posteriormente, destacadas as mais citadas (tabelas 1a e 1b). Outras bibliografias examinadas, apesar de abordar o tema tipografia, não sugerem nenhuma família tipográfica especificamente.

Tabela 1a: Levantamento Famílias tipográficas.

Tabela 1b: Levantamento Famílias tipográficas.

As famílias tipográficas mais citadas foram: Univers (5 vezes); Frutiger, Futura e Helvética (4 vezes); Gill Sans (3 vezes); e Akzidenz Grotesk, Franklin Gothic e Interstate (2 vezes). As demais fontes obtiveram apenas uma citação entre as seis bibliografias

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consultadas. Assim, passa-se ao estudo de cada uma das oito fontes destacadas, em ordem alfabética:

Akzidenz Grotesk: desenhada por Günter Gerhard Lange (1921-2008) em 1956, sobre

um tipo mais antigo denominado Accidenz-Grotesk, é a ancestral da Helvetica - em alemão Akzidenz significa tipo de comércio e Grotesk sem serifa. Segundo Uebele (2006), esta fonte na sua versão principal e suas variações bold, light e heavy são recomendáveis para uso em sinalização. Smitshuijzen (2007) não especifica entre os pesos book (que vem a ser um peso médio, entre o normal e o bold) ou bold.

Figura 2: Família da Akzidenz Grotesk CE Roman e suas características.

No que diz respeito às características levantadas anteriormente, a Akzidenz Grotesk (figura 2) possui (1,2) altura da maiúscula proporcional a largura (proporção de 10 x 7,2 módulos, ou seja, 1,3:1); (3) desenho robusto com pouco contraste de hastes; (4) descendente um pouco menor que a ascendente; (5) ascendente da mesma altura que a maiúscula; (6) forma interna bastante aberta (5,2 módulos na vertical por 4 módulos na horizontal – 1,3:1); (7) altura-x grande (6,8 módulos); e, como todos os tipos selecionados, não possui serifa. Estes resultados, assim como os resultados das análises das demais fontes selecionadas estão na tabela 02.

Franklin Gothic : baseado na série original Franklin Gothic da American Type

Founders, de 1902, com aumento da altura x e caracteres condensados para legibilidade e economia. Enquanto Smitshuijzen (2007) não menciona o peso recomendado, Uebele (2006) sugere unicamente a versão heavy.

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Figura 3: Família da Franklin Gothic Medium e suas características.

Frutiger : de 1976 é resultado de um refinamento da fonte “Roissy” (criada para a sinalização do aeroporto Charles de Gaulle de Paris, em 1968). A partir daí estabeleceu-se como o estado da arte tipográfico para sinalização. Foi redesenhada por Akira Kobayashi (Linotype) em 2001, gerando a Frutiger Next, com novos pesos e itálicas verdadeiras.

Figura 4: Família da Frutiger LT Std 55 Roman e suas características.

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Futura : com sua rigorosa geometria, foi desenhada por Paul Renner (1878-1956) entre 1927-8 e é a expressão da filosofia de design da Bauhaus, embora Renner nunca tenha feito oficialmente parte da escola.

Figura 5: Família da Futura BT Medium e suas características.

Gill Sans: desenhada por Eric Gil (1982-1940) entre 1928-32, foi originalmente

produzida para o London & North Eastern Railway (metrô de Londres) pelo calígrafo Edward Johnston (1872-1944), e utilizada para todos os sinais, tabelas de horários e publicidade da empresa. Gill foi aluno de Johnston.

Figura 6: Família da Gill Sans MT Regular e suas características.

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Helvética: desenvolvida na Suíça, para competir com a fonte Akzidenz Grotesk, conseguiu se tornar a fonte mais popular do mundo. Foi originalmente chamada de "Neue Haas Grotesk" quando desenvolvida por Max Miedinger (1910-1980) e Edouard Hoffman (1892-1980) em 1956-58, e renomeada Helvética em 1961. Em 1983 foi redesenhada e ampliada pela Linotype como Neue Helvetica com alterações sutis e vários acréscimos em sua família. O sucesso da Helvetica gerou vários clones, dentre os quais a mais conhecida é a Arial, bastante popular por ter sido embutida no sistema operacional Windows 95.

