lição 06 - santificarás o sábado

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Pr. Andre Luiz

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Pr. Andre Luiz

Foi dito na primeira lição que as tábuas da Lei possuem 4mandamentos em uma tábua e 6 em outra e que os quatro primeiros sereferem ao relacionamento do homem com Deus, e os outros seis dizemrespeito ao relacionamento com nossos semelhantes. O quartomandamento se coloca, em termos de relacionamento vertical ehorizontal, nos dois planos, é uma ponte que liga os mandamentosteológicos com os mandamentos éticos. Ele possui caráter social ehumanitário e também função religiosa. Muitas são as controvérsias emtorno deste mandamento, e todas se referem à sua interpretação. Oquarto mandamento será melhor entendido quando analisarmos opropósito para o qual ele foi dado.

Shabat (hebraico ,שבת shabāt, "descanso/inatividade"), é o nomedado ao dia de descanso semanal no judaísmo, simbolizando o sétimo dia emGênesis, após os seis dias de Criação. A palavra hebraica ,שבת shabāt, temrelação com o verbo ,שבת shavāt, que significa "cessar", "parar". Apesar de servista quase universalmente como "descanso" ou um "período de descanso",uma tradução mais literal seria "cessação", com a implicação de "parar otrabalho". Portanto, Shabat é o dia de cessação do trabalho; enquanto quedescanso é implícito, mas não é uma denotação da palavra em si. O Pr EsequiasSoares, em obra já citada anteriormente, sobre o sábado, diz o seguinte: “Osábado e a semana tiveram a sua origem em Deus. A divisão hebdomadária(adj. Semanal; que se realiza, acontece ou surge a cada semana; que se refere àsemana, observação nossa.)do tempo aparece desde os dias pré-diluvianos e noperíodo patriarcal (Gn 7.4, 10, 12; 29.27, 28). Mas a semana na Mesopotâmiaseguia as fases da lua, por isso nem sempre o sábado coincidia com o sétimodia. A semana dos egípcios era de dez dias. Aqui está a base do sábadoinstitucional e do sábado legal.”Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma

Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 61-62.. O sentido de Shabat aqui é cessar,logo é sinonimo de cessar de criar indicando a obra concluída e não um períodode ociosidade, pois segundo se infere dos textos de Is 40.28 e Jo 5.17, Deus nãodescansa, Ele continua ativo sustentando todas as coisas (Hb 1.3)]

Dada a explicação do subtópico anterior, acrescento que Jesustambém assentou-se à destra de Deus depois de concluir a obra da redenção (Hb8.1; 10.12). Ainda na obra suprareferenciada, do Pr Esequias Soares, ele afirmaque “A expressão ‘acabado no sétimo dia’ parece indicar que houve mais algumaatividade de Deus na criação nesse dia. É o que pensam muitos expositores daatualidade. Deus terminou a sua obra no dia sexto – segundo a Septuaginta e oPentateuco Samaritano”.]

A base institucional e legal do sábado foi a celebração de Deus no sétimo dia,

após a criação. O Criador abençoou e santificou esse dia.

Deus abençoou e santificou o sétimo dia como um repouso contínuo, adispensação da inocência, interrompido por causa do pecado. Agostinho deHipona lembra que não houve tarde no dia sétimo, pois Deus o santificou paraque ele permanecesse para sempre: "Ora o sétimo dia não tem crepúsculo. Nãopossui ocaso porque Vós o santificastes para permanecer eternamente"[Confissões, Livro XIII.36). Adão e Eva viveram esse repouso durante a inocênciaaté a Queda: "Foi o princípio e o tipo de repouso ao que a criação, depois quecaiu da comunhão com Deus pelo pecado do homem, recebeu a promessa deque uma vez mais seria restaurada pela redenção, em sua consumação final"(KEIL & DELITZSCH, tomo 1, 2008, p. 41). O sábado da criação aponta para odescanso de Deus para o mundo inteiro no fim dos tempos: "Portanto, restaainda um repouso para o povo de Deus" (Hb 4.9). O sábado legal não foiinstituído aqui. Isso só aconteceu com a promulgação da lei. O sétimo dia é ofundamento da guarda do sábado dada aos israelitas, visto que este dia foisantificado desde o princípio do mundo. O sábado institucional é para toda ahumanidade e por isso Deus o santificou antes de estabelecê-lo comomandamento para Israel. "A santificação do sábado institui uma ordem para ahumanidade segundo a qual o tempo é dividido em tempo e tempo sagrado...Por santificar o sétimo dia, Deus instituiu uma polaridade entre o dia a dia e osolene, entre dias de trabalho e dias de descanso, a qual deveria serdeterminante para a existência humana" (WESTERMANN, 1994, p. 171).