Figura 7: Família da Helvética LT Std Roman e suas características.

Interstate: baseada na tipografia utilizada nas placas das rodovias interestaduais

norte-americanas foi desenvolvida por Tobias Frere-Jones (1970-__) em 1993-99.

Figura 8: Família da Insterstate Regular e suas características.

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Univers: desenvolvida por Adrian Frutiger (1928-__) em 1954 faz parte de uma família que oferece uma gama bastante ampla de estilos e pesos. Foi redesenhada e ampliada (63 versões) em 2000 e rebatizada Linotype Univers.

Figura 9: Família da Univers LT Std 55 Roman e suas características.

De acordo com o resumo da análise (tabela 2), verificam-se as características colocadas por Bastos (2004).

Tabela 2: Levantamento Famílias tipográficas.

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Pode-se, então, aferir algumas características como a que diz respeito ao (3) desenho, onde todas as fontes podem ser classificadas como robustas com pouco ou pouquíssimo contraste de hastes, exceto a Franklin Gothic; na relação entre (4) descendente e ascendente, onde as fontes Akzidenz Grotesk / Frutiger / Futura / Interstate / Univers apresentam a descente menor, configurando boa legibilidade; no que se refere a relação das (5) ascendentes, maiores que as maiúsculas nas fontes Frutiger / Futura; e na altura-x (7), onde se sobressaem as fontes Interstate e Franklin Gothic. Nota-se que as fontes citadas na bibliografia específica se sobressaem em pelo menos duas das características analisadas. Conclui-se então que as características apontadas por Bastos (2004) mostram pertinentes na categorização de fontes indicadas para uso em sistemas de sinalização. Ressalta-se, porém, que a fonte mais citada na bibliografia – Univers, não é a que apresenta os mais destacados índices na análise, levando a conclusão de que não são apenas as características, isoladas, que indicam uma boa fonte tipográfica, mas também o conjunto e o arranjo dos tipos. Assim, avaliaram-se ainda as oito famílias tipográficas de acordo com o teste de Frutiger (2002), aplicando desfoque gradativo dos caracteres para simular o efeito de distanciamento do observador em relação aos caracteres. Este teste (figuras 10a e 10b) revelou a necessidade de “abrir” terminais arredondados que na Helvética / Univers, por exemplo, tendem a “fechar” à medida que nos distanciamos. Como podemos observar, a fonte Frutiger resiste a um desfoque/afastamento superior à da Akzidenz Grotesk / Helvetica / Univers. Percebe-se também que seu desenho levemente condensado não prejudica a legibilidade, e ao mesmo tempo permite um espaçamento mais generoso entre os caracteres, o que é benéfico, pois evita a fusão de uma letra com as suas vizinhas. Essa tendência de caracteres com espaços internos mais abertos tem sido amplamente adotada pelos tipos contemporâneos.

Figura 10a: teste de Frutiger simulando leitura à distancias progressivas.

Figura 10b: teste de Frutiger simulando leitura à distancias progressivas.

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Ainda pode-se observar, em relação ao teste: � quanto mais os caracteres cuja estrutura e desenho remete a um círculo (caso do “c”,

do “e” tendem a “fechar” esse círculo, menos resistem ao distanciamento, pois logo as partes separadas se tocam e podem ser perfeitamente confundidos com outros caracteres do alfabeto.

� quanto mais diferenciado cada caractere for em relação a todos ou outros do alfabeto, melhor. O contraste de direção das hastes ao se encontrarem é mais importante do que o contraste entre as espessuras destas. O “amaciamento” transicional no “a” minúsculo da Helvética, por exemplo, embora gracioso, não resulta melhor que o angulo formado pelo mesmo detalhe na maioria das outras fontes aqui apresentadas, bem como a perna arredondada de seu “R”, que aproxima seu desenho de alguns tipos de “A” maiúsculo.

� os caracteres podem ser parcialmente condensados (“semi-condensed”), ocupando assim um espaço horizontal individual menor – o que permite - e compensa – um espaçamento entre letras mais generoso e confere maior resistência ao afastamento do observador.

3. Conclusões Algumas diferenças podem ser percebidas ao longo de um exame da bibliografia

oferecida, e, principalmente entre Smithshuijzen (2007) e Uebele (2006) as orientações diferem: o primeiro inclui, entre as recomendadas, algumas famílias que se sabe foram produzidas com o propósito de atender à necessidades específicas do mercado de livros ou periódicos impressos - o que, por si só, deveria excluí-las da lista. Senão, como afirmar que existem tipos adequados e que foram cuidadosamente desenhados levando em conta necessidades específicas para a leitura de sinalização? Afirmá-las implicaria em negar a necessidade de um projeto tipográfico específico para sinalização, o que, como levantado, tem características próprias. Embora a gama de fontes adequadas para uso em sinalização seja muito mais ampla do que a propagada e tradicional fonte robusta e sem serifa, a bibliografia consultada indica algumas fontes com características particulares, como altura-x grande e o baixo contraste de espessura das hastes, além de um desenho “aberto”, onde as proporções entre forma e contra-forma (espaços brancos internos) sejam proporcionais – e se mantenham proporcionais ao nos distanciarmos. Estas são recomendações mínimas para a correta funcionalidade de uma tipografia em um projeto de sinalização.

Fica como sugestão para futuros trabalhos, aplicar esta análise a outras fontes para verificar sua funcionalidade e sua resistência ao distanciamento do observador. Assim como estudar as relações de composição entre os tipos e entre a tipografia e os elementos de um sistema e a sua percepção através da cor.

Notas 1 Referimo-nos aqui aos tipos originalmente assim desenhados, e não ao processo de condensação feito posteriormente através de software, pois este gera distorções entre as proporções das hastes. 2 Há uma crescente oferta das assim chamadas “superfamílias”, onde há inúmeras variações de espessuras e, não raro, versões serifadas e sem serifa e até uma hibridização dessas (chamadas semi-serifadas). Embora tal configuração seja útil para produtos editorias, onde a hierarquização pode assumir maior complexidade, tamanha quantidade de integrantes de uma família normalmente não são necessárias em um projeto de sinalização.

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Referências

ADG ASSOCIAÇÃO DOS DESIGNERS GRÁFICOS (Brasil). ABC da ADG: glossário de termos e verbetes utilizados em design gráfico. São Paulo: ADG, 2000. BASTOS, Roberto. Sinalização: a Comunicação Visual a serviço da identidade e dos ambientes. In MAGALHÃES, Eliane (Org.). Pensando Design – Porto Alegre: UniRitter, 2004. CALORI, Chris. Signage and Wayfindig Design. Hoboken, New Jersey: John Wiley & Sons, 2007. CARDOSO, Eduardo; SCHERER, Fabiano de Vargas. dga #1: publicação digital dos trabalhos da disciplina Projeto Integrado I. Porto Alegre: Marcavisual, 2011. 1 DVD . CROSBY, Theo; FLETCHER, Alan; FORBES, Colin. A Sign Systems Manual. New York: Praeger, 1970. FRUTIGER, Adrian, Sinais e Símbolos - Desenho, Projeto e Significado. São Paulo: Martins Fontes, 2004. FRUTIGER, Adrian. Em Torno a la tipografia. Barcelona: Gustavo Gili, 2002. GIBSON, David. The Wayfiding Handbook. Information Design for Public Spaces New York: Princeton Architectural Press, 2009. MOLLERUP, Per. Wayshowing – A Guide to Environmental Signage. Baden: Lars Müller, 2005. SEGD. The Americans Disabilities Act White Paper. Cambridge: SEGD Society of Environmental graphic Design, 1993. SMITSHUIJZEN, Edo. Signage Design Manual. Baden: Lars Müller, 2007. UEBELE, Andreas. Signage System & Information Graphics. London: Thames & Hudson, 2006. VELHO, Ana Lucia de Oliveira Leite. O Design de Sinalização no Brasil - A Introdução de Novos Conceitos de 1970 a 2000. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2007. Dissertação de mestrado.

Agradecimentos Aos acadêmicos de Design Visual Camila Ozio e Vinicius Ludwig Strack.