Solano Portela escreve em seu artigo ‘O Quarto Mandamento’, oseguinte: “Em nossas bíblias o quarto mandamento está redigido assim –"Lembra-te do dia de sábado para o santificar...". A palavra que foi traduzida"sábado", é a palavra hebraica shabat, que quer dizer descanso. É correto,portanto, entendermos o mandamento como "... lembra-te do dia de descansopara o santificar". Esse "dia de descanso" era o sétimo dia no AntigoTestamento, ou seja, o nosso "sábado". No Novo Testamento, logo na igrejaprimitiva, vemos o dia de ressurreição de Cristo marcando o dia de adoração edescanso. Isso é: o domingo passa a ser o nosso "dia de descanso". Os apóstolosacataram esse dia como apropriado à celebração da vitória de Jesus sobre amorte (At 20.7; 1 Co 16.2; Ap 1.10).

O Pr Esequias Soares comenta o seguinte: “O sétimo dia da criaçãonão era mandamento, mas revela a necessidade natural do descanso de todanatureza, homem, animal, máquina, agricultura. O repouso noturno de cadadia não é suficiente para isso. Deus abençoou e santificou esse dia não somentepara comemorar a obra da criação, mas para que nesse dia todos cessem otrabalho tendo em vista o descanso físico e mental e também o culto deadoração a Deus. É importante que todos os seres humanos possam refletir queo universo foi criado por um Deus pessoal, Todo-poderoso, sábio etranscendente, que planejou todas as coisas que foram criadas. Parece que essedia foi logo esquecido pelo gênero humano, mas há resquício dele em muitospovos da antiguidade.” Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em

Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 63-65

O sábado institucional se refere à necessidade de um período de descanso para

a Criação e para o homem.

O apóstolo Paulo, judeu, doutor da Lei e guardador do sábado, emGálatas 3.17, escreve que a Lei só veio 430 anos (depois de Abraão), sendoassim, o sábado só passou a ser instruído e guardado pelos hebreus após a saídado Egito e isso pode ser conferido a partir do capítulo 16 de Êxodo que mostraclaramente as primeiras instruções sobre o dia judaico.]

O sábado legal é exclusividade dos israelitas e nenhum povo da terrarecebeu tal responsabilidade, nem mesmo a Igreja (Êx 31.13- 17). A adoraçãono tabemáculo acontecia semanalmente e isso justifica a instrução da lei dosábado na presente seção que aborda a ordem do culto e demais serviços notabemáculo. O tema do sábado havia sido tratado por ocasião do maná (Êx16.23-30) e no quarto mandamento (Êx 20.8-11); no entanto, Javé retoma oassunto aqui para que o presente preceito seja observado de maneiraapropriada. A observância do sábado legal é perpétua, sob pena de mortepara quem violar (vv. 14-6) e isso por se tratar de um sinal entre Javé e Israel(Êx 31.13, 17). Não é mandamento para todos os povos nem para a Igreja. É osegundo sinal para os israelitas, que já tinham a circuncisão como primeirosinal desse concerto (Gn 17.10-14). Ao longo dos séculos, os judeus trataramesses dois preceitos com a mesma atenção. O Decálogo registrado emDeuteronômio apresenta o sábado como memorial da saída dos israelitas doEgito: "Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o SENHOR,teu Deus, te tirou dali com mão forte e braço estendido; pelo que o SENHOR,teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado" (Dt 5.15). O sábadolegal é mandamento exclusivo para o povo de Israel. Esequias Soares. Os Dez

Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 68-69

O quarto mandamento é o mais longo do Decálogo e difere dos trêsprimeiros, cuja formulação é negativa. O versículo 8 introduz o mandamentopositivo que impõe a obrigação de santificar o sábado, e o versículo 9 fala sobrea obrigação de trabalhar seis dias. Isso se repete no sistema mosaico (Êx23.12;31.13-17; 34.21; Lv 23.3), mas aqui aparece também a formulação negativa.Quando Moisés no seu discurso em Deuteronômio repete o Decálogo substitui overbo hebraico usado para "lembrar" zãchor,n "recordar, lembrar", por outro,"guardar", shãmôr,72 "guardar, cuidar, vigiar", quando diz: "Guarda o dia desábado" (Dt 5.12). Os dois verbos estão no infinitivo absoluto, que tem funçãode um forte imperativo, bastante comum em leis e mais próximo de um futurocominatório, ameaçador. O propósito do uso deste verbo "lembrar" aqui emÊxodo é manter o sábado como dia santo. Isso mostra que o povo já conheciaesse dia, mas parece que a sua observância não era levada a sério antes darevelação do Sinai. As palavras "como te ordenou o SENHOR, teu Deus" (Dt5.12b) não aparecem em Êxodo e são uma referência ao Sinai, quando a lei foipromulgada, visto que Moisés está relatando um fato acontecido no passado.Fica evidente que houve um sábado antes da promulgação da lei. Muitosacreditam que o verbo "lembrar" se refere ao relato do maná no deserto (Êx16.22-30). Isto fica claro pelo fato de que "a maneira incidental em que amatéria é introduzida e a repreensão do Senhor pela desobediência do povosugerem que o sábado já era previamente conhecido" (TENNEY, vol. 5, 2008, p. 267).

O sábado legal é um dia de descanso, introduzido na cultura do povo judeu por

meio da Lei.

Os quatro evangelhos registram os conflitos entre Jesus e os

fariseus sobre a interpretação do sábado.

A instituição do sábado legal no Decálogo tinha o propósito duplo,social e espiritual, de cessar os trabalhos a cada seis dias de labor para dardescanso aos seres humanos e aos animais e dedicar um dia inteiro paraadoração a Deus: 8 Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. 9 Seis diastrabalharás e farás toda a tua obra, 10 mas o sétimo dia é o sábado doSENHOR, teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem o teu filho, nem atua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teuestrangeiro que está dentro das tuas portas. 11 Porque em seis dias fez oSENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há e ao sétimo dia descansou;portanto, abençoou o SENHOR o dia do sábado e o santificou (Êx 20.8-11).Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD.

pag. 66.]

A oposição crescente ao ministério de Jesus pelos líderes religiososencontra sua expressão total na observância do sábado, a instituição maissagrada entre os judeus. Em Mt 12.3, Jesus apoia a ação de seus discípulosatravés de seu apelo ao exemplo de Deus (1Sm 21.1-6), verificando que asregulamentações normais do sábado podem precisar render-se às necessidadeshumanas. A necessidade humana tem precedência em uma rigorosainterpretação da Lei, que deixa escapar seu propósito mais amplo. Jesusreivindica sua divindade em Mt 12.6-8, logo, como Senhor do sábado, elepoderia fazer o que bem entendesse com o mesmo!]

A cerimônia da circuncisão acontecia cortando a pele quecobre a cabeça do órgão genital masculino.Seu significado era bem mais profundo do que simplesmenteum corte visível na carne. A circuncisão mostrava que aquelacriança fazia parte da aliança de Deus feita com o povo deIsrael. É claro que não era apenas o corte na carne que faziacom que a criança, e mais tarde o adulto, fosse alguém queandava na presença de Deus. Era necessário obediência àsleis do Senhor para que, efetivamente, a circuncisão tivesserealmente valor.

O Centro Apologético Cristão de Pesquisas, citando a BíbliaApologética, escreve sobre João – 7.21-24: “Frequentemente Jesus enfrentavapolêmica com os judeus por causa do sábado. Os judeus eram ferrenhosguardadores do sábado e sempre estavam discutindo com Jesus sobre oassunto.O que é admirável no texto é Jesus afirmar que a guarda do sábado ficasubordinada à circuncisão. Uma criança que devesse ser circuncidada no oitavodia do seu nascimento (Gn 17.10; Lv 12.3; Jo. 7:21-24) para que a Lei nãoficasse invalidada, colocava a guarda do dia em posição inferior à circuncisão.Se a circuncisão é de valor secundário, inexpressivo, e nenhum cristão hoje apratica, como terá a guarda do sábado como preceito? Ellen Gould Whiteensinava que a guarda do sábado implicava em salvação. O ensino de Jesussobre o sábado é diferente, Ele é Senhor do Sábado”. http://www.cacp.org.br/o-sabado-e-

a-circuncisao/]

O sábado representava o selo da aliança mosaica (Êx 20.10; Êx 23.12; 31.15; Dt 5.15; Is 56.4-6);

O sábado foi separado como santo (Êx 16.23-29; 20.10-11; 31.17);

Era um sinal entre Deus e seu povo “Israel” (Êx 31.13; Lv 26.14-16; Ez 20.12,20);

Esse dia foi ordenado por Deus para que os filhos de Israel lembrassem da libertação do Egito (Dt

5.15);

Era associado a festas solenes, especialmente aquelas em dia de lua cheia (Am 8.5; Os 2.13; Is

1.13);

Era um sinal de lealdade entre Israel e Yahweh (Is 56.2; Ez 20.12,21);

Era um dia de deleites e felicidades, não um dia de obrigações infelizes (Nm 10.10; Is 58.13; Os

2.11);

Era para beneficiar aos pobres e escravos (Êx 23.12; 20.10; Dt 5.14-15).

“A observância do sábado nos dias do ministério terreno de Jesushavia se tornado externa e formal. As autoridades religiosas de Israel haviamcriado muitas restrições e estabeleceram regras meticulosas. A Mishnah,antiga literatura religiosa dos judeus, nos tratados Shabbat e Erub, registraminúcias de como o sábado deve ser observado. A tradição dos anciãos criou39 proibições concernentes ao sábado. Por essa razão, o Senhor Jesus entroudiversas vezes em conflito com os escribas e fariseus. Uma delas aconteceuquando ele defende os seus discípulos por colherem espigas no sábado (Mt12.1-5). 1 Naquele tempo, passou Jesus pelas searas, em um sábado; e os seusdiscípulos, tendo fome, começaram a colher espigas e a comer. 2 E os fariseus,vendo isso, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícitofazer num sábado. 3 Ele, porém, lhes disse: Não tendes lido o que fez Davi,quando teve fome, ele e os que com ele estavam? 4 Como entrou na Casa deDeus e comeu os pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem aos quecom ele estavam, mas só aos sacerdotes? (Mt 12.1-4). A passagem paralelaaparece em Marcos 2.23-26 e Lucas 6.1-4. Em todas elas, o Senhor Jesusmencionou um trecho do Antigo Testamento em que Davi comeu o pão daproposição na casa do sacerdote Abiatar, quando estava sob a perseguição deSaul (1 Sm 21.6). Assim, ele colocou a guarda do sábado na mesma categoriado preceito cerimonial. A lei proibia que estranhos comessem do pão sagradoda proposição, o qual era restrito aos sacerdotes (Êx 29.33; Lv 22.10). Jesus foi

além e disse que os sacerdotes no templo podiam violar o sábado e ficar semculpa (Mt 12.5). Um mandamento moral é obrigatório por sua próprianatureza. Não existe concessão para preceitos morais; aqui, a vida está acimado sábado. Em outra ocasião, o Senhor Jesus torna a considerar o sábado umpreceito cerimonial com base na própria lei de Moisés. Ele nem precisoureivindicar a sua autoridade de Filho de Deus e Messias, ao lembrar àsautoridades religiosas que a circuncisão de uma criança pode ser feita num diade sábado. A lei prescreve que o menino deve ser circuncidado no oitavo dia deseu nascimento (Lv 12.3). Jesus disse que a circuncisão pode ser feita mesmoquando o oitavo dia coincide com sábado (Jo 7.22, 23). Jesus declarou: "Osábado foi feito por causa do homem, e não o homem, por causa do sábado"(Mc 2.27). Muitos comparam essas palavras a uma frase do Talmude creditadaao rabi Simeon ben Menasya, cerca de 180 d.C.: "O sábado foi dado a vocês,não vocês entregues a ele". A interpretação judaica diz respeito à permissão daquebra do sábado em casos especiais, como a vida em perigo. Mas o que Jesusdisse significa que os seres humanos não foram criados para observar osábado, mas que o sábado foi criado para o benefício humano. Ele não disseque o sábado foi feito por causa dos judeus ou de Israel, mas por causa detodos os seres humanos. O sábado legal, do Decálogo, foi dado a Israel comosinal entre Javé e os israelitas (Êx 31.13, 17; Dt 5.15; Ez 20.12). Aqui, o SenhorJesus se refere ao sábado institucional que Deus estabeleceu para o bem-estare gozo de todos os seres humanos, e isto está acima de observância meticulosado sábado”. Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 69-71.

A frase "Assim, o Filho do Homem até do sábado é senhor" (Mc 2.28)e as passagens paralelas (Mt 12.8; Lc 6.5) são disputadas pelos expositores doNovo Testamento. Há duas linhas principais de interpretação: a) a autoridadesobre o sábado foi conferida aos seres humanos, e b) trata-se do próprio SenhorJesus. A primeira nos parece menos aceitável porque Deus nunca delegouautoridade sem limites aos humanos e, também, porque a expressão grega hohuios tou anthrõpos, "o Filho do Homem", no singular, é título messiânico e nãorelativo a humanos. Está claro que Jesus se referia a si mesmo. Esta é a melhorinterpretação. Ele revelou seu poder e sua autoridade sobre as enfermidades,sobre a natureza, sobre todos os poderes das trevas, sobre a morte e o inferno;assim, nada mais natural ser mesmo o Senhor do sábado. O sábado veio deJavé e somente ele tem autoridade sobre a instituição. Então, não há outro nouniverso investido de tamanha autoridade, senão o Filho de Deus. Mais umavez, o Senhor Jesus Cristo apresenta o profeta Oseias como autoridade parafundamentar seu ensino (Mt 12.7; Os 6,6). Ele acrescentou ainda que é "lícitofazer bem nos sábados" (Mt 12.12). Isso o próprio Jesus o fez (Mc 3.1-5; Lc13.10- 13; 14.1-6; Jo 5.8-18; 9.6, 7, 16), e nós também devemos fazer o bem,não importa qual seja o dia da semana. Como o sábado do relato da criação,não é regra legal opressiva; é chamado de sábado institucional que setransferiu para o domingo por causa da ressurreição de Jesus, mas não comomandamento. Assim, como nada há no Novo Testamento que indique a sua

observância, isso por si só mostra que o quarto mandamento não é um preceitomoral. Esta interpretação é corroborada pelo fato de nem Jesus nem osapóstolos ensinarem a guarda do sábado. O sábado não foi mencionadoquando Jesus citou os mandamentos para o moço rico (Mt 19.17-19). Toda a leise resume no amor a Deus e ao próximo (Mt 7.12; 22.40; Mc 12.31; Rm 13.10).O apóstolo Paulo omitiu o quarto mandamento (Rm 13.9). Ele consideravaretrocesso espiritual guardar dias, meses e anos (G1 4.10, 11). Os primeiroscristãos eram judeus de origem e era natural para eles observar os serviços dasinagoga; ainda hoje, muitos judeus que são convertidos à fé cristã preferemnão abrir mão de sua identidade judaica, principalmente aqueles que residemem Israel. É mais uma questão cultural. Paulo via o sábado e os preceitosdietéticos, o kashrut, como mera opção pessoal. E, mesmo não havendo provade que o apóstolo distinguisse preceitos morais e cerimoniais, aqui ele coloca osábado e o kashrut na mesma categoria (Rm 14.1-6). Segundo Paulo, o antigoconcerto foi abolido (2 Co 3.7-14) , incluindo o sábado (Os 2.11). De fato, isso jáera anunciado desde o Antigo Testamento (Jr 31.31-34). Paulo disse que Jesusriscou na cruz "a cédula que era contra nós nas suas ordenanças" (Cl 2.14). Osubstantivo grego para "cédula" é cheirgraphon, um hapax legomenon,literalmente, "escrito à mão”. É um documento escrito à mão usado aquimetaforicamente. O termo aparece na literatura grega extrabíblica com váriossignificados: "lei mosaica, obrigação escrita, contrato (ROBINSON, 2012, p.984); "registro de uma conta financeira, conta, registro de dívida" (LOUW &NIDA, 2013, pp. 352, 353). É um certificado de dívida, uma nota promissória. A

ordenança, ou dogma, significa "decreto, ordenança, edito", um termo usadotambém em referencia à lei de Moisés (Ef 2.15). É esse o sentido aqui, pois Jesusdisse que a lei nos acusa (Jo 5.45). O pensamento paulino revela o aspectocondenatório da lei mosaica (Dt 27.26; 1 Co 15.56; Gl 3.10) e também o padrãodivino para a vida humana (Rm 7.13, 14). A acusação da lei contra nós foicancelada na cruz do Calvário, e aí o apóstolo inclui o sábado. O apóstoloemprega os dois termos "cédula" e "ordenança" metaforicamente para dizerque fomos perdoados e estamos livres de legalismo: "Portanto, ninguém vosjulgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da luanova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é deCristo" (Cl 2.16, 17). Com exceção do sangue (At 15.20, 28), as restriçõesdietéticas de Levítico foram removidas, pois Deus purificou os animaiscerimonialmente imundos (At 10.12-15). Nenhum alimento é imundo por simesmo (Rm 14.14, 20; 1 Tm 4.3, 4). O que contamina o ser humano é o que saidele, não o que entra (Mt 15.11-20). O sábado cerimonial é um termo paradesignar os festivais de Israel que englobam as festas anuais, mensais esemanais (1 Cr 23.31; 2 Cr 2.4; 8.13; 31.3; Ez 45.17). O sábado cerimonial já estáincluído na expressão "dias de festa". Assim, a "lua nova", refere-se à festamensal e a expressão "dos sábados" diz respeito aos sábados semanais. O novoconcerto nos isenta de todas essas coisas. Paulo parece empregar umalinguagem platônica no tocante ao mundo real e ao mundo das ideias no v. 17.A sombra é temporária e identifica com imperfeição o objeto que a projetou,sendo portanto inferior a ele. Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em

Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 71-74.]

Em o Novo Testamento, Jesus é o Senhor do sábado e somente Ele tem

autoridade sobre esta instituição.

O sábado legal do Decálogo foi estabelecido para Israel se lembrar daescravidão no Egito (Dt 5.15). Há certa analogia com o sábado cristão, odomingo, que, sem precisar de imposição legal, passou a ser o dia de adoraçãocristã coletiva em memória à ressurreição de Cristo que ocorreu num domingo(Mc 16.1-6; Lc24.1-6). Éosábado institucional. Isso está claro em três passagensdo Novo Testamento: "No primeiro dia da semana, ajuntando os discípulos parao partir do pão" (At 20.7). Era um domingo, "talvez 24 de abril de 57 d.C.",segundo F. F. Bruce (apud STOTT, 1994, p. 360). O "partir do pão" é um termousado para a Ceia do Senhor (At 2.42; 1 Co 10.16; 11.20-26). Segundo o autorcitado, essa passagem "é a evidência inequívoca mais primitiva que temos daprática cristã de reunir-se para a adoração nesse dia". Isso se confirma maisadiante no Novo Testamento: "No primeiro dia da semana, cada um de vósponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que senão façam as coletas quando eu chegar" (1 Co 16.2). Temos aqui outra prova deque o primeiro dia da semana era o dia de culto regular. O apóstolorecomendou que nessas reuniões se levantasse uma coleta para socorrer osirmãos pobres de Jerusalém. O apóstolo João foi arrebatado no dia do Senhor:Eu fui arrebatado em espírito, no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim umagrande voz, como de trombeta" (Ap 1.10). A expressão dia do Senhor" não éescatológica, pois a construção grega aqui, en tê kyriakê hêmera, se refere aodomingo. Versões católicas como Figueiredo, Matos Soares e a Bíblia do

Peregrino empregam "num dia de domingo" para traduzir a referida frase. Estatradução é aceitável porque está de acordo com o contexto bíblico e histórico. Apalavra kyriakê significa "domingo" ainda hoje na Grécia. O termo "domingo",literalmente quer dizer, "dia do senhor , do latim, dominus, "senhor", e dies,"dia". Inácio de Antioquia usa a mesma frase grega do apóstolo João emApocalipse, para indicar o primeiro dia da semana: "Aqueles que viviam naantiga ordem de coisas chegaram à nova esperança, e não observam mais osábado, mas o dia do Senho em que a nossa vida se levantou por meio dele e dasua morte" (Magnésios 9-1, Coleção Patrística 1, Padres Apostólicos). Inácio foio terceiro bispo de Antioquia e conheceu os apóstolos Paulo e João. Preso em110 no reinado de Trajano, foi levado a Roma e atirado às feras. Trata-se dealguém da segunda geração dos apóstolos. Outra razão que confirma essainterpretação é o fato de a Septuaginta usar uma forma diferente para o "diado Senhor escatológico, hêmera tou kyriou ou hêmera kyriou. E o mesmoacontece nas cinco vezes que a frase aparece no Novo Testamento grego (At2.20; 1 Co 5.5; 2 Co 1.14; 1 Ts 5.2; 2 Pe 3.10). Os primeiros pais da Igrejamostram que nos três primeiros séculos da história da Igreja o domingocontinuava sendo o dia de reunião dos cristãos. Além de Inácio de Antioquia,isso pode ser ainda visto na Epístola de Barnabé (que não era o Barnabé citadodo Novo Testamento). Trata-se de um documento da primeira metade do século2, que declara: "Eis por que celebramos como festa alegre o oitavo dia, no qualJesus ressuscitou dos mortos e, depois de se manifestar, subiu aos céus"(Epístola de Barnabé, 15.9). Herdamos dos dias apostólicos essa prática que foi

perpetuada pelo tempo. Os preceitos cerimoniais não desobrigam os sereshumanos de cultuarem a Deus, mas estes não precisam de rituais e nem lhes éexigido irem a Jerusalém. Da mesma forma, o sábado não precisa ser o sétimodia da semana. Os adventistas do sétimo estão equivocados quando afirmamque o imperador Constantino substituiu o sábado pelo domingo, e sua doutrinanão tem sustentação bíblica. É um erro teológico e histórico. Esequias Soares. Os Dez

Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 74-76